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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

L477f Leet, Kenneth M.


Fundamentos da análise estrutural [recurso eletrônico] /
Keneth M. Leet, Chia-Ming Uang, Anne M. Gilbert ; tradução:
João Eduardo Nóbrega Tortello ; revisão técnica: Pedro V. P.
Mendonça. – 3. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre :
AMGH, 2010.

Editado também como livro impresso em 2009.


ISBN 978-85-63308-34-4

1. Engenharia – Análise estrutural. I. Uang, Chia-Ming. II.


Gilbert, Anne M. III. Título.

CDU 624

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


C A P Í T U L O

Cabos
6
6.1 Introdução
Conforme discutimos na Seção 1.5, os cabos construídos de fios de
aço de alta resistência são completamente flexíveis e têm uma resistência
à tração quatro ou cinco vezes maior do que a do aço estrutural. Devido
à excelente relação resistência/peso, os projetistas utilizam cabos para
construir estruturas de vão longo, incluindo pontes pênseis e coberturas
sobre grandes arenas e salas de convenções. Para utilizar efetivamente a
construção de cabo, o projetista precisa lidar com dois problemas:
1. Impedir que grandes deslocamentos e oscilações se desenvolvam
em cabos que suportam sobrecargas cuja magnitude ou direção
muda com o tempo.
2. Fornecer um meio de ancoragem eficiente para a grande força de
tração suportada pelos cabos.
Para tirar proveito da alta resistência do cabo enquanto minimizam
suas características negativas, os projetistas devem utilizar mais criativi-
dade e imaginação do que as exigidas nas estruturas de viga e coluna
convencionais. Por exemplo, a Figura 6.1 mostra um desenho esquemá-
tico de uma cobertura composta de cabos conectados a um anel central de
tração e a um anel externo de compressão. O pequeno anel central, carre-
gado simetricamente pelas reações do cabo, é tensionado principalmente anel de
cabo compressão
em tração direta, enquanto o anel externo suporta principalmente com-
pressão axial. Ao desenvolver um sistema de equilíbrio automático,
composto de membros em tensão direta, o projetista cria uma forma
estrutural eficiente para cargas gravitacionais que exige apenas apoios
verticais em torno de seu perímetro. Diversas praças de esportes,
incluindo o Madison Square Garden em Nova York, EUA, têm cobertu-
ras com um sistema de cabo desse tipo.
Em uma análise de cabo típica, o projetista estabelece a posição
dos apoios das extremidades, a magnitude das cargas aplicadas e a
elevação de outro ponto no eixo do cabo (frequentemente a flecha em anel apoio
de tração vertical
meio vão; ver Figura 6.2a). Com base nesses parâmetros, utiliza a
teoria dos cabos para calcular as reações das extremidades, a força no Figura 6.1: Cobertura apoiada por cabo com-
cabo em todos os outros pontos e a posição de outros pontos ao longo posta de três elementos: cabos, um anel central de
do eixo do cabo. tração e um anel externo de compressão.
226 Capítulo 6     Cabos

V1 T1

corda C H
A 1
h (flecha) 2
A
B H
B= 0 T2 w
V2

L
(a) (b)

Figura 6.2: Cabos carregados verticalmente: (a)


cabo com corda inclinada (a distância vertical
entre a corda e o cabo, h, é denominada flecha); (b)
corpo livre de um segmento de cabo suportando
cargas verticais; embora a força resultante do cabo
T varie com a inclinação do cabo, ∑Fx = 0 exige
que H, a componente horizontal de T, seja cons-
tante de seção para seção.

Foto 6.1: Prédio do terminal do aeroporto Dul-


les. Cobertura apoiada em uma rede de cabos de
aço que se estendem entre torres maciças e incli-
nadas de concreto armado.

