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DRAFT DRAFT DRAFT DRAFT

LITERACIA
D I G I TA L

A NA ELICKER
DÉBORA BARBOSA

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Copyright © Editora CirKula LTDA, 2021.
1° edição - 2021

REVISÃo E PREPARAção DOS ORIGINAIS: Mauro Meirelles


NORMAtização: Mauro Meirelles
EDIÇÃo E DIAGRAMAção: Mauro Meirelles
CAPA: Luciana Hoppe
TIRAGEM: 500 exemplares impressos.

Todos os direitos reservados à Editora CirKula LTDA. A reprodu-


ção não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, consti- tui
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Este livro foi submetido a revisão por pares, conforme


exige as regras do Qualis Livros da CAPES.

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INTRODUÇÃO

A literacia digital existe no nosso dia a dia, inserida


em ações comuns no uso das tecnologias digitais, no meio
cultural global, amplamente proporcionado pelo acesso a
internet. Neste sentido, o que observamos ao longo dos
últimos trinta anos foi um crescente desenvolvimento da
internet, de aplicações que se utilizam desse suporte e têm
sido utilizadas para ampliar conexões entre pessoas e/ou
instituições, expandindo horizontes e contribuindo para
um sem número de mudanças sociais que têm implicado
no modo como nos relacionamos com o mundo e com a
própria tecnologia. Desta forma, a globalização, o con-
sumo de tecnologia e o acesso à internet trouxeram para
dentro dos espaços formais de aprendizagem a possibili-
dade de utilizar os recursos dos dispositivos digitais no
processo de formação acadêmica, criando um elo entre o
virtual e não-virtual.
Ao longo dos últimos anos, os espaços educacionais
vêm se adequando ao uso das tecnologias digitais. O alu-
no (aprendente) está culturalmente inserido no mundo
digital, e tornou-se um sujeito com grande potencial para
o uso dos artefatos tecnológicos disponíveis de modo que,
em práticas sociais, se utiliza amplamente do suporte digi-
tal no seu cotidiano. Mas, enganam-se aqueles que creem
que estamos apenas nos referindo ao uso de microcom-
putadores, uma vez que, os atuais smartphones têm igual
ou melhor capacidade do que muitos microcomputadores
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disponíveis no mercado, com amplo acesso às informa-
ções de forma instantânea e com recursos facilitadores da
promoção do aprendizado. Em razão do exposto, é fato
que nos espaços de aprendizagem os dispositivos digitais
móveis se apresentam como um recurso pedagógico que
passou a apoiar às atividades acadêmicas e educacionais –
ainda mais num contexto de pandemia global como a que
vivemos na atualidade em função do Covid-19 –, pos-
sibilitando transformar as informações em saberes, pois
informação, por si só, não se configura em conhecimento.
O grande avanço do uso das tecnologias e a necessi-
dade abrupta desencadeada pelo afastamento social impul-
sionou o uso de aplicativos e plataformas de apoio, como
suporte pedagógico para realização de um sem número
de atividades, sejam elas educacionais e/ou laborais. Em
função disso, o que se observa é que a necessidade de se
adaptar aos espaços de aprendizagem virtuais utilizados por
professores e alunos para sua utilização massiva de modo
mais interativo e dinâmico. A literacia digital, nos espaços
de aprendizagem coloca o aluno, que é um aprendente di-
gital, como o centro do processo, interagindo, criando e se
construindo de forma cidadã, com valores e competências
que se integram nas atividades educacionais que acontecem
nos espaços físicos e virtuais.

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A NECESSIDADE DE NOVOS OLHARES

