Você está na página 1de 10

2a AVALIAÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS II – A

Prof. Orestes Piermatei Filho 17-05-2023

Exercı́cio 1 [35 pontos]: Seja f : [0, π ) → R uma função dada por

π x x2
f (x) = + − ·
2 2 4π
(a) Faça uma extensão par e periódica de perı́odo T = 2π da função f e determine a sua
série de cossenos.
(b) Na série obtida, faça x = 0 e mostre que

1 π2
∑ n2 6 ·
=
n=1

S OLUÇ ÃO : Para a parte (a), basta fazer f : R → R definida por


π x x2 ,

 − −

 para − π ≤ x < 0,
2 2 4π
f (x) =
2
 π+x− x ,

para 0 ≤ x < π ,

2 2 4π
que é uma extensão par para f e é periódica de perı́odo T = 2π .
Como f é uma função par, então
Z π Z π
1 2
a0 = f (x) dx = f (x) dx.
π −π π 0

Assim,
x x2
Z π Z π 
2 2 π
a0 = f (x) dx = + − dx
π 0 π 0 2 2 4π
 π
π x x2 x3

2
= + −
π 2 4 12π 0
 2
π2 π3 π · 0 02 03
  
2 π
= + − − + −
π 2 4 12π 2 4 12π

2 π2 π2 π2
 
= + −
π 2 4 12

2 6π 2 + 3π 2 − π 2 2 2π 2 4π
 
= = · = ·
π 12 π 3 3
Portanto,

a0 = ·
3

1
Agora calcula-se os coeficientes an , lembrando que f é par. Tem-se:
Z π
2
an = f (x) · cos(nx) dx
π 0

x x2
Z π 
2 π
= + − cos(nx) dx
π 0 2 2 4π
Z π Z π Z π
1 1
(1) = cos(nx) dx + x · cos(nx) dx − 2 x2 · cos(nx) dx.
0 π 0 2π 0

A primeira integral acima é direta, a segunda exige uma integração por partes e a terceira
integral deve ser calculada através de duas integrações por partes. Cada uma será resolvida
em separado. Tem-se:
Z π π
sen (nx) sen π sen 0 0 0
(2) cos(nx) dx = = − = − = 0.
0 n 0 n n n n

A segunda integral em (1) é calculada do seguinte modo: se faz u = x e dv = cos(nx)dx,


sen (nx)
de modo que du = dx e v = . Assim,
n
sen (nx) π
Z π
1 1 1 π
Z
x · cos(nx) dx = · x · − sen (nx) dx
π 0 π n 0 nπ 0

cos(nx) π

sen (nπ ) sen 0

1
= π· − + 2
π n n n π 0
 
1 0 0 1
= − + 2 [cos(nπ ) − cos 0]
π n n n π
1
(3) = [(−1)n − 1],
n2 π
pois sen (nπ ) = sen 0 = 0, cos 0 = 1 e cos(nπ ) = (−1)n .
Agora calcula-se a terceira integral em (1) fazendo u = x2 e dv = cos(nx) dx, de modo
sen (nx)
que du = 2xdx e v = na primeira integração por partes. Assim,
n

Z π π π
1 1 2 sen (nx) 1 sen (nx)
Z
2
− 2 x · cos(nx) dx = − 2 · x · + 2 2x · dx
2π 0 2π n 0 2π 0 n
 Z π
2 sen (nπ )

1 2 sen 0 1
=− 2 π · −0 · + 2 x · sen (nx) dx
2π n n nπ 0
Z π
1
= x · sen (nx) dx
nπ 2 0

= (nova integração por partes)

2
π Z π
1 cos(nx) 1 cos(nx)
=− 2
·x· + dx
nπ n 0 nπ 2 0 n
π
1 1
=− 2 2
[π . cos(nπ ) − 0 · cos 0] + 3 2 · sen (nx)
n π n π 0

