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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

CÂMPUS CENTRAL – SEDE: ANAPOLIS - CET


GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

LAYANNE CRISTINE DA COSTA

DESENVOLVIMENTO DE FILMES A BASE DE QUITOSANA E ÓLEO ESSENCIAL


DE CRAVO

ANÁPOLIS
2023
LAYANNE CRISTINE DA COSTA

DESENVOLVIMENTO DE FILMES A BASE DE QUITOSANA E ÓLEO ESSENCIAL


DE CRAVO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Farmácia do Campus Central – Sede
Anápolis - CET, Universidade Estadual de Goiás
para a obtenção do título de Bacharel em
Farmácia.

Orientadora: Profª Dra. Roberta Signini

ANÁPOLIS
2023
LAYANNE CRISTINE DA COSTA

DESENVOLVIMENTO DE FILMES A BASE DE QUITOSANA E ÓLEO ESSENCIAL


DE CRAVO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Farmácia do Campus Central – Sede
Anápolis - CET, Universidade Estadual de Goiás para
a obtenção do título de Bacharel em Farmácia.

Aprovado(a):____________,____________ de ____________ de ____________.

Banca Examinadora

_________________________________________________________________
Dra. Roberta Signini
Presidente da banca

_________________________________________________________________
Membro
Universidade Estadual de Goiás

_________________________________________________________________
Membro
Universidade Estadual de Goiás

ANÁPOLIS
2023
ATA DE DEFESA
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, por ter me dado força e capacidade
de superar cada desafio e obstáculos durante minha caminha até a graduação e
durante os cinco anos de graduando.
A minha família, por ter me apoiado e acreditado no meu potencial durante minha
formação.
Aos meus professores, principalmente a minha orientadora, professora Drª Roberta
Signini, que me deu todo o suporte necessário durante a minha Iniciação Cientifica,
bem como, durante a escrita do meu trabalho de conclusão de curso.
A Msc. Camilla Lourenço Vieira, que me acompanhou durante todo o desenvolvimento
da Iniciação Cientifica, auxiliando e repassando todos os ensinamentos necessários
para a bancada do laboratório.
Os meus amigos Igor, Samara, Eduarda, Suilly e Laysse, por sempre estarem ao meu
lado durante essa trajetória, tornando as adversidades mais fáceis de serem
enfrentadas por estarmos juntos.
Aos professores presentes na banca de avaliação, por terem aceitado participar da
apresentação desse trabalho.
RESUMO

A quitosana é um polímero catiônico, advindo da quitina por meio de desacetilação, e


apresenta atividades antimicrobianas, antioxidantes, antitumoral e cicatrizante. Esse
biopolímero pode ser utilizado na produção de filmes combinados com outros agentes,
como o óleo essencial. O óleo essencial de cravo, é obtido do cravo da índia é possui
atividades antimicrobianas, antioxidantes e antivirais. O presente trabalho objetivou a
produção de filmes de quitosana com óleo essencial de cravo nas concentrações de
1%, 2,5%, 5% e 10% (v/v), bem como a caracterização qualitativa (cor, oleosidade,
homogeneidade e flexibilidade), espessura, testes mecânicos e atividade
antimicrobiana. Os filmes apresentaram cor predominantemente amarelo, com
aumento da intensidade proporcional a concentração de óleo de cravo usada. Os
aspectos foram homogêneos, sem presença de grumos. A oleosidade foi observada
nos filmes com 5% e 10% de óleo essencial de cravo, sugerindo que há um limite de
concentração de óleo essencial a ser incorporada aos filmes. A flexibilidade dos filmes
é influenciada pela presença do glicerol, pois o filme quitosana (2Q), apresentou-se
ressecado e sem flexibilidade, já os outros filmes apresentaram-se mais flexíveis, e o
óleo de cravo também contribui para essa característica. Nos valores obtidos da
espessura dos filmes mostra que a solução filmogênica foi distribuída de maneira
uniforme na forma no momento de levar a secagem, além disso a presença do glicerol
não interferiu na espessura, conforme apresentado nos filmes quitosana sem glicerol e
quitosana com glicerol, independente a quantidade de solução filmogênica (SF)
utilizada, já a incorporação do oleo essencial de cravo há uma ligeira tendência de
aumentar a espessura com o aumento da concentração. Nos valores obtidos nos testes
mecânicos, observou-se que o filme 2Q possui alta resistência a deformação elástica,
quando comparado ao filme 2QG, independentemente da quantidade de SF utilizada.
Além disso, o aumento da concentração do óleo essencial nos filmes, considerando a
mesma massa de SF e mesma massa inicial de quitosana, tende a aumentar
resistência a deformação elástica. No teste de difusão em disco, observa-se que
apenas a solução de óleo essencial de cravo a 10% apresentou ligeira inibição contra
o S. aureus ATCC 6538.
ASBSTRACT

