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A
Lei n°11.645/08 é um importante marco legal para a des-
colonização curricular, pois estabelece a obrigatoriedade
do estudo da história e da cultura afro-brasileira e indíge-
na. Considerando a importância do lúdico para o processo
de ensino-aprendizagem e a Lei n° 11.645/08, este trabalho apresenta qua-
tro sugestões de jogos educativos sobre a temática indígena com a intenção
de promover o reconhecimento e a valorização da pluralidade das identida-
des dos povos originários. Os jogos educativos foram construídos baseados
na concepção dos seguintes jogos: quebra-cabeça, caça-palavras, memória e
adivinhação. Os jogos foram planejados tendo como público-alvo estudantes
do Ensino Fundamental da Prefeitura Municipal de São Paulo. De acordo
com o Currículo da Cidade de São Paulo, o Ensino Fundamental é dividido
em três ciclos de aprendizagem: Alfabetização (1º - 3º ano), Interdisciplinar
(4º - 6º ano) e Autoral (7º - 9º ano). Os jogos foram planejados pensando nas
características de cada ciclo de aprendizagem. A principal contribuição des-
te trabalho são as sugestões de jogos inéditos sobre os povos originários bra-
sileiros que poderão ser utilizados por docentes e discentes. Os jogos podem
contribuir para a desconstrução de estereótipos ao possibilitar a visibilização
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Introdução
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rizado pela mata escura, fechada, tropi-
ciedade nacional, resgatando as suas
cal, pela caatinga, pela zona árida, mas
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mica e política, pertinentes à história
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que permitam o protagonismo estudantil e
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adivinhação “Quem eu sou?” foi planejado buições sobre o uso de jogos para o ensino,
com a intenção de reconhecer as contribui- baseando-se em Kishimoto (1996), Fortu-
ções sociais de personalidades indígenas. na (2003) e Rodrigues (2013). Apoiando-se
nas considerações sobre a descolonização
A proposta pedagógica de usar jogos
curricular e sobre os jogos educativos, na
educativos para trazer visibilidade às con-
terceira parte é descrito o processo de ela-
tribuições de personalidades indígenas bra-
boração dos jogos. Na quarta seção, são
sileiras favorece o processo de socialização,
sugeridos diferentes jogos educativos para
o protagonismo, a participação, a criativi-
os estudantes dos ciclos de aprendizagem
dade e o trabalho em grupo, utilizando os
presentes no Currículo da Cidade de São
jogos educativos na construção do conheci-
mento coletivo e valorizando a multicultu-
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ralidade da sociedade brasileira.
dades do uso dos jogos educativos como
Este trabalho está dividido em 5 se- recursos didáticos que se constituem ca-
ções. Na primeira seção, são apresentadas minhos para a descolonização curricular
algumas discussões sobre o termo currícu- ao promover o reconhecimento e a valori-
lo, baseado em Sacristán (2000), Goodson zação das identidades dos povos originá-
- rios brasileiros.
-
A descolonização curricular
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Durante muito tempo aprendemos a cha- -
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de ser
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tivos na escola.
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Os jogos educativos como
estratégia de ensino
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Metodologia para a construção dos jogos
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Sugestões de jogos sobre a temática
povos indígenas no Brasil
Nesta seção, serão apresentadas as su- co” e “Caça palavras: Etnias indígenas”.
gestões de jogos sobre a temática povos in- No “Quebra-cabeça poético” baseado na
dígenas brasileiros. poesia “União dos Povos” de Marcia Way-
na Kambeba, propõe-se a partir da leitura
Para o Ciclo de Alfabetização foram dessa poesia que os estudantes organizem e
pensados os jogos “Quebra-cabeça poéti- ordenem frases.
Figura 01: Sugestão do Quebra-cabeça poético elaborado a partir da poesia “União dos Povos”
de Marcia Wayna Kambeba
Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/poesias/4404025. Acesso em 16 nov. 2021.
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Figura 02: Sugestão do jogo caça-palavras sobre a temática etnias indígenas
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Considerações Finais
currículo escolar também teve marcas que para que os estudantes elaborem seus
contribuíram para a manutenção de este- próprios jogos ou como forma de sistema-
reótipos sobre as populações indígenas, por tização de uma sequência de atividades.
-
Entende-se que, dentro da organiza-
das com a visão dos europeus sobre os povos
ção do trabalho pedagógico, o jogo como
originários, como “índios” e “tribos”, no-
estratégia de ensino pode aparecer de
ções incorretas de que os indígenas seriam
várias formas, dependendo do objetivo
didático estabelecido pelo docente. Vale
“Brasil foi descoberto”.
destacar que os jogos apresentados pode-
Ao abordar, ao longo do Ensino Fun- rão ser testados com os discentes do En-
sino Fundamental, para verificar se eles
indígenas apresenta-se uma possibilidade se sentem motivados com essa prática, e
de romper com o estereótipo de que os in- se os objetivos de aprendizagem pensa-
dígenas são todos iguais. Na mesma linha, a dos no planejamento dos jogos didáticos
- serão alcançados. Oficinas de formação
sibilita conhecer os povos originários para inicial e continuada de professores tam-
além da descrição feita pela visão eurocên- bém são possibilidades de continuidade
desta pesquisa, usando os produtos deste
também permite reconhecer e valorizar as trabalho como alvo de discussão.
contribuições de diferentes personalidades
Entre as dificuldades, pode-se colo-
indígenas. Nesse sentido, a ideia é que os
car que as atividades aqui sugeridas de-
estudantes associem os indígenas conforme
suas contribuições, reconhecendo o papel da
Pandemia, é preciso pensar que jogos
colonização para a condição dessas pessoas
coletivos não podem ser usados de-
e os seus lugares de fala sobre suas culturas e
vido ao risco de contágio.
produção de conhecimento.
Dessa forma, a principal
Desse modo, a principal potencialida-
contribuição deste trabalho
de do uso de jogos para a descolonização
é ref letir sobre como atrelar
curricular é promover uma aprendizagem
a descolonização curricu-
-
lar à aprendizagem lúdica
vando-os a ter papel ativo no processo de
ao apresentar possibilida-
construção do conhecimento.
des de jogos que permitem
Os produtos aqui apresentados po- identificar a pluralidade dos
dem ser alvo de questionamentos, críticas povos indígenas e reconhe-
e aprimoramentos. Os jogos podem ser cer suas contribuições.
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