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2,5 o s E L E M E N T O S MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO

URBANO ^

A identificação de elementos morfológicos pressupõe confiecer quais as partes


da forma e o modo como se estruturam nos diferentes escolas identificadas.
Sendo o leitura e composição urbanos essencialmente arquitectónicas, podemos
aplicar ao espaço urbano os mesmo métodos interpretativos da arquitectura.
Num edifício, os elementos morfológicos são também elementos construtivos e
espaciais. Nas épocas clássicas, do Renascimento ao Barroco, podem-se identificar
os colunas, o frontão, o entoblomento, o cornija, o soco e tantos outros. No orqui-
tectura «moderna», tais elementos não existem, mas existem outros: o pilar, o vigo,
o pala de betão e por aí foro. São elementos diferentes e, por serem diferentes e pe-
lo modo como se organizam, diferenciam o arquitectura dessas épocas.
Janelas e escadas e outros elementos sempre existiram e sempre desempenha-
ram idênticas funções: iluminação interior ou união entre níveis diferentes. Tiveram
dimensões e formas diferentes, posicionamentos diversos, intenções estéticas distin-
tas: umas vezes trotados como simples elementos funcionais e discretamente inseri-
dos no edifício, outras tratados como elementos estéticos, marcantes, exacerbados,
como o janela do Convento de Cristo, em Tomar. Estes elementos são, à partido e
em si mesmos, exigências funcionais e construtivas. O modo como se posicionam e
se estruturam nos edifícios tem a ver com essas exigências, mas depende dos inten-
ções de comunicação estética ou daquilo a que se convencionou chamar a «lingua-
gem arquitectónica». É evidente que, ao dizer isto, aceito os contributos da semiolo-
gia arquitectónica, no medida em que o codificação dos elementos arquitectónicos
e o analogia com a linguagem é um contributo teórico interessante (52).
Os elementos mais genéricos, como as paredes, as coberturas, os janelas, os
vãos, os portas, as escadas, os rompas e tantos outros, são relativamente constan-
tes no arquitectura {como, no sentido mais geral, são relativamente constantes as
palavras na linguagem ao longo dos tempos). As suas características e ospecío e>í-
terior, o modo como se inter-relacionom num edifício é que variam de época para
época ou de autor para autor e têm a ver com uma linguagem, com a estética e a
comunicação e com a organização do próprio espaço.
Em todo o arquitectura ocidental, podem-se identificar tais elementos: são aque-
las partes mínimas reconhecíveis nos edifícios com uma função construtiva ou pro-
gramática, uma finalidade estética e significante.

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Recorrendo a analogias estruturalistas da semiologia e com alguma prudência, po-
deria comparar a linguagem arquitectónica e os elementos morfológicos dos edifícips
com a linguagem literária ("), no qual existem o texto e os palavras. Estas articulam-se e
posicionam-se para formar frases e ideias. Paro transmitir uma ideia num texto, existem
vários possibilidades linguísticas, literárias, de estilo e de forma, tal como o mesmo edi-
fício ou programa pode ser organizado e construído com formas e «linguagens» arqui-
tectónicas diversas.
Pode-se também verificar que, sendo os elementos morfológicos relativamente
constantes na arquitectura, é através do modo como se estruturam e se organizam que
provém o comunicação estética do objecto arquitectónico.
Esta constatação é também extensiva ao espaço urbano. No cidade, o sentido figu-
rativo, como obro de arte colectiva, provém dos objectos — edifícios (ou construções)
— e do sua articulação com o espaço por eles definido.
O que disse sobre os edifícios é extrapolável poro o espaço urbano. Todavia, desde
logo, existe a necessidade de estabelecer uma «escala de leitura», ou seja, estabelecer
quais os elementos mínimos na forma urbano!
«Sub-repticiomente» já o havia feito, quando, oo folar de portas, não mencionei as
dobradiças, as fechaduras e batentes, ou, ao folar de escadas, não referi o degrau, o
cobertor, o espelho, ou, oo falar do espaço urbano, não falei dos postes de iluminação
ou dos fios eléctricos, que também são importantes, mas certamente já em outro nível
de leitura.

O SOLO - O PAVIMENTO ^ ;

É o partir do território existente e do suo topografia que se desenha ou constrói o ci-


dade, e começaria no «chão que se piso» a identificar os elementos morfológicos do es-
paço urbano. É a topografia e modelação do terreno, mas são também os revestimen-
tos e pavimentos, os degraus e passeios empedrados, os lancis, as faixas asfaltadas, os
carris dos eléctricos e tantos outros aspectos.
O solo-pavimento é um elemento de grande importância no espaço urbano, mas
elemento também de grande fragilidade e sujeito a contínuas mudanças. Bosta relem-
brar os evoluções dos pavimentos, ao longo dos tempos. Mas, em contrapartida, re-
lembraria a enorme diferença de aspecto e comodidade que o correcto tratamento do
solo e o pavimentação conferem ò cidade.
Registo os conflitos dos interesses que disputam o solo público — o trafego rodoviá-
rio e o uso pedonal, pelo menos, e a evolução negativa deste conflito em cidades como
Lisboa, em que de ano para o ano o solo disponível poro o peão vai inexoravelmente
diminuindo. • •. • - • .•• •

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US-
2-20. O edifício como elemento do formo urbano. O conjunto «Amoreiros» — A r q . ° Tomás Ta-
veira

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o s EDIFÍCIOS - O ELEMENTO MÍNIMO

