Você está na página 1de 2

ESCOLA ESTADUAL FREDERICO JOSÉ PEDREIRA NETO

ALUNO:
COMPONENTE CURRICULAR: SOCIOLOGIA SÉRIE: 1ª TURMA: DATA ______/______/2024
PROFESSORA: ANGÉLICA BARROS SILVA
PARA DISCUTIR WEBER:

Ter personalidade é só para quem pode copiar os outros

Por Cristiano das Neves Bodart*

Ao acordar me preparo para ir ao trabalho. Abro a janela e noto que o tempo está nublado, com
grande possibilidade de chuva. Como está frio, aproveito a oportunidade para colocar ao redor
do pescoço um cachecol que comprei; não era um adorno qualquer, era lindo e super na moda!
Comprei-o após assistir uma cena na novela das oito (aquela que passa as nove). Comprei por
um por um preço salgado, mas valeria à pena, pois me daria personalidade. Arrumei meu cabelo
conforme o penteado do ator que usava o cachecol. Certamente estava pronto para receber
elogios e admirados olhares, afinal, eu estava um verdadeiro galã das oito.

Ao sair de casa, não deixo de levar comigo o guarda-chuva, sobretudo naquelas condições
meteorológicas. Experiências passadas me alertavam para a sua importância. Nada pior do que
se arrumar e ver tudo indo, literalmente, por água abaixo.

Caminho pela calçada, rumo ao trabalho, o qual fica à poucos quarteirões. A chuva começa a
cair como pedras; sem hesitar abro de imediato meu salvador guarda-chuva. Todos que estavam
na rua sob a chuva fazem o mesmo, como em uma grande coreografia. Cena bonita de se ver.
Salvo meu estilo da torrente de água e continuo o meu caminho.

Chego no trabalho certo de que valeria a pena imitar o galã da TV, a final, era um traje da moda.
Olho ao redor e noto que diversos outros colegas usam o mesmo adorno ao redor do pescoço.
Fico apreensivo quanto a receptividade do meu traje, já que não era exclusivo naquele ambiente.
Confesso que tive minhas expectativas abaladas.

Passando o primeiro impacto, para minha surpresa, todos me elogiaram. Falaram muito bem e
com muito entusiasmo do meu cabelo e do meu cachecol. Me senti o galã da novela das oito;
por mais dicotômico que pareça, me percebi dotado de personalidade.

Fim do dia. Fui para casa pensativo. Algumas questões afloraram a partir daquela experiência.
Como a moda nos cria uma expectativa de promover uma identidade pessoal e originalidade se
ela nos torna exatamente o oposto disso, iguais? Como mesmo nos homogeneizando nos
proporciona centralidade das atenções de olhares? Como ela me proporciona personalidade?
Sendo já nove horas, deixei as questões de lado e fui assistir a novela das oito. Quem sabe
encontro nela novos elementos que me dê personalidade?

Fim da novela, me lanço à cama. Preciso descansar para trabalhar, afinal, ter personalidade é
só para quem pode copiar os outros, e isso demanda dinheiro.

Discutindo o texto…

A partir do texto acima, é possível discutir diversas questões envolvendo “moda”, “imitação” e
“personalidade”. As indagações do personagem pode ser um caminho frutífero para uma
discussão coletiva. Contudo, proponho apresentar caminhos que venham a instrumentalizar o
professor a uma discussão do texto a partir das contribuições de Max Weber para diferenciar
imitação de moda, assim como para classificar um e outro como sendo ou não uma ação social.

Geralmente as pessoas entendem que moda e imitação são ações sociais. Atestamos que para
Weber que nem toda imitação é uma ação social. A imitação só será uma ação social quando não
é uma ação meramente reativa, como abrir o guarda-chuva. Ainda que todos, no texto, abram o
guarda-chuva, essa ação não é social, embora coletiva. Trata-se de uma reação a um agente
externo, a chuva. Assim, “não pode ser considerada uma ação especificamente ‘social’ quando é
puramente reativa, sem orientação própria pela alheia quanto ao sentido” (WEBER, 1999, p.14).

Para demonstrar que nem sempre uma imitação é uma ação social, bastamos observar como os
macacos podem imitar um outro para sobreviver. Inclusive usar objetos para se resguardarem da
chuva ou do frio.

A moda é uma imitação dotada de sentido em relação aos outros indivíduos. O personagem usa
o cachecol e penteia os cabelos esperando que os demais percebam seu uso e o considere belo
ou algo do tipo, tratando-se de uma “ação social”, isso por considerar os sentidos dado pelos
outros. Nota-se que a moda é ima imitação, mas nem toda a imitação será uma ação social. Na
verdade, Weber diferencia “simples imitação” de “moda”. Para ele a simples imitação se limita
em ações sem sentido em relação ao outro, não podendo ser comparado, por exemplo, a ação
social tradicional, a qual seria uma imitação dotada de sentido social.

Você também pode gostar