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OMOLU / OBALUAÊ

(o senhor das doenças)


(Bibliografia: Os Orixás - publicado pela Editora Três).

ASPECTOS PARTICULARES DE OMULU:


Nomes: Omulu; Obaluaiê; Xapanã; Duzina; Sakpata; Caviungo; Cajandá; Quincongo;
Gargamela; Azoani; Intoto.
Região da áfrica: Empé
Elemento: Terra.
Odu que rege: odi, etaogunda, obeogunda.
Instrumentos: Xaxará – Feixe de palitos de dendezeiro, bordado com palha da costa e muitos
búzios formando um tubo de palha trançada com sementes mágicas e segredos dentro; Lagdibá –
Colar feito com rodelas de chifre de búfalo; íleo; lança de madeira.
Metal: chumbo.
Pedra: turmalina negra.
Folhas: canela de velho, picão, erva de bicho, velame, manjericão roxo, barba de velho, mamona
(ewe lará), etc.
Saudação: Atotô; Mani-Mani.
Número: 7 e 13.
Comidas: Aberém (bolo de milho envolvido na folha de bananeira); Latipá (folha de mostarda);
Deburú (pipoca); abadô (amendoim pilado torrado), sarapatel, cuscuz e Inhame.
Animais: porco
Cores: Preto, Branco e Vermelho intercalado ou rajado (Obaluaiê); Preto e branco intercalado ou
rajado (Omolu); Preto e Marrom.
Dia da semana: segunda-feira.
Dia da Semana Yorubá: ojo isegun (dia do vencedor)
Data: 13 ou 16 de agosto
Arquétipo de seus filhos: tendências masoquistas, que gostam de exibir seus sofrimentos e
tristezas. Capazes de se privar de várias coisas em função dos outros. Sóbrios, reservados,
generosidade destacada, geniosos, independentes, teimosos, tendência ao masoquismo.
Sincretismo: São Lázaro, Bacalubaca (entidade vudu, senhor dos cemitérios).
Partes do corpo: a pele e os pulmões.
Domínio: Terra, Eguns; arvore, cemitério, estradas abandonadas; Saúde; Doenças epidêmicas;
vida e morte.
Força Emanada (axé): Saúde e riquezas da terra.
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Etimologia:
OBA significa Rei (Oni), ILU espíritos e AIYÊ, significa terra, ou seja, Rei de Todos os Espíritos do
Mundo. OBALUWAYE = OBA - OLU – AIYE = "Rei que é o Senhor do Aiye"; Obaluaiê; "Rei dono
da Terra", Omolu "Filho do Senhor", Sapata "Dono da Terra" são os nomes dados a Sànpònná
(um título ligado a grande calor - o sol - também é conhecido como Babá Igbona = pai da
quentura) deus da varíola e das doenças contagiosas, é ligado simbolicamente ao mundo dos
mortos. Outra corrente os define como: Obaluayê: Obá - ilu; aiye; Rei, dono, senhor; da vida;
na terra; Omolu; Omo-ilu; Rei, dono, senhor; da vida. Canjanjá na Angola.
Sua dança o Opanijé (cuja tradução é: ele mata qualquer um e come), como um ser doente onde
mostra suas feridas, o céu e a terra, sua lenda, em outras danças, dança curvado para frente,
como que atormentado por dores, e imitam seu sofrimento, coceiras e tremores de febre.
Sua Saudação é "Atoto" quer dizer; Silêncio - escutai; hora da devoção.
Perfil
Recebe também os títulos de Warìwarùn, Babalúayé e Alápó.

