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Título Original: Seducing Bran

Copyright © 2018 por Jules Barnard


Copyright da tradução © 2024 por Editora Bookmarks.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida
sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores.

Tradução: Wélida Muniz


Copidesque: Camila Kahn
Edição e capa: Luizyana Bueno
Diagramação digital: Andreia Barboza

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil, adquiridos por


Editora Bookmarks.
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ÍNDICE
SINOPSE
PRÓLOGO
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Vinte e Um
Vinte e dois
Vinte e três
Vinte e quatro
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Vinte e oito
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Trinta e dois
Trinta e três
Epílogo
Leia também:
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
SINOPSE
O irmão errado...
Ireland precisa de um recomeço, e sua prima a convence a apostar em um bad boy
carismático com um barco incrível e um corpo de matar. Mas quando ela aparece para o famoso
cruzeiro que ele comanda no Lago Tahoe, encontra seu lindo irmão mais velho no lugar.
Bran gosta das coisas estruturadas e previsíveis. Principalmente depois dos erros que
cometeu há dez anos. Mas o recente falecimento do pai transformou sua vida calma em caos, e
agora é o responsável pelos restaurantes cinco estrelas da família. Ele tem se esforçado para fazer
as coisas voltarem ao que eram.
Mas não tem ideia de como a vida vai ficar muito mais complicada.
Ireland, a mulher bonita de cabelos flamejantes é exatamente o tipo que Bran se programou
para evitar. Mas quando ela cai em seu colo em um cruzeiro que o irmão pediu para cobrir, o
barco não é a única coisa em jogo.
A teimosa Ireland não é o que Bran quer, mas é tudo que ele precisa.
PRÓLOGO
ENCARANDO O TAPETE persa que cobria toda a extensão do corredor até o salão de
baile do Club Tahoe, Bran Cade balançou a cabeça para a guinada que a vida deu. Seria
impossível prever que ele e os irmãos administrariam o Club Tahoe depois que o pai faleceu.
Mas ali estavam, celebrando o primeiro aniversário do dia que tomaram posse do resort que
herdaram, mas que nunca quiseram.
Imerso em pensamentos, não notou alguém vindo em sua direção. Não até quase atropelar
a mulher que evitava há meses.
Os braços de Ireland se ergueram, como se ela tentasse se equilibrar.
— Ah, Bran... desculpe. Eu não estava prestando atenção no caminho.
Ninguém era tão cego assim, a não ser que ela também estivesse olhando para baixo.
A mulher usava um vestido azul-marinho longo que acentuava sua pele de porcelana.
Contra a sua vontade, o olhar de Bran foi descendo. O cabelo ruivo de Ireland caía em ondas por
sua testa e pescoço, roçando os seios que preenchiam muito bem um sutiã meia taça e que, no
momento, ameaçavam saltar do vestido.
Os irmãos gostavam de chamá-lo de monge, mas ele era homem... e tinha olhos. Também
reconhecia peitos siliconados quando os via.
Ireland era o tipo de mulher que ele vinha evitando há mais de dez anos. Envolvente,
sedutora... linda. Ele tinha uma fraqueza por mulheres bonitas e atraentes.
— Não foi nada. — Bran tentou passar por ela, mas Ireland segurou seu braço de leve.
A mulher vinha lançando olhares furtivos desde que se conheceram, e aquela atenção era
indesejada. Por isso, afastou o braço.
— Eu fiz algo que te ofendeu? — Ela pareceu magoada.
É claro que ele a machucou... no orgulho, obviamente. Não havia como uma mulher tão
atraente quanto Ireland ter sofrido um único dia na vida. Ela engoliria a rejeição e seguiria para o
homem seguinte.
— Não. — Ele se afastou, mas não antes de captar um vislumbre de tristeza genuína no
olhar dela.
Talvez um pouco da emoção fosse real. Não importava. Bran entrou na comemoração no
fim do corredor e, distraído, olhou ao redor. Magoando Ireland ou não, dispensá-la não era fácil.
Os irmãos pensavam que ele não saía com ninguém, mas estavam errados. Ele gostava de
mulheres tanto quanto os outros. Só que escolhia um tipo diferente. Não saía com as moças que o
abordavam em bares. E também não saía com mulheres bonitas e voluptuosas. Ponto final.
Mulheres lindas como Ireland eram problemáticas, porque, lá no fundo, Bran ainda tinha
um fraco por elas. Era por isso que fazia tudo o que podia para evitá-las e seguir as próprias
regras. Nada de mulheres sedutoras. E sempre usar camisinha. Isso quando ele confiava o
bastante em alguém para acabar na cama com a pessoa.
Ele franziu a testa e tentou esquecer o encontro no corredor.
A festa estava a todo vapor no salão, e o amigo de Bran, Jaeg, estava perto da porta junto
com a noiva, Cali. O homem deu um passo à frente e apertou sua mão.
— Parabéns, cara. Imaginei que vocês fossem desistir depois de seis meses e contratar uma
administradora.
— Você e todo mundo — Bran disse, sorrindo. — Vamos ver como vai ser o próximo ano.
— Ele se inclinou e deu um abraço em Cali.
A mulher retribuiu o cumprimento, mas olhou para além dele.
— Você viu minha prima?
O olho de Bran tremeu. Ireland era prima de Cali.
— Nós nos esbarramos no corredor. Trombamos um no outro, na verdade.
Jaeg riu.
— A vista da Ireland não é a... — Cali deu uma cotovelada nas costelas de Jaeg, e ele se
encolheu.
Era divertido demais ver esses dois juntos. Jaeg era o amigo mais alto que Bran tinha. O
homem devia ter quase dois metros, e a noiva dele era baixinha. Ou talvez fosse de altura
mediana, mas parecia pequena perto dele. Ainda assim, o gigante parecia uma massinha de
modelar nas mãos dela.
Jaeg deu uma olhada para Cali, e ela devolveu o gesto.
— A Ireland é um pouco atrapalhada, só isso — Cali explicou. — Ela ainda é
relativamente nova na cidade, e eu queria garantir que esteja se divertindo. Minha prima pareceu
distraída quando saiu para ir ao banheiro.
Bran esquadrinhou a multidão.
— A Ireland parece bastante sociável. Não posso imaginá-la tendo dificuldade para fazer
amigos. — Isso era um eufemismo. A mulher sabia o que estava fazendo, trombando nele do
jeito que trombou. E lançando olhares interessados sempre que podia.
É, ela era alguém a se evitar.
— Ah, que bom — Cali disse, animada. — Estou ensinando a ela.
O olhar de Bran disparou para a ruiva bonita.
— Ensinando?
Cali não era tão escultural quanto Ireland, mas Bran notava certa semelhança entre as duas.
O cabelo vermelho devia ser predominante na família. Até mesmo Tyler, o irmão de Cali, tinha
uma versão castanho-avermelhada. Embora Ireland fosse a única ruiva de verdade.
Jaeg gemeu.
— A Cali pensa que a Ireland precisa de mais diversão na vida.
— Bem, ela precisa — Cali afirmou.
— Amor, você se lembra da última vez que ajudou uma amiga a arranjar namorado?
Bran escondeu o sorriso. Ouviu falar por alto sobre o episódio. Cali tentou juntar Jaeg com
a melhor amiga dela, a Gen, mas acabou se apaixonando pelo grandão. O radar da mulher para o
romance não era dos mais afiados.
Cali dispensou o noivo com um aceno de mão.
— A situação é totalmente diferente. A Ireland é tímida e vem lutando com afinco para
pagar o empréstimo estudantil. Ela não teve muita oportunidade para conhecer pessoas. Pelo
menos, não pessoas descentes e é nisso que estamos trabalhando.
Bran chamou a atenção da garçonete com quem vinha conversando sem compromisso nas
últimas semanas. Um leve sorriso cintilou no rosto dela. E a mulher logo afastou o olhar.
Ela era tímida. Exatamente o tipo dele. Não queria nem precisava de uma mulher agressiva
na sua vida.
— Com licença. Vi alguém a quem quero cumprimentar.
— Nos falamos depois — Jaeg disse enquanto Cali continuava falando de Ireland.
Bran parou de prestar atenção à conversa e atravessou o salão. Não queria ouvir nada sobre
ruivas “atrapalhadas”. A garçonete era bonita e meiga. Simples. É claro, Bran ainda não tinha
tentado nada. Não reuniu energia para chamá-la para sair. Mas sabia que era uma opção segura.
Sua mente não ficava confusa quando a via, e sua libido nunca assumia o controle quando
conversavam.
Nunca mais seria dominado pelo desejo.
UM
GRAÇAS AO FORTE cutucão da prima, Ireland quase escorregou da banqueta de madeira
da pizzaria.
Cali ergueu o queixo na direção de uma mesa à frente.
— Veja quem está aqui.
Ireland pegou os óculos na bolsa e os colocou. Tirou-os logo em seguida e os guardou
novamente, voltando descascar as pontas do guardanapo.
— Já me encontrei com os irmãos Cade algumas vezes. Sei quem eles são.
Cali olhou para a bolsa de Ireland.
— Mas você não os enxergou, não é? Quando eu falei para você tentar sair sem os óculos,
pensei que fosse usar lentes de contato. Vai acabar se matando sem eles.
— As lentes irritam meus olhos. E não é como se eu dirigisse sem os óculos.
Cali não pareceu convencida.
— Você já considerou a cirurgia?
Ireland fez uma careta.
— Você gostaria que alguém cortasse o seu globo ocular?
Cali franziu o nariz.
— Pois é — Ireland pontuou. — Quando tiver coragem para fazer a correção a laser, te
aviso. Além do mais, não posso arcar com essa despesa agora.
— Nesse meio tempo, pelo menos volte a usar a droga dos óculos, porque há dois Cade
solteiros na área, e eles são deliciosos. Eu acho que você deveria paquerar um deles.
Ireland revirou os olhos míopes. Ela não precisava enxergar com clareza. Estava bem
ciente da presença dos irmãos Cade.
— Agradeço sua preocupação em querer me ajudar a arranjar um namorado enquanto
estou aqui em Lake Tahoe porque você encontrou o Jaeg aqui na cidade e ele é, bem, o Jaeger,
mas eu não tenho sua sorte. Além do mais, quero um relacionamento que vá seguindo o curso.
Como foi com você e seu noivo.
Algo cintilou nos olhos de Cali.
— Eu não diria que as coisas com o Jaeg começaram tranquilas, mas resolvemos tudo. E,
sim, ele é um amante incrível. — Ela arqueou as sobrancelhas.
Ireland apertou a ponte do nariz.
— Informação demais, Cali.
A prima cutucou novamente seu ombro.
— E por falar em noivo gostoso, ele é amigo dos Cade. Eles são legais. Você deveria dar
uma chance a eles. Essa mania de deixar as coisas seguirem o curso é um horror. Você não saiu
com ninguém desde que chegou aqui.
Ireland fez careta.
— Passei os últimos seis anos rodeada por homens socialmente ineptos enquanto
trabalhava feito louca. Namorar não é minha prioridade. Não que eu não ache os homens
atraentes. — Incluindo um irmão Cade, a quem Ireland não mencionaria. Isso só serviria para
deixar a prima mais agitada.
— É por isso que está na hora de você sair com homens normais. Os caras com quem você
trabalhava não eram nerds que mexiam com tecnologia sem nenhum traquejo social?
— Nem todos. E se eles são nerds, eu também sou.
— Seu cartão de membro do clube dos nerds precisa ser revogado. Você nem está usando
os aplicativos de namoro online.
— Então tudo bem se eu sair com um estranho que tenha tendências sociopatas?
Cali se recostou no assento.
— Caramba. Você realmente foi contaminada naquela empresa.
— O que isso tem a ver com a minha vida amorosa?
— Pelo pouco que você contou, as pessoas com quem trabalhava eram idiotas. Acho que
eles te assustaram.
Não havia como argumentar contra isso.
— Quero que você esqueça aquele lugar. Não era normal. Você está em Lake Tahoe agora,
e as coisas aqui são diferentes. Você pode se arriscar paquerando um dos irmãos Cade ou usar
um aplicativo de namoro. O que funcionar melhor. — Cali sorriu. — Porque nós duas sabemos
que andar com os nerds da TI não ajudou em nada a sua vida amorosa.
— Eu trabalho em um dos hotéis cassino mais chiques de Lake Tahoe. Alguns homens de
lá são muito legais.
— Você me disse que os melhores são casados.
Eu não deveria ter mencionado isso.
— Por outro lado, os irmãos Cade... — Cali olhou para o outro lado do restaurante. — Eles
são mercadoria de primeira.
— Você acabou de se referir a eles como produtos?
— O que tem? Eles são gostosos.
Os Cade eram mesmo atraentes. Um em particular. Mas ele não tinha nenhum interesse
nela.
— Eles não estão interessados em mim.
Cali bateu a mão na testa.
— Jesus, Ireland. Você já se olhou no espelho?
— Já. Óculos, pele clara, cabelo ruivo. — Ireland olhou para cima como se estivesse
refletindo. — Um pouco larga na região dos quadris.
Cali balançou a cabeça.
— Isso se chama curvas, e esteja feliz por tê-las. Algumas mulheres não têm tanta sorte.
— Atração física é bem subjetiva — Ireland disse. — Na minha opinião, me encaixo em
algum lugar no meio do conceito.
— É claro que somos parentes, porque você é teimosa. Ireland, você é inteligente e linda.
Já considerou deixar alguém se aproximar agora que está longe do que rola no Vale do Silício?
Ireland pensou na festa de aniversário que foi no Club Tahoe com Cali e Jaeg. E sua
tentativa de falar com Bran.
— Já. E se você ainda estiver falando dos Cade, é um não. Pelo menos, da parte deles.
Cali estreitou os olhos.
— Então você gosta mesmo deles. De qual? Alguns não estão mais disponíveis, mas
aqueles que estão sentados aqui perto, sim.
— O Bran não está interessado. Ele me olha atravessado.
Cali franziu os lábios.
— Pelo que eu sei, Bran não namora muito. O que é vergonhoso, porque ele é uma delícia.
E quanto ao Hunt?
— O mulherengo?
— Mulherengo, saidinho... quem liga? Ele é maravilhoso, e deve ser divertido. Não há
razão para se envolver além disso. Você precisa de treino depois de seis anos na prisão
trabalhista da TI, e o Hunt é a pessoa certa para fazer esse aquecimento.
Ireland a olhou fixamente.
— Você está se referindo aos meus ovários?
Cali abriu os lábios em um “o que” silencioso.
— Encare como um treinamento. Há quanto tempo você não sai com alguém?
Um ano? Dois?
— Faz um tempo.
— É aí que eu quero chegar. Você precisa sair, assim vai ficar confortável quando o cara
certo aparecer e te fizer perder a cabeça. Você pode ser um pouco...
Ireland suspirou.
— Pode dizer. Eu sou esquisita.
— Só quando está nervosa — Cali se apressou em responder.
— Ou seja, sempre que estou perto de desconhecidos.
Sua prima contorceu os lábios.
— Leva tempo. Nem todo mundo se sente à vontade perto de estranhos.
Ou de homens bonitos, Ireland pensou.
— Se você sair com algumas pessoas sem esperar muito, vai ajudar a te acalmar.
Infelizmente, o que ela falava fazia sentido.
— Tudo bem. Já vi aonde você quer chegar. — Ela sorriu. Mas, dessa vez, não foi para
Ireland.
A jovem colocou os óculos e seguiu o olhar de Cali.
Jaeg havia entrado no restaurante, e abria caminho até elas. Ireland voltou a guardar os
óculos.
— Seu amante incrível chegou.
Um ronronado emanou do peito da prima, porque, é claro, os sentidos dela se sintonizaram
com a presença dele. Os feromônios da mulher deveriam ter disparado no momento que Jaeg
entrou.
Esses dois. Que bom que o quarto deles ficava do outro lado da casa. Ireland usava
tampões de ouvido à noite para não ouvir algo que não queria.
Jaeg chegou à mesa, se abaixou e beijou a noiva.
— Boa noite, senhoras. Como estão? — Ele se sentou ao lado de Cali e apoiou o braço
enorme no encosto da cadeira. O tempo todo, a prima sorria para Jaeg como se não o visse há
semanas.
Cali via o noivo com mais frequência que muitos casais, já que Jaeg tinha uma marcenaria
no terreno da casa deles. Seria de se pensar que a paixão já teria esfriado a essa altura, mas não,
eles ainda disparavam alarmes de incêndio apenas com o olhar.
O que parecia legal. Ireland não estava com inveja. Nem um pouco.
Tudo bem, ela estava morta de inveja.
Nunca saiu com ninguém com quem tivesse esse tipo de química. Estava feliz pela prima,
mas estaria mentindo se dissesse que não queria algo parecido. E era por isso que estava
cogitando sair com Hunt, mesmo ele sendo mulherengo. E mesmo sendo Bran, o irmão dele,
quem chamava sua atenção. Cali estava certa, ela precisava de treino para namorar, e seu Cade
preferido não estava interessado nela.
Há muito tempo, aprendeu que não valia a pena se relacionar com um homem que não
estivesse muito interessado nela.
— Tem certeza de que o Hunt sairia comigo? — Ireland perguntou. — Eu não vou me
arriscar se não for o caso.
Cali saiu da névoa induzida por Jaeg, e olhou para Ireland.
— O Hunt não é assim. Ele parece gostar da companhia das mulheres... de todas. Além do
mais, aquele homem não precisa se esforçar para conseguir uma transa. Mulheres se oferecem
para ele o tempo todo. Sair com você seria uma limpeza de paladar.
Jaeg mastigou um pedaço de pizza, limpou a boca e descansou o antebraço na mesa.
— Você está interessada no Hunt?
— Não exatamente — Ireland disse.
— Ireland só precisa... — Cali arrastou os dedos pelo braço do noivo, o apertou e acariciou
antebraço musculoso.
— Cali — Ireland falou, ríspida.
— Tudo bem. — Ela tirou a mão de cima do noivo. — Como eu estava dizendo... — Ela
fez uma pausa e olhou para Jaeg como se não tivesse acabado de apalpar os músculos dele. — A
Ireland só precisa sair com alguém uma ou duas vezes para quebrar o gelo. Ela ficou presa por
tempo demais com aqueles nerds jogadores de videogame que não têm nenhum traquejo social.
Ireland ergueu o dedo.
— Eu também jogo videogame. E o meu traquejo social é tão ruim quanto o deles.
— Exatamente — Cali respondeu. — É como um cego guiando o outro. E, no seu caso,
quero dizer que é literalmente.
Verdade. Ireland não enxergava nada sem os óculos. Mas ela estava tentando mudar a
imagem de nerd. E não estava mentindo sobre as lentes de contato. Elas incomodaram demais.
Até conseguir outras, ou ter coragem de encarar a cirurgia, estaria tão cega como um morcego.
— Se quiser sair com o Hunt, posso arranjar alguma coisa — Jaeg disse, depois tomou um
gole da cerveja de Cali e olhou para outro pedaço de pizza. Ao que parecia, apetites enormes
andavam de mãos dadas com homens gigantes, porque Jaeg sempre estava comendo. Ireland e
Cali poderiam se jogar de cabeça na comida, mas o apetite de Jaeg fazia o delas parecer pequeno.
— Não — Ireland balançou a cabeça. — Seria constrangedor.
— Não vai precisar de muito — Cali disse e olhou para Jaeg. — Não é?
— Não — Jaeg respondeu. — Não vou deixar muito óbvio. Vou dizer a ele que queremos
te mostrar Tahoe. Ver se ele pode sugerir algo divertido.
Ireland dobrou o guardanapo que estava rasgando.
— Se for assim, tudo bem.
— Viu? — Cali disse, e apertou a mão dela. — Vai ser tranquilo. O Hunt é um cara legal.

***

— Quando foi a última vez que você transou? — Hunt perguntou.


Os irmãos sempre perturbavam Bran por causa de sua vida pessoal, e o assunto já estava
cansando.
Ele ajustou o boné, conseguindo ver pouco da pizzaria lotada.
— Eu não preciso transar. Estou bem sozinho.
Hunt bufou.
— Muito bem. O destino dos nossos pais não te ensinou nada? A vida é curta demais.
Você precisa vivê-la ao máximo enquanto pode.
Bran, Hunt e os outros três irmãos perderam a mãe ainda crianças. Hunt era um bebê na
época. Depois que o pai faleceu de câncer, só restavam os cinco. Nada de tias nem de tios a
quem recorrer, já que o pai havia cortado os laços com o resto da família depois que a mãe deles
se foi.
Bran olhou para Hunt.
— Não quero me divertir como você.
— E o que isso deveria significar?
Bran inclinou a cabeça para trás e olhou para o teto.
— Vejamos... primeiro, teve a namorada do Levi. — Quando tinha dezoito anos, Hunt se
envolveu com a namorada do irmão mais velho. Foi um pesadelo.
Hunt se remexeu na cadeira.
— Isso foi há muito tempo, e o Levi já me perdoou.
— Porque ele se apaixonou pela Emily.
— Exatamente.
Bran balançou a cabeça. Emily fez Levi, o irmão mais velho, tomar juízo, amansou a fera e
o fez perceber o quanto a família era importante. Ela ajudou a aparar as arestas entre Levi e
Hunt. Ainda assim...
— Também tem o fato de que você dorme com qualquer coisa que tenha duas pernas.
Hunt franziu os lábios.
— Isso já é exagero. Eu tenho padrões.
Bran arqueou uma sobrancelha.
— É claro, não os mesmos que você, mas você não faz nada há anos. Estamos curiosos
quanto aos seus padrões, já que eles te impedem de se aproximar do sexo oposto.
Bran não pediu a opinião do irmão, mas não fazia diferença. Ele estava sempre recebendo
feedback, quisesse ou não.
Não era tanto o fato de Bran ter padrões que governavam a sua vida, mas o fato de avaliar
cuidadosamente as próprias ações antes de fazer alguma idiotice.
Como a que fez na época do ensino médio.
E que mudou a sua forma de ver o mundo.
Mas Bran não perderia a oportunidade de fazer Hunt sofrer.
— Meus padrões são simples. Escolho a discrição em vez de chamar atenção.
Hunt apontou para Bran.
— Aí é que mora o problema. Não há nada errado em chamar atenção. É divertido. Você
sabe o que é isso, mano? Diversão? Acho que eu me lembro de uma época em que você sabia o
que era, mas já faz tanto tempo que a minha memória está confusa.
Fazia tempo que Bran não se soltava. Porque, no seu manual, isso equivalia a problema. O
passado era prova de que seu bom senso era uma porcaria, então escolheu ignorar a diversão.
— Aonde você quer chegar?
— Você não acha que está na hora de se soltar um pouco? — Hunt mexeu os ombros como
um boxeador se preparando para lutar. — Não quero te chamar de nervosinho, mas...
Bran revirou os olhos então esquadrinhou o restaurante, procurando a garçonete. Onde a
cerveja dele foi parar?
Wes, outro irmão Cade, bloqueou a sua visão quando puxou a cadeira.
— Não posso demorar. A Kaylee está exausta, e eu tenho que assumir os cuidados da bebê
para que ela possa descansar um pouco. O que eu perdi? Ouvi vocês falarem de diversão.
Adam, o outro irmão, apareceu logo em seguida, olhando afoito de Wes para Bran.
— O Bran está se divertindo? — Adam fez sinal para a garçonete com o pulso coberto por
uma peça Armani.
O homem trabalhava de terno todo dia, e não se importava. O mesmo não podia ser dito de
Bran e dos outros, que preferiam roupas simples.
— Não, e é esse o problema — Hunt respondeu, e esticou o pescoço. — Onde está o Levi?
Eles olharam para a entrada do restaurante bem no momento em que o irmão mais velho
chegava com a namorada, Emily. Ela também trabalhava no Club Tahoe.
Perfeito. Estavam todos aqui e a postos para encher a paciência de Bran. Levi e Emily se
sentaram de frente para ele.
— Não podemos demorar — Levi disse.
— Epidemia da noite — Hunt resmungou. — Nenhum de vocês é divertido. Me lembrem
de não sossegar com alguém, pois vocês ficaram chatos.
Levi olhou feio para Hunt.
— Não tem nada a ver com sossegar, embora te faria bem trabalhar mais e brincar menos.
Alguns de nós estamos tentando manter o resort funcionando para fazer do lugar uma fonte de
emprego para a comunidade. Ah, e nós amadurecemos com a idade. Mas acho que você não sabe
o que é isso.
Levi e Hunt podem ter reconstruído as pontes queimadas, mas algumas coisas nunca
mudavam. Eles ainda irritavam um ao outro.
— Trabalhar mais? — Hunt perguntou, ignorando o comentário de Levi sobre crescer. —
Trabalho no clube em tempo integral, assim como você. Mas quando não estou trabalhando, eu
brinco. Porque sei como me divertir, ao contrário de vocês, otários.
Levi balançou a cabeça e olhou para Bran.
— Ele é uma causa perdida. E você? O novo sistema de pedidos está funcionando bem?
Em um esforço para angariar mais clientes na competitiva comunidade dos resorts, ele
convenceu Levi a investir uma quantia absurda em novas tecnologias para os restaurantes. Bran
estava encarregado dos quatro restaurantes do Club Tahoe, e estimava que poderiam atender uma
quantidade significativamente maior de pedidos com o novo equipamento. Só que a equipe
estava demorando a aprender a usar o sistema.
— Em grande parte — Bran respondeu. — Os funcionários ainda estão em treinamento.
— E o suporte técnico da empresa? Está ajudando?
— Sim, mas eu tenho mais de sessenta funcionários em período integral e meio período
para gerenciar. É um processo longo deixar todo mundo pronto.
— Entendi. — Levi olhou para Emily, a mão descansando possessivamente na perna dela.
— Você deu uma olhada no sistema?
Os olhos de Emily se iluminaram.
— É claro que sim. Você sabe o quanto eu amo o meu tablet. E os tablets de mesa dos
restaurantes são mais sofisticados que o meu, têm muitos recursos para entreter os hóspedes. Já
tivemos um aumento de receita por parte dos afiliados com o aplicativo de bingo que instalamos.
A garçonete entregou a cerveja para Levi, e ele tomou um gole.
— Ótimo, Bran. Contanto que nada dê errado, não vejo como isso pode prejudicar o clube.
Bran esfregou a mandíbula. A tecnologia indicava que seria um sucesso, mas estava tendo
dificuldade para confiar em seus instintos, e o investimento foi baseado apenas nisso. Se desse
errado, a culpa seria dele.
— Olha só quem está aqui — Hunt falou, sorrindo e se levantou para apertar a mão de
Jaeg.
O amigo se juntou a ele e aos irmãos, e o pescoço de Bran formigou. Se o homem estava
no restaurante...
Bran olhou ao redor. E viu a noiva de Jaeg.
Com a prima dela, Ireland.
Droga.
Jaeg e Bran conversaram sobre as encomendas de peças de arte que ele foi contratado para
fazer para a churrascaria, e combinaram de Bran ir dar uma olhada.
Jaeg fez um gesto para Hunt.
— Algum plano para os próximos dias?
— Nada de mais. Alguma sugestão?
— A Cali quer mostrar Lake Tahoe para a prima. Se você for sair nos próximos dias, nos
avise. Gostaríamos de ir com você.
Hunt olhou feio para Bran e os outros irmãos.
— É disso que eu estou falando. Jaeg e Cali sabem como se divertir.
E Ireland, Bran pensou.
O irmão mais novo cheio de tesão seria o quarto elemento, o que evitaria que Ireland
segurasse vela para Cali e Jaeg.
Bran cerrou a mandíbula. Não gostou de pensar em Ireland com outros caras,
especialmente com seu irmão. O fato de ter ficado aborrecido o deixou ainda mais irritado.
DOIS
IRELAND TOMOU UM gole do café, e Cali entrou na cozinha enorme com seu roupão
fofinho cheio de cães salsichas estampando o tecido. Ela também estava segundo Buddy, seu
cãozinho da mesma raça, o que deixava a situação muito engraçada.
— Bom dia. — Cali espirrou e pegou um lenço de papel amassado no bolso. Buddy
lambeu a sua bochecha. O nariz dela estava muito vermelho, e o rosto estranhamente pálido.
— Você está bem? — Ireland perguntou.
— Estou. Só um pouco doente.
— Bastante doente! — Jaeg gritou do quarto.
Cali olhou para trás e fez careta.
— Mas eu ainda posso ir hoje — ela disse a Ireland. — Então não precisa se preocupar.
Um gemido agitado veio do corredor.
Ireland olhou para o lugar de onde Jaeg surgiu, parecendo descontente.
— Se você não estiver se sentindo bem — ela falou para Cali —, podemos cancelar. Tenho
certeza de que o Hunt vai entender.
Hunt acabou se juntando a eles na pizzaria na outra noite, depois que Jaeg foi
cumprimentá-los. Os irmãos foram embora, mas ele ficou e conversou enquanto Ireland, Cali e
Jaeg terminavam a cerveja. O Cade mais novo os convidou para o passeio de barco regado à
bebida que ele organizava toda semana para o clube, e que estava previsto para sair hoje.
— Não! — Cali disse, a voz saindo rouca. — Eu consigo.
Jaeg colocou as mãos no quadril.
— Cali.
Ela olhou para trás.
— O quê? Eu prometi para a Ireland.
— Se for por minha causa — Ireland falou —, não tem problema cancelarmos — Ela
vestiria meias felpudas, calça de moletom e elas assistiriam suas séries preferidas na Netflix. De
preferência, alguma com vikings gostosos e suados.
Cali franziu a testa.
— Você finalmente arranjou um encontro... — O rosto de Ireland esquentou.
— Não é um encontro!
— E vai cancelar? — A expressão de Cali era quase de dor.
Ireland era patética a esse ponto? Sim, com certeza.
Desde que chegou, passou todos os finais de semana em casa – a menos que Cali e Jaeg a
arrastassem para algum lugar – e lá estava ela, prestes a perder a oportunidade de sair.
Ireland apoiou o cotovelo na mesa de jantar e o queixo na mão.
— Acho que consigo ir.
O rosto de Cali se iluminou, e ela entregou Buddy para Jaeg, que enfiou o cãozinho
debaixo do braço como se ele fosse uma bola de futebol americano e foi para a geladeira se
servir de suco de laranja.
Ele o entregou a Cali.
— Beba, doentinha.
Cali tomou o suco e se sentou ao lado de Ireland.
— É perfeito. Haverá outras pessoas no passeio e, sem mim lá, você será forçada a
socializar. Além do mais, vai poder passar um tempo com o Hunt, o irmão divertido. — Ela deu
uma piscadinha, e Cali se encolheu.
Não que Ireland não gostasse de socializar ou de Hunt, só estava com medo de agir de
forma estranha perto das pessoas. Mas a prima estava certa.
Ireland se mudou para Lake Tahoe para construir uma vida melhor.
— Eu vou e eu vou ficar bem. Fique em casa e descanse.
Jaeg articulou um obrigado silencioso sem que a noiva visse.

***

Ireland passou pela área da piscina do Club Tahoe e foi até a praia. Olhou na direção do
cais e colocou os óculos. Um barco restaurado estava ancorado lá. Era uma embarcação elegante,
um terço era coberto por belos painéis de madeira.
Tudo no Club Tahoe era elegante. Ethan Cade, o patriarca, não havia poupado despesas
quando projetou e construiu o lugar.
Ireland olhou para o que usava, preocupada que estivesse malvestida. Estava de bermuda
branca e uma camisa jeans por cima do biquíni cor de lavanda. As palavras passeio de barco
regado à bebida não eram sinônimo de elegância, mas esse barco, com certeza, era.
De início, abotoou a blusa até o pescoço, mas antes de conseguir atravessar a porta, Cali
abriu os botões até a metade e colocou a frente da camisa para dentro da bermuda, destacando
sua cintura. Na opinião de Ireland, o decote era exagerado. Mas quando tentou voltar a abotoar a
peça, a prima afastou sua mão com um tapa.
Por fim, concluiu que estaria mostrando muito mais com o biquíni, então que diferença
faria?
Bloqueou o sol com a mão e esquadrinhou o barco uma última vez antes de guardar os
óculos na bolsa. Ninguém estava no espaço ao ar livre, mas havia um homem de pé na parte
coberta. Ele estava curvado e vasculhando algo lá embaixo.
Tinha que ser o Hunt.
Ireland arrumou a bolsa de praia enorme no ombro. O passeio exigia reforços. Ela era
ruiva, então veio equipada com protetores solares de cinco fatores de proteção diferentes e um
chapéu gigante.
Mordeu o lábio. Ser a primeira a chegar não era divertido. Hunt parecia ser legal, mas
nunca ficou sozinha com ele. E se não tivessem assunto?
Percorreu o caminho bem devagar, esperando que as outras pessoas que iriam ao cruzeiro
aparecessem logo.
Mas a sorte não estava ao seu lado. E já não era comum? Ainda era a única pessoa quando
chegou perto do barco. E agora, estava parada ali feito uma boba.
Ela endireitou os ombros.
— Olá?
Hunt encarou a água, um boné cobria o seu rosto. Ele se virou ao ouvir a sua voz.
E não era o Hunt.
Droga.
Mesmo sem os óculos, Ireland reconheceu aquela boca. A forma dos ombros largos, o
queixo anguloso. O que o Bran estava fazendo ali?
— Por que você está aqui? — ele perguntou, dando voz a seus pensamentos e fazendo-a se
sentir como se fosse a esquisita.
Apesar da brusquidão da voz, o olhar de Bran percorreu seu corpo, graças à manipulação
cuidadosa que Cali fez de suas roupas.
Ireland suspirou. Não sabia o que tinha feito para merecer a raiva daquele homem, mas sua
reação típica em um confronto era retribuir com bondade.
— O Hunt disse que havia lugar no passeio de hoje — ela disse, animada. — Cali e eu
compramos os ingressos, mas ela ficou doente... — Ela olhou ao redor. — Onde ele está?
Os ombros de Bran enrijeceram, e ele se abaixou e colocou a mão em um enorme cooler de
madeira.
— Não veio. Disse que estava doente.
Cali estava doente, e agora o Hunt?
— Que... horrível. — Ireland fez careta. Era ruim de verdade. O Hunt era o irmão legal. —
Deve ser alguma virose.
Bran olhou para ela de forma antipática.
— Você acha?
Ela estreitou os olhos. Todo mundo a considerava meiga, mas Bran estava testando a sua
força de vontade para se esquivar de babaquices. Como sobreviveria a esse passeio com ele no
comando? O homem a odiava.
Não importava o que acontecesse, não poderia escapar. Cali a mataria se ela desistisse.
Ireland posicionou as mãos e os pés de forma estratégica para conseguir se equilibrar assim
que chegou a bordo, e a embarcação se moveu. As outras pessoas chegariam em breve. Tudo
ficaria bem.
Bran preparou o barco e, depois de alguns minutos, Ireland olhou para a areia, procurando
pelos retardatários.
— O passeio não sai às duas?
Bran se levantou e passou a mão pelo rosto. Ele olhou para a água.
— O grupo de seis cancelou.
O quê?
— Como? — ela disse baixinho, com a voz trêmula. Seria a única no passeio? Com o
Bran? Sozinha?
Não. Não, não, não.
— Sinta-se livre para cancelar. — Ele abriu um sorriso presunçoso, como se tivesse lido
seus pensamentos. — Vai ser um prazer te reembolsar. Não é como se eu não tivesse coisas mais
úteis para fazer, já que cuido de quatro restaurantes.
— Claro, eu... — Espere, ela não poderia cancelar a única coisa que prometeu para a prima
que faria sozinha em Lake Tahoe. Cali brigaria com ela até cansar. Além do mais, por alguma
razão – provavelmente a atitude babaca que ele estava tendo - ela não estava muito interessada
em dar a Bran o que ele queria.
Ireland podia não se sentir à vontade com confrontos, mas também estava cansada de
homens dizendo a ela o que fazer.
— Não tem problema. Estou bem.
Ela se acomodou no banco de couro branco e colocou o chapéu. Espiou Bran por debaixo
da aba larga.
Ele enrijeceu a mandíbula.
— Fique à vontade. Não posso dizer que serei muito conversador.
— E alguma vez você foi? — ela resmungou. Ele estreitou os olhos.
Não se importou por ele ter ouvido.
— Por que só você e Hunt pode ficar responsáveis pelo passeio?
Bran dobrou as mangas longas da camisa. O tempo estava quente naquela manhã para os
padrões de Tahoe e, agora, no meio do dia, estava fazendo 26 graus.
— Levi tem diretrizes rígidas quanto a quem pode conduzir os barcos. Quer apenas
condutores treinados em salvatagem e reanimação cardiopulmonar. Não tivemos tempo para
treinar outras pessoas. Não posso culpá-lo. Com a quantidade de idiotas no lago no verão, é
melhor garantir. — Ele puxou a corda presa ao cais e disse: — Estarei de volta antes do horário
de pico no jantar, e é o que importa.
Então não era nada de mais para ele ficar a cargo do passeio. Ele só estava sendo difícil.
Que ótimo.
Ireland encarou o cooler.
— As cervejas são para mim?
Bran estalou o pescoço e olhou para ela.
— Não todas. Não estou a fim de carregar mulheres bêbadas até a praia.
Ela revirou os olhos.
— Eu tenho um e setenta de altura e peso sessenta e cinco quilos. Aguento beber.
Ele examinou o seu corpo como se ela tivesse dito algo que tenha despertado seu interesse,
sem admitir que não havia nada tamanho trinta e seis no seu guarda-roupa. Não estava acima do
peso devido à altura, mas também não era esbelta.
Ireland se remexeu, porque Bran ainda estava encarando. E pensou que ele nem tinha se
dado conta.
— Então, qual é a programação para hoje? — Ele finalmente olhou para cima e entregou a
ela uma cerveja que pegou no cooler. Notou que ele não pegou uma para si.
— Não há programação. Nós saímos. Você toma uma ou duas cervejas. E voltamos.
O tom mandão quando ele falou da quantidade de bebida que ela consumiria não passou
despercebido, como se ele pudesse ditar o que ela faria. Ela não gostou. Nem um pouco. Era um
passeio regado à bebida, pelo amor de Deus. Qual era o problema desse sujeito?
Aquilo seria tão divertido quanto um encontro duplo com um irmão mais velho. Bem, Bran
teria que se conformar, porque ela beberia quanto quisesse.
Ireland levou a cerveja à boca e tomou um gole grande. Ela e Cali tinham planejado ir de
Uber para casa. Manteria o plano e se divertiria, porque Deus sabe que ela precisaria de uma ou
duas cervejas para sobreviver à companhia.
Bran andou por ali, preparando as coisas para zarparem, e Ireland aplicou protetor solar
suficiente para cobrir a pele pálida. Ela observou Bran pelo canto do olho.
Tudo bem, ela o comeu com os olhos. Tirando a atitude ruim, o homem estava muito
gostoso, cuidando das tarefas do barco como um profissional. Com as mangas dobradas, os
braços bonitos à mostra e a bermuda exibindo as panturrilhas musculosas, o que havia ali para
não gostar?
Os músculos dos ombros e das costas flexionaram enquanto ele movia as coisas pelo barco
e guardava as cordas em compartimentos escondidos.
Ele olhou para trás.
— Pronta?
Ireland olhou para o rosto dele, e se afastaram da flexão do seu traseiro.
— Estarei pronta quando você estiver.
Bran foi para a área coberta do velho barco de madeira e o motor rugiu. Ireland olhou para
o lado e observou a água clara fazer espuma ao sair da hélice do barco.
Ela tirou os chinelos, colocou os pés no banco e se esticou. Podia muito bem ficar
confortável. Inclinou a cabeça para olhar para o céu azul.
Talvez o passeio acabasse bem. O que poderia dar errado quando se estava passeando por
um lago bonito com uma cerveja na mão?
Ao que parecia, muita coisa.
TRÊS
DE TODAS AS pessoas do mundo, Bran estava preso logo com Ireland.
Tudo culpa de Hunt. Ele o estava importunando sobre sair com alguém, e agora isso? Não
sabia como o irmão conseguiu essa proeza, mas, de alguma forma, ele manipulou a situação para
que Bran fosse sozinho naquele passeio com Ireland.
Bran estava encarregado de quatro restaurantes. Precisou de evidência física da dita
doença antes de comprometer duas horas de sua vida ajudando o irmão mais novo. Então fez o
que qualquer pessoa faria: foi até a casa de Hunt para ter certeza de que o idiota estava mesmo
doente. Mas quando o irmão abriu a porta, com o nariz muito vermelho, os olhos lacrimejando e
o rosto pálido, soube que ele não estava mentindo. O que não aplacou sua frustração.
Particularmente depois que viu Ireland se aproximando do barco.
Droga.
Já tinha visto Ireland vestida com roupas bonitas e os seios grandes chamaram sua atenção.
Sempre se apegou à regra de não sair com mulheres sensuais demais devido à sua fraqueza no
que dizia respeito a elas. Mas Ireland não estava tentando ser sensual, ela simplesmente era. O
biquini espreitava através da blusa de botões. E a mulher estava acabando com ele.
Durante os últimos trinta minutos, havia conseguido mantê-la distraída ao conduzir o barco
pelas áreas mais bonitas do lago, indo devagar para que ela pudesse ver tudo. Desde que
permanecessem longe um do outro, as coisas ficariam bem. Mas para desempenhar bem seu
trabalho, teria que parar em Emerald Bay e oferecer lanches, bebida e a oportunidade para ela dar
um mergulho.
O que significava tirar suas roupas e expor mais pele do que ele precisava ver.
Bran demorou o máximo que pôde para chegar em Emerald Bay e, por fim, reduziu a
velocidade em um local intocado perto da ilha.
Desligou o motor e agarrou o leme até as juntas ficarem brancas.
— Tudo bem? — Ireland perguntou.
Bran afrouxou os dedos e se endireitou.
— Pensei que talvez você fosse querer comer alguma coisa e dar um mergulho.
— Ah. — A voz dela estava mais perto agora.
Ele olhou para trás e viu Ireland se abaixar ao passar pela abertura que levava à cabine.
— Eu gostaria de alguma coisa. — Ela ergueu a cerveja vazia. — E aceito mais uma dessa.
Ela avançou ao mesmo tempo que Bran foi em direção ao cooler, o que os deixou muito
próximos. Mas o que realmente o pegou foi a onda enorme que atingiu o barco.
Bran levou a mão ao teto para se equilibrar. Ireland, por sua vez, se segurou nele.
Ela pressionou o corpo exuberante ao dele enquanto lutava para se equilibrar. Bran ele
rangeu os dentes.
Onda idiota.
Qualquer um poderia ter se desequilibrado com uma pancada daquelas, mas ela levou as
coisas longe demais. Longe demais mesmo, se ele quisesse ter qualquer esperança de manter o
controle. O rosto dela estava praticamente pressionado no seu pescoço.
— Com licença?
Ireland se afastou e agarrou outro assento, resistindo às ondas menores que vieram depois.
— Desculpe.
Bran foi até o cooler e pegou uma cerveja para ela. Dane-se. Pegou uma para ele também.
Os irmãos o matariam por beber e conduzir o barco. Aquela regra foi incutida na cabeça deles
desde que eram adolescentes. Mas se havia um momento em que já precisou de uma cerveja, era
aquele.
Abriu a primeira garrafa e a entregou a ela.
— Dê um mergulho. Você parece estar precisando se refrescar.
— O que isso quer dizer?
Ele deu de ombros.
— Você parece estar com um pouco de calor e incomodada. — Bran abriu a própria
cerveja e tomou um gole enorme. Na verdade, ele estava com calor e incomodado.
— O quê? Você-você... — Ela soltou um suspiro impaciente, puxou o ar pelo nariz e
fechou os olhos. — Você está sugerindo que te agarrei de propósito?
— E não foi?
Ela corou.
— Eu perdi o equilíbrio! Por que você age assim comigo?
— Você está confundindo meu jeito com uma preocupação com você.
Ele passou por ela, indo em direção ao motor de popa. Precisava tomar um ar e se afastar.
Ainda podia sentir o corpo dela no seu, o que estava agitando coisas que precisavam permanecer
trancadas.
Ouviu a mulher pisar duro atrás dele, com os pés descalços. Pés bonitos, com as unhas
pintadas de vermelho. Não que tenha notado.
Caramba. Ele tinha notado. Ela tinha pés bonitos.
Mais cedo, ela disse o peso e a altura como se fosse algo ruim. O que a mulher não sabia
era que sem as regras sob as quais ele vivia, ela seria seu tipo ideal.
Ele podia lidar com mulheres bonitas. Mas lindas e sensuais? Não. Não ia funcionar.
— Você-você... — Ela respirou fundo mais uma vez, e ele olhou para trás.
— Você é gaga ou algo assim?
Ela pareceu magoada e, dessa vez, ele ficou com vergonha. A expressão dela disse que ele
atingiu um ponto fraco.
— Sim, seu i-idiota. Eu gaguejo quando estou estressada. Ou irritada. — Ela fez careta e
cruzou os braços, em seguida pareceu se lembrar da cerveja que segurava. Ela virou a bebida e
lançou outro olhar feio para ele. Bran ergueu uma sobrancelha. Ela queria ficar bêbada? Por ele,
tudo bem. Ireland poderia ir para a areia sozinha, assim que ele a tirasse do barco. Não era como
se ela fosse uma cliente do resort. Não precisava oferecer tratamento especial.
Normalmente, não tiraria a camisa diante de alguém como ela. Não queria passar a
impressão errada para mulher nenhuma. Mas, a essa altura, não havia como ela partir para cima
dele de novo. Bran a havia irritado de verdade. Não teve a intenção de zombar da gagueira, mas
pelo menos, ela não tentaria mais seduzi-lo.
Certo de que não haveria mais tentações, tirou a camisa para se refrescar.
Ele afundou no assento em frente ao que Ireland ocupava, puxou a aba do boné para baixo
e fechou os olhos. Podia descansar os olhos enquanto ela comia e bebia.
Ouviu um barulho vindo do lado que ela estava, mas ignorou.
Depois, ouviu sons de longos goles, e supôs que ela estava bebendo o resto da cerveja.
Então ouviu o baque da garrafa no que Bran supôs ser uma das mesinhas embutidas. Ele se
absteve de esboçar qualquer reação. Logo, Ireland sossegaria, e ele poderia tirar um cochilo até a
hora de ir embora.
E então finalmente se livraria dessa pequena aventura.
O barco se inclinou ligeiramente, e um esguicho alto o assustou.
— Eee!
Bran tirou o boné e se sentou.
O que eee queria dizer?
— O que você está fazendo?
Ele não conseguia vê-la, e ela não respondeu. Ah, caramba.
Ele se levantou e olhou ao redor... e teve a visão mais linda da sua vida.
Ireland boiava, o corpo bem torneado balançando levemente na água azul-escura, o longo
cabelo ruivo espalhado ao redor.
Mas os olhos dela estavam fechados e os dentes batiam. A pele parecia mais pálida que o
normal.
Sem pensar, Bran tirou os chinelos e mergulhou. Emergiu e balançou a cabeça, limpando a
água dos olhos.
Ireland o encarava. Não estava mais boiando, mas ainda batendo os dentes.
— O-o que você está... fazendo? — Dessa vez, o gaguejar parecia ser causado pelo
movimento da boca.
— Me certificando de que você está bem. — Os lábios dela estavam ficando azuis.
Bran e os irmãos estavam acostumados com a temperatura fria do lago, mas eles foram
criados ali.
— Agora você se importa?
— Na verdade, não, mas sou responsável por levar seu corpo vivo de volta.
— Idiota!
— Você vai ter que pensar em outro adjetivo para usar comigo. Esse já está ficando batido.
— Arrogante, mal-educado, babaca, boneleiro...
— “Boneleiro?” Você está tentando me insultar ou descrever o que estou usando? Porque,
devo dizer, essa não chegou nem perto de me incomodar.
Ela avançou com a mão e espirrou um monte de água no rosto dele.
Ele secou os olhos.
— É assim que vai ser?
— Você tem sido cruel comigo desde o início, seu babaca estúpido!
— Ah, espera, eu gostei desse. Me faz sentir em casa, já que é do que os meus irmãos me
chamam.
Ela respirou fundo.
— Você está me comparando aos seus irmãos? Eu posso ser alta e esquisita, mas não sou
um homem!
Um o quê?
Aquilo foi um erro. Não a reação dela, mas a dele. Bran poderia ter resolvido tudo naquele
momento explicado o que quis dizer. Que os irmãos o chamavam de babaca o tempo todo, por
isso a familiaridade afetuosa. Mas não foi o que fez. Não, teria sido fácil demais.
E seguro.
Ele poderia lidar com um corpo voluptuoso de biquini, ou pressionado no seu depois de ela
ter caído em cima dele. Mas a moça bonita começou a mastigá-lo feito uma fera atrevida, e seu
controle chegou ao limite.
Caramba, o fogo interior de Ireland combinava com o cabelo dela. Bran a pegou pela
cintura e a puxou para si. A boca pousou na da mulher no momento que os corpos dos dois se
fundiram.
Ereção instantânea. Insanidade instantânea.
Ele tinha perdido o juízo. E o maldito controle que não o o abandonava desde...
Desde que cometeu um erro anos atrás.
Bran se afastou um pouco. Os lábios mal tocando os dela, e disse:
— É isso que você quer? — Ele deveria ter parado e nadado para longe, mas estava com o
corpo dela pressionado no seu, e não conseguiu reunir forças. A menos que ela dissesse não.
Então ele pararia. Doeria, mas pararia. Só que ela não o estava afastando.
Os olhos verdes estavam semiabertos. Caramba, a mulher era linda. A mais linda que ele já
viu.
Beijou-a de novo. Mas, dessa vez, a punição era para ele, porque ela era suave, tinha um
gosto bom e parecia que ele não conseguia parar. E ela ainda não tinha dito não.
Ireland passou a mão pelo cabelo dele, e Bran a puxou para mais perto.
Ele a segurou pela nuca e acariciou a língua dela com a sua, a outra mão descendo,
apertando o traseiro de Ireland.
Ela gemeu.
O som de prazer que ela emitiu deveria tê-lo arrancado daquela insanidade. Droga, a perda
total de controle deveria ter feito Bran recuperar o juízo. Mas o sabor dela era incrível. O corpo,
ainda melhor. E ele já havia concluído que tinha perdido a cabeça.
Ele deve ter ficado afoito demais para apertar o traseiro dela e acabou puxando-a para mais
perto, porque a ereção estava pressionada na barriga da moça. Foi quando a ela enrijeceu.
Ireland o empurrou.
— Qual é o seu problema?
— Desculpe... — Por esfregar a minha ereção na sua pele macia? Por estar louco para
entrar em você?
Caramba.
— Você me beijou. — Ela virou de costas e nadou em direção ao barco.
Foi aquilo que a incomodou? O beijo foi a coisa mais inocente que ele tinha feito nos
últimos sessenta segundos. A língua dentro de sua boca, com certeza, foi a coisa mais pura que
se passou na mente de Bran.
Ela ajustou a alça do biquini e segurou a escada.
— Você age como um super babaca comigo — ela resmungou ao subir. — Você é mal-
educado. Me trata mal na frente dos seus irmãos e dos meus amigos... e me beija quando não tem
ninguém por perto. Ah, mas só depois de me insultar.
Ela tinha razão.
Ele nadou até a escada e não olhou para cima quando ela saiu da água e entrou no barco.
Tudo bem. Ele olhou. Bastante.
Bran fechou os olhos com força, depois subiu e pegou a camisa.
— Vou te levar de volta.
Ela agarrou a toalha e se enrolou na peça, sem olhar para ele.
O escudo que Ireland estava erguendo era exatamente do que ele precisava para essa crise,
porque era uma crise. Passou tempo demais com ela naquele dia. Proximidade demais... tudo por
causa do cretino do Hunt e do seu resfriado.
Bran nunca perdeu o controle. Anos atrás, havia construído uma fortaleza mental contra
mulheres que o tentavam. Era um cara tranquilo agora. Ele treinou para ser assim.
Ireland era diferente. Era uma mulher crescida, e inteligente ainda por cima. Mas Bran
estava tão acostumado a se disciplinar que mesmo o corpo não querendo dar ouvidos, o cérebro
teimoso não permitiria que as coisas saíssem do controle.
Não foi o que aconteceu hoje. Ireland foi a primeira mulher em uma década que o fez
perder completamente a cabeça.
Não deixaria acontecer de novo. Tomaria precauções. Quais, ele não sabia, mas descobriria
e as reforçaria com empenho.
Ele remexeu no cooler customizado que o barco ostentava, e pegou alguns biscoitos com
queijo que o restaurante preparou. Também pegou mais uma cerveja.
Não estava acostumado a estar perto de mulheres impetuosas. A maior parte o deixaria
assumir o controle da situação, estabelecer o ritmo. Então o que deveria fazer agora?
Palavras gentis talvez aliviassem as coisas, mas estava enferrujado, então não ajudaria em
nada. Preparar a comida como uma oferta de paz era outra opção. Ainda mais porque estar preso
em um barco não permitiria que ele fugisse para o lado oposto.
Seria comida e cerveja.
Ireland fulminou a bandeja que ele entregou. Ele mereceu aquele olhar.
Mas ela pegou os petiscos e comeu em silêncio enquanto ele preparava o barco para voltar
ao clube.
Bran se acomodou no assento do condutor; o aperto em seu peito o deixou incomodado pra
caramba. Deu batidinhas no local e pigarreou.
Tudo ficaria bem. Ele deixaria Ireland no cais, pediria desculpa - pelo beijo, e não por
tocá-la - e depois ficaria bem longe da mulher. Para sempre.
QUATRO
ELE... ARGH! BRAN era um horror, um horror absoluto!
Ireland estava com tanta raiva que nem podia ver direito, o que significava que ela não
podia enxergar nada, pois os óculos ainda estavam na bolsa. Esfregou os olhos para limpar a
sensação vítrea que se formou devido à pura irritação que sentiu com o homem, e colocou um
biscoito com queijo na boca enquanto Bran os levava de volta para o Club Tahoe.
Ele foi um grande babaca com ela, e depois a beijou. E não foi um beijo qualquer. Foi o
tipo de beijo que fazia o estômago de uma mulher despencar, e a calcinha do biquini desejar
seguir na mesma direção.
Bran nunca demostrou qualquer interesse por ela. E agora deu o que ela considerou o beijo
mais gostoso da sua vida?
Ireland queria estrangular o sujeito.
Não, simplesmente não. Estava cansada de homens babacas. Como ela se envolvia nessas
situações?
Aquela droga de onda. Eles estavam indo bem antes daquela porcaria atingir o barco e
atirá-la para cima de Bran.
O homem era alto e tinha o porte de uma muralha de tijolos bem teimosa. Tentou se
desvencilhar dele, mas havia músculos e braços fortes, e ela pode ter demorado mais do que
deveria. E o que ele fez?
Bran a insultou. Zombou dela. E quando finalmente conseguiu um momento de paz,
mesmo sendo na água congelante do lago, ele mergulhou e arrematou os insultos com um beijo
de abalar as estruturas.
Bran. Era. Um. Demônio.
Ireland vestiu a camisa por cima da roupa de banho e colocou o short. Juntou seus
pertences, pronta para saltar do barco assim que aportassem no cais do Club Tahoe. Ela até
colocou os óculos para fazer uma saída rápida sem tropeçar nem se matar.
Quem se importava se Bran a visse de óculos? Não tinha mais razão para impressioná-lo.
Não importava o que ele fez com os lábios e as mãos, o sujeito pensava o pior dela. E estava
cansada de homens que a tratavam feito lixo. Que tipo de maluco beijava uma mulher de quem
não gostava? Bran não fazia sentido, e era razão suficiente para eliminá-lo de sua vida.
Ele conduziu o barco até o cais, e Ireland se preparou para sair de lá.
— Espere — ele pediu. Jogou as boias de defesa na lateral do barco e o amarrou ao
desembarcadouro.
Ela cruzou os braços e bateu o pé, recusando-se a olhá-lo.
Sentindo que ele a encarava, lançou um olhar de relance, irritada.
— Posso ir agora?
Ele a encarou, desnorteado.
— Você usa óculos.
— Sim, eu uso. Algum problema com eles também? Porque...
Na maior parte do tempo, Ireland era mais passiva. Mas não era imune à fúria pela qual os
ruivos eram conhecidos. E Bran tinha um talento especial para despertar o sentimento nela.
Estava prestes a desencadear uma surra verbal do tipo que nenhum homem já tinha visto, mas ele
a interrompeu.
— Você fica bonita com eles.
Os lábios dela se abriram, e Ireland piscou. Fechou a boca com força e resmungou um
“tchau”. Caminhou até a saída do barco, mas Bran saltou primeiro, e ofereceu a mão.
Ela a pegou sem nem perceber, porque, caramba, gostava de quando os homens agiam
como cavalheiros. Mas a soltou assim que saiu, e foi pisando duro pela areia em direção à
entrada dos fundos do hotel cassino. Mal podia esperar para sair do Club Tahoe e voltar para seu
mundo de contemplação silenciosa atrás da tela do computador.
Ela até podia estar precisando de mais aventura, e estava aberta à experiência, mas não
precisava de Bran na sua vida.

