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BORDAGENS SOBRE LINGUAGEM MATEMÁTICA EM TESES E DISSERTAÇÕES

NO BRASIL
1. Introdução
A contextualização dos temas matemáticos e o desenvolvimento dos significados das
palavras que implica no desenvolvimento da atenção, da memória lógica, abstração, e outras
capacidades de comparar e diferenciar não podem ser domados apenas através da
aprendizagem inicial (OLIVEIRA 2007). Nesse sentido, admite-se que, para que um
indivíduo compreenda um conceito, é preciso refletir sobre ele, e buscar nele e em diferentes
contextos a abstração por meio de suas representações, generalizações e sintetizações.
Diante de tais contestações, e perante as experiências vivenciadas enquanto aluno e
estagiário nas escolas no ensino básico de modo que as expressivas dificuldades inerentes à
compreensão da linguagem matemática reiteram a importância de realizar estudos referentes à
compreensão sobre elementos da linguagem matemática.
O conhecimento da linguagem matemática é de total importância na educação e no
ensino da matemática, logo o não conhecer implica em dificuldades na aprendizagem dos
conteúdos trabalhados nas aulas de matemática, ocorrência que itera a importância dos
aspectos expostos neste trabalho, o qual foi orientado pela seguinte pergunta: como a
linguagem matemática tem sido abordada em objetos de estudos de teses e dissertações no
Brasil? A pergunta exposta orientou a revisão de literatura realizada nesse trabalho, cujo
objetivo foi apresentar como a linguagem matemática tem sido observada enquanto objeto de
estudo de pesquisas relativas às áreas de conhecimento da educação e Ensino de Matemática
no Brasil.
Fica respeitável ressaltar que a analise descrita no decorrer desse estudo é de grande
importância, uma vez que possibilita ao leitor ter acesso a uma exposição prévia de teses e
dissertações defendidas no Brasil, no período de 2011 a 2021, que contemplaram o tema
linguagem matemática como parte de seus objetos de pesquisa, de maneira que seja provável
que este trabalho sirva de auxílio para a realização de outras pesquisas vinculadas a esse tema.

2. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
O estudo apresentado nesse trabalho se caracterizou como uma revisão de literatura, na
qual se tomou como fonte de dados pesquisas que contemplaram a linguagem matemática
como parte de seu objeto de pesquisa. As informações foram coletadas mediante os
trabalhos indexados no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e na biblioteca digital
de teses e dissertações BDTD. O termo “Linguagem matemática” (entre aspas) foi
definido como chave de pesquisa, de maneira que foram considerados os trabalhos
relacionados às áreas de conhecimento de Ensino e Educação Matemática. Nessas
condições, destacam-se os trabalhos elencados respectivamente no Quadro1 e no Quadro
2:

QUADRO 1

Teses/Dissertações defendidas no Brasil que contemplaram a linguagem matemática


como parte de seus objetos de estudo, na CAPES.

Autor Titulo Ano Instituição Material

Thomé (2020) Pontuação em Linguagem Matemática. 2020 UERJ Dissertação

Albuquerque Linguagem matemática: conhecimentos e 2019 UNIVASF Dissertação


(2019) usos de simbologias na interpretação de
problemas.

Dias (2019) O ensino de matemática através da 2019 UFMT Dissertação


compreensão da linguagem matemática.

Guimarães (2019) Analise de discursos matemáticos a partir 2019 UEPB Dissertação


de conceitos Bakhtinianos e registros de
representações semióticas.

Miranda (2019) Significados do sinal de igualdade na 2019 UERJ Dissertação


matemática.

Marques (2019) O ensino de funções no 9º ano: 2019 UFMG Dissertação


construindo significados para função a
partir de generalizações.

Silva (2019) Significado das palavras: uma ponte para


os conteúdos de matemática.
2019 UFG Dissertação
Provas sem palavras: uma ponte entre a
Ortega (2018) intuição e a linguagem matemática 2018 UTFPR Dissertação

Rocha Junior Uma Análise da Influência da Escrita 2018 UFRJ Dissertação


(2018) Simbólica no Rigor e Precisão sob o
Olhar da Semiótica.

Oliveira (2018) Interpretação dos enunciados de UFOP Dissertação


problemas matemáticos: um estudo com
alunos do 6° ano do Ensino Fundamental
de uma escola pública do interior de
Minas Gerais.
Modelagem e linguagem científica no
Scheller (2017) ensino médio. 2017 PUCRS Tese

Coêlho (2017) O vocabulário geométrico em livros 2017 PUC/SP Dissertação


didáticos dos anos iniciais do ensino
fundamental

Paiva Silva Compreensão da linguagem matemática 2017 UFMT Dissertação


(2017) por alunos do 9º ano do ensino
fundamental.

