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Assistência de

Enfermagem na
Saúde da Criança e
do Adolescente
Prof.ª Débora Cristina Modesto Barbosa

Indaial – 2023
2a Edição
Elaboração:
Prof.ª Débora Cristina Modesto Barbosa

Copyright © UNIASSELVI 2023

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. BARBOSA, Débora Cristina Modesto.

Assistência de Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente. Débo-


ra Cristina Modesto Barbosa. Indaial - SC: Arqué, 2023.

222p.

ISBN 978-85-459-2347-3
ISBN Digital 978-85-459-2348-0

“Graduação - EaD”.
1. Enfermagem 2. Criança 3. Adolescente
CDD XXXXX
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
A enfermagem tem papel de destaque nas ações realizadas junto aos serviços
de saúde e a população como um todo, visto que está presente, de forma atuante e
necessária, em todas as fases do ciclo de vida dos indivíduos, seja com o propósito de
promover saúde, realizar prevenção de doenças, articular a proteção e/ou favorecer a
recuperação e reinserção dos indivíduos em seus espaços de origem. O grande diferencial
deste profissional é que apesar de suas ações serem fundamentadas na literatura atual,
embasadas em evidências científicas e clínicas, e sustentadas por recomendações, toda
sua aplicação é realizada de forma singular, articulada e colaborativa junto ao serviço de
saúde, equipe multiprofissional e planos de cuidado.

Para que isso seja possível, os enfermeiros apresentam possibilidades de


atuação, divididas em três grandes áreas: Área 1 (Saúde Coletiva; Saúde da Criança e
do Adolescente; Saúde do Adulto; Saúde do Idoso e Urgência e Emergência); Área 2
(Atividades de Gestão) e Área 3 (Atividades de Ensino e Pesquisa) (COFEN, 2020).

Cada uma dessas linhas de atuação tem suas particularidades, especificidades


e demandas, e assim, exige que o profissional tenha um olhar crítico, reflexivo e
assertivo para a realidade atual. Para tanto, é fundamental que o profissional enfermeiro
tenha clareza dos principais elementos que sustentam essas grandes áreas e suas
possibilidades de atuação.

Neste material, direcionaremos nossa abordagem para a grande Área 1, mais


especificamente para a Saúde da Criança e do Adolescente. Assim, este material tem
o propósito de fazer um convite a você, para que juntos possamos explorar a evolução
histórica, as políticas atuais e a atuação do enfermeiro no cenário que permeia a
Assistência de Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente. Para tanto, a
proposta é termos um material que consiga trazer com clareza, objetividade e atualidade,
os principais pontos sobre essa temática. Preparados?

Para que sua trajetória seja a mais produtiva possível, dividimos o material em
três Unidades: Unidade 1, Unidade 2 e Unidade 3, que apesar de terem características
específicas, estão bem articuladas.

Inicialmente, na Unidade 1, nomeada como Atenção Integral à Saúde da


Criança e do Adolescente: políticas e indicadores de saúde, realizaremos um resgate
histórico dos principais aspectos que influenciaram as políticas de saúde da criança e
do adolescente, principais marcos para que houvesse a criação da Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e a Política Nacional de Atenção à Saúde
Integral de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ), assim como seus princípios, diretrizes e
eixos estratégicos.
Ainda nesta unidade serão abordados os principais indicadores da saúde da
criança e do adolescente, assim como os principais programas, iniciativas e ações,
direcionados para esse grupo e realizados em escolas e Unidades Básicas de Saúde
(UBS). Teremos assim, nesta unidade, uma visão panorâmica de toda a política que
permeia as ações direcionadas para a criança e o adolescente, além do impacto
das ações produzidas junto a essa população e adequação dos serviços de saúde e
educação. Muita coisa, né? Mas será a base para você entender o que iremos apresentar
nas Unidades 2 e 3, que é como o enfermeiro se destaca neste cenário e quais ações são
produzidas por ele para impactar os problemas vivenciados por esse grupo populacional.

Então, após na Unidade 1, oferecemos as condições de construir um olhar


crítico e reflexivo sobre a temática. Nas Unidades 2 e 3, utilizaremos a diversidade das
condições de vida, de trabalho e do panorama epidemiológico que encontramos nos
diversos municípios, para verificar como identificar as diferentes características de
problemas e necessidades da população infantil e adolescente, e consequentemente,
como estruturar as ações para esses grupos, pois, você enfermeiro, é o responsável por
adequar as recomendações existentes ao cenário atual, seja identificando prioridades,
elaborando planos de intervenções ou articulando a rede de atenção. Preparado para
atuar nesta jornada? Vamos, então, conhecer mais sobre a Unidade 2.

Na Unidade 2, direcionaremos os estudos à Assistência de Enfermagem na


Saúde da Criança, em que a abordagem requer um olhar mais prático e de atuação
direta. Serão abordados os aspectos relacionados ao atendimento realizado à
criança nos diversos níveis de atenção, a consulta de enfermagem detalhadamente,
incorporando acompanhamento de desenvolvimento, monitorização de crescimento,
exame físico, além de todas as orientações e intervenção previstas como: aleitamento
materno, higiene oral, complementação vitamínica, introdução alimentar, prevenção
de acidentes, calendário vacinal, entre outras. Nesta unidade também abordaremos os
principais problemas de saúde na faixa etária, formas de prevenção, acompanhamento
e reabilitação, ações de conteúdos para grupos educativos. Esta unidade é bem prática
e abre a possibilidade de você se identificar com a área de saúde da criança, pois
demonstra claramente o que é feito pelo enfermeiro e o impacto disso na saúde da
criança.

Por fim, na Unidade 3, intitulada Assistência de Enfermagem na Saúde do


Adolescente, aprenderemos as ações direcionadas para o atendimento ao adolescente.
A abordagem inicial apresenta as ações que podem ser realizadas nos diversos níveis de
atenção, mas depois direciona para a assistência de enfermagem, onde aprofundamos os
aspectos sobre a consulta de enfermagem, a avaliação do crescimento e desenvolvimento
puberal, a alimentação e principais agravos decorrentes de transtornos alimentares
e emocionais, além de situações de risco e avaliação para Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST), gravidez na adolescência, violência, suicídio e autolesão. E como as
ações não são apenas individuais, também serão apresentadas algumas possibilidades
de abordagem coletiva e grupal, que comprovadamente repercutem em indicadores
direcionados à adolescência.
Diante disso, esperamos que com esse material, consigamos instrumentalizar
a enfermagem para atuar de forma mais assertiva, humana e atualizada. Seguindo
os preceitos do sistema de saúde vigente, com condutas baseadas em evidências e
coerentes com os condicionantes e determinantes de saúde.

Pronto para começar essa trilha de aprendizagem?

Aproveite o material compartilhado e deixe a área de Saúde da Criança e do


Adolescente conquistar você. Um ambiente de aprendizagem é construído diariamente!

Bom estudo!

Profª Drª. Débora Cristina Modesto Barbosa


GIO
Você lembra dos UNIs?

Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas


vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico
como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará
você a entender melhor o que são essas informações
adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura
dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará
informações adicionais e outras fontes de conhecimento que
complementam o assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os


acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir
de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual
– com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a
leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que
você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados
através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo
continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada
com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo
o espaço da página – o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por
exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto
de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este
livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a
possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular,
tablet ou computador.

Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo


layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual
adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de
relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os
materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade,
possa continuar os seus estudos com um material atualizado
e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo
interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse
as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade
para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
POLÍTICAS E INDICADORES DE SAÚDE................................................................................ 1

TÓPICO 1 - POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA


(PNAISC).................................................................................................................................3
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE..............................................................................................4
2.1 MARCO E DIRETRIZES NACIONAIS RELACIONADAS À SAÚDE DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE...............................................................................................................................7
3 POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA...............................................9
3.1 DEFINIÇÕES DE CRIANÇA, PRIMEIRA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA................................... 9
3.2 ENTENDENDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA
(PNAISC)........................................................................................................................................ 11
3.2.1 Princípios, diretrizes e eixos estratégicos do PNAISC............................................... 11
3.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PNAISC.........................................................................................15
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................... 22
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 23

TÓPICO 2 - POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES


E JOVENS (PNAISAJ).......................................................................................................... 25
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 25
2 CONSIDERAÇÕES SOIBRE POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE
ADOLESCENTES E JOVENS ............................................................................................... 25
2.1 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE............................................................................................... 26
2.2 FALANDO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE
ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ).................................................................................. 26
2.3 DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES E
JOVENS NA PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE................................ 29
3 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE NA ATUALIDADE.......................................................... 30
3.1 TEMAS ESTRUTURANTES PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES
E JOVENS......................................................................................................................................31
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 33
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 34

TÓPICO 3 - ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS


INDICADORES, PROGRAMAS E INICIATIVAS......................................................................37
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................37
2 ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS
INDICADORES.......................................................................................................................37
2.1 DETERMINANTES DE MORBIMORTALIDADE INFANTIL E JUVENIL....................................44
3 PROGRAMAS E INICIATIVAS PARA A SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE........47
3.1 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA CRIANÇAS..............................................................................48
3.2 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA ADOLESCENTES..................................................................50
3.2.1 A estruturação de grupos educativos para adolescentes: um grande desafio
para os profissionais da área de saúde e educação ..................................................51
3.3 AÇÕES NAS ESCOLAS E NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE......................................... 52
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 58
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................... 65
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 66

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 69

UNIDADE 2 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DA CRIANÇA.........................75

TÓPICO 1 — ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO................ 77


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 77
2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA REDE BÁSICA E HOSPITALAR.......... 77
3 ATENÇÃO BÁSICA.............................................................................................................. 81
3.1 COMO INICIAR E REALIZAR O SEGUIMENTO DA CRIANÇA..................................................83
3.2 VÍNCULO, PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIA.........................................................85
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................... 92
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 93

TÓPICO 2 - ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA.............95


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................95
2 CONSULTA DE ENFERMAGEM / PUERICULTURA............................................................95
2.1 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA........................................................................................... 99
2.2 CRESCIMENTO DA CRIANÇA.................................................................................................. 105
2.3 HIGIENE ORAL........................................................................................................................... 108
2.4 ALEITAMENTO MATERNO........................................................................................................ 109
2.5 INTRODUÇÃO ALIMENTAR....................................................................................................... 115
3 CALENDÁRIO VACINAL DA CRIANÇA............................................................................. 119
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 121
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................122

TÓPICO 3 - PROBLEMAS COMUNS NA INFÂNCIA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO PARA


GRUPOS EDUCATIVOS.......................................................................................................125
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................125
2 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: PNEUMONIA, BRONQUITE E BRONQUIOLITE.................125
2.1 PNEUMONIA................................................................................................................................ 128
2.2 BRONQUITE................................................................................................................................ 131
2.3 BRONQUIOLITE......................................................................................................................... 132
3 DOENÇAS DIARREICAS: DIARREIA................................................................................133
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................139
RESUMO DO TÓPICO 3....................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................145

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 147

UNIDADE 3 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DO ADOLESCENTE.............153

TÓPICO 1 — ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO....155


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................155
2 ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO...................155
2.1 O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA.......................................................................................................158
2.1.1 A visita domiciliar....................................................................................................................... 159
2.1.2 Atendimento individual........................................................................................................... 159
2.1.3 Atividades em grupo................................................................................................................ 159
2.1.4 Ações de participação juvenil ............................................................................................160
2.1.5 Articulação intersetorial..........................................................................................................160
2.2 O PAPEL DOS DEMAIS NÍVEIS DE ATENÇÃO ............................................................................. 165
3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE NA REDE BÁSICA E
HOSPITALAR.......................................................................................................................168
3.1 CADERNETA DE SAÚDE DA E DO ADOLESCENTE...................................................................... 172
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................ 174
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 175

TÓPICO 2 - CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE........................................ 177


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 177
2 CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE......................................................... 177
2.1 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO PUBERAL.................................. 186
2.1.1 Critérios de Tanner....................................................................................................................188
2.2 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA....................................................................................... 190
2.3 IMUNIZAÇÃO DO ADOLESCENTE............................................................................................ 191
3 GRUPOS EDUCATIVOS NA ADOLESCÊNCIA..................................................................193
3.1 METODOLOGIAS DE TRABALHO COM GRUPOS................................................................... 194
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................195
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................196

TÓPICO 3 - PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA..................................................199


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................199
2 PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA...................................................................199
2.1 OBESIDADE................................................................................................................................. 199
2.2 TRANSTORNOS ALIMENTARES – ANOREXIA NERVOSA ................................................... 201
E BULIMIA......................................................................................................................................... 201
2.2.1 Anorexia nervosa..................................................................................................................... 202
2.2.2 Bulimia ..................................................................................................................................... 203
2.3 TRANSTORNOS EMOCIONAIS – DEPRESSÃO E ANSIEDADE ........................................... 203
2.4 COMPORTAMENTO DE RISCO – DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS .......................................... 205
2.5 SAÚDE BUCAL DO ADOLESCENTE........................................................................................207
2.6 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA............................................................................................. 208
2.7 VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA............................................................................................. 208
3 SUICÍDIO E AUTOLESÃO NA ADOLESCÊNCIA................................................................210
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................212
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................216
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 217

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................219
UNIDADE 1 -

ATENÇÃO INTEGRAL À
SAÚDE DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE: POLÍTICAS
E INDICADORES DE SAÚDE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender o processo histórico, evolução e impacto das políticas de saúde na saúde


da criança e do adolescente;

• conhecer os princípios, diretrizes e eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção


Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e Política Nacional de Atenção à Saúde Integral
de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ);

• assimilar os principais indicadores de saúde da criança, sua evolução nas últimas


décadas e impacto nos resultados apresentados;

• compreender as principais ações educativas para crianças, adolescentes e jovens,


seus objetivos, organização e impactos.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE


DA CRIANÇA (PNAISC)

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL


DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ)

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS


ADOLESCENTES – PRINCIPAIS INDICADORES, PROGRAMAS E INICIATIVAS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

Acesse o
QR Code abaixo:

2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO
INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA
(PNAISC)

1 INTRODUÇÃO

As crianças, os adolescentes e jovens, são sujeitos de direitos, que devem ser


priorizados de forma integral e absoluta, nas políticas públicas (BRASIL,1988). Ao sistema
de saúde vigente, Sistema Único de Saúde (SUS), compete a necessidade de promover
o direito à vida e à saúde, através de atenção integral, com acesso universal e igualitário
e através de sua Rede de Atenção à Saúde (RAS), em todos os seus níveis de atenção.
Para tanto, é dever do Estado “estabelecer políticas, planos, programas e serviços para
a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir
seu desenvolvimento integral (BRASIL, 2016). Então, a existência de legislação que
embase a estruturação, composição e financiamento dos serviços de saúde, assim como
documentos oficiais que subsidiem as ações que devem ser realizadas pela equipe, de
forma sistematizada, baseada em evidência e recomendações, torna-se essencial.

Mas por que a saúde da criança ganha destaque nesse cenário? Porque a taxa
de mortalidade infantil aparece como um indicador sensível do desenvolvimento de
um país, demonstrando as prioridades e os valores deste país relacionado as ações de
saúde, educação, moradia, alimentação, segurança, dentre outros (OMS, 2008), tanto
que é um dos Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Apesar de, nas últimas décadas, termos identificado avanços na melhoria das
taxas, ajustes de políticas públicas e crescimento de linhas-guia e diretrizes, ainda
temos um longo trajeto a percorrer. Então, acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1,
iremos explorar as políticas nacionais, sua evolução e organização e a direcionada
para saúde da criança.

NOTA
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são oito
grandes objetivos globais pactuados pelos países-membros da
Organização das Nações Unidas (ONU), que propõem metas,
que quando colocadas em prática, impactam na possibilidade
de o mundo progredir de forma rápida, duradoura e impactante,
principalmente, rumo à eliminação da extrema pobreza e da fome
do planeta (IPEA, 2019).

3
Dentre esses ODM, o objetivo 3 visa à saúde e bem-estar, com o propósito de
assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades,
sendo que na meta 3.2 é previsto que até 2030, se acaba com as mortes evitáveis de
recém-nascidos e crianças menores de cinco anos, a partir do momento que todos os
países das nações unidas compartilhem o objetivo de reduzir a mortalidade neonatal
para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de
cinco anos para pelo menos 25 por 1.000 nascidos vivos (IPEA, 2019).

DICA
O Brasil apresenta uma meta ampliada, por já ter atingido os valores
previstos pela ONU. Assim, para o Brasil, até 2030, enfrentar as
mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco
anos, o objetivo é reduzir a mortalidade neonatal para no máximo
cinco por mil nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores
de cinco anos para no máximo oito por mil nascidos vivos.
Quer saber mais? Acesse: https://www.ipea.gov.br/ods/ods3.
html#:~:text=At%C3%A9%202030%2C%20acabar%20com%20
as,25%20por%201.000%20nascidos%20vivos.

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE


ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Nas primeiras décadas do século XX, os programas nacionais eram direcionados


preferencialmente a grupos de risco e mais vulneráveis, gestantes e crianças, de
alcance limitado e verticalizado (BRASIL, 2018).

As primeiras iniciativas, mais sistematizadas, de programas direcionados à


criança ocorreram no final dos anos 1960 quando foi criado o Programa de Saúde
Maternoinfantil (PSMI), pela Divisão de Saúde Maternoinfantil (DINSAMI), da Secretaria
Nacional de Programas Especiais de Saúde (SNPES), do Ministério da Saúde (MS)
e implementado pelas Secretarias de Saúde (BRASIL, 2018). O PSMI, tipicamente
direcionado ao cuidado de grupo populacional vulnerável, coexistia com outros
programas destinados ao controle de patologias, sem a consequente e necessária
articulação entre as suas ações estratégicas.

No entanto, a partir dos anos 1970, iniciaram-se discussões sobre a


universalização do cuidado no âmbito internacional, incentivadas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

4
A elevada morbidade e mortalidade de crianças por doenças imunopreveníveis
e a disponibilidade de tecnologias custo-efetivas foi determinante na proposição dos
organismos internacionais, com marcos como a Declaração de Alma-Ata, de 1978.

No Brasil, nestas duas décadas que antecederam a Constituição


Federal de 1988, foram adotadas importantes iniciativas para a
melhoria da saúde e redução da mortalidade infantil e na infância,
entre as quais se destaca o Programa Nacional de Imunizações (PNI),
instituído em 1973, com a ampliação da cobertura vacinal média da
população, em especial das crianças. Em 1981 o Programa Nacional
de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM), para induzir um
conjunto de ações relacionadas à promoção, à proteção e ao apoio
ao aleitamento materno BRASIL, 2018, p. 13).

ESTUDOS FUTUROS
Na unidade 2, nós iremos abordar de forma mais detalhada
o Programa Nacional de Imunizações (PNI), programa que foi
criado, em 18 de setembro de 1973, e que procura cumprir
sua missão “oferecer todas as vacinas com qualidade a todas
as crianças que nascem anualmente em nosso país, tentando
alcançar coberturas vacinais de 100% de forma homogênea em
todos os municípios e em todos os bairros” (DATASUS, 2022,
s.p.). O PNI, nesses quase 50 anos de existência, tornou-se
uma ação do governo, que é caracterizada pela inclusão social,
visto que assiste todas as pessoas, em todos os recantos do
País, sem distinção de qualquer natureza. Seja rico ou pobre,
more no litoral ou nos sertões, seja velho ou jovem, o brasileiro
sabe que pode contar com vacina de boa qualidade em todos
os momentos de sua vida (BRASIL, 2013b).

Mas, é possível perceber que, nas décadas que antecederam a criação do


SUS, o modelo assistencial vigente no país, assim como a forma de organização dos
serviços, adotava um padrão “de intervenção estatal caracterizado pela dicotomia
entre a saúde pública e a assistência médica individual (previdenciária, filantrópica ou
liberal)” (BRASIL, 2009b, p. 90).

Vamos perceber que a maioria das políticas de saúde maternoinfantil, até então
tinham se desenvolvido em um cenário de exclusão, onde nem todos os brasileiros
tinham acesso e usufruíam as ações programáticas. Na década de 1970, com o
movimento desenvolvido por organizações internacionais como a Organização Mundial
de Saúde (OMS) e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) incentivaram debates
sobre a temática, demonstrando que era necessário um ajuste e adequação das ações
de Atenção Primária, para que resultado fossem alcançados (BRASIL, 2009b).

Vai ser a partir da década de 1980, principalmente, com a criação do Sistema


Único de Saúde (SUS), em 1988, que o Brasil passará a apresentar um cenário diferente

5
do apresentado até então. Com a reforma sanitária, a criação do SUS através da
Constituição de 1988, críticas severas ao modelo vigente, tornaram-se mais evidentes
e alternativas começaram a ser colocadas em prática.

Tudo isso ocorre em meio a reivindicações, protestos e movimentos, que eram


organizados por grupos específicos, como o movimento de mulheres em prol de uma
atenção integral em todos os ciclos da vida, que foi decisivo para a superação de
propostas focadas na atenção maternoinfantil e para a adoção de abordagens que
considerassem o perfil epidemiológico vigente e a inclusão de todos (BRASIL, 2007b).

Entre os programas relacionados à saúde da criança desenvolvidos na década


de 1980, além dos citados acima, temos o Programa de Assistência Integral à Saúde
da Criança (PAISC) (1984) que merece destaque.

ATENÇÃO
O Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC)
foi criado em 1984, e é a estratégia de enfrentamento às
adversidades nas condições de saúde vivenciadas pela população
infantil, em particular no que se refere à sobrevivência infantil,
que incorpora diversas ações para redução das altas taxas de
mortalidade da época. Seu grande diferencial é que ele tem o
objetivo de promover a saúde de forma integral, priorizando as
crianças pertencentes a grupos de risco e procurando qualificar a
assistência, além de aumentar a cobertura dos serviços de saúde,
incorporando ações de acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil, do incentivo ao aleitamento materno
e orientação alimentar para o desmame, do controle das
doenças diarreicas e das infecções respiratórias agudas, além da
imunização propriamente dita (BRASIL, 2009a).

O PAISC foi um divisor de águas, visto que proporcionou a elaboração e


impressão de Manuais de Normas Técnicas sobre esses temas, assim como estruturou
o primeiro Cartão de Saúde da Criança, além de material didático e com isso, a
realização de capacitações para profissionais de saúde sobre o PAISC em todo o país.

Outro ponto importante de frisar é que em 1990, durante a Reunião da Cúpula


Mundial em Favor da Infância, o Brasil e outros 158 estados membros da Organização
das Nações Unidas assinaram a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, Proteção e
Desenvolvimento da Criança, assumindo o compromisso de viabilizar, até o ano 2000,
os meios necessários ao cumprimento das 26 metas estabelecidas, sendo 19 na área
da saúde (BRASIL, 1997; 2009a).

6
DICA
Vamos resgatar as principais legislações importantes para a
Política de Saúde da Criança? Acesse: BRASIL. Ministério da Saúde.
Saúde Brasil 2008: 20 anos de Sistema Único de Saúde (SUS) no
Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 416 p. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2008.
pdf, páginas 95 a 98 e veja as principais legislações.

No Brasil, a discussão sobre os serviços de saúde destinados à saúde do


adolescente, resultou em 1989, no Programa de Saúde do Adolescente (RPOSAD), que
enfatiza o acompanhamento de saúde do adolescente na perspectiva interdisciplinar
e intersetorial. Trata-se de um programa com o principal objetivo de oferecer
atendimento fundamentado na política de promoção da saúde, de identificação de
riscos e detecção precoce de agravos, com tratamento e reabilitação (GRILLO, 2011).

É possível perceber que, com a criação do SUS, e a inserção de políticas e


programas direcionados à saúde da criança e do adolescente, houve grandes avanços
na atenção integral à saúde, que pressupõe o acesso universal e igualitário aos
serviços nos três níveis da atenção.

Atentando-se que, o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, a


prevenção de doenças e agravos, a atenção humanizada e o trabalho em rede passar
a ser algo recomendado e obrigatório.

A partir de 2006, passamos a ter a proposta de revisão e realinhamento dos eixos


de ação relativos à promoção da saúde e à atenção integral às pessoas em situação de
violência no conjunto de diretrizes e ações específicas da Política Nacional de Promoção
da Saúde (Portaria nº 687/2006), da Política Nacional de Atenção Básica (Portaria nº
648/2006) e das diretrizes para organização de redes de atenção integral às urgências
(Portaria nº 1.020/2009), pactuadas com as três esferas de gestão do SUS (BRASIL, 2015)

2.1 MARCO E DIRETRIZES NACIONAIS RELACIONADAS À


SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ao se realizar um resgate histórico dos principais instrumentos legais de
proteção aos direitos de crianças, adolescentes e de jovens, que tem o intuito de
favorecer o pleno exercício do direito fundamental à saúde, temos três documentos

7
que ganham destaque: O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de
13/07/1990); As Leis Orgânicas de Saúde (Lei nº 8.080 de 19/09/90 e Lei Nº 8.142, de
28/12/90) e a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742, de 07/12/93).

Foi em 1989, na Assembleia Geral das Nações Unidas, que a Convenção sobre
os Direitos da Criança adotou o plano normativo: “o valor intrínseco da criança e do
adolescente como ser humano, a necessidade de especial respeito a sua condição
de pessoa em desenvolvimento, o reconhecimento como sujeitos de direitos e sua
prioridade absoluta nas políticas públicas” (BRASIL, 2010, p. 64).

As Nações Unidas reconhecendo que crianças e adolescentes são sujeitos


sociais, e como tal, são portadores de direitos e garantias próprias, garantiram a
proposta de doutrina de proteção integral.

ATENÇÃO
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de
13/07/1990), que se fundamenta na Doutrina da Proteção
Integral, reconhece todas as crianças e adolescentes de 12 a 18
anos de idade como sujeitos de direitos nas diversas condições
sociais e individuais. A condição de “pessoa em situação peculiar
de desenvolvimento” (Art. 6º) não retira de crianças e adolescentes
o direito à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral,
abrangendo a identidade, autonomia, valores e ideias, o direito
de opinião e expressão, de buscar refúgio, auxílio e orientação
(BRASIL, 2010).

É considerado o maior símbolo “dessa nova forma de se tratar a infância e


a adolescência no país” visto que inovou ao trazer a “proteção integral, na qual
crianças e adolescentes são vistos como sujeitos de direitos, em condição peculiar
de desenvolvimento e com prioridade absoluta” (BRASIL, 2021, p. 9). O ECA também
reafirmou a responsabilidade da família, sociedade e Estado como atores fundamentais
para garantir as condições de pleno desenvolvimento da população adolescente
e infantil, além de colocá-la a salvo de toda forma de “discriminação, exploração e
violência” (BRASIL, 2021, p. 9).

Apesar de já ter três décadas de vigência, o ECA se mantêm como uma


legislação avançada e atualizada, pois inclui elementos como: Estatuto da Juventude;
Lei do Projovem; Convenção sobre os Direitos da Criança; Marco Legal da Primeira
Infância; Lei Nacional de Adoção; Lei de Investigação de Paternidade; Lei de Alimentos;
Lei da Alienação Parental e Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), e de forma mais
recente, foram incorporados: o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

8
Sinase (Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012); Lei que instituiu a Escuta Especializada
(Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017); a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez
na Adolescência (Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019); Política Nacional de Busca
de Pessoas Desaparecidas (Lei nº 13.812/2019, de 16 de março de 2019) e Programa
Nacional de Enfrentamento da Violência contra Crianças e Adolescente (Decreto
nº 10.701/2021), que faz alusão ao “Maio Laranja”, mês de combate ao abuso e à
exploração sexual do público infantojuvenil (BRASIL, 2021).

Na definição das linhas de ação para o atendimento da criança e do adolescente, o


ECA destaca “as políticas e programas de assistência social, determinando o fortalecimento
e ampliação de benefícios assistenciais e políticas compensatórias ou inclusivas como
estratégias para redução dos riscos e agravos de saúde dos jovens” (BRASIL, 2010, p. 35).

Quando avaliada a questão do acesso da criança e do adolescente à justiça


também é reformulada a partir do Estatuto, criando-se a Justiça da Infância e
Juventude no âmbito dos Poderes Judiciários Estaduais, além de mecanismos e
procedimentos próprios de proteção judicial e extrajudicial dos interesses individuais,
difusos e coletivos das crianças e adolescentes (BRASIL, 2010).

3 POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA


Antes de falar propriamente dito da Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Criança (PNAISC), é importante trazer alguns conceitos que são abordados
durante este material e que sofre alteração dependendo da literatura.

3.1 DEFINIÇÕES DE CRIANÇA, PRIMEIRA INFÂNCIA E


ADOLESCÊNCIA
Você já parou para pensar quais são as faixas etárias que contemplam criança,
primeira infância e adolescência, e se há diferenças para a organização assistência/
atenção oferecida a esse grupo?

IMPORTANTE
O Ministério da Saúde (MS), através da PNAISC, segue o conceito
da Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando primeira
infância: pessoa na faixa etária de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, ou seja,
de 0 (zero) a 72 (setenta e dois) meses (BRASIL, 2016) e criança:
pessoa na faixa etária de 0 (zero) a 9 (nove) anos, ou seja, de 0 (zero)
a 120 (cento e vinte) meses; (BRASIL, 2015, art. 3º). Mas é importante
ressaltar que para atendimento em serviços de pediatria, a PNAISC
e o SUS abrangem “crianças e adolescentes de zero a 15 anos, ou
seja, até completarem 16 anos ou 192 meses” (BRASIL, 2018, p. 26).

9
Então, a manutenção dos cuidados aos adolescentes nos serviços de Pediatria
da rede de saúde do SUS, é uma grande conquista, já que possibilita a continuidade
do cuidado, com profissionais que apresentam vínculo, o que facilitará a abordagem
de mudanças, problemas e necessidades que são específicas da adolescência.

ESTUDOS FUTUROS
Voltaremos a abordar o tema relacionado a adolescente
mais para frente neste mesmo livro didático. Por exemplo, a
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) aponta que a pediatria
deveria acompanhar pessoas de zero a 20 anos, mas como
o Ministério da Saúde não adota esses parâmetros, no Brasil,
hoje, vigora o previsto na PNAISC, com a justificativa de que a
formação dos pediatras e a estrutura dos serviços de saúde
não conseguiriam acompanhar pessoas a partir de 16 anos
(BRASIL, 2018). A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Criança (PNAISC), criada através da Portaria nº 1.130 de 5 de
agosto de 2015, tem o objetivo de:

ATENÇÃO
“Promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento
materno, mediante à atenção e cuidados integrais e integrados
da gestação aos 9 (nove) anos de vida” e para que isso ocorra, é
fundamental que seja direcionada atenção especial “à primeira
infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à
redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida
com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento
(BRASIL, 2015).

IMPORTANTE
Você sabe quais são os motivos da política centralizar as ações
na faixa etária até os nove anos de idade? Quando avaliamos
a mortalidade infantil, é possível perceber que, até um mês, a
mortalidade tem como causa fatores intrínsecos (qualidade do
pré-natal, doenças congênitas, prematuridade). Já na faixa etária
acima de 29 dias a antes de completar de um ano, os fatores
extrínsecos (acidentes, violência), que têm maior impacto na taxa
de mortalidade. Resgatando alguns indicadores, a partir de 2008,
os fatores externos como “acidentes de transporte terrestre, o
afogamento e a submersão acidental as principais causas de morte”
tornarem-se a primeira causa de morte em crianças de entre 1 e 9
anos de idade (BRASIL, 2018, p. 20).

10
3.2 ENTENDENDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO
INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PNAISC)
A PNAISC prevê ações que articulem os três entes federativos (federal,
estadual e municipal) com o propósito de viabilizar a agenda da Saúde da Criança,
dentro da saúde pública brasileira. Essas ações condizem com o pleiteado e divulgado
por organizações já atuantes nesta área (militantes da causa dos direitos da criança
e do adolescente) como a Rede Nacional da Primeira Infância (RNPI), a Pastoral da
Criança, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda),
além de organismos internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) (BRASIL, 2018).

3.2.1 Princípios, diretrizes e eixos estratégicos do PNAISC


Para ser operacionalizada é orientada pelos seguintes princípios (FIGURA 1):

Figura 1 – Princípios da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), 2015

Fonte: o autor

Vamos discutir sobre o conceito desses princípios?

1) Direito à vida e à saúde – é um princípio fundamental da criança, que é garantido


mediante o acesso “universal e igualitário às ações e aos serviços para a promoção,
proteção integral e recuperação da saúde” através da efetivação de políticas
públicas que permitam o “nascimento, crescimento e desenvolvimento sadios
e harmoniosos, em condições dignas de existência, livre de qualquer forma de
violência” (BRASIL, 1988; 1990).
2) Prioridade absoluta da criança – é um princípio constitucional que remete à
necessidade da criança de receber “proteção e cuidado em quaisquer circunstâncias,
ter precedência de atendimento nos serviços de saúde e preferência nas políticas
sociais”, e que isso aconteça em toda a rede de cuidado e de proteção do seu território,
além de obter “destinação privilegiada de recursos em todas as políticas públicas”
(BRASIL, 1988; 1990).

11
3) Acesso universal à saúde – direito de toda criança receber atenção e cuidado
necessários e dever da política de saúde, por meio dos equipamentos de saúde,
de atender às demandas da comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta
qualificada dos problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilidades
sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento responsável, quando
necessário, para a rede de atenção (BRASIL, 2005)
4) Integralidade do cuidado – princípio do SUS que trata da atenção global da
criança, contemplando todas as ações de promoção, de prevenção, de tratamento,
de reabilitação e de cuidado, de modo a prover resposta satisfatória na produção
do cuidado, não se restringindo apenas às demandas apresentadas. Compreende,
ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de atenção, mediante a integração
dos serviços, da Rede de Atenção à Saúde, coordenada pela Atenção Básica, com
o acompanhamento de toda a trajetória da criança em uma rede de cuidados e
proteção social, por meio de estratégias como linhas de cuidado e outras, envolvendo
a família e as políticas sociais básicas no território (BRASIL, 2005).
5) Equidade em saúde – igualdade da atenção à saúde, sem privilégios ou preconceitos,
mediante a definição de prioridades de ações e serviços de acordo com as demandas
de cada um, com maior alocação dos recursos para aqueles com maior necessidade.
Dá-se por meio de mecanismo de indução de políticas ou programas para populações
vulneráveis, em condição de iniquidades em saúde, por meio do diálogo entre governo
e sociedade civil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos e setores da Saúde,
pesquisadores e lideranças de movimentos sociais (BRASIL, 2005; 2009).
6) Ambiente facilitador à vida – princípio que se refere ao estabelecimento e à
qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/família/cuidadores e também destes
com os profissionais que atuam em diferentes espaços que a criança percorre
em seus territórios vivenciais para a conquista do desenvolvimento integral
(BRASIL, 2018). Esse ambiente se constitui a partir da compreensão da relação
entre indivíduo e sociedade, interagindo por um desenvolvimento permeado pelo
cuidado essencial, abrangendo toda a comunidade em que vive. Este princípio é a
nova mentalidade que aporta, sustenta e dá suporte à ação de todos os implicados
na Atenção Integral à Saúde da Criança.
7) Humanização da atenção – princípio que busca qualificar as práticas do cuidado,
mediante soluções concretas para os problemas reais vividos no processo de
produção de saúde, de forma criativa e inclusiva, com acolhimento, gestão
participativa e cogestão, clínica ampliada, valorização do trabalhador, defesa dos
direitos dos usuários e ambiência, estabelecimento de vínculos solidários entre
humanos, valorização dos diferentes sujeitos implicados, desde etapas iniciais da
vida, buscando a corresponsabilidade entre usuários, trabalhadores e gestores neste
processo, a construção de redes de cooperação e a participação coletiva, fomentando
a transversalidade e a grupalidade, assumindo a relação indissociável entre atenção e
gestão no cuidado em saúde (BRASIL, 2018).
8) Gestão participativa e controle social – preceito constitucional e um princípio do
SUS, com o papel de fomentar a democracia representativa e criar as condições para
o desenvolvimento da cidadania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, as

12
audiências públicas, as conferências e os conselhos de saúde em todas as esferas de
governo que conferem à gestão do SUS realismo, transparência, comprometimento
coletivo e efetividade dos resultados. No caso da saúde da criança, o Brasil possui um
extenso leque de entidades da sociedade civil que militam pela causa da infância e
do aleitamento materno e que podem potencializar a implementação deste princípio
(CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009).

As diretrizes da PNAISC têm o propósito de direcionar as propostas dos planos,


programas, projetos e ações de saúde voltadas para a criança. A Figura 2 mostra sua divisão.

Figura 2 – Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), 2015

Fonte: o autor

Vamos entender mais sobre essas diretrizes e a importância que têm para
que as ações produzidas realmente impactem os problemas vivenciados pela criança?
Segundo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (BRASIL, 2015):

1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – fomento à gestão


para implementação da Pnaisc, por meio da viabilização de parcerias e articulação
interfederativa, com instrumentos necessários para fortalecer a convergência
dela com os planos de saúde e os planos intersetoriais e específicos que dizem
respeito à criança.
2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção à Saúde –
fomento e apoio à organização de ações e aos serviços da Rede de Atenção à
Saúde, com a articulação de profissionais e serviços de saúde, mediante estratégias
como o estabelecimento de linhas de cuidado, a troca de informações e saberes,
a tomada horizontal de decisões, baseada na solidariedade e na colaboração,
garantindo a continuidade do cuidado com a criança e a completa resolução dos
problemas colocados, de forma a contribuir para a integralidade da atenção e a
proteção da criança.
3) Promoção da saúde – reconhecimento da Promoção da Saúde como conjunto
de estratégias e forma de produzir saúde na busca da equidade, da melhoria da
qualidade de vida e saúde, com ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para
o desenvolvimento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida saudáveis
e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças crônicas não transmissíveis,
envolvendo o trabalho em rede em todos os espaços de produção de saberes e
práticas do cuidado nas dimensões individuais, coletivas e sociais.

13
4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família – fomento à autonomia
e corresponsabilidade da família, princípio constitucional, que deve ser estimulado
e apoiado pelo poder público, com informações qualificadas sobre os principais
problemas de saúde e orientações sobre o processo de educação dos filhos, o
estabelecimento de limites educacionais sem violência e os cuidados com a criança,
com especial foco nas etapas iniciais da vida, para a efetivação de seus direitos.
5) Qualificação da força de trabalho – qualificação da força de trabalho para a
prática de cuidado, da cogestão e da participação nos espaços de controle social,
do trabalho em equipe e da articulação dos diversos saberes e intervenções dos
profissionais, efetivando-se o trabalho solidário e compartilhado para produção de
resposta qualificada às necessidades em saúde da família.
6) Planejamento no desenvolvimento de ações – aperfeiçoamento das estratégias
de planejamento na execução das ações da Pnaisc, a partir das evidências
epidemiológicas, definição de indicadores e metas, com articulação necessária
entre as diversas políticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de forma
a tornar mais efetivas as intervenções no território, que extrapolem as questões
específicas de saúde.
7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – incentivo à pesquisa e
à produção de conhecimento para o desenvolvimento de conhecimento com apoio
à pesquisa, à inovação e à tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da
Criança, possibilitando a geração de evidências e instrumentos necessários para a
implementação da Pnaisc, sempre respeitando a diversidade étnico-cultural, aplicada
ao processo de formulação de políticas públicas.
8) Monitoramento e avaliação – fortalecimento do monitoramento e avaliação das
ações e das estratégias da Pnaisc, com aprimoramento permanente dos sistemas
de informação e instrumentos de gestão, que garantam a verificação a qualquer
tempo, em que medida os objetivos estão sendo alcançados, a que custo, quais os
processos ou efeitos (previstos ou não, desejáveis ou não), indicando novos rumos,
mais efetividade e satisfação.
9) Intersetorialidade – promoção de ações intersetoriais para a superação da
fragmentação das políticas sociais no território, mediante a articulação entre agentes,
setores e instituições para ampliar a interação, favorecendo espaços compartilhados
de decisões, que gerem efeitos positivos na produção de saúde e de cidadania.

14
ATENÇÃO
Apesar de termos melhorias expressivas nos indicadores de
mortalidade infantil, quando avaliadas as últimas décadas, ainda
estamos distantes das taxas ideais. Isso se torna mais preocupante,
principalmente, quando avaliamos algumas regiões do país, e
acrescentamos gradientes como: diferenças sociais, econômicas
e demográficas (IBGE, 2020; UNICEF, 2023). Com o propósito
de superar esses entraves decorrentes de condicionantes
e determinantes sociais; reduzir vulnerabilidade, risco de
adoecimento, morte atual e na vida adulta; amenizar os desafios da
melhoria dos indicadores, proporcionando a efetivação de medidas
que permitam o nascimento, desenvolvimento e crescimento
adequado; e proporcionar uma atenção de qualidade, humana,
baseada em evidências e resolutiva, a PNAISC é organizada em
sete eixos estratégicos de ação.

3.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PNAISC


Com o objetivo de promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento
materno, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Criança (PNAISC), que abrange os cuidados com a criança da gestação aos nove
anos de idade, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior
vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à
vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento.

Para tanto, está estruturada em sete eixos estratégicos que têm a finalidade
de orientar gestores e trabalhadores sobre as ações e serviços de saúde da criança
no território, a partir dos determinantes sociais e condicionantes para garantir o direito
à vida e à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam a integralidade da
atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução de vulnerabilidades e riscos.
Suas ações se organizam a partir das Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para
as redes temáticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil e tendo
a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coordenadora das ações e do cuidado no
território, e servirão de fio condutor do cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à
Saúde, com ações e estratégias voltadas à criança, na busca da integralidade, por meio
de linhas de cuidado e metodologias de intervenção, o que pode se constituir em um
grande diferencial a favor da saúde da criança (BRASIL, 2018).

15
Esses eixos têm por finalidade orientar e qualificar as ações e os serviços
de saúde da criança no território nacional, considerando os determinantes sociais
e condicionantes para garantir o direito à vida e à saúde, visando à efetivação de
medidas que permitam o nascimento e o pleno desenvolvimento na infância, de forma
saudável e harmoniosa, bem como a redução das vulnerabilidades e dos riscos para o
adoecimento e outros agravos, a prevenção das doenças crônicas na vida adulta e da
morte prematura de crianças (BRASIL, 2015).

O planejamento dos eixos estratégicos contempla as principais questões que


afetam a saúde da criança, abrangendo ações e estratégias de promoção de saúde,
prevenção de doenças e agravos à saúde, ações de atenção integral e de reabilitação,
da gestação ao nascimento, com base nos indicadores de mortalidade e de morbidade
infantil e na infância, visando atender às especificidades do processo saúde-doença
nas diversas fases da vida da criança.

Figura 3 – Eixos estratégicos de ação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança
(PNAISC), 2015

Fonte: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-
-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-P-
NAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

É válido ressaltar que esses eixos estratégicos de ação da PNAISC fazem


parte da organização da atenção à saúde da criança, que através de uma rede de
atenção, articulada através de um conjunto de serviços de saúde, que compartilham
objetivos, missão e ações cooperativas e interdependentes, possibilitam o olhar global,
sistemático, singular, integral e contínuo à criança e a população (BRASIL, 2010).

Não se esqueça de que as ações e os serviços para a Atenção Integral à


Saúde da Criança são coordenados pela Atenção Básica, a partir da avaliação do
risco individual e coletivo, observadas as especificidades previstas para crianças

16
que necessitam de proteção especial. Os serviços de atenção à criança no ambiente
hospitalar e ambulatorial especializado, entre outros de maior complexidade e
densidade tecnológica, serão referenciados pelas portas de entrada das redes: Atenção
Básica, Atenção à Urgência e Emergência, Atenção Psicossocial e redes especiais de
acesso aberto (BRASIL, 2011).