O aumento do fluxo de informações, o aumento da


largura de banda e popularização do acesso a internet atra-
vés do uso de micromputadores e smartphones de forma
globalizada e rápida permitiu-nos usar as mídias digitais
para nos socializarmos de forma global, através daquilo
que comumente denominamos de cibercultura (LÉVY
1999, LEMOS, 2008). De acordo com Lévy, a cibercultu-
ra “aponta para uma civilização da tele presença generali-
zada” por meio da qual “a interconexão tece um universal
por contato” (LÉVY, 1999, p. 127). André Lemos também
destaca que a Cibercultura “está sincronizada com a dinâ-
mica da sociedade contemporânea, podendo mesmo ser ca-
racterizada como uma cibersocialidade” (LEMOS, 2008,
p. 80). Logo, vivemos em uma cultura digital, na qual esta-
mos envolvidos pelas tecnologias digitais1, em uma relação
imbricada entre o mundo real e o virtual, em que os códi-
gos e signos digitais se fazem presentes em vários aspectos
da nossa vida pessoal e em sociedade.
Neste sentido, precisamos estar preparados para aten-
der às tendências presentes e de futuro em termos de edu-
cação e inovação em consonância com as necessidades do
1 O termo tecnologia digital, neste livro, refere-se aos recursos e dis-
positivos digitais incluindo, deste modo, conteúdos e dados digitais,
em software e hardware, o que incluí aplicações, jogos, dispositivos
móveis (Celulares, notebooks, tablets...), e qualquer arquivo, incluin-
do imagem, áudio e vídeo, para o desenvolvimento de atividades em
ambientes de aprendizagem.
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século XXI. Com isso, os processos educacionais, desde a
Educação Infantil até ao Ensino Superior, precisam estar em
alinhados com a formação de um cidadão global e digital,
apto a viver e conviver em um mundo permeado de códigos
digitais, máquinas e humanos, interagindo mutuamente.
As transformações advindas de processos históricos
do pós-guerra, da globalização e da proliferação do digital
nos situam em uma sociedade dinâmica, complexa, hiper-
conectada, volátil, ambígua e extremamente incerta. Do
ponto de vista educacional, é preciso que os sujeitos apren-
dentes desenvolvam habilidades sócio-emocionais e de co-
nhecimentos específicos, envolvendo um mundo comple-
xo onde os problemas precisarão de um olhar mais amplo
e interdisciplinar para serem resolvidos. É preciso que os
processos educacionais criem condições para que crianças
e jovens aprendam a pensar e resolver problemas de forma
criativa e inventiva, conectada com as demandas atuais e fu-
turas, de forma socialmente responsável e sustentável. Para
isso, é preciso compreender o papel das tecnologias digitais
nos processos de ensino e aprendizagem, bem como as mu-
danças que envolvem esses processos. Não basta mais saber
os signos digitais e interagir com os meios digitais, é preciso
compreender o papel das tecnologias digitais na nossa vida,
na sociedade e na natureza, bem como compreender o nos-
so papel como cidadão, agora também digital, transitando
de forma participativa, nos espaços virtuais.
Desta forma, é preciso compreender o papel da
evolução das tecnologias e as mudanças significativas no
comportamento dos estudantes na última década. Um
exemplo disso é a proliferação de dispositivos computa-
cionais móveis e as redes sociais, causando impactos tanto
nos hábitos sociais como na Educação. As tecnologias mó-
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veis, em especial, são responsáveis por romper limites de
lugar e tempo, consolidando um paradigma de produção
e acesso ao conhecimento de forma colaborativa e ubíqua.
Além disso, o avanço das tecnologias permite que a infor-
mação esteja disponibilizada de forma distribuída, acessível
a qualquer tempo, através de dispositivos portáteis cada vez
mais intuitivos, inteligentes e fáceis de serem manuseados.
A aprendizagem é com mobilidade e ubíqua (BARBOSA e
BARBOSA, 2019; SACCOL et AL., 2010).
Assim, com os recursos que estas tecnologias propi-
ciam, é possível desenvolver processos educativos, enfati-
zando a construção e a socialização do conhecimento, a
partir de uma perspectiva de cultura digital. O uso das tec-
nologias, como as tecnologias móveis, e meios de conexão,
como o acesso à informação a partir de vários meios de
interconexão, potencializam a noção de cultura cibernética
e a interação na cibercultura. Com as tecnologias móveis e
sem fio, a noção de lugar e tempo para a produção e com-
partilhamento de conhecimento ganha novas dimensões
(SANTAELLA, 2013).
Em vista disso, o sujeito aprendente não é mais per-
cebido como passivo no processo educacional, ou seja, não
se configura apenas como um mero recebedor de infor-
mação. Pelo contrário, ganha a possibilidade de ser ativo,
interagindo com a informação e com outros indivíduos,
de forma a construir seu próprio conhecimento e artefatos
tecnológicos culturais. Um artefato cultural pode ser en-
tendido como qualquer objeto produzido que possui um
significado e transmite informações sobre o sujeito e sua
cultura. Desta forma, esses artefatos carregados de signi-
ficado representam modos de ser e estar para os sujeitos e
seu meio social.
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Ao olhar para a cultura digital a partir de uma pers-
pectiva verdadeiramente cultural, pode-se entender os dife-
rentes recursos tecnológicos que fazem parte do meio como
um artefato cultural, só que agora tecnológico e digital
(BASSANI e BARBOSA, 2018). Assim, do ponto de vista
da Educação, entender esta cultura cibernética como algo
inerente à cultura pode mudar a forma como relacionamos
tecnologia e educação, visto que ambas estão imbricadas no
processo de ensino e aprendizagem como um elemento da
cultura, e não como algo “novo” ou “modismo” a ser incor-
porado. A tecnologia é, portanto, um elemento natural e
que, do ponto de vista das novas gerações, é natural o seu
uso em vários aspectos da sua vida e da sua cultura, inclusive
nos processos de ensino e de aprendizagem, tanto formal
quanto informal. (BARBOSA et AL., 2016).
Portanto, esse movimento de interação promove o
desenvolvimento de novas tecnologias e também o surgi-
mento de novas palavras e expressões. Sendo assim, para
que a comunicação aconteça de forma efetiva, segura e pro-
dutiva, faz-se necessário conhecer os códigos digitais e o
significado das palavras e termos usados, o que facilitará o
uso dos recursos midiáticos disponíveis no ciberespaço e a
produção de novos conhecimentos.
A internet, de fato, trouxe ao cotidiano a incorpo-
ração de algumas palavras e a mudança ou ampliação do
sentido de outras, o que requer afinar o entendimento de
alguns conceitos. Portanto, é preciso que o sujeito apren-
dente seja alfabetizado para interagir na cultura digital, mas
também avance para além deste modo de conhecimento
dos signos e para além de um modelo de letramento, ou
seja, para além de um uso técnico e envolvendo a dimensão
social. É preciso que o sujeito aprendente faça parte de uma
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cultura digital de forma ativa, autora e transformadora, en-
volvendo tanto o seu conhecimento dos códigos de signos
digitais, como o seu papel enquanto um ator social, que in-
terage com o homem, a natureza e as tecnologias. É preciso
avançar para uma perspectiva de pensar a cidadania, agora
também digital.
Para isso, é importante compreender e articular con-
ceitos que envolvem a formação de um cidadão digital. No
momento, estamos nos familiarizando com a incorporação
da palavra digital após as palavras alfabetização e literacia.
Assim, temos, por exemplo, os termos: alfabetização digital
e literacia digital.
É importante destacar que não se pretende estabele-
cer aqui um modelo para a Literacia Digital, e sim articular
os diversos conceitos que o termo envolve, em direção a
novos olhares e formas de ações, refletindo sobre as mu-
danças do mundo contemporâneo, as necessidades atuais
e futuras de uma Educação para o século XXI, e como a
Literacia Digital está imbricada nesse movimento.