Maron (2017) Modelagem matemática como jogo de 2017 UFPR Dissertação


linguagem.

Queiroz (2016) Linguagem matemática e gêneros do 2016 UEPB Dissertação


discurso: produção de significados em
aulas de matemática por meio da leitura e
escrita de panfletos

Paiva (2016) O desafio da linguagem matemática 2016 UESB Dissertação


através das novas tecnologias
Língua materna e linguagem matemática:
Freitas (2015) influências na resolução de problemas 2015 UEPB Dissertação
matemáticos.

Araújo (2015) A linguagem matemática para uso em 2015 UFPB Dissertação


sites de busca ou em ferramentas para
portadores de necessidades especiais
Valentin (2015) Pensamento narrativo na aprendizagem 2015 UNIAN Tese
matemática: estudo com alunos do ensino
fundamental na resolução de atividade de
álgebra

Paula (2014) O termo ‘axioma’ no tempo, 2014 UFMT Tese


considerando a relação entre a filosofia e
a matemática alicerçada no pensamento
sobre complementaridade ‘otteano’.

Yamasaki (2014) Considerações sobre alguns aspectos da 2014 UEL Dissertação


linguagem matemática

Quadro 2

Teses/Dissertações defendidas no Brasil que contemplaram a linguagem matemática


como parte de seus objetos de estudo, na BDTD.

Autor Titulo Ano Instituição Material

Martins (2019) A representação da informação no 2019 UFPA Dissertação


domínio da matemática: análise em
linguagens documentárias.

Sampaio (2018) Linguagem gráfica no livro didático de 2018 UNESP Dissertação


Matemática: uma análise a partir da
mediação dialética

Vallilo (2018) A linguagem matemática no estudo de 2018 UNESP Dissertação


números racionais: uma abordagem
através da resolução de problemas.

Pacheco (2017) Matemática na creche? Uma reflexão 2017 UFMG Dissertação


sobre as práticas pedagógicas em um
centro municipal de educação infantil
em contagem

Silva (2017) A (in)formalização da linguagem 2017 UEG Dissertação


matemática nos anos iniciais do ensino
fundamental: o blog como ferramenta
auxiliar.

Maia (2016) Uma análise da linguagem utilizada em 2016 UFMG Dissertação


livros didáticos de matemática do ensino
médio

Costa (2015) Tradução da linguagem matemática para 2016 UFPA Dissertação


libras: jogos de linguagem envolvendo
alunos surdos.

Mannrich (2014) Linguagem matemática, física e ensino: 2014 UFSC Dissertação


como licenciandos discutem essa relação.

Flores (2013) Linguagem matemática e jogos: uma 2013 UFSCar Dissertação


introdução ao estudo de expressões do 1º
grau para alunos do EJA.

Melo (2013) Dois jogos de linguagem: a informática e 2013 UFPA Dissertação


a matemática na aprendizagem de função
quadrática.

Meira (2012) Labirinto da compreensão de regras em 2012 UFPA Dissertação


matemática: um estudo a partir da regra
de três.

