Você está na página 1de 16

ESTUDO DE CASO: A ENCRUZA ENTRE A POLÍTICA CULTURAL DO

CENTRO CULTURAL BOM JARDIM E OS POVOS DE TERREIRO DO


TERRITÓRIO

Isabel Mayara Gomes Fernandes Brasil 1


Paulo Eduardo Marques de Sousa 2

RESUMO: A relação entre a política pública desempenhada pelo Centro Cultural Bom Jardim
(CCBJ) e sua relação com os Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim, termo nomeado pelo
grupo durante os encontros, tem como proposta descritiva e analítica neste estudo de caso. A
análise acontece durante os anos de 2022 e 2023, período em que iniciou o estreitamento dos
vínculos com algumas representações do movimento Povos de Terreiro do território. O método
estudo de caso é escolhido como forma de sistematizar pela primeira vez, na história do CCBJ,
os feitos e as contribuições desenvolvidas ao longo desse período, a partir da compilação das
ações e uma análise dessa relação, à luz da Pedagogia das Encruzilhadas, de Luiz Rufino. A
perspectiva de algumas representações dessa comunidade, por meio de relatos, também é
inserida no estudo como principais resultados desta encruza, além de outras contribuições.

PALAVRAS-CHAVE: política cultural; povos de terreiro, encruzas, participação popular.

INTRODUÇÃO
Nestas encruzilhadas, entre o interesse da política cultural do CCBJ e o interesse
popular do movimento dos Povos de Terreiro, deste território, é apresentado a seguir, como
aconteceu essa aproximação, como vem se organizando e quais os resultados e as colaborações
dessa parceria, bem como as propostas fortalecimento desse vínculo, que foi criado no decorrer
dos últimos dois anos de atuação, em 2022 e 2023, acompanhado de breves relatos de alguns
envolvidos nesta encruza.

1
Mestra em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Especialista em Assessoria
de Comunicação pela Faculdades Cearenses (FAC) e em Gestão Cultural pela Universidade
Vale do Acaraú (UVA), graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade
Federal do Ceará (UNIFOR). Atualmente é professora parceira da Faculdade Unieducar no
Curso de Comunicação Não Violenta e Gestora de Comunicação no Centro Cultural Bom
Jardim (CCBJ), equipamento da Secretaria da Cultura do Governo do Ceará (SECULT), gerido
pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). contato: isabelmayaragf@gmail.com /
isabel.brasil@idm.org.br
2
Estudante de Geoprocessamento, membro do Coletivo Bons Jardins Urbanos, membro do
Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim, associado ao Centro de Defesa da Vida Herbert de
Souza, educador ambiental e educador social no Centro Cultural Bom Jardim. contato:
marques.eduardo02@gmail.com .

1
O método usado para escrita deste artigo é o estudo de caso, por tratar de um recorte
de um fenômeno atual, num contexto real. Martins (2008) explica que uma das alternativas do
Estudo de Caso, quando ele é único e é utilizado como “introdução a um estudo mais apurado
ou, ainda, como caso-piloto para a investigação” (p.12).
Nesse modo, o presente estudo é um compilado das ações, nunca analisadas, com foco
em sistematizar as atividades realizadas nos dois anos de atuação e promover o debate inicial e
servir de base para a estruturação das novas encruzas que há por vir. Martins (2008) conta que
em um Estudo de Caso, as reflexões incidem sobre os levantamentos, dados e evidências. Este
estudo teve como coleta de dados, observação participante durante os encontros mensais, no
período de 2022 e 2024, aliados da sistematização dos encontros em atas e planilhas de trabalho,
notas de observações e transcrições de comentários/relatos dos participantes.

POVOS DE TERREIRO DO GRANDE BOM JARDIM


Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim é nomeado pelo grupo para que fosse
emitida uma identidade visual da iniciativa, que começou a partir do programa Conversa de
Terreiro. O termo encruzilhada ou encruza são evidenciados neste artigo, por fazer parte do
vocabulário dos povos de terreiro, e é reforçado no estudo como os caminhos significando que
se cruzam, fazendo referência ao encontro entre a política cultural e o fazer cultural dos Povos
de Terreiro do Grande Bom Jardim. No dialeto de matriz africana e afro-brasileira, encruzilhada
é o lugar onde se despacha as oferendas ao Exu e Pomba Gira, com variadas intenções, sejam
elas de proteção, descarrego, limpeza, prosperidade, conexão, alimento. É na encruza das ruas
que são entregues as oferendas conforme as necessidades da entidade.
É nesse cruzamento de caminhos é posto o pensamento do professor Luiz Rufino sobre
a Pedagogia das Encruzilhadas, como suporte teórico para este estudo de caso e, também
abordagem metodológica, usada na Escola de Cultura e Artes do CCBJ. Rufino (2018) traz a
concepção das encruzilhadas como “campos de possibilidades, tempo/espaço de potência, onde
todas as opções se atravessam, dialogam, se entroncam e se contaminam”. É na encruzilhada
que o signo Exu se apresenta como possibilidade, é o que quiser, negando a condição de verdade
e se abrindo para a possibilidade, a partir dessa concepção trazida por Rufino (2018) é destacado
nesse texto sua concepção sobre a mobilidade e a possibilidade de transformação de sua
proposta pedagógica, que circunda esse estudo:

