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OFICINA DE

BIOCONSTRUÇÃO COM
TERRA CRUA

-Espaço Naturalmente-
www.espaconaturalmente.blogspot.com
Arquitetura também é cultura e a construção com terra é uma das mais antigas.
Há mais de 10.000 anos o homem já utilizava o barro para construir suas casas.
Terra é o material de construção mais abundante no planeta.
E trabalhar com a terra é muito simples, além de prazeroso.

BIOCONSTRUÇÃO:
Construção de ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de baixo impacto
ambiental ou impacto positivo, adequação da arquitetura ao clima local e tratamento de
resíduos (antes e depois da construção).

AMBIENTE SUSTENTÁVEL:
É o ambiente que satisfaz as necessidades presentes de
moradia, alimentação saudável e energia garantindo que as gerações
futuras tenham como satisfazer as mesmas necessidades.

As construções convencionais (construção civil) são responsáveis por aproximadamente


40% dos materiais e recursos gastos por ano no mundo! Isto é uma prática insustentável.
Além de gerar habitações tóxicas. Verniz, tintas industrializadas, madeiras tratadas com
produtos químicos etc., geram um ar carregado de substâncias voláteis que ficam no interior
dessas casas “modernas”.
Nós temos toxinas como o álcool, acetonas, tricloroetileno, benzina e formaldeídos em
nossas cozinhas, salas e quartos.

Construção Civil:
- 1/4 da madeira extraída;
- 2/5 da energia consumida;
- 1/6 da água potável.
*Dados da cartilha “Soluções Sustentáveis – Construção Natural / Ecocentro IPEC 2007.

Princípios de Bioconstrução:
-Construção de baixo impacto ambiental ou impacto positivo;
-Observação do local em que se deseja construir;
-Isolamento nos lados mais ventosos e chuvosos (conservação de energia);
-Iluminação passiva / aberturas maiores para a face norte (face do sol);
-Habitações saudáveis (não tóxicas);
-Utilização de materiais locais;
-Autoconstrução e/ou mão de obra local;
-Mutirão – celebração - ajuda mútua;
-Tratamento adequado dos resíduos.

A construção de um ambiente sustentável traz autonomia às comunidades.


Uma comunidade com autonomia é aquela que tem a capacidade de satisfazer as suas
próprias necessidades sem depender de grupos ou pessoas de fora da comunidade.
O domínio das técnicas construtivas e a valorização das técnicas tradicionais são mais
um passo rumo a essa autonomia.
Autonomia é sinônimo de liberdade para uma comunidade, pois com isso ela não
precisa depender de recursos externos ao ambiente onde vive.
Se cuidarmos da natureza, teremos para sempre os recursos necessários para a nossa
sobrevivência e a das futuras gerações no local onde vivemos.
VALORIZANDO A ARQUITETURA TRADICIONAL
Desde a evolução da industrialização no século XIX, as técnicas de construção
tradicionais vêm sendo abandonadas. As pessoas com poucos recursos financeiros têm menos
acesso aos produtos industrializados e seguem fazendo o uso das técnicas antigas, como o
adobe, o pau-a-pique e a taipa de pilão.
Estas técnicas são associadas à população de baixa renda, o que gera o preconceito que
permanece até os dias de hoje.
Em muitos lugares somente as gerações mais antigas têm o conhecimento das técnicas
tradicionais de construção. A arquitetura tradicional sempre construiu de acordo com o clima
e com o ambiente natural, garantindo moradias agradáveis. Com a industrialização isto vem
sendo perdido. Em alguns programas de habitação social, por exemplo, é construído o mesmo
tipo de casas no sul e no norte do Brasil, sem o mínimo respeito à cultura e às necessidades
das pessoas, e sem considerar as grandes diferenças climáticas que temos ao longo do país.

Devemos ter o cuidado de transmitir as técnicas tradicionais às gerações futuras, do


contrário esta sabedoria será perdida.

Curiosidades

- 1/3 da população mundial vive em casas de terra crua;


- Shibam é a cidade mais antiga construída com Taipa de Pilão;
- A mesquita de Djenné – Mali, é a maior construção de terra no mundo;
- A Muralha da China foi construída com Terra Crua.

