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Índice pág.

1. Introdução............................................................................................................................2
1.1. Objectivos........................................................................................................................2
1.1.1. Objectivos específicos..................................................................................................2
1.1.2. Metodologia.................................................................................................................2
2. A família Jurídica Muçulmana.............................................................................................3
2.1. Âmbito Pessoal Do Direito Muçulmano...........................................................................3
2.2. Países onde vigora............................................................................................................3
2.2.1. Grupos fundamentais do sistema jurídico.....................................................................4
3. Importância do seu conhecimento........................................................................................4
4. Génese e evolução................................................................................................................5
4.1. O Islamismo.....................................................................................................................5
5. O cisma entre Sunismo e Xiismo.........................................................................................5
5.1. Sunismo(sunita)................................................................................................................5
5.2. Xiismo (xiita)...................................................................................................................6
6. Principais fases da evolução do Direito muçulmano............................................................6
7. Características gerais............................................................................................................7
7.1. A base religiosa................................................................................................................7
7.2. A pluralidade das fontes...................................................................................................8
7.3. A tendencial uniformidade do Direito..............................................................................8
8. Fontes de Direito..................................................................................................................9
8.1. A Xaria.............................................................................................................................9
8.2. A Sunna..........................................................................................................................10
8.3. O ijma.............................................................................................................................11
9. As características fundamentais da Xaria...........................................................................11
10. Outras fontes..................................................................................................................11
11. Método jurídico..............................................................................................................12
12. Conclusão.......................................................................................................................14
13. Bibliográfia....................................................................................................................15
1. Introdução
No presente trabalho de Sistemas Africanos e Direito Comparado, abordar-se-á sobre os
aspectos relacionados com o Sistema Jurídico Muçulmano, pois este, trata do um
conjunto de preceitos que regulam as condutas dos muçulmanos e as relações destes
entre si. Tem como bases fundamentais o livro sagrado do islamismo o Corão ou
simplesmente conhecido como Alcorão e tradições do profeta Maomé (a suma),
abordando sobre o Islamismo (que tal como o Judaísmo) é uma religião que não se
distingue, formal e substancialmente, de outros aspectos da vida em sociedade, entre os
quais o Direito: é no livro sagrado do Islão que se contêm alguns dos preceitos
fundamentais do Direito muçulmano.

1.1. Objectivos
 Analisar e estudar o sistema muçulmano

1.1.1. Objectivos específicos


 Abordar sobre os países onde vigora o direito muçulmano, ou seja, países do
medio oriente, asiáticos e africanos.

 Avaliar os princípios e a doutrina muçulmana

 Avaliar sobre as principais fases de evolução do sistema muçulmano.

1.1.2. Metodologia
Para elaboração deste trabalho, foi utilizada a metodologia de pesquisa
bibliográfica. Essa abordagem consiste em buscar informações relevantes em
fontes bibliográficas, como livros, artigos científicos, teses, dissertações e outras
publicações académicas.
2. A família Jurídica Muçulmana

2.1. Âmbito Pessoal Do Direito Muçulmano


Segundo JERONIMO, Patrícia1 o Direito islâmico é um Direito religioso, que tem por
fundamento a vontade de Deus e por objecto a regulação de todos os aspectos da vida
dos fiéis, desde as suas relações sociais até aos seus deveres morais e religiosos para
com Deus

O Direito muçulmano é a circunstância de o Direito muçulmano não é, com feito, um


sistema jurídico de aplicação territorial, mas antes de escopo pessoal: trata-se do
conjunto de preceitos que regulam as condutas dos muçulmanos e as relações destes
entre si, a que também se chama Xaria. Esta tem como bases fundamentais o livro
sagrado do islamismo o Corão ou alcorão e as tradições relativas aos ditos e actos do
profeta Maomé (a suna).

Segundo VICENTE, Dário2. Direito muçulmano é essencialmente, o Direito de uma


comunidade de crentes que professam o islamismo (a umma).