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Literacia digital – o percurso

O termo literacia digital, com foco no uso das tec-


nologias digitais, como conhecemos hoje, foi citado com
maior evidência, pela primeira vez, pelo professor e histo-
riador Paul Gilster, em 1997, no livro Literacia Digital. No
entanto, o termo já vinha sendo utilizado por pesquisado-
res para designar o ato de ler e compreender as informações
no hipertexto, nos meios digitais. No livro foi introduzido
o conceito de literacia digital, no entanto, como vai ser
visto mais tarde (BAWDEN, 2008), Gilster não listou as
habilidades e as competências da literacia digital.
No livro Literacia Digital, Gilster apresenta dados
que apontam para a democratização dos computadores e
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para o uso não passivo, há mais de trinta anos. Na obra, ele
aborda as tecnologias de comunicação e informação descre-
vendo as mudanças recentes, da época, e como se aprovei-
tar das oportunidades e se adaptar às novas possibilidades.
Ele salienta que a nossa capacidade de se adaptar à web
guiará muitas ações futuras, desde os primeiros contatos
na internet até mesmo às mais complexas habilidades de
pensamento e competência essenciais, para prosperar em
um ambiente interativo diferente dos meios passivos, da
TV e de recursos impressos.
Seymour Papert, em seus estudos e apoiado nas ideias
do construtivismo de Piaget, cria o conceito do construcio-
nismo, que entende que o conhecimento deve ser construí-
do com a participação do próprio aprendente. Ele enxer-
gou o computador como um recurso de aprendizagem para
dar concretude a coisas complexas. O computador passa a
ser um aliado para o processo de aprendizado. E, nas últi-
mas décadas, os aparatos das tecnologias digitais cresceram
e estão permeando os espaços de aprendizagem.
No Brasil, o termo literacia digital é bastante recente
e está aparecendo fortemente no contexto educacional, no
uso das tecnologias digitais envolvendo o que compreende
o processo de alfabetização digital e desenvolvimento da ci-
dadania digital. Neste sentido, vem se assemelhando com
o conceito americano de literacia digital, que está mais re-
lacionado a fluência digital, ou seja, ser um sujeito conhe-
cedor dos códigos digitais e ser capaz de se movimentar de
forma crítica no ciberespaço. No quadro Europeu, literacia
digital é Competência Digital, que se refere a utilização se-
gura, crítica e criativa das tecnologias digitais para alcançar
determinados objetivos. Esses objetivos podem serem rela-
cionados com estudo, trabalho, inclusão social etc. Assim, o
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termo competência digital é utilizado no contexto Europeu
e o termo literacia digital utilizado pelos americanos e, mais
recentemente, por nós brasileiros. A literacia digital aponta
para apropriação de saberes e desenvolvimento das compe-
tências e habilidades em tecnologias digitais, nestes países.

Figura 1 - Literacia Digital

Fonte: Autoras

A literacia digital é um termo utilizado pelos Ame-


ricanos, pelos Brasileiros e pelos Portugueses, com traços
semelhantes ao termo competências digitais. A apropriação
de saberes e o desenvolvimento das competências e habili-
dades em tecnologias digitais, como o exposto no Quadro
1, aponta para literacia digital. As tecnologias digitais estão
imbricadas no dia a dia, com forte tendência ao uso imper-
ceptível em algumas atividades. Assim, discorremos sobre
quais saberes caracterizam o conceito e como acontece essa
apropriação de conhecimentos, no Brasil, nos EUA e em
Portugal, com foco no desenvolvimento das competências
e habilidades no uso das tecnologias digitais.
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A literacia digital permeia diversos elementos conec-
tados e em movimento. O aluno, aprendente digital, é um
cidadão digital, com conhecimentos humanos e nas diver-
sas ciências. Assim, nos espaços de aprendizagem, o conhe-
cimento é trabalhado de forma integrada na sociedade, em
rede, permeada pela tecnologia. A seguir vamos discorrer
sobre o conceito, no Brasil, nos EUA e em Portugal, tendo
foco nos espaços de aprendizagem.

