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Dicionário de Técnicas de Escrita (por Rodolfo Minari - @rodolfominari)

(Amostra)

Técnicas de escrita

Trabalhamos com uma concepção bem ampla de “técnica”, compreendendo como tal
qualquer método, mecanismo ou dispositivo que impulsione e dê forma à escrita.

As técnicas vêm sendo utilizadas por mestres e mestras ao longo dos séculos e o(a)s ajuda
a obter certos efeitos em suas criações – como um tom específico que se deseja ter, ou uma
sensação a ser despertada em quem lê.

Escrever é uma atividade complexa que exige tanto o uso da intuição quanto de técnicas.
Quem acredita escrever de modo 100% intuitivo está, na verdade, usando
inconscientemente técnicas que assimilou em suas leituras.

Tomar consciência das técnicas e estudá-las nos torna capazes de identificar o seu uso nos
textos que aprecia, e usá-las, também, quando quisermos.

Este material é uma amostra de nosso dicionário de técnicas de escrita, que tem mais de 100
verbetes.

Começamos por técnicas cujo objetivo é a geração de ideias: romper com o vácuo inicial
de um novo projeto, com a folha em branco, com qualquer bloqueio.

A primeira técnica é

1. Inspirar-se

Inspiração comporta diversas interpretações. Alguns vão dizer que isso não existe, ou que,
se existe, corresponde a apenas 1% do processo criativo, cabendo 99% à transpiração, ou
trabalho duro e racional. Há quem vá dizer que inspiração existe, mas não é algo mágico ou
místico – para esse(a)s, nos inspiramos lendo livros, ouvindo música ou conversando com
pessoas.

Reserve um momento para refletir – e, se possível, escrever – sobre o que é a inspiração para
você, se já se sentiu inspirada(o), de que forma esse estado transforma você e lhe permite
coisas novas.
A seguir, três exercícios que se prestam a provocar o estado de inspiração.

a) Em um cômodo tranquilo, privativo, se possível em frente a um espelho, de olhos


abertos ou semicerrados, chame a inspiração, sem palavras, somente movendo suas
mãos e especialmente as pontas dos dedos, como se fossem passes de mágica. Permita-
se essa abstração lúdica, em nome da poesia. Além das mãos e dedos, use expressões
faciais (caretas) e posturas corporais, que, de modo silencioso, possam trazer sensações,
sentimentos, imagens, ideias.

b) Use mais a sua mão dominante – a esquerda, se você é destra(o), e vice-versa –, a


princípio para realizar atividades simples como apanhar e segurar objetos, e, aos
poucos, para execuções mais finas, até, quem sabe, escrever.

c) Escrita matinal. Este exercício consiste, tão somente, em providenciar um caderno e uma
caneta que fiquem permanentemente ao lado de sua cama. Todo o exercício está aqui.
Adquira e destine um caderno exclusivamente para isso. Tenha outros cadernos para nunca
precisar tirar esse de seu quarto. O que pode decorrer daí para frente é mera consequência. Se se
lembrar, procure fazer da escrita a primeira atividade de seu dia, ainda deitada(o) – apenas
apanhe o caderno e anote a frase ou simples palavra que está em sua mente.

Segunda técnica de escrita muito usada para destravar a imaginação, romper bloqueios e
gerar ideias é

2. Visualização criativa

Aqui você trabalhará duas habilidades. Primeiro irá levar a novos níveis a sua
capacidade de imaginar um cenário e seres que o habitam. Faça isso de forma detalhada.
Gosto de me imaginar fazendo algum tipo de travessia antes de chegar a esse cenário, que
pode ser, por exemplo, um jardim com animais, uma cidade com suas habitantes, ou
qualquer coisa que se consiga imaginar.
A segunda parte da técnica consiste em deixar a mente relaxar um pouco, não a ponto de
perder o rico cenário habitado que você acabou de criar, mas o suficiente para que esse(a)s
personagens comecem a se comportar e agir por conta própria. Entregue-se ao jogo e deixe-
o(a)s criar vida. Alguém, um bicho, pessoa, ou outro ente qualquer, vai chamar sua atenção,
talvez até venha para perto de você ou olhe em sua direção, como quem tem algo a dizer.