DICAS
E como será que a PNAISC é desenvolvida em grupos específicos,
como as crianças indígenas, por exemplo? O Ministério da Saúde,
com a proposta de qualificar os profissionais de saúde que
atendem às populações com características específicas, promove
capacitações para que situações de possíveis iniquidades sejam
amenizadas. Que tal ler mais sobre isso em: “Oficina discute
implantação das ações da Política Nacional de Atenção à Saúde
da Criança em Terras Indígenas”, disponível em: https://www.gov.
br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2017/maio/copy_of_oficina-
discute-implantacao-das-acoes-da-politica-nacional-de-atencao-
a-saude-da-crianca-em-terras-indigenas.

Então, quando falamos da PNAISC, é possível perceber que a política se


organiza a partir da Rede de Atenção à Saúde e de seus eixos estratégicos, mediante a
articulação das ações e serviços de saúde disponíveis nas redes temáticas, em especial
aquelas desenvolvidas na rede de saúde materna, neonatal e infantil – Rede Cegonha,
e na Atenção Básica, está sendo coordenadora do cuidado no território (BRASIL, 2015).

Figura 4 – A Política Nacional de Atenção Integral Saúde da Criança – PNAISC, seus eixos estraté-
gicos e a articulação com as Redes de Atenção à Saúde

Fonte: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica-
-Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-P-
NAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

17
Ao avaliarmos os eixos é possível perceber que eles contemplam as principais
questões vivenciadas pela criança que afetam sua situação de saúde, doença e óbito.
Com isso, é possível organizar estratégias de combate aos problemas que, visando à
articulação de ações dos diversos setores de saúde e níveis de prevenção (primária,
secundária, terciária e quaternária) impactam direta e indiretamente nas diversas
fases da vida da criança.

De forma geral, a PNAISC apresenta os seguintes eixos (BRASIL, 2015):

1. Eixo Estratégico I – Atenção Humanizada e Qualificada à Gestação, ao Parto,


ao Nascimento e ao Recém-Nascido. A melhoria do acesso, cobertura, qualidade
e humanização da atenção obstétrica e neonatal, integrando as ações do pré-natal
e acompanhamento da criança na Atenção Básica com aquelas desenvolvidas
nas maternidades, conformando-se uma rede articulada de atenção. Ainda neste
eixo, temos as estratégias de: prevenção da transmissão vertical do HIV e da sífilis;
capacitação dos profissionais de enfermagem e médicos para prevenção da asfixia
neonatal e das parteiras tradicionais; utilização do “Método Canguru”; qualificação
da atenção neonatal em especial aos recém-nascidos graves ou potencialmente
graves; alta qualificada do recém-nascido da maternidade, com vinculação da mãe e
do bebê à Atenção Básica, para continuidade do cuidado (“5º Dia de Saúde Integral”);
seguimento do recém-nascido de risco, de forma compartilhada por Atenção
Especializada e a Atenção Básica e as triagens neonatais universais.

NOTA
Você sabe o que é o “5º Dia de Saúde Integral”? É um momento
privilegiado, que possibilita a detecção de dificuldades e
necessidades particulares, tanto da mãe quanto do bebê. É possível
identificar os riscos e vulnerabilidades que podem interferir no
crescimento e no desenvolvimento da criança, e assim, programar
ações de forma preventiva. Tanto a mãe quando o bebê deve ser
acolhido pela equipe de Atenção Básica, e entre o 3º e 5º dia de vida
do RN, deve ser realizada a consulta, geralmente de enfermagem,
mas pode ser médica também. É uma consulta conjunta da
criança e da mulher (e quanto possível, a presença do pai também
é ideal), onde são realizados exames sumários de ambos, como
pesagem da criança (avaliação de ganho ponderal) e medida
do perímetro cefálico, assim como avaliação da amamentação
(observação da mamada) e orientações decorrentes do visualizado
e do questionado pelos pais e familiares. É um momento de
aproximação, de desmistificação e de reforçar as orientações
já repassadas durante o pré-natal e na maternidade que estão
constantes na Caderneta de Saúde da Criança e da Gestante,
assim como o informado pela mãe, pai e familiares.

18
2. Eixo Estratégico II – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar
Saudável. Quanto ao aleitamento materno e alimentação complementar saudável é
fundamental a ampliação de estratégias como: Iniciativa Hospital Amigo da Criança
(IHAC); Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação
Complementar Saudável no SUS – Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB);
a Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA); a Rede Brasileira de Bancos de Leite
Humano; a implementação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos
para Lactentes, para Crianças de Primeira Infância, Bicos Chupetas e Mamadeiras
(NBCAL); e a mobilização social em aleitamento materno.
3. Eixo Estratégico III – Promoção e Acompanhamento do Crescimento e do
Desenvolvimento Integral. Consiste na vigilância e estímulo do pleno crescimento
e desenvolvimento da criança, em especial do “Desenvolvimento na Primeira Infância
(DPI)”, pela Atenção Básica à saúde, conforme as orientações da Caderneta de Saúde da
Criança, incluindo ações de apoio às famílias para o fortalecimento de vínculos familiares.
A seguir, destacam-se as ações estratégicas do eixo de promoção e acompanhamento
do crescimento e do desenvolvimento integral: § A disponibilização da Caderneta
de Saúde da Criança, com atualização periódica de seu conteúdo. § A qualificação
do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da primeira infância pela
Atenção Básica à Saúde. § O Comitê de Especialistas e de Mobilização Social para o
Desenvolvimento Integral da Primeira Infância, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS). § O apoio à implementação do Plano Nacional pela Primeira Infância.
4. Eixo Estratégico IV – Atenção Integral a Crianças com Agravos Prevalentes
na Infância e com Doenças Crônicas. Consiste em estratégia para o diagnóstico
precoce e a qualificação do manejo de doenças prevalentes na infância e ações
de prevenção de doenças crônicas e de cuidado dos casos diagnosticados, com
o fomento da atenção e internação domiciliar sempre que possível. São ações
estratégicas do eixo de atenção integral a crianças com doenças crônicas:

§ A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI).


§ A construção de diretrizes de atenção e linhas de cuidado.
§ O fomento da atenção e internação domiciliar.

5. Eixo Estratégico V – Atenção Integral à Criança em Situação de Violências,


Prevenção de Acidentes e Promoção da Cultura de Paz. Consiste em articular
um conjunto de ações e estratégias da rede de saúde para a prevenção de violências,
acidentes e promoção da cultura de paz, além de organizar metodologias de apoio
aos serviços especializados e processos formativos para a qualificação da atenção à
criança em situação de violência de natureza sexual, física e psicológica, negligência
e/ou abandono, visando à implementação de linhas de cuidado na Rede de Atenção
à Saúde e na rede de proteção social no território. A PNAISC define como ações
estratégicas do eixo de atenção integral à criança em situação de violências,
prevenção de acidentes e promoção da cultura de paz:

19
§ O fomento à organização e qualificação dos serviços especializados para atenção
integral a crianças e suas famílias em situação de violência sexual.
§ A implementação da “Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças,
Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências”.
§ A articulação de ações intrassetoriais e intersetoriais de prevenção de acidentes,
violências e promoção da cultura de paz.
§ O apoio à implementação de protocolos, planos e outros compromissos sobre o
enfrentamento às violações de direitos da criança pactuados com instituições
governamentais e não governamentais, que compõem o sistema de garantia de direitos.

6. Eixo Estratégico VI – Atenção à Saúde de Crianças com Deficiência ou em


Situações Específicas e de Vulnerabilidade. Consiste na articulação de um
conjunto de estratégias intrassetoriais e intersetoriais, para inclusão dessas crianças
nas redes temáticas de atenção à saúde, mediante a identificação de situação de
vulnerabilidade e risco de agravos e adoecimento, reconhecendo as especificidades
deste público para uma atenção resolutiva. A atenção à saúde de crianças com
Deficiência ou em Situações Específicas e de Vulnerabilidade dispõe das seguintes
ações estratégicas:

§ A articulação e a intensificação de ações para inclusão de crianças com deficiências,


indígenas, negras, quilombolas, do campo, das águas e da floresta, e crianças em
situação de rua, entre outras, nas redes temáticas.
§ O apoio à implementação do protocolo nacional para a proteção integral de crianças e
adolescentes em situação de risco e desastres.
§ O apoio à implementação das diretrizes para atenção integral à saúde de crianças
e adolescentes em situação de trabalho infantil

7. Eixo Estratégico VII – Vigilância e Prevenção do Óbito Infantil, Fetal e Materno.


O Eixo Estratégico VII – Vigilância e Prevenção do Óbito Infantil, Fetal e Materno.
Consiste na contribuição para o monitoramento e investigação da mortalidade
infantil e fetal e possibilita a avaliação das medidas necessárias para a prevenção de
óbitos evitáveis. Os comitês de vigilância do óbito materno, fetal e infantil em âmbito
local são ações estratégicas do eixo de vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e
materna. Eles são responsáveis pela realização da(o):

- Identificação, levantamento dos dados da atenção ambulatorial, urgência e hospitalar,


entrevista domiciliar e análise dos óbitos de mulheres em idade fértil e óbitos maternos,
fetais e infantis da área de abrangência da unidade/município/regional/estado;
- Utilização dos instrumentos recomendados pelo MS;
- Análise da evitabilidade dos óbitos maternos fetais e infantis, em reuniões locais;
- Identificação das medidas necessárias para prevenção de novas ocorrências.

20
ESTUDOS FUTUROS
Na unidade 2, nós iremos abordar o atendimento a criança nos
diversos níveis de atenção, assim como as ações realizadas
especificamente pela equipe de enfermagem. Abordaremos
também diversas estratégias pertencentes aos eixos
estratégicos, como aleitamento materno, acompanhamento
e crescimento, complementação vitamínica, prevenção de
acidentes e calendário vacinal.

21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tema de aprendizagem, você estudou:

• O processo histórico da construção das políticas de saúde é importante e ampara


as atualizações vigentes na área de saúde da criança e saúde do adolescente.

• As políticas direcionadas para grupos populacionais específicos, como a Política


Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), preveem princípios,
diretrizes e eixos para que sua implantação ocorra, de forma gradativa e oportuna,
condizente com o Sistema de Saúde vigente.

• As definições de criança, primeira infância e adolescência, sofrem variações


dependentes da literatura utilizada e da estruturação política ou assistencial.

• Os serviços e ações do PNAISC são coordenados pela Atenção Básica, a partir da


avaliação do risco individual e coletivo, observadas as especificidades previstas
para crianças que necessitam de proteção especial.

• A PNAISC se organiza a partir da Rede de Atenção à Saúde e de seus eixos


estratégicos, mediante a articulação das ações e serviços de saúde disponíveis nas
redes temáticas, em especial aquelas desenvolvidas na rede de saúde materna,
neonatal e infantil – Rede Cegonha, e na Atenção Básica.

22
AUTOATIVIDADE
1. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente: A criança e o adolescente gozam de
todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas
as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Considera-se:

a) ( ) criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos.
b) ( ) adolescente, para os efeitos desta Lei, a pessoa de dez a dezoito anos incompletos de
idade.
c) ( ) criança, para os efeitos desta Leia, a pessoa de cinco a nove anos de idade incompletos.
d) ( ) adolescente, para efeito desta Lei, a pessoa entre doze e vinte e um anos.

2. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são oito grandes objetivos globais


pactuados pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que
propõem metas, que quando colocadas em prática, impactam na possibilidade de o
mundo progredir de forma rápida, duradoura e impactante, principalmente rumo à
eliminação da extrema pobreza e da fome do planeta. Com base nos objetivos e metas
do ODM, analise as sentenças a seguir:

I- Dentre esses ODM, o que visa à saúde e bem-estar, tem o propósito de assegurar uma
vida saudável e promover o bem-estar para as crianças entre zero e nove anos de idade.
II- Uma das metas prevê que, até 2040, os países das Nações Unidas devam reduzir a
mortalidade neonatal e de crianças menores de 5 anos, para menos de 2 e 5 por 1.000,
respectivamente.
III- Para Brasil, a meta é de reduzir a mortalidade neonatal para no máximo 5 por mil nascidos
vivos e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para no máximo 8 por mil nascidos
vivos, até 2030.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

23
3. Leia com atenção o seguinte objetivo: promover e proteger a saúde da criança e o
aleitamento materno, mediante a atenção e cuidados integrais e integrados da gestação
aos 9 (nove) anos de vida e para que isso ocorra, é fundamental que seja direcionada
atenção especial à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à
redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de
existência e pleno desenvolvimento.

Assinale com (V) as afirmativas corretas e com (F) as falsas:

( ) Promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante a atenção


e cuidados integrais e integrados.
( ) A população alvo da política vai da gestação aos 9 (nove) anos de vida, por ser essa.
( ) Á primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da
morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência
e pleno desenvolvimento.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. Com o propósito de superar esses entraves decorrentes de condicionantes e


determinantes sociais; reduzir vulnerabilidade, risco de adoecimento, morte atual e na vida
adulta; amenizar os desafios da melhoria dos indicadores, proporcionando a efetivação
de medidas que permitam o nascimento, desenvolvimento e crescimento adequado; e
proporcionar uma atenção de qualidade, humana, baseada em evidências e resolutiva, a
PNAISC é organizada em sete eixos estratégicos de ação. Cite os sete eixos estratégicos
da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e discorra sobre o
eixo estratégico VII:

5. Na rede de saúde a articulação é fundamental, desde o nascimento, com a alta responsável


pela maternidade, utilizando a Caderneta de Saúde da Criança e já com agendamento
do “5º Dia de Saúde Integral” da mãe e bebê, que deverá ser realizada pela equipe de
Atenção Básica. O 5º Dia de Saúde Integral é previsto no eixo estratégico I-Atenção
Humanizada e Qualificada à Gestação, ao Parto, ao Nascimento e ao Recém-Nascido
da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC). Neste contexto,
disserte sobre 5º Dia de Saúde Integral.

AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão


INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022.

24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À
SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E
JOVENS (PNAISAJ)
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o Brasil vem passando por uma modificação demográfica
importante, devido à queda das taxas de mortalidade infantil e natalidade e o aumento
da expectativa de vida populacional. O ritmo de crescimento da população adolescente
e jovem desacelerou, mas ainda representa um percentual importante, alcançando
patamares de pouco mais de 1/3 da população brasileira (51.402.821 pessoas -36,89%)
segundo Censo de 2010 (IBGE, 2020). Assim, a população de adolescentes e jovens de
10 a 24 anos de idade é significativa, e consequentemente, demandam de atenção dos
serviços de saúde. Mas por que a necessidade dessa atenção para uma população muitas
vezes classificada como “saudável”?

Muitos dos hábitos desencadeadores de agravos e doenças são adquiridos nessa


faixa etária, assim como é neste estágio da vida que a influência do contexto social e das
desigualdades, ganham nova notoriedade.

Acadêmico! No Tema de Aprendizagem 2, nós abordaremos a Política Nacional de


Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ).

2 CONSIDERAÇÕES SOIBRE POLÍTICA NACIONAL DE


ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS
Numa perspectiva de análise do contexto histórico, a proposta preliminar da
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens – PNAISAJ
se constitui numa revisão e ampliação de políticas já anteriormente engendradas no
âmbito do Sistema de Atenção à Saúde a este segmento populacional, como o Programa
de Saúde do Adolescente – PROSAD no final da década de 1980. Inaugura, assim, uma
nova compreensão sobre o papel dos adolescentes e jovens em sua inserção social e
institui uma política de governo mais estável e permanente para esta população, para
além do caráter programático e, portanto, mais suscetível à descontinuidade, da política
anteriormente estabelecida (LOPEZ; MOREIRA, 2013).

Mas antes de falarmos sobre a proposta preliminar da PNAISAJ, vamos conversar


sobre alguns conceitos importantes.

25
2.1 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE
O Ministério da Saúde segue a convenção elaborada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), que delimita o período entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias de idade
como adolescência, e o situado entre 15 e 24 anos como juventude. Há, portanto, uma
interseção entre a segunda metade da adolescência e os primeiros anos da juventude
(BRASIL, 2010).

As fronteiras etárias são um marco abstrato útil para a delimitação de políticas e


de estratégias, mas na vida concreta e na experiência individual das pessoas, as fronteiras
da adolescência e da juventude não estão dadas de modo homogêneo e fixo (BRASIL,
2010). Assim, quando discutimos as diferenças dos dois conceitos, parece ser mais
adequado utilizar o parâmetro etário, do que efetivamente as vivências, experiências e
significados da vida.

Além dessa diversidade é importante considerar adolescência e a juventude


como processos complexos de emancipação, com fronteiras plásticas e móveis, que
não se restringem à passagem da escola para o trabalho e envolvem três dimensões
interdependentes: a macrossocial, na qual se situam as desigualdades sociais como as de
classe, gênero e etnia; a dimensão dos dispositivos institucionais que reúne os sistemas
de ensino, as relações produtivas e o mercado de trabalho e, finalmente, a dimensão
biográfica, ou seja, as particularidades da trajetória pessoal de cada indivíduo.

Adota ainda o termo “pessoas jovens” para se referir ao conjunto de adolescentes


e jovens, ou seja, à abrangente faixa compreendida entre 10 e 24 anos (BRASIL, 2010).

Adolescentes e jovens das classes marginalizadas, inclusive indígenas, ciganos


e jovens de outros povos tradicionais, além de estarem submetidos a um maior risco de
serem vitimizados pelas modalidades de violência que ocorrem indistintamente em todos
os segmentos sociais, são vitimados (de forma exclusiva ou, ao menos, preferencial) pelas
expressões da violência estrutural – discriminação social, racismo, dificuldade de acesso
aos serviços públicos, falta de oportunidades, dentre outras (BRASIL, 2010).

2.2 FALANDO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE


INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ)
A proposta preliminar da PNAISAJ, que tem como última versão datada de 2007,
tem o propósito de proporcionar uma revisão e ampliação de políticas já existentes, como
o previsto pelo Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), criado no final da década
de 80 (LOPEZ; MOREIRA, 2013).

Pensando que o perfil populacional tem sofrido grandes e importantes


modificações no passar dos anos, e é esperado que as políticas vigentes tenham a
mesma dinamicidade de atualização (para que suas estratégias tenham maior impacto

26
e realmente atinjam a população), é fundamental que tenhamos a promulgação de uma
política nacional de atenção integral, que vise ao protagonismo juvenil, identificando suas
necessidades específicas e definindo suas prioridades (LOPEZ; MOREIRA, 2013).

Os mesmos autores citados descrevem que primeiramente, amplia o limite


superior da faixa etária da população a ser contemplada pelas suas ações programáticas,
anteriormente definidas como dos 10 aos 19 anos, sendo agora proposta para o
grupo etário dos 10 aos 24 anos. Com isso, uma parcela da população fora da faixa
etária considerada como pertinente à adolescência – a qual se encerra aos 19 anos
– é compreendida em uma transitoriedade da adolescência para a vida adulta num
continuum vivenciado como juventude.

Em segundo lugar, propõe outra perspectiva da adolescência não como uma


etapa crítica, uma etapa problema do ciclo de vida do indivíduo, mas uma perspectiva dos
adolescentes e jovens como sujeitos de direito, construtores de suas próprias histórias
de vida, participantes e corresponsáveis pelos processos sociais dos quais tomam parte.

Em terceiro lugar, propõe uma mudança de perspectiva da atenção à saúde


desta população de um olhar sobre a doença e seus agravos para a atenção básica como
estratégia política de promoção da saúde a esse segmento populacional, haja vista o
grau de resolutividade deste nível de atenção na população jovem. Por fim, considera a
perspectiva relacional de gênero como um fator que participa dos condicionantes sociais
de saúde-doença para este segmento expressivo da população.

Tanto a proposta preliminar da proposição de uma PNAISAJ, quanto o texto


das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na
Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, submetido e aprovado pela Comissão
Tripartite em novembro de 2009, instituem como eixos estratégicos comuns para a saúde
integral da população de adolescentes e jovens: (a) o acompanhamento do crescimento
e desenvolvimento saudáveis, onde se declaram as preocupações em assegurar as
condições ambientais e individuais que favoreçam o pleno desenvolvimento e crescimento
do adolescente e jovem, conforme seu repertório biológico, e (b) o foco na saúde sexual e
saúde reprodutiva, ao atuar da prevenção e na intervenção precoce junto aos adolescentes
e jovens em situação de vulnerabilidade e risco, favorecendo a promoção da saúde e a
prevenção de doenças e agravos na idade adulta, com o incentivo à equidade de gênero e
ao cuidado de si entre os adolescentes e homens jovens (BRASIL, 2018).

Quando falamos especificamente sobre a adolescência e a juventude, é possível


entender que são “construções culturais e sociais que têm uma base material vinculada
à idade” (BRASIL, 2017, p. 16). Ao trabalharmos com esse conceito de ciclos etários, no
Brasil, adolescentes e jovens são definidos por diferentes aspectos, emergindo opiniões
diferenciadas quanto às formas de situá-los nos marcos referenciais que os caracterizam.
Já citamos acima as diferencias de classificação e voltaremos a descrever outras
classificações segundo novos documentos.

27
ATENÇÃO
O Ministério da Saúde adota a definição de adolescência prescrita
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que caracteriza o
período de:
- Adolescência: 10 e 19 anos.
- Juventude: 15 a 24 anos (BRASIL, 2010).
Agora, quando avaliamos o Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852,
de 5 de agosto de 2013), a definição de juventude segue estratos
distintos:
- adolescentes-jovens: dos 15 a 17 anos;
- jovens-jovens: dos 18 a 24 anos;
- jovens-adultos: dos 25 a 29 anos.

Outro ponto importante de se ressaltar são os marcos legais como a Constituição


Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – 1990) e a Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança (1989) – ratificada pelo Brasil em 1990, que
introduziram ordenamento jurídico para a concepção de criança e adolescentes como
sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento.

Tanto a proposta preliminar da proposição de uma PNAISAJ, quanto o texto


das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na
Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, submetido e aprovado pela Comissão
Tripartite em novembro de 2009, instituem como eixos estratégicos comuns para a saúde
integral da população de adolescentes e jovens:

(a) o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento saudáveis, em que se


declaram as preocupações em assegurar as condições ambientais e individuais que
favoreçam o pleno desenvolvimento e crescimento do adolescente e jovem, conforme
seu repertório biológico, e
(b) o foco na saúde sexual e saúde reprodutiva, ao atuar da prevenção e na intervenção
precoce junto aos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e risco,
favorecendo a promoção da saúde e a prevenção de doenças e agravos na idade
adulta, com o incentivo à equidade de gênero e ao cuidado de si entre os adolescentes
e homens jovens (LOPEZ; MOREIRA, 2013).

28
2.3 DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL
À SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS NA PROMOÇÃO,
PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE
As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de
Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde é o documento que norteia
a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ)
(BRASIL, 2010).

A proposta é sensibilizar gestores para que construam uma visão holística do ser
humano e que assim, consigam empregar uma abordagem sistêmica das necessidades
dessa população. (BRASIL, 2017). Outro ponto importante é o fato de buscar apontar para a
importância da construção de estratégias interfederativas e intersetoriais que contribuam
para a modificação do quadro nacional de vulnerabilidade de adolescentes e de jovens,
influindo no desenvolvimento saudável desse grupo populacional (BRASIL, 2010).

Sob esse marco legal, os adolescentes e jovens, independentemente de sexo,


raça, cor, origem ou qualquer outra condição, terão seus direitos garantidos por meio
de ações eficazes que lhes proporcionarão a formação da consciência cidadã para a
construção de uma sociedade equânime e livre (BRASIL, 2017).

Com as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de


Jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde espera-se um maior fortalecimento
da promoção da saúde nas ações para o cuidado integral à saúde de adolescentes e de
jovens e reorientação dos serviços de saúde para favorecer a capacidade de respostas
para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens.

No caso do fortalecimento da Promoção da Saúde nas Ações para o Cuidado


Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens, é sabido que o processo de saúde-
adoecimento está intimamente relacionado a múltiplos determinantes sociais,
evidenciando a impossibilidade do setor sanitário de responder sozinho a essa realidade.
Mas, ao mesmo tempo, é exigido estratégias dos serviços de saúde, que favoreçam a
integração com outras políticas setoriais e tecnologias para a defesa da vida e para a
garantia de opções saudáveis para a população.

Quando avaliada a situação de saúde de adolescentes e jovens é percebido


grandes dificuldades de acesso à educação, o desemprego, as profundas desigualdades
sociais, o meio ambiente degradado, a morbimortalidade por violências, dentre outras,
apontando para o impacto causado na saúde de pessoas jovens (BRASIL, 2010).

29
Com isso, esse segmento populacional pode ficar vulnerável aos agravos
resultantes do uso abusivo e álcool e de outras drogas; agravos resultantes das violências;
de doenças sexualmente transmissíveis e Aids; à mortalidade materna; na saúde sexual
e na saúde reprodutiva, ao início ou ao estabelecimento de doenças crônicas, o que
interfere no crescimento e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2010).

Assim, a diretriz evidencia a importância da promoção à saúde na produção


de saúde de adolescentes e de jovens, enfatizando a necessidade de se estabelecer
processos de intervenção intersetoriais e interdisciplinares, de ampliação e diversificação
das práticas sanitárias, de mudanças na gestão e no trabalho das equipes de saúde para a
construção complementar e de intercâmbio entre esses dois campos da atenção à saúde:

• o envolvimento dos sujeitos e coletivos, desenvolvendo a autonomia e a participação


conjunta na construção de ambientes saudáveis que reduzam o adoecimento e
comprometam a todos na integração (fortalecimento da promoção da saúde nas
ações para o cuidado integral à saúde de adolescentes e de jovens) e
• o desenvolvimento das ações de promoção, favorecem a sustentabilidade e a
efetividade das ações intersetoriais do SUS (reorientação dos serviços de saúde para
favorecer a capacidade de respostas para a atenção integral à saúde de adolescentes
e de jovens) (BRASIL, 2010).

Assim, é fundamental que a reorientação dos serviços de saúde ocorra de


forma gradual e duradoura, para que os cuidados sejam desenvolvidos por meio do
exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, dirigidas a
populações de territórios bem delimitados, considerando as demandas, processos e
realidades vivenciadas, assumindo assim a responsabilidade sanitária desta população
(BRASIL, 2010).

A Atenção Básica ganha destaque, visto que evidências mostram que mais de
80% dos problemas de saúde podem ser solucionados na Atenção Básica. Mas apesar
dessa alta taxa de resolubilidade, é fato, no entanto, que os serviços de saúde encontram
dificuldades em atender adolescentes e jovens que passam pelo SUS “invisibilizados” por
não serem reconhecidos em sua especificidade etária (BRASIL, 2010).

3 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE NA ATUALIDADE


A publicação das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de
Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, pelo
Ministério da saúde, confirma e sistematiza as questões abordadas sobre necessidade
e limitações de ações direcionadas à saúde do adolescente. Entretanto, há importante
dissociação entre projetos sociais e de saúde na área pública e a possibilidade concreta
de realizá-los. Em especial, há desencontro entre o que se oferece e aquilo que é
capaz de atrair o adolescente para o acompanhamento de sua saúde (GRILLO, 2011).

30
É importante ressaltar a relevância do Programa Saúde na Escola (PSE), criado
em 2007, como estratégia intersetorial dos Ministérios da Saúde e da Educação. Esse
programa tem como perspectiva ampliar as ações específicas de saúde aos alunos
da Rede Pública de Ensino, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica e Educação de Jovens e Adultos (GRILLO, 2011).

Outra estratégia que precisa ser melhor adequada é o uso e implementação


da caderneta de saúde do adolescente. A caderneta foi lançada em 2009 e tem
sido acompanhada pelos profissionais de saúde da escola, de forma articulada e
complementar. Dessa forma, a caderneta reúne informações importantes sobre
mudanças corporais, saúde sexual e reprodutiva, saúde bucal, alimentação e
prevenção de doenças. Iremos comentar mais sobre ela na Unidade 3.

3.1 TEMAS ESTRUTURANTES PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À


SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS
A construção dos eixos estruturantes prevê a organização de ações de
promoção, considerando, principalmente, o desenvolvimento e o bem-estar humano
em suas diversas dimensões. O adolescente é visto neste cenário como:

• adolescentes e jovens como sujeitos plenos de direitos;


• socialmente mais responsáveis e mais cooperativos;
• com capacidade de posicionamento frente à vida e à sua saúde.

As ações realizadas devem basear-se no conceito de promoção da saúde. E


para o cumprimento dessas ações é necessário o engajamento de sujeitos e coletivos,
contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e da participação conjunta, para
a construção de ambientes saudáveis (BRASIL, 2015a).

O grande objetivo da estruturação dos eixos é criar esse ambiente em que


com essas ações, os adolescentes e jovens “descobrem-se como autores de suas
vidas e passam a desempenhar um papel de protagonismo no exercício da cidadania
e nas interações e práticas cotidianas” (BRASIL, 2010, p. 52).

Assim, as diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes


e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2010) preveem sete
temas estruturantes “que complementam o conjunto de oportunidades e facilidades
com o objetivo de favorecer o desenvolvimento físico, o mental, moral, o espiritual
e o social de crianças e adolescentes”, preconizado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (BRASIL, 2015, p. 16).

31
Figura 5 – Temas estruturantes previstos nas diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde
de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde, 2010

Fonte: o autor

É importante frisar que esses processos de intervenção devem ser intersetoriais


e interdisciplinares, para complementarem e intercambiarem os dois campos da
atenção à saúde: a promoção de modos de vida saudáveis e o cuidado qualificado à
saúde (BRASIL, 2010; 2015b), conforme vemos na Figura 6.

Figura 6 – Promoção da Saúde segundo temas estruturantes previstos nas diretrizes nacionais
para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação
da saúde, 2010

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnps_revisao_portaria_687.pdf. Acesso em: 31


mar. 2023.

32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tema de aprendizagem, você estudou:

• A proposta de inserção da Política Nacional de Atenção à Saúde Integral de


Adolescentes e Jovens (PNAISAJ).

• As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na


promoção, proteção e recuperação da saúde.

• As diferentes classificações de jovens e adolescentes.

• Os temas estruturantes para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens.

33
AUTOATIVIDADE
1. As categorias adolescências e juventudes são construções culturais e sociais, que têm
uma base material vinculada à idade. A condição etária aparece em todas as sociedades
como um dos principais eixos ordenadores das políticas públicas e das ações sociais.
Na realidade brasileira, adolescentes e jovens são definidos por diferentes aspectos,
emergindo opiniões diferenciadas quanto às formas de situá-los nos marcos referenciais
que os caracterizam. Sobre definição de adolescência e juventude adotada pelo Ministério
da Saúde, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Adolescência: 10 e 19 anos.
b) ( ) Juventude: 20 a 24 anos.
c) ( ) Adolescentes-jovens: dos 10 a 15 anos.
d) ( ) Jovens-adultos: dos 18 a 24 anos.

2. As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens


na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde é o documento que norteia a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ). Com
base nas definições e propostas da diretriz, analise as sentenças a seguir. Outro ponto
importante é o fato de (BRASIL, 2010, p. 11).

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes nacionais


para a atenção integral à saúde de adolescentes e
jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde.
Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 132 p. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_
nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_
promocao_saude.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

I- A proposta é sensibilizar gestores para que construam uma visão holística do ser humano
e que assim, consigam empregar uma abordagem sistêmica das necessidades dessa
população;
II- Aponta a importância da construção de estratégias interfederativas e intersetoriais que
contribuam para a modificação do quadro nacional de vulnerabilidade de adolescentes
e de jovens;
III- Sob esse marco legal, os adolescentes e jovens, independentemente de sexo, raça, cor,
origem ou qualquer outra condição, terão seus direitos garantidos por meio de ações
eficazes.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.

34
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
3. O processo de reflexão sobre os temas estruturantes, propostos nestas diretrizes, é
fundamental nas ações de promoção do desenvolvimento e o bem-estar humano em
sua multidimensionalidade. Favorece a incorporação nas ações de saúde e na rede de
atenção à saúde de novos subsídios voltados para o reconhecimento dos adolescentes
e jovens como sujeitos plenos de direitos, socialmente mais responsáveis e mais
cooperativos, com capacidade de posicionamento frente à vida e a sua saúde. De
acordo com os temas estruturantes para a atenção integral à saúde de adolescentes e
de jovens, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas para a assertiva
em que TODOS os itens são contemplados como temas pelas Diretrizes Nacionais
para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e
Recuperação da Saúde:

( ) Participação juvenil; equidade de gêneros; direitos sexuais e direitos reprodutivos; projeto


de vida; cultura de paz; ética e cidadania; igualdade racial e étnica.
( ) Equidade de gêneros; direitos sexuais e direitos reprodutivos; projeto saúde na escola;
cultura de comunidade; ética e cidadania; igualdade racial e étnica.
( ) Direitos sexuais e direitos reprodutivos; projeto saúde na escola; cultura de paz; ética e
cidadania; participação infantojuvenil; equidade racial e étnica; igualdade de gênero.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. Desenvolvida para ser instrumento de apoio aos profissionais e aos adolescentes, a


Caderneta de Saúde de Adolescentes está disponível para ser utilizada nos serviços de
saúde, em ações educativas na comunidade e nos equipamentos da Assistência Social.
Seu objetivo é o de promover a autodescoberta e o autocuidado dos adolescentes,
através de informações precisas e integrais sobre essa fase do desenvolvimento. Disserte
sobre as principais informações contidas na caderneta de Saúde do Adolescente.

5. Com as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de


Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde tem-se com metas um maior
fortalecimento da promoção da saúde nas ações para o cuidado integral à saúde
de adolescentes e de jovens e reorientação dos serviços de saúde para favorecer a
capacidade de respostas para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens.
Discorra sobre essas duas metas.

AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão


INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022.

35
36
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS
E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS
INDICADORES, PROGRAMAS E
INICIATIVAS

1 INTRODUÇÃO

Ao avaliar o contexto socioeconômico da criança e do adolescente no Brasil,


identificamos que quase 27 milhões de crianças e adolescentes, ou seja 49,7% do total
dessa população, têm um ou mais direitos negados (educação, informação, moradia,
saneamento, água e trabalho infantil), o chamado privação múltipla. E quando avaliada
a pobreza monetária, temos que 61% desse grupo são pobres, vivendo com famílias com
renda insuficiente segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (UNICEF,
2018). Esses dados que já eram alarmantes, mas, com a pandemia, tornaram-se ainda
mais desafiadores. A pobreza multidimensional na infância e na adolescência, segundo
o relatório mais atual da UNICEF, atinge 63,1% da população brasileira de até 17 anos. As
meninas e meninos negros, que vivem em famílias pobres monetariamente, moradores da
zona rural e das Regiões Norte e Nordeste do país, são os mais afetados (UNICEF, 2018).

É importante conhecer esses dados, sua distribuição e evolução, pois assim,


conseguimos ter clareza da importância das ações direcionadas à saúde da criança
e do adolescente e o impacto em alguns indicadores de saúde. Apesar desse cenário
relatado, um aspecto positivo vivenciado pelo país, é que a taxa de mortalidade infantil,
desde 1990, vem apresentando quedas progressivas, reduzindo o risco de um nascido
vivo morrer antes de chegar a um ano de vida.

Então, acadêmico, nossa intenção no Tema de Aprendizagem 3, é abordar os


principais indicadores de saúde referente à saúde da criança e do adolescente, aos
principais aspectos de morbimortalidade e aos programas e iniciativas para a saúde
da criança e do adolescente, principalmente, em ações realizadas nas escolas e em
Unidades Básicas de Saúde.

2 ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES


– PRINCIPAIS INDICADORES
A taxa de mortalidade infantil é um importante indicador de saúde e condições
de vida de uma população, visto que através dele é possível estimar risco de um nascido
vivo morrer antes de chegar a um ano de vida (BRASIL, 2009b).

37
Países que apresentam valores elevados, tendem a possuir precárias
condições de vida e saúde, além de baixo nível de desenvolvimento social e
econômico (BRASIL, 2009b).

ATENÇÃO
A Taxa de Mortalidade Infantil (Coeficiente de Mortalidade
Infantil) é calculada através da divisão entre o número de
óbitos de menores de um ano de idade (numerador) e a
população residente em determinado espaço geográfico, no ano
considerado (denominador), por mil nascidos vivos, conforme
figura 7 (BRASIL, 2009a).

Figura 7 – Cálculo da taxa de mortalidade infantil (coeficiente de mortalidade infantil)

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso


em: 14 mar. 2023.

Ao avaliarmos os componentes de coeficiente de mortalidade infantil temos


outros três indicadores:

• o coeficiente de mortalidade neonatal precoce;


• o coeficiente de mortalidade neonatal tardia;
• o coeficiente de mortalidade pós-neonatal.

Vamos saber mais sobre cada um desses componentes?

• A taxa de mortalidade neonatal precoce (coeficiente de mortalidade neonatal


precoce).

38
Figura 8 – Cálculo da taxa de mortalidade neonatal precoce (coeficiente de mortalidade neona-
tal precoce)

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso


em: 14 mar. 2023.

• A taxa de mortalidade neonatal tardio (coeficiente de mortalidade neonatal tardio).


Figura 9 – Cálculo da taxa de mortalidade neonatal tardio (coeficiente de mortalidade neonatal
tardio)

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso


em: 14 mar. 2023.

• A taxa de mortalidade pós-neonatal (coeficiente de mortalidade pós-neonatal).


Figura 10 – Cálculo da taxa de mortalidade neonatal tardio (coeficiente de mortalidade neonatal
tardio)

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso


em: 14 mar. 2023.

A Taxa de Mortalidade Infantil (Coeficiente de Mortalidade Infantil) é usada para:

– Estimar o risco de morte dos nascidos vivos durante o seu primeiro ano de vida;
– Refletir, de maneira geral, as condições de desenvolvimento socioeconômico e
infraestrutura ambiental;
– Refletir o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materna
e da população infantil;
– Expressar um conjunto de causas de morte cuja composição é diferenciada entre os
subgrupos de idade (componentes da mortalidade infantil) (BRASIL, 2009a).

E a taxa de mortalidade de menores de cinco anos? Será que é uma medida


também utilizada? Vamos olhar com cautela a Figura 11.

39
Figura 11 – A taxa de mortalidade de menores de cinco anos: a medida indispensável da saúde
infantil

Fonte: https://www.unicef.org/brazil/media/156/file/Pobreza_na_Infancia_e_na_Adolescencia.
pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

ATENÇÃO
E quando avaliado cada componente, é possível fazer uma
leitura de quais aspectos têm impactado mais no indicador de
mortalidade infantil. Se as questões intrínsecas, como doença
pregressa materna e/ou fetal, pré-natal inadequado, sem
qualidade e falta de acesso ao parto e as necessidades do recém-
nascido. Cenário que pode ser investigado devido a altas taxas
de mortalidade neonatal precoce e tardia, que estima o risco
de um nascido vivo morrer durante a primeira semana de vida
ou entre 7 e 27 dias, por mil nascidos vivos, em determinado
espaço geográfico, no ano considerado. Ou se são as questões
extrínsecas, como pobreza, alimentação insegura, falta de
saneamento básico, baixos níveis de saúde, de desenvolvimento
socioeconômico e de condições de vida que repercutem mais na
taxa. A taxa de mortalidade pós-neonatal, que estima o risco de
um nascido vivo morrer, entre 28 a 364 dias de vida completos,
por mil nascidos vivos, em determinado espaço geográfico, no
ano considerado. Quando a taxa de mortalidade infantil é alta,
a mortalidade pós-neonatal é usualmente o componente mais
elevado (BRASIL, 2009).

40
Avaliando esses indicadores no Brasil, foi possível observar importante redução
na mortalidade infantil nas últimas décadas. Até 1990, a taxa de mortalidade infantil,
assim como seus componentes (mortalidade neonatal e pós-neonatal), apresentava
valores expressivos, sendo um gradiente importante, as desigualdades socioeconômicas
regionais. Mas a partir do momento que assumiu compromissos internacionais, o país
passou a promover o “desenvolvimento de várias políticas e estratégias que resultaram
na redução significativa da mortalidade infantil” (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). A figura
12 descreve os principais fatores que repercutiram na redução da taxa de mortalidade
infantil nas últimas décadas.

Figura 12 – Principais fatores que influenciaram a redução de mortalidade infantil nas últimas
décadas

Fonte: o autor

É importante entender os determinantes dessas mortes precoces, pois são


consideradas mortes evitáveis. O acesso ao serviço de saúde em tempo oportuno, com
serviços de qualificados e organizados, favorecem a redução dessa taxa. Mas como, na
maioria das vezes, são óbitos decorrentes de uma combinação de fatores biológicos,
sociais, culturais e de falhas do sistema de saúde, é preciso avaliar esse indicador de
forma multifatorial. As intervenções dirigidas a sua redução dependem, portanto, de
mudanças estruturais relacionadas às condições de vida da população, assim como de
ações diretas definidas pelas políticas públicas de saúde (BRASIL, 2009a).

Para compreender melhor esse cenário declínio nas taxas, ao avaliarmos as


estimativas indiretas da Taxa de Mortalidade Infantil, entre 1930 e 1970, é possível
identificar um leve declínio, passando de 162 para 115 por mil nascidos vivos, uma queda
de aproximadamente 1% ao ano (BRASIL, 2016; IBGE, 2020). Essa redução tornou-se
progressiva, tanto que nos anos 1970, a redução anual da mortalidade infantil foi de
3,2% alcançando 83/1.000 nascidos vivos em 1980. Entre 1980 e 1990, a redução foi

41
mais acentuada, de 5,5%. Mas é entre 1990 e 2012 que esse indicador sofre o maior
impacto, passando de 47,1 óbitos por mil nascidos vivos em 1990 para 14,6 em 2012,
contabilizando uma diminuição de aproximadamente 70%. Por mais que tenhamos um
país de extenso território e com diferenças importantes entre suas regiões, essa queda
foi percebida em todas as regiões brasileiras. O Nordeste ganha notoriedade neste
cenário, pois na década de 1990 apresentava taxas acima das demais regiões (75,8
óbitos por mil nascidos vivos) e em 2012 apresentou 17,1 óbitos por mil nascidos vivos)
(BRASIL, 2014).

Figura 13 – Tendência secular da taxa de mortalidade infantil, entre 1990, 2000 e 2012

Fonte: http://200.198.6.35/index.php/banco-sala-de-imprensa/3406-mortalidade-na-infancia-
-brasil-registra-maior-queda-entre-os-paises-da-america-latina. Acesso em: 14 mar. 2023.

As evidências têm demonstrado que as principais estratégias que contribuíram


para essa redução foram a ampliação do acesso à vacinação, das taxas de aleitamento
materno, do nível de escolaridade da mãe, da cobertura da Atenção Básica à saúde/
saúde da família, e, na última década, o Programa Bolsa Família, levando à diminuição
da pobreza e, com suas condicionalidades, induzindo maior utilização da atenção básica
à saúde pelas famílias, entre outras (BRASIL, 2018).

Nestes casos é possível perceber que a redução da mortalidade infantil foi bem
mais acentuada nos óbitos pós-neonatais, principalmente, graças à diminuição das
mortes por diarreia e pneumonia. E em contrapartida, a participação dos óbitos neonatais
cresceu tendo como principal gradiente, a prematuridade. O aumento da prematuridade
pode estar relacionado aos avanços tecnológicos que permitem gestantes de alto risco
engravidarem, ou gestantes que não poderiam engravidar de forma natural (reprodução
assistida), assim como o aumento de cesáreas programadas (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).

42
As desigualdades sociais repercutem na sobrevivência na infância, por isso,
o impacto significativo neste indicador dos programas sociais e assistenciais. Em
2019, 6 das 27 unidades da federação apresentavam mais de 90% das crianças e dos
adolescentes privados de algum dos direitos, que deveriam ser garantidos a esse público
(UNICEF, 2023). A discrepância é tamanha que apenas no Distrito Federal e três estados
do Sudeste) apresentam percentual de privação de crianças e adolescentes foi inferior
a 50%, conforme Figura 14.