O Conceito brasileiro para o termo Literacia Digital

Como já exposto, a literacia digital é um conceito


que vem se construindo no Brasil. O termo começou a apa-
recer recentemente, em alguns livros e artigos, ainda tendo,
em algumas citações, o termo letramento como sinonímia.
O termo aparece, inicialmente, como um conjunto de sa-
beres necessários para ler, escrever, compreender, buscar a
informação, selecioná-la, analisá-la de forma crítica, e ain-
da para produzir uma nova informação ou conhecimento.
No entanto, há fatores que impulsionam a necessidade de
aquisição de novos saberes. A cultura digital impregnada
no contexto atual faz emergir situações provocadas pelo
fluxo de informação global, que requer a aquisição e o de-
senvolvimento de competências que possibilitem acompa-
nhar o progresso tecnológico. O termo literacia digital vem
se consolidando, no Brasil.
Podemos observar que, nos últimos anos, mais ex-
pressivamente, na última década, o desenvolvimento tecno-
lógico vem provocando mudanças significativas em todos os
setores de forma global. Os dispositivos móveis eletrônicos
e digitais, acessíveis a grande parte da população, ao mesmo
tempo que aceleram o consumo, promovem o desenvolvi-
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mento de novos aparatos tecnológicos. Assim, a literacia
digital é um conceito que se implica não apenas ao que se
refere à utilização e manejo dos dispositivos digitais e suas
aplicações, mas também à apropriação de saberes que per-
mitam compreender e dominar a linguagem digital codifi-
cada e subjacente à cibercultura (LÉVY, 1999) com a capa-
cidade de criar artefatos tecnológicos e desenvolver-se como
um cidadão global. Nesse contexto, a literacia digital não se
centra apenas na utilização dos recursos tecnológicos digi-
tais: ela se reflete na prática social e cidadã da cultura digital.
No dia a dia as pessoas usufruem dos recursos das
tecnologias digitais em vários movimentos em seus contex-
tos sociais. A consolidação do conceito de literacia digital,
no Brasil, se faz através do desenvolvimento de habilidades
e competências no uso das tecnologias digitais por um su-
jeito com postura cidadã digital. Temos como entendimen-
to de habilidades digitais a capacidade de realizar ações e
resolver problemas e para competência digital a capacidade
de utilizar os resultados dos saberes adquiridos para o de-
senvolvimento pessoal ou coletivo.
O fato é que o uso das tecnologias digitais é tão in-
tenso e abrangente que se torna transparente no dia a dia,
o que influencia diretamente na vida cidadã. Há ainda di-
ferentes terminologias articuladas no contexto tecnológico
e científico, como, por exemplo, alfabetização científica,
alfabetização digital, competência digital, competência
informacional, letramento informacional, literacia infor-
macional e outros termos, ainda articulados nas signifi-
cações conceituais do desenvolvimento de competências
tecnológicas digitais. A literacia digital é o uso eficaz das
tecnologias, embora não se limite a isso. É uma habilidade
para usar os computadores, incluindo o uso e a produção
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de mídias digitais, o processamento e a recuperação da in-
formação, a participação em redes sociais para a criação e
o compartilhamento do conhecimento e um conjunto de
habilidades técnicas em computação. Esses elementos são
também compartilhados pela UNESCO (2011). A vida
nas redes digitais exige do cidadão no mundo global os co-
nhecimentos da literacia digital, com competências e habi-
lidades técnicas para mobilidade social, enquanto território
geográfico e virtual, no ciberespaço.

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A Literacia Digital para as autoras