2
Exu, é o elemento que codifica e substância os seres, suas capacidades de
criação e diálogo, [...] é o fundamento que substância e cruza toda e qualquer
possibilidade. [...] Nessa perspectiva, o mesmo se encarna como uma
educação, assim qualquer noção que venha a negar a sua presença enquanto
saber, é logo, contrária a mobilidade e a toda possibilidade de transformação.
[...] É a partir dessa perspectiva que lanço mão do que conceituo como cruzo,
noção que compreende os procedimentos teórico-metodológicos que se
orientam pelas lógicas assentes no signo Exu e em suas encruzilhadas. Os
cruzos operam praticando rasuras e ressignificações conceituais. [...] fiel à
noção de que nossas práticas de saber se tecem a partir das relações, e das
consequentes alterações e acabamentos que nos é dado pelos outros.
(RUFINO, 2018, p. 78).

Rufino (2019) aponta que é necessário invocar as sabedorias ancestrais e essa


invocação, é um princípio da presença, do saber e da comunicação, logo é encruzilhada, que
por sua vez é um saber ancestral que nos disponibiliza para novos horizontes, reivindicando a
pluralidade das possibilidades. O entendimento é fundamentado no orixá Exu que perpassa as
dicotomias, imposta pela lógica colonizadora de normatização do mundo binário e abre o campo
para outras possibilidades.
Ainda aponta o cruzo como a potência da encruzilhada, “que é o movimento, enquanto
sendo o próprio Exu”, que está nas fronteiras, nos vazios deixados, nos entres e assim versa
sobre a imprevisibilidade e a possibilidade. Para traçar o estudo de caso dessa encruza é posto
uma breve contextualização sobre o território periférico do Grande Bom Jardim, onde está
localizado o Centro Cultural e os terreiros participantes desse movimento.
O CCBJ é localizado numa das periferias mais vulneráveis de Fortaleza, conhecida
como Grande Bom Jardim, composta pelos bairros Canindezinho, Siqueira, Bom Jardim,
Granja Lisboa e Granja Portugal e segundo a Prefeitura de Fortaleza reúne uma população
aproximada de 211 mil habitantes (IBGE, 2010). O Grande Bom Jardim é marcado em sua
história pela participação popular com as ocupações desde a década de 50 e 60 com a demanda
de moradia com o êxodo rural. Além de ser um bairro composto por diversos conjuntos
habitacionais e cortado pelo Rio Maranguapinho, o Grande Bom Jardim é referência na
participação popular, principalmente no campo das artes e cultura. Nesse contexto, o território
também tem como marca a força do protagonismo dos movimentos populares e o protagonismo
nas lutas pelas garantias dos direitos humanos. São muitos os núcleos de movimentos sociais
que intervém no cotidiano do território, como o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza
(CDVHS) e a Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim
(Rede Dlis).

3
Entre outras representações de participação popular trazemos como referência o Ponto
de Memória, Associação Sociocultural do Bom Jardim, Movimento de Saúde Mental, o ABC,
CRAS Bom Jardim, Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim, Comissão de Juventude e
Cultura, Comissão de Saúde e Combate à Fome, Bom Jardins Urbanos, Associação Espírita de
Umbanda São Miguel, Jovens Agentes de Paz, Associação Zumbi Capoeira AZC entre outros
núcleos de iniciativa popular local.
O Centro Cultural do Bom Jardim (CCBJ) também integra a rede de iniciativas de
referência do território. É um centro de base comunitária e oriundo da luta popular, em 2006,
de lá para os dias atuais, o equipamento vem pautando suas políticas culturais com a
participação popular, também movimentada por diversas representações do território e pelo
Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim.
O CCBJ possui uma gestão compartilhada com reuniões periódicas com a comunidade
e suas representações, instâncias deliberativas para a escolha das escolhas formativas, fruição
e de acesso às demais políticas públicas do equipamento. Explanado a contextualização do
território e do equipamento, o estudo passa para uma breve contextualização da política cultural
no Ceará. Nesse caso, é importante trazer para este estudo, a compreensão das políticas
afirmativas nos equipamentos de cultura do Ceará.
A Secretaria da Cultura do Ceará (SECULT) que conduz o fazer dos equipamentos
culturais é respaldada pela Lei Orgânica da Cultura do Estado do Ceará (Lei n.º 18.012/2022).
Ela dialoga diretamente com a garantia da cidadania, por meio das políticas afirmativas e sua
luta pela inclusão e as garantias dos movimentos negros, povos de comunidades tradicionais,
indígenas/originários, quilombolas e de terreiro, pessoas com deficiência (PcD) e outras
populações, tornou realidade as políticas de ações afirmativas no Ceará. Alinhada com as
demandas específicas do setor cultural, a legislação promove a inclusão social ao acesso às
ações de financiamento e fomento à cultura.
Não cabe aqui neste estudo, analisar se a efetividade da política afirmativa, apesar
dessa narrativa atravessar o debate. Mas aqui, é concentrado como se deu essa aproximação, a
partir dessa premissa e a pontuação de algumas colaborações, oriunda das encruzas entre
política cultural e o fazer cultural dos Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim. Contudo, de
fato a lei apontada é um marco na política cultural com sua tecnologia e mecanismos legais de
promoção da igualdade e equidade por meio das políticas de cotas, editais e vagas específicas
e ela é transversal aos eixos estruturantes da Secretaria, como seu fazer de Conhecimento e

