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Introdução ......................................................................................................................... 2
Nota metodológica............................................................................................................ 4
Vila do Conde na sub-região dos vinhos verdes e a escolhas vínicas nos restaurantes: um
estudo de caso ................................................................................................................. 22
Referências ..................................................................................................................... 30
Anexos ............................................................................................................................ 33
1
Introdução
A nossa análise relaciona-se com o interesse e a importância crescente dos Vinhos Verdes
no setor vitivinícola português, assim como, com a afirmação que o enoturismo
desempenha no setor turístico, sendo que, no caso português, é considerado, pelo Plano
Estratégico Nacional do Turismo (PENT), bem como pela Região Turística Porto e Norte
de Portugal, onde a região demarcada se integra, como um produto estratégico. De
assinalar que em 2014, num estudo desenvolvido pelo IPDT, Instituto de Turismo, o
enoturismo destronou o turismo sol e mar como o principal produto turístico de Portugal.
2
Considerada uma das maiores e mais antigas regiões vitivinícolas do mundo, a Região
dos Vinhos Verdes tem, igualmente, um importante papel na economia da região e do
país, pelo número de postos de trabalho que potencia, não só na atividade vínica, mas
também no seu interface com o setor turístico, revelando-se ainda veículo de promoção
da marca Portugal, pelos elevados níveis de exportação que apresenta, desde a época
moderna.
3
Nota metodológica
1
O projeto foi implementado em 2016, pela Câmara Municipal de Vila do Conde e Junta de Freguesia e
desafia os restaurantes de Vila do Conde a apresentarem os seus melhores pratos de peixe, entendendo-o
como uma oferta turística (Câmara Municipal de Vila do Conde, 2017).
4
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes
2
Diz-se que teriam sido os ingleses a introduzir nesta região esta casta, vinda da Grécia (Johnson's, 1999).
Atualmente, a Portaria 333/2016, vem reconhecer a menção “Origem do Alvarinho”, como menção
tradicional facultativa mas de uso exclusivo, para os vinhos com direito à utilização na rotulagem da
indicação da casta Alvarinho, produzidos na sub-região de Monção e Melgaço, cujos mostos devem
apresentar um título alcoométrico volúmico natural mínimo de 11,5 % vol. (Diário da República Eletrónico,
2017) .
5
detrimento de Viana do Castelo, com o aumento do comércio com a cidade e,
paralelamente, como o assoreamento do porto de Viana (Johnson's, 1999).
Em Portugal existem catorze regiões vitivinícolas - Vinho Verde, Douro e Porto, Trás-
os-Montes, Távora-Varoza, Dão, Bairrada, Beira Interior, Tejo, Lisboa, Península de
Setúbal, Alentejo e Algarve e as regiões das ilhas dos Açores e Madeira ( Instituto da
Vinha e do Vinho I.P, 2017) sendo a vitivinicultura um dos setores mais ativos da
agricultura portuguesa, representando cerca de 0,6% de todos os produtos e vinhos
exportados (Vieira & Serra, 2010).
6
novas denominações de origem. “À data da adesão comunitária existiam em Portugal 11
denominações de origem, 8 desde o início do século XX e 3 desde o início dos anos 80,
existindo hoje 33 denominações” (Simões, 2008, p. 270). À semelhança da maioria dos
países produtores europeus, em Portugal a produção de vinho tem sido substancialmente
maior que o consumo e os vinhos do “Novo Mundo”, cada vez mais presentes nos
mercados europeus têm contribuído para aumentar o desequilíbrio entre a oferta e a
procura dos vinhos portugueses (Madureira & Nunes, 2013).