Figura 14 – Crianças e adolescentes com alguma privação em 2019 – Pnad Contínua

Fonte: https://www.unicef.org/brazil/media/22676/file/multiplas-dimensoes-da-pobreza-na-in-
fancia-e-na-adolescencia-no-brasil.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

Mas apesar deste cenário, 2015 torna-se um divisor de águas para o Brasil, pois
com a construção dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2015-2030
das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, ressaltou-se que o país está
num patamar diferenciado, pois possui indicadores de mortalidade infantil com melhores
resultados que os padrões propostos. Mas é importante ressaltar a importância de criar
novas estratégias para que a meta de acabar com toda e qualquer morte evitável de
recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, seja alcançada (OMS, 2015).

Um ponto importante de se levantar é que, além de entender as múltiplas


privações a que crianças e adolescentes estão expostos, é necessário observar a
intensidade com que cada privação os afeta.

43
Os resultados mostram que, dos 61% de crianças e adolescentes brasileiros
que vivem na pobreza, 49,7% têm privações múltiplas. Muitas dessas meninas e desses
meninos estão expostos a mais de uma privação simultaneamente. Em média, elas
e eles tiveram 1,7 privação. Há 14,7 milhões de meninas e meninos com apenas uma,
7,3 milhões com duas e 4,5 milhões com três ou mais. Neste grupo, existem 13,9 mil
crianças e adolescentes que não têm acesso a nenhum dos seis direitos analisados pelo
estudo, estão completamente à margem de políticas públicas (UNICEF, 2018).

Dessa forma, podemos enumerar então os seguintes determinantes sociais que


afetam diretamente a saúde da criança:

a) Renda familiar;
b) Classe social na qual a criança é inserida;
c) Riquezas e bens que a família possui;
d) Educação e emprego dos genitores e responsáveis;
e) Educação dos pais e responsáveis;
f) Habitação e condições sanitárias;
g) Raça e etnia;
h) Relações pessoais e comunitárias (AFFONSO, 2014).

DICA
Para saber o panorama de cada privação, acesse: (UNICEF, 2018)
Disponível em https://www.unicef.org/brazil/media/156/file/
Pobreza_na_Infancia_e_na_Adolescencia.pdf.

2.1 DETERMINANTES DE MORBIMORTALIDADE INFANTIL E


JUVENIL

Identificar e entender os determinantes de morbimortalidade infantil e juvenil


é algo de extrema necessidade para o enfermeiro que atuará, direta e indiretamente
com serviços que atendam a esse público. Quando avaliamos os resultados prévios do
Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), estima-se que 68,6 milhões de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos de
idade residiam no Brasil naquele ano, demonstrando quanto essa população demanda
de cuidado, atenção e orientação. Ainda segundo os dados deste mesmo Censo, a
Região Sudeste aparece como sendo a mais populosa do país, concentrando pouco
menos de um em cada três (29,9%) crianças e adolescentes dessa faixa etária. Mas
quando avaliamos a proporção regional, é a Região Norte é aquela a apresentar maior

44
concentração de crianças e adolescentes em relação a sua população, superando 41,6%
de seus residentes, conforme demonstrado pela Figura 15 (ABRINQ, 2023).

Figura 15 – Proporção da população de menores de 19 anos de idade em relação à população


brasileira – Brasil e grandes regiões, 2022

Fonte: https://www.fadc.org.br/sites/default/files/2023-03/cenario-da-infancia-e-adolescencia-
-no-brasil-2023.pdf.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

É também na Região Norte, conjuntamente com e Região Nordeste,


que a população de crianças e adolescentes de até 19 anos de idade, reside,
majoritariamente, em domicílios rurais. Enquanto nas demais Regiões (Sudeste, Sul
e Centro-Oeste), a maioria da população de até 19 anos de idade reside em domicílios
urbanos (ABRINQ, 2023).

Outro ponto importante, é que em 2021, aproximadamente “72,4 milhões de


pessoas declararam viver com renda domiciliar mensal per capita de até meio salário-
mínimo (R$ 550,00), sendo que 31,2 milhões dessas pessoas informaram viver com
metade dessa renda (R$ 275,00)” (ABRINQ, 2023, p. 13).

Por que apresentar esse cenário é importante? Porque os níveis e tendências da


mortalidade infantil (nos seus componentes neonatal e pós-neonatal) e infantojuvenil
estão intrinsecamente interligados às condições demográficas, socioeconômicas, culturais
e ambientais de cada país (BRASIL, 2019). Eles são considerados um dos melhores
indicadores do nível de desenvolvimento duma população. Neste contexto, o conhecimento
da mortalidade infantil e infantojuvenil é indispensável para a tomada de decisões e
implementação de programas e políticas públicas na área de saúde, podendo essas
informações serem usadas para projeções populacionais, além de servir de instrumento de
identificação dos sectores populacionais expostos a altos riscos de mortalidade.

A violência é a principal causa de morbimortalidade na população jovem no


Brasil, sobretudo em jovens negros, do sexo masculino, moradores das periferias de
áreas metropolitanas dos centros urbanos. Somente em 2017, no Brasil, ocorreram
36.266 homicídios de jovens entre 15 e 29 anos de idade, dos quais 79,4% eram negros
(BRASIL, 2019). A violência constitui-se como um dos principais problemas de saúde
pública do Brasil, com grande impacto social, econômico, familiar, psicológico e no

45
trabalho, e é considerada um indicador de baixa qualidade de vida em uma sociedade e
tem nos homicídios sua maior expressão.

ESTUDOS FUTUROS
Teremos a oportunidade de discutir melhor o papel da violência
no período de adolescência. Na unidade 3. Mas é importante
reforçar que, durante o processo de atendimento, a equipe
pode ir construindo com o(a) adolescente uma leitura de sua
resiliência e de sua vulnerabilidade, que poderá propiciar
estratégias de cuidado singularizadas, que minimizem
situações de violência. Daí a importância de se conhecer as
demais políticas desenvolvidas para adolescentes e jovens
pela Educação, Assistência Social, Cultura, Esportes, Conselho
de Direitos etc. Quer saber um pouco mais sobre resiliência
e vulnerabilidade? Leia a página 42 de BRASIL. Ministério
da Saúde. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes
na atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf.

Ao avaliarmos os dados referentes ao ano de 2017 referente à mortalidade


infantil. A maior parte dos óbitos infantis ocorreu em hospitais (92,8%). O que isso pode
significar? Que apesar de indicar que há acesso aos equipamentos de saúde no País,
isso não significa qualidade do serviço. Vemos que as causas evitáveis continuam a
ser responsáveis pela maior proporção dos óbitos infantis (75,4%) e de todos os seus
componentes. A maior parte desses óbitos poderia ter sido evitada pela adequada
atenção à mulher na gestação (52,4%).

Os óbitos ocorridos nos períodos neonatal precoce (53,48% do total) e tardio


(17,46%) estão associados predominantemente à qualidade da atenção durante o pré-
natal e o parto e aos cuidados com o recém-nascido. Já os óbitos ocorridos no período
pós-neonatal (29,05%) associam-se a condições de vulnerabilidade como o nível
socioeconômico e acesso à saneamento básico, atenção à saúde e serviços preventivos
e curativos (BRASIL, 2019).

Isso demonstra a necessidade de se criar estratégias para a redução da


mortalidade infantil e fetal, que incorpore a adoção de medidas para a prevenção de
óbitos evitáveis pelos serviços de saúde e que considere as especificidades de cada
caso, mas também o perfil populacional.

46
As equipes de saúde têm um papel fundamental, ao reportar as limitações de
estrutura, processo e resultado, de identificação do óbito infantil e fetal e da qualificação
das informações, além da adequada investigação e análise de evitabilidade dos óbitos.
Para tanto, é preciso a identificação das medidas necessárias para a prevenção de novas
ocorrências. A criação de Comitês Estaduais e Municipais de Prevenção do Óbito Infantil
e Fetal é uma importante ferramenta para melhoria na organização da assistência de
saúde para a redução das mortes preveníveis, bem como a melhoria dos registros sobre
a mortalidade (BRASIL, 2016).

3 PROGRAMAS E INICIATIVAS PARA A SAÚDE DA CRIANÇA


E DO ADOLESCENTE
Com relação ao desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, o esforço
familiar ocorre com a intenção de prover as condições necessárias de alimentação,
vestimenta, afetividade, educação, segurança, desapego, autoestima e autonomia
progressiva. O primeiro desafio familiar no cuidado de uma criança é sua constituição
física e esforço para promover o desenvolvimento de sua dimensão psicológica. O
segundo desafio familiar é auxiliar esse sujeito ampliar sua consciência de si como
pessoa humana, dotada de desejo, valores e poder de escolhas, de acordo com a
liberdade, com os direitos alheios e com dever esperado de cada um na sociedade.
Vê-se que a necessidade da vivência em grupo por parte de adolescentes e jovens é
importante na construção de identidades num momento tão cheio de pressões sociais
para que o sujeito faça e assuma suas escolhas de identidades (de gênero, orientação
sexual, profissional, habilidades e gostos específicos etc.) (BRASIL, 2017).

A Atenção Básica aparece como terreno fértil, pois possibilita o extrapolar da


demanda referenciada, através de um trabalho interno com a equipe, conscientizando
que o acolhimento de adolescentes e jovens é tarefa de todos os profissionais: da
recepção à dispensação de medicamentos, do agente comunitário de saúde ao
técnico de Enfermagem, do dentista aos demais profissionais de saúde com formação
universitária (BRASIL, 2017).

Destaca-se que a assistência ao adolescente começa na assistência à criança e


sua família. É no atendimento desta faixa etária que podemos detectar e problematizar
questões como: “o estilo parental de cuidado, o monitoramento do desenvolvimento
e do cuidado tanto no período escolar como no período complementar, os serviços
e órgãos de apoio de outros setores e as situações de estresse e adversidades” que
podem comprometer o desenvolvimento e a articulação de programas de iniciativas
existentes (BRASIL, 2017, p. 34).

A oferta de grupos de encontro para adolescentes e familiares que cuidam de


adolescentes e jovens é uma boa estratégia que deve ser estimulada pelos profissionais
de saúde e entrar no rol de ações ofertadas no planejamento à atenção a adolescentes
e jovens. Discutiremos isso mais à frente.

47
3.1 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA CRIANÇAS
A seguir apresentamos a sugestão de grupos direcionados a crianças, segundo
a Secretaria Municipal de São Paulo, através do Manual técnico: Saúde da Criança e do
Adolescente nas Unidades Básicas de Saúde (SÃO PAULO, 2015). A proposta prevê três
grupos (FIGURA 16; FIGURA 17 e FIGURA 18), divididos por faixa etária e com abordagens
relacionadas aos problemas, agravos e dificuldades mais prevalentes em cada faixa etária.

Figura 16 – Primeiro grupo, faixa etária de 0 a 6 meses

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacrian-
caedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

48
Figura 17 – Segundo grupo, faixa etária de 7 a 9 meses

Figura 18 – Terceiro grupo, faixa etária de 10 a 24 meses

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacrian-
caedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

49
3.2 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA ADOLESCENTES
Já a inclusão do adolescente em ações de promoção à saúde tem sido um
grande desafio para o enfermeiro no seu dia a dia. Não existem fórmulas prontas para
a realização dos grupos de adolescentes e jovens, mas o objetivo principal destes
grupos deve basear-se na participação, desenvolvimento de reflexão crítica e estímulo
à criatividade e iniciativa.

Por isso, o planejamento das atividades é uma etapa importante, pois é quando os
profissionais de saúde, munidos do diagnóstico situacional, criaram as ações e atividades
necessárias nestes grupos. Então é fundamental conhecer nosso público-alvo.

Quanto às características dos adolescentes e jovens que residem na área de


atuação da unidade de saúde é preciso saber:

• idade, sexo, orientação sexual, etnia, raça, nível socioeconômico, escolaridade, inserção
no mercado de trabalho (formal e informal), pessoas com deficiências;
• informações sobre morbimortalidade, uso de álcool, tabaco e outras drogas, gravidez
na adolescência, conhecimento e uso de contraceptivos;
• aspectos subjetivos, como desejos, valores, insatisfações, ídolos, vínculos com a
família, amigos e percepção sobre a escola, a comunidade e a unidade de saúde;
• características das famílias: renda, estrutura e dinâmica familiar;
• condições de vida: tipo de moradia, saneamento, destino do lixo, condições de
segurança, transporte;
• recursos comunitários: escolas, atividades profissionalizantes, culturais e esportivas,
áreas de lazer, igrejas, grupos organizados da sociedade civil;
• condições de atendimento nas unidades de saúde: acesso, distribuição dos
adolescentes e jovens nos diferentes serviços, programas, projetos e atividades,
percentagem de homens e mulheres, concentração de consultas, captação de
gestantes por trimestre, principais motivos de atendimento, serviços oferecidos a
adolescentes e jovens.

O levantamento de informações poderá ser feito por meio do IBGE, do Ministério


da Saúde, das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, de pesquisas nacionais,
regionais e locais e estudos especiais realizados junto à população de adolescentes e
jovens. Idealmente, tanto a identificação dos principais problemas, quanto a seleção de
prioridades e a definição de estratégias de atuação, devem fazer parte de um processo
que envolva adolescentes, jovens, familiares e profissionais de diferentes setores
(BRASIL, 2007).

É importante dar ao adolescente e jovem a oportunidade de fazer por ele mesmo.


De ele desenvolver o protagonismo juvenil, engajando-o em projetos que ele mesmo
crie, assuma e administre, ampliando sua autonomia, autoconhecimento e altruísmo
(BRASIL, 2017).

50
A Secretaria Municipal de São Paulo, através do Manual técnico: Saúde da Criança
e do Adolescente nas Unidades Básicas de Saúde (SÃO PAULO, 2014), apresenta algumas
sugestões de roteiro de grupos para a adolescente (FIGURA 19).

Figura 19 – Sugestão de roteiro de grupos para adolescente

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacrian-
caedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

DICAS
Que tal ler o material Sugestão de dinâmicas de apresentação
para conhecer estratégia para trabalhar com grupos de
jovens e adolescentes. Material disponível em: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/07_0272_M.pdf.

3.2.1 A estruturação de grupos educativos para adolescentes:


um grande desafio para os profissionais da área de saúde e
educação
A estruturação de grupos educativos para adolescentes pode ser um grande
desafio para os profissionais da área de saúde e educação. Um aspecto que precisa ser
considerado e que pode favorecer a construção dos grupos, é a articulação com ações
dirigidas à prática de esporte, lazer, cultura, expressão artística e de atividades que
promovam a saúde, principalmente, na discussão de conteúdos ligados à sexualidade.

51
Para tanto, há a necessidade de se ter a participação ativa dos adolescentes e jovens, em
propostas educacionais inovadoras. Essas propostas precisam favorecer o engajamento
dos adolescentes e jovens na vida da comunidade, devem “evidenciar a importância de
sua participação na vida social e de seu papel protagonista na construção de um projeto
de vida consciente e responsável” (BRASIL, 2007b, p. 33).

É importante utilizar o espaço da escola para realização dessas atividades, pois


os adolescentes e jovens utilizam o espaço da escola como um local de relações, dentro
de um contexto socioeconômico, cultural e político, em que o currículo tem dupla face
– a explícita, disciplinas, e a oculta, com os valores e ideologias acerca dos fatores
envolvidos nesta questão.

Daí a importância de a escola articular-se com instituições que complementem


seu processo de trabalho educacional com a população em idade escolar. A escola entra
na vida do jovem como um espaço de grande significado, que enseja a formação de
sua identidade. Por isso a escola representa um lugar privilegiado para a promoção de
saúde, ajudando a construir cidadania e envolvendo os diversos atores deste universo:
estudantes, profissionais de educação, familiares, líderes comunitários e profissionais
de saúde. Todos esperam (escola, família, governo e sociedade civil) estar contribuindo
para a educação de crianças e jovens a fim de prepará-los de forma mais adequada para
a sua inserção social, mediante o desenvolvimento das potencialidades pessoais.

3.3 AÇÕES NAS ESCOLAS E NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE


A queda da mortalidade infantil no Brasil e o aumento da sobrevida da criança
devem-se às
ações de cunho primário, voltados para a atenção básica que ganhou destaque
no país nos últimos anos desde a reforma sanitária (AFFONSO, 2014).

Enquanto unidade de saúde, a atenção básica consegue promover diversas


modalidades de atendimento, que articulam ações intra e extramuros, e principalmente
com parcerias de ações realizadas na escola, por exemplo.

Trabalhar com grupos, demandam muita cautela, organização e planejamento.


Os grupos mobilizam poderosas forças que têm influência decisiva nos indivíduos. O uso
correto das dinâmicas de grupo permite intensificar deliberadamente as consequências
desejáveis dos grupos. Os grupos possuem seu próprio ritmo e dinâmica. As dinâmicas
empregadas nos grupos não são psicoterapia de grupo; o grupo se autoanalisa e se
autointerpreta (BRASIL, 2015a).

52
Compete a rede de atenção básica, especialmente da Estratégia Saúde da
Família (BRASIL, 2013a):

1. Participar e/ou desenvolver ações de promoção de saúde nos territórios, articulando


e potencializando os diversos espaços e equipamentos comunitários, especialmente
a escola.
2. Articular canais junto à população adolescente que facilitem a sua expressão e o
reconhecimento de suas potencialidades por meio de atividades artísticas, esportivas
e culturais, rádio ou jornal comunitário, campeonatos, gincanas, grupos de voluntários,
palanque da cidadania, olimpíadas desportivas ou intelectuais.
3. Articular ações intra e intersetoriais fortalecendo uma intervenção mais coletiva, capaz
de promover o desenvolvimento saudável de adolescentes e favorecer ambientes
protetores.
4. Participar e/ou desenvolver ações de incentivo à participação juvenil, fortalecendo o
protagonismo juvenil, identificando e valorizando lideranças estudantis e juvenis da
comunidade para participarem na solução de problemas que impactam efetivamente
a saúde pública, no âmbito de suas comunidades, e na promoção da educação em
saúde entre pares para uma melhor qualidade de vida.
5. Articular parcerias e desenvolver ações de educação em saúde que valorizem a
alimentação saudável, a prática de atividades de lazer, de esportes e culturais
favorecendo hábitos saudáveis.
6. Articular parcerias e promover, junto às famílias, atividades de educação e saúde
relacionadas ao crescimento e desenvolvimento de adolescentes, à saúde sexual e
à saúde reprodutiva, à prevenção de violências e acidentes, à promoção da cultura
de paz, à redução do uso abusivo de álcool e outras drogas, dando ênfase ao diálogo
familiar como estratégia fundamental na melhoria das relações afetivas entre pais,
responsáveis e filhos e favorecendo comportamentos, hábitos e ambientes seguros
e saudáveis para adolescentes.
7. Realizar a vigilância à saúde no desenvolvimento de adolescentes e jovens
identificando fatores de risco e de proteção às doenças e agravos, identificando
as desarmonias do crescimento, os distúrbios nutricionais e comportamentais, as
incapacidades funcionais, as doenças crônicas e a cobertura vacinal, o uso abusivo
de álcool e outras drogas e a exposição às violências e aos acidentes, encaminhando
o adolescente, quando necessário, para os serviços de referência e para a rede de
proteção social.
8. Desenvolver ações educativas relacionadas à saúde sexual e saúde reprodutiva
baseadas nas demandas e necessidades trazidas pelos adolescentes criando
ambientes participativos de discussões em grupo que favoreçam o exercício das
relações afetivas e fortaleçam o autoconhecimento, o autocuidado e o cuidado com
o outro para tomadas de decisões esclarecidas e responsáveis.
9. Articular parcerias e desenvolver estratégias sistemáticas de busca ativa de
adolescentes grávidas no território acolhendo-as e realizando atendimento pré-natal
considerando as especificidades e necessidades deste grupo etário, envolvendo os
parceiros e os familiares no atendimento.

53
10.Articular estratégias no território, em redes intra e intersetorial, para o desenvolvimento
de ambientes protetores às adolescentes grávidas, mães e pais adolescentes, na
garantia da sua permanência na escola, do acesso à profissionalização e ao primeiro
emprego e do fortalecimento dos laços familiares.
11.Identificar, no território, os adolescentes em situação de vulnerabilidade social e
pessoal, articulando as políticas sociais básicas e a sociedade para uma ampla
intervenção que favoreça a melhoria da qualidade de vida e promova ações de apoio,
inclusão social, proteção e garantia de direitos.
12.Construir espaços para troca de experiências, atualizações e estudos entre os
profissionais, incluindo a intervisão e supervisão dos casos.

IMPORTANTE
Quel tal conhecer os programas referências a infância e
adolescência do governo federal? BRASIL. Ministério da Saúde.
Guia de Programas da Infância e Adolescência do Governo
Federal. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

ESTUDOS FUTUROS

Iremos abordar essas ações de forma mais sistematizada


na Unidade 3, quando falaremos da assistência de
enfermagem para a população jovem e adolescente.

54
A escola é um espaço privilegiado para a captação dos adolescentes e jovens
porque:

• agrega grande parte dos adolescentes e jovens da comunidade;


• é um espaço de socialização, formação e informação;
• é na escola onde eles passam a maior parte do seu tempo.

Algumas sugestões de estratégias de integração escola/unidade de saúde/


comunidade, segundo Manual de Saúde Integral de Adolescentes e Jovens: orientações
para a organização de serviços de saúde (BRASIL, 2007):

• Apoiar e implementar as atividades conjuntas entre a escola, os serviços de saúde,


comunidades e famílias. Ex.: visitas domiciliares e visitas aos serviços de saúde.
• Envolver os adolescentes e jovens em projetos e ações educativas nas escolas e
comunidade – grupos de adolescentes, feiras de saúde.
• Capacitar adolescentes e jovens que tenham interesse para serem promotores de saúde.
• Criar mecanismos de facilitação do acesso de adolescentes e jovens aos serviços de saúde.
• Trabalhar junto a grêmios estudantis, diretórios acadêmicos, entidades esportivas,
centros comunitários, para a divulgação do serviço e estabelecimento de ações
conjuntas.
• Criar jingles, mensagens curtas e anúncios para promover os serviços e as ações/
temas a serem trabalhados.
• Criar boletins informativos, jornais comunitários, jornais escolares, caixas de dúvidas
e sugestões.
• Realizar eventos que promovam a saúde, a cidadania e a qualidade de vida, tais como
gincanas, passeios, shows musicais e artísticos, campeonatos.
• Viabilizar nas escolas e na comunidade murais relativos aos serviços de saúde.
• Oferecer a unidade de saúde para a realização de feiras de saúde organizadas pelos
estudantes (BRASIL, 2007).

Ficou curioso em saber mais das ações que os profissionais atuantes na Atenção
Primaria à Saúde podem realizar na escola? Veja com atenção a Figura 20, extraído do
material de divulgação do ministério da Saúde: Saúde integral de adolescentes e jovens:
orientações para a organização de serviços de saúde.

55
Figura 20 – Ações de atenção primária à saúde na escola pela Estratégia Saúde da Família/Uni-
dade Básica de Saúde

56
Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacao_basica_saude_adolescente.pdf.
Acesso em: 14 mar. 2023.

57
LEITURA
COMPLEMENTAR
ATENÇÃO À FAMÍLIA EM CUIDADO DOMICILIAR EM SITUAÇÃO DE NECESSIDADES
ESPECIAIS DE SAÚDE

Aline Oliveira Silveira


Maria da Glória Lima

Introdução
Esta lição traz um caso clínico de uma criança com necessidades especiais de
saúde, uma vez que cresce o número de crianças portadoras de doenças crônicas que
demandam cuidados especiais da equipe da SF.

Será abordado o impacto da cronicidade de uma doença na vida familiar, as


formas de enfrentamento utilizadas pelas famílias e o papel da equipe de saúde da
família no seguimento domiciliar dessas crianças.

O que é uma criança com necessidades especiais de saúde?

Os avanços nas tecnologias médicas e a incorporação destas nas áreas de


terapia intensiva neonatal e pediátrica têm possibilitado um crescente aumento nos
índices de sobrevivência entre neonatos de alto-risco, crianças com malformações
congênitas, traumas adquiridos, entre uma ampla variedade de doenças anteriormente
consideradas incompatíveis com a vida.

Enquanto presenciamos significativo e progressivo declínio da mortalidade infantil,


também acompanhamos uma transição epidemiológica, evidenciada pelas complexas
mudanças nos padrões de saúde e doença que acompanham a população brasileira e
suas implicações demográficas, econômicas, políticas e sociais (OMRAN, 2001).

No que se refere à população pediátrica, tal transição tem se refletido no


crescente número de crianças portadoras de condições crônicas, clinicamente frágeis,
dependentes de dispositivos médicos como forma de compensar perdas de funções
vitais e de cuidados de natureza altamente técnica, complexa e contínua como forma
de manter a vida. Esse grupo de crianças é definido na literatura internacional como
Children With Special Health Care Needs – CSHCN (McPHERSON et al., 1998).

No Brasil, o conceito é introduzido no final da década de 1990 (CABRAL, 1999),


como crianças com necessidades especiais de saúde (CRIANES).

58
Quais as políticas públicas para estas crianças?

As necessidades especiais de saúde dessas crianças geram demandas


de cuidados classificadas em quatro grupos: de desenvolvimento, tecnológicos,
medicamentosos e de cuidados habituais modificados. Dada a condição e a natureza
do cuidado, essas crianças necessitam de serviços de saúde e sociais para além dos
requeridos por qualquer outra criança, em geral, por um período de tempo indeterminado
(McPHERSON et al., 1998; CABRAL et al., 2003; MENTRO, 2003).

A incidência e a prevalência são desconhecidas em termos oficiais, devido


aos diversos termos empregados para classificar esse grupo de crianças e a
multiplicidade de condições clínicas que agrega. Entretanto, há um amplo consenso
entre pesquisas desenvolvidas em diversos contextos específicos de que é crescente
e expressivo o número de crianças com necessidades especiais de saúde cuidadas
por suas famílias no ambiente domiciliar (GLENDINNING et al., 2001; DYCK et al.,
2004; WANG; BARNARD, 2004; HEATON et al., 2005; REHM; BRADLEY, 2005; CABRAL
et al., 2004; VERNIER; CABRAL, 2006).

A crescente transição das crianças com necessidades especiais para o cuidado


domiciliar é apontada como consequência do movimento cada vez mais intenso em
prol da desospitalização. Nesse âmbito, duas forças confluíram para a casa tornar-se
uma alternativa cada vez mais aceita em vez do hospital: (1) aumento dos custos com a
internação prolongada dessas crianças as quais, até pouco tempo atrás, eram confinadas
ao ambiente hospitalar e “residentes” até a morte; (2) uma crescente consciência entre
profissionais e famílias de que a casa representa o contexto ideal de cuidado, cujas
questões de desenvolvimento e de qualidade de vida dessas crianças foram fatores
considerados cruciais (BAUMGARDNER; BURTEA, 1998).

O desenvolvimento de tecnologias adaptadas para o uso doméstico e as políticas


públicas com ênfase no cuidado centrado na comunidade como forma de apoiar o
seguimento domiciliar das crianças com necessidades especiais de saúde também têm
contribuído para esse processo (KIRK; GLENDINNING, 1998; 2004).

Somados a esses aspectos, evidencia-se uma melhora significativa das taxas


de sobrevivência de crianças que são clinicamente frágeis e dependentes de tecnologia,
com a crescente capacidade de transferência de tecnologia médica e do cuidado para
o domicílio (WANG; BARNARD, 2004). Entretanto, cabe destacar que não é apenas a
tecnologia que é transferida para o domicílio, mas, especialmente, os papéis e as
responsabilidades são transferidos para a família (KIRK et al., 2005).

Com o crescimento desse grupo de crianças, políticas governamentais em


países desenvolvidos têm reconhecido suas demandas e particularidades e provido a
implantação de serviços de suporte à criança com necessidades especiais de saúde e
sua família, como uma forma de apoiá-las na continuidade do cuidado domiciliar. No

59
Brasil, o benefício da prestação continuada de cuidado no domicílio é assegurado pela
Lei Orgânica da Assistência Social (BRASIL, 1993), por meio da qual é concedido recurso
financeiro no valor de um salário-mínimo à pessoa portadora de deficiência e cuja família
seja incapaz de prover sua manutenção.

O critério econômico para a elegibilidade ao recurso é a família cuja renda mensal


per capita seja inferior a um quarto do salário-mínimo, sendo, desse modo, assegurado
às famílias de crianças com necessidades especiais, em situação de pobreza, recorrer
a esse recurso para assegurar os custos de sobrevivência de sua criança. Não existe
qualquer outro programa sustentável ou recurso público específico para crianças com
necessidades especiais de saúde e suas famílias.

Estudos desenvolvidos em contextos brasileiros específicos, como no Rio


de Janeiro, revelam que 74,2% dos bebês egressos da terapia intensiva neonatal
apresentavam alguma necessidade especial de saúde. No sul do Brasil, o índice de
necessidades especiais atribuídas a intercorrências no período perinatal foi de 58,5%
(VERNIER; CABRAL, 2006).

Muitas crianças recebem alta hospitalar para o domicílio com demandas


altamente complexas e ainda, como agravante, as famílias possuem recursos financeiros
insuficientes ou limitados para arcar com os custos envolvidos (CABRAL et al., 2003;
FRACOLLI; ANGELO, 2006; NEVES; CABRAL, 2008). Em outras circunstâncias, quando
há necessidade de sustentação da vida da criança, esta é mantida institucionalizada
diante da condição social da família. Sendo comum, nesses casos, os familiares terem
que recorrer a Vara de Proteção da Infância, na esfera municipal, para receber o apoio
financeiro do Estado e assegurar as condições mínimas de implantação do cuidado em
seu domicílio (CABRAL et al., 2003).

O cuidar centrado na família sensível ao contexto social em que esta se insere,


vem sendo influenciado por transformações nos paradigmas de promoção da saúde e
da qualidade de vida, bem como pela emergência de políticas públicas e sociais que
tratam da saúde da família (ANGELO, 2008; TRAD, 2010). Desse modo, pode-se perceber
que o foco de atenção dos profissionais e de gestores de saúde tem se deslocado
do indivíduo e do hospital, para a família e o domicílio. Tal concepção de cuidar está
pautada no pressuposto de que os espaços familiares se constituem em lócus para a
potencialização das ações de saúde.

Como exemplo desta afirmativa, podemos citar iniciativas governamentais de


reorganização da atenção básica à saúde que, por meio da Estratégia de Saúde da
Família elege o domicílio e a comunidade como espaços estratégicos para a atuação
dos profissionais de saúde, e têm como foco de intervenção a unidade familiar (BRASIL,
2006). No âmbito da atenção básica, a saúde da criança é posta como uma prioridade e,
desde 2004, a Agenda de Compromisso para a Saúde Integral da Criança e Redução da

60
Mortalidade Infantil define ações profissionais nos mais distintos espaços de atenção.
As linhas estratégicas de Atenção à Saúde da Criança objetivam o atendimento à saúde
infantil no contexto da integralidade do cuidado (BRASIL, 2004).

Destaca-se no eixo de atenção à infância a implantação do Estatuto da Criança


e do Adolescente que se configura como um marco no que se refere à proteção e
promoção da infância, assegurando entre outros direitos fundamentais, o direito à
saúde e à inclusão social.

Entretanto, embora a legislação tenha avançado no campo do direito à


saúde e ao bem-estar social e em estratégias de atenção à saúde da criança e da
família, ainda não existe uma cultura de reconhecimento dos direitos da criança com
necessidades especiais de cuidado de saúde e de sua família, por meio de uma oferta
regular, sistematizada e organizada de sistemas de apoio social e de serviços de saúde
especializados (LEAL et al., 2010).

O desafio no âmbito das políticas públicas brasileiras, no que se refere à


continuidade do cuidado no domicílio, está na modificação da visão, na qual estas
crianças e famílias não sejam consideradas portadoras de deficiências ou desvantagens,
mas, sim, como crianças e famílias com necessidades altamente complexas e que vivem
desafios para a inclusão social e que possuem direitos como qualquer outro cidadão.

Essa breve contextualização comparativa nos sugere pensar no nível de


dificuldades que as famílias brasileiras enfrentam. Cabe destacar que estudos de
avaliação dos serviços de suporte ao cuidado domiciliar de crianças com necessidades
especiais indicam que estes ainda são pouco desenvolvidos e deficientes em
planejamento e, consequentemente, se tornam insuficientes e pouco efetivos em
termos de apoio a família (KIRK; GLENDINNING, 2004). Como conclusão, a problemática
do cuidado domiciliar não se limita apenas ao Brasil.

Situação-problema: Uma das famílias atendidas em domicílio pela Equipe


de Saúde da Família é a Família Flores da Silva. A família é acompanhada pela Equipe
de Saúde da Família (eSF) há cerca de dez meses, pelo fato de ter uma filha (Vitória)
portadora de necessidades especiais de cuidado de saúde, acamada e dependente
de tecnologia médica de suporte de vida. O início do acompanhamento se deu na
ocasião da alta hospitalar da criança e transição para o cuidado domiciliar. Vitória tem
hoje dois anos de idade, é portadora de Síndrome de West, pertencente ao grupo de
síndromes epilépticas infantis com difícil controle medicamentoso que provocam atraso
do desenvolvimento neuropsicomotor (RIZZUTTI et al., 2000). Recebeu seu diagnóstico
aos 3 meses de idade. Permaneceu hospitalizada por um período de 10 meses, entre
3 meses e 1 ano e 1 mês de idade, tornando-se dependente de tecnologia de suporte
de vida nesse período. Atualmente, é dependente de traqueostomia, gastrostomia e
ventilação mecânica e é cuidada, em casa, pela família.

61
O primeiro contato da eSF com a família Flores da Silva ocorreu logo após seu
retorno para o domicílio. A equipe responsável pelo planejamento da alta hospitalar da
criança, preocupada com a continuidade do cuidado da criança no domicílio, contatou a
Unidade de Saúde da Família de referência, informando o caso e a necessidade de apoio
à família. Na ocasião da primeira visita domiciliar, a abordagem inicial da equipe consistiu
na apresentação dos membros da equipe e aproximação com a família na tentativa de
começar a conhecê-la e promover um engajamento. A família havia trazido a criança para
casa há três dias e o ambiente estava tumultuado e desorganizado, pois a família estava
se adaptando aos cuidados da filha em casa, se mostrando preocupados e tensos, havia
também a presença de mais pessoas na casa, a avó materna veio auxiliar no cuidado e mais
duas vizinhas. Assim, a família não se mostrou muito receptiva à equipe. Nesse contexto,
o médico procedeu à avaliação clínica da criança, enquanto a enfermeira fazia algumas
perguntas a Sra. Sonia, mãe da criança, se precisava de algum tipo de ajuda. A mãe fala
que está feliz, responde no momento não precisa de ajuda, mas que estão se organizando
e colocando as coisas no lugar. A enfermeira mantém conversação e pergunta para mãe
como está sendo cuidar da Vitória e tem tido alguma dificuldade. A mãe reafirma que não,
dá graças a Deus e que aprendeu fazer tudo direitinho com o pessoal do hospital e que
está dando conta de cuidar e que não tem nada que ela não saiba fazer. A enfermeira
continua e explora se a família conta com mais alguém, da família ou outra pessoa para
ajudar a cuidar da Vitória. A mãe declara que é só ela e o pai.

Após o término da avaliação clínica de Vitória, o médico compartilha com


a mãe e a enfermeira, que a criança está estável e que está tudo normal. Pergunta
se há alguma dúvida em relação ao funcionamento dos equipamentos e como estão
planejando o cuidado da criança no domicílio, a fim de explorar os recursos de apoio que
a família já dispõe e aqueles que precisaria ampliar. A mãe informa que a criança irá fazer
acompanhamento ambulatorial de neuropediatria e que pretendem pagar fisioterapia
domiciliar, visto que não conseguiram este serviço via sistema público. A equipe de
assistência domiciliar do hospital no qual a criança estava internada continuará fazendo
visitas e consultas de acompanhamento, de acordo com a demanda, podendo ser
quinzenais ou mensais.

A enfermeira informa que irão fazer o acompanhamento da Vitória e da família e


os telefones da Unidade de Saúde da Família para que entrem em contato em caso de
necessidade. Além disso, é combinado com a família uma nova vista domiciliar na próxima
semana. A eSF por estar preocupada com a situação familiar, realizou uma segunda
visita domiciliar, em um retorno mais curto. Nessa visita, a enfermeira e o médico foram
recebidos pelo pai e a mãe. Os profissionais observaram que o ambiente domiciliar havia
sido transformado para receber a criança e seus aparatos tecnológicos (cama hospitalar,
respirador, oxímetro, entre outros equipamentos hospitalares e as adaptações físicas
necessárias para o cuidado da criança) e que os pais estavam hábeis no manejo dos
equipamentos e no desempenho de cuidados altamente técnicos (aspiração traqueal,
administração de dieta e de medicamentos, curativos, troca de sondas). Neste dia era o
dia de folga do trabalho do pai.

62
A criança (Vitória) estava deitada em sua própria cama – onde havia diversos
objetos de estímulo: móbiles, brinquedos coloridos, desenhos com temas infantis –
muito bem arrumada e em excelentes condições de higiene. Os pais são elogiados pelos
membros da equipe pelo desempenho zeloso e seguro no cuidado à Vitória. O médico
Roberto após examinar a criança, compartilha sua avaliação com os pais, informando
que Vitória continua ótima, estável e dentro do esperado. Ele percebe que os pais olham
apreensivos, porém com certo contentamento. Assim aproveita para explorar sobre a
presença de alguma preocupação ou necessidade de ajuda. Antônio (pai) timidamente
fala da luta e conquista deles em trazer Vitória para casa e como se sentem gratos por
estar conseguindo cuidar da Vitória, revelando que não ter falta de equipamentos, que
possuem amigos que os ajudam, e revela a preocupação deles quando for necessário
trocar a traqueo por ser caro e que eles não dispõem de muitos recursos. O Médico
acolhe e reitera que é importante que eles possam falar das suas preocupações e
dúvidas, acrescenta que verá como auxiliar nesta questão da troca da traqueo.

O pai cria coragem e se permite então falar sobre a doença da filha, sobre ter
cura, se a filha crescerá? Andará ou não? Contudo, o pai afirma manter a esperança e
a fé para o futuro dela, e que sempre irão cuidar dela. O médico se mostra empático a
eles e esclarece sobre a doença e que a medicina está sempre buscando. Nesse mesmo
tempo, a enfermeira trocava o curativo da sonda de gastrostomia para a observação da
pele da Vitória, com o olhar atento da mãe, que verbaliza sobre o seu medo da sonda
dar algum problema.

A enfermeira explora esse sentimento. A mãe fala que tem medo que tenha
infecção e que ele volte a ser internada, falando então desse momento da internação,
onde permaneceu um longo período, quase um ano, que sentiu internada junto com
ela e deixou de viver outras coisas, para só cuidar dela o tempo todo, que às vezes se
sentia sofrida e sozinha. Tanto ela como toda a sua família sofreram com esse período
da internação da filha. A enfermeira vai desenvolvendo a escuta qualificada e aproveita
também para explorar, por meio de perguntas, com o olhar e gestos, o conteúdo e
sentimentos trazidos pela mãe dessa experiência.

À medida que se estabelece maior confiança, a mãe fala da ambivalência que


sente em cuidar da filha, ora alegria por ver ela ali e poder cuidar dela, ora de tristeza, não
porque não aceite a doença, mas sim do que pode acontecer de um vir a perder a filha. A
fala vem acompanhada por momentos de silêncio e também de choro. A mãe agradece,
e verbaliza que foi bom conversar sobre isso e que se sente mais leve depois que falou.

A Enfermeira reitera que ela pode contar com ela e que voltará para conversar
com ela, para avaliar Vitória, como conhecer mais sobre a família de vocês. Para isso, irão
fazer pergunta sobre quem faz parte da família, com quem e como e se relacionam com
as pessoas da comunidade, com os profissionais de saúde, centros de saúde e outras
instituições importantes para a família e a Vitória. Os pais acenam afirmativamente e
que estarão aguardando retorno da visita. O cuidado de pessoas com doenças crônicas

63
requer processos adaptativos e de ajustes contínuos, dados as possíveis demandas
físicas, afetivas e sociais que requer o cuidado às pessoas com necessidades especiais.

O cuidado de pacientes em situações crônicas, para Rizutti et al. É muito difícil a


aceitação de qualquer doença crônica e de suas limitações. Em particular, é muito difícil
para a criança e para sua família adaptar-se à epilepsia, a seus riscos, complicações e
a eventuais atitudes hostis da sociedade. Daí a necessidade de abordar o tratamento
como multidisciplinar, sempre que possível, por uma equipe composta de médicos,
enfermeiras, psicólogas e assistentes sociais, no intuito de dar um apoio conjunto ao
paciente e à sua família (RIZZUTTI et al. 2000).

Considerando a situação desta família, refita sobre como se dá o acompanhamento


domiciliar de crianças portadoras de necessidades especiais de saúde e suas famílias
em sua cidade? Como a eSF se articula com os diversos profissionais e instituições ou
integra a rede de atenção a este grupo específico? Quais os dilemas vivenciados pelos
profissionais da equipe? Essa é uma atribuição da eSF?

Fonte: SILVEIRA, A. O.; LIMA, M. G. Atenção à família em cuidado domiciliar


em situação de necessidades especiais de saúde. In: UNB/UNASUS. Curso de
Especialização Saúde da Família. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/
html/ARES/1678/4/5%20-%20Unidade%202%20-%20Sau%CC%81de%20da%20
crianc%CC%A7a%20e%20do%20adolescente.pdf. Acesso em: 31 mar. 2023.

64
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tema de aprendizagem, você aprendeu:

• O perfil de morbimortalidade de crianças, adolescentes e jovens no Brasil.

• A importância de questões intrínsecas e extrínsecas na taxa de mortalidade infantil,


e o impacto disso em cada componente das taxas de mortalidade

• Quais são os principais indicadores de saúde da criança, como é sua construção e


interpretação.

• Quais os principais programas ministeriais referentes a saúde da criança e do


adolescente,
principalmente em ações realizadas nas escolas e em Unidades Básicas de Saúde.

65
AUTOATIVIDADE
1. A inclusão do adolescente em ações de promoção à saúde tem sido um grande desafio
para o enfermeiro no seu dia a dia. Não existem fórmulas prontas para a realização dos
grupos de adolescentes e jovens, mas o objetivo principal destes grupos deve basear-
se na participação, desenvolvimento de reflexão crítica e estímulo à criatividade
e iniciativa. Então é fundamental conhecer nosso público-alvo. Assim, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) A necessidade da vivência em grupo por parte de adolescentes e jovens é devido a


sua construção de identidades num momento tão cheio de pressões sociais, por isso
deve ser realizado na atenção especialidade e não na Atenção Básica.
b) ( ) A Atenção Básica aparece como terreno fértil para as ações de saúde dos adolescentes
e jovens, apesar dessas ações serem realizadas em momentos específicos e apenas
durante as consultas e/ou participação em grupos de encontro.
c) ( ) Destaca-se que a assistência ao adolescente começa assim que a pessoa completa
nove anos de idade, sendo direcionadas estratégias que envolvam outros adolescentes,
e preferivelmente sem a presença da família, para que se sintam mais à vontade;
d) ( ) A oferta de grupos de encontro para adolescentes e familiares que cuidam de
adolescentes e jovens é uma boa estratégia que deve ser estimulada pelos profissionais
de saúde e entrar no rol de ações ofertadas no planejamento à atenção a adolescentes
e jovens.