1 1
=− · π · (−1)n + [ sen (nπ ) − sen 0]
n2 π 2 n3 π 2
1
(4) =− · (−1)n,
n2 π
pois sen (nπ ) = sen 0 = 0. Além disso, na segunda integração por parte se fez U = x e
cos(nx)
dV = sen (nx)dx, de modo que dU = dx e V = − .
n
Substituindo (2), (3) e (4) em (1), conclui-se que
1 1
an = 0 + [(−1)n − 1] − · (−1)n
n2 π n2 π
1 1 1
= · (−1)n − − · (−1)n
n2 π n2 π n2 π
1
=− ·
n2 π
Portanto, tem-se que
1
an = − ·
n2 π
Por outro lado, como f é par, então
Z π
1
bn = f (x) sen (nx) dx = 0,
π −π

pois o integrando é produto de uma função par (a extensão f ) por outra função ı́mpar (seno),
resultando em uma função ı́mpar. Como o intervalo é simétrico e o integrando é uma função
ı́mpar, tem-se que a integral é igual a zero.
Assim, a série de Fourier para a extensão f é dada por

a0
f (x) ∼ + ∑ [an · cos(nx) + bn · sen (nx)]
2 n=1
∞  
1 4π 1
∼ · +∑ − 2 cos(nx)
2 3 n=1 n π

2π 1 ∞ cos(nx)
∼ − ∑ ·
3 π n=1 n2

Portanto, a série de Fourier para a função estendida, f , é dada por


2π 1 ∞ cos(nx) ,
f (x) ∼ − ∑ para x ∈ R.
3 π n=1 n2

3
PARTE (b): Observe que zero pertence ao intervalo [−π , π ], domı́nio de f . Logo pode-se
escrever
2π 1 ∞ cos(nx)
f (x) = − ∑ ·
3 π n=1 n2
Fazendo x = 0 na série acima, obtém-se
π 2π 1 ∞ cos(0)
= f (0) = − ∑
2 3 π n=1 n2

2π 1 ∞ 1
= − ∑ 2·
3 π n=1 n

Portanto,

1 ∞ 1 2π π

π n=1 n2
=
3

2

1 ∞ 1 4π − 3π π ,

π n=1 n2
=
2·3
=
6

ou seja, que

1 π2
∑ 2= 6·
n=1 n

Exercı́cio 2 [30 pontos]: Seja α um número real não inteiro. Use a forma complexa para
obter a série de Fourier (real) para a seguinte função periódica:

 sen (α x), se − π ≤ x < π ,
f (x) =
 periódica de perı́odo T = 2π .

S OLUÇ ÃO : Inicialmente calcula-se os coeficientes cn da série na forma complexa com


L = π . Tem-se
Z π
1
cn = sen (α x) · e −inx dx
2π −π

= (pela fórmula de Euler)


Z π
1
= sen (α x)[cos(−nx) + i sen (−nx)] dx
2π −π
Z π
1
= sen (α x)[cos(nx) − i sen (nx)] dx
2π −π
Z π Z π
1 i
(5) = sen (α x) · cos(nx) dx − sen (α x) · sen (nx) dx.
2π −π 2π −π

4
O valor a primeira integral no último membro acima é 0, pois o integrando é produto
entre uma função ı́mpar (seno) por outra par (cosseno), de modo que todo o integrando é
uma função ı́mpar e a integral é tomada em intervalo simétrico. Assim, pela proposição 5.7
o valor da integral é zero.
Para a segunda integral no último membro citado será usada uma identidade trigonométrica
obtida da seguinte maneira: das identidades do cosseno para a soma e diferença,

 cos(a + b) = cosa · cos b − sen a · sen b,
 cos(a − b) = cosa · cos b + sen a · sen b,

multiplicando a primeira identidade por −1 e somando com a segunda, encontra-se


cos(a − b) − cos(a + b)
(6) sen a · sen b = ·
2
Assim, fazendo a = α x e b = nx em (6) em (5), observando que o integrando é uma
função par, obtém-se:
Z π
i
cn = − sen (α x) · sen (nx) dx
2π −π
Z π
i
=− sen (α x) · sen (nx) dx
π 0
Z π
cos(α x − nx) − cos(α x + nx)

i
=− dx
π 0 2
Z π 
i cos[(α − n)x] − cos[(α + n)x]
=− dx
π 0 2
Z π Z π
i i
=− cos[(α − n)x dx + cos[(α + n)x] dx
2π 0 2π 0

= (integração por substituição)


π π
i 1 i 1
=− · · sen [(α − n)x] + · · sen [(α + n)x]
2π α − n 0 2π α + n 0

i 1
=− · { sen [(α − n)π ] − sen [(α − n)0]} +
2π α − n
i 1
+ · { sen [α + n)π ] − sen [(α + n)0]}
2π α + n
i 1 i 1
=− · · sen (απ − nπ ) + · · sen (απ + nπ ).
2π α − n 2π α + n
Agora se usa as seguintes identidades para o seno da soma e da diferença:

 sen (a + b) = ( sen a)(cos b) + ( sen b)(cos a),
 sen (a − b) = ( sen a)(cos b) − ( sen b)(cos a).

