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Brasília, DF

Título original em inglês: Exposing the Dark Work of Abortion


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Livros para seu deleite em Deus e Sua Palavra.

Produção editorial
Editor: Rafael B. Salazar
Capa & Arte Gráfica: Rebeca Salazar
Tradução: Rafael B. Salazar
Revisão: Rogério Portella
Diagramação: Marcos Jundurian

Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Nova Almeida Atualizada,


(NAA) © 2017 (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida de qualquer maneira
sem permissão por escrito, exceto no caso de breves citações contidas em artigos
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Sumário

1. O aborto: expondo as obras infrutíferas


das trevas.................................................. 5
2. Devemos ouvir aos homens ou a Deus
a respeito do aborto?................................ 19
3. O aborto e o caminho apertado que
conduz para a vida................................... 33
Apêndice: Quinze verdades em prol da vida
que devem ser proclamadas........................... 51
1

O aborto:
expondo as obras infrutíferas das trevas

“E não sejam cúmplices nas obras infrutíferas


das trevas; pelo contrário, tratem de reprová-las.”
(Efésios 5.11)

Começo esta manhã certificando-me de que


entendemos a diferença entre o chamado cristão
à ação em prol da vida e o chamado não cristão à
ação em prol da vida. Estou feliz pelo fato de os
não-cristãos pedirem o fim do aborto. Fico feliz com
a existência de “ateus a favor da vida”. Uma das coisas
que fizeram os Estados Unidos funcionar é o que os
cristãos consideram o comportamento correto por
causa de Cristo; os não-cristãos o consideram certo
por outras razões.
Isso não é surpresa. Parte da verdade enraizada
em Jesus como Filho de Deus também é revelada
em parte na criação. A lei escrita no coração de

John Piper 5
O aborto: expondo as obras infrutíferas das trevas

todos os homens e mulheres (Romanos 2.14), não


importa o quão manchados pelo pecado, ainda é
a lei de Deus. Portanto, há sempre esperança de
que, pela graciosa providência divina, crentes e
incrédulos, em uma sociedade pluralista, possam
concordar que alguns comportamentos são corretos
e outros são errados.
Mas eu sou pastor, um cristão, não um polí-
tico: meu trabalho principal não é unir crentes e
incrédulos em torno de causas valiosas. Alguém deve
fazê-lo. Esse não é o meu trabalho. Alguns de vocês
deveriam proceder assim com a sensação profunda
de sua vocação cristã. Meu papel é glorificar Jesus
Cristo e chamar seu povo para se comportar e viver
a vida de maneira distintamente cristã.
Assim, dou início aos lhes mostrar a partir das
Escrituras (não da lei natural, por mais importante
que seja para a sobrevivência social) o aspecto especifi-
camente cristão no meu apelo à ação em prol da vida.

O chamado para ser o que você é em Cristo: quatro


exemplos

O chamado cristão à ação em prol da vida é o


apelo aos filhos da luz para que mostrem o que são em
Cristo. É fundamental compreender isto se quisermos
agir como cristãos. Permitam-me apresentar-lhes
quatro exemplos do que quero dizer com este texto.

6 John Piper
Comecemos pelo versículo que antecedeu
nosso texto — o último versículo de Efésios 4 (v.
32): “Pelo contrário, sejam bondosos e compassivos
uns para com os outros, perdoando uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, perdoou vocês”.
O chamado cristão ao perdão não declara: “perdoem
para obter o perdão de Deus”. Ele afirma: “perdoem
porque vocês foram perdoados por Deus”. Olhem
para a última parte do versículo 32: “perdoando uns
aos outros, como também Deus, em Cristo, perdoou
vocês”. A vida cristã parte do que Deus fez livremente
por nós em Cristo e segue em direção ao que devemos
fazer livremente pelos outros. Não o contrário.
O segundo exemplo está no versículo 1 do capí-
tulo 5 de Efésios: “Portanto, sejam imitadores de
Deus, como filhos amados”. Não diz: “Sejam imita-
dores de Deus para serem adotados”. Começa pela
posição em Cristo como “filhos amados”. “Mas, a
todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu
nome” (João 1.12). Assim, o chamado cristão para
imitar Deus no mundo não comporta a obtenção do
favor dele, e sim o chamado para serem quem vocês
são: filhos parecidos com o Pai, e amados por Deus.
Filhos amados adoram ser como seu pai.
O terceiro exemplo provém do versículo 2a:
“E vivam em amor, como também Cristo nos amou

John Piper 7
O aborto: expondo as obras infrutíferas das trevas

e se entregou por nós”. Ele não diz: “Vivam em amor


para que Cristo comece a nos amar e se entregar por
nós”. O texto diz que Cristo nos amou e se entregou
por nós; portanto, vivamos em amor. Sejam o que a
morte dele efetuou e garantiu que vocês se tornassem.
O quarto exemplo se encontra no versículo 8:
“Porque no passado vocês eram trevas, mas agora
são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz”. Não
diz: “Vivam como a luz do mundo para que possam
se tornar filhos da luz”. Ele diz: “Vocês são luz no
Senhor, não integram mais a escuridão. Vocês são
filhos da luz. Vivam de acordo com o que são”.
Esta é a diferença entre o chamado cristão à ação
em prol da vida e o não cristão. O chamado para
perdoar, para imitar Deus, para andar em amor, para
andar como filhos da luz — são chamados enraizados
em algo que Deus realizou em nosso favor por meio
de Cristo. Eles estão enraizados no que Deus já nos
fez em Cristo. São chamados para sermos o que somos
por causa do perdão e da adoção providos por Deus,
por causa do amor sacrificial de Cristo, e pelo fato
de Deus deixar sua luz em nós.

Em primeiro lugar, o chamado à conversão; na


sequência, o chamado para ser luz
Tudo isso acontece com vocês quando se tornam
cristãos e depositam sua confiança em Jesus como

8 John Piper
Salvador e Senhor de sua vida. O resto da história
consiste em tornar-se o que são! Perdoem — por
terem sido perdoados; amem — por serem amados;
brilhem — com a luz de Cristo em seu interior. Assim,
o chamado à ação cristã em prol da vida abrange
em primeiro lugar o chamado à conversão, ao novo
nascimento, ao arrependimento e à fé em Jesus. Então
se segue o chamado para deixar sua luz brilhar na
escuridão — para que vivam como filhos da luz.
Por isso Paulo afirma no versículo 9: “porque
o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e
verdade”. Ele designa a bondade, a justiça e a verdade
“fruto da luz”, pois crescem naturalmente a partir
dela. O fruto procede da árvore por causa do que a
árvore é. Assim ocorre com a vida cristã: tornem-se
o que vocês são — deem frutos.
O oposto do “fruto da luz” são “as obras infrutí-
feras das trevas”. Considere o versículo 11a: “E não
sejam cúmplices nas obras infrutíferas das trevas”.
As “trevas” são o oposto da “luz” e as “obras” consistem
no oposto do “fruto”. Esta afirmação se assemelha
ao texto de Gálatas 5, onde Paulo contrasta o “fruto
do Espírito” com as “obras da carne”. O ponto é o
mesmo: a verdadeira vida cristã é em essência dar
frutos, não realizar obras. Significa, por natureza,
deixar o fruto mostrar como é a árvore. Não comporta
o trabalho para se tornar uma árvore.