4
Formação Artística, Patrimônio Cultural e Memória, Artes, Diversidade e Cidadania Cultural,
como foco no combate ao racismo, discriminação e a qualquer forma de desigualdade.
O CCBJ respalda-se na referida lei e segue a diretriz de sua secretaria e vem ofertando
as oportunidades em chamadas públicas, dando prioridades às políticas afirmativas. As seleções
são inseridas no contexto de ações afirmativas e garante, no mínimo, 50% (cinquenta por cento)
do total das vagas consideradas, obrigatoriamente destinadas para pessoas que sejam
autodeclarados/as em pelo menos um dos grupos identitários menorizados histórica e
estruturalmente descritos: pessoa negra(preta ou parda), indígena, mulheres, pessoas com
deficiência, pessoa da comunidade LGBTQIA+ ou moradores/as do Grande Bom Jardim, assim
como bairros de menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) ou vulnerabilidade social.
O restante das vagas segue aberta para ampla concorrência.
Válido ressaltar que ainda não há editais destinados exclusivamente aos Povos de
Terreiro ou editais gerais com cotas destinadas a esta comunidade. Este é um debate que não
cabe aqui, mas merece ser pontuado. Oliveira (2020) faz uma abordagem jurídica sobre a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais, com
o Decreto 6.040/2007 que versa sobre a diversidade e legitima a formação da categoria dos
povos e comunidades tradicionais, que “carregam em comum, além dos saberes e fazeres
tradicionais, uma condição social vulnerável, com precariedade nas políticas de defesa de seus
direitos, assim como um cenário de discriminações sistemáticas em torno do que são”
(OLIVEIRA, 2020, p. 01).
No entanto, ele considera que povos ou comunidade de terreiro é uma denominação
genérica diante a pluralidade dos grupos de matriz africana. Reforça que é este decreto onde é
garantido os direitos a estas comunidades tradicionais. O reconhecimento em lei é uma
conquista da categoria povos e comunidades de terreiro, contudo não ainda não é o suficiente.
Quando falamos de povos e comunidades de terreiro, esse fator se
complexifica, dada às inúmeras semânticas possíveis nesse exercício de
categorização. Corre-se sempre o risco de realizar leituras equivocadas,
reducionistas, discriminatórias, confusas ou não-representativas acerca das
identidades de grupos e indivíduos relativos. Povos e comunidades de terreiro
é um termo genérico, para fazer menção a grupos sociais diversos, vinculados
a uma prática religiosa de cultos identificados na agenda pública como sendo
de matriz africana. (OLIVEIRA, 2020, p. 4).

5
Diante dessa abordagem sobre nomenclatura, reconhecemos a complexidade e
pluralidade, mas aqui também não será alvo do estudo, contudo importante delimitar essa
posição e apresentar que o estudo segue com a proposta Povos de Terreiro do Grande Bom
Jardim como nome desse movimento de encruza entre o CCBJ e os mesmos. O termo foi
escolhido pelo grupo durante os primeiros encontros, sendo reforçado na identidade visual das
peças de divulgação e nos textos e nas referências em público, durante os eventos e reuniões.
Em se tratando da contextualização sobre os Povos de Terreiro no Ceará, em 2022 o
Governo do Ceará lançou um inventário por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário
do Ceará (SDA) compilando dados e informações sobre os povos tradicionais, templos e raízes
da cultura de matrizes africanas e afro-brasileiras, com o livro IWE - Inventário dos Povos de
Terreiro do Ceará. É um estudo realizado em 14 macrorregiões do Estado e mais 500
comunidades. O estudo indica 26 comunidades tradicionais de matrizes africanas e afro-
brasileira e está disponível em: IWE - Inventário dos Povos de Terreiro do Ceará. Destaca-se
a abordagem feita pelo documento, coordenado por Emmanuel Bastos, sobre as comunidades
e povos de terreiro.
Os povos e comunidades de terreiros que se inserem dentre os Povos e
Comunidades Tradicionais – PCTs, vivenciam cotidianas experiências de
violências e violações de direitos, em que o racismo se expressa e se impõe
pelo viés da intolerância religiosa, do desrespeito aos cultos, às liturgias e aos
seus seguidores. [...] O mapeamento dos terreiros em nosso Estado se constitui
em um instrumento importante, seja para ampliar a visibilidade e a
importância desses, seja para orientar ações programáticas que façam valer a
nossa aspiração por equidade e justiça racial (BASTOS, 2022, p. 24 e 25).