Para definir qual o mínimo elemento morfológico identificável na cidade, há que es-
tabelecer uma hierarquia de valores e fazer uma selecção entre as colecções de objec-
tos que povoam o espaço urbano.
Em primeiro lugar, hó que mencionar os objectos «parasitários», (5^) tão profusa-
mente ilustrados nas cidades capitalistas: néons, anúncios, escaparates, montras, etc,
sucedem-se em profusão, com variações que alteram o imagem do cidade. A outro es-
calão, o mobiliário urbano: o banco, a bico, o quiosque e ainda o arvore, o canteiro ou
os plantas caracterizam o imagem do espaço urbano.
Estos colecções de objectos são, «elementos móveis», afectando diferentemente a
formo do cidade. Distinguiria, no entanto, a árvore, pela suo importância e papel qua-
se idênticos aos dos edifícios. A esta questão voltarei mais tarde.
É através dos edifícios que se constitui o espaço urbano e se organizam os diferentes
espaços identificáveis e com «formo próprio»: o rua, o praça, o beco, o avenida ou ou-
tros espaços mais complexos e historicamente determinados como as invenções dos ur-
banistas ingleses do século XVIll: crescents, squares, circus, e t c , ou, de outro modo, se
identificam os espaços urbanos modernos.
A Rue de Rivoli ou a Praça do Comércio seriam bem diferentes se os seus edifícios
não tivessem as arcados e expressão arquitectónica que as caracterizam.
Os «telhados de tesouro», em Tavira, sendo apenas partes dos edifícios, contam de
modo determinante no formo da cidade.
As varandas de «pato bravo» (com balanços,de cerca de 1,50 metros) constituem
particularidades agressivas em cidades antigos. Romperam o lógica do espaço urbano,
constituída por edifícios de fachado plano ou com ligeiras saliências, destruindo os en-
fiamentos visuais de ruas e perspectivas. Todos estes elementos são determinantes no
formo do espaço urbano, embora ao trotar de certas questões os tenha de secundari-
zar. É uma necessidade interpretativa, como quando se semicerram os olhos paro me-
lhor captor os traços essenciais do objecto.
Não serio possível continuar o abordar esta questão sem referir os estudos de
Aymonino, Rossi e outros, da Faculdade de Arquitectura de Veneza, sobre as relações
entre o «morfologia urbano e o tipologia edificado» l^s). Nesses trabalhos, os elemenios
primários da formo urbano são identificados com os tipos construtivos. Os edifícios
agrupom-se em diferentes tipos, decorrentes do sua função e formo, estabelecendo re-
lações biunívocas e dialécticas com as formas urbanos.
A questão dos tipos edificados, tem sido abordado por vários autores: desde Pallo-
dio, em que os tipos se identificam com as v;7/os residenciais, às propostas classificativas
de Quotremère de Quincy ou de Durand. Poro este último, «o tipo é um esquema que

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r c H a p a r d a * r«lr««alaoimnl*.

4 ^
IBUHllii

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K0ÊD2C

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2 - 2 1 . Variações arquitectónicas da utilização do tipo edificado. J . N. L. D U R A N D , f n í e m -
bís d'éclifices resultant de diverses combinaisons horizontales et verticales, d'aprés le corre
divise en deux, en trois, en quatre, et porches ouverts par des entrecolonnements. Segundo
o Précis des Leçons d'Architecture Donnés à /'fco/e Polytechnique. Editado em 1813

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respeita as necessidades funcionais e permite elaborar um projecto», l^í) distinguindo-se
do «modelo», que será o representação de uma outro realidade.
Dos relações tipologio-morfologio, ressalto que o espaço urbano depende dos tipos
edificados e do modo como estes se agrupam.
A tipologia edificado determina a formo urbano, e o forma urbano é condicionodo-
ro da tipologia edificada, numa relação dialéctica. A evolução do arquitectura e do ur-
banismo no período entre as duos guerras (1918-1939) revela inúmeros exemplos de
procuras tipológicas no habitat residencial: no quarteirão nos bairros fiolondeses, nas
Siediungen sociois-democróticas alemãs, ou nos Hoff austríacas, e até exemplos mais
extremos, como a Unifé d'Habitafion, de Le Corbusier, é o tipo edificado que vai origi-
nar e detrminor as formas urbanas.
Esta interdependência é um dos campos mais sólidos em que se colocam as relações
entre o cidade e o arquitectura. Pode ser observada ao longo do História, onde o: for-
ma urbana é resultado, produto, e simultaneamente geradora da tipologia edificada,
numa relação eminentemente dialéctica entre cidade e arquitectura, entre formo urba-
no e edifícios.

O LOTE - A P A R C E L A FUNDIÁRIA

O edifício não pode ser desligado do lote ou superfície de solo que ocupa. O lote
não é apenas uma porção cadastral: é também o génese e fundamento do edificado.
Não é sem razão que, no gíria do construtor, as expressões «lote» e «loteamento» subs-
tituem as expressões «edifício» e «urbanização». O lote é um princípio essencial da rela-
ção dos edifícios com o terreno. A urbanização implica parcelamento, quer subdividin-
do os parcelamentos rurais quer impondo novo divisão cadastral.
Desde as mais antigas cidades até oo período moderno, o edificação urbana foi in-
terdependente da divisão cadastral. Construir uma cidade foi também separar o domí-
nio público do domínio privado.
A formo do lote é condicionante do formo do edifício e, consequentemente, do for-
ma do cidade. Até aos anos vinte-trinta, o lote foi o lugar do edifício e um meio e instru-
mento de planificação e separação entre o espaço público e o privado. A colectiviza-
çõo do espaço urbano veio conferir oo lote o estrito papel de assento das edificações,
retirondo-lhe uma das suas principais característicos. No unidade de habitação dc
Le Corbusier, o lote deixa, por assim dizer, de existir, uma vez que o edifício nõo ocupa
o solo definido pela sua projecção vertical. Assenta em pilares que soem de um terreno
público, como público é todo o espaço circundante.


2-22. Loteamentos clandestinos no concelho de A l m a d a . Planto C a d a s t r a l , I. G . C , 1977,
e Levantamento Urbonísfico do Plano do Trafaria — Vila N o y a — Costa do C o p a r i c a , de
C a r l o s Duarte-José Lamas

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Esta é, de resto, uma importante ruptura provocada pelo cidade moderna, num
quadro de relações diferentes dos elementos morfológicos com o espaço urbano.
Os estudos do Laboratório de Urbanismo de Barcelona sistematizam três etapas no
crescimento urbano: o Parcelamento (crescimento), a Urbanização (infro-estruturoçâo)
e o Edificação (construção de edifícios), e, verificam que nem sempre os três existem ou
se encadeiam igualmente. Mos, no expansão urbano da cidade tradicional o parcela-
mento precede o urbanização, enquanto no conjunto moderno o ênfase é dado na ur-
banização e edificação, já que o loteamento não existe, embora se posso sempre iden-
tificar como lote o terreno debaixo do edifício (57).