A Região Demarcada dos Vinhos Verdes, criada em 1908, durante o reinado de D. Carlos
e regulamentada em 1926, localiza-se no noroeste de Portugal, tendo como limite norte o
rio Minho, que marca parte da fronteira com a Espanha, como limite sul o rio Douro e as
serras da Freita, Arada e Montemuro, a este as serras da Peneda, Gerês, Cabreira e Marão
e a oeste o oceano Atlântico, ocupando as vinhas uma área de cerca de 21 mil hectares,
sob diversas formas de condução, fazendo desta região a maior Região Demarcada
Portuguesa e uma das maiores da Europa. É, de resto, o oceano Atlântico que contribui
com um conjunto de fatores que imprimem características únicas aos vinhos Verdes,
assim como a presença dos rios Minho, Lima, Cávado, Ave, Homem e Tâmega. A região
demarcada, em face de um conjunto de fatores de ordem cultural, dos diferentes
microclimas, das variações na tipologia dos solos, dos diversos tipos de castas e da forma
de condução das vinhas, está dividida em nove sub-regiões recomendadas à produção de
vinhos, espumantes e aguardentes sendo que Vila do Conde se localiza na sub-região do
Ave (Almeida, 2016):
- Amarante3
- Ave
- Baião4
3
Integra os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses. Face à sua localização no interior, o clima
apresenta grandes amplitudes térmicas, promovendo verões mais quentes, favoráveis a castas de maturação
mais tardia, como Azal e Avesso (brancas), Amaral e Espadeiro (tintas). Os vinhos brancos caracterizam-
se por aromas frutados e um título alcoométrico superior à média da Região. É dos tintos que vem a fama
da sub-região de Amarante, sobretudo da casta Vinhão (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos
Verdes, 2017).
4
Integra os concelhos de Baião, Resende e Cinfães. A sua localização no interior da região, a uma altitude
intermédia, crias as condições para um clima menos temperado, com invernos mais frios e menos chuvosos,
e meses de verão mais quentes e secos, tornando-se favoráveis para o correto amadurecimento das castas
de maturação mais tardia, como o Azal e o Avesso (brancas) e o Amaral (tintas) (Comissão de Viticultura
da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
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- Basto5
- Cávado6
- Lima7
- Monção /Melgaço8
- Paiva9
- Sousa10
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Integra os concelhos de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena.
Localizada numa altitude mais acentuada, o clima é mais agreste, com invernos frios e muito chuvosos e
verões bastante quentes e secos, criando boas condições para as castas de maturação tardia como o Azal
(branca), o Espadeiro e o Rabo-de-anho (tintas). Aqui a casta Azal apresenta-se com o máximo potencial e
dando origem a vinhos muito particulares, com aroma a limão e maçã verde, muito frescos. Existe ainda
uma considerável produção de Vinhos Verdes tintos que apresentam muita vinosidade e boca cheia e fresca
(Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
6
Integra os concelhos de Esposende, Barcelos, Braga, Vila Verde, Amares e Terras de Bouro. Localizada
um pouco por toda a bacia hidrográfica do Cávado, está bastante exposta aos ventos marítimos, o que
provoca um clima ameno, sem grandes amplitudes térmicas e com uma pluviosidade média anual
intermédia, originando um clima adequado à produção de vinhos brancos, sobretudo das castas Arinto,
Loureiro e Trajadura (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
7
Integra os concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. Neste
território verificam-se índices mais elevados de precipitação. O relevo irregular origina alguns microclimas.
A casta Loureiro dá origem aos vinhos brancos mais afamados desta sub-região, com aromas finos e
elegantes. As castas Arinto e Trajadura também se encontram nesta sub-região. Os vinhos tintos são
produzidos sobretudo das castas Vinhão e Borraçal (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes,
2017).
8
Integra os concelhos de Monção e Melgaço. Esta sub-região apresenta um microclima muito particular, o
que potencia a sua exclusividade nas castas Alvarinho (branca) e Pedral (tinta) e a par com sub-região de
Baião detém a recomendação para o Alvarelhão (tinta), três castas de maturação precoce. Nesta sub-região
os invernos são frios, com precipitação intermédia, ao passo que os verões são bastante quentes e secos. Os
vinhos da casta Alvarinho são o ex-libris da sub-região de Monção e Melgaço (Comissão de Viticultura da
Região dos Vinhos Verdes, 2017).
9
Integra o concelho de Castelo de Paiva, e, no concelho de Cinfães, as freguesias de Travanca e Souselo.