5
Tomando a = απ e b = nπ , segue-se que
i 1 i 1
cn = − · · sen (απ − nπ ) + · · sen (απ + nπ )
2π α − n 2π α + n
i 1
=− · {[ sen (απ )][cos(nπ )] − [ sen (nπ )][cos(απ )]} +
2π α − n
i 1
+ · {[ sen (απ )][cos(nπ )] + [ sen (nπ )][cos(απ )]}
2π α + n
i 1 i 1
=− · · sen (απ ) · (−1)n + · · sen (απ ) · (−1)n
2π α − n 2π α + n
(−1)n sen (απ )
 
1 1
= i· −
2π α +n α −n

(−1)n sen (απ ) α − n − α − n


 
= i·
2π (α + n)(α − n)

(−1)n sen (απ ) α − n − α − n


 
= i·
2π α 2 − n2

(−1)n sen (απ )


 
2n
= i· · − 2
2π α − n2

2n · (−1)n · sen (απ )


= −i·
2π (α 2 − n2 )

(−1)n · n · sen (απ )


= −i · ·
π (α 2 − n2)

onde usou-se os fato que sen (nπ ) = 0 para todo n e que cos(nπ ) = (−1)n .
Além disso, fazendo n 7→ −n em cn , encontra-se

(−1)−n · (−n) · sen (απ )


c−n = −i ·
π (α 2 − (−n)2 )

(−1)−n · n · sen (απ )


= i·
π (α 2 − n2 )
(−1)n · n · sen (απ )
= i· ·
π (α 2 − n2)
pois
1 ,
(−1)−n =
(−1)n
uma vez que (−1)n determina o sinal (positivo para n par e negativo para n ı́mpar), não
importando se este termo está no numerador ou no denominador.

6
Agora determina-se os coeficientes (reais) de Fourier. Como a0 = 2 c0, fazendo n = 0 em
cn , obtém-se
(−1)0 · 0 · sen (απ ) 0
a0 = 2 c0 = −i · 2 2
= = 0.
π (α − 0 ) πα 2
O BS .: note que cn é um imaginário puro e que c0 = 0. Isto está em conformidade com a
proposição 10.1, pois a função f (x) = sen (α x) é ı́mpar. Observe também que c−n = −cn .

Para an, basta usar a relação an = cn + c−n e lembrar, pelo que foi determinado acima,
que c−n = cn . Assim,

an = cn + c−n

(−1)n · n · sen (απ ) (−1)n · n · sen (απ )


   
= −i · + i·
π (α 2 − n2 ) π (α 2 − n2)

= 0.

Observando que sen (α x) é uma função ı́mpar, era de se esperar que a0 = 0 e an = 0 para
todo n ∈ N.
Para bn, basta usar a relação bn = i(cn − c−n) e o fato já encontrado de que c−n = −cn .
Tem-se:

bn = i(cn − c−n ) = i(2cn ) = 2i · cn

(−1)n · n · sen (απ )


 
= 2i −i ·
π (α 2 − n2)

(−1)n · n · sen (απ )


= −2i2 ·
π (α 2 − n2)

2n · (−1)n · sen (απ )


= ·
π (α 2 − n2)
Por fim, escreve-se a série de Fourier (real) para a função dada. Tem-se:

a0
f (x) ∼ + ∑ [an · cos(nx) + bn · sen (nx)]
2 n=1
∞ 
2n · (−1)n · sen (απ )

0
∼ + ∑ 0 · cos(nx) − · sen (nx)
2 n=1 π (α 2 − n2 )

2 · sen (απ ) ∞ (−1)n · n



π ∑ 2 2 · sen (nx), x ∈ R.
n=1 α − n

Exercı́cio 3 [35 pontos]: Seja f : (0, 2) → R definida por f (x) = x.

