A citação de Frantz Fanon rege a escrita da autora e, nesse momento, o
destaque inicial refere-se à desordem. Esta que significa quebra/interrupção ou, como a autora coloca, ruptura com uma ordem que trouxe e continua trazendo destruições, explorações e caos dentro da sociedade. A exemplificação disso, possuímos o capitalismo racial e o imperialismo que tornam o mundo miserável a inúmeros habitantes quando afeta os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais desse mundo. Para se ter o fim disso, temos o desejo da autora da abolição desse mundo, onde destaca que não é o fim do mundo de forma literal, mas é o desejo de acabar com esses ciclos de um local que não é respirável ou habitável para a população. Assim, entra a descolonização, o meio para essa abolição e a fundação de uma nova sociedade.
Entretanto, compreende-se que a descolonização não pode ser realizada de
forma pacífica, afinal, está se colocando o fim de um mundo regido por aqueles que ainda querem o manter. E eles tentam o manter quando utilizam das punições mais duras possíveis para reprimir rebeliões, revoltas e insurreições. E essas punições fazem-se através de encarceramentos em massa, caos climático, dívidas impagáveis e entre outros. Dessa forma, com esses ataques constantes, os efeitos psíquicos se perduram com a prática do colonialismo, entre os quais, o desejo de ser reconhecido por esse sistema e os desejos interiorizados criados por esse sistema de colonização e capitalismo. Assim, para realizar o processo de descolonização, não basta ser oprimido, mas a necessidade de se entender os momentos que foram passivos em situações de atividade e que, de agora em diante, a necessidade de encarar o mundo.
Ademais, para o processo de descolonização, existe a necessidade de
desaprender para aprender. Isso significa que precisa-se desaprender a história imperialista, uma vez que todas as nossas concepções são derivadas de modos de pensar imperialistas. Colocando as pessoas em segmentos de grupos e governá-las de forma discriminatória, o imperialismo estabeleceu o progresso como meta, caminhando para um mundo que busque constantemente o lucro e lacrando passado em vitrines de museu. Desse modo, a partir desses aspectos, a decolonização do museu não pode ser feita de forma benigna. Necessita varrer séculos de passividade, libertação de ideologias de pacificação e assimilação, e como a autora coloca, ressuscitar uma imaginação largamente reprimida pelas condições de vida sob o capitalismo racial avançado. É romper com uma educação que nos cega.
É importante pontuar que um exercício decolonial é imaginar formas diferentes
de exposição e representação através de especulações fictícias. Há a necessidade de se criar utopias emancipatórias dentro da tradição daqueles que os dominados oprimem e permitir e tornar possível o que se acredita que é impossível, exemplo disso, a abolição da escravatura ou a Revolução Haitiana. Essas práticas permitem a imaginação de um pós-racista em um momento de violência racial. Pensar nesse mundo sem essa e outras violências exige deixar a imaginação voar, e como a autora pontua, se libertar das amarras mentais, do desejo de fazer parte e ser respeitável.