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Processo de construção da

sustentabilidade
em São Félix do Xingu-PA
Paulo Sérgio Ferreira Neto
Ruth Corrêa da Silva
Processo de construção
da sustentabilidade em
São Félix do Xingu-PA

Paulo Sérgio Ferreira Neto


Ruth Corrêa da Silva

Projeto Xingu Ambiente Sustentável

Realização Parceria Apoio


Copyright © 2014 by IEB

Autores
Paulo Sérgio Ferreira Neto
Ruth Corrêa da Silva

Revisão gramatical e ortográfica


Glaucia Barreto
glauciabarreto@hotmail.com

Design editorial e capa


Higo Okada e Luciano Silva
www.rl2design.com.br

Dados Internacionais de catalogação na publicação (CIP)


F383p Ferreira Neto, Paulo Sérgio; Silva, Ruth Corrêa da
Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu
– PA / Paulo Sérgio Ferreira Neto; Ruth Corrêa da Silva . – Belém:
Instituto Internacional de Educação do Brasil [IEB], 2014.
116 p.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-60443-27-7
1. São Félix do Xingu – Meio ambiente – Sustentabilidade. 2.
Sustentabilidade – Pará. 3. Problemas Socioambientais – Amazônia.
4. Economia – Sustentabilidade I. Título.

CDD 363.70428115
Participantes do processo de
sistematização

IEB
Ruth Corrêa da Silva
Manuel Amaral

GRET
Philippe Sablayrolles

Adafax
Celma Gomes de Oliveira

MMA
Viviane Araújo Gonçalves
Nazaré Soares

TNC
Francisco Fonseca
Raimunda de Mello

Imaflora
Matheus Teixeira Pires do Couto

Governo do Pará – Programa Municípios Verdes


Justiniano de Queiroz Netto

Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará – Sema-PA


Diana da Silva Castro
André Costa
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São Félix do Xingu
Luiz Alberto Araujo (ex-secretário)

Emater
Antonio Oliveira da Silva

Sindicato dos Produtores Rurais


Wilton Batista Costa Filho
José Wilson Alves Rodrigues

Lideranças de São Félix do Xingu


Noeci Batista Gama – Conselho Gestor APA Triunfo do Xingu
Maria Florinda de Oliveira – STTR
Otair José Julião Ovides – STTR
Santa Trindade Santos de Almeida – Aspraveril
Joaquim Carlos Barbosa – Aprax
Angelo Pereira – Aprax
Itamar Dias Gonçalves – AHF
Iron Eterno de Faria – Cappru
Ilson Martins Souza – Cappru
Danilo Lago – CPT
Reinaldo José de Barcelos – CPT
Rogel Abreu de Melo – Agavax
Antonio Vieira Barros – Apririn
Carlos Silvestre Paxêco – AAFCN
José Alves Batista – Asproveri
José Ribamar Vieira – Asproveri
Domingos Mendes da Silva – Adafax
Raimundo Freires dos Santos – Cacuxi
Qécio da Silva – Colônia de Pescadores Z65
Lenice Ramos Bezerra – ACFR - Associação da Casa Familiar Rural
José Justino de Morais – Astrun
Creone Oliveira dos Santos – Asmop
Rosely Alves Dias – CFR São Felix do Xingu
Índice
Lista de siglas.................................................................................................6
APRESENTAÇÃO.........................................................................................10
METODOLOGIA..........................................................................................12
Conceito e dinâmica....................................................................................13
Etapas da sistematização.............................................................................16
Apresentação das informações...................................................................18
CONTEXTO.................................................................................................20
AÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE.........................28
Regularização ambiental.............................................................................33
Monitoramento do desmatamento............................................................37
Pacto pela redução do desmatamento.......................................................38
Uso sustentável - produção, mercado, certificação..................................49
RESULTADOS..............................................................................................54
Participação das organizações locais na
construção da sustentabilidade..................................................................56
Intervenção de organizações não governamentais supralocais..............60
Influência dos agentes governamentais
intervindo sobre o processo local..............................................................63
Institucionalização da discussão da sustentabilidade..............................66
DESAFIOS...................................................................................................70
Condições para a produção sustentável....................................................71
Atuação do governo.....................................................................................74
Articulações institucionais..........................................................................77
Fortalecimento institucional.......................................................................78
APRENDIZADOS........................................................................................82
Citações Bibliográficas.................................................................................88
ANEXO I - Pacto Municipal..........................................................................90
ANEXO II - Resumo da agenda Pós- Pacto.................................................101
ANEXO III - Estrutura de governança da Comissão Municipal do
Pacto pelo fim do desmatamento ilegal em São Félix do Xingu .................113
Lista de siglas

AAFCN Associação de Agricultores Familiares da Colônia Vila Nazaré


ACFR Associação da Casa Familiar Rural
Astrun Associação dos Trabalhadores Rurais do Nereu
Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar do
Adafax Alto Xingu
AFP Associação Floresta Protegida
Agavax Associação do Grupo Adventista Vale do Xingu
AHF Associação dos Horticultores Familiares
APA Área de Proteção Ambiental
Apatx Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu
APP Área de Proteção Permanente
Aprax Associação dos Produtores Rurais Aliança do Xingu
Apriri Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Rio Iriri
ARL Área de Reserva Legal
Arpa Áreas Protegidas da Amazônia
Asmop Associação dos Moradores da Vila Primavera
Associação dos Médios, Pequenos e Microprodutores Rurais da
Asproveri Colônia Fernando Velasco
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Cacuxi Caixa Agrícola dos Colonos Unidos do Xingu
Cooperativa Alternativa dos Pequenos Produtores Rurais e
Cappru Urbanos
CAR Cadastro Ambiental Rural
Ceaal Conselho de Educação de Adultos da América Latina

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Ceplac Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira
CFR Casa Familiar Rural
Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental Triunfo do
CGAPATX Xingu
CNFP Cadastro Nacional de Florestas Públicas
Comam Conselho Municipal de Meio Ambiente de São Felix do Xingu
Conab Companhia Nacional de Abastecimento
Contag Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura
CPT Comissão Pastoral da Terra
Diap/Sema Diretoria de Áreas Protegidas da Sema
Emater Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Faepa Federação da Agricultura do Estado do Pará
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a
FAO Alimentação
Fetagri Federação dos Trabalhadores na Agricultura
Funai Fundação Nacional do Índio
Sistema de Posicionamento Global (do inglês Global Positioning
GPS System)
GRET Grupo de Pesquisa e Intercâmbios Tecnológicos
GIZ Cooperação Técnica Alemã
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Ibama Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Ideflor Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará
Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental
Idesp do Pará
IEB Instituto Internacional de Educação do Brasil
IFT Instituto Floresta Tropical
Imaflora Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

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Imazon Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
Incra Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Ipam Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
Iterpa Instituto de Terras do Pará
LAR Licença Ambiental Rural
Mapa Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário
MMA Ministério do Meio Ambiente
MPF Ministério Público Federal
MPE Ministério Público Estadual
ONG Organização Não Governamental
PA Pará
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
PDS Projeto de Desenvolvimento Sustentável
PMV Programa Municípios Verdes
Pnae Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNF Programa Nacional de Florestas
Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento
PPCDAm na Amazônia Legal
Procera Programa Especial de Crédito para Reforma Agrária
Prodes Programa de Cálculo de Desflorestamento da Amazônia
PSA Pagamento por Serviços Ambientais
Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação
REDD Florestal
Resex Reserva Extrativista
SAF Sistema Agroflorestal
Sagri-PA Secretaria Estadual de Agricultura do Pará
SDRS Secretaria de Desenvolvimento Rural Sustentável
Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Seduc Secretaria de Estado de Educação

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

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Sema-PA Secretaria Estadual de Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Agricultura de São Félix do
Semagri Xingu
Semma Secretaria Municipal de Meio Ambiente
SFB Serviço Florestal Brasileiro
SFX São Felix do Xingu
Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento
Simlam Ambiental
Sinima Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente
Snuc Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SPR Sindicato dos Produtores Rurais
STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
TAC Termo de Ajustamento de Conduta
TNC The Nature Conservancy
UC Unidade de Conservação
UFPA Universidade Federal do Pará
Ufra Universidade Federal Rural da Amazônia
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Usaid Internacional (do inglês United States Agency International
Development)
XAS Xingu Ambiente Sustentável

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

9
APRESENTAÇÃO

E
sta publicação relata a sistematização do processo de
construção da sustentabilidade no município de São Fé-
lix do Xingu, Pará. A história recente vivida no municí-
pio estimulou o Instituto Internacional de Educação do
Brasil (IEB) a resgatar as motivações e como diferentes
segmentos envolvidos com o município passaram a buscar um
futuro diferente da realidade existente na região. O processo de
desenvolvimento do município esteve historicamente baseado
na ilegalidade, na exclusão, na falta de governança e na ausên-
cia do Estado, provocando problemas socioeconômicos, o des-
matamento e, consequentemente, a perda da biodiversidade.
O resgate dessa história foi feito a partir da análise crítica
manifestada por representantes das instituições e organizações
locais e de lideranças comunitárias.
A sistematização teve como foco principal o processo de
construção da sustentabilidade no município a partir do mo-
mento em que o governo federal adotou medidas responsabi-
lizando os municípios pela redução do desmatamento ilegal.
Portanto, o marco político e definidor cronológico da história
aqui resgatada é o período 2007-2008, ou seja, quando o gover-
no federal incluiu São Félix do Xingu na lista dos municípios
amazônicos prioritários para ações de prevenção, monitora-
mento e controle do desmatamento ilegal.

10
Objetivo da
sistematização
Promover uma análise
sobre a construção da
sustentabilidade em São
Félix do Xingu a partir das
percepções e dos caminhos
trilhados pelas organizações
e instituições locais e
supralocais, com destaque
para o envolvimento
das organizações locais
representativas ou que atuam
com agricultores familiares.

11
METODOLOGIA

12
Conceito e
dinâmica
Desde a década de 1970
que instituições e pessoas de-
dicadas à educação popular
vêm trabalhando com a sis-
tematização de experiências
como produção coletiva de co-
nhecimento, desenvolvimento
de aprendizagens e incorpo-
ração à prática do produzido
e aprendido, o “que permite a
construção de sentido da ação
humana e sua reorientação”
(SOUZA, 1998).

13
A partir de 1993 a sistematiza-
Um dos protagonistas ção de práticas de Promoção e Edu-
desse movimento é cação Popular recebeu incentivo es-
Oscar Jara1, para quem: pecial do Conselho de Educação de
“A sistematização de Adultos da América Latina (Ceaal),
experiências pressupõe que passou a estruturar o Programa
como fundamento de Apoio à Sistematização.
a Concepção Na elaboração da sistema-
Metodológica Dialética, tização do processo em São Félix
que entende a realidade do Xingu, foi feito um esforço para
histórico-social como identificar o que influenciou para
uma totalidade, como que a história tivesse aquela tra-
processo histórico: a jetória, quais foram as principais
realidade é, ao mesmo atividades realizadas, os resultados
tempo, uma mutante obtidos, os desafios enfrentados e a
e contraditória porque serem superados e os aprendizados
é histórica, porque é das pessoas e instituições que par-
produto da atividade ticiparam dessa experiência.
transformadora, Para narrar esse processo e
criadora dos seres revelar a interpretação feita pelos
humanos”. diferentes atores envolvidos, fo-
ram entrevistados representantes
do governo municipal, estadual e
1
Holliday, Oscar Jara. Para sis- federal, de organizações locais (as-
tematizar experiências. Brasília: sociações comunitárias, sindicatos,
MMA, 2006. p.24 (Série Monito-
ramento & Avaliação, 2). cooperativas) e de Organizações
Não Governamentais (ONG).

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

14
Além das entrevistas individuais e coletivas, os docu-
mentos gerados pelas instituições e organizações também fo-
ram fonte de informação da sistematização.
O ordenamento e reconstrução da história vivida pelos
atores envolvidos na busca pela sustentabilidade em São Félix
do Xingu foram orientados pelos seguintes aspectos, principal-
mente na definição dos resultados obtidos:

Aspectos Orientadores
• a participação das organizações locais na construção da
sustentabilidade;
• a intervenção de organizações não governamentais supra-
locais nesse processo;
• a influência dos agentes governamentais intervindo sobre
o processo local; e
• a institucionalização da discussão da sustentabilidade pelas
organizações locais.

Centro de Formação Santiago, local da assi-


natura do pacto pelo fim do desmatamento
ilegal em São Félix do Xingu, celebrado no
dia 26 de agosto 2011.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

15
Etapas da sistematização
A sistematização foi realizada entre os meses de janeiro
e março de 2013, seguindo o cronograma de atividades abaixo.

Definição das bases da sistematização e elaboração do Plano


de Trabalho – reunião por Skype entre o consultor contratado e
a representante do IEB que atua em São Félix do Xingu.
Identificação e ordenamento das informações existentes
em registros/documentos (relatórios de projetos, memórias
de eventos e reuniões, termos de compromisso e de acordos,
entre outros) que orientaram a elaboração dos roteiros para
as entrevistas semiestruturadas.
Obtenção de informações em campo por meio de entrevistas:
• em São Félix do Xingu-PA, com: coordenadora do Pro-
jeto Xingu Ambiente Sustentável (XAS) executado pelo
IEB; ex-secretário de meio ambiente do município; técni-
ca da Associação para o Desenvolvimento da Agricultura
Familiar do Alto Xingu (Adafax); ex-presidente e o atu-
al do Sindicato dos Produtores Rurais (SPR); técnico da
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ema-
ter); técnica da The Nature Conservancy (TNC); e repre-
sentantes do movimento social em entrevista coletiva, da
qual participaram membros de associações comunitárias,

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

16
do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
(STTR), da Cooperativa Alternativa dos Pequenos Pro-
dutores Rurais e Urbanos (Cappru), da Casa Familiar Ru-
ral (CFR) de São Félix do Xingu, da Comissão Pastoral da
Terra (CPT) e membros do Conselho Gestor da Área de
Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu;
• em Belém-PA, com: técnica da Sema-PA; gestor da APA
Triunfo do Xingu; coordenador do IEB Belém; Coorde-
nador de Produção Sustentável da TNC; Secretário do
Programa Municípios Verdes Pará;
• em Brasília, com: coordenadora do Projeto “Pacto Mu-
nicipal para a Redução do Desmatamento no Município
de São Félix do Xingu” da Secretaria de Desenvolvimento
Rural Sustentável (SDRS)/Ministério do Meio Ambiente
(MMA); consultora do Projeto do MMA; e
• por Skype, com: coordenador do Grupo de Pesquisa e
Intercâmbios Tecnológicos (GRET); técnico do Imaflora
responsável pelo projeto executado pela instituição em
São Félix do Xingu.

Organização/sistematização das informações.