John Piper 9
O aborto: expondo as obras infrutíferas das trevas

Nós nos tornamos uma árvore e permanecemos


uma árvore plena confiando na livre misericórdia
de Deus, e em tudo que ele é para nós em Jesus.
A vida cristã — com toda a sua ação em prol da vida
e todas as outras coisas boas — compreende ser o
que somos: árvores frutíferas perdoadas e adotadas
por Deus, e amadas por Cristo.

O chamado distintamente cristão à ação em prol


da vida
Agora, com base nisso, considerem o chamado
distintamente cristão para a ação em prol da vida.
Lê-se no versículo 8b: “Vivam como filhos da luz”.
O versículo 11 nos apresenta as formas negativa e
positiva de realizar esse ato. De maneira negativa:
“E não sejam cúmplices nas obras infrutíferas das
trevas; pelo contrário [esta é a parte positiva:], tratem
de reprová-las”. Viver na luz significa não realizar as
obras de trevas e expor as obras das trevas praticadas
por outras pessoas.
Portanto, aprendemos com este texto que os
cristãos que vivem na luz devem se envolver na expo-
sição e reprovação do aborto, uma obra infrutífera das
trevas. Trata-se de uma obra tenebrosa e infrutífera,
e somos chamados a reprová-la.
O termo “reprovar” é usado de novo no versí-
culo 13, onde você tem uma ideia clara do que está

10 John Piper
envolvido: “Mas todas as coisas, quando reprovadas
pela luz, se tornam manifestas”. A ideia é que quando
“vivermos como filhos da luz”, brilharemos em lugares
escuros e isso tornará as trevas visíveis, ou as tornará
luz. Ou, tomando por empréstimo as palavras de
Jesus, quando deixamos nossa luz brilhar diante dos
homens, as obras tenebrosas dos homens se tornam
manifestas pelo que realmente são: infrutíferas e
vergonhosas. Isso faz parte da nossa vocação.
Em João 3.20, nós nos deparamos com essa
mensagem de novo. Jesus diz: “Pois todo aquele que
pratica o mal detesta a luz e não se aproxima da luz,
para que as suas obras não sejam reprovadas”. Então
o ponto subjacente à mensagem é que os cristãos são
chamados a deixar a luz da verdade, da justiça e do
amor brilhar sobre as trevas e examinar o mal sob a
luz, manifestando o que realmente é.

O chamado para ser a consciência da cultura


Outro modo de expressar o mesmo ponto é
afirmar que Deus chama seu povo para ser a cons-
ciência da cultura. A consciência individual analisa
nosso comportamento e aprova ou reprova o que
fazemos. Assim, os filhos da luz devem sondar sua
cultura e aprovar ou reprovar o que ela faz.
Espero que vocês percebam essa força. É muito
diferente da passividade e abstenção moral de muitos

John Piper 11
O aborto: expondo as obras infrutíferas das trevas

cristãos. Muitos crentes contam com uma ética de


evasão passiva, e isso é tudo. Em outras palavras, eles
pensam: se eu evitar as obras infrutíferas das trevas,
e não as praticar pessoalmente, então cumpro meu
dever cristão. Estou limpo. Vivo na luz. Mas não é
isso que diz o versículo 11. Ele declara que vocês só
cumprem metade do dever. “E não sejam cúmplices
nas obras infrutíferas das trevas”, esta é a ética evasiva.
Isto compreende metade do seu dever. Contudo, o
texto continua e, de fato, coloca mais ênfase na frase
seguinte, por ser facilmente negligenciada e por custar
muito caro: “pelo contrário, tratem de reprová-las”.
Não evitem apenas as obras infrutíferas das trevas,
exponham-nas. Isto não é evasão; é ação.

Expor o aborto: uma obra infrutífera das trevas


Vocês ouvem o chamado à ação neste versículo?
Você ouve um chamado para fazer algo neste ano
a fim de para reprovar as trevas e a falta de frutos
(a esterilidade!) do aborto? Deus está nos chamando
por meio deste versículo — ele convoca todos os
cristãos — a fim de reprovarmos o aborto, uma obra
infrutífera das trevas...

• Ocorrem 1,2 milhão de abortos nos Estados


Unidos todos os anos — 62 milhões desde
que a Suprema Corte passou por cima da

12 John Piper
consciência públicas dos residentes de 48
estados em 1973.1
• Cerca de 30% de todos os bebês concebidos
nos Estados Unidos são mortos por abortos.
• As mulheres recebem instrução médica para
a não-realização do aborto antes da sétima
semana de gravidez (veja o livreto Yes/
Neon), e já na oitava semana o coração do
bebê está batendo há um mês, existem ondas
cerebrais mensuráveis, há resposta ao toque,
ele suga o polegar, agarra com as mãos, usa
os braços para nadar no líquido amnió-
tico, apresenta braços e pernas distintos e
órgãos sexuais. Tudo isso deve (não pode,
deve) estar presente antes que a maioria
dos centros de aborto despedace o bebê
com uma máquina de sucção — algo que
ocorre 4 mil vezes por dia.
• Uns 9 mil bebês foram mortos após a 21ª
semana de gravidez em 1987, já totalmente

1 No original, o número é menor (52 milhões) porque o texto é


de 2013. Os dados foram atualizados em outubro de 2022, de
acordo com a matéria “Mais de 62 milhões de abortos foram
realizados nos EUA, desde sua legalização”, disponível em:
https://guiame.com.br/gospel/noticias/mais-de-62-milhoes-
-de-abortos-foram-realizados-nos-eua-desde-sua-legalizacao.
html, acesso em: 7 ago 2023. (N. do R.)

John Piper 13
O aborto: expondo as obras infrutíferas das trevas

formados e quase capazes de respirar por si


mesmos. Todos mortos legalmente!
• No estado de Minnesota existe a lei contra o
homicídio fetal que afirma constituir “assas-
sinato matar um embrião ou feto inten-
cionalmente, exceto em casos de aborto”
— em outras palavras, é ilegal matar o
feto a menos que a mãe escolha matá-lo.
Esse é um critério estranho e sombrio para
matar legalmente.
• “A esquizofrenia é inevitável no caso do
aborto de um feto perfeitamente normal de
22 semanas enquanto, no mesmo hospital,
realiza-se uma cirurgia intrauterina em seu
primo.” (Steve Calvin)
• A viabilidade fora do útero não é um critério
de pessoalidade e de direito à vida, pois nós
mesmos não desistimos de nossa pessoali-
dade e do direito à vida se tivemos de ser
mantidos por um respirador mecânico ou
uma máquina de diálise — da mesma forma
que um bebê deve ser mantido pela placenta.
• O tamanho e a capacidade de racio-
cínio de uma pessoa minúscula é irre-
levante para a pessoalidade humana,
pois se fosse, poderíamos permitir que
14 John Piper
recém-nascidos minúsculos e sem plena
consciência fossem mortos.
• Embriões e fetos geneticamente humanos
são totalmente diferentes de todas as formas
de vida animal; se eles forem deixados
sozinhos, sem nenhum acréscimo além de
nutrição, crescerão.
• Se é ilegal esmagar o ovo de uma águia
careca, não é excessivamente restritivo
tornar ilegal esmagar um feto humano.
• Quando dois direitos legítimos entram em
conflito: o direito de não estar grávida e o
direito de não ser morto — a justiça exige
que se dê lugar ao maior direito, o direito
que faz menos mal — o que não mata
intencionalmente.
• Há milhares de centros de auxílio à gravidez
nos Estados Unidos prontos para ajudar,
e quase todos eles são gratuitos — ao
contrário das fábricas de aborto que cobram
muito caro — e quanto mais crescido o
bebê, maior o preço.
• Pelo fato de não haver bebês indesejados
em Minnesota, Mary Ann Kuharsky (presi-
dente da organização Pro-Life Minnesota)
afirmou no jornal Tribune que aceitaria