Esta pesquisa se dedica ao Orixá da Doença ou Orixá da Varíola. Ambos os nomes surgem
quando nos referimos a esta figura, seja Omolu seja Obaluaiê. Para a maior parte dos devotos
do Candomblé e da Umbanda, os nomes são praticamente intercambiáveis, referentes a um
mesmo arquétipo e, correspondentemente, uma mesma divindade. Já para alguns babalorixás,
porém, há de se manter certa distância entre os dois termos, uma vez que representam tipos
diferentes do mesmo Orixá.
São também comuns as variações gráficas Obaluaiê, Abalaú, Obaluaiê e Abaluaiê.
Em termos mais estritos, Obaluaiê é a forma jovem do Orixá Xapanã, enquanto Omolu é sua
forma velha. Como, porém, Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé como em
Umbanda, não devendo ser mencionado, pois pode atrair a doença inesperadamente, a forma
Omolu é a que mais se popularizou e acabou sendo confundida não apenas com a forma mais
velha do Orixá, mas com sua essência genérica em si. Esta distinção se aproxima da que existe
entre as formas básicas de Oxalá: Oxalá (o Crucificado), Oxaguiã a forma jovem e Oxalufã a
forma mais velha.
A figura de Omolu - Obaluaiê, assim como seu mito, é completamente cercada de mistérios e
dogmas indevassáveis. Em termos gerais, a essa figura é atribuído o controle sobre todas as
doenças, especialmente as epidêmicas. Faria parte da essência básica vibratória do Orixá tanto o
poder de causar a doença como o de possibilitar a cura do mesmo mal que criou.
Em algumas narrativas mais tradicionalistas tentam apontar-se que o conceito original da
divindade se referia ao deus da varíola, tal visão, porém, nos parece uma evidente limitação. A
varíola não seria a única doença sob seu controle, simplesmente pôr ser a epidemia mais
devastadora e perigosa que conheciam os habitantes da comunidade original africana, onde
surgiu Omolu - Obaluaiê, o Daomé.
Assim, sombrio e grave como Iroco, Oxumarê (seus irmãos) e Nanã (sua Mãe), Omolu -
Obaluaiê é uma criatura da cultura jêje, posteriormente assimilada pelos iorubas. Enquanto os
Orixás iorubanos são extrovertidos, de têmpera passional, alegres, humanos e cheios de
pequenas falhas que os identificam com os seres humanos, a figuras daomeanas estão mais
associadas a uma visão religiosa em que distanciamento entre deuses e seres humanos é bem
maior. Quando há aproximação, há de se temer, pois alguma tragédia está para acontecer, pois
os Orixás do Daomé são austeros no comportamento mitológico, graves e conseqüentes em suas
ameaças.
A visão de Omolu - Obaluaiê é a do castigo. Se um ser humano falta com ele ou um filho-de-
santo seu é ameaçado, o Orixá castiga com violência e determinação, sendo difícil uma
negociação ou um aplacar, mais prováveis nos Orixás iorubas.
Pierre Verger, nesse sentido, sustenta que a cultura do Daomé é muito mais antiga que a ioruba,
o que pode ser sentido em seus mitos: A antiguidade dos cultos de Omolu - Obaluaiê e Nanã
(Orixá feminino), freqüentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um
detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. Este ritual é realizado sem o
emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma
civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum.
Como parte do temor dos iorubas, eles passaram a enxergar a divindade (Omolu - Obaluaiê)
mais sombria dos dominados como fonte de perigo e terror, entrando num processo que
podemos chamar de malignidade de um Orixá do povo subjugado, que não encontrava
correspondente completo e exato (apesar da existência similar apenas de Oçanhe). Omolu -
Obaluaiê seria o registro da passagem de doenças epidêmicas, castigos sociais, já que atacariam
toda uma comunidade de cada vez.
Existe uma grande variedade de tipos de Omolu - Obaluaiê, como acontece praticamente com
todos os Orixás. Existem formas guerreiras e não guerreiras, de idades diferentes, etc., mas
resumidos pelas duas configurações básicas do velho e do moço. A diversidade de nomes pode
também nos levar a raciocinar que existem mitos semelhantes em diferentes grupos tribais da
mesma região, justificando que o Orixá é também conhecido como Sakpatá, Omolu Jagum,
Quicongo, Sapatoi, Iximbó, Igui.
Omulu – Homem de idade madura, doença e morte.
Senhor dos cemitérios, orixá das doenças. Sua imagem é de uma pessoa coberta com um tipo de
manto feito de palhas, deixando os braços e pernas à mostra. Ele se apresenta desse modo, pois
segundo uma lenda Iorubá, seu corpo era coberto de cicatrizes, fazendo com que sua aparência
fosse desagradável.

