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Gente, Lugares

e Vinhos do Brasil
Rogerio Dardeau

2020

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e onheci Rogerio Dardeau pelos
idos dos anos 2000, e como um
bom vinho, que tem o tempo como
seu a]jado, a no sa amizade vem se
refinando, ganhando compleridade
e estreitando laços. Dardeau é uma
referência quando se fala em vinho
brasileiro, a qual se construiu por
meio de sua experiência e convívio
com vinhateiros, visitando, conver­
sando, convivendo, experimentando
e documentando as suas impressões.
o seu livro anterior, Vinho fino
brasileiro, Dardeau, muito genero­
samente, ofereceu o seu olhar sobre
Rogerio Dardeau descende de o cenário de vinhos finos brasileiros,
família francesa de vinhateiros, de forma didática e precisa.
estabelecidos na AOC Montlou.is-sur­ Para nossa sorte, Dardeau é incan­
Loire, desde o século XVI. Publicou sável e apaixonado pelo vinho brasi­
leiro. Paixão esta que ele faz questão
outros ljvros sobre vinhos, pela
de compartilhar em suas aulas, expo­
Mauad Editora: Vinhos - Uma festa
sições, palestras e viagens enolurís­
dos sentidos (quatro eclições e uma em ticas e que, agora, culmina com esta
PortugaJ, pela Editorial E tampa}, bela obra, Gente, Lugares e vinhos
Vinhos... é importante Lembrar do Brasil. Temos em mãos um livro
(2004 ), Vinho & Prazer (20] 3) e que mapeia o verdadeiro significado
Vinho fino brasileiro (2015). Dardeau do termo Terroir, que, além do lugar
é professor de vjnhos brasileiros, na ( clima, solo) e castas, enfatiza a
importância do vinhateiro na tipicj­
ABS Rio e na Fundação Getulio
dade de um vinho. É uma obra
Vargas. Edita a página 'Vinhos Brasi­
abrnngente e acolhedora, pojs não
leiros pol· Rogerio Dardeau', no Face­ deixa de lado nenhum pl·ojeto, abor­
book, e é membro da Fédéralion dando lugares antes inimaginávei
lnternational eles Journaliste et de se cultivarem videiras para
Écrivains eles Vins et Spiritueux vinhos finos e que ajnda estão em
(Fijev), além de assocjado e con·es­ fase embrionária. Da mesma forma,
dedica um capítulo aos vinhos de
pondente, no Rio de Janeiro, da
negociantes, pessoas que, a partir de
Academia Brasileira de Direito do
uma visão, buscam reaJizar o sonho
Vinho (Abdvin}. Além dos títulos de produzir seus próprios vinhos.
sobre vinhos, publicou A sociedade
Este texto proporciona uma adorá­
em negociação - lno·vações tecnoló­ vel viagem pela nossa viticultura, e,
gicas, trabalho e emprego ( relações de com certeza, tem o podel· de ampliar
trabalho) [Mauad, 2001], Largo da a nossa vjsão sobre o vinho brnsilei­
Carioca (contos) [Ravil, 2000] e Nave­ ro. Boa 1.eüura!
gador de Liberdades (romance) [Ra­ Joseph R. Morgan]r.
zão CuJtural, 1998]. Presidenle da Associação Brasileira ele
Sonuneliers cio Rio ele Janeiro -ABS Rio
Gente, Lugares
e Vinhos do Brasil
Rogerio Dardeau

2020

13%vol 750ml

mauad X
Copyright © by Rogerio Dardeau, 2020

Direitos desta edição reservados


à MAUAD Editora Ltda.
Rua Joaquim Silva, 98, 5° andar - Lapa
CEP 20241-110 - Rio de Janeiro - RJ

te!. (21) 3479-7422


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@) @MAUADXEDITORA
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Projeto Gráfico e Capa:


Núcleo de Arte/Mauad Editora

Revisão:
Mauad Editora

Capa:
Barbara Bravo

PS: A produção do livro já estava avançada, quando incluí nove produtores. Em


consequência, esses não integram os quadros estatísticos
apresentados no Tempo 1.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

D228g
Dardeau, Rogerio, 1953-
Gente, lugares e vinhos do Brasil/ Rogerio Dardeau. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Mauad X, 2020.
456 p. : il. ; 17 x 24 cm.
Apêndice
Inclui bibliogra ia e índice
ISBN 978-65-8763-128-8
1. Vinho e vinificação. 1. Título.
20-65811 CDD: 641.22
CDU: 641.87

Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472


Gente, lugares e vinhos do Brasil é dedicado a Eduarda e Tiago Dardeau, filhos
amados, parceiros, com suas famílias lindas, mas também, e de forma muito
especial, ao Sr. Milton de Souza, exemplo de competência, honradez e
compromisso com o vinho brasileiro, no campo da representação comercial,
além de uma generosidade ímpar. É uma honra ter sua amizade.

lfo
~ Agradecimentos

São inúmeros. Começo com Denise. Você foi a grande incentivadora. Foi você
quem disse: o que você está escrevendo não é a segunda edição de Vinho fino brasileiro;
você está escrevendo um livro novo ... e ainda contribuiu com arte e revisões.

Pedro, filho por afeto, sua vibração me contagia sempre! Você é meu crítico
predileto. Valeu!
Mateus, neto primeiro, com a certeza de que você escreverá muitos livros, com
alma e vinho. Seja sempre solidário a seu irmão Tomaz, à sua linda irmãzinha
Isabel, ao caçulinhaJoão e a seus primos Felipe e Daniel.
A Barbara Bravo, incansável nas versões da capa, desde a residência, em Lisboa.
Aos professores Eduardo Giovannini, Eduardo Torres, Valdiney Ferreira
e Vander Valduga, e ao empresário vitivinicultor Júlio Gostisa, que muito
contribuíram com artigos esclarecedores.
E ainda: aos meus editores, que não poupam esforços na parceria pela causa
que abracei; ao Frederico Santos Lopes e a minha irmã Myriam, pelas revisões
de conteúdo e forma importantíssima; a Ataide Venâncio e Leôncio Barreto
Neto, pelo prefácio amigo e pelas sugestões; a Rosana dos Santos, pelas
competentes e carinhosas ações comercial e de distribuição de meus livros, na
Mauad Editora.
Sumário

Prefácio 15
Apresentação 17

TEMPO 1- A vitivinicultura de vinhos finos no Brasil

EXPANSÃO TERRITORIAL DA FRONTEIRA VITIVINÍCOLA BRASILEIRA 29


EXPANSÃO CONCEITUAL DA VITIVINICULTURA BRASILEIRA DE VINHOS FINOS 30
Orgânicos & biodinãmicos & naturais ou 'naturebas' & puristas & veganos 31
Dupla poda ou ciclo invertido da videira 33
VINHO FINO CORRENTE 35
VINHO BRASILEIRO DE TERROJR (VBDT): A BUSCA DE UMA IDENTIDADE 35
Presença e consumo de VBdTs 37
Concursos 38

ALGUNS APRENDIZADOS SOBRE A VINHA 39


Vinhas velhas 39
Viticultura de precisão 39
Vinhedo único (Single vineyard) 39
Vinhedo protegido (coberto) 40
Mantas reflexivas 40
ALGUNS APRENDIZADOS SOBRE PROCEDIMENTOS DE CANTINA 40
Cantina 40
Chaptalização 41
Vinificação em pureza 41
Cofermentação 41
Barricas e madeiras 41
Ovos e outros vasos para fermentação 42
Ânforas 43
Corte Serra Gaúcha ou CMT 43
Vinho laranja 43
Vinho de solo 44
Vinho de chuva 44
Amarone 44
Brandy 45
Kosher 46
Envase: garrafas, caixas, latas ... 46
Rolhas e fechamentos 46
Resveratrol 47
ALGUNS APRENDIZADOS SOBRE
APRECIAÇÃO DE VINHOS,QUE INFLUENCIARAM PRODUTORES 47
Estilo 47
Tipicidade 48
Elegância 48
Volume 48
Direito do vinho 49
GENTE VINHATEIRA - LEGISLAÇÃO E COSTUMES 51
Gente que elabora vinhos finos, a partir da cultura de origem 52
Gente que elabora vinhos finos, como prazer e investimento 52
Uma sugestão de grupos de produtores de vinhos finos, no Brasil 53
Gente que elabora vinhos finos no Brasil - quantitativo e distribuição 58
Organizações representativas e de classe, de âmbito nacional 65
LUGARES - LEGISLAÇÃO, COSTUMES E PROPOSTAS 66
Zonas de produção 66
Indicações Geográficas 67
Enoturismo 69
VINHOS - LEGISLAÇÃO EPRÁTICAS 70
Exigências legais 71
Idade dos vinhos 72
Produção vitivinícola integrada 73
Rótulos (o que seria bom encontrar neles) 75
Sua excelência, o espumante brasileiro 79
Castas em uso no Brasil 85
VARIEDADES RESISTENTES DE VIDEIRAS 85
BRANCAS 87
TINTAS 96
Lugares onde se encontra vitivinicultura de vinhos finos, no Brasil 111
TERROIRS DO BRASIL 111
Passaporte para admissão aos territórios dos Tempos 11, Ili e IV 114

TEMPO li - Consolidação do Setor Vitivinícola Brasileiro

A vitivinicultura de vinhos finos, no estado do Rio Grande do Sul 117


ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES NO ÂMBITO ESTADUAL 118
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM VALE DOS VINHEDOS - DOW 119
Definições da DOW 120
INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA PINTO BANDEIRA - IPPB 140
INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA ALTOS MONTES - IPAM 147
INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA REGIÃO DE MONTE BELO - IPMB 159
IP FARROUPILHA - IPFARR 166
SERRA GAÚCHA ALÉM DAS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS 172
CAMPANHA GAÚCHA E IP CAMPANHA GAÚCHA 215
SERRA DO SUDESTE 231
VALE CENTRAL GAÚCHO 236
GRANDE PORTO ALEGRE 241
MISSÕES 253
CAMPOS DE CIMA DA SERRA 256
ALTO URUGUAI OU NOROESTE GAÚCHO 260
OUTROS LUGARES ONDE VINHOS FINOS SÃO ELABORADOS NO RIO GRANDE DO SUL 265

TEMPO Ili - Primeira expansão territorial


da vitivinicultura brasileira de vinhos finos

TEMPO IV - Um novo Brasil vitivinícola

SERRA CATARINENSE 283


PLANALTO OESTE CATARINENSE 296
URUSSANGA E IP VALES DA UVA GOETHE 303

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 307


PLANALTO OESTE PARANAENSE e outros lugares, onde vinhos finos são elaborados no Paraná 312

SÃO ROQUE EMUNICÍPIOS VIZINHOS 315


LESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO E MACRORREGIÃO DE CAMPINAS 320
MANTIQUEIRA ALTA 326
NOROESTE EALTA MOGIANA 330
OUTROS LUGARES onde vinhos finos são elaborados no estado de São Paulo 334

SUL DE MINAS 339


CERRADO MINEIRO 345
TERRAS ALTAS DE DIAMANTINA EALTO JEQUITINHONHA 346
TRIÂNGULO MINEIRO EALTO PARANAÍBA 351
OUTROS LUGARES onde vinhos finos são elaborados no estado de Minas Gerais 354
Lugares onde vinhos finos são elaborados no estado do Rio de Janeiro 359
SERRA DO CENTRO-SUL FLUMINENSE - Macrorregião de Petrópolis 359
Lugares onde vinhos finos são elaborados no estado do Espírito Santo 363
Lugares onde vinhos finos são elaborados no Planalto Central do Brasil, estado de Goiás 367

Lugares onde vinhos finos são elaborados no estado da Bahia 371


CHAPADA DIAMANTINA 371
Lugares onde vinhos finos são elaborados no estado de Pernambuco,
além dos municípios pernambucanos do Vale do São Francisco 375
Negociantes de vinhos & Oelicatéssens & Restaurantes vinhateiros 377

TEMPO V - Memória e Horizonte

Memória 397
Horizonte 409
APÊNDICE 1 - Gente 415
APÊNDICE 2 - Produtores e Negociantes (pessoas jurídicas) 427
APÊNDICE 3 - Lugares 435
APÊNDICE 4 - Instituições públicas e privadas citadas 441
APÊNDICE 5 - Alguns conceitos importantes 445
APÊNDICE 6 - Gente brasileira que elabora vinhos finos no exterior 447

Bibliografia 449
'/~
li.,)A-" . . Prefácio

Ficamos muito agradecidos com o convite para prefaciar Gente, lugares e vinhos do
Brasil - Uma viagem inesquecível, este novo livro do escritor Rogerio Dardeau. Esse con-
vite é consequência de uma afinidade criada em torno do tema desta obra, ou seja, os
vinhos do Brasil.
Para nós, Dardeau é uma das maiores autoridades no que se refere ao cenário atual
do vinho fino brasileiro, assim como à sua evolução através dos anos.
Por sermos sócios proprietários da Vinum Rio, uma das primeiras lojas exclusi-
vamente de vinhos finos produzidos no Brasil, nossa amizade surgiu naturalmente e
vem se fortalecendo pela convivência em torno desse interesse em comum.
Diversas vezes tivemos o prazer de recebê-lo na Vinum Rio para conduzir, com
maestria, enoencontros e apresentações temáticas sobre os vinhos brasileiros e suas
regiões de cultivo e elaboração. Esses encontros sempre proporcionaram ampliação de
nosso círculo de amizades e novos conhecimentos que levaram muitos participantes a
mudar seu ponto de vista sobre os vinhos nacionais e, em muitos casos, a se tornaram
verdadeiros apaixonados pela produção brasileira.
Neste livro, agradavelmente são passados alguns conceitos fundamentais sobre a vi-
tivinicultura, algumas de suas técnicas e as principais uvas viníferas cultivadas no Brasil.
Entendemos que esse conteúdo temático ajudará o leitor nas suas escolhas, sem a
intenção de torná-lo um especialista, mas sim em um iniciado e feliz consumidor de
bons vinhos produzidos em nosso país.
Você sabia, por exemplo, que temos vinhos de butique? Você saberá o que são e,
também, como podemos classificar e agrupar as vinícolas brasileiras.
Os franceses criaram a palavra "terroir" e nós, brasileiros, já possuímos nossos
vinhos de terroir e, aqui, o Rogerio nos mostra que a referência ao vinho brasileiro
deve passar a levar isso em conta.

Nossa gente que produz vinho é apresentada, considerando sua localização geo-
gráfica, indicação de procedência ou denominação de origem. Veremos também suas
interessantes histórias, contadas por quem as conhece de perto.
Aprendam sobre o vinho brasileiro e se encantem com um livro que faz justiça a
toda essa gente que produz vinho no Brasil.

Ataide Venâncio e Leoncio Barreto

Ge nte . Lugares e Vinho s do Bras il 15


Nota do autor: Esses dois amigos - Ataide e Leo - amantes de vinhos concluíram, em
2010, o curso 'Vinho e Cultura', em nível de pós-graduação, organizado pela Universi-
dade Cândido Mendes, com a Universidade da Borgonha. Em decorrência, escreveram
o projeto 'Possíveis ações que poderão ser aplicadas, na cidade do Rio de Janeiro, para mudan-
ça de hábitos, no que se refere à substituição do consumo de vinhos de mesa por vinhos finos
brasileiros'. O trabalho de pesquisa, realizado entre bares e restaurantes localizados
no bairro da Lapa, no centro da cidade do Rio de Janeiro, teve ótimo resultado: uma
grande parte dos abordados se convenceu e passou a adotar vinhos finos brasileiros,
na apresentação bag-in-box, mantendo o serviço regularmente. Sem sombra de dúvida,
uma significativa contribuição ao consumo e à popularização dos vinhos finos. No
âmbito dessa ação, nasceu a Vinum Rio, integralmente dedicada à comercialização de
vinhos finos brasileiros .

Vinum
• Ro 1
· lcºIT!ercializ.ação
de Vinhos Leda .

16 Rogerio Dardeau
~ Apresentação

Gente olha pro céu - Gente quer saber o um -


Gente é o lugar - De se perguntar o um ... Gente é muito bom - Gente deve ser o bom ...
Gente quer comer - Gente que ser feliz - Gente quer respirar ar pelo nariz ...
Gente lavando roupa - Amassando pão - Gente pobre arrancando a vida -
Com a mão - No coração da mata gente quer prosseguir -
Quer durar, quer crescer - Gente quer luzir ...
Gente espelho da vida - Doce mistério -
Vida doce mistério...
Gente, Caetano Veloso

O tempo vai distante. Vivíamos momentos difíceis de nossa história, quando Ca-
etano escreveu Gente, para que não esquecêssemos jamais: gente é fundamental! Mas
quem não sabe disso? Pois é, todos sabemos. Sabemos? Às vezes, esquecemos da gente
que vive, sonha, transforma, come, peleia, cria, agrega, erra, bebe, acerta, pinta, escre-
ve, borda, caminha, caminha, caminha...
No mundo do vinho, não é diferente. Gente de muitos lugares, de muitas culturas
faz vinhos diferentes e vai deixando marcas. É isso que desejamos mostrar neste livro:
a caminhada dos vinhateiros 1 do Brasil, num contraste com o conteúdo de Vinho fino
brasileiro, lançado na primavera-verão de 2015. Naquela época, tomei a decisão de pu-
blicar o estudo que vinha fazendo há anos, para oferecer aos amantes de vinhos uma
resenha muito ampla do que se fazia, no Brasil, em matéria de vinhos finos. Mas eu
sabia que, ao lançá-lo, deixaria de incluir projetos vitivinícolas, que davam os passos
iniciais. O que eu não imaginava é que seriam tantos e que, além daqueles, haveria
muitos outros, absolutamente novos, inéditos, configurando um cenário amplamente
modificado! Muita gente, em muitos lugares do Brasil, estava começando vida nova ou
recomeçando, resgatando a história de um vinho 'para chamar de seu', cada um em seu
próprio tempo, nos mais variados endereços.

Vinhateiro é todo aquele ou aquela que faz vinho, independentemente de formação acadêmica em eno-
logia. Em diversas passagens do livro, farei referência a vinhateiro. Refiro-me, então, ao produtor que
elabora seus vinhos com saberes da própria cultura.

Ge nte . Lugares e Vinh os do Bras il 17


O crescimento do interesse pela elaboração de vinhos finos, no Brasil, é muito sig-
nificativo. Trata-se de um novo momento em nossa vitivinicultura, no qual são realiza-
dos estudos sobre castas, manejo de vinhedos, nas diversas regiões brasileiras, identifi-
cação de microclimas, conhecimento da natureza e reconhecimento das características
dos diferentes terroirs. É a enorme diversidade, tão comum, nos países tradicionais
produtores de vinhos finos, agora acontecendo entre nós.
Volto a olhar os produtores em seus ambientes, mas, desta vez, mostro os lugares
onde vinhos finos são elaborados, numa cronologia crescente dos tempos nos quais os
projetos vitivinícolas foram sendo implantados, desde os pioneiros, no Rio Grande do
Sul, até os mais recentes, situados no Brasil central e no Nordeste. Incluí informações
decorrentes da dinâmica das gentes vinhateiras, em constante migração pelo país. Em
todo canto desta terra, tem gente fazendo vinho, derramando alma em mosto. Em ra-
zão de tudo isso, apresento aqui, neste novo livro, um panorama da vitivinicultura que
se faz no Brasil, no campo dos vinhos finos, com mais emoção.
Mas por que o uso do termo 'lugar' e não 'território'? A razão é bem simples. Pergunte
a um vinhateiro dedicado o que deseja para seu vinho. A resposta, invariavelmente, trará
algo como: desejo que meu vinho seja a expressão do lugar onde nasce. Além disso, exce-
tuando-se as indicações geográficas já definidas, para vinhos finos, os contornos (frontei-
ras) de todos os demais espaços vitivinícolas brasileiros ainda são incertos, demandarão
tempo, para que também sejam reconhecidas as próprias identidades vitivinícolas, cons-
tituindo-se num território fisico, no qual tal finalidade se realiza. Como bem nos recorda
o professor Vander Valduga, 2 território exige a presença de duas características essenciais:
um poder ou domínio e fronteiras estabelecidas. Ora, como disse acima, salvo as IGs (In-
dicações Geográficas), os outros espaços nos quais vinhos finos são elaborados, no Brasil,
não têm uma ou ambas características. Então, para não incorrer em equívoco no uso de
termos da Geografia, preferi o coloquial 'lugar'. Novamente recorro ao professor Vander
Valduga: "Lugar envolve um conjunto de relações afetivas que se estabelecem. É produto de abstração
de sujeito, não é uma categoria física. Tem tudo a ver com a proposta do teu livro". Aliás, é bom
ter em conta que este não pretende ser um livro acadêmico, mas sim um documento que
deseja contribuir com a valorização dos produtores de vinhos brazucas.
Mantenho a categorização dos grupos, sugerida no livro anterior, por ter sido muito
bem aceita. Cada produtor terá, junto ao nome, a sinalização do grupo ao qual perten-
ce: Gr I, Gr II, Gr III, Gr N ou Gr V, explicitados adiante. Ah, sim, se você leu Vinho
fino brasileiro, reencontrará aqui, neste novo livro, algumas informações que você já
conhecia, mas que eu não poderia suprimir, devido aos novos leitores, sob o risco de di-
ficultar a compreensão do todo. Imagino que não será mau recordar. Em contrapartida,
encontrará propostas que foram alteradas, aperfeiçoadas e, principalmente, inovações
surgidas na vitivinicultura brasileira.

2 Vander é um dos filhos de Edir e Nedi Valduga, fundadores da Vinícola Vallontano, localizada no Vale dos
Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS. Optou pela vida acadêmica em Turismo e, hoje, é o conceituado
Prof. Dr. Vander Valduga, coordenador do Programa de Pós-graduação em Turismo, do Departamento de
Turismo, da Universidade Federal do Paraná - UFPR, em Curitiba.

18 Rogerio Dardeau
Gente, lugares e vinhos do Brasil está distribuído em cinco tempos .

Tempo I - A vitivinicultura de vinhos finos no Brasil: busca apresentar uma


visão ampla do setor, das origens ao desenvolvimento. Quem iniciou a vitivi-
nicultura brasileira? Quando? Onde? O que aprendemos? O que inovamos?
Quais vinhos elaboramos? Temos regulamentação? Temos Direito do Vinho?
O Tempo I traz insumos que facilitam a leitura dos textos seguintes, especial-
mente dos perfis dos produtores.
Tempo II - Consolidação do setor vitivinícola: cuida dos produtores insta-
lados no estado do Rio Grande do Sul, do início das atividades vitivinícolas na
Serra Gaúcha aos dias atuais. O Rio Grande do Sul responde por mais de 80%
da produção brasileira de vinhos finos.
Tempo III - Primeira expansão territoriaP da vitivinicultura brasileira de
vinhos finos: ocorrida no século XX, no último quartil, nos leva aos produto-
res localizados no Vale do Rio São Francisco, entre Bahia e Pernambuco.
Tempo N - Um novo Brasil vitivinícola: reúne os produtores que se insta-
laram a partir do ano 2000, em outros estados, que não o Rio Grande do Sul,
inclusive os negociantes.
•, Tempo V - Memória e horizonte: traz projetos descontinuados, que deixaram
marcas importantes na vitivinicultura brasileira de vinhos finos, e pergunta:
o que virá depois, lá na frente? Quais as perspectivas de nossos vinhos finos?
Essa organização teve em conta, claro, os momentos marcantes do processo evolu-
tivo de nossa vitivinicultura, como resumo a seguir.

II/IARCOS DA PRODUÇÃO BRASILEIRA DE VINHOS


Gênese - Séculos XVI, XVII e XVIII
• Portugueses, em São Vicente e São Roque, SP e em Diamantina, no Cerrado
Mineiro
• Açorianos, no leste do Rio Grande do Sul
• Espanhóis, na Campanha Gaúcha

Imigração - Século XIX


• Alemães, na Serra Gaúcha; italianos, na Se rra Gaúcha e na Serra Capixa ba

Consolidação - Século XX
• ítalo-descendentes, na Serra Gaúcha, RS

la expansão (territorial) - Século XX (1970-80)


• Paulista e gaúchos no Vale do Rio São Fra nci sco

2a expansão (territorial) - Século XXI (2000)


• Catarinenses e parana enses em Santa Cata rina e no Paraná

3a expansão (conceituai) - Século XXI (2000)


• Brasil ei ros em SP, MG, ES, GO, RJ outros

3 Refiro-me ao movimento de vitivinicultores gaúchos para fora do Rio Grande do Sul, em busca de novos
lugares onde pudessem cultivar viníferas e elaborar vinhos finos.

Ge nte. Lugares e Vin h os do Bras il 19


Um detalhe: o conteúdo de Gente, lugares e vinhos do Brasil já estava pronto, em
fevereiro de 2020. Já havia sido visto pelos editores. Veio, então, o novo coronavírus,
logo disseminando a doença que se convencionou denominar Covid 19, classificada
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em março, como pandemia. Fomos orien-
tados ao isolamento social, diante da força de propagação do vírus. Nessa situação, ce-
lebrei meus 67 anos numa festa virtual. Comecei a considerar enorme a complexidade
de avançar com a produção física da obra. Seria algum sinal? Recuperei os originais e
fiz inúmeras complementações. E fiquei muito mais feliz com o resultado. Certamen-
te foi meu bálsamo, durante o período de isolamento, ocorrendo paralelamente a uma
das maiores, senão a maior, crise governamental que vivi no Brasil.

Muito grato às leitoras e aos leitores.


Enoabraços
Rogerio Dardeau

20 Rogerio Dardeau
TEMPO I

A vitivinicultura de vinhos finos no Brasil


"!~
Ji~ Origens e desenvolvimento

Brás Cubas teve seu vinhedo brasileiro, na então capitania de São Vicente (no atual esta-
do de São Paulo), por volta de 1551. Pedro Vaz de Barros cultivou videiras para vinhos, em
São Roque, SP, no século XVII. Na mesma época, jesuítas implantaram e mantiveram vinhas,
elaborando seus vinhos, nos Sete Povos das Missões, no Sudoeste riograndense. Foi, porém,
com a imigração italiana, ocorrida a partir de 1875, especialmente aquela assentada no estado
do Rio Grande do Sul,4 que a vitivinicultura brasileira fincou raízes e desenvolveu-se até os
vinhos finos de nossos dias.
Os colonos, instalados na então Dona Isabel - atual região de Bento Gonçalves e muni-
cípios vizinhos - desenvolveram, com muita luta, o cultivo de videiras para a fabricação do
próprio vinho .

... eram na maioria camponeses, que fustigados pelas vicissitudes em sua pátria (Itália), saíram
em busca de uma nova vida na América, trazendo na bagagem um mundo de fantasias, expecta-
tivas e apreensões: Cosa sarà lo st'America? A viagem não era um empreendimento fácil, exigia
além da resistência física, uma resistência psicológica para não se desestruturar; suas raízes aca-
bavam de ser arrancadas e novas relações tiveram que ser estabelecidas, durante a travessia do
Atlântico, relações estas que provavelmente foram o agente embrionário para a manutenção de
certos traços culturais, que já se haviam perdido, em sua região de origem, na Itália ... Apesar das
raízes arrancadas, da viagem difícil e da incerteza que lhes atormentava a alma, os migrantes,
contando com a solidariedade de seu grupo (elemento básico da sua cultura), vinham confiantes
e esperançosos na nova vida. 5

Os imigrantes enfrentaram, logo na chegada, a falta de mudas das variedades italianas a


que estavam acostumados. Muitas das mudas trazidas para a América não resistiram à traves-
sia do Atlântico, secando na viagem. As sobreviventes não se adaptaram. A solução encontra-
da para a necessidade de suprimento do hábito de vinho às refeições foi a utilização da casta
americana Isabel, que já era vinificada pelos colonos alemães. 6 A história nos mostra que os
italianos, utilizando-se da própria cultura, vinificaram a cepa e difundiram-na. Para sorte da
colônia, a uva Isabel adaptou-se totalmente à Serra Gaúcha e houve um derrame do que se
conheceu como vinho colonial.

4 Na mesma época, parte dos imigrantes foi assentada na serra capixaba.


5 VALANDRO, Pedro Oscar. La bella polenta: a cultura dos migrantes ítalo-brasileiros em Verê (1950-1960).
Revista História, Curitiba, Universidade Tuiuti do Paraná, n. 3, 2009.
6 Como se sabe, o processo migratório desenvolvido pelo Império do Brasil foi planejado, e alemães prece-
deram italianos.

Ge nte . Lugares e Vinh os do Bras il 23


Mas, como era feito esse vinho?
A elaboração ocorria com aplicação de saberes ancestrais, trazidos da Europa. Eram sabe-
res convencionados culturalmente, com transmissão por hereditariedade. Inicialmente, era um
processo com pouquíssima intervenção humana. Mas era preciso superar as consequências das
intempéries, as pragas e muitas outras adversidades. Assim, muito desafiados, os vinhateiros,
pouco a pouco, aprenderam técnicas e desenvolveram novos conhecimentos. Passaram a ter
mais interferências no cultivo das videiras e na elaboração dos vinhos, com utilização de defen-
sivos e aditivos variados. Consolidava-se o que podemos chamar de vinificação convencional.
Vinificação convencional é o método de obtenção de vinho que consiste em cultivo
de videiras, em geral conduzidas em pérgolas ou latadas,7 com o uso de fertilizantes e de-
fensivos químicos, colheita das uvas, esmagamento, fermentação, com adição de leveduras,
remontagens, trasfegas, clarificação, filtragens, afinamento ou não em barricas, aplicação de
conservante, envase e comercialização.
E foram exatamente os vinhos coloniais, assim vinificados, os responsáveis por fortalecer a
economia dos produtores. Foi a partir dos vinhos comuns, vendidos em garrafões, que se esta-
beleceu a produção dos vinhos finos. Foram os resultados financeiros dos negócios com vinhos
de mesa ou comuns que viabilizaram investimentos. Foi possível adquirir mudas importadas
de viníferas e implantá-las em espaldeiras, 8 substituindo as antigas pérgolas. Nas cantinas,
foram adquiridos equipamentos necessários à elaboração dos vinhos finos, as pipas de madeira
foram substituídas por tanques de aço inoxidável. Mas, alerto: como este trabalho se dedica ao
conjunto dos vinhos finos, o leitor não encontrará, por aqui, tratamento das castas do outro
conjunto, o dos vinhos comuns ou "de mesa", salvo quatro exceções: as brancas Goethe e Lo-
rena; as tintas Maximo e Moscato Bailey. A justificativa é que essas quatro castas vêm sendo
introduzidas no mundo dos vinhos finos, aparecendo em cortes com viníferas ou como varietais
em linhas de produção típicas daqueles vinhos. Tampouco verá detalhes sobre os vinhos de
mesa. Esses vinhos são elaborados a partir de uvas "não viníferas" (vitis labrusca, vitis bourquina
ou híbridas americanas), identificadas, entre muitas outras, no Brasil, pelos nomes Bordô, 9
Concord, Isabel e Margot, 10 Zeperina (Santiago - Cynthiana) entre as tintas, além de Bibiana, 11

7 Há ainda o sistema de latada semiaberta, utilizada quando se deseja maior espaço à insolação, mas também
um pouco de proteção relativamente a outros fatores climáticos.
8 Consideradas as uvas 'de mesa' e as uvas 'viníferas', os parreirais da Serra Gaúcha ainda são majorita-
riamente conduzidos em pérgolas ou latadas. Embora haja especialistas que elogiem tal condução das
parreiras, encontro unanimidade entre os agrônomos de que, na umidade daquela região, ou mesmo
diante do semiúmido da Campanha Gaúcha, a exposição ao sol, permitida pela espaldeira, transforma
esse método de condução no mais adequado. Alguns defensores das latadas argumentam que os adep-
tos das espaldeiras o são apenas pela facilidade de mecanização.
9 A uva Bordô era, originalmente, lves Seedling ou lves, ou ainda York Madeira ou Folha de Figo, esta
última, denominação em Minas Gerais.
1O "A cultivar BRS Margot é uma híbrida interespecífica, cuja constituição genética é composta por 74,22% de
Vitis Vinifera, 14,84% de Vitis rupestris, 4,69% de Vitis aestivalis, 3,52% de Vitis labrusca, 1,95% de Vitis
riparia e 0,78% de Vitis cinerea. Foi obtida a partir do cruzamento Merlot e Villard Noir, realizado na Embrapa
Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, em 1977." Embrapa Uva e Vinho. Comunicado Técnico n. 73, jan. 2007.
11 A BRS Bibiana é mais uma importante contribuição da Embrapa Uva e Vinho. De perfil Sauvignon Blanc,
essa híbrida é muito resistente e produtiva.