6.2 Características dos cabos


Os cabos, feitos de um grupo de fios de alta resistência trançados para
formar uma cordoalha, têm uma resistência à tração máxima de aproxi-
madamente 270 kips/pol2 (1 862 MPa). A operação de entrelaçamento
confere um padrão espiral aos fios individuais.
Ao mesmo tempo que o estiramento dos fios por meio de moldes
durante o processo de manufatura eleva o ponto de escoamento do aço,
também reduz sua maleabilidade. Os fios podem sofrer um alongamento
máximo de 7% ou 8%, comparado ao de 30% a 40% do aço estrutural com
ponto de escoamento moderado, digamos, 36 kips/pol2 (248 MPa). Os cabos
de aço têm um módulo de elasticidade de aproximadamente 26 000 kips/pol2
(179 GPa), comparado ao módulo de 29 000 kips/pol2 (200 GPa) das barras
de aço estruturais. O módulo mais baixo do cabo deve-se ao desenrolar da
estrutura espiral do fio sob carga.
Como um cabo transmite apenas tração direta, a força axial resultante
T em todas as seções deve atuar tangencialmente ao eixo longitudinal do
cabo (ver Figura 6.2b). Por não possuir rigidez à flexão, os projetistas
Seção 6.3     Variação da força no cabo 227

Foto 6.2: Ponte estaiada sobre a baía de Tampa.

devem tomar muito cuidado ao planejar estruturas com cabo para garantir
que as sobrecargas não causem grandes deflexões ou vibrações. Nos pri-
meiros protótipos, muitas pontes e coberturas apoiadas em cabos desen-
volviam grandes deslocamentos (drapejamento) causados pelo vento, que
resultavam na falha da estrutura. A completa destruição da ponte Tacoma
Narrows, em 7 de novembro de 1940, causada por oscilações induzidas
pelo vento, é um dos exemplos mais espetaculares de falha estrutural de
uma grande estrutura apoiada em cabo. A ponte, que se estendia por
5 939 pés (1 810 m) sobre o estreito de Puget, perto da cidade de Tacoma,
em Washington, EUA, desenvolveu vibrações que atingiram uma ampli-
tude máxima na direção vertical de 28 pés (8,53 m), antes que o sistema
de piso rompesse e caísse na água (ver Foto 2.1).

6.3 Variação da força no cabo


Se um cabo suporta somente carga vertical, a componente horizontal
H da tensão T no cabo é constante em todas as seções ao longo do eixo
do cabo. Essa conclusão pode ser demonstrada pela aplicação da equação
de equilíbrio ∑Fx = 0 em um segmento de cabo (ver Figura 6.2b). Se a
tensão do cabo é expressa relativamente à componente horizontal H e à
inclinação do cabo u,
H
T (6.1)
cos u
Em um ponto no qual o cabo é horizontal (por exemplo, ver ponto B
na Figura 6.2a), u é igual a zero. Como cos 0 = 1, a Equação 6.1 mostra
que T = H. O valor máximo de T normalmente ocorre no apoio onde a
inclinação do cabo é maior.
228 Capítulo 6     Cabos