Face às condições climatéricas intermédias, as castas tintas Amaral e, sobretudo, Vinhão, atingem
excelentes estados de maturação e produzem alguns dos vinhos verdes tintos mais prestigiados de toda a
Região. Também aqui se encontram as castas Arinto, Loureiro e Trajadura, adaptadas a climas temperados,
quase comuns a todas as sub-regiões, (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
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Integra os concelhos de Paços de Ferreira, Paredes, Lousada, Felgueiras, Penafiel e, no concelho de
Vizela, as freguesias de Vizela (Santo Adrião) e Barrosas (Santa Eulália). O clima desta sub-região é ameno,
com baixas amplitudes térmicas e com poucos dias de forte calor durante o verão. As castas principais são
as típicas dos locais mais amenos, como Arinto, Loureiro e Trajadura, e o Azal e Avesso com uma
maturação mais exigente. Também estão presentes as castas Borraçal e Vinhão, que dão origem aos verdes
tintos, assim como o Amaral e o Espadeiro, este último muito utilizado para a produção de vinhos rosados
(Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
8
explorações caraterizam-se, sobretudo, por minifúndios, embora se possam encontrar
algumas explorações de grandes áreas. Hoje a qualidade do seu vinho é reconhecida pela
sua frescura e leve acidez, sendo sobretudo o branco, bastante exportado (Johnson's,
1999; Inácio, 2008). É frutado, tem baixo teor alcoólico, apresentando-se como um ótimo
aperitivo e excelente acompanhamento de refeições leves, consumindo-se
preferencialmente no verão (Sá, 2013).
9
A sub-região do Ave é composta pelos concelhos de Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso,
Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa, Vieira do Minho, Vila do Conde, Vila Nova de
Famalicão e Vizela. Esta sub-região produz essencialmente vinhos brancos, frescos, com
notas florais e citrinas, com forte presença das castas Arinto11, Loureiro12 e Trajadura13
adequadas ao clima ameno da sub-região, onde se encontra vinha um pouco por toda a
bacia hidrográfica do Ave (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
11
Para além da sub-região do Ave, é uma casta cultivada por toda a região, embora não seja recomendada
na sub-região de Monção e Melgaço. Conhecida como Arinto de Bucelas, é no interior da região que atinge
mais qualidade, exigindo um nível médio de maturação. Os vinhos apresentam cor citrina a palha, com
aroma rico, do frutado dos citrinos, maçã madura e pêra ao floral. O sabor é fresco, harmonioso e persistente
(Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
12
Presente em quase toda a região, adapta-se melhor às zonas do litoral, não sendo recomendada apenas
nas sub-regiões mais interiores como Amarante, Basto e Baião. Antiga e de alta qualidade exige igualmente
um nível de maturação médio e produz vinhos de cor citrina, com aroma elegante e frutado (citrinos, foral,
melado), com ligeiro acídulo, fresco, harmonioso, encorpado e persistente (Comissão de Viticultura da
Região dos Vinhos Verdes, 2017).
13
Cultivada por toda a região (não recomendada na sub-região de Baião) é uma casta de boa qualidade.
Amadurece precocemente, sendo mais macia, complementando com as castas Arinto e Loureiro. Produz
vinhos de cor e aroma intensos, a frutos maduros, como maçã, pera e pêssego, quente, redondo e com
tendência, em determinadas condições, a baixa acidez (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos
Verdes, 2017).
10
aguardentes de vinho, fruto da destilação dos vinhos” (Comissão de Viticultura da Região
dos Vinhos Verdes, 2017).
Face ao investimento da Região dos Vinhos Verdes em novas vinhas, a par com novos
sistemas de condução da vinha, a profissionalização da atividade e os novos enólogos
ligados às quintas, os vinhos Verdes viram potenciadas as suas qualidades e níveis
competitivos, tendo como corolário o seu reconhecimento através da conquista de
prémios em concursos nacionais e internacionais. “A região do vinho Verde soube
coletivamente apostar numa renovação, tendo sido iniciada uma revolução de qualidade
tanto na produção como no marketing e comercialização, tornando os vinhos Verdes um
dos maiores casos de sucesso no atual panorama dos vinhos portugueses” (Sá, 2013, p.
8).
14
Organismo privado fiscalizador e certificador dos vinhos, espumantes, aguardentes e vinagres da região
(Inácio, 2008).