O termo literacia digital no contexto deste estudo


tem como foco o uso das tecnologias digitais em contex-
tos educativos, envolvendo um processo de apropriação
de saberes que contempla a cultura digital e a formação
cidadã. E isso envolve e vai além de todos os processos de
alfabetização, de letramento e de desenvolvimento de com-
petências envolvendo o digital. Nos ambientes formais de
aprendizagem, está sendo solicitado aos alunos a utiliza-
rem as tecnologias digitais que estão inseridas no cotidiano.
Está se tornando comum aos alunos interagir, colaborar e
fazer uso de conteúdos digitais (ELICKER, 2018). No en-
tanto, faz-se necessária uma orientação para desenvolver
as habilidades da alfabetização digital em sala de aula. O
processo de alfabetização digital requer que o aluno tenha
habilidades específicas, como, por exemplo, ler um texto
online, encontrar informações, pois os textos nesse forma-
to contêm recursos incorporados, como hiperlinks, áudio,
imagens ou tabelas que exigem escolhas. O termo alfabeti-
zação digital já vem sendo construído ao longo do tempo,
como já vimos neste livro.
Essas informações básicas acerca das habilidades ne-
cessárias para usar o computador fazem parte do processo
individual, semelhante ao que se dá em relação ao processo
de alfabetização, ou seja, correspondem a conhecimentos
necessários para consumir, para usufruir dos benefícios da
tecnologia. Segundo Soares (2003), o aprendizado da téc-
nica, da alfabetização (à qual aqui incorporamos ao digital)
irá acompanhar o uso; neste sentido, não adianta aprender
a técnica e não a utilizar. No processo de alfabetização di-
gital, precisamos oportunizar o uso dos recursos digitais,
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para o aprendente se apropriar dos elementos do processo
prático do conhecimento. Desta maneira, para alfabetiza-
ção (SOARES, 2004), nós precisamos aprender a segurar o
lápis e fazer os movimentos necessários para escrever; para
digitar é necessário saber usar o teclado, pois quanto aos
saberes, um não se posiciona antes do outro: ambos são
igualmente importantes ao processo.
Não podemos parar na alfabetização, quando o sujei-
to apenas identifica as informações que lhe foram dadas, fa-
zendo uso limitado delas. A alfabetização digital compreen-
de o básico da segurança na Internet, como criar senhas
fortes, para proteger seus dados, entender e usar configura-
ções de privacidade e saber o que compartilhar nas mídias
sociais ou até mesmo entender o termo cyberbullying. A
alfabetização digital corresponde ao usuário consumidor
digital e o letramento digital em seus aspectos sociais de
uso das tecnologias. O que, considerando o mundo atual e
os desafios do século XXI, não é mais suficiente.
Mas, para além de ser um sujeito alfabetizado digi-
talmente e com letramento digital, para atender aos de-
safios do século XXI é preciso oportunizar que o sujeito
crie, que seja autor e não apenas consumidor dos meios
digitais (BASSANI e BARBOSA, 2018). É preciso tam-
bém o desenvolvimento de habilidades sócio-emocionais
também no mundo digital, uma vez que na cultura digital
o mundo físico e o digital estão imbricados. É preciso
que o sujeito aprendente seja, para além de um fluente
digital, um cidadão, que é parte de um mundo comple-
xo e interage com a sociedade e com a natureza em uma
perspectiva cidadã. Desta forma, os espaços de aprendiza-
gens formais devem oportunizar ao aprendente a literacia
digital, ou seja, ir além do uso instrumental básico da al-
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fabetização e do letramento digital e abrir caminhos para
o desenvolvimento de uma cidadania digital (ELICKER
e BARBOSA, 2020).
Assim, o conceito de literacia digital abarca a apro-
priação dos saberes do uso das tecnologias digitais de forma
autônoma, responsável e criativa. A literacia digital capaci-
ta o sujeito a usar as tecnologias digitais encontrando, ava-
liando, criando e compartilhando informações de forma
segura e ética, desenvolvendo a cidadania digital. E nes-
ta perspectiva, um professor com literacia digital terá as
competências digitais necessárias para desenvolver a cons-
trução do saber em literacia digital em seus alunos, com
habilidades cognitivas e técnicas no uso das tecnologias. O
professor e equipe de ensino têm a função de despertar em
um movimento de cooperação, colaboração e estimulação
o interesse no aluno na busca pela apropriação dos saberes.
Este aluno será um criador, um inovador nos meios digi-
tais, com capacidade autônoma na busca por informações
para apropriação de novos saberes.
Então, temos dois importantes passos: primeiro a alfa-
betização digital, que compreende e usa os códigos de forma
básica, ou seja, é consumidor, em posição de usuário e, em
segundo, a literacia digital, que é o sujeito que consegue, a
partir dos conhecimentos, não apenas interagir, mas criar, e
está em posição de autor, nos ambientes digitais. Para além
disso, é um sujeito que atua na sociedade de modo transfor-
mador, interagindo na sociedade, com a natureza e com as
tecnologias, numa perspectiva de sujeito integral e integrado.
Neste sentido, a literacia digital precisa ser desenvol-
vida e abarcar o desenvolvimento de uma “ética do gênero
humano”, um dos sete saberes necessários à educação do fu-
turo, conforme nos fala Morin (2011, p. 18) sobre a ética:
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Deve formar-se nas mentes, com base na cons-
ciência de que o humano é, ao mesmo tempo,
indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie.
Carregamos em nós essa tripla realidade. Desse
modo, todo o desenvolvimento verdadeiramente
humano deve compreender o desenvolvimento
conjunto das autonomias individuais, das parti-
cipações comunitárias e da consciência de perten-
cer a espécie humana.

É a partir dessas relações e reflexões, que precisamos


(re)pensar o ensinar e o aprender a literacia digital.

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Novos olhares para pensar a Literacia Digital