2. Para o cálculo da Taxa de Mortalidade Infantil (Coeficiente de Mortalidade Infantil) é


usada a seguinte fórmula:

Com base nas definições e uso da taxa de mortalidade infantil, analise as sentenças a seguir:

I- Refletir sobre o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde
materna e da população infantil.
II- Estimar o risco de morte dos nascidos vivos durante os seus primeiros cinco anos de
vida.
III- Expressar um conjunto de causas de morte cuja composição é diferenciada entre os
subgrupos de idade (componentes da mortalidade infantil).

66
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3. A taxa de mortalidade infantil tem sofrido reduções expressivas nos últimos anos no
Brasil, principalmente, quando avaliado de 1990 a 2012. As evidências têm demostrado
que algumas estratégias contribuíram de forma significativa para essa redução. De
acordo com as evidências constatadas quanto à redução da taxa de mortalidade
infantil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas para as estratégias
listadas a seguir:

( ) Ampliação do acesso à vacinação, das taxas de aleitamento materno e do nível de


escolaridade da mãe.
( ) Diminuição das mortes por diarreia e pneumonia, assim como diminuição de mortes
por prematuridade.
( ) Ampliação da cobertura da Atenção Básica à saúde/saúde da família, e o Programa
Bolsa Família.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. Você é enfermeiro de uma unidade de saúde e está estruturando o grupo de encontros


para adolescentes e familiares junto a sua equipe. Para tanto, realizou algumas reuniões
e fizeram levantamento das principais características dos adolescentes e jovens que
residem na área de atuação. Neste contexto, disserte sobre as principais características
dos jovens e adolescentes que devem ser levantadas para a organização adequada do
grupo.

67
5. Identificar e entender os determinantes de morbimortalidade infantil e juvenil é algo
de extrema necessidade para o enfermeiro que atuará, direta e indiretamente com
serviços que atendam a esse público. Quando avaliamos os resultados prévios do
Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), estima-se que 68,6 milhões de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos de
idade residiam no Brasil naquele ano, demonstrando quanto essa população demanda
de cuidado, atenção e orientação, assim como a importância de conhecer com mais
detalhes os determinantes de adoecimento e as taxas de mortalidade população.
Neste contexto, disserte sobre a importância de conhecer os níveis e tendências da
mortalidade infantil.

AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão


INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022.

68
REFERÊNCIAS
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2023. Disponível em: https://www.fadc.org.br/sites/default/files/2023-03/cenario-da-
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saude.gov.br/web_confmundial/docs/l8080.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

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sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS} e
sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1990b. Seção 1.
Disponível em: http://www.conselho.saude.gov.br/web_confmundial/docs/l8142.pdf.
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o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União,
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no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem, os procedimentos
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SÃO PAULO (Cidade). Secretaria da Saúde. Manual técnico: saúde da criança e do


adolescente nas Unidades Básicas de Saúde. 5. ed. São Paulo: SMS, 2015. Disponível
em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/sau-
dedacriancaedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

SILVEIRA, A. O.; LIMA, M. G. Atenção à família em cuidado domiciliar em situação


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ção Saúde da Família, Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/
ARES/1678/4/5%20-%20Unidade%202%20-%20Sau%CC%81de%20da%20crianc%C-
C%A7a%20e%20do%20adolescente.pdf. Acesso em: 31 mar. 2023.

UNICEF. Pobreza na infância e na adolescência. Brasília, DF: Unicef, 2018. Disponí-


vel em: https://www.unicef.org/brazil/media/156/file/Pobreza_na_Infancia_e_na_
Adolescencia.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

UNICEF. (Brasil). As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adoles-


cência no Brasil. 2023. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/22676/
file/multiplas-dimensoes-da-pobreza-na-infancia-e-na-adolescencia-no-brasil.pdf.
Acesso em: 14 mar. 2023.

73
74
UNIDADE 2 —

ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM NA SAÚDE
DA CRIANÇA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• saber conduzir o acompanhamento de saúde de crianças na Unidade Básica de


Saúde;

• atender as crianças, contemplando os aspectos biológicos, emocionais e sociais;

• elaborar estratégias para criar e fortalecer o vínculo da criança e família com a equipe
de saúde;

• compreender os principais agravos na infância e seu impacto na vida da criança e da


família.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE


ATENÇÃO

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA ATENÇÃO


BÁSICA

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – PROBLEMAS COMUNS NA INFÂNCIA E CONTEÚDO


PROGRAMÁTICO PARA GRUPOS EDUCATIVOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

75
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

76
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS
NÍVEIS DE ATENÇÃO

1 INTRODUÇÃO

A principal meta da enfermagem pediátrica é melhorar a qualidade dos cuidados


em saúde da criança e de sua família. Para tanto, é necessário estruturar um serviço e
atendimentos que visem alcançar uma vida mais longa, de alta qualidade a essas crianças;
uma vida livre de doença evitável, de incapacidades, de acidentes e de morte prematura;
a possibilidade de atingir a equidade na saúde, eliminando as desigualdades e melhorar
a saúde de todos os grupos; possibilitando a criação de ambientes sociais e físicos que
promovam uma boa saúde para todos, e condições de promover a qualidade de vida, o
desenvolvimento e comportamentos saudáveis em todas as fases da vida, principalmente
na infância (BRASIL, 2009).

Para tanto, mudanças assistenciais e organizacionais dos serviços de Atenção


à Saúde são necessárias. Mas para que isso ocorra de forma adequada, é fundamental
conhecer o cenário do atendimento ofertado à criança, assim como os principais
problemas vivenciados por ela (BRASIL, 2009).

Seguindo esse contexto acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1, abordaremos


o atendimento das crianças nos diversos níveis de atenção, dando enfoque às ações
produzidas na Atenção Básica, assim como aos programas e estratégias ministeriais para
impactar nos principais problemas vivenciados por nossas crianças.

2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA REDE


BÁSICA E HOSPITALAR
Quando discutimos especificamente os cuidados ofertados pela enfermagem aos
recém-nascidos, lactentes, crianças maiores e adolescentes, temos que esse cuidado
consistente como “o diagnóstico e tratamento de respostas humanas a problemas de
saúde manifestos ou em potencial” (HOCKENBERRY; WILSON, 2014).

77
É possível identificar quatro aspectos essenciais da prática de enfermagem
contemporânea, nesta definição:

• Atenção ao amplo espectro de experiências humanas e respostas à saúde ou à


doença sem restringir-se a uma orientação focada em um problema.
• Integração de dados objetivos aos conhecimentos obtidos a partir da compreensão
do paciente ou da experiência subjetiva de um grupo.
• Aplicação de conhecimentos científicos aos processos de diagnóstico e tratamento.
• Promoção de uma relação de cuidado atenciosa que promova a saúde e a cura.
(HOCKENBERRY; WILSON, 2014).

Neste cenário é possível entender que cada contato entre a criança e os


serviços de saúde, independentemente do fato motivador de trazê-la ao serviço, seja
queixa ou doença preexistente, “deve ser tratado como uma oportunidade para a análise
integrada e preditiva de sua saúde, e para uma ação resolutiva, de promoção da saúde,
com forte caráter educativo”, pois o acompanhamento sistemático do crescimento e
desenvolvimento da criança constitui o eixo central desse atendimento (BRASIL, 2002).

Um desafio importante é mudar o modelo de atenção à saúde vigente, que


permanece “fundamentado nas ações curativas, centrado no cuidado médico e
estruturado com ações e serviços de saúde dimensionados a partir da oferta”. Esse modelo
tem se mostrado insuficiente para dar conta dos desafios sanitários atuais e insustentável
para os enfrentamentos futuros (BRASIL, 2012).

As mudanças na sociedade moderna demandam de mudanças na atenção. Os


grupos de maior destaque (maior risco) relacionado à saúde da criança são (BRASIL, 2012):

• aquelas que nascem prematuras ou com muito baixo peso (MBP) ou baixo peso ao
nascimento (BPN);
• as crianças que frequentam creches, as crianças que vivem em situação de pobreza
ou situação de rua, filhos de famílias imigrantes, e
• crianças com doenças crônicas e distúrbios psiquiátricos e que vivem com
necessidade especial ou deficiência.

A nova morbidade, também conhecida como doença pediátrica social, refere-


se ao comportamento e problemas sociais e educacionais que as crianças enfrentam.
Problemas que podem impactar negativamente o desenvolvimento de uma criança
incluem (HOCKENBERRY; WILSON, 2014):

• pobreza,
• violência,
• agressão,
• abandono,
• baixo desempenho escolar e
• a adaptação à separação dos pais e ao divórcio.

78
Atualmente, umas das propostas de organização da assistência direcionada à
Saúde da Criança, é ancorada no Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC),
em que o cuidado da criança em seu ciclo de vida requer “uma resposta social proativa,
contínua e integrada”. Esse modelo propõe (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA
BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021).

• conhecimento da população-alvo residente em um território de saúde;


• sua estratificação, de acordo com a presença de fatores de risco;
• a complexidade da condição de saúde e;
• o dimensionamento da oferta de serviços, a partir da necessidade de saúde identificada
e da qualificação das intervenções em coerência com complexidade da situação.

Para que isso seja possível, a Rede de Atenção à Saúde da Criança, com
foco nos processos integrados da Atenção Primária à Saúde (APS) e da Atenção
Ambulatorial Especializada (AAE) precisam estar bem estruturados e fortalecidos,
baseando-se nos determinantes sociais (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA
BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021).

Figura 1 – Fatores determinantes da saúde da criança, segundo modelo de Dahlgren (modificado)

Fonte: https://www.as.saude.ms.gov.br/wp-content/uploads/2021/11/notatecnica_crian-
ca-1-1.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

As linhas de cuidado aparecem como um documento importante para o


desenvolvimento e operacionalização das ações voltadas para a saúde da criança
na APS. São documentos que vão ao encontro dos compromissos do Brasil com os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com o Pacto de Redução da Mortalidade
Materna e Neonatal, com o Pacto pela Saúde, com o Contrato Organizativo de Ação
Pública (COAP) e com o Programa Mais Saúde (BITTENCOUT, 2013).

79
ATENÇÃO
A linha de cuidado é uma estratégia para a ação, um caminho
a ser percorrido para o alcance da atenção integral, uma vez
que cria a sinergia entre os profissionais envolvidos e fortalece
a responsabilização dos serviços numa cadeia de produção
do cuidado em todos os espaços da atenção e de proteção
(BRASIL, 2012).

Figura 2 – Linha de cuidado: dimensões do cuidado como prática de saúde

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

Dessa forma, as linhas de cuidado da saúde da criança de atuação dos profissionais


na APS são (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 17):

• Promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno;


• Atenção à saúde do recém-nascido (RN), em especial aqueles em situação de
vulnerabilidade;
• Atenção integral às doenças prevalentes na infância (AIDPI);
• Incentivo e qualificação da vigilância do crescimento e desenvolvimento;
• Prevenção de violências e promoção da cultura de paz e
• Vigilância e monitoramento do óbito fetal e infantil.

O exercício das linhas de cuidado relacionadas à saúde da criança pressupõe


respostas não fragmentadas dos profissionais envolvidos no cuidado e ocorre a partir das
unidades da APS, que são, portanto, as responsáveis pelo ordenamento e coordenação
desse cuidado (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL, 2014).

80
Os primeiros 1000 dias de vida compreendem desde o momento da concepção
do indivíduo até os dois anos de idade da criança. Esse período é crucial para o
crescimento e para o desenvolvimento infantil, pois corresponde a uma “janela de
oportunidades” para prevenir e/ou reverter a programação metabólica e melhorar os
resultados maternos, fetais, do nascimento, da infância e até mesmo reduzir o risco de
as crianças desenvolverem DCNT no futuro (PEREIRA et al., 2022). Por isso, é importante
ter atenção às intervenções necessárias para o domínio infantil neste período.

O atendimento à criança engloba uma sequência de ações ou medidas


preventivas desde antes do nascimento, evitando seu adoecimento para, desta forma,
promover crescimento e desenvolvimento adequados (SÃO PAULO, 2015). O enfermeiro
tem um importante papel neste cenário, ele é um dos profissionais atuantes nos
domínios apresentados.

DICA
Para identificar essas ações descritas acima, acesse o seguinte
link: http://mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/
Como_Investir_na_Primeira_Infancia.pdf.

Veremos a seguir a importância da atuação do enfermeiro junto à saúde da


criança, assim como iniciar e realizar o seguimento da criança na Atenção Básica.

3 ATENÇÃO BÁSICA
Quando pensamos na estrutura operacional da Rede de Atenção à Saúde da
Criança, vemos que ela envolve a Atenção Primária à Saúde, a Atenção Especializada
ambulatorial e hospitalar, os sistemas de apoio, os sistemas logísticos e o sistema de
governança (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN,
2021). A Atenção Primária à Saúde é a responsável pela coordenação e ordenação da
assistência e do serviço de saúde. Assim, o centro de comunicação das redes articula os
fluxos e contrafluxos de pessoas, os produtos e as informações entre todos os pontos de
atenção (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021).

81
É na Atenção Primária, ou Atenção Básica, que é possível acompanhar a criança
ao longo da vida, percebendo os eventos em seus períodos singulares, chamados de
transição. Então, é fundamental conhecer essa população a ser acompanhada, assim
como classificá-las para melhor acompanhamento (FIGURA 3).

Figura 3 – Processo de conhecimento da subpopulação de crianças

Fonte: https://www.conass.org.br/biblioteca/saude-da-crianca-de-zero-a-cinco-anos. Aces-


so em: 13 abr. 2023.

DICA
Para saber quais são as situações que possibilitam a criança
ser classificada como de risco habitual, risco intermediário e
risco alto, não deixe de ler a Tabela 2. Estratificação de risco da
criança, disponível em: https://www.conass.org.br/biblioteca/
saude-da-crianca-de-zero-a-cinco-anos/.

O objetivo da agenda de cuidados da criança, deve garantir a continuidade do


cuidado, integrando as ações de atenção no pré-natal, parto e nascimento, período
neonatal, primeira infância e escolar, que depois seguem como agenda de cuidados na
adolescência. A agenda deve refletir a integralidade e a multidimensionalidade do cuidado
abordando os aspectos biológicos, genéticos e epigenéticos e os fatores ecológicos,
familiares, sociais e comportamentais, sumarizadas no eixo ecobiopsicossocial
(SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021).

Deve ainda buscar o desenvolvimento adequado da criança, resultado de


interações contínuas e cumulativas entre experiência, biologia e comportamento. Deve
também garantir o cumprimento dos direitos universais e da legislação vigente, que
protegem a criança em todo o percurso de desenvolvimento, favorecendo envolvimento
da família como protagonista no cuidado com a criança (SOCIEDADE BENEFICENTE
ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021).

82
A agenda de cuidados da criança nos primeiros cinco anos de vida deve seguir os
cuidados previstos nos eixos estratégicos da PNAISC, item que já discutimos na Unidade 1.

Figura 4 – Eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança

Fonte: https://www.conass.org.br/biblioteca/saude-da-crianca-de-zero-a-cinco-anos/. Aces-


so em: 14 abr. 2023.

3.1 COMO INICIAR E REALIZAR O SEGUIMENTO DA CRIANÇA


A todo RN será garantido uma primeira consulta pediátrica, onde o médico
estabelecerá o risco propondo uma rotina de atendimento, de acordo com o projeto
terapêutico individual ou coletivo, bem como consulta de enfermagem, onde será
elaborada a Sistematização de Assistência de Enfermagem (BRASIL, 2023). Essa primeira
consulta deverá ocorrer na Unidade de Atenção Primária à Saúde (APS), podendo ser
realizada durante a visita domiciliar pelo médico e/ou enfermeiro, juntamente com o
Agente Comunitário de Saúde. Este momento é crucial para orientar a família acerca dos
desafios diários com aleitamento materno, puerpério, realizar imunizações e a triagem
neonatal (teste do pezinho, caso não tenha sido realizada na alta da maternidade) e
reforçar a importância de dar continuidade nas próximas consultas com agendamento
consentido entre pais e profissional (BRASIL, 2023).

83
Falaremos mais sobre a consulta de enfermagem nos temas seguintes. Agora,
vamos nos atentar à visita domiciliária, onde a puérpera e o recém-nascido (RN) deverão
receber a visita domiciliária de Enfermagem logo que chegam ao domicílio, durante a
primeira semana. Nesta visita domiciliária, o enfermeiro deve estar atendo em seguir o
descrito na figura 5 (SÃO PAULO, 2015, p. 7):

Figura 5 – Primeiro atendimento: visita domiciliária

Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2015/sms-10932/sms-10932-7671.pdf. Aces-


so em: 14 abr. 2023.

As visitas domiciliares são recomendadas às famílias de gestantes e de crianças


na primeira semana pós-parto e, posteriormente a esse período, a periodicidade deve
ser pactuada com a família a partir das necessidades evidenciadas e considerando-se
os fatores de risco e de proteção. Cabe lembrar que a visita domiciliar não é apenas uma
atribuição do agente comunitário, pois toda a equipe faz uso dessa prática, podendo a
primeira consulta do RN e da puérpera ocorrer em domicílio, conduzida pelo médico e/
ou enfermeiro (BRASIL, 2012).

De forma geral, a primeira visita ao recém-nascido tem por objetivos principais


(BRASIL, 2012, p. 38):

• Observar as relações familiares;


• Facilitar o acesso ao serviço de saúde;
• Possibilitar ou fortalecer o vínculo das famílias com as equipes de saúde;
• Escutar e oferecer suporte emocional nessa etapa de crise vital da família (nascimento
de um filho);
• Estimular o desenvolvimento da parentalidade;
• Orientar a família sobre os cuidados com o bebê;
• Identificar sinais de depressão puerperal;
• Promover o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida;

84
• Prevenir lesões não intencionais; e
• Identificar sinais de perigo à saúde da criança.

3.2 VÍNCULO, PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIA


O profissional de saúde, desde o pré-natal, deve estar atento às mudanças e às
necessidades de adaptação que ocorrem nas famílias diante do nascimento de um novo
ser. De igual forma, o profissional de saúde deve saber que não é uma tarefa fácil uma
família adaptar-se a uma nova realidade, especialmente, quando se trata do primeiro
filho. Neste caso, os pais necessitam ajustar seu sistema conjugal, criando um espaço
para os filhos. Além disso, é preciso aprender a unir as tarefas financeiras e domésticas
com a educação dos filhos (BRASIL, 2012).

O apego, vínculo emocional recíproco entre um bebê e seu cuidador, constrói-


se baseado em relacionamentos preliminares estabelecidos ainda com o feto e com
a criança imaginada pelos pais, antes mesmo do seu nascimento (BRASIL, 2012). O
enfermeiro deve estar atento, pois é um período de muitas mudanças e suscetível a
episódios de melancolia e depressão pós-parto.

Quando se fala especificamente de casos de violência, o acolhimento da criança


e da família em situação de violência deve permear todos os locais e momentos do
processo de produção de saúde, como uma ação contínua em todo o percurso da
atenção na rede de cuidado e de proteção social, diferenciando-se da tradicional
triagem (BRASIL, 2012).

Neste sentido, os profissionais de saúde que compõem a equipe de Saúde da


Família são os atores principais na referida abordagem (BRASIL, 2010; 2012).

Como fazer o acolhimento?

• Todo e qualquer membro da equipe deve receber as crianças e suas famílias de forma
empática e respeitosa;
• Deve-se acolher a criança e a família em lugar específico para este tipo de atendimento;
• Acompanhe o caso e proceda aos encaminhamentos desde a entrada da criança e de
sua família no setor de saúde até o seguimento deles para a rede de cuidado e de
proteção social;
• Adote atitudes positivas e de proteção à criança e à sua família;
• Atue de forma conjunta com toda a equipe.

Espera-se que toda criança tenha o direito de crescer e se desenvolver de forma


saudável. A criança amada e desejada cresce mais tranquila e tende a se relacionar de
forma mais harmoniosa com seus pais/cuidadores e com outras crianças. A exposição
de crianças a situações de violência pode comprometer seu desenvolvimento físico,
emocional e mental. Quando maus-tratos ocorrem na infância, os prejuízos são

85
maiores que em qualquer outra faixa etária. Como o aprendizado se dá pela imitação
do comportamento dos adultos, crianças que assistem e/ou são vítimas de contínuas
cenas de violência em casa podem achar que essa é uma forma natural de lidar com
os conflitos e, assim, passar a adotar esse modelo de comportamento (BRASIL, 2018).

Assim, o profissional da Atenção Básica deve estar preparado para (BRASIL, 2012):

• Desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de violências;


• Conhecer as diversas formas de manifestação da violência;
• Identificar os casos suspeitos de violência na comunidade;
• Cuidar de crianças em situação de violência, procurando ampliar a rede de cuidados
e de proteção social para a tomada de decisões;
• Buscar apoio da rede de cuidados e de proteção social no território, para interromper
a violência, especialmente a de repetição, encaminhando as crianças para os serviços
especializados identificados como referências no território;
• Realizar o acompanhamento da criança e da família, enquanto não houver a alta do
serviço de saúde;
• Realizar o seguimento da criança e de sua família em situação de violência para a
continuidade do cuidado na rede de proteção social;
• Fazer intenso trabalho de articulação em todo este processo, não apenas com os
serviços da rede de saúde e das demais políticas públicas (escola, CRAS, etc.), mas
também com as forças vivas da comunidade, como associações de moradores,
organizações não governamentais, sindicatos, igrejas etc.

Os seguintes sinais: manchas roxas, queimadura de cigarros, mãos queimadas


em luvas, secreção/sangue na genitália e ânus, medo do contato físico, choro sem
causa aparente, tristeza, isolamento, agressividade, criança faltar à escola e negligência
na saúde e higiene podem significar que a criança está sendo vítima de violência. Ficar
atento para esses sinais ou sintomas é um papel contínuo dos pais/cuidadores e de
profissionais. Na educação das crianças, impor limites não significa bater ou castigar.
O diálogo deve ser estimulado desde cedo pelos pais/cuidadores; esse é o caminho
(BRASIL, 2018).

ATENÇÃO
É importante reforçar com a população que, se suspeitarem que
alguma criança está sofrendo violência, devem imediatamente
procurar a Unidade de Saúde, o Conselho Tutelar ou a Vara da
Infância e da Juventude, ou ligar gratuitamente para o nº 100.

86
De forma geral, é possível seguir o proposto na Figura 6 para avaliar e classificar
a possibilidade de violência:
Figura 6 – Avaliação e classificação das possibilidades de violência

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

A linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes


e suas famílias em situação de violências, dá suporte ao profissional enfermeiro, para
entender a cada etapa, desde o acolhimento, atendimento, notificação e seguimento
conforme demonstrado na Figura 7.

É importante frisar que a linha de cuidado é uma estratégia para a ação, um


caminho para o alcance da atenção integral ou da integralidade do cuidado, um dos
princípios do SUS, que busca articular a produção do cuidado desde a atenção primária
até o mais complexo nível de atenção, exigindo ainda a interação com os demais
sistemas para a garantia de direitos, proteção e defesa de crianças e adolescentes
(BRASIL, 2010).

87
NOTAS
Você já ouviu falar de fatores protetores? Os fatores protetores
são caracterizados por atributos pessoais, familiares ou sociais
que minimizam ou neutralizam o impacto do risco. Quanto
mais atuantes, maior é o seu efeito positivo na vida das crianças
e dos adolescentes (BRASIL, 2010).

Figura 7 – Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas
famílias em situação de violências

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

88
DICA
Estamos comentando tanto sobre violência, sinais, linha de
cuidado, mas você sabe quais são os tipos e natureza da violência
infantil? Acesse o seguinte link: https://bvsms.saude.gov.br/
bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.
pdf e https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_
quadros_procedimentos_aidpi_crianca_2meses_5anos.pdf.

Outro aspecto importante, é a visita domiciliar, que aparece como grande aliada
para o enfermeiro e sua equipe, pois possibilita a manutenção de um contato mais
próximo com as comunidades nas quais trabalham, especialmente, com as crianças e
suas famílias, tendo assim oportunidades únicas durante as visitas domiciliares, tanto
para detectar problemas relacionados a acidentes e violência, como para realizar ações
educativas e intervenções (BRASIL, 2012).

Pensando nos cuidados para garantir a segurança das crianças, a fim de evitar
acidentes, temos alguns cuidados a serem seguidos, conforme Figuras 8, 9 e 10.

Figura 8 – Cuidados para garantir a segurança das crianças, a fim de evitar acidentes, de 0 a
6 meses de idade

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023.

89
Figura 9 – Cuidados para garantir a segurança das crianças, a fim de evitar acidentes, de 6 a
12 meses de idade

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023.

Figura 10 – Cuidados para garantir a segurança das crianças, a fim de evitar acidentes, de 1 a
2 anos de idade

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023.

90
IMPORTANTE
O tópico “Cuidando da segurança da criança: prevenindo
acidentes e violência”, da Caderneta de Saúde da Criança
(BRASIL, 2018, p. 33), apresenta os cuidados preventivos
relativos aos acidentes, por faixa etária. Apresenta, ainda, as
consequências dos maus tratos domésticos, exteriorizados em
sinais físicos e alterações comportamentais. Acesse o conteúdo
da caderneta de saúde da menina no link a seguir:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_
crianca_menina_12ed.pdf e para a caderneta de saúde do
menino:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_
crianca_menino_12ed.pdf.

91
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tema de aprendizagem, você estudou:

• A importância do atendimento à criança, especialmente nas ações produzidas pela


Atenção Básica, através de linhas de cuidado.

• A importância de iniciar o seguimento da criança através da visita domiciliaria que


favorece o acolhimento, a escuta qualificada e a permanência da criança e da família
no serviço de saúde.

• Que é fundamental a orientação para que medidas de segurança sejam adotadas


para reduzir a possibilidade de acidentes na infância, por faixa etária.

• Ter atenção a sinais de violência e como agir nessas suspeitas.

92
AUTOATIVIDADE
1. O atendimento à criança engloba uma sequência de ações ou medidas preventivas
desde antes do nascimento, evitando seu adoecimento para, desta forma, promover
crescimento e desenvolvimento adequados. Sobre as medidas que compreendem,
desde o momento da concepção do indivíduo até os dois anos de idade da criança, são
chamadas de:

a) ( ) Agenda de cuidados.
b) ( ) Atenção Básica.
c) ( ) Os primeiros 1000 dias.
d) ( ) Linhas de cuidado.

2. As visitas domiciliares são recomendadas às famílias de gestantes e de crianças na


primeira semana pós-parto, sendo que durante esta visita é esperado que o enfermeiro,
analise as sentenças a seguir:

I- Observe indícios de depressão pós-parto e se houve intercorrências pós-parto junto à


puérpera;
II- Direcione o atendimento para o recém-nascido, e agende nova visita para avaliar a
puérpera.
III- Verificar a situação vacinal da mãe da criança.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3. As mudanças na sociedade moderna demandam mudanças na atenção. De acordo


como o Ministério da Saúde (2012), quais são os grupos de maior destaque (maior risco)
relacionado à saúde da criança? Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as
falsas:

( ) Aquelas que nascem prematuras ou com muito baixo peso (MBP) ou baixo peso ao
nascimento.
( ) As crianças que não frequentam creches e da classe média alta
( ) As crianças com doenças crônicas e distúrbios psiquiátricos e que vivem com
necessidade especial ou deficiência.

93
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. A faixa etária dos 0 a 6 meses de idade demanda grande cuidado, e muito no que tange
aos cuidados para garantir a segurança, a fim de evitar acidentes. Dentro deste contexto
e neste público específico, cite os principais acidentes que podem correr com crianças
de 0 a 6 meses de idade, e disserte sobre as medidas de segurança que podem ser
adotadas.

5. A violência interpõe-se como uma poderosa ameaça ao direito à vida e à saúde da criança
e de sua família. Mais do que qualquer outro tipo de violência, a cometida contra a criança
não se justifica, pois, as condições peculiares de desenvolvimento desses cidadãos os
colocam em extrema dependência de pais, familiares, cuidadores, do poder público e da
sociedade. Neste contexto, disserte sobre quais os sinais que são indicativos de violência
e quais os serviços que a pessoa que suspeita de um caso de violência pode procurar?

AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão


INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022.

94
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À
CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA

1 INTRODUÇÃO
A consulta de enfermagem consiste na avaliação sistemática do crescimento
e desenvolvimento infantil, nas queixas mais comuns da infância, estado nutricional,
situação vacinal, situação social e parte psíquica da criança. A Atenção Primária à Saúde
(APS) é apontada, em todo o mundo, como a estratégia mais efetiva para a universalização
do acesso à saúde e inclui entre suas diretrizes, a integralidade da atenção, a coordenação
do cuidado, a centralidade na família, a orientação à participação comunitária e a
competência cultural dos profissionais, a fim de alcançar a resolutividade desejada em
face dos principais problemas de saúde da população, o que, no Brasil, vem ao encontro
dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para tanto é imperativo organizar o processo de trabalho das equipes na atenção


à saúde sob o enfoque de risco e vulnerabilidade por meio de um olhar diferenciado para
o usuário que está exposto a determinadas condições, sejam biológicas, ambientais ou
sociais que podem predispor a uma maior probabilidade de apresentar problemas ou
mesmo morrer.

Acadêmico! No Tema de Aprendizagem 2, nós abordaremos a assistência de


enfermagem à criança na Atenção Básica.

2 CONSULTA DE ENFERMAGEM / PUERICULTURA


A consulta de enfermagem é uma atividade privativa do enfermeiro, assegurada
pela Lei nº 7.498/86, art. 11, inciso I, alínea “i”, pelo Decreto nº 94.406/87, art. 8º, inciso
I, alínea “e”, pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e normatizada pela
Resolução Cofen nº 358/2009 (COFEN, 2009).

Realizar consulta de enfermagem é um direito do profissional enfermeiro, em que


este profissional identifica os principais problemas de saúde vivenciados pela pessoa em
atendimento, pondera sobre a conduta mais assertiva para a resolução dos problemas
apresentados, prescreve e implementa medidas de enfermagem, que tem o objetivo de
promover, proteger, recuperar e/ou reabilitar a pessoa.

95
São objetivos Gerais da Consulta do Enfermeiro (RIBEIRÃO PRETO, 2022, p. 19):

• Prestar assistência de enfermagem às queixas comuns na infância.


• Acompanhar o Crescimento e Desenvolvimento (CD) de crianças e de adolescentes.
• Estimular o Aleitamento Materno e os Doze Passos da Alimentação Saudável.
• Identificar situações de risco para a saúde da criança e encaminhar os casos que
necessitem de acompanhamento pelo pediatra e/ou especialista, como a equipe de
atenção básica de saúde.
• Estimular a formação de grupos educativos de puericultura.
• Reduzir a morbimortalidade.
• Contemplar os direitos da criança, conforme o Estatuto da Criança (ECA).
• Identificar, denunciar e encaminhar às instituições competentes os casos de acidentes,
abusos e violência doméstica contra a criança.

É de extrema importância que a puericultura tenha início na primeira semana de


vida da criança e o mais próximo possível da alta hospitalar. É neste período que a mãe e
família precisam de apoio e orientações sobre o recém-nascido (RN), cuidados habituais
e amamentação (RIBEIRÃO PRETO, 2022).

INTERESSANTE
Você lembra que no Tema de Aprendizagem 1 relatamos a
importância da visita domiciliar e que no caso específico da assistência
de enfermagem direcionada a crianças, a primeira consulta, que
deverá ocorrer na Unidade de Atenção Primária à Saúde (APS),
podendo ser realizada durante a visita domiciliar pelo médico e/
ou enfermeiro, juntamente com o Agente Comunitário de Saúde?
Essa primeira consulta apresenta características importantes, que
precisam ser realizadas com muito profissionalizamos e cautela,
pois é um momento crucial para orientar a família sobre os
desafios diários quanto: “aleitamento materno, puerpério, realizar
imunizações e a triagem neonatal” e “reforçar a importância de
dar continuidade nas próximas consultas com agendamento
consentido entre pais e profissional (BRASIL, 2023).

Esta primeira VD é uma oportunidade importante para orientar as peculiaridades


do cuidado ao Recém-nascido (RN) como (BRASIL, 2012, p. 8):

96
Figura 11 – Principais orientações e peculiaridades do cuidado ao recém-nascido que preci-
sam ser avaliadas na primeira consulta/ visita

Fonte: o autor

Idealmente a primeira consulta do recém-nascido deverá ocorrer na sua


primeira semana de vida, por se tratar de um momento propício para estimular e auxiliar
a família nas dificuldades, assim como estabelecer ou reforçar a rede de apoio à família
(BRASIL, 2012).

O conteúdo da consulta deve ser individualizado as demandas no bebê e sua


família, mas é importante que se sigam as recomendações previstas pelo Ministério da
saúde, e sempre realize adequadamente o preenchimento da Caderneta de Saúde da
Criança para o registro das principais informações de saúde da criança (BRASIL, 2012).

Uma boa anamnese, exame físico completo, orientações adequadas e diretivas,


fazem parte dessas recomendações.

DICA
Para saber detalhadamente, acesse o Caderno de Atenção
Básica nº 33, disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf.

97
De forma geral, o Ministério da Saúde recomenda sete consultas de rotina no
primeiro ano de vida (na 1ª semana, no 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês e 12º
mês), além de duas consultas no 2º ano de vida (no 18º e no 24º mês) e, a partir do 2º
ano de vida, consultas anuais, próximas ao mês do aniversário. Essas faixas etárias são
selecionadas porque representam momentos de oferta de imunizações e de orientações
de promoção de saúde e prevenção de doenças. As crianças que necessitem de maior
atenção devem ser vistas com maior frequência (BRASIL, 2012).

Neste contexto é importante revisar os conceitos que vimos no Tema de


Aprendizagem 1 sobre classificação de risco, pois isso interferirá na frequência das
consultas. É fundamental considerar os seguintes riscos (SÃO PAULO, 2015) antes de
estruturar a periodicidade de consultas:

• Risco de crescimento e desenvolvimento: curva descendente ou horizontal, ganho


de peso insuficiente, agravos nutricionais, prematuridade, desenvolvimento não
compatível com a idade, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e infecção de
repetição.
• Risco de infecções de repetição: internação, atraso vacinal, desnutrição e aleitamento
misto.
• Riscos identificados ao nascer: baixo peso ao nascer (<2.500g). Prematuridade Morte
de irmão menor de 5 anos de idade, internação após alta materna.
• Risco ambiental: falta de saneamento básico, moradia inadequada, desestruturação
familiar, situações de violência doméstica e sexual, uso e dependência de drogas
lícitas e ilícitas.
• Risco socioeconômico: desemprego, pais sem escolaridade, família proveniente de
área social de risco, pessoas em situação de rua, mãe adolescente.

Figura 12 – Consultas para criança com risco habitual / sem risco

Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2015/sms-10932/sms-10932-7671.pdf. Aces-


so em: 14 abr. 2023.

98
Para que a criança cresça e se desenvolva bem, é fundamental comparecer à
unidade de saúde para fazer o acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento.
Nas consultas de rotina, as orientações sobre os cuidados necessários para que a
criança tenha boa saúde e esclarecimento de dúvidas devem ser elementos garantidos.
É sabido que algumas crianças necessitam de maior atenção e devem ser vistas com
maior frequência, mas de forma geral, o Ministério da Saúde recomenda o seguinte
esquema para as consultas de rotina.
Figura 13 – Recomendação da periodicidade das consultas de rotina nos dois primeiros anos
de vida

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_crianca_menino_12ed.
pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

Em todas as consultas de rotina, o profissional de saúde deve avaliar e orientar


sobre (BRASIL, 2018):

• Alimentação da criança.
• Peso, comprimento ou altura e perímetro cefálico (este último até os 2 anos).
• Vacinas.
• Desenvolvimento.
• Prevenção de acidentes.
• Identificação de problemas ou riscos para a saúde.
• Outros cuidados para uma boa saúde.

E importante que o profissional de saúde anote as informações de cada consulta


nos espaços próprios desta caderneta. A seguir, abordaremos todos esses tópicos previstos.

2.1 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA


O acompanhamento do desenvolvimento biopsicossocial é um marco
fundamental da atenção à saúde da criança. Além da importância para promoção da
saúde, desenvolvimento de potencialidades, diagnóstico e tratamento precoce de
patologias, contribui para uma melhor qualidade de vida (SÃO PAULO, 2012).

De acordo com as orientações do Ministério da Saúde (MS) encontradas na


Caderneta de Saúde da Criança, o seu crescimento e desenvolvimento são importantes
indicadores de saúde e sofrem influência de fatores biológicos e ambientais. É
importante estimular desde cedo o desenvolvimento da criança para que ela adquira
autoconfiança, autoestima e desenvolva capacidade de relacionar-se bem com outras
crianças, com a família e com a comunidade (SÃO PAULO, 2012).

99
Espera-se que a atenção integral à saúde da criança favoreça a redução da
mortalidade infantil de forma significativa e duradoura, visto que envolve o controle de
diversas variáveis que podem influenciar neste desenvolvimento.

Figura 14 – Atenção integral à saúde da criança e redução da mortalidade infantil

Fonte: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/01/livro_texto.pdf.
Acesso em: 14 mar. 2023.

Vigiar o desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida é de fundamental


importância, pois é nesta etapa da vida extrauterina que o tecido nervoso mais cresce
e amadurece, estando, portanto, mais sujeito a agravos. É também nesta época que a
criança responde melhor aos estímulos que recebe do meio ambiente e às intervenções,
quando necessárias (SÃO PAULO, 2012). Portanto, é importante que neste período o
profissional de saúde, juntamente com a família e a comunidade, faça a vigilância do
desenvolvimento infantil e verifique o adequado preenchimento da Caderneta de Saúde
da Criança com os parâmetros para o desenvolvimento da criança (SÃO PAULO, 2012).

100
DICA
Em todas as consultas é necessária a utilização da Caderneta
de Saúde da Criança para o registro das principais informações
de condições de saúde, sendo um instrumento facilitador da
comunicação entre os pais e os profissionais de saúde. Que tal
conhecer mais sobre a Caderneta da Criança? Acesse:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_
crianca_menino_12ed.pdf para a Caderneta de Saúde da
Criança menino, e https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
caderneta_saude_crianca_menina_12ed.pdf para a Caderneta
de Saúde da Criança menina.

A identificação de problemas é fundamental para o desenvolvimento e a


intervenção precoce para o prognóstico dessas crianças, assim os aspectos do
desenvolvimento infantil, de 0 a 10 anos são (FIGURA 15) (BRASIL, 2012):

Figura 15 – Aspectos do desenvolvimento da criança de 0 a 10 anos

101
Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023.

A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou


seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for
estimulada ou motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso
do seu desenvolvimento. Afinal, o desenvolvimento infantil se dá à medida que a
criança vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo com os meios onde vive e
os estímulos deles recebido (BRASIL, 2012). Portanto, são de relevância o diagnóstico
e o acompanhamento do desenvolvimento das crianças, e o enfermeiro tem papel
importante na avaliação e classificação do desenvolvimento, sendo listado na Figura 16,
o que observar e verificar, além dos fatores de risco e alterações de exame físico, e na
Figura 17 como avaliar, classificar e tratar (BRASIL, 2017):

102
Figura 16 – O que observar, verificar, quais fatores de risco e alteração no exame físico, além
de desenvolvimento etário

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

Figura 17 – Como avaliar, classificar e tratar o desenvolvimento infantil

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

103
ATENÇÃO
Você, como enfermeiro, deve estar atento aos fatores
protetores e de risco para a promoção do desenvolvimento
infantil.

Na Figura 18 vamos ilustrar esses fatores, assim como descrevê-los através de


características individuais, familiares e comunitárias (BRASIL, 2017).

Figura 18 – Orientação para promoção do desenvolvimento infantil segundo fatores proteto-


res e de risco, divididos por características individuais, familiares e comunitárias

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

104
2.2 CRESCIMENTO DA CRIANÇA
O crescimento é um processo dinâmico e contínuo, expresso pelo aumento do
tamanho corporal. Constitui um dos indicadores de saúde da criança. Ele é influenciado
por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais) entre os quais se destacam
a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança, que
atuam acelerando ou restringindo tal processo.

O acompanhamento sistemático do crescimento, do ganho de peso e altura,


um fenômeno quantitativo, que termina ao final da adolescência, permite a identificação
de crianças com maior risco de morbidade, por sinalização precoce de subnutrição e
da obesidade. Ele deve ser avaliado e colocado nas curvas da OMS que constam na
Caderneta de Saúde da Criança.

A medida de crescimento físico em crianças é um elemento-chave na avaliação


de seu estado de saúde. Os parâmetros de crescimento físico incluem peso, altura,
espessura da prega cutânea, circunferência do braço e circunferência da cabeça. Os
valores destes parâmetros de crescimento são marcados em gráficos com percentis, e
as medidas da criança em percentis são comparadas com aquelas da população geral
(SILVEIRA, s.d.).

Além disso, as informações sobre peso e desenvolvimento infantil coletadas


durante a avaliação do crescimento e desenvolvimento da criança facilitam o diálogo
e o aconselhamento com a mãe ou responsável, a partir de indicadores de saúde de
fácil compreensão e próximos de seu universo cultural. Estudos têm demonstrado que
a maioria das mães identifica que seus filhos estão crescendo quando apresentam
aumento de peso e a aquisição de habilidades. Esses são considerados os principais
indicativos do crescimento normal da criança (SILVEIRA, s.d.).

Existem alguns fatores que influenciam o crescimento e o desenvolvimento da


criança como o meio ambiente, fatores genéticos, endócrinos. Um exemplo é o meio
ambiente, onde a criança “absorve” as qualidades e dificuldades do meio onde vive. A
partir desse meio serão criados seus hábitos, alimentação, educação e higiene.

As deficiências de micronutrientes, são problemas comumente encontrado


em crianças, especialmente a anemia por deficiência de ferro, que é mais frequente
em crianças menores de dois anos de idade e que pode causar sérios impactos no
desenvolvimento cognitivo e motor, podendo também levar à morte. Essas deficiências

105
são agravos nutricionais resultantes de uma complexa rede de fatores determinantes,
que incorporam desde a “alimentação e nutrição, insegurança alimentar, ingestão
inadequada e/ou insuficiente de alimentos in natura e minimamente processados, a
baixa qualidade nutricional da alimentação e a biodisponibilidade de micronutrientes”
(BRASIL, 2022, p. 6).

Por isso é fundamental o papel do enfermeiro na prevenção e atenção às


deficiências de micronutrientes, assim como na promoção da alimentação adequada e
saudável, seguindo as diretrizes propostas pelos Programas Nacionais de Suplementação
de Micronutrientes.

As Vitaminas A e D devem ser suplementadas a partir do 7º dia de vida até


dois anos de idade como medida profilática. A deficiência de Ferro é a mais frequente
dentre as carências nutricionais das crianças em todo o mundo, constituindo um
grave problema de saúde pública. A deficiência de ferro causa repercussões negativas
para o desenvolvimento mental e motor das crianças, ocasionando uma redução do
rendimento escolar.

DICA
Atualmente, o MS conta com três programas e estratégias
voltados para a prevenção e atenção às deficiências de
micronutrientes por meio da suplementação profilática, são eles:
• Fortificação da alimentação infantil com micronutrientes
em pó – NutriSUS:
• Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF) e
• Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A
(PNSVA).
Que tal saber mais sobre esses programas? Acesso o link:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_
programas_nacionais_suplementacao_micronutrientes.pdf.

106
Figura 19 – Organização do fluxo de suplementação de micronutrientes em crianças na APS

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_programas_nacionais_suple-
mentacao_micronutrientes.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

A promoção da alimentação adequada e saudável é “ação central, primordial


e estruturante da atenção voltada a todos os indivíduos, independentemente do ciclo
de vida, e deve ser a base das orientações”. Para isso, o “Guia Alimentar para Crianças
Brasileiras Menores de 2 Anos” e o “Guia Alimentar para a População Brasileira” trazem
as recomendações oficiais sobre a alimentação adequada e saudável para toda a
população brasileira. As recomendações apresentadas nos guias alimentares, além
de “promoverem a saúde e o bem-estar da população, também garantem a ingestão
adequada de nutrientes, contribuindo para a prevenção das deficiências de vitaminas e
minerais” (BRASIL, 2022, p. 8).