OBALUWAYE é um EBORA primordial e assim associado à criação e considerado como o grande


regente do planeta. Tido como filho de Nana, no Brasil, sua origem, forma, nome e culto na
África é bastante variado, de acordo com a região, essa variação de nomes é de conformidade
com a região, Obaluaiê/Xapanã em Tapá (nupê) chegando ao território mahi ao norte do
Daomé; Sapata é sua versão fon, trazido pelos nagôs.
Em alguns lugares se misturam em outros são deuses distintos, confundido até com Nana
Buruku; Omolu em kêtu e Abeokuta. Seu parentesco com Oxumarê e Iroko é observado em
Kêtu (vindo de Aisê segundo uns e Adjá Popo segundo outros), onde pode se ver uma lança (okó
Omolu) cravada na terra, esculpida em madeira onde figuram esses três personagens
superpostos, também em Fita próximo de Pahougnan, território Mahi, onde o rei Oba Sereju
recebera o fetiche Moru, três fetiches ao mesmo tempo Moru (Omolu), Dan (Oxumarê) e seu
filho Loko (Iroko).
A terra, no sentido mais amplo da palavra, é sua matéria de origem, sobre a qual detém o poder e domínio
absoluto. A terra é uma unidade cósmica, viva e ativa. Ela é o fundamento de todas as manifestações. Tudo o
que compõe a terra, ou seja, sua extensão, a variedade de seu relevo e da vegetação que nela cresce, enfim,
tudo o que está sobre a terra está em conjunto e constitui uma grande unidade. A terra encontra-se no
começo e no fim de toda a vida. Toda a forma nasce dela, viva, e retorna para ela no momento em que a
parte de vida que lhe tinha sido concedida se
esgotou. OBALUWAYE está relacionado à terra e à tudo o que dela advém, ao retorno, ao pó, à
transformação, à regeneração, ao renascimento, pois é sabido que "tudo o que sai da terra é dotado de vida e
tudo o que volta para a terra é de novo provido de vida".
OBALUWAYE, como o senhor da terra, mantém o domínio e a responsabilidade pelo equilíbrio
e ajuste da mesma. Mas, o que se entende por domínio?
Como EBORA consagrado à terra e sendo a terra o fundamento de todas as manifestações,
deve-se pedir à OBALUWAYE permissão para o seu uso, pois tudo o que se movimenta, planta,
constrói, cultiva ou se cria sobre a terra está sob sua "jurisdição".
Essa necessidade de pedir permissão à OBALUWAYE para tudo o que deva ocorrer em seus
domínios reflete-se, inclusive, no culto ao EBORA, onde antes de qualquer cerimonial, louva-se a
terra, como que pedindo "licença" para que os rituais que serão desenvolvidos ocorram em
condições adequadas de equilíbrio e "frescor" da terra.
Interessante reforço a este conceito encontramos em um Itan relatado por Deoscoredes M. dos
Santos e Juana Elbein, em sua monografia "West African sacred art and rituals in Brazil",
apresentado à UNESCO em 1967, e que reproduzimos: "segundo alguns mitos, OBALUWAYE,
ILE (terra) e ORUNMILA empreenderam uma viagem e no retorno encontraram-se com os
remanescentes cento e noventa e oito Orisa. Quando se reencontraram decidiram eleger ILE
como a Mãe, ORUNMILA como o Pai e SHOPONNA como o Oba - o Rei dos ORISA, chamando-
o então de OBA-AWON-OLU. Posteriormente, quando os homens reconheceram a existência de
alguns ORISA no orun, substituíram o título por OBA-OLU-AIYE, para deixar claro que
SHOPONNA é o Rei de todos os ORISA no mundo, ou seja, em qualquer lugar em que os ORISA
pudessem ser encontrados no aiye, SHOPONNA seria considerado seu Rei." É por essa razão
que os Yorubá saúdam OBALUWAYE com a expressão: "KABIYESI", significando "Vossa
Majestade".
Os Yorubá, freqüentemente, em ocasiões de festividade ou de culto, entoam cantigas
pedindo permissão ao Rei e Senhor, chamado então de OLODE, Senhor dos espaços abertos, para
o uso da terra:
E JE' NG B' ON'-ILE LERE, BI O JE A JO, E JE' NG B' ON'-ILE LERE, BI O JE A JO.
Deixe-me obter a permissão do Senhor da terra, Se Ele permitir, dançaremos, Deixe-me obter a
permissão do Senhor da terra, Se Ele permitir, dançaremos.
Da mesma forma, para que se possa trabalhar o cultivo da terra pede-se, também,
permissão a OBALUWAYE:
OLOKO A YO SESE, OLOKO A YO SESE OWU 'I 'LA K' INU O B' OLOKO O: OLOKO A YO SESE;
AWA 'I 'LU, K' INU O B' OLODE O OLODE A YO SESE.
OLOKO* poderia ser profundamente agradado OLOKO poderia ser profundamente agradado. O
algodão não queimaria. E não desagradaria OLOKO. OLOKO poderia ser profundamente
agradado. Nós não manuseamos as ferramentas. E não desagradamos OLODE. OLODE poderia
ser profundamente agradado.
* OLOKO é um dos nomes pelo qual OLODUNMARE é conhecido.
Todas as formas de vida geradas pela terra e da terra constituem um sistema solidário, em que
os laços que ligam a vegetação, o reino animal e os homens, "gente da terra", estão unidos por
uma mesma força que os anima e que é a vida. Vida que pulsa tanto na mãe terra como em suas
criaturas, caracterizando-se, a terra, como uma unidade de ordem biológica. Quando qualquer
dos modos desta vida é atingido, causando um desequilíbrio, todo o sistema é afetado, visto que
ele, em si, compõe-se como um todo, como uma unidade. OBALUWAYE, também conhecido por
"Senhor das Águas quentes" ou "Senhor das Terras quentes" (ILE GBONA) promove o equilíbrio e
o ajuste do sistema através dos elementos constitutivos de sua própria natureza. As águas
