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POLICARPO QUARESMA

LIMA BARRETO

Resumo da história

Policarpo Quaresma é um diligente funcionário público, solteiro, de meia idade,


morador do subúrbio carioca, onde vive em casa própria com a irmã, também solteira.
Cordial, pacato, metódico, extremamente pontual em sua rotina, Quaresma vive
rodeado por livros sobre todo e qualquer assunto que esteja relacionado ao Brasil.

Embora respeitado pela vizinhança, por sua condição relativamente “abastada” de


funcionário público, é incompreendido por seus hábitos discretos e seu gosto pela
leitura. Os vizinhos, os colegas de trabalho e até mesmo a irmã de Quaresma, Adelaide,
acham estranho que alguém sem formação universitária goste tanto de livros.
Policarpo, porém, segue impassível com seus projetos, indiferente à incompreensão
das pessoas.

Nada ambicioso, ele é avesso tanto à autopromoção quanto às fofocas, sendo movido
quase que exclusivamente por um profundo sentimento de amor à Pátria. E é esse
amor incondicional à Pátria que o leva a promover a "verdadeira cultura brasileira".
Então, ele passa a tomar aulas de violão com o renomado menestrel Ricardo Coração
dos Outros, indiferente ao espanto que provoca nos vizinhos ao demonstrar gosto por
um instrumento tão vulgar.

O violeiro, porém, encanta a vizinhança com suas modinhas e passa a frequentar a casa
do General Albernaz, vizinho de Policarpo. O general, movido pelo desejo de casar suas
filhas, vê nas modinhas de Coração dos Outros uma oportunidade para atrair bons
partidos à sua casa. É com essa perspectiva que Albernaz decide promover um resgate
das canções tradicionais brasileiras, para animar uma festa em sua residência. Para
tanto, ele conta com o apoio entusiasmado de Quaresma, que vislumbra a
possibilidade de incentivar o gosto pela "nossa cultura" entre seus pares.

Depois de uma conversa infrutífera com uma pobre e velha ex-escrava de Albernaz,
Maria Rita, eles conhecem um decadente poeta que coleciona danças, canções e
histórias populares. Animados, montam a apresentação do “Tangolomango” na festa
do general, número apresentado a eles pelo velho estudioso. Entretanto, Policarpo
descobre que essa canção é de origem europeia, como aliás a maioria dos contos,
canções e danças tradicionais que circulam em meio à nossa gente.

A frustração não demove nosso obstinado herói. Ao contrário, Policarpo dedica-se à


identificação das tradições genuinamente brasileiras. Seguindo por esse caminho,
propõe à Câmara dos Deputados um projeto para transformar o Tupi-Guarani em
língua oficial do Brasil. Essa petição vira motivo de chacota na imprensa, alcançando
enorme repercussão. Sua vida, de pacata, torna-se um inferno e, em meio ao bullying
dos colegas e à perseguição da imprensa, sofre um colapso nervoso e termina
internado em um hospício.
Sua recuperação é lenta e melancólica. No hospital psiquiátrico, recebe a visita de
poucos amigos, como sua afilhada, Olga, e Ricardo Coração dos Outros. Uma vez
recuperado, decide mudar-se para um sítio afastado do Rio de Janeiro: o sítio do
Sossego. Começa aí a segunda parte do livro.

No Sossego, Policarpo não abandona seus ideais nacionalistas. Ao contrário, apesar de


frustrados seus projetos culturais, lança-se com afinco à agricultura, animado pela ideia
de produzir seu próprio alimento e, até, obter algum lucro com o cultivo do solo "mais
feraz do mundo". Mais do que a ambição do dinheiro, ele é movido pela crença de que,
com seu exemplo, ajudará a promover a grandeza da Pátria e a felicidade da nação.
Seu projeto agrícola, porém, encontra diversas barreiras, como a política local, que o
arrasta para uma disputa entre caciques políticos rivais, impondo-lhe dificuldades
depois que declina de uma proposta indecorosa do presidente da Câmara Municipal,
Doutor Campos. Além disso, formigas devoram sem clemência suas hortas e seus
pomares, mostrando-se um inimigo tenaz e organizado. Por fim, Policarpo se depara
como barreiras logísticas e comerciais, que lhe impõem elevados custos e transformam
em irrisórios seus lucros.

Policarpo conclui, então, que uma ação política faz-se necessária, para que a nação
possa desenvolver plenamente seu potencial. Assim, informado sobre a revolta de
parte da Marinha contra Floriano Peixoto, no Rio de Janeiro, coloca-se imediatamente
à disposição do ditador, imaginando que o Marechal, ao se consolidar em um governo
forte, terá condições de promover as mudanças que o país tanto necessita. Começa,
assim, a terceira e última parte do romance.

Quaresma envia um telegrama a Floriano Peixoto e volta à capital, onde integra o


batalhão patriótico Cruzeiro do Sul, sob o comando do Tenente-Coronel Bustamente
(antigo Major). Quaresma é efetivado no posto de Major, título pelo qual sempre fora
conhecido, embora nunca o tivesse ocupado oficialmente.