Chitosan is a cationic polymer, derived from chitin through deacetylation, and has
antimicrobial, antioxidant, antitumor and healing activities. This biopolymer can be used
in the production of films combined with other agents, such as essential oil. Clove
essential oil is obtained from cloves and has antimicrobial, antioxidant and antiviral
activities. The present work aimed to produce chitosan films with clove essential oil at
concentrations of 1%, 2.5%, 5% and 10% (v/v), as well as qualitative characterization
(color, oiliness, homogeneity and flexibility ), thickness, mechanical tests and
antimicrobial activity. The films were predominantly yellow in color, with an increase in
intensity proportional to the concentration of clove oil used. The aspects were
homogeneous, without the presence of lumps. Oiliness was observed in films with 5%
and 10% clove essential oil, suggesting that there is a limit to the concentration of
essential oil to be incorporated into the films. The flexibility of the films is influenced by
the presence of glycerol, as the chitosan film (2Q) appeared dry and lacking flexibility,
while the other films appeared more flexible, and clove oil also contributes to this
characteristic. The values obtained for the thickness of the films show that the film-
forming solution was distributed uniformly in the form at the time of drying, in addition,
the presence of glycerol did not interfere with the thickness, as shown in the chitosan
films without glycerol and chitosan with glycerol, regardless the amount of film-forming
solution (SF) used, while the incorporation of clove essential oil there is a slight tendency
to increase the thickness with increasing concentration. In the values obtained in the
mechanical tests, it was observed that the 2Q film has high resistance to elastic
deformation, when compared to the 2QG film, regardless of the amount of SF used.
Furthermore, increasing the concentration of essential oil in the films, considering the
same mass of SF and the same initial mass of chitosan, tends to increase resistance to
elastic deformation. In the disk diffusion test, it was observed that only the 10% clove
essential oil solution showed slight inhibition against S. aureus ATCC 6538.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação das estruturas de quitina e quitosana.............................14


Figura 2. Compostos majoritários do óleo essencial de cravo................................16
Figura 3. Esquema de realização de ensaios de difusão de discos........................23
Figura 4. Filmes a base de quitosana e óleo essencial de cravo com 15 g e 30 g: (a)
(2Q(15)); (b) (2QG(15)); (c) (2QG1(15)); (d) (2QG2,5(15)); (e) (2QG5(15)); (f)
(2QG10(15)); (g) (3QG10(15)); (h) (2QG(30));(i) (2QG1(30)); (j) (2QG2,5(30)); (k)
(2QG5(30)); (l) (2QG10(30)).....................................................................................26

Figura 5. Resultados do teste microbiológicos e leitura dos halos de inibição.......31


LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Cepas padrão bacterianas empregadas neste estudo .........................22


Quadro 2. Descrição dos filmes e os aspectos físicos qualitativos observados.....24
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Espessura, tensão, deformação e Módulo Young dos filmes a base de


quitosana e óleo essencial de cravo .......................................................................29
Tabela 2. Valores obtidos nos halos médios referentes as soluções utilizadas no ensaio
microbiológico..........................................................................................................31
LISTA DE SIGLAS

SF: solução filmogênica.


2Q(15): 2g de quitosana sem glicerol e sem óleo essencial / SF de 15 gramas.
2QG(15): 2g de quitosana com glicerol e sem óleo essencial / SF de 15 gramas.
2QG1(15): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 1% / SF de 15 gramas.
2QG2,5(15): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 2,5% / SF de 15 gramas.
2QG5(15): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 5% / SF de 15 gramas.
2QG10(15): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 10% / SF de 15 gramas.
3QG10(15): 3g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 10% / SF de 15 gramas.
2QG(30): 2g de quitosana com glicerol e sem óleo essencial / SF de 30 gramas.
2QG1(30): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 1%/SF de 30 gramas.
2QG2,5(30): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 2,5%/SF de 30 gramas.
2QG5(30): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 5% /SF de 30 gramas.
2QG10(30): 2g de quitosana, glicerol e óleo de cravo 10% / SF de 30 gramas.
AA+GLIC = ácido acético + glicerol.
Q = quitosana.
OEC5= óleo essencial de cravo 5%.
OEC10= óleo essencial de cravo 10%.
QOEC5 = quitosana +óleo essencial de cravo 5%.
QOEC10= quitosana +óleo essencial de cravo10%.
SA-29213: Staphylococcus aureus ATCC 29213.
SE-12228: Staphylococcus epidermidis ATCC 12228.
EF-51299: Enterococcus faecalis ATCC 51299.
SA-6538: Staphylococcus aureus ATCC 6538.
EC-25922: Escherichia coli ATCC 25922.
PA-27853: Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853.
BC-17759: Burkholderia cepaciaATCC 17759.
SUMARIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................13
2. REFERENCIAL TEORICO/ REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................14
2.1. Quitosana .............................................................................................................14
2.2. Óleo essencial de cravo........................................................................................15
2.3. Filmes de quitosana com óleo essencial de cravo ................................................17
3. OBJETIVO...............................................................................................................20
3.1 Objetivos específicos .............................................................................................20
4. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................21
4.1 Elaboração de filmes à base de quitosana com óleo essencial de cravo ..............21
4.2 Caracterização da quitosana e dos filmes à base de quitosana e óleo essencial de
cravo.............................................................................................................................21
4.3 Avaliação da atividade antibacteriana. ..................................................................22
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..............................................................................24
5.1 Caracterização qualitativa dos filmes de quitosana e quitosana com oleo de
cravo.............................................................................................................................24
5.2 Caracterização da quitosana e dos filmes à base de quitosana e óleo essencial de
cravo.............................................................................................................................28
5.3 Avaliação da atividade antibacteriana ...................................................................31
6. CONCLUSÃO .........................................................................................................33
7. REFERENCIAS: ......................................................................................................34
1. INTRODUÇÃO
A quitina é um polissacarídeo linear constituído por unidades 2-acetamida-2-
desoxi-D-glicopiranose unidas por ligações β(1→4), sendo obtida por desmiralização
e desproteinização, principalmente de conchas de crustáceos, que são produtos da
indústria de processamento de frutos do mar. Pode ser encontrada também em
paredes celulares de fungos e algas, exoesqueletos de insetos e em moluscos. A
quitosana, é um polissacarídeo catiônico natural constituído por unidade 2-amino-2-
desoxi-D-glicopiranose e 2-acetamina-2-desoxi-D-glicopiranose, unidas por ligações
β(1→4), sendo o principal derivado da quitina. (MATICA et al., 2019).
Devido a sua ampla aplicação a quitosana e seus derivados podem ser
utilizados como materiais alternativos na elaboração de filmes biodegradáveis,
flexíveis e atóxicos, com atividade antimicrobiana, antifúngica, anti-inflamatória,
antioxidante e propriedades curativas (HEMMINGSEN; ŀKALKO-BASNET;
JØRAHOLMEN, 2021), (REYES-CHAPARRO et al., 2015). Tais filmes podem ser
utilizados para indústria farmacêutica na liberação controlada de drogas, engenharia
de tecidos e cicatrização de feridas (SZAFRAN; JURAK; WLACEK, 2022).
Para realizar uma melhoria na aplicabilidade e abrangência dos filmes de
quitosana, pode-se realizar a incorporação de óleos essenciais. Os óleos essenciais
são alternativas naturais, sendo constituídos de hidrocarbonetos terpenos, aldeídos,
ácidos, álcoois, fenóis, ésteres, cetonas, etc. (HERNÁNDEZ–OCHOA et al., 2011). O
óleo essencial de cravo é extraído de Syzygium aromaticum L, sendo composto
principalmente por eugenol, acetato de eugenila, β-cariofileno, α-humuleno. Possui
atividade antioxidante, anti-inflamatório, aumento da função imunológica,
antibacteriana, antifúngica, antiviral, cicatrizante e anestésico local (HARO-
GONZÁLEZ et al., 2021) (RAJESHKUMAR, 2021).
Com base no exposto anteriormente, o presente trabalho tem como objetivo,
determinar a atividade de filmes de quitosana com a incorporação de óleo essencial
de cravo, visando a sua utilização para a engenharia de tecidos. Para tal, será
realizada a análise das atividades microbiológica, mecânicas, químicas e físico-
químicas.