quentes, o calor, as estações de seca e temperatura elevada, são ambientes favoráveis à
disseminação de doenças de extinção populacional e não individual. OBALUWAYE, então, regula
o sistema através da manifestação de doenças epidêmicas, a malária, a peste bubônica e,
especialmente, doenças de pele como a lepra e a varíola, sendo chamado, por isso,
de SHOPONNA, cujo significado literal é "varíola". Vale ressaltar que todas essas doenças têm
como sinais principais, febre alta, tremores e calafrios, denotando a característica principal de
OBALUWAYE que é o calor e as altas temperaturas. O Iorubá descreve SHOPONNA como a
"destruição do meio-dia", hora em que o sol tem de fato seu poder destruidor e a terra sua
temperatura mais alta. Assim, diz-se que quando alguém sofre febre e delírio está sob o domínio
de OBALUWAYE. A terra é o vasto domínio e reino de OBALUWAYE. A terra ventre, a fonte
inesgotável de todas as existências, o coloca, portanto, em íntima ligação com a matriz feminina
representada por IYA MI.
A característica essencial da terra é a de geração da vida. Tudo o que tem forma e vida nasce
dela e tudo o que é inerte e estéril volta à ela, fazendo com que a capacidade geradora da terra
se restabeleça e se forme uma nova vida.
Os mortos são devolvidos a terra. Tal qual as sementes são enterradas, penetrando uma região
da terra só à eles acessível. No interior da terra se transformam, se regeneram, propiciando o
renascimento e a continuidade da vida. A força do poder ancestral, portanto, está fortemente
associada ao poder de geração da vida. Do exposto fica nítido concluir a estreita ligação entre
OBALUWAYE e os ANCESTRAIS. Os ancestrais "habitam" a terra, matéria de origem e reino
absoluto de OBALUWAYE que, em decorrência, exerce sobre eles pleno poder e domínio.
OBALUWAYE, através da associação terra (matéria de origem) e os ancestrais, mantém o
equilíbrio planetário através do ciclo retorno, pó, renascimento. OBALUWAYE está associado ao
tronco e às árvores, sendo que a representação coletiva dos ancestrais (espíritos da terra) é o
feixe das nervuras das palmas do igi-ope, elemento básico do sasara, emblema de OBALUWAYE.
As árvores simbolizam a própria fonte da vida, pois se regeneram periodicamente, fazendo com
que o ciclo da vida seja inesgotável. A vida como um novo nascimento, como fecundidade,
riqueza, saúde e imortalidade. Outra função importante associada a OBALUWAYE é sua ligação
com, ou senioridade sobre, o sangue vermelho, representado pelo osun. Corroborando estas
questões reproduzem trecho de um Itan do ODU OSE OYEKU: "OBARISA ama o efun,
OBALUWAYE ama o osun, OGUN ama o carvão, ODUDUWA ama a lama...". E mais,
"OBALUWAYE pega o osun, no osun onde ele esfrega seu corpo...", concluindo adiante, "ODU
diz, se eles adoram a cabaça de osun, ela responderá...".
Este Itan não só associa OBALUWAYE ao asé do sangue vermelho, representado, como
dissemos, pelo osun, como demonstra a ligação desse EBORA com o poder ancestral feminino,
representado por ODU. Essa sua particular relação com o asé do sangue vermelho não
exclui sua função de transportador do asé dos sangues branco e preto, o primeiro representado
pelos cauris, símbolo por excelência da capacidade geradora da matriz feminina e porção
individualizada de matéria, o segundo, representando a terra, enquanto "ventre fecundado", e
os espíritos nela contidos. OBALUWAYE, como EBORA primordial, é detentor do princípio
regulador da terra. À cada desequilíbrio corresponde uma ação que se dá através dos elementos
constitutivos de sua própria natureza, visando o ajuste do sistema.
Desta forma e, ciclicamente, a harmonia da terra e dos seres que nela habitam se restabelece em
saúde, regeneração e riqueza.
Ele lidera e detém o poder dos espíritos e dos ancestrais, os quais o seguem.
Oculta sob o saiote o mistério da morte e do renascimento (o mistério do gênesis). Ele é a própria
terra que recebe nossos corpos para que vire pó.
Também é um vodum Jêje conhecido por Sapata, sendo também cultuado por outras nações.
Poderoso orixá, filho de Nana Buruku (Anabioko) e Orixalá (Oulissassa).
Obaluaiê quer dizer "Senhor da terra", daí sua associação com a morte (além de Xapanã ser o
deus da varíola e das doenças contagiosas), pois o fundo da terra é a última morada do corpo. Às
vezes é colocado como filho de Nanã Buruku.
Omolu é Terra, isso resume perfeitamente o perfil desse Orisa, o mais temido entre todos, o
terrível Orisa da varíola e de todas as doenças contagiosas.
Ele está ligado ao interior da Terra (ninú ilé) e isso denota uma intima relação com o fogo, já que
esse elemento, como comprovam os vulcões em erupção, domina as camadas profundas do
planeta.
Toda a reflexão em torno de Omolu ocorreu colocando-o como um Orisa ligado à terra, o que é
corretíssimo, mas não deixa de ser um erro desconsiderar a sua relação com o fogo do interior da
Terra, com as lavas vulcânicas, com os gases, etc.
O que pode ser mais devastador que o fogo?
Só as epidemias, as febres, as convulsões lançadas por Omolu!
Ele é o fogo que varre, que arrasta para a morte como as lavas de um vulcão.