2.2. Países onde vigora


São os sistemas jurídicos desses países que integram a denominada família jurídica
muçulmana:

 Países árabes do Médio Oriente (a Arábia Saudita, o Bahrain, os


Emiratos Árabes Unidos, o Iémen, a Jordânia, o Kuwait, o Ornan, o
Qatar, a Síria, etc.);

 Países africanos (a Argélia, o Egipto, a Guiné, à Líbia, Marrocos, o


Quénia, a Tunísia, a Nigéria, o Senegal, a Somália e o Sudão); e

 Paises asiáticos (o Afeganistão, a Indonésia, o Irão, o Paquistão, etc). O


que significa que, de Dacar a Jacarta, aproximadamente mil e trezentos
milhões de pessoas, ou seja, mais de um sexto da população mundial
repartidas por cerca de cinquenta países, vivem actualmente sob a égide
do Direito muçulmano.

O Direito destes países não se cinge, todavia à Xariar: há também neles, Direito de
outras fontes. O Direito muçulmano (religioso e essencialmente uniforme) não se
1
Patricia. Cfr…, op. p. 133
2
Vicente. Cfr., op. P. 376
confunde, por isso, com o Direito dos países muçulmanos (em parte laico e variável de
pais para país), nem com a família jurídica muçulmana (integrada pelos sistemas
jurídicos dos países onde vigora Direito muçulmano).

2.2.1. Grupos fundamentais do sistema jurídico


 Aqueles que se caracterizam por um alto grau de purismo, nos quais a Xaria
determina de forma muito acentuada a vida pessoal, familiar, económica e cívica
dos muçulmanos (estão neste caso os Direitos da Arábia Saudita, dos Emiratos
Árabes Unidos, do Iémen e do Irão); e por outro,

 Os sistemas de carácter híbrido, que conjugam a Xaria com importantes elementos


resultantes da influência romano-germânica (como a Argélia, o Egipto, o Líbano,
Marrocos, a Tunísia, etc.) ou de Common Law (casos da Nigéria, em África, e do
Paquistão, do Bangladeche e da Malásia, na Ásia).

3. Importância do seu conhecimento


Por várias ordens de rezões se nos afigura importante o conhecimento do Direito
muçulmano pelos juristas ocidentais em geral e pelos portugueses em particular pois;

Em primeiro lugar, porque numa época, como a presente, por alguma dita de conflito
de civilizações, se torna especialmente relevante o conhecimento dos valores que
inspiram a civilização islâmica, entre os quais sobressaem aqueles que estão na base do
Direito muçulmano, o qual constitui uma das principais realizações dessa civilização.

Em segundo lugar, porque os tribunais europeus são hoje frequentemente chamados a


aplicar Direito muçulmano: é o que acontece, nomeadamente, quando lhes cabe decidir,
ao abrigo da lei da nacionalidade,

Em terceiro lugar, porque da cultura nacional fazem parte importantes elementos


islâmicos, entre os quais se inclui o Direito muçulmano, que vigorou em Portugal, tanto
na metrópole como nas possessões ultramarinas, durante vários séculos o seu
desconhecimento necessariamente representa, por isso, uma lacuna na formação do
jurista. Não serão por certo muitos os vestígios deixados pelo Direito muçulmano na
ordem jurídica portuguesa, que em vários aspetos se revela até profundamente diversa
dele. Mas também por isso tem interesse conhecer o Direito muçulmano: ele permite
compreender melhor o que há de essencial no Direito pátrio.
4. Génese e evolução

4.1. O Islamismo
O Islamismo (tal como o Judaísmo) é uma religião que não se distingue, formal e
substancialmente, de outros aspectos da vida em sociedade 3, entre os quais o Direito:
como dissemos, é no livro sagrado do Islão que se contêm alguns dos preceitos
fundamentais do Direito muçulmano.

Este é, no dizer do eminente orientalista Joseph Schacht (1902-1969), o epitome do


pensamento islâmico: a manifestação mais característica do modo de vida dos
muçulmanos ou o próprio cerne do Islão, Mais do que o dogma, terá sido o Direito que
determinou à unidade e a originalidade da civilização islâmica. Importa, por isso, ter
presentes as circunstâncias históricas em que se gerou o Islamismo.