13
2. REFERENCIAL TEORICO/ REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Quitosana
A quitina é composta por unidades de β-(1-4)-2-acetamida-2-desoxi-D-
glicopiranose, e compõem a estrutura de insetos, fungos, conchas de crustáceos. As
principais fontes para extração são as carapaças de caranguejos e cascas de
camarões, que são subprodutos da indústria de frutos do mar. A utilização da quitina
extraídas dessas fontes é uma alternativa com baixo custo, que pode diminuir os
impactos ambientais. (CHEUNG et al., 2015).
A quitina pode sofrer o processo de desacetilação a qual se obtém, a quitosana,
que se torna solúvel em solução acida devido seu grau de acetilação. O grau de
acetilação refere-se aos grupos aminos, distribuídos ao longo da cadeia do polímero,
que através de sua ionização confere a natureza catiônica da quitosana (MATICA et
al., 2019).
A quitosana é um biopolímero natural, considerado um polissacarídeo
catiônico, sendo um copolímero de β-(1-4)-2-acetamino-2-desoxi-D-glicose e β-(1-4)-
2-acetamida-2-desoxi-D-glicopiranose. Sua composição é variável devido ao grau
residual de acetilação (MATOS; LOPES; SIGNINI, 2020). Na Figura 1, é apresentado
a representação das estruturas da celulose, quitina e quitosana, respectivamente.

Figura 1. Representação das estruturas de quitina e quitosana.

14
HOH2C OH
O
OH
O
O
HO
O
OH HOH2C
n
CELULOSE

HOH2C NHCOCH3
O
OH
O
O
HO
O
NHCOCH3 HOH2C
n
QUITINA

HOH2C NHCOCH3
O
OH
O
O
HO
O
NH2 1-x HOH2C
n

QUITOSANA

A natureza catiônica da quitosana é um diferencial em relação aos outros


polímeros. Isso lhe garante a capacidade de formar complexos eletrostáticos ou
multicamadas com outros polímeros. Características importantes como a
biocompatibilidade, atoxicidade, biodegradabilidade e baixa alergenicidade ocorre
devido a grau de acetilação (FRÁGUAS et al, 2015).
A quitosana apresenta atividade biológicas, agindo como antimicrobiano,
antioxidante e antitumoral. Devido a essas características, o interesse para sua
utilização como material para cicatrização de feridas, engenharia de tecidos, carreador
de drogas, vem crescendo a cada ano (CHEUNG et al,. 2015).
A ação da quitosana como cicatrizante é significativa, já que apresenta uma
boa capacidade de adesão tecidual, age no processo de formação de tecidos de
granulação, angiogênese, formação de fibras de colágeno e ativa a resposta imune
(FRÁGUAS et al., 2015).

2.2. Óleo essencial de cravo


Os óleos essenciais são obtidos de tecidos vegetais por meio, principalmente,
da destilação a vapor, mas podem ser extraídos por fermentação ou extração por
solvente. São líquidos voláteis, com odor característico, muito utilizados na indústria

15
de perfumes, mas também podem ser usados na aromaterapia, seguimento
farmacêutico e alimentício (SANTOS et al., 2019).
O óleo essencial de cravo é obtido da flor aromática do cravo da índia
(Syzygium aromaticum L), pertencendo a família Myrtaceae. Pode ser usado
topicamente para várias finalidades terapêuticas por apresentar atividade
antimicrobiana, antifúngica, antiviral, anti-inflamatória,etc (HAN; PARKER, 2017).
O óleo de cravo é constituído por mais de 30 compostos diferentes, os
principais estão representados na Figura 2. O eugenol, um terpeno fenólico bioativo,
é o composto majoritário e que possui atividade antimicrobiana, antiviral, cicatrizante,
antioxidante, característica de ser pouco solúvel em água, volátil e propriedade
moluscicida contra espécies de gastrópodes terrestres. O β-cariofileno tem
propriedades anti-inflamatórias e aumenta a função do sistema imunológico, sendo
insolúvel em água e solúvel etanol. O acetato de eugenol é um potente antioxidante,
antibacteriano e antiviral. Já o α-humuleno tem atividade anti-inflamatória
(RAJESHKUMAR, 2021), (HARO-GONZÁLEZ et al., 2021), (GAD, ABDELGALIL,
RADWAN, 2023).