Elaboração da versão preliminar do documento.

Devolução aos participantes da sistematização dos princi-


pais aspectos abordados no texto, em oficina realizada em
São Félix do Xingu.
Elaboração do documento final contendo o processo de
sistematização.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

17
Apresentação das
informações
O texto da sistematização foi organizado em cinco blo-
cos: contexto, ações para a construção da sustentabilidade, re-
sultados, desafios e aprendizados.
O contexto contém dados sobre São Félix do Xingu, o
processo de ocupação da região e suas consequências e as ini-
ciativas mais recentes para conter o desmatamento.
Nas ações para a construção da sustentabilidade estão
descritas as principais atividades realizadas, abordando os se-
guintes aspectos: regularização ambiental, monitoramento do
desmatamento, pacto pela redução do desmatamento e o uso
sustentável – produção, mercado, certificação.

Rio Xingu

18
Os resultados foram estruturados considerando-se os
quatro aspectos previstos para a orientação da sistematiza-
ção: a participação das organizações locais na construção da
sustentabilidade; a intervenção de ONGs supralocais nesse
processo; a influência dos agentes governamentais intervindo
sobre o processo local; e a institucionalização da discussão da
sustentabilidade pelas organizações locais.
Os desafios foram agrupados nos seguintes aspectos:
condições para a produção sustentável, atuação do governo,
articulações institucionais, fortalecimento institucional.
E, ao final, os aprendizados refletem os conhecimentos
gerados com a experiência na perspectiva das pessoas que a
vivenciaram.
A seguir, e seguindo essa estrutura, é apresentado o re-
sultado da sistematização do processo de construção da sus-
tentabilidade em São Félix do Xingu.

19
CONTEXTO

20
O
município de São
Félix do Xingu, lo-
calizado ao sul do
Estado do Pará, possui uma
área territorial de 84.213
Km², que abriga 91.340 habi-
tantes, sendo 49,4% na zona
urbana e 50,6% no meio rural
(IBGE, 2010 a).
Sua estrutura fundiária
é bastante concentrada: apro-
ximadamente 17% dos esta-
belecimentos rurais conside-
rados não familiares detêm
em torno de 82,5 % da área
e mais de 80% dos estabele-
cimentos familiares ocupam
apenas 17,5% do total de ter-
ras. (IBGE, 2010 a).

21
A maior parte da área do município (aproximadamen-
te 78%) corresponde a assentamentos, que representam 5,47%
(4.608 km²), e a áreas protegidas, das quais 6,05% (5.097 km²)
são Unidades de Conservação (UC) de Proteção Integral,
13,28% (11.177 km²) são UCs de Uso Sustentável e 53,34%
(44.902 km²) são Terras Indígenas (TI) (Kayapó, Menkranoti-
re, Apyterewa, Arawete e Trincheira Bacajá).
A localização de São Félix do Xingu lhe confere uma po-
sição estratégica por representar uma zona de amortecimento
ao avanço do desmatamento vindo do sul do estado em direção
à denominada “Terra do Meio”, ou seja, às principais reservas
de floresta do Pará. Porém, também determina uma pressão
sobre os recursos naturais do município por estar em uma re-
gião de penetração e abertura para a exploração da Amazônia:
a frente Xingu-Iriri.
O município, que se emancipou em 1961, tem uma histó-
ria relativamente recente de colonização, baseada no avanço da
fronteira agrícola em substituição aos processos extrativistas
de reprodução socioeconômica (castanha, seringa/látex, jabo-
randi, ouro e cassiterita) que tiveram sua decadência acelerada
com a abertura de novas estradas (CASTRO et al., 2002).
Entre as décadas de 1970 e 1980, foram abertas estradas
para viabilizar a extração de minerais (cassiterita e ouro) e de
mogno, além de outras espécies florestais de valor econômico.
A construção da rodovia PA-150 proporcionou a ligação
do porto de Belém à rodovia Belém-Brasília, conectando a re-
gião de São Félix do Xingu com os mercados consumidores do
Sudeste do País. E a rodovia PA-279 ampliou o fluxo de pessoas
para o município, com a consequente abertura de novas terras

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

22
e estradas internas, que facilitaram a atividade madeireira e a
grilagem de terras (IEB, 2009).
No final da década de 1990 e início dos anos 2000, ini-
ciou-se um novo ciclo de atividades, desta vez de fazendeiros,
especuladores e pecuaristas que se apropriaram da terra utili-
zando a densa rede de estradas deixada pelas madeireiras, ace-
lerando a ocupação da região (ESCADA et al., 2005).
Atualmente, a economia do município está baseada na
pecuária extensiva, com a implantação de grandes fazendas de
gado de corte abertas por meio da grilagem e invasão de terras
públicas, definindo um dos maiores rebanhos bovinos do País:
2.110.172 cabeças de gado (IBGE, 2010 b).
O processo migratório e de ocupação da região teve
como consequência os altos níveis de desmatamento observa-
dos nos últimos anos, que colocou o município entre os líderes
do desmatamento nacional, com 17.129,9 Km² (20,3% de sua
área total) desmatados até 2011 (PRODES, 2011), sendo que
quase metade dessa área foi desflorestada em apenas nove anos
(2000 a 2009). Esses dados demonstram a relação direta en-
tre o aumento da velocidade do desmatamento nos anos 2000
e a pecuarização do município, cujo rebanho bovino cresceu
594,4% entre 1999 e 2010 segundo dados do IBGE (BARRETO
et al., 2008).
À medida que é ampliada a área de pastagem é reduzida
a área de plantio das lavouras temporárias, estabelecendo-se
uma relação de causa e efeito direta entre o avanço da pecuária
praticada por grandes, médios e pequenos proprietários e o de-
clínio na produção agrícola. Segundo dados do IBGE, entre os
anos 2000 e 2010 houve uma redução na área plantada de 98%

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

23
para o arroz, 96% para o feijão, 90% para a mandioca e 88%
para o milho (IBGE, 2010 b).
Além da pecuária extensiva praticada nas grandes
propriedades, a implantação de assentamentos do Institu-
to Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em
meados da década de 1990 contribuiu com os altos índices
de desmatamento em São Félix do Xingu. A distância da
sede municipal e a deficiência na infraestrutura e no apoio à
produção de alimentos levaram e têm levado famílias de as-
sentados a venderem a madeira e transformarem suas áreas
em pastagens, alimentando a cadeia da pecuária. Assenta-
dos, agricultores familiares e ribeirinhos geralmente ficam
subordinados aos grandes fazendeiros na manutenção de
estradas, na viabilização do transporte, no oferecimento de
trabalho, já que historicamente o estado esteve alheio ao de-
senvolvimento rural e ao controle e fiscalização dos recur-
sos naturais do município.
Com o objetivo de reduzir o avanço do desmatamento
sobre as florestas da Amazônia, o MMA, no âmbito do Plano
de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento na
Amazônia Legal (PPCDAm), em parceria com o Instituto Bra-
sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) iniciaram, em 2004, uma série de ações de fiscalização
e inibição de atividades ilegais, que tiveram como efeito a que-
da nas taxas de desmatamento no bioma.
Na região de São Félix do Xingu, uma iniciativa para
conter o desmatamento foi a criação de um mosaico de UCs
entre 2004 e 2006, no âmbito do Programa Áreas Protegidas da
Amazônia (Arpa), pela implantação da APA Triunfo do Xingu,

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

24
do Parque Nacional da Serra do Pardo e da Estação Ecológica
da Terra do Meio.
Tanto as ações de fiscalização como a criação das UCs
abrandaram, mas não impediram o avanço do desmatamento
sobre as florestas de São Félix do Xingu e dos demais muni-
cípios amazônicos. Diante disso, nos anos de 2007 e 2008, o
governo federal lançou uma série de medidas para combater o
desmatamento. Entre elas o Decreto nº. 6.321/2007, que criou
a “lista dos municípios amazônicos prioritários para ações de
prevenção, monitoramento e controle do desmatamento ile-
gal” e que transferiu aos municípios a responsabilidade por
combater o desmatamento, restringiu o crédito a produtores
irregulares, responsabilizou toda a cadeia produtiva por des-
matamentos ilegais e tornou pública a lista dos municípios
considerados críticos. Por sua vez, o Ibama empreendeu, em
2008, a operação de fiscalização Arco de Fogo, com ações de
combate ao desmatamento ilegal nos municípios prioritários
(Municípios Verdes, 2012).
Como São Felix do Xingu constava na lista de municípios
desmatadores e estava na área de atuação da operação Arco de
Fogo, o município passou a ser alvo de atenção do governo e
teve que se adequar para cumprir metas que o retirasse da lista
e o liberasse das restrições impostas.
Em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ibama
acionaram judicialmente pessoas e empresas pelo desmata-
mento no Pará. Um dos focos foram os frigoríficos, que tive-
ram que fazer adequações para que a cadeia produtiva da car-
ne reduzisse seu impacto sobre as florestas. Os frigoríficos que
atuavam no Estado do Pará assinaram Termos de Ajustamento

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

25
de Conduta (TAC) com o MPF nos quais se comprometeram a
cumprir determinações, entre elas, informar aos consumidores
a origem da carne, exigir dos fornecedores a moratória total
do desmatamento, o reflorestamento de áreas degradadas e o
licenciamento ambiental.
Em 2010, a Prefeitura Municipal de São Félix do Xin-
gu, perante o MPF, firmou um Termo de Compromisso com
o Estado do Pará, Federação da Agricultura do Estado do Pará
(Faepa) e Ibama, no qual se comprometeu a prorrogar o licen-
ciamento ambiental, manter o desmatamento controlado em
40 km² ao ano, realizar 80%2 do Cadastramento Ambiental Ru-
ral (CAR) e celebrar um pacto pelo controle do desmatamento
em conjunto com as organizações dos produtores e as organi-
zações sociais do município. Esse termo buscou promover a
qualidade socioambiental da atividade produtiva nos municí-
pios paraenses.
A atuação do governo federal em São Félix do Xingu in-
cluiu também a implementação da segunda fase do PPCDAm
– entre 2009 e 2011 –, na qual estava contemplada a criação de

2
Os 80% correspondem a 2.666.198 ha, tendo como referência o valor da área
total cadastrável do município, que é de 3.332.748 ha. Entende-se por área ca-
dastrável as propriedades que estão fora do domínio de Unidades de Conserva-
ção e Terras Indígenas.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

26
mecanismos de atuação mais integrada com os estados e mu-
nicípios, apoiando a elaboração de planos estaduais de controle
do desmatamento, o estabelecimento de pactos municipais de
redução do desmatamento e o fortalecimento do diálogo e da
negociação com os atores econômicos para a redução de ativi-
dades produtivas associadas à destruição da cobertura florestal
(BRASIL, 2009).
Essa nova situação gerou para os diferentes setores en-
volvidos com o município a oportunidade de construir e im-
plementar ações que garantam o desenvolvimento futuro em
bases menos impactantes e mais sustentáveis.

Propriedade do pequeno agricultor Altamiro


Lourenço, morador da vila Tancredo Neves

27
AÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO
DA SUSTENTABILIDADE

28
O
fato de São Félix do
Xingu ter que cum-
prir metas de redução
nas taxas de desmatamento,
promoveu um movimento en-
volvendo ONGs, órgãos públi-
cos municipais, estaduais e fe-
derais e a sociedade civil local,
que se intensificou a partir de
2009, e que, inicialmente, ti-
nha como foco a adequação do
município às metas do governo
federal. Entretanto, ao longo
desses quatro anos, os debates
ganharam outra dimensão, e os
envolvidos passaram a elaborar
e implementar iniciativas na
perspectiva da promoção do
desenvolvimento de São Félix
com sustentabilidade, sendo
a redução do desmatamento
uma de suas consequências.

29
Embora o debate sobre a sustentabilidade em São Félix
do Xingu tenha ocorrido somente após sua inclusão na lista de
desmatadores do MMA, há aproximadamente 25 anos a reali-
dade vivida no município e principalmente a falta de inserção
de setores desassistidos aos processos de desenvolvimento já
eram motivos de preocupação do movimento social, que, por
meio da Igreja, discutia a necessidade da organização social
para superar os problemas provocados e enfrentados, princi-
palmente pela ausência do Estado.
A luta desse movimento definiu algumas conquistas es-
truturais, como a eletrificação rural, o crédito (Programa Es-
pecial de Crédito para Reforma Agrária - Procera), a abertura
de estradas e a chegada de órgãos públicos (Emater, Incra) ao
município; e organizativas, com a criação de dezenas de as-
sociações comunitárias, embora muitas tivessem como único
objetivo acessar fontes de crédito, que, por falta de alterna-
tivas, acabavam por promover ainda mais o desmatamen-
to. Porém, também formaram-se associações que visavam à
diversificação da produção, comercialização e reivindicação
por políticas de crédito e assistência técnica para as famílias,
como é o caso das associações do Km 21, Tancredo Neves
e Maguary, e da Cappru, criada em 1992, que iniciou suas
atividades comerciais com produtos agrícolas (farinha, arroz,
milho, frutos, hortaliças, entre outros) e, em 1998, ampliou
para a comercialização de cacau.
Também em 1992, as lideranças locais conseguiram se
apropriar do STR e passaram a se articular com instâncias es-
taduais (Federação dos Trabalhadores na Agricultura - Feta-
gri) e nacionais (Confederação Nacional dos Trabalhadores da

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

30
Agricultura - Contag) de re-
presentação dos trabalhadores
rurais e a reivindicar políticas
públicas que beneficiassem as
comunidades rurais de São Fé- Essa trajetória do
lix do Xingu. movimento social,
Em 2001, os Projetos apesar de todas
CPT Verde e Terra Verde, este as fragilidades
último apoiado pelo Grupo de organizativas e
Pesquisa e Intercâmbios Tec- das adversidades
nológicos (GRET), apoiaram contextuais e históricas,
a criação da CFR de São Fé- facilitou um processo
lix do Xingu, na perspectiva diferenciado em São
de uma educação adequada Félix do Xingu na busca
à realidade rural. Em 2004, pela sustentabilidade do
foi criada a Adafax, fruto de município, pois quando
uma articulação institucional agentes governamentais
envolvendo a Cappru, CPT e e ONGs supralocais
CFR de São Félix do Xingu, intensificaram suas
cujo objetivo foi promover a ações a partir de 2009,
fixação dos pequenos agricul- encontraram o início
tores em suas terras produ- de um caminho traçado
zindo de forma diversificada e pelas organizações
sustentável, bem como contri- locais.
buir para o estabelecimento de
bases estruturais, técnicas e de
concepção, para dinamizar e
consolidar a agricultura fami-
liar no Alto Xingu.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

31
Esse caminho foi aproveitado por ONGs, como GRET,
TNC, IEB e Imaflora, que iniciaram a implantação de projetos em
São Félix do Xingu em parceria com instituições públicas e com
organizações locais da sociedade civil. Apesar de as parcerias di-
ferenciarem-se nas abordagens, fontes de financiamento e nos ob-
jetivos das iniciativas, essas organizações têm buscado a sensibili-
zação local para a importância do combate ao desmatamento e a
articulação de políticas públicas que gerem governança socioam-
biental no município. Além do Fundo Vale que financiou as três
organizações (TNC, IEB e Imaflora) para atuarem em São Félix do
Xingu, o IEB recebeu apoio financeiro da Comissão Europeia na
implementação do Projeto Fronteiras Florestais, e a TNC recebeu
apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e So-
cial (BNDES) e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvol-
vimento Internacional (Usaid).