Desvantagens da construção com Terra Crua:


-A terra não é um material padronizado, necessitando fazer testes com o solo disponível, para
agregar aditivos caso necessário, e se obter uma mistura resistente ao tipo de construção,
antes de começar a obra;

- Construções com terra são mais suscetíveis às águas. Deve-se evitar que a água da chuva, por
exemplo, escorra pela parede. Isto pode ser evitado com telhados que tenham beirais de pelo
menos 80cm.
*Porém, uma parede com um bom reboco de terra estabilizada corretamente sofrerá pouco
com as intempéries.

- A terra ao secar sofre uma refração, que causa rachaduras. Com a evaporação da água
aparecem rachaduras.
Esta retração oscila entre 3 e 12% em técnicas com terra mais úmida, e de 0,2 a 0,4% em
técnicas com terra quase secas.
Posteriormente deve-se aplicar o reboco, que cobre estas rachaduras.

Vantagens da construção com Terra Crua:


- A terra crua regula a umidade interna das habitações. O barro tem maior capacidade de
absorver e perder a umidade que os demais materiais de construção.
A umidade dentro de uma casa de barro costuma ficar em torno de 50%, oscilando esse
percentual em aproximadamente 5 a 10% dependendo da estação do ano.
O nível de umidade considerado ideal para a saúde é de 40 a 60%. Menor que 40% haverá
muita partícula de poeira em suspensão e acima de 60% começam a se proliferar fungos no
ambiente.
- O barro estabiliza a temperatura no ambiente interior. A terra armazena calor (massa
térmica) durante sua exposição aos raios solares e depois perde lentamente quando a
temperatura exterior estiver baixa.
Em locais onde ocorre grande oscilação de temperatura entre o dia e a noite, o barro é uma
excelente proteção.
No verão a casa é fresca e no inverno o barro isola bem do frio exterior.

- Por ser natural, a terra não contamina o ambiente e economiza energia, utilizando apenas 1 a
5% da energia despendida em uma obra similar de concreto e tijolos cozidos.

- As construções com terra podem ser demolidas e reaproveitadas múltiplas vezes.

- Construções de baixo custo. A construção com barro é relativamente simples, facilitando a


auto- construção. Utilizando-se ferramentas simples e materiais não tóxicos, toda família pode
participar da obra. As crianças adoram!

- O barro preserva a madeira e outros materiais orgânicos.


As madeiras que ficam “dentro” da parede de barro se preservam por muito mais tempo,
devido ao seu baixo equilíbrio de umidade que varia de 0,4 a 6%. Os insetos e fungos,
responsáveis pela decomposição de materiais orgânicos, necessitam de um mínimo de
umidade em torno de 14 a 20%, deste modo não conseguem destruir estes materiais.

Identificação da terra:
A terra é basicamente uma combinação de areia, argila, silte, pedras e matéria orgânica.
As camadas superficiais do solo contêm quantidades maiores de matéria orgânica e não são
apropriadas para construção.
Utilizamos o subsolo para construir.

(Adaptado de FADDA, Física del Suelo)

Função de cada partícula:


ARGILA- Coesão entre as partículas, ela que mantém todas as partículas da terra unidas, sejam
areias ou siltes;
AREIA- É a partícula resistente, aquela que trabalha os esforços de compressão, ou seja, a que
sustenta a estrutura. Porém sozinhos, os grãos de areia não ficam unidos, função cumprida
pela argila;
SILTE- sem função estrutural, contribui no preenchimento de espaços vazios, dada a grande
diferença de tamanho entre a areia e a argila;
MATÉRIA ORGÂNICA- nas terras usadas para construção NÃO DEVE SER EMPREGADA, pois
pode decompor-se dentro da estrutura, formando partes ocas dentro da mesma e diminuindo
a resistência estrutural.
Outros materiais que podem ser adicionados ao barro:

PALHA- é adicionada a terra para aumentar a resistência às tensões.

Funciona de forma similar aos vergalhões de ferro no concreto.


