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Transcrição
Pedro Lamares – Gil Vicente é tido como o primeiro dramaturgo português. Não se sabe com certeza
quando é que nasceu, mas terá vivido entre os anos de 1465 e 1537. Valeu-se do prestígio que
conquistou na corte para escrever obras que satirizavam os vícios do clero e da nobreza. Na trilogia
do Auto das Barcas, encontramos uma galeria de tipos sociais repletos de humor e acutilância. Gil
Vicente e as suas personagens continuam ainda hoje a fazer graça e verdade nos palcos do teatro.
Jornalista – No palco, as palavras de Gil Vicente ganham forma e vida no corpo dos atores.
Representado pela primeira vez, crê-se, em 1531, o Auto da Barca do Inferno é uma das peças
centrais da dramaturgia de Portugal.
António Augusto Barros – Um clássico com quinhentos anos. Uma joia destas… O Gil Vicente foi – é
ainda – o nosso maior dramaturgo, mas foi um grande poeta. Um grande poeta que está em todas as
antologias portuguesas e espanholas da poesia ibérica dessa época. E esta linguagem é uma
linguagem tão rica, não é, tão densa, tão rica e ao mesmo tempo tão direta, tão viva, de diálogos tão
vivos.
Foi a época em que estávamos a formar a nossa língua, não é. O Gil Vicente ajudou a formar a nossa
língua, e isso é uma coisa preciosa – nós pensarmos na viagem das palavras. Algumas perderam o
seu sentido, outras mudaram o sentido. E essa viagem das palavras é uma coisa entusiasmante.