Quanto olhamos para a literacia digital, precisamos


pensar nos desafios da sociedade atual e futura. É preciso
olharmos para desafios que o ciberespaço, também mutan-
te e complexo, nos traz, a partir das novas configurações
advindas da interconexão planetária, dos sistemas inteli-
gentes, dos impactos na vida do planeta e das novas rela-
ções entre humanos, máquinas e software.
André Lemos (2016) já discorria sobre a cibercultura
refletindo sua onipresença, uma vez que a rede e as tec-
nologias passam a envolver os usuários e objetos em uma
interconexão generalizada. O ciberespaço é baseado em três
princípios fundamentais: produção, distribuição e compar-
tilhamento (LEMOS e LÉVY, 2010). A intensificação e a
onipresença das tecnologias digitais, aliado aos princípios
fundamentais do ciberespaço nos leva a vivenciar transfor-
mações nas práticas sociais, na forma de produzir e consu-
mir informação. Por outro lado, é preciso considerar que
as relações que ocorrem no ciberespaço não se constituem
somente como relações humanas mediadas por tecnologias
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digitais, mas podem se constituir em interações entre atores
humanos e não humanos. Segundo Di Felice (2019), as
plataformas digitais contribuíram para um novo tipo de ar-
quitetura social, não mais centrada em relações homocên-
tricas, mas com conexões em rede envolvendo humanos,
algoritmos, softwares, dados e objetos.
Mark Weiser há 30 anos atrás já vislumbra uma rea-
lidade onde a computação seria parte integrante do espaço
físico do usuário, oferecendo um ambiente computacional
que o envolve, a chamada Computação Ubíqua (WEISER,
1991). Nesse modelo o propósito é atender pró-ativamen-
te às necessidades dos usuários, atuando de forma invisível
(background) para este, em uma integração contínua entre
tecnologia e o ambiente de modo a auxiliar o usuário em
suas tarefas cotidianas. A computação ubíqua e seus diversos
sistemas visam interagir com o ser humano a todo o mo-
mento, não importando onde ele esteja, constituindo um
ambiente altamente distribuído, heterogêneo, dinâmico,
móvel e interativo. Para isso, as aplicações precisam entender
e se adaptar ao ambiente, compreender o contexto em que
estão inseridas e estarem disponíveis ao usuário, em qualquer
lugar onde este se encontre, a qualquer tempo, mantendo o
acesso à rede e a seu ambiente computacional, independen-
te do dispositivo. Hoje já vivenciamos muitos dos avanços
preconizados por Weiser. Assim, a evolução em direção à
ubiquidade dos sistemas computacionais trouxe novos desa-
fios, visto que à medida que os sistemas proporcionam novas
facilidades, também trazem novas possibilidades e mudanças
no comportamento do usuário e da sociedade.
Esses elementos provocam um novo tipo de sociabi-
lidade, de organização midiática e são potencializados pela
proliferação de sistemas inteligentes oriundos da inserção
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de elementos da inteligência artificial nos sistemas compu-
tacionais e nas interações, no ciberespaço, influenciando a
cultura digital a partir de uma perspectiva híbrida. Backes
(2011; 2015) apresenta o termo “hibridismo tecnológico e
digital” representando as relações e representações entre o
humano e a técnica, onde as tecnologias digitais se apresen-
tam imbricadas no espaço habitado e nas pessoas, permi-
tindo ações, relações, interação, compartilhamento e (re)
configuração de espaços físicos e virtuais, entre os humanos
e a tecnologia, no contexto da cultura digital. Já em Backes
et Al. (2017), os autores propõem olharmos para o hibri-
dismo tecnológico digital a partir de uma perspectiva em
espiral, em um fluxo complexo de interação, contradição e
modificação envolvendo o humano e a técnica, sendo atra-
vessado pelos aspectos que envolvem a política, a educação,
a ciência, a religião, a economia e a cultura.
Assim, há um conviver mútuo entre o humano e as
coisas, digitais e não digitais, que tem impacto no presente
e no futuro. Neste cenário, a inteligência artificial tem e
terá um papel importante na relação do humano com a tec-
nologia, em especial, no que tange tecnologias digitais de
informação e comunicação. A inteligência artificial é consi-
derada uma área da ciência da computação cujo objetivo é
de que as máquinas executem tarefas desempenhadas pela
inteligência humana. Neste contexto entram áreas como o
reconhecimento de voz, a predição de dados ou machine
learning, a percepção visual, o deep learning, a consciên-
cia artificial etc. Com isso, a inteligência artificial vem de-
sempenhando um papel incisivo, por vezes invisível, em
várias atividades humanas, em especial nas interações no
ciberespaço e no mundo físico. A inteligência dos sistemas
computacionais é condição para que tenhamos uma com-
53