***

Na segunda-feira de manhã, Ireland tomou um gole do chai latte em seu caminho para o
trabalho, no Blue Casino. Conseguiu evitar as perguntas de Cali no dia anterior sobre o que
aconteceu no passeio de barco ao dizer que estava de ressaca e que contaria tudo mais tarde. Mas
não seria capaz de se esquivar para sempre da insistência da prima.
Por um lado, Cali ficaria animada por Ireland ter se inserido no mercado masculino de
Lake Tahoe. Por outro, a conexão dela com Bran foi um fracasso gigantesco, o que só
encorajaria a prima a forçá-la a passar tudo a limpo. Sabia como a mente de Cali funcionava: era
uma máquina de arranjar namoro que não desistia nunca.
Ireland tinha poucos minutos antes de começar a trabalhar, então foi até o escritório de
Hayden para dizer oi. Hayden Cade era casada com o irmão de Bran, Adam, mas Ireland não
tinha nada contra ela. Adam era legal, e ela tinha feito amizade com Hayden desde que Cali
ajudou a ruiva a arranjar um emprego no Blue Casino.
Parou em frente à porta aberta do escritório da amiga.
— Toc-toc — falou. — Interrompo?
Hayden esfregou as têmporas e apoiou os cotovelos na mesa. Ela olhou para cima e
estremeceu, como se estivesse com dor.
— Entre. — Ireland entrou no escritório e franziu a testa.
— Você está bem?
— Saí para beber com o Adam e os irmãos ontem à noite, e exagerei na dose. Queria que
existisse remédio para cabeça anuviada e facada no crânio.
Ireland se sentou de frente para a amiga.
— Meus amigos da faculdade fariam você ganhar uma fortuna com essa invenção.
Hayden sorriu.
— Ou o Adam e os irmãos. Eles estavam em uma condição que raramente ficam. E o mais
estranho é que foi o Bran quem iniciou tudo. Eu nunca o vi daquele jeito.
Ireland enrijeceu as costas.
— Que estranho. O Bran parece ser o mais calmo.
Bran sempre foi muito discreto nas poucas vezes em que ela esteve em sua companhia,
mas aquele passeio de barco provou que nem sempre ele era calmo. Nem bonzinho. E, às vezes,
só às vezes, ele poderia ser bom até demais. Com os lábios e as mãos. E seu corpo ainda não o
perdoou por isso.
— Foram shots desde que chegamos. — Hayden tirou as mãos das têmporas. — Juro que
ele estava tentando exorcizar algum demônio com toda aquela bebida.
Ireland se remexeu na cadeira e não conseguiu olhar nos olhos de Hayden. Ali estava ela,
evitando a prima quando, na verdade, deveria estar evitando a amiga.
— Há algo errado? — Hayden perguntou. Ireland tentou sorrir.
— Não, está tudo bem.
— Como foi o passeio de barco? Esqueci de perguntar ao Hunt. Ele cuidou bem de você e
da Cali?
Aff. Ireland era sincera demais. Não havia como mentir para a mulher. Mas não estava
prestes a oferecer informação que não precisava dar.
— Não exatamente. Ele ficou resfriado. O Bran foi no lugar dele.
Hayden inclinou a cabeça para o lado.
— Que interessante. O Hunt pareceu mesmo congestionado, mas isso não o impediu de
ficar bêbado ontem. — Ela arregalou os olhos. — Talvez fosse por isso que o Bran estava tão
irritado? Ele não é muito extrovertido. Deve ter ficado louco distraindo aquela gente toda. —
Ireland se remexeu um pouco mais, e Hayden fez uma careta. — Havia quantas pessoas no
passeio?
— Bem, é essa a questão — Ireland disse. — Bran não tinha outras pessoas a quem
distrair. Somente a mim.
Hayden ergueu uma sobrancelha. Depois ficou de pé, atravessou o escritório e fechou a
porta.
— Ah, acho que preciso ouvir essa história.
Droga.
— Acho que é me-melhor eu ir — Ireland falou. — Não quero chegar atrasada.
— De jeito nenhum. — Hayden voltou a se sentar e digitou alguma coisa no telefone. —
Você não vai sair até eu ouvir tudo. Estou avisando ao seu chefe que estamos “em reunião” e que
você chegará em alguns minutos.
Hayden soltou o telefone e se inclinou sobre a mesa.
— Então, o que aconteceu? É óbvio que houve alguma coisa. O Bran estava descontrolado
ontem à noite, e ele não é assim. O homem evita as mulheres, e estava bebendo muito e nos
encorajando a segui-lo. Nós nos juntamos a ele, porque era a única forma de descobrirmos o que
estava acontecendo. Mas ele não cedeu. Em vez de destruir o meu fígado, eu deveria
simplesmente ter te procurado. Assim, não estaria com a cabeça anuviada e com uma marreta
massacrando o meu cérebro esta manhã.
— Não há nada a dizer — Ireland ofereceu. — O Bran não gosta de mim. Ele sempre me
ignora. Não foi diferente no barco. Na maior parte do tempo.
— Na maior parte do tempo? E por que você diz isso? Você é a minha funcionária nova
preferida. Qual é o problema dele?
— Eu sou sua única funcionária nova.
Hayden fez um gesto de desdém.
— Detalhes irrelevantes.
— Como eu disse, foi mais do mesmo. Eu tropecei. Dessa vez, a minha miopia não foi a
culpada. — Ireland usava óculos no trabalho, então não era surpresa nenhuma para Hayden, ou
para os outros funcionários do Blue que ela precisava deles. Ela empurrou os ombros para trás.
— Uma onda idiota atingiu o barco. Aí o Bran me culpou por cair em cima dele e segurá-lo por
tempo demais.
— Você o segurou por tempo demais? — Hayden abriu um sorriso travesso.
— O que você acha?
— Aacho que sim.
Ireland deu de ombros.
— Era o Bran Cade. Obviamente, segurei por tempo demais. Mas isso não justifica ele ter
sido um babaca. Depois de ele agir como um grande idiota, fui dar um mergulho para fugir de lá.
Só que a droga do lago é um gelo. O Bran disse alguma coisa, mas não consegui responder
porque estava no modo hipotermia. Então ele pulou e interrompeu a minha paz.
— Que horror — Hayden disse, sorrindo. — E então?
— Então...
Hayden se inclinou para frente.
— Sim?
— Ele me beijou.
Jesus Cristo, por que Ireland não podia mentir como um ser humano normal?
Hayden deu um tapa na mesa.
— Não! O Bran?
— Shhhhh. — Ireland virou a cabeça, esperando que alguém aparecesse no escritório. —
Fale baixo! — ela repreendeu aos sussurros. — O beijo não foi importante. — Ireland sentiu o
rosto esquentar.
— Estou vendo. — Hayden bufou. — Posso dizer que não foi nada. Bom assim, hein?
Ireland mordeu o interior da boca.
— Infelizmente. Então, é claro, eu o empurrei. Bem, depois que ele...
— Você o empurrou? Você perdeu o juízo? Por que faria algo assim?
— Porque... ele me puxou para o... corpo dele.
Hayden estreitou os olhos.
— Detalhes.
Ireland gesticulou para a região genital.
— Não mesmo! O monge tocou em você?
Ireland se encolheu.
— Um pouco... e foi gostoso. Razão pela qual eu sabia que estava encrencada. — Ela
franziu o nariz. — Eu quis saltar naquele babaca, então o empurrei. Não saio com esses otários.
Nunca mais.
Hayden balançou a cabeça.
— Caramba, Ireland. Você é a escolhida.
— O quê?
— A escolhida para tentar o monge. Ele tem sido um ciborgue, raramente sai com alguém
que não os irmãos. Adam está quase o levando a um médico. Mas o Bran beijou você, e foi todo
sexy. Caramba!
— Shhhhh! Não me importo com o que há de errado com ele. Eu não sou a escolhida. Não
quero ter nada a ver com aquele homem.
— Hummm. — Hayden bateu no queixo.
— O que isso quer dizer?
— Nada — Hayden falou e verificou o telefone. — É melhor você ir, ou o seu chefe vai
ligar e me importunar por estar tomando o seu tempo.
Ireland ficou de pé, hesitante.
— Tudo bem, mas você promete manter essa história entre nós?
Hayden sorriu.
— Minha boca é um túmulo.
Então por que Ireland ficou preocupada?
CINCO
BRAN BATEU OS dedos sobre a mesa de canto no Prime, a churrascaria do Club Tahoe.
Onde estava o técnico? Então James, o especialista, atravessou a porta, e Bran ficou de pé em um
salto. Alcançou o sujeito com três passos largos.
— Obrigado por vir. Não sei quais detalhes foram passados a vocês, mas tivemos um
problema com o novo sistema de pedidos on-line. Espero que você consiga deixar tudo
funcionando até o fim do dia.
James colocou o notebook em uma das mesas nos fundos do restaurante.
— Vamos dar uma olhada. Tenho certeza de que é só uma atualização de software. Essas
coisas acontecem.
Bran queria dizer que esperava que sim, já que o sistema era novo, mas se segurou.
— Recebemos quarenta pedidos incorretos na última meia hora. Comida errada, endereço
errado, só escolher.
Bran passou a mão pelo cabelo. Algo naquele problema de software não estava certo.
— Todos os restaurantes do Club Tahoe são sofisticados, principalmente a churrascaria.
Não podemos nos dar ao luxo de ter esse tipo de problema.
James abriu um sorriso apaziguador, mas em vez de tranquilizar Bran, o gesto fez sua nuca
formigar.
— Vou cuidar de tudo em um piscar de olhos.
Ele disse as palavras certas, mas algo não se encaixava. James usava roupas elegantes:
camisa de colarinho e jaqueta de couro. Ele não se parecia com um técnico. Parecia um
executivo, e talvez isso deixasse Bran incomodado.
— Eu gostaria que você tirasse o sistema do ar até o problema ser resolvido — Bran pediu.
— Não posso arriscar a reputação do Prime.
Todos que tiveram problemas com o pedido recebeu uma refeição grátis, mas Bran não
gostou da péssima reputação que essa tarde tinha deixado no clube. Sem mencionar a despesa
por cobrir quarenta pedidos errados.
Antes de assumir os restaurantes do Club Tahoe, Bran gerenciou um restaurante familiar
na cidade. Era um lugar bem movimentado e nada sofisticado. E, ainda assim, aqui estava ele,
gerenciando quatro dos restaurantes mais renomados da cidade. Os irmãos confiavam e
contavam com ele. Não queria estragar com a reputação dos restaurantes, nem afundá-los por
causa de uma falha no sistema que ele insistiu em comprar.
James olhou para o telefone.
— Preciso de meia hora.
Eram três da tarde, o horário de menor movimento.
— Tudo bem. Mas se não estiver consertado nos próximos trinta minutos, tire do ar.

***

James, o especialista, não conseguiu arrumar o sistema em trinta minutos. Nem mesmo
dois dias depois. E agora os tablets das mesas estavam com problemas também. Bran estava
prestes a enlouquecer.
Ele andava de um lado a outro no escritório de Levi.
— Desculpe, Levi. Ferrei com tudo.
Levi e Emily o encaravam da escrivaninha onde estavam sentados.
— Você não ferrou com nada — Levi disse. — Nós pesquisamos. A empresa que você
escolheu era boa. O orçamento era menor que o de alguns concorrentes, mas nem sempre isso é
indicativo de qualidade. — Ele se virou para Emily. — O que você acha?
— Concordo. Eu verifiquei a empresa. Não há nada que sugerisse que teríamos os
problemas que estamos tendo agora. — Ela olhou para Bran. — Eles vão enviar outro
especialista?
— Somos um dos melhores clientes deles — Bran disse. — A pessoa que eles enviaram é
o especialista. Mas ele não está sendo rápido o bastante. Eu dispensei dez garçons e contratei
mais cozinheiros quando o sistema entrou no ar, esperando um aumento nos pedidos e
diminuição de serviço de atendimento. Agora voltamos a atender os pedidos por telefone, o que
demanda mais tempo da equipe. Os gerentes e eu estamos trabalhando catorze horas por dia para
substituir a mão de obra que dispensei. Não posso continuar pedindo isso a eles.
— Entendi — Levi respondeu. — Vamos esperar mais alguns dias. Contrate mais pessoas
se precisar.
Bran assentiu e voltou para o seu escritório no Prime.
Levi e Emily o estavam apoiando Era Bran que estava pirando. Sua incerteza inicial quanto
a James da Tech Banquet só crescia. Precisava fazer alguma coisa, e agora.
Só não sabia o quê.
SEIS
BRAN SAIU DA caminhonete e atravessou o quintal de Jaeg em direção à oficina na
lateral da casa do amigo. Jaeg era conhecido por suas placas de madeira com representações da
natureza que se misturavam aos veios da madeira que ele usava. O homem era famoso em Lake
Tahoe, mas sua popularidade cresceu à medida que revistas e lojas novas exibiam seu trabalho.
Cali também contribuiu com o aumento do sucesso do negócio dele. A mulher era uma
artista, e criou os designs de algumas das peças mais procuradas de Jaeg. Os dois juntos eram
uma potência, e Bran estava passando para verificar o pedido que o Club Tahoe havia feito para
o Prime.
Ficou atento ao som do maquinário do lado de fora da oficina. Normalmente, ele e os
irmãos entravam direto se o equipamento estivesse ligado. As máquinas faziam tanto barulho que
Jaeg jamais os ouviria se não fizessem isso. Mas não vinha som nenhum do local, então Bran
bateu antes de entrar.
O amigo estava do outro lado da sala, inclinado sobre uma mesa de madeira.
Ele empurrou os óculos de proteção para cima e se virou ao ouvir Bran entrar.
— Ei, cara. Obrigado por vir. — Ele olhou para uma peça sobre a mesa. — Ainda não está
pronto, mas quero sua opinião antes de dar os toques finais.
Bran estava cheio de trabalho, mas ficou animado com essa tarefa. Não tinha dúvida de
que o que Cali e Jaeg criaram para o restaurante seria fantástico.
— Imagina. Levi está doido para ver o que vocês estão fazendo, e eu também. Obrigado
por encaixar o pedido no seu cronograma apertado.
— Não foi nada. É mais fácil agora que a Cali está fazendo o design. Levo uma semana
para fazer algo que ela consegue em apenas uma tarde. E tudo o que ela faz é maravilhoso.
— Parece que você escolheu a noiva certa para a sua profissão.
Jaeg riu.
— Eu teria me apaixonado mesmo se ela trabalhasse em um fast-food. Mas ela ser
brilhante é ótimo.
Bran olhou adiante.
— Bem, não me deixe esperando. Vamos ver essa obra de arte.
Jaeg escorou a placa de madeira de um metro e vinte por um e oitenta para que a vissem
melhor, e os olhos de Bran se arregalaram.
— É o nosso resort?
— Do ponto de vista de um artista, sim. Cali vê as coisas do jeito dela, e é por isso que
seus desenhos são tão incríveis. Ela tem um olhar fenomenal.
Bran passou a mão pelo rosto.
— Inacreditável. Embora não seja tão preciso. Notei que ela tirou o estacionamento.
Jaeg riu.
— Licença poética.
A imagem era realista, e não era. Havia milhões de formas intrincadas criando uma
representação tridimensional, acolhedora e convidativa do clube, com o lago espreitando através
dos pinheiros. E, como era de se esperar de Jaeg, os veios de madeira foram incorporados ao
design.
— É carvalho?
Jaeg assentiu.
— Carvalho-branco.
Bran balançou a cabeça devagar, o peito apertou. Desde que o pai faleceu, o clima no Club
Tahoe mudou. Nada que ele pudesse apontar, mas algo estava diferente. E Cali havia capturou. O
lugar estava com uma energia diferente. Algo preenchido com... esperança.
Bran e os irmãos tinham emoções confusas no que dizia respeito ao Club Tahoe. O pai, em
vez de criar os filhos, passou cada hora livre fazendo do resort luxuoso um sucesso. Quando ele
morreu e deixou Bran e os irmãos a cargo do local, foi um chamado doloroso ao dever.
Poderiam ter recusado, vendido o lugar ou contratado uma nova gerência. Em vez disso,
eles se juntaram.
Pela primeira vez, Bran percebeu que ficar com o resort se tornou mais que uma obrigação.
Era algo que ele e os irmãos estavam fazendo um pelo outro, mas não que fossem admitir.
A tensão do relacionamento com o pai os afetou de formas diferentes. Mas quando olhou
para a arte que Cali e Jaeg criaram, ele a amou mais do que pela beleza. Amou a peça pelo que
ela representava: o novo Club Tahoe e a nova conexão com os irmãos que cresceu depois que
perderam o pai.
Bran apoiou a mão forte no ombro de Jaeg e apertou.
— Obrigado. É... mais do que eu esperava. Diga a Cali que eu e meus irmãos estamos
gratos.
Jaeg apoiou a peça sobre a mesa e a cobriu com um tecido.
— Venha e diga você mesmo. Tem tempo para uma cerveja?
O coração de Bran acelerou. Ireland morava com Cali e Jaeg, e havia uma boa chance de
ela também estar em casa. Depois do momento de insanidade no passeio de barco, ele teve a
esperança de evitar Ireland por completo. Mas o que Cali e Jaeg fizeram por ele e os irmãos foi
algo muito sincero. Não podia ir embora sem agradecê-la.
Bran abriu um sorriso sem graça para o amigo.
— Sempre tenho tempo para uma cerveja.

***

Ireland ficou parada enquanto Cali passava um suporte para taça de vinho sobre sua
cabeça. A geringonça envolveu seu pescoço e descansou sobre os seios. A prima colocou uma
taça de vinho tinto lá.
Ireland olhou para baixo.
— Sério?
— Sim. — Cali ajeitou a taça para que ela se encaixasse melhor. — Você vai amar essa
coisa. — Ela girou os dedos perto da cabeça, sua própria taça pendendo de um suporte que ela
deve ter personalizado, pois ele brilhava como um figurino de um programa de dança. — Nada
supera ficar com as mãos livres.
Cali olhou para Ireland de canto de olho e estendeu a mão sobre o balcão para pegar um
biscoito.
— Veja só, eu não preciso apoiar a taça no balcão para pegar comida. — Ela ergueu o
vinho do decote realçado pela Victoria’s Secret e o bebeu.
— Você tem duas mãos, Cali. Só precisa de uma para pegar comida. — Cali a olhou com
aborrecimento.
— Não se você estiver carregando um prato.
Ireland riu e balançou a cabeça. Não fazia sentido discutir com a prima. Além do mais, era
complicado beber vinho e segurar um prato com aperitivos. Ainda assim, Ireland nunca usaria
essa coisa em público. Estava prestes a dizer isso a Cali quando o som de vozes masculinas
flutuou pela janela aberta.
Vozes masculinas conhecidas.
Filho da mãe.
Ireland contornou a ilha da cozinha e se abaixou. Bran Cade estava prestes a entrar na casa.
O que ele estava fazendo ali?
Depois do que aconteceu no passeio de barco, pensou que ele manteria ainda mais
distância dela. Mas reconheceria aquela voz profunda e carregada de sensualidade em qualquer
lugar. Tudo bem, ela só imaginou que a voz de Bran fosse carregada de sensualidade, pois
imagens daquela tarde vieram à mente quando a ouviu, mas era culpa dela? Não, era dele. Tentou
ficar bem longe do homem no lago. Foi ele quem pulou atrás dela.
As vozes ficaram mais altas, e Cali inclinou a cabeça para o lado.
— O que você está fazendo?
— Shhhhhhh! Não está óbvio? — Ireland sussurrou. — Estou me escondendo.
Antes que Cali pudesse dizer mais alguma coisa, o som da porta se abrindo as interrompeu.
Era uma idiotice. E se Bran visse que ela estava se escondendo? Ele perceberia que a afetava, o
que era irritante.
Fez careta. Melhor não ser descoberta.
Ireland considerou o estilo combinado de sala e cozinha, e se ela poderia se arrastar para o
corredor sem ser notada.
Com certeza, não.
Cali olhou para a porta.
— Oi, Bran. Tudo bem?
Jaeg deu a volta no balcão e beijou a bochecha de Cali. Ele ergueu uma sobrancelha para
Ireland.
Pega no flagra.
Não havia como escapar agora.
Ireland ficou de pé e ajeitou o cabelo.
— Ah, oi. Eu estava só, é... fazendo agachamentos. — Ela dobrou os joelhos com as mãos
estendidas e se levantou devagar.
Essa foi a desculpa mais esfarrapada que já deu.
Bran deu uma olhada para Jaeg, aceitou a cerveja que ele entregou, depois se virou para
Ireland. O olhar foi para o suporte de vinho.
— Você está se exercitando... e bebendo vinho?
— Sim. — Ela deu uma cotovelada em Cali. — Não é comum?
Cali fez um agachamento.
— Estamos testando esse suporte de vinho — ela deu uma desculpa mais esfarrapada
ainda, e Ireland revirou os olhos por dentro. — Quer um para colocar a cerveja, Bran? Eles são
super convenientes, não é, Jaeg?
Jaeg deu uma olhada para ela.
— O quê? Não. — Ele foi na direção de Bran, encorajando-o a sair da cozinha. — Você já
viu a casa? O que acha de um tour?
Assim que saíram do cômodo, Cali deu uma piscadinha.
— Jaeg só usa o suporte dele quando estamos sozinhos.
Ireland se encolheu.
— Não de qualquer jeito. Quando estamos assistindo televisão.
Por algum motivo, Ireland não conseguia visualizar Jaeg usando aquele suporte, mas
acreditou no que a prima disse.
— Agora, me diga o que está acontecendo — Cali pediu. — Esses suportes não são tão
vergonhosos assim. Por que você estava se escondendo?
Ireland deixou escapar um suspiro de sofrimento.
— Eu não queria ver o Bran.
— Na pizzaria, você disse que o achava gato. Ele não é tão amigável quanto o Hunt, mas...
— Tem certeza de que eu disse isso? — Ireland tomou um gole de vinho. — De qualquer
maneira, não importa, porque ele é um imbecil.
Cali fez uma careta.
— O Bran? — Ela inclinou a cabeça, como se fizesse uma busca mental. — Eu nunca o
achei imbecil, mas é melhor ele não ser. Vou precisar dar uma surra nele?
Ireland agarrou Cali pelos ombros.
— De jeito nenhum. Fique exatamente onde está. Não ligo para o Bran, nem para o que ele
fez. — Não era bem verdade, mas Ireland estava fazendo um esforço para se convencer daquilo.
Cali pareceu exasperada.
— O que ele fez? Me diga, ou vou descobrir.
— Não vá fazer perguntas.
Ela cruzou os braços.
— Posso fazer exatamente isso se achar que alguém saiu por aí magoando a minha prima.
Ireland apertou a ponte do nariz.
— Eu tenho vinte e seis anos, sou só um ano mais nova que você, e vou lidar com a
situação.
— Mas por que você precisa lidar com alguma coisa? O que aconteceu? E quando?
Estamos sempre juntas, e não vi vocês dois discutindo.
— A discussão não foi o problema. Bem, foi, mas... Droga, ele me beijou, está bem?
SETE
O SILÊNCIO PREENCHEU a sala, o que fez o coração de Ireland disparar. Talvez não
devesse ter dito nada. Foi quando um sorriso lento se espalhou pelo rosto de Cali.
— Como é que é? — Cali disse. — Ele te beijou? E quando essa troca de saliva aconteceu?
Ireland olhou para o alto.
— Você é ridícula. — Mas ela atualizou Cali sobre o que ocorreu no passeio de barco.
— Muito bem, bonita! — Cali falou. — Eu não fazia ideia de que você estava saindo por aí
paquerando escondida de mim. Aprovadíssimo.
— Como você pode aprovar? Eu não aprovo.
— É porque você está enferrujada. Essas picuinhas são o que nós chamamos de
“preliminares”.
Ireland empurrou o ombro de Cali.
— Você não sai com mais ninguém, está noiva! E eu sei o que é uma preliminar. Não foi o
caso. Foi mais... eu vou te matar, mas antes vou te beijar.
Cali a olhou como se fosse desprovida de inteligência.
— É, também conhecido como preliminares. Mas tanto faz. — Ela ergueu as sobrancelhas
e se inclinou sobre o balcão. — Então você gostou?
Ireland se contorceu.
— Talvez. E estou muito brava com isso. Eu já saí com algum cara legal?
— Na verdade, não.
— Pois é. E eu me recuso a continuar seguindo esse padrão insalubre. O Bran não é legal.
Bem, talvez ele seja com os outros, mas comigo, não é. Homens normais me colocam para baixo.
Eu me recuso, me recuso, a aceitar essa situação de novo de alguém que se espera que se importe
comigo.
Cali estreitou os olhos.
— Do que você está falando? Quem foram todos esses otários que te diminuíram?
Ireland acenou com a mão.
— Você sabe porque eu larguei meu último emprego.
— Porque era chato pra caramba e você trabalhava com vários babacas?
— E por causa do assédio.
Cali agarrou o braço de Ireland e a puxou para a mesa de jantar, empurrando-a para uma
cadeira.
— Que assédio? Você disse que os homens com quem trabalhava eram babacas. Nunca
falou nada sobre seu chefe estar te assediando sexualmente.
Ireland engoliu em seco.
— Porque não foi ele quem me assediou.
Cali balançou a cabeça.
— Não estou entendendo.
— Meu chefe não me assediou sexualmente... foram os outros homens com quem eu
trabalhava. Meus subordinados — ela murmurou.
Já era ruim o bastante ser assediada por um chefe, a pessoa no poder. Era uma humilhação
completamente diferente ser assediada sexualmente pelos subordinados que deveriam te admirar.
Ireland nunca se sentiu mais impotente em toda a sua vida.
— Como é? Parece que você disse que os seus funcionários estavam te assediando.
— Eles não eram meus funcionários, eram subordinados. Mas eles não me respeitavam
tanto quanto eu gostaria. — Ireland torceu as mãos. — Eles me passavam cantadas sutis. Me
tocavam de forma inapropriada ao fingirem estar pegando alguma coisa. Eram babacas e fizeram
da minha vida profissional um verdadeiro inferno.
— Filhos da mãe!
Ireland olhou para o corredor, na direção em que Jaeg e Bran tinham desaparecido. Não
sabia quando eles voltariam.
— Fale baixo.
— Por que você não contou ao seu chefe?
Ireland tirou o vinho do suporte e o colocou na mesa.
— Como eu diria ao meu chefe, um homem, que eu não conseguia liderar os homens que
trabalhavam para mim?
— Você ficou com medo de causar uma repercussão ruim para você?
— Causou uma repercussão ruim. Era para eu liderá-los, não deixar que eles me
expulsassem da cidade. — Ireland abaixou a cabeça e massageou as têmporas. — Tentei uma
vez. Contei ao meu chefe que um dos caras passou a mão na minha bunda. — Ela olhou para
cima. — Ele fez pouco caso e me disse para procurar o RH.
— E?
— O RH falou com o funcionário, e ele disse que foi um acidente. Então espalharam o
boato de que eu era exigente, e nunca consegui mudar essa reputação. Daquele ponto em diante,
as coisas só pioraram. Eles não me tocavam, mas quando eu falava, eles fingiam que não
ouviam. Quando eu entrava em uma sala, eles riam e debochavam. Faziam o trabalho deles,
então eu não tinha razão para ir ao RH. Serem imaturos não os demitiria nem suspenderia. Eu
estava... infeliz. Foi humilhante. Eles não me respeitavam. E eu não podia culpá-los, porque sei
como sou. Assim que percebo que perdi o respeito de alguém, minha língua trava. Eu parecia
uma idiota sempre que precisava repreendê-los.
Cali estendeu a mão sobre a mesa e apertou seu pulso.
— Você mesma disse, eles eram babacas. Eu sabia que você precisava sair de lá, mas não
sabia que estava tão ruim assim.
Ireland abriu um sorriso sem graça.
— Poderia ter sido pior. De qualquer forma, estou aqui agora, e sou muito mais feliz.
— Menos com o Bran.
— Como assim? — Jaeg disse quando os dois entraram na sala.
Cali ficou de pé e recarregou a bandeja de petiscos que serviu.
— Foi o Bran que liderou o passeio de barco naquele dia — ela contou a Jaeg.
Ireland lançou uma olhada para a prima.
Cali olhou para frente e deu de ombros como se dissesse: “Eu tinha que falar alguma coisa
para ele”.
Bran encarou Ireland, e o pescoço dela aqueceu. Aquele olhar foi abrasador e íntimo, como
se estivesse pensando no beijo deles.
— O Hunt ficou doente, então eu assumi por algumas horas. — Bran coçou o queixo. —
Eu não sou o mais receptivo dos capitães.
— Na verdade, você foi bastante ativo. — Ireland não sabia de onde aquele comentário
sarcástico saiu. Talvez tenha sido por pensar nos caras que a trataram muito mal. De todo modo,
queria que Bran soubesse que ela não esqueceu o que ele fez. Beijo idiota que muda o rumo da
vida.
Bran semicerrou os olhos.
— É melhor o Hunt encontrar outro substituto. Não tenho tempo para passeios de barco. Já
estou ocupado demais com os restaurantes.
Jaeg pegou alguns biscoitos de queijo.
— Levi falou algo sobre vocês estarem usando uma nova tecnologia no restaurante. Como
está indo?
— Tiramos o sistema do ar até o suposto especialista descobrir por que ele não está
funcionando direito.
— E está demorando? — Cali perguntou, em seguida tomou um gole de vinho enquanto
comia os biscoitos com Jaeg.
— Demais — Bran respondeu. — E, ao que parece, eles mandaram o melhor funcionário.
Não estou impressionado. Já faz dias, e ainda não conseguiram descobrir qual é o problema.
Cali olhou para Ireland e mordeu o lábio.
Ah, não, ela não vai...
— Sabe, Bran — Cali começou —, a Ireland é um gênio da computação.
Bran enrijeceu os ombros, imitando o pânico que percorreu o corpo de Ireland.
— Não sou, não — Ireland disse. O que a Cali estava fazendo?
A prima fez uma careta.
— Não seja modesta. Você tem ideia do quanto foi difícil te conseguir um trabalho no
Blue?
— Pensei que você tinha dito que foi uma questão de minutos depois que enviou o meu
currículo — Ireland falou sem pensar.
— Exatamente! Eles viram o quanto você era qualificada e te contrataram dentro de meia
hora, porque sabiam que tinham encontrado uma mina de ouro.
Ireland não gostou do rumo daquela conversa.
— E aonde você quer chegar?
— Você tem empréstimos estudantis para pagar, e o Bran precisa de ajuda. Por que não
fazer um trabalho freelancer para o Club Tahoe e ajuda o rapaz com o probleminha técnico dele?
— Não é um probleminha — Bran resmungou.
Sem dúvida Ireland poderia ajudar Bran com os problemas de software dele. Era
especialista em algumas linguagens de programação. A questão era: estava disposta a passar pelo
sofrimento de trabalhar com ele?
Cético, Bran olhou para Ireland como se estivesse lendo seus pensamentos.
— Obrigado, mas está tudo bem. Tenho certeza de que o técnico vai conseguir arrumar.
— Não, sério — Cali continuou, e Ireland lançou um olhar aborrecido para a prima, que
foi devidamente ignorado. — Já faz dias, e ele não descobriu nada ainda. É bem capaz de Ireland
resolver o problema em horas. Ela é muito boa.
Ireland encarou a prima. Ela não tinha deixado claro que não estava interessada em passar
tempo com caras idiotas? Por que Cali continuava atirando-a para cima de Bran?
Mas Ireland havia mencionado o beijo, e Cali estava com aquele brilho no olhar... como se
visualizasse um casal se formando.
Droga.
Bran balançou a cabeça.
— É um software muito específico. Ela não vai conseguir nenhum resultado diferente do
que o técnico conseguiu.
Ireland fechou a mão. Ele estava duvidando das suas habilidades, assim como os homens
com quem trabalhou antes? Ah, mas de jeito nenhum.
Pelo menos, a equipe técnica do Blue a respeitava. Claro, teve que provar que era boa, mas
eles não eram arrogantes como as pessoas com quem havia trabalhado no emprego anterior.
Seria ótimo se ela ganhasse tanto no Blue quanto ganhava no antigo emprego, mas um bom
ambiente de trabalho era importante demais. O que significava que Cali foi certeira quanto ao
dinheiro e os empréstimos estudantis. Droga.
— Eu consigo — Ireland disse, e não afastou o olhar do de Bran.
— Oba! — Cali comemorou. — Está resolvido. A Ireland vai passar no Club Tahoe essa
semana.
Um músculo se contraiu na mandíbula de Bran.
— Não é tão simples assim. Eu teria que verificar com o Levi. E o software é registrado.
Não acho que a empresa vai permitir que contratemos alguém de fora.
— Se for resolver o problema, acho que vão — Cali respondeu. — A Ireland poderia
assinar um desses... — Ela estalou os dedos. — Desses acordos de confidencialidade.
Bran colocou a mão no bolso do jeans de lavagem escura.
Ireland ficou de pé e foi na direção de Cali, de onde não poderia ter uma boa visão do
traseiro dele.
— O Bran tem razão. — Não importa o quanto quisesse provar que ele estava errado, as
batidas do seu coração disseram que passar tempo com ele não seria uma boa ideia. — E duvido
que conseguiria encaixar algo assim no meu horário de trabalho.
Cali revirou os olhos.
— Você trabalha quarenta horas por semana. É metade do que você costumava trabalhar. E
não é como se você saísse... — Ireland deu um beliscão discreto na prima, que pigarreou. —
Quer dizer, não é como se você não tivesse tempo livre. — Cali sorriu. — Mas talvez você tenha
que deixar de lado as maratonas de Do velho ao novo.
Ireland fechou os olhos. Essa conversa não acabaria nunca?
— Cali — ela falou.
A prima riu.
— Só estou brincando. Mas você tem tempo, admita.
Um olhar de satisfação atravessou o rosto de Bran. Estava tão óbvio assim que ela não
queria trabalhar com ele?
Ireland endireitou os ombros.
— Quer saber? Você está certa, Cali. Posso encaixar o trabalho para o Club Tahoe no meu
horário.
Toma essa, Bran Cade! Ele acha que ganhou? Não dessa vez.
Bran fez careta.
— Ainda preciso verificar com a empresa que criou o programa.
Cali acenou com desdém.
— Mande o currículo da Ireland para eles. Tenho certeza de que vão querer contratá-la.
O dinheiro extra seria útil para Ireland, e era uma oportunidade sólida de trabalho
freelancer. Mas aquela não foi a única razão para ela reconsiderar o trabalho... ou trabalhar com
Bran. No que dizia respeito a computadores e programação, era uma expert.
E queria provar a Bran, de uma vez por todas, que estava à mesma altura dele.
OITO
BRAN VOLTOU PARA o clube e encontrou James ainda trabalhando no problema do
software. Lá no fundo, ele esperava chegar e descobrir que tudo estava resolvido.
— Algum progresso?
— Algum — James respondeu. — Só preciso de um pouco mais de tempo.
Uhum. Ótimo.
— Tem certeza de que não tem mais ninguém que você possa chamar para o projeto? —
Bran havia perdido toda a confiança em James.
— Eu criei o programa. Eu o conheço do avesso.
O que levava à pergunta: por que o técnico ainda não conseguiu resolver o problema?
O “especialista” se recostou e esticou os braços sobre a cabeça. Ele estava no Prime desde
as sete da manhã, e já passava das nove da noite.
— Além do mais, os outros técnicos estão trabalhando em projetos diferentes. Mas não se
preocupe — James disse, e voltou a se curvar sobre o computador —, vou consertar o programa
logo, logo. Estou perto.
Bran coçou a lateral do pescoço. Havia algo nesse sujeito... Não era só o fato de ele ser um
mauricinho presunçoso, o que era um aborrecimento. Mas também tinha a ver com o fato de
Bran ter notado algumas discrepâncias no valor total dos pedidos on-line desde que o sistema
começou a rodar. Algo que James disse se tratar de taxas e flutuação de câmbio.
Que flutuação de câmbio? Eles estavam em Lake Tahoe. Não faziam delivery em Uganda.
James justificou que a empresa deles ficava na Europa e que a flutuação de câmbio era por
causa das transações com cartão de crédito. O que pareceu o equivalente a pegar um voo de
Seattle para Los Angeles com escala em Chicago. Por que o dinheiro precisava viajar para a
Europa antes de ser creditado na conta do resort?
Se tivesse outra pessoa que pudesse trabalhar naquele problema com Bran, ele insistiria
que a Tech Banquet substituísse o homem. Mas o CEO confirmou que James era o melhor, e que
o restante dos funcionários estava ocupado.
Bran saiu do Prime e entrou na área da recepção do clube. Fez uma virada brusca e
atravessou as portas que levavam às salas corporativas. Percorreu o longo corredor e parou
diante das portas duplas de mogno do escritório de Levi.
A cabeça do recepcionista mal era visível por trás da pilha de arquivos e da planta verde
enorme que se derramava até o tapete.
— O Levi está aqui? — Bran perguntou.
O recepcionista olhou para cima e inclinou a cabeça em direção ao corredor.
— Ele está com a Emily. Estão trabalhando em um projeto.
Bran olhou para o fim o escritório de Emily no fim do corredor. Pelo menos, a porta estava
aberta. De acordo com os irmãos, Levi e Emily eram conhecidos por namorar quando as portas
estavam fechadas.
Ele balançou a cabeça. Estava feliz pelo irmão mais velho e rabugento ter encontrado a
mulher certa, mas não queria se deparar com a demonstração de felicidade. Mesmo a porta
estando aberta, ele bateu.
— Olá? — Espiou lá dentro mexeu mais uma vez na porta.
Levi estava de pé atrás de Emily, os braços frouxos ao redor da cintura dela, e eles
encaravam uma parede cheia de post-its. A cena romântica era típica desde que os dois ficaram
juntos, e Bran ainda estava se acostumando. O irmão podia ser cabeça dura e parecer não ter
emoções, mas Emily aparou essas arestas. Levi parecia não conseguir tirar as mãos da mulher.
Por isso, obviamente, a química entre eles era explosiva.
Wes chamava Emily de Dama de Ferro, e Bran tinha que concordar. Ela podia ser elegante
como a mais fina seda, e te atropelar sempre que precisasse. Ela os havia ajudado a manter o
resort funcionando sem grandes problemas desde que o pai faleceu e, só por isso, Bran e os
irmãos eram gratos.
Levi olhou para cima.
— Tudo em ordem? — Ele abaixou os braços e esfregou a rosto como se estivesse
encarando a parede há muito tempo. — Já resolveu o problema com o programa?
— Não. Infelizmente. — Bran apontou para a parede que Emily continuava encarando,
com o queixo apoiado no punho. — O que vocês estão fazendo?
— A programação infantil — Levi respondeu. — A menina dos olhos da Emily teve o
maior crescimento desde que assumimos.
— Não se esqueça do Hunt — Emily disse. — Foi ideia dele, para início de conversa.
Levi revirou os olhos.
— Você fez do programa um sucesso. — Emily franziu a testa, e Levi suspirou. — Tudo
bem, o Hunt ajudou.
Levi e Hunt tinham feito as pazes, mas, ao que parecia, o homem ainda tinha problemas
para confiar no irmão mais novo.
— Conseguir que o clube fizesse parte do circuito de golfe no ano passado foi uma sorte
enorme, graças ao Wes — Levi disse. — Mas precisamos de receitas com as quais podemos
contar. O clube está aguentando firme enquanto o programa infantil está crescendo. Estamos
tentando criar ideias para ele. — O irmão olhou para Emily. — Ligue para o Hunt e o traga para
cá.
Emily sorriu.
— Excelente ideia. Crianças são uma área em que Hunt se destaca.
— O Hunt? — Bran não podia imaginar o irmão mais novo como um encantador de
crianças. Ele era o criança.
Emily foi até a parede e reposicionou um dos post-its.
— Alguma vez, você viu seu irmão com as crianças do clube? Ele é muito bom com elas.
E sempre tem as ideias mais divertidas.
A mente de Bran estava preenchida por uma certa mulher em quem não queria pensar e em
impedir que os restaurantes destruíssem as reservas financeiras do resort.
— Não posso dizer que prestei atenção.
Levi ergueu o queixo, com os olhos cheios de preocupação.
— O que você vai fazer quanto ao software dos restaurantes?
Bran balançou a cabeça.
Quando Cali sugeriu que Ireland ajudasse o clube, ele tinha entrado em pânico, como uma
mosca presa em fita adesiva. Mas depois considerou tudo o que precisaria providenciar para que
ela trabalhasse para eles: a aprovação de Levi, a Tech Banquet autorizar, o chefe dela dar
autorização para que ela prestasse a consultoria. O que não aconteceria. Então ele relaxou um
pouco.
Mas agora ele não estava tão calmo. No que dizia respeito a Ireland, ele parecia ficar preso
na fita adesiva mais vezes do que queria, não importava o quanto lutasse. E se ela fosse tão boa
quanto Cali disse... ele precisaria dela.
Talvez se Bran ameaçasse a Tech Banquet dizendo que contrataria alguém de fora, eles
resolvessem as coisas.
— Fui ver o Jaeg hoje. Ele me mostrou a arte que fez para o Prime, está incrível.
— Estou ansioso para ver — Levi falou. — Mas o que a peça tem a ver com o programa?
— Cali me ouviu falar com Jaeg sobre os problemas que estamos enfrentando e sugeriu
que contratássemos a Ireland como consultora. Parece que ela é um guru da programação. Cali
acha que ela pode resolver o problema.
Levi coçou o queixo.
— Como a Ireland pode ser melhor que o especialista que a empresa enviou?
Bran deu de ombros.
— E seria uma despesa extra. — Levi olhou para Emily.
— Ireland era muito conhecida na indústria tecnológica da baía de São Francisco — Emily
disse.
— Pelo que a Hayden me disse, o Blue Casino a ama. Contratá-la seria uma despesa extra,
mas se ela consertar o software rápido, vai valer a pena.
— Não acho que chegará a isso — Bran falou. — Estou contando que a sugestão vá
obrigar o presidente da empresa a fazer alguma coisa e ele acabe mandando outra pessoa.
— Com o software fora do ar, estamos perdendo dinheiro — Emily pontuou. — Valeria
gastar algum dinheiro se isso significasse que recuperaremos o sistema de pedidos on-line.
A faca no peito de Bran torceu. Ninguém estava mais ciente da própria falha que ele.
— Contrate a Ireland — Levi disse. — Faça o que for necessário para o programa
funcionar. No que me diz respeito, a Tech Banquet deveria cobrir as despesas com ela.
Levi e Emily estavam certos. O clube precisava de alguém com a experiência de Ireland.
Bran poderia manter as mãos afastadas enquanto ela trabalhava para ele. Conseguiu evitar a
proximidade com as mulheres por cerca de dez anos. Poderia fazer o mesmo com ela, não
importava o quanto estivesse atraído pela ruiva.
NOVE
IRELAND AGARROU O telefone.
— Como disse? — O chefe estava do outro lado da linha, trabalhando em um dos outros
cassinos da família.
— A Hayden me disse que você precisava de tempo para fazer um trabalho de consultoria
— ele falou. — Por mim, tudo bem, desde que você mantenha tudo funcionando no Blue. O que
você acha?
Ele estava falando sério? Estava perguntando se ela estava de acordo com o trabalho de
freelancer? E qual trabalho? Não tinha como a Hayden saber sobre o Club Tahoe e sobre Bran.
Ireland falou com ele na noite anterior.
— S-sim, é claro. — E, nesse meio-tempo, ela descobriria o que Hayden estava tramando.
Ele riu.
— Você é a melhor programadora que já contratei. Precisaria de duas pessoas para fazer o
que conseguiu desde que veio trabalhar conosco. Vou conseguir te dar um aumento em breve.
Não vai ser muito, pois minhas mãos estão atadas com os limites salariais da gerência, mas
espero que seja o bastante para te convencer a ficar.
Ela estava recebendo autorização para trabalhar como freelancer... e recebendo um
aumento?
— Eu gosto de trabalhar no Blue. Não tenho planos de sair.
— Fico feliz em saber. Até conseguir te dar esse aumento, entendo se você precisar fazer
outros trabalhos, e agradeço por me manter informado.
Ireland trabalhou para uma das plataformas de redes sociais mais conhecidas do mundo.
Eles contratavam mulheres para manter as aparências de equidade de gênero, mas era tudo
mentira. As mulheres não eram tratadas como iguais. No antigo emprego, ela era descartável.
Mas não no Blue. E isso significava mais do que qualquer salário exorbitante.
— Informe a Hayden os dias que você precisará sair mais cedo — o chefe prosseguiu —, e
deixe seu assistente a par do seu horário.
Impressionada e mais do que um pouco confusa, Ireland concordou. O novo chefe era o
homem mais legal para quem já trabalhou.
Ela salvou o programa em que esteve trabalhando, um novo sistema de vigilância baseado
em inteligência artificial, e fez logout no computador. Levantou-se e foi até Mark, seu assistente.
Ele estava usando fones de ouvido, então ela o cutucou no ombro.
Ele tirou os fones e olhou para cima.
— Preciso falar com a Hayden. Pode me enviar mensagem se surgir alguma coisa?
— Claro — ele falou. — Estou fazendo os backups que você pediu. Estarão concluídos até
o fim do dia.
— Ah... certo, obrigada. — Deus, ela não estava acostumada a trabalhar com homens
legais. Mark tinha cerca de trinta, era casado e tinha um bebezinho. Ele era competente e
respeitoso. O completo oposto dos homens que costumavam trabalhar para ela.
Ireland seguiu pelo corredor em direção ao escritório de Hayden, grata por esse lugar e
tudo o que fez por ela nesses últimos meses. Virou ao final dele, e pegou Hayden na porta do
escritório, sorrindo para algo que Adam sussurrava em seu ouvido.
Ireland revirou os olhos. Esses dois.
Hayden olhou para cima, e a ruiva gesticulou com os lábios: arranje um quarto. A amiga
sorriu.
— Como está o seu dia?
— Ótimo — Ireland respondeu —, até o meu chefe me ligar para dizer que eu tenho um
novo trabalho de consultoria. Do que se trata?
Hayden olhou para Adam.
— Vou passar no seu escritório mais tarde para discutirmos aquela fusão de que falamos.
Adam sorriu.
— Vou ficar aguardando. — Ele acenou para Ireland com a cabeça. — Bom te ver, Ireland.
Adam desfilou pelo corredor, e tanto ela quanto a amiga o olharam sem vergonha
nenhuma.
Hayden suspirou quando ele desapareceu.
— Vocês dois não são nada discretos — Ireland falou. A esposa do homem em questão
entrou no escritório, e ela a seguiu. — Fusão? — reiterou. — Não quero nem saber a que isso se
refere.
Hayden sorriu.
— Você tem a mente poluída.
— Pode ser — Ireland concordou. Considerando todas as fantasias indesejadas que andava
tendo com Bran e lagos, estava convencida de que ele havia libertado algo nela. Uma mente
poluída parecia o menor dos problemas. Mas... — Há quanto tempo vocês estão casados? Um
ano? A fase de lua de mel já não deveria ter passado a essa altura?
Hayden se sentou.
— Pouco provável. Você viu o meu marido. Acha que eu conseguiria dizer não para aquele
homem?
Ótimo argumento. Os homens Cade eram uma ameaça. Ireland sentia um conflito terrível
no que dizia respeito a Bran.
— E, para sua informação, há uma fusão em andamento com a empresa proprietária do
Blue, e isso não tem nada a ver com acrobacias horizontais sobre a mesa.
— Ceeerto. Pode haver uma fusão em andamento, mas aquela troca sussurrada no corredor
não enganou ninguém, nem era sobre a fusão.
— Enganou, sim — Hayden respondeu.
— Não enganou, não.
— Tudo bem. Nós somos discretos quando outras pessoas estão por perto. Você não conta,
porque é uma amiga.
Ireland jogou as mãos para cima.
— Poderia ter sido qualquer um andando pelo corredor.
Hayden lançou um olhar de piedade.
— Eu te vi de longe. Tenho olhos atrás da cabeça. Foi assim que sobrevivi quando esse
lugar não era nada.
— Graças a Deus a gerência mudou antes de eu vir para cá — Ireland falou. — Estou
convencida de que o meu chefe é o ser humano mais legal do mundo. Ele acabou de me dar
autorização para fazer um trabalho de consultoria. E não se importa se eu sair mais cedo para
isso. Que tipo de chefe concorda com algo assim?
Hayden folheou os documentos.
— Do tipo generoso?
— Uhum. E você não teve nada a ver com isso, teve?
Hayden olhou para cima.
— É claro que eu tive. O Club Tahoe precisa de ajuda com o software do restaurante, então
ofereci os seus serviços.
— Como você sabia que eles precisavam de ajuda? Eu descobri ontem à noite.
— Cali.
Ireland se sentou e gemeu.
— Minha prima é uma linguaruda.
— Sua prima viu o mesmo que eu. Há alguma coisa entre você e o Bran.
— Uma paixão avassaladora para matar um ao outro?
Hayden sorriu.
— Matar-se de amor.
Ireland fez uma careta.
— Eu nunca vou amar aquele homem. Ele é um babaca!
— Você não para de dizer isso.
Ireland cerrou os lábios com força.
— Escure, o Bran não me procurou para falar da consultoria.
— Pensei que ele tivesse feito isso ontem à noite.
— Ontem à noite, a Cali praticamente o forçou a concordar que eu desse uma olhada.
Hayden deu de ombros.
— De qualquer forma... — Ela se levantou e deu a volta na mesa. — Você tem a permissão
do Blue para ajustar seus horários conforme necessário.
Ganhar dinheiro-extra não era má ideia. Mas passar tempo com Bran...
Ireland olhou para cima e notou Hayden parada à porta.
— Desculpe, você precisa ir a algum lugar?
Hayden deu uma piscadinha.
— Tenho uma fusão a discutir.
Ireland balançou a cabeça. Fusão, é claro.
DEZ
— DROGA — BRAN PRESSIONOU os dedos na testa. Ele ligou para o presidente da
Tech Banquet e explicou a situação. Disse que estava demorando demais e que precisariam
contratar alguém de fora para resolver o problema com o software.
E o homem concordou.
Se ele e os irmãos já não tivessem investido uma pequena fortuna na atualização, teria
abortado o projeto ou procurado outra empresa para fornecer o serviço. Mas não havia como
voltar atrás agora.
Ireland foi muito bem recomendada. De acordo com tudo o que ouviu, ela poderia
trabalhar para qualquer empresa nos Estados Unidos. Ou era uma sorte ela ter se mudado para
Lake Tahoe para estar perto da prima, ou um azar terrível, dependia do ponto de vista.
Bran ergueu a cabeça e mexeu na folha diante de si. Cali pegou o currículo de Ireland e
mandou para ele. Era impressionante. Ele nunca ouviu falar de metade das linguagens de
programação em que ela era fluente, mas uma coisa estava clara: a mulher seria capaz de ajudar
o Club Tahoe.
O que queria dizer que Bran a contrataria, quisesse ou não. Isso é, se ela aceitasse.
As únicas condições que o presidente da empresa impôs foram uma verificação rápida dos
antecedentes dela e alguns formulários para ela preencher no RH. O que queria dizer que só
faltava uma coisa.
Bran esticou os braços e flexionou os dedos entrelaçados, as juntas estalaram. Pegou o
telefone e discou o número que estava na folha diante dele.
— Alô?
A garganta apertou. O que essa mulher tinha? Até mesmo a voz leve e aveludada deixava
seu corpo tenso.
— Ireland, é o Bran Cade. Você pode falar?
— C-claro.
Lá estava a gagueira. Ele a estava deixando nervosa. Ele estava se deixando nervoso.
— Eu gostaria de te contratar para ajudar o Club Tahoe com os problemas de software de
que falamos na outra noite. Se você não estiver mais interessada...
— Eu estou. — As palavras saíram rápido, e ela pigarreou. — O Blue Casino está
flexibilizando as minhas horas para eu poder fazer o trabalho de consultoria.
— Ah. Tudo bem. — Aquilo era normal?
Bran balançou a cabeça. Não importava. Tudo o que importava era consertar o desastre do
projeto que ele insistiu em implantar no resort.
Ele encaminhou a documentação para o e-mail que ela passou e vinte e quatro horas
depois, Ireland estava contratada.
Para trabalhar com Bran. De perto, à noite... Que Deus o ajudasse.

