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Bioconstrução

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Conteúdo Programático

Bioconstrução

Técnicas de Bioconstrução

Superadobe

Adobe

Cob

Taipa de Mão

Taipa de Pilão

Solocimento

Fardos de Palha

Ferrocimento

Saneamento Ambiental

Referências Bibliográficas
Bioconstrução

Construção de ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de


baixo impacto ambiental, adequação da arquitetura ao clima local e
tratamento de resíduos.

AMBIENT E SUSTENTÁVEL:
É o ambiente que satisfaz as necessidades presentes de moradia,
alimentação e energia garantindo que as gerações
futuras tenham como satisfazer as mesmas necessidades.

Por exemplo: se hoje construímos casas com a madeira de uma mata


cortando-a sem o cuidado de conservá-la, quando nossos filhos forem adultos,
já não haverá a mata e nem madeira para a construção de suas casas.

Figura 1: Os recursos que temos em grande quantidade hoje


podem não existir mais daqui a alguns anos, se não os
utilizarmos de forma sustentável.
Entendemos por bioconstrução os sistemas construtivos que respeitam o meio
ambiente:

•Durante a fase de projeto e de construção do edifício (na escolha dos


materiais e técnicas de construção adequadas);

•Ao longo do uso do edifício (eficiência energética e tratamento adequado


dos resíduos);

Figura 2: Exemplo de bioconstrução: utilização da terra como principal material.


O uso da pérgola sombreia a fachada, garantindo um ambiente fresco nos
meses de verão (Instituto Morro da Cutia, Montenegro/RS).

Devemos pensar na sustentabilidade em nível local (cuidado com a terra,


manejo sustentável das matas, extração consciente dos recursos) e em nível
global. Para colaborar para a construção de um mundo mais sustentável
devemos, por exemplo, consumir com cuidado, dando preferência a produtos
da região e optar pelo uso de energias renováveis.
.

Figuras 3 e 4: Produção local de alimentos e uso de


energia solar para a produção de eletricidade: práticas
sustentáveis (Fotos: Permacultura Montsant, Espanha).

A construção de um ambiente sustentável traz autonomia às


comunidades. Uma comunidade com autonomia é aquela que tem a
capacidade de satisfazer as suas próprias necessidades sem depender de
grupos ou pessoas de fora da comunidade. O domínio das técnicas construtivas
e a valorização das técnicas tradicionais são mais um passo rumo a essa
autonomia. Autonomia é sinônimo de liberdade para uma comunidade, pois
com isso ela não precisa depender de recursos externos ao ambiente onde
vive.
Se cuidarmos da natureza, teremos para sempre os recursos
necessários para a nossa sobrevivência e a das futuras gerações no local onde
vivemos.

Considerar os Resíduos como Recursos:

Entendemos por resíduo tudo o que “sobra” de algum processo. Por


exemplo: lixo de cozinha, lixo seco (plásticos, papéis, latas), nossas fezes e
urina, a água que sai da pia ou do chuveiro, restos de construção, etc. Na
bioconstrução, a construção de uma casa ou o planejamento de uma
comunidade deve ter em conta o tratamento dos resíduos, sem esquecer
nenhum item! Como mostra a figura 5, no sanitário seco as fezes viram adubo,
que vai nutrir uma plantinha que servirá de alimento e o ciclo continua. É um
sistema de CICLO FECHADO, onde não há resíduos.

Figura 5: O sanitário seco trata os dejetos humanos e reaproveita este resíduo.

Uma antiga casa de pau-a-pique pode ser reutilizada! Com o barro das
paredes podemos fazer tijolos de adobe novinhos em folha. A palha do telhado
podemos usar para acelerar processos de compostagem para fazer adubo. A
madeira podemos reutilizar em uma nova construção ou para alimentar o forno
a lenha. As cinzas do forno a lenha podemos colocar no sanitário seco para
fazer composto.
composto.
Figura 6: Reaproveitamento
de uma antiga casa de taipa
de mão. Este processo é
possível graças ao uso de
materiais naturais na
construção. Materiais
convencionais não se
reintegram à natureza e às
vezes sequer podem ser
reciclados, gerando resíduos
que poluem o meio ambiente.

O lixo que produzimos pode ser muito bem aproveitado!


O lixo de cozinha e as nossas fezes podem ser compostados e virar
adubo. O lixo seco é uma questão muito séria, principalmente nas cidades que
não têm sistema de reciclagem. Devemos, primeiramente, consumir o mínimo
possível de embalagens e reutilizar ao máximo todo o lixo que geramos. O
papel podemos utilizar como matéria seca no sanitário compostável. Com as
garrafas de plástico podemos fazer um montão de coisas, como brinquedos,
por exemplo. É só usar a criatividade e saber que não devemos jogar o lixo na
natureza e nem queimá-lo! A queima do lixo libera gases que fazem mal ao
meio ambiente e à saúde das pessoas.

Figura 8: Sanitário
seco no IPEC, em
Pirenópolis: as fezes
viram adubo. Neste
foram usadas garrafas
Figura 7: Móveis feitos de garrafas de de vidro como janelas
refrigerante. Devemos consumir o mínimo de
embalagens possível. E, se consumirmos, para iluminar o interior.
reaproveitá-las da melhor forma.
Podemos tratar e reutilizar a água que sai da pia e do chuveiro para regar
a horta e o jardim.

Figura 9: A água da pia pode ser reaproveitada para regar a horta e o jardim!

UTILIZAR MATERIAIS LOCAIS

Sempre que for possível devemos optar pelo uso de materiais locais, ou
seja, retirados do próprio local onde vivemos.

A disponibilidade depende do tipo de região em que vivemos e das


atividades que desenvolvemos. Alguns exemplos:
TERRA:

A terra é um material
abundante, ou seja, existe em
grande quantidade e em diferentes
locais. Pode ser usado de diversas
formas, como paredes de taipa,
adobe, entre muitas outras. As
construções de terra crua
compõem ambientes agradáveis,
pois controlam a entrada e saída
de calor e a umidade. Além disso,
têm um impacto ambiental baixíssimo Figura 10: Oficina do Assentado (Viamão/RS)

proporcionam a possibilidade de e
construções belíssimas.