Pequeno agricultor, Pedro Aguiar, mora-


dor da região de Xadá, localizada na Área
de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

32
A seguir são apresentadas as principais ações desenvol-
vidas em São Félix do Xingu sobre os seguintes aspectos: regu-
larização ambiental, monitoramento do desmatamento, pacto
pela redução do desmatamento e o uso sustentável – produção,
mercado, certificação.

Regularização ambiental
A partir de 2009 agentes governamentais, como o MMA,
e as secretarias estadual e municipal de meio ambiente passa-
ram a executar algumas ações de combate ao desmatamento no
município, priorizando a regularização ambiental a partir do ca-
dastramento das propriedades rurais no CAR3, que visa obter
dados sobre as propriedades rurais e, assim, tornar mais eficiente
o controle, monitoramento e licenciamento ambiental. Para isso,
foram estabelecidas parcerias com ONGs e organizações locais.
No início de 2009, com apoio de parceiros, a Prefeitura
Municipal iniciou debates sobre a necessidade de regularização
ambiental de São Félix do Xingu e a realização do CAR, com
a intenção de alcançar uma das metas exigidas para retirar o
município da lista dos que mais desmatam na Amazônia. Esse
3
Trata-se do georreferenciamento da propriedade rural e de áreas utilizadas
para plantio ou pastagem, remanescentes de vegetação nativa e áreas legalmen-
te destinadas à preservação ambiental (Área de Proteção Permanente - APP e
Área de Reserva Legal - ARL). Foi instituído em 2009, no âmbito do MMA,
como parte integrante do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambien-
te (Sinima), com a finalidade de integrar as informações federais referentes às
propriedades rurais com aquelas armazenadas nos sistemas estaduais.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

33
diálogo gerou um Termo de Cooperação Técnica, firmado em
julho de 2009 entre a Sema-PA, Prefeitura Municipal de São
Félix do Xingu, TNC, SPR e a empresa frigorífica do Grupo
Frigol, para que fossem realizados o CAR e a regularização
ambiental dos imóveis rurais, tendo como aporte financeiro o
Projeto “Legal é Ser Verde”, executado pela TNC.
A estratégia utilizada nessa parceria foi sensibilizar os
grandes proprietários a aderirem ao CAR, para que a meta de
80% de cadastramento ambiental rural fosse alcançada mais
rapidamente. O projeto executado pela TNC garantiu a pre-
sença de um técnico em geoprocessamento no município, a
aquisição de infraestrutura (equipamentos, imagens) e a capa-
citação de técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(Semma) para que o órgão estivesse apto e em condições de ir
a campo para cadastrar as propriedades.
Apesar do foco nas grandes propriedades, a TNC e parcei-
ros apoiaram a Semma para atuar também no cadastramento das
médias e pequenas propriedades, dada a dificuldade de se obter
os 80% da área cadastrável apenas com as grandes propriedades.
Com o início da implementação do projeto do MMA4 “Pac-
to Municipal para a Redução do Desmatamento no Município de
São Félix do Xingu” em 2011, houve um entendimento entre par-
ceiros para que o MMA assumisse o cadastramento das pequenas
propriedades, viabilizando o cadastramento dos 20% restantes,
contemplando, assim, todas as propriedades cadastráveis do mu-

4
Projeto em desenvolvimento desde 2011 no município de São Félix do Xingu,
Pará, com duração prevista de quatro anos, tendo o MMA como responsável
nacional por sua execução e a Organização das Nações Unidas para a Agricul-
tura e a Alimentação (FAO), por sua administração.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

34
nicípio. Para cumprir essa meta, o MMA contratou, em 2012, em-
presas de geoprocessamento e assinou um Acordo de Cooperação
Técnica com o Incra para que os lotes dos assentamentos também
fossem cadastrados. O projeto executado pelo MMA também
apoiou a Semma financiando equipamentos e veículos e contri-
buiu com a capacitação de seus técnicos.
Durante esses quatro anos em que as parcerias têm via-
bilizado o cadastramento das propriedades em São Félix do
Xingu, houve um aprimoramento técnico nos dados que iden-
tificam e caracterizam as propriedades. Inicialmente era regis-
trada apenas uma coordenada que identificava a propriedade,
caracterizando o atestado digital. Daí houve a evolução para
pontos que definiam o perímetro das propriedades e, mais re-
centemente, além do perímetro, o registro dos usos do solo, da
área desmatada, dos cursos d`água, APPs e ARLs.
Além da capacitação de técnicos dos órgãos públicos
para realizar o cadastramento das propriedades, algumas ini-
ciativas aconteceram com o objetivo de sensibilizar e capacitar
lideranças comunitárias e promover o debate sobre o tema. Em
março de 2010, foi realizado um seminário no município para
discutir os aspectos que envolvem o CAR, do qual participaram
representantes da Adafax, IEB, Fundo Vale de Desenvolvimen-
to Sustentável, TNC, MMA e Sema-PA. O evento resultou na
formulação do documento “Posicionamento da Adafax acerca
do Cadastro Ambiental Rural”, que evidencia a importância
do debate sobre reserva legal, o fortalecimento da agricultura
familiar e a regularização fundiária como bases para a discus-
são sobre o CAR em São Félix do Xingu. A equipe da Adafax
contou com o apoio do IEB e do GRET nos debates sobre a re-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

35
gularização ambiental da agricultura familiar e na elaboração
de modelos de recuperação de ARLs.
Com o cadastro das propriedades em andamento, em ju-
nho de 2010 foi firmado outro Termo de Cooperação Técnica
entre a Sema-PA, Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu,
TNC do Brasil e o SPR de São Félix do Xingu, com o objetivo
de efetuar a regularização ambiental das propriedades rurais do
município a partir de diagnósticos ambientais das propriedades,
que servirão como base aos arranjos de adequação ambiental e
à promoção de alternativas econômicas de cadeias sustentáveis.
Em maio de 2012 foi instaurado o Observatório Ambien-
tal do município, a partir da extensão das ações realizadas na
“Sala de Situação do CAR”, no âmbito do Projeto Municipal de
Monitoramento do Desmatamento Ilegal de São Félix do Xingu.
A partir de março de 2011 São Félix do Xingu passou a
contar com o apoio do Programa Municípios Verdes (PMV),
do Governo do Pará, que atua juntamente com o Ministério
Público e outras organizações na implementação de ações de
combate ao desmatamento. A inserção do município no PMV
foi formalizada por meio de um TAC com o MPF, que estabe-
leceu metas para promover a melhoria da qualidade socioam-
biental da atividade produtiva e a saída do município da lista
de municípios desmatadores. O PMV se articulou com a Se-
ma-PA na atualização do laudo do CAR e nos procedimentos
para a liberação das Licenças Ambientais Rurais (LAR) que es-
tão protocoladas no órgão. O programa capacitou técnicos da
Semma em São Félix do Xingu para que o órgão estivesse apto
a emitir as 1icenças ambientais.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

36
Monitoramento do desmatamento
A parceria do Instituto do Ho- As informações geradas
mem e Meio Ambiente da Amazônia pelas organizações
– Imazon (parceiro do IEB no proje- locais e pelo Imazon
to fronteiras florestais) com o PMV em Belém-PA serviram
contribuiu para qualificar o monito- de referência para os
ramento do desmatamento em São debates públicos sobre
Félix do Xingu. Essa qualificação foi o desmatamento em
alcançada com a capacitação de téc- São Félix do Xingu.
nicos da Semma e de lideranças em Um desses debates
técnicas de geoprocessamento, o re- ocorreu na reunião
passe de equipamentos para a Ada- realizada em outubro de
fax (computadores, imagens, GPS) e 2011 com o Ministério
a publicação de boletins divulgando Público Estadual
os índices de desmatamento do mu- (MPE), que contou
nicípio e região. com o apoio do IEB e
Entre fevereiro de 2010 e ju- Imazon, cujo objetivo
lho de 2012, o Imazon ministrou foi discutir o aumento
três cursos em São Félix do Xingu do desmatamento na
e dois em Belém, dos quais partici- APA Triunfo do Xingu e
param 74 pessoas entre lideranças elaborar uma estratégia
locais e técnicos de órgãos públi- para sua redução.
cos do município. Um dos cursos
foi o treinamento em geoteconolo-
gia básica (ênfase em elaboração de

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

37
mapas e mapeamento participativo) para técnicos da Adafax
e jovens da CFR. O objetivo foi torná-los aptos para elaborar
mapas do potencial florestal das propriedades rurais familia-
res, com análise da viabilidade econômica e ambiental, servin-
do como instrumentos para influenciar políticas públicas de
apoio à agricultura familiar para restauração florestal.
Foram publicados cinco “Boletins Transparência Flores-
tal” com foco na APA Triunfo do Xingu, nos quais são analisa-
dos os índices de desmatamento nos anos de 2007, 2008 e 2009,
e nos períodos de agosto de 2010 a julho de 2011 e agosto de
2011 a janeiro de 2012.

Pacto pela redução do


desmatamento
A busca pela redução do desmatamento em São Félix do
Xingu foi traçada inicialmente por dois caminhos diferentes,
mas complementares, e que posteriormente se encontraram.
Enquanto IEB, Adafax e organizações da sociedade civil pro-
moviam debates e ações com foco no desenvolvimento susten-
tável do município e na redução do desmatamento, a prefeitura
do município, via Semma, implementava ações para alcançar
80% do CAR e para a assinatura de um pacto pela redução do
desmatamento, cumprindo, assim, dois dos requisitos exigidos
para a retirada do município da lista do MMA.
O IEB e a Adafax, no âmbito do Projeto XAS, promove-
ram uma série de ações e eventos com o objetivo de diagnos-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

38
ticar a realidade do município,
sensibilizar os moradores e as
Cerimônia de assinatura do pac-
instituições e promover debates to para o fim do desmatamento
sobre a sustentabilidade, tendo ilegal em São Félix do Xingu.
como perspectiva o estabelecimento de pactuações entre so-
ciedade civil e Estado na contenção do desmatamento.
A Adafax realizou várias ações com grupos de agriculto-
res para experimentação de práticas produtivas sustentáveis na
região da APA Triunfo do Xingu e em áreas de assentamentos.
A ação da Adafax na APA ampliou-se quando a Sema anun-
ciou a criação da Unidade de Conservação, no ano de 2006.
Neste período, a associação começou a realizar uma campanha
de informação, com distribuição de cartilhas e reuniões, para
discutir com os moradores as seguintes questões: o que é uma
unidade de conservação, o que é uma APA, sua forma de fun-
cionamento, o papel do Conselho Gestor, seus mecanismos de
gestão e a importância da participação das comunidades nesse
processo. A partir de 2008, a Adafax novamente atuou em par-
ceria com a Sema na mobilização e organização de reuniões
informativas nas comunidades da APA Triunfo do Xingu.
Em 2009, a Adafax e o GRET elaboraram o “Diagnóstico
Socioambiental” da APA Triunfo do Xingu e vizinhanças, e o
IEB realizou o “Diagnóstico Institucional - Capacidades e Li-
mites da Sociedade Civil de São Félix do Xingu” para o ordena-
mento territorial e manejo dos recursos naturais. Os resultados
dos diagnósticos auxiliaram os moradores a refletirem sobre a
realidade onde vivem e serviram de base para outras capacita-
ções, que permitiram aos participantes se articularem em prol
de uma agenda socioambiental para o município.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

39
Ainda em 2009, a Adafax, com apoio do IEB, iniciou a
discussão sobre a constituição do Conselho Gestor da APA
Triunfo do Xingu, buscando vincular a necessidade de refletir
ações para as questões ambiental e fundiária.
No ano de 2010, o IEB e a Adafax promoveram dez ofici-
nas e dois seminários com o objetivo de debater e capacitar as
pessoas para atuarem na busca pelo desenvolvimento sustentá-
vel de São Felix do Xingu. Entre eles destacam-se:

• oficina “Planejando um Município Sustentável”


(maio/2010);
• rodada de reuniões entre lideranças de São Felix
do Xingu e órgãos públicos (Sema, Instituto de
Terras do Pará (Iterpa), Instituto de Desenvolvi-
mento Florestal do Estado do Pará (Ideflor), MPE)
(junho/2010);
• oficina para definição do Conselho Gestor da APA
Triunfo do Xingu (junho/2010);
• capacitação de lideranças - Fortalecendo Processos
para a Construção de Agenda Socioambiental (ju-
lho/2010);
• seminário “Construindo um plano coletivo para
a conservação do meio ambiente e do desenvolvi-
mento em São Felix do Xingu” (agosto/2010).