Figura 2. Compostos majoritários do óleo essencial de cravo.


O
CH3
O
OH
O O
CH3 CH3

CH2
CH2
Eugenol Acetato de eugenila

CH3 OH
CH3
H3C

HO O
H3C HO
H H CH3
C
C
C 3
CH
C
CH3
CH3
β-cariofileno α-humuleno

16
2.3. Filmes de quitosana com óleo essencial de cravo
Os filmes podem ser desenvolvidos usando vários métodos diferentes, tais
como: fundição de solvente, fundição semissólida, fusão a quente, extrusão por
dispersão solida ou laminação. Eles vêm sendo desenvolvidos para ação local, como
uma ferramenta que minimiza a frequência de doses, efeitos colaterais e melhora a
eficácia do medicamento (HIMANI et al., 2020).
A fabricação de filmes biodegradáveis de quitosana é uma alternativa versátil,
pois apresentam propriedades mecânicas comparáveis a outros polímeros usados em
filmes comerciais, e pode ser considerado um material de embalagem ativo
(HERNÁNDEZ–OCHOA et al., 2011).
A quitosana também exerce a potencialização da ação, de outros materiais que
são incorporados ao filme. Nesse sentido, ocorre a incorporação de óleos essenciais,
como o de cravo, nos filmes, para o uso terapêutico em curativos (SANTOS et al.,
2019).
Wang et al., (2011), avaliaram a atividade antimicrobiana sinérgica de filmes de
quitosana com três óleos essenciais: óleo de canela, óleo de cravo e óleo de anis
estrelado. Os filmes foram preparados com 2% (m/m) de quitosana em concentrações
de 2,5%, 5%, 7,5% e 10% de óleos essenciais, para realização de teste sobre a
atividade antimicrobiana e físico-química. As cepas utilizadas foram E. coli
ATCC8099, S. aureus ATCC6538, A. oryzae CGMCC 3.4239 e P. digitatum CGMCC
3.5752. Com base nos resultados, os pesquisadores obtiveram que o filme de
quitosana com óleo essencial de canela apresenta ação antimicrobiana superior
contra E.coli, S. aureus, A oryzae e P. digitatum. Em contra partida, o filme de
quitosana com óleo essencial de anis estrelado, apresentou baixa atividade
antimicrobiana contra os mesmos patógenos (E.coli, S. aureus, A oryzae e P.
digitatum). Avaliando as propriedades mecânicas dos filmes, a incorporação do óleo
essencial de canela apresentou melhor compatibilidade com a quitosana, gerando
resultados mais satisfatórios, quando comparado aos outros filmes que foram
preparados com o óleo de cravo e anis estrelado.
Choo, Lin e Mustapha (2021), avaliaram a capacidade de aplicação em
embalagens comestíveis para alimentos de filmes de quitosana/amido acetilado com
óleos essenciais de cravo e canela, analisando suas propriedades antimicrobiana,
17
físicas, mecânicas e de barreiras. Os autores preparam solução de quitosana 1% (m/v)
e solução de amido acetilado 3% (m/m), e as incorporaram, para formação do filme,
na proporção 1:1. A concentração adicionada de óleos essenciais (EO) foram de 1%,
1,25%, 1,50%, 2% e 2,50%. A atividade antimicrobiana foi avaliada por meio do uso
de E. coli O157:H7 e bactérias deteriorantes de carne bovina. A atividade
antimicrobiana em amostras carne bovina aumentou com o uso de concentrações
maiores de EO, o mesmo resultado foi observado no teste realizado com E. coli
O157:H7. Com relação aos estudos sobre as propriedades dos filmes, os autores
obtiveram que a solubilidade em água, teor de umidade, propriedade de tensão,
transmissão de luz diminuíram com o aumento das concentrações de EO.
Em Torlak e Nizamlioglu (2011), avaliaram a eficácia antimicrobiana de filmes
de polipropileno (PP) revestido com quitosana (PPCh), quitosana com óleo essencial
de cravo (PPChC) e quitosana com óleo essencial de orégano (PPChO) em fatias de
queijo Kashar. A solução estoque de quitosana foram preparadas a 2% (m/v), e os
óleos essenciais de cravo e orégano foram incorporados a solução estoque na
concentração de 1% (v/v). Para avaliação da atividade antimicrobiana utilizou-se a L.
monocytogenes, S. aureus e E. coli O157:H7, inoculadas em fatias de queijo Kashar.
Com base nos resultados obtidos, pela contagem de placas em 1,7 e 14 dias, os filmes
de PPCh, PPChO e PPChC apresentaram inibição estatisticamente significativa
(p<0,05) contra os patógenos. Os filmes de PPChO apresentaram o maior efeito
antimicrobiano, seguido por PPChC e PPCh.
Gómez-Estaca e colaboradores (2009), desenvolveram embalagens bioativas
de gelatina de peixe com quitosana, incorporadas a óleo essencial de cravo para
efeitos antimicrobianos no revestimento de alimentos. As soluções filmogênicas foram
preparadas com gelatina de pele de bagre isolada (8% (m/v)) e gelatina-quitosana
(6% e 2 % (m/v)). O óleo essencial de cravo foi incorporado na concentração de 0,75g
mL-1. Os pesquisadores obtiveram quatro filmes diferentes: filme de gelatina; gelatina-
quitosana; gelatina com óleo essencial de cravo; e gelatina-quitosana com óleo
essencial de cravo. A atividade antimicrobiana foi testada contra L. acidophilus CETC
903, P. fluorescens CECT 378, L. innocua CECT 910 e E. coli CECT 515 em difusão
de discos em placas de petri; e bactérias deteriorantes em fatias de salmão. Os
pesquisadores observaram, no teste de difusão em placas de petri, que os filmes de
18
gelatina e gelatina-quitosana apresentaram nenhuma atividade antimicrobiana contra
L. acidophilus, P. fluorescens, L. innocua e E. coli. Por outro lado, a presença do óleo
essencial de cravo teve um efeito inibitório contra L. acidophilus, P. fluorescens, L.
innocua e E. coli. Houve diferenças quanto a matriz em que o óleo essencial de cravo
foi incorporado, sendo que a melhor atividade foi observada em filmes de gelatina com
óleo essencial de cravo. As fatias de salmão foram revestidas com gelatina-quitosana
com óleo essencial de cravo e avaliadas no dia 3, 9 e 11, observando a inibição do
crescimento de bactérias deteriorantes.
Shukla et al., (2020), investigaram a qualidade e vida útil de hamburgueres de
frango a partir do revestimento de filmes de quitosana com óleo essencial de cravo. O
revestimento comestível foi preparado com concentrações de 1,5% de quitosana e
0,5% de óleo essencial de cravo, para a avaliação da atividade antimicrobiana e
antioxidante. Os microrganismos utilizados para a análise da ação antimicrobiana
foram S. aureus e Coliformes para contagem em placas; e bactérias deteriorantes nas
amostras de hamburguer de frango. Com a análise dos resultados, os autores
observaram resultados significativos (p<0,05) maiores no filme de quitosana com óleo
essencial de cravo, nas análises para avaliar sua atividade antioxidante, sendo
atribuída ao óleo essencial de cravo. A atividade antimicrobiana mais evidente
(p<0,05) foi observado no filme de quitosana com óleo essencial de cravo, que
apresentou o aumento no limite microbiano no 35º dia, seguindo pelo filme de
quitosana que suportou o limite microbiano até o 15º dia.