PEDRA:
Há muitos locais com o solo rico
em pedras. Podemos utilizá-las para
diversos fins, como a construção de
paredes, muros, fornos... Muitas vezes,
em bioconstrução, utiliza-se a pedra
somente para a fundação da casa,
apoiando sobre ela a parede de terra.
Figura 11: Residência bioconstruída com
paredes de pedra arredondadas (Lomba Grande/RS)
Figuras 12 e 13: Fornos de cal construídos com pedra (Menorca, Espanha).

PALHA:

A palha é um material de construção muito útil. Podemos usar a palha de


diversos tipos de palmeiras para a construção de telhados. A palha pode ser
usada, também, para melhorar a resistência de tijolos de adobe e paredes de
cob. A palha do resíduo de plantações de arroz, por exemplo, pode ser usada,
em forma de fardos, para a construção de paredes.

Figuras 14 e 15: Telhado de quincha no IPEP/RS e parede de fardos de palha no IPEC/GO.

MADEIRA:
A madeira é um material também abundante em muitos lugares, mas
deve ser utilizado com muito cuidado. Pode ser considerado um recurso
renovável se utilizado de maneira consciente, ou seja, se houver uma
exploração adequada das matas e florestas. É um material orgânico e, para ter
durabilidade, a madeira deve ser tratada, do contrário apodrece. Há maneiras
naturais de tratar a madeira, que geram baixo impacto ambiental.

Figuras 16 e 17: Estrutura do telhado com madeira de eucalipto tratada com óleo natural (Montenegro/RS).

Figura 18: Parede de trama de


bambu no Fórum Social Mundial em Porto Alegre/RS
Figura 19: Forro de bambu na Oficina do Assentado
(Viamão/RS).

Devemos ter muito cuidado também ao comprar madeira, pois há muitas


madeireiras ilegais que exploram as matas sem respeitar a diversidade,
levando muitas espécies à extinção e destruindo o habitat natural de outras
plantas e de animais. Se optarmos por utilizar madeira local, devemos ter um
planejamento de manejo sustentável do ecossistema. Do contrário melhor
trazer madeira de fora, desde que sua ela venha de um sistema de exploração
que respeite o meio ambiente. O bambu é uma madeira ecológica, pois cresce
muito rápido e tem grande resistência.

VALORIZAR A ARQUITETURA TRADICIONAL:

Desde a evolução da industrialização no século XIX, as técnicas de


construção tradicionais vêm sendo abandonadas. As pessoas com poucos
recursos financeiros têm menos acesso aos produtos industrializados e
seguem fazendo o uso das técnicas antigas, como o adobe, o pau-a-pique e a
taipa de pilão. Estas técnicas são associadas à população de baixa renda, o
que gera o preconceito que permanece até os dias de hoje.
Figura 20: As construções tradicionais
são sábias e se adaptam ao clima de
cada região. Devemos preservar estas
técnicas e adaptá-las à realidade atual.
Exemplos de moradias indígenas no sul
do Brasil mostram esta sabedoria: o fato
de a casa estar semi-enterrada garante
proteção contra frio e calor. Fonte:
Arquitetura Popular Brasileira, Günter
Weimer.

Hoje estamos vivendo uma época de rompimento deste preconceito. Isto


se deve tanto à valorização dos materiais originais dos monumentos históricos
quanto a uma preocupação crescente com o meio ambiente, já que é sabido
que a construção civil é uma das atividades que mais consome energia e
recursos naturais do planeta. Cada vez mais, organizações do mundo todo
buscam um resgate do modo tradicional de construção, incorporando
tecnologias novas para otimizar os processos construtivos.

A Capela da Reconciliação em Berlim: exemplo da arquitetura tradicional de terra adaptada aos dias
de hoje.
Em muitos lugares somente as gerações mais antigas têm o
conhecimento das técnicas tradicionais de construção. A arquitetura tradicional
sempre construiu de acordo com o clima e com o ambiente natural, garantindo
moradias agradáveis. Com a industrialização isto vem sendo perdido. Em
alguns programas de habitação social, por exemplo, é construído o mesmo tipo
de casas no sul e no norte do Brasil, sem o mínimo respeito à cultura e às
necessidades das pessoas, e sem considerar as grandes diferenças climáticas
que temos ao longo do país. Devemos ter o cuidado de transmitir as técnicas
tradicionais às gerações futuras, do contrário esta sabedoria será perdida.
Figura 21: Telhado de palha na Ilha Grande do
Paulino, Delta do Parnaíba: técnica valorizada
em grandes centros urbanos. Beleza e
conforto térmico.

Figura 22: Tijolos de


adobe: técnica tradicional
utilizada em vários países,
valorizada hoje em centros
de pesquisa de
tecnologias alternativas.

CONSTRUIR COM O CLIMA E APROVEITAR AS


ENERGIAS NATURAIS

Na bioconstrução utilizamos ao máximo as energias da natureza, como


o sol e o vento. Ao construirmos uma casa devemos levar em conta o clima do
lugar onde vivemos. Por exemplo, na região Nordeste devemos ter uma casa
muito bem ventilada e sombreada, garantindo, assim, um ambiente fresco e
agradável. Devemos também levar em consideração as épocas de chuva e
proteger a nossa casa com telhados largos.

PROT EGER A
CASA DO CALOR:
Nos climas muito quentes
podemos proteger a casa do
calor sombreando as
fachadas mais ensolaradas:

(Figura 23)
Podemos construir uma
varanda, conforme a Figura
23. Assim os raios de sol não
batem diretamente nas
paredes.

(Figura 24)

A Figura 24 mostra como uma


estrutura de madeira pode
servir de suporte para plantas
e dar sombra.

(Figura 25)

Outra opção é plantar uma árvore com muitas folhas (Figura 25), de modo que
sombreie a casa.
Podemos colocar, também,
uma proteção na área da
janela.

O beiral é a parte do telhado


(Figura 26) que fica para fora das
paredes exteriores. Um beiral
grande protege a casa da
insolação direta. Uma casa
com paredes de terra deve
ter beirais grandes, assim
elas ficam protegidas da
chuva.
(Figura 27)

EM CLIMAS
CHUVOSOS
devemos construir casas com
telhados bem inclinados (Figura
28), assim a chuva desliza com
mais facilidade, evitando (Figura 28)

infiltrações.