Para encerrar as contribuições no contexto Ceará, para chegarmos em recorte do


estudo, o referido inventário pontua que é preciso que o Ceará fortaleça a agenda própria e
prioritária, tendo em vista séculos de negação cultural.
Durante os encontros dos Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim, Pai Neto Tranca
Rua, uma das lideranças sociais e espirituais do território, além de mestre da cultura pelo
Governo do Ceará e detentor do título de notório saber em cultura popular, pela Universidade
Estadual do Ceará (UECE), aponta que somente no território do Grande Bom Jardim há a
presença de mais de quinhentos terreiros de umbanda e candomblé.
Tendo em vista sua vivência no território desde o início do povoamento e sua história
de envolvimento com os movimentos sociais. Em entrevista a primeira edição do Podcast Povos
de Terreiro, um dos resultados dessa encruza, o mestre Pai Neto comenta também que tem a

6
proposta de fazer um museu de percurso, mapeando todos os terreiros do Grande Bom Jardim
e agregar um roteiro turístico.
Pai Neto recebeu a notificação para “abrir o salão”, que é uma autorização 1982, em
São Luiz, e no final deste ano ele chega em Fortaleza e no começo de 1983, abre a primeira
casa na Rua Maria Júlia, no Grande Bom Jardim. Em 1986 comprou um terreno no final da
linha da Granja Lisboa e em 1987, abre seu terreiro e vem com a missão de organizar a
comunidade, para além das questões espirituais. Em 1997, houve a necessidade de
institucionalizar o terreiro e criou-se a Associação Espírita de Umbanda São Miguel. Tanto Pai
Neto, quanto Pai Giuliano, também são pesquisadores e referência no âmbito social e espiritual,
durante as conversas da encruza, apontam que somente na Granja Lisboa, bairro em que está
localizado seus terreiros, é contado cerca de 150 terreiros e no território do Grande Bom Jardim,
são mais de 500.
Diante desse argumento pontuado em alguns encontros pontuais, alguns representantes
que já frequentam o CCBJ, começaram a solicitar a ocupação do espaço e a aproximação das
políticas culturais ao seu povo. Consideramos essa necessidade de encruza/aproximação de
ambos os lados, principalmente do CCBJ sendo um equipamento cultural do Governo do Ceará,
executor das políticas culturais precisou escutar esse movimento começar a criar estratégias de
aproximação e ocupação do espaço, visando não somente o cumprimento das políticas
afirmativas, sobretudo a valorização e o fortalecimento da cultura dos Povos de Terreiro do
Grande Bom Jardim.
Nesse sentido, iniciamos novo tópico apresentando o percurso dos primeiros
movimentos de encruza entre o CCBJ e os Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim, com o
programa Conversa de Terreiro, do Núcleo de Articulação Técnica Especializada (NArTE), o
fazer da cidadania cultural do CCBJ, conduzido pelo educador social Eduardo Marques,
também autor deste artigo.

ALGUNS RESULTADOS DA ENCRUZA: POVOS DE TERREIRO DO GRANDE BOM


JARDIM E O CCBJ
O presente artigo considera como resultados iniciais desta encruza, o próprio ponto de
partida desse movimento, o programa Conversa de Terreiro, uma forma organizada de
sistematizar os encontros com os Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim. Iniciou em
novembro de 2021 com o primeiro encontro no Teatro Marcus Miranda, como atividades

7
pontuais do eixo de educação social, do fazer de cidadania cultural do Centro Cultural Bom
Jardim (CCBJ), o Núcleo de Articulação Técnica Especializada (NArTE).

Conversa de Terreiro no Palácio de Maria Luziaria, com a presença da Mãe Jaque, dirigente da casa e
do Mestre da Cultura, Pai Neto Tranca Rua, uma das maiores lideranças do território. Acervo CCBJ.

A Conversa de Terreiro é uma iniciativa da educação social com o objetivo de agregar


e fortalecer os terreiros que compõem a cultura local e sagrada do Grande Bom Jardim. Iniciou
de forma pontual, como uma atividade do eixo e depois foi sendo sistematizada em um
programa do eixo de educação social do NArTE/CCBJ.
O educador social Eduardo Marques, lembra que um desses encontros, em novembro
de 2021, no Teatro Marcus Miranda do CCBJ, foi convidado as representações de vários
terreiros e lá foi debatido a questão, que consideramos como norteadora desse movimento:
Como o único equipamento de cultura do governo na localidade, pode agregar ao movimento
dos Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim, tendo em vista que somente neste território
existe a presença de mais de 500 terreiros? Como o CCBJ pode potencializar sua política
cultural garantindo a valorização e o acesso a essa categoria de representatividade?
Na ocasião, a outra autora deste artigo, enquanto gerente de comunicação presente no
primeiro encontro, ouvia com atenção os anseios do grupo e, também foi profundamente tocada
para colaborar. Unidos pelo mesmo sentimento de incômodo comum e vontade de fazer, os
autores deste artigo, enquanto agentes culturais da política pública de um centro cultural de
base periférica, um educador social, outra, gerente de comunicação, iniciaram as primeiras