***

Ireland atravessou a entrada do Prime na noite seguinte, e Bran foi soltando o ar aos
poucos. Ela usava calça preta justa e uma blusa azul-clara abotoada até a garganta, não deixando
nada a mostra. E, ainda assim, a mulher roubou seu fôlego.
Ela mexia com seus instintos mais primais, fosse quando estava gritando com ele ou
emitindo sons baixinhos durante um beijo. Tinha perdido o juízo naquele dia no barco, as mãos
vagaram, contra a sua vontade, por cada curva tentadora a seu alcance.
Até que ela o empurrou. Garota esperta.
Não podia confiar em si mesmo quando ela estava por perto. Mas o clube e os irmãos
dependiam que ele fizesse justamente isso.
Aquela era uma péssima ideia.
Bran atravessou o restaurante e parou perto da entrada, mantendo uma distância segura.
— Gostou do Prime?
O Club Tahoe tinha uma forma de T na parte de trás do hotel. Havia lojas, restaurantes e o
cassino. que ocupava o piso inferior, tudo escondido da entrada austera do clube.
— Sim, nenhum problema. — Ela o olhou com ansiedade.
Ele a estava encarando. E precisava parar. Piscou e apontou para o bar.
— Aceita uma bebida antes de começarmos?
O olhar de Ireland percorreu o teto, que ostentava o mesmo vidro lapidado do bar, os
detalhes dourados que causavam um efeito arrasador e proviam a sala com um elemento
refletivo.
— Água, por favor. O lugar é lindo.
Bran contornou o balcão e serviu água do bar.
— Meu pai era perfeccionista. Não poupou despesas com o Prime.
Ela franziu a testa e o encarou.
— Acho que eu nunca disse, mas sinto muito pela sua perda.
Bran cerrou o punho. Fazia mais de um ano que o pai se foi, e a raiva, a frustração e a dor
ainda estavam frescas. Nunca acertou as coisas com ele e, por isso, vivia com o arrependimento.
— Obrigado. — Ele apontou para os fundos da sala, precisando de distração. — Posso te
mostrar onde estão os computadores reservados para os pedidos on-line?
Ireland assentiu, e Bran a escoltou até os fundos, explicando os problemas que estavam
tendo. Não havia tablets de mesa no Prime, dada a sofisticação do lugar, mas ele trouxe um
aparelho de outro restaurante e mostrou a Ireland como eles funcionavam. Quando funcionavam.
Ela balançou a cabeça.
— É um software básico e parte eletrônica. Por que a empresa da qual você comprou não
resolveu o problema?
A nova tecnologia para restaurantes era top de linha nos serviços de alimentação. Ou
deveria ser.
— Aqui está o homem a quem você pode fazer essa pergunta. Talvez o programador da
empresa possa te explicar, porque eu não posso.
Ireland olhou para James e mordeu o canto do lábio.
— Eu trabalho melhor sozinha... mas entendo que eles queiram o programador presente.
— Ele é o programador mesmo? — Bran resmungou. — Parece que tudo o que ele faz é
beber os meus refrigerantes diet e conversar na internet. Mas o que eu sei? — Ele abriu um
sorriso debochado.
As pálpebras de Ireland tremularam por trás dos óculos sensuais que ela usava, e o olhar da
mulher caiu para a boca de Bran.
O sorriso dele sumiu. Se acalme. Ela não estava pensando no beijo – beijos. Ele só estava
imaginando coisas.
Ireland pigarreou.
— Vou arrumar.
Eram as exatas palavras que ele precisava ouvir, mas não foi nisso que se concentrou. O
olhar travou nos lábios carnudos dela. Lábios que havia beijado há poucos dias... e que não
beijaria de novo.
Bran rangeu os dentes.
— Eu confio em você. — Não confiava era em si mesmo.
Caminharam em direção à mesa em que James montou seu escritório temporário. Ele
avaliou o peito de Ireland enquanto os dois se aproximavam.
Bran respirou fundo para se acalmar. Técnico babaca. Sabia que não gostava do homem.
Claro, o próprio Bran havia acabado de admirar os lábios de Ireland e outras coisas, mas ele a
respeitava.
Espere, será mesmo que a respeitava?
Droga de software. Se não fosse pelos problemas que estavam tendo nos restaurantes, não
teria que se perguntar essas coisas. Manteria distância de Ireland, não colocaria a sua força de
vontade à prova.
Ela era uma mulher linda, e extremamente sensual, com cabelos ruivos brilhantes e um
corpo espetacular. Poucos homens seriam capazes de não olhá-la duas vezes. Mas Bran queria
estrangular James. E ele não sabia se era por não confiar no sujeito ou por não ter gostado da
forma como ele a estava analisando. O último era mais perturbador.
— Essa é a Ireland, a nova consultora de software — Bran falou. — Ela vai te ajudar com
a falha técnica.
Um tremor surgiu no canto da boca sorridente de James.
Não. O técnico não gostou nem um pouco da chegada de Ireland. Que pena. Ele deveria ter
pensado nisso antes de desperdiçar o tempo do clube.
Ireland começou a interrogá-lo quanto à natureza do problema, e Bran sentiu um prazer
imenso ao ver o homem se contorcer. O corpo dele estava tenso, mas ele balbuciou uma
descrição geral do que estava acontecendo. E então os dois começaram a falar de codificação de
internet, e o olhar de Bran ficou perdido.
— Vou deixar vocês trabalhando — Bran disse e se afastou, um peso enorme foi tirado de
seus ombros. O que era estranho. Normalmente, Ireland provocava estresse. Mas o desconforto
que ela causou em James foi excitante e tranquilizador ao mesmo tempo.
Bran sorriu. Palavras como “você fez isso?” e “que tal isso?” flutuavam pelo espaço quase
vazio da sala conforme Ireland interrogava James. O rosto do técnico ficou vermelho, e ele
pareceu estar tendo dificuldade para continuar. A imagem era inestimável.
Era possível que Ireland conseguisse salvar Bran da enrascada, e aquilo era algo em que
pensaria mais tarde. Porque se a consultora conseguisse colocar o sistema no ar, estaria em
dívida com ela.
E Bran não estava acostumado a isso.
As mulheres das quais foi íntimo não foram casos de uma noite só, por assim dizer. Eram
consideradas amigas com benefícios. E essas mulheres não viam problema quando ele parava de
ligar.
Pelo menos, era o que supunha...
A boca se contorceu. Se havia uma coisa de que tinha certeza era que Ireland lhe daria uma
bronca por ser tão desleixado. Ou talvez fosse algo tão simples quanto se importar que ela ficaria
chateada.
Droga.
Não queria mais ficar introspectivo. Jogou o pano no balcão. Ficaria feliz quando ela não
estivesse mais trabalhando para o Club Tahoe. A mulher não fazia bem para a sua consciência.
ONZE
BRAN PASSOU A noite trabalhando na papelada, tentando não pensar que Ireland estava
do outro lado do salão. Algumas horas depois, James juntou as coisas dele e se aproximou.
— Algum progresso? — Bran perguntou.
James lançou um olhar na direção de Ireland.
— Isso não vai dar certo. Essa mulher é... insuportável.
Bran empurrou a documentação para o lado, cruzou os braços, abafou o calor que enchia o
seu peito e forçou os bíceps a se acalmarem antes que ele fizesse algo como esganar James.
— Por quê?
— Ela estragou meu código. Tire-a do projeto ou estou fora.
Bran inclinou a cabeça para o lado.
— É uma ameaça? Porque, se me lembro bem, você trabalha para mim. E nenhum dos
meus funcionários me ameaça ou ameaça as pessoas que contrato.
James olhou para os braços cruzados de Bran, e o pomo-de-adão subiu e desceu.
— Só estou dizendo que ela está piorando a situação.
Bran bateu os dedos no braço. Ele não confiava em James, mas se manteve inexpressivo.
— Você acha?
O técnico abriu a boca como se esperasse uma resposta diferente.
— Acho.
— Vou levar sua opinião em consideração. Mas só para ficar claro, você continuará a
trabalhar com a Ireland.
— Mas...
— O currículo dela impressionou o seu chefe. Antes de você condenar a mulher, talvez
devesse considerar observar o que ela consegue fazer.
James afastou o olhar.
— Esse é o problema — ele resmungou.
Um sorriso pacificador se espalhou pelo rosto de James.
— Voltarei de manhã... — Ele olhou para Ireland. — Para consertar as coisas.
Bran o observou ir embora. Duvidava muito que aquele homem resolveria o problema. Se
Bran costumasse apostar, diria que James era o problema.
Checou o relógio. Quase onze horas. E olhou na direção de Ireland. Ela havia feito um
coque e as ondas ruivas caíam ao redor do pescoço macio e sobre a testa. Ela encarava o
computador, digitando mais rápido do que parecia humanamente possível.
Ele fechou os olhos e respirou para se acalmar. A combinação de beleza e inteligência, ao
que parecia, era potente, e isso o estava aborrecendo de verdade.
Trabalharia mais uma hora com a papelada do restaurante. Depois, insistiria para que ela
fosse para casa. Ele ainda tinha trabalho a fazer, mas a mulher tinha um emprego em tempo
integral esperando-a pela manhã. Não poderia tirar vantagem ao esgotar toda a energia da
consultora quando ela estava fazendo um favor a ele e aos irmãos. Além do mais, ficar sozinho
com aquela ruiva até tarde o estava matando aos poucos.

***

O código da Tech Banquet estava enlouquecendo Ireland. Havia colunas que


ocupavam centenas de páginas desnecessárias. Ela poderia ter escrito o mesmo programa
com todos os adicionais supérfluos, usando metade do espaço. A maior parte do seu esforço
naquela noite foi gasto tentando descobrir a função dos códigos extras. Além de serem
inúteis, o que era simplesmente irritante.
Antes de James ir embora, ela tentou falar da ineficiência. E ele a repreendeu.
— Estou começando a questionar as suas qualificações — ele disse. — Qualquer um
com metade dos seus neurônios entenderia a razão para o processo que eu criei. — E então
tentou distrai-la com outra coisa no programa.
Aquilo não funcionaria.
Ireland precisava de mais autoconfiança no que dizia respeito a se relacionar com
homens, mas não com suas habilidades de programação.
Estava cansada de trabalhar com boçais como James. Ficou feliz por sua permanência
no Club Tahoe ser temporária. Lidar com o funcionário da Tech Banquet a estava fazendo se
lembrar do antigo emprego. Isso sem dizer que estar perto de Bran era estranho demais.
Toda vez que olhava para o homem, a mente voltava para o beijo. Estava confusa no
que dizia respeito a ele, e tentava manter tudo a nível profissional.
Por fim, limpou o código sem reescrevê-lo por completo, e esperou que as mudanças
consertassem os erros. Mas não estava nem perto de terminar quando notou a hora. Se
tivesse sorte, conseguiria dormir um pouco.
— Você ainda está aqui?
O coração disparou ao som da voz de Bran.
Ela olhou para o rosto dele e corou.
Por que seu corpo tinha que reagir a ele daquela forma? Não estava interessada no
homem depois de como a tratou no barco. O cérebro e o corpo não poderiam trabalhar juntos
para variar?
— Estou finalizando.
Ele colocou uma mão enorme no bolso da calça jeans, parecendo tão descansado como
se tivesse acabado de acordar. Já ela podia apostar que o cabelo estava um emaranhando e
que olheiras marcavam seus olhos.
— Como foi? — ele perguntou. — Conseguiu resolver o problema?
Ireland olhou para a tela do computador, dando a si mesma um momento para
responder. Odiava situações espinhosas, e aquela era uma delas. Algo em que se envolvia
com frequência, dada a área de atuação e os colegas com os quais costumava ser
confrontada.
— É difícil dizer. — Ela fez o backup do trabalho e desligou tudo. — O James
escreveu o programa e, para ser sincera, não sei por que ele não foi capaz de arrumar.
— Também não entendi isso.
— Ele... — Ireland hesitou. No seu último emprego, foi desprezada por criticar o
desempenho dos colegas homens.
— Ele o quê? — Bran perguntou.
Nunca conseguia contornar os problemas e tratar as coisas com tato. Então nem tentou.
— Há códigos desnecessários no programa. — E ela suspeitava que havia mais coisas
acontecendo. Até descobrir exatamente o que, não queria fazer acusações.
Bran assentiu.
— Você acha que é isso que está causando o problema?
— Talvez. Estou limpando o código.
— Reescreva, se for necessário. Só faça com que volte a funcionar.
Ireland piscou.
— Você quer que eu reescreva o programa?
Bran deu de ombros.
— Você consegue?
— Ah, consigo. Vai levar um tempo... é só que... bem, o James pode não gostar.
Depois que o técnico foi embora, ela limpou o código, mas não chegou a reescrever
seções inteiras. Isso demoraria um pouco mais e poderia deixar a Tech Banquet descontente.
Mesmo não sendo tão corajosa a ponto de reescrever o trabalho alheio.
— Eu não ligo para o que o James acha. Comprei um sistema de pedidos caro que não
funciona. Você foi contratada para consertá-lo, com a aprovação da Tech Banquet. Faça o
que for necessário. — Ele esfregou a mandíbula. — Mas salve o original. E não piore as
coisas — ele disse, curto e grosso. Ireland preferiu ignorar o tom de voz de Bran. Ela
pressionou a testa com os dedos e fechou os olhos.
— Você tem ideia de que reescrever o código cruzaria a linha ética da programação?
— Eu não me importo em magoar os sentimentos dele. Você não trabalha para o
James. Trabalha para mim.
Ela olhou para cima, e estreitou os olhos.
— Por que você apontar isso me deixa irritada?
Bran coçou a nuca.
— Desculpe... pelo incidente no barco.
Droga, ele ia mesmo remexer naquilo?
— Você está falando do beijo?
— Eu quis dizer as mãos. O beijo ainda estava por vir. — Ele sorriu.
Bran estava flertando com ela? Babaca.
— Eu gostei das mãos — ela falou, o sangue fervendo com a irritação. — Foram as
palavras que saíram da sua boca que preferia não ter ouvido.
— Bom saber. Da próxima vez, menos conversa e mais toques.
O queixo de Ireland caiu.
— Quem disse que haverá uma próxima vez?
— Você não disse que não haveria.
Ireland arrumou a pasta no ombro. Caramba, o homem era insuportável. Mas, por
alguma razão, ela não conseguia colocá-lo no mesmo patamar em que tinha colocado James.
Embora fosse razoavelmente bonito, o técnico perdeu toda a beleza depois da forma
como falou com ela e de fazer pouco da sua inteligência. Bran, por outro lado, era um
enigma.
No passeio de barco, ele sugeriu que ela tinha se jogado nele. Depois disse que não
ligava para ela. E depois, partiu para o epítome da babaquice ao falar da sua gagueira. Algo
que só acontecia quando ficava nervosa. Ireland o havia tachado de causa perdida e
mergulhado na água. Mas o idiota teve que ir atrás dela.
Para se certificar de que ela estava bem. E para beijá-la. Com paixão.
Com as mãos vagando, aquecendo certas partes. As delicadas partes femininas que
jamais foram aquecidas daquele jeito.
Ireland estava pronta para colocá-lo na geladeira, mas Bran saiu do roteiro com aquele
beijo e selou a confusão ao dizer que ela ficava bonita de óculos.
Ninguém jamais disse aquilo para ela. Teve um ou dois namorados que insistiram para
que ela usasse lente quando saíam juntos.
Seria mais seguro colocar Bran na categoria de caras feios e jogar a chave fora, mas
ainda não estava pronta. E agora, o homem estava flertando com ela.
Não ajudava em nada.
— É melhor eu ir. — Olhou nervosa para o computador. — É você o responsável pelo
fechamento?
— Vou cuidar de tudo. Vamos. — Ele deu um passo para trás, deixando-a passar. —
Vou te levar até a entrada.
Ireland balançou a cabeça.
— Está tudo bem. Posso ir sozinha.
— Está tarde e escuro lá fora. Não vou te deixar sair sozinha.
O Prime ficava nos fundos do resort, depois de um caminho sinuoso de lojas. Nada
estava aberto a essa hora, e estava escuro. Mais importante, Bran estava no modo homem
teimoso. Ireland tinha irmãos que entravam nesse modo mais vezes do que ela desejava e
sabia o quanto seria difícil arrancar essa noção da espécie masculina.
Estava cansada, e o cérebro ainda repassava o código que não fazia sentido. Em vez de
discutir, ela o seguiu e ele trancou a porta.
— Já vai encerrar a noite também? — ela perguntou.
— Tenho mais duas horas a cumprir.
Ele ficaria lá até as duas da manhã.
— Quando você dorme?
Ele olhou para ela com um sorrisinho no rosto.
— Preocupada com os meus hábitos?
Ireland fez careta.
— Deixe para lá. Esqueci com quem estava falando.
Um olhar magoado cruzou o rosto dele.
— Eu administro os restaurantes. Não chego tão cedo quanto os meus irmãos, mas fico
até tarde.
Não que ela tivesse qualquer razão para se preocupar com a saúde dele, mas a resposta
a deixou aliviada.
Por que deveria se preocupar se Bran dormia o suficiente ou não? Culpou seu cérebro
decodificado. O que a fez lembrar...
— Não queria te dar mais trabalho, mas você acha que poderia me arrumar os pedidos
que saíram errado depois que começaram a usar o novo software?
Eles chegaram ao saguão, e Bran tocou a parte inferior das costas dela, desviando-a de
um casal que ia em direção ao cassino do resort. A pele de Ireland aqueceu sob a leve
pressão.
Maldito seja Bran e essas mãos.
Ele estava sendo um cavalheiro, mas não haveria mais toques de agora em diante, não
importava o que ele havia dito mais cedo.
— Claro — ele falou. — Já estava repassando todos. Para que precisa deles?
Tinha suas suspeitas quanto aos pedidos e ao programa... e quanto a James. Mas não
falaria nada até ter certeza.
— Só estou sendo minuciosa.
O porteiro abriu a porta, e Ireland a atravessou.
— Nos vemos amanhã?
Bran assentiu, e ela foi em direção ao carro, mas sentiu o olhar dele. O estacionamento
era bem iluminado, e havia pessoas indo e vindo. Não estava em um beco escuro, ainda
assim poderia jurar que ele estava sendo protetor de novo.
Olhou para trás e, claro, Bran a estava observando, esperando até que ela entrasse no
carro.
Ireland suspirou.
Pelo que Cali disse, Bran não fazia o tipo que namorava. Estaria louca se cedesse à
atração. Ele a magoaria, assim como seus antigos namorados. Assim como os homens com
quem costumava trabalhar.
DOZE
— O QUE FOI que você fez?
Ireland se encolheu com a forma como James falou com ela no Prime. Felizmente, os
clientes já tinham ido embora a essa hora. Até Bran saiu para cuidar de alguma coisa em outro
restaurante.
James não estava lá quando Ireland chegou no fim da tarde, então ela voltou para o que
estava fazendo na noite anterior: limpou o código e reescreveu as partes de acordo com as
instruções de Bran. O funcionário da Tech Banquet não tinha visto as mudanças que ela fez. Até
o momento.
— Deletei códigos desnecessários e reescrevi algumas partes — ela respondeu, tão calma
quanto podia, embora o coração estivesse acelerado. Os olhos castanhos dele estavam quase
pretos, e o corpo, tenso se inclinando na sua direção de uma forma que a fez se afastar.
— Não estrague o meu código, está me ouvindo? — Seu olhar percorreu o corpo dela, e
ele falou, ríspido: — Não tenho ideia da razão para eles terem mandado você em vez de me
deixarem cuidar de tudo. Mas se continuar estragando o programa, vou te culpar.
Era uma ameaça? Eles estavam falando de um código para um sistema de pedidos on-line,
pelo amor de Deus. O que estava acontecendo?
Ireland endireitou as costas.
— Eles me chamaram porque sou uma programadora experiente e o programa que você
criou é uma bagunça. Também há algo incomum nas etapas pelas quais você fez a receita passar.
James deu dois passos rápidos em sua direção até que ela conseguisse sentir o mau hálito
na pele.
— A única razão para eu ter te tolerado esse tempo todo é que você tem uma bunda linda.
Mas se pensa que vou deixar você ferrar com a minha carreira, está muito enganada.
A respiração de Ireland saiu trêmula, e ela empurrou James.
Ele a agarrou pelo braço e a puxou para o seu corpo.
— Eu gosto das coisas mais violentas, então não me provoque. — Ele se abaixou. —
Porque eu mordo de volta.
— O que está acontecendo?
Ireland se afastou e, dessa vez, James a soltou. Ela olhou para o outro lado do salão e viu
Bran de pé na entrada.
— Lembre-se do que eu disse — James ameaçou, baixo demais para Bran conseguir ouvir.
Ele se sentou à mesa e começou a descarregar a pasta como se nada tivesse acontecido.
James olhou para Bran com um sorrisinho.
— Ireland e eu só estávamos repassando algumas sugestões que ela tinha. Mas as
mudanças que ela fez arruinariam outra parte do programa, então vou desfazer tudo. Que bom
que ainda tenho o original.
O rosto de Ireland aqueceu. Primeiro por Bran ter testemunhado a humilhação e as mãos
imundas de James. E, agora, o imbecil estava sugerindo que ela estragou algo e aquilo não era
verdade. Ela estava tentando corrigir a bagunça dele.
O pânico fez seu coração bater furiosamente. Quando se tratava de um impasse entre ela e
um colega de trabalho do sexo masculino, ela sempre perdia. Todas. As. Vezes. Ireland ficava
nervosa nessas situações em vez de permanecer controlada, o que nunca parecia uma coisa boa.
Bran atravessou a sala e fez sinal para Ireland segui-lo.
Eles foram para o escritório, onde James não poderia ouvir.
A mandíbula de Bran se movia de um lado para o outro.
— Eu não sei o que acabei de interromper, mas se certifique de manter esse tipo de
atividade para depois do expediente. Não estou pagando para você namorar.
As mãos de Ireland tremiam.
— Você entendeu errado. Não foi o que aconteceu.
Bran ergueu a mão.
— Eu não me importo com o que vocês dois estavam fazendo. Só não faça aqui. — Ele
começou a se afastar, depois parou e olhou para trás. — E, pelo amor de Deus, não piore ainda
mais os nossos problemas técnicos.