EM CLIMAS MUITO
SECOS
é bom colocar vegetação ao redor
da casa. As plantas criam um
microclima de umidade, e o solo
coberto de vegetais não libera
tanta poeira.
Figura 29: Extraída do livro Biocidade de Luiz

VENTILAR A CASA:
Devemos planejar as aberturas da casa de modo que todos os ambientes
estejam sempre bem ventilados. A ventilação refresca os ambientes e renova
o ar, tornando os espaços interiores saudáveis. Conhecendo os ventos da
região, podemos colocar as aberturas de modo a aproveitar esta energia da
melhor forma possível.

Uma maneira eficiente é


colocar as aberturas para a
ventilação cruzada em alturas
diferentes (Figura 30). O ar quente é
mais leve e tende a subir, escapando
pela abertura mais alta.
(Figura 30)

Aberturas no telhado expulsam o ar quente e fazem o ar circular pela casa.


Exemplos deste tipo de abertura estão esquematizados nas Figuras 31 e 32.

(Figura 31) (Figura 32)


Superadobe

O superadobe é uma técnica de bioconstrução que utiliza sacos com terra


comprimida para fazer paredes e coberturas. A técnica foi criada pelo arquiteto
iraniano Nader Khalili.

Saco de ráfia: pode ser em rolo ou


sacos individuais reaproveitados.
Arame farpado
Terra local

Tubo de 25 cm de diâmetro ou balde sem fundo


Pilões
Pilões para as laterais
Martelo de borracha
Enxada, pá.

A primeira coisa que devemos pensar para construir com o superadobe,


como em qualquer técnica, é em fazer uma boa fundação. Esta pode ser de
pedra, se temos disponível no lugar, de concreto, ou até mesmo de terra
compactada.

Figura 33 Figura 34

A fundação deve ser um pouco mais larga que a parede a ser construída.
Por exemplo, se vamos usar sacos de 40 cm de largura, podemos fazer uma
fundação de 60 cm, deixando 10 cm para cada lado. É importante também
deixarmos a parede de terra uns 15 cm acima do nível do solo, assim ela não
absorverá umidade, mantendo a parede seca e segura.
Se tivermos um terreno muito estável (bastante pedregoso, por exemplo),
podemos construir as fundações diretamente com o superadobe. Neste caso, é
aconselhável misturar a terra com cimento e algum impermeabilizante, para dar
estabilidade e garantir a proteção contra a água.

SOBRE AS FUNDAÇÕES
Uma casa ecológica, ou qualquer outro tipo de
construção, deve ter um bom sistema de
fundação. A principal tarefa da fundação é
distribuir o peso da casa para o solo. Por isso um
projeto de fundação deve levar em consideração
o tipo de construção, a altura da casa, e também,
muito importante, o tipo de solo que temos.
Quanto mais estável é o solo, mais rasa pode ser
a fundação. Para construir as fundações,
primeiro cavamos uma vala no solo, até
encontrar um terreno estável. Logo pode ser
feita uma camada de areia bem compactada. A
vala deve estar nivelada para construirmos as
fundações, este é outro fator importante para
garantir a firmeza da casa.
Figura 35: fundação com
camada de brita e fiadas preenchidas
com uma mistura de solo e cimento.

Depois de pronta a fundação da casa, podemos começar a construir as


paredes de superadobe. A técnica é basicamente “encher o saco”!
Primeiramente desenrolamos um tanto de saco da bobina. O tamanho do
saco pode ser o mesmo tamanho da parede, deixando uns 50 cm de cada lado
para fazer uma dobra no inicio e no final. Encapamos o balde sem fundo com o
saco, deixando uma sobra de um dos lados.
O balde sem fundo fica todo coberto
com o saco de ráfia.

Encapamos o balde com o saco de Figura 36: O


balde sem fundo serve ráfia deixando uma sobra que logo
de funil para encher o saco com a será dobrada para
baixo da fieira. terra.

Uma pessoa pisa na sobra de saco (Figura 37) e ao mesmo tempo segura
o balde. Outra enche bem o balde com terra, com a ajuda de um balde comum.

Figura 37

Quando o balde sem fundo estiver completamente cheio, o puxamos


devagar, fazendo, ao mesmo tempo, uma “dobra” para que a parte de saco que
está sobrando fique pra baixo da fiada (Figura 38).

Figura 38
Logo a pessoa que está segurando o balde pode ficar de pé, desde que
continue segurando bem firme (Figura 39). Vai haver um tanto de saco vazio
entre a altura da parede e o balde. O processo de encher o saco continua. Deve
se tomar cuidado para o saco ficar bem cheio, mesmo que fique bem gordinho.
Não pode deixar espaço com ar dentro do saco!

Figura 39
À medida que a parede vai ficando mais comprida, enquanto uns se
ocupam de encher o saco, outros podem começar a comprimir a fieira com um
pilão de madeira (Figura 40). É necessário pilar até sentir que a fieira esteja bem
dura.

Figura 40
E assim seguimos erguendo as paredes. A cada duas ou três fieiras,
podemos colocar duas linhas de arame farpado, principalmente nas esquinas.
A cada cinco fieiras, mais ou menos, vamos pilando as laterais da parede,
procurando deixá-las o mais regular possível (Figura 41). Para terminar de
compactar as laterais usamos um martelo de borracha. Quanto mais regular a
parede, mais fácil será fazer o reboco!

Figura 41

Figura 42 Figura 43

Pilando na parte superior (Figura 42) e na lateral da parede (Figura 43). Fotos: construção da sede do IMCA
(Instituto Morro da Cutia), Montenegro/RS

JANELAS E PORTAS:

Devemos planejar bem onde vamos fazer as aberturas da casa, como as


portas e janelas. A qualidade da ventilação e da iluminação no interior da casa
dependerá do planejamento das aberturas.
Uma das formas de fazer é ir erguendo as paredes e colocar uma verga
de madeira nos locais onde estarão as partes SUPERIORES de cada janela, e
seguir com a construção normalmente. Quando as paredes estiverem
terminadas, marcamos com uma caneta o vão das janelas e logo fazemos os
buracos com uma espátula ou com uma moto-serra (Figura 44). Cuidado com o
tamanho das vergas, bem como com a localização das janelas!

