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NUMERAMENTO 2
Introdução
No contexto escolar, é costume que as pessoas enxerguem português e mate-
mática como disciplinas opostas. Atualmente, porém, a noção de letramento
aproximou as duas áreas e as inseriu no universo da prática escolar social.
O letramento apresenta a leitura como a base da alfabetização e do
trabalho das aulas de português. Na matemática, na mesma linha, há o
numeramento, que encara a leitura como base da construção do conheci-
mento matemático.
Neste capítulo, você vai estudar o numeramento a partir da analogia com
o letramento. Além disso, você vai conhecer as abordagens teóricas para o
ensino de matemática na perspectiva do numeramento, bem como as pro-
postas pedagógicas que desenvolvem o conhecimento de numeramento.
1 Numeramento e letramento
Quando se pensa na função inicial da escola, é comum que se afirme que
aprender o básico é aprender a ler, a escrever e a contar. O termo “letramento”
surgiu para dar conta de uma necessidade: auxiliar os alunos no desenvol-
vimento da capacidade de ler e escrever. Essa capacidade envolve aspectos
2 Ensino de matemática e letramento
2 Abordagens teóricas
A noção de numeramento nasceu depois de um percurso de tentativas de de-
signar a matemática utilizada no dia a dia. De alguma forma, as correntes que
tratavam do ensino de matemática buscavam se opor ao chamado “movimento
da matemática moderna”, da década de 1960. Esse movimento defendia que
a matemática deveria ser ensinada nas escolas com formalidade e rigor dos
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Os termos usados para designar essa matemática diferente foram os seguintes: so-
ciomatemática (Cláudia Zalavski, em 1973); matemática informal (Posner, em 1982);
matemática oprimida (Paulus Gerdes, em 1982); matemática não estandartizada (Gerdes,
Caraher e Harris, em 1987); matemática escondida ou congelada (Gerdes, em 1985);
matemática popular (Mellin-Olsen, em 1986).
3 Propostas pedagógicas
Os estudos e as discussões sobre as práticas de letramento contribuíram
para a reflexão sobre a função das aulas de diversas disciplinas, entre elas a
matemática. Além disso, esses estudos favoreceram a associação entre texto e
matemática. Nesse sentido, as propostas pedagógicas que desenvolveram o con-
ceito de numeramento contemplam as relações entre linguagem e matemática.
As propostas de pesquisadores e professores põem em cena o trabalho com
intenção discursiva. Isso implica o uso de textos matemáticos ou de outros
textos para ensinar matemática, além do uso de textos cuja leitura depende
da mobilização de conhecimentos matemáticos. Fonseca e Cardoso (2007)
classificam a relação entre matemática e letramento em três tipos: textos de
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Não se pode negar que essa inserção do contexto nas aulas de matemática
revela uma aproximação entre as práticas escolares e as sociais. Porém, é
comum a tendência de as práticas sociais serem submetidas às questões
escolares, ou seja, o texto geralmente está a serviço da matemática. O
problema desse tipo de trabalho é que a situação utilizada nos textos
parece superficial e artificial. Contudo, seria fundamental estabelecer
uma “[...] situação própria das leituras sociais, em que o leitor procura no
texto resposta para suas próprias indagações ou necessidades” (FONSECA;
CARDOSO, 2007, p. 64).
Essa limitação do objetivo da leitura faz o leitor enfrentar o texto não
para responder a suas demandas próprias e genuínas, mas para responder a
perguntas formuladas por outrem. Isso inibe a autonomia do leitor e reforça
a concepção de que os objetivos de leitura associados à atividade matemática
limitam-se à identificação de dados (informados ou demandados). Assim, não
se contribui para que os alunos se tornem leitores autônomos em matemática,
adaptados à variabilidade que se poderia atribuir à leitura na atividade mate-
mática (FONSECA; CARDOSO, 2007).
Note que os textos costumam ser transformados para se adaptarem às fina-
lidades escolares. Essa leitura, portanto, embora com intenções significativas
de socializar a matemática, é contaminada pelas estratégias de leitura escolares,
pela didatização. Isso revela que é necessário também rever as práticas esco-
lares de leitura: como aproximá-las da leitura da sociedade contemporânea?
A terceira forma de uso de textos nas aulas de matemática é aquela que
supõe ou mobiliza conhecimento matemático para o tratamento de questões
de outros contextos. Essa maneira de relacionar textos e matemática nas aulas
é mais rara, pois o objetivo não é declaradamente ensinar matemática. Como
afirmam Fonseca e Cardoso (2007, p. 66):
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Dessa forma, para que os alunos consigam realizar leituras críticas dos
textos e da realidade, o professor de matemática precisa inserir as práticas
sociais e de leitura nas suas aulas. Trabalhos desenvolvidos a partir dessa
perspectiva exigem o uso de temas ligados ao cotidiano dos alunos. Além disso,
exigem a desvinculação entre os objetivos escolares e a simples necessidade
de desenvolver conhecimentos de uma disciplina, no caso, a matemática.
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Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B4JIJny_-_7pYnJqbXM5ZXI5bEE/view.
Acesso em: 29 jan. 2020.
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