11
se atrair pelas suas particularidades únicas, pela hospitalidade das suas gentes e pela
riqueza do seu património, em suma por toda a riqueza do seu terroir. É, pois, neste
âmbito que vamos procurar, de seguida, conhecer e caraterizar a importância do setor
turístico da região do Minho, em particular no contexto do enoturismo em Portugal.
12
O enoturismo em Portugal: a Região dos Vinhos Verdes
Michael Hall, em 1996, num artigo sobre a atividade turística ligada à viticultura, na Nova
Zelândia, é o primeiro autor a sugerir uma definição para enoturismo, entendendo-o como
“visitation to vineyards, wineries, wine festivals and wine shows for which grape wine
tasting and /or experiencing the attributes of a grape wine region are the prime motivating
factors for visitors” (Hall, Sharples, Cambourne, & Macionis, 2002, p. 3), o que nos
13
mostra as diferentes propostas que esta forma de turismo engloba. Sendo o vinho a
principal motivação, existe em seu torno um conjunto de prováveis interesses, como os
eventos, as visitas às quintas e adegas, as provas de vinhos, ou os festivais, o que torna
importante não só o conhecimento do produto, o vinho, mas também toda a região de
origem e de produção do mesmo (Inácio, 2008).
14
que integram o universo do enoturismo. Para a difusão do inquérito foram utilizadas como
fontes de informação as Comissões Vitivinícolas, as Rotas de Vinhos e o Guia Técnico
de Enoturismo do Turismo de Portugal, apurando-se uma base de dados constituída por
339 unidades no Continente e Ilhas.
O norte apresenta uma posição preponderante com 35% do total da base de dados,
seguindo-se o Centro e Alentejo com, respetivamente, 29% e 26%. As questões relativas
à procura reportam-se à atividade desenvolvida pelas unidades de enoturismo durante o
ano de 2013. Do lado da oferta, objetivando conhecer o que está disponível, o inquérito
contemplou um conjunto diversificado de atividades passíveis de serem realizadas em
unidades de enoturismo (tiveram em consideração aspetos como a exigência de marcação
prévia ou número mínimo de clientes).
Assim, 97% das unidades de enoturismo realizam provas de vinhos (necessária marcação
prévia para 74% destas unidades). Em cerca de 81% destas unidades, esta é uma atividade
com custos para o cliente e em 26% dos casos, exigem número mínimo. 93% das unidades
promovem também visitas guiadas às instalações, sendo que em 76% dos casos é
necessário marcação prévia. Do total de unidades que desenvolvem esta atividade, em
55% dos casos as visitas são pagas e em 13% exigem número mínimo de clientes. No que
diz respeito às vinhas, cerca de 79% das unidades inquiridas realizam visitas guiadas, das
quais 85% com marcação prévia; em 61% tem custos para o cliente e 22% exigem um
número mínimo. 31% das unidades de enoturismo deduzem o custo da visita (à vinha ou
às instalações), total ou parcialmente, na compra de vinho da propriedade. Quanto a
atividades mais sazonais, são referidas a vindima (43%), a pisa da uva (26%) e a poda da
vinha (21%).
15
26% das unidades realizam exposições (mais de 50% com marcação prévia e em
38% dos casos a visita é cobrada).
cerca de 88% das unidades tem loja e um local próprio para provas de vinho.
O equipamento “sala para eventos” é referido em 66% das unidades de enoturismo, em
que 60% tem capacidade máxima até 100 pessoas (sendo que pode variar entre 20 e 700
lugares).
Apenas 31% das unidades de enoturismo possuem alojamento, sendo que 76% têm até
10 quartos, inclusive. Quanto à existência de restaurante, esta só se verifica para 16% das
unidades de enoturismo. Nos equipamentos complementares, 26% das unidades refere
possuir “núcleo museológico”.
Cerca de 57% das unidades afirmam ter parcerias com outras empresas e entidades, como
empresas de animação turística (30% dos casos) e agências de viagens (29% dos casos).
Do inquérito também se afere que existe uma colaboração regular entre as unidades de
enoturismo e as Rotas do Vinho (52%), as Comissões Vitivinícolas Regionais (49%) e as
entidades municipais (45%).