Também serve como isolante térmico e micro junta de dilatação.
*Palha de leguminosa é ruim, pois possui muito nitrogênio (degrada rápido).
Palha boa é de gramínea, que contém sílica.

Esterco- utiliza-se preferencialmente o esterco de vaca. No esterco fresco existe uma bactéria
que ajuda na fermentação, mas que não deixa entrar em processo de putrefação. Com o
processo de fermentação, ocorre um alinhamento das partículas de argila, que após a secagem
confere uma excelente resistência à abrasão. É considerado o cimento natural.

Sumo de cactos- impermeabilizante natural.


Também confere maior aderência ao reboco e aumenta a união das partículas no barro.
Modo de fazer o sumo de cactos:
Um balde é o suficiente para fazer algumas paredes.
Deve-se utilizar luvas e ter muita atenção com os espinhos do cactos.
Depois de coletado, devemos picar o cactos e colocar em um balde e cobrir com água.
Depois de 3 dias está pronto para ser misturado na massa do barro.
Deve-se coar antes de misturá-lo à massa.
O mesmo cactos picado pode ser utilizado diversas vezes, adicionando mais água no balde até
que pare de liberar sua viscosidade, sobrando apenas a casca verde do cactos.

Testes de reconhecimento do solo


-Teste de tato e visual:
Tamanho das partículas: grãos de areia são os únicos que podem ser visualizados a olho nu,
portanto, muitas vezes é possível reconhecer um solo arenoso simplesmente com a
observação, bastando reconhecer a proporção dos grãos de areia;
Cor da terra: terras vermelhas e amarelas costumam ser argilosas, porém o mais importante a
verificar são as terras escuras, quase pretas, muito marrons, que são ricas em matéria orgânica
e não devem ser utilizadas para construção;
Cheiro: a terra deve ser inodora. Se apresentar leve cheiro de mofo, esta terra possui matéria
orgânica e não deve ser utilizada para construção. Recomenda-se umidificar levemente a terra,
se esta estiver muito seca, para realizar este ensaio;
Mordida: Leva-se pequena quantidade de terra a boca, morde-se a amostra. Se for muito
estridente, nota-se a presença da areia, se agarrar na língua, nota-se a presença do silte.
Brilho: molda-se uma bola de terra e corta-se com uma lâmina, se a parte cortada apresentar
aspecto brilhante, a terra é argilosa, se apresentar aspecto opaco, a terra é arenosa.
Lavado de mãos: espalhar uma amostra de terra molhada nas mãos e deixar que a mesma
seque naturalmente. Bater uma mão contra a outra e observar como a terra se desprende. Se
toda a terra sai da mão com facilidade, esta é uma terra arenosa, se ficar um talco na mão, a
terra é siltosa, e se a terra manchar a mão, sendo necessário lavá-la para retirar a mancha,
esta é uma terra argilosa.

Testes de comportamento:
Queda de bola: analisa-se o aspecto do espalhamento das partículas em função do tipo de
terra. Toma-se um punhado de terra com umidade mínima para que se faça uma bola de 5 a 8
cm (não pode estar encharcada, plástica). Deixar a bola cair em uma superfície plana e lisa,
sem oferecer impulso, de uma altura de mais ou menos 1m.
Terras argilosas achatam, quase não apresentam fissuras, ou apenas algumas pequenas
nas laterais.
Terras arenosas espatifam e suas partículas se desprendem, ou seja, a bola desmancha.

*A direita: terra argilosa; a esquerda: terra arenosa; Neves et. al. (2005)

Retração Linear: numa fôrma alongada, de medidas similares a 40X5X5, colocar a amostra da
terra a ser analisada em estado úmido (umidade mínima para que haja coesão), comprimindo-
a para que se preencha bem a fôrma e para que fique homogeneamente distribuída. Aguardar
alguns dias, até que amostra seque completamente e observar: se houver retração
considerável e nenhuma rachadura, terra argilosa.
Se houver rachaduras, ou seja, se a amostra partir em um ou mais pontos, terra arenosa.