Policarpo havia redigido um documento, no qual expunha em detalhes as reformas e


ações necessárias para o pleno desenvolvimento do país. Ele chega a entregar o
manuscrito nas mãos do próprio Floriano, mas vê sua crença na capacidade (e
interesse) do Marechal em encabeçar tais reformas esvair-se paulatinamente.

Primeiro o ditador rasga um pedaço da capa de seu trabalho para enviar um bilhete a
outro comandante, na sua frente, desculpando-se protocolarmente em seguida.
Depois, em visita ao batalhão Cruzeiro do Sul, o Marechal deixa claro que não tem a
intenção de seguir as recomendações de seu documento, chamando Quaresma de
"visionário". Sua frustração com o regime aumenta ainda mais depois que Policarpo
participa do sangrento combate que põe fim à revolta. Depois da vitória, Quaresma é
designado para o cargo de carcereiro, onde testemunha as injustiças que são infligidas
aos derrotados, em sua maioria pobres e de baixa patente. Sem conseguir se conter,
Policarpo denuncia tais vilanias em carta dirigida ao Presidente, mas termina preso por
traição.
No cárcere, Quaresma remói seu passado e reavalia suas convicções. Enquanto
aguarda seu triste fim em um escuro e abjeto calabouço, seu amigo Ricardo e sua
afilhada Olga tentam libertá-lo, mas não encontram apoio entre os demais "amigos" do
Major, receosos de se indisporem contra o regime. Termina assim a triste saga (e os
dias) desse modesto herói nacionalista.

Personagens
Policarpo Quaresma: personagem principal, é nacionalista, idealista e ingênuo. Íntegro,
discreto, cordial e estudioso, é incapaz de perceber os movimentos mesquinhos e
egoístas que o cercam, ao mesmo tempo em que devota cega paixão à "Pátria".
Adelaide: irmã de Policarpo, mora com ele e o acompanha ao longo de toda história.
Mais pragmática que o irmão, é incapaz de compreender as motivações dele.
Ricardo Coração dos Outros: trovador, foi professor de violão de Policarpo Quaresma.
Torna-se seu amigo e compartilha com Policarpo o gosto pelas canções populares. Fiel
até o último momento, busca ajuda para tentar libertar o major quando este é preso.
Olga: afilhada de Policarpo, é inteligente e possui uma relação de carinho com o
padrinho. Casa-se por obrigação (ou por preguiça) com Armando Borges, a quem ela
passa a desprezar, embora mantenha o casamento, convencida de que os homens são
todos iguais. Olga, junto com Ricardo e Coleoni, seu pai, são os verdadeiros amigos de
Quaresma.
Vicente Coleoni: pai de Olga, é um imigrante italiano grato a Policarpo por este ter-lhe
emprestado dinheiro em um momento de dificuldade de seu passado.
Armando Borges: marido de Olga, é um homem ambicioso e superficial. Apesar de
formado em Medicina, percebe-se logo que ele não é movido pelos estudos e nem pela
leitura, muito menos pelo desejo de ajudar o próximo.
General Albernaz: vizinho de Quaresma, embora sempre se refira à guerra do Paraguai,
nunca participou de uma só batalha. Sua principal preocupação é casar as cinco filhas
e garantir os proventos necessários ao luxo da família.
Ismênia: uma das filhas de Albernaz, tem um noivado de cinco anos frustrado pelo
sumiço de seu noivo. Obcecada pela ideia de casar-se, a jovem fica louca e adoece. Ao
morrer, é enterrada com seu vestido de noiva, conforme seu desejo.
Almirante Caldas: amigo de Albernaz, costuma discutir questões de promoção e de
proventos com o general. Assim como Albernaz, cita muitas batalhas, sem nunca ter
participado de nenhuma.
Genelício: jovem “promissor”, em ascensão na carreira pública, é um bajulador, cheio
de artimanhas para agradar aos chefes e subir de cargo. Alcança, assim, altas posições
como empregado do Tesouro e torna-se genro do General Albernaz.
Major Bustamante: amigo de Caldas e de Albernaz, o militar engrossa o coro de altas
patentes pouco afeitas ao combate. Promovido a Tenente-Coronel durante a revolta da
Marinha, comanda o batalhão Cruzeiro do Sul, onde Quaresma serve, mas prefere
dedicar-se com esmero à escrituração dos livros e aos controles burocráticos.
Maria Rita: idosa pobre, ex-escrava, trabalhou na casa de Albernaz há muitos. É
procurada por ele e por Quaresma, em busca de cantigas populares brasileiras.
Felizardo: fiel servo de Policarpo, muda-se com ele para o sítio do Sossego, ajudando-
o na lida da terra.
Doutor Campos: presidente da Câmara de Curuzu, município onde se situa o sítio do
Sossego, tenta corromper Quaresma que, ao se recusar, passa a ser tratado como
inimigo político.
Marechal Floriano: presidente do Brasil de 1891 a 1894, conduz o governo em meio a
uma revolta que pede a sua deposição. Recebe Quaresma pessoalmente e o trata com
cordialidade, mas despreza o manuscrito em que Policarpo apresenta propostas para
o desenvolvimento do Brasil.

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