ESTUDOS FUTUROS
O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e oferecido
até dois anos de idade ou mais, bem como a diversidade
da alimentação, são fatores determinantes para a oferta
de diferentes nutrientes e contribuem para a prevenção
de deficiências nutricionais, como a anemia e a deficiência
de vitamina A. Abordaremos mais sobre a importância do
aleitamento materno, ainda nesta unidade.

107
2.3 HIGIENE ORAL
Os dentes decíduos (dentes de leite) são importantes para “guardar” o espaço e
preparar o caminho dos dentes permanentes, servindo de guia para que esses dentes
se posicionem de forma correta. Para a criança se alimentar bem e com prazer e ter uma
mastigação eficiente dos alimentos sem desconforto, é necessário que seus dentes
estejam em bom estado. A perda dos dentes de leite antes do tempo pode prejudicar
a criança que está aprendendo a falar, a pronúncia de algumas palavras. Além disso, a
criança poderá se sentir diferente do restante do grupo de sua faixa etária, podendo
causar algum problema emocional/social (BRASIL, 2018). Olhe com atenção a figura 20
que descreve o desenvolvimento dos dentes por faixa etária.

Figura 20 – Desenvolvimento dos dentes

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_crianca_menino_12ed.
pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

Para a limpeza dos dentes/boca é importante: Dicas para a limpeza da boca/


dentes (BRASIL, 2018).

• A partir do nascimento do primeiro dente é indispensável utilizar uma escova de


dente pequena de cerdas macias, com o uso de pequena quantidade (menos de um
grão de arroz) de creme dental com flúor.
• Enquanto a criança possuir apenas dentes de leite, é suficiente escovar os dentes
com creme dental duas vezes ao dia, e deve-se cuidar para que ela não engula a
espuma que se forma durante a escovação.
• O creme dental deve ser mantido fora do alcance das crianças.
• O uso do fio dental está indicado quando os dentes estão juntos, sem espaços entre
eles, uma vez ao dia.

108
• Os pais ou cuidadores devem escovar os dentes das crianças até que elas aprendam
a fazer isto sozinhas, mas devem acompanhar até perceber que estão fazendo a
higienização bucal de maneira correta.

Seguindo as orientações previstas na Caderneta de Saúde da Criança, neste


período, devem ser repassadas aos pais:

1. Mamar no peito, desde o nascimento, faz o bebê crescer forte e saudável e favorece
o desenvolvimento da musculatura e ossos da face, evitando problemas no
posicionamento dos dentes.
2. Evitar o uso de chupetas, bicos e mamadeiras, pois eles podem deixar os dentes
“tortos” e prejudicar a mastigação, a deglutição (ato de engolir), a fala, a respiração e
o crescimento da face.
3. Após as mamadas e depois de cada refeição e uso de xarope (que são adocicados),
fazer a limpeza dos dentes, independente do horário.
4. Evitar colocar açúcar nos alimentos oferecidos ao bebê, pois ele aumenta o risco de
cárie; muitos alimentos, como as frutas, já contêm açúcar.
5. O uso de flúor nos dentes ajuda a protegê-los da cárie. Ele está presente na maioria
das pastas de dente e na água tratada de muitos municípios (BRASIL, 2018).

2.4 ALEITAMENTO MATERNO


O crescimento depende diretamente de alimentação suficiente em quantidade
e qualidade, assim como da capacidade de absorção dos nutrientes pelo indivíduo. O
primeiro ano de vida é um período caracterizado por crescimento e desenvolvimento
rápidos e, portanto, requer disponibilidade proporcionalmente mais elevada de energia
e nutrientes, em relação à criança maior e ao adulto. Existem também diferenças
qualitativas, relacionadas às particularidades fisiológicas e metabólicas dessa fase,
como a necessidade elevada de aminoácidos e ácidos graxos essenciais, minerais e
vitaminas (ALVES, 2018).

Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um processo que envolve


interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da
criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu
desenvolvimento cognitivo e emocional, além de ter implicações na saúde física e
psíquica da mãe (BRASIL, 2009).

O leite humano é, indiscutivelmente, o alimento ideal para o lactente,


especialmente nos seis primeiros meses de vida, devido aos seus benefícios em termos
nutricionais, imunológicos, além do efeito psicossocial positivo da amamentação para o
binômio mãe-filho. O leite humano é muito mais do que um conjunto de bons nutrientes:
pela sua complexidade biológica, é uma substância viva, ativamente protetora e
imunomodeladora (BRASIL, 2009).

109
IMPORTANTE
O aleitamento materno marca o início de uma alimentação
saudável e, isoladamente, é capaz de nutrir de modo adequado
a criança nos primeiros seis meses de vida, e quando se inicia a
introdução de alimentos complementares, com a manutenção do
aleitamento materno pelo menos até os dois anos (BRASIL, 2012).
Por isso, são poucas as exceções onde o aleitamento materno
é contraindicado de forma parcial ou total, pois apesar da
alimentação variar enormemente entre as pessoas, o leite
materno, surpreendentemente, apresenta composição
semelhante para todas as mulheres que amamentam do
mundo (BRASIL, 2012).

DICA
Como enfermeiro, é importante que você saiba quais são os
casos em que a amamentação deve ser suspendida de forma
total ou parcial. Leia com atenção o item 9.1.3 Contraindicações
para a amamentação do Cadernos de Atenção Básica nº 33:
Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento (BRASIL, 2012).
Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf para ciência
dessas situações.

Quando avaliamos o leite materno é importante também relatar os tipos e a


composição do leite materno. Temos três tipos de leite humano: colostro, leite de
transição e leite maduro. Esta evolução do leite materno está associada às necessidades
e demandas do bebê. Assim, o colostro é o leite secretado nos primeiros dias após o
nascimento, sendo um leite rico em proteínas e com menor teor de gorduras. O leite de
transição é o leite secretado entre o 7º e o 14ª dia após o nascimento, e o leite maduro, é
o leite completo, é o secretado a partir da segunda semana após o parto (BRASIL, 2002).

É importante ressaltar que a composição do leite sofre alterações, não apenas


no decorrer do tempo após o parto, como na própria mamada. Quando avaliamos o
leite de uma mesma mamada é possível identificar diferenças entre o leite anterior e o
posterior (BRASIL, 2002).

Assim, o leite anterior (do início da mamada) é rico em água e nutrientes, enquanto
o leite posterior (do final da mamada) é um leite rico em energia (calorias) e com maior

110
concentração de gordura. Daí a importância de a criança esvaziar bem a mama, para
que possa receber o leite do final da mamada, que é mais calórico, promovendo a sua
saciedade e, consequentemente, o ganho adequado de peso do bebê (BRASIL, 2009).

O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve ser fixado, haja
vista que o tempo necessário para esvaziar uma mama varia para cada dupla mãe/
bebê e, numa mesma dupla, pode variar dependendo da fome da criança, do intervalo
transcorrido desde a última mamada e do volume de leite armazenado na mama, entre
outros. Um ponto importante de se frisar é que a mamada sempre seja iniciada pela
última mama que o bebê mamou, para ele tenha acesso ao leite anterior e posterior
(BRASIL, 2009).

É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno


adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (BRASIL, 2009):

• Aleitamento materno exclusivo – quando a criança recebe somente leite Aleitamento


materno exclusivo materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra
fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo
vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos.
• Aleitamento materno predominante – quando a criança recebe, além do Aleitamento
materno predominante leite materno, água ou bebidas à base de água (água
adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais.
• Aleitamento materno – quando a criança recebe leite materno (direto da mama
Aleitamento materno ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros
alimentos.
• Aleitamento materno complementado – quando a criança recebe, além Aleitamento
materno complementado do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido
com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. Nessa categoria a criança
pode receber, além do leite materno, outro tipo de leite, mas este não é considerado
alimento complementar.
• Aleitamento materno misto ou parcial quando a criança recebe leite Aleitamento
materno misto ou parcial materno e outros tipos de leite.

DICA
Que tal assistir aos seguintes vídeos para conhecer mais sobre a
amamentação? Sociedade Brasileira De Pediatria. Ministério da
Saúde. Amamentação: muito mais do que alimentar a criança
– completo. 22 min. Brasília, 2015. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE.

111
Enquanto enfermeiro, é fundamental que você siga o fluxograma de atendimento
para conseguir impactar nas taxas de aleitamento materno exclusivo. Para tanto, olhe
com atenção a Figura 21 que ilustra como manejar os casos de aleitamento materno
exclusivo e a figura 22 para alimentação complementar.
Figura 21 – Fluxograma de manejo para crianças com problemas referentes ao aleitamento
materno exclusivo

Fonte: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/saude733202205.pdf. Acesso em: 13


abr. 2023.

Figura 22 – Fluxograma de manejo para crianças com problemas referentes ao aleitamento


materno e alimentação complementar

Fonte: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/saude733202205.pdf. Acesso em: 13


abr. 2023.

112
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca quatro pontos-chave que
caracterizam o posicionamento e pega adequados e que podem influenciar diretamente
na manutenção do aleitamento materno (BRASIL, 2009):

• Pontos-chave do posicionamento adequado:

1. Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo;


2. Corpo do bebê próximo ao da mãe;
3. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido);
4. Bebê bem apoiado.

• Pontos-chave da pega adequada:

1. Mais aréola visível acima da boca do bebê;


2. Boca bem aberta;
3. Lábio inferior virado para fora;
4. Queixo tocando a mama.

Os profissionais de saúde devem disponibilizar o tempo que for necessário para


dar apoio à mãe e ao seu bebê durante o início e a manutenção da amamentação. A
mãe deve ser orientada sobre os sinais que indicam que o bebê está pronto para mamar
(movimento dos olhos, da cabeça, sinais de procura com a língua para fora, agitação dos
braços, mãos na boca etc.), não é necessário esperar o choro do bebê. Os profissionais
devem conversar sobre a experiência de amamentar e identificar as dificuldades da
amamentação (BRASIL, 2012).

Benefícios do aleitamento materno para a criança (BRASIL, 2012):

• Redução de manifestações alérgicas, especialmente durante a amamentação


exclusiva.
• Redução da incidência de doenças crônicas tais como aterosclerose, hipertensão
arterial, diabetes, doença de Crohn, colite ulcerativa, doença celíaca, doenças
autoimunes e linfoma.
• Melhora do desenvolvimento neuropsicomotor, especialmente nos prematuros,
tendo relação direta com o tempo de amamentação.
• Proteção contra problemas de oclusão dentária, síndrome do respirador bucal e
distúrbios dos órgãos fonoarticulatórios.

Benefícios do aleitamento materno para a mãe (BRASIL, 2012):

• Proteção à nutriz contra o câncer de mama pré-menopausa e de ovário em qualquer


idade.
• Na amamentação exclusiva, ocorre o rápido retorno ao peso pré- gestacional.

113
• Há um efeito contraceptivo, principalmente quando a mulher permanece em amenorreia.
• Promoção do vínculo afetivo mãe-filho.

Benefícios do aleitamento materno para a sociedade (BRASIL, 2012):

• Redução da mortalidade infantil, principalmente por diarreia e por infecções


respiratórias. Lactentes menores, exclusivamente amamentados, que residem em
locais de pobreza, sem acesso à água potável e que recebem alimentos de má
qualidade são os que mais se beneficiam.
• Redução do número de internações hospitalares. O aleitamento materno, além de
proteger, também diminui a incidência e a gravidade das doenças. Nos prematuros,
em que a imaturidade imunológica é mais acentuada, essa função é essencial,
especialmente contra a enterocolite necrosante.
• Economia familiar, pois a alimentação artificial é onerosa para a maioria da população.
• Benefício para toda a sociedade, pois a criança, ao adoecer menos, reduz o número
de falta dos pais ao trabalho, necessita de menos atendimento médico, medicações
e hospitalizações e se torna mais saudável nos aspectos psíquico e social.

Com tantos benefícios, várias ações de incentivo à amamentação exclusiva até


os seis meses de vida e sua complementação até pelo menos dois anos de idade têm
ocorrido nesses últimos anos, tais como investimento na capacitação dos profissionais da
saúde e a veiculação de informações ao público pelos diferentes meios de comunicação
como revistas leigas, rádio e televisão. Entretanto, os índices de aleitamento ainda estão
bem aquém do desejado. Situação difícil, não?! Por isso, o incentivo ao aleitamento
materno continua sendo um grande desafio, considerando o elevado índice de desmame
precoce e o alto número de mortes infantis por causas evitáveis (BRASIL, 2012).

INTERESSANTE
Que tal saber mais sobre aleitamento materno? E que tal agora ler
sobre as afecções mamárias, o desenvolvimento da ordena e como
armazenar o leite materno?

114
2.5 INTRODUÇÃO ALIMENTAR
Como apresentado anteriormente, o aleitamento materno deve ser exclusivo até
os seis meses de idade e complementado até os dois anos ou mais. A partir de seis meses,
recomenda-se a introdução de alimentos complementares, já que antes desse período
o leite materno é capaz de suprir todas as necessidades nutricionais do bebê. Assim,
a alimentação complementar deve prover suficientes quantidades de água, energia,
proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, por meio de alimentos seguros, culturalmente
aceitos, economicamente acessíveis e que sejam agradáveis à criança (BRASIL, 2015).

Por volta dos seis meses de vida a criança já tem desenvolvidos os reflexos
necessários para a deglutição, como o reflexo lingual, manifesta excitação à visão do
alimento, sustenta a cabeça, facilitando a alimentação oferecida por colher e tem-se
o início da erupção dos primeiros dentes, o que facilita na mastigação. Assim, além
de complementar as necessidades nutricionais, a introdução de alimentos, em idade
oportuna, aproxima progressivamente a criança dos hábitos alimentares da família e
ou cuidador e proporciona uma adaptação do bebê a uma nova fase do ciclo de vida,
na qual lhe são apresentados novos sabores, cores, aromas e texturas (BRASIL, 2015).

Apesar de todos os nossos esforços, em algumas situações, o desmame


precoce pode acontecer. Nessas situações, a equipe de saúde deve estar pronta
para ajudar a família a estabelecer o melhor padrão alimentar possível para a criança,
respeitando as condições socioeconômicas e os aspectos culturais de cada uma. Se
o desmame ocorreu antes do quarto mês de vida, o ideal é a utilização de fórmulas
infantis modificadas. O uso do leite de vaca nessa idade deve ser evitado, mas é preciso
considerar o poder aquisitivo da família. É comum a ocorrência de erros na diluição de
fórmulas infantis, devido ao seu elevado custo (ALVES, 2018).

A introdução deve ser lenta e gradual, respeitando-se a aceitação da criança.


Para garantir o aporte de nutrientes, a papa salgada deve conter um alimento de
cada grupo desde a primeira oferta, principalmente carne, para prevenir a anemia. O
profissional deve levar em consideração a diversidade cultural das famílias atendidas.
Deve respeitar e promover a identidade alimentar e cultural das diferentes regiões
brasileiras pelo resgate e pela valorização dos alimentos regionais, como frutas, verduras
e legumes produzidos nas respectivas regiões (BRASIL, 2012).

A alimentação adequada é importante em todas as fases da vida, principalmente


durante a infância. A boa nutrição está diretamente relacionada ao crescimento saudável.
Para orientar pais e responsáveis sobre as principais etapas para uma alimentação saudável
na primeira infância, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos traz doze
passos, que os profissionais de saúde devem reforçar junto a população (BRASIL, 2019).

Nas Figuras 23 e 24 temos a recomendação do Ministério da Saúde quanto ao


esquema alimentar para crianças amamentadas e não amamentadas.

115
Figura 23 – Esquema alimentar para crianças amamentadas

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

Figura 24 – Esquema alimentar para crianças não amamentadas

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi-
mento.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

ATENÇÃO
O período de introdução da alimentação complementar é de
elevado risco para a criança, tanto pela oferta de alimentos
inadequados, quanto pelo risco de sua contaminação devido à
manipulação/preparo inadequados, favorecendo a ocorrência
de doença diarreica e distúrbios nutricionais. Por isso, você
deve estar preparado para orientar as mães durante esse
período! Então, acesse: https://www.svb.org.br/images/guia_
da_crianca_2019.pdf, para saber as principais orientações
necessárias para manutenção de uma fase adequada da
criança, quando a introdução alimentar.

116
No caso das crianças maiores de dois anos, é importante permanecer com as
orientações, para que a alimentação dessa criança seja o mais segura possível e assim,
evitem-se problemas futuros. Sempre é importante trabalhar com exemplificações
de cardápios, mas respeitando as características regionais, poder aquisitivo e cultura
familiar (ALVES, 2018). A seguir compartilhamos um modelo de cardápio, mas atentando-
se que o Guia de Alimentação Saudável do Ministério da Saúde (BRASIL, 2019) oferece
alguns exemplos de refeições e cardápios e você poderá se basear nele para montar o
cardápio infantil.

Figura 25 – Exemplos de cardápios para crianças no segundo ano de vida

Fonte: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/Atencao-a-saude-da-
-crianca-aspectos-basicos_versao_final.pdf. Acesso em: 24 mar. 2023.

117
INTERESSANTE
Os alimentos sofrem diversos tipos de processamento na sua
produção. O tipo de processamento interfere na composição de
nutrientes dos alimentos, no sabor, na presença e nos tipos de
aditivos, nas circunstâncias em que serão consumidos (quando,
onde, com quem) e na quantidade em que serão ingeridos. Além
disso, o tipo de processamento tem impacto sobre o ambiente,
como veremos a seguir (BRASIL, 2019). Que tal saber mais sobre as
categorias de classificação dos alimentos segundo o Guia Alimentar
para a População Brasileira? Os alimentos são classificados em quatro
categorias, segundo a extensão e o propósito do seu processamento:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_
crianca_2019.pdf).

ATENÇÃO
Você sabia que a principal causa de baixa estatura (altura
menor que escore-z –2 ou percentil <3) em nosso meio é a
ocorrência de desnutrição crônica, cujo diagnóstico muitas
vezes é difícil, pela falta de informações da história pregressa
e dos dados antropométricos da criança. É sempre importante
correlacionar as medidas de altura e de peso. Na desnutrição
crônica, observam-se atrasos proporcionais de peso e altura,
enquanto na desnutrição aguda raramente a altura está
comprometida. A caderneta de saúde da criança, contém os
seguintes gráficos de crescimento:
• perímetro cefálico (zero – 2 anos);
• peso para idade (zero – 2 anos, 2 – 5 anos e 5 – 10 anos);
• comprimento/altura para idade (zero – 2 anos, 2 – 5 anos
e 5 – 10 anos)
• índice de massa corporal (IMC) para idade (zero – 2 anos,
2 – 5 anos e 5 – 10 anos)
Os gráficos adotados são os recomendados pela OMS para
meninos/ meninas de zero – 5 anos e 5 – 10 anos. Os pontos de
corte utilizados nas distintas curvas estão representados em
escores z, que indicam unidades do desvio-padrão do valor da
mediana (escore z 0), cujas correspondências são apresentadas
em percentis.
Apesar do crescimento individual das crianças poder ter uma
grande variação, as várias medidas de crescimento colocadas
como pontos no gráfico ao longo do tempo e unidas entre si
formam uma linha. Essa linha representa o crescimento da
criança, ou seja, sua curva de crescimento, que sinaliza se a
criança está crescendo adequadamente ou não.

118
DICA
É fundamental que o profissional
de enfermagem realize a medição
correta, assim como o preenchimento
e interpretação adequada dos dados
anotados na caderneta de saúde de
criança. Para melhor entendimento
sobre a curva de crescimento,
anotação na caderneta, interpretação
dos dados e diagnóstico nutricional,
acesse: https://bvsms.saude.gov.
br/bvs/publicacoes/saude_crianca_
crescimento_desenvolvimento.pdf.

3 CALENDÁRIO VACINAL DA CRIANÇA


A vacinação é uma das principais ações para a prevenção e controle de diversas
doenças. É de fundamental importância que pais/mães/responsáveis levem as crianças
aos postos de saúde para serem vacinadas, de acordo com o Calendário Nacional de
Vacinação, mantendo os cartões de vacinas sempre atualizados, pois somente com a
conclusão do esquema vacinal é que as crianças estarão protegidas (BRASIL, 2018).

O Calendário Nacional de Vacinação disponibilizado na carteira de saúde


da criança, traz os nomes de todas as vacinas que a criança precisa tomar para ficar
protegido contra doenças. As vacinas são disponibilizadas permanentemente nas
unidades de saúde e durante as campanhas de vacinação, gratuitamente.

119
Figura 26 – Calendário Básico de Vacinação da Criança, Ministério da Saúde, 2023

Fonte: http://pni.datasus.gov.br/calendario_vacina_Infantil.asp. Acesso em: 14 abr. 2023.

DICA
Para obter a versão mais atualizada do Calendário vacinal,
além de orientações específicas para cada vacina, verifique
o endereço eletrônico: http://pni.datasus.gov.br/calendario_
vacina_Infantil.asp.

120
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tema de aprendizagem, você estudou:

• Como realizar a consulta de enfermagem voltada para a criança e a importância da


sua organização para o adequado seguimento desta população.

• A importância de avaliar a alimentação na infância e o impacto de hábitos não saldáveis


em médio e longo prazo, assim como os principais diagnósticos nutricionais.

• A importância das vacinas e do calendário vacinal.

• Os cuidados com a saúde oral da criança.

• A importância do aleitamento materno e seus benefícios.

121
AUTOATIVIDADE
1. Uma mãe que está amamentando seu filho de sete meses lhe procura para que seja
orientada quanto à melhor época para o desmame (cessação do aleitamento materno).
Sobre a orientação adequada que ela deveria receber, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O desmame deve acontecer naturalmente e o aleitamento materno complementado


deve permanecer até dois anos ou mais.
b) ( ) Ela deve desmamar quando a criança atingir a idade de 13 meses, pois após esse
período não há evidências de que o leite materno tenha propriedades positivas para o
lactente.
c) ( ) Ela já deveria ter desmamado a criança quando ela fez quatro meses, que é o período
recomendado pela OMS, que coincide com o período de licença maternidade.
d) ( ) Ela deve discutir com o marido qual a melhor época do desmame, sendo que não há
padronização de tempo máximo ou mínimo.

2. A equipe de saúde da família deve estimular o aleitamento materno exclusivo,


considerando que ele traz benefícios para o bebê, para a mãe e para a sociedade. Com
base nos benefícios comprovados pela prática do aleitamento materno no lactente e
puérpera, analise as sentenças a seguir:

I- Diminuição do risco de morte súbita do lactente; auxilia na diminuição do intervalo entre


as gestações.
II- Redução de alergias; retorno ao peso pré-gestacional de forma mais rápida.
III- Aumenta a perda de peso inicial do recém-nascido; diminuição do risco de câncer de
mama e ovário.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3. A incorporação de hábitos de higiene bucal, o controle da ingestão de açúcares e


a alimentação saudável feita pela família resultarão em saúde bucal para a criança e,
consequentemente, melhor qualidade de vida para todos. A equipe de saúde deve estar
atenta para avaliar quais são os hábitos familiares e estimular, desde o pré-natal, o
envolvimento da mãe e dos familiares no cuidado da saúde bucal do bebê. De acordo
com as orientações recomendadas pelo Ministério da Saúde, na Caderneta de Saúde da
Criança, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

122
( ) A partir do nascimento do primeiro dente é indispensável utilizar uma escova de dente
pequena de cerdas macias, com o uso de pequena quantidade (menos de um grão de
arroz) de creme dental com flúor.
( ) Enquanto a criança possuir apenas dentes de leite, é suficiente escovar os dentes com
creme dental uma vez ao dia, sem problemas que ele engula a espuma que se forma
durante a escovação.
( ) O uso do fio dental está indicado quando os dentes estão juntos, sem espaços entre eles,
uma vez ao dia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. O crescimento depende diretamente de alimentação suficiente em quantidade e qualidade,


assim como da capacidade de absorção dos nutrientes pelo indivíduo. O primeiro ano de
vida é um período caracterizado por crescimento e desenvolvimento rápidos e, portanto,
requer disponibilidade proporcionalmente mais elevada de energia e nutrientes, em
relação à criança maior e ao adulto (BRASIL, 2012). Sendo responsabilidade das equipes
de saúde reforçar as orientações de introdução da alimentação complementar, ilustre os
esquemas alimentares recomendados para crianças amamentadas e não amamentadas
menores de dois anos recomendados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012).

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os


profissionais de saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: https://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_profissionais_
v1.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

5. A exposição de crianças a situações de violência pode comprometer seu desenvolvimento


físico, emocional e mental. Quando maus-tratos ocorrem na infância, os prejuízos são
maiores que em qualquer outra faixa etária. Você, como enfermeiro, ao realizar a consulta
ou visita domiciliar, deve verificar situações no ambiente ou nos relacionamentos que
sugerem violência ou sinais físicos sugestivos de agressão. Neste contexto, disserte
sobre o que se deve observar durante o exame físico quanto a lesões físicas sugestivas
de violência física, violência sexual e lesões físicas inespecíficas.

AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão


INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022.

123
124
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
PROBLEMAS COMUNS NA INFÂNCIA
E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO PARA
GRUPOS EDUCATIVOS

1 INTRODUÇÃO

A assistência à criança se baseia na promoção da saúde, na prevenção, no


diagnóstico precoce e na recuperação dos agravos à saúde. O acompanhamento
programado do crescimento e desenvolvimento, complementado por atividades de
controle das doenças prevalentes, como diarreia e afecções respiratórias agudas, e
pelas ações básicas, como o estímulo ao aleitamento materno, orientação alimentar e
imunizações, contribui para a promoção de uma boa qualidade de vida. Para isso, torna-
se imprescindível o esforço conjunto da família, da equipe e das diversas organizações,
governamentais ou não (ALVES, 2018).

Apesar do leite materno ter forte influência protetora quanto a doenças


respiratórias e diarreicas, esses ainda são os problemas de maior impacto na internação
de crianças menores de dois anos (BRASIL, 2012).

Acadêmico! No Tema de Aprendizagem 3, abordaremos os problemas comuns


na infância e o conteúdo programático para grupos educativos.

2 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: PNEUMONIA, BRONQUITE


E BRONQUIOLITE
Cabe ao profissional de saúde a difícil missão de acolher a criança e seu
acompanhante, compreender a extensão do problema que a aflige e propor procedimentos
de fácil aplicação e comprovada eficácia. Constitui sua função implícita estabelecer um
canal de comunicação com a mãe ou com a pessoa responsável pela criança, de modo
que ela apreenda as recomendações, referentes ao tratamento e aos cuidados a serem
prestados no domicílio, assim como memorize os sinais indicativos de gravidade que
exigem o retorno imediato da criança ao serviço de saúde (BRASIL, 2002).

A utilização de sinais e sintomas que apresentam uma boa relação de


sensibilidade e especificidade, permitindo um diagnóstico mais preciso, constitui o
ponto alto dessa estratégia. Neste contexto, temos algumas doenças que são mais
prevalentes a infância e que merecem atenção do profissional enfermeiro.

125
Embora a localização anatômica não possa ser considerada de modo absoluto,
na prática, é possível, muitas vezes, definir a síndrome clínica predominante naquele
momento e a conduta mais adequada ao caso. As doenças respiratórias de vias aéreas
superiores representam cerca de 3/4 dos casos da demanda aos serviços de saúde e,
em geral, têm menor gravidade. As que acometem as vias respiratórias inferiores, como
a bronquiolite, bronquite e pneumonia são mais graves e predominam nas indicações
de internação da criança e como causas de mortalidade (BELO HORIZONTE, 2015).

Temos como principais síndromes clínicas que acometem as crianças e seus


principais sinais e sintomas (FIGURA 27):

Figura 27 – Principais síndromes clínicas que acometem as crianças e seus principais sinais e
sintomas

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicaco-
es/CadernoCrianca.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

A criança que é levada ao serviço de saúde com queixa de tosse e/ou dificuldade
respiratória deve receber atenção cuidadosa, pois a possibilidade de diagnósticos é
ampla, englobando uma variedade de patologias que vão desde o resfriado comum até
situações de risco de vida, como pneumonia e crise asmática grave (ALVES, 2018).

O profissional de saúde deve estar atento aos sinais e sintomas de alerta e tomar
as decisões adequadas o mais rapidamente possível.

A infecção de vias aéreas pode acometer o trato respiratório superior (nariz,


seios paranasais, ouvidos, faringe, amígdalas e laringe) e inferior (traqueia, brônquios,
bronquíolos e alvéolos), isolada ou simultaneamente. Caracteriza-se por apresentar
um ou mais dos seguintes sintomas e sinais: febre, coriza, obstrução nasal, tosse, dor
de garganta, hiperemia de orofaringe, otalgia, dificuldade para respirar e chiado no
peito (ALVES, 2018).

126
Uma vez que as infecções agudas de vias aéreas apresentam elevada incidência
e respondem por cerca de 30% a 60% de todas as consultas pediátricas ambulatoriais, o
que significa enorme demanda para os serviços de saúde, é importante estruturar uma
forma de sistematizar o acolhimento e classificação do quadro. Uma das formas de se
abordar crianças que apresentem queixa de “resfriado” está ilustrado na figura a seguir:

Figura 28 – Principais Síndromes Clínicas nas crianças com queixas respiratórias devem ser
avaliadas considerando

Se a criança apresenta queixa de "resfriado", com coriza, obstrução nasal, tosse,


ronqueira no peito, perguntar:

Há quantos dias vem o quadro?


Tem febre, há quantos dias?
Medida ou não?
Quando não tem febre, a criança brinca e aceita a alimentação?
Tem cansaço ou dificuldade para respirar?
Tem outras queixas como vômitos, diarreia, secreção nos olhos?
A criança está melhorando, está na mesma, ou vem piorando, desde o início do quadro?

Quando a doença já tem mais de cinco dias, a febre já passou, a criança brinca, se
alimenta e não tem cansaço para respirar, persistindo apenas com tosse e catarro
no peito, nesses casos, o auxiliar de enfermagem pode fazer as orientações gerais
de higiene nasal, inalação caseira, preparações caseiras para a tosse e explicar para
retornar se houver piora do quadro
Nesses casos, o auxiliar de enfermagem pode fazer as orientações gerais de higiene nasal,
inalação caseira, preparações caseiras para a tosse e explicar para retornar se houver piora do
quadro e enviar para avaliação médica.

Fonte: conasems-ava-prod.s3.sa-east-1.amazonaws.com/ava/aulas/o-trabalho-do-agente-
-comunitario-de-saude-1660162303.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

É importante lembrar que lactentes e crianças pequenas têm, em média,


seis a oito resfriados por ano, mas 10-15% apresentam 12 episódios de infecções das
vias aéreas superiores (IVAS) por ano, sem significar comprometimento da resposta
imunológica.

A frequência e a distribuição das diferentes síndromes clínicas respiratórias, de


acordo com os grupos etários, ajudam o profissional no raciocínio clínico, uma vez que
alguns quadros predominam em determinadas idades, conforme Figura 29.

127
Figura 29 – Distribuição das principais afecções respiratórias nos lactentes, pré-escolares e
escolares

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicaco-
es/CadernoCrianca.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

2.1 PNEUMONIA
A pneumonia aguda é uma doença que resulta da infecção das vias aéreas e
dos pulmões por certos agentes. Eventualmente, pode ser acometido também o espaço
entre as pleuras (as membranas que envolvem os pulmões). Nessa condição, ocorre o
acúmulo de líquido ou pus na cavidade entre as pleuras, provocando um derrame pleural
(SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2007). Cerca de 80% das pneumonias na
infância são devidas a vírus e bactérias (SÃO PAULO, 2003).

Os agentes causais das pneumonias adquiridas na comunidade variam


de acordo com a idade e o estado de saúde do paciente, sendo que nos países em
desenvolvimento cerca de 60% dos agentes são bacterianos, enquanto nos países
desenvolvidos predomina a etiologia viral. Por isso e porque na prática é difícil identificar
a etiologia da pneumonia (viral ou bacteriana) pelo quadro clínico, a abordagem da
criança com pneumonia deve ser feita considerando-se os casos como bacterianos
(SÃO PAULO, 2003).

A variação da etiologia bacteriana nas pneumonias, segundo a faixa etária, é a


seguinte: nas crianças menores de dois meses de idade predominam o estreptococo do
grupo B e os bacilos gram-negativos, particularmente a Escherichia coli; nas crianças de
dois meses a cinco anos de idade (exclusive) há predomínio do Streptococcus pneumoniae –
pneumococo, seguido pelo Haemophilus influenzae e, mais raramente, pelo Staphylococcus
aureus; e nas crianças com idade igual ou superior a cinco anos, os agentes prevalentes são
o pneumococo e o Mycoplasma pneumoniae (SÃO PAULO, 2003).

128
Na atenção básica, a abordagem diagnóstica da criança com pneumonia aguda
deve ser feita por meio dos dados da história e do exame físico, não necessitando da
complementação por exames radiológicos, cuja realização, muitas vezes, posterga a
instituição do tratamento. Os dados clínicos permitem identificar, entre as crianças com
queixas respiratórias, os casos de pneumonia e classificar as infecções respiratórias
agudas (IRA) quanto à gravidade.

A estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI)


da OMS/OPAS, que tem entre os seus objetivos diminuir a mortalidade por IRA nas
crianças menores de cinco anos de idade, utiliza as seguintes possíveis classificações
para uma criança com tosse ou dificuldade para respirar: pneumonia grave ou doença
muito grave, pneumonia e não é pneumonia, conforme Figura 30.

Figura 30 – Como avaliar e classificar criança com tosse ou dificuldade de respirar, segundo
AIDPI

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

A classificação baseada na gravidade do quadro clínico, cuja validade científica e


impacto na redução nos índices de mortalidade estão bem demonstrados, tem a vantagem
de ser simples e de orientar as ações do atendimento às crianças com IRA de forma imediata
e adequada. Esta estratégia define os seguintes pontos (SÃO PAULO, 2003):

1. identificar as crianças que devem ser examinadas por possível pneumonia (investigação
de casos com base nos "critérios de entrada");
2. identificar os casos de pneumonia (diagnóstico de casos);
3. identificar se a criança está com algum sinal geral de perigo, isto é, se apresenta risco
de morte por pneumonia ou por outra doença bacteriana grave; e
4. instituir tratamento apropriado (tratamento ou referência).

Entende-se por "Critérios de entrada" – tosse e/ou dificuldade para respirar são
os dois critérios de entrada na avaliação clínica da criança para identificar a presença
ou não de pneumonia. A febre não é considerada um bom sinal para ser utilizado como

129
"critério de entrada", pois está presente em crianças com outras doenças infecciosas
e pode estar ausente em crianças desnutridas com pneumonia. Para identificação
dos casos de pneumonia a frequência respiratória alta e a tiragem subcostal são
consideradas os sinais de maior valor preditivo para identificar os casos de pneumonia.

Frequência respiratória (FR) – é avaliada segundo a idade, pois os seus valores


normais diminuem à medida que a idade aumenta. Para contar a FR, é necessário que a
criança esteja calma, no colo da mãe.

ATENÇÃO
São fatores de risco para pneumonia na infância, crianças que
(SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2007):
• Não receberam imunização adequada com as
vacinas disponíveis contra as principais moléstias
infectocontagiosas que predispõem a pneumonias e
contra os principais agentes de pneumonias (sarampo,
varicela, coqueluche, gripe, Haemophilus influenzae tipo
b, pneumococos);
• Não foram amamentadas ao seio pelo menos nos
primeiros 6 meses de vida e que não estão recebendo
uma boa nutrição;
• Crianças que permanecem em ambientes fechados em
aglomeração com outras crianças doentes como creches
ou berçários;
• Crianças expostas à fumaça de cigarro (fumantes passivos),
à poluição e a ambientes sem higiene com muita poeira
doméstica e ácaros.

INTERESSANTE
Para prevenção é necessário a manutenção rigorosa do calendário
de imunização, particularmente em relação às vacinas consideradas
obrigatórias. As vacinas contra as duas bactérias que causam a maior
parte das pneumonias, pneumococos e Haemophilus influenzae b,
devem ser administradas rotineiramente.
• manter o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6
meses de vida, uma alimentação saudável e um bom estado
nutricional;
• realizar suplementação com vitaminas A e D no primeiro ano
de vida, conforme recomendação médica;
• evitar a exposição da criança à fumaça de cigarro e a locais
muito poluídos;
• evitar locais com aglomeração de pessoas, em ambientes
fechados, particularmente no outono e inverno;
• procurar atendimento médico sempre que a criança apresentar
os sintomas de alerta, como tosse constante, gemência,
dificuldade para se alimentar, apatia e movimentos anormais
no tórax (SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2007).

130
Sobre o tratamento, a figura a seguir demonstra as diversas abordagens.

Figura 31 – Avaliação, classificação e tratamento de casos de pneumonia grave ou doença


muito grave, pneumonia e não é pneumonia, segundo AIDPI

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

2.2 BRONQUITE
Bronquite aguda é o processo inflamatório de traqueia e brônquios, cuja
sintomatologia mais importante é a tosse produtiva. Já a bronquite crônica, por sua
vez, é definida como a presença de tosse produtiva crônica por pelo menos três meses
em cada um de dois anos consecutivos, em um paciente em que outras causas de
tosse crônica tenham sido afastadas. Esta definição, diferentemente da observada no
enfisema, é de natureza clínica e epidemiológica, não guardando, no entanto, relação
direta com a limitação ao fluxo aéreo, podendo precedê-la ou mesmo estar ausente nos
pacientes com obstrução aérea significativa (BARBOSA, 2013).

A bronquite crônica é definida quando a sintomatologia persiste após duas a


três semanas. O quadro tem início com sintomas de rinofaringite aguda e, na ausculta
pulmonar, encontram-se roncos e estertores subcreptantes de grossas bolhas. Nos
lactentes, podem ser auscultados sibilância e outros tipos de estertores. O diagnóstico é
clínico e as radiografias de tórax podem ser normais ou mostrar áreas de espessamento
peribrônquico, atelectasias e/ou hiperinsuflação pulmonar (BARBOSA, 2013).

A bronquite aguda geralmente é um processo infeccioso viral (rinovírus, VSR,


influenzavírus, parainfluenzavírus e adenovírus). A maioria das bronquites bacterianas é
secundária à infecção viral. Os agentes etiológicos mais frequentes são S.pneumoniae,
H. Influenza e outros. Nos recém-nascidos e lactentes, deve-se pensar na possibilidade
etiológica da Chlamydia trachomatis e nos escolares e adolescentes aumenta a
frequência de M.pneumoniae. A persistência da febre e da tosse sugere etiologia
bacteriana primária ou secundária. O diagnóstico de bronquite gera muitas dúvidas,
seja na fase aguda, quando pode ser confundida com bronquiolite ou pneumonia, seja

131
na recorrência ou persistência do quadro respiratório por duas a três semanas ou mais,
quando deve ser diferenciada de outras doenças como asma, sinusopatia, fibrose cística
e tuberculose (BARBOSA, 2013).

As principais causas são: os fatores de risco representam ponto importante


para o desenvolvimento de estratégias para a prevenção a tratamento da DPOC. Dentre
os principais fatores destacam-se (BARBOSA, 2013):

• Tabagismo: responsável por 80 a 90% das causas determináveis da DPOC.


• Poluição domiciliar (fumaça de lenha, querosene).
• Exposição ocupacional a poeiras e produtos químicos ocupacionais.
• Poluição atmosférica.

A poluição aérea pela queima de combustíveis fósseis, principalmente pela


emissão de veículos a motor.

• Infecções respiratórias recorrentes na infância.


• Suscetibilidade individual.
• Desnutrição na infância.
• Deficiências genéticas (responsáveis por menos de 1% dos casos), como alfa1 antitripsina
(BARBOSA, 2013).

2.3 BRONQUIOLITE
A bronquiolite viral aguda (BVA) é doença de etiologia viral, predominando o
vírus sincicial respiratório e o adenovírus, frequente em lactentes (principalmente de 6
a 12 meses de idade), que podem apresentar vários episódios de bronquiolite, causados
por diferentes agentes virais. O quadro geralmente se inicia com como um “resfriado”
e tem evolução após dois ou três dias para intensificação da tosse, taquipneia, tiragem
intercostal e sibilância (BARBOSA, 2013).

Apenar de, na maioria dos casos evoluir com quadros leves, que não necessitam
de hospitalização, essa gravidade é definida nas primeiras 72 horas. Apenas 2% das
crianças com bronquiolite necessitam ser hospitalizadas. Os principais fatores de risco
para maior gravidade da bronquiolite são:

• a idade precoce de aquisição da doença,


• o antecedente de prematuridade e
• a presença de comorbidades pré-existentes, como displasia broncopulmonar,
cardiopatia congênita cianótica, neuropatias e imunodepressão (BARBOSA,2013).

Das crianças que precisam de internação metade podem ter crises recorrentes
de sibilância e 2% evoluem para doença obstrutiva crônica – bronquiolite obliterante.

132
Nos casos que demandarem de hospitalização, a evolução da doença para cura ocorre
entre três a quatro dias (BARBOSA, 2013).

É fundamental que a equipe de saúde, e, principalmente, o enfermeiro, faça a


gestão do cuidado na bronquiolite de forma ancorada no fornecimento de medidas de
prevenção da doença e de tratamento da criança doente que a mantenha clinicamente
estável, com boa oxigenação e hidratação (BARBOSA, 2013). Assim, tornam-se
importantes as seguintes medidas de prevenção para a doença e para a hospitalização
(BARBOSA,2013):

• ênfase à lavagem das mãos,


• eliminação da exposição à fumaça ambiental do tabaco ou à poluição,
• limitação da exposição a contágio com irmãos,
• estímulo e
• apoio ao aleitamento materno.

O diagnóstico de bronquiolite e sua gravidade são baseados essencialmente


nos achados clínicos: história e exame físico.

São critérios de diagnóstico: coriza, taquipneia, tosse, mudança de cor, retração


costal, batimento de narinas, falta de ar, chiado, presença de crepitações finas na
inspiração, expiração prolongada, baixa saturação de O2. É preciso ter parcimônia quanto
aos exames laboratoriais e radiológicos (radiografia de tórax, culturas de sangue ou
urina, gasometria, testes rápidos para vírus, oximetria de pulso) pois não se recomenda
seu uso rotineiro (BARBOSA, 2013).

O tratamento dos casos leves é basicamente a orientação quanto a importância


do aumento da ingesta hídrica, limpeza de vias aéreas superiores quando necessário,
manter decúbito elevado, e observar sinais de piora ou complicações (como febre,
taquipneia ou queda do estado geral). A hospitalização ocorre de forma mais esporádica,
sendo recomendada a lactentes com sinais de doença grave, ou para pacientes com
fatores de risco para gravidade (BARBOSA, 2013).

3 DOENÇAS DIARREICAS: DIARREIA


A diarreia aguda (DA) ainda é muito frequente, estando entre as principais
causas de morbimortalidade nos países em desenvolvimento. É uma doença infecciosa,
autolimitada, causada por bactérias, vírus ou parasitas, caracterizada pela perda de
água e eletrólitos, que resulta no aumento do volume e da frequência das evacuações
e diminuição da consistência das fezes, apresentado algumas vezes muco e sangue
(disenteria) (BRASIL, 2015).