Teste de sedimentação:
Retira-se uma amostra do solo, coloca-se em um recipiente transparente e cilíndrico (pote de
vidro de + 500g), preenchendo 1/3 do mesmo com a amostra e completando os outros 2/3
com água. Misturar bem, sacudindo por aproximadamente 30 minutos. E depois se deixa
repousar até que a água esteja totalmente transparente. Com este teste é possível observar a
proporção de argila, areia e silte que compõe o solo. O mais pesado, a areia, é a primeira a
depositar, ou seja, as partículas maiores ficam na parte mais baixa. A argila, mais leve e menor,
fica um bom tempo em suspensão na água, é a última a depositar, e portanto, a camada de
cima.
Obs: para este teste ficar o mais próximo da composição real do solo, o recipiente com a
amostra deverá ser sacudido por no mínimo 30 minutos, caso contrário pode apresentar erros,
visto que as partículas menores (argila) podem ficar “grudadas” nas partículas maiores (areia)
e assim se obtém uma amostra que não condiz com a realidade.
Evitar colocar sal para sedimentar mais rápido.

Composisão granulométrica (obs: Limo=Silte)


Adaptado de Neves et. al. (2005)
Teste de retração

Teste sugerido por João Rockett, fundador e presidente do


IPEP - Instituto de Permacultura da Pampa - RS

Neste teste observamos como o barro se comporta, em função da retração, de modo a


sabermos o percentual ideal de areia na mistura.

Alguns pontos importantes:


As partículas de argila quando misturadas com água tendem a “inchar” (dependendo do tipo
de terra esse efeito é maior ou menor) e após a secagem da parede ou reboco aparecem
fissuras, causadas por essa volta ao tamanho normal das partículas de argila.
Já as partículas de areia não aumentam de tamanho em contato com a água.
Se a terra é muito argilosa a tendência é ocorrer grande quantidade de rachaduras, que é
estruturalmente ruim, e no caso de um reboco a tendência é de que se desprenda da parede
em pouco tempo.
Se adicionarmos um pouco mais de areia nesta terra argilosa veremos que as rachaduras serão
menores. Mas também temos que cuidar para não adicionar areia em excesso, nesse caso a
mistura, após secar, se esfarela facilmente, o que também não é interessante.
O melhor jeito de saber a proporção ideal de areia/argila de um solo específico é fazer o teste
de retração, e observar os padrões de rachaduras, após a secagem das amostras.

Como fazer:
Itens: solo que queremos testar, areia, água, caderno de anotações, caneta, desempenadeira
ou colher de pedreiro e um recipiente (pode ser pequeno) para servir de medida.

Escolher uma parede (que não pegue chuva diretamente) para fazer o teste.
Antes de aplicar o barro na parede, com as misturas que queremos testar, devemos molhar a
parede, para melhor aderência.

Fazer diferentes proporções de solo + areia+ água (utilizando o recipiente medidor) e aplicar
em uma pequena parcela da parede, podendo ser em uma área de aproximadamente
20x20cm e espessura de + 1 a 2cm.
Aplicar com a desempenadeira ou colher de pedreiro.

Anotar todas as proporções testadas e numerá-las.


Deixar secar, em aproximadamente 24h, e observar o padrão de rachadura.
Sabemos que uma amostra não serve para nada quando esta apresentar um padrão de
rachadura que forma células (foto do teste ll), o mesmo tipo de rachadura que ocorre em
fundo de lagos quando secam.
O ideal é a mistura que apresenta rachaduras pequenas e isoladas (teste l).

Exemplos de misturas para testes:


Teste 1- 3 partes de terra + ½ parte de água;
Teste 2 - 2 partes de terra + 1 parte de areia + ½ parte de água;
Teste 3 – 1 parte de terra + 2 partes de areia + ½ parte de água.

*Evite colocar muita água. O ideal é que a mistura fique em ponto de massa de pão.
*Anote também a quantidade de água que vai à mistura, para depois poder reproduzir com
precisão.