Em todos os eventos houve uma participação significa-


tiva de agricultores, lideranças locais e representantes de orga-
nizações da sociedade civil, além de agentes públicos. Estes in-
cluem as quatro oficinas realizadas com foco “Planejando um

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

40
município sustentável”, que derivou na realização de uma ro-
dada de reuniões em Belém com a participação de cinco lide-
ranças de São Felix do Xingu e órgãos públicos (Sema, Iterpa,
Ideflor e MPE) para discussões sobre ordenamento territorial,
gestão florestal, CAR, Conselho Gestor e plano de manejo da
APA Triunfo do Xingu.
Esses eventos contribuíram para que os envolvidos e prin-
cipalmente os representantes dos agricultores familiares se mo-
bilizassem para o processo de construção da sustentabilidade em
São Felix do Xingu e participassem da elaboração do Pacto Mu-
nicipal pelo fim do desmatamento ilegal no município.
No âmbito da gestão da APA Triunfo do Xingu, o IEB,
Adafax e parceiros realizaram diversas atividades de sensibi-
lização, informação e capacitação de moradores para a consti-
tuição do seu Conselho Gestor, que tomou posse em abril de
2011. As ações realizadas pelo IEB e Adafax colaboraram para
a inserção mais representativa dos moradores da UC no conse-
lho5. Durante o ano de 2010, o IEB realizou capacitações sobre
gestão territorial (Conselho Gestor, plano de manejo, UC, zo-
neamento territorial, CAR, LAR, regularização fundiária, Sis-
tema Nacional de Unidades de Conservação - Snuc), as quais
facilitaram o entendimento das lideranças representantes dos

5
A APA foi criada pelo Decreto Estadual nº. 2.612/2006 e o seu Conselho Ges-
tor foi instituído pela Portaria nº. 583/2011 – GAB/Sema /2011. O Conselho
Gestor é composto por 32 membros (16 da sociedade civil e 16 de entidades
governamentais), sendo que 10 setores da APA têm representatividade. A par-
ticipação de moradores da APA no conselho foi amplamente discutida pelas
lideranças durante a capacitação realizada pelo IEB em julho de 2010, tendo
sido apresentada à Sema como proposta de composição na assembleia de for-
mação do conselho, em setembro de 2010.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

41
moradores da APA sobre os conceitos que envolvem uma UC.
O processo de mobilização e sensibilização das comunidades
para a criação do Conselho Gestor da APA e o mapeamento
institucional em São Felix do Xingu e Altamira foi iniciado
pela Diretoria de Áreas Protegidas (Diap) da Sema, em dezem-
bro de 2009, estendendo-se até julho de 2010. Ao todo foram
realizadas 11 oficinas dentro da APA Triunfo do Xingu para
discutir a criação do conselho.
Em novembro de 2010, o Departamento de Políticas para
o Combate ao Desmatamento do MMA promoveu uma oficina
de Planejamento de Ações para a Redução do Desmatamento
em São Félix do Xingu, no âmbito do Projeto “Pacto Municipal
para a Redução do Desmatamento”, que contou com a partici-
pação de representantes do MMA, Sema-PA, Semma, Emater,
Iterpa, IEB, TNC, Idesp, Adafax e Cooperação Técnica Alemã
(GIZ). Um dos resultados previstos no projeto do MMA era o
estabelecimento de um pacto para a redução do desmatamento
que fosse negociado e endossado pelos atores públicos, privados
e pela sociedade civil do município. A partir de então, o IEB e o
MMA passaram a estabelecer um diálogo mais estreito visando
ao estabelecimento de um espaço público de discussão do pacto.
Pressionada pelo Ministério Público, a Prefeitura Munici-
pal de São Felix do Xingu teria que promover a assinatura de um
Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal no município
como uma das metas a serem cumpridas para sair da lista dos
municípios desmatadores. Para isso, em maio de 2011 promoveu
uma audiência pública que não resultou imediatamente na assi-
natura do pacto visto que ainda não havia uma discussão mais
ampla com a sociedade local. A partir dessa audiência pública

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

42
e com o apoio do IEB, MMA e de organização locais (Adafax,
Cappru, STTR, CPT, associações comunitárias e SPR), estabe-
leceu-se um processo mais amplo e consistente na construção
do pacto. Tal processo foi organizado pela Comissão do Pacto
Municipal pelo fim do desmatamento ilegal, criada em maio de
2011 e liderada pela Semma, cuja finalidade foi promover as dis-
cussões e ações necessárias à celebração do pacto.

Avanço do desmatamento na região do Xingu.

A comissão foi constituída inicialmente com a representa-


ção das seguintes instituições e organizações: Semma/São Felix
do Xingu, MMA, Incra/São Felix do Xingu, Emater, Secretaria
Municipal de Agricultura (Semagri)/São Félix do Xingu, Ceplac/
São Felix do Xingu, Sema/PA, STTR/São Felix do Xingu; e SPR/
São Félix do Xingu, Adafax, Cappru, IEB, TNC, Conselho Muni-
cipal de Meio Ambiente de São Felix do Xingu (Comam), Con-
selho Gestor da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu
(CGAPATX) e Banco da Amazônia. Com o tempo, outras ins-
tituições aderiram à comissão, como o Imaflora, Fundação Na-
cional do Índio (Funai) e a Associação Floresta Protegida (AFP).

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

43
Entre maio e julho de 2011 foram realizadas audiências pú-
blicas em dez comunidades e uma audiência setorial com o em-
presariado local para a discussão do pacto, seguindo a orientação
definida na audiência pública de maio de 2011, onde foi acorda-
do que o processo de construção do pacto se daria com ampla
consulta aos moradores da zona rural de São Felix do Xingu. A
Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal

Compromissos a serem cumpridos


na visão das comunidades
Sociedade civil: Não desmatar ilegalmente, fazer a adesão ao
CAR, assinar o pacto, fortalecer as associações.

Governos municipal, estadual e federal: Agilizar os recursos


financeiros para aquisição de máquinas agrícolas, educação
ambiental, agilizar o processo de licenciamento ambiental para
os produtores, regularização fundiária, disponibilizar máqui-
nas para não utilizar o fogo, mostrar alternativas para novas
culturas de produção, assistência técnica, infraestrutura (estra-
da, energia, telefonia) saúde, educação e segurança.

Órgãos e entidades que devem fazer parte


do pacto na visão das comunidades
Banco do Brasil, Banco da Amazônia, Sema/PA, Sematur, Conse-
lho Gestor da APATX, Iterpa, Incra, Ideflor, Prefeitura Municipal,
Semagri, Ministério Público, Emater, Ceplac, Celpa, Secretaria
Municipal de Saúde, Seduc, Secretaria Municipal de Educação,
Telemar, Polícia Militar, STTR, SPR, Adafax, Cappru, CPT, CFR.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

44
realizou oito reuniões preparatórias O principal recado dado
para ir a campo e contou com apoio pelas comunidades aos
metodológico do IEB e do MMA na gestores públicos foi o de
condução das discussões e na defi- que não bastava apenas
nição da dinâmica que seria utiliza- assinar o pacto. É preciso
da nas comunidades. As audiências que as famílias recebam
públicas nas comunidades seguiram apoio de políticas públicas
uma dinâmica definida pela comis- para que possam produzir
são, que permitiu aos participantes de forma a não acentuar
abordar e entender o que é o pacto, o desmatamento e que
suas implicações e benefícios para haja investimento na
o município. Além disso, tratou-se regularização fundiária,
sobre quais as entidades/órgãos que assistência técnica, crédito,
deveriam participar do pacto e quais infraestrutura, entre outros.
os compromissos governamentais e “Assinar o pacto é um
da sociedade civil na assinatura do compromisso, porém a ação
protocolo. de assinar não resolve a
A Semma coordenou as questão do desmatamento,
audiências públicas ocorridas tem que haver proposta de
na zona rural do município, que melhorar as alternativas
contaram com o envolvimento de para a classe de produtores
aproximadamente 1.800 pessoas e agricultores como
e tiveram como principal produto contrapartida de governo.
as demandas das comunidades e Reuniões como estas
os compromissos a serem assumi- fortalecem e aproximam as
dos para o fim do desmatamento, representações dos governos
contribuindo, assim, para a elabo- com a realidade local.” (Otair
ração do Pacto Municipal pelo fim José/STTR)
do desmatamento ilegal.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

45
As demandas das comunidades foram sistematizadas
pela comissão, apresentadas e debatidas na audiência pública
realizada em 25 agosto de 2011 previamente à assinatura do
pacto, ocorrida em 26 de agosto de 2011. O Pacto Municipal
pelo fim do desmatamento ilegal, contendo 14 cláusulas, foi
assinado por 41 representantes de instituições públicas muni-
cipais, estaduais e federais, organizações da sociedade civil e
ONGs (Anexo I). Como condição para garantir o cumprimen-
to do pacto, foi elaborada pela Comissão Municipal a Agenda
Pós-Pacto, tendo como base as demandas das comunidades sis-
tematizadas e organizadas em temas e em dois níveis de priori-
dade. As consideradas de maior prioridade por estarem direta-
mente relacionadas com o desmatamento no município foram
agrupadas nos seguintes temas: i) regularização fundiária; ii)
infraestrutura (manutenção de estradas principais e vicinais e
o serviço de energia elétrica nas vilas e áreas rurais); iii) as-
sistência/assessoria técnica que permita a transição do sistema
produtivo convencional para sistemas sustentáveis; (iv) apoio
à produção com o fortalecimento de cadeias produtivas sus-
tentáveis; e v) adequação ambiental das propriedades (CAR,
LAR, PSA). E as consideradas no segundo nível de prioridade
e que, a princípio, não seriam foco de discussão da comissão
foram agrupadas nos temas: i) infraestrutura de equipamentos
urbanos para sede e vilas municipais; ii) saúde; iii) educação; e
iv) segurança pública.
Em outubro de 2011, elaborou-se um plano de trabalho
da Agenda Pós-Pacto com detalhes sobre metas e prazos, ten-
do a Comissão Municipal como espaço de gestão coletiva e de
monitoramento desse planejamento (Anexo II).

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

46
A partir desse momento, os diversos atores envolvidos
passaram a ter a Agenda Pós-Pacto como orientadora de suas
ações e, em alguns momentos, como referência para o estabe-
lecimento de articulações e ações comuns. Um exemplo disso
foi a reunião ocorrida entre membros da Comissão Municipal
e o Governo do Estado do Pará/Programa Municípios Verdes,
que teve como objetivo articular ações para o atendimento das
demandas que têm relação direta com políticas públicas esta-
duais. O resultado dessa reunião, ocorrida em junho de 2012,
foi a definição de uma agenda mínima para a contenção do
desmatamento em São Felix do Xingu, contendo prioridades
apresentadas pela comissão.
A Comissão do Pacto Municipal pelo fim do desmata-
mento ilegal passou a se reunir periodicamente e extraordi-
nariamente quando há a convocação por algum membro para
debater assuntos de interesse.
Em fevereiro de 2012, foi iniciada a parceria do IEB
com a Semma visando à cooperação técnica para o fortaleci-
mento da Comissão do Pacto Municipal enquanto instância
de articulação e de gestão da Agenda Pós-Pacto, à sustentabi-
lidade socioambiental e, ainda, ao apoio à gestão da secretaria
para o monitoramento do desmatamento, com a colaboração
do Imazon.
Reunião da Comissão Municipal para o fim do Desmatamento
Ilegal em São Félix do Xingu com representantes de secreta-
rias do Governo do Pará. Belém, junho de 2012.

47
A audiência pública e A partir de abril de 2012, o
a criação da comissão segmento indígena do município
foram momentos passou a integrar a comissão, in-
significativos, pois corporando na Agenda Pós-Pacto
foi quando ocorreu a suas demandas e ações, visando
intersecção entre os a uma articulação positiva para
caminhos trilhados conter o desmatamento ilegal que
pelas instituições e pressiona as terras indígenas.
organizações na busca Em junho de 2012, a Co-
pela sustentabilidade missão retomou o planejamento
e pela redução do da Agenda Pós-Pacto, incorporan-
desmatamento em do demandas de monitoramen-
São Félix do Xingu. to e fiscalização e gestão de áreas
A partir desse protegidas, definindo metas e ór-
momento o debate gãos responsáveis pela gestão da
ganhou densidade agenda (Anexo II - Resumo da
com a ampliação Agenda Pós-Pacto). Além disso,
da participação e a comissão aprovou uma estrutu-
com as ações sendo ra de funcionamento (Anexo III)
planejadas de forma que pudesse viabilizar espaços de
mais integrada e discussões temáticas e de encami-
articulada. nhamentos do planejamento e a
participação de comunidades no
acompanhamento e encaminha-
mentos da Agenda Pós-Pacto.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

48
Uso sustentável
produção, mercado, certificação
Desde sua constituição, organizações locais como a Ada-
fax, a Cappru e algumas associações comunitárias estavam bus-
cando alternativas produtivas para além da criação do gado a
partir de uma produção diversificada e sustentável. A parceria
estabelecida com ONGs que passaram a atuar em São Félix a
partir de 2009 ampliou a capacidade dessas organizações em
gerar novos conhecimentos rumo à produção sustentável e que
contribuíssem com a redução do desmatamento. O apoio técni-
co, metodológico e financeiro do IEB, TNC e GRET e, mais re-
centemente, do Imaflora e MMA, contribuiu para potencializar
o que já havia sido iniciado pelas organizações locais.

No âmbito dos projetos executados pelo IEB em São Félix do


Xingu em parceria com a Adafax e com o GRET, algumas al-
ternativas sustentáveis para a agricultura familiar têm sido gera-
das com a assessoria dada às organizações locais e aos grupos de
agricultores familiares. A abordagem adotada é a de construção
do conhecimento agroecológico juntamente com as famílias e a
partir de reuniões de planejamento, dias de campo, reuniões te-
máticas, visitas de acompanhamento técnico, cursos de capacita-
ção abordando temas específicos (manejo, boas práticas e bene-
ficiamento dos subprodutos do cacau, manejo e plantio do açaí,
processamento de alimentos, implantação de Sistemas Agroflo-
restais (SAFs), mecanização, horticultura, pecuária familiar etc.)
e troca de conhecimento estimulada por intercâmbios.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

49
Os intercâmbios entre iniciativas existentes no municí-
pio e para outras regiões têm gerado novos conhecimentos e,
portanto, novas práticas. Como exemplo, há os grupos das co-
munidades Maguary, Tancredo Neves e Xadá que trabalham
com polpa de frutas, que ao conhecer experiências de benefi-
ciamento e comercialização de polpas passaram a desenvolver
ações de forma articulada.
Alguns levantamentos estratégicos também colaboraram
na identificação dos potenciais e na implantação das propostas
técnicas. O GRET e a Adafax analisaram a viabilidade econô-
mica e ambiental da piscicultura e o potencial botânico para
manejo florestal comunitário, levantaram dados sobre a pro-
dução cacaueira e sobre a viabilidade de implantação de vivei-
ros (Vila dos Crentes, Chapéu Preto e Campo Verde), e ainda
realizaram um diagnóstico sobre o potencial florestal em Vila
dos Crentes. Outro estudo importante feito pela Adafax, que
contou com o apoio técnico do Imazon e apoio metodológico
do GRET, foi o levantamento realizado em uma região da APA
Triunfo do Xingu utilizando o mapeamento participativo e fer-
ramentas de GIS para calcular os passivos ambientais de agri-
cultores familiares, cruzando com dados do CAR e gerando vá-
rios mapas. De posse desse levantamento, o GRET estimou os
valores necessários para a recuperação de áreas de agricultores
familiares. Esses são dados importantes para o debate e formu-
lação de políticas públicas para o município.
O Imaflora, a partir do Projeto “Produção e Mercado
de Cacau com Responsabilidade Socioambiental: São Felix do
Xingu como um Local de Disseminação de Práticas Inovado-
ras para a Amazônia”, apoiado pelo Fundo Vale, estabeleceu