***

Bran. Estava. Furioso. Tinha acabado de voltar ao Prime e encontrou Ireland nos braços de
James.
Quis arrancar os olhos.
Deveria ficar longe dela. Já havia comprovado que a mulher afetava o seu autocontrole.
Mas a pressão para colocar o sistema no ar foi maior.
Mas ver Ireland com James... o fez ficar pronto para matar o homem, e que o software se
danasse. Soltou um suspiro forte. Tudo bem, foi um rosnado.
Abriu os olhos e encarou os punhos cerrados. Trabalhar com ela não funcionaria. Já era
ruim ter que vê-la todos os dias. Não teria forças para vê-la com outro homem.
Precisava demiti-la.
Diria aos irmãos que Ireland não se adaptou. Que o técnico da Tech Banquet disse que ela
estava piorando as coisas.
Estremeceu. Não confiava em James. Mas eles já haviam pagado pelos serviços dele, e não
poderia se livrar do técnico até a empresa ser capaz de substituí-lo.
Cali não ficaria feliz se ele demitisse sua prima, e Bran suspeitava que Emily também não,
porém o que mais ele poderia fazer? Ele também era dono do Club Tahoe, e se matasse James
por não conseguir suportar vê-lo tocar Ireland, haveria problemas maiores. Para não mencionar
que se o que o técnico disse era verdade e Ireland estivesse mesmo piorando as coisas com o
programa, aquela era a última coisa de que precisavam.
Uma batida soou à porta do escritório.
Bran inclinou a cabeça para trás.
— Estou ocupado.
— Posso falar com você?
Era Ireland.
Fechou os olhos com força. Não estava pronto para demitir a mulher. O efeito que ela
causava não era culpa dela, mas se houvesse pelo menos uma fração de verdade no que James
disse, não poderia arriscar que ela piorasse ainda mais a situação. Poderia muito bem seguir em
frente.
— Entre.
Bran foi para o outro lado da sala. Não havia janelas no seu escritório e o lugar não era
muito grande, mas era para onde podia ir para se livrar do caos dos restaurantes.
Ireland entrou e fechou a porta.
De repente, a sala pareceu diminuir. Ele sentiu como se estivesse em um chuveiro cheio de
vapor com o perfume leve de Ireland vindo em sua direção.
A mulher tinha cheiro de flores e laranja e o lembrava de do verão, mulher e comida.
Basicamente, tudo o que ele amava na vida.
Voltou para sua mesa e remexeu os papéis.
— Em que posso te ajudar?
— Eu-eu... — Ela parou, e ele a ouviu respirar fundo. — Desculpe. Não sou boa com
confrontos.
Ele olhou para cima. Ela estava de brincadeira?
— Você pareceu se dar muito bem com isso lá no barco.
Ela fez uma careta.
— Aquilo foi diferente. Isso aqui é trabalho. E no barco, você... você me irritou.
Verdade. As pessoas costumavam agir profissionalmente no trabalho. Então qual era a
Ireland verdadeira? A ferinha do barco ou a profissional inteligente e passiva?
— Então o que aconteceu no barco foi um caso isolado? — Não sabia se estava se
referindo ao temperamento dela ou aos beijos. Provavelmente aos dois, porque, de repente,
sentiu a necessidade de se torturar.
Ela cruzou os braços.
— Eu não sei. Você parece ter o dom de me irritar.
Lá estava a fagulha.
Durante toda sua vida, Bran saiu com mulheres quietas e boazinhas e agora ele não
conseguia se esquecer dessa mulher inteligente com um temperamento infernal. Havia algo
errado com ele.
— Você veio aqui por uma razão. Estou presumindo que não foi para me dizer o quanto eu
te deixo frustrada.
Ireland fechou os olhos.
— Não. Claro que não. Desculpe. Eu-eu...
— Só estamos os dois aqui. Não há necessidade de ficar nervosa. Lembre-se, eu sou o cara
com quem você se sente confortável para gritar.
Um sorriso suavizou sua expressão.
— Isso é verdade. — Ainda assim, ela hesitou. — Eu queria falar sobre o que você viu lá
fora. Não é o que você pensa. Não há nada acontecendo entre James e eu.
Bran deixou os papéis que estava mexendo de lado.
— Não foi o que pareceu.
— Juro que não tenho nenhum interesse nele.
— Ele te tocou.
Uma sombra cruzou os olhos de Ireland.
— Não era...
— Não era o quê? Ele te tocou sem a sua permissão?
Ela passou os braços ao redor da cintura e fechou os olhos.
— Ele não gosta de mim. Nem me respeita. Quando isso acontece, os homens...
O coração de Bran disparou, e a pele se aqueceu com o fluxo de sangue bombeando. Ele se
aproximou, encurtando a distância entre eles.
— Às vezes o quê? Me diga o que está acontecendo, porque estou começando a visualizar
cenários que não estão ajudando em nada a minha pressão sanguínea.
— Por que você se importa? Você também não gosta de mim.
Ele desviou o olhar.
— Eu gosto o suficiente. — Até demais. — Agora me diga.
— Eles são babacas. — Ela cobriu a boca. — Desculpe. Isso foi inapropriado. O que eu
quis dizer é que, às vezes, os homens com quem trabalho... Bem, quando o orgulho deles é
ferido... e, por alguma razão, eu tenho o dom de ferir o orgulho masculino, eles se transformam
em idiotas. O que você viu foi o James sendo um cretino arrogante.
Bran estalou a mandíbula. Ele viu James agarrando Ireland, e se não tinha nada a ver com
paixão, talvez precisasse matá-lo.
Como ele se atrevia a ameaçá-la? Ou a qualquer mulher?
Ireland era mais inteligente que James, e o idiota sabia.
— Aquilo não é um homem sendo babaca. Era um homem te assediando sexualmente.
Talvez até abusando de você. — Bran parou e passou a mão pelo cabelo. De repente, outra coisa
lhe ocorreu. Era chefe de Ireland, e ele tinha... — Você se sentiu assim comigo? No barco?
— Não. Foi diferente. Além do mais, eu não trabalhava para você na época.
Ainda assim, ele estava bravo consigo mesmo. Foi um cretino com ela também, mesmo
não sendo sua consultora na época.
— Eu nunca deveria ter tocado em você. Foi errado.
Ireland deu um passo à frente.
— Não foi. Quer dizer, sim, você me irritou, mas...
— Mas? — Ele não precisava de nenhum mas. Precisava que ela concordasse com ele.
— Como eu disse, gostei das suas mãos em mim. — O rosto dela ficou tão vermelho
quanto seu cabelo. E o temperamento, quando provocada.
Apesar de a parte lógica do seu cérebro estar gritando que a conversa estava tomando o
rumo errado, Bran deu um meio sorriso.
— Certo. Mais mãos, menos conversa.
Os lábios dela se contorceram.
— Preciso ter cuidado com o que falo perto de você. Só serve para alimentar o seu ego.
— Não é todo dia que uma mulher bonita me diz o quanto gosta das minhas mãos.
— Bonita? — Ela empurrou os óculos para cima. — Eu não sou bonita.
Ele bufou. Ela franziu a testa.
— Os homens admiram algumas coisas, mas o resto... — Certo. Coisas. Que tal seios
enormes?
— Podemos chamar de coisas se você quiser. E o resto é impressionante também.
— Eu gaguejo — ela continuou como se não tivesse ouvido. — Não sou boa com
confrontos. E uso óculos.
— Seus óculos são um espetáculo. Eu até gosto da gagueira, porque significa que te afeto.
Ela inclinou a cabeça para o lado.
— Por que você ia querer me afetar?
Boa pergunta. Não deveria querer. E, ainda assim, ele se voluntariou. Porque queria...
muito, muito mesmo, mexer com ela. E fazê-la se sentir bem.
Ele estendeu a mão, tocou no ombro dela e foi deslizando devagar pelo braço. Então a
puxou para si.
— Me diga para parar.
— Por que eu faria isso? — ela perguntou, distraída, conforme ele deslizava a mão para
cima e para baixo em seu braço.
— Porque eu sou seu chefe. — Motivo pelo qual ele também deveria estar pondo um fim à
situação... — É errado. — Ele começou a se afastar, mas Ireland se inclinou para frente e
descansou a testa em seu peito. Bran se esforçou para não embalar a cabeça dela com a mão.
Estava lutando demais contra os instintos.
Ireland passou os braços de leve ao redor da sua cintura.
— Só é assédio se for indesejado ou se eu me sentir pressionada para estar com você por
causa da minha carreira. Felizmente para você, não preciso desse trabalho.
— Que bom. — Ele acariciou as costas dela, perdendo a batalha, incapaz de afastar as
mãos. — Porque eu não acho que possamos continuar trabalhando juntos.
— Por causa do James?
— Não. Por causa disso. — Bran se abaixou e beijou os lábios macios e carnudos de
Ireland. — Você deveria mesmo me dizer para parar.
— Tudo bem. Pare de conversa. Mais beijos. — Ela seria a sua perdição.
Ele não deveria dar ouvidos. Precisava se controlar. Mas, não.
Segurou as laterais da cabeça dela e a beijou com uma paixão muito preocupante. No
momento, não conseguia se lembrar de por que beijar e tocar Ireland era algo ruim.
Passou as mãos pelas costas dela e apertou o traseiro perfeito.
Ele se deteve. Precisava se afastar...
— Não se atreva a pensar em falar nesse instante — ela disse. — Lembra da regra?
Ele gemeu. Estava prestes a perder o controle.
Ela passou as mãos pelo seu peito e barriga, e a virilha se retesou.
— Pare de pensar — ela falou, ofegante.
Ireland recuou e o puxou consigo, a parte de trás das coxas dela bateram na mesa.
Bran segurou suas pernas e a colocou sobre a mesa em um milésimo de segundo. Ela era
linda demais. Desejável demais. Doce e sexy demais.
As pernas o envolveram pela cintura, e o calor dela pressionou sua ereção... ele parou de
pensar sobre o que deveria ou não fazer.
Passou a mão pelos seios fartos e voluptuosos, e ela gemeu, apertando as coxas ao redor
dele.
Ela se inclinou para trás e o puxou até que a cobrisse com o corpo. Bran a beijou com uma
paixão que não sabia que existia. Por um momento, temeu estar machucando Ireland e hesitou.
Em vez de empurrá-lo, ela puxou sua camisa. Ele ergueu os braços para que ela pudesse
tirar a peça e voltou as mãos para onde elas estavam: nos quadris dela, no recuo suave de sua
cintura e nos seios macios.
Ireland tocou seu peito nu e os músculos tensionaram com a sensação.
Bran passou os dedos por baixo da bainha da blusa dela. Faria praticamente qualquer coisa
para ficar nu com ela, mas não queria forçar a situação. Tinha certeza absoluta de que nada
daquilo deveria estar acontecendo e, mesmo assim, não conseguiu encontrar forças para parar.
Não precisou. Porque Ireland tirou a blusa e a jogou para longe.
— Caramba. Você é linda — ele falou ao beijar os seios exuberantes pelo sutiã preto de
cetim. Eles se derramaram para os lados quando ela se deitou de costas. Não eram falsos, como
havia presumido. Tudo em Ireland era natural: o corpo, a inteligência e a paixão.
Ele estava distraído com os seios dela, tocando seus ombros suaves e arredondados,
agarrando seus quadris... quando sentiu o puxão no zíper do jeans.
E aquilo o tirou da bruma de luxúria, apenas o suficiente para ele se afastar.
O suficiente para perceber o quanto aquilo era errado.
— Ireland, precisamos parar.
Ela pareceu confusa.
— Eu não tenho proteção.
A luz de compreensão brilhou em seus olhos.
— Eu não tenho também. Não estava esperando... — Ela abriu um sorriso tímido.
Ele a levantou da mesa e a puxou para seu peito. A sensação era maravilhosa.
— Então precisamos parar agora. — Mas e depois? Ele estava mesmo considerando
começar algo com a Ireland?
Esteve errado sobre ela quando se conheceram. Ireland não era uma mulher bonita e fútil.
Mas aquilo significava que era menos perigosa? Nunca conseguia pensar direito quando se
tratava dela. As atividades do momento... era o caso em questão.
Ele a apertou com mais força. Mesmo não sendo a coisa mais segura a se fazer, ela foi a
primeira mulher que ele não quis largar. O que queria dizer que teria que dominar sua falta de
controle e fazer tudo certo se quisesse que aquilo funcionasse.
— Eu gostaria de te levar para sair. Posso?
Caramba, quando foi a última vez que chamou uma mulher para sair? Não se lembrava.
Ela se inclinou e beijou o peito dele, assentindo.
— Eu adoraria.
Ireland não era o que ele tinha planejado. Nem tinha certeza de que estava pronto para ela.
Mas, dessa vez, estava disposto a correr o risco.
TREZE
— EU NÃO FAZIA ideia de que planejar um casamento fosse tão chato. — Cali
atravessou a sala com Buddy nos braços enquanto empurrava o cesto de roupas com o pé.
Ela colocou o cãozinho no sofá dele, que era basicamente uma caminha de cachorro em
cima do sofá para que pudesse olhar a sala como o príncipe que era.
— Casamento na praia ou no clube? Talvez no lago... Deus, são tantas opções, e o Jaeg não
vai ajudar, porque ele diz que eu que tenho que escolher. Ele disse que ficaria feliz indo ao
cartório para oficializar as coisas. Mas então, os pais dele ofereceram a casa com vista para o
lago para a festa. É bom ter alternativas, mas quero que tudo dê certo e não consigo decidir...
Ireland, você está me ouvindo?
Ireland estava deitada no sofá ao lado de Buddy, sonhando acordada e com um ouvido
ligado na prima enquanto revivia os momentos que passou nos braços de Bran. O homem que a
afastava a cada oportunidade. Exceto quando a estava puxando para si.
E, caramba, na noite passada ele estava tocando e amando o seu corpo. As imagens
mentais daquele cabelo bagunçado e sensual enquanto ele beijava seus seios a fizeram se
contorcer. Conseguiu dizer um “estou ouvindo” engasgado.
Cali a olhou com descrença.
Ireland e Bran tinham parado antes de evoluírem para sexo intenso sobre a mesa, porque
Bran foi esperto e se lembrou de que não tinha camisinha. A cabeça de Ireland só estava focada
em tirar a calça dele. Qual era o problema dela?
Nunca foi voraz sexualmente falando, e lá estava ela, tentando despir o pobre coitado. Mas
depois que a apreensão que sentia quanto a ele foi esquecida, quase terminou a tarefa sem sequer
pensar nas consequências. Como engravidar.
Engravidar. D Bran. Caramba, ela estava fora da sua zona de conforto, e ainda assim podia
imaginar menininhos de cabelo louro-escuro e olhos azuis muito intensos. Tudo com um homem
confuso pra caramba. Ela havia perdido o juízo!
Ele a chamou para sair ontem à noite, e de jeito nenhum diria não. Estava curiosa, nada
mais. A forma como ele a beijou e tocou poderia ter algo a ver com isso. Porque o homem tinha
talento. Ninguém a tocou com tanta reverência e paixão como Bran fez. Como se ele achasse que
ela era um tesouro...
Precisava parar de pensar nele.
— Olá? Terra para Ireland — Cali disse. — Em que você está pensando? Está aí, sorrindo,
se remexendo e ignorando completamente o meu surto.
— Desculpe. — Ireland precisava se acalmar. Era só um encontro, e Bran não tinha ligado
para confirmar.
Ele ligaria? E se ele desistisse?
— Ireland!
Droga.
— Sim. Estou ouvindo.
Cali se sentou no sofá, forçando Ireland a puxar as pernas ou a se sentar direito.
— O que é esse sorrisinho bobo? — Cali arregalou os olhos. — Você transou?
— O quê? Não — Ireland respondeu. Mas poderia ter transado. Argh.
— Então o que aconteceu?
Não havia como Ireland esconder aquilo da Cali. A prima era implacável, e a importunaria
até ela ceder.
— O Bran me chamou para sair ontem. Mas nada concreto, então não faça alarde.
Cali apertou a mão de Ireland.
— Puta. Merda. O Bran te chamou para sair? Você sabe o que isso significa?
Ireland se remexeu no sofá e olhou para a mão que estava ficando roxa sob o aperto de
Cali.
— Que ele quer me levar para jantar? Eu não sou tão sem noção assim. Já tive encontros.
— Alguns... tudo bem, não com muita frequência. E não com alguém tão atraente quanto ele.
Cali saltitou, finalmente soltando a mão da prima.
— É do Bran que estamos falando. Ele também é conhecido como “monge Cade”. Ele não
vai a encontros. — Cali fez careta. — Pelo menos, não com frequência. É difícil imaginar que
aquele bonitão não transa.
Ireland também fez careta. Não gostou de pensar em Bran com outras mulheres.
— Vá direto ao ponto.
— O ponto é — Cali disse —, eu nunca ouvi falar de ele estar interessado o bastante para
sair com alguém em um encontro de verdade. Ele nunca aparece acompanhado. Nunca fala com
mulheres quando saímos. Você tem alguma ideia da importância desse momento?
— Tenho certeza de que não é tão importante assim.
Os olhos de Cali ficaram vidrados.
— Você vai se casar com o Bran.
Ireland riu e estalou os dedos diante do rosto da prima.
— Você ainda está aí? Porque eu acho que acabou de perder o juízo.
— Me escute. — Buddy rastejou para o colo de Cali, e ela o afagou, distraída. — Se o
Bran te chamou para sair, é porque ele está muito interessado em você.
Ou com tesão, Ireland pensou.
— Você precisa parar com essa obsessão com casamentos. Está refletindo em todo o resto.
— Tudo bem, chame a parte do casamento de previsão. A questão é que ele começou a se
mexer.
Ireland riu.
— Nós só... — Temos uma química ardente, fumegante e de arrancar as roupas?
Queremos tirar as peças íntimas um do outro?
Cali arqueou uma sobrancelha.
— Só o quê?
— Ficamos. E foi bem sensual, então... ele me chamou para sair.
Cali deu um tapa no braço de Ireland, e ela teve medo de que até o fim da conversa estaria
cheia de hematomas.
— Puta merda! — Quando Ireland deu por si, a prima estava em cima dela, apertando-a,
com Buddy espremido no meio e empurrando sua barriga para se libertar. — Ele ama você!
Ireland salvou Buddy do do aperto de Cali.
— Fique calma. Ele não me ama.
Jaeg atravessou a porta, e Buddy foi correndo para ele.
— O que está acontecendo? — Ele pegou o cachorro com uma mão.
— A Ireland e...
Ireland tampou a boca da prima. Não precisava da prima contando para todos que Bran a
amava antes mesmo de ele ter a oportunidade de levá-la para sair.
— Nada. A sua noiva enlouqueceu tentando planejar o casamento. Será que deveríamos
obrigá-la a fazer terapia especial para noivas psicóticas?
Jaeg assentiu.
— É uma possibilidade. Ou poderíamos escolher um lugar até o fim da semana.
Cali se sentou e finalmente deu um pouco de espaço a Ireland que, com cuidado, tirou os
dedos da boca da prima, enviando um olhar de aviso que ela pareceu captar.
A mulher ajeitou o cabelo e olhou para o noivo.
— Nosso casamento será o dia mais importante das nossas vidas. Não pode ser em
qualquer lugar.
— Claro que pode. Melhor do que bater o recorde de noivado mais longo do mundo.
Vamos nos casar, linda. Quem se importa com o local? O momento vai ser incrível, não importa
o que aconteça.
Os olhos de Cali marejaram, e ela se levantou, foi até Jaeg e o abraçou.
— Você é o homem mais fofo do mundo, e você está certo. Vou me forçar a escolher o
lugar até o fim da semana. — Ela mordeu o lábio e olhou para Ireland. — Mas não vai ser fácil.
— Vou ajudar — Ireland disse.
— Já disse que você é a melhor prima do mundo?
— Já, mas não me importo de ouvir todos os dias.
— Você é a melhor — Cali disse. — Agora, me ajude com a roupa para que possamos ir à
inauguração da casa do Wes e da Kaylee.
Ireland pegou uma toalha no cesto e começou a dobrar.
— Inauguração? Eles já não estão morando lá há um tempo?
— Já, mas assim que se mudaram, se casaram e aí o bebê nasceu. As coisas foram se
acumulando e eles não puderam dar uma festa decente.
— Tem certeza de que eles não vão se importar por eu ir junto?
— A Kaylee mesmo perguntou se você ia. Eu me adiantei e confirmei a sua presença.
Ireland revirou os olhos. Cali era o que se chamaria de insistente, mas ela tinha um coração
enorme e sempre teve boas intenções.
E quem era Ireland para reclamar? A prima a havia apresentado a Bran, e depois de um
começo difícil, as coisas estavam melhorando.
CATORZE
BRAN COLOCOU UMA garrafa do melhor vinho do Prime sobre o balcão da cozinha de
Wes e Kaylee. As vozes altas dos irmãos vibravam no ar.
Wes olhou para cima, foi até ele e deu um tapa em suas costas.
— Que bom que você conseguiu vir. A Kaylee está animada para exibir os móveis novos.
Graças a Deus que foi ela quem decorou, não eu.
— Sem sombra de dúvida.
Wes o olhou fingindo estar magoado.
— Eu tenho bom gosto. Escolhi a Kaylee. Ela deixa o meu mundo mais atraente.
— Essas são as palavras mais verdadeiras que já ouvi. Ela te tirou daquela cabana de um
quarto.
— Na qual você mora agora.
Bran sorriu.
— Se eu não estivesse quebrado... — Ele olhou ao redor da sala. Kaylee e Wes estavam ali
há quase um ano, mas mobiliaram o lugar há pouco tempo.
Era estranho refletir sobre o quanto havia mudado. Pouco tempo atrás, todos os irmãos
Cade eram solteiros. Agora, Wes e Adam estavam casados, e Levi estava seguindo o caminho da
alegria matrimonial com Emily. Dos cinco, só Bran e Hunt defendiam o forte dos solteiros. O
que fazia sentido.
Bran não conseguia imaginar Hunt sossegando. Ele amava demais as mulheres. Prender
aquele cara a apenas uma? De jeito nenhum. Para não mencionar que o irmão mais novo escolhia
a mulher errada toda vez. De certa forma, os dois eram igualmente amaldiçoados.
Se Bran permitisse que seus instintos controlassem suas ações, seria bem provável que
estivesse na mesma situação que Hunt: polinizando a cidade, uma mulher bonita por vez. Bran
tomou medidas para mudar os hábitos. Tinha regras. Embora, precisava confessar, ignorou
algumas desde que Ireland apareceu na cena.
Então ele queria levá-la para sair. E vê-la nua. O que havia de errado?
Ele transava às vezes... bem às vezes. Quando era seguro e não havia compromisso,
nenhuma emoção envolvida. Mas desde que Ireland apareceu na sua vida, ele se sentia como um
animal enjaulado, faminto por atenção. A intensidade das suas emoções acendia diversos sinais
de alerta, mas ele não conseguiu se impedir de chamá-la para sair.
Poderia manter as coisas casuais. Respeitosas e sem compromisso. E, se tivesse sorte,
nuas.
Ireland nua...
Fechou os olhos com força e soltou um suspiro baixo, chamas rolaram do seu peito direto
para a virilha.
Ele precisava parar de pensar na ruiva sem roupa. Não o ajudava a manter a racionalidade.
Fazia o sangue ir direto lá para baixo, onde nenhuma decisão correta era tomada.
Se convenceu mesmo a manter as coisas livres de compromisso? Que Deus o ajudasse se
estivesse errado. Já tinha muitos desastres com que lidar, não precisava adicionar um romance à
lista.
Um gritinho agudo veio da sala de Wes e Kaylee.
Bran olhou em direção à cozinha lotada, e avistou Hunt, que já tinha chamado a atenção da
única mulher solteira no recinto.
Ele avançou e encarou o irmão mais novo, deitado no chão com a sobrinha bebê em cima
dele.
— Não perdeu o encanto. Ela está babando em cima de você.
Hunt deu um sorriso bobo para Harlow e a ergueu como se fosse um avião.
— O que posso fazer se as mulheres me amam?
A bebê riu, e um fio de baba caiu na camisa de Hunt.
— Pare de monopolizar a menina — Bran disse. — Faz uma semana que eu não vejo a
Harlow. O Wes andou ocupado demais com o campo de golfe para levá-la ao restaurante.
Entregue-a para mim.
Hunt o olhou com irritação e ficou de pé, com a bebê em um braço.
— Só por um minuto. Acabei de pegá-la, e não usei minha cota.
Bran acomodou Harlow em um braço e puxou o vestidinho lilás para cobrir a barriguinha
redonda até chegar à legging. Ele soltou ruídos de provocação nas costas da mão gordinha da
menina.
Risadinhas de bebê saíram da boca babona.
Wes disse que os dentes dela estavam nascendo e que aquela era a razão para o excesso de
saliva, mas o que Bran sabia? Ele limpou a boquinha com a manga da camisa social e a beijou na
cabeça.
A sobrinha era o primeiro bebê com que os irmãos tiveram contato, e eles a mimavam
demais. Ela também era a primeira Cade mulher em duas gerações. Harlow era preenchida com
atenção e tinha a força total de cinco homens adultos superprotetores à qual recorrer.
Kaylee sempre os perturbava porque eles mimavam a menina. Não que fizesse diferença.
Fazer mulheres chorar era algo que não estava na linhagem Cade.
A sobrinha os faria sofrer quando crescesse. Haveria brigas. Derramamento de sangue.
Qualquer homem que se aproximasse de Harlow, teria que lidar com cinco homens de mais de
um metro e oitenta e seus amigos. Mas precisava confessar que a sobrinha parecia ter herdado o
temperamento dos Cade. Ela tinha pulmões bem fortes.
Bran se acomodou no chão e construiu torres com os blocos de montar, as quais Harlow
derrubou com os braços gordinhos. Ela balançou para frente e para trás para que o tio fizesse de
novo. O que, é claro, ele fez.
Aquilo não era mimá-la. Era ajudá-la a fortalecer os braços. Até Wes concordaria que seria
um bom treinamento para a futura carreira de Harlow no golfe.
Bran ergueu a bebê e beijou a bochecha macia enquanto ela fazia da da da, mexia as
perninhas e balançava em seus braços. Talvez permitissem que ela tivesse um namorado quando
completasse trinta anos. Se o homem fosse respeitoso e a tratasse como uma rainha.
Hunt esperava com impaciência e revirou os olhos para Bran. Depois o olhar foi para a
porta da frente, como se ele tivesse ouvido algo interessante, e um sorriso largo e predatório
atravessou o rosto dele.
— Veja só quem chegou. Eu estava me perguntando se ela apareceria.
Bran seguiu o olhar de Hunt, e o coração palpitou.
Ireland havia chegado com Cali e Jaeg, e Wes os estava recepcionando.
— Ireland está fora dos limites — Bran falou, encolhendo-se com a reação ríspida e
automática.
Hunt arregalou os olhos para ele.
— Desde quando?
De jeito nenhum Bran a reivindicaria. Ele a queria, mas prometeu a si mesmo que seria
casual. Mas isso não significava que permitiria que o irmão mulherengo fosse atrás dela.
— A Ireland é prima da Cali. Ela vai cortar sua ferramenta fora se magoá-la.
— Primeiro, não fale esse tipo de coisa, me deixa agoniado. Depois, não sei do que você
está falando. Eu amo as mulheres. Elas não saem insatisfeitas da minha cama.
— Mas você se envolve?
Hunt o olhou com uma expressão cômica.
— Claro que não. — O olhar do irmão percorreu Ireland. — Mas a Ireland é muito...
— Fora dos limites.
Hunt fez careta.
— Se eu não soubesse que você era celibatário, diria que você está interessado nela.
Bran mudou a bebê para o outro braço, e ela se agarrou à sua camisa com os dedinhos
fortes e minúsculos.
— Só estou sendo prático. Suponho que você vai querer a própria Harlow um dia. Vai
precisar de seu equipamento no lugar.
Hunt se encolheu.
— Pare de falar das minhas partes íntimas como se elas fossem a algum lugar. — Ele
olhou para a porta da casa e sorriu. — Não se preocupe com a Ireland. Sei o que estou fazendo.
Ele começou a andar em direção à porta, e Bran girou o braço e atingiu o peito do irmão.
— Estou falando muito sério.
Hunt estreitou os olhos e ergueu o queixo.
— Foi o que eu pensei. Da próxima vez que quiser reivindicar uma mulher, é só dizer. —
Ele se afastou antes que Bran pudesse discutir.
Não importava que o irmão pensasse que ele estava interessado na Ireland? Ele estava, de
certa forma. Isso não queria dizer que era algo sério.
Erguendo ainda mais a bebê, foi na direção da cozinha para cumprimentar os recém-
chegados. E Ireland. Para ser educado.
A jovem se vestia como uma profissional, com a roupa abotoada até o pescoço, quando ia
até o Prime prestar consultoria, mas as poucas vezes que a viu fora do trabalho, ela usava roupas
que abraçavam o corpo escultural. Hoje, era uma dessas noites, e o visual fez o coração de Bran
titubear. Ela era cheia de curvas naturais e um rosto bonito, e aquilo acabava com ele.
Bran achava que Ireland era a mulher mais bonita que já viu. Claro, queria se aproximar
dela. Não havia razão para o Hunt se empolgar. A atração que Bran sentia por Ireland era natural.
Ele simplesmente tentava descobrir como se aproximar sem causar complicações.
Quando conheceu a conheceu, o visual curvilíneo estarrecedor o deixou desconcertado.
Ainda deixava... no que dizia respeito a outras mulheres.
Mas não a enxergava mais dessa forma. Ela era mais que um rosto bonito.
Deus sabia o tipo de estrago que aconteceria se Bran cedesse à atração que sentia por ela.
Mas e se fosse só um pouco? Que mal faria?
Tentou agir com calma. Abordou os recém-chegados e apertou a mão de Jaeg.
Cumprimentou Cali e então se dirigiu a Ireland:
— Bom ver você.
Estava tranquilo. Relaxado. Ele era assim. Da última vez que esteve com a ruiva, a língua
estava praticamente na garganta dela, e as mãos da mulher estavam abrindo seu zíper.
Engoliu em seco e tentou bloquear a imagem antes que se envergonhasse.
E então a bebê agarrou o nariz de Bran, os dedos minúsculos se enfiando nos lugares,
lembrando a ele onde estava e o trazendo de volta à sua insignificância.
Ireland riu.
— Ela te controla pelo nariz, não é?
Tanto esforço para se demonstrar despreocupado. Bran pegou os dedinhos que seguravam
seu nariz e beijou a mãozinha.
— Essa é a Harlow, minha sobrinha. Ela sabe como atrair a minha atenção.
— Gosto da tática dela. É sutil. Vou tentar uma hora dessas. — A fagulha bem-humorada
continuou presente nos olhos de Ireland.
— Você me controla de outras formas. — Ela ergueu a sobrancelha.
Certo, então ele estava flertando. Qual o problema? Uma paquerinha nunca matou
ninguém. Foi o que fizeram além disso que quase o matou na noite passada. Aquela era a
primeira vez desde o ensino médio que quase se esqueceu de usar proteção.
Ireland pigarreou.
— Sobre ontem à noite... foi... inesperado. Não pense que você tem obrigação de levar as
coisas adiante. Não precisamos... continuar de onde paramos.
Adam se aproximou para roubar Harlow, e Bran fez cara feia.
Irmãos babacas. Ele se virou novamente para Ireland.
— Você está falando sobre sairmos juntos? Isso já está decidido. A menos que você tenha
mudado de ideia.
Ela balançou a cabeça.
— Não. — Um sorriso suave se formou nos lábios carnudos.
Lábios em que ele queria se afogar...
Bran esfregou o queixo com o polegar, controlando o impulso de estender a mão e
continuar beijando-a com o mesmo frenesi de menos de vinte e quatro horas atrás.
— O que você acha de um jantar? Não em um restaurante. Em outro lugar. Por trabalhar na
área, normalmente não quero passar tempo em um depois do expediente.
Ela inclinou a cabeça.
— O que você tem em mente?
— Uma surpresa.
— Estamos chegando. — Adam devolveu Harlow para Bran e saiu correndo.
Bran lutou para controlar a bebezinha se contorcendo.
— Mas o quê...? — Ele lançou um olhar na direção de Adam bem no momento em que
Wes riu do outro lado do cômodo e ergueu uma sacola de fraldas. Bran encarou a bebê. — Filho
de uma... pólvora.
Wes foi até ele.
— Parece que o Adam fez um descarte rápido. — Ele empurrou o pacote de fraldas para
Bran, que tentou devolver.
— Você é o pai. É sua obrigação. — Wes ergueu as mãos.
— Não posso. Preciso preparar os hambúrgueres do churrasco. Além do mais, eu troco
fraldas o dia inteiro. É bom você começar a treinar. — O irmão se afastou gargalhando.
Ele olhou para Ireland com nervosismo.
— Já fez isso antes?
— Ela é sua sobrinha... você nunca a trocou?
— Não.
Ireland cobriu a boca para esconder o sorriso.
— Isso vai ser interessante.
Droga.
QUINZE
IRELAND SEGUIU BRAN até a sala de estar, que estava relativamente vazia em
comparação à cozinha e à entrada.
Ela se sentou no tapete com as pernas dobradas.
Bran se agachou e colocou Harlow ali, a bolsa de fraldas ficou ao lado da coxa grossa. Ele
franziu o nariz.
— Ela está pronta.
Ireland fez barulhos para a menina, que estava se preparando para fugir. Ela o olhou com o
canto do olho e o viu fazendo careta para as fraldas.
— Você administra quatro restaurantes, mas não consegue trocar uma fralda?
Ele lançou um olhar cômico.
— É claro que eu consigo trocar uma fralda. — Ele pegou uma, a estudou como se fosse
uma engenhoca mística. — Qual é a dificuldade?
Ireland segurou o riso. Ela e Cali tinham primos mais novos, e Ireland havia trocado
algumas quando eles eram bebês. Não era tão fácil quanto parecia. Ainda mais com uma criança
ativa feito Harlow.
Ela estava fazendo várias caretas para manter a bebê parada enquanto Bran mexia com as
abas da fralda.
Ele encarou a bebê, estremeceu e tirou a legging dela.
Ireland ergueu um dedo.
— É melhor você pegar os lenços umedecidos.
— Lenços umedecidos?
— Para limpá-la.
— Certo. — Bran revirou a sacola e encontrou a embalagem retangular.
— E o trocador — ela adicionou. — Para manter o tapete limpo.
Bran franziu a testa e levou a mão à bolsa, revirando o conteúdo até encontrar o trocador
dobrado. Ele o abriu, depois colocou Harlow em cima. A garotinha se contorceu para tentar sair.
Com cuidado, ele apoiou a mão no peito minúsculo, fez cócegas debaixo do queixo dela
para mantê-la rindo e parada.
— Você pode limpar o bumbum dela e deixar o lenço na fralda suja — Ireland sugeriu.
Com as duas mãos ocupadas mantendo Harlow parada, ele disse:
— Tem certeza de que não pode assumir? Ou ajudar? Eu agradeceria.
— De jeito nenhum — ela falou. — Assistir você fazendo isso é entretenimento de
qualidade.
Bran resmungou, e Ireland cruzou as pernas para ficar mais confortável. Ela pensou em
tirar foto da evidência, mas mudou de ideia. Bran talvez desistisse se ela causasse estardalhaço, e
queria testemunhar o evento. Um homem gostoso e cheio de músculos trocando fralda? Não
havia nada mais fofo.
Bran examinou a fralda de Harlow. O pobrezinho parecia aflito.
Ela pressionou os lábios, segurando a risada.
— Está tudo bem?
— Sim — ele resmungou e puxou as abas como se estivesse arrancando um band-aid.
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça.
— Com o que o meu irmão alimenta esse bebê? Como uma criança tão pequena consegue
produzir tanta... — Harlow começou a balançar as perninhas, e Bran arregalou os olhos. —
Mer... quer dizer, merenda.
Ele puxou quatro ou cinco lenços e começou a dar batidinhas no bumbum de Harlow como
se estivesse limpando uma área contaminada.
Ireland estava rindo. Alto. Segurando a barriga. E atraindo olhares do outro lado da sala.
— Você não está ajudando — Bran falou, o suor pingava de sua testa.
— Tudo bem... — Ela respirou fundo e tentou engolir o riso. — Você segura as perninhas
e a limpa enquanto eu a distraio. — Ireland pegou um brinquedo no tapete e o moveu para a
frente de Harlow, fazendo caretas engraçadas na tentativa de fazer a bebê pegar o objeto.
A limpeza se seguiu, e então:
— Ah, Deus.
Ireland olhou para trás. Ele limpou direitinho.
— O que foi? Está quase pronto.
— A coisa... está... nas... — Ele ergueu a mão. — Eu não posso. Wes! Venha aqui agora
mesmo.
— Não seja covarde — o irmão respondeu lá de fora. A porta estava aberta e o homem
virava os hambúrgueres na grelha.
— Eu vou matar o meu irmão — Bran falou e olhou para Ireland. — Está nas... partes dela.
Eu deixo lá?
— De jeito nenhum. Ela pode pegar uma infecção. Certifique-se de limpar da frente para
trás.
Bran curvou o lábio.
— O que isso quer dizer?
— Não empurre o cocô para as partes delicadas. Limpe em direção ao trocador. — Ela fez
o movimento, e ele franziu a testa.
— Não posso acreditar que estou fazendo isso. — Bran fechou os olhos e limpou a
sobrinha da forma que Ireland mostrou. Ele abriu o olho e passou o lenço mais uma vez. — Está
bom?
— Está. Agora, com cuidado, tire a fralda suja, puxe as abas para cobrir os lenços que você
colocou lá e posicione a fralda limpa debaixo do bumbum dela.
Bran fez o que ela disse surpreendentemente bem. Ela assentiu.
— Passe um pouco de pomada para que ela não fique com assaduras, feche as abas e
pronto.
Bran usou um lenço para limpar as mãos. Ele voltou a remexer a bolsa, procurando,
enquanto segurava as perninhas agitadas. A bebê se remexia sem parar depois de ser forçada a
ficar parada por tanto tempo, e Ireland estava ficando sem brinquedos para distraí-la. Bran pegou
a pomada, aplicou um pouco no dedo e passou no bumbum da sobrinha. Prendeu as abas da
fralda e ergueu as mãos, como se alguém estivesse contando o tempo.
Ireland estendeu a mão e ajustou as abas para que a fralda ficasse mais confortável.
— Parabéns, você conseguiu trocar sua primeira fralda.
Harlow se virou e engatinhou sem a legging, bumbum se arrastando pelo tapete até chegar
em Hunt, que logo a pegou no colo.
Bran secou a testa com o antebraço. Jogou as coisas na bolsa e pegou a fralda suja entre o
polegar e o indicador.
— Você não sabe o que fazer com isso, certo?
— O Wes ou a Kaylee vão te mostrar onde descartar.
Bran atravessou a sala até Kaylee, e Ireland foi até o banheiro. Não se deu ao trabalho de
fechar a porta, pois só lavaria as mãos, e Bran entrou enquanto ela terminava.
— Desculpe — ele pediu, e começou a se afastar.
— Já terminei. É todo seu. — Ela sorriu. — Você fez um bom trabalho.
Ele fez uma careta engraçada enquanto ela secava as mãos e os dois trocaram de posição.
— Eu amo a Harlow, mas, caramba, trocar fraldas? Acho que não fui feito para isso.
Ireland olhou para trás, notando o quanto era estranho eles estarem conversando no
banheiro. A cena era íntima, como se tivessem um momento roubado.
— Ninguém gosta dessa tarefa, mas alguém precisa fazer.
Ele secou as mãos e se virou para ela.
— Você não acha que arruinou minha mística masculina? Não é dessa forma que costumo
encantar as mulheres.
Ela riu.
— Você encanta mulheres? — Metade do tempo, ele parecia desinteressado. A outra, a
língua estava seduzindo a sua boca e ela pensava que implodiria por causa do incêndio causado
pelo toque dele.
Bran lançou um olhar sensual, e seus mamilos ficaram atentos, como se ele os chamasse.
Ela pigarreou. Isso. Exatamente isso. O homem era uma ameaça.
— Eu não sei. Achei sexy um cara grande e forte tomando conta de um bebê. Bem
excitante.
Ele ergueu a sobrancelha e estendeu a mão para fechar a porta, selando a privacidade dos
dois. Bran espalmou a porta bem ao lado da cabeça de Ireland.
— Excitante, é? Quanto?
Ela engoliu em seco.
— Muito excitante.
O olhar dele caiu para a boca da ruiva.
— Acho que é sensual você saber como me passar as instruções. Quando você esteve perto
de crianças?
O olhar dela focou em sua boca, que pareceu se aproximar mais, distraindo-a.
— Primos. Eu tenho primos. Cali e eu estamos no meio, e alguns dos nossos primos mais
velhos têm filhos.
Ele estendeu a mão e deslizou os dedos pelos cabelos dela.
— Eu amo o seu cabelo.
— O meu cabelo? Obrigada. — Do que eles estavam falando?
Fraldas. Certo.
A maioria dos caras teria dito para o irmão ir ir para o inferno se tivessem pedido a eles
para trocar uma fralda. Mas Bran cuidou de Harlow, pois amava a garotinha. Como isso podia
não ser sexy?
— Eu-eu... — Merda, ela estava gaguejando. Como ela conseguiria se lembrar de qualquer
coisa com o corpo dele tão perto e os olhos azuis intensos a absorvendo?
— Que se dane. — Ireland agarrou a nuca de Bran e puxou sua boca até a dela. A língua
abriu caminho quando ele a ergueu e pareceu trocar a posição dos dois. Quando deu por si,
estava acomodada no balcão, com o corpo dele entre as pernas.
Os lábios de Bran deslizaram pelo seu pescoço, e ele correu as mãos pela cintura dela,
segurando a lateral dos seios.
— Você gosta de me colocar em cima das coisas... mesas, balcões.
— Eu preferiria uma cama, mas isso vai ter que servir.
Era a segunda vez em dois dias que Ireland se via nessa situação com Bran Cade. O que
eles estavam fazendo? Ela não tinha nem certeza de que gostava dele. Bem, ela gostava, isso era
óbvio, mas não sabia se seria bom para ela.
— É melhor pararmos — ela disse enquanto se reclinava, permitindo que ele tivesse
melhor acesso aos seus seios, onde ele dava beijos molhados e delicados.
— Acho que sim — ele murmurou. — Mas não quero.
— Eu também não. Por quê?
— Não sei. E não ligo.
Ele capturou sua boca e agarrou o traseiro dela, puxando-a para seu comprimento longo e
ereto.
A cabeça de Ireland ficou atordoada.
— Bran, espere.
Ele olhou para cima e recuou meio passo.
— Certo. Aqui, não.
Mas em outro lugar? Sério? Por que não podiam manter as mãos longe um do outro?
Ela gostava de Bran, mas até recentemente, não tinha certeza de que ele a respeitava.
Embora estivesse começando a gostar mesmo dele. O homem sabia como incendiá-la, o que não
estava ajudando.
Cali, é claro, aprovaria.
— Deveríamos voltar para a sala — Ireland disse. — Alguém deve ter te visto entrar no
banheiro antes de eu sair.
Bran encarava seus seios, e coçou o queixo.
— Certo.
— Bran?
Ele olhou para ela.
— Quer sair primeiro?
Ele apoiou as mãos na lateral da cintura dela e se inclinou para frente, beijando-a de leve
na boca.
— Vou sair primeiro. Você vai depois de alguns minutos.
Ela sorriu.
— Parece que estamos no ensino médio.
— Bem-vinda ao meu mundo. É assim que eu tenho que agir com esses irmãos curiosos
por perto.
Ela o observou ir embora, e então se apoiou no balcão.
— Puta merda.
Se isso fosse acontecer todas as vezes em que ficassem sozinhos, o jantar acabaria se
tornando um incêndio.
DEZESSEIS
— PODE PEGAR. — CALI empurrou um pacote de preservativo no peito de Ireland.
— Não preciso disso. — Ela as empurrou de volta. — É a primeira vez que saio com
alguém em... dois anos. Não vou seguir esse caminho. Nem sei se o Bran pensa em mim dessa
forma.
Tudo bem, era mentira. Bran pensava nela dessa forma. Ele deixou bem claro, já que os
lábios pousavam nos dela sempre que estavam sozinhos... Mas Ireland não tinha certeza se Bran
pensava nela como algo além de algo casual.
Achava que os poucos namorados que teve foram mais como casos prolongados. Os
homens não gostavam dela, e estava cansada dessa bobagem.
Cali usava um short bem curto com regata, o quadril estava inclinado para o lado enquanto
segurava Buddy.
— Leve uma, é tudo o que vou dizer. Você falou que não toma anticoncepcional...
— Porque faz muito tempo que não me envolvo com alguém.
— Então não arruíne sua oportunidade.
Ireland balançou a cabeça.
— Eu não sei em que o Bran está pensando. Pode ser só uma aventura para ele, e eu não
quero só uma aventura.
Cali foi até ela, apoiou a mão em seu braço e Buddy lambeu sua camisa.
— Se você decidir... aproveitar o momento, quero que esteja segura, só isso.
Ireland fez careta. Ela gostava de Bran quando ele não estava sendo um babaca. E por
alguma razão extremamente irritante, ele fazia aquilo. Seu cheiro de homem e sabonete, a forma
como a tocava. Até mesmo o gosto dele era bom.
Tudo bem. Talvez não fosse má ideia levar proteção, só para garantir. Cali esquadrinhou o
rosto de Ireland, sorriu e colocou um preservativo na sua bolsa.
— Só uma. Sem pressão. — Ela deu uma piscadinha, e Ireland suspirou.
— Não vou contar o que aconteceu, então não pressione.
Cali fez beicinho.
— Você é muito chata. Felizmente, serei capaz de saber, pois estará estampado na sua
cara.
Droga. Aquilo era verdade.
— Me deixe em paz! — Ireland gritou enquanto Cali e Buddy contornavam o balcão e iam
para os quartos.
Ireland pegou a camisinha e leu a embalagem: “Tamanho jumbo”.
Ótimo. E se Bran não fosse tamanho jumbo e ela não servisse? E por que estava pensando
nisso? Não ia acontecer nada.
Colocou a camisinha de volta na lateral da bolsa, esfregou os dentes da frente com o dedo
para se certificar de que não havia batom ali, olhou para o teto e fez uma prece silenciosa:
— Vai ficar tudo bem. É só um encontro.

***

Bran olhou de relance para a cesta de piquenique que pegou emprestado com Hayden e
Adam e se certificou de que ela estivesse bem acomodada na traseira da caminhonete enquanto
contornava o veículo e ia em direção à porta de Jaeg. O carro anterior à caminhonete era uma
lata-velha de quando trabalhava como gerente no restaurante da cidade. Nunca usou o fundo
fiduciário que o pai criou para ele, e continuaria assim. Dinheiro nunca foi importante para Bran,
e ser sustentado por aquele investimento seria uma demonstração de que apoiava a forma como o
pai priorizava o trabalho em vez da família.
Bran ganhava o bastante no Club Tahoe para comprar uma caminhonete nova e uma casa
grande se quisesse. Em vez disso, comprou o pequeno chalé de Wes e o estava reformando. É
claro, o dinheiro que ganhou administrando os quatro restaurantes veio com uma carga de
responsabilidade e estresse na sua vida. De todo modo, a caminhonete era útil quando precisava
comprar suprimentos para os restaurantes. E quando queria levar uma mulher bonita para um
lugar afastado.
Droga. Seria uma boa ideia ficar sozinho com Ireland? Com ninguém por perto para
interromper?
Não. Não, era. Mas não desistiria agora.
Podia manter a relação sob controle. Como em cada vez que saiu com uma mulher ao
longo dos anos. Mas, lá no fundo, reconheceu a mentira.
De alguma forma, estava mais interessado quando se tratava de Ireland. E muito mais
atraído por ela do que esteve por qualquer outra mulher, o que era um problema. Era fácil manter
tudo sob controle quando seu pau não tomava o controle. Mas quando ele resolvia se manifestar,
ia tudo pelos ares.
Parou à porta de Jaeg. Não era tarde demais para desistir.
E foi quando o amigo abriu a porta.
— Ora, ora, ora... O que temos aqui?
O rosto bonito de Ireland apareceu por trás dos bíceps do noivo da prima.
— Ele veio me buscar. — Ela tentou afastá-lo, mas o homem nem se moveu.
Ótimo. Bran sabia o que estava reservado para ele.
— Tudo bem, cara?
— Fiquei sabendo que você vai sair com a Ireland — Jaeg falou. — Aonde vocês vão, e a
que horas posso esperar que ela volte? — O olhar dele era intenso, mas um sorriso surgia no
canto da boca.
Não demorou muito, braços minúsculos envolveram a cintura do amigo e o puxaram para
trás. Uma mão cutucou a lateral do corpo dele, atingindo um ponto sensível, e o grandalhão
soltou uma gargalhada ruidosa.
— Pare de ser chato! — Cali falou e puxou Jaeg para trás ao mesmo tempo que empurrava
Ireland pela porta. — Desculpe, Bran. Aqui está ela. Vocês dois, se divirtam, e eu quero dizer
para se divertirem de verdade. — Ela deu uma piscadinha, e Bran olhou para Ireland, que ficou
vermelha como um pimentão.
Ela parou na varanda e fechou a porta.
— Eu amo a minha prima, mas preciso encontrar um lugar para morar.
Bran riu.
— Nunca vi o Jaeg bancar o irmão mais velho ciumento. Mesmo me deixando
desconfortável, ainda é estranho, pois ele é meu amigo.
— Cali é minha prima. Ele está cuidando da família dela.
Bran riu.
— Verdade. Mas nunca pensei que eu estaria do outro lado.
— Porque você não costuma sair com ninguém?
— Porque eu não costumo sair com primas das noivas dos meus amigos.
Ela sorriu.
— Ah, sim, a prima da noiva do amigo deveria estar mesmo fora dos limites.
Bran a olhou enquanto eles desciam os degraus.
— Ela deveria estar. Ainda dá tempo de você desistir.
Ele refletiu. Por que não deixar a decisão nas mãos dela?
Mas se ela tentasse, faria tudo para convencê-la do contrário.
Gostava demais de Ireland, e estava com medo de que se as coisas continuassem assim, seu
egoísmo não conheceria limites. Bran não sabia o que causou os problemas no software, e se
perguntasse a James, ele diria que Ireland havia piorado tudo. Não que acreditasse em James.
Mas aquilo o deixava em uma situação complicada, já que estavam saindo juntos. E ela
trabalhava para ele.
No entanto... optaria pelo egoísmo. Pelo menos, por essa noite, porque ele estava levando
Ireland para sair, quisesse ou não.
A mulher estava muito linda naquele vestido branco soltinho e o cardigã azul escuro. As
unhas dos pés pintadas de vermelho apareciam pela sandália de tiras. Ele abriu a porta do
passageiro, e Ireland se acomodou.
— Desistir? — Ela repetiu. — Você está brincando? Nós vamos jantar, e você não me
contou onde. Só sei que não é em um restaurante. Preciso ver o destino dessa excursão.
Bran deu a volta na caminhonete e foi para o lado do motorista, com o coração acelerado.
Era exatamente disso que estava com medo. Porque sempre que se aproximava dela, ansiava por
levá-la a lugares em que nunca esteve.
DEZESSETE
BRAN SAIU DA rodovia Pioneer Trail e seguiu por uma estrada privativa. Era uma via de
mão dupla que se estreitava para sentido único. Havia algumas casas separadas por terrenos
grandes fazendo limite com a área de preservação. Ele pegou a direita antes de chegar a uma
casinha de dois quartos e seguiu para o terreno dos fundos. A propriedade tinha quase um
hectare.
Parou no seu lugar favorito e desligou o motor com a traseira da caminhonete virada para o
bosque.
Ireland olhou ao redor.
— Que lugar lindo. O dono não vai reclamar por estacionarmos aqui?
— Não. — Bran podia ter levado Ireland a qualquer lugar. Havia muitos pontos bonitos em
Lake Tahoe para fazer um piquenique ao anoitecer. — Sei que o dono não vai se importar.
Ela pareceu cética.
Como?
— Porque... — Ele atirou as chaves no porta-luvas, uma lufada de perfume de flor de
laranjeira com um toque de Ireland o atingiu como uma droga. — Eu sou o dono da casa.
Bran se endireitou devagar, ficando tenso de repente, incerto de como Ireland reagiria por
ele ter escolhido logo sua casa.
— Ah. — Ela mordeu a parte interna do lábio. — Nós v-vamos ficar aqui fora?
Ótimo, ele a deixou nervosa.
— Está tudo bem? Eu trouxe cobertores. — E um colchão de casal para ficar mais
confortável. Droga. Parecia ruim, não é? — Podemos ir a outro lugar — ele falou. — Vou te
levar a um restaurante. Há vários...
— Não. — Ela sorriu. — É lindo. Nunca fiz um piquenique ao anoitecer. E as casas ficam
tão longe que sinto como se estivéssemos no bosque.
Ele soltou um suspiro aliviado. A última coisa que queria era deixar Ireland
desconfortável. Não foram até lá com essa intenção. Era mais uma punição por ter sido babaca e
por ter voltado e a beijado tantas vezes. Embora ela nunca tenha dado a entender que era contra
os beijos.
— Vamos — ele falou. — Tenho uma cesta cheia de comida lá atrás.
O som do riacho Heavenly Valley escoava enquanto eles saiam do veículo. Bran abriu a
traseira, pegou um cobertor e o entregou a Ireland. Fazia muito frio à noite, embora hoje
estivesse quente.
Ele subiu na caminhonete e apoiou as almofadas que pegou dos móveis do jardim na
cabine, improvisando assentos. Esperava não estar intimidando Ireland com o colchão.
Estendeu a mão e a ajudou a subir. Ela rastejou sobre o colchão e se recostou nas
almofadas.
A mulher fechou os olhos.
— É o melhor restaurante em que já estive.
Ele sorriu ao observá-la, e calor preencheu o seu peito. Por que agradar Ireland o deixava
tão feliz?
— Cuidado — ele falou. — Pensei que eu fosse o dono do melhor restaurante da cidade.
Sem perder um segundo sequer, ela respondeu:
— Os restaurantes do Club Tahoe vêm em segundo lugar, é uma disputa bem acirrada.
Audaciosa. E ele amou.
Bran pegou a cesta de comida.
— Bem, você está com sorte. Porque eu trouxe comida de um dos restaurantes que ficaram
em segundo lugar. Entre a localização deste aqui e a comida do outro, espero te deixar
impressionada.
Ela abriu os olhos de repente.
— Ah, eu estou impressionada.