Teste 1 Teste2

ENSAIOS:
Ao realizar ensaios com um solo para reconhecer de que tipo é, aplique o maior número de
testes possíveis para obter um resultado confiável.
Recolha amostras de solo de várias partes do terreno e, em cada parte, pegue várias amostras,
variando a profundidade.
Se tiver acesso fácil a laboratórios de resistência de materiais, aproveite e leve seu solo lá para
saber suas proporções exatas e para conhecer características como plasticidade, resistência à
compressão, entre outras.

Técnicas Construtivas

Observação importante:
Logo abaixo abordaremos as diferentes técnicas de construção natural, com suas respectivas
proporções de elementos de solo (areia e argila principalmente), porém o solo é muito
variável, e apresenta diferentes tipos de reações, dependendo da região e do tipo de solo, por
isso devem ser feitos testes preliminares antes de começar a obra, certo.

ADOBE:
Blocos de terra produzidos a mão através do preenchimento de fôrmas, usualmente de
madeira, que podem apresentar diversos tamanhos e formas.
Podem ser empregados em alvenarias estruturais, de fechamento e cúpulas.

O Adobe é uma técnica que se estendeu pelos climas secos, áridos, subtropicais e temperados
do planeta.
Existem relatos de construções utilizando essa técnica a mais de 7.000 anos.
Modo de fazer:
1) Preparar a cama com a massa que deverá repousar de 2 a 4 dias;
A composição do solo ideal para fazer adobes é de 20% Areia, 70% Argila, 10% esterco fresco e
o equivalente a 10% de serragem e de2 a 3 xícaras de baba de cactos por carrinho de mão.
2) Ao final do período de cura, misturar a massa com os pés, adicionando a quantidade de
água necessária, até alcançar o ponto ótimo.
3) Após molhar e “untar” as fôrmas com areia, preenchê-las com massa, retirar os excessos e
desmoldar;
4) Após a desmoldagem, os blocos devem ser secos preferencialmente à sombra. Virar os
adobes alguns dias após o seu preparo para continuar a secagem do outro lado. Ao completar
duas semanas, pode-se empilhá-los, porém deixando espaços entre cada tijolo para que o
processo de secagem continue. Com três semanas pode-se concluir o processo de secagem
deixando-os secar ao sol por mais uma semana. Este tempo de secagem varia muito de acordo
com a época do ano e o clima local.
5) Os adobes devem ser assentados com a mesma massa utilizada para fabricá-los, podendo
assentar no máximo 1 m de altura por dia.

PAU-À-PIQUE ou TAIPA DE MÃO:


Técnica que aplica a terra como elemento de preenchimento de estruturas em trama de
madeira ou outros materiais vegetais.
Podem ser empregados como paredes externas ou internas, sem admitir função estrutural.

Muito tradicional no Brasil, a taipa de mão pode ser encontrada também por toda a América
Latina, na África e nos países centrais e ao norte da Europa.
Existem vestígios que comprovam sua aplicação antes da taipa de pilão e do adobe.

Modo de fazer:
1) Preparar a cama com a massa;
Composição do solo para a massa de taipa de mão: Predominantemente arenosa (por volta de
60%), com argila entre 10 e 15% do volume total.
O traço da massa é: para cada parte de terra, ¼ desta parte de esterco;
2) Ao final do período de cura, adicionar um volume de fibra vegetal equivalente ao volume de
terra (1:1), acrescentar a quantidade de água necessária e misturar a massa com os pés até
alcançar o ponto ótimo.
3) Aplicar a massa em uma trama de vãos entre 10 e 15 cm. O preenchimento deve atingir 2
cm de espessura além da trama.
4) Proteger a parede da incidência direta do sol para que a secagem seja lenta, pois minimiza a
retração e o aparecimento de fissuras.

TERRA MODELADA / TERRA EMPILHADA (Cob):


Consiste em modelar a terra diretamente em estado plástico ou empilhar bolas de terra, que
são depois regularizadas para atingir a forma desejada.
Podem ser empregadas em paredes estruturais, de fechamento e cúpulas.

Esta técnica é considerada como a mais primitiva, pois não requer nenhuma ferramenta.
Inicialmente utilizadas na África e na Ásia, foi posteriormente incorporada na Inglaterra (Cob) e
na França (Bauge), nos séculos XV a XIX.