16
experiências, sentimentos e estímulos gratificantes com base em atividades alternativas,
que não as dos tradicionais produtos turísticos” (Lameiras, 2015, p. 8) e que
proporcionem novos conhecimentos.
17
Na Europa, a oferta enoturística tem-se planificado e desenvolvido predominantemente
através das rotas do vinho, que se apresentam como um produto estruturado, que integra
percursos sinalizados nas regiões vitivinícolas (denominadas regiões de denominação de
origem controlada) e a sua promoção, organizados em rede e que envolve explorações
agrícolas e outros estabelecimentos (Simões, 2008).
15
Regulamentado o apoio financeiro pelo Fundo de Turismo com a publicação do Despacho Normativo n.º
669/94, de 22 de setembro.
18
e paisagístico das regiões, das suas tradições, do artesanato, promovendo o seu
crescimento sustentável.
O facto de a região do Minho ser a única no país que produz vinho Verde, associada ao
facto de ter sido esta região a primeira no país a potenciar o desenvolvimento do TER 16,
faz com que hoje se apresente com características singulares, como altamente
diferenciada do restante território nacional. Assim, o enoturismo da Região do Vinho
Verde assenta sobretudo na estadia nestas unidades rurais, onde os turistas podem
instalar-se e conhecer a região, participando em provas de vinhos integrando-se na rica
tradição cultural e patrimonial do Minho (Inácio, 2008).
Do ponto de vista económico Inácio diz-nos que a região do Minho soube tirar partido da
criação da Rota dos Vinhos Verdes e que todos os intervenientes lucraram com este
produto turístico. As unidades hoteleiras e a restauração porque vêm o seu negócio com
atividade, os produtores e comerciantes porque assistem à promoção e procura do seu
produto, a nível nacional e internacional, pelo que todo este ciclo potencia atividade
económica e gera emprego, quer a nível direto, quer indiretamente. “Grandes casas,
apalaçadas, brasonadas, com forte pujança na produção de Alvarinho, em particular na
região de Melgaço e Monção, e sobretudo os solares de Ponte de Lima foram e são um
importante potencial para aproveitamento turístico. Por outro lado, infra-estruturas de
mais fácil acesso e com características únicas, como é o caso da Aveleda, vencem em
ambos os universos de atividade, do vinho e do turismo, ainda que não tenham
desenvolvido a vertente alojamento no seu negócio. Servem para a região em que se
situam como local de atração de visitantes, sendo solicitadas visitas aos seus jardins e
quintas pelos hotéis da região, pelas comissões organizadoras de eventos ou pelos turistas
itinerantes” (Inácio, 2008, p. 492). De facto, o Minho possui uma riqueza patrimonial,
que associado à paisagem vinhateira faz desta região um “embrião notável da
16
Fruto da existência de um vastíssimo conjunto de casas solarengas, brasonadas, muitas vezes com geridas
por gente descendente de famílias nobres.
19
portugalidade, cheio de pujança demográfica, dinamismo agrícola, e sentido rentista na
gestão dos ativos” (Marques & Marques, 2017, p. 109).
A Rota dos Vinhos Verdes, criada pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos
Verdes é atualizada numa plataforma digital (Marques & Marques, 2017) e integra os
principais produtores e engarrafadores registados pela CVRVV, “num conjunto de
itinerários culturais e patrimoniais pelas várias sub-regiões que constituem a centenária
região demarcada” (Marques G. M., 2017, p. 65). Este conjunto de rotas, que tem como
base comum o vinho Verde, organiza-se nas várias sub-regiões da região dos vinhos
Verdes e visa um conjunto de objetivos, como o conhecimento dos principais produtores
do vinho Verde, as visitas às quintas mais emblemáticas e com mais tradição de produção,
promoção de provas de vinhos e visitas guiadas às quintas e adegas, visitas aos principais
elementos patrimoniais e históricos da região, estímulo às provas da gastronomia
tradicional, nos restaurantes e adegas típicas, conferindo visibilidade ao vinho Verde,
quer a nível nacional, quer internacionalmente (Marques G. M., 2017).