24 Rogerio Dardeau
Goethe, Lorena e Niágara, entre as brancas. Outra casta que se faz muito presente entre as
destinadas aos vinhos comuns ou de mesa é a Seibel, extensa família de mais de trinta varieda-
des (somente entre as tintas), obtidas por diversos cruzamentos, entre viníferas e americanas,
pelo médico, pesquisador e viticultor francês Albert Seibel, no início de século XX. Seibel tinha
pouco mais de 20 anos, quando presenciou a devastação causada pela filoxera nos vinhedos
franceses e concebeu suas híbridas, como solução. As variedades foram muito plantadas na
França, até os anos 1950, quando o INA0 12 decidiu banir híbridas das AOCs. Afinal, há muito
se praticava a solução definitiva de variedade francesa sobre porta-enxerto americano. A família
Seibel é encontrada também no Canadá, na Inglaterra, no Japão e na Nova Zelândia. Entre os
diversos clones, alguns assumiram denominações próprias, como Aurore, Chancellor, Chelois,
De Chaunac, Rubis e Verdelet. As variedades brancas têm menor representação, entre as quais
Seibel 8724, 10546, 13680. Em geral, dão origem aos conhecidos vinhos de garrafão, embora
haja vinícolas brasileiras que comercializam vinhos finos em garrafões.
A cultura italiana, entre tantos outros aspectos positivos, foi fundamental ao nos trazer os
métodos que fizeram a vitivinicultura do Brasil. Havia uma vontade natural de elaborar vinhos
nos padrões que lhes eram familiares: vinhos da lembrança do Velho Mundo.
"Son tanto premoso de un bicier de vin del ciodo."
[Sinto muita falta de um copo de vinho do nosso.] 13
Mas as condições da terra que lhes fora destinada, impuseram-lhes uma nova realidade. A
umidade dificulta bastante a obtenção de frutos com bons teores de açúcar. Como se confirma-
ria bem mais tarde, a região não apresentava as condições ideais 14 ao cultivo de videiras des-
tinadas a uvas para vinhos finos, principalmente em razão do manejo em latadas ou pérgolas,
usuais à época. A memória dos vinhos da origem, porém, nunca deixou de marcar presença
entre os colonos, que superaram as dificuldades, com muita fé, perseverança e técnica, e cons-
truíram a qualidade elevada de nossos vinhos finos de hoje.
Aqui, é preciso fazer uma digressão, para falar de qualidade. Objetivamente, significa atri-
buto. Há, porém, um uso ampliado, coloquial, dando conta de um atributo de superioridade,
diferentemente do conceito de conformidade. Então, um vinho de qualidade é um vinho supe-
rior. Os franceses, quando é o caso, especificam supérieur, enquanto os italianos usam superiore.
Mas se falo de 'qualidade elevada', o que exatamente quero dizer? Sempre que aparecer essa
expressão ou alguma semelhante, refiro-me àquele vinho que apresenta uma cor brilhante,
aromas francos e/ou complexos e uma boa estrutura, compatível com a proposta do produtor,
seja branco, rosado ou tinto. Um vinho de qualidade elevada precisa ser equilibrado, entre
álcool e acidez.

12 lnstitut National de /'Origine et de la Qualité, anteriormente chamado lnstitut National de l'Appelation d'Origine.
13 Trecho de carta de Luigi Vigilio Valduga, de outubro de 1875, do interior de São Paulo, aos irmãos que
ainda estavam na Itália, segundo relato de Remy Valduga, na obra Sonho de um imigrante, citada na
bibliografia.
14 Consideram-se condições naturais fundamentais para a obtenção de frutos ideais à vinificação: invernos
rigorosos, baixos índices de precipitação pluviométrica e de umidade, durante as fases de floração e de
desenvolvimento das videiras.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 25


Toda a análise que se segue tem, como pano de fundo, o conceito de terroir, para vinhos
finos. E o que é um vinho fino?
Vinho fino é todo aquele elaborado a partir de uvas viníferas. Viníferas são as uvas que
concentram açúcar a, pelo menos, 1/3 do próprio volume. 15 Desde fevereiro de 2018, em
razão de uma instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
podemos encontrar a expressão 'Vinho Nobre'. Nada mais é do que um vinho fino cuja gra-
duação alcoólica natural ficou entre 14, 1% e 16,0%. Os vinhos finos, pela lei do vinho, têm o
álcool limitado a 14,0%. Uma observação: há muitos consumidores que ao ouvirem a expres-
são 'vinho fino', fazem imediata associação a 'vinho fino seco'. A razão é bem simples: por
muitos e muitos anos, 'vinhos suaves' sempre foram elaborados a partir de uvas híbridas ou
americanas. Hoje, porém, há diversos produtores que oferecem vinhos finos suaves, portanto
elaborados a partir de uvas viníferas. Em resumo: a bebida fermentada a partir de uva vinífera
é vinho fino. As características da bebida decorrerão da gente que elabora, da uva que foi co-
lhida, do solo no qual está plantada, do clima do lugar e de todo o processo de vinificação, ou
seja, o vinho depende do terroir.
Terroir é um conceito francês segundo o qual um vinho é elaborado sob influência de
fatores naturais (cepa, clima e solo), da tecnologia (processos empregados na viticultura e na
vinificação) e de aspectos culturais. A palavra terroir não encontra tradução para o português.
Em espanhol, muitas vezes, se utiliza o termo terrufío.
Mas, sigamos na história! Em 1908, chegaram ao Rio Grande do Sul os irmãos enólogos
Lourenço e Horácio Mônaco. O entusiasmo com que esses italianos viram as terras brasileiras
e a incipiente vitivinicultura foi um estímulo à criatividade e à prática dos conhecimentos
técnicos que possuíam. Ensinaram, por exemplo, a correção de mosto (chaptalização - veja
adiante), o que foi de grande importância para a obtenção de boas graduações alcoólicas na
chuvosa Serra Gaúcha.
O clima não os intimidava e, durante os primeiros três quartos do século XX, os vinhe-
dos, cultivados em pérgolas ou !atadas, se expandiram e a produção de uvas aumentou, des-
tinando-se ao abastecimento de grandes empresas vinificadoras. Praticava-se o que costumo
denominar 'enologia de cultura'. Eram tempos em que a elaboração dos vinhos utilizava os co-
nhecimentos ancestrais, trazidos da Europa por avós e pais, enquanto investiam na formação
acadêmica dos filhos e netos. A experiência desses vinhateiros foi absolutamente fundamental
na formação das novas gerações. Nomes como os de Atílio dai Pizzol, Idalencio Angheben,
Laurindo Brandelli, Luiz Valduga, Nilso Cavalleri, entre tantos outros, foram essenciais para o
nosso estabelecimento no mundo dos vinhos finos e de terroir.
Os centros consumidores, sobretudo no Sul e no Sudeste, ainda viviam tempos de vinhos
portugueses, vendidos a granel em armazéns. No Rio de Janeiro, por exemplo, era assim, des-
de o início do século XIX. Mas os tenazes produtores gaúchos conseguiram disputar tal mer-
cado. Em meados do século XX, já se viam barris de vinhos gaúchos em restaurantes, vendas
e armazéns do Rio de Janeiro. A tradicional Adega Flor de Coimbra, em plena Lapa, e a antiga
Adega Ramos (hoje Castelo do Vinho), em Jacarepaguá, ainda mantêm a venda de vinhos

15 Definição internacional.

26 Rogerio Dardeau
gaúchos, que chegam em barricas de madeira e são adquiridos em vasilhames, trazidos pelos
próprios clientes. A década de 1930 assiste ao nascimento da Cooperativa Vinícola Aurora, um
marco na elaboração de vinhos no Brasil.
Em 1960, estabeleceu-se a primeira instituição voltada à formação de enólogos, nos níveis
médio e superior, o então Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, atualmente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus de Bento
Gonçalves. 16
Na década de 1970, empresas multinacionais do ramo de bebidas se interessaram pelo
Brasil. Instalaram-se por aqui Martini & Rossi, Mõet & Chandon, Maison Forestier, Heublein
e Almadén. Quase ao mesmo tempo, um movimento lento, mas firme, acontece entre os
vitivinicultores: começam a se formar profissionais do Colégio de Viticultura e Enologia de
Bento Gonçalves, muitos dos quais vão à Europa e se especializam em vinícolas francesas e
italianas; vinhedos são convertidos em viníferas europeias, e as latadas ou pérgolas começam
a ser substituídas por espaldeiras. 17
Tudo isso confirma que os cidadãos rio-grandenses ítalo-descendentes conseguiram equi-
librar as deficiências de toda ordem, com trabalho árduo e muita técnica. Buscaram e elabo-
raram vinhos finos autenticamente brasileiros, com inspiração europeia dos ancestrais. O
curioso é que as famílias italianas, ao decidirem pela elaboração de vinhos finos, buscaram
cepas francesas, em vez das magníficas viníferas da própria origem.
São exemplos de vinhos expressivos daquela fase: varietais elaborados pela Cia. Vinícola
Riograndense; nebbiolos do temperamental Oscar Guglielmone, na sua Adega Medieval, 18 em
Viamão; os Jolimont de Jacques Briere, no Morro Calçado, em Canela; Majou Tanret, da família
Fasano; Velho do Museu, de Juan Carrau Pujol; Cios des Nobles, da Aurora; Petronius, de Emilio
Kunz, elaborado em Gramado; Château Duvalier, da Martini & Rossi; Marjolet e Velho Capitão,
elaborados pela Dreher; Château D'Argent, ou ainda, um pouco mais tarde, o vinho fortificado
(tipo Porto) da Maison Forestier, vinificado a partir da Alicante Bouschet e vendido somente
aos visitantes da cantina, localizada entre Garibaldi e Bento Gonçalves.
É desse período também o entusiasmo do príncipe Dom Eudes de Orléans e Bragança,
da família real brasileira, que decidiu ter o próprio vinho e criou, em 1978, a Sociedade
Vinícola Dom Eudes. Teve sociedade com Romualdo Pereira e, em 1987, chegou a produ-
zir 40.000 caixas de brancos e tintos, na cantina do castelo Lacave, da família Carrau, em
Caxias do Sul. Há registros da presença dos vinhos Dom Eudes até em Paris, na elegante
deli Fauchon, na Place de la Madeleine. Eram um Sémillon, um Merlot e um Cabernet Sauvig-
non. Vejamos o testemunho do próprio Dom Eudes, ao Caderno B, do Jornal do Brasil, em
10 de janeiro de 1987:

16 Em 1985, o Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves passou a ser denominado Escola
Agrotécnica Federal Presidente Juscelino Kubistchek e, a partir de 2008, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, campus Bento Gonçalves.
17 Sistema de condução das videiras que consiste em linhas retas de arames, sustentados por postes nas
extremidades das linhas e por hastes verticais intermediárias. Há algumas variações como o Y e a Lira.
As alturas dos arames são variadas, dependendo da umidade do solo.
18 Os vinhos e o próprio Oscar Guglielmone, eu, lamentavelmente, não conheci naquela época! Quando tive
acesso àqueles prazeres, o autor já não estava entre nós.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 27


Os vinhos brasileiros brancos, de modo geral, são muito claros, muito filtrados, o que os dis-
tancia de algumas características da uva. Pela primeira vez conseguimos um vinho branco com
uvas de dupla maceração, o que o aproxima destas características da uva, reproduzindo estas
essências. A dupla maceração deixa o mosto (o sumo) em contato o dobro do tempo com a casca
da uva, dando ao vinho uma coloração mais forte; ele fica mais encorpado, com possibilidade de
continuar a crescer (melhorar) na garrafa.

Na ocasião, François Chassang, sommelier chefe da Fauchon, também disse ao Jornal


do Brasil sobre o Dom Eudes Sémillon 1984: "Um vinho bem equilibrado, com um gosto residual
muito rico, um aroma e um bouquet da melhor qualidade, equivalente aos melhores nessa qualidade de
Bordeaux". Esses acontecimentos protagonizados por Dom Eudes de Orléans e Bragança nos
mostram uma incipiente atividade négociant e a primazia comercial de vinho branco vinificado
com as cascas, ao estilo 'laranja' (veja adiante), dos dias atuais.
No decorrer dos anos 1980, porém, abate-se grande crise na vinicultura brasileira. Algumas
vinícolas multinacionais, como a Maison Forestier, simplesmente fecham as portas e deixam o
país, concedendo marcas e vendendo ativos. Outras grandes nacionais, como a Cia. Vinícola Rio
Grandense, tradicional produtora dos vinhos Granja União, vão à falência. A Dreher já havia sido
vendida à Heublein, em 1973, e essa empresa desiste de permanecer em Bento Gonçalves, fe-
chando aquela importante instalação vinícola. Inicia-se, então, uma transformação entre os vi-
ticultores para se tornarem também vinicultores. Afinal, já não tinham mais clientes para suas
uvas. Nasce a nova fase do vinho fino brasileiro, expandindo horizontes em variedade de rótu-
los, mas especialmente em qualidade. As famílias deixam de cultivar videiras exclusivamente
para venda de uvas a terceiros e abrem as próprias empresas comerciais de vinhos finos. Foram
muitas as famílias de imigrantes que tomaram esse caminho, além dos consultores estrangeiros
Geisse e Lona, antes somente dedicados à enologia dentro de grandes empresas do setor.
Em resumo, o perfil da vitivinicultura brasileira de vinhos finos, entre 1930 e a década
de 1980, era de muitos pequenos viticultores, entregando uvas para grandes vinificadoras.
Com o desinteresse das grandes companhias, muitos daqueles pequenos produtores de uva,
que elaboravam vinhos apenas para o próprio consumo, viram-se no desafio de se tornarem
também vinicultores profissionais. Vejo, então, com muita tranquilidade, nomes de enólogos
acadêmicos entre vinhateiros altamente profissionais, todos com relevante papel na fase atual
da vitivinicultura brasileira.
Os anos 1980 inauguraram a experimentação na vitivinicultura brasileira. Era preciso co-
nhecer muito bem qual resposta teriam os produtores depois da adoção de novas formas de
condução das videiras, novas castas implantadas, novos métodos de vinificação... E as famí-
lias, na Serra Gaúcha, puseram mãos à vinha, iniciando a transformação da vitivinicultura
brasileira. Em 1995, o Brasil ingressa na Organização Internacional do Vinho, ou Office In-
ternational de la Vigne et du Vin. Como se vê, por um longo período, até aproximadamente
o ano 2000, nossos vinhos finos eram somente gaúchos. Durante esse período, consolidamos
muito conhecimento.
O período em que a história da vitivinicultura brasileira foi essencialmente gaúcha, for-
temente ítalo-descendente, está muito bem documentado no livro Memórias do vinho gaúcho,
excepcional trabalho de Rinaldo Dal Pizzol e Sérgio Inglez de Souza. Ali, é possível conhecer

28 Rogerio Dardeau
os protagonistas, gente que caminhou, tropeçou, se levantou e ergueu um importante seg-
mento da economia e da cultura locais. Em Vinhos do Brasil do passado para o futuro, de Valdiney
e Marieta Ferreira, notável trabalho de resgate da história oral de 16 famílias e do Instituto
Brasileiro do Vinho (lbravin), os autores exploram vivências, num passo a passo narrado em
entrevistas memoráveis, das quais ainda há muito material em arquivo. Essas duas obras es-
tão indicadas na Bibliografia.
O vinho fino brasileiro avançou das Raízes, qualificando-se, e rumou a novos lugares. E la
nave va ...
E ingressamos no terceiro milênio em franca expansão. Observo dois caminhos, clara-
mente: uma expansão territorial, natural, e uma expansão conceituai.

FRONTEIRA VITIVINÍCOLA BRASILEIRA

EXPANSÃO TERRITORIAL DA FRONTEIRA VITIVINÍCOLA BRASILEIRA


A expansão territorial ocorre por duas vias: uma quantitativa, outra qualitativa. A primei-
ra se dá pelo rompimento das fronteiras físicas tradicionais do vinho fino brasileiro, a Serra
Gaúcha, aumentando nossa área vitícola e, por consequência, o volume produzido. A segunda
aparece pela adoção de parâmetros definidos de produção, as indicações geográficas.

FRONTEIRA VITIVINÍCOLA BRASILEIRA

Expansão
--...-

1
'
Territorial
1

---'
O berço de nossa vitivinicultura, a Serra Gaúcha, já não era suficiente. Ocorre então a
migração de vinhedos, internamente ao estado do Rio Grande do Sul, para a Serra do Sudeste
e para a Campanha Gaúcha, que, desde a década de 1970, já abrigava produtores.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 29


O Vale do São Francisco, que já vinha produzindo muita fruta, inclusive uva de mesa,
aparece também no cenário de produtor de viníferas e vinhos finos, marcando a primeira
expansão física.
A segunda expansão das fronteiras vitivinícolas brasileiras ocorre a partir do início dos
anos 2000. Depois do salto de milhares de quilômetros ao Vale do São Francisco, acontece
uma expansão territorial progressiva no sentido sul-norte, a partir de Santa Catarina.
Além dessa movimentação de natureza puramente quantitativa e de busca de novos terroirs,
ocorre uma outra, de natureza qualitativa: as indicações geográficas (IG). Fundamentados na
experiência e no conhecimento adquirido sobre determinada área, os próprios produtores estabe-
lecem as formas específicas de manejo das videiras naquela localidade, as castas que ali mais se
adaptam e o modus operandi de elaborar vinhos finos, naquele lugar. Submetem então um reque-
rimento ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), que pode chancelar a criação de
uma Indicação de Procedência, processo inicial de uma longa caminhada a uma Denominação de
Origem. Não obstante os custos ligeiramente mais altos do processo de produção numa IG, fato
que pode dificultar a vida de pequenos produtores, trata-se de uma forma de valorização do vinho
fino brasileiro, que pode contribuir com a quebra de preconceitos de muitos consumidores em
relação aos nossos vinhos. E estão nascendo as IGs de vinhos finos, no Brasil.
Em 2001, o Inpi certificou o primeiro selo de procedência para produto alimentício nacional,
exatamente para vinhos elaborados no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Estabeleceu-se a IP
Vale dos Vinhedos, que, em 28 de setembro de 2012, passou a ser Denominação de Origem (DO).
A expansão conceituai se mostra com as opções por cultivos orgânico, biodinâmico e natu-
ral, e adoção do manejo de vinhedos pelo ciclo invertido da videira, com dupla poda e colheita
de inverno. Tudo isso será detalhado um pouco mais adiante.
Uma alvissareira notícia foi a entrada em funcionamento, em 2012, do Curso de Bachare-
lado em Enologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no campus de Dom Pedri-
to, RS, bem no coração da promissora região vitivinícola da Campanha Gaúcha. Além disso,
os cursos de viticultura enologia, em seis dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tec-
nologia, também experimentam fortalecimento e demanda crescente de jovens desejosos de
embarcar rumo ao mundo dos vinhos.

EXPANSÃO CONCEITUAL DA VITIVINICULTURA BRASILEIRA DE VINHOS FINOS


A expansão conceituai, ocorrida a partir do início do século XXI e ainda em curso, é, cer-
tamente, a que nos chama mais atenção. É aquela que altera significativamente o manejo de
vinhedos e os processos produtivos. 19 São inúmeros produtores buscando a produção orgâ-
nica, a biodinâmica, a natural e a de dupla poda, que vêm proporcionando uma significativa
ampliação do horizonte vitivinícola brasileiro.

19 É nosso dever recordar que, até o início dos anos 2000, a nossa vitivinicultura obedecia a uma única
sequência de eventos, ano a ano. Era a vitivinicultura tradicional, hoje ainda praticada regularmente, por
muitos produtores.

30 Ro ge ri o D ard e a u
FRONTEIRA VITIVINÍCOLA BRASILEIRA

Orgânicos

Biodinâmicos
Expansão
Conceituai
Naturais

Dupla poda ou
c iclo invertido
da videira

Orgânicos & biodinâmicos & naturais ou 'naturebas' & puristas & veganos
Esses são conceitos que, talvez, devêssemos apresentar separadamente. Acontece, porém, que
todos derivam de uma única realidade: a demanda crescente por vinhos obtidos a partir de uvas
de vinhedos sem tratamentos venenosos e elaborados sob grande espontaneidade, sob mínima
intervenção. Mas o fato é que ainda não há consenso sobre tudo isso. Há muitos aspectos em
debate. Um pouco de normatização ainda falta. Então, recomendo enfaticamente leituras de Edu-
ardo Zenker e Gabriela Schãfer2º e, ainda, de Lis Cereja,2 1 que nos oferecem perspectivas esclare-
cedoras e nos auxiliam na escolha de nossos estilos de vinhos. Eu, porém, não poderia deixar de
oferecer aqui uma introdução, uma vez que constato um expressivo crescimento da demanda por
esses vinhos e, consequentemente, do número de produtores de vinhos finos, que vêm adotando
orientações orgânicas, biodinâmicas e naturais, para a elaboração de seus vinhos, no Brasil. São
tendências crescentes, muitas vezes complementares, que preconizam intervenção mínima ou,
no limite, intervenção zero, no campo e na cantina. Grande parte do debate se dá em razão dos
ambientes úmidos de muitos de nossos vinhedos, perfeitos para proliferação de fungos, o que
exige um combate efetivo. Como proceder então? Usar intensivamente defensivos químicos ou
atuar biodinamicamente? Outra discussão: vinhedos extensos, no Brasil, têm viabilidade de tra-
tamento orgânico ou biodinâmico? E na cantina, como proceder? Devemos permitir que o vinho
aconteça como for ou devemos intervir? Ainda não temos respostas consensuais.
A premissa dos apologistas dos manejos orgânico, biodinâmico e natural é simples: se os
primeiros vinhos foram obtidos de forma absolutamente espontânea, por que não voltar a
fazê-los dessa forma? E o que significa isso no cultivo da videira e na elaboração dos vinhos?
Em síntese, significa: vinhedos livres de química, tanto na fertilização quanto na proteção, e
vinificação com leveduras selvagens e processos espontâneos, sem clarificações, filtragens,
conservantes e outros recursos.
Vinhedos orgânicos rejeitam os defensivos agrícolas químicos.
No Brasil, é bem comum o uso da chamada "calda bordalesa",
especialmente por ser admitida em vinhedos orgânicos franceses.

20 Realinversa - O memorial do projeto Arte da Vinha. Garibaldi, RS. Gabriela Schafer. 2018.
21 Vinhos Naturebas. E-book 2019.

Gente. Lu gares e Vinhos do Brasil 31


Trata-se de um preparado na proporção de 100 gramas de sulfato de cobre, mais 100 gramas
de cal virgem (180 gramas de cal hidratada) diluídos em 10 litros de água (5 litros para adi-
luição do sulfato de cobre, mais 5 litros para a etapa seguinte). A solução obtida é pulverizada
sobre o vinhedo, com o objetivo de protegê-lo contra diversos males, especialmente contra
o míldio, 22 muito comum em regiões de clima úmido como o da Serra Gaúcha. Essa doença
afeta todas as partes verdes e em desenvolvimento da videira, desde folhas, brotos, galhos e
cachos até os frutos. Algumas vinícolas adotam o sistema Thermal Pest Contrai para proteção
dos vinhedos. Trata-se de equipamento que joga jatos de ar quente no parreiral. Há, porém,
viticultores que só admitem soluções que tenham origem na própria natureza.
Uma desejável agricultura orgânica de uvas não é simples de ser estabelecida, em áreas
grandes, com clima de umidade.
Vinhos biodinâmicos devem ter os seguintes requisitos, segundo formulação do Instituto
Biodinâmico (IBD Certificações): cada vinha deve ser uma individualidade integrada; o pro-
dutor deve ter práticas de conservação de solo; não fazer uso de fertilizantes químicos e de
agrotóxicos sintéticos (admitidos somente produtos de controle natural); assumir práticas
de conservação da natureza; praticar responsabilidade social do trabalho; aplicar preparados
biodinâmicos homeopáticos, que incrementam a vitalidade do ambiente, das plantas e do pro-
duto final; não fazer uso de produtos transgênicos. A produção biodinâmica integra animais
ao processo, pois esses exercem controle de ervas daninhas e de insetos, além de adubarem o
solo, promovendo o equilíbrio do ecossistema.
Os vinhos que, além de princípios orgânicos e biodinâmicos, são elaborados por métodos
ancestrais, inclusive com utilização de levedura selvagem e a utilização do conservante SOv
reduzida ao mínimo ou zerada, são chamados pelos próprios produtores de vinhos naturais
ou naturebas. Na apresentação individual dos produtores, adiante, os naturebas estarão sina-
lizados com a letra "N".
Atribui-se a Nicolas Joly, o renomado produtor francês, autor do livro Vinho do céu à terra,
a maior influência aos vitivinicultores brasileiros que desejam tal caminho de produção. Mas
vejo também as ideias de outro francês, o vitivinicultor Pierre Overnoy, e do italiano Josko
Gravner prosperarem bastante entre nós. Gravner é um cultuado produtor de vinhos "laranja"
(veja adiante) e os elabora, assim como os tintos, em ânforas de terracota, com capacidades
variadas. É Gravner que, em visita ao Brasil, afirmou: "Estou convencido de que o vinho é um pro-
duto da natureza, e não do homem, cujo papel, portanto, é o de acompanhar o seu processo de maturação,
evitando qualquer intervenção artificial".
Produtores pequenos como Lizete Vicari (Domínio Vicari) e Marina Santos (Vinha Unna) têm
estimulado o mercado com vinhos singulares, marcantes, elaborados rigorosamente sem interven-
ção. Outros, como Eduardo Zenker (Arte da Vmha), estão convertendo seus vinhedos sistêmicos
em orgânicos. Em 2014, realizou-se, no Rio de Janeiro e em São Paulo, o I Encontro Franco-Bra-
sileiro de Vmhos Naturais. Além de renomados produtores franceses, como Pierre Overnoy, esti-
veram presentes, com seus vinhos, os brasileiros Eduardo Zenker (Arte da Vinha), Lizete Vicari

22 Míldio ou Plasmopara vitícola é a principal doença fúngica da videira, podendo infectar todas as partes
verdes da planta, causando maiores danos quando afeta as flores e os frutos (www.embrapa.br). Nas
folhas, deixa feridas amarronzadas, que impedem a respiração normal da planta.

32 Rogerio Dardeau
(Domínio Vicari), Luís Henrique Zanini (Era dos Ventos), Marco Danielle (formentas), Marina
Santos (Vinha Unna) e Mauricio Ribeiro (Vinhedo Serena). Em 2016, realizou-se o II Encontro
Franco-Brasileiro de Vinhos Naturais, em Paris, com grande repercussão no mundo do vinho.
Entre os produtores brasileiros de vinhos naturais, encontramos aqueles que, por conside-
rarem desafiante o manejo apenas orgânico e/ou biodinâmico dos vinhedos, admitem alguma
intervenção no campo. Na cantina, porém, não admitem nenhuma intervenção, além dos mo-
vimentos de elaboração.
Desde 2020, na França, está em uso o selo 'Vin Méthode Nature', a partir de um acordo entre
produtores, o instituto francês que regula a vitivinicultura, o Inao, e a Direction Générale de la
Concurrence, de la Consommation et de la Répression des Fraudes (DGCCRF). Por esse acordo,
poderão ostentar o selo 'vinho método natural' aqueles que forem elaborados a partir de uvas de
vinhedos orgânicos, colhidas manualmente, sem insumos, com uso de leveduras selvagens, e sem
adição de sulfitos, mas podendo adicionar até 30mg/litro, com declaração expressa no rótulo.
Para serem considerados veganos, os vinhos, além de não sofrerem qualquer tipo de inter-
venção técnica com produto de origem animal, 23 precisam ter o que se denomina 'responsabi-
lidade vegana', ou seja, as uvas não podem ter sido colhidas por trabalhadores usando luvas de
couro, nem os rótulos fixados com colas que tenham componentes de origem animal. É isso
o que vem sendo exigido por consumídores veganos, na Itália. Naquele país, os vinhos que
apenas não utilizam recursos de elaboração com produtos de origem animal são chamados de
vinhos vegetarianos. Operam no Brasil algumas certificadoras privadas de produtos veganos.
Um fato altamente relevante: orgânicos, biodinâmicos e naturais, com suas exigências, vêm
provocando muito os produtores tradicionais. Não raro, técnicas comumente adotadas na ela-
boração tradicional vêm sendo alteradas. Volumes de defensivos químicos e de SO2 vêm sendo
reduzidos, entre os tradicionais, pelo ensinamento dos 'naturebas'. Já encontramos diversos
produtores convencionais utilizando levedura selvagem, em vez de adicioná-la, reduzindo SO2
e adotando outras condutas, sempre por influência das experiências dos naturebas.
Apenas uma observação final: ser produtor orgânico, biodinâmico ou natural não dá ates-
tado de excelência de produto. Há ótimos vinhos elaborados sob esses princípios, assim como
se encontram vinhos desequilibrados e defeituosos.

Dupla poda ou ciclo invertido da videira


Por muitos e muitos anos, em algumas regiões do Brasil, especialmente no Sudeste, pro-
duziu-se vinho a partir de uvas comuns (não viníferas). A espécie 'vitis viniferae' não prospe-
rava, especialmente por condições climáticas, até que o agrônomo mineiro Murillo Albuquer-
que Regina foi realizar estudos de pós-graduação (Mestrado, concluído em 1990, Doutorado,
finalizado em 1993, e Pós-doutorado em 2000), em Bordeaux, na França. Ali, ele observava
o clima e constatava: "Na França, nas melhores regiões vitícolas do mundo, o clima, no período que

23 No processo de elaboração tradicional, muitos vinhos são clarificados, com a utilização de substâncias de
origem animal, que literalmente filtram os vinhos, agindo como redes de malha extremamente fina, elimi-
nando resíduos. A gelatina {do colágeno do boi), a albumina {do ovo) e a caseína {do leite) são algumas
dessas substâncias. Nos vinhos veganos, esse tipo de substância não pode ser utilizado.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 33


antecede a colheita, é caracterizado por dias ensolarados e noites frias, acompanhados de solo seco". A tal
constatação seguiram-se duas outras, bastante curiosas: "É exatamente o que acontece na minha
terra (sul de Minas Gerais) em maio, junho e julho ... Se eu quiser obter uma boa uva para vinho, eu
tenho de inverter o ciclo das plantas".
Com isso, me informou Murillo, ele pôs-se a aprofundar pesquisas sobre inversão do ciclo
de plantas. Sim, encontrou! E logo propôs, academicamente, a solução para uma colheita de
inverno, no sul de Minas Gerais: fazer duas podas, invertendo o ciclo das videiras; literalmen-
te, enganando-as:

Uma poda deve ser feita em agosto e a outra em janeiro. Com a segunda poda, o ciclo recomeça.
A planta floresce em abril e maio e as uvas são colhidas no final de julho, início de agosto. Na
época da colheita, os dias estão ensolarados (até 27°C) e as noites mais frias(+/- l()<>C). A
amplitude térmica pode chegar aos 17° e o clima está seco. Todo ano é necessário fazer as duas
podas. Os ciclos das parreiras são sempre de 180 dias.