Segundo a tradição islâmica, recolhem-se no Corão as revelações feitas por Deus,


através do Arcanjo Gabriel, a Maomé (Muhammad), o qual as terá depois recitado aos
seus discípulos: a palavra árabe gor'án significa precisamente recitação. Maomé viveu
na Península Arábica entre aproximadamente 570 e 632 d.C. Foi chefe político e
religioso, principalmente em Meca e Medina, cidades da actual Arábia Saudita.
Procurou unir as tribos árabes nómadas do seu tempo numa comunidade de crentes num
Deus único cujos membros perfilhassem o ideal de vida que vejo ao ser expresso no
Corão. Teve nisso inegável êxito, pois em poucos anos logrou converter à sua fé
primeiramente os habitantes de Medina, depois os de Meca e finalmente os de toda a
Península Arábica.

5. O cisma entre Sunismo e Xiismo


Poucos anos depois da morte de Maomé, deu-se no Islão o cisma que conduziria à
formação das duas principais seitas que ainda hoje o dividem: O Sunismo (sunita); O
Xiismo (xiita)

5.1. Sunismo(sunita)
Integrou originariamente os partidários da dinastia Umayyad, que, na sequência da
deposição do Califa Ali (599-661), primo e genro do Profeta, governou a comunidade
islâmica entre 661 e 750;

3
Cfr. Vicente…, op. Cit., p. 376
5.2. Xiismo (xiita)
Os opositores aos novos soberanos, para quem a autoridade doutrinal e política cabia
por direito divino exclusivamente aos descendentes de Maomé através de Fátima (6035-
632), sua filha, e Ali (a palavra «xiita» provém justamente de shi'at Ali, ou seja,
partidário de Ali), não podendo o Califa, por conseguinte, ser escolhido por eleição.
Os sunitas constituem hoje a maioria dos muçulmanos; os xiitas são minoritários na
generalidade dos países islâmicos (correspondendo a cerca de dez por cento dos
crentes), mas são maioritários no Irão. O entendimento que estas seitas têm das fontes
do Islão, inclusive as jurídicas, é divergente. Para os sunitas, o Islamismo funda-se no
Corão e na tradição relativa às falas e aos actos do Profeta; é, pois, essencialmente a
estas fontes que os muçulmanos devem obediência. Já para os xiitas à fixação do teor do
Direito islâmico coube igualmente aos doze Imãs (chefes supremos) que sucederam a
Maomé. Aliás, apenas são tidas como autênticas pelo xiismo as tradições sobre a
conduta do Profeta que houverem sido transmitidas pelos Imãs, sendo também
vinculativo para os crentes o exemplo destes.

6. Principais fases da evolução do Direito muçulmano


Na evolução do Direito muçulmano é possível distinguir quatro fases principais:

 Formação

A formação do Direito muçulmano é contemporânea do surgimento do Islamismo,


tendo-se dado entre os séculos VII e IX. Primeiro, através da redução a escrito das
fontes da Xaria; depois, pela sistematização do Direito levada a cabo por especialistas a
partir dessas fontes.

 Estabilização e disseminação

No século X, o Direito muçulmano encontra-se definitivamente fixado, ao menos para


os sunitas. Até ao século XVIII, inclusive, é aplicado em todo o mundo muçulmano,
posto que com diferentes graus de intensidade, sendo complementado por costumes
locais. Os momentos áureos desta fase coincidem com o apogeu do Império Otomano,
no século XV, e do Império Mongol, no século KV.

 Declínio

Nos séculos XIX e XX, com a ocupação por potências europeias de vários países
islâmicos e à maior abertura destes às trocas económicas com o mundo ocidental, dá-se
uma mutação no Direito desses países, nomeadamente por via da adopção de
codificações inspiradas nas europeias (posto que nalguns casos as mesmas incorporem à
tradição muçulmana). Foi o que sucedeu, por exemplo, no Império Otomano (que se
dotou de um Código Comercial em 1850 e de um Código Penal em 1858, ambos
decalcados dos códigos franceses), no Egipto (que adoptou um Código Civil de modelo
francês em 1875 é outro, de carácter híbrido, em 1948) e no Irão (cujo Código Civil data
de 1927).