Figura 44: Processo de


execução das janelas em
uma parede de
superadobe.

Podemos também, em alguns casos, deixar o vão das aberturas já


prontos a medida que vamos subindo as paredes. Para isto precisamos de um
elemento muito forte que suporte o peso das paredes superiores e das pessoas
que estarão pisoteando e compactando a parede. Podemos fazer isso com uma
manilha, por exemplo. Ele ficará na parede e já servirá de moldura para a janela.

Figura 45: Com uma manilha


podemos construir uma janela.

Figura 46 e 47:
Construção das
aberturas na
sede do IMCA,
em

Montenegro/RS.

A COBERTURA
Podemos apoiar a cobertura
diretamente na parede de superadobe,
sem necessidade de fazer uma cinta. A
parede é muito forte quando bem feita, e
podemos apoiar inclusive uma cobertura
bem pesada como um telhado vivo.
Figuras 48 e 49: Projeto para o IMCA (Montenegro, RS): sobre as paredes de superadobe, podemos apoiar
coberturas pesadas como o telhado vivo.

TAPAR A OBRA

Como as paredes de superadobe são de terra pura, temos que ter sempre muito
cuidado para não deixá-las expostas à chuva. É aconselhável tapar as paredes
com uma lona plástica sempre que não haja ninguém em obra! Depois de
prontas as paredes estarão bem protegidas pelo telhado e pelo reboco!
Adobe

O tijolo de adobe é um material de construção muito antigo. Consiste em


um tijolo de barro e palha mesclados, que é moldado e seco naturalmente. É
uma técnica muito amiga do meio ambiente, pois não utiliza nada de cimento e
não gasta combustível na secagem dos tijolos, por não ser queimado.
Pelo uso da palha na sua composição, garante excelente conforto térmico.
As construções de adobe, quando bem feitas, podem durar muitas décadas.
É uma técnica que está sendo cada vez mais resgatada e valorizada,
apesar de que ainda há muito preconceito em relação à sua utilização.

Figura 53: Igreja do Rosário e


São Benedito, Cuiabá: feita
em adobe em torno de 1750.
Foto: Mateus Hidalgo.

Areia, argila e palha. Madeira e pregos


para a forma.

Pá, enxada, estopa, martelo e serrote.

A construção com adobe é simples e artesanal.

Fazemos um buraco próximo ao local


da obra onde se encontre solo
apropriado (Figura 54).
Colocamos água (Figura 55) e depois amassamos
a terra com os pés (Figura 56) até obter uma mistura
homogênea e plástica, que permita que a massa seja
moldável. Foto: IPEC,
Bioconstruindo 2002

Figura 55 Figura 56

Em alguns lugares, além da terra e água, utiliza-se o capim cortado, que


funciona de estabilizador, como uma armação.
Construirmos as formas de madeira de 40 cm de comprimento, 20 cm de
largura e 15 cm de altura.

Figura 57

Depois de amassado, colocamos o barro nas formas de madeira (Figura


58). A forma deve ser molhada antes de se colocar a argila para que a terra não
fique grudada. Quanto mais forte for o lançamento do barro no molde, melhor
serão a compactação e a resistência da peça. A superfície pode ser
uniformizada com a mão, com uma madeira, com uma palheta ou com um
arame.
Figura 58

Recomenda-se deixar o
tijolo secar ao sol durante 10 dias,
virando-o a cada 2 dias.
Figura 59: Foto: IPEC, Bioconstruindo 2002

COB

É uma técnica de construção com terra que permite usar muita criatividade e
liberdade, pois consiste em ir moldando a casa como se fosse uma grande escultura.
COB é uma palavra inglesa cuja tradução literal é MAÇAROCA.
É muito antiga e amplamente utilizada em diferentes lugares do mundo.

Argila, areia e palha.

Pá, enxada, pés e mãos.


Construir com COB é muito simples!
Primeiro misturamos argila, areia, palha e água, até obtermos uma mistura
homogênea e plástica (que dê para moldar). A mistura é feita com os pés, como
mostra a Figura 60.

Figura 60

O próximo passo é ir formando bolas com a argila (Figura 61) e então é só


começar a moldar a casa (Figura 62). É uma técnica criativa. A medida que
construímos a casa podemos ir moldando estantes, bancos. O limite é o da
imaginação.

Figura 61 Figura 62
Técnicas de Bioconstrução

Cob:

Figuras 63 e 64: Armário e janela moldados em uma casa de COB (Ecovila Valle
de Sensaciones, Espanha).

A Figura 65 mostra uma casinha de


COB construída para instalar e abrigar
as baterias de painéis fotovoltaicos
(Permacultura Montsant, Espanha).

Estantes incorporadas à parede.


Figura 66 Figura 67

Figura 68: As casas de COB costumam ser muito lindas, pois são feitas com muita criatividade. Neste
exemplo é misturada a técnica do COB com paredes de pedra. Foto: Gerry Thomasen.
Figura 69: A casa dos fundadores do Ecocentro IPEC - Pirenópolis-GO,
André Soares e Lucia Legan, é de cob. Fonte: www.ecocentro.org

Taipa de mão

Também chamada de pau-a-pique ou taipa de sebe. Técnica de


construção com terra trazida para o Brasil pelos portugueses. Amplamente
utilizada, principalmente em meio rural. Consiste na construção de um quadro
de galhos: os verticais são cravados no chão e os horizontais são encaixados
ou amarrados nos verticais. Este quadro é preenchido por uma trama de galhos
ou de bambus (Figura 70).

Figura 70

Depois de montada a trama são abertos os locais das portas e janelas.


Figura 71: Escola de taipa de mão na Ilha Grande do Paulino

A próxima etapa deve ser a construção da cobertura, para que se possa


fazer o barreamento protegido do sol e da chuva. O beiral deve ter entre 50 cm
e 1m, assim as paredes ficam mais protegidas.
Logo vem a etapa do barramento (Figura 72), que consiste em preencher
os buracos da trama com argila. A terra usada deve ser arenosa para não
trincar.
O barreamento é feito em três etapas para que não sobrem buracos de trincas.