' Í
O QUARTEIRÃO '' j

A definição do quarteirão tanto pode boseor-se no sua formo construída como no


processo de traçado e divisão fundiária.
O quarteirão é um contínuo de edifícios agrupados entre si em anel, ou sistema fe-
chado e separado dos demais; é o espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais
vias e subdivisível em parcelas de cadastro (lotes) paro construção de edifícios. É tam-
bém um modelo de distribuição de terra por proprietários fundiários. Como é também
o modo de agrupar edifícios no espaço delimitado pelo cruzamento de traçados.
O sistema do quarteirão é muito antigo. É um processo geométrico elementar, e co-
mo tal começou a suo existência. A partir desse processo elementar, foi adquirindo es-
tatuto no produção do cidade, como unidodemorfológica. Agrupa subunidades, mas
pode também constituir a porte mínima identificável na estrutura urbana.
Em muitas situações, o quarteirão subdivide-se num conjunto de edifícios e é delimi-
tado por quatro vias. Os edifícios delimitados pelo lote constituem partes do quartei-
rão, partes essas por vezes diferenciadas em altura, em profundidade, em programa.
Noutros casos, como no Baixo Pombalino, o quarteirão confunde-se com um grande
edifício ou grande parcelo. No Plano do Mortim Moniz, (58) as unidodes-bose do forma
urbano são quarteirões identificados com lotes ou os próprios edifícios, fornecendo uni-
dades de edificação operativas no parcelamento do solo em «direito de superfície».
Todavia, se a marcação do lote se identifica com a delimitação do edifício, o marca-
ção do quarteirão pressupõe uma hierarquia superior, identificondo-se com a definição
do espaço urbano. O quarteirão não é autónomo dos restantes elementos do espaço
urbano — os traçados, ou as vias, os espaços públicos, os lotes e os edifícios. É simulta-
neamente o resultado de regras geométricas de divisão fundiário do solo e de ordena-
mento do espaço urbano, e um instrumento operativo de produção da cidade tradicio-
nal. Esto dualidade confere-lhe um lugar determinante no cidade tradicionol como

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2« PISO

2> P S O 1» PISO

1* PISO

CORTE 1» PISO

AbCAOO ALÇADO

n_j—I 1
2 t M
2s PISO
(• 1

CASA URBANA MEDIEVAL CASA URBANA PRE-RENASCENTISTA CASA URBANA CLÁSSICA


C o r r e s p o r ^ e a o oc-dvlo d« h a b i t a ç ã o Evolução t i p o l g i c a da a n t e r i o r , luntêa
urb«r.a a n t e r i o r a o aic. XV, t í p i c a como a l a • f a c h a d a e s t r e i t a , c o o p o r t a t O e o d a l o d s c a s a de 7 p i s o s , cha&ada l o c a i m n t a da
n a ár«a do c a a t v l o ( a n t a s d a s e chaainâ d e e s c u t a , »as a p r e s e n t a u a 'sobrado". O piso superior (corresponda ao "piano taobila")
doaollcÔQS), na K o u r a r i a (onda «xistsn segundo p i s o a que c o r r e s p o n d e J a n e l a 6 r e s e r v a d o a h a b i t a ç ã o , a n q u a n t o o 19 p i s o s e d a s t i n ^ t.
a i n d a v s r i a d o s c x e x p l o s } a na p r i t a a i r a na f a c h a d a . u s o s utilitários coeo a r a a s e n s , c o z i n h a . L o j a s , ^tc
átaa de a i p a n s ã o a x t r a s u r o s , a o l o n g o O prÍ£>«iro p i s o i a b o b a d a d o « a c e d e - s e A organização f u n c i o n a l doíine-so p o r u n a s e q u e n c i a â«
da Rua d a A r o u c h e . Kor=alia>ente ao a n d a r s u p e r i o r p o r e s c a d a , espaços r e c t a n g u l a r e s l i g a d o s e n t r e s i s e a h i e r a r q u i a
a p r e s e n t a um íacbad* e s t r o l r a ( < - 6 s ) , n o r s a l o a n t a de c o t o v e l o .
C 0 9 p o r t a a chajainé d« e s c u t a (às aparente.
A d i s t r i b u i ç ã o é s e o a l h a n t a a do c a s o
v e t e s pessto s e a c h a a i c é j . O e s p a ç o
a n t e r i o r e , ast c e r t o s c a s o s , p a r a O l o p i s o á abobadado nos espaços n a i o r e s d e f i n i d o s por
Interior í dividido ca dois p a r e d e s l o e s t r a i a o a c e s s o ao a n d a r s u p e r i o r f a x - s e taabeN
obter espaços a a i o r ^ s t e c o r r e - s a a
c o B p a r t i i a e n t o s no p i s o , q u e por e s c a d a c o o o no t i p o p r e c e d e n t e .
arcos e s t r u t u r a i s .
correipondea Í cotinha/aala a quarto,
l o n a s de e s t a r « d o r a i r . Quando s e Na f a c h a d a s ã o i n t r o d u z i d a s B o l d u r a s A coGposição da f a c h a d a r e s p a i t a o stodclo clássico a a
t o r n a n e c e s s á r i o s a i s de ua q u a r t o , de v ã o s d a d e s e n h o c l á s s i c o a a c o b e r t u r a é de d u a s águas p a r a l e l a s i r u a .
são f e i t a s d i v i s õ e s p o r t a b i q u a a n o c o b e r t u r a £ de duas águas.
A l e s d o a e l o s o n t o s já r e f e r e n c i a d o s , c a r a c t e r i z e » sir-.da a
existente, Xs vazes á ai^da B o r f o l o g t a t r a d i c i o n a l o u s o d a s o c o a c u n h a i s , ou
acrescentado ua aeio piso. Acobartura p i l a s t r a s , d e f i n i n d o a f r o n t e c o n s t r u í d a j a utilÍ3í;cão
é de lutA água (às v e t e s d u a s ) . < M a s e
j a n e l a » d e p a i t o n o 10 p i s o , a l i n h a d a s c o a aiiciidiíS 2<J
se=pfe e x i s t o u» pequeno l o g r a d o u r o
p i s o « a a n t e n d o u a r l t a o h o r i i o n t a l c o n a t i n t A , âsi q-^ia í;
nas t r a s e i r a s .
dioiensâo d o v ã o 6 s e n p r e i n f e r i o r a o píino d a p i r a d a q u « o
s e p a r a do s e g u i n t e .