Mas era preciso testar, era preciso criar um vinhedo naquelas condições, proceder como
proposto e aguardar. Isso requeria investimento. Certo dia, Murillo fazia uma apresentação para
alguns enófilos e contou sobre seus estudos. Foi então que um dos presentes, o médico Marcos
Arruda, perguntou o que faltava para o começo de um projeto. Murillo Albuquerque Regina,
funcionário da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), foi simples e ta-
xativo: recursos financeiros. Diante dessa resposta, Marcos Arruda, entusiasmado com a ideia
de ter vinhos de alto padrão, elaborados no sul de Minas Gerais, imediatamente manifestou-se
interessado em apoiar o projeto. Pouco tempo depois, implantava-se o vinhedo da Estrada
Real Vinhos de Outono, que viria dar origem aos conceituados vinhos Primeira Estrada e que
despertaria o interesse de inúmeros produtores rurais de Minas Gerais e de São Paulo, pela
metodologia de vinhedo manejado com dupla poda. Estávamos no início dos anos 2000.
Quando se pratica o manejo do vinhedo pelo ciclo invertido, com dupla poda, é neces-
sário utilizar produtos para a quebra de dormência das plantas, sendo o mais eficaz a cianamida
hidrogenada. Trata-se de produto altamente tóxico na aplicação, exigindo equipamento especial de
proteção dos trabalhadores. Tem uso vedado em manejo orgânico. Já ouvi depoimentos de diversos
agrônomos que me garantiram: a cianamida hidrogenada não deixa qualquer resíduo na videira,
nem na uva, nem no vinho e nem na terra. Os produtos alternativos para a quebra de dormência
ainda não tiveram êxito, mas continuam sendo amplamente pesquisados. A cianamida hidrogenada
já era usada no sul do Brasil, em outras aplicações diferentes da finalidade indutora de brotação,
necessária à inversão do ciclo da videira. Claro, nos lugares frios da Europa, ou mesmo do Brasil,
não existe a necessidade da dupla poda, pois o frio impede o florescimento das plantas no inverno.
A adoção da dupla poda em lugares afastados da região Sul do Brasil gerou uma movi-
mentação tão grande que, em 2016, produtores de estados diferentes lançaram bases para uma
Associação Nacional de Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin). As distâncias, porém,
dificultaram a integração entre os fundadores, 24 que acabaram optando por associações locais.

24 Carvalho Branco (Caldas, MG), Casa Verrone {ltobi, SP), Estrada Real {Três Corações, MG), Guaspari
(Espírito Santo do Pinhal, SP), Maria Maria {Três Pontas, MG), Inconfidência (Paraíba do Sul, RJ), Luiz
Porto (Cordislândia, MG).

34 Rogerio Dardeau
Diante dessa evolução, sinto necessidade de sugerir que deveríamos adotar dois grandes
conjuntos de vinhos finos, no Brasil. Primeiramente, reconheço aqueles que cumprem os
requisitos legais, aos quais denomino vinhos finos correntes. Em outro conjunto, vejo os
vinhos finos muito especiais, que excedem a norma legal. Proponho denominá-los vinhos
brasileiros de terroir - VBdT. Vejamos!

VINHO FINO CORRENTE


É um vinho jovem, fácil, com maciez no paladar. Vinhos finos correntes são de consumo
rápido, não apresentando capacidade para envelhecimento. São varietais ou cortes chamados 'se-
leção', elaborados a partir de processo convencional, e, pelo menos por enquanto, representam o
perfil de muitos dos vinhos finos elaborados no Brasil e em quase todo o Novo Mundo. Arrisco
dizer que há ainda um "vinho novo", influenciado por padrões de consumo da juventude contem-
porânea. Historicamente, produtores de vinhos não se preocupavam com esse público, mas tudo
muda, e o mundo do vinho não está imune a isso. Esse "vinho novo" é uma bebida leve, frutada,
fresca, algumas vezes frisante, e muito breve, que precisa estar bem resfriada para consumo. Mui-
tas são as vinícolas brasileiras que estão investindo nesse segmento. Os vinhos finos correntes
conseguem ter preços mais baixos que os VBdT e são de consumo frequente, diário, corrente.
Do ponto de vista de escoamento da produção, os vinhos finos de consumo corrente têm muito
boa presença no mercado interno. Alerto, porém, que o vinho fino brasileiro, apesar dos volumes
superiores de 'vinhos fáceis' e de 'vinhos novos', ou seja, de vinhos finos de consumo corrente,
vem tendo notória evolução qualitativa, e esse é um reconhecimento generalizado.

VINHO BRASILEIRO DE TERROIR (VBDT): A BUSCA DE UMA IDENTIDADE


Os vinhos finos brasileiros mais profundos, candidatos à longevidade, têm sido solicitados
pelos consumidores e, por isso, vêm tendo atenção dos produtores, que buscam exprimir seus
terroirs para caracterizar os vinhos que elaboram. Diante desse cenário, e considerando a insu-
ficiência da legislação brasileira sobre vinhos finos, como veremos, preciso logo apresentar o
conceito de vinho brasileiro de terroir (VBdT) que desenvolvi."Vinho brasileiro de terroir"
(VBdT) é o vinho fino de produção limitada, elaborado a partir de uvas viníferas de vinhedos
bem cuidados; vinho exclusivo, singular, que expressa a identidade do terroir, procurada pelo
produtor, que tem isso como estratégia de negócio. 25
Logo de início, alguém poderia indagar o porquê do nome VBdT. Poderíamos ter adota-
do, perfeitamente, a consagrada denominação premium. Esclareço, então: trata-se apenas de
uma escolha, que pretende evidenciar um vinho fino do Brasil, de qualificação superior. O
objetivo é diferenciá-lo dos demais. No dia em que nossa legislação avançar um pouco mais,
poderemos ter a designação premium - com todo o conteúdo que deve encerrar-, prevista no
dispositivo legal correspondente, o que será suficiente. Aliás, devo salientar que podemos ter

25 Quem acompanha meus estudos recordará que eu falava , há pouco tempo, de vinho fino diferenciado. É
o mesmo conceito, hoje, aperfeiçoado na expressão vinho brasileiro de terroir.

Gen t e. Lugares e Vin hos do Bras il 35


VBdTs entre os vinhos Reserva e Gran Reserva, da classificação criada pela Instrução Norma-
tiva 14 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (IN Mapa), de 8/2/2018, e até
entre muitos que ainda não aderiram a essas novas definições. Vejamos, então, quais fatores
observei na formulação do conceito.
O primeiro fator é o desejo do produtor para o seu próprio negócio. A pergunta principal é:
o produtor tem foco em um vinho fino exclusivo, singular, identificado com a própria cultura,
com o próprio território, elaborado em pequenos volumes? A resposta afirmativa a essa ques-
tão é um ótimo indicador. Sob o meu ponto de vista, um rótulo de VBdT deve situar-se, no má-
ximo, em torno de 50 mil garrafas. 26 Atenção: não se trata da produção total, mas de um único
vinho. O conceito que proponho é o do vinho, e não o de vinícola. Alguns grupos empresariais
têm foco em presença de mercado. Trabalham voltados a grandes volumes, em escalas que
compensem, em retornos rápidos, os elevados investimentos para a produção. Efetivamente,
grandes volumes e rapidez de produção não são parceiros do detalhe, da atenção cuidadosa,
elementos essenciais para a obtenção de vinhos exclusivos. Isso não significa que assim não se
elaborem vinhos de qualidade. Há muitos sistemas de gerenciamento da produção que permi-
tem regularidade de produto. Mas certamente essa opção não será facilitadora da busca pelo
"singular". É claro que grandes empresas podem também ter, em pequenas partidas, VBdTs.
Basta que observem atentamente as respostas às questões seguintes.
A viticultura tem somente profissionais contratados e tecnologia ou tem a presença da
família? A uva provém de vinhedos próprios ou é comprada? Qual a idade das videiras? Os
métodos de condução da vinha, de poda das videiras e de colheita privilegiam a excelência dos
frutos ou o volume a ser produzido? Reduz-se o volume produzido ou, no limite, deixa-se de
trazer ao mercado determinado rótulo de vinho brasileiro de terroir, numa colheita fraca? Há
busca de sustentabilidade e/ou de produção orgânica?
Quero deixar claro que considero a presença da família um item importantíssimo para o
vinho brasileiro de terroir. A família (não somente no Brasil) identifica um nome, uma assi-
natura, e traz o desejo de vê-lo perpetuado, o que somente é possível com uma ligação muito
forte à vitivinicultura e, em decorrência, aos vinhos elaborados. Vejamos: se o produtor tomou
a decisão de elaborar vinhos brasileiros de terroir e se tem, à frente do cultivo, no vinhedo, um
nome da família, é altamente provável que esse representante não permita que seu nome se
associe a um produto elaborado a partir de frutos que não sejam muito bem cuidados e sãos.
Um tratamento dedicado e cuidadoso do vinhedo é essencial para a obtenção de frutos sadios.
De igual maneira, um membro da família à frente da elaboração, na cantina, terá um zelo es-
pecial nos processos. Haverá sempre uma dedicação emotiva (de terroir) associada à técnica.
Podemos então relacionar algumas decisões que certamente conduzirão à obtenção de vinhos
brasileiros de terroir: videiras plantadas em espaldeiras, com adequada exposição ao sol; poda
que controle os volumes a serem produzidos; colheita de frutos totalmente maduros; vinifica-
ção por meio de processos com intervenções controladas.
Evidentemente, o empresário que se lança ao negócio do vinho, com foco no vinho sin-
gular, contando com a colaboração de profissionais rigorosamente selecionados, poderá obter
também resultados muito bons, inclusive com emoção.

26 Entre as raríssimas exceções, destaco o Miolo Lote 43, que, na safra 2012, ofereceu 90.000 garrafas.

36 Rogerio Dardeau
No quesito "compra de uva de terceiros", é bom que se saiba que, em tese, não há qualquer
problema em fazê-lo. Porém, controlar efetivamente a qualidade das uvas em vinhedos de ou-
tros produtores pode não ser muito eficaz, e mais: pode não sair nada barato.
A responsabilidade ambiental é também um bom indicador da busca pela excelência de
produtos.
Na apresentação dos produtores brasileiros que faço adiante, diversos "vinhos brasileiros
de terroir" são citados com as iniciais VBdT.
Em resumo, vinhos brasileiros de terroir são exclusivos e singulares e excedem as definições
legais. A produção é pequena. São volumes reduzidos. Há tintos que podem evoluir na garrafa
por dez anos ou mais, uma vez que são elaborados para isso, a partir de vinhedos muito cuidados,
com rigorosa seleção de frutos e atenção especial na elaboração. Os VBdT brancos exibem brilho,
aromas, frescor e boa presença no paladar, havendo ainda alguns com potencial de guarda.
Os vinhos brasileiros de terroir - VBdT - podem ter três origens, cujas distinções o apreciador
fará: de produtores artesanais; de butiques de vinhos; e, nas grandes vinícolas, a partir de uvas
cultivadas em parcelas espeáficas de vinhedos, com elaboração exclusiva de pequenas partidas.

Presença e consumo de VBdTs


Quem é o consumidor desses vinhos finos brasileiros mais exclusivos?
Aqui, há outra expansão notória. A ampliação de informações e o crescimento da oferta
de vinhos finos brasileiros aproximaram um pouco mais os consumidores. Esses vinhos são
consumidos por grupos já iniciados no mundo do vinho, que buscam a exclusividade, a sin-
gularidade de cores, aromas e sabores. Mas eles estão dispersos pelo país afora. Ainda há difi-
culdade de localização objetiva desses consumidores. Esse nicho de mercado vem sendo bem
explorado pelas lojas especializadas e delicatéssens. O recurso da degustação de apresentação
tem sido comum e muito contribui para a formação de novos clientes. E haverá o dia em que
os terroirs e microterroirs, efetivamente demarcados, definirão os vinhos, como, por exemplo,
são reconhecidos os vinhos da AOC Margaux, essa pequenina indicação geográfica, dentro da
grande appellation Bordeaux.
Por enquanto, entre nós ... Bem, primeiramente, no estado do Rio de Janeiro, o hábito vem
sendo disseminado, há mais de cinquenta anos, por um respeitável senhor chamado Milton de
Souza, que, ao trabalhar na comercialização de vinhos finos brasileiros, levou-os a diversos pon-
tos de consumo e vendas, com sua elegância e sua generosidade. Milton iniciou sua atividade nos
anos 1960, quando criou a empresa Sul Rio. Naquela época, além de diversos produtos alimentí-
cios, o vinho de mesa era ator principal, pouco a pouco abrindo espaço aos vinhos finos.
Depois, veio a Vinum Rio, iniciativa de Ataide Venâncio e Leôncio Barreto, literalmente
um centro de cultura do vinho fino brasileiro, difundindo, para amplo público, o conheci-
mento dos produtores e mostrando as diferenças entre vinhos de inúmeras regiões. Ouvi de
muitos clientes que, ali, aprenderam a escolher e preferir os rótulos brasileiros oferecidos a
uma infinidade de importados, que aparecem nas gôndolas de supermercados e delicatéssens.
Em 2005, Petrus Elesbão, um enófilo líder de confrarias, residente em Brasília, com alguns
amigos, convidou duas vinícolas brasileiras a apresentarem seus vinhos na capital federal. O
evento acabou reunindo uma centena de pessoas e estimulou o empreendedor a continuar.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 37


Foi então criada a feira Vinum Brasilis, a primeira totalmente devotada ao vinho brasileiro.
Ao longo dos anos, a feira se consolidou como marca, inclusive por conseguir receber novos
produtores, orgânicos, biodinâmicos e naturais, com a mesma atenção dada aos tradicionais.
Em 2019, aconteceu a 12ª Vinum Brasilis.
Mais uma: desde 2016 a dinâmica jovem Larissa Fin, filha de produtores na região das
Missões, realiza a feira Vinho na Vila. Trata-se de um modelo de exibição de vinhos bastante
descontraído, jovial. Já aconteceram, até 2019, 13 edições do evento, as quais levaram o vi-
nho fino brasileiro a Campos do Jordão, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre, Rio
de Janeiro e São Paulo. E novos eventos serão realizados, em outras cidades, assim que haja
segurança sanitária, pós pandemia de Covid 19.
Mais recentemente, em 2015, nasceu a Cave Nacional. Inicialmente como um comércio
eletrônico de vinhos brasileiros, logo em seguida transformou-se num bar/restaurante, inte-
gral e exclusivamente suprido por vinhos finos brasileiros. Na ocasião, eu disse aos fundado-
res, Marcelo Rebouças e Karina Bellinfanti, que me dariam enorme alegria quando visse filas
de consumidores, à porta, esperando lugar para beberem vinhos finos brasileiros. Essa cena
hoje é rotina, nos fins de semana e até em dias comuns.
Depois, em 2017, quase simultaneamente à inauguração do bar de vinhos Cave Nacional,
apareceu a primeira edição da ViniBraExpo, feira totalmente voltada ao vinho fino brasileiro,
criada pelo médico e enófilo Gustavo Guagliardi Pacheco e seu sócio, Marcelo Ideses. Tama-
nho é o êxito do evento, que já foram realizadas três edições.
E as iniciativas de empreendedores que nos mostram a produção de vinhos finos brasileiros
avançam. Desde 2019, a cidade de São Paulo tem a Empório Brazuca, dos enólogos Paulo Roberto
Menezes e Marcos Fernandes. Na Serra Gaúcha, encontramos em Caxias do Sul, a Vinho Expres-
so que, entre muitos rótulos, distribui os vinhos exclusivos da Vinícola Boutique República Mis-
siones - Pequenas Partilhas, de Fernando e Paula Weber; em Flores da Cunha, a empresa Vinhos
& Vinhos, está dedicada ao comércio virtual..
Em 2020, veio juntar-se ao grupo de entusiastas e promotores do vinho brasileiro a pági-
na web www.brasildevinhos.com.br, coordenada pela jornalista Lucia Porto.
Todos esses esforços cumprem o papel de contribuir para que os consumidores de vinhos
quebrem o próprio preconceito (que ainda existe, entre muitos) em relação ao vinho fino
brasileiro, aprendendo a identificar e apreciar as características de cada região produtora
brasileira.

Concursos
Há não muito tempo, foram inaugurados, no país, os concursos de vinhos. Se, por um
lado, um vinho ouro, prata, bronze ou recomendado leva prestígio ao produtor, por outro,
impressiona, até estimula, mas deseduca o consumidor. Infelizmente, não é raro ver aprecia-
dores de vinhos em busca de medalhados, tendo decepções. Claro, a apreciação é pessoal e
seus parâmetros podem não combinar com os que laurearam o vinho. Frequentemente, ouço
depoimentos de pessoas que compraram algum vinho sem nenhuma recomendação e ficaram
felizes. Isso é bem melhor.

38 Rogerio Dardeau
~ Aprendizados
A vitivinicultura brasileira vem formando a própria história. Embora ainda tenhamos muito
a aprender, temos lições já memorizadas. A seguir, apresento alguns conceitos de viticultura,
enologia e apreciação que foram aprendidos e estão em pleno uso. Vejamos!

ALGUNS APRENDIZADOS SOBRE A VINHA

Vinhas velhas

Sabe-se que de vinhas velhas podem nascer grandes vinhos. Como nossa história vitícola
de castas viníferas não é muito antiga, ainda não tínhamos dado muita atenção a isso. Agora,
porém, é necessário observar esse quesito. O Almadén Vinhas Velhas Tannat, por exemplo,
obtido de uvas das primeiras espaldeiras daquela casa, implantadas em Santana do Livra-
mento, na Campanha Gaúcha, é um vinho de grande expressão, elaborado a partir de uvas de
vinhedos com idade superior a 40 anos.

Viticultura de precisão

É uma prática derivada da agricultura de precisão. Trata-se de estudo profundo das áreas
de vinhedos, para parcelá-las, segundo as características dos solos e outros fatores georrefe-
renciados, no sentido do estabelecimento de castas indicadas aos tipos de solo identificados.
Já há inúmeros viticultores brasileiros adotando essa técnica. Alguns exemplos são: Lidio
Carraro, Miolo, Terras Altas, vinhedos do professor Norton Sampaio.27

Vinhedo único (Single vineyard)

Vinhedo identificado a determinada casta. Dali são obtidos frutos que geram vinhos ca-
racterísticos. O conceito deriva diretamente da viticultura de precisão e da definição de terroir.
Um terroir, com suas características singulares de cultura, solo e microclima, uma vez iden-
tificado a uma casta, proporciona vinhos únicos. A informação single vineyard no rótulo é boa
indicação. Significa que o produtor identificou o vinhedo com a casta, obtendo um "vinho
brasileiro de terroir". São diversos os exemplos de viticultura parcelada, no Brasil: vinhedos da
Vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, SP; em todas as áreas vitícolas do Miolo Wine
Group, na Serra Gaúcha, na Campanha Gaúcha e no Vale do São Francisco; na viticultura da
Larentis, no Vale dos Vinhedos e em muitos outros espaços vitícolas. Alguns produtores bra-

27 Ver Fruticultura São Xico, em Bagé, na Campanha Gaúcha.

Gen t e. Lu gares e Vin h os d o B r a sil 39


sileiros declaram single vineyard em algum rótulo. Veja, por exemplo, Casa Valduga Identidade
Arinarnoa, Miolo RieslingJohannisberg e Pizzato DNA 99 Merlot.

Vinhedo protegido (coberto)

Esse é mais um recurso técnico em consequência do aprendizado no convívio com a na-


tureza dos lugares nos quais estão alguns vinhedos. Viticultores atentos, em regiões chuvo-
sas e sujeitas a granizo, observaram que a cobertura das linhas de vinhedos funciona como
excelente proteção, além de proporcionar maior resistência contra doenças fúngicas, como
míldio, oídio, podridão cinzenta e glomerela. Há ainda constatação de melhor desenvolvi-
mento vegetativo e excelente maturação. Apologistas da viticultura natural, mas não só eles,
viticultores tradicionais também, têm vibrado com os bons níveis de graus Brix28 nas colheitas
e com as leveduras nativas limpas dos frutos . Entre Vilas, Ferreira e Herdade Viela, na Serra
da Mantiqueira; Soliman, no Alto Uruguai; e Adega Viel, no oeste catarinense, são alguns dos
produtores que utilizam esse recurso, com ótimos resultados.

Mantas reflexivas

São instaladas nas fileiras dos vinhedos, para potencializar o efeito da luz solar sobre as
videiras. Foi um recurso utilizado, por exemplo, pelo enólogo Roberto Cipresso, assessor
da Bueno Wines, para a obtenção de uvas muito maduras, destinadas à elaboração do vinho
ícone da casa, o Anima Gran Reserva Merlot 2015.

ALGUNS APRENDIZADOS SOBRE PROCEDIMENTOS DE CANTINA

Cantina

O lugar em que são elaborados os vinhos é a cantina. Lá, nas Raízes, era apenas um prédio
anexo às moradas dos vinhateiros ou mesmo um cômodo da residência. Depois de muito apren-
dizado, sabemos que as cantinas têm exigências específicas, são edifícios planejados e construídos
para a finalidade a que se destinam. Precisam ter funcionalidade que considere recepção das uvas,
prensagem, maceração/ fermentação, remontagens, trasfegas, filtragens, se for o caso, estabiliza-
ção, engarrafamento e expedição. Ao construir uma cantina, o produtor precisa observar a lógica
dos movimentos. Em muitas cantinas, a movimentação do mosto/ vinho exige bombeamentos.
Há estudos mostrando que a ação das bombas pode não ser benéfica aos vinhos. Assim, muitos
produtores optaram por realizar toda a movimentação por gravidade. A uva entra por um de-
terminado nível do terreno e vai descendo a cada etapa do processo, até sair vinho engarrafado
num patamar inferior do terreno. No Brasil, já temos escritórios de arquitetura especializados em

28 Brix, com símbolo Bx, é uma escala desenvolvida pelo cientista alemão Adolf F. W. Brix para medir,
via refração, compostos solúveis numa solução de sacarose. Viticultores utilizam refratômetros, nos
vinhedos, e medem a quantidade de açúcar presente nas uvas. 1ºBx informa que há 1g de açúcar para
cada 100g de solução. Uma uva que apresente o excelente nível de 25°Bx tem 25g de açúcar em 100g de
líquido, que se transformarão em álcool, elemento fundamental na elaboração e na evolução dos vinhos.

40 Roge ri o D ard ea u
cantinas, como Rossi Arquitetura, de Caxias do Sul, e Vanja Hertcert, de Bento Gonçalves. No
jargão da Serra Gaúcha, a palavra cantina é, muitas vezes, utilizada como sinônimo de vinícola.

Chaptalização

Essa denominação deriva do sobrenome de Jean Antoine Chaptal, químico e político fran-
cês, criador do processo, pelo qual se intervém na vinificação, adicionando-se ao mosto açúcares
não provenientes da uva, como, por exemplo, da cana-de-açúcar, quando as uvas não atingem
os teores de açúcar necessários à liberação de alcoóis. Esse recurso foi introduzido no Brasil,
no início do século XX, pelos irmãos Mônaco. A correção de mosto, ou seja, a adição de açúcar
quando a uva não atingiu os melhores índices nesse quesito, é livre, no Brasil, salvo na DO
Vale dos Vinhedos, e pode ser necessária nos lugares em que incidem, com muita frequência,
chuvas intensas sobre os frutos em fase de amadurecimento. Algumas vinícolas brasileiras,
porém, vêm buscando destaque por meio de técnicas de plantio que permitem a produção de
vinhos apenas com os açúcares naturais. Outras, sem descuidar da técnica, buscaram localizar
novos vinhedos em regiões de microclimas mais favoráveis, em que as precipitações não são
tão intensas, proporcionando a obtenção de vinhos finos sem chaptalização.

Vinificação em pureza

Trata-se de forma de identificação do processo que privilegia a fruta. Método que não ad-
mite o uso de madeira. A expressão vem sendo muito utilizada, especialmente pela Vinícola
Lidio Carraro, que a adotou como princípio, mas não é oficial.

Cofermentação

Processo que vem sendo transformado quase em um estilo. Vinificação de castas diferentes em
conjunto. Foi muito utilizada nos primórdios da vinicultura, de forma aleatória, acidentalmente,
em razão do cultivo de variedades distintas, não identificadas, nos mesmos vinhedos. A colheita
era feita simultaneamente e imediatamente iniciada a elaboração do vinho. Atualmente, o conhe-
cimento dos perfis das diferentes espécies, dos DNAs diversos permite aos enólogos combinações
voluntárias, em busca de determinados resultados. Nesse caso, viticultores que cultivam castas
variadas, as têm em linhas definidas e conhecidas. Como a maturação de cada uma raramente coin-
cide com a de outra, procede-se à colheita, que é guardada em câmara fria, até que aconteça a outra
colheita, quando se passa à cofermentação voluntária. O professor Eduardo Giovannini é um dos
raros produtores brasileiros que utiliza tal recurso, em sua Quinta Barroca da Tília, em Viamão, RS.

Barricas e madeiras

As barricas, ao permitirem que os vinhos respirem pelos poros da madeira, afinam os vinhos
e aportam certos atributos. É sempre escolha dos vinhateiros: privilegiar a fruta com nitidez ou
aportar a complexidade da madeira. Mas acontece que, na origem da vitivinicultura brasileira de
vinhos finos, ainda não se podia trabalhar facilmente com essas escolhas. Barricas de carvalho
eram raras. Havia, sim, grandes tanques construídos com araucária e grapia, 29 duas madeiras

29 Regionalismo utilizado para referir à Grapiapunha, madeira de lei, também chamada Garapa.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 41


típicas e facilmente encontradas na Serra Gaúcha. Eram vasos muito mais para armazenamento
do que para afinamento dos vinhos. Barricas de carvalho de diferentes origens passaram a ser
largamente utilizadas, na fase contemporânea de nossa história vinícola, especialmente a partir
dos anos 1990. Produtores que optam pela complexidade da madeira precisam ter claro que es-
tágio em barricas sempre encarece o produto. Uma barrica para 225 litros de vinho, construída
em carvalho francês, chega ao Brasil por valores superiores a US$ 1.000. Algumas vinícolas bra-
sileiras têm importado barricas de carvalho australiano; outras optam por adquirir a madeira da
França ou do Canadá e montar as barricas no Brasil. A Tanoaria Mesacaza, de Eugênio e Mauro
Mesacaza, em Monte Belo do Sul, RS, foi fundada em 1981, com tradição hereditária. Tem forte
presença no fornecimento de barricas aos vinhateiros brasileiros. Vale ressaltar que a reutili-
zação de barricas é uma prática ecológica e saudável. Vinhos afinados em barricas de segundo
e terceiro usos têm características singulares. Alguns poucos produtores já têm barricas Pede
Blanche. São barricas de carvalho do centro da França, construídas pela conceituada tonelaria
Nadalié, especialmente para preservar a fruta da Chardonnay e a fineza da Pinot Noir. Trata-se de
marca registrada. São barricas construídas com 100% da variedade de carvalho Quercus sessilis,
que oferece uma porosidade de média a fina. O segredo está na lavagem que se faz das aduelas,
previamente à montagem, e na tosta muito leve e precisa, homogênea. A secagem é feita ao ar
livre, por 24 meses. É a barrica dos vinhos Casa Fontanari Nebbiolo 2016, do Pizzato Legno, do
Franco Italiano Paradigma Rotto Chardonnay 2018, além dos Villaggio Bassetti brancos Donna
Enny e Selvaggio D'Manny, e do Pinot Noir. Alguns produtores, porém, vêm estudando as rela-
ções dos vinhos finos com as madeiras tropicais. Os irmãos Álvaro e Vitor Escher construíram
diversas barricas que entremeavam aduelas de madeiras brasileiras com o carvalho.James Mar-
tini Carl tem alguns de seus vinhos barricados em madeiras brasileiras, que já tiveram aceitação
entre apreciadores. Mais recentemente, o vitivinicultor Vinicius Corbelini, de Santa Teresa, ES,
deixou seu Tabocas Madeira 2016, um Cabernet Sauvignon potente, de dupla poda, em estágio
por 11 meses em barricas de Jequitibá Rosa, dividindo opiniões. Gaspar Desurmont também
está experimentando nossas madeiras. Zulmir De Lucca experimentou um varietal de Peve-
rella em tonel de Castanheira, que ficou muito expressivo. Mas, mediante aprendizado, já se
introduziram outras duas formas de aportar notas de madeiras aos vinhos: chips e staves. Chips
são tiras de carvalho deixadas em suspensão, por fios de inox, em vinhos que estabilizam em
tanques de aço. Staves são aduelas deixadas nos tanques. É sempre bom recordar que, embora
o uso majoritário de barricas seja para afinar vinhos, há também fermentação em barricas, pela
qual vinhateiros e enólogos buscam diferenciar seus produtos.

Ovos e outros vasos para fermentação

História e estudos científicos identificam perfeição na forma oval, pela proporcionalidade


entre as medidas. Em razão disso, produtores se perguntaram por que não fermentar vinhos
em recipientes ovais, se essa era a forma dos vasos, na Antiguidade. O problema foi definir
o material até que, em 2001, o francês Marc Nomblot construiu o primeiro tanque oval, de
concreto. Logo ficou comprovado que o mosto se movimentava melhor e deixava a tempera-
tura mais estável. Além disso, nenhuma interferência de clima externo era verificada. Ficou
difundida a fermentação em ovos de concreto, pelo mundo. Entre nós, esse processo vem
chegando. Já está na Vinícola Guaspari, na Don Guerino, na Família Bebber e outras. Alguns

42 Rogerio Dardeau
produtores vêm preferindo tanques esféricos para a fermentação de castas específicas, mas
ainda não temos conhecimento desse formato no Brasil.

Ânforas

Resgate de método ancestral de elaboração e amadurecimento de vinhos. Prática cor-


rente na República da Geórgia, que vem sendo testada lentamente por alguns produtores
brasileiros, ainda sem presença no mercado. A Vinícola Don Guerino, de Alto Feliz, RS,
importou da Itália quatro ânforas de 450 litros cada, para realizar a fermentação integral
de um tinto, que estagiará, posteriormente, em três barricas de carvalho, comemorando
a excelente colheita de 2020. Lídio Carraro realizou pré-venda de um rótulo exclusivo,
assim amadurecido. '½ ideia nasceu do desejo de buscar a máxima relação entre as uvas e o solo
do nosso terroir. Por isso, extraímos a argila dos nossos vinhedos", esclarece Juliano Carraro.
Cozidas a 1.200ºC, as ânforas foram transformadas em cerâmica não vitrificada. O pro-
cesso de fabricação das ânforas foi conduzido por uma oleira gaúcha. O vinho, um corte
entre Merlot, Pinot Noir e Nebbiolo, foi previamente vendido e tem previsão de entrega
em 2020. Luiz Argenta vai pela mesma trilha, assim como o produtor artesanal Eduardo
Zenker (Arte da Vinha). Em Ribeirão Preto, SP, a Vinícola Terras Altas também estuda
utilizar-se do recurso.

Corte Serra Gaúcha ou CMT

Assim como reconhecemos o corte bordalês, pela mistura de vinhos das castas Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e Petit Verdot, ou o delicioso corte GSM (Grena-
che, Syrah, Mourvedre), típico do Rhône Sul, os produtores da Serra Gaúcha criaram um corte
próprio, único no mundo, que vem dando origem a vinhos que exibem uma cor rubi intensa,
aromas complexos, excelente estrutura e perfil longevo. Trata-se da mescla entre Cabernet
Sauvignon, Merlot e Tannat, castas com origens em regiões distintas. A Cabernet Sauvignon e
a Merlot, embora bordalesas, prosperam em margens distintas do rio Gironde. A primeira pre-
fere as terras bem drenadas, características da margem esquerda. A segunda aprecia a argila
rica e úmida da margem direita. A Tannat vem da Gasconha, ali pelo país basco. Para citar ape-
nas alguns vinhos, clássicas expressões do corte CMT: Angelo 2012 (Galiotto), Equilibrium
(Cordelier), Gran Lovara, Helios 5, Quinta da Orada 2012 Corte 1 (Casa Marques Pereira),
Pizzato Concentus, Pizzato Fausto GR Verve, Torcello Remy Valduga 2015, Ulian Assemblage
2004, Virtuoso 2005 (Dachery), e muitos outros. No início de 2020, a Vinícola Don Laurindo
lançou o Assemblage DO 2018, mesclando 60% de vinho Merlot da origem, uma exigência das
regras da DO, com 25% de Tannat e 15% de Cabernet Sauvignon.