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putação ubíqua, que nos envolve, que se modifica à medida
que nos modificamos e necessitamos.
A grande questão é que devemos compreender esses
processos, de forma a não ficarmos à mercê dos sistemas.
Autores como Santaella (2019) e Harari (2015) chamam a
atenção sobre a importância de compreendermos os efeitos
que a inteligência artificial está produzindo na sociedade.
É importante que possamos perceber as implicações de
convivermos com sistemas inteligentes imbricados em nos-
sas vidas e o que isso representa em termos de sociedade e
humanidade, se tornando uma preocupação crucial para a
vida humana hoje e no futuro. Segundo Di Felice (2020),
este novo modo de pensar o social, não mais baseado na
centralidade do humano, envolve a necessidade de novos
entendimentos, inclusive envolvendo a noção de organiza-
ção mundial e de democracia, nos levando a novas formas
de participação, interação e governança.
Edgar Morin (2021), analisando a necessidade de
(re)pensarmos o mundo e a sociedade a partir das experiên-
cias da pandemia da COVID-19, nos coloca a pensar sobre
a necessidade de uma “Política da Humanidade”, ou seja,
da importância urgente de desenvolvermos a “consciência
de pertencer a comunidade humana” (MORIN, 2021, p.
77). Na sua obra ele discorre sobre a necessidade de repen-
sarmos nossa relação com a natureza, os modelos econô-
micos, industriais, sociais e políticos, também envolvidos
pelo digital. Para isso, para atendermos a esta necessidade
de “mudar de via”, Morin, em seus escritos aponta que é
preciso que tenhamos condições de compreender esses ele-
mentos e de perceber o nosso papel dentro deste contexto.
Ao analisarmos a cultura digital, podemos perceber
que não basta mais ter competência digital para criação e
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desenvolvimento, para proteção de dados, para viver e con-
viver no mundo digital, para produção, distribuição e com-
partilhamento. É preciso compreender as diversas formas
de interação que envolvem o universo da cultura digital a
partir de um olhar mais holístico, compreendendo o papel
de cada um neste processo e os impactos em termos do
mundo físico e virtual, de forma imbricada e difusa, em
um compromisso com o desenvolvimento sustentável, com
a sociedade, a política, a economia, a educação, enfim...
com todos os aspectos que envolve o viver e conviver em
uma sociedade planetária e digital. É preciso desenvolver
uma perspectiva de cidadania digital. Logo, não basta mais
ser alfabetizado, letrado ou fluente digitalmente. É preciso
um desenvolvimento profundo de conhecimentos acerca
das complexidades que envolvem a cultura digital e seu im-
bricamento com o mundo físico, as pessoas e o planeta em
geral. A vida humana está sendo impactada profundamen-
te pelas mudanças advindas do avanço da tecnologia.
Refletindo até aqui, podemos perceber que a literacia
digital envolve uma perspectiva mais refinada, indo além
do uso instrumental e social das tecnologias, envolvendo
reflexões acerca do interagir neste meio midiático mais
complexo, neste meio onde os sistemas se tornam invisí-
veis e atuam a partir de uma dita representação do usuário.
É preciso uma literacia digital que abarque a alfabetização
digital, inclua elementos do letramento em direção a uma
fluência necessária para utilizar os recursos digitais consi-
derando os desafios de uma cultura digital híbrida e tec-
no-humana, em consonância com o desenvolvimento de
uma cidadania digital. Na literacia digital, é essencial que o
aprendente tenha condições de criar e interagir, se posicio-
nando com criticidade nos ambientes midiáticos.
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O grande desafio é não cairmos em uma cultura onde
o sistema pense, decida e venha a agir por nós, sem que
tenhamos condições de compreender como este processo
ocorre, porque e se é o que efetivamente precisamos, en-
quanto pessoa, grupo, nação ou planeta. Para isso é preciso
que tenhamos um novo olhar sobre a relação tecno-huma-
na, de forma que possamos interagir e agir de forma cidadã.
Nesta perspectiva, esses elementos envolvem o processo de
literacia desde o início, de forma fluída, e vai se aperfeiçoan-
do à medida que evoluímos, tanto na perspectiva de evo-
lução humana como tecnológica. Podemos então pensar a
literacia digital a partir de um fluxo que envolve as relações
humano e tecnologia até à percepção de cidadania digital
consciente, onde o usuário se sente parte de um processo
que perpassa temas de impacto na vida humana e na socie-
dade, como a saúde, a educação, o meio ambiente e o de-
senvolvimento sustentável, a cultura, a política, a economia,
a sociedade, e outros temas centrais que venham a emergir
a partir de um processo histórico e cultural, envolvendo os
elementos de que nos fala Morin (2011) na sua obra “Os
sete saberes necessários para a Educação do futuro”.
Na literacia digital compreendemos todos esses ele-
mentos imbricados em uma arquitetura social impactados
por elementos da Computação e Tecnologia, como a In-
teligência Artificial e a Computação Móvel e Ubíqua, por
exemplo. Todo este processo está sendo sempre desenvolvi-
do a partir de uma perspectiva reflexiva do sujeito em dire-
ção a uma postura cidadã e, principalmente, tendo sempre
como foco a solidariedade, entendendo que cada um é par-
te de uma complexa engrenagem.
Nesta perspectiva, é preciso (re)pensar os processos
educacionais, tanto em uma perspectiva formal quanto in-
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formal. É de se compreender da importância de desenvol-
ver a literacia desde a tenra infância. No entanto, neste livro
vamos nos deter a refletir sobre a Literacia Digital em con-
textos educativos formais, como a Escola. A Escola, como a
grande contadora da história da humanidade e formadora
de cidadãos, tem um papel importante na incorporação de
um novo olhar sobre a relação humano e tecnologia e o
desenvolvimento da literacia digital.

Figura 5 - Espiral da Literacia Digital

Fonte: Autoras

Na figura 5, a espiral representa a ideia do movimen-


to da literacia digital, em que o ponto central é o aprenden-
te do século XXI. Um sujeito com literacia digital conec-
tado com os movimentos sociais a partir dos elementos do
conhecimento humano e das diversas ciências. Apresenta-
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mos no centro da espiral o Ser Cidadão na perspectiva in-
dividual e de grupo, onde o sujeito se posiciona refletindo
enquanto cidadão. Esse irá passar por todo o processo e ir
se apropriando em uma crescente do movimento dos sa-
beres integrados. A partir dos elementos do conhecimento
humano e das diversas ciências que irão compor o cidadão
com literacia digital, em uma sociedade que é tecnológica e
funciona em rede. Assim, o que a figura busca representar
é que a literacia digital é fluída e perpassa o conhecimen-
to humano, das ciências e tecnologias sempre a partir de
uma postura reflexiva e de uma compreensão profunda do
aprendente que ele se constitui um indivíduo inserido em
uma sociedade. Ele está imbricado.

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GLOSSÁRIO

Aprendente: refere-se aos alunos/sujeito em situação de aprendizagem.


Aprendentes digitais: sujeitos em situação de aprendizagem imersos
na cultura digital. Nascidos na era digital, com acesso as tecnologias e
com habilidades de manejo.
BNCC: é um documento de referência nacional, que define as apren-
dizagens essenciais para os alunos da educação básica.
Cidadania digital: a capacidade de participar do meio social de forma
cidadã, nutrindo de forma perspicaz os valores morais e éticos, com
respeito ao outro, ao meio e à natureza. O movimento da cidadania di-
gital visa a segurança e privacidade, a busca por fontes sabendo verificar
origem e identificar fontes fidedignas.
Ciberespaço: é o espaço das comunicações por redes de computação.
Cultura digital: é a cultura nascida na era digital, originária do
ciberespaço e da linguagem da internet que integra a realidade e o
mundo virtual.
Decodificação: é a prática de fazer leitura (reflexiva) de qualquer tipo
de mensagem. A decodificação reflexiva visa examinar autoria, técni-
cas, recursos entre outras funções da mensagem decodificada, leitura
essa que visa contemplar a literacia digital.
Duo: é um aplicativo móvel de videochamadas desenvolvido pelo
Google.
Flipgrid: é uma plataforma gratuita, que pode ser usada pelo com-
putador ou aplicativo no celular, e permite a comunicação por meio
de vídeos.
Ensinagem: refere-se a ação de ensinar. Corresponde ao processo utili-
zado para despertar a aprendizagem