2-23. Tipologlos consfruHvos, segundo o análise do Plano do Centro Histórico de Mouro ( o r q . "
C. Duarte e José Lomos)

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OCUPAÇSO DO LOTE, ORGANIIAÇÍO DA
FACHADA

A f o r m a d e ocupação d o l o t e
p r o c e d e , g e r a l m e n t e , d e a c o r d o com
o p r i n c i p i o de a p r o v e i t a r toda a
extensão d a f r e n t e d o X o t e , que
fl S S S I corresponde a fachada, e progredir
p a r a o I n t e r i o r d o l o t e ocupando
nnn 0 na e| uma mâlor o u n e n o r área c o n f o r m e
n e c e s s i d a d e s , s a l v a g u a r d a n d o sempre
a l g u m a área p a r a l o g r a d o u r o .
A organização d a f a c h a d a f i x a - s e
num D o d e l o característico d e
T a v i r a ; um o u d o i s p i s o s , às
v e z e s três, c o b e r t o s p o r t e l h a d o s
1^ A d e t e s o u r o o u de 4 a g u a s , em q u e o
19 p i s o , quando e x i s t e m o u t r o s , ê
1 yi»o u t i l i t á r i o (comércio, armaiêm,
e t c ) , e o s r e s t a n t e s de habitação.
A s s i m , o s vãos são d e p o r t a e j a n e l a ,
no 1 9 p i s o , e no s e g u n d o , d e s a c a d a
na g e n e r a l i d a d e d o s c a s o s .

/síA Ao l o n g o d o tempo a s s l n a l a m - s e d u a s
t e n d ê n c i a s : 1 . a conformação m a i s
r e g u l a r d o l o t e e d a área o c u p a d a ; c ,
2. a multiplicação d o número d e vãos
que s e t o r n a m m a i s e s t r e i t o s e
d i m i n u e m o espaço e n t r e s i . E , a o
1 »r*o* mesmo tempo d u a s permanências: 1 ^ a
fachada que conforma o espado da
r u a , e 2. o l o g r a d o u r o que e
d e f i n i d o no i n t e r i o r do l o t e , p e l a
área e d i f i c a d a .

X
1 nso 2 ffSOif ifiiniiiiii

ANO DE REABLITAÇÃO E SALV^iGOARDA DO CENTRO HISTÓRICO DE TAVIRA 1 f as c síntese , evolução tipológica do


analise ísglomerado e do gdificado

2-24. Análise do ocupação do lote e organização dos fachadas e volumetrias no centro histórico
de Tavira. Segundo o plano de Corlos Duorte-José Lamas

90
_3 c

.ÇÃO DA VOLUMÍTRIA

I - Pequeno volume, de 1 p i s o
a r t i c u l a d o co» o u t r o s , de
:ordo cora ou m a i s p i s o s . F r e n t e e s t i
toda a e g r a n d e profundlòade. Col
I , que r a s com t e l h a d o s de 2 ãgui
)rogredir ou d e t e s o u r o ( 2 ) E Terra<
:upando
informe j.s II - Vários v o l u m e s a r t i c u l a d o :
\do sempre
l . E 2 p i s o s , c o b e r t o s com
'O. t e l h a d o s de t e s o u r o e t e r :
fIxa-se (<, 5, 6)
de
ãs III - Cra-ndcs volu»es. de 2 pl£
telhados fcelháQOE de i i s u & s .Lúnic
em que o ou m u l t i p l o E ) , G uís terrí
itros, ê a n e x o ( 7 ,fi,S )
aém,
10. G r a n d e v o l u m e , M u l t o
l a b i tacão. p r o f u n d o , com t e l h a d e
;a e j a n e l a , 2 águas p e r p e n d i c u l a i
de s a c a d a fachada, c a r a c t e r t s t J
de armazéns e oficiní
lam-se duas H o t e - E e o d e s e n h o ãit
;ão m a i s
platibanda.
o c u p a d a ; e,
;ro d e vãos
:os e
E , ao
:iasi 1.a
saco d a

)te, pela

lógica do
PIANO DE REABLITWiiO E SALVAOJW^ DO CENTRO HISTÓRCO DE TAVIRA í f as Ê Q sinfese-,c7oliiç£a t t n & t o ^ i c
içado analise "' aikmeifaêo e d a efíRcfcic
IXàtmt, XMâ. L M M « - estuco» o c h . a M ( M « r S C M Q u n f l C T U U , LOa

2-25. Análise da volumetrio das construções e ocupação do lote. Segundo o Plano do Centro
Histórico de Tavira

91
ZM—

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IH''

2-27.- Recomendações sobre a organlzoçõo dos quarteirões e loteamentos. Segundo Ed. Joyont
— Traité d'Urbanhme, Paris, 1929. Parcelamento no renovaçõo dos quarteirões da zona do Bol-
so em Marselha, segundo o Plano Hebrard e Romasso (1906), mostrando os olinhamentos, volu-
mes e redistribuição fundíõrio.

93
elemento morfológico autónomo ou elemento físico, mínimo à escala do boirro (do
mesmo modo que ao escalão inferior se identificou o edifício).
Ao longo da sua evolução, o quarteirão foi sedimentando modos de utilização so-
cial que culminaram nas complexas estruturas da cidade europeia dos finais do sécu-
lo XIX, de que são exemplos o quarteirão de Haussmonn, em Paris, de Cerdo, em Bar-
celona, ou de Ressono Garcia, em Lisboa. Nessas estruturas, o quarteirão organiza
funções habitacionais, comerciais, de serviços e trabalho — artesanato-e pequenas
indústrias em função de práticos sociais de utilização do espaço público: a rua da fren-
te, a fachada principal, a entrada principal; espaço semicoledivo no logradouro inte-
rior, com o entrada de serviço nos traseiros; espaço privado no interior do prédio e dos
alojamentos.
O quarteirão agrega e organiza também os outros elementos da estrutura urbana:
o lote e o edifício, o traçado e o rua, e as relações que estabelecem com os espaços pú-
blicos, semipúblicos e privados.
O quarteirão foi (e é) um instrumento de trabalho urbanístico na produção da cida-
de tradicional, permitindo o localização e definição da arquitectura e relacionando-a
com estrutura urbano. Foi um elemento morfológico sempre presente nas cidades até
ao período moderno, constituindo elemento da estética urbana.
O Movimento Moderno imprimiu ao quarteirão um processo de transformações su-
cessivas que culminaram no seu abandono, num quadro mais vasto de profundas modi-
ficações na maneiro de pensar e organizar a cidade.
O quarteirão durou até oo pós-guerra, altura em que cedeu o lugar o outras formas
urbanas, para voltar ò cena da composição urbanística nos últimos dez anos.
Por isso, reservo poro mais tarde outras referências oo lugar e papel desempenha-
do pelo quarteirão no estrutura urbana.