Terceira técnica, também para destravar a mente, soltar a escrita:

3. Escrita oracular

Trata-se de escrever a partir de um ponto escolhido aleatoriamente. Você pode usar um


baralho. Sorteie a carta e desenvolva seus temas com base nos símbolos evocados por ela.
Muito(a)s gostam de usar o tarô, mas um baralho comum também serve: sorteie uma
carta e veja em que o número o(a) faz pensar. Quanto aos naipes, temos relações destes com
os elementos da natureza e quatro planos ou dimensões da existência humana – terra,
material (ouros); água, emocional (copas); ar, mental (espadas), e fogo,
espiritual/sexual/criativo (paus).

Se não tem ou não gosta de baralhos, pode escolher ao acaso um de seus livros, e abrir em
uma página qualquer. Coloque seu dedo em um parágrafo, e pense/escreva sobre uma
palavra ou ideia encontrada ali.

Você pode também usar um gerador de palavras aleatórias na internet.

Outra ideia: em um momento qualquer, não importa onde esteja, estabeleça que irá tomar
como ponto de partida a próxima palavra ou frase que ouvir. Experimente, outra hora, fechar
os olhos, apontar a face para uma direção fortuita, e pensar: “vou refletir/escrever sobre a
primeira coisa que eu vir, ao abrir os meus olhos”.

Passamos, agora, a técnicas de escrita propriamente ditas.

A técnica a seguir é muito usada em qualquer gênero ou estilo literário.

Trata-se da:
4. Elipse

Que consiste em qualquer tipo de omissão de informação. Nesse caso, a pessoa que lê
contribui ativamente na formação de sentido, completando o que falta na frase, história ou
raciocínio. Essa técnica é incrivelmente ampla, pode ser usada de muitas formas diferentes.
Mostremos alguns exemplos.

“A rua. A caixa. O filhote. Umas mãos.”

Rô Arruda

Aqui, a autora compôs a narrativa usando somente substantivos e artigos (que passam de
definidos a indefinido no fim do microconto), omitindo todo o resto. Nenhum verbo foi
usado. No entanto, com a leitura, um enredo se forma na cabeça de quem lê, e esse enredo
pode, inclusive, ser diferente, conforme a leitura.

Experimente escrever um microconto sem verbos. Ou somente com verbos. Escolha um categoria
de palavras pra omitir.

No próximo exemplo, as frases estão completas, mas só nos mostram um cenário


estático, sem dizer o que aconteceu. É preciso que o(a) leitor(a) imagine a trama.

“A corda pendurada no telhado. No quarto uma cobra cascavel e um corpo estendido no chão.”

Henrique Rodrigues Sousa

Experimente.

O conto a seguir irei apresentar sem o título, a fim de demonstrar como uma temática
implícita pode vir à tona com grande potência, por meio de uma elipse bem construída.
“Nunca é um monstro. É sempre um pai, um tio, um primo, um irmão.”

Karina Paulino

Aqui, como em grande parte dos casos, a elipse vem acompanhada da sugestão. Não é dito
do que se trata, porém podemos afirmar que a maioria das pessoas vai entender qual o
tema desse texto tão pesado quanto relevante.

5. Duplo sentido

Esta técnica se aproveita de uma palavra, expressão ou frase que comporte mais de um
significado (ambiguidade).

Vamos de exemplos:

“Encontrei rasgado aquele tecido, perguntaram qual era o tipo. Cardíaco, o nome.”

Amanda Guedes

A autora construiu sua obra apoiando-se no duplo sentido da palavra tecido, ou da ideia
“tecido rasgado”; iniciou sugerindo que o significado de tecido fosse o mais usual, o de um
pano. Ao revelar que se tratava do tecido cardíaco, e de um rasgo metafórico, provoca em
quem lê uma grande surpresa, com efeito de twist, ou reviravolta.

Em outro exemplo, mostramos como, muitas vezes, o duplo sentido induz a um efeito de
humor, sendo essa, às vezes, sua principal intenção.

“Todos diziam no bairro que o carteiro adorava um selinho.”

Vinícius Magalhães
Mais um exemplo, onde a graça do duplo sentido sobe outro degrau graças à ironia contida
na fala da mãe:

“Sonho

— Mãe, quero ser cana!

— Vá, meu filho, doce do jeito que cê é…”

Phelipe Siani

Mais um microconto baseado no duplo sentido:

“Com a mulher ainda segurando o travesseiro sobre seu rosto, o espírito pensou ao ver seu
corpo: morri de pena!”