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- Rota das Quintas
- Rota dos Mosteiros
- Rota das Praias (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017)
Como é possível depreender da informação recolhida sobre a Rota dos Vinhos Verdes,
percebemos que esta região tem todo o potencial para se apresentar como um produto
forte e atrativo no mundo do turismo vínico. Para Ana Inácio, a região apresenta uma
identidade forte e com elevados níveis de qualidade quanto à sua oferta turística. No que
concerne aos gastos, o indicador médio, por visitante, é elevado. Não obstante, a autora
considera que a “actividade enoturística ainda não terá alcançado o estágio ou estado
possível, nomeadamente por falta de coordenação das entidades operantes no terreno, em
particular os agentes” (Inácio, 2008, pp. 493-494) com base no trabalho de investigação
que desenvolveu nas diferentes regiões vitivinícolas.
21
Vila do Conde na sub-região dos vinhos verdes e a escolhas vínicas
nos restaurantes: um estudo de caso
Como se disse, na sub-região do Ave a vinha acompanha a bacia do rio que lhe confere a
designação, numa zona onde o relevo é irregular e de baixa altitude, o que deixa a sub-
região mais exposta a ventos marítimos, dando origem a um clima que se caracteriza por
baixas amplitudes térmicas e índices médios de precipitação, tornando a sub-região
favorável à produção de vinhos brancos, com uma frescura viva e notas florais e de fruta
citrina. Nesta sub-região encontram-se as castas Arinto e Loureiro, adequadas ao clima
ameno, em face da sua maturação média, assim como a casta Trajadura que, por
amadurecer precocemente, é mais macia, completando na perfeição um lote de vinho com
Arinto e Loureiro (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, 2017).
Em face da produção vínica que ocorre na sub-região do Ave, procuramos pois perceber,
de que forma a existência desse produto regional se traduz na escolha dos clientes dos
restaurantes da zona ribeirinha de Vila do Conde, e que papel os chefes de mesa têm, ou
podem, ter no momento da decisão, associando-se a esta questão a promoção dos produtos
regionais. De facto, nos restaurantes os clientes só têm uma de duas opções, quando o
consumo de vinho se impõe. Considerando que o cliente não pode provar os vinhos antes
da sua escolha, ou pede conselho ao restaurante, ou em face de uma lista razoável de
vinhos faz a sua escolha (Paulino, 2009).
22
Existem diversos fatores que condicionam o processo de escolha do vinho num
restaurante como “os locais (de degustação, compra ou oferta de vinhos e cuja invocação
reaviva lembranças que acarretam uma diversidade de pensamentos e sentimentos); os
julgamentos de valor (baseados em fatores técnicos, simbólicos e emocionais); os rituais
(observados através do protocolo de uma refeição, de um evento de degustação de vinhos,
de uma demonstração, de uma experimentação, de uma celebração, de uma viagem ou de
uma visita); as sensações (intimamente ligadas ao vinho como a visão, o cheiro ou o
sabor); a atmosfera (calor, frio, ruído, silêncio); as regiões vinícolas (denominação de
origem e, por vezes, quintas ou proprietários - referências que por si só podem gerar
emoções ou sentimentos); as castas (como componentes intrínsecas de produtos a serem
provados e que através das suas características objetivas podem ser associados a certos
sentimentos); as marcas (caracterizadas, nomeadamente, pela sua capacidade de disparar,
instantaneamente ou progressivamente, uma reação emocional associada a um universo
simbólico e imaginário)” (Guia, Mota, & Marques, 2017, p. 9). Para Madureira & Nunes,
a região de origem dos vinhos é um dos atributos mais importantes na escolha de um
vinho, uma vez que é um dos primeiros aspetos considerados pelos consumidores no
momento da compra. “The origin of the wine region is one of the most important extrinsic
attributes in the process of choosing a wine, as it is one of the major factors used by
consumers in their purchasing process and is often the first criterion to be evaluated”
(Madureira & Nunes, 2013, p. 76). No estudo empírico que levaram a cabo concluíram
que o atributo extrínseco mais valorizado é a região de origem, sobretudo para os
consumidores ocasionais. No caso de especialistas, embora esse aspeto seja muito
importante, não é o mais importante, na mesma linha de opinião, de resto, de Lockshin,
Jarvis, d´Hauteville, & Perrouty.