Figura 72
Para que as paredes fiquem isoladas do solo e tenham mais durabilidade,
pode ser feita uma fundação de pedra ou de concreto, como ensina o arquiteto
Fernando Neves nas ilustrações abaixo (Figura 73). A fundação é executada
com uma vala onde são encaixadas as paredes de pau-a-pique.
Figura 73

A técnica do pau-a-pique tem várias vantagens (Figura 74). Por constituir


paredes leves, podem ser feitas casas de dois andares com o uso de uma boa
estrutura de madeira.

PAREDES INT ERIORES. Figura 74: Vantagens da taipa de mão. DANDO DURABILIDADE A
CONST RUCAO.

Taipa de Pilão

Técnica de construção com terra, muito antiga e bastante utilizada na


construção de igrejas no período colonial do Brasil.
É assim chamada por consistir em terra socada com um pilão dentro de
uma forma de madeira que chamamos taipa.
As paredes, em geral, têm de 30 a 120 cm de espessura.
Construimos um taipal e vamos pilando camadas de 10 a 15 cm até que
a terra esteja bem comprimida. Os taipais variam de 1 a 1,5 m de altura e de 2
a 4 m de comprimento. São como caixas sem fundo.
Terra, madeira e pregos

Pilão, martelo e serrote

Forma de madeira
(taipal)

Parede de terra já
compactada
Figura 75: A taipa de pilão utiliza uma
forma de madeira como molde para
levantar as paredes.
A medida que o nível da
terra atinge a parte alta do
taipal, desmontamos a caixa e
voltamos a montá-la ao alto da
parede para assim seguir
subindo.

Figura 76

Existem diferentes tipos


de pilões (também chamados
soquetes) que podem ser
usados para comprimir a terra,
como mostra a Figura 77.

Figura 77

Figura 78: Socando com pilão de Figura 79: Foto: Marcelo Parize Petazoni (fonte: dois lados.
Fonte: Manual de www.panoramio.com) Casa do Bandeirante, Butantã, São
Construção com Terra, Gernot Paulo. Construida no século XVII com paredes de taipa de pilão
Minke de 50 cm de espessura.

Solocimento

O solocimento é um tijolo prensado feito de areia, argila e cimento.


Os tijolos de solocimento não são queimados como os tijolos comuns,
portanto não consomem combustíveis durante a sua fabricação, gerando menos
impacto sobre o meio ambiente. Para queimar mil dos tijolos convencionais é
necessário 1 m3 de madeira, o que corresponde a seis árvores médias! Além do
mais a queima emite CO2 para a atmosfera, o que gera aumento do efeito estufa.
Com o solocimento poupamos também o custo ambiental e econômico do
transporte, já que podemos fabricá-lo no canteiro de obras e usamos
principalmente matéria-prima local.
Além do mais, não há desperdício de material em obra, já que os tijolos
quebrados podem ser moídos e reaproveitados.
O acabamento do tijolo é muito bonito, por isto podemos usá-lo à vista.

Argila, cimento e água

Prensa manual
Peneira com malha de 4,8 mm
Regador
Enxada

O traço, ou seja, a proporção entre solo e cimento pode variar entre 1:10,
1:12 ou 1:14. O ideal é fazer algumas amostras de cada mistura e verificar em
laboratório se têm suficiente resistência. O processo de fabricação é o mesmo
para qualquer um dos traços, vamos ver um exemplo com traço 1:10:
Enchemos dez baldes com solo e espalhamos no chão, formando uma
camada de 20 a 30 cm de altura. Enchemos um balde de cimento e espalhamos
todo o conteúdo por cima da camada de solo de modo que o cimento cubra todo
o solo.

1 2 3 4 5
1

Figura 80: Mistura do


traço
1:10 10 baldes de
solo arenoso e 1 6 7 8 9 10
balde de cimento.

Misturamos com uma enxada até


conseguir uma cor homogênea (Figura
81).

Figura 81

Molhamos a mistura com um regador até atingir


o nível ideal de umidade (Figura 82).

Figura 82

Para verificar o ponto da umidade do solo podemos fazer uns testes bem simples:
1.Pegamos um punhado da mistura e apertamos com força entre os dedos e a palma
da mão. Ao abrir a mão o “bolo” deverá ter a marca deixada pelos dedos. Ver Figura 83.

Figura 83
2. Deixamos cair o “bolo” de uma altura aproximada de 1 m (mais ou menos da altura
da cintura), sobre uma superfície dura (Figura 84). O bolo deverá esfarelar-se ao
chocar-se com a superfície; se isto
não acontecer, a mistura está muito
úmida.

Figura 84
Peneiramos a mistura umedecida e está
pronta para ser colocada na máquina para a
produção dos tijolos (Figura 85). É importante
peneirar para que não sobre nenhum torrão de terra.
Assim o cimento poderá ficar em contato com toda a
parte de solo, o que é importante pois é o cimento
que dá a dureza ao tijolo. O tempo máximo para o
uso de cada mistura é de uma hora, para não
endurecer demais, uma vez que o cimento fica duro
quando entra em contato com a água.
Depois de bem mesclada e
peneirada, a mistura pode ir para
a prensa e os tijolos estarão
feitos.

Figura 86: Prensa tijolo


tipo modular (Instituto de
Permacultura da Pampa, Bagé/
RS).

Para a cura, os tijolos devem ser colocados na sombra (Figura 87), em um


local coberto, e empilhados até uma altura de 1,5 m (mais ou menos 23
tijolos). Após seis horas e durante sete dias, os tijolos devem ser mantidos
úmidos. Devemos molhá-los com regador (Figura 88) no mínimo três vezes
ao dia, garantindo, assim, que não trinquem durante o processo de cura.
Figura 87 Figura 88

O cimento precisa entrar em contato com água (estar


hidratado) para começar a endurecer e ganhar força. A CURA é o
processo de secagem da mistura (neste caso feita de areia,
cimento e água). Uma boa CURA garante a dureza da peça. Para
uma boa CURA, devemos evitar que a água evapore muito
rapidamente, molhando as peças algumas vezes ao dia.