***

O que esse homem estava fazendo com ela? Bran não só havia escolhido um lugar original
para levá-la, mas também muito especial. Claro, tecnicamente, estavam no quintal dele, mas era
maravilhoso demais. E ele trouxe almofadas, cobertores e uma bela cesta de comida. Nenhum
homem se esforçou tanto para organizar uma noite especial para ela.
Ele arrumou uma mesinha dobrável em cima do colchão em que estavam acomodados.
Havia notado o item, e aquilo a fez titubear. Por dois segundos, até que se sentou e gostou
demais do conforto para suspeitar das intenções de Bran.
O homem colocou os pratos na mesinha e serviu duas taças de vinho.
— Vi você bebendo tinto quando estava fazendo agachamento naquele dia. — Ele abriu
um sorriso torto e sensual que causou uma fisgada no ventre. — Desculpe, não teremos suporte
hoje.
— Sou capaz de beber vinho sem um. Mas no que diz respeito aos agachamentos...
Ele entregou uma taça a ela.
— Suportes de taça e agachamentos são bons para se esconder.
Droga. Ele sabia. Escondeu-se depois do desastre do passeio de barco. Mas as coisas
mudaram desde então. Ele mostrou um lado mais brando de si mesmo. Bran não era o cara
insensível que demonstrava.
Ela o olhou com seriedade.
— Não estou escondida agora.
— Não. Eu também estou tentando não ficar. — Ele esticou o pescoço. — Desculpe pelas
coisas que eu falei no barco e nas outras vezes. A forma como te tratei no início... eu costumo ser
cauteloso e, às vezes, acaba virando indelicadeza.
Ela analisou o rosto dele.
— Mas apenas com mulheres. — Era uma declaração, porque teve tempo de sobra para
observá-lo. Ela o viu com os irmãos e os amigos.
— Às vezes. Principalmente porque não confio em mim mesmo — confessou.
Ela bebeu o vinho.
— Na minha experiência, mulheres costumam ser o alvo da insensibilidade de um homem.
Ele serviu uma bruschetta.
— Isso pode ser verdade. No meu caso, não sou confiável perto de mulheres que acho
bonitas. Perco a cabeça. — Ele lançou um olhar que enviou um sinal ardente mais para baixo.
Ela engoliu em seco.
— E isso é ruim?
Ele entregou a ela um guardanapo de tecido vermelho e abriu outro no próprio colo.
— Quando eu estou tão envolvido que não consigo pensar direito, é.
Ireland mordeu a bruschetta e o observou.
— Pelo que percebi, você é muito responsável. Não vejo como sair com uma mulher pela
qual você está muito atraído vá mudar isso. Você está no controle da sua vida.
— Nem sempre. — Ele permitiu que o olhar caísse para os lábios dela, lembrando Ireland
de todas as vezes que aquele homem perdeu o controle.
Ela engoliu em seco. Os abraços indicaram uma atração extrema entre os dois. Mas talvez
ele não enxergasse da mesma forma? Ao mesmo tempo, Ireland nunca experimentou esse tipo de
luxúria com ninguém. E queria mais.
— Você se arrepende de me beijar? — perguntou.
— De forma alguma. Mas você merece um homem melhor. Receio que...
Bran não terminou a frase. Preferiu levar a mão à cesta.
Mas ela não ia deixar passar.
— Do que você tem medo?
Ele não respondeu de imediato, e foi remexendo a cesta devagar.
— Não quero te magoar. Mas meu trabalho é a minha vida. Não posso decepcionar meus
irmãos.
— Eu não ia querer que você fizesse uma coisa dessas. Mas o que seus irmãos têm a ver
com nós dois?
Ele colocou um prato de alumínio sobre a mesa e passou a mão pelo rosto.
— Mudei muita coisa na minha vida depois que meu pai morreu. Nunca administrei vários
restaurantes, e eles são a maior fonte de renda do resort. Eu não posso estragar tudo.
Ireland balançou a cabeça, confusa.
— Eu conversei com a Emily. O resort está se mantendo.
— Se manter não é a mesma coisa que estar indo bem. Com a exceção do mês em que
recebemos o Tahoe Invitational para o torneio de golfe profissional, que foi um golpe de sorte,
estávamos nos segurando por um fio.
Ele abriu a embalagem de alumínio e revelou um filé mignon com aparência bastante
suculenta, e o cheiro era melhor ainda.
— Temos a melhor comida e localização da cidade — Bran disse. — Se os restaurantes
afundarem, a culpa será exclusivamente minha.
Ele colocava pressão demais sobre si mesmo. Ireland tinha acesso à informação devido ao
seu trabalho de consultora no Club Tahoe. Viu a eficiência com a qual ele administrava o Prime.
O homem estava fazendo um trabalho fantástico. Era quase como se esperasse que algo fosse
cair do céu e arruinar tudo.
— Você adquiriu um novo sistema de pedidos. Vai duplicar as vendas de vocês.
— Eu insisti nele. Convenci os meus irmãos de que precisávamos do programa. E agora,
está nos custando um dinheiro que não estamos recuperando.
Ela deu uma mordida na bruschetta e mastigou devagar, refletindo.
— Por ora. Eu vou fazer o programa funcionar.
— Não é o que o James diz.
Ireland colocou a bruschetta na mesa de forma abrupta.
— Qual é o problema daquele babaca?
A sobrancelha de Bran se ergueu.
Ireland fechou a boca.
— Desculpe... eu não gosto dele.
— Estou vendo. Se te fizer se sentir melhor, eu também não. Mas ele criou o software, e
creio que saiba o que está fazendo.
Ireland fez careta.
— Isso ainda não está decidido.
— Um de vocês precisa se provar capaz, ou eu terei que pensar no plano B.
— O plano B é se livrar de mim e chamar outra pessoa? — ela perguntou.
— Se for necessário. Foi o que eu quis dizer quando falei que precisava colocar o resort e
os meus irmãos em primeiro lugar.
Ireland bebeu o vinho e estudou Bran.
— Não precisamos fazer isso. Gostei de você desde o momento que nos conhecemos, mas
mereço alguém que queira se comprometer.
Ele parou de abrir a comida e a olhou sério.
— Merece. Quero te conhecer melhor, mas sinto que o controle sobre minha vida e o nosso
relacionamento está escapando no que diz respeito a você.
— Estão por que você me chamou para sair? — Ela fez um gesto vago para os arredores.
Ele a encarou por um momento, depois se recostou e deu um beijo leve nos seus lábios.
— Porque eu gosto de você.
E, com aquela observação sensual e confusa, eles comeram em relativo silêncio. Em parte
porque a comida era boa demais. Em parte porque Ireland não sabia o que dizer. E depois, Bran
desembalou uma torta de pêssego. Foi então que ela ficou sem palavras, a não ser pelos gemidos
de deleite que soltou e que fizeram Bran encará-la. E não foi a torta.
Calor. Atração. Era por isso que estavam ali. No colchão. Ao ar livre. Quem poderia fazer
frente às forças da natureza?
— Não consigo me mexer — Ireland falou. — Você estava certo. O Prime faz a melhor
comida da região. — Ela se afundou nas almofadas, o estômago estava ligeiramente arredondado
de tanto comer. — Sabe, você pode conseguir alguma coisa oferecendo uma experiência de
jantar ao ar livre. Já pensou em uma versão itinerante do Prime?
Bran se recostou com os braços cruzados na cabeça.
— Não consigo enxergar a comida do Prime no comércio de rua.
Ireland se virou para ele.
— Não, eu quis dizer um restaurante independente e ao ar livre no verão, mas no terreno
do Club Tahoe, com refletores e ambientação. O resort fica em um dos locais mais bonitos de
Lake Tahoe, com destaque para o lago e as montanhas. Por que não levar algo como o Prime
para fora? No verão. No inverno, fica frio demais.
Ele virou de lado e ficou de frente para ela, a centímetros de distância. Bran passou um
dedo de leve pela têmpora de Ireland.
— O que mais está se passando nessa sua mente brilhante?
Nada bom, ela pensou, e se aproximou, pressionando os lábios nos dele.
DEZOITO
BRAN FICOU PARADO. Por um nanosegundo, e então seus lábios se moveram sob os de
Ireland. Ele a envolveu pela cintura e a puxou para mais perto, fazendo a moça se arrepiar.
Ireland passou os dedos pelo cabelo macio, controlando o beijo enquanto a mão de Bran
vagava pelas suas costelas, por sua bunda e descia pela perna.
Lentamente, ele se inclinou sobre ela, pressionando-a para o colchão.
— Está tudo bem?
Droga, era melhor ele não interromper o momento com palavras.
— Nada de conversa, lembra?
— Certo, menos conversa, mais toques. Já mencionei o quanto você é inteligente?
Esse nem sempre foi um elogio da parte de seus antigos namorados. Alguns homens não
gostavam de mulheres inteligentes demais.
— Isso me deixa mais ou menos atraente?
— Mais, com certeza — ele respondeu, e se aproximou mais. Ao que parece, para
conseguir uma posição melhor, porque o homem a pegou pela cintura e a deslizou para baixo até
ela estar de costas. — Me diga se minhas mãos forem longe demais.
Ela balançou os quadris.
— Ainda estou esperando que elas façam alguma coisa.
Um gemido profundo emanou de seu peito, e ele se reclinou sobre ela e pegou a sua perna,
erguendo-a e encaixando a cintura entre as coxas.
— Perto o bastante?
Ela se ergueu e o beijou no pescoço, colocou a língua para fora e deu uma lambida de leve.
Deus, o gosto dele era bom.
— Estamos chegando lá.
Quando deu por si, Bran a estava beijando, a língua acariciando e devorando a sua boca.
Os lábios deslizaram pelo pescoço, salpicando beijos deliciosos ao longo do caminho. Ele
empurrou o cardigã azul-marinho para o lado, beijou os seios dela e passou os lábios em torno de
um mamilo através do tecido do vestido.
— Agora você está chegando lá — ela falou, ofegante.
Bran se ergueu, rompendo o contato, e ela quase perdeu o controle. Até ele levar a mão à
nuca e puxar a camisa de manga longa sobre a cabeça.
Ireland tocou os músculos do peito dele.
— Estava pensando em algo assim. Aprovado com louvor. — Ela passou as mãos pelos
braços musculosos. — Como você consegue ficar em forma desse jeito com toda aquela comida
gostosa à disposição?
— Academia. Metabolismo dos Cade — Bran respondeu, ao puxar o cardigã pelos braços
dela até Ireland ceder e afastar as mãos do seu corpo por tempo o bastante para ele remover a
peça.
É claro. Os Cade eram gostosos, tinha que ser genético.
Ele parou para estudar o vestido dela e, ao que parecia, concluiu que a peça fechava atrás,
porque a fez arquear as costas, e Ireland sentiu o vento fresco da noite na pele.
Ela o ajudou a tirá-lo até ficar só de sutiã, com a roupa a cobrindo da cintura para baixo.
Pelo menos, pensou que fosse o caso, mas no momento que se ergueu para beijá-lo, a peça
foi jogada para o lado.
Por instinto, cobriu os seios. Bran a olhou.
— Estou indo longe demais?
Ele achava mesmo que ela desistiria antes dele? Fazia meses que estava sentindo tesão por
esse homem. Decidiu que seria impossível depois de passar tempo com ele e agora estava nua
em seus braços. Bem, seminua.
De jeito nenhum. Ela não desistiria.
Um lampejo de Cali colocando uma camisinha na sua bolsa passou pela cabeça dela.
Ireland insistiu que as coisas não iriam longe demais. Como a prima sabia? Aquela habilidade da
prima a irritava.
Ireland abaixou os braços. Os seios eram grandes e combinavam com o resto do corpo
curvilíneo. Era sensível com eles, mas se Bran não se importava, por que ela se importaria?
Beijou o peitoral dele e o lambeu, porque... o homem era delicioso. Deslizou as mãos pelas
laterais do torso musculoso. E se viu de costas mais uma vez.
— Está claro que preciso ficar no controle aqui — ele falou. — Alguém precisa estar.
Ireland abriu a boca.
— O que isso quer dizer? — Ele a calou com um beijo.
— Nada de conversa, lembra?
E, em um piscar de olhos, ele estava acariciando os seios dela e os beijando.
— Eu amo a sua pele. É tão macia. — Ele passou a língua no mamilo.
Ignorando o comentário sobre controle, porque esse era Bran e bobagens saíam de sua
boca às vezes, passou as mãos pelos ombros fortes.
— Você fazia muitas caretas para mim e para os meus seios. Tem certeza de que gosta
deles?
Ele soltou um som sufocado.
— Ah, eu gosto. — Ele foi de um mamilo para o outro e o tratou com o mesmo amor que
ofereceu ao primeiro, fazendo Ireland se contorcer e apertar as pernas ao redor de sua cintura.
— Seu jeans é áspero — ela falou. — Você deveria considerar tirá-lo.
Ele ergueu a cabeça, o cabelo loiro-escuro bagunçado.
— Apesar do que os meus irmãos dizem, eu não sou um monge. Se eu tirar a calça, meu
controle será gravemente comprometido.
Ela retorceu os lábios.
— Vou arriscar.
Ele franziu a testa, como se ela o tivesse desafiado dessa vez.
E foi esse o caso.
Bran se sentou, começou a desabotoar o jeans e Ireland o deteve.
— Mudou de ideia? — ele perguntou.
— Nem de perto. Eu quero tirar a sua calça.
Ireland passou a mão pela ereção grossa através do jeans, e ele respirou fundo. O membro
era longo e mal estava coberto pelo cós da cueca. O que queria dizer que ela poderia acariciá-lo
com o polegar. Ele respirou fundo.
E a deixou acalorada e incomodada ao mesmo tempo.
Ireland lutou para abrir o botão da calça.
— Precisa de ajuda?
— Não — ela falou, firme.
Bran era cheio de músculos da cintura para baixo, o abdômen era pronunciado e cheio de
gominhos, os quadris tinham aquelas entradinhas nas laterais, o traseiro era firme e as costas,
musculosas.
Ele era ainda mais gostoso nu. Tudo que ela precisava.
Mas e se fosse algo casual? Não se importava no momento, mas talvez mais tarde... Nada
com o Bran parecia durar uma única noite, nem mesmo quando ele fazia cara feia para ela. Ele
era todo calor e emoções intensas. E essa noite parecia que ele estava dando o seu melhor quando
a língua afiada não estava interrompendo o romance.
Ireland suspeitava que as respostas curtas fossem parte do mecanismo de defesa dele. A
razão para tantos muros, ela não sabia, mas pelo menos eram derrubados quando estavam
sozinhos.
O corpo de Bran tremia de leve sob suas mãos, e ela percebeu que o estava encarando sem
se mover.
Bem, isso ia mudar.
Ireland puxou a boxer e revelou o resto dele.
Caramba.
Se pensou que o rosto e o corpo eram bonitos, era porque não tinha visto as melhores
partes. E desde quando pênis eram atraentes? Mas, ainda assim, o de Bran era.
Longo, grosso, ligeiramente bronzeado, exceto pela ponta, que era mais escura. Até mesmo
as veias grossas ao longo do comprimento eram eróticas.
Como fez com o pescoço e a barriga dele, ela se inclinou e o lambeu.
Um som engasgado saiu do peito dele.
— Tudo bem — ele falou. — Já está bom.
Ireland olhou para cima.
— Quer parar?
— Não mesmo. — Ele tirou o vestido e a calcinha dela em uma única puxada. — Vamos
trocar de posição, porque a sua língua, este cabelo vermelho e sua boca bonita vão fazer com que
eu me envergonhe. Não sou nenhum monge, mas já faz um tempo.
Ireland se cobriu e olhou para cima.
— Pronta para parar?
— Por que você continua perguntando isso? — ela questionou.
— Só estou lendo a sua linguagem corporal. Quando eu te tiver nas minhas mãos, espero
que você queira.
— Eu já te quero há muito tempo! Era você quem estava se fazendo de difícil.
— É mesmo? — Ele se aproximou até o peito estar entre as suas pernas. Em seguida, ele
abaixou a cabeça e a lambeu. — Me fale mais sobre isso.
A cabeça de Ireland caiu para trás, porque ele a lambeu de novo e a abriu com a língua.
Não havia palavras, mas gemidos e sons estranhos que, com certeza, estavam saindo dela.
Deveria ter ficado envergonhada, mas, na verdade, nem se importou.
Ele beijou a fenda entre as suas pernas e a chupou com vontade. E ela se moveu para que a
língua dele voltasse para onde estava.
Uma risada retumbante veio lá de baixo. Ireland levantou a cabeça em um estalo.
— Pare de me provocar.
Antes que as palavras saíssem de sua boca, ele a estava lambendo mais uma vez. Filho da
mãe.
Os dedos deslizaram para cima e para baixo pela parte interna das suas coxas até chegarem
ao seu sexo. Devagar, ele deslizou um dedo para dentro dela enquanto o polegar roçava ao longo
das dobras, a língua fazendo magia no feixe de nervos onde se centrava seu prazer.
Ele moveu a cabeça, alcançando um ângulo diferente, e ela explodiu.
Ela fechou os olhos e viu pontos de luz na escuridão. Jogou a cabeça para trás e um som
animalesco escapou de sua garganta. Pelo menos, foi disso que se lembrou quando voltou ao
corpo.
Bran deslizou para cima dela, o pênis seduzindo a sua perna e coxa em uma longa carícia.
Ele beijou seu pescoço, depois os seus lábios.
— Você tem o gosto bom.
Ela empurrou ainda mais o jeans dele.
— Não, você tem o gosto bom. Por que acha que eu não paro de te lamber?
— Porque você está com fome?
— Ah, eu estou faminta. — Ela olhou para onde os corpos deles se uniam. — Vai desistir?
Ireland não conseguia se lembrar se em algum momento da vida desejou tanto um homem
tanto quanto desejava Bran nesse momento, mas não conseguia saber p mesmo da parte dele.
Talvez o homem só quisesse um oral.
Ele tocou a testa dela e afastou o cabelo com os dedos.
— Eu não trouxe nada. Deveria ter imaginado que não conseguiria manter as mãos longe
de você. — O rosto de Ireland ficou vermelho. — O que eu disse?
— É que... — ela falou — eu posso ter trazido.
Ele respirou fundo e a acariciou com o seu comprimento.
— Trouxe?
— Talvez.
— Isso é um sim ou um não?
— É um sim. A Cali achou que eu poderia precisar.
Os quadris dele pararam de flexionar.
— Não querendo ofender a Cali, mas só me importo com o que você quer.
— Eu quero você. Muito.
Ele olhou ao redor e pegou a bolsa dela.
— Está aqui? — Ela assentiu e pegou o preservativo no bolsinho lateral.
Bran não reparou na marca nem no tamanho jumbo, o que, como ela percebeu, foi bastante
preciso. Ele simplesmente abriu a embalagem, vestiu a camisinha e se posicionou na entrada
dela. Então se impulsionou para frente, mas não foi rápido. Beijou suas bochechas, nariz e,
finalmente, a boca. E foi entrando aos poucos nela. Os braços tensos estavam apoiados perto da
cabeça de Ireland.
— Caramba, você é gostosa. — Bran parou e afundou a testa em seu ombro. Ele respirou
algumas vezes, mordiscou seu ombro e moveu os quadris devagar, marcando um ritmo que
atingiu vários lugares novos que a língua havia negligenciado.
Ireland passou as mãos pelas costas dele e pelo traseiro firme, incitando-o a ir mais fundo,
tentando recuperar o fôlego.
Eles estavam nus, encaixados da forma mais perfeita que se podia imaginar, com nada
além do luar e das árvores olhando para eles.
Bran beijou o pescoço dela, os dedos beliscaram um mamilo com delicadeza, e ela estava
gemendo de novo e gozando com mais intensidade que no último orgasmo.
Quando ela terminou, Bran a beijou com tanta paixão que ela não foi capaz de recuperar o
fôlego. Logo em seguida, ele chegou ao ápice, estocando-a, com tanta firmeza que ela sentiu uma
conexão que foi muito além do físico.
DEZENOVE
BRAN VIROU PARA o lado e puxou Ireland para cima dele, cobrindo seu traseiro
perfeito com um dos cobertores que trouxe. Ele queria amar e cuidar daquela parte do corpo dela.
Talvez ele tenha sido um monge nos últimos anos, porque nada se comparava ao que
acabou de experimentar com Ireland. Puxou-a para mais perto, a respiração suave fazendo
cócegas na leve penugem do seu peito. Queria uma segunda rodada. Assim que seu pau
acordasse do estupor.
Parecia que não levaria muito tempo.
Ela ergueu a cabeça e o olhou com um sorriso torto.
— Alguém está acordando de novo?
— Quantas camisinhas você trouxe?
Ela riu.
— Só uma.
— Teremos que fazer algo quanto a isso.
Ela cruzou os braços sobre o peito dele e apoiou o queixo em cima, também aproveitou
para roçar os quadris em sua crescente ereção – apenas para enlouquecê-lo.
— Pensei que você tivesse dito que não tinha mais nenhuma.
— Eu não tenho nenhuma aqui. Mas, lembre-se, sou o dono da casa nessa propriedade.
Os olhos bonitos de Ireland se estreitaram.
— Você disse que não tinha só para dar uma desculpa para escapar de...
Ele colocou as mãos debaixo dos braços dela e a puxou para cima, roubando um beijo. Os
lindos seios se arrastarem pelo seu corpo.
— Eu não queria que você se sentisse pressionada, então não trouxe. Mas se você tivesse
insistido, eu teria corrido até a minha casa. Em vez disso, usamos a que estava mais perto. O que
foi bom. Levaria cerca de oito minutos para ir e voltar.
Ela riu.
— E isso seria tempo demais?
Ele a puxou para mais perto, duro e a postos.
— O que você acha?
Ela franziu a testa.
— Seus irmãos não te conhecem muito bem, não é? Você não é celibatário.
— Venho tentando te explicar isso. Mas, para ser sincero, sair com várias mulheres nunca
me atraiu tanto quanto a alguns dos meus irmãos.
— Eles não parecerem ser muito mulherengos. Exceto o Hunt.
— Não deixe o relacionamento atual deles te enganar. Todos eram horríveis antes de
conhecerem as parceiras.
Ele se inclinou e deu um beijo em seus lábios macios, provocando-a.
— Você já foi como eles? — ela perguntou.
O corpo de Bran ficou tenso, e percebeu o momento que ela sentiu, porque a mulher
franziu a testa.
— Quando eu era mais novo, sim — ele disse.
Ele a colocou para o lado e se sentou. Foram cuidadosos essa noite, e Deus sabe que ele
queria Ireland mais do que queria respirar. Mas o passado ainda o assombrava.
— Fui descuidado quando era mais novo.
Ela cobriu o peito com o cobertor e se sentou ao lado dele.
— Descuidado como?
Ele se virou e a olhou nos olhos.
— Quando eu estava no ensino médio, transava com várias meninas. Se elas estivessem
dispostas, eu também estava. Era idiotice e tive sorte por não ter contraído nenhuma IST. Mas o
resultado não foi muito melhor.
Ireland se aproximou até toda a lateral de seu corpo estar pressionada ao dele. Ela o
observou. Ao que parecia, esperando que ele continuasse.
O único irmão que sabia do que ele fez no ensino médio era Wes, e só ficou sabendo há
pouco tempo. Mas queria contar para Ireland. Queria que ela o entendesse melhor.
— Eu engravidei uma garota — ele falou.
Ela arregalou os olhos.
— Você... você tem um filho?
— Não.
— Não enten...
— A garota fez um aborto. E foi culpa minha.

***
Ireland não sabia como reagir à confissão de Bran. Já era mais velha quando perdeu a
virgindade, mas tomou cuidado na época. Não podia imaginar Bran, a definição de homem
controlado, deixando de se precaver. Ainda assim...
— Como pode ter sido culpa sua?
Ela desviou o olhar.
— Ela me disse que estava grávida e eu não disse nada. Jamais pensei que algo assim
poderia acontecer comigo.
— Você não pensou que poderia engravidar uma garota?
O sorriso dele foi bem rígido.
— Claro. Quando eu estivesse pronto. — Ele esfregou a coxa. — Idiotice, eu sei, mas eu
tinha dezessete anos e ela, dezesseis. Eu não sabia nada da vida.
Ela soltou um longo suspiro.
— Sinto muito, Bran. O que a sua família disse?
— Eles não sabem.
Ela piscou várias vezes, se certificando de que ouviu direito.
— Nunca?
— O convívio em casa se limitava aos meus irmãos e à governanta. Meu pai nunca estava
por perto. Ele morava no Club Tahoe, por isso eu e meus irmãos nos ressentimos tanto do lugar.
— Mas você... você o administra agora.
Ele me olhou com o canto do olho.
— Ironia do destino. Meu pai morre e nos deixa responsáveis pelo local, e nenhum de nós
consegue se afastar. Passamos a vida toda evitando o resort. Evitando nosso pai como punição
por colocar o Club Tahoe em primeiro lugar, e agora estamos devotando todo o nosso tempo a
ele. A vida é complicada.
— Família pode ser complicada. Tenho três irmãos, e eles me enlouquecem.
O olhar de Bran se voltou para ela.
— Três irmãos? Eles não são grandes, são? — Ela franziu a sobrancelha. — Primeiro, o
Jaeg banca o irmão mais velho ciumento por te levar para sair — Bran disse —, e agora fico
sabendo que você tem irmãos? Você não vai me dizer que seu pai é um ex-boxeador, vai?
Ela sorriu e balançou a cabeça.
— Ele é engenheiro civil.
— Graças a Deus.
— Mas é alto. — Ela apontou para si mesma. — A altura é de família.
Ele assentiu.
— Tudo certo. Claro que eu iria atrás da ruiva alta que tem três irmãos. Se tivéssemos
filhos, seriam só meninos.
Ireland sentiu uma fisgada no peito. Nenhum homem jamais falou de filhos com ela, nem
de brincadeira.
— Você quer ter filhos? Depois do que aconteceu?
Ele olhou para as mãos grandes. Mãos capazes de dar tanto prazer e conforto.
— Não sei se mereço ter filhos.
Ela apoiou a cabeça em seu ombro largo.
— Está sendo muito duro consigo mesmo. Você seria um pai maravilhoso.
— Pais precisam ser responsáveis. Precisam estar presentes para os filhos. — Ele olhou
para as estrelas. — Dinheiro, amigos, até mesmo notas... tudo veio com facilidade. Nunca me
preocupei. Sabe o que fiz depois que a garota me disse que eu a engravidei?
De repente, Ireland ficou com medo de descobrir. Com medo dessas ações terem
transformado Bran Cade no homem endurecido que era hoje em dia. Ele só se abriu hoje à noite.
Foi sincero, sensual e... amoroso.
— Liguei para os meus amigos e bebi muito. Eu estava tão bêbado que dormi por dois dias
e não fui à aula. Quando finalmente apareci para dizer a ela que a apoiaria e faria a coisa certa, o
fato já estava consumado.
— Que fato?
— Os pais a convenceram a fazer um aborto. Disseram que ela criaria a criança sozinha e
que eu não daria apoio nenhum.
Ireland olhou para as árvores.
— Eles não te conheciam. Você é responsável. Veja a forma como você administra os
restaurantes.
Ele riu, mas foi com amargura.
— Os restaurantes mal estão se aguentando depois das decisões que tomei. Também não
sei se começar um relacionamento agora seria muito responsável.
Ireland enrijeceu os ombros e se afastou.
— V-você se arrepende dessa noite?
— Não — ele respondeu. — Jamais.
— Porque foi mágico, então não faça com que eu me arrependa do que aconteceu aqui.
Ele passou os braços ao redor da cintura dela e a puxou para si.
— Quero que tudo que experimentamos seja certo para você. Só estou preocupado com o
momento, mas não vou permitir que isso me detenha. Eu quero estar com você. Se estiver feliz,
eu estou feliz. E muito satisfeito de repetir o que acabamos de fazer. — Ele deu uma piscadinha e
a beijou de leve. — Agora mesmo, se você estiver disposta.
Ela observou o rosto dele.
— Não quero saber de mais arrependimentos.
— Nada de arrependimentos. Não com você.
Talvez pudesse confiar em Bran, mas ele não era sempre consistente.
— Por que a mudança brusca de temperatura?
— Temperatura? — ele questionou.
— Ardente, escaldante, incendiando-minha-calcinha.
— Hummm. — Ele acariciou o seu pescoço com o nariz. — Que bom que você não está
usando uma agora. Acesso fácil e menor risco de causar um incêndio florestal.
Ela sorriu.
— Responda à pergunta. Por que você foi tão frio comigo quando nos conhecemos?
— Eu tenho regras.
— Não parece bom. Já que essas regras te transformaram em um grande babaca.
Ele riu.
— Eu mereci essa.
— Quais são as regras?
Ele foi erguendo os dedos.
— Nada de mulheres atraentes demais, beber com moderação, sempre estar no controle.
Ah, e preservativo... sempre use preservativo.
— Por que nada de mulheres bonitas?
Ele a puxou para perto e a beijou nos lábios.
— Muita tentação. Elas me fazem pensar com a outra cabeça.
— Então eu não sou atraente. Nem sedutora. E é por isso que estamos aqui? — A última
frase terminou com um tom ligeiramente mais alto.
— Pelo contrário. Você é tudo isso. É linda e sensual e agora eu descobri o quanto você é
inteligente. É uma combinação fatal. Por que acha que eu te mantinha à distância?
— Você quebrou as próprias regras?
Ele deu de ombros.
— Elas não serviriam mais se significassem que eu não poderia estar com você.
VINTE
O CORAÇÃO DE Ireland bateu duas vezes mais rápido. As palavras de Bran foram as
mais meigas que já ouviu.
— M-mas, e se as coisas ficarem difíceis? O que vai acontecer?
Relacionamentos podiam ser turbulentos, sórdidos e complicados. Ireland queria estar com
um homem que a considerasse alguém digna para enfrentar o que fosse.
Bran a abraçou com força.
— Confie em mim, vou conseguir lidar com o Club Tahoe e com o nosso relacionamento.
Relacionamento. Era disso que estavam falando, mas aquele era a primeira vez que saíam
juntos.
— Nós temos um?
Ele balançou a cabeça e fez um estalo com a língua.
— Ah, Ireland, temos um relacionamento desde que nos conhecemos. — As mãos dele
começaram a vagar, e ela deu um tapinha para afastá-las.
— Você está se referindo ao tipo de relação que é cheio de ódio?
Ele beijou o ombro dela.
— Estou me referindo ao cheio de luxúria. Eu precisava ter certeza de que não estava
cometendo um erro.
Ela recuou.
— Um erro? Se alguém estiver cometendo um erro, esse alguém sou eu. Você não foi nada
além de frio e detestável...
Ele acariciou o pescoço dela com o nariz, e Ireland o sentiu chupar a pele delicada.
— Isso é passado. E continue falando. Gosto de quando você coloca as garras de fora.
Ireland caiu de costas no colchão, e ele rolou para cima dela.
A jovem agarrou o queixo dele.
— Estou falando sério.
— Eu também. Precisava ter certeza de que isso era certo antes de me jogar de cabeça.
— Você está parecendo um babaca, o que não está ajudando muito o seu caso.
— Ireland, eu não tenho uma namorada desde... sempre. Bem, talvez no ensino
fundamental? Pense nisso por um segundo. Tenho quase trinta anos, e nunca tive um
relacionamento sério. Por que eu estaria aqui se você não fosse importante para mim?
— Porque você está com tesão?
— Eu estou sempre com tesão.
— Porque você gosta de me tocar.
— Humm, eu gosto mesmo — ele falou. — Mas há outra razão.
Ela soprou uma mecha de cabelo que estava caída sobre o olho.
— Desisto. Por que estamos aqui?
— Porque eu gosto de você. Eu quero tocar você e beijar você, e dormir ao seu lado à
noite. Quero brigar com você e rir com você. Eu quero estar com você. Entende?
— Você gosta de mim. — Muitas pessoas gostavam do gato delas ou de bolo de chocolate.
Mas o olhar de Bran estava carregado, e braços protetores envolviam o corpo dela. Ele foi
sincero. Aquele era um relacionamento, e não só algo casual. — Eu sou sua namorada?
— Claro que é.
— Então você não quer que eu saia com mais ninguém? — Para a maioria dos casais,
aquilo não precisaria ser dito, mas esse era Bran, e ela precisava ser específica. Um, porque se
importava demais para deixar o futuro na ambiguidade. E dois, porque ele não era conhecido por
ser monogâmico.
— Eu fui um babaca no começo. Estou tentando compensar, mas vou entender se você
preferir sair com outra pessoa. Só não vou te dividir se você estiver comigo.
Certo, aquele era um passo enorme. Ele simplesmente colocou um rótulo nas coisas.
Ela passou um dedo pelos lábios tensos, e eles relaxaram, se abriram e puxaram o seu dedo
com a língua.
— Ok. Eu vou te dar uma chance.
Ele soltou o dedo dela com um estalo alto e a beijou com intensidade.
— Vou me comportar muito bem.
— Veremos.
— Não o tempo todo — ele falou. — Na cama, pretendo ser muito malcomportado.
Ela se contorceu debaixo dele.
— Onde você disse que as camisinhas estavam?
Bran vestiu a camisa, a calça e a envolveu tão rápido no cobertor que a sua cabeça girou.
Ela riu quando ele a tirou da caçamba da caminhonete, fechou a tampa traseira com um
chute e um resmungo, e praticamente a jogou no banco da cabine.
— Na minha casa, a exatos cinco segundos de distância se eu acelerar. Que horas você tem
que voltar para casa?
— Não tenho hora.
As narinas dele dilataram.
— Exatamente o que eu queria ouvir.
***

Bran tinha uma namorada. De verdade. Não uma amiga colorida, nem um caso de uma
noite, mas uma namorada. Não era bem o que havia planejado, mas, caramba, a sensação era
boa.
Ele quase desistiu de sair com ela. Ou, pelo menos, foi o que disse a si mesmo ao se
aproximar da porta de Jaeg. Lá no fundo, queria ficar com Ireland, exatamente como tinha dito.
Comprometido. Nenhum outro homem a tocaria ou a desejaria. Só os dois, passando juntos o
tempo que tinham livre. Com muito sexo explosivo.
Bran havia feito a epítome do romance brega no dia seguinte ao encontro deles e observou
Ireland dormir. Fingiu que dormia também, mas ficou observando-a.
Ela ressonava de leve. Não chegava a ser um ronco, mas era um som fofinho. Nunca tinha
visto sua expressão mais linda. Bem, exceto quando ela estava brava com ele. A mulher virava
uma megera ardente e sensual quando ficava zangada. Nesses momentos, tudo o que ele queria
fazer era jogá-la em algum lugar macio e convencê-la a perdoá-lo. De preferência, com as mãos
e a boca.
Bran deslizou a palma da mão pelo rosto, os números diante dele estavam borrados. Era
culpa sua estar sozinho em vez de estar na cama com Ireland. Havia passado no Blue e a levado
para almoçar nos últimos dias, mas ela trabalhava até tarde todas as noites no clube, consertando
os problemas no software deles.
Por que não havia contratado outra pessoa? Então poderia levar sua namorada linda para
passear na cidade. Ou, melhor ainda, ficaria em casa, pediria o jantar e faria amor com ela...
Faria amor?
Bran fechou os olhos. Bateu um dedo na mesa. Certo, então ele talvez estivesse um
pouquinho apaixonado por Ireland.
Ela era diferente das mulheres com quem saiu no passado. Ela foi a primeira pessoa que o
fez esquecer as regras. Porque ela valia o risco.
Então, tudo bem, os sentimentos eram mais profundos que o normal. Aconteceria com
alguém em algum momento. Embora não imaginasse esse resultado antes de conhecer Ireland...
Uma batida soou à porta, e então ela entrou com um sorriso largo no rosto.
A ruiva apoiou o quadril na mesa e cruzou os braços.
— Está consertado.
Distraído, ele encarou os quadris dela e pensou em terminar o que haviam começado nessa
mesma sala semanas atrás, quando ela ainda não era sua namorada e aquilo era travessura.
— O que está consertado?
Embora sexo na mesa fosse mesmo uma bela travessura... hummm.
O homem estendeu a mão, e ela ergueu o queixo até o olhar dele pousar em seu rosto.
— O programa. Está funcionado — ela falou, com os olhos brilhando.
Ireland se virou rapidamente e começou a digitar no computador dele até Bran ver o que
parecia a parte de front-end do novo software de pedidos.
O lado menos inteligente do seu cérebro entrou em acordo com o outro.
— Você disse que está consertado?
Ela se virou para Bran, e ele sentiu a vulnerabilidade.
— Você duvidou de mim?
— Não. — Ele não era idiota. Sabia bem que não deveria duvidar da mulher com quem
estava dormindo.
Mas os problemas com o software dos restaurantes se tornaram lendários. Era difícil
acreditar que alguém poderia consertá-los mais rápido que a pessoa que criou o programa.
— Vai funcionar do meu telefone? — ele perguntou.
Ela riu.
— Está me testando?
— De jeito nenhum — ele disse, com um sorriso nervoso. Se ela tinha mesmo consertado o
software, aquilo faria o ano dele. Não teria decepcionado os irmãos, e o clube estaria a salvo.
Ela pegou o celular na mesa e o colocou na mão dele, arqueando a sobrancelha.
Bran abriu o site do Club Tahoe e foi até o portal do restaurante. Fez um pedido de uma
porção dupla de nachos com molho extra.
Uma mensagem apareceu dizendo: Agradecemos o seu pedido!
O pedido foi processado, mas o mesmo estava acontecendo quando o sistema estava com
problemas.
— Parece que deu certo.
Ireland balançou a cabeça e digitou no computador dele.
— Homem de pouca fé. — Ela abriu o que ele supôs ser algum banco de dados, porque de
repente vários pedidos apareceram na tela.
Ela destacou uma linha em uma das planilhas em que estava o seu pedido.
E estava certo.
E foi para o restaurante correto. Com a quantia correta sendo cobrada.
— Caramba — ele disse. — Você consertou o programa. — Ele a olhou, maravilhado. No
que dizia respeito a Bran, a namorada dele era brilhante. Ele ficou de pé e a abraçou, ergueu-a e a
apertou com força.
— Ei, eu não sou pequena — ela falou. — Você vai machucar as costas.
— Você é pequena. E enorme. Enorme e maravilhosa. — Ele a beijou, e a mente voltou
para quando ela entrou na sala. As coisas poderiam se transformar em sexo na mesa se ele não
tomasse cuidado. — Preciso fazer algumas ligações e avisar que estamos on-line de novo. Como
posso te agradecer?
— Você me paga e pronto. O Club Tahoe diminuiu consideravelmente os meus
empréstimos estudantis.
— Não, sério, obrigado mesmo. Você faz ideia do quanto ajudou a mim e aos meus
irmãos?
Ela abriu um sorriso suave que foi direto para o seu peito.
— Foi divertido. E não julgue, mas essas coisas me deixam excitada.
— Acredite, não estou julgando. — Ele puxou os quadris dela para as suas coxas. — No
momento, eu estou excitado.
— Posso sentir.
— Não me distraia — ele falou.
— É você que está me colando ao seu...
— Não diga ou serei forçado a te jogar na mesa e mostrar o quanto estou grato.
— Isso não me parece uma ameaça. Está mais para algo de que eu vou gostar.
Bran beijou o canto da boca de Ireland e a parte de baixo do lábio carnudo.
— Não me seduza agora. Eu posso ser desleixado com as regras no que diz respeito a você,
mas não posso jogar toda a responsabilidade para o alto. — Com muito custo, Bran se afastou.
— Vá, antes que eu cumpra a promessa quanto à mesa.
Ireland fez beicinho.
— Tudo bem. Mas já que você mencionou estar grato a mim, vou te fazer cumprir suas
“ameaças”.
Ele encarou o traseiro de Ireland enquanto ela saía da sala, perguntando-se em que havia se
metido. A mulher o fez se comportar de uma forma que ele não fazia desde criança,
despreocupado e descuidado.
Esperava que não descuidado demais.
O que o lembrava... pegou o telefone e ligou para uma das cozinheiras a cargo do
restaurante.
— Alô, Cindy? É o Bran. Estou verificando se você recebeu o pedido que eu fiz pelo site.
— Bran descreveu a comida. Tinha visto a evidência no banco de dados, mas não havia nada
como uma confirmação verbal.
— Recebi, sim — ela respondeu. — O sistema voltou a funcionar?
Bran fechou os olhos. A namorada era genial. Como pôde ter duvidado dela?
— Parece que sim.
Ligou para os outros gerentes, e qualquer outra pessoa que precisava saber que o sistema
estava funcionando, incluindo o presidente da Tech Banquet.
O homem elogiou Ireland e pediu que James fosse informado sobre as atualizações que ela
fez para resolver o problema.
Animado pelos restaurantes estarem de volta à internet e que logo estariam funcionando
bem de novo, Bran pegou as chaves e foi atrás de Ireland.
Ela estava sentada no bar do Prime, bebendo refrigerante.
— Como você conseguiu? — ele perguntou.
— Ah — ela falou —, foi fácil. Apaguei o programa do James e reprogramei o back-end.
Bem mais rápido do que tentar consertar o labirinto que ele criou.
Bran coçou a lateral da cabeça. Sabendo da arrogância de James, ele não ficaria nada
satisfeito, mas tanto faz. Não era problema de Bran. Até onde sabia, Ireland era a melhor para o
trabalho. A Tech Banquet deveria contratá-la e demitir o especialista.
— Sabe o que isso quer dizer?
— O quê? — ela perguntou enquanto ele se inclinava para beijá-la na bochecha e dar um
bom aperto no traseiro dela. — Hora de comemorar. O sistema está no ar e funcionando. E estou
com tempo livre. Embora eu devesse ligar para o Levi e a Emily. E eu também preciso garantir
que o pessoal do restaurante colocou alguém para verificar as vendas e os pedidos para assegurar
que tudo está funcionando bem... sabe, por via das dúvidas. Não que eu duvide de você —
adicionou rapidamente. — Eu só não confio no software depois de tudo pelo que passei. Preciso
ter certeza de que não há mais nenhum bug.
Ela sorriu.
— Eu entendo. É inteligente ficar de olho em tudo. Bugs acontecem. Mas, se for o caso,
tenho certeza de que posso consertá-los bem rápido. Então, basicamente, o que você está dizendo
é que só vou te ver na semana que vem, já que você tem muitas coisas para resolver.
O olhar dele caiu para os seios de Ireland, muito bem contidos em outra de suas blusas
abotoadas até o pescoço.
— Duas horas. Me dê duas horas, e eu passo para te pegar.
— Mas já passa das dez da noite.
Ele saiu do restaurante andando para trás.
— Uma rapidinha!
Graças a Deus o restaurante estava quase vazio, ou todos saberiam exatamente no que Bran
estava pensando. Ele estava em êxtase pelo sistema de pedidos estar no ar e funcionando, e com
tesão. Estava com muito tesão depois de manter a namorada acordada até tarde por dias
trabalhando para o Club Tahoe e incapaz de saciar seu súbito apetite por ela.
Felizmente, o período sem sexo estava prestes a terminar.
VINTE E UM
DEPOIS DE BRAN sair para se certificar de que todos os restaurantes sabiam que o novo
software estava no ar e funcionando, Ireland esperou por um pedido para viagem no Prime.
Pegou a comida e foi para o carro, caminhando como se estivesse nas nuvens. Nada era mais
recompensador do que resolver um problema que ajudaria centenas de pessoas. Exceto resolver
um problema que ajudaria milhares de pessoas ou dezenas de milhares. Deus, amava o que fazia.
E, finalmente, estava trabalhando com pessoas legais.
Sorriu ao reviver o olhar no rosto de Bran quando ele saiu do Prime com a promessa de ir
pegá-la mais tarde. Não precisava de mais uma noite dormindo pouco – e não dormiria nada com
Bran –, mas sentia falta dele. O corpo estremeceu, empolgado e ansiando pelo encontro à meia-
noite.
Ela pegou as chaves na bolsa e pressionou o chaveiro, as luzes do carro piscaram a alguns
metros de distância.
— Você mexeu com o homem errado.
Ireland fez careta e se virou. Recuou no mesmo instante. James estava a um metro dela.
— O quê?
Ele se aproximou, o olhar deturpado pesando sobre ela.
— Eu saio por alguns dias, e você vem com seus... — Ele esquadrinhou o corpo dela. —
Truques de puta ardilosa e convence o bilionário a te deixar ferrar com o meu programa. Você
perdeu o juízo?
Ireland olhou ao redor. O estacionamento não estava completamente escuro, mas não tinha
ninguém ali, e ela se sentiu isolada.
Calafrios desceram por sua coluna. James sempre a fazia se lembrar dos babacas que teve
que aguentar no emprego antigo, mas essa noite ele a assustou de verdade.
Queria sumir, fugir dali. O fôlego ficou preso, e ela se engasgou com qualquer palavra que
poderia ter dito.
— Burra feito uma porta, não é? Eu gostaria de ver a cara do Bran quando o programa
parar.
James podia fazer piada com sua aparência, mas ela era a melhor no que fazia. E não
permitiria que um babaca qualquer voltasse a falar com ela daquele jeito.
Endireitou as costas.
— O programa não vai parar de funcionar e, não, eu não perdi o juízo. Eu reescrevi o back-
end, e fiz isso em poucos dias. Quanto tempo você passou tentando resolver o problema?
Semanas?
— Você o quê? — Ele tensionou a mandíbula, os olhos escureceram. — Você transou com
ele? Foi assim que o convenceu a te deixar reescrever o código?
Ela balançou a cabeça devagar e levou a mão à bolsa para pegar o telefone.
— Vá embora, ou vou chamar a polícia.
Ele a agarrou pelo braço.
— E dizer o quê? Que você roubou um software e o chamou de seu? Que foi para a cama
com o chefe para conseguir isso?
Ela tinha ido para a cama com Bran. Mas a atração que sentiam um pelo outro começou
muito antes do seu trabalho no Club Tahoe.
Ireland puxou o braço, mas James não soltou.
— Meu relacionamento com Bran não tem nada a ver com isso.
— Então você transou mesmo com ele. Se eu te comer, o que ganho em troca?
— Seu babaca! — Ela puxava, empurrava e tentava se desvencilhar com toda a força, mas
para um cara de tamanho mediano, ele era forte. Mais forte que ela.
Droga, não queria ser uma mulher indefesa. Foi fraca e esteve em desvantagem durante a
maior parte da carreira, e a dúvida que sentia quanto a si mesma a invadiu, sufocando-a.
— Me solte!
Ireland não conseguiria pegar o telefone, não com James segurando-a.
— Você não é pequena, mas é quase tão fraca quanto uma criança. Ahhh, eu feri seus
sentimentos? — Ele chegou mais perto, o hálito azedo revestindo a pele dela. — Acostume-se,
porque pretendo te ferir bem mais antes...
Em um momento, James estava na sua frente, ameaçando-a e no seguinte, ele estava no
chão rolando como se estivesse se brigando com alguém muito grande.
— Bran? — Ireland perguntou.
Bran ficou por cima de James e deu um soco no rosto dele.
— Pare! — Ireland gritou, lutando para pegar o telefone.
James ergueu as mãos, bloqueando o golpe e socou Bran na garganta.
— Não! — Ireland disse. — Cuidado com ele, Bran!
Bran saiu de cima de James, tossindo. E logo estava em cima do homem de novo.
— Nunca mais coloque um dedo nela, você me ouviu?
— Por quê? Você é o único que pode comer essa vagabunda?
Bran puxou James, o colocou de pé e torceu os braços dele. Ele o jogou contra o carro mais
próximo e o prendeu lá.
— Ireland — ele disse. — Chame a polícia.
Ela se atrapalhou com o telefone e não conseguia digitar os números certos. Por fim,
discou a série de três dígitos.
Tudo aconteceu muito rápido. A briga de Bran e James, a chegada da polícia...
— Eu quero prestar queixa! — James berrou. — Esse homem me atacou.
Bran permaneceu calmo ao lado do policial.
— Eu o tirei de cima de uma mulher que ele estava atacando no meu resort.
— Ele me agrediu! — James acusou.
— Estou prestes a agredir de novo — Bran murmurou, mas Ireland ouviu, assim como o
policial.
O agente da lei perguntou se ela queria prestar queixa, e sua mente ficou em branco. James
a ameaçou. Ele a agarrou e machucou os seus braços. Mas a briga de verdade foi entre Bran e
James. Porém, se Bran não tivesse aparecido...
— E-eu não sei. Só quero que esse homem fique longe de mim.
Bran apoiou a mão nas costas dela. O toque a aqueceu, enviando forças por todo o seu
corpo.
— Você pode prestar queixa amanhã.
O policial se virou para James.
— Você ouviu a moça. Tudo bem aqui?
James deu um aceno curto, mas não olhou para ela.
— Escolte este sujeito para fora da minha propriedade — Bran disse ao policial. — E,
James? — Bran lançou um olhar de aço ao outro homem. — Não volte. Pode apostar que o seu
patrão vai ter notícias minhas hoje à noite. Eu ficaria surpreso se você mantiver seu emprego.
James foi feito um furacão para o carro, e a viatura seguiu o sedan elegante até saírem do
resort.
Bran abraçou Ireland e aconchegou a cabeça perto do ouvido dela.
— Você está bem?
— Estou.
Ele recuou um pouco e observou o rosto dela.
— Sério?
— Vou ficar.
— Ele estava te machucando.
— Como você soube?
— Eu estava fazendo as rondas nos restaurantes e peguei um atalho. Seu cabelo chamou
minha atenção.
Ela deixou escapar uma risada dolorida.
— Acho que esse ruivo foi bom para alguma coisa. — Os olhos dela marejaram. A noite
foi difícil. Começou muito bem, e agora... mas Bran estava ali. Ele a protegeria. Embora
preferisse não ter passado por aquilo.
Ele a puxou para perto e acariciou sua cabeça.
— Seu cabelo é lindo. Estou feliz por ter aparecido na hora certa. Eu quis estrangular
aquele sujeito. — O carinho vacilou quando ele disse as últimas palavras.
— Ele é como os outros e adora ofender. Mas hoje, me assustou.
Bran se afastou, segurando os ombros dela com delicadeza.
— Que outros?
Não eram muitas as pessoas que sabiam o que ela teve que aguentar no antigo trabalho.
Nunca contou à família, os irmãos teriam perdido a cabeça. Mas Bran era diferente. Ele veria o
quanto era fácil caras como James a intimidarem.
— Na minha área, há muitos homens como James. Os caras com quem trabalhei no Vale
do Silício faziam muito assédio moral. Nada físico, como o que James fez hoje, mas o fato quase
os tornava piores. Minha vida era um inferno lá.
— James não trabalhará mais em nenhum lugar próximo a Lake Tahoe quando eu acabar
com ele.
Considerando o estrago que James fez no software da Tech Banquet, não seria uma ideia
ruim, mesmo se ele não a tivesse ameaçado.
Bran segurou seu rosto com as mãos quentes e fortes.
— Tem certeza de que você está bem?
Não. Pensou que tivesse se livrado disso, mas talvez o problema fosse ela. Talvez não
fosse o lugar em que trabalhava, mas algum defeito que tinha que a transformava em um alvo
para homens como James.
Ela sorriu, não querendo que Bran se preocupasse.
— Vou ficar.
VINTE E DOIS
BRAN PODERIA TER matado James por machucar Ireland, o que não era do seu feitio.
Ele não se envolvia. Não deixava mulheres virarem sua cabeça. Mas estava óbvio que tudo tinha
mudado.
— Vou te levar para a casa do Jaeg — ele disse a Ireland depois que a polícia escoltou
James para fora do resort. — Se preferir ficar com a sua prima, vou entender, mas eu gostaria
muito de te abraçar essa noite.
Ela fechou os olhos e assentiu.
— Eu quero ficar com você.
O peito de Bran se aqueceu com as palavras. Havia esquecido como era ter uma mulher
precisando dele. Na verdade, alguma mulher já o procurou para que ele a consolasse? Não,
nunca. Sempre foi egocêntrico, ou desinteressado de algo permanente. Ser capaz de prover o que
Ireland precisava o fez sentir forte e feliz.
Bran dirigiu até a casa de Jaeg e esperou lá fora enquanto ela pegava algumas coisas.
Ela fechou a porta sem fazer barulho e foi para o carro.
— Eles estão assistindo televisão. A Cali surtou quando contei o que aconteceu. Ela só me
deixou sair porque eu disse que ficaria com você.
Bran deveria se sentir desconfortável pela segurança dela estar em suas mãos. Teria ficado
se fosse outra pessoa. Mas não com Ireland. Queria protegê-la, ser o homem que ela procurava
quando precisava de ajuda. Ele abriu a porta do passageiro e a deixou entrar, colocou a mochila
de Ireland no banco de trás e foi para o lado do motorista.
Ela o observou colocar o cinto de segurança.
— Estou com tanta vergonha por tudo que aconteceu hoje.
O namorado se virou para ela.
— O que aconteceu não foi culpa sua. James já era um babaca antes de você aparecer. Ele
gosta de maltratar quem é mais fraco que ele.
— Eu pareço atrair esse tipo de gente.
Ele a puxou para perto, a abraçou e deu um beijo em sua testa.
— O problema não é com você. Alguns caras são babacas. Mas quero que você fique em
segurança. — Bran sentiu um medo repentino de que algo acontecesse com ela. Não suportava
pensar em alguém machucando Ireland. — O que você acha de fazer aula de defesa pessoal?
Ela tocou um arranhão na mão dele.
— Para que eu possa brigar como você?
Ele se afastou.
— Para que você possa machucar qualquer babaca que tentar te atacar, e fugir. Não quero
que você brigue, mas não quero que fique vulnerável também. Essa cidade é linda, mas tem sua
cota de gente que não vale nada. Você precisa tomar cuidado.
Pensar no que teria acontecido com ela se não tivesse chegado lá a tempo o deixou tenso.
— Vamos sair daqui.