8
trocas de como o equipamento poderia se conectar e fazer algo, para além de uma “conversa de
terreiro”.
Ambos são simpatizantes do povo de terreiro, Eduardo Marques por sua veia de
pesquisador e frequentador dos terreiros do Bom Jardim e Isabel Mayara, nascida e criada nos
terreiros da cidade de Fortaleza, por sua avó materna Edice Gomes. Diante dessa aproximação
pessoal com a religião e, enquanto agentes da política cultural do Ceará, ambos são estimulados
com tal proposta de abrir os caminhos da política cultural do Centro ao grupo. Com o programa
Conversa de Terreiro, os encontros passam a ser uma encruzilhada de saberes, entre as famílias
de santo, mães de santo, pais de santo e filhos e o CCBJ.
O grupo e o educador social que conduz o programa, convidam a gestora de
comunicação, que passa a ir em todos os encontros, como ouvinte, a princípio visando pautas
que valorizem os povos de terreiro e somando a imagem institucional do equipamento. O CCBJ
por sua vez não tinha nem um movimento ou linha de atuação específica para essa comunidade,
contudo sempre foi incentivador e palco para os povos de terreiro e a cultura de matriz africana
e afro-brasileira.
Consideramos o programa Conversa de Terreiro como um primeiro resultado dessa
encruza, por ser a primeira iniciativa destinada, exclusivamente, aos Povos de Terreiro do
Grande Bom Jardim. É iniciado em novembro de 2021, o primeiro encontro e ficou acordado a
periodicidade de uma vez ao mês. Na ocasião, a proposta era trazer uma pauta temática do
planejamento da educação social, que atravessassem o fazer ancestral, social, espiritual e
cultural dos terreiros, promover o debate e em seguida, fazer as trocas, as encruzas das
oportunidades do CCBJ e a escuta do grupo sobre suas necessidades, desejos e vontades.
A conversa é sobretudo, um momento de escuta, pensamentos mútuos e uma visão de
construir em coletivo, buscando sempre entender a necessidade e a importância de cada terreiro
e de cada pai e mãe de santo. Logo, a Conversa de Terreiro é um fortalecimento da memória e
do patrimônio imaterial, onde é buscado nos encontros, temáticas que dialogassem com as
demandas comunitárias e benefício de toda religião.
Foi sendo construído um espaço de respeito, de harmonia e de protagonismo de cada
sujeito. Sobretudo um espaço de bem querer e confiança. O CCBJ passa a ser convidado, na
representação dos autores e condutores do programa, para outros momentos, como festas, giras,
e outros momentos dos terreiros. Aqui se concentra outro grande resultado, na perspectiva da
política cultural: o fortalecimento dos vínculos, na força da encruza entre CCBJ e Povos de

9
Terreiro é um dos grandes ganhos nesse processo, gradual, intenso e potente. A construção de
uma agenda e a manutenção dela, com encaminhamentos e pautas e ações reúne outros
resultados desse processo.
Os encontros passam a ser descentralizados, por sugestão do grupo, ou seja, cada
encontro é em um terreiro diferente, na tentativa de promover a integração das casas e ampliar
ainda mais a corrente, oportunizando outras pessoas terem acessos ao encontro. Essa estratégia
a princípio funcionou, mas no decorrer do final do segundo ano, foi ficando reduzida em cinco
terreiros, que continuaram o movimento assiduamente até o final de 2023. É também criado
como estratégia de comunicação interna e rápida, um grupo de WhatsApp para reunir os
participantes e unificar as informações de onde, como, quando iriam ser os encontros, bem
como socializado as pautas e os encaminhamentos do grupo, mediados por Eduardo Marques e
Isabel Mayara (equipe CCBJ).
É notado que o programa inicia e continua como uma ação do eixo de educação social
do NArTE CCBJ, mas com o estreitamento dos vínculos, passa a também ter um caráter de
articulação institucional, comunitária e de comunicação. Com o decorrer das agendas é sugerido
pelo grupo participante mais visibilidade dos povos de terreiro. O CCBJ recebe a proposta da
criação de um programa de podcast e de um produto audiovisual. Com a visão de comunicação,
Isabel passa a conduzir os produtos, desde a concepção de roteiro, produção e divulgação.
Juntos, como uma grande equipe de comunicação que sugere suas pautas em uma reunião de
trabalho, os encontros passam também a ser reuniões de pauta dos programas. O grupo indica
os nomes dos primeiros entrevistados, realiza o convite e a mobilização para participação, junta
a equipe técnica da comunicação do CCBJ.
É montado os roteiros, convite feito, arte elaborada, divulgação em diversos meios
feita e é lançado o primeiro podcast Povos de Terreiro, no canal do Youtube do CCBJ. O
programa é uma realização do CCBJ em parceria com os Povos de Terreiro e mais um resultado
dessa encruza. No dia 10 de junho de 2022 é lançado no canal, um programa de entrevistas
realizada pelos autores deste artigo, e a primeira edição tem como convidados o Pai Neto Tranca
Rua e Mãe Janaína. O episódio de 1h20 de duração tem mais de 270 visualizações no canal do
Youtube e traz temas como a história do Bom Jardim, ditadura, autoritarismo, racismo, a força
da mulher de terreiro, costumes, história de vida dos participantes e muita sabedoria ancestral.
O episódio está disponível em Narte em Pauta | Podcast "Povos de Terreiro' EP. 01
(youtube.com). Na sequência dos encontros foram articulados e produzidos outros programas,