John Piper 15
O aborto: expondo as obras infrutíferas das trevas

qualquer bebê cuja vida dependia de ajuda,


e há centenas de pessoas como ela.
• Existe hipocrisia na menção da escolha como
o absoluto intocável sobre o tema, quando,
em seguida, existe oposição à escolha pessoal
nas questões relativas ao: controle de acesso
à armas, auxílios sociais e políticas de cotas
raciais, salário mínimo e dezenas de outras
questões em que as chamadas pessoas favo-
ráveis à escolha se juntam à limitação da
escolha das pessoas para proteger os demais.
É um argumento fajuto. Todas as escolhas
são limitadas pela vida.
• A invasão de lugares com o objetivo de salvar
vidas não é um crime e não prejudica nosso
sistema legal; ao contrário, endossa o único
fundamento sem o qual o sistema legal da
nação cairá, ou seja, o direito inalienável à
vida. Não haverá nenhuma lei exceto a lei
da escolha individual (= anarquia), se a base
do valor da vida for destruída. E o aborto
a está destruindo.
Deus chama hoje cristãos passivos e inativos
para que envolvam sua mente, seus corações e suas
mãos na reprovação das obras infrutíferas das trevas.
Sejamos a consciência de nossa cultura. Sejamos a luz

16 John Piper
do mundo. Vivamos na grande realidade do amor
de Deus, da adoção divina e do perdão concedido
por Jesus (sim — por todos os abortos realizados por
dezenas de vocês), e nos tornemos filhos da luz. Eu os
conclamo nesta manhã a viverem como filhos da luz.

John Piper 17
2

Devemos ouvir aos homens


ou a Deus a respeito do aborto?

“Ao verem a ousadia de Pedro e João, sabendo que


eram homens iletrados e incultos, ficaram admi-
rados; e reconheceram que eles haviam estado
com Jesus. Vendo que o homem que havia sido
curado estava com eles, nada tinham a dizer em
contrário. E, mandando-os sair do Sinédrio, discu-
tiam entre si, dizendo: ‘Que faremos com estes
homens? Pois todos os moradores de Jerusalém
sabem que um sinal notório foi feito por eles, e
não o podemos negar. Mas, para que não haja
maior divulgação entre o povo, vamos ameaçá-
-los para não falarem mais neste nome a quem
quer que seja’. Chamando-os, ordenaram-lhes que
de modo nenhum falassem nem ensinassem no
nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam:
‘Os senhores mesmos julguem se é justo diante
de Deus ouvirmos antes aos senhores do que a
Deus; pois nós não podemos deixar de falar das
coisas que vimos e ouvimos’. Depois, ameaçando-os

John Piper 19
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

mais ainda, os soltaram, não tendo achado como


os castigar, por causa do povo, porque todos
glorificavam a Deus pelo que tinha acontecido.
Ora, o homem em quem tinha sido operado esse
milagre de cura tinha mais de quarenta anos de
idade.” (Atos 4.13-22)

O homem era incapaz de andar havia 40 anos.


Sabemos disso porque Atos 3.2 nos diz que ele foi
coxo de nascença e Atos 4.22 diz que tinha mais de
quarenta anos de idade. No entanto, agora ele estava
pulando e correndo e louvando a Deus, porque Pedro
lhe dissera: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno,
levante-se e ande!” (At 3.6). Uma grande multidão se
reuniu e Pedro pregou um sermão poderoso. Cerca
de 2 mil pessoas foram convertidas, e Pedro e João
foram presos e colocados na prisão durante a noite.
Na manhã seguinte, eles compareceram ao tribunal.
Na semana passada, vimos como a mensagem de Pedro
passou do aspecto local para o global, e alcançou o
ponto culminante em Atos 4.12 com estas palavras:
“E não há salvação em nenhum outro; porque debaixo
do céu não existe nenhum outro nome, dado entre
os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.

Três observações a partir do texto


Agora, no texto de hoje, observamos três coisas
incrivelmente relevantes para a vida no mundo

20 John Piper
secular, concernentes, de modo especial, à questão
do aborto.
1. A descrição de Pedro e João: o tipo de pessoas
que eles eram para enfrentar as autoridades;
2. A maneira como as pessoas geralmente
respondem quando a evidência da verdade
se acumula contra elas;
3. Como os discípulos respondem publica-
mente às autoridades incrédulas de Jerusalém.

Vamos olhar para estes pontos, um de cada vez,


no contexto bíblico, e então aplicar o que aprendemos
à nossa situação hoje.

1. A Descrição de Pedro e João


As autoridades, os anciãos e os escribas ficaram
espantados com Pedro e João. Afirma-se em Atos 4.13
que eles “ficaram admirados”. Literalmente, eles se
espantaram, hesitaram, ficaram perplexos e espan-
tados. Eles viram duas coisas que não se encaixavam.
A seguir, notaram a verdadeira explicação. A ousadia
pública de Pedro e João e sua falta de educação formal
era o que não se encaixava.
Pedro e João estavam falando com franqueza,
confiança, coragem e clareza. E eles o faziam
na presença de pessoas com poder, estima e alta

John Piper 21
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

escolaridade: as autoridades, os anciãos e os escribas.


Isso surpreendeu as autoridades. Os homens falavam
como se contassem com algum tipo de autoridade
que os apoiasse. Contudo, o que tornava essa ousadia
incrível era o fato de Pedro e João não terem rece-
bido educação formal; eles não contavam com a
habilidade do refinamento proveniente de cursos
de retórica. Esse é o ponto do versículo 13: “Ao
verem a ousadia de Pedro e João, sabendo que eram
homens iletrados e incultos, ficaram admirados” —
eles se espantaram.
Então eles se lembraram que Jesus — de quem
eles tentaram se livrar — era exatamente assim. Lê-se
em João 7.15: “Então os judeus se maravilhavam [ou
se admiravam; é a mesma palavra] e diziam [sobre o
ensino de Jesus]: ‘Como é que ele pode ser letrado,
se não chegou a estudar?’”. O mesmo que aconteceu
com Jesus, também ocorreu com Pedro e João. Eram
todos ousados, diretos e claros. Eles compreendiam
as coisas de Deus, mesmo sem nunca ter recebido a
educação rabínica dos escribas.
O texto de Atos 4.13 arremata: “E reconheceram
que haviam eles estado com Jesus”. O Senhor era
desse jeito. Pedro e João devem ter aprendido isso
com ele. “O discípulo [...] que for bem-instruído
será como o seu mestre.” (Lc 6.40)

22 John Piper
2. A resposta das autoridades
Então vemos a resposta das autoridades. Lê-se
em Atos 4.16-17: “Que faremos com estes homens?
Pois todos os moradores de Jerusalém sabem que
um sinal notório foi feito por eles, e não o podemos
negar. Mas, para que não haja maior divulgação entre
o povo, vamos ameaçá-los para não falarem mais neste
nome a quem quer que seja”. Aqui está algo realmente
incrível, e ainda muito comum no mundo. Como
vocês descreveriam a conexão entre o que eles dizem
no versículo 16 e o que afirmam no versículo 17? No
versículo 16: um grande e inegável sinal de amor e
poder foi feito por esses homens corajosos em nome
de Jesus. Toda Jerusalém sabe disso. No versículo 17:
vamos ameaçá-los com ferocidade e tentar mantê-los
quietos sobre Jesus.
O versículo 16 afirma razões para a consideração
séria da veracidade das palavras de Pedro e João.
O versículo 17 descreve o comportamento de pessoas
sem interesse na verdade, apenas nos benefícios rece-
bidos da mentira. É como dizer: “Vejam: há fumaça
subindo pelas escadas do porão; vamos fechar logo
a porta e jantar”. Ou: “Pessoas com câncer estão
sendo curadas por este novo remédio; rápido, vamos
proibi-lo no mundo todo”.
Quando as pessoas se beneficiam de um erro, elas
se fazem de surdas e cegas para a evidência crescente
John Piper 23
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

de que deveriam mudar seu comportamento. Esta é


a segunda coisa que aprendemos.