19
3. OBJETIVO
Desenvolver filmes a base de quitosana com óleo essencial de cravo e avaliar
suas características físico-química, mecânica, antibacteriana.

3.1 Objetivos específicos


1. Desenvolver filmes à base de quitosana com óleo essencial de cravo;
2. Determinar a espessura dos filmes à base de quitosana e óleo essencial de
cravo.
3. Realizar ensaios mecânicos dos filmes à base de quitosana e óleo essencial
de cravo.
4. Avaliar a atividade antibacteriana das soluções de quitosana e ou óleo
essencial de cravo.

20
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Elaboração de filmes à base de quitosana com óleo essencial de cravo
Para a elaboração dos filmes à base de quitosana com óleo essencial de cravo,
foi utilizado quitosana Galena e Óleo Essencial de Cravo folha (Eugenia caryphollata)
da Ferquima.
No preparo dos filmes foi utilizado 2 gramas de quitosana dissolvida em 100
mL de solução de ácido acético a 1% (v/v), preparada previamente. A suspensão foi
levada para agitação magnética, por 3 horas, para a dissolução visível dos grumos de
quitosana. Após esse período, foi adicionado 30% (m/m) de glicerol, como agente
plastificante, deixando em agitação por 18 horas.
A solução filmogênica (SF) após esse período, foi adicionado o óleo essencial
de cravo, na proporção de 1%, 2,5%, 5% e 10% (v/v). Foi mantido em agitação a SF
por 30 minutos e depois mantida em descanso para retirar qualquer bolha que possa
ter sido formada. Foi mantida SF sem adição de óleo essencial e glicerol para realizar
a comparação. Foi vertido 15 gramas ou 30 gramas de SF em placas de plástico, com
5 cm de diâmetro e 9 cm de diâmetro, respectivamente, previamente higienizadas com
álcool 70%, sendo levadas a secagem em estufa a vácuo com temperatura de 35°C
por 24 horas. Após esse período, os filmes foram retirados das placas e armazenados
em sacos plásticos lacrados, e armazenados à temperatura de 4°C a para análises
posteriores.
Também, foi realizada o preparo de SF com 3 gramas de quitosana e 10% de
óleo de cravo para comparação.

4.2 Caracterização da quitosana e dos filmes à base de quitosana e óleo


essencial de cravo
4.2.1 Espessura
A espessura dos filmes foi determinada, com auxílio do micrometro manual
externo, Digimess, em temperatura ambiente (25°C), com precisão de 0,001 mm. Foi
analisado dez pontos distintos nos filmes, sendo um central e os outros nove
aleatórios.