Vestimenta:
OBALÚAYÉ representa a terra e o sol, aliás, ele é o próprio sol, por isso usa uma coroa de palha
(AZÊ) que tampa seu rosto, porque sem ela as pessoas não poderiam olhar para ele. Ninguém
pode olhar o sol diretamente. Esta fortemente relacionada com os troncos e os ramos das árvores
e transporta o axé preto, vermelho e branco. Sua matéria de origem é a terra e, como tal, ele é o
resultado de um processo anterior. Relaciona-se também com os espíritos contidos na terra.
Sua vestimenta é feita de ìko, é uma fibra de ráfia extraída do Igí-Ògòrò, a "palha da costa",
elemento de grande significado ritualístico, principalmente em ritos ligados a morte e o
sobrenatural, sua presença indica que algo deve ficar oculto.
É composta de duas partes o "Filá" e o "Azé", a primeira parte, a de cima que cobre a cabeça é
uma espécie de capuz trançado de palha da costa, acrescido de palhas em toda sua volta, que
passam da cintura, o Azé, seu asó-ìko (roupa de palha) é uma saia de palha da costa que vai até
os pés em alguns casos, em outros, acima dos joelhos, por baixo desta saia vai um Xokotô,
espécie de calça, também chamado "cauçulú", em que oculta o mistério da morte e do
renascimento.
Nesta vestimenta acompanha algumas cabaças penduradas, onde supostamente carrega seus
remédios. Ao vestir-se com ìko e cauris, revela sua importância e ligação com a morte.
Orisa cercado de mistérios. O capuz de palha da costa (azé) cobre seu rosto para que os seres
humanos não o olhem de frente (já que olhar diretamente para o sol pode prejudicar a visão).
O azé guarda mistérios terríveis para simples mortais, rela a existência de algo que deve ficar em
segredo, revela a existência de interditos que inspiram cuidado e medo, algo que só os iniciados
no mistério podem saber.
Desvendar o azé a temível máscara de Omolu, seria o mesmo que desvendar os mistérios da
morte, pois Omolu venceu a morte.
Embaixo da palha-da-costa, ele guarda os segredos da morte e do renascimento, que só podem
ser compartilhados entre os iniciados.
A relação de Omolu com a morte se dá pelo fato de ele ser a terra, que proporciona mecanismos
indispensáveis para a manutenção da vida.
O homem nasce, cresce, desenvolve-se, torna-se forte diante do mundo, mas continua frágil
diante de Omolu, que pode devorá-lo a qualquer momento, pois Omolu é a terra, que vai
consumir o corpo do homem por ocasião de sua morte.
Por isso é que se diz que Omolu mata e come gente.