Modo de fazer:
1) Preparar a cama com a massa;
Composição do solo para a massa: Predominantemente arenosa (por volta de 60%), com argila
entre 10 e 15% do volume total.
O traço da massa é: para cada parte de terra, ¼ desta parte de esterco;
2) Adicionar um volume de fibra vegetal equivalente ao volume de terra (1:1), acrescentar a
quantidade de água necessária e misturar a massa com os pés até alcançar o ponto ótimo.
3) Aplicar a massa em bolas ou diretamente sobre a base impermeável até alcançar a altura ou
forma desejada, com a possibilidade de regularizar a superfície ao final. A massa deve ser
empilhada no máximo 80 cm por dia.
4) Proteger a parede da incidência direta do sol para que a secagem seja lenta, pois minimiza a
retração e o aparecimento de fissuras.

TAIPA DE PILÃO:
Esta técnica consiste em prensar ou comprimir camadas de terra quase seca dentro de formas,
geralmente feitas com madeiras (a forma deve ser reforçada).
Pode ser empregada em paredes estruturais e de fechamento.

Encontrado em todos os continentes, seu registro mais antigo pode ser encontrado na Assíria,
datada de 5000 anos a.C.. A obra mais significativa com o uso desta técnica é a Muralha da
China, construída no ano 220 a.C..

Modo de fazer:
1) Montar os taipais (fôrmas) cuidando para que os mesmos estejam bem fixos e estáveis.
2) Preparar a massa com terra peneirada podendo a mesma ser estabilizada com cimento ou
cal.
O solo ideal para esta técnica é com 35% de areia e o restante de argila.
Umedecer ligeiramente a massa até que se atinja um mínimo de coesão entre as partículas da
terra.
3) Colocar a massa dentro dos taipais, em camadas de 10 a 15cm no máximo, de cada vez.
Apiloar até que a massa não se deforme mais com os golpes.
Serão atingidas fiadas de 50 a 80 cm, dependendo do tamanho da fôrma.
4) Ao final de cada fiada, desmontar a fôrma com cuidado para não danificar a parede.
Remontar os taipais logo acima para dar seqüência à construção.
*O volume da terra reduz em 40% na compressão.

TAIPA ENSACADA ou Super Adobe:


Nesta técnica as paredes são erguidas com sacos preenchidos com subsolo local.
O saco é um tubo de polipropileno com aproximadamente 50 cm de largura, que é adquirido
em bobinas por metro ou quilo.
Pode ser empregada na construção de muros de contenção, paredes estruturais ou de
fechamento e cúpulas.

A taipa ensacada ganhou popularidade quando, na década de oitenta, rendeu a Nader Khalili
(1936 – 2008) o prêmio em um concurso oferecido pela NASA, que consistia em desenvolver
uma técnica de construção que fosse viável para a construção de uma base na lua.

Modo de fazer:
1) A taipa ensacada não exige mistura específica de areia/argila sendo adaptável até mesmo a
regiões com solo extremamente arenoso. Portanto a massa pode ser proveniente de qualquer
solo, bastando umedecê-la ligeiramente até que se atinja um mínimo de coesão entre as
partículas da terra.
Porém o ideal é utilizar um solo com 20 a 30% de areia.
Dependendo da função desejada deve-se adicionar cimento à massa na proporção de 1:10.
2) Cortar um pedaço do saco de polipropileno no comprimento desejado e preenchê-lo com
terra.
Assim vão sendo formadas as “fiadas” que devem ser apiloadas e cobertas por outra fiada,
sucessivamente, até a parede ser completamente erguida.
3) Deve-se aplicar arame farpado a cada 3 fiadas para conter um possível deslocamento.
PNEU
Nesta técnica utilizam-se pneus como se fossem grandes tijolos. Cada pneu é preenchido com
solo, preferencialmente com terra argilosa levemente umedecida, e vai sendo socado com
marretas de borracha ou socador. À medida que a parede vai subindo, devemos ir costurando
como se faz com os tijolos convencionais.
Coloca-se arame farpado entre algumas fiadas de pneus, com a função de fazer um melhor
travamento.
Também pode ser utilizado apenas na fundação, com excelentes resultados e baixo custo.