Tamar Dias

O duplo sentido da expressão morrer de pena, sendo um deles absolutamente inusitado,


transforma a narrativa, que inicou tragicamente, em um texto de humor, em um fenômeno que
poderíamos chamar de “desvio de intenção” ou ainda “quebra do paralelismo semântico”.

Faça uma lista de palavras, frases, expressões e situações ambíguas, a partir das quais
possa imaginar histórias.

6. Inversão

A inversão pode se dar de incontáveis formas. Daremos alguns exemplos para que vocês
venham a encontrar as suas próprias.

Podemos ter a inversão quando duas pessoas ou coisas trocam de lugar ou papel, como,
por exemplo, num filme em que marido e mulher trocam de corpo.
Também usamos essa técnica ao inverter a ordemo de qualquer processo natural, como
no conto - transformado em filme de sucesso - O curioso caso de Benjamin Button.

A caça virar caçador e o feitiço virar contra o feiticeiro são fórmulas consagradas de
inversão.

Veja um microconto baseado nessa técnica:

“A REVOLUÇÃO ENSOPADA

Sopa é janta, era o seu lema. E almoço e café — da manhã e da tarde. Ele tomava sopa em
todas as ocasiões. Aliás, ele vivia apenas de sopa, até que um dia, sem se dar conta do que
acontecia bem diante dos seus olhos — a revolução estática e morna num prato de vidro fumê
—, a sopa o tomou.”

Álisson Geéfe

Aqui, a sopa, que sempre é tomada pelas pessoas, um dia toma uma delas. Tendo essa ideia
como alvo, o autor desenvolve a sua filosofia até que se chegue a esse ponto, clímax de sua
narrativa.

Outro exemplo de microconto onde é possível enxergar a presença da inversão:

“Desdobrou o aviãozinho com cuidado e ficou observando as marcas no papel. Foi assim
que descobriu o segredo da viagem.”

Monize Luiz

Nesse texto foi invertida a ação corriqueira de dobrar papel para fazer um aviãozinho. A
autora enxergou o processo ao contrário, e, ao desdobrar o papel e observar suas ranhuras,
isso a tocou, ao ponto de ela conseguir compartilhar, num microconto, a sua epifania.
7. Criação e desenvolvimento de personagens

7.1) Traçar o Perfil

Comece pelos dados básicos (nome, idade, onde mora, onde nasceu). Acrescente árvore genealógica,
histórico familiar (desde a infância) e escolar, alguns eventos marcantes. Reflita sobre sua concepção
de mundo, princípios, valores. Maiores sonhos. Maiores medos. Motivações. Motivações ocultas.
Conflitos internos. Conflitos externos. Características físicas: aspectos da aparência corporal,
incluindo postura, expressões faciais, gestos e trejeitos. Descreva o tom da voz, o modo de falar, o
vocabulário pessoal. Toda pessoa tem uma palavra que usa repetidamente.

Dicas:

a) Descreva seu personagem como se estivesse falando dele a um(a) amigo(a) ou um(a) vizinho(a).

b) Faça o(a) personagem falar sobre si mesmo(a), por exemplo, em uma entrevista para o emprego
de seus sonhos, ou numa conversa íntima, ou num diário.

c) Estabeleça diferenças entre personagens aplicando-lhes a mesma pergunta, por exemplo: como
esse(a) personagem se comporta em um elevador? Fica em silêncio? Puxa que tipo de assunto? Pense
em outras situações perante as quais você pode testar seus personagens e torná-los diferentes entre si.

7.2) Arco de personagem

Para traçar um arco de personagem, defina alguns pontos de sua trajetória. Um arco básico contém
três pontos: o inicial, o clímax (ou acontecimento principal) e o final, onde ele termina a história,
transformado. Exemplo de arco de desenvolvimento positivo é o do bruxo Harry Potter.

Mas a parábola também pode estar invertida: personagem sai de um ponto, decai e traça, depois, um
caminho de recuperação. Exemplo: o prisioneiro da máscara de ferro, que, após uma queda dramática,
recupera sua liberdade e identidade.

Num arco trágico, a queda segue até o final, encerrando a história na parte mais baixa possível, como
em Romeu e Julieta ou no mito de Édipo.