4.2.2 Testes mecânicos


21
Os filmes, para o teste mecânico, foram recortados em tamanhos iguais de 2
cm de largura por 5 cm de comprimento, e levadas a Prensa Hidráulica, Instron modelo
5982 e em temperatura ambiente (25°C). Foi realizado a tração e compressão dos
filmes, sendo colocados entre duas garras de borracha deixando 5 cm de filme
exposto. Foram submetidos usado em uma célula de carga com 5 Kgf até ruptura da
amostra.
Com os resultados obtidos, deformação e tensão, pode-se calcular o Módulo
de Young a través da Equação 1:
𝜎
𝐸= (1)
𝜀

E = Módulo de Young (N/mm2)

σ = Tensão na ruptura (N/mm2)

ε = Deformação elástica do longitudinal do corpo em prova (%)

4.3 Avaliação da atividade antibacteriana.


Foram avaliados 7 micro-organismos da coleção do Laboratório de Bioensaios
do Centro de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Estadual de Goiás. As
alíquotas congeladas dos micro-organismos foram retiradas do freezer e
descongeladas a temperatura ambiente. Após o descongelamento, as bactérias
(Quadro 1) foram repicadas em ágar CPS e incubadas a 35°C por 24 horas.
Quadro 1. Cepas padrão bacterianas empregadas neste estudo.

Gram-positivas Gram-negativa
Staphylococcus aureus(SA) ATCC 29213 Escherichia coli(EC) ATCC 25922
Staphylococcus epidermidis(SE) ATCC Pseudomonas aeruginosa(PA) ATCC
12228 27853
Enterococcus faecalis(EF) ATCC 51299 Burkholderia cepacia(BC)ATCC 17759
Staphylococcus aureus(SA) ATCC 6538

Os discos de papel foram impregnados com 20uL dos compostos e incubados


a temperatura ambiente durante 24hs.Os compostos que foram adicionados nos
discos de papel são: solução de quitosana; solução de quitosana + 5% óleo essencial

22
de cravo; solução de 5% óleo essencial de cravo; solução de quitosana + 10% óleo
essencial de cravo, solução de 10% de óleo essencial de cravo; solução de ácido
acético e glicerol.
As colônias bacterianas crescidas em ágar CPS a 35,5°C durante 24hs foram
dissolvidas em solução fisiológica estéril (SFE) 0,9% e a turvação dos inóculos foram
ajustadas com a escala 0,5 de McFarland. Em seguida, placas de ágar Mueller Hinton
foram inoculadas com swabs embebidos nas suspensões microbianas. Os discos
impregnados com os compostos foram aplicados na superfície do ágar e as placas
foram incubadas a temperatura de 35,5 ºC por 18-20 horas para as bactérias. Na
Figura 3 está esquematizado como foi realizado os ensaios de difusão de discos.

Figura 3. Esquema de realização de ensaios de difusão de discos.

Fonte: NAVES, Plínio

Após a incubação das placas, os halos de inibição ao redor dos discos foram
medidos em milímetros (mm) com o auxílio de um paquímetro e os resultados foram
registrados e a média e desvio padrão, calculados. Todos os testes foram realizados
em triplicata, acompanhados de controle de viabilidade dos micro-organismos na
ausência dos compostos, controle de esterilidade.

23
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Caracterização qualitativa dos filmes de quitosana e quitosana com oleo
de cravo
Na Quadro 2 é apresentado a análise qualitativa dos filmes a base de quitosana
e óleo essencial de cravo e na Figura 2 são mostrados esses filmes.

Quadro 2. Descrição dos filmes e os aspectos físicos qualitativos observados.


Filmes Aspectos Físicos
Descrição do
Sigla Cor Oleosidade Uniformidade Flexibilidade
Filmes
2g de quitosana
sem glicerol e
Amarelo
2Q(15) sem óleo Ausente Homogêneo Baixa
claro
essencial / SF
de 15 gramas
2g de quitosana
com glicerol e
Amarelo
2QG(15) sem óleo Ausente Homogêneo Alta
claro
essencial / SF
de 15 gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo
2QG1(15) de cravo 1% / Amarelo Ausente Homogêneo Alta
SF de 15
gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo de
2QG2,5(15) Amarelo+ Ausente Homogêneo Alta
cravo 2,5% / SF
de 15 gramas
2g de quitosana,
2QG5(15) Amarelo++ Presente Homogêneo Média
glicerol e óleo de

24
cravo 5% / SF
de 15 gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo de
2QG10(15) Marrom Presente+++ Homogêneo Baixa
cravo 10% / SF
de 15 gramas
3g de quitosana,
glicerol e óleo de
3QG10(15) Amarelo+++ Ausente Homogêneo Média
cravo 10% / SF
de 15 gramas
2g de quitosana
com glicerol e
Amarelo
2QG(30) sem óleo Ausente Homogêneo Alta
claro
essencial / SF
de 30 gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo
2QG1(30) Amarelo Ausente Homogêneo Alta
de cravo 1%/SF
de 30 gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo de
2QG2,5(30) Amarelo+ Ausente Homogêneo Alta
cravo 2,5%/SF
de 30 gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo de
2QG5(30) Amarelo++ Presente Homogêneo Média
cravo 5% /SF de
30 gramas
2g de quitosana,
glicerol e óleo de
2QG10(30) Amarelo+++ Presente+++ Homogêneo Baixa
cravo 10% / SF
de 30 gramas
+ indicativo de intensidade.