Doença
Ele é o símbolo da terra, médico dos pobres, senhor das epidemias e deus da bexiga (doença de
pele). Corresponde à pele e assim castiga com as doenças da pele: dermatose, varíola, lepra, etc.
Como essas doenças começam com vômitos, tem sob sua guarda as plantas estomacais e
depurativas. As pústulas das doenças são consideradas "vulcões" (simbolismo), assim como a
panela de barro emborcada nos assentamentos do santo simboliza a marca deixada pela doença.É
o Orisa das doenças epidêmicas, ou seja, das doenças que atingem não só apenas esse ou aquele
individuo, mas vários; doenças que assolam os povos, que castigam toda a tribo; doenças sociais.
Todavia, Omolu também possui o poder da cura.

Xaxará:
Associado na África, onde houve, e ainda há ocasionalmente, grandes endemias e epidemias.
Sua "arma" (emblema) é o Xaxará (Sàsàrà), espécie de cetro de mão, feito de nervuras da palha
do dendezeiro, enfeitado com búzios e contas, em que ele capta das casas e das pessoas as
energias negativas, bem como "varre" as doenças, impurezas e males sobrenaturais.
Esta representação nos mostra sua ligação a terra, ao tronco e ramo das árvores, transporta
assim o Asé (axé) preto, vermelho e branco. Está relacionado com o axé preto (terra), contido no
segredo do "ventre fecundado" e com os espíritos contidos na terra.O xaxará (sàsàrà), que é a
maior insígnia de Omolu, revela o seu poder de causar e curar as doenças coletivas.
É composto por um feixe de inúmeros palitos de dendezeiro, que simbolizam multiplicidade, e
enfeitado de pequenas cabaças, nas quais Omolu guarda as curas de todas as doenças.