 Renascimento
À. partir da crise petrolífera de 1973, abre-se uma nova fase no Direito muçulmano, dita
de renascimento ou retorno à Xaria. Este foi propiciado pela tomada de consciência
pelos povos muçulmanos do seu novo poderio económico, derivado do aumento
exponencial dos preços do petróleo então ocorrido. Para ele contribuiu também o
ressentimento causado pela derrota árabe na guerra dos seis dias travada em 1967 com
Israel, pela ocupação israelita de territórios palestinianos e Líbano, pela guerra do Golfo
e pela ocupação militar estrangeira do Afeganistão e do Iraque subsequente ao 11 de
Setembro de 2001. Esse renascimento tem-se traduzido numa revalorização da
concepção de vida própria do Islão e numa «reislamização» do Direito, patente
designadamente nas Constituições dos países muçulmanos que passaram a proclamar à
Xaria como fonte primária de Direito.

7. Características gerais

7.1. A base religiosa


Como característica central da família jurídica muçulmana, a índole religiosa da fonte
primordial do Direito nos sistemas que a integram. À base normativa em que assenta
esta família jurídica é, na verdade, constituída por preceitos contidos num texto sagrado.
Por isso se tem caracterizado o Direito Muçulmano como um:

 Direito religioso

 Um corpo de regras que dá expressão prática à fé religiosa e as

 aspirações dos muçulmanos» ou uma das faces da religião do islão

Este ponto de vista não é hoje incontroverso, havendo, como veremos, quem prefira
sublinhar o carácter doutrinal do Direito muçulmano. Seja, porém, como for, parece
claro não existir nos países muçulmanos uma separação entre Estado, Direito e religião
como à que encontramos nó Ocidente e o próprio Evangelho consagra. Pelo contrário:
em vários desses países o Direito é tido, no essencial, como um aspecto da religião e o
Estado encontra-se, inclusive por determinação constitucional, ao serviço desta e do
projeto ideológico nela assente”. Ao que não será porventura alheia a circunstância de,
por um lado, os sucessores de Maomé terem sido os fundadores de um Estado islâmico
e de, por outro, não existir no Islão uma Igreja dotada de autonomia relativamente ao
Estado como as que existem nos países ocidentais, Esta indiferenciação de factos sociais
há muito tidos por distintos reflete uma concepção singular do Direito, que diverge
fundamentalmente daquela que prevalece nos sistemas jurídicos até aqui considerados:
enquanto que nestes o Direito é visto como uma emanação da vontade popular, expressa
directamente (no caso do costume) ou através dos representantes do povo (no caso da
lei).

7.2. A pluralidade das fontes


O Direito dos países cujos sistemas jurídicos se encontram integrados na família
muçulmana não se cinge às regras de fonte religiosa: o Direito muçulmano convive na
generalidade desses países com Direito laico de diversas fontes (máxime a lei e o
costume), assim como com Direito religioso privativo de certas comunidades (a judaica)
radicadas nesses países. As relações entre o Direito religioso e o de outras fontes
assumem, no entanto, diferentes cambiantes nos países muçulmanos, em razão do maior
ou menor laicismo destes: nuns, essas relações são de subordinação do Direito laico à
Xaria, com base na qual hão-de inclusivamente interpretar-se os direitos fundamentais
consignados na Constituição (a nação, diz-se, não pode contrariar a Xariq); noutros, o
Direito estadual (ao menos o de fonte constitucional) prima sobre a Xaria, Geralmente,
porém, esta permanece a principal fonte inspiradora do Direito estadual, ao menos em
matéria de estatuto pessoal; pelo que a adopção daquele não afasta necessariamente os
sistemas0sistemas jurídicos em causa da família jurídica muçulmana.