Em face do exposto somos levados a pensar que o facto de um turista estar em visita e ter
o objetivo de conhecer uma região, procurando envolver-se com o local que o acolhe,
esse aspeto poderá influenciar a sua escolha, levando-o a optar pelo consumo de produtos
regionais, não só no que concerne a vinhos, mas também no âmbito da experiência
gastronómica.
Por outro lado, as vendas de vinho nos restaurantes podem depender dos conhecimentos
vínicos dos empregados de mesa, já que, de alguma forma, podem sugerir o vinho
existente no restaurante ao consumidor, sendo, para tal, determinante deter
23
conhecimentos indispensáveis, influenciando os clientes a optar por marcas de vinhos
locais em detrimento de vinhos já conhecidos. Na restauração, os clientes procuram,
normalmente, um vinho que harmonize com o prato selecionado e que tenha um preço
aceitável face à qualidade, pelo que é expectável que os restaurantes consigam
proporcionar uma experiência gastronómica positiva. “O termo suggestive selling ou
venda sugerida descrita por Dodd (1997), é frequentemente usada na indústria da
restauração. A ideia simplesmente sugere que os empregados da restauração deveriam
tentar aumentar as vendas atraindo a atenção do cliente para certos produtos” (Paulino,
2009, p. 43).
Choen, d’Hauteville, & Sirieix, defendem que a forma de escolha dos vinhos nos
restaurantes é variável: em França, por exemplo a recomendação do chefe de mesa parece
ser um fator importante, enquanto que nos países de língua inglesa a escolha é
normalmente do cliente. Nos EUA, por exemplo, o primeiro fator que determina a escolha
do vinho nos restaurantes é o menu, sendo a interação com o funcionário pouco frequente
(Cohen, d’Hauteville, & Sirieix, 2009).
24
nas suas refeições diárias. O consumo de vinho não acompanhado de alimentos não tem
expressão, mas o consumo social - em grupos, ocasiões especiais e em refeições de
restaurantes - é uma situação em desenvolvimento entre a faixa etária mais jovem (18-34
anos).
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ocasionalmente em e festas/eventos; é o próprio consumidor que adquire o produto e a
sua escolha é determinada pela recomendação de amigos e familiares.
No que concerne aos atributos mais valorizados pelos inquiridos foram identificados o
preço, o sabor do vinho, a recomendação de terceiros, a boa ligação com comidas leves,
ter já comprado o vinho anteriormente e a identificação do produtor. No que toca aos
atributos menos valorizados estão a marca conhecida, o facto de serem sobretudo vinhos
jovens, a cor e o design da garrafa e baixo teor alcoólico (Sá, 2013).
Socorremo-nos desta análise uma vez que para Vila do Conde não localizamos qualquer
estudo que pudesse, de alguma forma, apoiar o estudo que desenvolvemos com vista a
procurar perceber se a sub-região e a oferta de produtos regionais concorrem, de alguma
forma, para a escolha ou sugestão dos vinhos nos restaurantes inquiridos. Ao longo da
análise bibliográfica levada a cabo, apesar da existência de poucos estudos neste sentido,
genericamente ficou claro que a informação consultada considera que os funcionários dos
restaurantes podem desempenhar um importante papel na sugestão dos vinhos clientes.
No que concerne então a Vila do Conde, com o questionário aplicado (todas as respostas
estão apresentadas em anexo, com uma designação alfabética em substituição do nome
do restaurante) procurou-se perceber qual a sensibilidade dos inquiridos para as escolhas
dos clientes, designadamente no que concerne à região de origem preferencial, que
critérios estiveram subjacentes à criação da carta de vinhos, que tipo de cozinha
apresentam no seu restaurante e qual a predominância da escolha (carne ou peixe), que
vinhos costumam recomendar aos seus clientes e se lhes parece importante promover os
vinhos verdes da sub-região do Ave em que Vila do Conde se localiza.
Embora 7 dos 12 inquiridos tenham referido que o vinho Verde também é pedido, a
grande maioria refere que os vinhos da região do Douro são os mais solicitados. Quanto
aos critérios considerados para a elaboração das cartas de vinho, os aspetos mais referidos
são a variedade (procurando alguma oferta de cada uma das principais regiões
portuguesas), a qualidade e o preço. Apenas 3 restaurantes inquiridos referiram a
preocupação em harmonizar a carta de vinhos com o menu de que dispõem, sendo que a
maioria é de cozinha tradicional, com predomínio do peixe grelhado, embora entre os
inquiridos exista uma pizzaria, um restaurante de sushi e uma hamburgueria gourmet.