3. A resposta de Pedro e João à ameaça


Em Atos 4.19-20 se lê como Pedro e João
respondem a esta ameaça cega. “Os senhores mesmos
julguem se é justo diante de Deus ouvirmos antes
aos senhores do que a Deus; pois nós não podemos
deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”.
Esta deve ter sido uma resposta totalmente
irritante e enlouquecedora à autoridades. Por quê?
Porque presume algo que as autoridades se recusaram
fazer. Pedro presume a escolha entre ouvir a Deus e
ouvir às autoridades. Isso pressupõe que as autori-
dades não falam por Deus. Pedro não se desculpa por
essa suposição, de forma alguma. Ele só a afirma. E
com uma espécie de simplicidade desarmadora, fala
como se eles devessem agir segundo dessa suposição:
A questão é, diz ele, ouvirmos aos senhores ou a Deus.
Agora julguem por si mesmos o que devemos fazer.
Sigam adiante! Digam-nos: Deus ou os senhores!
É uma pergunta que eles não poderiam responder
sem admitir não estar do lado de Deus.
A base da resposta de Pedro é a absoluta garantia
de que Jesus está vivo, que ele é Senhor do universo,
que ele curou o homem, e que obedecê-lo antecede a
obediência a qualquer governante humano. Pedro e

24 John Piper
João sabem porque viram e ouviram. Eles passaram
por várias experiências com o Jesus vivo que os tornou
totalmente imbatíveis. Por isso, não sugerem que
talvez as autoridades falem um pouco em nome de
Deus, e talvez os apóstolos falem. Não. As auto-
ridades se posicionam de forma contrária a Deus
ao dizer-lhes para ficarem quietos sobre Jesus. E os
apóstolos estão alinhados com o Deus vivo por causa
do conhecimento de Jesus.

Três lições para hoje


Como tudo isso é relevante para nós hoje? Vamos
pegar cada elemento das três observações feitas e
apresentá-las como lições para nós mesmos.

1. O que é preciso para ser ousado e claro


Para ser ousado, franco e claro no que dizem a
favor de Cristo em público, vocês não precisam ter
recebido educação formal ou ostentarem qualificações
extraordinárias. É preciso uma verdadeira comunhão
com Jesus — a experiência real com Jesus, o tipo de
experiência que lhes permita dizer: “Não posso deixar
de falar das coisas que vi e ouvi”.

Os limites da educação formal


Uma coisa que aprendi ao cursar a carreira educa-
cional até o topo da minha área e, depois, lendo o

John Piper 25
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

que as pessoas que receberam mais educação formal


escrevem: não há nada na educação superior que
transforme uma pessoa em um porta-voz corajoso
e claro a favor da verdade. Acredito na educação.
Acredito que alguns dos nossos jovens mais brilhantes
devem fazer da vida acadêmica uma carreira para a
glória de Deus. Contudo, livremo-nos da ideia de
que a vida acadêmica torna uma pessoa ousada, cora-
josa, direta e clara. Não há correlação positiva entre
a educação superior e a ousada clareza da lucidez.

O caminho para a ousadia


O que torna uma pessoa ousada a favor da
verdade é ter certeza de enxergar a verdade divina.
O que torna uma pessoa clara e direta é o bom
coração que não deseja usar de subterfúgios sob a
névoa da ambiguidade. Outra maneira de fazer a
mesma afirmação é asseverar que a ousadia e a clareza
provêm da convivência com Jesus. Jesus é a verdade
que precisamos ver, e Jesus é bom — totalmente
bom. Quanto mais real for o seu relacionamento
com ele, mais confiante você se torna na verdade, e
mais experimentado você se torna em não desejar se
exaltar ou se proteger com palavras impressionantes.
Você deseja apenas falar a verdade por ele e se
expressar com ousadia e clareza — sem ardis, cortina
de fumaça, blefes, evasivas, subterfúgios e a camuflagem

26 John Piper
inteligente da indecisão. Gosto muito do que James
Denney disse acerca da pregação. Aplica-se a toda comu-
nicação clara e ousada a favor de Cristo: “Ninguém
consegue passar a impressão de ser inteligente e que
Cristo é poderoso para salvar”. Quanto mais tempo
você passar com Jesus, isto ficará cada vez mais claro.
Assim, a primeira lição hoje é que vocês não
precisam receber educação formal ou serem extraor-
dinariamente hábeis para serem ousados, francos e
claros no que afirmam a favor de Cristo em público.
Vocês precisam de comunhão real com Jesus.

2. Os beneficiários da prática do mal


Ainda hoje, é verdade que os beneficiários dos
erros e dos conceitos errados geralmente fingem
não reparar nas evidências favoráveis ao que é
certo e verdadeiro.

Justificação dos desejos do nosso coração


Esta doença afeta todos nós em níveis diversos.
A mente percebe a realidade de forma seletiva com o
objetivo de justificar os desejos do coração. A obje-
tividade plena — independentemente do lado em
que você se encontra em um debate — é um mito.
Caso sejam mostradas fotos de bebês mutilados e
isso comprometer o desejo de abortar, então se alega
que as fotos são emocionalmente manipuladoras, de

John Piper 27
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

mau gosto ou irrelevantes. Entretanto, caso sejam


mostradas fotos de lontras marinhas mortas, guin-
dastes manchados de óleo ou focas mutiladas a fim
ajudar uma causa ambiental, então se infere que o ato
objetiva apenas mostrar a verdade e forçar as pessoas
a aceitarem o que acontece realmente.
Um livreto distribuído aos alunos do colégio
South High recentemente, em conexão com a
educação sexual, afirma: “Do ponto de vista médico,
é melhor abortar no período entre a sexta e a décima
segunda semanas de gravidez”. E os defensores do
aborto se fingem de surdos em relação à pergunta:
“Do ponto de vista médico, é melhor para quem:
para o bebê ou a mãe? Ou para nenhum dos dois?”.
As evidências são universais: o nascituro é uma
pessoa e um paciente, bem como sua mãe. Contudo,
os facilitadores de abortos se fingem de surdos para
observações como as do dr. Steve Calvin em uma
carta enviada há alguns anos ao jornal Arizona Daily
Star: “A esquizofrenia é inevitável no caso do aborto
de um feto perfeitamente normal de 22 semanas
enquanto, no mesmo hospital, realiza-se uma cirurgia
intrauterina em seu primo”.

