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Empatia

Durante o período pandêmico falou-se muito em empatia, uma palavra que


abre dezenas de interpretações. Seria algo como, colocar-se no lugar do outro, tentar observar
as ações no lugar do outro e tentar portanto, compreende-lo, talvez sentir o que ele sente e
tentar assim, reagir com maior delicadeza, sensibilidade para com o outro. Uma tentativa
bonita, louvável, mas que infelizmente é barrada simplesmente por um fator, um lastimável
atenuante na tentativa de sermos melhores. Nós não temos como nos encontrarmos no lugar
do outro. Pois temos caráteres diferentes, vivencias distintas. Como pode uma pessoa que
cresceu em berço de ouro, por exemplo dizer que se colocará no lugar de um menino que
vende limões em um entroncamento urbano, e assim dizer que não roubaria? Como pode
uma mulher com possibilidades, instrução, emprego, independência financeira, dizer que no
lugar daquela que apanha, procuraria prontamente a justiça?

Não, não há como sentir o que o outro sente, não da para olhar o mundo
pelo olhar do outro. Nem ao menos acho possível, supor as ações, e decisões que se tomaria
uma vez ocupando o espaço de outro. No entanto, dá sim para ter compaixão, compreensão,
tolerância... O que me leva a dois outros temas dessa semana. Ambos extremamente
conectados à arte e cultura. Ambos relacionados a necessidade da tal empatia.

Um deles refere-se a rainha do bumbum, não a Gretchem, mas a Anita,


sucesso de vendas, de mídia e de um talento ímpar: reunir multidões. Em um mundo machista,
em um país hipócrita, ela vence expondo o corpo e a sensualidade. Qual o erro dela? Nenhum,
está apenas seguindo um fluxo totalmente natural, aplaudível pelos jovens e criticado pela
maioria da velha guarda. E o que essa postura nos diz? O que ela anuncia para o futuro?

Nos lembra que o mundo se transforma, e as vezes alguns tomam a frente e


correm alguns metros à frente , nos trazendo para mais próximo, uma jeito de agir, ser ou
pensar que imaginávamos que demoraria mais a chegar.

Eu acho bem sonoras as musicas de Anita, e quando escuto ou vejo o clipe,


penso: Fechem as escolas, paremos de estudar, treinemos nossos corpos, é bonito e divertido.
E nos ajudará a logo termos mais crianças no mundo, mais fome, mais pais jovens
despreparados, logo mais violência, mais gasto público e por tanto mais pobreza. E tudo isso
parece combinar muito com pensamentos do tipo: “Quero ganhar mais e trabalhar menos.” E
tudo bem, afinal de contas somos seres humanos, queremos prazer, queremos vida
confortável, queremos descansar nossos pesados corpos em berço esplendido. Eis o
paradoxo, queremos que as crianças sejam crianças, mas todos os dias às provocamos a
crescer mais rápido e a repetirem nossos pequenos erros.

Essa semana ainda vimos a arte e a cultura ganharem veto na Lei Paulo Gustavo, e
alguns dizerem:-Para que dar dinheiro público aos artistas? Ora, para que nos presenteiem
com grandes atuações como a da cantora internacionalmente reconhecida e que leva nosso
nome pelo mundo, recordando que é uma BRASILEIRINHA , e antes de julgá-la ou de julgar o
artista, lembremos que são nossos “likes”, nosso aplauso, nossas “trends”, nossos
engajamentos... Nossa deliciosa e “voyer” empatia que decide quem brilha e quem se apaga,
então não coloquemos todos os artistas no mesmo balaio, cada arte, cada artista é um.

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