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

50
Pequeno agricultor, Altamiro Lourenço.
Cacau é fonte de renda para a família.

uma parceria formal com a


Cappru e tem assessorado
seus associados no manejo
do cultivo do cacau (podas,
uso de biofertilizantes, con-
sórcios), na adequação das
estruturas de beneficiamen-
to/fermentação do cacau,
no acesso a novos mercados
para a comercialização e nos
processos de certificação,
este último realizado com
trinta produtores de cacau.
O Imaflora, IEB e Adafax realizam ações conjuntas no
acompanhamento aos associados da Cappru, nas quais o IEB e
Imaflora, a partir de seus projetos, mantêm dois técnicos da Ada-
fax para assistirem as famílias com o manejo e a certificação do
cacau. A parceria garantiu a realização de importantes eventos,
como o Workshop de Pecuária Sustentável, realizado pelo Imaflo-
ra, e o seminário de divulgação do estudo/diagnóstico realizado
pelo IEB em 2011, que aborda a transição agroecológica “Agricul-
tura familiar camponesa na amazônia: perspectivas da transição
agroecológica no município de São Felix do Xingu - PA”.
A TNC, que inicialmente concentrou suas atividades na
regularização ambiental, mais recentemente está atuando com
a adequação ambiental de propriedades rurais. Para isso, esta-
beleceu parcerias com o SPR para implantar ações articuladas
(CAR, LAR, pecuária sustentável) em vinte grandes proprie-
dades e com a Cargill para assessorar cem proprietários produ-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

51
tores de cacau. Além de ter os produtores assessorados como
referência, a meta é recuperar áreas degradadas com o cacau
e, assim, ampliar a área do fruto no município a partir da par-
ceria com a Cargill, uma das grandes empresas compradoras
desse produto. Nessa ação estão envolvidos também a Ceplac,
com a assessoria técnica, e a Cappru, com os seus associados
produtores de cacau, um potencial de mercado para a Cargill.
Além dessas ações, a TNC pretende implantar o Projeto
REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degrada-
ção Florestal), no qual está prevista a capacitação de agentes
comunitários e técnicos de instituições públicas nos conceitos
de REDD para que esse mecanismo seja implementado no mu-
nicípio, com estudos de metodologias de mensuração de car-
bono na floresta e sua aplicação no setor econômico.
Um dos componentes do Projeto do MMA “Pacto Mu-
nicipal para a Redução do Desmatamento” tem como meta es-
tabelecer um plano de recuperação de áreas degradadas. Uma
das atividades previstas é a implantação de iniciativas pilotos
em trinta propriedades de agricultores familiares, que serão as-
sessoradas pela Adafax e que deverão servir como referência no
município para a sensibilização e divulgação da recuperação de
áreas degradadas a partir do manejo e da produção sustentável.
O MMA e a GIZ, durante os últimos anos, também pro-
moveram capacitações de técnicos locais de São Felix do Xingu
para atuarem com os agricultores familiares.
São Félix possui alguns viveiros de mudas para fomentar
a diversificação da produção. A Prefeitura Municipal produz
em seu viveiro mudas de cacau, frutíferas, açaí, ornamentais,
entre outras, e distribui para produtores e população em geral.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

52
Existem também viveiros em alguns setores e comunidades.
Na Lindoeste, ao norte do município, foi construído um vivei-
ro em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), Prefeitura, Associação de Traba-
lhadores Rurais ALTRUBI e Vale S.A, e outro na área da CFR
de São Félix, destinado a atender os agricultores familiares vin-
culados à instituição, em parceria com o IEB e Fundo Vale.
Como perspectiva futura existe a parceria entre a Ada-
fax e a Semagri. A Adafax estava fazendo um estudo sobre
beneficiamento e comercialização de polpas de frutas, e a Se-
magri pretendia criar um programa de certificação para fa-
cilitar a compra dos alimentos pelo Programa Nacional de
Alimentação Escolar (Pnae).
Outra potencial parceria é entre o IEB e a Conab visando
à ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
em São Felix do Xingu.
O técnico da CFR, Cristiano Pereira (à direta), orienta o bol-
sista do programa Xingu dos Saberes, Adriano Cruz (à es-
querda), a sombrear mudas de cacau em meio ao milharal.

53
RESULTADOS

54
O
conjunto de ações
realizadas e promo-
vidas pelos diferen-
tes atores em São Felix do
Xingu produziu alguns resul-
tados, que são apresentados a
seguir, destacando os seguin-
tes aspectos: participação das
organizações locais na cons-
trução da sustentabilidade;
intervenção de organizações
não governamentais supra-
locais; influência dos agentes
governamentais intervindo
sobre o processo local; e ins-
titucionalização da discussão
da sustentabilidade.

55
Participação das organizações
locais na construção da
sustentabilidade
A busca por direitos e melhoria da qualidade de vida que
o movimento social já vinha reivindicando para as comuni-
dades rurais em São Felix do Xingu foi ampliada a partir da
intervenção do Estado no município e com o estabelecimento
de novas parcerias. As articulações institucionais, os processos
de desenvolvimento e fortalecimento institucional e as capaci-
tações promovidas por organizações supralocais e por órgãos
públicos, contribuíram para que lideranças e organizações
locais se tornassem mais bem informadas e preparadas para
dialogar e debater o ordenamento territorial com os órgãos pú-
blicos e com maior capacidade de propor ações para que o mu-
nicípio reduza o desmatamento e tenha um desenvolvimento
mais sustentável.
O processo de discussão do pacto pelo fim do desmata-
mento ilegal contou com um protagonismo do setor da agri-
cultura familiar, representado pela Adafax, STTR e associações
comunitárias, tanto na dinâmica para a construção do pacto,
com a realização das audiências públicas nas comunidades,
como na constituição da Comissão do Pacto Municipal e na
elaboração do planejamento das ações pós-assinatura do pac-
to. Um indicador desse envolvimento foi a participação de 21
organizações da agricultura familiar entre as 41 instituições
que assinaram o protocolo. Esse é um espaço onde os repre-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

56
sentantes da sociedade civil e, particularmente da agricultura
familiar, têm tido oportunidade de debater temas importantes
como a regularização fundiária e ambiental, o crédito, a assis-
tência técnica e a infraestrutura nas comunidades rurais. As
organizações locais conseguiram inserir cláusulas na Agenda
Pós-Pacto para atender aos principais problemas das comuni-
dades e assentamentos do município.

Angelo Pereira
Aprax

“Os trabalhadores têm um pacto com a questão ambiental


há muito tempo. O pacto de hoje é uma ampliação do pacto
do passado”.

Noeci Batista Gama


Conselho Gestor APA Triunfo do Xingu

“Com as leis apertando e com a conscientização aumen-


tando, vimos que só desmatar não era solução”.

Creone Oliveira dos Santos


Asmop

“O pacto iria acontecer se estivéssemos dentro ou não. Daí


a importância de estarmos dentro. Nós que temos que cor-
rer atrás”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

57
Além da Comissão do Pacto Municipal pelo fim do des-
matamento ilegal, lideranças, representantes de associações
locais e organizações como Adafax, CFR de São Felix do Xin-
gu e CPT participam de outros fóruns onde se discute o orde-
namento territorial, como o Conselho Gestor da APA Triunfo
do Xingu, onde contribuem com o debate e o monitoramento
da área juntamente com outros setores e com a Sema-PA.
Mas não é apenas o setor da agricultura familiar que am-
pliou sua articulação institucional. O SPR também estabeleceu
parcerias com o governo (Sema-PA, Semma, MMA) e com or-
ganizações, como a TNC, para superar as dificuldades impos-
tas pelo embargo ao setor, e conseguiu mobilizar seus associa-
dos para realizarem o cadastro das propriedades.

José Wilson A. Rodrigues


SPR

“Ampliou a cabeça do produtor que era muito fechada”.

As organizações ligadas à agricultura familiar têm apre-


sentado alternativas para a redução do desmatamento que vão
além de medidas de fiscalização e controle. As alternativas
produtivas implementadas pela assessoria da Adafax têm pro-
movido a diversificação da produção e a adequação ambiental
das propriedades tanto para os onze grupos diretamente acom-
panhados como para as aproximadamente 300 famílias que se
beneficiam dos resultados obtidos com os grupos. Dentre as
alternativas produtivas, os agricultores têm melhorado a pro-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

58
dução cacaueira em consórcio com outros plantios e desenvol-
vido um processo de certificação socioambiental das proprie-
dades e do cacau, atividade desenvolvida pela articulação de
ações entre Imaflora, IEB, Cappru e Adafax.
Segundo o Imaflora, o cacau para o pequeno produtor
pode ser uma alternativa de renda à pecuária, pois seu rendi-
mento é de US$ 1.196,72/ha/ano, enquanto a pastagem rende
US$ 164,44/ha/ano. Esses dados demonstram a possibilidade
de se obter renda maior com o cacau, ocupando áreas menores
do que as necessárias para a criação de gado.
No campo da comercialização existe uma experiência
envolvendo famílias de três grupos que, com o apoio da Ada-
fax, desenvolveram um estudo de mercado sobre a cadeia de
comercialização das polpas de frutas na região e implantaram
uma miniusina de armazenamento e comercialização desse
produto. Estão vendendo na sede do município e integram a
entrega de produtos para a merenda escolar através do Pnae.
As instituições que assessoram os agricultores familiares
(Adafax, Cappru, CPT) estão, junto com as famílias e com o
apoio do IEB, Imaflora e GRET, desenvolvendo sistemas di-
versificados de produção, tendo o cacau como uma alternativa
de renda. Já a TNC, em parceria com o SPR, está desenvol-
vendo iniciativas piloto de pecuária sustentável, além do apoio
também a pequenos e médios produtores no cultivo do cacau
em parceria com a Cargill. Essas iniciativas apontam para dois
modelos distintos: a diversificação na agricultura familiar e a
pecuária em sistemas de manejo menos impactante. Mas esses
modelos ainda não são objeto de debate nem pelos associados
do SPR, nem pelos agricultores familiares. De uma forma ge-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

59
ral, os grandes proprietários têm o interesse imediato na regu-
larização ambiental para que possam continuar produzindo, e
os agricultores familiares e assentados estão preocupados com
a sua reprodução socioeconômica, e demandam políticas pú-
blicas para viabilizar suas propriedades e lotes.

Carlos Silvestre Paxêco


AAFCN

“O pacto foi importante para a redução do desmatamento em


São Felix do Xingu. Paramos de desmatar e estamos esperando
as políticas públicas. E para isso temos que pressionar”.

Intervenção de organizações
não governamentais
supralocais
Atraídas por uma situação adversa, mas que poderia ge-
rar oportunidades de mudanças, as ONGs que passaram a atu-
ar em São Félix a partir do embargo do município tiveram um
papel fundamental no combate ao desmatamento e na articu-
lação de políticas públicas.
Suas abordagens, focos e públicos muitas vezes eram di-
ferentes, mas as capacidades no alcance dos resultados foram
similares. A disponibilização de conhecimentos, de técnicos

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

60
e consultores, e o apoio metodo-
Uma grande contribuição
lógico e estrutural fornecido pelas
dessas organizações foi a
organizações supralocais garanti-
promoção da aproximação
ram eficiência aos processos co-
dos diferentes setores
letivos e às assessorias aos grupos
locais - agentes públicos
de famílias.
municipais, SPR, STTR,
A TNC concentrou suas
associações comunitárias
ações na regularização ambiental e
- com órgãos públicos
mais especificamente na realização
estaduais e federais, que
do CAR. A TNC, que já tinha uma
criou condições para a
parceria com a Sema-PA e com o
implementação das ações
PMV em outros municípios do Es-
necessárias para o combate
tado, foi um importante parceiro
ao desmatamento. Isso
na capacitação dos técnicos e na
foi possível dada a
estruturação da Semma para que o
credibilidade institucional
órgão fizesse o seu trabalho de ges-
e a habilidade das
tão ambiental. Em parceria com o
organizações supralocais
SPR, também atuou na sensibili-
em estabelecer o diálogo
zação dos proprietários rurais, na
com agentes públicos no
adesão e inserção do CAR no Sis-
Pará e no governo federal.
tema Integrado de Monitoramento

Wilton Batista Costa Filho


SPR

“Se não fossem as organizações de fora não teríamos os


resultados que tivemos em São Félix até agora”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

61
e Licenciamento Ambiental (Simlam), contribuindo, assim,
para que no período de três anos o município se aproximasse
da meta de 80% de CAR da área cadastrável, um dos critérios
para que o município saia da lista dos desmatadores6.
Um diferencial de São Felix do Xingu em relação a outros
municípios do Pará que também passaram a constar na lista de
desmatadores foi o processo de construção do Pacto Municipal
pelo fim do desmatamento ilegal. Em São Félix do Xingu, a
formulação e assinatura do pacto foi um processo participati-
vo que contou com o envolvimento de diferentes setores, teve
uma ampla consulta pública e foi assinado por 41 instituições.
O IEB e parceiros, entre eles a Adafax, imprimiu um direcio-
namento metodológico aos debates e dinâmicas das inúmeras
reuniões e audiências, que foi fundamental para que o processo
acontecesse com ampla participação, e ainda conduziram a ela-
boração do documento do pacto e a sistematização das deman-
das das comunidades. Isso ocorreu não apenas na elaboração
do pacto, mas também na constituição da Comissão do Pacto
Municipal pelo fim do desmatamento ilegal e na definição da
Agenda Pós-Pacto, que se constituíram em instrumentos de
gestão coletiva.
Outras contribuições importantes do IEB e parceiros
se deram na efetivação do Conselho Gestor da APA Triunfo
do Xingu e no apoio metodológico e de abordagem à Adafax,

6
O Boletim do Cadastro Ambiental Rural publicado pela Sema em maio de
2013 apresenta o município de São Félix do Xingu com uma área de CAR de
2.602.775,907 ha, que representam 78% da área cadastrável.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

62
associações e grupos locais para que essas organizações locais
evidenciassem a importância da agricultura familiar na busca
pela sustentabilidade do município tanto nos fóruns e debates
públicos como na implantação de práticas produtivas sustentá-
veis com os grupos e famílias.

Influência dos agentes


governamentais intervindo
sobre o processo local
O processo participativo para a construção do Pacto Mu-
nicipal pelo fim do desmatamento ilegal contou com a colabora-
ção do IEB e parceiros. Contudo, só foi possível porque o então
secretário municipal de meio ambiente acreditou que esse seria
o caminho mais efetivo e, ainda, porque o MMA, ao executar
o Projeto “Pacto Municipal para a Redução do Desmatamento”,
forneceu o aporte necessário para que isso acontecesse.
Além de colaborar com a elaboração do pacto, com a
constituição da Comissão, da qual faz parte, e nas ações para a
definição e implementação da Agenda Pós-Pacto, o MMA tam-
bém investiu na melhoria da estrutura da Semma para que o
órgão assumisse a regularização ambiental. A contratação pelo
MMA de empresas de geoprocessamento e a parceria com o
Incra possibilitaram que os pequenos proprietários e assenta-
dos tivessem acesso gratuito ao CAR, o que também contribuiu
para que fossem alcançados os 80% de cadastramento no CAR

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

63
da área cadastrável do município. Em abril de 2012, o municí-
pio já havia cadastrado 2.696.980 ha, ou seja, uma área superior
aos 2.666.198 ha, que correspondem a 80% da área total cadas-
trável de 3.332.748 ha. Nessa área cadastrada até abril de 2012
estavam consideradas as sobreposições de propriedades. Com a
exclusão das sobreposições, o percentual chegava a 78%.