7.3. A tendencial uniformidade do Direito


Outra característica frequentemente apontada ao Direito vigente nos países muçulmanos
é o seu carácter uniforme. O Direito muçulmano, segundo é corrente dizer-se, não varia
de Estado para Estado, pois as suas fontes são as mesmas em todos os países cujos
sistemas jurídicos integram a família islâmica. Assim é, com efeito, no essencial. Mas
importa ter presente que existem no Islão divergências não despiciendas quanto ao
modo de entender as fontes do Direito muçulmano. Essas divergências resultam:
Em primeiro lugar, do cisma entre sunismo e xiismo. Só este último reconhece, por
exemplo, o «"casamento temporário»" mediante o pagamento de uma remuneração à
mulher, a que se chama Muza, o qual é sancionado criminalmente entre os sunitas. Por
outro lado, só os xiitas recusam validade ao casamento entre um muçulmano e uma não
muçulmana. Divergem ainda substancialmente entre sunitas e xiitas as regras sobre a
sucessão mortes causa, porquanto só para os 08 primeiros permanecem em vigor as
regras de Direito consuetudinário, anteriores ao Corão, que consagram a sucessão
agnática ou patrilinear (as quais não são senão um corolário da organização tribal da
sociedade muçulmana tradicional, assente nos laços de solidariedade forjados entre os
descendentes de um antepassado comum pela linha masculina). Essas regras
consuetudinárias são conciliadas pela doutrina sunita com as que constam do livro
sagrado através da denominada «" regra de ouro»,", de acordo com à qual os herdeiros
cujos levantam primeiramente a parte da herança à que têm direito segundo o Corão,
recebendo em seguida os demais parentes do sexo masculino na linha masculina,
qualquer que seja o seu grau de parentesco com o defunto, os bens remanescentes.

Em segundo lugar, tais divergências decorrem do surgimento no Islão sunita, ainda


no período de formação do Direito muçulmano, de quatro escolas de pensamento
jurídico com diferentes áreas geográficas de implantação: a hanifita, criada por Abu
Hanifa (699-767), que foi ade implantação: a) a hanifita, criada por Abu Hanifa
(699-767), que foi a escola oficial do Império Otomano e prevaleceu até hoje em Vários
países do Médio Oriente (nomeadamente o Iraque, a Jordânia, o Líbano e a Síria), bem
como entre os muçulmanos da Índia e da China; 8) a maliquita, fundada por Malik
ibn Malikibn Anas ( 713-795), que predomina no Norte de África (máxime(maxime
em Marrocos, na Argélia, na Tunísia e na Líbia), bem como na África Ocidental e
Central; c) a xafiita, que tem na sua origem Abduiahbal-Xafi (767-820) e é
especialmente relevante na África Oriental, na Arábia Meridional e no sudeste asiático;
e a) a hanbalita, cujo fundador foi Ahmad ibn Hanbal (780-855) e ganhou particular
relevo no século XVII, sendo hoje a escola oficial da Arábia Saudita. Estas quatro
escolas diferem entre si, nomeadamente, quanto ao número e teor das tradições
imputáveis ao Profeta.
8. Fontes de Direito
8.1. A Xaria
Para o Islão, o Direito (rectius, a Xaria) é, a expressão como dissemos, as expressões
normativas da vontade divina, Segundo à teoria jurídica clássica, existem quatro
manifestações dessa vontade, que correspondem a outras tantas fontes ou "raízes"
(Usul) do Direito: a palavra de Deus vertida no Corão, a conduta exemplar do Profeta
(Suna), o Consenso da comunidade islâmica (Ijma) e a analogia (Qiyas), trata-se, de
realidades que não se encontram no mesmo plano. No processo de determinação do
conteúdo da Xaria (também dito iitihadijtihad ou esforço racional), deve-se recorrer em
primeiro lugar ao Corão e à Suna (por isso denominadas fontes primárias), se necessário
com apoio na fima ijma. Só quando determinado problema não se encontra
especificamente regulado no Corão ou na Suna se pode lançar mão da analogia.

Dos mais de seis mil versículos do Corão, estimam-se em aproximadamente seiscentos


os que contêm regras jurídicas, pertinentes ao Direito da Família e das Sucessões, ao
Direito Penal, ao Direito dos Contratos, etc. São por isso denominados versículos
jurídicos. Neles se consagram, por exemplo, o direito de retaliação (2:178 e 179, 2194 e
5:45); o Direito do marido a divorciar-se da mulher, repudiando-a por um acto unilateral
denominado talaq (2:228 a 232; 65:1); o prazo antenupcial, quatro meses e dez dias
(2:234); a proibição da usura (2:275 e 276, 3:130 e 30:39); a permissão da poligamia,
podendo os homens casar com até quatro mulheres (4:3); o direito da mulher casada a
receber um dote do seu marido (4:4); o direito do varão a receber em herança o dobro da
mulher (4:11); 9o dever de obediência da mulher casada ao marido e o direito deste de a
castigar se for desobediente (4:34); o dever de cumprir os contratos (S5:1 e 17:34); a
proibição do homicídio, a não ser por causa justa (5:32, 6:151e 17:33); a amputação das
mãos como punição do furto (5:38); o dever de cumprir os tratados (9:4); a proibição do
adultério (17:32); a pena de flagelação para os adúlteros (24:2) e os que acusem
mulheres castas 24:4); a reserva da intimidade (24:27, 58 e 59, é 49:12); e a não
equiparação dos filhos adoptivos aos naturais (33:4 e 37).

