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Publicado em NOVA ESCOLA 21 de Abril | 2021

Valorização dos povos indígenas

Literatura indígena: 10
livros para usar em sala
de aula com os alunos
Além de revelarem saberes e modos de vida dos povos
originários, textos escritos pelos próprios indígenas são um
meio de resistência e uma forma de refletir sobre a
pluralidade cultural brasileira
Juliana Faddul

Composição: Duda Oliva/Fotos: Wikimedia, Editora Edelbra, MiraOnline, Livraria


Mairaca, DanielMundiruku Blogspot, Editora Peirópolis/Divulgação
Quando os portugueses chegaram ao que hoje é o Brasil, em 1500, havia cerca
de 3 milhões de indígenas. Hoje, mais de 500 anos depois, essa população foi
reduzida a 896.917 pessoas. Com o extermínio de várias etnias, os indígenas
tiveram de encontrar diferentes maneiras de preservar sua cultura e
ancestralidade. A literatura, principalmente a infantojuvenil, foi uma delas.
Sobre povos indígenas, leia também:
15 conteúdos sobre povos indígenas para ajudar professores
Geometria presente na arte dos povos indígenas
Como trabalhar a cultura dos povos indígenas na Educação Infantil
“A literatura produzida por indígenas ainda precisa crescer, mas o gênero
infantojuvenil acaba servindo como ferramenta de resistência e de
conscientização do povo brasileiro, já que, na ausência da oralidade, as figuras
mitológicas tendem a sumir”, diz Ytanajé Coelho Cardoso, professor e escritor da
etnia Munduruku.
Por conta disso, indígenas defendem a leitura de publicações escritas por
herdeiros dos povos originários, uma vez que é possível trabalhar essa narrativa
como forma de resiliência. “Essa também é uma maneira do professor não-
indígena abordar a questão dos povos originários com autonomia em relação
aos livros didáticos, que muitas vezes reforçam padrões e estereótipos, como o
indígena correndo nu pela mata”, completa.
Muito além do cocar: leve a diversidade indígena aos alunos
A partir da experiência e conhecimento de professores indígenas, saiba como
não cair em estereótipos e a abordar de forma respeitosa e pedagogicamente
relevante a diversidade dos povos indígenas brasileiros
acesse aqui os conteúdos

Ao tratar a temática em sala de aula, no entanto, é necessário ter cautela para


mostrar que os mitos não são simples fábulas, mas crenças dos povos
originários, e ter cuidado para não desmerecê-las. “Já imaginou a polêmica se
um professor trabalhasse de forma literária e lúdica a bíblia em sala de aula? É
preciso responsabilidade também na hora de mostrar mitos indígenas para os
alunos”, defende Ytanajé.
Para Tania Milene Nugoli Moraes, professora e antropóloga que atua na
Coordenadoria de Políticas Específicas para Educação da Secretaria de Estado
de Educação de Mato Grosso do Sul, trazer para a sala de aula a literatura
indígena é fundamental para fortalecer e empreender um diálogo com culturas
e saberes diferentes.
“A literatura indígena na escola é um espaço para a reflexão sobre a pluralidade
cultural brasileira, sobre discutir e aprender a conviver com outros, um lugar de
‘valorizar um fazer diferente’ para além da visão eurocêntrica”, afirma.
Leia também: Como abordar as culturas dos povos indígenas na alfabetização
Uma abordagem interessante para trabalhar os livros infanto-juvenis é mesclar
as obras com temáticas sociais. Laucídio Correa da Costa, da etnia Guató e
coordenador pedagógico da Escola Estadual Indígena João Quirino de Carvalho
Toghopanaã, em Corumbá (MS), propõe adaptar os princípios e os aspectos
sociais e econômicos que estão escondidos nos mitos para os dias de hoje.
“Assim é possível trabalhar a identificação, os direitos fundamentais e a defesa
da dignidade humana”, diz.
O educador sugere, inclusive, envolver outros grupos minoritárias, como a
cultura africana e afro-brasileira. “É importante não ficar só no ‘indígena
coitadinho que foi preso e escravizado’. Tem de passar por isso, é claro, mas
também é preciso enfatizar as questões sociais, culturais, econômicas e políticas
daquela época. Ao incluir as questões afro, mostramos que o indígena não é
fraco, mas que foi prejudicado no decorrer da história.”
Ytanajé, Tania, Laucídio e Janice Cristine Thiél, professora titular de Literatura da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) recomendam obras para os
professores utilizarem em sala de aula com os alunos.
Confira 10 sugestões de livros

1) Das crianças Ikpeng para o mundo: Marangmotxíngmo Mïrang , de


Rita Carelli (SESI Editora)
O livro descreve 24 horas das crianças Yampï, Yuwipó, Kamatxi e Eruwó, da etnia
Ikpeng, no Mato Grosso. Elas contam como é a casa do cacique, como tomam
banho de rio e como se alimentam. A obra, em edição bilíngue, vem
acompanhada de um filme dirigido pelos cineastas Kumaré, Karané e Natuyu
Yuwipo Txicão. É possível trabalhar o imaginário dos alunos: como elas acham
que é o cotidiano das crianças Ikpeng antes de ler o livro, após a leitura e depois
de ver o filme.