Vinho laranja

Estilo recentemente incorporado a nossa cultura. Vinho de castas brancas vinificadas com as
cascas, como são elaborados os tintos. Significa proceder à maceração pelicular, na vinificação de
uvas brancas. A consequência é um vinho 'branco' com tons amarelos fortes, tendendo ao laranja,
ao âmbar. Aliás, embora no Brasil esteja consagrada a expressão 'vinho laranja', muitos produ-
tores a rejeitam, preferindo 'vinho âmbar'. Fica untuoso e encorpado, podendo mostrar aromas

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 43


complexos e taninos30 leves, no paladar. Pode ter origem tanto por vinificação 'tradicional' quanto
por vinificação 'natural', por meio de levedura autóctone. Uma bela e exótica opção de cores,
aromas e sabores já abraçada por nossos vinhateiros Anderson Schmitz e Heloise Merolli (Fiano
All'Antica - Vinícola Legado), Caio Guedes (Minca Gewürztraminer - Cantina Mincarone), Car-
los Boff (Quatro Luas - Don Carlos Vinhos e Espumantes Naturais), Elton Viapiana (Vinícola
Viapiana), Giovani Carraro (Bianco Macerato - Lidio Carraro), Humberto Conti (Arancione -
Villaggio Conti), Lizete Vicari (Domínio Vicari), Luís Zanini (Era dos Ventos), Marco Danielle
(Âmbar -Atelier Tormentas), Marina Santos (Vinha Unna), Rogério Gomes (Garapuvu - Quinta
da Figueira), Saul Bianco (Oro Vecchio-Leone di Venezia) e Vanessa Medin, pelo menos.

Vinho de solo

É a antítese do anterior. É sempre consequência da vinificação sem as cascas. Seus apolo-


gistas não desejam que as cascas, expostas ao sol, ao frio, ao vento e a outros agentes externos,
marquem presença no mosto. Advogam que a polpa transmitirá ao vinho todas as virtudes do
solo. Um exemplo? O Arte da Vinha Magmatic Chardonnay.

Vinho de chuva

É ainda um conceito impreciso. Mas a ideia tem total relação com o tempo chuvoso que há
muitos anos os produtores têm na Serra Gaúcha. A consequência é um estilo de vinho que, uma
vez concluída a elaboração, tem álcool entre baixo e moderado teor, e precisa de um período curto
na garrafa, algo próximo a 12 meses. Deve ser apreciado nesse prazo, pois não tem vida longa. Os
atributos, porém, são surpreendentes: fica leve, fresco, envolvente, alegre, único. Esse, certamen-
te, será um dos estilos de vinhos do Brasil. Notemos que, evidentemente, só será produto das
áreas chuvosas do país. Cantina Mincarone, Vinha Unna e Vinhedo Serena têm ótimos exemplos.

Amarone

Pode parecer estranho falar de estilo 'amarone', num livro dedicado à vitivinicultura
brasileira. Acontece, porém, que nossa cultura vitivinícola é ítalo-descendente e não deixa
escapar também esse vinho. O amarone é um vinho da região italiana do Vêneto, sobre o
qual há muitas lendas, uma delas dizendo que é elaborado por técnica do tempo dos roma-
nos. Trata-se do emprego de uvas levemente passificadas. O appassimento se dá em mesas de
bambu, durante os três meses do inverno, quando as uvas perdem até 35% do peso. Isso faz
que concentrem cor, aromas e açúcar. O amarone adquire um alto teor alcoólico, podendo
superar os 15%, e um final de boca levemente doce. Originalmente, nasce pelo corte entre
vinhos das castas Corvina Veronese, Corvinone, Rondinella e Molinara. A Vinícola Barca-
rola tem o Luiz Petroli, a Leone di Venezia tem o Passione, e a Luiz Argenta tem o Luiz
Argenta Merlot Uvas Desidratadas.

30 Só para recordar, tanino é a manifestação do ácido tânico, no vinho, pela presença natural (possível) das
cascas e dos engaços das uvas, na elaboração dos vinhos. Produz a sensação típica de adstringência,
sentida no canto da boca, por exemplo, quando se come um caqui 'de vez'. Diz-se 'de vez' para referência ao
momento anterior ao amadurecimento completo.

44 Rogerio Dardeau
Brandy
Brandy é um destilado a partir de um vinho branco. Imediatamente após a colheita que,
na França, acontece em outubro, as uvas são prensadas em prensas pneumáticas horizontais
tradicionais. O suco é então deixado de imediato a fermentar. Três semanas depois da fer-
mentação natural, sem nenhum aditivo, nem açúcar, o vinho já atingiu um volume de álcool
da ordem de 8%. A partir de então, está pronto para a destilação. Brandy é um anglicismo
derivado de brandewijn, vinho queimado, em holandês. Os holandeses, junto com os ingleses,
foram os comerciantes que decidiram destilar vinhos, a fim de 'protegê-los', nas grandes
viagens marítimas. Nas regiões francesas de Cognac e Armagnac (AOC's), são produzidos os
brandies mais conceituados do mundo. O nome conhaque, embora tenha sido internaciona-
lizado, em razão da fama do brandy daquela região, hoje é privativo da bebida ali elaborada.
Não confundir com Calvados, destilado a partir de cidra (maçã), costume do norte da França,
na Normandia. Entre nós, há diversos produtores que elaboram brandies em excelência, por
exemplo: Aurora VSOP 12 anos; Campos de Cima XO 6 anos (Merlot); Casa Bucco X Anos
(CS + Trebbiano); Casa Fontanari Conhaque do Nonno 21 anos (Trebbiano); Don Giovanni
12 Anos; Luiz Argenta 10 Anos (Trebbiano); Miolo Imperial 10 Anos; Miolo Imperial 15
Anos; Quinta do Herval 2 anos (Trebbiano); Valdemiz XO 40 Anos (vinhos de 1975) - co-
mercializado em 2018; Valduga X Anos; Valduga XV Anos; Valduga XX Anos (Trebbiano).
Historicamente, não posso deixar de citar dois exemplos especialíssimos: o Casque D'Or,
produzido pela Dreher, e o Domecq Solera. Sobre este último, recorro à narrativa que me fez
o professor de destilados da ABS Rio, Eduardo Torres:

Tanto o Brandy Domecq quanto o Brandy Domecg Solera eram elaborados a partir da destilação de
um vinho base feito no Brasil, com uvas brasileiras. O vinho base do Brandy de Jerez original é de
uva Airen. Manoelito (Manuel Reyes, o enólogo residente) pesquisou qual uva já cultivada no Bra-
sil daria o vinho base mais adequado à destilação, em termos técnicos e econômicos. Deveria ser um
vinho não muito akoólico, que não fosse tão complexo e com uma faixa de acidez semelhante à do
vinho da Airen. Escolheu a americana Herbemont (vitis bourquina), também conhecida como 'Uva
Champanha' e 'Borgonha'. Disse que funcionava tão bem como a Airen (obs: em Armagnac tam-
bém usam uma híbrida, a Bacco-22, provavelmente a única não vinifera autorizada para fazer
vinho na UE, mas exclusivamente como vinho base de Armagnac). A vinificação e a destilação
eram feitas na própria Domecq. Manoelito comprava as uvas de viticultores parceiros. A principal
diferença entre o Domecq e o Solera é que o primeiro era um blend de destilado em coluna contínua
e em alambique de cobre ('a/quitaras' iguais às de Brandy de Jerez que Manoelito trouxera da Es-
panha), e o Solera era 100% alambique. A outra diferença era o tempo maior de envelhecimento do
Solera. Ambos os envelhecimentos se davam em barris de carvalho vindos da matriz e pelo método
de soleras e criaderas. Mas Manoelito, por motivos operacionais, não colocou as soleras e criaderas
verticalmente. Fez uma pilha de cada criadera e uma pilha de solera. Era o mesmo processo, mas ele
disse que assim facilitava para o operador fazer a trasfega de 25% de cada criadera para a próxi-
ma, até a pilha da solera. Manoelito disse que era menos tradicional, mas permitido pela legislação
do Brandy de Jerez e no fundo era só um rearranjo sem mudar o processo. Os brandies brasileiros
elaborados pela Domecq, sob a batuta do Manoelito, foram os melhores brandies nacionais jamais
feitos, praticamente indistinguíveis, em qualidade, aos elaborados na matriz espanhola.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 45


Kosher

Vinho elaborado sob a supervisão de rabinos, de acordo com as tradições judaicas, certificado,
por exemplo, pela organização BDK Brasil. Kosher, em hebraico, significa algo como 'digno de
confiança'. São raros os produtores brasileiros que se dedicam a elaborar tais vinhos. Periodica-
mente a Casa Valduga apresenta varietais e espumantes Kosher. Recentemente a Lidio Carraro
também adotou essa prática, iniciada com o Espumante Brut Rosé Kosher Mahut (Essência).

Envase: garrafas, caixas, latas ...

A oferta de tipos variados de garrafas, por parte das poucas indústrias de vidros fornecedoras
do setor, é pequena. Isso faz com que a maioria dos produtores de vinhos escolha a garrafa tipo
bordalesa. Tipos diferentes precisam ser importados, o que encarece os vinhos. A garrafa tipo
borgonha abriga com mais frequência os brancos, como o Cavalleri Chardonnay, mas também o tin-
to Miolo Quinta do Seiva/ Castas Portuguesas. O Vinho Velho do Museu e o Anticuário são apresentados
no modelo conhecido como bocksbeutel (saco de bode). Os espumantes, além da grande maioria
que se apresenta em garrafas champenoise, já são oferecidos também na garrafa tipo sino, presente
nos espumantes Guatambu, Kranz, no Millésime, da Miolo, e no Valduga 130, entre outros. Poucas
são as vinícolas que oferecem a garrafinha de 187,5 ml, a nova de 245 ml, a Magnum (1,5 1) e
a Mathusalem (6 1). No passado, os vinhos Granja União, elaborados pela antiga Companhia
Vinícola Rio Grandense, fizeram fama entre nós, e eram apresentados em garrafas Madleine,
de 750 ml. A indústria Verallia já oferece a linha Ecova de garrafas leves. A linha é composta
de garrafas estilo bordeaux e estilo borgonha. Segundo informa a indústria, a produção de tais
garrafas emite 15% menos de CO2 e o transporte emite menos 6% de cor Nesse item, não
podemos deixar de mencionar o envase em caixas com membranas, as consagradas bag-in-box.
De fato, representam um recurso de grande economia, para o consumo diário e o serviço em
bares. As caixas são oferecidas com uma pequena torneira, conectada à membrana interna, de
modo que, à medida que o vinho é servido, a membrana se contrai, não admitindo a presença
de ar. Outra novidade é o vinho fino em lata. Já encontramos diversos rótulos pela Vivant
Wines e pela novíssima Arya Wines.

Rolhas e fechamentos

Rolhas são outro insumo caro, pois a cortiça é importada. Nosso padrão (não regula-
mentado) de rolhas é de 4,5 cm, havendo algumas que chegam a 5 cm, como a adotada pela
Boscato em seu Gran Cave Cabernet Sauvignon ou no RAR Reserva de Família, ou ainda pela
Villa Francioni, no corte de mesmo nome e outros da casa. A maior produtora de rolhas
de cortiça, no Brasil, é a Corticeira Paulista, com unidade industrial em Jundiaí. Em 2008,
instalou-se em Garibaldi uma unidade da empresa portuguesa M. A. Silva Cortiças Lda., que
tem ampliado o fornecimento aos vinicultores, ano a ano. O fechamento com tampa de rosca
ou screw cap já aparece em muitos rótulos. Esse fechamento exige muita precisão na rosca do
vidro, por isso demorou a ser adotado pelos produtores brasileiros. Hoje, porém, as questões
técnicas estão superadas e encontramos muitas garrafas com tampa de rosca, em segurança.
Em 2019, a sempre inovadora Pericó lançou o Vigneto Sauvignon Blanc e o Taipa Rosé, com
tampas de vidro.

46 Rogerio Dardeau
Resveratrol
Trata-se de um polifenol encontrado principalmente nas sementes de uvas, na casca das uvas
escuras e, por consequência, no vinho tinto. Estudos têm mostrado os beneficios do resveratrol
como estimulante dos índices do colesterol HDL, chamado colesterol do bem, e redução do co-
lesterol do mal, o LDL. As primeiras análises laboratoriais, investigando doses de resveratrol, têm
pouco mais de três décadas, no Brasil. E os resultados têm sido alvissareiros. Nossos vinhos têm
exibido uma quantidade média de resveratrol superior aos da América do Sul e até da Europa. Uma
das hipóteses é a de que os frutos, em nosso clima tropical, sujeito a chuvas, necessitam de proteção
e desenvolvem isso. As videiras tenderiam a produzir mais resveratrol sob estresse, em climas exi-
gentes, concentrando-o e elevando sua presença. Em regiões com vinhedos de altitude, a insolação
carregada de raios ultravioleta pode provocar maior concentração de polifenóis, aumentando con-
sequentemente os níveis de resveratrol nos vinhos. Bom para nós, não é mesmo? O vinho Tabocas
Cabemet Sauvignon 2013, de Santa Teresa, ES, de Vinicius Corbellini, teve análise pelo Laboratório
Randon e apresentou índice de resveratrol de 6, 17mg/I. O Vinhedo Serena Pinot Noir, de Maurício
e Cristina Ribeiro, em Nova Pádua, RS, tem média de resveratrol em 6,02mg/I, tendo o vinho da
colheita de 2011 atingido a impressionante marca de 7,48mg/I. Os vinhos importados que circulam
por nossas gôndolas de supermercados e delicatéssens, em geral, não atingem 3,0mg/1. Agora, uma
nota importante: não há relação entre um determinado nível elevado de resveratrol encontrado num
vinho e a sua qualidade. Há muitos vinhos que não apresentam tal índice em nível alto, mas têm
muito equilíbrio e elegância.

ALGUNS APRENDIZADOS SOBRE APRECIAÇÃO DE VINHOS,


QUE INFLUENCIARAM PRODUTORES
Os avanços no campo e na cantina, qualificando nossos vinhos, nos levam a constatar a
atenção atual de produtores às observações de apreciadores, num movimento de aprendizado
contínuo. Vejamos.

Estilo

É verdade: os vinhos têm estilos, independentemente de serem brancos, rosados ou tintos.


Em geral, os estilos estão relacionados à tradição, à cultura dos produtores, sempre muito varia-
das. Há a cultura do vinho amadeirado, há a cultura dos vinhos frescos, sem madeira, que querem
essencialmente expressar a fruta e o terroir. É comum também ouvirmos: trata-se de um Bordeaux
ou esse vinho tem um estilo bordalês. Além dos bordaleses, temos os borgonhas, os durienses
e muitos outros. Claro, esses estilos seculares carregam complexidades variadas, decorrentes de
identidades bem definidas. Os estilos de vinhos do Brasil ainda estão em construção. É possível,
porém, dizer, mesmo entre nós, que determinado vinho busca exclusivamente a expressão do
terroir, pela fruta, não admitindo a passagem por barrica, como o estilo dos vinhos Lidio Carraro.
Num outro sentido, pode-se encontrar um produtor que opte por vinhos com estágio em barricas,
tais como os da família Brandelli (Almaúnica e Don Laurindo); outro que trabalhe apenas vinhos
brancos com fermentação malolática em barricas. Veremos, mais à frente, os estilos 'laranja',
amarone e o vinho kosher, chegados aos vinhos brasileiros, num '½.prendizado".

Gen t e. Lu gares e Vin ho s do B r as il 47


Tipicidade

Deriva do terroir. É traço de personalidade. A tipicidade de um vinho do Vale dos Vinhedos,


na Serra Gaúcha, por exemplo, se mostra pelas regras da DO Vale dos Vinhedos. Um varietal
da Cabernet Sauvignon da Campanha Gaúcha tem tipicidade distinta de semelhante vinho da
Serra Gaúcha. São os atributos do vinho que o identificam, com forte expressão da casta ou
corte. Mas isso ainda não é fácil de distinguir, entre não iniciados. Uma casta que muito nos
tem ensinado, nesse aspecto, é a Tannat. Sempre recomendo uma apreciação de Tannats da
Campanha Gaúcha, da Serra Gaúcha e do Alto Uruguai. Percebe-se logo a identidade da cepa,
mas três personalidades distintas.

Elegância

Esse é um termo que frequenta o mundo do vinho, mas que não é muito aceito tecnica-
mente. No entanto, é bastante utilizado, como harmonia. Como sabemos, os vinhos se ex-
pressam pelo conjunto de cores, aromas e sabores. Considero elegante o vinho que se mostra
harmônico, entre as expressões desses três atributos. Não seria elegante um vinho de cor
exuberante, demonstrativa da casta ou do corte, com aromas inexpressivos. E também assim,
todas as combinações possíveis de desarmonias entre as três expressões. Um vinho que seja
uma explosão aromática, mas com pouca estrutura, também não é elegante. Mas cuidado, essa
terminologia não se aplica aos vinhos harmônicos 'pancadões', aqueles que têm cor intensa,
profunda, aromas muito expressivos e um grande corpo. A elegância pede sutileza!

Volume

Um vinho denso, com taninos macios, boa acidez, que preenche a boca, envolve as papilas
gustativas, provocando intensas sensações de gosto e retrogosto, 31 é um vinho volumoso.

31 Sensação olfativa de boca, que acontece depois da deglutição.

48 Rogerio Dardeau
~ Direito do vinho
Nessa prazerosa tarefa de permanentemente pesquisar, estudar e escrever sobre a vitivini-
cultura brasileira contemporânea, no campo dos vinhos finos, vejo expressiva qualificação de
nossa produção, especialmente nas últimas três décadas. São inúmeros os produtores inde-
pendentes nascidos nos últimos anos, com projetos exclusivos de vinhos brasileiros de terroir.
Todo esse cenário nos mostra grande necessidade de aperfeiçoamento do regime jurídico do
vinho brasileiro, para facilitar a produção, a logística e a comercialização. A seguir, registro
as práticas de vitivinicultura que nossos produtores vêm adotando, estejam regulamentadas
ou não. Nas abordagens de 'gente', 'lugares' e 'vinhos', apresento sempre aspectos legais e
consuetudinários. A norma jurídica, quando existente, vai comentada dentro de cada uma das
três abordagens, assim como os costumes.
A legislação brasileira sobre vinhos, origens e seus produtores, do meu ponto de vista,
ainda é insuficiente, embora o Decreto 8.198, de 20 de fevereiro de 2014, regulamentador do
assunto, e a Instrução Normativa nº 14, de 8 de fevereiro de 2018, do Ministério da Agricul-
tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tragam alguns pontos positivos. A Lei 7.678, de 8 de
novembro de 1988, chamada Lei do Vinho, foi modificada e complementada pela Lei 10.970,
de 12 de novembro de 2004, sendo regulamentada apenas em 20 de fevereiro de 2014, pelo
Decreto 8.198.
O nascimento da Academia Brasileira de Direito do Vinho (Abdvin) , em abril de 2018, já
começou a trazer inúmeras e relevantes contribuições à formulação de um arcabouço jurídico
mais consistente para o vinho brasileiro. A simples observação do Mapa Estrutural Normati-
vo Conceituai do Direito do Vinho Brasileiro, a seguir apresentado, elaborado pelo professor
Júlio César Pogorzelski Gonçalves, presidente da Abdvin, evidencia a qualidade dos estudos
que se iniciaram com a Academia, o que, sem dúvida, é prenúncio de melhores dias para pro-
dutores e consumidores.

Ge nte. Lugares e Vinho s do B ras il 49


MAPA ESTRUTURAL NORMATIVO DO DIREITO BRASILEIRO DO VINHO

DIREITO DO VINHO
SISTEMAS E MICROSSISTEMAS JURÍDICOS I NORMAS PRIMÁRIAS

UI
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t::I
~ Regulamenta a Lei n~ 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a
;- classificação , o registro , a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas.
~
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R::GL,, A><ENT01É.ce11co V,,.v1Nícc,LA oo M::,,ccsuL I Re~ohiç.:io GMC ri. 4',/96
Regulament~ J Lei n'. 8 .f!t!l, d-., H ,Je jull10 de t!.l'J,I , que d1,µ6e sob•~ o padruni,a,.;ão, a
elt1ss1f1r:açao , o registro, a inspr.ção , a pr0<1uçf.o e., fü,cahzação 11B bchit1as

L- RESOLUÇÃO DA ANVISA I Resolução RDC n. 42/2013


Dispõe sobre o Regulamento Técnico Mercosul, quanto aos limites máximos de
contaminantes inorgânicos em alimentos, mencionando o vinho.

apresentar o rol das principais normas primárias incidentes sobre a atividade econômica da vitivinicultura brasileira.
JÚLIOC~SAR POGORZELSKI GONÇALVES
GENTE VINHATEIRA - LEGISLAÇÃO E COSTUMES
A Lei do Vinho se utiliza dos termos viticultor, vinicultor e vitivinicultor. No entanto, não
amplia definições, tampouco trata especificamente das pessoas jurídicas dedicadas à elabora-
ção de vinhos.
A Lei 12.959, de 19 de março de 2014, alterou o texto da Lei 7.678, incluindo o conceito
de vinho produzido por agricultor familiar, vinho produzido por empreendedor familiar rural
(nos termos da Lei 11.326/2006, de 24 de julho de 2006) ou vinho colonial. Isso trouxe um
sensível (mas não definitivo) alívio aos produtores artesanais, também de vinhos finos.

Art. 1° A Lei nº 7.678, de 8 de novembro de 1988, passa a vigorar acrescida do seguinte art.
2°-A:
''A.rt. 2°-A. O vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural é a bebida
elaborada de acordo com as características culturais, históricas e sociais da vitivinicultura desen-
volvida por aquele que atenda às condições da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, observados
os requisitos e limites estabelecidos nesta Lei.
§ 1° O vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural deve ser elabo-
rado com o mínimo de 70% (setenta por cento) de uvas colhidas no imóvel rural do agricultor
familiar e na quantidade máxima de 20.000 l (vinte mil litros) anuais.
§ 2° A elaboração, a padronização e o envasilhamento do vinho produzido por agricultor fami-
liar ou empreendedor familiar rural devem ser feitos exclusivamente no imóvel rural do agri-
cultor familiar, adotando-se os preceitos das Boas Práticas de Fabricação e sob a supervisão de
responsável técnico habilitado.
§ 3° A comercialização do vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar
rural deverá ser realizada diretamente com o consumidor final, na sede do imóvel rural onde foi
produzido, em estabelecimento mantido por associação ou cooperativa de produtores rurais ou
em feiras da agricultura familiar.
§ 4° Deverão constar do rótulo do vinho de que trata o caput deste artigo:
I - a denominação de "vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural",
"vinho colonial" ou "produto colonial";

Embora eu tenha muito apreço pelos agricultores em questão, o vinho colonial não é o
objeto deste livro.
O estudo 32 sobre a vitivinicultura brasileira, que permanentemente realizo, me leva a su-
gerir que possuímos, no Brasil, dois grandes conjuntos de produtores brasileiros de vinhos
finos: os produtores com origem na cultura do vinho (C) e os produtores investidores (I) ..

32 Tal estudo trata unicamente de vinhos finos e nobres e de seus produtores.

Ge nte. Lugares e Vinho s do Brasil 51


Gente que elabora vinhos finos, a partir da cultura de origem
Os produtores com origem na cultura do vinho são os responsáveis por nossa produção
continuada de vinhos em geral, aquela que deu origem aos nossos vinhos finos. Derivam
da imigração italiana, iniciada em 1875. São empreendimentos vitivinícolas, localizados no
estado do Rio Grande do Sul, majoritariamente na Serra Gaúcha. Embora tenhamos tido o
cuidado de exibir datas de estabelecimento dos produtores com origem na cultura do vinho,
as famílias desses nomes trabalham com vinhos há muito mais tempo. Para identificarmos se
um produtor tem origem na cultura do vinho, é preciso responder se o vinho produzido nasce
por causa, projeto ou determinação, ou por consequência natural de costumes. Se o vinho é
consequência, se nasce em decorrência da cultura da família, estamos diante de um produtor
desse conjunto. Todos têm antepassados imigrantes que beberam os vinhos que elaboravam,
para consumo próprio, em alegres refeições, servidas em amplas mesas, sobre a relva, muitas
vezes cantando os prazeres da vida em divertidos folclores como ...

... Quando fenisce la bela polenta,


la bela polenta fenisce cosi,
si pianta cosi, la cresce cosi,
fiorisce cosi, si smiseia cosi,
si taia cosi, si mangia cosl,
si gusta cosi, f enisce cosi.
ô... ô... ô... ô...
Bela polenta cosl.
Cia eia pum, eia eia pum ... 33

Entre os produtores com origem na cultura do vinho, estão as cantinas históricas. Entendo
como tais aquelas nascidas na região de origem da produção brasileira continuada de vinhos,
a Serra Gaúcha, cujos protagonistas, em geral representantes das segunda e terceira gerações
dos imigrantes italianos, muito contribuíram para o redesenho da vitivinicultura brasileira
a partir dos anos 1980, no sentido da elaboração de vinhos brasileiros de terroir. Cito, entre
outros, Boscato, Cavalleri, Dal Pizzol, Giovannini (Don Giovanni), Giacomin, Miolo, Salton,
e, pelo menos três 34 ramos dos "Valduga" (Casa Valduga, Dom Cândido e Marco Luigi). Aqui,
não podemos deixar de destacar três nomes, não italianos, mas que realizaram cantinas histó-
ricas naquele mesmo ambiente da Serra Gaúcha: Carrau (Lacave e Velho do Museu), Dreher (Don
Giovanni) e Geisse (Amadeu e Cave Geisse).

Gente que elabora vinhos finos, como prazer e investimento


Voltemos à questão de olhar um vinho, hoje, e perguntar se ele é causa ou consequência.
Se o vinho nasce da decisão de um investidor, que escolheu tal produto como negócio, como

33 Estrofe final da canção popular italiana, do Vêneto, La bel/a polenta, de autor desconhecido, identificada
a partir de 1919, muito entoada pelos colonos italianos do Rio Grande do Sul.
34 O sobrenome Valduga assina ainda os vinhos Cave de Pedra, Terragnolo, Torcello e Vallontano.

52 Rogerio Dardeau
causa e objetivo dos próprios interesses, estamos diante de um produtor desse conjunto, o
que mais cresce, atualmente, no Brasil. Esse fenômeno demonstra a identificação pelos inves-
tidores da demanda por vinhos diferenciados. Essa é a marca. Aqui vemos projetos muito bem
estudados, com equipes técnicas especializadas, contratadas no mercado, instalações de pa-
drão internacional e o foco de produção no vinho brasileiro de terroir. Um alerta: não devemos
confundir o termo investidor com alguém possuidor de grande capital. Um cidadão que não
tem origem na cultura do vinho, tem capital reduzido, mas que decide montar sua pequena
produção, é também um investidor.

Uma sugestão de grupos de produtores de vinhos finos, no Brasil


Celito Guerra, conceituado pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, sugeriu, há não muito
tempo, que, em breve, os vinhos finos brasileiros poderiam estar agrupados em vinhos de
altitude, vinhos dos pampas e vinhos tropicais. Vinhos de altitude seriam aqueles oriundos de
produtores localizados nos municípios de São Joaquim, Campos Novos e Caçador, em Santa
Catarina, além de Vacaria e Monte Alegre dos Campos, no Rio Grande do Sul. Tais municípios
estão situados entre 800 e 1.400 metros de altitude. Os vinhos dos pampas seriam os prove-
nientes de Candiota, Bagé, Pinheiro Machado, Encruzilhada do Sul, Santana do Livramento e
Itaqui. Finalmente, os vinhos tropicais, originados entre os paralelos 8° e 9° de latitude Sul, no
Vale do Rio São Francisco.
Aquele estudioso reconhece, todavia, que tal sugestão ainda necessitaria de aprofundamen-
to. Concordo plenamente. As condições de rnicroclimas e edafológicas não têm como garantir
uniformidade aos produtos, naqueles espaços. Prefiro então agrupar produtores, considerando
fundamentalmente suas histórias e os propósitos dos empresários para as próprias empresas.
Qual a opção de negócio escolhida? O que desejam produzir: vinhos finos de consumo corrente
ou vinhos brasileiros de terroir? Ou ambos? É preciso identificar o que fizeram (ou herdaram) e
o que almejam, com o objetivo de compreender quais vinhos se dispõem a elaborar.
A proposta de organização dos grupos considera as opções de negócios de seus protagonis-
tas e os vinhos finos produzidos (se correntes ou singulares, de terroir).
Na apresentação dos produtores, faço as seguintes anotações, para que se perceba o foco
de cada empreendimento:
• VBdT* - produtor dedicado exclusivamente aos vinhos brasileiros de terroir. Os viti-
vinicultores assim identificados não elaboram outros produtos, senão aqueles tipos de
vinhos.
• VBdT - produtor que se ocupa fundamental e majoritariamente dos vinhos finos corren-
tes e de outros derivados da uva, mas também elabora algum volume de vinhos brasilei-
ros de terroir.
• VM + VBdT- produtor que tem maior produção de vinhos de mesa, vinhos finos cor-
rentes, sucos e outros derivados da uva, mas dedica algum esforço aos vinhos brasileiros
de terroir.
• VM- produtor dedicado quase exclusivamente aos vinhos de mesa, aos vinhos finos cor-
rentes, aos sucos e outros derivados da uva, podendo elaborar também, eventualmente,
alguns vinhos brasileiros de terroir.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 53


A descrição dos produtores pretende oferecer indicadores das tendências de cada um em
relação aos vinhos que elabora. A definição dos integrantes de cada um dos cinco grupos res-
peitou integralmente os perfis e identidades individuais, e obedeceu à análise da conduta de
cada um relativamente às questões de formulação do conceito de "vinho brasileiro de terroir"
já descritas. Aspectos como análises de balanços e outros dados de desempenho empresarial
não foram considerados. O foco permanece sendo o vinho.
Com o pensamento nas considerações feitas sobre origem do negócio (C ou I) e no con-
ceito de vinho brasileiro de terroir, creio ser possível agrupar os produtores brasileiros da
seguinte maneira.

Grupo I - Produtores tradicionais de grande porte (VBdT)


O primeiro grupo é o dos grandes produtores, é a própria indústria do vinho. Os maiores
empreendimentos vitivinícolas do Brasil nasceram da cultura do vinho e são também "canti-
nas históricas". São aqueles que desejam estar presentes nos supermercados do Oiapoque, no
extremo Norte do Brasil, ao Chuí, na fronteira Sul. Por isso mesmo espalham a cultura do vi-
nho, com vinhos finos correntes. Pertencem a esse grupo a Salton, a Cooperativa Vinícola Au-
rora, o Miolo Wine Group e a Famiglia Valduga. O negócio dessas organizações é a produção
de grandes volumes. Produzem milhões de garrafas por ano, de alguns dos trezentos rótulos
que elaboram, podendo chegar aos mais de 20 milhões, no caso da Salton. O objetivo empre-
sarial é: produzir vinhos finos simples, para largo consumo, os que chamo de "vinhos finos
correntes", além de grandes volumes de vinhos de mesa, no caso da Cooperativa Vinícola Au-
rora. Não se pode negar que há, nesse comportamento, uma porta aberta para o início do con-
sumo de vinho em detrimento de outros fermentados e de destilados. Afinal, estão presentes,
muito provavelmente, na grande maioria dos municípios brasileiros, com preços convidativos.
Essas vinícolas investem em tecnologia e pesquisas, muitas vezes oferecendo novas soluções
de viti e vinicultura, e, em decorrência, oportunidades de complementação de conhecimentos
a seus trabalhadores nas técnicas de implantação e desenvolvimento de vinhedos, bem como
em Enologia. Nos últimos anos, essas vinícolas vêm investindo em segmentos de vinhos bra-
sileiros de terroir, completando o portfólio de produção. No mundo dos espumantes, podemos
incluir aqui a Chandon do Brasil Vitivinicultura Ltda., instalada em Garibaldi, RS, vinculada
ao grupo francês LVMH, 35 que se dedica integralmente aos espumantes, com destaque para
Chandon Brut Excellence, Chandon Demi-sec, Chandon Passion e Chandon Rouge.

Grupo II - Produtores tradicionais de médio porte - (VM + VBdT)


O segundo grupo é o dos produtores que desejam estar em alguns supermercados, espe-
cialmente nos grandes centros consumidores, com foco em vinhos finos correntes e 'de mesa',
mas buscam manter uma divisão (ou empresa do grupo) ocupada em vinhos brasileiros de
terroir. A produção anual é, em geral, bem menor do que as do primeiro grupo. São empresas
cujas origens também estão na cultura da imigração italiana, e que atuam ainda com sucos,
vinagres e outros produtos.