10
e a playlist do projeto conta com 10 episódios ao longo desses dois anos de parcerias e trabalho
coletivo. Acesse a playlist no Youtube do CCBJ: Podcast "Povos de Terreiro' - YouTube . O
primeiro episódio ganhou notoriedade na imprensa fora do Ceará e foi destaque no Brasil de
Fato Pernambuco. Confira a matéria no portal: Podcast "Povos de Terreiro" traz babalorixás e
ialorixás | Variedades (brasildefatope.com.br). Confira a reportagem no Youtube: Podcast
"Povos de Terreiro" traz babalorixás e ialorixás para falar da identidade religiosa - YouTube .
No decorrer dos meses, as encruzas passaram a ganhar novos formatos. O CCBJ
continua com o Conversa de Terreiro, uma vez por mês com o trajeto itinerante nos terreiros,
acrescentam mais um encontro nessa agenda, com as gravações dos podcasts no estúdio do
CCBJ, além disso a equipe do CCBJ se envolve nas gravações e reuniões do documentário
Povos de Terreiro, mais uma demanda oriunda do Conversa de Terreiro e produzida pelo CCBJ
em parceria com o grupo.

Lançamento no Cineteatro São Luíz, do documentário e do podcast Povos de Terreiro. Acervo CCBJ,
por Flávia Almeida.

Foram nove meses de acompanhamento das pautas e gravações e pós-produção,


iniciando em março de 2022 e lançado em dezembro de 2022 no Teatro Marcus Miranda do
CCBJ e início de janeiro de 2023, nos palcos do cine teatro São Luíz. Foi um marco para os
Povos de Terreiro do Grande Bom Jardim ter parte de sua tradição exposta para a cidade, em
um dos palcos e cinemas importantes do cenário cultural da cidade. O documentário não está
disponível em nenhuma plataforma, pois o grupo decidiu manter ineditismo e inscrever em

11
outros editais de exibição, que precedem exclusividade. O documentário traz a narrativa de
cinco pais e mães de santos que falam sobre espiritualidade, indumentária e fardamento,
culinária e oferendas, tradição e festejos, pisada e dança, música, pontos e a força do tambor,
voltados para o aspecto cultural da umbanda e do candomblé. Este é mais um outro destaque
nos resultados alcançados ao longo dessa trajetória. O documentário foi destaque na imprensa
local: Filme e podcast "Povos de Terreiro" serão lançados no São Luiz (opovo.com.br) .
Além da Conversa de Terreiro, dos produtos Podcast e documentário, os demais
encontros acontecem ao longo de 2022 e 2023, pautando as temáticas de fortalecimento dos
terreiros, da sua cultura e da sua tradição, levando para outros espaços, pautando racismo
religioso, território e violência urbana, relação da umbanda e meio ambiente, banhos e ervas
medicinais, formações com oficinas, pautando os feitos dos povos de terreiros na imprensa local
com o trabalho de assessoria de imprensa do CCBJ, parceria no grande festejo de Iemanjá na
Praia de Iracema, em duas edições do evento, que tem dois dias consecutivos de louvor e
programação e é reconhecido no calendário nacional. Na última edição, em 2023, durante os
dois dias, a equipe do CCBJ publicou em notícia a presença de 78 terreiros, 2 de Boa Viagem,
1 de Madalena, 1 de Canindé, 1 pentecoste, 1 de Itapajé, 1 de Acaraú, 2 Maranguape, 1 de
Pindaré Mirim – MA. No restante de Fortaleza, foi atingido um público de aproximadamente
30 mil pessoas. Leia a notícia completa: Centro Cultural Bom Jardim (ccbj.org.br) .
É destacado o envolvimento como parceiro nos festejos de Iemanjá, como um fruto
dessa encruza, nesses dois anos, foram contadas mais de 30 inserções em veículos de imprensa
divulgados pela equipe do CCBJ.

12
Cobertura do CCBJ3 do evento dos Festejos de Iemanjá 2023, na praia de Iracema (Fortaleza-
Ce), uma programação que reuniu, aproximadamente, 30 mil pessoas.

Outro grande ganho é o incentivo dos Povos de Terreiro nos editais de incentivo à
cultura, realizados durante os encontros e fora deles. Nesse tempo, foi posto na programação
do CCBJ, com cachê e sem cachê as apresentações dos grupos, participação ofertando oficinas
de tambor, de guias, de farmácia viva, de banhos, foram realizados apresentações culturais
dentro e fora do espaço do CCBJ, criação do grupo cultural Filhos da Noite, um grupo de exus
e pombas giras, coordenado pelo Palácio de Maria Luziara, lançado no Festival A Coisa Tá
Preta do CCBJ, no Teatro Marcus Miranda, em uma programação dos Povos de Terreiro em
alusão ao Dia da Umbanda, em 2023. Bem como outro destaque desse terreiro foi a articulação
dos festejos de Cosme e Damião/ Dia das Crianças, em parceria com o CCBJ, com o programa
Rua de Possibilidade, que levou toda a estrutura de shows e atrações para a rua em frente ao
terreiro e reuniu mais de 500 pessoas na programação. Acesse a cobertura do evento: Rua de
possibilidades - Festa das crianças São Cosme e Damião no Terreiro Palácio Maria Luziara -
YouTube .
Este mesmo terreiro vem participando intensamente das reuniões e vem alcançando
outras conquistas, como por exemplo a nomeação enquanto Ponto de Cultura do Estado do
Ceará, por meio da Bússola Cultural. Uma iniciativa do CCBJ, em que presta serviço gratuito
de assessoria em projetos e foi indicado ao Palácio e aos demais terreiros, durante as Conversas
de Terreiro. A Bússola Cultural guiou iniciativas do Grande Bom Jardim no caminho certo para
se tornarem Pontos de Cultura do Ceará. O Palácio Maria Luziara foi um dos certificados pelo
Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura do Ceará, como Pontos de Cultura do
Ceará, junto com outras 69 entidades e coletivos culturais.
A Bússola Cultural é um serviço gratuito de assessoria de projetos culturais promovido
pelo Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), O projeto busca atender artistas, coletivos, grupos e
instituições do terceiro setor, esclarecendo dúvidas nos processos de participação de editais,
preparação de material, prestação de contas e inscrições.
Maria Jacqueline Farias Gonçalves, fundadora do Palácio Maria Luziara, conta que o
projeto faz jus ao nome, fornecendo as informações necessárias para que o artista, grupo ou
instituição assessorada encontre o caminho certo na hora de concorrer em editais e chamadas