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Quanto às especialidades vilacondenses (essencialmente o peixe grelhado), 7 dos
restaurantes referem que por vezes sugerem os vinhos verdes para acompanhamento do
peixe. Dois deles referiram especificamente a época do ano em que servem sardinhas
assadas e em que sugerem vinho Verde (branco e tinto), sendo que verificam também
uma maior procura. Por fim, embora todos reconheçam a importância de promover os
produtos regionais, apenas 9 assumem que promovem o vinho Verde junto dos seus
clientes.
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Considerações finais
A diferenciação social a que o ato de beber vinho desde sempre esteve associado, em
conjunto com a capacidade de alterar o estado de consciência de quem o bebe, acrescido
do caráter simbólico que o ritual cristão lhe imprimiu, são aspetos que trouxeram ao vinho
uma “dimensão imaterial” e singular (Simões, 2008). Por seu turno, a associação do vinho
à gastronomia e ao património cultural, às idiossincrasias da sua região de origem, fazem
deste produto um elemento incontornável de afirmação territorial e potenciador de
promoção turística da região que o produz e o promove.
Assim, tendo por base a Região Demarcada dos Vinhos Verdes e a sub-região do Ave,
bem como sustentados por um conjunto de leituras bibliográficas que nos deram conta da
importância da região no momento da escolha dos vinhos no restaurante, desenvolvemos
um trabalho empírico, com a aplicação de um questionário aos 12 restaurantes localizados
na zona ribeirinha de Vila do Conde. Conclui-se que genericamente a informação que os
proprietários e /ou responsáveis de sala que connosco dialogaram têm um conhecimento
aquém do que seria expectável para a prestação de um serviço de qualidade no que
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concerne à sugestão de vinhos. Paralelamente, apesar de todos reconhecerem a
importância da promoção dos produtos regionais junto dos seus clientes e turistas, no
momento de apresentarem uma sugestão de vinhos para acompanhamento da refeição, a
maioria reconhece que os vinhos do Douro são os mais sugeridos e solicitados.
Embora este trabalho constitua uma pequena amostra, uma vez que se confina a uma
percentagem pouco significativa da restauração em Vila do Conde, estamos em crer que
num trabalho de natureza mais lata, seria interessante o desenvolvimento do estudo de
forma mais abrangente, senão à totalidade, pelo menos à maioria das unidades de
restauração do concelho, sendo possível, pensar na implementação de um projeto de
promoção dos vinhos verdes da região nos restaurantes do concelho.
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Referências
30
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matching regions and consumer’s involvement level. International Journal of
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wine? Determinants of their buying decisions and. 5th International Academy of
Wine Business Research Conference, (pp. 1-9). Auckland (NZ).
32
Anexos
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Figura 3 - Localização dos restaurantes da zona ribeirinha de Vila do Conde
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Restaurante A
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Sim, temos esse fator em consideração e recomendamos o vinho verde aos nossos
clientes.
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Restaurante B
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Restaurante C
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Restaurante D
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Restaurante E
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Restaurante F
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comparativamente com a sugestão de um prato em que a tendência vai para peixe,
porque estamos junto ao mar e temos uma tradição a defender.
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Restaurante G
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Restaurante H
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Restaurante I
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Restaurante J
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Restaurante K
2. Concebeu a sua carta de vinhos tendo em conta que critérios? Sim, trabalhamos
apenas com um vinho branco e um tinto, ambos da região do Douro.
5. Tem algum critério definido para sugestão de vinhos de acordo com os pratos
pedidos pelos seus clientes?
Sim, maduro tinto para carnes e maduro branco para os peixes e carnes brancas.
7. Pertencendo Vila do Conde à região demarcada do vinho verde, tem esse fator
em consideração no momento de recomendar o vinho aos seus clientes?
Não, uma vez que apenas servimos Vinhos do Douro.
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Restaurante L
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