Ay Dy
6.4 Análise de um cabo suportando cargas
A D gravitacionais (verticais)
H H
h1
h2 Quando um conjunto de cargas concentradas é aplicado, um cabo de
C peso desprezível se deforma em uma série de segmentos lineares (Figura
B 6.3a). A forma resultante é chamada de polígono funicular. A Figura 6.3b
P2 mostra as forças atuando no ponto B em um segmento de cabo de com-
P1 primento infinitesimal. Como o segmento está em equilíbrio, o diagrama
(a) vetorial, consistindo nas forças do cabo e na carga aplicada, forma um
polígono de forças fechado (ver, por exemplo, Figura 6.3c).
FAB Um cabo suportando carga vertical (ver Figura 6.3a) é um membro
determinado. Estão disponíveis quatro equações de equilíbrio para calcu-
lar as quatro componentes da reação fornecidas pelos apoios. Essas equa-
FBC ções incluem as três equações de equilíbrio estático aplicadas ao corpo
B livre do cabo e uma equação de condição, ∑Mz = 0. Como o momento em
todas as seções do cabo é zero, a equação de condição pode ser escrita em
qualquer seção, desde que a flecha do cabo (a distância vertical entre a
corda do cabo e o cabo) seja conhecida. Normalmente, o projetista define
P1 a flecha máxima de modo a garantir tanto a altura livre necessária como
um projeto econômico.
(b)
Para ilustrar os cálculos das reações dos apoios e das forças em vários
pontos ao longo do eixo do cabo, analisaremos o cabo da Figura 6.4a. A
flecha do cabo na posição da carga de 12 kips é definida como 6 pés.
Nesta análise, vamos supor que o peso do cabo é insignificante (compa-
FAB
P1 rado à carga) e o desprezaremos.
Passo 1   Calcule Dy somando os momentos sobre o apoio A.
FBC A MA 0
(c)
12 kips 30 6 kips 70 Dy 100 0
Figura 6.3: Diagramas vetoriais: (a) cabo com Dy 7,8 kips (6.2)
duas cargas verticais; (b) forças atuando em um
segmento infinitesimal do cabo em B; (c) polígono
de forças dos vetores em (b).
Passo 2   Calcule Ay.

c Fy 0
0 Ay 12 6 7,8
Ay 10,2 kips (6.3)

Passo 3   Calcule H; some os momentos sobre B (Figura 6.4b).


A MB 0
0 A y 130 2 HhB
h BH 110,2 2 1302 (6.4)
Configurando hB 6 ft resulta
H 51 kips
Seção 6.5     Teorema geral dos cabos 229

Após H ser calculada, podemos estabelecer a flecha do cabo em TA Ay Dy TD


C considerando um corpo livre do cabo imediatamente à direita de C A D
H H
(Figura 6.4c). A hC
C
Passo 4 C
B
A MC 0 B
6 kips
12 kips
Dy 130 2 Hhc 0
30Dy 30 7,8
hc 4,6 ft (6.5) (a)
H 51

Para calcular a força nos três segmentos de cabo, estabelecemos uA, uB Ay = 10,2 kips
e uC e, então, usamos a Equação 6.1.
A
H
Calcule TAB. A
6
6 B
tan u A e uA 11,31°
30 30
TAB
H 51
TAB 51,98 kips (b)
cos u A 0,981
Dy = 7,8 kips
Calcule TBC.
6 4,6 D
H = 51 kips
tan u B 0,035 e uB 2°
40 hc
C
H 51
TBC 51,03 kips TCD 30
cos u B 0,999
(c)
Calcule TCD.
4,6 12 kips 6 kips
tan u C 0,153 e uC 8,7°
30
A B C D
H 51
TCD 51,62 kips
cos u C 0,988
30 40 30
10,2 kips 7,8 kips
Como as inclinações de todos os segmentos de cabo na Figura 6.4a
são relativamente pequenas, os cálculos acima mostram que a diferença
306 kip # ft
na magnitude entre a componente horizontal da tensão do cabo H e a 234 kip # ft
força total no cabo T é pequena.

(d)
6.5 Teorema geral dos cabos
Quando efetuamos os cálculos para a análise do cabo da Figura 6.4a, Figura 6.4: (a) Cabo carregado com forças verti-
talvez você tenha observado que certos cálculos são semelhantes aos que cais, flecha do cabo em B configurada em 6 pés;
(b) corpo livre do cabo à esquerda de B; (c) corpo
faria na análise de uma viga com apoio simples com vão igual ao do cabo
livre do cabo à direita de C; (d) uma viga com
e suportando as mesmas cargas aplicadas no cabo. Por exemplo, na apoio simples com as mesmas cargas e o mesmo
Figura 6.4c, aplicamos as cargas do cabo em uma viga cujo vão é igual vão que o cabo (diagrama de momento abaixo).
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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