Matheus Teixeira P. do Couto


Imaflora

“O CAR é uma ferramenta muito interessante para resolver o


problema do município”.

Philippe Sablayrolles
GRET

“O CAR é uma ferramenta poderosa, que ajudou a me-


diar a discussão. Eu mesmo fui reticente no início”.

O MMA auxiliou na estruturação da Semma com veícu-


los e equipamentos e também favoreceu a aproximação entre a
Semma e a Sema-PA, o que possibilitou, entre outros acordos,
que o órgão municipal estivesse autorizado a licenciar proprie-
dades de até 1.000 ha.
Um dos resultados do apoio que o MMA vem dando na
qualificação dos servidores da Semma é o aumento da eficiên-
cia do órgão público na implantação da gestão ambiental mu-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

64
nicipal. O município encontra-se
Um resultado importante
habilitado para a gestão ambiental
obtido em São Félix
compartilhada, estando autoriza-
foi a redução das taxas
do a dar andamento às 177 ativida-
de desmatamento, que
des e empreendimentos que desde
passaram de 761 Km² em
novembro de 2009 estão sujeitos
2007/2008 para 140,1 Km²
ao licenciamento e fiscalização
em 2010/2011, embora
ambiental municipal.
tenha havido um aumento
A parceria estabelecida com
para 169,5 Km² em
o PMV também têm contribuído
2011/2012.
com o município ao apoiar a Co-
missão do Pacto Municipal pelo fim do desmatamento ilegal e
a capacitação dos servidores públicos da Semma. A dificuldade
do município em alcançar a última meta para sair da lista dos
desmatadores, ou seja, a taxa de 40 Km²/ano de desmatamento,
deverá contar com o apoio de um Grupo de Trabalho consti-
tuído no Comitê Gestor do PMV e que está construindo argu-
mentos para propor novos critérios para o embargo.
Algumas pessoas envolvidas nesse processo afirmam que
o esforço para realizar o CAR e a presença mais firme do Ibama
foram as principais causas para as reduções nas taxas do des-
matamento. Mas também analisam que o aumento observado
em 2011/2012 em relação a 2010/2011 já é um reflexo da pouca
efetividade no encaminhamento dos compromissos assumidos
pelo governo quando da elaboração do Pacto Municipal pelo
fim do desmatamento ilegal.
Até o início de 2013 havia uma apreensão com relação à
mudança na gestão municipal, pois não se tinha certeza qual
seria a postura do novo prefeito diante do processo estabele-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

65
cido no município e se o novo secretário de meio ambiente
assumiria o planejamento elaborado pela Comissão do Pacto
Municipal pelo fim do desmatamento ilegal. Mas a pressão do
Ministério Público e a parceria das organizações e instituições
envolvidas no pacto fizeram com que a nova gestão municipal
se envolvesse no processo.

Institucionalização da
discussão da sustentabilidade
A partir de 2009, São Felix do Xingu passou de uma si-
tuação de baixíssima governança, onde a ausência do Estado
determinava a ilegalidade e não estimulava atitudes produtivas
sustentáveis, para um município onde os diferentes setores, a
partir da formalização de uma agenda pactuada entre socieda-
de civil e governo, começaram a avaliar suas práticas e a buscar
o desenvolvimento com base na sustentabilidade.

Justiniano de Queiroz Netto


PMV

“O município atraiu projetos de ONGs importantes. O muni-


cípio não está só”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

66
Wilson Alves Rodrigues
SPR

“São Félix do Xingu era sempre vista como vilã, mas a


imagem está mudando”.

E nessa busca a Comissão do Pacto Municipal pelo fim do


desmatamento ilegal se transformou no espaço privilegiado
de debate e formulação de ideias e ações. A constituição de
um planejamento pactuado e construído por diferentes atores
e que teve como base as demandas apontadas pelas comuni-
dades rurais, serve como referência para que os órgãos públi-
cos e os diversos setores da sociedade civil orientem seus pro-
jetos e ações e busquem articulá-los com outras iniciativas.

Segundo depoimentos dos envolvidos, foi a partir da co-


missão que começou a haver um nivelamento de informações,
e tanto técnicos como lideranças passaram a ter uma maior
clareza sobre a necessidade de fazer a gestão ambiental para
produzir de forma sustentável.
Apesar de as diferentes instâncias do governo estarem
representadas na comissão, este não é um espaço apenas do
governo, o que a torna diferente de outras comissões em outros
municípios embargados.
O processo da construção do pacto e da constituição da
Comissão Municipal aproximou setores do município historica-
mente antagônicos, como o SPR e o STTR. Isso não significa a
constituição de alianças, mas ao menos a disposição de dialogar

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

67
acerca de objetivos comuns. E a Comissão Municipal, apesar de
contar com uma expressiva participação das organizações locais,
gradativamente vai agregando novas instituições, como o Ima-
flora, o ICMBio, organizações indígenas, entre outros.

Ruth Corrêa da Silva


IEB

“O pacto é um documento que vem casado com outras de-


mandas que vão além do controle do desmatamento e da
regularização ambiental”.

Wilton Batista C. Filho


SPR

“A comissão foi importante para juntar as organizações


e lutar por objetivos comuns”.

Celma Gomes de Oliveira


Adafax

“A comissão foi capaz de identificar demandas produtivas,


organizar o CAR, colocar na mesa atores antagônicos”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

68
Apesar da importância que a Comissão Municipal repre-
senta para São Felix do Xingu, não há um consenso sobre o seu
destino. Para as organizações e instituições que atuam como
animadoras das reuniões, como o IEB e a Adafax, entre outras,
a comissão tem um papel fundamental na articulação de ações
e na implementação do que foi pactuado. Para outros, o papel
da comissão será concluído assim que o município conseguir
baixar os índices de desmatamento e sair da lista de desma-
tadores. E ainda há os que sugerem que ela seja associada ao
Comam, sendo uma câmara técnica.

Celma Gomes de Oliveira


Adafax

“A Comissão é a guardiã do pacto”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

69
DESAFIOS

70
Condições
para a
produção
sustentável
• Dificuldade de implemen-
tar sistemas de produção
sustentáveis que recupe-
rem áreas degradadas,
minimizem o impacto so-
bre os recursos naturais e,
portanto, contribuam para
a redução do desmatamen-
to, com o estágio precário
de São Félix em alguns as-
pectos considerados fun-
damentais por grandes,
médios e pequenos pro-

71
prietários. São eles: infraestrutura (estrada para escoamento
da produção, estruturas de produção – silos, casa de fari-
nha, maquinário etc.); regularização fundiária para viabili-
zar o financiamento e o crédito, garantindo segurança para
investir na produção; crédito que financie a diversificação
da produção; acesso a novos mercados e aos mercados ins-
titucionais; assistência técnica com tratamento diferenciado
para os grandes proprietários e agricultores familiares.
• Necessidade de desenvolver novas cadeias produtivas (não
madeireiros, polpa de fruta, alimentos), pois grande parte
dos produtos/alimentos consumidos pela população de São
Félix vem de fora.

Wilton Batista C. Filho


SPR

“Se não tiver estrutura/estrada a produção continuará sendo


via pecuária. Frete é mais caro do que insumos”.

• A assistência técnica, juntamente com a regularização fun-


diária, é citada como uma necessidade estruturante, pois os
agricultores dizem que não produzem para além do gado
porque não há assistência técnica.

André Costa
Sema-PA-APA Triunfo do Xingu

“A velocidade para a regularização ambiental é maior do


que a regularização fundiária, por isso as alternativas de
produção são importantes, além da aquisição de do-
cumentação, mesmo que provisória, que permita aos
produtores conseguirem financiamentos”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

72
Antonio Oliveira da Silva
Emater

“Tem que ter regularização fundiária. Na assinatura do pacto,


o Ibama, Incra e o Iterpa assumiram de resolver a questão
fundiária e não resolveram em função da burocracia, falta de
pessoal, licitação, logística”.

Otair José J. Ovides


STTR

“Os colonos estão desmatando porque não têm assistên-


cia, enquanto os fazendeiros já desmataram. Quem adota
a pecuária se torna escravo”

Matheus T. P. do Couto
Imaflora

“Orientação é fundamental, pois tem muita gente que des-


mata porque não tem orientação de outra alternativa”.

• Na busca pela sustentabilidade, tem havido investimentos,


ainda que com um público restrito, em dois modelos dis-
tintos: pecuária sustentável com os grandes proprietários
e diversificação na agricultura familiar com o cacau como
gerador de renda. E não há um debate entre os promotores
desses sistemas e os grandes produtores e agricultores fa-
miliares sobre o futuro da convivência entre esses sistemas.
Haverá rota de colisão? Serão antagônicos? Serão comple-

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

73
mentares? Apesar de não haver respostas para essas pergun-
tas, já existem algumas preocupações, como a possibilidade
de ampliação da área de cultivo do cacau, principalmente
com a entrada da Cargill no município, e que mudanças isso
pode trazer para o mercado e no uso dos recursos naturais.

Atuação do governo
• Falta integração das políticas públicas. Lideranças do movi-
mento social afirmam que não entendem por que o Incra,
MDA e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (Mapa) não estão atuando no município na imple-
mentação de sistemas sustentáveis de produção juntamente
com as iniciativas do MMA de combate ao desmatamento.
• Baixa acessibilidade de políticas importantes, principal-
mente para os agricultores familiares, como as dificulda-
des burocráticas enfrentadas para aderir aos programas da
Conab-PAA e Pnae.
• Na percepção de vários atores locais, o MMA ainda não
conseguiu articular o seu projeto implementado em São Fe-
lix do Xingu com os demais ministérios do governo federal,
o que poderia ter facilitado a integração entre políticas fo-
mentadoras de práticas sustentáveis de produção.
• Dificuldade em atingir os 40 km² de desmatamento como a
última condição que resta para o município sair da lista dos
desmatadores, quando se observa um aumento no índice em
2011/2012 comparado a 2010/2011. A grande dificuldade está

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

74
Otair José J. Ovides
STTR

“Não tem havido integração entre as políticas. Vem o


MMA, mas sem o MDA e o Mapa”.

Philippe Sablayrolles
GRET

“O governo elege a sustentabilidade como marco, mas não


viabiliza seus instrumentos - Incra, MDA, Mapa não disponi-
bilizam e articulam seus programas”.

na sua dimensão, pois é o segundo maior município do Pará


em área e ainda no controle em áreas onde as pressões sobre
os recursos naturais são maiores. É o caso da APA Triunfo
do Xingu, onde o desmatamento em 2012 teve o acréscimo
de 13% em relação a 2011; das grandes propriedades ao sul
do município, responsáveis por aproximadamente 30% da
área total desmatada; e dos assentamentos, onde em 2012 foi
registrado um aumento de 52% no índice de desmatamento
com relação a 2011.

Ruth Corrêa da Silva


IEB

“A expectativa era que o desmatamento continuasse cain-


do, mas, ao contrário, subiu de 140 km² para 160 km²”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

75
Philippe Sablayrolles
GRET

“O resto do município ganha mecanismo de controle e os


assentamentos não. E é justamente lá onde há uma gestão
pública – é uma incoerência”.

• As expectativas geradas de atendimento às demandas levan-


tadas na ocasião da construção do pacto pelo fim do desma-
tamento ilegal e a morosidade na implementação das ações
previstas na Agenda Pós-Pacto têm gerado frustração e des-
crédito nas organizações locais.

José Wilson A. Rodrigues


SPR

“O problema é gerar expectativa e não cumprir. Por exem-


plo, na criação da APA, os moradores tiveram a promessa
de que com a criação da UC teriam acesso à educação,
saúde, produção, mas nada aconteceu. No caso da Agen-
da Pós Pacto isso também está ocorrendo”.

Creone Oliveira dos Santos


Asmop

“Ficamos de repassar ao povo o que está acontecendo,


mas foi passando o tempo e até agora estamos apenas
participando de reuniões. Estamos perdendo a credibilida-
de. À medida que vai passando o tempo vai ficando mais
difícil”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

76
Wilton Batista C. Filho
SPR

“Há uma indignação da população pela falta de efetividade


das ações”.

Articulações institucionais
• Há a necessidade de uma maior articulação entre as inicia-
tivas/projetos executados em São Felix do Xingu. Apesar de
a Agenda Pós-Pacto estar sendo formulada com o envolvi-
mento de várias instituições e organizações, reclama-se que
o planejamento conjunto não se manifesta em ações con-
juntas e articuladas. Isso é um problema, pois muitas vezes
o público beneficiário é o mesmo nas diferentes iniciativas.
• Existe a necessidade de imprimir mais efetividade às ativi-
dades dos projetos que estão sendo executados em São Fe-
lix do Xingu. As organizações locais observam que existem
muitos recursos de diferentes fontes sendo investidos no
município, mas que ainda não surtiram mudanças na vida
das comunidades rurais.
• As pessoas que estão à frente da Comissão do Pacto Mu-
nicipal pelo fim do desmatamento ilegal sentem a necessi-
dade de fortalecer a comissão e integrar as ações pactuadas
na Agenda Pós-Pacto. Nesse sentido, foi definido nas duas
últimas reuniões da comissão que se realizaria um traba-
lho mais articulado nas áreas do município onde as taxas de
desmatamento ainda são altas.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

77
Raimunda de Mello
TNC

“É preciso envolver outros setores do município - Câmara


dos vereadores, professores/formadores de opinião, MPE,
instituições financeiras/bancos”.

Philippe Sablayrolles
GRET

“Os espaços são muito frágeis. Não tem acúmulo e,


com a mudança do gestor municipal, isso pode ser
comprometido”.

• A Comissão Municipal pelo fim do desmatamento ilegal


não é um espaço institucionalizado. Se, por enquanto, a não
formalização foi a forma encontrada na definição dos acor-
dos e no funcionamento da comissão, no futuro, essa situa-
ção terá que ser avaliada, pois a informalidade pode trazer
dificuldades no estabelecimento de parcerias ou até mesmo
na sustentabilidade desses processos.