35 Moêt Hennessy Louis Vuitton.

54 Rogerio Dardeau
Grupo III - Produtores tradicionais de pequeno a médio porte (VM)
O terceiro grupo que sugiro é composto por produtores de pequeno a médio porte, que
elaboram essencialmente vinhos finos correntes e de mesa, além de sucos e outros produtos
derivados da uva, mas desejam ter presença no mercado de VBdT. Seus vinhos nascem impul-
sionados pela cultura. Algumas já elaboram um ou outro rótulo VBdT. Nem todas têm cantinas
próprias, realizando a vinificação em parceria com vinícolas maiores. Em alguns casos, não vi-
nificam toda a produção, vendendo uvas a outros produtores. Seus nomes ainda não chegaram
aos consumidores dos grandes centros urbanos, ficando apenas na região onde se localizam ou
em mercados direcionados. Exatamente por isso realizam, à própria moda, expressivo trabalho
de fortalecimento da vitivinicultura brasileira. Alguns produtores desse grupo elaboram vinhos
finos somente para compor atividade de enoturismo.

Grupo IV - Butiques de vinhos (VBdT*)


Os pequenos produtores brasileiros têm conseguido
cada vez mais traduzir uma voz de tipicidade
num mundo de padronização. 36

O conceito de vinho de butique nasceu, como não poderia deixar de ser, na França. Não é de
hoje que vinhateiros, enólogos, enófilos, investidores e até cidadãos comuns tomaram a árdua
e prazerosa decisão de elaborar seus próprios vinhos e comercializá-los. No Brasil, essa ação é
desencadeada a partir da crise conjuntural do setor vitivinícola, em meados da década de 1980.
Os empreendimentos assim categorizados, neste livro, são pequenos; poucos atingem 100 mil
garrafas/ano, embora alguns possam chegar às 300 mil garrafas/ano, e um ou outro ultrapasse
essa marca. A principal característica das butiques de vinho é a busca de expressões dos luga-
res que escolheram, divulgando-os. Concentram os negócios na elaboração de poucos rótulos,
com muito rigor na preservação de castas e de processos produtivos. Desejam elaborar os vi-
nhos premium brasileiros, os quais, desde 2018, podem ser identificados, nos termos da IN 14,
do Mapa, como gran reserva. Esses produtores podem não apresentar determinado rótulo em
alguma safra, caso não a considerem muito boa, ou reduzir a litragem engarrafada ao mínimo
possível de vinho elaborado a partir de uvas sãs. Podem também incorporar processos produ-
tivos inovadores, de comprometimento social e ambiental, com mais facilidade do que antigas
e grandes vinícolas. As butiques privilegiam o plantio de viníferas nobres, com vinhedos con-
duzidos em espaldeiras, e reduzem a produtividade das videiras, buscando concentração de
qualidade dos frutos. Querem agregar valor a seus rótulos. 37 Esses vitivinicultores realizam
pequenos, mas permanentes, investimentos em experiências com novas variedades. Também
exploram novos microclimas na busca de melhores frutos, e pesquisam processos produtivos,
na cantina, para obtenção de vinhos singulares. Os vinhos das butiques têm construído boa

36 Ed Motta. Manual prático da boa vida - http://veja.abril.com.br/ed_motta/index_310507.shtml.


37 Vários produtores no mundo assim procedem. Muitos dos grandes vinhos franceses, por exemplo, nascem
de vinícolas com produção pequena. Algumas dessas, entretanto, com mais de século, já são empresas
de porte considerável. Não mudaram, porém, os perfis de seus vinhos. Preferem não elaborar certos
rótulos quando não têm boa colheita. Definitivamente, agregam valor a seus rótulos, permanentemente.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 55


reputação entre enófilos e vêm fortalecendo a história do vinho fino brasileiro. Ainda neces-
sitam, porém, aprimorar a identificação de seus públicos e conquistá-los definitivamente. As
butiques brasileiras ainda são pouco conhecidas do grande público. Algumas delas só chegam
a se revelar a enófilas e enófilos que andam pelo Sul do Brasil, por outros lugares onde vinhos
finos são elaborados, ou em eventos como as feiras Vinum Brasilis, em Brasília, e a Vinhos do
Brasil - Vini Bra Expo, no Rio de Janeiro. Algumas já chegaram ao Rio de Janeiro, a São Paulo
e a outras capitais, mesmo assim muito timidamente, quase somente em restaurantes e lojas
de bebidas e comestíveis finos. Vale visitar suas páginas na internet.
As butiques de vinho que nasceram na cultura do vinho cultivam vinhedos próprios. Seus
titulares trazem, no nome, história e cultura que contribuíram decisivamente para o estágio atu-
al de qualidade do vinho fino brasileiro. Tal como nos demais grupos sugeridos, os produtores
aqui reunidos mantêm suas particularidades. Alguns poucos ainda têm a necessidade de elaborar
vinhos de mesa para sustentar o projeto de vinhos finos. Mas, nesses casos, seus titulares sem-
pre declaram que buscam dedicar-se unicamente ao segmento de vinhos finos, num futuro que
esperam para breve.
As butiques de investidores estão todas voltadas aos VBdT. Os investidores estão determi-
nados a aplicar recursos próprios na produção de vinhos que tenham possibilidades de muito
reconhecimento entre enófilos, e a consequente valorização dos próprios rótulos. Essas viní-
colas, em geral, têm instalações próprias, construídas para a finalidade, embora nem sempre
tenham vinhedo próprio, atuando em parceria com viticultores.

Grupo V - Vinhos de autor ou de garagem e Grupo Vb,


produtores de vinhos pessoais (VBdT*, salvo registro contrário)
Vinhos de autor são aqueles que carregam uma presença fortíssima de seus criadores, com
características totalmente ligadas às suas personalidades. São pessoas que fazem vinhos com
as próprias mãos. Há, entre esses criadores, os que apuram técnicas e os não intervencionis-
tas, que desejam o trabalho da natureza. Muitas vezes nem têm origem no mundo do vinho,
mas aplicam-se de tal forma que conquistam conhecimento e saber. São vinhateiros, nem
sempre enólogos. Pela dedicação diária, escolhem cortes, decidem caminhos a serem seguidos
por seus vinhos, definem tempos das fases do processo. Aliás, outra marca dos autores é a
ousadia enológica. Eles inovam. Experimentam cortes inusitados, inclusive entre safras. Recu-
peram castas esquecidas. Rompem com o determinismo do carvalho na tanoaria. Admitem o
carvalho usado. Testam barricas de madeiras brasileiras. Resgatam processos ancestrais de vi-
nificação. Diferenciam na armazenagem. São obsessivos. Não têm pressa! Produzem segundo
os próprios prazeres. Os vinhos que elaboram são sempre pessoais, não se dirigem a nenhum
público que, por definição, tenha dado a conhecer certa expectativa.
Exatamente por tudo isso, os autores em geral situam as preocupações comerciais a uma
certa distância. Suas produções são mais identificadas a um projeto do que a uma empre-
sa. Há até mesmo os produtores informais, avessos a registros e controles, pelo Estado ou
por organismos reguladores de associações. Em resumo: autores são sensíveis, personalistas,
muitas vezes extremamente técnicos e profissionais em relação a seus vinhos, mas pouco pre-
ocupados com vendas. Eles tendem a confiar muito na atratividade de suas criações, e que os
resultados serão razão direta do êxito de seus rótulos, muitas vezes pouco ortodoxos.

56 Rogerio Dardeau
Nunca devemos esquecer que, enquanto o vinho de uma safra é elaborado, outros, de
safras anteriores, evoluem na cantina. Seus criadores constroem, então, registros completos
das características de cada um, nos diversos momentos de evolução. Isso possibilitará am-
plo aprendizado, para futuras vinificações. Possibilitará também o reconhecimento de algum
"mistério" ou vinho não explicado, favorável ou desfavoravelmente. É como Deleuze38 afir-
mou certa vez: "Existem os criadores, originais, e os que só seguem o que foi criado". Vinhos
de autor são vinhos de criadores, originais. Trata-se de um processo de busca permanente
rumo ao horizonte utópico. Isso é o que move tais personagens e faz com que suas criaturas,
seus vinhos, terminem por encantar aqueles que os degustam, mais do que quaisquer outros.
Não devemos procurar por prêmios oficiais para os vinhos desses autores. Eles não gostam
de submeter as próprias criações às tribunas de concursos. Mas, claro, se orgulham das cita-
ções elogiosas de consumidores e de formadores de opinião.
Como verificaremos na descrição de cada produtor, entre os autores poderão ser identifica-
dos diversos perfis: há os que estão integralmente dedicados à vitivinicultura e são enólogos;
outros que nem são enólogos, mas trazem a vitivinicultura no sangue; há os que têm nos
vinhos uma atividade subsidiária; outros são apreciadores muito sensíveis que, atuando junto
a enólogos profissionais, modificam os vinhos, carregando filosofias próprias. Enfim, vale
muito a pena reconhecê-los.
Nossos produtores desse Grupo V já tentaram, mas ainda não encontraram uma forma de
organização deles, com vistas a uma identidade coletiva de seus vinhos, especialmente para
o campo da comercialização. Seria tentar algo como o Movimiento de Vinateros Independientes
(Movi), do Chile, ou o Vignerons Indépendants, francês. O debate não é simples, pois há diver-
gências de posicionamentos em diversos aspectos, o que dificulta o estabelecimento de uma
carta de princípios. Entre os autores, há práticas de vitivinicultura tradicional, orgânica, bio-
dinâmica e natural. Há uma ampla diversidade de crenças. Entre os produtores que abraçam o
estilo natural, identificados como 'N' nas descrições individuais, encontramos mais um traba-
lho importante: o resgate de castas americanas e híbridas. Vinhos que se utilizam dessas uvas,
cultivadas com a atenção que se dá às viníferas, e elaborados com os cuidados dispensados aos
vinhos finos, ficam muito especiais, típicos.
É preciso dizer ainda que são inúmeros os autores que trabalham isoladamente e raramen-
te se apresentam. Alguns praticam ao extremo o que se chama de "vinho de garagem ou até
de apartamento", microvinificando nas próprias residências.
Em função de todas as características mencionadas, há duas consequências muito desa-
gradáveis para nós, enófilos: infelizmente, as obras de arte podem não ter regularidade, ou
seja, existem em uma safra e podem não existir em outra, ou até nunca mais; segunda: pelas
pequenas dimensões da produção, alguns vinhos de autor têm preços elevados. Isso não sig-
nifica que não valham; ao contrário, pois apresentam excelente nível de qualidade e, como já
salientei, personalidades únicas.
Há muitos críticos dessa realidade, especialmente por causa da irregularidade de produto.
Respeito o desejo de muitos consumidores de poder chegar à gôndola de um supermercado

38 O filósofo Gilles Deleuze, em entrevista a Claire Parnet. Deleuze, Gilles; Parnet, Claire. Diálogos. Trad.
Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 57


ou à prateleira de uma loja de vinhos e adquirir sempre o seu produto conhecido e regular. Eu,
porém, admiro muitíssimo os autores, exatamente pelo inusitado e pelos sabores incríveis,
raramente disponíveis nas garrafas de rótulos regulares. Mas é bom também que eu deixe cla-
ro: tenho inúmeros vinhos regulares entre meus eleitos. São escolhas, momentos, emoções.
Alguém poderá refletir que, comercialmente, essa produção não impacta nos mercados. A
longo prazo, porém, são essenciais, uma vez que formam novos consumidores exigentes de
novas cores, aromas e sabores. E os projetos vão-se multiplicando, em pequenas proprieda-
des, que ainda nem descrevo neste livro, mas que poderão, futuramente, mostrar seus vinhos
e comercializá-los. Quem sabe? Nomes como Angelo Hugo Conto Zaccariotto, em Araçoiaba
da Serra, SP; Fabiano Barbieri, em Monte Belo do Sul, RS; Fernando Alcântara, em São José
dos Campos, SP; e René Ballo, em Sapucaí Mirim, MG, estão entre esses.
Uma observação: adotei neste livro o Grupo Vb (cinco b) - são os produtores de vinhos
estritamente pessoais, não executores diretos e sem compromisso comercial, apenas isso. Há
inúmeros, por exemplo, os egressos das diversas edições do programa Miolo Winemaker, tais
como Julio Gostisa (Voglio Vincere) e Paulo Umpierre (Gran Canário), assim como Avvocato
(Ralph Hage) e muitos outros.

Um resumo dos grupos nos quais organizo os produtores


brasileiros de vinhos finos
Cinco grupos de produtores de vinhos finos, no Brasil: (Gr V) vinhos autorais, de elabo-
ração direta, pela mão do autor, aqueles de pequeníssima produção, artesanais, inclusive os
naturebas; (Gr Vb) são os produtores autorais que nem sempre executam todas as tarefas de
elaboração, mas que desejam vinhos exclusivos e não os vendem; (Gr IV) vinhos de butique,
volumes pequenos, muito rigor técnico, e dedicação praticamente exclusiva aos VBdT; (Gr
III) produtores cujos volumes totais estão entre pequenos e médios, ainda com forte presença
de vinhos de mesa e de vinhos finos correntes; (Gr II) produtores de médio porte, também
com muita presença de outros derivados da uva; (Gr I) produtores de grande porte, espaço
exclusivo para Salton, Aurora, MWG, Famiglia Valduga e Chandon.
Ah, sim, é importante dizer: a grande transformação pela qual passa a vitivinicultura bra-
sileira pode ensejar alguma incorreção mais adiante, relativamente ao grupo no qual incluí
algum produtor, quando da apresentação, individualmente, caso ocorra uma redefinição do
perfil, enquanto finalizo o livro. Compreendam, por favor.

Gente que elabora vinhos finos no Brasil - quantitativo e distribuição


Apresento, a seguir, uma consolidação de informações estatísticas sobre nossos produtores
de vinhos finos. Se você leu Vinho fino brasileiro, lançado em 2015, verá aqui diferenças no quan-
titativo de produtores estabelecidos em alguns anos anteriores a 2015, que figuravam naquela
edição, e certamente não compreenderá. Talvez se recorde de que, naquela edição, havia três
que ainda precisariam de um tempo para terem seus vinhos no mercado. Outros, por serem
muito pequenos, mantinham-se presos às origens. Outros produtores, finalmente, que estavam
no mercado dos vinhos comuns, decidiram ingressar no mundo dos vinhos finos. Essas são
as explicações para o aparecimento, nesta obra, de produtores que já existiam, anteriormente

58 Rogerio Dardeau
ao lançamento de Vinho fino brasileiro: enquanto três produtores se revelaram, mesmo em fase
inicial de implantação de vinhedos, outros preferiram não se apresentar naquele momento; al-
guns que já estavam estabelecidos, ainda não elaboravam/comercializavam vinhos finos. Então,
aqui, no campo do estudo, da análise, da pesquisa da vitivinicultura brasileira, matéria em evo-
lução permanente, caberão sempre releituras, reconceituações e repovoamento de integrantes
dos grupos sugeridos. Nossa caminhada ainda é longa até a almejada maturidade, lá no Horizon-
te, cujas perspectivas buscamos resumir no último Tempo, ao final do livro.
A base dos dados é o conjunto dos 419 produtores de vinhos finos presentes neste livro,
dos quais 342 estão descritos e 77 citados, sem descrição, apenas com a informação dos gru-
pos nos quais os incluo. Dos 419 produtores, 66,8% (280) têm origem na cultura ancestral de
elaboração de vinhos, enquanto 33,2% (139) são investidores de origens diversas. Vejamos,
na tabela a seguir, a distribuição por unidade da federação.

Produtores de vinhos finos presentes

■ RS 299

■ SC37

■ PR9

SP 29

■ MG 22

■ ES4

• RJ 2

■ G03

■ DF 1

■ BAS

■ PES

Até o ano 2000, estavam identificados e estão aqui descritos 99 vinicultores que tinham vi-
nhos finos em produção. A partir do início daquele ano, vieram-se somar àqueles, outros 245
novos produtores de vinhos brasileiros de terroir. Além disso, 28 negociantes se estabeleceram
no país, para criar e distribuir vinhos finos. De lá para cá, 18 produtores e dois negociantes
(A.R.M.M. e LPG Wines) interromperam as atividades; 22 produtores não iniciaram a comer-
cialização!39 Se voltarmos um pouco mais, a 1989, para contarmos três décadas de vitivinicul-
tura brasileira de vinhos finos, somaremos ao conjunto citado 99 vinícolas. Em resumo: nos
últimos trinta anos (entre 1989 e 2019), entraram em operação, e seguem operando [(245 +
99) - 18] = 326 produtores de vinhos finos!!! E mais: são inúmeras as vinícolas, antes apenas
dedicadas aos vinhos de mesa e aos sucos, que estão investindo em novas linhas, departamen-

39 Allegro; Alto do Gavião; Barbara Eliodora; Carrereth; Cerro da Trindade; De Mentes; Di Vino; Diamante;
Fattoria Monte Alegre; Finca Tuíra; Mandacaru; Pioli; Quinta Canova; Quinta da Lapa; Quintas de São Braz;
Reconvexo; Sítio Polesano; Vale das Colinas; Vila Campana; Villa Triacca ; Villa Zasso; Vinhas do Morro.

Ge nte. Luga res e Vinho s do Bras il 59


tos ou subsidiárias voltados aos vinhos brasileiros de terroir, além de novos comerciantes e
restaurateurs (alguns ainda não listados neste livro), que buscaram parcerias com produtores
para elaborar rótulos próprios de vinhos finos. Infelizmente, não há registros consolidados do
número de vinhos finos concebidos por comerciantes e proprietários de restaurantes Brasil
afora. São, em geral, "amantes de vinhos" 4º que definem perfis próprios, escolhem parceiros
vinicultores e oferecem seus vinhos aos clientes. Alguém poderia dizer que não é um volume
representativo e que os vinhos básicos já estavam contabilizados na produção. Provavelmen-
te, sim, mas contesto esse pensamento com a constatação de que a ação desses restaurateurs
e donos de delicatéssens é formadora e incentivadora de consumidores. Verdade: são poucas
garrafas! Mas o estímulo que produzem, em nossas papilas gustativas e em nossas emoções,
faz crescer o conhecimento de nossos terroirs, faz aumentar o respeito por nossos produtores
e amplia o consumo de vinhos finos brasileiros em geral. São novos rótulos a atrair enófilos,
por meio de ações de venda, com apresentações e degustações orientadas que conquistam e
fidelizam consumidores. Por esse motivo, amplio, tanto quanto possível, a presença de restau-
rateurs e delicatéssens, em conjunto com os negociantes, no título específico da página 377.
Os vinhos brasileiros de terroir elaborados por quem se dedica regularmente aos vinhos
comuns ou de mesa aparecerão ao longo do livro, sempre que falarmos de seus produtores.
A maioria dos produtores brasileiros de vinhos de terroir (58%) instalou-se recentemente,
depois do ano 2000, está em fase de implantação ou de amadurecimento. Essa é a ala mais
jovem da vitivinicultura brasileira de vinhos finos, que cresceu bastante, especialmente com o
aparecimento de mais produtores dos grupos IV e V. Aliás, nesse ponto, há um outro número
muito relevante: na edição de Vinho fino brasileiro, em 2015, havia sete produtores com vinhe-
dos manejados com dupla poda e colheita de inverno, estabelecidos depois do ano 2000; neste
livro, há 41, um crescimento superior a 500%!
Vamos então identificar os 245 produtores brasileiros de vinhos finos e os 28 negociantes,
que iniciaram seus negócios, a partir do ano 2000. A relação segue por ano de estabelecimen-
to, mostrando a localização do produtor, por estado, e o grupo no qual o incluo. No caso do
Rio Grande do Sul, os lugares estão codificados da seguinte maneira: VV - Denominação de
Origem Vale dos Vinhedos; PB - Indicação de Procedência Pinto Bandeira; AM - Indicação de
Procedência Altos Montes; MB - Indicação de Procedência Região de Monte Belo; FA - Indi-
cação de Procedência Farroupilha; SG - Outros lugares na Serra Gaúcha, fora das indicações
geográficas; IPCG - Indicação de Procedência Campanha Gaúcha; AU - Alto Uruguai; CC -
Campos de Cima da Serra; SS - Serra do Sudeste; GP - Grande Porto Alegre; VC - Vale Cen-
tral; MI - Missões; RS - Outros lugares no estado do Rio Grande do Sul.
Estão em cor preta os empreendimentos ativos; em vermelho, aqueles encerrados; em
azul, os negociantes, restaurantes com vinhos próprios e delicatéssens; em verde, aqueles
estabelecidos, mas ainda sem produção comercial; em cor violeta, os produtores ativos que
se utilizam da dupla poda, com colheita de inverno; em cor violeta com um asterisco verde,
aqueles que ainda não estão em produção comercial.

40" Todos os especialistas são amantes de vinhos, mas nem todo amante é um especialista." Jancis Robinson
não gosta da denominação "especialista". Prefere "amante de vinhos". Está na página 35 de Confissões de
uma amante de vinhos. Os comerciantes e restaurateurs citados são verdadeiramente amantes de vinhos.

60 Roge rio D ard ea u


2000: Ametista - AU (IV) , Arbugeri - SG (III) , Casa Garcia - SG (III) , Casa Muterle - SG (III),
Casa Seganfredo - SG (IV), Cave Colinas de Pedra - negociante (PR), Club des Som-
meliers - negociante (SP) , Cordilheira de Sant' Ana - CG (IV), Don Bonifácio - SG (IV),
Don Guerino - SG (IV), Estância Paraízo - CG (IV), Mandacaru - PE (III) *, Pisani - SC
(IV), Quinta Ribeiro de Mattos Gr V (atividade interrompida em 2008) , Salvati & Sire-
na - PB (III) , Seiva! Estate MWG- CG (IV) , Terranova, anterior Ouro Verde MWG- BA
(I) , Torcello - VV (IV), Vaccaro - SG (IV) , Vinhedos Hood - PB (V) , Villaggio Grando
- SC (IV), Weber -AU (IV); (20 produtores + 2 negociantes).
2001: Adega Solar - GP (V), Hermann - SS (IV), Hiragami - SC (IV) , Larentis - VV (IV),
Malgarim - MI (IV), Simonetto - SG (IV), Suzin - SC (IV), Terragnolo - VV (IV) , Villa
Francioni - SC (IV) , Vinha Solo Gr IV (SG) atividade vinícola encerrada, Vinhedo Se-
rena - GP (V); (11) acumulado: 31.
2002: Alto Uruguai Gr IV (AU) atividades encerradas, Campos de Cima - CG (IV), Casa
Postal - SG (IV), Cave Ouvidor Gr V (produção descontinuada em 2006) , D'Alture,
anterior Terras Altas - SC (IV), D'Almeida - SP (III), De Lucca - SS (V), Di Sandi -
PR (III) , Dom Pedrito - CG (IV), Don Miguel - SG (IV), Dunamis - CG (IV) , Mena
Kaho - SG (IV) , Pedrucci - SG (IV), RAR - CC (IV), Rio Velho Gr IV (CG) atividades
encerradas em 2015, Routhier & Darricarrere - CG (IV), Sanjo - SC (IV) , Sozo - CC
(IV), Ulian - AM (IV); (19) ac: 50.
2003: Bodega Czarnobay- SS (IV), Ferreira & Passero - SP (IV) , Fin - MI (IV), InterVin Gr III
(PR) atividade interrompida, Peculiare - VV (IV), Pedras Altas - SS (IV), Pericó - SC
(IV), Peruzzo - CG (IV), Santa Augusta - SC (IV) , Santa Maria, anterior ViniBrasil - PE
(II), Terrassos - SP (III) , Villa Bari - GP (IV); (12) ac: 62.
2004: Adolfo Lona - SG (IV), Antonio Dias - AU (IV), Battistello - VV (IV), Cainelli - SG (IV);
Coopernatural - SG (III), Dezem - PR (IV), Ducos Gr II (PE) passou a atuar em outro
segmento vinícola, Gheller-SG (IV), QuintaD'Alva - MG (IV) , QuintaSantaMariaGrIV
(SC) atividade encerrada em 2016, Serra das Galés - GO (IV) , Serra do Sol- SC (IV), Ser-
rana - SG (III), Stopassola - SG (III), Urupema, anterior Santo Emílio - SC (IV), Viel (SC),
VillaSantaMaria-SP (IV) , Vinho&Arte (RS) deli, Zanella-SG (IV); (18+1) ac: 80 + 3.
2005: Abreu Garcia - SC (IV), Aracuri - CC (IV), Barcarola - VV (IV), Bassani - SG (IV), Bella
Quinta - SP (IV) , Cavas do Vale - VV (IV), Cerro da Trindade - CG (IV) , Cristofoli -
SG (IV), Dachery- FA (IV), Don Abel - SG (IV), Estrada Real - MG (IV) , Estrelas do
Brasil - SG (IV), Família Lemos de Almeida, anterior Fazenda Santa Rita - CC (IV),
Generoso Gr V (atividade interrompida em 2008) , Monte Agudo - SC (IV), Pireneus
- GO (IV) , Soliman -AU (IV), Tenuta Bellavinha Gr III (SC) atividade encerrada, Villa-
ggio Bassetti - SC (IV), Vinho da Toka - VC (V), Zanella Back - SC (V), Zasso - VC
(V) , Zolin - GP (IV); (23) ac: 103.
2006: Casa do Vinho - negociante (SC) , Churchill - PB (V), Don Basílio - SS (IV), Entre Vilas -
SP (V), Fazenda Amazonas - SP (IV) , Floresta - SP (IV) , Guaspari - SP (IV) , Legado - PR
(IV), Luiz Porto - MG (IV) , Marchese di Ivrea - SP (IV) , Vinicampos Gr IV (SC) atividade
interrompida em 2016, Vinhedos Prola Gr V (produção descontinuada em 2012) ; Wein-
gut Weinzierle (SG) atividade vinícola encerrada em 2017 (12+ 1) ac: 115 + 4.

Gente. Lu gares e Vinhos do Brasil 61


2007: Araucária- PR (IV) , Batalha - CG (IV), Cantina Alto da Invernadinha- SC (III), Cope-
rametista - AU (III) , De Mari - MB (IV), Dom Eliziario - VV (IV) , Domus Mea - VC
(IV), Era dos Ventos - SG (V) , Kranz - SC (IV), Quinta Barroca da Tília - GP (V),
Quinta do Olivardo - SP (III) , Tabocas - ES (IV) , Vila Prando - SC (IV); (13) ac: 128.
2008: Almaúnica - VV (IV) , Arte da Vinha - SG (V) , Bodega Sossego - CG (IV) , Casa Oli-
vo - SG (IV), Domínio Vicari - MB (V), Éléphant Rouge - negociante, Elo Crescente
- restaurateur (RJ) , Família Fardo - PR (IV), Fantin - MB (IV) , Gran Legado - VV (II),
Guatambu - CG (IV) , LPG Wines - negociante - atividade encerrada (RS) , Quinta da
Figueira - SC (V) , Ravanello - SG (IV), RH - PR (IV), Santa Eulália - SC (III), Sopra
- CC (IV), Stella Valentino - MG (IV) , Villaggio Conti -SC (IV); (17+2) ac: 145 + 6.
2009: Bueno Wines, anterior Bellavista Estate - CG (IV), Camponogara Gr IV (CG) atividade
vinícola descontinuada, Capoani - MB (IV), Casa Verrone - SP (IV) , Cave Antiga - FA
(IV), Cave de Angelina -AM (IV), Menin - negociante (MG) , Parziale - SP (IV) , Ter-
ramilia - SC (III), Vistamontes - SG (III) 41 ; (9+ 1) ac: 154 + 7.
2010: Antoniolli - SG (III), Baú 9.4 - SP (IV) , Cárdenas - GP (IV), Casa Cervantes - SC (IV),
Cattacini - negociante (RJ) , Ferreira - SP (IV), Dom Bernardo - VV (IV), Dom Eliseo
Gr IV (SG) passou a dedicar-se ao suco de uva, Inconfidência - RJ (IV) , Maria Maria
- MG (IV) , Nova Aliança - AM (II), Quinta da Serra Gr IV (RJ) (atividade interrom-
pida em 2013) , Soterrani Gr V (SG) atividade interrompida em 2016, Vinhetica - CG
(V), Villa Cristina - PB (IV), Villa Mosconi - MG (IV), .Yoo Wines - negociante (RS) ;
(15+2) ac: 169 + 9.
2011: A.R.M.M. (SP) negociante, (atividade interrompida em 2015), Buenos Momentos - MG
(IV) , Casa Savoia - SC (IV), Diamante - SC (V) , Fazenda Progresso - BA (IV) , Finca
Tuíra - GP (V) , Leone di Venezia - SC (IV), Quinta Canova - SG (V) , Quinta da Matri-
culada - Vin de Minas - MG (IV), Quinta do Campo Alegre - MG (IV) , Quintas de São
Braz - PE (III) *, Vesperata - MG (IV) , VinhasdoTempo-MB (V); (12+1) ac: 181 + 10.
2012: Casa dos Espumantes - ES (III), Empório Colheita (MG) deli, Fontanari - SG (IV),
Cerros de Gaya Previtali - CG (IV); (3 + 1) ac: 184 + 11.
2013: Herdade Viela - Gustavo Ismael - MG (V), Petronius 42 - SG (IV), Rigon - SG (III) , Vale
das Colinas - PE (IV) ; (4) ac: 188.
2014: Allegro Cantina - RS (Vb) , Barão de Petrópolis - negociante (RJ) , Casa Ágora - PB (V),
CRS Brands - negociante (SP) , Família Bebber - AM (IV), Ferracini - SP (III), Girassol
- GO (IV) , Helios - negociante (RJ) , Negroponte Vigna - RS (V), Plátanos - FA (IV),
Pueblo Pampeiro - CG (V), Terra Nossa - SP (IV) , Thera - SC (IV), Vanessa Medin - VV
(V), Vinha Unna- PB (V) , Vinhos da Rua do Urtigão - GP (V); (12+3) ac: 200 + 14.

41 A Vistamontes está estabelecida desde 2009, elaborando sucos de excelente padrão. Ingressou no mun-
do dos vinhos finos apenas dez anos depois.
42 A Petronius Beverages by Authors foi estabelecida em 2013, mas iniciou-se no segmento de vinhos finos
em 2017.

62 Roge ri o D ard ea u
2015: Adega do Chamon - negociante (SG) , Bárbara Eliodora - MG (IV) *, Carvalho Branco -
MG (IV), Casa Marques Pereira - MB (IV), Clima - negociante (RJ) , Família Davo - SP
(IV) , Fortaleza - MG (IV) , Pianegonda - GP (V), Pioli - MG (IV) *, Sbaglio - SG (V),
Villa Castro - negociante (RS) , Vivalti- SC (IV), VSB- BA (V); (10+3) ac: 210 + 17.
2016: Avvocato - SG (Vb), Barão Invest - negociante (RJ) , Bertolini - SS (IV), Bodega Ruiz
Gastaldo - GP (IV) , Eduardo Mendonça - MB (V), ENOS/ ENOCH Vinhos Inspirados
- negociante (SC) , Faccin - MB (V), Fattoria Monte Alegre - SC (IV) , Las Chicas del
Vino - negociante (RJ) , Monte - GP (V), O Encantado - SP (III), Sítio Polesano - SP
(IV) *, Vinhas do Morro - BA (IV) *; (10+3) ac: 220 + 20.
2017: 3 Atelier - PB (V), Alto do Gavião - MG (IV) *, Aventura Garage Wines - SG (V), Canti-
na Mincarone - GP (V), Cão Perdigueiro - FA (V) , Carrereth - ES (IV) *, Casa Tertúlia
- AU (IV), Cave Nacional - negociante (RJ) , Marzarotto - AM (IV), Penzo - SG (V),
Quinta da Lapa - MG (IV) *, Terras Altas - SP (IV) , Terroir da Vigia - CG (V), Villa
Triacca - DF (III) *, Vivente-SG (V); (14+1) ac: 234 + 21.
2018: Altos do Paraíso - SS (IV) , Amitié - negociante (RS), Arte Líquida - negociante (RS) ,
Bibulus - negociante (RJ), Choro da Videira - negociante (SP) , De Mentes - GP (V) ,
DEXMA, anterior Décima X - negociante (SP) , Di Vino - GP (V) , Família Aguiar -
negociante (RJ) , Orgalindo Bettú - SG (V), Reconvexo - BA (IV) *, Tenuta Foppa &
Ambrosi - SG (V) , Vallebello - MB (IV) , Vivant Wines (RJ) ; (8+ 7) ac: 242 + 28 .
2019: Cata Terroirs - SC (V) , DiVino - GP (V) , Vila Campana - MG (IV) *. (3) ac: 245.