A FACHADA, O PLANO MARGINAL 5 '

Na cidade tradicional, o relação do edifício com o espaço urbano vai processor-se


pela fachada. Entalado entre duas outras empenas, coda edifício dispõe apenas do fa-
chada para o comunicação com o espaço urbano.
A importância da fachada decorre da posição hierarquizado que o lote ocupo no
quarteirão. E o situação descrita é o situação corrente das tipologias habitacionais,
com excepções evidentes quando o edifício se situa no meio de um quarteirão ou do lo-
te mais vasto que ocupo.
São os fachadas que vão exprimir as característicos distributivas (programas, fun-
ções, organização), o tipo edificado, os características e linguagem orquitectónica (o

94
Q Q Q s s H B B B a a B B
npnnnannnnnn.
SEC. XVI E ANTERIORES SEC. XVII E 1° METADE DO SEC. XVllI

~CX5 OOÍ i C: 0<y » O OT^OCÇOOÍI

a a a l i

2° METADE DO SEC. XVIII 1° METADE DO SEC. XIX

m
2° METADE DO SEC. XIX

1. Gótico
2 . Manuelino
3 . Inicio R e n a s c i m e n t o
4.
Séculos XVI e XVII

1 •8
7. Barroco - séc. X\'lt!
8. Séc. XIX :

2-28. Análise do fonno dos voos e orgcníração dos fechados no centro histórico de Tovíro.
Plano do Centro Histórico de Tavira - C. Duorte - J. Lannos

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estilo, o expressão estética, o época), em sumo, um conjunto de elementos que irão
moldar o imagem do cidade. É através das fachadas dos edifícios (e dos seus volumes)
que se definem os espaços urbanos. A fachada é o invólucro visível da massa construí-
da, e é também o cenário que define o espaço urbano.
Eugénio dos Santos, no Baixo Pombalino (1756); Percier e Fontoine, no Rue de Ri-
voli (]8^ 9); Haussmonn, nos renovações de Paris (1856); e também Wood (pai e filho),
em Bath (1728 e 1774) acentuaram ainda mais o relação do formo urbano com os fa-
chadas dos edifícios, através de sistemas em que o fachada é desenhada previamente.
A fachada obedece aí a desenhos repetitivos. Por detrás dos fachadas, os edifícios
construíam-se com relativo independência, segundo programas diferentes.
Este sistema evidencia outra «função» da fachada, o transição entre o mundo colec-
tivo do espaço urbano e o mundo privado das edificações. A fachada assume em de-
terminadas épocas concentração do esforço estético, procurando o aparato, o repre-
sentatividade, o ostentação e o prestígio, moldando o imagem e o estética das cidades.
A partir do urbanismo moderno, o edifício, e consequentemente o suo fachada, dei-
xa de ocupar no espaço urbano a posição que detinha no cidade tradicional, passando
o ser um objecto isolado em redor do qual existe espaço livre. Desaparecem os empe-
nas, e os lodos passam o ser vistos e a pertencer à imagem do cidade. Consequente-
mente, o orientação dos edifícios deixo de ser determinada pelo orientação dos traça-
dos e deixa de existir a «fachado principal» poro o rua. Neste contexto, modifico-se for-
temente o posição e o importância do fachada no morfologia urbana.
Em paralelo, as regras de organização e desenho dos edifícios também se modifi-
cam. Até ao Movimento Moderno, o fachada admitia grous de autonomia em relação
ao interior do edifício, obedecendo a leis de simetria, repetição, equilíbrio, hierarquia e
enfatização de alguns elementos mais significantes (o porta principal, o andar nobre, o
eixo de simetria e o porte central, etc), evidentes nos arquitecturas eruditas e tontas ve-
zes nas arquitectura populares. Tais regras eram aplicados em função de uma imagem
exterior pretendida, a que por vezes se subordinava o interior dos edifícios.
A arquitectura moderna vai «moralizar» esto situação, pela obrigação de traduzir o
espaço interno e os funções do edifício no imagem exterior. A planto deve correspon-
der o fachada. A leitura dos textos de Bruno Zevi l^') evidencia o esforço moderno de
relacionamento entre o interior e o exterior dos edifícios.
Essa atitude teria no limite algumas perversões nos anos sessenta, em que os edifí-
cios se organizavam como se de «organigromos» com paredes se trotasse.
Por via dos regras modernas, a importância do fachada é eliminado pelo diferenic!
posição do-edifício na estrutura urbano e o volume e a mossa edificado vão absorver o
esforço de comunicação estética entre o edifício e o espaço urbano, substituindo o mé-
trica, ritmos e o estética dos fachadas.

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2-29. A Imporiâncio das fochodas no espaço urbono. 1. O j desenhos de Percier e Fontoine p a r a


o Rue de ffiVo/i (1800). 2 . O s desenhos de Eugénio dos Santos e Carlos Mordei poro a Baixa Pom-
balino. 3 . Fechadas dos palócios sobre o rio Gilõo em Tovira (sécs. XVI, XVII, XVIII e XIX)

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Como se pode concluir, o fachada tem uma importância e significado diferentes na
morfologia urbano da cidade tradicional e no cidade moderna.
Para finalizar, direi que, oo identificar o fachada como um elemento morfológico, o
entendo como um elemento determinante na formo e imagem do cidode, elemento oo
qual desde sempre se atribuiu um alto significado no projecto arquitectónico. O reen-
contro com a arte urbano terá de assumir de novo o cenário urbano — não desligando
o desenho dos fachadas dos problemas de urbanismo — e através desta questão esta-
belecer também um elo de continuidade e integração entre desenho urbano e projecto
arquitectónico.