Fingir-se de surdo para a Bíblia


Muitos cristãos envolvidos com práticas abortivas
fingem-se de surdos em relação à Bíblia quando esta

28 John Piper
declara que a vida crescendo no útero é uma obra de
Deus criativa e única, que forma um ser à imagem
dele (Sl 139.13; Jó 31.13-15); quando se refere aos
bebês no útero usando as mesmas palavras que utili-
zadas para designar bebês fora do útero (Gn 25.22;
Lc 1.41; 2.12,16; 18.15); quando, repetidas vezes,
adverte contra o derramamento de sangue inocente
(Sl 106.38); quando assevera de forma reiterada a
proteção dos membros mais fracos e vulneráveis da
comunidade (Sl 82.3-4) ou quando diz que só Deus
tem o direito de dar e tirar a vida humana (Jó 1.21).
Assim, a segunda lição hoje — aplicada direta-
mente à questão do aborto — é que quando as pessoas
se beneficiam de erros ou pensamentos errados, elas
se farão de surdas e cegas para a evidência crescente
do que é certo e verdadeiro. A mente seleciona o que
justificará os desejos do coração. No final, isso é o
que deve ser mudado.

3. O dever de falar a verdade de Deus


A lição final do texto para hoje é a seguinte: os
cristãos — pessoas que depositam a esperança em
Jesus, vivem com ele e lhe obedecem — devem se
apresentar em público e dizer a verdade de Deus
sem se preocuparem com o fato de os ouvintes secu-
lares nem mesmo concordarem com nossos pressu-
postos mais básicos.

John Piper 29
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

Não é incrível a forma de Pedro e João respon-


derem às autoridades?! As autoridades lhes orde-
naram que não falassem mais em nome de Jesus.
Então, em Atos 4.19-20 os apóstolos respondem:
“Os senhores mesmos julguem se é justo diante de
Deus ouvirmos antes aos senhores do que a Deus;
pois nós não podemos deixar de falar das coisas que
vimos e ouvimos”.
Um dos grandes obstáculos para a declaração
pública da verdade aprendida com Jesus é imaginar
que precisamos vencer o debate. Ou imaginamos
que precisamos agir com base nos pressupostos
dos líderes seculares. Contudo, Pedro nos mostra
enfaticamente que não temos de proceder assim.
Nossa vocação não é vencer nada nem usar os pres-
supostos do mundo. Nosso chamado consiste em
nos levantarmos e proclamarmos a realidade como
é aos olhos de Deus. Imaginem como as autoridades
poderiam ter respondido a Pedro e João quando eles
disseram: “Julguem se devemos ouvir a vocês ou a
Deus”. “Quem vocês pensam que são! Nos dizendo
que a escolha é entre o que dizemos e o que Deus diz!
Como sabem que não falamos por Deus?”.
Pedro diz apenas: “Não podemos deixar de falar
das coisas que vimos e ouvimos”. Ele é uma teste-
munha. Agora, não me entenda mal. Algumas pessoas
receberam um chamado e uma dotação especial para

30 John Piper
travar debates mais prolongados e a tentar encontrar
algum ponto em comum, a fim de se esforçar com
o objetivos de persuadir os oponentes. Todavia, o
ponto aqui é mais simples: todos os cristãos devem
se levantar e declarar seu ponto de vista. Aconteça o
que acontecer. Não se preocupem se o público não
concordar com os seus pressupostos mais básicos.
Sua tarefa não é vencer um debate nem controlar
a sociedade. Sua tarefa consiste em declarar o que
Deus quer que seja dito.
A Bíblia afirma que a lei de Deus está escrita
no coração de todas as pessoas (Rm 1.32; 2.15). Ela
declara que todos são criados à imagem de Deus
(Gn 1.27). Há razões para acreditar, então, que seu
testemunho verdadeiro sobre o aborto, ou qualquer
outra questão, desencadeará algo no interior das
pessoas. Ele soará verdadeiro na parte mais profunda
do coração, embora possa ser suprimido temporaria-
mente pela injustiça. E quem sabe o que Deus pode
fazer se sua verdade for dita com ousadia e clareza
por dezenas de milhares de cristãos evangélicos?

Não fomos chamados para vencer, mas para testemunhar


O grupo de pais da Roosevelt High School, onde
meu filho Benjamin estuda, tinha um fórum para
discutir sobre a arrecadação de fundos para a escola.
A proposta era instalar máquinas de apostas no boliche

John Piper 31
Devemos ouvir aos homens ou a Deus a respeito do aborto?

local. Noël2 foi à reunião, levantou-se sozinha e disse:


“Já existe um problema neste estado com jovens apos-
tadores. As escolas devem ajudar a moldar o caráter,
além de fornecer informações. Como podemos ajudar
nossos filhos a serem responsáveis se sinalizarmos,
como adultos, que os jogos de azar representam uma
boa maneira de obter dinheiro? Não estimularemos
algo que promove a ganância, engana os pobres e
desestimula o caráter recompensador do trabalho?”.
Eles não desistiram do plano. Mas Noël não era
responsável por isso. Ela afirmou o que Deus dese-
java que fosse dito. A verdade de Deus foi ouvida
em público; e ela, você e eu somos responsáveis por
isso em relação à questão do aborto e todas as ques-
tões importantes. Não fomos chamados para vencer;
somos convocados a dar testemunho.

2 Noël Piper é casada com John Piper desde 1968. O casal


tem 5 filhos e 13 netos. Ela é autora de Mulheres fiéis e seu
Deus maravilhoso (Fiel), Treasuring God in our traditions e de
dois livros infantis: Most of all, Jesus loves you e Do you want a
friend? (N. do R.)

32 John Piper
3

O aborto e o caminho apertado


que conduz para a vida

“Peçam e lhes será dado; busquem e acharão; batam,


e a porta será aberta para vocês. Pois todo o que
pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, a
porta será aberta. Ou quem de vocês, se o filho pedir
pão, lhe dará uma pedra? Ou, se pedir um peixe,
lhe dará uma cobra? Ora, se vocês, que são maus,
sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o
Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos
que lhe pedirem? Portanto, tudo o que vocês querem
que os outros façam a vocês, façam também vocês a
eles; porque esta é a Lei e os Profetas. Entrem pela
porta estreita! Porque larga é a porta e espaçoso é o
caminho que conduz para a perdição, e são muitos
os que entram por ela. Estreita é a porta e apertado
é o caminho que conduz para a vida, e são poucos
os que o encontram.” (Mateus 7.7-14)

A primeira coisa a ser percebida neste texto é a


verdade surpreendente de que Deus — o Criador
do universo, que sustenta a existência neste mundo
John Piper 33
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

e governa tudo o que acontece — este Deus é o Pai


de todos os que recebem Jesus e creem nele. E, como
nosso Pai, ele está mais inclinado a nos ajudar quando
clamamos do que o melhor pai do mundo. Leia os versí-
culos 9-11: “Ou quem de vocês, se o filho pedir pão, lhe
dará uma pedra? Ou, se pedir um peixe, lhe dará uma
cobra? Ora, se vocês, que são maus, sabem dar coisas
boas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que
está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem?”.
O Deus todo-poderoso, Criador do céu e
da terra, está muito mais inclinado a nos ajudar
quando clamamos do que o melhor pai da melhor
família de toda a história. Esta é a primeira coisa que
precisamos observar.

Muito melhor do que o melhor pai terreno


E a razão pela qual eu disse que ele é o Pai de
todos os que recebem Jesus e creem nele decorre da
afirmação encontrada em João 1.12: “Mas, a todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome”.
Deus não é o Pai de todos. Ele é o Pai de quem recebe
seu Filho e crê nele como Salvador divino, Senhor e
o Tesouro supremo que ele é.
Sem Jesus, o abortista, a mãe, o bebê, o mani-
festante, os partidários da direita, da esquerda, os
defensores da vida, os defensores da “escolha” são todos

34 John Piper
por natureza filhos da ira, não filhos de Deus.3 Eu uso
essa expressão porque a Bíblia a usa em Efésios 2.1-3:
“Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados,
nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade
do ar, do espírito que agora atua nos filhos da deso-
bediência. Entre eles também nós todos andamos no
passado, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo
a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como também os demais”.