* Os produtores grafados em violeta, marcados com um asterisco verde adotam dupla poda e
colheita de inverno, mas ainda não iniciaram operação comercial.

Tabela 1. Produtores de vinhos finos estabelecidos no Brasil, por ano,


desde 2000, em operação comercial em 2019

2000
1
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
■1
2012 2013 2014
·I •
2015 2016 2017 2018 2019 Total

Como se vê, parece que desejamos ardentemente superar a pequeníssima taxa de 0,6 ou
0,7 litro por ano, per capita, no consumo de vinhos finos no Brasil, enfrentando com serieda-
de a presença dos importados. O que constato é um aumento de opções. Mas, infelizmente,
embora a oferta de produtos esteja crescendo, nossa participação no mercado não tem sido
corretamente medida, como detalharemos mais adiante, no "Horizonte". Caberia um estudo
da quantidade de rótulos de vinhos brasileiros de terroir elaborados. Como já salientei, há

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 63


diversos produtores de vinhos comuns que, recentemente, passaram a elaborar um ou dois ró-
tulos de vinhos brasileiros de terroir, elevando a presença desses vinhos no mercado e, melhor
ainda, baixando os preços finais . É claro que todos buscam agregar valor a seus rótulos, mas
não há dúvida de que um produtor de vinhos comuns tem mais dificuldade de elevar o preço
final de seu vinho brasileiro de terroir do que os produtores que mantêm vinícolas exclusiva-
mente dedicadas a tais vinhos, qualificando assinaturas.
Outro aspecto relevante, insisto, é a expansão da fronteira vitivinícola. Observemos, a
seguir, as regiões onde se estabeleceram produtores a partir do ano 2000.

Tabela 2. Produtores VBdT estabelecidos a partir do ano 2000, por estado/região**

RS DOVV 15 PRGC 3
RSIPPB 7 PROP 4
RS IPAM 6 SPSR 3
RS IPMB 9 SPLE 6
RS IPFA 5 SPMA 5
RSSG 44 SPNO 4
RSCG 20 SPou 4
RSSS 8 MGSU 9
RSVC 3 MGDJ 6
RSGP 14 MGTA 1
RSMI 2 MGou 2
RSCC 5 RJSS 3
RSAU 7 ESCA 3
VASF 6 GOPC 4
SCSE 25 BACD 3
SCPO 4 PEGA 1
SCou 4

Total 245

**Estado/ região do RS: 1. DOVV - Denominação de Origem Vale dos Vinhedos; 2.


IPPB - Indicação de Procedência Pinto Bandeira; 3. IPAM - Indicação de Procedência
Altos Montes; 4. IPMB - Indicação de Procedência Região de Monte Belo do Sul; 5. IPFA
- Indicação de Procedência Farroupilha; 6. SG - Serra Gaúcha; 7. IPCG - Indicação de
Procedência Campanha Gaúcha; 8. SS - Serra do Sudeste; 9. VC - Vale Central; 10. GP
- Grande Porto Alegre; 11. MI - Missões; 12. CC - Campos de Cima da Serra; 13. AU -
Alto Uruguai; 14. RS- Outros lugares do Rio Grande do Sul. Demais lugares em outros
estados da Federação: BA/PE 15. VASF - Vale do São Francisco; SC: 16. SE - Serra Ca-
tarinense; 17. PO - Planalto Oeste; 18. ou - outros lugares no estado de Santa Catarina.
PR: 19. GC - Grande Curitiba; 20. OP- Oeste Paranaense. SP: 21. SR- São Roque; 22.
LE - Leste e região de Campinas; 23. MA - Mantiqueira Alta; 24. SA - Noroeste e Alta
Mogiana; 25. ou - outros lugares no estado de São Paulo. MG: 26. SU - Sul de Minas; 27.

64 Roge ri o D ard ea u
DJ - Diamantina e Alto Jequitinhonha; 28. TA -Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba; 29.
ou - outros lugares no estado de Minas Gerais. RJ: 30. SS - Serra do Centro-Sul Flumi-
nense. ES: 31. CA- Serra Capixaba. GO: 32. PC - Planalto Central (Centro-Sul Goiano
e Distrito Federal). BA: 33. CD - Chapada Diamantina. PE: 34. GA- Garanhuns.
Em Vinho fino brasileiro, livro de 2015, estavam relacionados apenas 17 lugares onde
vinhos brasileiros de terroir eram elaborados.

Organizações representativas e de classe, de âmbito nacional


Abdvin - Criada em 17 de abril de 2018, a Academia Brasileira de Direito do Vinho é uma
entidade não governamental e sem fins lucrativos, que tem por propósito pesquisar,
promover e desenvolver o Direito do Vinho brasileiro, em seus mais amplos aspectos e
concepções interdisciplinares, congregando para tanto estudiosos nacionais e estrangei-
ros que trabalham com a convicção de que o aperfeiçoamento desse ramo da categoria dos
novos direitos resultará em proveito da comunidade jurídica e da vitivinicultura.
ABE -Associação Brasileira de Enologia. Entre muitas atividades, a ABE realiza, desde 1993,
a Avaliação Nacional de Vinhos. Trata-se do maior evento dessa natureza no mundo. Nas
27 edições, perto de 10 mil amostras foram avaliadas, com grande presença de resultados
entre enófilos e profissionais.
ABS -Associação Brasileira de Sommeliers (em diversas cidades brasileiras) - Instituição sem
fins lucrativos, fundada em 1983, pelo sommelier e restaurateur Danio Braga, no Rio de
Janeiro. É voltada à formação de sommeliers e ao congraçamento de enófilos, por meio
de constante atividade de ensino-aprendizagem teórico-prática sobre vinhos. É associada
à Association de la Sommellerie Internationale (ASI), com sede em Paris. A ABS tem
participado de todos os concursos mundiais da categoria, desde 1986, e em 1992 conse-
guiu um feito inédito: trouxe o concurso para o Rio de Janeiro, reunindo, pela primeira
vez fora da Europa, dezenas dos melhores profissionais do serviço de vinhos do mundo.
Hoje, a ABS é reconhecida internacionalmente, devido à atuação de caráter nacional, com
presença em diversos estados da federação.
Embrapa Uva e Vinho -Área dedicada aos estudos e às pesquisas da cultura de uvas e à ela-
boração de vinhos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituição
pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). São
inúmeros os documentos de caráter técnico que contribuem grandemente com os produ-
tores, tanto nas pesquisas edafológicas e climáticas quanto em relação às variedades de
uvas, além de ações objetivas, para implantação de vinhedos e produção de vinhos.
Ibravin 'VdoBr' 43 - Instituto Brasileiro do Vinho. Organização que tem como missão planejar
e realizar ações institucionais, oferecendo produtos e serviços que possibilitem o ordenamento, a pro-

43 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, Carlos Paviani, concederam longas entrevistas sobre
suas vidas e os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro
Vinhos do Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 65


moção e o fortalecimento da cadeia produtiva da vitivinicultura em todos os seus elos (www.ibravin.
org.br). Nascido no Rio Grande do Sul como órgão do estado, o lbravin recebeu a titulação
'brasileiro', numa época em que se considerava que a produção brasileira de vinhos seria
exclusivamente gaúcha. Hoje, com a produção ampliada a mais de dez estados da federação,
o Ibravin vem enfrentando o grande desafio de representar e defender os interesses de todo
o conjunto dos produtores. Aliás, é importante ressaltar que essa tarefa é mesmo um desa-
fio, uma vez que o setor vitivinícola brasileiro não figura na pauta governamental de temas
nacionais. Na época de fechamento desta edição, o Ibravin teve atividades suspensas, com
algumas das atribuições transferidas à União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) .
Recivitis - Rede de Centros de Inovação em Vitivinicultura. Conjunto de instituições de ci-
ência e tecnologia, do setor vitivinícola, coordenado pela Embrapa Uva e Vinho, de Ben-
to Gonçalves. A rede integra o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec). A Secretaria
executiva da rede está a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) . A agência executora é a Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) . Compõem a rede: Embrapa, por meio das unidades Uva e
Vinho, Pecuária Sul (Bagé, RS), Clima Temperado (Pelotas, RS) e Semiárido (Petrolina,
PE); Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); Uni-
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Universidade do Estado de Santa Catarina
(Udesc); Universidade de Caxias do Sul (UCS); Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS); e Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) .
Sbav - Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (em diversas cidades brasileiras) - Organiza-
ção voltada ao congraçamento de enófilos, com atividades de ensino-aprendizagem.
Uvibra - União Brasileira de Vitivinicultura - Congrega mais de trinta vinícolas de todo o
Brasil, além da Embrapa Uva e Vinho e do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do
Estado do Rio Grande do Sul, campus Bento Gonçalves.

LUGARES - LEGISLAÇÃO, COSTUMES E PROPOSTAS


Há, no Brasil, muitos lugares onde viníferas são plantadas e vinhos finos são elaborados. No
entanto, ainda há muito o que observar, registrar e consolidar em conhecimentos de viticultura
e enologia, específicos de cada microrregião, para que se possam sugerir identidades e perfis dos
vinhos de cada uma. Enquanto isso, expandem-se as fronteiras da vitivinicultura brasileira.

Zonas de produção
O Decreto 8.198, de 20 de fevereiro de 2014, publicado no DOU de 24 de fevereiro de
2014, estabelece o conceito de "zona de produção", por tratamento fisiográfico. Vejamos:

Art. 58. Para efeito deste Regulamento, zona de produção é a região geográfica formada por
parte ou totalidade de um ou mais municípios, dentro de uma ou mais unidades da Federação,
onde se realiza: I - a produção de uva destinada à industrialização; II - a industrialização da
uva; ou III - as atividades previstas nos incisos I e II.

66 Roge ri o D ard ea u
§ 111 A unidade da Federação onde existir a produção e industrialização da uva também será
considerada zona de produção.
§ 211 São zonas de produção:

I - Rio Grande do Sul: a) Alto Uruguai; b) Campanha; c) Campos de Cima da Serra; d) De-
pressão Central; e) Encosta do Sudeste; J) Encosta Inferior do Nordeste; g) Missões; h) Planalto
Médio; i) Serra Gaúcha; e j) Serra do Sudeste;
II - Santa Catarina: a) Litoral Sul Catarinense; b) Planalto Catarinense; c) Vale do Rio do
Peixe; e d) Vale do Rio Tijucas;
III - Paraná: a) Região da Grande Curitiba; e b) Região de Maringá;
W - São Paulo: a) Região de Jundiaí; e b) Região de São Roque;
V - Minas Gerais: a) Cerrado Mineiro; b) Região Sul-Sudoeste de Minas; e c) Vale do Alto
São Francisco;
VI - Espírito Santo: Região Serrana do Espírito Santo;
VII - Mato Grosso: Região de Nova Mutum;
VIII - Goiás: Centro-Sul Goiano;
IX - Bahia: Região de Petrolina e Juazeiro; e
X - Pernambuco: Região de Petrolina e Juazeiro.

Indicações geográficas
A ideia de zoneamento físico é importante. Criam-se áreas de contorno amplo, mas com
perfis consistentes, que certamente poderão facilitar as demarcações de regiões e microrregi-
ões vitícolas e, por consequência, regiões vinícolas.
As indicações geográficas existem no mundo desde o século XVIII. O gran duque Cosimo
III, da família Médici, de Florença, assinalou, em 1716, a primeira delimitação geográfica de uma
área vinícola: a região do Chianti, na Toscana, Itália. Porém, somente quarenta anos depois, em
1756, uma região foi regulamentada. Foi o marquês de Pombal, que, ao criar a Companhia Geral
de Agricultura do Alto Douro e delimitar as fronteiras do vinho do Porto, estabeleceu regras para
sua produção. A França teve sua primeira demarcação quase um século depois, em 1855.
Segundo o advogado Alexandre Fragoso Machado, especialista em Direito da Propriedade
Intelectual pela PUC-RJ, ex-examinador de marcas do INPI,

[...] as indicações geográficas constituem-se em uma das formas especiais de proteção a bens ima-
teriais ou intangíveis, residentes em uma das especialidades do Direito, a propriedade intelectual.
A indicação geográfica visa, principalmente, a distinguir a origem de um produto ou serviço,
através da diferenciação da qualidade e/ou da excelência da manufatura dos mesmos, ou através
da fama de uma área geográfica pela comercialização ou obtenção de um determinado produto.
(Revista GEINTEC, São Cristóvão, SE, v. 2, n. 4, p. 353-364, 2012)

No Brasil, o assunto é pautado pela Lei 9.279, de 14 de maio de 1996, que "regula direitos
e obrigações relativos à propriedade industrial". Segundo essa lei,

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 67


Art. 176. Constitui indicação geográfzca a indicação de procedência ou a denominação de origem.
Art. 1 77. Considera-se indicação de procedência o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção
ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
Art. 178. Considera-se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características
se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
Art. 179. A proteção estender-se-á à representação gráfica ou figurativa da indicação geográfica,
bem como à representação geográfica de país, cidade, região ou localidade de seu território cujo
nome seja indicação geográfica.
Art. 180. Quando o nome geográfico se houver tornado de uso comum, designando produto ou
serviço, não será considerado indicação geográfica.
Art. 181. O nome geográfico que não constitua indicação de procedência ou denominação de
origem poderá servir de elemento característico de marca para produto ou serviço, desde que não
induza falsa procedência.
Art. 182. O uso da indicação geográfica é restrito aos produtores e prestadores de serviço esta-
belecidos no local, exigindo-se, ainda, em relação às denominações de origem, o atendimento de
requisitos de qualidade.
Parágrafo único. O INPI estabelecerá as condições de registro das indicações geográficas.

Em resumo: a lei brasileira estabelece duas modalidades de indicações geográficas: a In-


dicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO). As IPs consideram o nome
geográfico de um país, de uma cidade, de região especificamente delimitada que tenha
se tornado reconhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado
produto ou prestação de serviço. Nas DOs, o nome geográfico designa produto ou serviço
que tenha qualidades ou características que se devem exclusiva ou essencialmente ao meio
geográfico, incluídos aí fatores como os naturais e os humanos. Numa IP podem ser elabo-
rados vinhos com uvas de fora da área demarcada, o que não é permitido numa DO. Sem
dúvida, as seis indicações geográficas (IGs) para vinhos finos, já definidas no Brasil (uma
DO e cinco IPs, que serão detalhadas no Tempo II), são as áreas que têm definições mais
claras de seus terroirs e, como consequência, mais possibilidades de identidade em seus vi-
nhos. É preciso, porém, ampliar a divulgação dos atributos dos vinhos de cada IG, para que
os consumidores consigam compreendê-los e possam identificar as próprias preferências.
Uma curiosidade: embora sejamos produtores tradicionais e reconhecidos de café, cachaça,
açúcar e muitos outros produtos, foi o vinho fino, pela ação determinada e organizada da
Associação de Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), o primeiro
produto nacional a ser beneficiado com o reconhecimento de uma IG, nos termos da Lei
9.279 de 14 de maio de 1996.
Nos Tempos II, III e IV, trataremos de cada um dos lugares onde vinhos finos são elabo-
rados, no Brasil, podendo ser regiões produtoras formais ou informais. Vale registrar que é
muito relevante o papel orientador da Embrapa Uva e Vinho, para que novos produtores de
vinhos finos se estabeleçam no país.

68 Rogerio Dardeau
Enoturismo
Diante da relevância do tema, solicitei ao amigo Vander Valduga uma reflexão.

O enoturismo é uma atividade que acompanhou a produção vinícola mundial desde os tempos
mais remotos da vitivinicultura. O deslocamento humano aguçado pelo desejo de conhecer a
produção do vinho antecedeu em muito o início dos estudos de enoturismo, que, efetivamente,
começaram a ganhar corpo a partir de meados dos anos 1990. De pouco mais de 50 artigos
científicos internacionais publicados até 2004, quando iniciamos os estudos de enoturismo no
Brasil, em 2019, numa simples busca pelo termo "winetourism" na básica ferramenta do google
acadêmico, foi possível encontrar mais de 148 mil menções em distintas esferas. A literatura
sobre enoturismo avançou muito e haveria muito o que se dizer, especialmente ao se adentrar nas
especificidades dos territórios do vinho; porém, o objetivo aqui é dissertar sobre alguns aspectos
centrais e essenciais do enoturismo.
Os primeiros estudos de enoturismo abordavam o fenômeno de maneira bastante descritiva, como
a visitação aos vinhedos e vinícolas, contemplação e apreciação da enogastronomia, dos festivais
e da comercialização de produtos oriundos da uva e das regiões vinícolas. De um olhar descritivo,
os estudos avançaram para outras esferas, com abordagens mais complexas a respeito da ampli-
tude do enoturismo, do ferramental do marketing e da gestão, da cultura e do patrimônio, das
preocupações com o ambiente, da incorporação de tecnologia ao enoturismo e da ampliação do
conceito da paisagem vitícola. 44 Em trabalho recente que tive o privilégio de orientar, Gabardo
(2019, p. 105) 45 definiu que o enoturismo "constitui uma experiência repleta de estímulos sen-
soriais, emanados pelo vinho e suas paisagens, na qual visitantes e anfitriões exercitam o gosto e
alimentam emoções, conjugando o prazer e saber, conhecimento e afetividade. Onde saber e sabor
se aproximam de forma concreta, não apenas etimologicamente".
As práticas do enoturismo atendem e acompanham, em geral, os modelos regionais e organizacionais
de produção vinícola, isto é, regiões e empresas de produção em larga escala tendem a atuar no enotu-
rismo da mesma maneira, pasteurizando as experiências turísticas. Por outro lado, experiências tidas
como mais autênticas, em que anfitrião e turistas têm oportunidades de gerar sentimentos de hospi-
talidade, tendem a maximizar positivamente experiências turísticas ligadas aos territórios do vinho.
A hora da verdade no atendimento é uma oportunidade única de gerar conhecimentos, tornar um
iniciante consumidor de vinhos num promotor da região enoturística; portanto, produtores devem
compreender o caráter pedagógico que o enoturismo tem. Houve uma tendência no mundo do vinho
que perdurou, ao menos, duas décadas, em insistir em termos técnicos do vinho com consumidores e
turistas iniciantes, o que sabidamente afastou potenciais consumidores, tornando a área mais restrita
aos "especialistas", em detrimento de universalizar o acesso ao vinho.

44 Sugere-se a leitura complementar do trabalho de Gabardo e Valduga (2019): Los Sistemas Culturales
y el Paisaje dei Viiiedo Brasileiio como Recursos para el enoturismo. Estudios y Perspectivas en Turis-
mo, Ciet, v. 28, p. 759-779, 2019. Disponível em: https://www.estudiosenturismo.com.ar/PDFN28/N03/
v28n3a11.pdf.
45 Gabardo, Wagner, O. A paisagem sensível do enoturismo: uma abordagem fenomenológica. Dissertação.
Programa de Pós-graduação em Turismo, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019. Disponível
em: https://hdl.handle.net/1884/61378.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 69


Contudo, deve-se levar em consideração que o enoturismo é parte de um ecossistema, tanto no pla-
nejamento das experiências turísticas por parte das organizações do vinho quanto dos agentes e
operadores do turismo. É necessário compreender que heranças culturais, memórias, identidades,
tradições e paisagens caminham juntas com as dinâmicas de cocriação de valor nos destinos de vinho
e que podem e devem ser assumidas pelos seus agentes com o potencial de se criarem sinergias no
enoturismo, garantindo a reprodução econômica e social dos vitivinicultores, suas famílias e de seus
saberes e faz.eres. Com o intuito de preservar saberes e memórias é que se criou em 201 7 o Centro
do Patrimônio e Cultura do Vinho (Cepavin), numa parceria entre a UFRGS e a UFPR , com apoio
de importantes órgãos da vitivinicultura nacional e internacional. O Brasil tem regiões produtoras
de Norte a Sul, uma demanda enoturística46 que cresce em média 20% ao ano e deve potencializar e
preservar suas caraterísticas culturais únicas no universo da produção mundial de vinho.

Depois dessa aula, fica mais fácil compreender a importância da atividade econômica de
trabalhar culturalmente os lugares onde os vinhos finos são elaborados, seja na arte, na his-
tória, na literatura, na gastronomia, etc. Felizmente, já é uma atividade incorporada ao pen-
samento de muitos produtores. Muitas cantinas brasileiras já estão aparelhadas para receber
visitantes, algumas delas com sofisticadas instalações. Mas enoturismo não significa apenas
receber viajantes e exibir os vinhos. É necessário atraí-los, criar elementos de motivação no
próprio empreendimento e nas regiões. Os produtores que operam enoturismo declaram a
importância das receitas imediatas e dos desdobramentos da imagem que adquirem junto ao
consumidor final, que tende a se fidelizar. Além de todos os aspectos específicos de vitivinicul-
tura que os produtores nos ensinam, você encontrará quem tenha vinícola num túnel imperial,
num sítio arqueológico, com vinhos enterrados, vinhos adegados com música e muito mais.
Nesse contexto, é importante registrar que ainda temos muitas carências de infraestrutura.
Acesso e hospedagem são aspectos críticos em muitas regiões brasileiras. Precisamos também
reforçar as experiências do 'turismo-de-um-dia'. Nossos destaques são o Vale dos Vinhedos,
em Bento Gonçalves, RS, e o Roteiro do Vinho, em São Roque, SP. No campo dos eventos, as
feiras e a Avaliação Nacional de Vinhos têm relevância. Os produtores que já adotam a prática
estarão sinalizados, aqui em Gente, lugares e vinhos do Brasil, com a sigla EnoT.

VINHOS - LEGISLAÇÃO E PRÁTICAS


Objetivamente, o vinho no Brasil tem as seguintes classificações, conforme a Lei
7.678/ 1998, modificada e complementada pela Lei 10.970/ 2004:
Classe (classe da uva): vinho de mesa - elaborado com uvas comuns; vinho de mesa fino
ou vinho fino (a expressão "de mesa" nesse caso é optativa) - elaborado exclusivamente a
partir de uvas viníferas ou europeias (sic); vinho nobre - São classificados e denominados vinhos
nobres, aqueles elaborados no território nacional exclusivamente a partir de uvas da espécie Vitis vinifera
que apresentarem teor alcoólico de 14,1 % (quatorze e um décimo por cento) a 16% (dezesseis por cento),
em volume (Art. 34, da IN Mapa 14, de 8/ 2/ 2018).

46 Dados da demanda do enoturismo no Brasil foram analisados em Valduga e Minasse (2018). O Enoturismo
no Brasil: principais regiões e características da atividade. Territoires du Vin . Disponível em: http://preo.u-
bourgogne.fr/territoiresduvi n/i ndex.ph p?id =1635.

70 Roge rio D ard ea u


Ao definir apenas duas grandes categorias (vinho de mesa ou comum e vinho fino, essa ca-
tegoria agora complementada pelos raros vinhos nobres), é fácil compreender o largo espectro
que se abre sob cada uma das duas denominações. Isso certamente favorece a existência, entre
nós, de vinhos brasileiros ditos finos que não deveriam ter esse título. Por essa razão, sugeri
pensarmos nas categorias 'vinho fino corrente' e 'vinho brasileiro de terroir', além dos vinhos
de mesa. Entendo ainda que necessitamos melhorar a categoria "vinhos de mesa", nesse caso
incluindo definições específicas para o chamado vinho colonial.

Exigências legais
• Classe: leve, com teor alcoólico entre 7,0% e 8,5%; espumante; frisante; gaseificado;
licoroso e composto.
• Tipo ou classificação quanto à cor: tinto, rosado ou rosé e branco.
• Classificação quanto aos teores de açúcar (em gramas de açúcar por litro): até 4gll,
para vinhos finos secos; de 4, 1 gil a 25 gil para os vinhos meio-secos ou demi-sec; de
25, 1 gil até 80 gil, no caso de vinhos suaves. Ou ainda nature, extra brut, brut ou doce, na
designação dos espumantes.
• Graduação alcoólica: de 8,6% a 14%, tanto para vinhos finos quanto para vinhos de
mesa. Como vimos, a IN Mapa 14, de 8 de fevereiro de 2018, introduziu o conceito de
vinho nobre para os elaborados com viníferas com teor alcoólico entre 14, 1% e 16,0%.

Os vinhos que declaram uma variedade da uva com a qual foram elaborados são os vinhos
varietais, e os que não o fazem são vinhos genéricos. No caso do varietal, até a safra 2005
a vinícola devia comprovar, junto ao órgão fiscalizador, a existência do vinho na cantina e a
presença no produto de no mínimo 60% da variedade citada; a partir da safra de 2006, esse
percentual passou para 75%, ressalvados os percentuais específicos de cada denominação de
origem. O saldo deverá ser completado com vinho de variedade pertencente à mesma catego-
ria, ou seja, uma variedade nobre pode ser cortada com outra nobre: Cabernet Sauvignon com
Cabernet Franc ou Merlot, mas não com Bordô ou Isabel.
A citada Instrução Normativa do Mapa nº 14, de 8 de fevereiro de 2018, nos traz ainda o
seguinte:

Art. 30 Em função de características adicionais de qualidade, o vinho fino e o vinho nobre, pro-
duzidos em território nacional, podem ser classificados como:
§ 1° Reservado:
vinho jovem pronto para consumo, com graduação alcoólica mínima de 10 % (v/v).
§ 2° Reserva:
1 - quando o vinho tinto, com graduação alcoólica mínima de 11 % (v/v), passar por um período
mínimo de envelhecimento de doze meses, sendo facultada a utilização de recipientes de madeira
apropriada;
11- quando o vinho branco ou rosado, com graduação alcoólica mínima de 11% (v/v), passar por
um período mínimo de envelhecimento de seis meses, sendo facultada a utilização de recipientes
de madeira apropriada.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 71


§ 3° Gran Reserva:
I - quando o vinho tinto, com graduação alcoólica mínima de 11 % ( v/v), passar por um período
mínimo de envelhecimento de dezoito meses, sendo obrigatória a utilização de recipientes de
madeira apropriada de no máximo seiscentos litros de capacidade por no mínimo seis meses; e
II - quando o vinho branco ou rosado, com graduação alcoólica mínima de 11 % (v/v), passar
por um período mínimo de envelhecimento de doze meses, sendo obrigatória a utilização de
recipientes de madeira apropriada de no máximo seiscentos litros de capacidade por no mínimo
três meses.

Observemos que falar de vinho Reservado, 47 Reserva e vinho Gran Reserva significa aten-
tar para atributos de idade, iniciados nas cantinas, para uma perspectiva de vida futura. Vejo,
então, necessidade de fazer uma pequena digressão sobre a idade dos vinhos.

Idade dos vinhos


Esse é um atributo que merece destaque nos vinhos brasileiros. É certo que o maior vo-
lume de vinhos finos elaborados em nossa terra, como aliás nos demais países, é destinado
ao consumo rápido, ainda na juventude. Para isso são produzidos. Ocorre que, aqui, também
temos todas as condições de elaborar vinhos longevos, e temos visto isso: vinhos com mais de
dez anos, demonstrando toda a nobreza da idade. Talvez o pequeno volume feito por nossos
produtores esconda esses vinhos especiais. A edição deste livro encontra diversos exemplos
de grandes vinhos com uma década ou mais: Baron de Lantier Merlot 2002 e 2004; Bettú
Cabernet Franc 2003; Cantina Tonet Nebbiolo 2005; Cordilheira de Santana Reserva Especial
Tannat 2004; Don Giovanni Tannat 2004; Marco Luigi Grande Reserva da Família Cabernet
Sauvignon 2004; Milantino Tannat 2006; Panceri Cabernet Sauvignon 2005; Salvatore Báculo
Cabernet Sauvignon 2005; Sanjo Maestrale lntegrus Cabernet Sauvignon 2008; Santo Emílio
Leopoldo 2009; Val de Miz Sospirolo 2005; Vallontano Cabernet Sauvignon 2005; Valmarino
Reserva da Família 2005; Villa Bari Gran Rosso 2005; todos os Casa Valduga Storia Merlot;
todos os Miolo Lote 43; e muitos outros. E há ainda os de elaboração recente, para uma vida
superior a uma década, como Atelier Tormentas Vermelho 2015; Casa Valduga Raízes Gran
Corte 2012; Guaspari Vista da Serra Syrah 2016; Pizzato Concentus 2015; Terragnolo Reserva
Merlot 2014; Torcello Perfetto Merlot 2014; e muitos outros.
Como saber sobre a capacidade de um vinho para envelhecer bem e se transformar num
adulto (ou num ancião) notável? Primeiramente, na juventude, a cor precisa ser intensa, ter
translucidez e brilho, o que indica que o vinho teve origem em frutos maduros e sadios. Se o
vinho amadureceu em barrica de carvalho, certamente apresentará também evolução dos tons
no envelhecimento. Os aromas precisam ter frescor e frutas, indicando a possibilidade de um
futuro buquê intenso e complexo. Na boca, o vinho deverá demonstrar muito boa acidez e a
presença de taninos ricos, que serão domesticados com os anos. Em geral, vinhos brancos não
apresentam taninos, uma vez que a maior parte deles se elabora sem cascas e sem engaços.

47 É uma pena que tenhamos adotado esse conceito, tão desvalorizado entre nós, pela presença de grande
quantidade de vinhos 'reservados' importados de péssima qualidade.

72 Rogerio Dardeau
Vinhos de teor alcoólico mais elevado (13,5% a 14,5%) têm mais possibilidades de envelhecer,
apurando as virtudes. Mas veja, estimado leitor: tem possibilidade. Isso não significa dizer que
todo vinho muito alcoólico envelhecerá mais e melhor.
Confirmados os predicados ao envelhecimento, convém então deixar o vinho adormecer
por uns aninhos! Se possível, compre uma caixa, nela anotando local e data da compra, em
etiquetas apropriadas, ou registre como achar mais prático. Se você tem adega, elimine as
caixas e retire os papéis de seda que as melhores vinícolas utilizam para proteger os rótulos.
Periodicamente, abra uma garrafa e vá reconhecendo a evolução. O importante é que as garra-
fas repousem na posição horizontal, ao abrigo da luz, no lugar mais ventilado possível. É bom
recordar: garrafas em adegas pessoais devem repousar sem cápsula. Isso permitirá perceber
algum vazamento, de início, e consumir prontamente o vinho.
Mais um detalhe importante: ar, aeração. Os vinhos jovens elaborados no Novo Mundo,
inclusive, obviamente, os brasileiros, precisam de ar. Sim, frequentemente, estão prontos.
Mas ganham imensa expressão ao experimentarem ar, muito ar. Tenho falado muito nos vi-
nhos do dia seguinte. Você abre uma garrafa e não termina. Vai buscá-la no outro dia e se
surpreende: sente muito mais prazer. O que aconteceu? Seu vinho respirou. O que fazer? Se
não for possível usar uma jarra ou decantador, vá apreciando lentamente, agitando sua taça. A
experiência da degustação mais lenta, com vagar, será muito mais prazerosa.

Produção vitivinícola integrada


Desde 2016, a 'uva para processamento' integra o elenco de ati-
vidades econômicas passíveis de adesão voluntária, pelo produtor,
a um programa de Produção Integrada, o qual, no caso específico,
ficou conhecido como Produção Integrada de Uva para Processa-
mento (Piup). Compete ao Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento a instituição de normativa legal e coordenação das ações específicas. A defi-
nição de parâmetros de auditoria e a acreditação de empresas certificadoras - Organismos de
Avaliação da Conformidade (OAC) - cabe ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
Tecnologia (Inmetro).
Um programa de produção integrada é sempre voltado a uma produção sustentável e se
constitui, basicamente, dos seguintes compromissos: seguir a grade de agroquímicos regis-
trados e permitidos, pelo Mapa, para viticultura; seguir os períodos de carência, os intervalos
entre aplicações e as doses recomendadas; relacionar agroquímicos específicos às possíveis
doenças, pragas e plantas daninhas a serem controladas; contratar trabalhadores regularmen-
te e proteger-lhes a saúde; não contratar trabalho infantil.
O vitivinicultor assina contrato com uma empresa certificadora, treina e recicla periodi-
camente as equipes; registra rotineiramente as atividades desenvolvidas na produção. Além
disso, pelo contrato, aceita a realização de auditorias pela certificadora, fornecendo amostras
para análises de resíduos de agroquímicos.
A produção é monitorada permanentemente. As 'não conformidades' às normas, identifi-
cadas nas auditorias, são notificadas ao produtor, com um prazo para correções. O produtor
que cumpre integralmente as normas, tendo toda a documentação nos cadernos de campo,

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 73


registros favoráveis de auditorias e com resultados de análises satisfatórias, recebe autoriza-
ção para comercializar os produtos da respectiva safra, com o selo de Produção Integrada, que
pode ser incluído no rótulo do vinho.

