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PENOT, Dominique. In: SÎRÎN, Ibn. L’interprétation des rêves. Manuel d’oniromancie musulmane. Trad.
de Dominique Penot. Lyon: Aliph Éditions, 1992. p. I-II
2
Idem. p. III
grupos de “visões” 3, com os temas arranjados por afinidade temática, assim
como o que trata do sol, da lua, dos eclipses e dos planetas, entre outros. A
cada fim de capítulo, Sîrîn expõe uma anedota exemplificando o tema com uma
interpretação de sonho.
Cremos ser pertinente aqui lembrar que a mulher, não como tema
metaforizado, mas como símbolo, vem a representar a própria Criação, como
se pode ler em Ibn Arabi em obras como o Diwan7 . São prolixos também os
exemplos desta simbólica em Hafiz, em seu livro Os Gazéis, sendo especial
neste sentido o poema “Sua beleza”, em que para louvar a Amada (mulher-
Criação), recorre a vários elementos da natureza, tais como a rosa, o vinho, a
3
PENOT, D. In: SÎRÎN, 1992. p. IV
4
SÎRÎN, 1992. p. 2
5
Idem. p. IV
6
PENOT, Dominique. In SÎRÎN, 1992, p. IV-V.
7
NARVION, C. V. In: ARABI, Ibn. El esplendor de los frutos del viaje. Ed. De Carlos Varona Narvión. Madri:
Ediciones Siruela, 2008. p. 16.
primavera, a relva, a brisa, o jardim, a tulipa, o mel, o rouxinol e o cipreste,
muitos deles também sendo símbolos sufistas: “Glorioso é o jardim, a rosa e o
vinho são gloriosos; mas que seriam todos eles sem a presença de minha
Amada?”. 8
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SIRIN, 1992. p. 6
15
KHAYYAM, 2013. p. 62
16
SHAH, S. I. A. Princípios gerais do sufismo e outros textos. Trad. Álvaro de Souza Machado. São Paulo:
Attar Editorial, 1987. p. 21-22
17
HAFIZ, 1944. p. 68
18
SIRIN, 1992. p. 9-10
19
SHAH, I. Os sufis. Trad. Otávio Mendes Cajado. 9ª ed. São Paulo: Ed. Cultrix, 1993. p. 134
20
ATTAR, Farid Ud-din. A conferência dos pássaros. Trad. Octávio Mendes Cajado. 9ª ed. São Paulo:
Editora Cultrix, 1993. p. 161
21
SHAH, I. p. 134
22
HAFIZ, 1944. p. 119
23
SIRIN, 19??. p. 9
Disse uma velha raposa a outra:
“Aqui estão duzentas moedas,
agora leva esta mensagem
de mim para aqueles cachorros ali”.
Disse a outra:
“O pagamento é melhor que uma patada nos dentes;
Mas é um trabalho pesado, perigoso;
E que serventia tem teu dinheiro para mim,
Quando eu tiver perdido minha vida na aventura?” 24
24
SANAI, 1985. p. 58
25
Idem.
26
KHAYYAM, 2013. p. 95
27
SHAH, I. p. 365
Em Sanai encontramos também o leite como símbolo da ciência: “Se bebes o
vinho, não o proclames: / um bebedor de leite nada diz, porque haverias de
28
fazê-lo?”. Neste ponto o bebedor do vinho pode estar simbolizando o
iniciado no caminho sufi, e a intenção de Sanai pode ser lembrar ao buscador
sufi das diferenças entre ele e os doutores eruditos do clero islâmico,
excessivamente afeitos à palavra do Corão, se tomarmos “ciência” por
“erudição”, termo que ocorre em outra passagem do poema em que Sanai
também atenta para o caráter discreto do sufismo: “Deus não tem causa: / por
que estás buscando causas? / O sol da verdade se levanta sem fazer-se
anunciar, / e com ele se põe a lua da erudição”29.