3
Leia a cobertura na íntegra do CCBJ sobre os dois dias de evento na Praia de Iracema: Centro Cultural Bom
Jardim (ccbj.org.br)

13
públicas. “Eu não sabia nem por onde começar, assim como muitos não sabem por onde
começar. Acho essencial esse trabalho para a comunidade!”, conta Jacqueline em entrevista
para o site do CCBJ.
A cultura dos Povos de Terreiro também é presente antes e durante esse movimento,
como a participação em outros programas e ações do CCBJ. É destacado alguns: como o
programa Precisamos Falar Sobre Isso sobre Intolerância Religiosa: Precisamos Falar Sobre
Isso: Intolerância Religiosa (com LIBRAS) (youtube.com); Artista em Pauta Artista em Pauta
convida Cinthya Freitas do Bloco Zé Almir! (youtube.com) e Artista em Pauta com Pai Marcos
Amorim Ty’ Odé (com Libras) (youtube.com), Cultura Popular no CCBJ: Cultura Popular no
CCBJ | Afoxé Omõrisá Odé apresenta Yansã Caçadora de Segredo - YouTube e Contrapartida
| Afoxé Omorisá Odé apresenta espetáculo “DANÇA DOS ORIXÁS” (youtube.com), Cultura
Popular | III Ceará de Ijexá apresenta Afoxé Omorisá Odé (youtube.com), Lançamento do Livro
Memória e Cultura de Terreiro: Cultura Popular | Memória e Cultura de Terreiro: O conjunto
da obra do CEU Reis tupinambá (youtube.com), Formação em Pauta com pesquisas no Eixo
Laboratórios de Pesquisas Encruzas Pedagógicas com Luiz Rufino (na íntegra) (youtube.com),
Masterclass sobre Teatro e Candomblé Masterclass de Teatro | Aula Show: "Existe um Teatro
Preto de Candomblé?", com Onisajé (youtube.com) Encontro dos Mestres da Cultura em que
Pai Neto foi homenageado e o grupo Toque de Senzala, do seu terreiro, também apresentou-se
na ocasião. Na sequência, é exposto alguns relatos das representações do movimento Povos de
Terreiro do Grande Bom Jardim, em parceria com o CCBJ, durante 2022 e 2023.
Minha experiência de aproximação do CCBJ com a comunidade dos Povos de
Terreiro foi ótimo, abre portas, traz conhecimento, sobre política cultural além
de vários outros ensinamentos, passamos a participar de mais eventos e levar
nossa cultura em outros eventos, levar nossa religião para comunidade, para
aqueles que não nos conhece, desmistificar nossa religião diante dos inúmeros
julgamentos. Oxe é tanta coisa né, eu aprendi e continuo aprendendo com o
CCBJ e muito feliz em repassar alguns conhecimentos dos meus ancestrais.
Gratidão enorme ao Bússola que me trouxe a oportunidade da minha casa virar
Ponto de Cultura, sem contar que esse nosso movimento trouxe uma
visibilidade para os povos de terreiro do Grande Bom Jardim. Fez aproximar
terreiros, como eu passei a ter envolvimento com outras casas então ganhamos
muito com o grupo Povos de Terreiro.
( Mãe Jaque, do Palácio Maria Luziaria, 2024)

A aproximação com o CCBJ, foi uma porta aberta para mim, pois veio nos
mostrar a importância da nossa cultura como povo de terreiro. Ficou claro que
desde a primeira reunião, que a parceria seria de grande valia para nós de
terreiro. Projetos como o Podcast, hoje Videocast Deus dá voz a vários
sacerdotes e pessoas da religião. O documentário mostrou nossas casas, nossas

14
entidades e nossas vivências. Hoje tenho a certeza de que através do trabalho
realizado, e do muito que ainda vai ser feito, que temos que trazer o
equipamento cada vez mais para perto do povo de terreiro. O apoio é
fundamental. Eu cresci muito com essa experiência, acho que temos que ter
mais espaço, que um apoio financeiro também seria muito bom. De mais, só
tenho gratidão, participar das reuniões, dos cursos e das oficinas abriu minha
mente. E peço que essa parceria melhore e dure muitos anos ainda. Obrigado.
(Pai Iran do Nego Chico, Sociedade Espiritual de Umbanda Caboclo Índio,
2024)