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Ensino híbrido: integra a tecnologia à educação, a tecnologia permeia
as atividades e contempla o processo. (híbrido – o que é composto por
elementos diferentes).
FakeNews: termo usado para se referir a certo tipo de nóticia de ampla
divulgação que tem por finalidade divulgar ou promover ideias que
não possuem comprovação ou embasamento no intuito de confundir,
obliterar, deflagar e propagar inofrmações incorretas ao grande público
através do uso massivo das redes sociais.
Fluência digital: a capacidade de mobilidade digital de criar conteúdo.
Resolução de problemas em buscas de solução.
Google Documentos: é um pacote de aplicativos, que permite criar,
editar e visualizar documentos de texto etc.
Google Classroom: é uma plataforma, espaço virtual que une o ensino
à aprendizagem.
Infodemia: refere-se ao excesso de informação sobre um determina-
do tema, por vezes incorreta e produzida por fontes não verificadas
ou pouco fiáveis, que se propaga velozmente. A palavra apareceu pela
primeira vez em 2020, em relatório da Organização Mundial da Saúde
(OMS), durante a pandemia do novo coronavírus.
Jambord: é uma tela inteligente, um quadro interativo desenvolvido
pelo google, como parte da família g suite
Literacia digital: compreende o uso eficaz da tecnologia, envolve o
conhecimento dos códigos inseridos nos ambientes digitais e as habili-
dades e competências para o uso deles.
Meet: é um aplicativo de videoconferência do google.
Mídias: as mídias são todos os meios pelos quais é possível transmitir
informações (sites, livros, revistas, rádio, tv, fotografias, filmes e músi-
cas ou mesmo panfletos, embalagens etc.). Obs. Mídia (no singular)
refere-se à imprensa, veículos de comunicação por meio dos quais se
exerce o jornalismo.
Moodle: é um ambiente virtual de aprendizagem, com um sistema de
código aberto para a criação de cursos online.

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On-line: conectado direta ou remotamente a um dispositivo digital.
QRCode: é um código de barras, ou barramétrico, bidimensional, que
pode ser facilmente escaneado usando a maioria dos telefones celulares
equipados com câmera. Esse código é convertido em texto, um endere-
ço uri, um número de telefone, uma localização georreferenciada, um
e-mail, um contato ou um sms.
Sala de aula: espaço de aprendizagem (virtual ou físico).
Salas de aprendizagem: são os espaços (físico ou virtual) que unem o
ensino à aprendizagem.
WhatsApp: é um aplicativo multiplataforma de mensagens instantâ-
neas e chamadas de voz para smartphones. Além de mensagens de tex-
to, os usuários podem enviar imagens, vídeos e documentos em pdf,
além de fazer ligações grátis por meio de uma conexão com a internet.
Zoom: um aplicativo que permite realizar reuniões virtuais.

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SOBRE AS AUTORAS

Ana Elicker é professora, doutoranda em Diversidade Cultural e In-


clusão Social FEEVALE. Mestre e graduada em Letras pela FEEVA-
LE. Especialista em Neuroaprendizagem, Gestão Escolar e EJA. Fi-
nalista do 11º Prêmio Professores do Brasil/MEC. Recebeu menção
honrosa em Collèges et instituts Canada. Prêmio Professor Inovador,
3ª ed., Vale do Paranhana. Produtora e professora de cursos on-line
de poemas, escrita criativa e literacia digital. Ana é autora e organi-
zadora de diversos livros de poemas e contos. Pesquisadora e autora
de LITERACIA DIGITAL. Pesquisadora e Bolsista CAPES/Brasil.
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1432-6506
Contato: Instagram @anatelicker; e-mail: anaelicker@hotmail.com

Débora Nice Ferrari Barbosa é Doutora e Mestre em Ciência da


Computação - UFRGS. Pós-doutora pela University of Califórnia
Irvine, EUA. Bolsista de Produtividade DT - nível 1D - CNPq.
Professora titular na Universidade Feevale, atuando no Programa de
Pós-graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social. Líder do
Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Tecnologia Digital, Neuro-
ciência e Educação (CNPq-Feevale). Como pesquisadora desenvolve
projetos na área de Tecnologias Educacionais e Sociais e Jogos Digi-
tais voltados para a Educação e Saúde. Os principais temas de pesqui-
sa estão relacionados à Tecnologia e Saúde, Neurociência e Educação,
Games na Educação e Aprendizagem Móvel e Ubíqua.
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8107-8675.
Contato: deboranice@feevale.br

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Aviso importante: Ao comprar um livro você não somente
está a adquirir um produto qualquer. Você também remunera
e reconhece o trabalho do autor e de todos aqueles que, direta
ou indiretamente, estão envolvidos na produção editoral e na
comercialização das obras, tais como editores, diagramadores,
ilustradores, gráficos, distribuidores e livreiros, entre outros. Se
quiser saber um pouco mais sobre isso, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=XQkpZA6qFhc

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