***

Ireland tremia enquanto Bran os levava pelo longo caminho até a casa dele, resquícios de
adrenalina ainda percorriam seu corpo.
Ele olhou para ela com a testa franzida. Pegou sua mão e a apertou, e o toque a trouxe de
volta para a terra. Semanas atrás, não teria imaginado a paz que ele traria. Era como se ela nunca
o tivesse conhecido. Como se ele estivesse escondendo seu verdadeiro eu.
Uma parte dela temia que o antigo Bran voltasse a aparecer, e que as últimas semanas não
tivessem passado de um sonho.
Estacionaram na casa dele. Bran pegou a mochila dela no banco de trás e a conduziu até a
porta. Depois, acendeu as luzes.
Por alguma razão, na primeira vez que esteve lá, Ireland não tinha notado o quanto a casa
era vazia. Talvez porque estivessem na missão de encontrar preservativos. E depois ocupados
demais usando-os. O rosto dela se aqueceu.
Bran coçou a lateral da cabeça.
— Não é grande coisa.
— É bem legal. As paredes e o chão parecem novinhos.
— São mesmo. Mas preciso mobiliar o lugar.
— Sua cama é bonita — ela disse e sorriu.
O canto da boca dele se ergueu.
— Prioridades.
Ireland o abraçou pela cintura.
— Suas prioridades são muito boas.
Ele a puxou de encontro ao seu corpo para que coxas e barrigas ficassem pressionadas.
— São, não é? — Ele abriu um sorriso lascivo, e ela riu.
Estava se sentindo péssima quando chegaram, e agora estava rindo. No fundo, Bran era um
fofo. E amava ser quem via esse lado dele. O homem era meigo e afetuoso, e não sabia como
teve a sorte de ter alguém assim na vida.
Ele olhou ao redor.
— Mas, sério, eu preciso mobiliar essa casa. Não poderíamos nem assistir a um filme se
quiséssemos.
Ireland olhou para a velha poltrona reclinável diante da TV imensa, os únicos itens da sala.
— Um sofá pode ajudar. Mas você quer assistir a um filme agora?
Ele passou as mãos pelos seus braços.
— Faço o que você quiser.
— Depois de ir ao céu por ter consertado o sistema e ao inferno por causa do James... estou
exausta. Gostaria de aceitar sua oferta de me abraçar.
— Feito.
Eles subiram para o segundo andar, que também devia ser uma adição recente, porque o
banheiro tinha acabamentos novinhos em folha e as paredes e o chão do quarto também pareciam
novos. Ainda não tinha cortinas e não havia mobília além da cama, com a qual ela já estava
familiarizada.
Ele pegou as roupas aos pés da cama e as jogou no closet, em seguida colocou a mochila
dela sobre o colchão.
— Vou pegar alguma coisa para beber. Você está com fome?
Ela havia comprado comida há horas e não chegou a comer. O estômago estava revirado.
Uma refeição reforçada não cairia bem, mas precisava comer alguma coisa.
— Talvez algum petisco.
Ireland vestiu short e camiseta enquanto Bran ia para a cozinha. Quando ele voltou, ela
estava sentada na cama pensando no que tinha acontecido essa noite.
Devia estar com uma expressão triste, porque Bran perguntou:
— Como você está?
— Chateada.
Ele se aproximou trazendo uma bandeja com biscoitos e queijo.
— É compreensível. — Ele balançou a cabeça. — Eu deveria ter te acompanhado até o
carro. Não vou voltar a cometer esse erro.
Ela pegou a mão dele.
— Você não pode me proteger o tempo todo. E, até recentemente, você não teria chegado
nem a me proteger.
— É claro que teria.
— Você não gostava de mim no início.
Um sorriso triste brincou nos lábios dele.
— Já falamos do quanto eu gostava de você. Esse era o problema.
Ela bufou.
— Bem, você foi muito bom escondendo seus sentimentos.
— Eu vou provar o quanto gosto de você e o quanto te desejo, mas não vai ser essa noite.
Você precisa descansar.
— Tudo bem, senhor — ela falou. E arruinou tudo com um bocejo, porque, no fim, ele
estava certo.
Comeram os petiscos e, em seguida, Ireland foi caindo aos poucos para a cama. Ela se
sentia pesada e tinha dificuldade para manter os olhos abertos.
Bran passou o braço ao redor dela e a puxou para perto, o que só serviu para deixá-la ainda
mais sonolenta. O peito dele era quente e confortável, e seu cheiro era divino. Não poderia ter se
mexido nem se quisesse.
Uma coisa era certa: além dos familiares, Ireland nunca pôde contar com nenhum homem
da forma como foi com Bran hoje. Não tinha certeza de para onde aquela história estava indo,
mas ele foi a única pessoa que a defendeu e a fez se sentir segura. E aquilo tinha um significado
imenso.
VINTE E TRÊS
BRAN ACORDOU ASSUSTADO. Piscou várias vezes, reparou na posição que estava na
cama, de conchinha com Ireland. Também reconheceu a sensação profunda de paz e relaxamento
que o preenchiam. Foi a melhor noite de sono que teve em anos. Queria acordar com Ireland nos
braços todos os dias.
Pensou em ficar exatamente onde estava, mas se lembrou que era dia de semana e nenhum
deles teria o luxo de permanecer deitado. Era raro Bran tirar folga. Agora que pensou no assunto,
era o único entre os irmãos que não tirava... precisa mudar isso. Como passaria tempo com a
namorada se estivesse sempre trabalhando?
Relutante, rolou para a lateral da cama e olhou para trás, incapaz de evitar. Ireland estava
deitada de lado, com as mãos sob a cabeça. Uma das pernas macias estava sedutoramente mais
erguida que a outra, o short mal cobria a curva do traseiro sexy.
E, agora, outras partes dele estavam despertas.
Queria rolar de volta para ela e puxá-la para perto, passar a mão por aquelas pernas suaves
e em todas as curvas, agarrar seu cabelo... uma sucessão de ideias nada boas. O que estava
despertando há um instante ficou completamente em alerta e preparado para sexo matinal.
Bran se levantou e se espreguiçou. Não havia como acordar Ireland depois da noite que ela
teve. Poderia controlar os próprios impulsos. Vinha fazendo isso há anos. Além do mais,
planejou atacá-la mais tarde, depois que ela tivesse descansado de forma adequada.
Ele entrou no closet e pegou um jeans limpo e também uma polo do Club Tahoe. Ao
caminhar para o banheiro, parou aos pés da cama. O cobertor de Ireland havia escorregado em
algum momento da noite.
Pegou a peça grossa e a cobriu com cuidado. Muito melhor. Por mais que amasse aquelas
curvas, não queria que ela pegasse um resfriado... O que levou a pensamentos sobre como
poderia mantê-la aquecida.
Cacete. Ele saiu feito um furacão para o chuveiro.
Uma vez limpo e refrescado, certificou-se de que Ireland ainda estava dormindo, em
seguida desceu as escadas sem fazer barulho.
Depois que Ireland dormiu, mandou uma mensagem para os irmãos, relatando o incidente
no resort. Eles ficaram desgostosos, mas ninguém ficou mais furioso que Levi. Ele já estava
pronto para reforçar a segurança e, considerando o que poderia ter acontecido, Bran concordou.
Decidiram colocar mais um segurança para monitorar o estacionamento. É claro, toda aquela
conversa levou cerca de uma hora, com todos os textos em Caps Lock e as tentativas de
expressar uma opinião em meio aos quatro irmãos. Mensagens em grupo eram sempre uma
maravilha.
Bran mandou mensagem para Adam para avisar que Ireland talvez se atrasasse para o
trabalho, depois ligou a cafeteira. Não importava o quanto estivesse cansado, nunca se esquecia
de abastecer a cafeteira na noite anterior. Em breve, compraria uma melhor para substituir a
antiga. Mas também precisava de um sofá. A cafeteira multifunções talvez tivesse que ficar para
depois.
Pegou ovos e outras coisas na geladeira e cortou legumes para fazer uma omelete. Não era
um cozinheiro, mas conseguia fazer ovos.
Tampou o prato finalizado e foi fazer torradas, depois colocou canecas no balcão e
talheres. Olhou ao redor e estremeceu. Agora que estava prestando atenção, a casa era triste.
Precisava de uma mesa e de cadeiras, e cerca de um milhão de outras coisas. Por que não tinha se
importado até então?
Porque nunca precisou impressionar ninguém. A casa era um lugar onde dormir e tomar
banho. Quase nunca comia lá, embora tivesse os itens essenciais.
Quando a comprou de Wes não era nada mais que um salão imenso com uma varanda em
um terreno muito grande. O irmão havia comprado o lugar para reformar aos poucos, mas nunca
conseguiu fazer nada. E quando Wes precisou de algo maior, já que a filha com Kaylee estava a
caminho, a conveniência virou prioridade. Então Bran comprou a casa dele.
Com a ajuda de um amigo da família, dono da empreiteira Sallee Construction, Bran fez
dois quartos grandes e adicionou um segundo banheiro. A casa era limpa, mas não era muito
confortável.
Ireland desceu as escadas. O cabelo longo estava molhado, e ela usava a roupa de trabalho
que deve ter posto na bolsa ontem à noite. Ela bocejou ao chegar lá embaixo e abriu um sorriso
tímido.
— Apaguei ontem.
— Foi mesmo.
— Desculpe.
— Imagina. Você precisava dormir. Embora eu deva dizer que pensei em te acordar hoje
de manhã.
Ela sorriu e olhou por cima do ombro dele.
— Parece que você preparou o café da manhã em vez disso.
— Decepcionada?
A boca de Ireland se contorceu.
— Qualquer dia desses, vou querer o especial da casa: sexo seguido de café da manhã.
Bran atravessou o cômodo e passou os braços ao redor de Ireland, as mãos encontraram o
traseiro dela.
— Não me tente. No que diz respeito a você, faço muitas de coisas inesperadas, seria bem
fácil adicionar chegar atrasado no trabalho à lista. — Ele a beijou no pescoço, movendo a boca
mais para baixo. — Quebrar regras autoimpostas... comprar móveis... e, de repente, considerar
sexo em cima da mesa uma atividade perfeitamente aceitável.
— Você vai comprar móveis novos?
— E eu quero fazer sexo em cima da mesa. Deixou essa parte passar?
Ela estendeu a mão e apertou o traseiro dele. Com força.
— Foi você que não quis ir adiante com essa, não eu. Você sabe que eu estou disposta.
— Ireland — ele falou.
Ela o beijou no queixo.
— Sim?
— Temos que ir trabalhar.
— E?
— E agora, estou considerando te jogar na poltrona e fazer tudo que quero com você.
Ela franziu o nariz.
— Ela não parece muito... firme. E se tombar?
— Bom ponto. Quer ir fazer compras comigo mais tarde? Preciso resolver essa parte de
mobília, então essas preocupações não vão atrapalhar o tempo que temos a sós. Você leva jeito
para decoração?

***

Bran saiu cedo do trabalho e pegou Ireland antes de ir para a loja de móveis. Pegou o jantar
no restaurante italiano do Club Tahoe, e eles comeram na mesa de piquenique em uma colina
gramada do outro lado da rua com vista para o lago. Não poderia ter escolhido um lugar mais
pitoresco. Com o sol descendo no horizonte e a batendo ali perto, o cenário era perfeito.
— Foi tudo bem no trabalho hoje? — ele perguntou.
Ireland terminou de mastigar o espaguete à bolonhesa e limpou o canto da boca.
— Tudo ótimo, na verdade. Falei do programa que fiz para o Club Tahoe para o meu
chefe, e ele quer que eu faça algo parecido para um dos maiores hotéis-cassino deles em Las
Vegas.
Ela sorriu, e o pão de alho virou pedra no estômago de Bran.
Ele mastigou devagar, pensando no que dizer. Ireland estava feliz, e estava feliz por ela,
mas também se sentia ganancioso. A última coisa que queria era perder a garota logo depois de
tê-la encontrado.
— Então você vai trabalhar em outro hotel? Em outra parte do estado?
Ela balançou a cabeça abruptamente e tocou o canto da boca quando uma migalha de pão
de alho escapou de seus lábios deliciosos... lábios que ele queria beijar.
— Não, nada disso. Meu chefe vai me pagar como se fosse um trabalho freelancer. Vou
precisar fazer uma ou duas viagens, mas Tahoe é meu lar agora.
A pressão no peito de Bran diminuiu. E aquela era uma experiência nova. Nunca se
importou tanto antes.
— O que significa — Ireland prosseguiu —, que meus empréstimos estudantis estarão
quitados antes do previsto. — Ela balançou a cabeça e abriu um sorriso tímido. — Tudo está
indo tão bem que tenho medo de atrair azar. Nunca fui tão feliz com a minha carreira e...
— E?
Ela pegou a mão dele.
— E eu meio que gosto de você.
— Meio? — Ele fez careta e fingiu ultraje.
— Um pouquinho. Você é bem gostoso. E meigo.
— Espere aí... ninguém nunca me chamou de meigo.
— É porque não te conheciam, não é mesmo? — Ela se inclinou e lhe deu um beijo nos
lábios, o mais suave dos toques, que enviou uma fagulha direto para o peito dele.
Bran se aproximou.
— É só não me chamar de meigo perto da minha família. Meus irmãos não vão me dar paz.
— Ele a beijou e mostrou o quanto podia não ser meigo.
Com o rosto corado e um tanto quanto desorientada, ela disse:
— Seu segredo está a salvo comigo. Além do mais, acho que você só mostrou o lado
meigo para mim, e eu gosto. Faz eu me sentir especial.
Ele afastou uma mecha de cabelo para longe daqueles belos olhos verdes.
— Você é especial.
Bran estava feliz pela primeira vez em... não podia se lembrar de quanto tempo.
Até mesmo no trabalho estava indo tudo bem, principalmente agora que Ireland resolveu o
problema. Era o primeiro dia, desde que assumiu os restaurantes do Club Tahoe, que tudo estava
dando certo. Depois de um ano trabalhando catorze horas por dia, enfim estava pegando o jeito.
E agora, tinha uma mulher que não queria perder. Não se pudesse evitar.
Terminaram de comer e foram para a loja de móveis antes que fechasse. No caminho,
conversou com Ireland sobre o que precisava comprar. Ambos concordaram que o sofá era
prioridade, logo depois a mesa de jantar e cadeiras, e uma cômoda para o quarto dele.
Bran teria ficado muito satisfeito escolhendo o primeiro sofá que acolhesse a sua altura,
mas Ireland o arrastou pela loja, ouvindo o vendedor falar de cada uma das peças. Se a capa das
almofadas também protegia o fundo, se as molas eram robustas... no fim das contas, assentiu e
avaliou a linguagem corporal de Ireland para saber qual ele deveria escolher.
— Os de melhor qualidade são mais caros, mas duram mais — Ireland disse quando o
vendedor se afastou para que eles considerassem as opções. — O que se encaixa no seu
orçamento?
Se ela soubesse. Fazia anos que Bran não verificava os investimentos que o pai fez no
nome dele, mas da última vez, havia o suficiente para sustentar uma família de quatro pessoas
pela vida toda com direito a extravagâncias.
— Não há orçamento. Basta escolher um de que você goste.
— Você quer que eu escolha? — Ela pareceu surpresa.
Ela não sabia como era? Bran não se importava com o sofá, desde que ela ficasse
confortável na sua casa. Para que ela fosse lá mais vezes. E passasse a noite. E assistisse a filmes
com ele. E embelezasse o ambiente com a própria presença.
Ele deu de ombros.
— Confio no seu bom senso. Mas escolha algo em que eu fique confortável. Não há nada
pior que um homem alto em um sofá pequeno.
Ireland riu, e ele passou o braço ao redor da cintura dela. Odiava fazer compras, mas a
experiência não foi tão ruim. O cheiro da mulher era gostoso, e ela estava enfeitiçando o
vendedor, que já tinha oferecido um desconto de quinze por cento em qualquer sofá que eles
comprassem.
Ireland escolheu o de couro marrom que não parecia frio ao toque.
Ele se sentou lá e decidiu que comportava bem seu corpo. Não afundou demais, nem ficou
com a sensação de que estava se sentando em uma pedra.
Ele chamou Ireland com o dedo e ela se sentou ao lado dele. Bran passou o braço pelos
ombros da mulher, tendo uma ideia de como funcionaria na prática.
— Vai dar certo — ele disse, mas, por dentro, estava calculando se seria confortável fazer
sexo no sofá. Seria. E agora estava pensando em todas as posições que poderiam testar. —
Vendido — ele falou antes que alguém abaixo da cintura comparecesse para a ocasião.
Ireland escolheu uma mesa com cadeiras estofadas, junto com uma cômoda e mesinhas de
cabeceira a que ela se referiu como “transicional com um toque rústico”, seja lá o que
significasse. As peças eram de madeira. E bonitas. Era tudo de que Bran precisava saber antes de
sacar o cartão de crédito.
O vendedor passou as compras com a promessa de que o sofá seria entregue em poucos
dias. O resto das peças seriam entregues assim que chegassem do depósito, o que poderia levar
de duas a quatro semanas.
Era um pouco frustrante ter que esperar esse tempo todo depois de ter decidido mobiliar a
casa. Mas Ireland disse que eles poderiam escolher abajures e outras coisas que tornariam o lugar
mais confortável, e Bran acrescentou uma cafeteira nova à lista, o que o deixou tremendamente
animado.
Optaria por uma cafeteira top de linha, com a função de deixar os grãos descansando na
água, ajuste de altitude... bem completa. Havia pesquisado tudo. Mas não hoje. Ele tinha planos
com Ireland e o único mobiliário que possuía.
Foram para a caminhonete, e Bran olhou para a namorada. Ela piscou.
— Em que você está pensando?
Ele abriu a porta do passageiro.
— Em você. E na minha cama.
Ela sorriu, e ele deu a volta no veículo e entrou.
— O que tem eu e a sua cama? — ela perguntou, toda atrevida.
— Eu estava pensando no quanto foi bom acordar com você hoje de manhã.
— Só isso?
— E no quanto vou gastar de acordar com você nua depois de ter feito amor com o seu
corpo algumas vezes essa noite.
— Algumas vezes?
— Eu tenho bastante disposição. Surpresa?
— Não. — Ela balançou a cabeça. — Eu preciso lembrar a mim mesma que o Bran que
você mostra ao mundo não é o de verdade.
Ele se inclinou e segurou o queixo de Ireland entre o polegar e o indicador, dando um beijo
suave em seus lábios.
— Só você vê o meu eu verdadeiro. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Falando em ver
alguém por inteiro, o que acha de voltar para a minha casa e ficar nua depois de todo o martírio
que foram essas compras?
— Mas passamos horas fazendo compras, e eu estou com fome de novo. Vamos parar em
algum lugar e pegar uma sobremesa.
— Eu vou te dar a sobremesa — ele falou ao se inclinar para roubar outro beijo.
— Não esse tipo. Não estou de brincadeira. — Ela pressionou a mão na barriga. — Não
comi muito antes do jantar, e preciso de combustível para o que você tem em mente. Você me
quer no meu melhor, não é?
Droga, ela o pegou.
Bran calculou quanto tempo levaria a parada. Era um dilema. Deixá-la feliz com
gostosuras açucaradas ou deixá-la feliz com gostosuras sacanas.
— Não precisamos parar em lugar nenhum. Tenho ovos na geladeira.
Ireland deu um tapa no braço dele.
— Bran Cade, ovos não servem para sobremesa!
Ele sabia quando era caso vencido. Foi até o supermercado e jogou no carrinho cada opção
cremosa e doce que se parecesse com uma sobremesa, apressando Ireland quando ela se
demorava em algum lugar.
Pegou uma caixa de cookies que estava na mão dela e jogou no carrinho.
— Ai, meu Deus, você é ridículo. Acabamos de fazer sexo, tipo... Ah.
— Pois é.
— Mas você já passou mais tempo que isso sem.
Ele bufou.
— Passei anos, se você perguntar aos meus irmãos. Mas essa não é a razão.
— E qual é?
Ele a abraçou e agarrou seu traseiro.
— A minha namorada é gostosa.
Ela sorriu, e então o sorriso escorregou de seu rosto.
— O que eu disse? — Ele começou a colocar as compras no caixa. — Foi a palavra
namorada? Não preciso te chamar assim se você ainda não estiver confortável com o título.
— Gosto que você me chame de namorada. Até demais. Estou esperando tudo ir pelos
ares. Está perfeito demais.
Estavam de frente para o caixa no momento, e Bran esperou até estarem lá fora,
carregando as compras, antes de responder:
— Nada vai pelos ares. Eu só te conheci agora, e as coisas estão perfeitas porque te
encontrei.
— Você estaria pronto se tivéssemos nos conhecido anos atrás?
Ela merecia uma resposta sincera.
— Prefiro pensar que sim. Você ainda é você. É mais do que a sua beleza. É a sua
inteligência, seu senso de humor, seus óculos... — Ele sorriu.
Ela balançou a cabeça.
— O único homem que gosta dos meus óculos.
— Duvido muito. Deve ter algum site pornô dedicado a gostosas de óculos. É um fetiche.
Ela pareceu desconfiada.
— É o seu?
Ele guardou as compras na traseira da caminhonete.
— Nunca tive um fetiche até você aparecer. Agora eu tenho um fetiche por Ireland.
O sorriso dela foi tão feliz que fez seu coração bater duas vezes mais rápido.
— Eu teria ficado louco por você, não importa quando nos conhecêssemos — ele falou.
Haviam acabado de começar a namorar oficialmente. Não queria assustar a mulher, mas
era onde queria chegar: nunca teve uma namorada.
Preferia relacionamentos casuais. Até ela.
Ireland era diferente. Inteligente, engraçada e petulante. Essas eram apenas algumas das
suas qualidades mais admiráveis. Ela também tinha um cheiro incrível, e a pele era a mais macia
em que ele já pôs as mãos. E gostava da forma como ela se encaixava em seus braços quando se
aconchegava em seu corpo. Ela era, de certa forma, tudo o que ele precisava e tudo o que não
sabia que queria.
E agora que essa mulher era dele, não estava disposto a abrir mão dela.
VINTE E QUATRO
— VOCÊ O QUÊ? — o irmão mais velho de Ireland, Gabe, disse ao telefone.
— Vou levar meu namorado ao casamento da Cali — Ireland respondeu. — Bem, depois
que eu pedir a ele para ir comigo. Por quê?
— Quem é esse palhaço? — Gabe perguntou.
— Você é tão idiota. Eu sou uma mulher adulta. Não consegue ficar feliz por mim?
— Não até eu conhecer o cara e saber das intenções dele.
— Ah, sim, porque estamos em mil e oitocentos. Você está sendo ridículo. — Ireland
olhou para o outro lado da sala da casa de Jaeg e revirou os olhos quando Cali ergueu a
sobrancelha. — Você pelo menos ouviu o que falei antes de ficar todo irritado com a palavra
namorado? A Cali marcou a data do casamento. Você vai conseguir vir ou não?
Gabe soltou um longo suspiro.
— Vou verificar a minha agenda. E por que a Cali está com pressa? Ela não está grávida,
está?
Ireland encarou o teto e pediu por paciência.
— Não, ela não está grávida, não que isso fizesse diferença. Cali e Jaeg estão juntos há
anos e já era certo.
— É um pouco de última hora. Eu posso ter marcado algo.
Ireland apertou a ponte do nariz.
— Foi por esse motivo que liguei, e por isso a necessidade de você verificar a sua agenda.
Qual o seu problema hoje? Você está muito rabugento.
— A Jennifer está tentando me prender. Quer ficar noiva — Gabe resmungou.
— Gabe, vocês estão juntos há três anos, e vai fazer trinta em breve. Você não quer ficar
com ela?
— Com ela, sim. Casado... não tenho certeza. E não estou gostando nada do
aborrecimento.
Cali fez um floreio com a mão, sinalizando para Ireland se despedir.
— Escute, eu tenho que ir — Ireland disse. — Pelo cronograma do casamento ter sido
adiantado, a Cali precisa da minha ajuda. Por favor, me avise se vai conseguir vir. O Jake não vai
poder, porque está fora do país, mas o Lucas vem. Então, se você não aparecer, vai decepcionar
tanto os seus irmãos quanto a Cali. Não se sinta pressionado.
— Quem está sendo idiota agora?
— Dê um jeito de vir para o casamento da Cali, e pense no que você quer com a Jennifer.
Se não vir futuro, deixe a pobre da moça livre. Ovários não são eternos.
— Você também, não — ele reclamou.
— Você é médico, sabe como são essas coisas.
— Exatamente, e eu não preciso de ninguém falando isso para mim todos os dias.
— Se a Jennifer está te aborrecendo, deve estar bem frustrada com você. Não posso
crucificá-la.
— O que aconteceu com a lealdade familiar?
— Eu sou leal. Só não consigo entender a razão de tanto drama, já que você ama a mulher.
Gabe ficou quieto.
— Diga à Cali que eu vou.
— Com a Jennifer?
— Não sei.
— Tudo bem, boa sorte. Se precisar de mais alguns conselhos incríveis de minha parte, é
só avisar.
— Vou deixar passar — ele disse, irritado.
Ireland riu e desligou.
— Ele vem — ela falou.
— Que bom — Cali respondeu. — Agora venha aqui e me ajude com os convites. Temos
uma centena de endereços para preencher.
Ireland saiu do sofá e foi para a mesa de jantar, onde Cali estava sentada.
— Por que você não imprime os endereços?
— Porque o Pinterest diz que à mão é a forma mais tradicional.
— Bem, se o Pinterest diz...
Cali franziu a testa.
— Nada de gracinhas. Já estou estressada.
— Desculpe. Meus irmãos me tiram do sério. Estou aqui para ajudar. O que eu posso
fazer?
Cali me entregou o primeiro envelope da pilha e pegou uma folha.
— Comece por esses endereços, por favor. — Cali observou enquanto Ireland se sentava à
mesa e pegava uma caneta. — Então você vai levar o Bran de acompanhante? — ela perguntou.
— Uhum.
— Ele está convidado. Não precisa levá-lo como seu acompanhante. Mas se ele for seu
namorado, como você disse ao telefone...
— Estava ouvindo escondida?
— Com certeza.
— Nós... estamos em um relacionamento. Ele me chama de namorada. — Pensar em Bran
como namorado deixava Ireland empolgada.
Cali soltou a caneta.
— De que você o chama?
— Namorado?
— Tem certeza do que sente por ele? Porque você pareceu hesitante.
Ireland parou de escrever e olhou para a prima.
— O Bran é maravilhoso. Eu amo que ele me chame de namorada, e o levarei como
acompanhante com muito orgulho. É só que...
— O quê? — Cali perguntou.
— Eu estou preocupada, porque ele nunca namorou antes.
— Ele não tinha encontrado a mulher certa. Ele é leal a você?
— É.
— E ele é gentil, pensa em você e faz planos para ficarem juntos? Ele faz você se sentir
especial?
— Sim para tudo e muito mais. Ele é maravilhoso. Nunca imaginei que esse lado dele
existisse, e agora que sei, estou muito encantada.
Um sorriso imenso se espalhou pelo rosto de Cali.
— Eu não perdi o jeito.
— Do que você está falando?
— Obra minha. Eu te empurrei na direção do Bran, e vocês se apaixonaram.
Eles estavam apaixonados?
— Espere — Ireland disse. — Você me empurrou para o Hunt, não para o Bran.
— Foi? — A expressão de Cali era de pura confiança, como se ela tivesse planejado tudo.
Ireland balançou a cabeça.
— Não tem como você ter previsto que eu ficaria com o Bran. Você estava doente, e era
para o Hunt estar no barco naquele dia.
Cali se levantou e esticou a mão, admirando as unhas.
— Como eu disse, obra minha. Talvez meu plano não tenha sido perfeito, mas eu sabia que
ele gostava de você.
Cali e sua mania de ser casamenteira...
— Já chega de falar de mim e do Bran — Ireland retrucou. — Temos um casamento para
planejar. O que mais precisamos fazer? Não posso acreditar que você marcou a data para daqui
quinze dias. As pessoas terão tempo suficiente para fazer os arranjos para viajar?
— Mandei e-mail para todos há uma semana para informar a data e avisar que os convites
oficiais chegariam em breve. — Cali parou de escrever e olhou para cima. — Eu não podia
esperar mais. A indecisão estava acabando comigo.
— Eu sei, percebi — Ireland disse, e riu. Cali olhou feio para ela. — Mas, sério, acho foi a
decisão certa. Com base no que você falou, a casa dos pais de Jaeg parece bastante idílica.
Cali suspirou.
— É, sim. E os Lang contrataram uma cerimonialista para me ajudar na disposição dos
assentos, a escolher a comida e basicamente tudo que eu precisar. Vou me encontrar com ela
amanhã. Só preciso encontrar um vestido de noiva.
— Isso deve ser divertido.
— Quer ir? Você pode experimentar vestidos de madrinha.
Ireland arregalou os olhos.
— Eu vou ser sua madrinha?
Cali sorriu.
— Você aceita? A Gen também vai.
Ireland se levantou e abraçou a prima, que ainda estava sentada.
— Eu adoraria. Você é a irmã que eu nunca tive e eu precisava de uma com todos aqueles
irmãos ao meu redor. Se não fosse por você, eu teria matado todos eles há anos.
— Fico feliz por ter te mantido fora da cadeia. Mas não sei por que vocês brigam. Eu amo
os seus irmãos.
— Isso é porque você nunca teve que conviver com eles.
— Verdade. O que você acha de irmos às compras daqui a alguns dias? A Gen vai tirar
folga do trabalho na universidade para se juntar a mim. Eu te contei que ela está fazendo pós-
doutorado agora?
— Não, mas isso é incrível. Que bom para ela. E, sim, vou arrumar tempo. Tiro o dia de
folga, se for necessário.
— Excelente! — Cali olhou para todos os envelopes que ainda precisavam preencher. —
Vamos pegar os suportes de vinho. Isso aqui vai demorar. Vamos precisar de sustância.
— Se bebermos, os endereços vão começar a ficar tortos. Não posso garantir uma mão
firme estando sob influência do vinho.
— O Pinterest menciona que eles precisam ser escritos à mão, não que precisam ser
perfeitos. E eu preciso de uma tacinha depois dos duzentos endereços que já preenchi. — Cali
flexionou os dedos. — Acho que estou desenvolvendo uma síndrome do túnel do carpo.
— Puta merda, quantas pessoas você convidou?
— Trezentas. Mas, como você disse, é de última hora, e nem todo mundo vai conseguir
vir.
— Espero que os pais de Jaeg estejam preparados para a multidão.
— Você está brincando? Eu tive que convencê-los de que quatrocentos convidados era
muito. Eles queriam chamar todo o contingente austríaco. Decidimos por tias, tios e primos de
primeiro grau.
Cali se levantou e remexeu na gaveta da cozinha. Ela tirou seu suporte de vinho reluzente e
entregou a Ireland o outro. Aqueles suportes eram a marca registrada da cozinha da Cali.
Ela abriu um vinho tinto e serviu duas taças.
— Que a maratona de endereços e a bebedeira comecem!
Ah, caramba.
VINTE E CINCO
— ADIVINHA O QUE chegou? — Bran disse ao telefone a caminho do estacionamento.
Ele passou pela loja de equipamentos de golfe e ergueu a cabeça para cumprimentar Wes, que
estava lá na frente com Harlow no colo. Ele se aproximou e deu um beijo na bochecha fofa da
sobrinha, e continuou andando.
— Ei! — Wes gritou. — Onde é o incêndio?
Bran ergueu a mão sem olhar para trás. Não tinha tempo para conversar com o irmão,
embora tivesse gostado de ficar um pouco com a sobrinha. Compensaria com uma visita mais
tarde. No momento, tinha coisas importantes a fazer com a namorada.
— Quais peças? — Ireland perguntou, distraída. Ao fundo, conseguia ouvir os dedos dela
no teclado.
Ireland vinha trabalhando até tarde nas últimas noites enquanto ela e o chefe planejavam o
novo projeto em Las Vegas. Ela também estava ajudando Cali com o casamento que se
aproximava rápido. Então, basicamente, Bran a visitava na cama. Não que estivesse reclamando,
mas gostava de ficar com a namorada fora do quarto também. Mas, no momento, tudo em que
podia pensar era fazer amor com ela, então, tudo bem.
— A mesa de jantar e as cadeiras — ele falou. — Sabe o que isso quer dizer?
— Que vamos comer à mesa?
Bran riu.
— Não consegue ser mais criativa? Estou indo para casa. Venha comigo e vou te mostrar
em que pensei.
A digitação ao fundo parou abruptamente.
— Eu ia fazer algumas coisas...
— Você parece indecisa. Peguei comida no Prime e petit gateau de chocolate.
— Filho da mãe... — Ela soltou um longo suspiro. — Quantos petit gateaus?
— Um para cada. E chantili caseiro.
— Chego em quinze minutos.
Ele sorriu.
— Eu só sirvo para fornecer sobremesa? E quanto ao meu rosto bonito e meu humor
encantador? Não quer passar tempo com seu cara?
Ela abaixou a voz.
— Passei todas as noites dessa semana na sua casa. E não é porque estou dormindo bem.
— Ele ouviu o riso na voz dela. — Seu rosto bonito e seu humor encantador são potentes demais.
— Está reclamando?
— Não. Mas um dia desses, vamos dormir por catorze horas ininterruptas. E eu estou
falando de dormir mesmo, não as outras coisas que temos feito na cama.
— Pensamento interessante. Vou levar em consideração. Você levou roupa para passar a
noite fora?
Ela hesitou.
— Talvez.
Ele interpretou como um sim.
— Gosto de mulheres preparadas. Te vejo daqui a pouco.

***

Ireland bateu à porta de Bran. Seus ombros estavam rígidos por ter passado o dia sentada.
Bran abriu a porta e a recebeu com um sorriso, as pontas do cabelo molhadas mostravam que ele
tinha saído há pouco tempo do banho. O aroma de homem limpo e cheiroso flutuou em ondas.
Ele usava uma camiseta justa e jeans que pendiam em seus quadris. Estava descalço.
E lá estava o frio na barriga. Nada de dormir essa noite. Mas tudo bem. Ele era irresistível,
e ela queria lambê-lo.
O sorriso de Bran se alargou, e ele deu uma piscadinha.
Tudo bem, então ela estava cansada e não foi tão discreta ao comer o namorado com os
olhos.
— Me deixa pegar isso aqui — ele disse e segurou sua bolsa.
Ireland entrou na casa que foi ficando mais cheia ao longo da semana, com a adição do
sofá e da mesa que Bran mencionou ao telefone. A sala de jantar ficava à esquerda, e a sala de
estar tinha uma janela com vista para a floresta e o quintal. Onde eles fizeram sexo muito, muito
gostoso.
O rosto corou; droga de característica dos ruivos que a entregava o tempo todo.
E então notou outros aromas. Bran havia servido o jantar.
— A mobília é linda, mas a comida... eu me esqueci de almoçar, e a aparência e o cheiro
disso aqui estão celestiais.
Bran colocou a bolsa dela ao pé da escada e caminhou até onde ela estava, tirou seu cabelo
do pescoço deu um beijo na nuca.
Ireland estremeceu sob o toque dele.
— Não comece — ela falou. — É sério. Estou prestes a desmaiar de fome.
— O que é inconcebível. — Ele fez sinal para ela se sentar. — Está tudo pronto para você.
Por que ela sentia que ele estava se referindo a algo além da comida? Porque o homem era
sacana e os olhos dele resplandeciam com malícia. O que não a incomodou nem um pouco.
Bran foi para a cozinha.
— Quer beber alguma coisa?
— Vodca — ela respondeu.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Dia difícil?
Ireland pegou garfo e faca e parou. Sua vontade era pegar o bife que estava no prato e
colocá-lo na boca. Mas se comportou.
— Pode começar a comer — ele falou. — Já estou chegando.
— Você não faz ideia — ela disse, respondendo à pergunta ao cortar a carne suculenta. —
Uma das razões para eu ter esquecido de comer foi porque passei outro horário de almoço
comprando vestido de madrinha com a Cali e a Gen. Era de se pensar que a Cali ficaria obcecada
com o próprio vestido, mas não, ela teve que cismar com os vestidos de madrinha. Ameixa ou
cinza-azulado? Longo ou curto?
— Que cor ela escolheu? — Ele colocou um copinho vodca na frente da ruiva.
— Rosa antigo, com decote V longo e assimétrico. — Ela mordeu um pedaço do bife, e
fechou os olhos, em êxtase. O cômodo ficou silencioso, e ela piscou.
Bran encarava a sua boca.
— Primeiro de tudo, quando você geme desse jeito com os olhos fechados, me dá ideias, e
você disse que queria comer primeiro. Em segundo lugar, não faço ideia do que isso quer dizer.
Você está projetando uma casa ou escolhendo um vestido?
— Escolhendo um vestido. E não se preocupe. Você não precisa saber o que nada disso
significa. Contanto que me diga que eu fiquei bonita quando chegar a hora. Você vai ser meu
acompanhante no casamento da Cali, não vai?
Bran se sentou ao lado dela, segurando a garrafa de vodca. Ele se inclinou e a beijou nos
lábios.
— Vai ser um prazer.
Ela engoliu a comida e sorriu. Era a garota mais sortuda da face da Terra. Ocupada ou não,
dormindo ou não, estava tudo bem, porque nunca na vida ela foi feliz desse jeito.
Bran começou a comer também, e eles falaram do dia que tiveram. Ocorreu a Ireland que
aquele namoro era sério. Já se relacionou antes, mas com Bran, fazia parte de um casal. Eles se
apoiavam. E quando os corpos se uniam... fogos de artifício.
Ireland pigarreou. Tinha acabado de devorar o petit gateau, e estava se sentindo satisfeita e
cheia de amor, o que a fez pensar...
— Então — começou, passando os dedos pela mesa nova. — Gostou da mesa?
O olhar de Bran seguiu seus dedos enquanto tomava um gole de cerveja. O homem havia
terminado de comer muito antes dela, embora tenha começado depois.
— Você escolheu muito bem.
Ela apoiou a cabeça na mão.
— Eu só ajudei.
Bran bateu os dedos no móvel, o olhar fixo em sua boca.
— A aparência não é um bom determinante para a qualidade de um móvel.
— Não? — ela perguntou, sorrindo.
— Talvez devêssemos fazer um teste de estresse. Sabe, para verificar a resistência.
Ela deslizou o dedo pelo lábio inferior, como se estivesse pesando a sugestão.
— Não íamos querer um móvel frágil.
Bran respirou fundo e se levantou de repente. Ele começou a tirar as coisas da mesa e
passá-las para a ilha da cozinha. Antes que Ireland percebesse, ele já tinha tirado os pratos e
estava espalhando os guardanapos pelo chão.
Ele caminhou na direção dela.
— Bem, onde estávamos? — perguntou e a puxou para seus braços. — Ah, sim... teste de
estresse do móvel novo. — Bran passou as mãos pela parte de trás das pernas dela, pegou-a no
colo e a apoiou com cuidado sobre a mesa. — Até agora, tudo bem.
Ele espalmou a mesa de ambos os lados dos quadris de Ireland como se estivesse avaliando
o quanto a peça aguentava. Ela riu.
— É nova. E se a quebrarmos?
Ele a olhou muito sério.
— Não posso ter uma mesa fraca. Vai arruinar a minha mística masculina.
Ireland se curvou e riu, Bran sorria também... ao mesmo tempo que abria um botão por vez
da blusa dela.
— Você não tem cortina. Qualquer um pode ver aqui dentro — ela pontuou.
— Quem? — ele murmurou, chegando na da curva do seu seio, que agora estava exposto.
— Não há nada lá fora além de árvores e ursos.
— Ursos?
— Uhum — ele confirmou, ao terminar de desabotoar a peça, então a descartou. Bran
envolveu seus seios com as mãos.
Ireland se inclinou para trás, e ele ficou entre suas pernas, pressionando o corpo excitado
no seu.
— Então os ursos estavam nos vendo fazer sexo na caçamba da sua caminhonete? — ela
disse, com a voz aguda enquanto ele capturava o mamilo através do sutiã.
— Deviam estar torcendo por nós — ele murmurou sobre a pele delicada, enviando
fagulhas para o meio de suas pernas.
Perdendo a paciência com a barreira de tecido, Ireland levou as mãos às costas para abrir o
sutiã, mas Bran a impediu, tirando a peça com uma única mão.
— Como você sabe desses truques? Você não é mulherengo.
— Não, eu sou um bom amante. — Ele passou as mãos ao redor dos seios nus e os lambeu
e amou com a boca.
Ela cedeu e terminou de se deitar sobre a mesa. Sentiu o zíper da calça social preta abaixar
e as mãos de Bran deslizarem a peça, assim como a calcinha, por suas pernas.
Ele a puxou para a beirada da mesa e ergueu seus joelhos.
Ireland olhou para baixo para observar a imagem mais sexy que já viu na vida. A cabeça de
Bran estava entre as suas coxas, e ele lambia os lábios e encarava seu sexo. E então ele a
abocanhou e ela começou a se contorcer.
— Mais habilidades... você não devia... ser tão bom... nisso — ela disse entre arquejos.
Ele beijou a dobra entre a perna e o sexo de Ireland.
— Eu poderia ficar aqui o dia inteiro.
Ela revirou os olhos.
— Não permita que eu te impeça.
Mas ele não precisou de todo esse tempo, porque, um minuto depois, a língua e os dedos
mágicos a fizeram chegar ao clímax e lhe arrancaram um grito.
Irland voltou devagar do orgasmo explosivo e abriu um sorriso preguiçoso para ele. Em
seguida, fez careta.
— Por que você ainda está vestido?
— Porque você estava ocupada demais aproveitando meu jeitinho amoroso para se
importar.
— Verdade. E obrigada por isso, mas agora, preciso de você nu.
— Seu desejo é uma ordem. — Ele levou a mão à nuca e puxou a camiseta, jogou-a no
chão e deu a Ireland uma visão espetacular dos ombros largos e musculosos, do peitoral sarado e
da barriga tanquinho.
Queria-o dentro dela naquele instante.
Ele abriu o botão do jeans e deslizou a peça pelas pernas, observando-a o tempo todo. Ele
não estava de cueca. A boca de Ireland ficou seca.
— Sem nada por baixo hoje?
— Algum problema?
— Nenhum. — Ela balançou a cabeça. Ele era longo, e estava duro e pronto para ela. —
Você está acabando comigo com esse strip-tease lento.
Ireland começou a se sentar, imaginando a boca ao redor dele. Mas Bran levou a mão à sua
barriga e a manteve onde estava. O homem a beijou e se posicionou na sua entrada. Ele tirou a
mão da sua barriga e a levou até a lombar, por onde a puxou para frente, forçando seus seios a se
erguerem. E, em seguida, estocou. A boca dele foi descendo, sugando pescoço. A mesa e corpo
dela tremeram, e outro clímax começou a se formar.
— Vai quebrar? — ela perguntou, ofegante.
— Eu não me importo. — Bran se moveu ligeiramente, arqueando mais as costas dela, e
Ireland começou a se contorcer.
O corpo da ruiva pulsava, e Bran foi mais rápido, estocando dentro dela. A mulher estava
se descontrolando, gritando e se derretendo ao redor dele. Um segundo depois, ele mordeu o
ombro de Ireland e gemeu com o próprio orgasmo.
E foi quando ela caiu em si. Aos poucos, infiltrando-se entre a bruma do orgasmo de
proporções gigantescas... eles não tinham usado preservativo.
Ela não tomava anticoncepcional.
Merda.
VINTE E SEIS
BRAN NUNCA SE sentiu tão bem em toda a sua vida. Ainda estava dentro de Ireland, o
corpo estremecendo com o prazer residual. E a mesa não tinha desabado. Aquilo era um bônus.
— Não quebramos o móvel — ele disse, sonolento. Ireland estava de costas, e Bran
deitado por cima dela, os belos seios da mulher eram um excelente travesseiro.
— Parece... robusto — ela falou.
Ele olhou para cima.
— Estou te esmagando?
— Não, eu gosto de sentir você em cima de mim. E dentro de mim.
— Humm. Podemos ir lá para cima e se aconchegar em um lugar mais confortável.
— Bran, espere. É esse o problema.
Ele franziu a testa.
— Há um problema? — Ele esquadrinhou o corpo dela, perguntando-se se a havia
machucado.
— É só que... estamos um pouco confortável demais. Você não usou camisinha.
A cabeça de Bran desligou. Na verdade, não. Foi mais como se tivesse acelerado a
duzentos por hora e tudo se tornou um borrão. Refez seus passos. Havia tomado banho, deixado
a cueca de lado para ter um acesso mais fácil essa noite e pegou os preservativos no banheiro.
Ele os havia colocado na cama, com a intenção de guardar um no bolso de trás.
Mas não chegou a fazer isso. Os preservativos ainda estavam em cima da cama.
Ficou tão feliz por ver Ireland que desceu as escadas correndo quando ouviu a batida na
porta e se esqueceu completamente das camisinhas. Ficou tão afoito para se unir a ela na mesa e
na cama, que havia perdido a droga da cabeça e não usou proteção.
Bran saiu de cima de Ireland, pegou o jeans e o vestiu, como se ao se cobrir pudesse
desfazer o erro.
— Merda.
Ireland se sentou e cobriu os seios, o resto do corpo continuou nu.
— Eu esqueci também.
Como ele pôde ter esquecido? Nunca esquecia.
— Bran... está tudo bem.
Ele virou a cabeça para ela.
— Não está. — A voz estava ríspida demais, mas as palavras saíram antes que pudesse
detê-las.
Irland se encolheu, deslizou para fora da mesa e saiu recolhendo suas roupas.
— É melhor eu ir.
— Não. — Ele passou a mão pelo cabelo. — Desculpe. Eu só... eu nunca cometi esse erro.
Ela olhou para cima.
— Você o cometeu uma vez. — Agora foi a vez dele de se encolher.
Uma expressão arrependida cruzou o rosto dela.
— Desculpe. Foi crueldade minha.
— Mas é verdade.
Ela vestiu as roupas.
— Não somos crianças. Vai ficar tudo bem. Foi uma vez só. Não há garantia de...
Gravidez... uma criança?
Ele assentiu, rígido, mas não ficou tranquilo.
Como tudo pôde ter dado tão errado? Em um piscar de olhos, a noite foi da conexão mais
poderosa que já teve com uma mulher a tudo ir pelos ares.
— Eu vou embora — ela falou, parecendo perdida.
Bran foi até ela e a abraçou.
— Desculpe. Estou bravo comigo mesmo, não com você. Você está certa, vai ficar tudo
bem.
Mas as palavras soaram vazias até mesmo para ele.
Ireland engoliu em seco.
— É melhor cada um ficar na própria cama hoje. Dormir de verdade. Estamos exaustos, e
isso não deve ter ajudado.
Ele afastou o olhar. Bran a queria na cama dele. Queria abraçá-la. Mas também queria
tempo para compreender um erro que não cometia há dez anos, e que tinha certeza de que não
cometeria de novo.
— Você tem razão. Eu te mantive acordada até tarde essa semana.
Ela assentiu, mas não antes de ele captar um vislumbre de decepção no seu olhar.
Tinha cometido um erro. De novo.
— Ireland...
Ela pegou a bolsa e olhou para cima.
— Quer que eu te leve para casa?
Um sorriso constrito atravessou o rosto dela, não havia luz nos belos olhos verdes. Ela
balançou a cabeça.
— Estou de carro.
Ele olhou para o teto, querendo dizer alguma coisa, qualquer coisa, enquanto ela ia em
direção à porta.
— Você vai ficar bem?
Ela parou com a mão na maçaneta.
— Vou, sim.
Mas ele não acreditou. Ele os colocou em uma posição em que teriam que considerar o que
fariam quanto à probabilidade de uma gravidez não planejada. Decepcionou a si mesmo.
Decepcionou a ela. E não tinha certeza de que poderia se perdoar.
VINTE E SETE
DORMIR? POR QUE Bran pensou que conseguiria dormir sem Ireland?
Virou e revirou a noite toda, revivendo o prazer explosivo que havia experimentado nos
braços dela, e que agora estava distorcido pela culpa.
Acontecia. As pessoas eram levadas pelo momento e esqueciam, ou ignoravam o uso da
camisinha. Mas Bran, não. Não depois de ter aprendido a lição ainda no ensino médio e quase ter
arruinado a vida de uma garota. Deus sabia os efeitos duradouros que seu descuido acarretaria
para ela. E ele cometeu o mesmo erro. Mas dessa vez, foi com a mulher por quem estava se
apaixonando.
Ireland se tornou uma luz na sua vida. Essa mulher linda, engraçada e sensual apareceu em
sua vida de repente, e ele os colocou em uma situação muito difícil.
Entrou no Prime, ainda remoendo o fato de ter cometido um erro tão idiota, quando a
gerente do turno apareceu na frente dele.
— Oi, Jacky — cumprimentou-a. — Está tudo bem?
Jack mudou o peso de um pé para o outro e torceu as mãos.
— Não muito.
Excelente.
— Em que posso ajudar?
— É o sistema de pedidos. Estamos tendo problemas com ele de novo, só que dessa vez é
pior.
Ele franziu a testa.
— Estava funcionando bem. Não tivemos nenhum pedido errado desde que foi refeito.
— Também não entendi, mas está acontecendo alguma coisa. Recebemos duzentos
pedidos incorretos essa manhã, e a parte financeira está uma bagunça.
— Duzentos? — ele falou. — Como é possível? Não são nem dez horas.
Ela balançou a cabeça.
— Não sei, mas passamos a manhã recebendo ligações de clientes irados. Os pedidos estão
errados. Há problemas na cobrança.
Bran rangeu os dentes.
— Tire do ar.
— Já faz uma hora que tirei, mas os pedidos...
— Conserte-os — ele disse. — Devolva o dinheiro de todos. Chame os gerentes que estão
de folga e peça ajuda a arrumar essa bagunça.
Jacky assentiu, mas a tensão era evidente em seu rosto.
Bran alongou o pescoço, os tendões estalaram.
— Qual é o prejuízo?
— Cerca de dez mil, mais o custo da comida, os gastos com o serviço de entrega e
despesas gerais.
Então, basicamente, o ganho total dos quatro restaurantes naquela manhã.
Eles recebiam pedidos para serem retirados lá mesmo e para serem entregues pela manhã,
mas nunca duzentos pedidos.
— Vou ligar para a empresa que fez o software e descobrir o que está acontecendo. — Mas
Bran não fazia ideia de como a Tech Banquet consertaria o problema. Foi trabalho de Ireland.
Ireland. Merda. Não tinha ligado para a mulher desde que ela foi embora ontem à noite. E
agora, precisava apagar um incêndio de grandes proporções no clube. Um incêndio do qual ela
pode ter sido responsável.
Não ligaria para Ireland por esse motivo. As coisas entre os dois já estavam complicadas
depois da forma como ele agiu na noite anterior. Tentaria resolver aquilo sozinho.
A Tech Banquet respondeu o chamado na mesma hora e mandou um novo programador.
Eles haviam demitido James depois de Bran relatar o comportamento do homem e o consequente
envolvimento da polícia. Nenhuma surpresa, até então. Mas alguns dos problemas que estavam
enfrentando naquela manhã eram estranhamente familiares.
Como era possível o programa estar tendo os mesmos problemas de antes de Ireland
reestruturá-lo? Não havia conexão direta com a Tech Banquet, o programa rodava nos servidores
do Club Tahoe. Nada disso fazia sentido.
O novo programador passou o dia analisando os pedidos incorretos e o código que Ireland
criou.
— Os pedidos estão vindo de toda parte de Lake Tahoe, até mesmo do litoral norte — o
técnico disse. — Vocês costumam receber pedidos de tão longe?
— Não é comum. Um ou outro, talvez, mas normalmente é no jantar.
O rapaz coçou a mandíbula.
— Isso é estranho.
— O quê? — Além de tudo no dia de hoje, Bran pensou.
— Além dos pedidos chegando de lugares incomuns, vários dos números listados são
iguais, mas com endereços diferentes. E as contas não fecham direito. As cobranças são
ligeiramente maiores que a conta.
— Então estamos reembolsando mais que o custo dos pedidos?
— Bem, sim, mas não muito. Um dólar mais ou menos.
Bran respirou fundo.
— É como da última vez. — Por que tinha comprado essa porcaria de programa? — Você
consegue consertar?
— Claro, mas não vai ser da noite para o dia. Vou precisar de uma ou duas semanas.
— E a Tech Banquet vai cobrir as despesas?
O homem se remexeu assim como Jacky mais cedo.
— Na verdade, não. Meu chefe disse que você contratou uma freelancer que reescreveu o
programa. Teremos que te cobrar pelo meu tempo.
— A Tech Banquet a contratou como freelancer — Bran corrigiu. Mas ele a havia
recomendado... e pagado. Puta merda.
O programador ergueu as mãos.
— Sou apenas o mensageiro. — Bran saiu do restaurante feito um furacão e foi até o
lounge, onde os irmãos se encontrariam essa noite.
Era hora de encarar os fatos. Eles não ficariam satisfeitos. Mas ninguém estava mais
irritado que ele.