TESTE DE CAMPO PARA O SOLO:

1.Pegar uma porção de solo e peneirá-lo.

2.Misturar água aos poucos até que comece a grudar na colher de pedreiro.

3.Colocar o solo em uma caixa conforme a Figura 89, sem compactar. A caixa deve estar
lubrificada com algum óleo.

4.Deixar a caixa abrigada do sol e da chuva durante sete dias.

5.Depois deste tempo o solo haverá sofrido uma retração. Se esta não passar de 2 cm,
somando os dois lados, o solo pode ser utilizado. Caso contrário, adiciona-se areia para
obter o solo desejado.
haverá retração
nas laterais

Figura 89
máx 2cm

A retração da terra é o quanto a


terra ENCOLHE depois de seca. Se a
retração é muito grande, a peça pode
rachar ou se partir. Neste caso a mistura
não pode encolher mais de 2 cm de cada
lado da caixa.

Fardos de Palha

A alvenaria com fardos de palha é uma técnica cada vez mais utilizada e
que tem várias vantagens.

• As paredes são grossas e têm camadas de ar no seu interior.


Isto faz com que a casa fique protegida do frio ou do calor.
• É um resíduo abundante nas plantações de arroz e trigo.
• Técnica de rápida execução.
• Baixo custo.
• Muito durável: sabe-se da existência de casas de fardos com
mais de 100 anos de idade!
Fardos de Palha, terra (para o
reboco), sisal e arame

Torquês, tesoura ou facão e ferro


para usar como agulha.

Uma parede de fardos de palha deve ter uma boa fundação, que deixe a
palha afastada da umidade do solo.

Figura 90: Pode ser feita uma fundação de Figura 91: A fundação pode ser de
superadobe com impermeabilizante. Neste concreto. Neste caso podemos concretar
caso podemos deixar tubos entre as duas ferros para logo fincar os fardos.
últimas fiadas da fundação por onde passe
o arame na hora de costurar os fardos - um
cano para cada fardo.
Outra opção é fazer uma fundação de
PNEUS USADOS recheados com pedras e
argila. Podemos fincar bambus neste recheio,
que servirão para estruturar as paredes.

Figura 92: Foto: Centro de


Formação de Trabalhadores
em Viamão/RS.

Figura 94: Fonte: Ecocentro IPEC - Instituto de Permacultura e


Ecovilas do Cerrado - www.ecocentro.org

Os fardos vão sendo fincados uns nos outros com a ajuda de varas de
ferro ou bambu, como na Figura 95. Além disso vão sendo amarrados uns aos
outros
com arame. Figura 96:

Costurando os fardos.
Fonte: Ecocentro IPEC
- Instituto de
Permacultura e
Figura 95
Ecovilas do
Cerrado - www.ecocentro.org

A parede de fardos deve receber reboco de terra e ser bem vedada. Um


bom reboco garante a durabilidade das paredes.
técnicas de bioconstrução: fardos de palha

A alvenaria de fardos
pode ser construída em
meio à estrutura de
madeira. As aberturas
devem ser bem
planejadas para garantir
uma boa ventilação.

Figura 97:

Figura 98: Casa das cores em Alicante, Espanha. Figura 99: Casa em Girona, Espanha. Fonte: Un
Fonte: Un recorrido por casas de paja en la península recorrido por casas de paja en la península de
Rikki de Rikki Nitzkin. Nitzkin.
Figura 100: Casa em Granada, Espanha. Fonte: Un
recorrido por casas de paja en la península de Rikki Nitzkin.

Ferrocimento

O ferrocimento é uma técnica que utiliza argamassa de cimento e areia


armada em uma trama de vergalhões finos coberta por tela de galinheiro de
fios galvanizados. É uma boa técnica para a construção de reservatórios de
água, pois se podem construir grandes estruturas com pouco material. Com
paredes de até três cm podemos acumular grande quantidade de água. Ainda
que utilize cimento e ferro, que não são materiais ecológicos, leva uma
quantidade bem menor de material que as cisternas convencionais. E é uma
técnica artesanal, o que garante que as comunidades tenham domínio sobre
ela e autonomia para construir desta forma.
Malha de vergalhões finos, de bitola 3,4 ou 4,4 mm, com
espaçamento 10 X 10 cm.
Malha de tela de galinheiro hexagonal, fio de aço nº 22 e
abertura de 12,5 mm.
Fio de arame recozido nº 18
Cimento, areia e água

Torquês
Chapas metálicas
Alicate
Esponjas
Colher de pedreiro
Pá e enxada

Figura 101: Podemos armazenar a água


da chuva nas cisternas de ferrocimento,
como acontece naturalmente nesta lagoa
formada nos meses chuvosos, na Ilha
Grande do Paulino.

Devemos comprar a malha já na medida das dimensões da nossa


cisterna, assim economizamos dinheiro e material. Mesma coisa para as telas
de galinheiro: serão duas vezes a medida da altura e diâmetro da cisterna (pois
colocaremos uma de cada lado).
.

Cortamos uma tela redonda do tamanho da base (Figura 103).


Senecessário, emendamos com o arame recozido.
20cm

Figura 103: A tela do fundo deve ser cortada do tamanho da base,


com uma sobra de 20 cm para cada lado.

20cm
diametro da base
Altura da cisterna

Traçamos um círculo no chão e nivelamos o terreno. Pilamos a área e


compactamos bem (Figura 104).

Figura 104

Colocamos a malha 10 X 10 no chão e sobre ela a tela de galinheiro.


Amarramos as duas telas com o arame nº 18.

Figura 105:
Cortamos uma tela redonda do tamanho da base. Dobramos a parede
para emendar as telas do fundo e a das paredes. Amarramos bem firme com o
arame e a torquês. A estrutura estará armada e pode ser movida. Cobrimos a
base com mistura de cimento e areia 1:4.

Figura 107: Cobrindo a base com cimento e


areia.

Logo começamos a aplicação da argamassa da seguinte maneira: duas


pessoas, uma dentro e outra fora da cisterna: uma segura a chapa de metal e
a outra vai aplicando a argamassa, que deve ser comprimida com força contra
esta chapa. Devemos aplicar a argamassa de baixo para cima, em faixas
horizontais de uns 30 cm no máximo. Após seis horas aplicamos a segunda
camada, da mesma forma que foi feita a primeira. Para as paredes o traço é
1:2 .