Lorensatti (2011) Educação e linguagem: os mecanismos 2011 UCS Dissertação


coesivos na compreensão de problemas
de aritmética
Observou-se, dentre os trabalhos produzidos, que o estudo da gramatica na linguagem
matemática tem se configurado como objeto de pesquisa. Destacam-se, nesse sentido, as
dissertações de Thomé (2020), Miranda (2019), Silva (2019).
Thomé (2020) em seus estudos observou que a grande dificuldade dos alunos era em
interpretar termos matemáticos básicos, resolver algoritmos, onde se tornava mais visível na
leitura e interpretação de problemas. Analisou o estudo da gramatica da linguagem
matemática, que assim como o português, apresenta figuras de linguagem, pontuação, e outros
elementos da estrutura gramatical. Em sua analise, Thomé (2020) focou no uso da pontuação
em certas expressões matemáticas onde se faz necessário para se ler corretamente, permitido
maior clareza à sentença, seja para eliminar ambiguidades, seja para mudar os sentidos de
uma frase, ou corrigir incoerências em sentenças matemáticas, tudo voltado para o ensino
básico, as analises relativas foram efetivadas através dos estudos de Cunha; Velasco (2019),
Silveira (2014), Souza (2020).
Em sua pesquisa Miranda (2019) realizou um estudo, cujo objetivo foi fazer a
classificação geral e sistemática dos significados do sinal de igualdade na matemática,
catalogando-os nos mais variados contextos, com intuito de contribuir para ampliar a
compreensão do sinal de igualdade, determinou através do estudo quais os conhecimentos que
os alunos da educação básica possuem a cerca do sinal de igualdade e para isso usou trabalhos
como os de Bandara (2011), Civinski; Baier, (2014); Falkner; Levi; Carpenter, (1999);
Gonzalez (2006); Oksuz (2007) e Cunha; Velasco (2019). Miranda (2019) em seus resultados,
concluiu que devido a um erro estratégico de ensino os alunos possuem uma única
interpretação do sinal de igualdade não à incapacidade dos alunos em compreender os demais
significados.
Silva (2019) apresentou em sua dissertação um estudo bibliográfico que buscou
compreender quais são os componentes das palavras que proporcionam a correspondência
entre língua materna e a língua matemática, onde afirmou que não existe só uma linguagem
para explicar a realidade, na verdade a interação entre as linguagens é que proporciona um
salto na compreensão do mundo, sendo o sentido das palavras a ponte para os conteúdos de
matemática, aplicou também as classes gramaticais em comparação com a linguagem
matemática, criando significados na mesma junta à linguagem materna. As analises relativas
aos estudos sobre linguagem matemática foram efetivadas à luz dos trabalhos de Dias (2019),
Freitas (2015), Oliveira (2012), Silva (2015), Machado (2003), Vigotsky (2008). Em seu
trabalho Silva (2019), criou o que ele chama de produto educacional, um livro digital com o
objetivo de apresentar aos professores da educação básica algumas relações entre língua
materna e a língua matemática, sendo o significado e o sentido das palavras a ponte para
chegar aos conhecimentos da matemática, além disso, o autor fez algumas analises de
determinadas questões do exame nacional do ensino médio o ENEM com o objetivo de
estudar como o significado ou sentido das palavras se correspondem com os conteúdos do
exame.
Verificou- se, em outra perspectiva, que o objeto “Linguagem Matemática” foi
vinculado pesquisas cuja teoria do registro de representação semiótica foi analisada. São eles:
Guimarães (2019)....
Guimarães (2019) realizou uma pesquisa, cujo objetivo foi verificar nos alunos do
curso de licenciatura em matemática do 2º ao 8º período o uso de suas representações dos
objetos matemáticos em algumas questões em formato de problemas. Abordou a teoria de
representação semiótica de Raymond Duval em comparação com os conceitos Bakhthinianos
na compreensão da matemática. A aquisição dos conhecimentos sobre semiótica, discurso,
dentre outros conhecimentos abordados, aliados ao conhecimento matemático e à experiência
profissional, auxiliam este professor pesquisador a compreender algumas falhas presentes no
processo de ensino nos mais diversos níveis e algumas dificuldades presentes no processo de
aprendizagem. Guimarães (2019) concluiu através de sua pesquisa que as representações dos
objetos matemáticos, isto é seus registros quando realizados dentro do contexto matemático,
são vistos carregados de significados provenientes das relações sócios- históricas, levando em
consideração que se levarmos os objetos matemáticos para outros contextos, nos deparamos
com a possibilidade de geração de diversos sentidos sem a necessidade de ressignificação,
afirmando que o processo de registro de representação semiótica é um método de produção de
enunciados acarretados de uma série de características do sujeito produtor.
Uma das dissertações defendidas, Dias (2019) teve objetivo de elaborar, aplicar e
analisar uma proposta de ensino que visou auxiliar a compreensão da linguagem matemática,
sendo aplicada de maneira complementar ao método de ensino praticado hoje nas escolas.
Para tanto, realizou seus estudos com os profissionais técnicos da universidade do estado de
Mato Grosso do campo universitário de Pontes Lacerda e alunos de uma escola estadual sem
Ponte Lacerda, e teve como fundamentação teórica aos apontamentos de Polya (1995, 2006)
para resolução de problemas, Machado (2011), Davis (1979). Em seus resultados o autor
observou que na primeira pesquisa com os profissionais técnicos, no geral, não foram capazes
de fazer a síntese eles não foram capazes de filtrar ao argumentos matemáticos presentes em
um texto, após a apresentação da proposta, foi mostrado como seria essa nova forma de
trabalho, com um esquema composto por: sintetize, matematize, generalize, formalize,
aplique/ treine.

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