8.2. A Sunna
A sunna (literalmente, "o caminho percorrido") é o conjunto das regras deduzidas da
conduta do Profeta. Esta é atestada pelos relatos (hadites) feitos pelos doutores do Islão
até ao século IX acerca dos ditos e ações de Maomé”, é-lhe reconhecida a função de
confirmar, explicitar é complementar o Corão. A imperatividade dos seus preceitos para
os crentes resulta aliás deste último O Corão, que tem em qualquer caso primazia sobre
a Suna.

Os hadites encontram-se reunidos em diversas compilações elaboradas no século [XIX


entre as quais sobressaem, pela reputação que granjearam quanto à genuinidade dos
relatos nelas feitos acerca das práticas do Profeta, as de Muhammad al-Bukhari (810-
870) e Muslim ibn al-Hajjaj (821-875).

8.3. O ijma
É definido como o consenso da comunidade muçulmana tomada esta no seu todo
(umma), como alguns sustentam, ou restrita aos juristas qualificados (mujtahidun),
consoante outros defendem a respeito de qualquer questão suscitada pela interpretação
ou aplicação das fontes primárias do Direito muçulmano. Na sua acepção mais restrita,
o conceito possui, pois, certa afinidade com a opinião Prudential do Direito Romano.
9. As características fundamentais da Xaria
Tais características distintas com as do direito canónico.
 À Xaria é a palavra de Deus, revelada através do seu Profeta. Tal emotivo por
que a sua violação faz incorrer em sanções divinas.

 Direito canónico, sendo igualmente Direito de uma comunidade de crentes,


tem, fontes divinas (a Sagrada Escritura e a Tradição) e. Humanas (entre às
quais avulta o Código de Direito Canónico); a sua violação dá lugar, por isso, a
sanções da Igreja, que o Código de Direito Canónico tipifica.

 Dada a sua natureza de Direito revelado, ninguém pode modificar a Xaria; nisto
se distingue também do Direito Canónico, pois as leis eclesiásticas, mesmo
quando visam dar expressão a regras e princípios de direito divino, podem ser
alteradas e têm efetivamente conhecido ao longo da História importantes
movimentos de renovação.

10. Outras fontes


Além da Xaria, há fontes de Direito nos sistemas jurídicos dos países muçulmanos.
Assim, por exemplo, em vários deles (posto que não em todos) vigora uma
Constituição. Esta consagra, regra geral, o Islamismo como religião oficial: é o que
sucede na Arábia Saudita, no Egipto, no Irão e na Tunísia, Várias Constituições desses
países acolhem, além disso, a Xaria como principal fonte de Direito, Não surpreende,
por conseguinte, que algumas dessas Constituições sujeitem o exercício de certos
direitos fundamentais à Xaria ou aos "critérios islâmicos".

Nas matérias compreendidas no estatuto pessoal dos indivíduos, em que a Xaria logrou
afirmar-se de modo mais nítido, a lei ordinária ou não existe (como sucede na Arábia
Saudita, sendo que mesmo no: Egipto o Código Civil não abrange o Direito da Família
e das Sucessões) ou apenas codifica e precisa os preceitos da Xaria, a qual é mandada -
aplicar aos casos omissos, na interpretação que lhe é dada por certa escola jurídica. É o
que sucede, por exemplo, em Marrocos, cujo Código da Família (Mudaá-wana) de
2004, embora ditado pela intenção de melhorar a condição da mulher na sociedade
familiar, se manteve nesta matéria fiel à tradição muçulmana aliás em conformidade
com as orientações que o rei fixara à comissão encarregada da sua preparação, nas quais
declarou que não lhe seria possível "autorizar o que Deus proibiu, nem proibir o que Ele
autorizou", Tal a razão por que se preservaram no código institutos como à poligamia e
o repúdio (talag).