O Deus rico em misericórdia


Mas Deus não é apenas o Deus de santidade e ira
terríveis; ele também é um Deus rico em misericórdia.
E assim ele enviou seu Filho ao mundo, não para
condenar o mundo, mas para que o mundo possa
ser salvo da própria ira de Deus por meio de Jesus
(Jo 3.17). Ele não veio para ser servido, mas para
dar sua vida como um resgate em favor de muitos
(Mc 10.45), entregar sua vida pelas ovelhas (Jo 10.15),
carregar nossos pecados em seu corpo no madeiro
(1Pe 2.24), proporcionar-nos a justiça que não vem
da nossa observância da lei, mas da fé (Fp 3.9), e
para nos reconciliar com Deus (2Co 5.18; 1Pe 3.18).

3 Aspas foram adicionadas na palavra “escolha” para ressaltar o


caráter retórico do termo neste contexto. Nos Estados Unidos, a
posição a favor do aborto autointitula-se “pró-escolha”. (N. do T.)

John Piper 35
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

Todos os filhos da ira podem se tornar filhos do


Pai por meio de Jesus Cristo. Uma abortista mais
idosa, a poucos quarteirões de nossa igreja, após
realizar 3 mil abortos, pode se tornar filha de Deus.
Ela pode ouvir Jesus dizer em seu leito de morte:
“Hoje você estará comigo no paraíso”. Isso vale para
a mãe de cinco filhos abortados, para o namorado
egoísta e avesso à responsabilidade, para o pai que
se oculta — arrogante e que teme passar vergonha
pública —, e para a garota desesperada de 14 anos.

O Salvador morreu por pecadores que realizaram


abortos

Jesus não veio, em primeiro lugar, impedir que


se façam abortos no mundo. Ele veio principalmente
para morrer por pecadores que realizaram abortos:
“Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arre-
pendimento” (Lc 5.32).
Há uma maneira de conhecer Deus como Pai. Ela
vale para os integrantes da clínica de aborto da orga-
nização Planned Parenthood [Paternidade Planejada],
para as pessoas do movimento Pro-life Action League,
e para os membros de nossa igreja — Bethlehem
Baptist Church —: “Entreguem-se a Jesus”.
Um dos discípulos de Jesus lhe disse: “Senhor,
mostra-nos o Pai”. E Jesus lhe respondeu: “Há tanto
tempo estou com vocês, Filipe, e você ainda não me

36 John Piper
conhece? Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14.8-9). Se
vocês vierem até mim, terão Deus como seu Pai.
Vocês não serão mais filhos da ira. Entretanto, se
vocês não vierem, então permanecerão sob a ira de
Deus (Jo 3.36).

O cerne do cristianismo: Jesus salva pecadores


O cerne do cristianismo não consiste na cultura
da vida. O cerne do cristianismo é a morte de Jesus
Cristo e sua ressurreição dentre os mortos para salvar
pecadores. Então, ele se torna a cultura da vida.
Antes de sermos capazes de ouvir Jesus
pronunciar suas palavras difíceis, encontradas em
Mateus 7.12-14,4 devemos ouvir suas encantadoras
palavras nos versículos 9-11.5 O Deus onipotente e
totalmente sábio, santo, justo, bom, e que governa
tudo é o Pai de todos que se aproximam de Jesus.
E ele está mais desejoso de lhes ajudar quando vocês

4 “Portanto, tudo o que vocês querem que os outros façam a vocês,


façam também vocês a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.
Entrem pela porta estreita! Porque larga é a porta e espaçoso
é o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que
entram por ela. Estreita é a porta e apertado é o caminho que
conduz para a vida, e são poucos os que o encontram”.
5 “Ou quem de vocês, se o filho pedir pão, lhe dará uma pedra?
Ou, se pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vocês,
que são maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto
mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos
que lhe pedirem?”

John Piper 37
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

o invocam do que quando chamam o melhor pai


que já viveu na terra.
Ele é o Pai de vocês? Vocês já se renderam a Jesus
e o receberam como seu Senhor, Salvador e Tesouro?
Onde quer que vocês estejam na linha do pecado
e da tristeza — a mãe que abortou o filho, o pai
que estimulou esse mal, o médico que o realizou, o
ativista que tentou pará-lo, o político que o apoiou
ou que lutou contra ele, a pessoa passiva que jamais
pensou nisso — esta não é a questão principal.
A questão principal é a seguinte: vocês já lançaram aos
pés de Jesus em busca de misericórdia? Vocês foram
adotados e se encontram fora do alcance da ira divina,
integrando a família de Deus mediante a fé em Jesus?

Para a família do Pai


O restante deste sermão diz respeito à família do
Pai. Se vocês ainda não fazem parte da família, espero
que ouçam. Ele pode fazer vocês desejarem integrá-la.
Isso foi nos versículos 9-11. Deus é nosso Pai,
se Jesus é nosso Salvador.
Agora passemos ao versículo 12: “Portanto, tudo
o que vocês querem que os outros façam a vocês,
façam também vocês a eles; porque esta é a Lei
e os Profetas”.
O “portanto” é crucial. É o mesmo que dizer:
“Assim, por causa do que eu disse, tratem as pessoas

38 John Piper
da maneira que vocês gostariam de ser tratados”.
Pelo fato de Deus ser seu Pai, de se encontrar mais
desejoso de ajudá-los do que o melhor pai humano,
e ser onipotente e ter todas as coisas à sua disposição,
sigam em frente e vivam para o bem dos outros, e
não só para si mesmos.

Deus é seu Pai. Portanto...


Vocês percebem a conexão entre ter Deus como
Pai e viver a vida para o bem das outras pessoas?
Deus é o Pai de vocês. Ele cuidará de suas neces-
sidades e lhes dará força. Deus vai guiá-los e segu-
rá-los caso caiam. Ele estará sempre presente para
vocês. Deus cuidará de suas necessidades, quando
vocês cuidarem das necessidades das outras pessoas:
“Busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a
sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescen-
tadas” (Mt 6.33).
Ele é seu Pai! Portanto, tratem os outros da
maneira que vocês gostariam de ser tratados. Não
podemos viver assim por nossa própria conta.
E mesmo que pudéssemos, isso não honraria a Deus.
Honramos a Deus quando amamos os outros na
força, sabedoria e graça proporcionadas pelo Pai.
É assim que nossa luz brilha diante dos homens para
que eles possam dar glória ao Pai (Mt 5.16; 1Pe 4.11).

John Piper 39
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

A ordem mais importante: adotado primeiro,


amando segundo

Vocês percebem a ordem? Ela é da maior impor-


tância. Nós nos entregamos a Jesus como filhos da
ira; recebemos o perdão porque ele morreu por nós;
somos adotados na família de Deus e nos é concedido
o Espírito de adoção (Rm 8.14-17). E agora que
Deus é nosso Pai, Jesus nos envia ao mundo para
amarmos da seguinte maneira: “Portanto, tudo o
que vocês querem que os outros façam a vocês, façam
também vocês a eles” [Mt 7.12]. Não amamos as
pessoas para sermos adotados; nós as amamos porque
fomos adotados.
Agora, com o cuidado paternal de Deus obtido
pelo sangue de Jesus sendo a raiz do versículo 12, qual
será o fruto? O que está envolvido em fazer aos outros
o que gostariam que eles lhes fizessem? Dois exercícios
de imaginação prudente, um ato de renúncia pessoal
e um ato de generosidade repleto de alegria.