Fortalecimento institucional
• Apesar do esforço de algumas organizações, como o IEB,
no fortalecimento de setores mais desassistidos, como a
agricultura familiar (associações comunitárias, cooperati-
va, grupos informais, coletivos), há uma preocupação das

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

78
lideranças locais com a desmobilização das organizações
comunitárias. Essa desmobilização tem como uma das
causas a falta de efetividade na implementação de políti-
cas públicas que atenderiam as demandas levantadas pelas
comunidades quando da construção do pacto pelo fim do
desmatamento ilegal e na definição de ações previstas na
Agenda Pós-Pacto.
• Outro aspecto que contribui com a desmobilização é a au-
sência de organizações representativas do segmento da agri-
cultura familiar com capacidade e capilaridade para debater
a sustentabilidade no município. O retrospecto histórico
da atuação dos movimentos sociais em São Felix do Xingu
evidencia que as organizações populares já estiveram mais
organizadas e mobilizadas, período em que obtiveram im-
portantes conquistas, o que não tem ocorrido atualmente.
• Apesar de a Semma ter ampliado sua capacidade em efetuar
a gestão ambiental no município, essa não é a situação ob-
servada nas demais instituições governamentais que atuam
no município. Há falta de pessoal e, em alguns casos, falta
direcionamento político-institucional que possibilite que as
instituições públicas apoiem e assessorem as comunidades
rurais rumo à transição para a sustentabilidade.

Philippe Sablayrolles
GRET

“A questão ambiental é uma temática territorial, portanto é


importante que haja atores territoriais (organizações locais)
com capacidade de fazer essa discussão. Não há política
séria para manutenção dos atores territoriais”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

79
Rogel Abreu de Melo
Agavax

“Já tivemos mais sucesso nas mobilizações. Hoje, esta-


mos andando pouco. Está faltando participação (envol-
vimento do STR etc.). Há um desânimo por causa das
dificuldades”.

80
Raimundo Freires
Cacuxi

“Foi importante chegar ao acordo/pacto, mas tem uma des-


mobilização dos produtores por conta das demandas não
estarem sendo atendidas (ex. questão fundiária não tem
nada evoluindo)”.

81
APRENDIZADOS

82
• É importante envolver to-
dos os setores produtivos
(agricultores familiares,
assentados, grandes pro-
prietários, ribeirinhos),
principalmente quando
se pretende cadastrar as
propriedades como etapa
inicial da regularização
ambiental. No caso de São
Felix do Xingu, foi impor-
tante mobilizar os grandes
proprietários para avan-
çar nas metas do CAR e,
mesmo considerando a
sobreposição, ter chega-
do em 80% de cadastro
em um curto período de
tempo, já que estes detêm

83
o maior percentual de áreas privadas e cadastráveis do mu-
nicípio, mas sem prescindir das pequenas propriedades, que
representam 20 a 30% das áreas cadastráveis.

Francisco Fonseca
TNC

“Não dá para falar só com quem não está na ilegalidade.


Conseguimos os 80% de CAR porque os grandes proprie-
tários aderiram”.

Manuel Amaral
IEB

“Para alcançar 80% de CAR em São Félix do Xingu, foi ne-


cessário interagir com os agricultores familiares, diferente
de Paragominas, em que este setor não chega a 10% do
município”.

Luis Alberto Araújo


Ex-secretário Semma

“É possível reproduzir o que foi feito em São Felix do Xingu


em qualquer lugar do país”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

84
• É possível identificar interesses comuns e estabelecer parce-
rias que aproximem o governo de proprietários e comunida-
des rurais na identificação de soluções que satisfaçam esses
interesses. Organizações supralocais com trânsito junto aos
agentes públicos podem servir de facilitadores nessa apro-
ximação, desde que sob a perspectiva do fortalecimento das
organizações locais, pois essas últimas são as responsáveis
pela perenidade das ações nos territórios.

Celma G. de Oliveira
Adafax

“É possível sentar médios, pequenos e grandes por ob-


jetivos comuns”.

Viviane Gonçalves
Consultora MMA

“Faria tudo de novo – o formato/forma foi muito oportuno


para a situação/contexto do município, envolvendo técnicos
e o pessoal de base. O estado é que tem que cumprir com
os compromissos”.

• Acordos, pactos e planejamentos têm muito mais chances


de serem efetivos quanto maior for o envolvimento daque-
les que vivem os problemas e conhecem os potenciais dos
territórios. No caso de São Felix do Xingu foi fundamental
ampliar a participação envolvendo as comunidades rurais
na identificação de demandas e as instituições e organiza-
ções locais na elaboração do pacto e da Agenda Pós-Pacto.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

85
Luis Alberto Araújo
Ex-secretário Semma

“Estamos na ponta do município e escutamos a realidade


das comunidades”.

• É importante atuar com as organizações locais, identificando


suas fragilidades e necessidades e procurando fortalecê-las. É
necessário também que essas organizações ampliem suas bases
e a capacidade de se articularem para poder ganhar força nos
diálogos e na pressão ao governo para que haja efetividade na
implementação das políticas públicas. No caso específico de
São Felix do Xingu, é fundamental que haja uma rearticulação
das organizações populares, evidenciando e valorizando o pa-
pel e a contribuição de cada organização (STTR, associações
comunitárias etc.) na democratização da informação, no deba-
te público e na busca pela sustentabilidade do município.
• Dada a dimensão e a importância da APA Triunfo do Xin-
gu, é necessário que haja uma ação mais efetiva e enérgica
nesse território, para que se consiga reduzir os índices de
desmatamento e a construção de alternativas produtivas ali-
cerçadas em bases sustentáveis.
• Para que a legalização ambiental ocorra de fato, é funda-
mental que haja resultados econômicos efetivos para o se-
tor produtivo do município. Nesse sentido, deve haver uma
maior integração entre as políticas ambientais e de apoio à
produção que fomente a geração de renda e de serviços, es-
tabelecendo as bases necessárias para a sustentabilidade no
desenvolvimento de São Felix do Xingu.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

86
Francisco Fonseca
TNC

“Quanto mais organizada estiver a sociedade civil, com


mais rapidez acontecerão as mudanças de paradigma para
o desenvolvimento sustentável”

Matheus T. P. do Couto
Imaflora

“Existe uma carência muito grande das organizações.


Atuar em São Félix com o fortalecimento da gestão da
Cappru nos fez refletir sobre a ação do Imaflora em ou-
tras regiões”.

Justiniano de Queiroz Neto


PMV

“A Sema-PA tem que ir para dentro da APA e aplicar recursos


em ações concretas. É necessário monitorar e punir quem
continuar desmatando”.

Manuel Amaral
IEB

“O diagnóstico institucional que fizemos em 2009, apre-


senta a complexidade de São Félix do Xingu e a importân-
cia de uma atuação na APA Triunfo do Xingu para enfrentar
questões estruturantes que promovem o desmatamento”.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

87
Citações Bibliográficas
BARRETO, Paulo; PEREIRA, Ritaumaria; ARIMA, Eugênio. A
pecuária e o desmatamento na Amazônia na era das mudanças
climáticas – Belém: Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia, 2008.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Plano de


Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Ama-
zônia Legal. 2ª Fase (2009 – 2011). Rumo ao desmatamen-
to ilegal zero. Versão Preliminar. Brasília: MMA, nov. 2009.
175 p.

CASTRO, Edna Ramos; MONTEIRO, Raimunda; CASTRO,


Carlos Potiara. Estudo sobre dinâmicas sociais na fronteira,
desmatamento e expansão da pecuária na Amazônia: ATO-
RES E RELAÇÕES SOCIAIS EM NOVAS FRONTEIRAS NA
AMAZÔNIA: Novo Progresso, Castelo de Sonhos e São Félix
do Xingu. Belém: Banco Mundial, 2002.

ESCADA, Maria Isabel Sobral; VIEIRA, Ima Célia; KAMPEL,


Silvana A; ARAÚJO, Roberto; VEIGA, Jonas Bastos; DUTRA,
Ana Paula; VEIGA, Iram; OLIVEIRA, Myrian; PEREIRA, José
Luis Gavina; CARNEIRO FILHO, Arnaldo; FEARNSIDE,
Philip Martin; VENTURIERI, Adriano; CARRIELO, Felix;
THALES, Marcelo; CARNEIRO, Tiago Senna G.; MONTEI-
RO, Antonio Miguel Vieira; CÂMARA, Gilberto. Processos

88
de ocupação nas novas fronteiras da Amazônia: o interflúvio
do Xingu-Iriri. Estudos Avançados, 19 (54), 2005 p.9-23. IBGE.
Censo Agropecuário, 2006.

IBGE, 2010 a. Banco de Dados com perfil das Cidades Brasilei-


ras. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwin-
dow.htm. Acesso em: 02 mar. 2013.

IBGE, 2010 b. Pesquisa Agrícola Municipal – Série histórica.


Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/eco-
nomia/pam/2010/default.shtm.

IEB. Diagnóstico Institucional: Capacidades e limites da socie-


dade civil de São Félix do Xingu para o ordenamento territorial
e manejo dos recursos naturais. Belém: IEB, 2009.

MUNICÍPIOS VERDES. Série: Integração – Transformação –


Desenvolvimento/Fundo Vale. – Rio de Janeiro: Report Comu-
nicação, 2012, 106p.

PRODES 2011. Desflorestamento nos Municípios da Amazô-


nia Legal para o ano de 2011. Disponível em: http://www.dpi.
inpe.br/prodesdigital/prodesmunicipal.php.

SOUZA, João Francisco. Por que sistematizar. In: CENTRO


NORDESTINO DE ANIMAÇÃO POPULAR. Almanaque de
Metodologia da Educação Popular. Recife (Pe): CEPE - Compa-
nhia Ed. de Pernambuco, 1998. 97p.

89
Anexo I - Pacto Municipal

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

90
Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA

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99
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100
ANEXO II - Resumo da Agenda Pós-Pacto
Resultado das demandas levantadas durante rodada de discussão para construção do Pacto para o fim
do desmatamento ilegal em SFX
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
1. Regularização das áreas urbanas 1.1 Elaboração do diagnóstico da situação
Incra, Iterpa, Terra Legal,
(estaduais e federais) – São 35 Vilas e da real demanda de vilas (No, dentro e fora
e Sematur ou Núcleo de
Agrovilas, mais a sede do município, com de assentamentos, competência etc.) do
Terras do Município
situação fundiária irregular. processo de regularização dessas vilas.

101
2.1 Elaboração de um diagnóstico
especializado que demonstre a distribuição
2. Regularização das áreas rurais, das terras do município por competência
Incra SFX, Terra Legal e
com titulação final. Quais áreas e (estadual e federal), mostrando as áreas
Iterpa
competências? que já sofreram regularização, que estão

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


Regularização sofrendo processo de regularização e aquelas
Fundiária que ainda serão regularizadas.

3. Organização, legalização e conclusão


dos Projetos de Assentamento (PA) –
3.1 Elaboração e apresentação de um
São 17 assentamentos, que cobrem uma
diagnóstico da situação de legalização dos
área de 5.242.193,2 ha, nos quais vivem
17 PAs (incluindo processo de emancipação Incra
3.348 famílias. (Legalização significa
e fases de regularização dos PAs - Ex. quais
criação ou emancipação – mais de 50%
tem PDA etc.).
dos lotes titulados. Este ponto necessita
esclarecimentos).
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
4. Implantação do Plano de 4.1 Elaboração e apresentação de um
Desenvolvimento do Assentamento diagnóstico da situação de legalização dos
(PDA), do Projeto de Desenvolvimento 17 PAs (incluindo processo de emancipação Incra
Sustentável (PDS) e do Plano de e fases de regularização dos PAs - Ex. quais
Recuperação do Assentamento. tem PDA etc.).
5. Regularização do assentamento 5.1 Provocar uma reunião entre o INCRA,
Regularização Incra - Superintendência,
Pombal em área de proteção ambiental ITERPA e SEMA para discutir a situação
Fundiária Iterpa/PA e Sema/PA
(APA Triunfo do Xingu). (jurídica) do Pombal.
6. 1 Elaboração de um levantamento da
6. Infraestrutura, autonomia e presença infraestrutura dos órgãos responsáveis

102
permanente dos órgãos de regularização pela regularização fundiária no município Grupo não colocou
fundiária no município. (número de funcionários, demanda de
pessoal).
1.1 Recuperação dos Eixos para 2012
1. Abertura e manutenção de estradas,
(Taboca, Ladeira Vermelha, Vila Xadazinho,
vicinais e pontes, com qualidade

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


Vila Central, Plano Dourado, Central e PMSFX, Incra
suficiente – Existem mais de 8 mil km de
Pontalina) 2.1 Recuperação de Eixo em 2012
estradas.
(Lindoeste, Sudoeste e Pombal).

Infraestrutura 2. Energia elétrica disponível nas vilas


e nas áreas rurais. O custo da energia
Programa Luz para Todos
nas áreas rurais é considerado alto pelos 2.1 Toda a APA - Tanto Campo Verde como
- OAV como suporte para
produtores e agricultores familiares. Na Vila Primavera já estão em fase de instalação
articulação do Luz para
sede do município, 35% das casas não de postes.
Todos
têm energia regularizada (captam energia
por meio de “gatos”).
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
1.1 identificar diferentes linhas de créditos e
1. Adequação dos financiamentos e
repassar para os produtores;
créditos de acordo com as necessidades e
realidades locais e não o crédito que vem 1.2. buscar formas de créditos adaptadas e Emater, Incra e Ceplac
sob forma de “pacote”, sem respeitar as com critérios flexíveis às características dos
diferentes necessidades e realidades. produtores locais.

2.1 Agilizar o processo de vistoria no campo


2. Agilizar, facilitar e liberar créditos e com ampliação do quadro de técnicos do Basa, Bradesco e Banco do
financiamentos. banco; ou fazer multidão ou contratação Brasil
indireta.