O costume (Urf) é de grande importância entre os povos árabes: a observância da


tradição e do precedente foi durante largo período de tempo uma condição da sua
sobrevivência num ambiente inóspito, pouco propício a inovações susceptíveis de
perturbarem o equilíbrio precário em que assentava a vida em sociedade.4

A ciência do direito (fiqh)5 tem um lugar preponderante na modelação dos sistemas


jurídicos muçulmanos, pois boa parte das regras que os integram teve de ser deduzida
pela doutrina a partir das fontes da Xaria, sendo o critério ultimo de aferição da sua
validade, consoante referimos, o ijma – o consenso dos jurisconsultos.

11. Método jurídico


À exiguidade das fontes sagradas, a necessidade de deduzir delas um grande número de
regras, assim como os complexos problemas postos pela sua interpretação, integração e
adaptação às novas necessidades sociais, estão na origem da importância de que se
reveste no Direito muçulmano a metodologia jurídica, também dita "ciência das fontes
de Direito" (usul al-fiqhy Entre os modos de descoberta do Direito aplicável aos casos
singulares de que a mesma se ocupa desempenha um papel fulcral a analogia (qiyas).

4
Neste sentido, Schacht…, op. Cit., p. 17
5
Vide L. Goldzihen/J. Scacht, «Fikh», in The Encyclopedia of Islam. New Edition, vol. II,
Leida/Londres, 1956, pp. 886 ss.
A importância da analogia deriva do carácter revelado do Direito muçulmano. Aos
juristas é com efeito vedado criar novas regras de Direito muçulmano. Mas por meio de
analogia pode-se aplicar Direito revelado a situações por ele originariamente não
abrangidas. A razão humana adquire desse modo um papel complementar da vontade
divina na formação do Direito muçulmano. São tidos como elementos da analogia no
Direito muçulmano:

a) O caso previsto (asl) numa das fontes da Xaria (Corão, Suna ou ijma);

b) O caso omisso naquelas fontes (far);

c) A causa eficiente (llah): a ratio da regulação instituída para o caso previsto, expressa
ou implicitamente referida num texto ou extraída dele por interpretação, à qual deverá
ser também procedente no caso omisso; e

d) A regra (hukm) disciplinadora do caso previsto, que será estendida ao caso


omisso: da importância da analogia no pensamento jurídico islâmico flui uma outra
característica saliente do Direito muçulmano: o seu casuísmo.
12. Conclusão
Depois de uma vasta, indutiva e dedutiva investigação e estudo, concluímos que direito
muçulmano frequentemente descrito como um Direito religioso, de base pessoal,
uniforme e imutável. No termo desta análise, importa sublinhar a índole meramente
tendencial dessa caracterização. Por toda a parte, como vimos, o Direito muçulmano,
assim como os tribunais especializados na sua aplicação, funcionam em articulação com
fontes e tribunais seculares. Os juristas têm um papel fundamental na explicitação das
suas regras e no seu desenvolvimento. A existência de diferentes seitas e escolas no
Islão fragmentou-o não raro segundo fronteiras geográficas. e a sua imutabilidade foi
posta em crise por reformas legislativas fundadas numa reinterpretação do Corão. Na
maior parte dos casos, o Direito muçulmano integra-se hoje em sistemas jurídicos
pluralistas, não podendo a sua aplicação ser dissociada dos demais elementos que os
compõem.
13. Bibliográfia
BEILEFONDS, Y. Linant de - Traite de droit musulman compare, 3 vols., Paris/Haia,
Mouton & Co., 1965/1973

BLANC, François-Paul – Le droit musulman, 2.ª ed., Paris, Dalloz, 2007.

CHARFI, Mohamed - Islam et liberte. Le malentendu historique, Paris, Editions Albin


Michel, 1998.

HAILAQ, Wael B. A history of the Arab Peoples, Londres. Faber and Faber, 2002

JERONIMO, Patrícia. Lições de Direito Comparado. 2ª ed., Braga, Portugal, Escola de


Direito da Universidade Minho. 2015

VICENTE, Dário Moura. Direito Comparado: Introdução e Parte Geral. Edição


Almeida, SA, Volume I, 2008, Coimbra.

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