O que está envolvido em fazer aos outros


Quando Jesus diz: “Tudo o que vocês querem
que os outros façam a vocês, façam também vocês a
eles”, ele quer dizer: façam o que vocês desejariam que
acontecesse se estivessem na situação deles. Suponham
que haja uma estudante de 20 anos em uma universi-
dade. Os pais dela financiam seus estudos. Ela sonha
40 John Piper
em cursar Medicina. De repente, ela descobre estar
grávida, e se sente apavorada. Os pais dela ficarão
furiosos, pois o sonho de cursar Medicina parece
prestes a ir pelo ralo. E para piorar: ela não sabe quem
é o pai, por causa de seu comportamento nas festas.
Agora suponham que vocês sejam alguém come
30 anos, membro de nossa igreja, casado, com um
bom emprego, e sem muitas necessidades. Se alguém
lhe perguntar o que gostaria que os outros fizessem, ele
pode brincar e dizer: “Dê-me um iPad”, ou “Quero
um vale-presente da Amazon”. Agora, se a pessoa
que fez a pergunta pensar: “Jesus disse: ‘Faça a eles
o que vocês gostariam que eles fizessem por vocês’”,
e lhe der um iPad, ou um vale-presente, ela não terá
cumprido a ordem de Jesus, mesmo que tenha feito
o que gostaria que os outros fizessem por ela. Não é
isso que Jesus quer dizer.

Dois exercícios de imaginação


O que ele quer dizer é: existem dois exercícios de
imaginação que vocês têm que fazer para obedecer a
este mandamento. Primeiro, vocês devem se imaginar
na situação da pessoa. É preciso ocorrer um exercício
sábio e imaginativo de empatia. O que a pessoa está
experimentando? Quais são as pressões dela? Quais
são as opções dela? O que ela está contemplando?
O que está sentindo? E algumas respostas só serão

John Piper 41
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

conhecidas ao conversar com a pessoa. Assim, o amor


nos atrai aos relacionamentos. Este é o primeiro exer-
cício de imaginação. Entrar na cabeça e no coração
da pessoa necessitada e sentir um pouco do que ela
sente, ao enxergar a vida pelo ponto de vista dela.
Contudo, este exercício de imaginação não é
suficiente. A pessoa pode não saber o que precisa de
fato, ou mesmo o que realmente deseja em um nível
mais profundo. Portanto, vocês não podem simples-
mente dizer: “Vou imaginar o que ela está sentindo,
então saberei o que fazer”. Vocês devem fazer outro
exercício de imaginação: tentem pensar que vocês
realmente são cristãos saturados das Escrituras, a
fim de se inteirarem do que se passa na mente, no
coração e na situação dessa pessoa, para enxergarem
os fatos a partir do ponto de vista dela e sob a pers-
pectiva da Palavra de Deus. Então vocês perguntam:
“O que eu gostaria que outros fizessem por mim? Se
eu estivesse realmente na situação dela, sabendo tudo
que sei sobre Deus e sua graça, o que eu gostaria que
alguém fizesse por mim?”.

Um ato de renúncia pessoal


É isso que vocês devem tentar fazer. E sempre que
pensam assim e tentam agir dessa maneira, percebem
como é difícil. Isso não era o que vocês desejavam
realizar com seu tempo e seu dinheiro. Cuidar das

42 John Piper
necessidades dessa pessoa agora não exige apenas
dois exercícios de imaginação, e sim um profundo
ato de renúncia pessoal. Vocês devem renunciar ao
que planejavam fazer.

Um ato de generosidade repleto de alegria


Então, por fim, vocês devem passar da renúncia
pessoal para o ato de generosidade repleto de alegria.
Ninguém se sentirá amado caso vocês tentem cuidar
das necessidades dessa pessoa de forma relutante. Se
vocês murmurarem o tempo todo sobre a inconveni-
ência da prestação desse serviço, ninguém se sentirá
cuidado. “Deus ama quem dá com alegria” (2Co 9.7),
e isso também é verdade para quem recebe a doação.
Este é significado de viver “a Regra de Ouro”,
como o versículo 12 às vezes é designado: “Tudo
o que vocês querem que os outros façam a vocês,
façam também vocês a eles” — dois exercícios de
imaginação prudente, um ato de renúncia pessoal
e um ato sincero de generosidade repleto de alegria.

A chave: você tem um Pai no céu!


E nada disso é fácil. A chave é: vocês têm um
Pai no céu. Ele os amou e enviou seu Filho para
morrer por vocês. Ele os adotou de forma deliberada.
Vocês são herdeiros de tudo que Jesus possui. Ele
lhes concedeu seu Espírito. Ele é todo-poderoso e

John Piper 43
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

totalmente sábio, e está mais pronto para ajudá-los,


quando clamarem a ele, do que o melhor pai terreno
do mundo. Por isso os versículos 7-11 precedem o
versículo 12. Confiar no Pai celestial e desfrutar dele
consiste na chave para amar dessa forma.

Ação social e pregação do evangelho


Agora, a última coisa que quero lhes dizer
procede dos versículos 13-14,6 e ela arde em meu
interior desde que iniciei meus preparativos para o
Congresso Internacional de Evangelização Mundial
de Lausanne. Apresentei minha palestra no Congresso
de Lausanne realizado na África do Sul. Quero dizer
aqui a esta igreja, que eu amo e sirvo, o mesmo que
disse lá. Quero dizer isto para que, como estamos
“Edificando um Povo” (título de nossa campanha
de arrecadação, “Building One People”), possamos
colocar em foco quem somos, o motivo de nossa
existência, nossas prioridades e a razão para crermos
que Deus está nos chamando a fim usarmos o dinheiro
dele na extensão da igreja na Região Metropolitana
de Minneapolis-Saint Paul.7

6 “Entrem pela porta estreita! Porque larga é a porta e espaçoso


é o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que
entram por ela. Estreita é a porta e apertado é o caminho que
conduz para a vida, e são poucos os que o encontram.”
7 No original, “Twin Cities” (“Cidades Gêmeas)”. (N. do R.)

44 John Piper
Desejo, de modo específico, que tenhamos clareza
real sobre a relação entre causas sociais e políticas
como aborto, tráfico humano, crise global da AIDS,
cuidados com a saúde, homossexualidade, alcoolismo
e drogas, desemprego, pessoas sem-teto, ausência
paterna, analfabetismo, crime, racismo, inacessi-
bilidade à educação, à água limpa e aos remédios
— e a lista continua...Quero que sejamos claros,
como igreja, quanto à relação entre esse tipo de
sofrimento, de um lado, e as realidades do céu e do
inferno, do outro.

A eternidade está em jogo


Observem os versículos 13-14. Logo depois de
nos dizer para nos preocuparmos com a vida e as
necessidades alheias, e amar com renúncia pessoal
radical, Jesus designa esse estilo de vida “porta estreita”
e “apertado o caminho que conduz para a vida”:
“Entrem pela porta estreita! [Ou seja, amem
as pessoas como o versículo 12 diz] Porque larga é
a porta e espaçoso é o caminho que conduz para a
perdição, e são muitos os que entram por ela. Estreita
é a porta e apertado é o caminho que conduz para a
vida, e são poucos os que o encontram”.
Destruição e vida estão em jogo quanto ao viver “a
Regra de Ouro”. Inferno e céu. No final do caminho
estreito está a vida. No final do caminho largo está a

John Piper 45
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

destruição. Paulo a chama “eterna destruição, banidos


da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.9).
Ninguém falou mais sobre o inferno no Novo
Testamento do que Jesus. Ele usou palavras como
“trevas” (Mt 8.12) e “ranger de dentes” (Mt 22.13) e
“tormentos” (Lc 16.23) e “fogo que nunca se apaga”
(Mc 9.43) e “castigo eterno” (Mt 25.46). De acordo
com Jesus, o inferno é eterno, consciente e horrível.

