Você está na página 1de 2

Escola Secundária Gil Eanes

Textos de apoio - História A – 11º ano


2022/2023
Professora: Margarida Velhinho

HISTÓRIA A – MÓDULO 5 – O LIBERALISMO – IDEOLOGIA E REVOLUÇÃO, MODELOS E PRÁTICA


NOS SÉCULOS XVIII E XIX
Unidade 2 – A Revolução Francesa, paradigma das revoluções liberais e burguesas

2.1 A França nas vésperas da Revolução


A Revolução Francesa foi a maior de todas as revoluções liberais, quer pelo entusiasmo com que foi
vivida, quer pelos extraordinários acontecimentos que lhe deram corpo, quer ainda pela enorme repercussão
que teve. O processo revolucionário francês foi longo (1789 – 1804). Dele resultou uma nova ordem
sociopolítica: o liberalismo.
A partir de 1770, a França passou por um período de grande agitação política e instabilidade social. O
seu regime político e social era profundamente injusto e desigual, já que assentava numa monarquia
absoluta de direito divino e na tradicional sociedade de ordens.

2.1.1 Uma estrutura social anacrónica


Um anacronismo sucede quando, numa determinada época, existem características que deviam pertencer
a outra: era o caso da sociedade francesa do século XVIII, ainda muito ligada às estruturas do Antigo Regime.
Persistiam, assim, as seguintes características sociais:

- a alta burguesia era superior às ordens tradicionalmente privilegiadas (clero e nobreza) em riqueza e
instrução, contudo, não tinha acesso aos altos cargos da administração pública, do exército e da hierarquia
religiosa, para os quais se exigia prova de nobreza;
- os camponeses, apesar de constituírem a maioria da população (cerca de 80%), continuavam na miséria,
pois não eram detentores das terras que trabalhavam e ainda tinham de pagar impostos;
-os trabalhadores das cidades recebiam salários baixos;
- a nobreza mantinha um estilo de vida ocioso e frívolo; porém, detinha a maior parte da propriedade
fundiária, os postos mais importantes na administração;
- o clero possuía terras, recebia rendas e a dízima (1/10 de toda a produção agrícola).

Esta situação de profunda injustiça social, foi então uma das causas da Revolução Francesa. Os
grupos privilegiados representavam 2% da população: estavam isentos de impostos; detinham 50% do solo
francês; usufruíam de um conjunto de prerrogativas senhoriais (cobrar rendas fundiárias, taxas, impostos,
dízima); ocupavam os mais importantes cargos políticos, diplomáticos e militares, administrativos e
religiosos; possuíam foro próprio. O Terceiro Estado era a única ordem social produtiva, que suportava e
sustentava os Estados absolutos. Doc. 2 – O povo sustenta o Clero e a Nobreza
Doc. 1 – O
nobre e o
camponês,
ou a aranha
e a mosca

1
2.1.2 A crise económico-financeira
A somar àquele quadro social, nas vésperas da Revolução, a França foi afetada por uma crise económica
motivada pelos seguintes fatores:
- o aumento do preço do pão e carestia, em virtude de maus anos agrícolas, que afetaram sobretudo
as culturas da vinha e dos cereais e a criação de gado, na década de 70 do século XVIII;
- aumento do desemprego, baixa dos salários, fome, instabilidade social, devido à quebra de produção
têxtil, originada pelo aumento do preço (que limitava a capacidade de aquisição de outros produtos pelas
famílias), mas também por causa do Tratado de Éden, de 1786 (que previa a livre troca de vinho francês
pelos têxteis ingleses);
- as despesas do Estado com o exército com a Guerra dos Sete Anos e com a Revolução Americana; as
obras públicas, a dívida pública e o luxo da corte originaram um défice constante, já que o clero e a nobreza
não contribuíam para as receitas do estado; na verdade, as importações cresceram e desequilibraram a
balança comercial.

Podemos considerar a crise económico-financeira como o segundo fator que conduziu à Revolução
Francesa.

2.1.3 As tentativas políticas de reforma

Perante a crise económico-financeira, começou a espalhar-se a ideia de que a principal causa do défice
das finanças públicas não era a pobreza da nação francesa, mas antes a injusta sociedade de ordens
vigente, que isentava o clero e a nobreza de contribuições tributárias, e que tornava urgente uma reforma do
sistema fiscal.
O poder político tinha de agir. O rei Luís XVI, monarca absoluto, rodeou-se de ministros para o auxiliarem:
Turgot, Necker, Calonne e Brienne propuseram, sucessivamente, reformas no intuito de solucionar a crise.
Porém, a conclusão a que chegavam era sempre a mesma: a única maneira de obter mais receitas para o
estado passaria por fazer com que as ordens privilegiadas também pagassem impostos. Ora, o Clero e a
Nobreza opuseram-se terminantemente às tentativas de redução dos seus privilégios.
A própria rainha Maria Antonieta, chamada pelo povo “Madame Défice” devido às suas despesas com a
corte, contribuiu para que os ministros fossem despedidos.
Foi num clima de agitação popular e de oposição política das ordens privilegiadas que Luís XVI resolveu
convocar os Estados Gerais (reunião de representantes das diversas ordens sociais), enquanto se
elaboravam os Cadernos de Queixas (registo dos anseios da sociedade francesa).

Você também pode gostar