Boaventura de Sousa Santos é um autor português, nascido em 1940. Sua
trajetória não é pequena e possui vasta obra publicada. De forma breve, o autor fez direito; militava pela igreja católica em Portugal; vive o contexto de ditadura militar em Portugal; vê o tal socialismo real na Alemanha Ocidental nos anos 60; vive o processo de descolonização das colônias portuguesas na África. Sua grande virada para uma radicalização epistemológica acontece quando vem ao Brasil visitar a favela do Jacarezinho, considerado marco para radicalização de Boaventura. O autor português está comprometido com a práxis social, uma práxis que se volta aos movimentos sociais, nos seus mais diferentes formatos e desenhos e enfrentar diferentes formas de dominação, opressão e discriminação. A ciência para o autor é uma forma de conhecimento e prática social, de uma ciência empenhada com a emancipação. Com isso o autor faz uma crítica à modernidade, crítica o capitalismo e ao colonialismo (étnico, gênero, religioso e etc.). No capitalismo enxerga opressão e dominação, seja ela na escala micro ou macro, na qual, se dá também na parte do conhecimento; no colonialismo há uma expansão do capitalismo de opressão, dominação, tendo a colonialidade, colonialidade essa que marca não só a produção de conhecimento, mas as marcas que ficam nos corpos e mentes. Por isso, é preciso romper o capitalismo e o colonialismo, na qual será melhor desenvolvido mais para frente. Boavetura argumenta que para romper a dominação e opressão, usa-se da Sociologia das Ausências e Sociologias das Emergências. Grosso modo, e não se esgota aqui o significado dos conceitos, mas uma introdução. O primeiro conceito remete a ampliar e expandir o domínio de experiências sociais já disponíveis; o segundo é expandir o domínio das experiências sociais possíveis, quanto mais experiência disponíveis, mais experiências seriam possíveis no futuro. Por que Boaventura pensa esses conceitos, pensa outra forma de quebrar com o capitalismo e a colonialidade? Uma globalização hegemônica, contra uma globalização contrahegemonica? O autor observa que a dominação epistemológica, dos corpos, vem mudando e com isso ele aponta algumas hipóteses que ajudam a entender seu trabalho, pois o autor vê no Brasil, Moçambique, Colômbia, Índia e Portugal movimentos intensos contra hegemônicos: democracia, participativa, produção alternativa, multiculturalismo, direitos coletivos e cidadania cultural, estão fora dos centros hegemônicos de produção; a interação cultural e o conhecimento, o conhecimento científico e não cientifico; projetos, lutas, locais periféricos que quase ninguém enxerga ou acredita na sua potencialidade. Portanto compreensão do mundo vai além do Ocidente; tempo e temporalidade tem haver com a compreensão de mundos e formas como ela cria e legitima o poder social; presente rápido, preso entre o passado e o futuro. Seria uma fase de transição: expandir o presente e contrair o futuro. Expandir o presente para conhecer e valorizar outras experiências sociais, por isso o autor propõem expandir o presente com a sociologia das ausências. Contrair o futuro para Boaventura é propor uma sociologia das emergências. Pois “Outros saberes, não científicos nem filosóficos, e, sobretudo, os saberes não ocidentais, continuam até hoje em grande medida fora do debate” (SANTOS, 2002, p. 241).