Já o arco de redenção fala de um arquétipo inicial negativo, vilã(o), que se redime ao longo da
história, muitas vezes mediante um sacrifício pessoal. É o que acontece com Anakin Skywalker, o
Darth Vader de Guerra nas Estrelas.

No arco cíclico, a(o) personagem passa por um ciclo de desenvolvimento – ou de queda, ou redenção
– e retorna ao ponto de origem, com sua visão transformada. Exemplo: o jovem Santiago, no livro O
Alquimista, de Paulo Coelho.

Existe o Arco Plano. Embora a expressão pareça um paradoxo, refere-se a personagens cuja trajetória
de desenvolvimento é linear, ou seja, modificam-se pouco ou nada ao longo da história. Personagens
planos podem ser interessantíssimos, como Sherlock Holmes ou Hannibal Lecter.

Para narrativas de mais fôlego, use um arco mais longo, com mais pontos. Sugiro o estudo do
Monomito, ou Jornada do Herói, como se tornou popular, por meio de Joseph Campbell: um padrão
narrativo apoiado em 12 (ou até 18) passos, presentes em incontáveis narrativas, desde os contos de
fadas até filmes hollywoodianos de sucesso. Use-o com flexibilidade.

A jornada do herói baseia-se em teorias anteriores, dentre as quais destaco o estruturalismo russo
(Propp/Jakobson). Esta considerava mais de 30 funções ou etapas presentes em contos populares e
outras narrativas.

7.3) Caderno de Notas

Mantenha um caderno, ou parte de um caderno, para tecer constantemente notas sobre personagens.
Permita que sutilezas sobre seu comportamento, motivações e personalidade surjam e se acumulem
aos poucos, ao longo do tempo. Ao se deparar com diversas situações, use a “máscara” da(o)
personagem, pergunte-se como ela ou ele agiria ou se sentiria naquele contexto. Anote tudo e
mantenha bem arquivado.

7.4) Mostre o personagem

No momento da escrita, ao descrever personagens, prefira mostrar a dizer. Use o poder da sugestão
e deixe que o(a) leitor(a) tire suas próprias conclusões, que julgue e adjetive por si. Evite descrições
físicas excessivas e desnecessárias. A não ser que seja uma característica singular e/ou que venha a ter
alguma relevância na história. Estude um pouco sobre a anatomia humana e lembre-se de que pode
fornecer muita informação nas entrelinhas, por meio da postura corporal, das expressões facias e dos
gestos, especialmente das mãos.

Há uma técnica para descrição física que é a caricatura – exacerbar alguma característica ao ponto
de torná-la incomum e marcante.
7.5) Arquétipos

Arquétipos são padrões universais de personalidade, motivações e comportamentos, cujo estudo teve
como pioneiro Jung, que identificou e descreveu alguns deles, como o Herói(na), a Sombra, a(o)
Velha(o) sábia(o), a Grande Mãe, o Pai, Animus e Anima, o Ego, o Self, a Persona. Josepch Campbell
popularizou a ideia de arquétipos na narrativa, adptados depois com sucesso por Christopher Vogler.
Merece nota também a obra de Carol Pearson, que aplica a ideia de arquétipos ao desenvolvimento
pessoal, focando seu estudo em seis arquétipos com papeis essenciais na vida humana: Herói(na),
Cuidador(a), Explorador(a), Rebelde, Amante, Mago(a).

8. Diálogos

Uma técnica do Teatro (Drama), gênero que consiste, essencialmente, em diálogos, é a de que cada
fala seja uma resposta a um movimento anterior, como num xadrez. Cada fala dá razão a uma reação,
ou então é desnecessária. Lembrando que o silêncio também é uma resposta.

Dicas para escrita de diálogo:

a) Escreva com a voz. Use um dispositivo (pode ser uma mensagem para si mesmo no direct do
instagram) que te permita falar e automaticamente obter o texto escrito. Ou grave e transcreva.

b) Prefira, em tese, mostrar a dizer. Tenha em mente os objetivos da(o)s personagens


envolvida(o)s em cada conversa, e mostre ou sugira-os, em vez de dizer diretamente.

c) Estude os perfis da(o)s personagens e diferencie-os na fala, por meio de vocabulários e


sintaxes próprias.

9. Título

Um bom título pode fazer muito pela visibilidade de seu livro ou obra literária. Sem exagero, alguns
livros devem muito de seu sucesso ao título.