25
Conforme apresentado no Quadro 2, os filmes de quitosana (2Q(15)) e os
filmes de quitosana com glicerol (2QG(15) e 2QG(30)), independentemente da
quantidade de SF utilizada, apresentaram cor amarelo claro, que pode ser
evidenciada na Figura 4 (a), (b) e (h). Os filmes 2QG1(15) e 2QG1(30), apresentaram
coloração amarela, devido a adição de óleo de cravo em sua composição.
Constatou-se que a intensidade da coloração nos filmes aumentou à medida
que a concentração de óleo de cravo aumentou (Figura 4). O mesmo foi observado
por Santos et al., (2019), que realizou a preparação de filmes de quitosana com óleos
essenciais e observou que a intensidade da cor é proporcional a concentração, bem
como a completa incorporação do óleo essencial do filme depende das concentrações
usadas.
Os filmes produzidos com 2 gramas de quitosana e que não apresentam óleo
essencial em sua composição não tem aspecto oleoso, como era esperado, assim
como os filmes com a presença de 1 e 2,5% de óleo. Por outro lado, os filmes com 5
e 10% apresentaram um aspecto bem oleoso o que sugere que há um limite de
concentração de óleo essencial que pode ser incorporado ao filme sem que ele fique
com aspecto oleoso. Contudo, é importante ressaltar que o filme obtido com 3 gramas
de quitosana e 10% de óleo essencial também não apresentou aspecto oleoso,
sugerindo que a massa de quitosana também pode ser um fato que influencia nesta
característica.

Figura 4. Filmes a base de quitosana e óleo essencial de cravo com 15 g e 30 g: (a)


(2Q(15)); (b) (2QG(15)); (c) (2QG1(15)); (d) (2QG2,5(15)); (e) (2QG5(15)); (f)
(2QG10(15)); (g) (3QG10(15)); (h) (2QG(30));(i) (2QG1(30)); (j) (2QG2,5(30)); (k)
(2QG5(30)); (l) (2QG10(30)).

26
(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

(g) (h)

(i) (j)

27
(k) (l)
Dessa forma, como apresentado na Figura 4, os filmes tem uma aparência
uniforme e sem a presença de grumos.
Os filmes de quitosana sem glicerol (Figura 4(a)) apresentaram-se ressecados
e sem flexibilidade, já os filmes de quitosana com glicerol (Figura 4(b) e (h))
apresentaram mais flexíveis. A presença de óleo essencial também influencia a
flexibilidade, sendo que nos filmes com 1% e 2,5% de óleo essencial (Figura 4 (c), (d),
(i) e (j)) apresentam-se mais flexível que os filmes com 5% e 10% de óleo essencial
(Figura 4 (e), (f), (k) e (l)).
A massa de quitosana inicial (2g ou 3g) ou a massa filmogênica (15g ou 30g)
aparentemente não influenciaram na flexibilidade dos filmes (Figura 4 e Quadro 2),
portanto, a mesma é influenciada pela concentração de óleo essencial de cravo
utilizada e a presença do glicerol.

5.2 Caracterização da quitosana e dos filmes à base de quitosana e óleo


essencial de cravo
5.2.1 Testes Físicos e Mecânicos
Na Tabela 1, é possível observar os resultados da espessura, tensão,
deformação e módulo de Young obtidos dos filmes à base de quitosana e oleo
essencial de cravo em diversas condições reacionais.

Com base nos resultados observados na Tabela 1, sobre ao desvio referente a


média da espessura dos filmes, observa-se que a solução filmogênica ficou distribuída
de forma homogênea na forma, no momento da secagem, gerando filmes com
espessuras uniformes. Além disso, com base na espessura do filme de quitosana
(2Q(15)) e quitosana com glicerol (2QG(15) e 2QG(30)), observa-se valores muito
próximos, sugerindo que a presença do glicerol não interfere na espessura. Em
relação a espessura dos filmes produzidos com quitosana, glicerol e óleo de cravo
não se podem afirmar que o óleo essencial e/ou a massa da SF e/ou a massa de
28
quitosana influencia a espessura. Porém, observa-se que há uma ligeira tendência de
aumentar a espessura com o aumento da concentração do óleo essencial.

O módulo de Young, também conhecido como módulo da elasticidade, é uma


grandeza que determina à rigidez ou resistência de um material submetido a tensão
externa de tração ou compressão. Seu cálculo é realizado a partir da razão entre a
tensão exercida e a deformação sofrida pelo material. Portanto, quanto maior o
módulo de elasticidade, mais rígido será o material e menor será sua deformação
elástica. A deformação elástica está ligada diretamente a quebra das ligações
atômicas (CASSOLINO; PEREIRA, 2010).

Tabela 1: Espessura, tensão, deformação e Módulo Young dos filmes a base de


quitosana e óleo essencial de cravo.