Michael Reynolds, arquiteto americano, foi um dos pioneiros a utilizar os pneus como material
construtivo.
A espessura que fica a parede de pneu oferece grande conforto térmico e acústico para a
habitação, além de dar um fim excelente para um resíduo abundante da sociedade moderna.

BLOCO DE TERRA COMPRIMIDA (BTC)


Componente de alvenaria fabricado com terra adensada em molde por compactação ou
prensagem. Os BTC’s podem ser usados em qualquer tipo de construção substituindo os blocos
cerâmicos convencionais, seja em alvenaria simples de vedação ou alvenaria estrutural.

Trata-se de uma técnica relativamente contemporânea desenvolvida, sobretudo na Bélgica,


França e Alemanha. A primeira prensa de tijolos, a CINVA-RAM, foi desenvolvida na Colômbia
em meados dos anos 1950.
No Brasil, a partir da década de 1970 começou a ser estudado.

Modo de fazer:
1) Destorroar e peneirar o solo seco (deve passar por uma malha da ordem de 5 mm ou
destorroador mecânico);
Adiciona-se ao solo preparado, cimento na proporção previamente estabelecida (1:10 ou
1:12).
2) Misturar os materiais secos até obter uma coloração uniforme e adicionar água aos poucos
até que se atinja a umidade adequada para sua prensagem.
3) Coloca-se a mistura no equipamento e procede-se à prensagem e à extração do BTC,
acomodando-o em uma superfície plana e lisa, em área protegida do sol do vento e da chuva.
4) Após 6 horas de moldados e durante os 7 primeiros dias, os BTC’s devem ser umedecidos
periodicamente, podendo ser acomodados em pilhas de até 1,5 m de altura, cobertos com
lona plástica para manter a umidade.
5) O processo construtivo é semelhante ao da alvenaria convencional.

Rebocos Naturais:
Lembre-se que uma parede de terra não pode receber um emboço/revestimento
convencional.
O revestimento a ser aplicado não deve impedir que a parede de terra respire.
Revestimentos e pinturas convencionais selam/vedam os poros da parede fazendo com que a
mesma não possa mais absorver e liberar umidade, o que resulta em fissuras, pintura
descascada, etc.
Depois que a parede secar, é comum aparecerem rachaduras. A argila quando úmida aumenta
de tamanho e ao secar volta ao tamanho anterior. Essa diminuição das partículas de argila é
que causam as rachaduras.
Como acabamento, fazemos o reboco.
Antes da aplicação deve-se umedecer a parede que receberá o reboco.
Convém peneirar (usar peneira fina) a terra e a areia antes de fazer a massa do reboco.

Modo de fazer:
-Após a secagem completa da parede aplicamos o reboco grosso ( 3 a 5 cm de espessura).
Massa: 1 argila + 1 areia + 1 palha, variável dependendo do tipo de solo.

-Após a secagem do reboco grosso aplicamos o reboco fino (3mm).


Massa: 70% terra argilosa peneirada + 30% esterco de vaca.
Misturar e deixar em um tonel por 15 dias, onde ocorrerá uma reação química (fermentação)
que estabiliza a argila, aumentando sua resistência.
Pode ser aplicado com a mão ou com desempenadeira, com uma consistência bem pastosa.
Aplicar, e após alguns minutos (dependendo da espessura), quando já estiver mais “firme”,
mas antes de secar, deve-se passar uma esponja, ou desempenadeira com esponja, e ir
alisando a parede. Esse alisamento remove as partículas maiores e vai dando um ótimo
acabamento na parede.

Dicas:
*Para um acabamento ainda mais liso, após passar a esponja, alisar a superfície da parede com
uma colher ou pedra bem lisa. Aumenta em muito a impermeabilidade da parede, ideal para
locais que fiquem perto de pias etc. O inconveniente é que esta técnica é bastante trabalhosa.
*O esterco é conhecido como o cimento natural, aumentando em muito a resistência do barro,
depois de seco.
*Para rebocos externos colocamos uma pequena porcentagem de óleo vegetal (reciclado ou
de linhaça), com a função de aumentar a impermeabilidade do reboco.
Ou aplicar algumas demãos de óleo vegetal, com pincel ou trincha, após a secagem da parede.