103
3. Atualização de valores para créditos
N/A, pois o aumento de teto já foi feito.
Crédito visando aumento de teto.
4. Liberar o Pronaf Mais Alimento,
Jovem, Mulher, Florestal e outros para
o município. Envolvimento dos agentes

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


4.1 O banco desburocratizar o acesso deste Banco da Amazônia e
bancários, com capacitação dos mesmos
tipo de recurso. Banco do Brasil
(gerentes e técnicos) para as linhas de
crédito adequadas, de acordo com as
realidades locais.
5. Elaborar cartilha em linguagem
facilitada esclarecendo formas de
5.1 Elaboração de cartilhas. TNC e IEB MMA
financiamentos, prazos, juros, atividades,
beneficiários e documentos exigidos.
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
6. Realizar capacitações para presidentes 6.1 Integrar agendas de capacitação entre
de associações e cooperativas do TNC e IEB e MMA;
Crédito TNC IEB e MMA
município para esclarecer estas formas de 6.2 Capacitação para associações signatárias
créditos e financiamentos. do pacto em Créditos e Financiamento.
1. Pagamento por serviços ambientais: É
uma demanda concreta dos agricultores
que o governo crie e implemente 1.1 Implantar PSA em SFX. Sema, Sematur
mecanismos para pagamento dos
serviços ambientais.
2. Plano de Recuperação de áreas

104
degradadas e Reflorestamento, com
Sema, Sematur, Ideflor,
investimento nessas áreas: É preciso 2.1 Implantar Planos de Recuperação de
Adafax, IEB, Eletronorte,
dar continuidade, reforçar ou ampliar o áreas degradadas em SFX.
Regularização MMA
que já vem sendo realizado por meio de
Ambiental iniciativas em andamento no município.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


3. Incra e Iterpa devem realizar CAR em
3.1 CAR em assentamentos rurais (IN 044 Incra, Iterpa, TNC,
assentamentos rurais federais e estaduais,
de 2010). Sematur
respectivamente.
4. Realizar CAR nos 20% restantes no
4.1 CAR nos 20% restantes do município. MMA, Sema, Sematur
município.
5. Normatizar/Agilizar o processo
5.1 Agilizar o processo de licenciamento
de licenciamento ambiental para os Sema, Sematur
ambiental.
produtores.
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
6. Legalizar e dar licença para limpeza das
6.1 Obter a licença das areas produtivas.
Regularização áreas produtivas da agricultura e pecuária.
Ambiental 7.1 Implantar Programa de Bom Manejo do MMA (com execução da
7. Ações preventivas.
Fogo para as comunidades locais (a definir). entidade contratada)
1.1 Revisão, publicação das planilhas dos
parâmetros para aprovação de projetos de Banco da Amazônia,
1. Elaboração e acompanhamento de
financiamento. Capacitar técnicos locais e Banco do Brasil, Emater,
projetos de acordo com a realidade local
representantes de associações em elaboração Ceplac, Semagri. Sagri,
e com isenção de taxas.
de projetos produtivos e para captação de MDA MMA

105
recursos financeiros.
2.1 Plano de trabalho conjunto das
prestadoras de serviço de assistência
considerando as vocações locais. +5
Emater, Incra, Cappru,
capacitações em elaboração de projetos
Produção 2. Universalização da AT (ATER e Semagri, Adafax, CFR,
de alternativas produtivas sustentáveis

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


ATES). TNC, Ceplac, IEB, SPR,
para aptidão agrícola e florestal (SAFs,
MMA
Silvopastoril, Pecuária Sustentável etc.) (ver
item 9 também) Realizar 2 Visitas Técnicas e
ou Intercâmbio.
3. Capacitação de técnicos, aumento no
Emater, Incra, Cappru,
número de funcionários, equipamentos,
Semagri, Adafax, CFR,
condições de trabalho e veículos, de
TNC, Ceplac, IEB, SPR,
forma a estruturar e fortalecer órgãos de
MMA
assistência e prestadoras de serviço.
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
4.1Apoio e articulação para o
4. Estabelecimento de parcerias e ou Emater, Incra, Cappru,
estabelecimento de convênios para
convênios com instituições públicas Semagri, Adafax, CFR,
realização de pesquisa e realização de
de pesquisa visando à implantação de TNC, Ceplac, IEB, SPR,
experiências piloto com foco em produção
unidades produtivas demonstrativas. MMA
sustentável.
5.1 Ampliar e modernizar a frota do
município disponibilizada pela Operação Associações locais,
5. Aquisição de máquinas agrícolas/
Arco Verde em parceria com associações Semagri, Operação Arco
Patrulha mecanizada.
locais para fazer a gestão do uso do Verde, STTR
maquinário.
Associações locais,

106
6. Manutenção das máquinas existentes. Semagri, Operação Arco
Verde, STTR
7.1 Formar um subcomitê com extratificação Adafax, Ceplac, Cappru,
Produção do grupo voltado especificamente para cada Emater, SPR, TNC,
7. Fortalecimento das cadeias produtivas, uma das cadeias produtivas; Semagri, Imaflora,

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


considerando beneficiamento, Prefeitura (Secretaria
escoamento e comercialização. de Administração e
7.2 Realizar 1 Curso de CdV para técnicos. Secretaria de Viação e
Obras) MMA/GIZ

8.1 Identificar o tipo de certificação que


se aplica a atividades locais e adequar as
8. Certificação/selos das cadeias
atividades de acordo com as normas e critérios
produtivas: É desejável que as cadeias
de certificação; e propor a vinda do MDA para
produtivas busquem a sustentabilidade Imaflora, MDA
explicar às várias secretarias que existem no
ambiental para conquistar novos
MDA que contém diversas políticas públicas
mercados.
para agricultura familiar que o município
desconhece e, por isso, não se beneficia.
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
9.1 Pnae já está iniciado com algumas
comunidades, a meta é expandir o número
9. Acesso a políticas públicas e Pnae: secretaria de
de produtos e agricultores e associações
participação em programas de governo, Educação / PAA:
participantes no PAA e PNAE. Criar uma
como o PAA e o PNAE, que visam o Secretaria de Educação e
estratégia para fazer com que a prefeitura
apoio à comercialização e a garantia do Secretaria de Agricultura
internalize isso como uma política pública
preço mínimo. PAA/Conab
e disponibilize um funcionário para
acompanhamento.
10. Fortalecimento das associações,
cooperativas e outras entidades de base:

107
Pnae: Secretaria de
Produção Tanto para acessar crédito ou políticas
Educação / PAA:
públicas como o PAA e o PNAE, como
Secretaria de Educação e
para avançar nas questões relativas
Secretaria de Agricultura
a Assistência Técnica, a mudança
PAA/Conab
de sistemas produtivos e apoio à

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


comercialização.
11. Apoio à Casa Familiar Rural: A
CFR é um instrumento de difusão de 11.1 Integração entre governo estadual
Semec e Seduc, MDA,
novas técnicas e alternativas produtivas e municipal visando fortalecer o apoio
MEC
sustentáveis em terras agrícolas e em finaceiro á CFR.
recursos florestais.
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
Adafax, Ceplac,
12. Plano de diversificação da produção, Cappru, Emater,
com meios para sua implementação, SPR, TNC, Semagri,
12.1 Elaborar o plano como resultado da
buscando unificar a estratégia Prefeitura (Secretaria
demanda 4.
governamental e adaptá-la a cada de Administração e
realidade. Secretaria de Viação e
Produção Obras)
13.1 Montar um campo experimental
coletivo com apoio da prefeitura com a
13. Acesso a tecnologias de produção Prefeitura Municipal,
doação de um lote e formalizar um convite
adaptadas à região, por meio de pesquisa Ceplac, Embrapa, UFPA,

108
à Ceplac, Embrapa, UFPA, GRET (e outros)
e produção/difusão de tecnologias. GRET (e outros)
para apoiar e trabalhar as tecnologias nesse
campo experimental.
1.1 Estruturar sala de geoprocessamento e
adquirir imagens de satélite de alta resolução
para identificação de ilícitos;

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


1.2 implantação de sistema de
1. Projeto de implementação monitoramento remoto de queimadas
Monitoramento e e manutenção de sistema de e outros desastres ambientais, Funai/CGMT/CR
Fiscalização sensoriamento remoto para identificação acompanhamento do estado de Tucumã/Belém
e monitoramento de vulnerabilidades. desmatamento;
1.3 Identificação por meio de sensoriamento
remoto de possíveis grupos Kayapós
isolados, mapeamento remoto de recursos
florestais não madeireiros.
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
2.1 Integrar banco de dados sobre
informações e planejamentos para prevenir
2. Integração de sistema de o desmatamento e queimadas em Terras
Indígenas (CR Tucumã/Belém, Ibama, Funai/DPT/CGGMT/CR
informações de proteção territorial
Semmas); Tucumã/Belém, ICMBio,
sobre desmatamento e queimadas e
Ibama, Semmas, Imazon,
aperfeiçoamento de corpo técnico para 2.2 Aperfeiçoamento integrado do corpo Sipam
planejamento de ações de combate. técnico do Semat/CT Tucumã e Belém e
outros órgãos de proteção (estado do Pará e/
ou municipal).

109
3.1 Ações de monitoramento e prevenção
do desmatamento em parceria com órgãos
Monitoramento e municipais, estaduais e federais no entorno
Fiscalização das Terras Indígenas e UCs 3.2 Ações de
3. Projeto de implantação de Educação Ambiental dentro das aldeias e Funai/CR Tucumã/
ações preventivas no combate ao nas áreas de entorno das TIs e UCs; Belém (Semmas e Semec),

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


desmatamento nas Terras Indígenas e
3.2 Ações de Educação Ambiental dentro ICMBio, Ibama
UCs.
das aldeias e nas áreas de entorno das TIs e
UCs;
3.3 geração de um mapa de conscientização/
sensibilização ambiental.
Funai/CR Tucumã/Belém
4. Fiscalização e monitoramento sazonal 4.1 Repressão da atividade de pesca ilegal na
e ICMBio e Ibama e
das Terras Indígenas e UCs. bacia do Médio Xingu;
Semmas/Sema-PA
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
4.2 Repressão da atividade de garimpo
confirmados dentro de Terras Indígenas e
UCs;
4.3 Monitoramento de áreas de garimpo
fiscalizadas, evitando reincidências;
4.4 Monitoramento de áreas de garimpo no
entorno das Terras Indígenas e UCs;
4.5 Repressão da atividade de corte de
madeira ilegal confirmadas que ocorrem
sazonalmente nas Terras Indígenas e UCs;

110
Funai/CR Tucumã/Belém
Monitoramento e 4. Fiscalização e monitoramento sazonal 4.6 Monitoramento de serrarias da área de e ICMBio e Ibama e
Fiscalização das Terras Indígenas e UCs. entorno das Terras Indígenas; Semmas/Sema-PA
4.7 Fiscalização e monitoramento de
atividades de extração de recursos florestais
não madeireiros em Terras Indígenas e UCs;

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


4.8 Fiscalização e monitoramento de
invasões e ingressos não autorizados nos
limites de linha seca, por via fluvial e aérea
em Terras Indígenas e UCs;
4.9 Monitoramento indígena das
aviventações nos limites da Terra Indígena
e UCs;
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
4.10 Monitoramento indígena nas vias
hidrográficas da bacia do médio Xingu; Funai/CR Tucumã/Belém
Monitoramento e 4. Fiscalização e monitoramento sazonal
e ICMBio e Ibama e
Fiscalização das Terras Indígenas e UCs. 4.11 Monitoramento de queimadas; além de Semmas/Sema-PA
outras possíveis ações emergenciais.
1.1 Participar do Conselho do Núcleo
Regional; Semat/Altamira, TNC,
CGGAM, Funai Macapá,
1.2 Demandar projetos de GATI para TI
Abex CTL Rota Bacajá,
1. Projeto GATI TI Trincheira Bacajá. Trincheira Bacajá;
Semat, CR Belém e Abex

111
1.3 Reunião de planejamento de agenda para Semat. CTL Rota Bacajá e
a Gestão Ambiental e Territorial no entorno CTL Rota Xingu
das TIs (São Félix).
Gestão de Áreas 2.1 Elaboração da Metodologia do Plano.
Protegidas 2. Construção e implementação do Plano 1a Fase: Diagnóstico Socioeconômico do
Semmas, Funai,
de Gestão Territorial e Ambiental das TIs Entorno das TIs, 3 Oficinas, diagnósticos e

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


TNC,MMA, Abex, AFP,
Trincheira-Bacaja, Apiterewa e Gestão Planejamento Estratégico com as instituições
IEB, GIZ, ICMBio, Incra
Territorial no entorno (e Kayapó). governamentais, indígenas e produtores
rurais no Município de São Felix do Xingu.
CR-Belém/CTL Rota
3. Etnomapeamento Socio-econômico- 3.1 Realização de diagnóstico participativo
Bacajá, Consultor do
ambiental da TI Trincheira Bacajá e e levantamento de dados socioeconômicos
GATI, CGGAM, CR-
Kayapó. básicos de todas as aldeias;
Tucumã, Sema-PA, CI
Órgão/entidade
responsável pelo
Cláusula do Pacto Demanda Metas
atendimento da
demanda
3.2 Ao menos mais 4 campos de 20 dias cada CR-Belém/CTL Rota
serão realizados até o final de 2012 (sendo Bacajá, Consultor do
3. Etnomapeamento Sócio-econômico- que um deles está previsto para apresentar o GATI, CGGAM, CR-
ambiental da TI Trincheira Bacajá e resultado do levantamento); Tucuma, Sema-PA, CI
Kayapó. 3.3 Levantamento etnoambiental de recursos
naturais para valoração econômica de bens Funai/CR Tucumã
ambientais e seus níveis de vulnerabilidades.
Gestão de Áreas 4.2 Espaço para a discussão do Pacto e
Protegidas de seu componente indígena dentro da
programação de reuniões do evento.

112
4. Feira Mebengokré de Sementes 4.2.2 Convidar também agricultores Funai/CR Tucumã/CR-
Tradicionais. familiares do município de SFX e/ou Belém, AFP
suas organizações e cooperativas para
trocar sementes com os Kayapó e também
experiências interessantes relacionadas à

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


agricultura e extrativismo.
ANEXO III - Estrutura de governança da Comissão Municipal do Pacto pelo fim do
desmatamento ilegal em São Félix do Xingu

• Coordenação Executiva
• Secretaria Administrativa Audiências Responsável pela organização e gestão
• Sub-comissões temáticas – cada SubCT administrativa da Comissão. Mobiliza as
ter uma entidade articulador/a
Públicas entidades membros da Comissão e das
­ Regularização Fundiária
 Infra estrutura sub comissões para as atividades plane-
 Produção jadas.
 CAR/LAR
 Crédito Secretaria
 Gestão de áreas protegidas Representantes das comuni-
 Monitoramento/Fiscalização Administrativa

113
dades – responsáveis pela arti-
Coordenação culação e mobilização das co-
Executiva munidades para a discussão e
acompanhamento da execução
Articuladora política da Co- da agenda pós pacto.

Processo de construção da sustentabilidade em São Félix do Xingu-PA


missão. Responsável por con-
duzir as reuniões e o diálogo Espaços de discussão temáticas e de encaminhamento do
com as organizações mem- planejamento.
bros e os signatários do Pacto
Subcomissão Subcomissão Subcomissão
Temática Temática Temática
Articulador/a Articulador/a Articulador/a
Agradecimentos

A todas as pessoas que se disponibilizaram a contribuir para a re-


flexão do processo de construção da sustentabilidade em São Félix
do Xingu e que acreditam no futuro sustentável para o município.
Em especial aos agricultores e agricultoras familiares que no dia
a dia travam lutas pelo direito à terra e à vida com dignidade.
Fim de tarde em São Félix do Xingu, Pará.
Encontro do Rio Fresco com o Rio Xingu.
ISBN 978-85-60443-27-7

9 788560 443277

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