O LOGRADOURO <

O logradouro constitui o espaço privado do lofe não ocupado por construção, QS


traseiros, o espaço privado, separado do espaço público pelos contínuos edificados.
O logradouro foi, também, no cidade tracficionol, um resíduo, ou resultado dos
acertos de loteamentos e de geometrias de ocupações dos lotes.
Teve vários utilizações oo longo dos épocas, desde a horta ou quintal até à oficina,
garagem ou anexo, ou utilização colectiva em situações mais recentes, em sistema de
condómino. É, em boa medida, na utilização do logradouro que se torno possível a
evolução dos molhos urbanos: densificação, reconstrução, ocupação. O logradouro
vai oferecendo solo às modificações e intensificações de usos acolhendo numerosas ac-
tividades que não encontram outro lugar no cidade.
É através do utilização e desenho do logradouro que se foz parcialmente o evolu-
ção das formas urbanas do «quarteirão» oté ao «bloco».
Todavia não creio que o logradouro constituísse um elemento morfológico autóno-
mo. É, fundomentalmente, um complemento residual, um espaço que fica escondido:
não é utilizado pelo habitação nem contribui poro o formo dos espaços públicos. Este
lugar modesto na morfologia do cidade tradicional é justamente o seu maior atributo,
permitindo-lhe jogar um papel relevante na evolução do cidade.
É através do utilização e desenho do logradouro que se foz parcialmente o evolu-
ção das formas urbanas do «quarteirão» até ao «bloco» construído.

O TRAÇADO/A RUA

O traçado é um dos elementos mais claramente identificáveis tonto no forma de


uma cidade como no gesto de o projectar. Assenta num suporte geográfico preexisten-

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te, regula a disposição dos edifícios e quarteirões, liga os vários espaços e partes da ci-
dade, e confunde-se com o gesto criador.
As antigos cidades romanas, de assentamento militar, provinham da disposição de
dois troçados ortogonais principais (cardus e o decumanus maximus), eles próprios na
sua orientação e posição recíproca revestidos de atributos cósmicos e religiosos. Dois
mil anos mais tarde Lúcio Costa explica ossim o «traçado» de Brasílio:
«Nasceu do gesto inicial com que qualquer um localiza um lugar e dele tomo posse.
Dois eixos que se cruzam em ângulo recto, formando o sinal do cruz. Este sinal
odoptou-se depois ò topografia, ò inclinação natural do terreno e à melhor orientação:
os extremos de um dos eixos curvorom-se, formando um sinal que pode inscrever-se
num triângulo equilátero que limita a zona o urbanizar» W .
O gesto do troçado — quase fenómeno cósmico enraizado na humanidade — é en-
contrado também nos assentamentos coloniais, nos cidades militares e, de um modo
geral, em todos os cidades planeados.
Poro Poete, Lovedan e Tricortl*'), o traçado tem um carácter de permanência, não
totalmente modificável, que lhe permite resistir òs transformações urbanos.
Assim, encontramos o troçado romano ainda visível em muitas cidades.
O traçado estabelece o relação mais directa de assentamento entre a cidade e o
território. Na análise de M. Poete, a rua ou o troçado relaciono-se directamente com a
formação e crescimento do cidade de modo hierarquizado, em função do importância
funcional do deslocação, do percurso e da mobilidade de bens, pessoas e ideias. É o
troçado que define o plano — intervindo na organização do formo urbano o diferentes
dimensões. É também de importância vital no orientação em uma qualquer cidade.
Poro finalizar, diria que o traçado, a rua, existem como elementos morfológicos nos
vários níveis ou escolas do formo urbana. Desde o rua de peões à travesso, à avenida,
ou ò via rápido, encontra-se uma correspondência entre a hierarquia dos troçados e o
hierarquia das escalos do forma urbana.

A PRAÇA

Nos cidades islâmicas, a praça não existe. Quanto muito, o cruzamento de ruas
produz uma área mais larga no ponto de confluência. A praça é um elemento morfoló-
gico dos cidades ocidentais e distingue-se de outros espaços, que são resultado aciden-
tal de alargamento ou confluência de troçados — pelo organização espacial e intencio-
nalidade d^ desenho. Esta intencionalidade repousa no situação da praça no estrutura
urbano no seu desenho e nos elementos morfológicos (edifícios) que o caracterizam.
A praça pressupõe o vontade e o desenho de uma formo e de um programa. Se o rua.

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2-31. Robert Krier. Diferentes formos de proços opresentodos e m UEspace de la Yilla

101
o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, do
permanência, dos acontecimentos, de práticos sociais, de manifestações de vido urba-
no e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arqui-
tecturas significativas. Outros espaços como o largo, o terreiro, não podem ser assimi-
lados ao conceito de praça. São de certa maneiro espaços acidentais: vazios ou alar-
gamentos do estrutura urbana e que, com o tempo, foram apropriados e usados. Mos
nunca adquirem significação igual oo da praça porque não nasceram como tal. Praça,
largo, terreiro, são também elementos morfológicos identificáveis na formo do cidade e
utilizáveis no desenho urbano no concepção arquitectónico.
A geometria de uma praça pode variar do quadrado ao triângulo, passando por
círculos, semicírculos, elipses, parolelogromos regulares, irregulares, etc. Robert Krier,
no Espaço da Cidade ("), tento uma colecção algo exaustivo de formas geométricas das
praças. Colecção inesgotável, embora possa ser sistematizada.
A praça é um elemento de grande permanência nas cidades. A Lisboa anterior ao
terramoto de 1755 tinha já o Terreiro do Poço — no mesmo local onde Eugénio dos
Santos desenha o Praça do Comércio. A Praça de São Marcos, em Veneza, evoluiu
com modificações de forma e pormenores, mos mantendo a sua localização.
O largo do mercado, o adro fronteiro à igreja, ou outros pequenos espaços vazios
da cidade medieval não são ainda verdadeiras praças. É a partir do Renascimento que
o praça se inscreve em definitivo no estrutura urbano e adquire o seu estatuto até fazer
porte obrigatória do desenho urbano nos séculos XVIII e XIX.
A definição de praça no cidade tradicional implica, como na rua, o estreita relação
do vazio (espaço de permanência) com os edifícios, os seus planos marginais e os fa-
chadas. Estas definem os limites da praça e coracterizam-no, organizando o cenário
urbano. A praça reúne o ênfase do desenho urbano como espaço colectivo de signifi-
cação importante. Este é um dos seus atributos principais e que a distingue dos outros
vazios do estrutura dos cidades. Na urbanística moderna, o praça permanece, embora
suscitando as dificuldades de delimitação e definição provocados pelo menor incidên-
cia dos edifícios e fachadas no suo definição. No «novo urbanismo» actualmente, o re-
curso ao desenho de praças tem sido por vezes um logro, no medida em que o desenho
do espaço não é acompanhado pelo qualificação e significoçõo funcional.