1 1 2
Figura 109: Enquanto um
segura a placa metálica, outro
aplica a massa.

Figura 108: Traço 1:2: dois baldes de areia para 1 balde de


cimento. técnicas de bioconstrução: ferrocimento
Figura 110: Cisterna no IMCA (Instituto Morro da Cutia), Montenegro, RS.

Podemos armazenar grandes quantidades de água em uma cisterna de


ferrocimento (Figura 110). O ferrocimento pode ser usado para outros
tipos de estrutura, como boxes (Figura 111) de chuveiro ou pias.
Figura 111: Boxes de chuveiros no
IPEC (Instituto de Permacultura e
Ecovilas do Cerrado)

A tampa da cisterna pode ser


feita da mesma forma,
conforme podemos ver na
imagem ao lado
Saneamento Ambiental

Conjunto de ações para melhorar a qualidade de vida das comunidades.

− Abastecimento de água potável


− Coleta e tratamento dos resíduos (esgoto e lixo)
− Drenagem
− Controle de doenças

Um saneamento ambiental bem feito garante a melhoria da vida das


pessoas e também o cuidado com o meio ambiente.

AGUA

Aproximadamente 70% do corpo humano é feito de água.


Aproximadamente 70% da superfície do planeta Terra é água.

Figura 114

Figura 113
doce
2,59%

Mas, de toda essa água, somente


2,59% é água doce, sendo 97,41% de
água salgada, imprópria para o
consumo humano.

salgada
97,41%

Desta água doce, a maioria está nas geleiras ou em lençóis que estão a mais
ou menos 800 m de profundidade. Somente uma parte bem pequena de água
doce está acessível ao consumo humano.

Se toda a água do planeta coubesse ...a quantidade de água doce


em um balde com capacidade para disponível para o consumo
10 litros... seria equivalente a 8 gotas(1)!

Figura 115: Ainda que pareça que há muita


água, na verdade pouca quantidade é apropriada para o consumo humano. O primeiro passo para
garantir que nunca nos falte água é não desperdiçar este recurso.

A água é um recurso renovável se bem cuidado. O problema é que a


população mundial está crescendo, e em alguns lugares se utiliza a água num
ritmo mais veloz do que ela se pode renovar. Cada vez mais os rios estão
poluídos com dejetos domésticos, resíduos industriais e agrotóxicos.
Figuras 116 e 117: Lagoa
formada durante a época
de chuvas na Ilha Grande
do
Paulino, Delta do Parnaíba.
A água é fundamental para
a vida e deve ser
preservada.

A água que usamos deve ser tratada antes de voltar ao meio ambiente, do
contrário estaremos poluindo o lugar onde vivemos. Se jogamos a água usada
diretamente no meio ambiente, seja numa lagoa ou num rio, estamos poluindo.
Quando a quantidade é pequena não nos damos conta, mas pouco a pouco a
natureza vai sendo prejudicada. Por isso devemos cuidar do ambiente de
maneira preventiva, para evitar ter que solucionar mais tarde, problemas
causados por falta de cuidado inicial. Devemos buscar soluções locais para
cuidar da nossa água, e assim cuidaremos da nossa saúde e da saúde do meio
ambiente.

Figura 118: exemplo do funcionamento de um círculo de bananeiras, forma simples e eficaz de tratar a
água cinza.
ABASTECIMENTO DE AGUA:

Nas comunidades rurais, ou para não depender de redes de


abastecimento de água, podemos usar água de poços ou coletar água da
chuva.

É melhor que as fontes de água estejam perto da


casa, assim economizamos materiais (como
canos, por exemplo) e temos menos trabalho para
ir buscá-la. O acesso deve ser fácil.
As fontes de água devem estar, também, longe de
qualquer contaminação. As fezes humanas, por
exemplo, devem ser tratadas, pois pouco a pouco a
terra as absorve, até que elas atinjam a
profundidade dos poços, contaminando a água. Se
temos um sistema de tratamento do tipo fossa e
sumidouro (Figura 120), deve haver uma distância
Figura 119: Poço na Ilha Grande do
Paulino, Delta do Parnaíba. mínima de 18 metros entre a FONTE DE ÁGUA e o
SUMIDOURO.

fossa
Figura 120
sumidouro

Para ter mais conforto, podemos


ter água encanada na nossa casa.
Podemos fazer isso construindo um
pequeno reservatório no telhado. Para
encher o reservatório com água de
poço, podemos usar uma bomba
manual (Figura 121).

Figura 121
Outra maneira de coletar água é usar o telhado para juntar a água da
chuva. Podemos fazer um “caminho” de canos para que a água que cai no
telhado vá para um reservatório (Figura 122). Assim, toda a água que cai do
céu no período de chuvas poderá ser guardada para usarmos no período de
seca. Podemos fazer grandes
reservatórios sem gastar muito e
usando pouquinho material, com a
técnica do ferrocimento.

Figura 122

Também podemos aproveitar a água da chuva fazendo com que ela fique
no terreno. Às vezes cai tanta água ao mesmo tempo que a terra não tem tempo
de absorver. Podemos construir alguns “canais de infiltração” (Figura 123).
Assim, a água tem tempo de entrar no terreno. Podemos cavar um canal antes
de uma horta, por exemplo, assim a terra se manterá úmida por mais tempo.
As plantas agradecem.

Figura 123

TRATAMENTO DA AGUA

Nas cidades, normalmente a água das casas vai para a rede pública de
esgoto, depois para grandes estações de tratamento, onde são colocados
produtos químicos para que ela se torne novamente boa para o uso doméstico.
Porém, muita gente, principalmente a parte pobre da população, não tem nem
rede de esgoto no seu bairro, ou seja, os dejetos humanos não são tratados.
Quando o esgoto fica a céu aberto, sem tratamento, microorganismos
prejudiciais à saúde se proliferam causando doenças.
Nos assentamentos rurais, ter bastante água é um privilegio que
devemos ter cuidado para manter. Se vamos deixando o esgoto diretamente
no solo, pouco a pouco vamos poluindo a terra, e com o tempo esta poluição
pode chegar aos lençóis subterrâneos que alimentam nossos poços.