Contas:
Suas contas como Omolu são vermelho, preto e branco, como Obaluaiê o preto e branco, como
Xapanã, o preto e vermelho.
O colar que o simboliza é o lagidiba, cujas contas são feitas de semente existente dentro da fruta
do Igi-Opê ou Ogi-Opê, palmeiras pretas. Também usa um lagidiba, feito de pequenos discos
preto de chifre de búfalo cortado em rodelinhas, é usado para proteger de doenças e tem uma
conotação de grau hierárquico.
Usa também brajá, um colar longo de cauris. Faz muito uso dos cauris (búzios) em seu brajá
(colar de búzios) e nos paramentos.

Búzios:
OBALÚAYÉ é o patrono dos cauris e do conjunto dos 16 búzios, que reina do instrumento ao
sistema oracular: o érindílogun, que lhe pertence. Em uma região é ligados a riqueza e ao
conjunto de 16 búzios + 1 da leitura esotérica "érindílogun".
Owó nlá bànbà -----------------Dinheiro (cauris) grande, imenso.
Ójísè owó nlá bànlà -----------Mensageiro da riqueza.
Owó nlá bànbà -------------dinheiro grande, imenso.
Na Nigéria os owó érindílogun adoram Obaluaiê e usa no punho esquerdo, uma tira de Igbosu
(pano africano) onde são costurados cauris esó.
OBALÚAYÉ mede a riqueza com cântaros, mas o povo esqueceu-se de sua riqueza e só se lembra
dele como o Orixá da moléstia.
Omolu é o dono dos búzios, patrono do oráculo de 16 búzios (merindilogun).

Origem:
As origens nago-yorùbá do Vodun Sapata são confirmadas durante os rituais de iniciação, onde
os Sapatasi são tratados pelo nome de "ànàgonu (nagôs)" e o idioma usado nas orações é o
Yorùbá. O que temos, de origem Fon, é que Nàná Bùkùú é mãe de todos os Sapatas. Portanto,
na minha visão, Obàluwàiyé-Omolú-Sòpònón são uma só divindade, valente guerreiro, Òrìsà
conquistador e desbravador de territórios, portanto cultuado para obtenção de progresso e
prosperidade. O Título de Jagun (Fazedor de Guerra - Guerreiro) justifica a visão de ser ele
jovem guerreiro.
Uma ìtòn conta que Sòpònón nasceu em Empe, território Tapá também chamado Nupe. Ele era
um valente guerreiro que acompanhado por suas tropas percorria o Céu e os quatro cantos da
Terra, massacrando impiedosamente seus inimigos que morriam mutilados ou de pestes variadas.
Chegando ao território Mahi causou pânico aos habitantes locais, que consultaram um Babaláwo
que afirmou: "O Valente guerreiro chegou, e se tornará o Senhor deste País, fazendo esta terra
rica e próspera. Se o povo não o aceitar ele o destruirá. É necessário que se façam muitas
oferendas a ele, todas que ele goste, como: inhame pilado, feijão e farinha de milho, azeite de
dendê, picadinho de carne e muita pipoca. Todos devem respeitá-lo e servi-lo. Quando o povo
reconhece-lo como Rei, Sòpònón não mais os destruirá". Quando o guerreiro chegou os
habitantes do local o reverenciaram, colocando suas testas no chão e gritando " Atótóo!"
(Silêncio). Assim Sòpònón aceitou os presentes dizendo:

"Eu os pouparei. Em todas as minhas viagens sempre encontrei desconfiança e hostilidade, mas
aqui foi diferente. Construam um palácio e aqui será minha moradia doravante ".
Sòpònón instalou-se então em Mahi tornando o País próspero e rico, e nunca mais voltou a
Empe. Recebeu então um novo nome "Sapata", mas também era chamado de "Ainon / Senhor
da Terra" ou então "Jeholú / Senhor das Pérolas" Ele tem o controle das epidemias e doenças
contagiosas, usando-as como punição aos que o ofendem e conduzem-se mal.