Então, os “olhos de lua” são o reflexo do sol, o mesmo que o rei, simbolizando
Alá, e cumpre lembrar aqui o preceito sufista: “Há um Deus. Todas as coisas
28
SANAI, 1985. p. 42
29
Idem. p. 32
30
SIRIN, 19??. p. 26
31
RUMI, Jalâl AL-Dîn. A flauta e a lua - poemas de Rûmî. Trad. Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Bazar do
Tempo, 2016. p. 34. O poema está enfeixado na seção “A sombra do Amado”, cotraduzidos por Luciana
Persice.
estão nele e ele está em todas as coisas. Todas as coisas, visíveis e invisíveis,
emanam dele” 32. Noutro poema de Rumi, assim surge a lua:
32
TASSY, Garcin de. In ATTAR, 1993. p. 151
33
RUMI, 2016. p. 34. O poema está enfeixado na seção “A sombra do Amado”, com poemas
cotraduzidos por Luciana Persice.
34
TASSY, Garcin de. In ATTAR, 1993. p. 151
35
SHAH, I. 1993, p. 303
A despeito da importância dos símbolos na poesia sufi para a
oniromancia de Sirin, talvez a maior contribuição sufista para esta obra sejam
alguns de seus preceitos. Tais postulados conferem à interpretação dos sonhos
no islã uma capacidade de distinção entre todas as variantes do sonho,
propiciando exatidão na exegese, ao considerar suas matizes e propiciar o
discernimento entre o elemento essencial e o acessório, e exigem uma
dialética constante entre a universalidade do símbolo e a ampla
circunstancialidade do sonhador, seja ela interna ou externa ao sonho em si.
36
PENOT, D. In SÎRÎN, 1992, p. III
37
PENOT, D. In SÎRÎN, 1992, p. IV
Assim, prossegue Perot, a exatidão na interpretação deve considerar
algumas “linhas de ação”, principalmente a natureza de quem teve a visão: “Em
outras palavras, seja qual for a universalidade do símbolo percebido no sonho,
não é menos verdade que essa universalidade será condicionada, pelo menos
38
em parte, pelo universo mental do sonhador”. Tal universo contará com
dados culturais do rêveur, sua nacionalidade, religião e também questões
éticas e morais, entre muitos outros dados.
38
Idem.
39
SÎRÎN, 1992, p. 2
40
Idem, p. 6
41
SHAH, I. 1993. p. 293
das visões das coisas vistas na vigília e no sonho (...) tudo isto
é sem dúvida uma viagem para a mente! 42
42
ARABI, 2008. p. 60-61
43
SHAH, I. 1993. p. 299
44
Idem. p. 297
45
SHAH, I. 1993. p. 341
de fato existe. Como a vê e o que vê dependerão de sua própria capacidade de
compreensão” 46.
Assim como cada indivíduo é único, Shah indica que para o sufi, toda
situação é singular 47, e que “toda ação, como toda palavra, tem um efeito e um
48
lugar. Esta é a base do sistema sufista, que é um sistema sem sistema” .O
próprio Sîrîn escreve algumas linhas apontando para a importância da análise
da circunstancialidade do sonhador:
Por fim, um preceito sufista apontado por Shah que parece tocar todo o
matizado da oniromancia de Sirin é a teoria das causas múltiplas:
51
SÎRÎN, 1992. p. 8
52
SÎRÎN, 1992. p. 21
53
SÎRÎN, 1992. p. 33
Em uma das anedotas do livro, o imam Jafar AL Sadiq interpreta o
sonho de estar à sombra de uma nuvem: se o homem fosse doente, iria se
curar; se fosse pobre, Deus o iria enriquecer. Sadiq embasou este significado
positivo da nuvem porque uma nuvem protegeu Maomé durante a guerra.54
Por fim, sonhar que se está a bordo de um navio que está enchendo-se
de água é sempre sinal de doenças, preocupações ou de aprisionamentos.
Mas ver-se desembarcando de um navio, seu significado variará de acordo
com o meio onde está o barco: se o barco estiver na água, significa um alívio
rápido, mas se o barco estiver em terra seca, significa que será preciso resistir
aos aborrecimentos, e assim estes logo cessarão. 61
REFERÊNCIAS
ARABI, Ibn. El esplendor de los frutos del viaje. Ed. De Carlos Varona Narvión.
Madri: Ediciones Siruela, 2008.
59
SÎRÎN, 1992. p. 38
60
SÎRÎN, 1992. p. 40
61
SÎRÎN, 1992. p. 39
RÛMÎ, Jalâl AL-Dîn. A flauta e a lua – Poemas de Rûmî. Trad. Marco Lucchesi.
Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2016.
SHAH, I. Os sufis. Trad. Otávio Mendes Cajado. 9ª ed. São Paulo: Ed. Cultrix,
1993.