A Regra de Ouro e o céu e o inferno


Para concluirmos, o ponto que desejo que vejamos
aqui, é que Jesus conecta a ordem mais prática e terrena
da Bíblia (a Regra de Ouro) às realidades do céu e do
inferno. “Tudo o que vocês querem que os outros
façam a vocês, façam também vocês a eles” [v. 12],
significa que nós nos preocuparemos com todos os
tipos de sofrimento que encontrarmos no mundo. Nós
não gostamos de sofrer. Por isso não queremos que os
outros passem por nenhum tipo de sofrimento injusto.
Jesus quer dizer isso. Ele deseja que seu povo
se preocupe com o sofrimento dos outros nesta era
— o sofrimento dos nascituros e das mulheres com
gravidez de risco e todas as outras formas de sofri-
mento no mundo. Se nos importarmos com o nosso
sofrimento, nós nos preocuparemos com o sofrimento
alheio. Se nos importarmos com o nosso bem-estar,
nós nos preocuparemos com o bem-estar alheio.

46 John Piper
Dores de amor por causa de todo o sofrimento
Sim. Então Jesus afirma, nos versículos 13 e
14, que há um sofrimento pior que qualquer coisa
no mundo. Há a destruição eterna, o sofrimento
eterno. E há o bem-estar melhor que qualquer coisa
no mundo. Há a vida eterna, o eterno bem-estar.
O caminho largo leva à destruição. E o caminho
apertado leva à vida eterna.
A partir disso, concluo: o sofrimento no mundo
é terrível e limitado, mas o sofrimento no mundo
vindouro é terrível e eterno. E o amor enxerga dessa
forma. O amor não fecha os olhos para este mundo ou
para aquele mundo. O amor lida com a realidade do
sofrimento aqui, e a pior realidade do sofrimento lá.
E o que vejo a tendência atual na igreja cristã
consiste em se importar apenas com as pessoas mais
próximas. E quando penso na nossa campanha
“Edificando um Povo”, penso em edificar todo o povo
da Região Metropolitana dessas cidades que absoluta-
mente não deixará de se importar com todos os tipos
de sofrimento, em especial, com o sofrimento eterno.

Cuidando de todo o sofrimento — especialmente


do sofrimento eterno

Digo a vocês com ainda mais urgência do


que afirmei no Congresso de Lausanne: “Eu lhes
imploro. Não escolham entre o resgate de pessoas do
John Piper 47
O aborto e o caminho apertado que conduz para a vida

sofrimento neste mundo e o resgate do sofrimento


no mundo vindouro. Aceitem os dois tipos”. Isso
não significa que todos nós usaremos nosso tempo
da mesma maneira. Talentos, chamados e ministérios
são diversos. Mas isso significa que todos nós nos
preocupamos com o sofrimento que vemos agora e
com o pior sofrimento que está por vir.
Digamos nesta igreja — que esse povo consiga
fazê-lo — que nos preocupamos com todos os tipos
de sofrimento, em especial, com o sofrimento eterno.
Nós nos preocupamos com toda a vida (incluindo
a vida dos nascituros) e, de maneira especial, com
a vida eterna. Que não nos encontremos entre os
cristãos sofisticados que evitam falar sobre o sofri-
mento eterno, e os horrores do inferno. E não nos
encontremos entre os cristãos isolados que evitam
lidar com os sofrimentos incontáveis deste mundo.

Como jesus, por causa de jesus


Sejamos como Jesus. Em todas as questões sociais:
do aborto ao alcoolismo, da AIDS ao desemprego,
da fome à falta de moradia, que sejamos capazes
de prestar a ajuda que gostaríamos de receber se o
sofrimento fosse nosso. E a cada momento nesse
amor, sintamos a urgência ainda maior de orar, falar
e trabalhar a fim de resgatar as pessoas do sofrimento
eterno mediante o evangelho de Jesus.

48 John Piper
E para isso, que descansemos e nos alegremos
por termos um Pai no céu que ouve nosso clamor e
nos leva para casa.

John Piper 49
APÊNDICE

Quinze verdades em prol da vida


que devem ser proclamadas

“Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.”


(Jo 8.32)

1. As leis de homicídio fetal existentes consi-


deram culpado de homicídio culposo quem matar o
bebê no útero de uma mãe (exceto no caso de aborto).
2. Cirurgias fetais são realizadas em bebês no
útero para salvá-los, enquanto outra criança da mesma
idade está sendo legalmente aniquilada.
3. Às vezes, os bebês conseguem sobreviver por
conta própria com 23 ou 24 semanas, mas o aborto
é legalizado além desse limite.
4. Viver de forma independente não consiste em
critério da pessoalidade humana, como sabemos pelo
uso de respiradores e diálise.

John Piper 51
Quinze verdades em prol da vida que devem ser proclamadas

5. O tamanho é irrelevante para determinar


a pessoalidade humana, como sabemos pela dife-
rença entre uma criança de uma semana e uma
criança de seis anos.
6. A habilidade de raciocinar plenamente desen-
volvida não é critério da pessoalidade, como sabemos
pelas habilidade de bebês de três meses de idade.
7. Bebês no útero são cientificamente seres
humanos, por causa de sua composição genética.
8. O ultrassom abriu uma janela impressionante
para o interior do útero, pois mostra o nascituro com
oito semanas chupando o polegar, recuando de dor,
respondendo ao som. Todos os órgãos estão presentes,
o cérebro funciona, o coração bombeia o sangue, o
fígado produz células sanguíneas, os rins limpam os
fluidos, e existe uma impressão digital. Quase todos
os abortos acontecem após esta data.
9. A justiça determina que quando dois direitos
legítimos entram em conflito, a limitação dos direitos
que mais prejudicam é a mais justa. Gestar um filho
para adoção faz menos mal que matá-lo.
10. A justiça determina que quando uma pessoa,
entre duas, passar por algum incômodo ou prejuízo
para aliviar a situação conjunta, a pessoa com maior
responsabilidade pela situação deve suportar mais
incômodos ou prejuízos para aliviá-la.
52 John Piper
11. A justiça determina que uma pessoa não
pode coagir outra com a ameaça de danos voluntários
contra si mesma.
12. Os párias, os desfavorecidos e os explorados
devem receber cuidados especiais, principalmente os
sem voz própria.
13. O que ocorre no útero é obra singular de
Deus — que nutre essa pessoa. Ele é o único que
tem o direito de dar e tirar a vida.
14. Existem inúmeras clínicas que oferecem
vida e esperança para mães e filhos (e pais e avós),
com cuidados de todos os tipos, fornecidos com
carinho por pessoas que cuidarão de todas as neces-
sidades que puderem.
15. Jesus Cristo pode perdoar todos os pecados,
e dará a todos os que confiam nele a ajuda necessária
para realizarem tudo que a vida exige.

John Piper 53
Queremos ver a igreja brasileira fortalecida com
conteúdo prático, devocional, experimental e
Reformado.

A Éden é um chamado para você viver toda a


alegria que existe em Deus, hoje. Gostou da visão?

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