Tratar Obàlúwàiyé como jovem, e Omolú como velho são configurações dos cultos Afro-
brasileiros. Como diz o Bàbálòrìsà Altair t’Ògún: "As pessoas vão conhecendo Títulos de um
mesmo Òrìsà e vão criando deuses diferentes baseados nesses Títulos".

O lugar de origem de Obalúayé é incerto, há grandes possibilidades que tenha sido em território
Tapá (ou Nupê) e se esta é ou não sua origem seria pelo menos um ponto de divisão dessa
crença. Conta-se em Ibadã, que Obalúayé teria sido antigamente o Rei dos Tapás. Uma lenda de
Ifá confirma esta última suposição. Obalúayé era originário de Empê (Tapá) e havia levado seus
guerreiros em expedição aos quatro cantos da terra. Uma ferida feita por suas flechas tornava as
pessoas cegas, surdas, ou mancas. Obalúayé chegou assim ao território Mahi, ao norte de
Daomé, batendo e dizimando seus inimigos. Pôs-se a massacrar e a destruir tudo que encontrava
à sua frente. Os mahis, porém tendo consultado um Babalaô, aprenderam como acalmar
Obalúayé, com oferendas de pipocas. Assim tranqüilizado pelas atenções recebidas, Obalúayé
mandou-os construir um palácio, onde ele passaria a morar, não mais voltando ao país de Empê.
Mahi prosperou e tudo se acalmou. Apesar dessa escolha, Obalúayé continua a ser saudado como
Kábiyèsí Olútápà Lempé (Rei de Nupê em país Empê).
Omolu é filho de Nana e é originário da região Mahi, no antigo Daomé, não perdoa falhas no
cumprimento de seus preceitos.

Comemoração:
Sua festa anual é o Olubajé, (Olu - aquele que, ba - aceita, jé - comer; ou ainda: aquele que
come), são feitas oferendas e são servidas suas comidas votivas, seus "filhos" devidamente
"incorporados" e paramentados oferecem as mesmas aos convidados/assistentes desta festa, em
folhas de bananeira ou mamona.

Ewo:
Suas quizilas (proibições) mudam de casa para casa, e de nação para nação; carneiro, peixe de
rio de couro, caranguejo, carne de porco, pipoca, jaca...

Omolú, de origem Jeje e posteriormente cultuado pelos Yorùbá, está relacionado com a varíola e
doenças infecciosas e epidêmicas, de um modo geral. Òrìsà misterioso, como Ìrokò, Òsùmàrè e
Nàná.

Os Voduns Daometanos tem características básicas que os diferenciam dos Òrìsà Yorùbá, pois são
associadas a conceitos de castigos e punições, suas ameaças são mais graves e conseqüentes,
com grande potencial de repressão ao ser humano; enquanto as divindades Yorùbá são mais
extrovertidas, mais humanizadas e passionais.

Dentro desta visão temível, ele é uma divindade terrível que exige muito respeito, e simplesmente
a menção do verdadeiro nome de Omolú, pode trazer castigos e envolver riscos.

Cabe a ele o controle sobre todas as doenças, principalmente as epidêmicas, podendo causar, ou
curar. Está relacionado com a varíola, pois esta doença causou muitas mortes em Daomé. Dentro
da visão dos Òrìsà como as forças da Natureza, é Omolú o momento em que a revolta Natural se
faz presente através da passagem das epidemias atacando toda uma comunidade de cada vez, ou
ainda o mundo todo.
Dizem que Omolu é o médico dos pobres.
Ele é muito solitário e se esconde na imensidão das matas.

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