2) Memórias de índio: uma quase autobiografia , de Daniel Munduruku


(Edelbra)
Daniel Munduruku relembra episódios da sua vida, como a descoberta do amor,
a conexão com sua ancestralidade, a cultura Munduruku e a construção de sua
identidade como indígena nos dias atuais. As crônicas são curtas, e a narrativa
resgata a oralidade.
Curso: Literatura no Ensino Fundamental 2
Neste curso, conheça estratégias didáticas que contribuam para a formação de
adolescentes que sejam leitores literários, por meio da apresentação de
gêneros que dialogam com a realidade deles.
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3) A palavra do grande chefe: uma adaptação livre, poética e ilustrada
do discurso do Chefe Seattle, de Daniel Munduruku (Global)
Em 1854, o líder indígena Noah Sealth discursou ao grande “chefe de
Washington”, o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, sobre
direitos indígenas.
O texto do ‘Chief Seattle’ acabou se transformando em um documento
importante e memorável, mas aqui Munduruku imprime a sua visão do texto. “O
livro apresenta uma tradução livre de um discurso que trata da importância de
se preservar o meio ambiente, além de propor reflexões sobre questões
históricas, éticas e políticas”, diz Janice.

4) Kurumi Guaré no Coração da Amazônia, de Yaguarê Yamã (FTD)


A obra narra aventuras infantis e descreve o povo Maraguá, no Mato Grosso,
com ensinamentos dos povos da floresta e desenhos. “O interessante é que o
livro lança o leitor para uma rede de significados construídos na interação entre
palavra e imagem”, observa Janice.

5) Morõgetá Witã: oito contos mágicos , de Yaguarê Yamã (Positivo)


O geógrafo Yaguarê Yamã reuniu oito contos da tradição do povo Maraguá, que
vive no Amazonas. Os textos convidam o leitor a refletir sobre questões
importantes da nossa existência por meio dos mitos. “São histórias curtas e
interessantes, ideais para o público infantojuvenil”, comenta Ytanajé. O prefácio
é da antropóloga Betty Mindlin.

6) Yahi Puiro Ki'ti: origem da constelação da Garça, de Jaime Diakara


(Valer)
Diakara conta, na visão da etnia Desana, a teoria da origem do homem e o lugar
que ele ocupa no universo. “Com este livro, é possível trabalhar tanto a questão
das mitologias quanto a astronomia”, diz Ytanajé.
Fundamental 1: como incentivar a leitura em casa
Saiba como orientar e incentivar as famílias a vivenciarem bons momentos de
leitura em casa durante a pandemia.
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7) Coisas de índio, de Daniel Munduruku (Callis)


Neste livro, o autor trabalha a potência da expressão "coisas de índio". Embora
tenha carregado por anos um valor negativo, Munduruku defende que é
possível transformar a frase em algo plural e rico. “É um livro universal sobre ser
indígena no Brasil”, afirma Ytanajé.

8) Sinal do pajé, Daniel Munduruku (Peirópolis)


Este livro mostra que, independentemente da realidade do jovem, a fase da
adolescência é cheia de aflições e incertezas e, com os indígenas, não é
diferente. Aqui, Munduruku fala sobre “a casa dos homens”, local onde os
curumins vão no fim da infância, e os pajés e anciões exaltam as tradições. O
autor também aborda o interesse pela vida fora da aldeia e a modernidade
urbana. “O livro é rico em figuras e tem poucas páginas. O professor pode
propor uma reflexão em sala de aula, fazendo ligações entre a cultura indígena
e a vivência não indígena”, sugere Ytanajé.

9) As fabulosas fábulas de Iauaretê, de Kaka Wera Jecupe (Peirópolis)


Onça que se casa, senhora que detém sabedoria eterna, pena mágica. As
fábulas deste povo que vive no Amazonas falam de forma simples de episódios
da vida, como nascimento, morte, amor, paz, erros e acertos. O livro é ilustrado
por Sawara, a filha adolescente do autor.

10) Aldeias, palavras e mundos indígenas , de Valéria Macedo


(Companhia das Letrinhas)
A autora traz similaridades, diferenças e curiosidades sobre diversos povos
indígenas do Brasil, como Yanomami, Krahô, Kuikuro e Guarani Mbya. Os alunos
poderão saber um pouco das peculiaridades dessas etnias -- onde moram,
como se enfeitam, suas festas e língua.

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