O MONUMENTO

Os dicionários definem o monumento como «construção, obra de orquileciura ou es-


cultura destinado o transmitir à posteridade o recordação de um grande homem ou feito;
ou obro de arquitectura considerável pelo sua dimensão ou mognificiência; ou constru-
ção que recobre uma sepultura».

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2-32. A Praça do Plano Director do E X P O 98 apresentado pela Gindidafuro Portugueso oo
B.E.I. (1991/1992) { a r q , « Caries Duarte e José Lamas) como exemplo de especo individualizado
à dimensão sectorial

103
o monumento é um facto urbano singular, elemento morfológico individualizado
pelo suo presença, configuração e posicionamento no cidade e pelo seu significado.
Poro Poete, é um dos elementos que fundamentam o princípio das permanências — um
dos factos urbanos que melhor persistem no tecido urbano e resistem o transformações.
A suo presença é determinante no imagem da cidade. A imagem de Romo, Paris ou Lis-
boa é também o imagem dado pelos seus monumentos, sejam eles marcos sem finalida-
de de uso, mas com significação social, histórica ou cultural (o coluna de Trajano, o
obelisco da Concorde ou a estátua equestre de D. José), ou edifícios utilitários com va-
lor social e importância cultural. Poete identifica também no monumento um dos ele-
mentos de maior potencial no composição da cidade, mesmo após a perda do seu sig-
nificado utilitário: «O edifício público ou o monumento como individualidade e como lo-
calização devem intervir em primeira mão no composição da cidade. Não se localizam
em qualquer ponto. Têm o seu lugar marcado. Servem poro compor a fisionomia urba-
no.»!")
Rossi é mais peremptório oo afirmar que os «os factos urbanos persistentes se identi-
ficam co,m os monumentos, são persistentes no cidade e efectivamente persistem fisica-
mente (excepto, finalmente, em casos bastante particulares)»!").
O estudo dos monumentos permite também questionar os teorias funcionalistas so-
bre o cidade. A existência do monumento situo-se muito poro lá do desempenho de
uma função e assume significados culturais, históricos e estéticos bem precisos, mesmo
quando o suo função primitiva já não existe.
O monumento desempenha um papel essencial no desenho urbano, caracterizo o
área ou bairro e tomo-se pólo estruturante^ do cidade. Nas «urbanizações operacio-
nais», o ausência de monumentos representa, de certo modo, o vazio de significado
destas estruturas e o vazio cultural dos gestões urbanísticas contemporâneas.
A ampliação do conceito de monumento desenvolvida nos últimas décadas partiu
do elemento singular arquitectónico ou escultório poro abranger conjuntos urbanos,
centros históricos ou as próprias cidades. A evolução destes conceitos e um novo olhar
sobre o cidade do passado como «cidade do presente» alteraram o «maneiro de pensar
o urbanismo», recolocando o património edificado no vida da sociedade.
A distância é grande de atitudes como o do Plan Voisin, para Paris, ou os enuncia-
das no Carta de Atenas e referentes oo património edificado. As áreas históricas e os
áreas antigas vão assim constituir permanências na cidade como os monumentos, mui-
to embora o seu uso e funçõo possa ser completamente diferente. As atitudes de Six-
to V, oo traçar o Roma barroca sobre os ruínas do Romo Imperial, ou de Haussmonn,
oo destruir/reconstruindo o casco histórico do Paris medieval, ou de Le Corbusier, pro-
pondo a renovação do ilôt insalubre no Plan Voisin, \á não são defensáveis nem deve-
riam ser possíveis.

104
2-33. O monumenlo. Desenho de Eugénio dos Santos poro o estatuo equestre de D. José no
Proço do Comércio e maquino paro tronsporte e colocoçõo no pedestrol (1757). O choíoriz no
Rua do Junqueiro, em Lisboo (1826). O m o n u m e n t o a o 25 de Abril, em Lisboo. Concurso (1985)
— proposta do Arq. A . Merques Miguel

105
A polémica internacional que envolveu o destruição do Maison du Peuple de Victor
Horto, em Bruxelas, ou o operação das Halles, em Paris, com a demolição dos pavi-
lhões Baltard, em 1968, marcou o ponto de viragem no reutilização dos velhos edifícios
e dos óreos antigos dos cidades. Hoje, todos os arquitectos, urbanistas, administrado-
res e a população em geral, estariam de acordo em salvar, com adaptação e novos
usos, os famosos pavilhões. Todavia foi necessário cometer grandes erros (os Halles,
em Paris, o Monumental, em Lisboa vinte anos depois... e tantos outros), paro que o
consciencialização destes problemas se fosse enraizando na cultura urbano. Quer isto
dizer que se ampliou e diversificou o conceito de monumento e de património em con-
teúdo cultural e em área geográfica, oplicondo-se no caso-limite ò totalidade do formo
urbana. Conceito que se tornou operativo no gestão da cidade pelo reabilitação e re-
cuperação dos factos urbanos antigos paro novos usos e novos funções.