A parceria com o CCBJ trouxe mudança de hábitos para nosso território:


Oportunizando o povo de terreiro ter conhecimento cultural, abriu espaços
para outros equipamentos culturais, dentro e fora do Território. E como fruto
de uma política pública, nos provoca levantar questões sobre nosso
reconhecimento e legitimidade diante dos diversos grupos existentes na
cidade. Nesse sentido, é de grande importância essa parceria, assim estamos
conseguindo quebrar barreiras da estrutura social circunscrita no território
fisico. Mesmo com baixa escolaridade, baixa renda e o pouco hábito de
frequentar espaços culturais, já melhorou bastante a participação do nosso
povo nesses espaços. Percebe-se ainda a existência de uma barreira ao acesso
relacionada às questões de pertencimento e à falta de informações como se
empoderar dos espaços culturais da nossa cidade. O CCBJ desenvolve um
trabalho educativo e formativo junto ao povo de terreiro na cidade de
Fortaleza.
(Pai Neto Tranca Rua, Associação Espírita de Umbanda São Miguel, 2024)

Venho parabenizar as oportunidades que o CCBJ vem oferecendo ao povo de


terreiro com suas iniciativas culturais, sociais e de igualdade social acho muito
importante um espaço da grandeza do CCBJ oferecer oportunidades onde o
povo de terreiro possa se sentir à vontade para mostrar um pouco da sua
cultura e ancestralidade. para mudar a visão perante a sociedade da cultura
afro-brasileira. Gostaria de sugerir a criação de uma política de capacitação e
captação de recursos destinada diretamente ao povo de terreiro para fortalecer
ainda mais esta política inclusiva e igualitária deixo aqui meu agradecimento
e minhas bênçãos a todas e todos que fazem parte do CCBJ meu saravá!
(Carlos Alberto (Pai Bebetinho) do Centro de Umbanda Urubu Reis da
Sagrada Família, 2024).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O CCBJ é o primeiro espaço cultural público estadual da cidade, fora do corredor


turístico e cultural de Fortaleza, sendo assim uma intervenção ímpar na democratização do
acesso à cultura. Como foi apontado, o CCBJ exerce a política pública dos seus programas e
oportunidade, seguindo as premissas das políticas afirmativas. A maioria do Povo de Terreiro
se encaixa nos critérios, contudo ainda não há uma política exclusiva a esta comunidade. Diante
do contexto apresentado com mais de quinhentos terreiros somente neste território, o programa
Conversa de Terreiro torna-se uma tentativa inicial e aproximação e ponte com essas

15
comunidades tão expressivas e necessitada de políticas públicas exclusivas. O objetivo
principal do programa Conversa de Terreiro é de revisitar e de entender as práticas e anseios
dos povos de terreiro, e antes de tudo, trazer os terreiros para o centro do debate entendo a
importância cultural e territorial para a construção de novos pensamentos. É considerado pela
comunidade e pelo CCBJ que se cumpriu esse objetivo, ampliando para além de outras ações
apontadas, como a participação em editais, programações e eventos e criação de conteúdos
exclusivos. Nessas caminhadas e trocas de experiências, o que ficou de aprendizado é que a
cultura é o único meio de agregar vários segmentos em um único espaço e que os Povos de
Terreiros do Grande Bom Jardim têm muito potencial cultural. A direção tomada enquanto
instituição (CCBJ) e enquanto indivíduos ainda é tímida, mas possibilitou uma encruza de
fortalecimento dos vínculos, de confiança, parceria e o aprendizado, de entendermos que a
cultura para ser democrática tem que abrir o leque de possibilidades (Pedagogia das
Encruzilhadas) e fomento do que já existe.
Talvez, a conversa seja para instigar a procura de respostas, inquirir e argumentar. Povos
de Terreiro é encruza que atravessa o caminhar da política cultural e avança para conquistar
novos debates, outras esquinas, outros saberes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6022: informação e
documentação – artigo em publicação periódica científica impressa - apresentação. Rio de Janeiro, 2004.

BASTOS, Emmanuel. Inventário dos Povos de Terreiro do Ceará. Associação Afro Brasileira Alagbá,
2022.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Revista Periferia, v.10, n.1, p. 71 - 88, Jan./Jun. 2018.

OLIVEIRA, Jorge Alberto Fernandes. O Reconhecimento Dos Povos De Terreiro Enquanto


Comunidades Tradicionais No Brasil: Limitações Das Categorias Jurídicas Frente Às Dinâmicas
Epistemológicas Do Ser E Do Não Ser. Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente - PUC-Rio,
Departamento de Direito, 2020.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Editora: Mórula, 2019. 164 páginas.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censos 2010. Inovações e


impactos nos sistemas de informações estatísticas e geográficas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

MARTINS, Gilberto Andrade. Estudo de Caso: uma reflexão sobre aplicabilidade nas pesquisas no
Brasil. RCO – Revista de Contabilidade e Organizações – FEARP/USP, v. 2, n. 2, p. 8 - 18 jan./abr.
2008.

16

Você também pode gostar