Instrução Normativa nº 27, de 31 de agosto de 2010

O Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no uso da atribuição que lhe


confere ... , resolve:
Art. 1° Estabelecer as diretrizes gerais com vistas a fixar preceitos e orientações para os progra-
mas e projetos que fomentem e desenvolvam a Produção Integrada Agropecuária (PI-Brasil), sem
prejuízo das demais disposições regulamentadoras, buscando:
I - Apoio às cadeias produtivas para fazer frente às exigências mercadológicas e elevar os padrões
de qualidade e competitividade dos produtos agropecuários ao patamar de excelência requerido
pelos mercados;
II - Fomento da produção sustentável, difusão e transferência de tecnologias, inovação tecnológi-
ca, boas práticas agropecuárias e bem-estar animal, como elementos básicos de transformação da
produção convencional em sustentável, certificável e rastreável;
III - estímulo à organização da base produtiva, monitoramento do sistema, sustentabilidade dos
processos produtivos, implantação de base de dados, sistemas de gestão da propriedade e instru-
mentos econômicos para garantir a viabilidade do negócio;
IV - Incentivo e promoção de programas de capacitação para os envolvidos com as cadeias produ-
tivas, buscando priorizar o produtor rural; e
V - Articulação para a realização de ações voltadas à promoção de campanhas de divulgação e difusão
dos programas e projetos, no âmbito das cadeias produtivas, nos mercados ejunto aos consumidores.
Parágrafo único. A adoção da PI-Brasil e seus procedimentos, orientações e preceitos é de livre
adesão.
Art. 2° O conteúdo desta Instrução Normativa será o marco referencial e o modelo preconizado
na concepção, elaboração, implantação, desenvolvimento, implementação e validação dos progra-
mas e projetos da PI-Brasil.
CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 3° A oferta de produtos agropecuários, seguros e com qualidade, produzidos de acordo com
parâmetros e sistemas de produção sustentáveis é imprescindível para atendimento das expecta-
tivas dos mercados consumidores.

Art. 5° A PI-Brasil, em seu rol de orientações, prioriza o uso de sistemas sustentáveis de pro-
dução agropecuária e preconiza a produção orientada por parte do público-alvo que é formado
majoritariamente por produtores agropecuários e agroindústrias.
Instrução Normativa nº 42, de 9 de novembro de 2016
O Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no uso das atribuições que lhe
confere... , resolve:

74 Rogerio Dardeau
Art. 1° Ficam aprovadas as Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada do Trigo; do
Arroz, de Gengibre, lnhame e Taro; do Feijão; de Flores e Plantas Ornamentais; de Uva para
Processamento; das Anonáceas; do Amendoim; e de Tomate Tutorado, respectivamente, na
forma dos Anexos 1 a lX desta Instrução Normativa.

ANEXO VI
Normas técnicas específicas para
a produção integrada de uva para processamento
Esta Norma Técnica Espedfica, formulada por premissas estabelecidas pela Instrução Normati-
va nº 2 7, de 30 de agosto de 201 O, refere-se às etapas Fazenda e Indústria da Produção Integra-
da de Uva para Processamento, que abrange todos os processos conduzidos na produção agrícola
e no processamento, respectivamente, conforme [veadas pelo Anexo da Portaria nº 443, de 23
de novembro de 2011, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (lnmetro).
Etapa 1 - Fazenda: 1. Capacitação; 2. Gestão ambiental; 3. Material propagativo; 4. Implan-
tação de vinhedos; 5. Nutrição de plantas; 6. Manejo do solo; 7. Irrigação; 8. Manejo da parte
aérea; 9. Proteção integrada da planta; 1O. Colheita; 11. Carência e sistema de rastreabilidade
e auditoria; 12. Análise de resíduos; 13. Assistência técnica e mão de obra.
Etapa 11 - Indústria: 1. Capacitação; 2. Gestão ambiental; 3. Estabelecimento vinícola; 4.
Processamento.

Rótulos (o que seria bom encontrar neles)


O desenho dos rótulos é livre, desde que contenha, pelo menos: nome do produtor ou
vinícola, nome do vinho, tipo, casta, caso seja um varietal, safra e graduação alcoólica. Mas já
existem no Brasil rótulos muito mais completos, como os dos vinhos do Atelier Tormentas.
Reclamo quando percebo a falta do nome do enólogo ou do vinhateiro. São raras as vinícolas
que nos informam o autor de seus vinhos. Uma prática que vem crescendo é a adoção dos
Códigos QR (QR Code). A utilização desse recurso da informática permite que muito se possa
falar sobre o vinho e o produtor, sem necessidade de impressões no papel. Selos e medalhas
não são relevantes, uma vez que não temos nenhuma obrigação de gostar de certo vinho pre-
miado. Em contrapartida, podemos apreciar muito algum vinho sem selo ou medalha alguma.
Quais são, então, as informações relevantes que devemos procurar nos rótulos?

• Nome do vinho -É a identificação principal, não devendo ser confundido com varie-
dade de uva, nem com o produtor e nem com região produtora. Alguns produtores e
autores utilizam o nome principal da casa com a casta, em caso de varietal, como um
sobrenome. Exemplos: Antonio Dias Tannat, Don Laurindo Merlot, Quinta do Her-
val Trebbiano. Outros buscam dar personalidade exclusiva ao vinho. Exemplos: Alma
de Viamão, Intrépido, Minimvs Anima. Há o interessante caso da vinícola Maria Ma-
ria, de Três Pontas, MG, que batiza com um novo nome, o mesmo vinho, a cada safra.
• Produtor - É a vinícola ou vinicultor que elabora. Pode aparecer em diversas posi-
ções no rótulo.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 75


• Tipo - Trata-se da identificação tinto, branco ou rosado, determinação legal. Mas é
sempre bom saber quando há um estilo específico; por exemplo, vinho laranja.
• Safra, colheita ou vindima - É a declaração do ano da colheita da uva. A legislação
consagrada nos países produtores determina que o vinho deve ser integralmente pro-
veniente do ano declarado. É outro dado que depende de um conhecimento prévio,
para uma análise mais acertada. A literatura específica internacional informa fre-
quentemente as categorizações de safras nos países de produção tradicional. Nesses,
há que se levar em conta a região. Sabe-se que microclimas existem e regem, muitas
vezes, parcelas pequenas de um certo espaço geográfico. No Brasil, a Embrapa emite
Comunicados Técnicos sobre as safras; no entanto, são pouco divulgados. Infeliz-
mente, só dispomos de série histórica das colheitas da Serra Gaúcha. Com a expansão
da fronteira vitivinícola brasileira e a grande variedade de microclimas, é fácil com-
preender que haverá diferentes classificações para cada microrregião.
• Classe ou Classificação - É a indicação que mostra onde está situado o produto, no
conjunto de convenções ou disposições legais a respeito do vinho. Pode ser um DO
ou um IP, únicas classes disponíveis no Brasil.
• Uva - Trataremos das uvas especificamente nas partes dedicadas aos Brancos e aos
Tintos; vale apenas agregar que a indicação da uva no rótulo é um costume tipica-
mente dos produtores do Novo Mundo, o que não é verificado, com tanta frequência,
nos países produtores tradicionais do Velho Mundo, como França, Itália, Portugal e
Espanha, até porque ali a arte do corte está enraizada na vinicultura. A declaração do
corte, no contrarrótulo, é, porém, muito desejável e melhor ainda quando especifica
os percentuais aplicados de cada uva.
• 'Uva' + 'uva' - Já não é raro encontrar, notadamente no Novo Mundo, rótulos expli-
citando a presença da mesma casta, de duas origens ou clones; por exemplo, 'caber-
net + cabemet', 'malbec + malbec' e outros. Não há dispositivo formal (acordos ou
legislação) sobre o tema. Significa que o vinho foi elaborado com duas variações da
mesma casta ou clones, ou então que utilizou a mesma casta, todavia com procedên-
cias diferentes, vinhedos distintos.
• Ano de estabelecimento do produtor-É aquele clássico "Desde 2001", por exem-
plo. É uma informação auxiliar, na identificação de tradição.
• Região - Informa o lugar de origem do vinho; se houver no rótulo a indicação de uma
região não caracteristicamente vinífera, recomenda-se buscar informações comple-
mentares que venham a suprir a necessidade de identificar as qualidades do produto.
No Brasil, ainda são poucas as regiões com as identidades vitivinícolas definidas, mas
há inúmeras surgindo.
• Vinhedo - A identificação dos vinhedos a partir dos quais são colhidas as uvas é
uma informação relevante, quando o consumidor já identifica regiões, microclimas e
terroir. Os varietais elaborados com uvas de um único vinhedo certamente exibirão,
nos rótulos, a expressão 'single vineyard'.
• Quantidade produzida e numeração da garrafa - Duas informações que podem

76 Rogerio Dardeau
demonstrar certos cuidados especiais, se apresentadas em conjunto. Saber que foram
produzidas 25.000 garrafas de certo vinho e que se tem em mãos a de número 16.397
é, sem dúvida, um tratamento diferenciado para o consumidor. A informação do nú-
mero da garrafa perderá o sentido, caso não saibamos quantas foram produzidas. No
entanto, a informação isolada da quantidade produzida já é um cuidado.
• Enólogo - Confere valor e credibilidade ao vinho.
• Graduação alcoólica - Contribui na escolha de acompanhamentos e na identificação
da possibilidade de envelhecimento, sendo também cumprimento de dispositivo legal.
• Conservante - Na produção convencional, utiliza-se anidrido sulfuroso (S02), INS
220 ou PV. Vale registrar que, em Portugal, já se verifica a utilização de flor de cas-
tanheira como substituto do S02 na vinificação, com influência sobre pesquisadores
brasileiros. Há, todavia, vinhos sem conservantes ou com baixíssima presença de
S02, atualmente bastante procurados por um público muito exigente diante de ques-
tões ambientais e de preocupações com a ingestão de aditivos químicos. Esses vinhos
são, quase sempre, artesanais e requerem mais cuidado na guarda. O fato de serem
livres de química tem o preço da exigência de transporte mais cuidadoso, o que ainda
é problemático entre nós, e tratamento mais delicado.
• Amadurecimento - Podemos listar as seguintes formas: vinho que após a estabiliza-
ção em tonéis de aço, foi logo engarrafado; vinho que passou por barricas de madeira;
vinho do qual apenas uma parte estagiou em barrica de madeira, sendo cortado com
vinho procedente de tonel de aço; vinho do qual parte estagiou em madeira de uma
procedência (por exemplo, França) e parte passou por carvalho americano ou outro.
Cada processo propiciará uma característica ao vinho. O conhecimento disso nos
ajudará a melhor compreender o vinho e o nosso próprio gosto. Além disso, é sempre
bom saber se o vinho descansou na adega do produtor, antes da comercialização, e
por quanto tempo.
• Tempo de guarda - Se é um vinho de guarda, seria muito bom conhecer a recomen-
dação do produtor quanto ao tempo mínimo de envelhecimento. Devo reconhecer,
todavia, que se trata de informação imprecisa.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 77


~ Sua excelência, o espumante brasileiro

Como sabemos, o nome champagne é exclusivo dos espumantes produzidos naquela região
da França e está garantido por um acordo internacional, que o protege. 48 Sobre isso, havia uma
exceção curiosa no Brasil. Na década de 1970, as empresas francesas Champagne Lanson Pere
et Fils, Champagne G. H. Mumm & Cie. e Champagne Taittinger ajuizaram ação declaratória
contra a União Federal, visando o Instituto Nacional da Propriedade Industrial e o Instituto de
Fermentação, 49 pelo que entendiam haver descumprimento do Acordo de Madri pelas empre-
sas brasileiras Armando Peterlongo, Champagne Georges Aubert, Mosele e Dreher, em razão
do uso, por aquelas vinícolas, dos nomes champagne, champanha ou champanhe em seus espu-
mantes. Em decisão final, respondendo ao Recurso Extraordinário n. 78835, o Supremo Tribu-
nal Federal deu ganho de causa, em 25 de novembro de 1974, às quatro vinícolas brasileiras,
decidindo por relatoria do ministro João Baptista Cordeiro Guerra: "Não viola o art. 4 do
Acordo de Madrid, de 14.04.1891, decisão que admite a denominação champagne, champanhe
ou champanha em vinhos espumantes nacionais". O fato novo é que, no dia 11 de dezembro
de 2012, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à França, o governo brasileiro emitiu
declaração de reconhecimento da região francesa de Champagne como indicação geográfica.
Isso equivale a dizer que a partir da publicação daquele ato no Brasil, espumantes brasileiros
não podem ostentar os nomes champagne, champanha ou champanhe.
Os espumantes brasileiros, produzidos em Garibaldi, Bento Gonçalves, Pinto Bandeira, em
outros municípios gaúchos e até em outros estados, já são apreciados internacionalmente,
obtendo muito boas apreciações de especialistas mundo afora. Os cortes são variados, muitas
vezes numa tentativa de encontrar a melhor aproximação possível de champanhe. 50 Algumas
vinícolas substituem a Pinot Meunier por vinhos da casta Riesling Itálico. Mas há quem sim-
plesmente a elimine, elaborando o espumante apenas com vinhos base de Chardonnay e Pinot
Noir. Em ambos os casos, encontram-se produtos de primeira linha. Recentemente a Villaggio
Grando, de Água Doce, SC, apresentou um brut charmat, utilizando o corte tradicional francês,
com a Pinot Meunier. São muitos os espumantes brut notáveis, elaborados rigorosamente pelo
método tradicional, clássico ou champenoise (outra denominação francesa exclusiva), assim
como os blancs de noir e os blancs de blanc. Algumas vinícolas elaboram também o nature ou dosa-

48 Acordo de Madri, de 14.04.1891 , retiratificado em Washington, em 26.06.1911, e em Haia, em 06.11.1925,


adotado no Brasil pelo Decreto n. 19.026, de 31.12.1029.
49 Órgão de pesquisas do Ministério da Agricultura, criado em 1962 e extinto com a reorganização que
trouxe a Embrapa.
50 O corte do champanhe francês é feito entre vinhos das castas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.
Esta última é variedade de cultivo difícil, não tendo se adaptado aos terroirs do Brasil.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 79


ge zéro, com açúcar em dosagem inferior a 3g por litro. Muitas cantinas elaboram espumantes
rosados e outras privilegiam a produção de espumante do tipo asti italiano, a partir de uva
Moscatel. Entre essas, impressiona o Cavalleri Moscatel Moscato Hamburgo Rosé.
Sobre os métodos de elaboração, utilizamos o método tradicional (méthode champenoise),
com a segunda fermentação na garrafa; o método Charmat, ou Martinotti, 51 com a segunda
fermentação em tanques autoclaves; e o método asti, com uma única fermentação, em auto-
claves. Alguns produtores que escolhem o método tradicional vêm utilizando levedura encap-
sulada. Trata-se de recurso da biotecnologia pelo qual as leveduras atuam, nas garrafas, dentro
de cápsulas de alginato (polissacarídeo natural extraído de algas), podendo-se eliminar a etapa
de remuage. As cápsulas evitam o turvamento da bebida e diminuem o risco de contaminação
microbiológica, além de facilitarem e reduzirem os custos do método. Ainda tenho dúvida
sobre a apregoada similaridade de produto final entre os espumantes elaborados por esse
método e os obtidos por meio do processo tradicional, com leveduras livres.
Os espumantes moscatéis, muito presentes entre nós, são produzidos pelo método asti.
É importante registrar que os amantes da ancestralidade encontram ecos também nos
espumantes, o Pét-Nat. Trata-se de abreviatura carinhosa da expressão francesa Pétillant-natu-
rel. Isso nos informa que estamos diante de um espumante elaborado por método ancestral,
anterior ao tradicional de Champagne. Um Pét-Nat termina a única fermentação já engarrafado.
Permanecerá, portanto, com resíduo de levedura e com a chapinha metálica como vedação.
Garibaldi é considerada a capital brasileira do espumante, terra das borbulhas. O mu-
nicípio fundado em 1900 confunde a própria história com a da bebida, que teve o início de
produção pelas mãos do imigrante italiano Manoel Peterlongo, em 1915. Ele produziu des-
de o começo rigorosamente pelo método tradicional francês, com a segunda fermentação na
garrafa. Há, porém, quem atribua o protagonismo do uso do "método champenoise" 52 ao irmão
marista Pacômio, um francês que fora transferido pela congregação para Garibaldi, levando, na
primeira década do século XX, um grande conhecimento de elaboração de bebidas à nascente
capital brasileira dos espumantes. Vejamos o que dizem os historiadores.

Vivendo de seu trabalho de técnico, Manoel (Peterlongo) tinha um sonho: produzir em Garibaldi
um vinho que tivesse a mesma qualidade daquele da Europa. Esse sonho começava a se tornar
realidade em 1913, pelos conhecimentos que recebeu do irmão Pacômio. 53

Posteriormente, ali se instalaram a Cooperativa Vinícola Garibaldi, a Georges Aubert, a De


Gréville, a Forestier e a Chandon, abrindo o caminho a muitas outras vinícolas. Em 2008, foi
criado o Consórcio de Produtores de Espumantes de Garibaldi (Cpeg).
A quantidade de açúcar é que definirá a classe do espumante. Em ordem crescente de do-
çura, pela lei brasileira, os espumantes podem ser:

51 Consta que o método foi concebido pelo italiano Federico Martinotti, mas que ele não dispunha de
recursos para executá-lo, vindo a ser aplicado, mais tarde, por Eugéne Charmat.
52 O certo seria escrever aqui 'método champenois', sim, sem o 'e' final, pela simples razão de que a palavra mé-
todo, em nosso idioma, é masculina. Mantenho, porém, champenoise, que faz concordância com la méthode,
feminina em francês, apenas pelo fato de estar consagrada, entre nós, a expressão "método champenoise".
53 Clemente, Elvo; Ungaretti, Maura. História de Garibaldi: 1870-1993. Porto Alegre: PUC-RS, 1993.

80 Rogerio Dardeau
• Nature ou dosage zéro - é o espumante com até 3 gramas de açúcar por litro;
• Extra-sec ou extrabrut - com teor de açúcar entre 3 e 8 gramas por litro;
• Brut- com teor de açúcar entre 8 e 15 gramas por litro;
• Sec - com teor de açúcar entre 15 e 20 gramas por litro;
• Demi-sec, meio-doce ou meio-seco - com teor de açúcar entre 20 e 60 gramas por litro;
• Doce ou doux - com teor de açúcar acima de 60 gramas por litro.

Dada a amplitude de cada faixa, seria desejável que os produtores declarassem a doçura
nos rótulos. A razão é simples. Se você é um apreciador de espumantes mais secos, terá pleno
prazer diante de um brut com dosagem de 8,0 gil. Acontece que, como vimos, pelos preceitos
legais, ele também será brut com 15,0 gil. Com certeza, quando você experimentar este últi-
mo, dirá que é doce.
Há também os espumantes chamados crus, integrais, sem dégorgement. São, sem dúvida
alguma, bebidas únicas, levando as leveduras até o consumo, com açúcar residual próximo de
zero, portanto nature. Enquanto as garrafas de espumantes precisam de trato muito cuidadoso
no serviço, um espumante integral deve passar por leve movimentação da garrafa para homo-
geneizar a bebida. Há, porém, quem prefira deixar a garrafa na vertical, antes do serviço, para
decantar a levedura. Como sempre, uma questão de gosto: sentir mais ou sentir menos a pre-
sença da levedura. Os aromas e sabores são completamente distintos, além do paladar que é
volumoso. São notáveis: Casa Valduga Sur Lie, Cave Amadeu Rústico Nature, Hermann Lírica
Crua, Otto Nature Sur Lie 2016 (iniciativa da Adega Refinaria de Bento Gonçalves, lançado
em 2019), Petronius Sur Lie 2017, Pizzato Vertigo, Routhier & Darricarrere Província de São
Pedro Ancestral, Valmarino Nature Sur Lie 2015.
Champagnes (os franceses) só são safrados em anos especiais, que evidenciem uma colheita
especial, e ganham a denominação millésime. Muitos dos produtores brasileiros de espumantes
finos têm adotado o costume saudável de safrar as bebidas, nas melhores safras. Como se sabe,
não há, em relação aos espumantes, uma obrigatoriedade de colheitas específicas. Encontramos
os espumantes longevos Legado Millésime, Miolo Millésime, Pedrucci Millésime, Don Gio-
vanni e Maximo Boschi, com alongados tempos de garrafa e ótimas expressões.
Estamos em amplo debate, no Brasil, por um nome específico para o nosso espumante, as-
sim como os espanhóis consagraram as cavas e os alemães, os sekt. Outra iniciativa importante
é a ação conjunta das vinícolas Aurora, Cave Geisse, Don Giovanni e Valmarino para ter Pinto
Bandeira como a primeira Indicação Geográfica específica de espumantes, que seria a primeira
no Novo Mundo. Em princípio, seriam admitidos somente espumantes elaborados pelo méto-
do tradicional, a partir de vinho base com as castas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico,
cultivadas em espaldeiras, e com limite de produção por hectare.
Os nomes que fazem a história do espumante brasileiro são Peterlongo, Acir Boroto (que
elabora, em Garibaldi, um espumante orgânico, certificado), Adolfo Lona (com sua butique e
com os espumantes Baron de Lantier, que não mais existem, do Grupo Bacardi Martini), Car-
valho Branco, Casa Pedrucci, Casa Valduga, Cattacini, Cave Colinas de Pedra, Cave Geisse,
Chandon, Clima, Don Giovanni, Eduardo Zenker (Arte da Vinha), Estrelas do Brasil, Hermann,
Maximo Boschi, Pizzato, 3 Atelier Garoa e Vallontano, entre muitos outros que, não tendo foco
exclusivo nos espumantes, os elaboram em elevado padrão. Aliás, é preciso registrar que os

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 81


espumantes produzidos com vinhos base, obtidos a partir de castas de origem italiana, na Serra
Catarinense, vêm mostrando tipicidade e leveza, muito agradáveis. Incluímos aqui o Abreu
Garcia Geo (100% Vermentino), o Leone di Venezia Pregiato 2017 Charmat (Vermentino e
Grechetto) e o Villaggio Conti Charmat Penultimo (Vermentino, Grechetto e Ribolla Gialla).
Se nos afastamos do eixo RS-SC, encontramos ótimos espumantes no Paraná e em Minas
Gerais. Na região da Grande Curitiba, temos o Araucária Poty Lazzarotto Nature, o Franco Ita-
liano Cuvée Extra Brut e o já citado Legado Millésime. No sul de Minas Gerais, destacam-se os
Villa Mosconi Brut, Extra Brut e Nature, além do novíssimo Maria Maria Sous les Escaliers Na-
ture. O Vale do São Francisco também se destaca por espumantes leves, refrescantes, alegres.
O nível de excelência dos espumantes brasileiros já possibilita escrever novo livro, só para
eles, diante da riqueza de opções que os produtores brasileiros oferecem, inclusive com os
chamados espumantes negros!
Agora, um caso muito especial e singular. Como sabemos, os espumantes recebem licores de
expedição, que definem a condição de brut ou extra brut. Os nature não precisam. Mas o que são
os licores de expedição? Bem, na França, os produtores decidem por cognac, armagnac, champagne
envelhecido e outras bebidas que proporcionem o desejo do enólogo. No Brasil, os licores de expe-
dição também são variados, sempre derivados da uva, utilizando-se, muito frequentemente, bran-
dies. Até que, um dia, Matheus Tomaz Machado, o mineiro de Uberlândia que desenvolve vinhos
próprios, com vinícolas parceiras, para vender em seu Empório Colheita, se perguntou: Uai, por que
não posso ter cachaça como licor de expedição? Levou a ideia ao enólogo Maciel Ampese, que imediata-
mente se associou ao projeto. Mas qual cachaça utilizariam? E Matheus não fez por menos: elegeu
a Cachaça 'gmachado', elaborada pelo próprio pai, Geraldo Machado, um corte entre cachaças
envelhecidas em tonéis de carvalho, umburana e jequitibá. Nasceu o espumante ChampenUalse,
elaborado pelo método tradicional, como o nome sugere. O vinho base foi Chardonnay (75%)
e Pinot Noir (25%), de manejo biodinârnico, em Pinto Bandeira, RS. Ficou um brut finíssimo,
elegante, no qual a cachaça emprestou aroma e sabor muito discretos, agregando enorme valor e
grande personalidade. Esse espumante brut, com 12,5% de teor alcoólico, açúcar residual de 1 lg/1,
acidez total de 8,98g/l, Ph de 3,08 e licor de expedição de cachaça em lOml/1, sinceramente, me
emocionou. Foram 100 garrafas que mostraram uma nova possibilidade ao espumante brasileiro.
Eu não poderia finalizar o texto sobre espumantes sem mencionar os chamados espuman-
tes negros ou vinificados integralmente em tinto. Não são muitos, uma vez que transformam
a bebida notabilizada pelo frescor em algo encorpado. Talvez por isso ainda não tenha con-
seguido conquistar um público muito amplo. A experiência mais recente foi a da Guatambu,
com o Noite do Pampa, 100% Merlot.
Todo esse cenário corrobora a posição hegemônica no consumo interno de espumantes
brasileiros frente aos importados. Vejamos os dados de 2018, segundo informe da Uvibra. 54 E
olha que o item 'espumantes brasileiros' só soma os gaúchos!

54 Disponível em: http://www.uvibra.eom.br/pdf/import_vinhos_espumantes_2012_dez2018.pdf (13/6/2019).

82 Rogerio Dardeau
IMPORTADOS BRASILEIROS TOTAL
■ LITROS 9.165.991 17.950.127 27.116.118
% 33,8% 66,2% 100%

Consumo de Espumantes em 2018

Gente . Lugares e Vinhos do Brasil 83


~ Castas em uso no Brasil

Desde que os vinhedos começaram a ser convertidos para espécies viníferas, os viticultores
privilegiam castas francesas . Sob o meu ponto de vista, a casta tinta de origem francesa que
melhor se adaptou à Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, foi a Cabernet Franc. Os vinhos
brasileiros dessa vinífera pioneira, produzidos em diversos pontos daquela área, tendem a
assumir muito bom corpo e a evoluir muito bem na garrafa. No entanto, por diversas razões,
a Cabernet Franc não figura atualmente entre as principais viníferas plantadas no Brasil, em-
bora tenha conquistado o título de tinta principal da IP Pinto Bandeira. A Merlot, hoje a tinta
titular da DO Vale dos Vinhedos, é a que vem se firmando como a "casta brasileira", sobretudo
após o êxito do Pizzato Reserva Merlot 1999. Essa casta, porém, está em segundo lugar entre
as viníferas tintas processadas. A primeira posição no pódio fica para a Cabernet Sauvignon,
conforme dados da Embrapa Uva e Vinho. Contudo, praticamente todas as vinícolas que se
dedicam a vinhos brasileiros de terroir têm a casta Merlot nos próprios vinhedos ou, quando
não a têm, vinificam a partir de uvas compradas de terceiros.
Insistimos: os terroirs brasileiros ainda estão em definição. Muito ainda há a aprender
sobre a relação entre determinada casta e a adaptação ao lugar onde está implantada. São inú-
meras as viníferas ainda em teste no Brasil. Encontramos as castas gregas Assyrtiko (branca),
além da tintas Agiorgitiko e Xinomavro. Há também castas georgianas. As brancas são Mtsva-
ne, Chinuri, Gorula (Mrgvali Kurdzeni) e Rakaziteli (Rkatsiteli); as tintas Aleksandrouli, Jani
Nakashidzis, Mujuretuli, Ojaleshi, Taveri (Tavkveri) e Usachelari (Usakhelouri). Todas essas
são certificadas e nos chegaram pelas mãos do produtor James Martini Carl.

VARIEDADES RESISTENTES DE VIDEIRAS


Na era do conhecimento em que vivemos, a viticultura não fica atrás. Como sabemos,
doenças ocorrem em vinhedos, como ocorrem em outras culturas e no reino animal. As uvas
plantadas em regiões de umidade elevada são atacadas frequentemente por míldio e oídio.
Assim, pesquisadores de diversos centros de estudos conseguiram criar mudas resistentes,
que vêm mostrando ótimo desempenho. Convidei o professor Eduardo Giovannini, PhD, en-
genheiro agrônomo, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), campus
Porto Alegre, a nos explicar um pouco melhor. Vejamos!

Com as crises provocadas na viticultura europeia, inicialmente pela filoxera e depois por míldio
e oídio, houve a necessidade de desenvolvimento de novas variedades de videiras, que resistissem
àquelas pragas. A enxertia, em "cavalos" americanos, solucionou o problema da filoxera; a cria-
ção de híbridos produtores diretos, os problemas de míldio e oídio. Foram criadas variedades que
tinham algum grau de resistência aos fungos e qualidade de vinho semelhante aos de viniferas.

Gen t e . Lugares e Vin hos do Bras il 85


Infelizmente nunca concomitantemente: ou eram resistentes, mas o vinho ruim; ou o vinho era
bom, mas a planta sensível.
Nos últimos anos, porém, estimulados por demanda em produtos orgânicos, vários institutos
de pesquisa retomaram o tema em muitos países da Europa. Atualmente se destacam o Istituto
Agrário de San Michele All'Adige e a Universidade de Údine, ambos na Itália, que vêm lançando
novas variedades de videiras, resultantes de programas de melhoramento feito através de hibri-
dação e seleção. Não são transgênicas, mas apenas cruzamentos de uvas europeias consagradas
com alguma variedade americana que tenha os genes responsáveis pela resistência. Em geral se
atinge esse estado na quinta geração de cruzamentos, quando a nova variedade terá 31/32 de
genes de vinifera e 1/32 de genes americanos.
No Brasil, um programa semelhante da Embrapa lançou a Margot (semelhante à Merlot) e a
Moscato Embrapa e Lorena (semelhantes à Moscato).
Comercialmente se destacam as criadas na Universidade de Údine, pois esta tem convênio com o
viveiro Vivai Cooperativi Rauscedo (VCR), o qual as prepara para venda. São cobrados royalties
sobre o uso destas e assim as mudas custam perto de R$15 a unidade. O comprador assina um
contrato com o viveiro, no qual se compromete a não distribuir material para outros viticultores
e marca as coordenadas do vinhedo.
As variedades apresentam resistência ao míldio e ao oídio, bem como certa tolerância à podridão
cinzenta, o que permite que, em um ciclo, sejam feitos somente três tratamentos com produtos
à base de cobre.
Já existem várias cultivares comerciais de Cabernet Sauvignon, Merlot,
Sauvignon Blanc, Tocai Friulano e Sangiovese. Todas elas são batizadas
com outros nomes 55 e seu uso não é admitido na União Europeia para
vinhos com Denominação de Origem. No Brasil, em função da legislação,
seus vinhos não podem ser identificados como "finos". Os vinhos, no en-
tanto, têm as qualidades dos vinhos finos, sendo difícil (ou mesmo impos-
sível) discernir uns dos outros. Por análise química se identificam devido
à presença de diglucosídeos, característicos de uvas americanas e ausentes
nas europeias. Poderão se constituir em uma alternativa para a produção ecológica no futuro,
com qualidade e redução drástica no uso de insumos químicos.

No Brasil, não podemos deixar de destacar as ações da Embrapa Uva e Vinho e do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC) , com relevantes contribuições no desenvolvimento de novas
cultivares autenticamente brasileiras, regionais. Incluí, neste trabalho, as híbridas brancas
Goethe e Lorena, além das tintas Máximo e Moscato Bailey, pela forte presença que ambas
vêm tendo na vizinhança das viníferas e até em cortes com essas.
A seguir, relacionamos as castas mais cultivadas, na certeza de alguma omissão de cepa em
pesquisa de adaptação por algum viticultor.