133
Considera-se diarreia quando há ocorrência de três ou mais evacuações
amolecidas ou líquidas em um período de 24 horas, sendo que a maioria dos episódios
é provocada por um agente infeccioso e dura entre uma e duas semanas (SÃO PAULO,
2012). Os casos em que a diarreia tem duração superior a 14 dias, é classificado como
diarreia persistente ou protraída, podendo causar problemas nutricionais e contribuem
para mortalidade na infância (BRASIL, 2003)

A doença diarreica aguda é mais frequente em crianças menores de seis meses,


que não estejam em aleitamento materno exclusivo, tornando-se uma das principais
causas de morbidade e mortalidade infantil, principalmente, em crianças mais pobres.
A Região Nordeste é a região mais atingida, onde o “risco de morte por diarreia em
crianças menores de 5 anos é cerca de quatro a cinco vezes maior do que na Região
Sul”, alcançando o patamar de 30% do total das mortes durante o primeiro ano de vida
(BRASIL, 2003).

As diarreias persistentes, com presença de sangue, com ou sem muco, é


chamada disenteria. A causa mais comum da disenteria é a bactéria Shigella, sendo
incomum a disenteria amebiana em crianças pequenas. É possível que a mesma criança
tenha diarreia líquida e disenteria associada (BRASIL, 2015).

O rotavírus ganha destaque neste cenário, sendo um dos mais importantes


agentes causadores de gastroenterites e óbitos em crianças menores de cinco anos
em todo o mundo. Os casos mais graves ocorrem até dois anos de idade (BRASIL, 2015).

Você, como enfermeiro, deve estar atento à abordagem correta da criança com
diarreia aguda, pois isso é fundamental para evitar a desidratação, o comprometimento
do estado nutricional e a evolução para diarreia persistente (SÃO PAULO, 2003).

O enfermeiro deve estar atento a essas características, avaliar e classificar,


conforme as Figuras 32 e 33.

Figura 32 – A criança está com diarreia?

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 2 maio 2023.

134
O número de evacuações por dia considerado normal varia com a dieta e a idade
da criança. A percepção materna é extremamente confiável na identificação da diarreia
de seus filhos, descrevendo as fezes líquidas com terminologias regionais. Os lactentes
amamentados em forma exclusiva geralmente têm fezes amolecidas, não devendo isto ser
considerado diarreia. A mãe de uma criança que mama no peito pode reconhecer a diarreia
porque a consistência ou a frequência das fezes é diferente do habitual (BRASIL, 2017).

Figura 33 – Avaliar e classificar

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_
crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 2 maio 2023.

Segundo a classificação, se estabelece a conduta, que será dividida em plano A,


B ou C para o tratamento adequado, conforme demonstrado na Figura 34.

135
Figura 34 – Avaliação do estado de hidratação do paciente

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf. Acesso


em: 14 mar. 2023.

ATENÇÃO
Vamos entender melhor como funciona o plano de tratamento
A, B e C nos casos de desidratação? Leia com atenção o
cartaz do Ministério da Saúde que descreve o manejo do
paciente com diarreia, disponível em: https://bvsms.saude.
gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf.
Acesso em: 14 abr. 2023.

Conforme já comentamos em outros temas, é fundamental ter um fluxograma


para melhor resolubilidade do caso. Assim, a figura 35 apresenta um modelo de
fluxograma a ser adotado para os casos de diarreia.
É fundamental que o enfermeiro realize orientações como (SÃO PAULO, 2015):

• Aumentar a oferta de líquidos de baixa osmolaridade: água, leite materno, chá, suco,
água de coco fresca, sopa (alimentos de fácil digestão e absorção).
• Não introduzir novos alimentos.
• Diminuir a quantidade de alimentos, mas aumentar o número de refeições para evitar
a anorexia. Melhorar o teor energético, cuidado com o acréscimo de gorduras.
• Oferecer de hora em hora soro distribuído na rede pública, principalmente após
evacuações líquidas.

136
• As crianças com desidratação leve ou moderada devem receber TERAPIA DE
REIDRATAÇÃO ORAL na Unidade de Saúde e ser reavaliada pelo Enfermeiro.
• Não oferecer suco artificial, refrigerantes ou bebidas isotônicas (tipo gatorade)
• Orientar sinais de desidratação e, no caso, retorno ao serviço de saúde.

O rotavírus é considerado um dos mais importantes agentes causadores de


gastroenterites e óbitos em crianças menores de cinco anos em todo o mundo. A maioria
das crianças se infecta nos primeiros anos de vida, porém os casos mais graves ocorrem
em crianças até dois anos de idade. Nas regiões tropicais, as infecções ocorrem o ano
todo. A desidratação é a complicação imediata mais frequente e temida. Crianças com
diarreia aguda de repetição podem evoluir para desnutrição (BRASIL, 2015).

A redução da morbimortalidade deve-se principalmente ao uso da terapia de


reidratação oral (TRO). Prevenção A prevenção da DA pode ser alcançada por meio da
adoção de medidas como:
• Aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e
complementado até os dois anos de idade.
• Higiene das mãos.
• Acesso a saneamento básico: água tratada, esgoto sanitário, destinação
adequada do lixo doméstico.
• Imunização contra o rotavírus, a vacina oral de rotavírus humano (VORH) foi
incluída no calendário nacional de imunização por meio da Portaria nº 1.602, de 17 de
julho de 2006, para ser aplicada aos dois e quatro meses de idade.

Figura 35 – Fluxograma para diarreia

Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2015/sms-10932/sms-10932-7671.pdf. Aces-


so em: 14 abr. 2023.

137
É fundamental que o enfermeiro realize orientações como (SÃO PAULO, 2015):

• Aumentar a oferta de líquidos de baixa osmolaridade: água, leite materno, chá, suco,
água de coco fresca, sopa (alimentos de fácil digestão e absorção).
• Não introduzir novos alimentos.
• Diminuir a quantidade de alimentos, mas aumentar o número de refeições para evitar
a anorexia. Melhorar o teor energético, cuidado com o acréscimo de gorduras.
• Oferecer de hora em hora soro distribuído na rede pública, principalmente após
evacuações líquidas.
• As crianças com desidratação leve ou moderada devem receber TERAPIA DE
REIDRATAÇÃO ORAL na Unidade de Saúde e ser reavaliada pelo Enfermeiro.
• Não oferecer suco artificial, refrigerantes ou bebidas isotônicas (tipo gatorade).
• Orientar sinais de desidratação e, no caso, retorno ao serviço de saúde.

A redução da morbimortalidade deve-se principalmente ao uso da terapia de


reidratação oral (TRO). Prevenção A prevenção da DA pode ser alcançada por meio da
adoção de medidas como:

• Aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e complementado


até os dois anos de idade
• Higiene das mãos.
• Acesso a saneamento básico: água tratada, esgoto sanitário, destinação adequada do
lixo doméstico.
• Imunização contra o rotavírus A vacina oral de rotavírus humano (VORH) foi incluída
no calendário nacional de imunização por meio da Portaria nº 1.602, de 17 de julho de
2006, para ser aplicada aos dois e quatro meses de idade.

138
LEITURA
COMPLEMENTAR
A ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR E O MÉTODO BLW (BABY-LED WEANING)

Sociedade Brasileira de Pediatria, 2017

A alimentação da criança modifica-se ao longo do seu crescimento e


desenvolvimento. Do ponto de vista comportamental, desde o nascimento os
recém-nascidos saudáveis possuem a capacidade de autorregular sua alimentação,
determinando o início da mamada, qual a velocidade que sugam e quando querem parar
de mamar.

A mãe não consegue fazer com que o recém-nascido ou lactente sugue maior
quantidade quando este encerra a mamada, ao sentir-se satisfeito. Desde o nascimento,
a mãe deve ser encorajada a entender que o recém-nascido e o lactente saudáveis
nascem aptos para regular sua fome e saciedade; aprender a interpretar estes sinais é
fundamental para o sucesso na amamentação, alimentação complementar e formação
dos hábitos alimentares até a vida adulta.

A Figura 1 ilustra como algumas características do desenvolvimento dos


lactentes estão relacionadas aos comportamentos alimentares. Ao completar seis
meses de vida, grande parte dos lactentes saudáveis já apresentam a capacidade para
sentar sem apoio, sustentar a cabeça e o tronco, segurar objetos com as mãos, e explorar
estímulos ambientais. Outras aquisições são o desenvolvimento oral, o desaparecimento
do reflexo de protrusão, e o aparecimento dos movimentos voluntários e independentes
da língua, fazendo com que o alimento role na boca e a criança o mastigue. Estes são
os aspectos motores que indicam que se pode iniciar a introdução de outros alimentos,
denominada alimentação complementar (AC).

Entender os sinais de maturidade do lactente para introdução de alimentos


sólidos é fundamental para uma alimentação complementar com sucesso. Nos
primeiros seis meses de vida, o aleitamento materno será a fonte ideal do ponto de vista
nutricional, emocional e de estímulo motor. Após os seis meses de idade, o lactente deve
continuar em aleitamento materno, mas há a necessidade de introdução da AC, tanto
do ponto de vista nutricional (sendo fonte de ferro, zinco, vitamina A e calorias), quanto
do ponto de vista motor, aproveitando esta fase de intensa curiosidade em explorar o
meio ambiente.

139
Neste contexto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem orientações
publicadas no Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia, disponível desde
2006 e atualizado em 2021, contendo informações abrangentes sobre o processo de
início da AC, tanto do ponto de vista nutricional como comportamental:

• A evolução da consistência deve ser gradual: oferecidos inicialmente em forma de


papas;
• Todos os grupos alimentares devem ser oferecidos a partir da primeira papa principal;
• A refeição deve ser amassada, sem peneirar ou liquidificar;
• O ritmo da criança deve ser respeitado, de acordo com o desenvolvimento
neuropsicomotor;
• Recomenda-se o uso do nome papa principal e não papa salgada.

Além desta recomendação, o Ministério da Saúde (MS) publicou a segunda


edição do Guia Alimentar para crianças menores de dois anos que também destaca os
seguintes tópicos:

• A consistência dos alimentos complementares deve ser oferecida de forma crescente:


pastosa, papa e purê;
• A partir de 8 meses a criança pode receber os alimentos da família amassados,
triturados, desfiados ou cortados em pequenos pedaços;
• A alimentação complementar complementa o leite materno e não o substitui;
• Deve-se incentivar a criança a comer nos horários de refeições da família;
• Atenção especial às práticas comportamentais, posturais e ambientais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também se pronuncia a respeito da AC,


incentivando práticas responsivas para o sucesso na introdução de novos alimentos. Há
orientações para que os pais identifiquem e respeitem os sinais de fome e saciedade,
incentivem o lactente para que ele seja ativo e interativo durante as refeições, com a
atenção voltada totalmente para o momento.

Além das recomendações publicadas oficialmente por comitês profissionais, há


outras abordagens de AC sendo difundidas pela internet como, por exemplo, o Baby-

140
Led Weaning (BLW) que significa: o desmame guiado pelo bebê. Conceitualmente a
idealizadora, a britânica Gill Rapley, defende a oferta de alimentos complementares em
pedaços, tiras ou bastões.

Sua abordagem não inclui alimentação com a colher e nenhum método de


adaptação de consistência para preparar a refeição do lactente, como amassar, triturar
ou desfiar. Segundo Rapley o BLW não é um método específico, mas uma abordagem
que encoraja os pais a confiarem na capacidade nata que o lactente possui de
autoalimentar-se.

As publicações sobre o BLW contêm ampla defesa para o uso de alimentos in


natura, desencorajando a alimentação do lactente realizada na forma tradicional como
papinha ou purês. Rapley defende os seguintes tópicos:

• Continuar com o leite materno ou a fórmula infantil;


• Posicionar o lactente sempre sentado para alimentar;
• Permitir que o lactente se suje e interaja durante as refeições;
• Oferecer variedade de alimentos, evitando a monotonia;
• Interagir com o lactente quando ele estiver comendo junto, durante as refeições;
• Dar o tempo necessário para a refeição sem pressionar.

Livros sobre o BLW já foram publicados em mais de 15 idiomas e o tema alcança


grande popularidade entre os pais do mundo todo. Embora as investigações científicas
estejam sendo publicadas no decorrer dos últimos oito anos, os profissionais de saúde e
sociedades da Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos não recomendam oficialmente
o BLW pelos seguintes questionamentos que ainda não foram respondidos:

• Há impacto sobre o crescimento e o desenvolvimento?


• A ingestão de micronutrientes é suficiente?
• Influencia a formação dos hábitos alimentares?
• Influencia o comportamento dos pais / cuidadores?
• É um método de alimentação complementar viável para os pais?
• É uma forma segura de alimentar os lactentes? Há maior risco de engasgo e asfixia?

Morrisson e colaboradores publicaram estudo comparando o perfil nutricional


da alimentação de lactentes de 6 a 8 meses utilizando BLW (n=25) e a forma tradicional
com colher (TSF, n=26). Nesta investigação de corte transversal foi verificado que
os lactentes com BLW foram mais propensos a se alimentarem sozinhos desde os
primeiros alimentos (67% vs 8%, p <0,001). Embora não haja diferença estatisticamente
significante, grande número de crianças consome alimentos que representam risco de
asfixia. Crianças do grupo BLW foram mais propensas a comer com a família no almoço e
jantar; tiveram maior ingestão de gordura e gordura saturada; e menor ingestão de ferro,
zinco e vitamina B12 que crianças do grupo TSF.

141
Os dois grupos tiveram a ingestão de energia similar. Assim como outros
estudos com o BLW, há limitação importante quanto ao número de sujeitos envolvidos
na pesquisa. Assumindo os grandes questionamentos dos pais e dos profissionais
de saúde relativos ao BLW, como risco de engasgo, e de baixa oferta de ferro e de
calorias, um grupo de estudiosos neozelandeses, criou uma versão chamada Baby-Led
Introduction to SolidS (BLISS), que significa Introdução aos Sólidos Guiada pelo Bebê.

Entre as orientações do BLISS estão: Oferecer alimentos cortados em pedaços


grandes, que o lactente consiga pegar sozinho; Garantir a oferta de um alimento rico
em ferro em cada refeição; Ofertar um alimento rico em calorias em cada refeição;
Oferecer alimentos preparados de uma forma que reduza o risco de engasgo e evitar os
alimentos listados como alto risco de aspiração; Experimentar sempre o alimento antes
de oferecer ao lactente, para verificar se não forma um bolo dentro da cavidade oral;
Evitar alimentos redondos ou em formato de moedas; Garantir sempre que o lactente
esteja sentado, ereto e sob supervisão contínua de um adulto.

Em comparação ao BLW, o grupo BLISS apresenta orientações semelhantes.


Desde o primeiro livro, Rapley4 salienta a importância da segurança, do posicionamento
e das práticas comportamentais não coercitivas para a AC. O importante é ressaltar que
não há evidências de que o método tradicional com colher seja menos estimulante ou
menos importante, desde que sejam seguidas as orientações da SBP, do MS e da OMS,
tanto do ponto de vista nutricional como comportamental.

Ao investigar o comportamento alimentar infantil e as orientações nacionais e


internacionais (SBP, MS e OMS), verifica-se que os documentos atualmente disponíveis
são completos, contém informações coerentes e fundamentais para orientar a
introdução e manutenção da AC.

Dentre os motivos pelos quais o BLW ganha popularidade destaca-se a


importância dada pela idealizadora sobre a individualidade de cada lactente e seu ritmo,
enfatizando as habilidades natas e o empoderamento dos pais em reconhecer em seus
filhos seus próprios sinais; porém estas questões comportamentais também devem ser
trabalhadas com a AC com a colher na forma tradicional.

O Departamento de Nutrologia da SBP continua enfatizando suas orientações,


já anteriormente publicadas, de respeitar o ritmo de desenvolvimento neuropsicomotor
de cada lactente; como regra geral, a introdução alimentar deverá iniciar aos seis meses
de vida, tanto para lactentes em aleitamento materno como para os alimentados com
fórmulas infantis. Ressalta-se ainda, que, desde o início da AC, é importante que essa seja
junto com as refeições em família, incentivando a interação entre os membros da casa.

Nesta fase, é de suma importância que os pais sejam orientados a ser o


exemplo de hábitos alimentares saudáveis e a munirem-se de paciência, respeitando
os limites impostos pela baixa idade, sempre agindo como um facilitador no processo

142
de alimentação, proporcionando um ambiente tranquilo sem a utilização de estratégias
coercitivas ou punitivas. Uma frase pode ser o resumo desta orientação: Comer junto e
não dar de comer.

Reconhece-se que no momento da AC, o lactente pode receber os alimentos


amassados oferecidos na colher, mas também deve experimentar com as mãos,
explorar as diferentes texturas dos alimentos como parte natural de seu aprendizado
sensório motor. Deve-se estimular a interação com a comida, evoluindo de acordo com
seu tempo de desenvolvimento.

Não há evidências e trabalhos publicados em quantidade e qualidade


suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS sejam as únicas formas corretas
de introdução alimentar.

Fonte: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19491c-GP_-_AlimCompl_-_Meto-
do_BLW.pdf. Acesso em: 14 mar. 2022.

143
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tema de aprendizagem, você estudou:

• As principais doenças de cunho respiratório que são mais prevalentes na infância;

• Os cuidados referentes à diarreia.

• Como avaliar e classificar quadros de desidratação.

144
AUTOATIVIDADE
1. É uma doença de etiologia viral, predominando o vírus sincicial respiratório e o adenovírus,
frequente em lactentes (principalmente de 6 a 12 meses de idade), que podem apresentar
vários episódios causados por diferentes agentes virais. Sobre a doença respiratória
acima descrita, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É bronquiolite.
b) ( ) É bronquite.
c) ( ) É pneumonia.
d) ( ) É asma.

2. A diarreia aguda (DA) ainda é muito frequente, estando entre as principais causas
de morbimortalidade nos países em desenvolvimento. É uma doença infecciosa,
autolimitada, causada por bactérias, vírus ou parasitas, caracterizada pela perda de
água e eletrólitos, que resulta no aumento do volume e da frequência das evacuações e
diminuição da consistência das fezes, apresentado algumas vezes muco e sangue. Com
base nas definições de diarreia, analise as sentenças a seguir:

I- Considera-se diarreia quando há ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou


líquidas em um período de 24 horas;
II- Os casos em que a diarreia tem duração superior a 14 dias, é classificado como doença
de Crohn ou diarreia aguda.
III- As diarreias persistentes, com presença de sangue, com ou sem muco, é chamada
disenteria. A causa mais comum da disenteria é a bactéria Shigella.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

145
3. A Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO) é uma entidade
representativa de docentes, discentes e profissionais que atuam nas grandes áreas de
conhecimento da Engenharia de Produção. De acordo com os princípios e as normativas
elencadas no estatuto da ABEPRO, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) O plano A é destinado a crianças com desidratação leve e deve ser tratada em casa.
( ) O plano B é destinado a crianças com desidratação intermediária e deve ser tratada na
UBS.
( ) O plano C é destinado a crianças com desidratação grave e deve ser tratada no hospital.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4. A criança que é levada ao serviço de saúde com queixa de tosse e/ou dificuldade
respiratória deve receber atenção cuidadosa, pois a possibilidade de diagnósticos é
ampla. A estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI)
da OMS/OPAS utiliza algumas classificações para uma criança com tosse ou dificuldade
para respirar. Disserte sobre quais são essas classificações e como se deve avaliar.

5. Você, como enfermeiro, deve estar atento à abordagem correta da criança com diarreia
aguda, pois isso é fundamental para evitar a desidratação, o comprometimento do
estado nutricional e a evolução para diarreia persistente. Neste contexto, disserte sobre
as principais orientações que o enfermeiro deve realizar em casos de diarreia.

AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão


INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022.

146
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151
152
UNIDADE 3 —

ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM NA SAÚDE
DO ADOLESCENTE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• saber conduzir o acompanhamento de saúde do adolescente na Unidade Básica


de Saúde;

• atender o adolescente, contemplando os aspectos biológicos, emocionais e sociais;

• elaborar estratégias para criar e fortalecer o vínculo do adolescente com a equipe


de saúde;

• compreender os principais agravos na adolescência e seu impacto na vida do adolescente.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS


NÍVEIS DE ATENÇÃO
TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE
TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA

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UNIDADE 3!

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UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE
NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A clínica do adolescente é instigante e inovadora, como o próprio adolescente.
A enfermagem tem um papel importante nesse processo, visto que, ao atender o
adolescente, atende também todos os medos, aflições, angústias, que precisam ser
ouvidas e entendidas, e, conjuntamente a tudo isso, produzindo estratégias para
minimizar ou até sanar esses problemas.

Sendo assim, você, como enfermeiro, deve sempre levar em conta, dentre
outras variáveis, “o processo de crescimento e desenvolvimento do adolescente e sua
vulnerabilidade a inúmeros agravos físicos, psíquicos e sociais, cuja análise permitirá a
identificação dos fatores protetores que devam ser promovidos e os riscos que deverão
ser afastados e/ou atenuados” (SÃO PAULO, 2015, p. 93).

Para alcançar os resultados esperados, os atendimentos realizados ao


adolescente devem abranger ações interdisciplinares, intersetoriais e interinstitucionais,
além de serem estruturadas com o olhar da prevenção e promoção da saúde, de
atendimento local e de encaminhamento de situações e problemas específicos desta
faixa etária (SÃO PAULO, 2015).

Para entendermos melhor esse contexto acadêmico, no Tema de Aprendizagem


1 abordaremos o atendimento ao adolescente nos diversos níveis de atenção, com o
propósito de trazer essa reflexão inicial sobre o cenário atual do adolescente no país e
da enfermagem como atuante e intermediadora nesse processo.

2 ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS


NÍVEIS DE ATENÇÃO
A atenção à saúde do adolescente tem sido um importante desafio para a
organização dos serviços de saúde, visto que a adolescência é um período de grandes
mudanças, como o início da puberdade e a necessidade de assumir responsabilidades,
autonomia, além de ser um grupo que apresenta grandes vulnerabilidades e
dificuldades (BRASIL, 201 8).

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NOTA
Adolescência e puberdade são dois termos usados com muita frequência, mas será que
exprimem conceitos diferentes? Sim, a adolescência e a puberdade são termos que exprimem
conceitos diferentes. A puberdade compreende o conjunto de transformações
no corpo que marcam o final da infância, principalmente o surgimento dos
caracteres sexuais secundários. A adolescência, por sua vez, pode ser entendida
como uma transição da vida infantil para a vida adulta, um processo que tem
significados diferentes para o indivíduo em diversas classes sociais, épocas e
culturas cuja vivência reflete a exteriorização dos marcos socioculturais nos
quais o adolescente se desenvolveu e vive (BELO HORIZONTE, 2015).

Conforme já comentamos antes, o atendimento ao adolescente deve ser


embasado por diversas demandas e situações, e para que isso ocorra de forma assertiva,
é fundamental termos uma rede de atenção funcionante, organizada e resolutiva.

As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são os arranjos organizativos formados por


ações e serviços de saúde, com diferentes configurações e densidades tecnológicas
que, integrados por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam
garantir a integralidade do cuidado (MENDES, 2011). É através das RAS que são produzidas
estratégias para superar a fragmentação da atenção e da gestão à saúde (BRASIL,
2018), tendo destaque o papel da Atenção Básica (AB) que aparece como ordenadora e
centro de comunicação, sendo o contato preferencial de sujeitos e coletividades com
os serviços de saúde (BRASIL, 2017).

ATENÇÃO
As Unidades Básicas de Saúde aparecem neste cenário como um espaço
privilegiado, de práticas multiprofissionais integradas, que estão articuladas
com os demais setores de saúde e que favorecem o desenvolvimento
de iniciativas intersetoriais voltadas à melhoria da qualidade de vida e ao
atendimento das necessidades de saúde locais (EMERICH; GAVA, 2019).

De modo geral, as UBS serão a porta de entrada preferencial, tanto em função


de seu papel no sistema quanto pelo fato de estarem presentes em maior número e em
todos os territórios, sendo, assim, os serviços mais acessíveis para a população. A maior
parte das necessidades de adolescentes e jovens pode ser trabalhada nas UBS, sendo
relevante o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças,
assistência curativa e reabilitação, tanto individuais como coletivas, dentro da unidade
ou na comunidade. As UBS podem lançar mão de diversas formas de articulação com os
outros serviços de saúde, como o apoio matricial e os encaminhamentos (BRASIL, 2007).

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Então, é esperado que a abordagem realizada, não apenas pelo enfermeiro, como
pela equipe atuante na unidade e na rede de atenção, seja direcionada à integralidade,
tanto das práticas de saúde quanto da própria rede de serviços de saúde.

• Integralidade das práticas de saúde: é relativa ao conteúdo e à organização do


trabalho para que os serviços busquem realizar o cuidado de modo que se contemple
o êxito técnico e o sucesso prático, contribuindo para que adolescentes e jovens
possam ter saúde, buscar seus projetos de vida e de sua comunidade.
• Integralidade na rede de serviços de saúde: é relativa às atribuições de cada serviço e
às formas de sua articulação em rede, com vistas à implementação e à operação dos
documentos que fomentam o cuidado de adolescentes e jovens (SÃO PAULO, 2021).

Estabelecer as ações realizadas em cada serviço, assim como descrever os


conteúdos do trabalho a ser realizado por cada tipo de serviço ambulatorial, e deixar
claro como ocorrerá a articulação entre esses serviços, é essencial quando se busca
um cuidado integral à saúde dos adolescentes. A Figura 1 ilustra o esquema do cuidada
integral de adolescentes na Atenção Primária.

Figura 1 – Esquema do cuidado integral de adolescentes na atenção primária

Fonte: https://cebrap.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Linha-de-Cuidado-Adolescencia-Juventude-
-SUS-SP-1.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

157
2.1 O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA
A Atenção Básica ganha destaque, visto que, ao longo do ciclo de vida, a
vigilância em saúde das crianças, adolescentes e jovens é responsabilidade das equipes
de Saúde da Família (ESF), sendo sua competência realizar periodicamente a avaliação
das condições de saúde das crianças, adolescentes e jovens que estão nas escolas
inseridas em seus territórios adscritos (BRASIL, 2009).

É também responsabilidade da Atenção Básica se articular com toda a rede de


serviços de saúde, com o setor Educação e com outros equipamentos existentes na
comunidade, para a elaboração de planos terapêuticos integrais e integrados para a
resolução das necessidades e dos problemas detectados (BRASIL, 2009, p. 20 ).

Um ponto diferenciado da Atenção Básica é que, além de compartilhar o


objetivo principal “de garantir o acesso de adolescentes e jovens a ações de promoção à
saúde, prevenção, atenção aos agravos e doenças, bem como reabilitação, respeitando
os princípios organizativos e operacionais do Sistema Único de Saúde (SUS)”, possui o
diferencial de já acompanhar outros integrantes da família, estar próximo da residência
desses adolescente e poder realizar ações, tanto na unidade de saúde quanto na
residência desse adolescente (SÃO PAULO, 2006).

São muitas ações as possíveis de serem desenvolvidas nas unidades de saúde,


não é verdade? Mas quais serão as mais indicadas para a população adolescente e
jovem? Já que o propósito de cada ação pode ser complementar, é fundamental que
o profissional de saúde e a equipe como um todo tenham um leque de diferentes
ações que atenderão às necessidades locais e às especificidades da atenção integral a
adolescentes e jovens de ambos os sexos.

Na Figura 2, listamos as principais ações que você, enfermeiro, pode utilizar


para se aproximar do público-alvo, assim como ser mais assertivo em atender às
necessidades e demandas do adolescente e jovem.

Figura 2 – Ações desenvolvidas nas Unidades de Saúde que atenderão às necessidades locais e às
especificidades da atenção integral a adolescentes e jovens de ambos os sexos

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_adolescentes_jovens.pdf. Acesso


em: 11 abr. 2023.

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Vamos conhecer um pouco mais de cada uma dessas estratégias?

2.1.1 A visita domiciliar


As visitas domiciliares proporcionam conhecer melhor o contexto de vida dos
adolescentes e jovens, assim como a dinâmica de suas famílias.

É também uma oportunidade para fortalecer vínculos, além de convidá-los para


atividades educativas, identificar situações de risco como violência doméstica, uso abusivo
de drogas e evasão escolar, além de captar pacientes não aderentes ao tratamento.

Uma vez que o contato é realizado com a família como um todo, é preciso
ter cuidado para assegurar a confidencialidade das informações. Caso a unidade não
disponha dessa atividade, é possível articular-se com outros serviços, tais como equipes
de atenção básica, conselhos tutelares, grupos comunitários, escolas, dentre outros
(BRASIL, 2007, p. 18).

2.1.2 Atendimento individual


Independentemente do motivo principal da consulta, cada visita à unidade é uma
oportunidade de promover a saúde, detectar e resolver outras questões importantes.

A equipe pode aproveitar o momento da consulta para trocar informações e


perceber as novas tendências da sua clientela. É uma chance de conhecer seus hábitos,
valores e, até mesmo, o vocabulário (BRASIL, 2007, p. 18).

Abordaremos o assunto consulta de enfermagem no próximo tema de


aprendizagem.

2.1.3 Atividades em grupo


Considerando a característica de adolescentes e jovens de procurar no grupo de
companheiros a sua identidade e as respostas para suas ansiedades, pode-se concluir
que o atendimento grupal se constitui numa forma privilegiada de facilitar a expressão
de sentimentos, a troca de informações e experiências, bem como a busca de soluções
para seus problemas.

Nem todos se beneficiam ou se sentem à vontade em participar do atendimento


em grupo, portanto, devem ser considerados a necessidade do cliente e o seu desejo em
participa, por isso, existem diferentes tipos de grupos que exigem distintas habilidades
dos profissionais de saúde (BRASIL, 2007).

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Falaremos mais sobre esse assunto no conteúdo do Tema de Aprendizagem 2,
em grupos educativos na adolescência.

2.1.4 Ações de participação juvenil


As ações de participação juvenil são estratégias de fortalecimento da autonomia,
por meio da participação criativa, construtiva e solidária de adolescentes e jovens no
enfrentamento de problemas reais da comunidade.

A participação juvenil é uma estratégia eficaz de promoção do desenvolvimento,


uma vez que fortalece a autoestima, a assertividade e a construção do projeto de vida.
Nos serviços de saúde, a participação ativa e autônoma de adolescentes e jovens no
planejamento, na execução e na avaliação das ações contribui decisivamente para a
eficácia, a resolução e o impacto social delas.

Quando os jovens se interessarem em serem promotores de saúde, cabe ao


serviço capacitá-los e acompanhá-los no desenvolvimento e na avaliação das ações
(BRASIL, 2007, p. 22).

2.1.5 Articulação intersetorial


Nenhuma organização é capaz de, isoladamente, realizar todas as ações
necessárias para assegurar a saúde e o desenvolvimento aos adolescentes e jovens.
Alianças e parcerias são essenciais para a criação das condições de proteção do bem-
estar e para a maximização dos potenciais de todos eles (BRASIL, 2007).

Muitas das intervenções voltadas para a melhoria da saúde dos adolescentes e


dos jovens têm falhado por possuírem um foco demasiadamente estreito e funcionarem
isoladamente umas das outras, resultando, quase sempre, na redução de sua eficácia e
eficiência (BRASIL, 2007).

Uma vez que a maioria dos problemas tem causas comuns, é possível trabalhar
com uma combinação de intervenções capazes de promover o desenvolvimento saudável
dos jovens. As articulações intra e interinstitucionais devem ser construídas num clima
de confiança e respeito entre os parceiros, onde cada organização seja valorizada com
suas singularidades, potencialidades e limitações. É importante destacar a necessidade
de uma articulação, inicialmente intra-institucional, uma vez que é comum acontecer
de vários grupos desenvolverem atividades voltadas para adolescentes e jovens em
uma mesma unidade de saúde, sem que haja uma integração (BRASIL, 2007).

160
Para essa organização devem ser levados em consideração a disponibilidade,
a formação e a educação permanente dos recursos humanos, a estrutura física, os
equipamentos, os insumos e o sistema de informação, adequando-os ao grau de
complexidade da atenção a ser prestada em cada região (SÃO PAULO, 2021).

IMPORTANTE
Na organização da atenção à saúde do adolescente e do jovem devem
ser levados em consideração os seguintes aspectos:
- Adequar os serviços de saúde às necessidades específicas de
adolescentes, respeitando as características da atenção local vigente, os
recursos humanos e materiais disponíveis.
- Respeitar as características socioeconômicas e culturais da comunidade,
além do perfil epidemiológico da população local.
- Estimular a participação ativa dos jovens nas ações de prevenção e
promoção à saúde (BRASIL, 2013, p.13).

A rede de atenção básica, especialmente da Estratégia Saúde da Família, tem


um papel importante nas ações desenvolvidas com o adolescente, como descrevemos
na Unidade 1.

Com o desenvolvimento do Programa Saúde da Escola, a equipe da Estratégia


Saúde da Família assume a reponsabilidade de realizar alguns procedimentos nas
escolas. Esses procedimentos consistem em “ações iniciais de acompanhamento
básico de saúde de adolescentes, bem como ações educativas em saúde que podem
ser desenvolvidas em parceria com a comunidade escolar” (BRASIL, 2013, p.13).

DICA
Que tal conhecer o rol de ações detalhadas, assim como os profissionais
envolvidos na realização dessas atividades junto aos adolescentes
nas escolas? A proposta das orientações a seguir é proporcionar aos
profissionais a visão integrada do processo de atenção integral de saúde
de adolescentes nas unidades de saúde e nas escolas (BRASIL, 2013).

São divididas em avaliação inicial (Figura 3); avaliação de crescimento e


desenvolvimento (Figura 4); Saúde bucal (Figura 5); saúde mental (Figura 6), imunização
(Figura 7); até prevenção de violências e acidentes (Figura 8) (BRASIL, 2013).

Quanto à avaliação inicial realizada ao adolescente, estudante de escola pertencente


ao Programa Saúde da Escola, espera-se que os profissionais listados na Figura 3 sejam
capazes de realizar os procedimentos sugeridos com uma periodicidade anual.
161
Figura 3 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola, para a avaliação inicial do adolescente e através
da equipe responsável da atenção básica e escola

Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023.

Para a avaliação de crescimento e desenvolvimento (Figura 4), espera-se que


as ações a seguir sejam realizadas semestralmente, assim como as ações de saúde
bucal (Figura 5) e de saúde mental (Figura 6).

Figura 4 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola para a avaliação de crescimento e desenvolvi-


mento do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola

Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023.

162
Figura 5 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola para a saúde bucal do adolescente e através da
equipe responsável da atenção básica e escola

Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023.

Figura 6 – Procedimentos a serem desenvolvidas na escola para a saúde mental do adolescente e através
da equipe responsável da atenção básica e escola

Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023.

Como a imunização do adolescente segue o calendário vacinal, a periodicidade


dessa ação é coerente com o calendário vacinal do adolescente, e na Figura 7 são
descritos os procedimentos a serem desenvolvidos dependendo se o adolescente está
com ou sem encaminhamento para a unidade.

163
Figura 7 – Procedimentos a serem desenvolvidas na escola, para a imunização do adolescente e através da
equipe responsável da atenção básica e escola

Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023.

E, por fim, é abordada a prevenção de acidentes e violências (Figura 8), devido à


grande prevalência desses casos ocorrendo nessa faixa etária.

É importante ressaltar que, para realização de todos os procedimentos aqui


listados, o profissional de saúde que esteja realizando essas ações deve sempre recordar
e assegurar que o adolescente que esteja em atendimento tem direito às seguintes
questões técnicas, éticas e legais:

1. Privacidade no momento da consulta, caso deseje.


2. Garantia de confidencialidade e sigilo, caso deseje.
3. Consentir ou recusar o atendimento.
4. Atendimento à saúde sem autorização e desacompanhado dos pais.
5. A informação sobre seu estado de saúde (BRASIL, 2013).

É imprescindível que o profissional siga esses aspectos sobre a abordagem legal


do atendimento ao adolescente baseado nos princípios fundamentais de: direitos, ética,
privacidade, confidencialidade e sigilo, que seguem as recomendações do Departamento
de Bioética e Adolescência da Sociedade Paulista de Pediatria (SPP), o Consenso da
Área da Saúde do Adolescente do Ministério da Saúde e o ECA.

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Figura 8 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola para a prevenção de acidentes e violências do
adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola

Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023.

ESTUDOS FUTUROS
É importante frisar que as ações não são realizadas isoladamente e nem
por um profissional só. Falaremos sobre o programa saúde na escola ainda
nesta unidade.

2.2 O PAPEL DOS DEMAIS NÍVEIS DE ATENÇÃO


A presença de cada serviço varia de região e município, exigindo o
estabelecimento de desenhos ou arranjos de rede específicos para cada região (SÃO
PAULO, 2018). Serviços de internação hospitalar e unidades de urgência e emergência
nem sempre são a prioridade das linhas de cuidado, que direcionam as ações para a
Atenção Básica, uma vez que esta é a responsável pela coordenação do cuidado no
sistema (BELO HORIZONTE, 2015).

A articulação a outros serviços, tanto para solicitar apoio matricial como para
encaminhar adolescentes ou jovens, dependerá do tipo de necessidade, da finalidade
do cuidado a alcançar e do tipo de serviço disponível em cada região (SÃO PAULO, 2018).

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Os serviços de saúde mais comumente ofertados na rede pública são: as
UBS; os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviço de Atenção Especializada
(SAE) e os Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA); as Casas do Adolescente; e os
ambulatórios especializados em adolescentes de hospitais universitários (BRASIL,2011).

Compete à UBS a realização de atendimentos de atenção básica e integral a


uma população, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo
oferecer assistência odontológica e de outros profissionais de nível superior. Podendo
ou não oferecer: SADT (Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia) e Pronto atendimento
24 Horas (BRASIL, 2018).

Já os SAEs e CTAs têm o propósito de realizar ações de testagem e prevenção


das IST, aids e hepatites virais; e ser uma unidade ambulatorial voltada à atenção integral
às pessoas com DST/HIV/aids (SÃO PAULO, 2018).

Há diferentes tipos de CAPS (BRASIL, 2011).

• CAPS I: atende todas as faixas etárias; existe em regiões ou municípios com população
acima de 20.000 habitantes.
• CAPS II: atende todas as faixas etárias; existe em regiões ou municípios com
população acima de 70.000 habitantes.
• CAPS III: atende todas as faixas etárias; funciona 24 horas; conta com acolhimento
noturno; existe em regiões ou municípios com população acima de 200.000 habitantes.
• CAPS Álcool e Drogas (AD): atende adultos ou crianças e adolescentes; existe em
regiões ou municípios com população acima de 70.000 habitantes.
• CAPS AD III: atende adultos ou crianças e adolescentes; conta com leitos para
observação e monitoramento e tem funcionamento 24 horas; existe em regiões ou
municípios com população acima de 200.000 habitantes.
• CAPS Infantojuvenil (IJ): atende crianças e adolescentes “com transtornos mentais
graves e persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas”; existe em
regiões ou municípios com população acima de 150.000 habitantes.

A Casa do Adolescente é um serviço do Programa do estado de São Paulo,


direcionado para a Saúde do Adolescente. Criado em 1987, serviu como uma espécie de
laboratório de novas políticas de saúde para jovens entre 10 e 20 anos de idade”.

Os ambulatórios hospitalares especializados em saúde do adolescente são,


geralmente, ligados às universidades, isto é, têm função didática. Seu histórico remonta
à própria constituição da medicina de adolescentes, a partir das “propostas pioneiras”
que “no Brasil, apareceram em São Paulo e no Rio de Janeiro, no início da década de
1970, vinculadas a faculdades de medicina e hospitais universitários” (SÃO PAULO, 2018).

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Esses ambulatórios surgem a partir de diferentes especialidades médicas e
vão também se relacionando em sociedades e associações. A atenção a adolescentes
se constitui tendo como princípio a integralidade e, nesse sentido, há uma tendência
a desenvolver o trabalho do profissional generalista, além da questão do acesso de
adolescentes aos serviços. Configura-se uma tensão entre a clínica e a saúde coletiva,
o indivíduo e a saúde pública, que marca a história dos serviços de atenção à saúde
paulistas (SÃO PAULO, 2018).

É necessário que os diversos serviços pertencentes à rede de atenção estejam


devidamente articulados e atuem de forma integral, pois nos casos em que o adolescente
procure primeiramente um serviço que não seja uma UBS, ele deve ser acolhido e
atendido conforme sua necessidade e a atribuição de cada serviço; simultaneamente,
é importante que ele seja também sempre referido para a UBS do seu território, por ser
este o serviço de mais fácil acesso em virtude da sua proximidade e por conta do seu
papel no provimento de cuidados e na coordenação do sistema (SÃO PAULO, 2018).

NOTA
A programação do serviço de saúde deve prever um sistema de referência e
contrarreferência que assegure acesso universal e oportuno, em termos de atenção,
que corresponda ao problema identificado. Quando se planeja a rede de serviços de um
sistema de saúde, é necessário que cada uma das unidades que integram a rede programe
suas atividades para a população da sua área de responsabilidade, tendo como base os
problemas identificados e as ações que pretende desenvolver. A essa programação, que
chamamos de básica, devem ser agregadas outras realizadas pelos demais serviços que
integram o sistema. A complexidade e a resolução dos serviços de saúde estão
fortemente relacionadas à composição da equipe, à qualificação e à integração
dos seus membros, além das condições de gestão e estrutura existentes.
O sistema de referência e contrarreferência deve contemplar também o
encaminhamento para instituições que não são da área de saúde, como
escolas, cursos profissionalizantes, atividades esportivas, culturais etc. Além da
referência, é fundamental que ocorra a contrarreferência (SÃO PAULO, 2018).

Vê-se, assim, a importância de protocolos, linhas guia, diretrizes, que norteiem


as ações produzidas a esse público nos diversos níveis de atenção da Rede de Atenção
à Saúde, proporcionando condições reais do adolescente ter o seu espaço garantido no
atendimento ofertado da rede de atenção.

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3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE NA
REDE BÁSICA E HOSPITALAR
A pessoa que procura a unidade de saúde busca um profissional disponível
a ouvir suas demandas, ajudar a encontrar soluções para seus problemas e que não
apresente julgamentos. Nesse contexto, o enfermeiro deve estar atento a atender essas
demandas e outras mais .

O adolescente deseja ser acolhido, orientado e compreendido em suas


necessidades, pois assim sente-se confiante de que está seguro e bem amparado,
principalmente por, na grande maioria das vezes, esse adolescente estar com vergonha,
com medo de ser repreendido, assim como intimidado pela figura do profissional que
atende, fazendo da atitude de procurar a unidade de saúde um ato difícil e que necessita
de certa coragem (SÃO PAULO, 2006).

Por esse motivo, é fundamental que o adolescente se sinta reconfortado,


ajudado e respeitado para que possa confiar e dar continuidade ao tratamento. A
maneira como ele será tratado no atendimento, desde a recepção na Unidade Básica de
Saúde, até a consulta propriamente dita e seus eventuais encaminhamentos, vão definir
o vínculo que ele estabelecerá com o tratamento e com a unidade como referência de
ajuda e apoio (BRASIL, 2007).

IMPORTANTE
Compete a toda a equipe de saúde dar continuidade ao acompanhamento de saúde
das crianças até a adolescência, programando avaliações periódicas, segundo protocolo
estadual, com visitas, consultas médicas ou de enfermagem e grupos, dentre outras
ações, priorizando as áreas e eventos de risco. Segundo Belo Horizonte (2014, p.13), o
enfermeiro tem um papel importante nas ações desenvolvidas, sendo responsável por:
- Captar, atender e realizar consulta ou encaminhá-los para avaliação de saúde anual
priorizando casos de maior risco (gravidez, IST/AIDS, drogadição, vítimas de violência).
- Desenvolver atitude acolhedora e flexível, com escuta atenta às suas queixas e demandas.
- Identificar situações de risco como: violência doméstica e sexual, abuso de álcool e drogas,
trabalho precoce, evasão escolar, gravidez na adolescência, distúrbios de comportamento
e informar o caso à ESF.
- Acolher o casal grávido, incentivando a participação do pai adolescente e encaminhando
para o pré-natal o mais breve possível.
- Realizar consulta de pré-natal conforme Protocolo da Saúde Mulher do município e estado.
- Fazer aconselhamento e orientação sobre uso de preservativos e contraceptivos, no
momento da liberação.
- Prescrever nos casos indicados o AE - Anticoncepcional de Emergência - (conforme as
Diretrizes de saúde sexual e reprodutiva do seu município/Estado) com aconselhamento,
orientação e agendamentos devidos.
- Verificar situação vacinal e orientar atualização do Cartão de Vacina – Caderneta de
Saúde do Adolescente/MS.