***

— De novo? — Levi perguntou.


Bran tomou um gole da cerveja e puxou o boné para baixo. Ele se disfarçava quando saía
com os irmãos, com tietes demais pelo resort, todas curiosas quanto aos filhos ricos que haviam
herdado o lugar. Atualmente, Hunt era o único que tirava vantagem do fato, e Bran não queria ter
nada com isso. Havia se esquecido de usar o boné ultimamente, não se preocupava com as tietes
quando tinha Ireland em sua vida. Mas, essa noite, precisava de cobertura, tanto física quanto
mental.
Quase se encolheu com o peso do olhar dos irmãos.
— Droga, Bran, acabamos de tirar o clube do vermelho, e agora isso? — O comentário
veio de Wes. Ele tinha salvado o clube ano passado com o torneio de golfe. E estava otimista de
que receberiam o evento mais uma vez. Mas não esse ano.
Wes se virou para Levi e Emily.
— É muito ruim?
— Não é terrível financeiramente — Levi disse —, mas pode arruinar a nossa reputação de
oferecer um serviço excelente.
— É uma confusão, mas vamos cuidar de tudo — Emily continuou. — Os clientes estão
animados com as programações novas. Graças ao Club Kids, estaremos com ocupação máxima
nos próximos dois verões.
— Só que os novos clientes estão irritados por causa da bagunça com os pedidos deles —
Levi resmungou.
Tomaram a decisão de investir nos restaurantes juntos, e Bran não deixaria o babaca do
irmão mais velho jogar toda a culpa para cima dele.
— A maioria dos pedidos era para entrega. Não devem afetar os clientes que estão no
local.
Adam dobrou as mangas depois de pendurar o paletó nas costas da cadeira.
— Já é um consolo.
— Certo — Bran falou. — Aja como se você se importasse. Se o Club Tahoe perde a
reputação, melhor para o Blue Casino.
— Ei, otário — Adam disse —, sou dono de parte do Club Tahoe. Tenho todas as razões
para me preocupar com a rentabilidade do lugar.
Hunt ergueu a mão.
— Pessoal, vamos esfriar os ânimos. Bran, você cometeu um erro, mas vamos resolver.
Sempre resolvemos.
— O que isso quer dizer? — Bran falou. — Eu não sou o membro da família que vive
cometendo erros.
Hunt se inclinou para frente, com o olhar duro.
— Eu disse que é? Sei que vocês pensam que sou um caso perdido, mas vocês não são
anjinhos.
Ninguém respondeu ao comentário, talvez porque fosse verdade.
O caçula era o irmão que mais se metia em encrenca. Mas foi ele quem pensou nas
programações para as crianças, o que, no momento, estava salvando o clube e atraindo clientela
nova. Sabia que eram injustos com ele. Mas não ajudava muito o fato de que quando não estava
trabalhando, Hunt estava correndo atrás de mulheres. Ele era um alvo fácil.
— Desculpe — Bran falou. — Estou chateado comigo mesmo, não com você. Tomei
liberdades esses tempos, e elas estão voltando para me assombrar.
— Liberdades? — Emily olhou para Levi.
Levi balançou a cabeça, confuso.
— Na minha vida pessoal — Bran falou. — Não fiz do resort a minha prioridade.
— Bran — Wes replicou —, nenhum de nós faz isso. Você tem permissão para ter uma
vida pessoal. Na verdade — ele olhou para os outros irmãos —, estamos felizes por você
finalmente ter uma. A Ireland é maravilhosa.
— A Ireland? — Emily repetiu. — A programadora? — Ela olhou para Levi. — Por que
você não me mantém a par dessas coisas?
— Eu não sabia. — Levi olhou feio para o resto deles — Parem de arranjar problema para
mim.
— Não é nossa culpa você não prestar atenção na vida amorosa do Bran — Wes disse.
Adam tomou um gole do martíni.
— A Hayden juntou os dois. Minha esposa sabe o que faz.
Hayden pode ter ajudado a liberar a agenda da Ireland para a consultoria no Club Tahoe,
mas o passeio de barco foi o que colocou tudo em movimento. O trabalho de freelance só atiçou
as chamas.
Foi todo o necessário: proximidade. Assim que Ireland se aproximou, Bran teve
dificuldade para abrir mão dela. Mas agora, ele havia estragado tudo.
— Bem — Bran falou —, agora eu tenho que dizer a ela que o programa nos custou dez
mil dólares e a reputação do resort.
Adam estremeceu.
— Você está querendo dormir no sofá? Se não for o caso, melhor pensar em uma tática
diferente.
Bran olhou feio para ele.
— Que escolha eu tenho? Ou é isso, ou a gente tem que pagar à Tech Banquet para eles
reestruturarem o programa de novo.
— A Ireland é esperta — Adam falou. — Não sei o que está acontecendo com o programa,
mas ela vai consertar. A mulher está indo muito bem no Blue. Os patrões a idolatram.
Bran puxou a aba do boné para baixo. Não sabia o que pensar. Tudo o que sabia era que
Ireland havia reescrito o programa, e agora o Club Tahoe estava pior que antes.
VINTE E OITO
OS IRMÃOS DE Bran saíram do lounge uma hora depois, mas ele ficou. Precisava ligar
para Ireland.
Adiou esse momento o dia todo. Primeiro, porque tinha uma crise com a qual lidar.
Depois, porque não queria falar dos problemas do software com ela. Havia errado na noite
anterior, e agora teria que contar à mulher que o programa que ela criou estava estragado?
Nenhum homem em sã consciência gostaria de estar nessa posição, e Bran não era nada senão
prático.
— Oi — ele falou quando Ireland atendeu.
— Oi. — Ela parecia estar triste. O que tinha a dizer não a deixaria mais feliz.
— Seu dia foi bom? — ele perguntou.
— Tudo certo. E o seu?
Ótimo, em um espaço de vinte e quatro horas, o relacionamento desceu ao patamar da
conversa fiada.
— Não foi dos melhores.
— É, eu fiquei bem chateada depois de ontem à noite.
Bran pigarreou.
— Eu também, mas... essa não foi a única razão para eu ter tido um dia ruim. O programa
que você criou deu problema hoje de manhã. Nós o tiramos do ar, e chamamos o suporte da
empresa. Vai levar semanas para ser refeito.
— Espere, o quê?
— O programa direcionou duzentos pedidos errados hoje de manhã.
— Não é possível — ela afirmou.
— Eu não sei o que te dizer. Foi o que aconteceu.
— Estou indo até aí.
Bran se sentou mais ereto.
— Você não precisa vir. Um programador da Tech Banquet está trabalhando nele.
— Você está me demitindo?
— É claro que não. Mas eu te contratei via Tech Banquet, e eles enviaram outra pessoa.
— Por que você não me ligou antes? Eu fiz o programa. — Porque ele era covarde? —
Isso é besteira — ela falou. — Assim como a noite de ontem, mas não posso me preocupar com
isso agora.
Normalmente, a raiva de Ireland o deixava excitado. Mas, no momento, sentiu um aperto
no peito. Não gostava de chateá-la.
— Me faça um favor — ela disse. — Peça para alguém me deixar entrar para que eu possa
ver o que está acontecendo. Chego aí em vinte minutos.
— Vou fazer melhor. Eu mesmo vou permitir a sua entrada.
Ela suspirou.
— Tudo bem, mas isso não tem nada a ver com a gente, nem com o que aconteceu na noite
de ontem. Estou indo para resolver a questão do programa.
— Certo — ele falou. Embora a questão fosse além do programa. Tinha a ver com tudo,
mas não mexeria naquele vespeiro.

***

Como ele teve a coragem de não comunicá-la quando tudo foi pelos ares de manhã? E
depois da reação horrível que ele teve sobre o incidente de ontem à noite? Ireland queria
estrangular o homem.
Ele poderia muito bem ter jogado a culpa nela por não lembrá-lo de usar camisinha na
noite anterior. Uma mulher também podia ser levada pelo calor do momento! Foi aquela boca. O
que o homem fez com a língua lhe deu um orgasmo de entorpecer a mente. Como uma mulher
podia funcionar sob tais condições? Eles cometeram um erro. Essas coisas aconteciam. Mas
eram adultos. Bran estava tão concentrado no próprio passado que não pôde ver além e oferecer
apoio a ela, e não voltar o foco para si. Agora, passou por cima dela para consertar um programa
que ela criou.
Seu código era perfeito. Verificou e reverificou tudo antes de colocá-lo no ar. O que não a
isentava de erros, mas passar por cima dela e ligar para a Tech Banquet sem nem sequer
consultá-la? Ele não acreditava mesmo nela, não é?
Já estava tarde, mas o Club Tahoe e todos os cassinos em South Lake Tahoe não dormiam.
Pessoas andavam pelo lobby quando Ireland abriu caminho até a extremidade do resort que
ficava à beira do lago, onde o Prime e as outras lojas ficavam. Empurrou a porta do restaurante,
mas estava trancada.
Bran olhou de uma mesa próxima. O notebook estava aberto. Ele se levantou e foi abrir a
porta para ela.
— Obrigado por vir.
O coração saltou para a garganta quando o viu. Uma parte dela queria abraçá-lo, e a outra,
dar um empurrão nele.
Ela fez sinal para o computador.
— Você se importa se eu usar seu notebook? Suponho que ele esteja ligado ao servidor,
certo?
Ele olhou para ela como se tentasse ler o que se passava na sua cabeça. Boa sorte, pensou.
Ireland se sentou à mesa e pegou os fones. Precisava se concentrar para descobrir qual era
o problema. Não poderia fazer isso com Bran ali, encarando-a. Então ligou a música e tentou se
esquecer dele e das emoções turbulentas que o homem lhe causava.
Sentiu quando ele foi para os fundos do restaurante. Olhou para cima e o viu entrar no
escritório. Seus ombros caíram e os olhos queimaram.
— Droga.
Tinha dito que não queria falar sobre o que aconteceu ontem à noite. Que ela só foi ali para
trabalhar no programa. Mas, lá no fundo, queria que ele a abraçasse. Que dissesse que tudo
ficaria bem. Basicamente o que ele não fez ontem nem hoje. Ao telefone, o homem pareceu mais
preocupado com os problemas do software que com o relacionamento deles.
Não aconteceria de novo. Ela era importante também, e não aceitaria esse tipo de coisa de
outro homem.
Pensou que ele fosse diferente, mas, no momento, era igual a qualquer outro com quem já
se relacionou: egoísta. Pensou só em si mesmo ontem à noite. E hoje, ligou para ver como
estavam as coisas, mas, obviamente, estava mais distraído pelos restaurantes.
Se era assim que ele queria, ótimo. Ela consertaria o programa e seguiria com a vida. Era o
que precisava fazer.
Ireland fechou os olhos com força para segurar as lágrimas tentando se infiltrar e abriu o
código. No mesmo instante, notou linhas que pareciam diferentes das que ela escreveu. Buscou o
backup que fez por garantia e não o encontrou. Não estava onde o alocou, e quando procurou na
nuvem que o Club Tahoe usava, também não estava lá.
Que bom que havia feito backup em outra nuvem com um serviço de segurança mais
reforçado.
Ireland baixou o backup alternativo e o comparou com o programa atual. Os dois não
combinavam, com toda certeza. Alguém trocou o código que ela escreveu. E os motivos pelos
quais uma pessoa faria isso estavam crescendo. Nenhum deles era bom.
A mulher se levantou e foi até o escritório de Bran. A porta estava aberta, e ele estava
recostado na cadeira, com os olhos fechados, as linhas fortes do seu maxilar atraíram sua atenção
para os lábios macios. O coração traiçoeiro disparou.
Por que o órgão não podia ter bom senso só para variar?
Quando algo importante aconteceu, Bran não a colocou em primeiro lugar. Duas vezes.
Como se a noite anterior não tivesse sido o bastante. Era para ele ser seu namorado, mas, em vez
disso, o homem a deixou de fora. Não queria um relacionamento assim com ninguém, muito
menos com Bran, a pessoa com quem queria compartilhar tudo.
Ele deve ter pressentido sua presença, porque abriu os olhos e a encarou.
— Alguém tem acesso ao programa? — ela perguntou. — Ao código em si?
Ele balançou a cabeça devagar, como se estivesse pensando.
— Não. Só você e o funcionário que a Tech Banquet enviou.
Ireland tinha a evidência de que precisava de que o original foi modificado. Mas, agora,
precisava descobrir por que fizeram isso. Ela se virou e voltou para o computador.
— Espere — Bran chamou e se levantou. — O que está acontecendo?
Ela continuou andando.
— Alguém mexeu no programa.
— Quem faria algo assim?
Ela parou e se virou.
— Você acha que eu tenho algo a ver com isso? — Certo, aquilo foi exagero. Estava
cansada, triste e tão confusa como qualquer um estaria depois de tudo o que aconteceu.
O rosto dele mostrava surpresa genuína.
— Não. Claro que não.
Ireland se sentou e ergueu a tela do notebook.
— Então me deixe fazer meu trabalho e ver se consigo descobrir quem foi.
— Ireland.
Ela olhou para o rosto que amava, mesmo quando não queria. Doía demais olhar para o
homem em que confiava, mas que não confiava nela.
— Sim?
— Obrigado. — Ele foi sincero, mas tudo em que ela pôde pensar foi no que havia perdido
hoje.
VINTE E NOVE
IRELAND BUSCOU NO servidor a impressão digital do dispositivo de quem devia ter
trocado o programa de pedido on-line. Mas a pessoa encobriu o rastro. Não encontrou nada.
Exceto a ligação mais que óbvia com o culpado.
O código foi modificado para desviar dinheiro pela Europa a partir do programa que ela
criou, assim como o software de James fazia. Ireland tinha certeza de que se verificasse as
contas, descobriria que dinheiro havia sido roubado.
Já passava de uma da manhã, e estava exausta. Foi até o escritório de Bran e o encontrou
dormindo na mesa. Tocou o ombro dele e o balançou de leve. Então afastou a mão.
Bran esfregou o rosto.
— Tudo bem?
— Depende. Seu sistema foi hackeado e o programa que eu criei foi adulterado e algumas
seções foram reescritas.
— Ótimo. — Ele balançou a cabeça. — Podemos substituí-lo pelo seu programa e colocar
tudo de volta no ar, certo?
— Você poderia fazer isso... mas correria o risco de ele ser hackeado novamente. Alguém
tem acesso ao seu servidor, e parece que estão usando o programa para desviar dinheiro.
Ele jogou a cabeça para trás e suspirou.
— Foi o que o outro programador disse.
— Eu acho que foi o James.
— O quê?
— Alguém com acesso às senhas reescreveu seções do código e mudou o sistema de
pagamento com cartão de crédito. Foi um trabalho malfeito, e creio que é o que esteja causando o
mau funcionamento do sistema.
Bran cerrou a mandíbula.
— Eu deveria ter trocado as senhas depois que o James foi demitido. Foi um erro de
principiante. — Ele estreitou os olhos. — Houve discrepâncias financeiras com o último
programa. Você acha que foi proposital?
Agora ele queria saber a opinião dela? Depois de não ter confiado em Ireland para lidar
com o problema?
Ela deu de ombros.
— O James é um filho da mãe arrogante que não gostou de ter alguém mexendo no
programa dele, e depois você o demitiu. Há inúmeras razões para ele ter roubado do resort.
— Você tem razão.
— Mas, respondendo à sua pergunta, sim, depois de notar que pequenas quantias de
dinheiro foram cobradas a mais “por acidente”, creio que possa haver algo ilegal acontecendo.
Vou precisar olhar com mais atenção. O que eu descobri hoje explica quem pode ser o
responsável, já que o caminho do dinheiro corresponde ao que havia no programa do James. Mas
não explica o padrão incomum de centenas de pedidos terem sido feitos on-line. Precisaria olhar
com mais atenção.
— Hoje, não — ele falou. — Não posso acreditar que te segurei aqui até tão tarde.
A cabeça de Ireland latejava e fazia horas que o traseiro ficou dormente. Esteve tão
determinada a resolver o problema do software que não prestou atenção na hora.
— Vou voltar amanhã.
Bran levantou e se aproximou dela.
— Ireland, você não precisa fazer isso.
Ela deu um passo para trás.
— Preciso, sim. Você não confiou em mim. E aqui estou eu, tendo que provar o meu valor
para alguém em quem eu confiava. O homem que eu pensei que fosse meu namorado.
— Eu confiei em você, é só que...
— Só que o quê?
Ele esfregou os olhos.
— A verdade?
— De preferência — ela respondeu.
— Eu sabia que você estava chateada depois de ontem à noite. E também supus que você
causou o problema sem querer, já que foi você quem escreveu o código. — Ele apertou a ponte
do nariz. — Eu só... não posso decepcionar os meus irmãos. Preciso que os restaurantes ajudem
o clube, não que causem prejuízo.
Ireland arrumou a maleta no ombro.
— Então você concluiu que o problema era eu, e tomou as providências para me substituir.
Ele colocou a mão no bolso.
— Você sabe que eu não sou bom com essas coisas.
— Tecnologia ou relacionamentos?
— Ambos, o que já deveria estar óbvio a essa altura — ele falou. — Não sei em que eu
estava pensando quando te pedi para ser minha namorada. Não sou um namorado responsável.
A garganta de Ireland se apertou e, por um momento, ela não conseguiu falar.
— Você nunca pediu.
— O quê?
— Você nunca me pediu para ser sua namorada, você simplesmente declarou que eu era.
— Exatamente. Eu nem levei em consideração a sua vontade — ele respondeu.
Ela revirou os olhos.
— Eu queria ser sua namorada. Você não precisava pedir, porque o que sentimos um pelo
outro não precisava ser explicado.
Ele olhou para baixo, depois balançou a cabeça.
— Eu gosto de você, Ireland. O suficiente para saber que não posso te dar o que você
merece.
Ela engoliu o nó na garganta.
— Fico feliz por você ter chegado a essa conclusão por mim. Meu cérebro é tão pequeno
que talvez eu nunca fosse descobrir que você não era bom o bastante a menos que me dissesse.
— Ela saiu feito um furacão do escritório, atravessou o restaurante e foi para a saída.
— Não foi o que eu quis dizer — ele argumentou. — Uma das coisas que mais gosto em
você é sua inteligência.
Ireland parou à porta e mordeu o lábio para impedir que as lágrimas se derramassem pelo
rosto.
— Vou voltar amanhã para terminar de verificar os pedidos.
Bran não disse mais nada. E Ireland saiu.

***
Wes entrou no Prime trazendo Harlow no colo.
— Como você conseguiu arrumar o sistema tão rápido? — ele perguntou a Bran, que
estava sentado no bar verificando a escala dos funcionários.
— Ireland. Ela resolveu tudo ontem à noite e veio hoje de manhã e atualizou o sistema de
segurança. Nós fomos hackeados.
Wes pressionou a cabeça de Harlow junto ao peito e cobriu a outra orelha dela com a mão.
— Mas que porra? Precisaremos contratar segurança virtual ou algo assim?
— De acordo com a Ireland, não. Ela instalou um software de segurança dos bons, e eu
passei uma hora aprendendo a usá-lo e memorizando senhas complicadas.
— É útil ter sua namorada por perto.
— Ela não é minha namorada — Bran falou, com a garganta seca.
Wes o olhou surpreso, ao mesmo tempo que Harlow pegou o nariz dele, o que fez Bran se
sentir melhor. Ela não favorecia só a ele.
Com cuidado, Wes tirou os dedinhos de seu nariz.
— Desde quando? Não me diga que vocês não estão mais juntos. Ela era ótima.
— Ela merece alguém melhor, alguém com quem possa contar, que possa cuidar dela... e
tudo o mais.
Wes voltou a cobrir as orelhas de Harlow.
— É essa merda que você está dizendo a si mesmo? Qual é, Bran, o que está acontecendo?
Se não estou enganado, o que raramente acontece, você estava apaixonado por ela.
Bran cerrou as mãos.
— Você veio aqui por algum outro motivo que não falar da minha vida amorosa?
Wes lhe entregou Harlow.
— Você admitir que tem uma vida amorosa já é um progresso. Fique com a Harlow para
mim por um segundo. Preciso ir ao banheiro.
Bran salpicou beijos na bochecha da sobrinha. Enquanto Wes encarava.
— Vá logo — Bran disse. — Preciso de um tempo com a Harlow depois da semana que eu
tive.
— Não deveria ser tão rápido para estragar tudo com a Ireland — Wes falou. — Você pode
querer um desses algum dia. — Ele olhou para a filha.
— Um filho?
— Sim, um filho, seu idiota. E, confie em mim, você vai querer que seja com a mulher que
você ama. A Ireland foi a única por quem eu vi você se apaixonar. Não estrague com tudo.
Bran tampou as orelhas de Harlow.
— Olha a boca. — Ele foi em direção ao bar para exibir a sobrinha para os funcionários. E
para bem longe de Wes e sua análise psicológica.
— Ei — Wes disse, recuando devagar em direção ao banheiro. — Eu a quero de volta
quando acabar. Nada de roubá-la de mim.
Bran o ignorou e foi exibir Harlow para o pessoal do Prime. Todos a conheciam, mas
gostavam muito de passar tempo com ela.
O irmão era um pai comprometido, o que enchia Bran de orgulho, já que eles nunca
tiveram uma boa referência. Mesmo quando o pai estava por perto, a cabeça dele nunca estava
presente. Mas Wes era ótimo, mostrando a Bran e aos irmãos que era possível. Só que isso não
significava que Bran pensava em ter filhos, não importa o que Wes dissesse.
E então se lembrou de Ireland. E do preservativo de que haviam esquecido.
Ela estava certa. Era baixa a probabilidade de engravidá-la depois de deixar de usar
camisinha uma única vez, mas não era impossível. Não importava o que acontecesse, precisava
conversar com ela. Havia se atrapalhado na outra noite, mas precisava se esforçar, ela merecia.
Abraçou Harlow com força. Ele seria o melhor pai que poderia ser, se fosse necessário.
Mas não queria uma criança não planejada. Queria ser capaz de dar tudo ao filho e à esposa.
Minutos depois, Bran espiou Wes falando com o gerente, que era um bom amigo dele, e
Bran virou Harlow para o outro lado antes que o irmão pudesse pegá-la.
E ficou cara a cara com a garota cuja vida havia arruinado.
Mulher, ela era uma mulher agora. Estava ao lado de um homem e segurava a mão de uma
criancinha de cerca de três ou quatro anos.
— Bran. — Delaney se virou para o homem ao lado dela. — Kevin, esse é o Bran.
Estudamos juntos. É bom ver você — ela disse para Bran, sorrindo.
Ele mudou Harlow de lado e apertou a mão de Kevin.
— É um prazer te conhecer. — Ele olhou para Delaney, estudou o rosto dela, sentindo a
própria descrença. Ela não parecia triste, nem traumatizada. Ela parecia feliz.
— Como você está?
— Muito bem — ela falou e pegou o garotinho no colo. — Esse é o meu filho, o Miles. —
A criança apoiou a cabeça no ombro da mãe. — Miles, diga oi para o Bran.
O garotinho murmurou algo parecido com “oi”, e Bran o apresentou a Harlow.
— Ela é sua? — Delaney perguntou.
Bran olhou para Harlow, percebendo o que parecia.
— Minha sobrinha. Filha do Wes.
Delaney perguntou como o irmão estava, e o homem em questão chegou para roubar
Harlow, droga.
— Então foi para cá que você trouxe minha filha — Wes disse depois de ser apresentado a
Kevin e de cumprimentar Delaney.
O irmão sabia que ele engravidou uma garota no ensino médio, mas Bran não havia dito
quem.
— É melhor eu ir — Wes disse. — Kaylee está esperando na loja para levar essa pequena à
aula de Música e Eu. — Ele levantou a filha nos braços, e Harlow deu um gritinho. — Foi um
prazer te ver de novo, Delaney. Kevin. — Wes apertou a mão do homem e foi embora.
Bran olhou ao redor.
— Vocês estão esperando uma mesa? — Delaney assentiu.
— É meu aniversário, e queríamos ir a algum lugar especial.
Os moradores vinham aos restaurantes do Club Tahoe em ocasiões especiais. Foi ótimo
saber que o percalço dessa semana não havia arruinado por completo a reputação deles.
Bran acenou para um garçom, que veio atendê-lo.
— Coloque-os em uma das mesas reservadas — Bran disse baixinho para o garçom, que
acompanhou Delaney e família até lá.
Tentou trabalhar mais um pouco, porém não conseguia parar de pensar nela. Depois da
escola, nunca mais a viu. Supôs que tivesse ido embora da cidade. Encontrar-se com ela hoje foi
como fechar um ciclo, só que pior. Era adolescente quando engravidou a garota. Dez anos
depois, e ele ainda não sabia se havia sido o responsável por outra gravidez indesejada.
Tinha regras para assegurar que nunca voltaria a cometer esse erro. E as ignorou para ficar
com Ireland. Porque a amava.
Droga.
Na saída, Delaney fez sinal para o marido e o filho irem na frente, e ela ficou para trás.
— Obrigada pelo almoço — ela disse. — Foi muita generosidade sua.
Bran pagou pelo almoço deles, era o mínimo que podia fazer.
— Feliz aniversário. Eu sempre me perguntei como você estaria.
Ela estendeu a mão e apertou o braço dele.
— Tudo ficou muito bem. E com você?
Era uma pergunta simples, com uma resposta simples. Mas, por alguma razão, as palavras
não vieram.
— Eu só queria te dizer que sinto muito. Por tudo o que te fiz passar na época da escola.
Não sei se cheguei a te dizer isso.
Um sorriso triste atravessou o rosto dela.
— Você disse. Várias vezes. Eu também senti muito. Mas a vida foi generosa comigo.
Tive uma segunda chance, e espero que você tenha também.
Ele teve uma segunda chance. Com Ireland. E estragou tudo.
Bran enlouqueceu naquela noite. Não ofereceu apoio à namorada, assim como entrou em
pânico e não deu apoio a Delaney anos atrás.
Sorriu para esconder os pensamentos.
— Está tudo bem. Foi bom te ver.
Delaney hesitou por um instante, como se soubesse em que ele estava pensando.
— Se cuide, Bran — ela disse com um sorriso triste, e foi se juntar à família.
Delaney seguiu em frente. Bran seguiria também. Com Ireland, se resguardou
instintivamente quando desistiu de lutar contra a atração que sentia por ela. E foi embora no
momento que as coisas deram errado.
Ireland precisava saber que ele a apoiaria, não importava o que acontecesse.
E que ele a amava.
TRINTA
IRELAND ESTAVA SENTADA junto à ilha da cozinha, trabalhando no computador
enquanto Cali e Jaeg pegavam as caixas que levariam para a casa dos pais dele para o casamento
no fim de semana. Fizeram um ensaio da cerimônia no local mais cedo e tudo já estava
arrumado.
De alguma forma, o casamento chegou de mansinho para todos eles. Cali havia antecipado
a data, mas Ireland suspeitou que tudo parecia demais por causa de Bran e da carga emocional da
semana. Não perdeu apenas o namorado, mas também um amigo. Bran chegou lentamente em
sua vida e se tornou uma pessoa para quem ela queria contar sobre o dia e com quem
compartilharia as noites. A necessidade que sentia por ele também não desapareceu. Agora, um
abismo ocupava o lugar em que o seu coração deveria estar.
O vínculo que estavam construindo foi despedaçado na noite que não usaram preservativo.
O que parecia um motivo relativamente insignificante para um casal terminar. Mas aquilo atingiu
o ponto fraco de Bran. Ele dedicou a vida a nunca mais cometer erros como aquele e então,
cometeu. Com ela. Assim Ireland se tornou parte do pior pesadelo dele.
Bran consolidou o término ao tratá-la como qualquer outro homem com quem ela já
trabalhou: duvidou de seu profissionalismo quando o software deu defeito, presumindo que ela
havia feito algo errado. Ele até disse que tinha que colocar o resort e os irmãos em primeiro
lugar.
Entendia a devoção familiar, mas e quanto a ela? Em que posição ficava nessa lista de
prioridades?
Mesmo que ele se desculpasse, havia prometido a si mesma que nunca mais ficaria com
um homem que a tratasse como algo supérfluo. Que não a respeitasse. Bran parecia a
personificação de cada sonho romântico que já teve, mas, no fim das contas, era igual a todos os
homens com quem já se relacionou.
E foi ele quem terminou tudo.
Uma lágrima escorreu por sua bochecha e afundou na armação dos óculos.
Ela secou o rosto e respirou fundo. Sobreviveria. Era só amor... o melhor tipo de amor,
mesmo que tenha durado só um instante. Teve um vislumbre de um futuro lindo, e agora se
perguntava se foi tudo fruto da sua imaginação.
A porta da casa se abriu com um rangido.
— Olá!
Virou-se devagar na banqueta da ilha e olhou para o irmão mais velho.
— Era para você ter chegado há horas.
Ele tirou a bolsa do ombro e a jogou no chão.
— Ei, eu cheguei. Onde está a demonstração de amor? Você tem ideia do quanto é difícil
para mim tirar uma folga?
— Você tirou um dia de folga.
— Exatamente.
Ireland esfregou as têmporas. Os irmãos a enlouqueciam, e não tinha certeza de que
poderia lidar com Gabe hoje.
Ele a olhou.
— O que há de errado com você? Parece estar prestes a vomitar.
Ela olhou feio para ele.
— Obrigada.
Gabe cumprimentou Jaeg. O noivo da prima apareceu ao ouvir a voz do irmão dela e
entregou uma cerveja a ele.
— Viu? — Gabe disse, e deu uma olhadela para Ireland. — É assim que se recebe alguém.
Obrigado, cara.
Gabe abraçou Cali, que havia aparecido com outra caixa de coisas para o casamento.
— O que eu posso fazer para ajudar? Parece que vocês estão se mudando.
— Quase — Jaeg disse. — Estamos fazendo os preparativos para o casamento. O que você
acha de fazer uma viagem até a casa dos meus pais? A Cali poderia aproveitar para descansar.
— Pode deixar — Gabe disse e pegou a caixa que Jaeg apontou, mas não antes de se
aproximar e dar um beijo na testa de Ireland.
E, tudo bem, o irmão não era tão ruim assim. Ele a amava, mas podia ser egoísta e irritante
às vezes. Talvez fosse normal, porque os outros irmãos agiam da mesma forma.
Os homens começaram a levar as caixas para a caminhonete de Jaeg, e Cali caiu no sofá.
— Eu não consigo mais pensar. Minha cabeça está oca. Sei que estou me esquecendo de
alguma coisa.
Ireland se levantou e foi até a cozinha, onde pegou dois suportes para taças e também o
vinho branco na geladeira. Serviu as duas, foi até o sofá e entregou a de Cali. A prima colocou o
suporte ao redor do pescoço e encaixou o vinho lá.
A noiva tomou um gole.
— Bem melhor. Seu irmão está certo. Você está estranha hoje.
— Eu e o Bran terminamos.
Cali se sentou mais para frente, quase derramando o vinho.
— O quê? Quando?
Ireland se acomodou ao lado dela e se recostou no sofá. Ela encarou o teto.
— Acho que, oficialmente, ontem, mas as coisas começaram a dar errado anteontem.
— O que houve?
— É uma longa história. Basta dizer que foi mais do mesmo comigo e os homens.
Cali piscou.
— Mas o Bran era diferente. Ele parecia ótimo para você.
Ireland passou o dedo pela borda da taça.
— Ele é um cara legal. Só tem que lidar com muito estresse.
Cali franziu a testa.
— Assim como todo mundo. Mas você deu apoio quando ele precisou da sua ajuda no
Club Tahoe. E você é uma pessoa incrível. Não estou entendendo nada.
Ireland fez careta.
— O resort não conta. Ele me pagou pelo serviço. — Ela encarou a taça. — Em defesa
dele, nos assustamos. O Bran pode estar pensando que estou grávida.
— O quê? Como? Você está?
— Meu ciclo é irregular, então fui ao médico hoje de manhã. Fizemos as contas com a
minha última menstruação e eu também fiz um teste de gravidez. Ele disse que não acredita que
haja muita chance de isso acontecer.
Os ombros de Cali caíram, e ela estreitou os olhos.
— Você não parece aliviada.
— É porque eu estou chateada. Tivemos uma discussão sobre a possível gravidez, e foi por
isso que terminamos. Não sei nem como as coisas chegaram ao ponto de não nos vermos mais,
mas Bran disse que precisava se concentrar nos irmãos e no clube. — Ela pressionou os olhos
com os dedos.
— Ah, Ireland. — Cali afagou seu ombro e chegou mais perto. — Você disse a ele que não
está grávida?
Ireland balançou a cabeça.
— Ele precisa saber — Cali disse.
Ireland soltou um fôlego estremecido.
— Você tem razão.
— Não há melhor hora que o agora. Onde está seu telefone?
Ireland se levantou e foi até a ilha. Pegou o telefone, voltou ao sofá e digitou uma
mensagem antes de perder a coragem.
Cali se aproximou.
— “Parece que o James programou os pedidos extras naquele dia.” Que pedidos? — Cali
perguntou.
— O programador original do novo software de restaurantes do Club Tahoe era um
sociopata. Ele estava tentando arruinar o Bran. A polícia está envolvida agora, e entre a queixa
que prestei por ele me assediar no estacionamento e o dinheiro que ele estava desviando do Club
Tahoe, eles têm um caso bem sólido contra o sujeito. Contrataram um especialista para verificar
o código que James criou para a Tech Banquet ao longo dos últimos anos. Ao que parecia, ele
desenvolveu formas de extorquir muito dinheiro de várias empresas. O Club Tahoe
simplesmente foi o primeiro a pegá-lo em flagrante.
— Graças a você — Cali disse.
Ireland deu de ombros.
— O James não era um programador muito bom. Ele teria sido pego mais cedo ou mais
tarde.
— Certo, então tem muita coisa acontecendo com o Bran. Aquele resort exige um trabalho
considerável dos irmãos Cade, mas isso não é justificativa para ele não ser grato a você.
Cali se inclinou novamente e leu a mensagem que Ireland digitava.
— “O médico disse que eu não estou grávida.” — Cali balançou a cabeça. — Não acha
que seria melhor ligar para ele?
Ireland afundou a cabeça nas almofadas.
— Nós terminamos. Ele só precisa saber que não vai ser pai. — A voz de Ireland titubeou
na última palavra, e as lágrimas escorreram por seu rosto.
Cali a puxou para um abraço apertado, as taças de vinho tilintaram uma na outra.
— Eu sinto muito.
— Eu também.
— Você queria ter um bebê?
— O quê? — Ireland secou o rosto. — Não. Mas eu queria que ele me desse apoio. Queria
que ele tivesse pensado em mim, não só em si mesmo.
— E é o que você merece. Não se conforme com menos.
— Não vou — Ireland afirmou. — Quero algo como o que você tem com o Jaeg. Desculpe
por deixar seu dia especial triste.
— Vou me casar amanhã, então não se preocupe com isso. No momento, eu quero que
você fique bem.
Ireland sorriu.
— Eu vou ficar. Se aprendi algo me mudando para Lake Tahoe para começar de novo é
que não vou desistir do meu final feliz.
Cali ergueu a taça.
— Aos finais felizes.
TRINTA E UM
CALI OLHOU NO espelho de corpo inteiro. Ela usava o vestido mais lindo que Ireland já
viu na vida. Era uma peça de corte reto, frente-única e com pedrarias na cintura. Ele se encaixava
ao corpo dela com perfeição.
— Eu vou vomitar.
Ireland pegou o buquê.
— Você não vai vomitar. Vai se casar com o homem da sua vida.
Cali se virou e olhou para ela.
— Sério. Talvez eu desmaie.
— Sei do que você precisa. — Ireland olhou ao redor, procurando alguma coisa.
— Um balde onde vomitar?
— Uma dose de tequila.
— Você está doida? — Cali disse. — Isso, com certeza, vai me fazer vomitar.
Ireland fez careta.
— Você está certa, nada de tequila. Péssimo histórico de ressaca. Mas outra coisa. — Ela
apontou para Cali. — Já volto.
— Espere! Não me deixe sozinha. — A prima segurou Gen, que a observava enlouquecer
com seu estoicismo habitual.
— Vou amarrá-la se for necessário — Gen disse. — Certifique-se de pegar algo forte.
— Certifique-se de pegar o bastante para todos — Kerstin, a irmã de Jaeg, entrou na
conversa.
— Feito! — Ireland saiu correndo da suíte nupcial, também conhecida como quarto dos
pais de Jaeg e Kerstin.
Ela esquadrinhou o corredor da enorme casa de três andares e viu Gabe flertando com uma
loira bonita.
— Gabe — ela sussurrou.
Ele olhou, disse alguma coisa para a mulher e, em seguida, foi em direção a Ireland como
se estivesse em passeio de domingo.
— Precisa de algo, querida irmã?
— Por que você está flertando com outra mulher? E a Jennifer?
Gabe desviou o olhar.
— Nós terminamos.
— Sério?
— Já era hora — ele disse, mas pareceu estar com raiva.
Ireland balançou a cabeça. Não podia lidar com isso e com o surto de Cali.
— Tudo bem, certo, a Cali precisa de uma bebida forte. Você poderia pedir ao garçom para
preparar uma bandeja de shots de conhaque de hortelã?
Gabe estremeceu.
— Por que de hortelã?
— Para que ela não esteja cheirando a bebida quando for cumprimentar os convidados.
— Você viu o tamanho da fila do bar? Ninguém vai ser capaz de dizer que ela bebeu.
Todos estão se embebedando.
Ireland cruzou os braços.
— O que você recomenda?
— Não se preocupe. — Ele deu um tapinha irritante na sua cabeça. — Vou cuidar de tudo.
Continue mantendo a Cali tranquila.
— Espere — ela falou enquanto ele se virava. — Como está o Jaeg?
— Tranquilo e calmo — Gabe respondeu.
— Sério?
O irmão riu.
— Não. Ele está fazendo agachamentos para manter a ansiedade sob controle enquanto o
Adam está todo preocupado com a possibilidade de o grandalhão estourar a costura da roupa.
É mesmo uma possibilidade, Ireland pensou. Quem diria que casamentos eram tão
estressantes?
Vários minutos mais tarde, uma batida soou à porta da suíte nupcial.
Ireland correu para abrir.
— O shot de vocês chegou. — Gabe tentou espiar dentro do quarto.
Ela pegou a bandeja e o empurrou.
— Nada de ver a noiva antes do casamento.
O irmão revirou os olhos.
— Isso só vale para o noivo. Primos não contam. — Ele parecia estar atento à irmã de
Jaeg, que era exatamente o tipo de Gabe. A mulher estava em perigo agora que ele estava
solteiro.
Ireland encarou a bandeja.
— O que é?
— Lemon drops. Têm um gosto muito bom. Só não deixe a Cali beber muito.
— Obrigada — Ireland disse, e voltou a bloquear a visão dele ao bater a porta em sua cara.
Ireland entregou os coquetéis de limão com vodca e triple sec, e ficou com um.
— A um belo dia.
— À minha melhor amiga ter encontrado seu par perfeito — Gen disse.
— À minha filha e Jaeg — a mãe de Cali, Maddie, complementou. Ela veio depois de Gen
ter enviado uma mensagem de emergência, pedindo ajuda para acalmar a amiga.
— Ao meu irmão, por encontrar a mulher perfeita — Kerstin continuou.
— A não desmaiar — Cali falou, e virou a bebida. Ela estremeceu e sorriu em seguida. —
Melhor me dar mais um.