CAIXA DE GORDURA

A caixa de gordura é o primeiro passo necessário para o tratamento da


água cinza. A água cinza é todo o resíduo que sai da pia da cozinha, do
chuveiro e da lavagem de roupa.
13cm 29cm
Figura 124: Exemplo de caixa
de gordura com as dimensões
apropriadas para uma casa de família.
A combinação dos saponáceos e
detergentes com as gorduras (dos
alimentos e do corpo) forma uma
camada leve que tende a boiar na
água, por isso o tubo de saída da água
deve estar perto do fundo da caixa.

Para construir e usar uma caixa de gordura, devemos ter alguns


cuidados:

- Deve estar bem fechada para evitar que cheguem insetos e outros
animais;

- Deve ter uma boa distância entre a entrada e a saída da água, para
evitar que a gordura saia com o resto da água;

- O tamanho da caixa de gordura depende do numero de refeições


diárias de uma casa. Se tivermos um restaurante, temos que fazer a caixa de
gordura maior do que a de uma casa.
-

RECICLAGEM DA AGUA

Depois que sai da caixa de gordura, o resíduo deve passar por um filtro
(Figura 125). Este pode ser, por exemplo, um filtro de areia. Depois de filtrada,
a água pode ser direcionada para a horta ou para o jardim.
Figura 125
entrada da
água cinza
saída da
água
filtrada
caixa de gordura filtro

De qualquer forma, mesmo se não vamos reutilizar a nossa água, temos


que devolvê-la limpa ao meio ambiente. Aqui entra uma questão muito
importante que é o sistema de BANHEIRO que utilizamos. O resíduo do vaso
sanitário é diferente da água cinza e não pode ser tratado da mesma forma. Se
utilizarmos um banheiro que necessita de água para arrastar os dejetos, esta
água terá que ser tratada. Em locais onde não há rede de esgoto, temos que
tratar a água no nosso próprio terreno ou na comunidade. Uma maneira
eficiente para tratar as águas cinzas e do vaso sanitário é com o sistema
modular de separação de águas do engenheiro Luis Ercole, representado
abaixo, na Figura 126.

Figura 126

Podemos optar, também por um sistema de tratamento que não utiliza


água:
SANITARIO SECO

O sanitário seco é uma excelente alternativa pelos seguintes motivos:

- Não utiliza água: geralmente utilizamos a mesma água de beber para


empurrar os resíduos do sanitário. Com o sanitário seco isto não acontece!

− O sanitário seco acumula um resíduo que logo será usado como


adubo!

Figura 127:
Sanitário seco
incorporado ao
edifício em projeto
para o alojamento
Instituto Educar,
Pontão/RS.

SANITARIO SECO DE DUAS CAMARAS:

Consiste em um banheiro com dois vasos, cada um correspondente a


uma câmara. Enquanto utilizamos uma, a outra permanece fechada.
A medida que uma câmara vai enchendo, a temperatura aumenta, e
começam a entrar em ação organismos termofílicos (que só sobrevivem em
temperaturas altas) que decompõem a matéria fecal. Cada vez que usamos o
sanitário devemos colocar matéria seca, que evita odores, protege de insetos
e acelera o processo de compostagem. Pintamos a câmara de preto para que
a temperatura fique mais alta e o processo seja mais rápido (a cor preta absorve
mais calor).
Quando uma câmara está
cheia, fechamos o vaso com
uma tampa pesada e passamos
a utilizar a outra. O tempo que
leva para encher uma câmara é
tempo suficiente para que a
matéria fecal da outra tenha
virado adubo. Podemos
Figura 128: As diferentes
esvaziá-la e colocar na horta ou
partes de um sanitário seco no jardim.
de duas câmaras.

Figura 129:
Funcionamento do
sanitário seco.

APROVEIT AR O PERFIL NAT URAL


DO T ERRENO.
Bason:

entram dejetos

Figura 130: Sanitário do tipo Bason. Fonte: Manual do Arquiteto Descalço, Johan Van Lengen

Outro sistema de sanitário seco é o Bason. Neste sistema, de um lado


entram os dejetos humanos e de outro os resíduos de cozinha, que juntos
formam um composto riquíssimo.
Referências Bibliográficas

Gouvêa, Luiz Alberto: Biocidade: Conceitos e critérios para um


desenho ambiental urbano, em localidades de clima tropical de
planalto. Editora Nobel.

Khalili, Nader: Ceramic Houses and Earth Architecture - How to


build your own. Editora Cal Earth.

Lengen, Johan Van: Manual do Arquiteto Descalço. Editora Casa


do Sonho.

Ludwing, Art: Create an Oasis with Graywater. Editora Oasis


Design.

Minke, Gernot: Manual de Construcción com Tierra - La tierra como


material de construcción y sus aplicaciones en la arquitectura atual.
Editora Nordan Comunidad.

Weimer, Günter: Arquitetura Popular Br


Anexo 1

PROJETO DE RESIDENCIA BIOCONSTRUIDA


Ilha Grande do Paulino Delta do Parnaiba Arq.
Cecilia Prompt
Anexo 2

Reciclagem do barro Reciclagem do barro da casa antiga. Enchendo os sacos com o barro da casa antiga.
reciclado, para a produção de Superadobe.

Fabricação dos tijolos de adobe. Fundação da casa - Trabalho em regime de mutirão para Técnica de
Superadobe: construção da fundação da casa.
Pilando os sacos.

Trabalho em regime de mutirão para Atividade pedagógica em campo. Atividade pedagógica em campo.
construção da fundação da casa.

Atividade pedagógica em campo. Construção das paredes externas. Construção da estrutura do telhado.
Casa edificada ainda sem o reboco. Instalação de portas e janelas. Colocação do reboco externo.

Horta da casa. Vista lateral da casa com reboco concluído. Vista frontal da casa com reboco concluído.

Paredes internas de Adobe, ainda sem Vista interna da casa com reboco e pintura. Vista do Box para banho.
reboco e pintura.

Vista posterior do sanitário seco. Vista lateral do sanitário seco. Vista lateral do sanitário seco.

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