Pinturas Naturais:
Cal + terra: preparar a cal conforme indica o fabricante e adicionar a terra conforme o tom
desejado. Adicionar sal para fixar a cor. Diferentes cores de argila criam diferentes cores de
tintas.
Baba de cactus palma + terra: para preparar a baba do cactus, cortar uma orelha de cactus
palma em pedaços pequenos, colocar em um recipiente na proporção de um quarto de cactus
e completar o resto com água. Deixar descansar por 4 ou 5 dias, até a baba ficar bem viscosa.
Adicionar a terra conforme o tom desejado.
Para tons diferentes, ao invés de terra, pode-se adotar o Pó Xadrez, que não anula as
propriedades da parede de terra e não é tóxico.
Importante:
Nunca se esqueça que a terra não resiste à água por muito tempo, por isso:
- Fazer fundação alta, de pelo menos 40 cm de altura, aplicando material impermeabilizante
para proteger da água que respinga e para bloquear a umidade por capilaridade (aquela que
sobe do solo).
- Prever beirais grandes, de no mínimo 80 cm, para proteger as paredes das chuvas, afastar a
água que escorre do telhado e distanciar a água que respinga quando cai do telhado no chão.

Manutenção: É importante, de tempos em tempos, “barrear” a casa/edificação novamente,


para evitar o surgimento de fissuras e buracos que podem servir de casa para insetos
indesejados.
A frequência vai depender da técnica, da qualidade da execução do muro/parede e das
intempéries locais (muito vento, muita chuva de vento).
No caso da pintura, assim como em construções convencionais, de tempos em tempos ela terá
de ser refeita. Porém a frequência, em relação a uma parede comum, é um pouco maior. O
mesmo vale a para a reaplicação de impermeabilizantes naturais, como a baba de cactus
palma, por exemplo.
Você vai saber reconhecer quando sua parede estiver precisando de cuidados

Dica:
A ajuda de uma lona resistente de aproximadamente 4x4m facilita em muito o preparo da
massa de barro.
Com a lona conseguimos “jogar” a massa para um lado e depois o outro, sucessivamente, de
modo a se obter uma boa mistura dos elementos com maior agilidade, e ainda dispensa o uso
de ferramentas como enxada e pá, visto que estaremos de “pés descalços”, evitando assim
possíveis acidentes.

Passo a passo:
-Primeiro mistura-se a terra com a areia, depois vai lentamente adicionando a água com o
sumo de cactos.
-Desmanchar bem os torrões de terra com os pés.
-Depois que a mistura da terra + areia + água já apresenta uma textura de “massa de pão”, ir
adicionando a palha.
-A palha deverá ser bem espalhada de modo a não deixar feixes paralelos.
-Joga-se a palha e vai pisando para incorporar na massa. Vira-se a massa (com a ajuda da lona)
e adiciona do outro lado. Nesta virada da massa a parte que estava em cima vai para baixo e
vice-versa.

A massa pronta tem que ter uma textura semelhante a massa de pão.
Cuidar para não adicionar muita água.

*Importante: a terra deverá estar limpa de pedras cortantes, lixo e principalmente cacos de
vidro, pois a massa será misturada com os pés.

Nada supera o conhecimento prático!

www.espaconaturalmente.blogspot.com
Bibliografia:

- MINKE, Gernot. Manual de construcción en tierra. Editorial Fin de Siglo, Uruguay,


2005.

- VAN LENGEN, Johan. Manual do Arquiteto Descalço. Livraria do Arquiteto, Tibá


Livros, Porto Alegre, 2004.

- Apostila de Construção com Terra


TIBÁ- Tecnologia Intuitiva e Bio-arquitetura.

- Cartilha Soluções Sustentáveis – Construção Natural


Ecocentro IPEC 2007

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