Atente-se ao que há em especial nos seus títulos preferidos. Passeie pela Estante Virtual ou Amazon
e leia algumas dezenas de títulos.

Muitos livros trazem títulos simples e diretos. Exemplos: O jogador; O julgamento; Sapiens; 1984;
Romeu e Julieta; Drácula; O lustre. O título simples elege um elemento da história e o expõe da forma
mais direta possível.
Outro tipo de título muito usado é o descritivo. Títulos descritivos dizem muito sobre o que será
encontrado no livro. Exemplos: A guerra dos mundos; A origem das espécies

Lembre-se que você pode buscar seu título em um objeto ou coisa (o que), personagem (quem),
cenário (onde), tempo (quando), modo (como), motivo (por quê), entre outros, presentes no seu
texto. Uma característica ou objetivo de personagem pode dar título a seu livro. Pense no clássico
Razão e Sensibilidade. Você também pode combinar elementos, como em O Senhor dos Anéis, que
destaca, ao mesmo tempo, um personagem e um objeto centrais da narrativa.

Ao eleger um elemento chave de sua história como título, você tem em mãos o poder, bem como a
responsabilidade, de jogar luz sobre algo que, de outra forma, poderia passar despercebido. É como
dizer ao leitor: preste muita atenção quando isso aparecer.

Seu título também pode ser metafórico ou poético, como O peso do pássaro morto, que revela pouco
sobre o tema e a trama da história, mas diz muito sobre o tom da sua escrita.

Uma última dica: se seu público for bastante específico (nichado), considere usar um jargão, quer
dizer, um termo ou expressão que seja usada por aquele grupo, mais do que por outros.

10. Ironia

Técnica poderosa, usada por mestres e mestras como Jane Austen e Machado de Assis, muitas vezes
com intenção ou efeito de humor ou crítica a instituições, costumes, relacionamentos, entre outros.

A ironia é muito presente também em nossa comunicação cotidiana.

Consiste em se dizer algo diferente do que se deseja. Muitas vezes o oposto. Um exemplo é quando a
mãe ou pai flagra o filho, ou filha, aprontando alguma, e exclama: Que bonito!

Já a ironia dramática é o que ocorre quando o(a) espectador(a) sabe mais do que o(a) personagem
em cena, como ocorre, por exemplo, em Romeu e Julieta. O jovem adentra a cripta de Julieta e toma
suas atitudes crendo que a moça estava morta. O público, no entanto, possui a informação de que ela
estava viva, acentuando o drama, a emoção e dando outra dimensão à tragédia.

11. Metalinguagem

Trata-se de trazer, na escrita, referências ao próprio ato de escrever, à linguagem, estilo ou processo
criativo empregados na obra. Em outras palavras, revela um pouco do que há por trás do texto em si,
num convite a refletir sobre o limite que separa realidade e ficcção. Um exemplo notável de uso da
metalinguagem está no livro O mundo de Sofia, especialmente na parte final, onde personagens
passam a questionar a própria existência, em uma complexa reflexão sobre as relações entre
personagem, autor(a), leitor(a), e, em última análise, sobre a consciência e o real.

12. Pendurado no precipício

Na escrita, como na música, mantemos as coisas dinâmicas e interessantes alternando momentos de


relaxamento e tensão. A técnica do cliffhanger, ou “pendurado no precipício”, consiste em criar
tensão e postergar, por meio de diversos mecanismos, a sua resolução. Seu objetivo é criar suspense
e manter o(a) leitor(a) interessado(a) na história. Essa ferramenta é muito usada ao final de episódios
de séries ou capítulos de novela. Pendura-se a situação no precipício, prometendo-se mostrar o
resultado em uma próxima cena.

13. Contraste

A técnica do contraste consiste em aproximar, ou comparar, elementos diferentes entre si. A princesa
e o plebeu, A bela e a fera, O monge e o executivo, Razão e sensibilidade são exemplos. Os dois irmãos
que tomam diferentes rumos no livro Cidade de Deus, também: um segue o caminho do crime
enquanto o outro aspira a tornar-se fotógrafo.

Transcenda o nível da(o)s personagens e estenda o uso do contraste a elementos do cenário ou da


trama.

***

Agradeço pode você me acompanhar até aqui!

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Permitida a reprodução e compartilhamento deste material.

Autor: Rodolfo Minari

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