7
(a) Faça uma extensão par e periódica de perı́odo T = 4 e mostre que a série de cossenos
para a função f é dada por

8 ∞
 
1 (2k − 1)π x
f (x) ∼ 1 − 2 ∑ · cos ·
π k=1 (2k − 1)2 2

(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que



1 π4
∑ 4 90 ·
=
n=1 n

S OLUÇ ÃO : Parte (a): a extensão par e periódica para a função dada será f (x) = | x |, para
−2 ≤ x ≤ 2, com T = 4. Assim, como f (x) é par, tem-se que os coeficientes bn da série de
Fourier serão todos nulos, pois, neste caso, tem-se uma integral de função ı́mpar (produto de
f , que é par, por senos, que são funções ı́mpares) em intervalo simétrico, que é igual a zero.
Então basta calcular os coeficientes a0 e an .
Para a0, tem-se:
Z 2 Z 2
1 2
a0 = f (x)dx = x dx
2 −2 2 0

2
x2 4
= = = 2.
2 0 2

Para an, tem-se


Z 2  nπ x  Z 2  nπ x 
1 2
an = f (x) cos dx = x · cos dx
2 −2 2 2 0 2

2  nπ x  2 2
Z 2  nπ x 
= · x · sen − sen dx
nπ 2 0 nπ 0 2
   nπ x  2
2 2 2
= [2 · sen (nπ ) − 0 · sen 0] − · − · cos
nπ nπ nπ 2 0

4 4
= [cos(nπ ) − cos 0] = [(−1)n − 1]
n2 π 2 n2 π 2
8
=− (para n = 2k − 1 ı́mpar),
(2k − 1)2 π 2

onde usou-se integração por partes da seguinte maneira:


 
 u = x,  du = dx,
 nπ x  ⇒
 v = 2 sen nπ x .
 
 dv = cos dx,
2 nπ 2

8
Portanto, a série de Fourier para f é dada por
∞ h  nπ x   nπ x i
a0
f (x) ∼ + ∑ an cos + sen
L n=1 L L
∞     
2 8 (2k − 1)π x (2k − 1)π x
∼ +∑ − · cos + 0 · sen
2 k=1 (2k − 1)2π 2 2 2

8 ∞
 
1 (2k − 1)π x
∼ 1− 2 ∑ · cos
π k=1 (2k − 1)2 2
       
8 πx 1 3π x 1 5π x
∼ 1 − 2 cos + 2 · cos + 2 · cos +··· , 0<x<2
π 2 3 2 5 2

PARTE (b): Pela parte (a), tem-se:


8
L = 2, a0 = 2, an = − e bn = 0.
(2k − 1)2 π 2

Mas antes de aplicar a identidade de Parseval é necessário calcular a integral de | f (x)|2 .


Tem-se:
Z 2 Z 2 Z 2
1 2
| f (x)|2 dx = | f (x)|2 dx = x2 dx
2 −2 2 0 0

2
x3 23 8
= = = ·
3 0 3 3

Pela identidade de Parseval,


Z L
a20 ∞
1
| f (x)| dx = + ∑ a2n + b2n ,
2

L −L 2 n=1

com os valores encontrados em (a) e inı́cio de (b), obtém-se


" 2 #
∞ 
8 22 8
= +∑ − + 02 ,
3 2 k=1 (2k − 1)2π 2

isto é,

8 64 ,
−2 = ∑ 4 4
3 k=1 (2k − 1) π
ou ainda,
2 64 ∞ 1 π4 ∞
1
= 4∑ ⇒ =∑ ·
3 π k=1 (2k − 1)2 96 k=1 (2k − 1)4
A última expressão significa

π4 1 1 1
= 4 + 4 + 4 +···
96 1 3 5

9
Agora observe que
1 1 1 1 1 1
S= 4
+ 4 + 4 + 4 + 4 + 4 +···
1 2 3 4 5 6
   
1 1 1 1 1 1
= + + +··· + 4 + 4 + 4 +···
14 34 54 2 4 6
   
1 1 1 1 1 1 1
= + + +··· + 4 + + +···
14 34 54 2 14 24 34

π4 S
= + ·
96 16
Assim,

S π4 16S − S π 4 π4 ,
S− = ⇒ = ⇒ 15S =
16 96 16 96 6
donde se conclui que
π4
S= ·
90
Portanto,
1 1 1 1 1 π4 ,
+ + + + + · · · =
14 24 34 44 54 90
que é o mesmo que

1 π4
∑ 4 90 ·
=
n=1 n

10

Você também pode gostar