Espessura Média Tensão Módulo Young


Filmes Deformação (%)
(mm) (N/mm2) (N/mm2)*
2Q(15) 0,100 ± 0,035 19,33 3,89 497,29
2QG(15) 0,086 ± 0,009 16,83 23,89 70,47
2QG1(15) 0,143 ± 0,007 6,61 49,44 13,37
2QG2,5(15) 0,095 ± 0,015 10,31 51,94 19,84
2QG5(15) 0,199 ± 0,024 1,16 3,89 29,70
2QG10(15) 0,329 ± 0,021 1,11 4,72 23,57
3QG10(15) 0,253 ± 0,016 5,45 20,00 27,27
2QG(30) 0,092 ±0,039 13,33 24,45 54,52
2QG1(30) 0,118 ±0,014 7,94 43,06 18,44
2QG2,5(30) 0,189 ±0,025 4,46 30,00 14,87
2QG5(30) 0,226 ±0,024 9,57 40,83 23,45
2QG10(30) 0,225 ±0,015 8,56 68,05 12,57
𝜎
*𝐸= , sendo E = Módulo de Young, σ = Tensão na ruptura; ε = Deformação elástica do longitudinal
𝜀
do corpo em prova.
Analisando os resultados referentes ao teste mecânico, é possível
compreender que a resistência a deformação elástica do filme produzido somente com
quitosana 2Q(15) é alta, quando comparada aos filmes que possuem quitosana e
glicerol em sua composição independente da massa da SF utilizada (2QG(15) e
2QG(30)). Neste sentido, tem-se que a adição do glicerol, que é um plastificante,
29
tornou os filmes de quitosana menos resistente a deformação, mais maleáveis e com
um maior alongamento elástico.
O módulo de Young dos filmes de 2QG1(15) e 2QG1(30), sugere que a
resistência dos filmes, independente da massa da SF utilizadas, produziram filmes
menos resistentes a deformação elástica e tiveram um alongamento maior. Por outro
lado, a massa da SF nos filmes com 2,5% de óleo essencial teve uma leve influência
na deformação elástica de forma que a maior quantidade de SF levaram a filmes com
uma maior deformação e alongamento. Comportamento semelhante foi observado
para as outras concentrações de óleo essencial, o aumento da massa da SF gera uma
diminuição no módulo Young, aumentando a deformação elástica do filmes, ou seja,
sua capacidade de se alongar. Sugerindo que a quantidade de SF interfere na
deformação e elasticidade dos filmes.
O aumento da concentração do óleo essencial nos filmes, considerando a
mesma massa de SF e mesma massa inicial de quitosana, observa-se que tende a
diminuir a resistência a deformação elástica, tornando-os mais flexíveis.
Com isso, a incorporação do óleo essencial de cravo nos filmes, tende a reduzir
a resistência a tração levando a um alongamento na ruptura, pois há a diminuição do
estresse máximo de acordo com a concentração utilizada, atuando como plastificante
diminuindo a resistência entre as cadeias poliméricas (SANTOS et al., 2019)
(HOSSEINI, RAZAVI, MOUSAVI, 2008).
Por outro lado, o aumento da massa de quitosana no filme (3QG10(15)) fez
com que a espessura diminuísse e a capacidade de alongamento desse fosse próxima
ao filme 2QG10(15), sugerindo que a massa de quitosana não tem influência
significativa na espessura e alongamento dos filmes.

Ademais, é importante salientar que a resistência à deformação elástica do


filme 2QG10(15) diminuiu em relação aos outros filmes de quitosana com óleo
essencial e 15 g de SF, devido após a secagem ter encolhido significativamente de
tamanho como pode ser observado na Figura 2(f), o que pode ter influenciado tanto
na espessura como na rigidez.

30
5.3 Avaliação da atividade antibacteriana.
Na tabela abaixo (Tabela 2), está representado os valores obtidos por meio do
teste microbiológico com aplicação da técnica de difusão de discos nas cepas de
Staphylococcus aureus ATCC 29213 e 6538, Staphylococcus epidermidis ATCC
12228, Enterococcus faecalis ATCC 51299, Escherichia coli ATCC 25922,
Pseudomonas Aeruginosa ATCC 27853 e Burkholderia cepacia ATCC 17759. Vale
ressaltar que o valor de diâmetro do disco, foi descontado.

Tabela 2. Valores obtidos nos halos médios referentes as soluções utilizadas no


ensaio microbiológico.

AA+GLI* Q* OEC5* QOEC5*( OEC10* QOEC10*


Bactérias
(mm) (mm) (mm) mm) (mm) (mm)
SA-6538 0 0 0 0 8,7±6,151 0
SA-29213 0 0 0 0 0 0
SE-12228 0 0 0 0 0 0
EF-51299 0 0 0 0 0 0
EC-25922 0 0 0 0 0 0
PA-27853 0 0 0 0 0 0
BC-17759 0 0 0 0 0 0
*AA+GLIC = ácido acético + glicerol; Q = quitosana; OEC5= óleo essencial de cravo 5%; OEC10= óleo essencial de cravo 10%;
QOEC5 = quitosana +óleo essencial de cravo 5%; QOEC10= quitosana +óleo essencial de cravo10%.

Com base nos resultados, tem-se que as soluções utilizadas não apresentaram
inibição das cepas analisadas, apenas a solução de 10% de óleo essencial de cravo
apresentou inibição para a cepa de Staphylococcus aureus ATCC 6538.
Na Figura 5, está representado as imagens que confirmam os resultados
obtidos no teste de inibição por difusão de discos para as soluções de ácido acético +
glicerol, quitosana, óleo essencial de cravo 10% e quitosana + óleo essencial de cravo
10%. Não houve registro fotográfico dos resultados com as soluções de óleo essencial
de cravo 5% e quitosana + óleo essencial de cravo 5%.

Figura 5. Resultados do teste microbiológicos e leitura dos halos de inibição*.

SA-6538 SA-29213 SE-12228 EF-51299 EC-25922 PA-27853 BC-17759

31
*Disco 1:ácido acético + glicerol; Disco 2:quitosana; Disco 5: óleo essencial de cravo 10%; Disco 10: quitosana +óleo essencial

de cravo10%.

Conforme a Figura 5, apenas o disco 5 com óleo essencial de cravo 10%


apresentou inibição em uma das cepas.

32
6. CONCLUSÃO
Portanto, ao decorrer do trabalho, os filmes de quitosana tiveram suas
características influenciadas pela adição do óleo essencial de cravo e o glicerol. A
presença do aumento das concentrações de óleo de cravo gerou um escurecimento
nos filmes, sendo proporcional a concentração utilizada. Sugere-se que com o
aumento da concentração do óleo nos filmes, a espessura tende aumentar bem como
a capacidade do filme de se alongar tende a diminuir.
O glicerol agiu como agente plastificante sendo necessário para aumentar a
resistência dos filmes em se deformar, mas não interferiu na cor e espessura.
No estudo microbiológico, apenas a solução de quitosana com 10% de óleo
essencial de cavo apresentou halo discreto de inibição, contra a cepa de S. aureus
ATCC 6538.

33
7. REFERENCIAS

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