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- Orientá-los e suas famílias sobre hábitos saudáveis de vida, prevenção de riscos,
importância da socialização (participação de grupos, movimentos culturais, esportes,
lazer) durante atendimentos individuais e em grupo.
- Promover e apoiar atividades educativas através de grupos de jovens, sala de espera,
oficinas em escolas, discussão de vídeos, produção de murais, reunião com pais etc.
Temas sugeridos: sexualidade, prevenção das DST/AIDS, promoção de hábitos
saudáveis de vida como atividade física, alimentação saudável, prevenção do
tabagismo, do alcoolismo e do uso de outras drogas.
- Participar da articulação da rede de apoio local (escolas, creches, projetos
esportivos e culturais), de ações educativas e de mobilização comunitária.
- Participar com a equipe das discussões dos casos de suspeita e/ou violência
sexual, antes de encaminhar e preencher a ficha de notificação.

A Atenção Básica ganha destaque nas ações realizadas com jovens e


adolescentes, e o enfermeiro tem um papel importante para as realizações das ações
produzidas e dos resultados alcançados.

A consulta de enfermagem deve ser embasada nos preceitos de privacidade e


confidencialidade, seguindo o previsto no artigo Art. 52, que prevê manter sigilo sobre
fato de que tenha conhecimento em razão da atividade profissional, exceto nos casos
previstos na legislação, ou por determinação judicial, ou com o consentimento escrito
da pessoa envolvida ou de seu representante, ou responsável legal. Conforme o §2º,
o fato sigiloso deverá ser revelado em situações de ameaça à vida e à dignidade, na
defesa própria ou em atividade multiprofissional, quando necessário à prestação da
assistência (COFEN,2020).

Uma vez que o SUS, precisa garantir o acesso universal e igualitário às ações
e aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto para crianças
quando para adolescentes, segundo o art. 11, do Estatuto da Criança e do Adolescente,
é fundamental que haja documentos que auxiliem essa execução.

Nesse cenário, surgem algumas notas técnicas, com o propósito de recomendar


as ações que precisam ser realizadas pelas equipes e profissionais de saúde,
principalmente no que tange à possibilidade de os adolescentes serem atendidos sem
a presença do responsável.

169
IMPORTANTE
Segundo a Nota Técnica n. 4, da Coordenação Geral de Saúde do Adolescente
e do Jovem, sobre o atendimento de adolescentes desacompanhados de
pais ou responsáveis, é importante que o enfermeiro e a equipe:

• sempre encorajem o adolescente a envolver a família no acompanhamento dos


seus problemas, já que os pais ou responsáveis têm a obrigação legal de proteção e
orientação de seus filhos ou tutelados.
• que a quebra do sigilo, sempre que possível, seja decidida pela equipe de saúde
juntamente com o adolescente e fundamentada no benefício real para pessoa assistida.
• no caso de se verificar que a comunicação ao adolescente poderá causar maior dano,
a quebra do sigilo deve ser decidida somente pela equipe de saúde com as cautelas
éticas e legais já mencionadas (BRASIL, 201 8; COREN, 2020).

Compete à equipe de saúde avaliar com cautela e considerar todas as possíveis


estratégias para inserção dos adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde e sua
adesão às ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde. Isso demanda
tempo, preparo e muita capacidade profissional.

Portanto, o enfermeiro deve ter segurança para realizar ações assertivas


voltadas à saúde do adolescente dentro do contexto da atenção primária, contemplando
a consulta de enfermagem, o fluxograma de atendimento, os principais diagnósticos e
intervenções (farmacológicas e não farmacológicas) de enfermagem, embasados no
sistema do e-SUS .

NOTA
O e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) é uma estratégia do Ministério da Saúde através do
Departamento de Atenção Básica (DAB) para reestruturar as informações da atenção
primária à saúde (APS), modernizando sua plataforma tecnológica com o objetivo de
informatizar as unidades básicas de saúde, oferecer ferramentas para ampliar o cuidado
e melhorar o acompanhamento da gestão (Conass, 2013). Pretende-se com o e-SUS AB
reduzir a carga de trabalho empenhada na coleta, inserção, gestão e uso da informação
na APS, permitindo que a coleta de dados esteja dentro das atividades já desenvolvidas
pelos profissionais, e não uma atividade em separado. Dentre as principais premissas do
e-SUS, destacam-se:
• Reduzir o retrabalho de coleta dados.
• Individualização do Registro.
• Produção de informação integrada.
• Cuidado centrado no indivíduo, na família e na comunidade e no território.
• Desenvolvimento orientado pelas demandas do usuário da saúde.

170
ATENÇÃO
Caro acadêmico, é importante ressaltar que a “sistematização das
atividades que compõem a atenção à saúde de adolescentes deve estar
embasada nos princípios da Atenção Primária à Saúde, conforme a Política
Nacional de Atenção Básica” (BRASIL, 2017). Essa sistematização deve ser
embasada não apenas pela legislação vigente, como por documentos
de cunho operacional, como: protocolos, linhas guia importantes,
que favorecem a organização do serviço, ao listar as ações que são de
responsabilidade de cada profissional de saúde.

ESTUDOS FUTUROS
No próximo tema falaremos sobre a consulta de enfermagem e sua
estruturação. Lá ficará mais claro a importância da abordagem adequada
do enfermeiro, que começa com o acolhimento adequado do adolescente,
que é definido como “o conjunto de medidas, posturas e atitudes dos
profissionais de saúde que garantam credibilidade e consideração à
situação” (GRILLO, 2011).

Um ponto importante de ser ressaltado aqui é o acolhimento desse adolescente.


A UBS precisa ser vista e identificada por esse adolescente, como porta aberta. Nesse
cenário, é fundamental que, ao adentrar a unidade, essa adolescente se sinta seguro e
acolhido (BRASIL, 2015a).

O acolhimento pode correr durante Consulta de Enfermagem ou uma visita a


unidade. É fundamental também que esse enfermeiro realize a escuta ativa; observe os
sinais verbais e não verbais, tais como: “ansiedade; inquietação; dificuldade de concentração;
irritabilidade; fadiga; tristeza; choro; prostração; ausência de contato visual; automutilação
e outros; questione sobre ideações suicidas e referencie os adolescentes aos serviços de
Saúde Mental, quando houver necessidade” (CAPES, 2022).

Trata-se de um conjunto de ações que fazem com que o indivíduo se sinta bem
recebido pelo serviço em todos os locais e momentos. Esse processo, fundamental para
a constituição de vínculos e compromissos, favorece o encaminhamento adequado do
cliente. Todos os funcionários da unidade devem se envolver nesse processo. Isso implica
a humanização das relações entre equipes de saúde e usuários, de forma que todos os
adolescentes e jovens que procuram o serviço de saúde sejam ouvidos com atenção,
recebam informação, atendimento e encaminhamento adequados (BRASIL, 2007).

171
Todos o processo de recepção, acolhimento, acompanhamento e encaminhamento
do adolescente deve ser contemplado em um fluxograma, que nada mais é que um
diagrama em que se desenha um modo de organizar os processos de trabalho, os quais se
vinculam entre si e em torno de uma certa cadeia de produção. Considera-se importante
o estabelecimento de fluxogramas que permitam representar de forma clara os serviços
de saúde, servindo como instrumento de visualização do cotidiano, seja para melhor
movimentação do adolescente/jovem nas unidades de saúde, assim como para a própria
equipe, auxiliando no planejamento e na execução das atividades. Sugere-se que cada
unidade defina o seu fluxograma de acordo com as instalações físicas, com os recursos
humanos existentes e com os serviços oferecidos (BRASIL, 2007).

É importante ter os impressos adequados para a atenção ao adolescente, porém


a inexistência deles não deve ser um motivo para o não atendimento. Um dos impressos
importantes, que contempla orientações, dados e informações sobre o adolescente, é a
caderneta de saúde da e do adolescente.

3.1 CADERNETA DE SAÚDE DA E DO ADOLESCENTE


Um importante instrumento que favorece a vinculação do adolescente com o
serviço de saúde, é a Caderneta de Saúde do Adolescente (CSA). A caderneta foi lançada
em 2009, pelo Ministério da Saúde, com o propósito de apoiar o acompanhamento de
saúde de meninos e meninas entre 10 e 19 anos (BELO HORIZONTE, 2015).

Esse documento reúne informações importantes para o cidadão adolescente


entender suas mudanças corporais, cuidar de sua saúde sexual e reprodutiva, da saúde
bucal, da alimentação e de sua vacinação, dentre outros cuidados. O Ministério da
Saúde, por meio da Área Técnica de Saúde de Adolescentes e Jovens, construiu as
cadernetas para o sexo feminino (BRASIL, 2013) e para o masculino (BRASIL, 2014) com
objetivo de subsidiar o trabalho nas equipes e unidades de saúde.

DICA
Acadêmico, que tal conhecer um pouco mais sobre as cadernetas de
Saúde do Adolescente que são disponibilizadas pelo Ministério da Saúde?
São duas versões, sendo uma direcionada para as adolescentes (meninas)
e a outra para os adolescentes (meninos). As Cadernetas de Saúde do
Adolescente são disponibilizadas nos endereços a seguir:
Caderneta de Saúde da Adolescente: https://bit.ly/3MbvqRh.
Caderneta de Saúde do Adolescente: https://bit.ly/3pQ6CGF.

172
A implantação da caderneta é de suma importância para o acompanhamento
do adolescente, assim como para orientação, visto que os assuntos contemplados
na caderneta são descritos de forma lúdica e linguagem acessível, favorecendo a
compreensão não só pela equipe de saúde como, principalmente, pelo jovem e sua
família (BELO HORIZONTE, 2015).

Você sabia que o Ministério da Saúde preconiza que todas as categorias


profissionais podem se qualificar para o atendimento de adolescentes? Mas para
a promoção da saúde e prevenção de agravos, as ações podem ser realizadas por
membros habilitados das Equipes de Saúde da Família sendo as consultas realizadas
por médicos e enfermeiros.

Na consulta médica e do enfermeiro, o profissional deve manter uma postura


compreensiva, observando e estimulando o adolescente a expor suas queixas e
angústias, sempre atento à possibilidade de queixas não verbalizadas. Deve estabelecer
uma boa relação com o adolescente, assegurando privacidade e confidencialidade,
através da garantia do sigilo profissional, exceto em situações de risco de vida, próprio
ou de terceiros, conforme os princípios da ética profissional que iremos mencionar no
próximo tema (BELO HORIZONTE, 2015).

173
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A importância do atendimento aos adolescentes, especialmente nas ações produzidas


pela Atenção Básica.

• A importância do acolhimento, da escuta qualificada para a permanência do


adolescente no serviço de saúde.

• Que existem duas Cadernetas de Saúde do Adolescente, uma voltada para o


adolescente (menino) e outra para a adolescente (menina).

• Procedimentos que devem ser desenvolvidos na escola direcionados para avaliação


inicial, avaliação de crescimento e desenvolvimento, saúde bucal, saúde mental,
imunização e prevenção de violências e acidentes.

174
AUTOATIVIDADE
1 A população adolescente apresenta alguns problemas que vão além de questões
particulares ou desentendimento familiares, e para atender essa demanda, é
necessário que exista uma rede de atenção organizada, estruturada e fortalecida.
Sobre a organização do serviço de saúde e a atenção às demandas e necessidades
dos adolescentes e jovens, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As UBS podem ter diversas formas de articulação com os outros serviços de


saúde, mas o apoio matricial e os encaminhamentos só são realizados por
centros de especialidades;
b) ( ) O desenvolvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças são
secundários na assistência curativa e reabilitação, tanto individuais como coletivas.
c) ( ) A maior parte das necessidades de adolescentes e jovens devem ser
encaminhadas para o setor secundário e terciário, devido a sua complexidade.
d) ( ) As UBS serão a porta de entrada preferencial, tanto em função de seu papel no
sistema quanto pelo fato de estarem presentes em maior número e em todos
os territórios.

2 No atendimento à saúde de adolescente, alguns pontos devem ser considerados,


destacando-se o estabelecimento do vínculo de confiança entre Estratégia Saúde
da Família, as Unidades Básicas de Saúde, os adolescentes, suas famílias e os
estabelecimentos escolares. Mas para que isso ocorra da melhor forma possível, há
princípios e diretrizes do atendimento ao adolescente que precisam ser seguidos.
Com base na organização da atenção à saúde do adolescente e do jovem, analise as
sentenças a seguir:

I- Adequar os serviços de saúde às necessidades específicas de adolescentes,


respeitando as características da atenção local vigente, os recursos humanos e
materiais disponíveis.
II- Adequar as características socioeconômicas e culturais da comunidade, além do
ajustar o perfil epidemiológico da população local ao perfil apresentado por países
da Europa.
III- Estimular a participação ativa dos jovens nas ações de prevenção e promoção à saúde.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

175
3 Vários procedimentos podem ser desenvolvidos nas escolas, consistindo muitas
vezes em ações iniciais de acompanhamento básico de saúde de adolescentes, bem
como ações educativas em saúde que podem ser desenvolvidas em parceria com a
comunidade escolar. Quanto aos procedimentos relacionados ao acompanhamento
de crescimento e desenvolvimento que competem à equipe de saúde de Atenção
Básica, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Esclarecer sobre o desenvolvimento pessoal, relações humanas, projetos de vida e


outros temas correlatos.
( ) Solicitar que os adolescentes levem os cartões de vacina antigos e a Caderneta de
Saúde do Adolescente.
( ) Avaliar: Peso, Altura, IMC, Acuidade visual e Pressão arterial.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Adolescência e puberdade são dois termos usados com muita frequência, e que
exprimem conceitos diferentes. Disserte sobre o conceito de adolescência e puberdade.

5 Em termos ideais, devem existir dois momentos na consulta: o adolescente sozinho


e com o familiar/responsável. Mas sabemos que nem sempre o ideal é o realizado e
que o adolescente tem o diretor de ser atendido desacompanhado. Nesse contexto,
disserte sobre os cuidados que o enfermeiro e a equipe devem ter ao realizar o
atendimento de adolescentes desacompanhados.

176
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
CONSULTA DE ENFERMAGEM
AO ADOLESCENTE

1 INTRODUÇÃO
A atenção à saúde do adolescente aparece como um grande desafio para a
Organização dos Serviços de Saúde, visto que se trata de um grupo social em fase de
grandes e importantes transformações. A maioria dos problemas de saúde que acometem
essa população está diretamente relacionada a questões que podem ser prevenidas em
nível primário, como gravidez na adolescência, aumento do consumo de álcool e outras
drogas, causas externas, como acidentes automobilísticos, homicídios e suicídios, infecções
sexualmente transmissíveis (IST), dentre outros (COREN, 2020, p.15).

Para atender e contemplar essas demandas, podem ser usadas diversas


estratégias, sendo a consulta de enfermagem uma delas. A consulta de enfermagem
deve ser fundamentada no processo de “interação, investigação, diagnóstico, educação
e intervenção, baseada em uma relação de confiança e empatia, onde o enfermeiro
deve manter uma postura de compreensão e atenção a todas as informações, queixas e
necessidades que levaram o adolescente a procurar esse atendimento” (COREN, 2020, p.15).

Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 2, abordaremos os principais agravos na


adolescência, comportamentos de risco e importância de identificação desses problemas.

2 CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE


A organização do acompanhamento do adolescente na Atenção Básica deve ser
realizada de forma a garantir que se tenha espaço para consultas médicas, consultas
de enfermagem, grupos educativos e de adolescentes, visitas e todas as estratégias
necessárias para o devido seguimento do adolescente e jovem na unidade.

Não há consenso na literatura sobre o número de consultas necessárias para


que o seguimento ocorra adequadamente, sendo atribuído que o número mínimo de
consultas médicas ao ano, para adolescentes e jovens, deve ser de duas, enquanto a
consulta de enfermagem, pelo menos uma (BRASIL, 2013). Em outras literaturas, deixa-
se essas consultas menos espaçadas, dependendo principalmente da situação de risco
do jovem e adolescente (SÃO PAULO, 2015).

177
Percebe-se que cada unidade deve seguir o protocolo de atenção integral ao
adolescente do seu município/estado, assim como linhas de cuidado disponível. A figura
9 ilustra um fluxograma de atendimento ao adolescente.

Figura 9 – Fluxo de atendimento ao adolescente

Fonte: https://bit.ly/3IfW4qV. Acesso em: 11 maio 2023.

Para identificar a periodicidade das consultas de enfermagem, é utilizada a


classificação de risco, que possibilita o entendimento de cada situação, a organização
da atenção e da assistência, viabilizando assim os ajustes necessários a cada caso, e
sendo mais efetiva e resolutiva.

Que tal entendermos melhor quais os pontos importantes que devem ser
utilizados para avaliar a situação de risco inerente e não inerentes à faixa etária utilizada
para essa classificação de situação de risco? A figura 10 descreve essas situações,
dividindo-as em riscos inerentes à faixa etária e riscos não inerentes à faixa etária.:

178
Figura 10 – Adolescentes com riscos inerentes e com riscos não inerentes à faixa etária

Fonte: bit.ly/3IfW4qV. Acesso em: 11 maio 2023.

ATENÇÃO
A consulta de enfermagem direcionada para adolescentes e jovens
deve seguir as mesmas propostas de uma consulta geral, mas com a
direcionalidade para o seu público-alvo. A consulta de enfermagem deve
abordar o perfil do adolescente, aspectos sociodemográficos, condições
de saúde, fatores de risco, perspectiva de vida, queixas, enfermidades
ou situação de saúde atual, sexualidade, maturação sexual, cobertura
vacinal, dentre outros (COREN, 2020).

No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), apresentamos como sugestão


para registro da atividade o método SOAP do prontuário eletrônico do cidadão (PEC
e-SUS), que contempla os itens descritos na figura 11.

Figura 11 – Modelo SOAP para consulta de enfermagem

Fonte: https://bit.ly/3My9aSM. Acesso em: 13 abr. 2023.

179
DICA
Uma forma de registro considerada bastante efetiva para a prática clínica na
Atenção Básica é o Registro Clínico Orientado por Problemas (RCOP), uma
adaptação do Registro Médico Orientado por Problemas (originalmente
criado para o ambiente hospitalar), com seu componente denominado SOAP
(Subjetivo, Objetivo, Avaliação, Plano) (DEMARZO; OLIVEIRA; GONÇALVES,
s.d.). Que tal você conhecer um Instrumento de consulta de enfermagem
com Adolescente que use como referência o ESUS/SOAP par entender
melhor quais item contemplam o atendimento, sua sequência e demandas?
Acesse bit.ly/457uW75. Acesso em: 11 maio 2023.

Independentemente da forma de registro estipulada, é importante resgatar aqui


alguns aspectos referentes à consulta de enfermagem, sendo um desses pontos os
objetivos da consulta. Apesar do adolescente ter demandas específicas, é importante frisar
que, clinicamente, salvo em algumas doenças específicas, elas não diferem da clínica do
adulto ou da criança (GRILLO et al., 2011).

Olhe com atenção os itens comtemplados na Figura 12. Eles apontam objetivos
comuns que o enfermeiro deve ter atenção ao realizar a consulta de enfermagem a um
adolescente.

Figura 12 – Objetivos da consulta de enfermagem para adolescentes

Fonte: https://bit.ly/41KqEQr. Acesso em 14 abr. 2023.

180
Quando possível, é importante participação ativa dos adolescentes na
contribuição do preparo do ambiente de acordo com as suas características, pois isso
fará com que o adolescente identifique como “seu espaço”, ficando mais à vontade, mais
calmo e se sentindo seguro (SÃO PAULO, 2015)

Mas, de forma geral, existe uma lista de assuntos que você, como enfermeiro,
deve contemplar na sua abordagem, principalmente através da consulta. Na figura
13, temos as sugestões desses temas, mas lembre-se: não são estanques. É preciso
conhecer bem seu público, o que pode gerar demandas de temas distintos dos
apresentados aqui.

Figura 13 – O que a consulta de enfermagem deve contemplar

Fonte : bit.ly/3IfW4qV. Acesso em: 14 abr. 2023.

ATENÇÃO
É muito importante que, já durante a primeira consulta, sejam estabelecidos os “pactos”
ou “contratos” com o adolescente e sua família. Repassar as informações importantes
durante a consulta torna o processo mais transparente e faz com que os envolvidos
fiquem mais à vontade (BRASIL, 2015). É importante também entender que:
• É o momento oportuno de você, enquanto enfermeiro, explicar de forma clara e
objetiva sobre o sigilo da consulta, onde o que for dito pelo adolescente ao profissional
só será repassado aos pais com o consentimento deste. Claro que para toda regra há
exceções, sendo assim, em situações de risco de vida do adolescente ou de terceiros,
os pais serão prontamente notificados.
• Outro ponto importante é informar que o adolescente não precisa de acompanhantes
para passar em consulta, e que a presença dos pais, principalmente onde há conflitos
familiares presentes, pode prejudicar o seguimento.
• Seguindo esses mesmos princípios, quando o adolescente procurar o atendimento
sozinho e mostrar maturidade para se responsabilizar por seu tratamento, seus pais
serão convidados a comparecer somente se ele estiver de acordo.
• É fundamental que o enfermeiro disponha de tempo adequado para cada
atendimento, principalmente para a realização de uma abordagem integral e de
orientações preventivas. Não esquecendo-se dos retornos com períodos mais
próximos que podem ser necessários para estabelecer um vínculo de confiança e
esclarecer situações mais complexas.

181
• No caso do Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família, ao identificar
um adolescente com questões de risco ou de saúde mais complexa,
tem a necessidade de tentar expandir seu vínculo através do Agente
Comunitário de Saúde para auxiliá-lo no acompanhamento, incentivá-
lo a buscar mais vezes esse profissional para discutir e refletir sobre
seus problemas e também envolver toda a família (BRASIL, 2015).

Quando avaliadas as especificidades de gênero, o Ministério da Saúde (BRASIL,


2018, p.221 ) elenca como devem ser as orientações para o atendimento à saúde do
adolescente, atentando-se que as orientação descritas a seguir são comuns tanto às
adolescentes quanto aos adolescentes:

1. O adolescente precisa perceber que o profissional de saúde inspira confiança, que


adota atitude de respeito e imparcialidade, restringindo-se às questões de saúde
física. Não julga as questões emocionais e existenciais escutadas. Nesse terreno, o
profissional de saúde não deve ser normativo.
2. O adolescente precisa estar seguro do caráter confidencial da consulta, mas ficar
ciente também das situações nas quais o sigilo poderá ser rompido, o que, no entanto,
ocorrerá sempre com o conhecimento dele. Essas situações estão relacionadas a
riscos de morte do cliente e de outras pessoas.
3. É importante estar preparado não só para ouvir com atenção e interesse o que o
adolescente tem a dizer, mas também ter sensibilidade suficiente para apreender
outros aspectos que são difíceis de serem expressos oralmente por eles.
4. Geralmente, o atendimento de adolescente necessita de tempo e, na maioria das
vezes, demanda mais de um retorno.
5. O modelo clássico de anamnese clínica mostra-se inadequado ao atendimento do
adolescente na Unidade Básica de Saúde, pois não são considerados os aspectos
da vida social, de trabalho, da sexualidade, da situação psicoemocional e violência,
dentre outros.
6. Na maioria das vezes, o adolescente não procura o médico espontaneamente, é levado
pelos pais e, com certa frequência, contra a sua vontade. Assim, é comum defrontar-
se com um jovem ansioso, inseguro, com medo ou, pelo contrário, assumindo uma
atitude de enfrentamento, ou do mais absoluto silêncio.
7. Se o adolescente procurar a Unidade Básica de Saúde sem o acompanhamento dos
pais, ele tem o direito de ser atendido sozinho. No entanto, a equipe poderá negociar
com ele a presença dos pais ou responsáveis, se for o caso.
8. A entrevista inicial poderá ser feita só com o adolescente, ou junto da família. De
qualquer forma, é importante haver momento a sós com o adolescente, que será
mais de escuta, propiciando uma expressão livre, sem muitas interrogações, evitando
as observações precipitadas.
9. O exame físico exige acomodações que permitam privacidade e propiciem ambiente
em que o adolescente se sinta mais à vontade.

182
Você consegue perceber que, para realizar essas ações, o enfermeiro deve ter
segurança, propriedade e embasamento teórico e prático? Grillo et al. (2011, p.37) trazem
em seu material que para o desenvolvimento da consulta de enfermagem ocorrer da
melhor forma possível, é fundamental que o enfermeiro utilize os seguintes pontos que
podem facilitar a relação entre o profissional de saúde e o adolescente:

• Sigilo: o adolescente precisa estar seguro do caráter confidencial da consulta, mas


ficar ciente, também, das situações em que o sigilo pode ser rompido. Isso, no entanto,
deve ocorrer com o conhecimento do adolescente, transmitindo-se à família apenas
o que for absolutamente necessário, como nas situações de risco de morte do jovem
e de outras pessoas: gravidez, certos usos de drogas, risco de suicídio...
• Escuta: deve-se estar preparo não só para ouvir com atenção e interesse o que
o adolescente tem a dizer, mas também ter sensibilidade suficiente para apreender
outros aspectos do que se passa com ele e que lhe são difíceis de expressar
verbalmente. Para saber ouvir, deve-se estar atento para o que não é dito ou para o
que é dito em outras palavras.
• Tempo: o atendimento ao adolescente demanda tempo e certo grau de paciência e,
dependendo das questões em curso, quase sempre se faz necessário mais de um
contato, em que os diversos problemas podem ser abordados de forma adequada.
Igualmente, é importante que haja flexibilidade, evitando-se padrões rígidos.
• Identidade profissional: o adolescente precisa perceber, no profissional, alguém
que inspire confiança e respeito, e não que se pareça com seus pais e com seus
companheiros. Não é, portanto, interessante adotar comportamentos semelhantes
ao dos jovens nem atitudes características de um pai ou parente substituto.
• Família: em algumas circunstâncias, a família pode desejar conversar com o
profissional sem a presença do adolescente, o que deve ser permitido, obedecendo-
se aos mesmos critérios confidenciais adotados para o primeiro e respeitando-se o
acordo de sigilo estabelecido com ele. De qualquer forma, com mais ou com menos
participação e presença familiar, o adolescente deve estar no centro do atendimento,
seja na consulta, seja no acompanhamento do seu tratamento.

Conforme já discutimos nesta unidade, a consulta de enfermagem é atividade


privativa do enfermeiro, onde o processo de enfermagem organiza-se em cinco
etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes: histórico de enfermagem,
diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação
de enfermagem.

O profissional de saúde não deve ficar restrito a obter informações sobre o motivo
focal que levou o adolescente ao serviço de saúde, e sim conhecer o adolescente como
um todo, seguindo um roteiro de anamnese. Isso inclui a avaliação de como ele está se
sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando,
seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma como usa as horas de lazer,
suas vivências anteriores no serviço de saúde, expectativas em relação ao atendimento
atual e seus planos para o futuro (BRASIL, 2018).

183
Para a anamnese, a Figura 14 indica aos profissionais de saúde como obter
informações dos adolescentes, de ambos os sexos, com idades entre 10 e 19 anos:
perinatal, pessoal e familiar. Todos os dados obtidos na anamnese e exame físico
fornecerão subsídios para a elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS), do qual
devem participar o profissional/equipe de saúde, o adolescente e a família, quando
possível (BRASIL, 2018).

Figura 14 – Anamnese do adolescente

Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

Com essas perguntas, é possível diagnosticar a condição de saúde do


adolescente, sendo classificado como adolescente saudável ou adolescente vulnerável/
doente biológico ou psicossocial, e cada caso deverá ser avaliado de forma individualizada
segundo os achados (BRASIL, 2018).

No Histórico de Enfermagem ou levantamento de dados, é importante abordar


como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas
quais está passando, ao seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma
como utiliza as horas de lazer, as suas vivências anteriores no serviço de saúde, as
expectativas quanto ao atendimento atual e seus planos para o futuro se conhece a
rede da região (SÃO PAULO, 2015).

Além disso, a menarca, a espermarca, ciclo menstrual, tristeza, melancolia,


dificuldade em lidar com as frustrações, não se sentir compreendido, rejeições, uso de
drogas e ideia ou tentativa de suicídio são temas que podem estar presentes na vida de
alguns adolescentes e o fato de perguntar (se preocupar) é importante e estratégico, pois
abre uma possibilidade de identificação e pode reforçar a empatia entre o profissional e
o adolescente (SÃO PAULO, 2012).

Se o adolescente não estiver à vontade para responder, você, como enfermeiro,


poderá postergar essas questões para outro encontro e criar estratégias para abordar
da melhor forma esse assunto.

184
Quanto ao exame físico, é um momento para se avaliar o estado de saúde, o
autocuidado e para fornecer informações e orientações sobre as transformações físicas
e psicossociais que vêm ocorrendo, além de complementar os dados coletados no
histórico (SÃO PAULO, 2015).

• Sempre durante o exame físico é necessária a presença de outro profissional de


saúde no consultório para que preserve a ética em relação a interpretações diferentes
por parte do adolescente, resguardando o profissional. É importante esclarecer ao
adolescente, antes do exame, tudo o que vai ser realizado.
• Mantenha a discrição e não faça exclamações ou comentários durante o exame.
• Observar que a inspeção seja feita de forma segmentar, sempre cobrindo a região
que não está sendo examinada.
• Analisar cuidadosamente da cabeça aos pés.
• O adolescente deve ser orientado sobre a realização do exame físico passo a passo,
de forma que ele possa participar de todos os momentos da consulta, revelando
preocupações que havia omitido anteriormente, respeitando sempre seus pudores e
temores, adiando, se necessário, a realização do exame físico.
• A pressão arterial (PA), nos primeiros anos de vida, tem elevação gradual. Na
adolescência, há uma elevação mais rápida até chegar aos níveis pressóricos do adulto.
• A avaliação da PA deve ser uma rotina na consulta do adolescente, para permitir a
identificação precoce de hipertensão arterial.
• No exame das genitálias, sempre utilizar luvas, não devendo ser, obrigatoriamente,
realizado na primeira consulta.
• Ao final da consulta, esclarecer o adolescente sobre os diagnósticos de enfermagem
encontrados e a prescrição/ plano de cuidados, deixando claro o seu parecer quanto
ao estado de saúde do adolescente.
• Remarcar as consultas, mostrando disponibilidade para continuar o seu atendimento.
A frequência dos retornos dependerá do caso em questão.

Sempre que possível, deve-se realizar o exame físico completo na primeira


consulta. A Figura 15 demonstra o que perguntar, observar e determinar através do
exame físico do adolescente.

185
Figura 15 – Exame físico do adolescente

Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

Através do exame físico é possível categorizar o adolescente em normal


e anormal, ditando o acompanhamento, aconselhamento e tratamento, conforme
demonstra a Figura 16.

Figura 16 – Exame físico do adolescente e categorização dos casos

Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

2.1 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO


PUBERAL
Você sabia que, durante a adolescência, os dados antropométricos se
tornam ainda mais importantes e valiosos para o acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento? Mas é importante relatar que, apesar de muito importantes, é também
muito difícil obtê-los (BRASIL, 2013).

186
Tem- se dados que apontam que cerca de 20 a 25% da altura do indivíduo adulto
cresce nesse período, e 40 a 50% do seu peso final. Esses parâmetros são alcançados,
em média, durante o intervalo de 3 a 5 anos no estirão da puberdade (BRASIL, 2018).

Alguns pontos importantes devem ser observados, visando facilitar a atenção


ao crescimento e a avaliação da antropometria nessa fase. Em todas as consultas
clínicas, deve-se avaliar ( UNB, s.d.):

a) Estatura, IMC/Idade e os Estágios puberais de Tanner em todos os adolescentes


que compareçam ao serviço de saúde.
b) Medir a altura em antropômetro/estadiômetro de parede, com o adolescente
descalço, segundo técnicas de antropometria (OMS).
c) Pela recomendação, deve-se colocar o adolescente de pé, sem sapatos, tão ereto
quanto possível, com os olhos e as orelhas alinhados horizontalmente. Colocar a
prancha ou prancheta na cabeça, fazendo um ângulo de 90 graus, firmemente,
sobre a cabeça do adolescente, enquanto o examinador exerce uma pressão
suave de baixo para cima sobre o seu queixo, e lembra a ele que deve manter seus
calcanhares sobre o piso e fazer uma inspiração profunda para manter a medição
de sua altura. Anotar o dado no gráfico de Estatura/Idade.
d) Pesar em balança eletrônica ou balança mecânica (balança de braço aferida e sempre
zerada e tarada) com a adolescente vestindo roupas leves, sem sapatos ou adereços.
e) O peso deve ser utilizado para avaliar o Índice de Massa Corporal e o IMC deve ser
colocado nas curvas da OMS de IMC/Idade.
f) A velocidade máxima do estirão puberal também é variável de adolescente para
adolescente, ocorre 18 a 24 meses antes nas mulheres do que nos homens, com
uma variação média de 2 cm por ano, menor nas mulheres.
g) Os meninos crescem em média de 9,5 cm /ano no estirão puberal e as meninas, em
média, 8,0 cm/ano.
h) Um parâmetro importante para avaliar o estirão de crescimento puberal é a avaliação
da Velocidade de Crescimento (VC/ano), que pode ser feita instantaneamente,
avaliando-se por uma regra de três simples. Exemplo: adolescente de 12 anos,
avaliado em um período de 4 meses de intervalo entre a consulta, cresceu 4 cm
nesse período, tem uma velocidade média de 12 cm/ano, portanto está no estirão
puberal normal.
i) O máximo do ganho ponderal coincide com o estirão puberal nos homens, mas
ocorre 6 a 9 meses após o estirão puberal nas mulheres.
j) Os adolescentes podem apresentar um aspecto de excesso de peso no período
anterior ao estirão pubertário, sem que seja necessária a rotulagem de risco de
obesidade. Porém o valor de excesso de peso não pode ultrapassar 20% em relação
ao esperado para a altura/idade.
k) No início do estágio do estirão pubertário, a adolescente pode apresentar um
aspecto longilíneo e emagrecido, podendo ser classificada como de baixo peso
pelos indicadores peso e altura.

187
l) Investigar as principais causas de atraso caso o crescimento pré-puberal seja
menor que 4 cm/ano ou menor que 6 cm/ano em adolescentes na fase puberal.
m) Avaliar sempre a perda (desnutrição) ou ganho (sobrepeso/obesidade) de peso em
adolescentes.
n) Acompanhar semestralmente os adolescentes e, em caso de rastreamento de
riscos, acompanhar a cada 2 ou 3 meses.

ATENÇÃO
A avaliação da maturação puberal, segundo os estágios de Tanner,
em relação ao crescimento físico costuma ser uma demanda comum.
A utilização das pranchas de Tanner e das curvas de crescimento
inseridas na caderneta de saúde do adolescente é muito útil (GRILLO
et al., 2011). Leia com atenção a Caderneta de saúde do adolescente,
identifique os gráficos de crescimento e sua forma de preenchimento
em bit.ly/3BzAwlm e https://bit.ly/459j6JN. Acesso em: 11 maio 2023.

2.1.1 Critérios de Tanner


A monitorização do desenvolvimento puberal é feita pela classificação de
Tanner. O Estagiamento de Tanner é um instrumento da prática diária do profissional
que lida com adolescentes, sendo muito útil na determinação do estágio puberal em
que se encontra o adolescente, permitindo relacionar tal informação com a clínica.

Tanner sistematizou a sequência dos eventos puberais em ambos os sexos, em


cinco etapas, considerando, quanto ao sexo feminino, o desenvolvimento mamário e a
distribuição e a quantidade de pelos; e no masculino, o aspecto dos órgãos genitais e a
quantidade e a distribuição dos pelos pubianos.

Nas Figuras 17, 18 e 19 são mostrados resumidamente os eventos relacionados


ao Estagiamento de Tanner para ambos os sexos.

Figura 17 – Estágios de maturação sexual das pranchas de Tanner, para meninos e meninas

Fonte: bit.ly/42WnjPL. Acesso em 5 abr. 2023.

188
Figura 18 – Estágios de maturação sexual pranchas de Tanner, menina

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_atendimento_adolescnte_menina.pdf.
Acesso em: 11 abr. 2023.

Figura 19 – Estágios de maturação sexual pranchas de Tanner, menino

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_atendimento_adolescnte_menino.pdf.
Acesso em: 11 abr. 2023.

189
2.2 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
Outro ponto importante e necessário muita atenção é a alimentação na
adolescência. A adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta,
potencialmente determinada por fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais que
irão interferir diretamente na formação dos hábitos alimentares (BRASIL, 2001).

A nutrição tem papel crítico no desenvolvimento do adolescente, sendo o


consumo de dieta inadequada uma influência desfavorável sobre o crescimento
somático e maturação. Outro fator que influencia as necessidades nutricionais é a
realização de exercício físico (SÃO PAULO, 2015).

Atualmente, a preferência dos adolescentes por lanches rápidos, substitutos


das grandes refeições e principalmente do jantar, geralmente, favorece o desequilíbrio
na dieta. A combinação dos alimentos nem sempre é variada, resultando em cardápios
muito calóricos e pouco nutritivos. A associação entre esse estilo de vida pouco saudável
e o surgimento do elevado número de pessoas com sobrepeso e/ou obesidade, com o
aumento de doenças crônico-degenerativas (hipertensão arterial, diabetes, alteração
nos níveis de colesterol e triglicérides, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares)
constitui-se um problema prioritário de saúde pública, inclusive no grupo etário de
crianças e de adolescentes (BRASIL, 2018).

Para realizar a avaliação nutricional de adolescentes, o método mais adequado


é o índice de massa corporal (IMC) (BRASIL, 2018).

A Figura 20 descreve as principais orientações que o enfermeiro deverá realizar


com o intuito de melhorar o estilo de vida do adolescente:

Figura 20 – Orientações quanto à melhoria de estilo de vida

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacriancaedoales-
cente02012017.pdf. Acesso em 4 abr. 2023.

190
2.3 IMUNIZAÇÃO DO ADOLESCENTE
Quando avaliamos os imunobiológicos recomendados aos adolescentes e que
estão disponíveis na rede pública de saúde, temos:

• vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola);


• vacina contra hepatite B;
• vacina HPV (no SUS está disponível somente para as adolescentes);
• dupla adulto (dT–difteria e tétano); e
• febre amarela.

Figura 21 – Calendário vacinal do adolescente

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf.
Acesso em 17 abr. 2023.

É importante frisar que essas vacinas devem ser administradas após considerar
todo o histórico de vacinação do adolescente. É fundamental ter acesso à situação vacinal
atual e pregressa do adolescente, com o histórico de vacinas administradas na infância.

Esses dados devem ser conferidos através do cartão vacinal, e/ou da Caderneta
de Saúde do Adolescente.

191
ATENÇÃO
O conhecimento do Esquema Básico de Vacinação é fundamental para que se evite o
excesso ou a redução no número de doses, ambas as situações não são recomendadas
para o adolescente. De forma geral, a maioria dos adolescentes frequentemente apresenta
carteira de vacinação incompleta, com esquema básico de vacinação interrompido. Não é
necessário recomeçar o esquema por atraso de doses de qualquer vacina. Todas
as doses tomadas, independentemente do tempo, devem ser consideradas
se estiverem registradas no Cartão Vacinal ou na Caderneta de Saúde de
Adolescentes, que são documentos oficiais comprobatórios da situação
vacinal de cada indivíduo, com validade em todo o País. Nessa situação, deve-
se apenas completar o esquema. Caso a situação, seja não haver informação
disponível sobre vacinação anterior, seja a informação ser muito duvidosa,
recomenda-se considerar como não vacinado (SÃO PAULO , 2015).

Figura 22 – Avaliação do estado de imunização do adolescente

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf.
Acesso em 17 abr. 2023.

192
3 GRUPOS EDUCATIVOS NA ADOLESCÊNCIA
Uma pergunta importante de se realizar é: Quais temas trabalhar prioritariamente
com adolescentes e jovens? A melhor resposta que podemos dar a essa questão
é aquela que leva em consideração um levantamento de suas necessidades. Sendo
assim, dependerá do contexto e será mais bem realizado se for de maneira participativa,
com a colaboração dos próprios adolescentes e jovens, assim como de outros atores
das suas comunidades (SÃO PAULO, 2018).

Mas como conhecer essas necessidades? Pode ser através de caixas de


sugestões espalhadas em locais estratégicos, uso de rede sociais e mídias que
possibilitem o envio de mensagens, inquéritos e levantamentos juntos a órgão e pais/
responsáveis. São várias estratégias que podem ser usadas, sendo desde aquelas que
preservam o anonimato até aquelas que as pessoas possam enviar abertamente suas
sugestões, dúvidas e problemas. Há também a possibilidade de realizar dinâmicas em
escolas, e dos apontamentos realizados, traçar os próximos passos.

Quando avaliamos os temas tipicamente abordados no trabalho em saúde com


adolescentes e jovens, podemos dividir em quatro categorias:

• Temas como prevenção das IST e da AIDS, da gravidez na adolescência e do uso


de drogas, assim como o da alimentação, se for muito focado na prevenção da
obesidade, são geralmente tratados com ênfase nas atividades de controle, nos
traços negativos que caracterizariam esse grupo e, consequentemente, produzem
resistências e poucas vezes têm boa aceitação pelo grupo. Isso não significa que
esses temas não devam ser abordados, pois dizem respeito a questões importantes
para a saúde de adolescentes e jovens. Entretanto, é preciso romper com essa
tendência e adotar abordagens mais produtivas, que rompam com a tendência ao
controle e à estigmatização .
• Uma segunda categoria de temas típicos refere-se à inserção de adolescentes e
jovens no mundo adulto, enfocando “as dificuldades de adaptação na escola, os
desafios da relação ensino-aprendizagem, assim como os dilemas do primeiro
emprego”. Com esses temas, é preciso tomar cuidado para não responsabilizar os
indivíduos “em detrimento dos aspectos sociais que determinam as condições de
vida e saúde”.
• Educação, direitos, projeto de vida, trabalho, corpo, esportes e cultura formam outro
conjunto de temas igualmente importante para o trabalho em saúde, que precisa ser
abordado de uma maneira que rompa com a “ideia de compensação e salvação”.
• Enfim, atividades culturais, artísticas e esportivas ainda são pouco estimuladas
no âmbito do trabalho em saúde, embora ofereçam “uma grande oportunidade de
articulação intersetorial” (AYRES et al., 2012, p. 14). Pode-se acrescentar na lista de
temas a serem mais explorados, as relações sociais de raça e de gênero (em termos
de diversidades e de desigualdades); a religiosidade e as religiões; as diversas formas
de violência, de preconceito e de discriminação; a saúde mental; a relação com o

193
corpo; o próprio tema da adolescência e da juventude, dentre outros. Nesse âmbito, a
criatividade é mais do que bem-vinda, pois abordar um tema inédito torna as relações
entre profissionais e participantes mais genuínas e horizontais, na medida em que
ambos têm algo a aprender sobre o assunto elencado (SÃO PAULO , 2018).

Mas você sabe o que é o trabalho com grupos e qual a sua importância?