A ÁRVORE E A VEGETAÇÃO

Do canteiro ò árvore, oo jardim de bairro ou ao grande parque urbano, as estrutu-


ras verdes constituem também elementos identificáveis na estrutura urbano. Carac-
terizam o imagem do cidade; têm individualidade própria; desempenham funções pre-
cisas: são elementos de composição e do desenho urbano; servem poro organizar, de-
finir e conter espaços. Certamente que a estrutura verde nõo tem o mesmo tdureza» ou
permanência que os partes edificadas do cidade. Mos situo-se oo mesmo nível do hie-
rarquia morfológica e visual. Uma rua sem os suas árvores mudaria completamente de
formo e de imagem; um jardim ou um parque sem o sua vegetação transformor-se-ia
apenas num terreiro... As simples árvores e vegetação existentes em logradouros pri-
vados são de grande importância no formo urbano, no controlo do clima e qualifica-
ção do cidade, e como tal deveriom ser entendidas no urbanismo e gestão urbano.
A este título vejo-se o destruição das árvores no Rua do Junqueira, em Lisboa, realiza-
da em 1992. Uma rua histórica viu-se destruída pelos técnicas acéfalos do trânsito ro-
doviário, pela diminuição dos passeios e destruição dos árvores, poro o aumento do
faixo de circulação. O seu aspecto e formo mudaram radicalmente para pior.
A construção do território tanto pode utilizar elementos duros ou minerais como v e -
getais ou plantados.
Trato-se de um mesmo problema de desenho arquitectónico em que o árvore, as
plantações, se encontram na mesmo escola de valores que o parede, o fachada ou ou-
tro elemento construtivo.
Um troçado pode ser definido tanto por um alinhamento de árvores como por um
alinhamento de edifícios. Uma proço também.

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Retomo aqui o que disse antes sobre o existência de arquitectura de intenção estéti-
ca tonto nos estruturas rurois como nos urbanos, tonto no jardim como na cidade.
O desenho do espaço não tem duos óreos ou níveis de trabalho — o do edificado e o
das estruturas verdes. São ambos elementos da mesma actuação, porventura exigindo
alguns conhecimentos disciplinares diferenciados.
Os exemplos do História são o este respeito concludentes. No Alhambra de Grana-
da, construção e vegetação confundem-se num todo coerente.
Haussmonn, em Paris, compreende o importância do árvore nos avenidas e boule-
vards. Paro evitar o crescimento dos árvores, que retardaria por dezenas de anos o
contemplação e efeito do novo obro, desenvolve sistemas de transplantação de árvo-
res já adultos. A inauguração dos boulevards dá-se assim com os suas estruturas ver-
des totalmente desenvolvidas e acabadas, ou seja, com o suo imagem já sedimentada.
Nas transformações recentes em Barcelona, Sevilha ou Madrid, também árvores adul-
tos são plantados, dando ao espaço recém-construído o seu aspecto final. E, de facto,
o alinhamento de árvores plantadas em caldeiro é tão fundamental no cidade tradicio-
nal como é nos propostas actuais de novo urbanismo.

O MOBILIÁRIO URBANO
t

Deliberadamente, é no final que refiro o mobiliário urbano, constituído por elemen-


tos móveis que «mobilam» e equipom a cidade: o banco, o chafariz, o cesto de papéis,
o candeeiro, o marco do correio, a sinalização, e t c , ou já com dimensão de constru-
ção, como o quiosque, o abrigo de transportes, e outros.
O mobiliário urbano situo-se no dimensão sectorial, no escalo da rua, nõo podendo
ser considerado de ordem secundária, dados os suas implicações na forma e equipa-
mento do cidade. É também de grande importância poro o desenho do cidade e a sua
organização, para o qualidade do espaço e comodidade. Durante anos, terá sido des-
curado em muitos arranjos e intervenções.
Hoje voltou de novo à cena profissional, apoiando o requalificação do cidode e
acabando por interessar ò própria produção industrial.
Também se poderia referir esse conjunto de elementos «parasitários» que nos socie-
dades de consumo invadem e se colam às estruturas edificadas, como elementos posti-
ços e móveis: anúncios, montras, sinais, reclamos, luzes, iluminações, etc.
Por simplificação de exposição, nõo se conferiu o estes elementos a mesmo impor-
tância e relevo dados aos elementos do morfologia urbana. E também por razões que
se relocionolizom quer com a rnobilidode (sendo portanto efémeros, em constante mo-
dificação) quer com as suas característicos de elementos «postiços» e adicionais. Ven-

108
109
turi, em Learning from Las Vegas, demonstra o grau de impacte e comunicação que es-
tes elementos levados ò exacerbação e saturação podem assumir no imagem do cida-
de. A imagem de Las Vegas é constituída em boa porte pelo presença dos elementos
parasitários e móveis: anúncios e letreiros, luzes, etc. Mas este é, sem dúvida, um coso
extremo, que não pode ser generalizado.

Chegado o este ponto, resto clarificar as relações dos elementos morfológicos com
as dimensões ou escolas do espaço urbano.

• No dimensão sectorial, ou à escola de rua, os elementos morfológicos identificáveis


são essencialmente os edifícios (com as suas fachadas e planos marginais), o troçado
e também o árvore ou o estrutura verde, desenho do solo e o mobiliário urbano.
• No dimensão urbano, ou escalo de bairro, são os traçados e praças, os quarteirões
e monumentos, os jardins e áreas verdes, que constituem os elementos morfológicos
identificáveis. Diremos também que a formo a esto escola se constitui pelo adição de
formas a escalo inferior. O movimento é necessário oo entendimento da cidade e ò li-
gação, ou colagem, dos vórios partes urbanos.
• No dimensão territorial, ou escalo urbana, os elementos morfológicos identificam-se
com os bairros, os grandes infra-estruturos viários e os grandes zonas verdes relacio-
nados com o suporte geográfico e os estruturas físicas do paisagem.

Esto hierarquização dos elementos morfológicos encadeado por agregação de uni-


dades menores formando outras unidades o uma escola maior não significa a adopção
de um sistema em «árvore» l*^). O homem vive numa totalidade de ambiente que nõo é
seccionada por fronteiras rígidos. A experiência ambiental pressupõe o conhecimento
de diversos conjuntos, o suo articulação e desagregação sucessivas.
A leitura do cidade e do território foz-se simultaneamente a diferentes níveis ou es-
calões e também pelo percurso e sequências, o que significa que o forma urbano só po-
de ser estudado e compreendida em sistema de semi-retículo (**).

1 10

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