***

Ireland limitou o consumo de álcool de Cali a dois coquetéis, o que funcionou. Os nervos
da prima se acalmaram e ela recuperou um pouco da cor. A noiva sorriu no caminho até o quintal
dos pais de Jaeg, onde seria a cerimônia.
E foi quando Ireland teve um vislumbre de Bran.
Ele estava com três dos irmãos e suas companheiras, do lado dos convidados do noivo. O
casamento era a rigor, e ela conseguiu apenas um leve vislumbre do cabelo loiro-escuro e dos
ombros largos perfeitamente encaixados no terno, mas só isso bastou. Ireland o reconheceria em
qualquer lugar.
Olá, nervosismo. Que bom que ela também havia tomado dois coquetéis.
Ela, Gen e Kerstin percorreriam o corredor bem devagar até chegarem ao pastor. Centenas
de cadeiras brancas foram colocadas no imenso terreno com vista para o lago.
Arranjos de flores roxas decoravam as cadeiras no fim de cada fileira, e havia um arco com
mais flores roxas onde Jaeg e Cali trocariam os votos. O céu estava azul e o ar cheirava a
pinheiros e rosas. A vista e o cenário eram de tirar o fôlego.
Cali havia tomado a decisão certa ao se casar ali. A casa era imensa e o terreno,
espetacular. Grande o suficiente para armarem uma tenda para os mais de duzentos convidados
que conseguiram comparecer.
Ireland passou pelas fileiras de convidados. Bran olhou para cima e imediatamente chamou
sua atenção. Ela estremeceu e abriu um sorriso forçado.
Aquele era o casamento de Cali, não tinha nada a ver com ela e Bran.
Kerstin, Gen e Ireland assumiram seus lugares à esquerda do pastor enquanto Jaeg, Adam,
o namorado de Gen, Lewis, e o irmão de Cali, Tyler, estavam à direita.
O noivo olhou para o outro lado do gramado, parecendo ansioso para captar um vislumbre
da noiva. Ireland soube o exato instante em que ele conseguiu, porque um sorriso incrível se
espalhou pelos lábios dele.
Os convidados olharam para trás e se levantaram enquanto Cali percorria o corredor de
braço dado com a mãe, cujo cabelo era quase do mesmo tom de ruivo que o de Ireland. O pai de
Cali não era ruivo, mas a cor rondava a família. Cali e Tyler também compartilhavam a mesma
cor de cabelo. Mas, de alguma forma, conseguiram um tom menos chamativo que o dela. O pai
da prima não era presente em sua vida, e Maddie levá-la ao altar era a forma perfeita de honrar a
devoção dela pela filha.
Ireland olhou para Bran, mas em vez de estar atento à bela noiva, o homem a encarava e
não parecia feliz.
Depois que ela enviou a mensagem na noite anterior, ele respondeu dizendo que queria
conversar. Mas Ireland estava emotiva demais, e queria dar apoio à prima. Não respondeu à
mensagem, e decidiu que entraria em contato depois do casamento.
Gabe levou Jaeg para beber e os caras ficaram fora enquanto as garotas passaram a noite
bebendo vinho e assistindo a filmes dos anos oitenta. Gen e algumas das amigas de Cali se
juntaram a elas. Mas Ireland ficou pensando em Bran.
Não sabia por que ele queria conversar ou o que mais ele teria a dizer. Eles terminaram e
não iam ter um filho. Ponto final.
Ela engoliu o nó no fundo da garganta e sorriu, mesmo estando arrasada, quando Jaeg
recitou os votos.
— Prometo amar o nosso cachorro, Buddy, como se ele fosse uma criança humana,
embora eu também espere ter uma dessas algum dia. — Os convidados riram. — E prometo te
amar, proteger e cuidar de você todos os dias da minha vida.
Os olhos dela marejaram. As palavras do noivo foram tão fofas e sinceras. Ele via Cali, e a
amava e também a todas as suas esquisitices. Era aquilo que Ireland queria.
— Prometo cuidar de você quando você ficar tão doente quanto só um homem pode ficar
— Cali disse durante os votos, e os convidados riram ainda mais. — E te apoiar em todos os seus
empreendimentos criativos.
A prima concluiu os votos, o pastor disse mais algumas palavras e, em seguida, Jaeg estava
beijando a noiva.
Os dois estavam casados. Casados.
Ela não era a primeira prima a se casar, mas era sua favorita. Não podia estar mais feliz
pela pretensa-casamenteira-fofa.
Todos os padrinhos sorriam quando os noivos percorreram o corredor e os convidados
vibravam.
Passaram meia hora tirando fotos e, em seguida, todos foram para a tenda para comemorar.
— Ireland.
Seus ombros enrijeceram e o coração acelerou. Reconheceria a voz de Bran em qualquer
lugar. E a fez sentir calafrios. O tipo que a deixava de pernas bambas. Ele sempre causaria isso?
Ela se virou.
— Oi. Desculpe não ter respondido ontem. Eu estava ocupada ajudando a Cali.
Ajudando a beber vinho e a assistir a filmes, Ireland pensou. Verdade seja dita, aquilo era
importante, porque ela daria apoio à prima na véspera do casamento não importava o que
acontecesse.
Ele colocou a mão no bolso da calça.
— Queria falar com você sobre o que aconteceu.
— Eu não estou grávida, então não há nada com o que se preocupar — ela disse baixinho,
tentando sorrir, mas acabou tremendo.
— Não sobre isso... quer dizer, sobre isso também, mas eu queria falar da noite em que nos
esquecemos de usar proteção. Eu só pensei em mim, e deveria ter pensado em nós. Eu deveria ter
te dado apoio.
Não discutiria quanto a isso.
— Deveria mesmo. Mas você deixou bem claro que tinha outras prioridades.
— Isso é outra coisa. Fui um idiota e me senti voltando aos velhos hábitos quando as
coisas ficam difíceis. Quero que minha família possa contar comigo, mas não em detrimento de
você. Nunca. — Ele passou a mão pelo rosto. — Desde que te beijei, te considerei minha. Não
sou bom com relacionamentos. Fiz besteira e te magoei, mas farei o que for necessário para te
recompensar.
Ireland sorriu para Gen, que estava passando por ali, mas ao ouvir o que Bran disse, ela
virou bruscamente a cabeça.
— O quê?
Bran pegou sua mão e entrelaçou os dedos deles.
— Eu não sei em que estava pensando quando joguei fora o que tínhamos.
— Mas... e se você for um idiota de novo e mudar de ideia?
— Eu não tenho dúvidas de que vou ser um idiota às vezes, mas prometo que não vou
mudar de ideia. Estou esperando que da próxima vez você vá usar as suas palavras impactantes
para dizer que estou sendo um babaca.
— É a minha especialidade.
Ele riu.
— E eu não sei? Então, o que você acha? Vai me dar uma segunda chance?
Ireland encarou a mão que ele segurava.
— Não pensei que falaríamos sobre isso. Pensei que você fosse me dizer que estava feliz
por eu não estar grávida.
— E estou.
— O quê?
— Estou feliz por você não estar grávida, porque quando decidirmos ter filhos, não quero
que seja um acidente. Quero que saiba o quanto eu quero ter filhos com você e quanto vou me
esforçar para ser o melhor pai que puder.
Puta merda.
— Você quer ter filhos?
— Com você? — ele respondeu. — Quero. Especialmente se tivermos uma ruivinha
sapeca e inteligente.
Ireland engoliu em seco. Aquilo estava mesmo acontecendo?
Ele falou exatamente tudo o que ela precisava ouvir. Ainda assim, poucos dias atrás, ele
esmagou as esperanças que ela tinha para os dois.
— Você me magoou, e não sei se consigo confiar em você.
TRINTA E DOIS
IRELAND VOLTOU PARA a mesa principal e se juntou aos outros padrinhos, mas a todo
momento olhava para Bran e o pegava olhando para ela. Quando se separaram, o comportamento
dizia que ele não ficou satisfeito com a decisão dela, mas não estava insistindo.
No momento, o homem conversava com a mulher ao lado, que sorria e tocava o braço dele.
Ireland quis dar um soco nela. Mas não precisava agir como uma mulher das cavernas,
porque Bran não deu sinais de que estava interessado. Nada de olhares aquecidos como os que
ele enviava para Ireland do outro lado da sala. Estava sendo educado com a colega de mesa, e
Ireland não poderia acusá-lo de nada. Ele era um bom homem.
Um bom homem. E a queria de volta. Reconheceu seus erros e queria tentar de novo.
Mas ele a apoiaria não importava o que acontecesse? Foi muito massacrada na vida
profissional e na pessoal. Não suportaria se Bran agisse daquele jeito de novo.
Ela dançou com os padrinhos e se misturou com os parentes de ambos os lados da família.
Hunt estava na pista girando e virando cada mulher bonita em que ele punha as mãos, inclusive
Kerstin. Gabe fazer careta e cerrou a mandíbula.
Interessante.
Nunca viu o irmão sentir ciúmes de mulher nenhuma, nem mesmo da ex, Jennifer. E até
onde Ireland sabia, ele não havia sido apresentado a Kerstin antes do casamento.
Talvez o irmão arrogante finalmente tenha achado alguém que queria e não podia ter?
Enquanto atravessava o lugar a caminho da mesa de bebidas, Ireland refletia sobre a vida
amorosa do irmão, mas ouviu seu nome ser mencionado.
— A Ireland é uma boa funcionária, mas o desastre com o software no Club Tahoe esfriou
o interesse do nosso CEO para que ela crie um sistema para o estabelecimento de Las Vegas —
Adam disse a Levi. — O projeto foi colocado em espera permanente.
Ireland enrijeceu. O empregador não disse nada disso. Mas o programa que ela criou para o
Club Tahoe realmente falhou, mesmo que não fosse culpa dela. Ficou nauseada só de pensar que
o trabalho que fez para o resort manchou a reputação que construiu em Lake Tahoe.
— Como é? — Bran pediu licença de uma conversa paralela e se aproximou dos irmãos,
que estavam de costas para ela. Os dois não pareciam estar cientes de sua presença, e nem Bran,
ao que parecia.
Adam deu de ombros e arrumou a manga do paletó.
— A Ireland é uma garota legal, mas a empresa não quer se arriscar com ela agora. Vão
contratar alguém em quem possam confiar.
— Eles podem confiar nela — Bran disse. — A Ireland é uma programadora genial, e o
Blue tem sorte por ela trabalhar lá. Na verdade, se não derem o devido valor a ela, o Club Tahoe
a contratará.
O queixo de Ireland caiu, e ela encarou Bran, que olhou para cima por um instante e a viu.
Ele piscou e afastou o olhar. O homem passou a mão pelo cabelo e saiu às pressas.
Ireland o observou, as passadas longas não demoraram a atravessar o lugar.
Ele a havia defendido.
Quando não precisava. Ele não sabia que ela estava ouvindo.
Ireland se sentia responsável pelo que aconteceu com James. O funcionário da Tech
Banquet era um babaca, mas a presença dela o havia enfurecido ainda mais.
Atravessou a tenda, mas não conseguiu encontrar Bran. Ela queria... não tinha certeza do
que queria. Mas ele a havia defendido, e aquilo significava alguma coisa. O homem não sabia se
ela daria uma segunda chance. Ela não sabia. Ainda assim, a defendeu diante da família, dos
irmãos que ele mesmo disse, dias antes, que vinham em primeiro lugar.
E se Bran estivesse mesmo disposto a fazer dela uma prioridade... bem, isso mudava tudo.
Foi perguntar à prima se ela precisava de alguma coisa, então seguiu em uma linha reta até
a casa. Precisava de espaço para clarear a cabeça e processar as ações de Bran.
Subiu as escadas e entrou em um banheiro do segundo andar. Os Lang instalaram
banheiros temporários ao lado da tenda gigantesca, mas um banheiro químico, por melhor que
fosse, não forneceria o espaço de que precisava.
Ela espalmou a pia e se encarou no espelho.
— Puta merda. — Algum outro homem já a defendeu como Bran fez hoje? Da forma como
fez com James quando ele a encurralou no estacionamento?
Bran a apoiou mais vezes do que ela percebeu... ele a alimentou, a amou, disse que ela era
dele. Sim, ele cometeu um erro, mas Ireland concluiu o pior assim que ele se retraiu. Quando
tinha o equivalente à carreira dele e a dos irmãos pairando sobre a própria cabeça.
Ele merecia uma segunda chance. Eles mereciam uma segunda chance.
Seu peito aqueceu pela primeira vez desde aquela noite horrorosa na casa dele. Tremia de
animação e receio, porque não importava o que acontecesse, o amor era um salto de fé. Mas se
Bran estava disposto a tentar, valeria a pena.
A porta se abriu de repente, e se fechou na mesma velocidade. Mas não antes de Bran se
espremer para dentro do banheiro.
Ela se virou, o coração acelerou.
— O-o que você está fazendo aqui?
— Vim atrás de você. — Ele alongou o pescoço e a expressão estava séria. — Sinto muito
pelo que aconteceu lá fora. Eu não quis te envergonhar, mas o Adam estava muito errado. Ele
não ficou sabendo de todos os detalhes sobre a polícia estar investigando o James, e eu não
consegui me calar ouvindo o meu irmão falando besteira. Você é uma profissional incrível, e
mais inteligente do que nós cinco juntos.
Ireland encarou a mandíbula firme que estava diante dela e, em seguida, subiu até os olhos
azuis sinceros.
— Você me colocou em primeiro lugar.
— Eu sempre vou te colocar em primeiro lugar.
Ireland tremeu de emoção. Pegou-o pelas lapelas do paletó e o puxou para perto. Ela o
beijou antes que Bran pudesse dizer mais alguma coisa.
Ele levou um milissegundo para reagir, então passou os braços ao redor dela e retribuiu o
beijo. Então se afastou um pouco.
— O que foi isso? Não que eu esteja reclamando.
— Você mereceu.
— Repetindo minhas palavras agora?
Bran explicou o beijo no barco, semanas atrás, ao dizer que ela mereceu.
— Foram boas palavras — ela falou.
Ele a beijou novamente, deslizou uma mão para o seu traseiro e apertou-o por cima do
vestido sedoso e assimétrico que Cali escolheu para as madrinhas.
— Eu disse o quanto você está linda com esse vestido?
Ela sorriu.
— Você gostou? A minha descrição faz mais sentido agora?
— Não. Mas a sua roupa não teria importado. Você fica linda usando qualquer coisa,
Embora nua seja minha versão preferida.
— Você falou sério lá fora? Sobre tentarmos de novo?
Ele se inclinou e a olhou nos olhos.
— Eu fui um idiota. Me perdoe. Eu te amo, Ireland, e quero que a gente dê certo.
Ela abriu um sorriso imenso. O amor era imprudente, mas não havia mais ninguém com
quem quisesse ser imprudente além do namorado quase-monge que fazia o seu melhor para
cuidar das pessoas que amava. O coração de Bran estava no lugar certo, e era tudo o que
importava.
— Eu também quero uma segunda oportunidade para nós dois.
Ele fechou os olhos e soltou um suspiro aliviado.
— Graças a Deus. — Ele a beijou, e Ireland passou os braços ao redor de seus ombros.
Ela deslizou as mãos para cima e para baixo em seu pescoço forte, e os dedos se agarraram
ao cabelo sedoso.
— Eu tenho uma ideia.
— Humm — ele disse e continuou a beijá-la, mordiscando enquanto mapeava o seu
traseiro com as mãos.
Assumiu um significado para aquela única sílaba.
— O que você tem em mente?
— Sempre somos interrompidos em banheiros e escritórios — ela falou.
A mão em seu traseiro se deteve.
— O que você acha de batizarmos um desses cômodos pequenos dos quais gostamos
tanto?
Bran esticou o braço para trás, trancando a porta, e a colocou em cima da pia. As mãos
foram subindo por suas pernas e deslizando por debaixo do seu vestido.
— É por isso que eu te amo. Essas ideias brilhantes.
Ireland puxou o paletó e o empurrou por seus braços, em seguida foi para a camisa.
— Você não precisa tirar tudo para começarmos — ele disse.
— Preciso ver o corpo gostoso do meu homem — ela respondeu.
Ele abriu um sorriso tímido e a ajudou com a camisa, em seguida a pendurou na maçaneta.
— Admire o quanto quiser, mas vou tirar o seu vestido também.
E foi assim que eles terminaram nus no banheiro do segundo andar.
Bran beijou seus seios e deslizou os dedos por suas pernas.
— Você está molhada para mim.
Ele era bem sacana.
— Muito, muito molhada — ela confirmou.
Bran gemeu e cutucou suas pernas até separá-las. Brigou com a calça e pegou um
preservativo. Em segundos, entrou nela, preenchendo seu corpo.
— Eu amo você — ela sussurrou.
Ele a beijou na bochecha, nas pálpebras e na boca.
— Não mais do que eu amo você. Sinto muito por ter te magoado.
Ela inclinou a cabeça para trás, sentindo-o fundo dentro de si.
— Está perdoado. Agora volte ao trabalho.
Bran a envolveu com o braço e a encaixou na posição certa.
O sexo na bancada deve ter atingido alguma zona erógena interna, porque antes que ela
percebesse, estava arfando e se segurando a ele, já à beira de um orgasmo.
Bran a inclinou ainda mais para trás, apoiando-a em seus braços fortes, e lambeu seu
mamilo. Depois o sugou.
Não precisou de mais nada. O orgasmo de Ireland chegou com a potência de um caminhão.
O corpo estremeceu, a mente foi parar nas nuvens.
Ela ouviu e sentiu Bran estremecer com o próprio clímax segundos depois.
Ireland beijou o topo da cabeça dele enquanto o rosto do homem estava plantado em seu
decote no estupor pós-sexo.
— Foi divertido.
— Hum.
Mais monossílabos. Daria a ele tempo para se recuperar.
Eles se agarraram um ao outro até Ireland temer que o traseiro ficasse para sempre com a
marca da bancada.
Os dois se vestiram, e Bran a encarou cheio de luxúria.
— Não comece com isso de novo — ela falou.
— O quê? Eu senti saudade — ele respondeu. — Você pode me culpar?
Ela calçou os sapatos e se jogou nos braços dele, onde era seu lugar.
— Não. Porque eu também não consegui parar de pensar em você.
Eles voltaram para a festa, sem ninguém desconfiar de nada, e dançaram noite afora com
amigos e família.
Bran segurou a mão de Ireland e ria sempre que seus olhos se encontravam.
— Que bom — Adam falou, ao se aproximar deles. Hayden havia escapulido para
conversar com alguém.
— O que você quer dizer com que bom? — Bran perguntou.
— Meu plano deu certo. Você e a Ireland voltaram.
Bran largou a mão dela e passou o braço pelos seus ombros.
— Do que você está falando?
Adam balançou a cabeça.
— A teimosia dos Cade estava reinando. Soltei aquela informação de que o presidente do
Blue estava tirando a Ireland do projeto.
Ela piscou.
— Isso não é verdade?
Adam pegou um docinho de um garçom que estava de passagem.
— Claro que não. Aquele homem te ama. Ele não faz ideia do que aconteceu no clube, não
que tenha sido culpa sua.
— Você me enganou — Bran disse.
Adam mastigou o doce.
— Sim. E deu certo.
Bran fez careta.
— Ajudou. Eu já estava tentando reconquistá-la.
Adam deu de ombros.
— Não precisa agradecer. Mas não se esqueça de dar meu nome ao primeiro bebê.
— E se for menina? — Ireland se intrometeu, achando as táticas de Adam divertidas, já
que sua reputação no Blue estava intacta.
Adam olhou para cima, como se estivesse pensando.
— Adamina parece um nome muito bonito.
Hayden chegou e passou o braço pela cintura do marido.
— O que vocês estão aprontando?
Adam deu um beijo nos lábios dela.
— Só um incentivo estilo Cade. Você sabe como somos.
— Cabeça-dura e arrogante? — Ela se virou para Bran e Ireland. — Espero que ele não
esteja causando problemas.
Ireland olhou para Bran e corou quando um flashback do que fizeram no banheiro voltou à
sua mente. Ela pigarreou.
— Problema nenhum. — E encarou Adam. — Já que sei que o Bran não vai dizer nada,
obrigada.
— Não há de quê. Não se esqueça — Adam disse ao se virar para sair com Hayden —,
Adamina. Vai virar tendência.
Bran balançou a cabeça.
— Otário.
— Mas ele estava certo — Ireland falou depois que Adam e Hayden saíram. — Eu
precisava saber que podia contar com você. Precisava desse empurrãozinho.
Bran passou os braços as redor dela, abraçando-a com força na frente de todos.
— Você vai poder contar comigo sempre.
TRINTA E TRÊS
IRELAND ENTROU NO Prime e procurou o namorado no restaurante lotado. Encontrou-
o com alguns clientes, sorrindo e servindo champanhe.
Desde o casamento de Cali e Jaeg, há quatro semanas, ela estava sendo mais feliz que
nunca, profissional e pessoalmente. Nas últimas semanas, ajudou Bran a decorar a casa, e eles
passavam quase todo o tempo livre juntos, principalmente durante a lua de mel de duas semanas
dos recém-casados.
O que levou a outra questão. Ireland precisava encontrar um lugar para morar. Não podia
mais se intrometer na vida doméstica da prima. Algo a ser adicionado à sua lista de tarefas
enquanto se dividia entre o trabalhado e aproveitar o tempo com o namorado.
Bran se aproximou.
— Oi, linda. Pronta para suar?
Ela usava calça de ginástica. Ninguém ficava bem naquilo, mas Bran estava empolgado
com a ideia de malharem juntos, e Ireland se fortalecer no caso de um dia precisar se defender.
— Tão pronta quanto possível. Mas não posso prometer nenhum atletismo.
Ele a pegou pela mão.
— Vou pegar tão pesado que você vai me implorar para parar.
Ela se aproximou.
— Isso foi sacana.
— Não posso deixar de pensar em outras coisas quando te vejo com essas roupas justas. —
Ele olhou para baixo, admirado. — Vamos fazer essa visita à academia, assim podemos voltar
para a minha casa.
— Safado.
— Sou, sim. Me dê cinco minutos para passar algumas coisas para o gerente, e já volto.
Ireland esperou do lado de fora, foi até a areia para admirar o lago enquanto esperava por
Bran. Hunt ainda estava trabalhando no Club Kids. Supôs que ainda era cedo para a maioria dos
pais ir pegar os filhos na colônia de férias.
Antes que percebesse, Bran estava ao seu lado.
— Ei, não vi você chegar. — O sorriso dela sumiu. — Está tudo bem?
O rosto de Bran estava corado, e ele encarava o lago.
— Acabei de receber uma carta.
Ela lançou um olhar para o restaurante.
— Veio para cá?
Ele assentiu.
— A antiga secretária do meu pai apareceu e deixou aqui. É dele.
Ireland não sabia muita coisa sobre o pai do Bran, só que ele havia fundado o Club Tahoe e
não tinha passado muito tempo com os filhos.
— Não entendi — ela falou. — Por que a secretária do seu pai deixaria uma carta dele
agora? E não logo depois que ele morreu?
Ele a pegou pela mão e soltou um suspiro.
— A Esther trabalhou para o meu pai por décadas. Ela era mais que uma secretária, foi
como uma segunda mãe para nós. Quanto à só entregar agora, leia. — Ele colocou a folha de
papel com marcas de dobra nas mãos dela. A data era de quase dois anos atrás.

Querido Bran,

Eu me preocupei com você, filho. Você nunca mais foi o mesmo depois do que aconteceu
na escola. Ah, você pensou que eu não sabia da garota que você engravidou? Eu podia estar
quase sempre fora de casa, mas isso não queria dizer que não ficava de olho em vocês.
Cinco, havia cinco de vocês. Era um trabalhão. E era por isso que eu mantinha o controle,
mesmo não estando presente. Precisava garantir que vocês continuassem vivos, ou a mãe de
vocês me mataria lá do além.
Bem, espero que você esteja bem quando receber essa carta. Espero que não esteja mais
se punindo por causa do passado. E espero que a mulher por quem você se apaixonou entenda
que há um homem bondoso e carinhoso por debaixo dessa casca dura.
Se está se perguntando por que recebeu essa carta só agora, bem, é simples. Esther
recebeu instruções bem específicas. Todos vocês vão receber uma carta no dia que se
apaixonarem, ou algo assim. Então não diga para o próximo da fila. Meu palpite é que o Hunt vai
ser o último, mas eu já me enganei antes.

Com amor,
Papai

Lágrimas brilharam nos olhos de Bran, e ele piscou.


— Nós brigamos feio, mas nunca pensei que ele cuidasse da gente do seu próprio jeito.
Pensávamos que ele não se importava.
Ireland o abraçou.
— Analisando tudo agora, não consigo culpá-lo por tudo — Bran disse. — Você viu como
eu e meus irmãos somos. Cabeças-duras, e na adolescência nossa rebeldia estava em alta, não é
de se admirar que ele tenha arrumado alguém para nos espionar. O único que foi trabalhar para o
nosso pai foi o Adam, aquele puxa-saco. Fui trabalhar como bartender em um restaurante da
cidade e estudei na faculdade comunitária. Concluí o curso técnico e fui gerenciar um
restaurante. Trabalhei lá por anos, pensando que aquilo era o máximo que eu queria da vida. E
então meu pai morreu e, de repente, nós estávamos a cargo do Club Tahoe. Assumi os
restaurantes, mas nunca pensei que fosse gostar. Pensei que fosse uma punição pelos meus
pecados.
Ele se virou e olhou para ela.
— Trabalhar no resort era exatamente o que eu precisava para sair da minha zona de
conforto. E foi o que trouxe você para a minha vida. Se eu não estivesse trabalhando aqui e não
tivesse assumido o passeio de barco no lugar do Hunt, você não teria se jogado em cima de mim.
— Me jogado em você?
Bran sorriu e a beijou.
— Meu pai me deu o melhor presente. Podemos dizer que ele me deu você.
Ela o abraçou com força.
— Então sou grata ao seu pai, porque você é o melhor homem que já conheci. Serei grata
por toda a eternidade por ter tido a honra de te ver de verdade. Ver o homem que você esconde
por debaixo do orgulho e da teimosia dos Cade.
Ele fez careta.
— Você fez parecer que isso não é algo bom.
— O que eu posso dizer? Eu amo ser punida. Você não disse algo sobre me punir na
academia?
— Disse, não foi? — Os olhos dele brilharam.
EPÍLOGO
IRELAND SE ACONCHEGOU a Bran no sofá dos dois.
— Você tem um gosto excelente para móveis.
Ele bufou.
— Você escolheu tudo.
— Foi? Acho que você ajudou.
— Você sabe que eu te levei junto para que você gostasse dos móveis e então viesse visitar
o meu covil.
— Não acredito que você fez algo assim — ela disse, sorrindo.
Bran se inclinou, levando consigo para deitar por cima dela.
— Agora veja onde estamos. Você está morando comigo, e estamos prestes a fazer sexo no
meu sofá novo.
— Nosso sofá. E já inauguramos esse aqui, assim como fizemos com todo o resto dos
nossos móveis.
— Não fizemos sexo na cômoda do quarto. E você está certa, é a nossa mobília. Não há
nada na minha vida que eu não queira dividir com você.
Ela sorriu, pois Bran deixou aquilo bastante evidente nas pequenas coisas que fazia todos
os dias para deixá-la feliz.
— A razão para não termos transado na cômoda é porque é fisicamente impossível.
Ele torceu a boca para o lado.
— Que tal apoiados na cômoda? Eu poderia plantar bananeira e...
Ela cravou os dedos nas costelas dele, e Bran se contorceu e agarrou as suas mãos,
prendendo-as acima da cabeça.
— Pare com isso! — ela falou.
Ele a beijou.
— Diga que vai tentar, ou eu vou te fazer cócegas até você ficar incapacitada.
Ireland riu, mas se desvencilhou, porque ele não estava segurando com muita força. Então
protegeu as áreas em que sentia cócegas.
— E se eu quiser plantar bananeira?
Bran arregalou os olhos, se levantou e a levou consigo.
— Vamos.
Ireland riu enquanto subiam as escadas e seguiam para o quarto.
O sexo na cômoda não era possível. Bran plantou bananeira, por insistência própria, mas
assim que Ireland tocou sua ereção, ele quase desabou como uma árvore.
Ele a pegou no colo e a levou até a cama, onde fizeram amor sem parar.
Juntos, para sempre.
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CAPÍTULO UM
BERKLEE

Você já teve um daqueles dias em que se questiona tudo? Sabe, aqueles bem introspectivos
em que a gente faz as perguntas que costuma evitar? Estou assim hoje. Fui escolhida. Cheguei ao
trabalho às seis, para o turno da manhã, já preparada para a correria de sempre, como era rotina,
mas hoje é um dia atípico. Está caindo um pé d’água tão forte que mais parece que a Mãe
Natureza está fazendo a cidade de penico. Certo, talvez não tenha sido uma boa metáfora, mas
estou morta de tédio, o que nos faz pensar demais. E é nessas ocasiões que aquelas perguntas
incômodas começam a dar as caras. Não era assim que eu me via no auge dos meus vinte e dois
anos. Queria já ter me formado, começado uma carreira. Seguir com a vida, entende? Talvez não
casada e com filhos a caminho, mas com um companheiro fixo, com a outra metade que me
completaria. Sim, meloso pra caramba, eu sei, mas essa era a garota ingênua de dezesseis anos
sonhando com o desconhecido.
Durante a infância e adolescência nunca me faltou nada. Não éramos ricos, mas nos
virámos com o que tínhamos. Meus pais me mimaram demais. Sou filha única. Por escolha
deles, imagine só. Diziam que filho só dava gastos e queriam conseguir me criar com tudo do
bom e do melhor. A verdade é que fui um acidente. Meus pais começaram a namorar na
faculdade, e com apenas seis meses de relacionamento, o teste de gravidez de minha mãe deu
positivo. Sorte a minha que estavam comprometidos, mesmo se conhecendo há tão pouco tempo,
e pelo jeito meus avós, tanto maternos quanto paternos, não ficaram muito animados. Faltava
poucas semanas para os meus pais se formarem, então não tinham muito o que falar para os
filhos adultos por terem feito aquilo. Meu pai pediu minha mãe em casamento, ela aceitou, e
vivemos felizes para sempre.
Sério.
É óbvio que eles discutiam, mas nunca foram dormir brigados. Era uma regra rígida e
inegociável em nossa casa, uma a que faziam jus. Nunca nenhum deles dormiu no sofá, nem no
quarto de hóspedes, jamais fiquei deitada na cama ouvindo discussões e me perguntando se eles
se divorciariam. Me lembro de minha melhor amiga, Maggie, chegar na escola dizendo estar
preocupada porque, daquela vez, seus pais se separariam. Eles brigavam o tempo todo e, poucas
semanas após a formatura do ensino médio, se divorciaram. Haviam ficado casados por Maggie,
mas, olhando em retrospecto, não sei bem se foi a escolha mais sábia. Eram todos bem infelizes.
Então, veja bem, não tenho muito do que reclamar. Mesmo assim, nesta manhã terrível de
segunda-feira, estou sentada no banquinho atrás do balcão da cafeteria onde trabalho apenas
observando a chuva torrencial cair do céu. Pondero o que ando fazendo com a minha vida.
Concluí o bacharelado em Administração de Empresas e trabalho em uma cafeteria. É bem difícil
para recém-formados encontrarem emprego na sua área. As empresas só querem candidatos com
experiência, mas como conseguir experiência se ninguém te dá uma chance? Compreende meu
dilema? Em vez de fazer bom uso da minha formação, trabalho no turno da manhã em uma
cafeteria do bairro.
Antes que eu me deixe devanear em autopiedade, o sino acima da porta soa, e o barulho da
chuva trovejante toma conta da loja. Mais que depressa, fico de pé para atender o primeiro
cliente do dia, mas, quando pouso os olhos nele, paraliso.
Minha Nossa Senhora de tudo o que há de bom na vida, ele é lindíssimo. Cabelos escuros,
mais curtos nas laterais e um pouco compridos no topo, mas não tanto a ponto de lhe tapar os
olhos. Seu maxilar acentuado é coberto pela barba por fazer, que é mais sexy que aquele
pouquinho que cresce ao final do dia, mas não tão aparente quanto uma barba bem cheia estilo
lenhador. Aqueles olhos castanhos claros dele me observam como se eu fosse uma aberração, e
somente quando ele dá um sorrisinho presunçoso é que percebo que esse homem muito sexy
acabou de me flagrar o secando. Quero morrer de vergonha, e estou, mais ou menos, mas não de
verdade. Acredite em mim, se você pudesse ver o que vejo, também se deixaria levar.
— Em que posso ajudar? — digo, por fim.
— Café preto. O maior tamanho que tiver — ele responde e ergue a mão para secar gotas
de chuva da testa.
— Está um toró lá fora, né? — Mas que tentativa tosca de puxar papo.
A culpa é toda do sr. Barba Supersexy. Ele é uma distração que fez meu cérebro entrar em
curto-circuito.
Ele abre aquele sorrisinho de novo.
— Dá para dizer que está, sim.
Sinto o rosto queimar. É engraçado como não dei a mínima para quando ele me pegou
olhando descaradamente, mas no momento em que abro a boca, e as palavras saem, fico toda
envergonhada. Lição aprendida: cobice o homem gostoso, mas não puxe papo.
Me atrapalho, passando ainda mais vergonha. Me concentro no que estou fazendo e encho
o copo extragrande até a boca com café fumegante. Com cuidado, encaixo a tampa para, então,
me virar para ele.
— Dois dólares — digo, ao deslizar com cuidado o copo pelo balcão.
Ele tira uma nota de cinco da carteira e a passa para mim com delicadeza. Não faço contato
visual quando pego o troco na caixa registradora. Assim que levanto a cabeça para entregar o
troco, ele já está na porta.
— Senhor! — grito, e aceno com os três dólares. — Seu troco.
— Pode ficar. — E dá uma piscadinha.
Então vai embora, como se fosse fruto da minha imaginação, e não havia ninguém ali que
servisse de testemunha de sua existência. Deveria ter tirado uma foto na surdina. Droga! Sempre
penso nisso depois do ocorrido. Não que fosse conseguir disfarçar, já que nem a porcaria do copo
fui capaz de segurar direito.
A chuva continua a cair lá fora, e o sr. Barba Supersexy foi meu único cliente a manhã
inteira. Dou um suspiro profundo, me ajeito no banquinho e pego o celular. Me perco nas redes
sociais, olhando o que as pessoas que conheço comeram nas últimas vinte e quatro horas. Minha
vida foi resumida a isso.
CAPÍTULO DOIS
CREW

É impressionante como o dinheiro pode mudar sua vida. Um ano atrás, eu trabalhava em
obras, me desgastava o dia inteiro e vivia de salário em salário. Até que eu gostava do trabalho,
de ser capaz de construir algo do nada e ver todo o meu progresso. Comecei assim que concluí o
ensino médio, já que nunca tive interesse em ir para a faculdade, caramba, nem na escola eu
gostava de estudar, e estava satisfeito com a escolha tomada. Sabia que nunca seria rico, mas
conseguia me sustentar.
A vida era boa.
Mas depois melhorou.
Ao menos depois que o choque inicial passou. A versão resumida da história é que minha
avó paterna, que pensei estar morta, não estava. Até que faleceu de verdade. Quando isso
aconteceu, ela deixou para mim, o neto que havia rejeitado, sua fortuna.
Dez milhões de dólares.
A princípio, recusei, mas depois de muito conversar com meus pais e meu melhor amigo,
Zane, decidi aceitar. A primeira coisa que fiz foi quitar a casa de meus pais. Até tentei lhes
comprar uma nova, mas eles discutiram comigo, insistindo que a casa em que moravam era boa o
bastante. Minha mãe chorou e disse que todas as nossas memórias estavam lá, e as lágrimas me
convenceram. Também comprei um carro para cada um e transferi um milhão para sua conta
bancária. Eles ficaram zangados, mas logo superaram.
O próximo passo foi investir, porque queria usar o dinheiro com sabedoria. Continuei
trabalhando na construtora e não comentei sobre a herança com mais ninguém. Seis meses
depois de investir, tive um rendimento pouco abaixo de um milhão.
— Dormindo no trabalho, é? — Zane diz, ao colocar um balde ao meu lado.
Aponto para o notebook em meu colo.
— Quase isso. Estou pensando em como as coisas mudaram no último ano.
— Verdade. — Ele ergue a não para mim e, sem deixá-lo esperando, bato na dele.
— Por que você não está trabalhando?
— Tivemos que parar por causa da chuva. Como estão as coisas por aqui? — Zane observa
o cômodo.
— Tudo bem. Me encontrei com o empreiteiro hoje de manhã e está tudo dentro do prazo.
— Escolheram o nome? — ele pergunta.
— Sim. — Clico no arquivo na área de trabalho do notebook e o logo aparece. — Club
Titan — digo, virando a tela para que Zane a veja.
— Gostei! — Ele puxa o computador para si para conseguir ver melhor. — Ficou incrível,
cara.
— O designer fez um ótimo trabalho. Na verdade, que bom que você está aqui. Preciso te
falar uma coisa.
— O que você precisa? — Zane pergunta, e me devolve o notebook.
Eu o desligo e o coloco de volta na capa protetora.
— Quero que você venha trabalhar para mim. — Ele abra a boca, mas levanto a mão e o
interrompo. — Me ouça primeiro. Te conheço a vida inteira, e preciso de pessoas de confiança
ao meu lado nessa empreitada. Não importa o quanto tentei esconder a herança, as paredes têm
ouvidos. Você pode escolher onde ficar: segurança, bar, administração. Não ligo.
— E precisa de todos esses cargos? — ele pergunta.
Dou de ombros.
— De verdade? Não faço ideia do que preciso nesse momento.
Zane joga a cabeça para trás e ri.
— Conte comigo, irmão. É só dizer o que quer de mim, que eu faço.
— Sério? Então porque não pede demissão logo? Assim você será o primeiro empregado
oficial do Club Titan. Podemos conversar sobre os detalhes do seu cargo conforme as coisas se
desenrolam.
Zane não pensa duas vezes antes de tirar o celular do bolso, clicar na tela algumas vezes e
aproximar o aparelho do ouvido. Consigo ouvir uma voz grave atender do outro lado da linha, e
ele anuncia que está pedindo demissão. A voz se eleva, mas não sou capaz de compreender o que
diz. Assim que desliga, Zane abre um sorriso enorme.
— E aí?
— O babaca do Marty ficou puto. Disse para eu não me preocupar com as duas semanas de
aviso prévio e que vai me enviar o último pagamento.
— Parece que você começa hoje. — Pego a capa do notebook e tiro de lá o bloco de
anotações que usei ontem à noite. Rasgo um pedaço do canto superior e anoto o novo salário de
Zane. — O valor em que pensei. Mas só do salário, claro. Estou negociando com uma agência
para conseguir os outros benefícios, que logo virão.
— Crew, tem... muitos zeros aqui.
Tento não rir.
— É um salário de seis dígitos. Para você, meu braço direito. Estou contando de verdade
com a sua ajuda, então preciso te recompensar muito bem.
Zane me analisa por um tempo. Deve ter percebido que não vou mudar de ideia.
— Tudo bem — ele cede. — Por onde começaremos?
— Pelos funcionários, acho. O lugar estará pronto em duas semanas, ao menos foi o que
me disseram. A essa altura, o estabelecimento já deverá estar mobiliado, e a equipe, treinada.
— E você sabe quando vai inaugurar?
Pensei nisso por muito tempo e, depois de conversar com o empreiteiro, me decidi.
— Sim, na semana do Halloween. O dia trinta cai em uma sexta. Espero conseguir fazer
uma inauguração tranquila, apenas para convidados, na semana anterior.
— É daqui a dois meses.
— Exato. Mais uma razão pela qual é bom que você comece hoje. Acho que podemos
colocar anúncio nos classificados dos jornais da cidade. Talvez espalhar folhetos nos murais da
faculdade.
— Certo. Vou cuidar disso.
— Tenho uma reunião na prefeitura para emitir o alvará de licença e funcionamento do
bar. E o designer virá aqui às três da tarde. Você também pode atendê-lo.
— Combinado.
Assinto. Não estava brincando quando disse a Zane que ele seria meu braço direito no
empreendimento. Tenho um zilhão de coisas para finalizar em pouco tempo se quiser que a
inauguração seja na semana do Halloween.
CAPÍTULO TRÊS
BERKLEE

A chuva deu uma trégua, mas ainda está melancólico lá fora. Meu turno acaba em dez
minutos, e sei que vai demorar uma eternidade para passar. O dia tem sido muito longo; chato e
parado, bem, exceto pela visita do sr. Barba Supersexy. Não consigo parar de pensar nele. Nunca
o havia visto na cafeteria, mas tenho esperança de que ele se torne um cliente assíduo. Seria o
ponto alto de cada turno.
Encaro o relógio na caixa registradora, e espero dar três da tarde. Mais dois minutos. Pego
o celular e envio uma mensagem para minha melhor amiga, Maggie, que também mora comigo.

Eu: Está em casa?


Maggie: Aham.
Eu: O Barry também?
Maggie: Aham.
Eu: Querem comida?
Maggie: SIM!

Então ela sabe escrever outra palavra além de “aham”.

Eu: Do Harold’s?
Maggie: Sim! O mesmo de sempre para mim e para o B.

Sabia que ela responderia isso. Volto a guardar o celular ao bolso e olho para a caixa
registradora bem no momento em que o ponteiro do relógio se move. Três da tarde. Até que
enfim! Salto do banquinho, desamarro o avental e, mais que depressa, digito o código no relógio
de ponto. Carrie, minha chefe, para de olhar para o livro e assente. Ela está preparando a
dissertação de mestrado em não sei qual assunto, então está sempre lendo algum livro. Não que
eu me importe, pois ela é uma chefe boa.
Ainda bem que a chuva abrandou o suficiente para que eu não fique encharcada quando
saio correndo até meu carro. O Harold’s é logo na esquina, mas é claro que não vou andar até lá
com esse tempo. Estaciono em frente, e logo começa a chover torrencialmente de novo. Na
esperança de que, se eu esperar, vai diminuir, pego o celular dentro da bolsa e ligo para eles,
pedindo o de sempre. O pedido vai ficar pronto em quinze minutos, tempo que passo distraída,
navegando nas redes sociais. Mais do mesmo, nada novo e empolgante. Depois, decido conferir
o e-mail, torcendo para que tenha uma resposta a alguma das centenas de currículos enviados.
Nada, nem mesmo um simples “obrigado pelo interesse”.
Ainda está chovendo muito, mas os quinze minutos se esgotaram. Hora de sair correndo
mais uma vez. Mesmo que seja uma caminhada de apenas quatro metros, estou pingando quando
entro no restaurante.
— Oi, Berklee. Ainda está chovendo? — Harold pergunta.
Harold e a esposa, Martha, são donos deste lugar há anos. Sempre comi aqui e um dos dois
atende ao balcão. Amo esse homem de paixão. Olho para a minha roupa encharcada e depois
para Harold, então abro um sorriso enorme.
— Como adivinhou?
Ele ri, e é uma gargalhada que vem do fundo da alma, que só Harold é capaz de dar.
— Eu poderia ter levado até o carro para você, menina — ele responde, logo que consegue
controlar o riso.
— Você é um anjo, Harold.
— Berklee, minha querida. Minha nossa, olhe só o seu estado. Vou pegar uma toalha para
você — Martha diz.
— Não, não precisa — respondo bem rápido para impedi-la. — Preciso sair debaixo de
chuva de novo e minha casa fica a dez minutos daqui. Vou ficar bem.
— Tem certeza, querida? — ela pergunta.
— Absoluta. Agora, me contem novidades. Como vocês estão?
Com muito carinho, Harold passa o braço ao redor dos ombros da esposa e a mantém bem
perto de si.
— Passo os dias ao lado dessa lindeza aqui, não tenho motivos para reclamar — ele
responde, todo orgulhoso.
Percebo que Martha fica corada. Corada! São casados há mais de quarenta anos e ele ainda
a faz ficar vermelha. Quero o que eles têm. É pedir muito?
— Ah, pare — Martha diz, retirando a mão do marido dos ombros. — E você? Alguma
resposta na busca por emprego?
Como eu disse, sou uma cliente assídua.
— Nada ainda. Um dia, vou ser reconhecida e encontrar alguém disposto a me dar uma
chance.
— Sério — Martha bufa —, você é uma jovem brilhante e maravilhosa. Como vai
conseguir experiência se não te derem uma chance?
Entende por que os amo?
— Os dias de luta são reais — digo, me sentindo derrotada. — Mas vou continuar
tentando.
— Posso te arranjar trabalho aqui — Harold diz, pelo que parece ser a décima vez desde
que me formei. Sei que fala por bem, mas eles não precisam de mim. Têm um ao outro, e o
restaurante é muito bem administrado. Um pequeno negócio familiar que foi capaz de sobreviver
ao teste do tempo.
— Vocês não precisam de mim porque fazem parecer que gerir um negócio é super fácil.
— Sempre lhes digo a mesma coisa.
— A proposta continua de pé — Harold responde, severo. É seu jeito de deixar bem claro
que está falando sério.
— Bem, é melhor eu ir. A Maggie e o Barry devem estar morrendo de fome. — Abro um
sorrisão.
— Como eles estão? Não os vemos com tanta frequência — Martha pergunta.
— Estão bem. O Barry ainda dá aula na Garrison High, e a Maggie está trabalhando como
substituta em vários dias da semana na Garrison Elementary. Claro, ajuda o fato de que o pai
dela é o superintendente, e a mãe, a diretora.
Martha balança a cabeça.
— A família inteira de professores. Aposto que os pais deles ficam muito orgulhosos de
vê-los no mesmo caminho.
E ficam mesmo. Me lembro de que lhes perguntei por que escolheram licenciatura, e eles
me responderam que dar aulas os deixava felizes. Os pais sempre conseguiam estar em casa nas
férias de verão e nos dias de nevasca, sem exceção. Por que mexer com o que está bom?, Barry
havia dito. Os dois sempre gostaram do ambiente escolar, resultado de ter pais professores, tenho
certeza.
— Ficam, sim — respondo enquanto pego a sacola com o jantar. — Obrigada. Nos vemos
em breve. — Depois de me despedir, saio para a chuva. Já estiou agora, mas, ainda assim, é um
saco.
Quando já estou no carro, olho para o restaurante e vejo Martha e Harold acenando da
janela. Aceno de volta antes de arrancar. Eles são como avós adotivos para mim. Nunca tiveram
filhos, mas não por falta de tentativa. Martha me disse certa vez, que após alguns abortos
espontâneos, seu coração não aguentava mais. Eu me lembro daquele dia e da dor visível em
seus olhos. Dava para ver o quanto ela queria ser mãe, mas não deu certo para eles. Apesar das
dificuldades, ainda estão juntos e mais apaixonados que nunca.
Quando enfim chego em casa, um apartamento de três quartos que divido com Maggie e
Barry, a chuva cai com força. Pego a bolsa, enfio o celular no bolso lateral, tiro a chave da
ignição e apanho a sacola de comida. Olho ao redor do carro, um Honda Accord que tenho desde
os dezesseis anos, apenas para ter certeza de que peguei tudo. Não quero ter que voltar debaixo
de chuva só para buscar algum objeto esquecido.
De repente, a porta é aberta, me dando um tremendo susto. Levanto a cabeça e vejo Barry
sorrindo e segurando um guarda-chuva enorme. Ele estende a mão para que eu lhe passe a sacola
com o jantar, antes de dar um passo para trás e me deixar sair do carro.
— Obrigada — falo bem alto por causa da chuva.
Barry apenas sorri e passa o guarda-chuva para a mesma mão em que segura a sacola.
Depois, envolve minha cintura com o outro braço e me puxa para perto, então assim ficamos
debaixo do pequeno abrigo que o guarda-chuva nos fornece.
— Caramba, está chovendo muito — Barry diz, ao limpar os pés no capacho assim que
entramos em casa.
— Eu sei, e obrigada. Não precisava se molhar todo só para ir me buscar — digo, e logo
vejo o sorrisinho sexy se formar em seus lábios, o que me faz repassar o que acabei de dizer.
Droga. Sempre dou brecha e, pelo sorriso de Barry, posso afirmar que ele vai tirar proveito disso.
— Essa fala é minha — ele responde por cima do ombro, enquanto carrega o jantar até a
cozinha.
Maggie e eu somos melhores amigas desde o jardim de infância. No primeiro dia de aula,
nos sentamos lado a lado, e, por ser filha única, era tímida, diferente de Maggie. Ela me
perguntou se eu queria ser sua amiga, e eu disse sim. Nos tornamos unha e carne, tanto que até
nossos pais são amigos próximos, assim como Barry, irmão dela, e eu. Por isso nós três moramos
juntos.
Barry tem vinte e cinco anos, três anos a mais que nós duas. É um solteiro convicto, então
morar conosco não é um problema para ele. Para todos os efeitos, é como meu irmão mais velho,
sempre cuida de mim e me protege, assim como faz com Maggie.
Ele é lindo. Tem quase um metro e noventa de altura, cabelos e olhos castanho-claros, e
corpo definido, resultado da malhação diária. Se não fosse a relação fraterna que temos,
conseguiria entender todo o alvoroço por causa dele.
— O cheiro da comida chegou até o meu quarto. Estou morta de fome — Maggie diz, ao
entrar na cozinha ao mesmo tempo que eu. — Como foi o dia, amiga? — Ela dá risadinhas.
— Ótimo. — Tento esconder o sorriso, mas falho. — Tedioso pra caramba. Quase não teve
movimento.
Pego guardanapos e o ketchup, e Maggie, uma garrafa de água para cada. Barry já está
sentado e comendo. Juro que não sei para onde vai tanta comida.
— Que bom que acabou. E você não teve que ficar olhando para a cara de ninguém — ela
responde, ao se sentar ao meu lado.
E então me lembro do sr. Barba Supersexy.
— Ah, mas um cara apareceu por lá. Caramba, Mags, ele era lindo.
— Sou toda ouvidos — ela diz, ao enfiar uma batata frita na boca.
Conto aos dois que ele me flagrou enquanto eu o observava, que corei que nem uma
garotinha e me atrapalhei toda para falar.
— Tenho certeza de que ele gostou. Sei que eu teria gostado — Barry diz, ao amassar o
papel de um cheeseburger, logo pegando o segundo.
— Duvido muito. — Pego o ketchup.
— O que você tem? — Maggie pergunta.
— Eu só... não sei. Não pensei que minha vida fosse ser assim, sabe? Achei que
conseguiria meu primeiro emprego de verdade assim que me formasse... Você sabe, onde eu
pudesse colocar em prática as coisas que estudei. Sinto que não estou indo a lugar algum.
— Faz o quê? Quatro meses? — Barry pergunta. — Roma não foi erguida em um dia.
— Eu sei. Está sendo um dia péssimo e essa chuva é deprimente.
— Nem me diga. Passei o dia na cama. — Maggie ri.
— Deve ter sido ótimo — Barry retruca.
— Ah, nossa, como se o seu dia tivesse sido dureza. Você chegou em casa às duas e meia
hoje. Pensei que fosse treinar depois do trabalho.
— Nada. O treino foi cancelado. Não tem como jogar futebol americano com uma chuva
dessa, impossível segurar a bola.
— Um milagre o treinador Brown fazer algo assim — Maggie fala.
— Ele disse que não estava se sentindo muito bem e que não queria que o time ficasse
doente. Nosso primeiro jogo é sexta à noite.
— Mal posso esperar. Amo a temporada de futebol — digo.
— Eu também. Você trabalha na sexta, Berklee? — Maggie pergunta.
— Sim, até as cinco da tarde.
— Tenho algumas aulas para dar também, mas devo chegar em casa no máximo às três.
Vou preparar algo rápido para que possamos comer antes de ir.
— Combinado.
Barry termina de comer antes mesmo de nós duas começarmos e então se tranca no quarto.
Maggie e eu ficamos conversando até terminar, e fazemos o mesmo que Barry. Por que a chuva
faz com que se enfurnar na cama e tirar um cochilo seja tão gostoso?

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