3.1 METODOLOGIAS DE TRABALHO COM GRUPOS


Quando falamos de grupos, sua importância, uso e repercussão, temos
basicamente duas linhas antagônicas. Uma, onde os grupos são muitas vezes
mal compreendidos e utilizados de maneira inadequada, tornando-os sem grande
atratividade, esvaziados e pouco resolutivos. Em contrapartida, temos uma outra
vertente, que demonstra que o trabalho com grupos pode ser interessante e resolutivo,
pois, em pouco tempo, atinge um maior número de pessoas, que se apoiam mutuamente,
compartilham de opiniões e tornam as ações do grupo resolutiva e duradoura.

Quando fazemos essa análise olhando especificamente para os grupos de


adolescentes, temos respostas positivas, visto que o adolescente se sente acolhido por ter
um grupo de iguais, que vivenciam o mesmo momento existencial, e isso pode ser usado
como uma forma de identificação e trazer mais segurança para os participantes, visto que
o grupo pode ser visto como um momento de desligamento da família, funcionando como
um intermediário entre o grupo familiar e o laço social (GRILLO et al., 2011).

194
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Como realizar a consulta de enfermagem voltada para o adolescente/jovem e a


importância da sua organização para o adequado seguimento dessa população.

• A importância de avaliar a alimentação na adolescência e o impacto de hábitos não


saudáveis em médio e longo prazo.

• Que o calendário vacinal do adolescente corre risco de estar incompleto, sendo


necessária a atuação assertiva do enfermeiro para analisar, atualizar e registrar as
vacinas realizadas no cartão vacinal ou caderneta do adolescente.

• A importância dos grupos educativos, como espaços de discussões seguros,


resolutivos e organizados.

• As etapas de maturação puberal e as transformações físicas relacionadas à fase da


adolescência.

195
AUTOATIVIDADE
1 O conhecimento do Esquema Básico de Vacinação é fundamental para que se
evite o excesso ou a redução no número de doses (ambas as situações não são
recomendadas para o adolescente). De forma geral, a maioria dos adolescentes
frequentemente apresenta carteira de vacinação incompleta, com esquema básico
de vacinação interrompido. Sobre o esquema vacinal no adolescente, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) É necessário recomeçar o esquema por atraso de doses de qualquer vacina.


b) ( ) Todas as doses tomadas, desde que no último ano, devem ser consideradas se
estiverem registradas no Cartão Vacinal ou na Caderneta de Saúde de Adolescentes.
c) ( ) Caso a situação seja de não haver informação disponível sobre vacinação
anterior, ou se a informação for muito duvidosa, recomenda-se considerar como
não vacinado.
d) ( ) O Cartão Vacinal ou a Caderneta de Saúde de Adolescentes não que são
documentos oficiais comprobatórios da situação vacinal de cada indivíduo.

2 Com base nos objetivos da consulta de enfermagem direcionada para adolescentes


e jovens, analise as sentenças a seguir:

I- No histórico de enfermagem ou levantamento de dados, é importante abordar


como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas
quais está passando, o seu relacionamento com a família e com seus pares.
II- Sempre durante o exame físico é necessária a presença de outro profissional
de saúde no consultório para que preserve a ética em relação a interpretações
diferentes por parte do adolescente, resguardando o profissional.
III- Dentre as orientações, é importante reforçar que o adolescente precisa de
acompanhantes para passar em consulta, e que a presença dos pais é positiva para
o seguimento, pois o adolescente não apresenta maturidade para se responsabilizar
por seu tratamento.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

196
3 Um adolescente é acompanhado pelo enfermeiro da unidade de saúde e apresenta:
impulsividade, imaturidade, obesidade, tem histórico de uso de drogas, é residente
em uma comunidade e seus pais são alcoólatras. O enfoque de risco auxilia a equipe
a planejar o acompanhamento do adolescente priorizando as ações preventivas e
assistenciais. De acordo com a classificação de riscos inerentes à faixa etária ou não,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A impulsividade, imaturidade, obesidade e alcoolismo familiar são características


avaliadas como fatores de risco inerentes à faixa etária.
( ) O histórico de uso de drogas e o fato de seus pais serem alcoólatras entram como
características avaliadas como situação de risco não inerentes à faixa etária.
( ) Esse adolescente não tem situações de risco que não sejam inerentes a sua
faixa etária.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 É muito importante que já durante a primeira consulta sejam estabelecidos os


“pactos” ou “contratos” do profissional de saúde junto ao adolescente e sua família.
Repassar as informações importantes durante a consulta torna o processo mais
transparente e faz com que os envolvidos fiquem mais à vontade. Disserte sobre
os pontos importantes que precisam ser repassados ao adolescente referentes aos
atendimentos.

5 Ao se avaliar o atual quadro epidemiológico brasileiro quanto a doenças nutricionais,


tem-se que a desnutrição diminuiu nas últimas décadas e o sobrepeso e a obesidade
aumentaram de forma considerável, coexistindo com as deficiências nutricionais.
Temos um cenário onde um 1/5 dos adolescentes apresentam excesso de peso
e inadequação da ingestão de nutrientes e vitaminas. Esse cenário deixa clara a
importância do seguimento para adolescentes e jovens com orientações adequadas
(BRASIL, 2014 ). Nesse contexto, quais são as orientações que devem ser realizadas
pelo enfermeiro no intuito de melhorar o estilo de vida do adolescente e/ou jovem?

197
198
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
Sendo a adolescência o período entre a infância e a vida adulta, é também o
período do crescimento humano e a fase da vida onde os jovens questionam a existência,
os paradigmas sociais e culturais, se rebelam e se revelam (UNB , s.d.).

É comum que nessa fase o sujeito comece a interagir com o mundo externo
de modo mais autônomo sem, aparentemente, ter de assumir as responsabilidades da
vida adulta.

Essa interação do adolescente com o mundo externo é de extrema ambivalência,


visto que, se por um lado não lhe é exigido assumir os compromissos da vida adulta, por
outro, não lhe é permitido “comportar-se” como uma criança. Na indecisão de como
se conduzir, o adolescente se arrisca, oscilando entre condutas de risco “calculado” –
decorrente de uma ação pensada – e do risco “insensato”, em que, gratuitamente, se
expõe, com grande chance de ocorrerem insucessos, podendo comprometer sua saúde
de forma irreversível (UNB , s.d.).

Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 3, abordaremos os principais agravos na


adolescência, comportamentos de risco e importância de identificação desses problemas.

2 PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA


Com certeza você já leu ou viu notícias sobre acidentes envolvendo jovens
embriagados, realizando automutilação, exploração sexual e meninas grávidas na
adolescência. São assuntos, infelizmente, recorrentes para a enfermagem. Sendo
assim, vamos abordar os principais agravos que os adolescentes estão suscetíveis e as
principais intervenções da enfermagem.

2.1 OBESIDADE
O desenvolvimento precoce da obesidade vem apresentando cifras alarmantes
entre crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo, sendo um problema de saúde
pública que tende a se manter em todas as fases da vida. O excesso de peso como
problema de saúde pública tem suplantado, em muito, o baixo peso para estatura no
Brasil e em outros países (BRASIL, 2018).

199
Obesidade é uma consequência do aumento da gordura corporal em relação
à massa muscular. É uma doença multicausal, em que ocorre a interação de fatores
genético-metabólicos e do meio ambiente. Representa um importante problema de
saúde pública. O Índice de Massa Corporal [IMC = peso (Kg)/altura2 (m2)] é considerado
bom indicador de magreza ou excesso ponderal na adolescência e, por isso, é comumente
usados em estudos epidemiológicos (BRASIL, 2018).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescentes com sobrepeso


são aqueles que apresentam IMC situado entre z-escore+2 e adolescentes obesos
aqueles com z-escore maior que +2. O adolescente obeso tem grandes chances de
tornar-se um adulto obeso com probabilidade de apresentar complicações clínicas,
pondo em risco sua sobrevida em curto prazo.

Conduta: manutenção de peso tão próximo do normal quanto às características


fisiológicas do indivíduo permitirem.

O tratamento consiste em normalizar (não restringir) o consumo de alimentos;


aumentar a movimentação corporal, especialmente os exercícios aeróbicos; e atentar
para as condições sociais e emocionais .

São consequências da obesidade:

• Hipertensão arterial, hiperlipidemia, doença cardiovascular, cálculos biliares,


diabetes.
• Irregularidades menstruais, infertilidade, gravidez de risco, eclâmpsia e pré-
eclâmpsia, maior possibilidade de infecção no puerpério.
• Diminuição dos níveis de testosterona e maior chance de desenvolver a
ginecomastia púbere.
• Isolamento social, baixa autoestima, depressão, dificuldade de aceitação
pelo grupo (SÃO PAULO, 2015).

Quanto à consulta de enfermagem direcionada à obesidade, é importante


estabelecer objetivos e intervenções individualizadas, baseadas na idade, grau de
obesidade, fatores comportamentais, psicológicos, sociais e na presença de comorbidades
(SÃO PAULO, 2015).

O objetivo principal do atendimento é fornecer recomendações para mudanças


na dieta e atividade física, que podem ser implementadas dentro do ambiente familiar e
que promovam a saúde, crescimento e desenvolvimento adequados.

O envolvimento da família é fundamental para auxiliar a mudança no


comportamento alimentar dos adolescentes. Sendo assim, é necessário capacitar
os pais a fim de facilitar a mudança e comportamento dos adolescentes para uma
alimentação saudável e um estilo de vida mais ativo (SÃO PAULO, 2012). Na Figura 23,
temos a proposta de investigar o histórico de enfermagem e o que observar no exame
físico referente à obesidade.
200
Figura 23 – Histórico de enfermagem e exame físico ao adolescente obeso

Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacriancaedoales-
cente02012017.pdf. Acesso em 14 abr. 2023.

2.2 TRANSTORNOS ALIMENTARES – ANOREXIA NERVOSA


E BULIMIA
Ainda que as necessidades nutricionais sejam influenciadas simultaneamente
pelos eventos da puberdade e pelo estirão do crescimento, na adolescência o padrão
alimentar é determinado por vários fatores que variam de pessoas, ambientais e
macroambientais. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (2018), dentre os fatores
ambientais, podemos incluir as crenças, preferências alimentares, atitudes e maturidade.

Os fatores ambientais incluem a influência da família, amigos, escola, normas


culturais e sociais. Os fatores macroambientais são determinados pela disponibilidade
dos alimentos, produção alimentar, propaganda e influência da mídia digital (SOCIEDADE
BRASILILEIRA DE PEDIATRIA, 2018).

Cinco eventos têm influência direta sobre o equilíbrio nutritivo :

• Início da transformação pubertária.


• Aceleração do crescimento longitudinal.
• Aumento da massa corporal.
• Modificação da composição corporal.
• Variações individuais quanto à atividade física (SOCIEDADE BRASILILEIRA DE
PEDIATRIA, 2018).

É importante frisar que a alimentação inadequada na adolescência pode levar


a risco imediato ou de longo prazo de desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis como hipertensão, doença arterial coronariana, dislipidemias, obesidade,
diabetes e osteoporose (SÃO PAULO, 2015).

201
2.2.1 Anorexia nervosa
Segundo Brasil (2018, p. 124), a anorexia nervosa é um distúrbio emocional e
alimentar caracterizado por:

• Recusa de manter um peso corporal em harmonia com a altura, que é, no mínimo,


15% abaixo do esperado para uma determinada estatura.
• Intenso medo de ganhar peso e engordar.
• Distorção da imagem corporal, como sentir-se gordo, quando, na verdade, está
muito magro.
• Ocorre com mais frequência em jovens, muitas vezes na adolescência, de camadas
socioeconômicas mais elevadas, e está relacionada com o ideal estético veiculado
pela mídia e reforçado pela cultura de consumo de beleza.
• Cursa com transtornos relacionados com a desnutrição e alterações endócrinas.
Amenorreia (falta de menstruação) é uma das principais características da anorexia
nervosa.

A anorexia nervosa afeta, principalmente, jovens adolescentes, frequentemente


entre os 13 e 17 anos, do sexo feminino, que voluntariamente reduzem a ingestão
alimentar por um medo mórbido de engordar, com perda progressiva e desejada de
peso, chegando a graus extremos de caquexia, inanição e até a morte. As estimativas
de mortalidade giram em torno de 15% a 20% (SÃO PAULO, 2015).

Geralmente, o quadro é desencadeado por um fator estressante como, por


exemplo, comentários sobre o peso, pressão profissional ou uma ruptura afetiva. Apesar
de emagrecido, o adolescente costuma perceber-se gordo ou desproporcional, o que se
denomina insatisfação ou distorção da imagem corporal. A perda de peso constitui-se
no grande objetivo do adolescente, que faz uso de dietas severas, períodos de jejum,
pratica exercícios físicos em exagero e usa ou abusa de medicações laxativas, diuréticas
e/ou inibidores do apetite (SÃO PAULO, 2015).

A principal conduta é a avaliação clínica a fim de verificar risco de vida devido à


desnutrição e procurar fazer diagnóstico diferencial com outras doenças psiquiátricas,
como, por exemplo, a depressão. Procurar conhecer a estrutura familiar e de suporte
social. É fundamental a atuação de um profissional da área de Saúde Mental do Nasf e
do apoio de nutricionista (BRASIL, 2018).

Ao realizar a consulta, o enfermeiro deve levar em conta que o adolescente


tem dificuldade em dizer o que está sentindo ou pensando, portanto, será importante
a comunicação extraverbal usando desenhos, por exemplo. Esse adolescente tem uma
baixa autoestima e imagem corporal perturbada (SÃO PAULO, 2015).

202
2.2.2 Bulimia
Os critérios para o diagnóstico de bulimia pelo Manual das Desordens Mentais
(1994), Diagnóstico e Estatística (DSM-IV), incluem os seguintes itens:

1 – Episódios de ingestão excessiva com sensação de perda de controle (às vezes em


períodos de duas horas, ingerem quantidades consideradas muito grandes, que
outras pessoas não afetadas não ingeririam nesse mesmo período nem nessas
circunstâncias).
2 – A ingestão excessiva é compensada por comportamento de expurgo (vômitos
autoinduzidos, laxantes ou diuréticos) ou não expurgo.
3 – A ingestão excessiva e os comportamentos compensatórios ocorrem pelo menos
duas vezes por semana, por três meses.
4 – Insatisfação com a forma do corpo e com o peso.

Esses acessos incontroláveis de ingestão alimentar ocasionam sentimentos de


baixa autoestima, culpa, vergonha, depressão levando ao isolamento social, evitando
reuniões sociais ou viagens. A etiopatogenia da bulimia nervosa também inclui, com
grande frequência, conflitos familiares, história de abuso sexual na infância e questões
sobre o desenvolvimento de feminilidade (SÃO PAULO, 2012).

Geralmente, o início dos sintomas ocorre nos últimos anos da adolescência até
os 40 anos, estando a idade média de início em torno dos 20 anos de idade. É mais
frequente no sexo feminino, na mesma proporção da anorexia nervosa. Durante um
episódio bulímico, a maior parte dos alimentos consumidos são doces e carboidratos,
podendo ingerir cerca de 6 mil a 15 mil calorias (SÃO PAULO, 2015).

A paciente pode ser eutrófica ou até mesmo apresentar sobrepeso. Sintomas


depressivos acompanham a bulimia. Apresentam risco de vida durante estes surtos
devido aos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos desencadeados pelos vômitos,
uso de laxantes e diuréticos (BRASIL 2018).

A conduta esperada é avaliar a história do adolescente e os riscos para depressão. É


fundamental o acompanhamento por profissionais da Saúde Mental do Nasf e/ou referenciar
para serviços especializados com equipe multidisciplinar, de preferência formada por
especialista de Saúde Mental, nutricionista e clínico (BRASIL, 2018).

2.3 TRANSTORNOS EMOCIONAIS – DEPRESSÃO E ANSIEDADE


A depressão é uma síndrome clínica caracterizada por um distúrbio persistente
do humor e um comportamento disfuncional. Geralmente inclui tristeza, infelicidade,
retraimento social, dificuldade de concentração, problemas alimentares, perturbação
do sono e perda de interesse nas atividades habituais. Cerca de 60% dos adolescentes
abordados em consulta médica relatam ter sentimentos de depressão, com frequência
maior entre as mulheres (BRASIL, 2018).
203
Na adolescência, uma série de fatores pode levar à depressão:

• A relação malsucedida com os pares: a perda de um(a) parceiro(a), a exclusão do


grupo de pares, ausência de apoio dos companheiros, dificuldades pessoais de estar
com os amigos.
• As dificuldades relacionais com a família: falta de independência, comunicação
precária, pouca disponibilidade dos pais, problemas com os pais.
• As experiências escolares: baixo rendimento escolar, conflito com os professores e
colegas, expectativas muito elevadas dos pais com relação aos filhos, que podem
chocar com as tendências e desejos dos adolescentes.
• Autoimagem ruim: insatisfação com a própria aparência física, falta de segurança
com relação a si próprio, visão de futuro sem projetos ou esperanças. Conduta: Ouvir
o adolescente. Quando necessário, realizar interconsulta ou atenção conjunta aos
profissionais da Saúde Mental dos Nasf (BRASIL, 2018).

A ansiedade é inerente a qualquer pessoa, importante para processos


adaptativos e para o desenvolvimento integral das pessoas. Assim, a forma como a
criança e o adolescente são atendidos em suas necessidades, nos ambientes onde
circula e vai desenvolvendo a sua sociabilidade e individuação, pode possibilitar o
aprendizado de aprender habilidades para lidar com as adversidades e o fortalecimento
de sua capacidade de resiliência (UNB, s. d.).

A ansiedade é um sinal normal de alerta que prepara o indivíduo ao perigo, um


estado de humor desagradável, apreensão negativa em relação ao futuro e inquietação
desconfortável; sendo constituída por manifestações somáticas (cefaleia, dispneia,
taquicardia, tremores, vertigem, sudorese, parestesias, náuseas, diarreia etc.) e
psíquicas (inquietação interna, insegurança, insônia, irritabilidade, desconforto mental,
dificuldade para se concentrar etc.); configura um transtorno quando sua intensidade,
duração, frequência e repercussão sintomática extrapolam a normalidade, segundo
desenvolvimento e vivências de cada adolescente (SILVA FILHO; SILVA, 2013).

Estimativas do Ministério da Saúde definem que cerca de 10% a 20% da população


de crianças e adolescentes sofram de transtornos mentais. Desse total, de 3% a 4%
necessitam de tratamento intensivo. Entre os males mais frequentes está a deficiência
mental, o autismo, a psicose infantil e os transtornos de ansiedade (UNB, s.d.).

Medidas preventivas e ações promocionais no âmbito da atenção básica são


essenciais para mudanças no desenvolvimento e comportamentos da população com
implicações na saúde mental da população infanto-juvenil.

204
2.4 COMPORTAMENTO DE RISCO – DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS
O consumo de drogas é um fenômeno universal, histórico e social. Entretanto,
vale enfatizar que o uso abusivo de medicamentos prescritos pode representar uma
dependência química. Um dos principais problemas de combate ao uso de drogas é
o fato de a sociedade sempre ter sido ambígua e incoerente frente ao seu consumo
(BRASIL, 2018).

Dada a complexidade multifatorial que envolve o uso abusivo de drogas, a sua


abordagem deve ser realizada de forma interdisciplinar. Tratando-se de um problema
humano, nele estão envolvidos o indivíduo, a família, a escola, a sociedade e a cultura.

• Uso abusivo – todo consumo de droga que causa dano físico, psicológico, econômico,
legal ou social ao indivíduo que a usa ou a outros afetados pelo seu comportamento.
• Intoxicação – mudanças no funcionamento fisiológico, psicológico, afetivo, cognitivo
ou de todos eles como consequência do consumo excessivo.
• Dependência – estado emocional e físico caracterizado pela necessidade urgente da
substância pelo seu efeito positivo ou para evitar o efeito negativo associado a sua
ausência.

Por que os adolescentes usam drogas?

• Para experimentar sensações diferentes.


• Para se sentirem melhor.
• Para alívio de emoções desagradáveis.
• Por insegurança.
• Para ser aceito pelo grupo de amigos.
• Devido à baixa autoestima.
• Para questionar os valores dos pais e/ou adultos responsáveis.
• Em busca de mudanças de humor, nível de consciência ou na percepção de mundo
(BRASIL, 2018).

O que se espera da equipe de saúde é que:

• No acolhimento, seja favorecida a formação de vínculos e o exercício do cuidado,


proporcionando segurança e tranquilidade para que adolescentes e suas famílias possam
falar de angústias, dúvidas e aflições e sentirem-se acolhidos pela unidade de saúde.
• Esteja apta para identificar os adolescentes com problemas relacionados com a
ingestão aguda e crônica de drogas, bem como reconhecer suas possibilidades e
limites no manejo e encaminhar adequadamente aos serviços de referência.
• Atue nas escolas do bairro, organizações juvenis e junto às famílias buscando entender
o que leva ao uso, as regras de convivência, as regras sociais da comunidade, as
possibilidades de autocuidado e promovendo sistematicamente atividades (BRASIL,
2018). Estas atividades devem ser criativas, bem-humoradas e de fácil assimilação,

205
para que os adolescentes se sintam envolvidos.
• Esteja bem-informada quanto à farmacologia, efeitos e complicações das principais
drogas usadas na região, procurando saber os tipos mais frequentes de drogas
usadas pelos adolescentes.
• Conheça as leis municipais, serviços judiciários e os conselhos tutelares para o
encaminhamento sempre que necessário.
• Desenvolva atividades de promoção de saúde com a participação de adolescentes na
decisão de não fumar. Deve-se ficar atento ao fato de que o indivíduo pode evoluir da
sua condição de fumante experimental para dependente da nicotina num período de
um ano ou menos (BRASIL, 2018).

Para se avaliar a vulnerabilidade no uso de drogas, a imagem 24 propõe


perguntas, formas de observar e avaliar o adolescente.

Figura 24 – Perguntar, observar e avaliar a vulnerabilidade no uso de drogas

Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em 14 abr. 2023.

Após a aplicação dos elementos apresentados na Figura 24, é possível realizar a


classificação de risco no uso de drogas, conforme demonstra a Figura 25.

206
Figura 25 – Classificação de risco no uso de drogas

Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023.

2.5 SAÚDE BUCAL DO ADOLESCENTE


As doenças bucais de alta prevalência prejudicam o crescimento e o
desenvolvimento, afetando a imagem corporal, a estética, a mastigação e a fala, além de
dificultar o acesso ao mercado de trabalho. Em geral, o adolescente não procura a UBS
para resolver seus problemas de saúde. No entanto, quando envolve questões estéticas
e imagem corporal, o fazem com maior facilidade, e nesse sentido a equipe de saúde
bucal pode se tornar a referência para o vínculo e a porta de entrada do adolescente na
equipe de saúde (BRASIL, 2018).

• São exemplos de doenças/problemas frequentes na adolescência:


• Cárie dentária.
• Doença periodontal.
• Traumatismos dentários.
• Câncer bucal.
• Halitose.

Dicas para favorecer a adoção de hábitos bucais saudáveis pelos(as)


adolescentes:

• Quanto melhor o exemplo positivo dos pais, melhor a percepção dos adolescentes da
importância da saúde bucal.
• Uma das principais razões apontadas pelos adolescentes com o cuidado insuficiente
em saúde bucal foi a falta de tempo.
• Ações coletivas em saúde bucal são eficazes no combate das doenças prevalentes
da cavidade bucal (cárie dentária e doença periodontal) e na incorporação de hábitos
saudáveis.

207
• Atividades de educação em saúde bucal são as ações coletivas mais difundidas, use
temas mobilizadores como o “beijar”, a importância da função estética dos dentes,
ascensão social e progressão no trabalho em função dos dentes, a boca como
manifestação de afetividade e sexualidade, dentre outros (BRASIL, 2018).

2.6 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA


Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de partos no Brasil vem
decrescendo nos últimos anos, chegando em 2007 a 23% de partos realizados na faixa
etária entre 15 e 19 anos e 1% de 10 a 14 anos. Esse fato deve-se à intensificação das
campanhas em relação ao uso de preservativo, disseminação de informação quanto
aos métodos anticoncepcionais e um maior acesso da população aos serviços de saúde
(SÃO PAULO, 2015).

Apesar desse decréscimo, a gravidez na adolescência continua sendo um


fator preocupante no caso de situação de risco. As consequências da gravidez serão
agravadas de acordo com a idade, paridade, aderência ao pré-natal, ganho ponderal
e fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais da adolescente. Até o momento,
não existem estudos suficientes que ressaltem diferenças clínicas e obstétricas entre
adolescentes grávidas e grávidas de outras faixas etárias, desde que o pré-natal seja
adequadamente assistido (SÃO PAULO, 2015).

É importante lembrar que gestantes menores de 16 anos necessitam ser


acompanhadas pelos serviços de referência devido ao potencial de risco. Envolve a
necessidade de reestruturação e reajustamento em várias dimensões: em primeiro
lugar, verificam-se mudanças de identidade e uma nova definição de papéis – a mulher
passa a se olhar e a ser olhada de uma maneira diferente (SÃO PAULO, 2015).

2.7 VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA


O Ministério da Saúde adota o conceito de violência utilizado pela Organização
Mundial da Saúde, segundo o qual violência é o uso intencional da força física ou do
poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo
ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão,
morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (BRASIL, 2010).

Para a violência que acomete crianças e adolescentes, o Ministério da Saúde


define: quaisquer atos ou omissões dos pais, parentes, responsáveis, instituições e,
em última instância, da sociedade em geral, que redundam em dano físico, emocional,
sexual e moral às vítimas (BRASIL, 2001).

208
Para realçar os aspectos e as relações entre os diferentes tipos e natureza da
violência, o modelo proposto pela Organização Mundial da Saúde classifica a violência
em três grandes categorias, divididas em tipos de violência mais específicos, segundo
a violência praticada contra si mesmo (autoprovocada), por indivíduos ou grupos
(interpessoal) e por organizações maiores (coletiva) praticada por estados, grupos
armados, milícias e grupos terroristas. Esses tipos são relacionados à sua natureza
física, sexual e psicológica, além da negligência/abandono, conforme a Figura 26.

Figura 26 – Tipos e natureza das principais violências que atingem crianças e adolescentes

Fonte: file:///C:/Users/Debora/Downloads/linha_cuidado_criancas_familias_violencias%20(1).pdf. Acesso


em 14 abr. 2023.

A: a notificação de quaisquer situações de suspeita ou confirmação de violação


de direitos de crianças e adolescentes é compulsória e deve ser realizada junto ao
Conselho Tutelar ou ao Juizado da Infância e Juventude de cada município. A notificação
compulsória é estabelecida pelo Artigo n. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA): https://bit.ly/3pKVA5I. Acesso em: 11 maio 2023.

São sinais de alerta de violência: quando o adolescente por medo, vergonha


ou outro motivo se sente compelido a negar a violência que sofreu ou está sofrendo, o
diagnóstico da situação é desafiador e complexo (BRASIL, 2018).

Para todas as situações é importante que o profissional de Saúde estabeleça


com o adolescente uma relação de respeito e confiança, promovendo o acolhimento e
os cuidados em saúde necessários. O profissional de Saúde precisa estar atento a um
conjunto de sinais e indícios que poderão levá-lo à suspeita de violências (BRASIL, 2018).

Infelizmente, na maioria das vezes, adolescentes não tomam a iniciativa de


relatar ao profissional de Saúde que foi ou está sendo vítima de algum tipo de violência.
Sentimentos de vergonha, culpa, medo e impotência mesclam-se com tentativas
de “esquecer o que passou”, dúvidas sobre a possível reação do profissional e as
consequências que tal denúncia poderá acarretar.

209
Então, é fundamental que o enfermeiro:

• Esteja atento a explicações que não justifiquem claramente um ferimento,


hematoma, fratura ou outra marca no corpo, registrando com detalhes no
prontuário.
• Acredite nos relatos do adolescente. Se qualquer adolescente relata ter
sofrido violência física ou sexual, sua afirmação deve ser encarada com
total respeito e seriedade, jamais com ceticismo ou minimização.
• Promova o atendimento respeitando princípios éticos de sigilo e privacidade.
• Fique atento a situações como fuga do lar, ameaças ou tentativa de
suicídio, prática de delitos, gravidez em idades no início da adolescência,
multiplicidade de parceiros(as) sexuais, depressão, uso abusivo de álcool e
outras drogas e violência intrafamiliar.

DICA
Quer saber mais sobre o assunto violência? Leia "Linha de cuidado para
a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em
situação de violências: orientação para gestores e profissionais de saúde,
MS, 2010", disponível em: https://bit.ly/459cknd. Acesso em: 11 maio 2023.

3 SUICÍDIO E AUTOLESÃO NA ADOLESCÊNCIA


O suicídio é a terceira causa mais comum de morte entre adolescentes e jovens
do sexo masculino. As tentativas de suicídio, principalmente em mulheres, correspondem
à principal causa de procura de atendimento de urgência por adolescentes e jovens. Mais
da metade dos adolescentes e jovens que morreram por suicídio já haviam experimentado
a tentativa de suicídio pelo menos uma vez. A ingestão de altas doses de medicamentos
constitui o método mais comum de se tentar suicídio entre as mulheres. Os adolescentes do
sexo masculino usam mais as armas de fogo e o enforcamento (BRASIL, 2017).

Segundo Brasil (2017) a conduta geral é: o adolescente pode ser abordado


sobre pensamentos suicidas, independentemente de parecer ou apresentar sintomas
de depressão. Deve-se avaliar o grau de risco para suicídio por intermédio dos seguintes
indicadores:

• Individuais: autoestima baixa, fracasso escolar, isolamento, sinais de transtornos


orgânicos e psicológicos, uso e abuso de drogas, dificuldades com a própria identidade
de gênero, sentimentos de exclusão.
• Familiares: dissociação familiar, relacionamento desarmônico entre os pais,
comunicação comprometida com a família, falta de apoio dos pais e violência na família.

210
• Sociais: características do grupo de companheiros, que podem apresentar valores
em conflito com a realidade pessoal e social, além das dificuldades de se integrar nas
normas culturais. Quando necessário, realizar interconsulta, ou atenção conjunta aos
profissionais da Saúde Mental dos Nasf, e/ou referenciar para centro de especialidades
em saúde mental.

211
LEITURA
COMPLEMENTAR
PROTOCOLO DE ENFERMAGEM DA SAÚDE DO ADOLESCENTE NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE

Coren, Mato Grosso do Sul

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define adolescência o período entre os


10 e 20 anos incompletos. Entretanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
define adolescentes entre 12 e 18 anos. O começo da adolescência é marcado pelo início
da puberdade, e o final da adolescência, tanto na teoria como na prática, não permite
critérios rígidos (PATRÍCIO et al., 2009).

A adolescência diz respeito à passagem da infância para a idade adulta,


enquanto a puberdade refere-se às alterações biológicas que possibilitam o completo
crescimento, desenvolvimento e maturação do indivíduo, assegurando a capacidade
de reprodução e preservação da espécie. O crescimento e desenvolvimento são
eventos programados geneticamente, porém, fatores inerentes ao indivíduo e fatores
ambientais podem induzir modificações neste processo. A puberdade, considerada uma
etapa inicial ou biológica da adolescência, caracteriza-se pela ocorrência de dois tipos
de mudanças no sistema reprodutivo sexual (BRASIL, 2008).

Em primeiro lugar, as características sexuais primárias que nas “meninas”


referem-se às alterações dos ovários, útero e vagina; e nos “meninos”, testículos, próstata
e glândulas seminais, sentem marcantes mudanças estruturais. Em segundo lugar,
acontece o desenvolvimento das características sexuais secundárias: nas “meninas”,
o aumento das mamas, aparecimento dos pelos pubianos e axilares; nos “meninos”, o
aumento da genitália, pênis, testículos, bolsa escrotal, além do aparecimento dos pelos
pubianos, axilares, faciais e mudança do timbre da voz. Paralelamente à maturação
sexual são observadas outras mudanças biológicas, como as alterações no tamanho, na
forma, nas dimensões e na composição corporal (quantidade da massa muscular e tecido
adiposo) e na velocidade de crescimento, que é o chamado estirão puberal (BRASIL, 2008).

A composição corporal do adolescente oscila em função da maturação sexual.


A idade da menarca representa o início da desaceleração do crescimento que ocorre
no final do estirão puberal, e o maior acúmulo de tecido adiposo. Para os meninos, o
pico de crescimento coincide com a fase adiantada do desenvolvimento dos genitais e
pilosidade pubiana, momento em que também ocorre desenvolvimento acentuado de
massa magra e muscular. A OMS recomenda para estudos de rastreamento populacional,
a utilização de dois eventos de maturação para cada sexo, um inicial como marcador do

212
estirão do crescimento e outro indicando que a velocidade máxima de crescimento já
ocorreu. Para o sexo feminino, o marcador inicial do estirão do crescimento é a presença
do broto mamário (estágio M2 de mamas) e, para indicar que a velocidade máxima já
ocorreu, a menarca. Já para os meninos o marcador inicial do estirão é o aumento da
genitália (estágio G3) e para indicar a velocidade máxima, o estágio quatro ou cinco
de genitália e/ou a mudança da voz. Para avaliação dos adolescentes a respeito do
crescimento e desenvolvimento puberal é necessário saber, com precisão a altura; o
peso; e a maturação sexual (BRASIL, 2008).

A atenção à saúde do adolescente tem sido um desafio para a Organização


dos Serviços de Saúde, por tratar-se de um grupo social em fase de grandes e
importantes transformações psicobiológicas articuladas a um envolvimento social e
ao redimensionamento da identidade e dos novos papéis sociais que vão assumindo
(AYRES; FRANÇA JÚNIOR, 1996).

Com as transformações ocorridas nessa fase surgem diversas características e


peculiaridades, como alterações na relação de dependência com a família, escolha de um
projeto de vida, inserção no mercado de trabalho, além de importantes mudanças físicas e
mentais, articuladas a uma reorganização de identidade e papéis sociais. Em decorrência
dessas características, que podem acarretar grandes mudanças no comportamento
dos adolescentes, percebe-se o quanto essa fase deve ser valorizada e tratada de modo
especial, pois é um grupo de grande vulnerabilidade, com distinta exposição a fatores de
risco que podem resultar em algum tipo de agravo (Patrício et al., 2009).

A população adolescente vive uma condição social que é única: uma mesma
geração; num mesmo momento social, econômico, político e cultural do país e do
mundo. Ou seja, a modalidade de ser adolescente e jovem depende da idade, da geração,
da moratória vital, da classe social dos marcos institucionais e de gênero presentes em
dado contexto histórico e cultural (MARGULIS; URRESTI, 1996; ABRAMO, 2005).

Nas últimas décadas, houve uma importante modificação demográfica


relacionada à queda da mortalidade infantil e da fecundidade, ao aumento da
expectativa de vida e aos movimentos migratórios e de urbanização. Houve, ainda, uma
desaceleração no ritmo de crescimento da população adolescente com a expectativa
de que este segmento continue crescendo. Mesmo com a desaceleração no ritmo de
crescimento dessa população, hoje, a geração de adolescentes e jovens entre 10 e 24
anos de idade é significativa, representando, no censo de 2010, um total de 51.402.821
pessoas – 36,89% da população brasileira (BRASIL, 2018).

Adolescentes constituem um grupo populacional que exige novos modos


de solidificar a saúde. Seu ciclo de vida particularmente saudável evidência que os
agravos em saúde decorrem, em grande medida, de modo de fazer “andar a vida”, de
hábitos e comportamentos, que, em determinadas conjunturas, os vulnerabilizam.
As vulnerabilidades produzidas pelo contexto social e as desigualdades resultantes
dos processos históricos de exclusão e discriminação determinam os direitos e as

213
oportunidades de adolescentes e jovens brasileiros. Cada sujeito nas suas dimensões
biológica, psicológica e sociocultural constitui uma unidade indissociável. Nesse
contexto, a atenção a adolescentes e jovens deve pautar-se na integralidade. Esse
paradigma imprime o respeito a diversidade e a certeza de que, para a promoção de
uma vida saudável, é preciso, antes de tudo, a inclusão de todos (BRASIL, 2018).

A elaboração de políticas públicas voltadas para o atendimento dos adolescentes


vem se tornando prioridade no Brasil, devido ao aumento dessa população e também
pela ineficiência dos programas implantados na realização de atividades de promoção
de saúde e prevenção de agravos (Patrício et al., 2009).

A maioria dos problemas de saúde que acometem essa população está


diretamente relacionada a questões que podem ser prevenidas em nível primário,
como gravidez na adolescência, aumento do consumo de álcool e outras drogas,
causas externas, como acidentes automobilísticos, homicídios e suicídios, infecções
sexualmente transmissíveis (IST), dentre outros (PATRÍCIO et al., 2009).

Neste sentido, a consulta de enfermagem deve ser fundamentada no processo


de interação, investigação, diagnóstico, educação e intervenção, baseada em uma
relação de confiança e empatia, onde o enfermeiro deve manter uma postura de
compreensão e atenção a todas as informações, queixas e necessidades que levaram o
adolescente a procurar esse atendimento (PATRÍCIO et al., 2009).

No que tange à privacidade e confidencialidade deve-se seguir o artigo Art. 52,


que prevê manter sigilo sobre fato de que tenha conhecimento em razão da atividade
profissional, exceto nos casos previstos na legislação, ou por determinação judicial,
ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante, ou
responsável legal. Conforme o §2º, o fato sigiloso deverá ser revelado em situações
de ameaça à vida e à dignidade, na defesa própria ou em atividade multiprofissional,
quando necessário à prestação da assistência (COFEN, 2020).

Nesse sentido, o art. 11, do Estatuto da Criança e do Adolescente, assegura o


atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema
Único de Saúde (SUS), garantindo o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
para promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990).

Ponderando as orientações publicadas pelo Ministério da Saúde, nos casos que


o adolescente procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) sem o acompanhamento dos
pais, ele tem o direito de ser atendido sozinho. No entanto, a equipe poderá negociar
com ele a presença dos pais ou responsáveis, se for o caso. A entrevista inicial poderá
ser feita apenas com o adolescente, ou junto com a família. De qualquer forma, é
importante possuir um momento a sós com o adolescente, que será mais de escuta,
propiciando uma expressão livre, sem muitas interrogações, evitando-se observações
precipitadas (BRASIL, 2018).

214
A partir da atenção integral à saúde pode-se intervir de forma satisfatória na
implementação de um elenco de direitos, aperfeiçoando as políticas de atenção a
essa população.

Assim, na perspectiva ética, é importante que o profissional de saúde informe ao


paciente, inicialmente, os limites que regem o serviço com relação à confidencialidade.
Da mesma forma, é importante que a família compreenda que a comunicação e o
encaminhamento das questões como adolescente podem ficar prejudicados se houver
quebra desse sigilo (BRASIL, 2008).

Desse modo, é importante considerar todas as possíveis estratégias para


inserção dos adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde e sua adesão às ações de
prevenção de agravos e de promoção da saúde.

Este capítulo tem o objetivo de direcionar as ações do enfermeiro voltadas


à saúde do adolescente dentro do contexto da atenção primária, contemplando a
consulta de enfermagem, o fluxograma de atendimento, os principais diagnósticos e
intervenções (farmacológicas e não farmacológicas) de enfermagem, embasados no
sistema do E-SUS.

Fonte: http://ms.corens.portalcofen.gov.br/protocolo-de-enfermagem-da-saude-do-adolescente-na-aten-
cao-primaria-a-saude_25110.html . Acesso em: 30 jul. 2020.

215
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A obesidade é multifatorial, e as ações direcionadas ao adolescente têm impacto na


vida adulta.

• Os transtornos alimentares têm grande impacto na vida do adolescente e a equipe


de saúde tem o propósito de orientar os pais e familiares sobre os cuidados a
serem adotados.

• A violência na adolescência é uma situação frequente, e é papel dos profissionais de


saúde notificarem de forma compulsória.

• O suicídio é a terceira causa mais comum de morte entre adolescentes.

216
AUTOATIVIDADE
1 O desenvolvimento precoce da obesidade vem apresentando cifras alarmantes entre
crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo, sendo um problema de saúde
pública que tende a se manter em todas as fases da vida. A respeito disso, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) O excesso de peso ainda não é um problema de saúde pública, pois ainda não
suplantou o baixo peso para estatura no Brasil e em outros países.
b) ( ) A obesidade é uma consequência do aumento da gordura corporal em relação
à massa muscular. É uma doença unicausal, relacionada aos hábitos de vida
da pessoa.
c) ( ) O envolvimento da família é fundamental para auxiliar a mudança no comportamento
alimentar dos adolescentes. Sendo assim, é necessário capacitar os pais e família.
d) ( ) O adolescente obeso tem poucas chances de tornar-se um adulto obeso, e
consequentemente menor probabilidade de apresentar complicações clínicas.

2 Dependendo da faixa etária, diferentes órgãos de proteção devem ser notificados e


acionados. No caso de crianças e adolescentes, a notificação de quaisquer situações
de suspeita ou confirmação de violação de direitos de crianças e adolescentes é
compulsória e deve ser realizada junto a quais órgãos? Analise as sentenças a seguir
quanto aos locais onde podem ser realizadas notificações de maus-tratos contra o
adolescente:

I- Conselho Tutelar.
II- Juizado da Infância e Juventude de cada município.
III- Prefeitura municipal.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

217
3 As doenças bucais de alta prevalência prejudicam o crescimento e o desenvolvimento,
afetando a imagem corporal, a estética, a mastigação e a fala, além de dificultar
o acesso ao mercado de trabalho. Em geral, o adolescente não procura a UBS.
Considerando exemplos de doenças/problemas bucais frequentes na adolescência,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Cárie dentária.
( ) Perda dentária.
( ) Halitose.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O Ministério da Saúde adota o conceito de violência utilizado pela Organização


Mundial da Saúde, segundo o qual violência é o uso intencional da força física ou do
poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo
ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão,
morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Disserte sobre
o modelo adotado para classificar a violência no país.

5 A depressão é uma síndrome clínica caracterizada por um distúrbio persistente do


humor e um comportamento disfuncional. Geralmente inclui tristeza, infelicidade,
retraimento social, dificuldade de concentração, problemas alimentares, perturbação
do sono e perda de interesse nas atividades habituais. Cerca de 60% dos adolescentes
abordados em consulta médica relatam ter sentimentos de depressão, com
frequência maior entre as mulheres. Na adolescência, uma série de fatores pode levar
à depressão. Nesse contexto, disserte sobre os fatores que podem levar à depressão
na adolescência.

218
REFERÊNCIAS
BELO HORIZONTE. Secretaria da Saúde. Protocolo de Atenção integral à saúde da
criança e do adolescente. Belo Horizonte, 2015. Disponível em: https://prefeitura.
pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-governo/saude/2018/documentos/
publicacoes%20atencao%20saude/Protocolo_Aten%C3%A7%C3%A3o_Integral_
Adolescente-1-4-2015.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

BELO HORIZONTE. Secretaria da Saúde. Protocolo de Atenção integral à saúde


do adolescente. Belo Horizonte, 2014. Disponível em: https://ftp.medicina.ufmg.br/
ped/arquivos/2014/PBH%20protocolo_saude_adolescente_14082014.pdf. Acesso
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Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
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BRASIL. Ministério da Saúde. Caderneta de Saúde do Adolescente. Brasília:


Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/caderneta_saude_adolescente_masculino.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Cuidando de Adolescentes: orientações básicas para


a saúde sexual e a saúde reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cuidando_adolescentes_saude_
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BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde


de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde.
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219
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Comitê de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde,
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da


Criança: orientações para implementação. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 180 p.
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BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade


por Acidentes e Violências: Portaria GM/MS n. 737 de 16/05/01 publicada no DOU n.
96 Seção 1e, de 18/05/01 Seção 1, Brasília, DF, 18 maio 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na


atenção básica. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 233 p. Disponível em: http://
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BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações


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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.436 de 21 de setembro de 2017. Aprova


a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a
organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília:
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.
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220
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