55 NA: por exemplo, Sauvignon Kretos, Cabernet Veios.

86 Ro ge rio Darde au
BRANCAS
Chardonnay
É a branca mais cultivada em todo o mundo. Originária da França, na Borgonha e em Cham-
pagne, onde nasceu o espumante homônimo. Cultivada também na Argentina, na Austrália, no
Brasil, na Califórnia (maior reduto produtor depois da Europa), no Chile e em muitos outros
países. Na Borgonha, produz os famosos Chablis e Montrachet, cujos nomes se confundem com
as regiões. Os Pouilly-Fuissé são também elaborados com a Chardonnay. Vinhos com a Chardon-
nay combinam com massas e frangos levemente temperados, além das sopas e alguns pratos de
camarões. São ótimo acompanhamento para a fondue de queijo. Portugal vem produzindo exce-
lentes vinhos maduros à base da Chardonnay, que são ótima companhia para os bacalhaus e fe-
cham muito bem com chocolate intenso. 56 No Brasil, é a casta branca principal da Denominação
de Origem Vale dos Vinhedos (DOVV) . Praticamente todas as vinícolas que elaboram vinhos
brancos secos têm um Chardonnay. Aos apreciadores de vinhos brancos barricados, recomendo
o Casa Fontanari Chardonnay Bâtonnage, dos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, RS.

Alvarinho
Cepa da região do vinho verde. Produz alguns dos melhores verdes em Monções. Um peixe
ao molho de gengibre pede um vinho de Alvarinho com boa acidez. Aliás, os vinhos à base
da Alvarinho são tão singulares que podem oferecer amplas possibilidades de harmonização.
Que tal um arroz de lampreia? Na Espanha é a Albarifio. No Brasil, é cultivada pela Miolo, na
Campanha Gaúcha; pela Vinícola Hermann, em Pinheiro Machado; pela Lemos de Almeida,
nos Campos de Cima da Serra; e pela Famiglia Tasca, em Monte Belo do Sul.

Arinto
Uva branca muito presente no centro-sul de Portugal (áreas mais quentes), especialmente
no entorno de Lisboa, inclusive nos vinhedos arenosos de Bucelas. É casta de acidez elevada
que aporta aromas cítricos aos vinhos e tem capacidade de envelhecer. No Brasil vem sendo
testada por Rogério Gomes, em vinhedos implantados no norte da ilha de Santa Catarina.

Assyrtiko
Variedade grega encontrada em Santorini e na Macedônia, muito versátil, em varietais se-
cos, jovens, cortes estruturados, vinhos de sobremesa e até no estilo retsina, tipo de elaboração
ancestral que tomava a resina de pinheiro dos tonéis. A casta está implantada, na Campanha
Gaúcha, como experimento, numa parceria entre a vinícola Campos de Cima, a Embrapa Uva
e Vinho e o produtor James Martini Carl. Em outubro de 2019, tive a oportunidade de apreciar
o primeiro vinho. Estava equilibrado, com uma bonita cor amarela com reflexos esverdeados,
aromas leves e ótima presença no paladar, com boa acidez. O vinho manteve as características
da casta, mostrando algo do terroir sob o qual foi desenvolvida.

56 Aprendi com a mestra chocolatier Mirian Rocha que não é correta a popular expressão 'chocolate amar-
go', mas sim chocolate intenso.

G e nte. Lu ga res e Vinhos do Brasil 87


Chenin Blanc

Principal uva branca de várias regiões do Vale do Loire, utilizada na produção do espuman-
te daquela região. Ali, é conhecida como Pineau-de-la-Loire. Os vinhos dessa uva acompanham
muito bem os risotos de queijo. Casta autorizada na AOC Montlouis-sur-Loire, onde seus vi-
nhos tendem à longevidade. A Chenin Blanc está nos vinhedos da família Dardeau, na Domai-
ne La Milletiere, de René-Pierre Dardeau, e na Domaine Les Lutinieres, de Jean-Christophe
Dardeau. No Brasil, vem sendo testada no Vale do São Francisco, já tendo sido apresentada
com boa expressão no Botticelli Chenin Blanc 2007, em corte com a Viognier, pela Vinícola Rio
Sol, e no untuoso Cattacini Vale do Luar 2014.

Colombard

Casta do sul da França, portanto adaptada aos climas quentes. Por essa razão encontrou
ambiente e prosperou muito na Califórnia, sendo inclusive identificada ao varietal French
Colombard. Transmite boa acidez aos vinhos, bem como notas florais e muito frescor. É mais
uma das brancas admitidas na IP Campanha Gaúcha.

Fernão Pires ou Maria Gomes

Casta muito presente em todo o território português, mas que prefere as regiões mais
quentes. Na origem, é usada na elaboração de vinhos secos, doces e até em espumantes. Não
tem acidez elevada e dá origem a vinhos leves. Está em avaliação pelo produtor Rogério Go-
mes, no norte da ilha de Santa Catarina, com vinificação prevista para 2020.

Fiano (de Avelino)


Casta originária da Campania, ao sul da Itália. Vem sendo muito valorizada. Proporciona
aromas florais, cítricos e notas de mel a seus varietais. Há menções a essa uva desde o século
XIV, mas, após a filoxera, ficou um tanto esquecida, até que alguns produtores retomaram o
cultivo, na década de 1970. Aprecia solos vulcânicos e minerais. Não por acaso, a produtora
Heloise Merolli, da Vinícola Legado, estabelecida na localidade de Bateias, em Campo Largo,
PR, decidiu implantá-la. Teve muito êxito e vem elaborando varietais muito expressivos, fres-
cos, vivos, com muita elegância.

Flora
Cultivar resultante do cruzamento entre as viníferas Gewurztra-
miner e Sémillon, de casca levemente rosada, implantada no sul do
Brasil pela Vinícola Vallontano. Há algum tempo, porém, por diversas 2001

razões, teve a produção descontinuada, uma pena. Produzia um va-


rietal muito agradável, leve, mas com sabor, que acompanhava com
elegância os queijos leves, além das saladas e entradas levemente
temperadas. Era muito boa companhia da maniçoba, prato típico da
cozinha paraense e do Recôncavo Baiano. A Casa Valduga utiliza atu- YIIIO FINO
IU!H0ilt0
almente a casta, em corte com Pinot Blanc e Riesling, na elaboração
do Casa Valduga Arte Branco.

88 R oge rio D ard ea u


Garganega
Variedade do Vêneto, no norte da Itália, que ficou muito associada aos vinhos 'Soave'. Seus
vinhos são, em geral, claros, com aromas florais de pêssego e também notas de amêndoas.
Vem sendo cultivada por Saul Bianco, nos vinhedos da Leone di Venezia, em São Joaquim,
SC, e também em Mariana Pimentel, RS, nas vinhas de Jorge Ducati. Ambos os vinhos têm
mostrado muita fidelidade à casta original, com características específicas de cada ambiente.

Gewürztraminer
Uva aromática, de casca rosada, que teve importante presença no norte da Itália, na região
de Tramina. Ali, a variedade Traminer já tinha tal denominação, antes do reconhecimento do
mesmo nome à região. Sugere-se que os alemães tenham adicionado o prefixo gewurz (espe-
ciaria) para evidenciar a característica aromática de especiarias. Tem excelência de produção
na Alsácia, onde dá vinhos untuosos e persistentes. Esteve muito presente em vinhos produ-
zidos em nossa terra, no início dos anos 1980, na Serra Gaúcha. Acontece que aquela não era
a região mais apropriada a essa casta. Então, experimentou certo declínio, mas vem ganhando
posições, especialmente na Campanha Gaúcha, com os varietais elaborados pela Cordilheira
de Sant'Ana e pela Guatambu. Aliás, essa vinícola tem, inclusive, um ótimo espumante ro-
sado, no qual a Gewürztraminer entra em corte com a Pinot Noir, no vinho base. Saul Bian-
co (Leone di Venezia) e Lizete Vicari (Domínio Vicari) também oferecem excelentes rótulos
dessa casta. Os vinhos dessa casta nobre podem acompanhar salmão defumado, pratos com
queijos e outros com pimentões, além da maniçoba.

Glera (Prosecco Bianca)


Uva originária da região nordeste da Itália, que gera alguns vinhos tranquilos. Anterior-
mente mais conhecida como Prosecco Bianco, passou a admitir formalmente a denominação
Glera. O nome Prosecco está, agora, reservado ao espumante a que dá origem, pelo qual é
mais conhecida. Os proseccos estão na moda e são ideais como bebidas solo, em ambientes
informais e esportivos. Prosecco é o vinho-base do badalado coquetel Bellini, elaborado com
pêssego batido no liquidificador. Aliás, a Vinícola Hermann, de Pinheiro Machado, RS, já nos
oferece o espumante Hermann Bossa Nº 6, concebido como o coquetel Bellini. Na Itália, os
melhores proseccos são feitos no Vêneto, nas regiões DOC de Conegliano e Valdobiadenne. O
prosecco Cartizze é considerado o melhor e o de mais classe entre os italianos. No Brasil, as
casas Georges Aubert, de Garibaldi; Boscato, de Nova Pádua; Don Guerino, de Alto Feliz; e
Salton, de Bento Gonçalves, já produzem espumantes prosecco a 100%, bastante expressivos.
Vinho dessa casta integra o corte do elegante Viapiana 192 Brut (com Viognier e Chardonnay).

Goethe (clássica)
Essa não é uma vinífera, mas, dada a importância que assumiu em Santa Catarina, con-
quistando até uma IP, não posso deixar de citá-la com destaque. Trata-se de uma cepa híbrida,
desenvolvida a partir do cruzamento entre a variedade vinífera europeia Moscato Hamburgo
(Black Hamburg ou Black Muscat) e a americana Carter. Data de 1851, quando o norte-ameri-
cano Edward Stanniford Roger criou, no estado americano de Massachusetts, vários cultivares

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 89


com o objetivo de obter as virtudes de uma vinífera, com a resistência de uma variedade ame-
ricana. Um dos resultados chegou a um cultivar com 87,5% de Vitis Vinifera e 12,5% de Vitis
Labrusca. A este o pesquisador denominou Goethe, em homenagem ao pensador alemão. Os
vinhos dessa variedade assumem características olfativas e gustativas da moscato. As primei-
ras parreiras de uva Goethe, em Urussanga, SC, foram plantadas no final do século XIX. Ali,
foi desenvolvido um clone denominado Goethe Primo, que dá origem a vinhos típicos da região.
Veja mais no item 'Goethe', dentro de "Gente que elabora vinhos finos em Santa Catarina".

Gouveia

Variedade fundamental aos vinhos do Porto, sobretudo pelo equilíbrio de acidez de seus
vinhos. Durante muito tempo julgava-se que era a Verdelho, de fora do Douro. Atualmente é
identificada como casta autônoma. É Godello na Galícia. Está presente nos vinhedos da Viní-
cola Hermann, em Pinheiro Machado, RS, e integra o corte do espumante prestígio daquela
casa, o elegante Hermann Lírica Brut (11,8%), elaborado pelo método clássico.

Grechetto Bianca

Casta natural do centro da Itália, especialmente da Úmbria. Trata-se de variedade de casca


espessa, sempre verde, com ampla quantidade de aromas, que vem sendo muito utilizada na
DOC57 de Assis, eventualmente temperada com a Trebbiano. No Brasil, está presente nos
vinhedos da Villaggio Conti, em São Joaquim, SC.

Grenache Blanc ou Garnacha Bianca

Trata-se de mutação da homônima tinta, com origem no norte da Espanha, com forte pre-
sença no sul da França, onde entra no corte de Chateauneuf-du-Pape. Seus varietais são claros
e exalam maçã verde. É considerada uma casta que se transforma, conforme a região na qual
está implantada.

Gros Manseng

Casta francesa, muito presente no sudoeste da França, irmã da Petit Manseng. Como o próprio
nome evidencia, tem bagos grandes. A casca tem uma coloração verde-dara e é espessa. A acidez
é semelhante à da Petit. Quando colhida normalmente pode gerar vinhos secos elegantes e florais.
Porém, é muito utilizada em colheita tardia, depois de ser atacada pelo fungo Botrytis cinerea, que
perfura a casca e drena o bago, favorecendo alta concentração de açúcar, desejável à elaboração dos
vinhos doces de sobremesa. Está muito presente na Gasconha e no Jurançon. Foi implantada no
Brasil pela Vtllaggio Grando, de Santa Catarina, em vinhedos a 1.300 metros de altitude. Integra o
corte do Villaggio Grando Colheita Tardia de Altitude. É a casta do Viapiana Laranja 2017.

Lorena - BRS Lorena

Híbrida desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho para a Serra Gaúcha que vem tendo ex-
celente adaptação a outras regiões vitícolas brasileiras, inclusive São Paulo. Foi obtida pelo

57 Denominazione di origine contrai/ata. No caso citado, a de Assis na Itália.

90 Rogerio Dardeau
cruzamento entre a vinífera Malvasia Bianca e a híbrida Seyval. A BRS UV 127 3', como é
tecnicamente conhecida a Lorena, possui alta produtividade (25-30 t/ha), vigor moderado e
resistência às principais doenças que ocorrem na região. A uva madura atinge teores de açúcar
entre 20 e 22 graus Brix, com muito boa acidez. Seus vinhos têm mostrado muita elegância, são
aromáticos e de muito boa presença no paladar. Têm amplas possibilidades de harmonização.

Malvasia

Trata-se de uma grande família, com origem grega, na qual estão a Malvasia Bianca, a Mal-
vasia Nera e a Malvasia de Candia. Prospera em praticamente toda a Itália. Tem uma reputação
de elegância e é utilizada indiscriminadamente em cortes brancos e tintos. Os Chianti destina-
dos ao consumo rápido são temperados com Malvasia. No Piemonte é cortada também com
Barbera. Varietais dessa uva são produzidos de Friuli à Sicília. Esses vinhos podem ser secos e
acompanhar bem as entradas italianas e os peixes, mas também podem ser abocados ou meio-
-doces, então indicados a aperitivos. Há ainda os vinhos de sobremesa elaborados com Malva-
sia. No Brasil, a casta dá origem a muitos espumantes doces e meio-doces. Em varietais secos,
destacam-se os elaborados por Vilmar Bettú, em Garibaldi, por Ademir Brandelli, da Casa
Don Laurinda, em Bento Gonçalves, além do Dezem Magne. A denominação Malvasia também
aparece nas variedades espanhola (Malvasía Aromática) e portuguesa (Malvasia Fina).

Manzoni Bianca

Variedade criada em 1930, pelo professor Luigi Manzoni, da escola de enologia de Cone-
gliano, a partir do cruzamento entre Pinot Bianco e Riesling. O objetivo foi aprofundar a já
conhecida adaptabilidade das duas castas originárias aos climas frios. A Manzoni é hoje casta
típica do Vêneto, gerando varietais bem estruturados, florais, com toques minerais e frescos.
No Brasil, está implantada em Sapucaí Mirim, MG, no ambiente que apresento como Manti-
queira Alta, no Sítio Polesano.

Moscato, Moscatel ou Muscat

É uma grande família de uvas, uma das castas mais antigas conhecidas. Responsável por
vinhos brancos doces e aromáticos, mas também por secos de boa estrutura. Dá origem ao
doce Moscatel. No Brasil é bastante difundida, gerando ótimos varietais no Rio Grande do Sul.
Está presente até no Vale do São Francisco, onde gera também vinhos "colheita tardia". Mos-
cato Bianco, Moscato Giallo e Moscatel de Alexandria são as mais cultivadas por aqui. A jovem
vinícola Vale das Colinas, em Garanhuns, PE, tem a Muscat Blanc à Petits Grains como uma
das principais brancas da casa. Na Itália, é a base do Asti Spumante. Em Portugal, na DOC Setú-
bal, dá origem ao famoso Moscatel de Setúbal, VLQPRD. 58 Acompanha os doces e alguns pratos
leves servidos com doces de frutas. Aparece ainda como Moscatel de Alejandría, na Espanha;
Moscatel Graúdo e Moscatel Branco, em Portugal; Lexia, na Austrália; Hanepoot, na África do
Sul; e Angliko ou Moschato Alexandrias, na Grécia. Veja a Moscato Hamburgo, entre as tintas.

58 - Vinho Licoroso de Qualidade Produzido em Região Demarcada.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 91


Nosiola
Cepa de origem italiana, do Trentino. A casca atinge suaves tons dourados. Em geral, na Itália,
dá vinhos leves e secos. Quando botritizada, transforma-se em base para o famoso vin santo. O
nome deriva de nocciola, que significa noz, em italiano, em razão do sabor semelhante que fre-
quentemente impõe a seus vinhos. O produtor de vinhos Flavio Penzo nos conta que, em 2006,
no Projeto Vallagarina, em Sant'Ana do Livramento, recebeu uma partida de matrizes reprodu-
toras e, entre essas, um lote de 50 mudas de Merlot, logo implantadas. Com o desenvolvimento
das plantas, verificou-se que uma delas, apenas uma, era muito diferente da Merlot. Feitas as
análises, constatou-se que era Nosiola, com excelente adaptação. Por essa época, era pároco da
Igreja Matriz de Livramento o padre Ezio Berteotti, um amante da viticultura. Em visita ao pro-
jeto Vallagarina, Flavio Penso mostrou-lhe a Nosiola. Como Trentino, padre Ezio, já idoso, ficou
emocionado, por ver a casta de sua terra, que dá origem ao vin santo, em pleno desenvolvimento
no Brasil. A partir daquele episódio, Flavio não somente intensificou os cuidados com aquela ma-
triz, como produziu inúmeras mudas, para diversos produtores. Ele mesmo vinificou a Nosiola,
com êxito, em parceria com James Martini Carl, num corte com a Viognier, na colheita de 2014.

Petit Manseng
Casta francesa de elevada acidez, à qual se atribui vínculo genético com a Alvarinho. É
a irmã menor (em tamanho mesmo) da Gros Manseng. Também tem casca espessa, o que
facilita a ação do fungo Botrytis cinerea, que perfura a casca e drena o bago, favorecendo alta
concentração de açúcar, desejável à elaboração dos vinhos doces de sobremesa. Está muito
presente na região francesa do Languedoc-Roussillon. Nos Estados Unidos, tem presença na
Califórnia. Foi implantada no Brasil pela Villaggio Grando, de Santa Catarina, em vinhedos a
1.300 metros de altitude. Integra o corte do Villaggio Grando Colheita Tardia de Altitude e está
também nos vinhedos de Orgalindo Bettú, em Garibaldi.

Peverella ou Malvasia de Vicenza

Variedade trentina (Trentino-Alto Adige, Itália) adotada, no Brasil, por alguns viticultores
do Rio Grande do Sul, num retorno à cena, após longo período de ostracismo. Consta que foi
a primeira vinífera branca a chegar ao Brasil pelas mãos dos pioneiros imigrantes italianos,
na segunda metade do século XIX. Teria praticamente desaparecido anos depois, e retornado
por iniciativa de Carlos Dreher nos anos 1930, para, depois, se transformar na vinífera branca
mais plantada no Brasil, até 1970. Seu nome deriva de pevero, pimenta, em dialeto do Vêneto,
o que traduz uma identidade da cepa, na origem. Ganhou expressão com o varietal de Álvaro e
Vítor Escher, o Cave Ouvidor Insólito Peverella, com leve oxidação provocada das safras de 2004
e de 2005, que se esgotaram, sendo muito elogiados por Ed Motta. 59 Com o encerramento das
atividades da Cave Ouvidor, Álvaro Escher voltou a vinificá-la, com a mesma proposta, obtendo
o expressivo Era dos Ventos Peverella 2008. Experimente o palmito in natura, assado, do Restau-
rante Aprazível, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, com um Era dos Ventos Peverella. Harmoniza

59 O músico Ed Motta é um apreciador qualificado de vinhos e, inclusive, escreve colunas e notas de degus-
tação em diversos veículos de imprensa.

92 Rogerio Dardeau
em excelência, também, com as ostras frescas. Entre nós, ainda encontramos o vinho Caminhos
de Pedra Peverella, elaborado pela vinícola Salvati & Sirena, situada na Linha Palmeiro, distrito
de São Pedro, em Pinto Bandeira, RS, vinificado tradicionalmente, sem passagem por madei-
ra. Nesse caso, pela leveza e frescor, recomenda-se harmonizá-lo com queijos leves e saladas
verdes. O mesmo vinho, oferecido pelo négociant Luiz Carlos Cattacini Gelli, tem passagem por
barrica. Aliás, Gelli elabora o Cattacini Azzul, um extra brut 100% Peverella notável.

Pinot Blanc

Era a variedade predominante na Borgonha antes da difusão da Chardonnay. Mutação da grande


Pinot Noir, via Pinot Gris, que acompanha bem os peixes e os pratos à base de ovos. É casta que
aceita bem a passagem por barrica de carvalho. Vem sendo utilizada em cortes pela Casa Valduga.

Pinot Gris (França) ou Pinot Grigio (Itália)


Uva com muitos sinônimos, bastante aromática e de boa qualidade. Na Alsácia, era conhe-
cida como Tokay D'Alsace até 2007, quando teve a denominação vedada pela União Europeia,
a fim de evitar confusão com a casta húngara. Naquela região, norte da França, dá vinhos ex-
celentes, bastante duráveis. Seus vinhos são bons parceiros de pratos frios e bem temperados,
além dos cogumelos. Está presente no Brasil em diversos vinhedos, entrando em cortes ou
originando varietais, como o elaborado pela Seival Estate, do Miolo Wine Group, na Campa-
nha Gaúcha, e pela Casa Olivo, nos Campos de Cima da Serra, RS.

Ribolla Gialla
Um dos clones da casta Ribolla, que, embora identificada à região do Friuli, no norte da
Itália, tem muito provavelmente origem na Grécia, onde adota o nome de Cephalonia. Chegou
àquela região italiana via Eslovênia, onde deixou rastros e se chama Rebula. Tem uma casca
fina que facilita a maceração para a obtenção de vinhos chamados naturais, como os do produ-
tor Josko Gravner, do Friuli. Os vinhos da Ribolla Gialla têm, em geral, muito boa acidez e nos
remetem à pera e aos cítricos, com notas florais. No Brasil é vinificada pela Domínio Vicari, a
partir de frutos colhidos em vinhedos biodinâmicos de um parceiro da vinícola, em Urubici,
SC, e também por Humberto Conti, na Villaggio Conti, em São Joaquim, se.

Riesling Johannisberg ou Riesling Renano

É citada como uma das grandes brancas do mundo, ao lado da Chardonnay. Na Alema-
nha, é a base dos melhores brancos. Fruta aromática, bastante elegante. Na Alsácia, produz
excelentes brancos secos. No Brasil, atualmente, poucos produtores a cultivam. Aqueles que
a vinificam, obtêm tipicidade, mas não conseguem vinhos como os alemães ou alsacianos.
Exceção honrosa podia ser feita aos Weingut Weinzierle, de Nova Petrópolis, RS, mas infeliz-
mente não são mais produzidos. Uma das melhores expressões brasileiras dessa casta tão
fina, na atualidade, é o Miolo Single Vineyard RieslingJohannisberg 2018, um raro Riesling
Renano, com uvas da Almadén, de um microlote: o vinhedo Toca do Tigre, Quadra 121, Par-
cela A, plantado em 1978, na região gaúcha da Campanha Central. Outro produtor que tem
a casta é a Nova Aliança, em vinhedo próximo ao da Almadén, no município de Santana do
Livramento, e aplica as uvas no corte do vinho base para o espumante Santorini. Os vinhos

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 93


dessa casta podem acompanhar muito bem os pratos fritos, a salada de abacate, além de gan-
so, pato e javali assados. Os Kabinett alemães são excelente acompanhamento para o foie gras.
Os mais doces acompanham bem as tortas servidas em sobremesas.

Riesling Itálico
Não é parente da Riesling alemã (Riesling]ohannisberg ou Riesling Renano) e é bastante diferente.
No passado, no Brasil, foi a vinífera branca fina mais difundida. Dava origem a alguns dos melhores
vinhos brancos da Serra Gaúcha, sempre frutados, frescos, agradáveis, não muito aromáticos. De
uns anos para cá, seu cultivo vem sendo mais cuidado e podemos dizer que temos varietais muito
marcantes dessa casta, como, por exemplo, o Bettú, o Don Guerino Sinais, o Faccin e o Quinta do
Herval. Alguns produtores a incluem no corte de espumante. Na Europa, é muito usada para cortes.

Salarina
Na verdade, não é uma casta, embora muito se ouça sobre tal denominação, na Serra
Gaúcha. Há quem a considere uma mutação da Verdelho. Vejamos o depoimento de Maurício
Voigt Furtado Ribeiro, Vinhedo Serena, um dos raros produtores que vinifica a casta, aliás,
em excelência: "Salarina é o apelido de uma casta antiga e rara no nosso meio, sendo reproduzida há
gerações em pé franco, sobre solos basálticos. Acreditamos tratar-se da Verdelho, original dos Açores".

Sauvignon Blanc
Francesa bastante plantada em Bordeaux, onde participa de brancos frutados, e no Vale do
Loire. É marcante o aroma de maracujá que, em geral, seus vinhos jovens apresentam. Dá al-
guns dos melhores brancos do Chile. No Brasil, está em fase de expansão, em áreas cultivadas,
inclusive quando o manejo se dá por dupla poda. São dignos de nota os untuosos varietais a
100% dessa uva produzidos pela Villaggio Grando, no município de Caçador; pela Villa Fran-
cioni, em São Joaquim, SC, além dos elaborados na Campanha Gaúcha, mais jovens e frescos.
Quem valoriza maior complexidade entre os brancos, não deve deixar de apreciar os barricados
Donna Enny e Salvaggio D'Manny, da Villaggio Bassetti. O Dall'Agnol Fumé Blanc é outro
vinho notável dessa casta. Recomendo enfaticamente a apreciação dos varietais longevos (rari-
dade) dessa casta, elaborados na região do Alto Uruguai, pelas vinícolas Ametista, em Ametista
do Sul, RS, e Weber, em Crissiumal, RS. Há garrafas sensacionais, com seis, oito e até dez anos.
A Sauvignon Blanc vem demonstrando ser a casta branca mais adaptada ao manejo pelo ciclo
invertido, com dupla poda e colheita de inverno. São muito expressivos e singulares os varietais
elaborados no Sudeste, por exemplo, pela Vinícola Inconfidência, de Paraíba do Sul, RJ, e pela
Guaspari, de Espírito Santo do Pinhal, SP, este com a denominação Vale da Pedra. Os varietais da
Sauvignon Blanc são boa companhia para as saladas de frutos do mar e outras à base de aspargos
e tomates. Os vinhos mais aromáticos da Sauvignon Blanc são excelente companhia para os
pratos de frutos do mar da cozinha baiana, como vatapá, caruru, bobó, moquecas e outros. Com
esses pratos, que me perdoem os puristas, fica também delicioso um Pouilly-Fumé! 60 Da mesma

60 Varietal da Sauvignon Blanc, do Vale do Loire, França a qual, em razão do clima e do solo, apresenta um
agradabilíssimo defumado no aroma. A denominação se dá pela localidade de Pouilly-sur-Loire.

94 Rogerio Dardeau
forma, vão muito bem regando um acarajé e até um ceviche de pescado peruano, não esquecendo,
é claro, o Chupe de Locos e outras delícias do mar da culinária chilena. Para os que apreciam
a culinária das Minas Gerais, recomendo os Sauvignon Blanc de dupla poda, do Sudeste, para
harmonizar com um frango com quiabo al dente. É uma das boas harmonizações possíveis.

Sauvignon Gris
Trata-se de mutação da Sauvignon Blanc, ocorrida na França, na região de Bordeaux. Avan-
çou ao Vale do Loire, onde vem sendo cortada com a cepa de origem, para conferir estrutura,
volume, aos vinhos. Não é tão aromática quanto a Sauvignon Blanc. Tem presença reduzida no
mundo.Já encontramos varietais e cortes no Chile e no Uruguai. No Brasil, está implantada nos
vinhedos da Vinícola Inconfidência, em Paraíba do Sul, RJ, para avaliação.

Sémillon

Outra uva de Bordeaux. É a base dos grandes vinhos de sobremesa de Sauternes, pois se
presta, em excelência, ao ataque pelo Botrytis cinerea. No que diz respeito aos brancos secos de
Bordeaux, vêm perdendo terreno para a Sauvignon Blanc, mais adequada a esse propósito. No
Brasil, a Sémillon não é tão comum, embora apareça na colheita tardia da Aurora. Recentemen-
te, a vinícola Pizzato homenageou o patriarca Plinio Pizzato com um varietal bem complexo da
casta. Plínio foi um dos precursores do cultivo da Sémillon entre nós. No Chile e na Argentina,
dá origem a alguns brancos tradicionais. Os vinhos dessa uva são bons candidatos à guarda,
para quem gosta dos brancos maduros. Devem acompanhar camarões e peixes (um pargo ao
sal grosso, por exemplo), mas podem também seguir os pratos à base de porco condimentado e
queijo roquefort, quando mais amadurecidos. Os mais jovens são indicados ao cozido.

Traminer

Vide Gewürztraminer. Maurício e Cristina Ribeiro oferecem um marcante varietal da deno-


minação Traminer, sempre que conseguem boas colheitas da variedade, no Vinhedo Serena.

Trebbiano

Variedade bastante difundida em várias regiões italianas, principalmente na Toscana. É


a uva do famoso Frascati, da região do Lazio. Seus vinhos têm boa companhia com massas à
carbonara e sardinhas. Muito utilizada para cortes e, também, na produção de destilados. Foi
uma das uvas brancas que tiveram grande presença no início da vitivinicultura da Serra Gaú-
cha, quando dava vinhos normalmente neutros, muito breves. Há poucos anos, porém, vem
sendo resgatada com vinhos notáveis, como o Era dos Ventos on the rock, Quinta do Herval
e Weingãrtner. É conhecida como Ugni Blanc na França, onde dá origem a vinhos destinados
à destilação, para conhaques.

Verdejo

Casta aromática da Espanha central que dá origem a varietais estruturados e de bom volu-
me, com boa acidez, toques herbáceos e notas de castanhas. Lá é encontrada frequentemente
em cortes com a Viura e com a francesa Sauvignon Blanc.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 95


Verdelho

Veja Gouveio. Casta que se notabilizou como a protagonista dos vinhos fortificados da ilha
da Madeira e dos Açores. Seus varietais são, em geral, claros, com alguns aromas cítricos e
leveza no paladar. Está implantada no Brasil nos vinhedos da família Lemos de Almeida, em
Muitos Capões, RS, de onde já sai um vinho agradável, leve, apto aos verões brasileiros.

Verdello
Durante muito tempo, pensava-se que era a mesma Verdelho. Estudos recentes, porém,
demonstraram tratar-se de casta específica, uva típica da região de Orvieto, na Úmbria, Itália.
Entra em inúmeros cortes de vinhos brancos daquela região. Dá origem a vinhos frutados, de
corpo médio, com leve e delicado amargor e boa acidez. Participa dos cortes do Leone di Venezia
Rialto e da fermentação com as cascas do Leone di Venezia Oro Vecchio, vinho ao estilo laranja.

Vermentino

Trata-se de variedade sobre a qual há grandes discussões em torno da origem, embora


tenha presença maciça na Itália, inclusive na Córsega e na Sardenha. Tem denominações va-
riadas, sendo Pigato, na Liguria; Favorita, no Piemonte; e Rolle, na Provence, França. No
Brasil tem marcado presença na Serra Catarinense, com Humberto Conti e Saul Bianco, e em
Viamão, RS, com Eduardo Giovannini, na Quinta Barroca da Tília.

Viognier

Relativamente rara, praticamente restrita ao Vale do Rhône, mais exatamente à região de


Condrieu, onde produz vinhos de grande classe. Já tem presença também no Chile e na Argen-
tina. Acompanha os caranguejos e as lagostas. Em solo brasileiro, suas melhores expressões são
o Campos de Cima Viognier, da Campanha Gaúcha, o RAR Viognier, dos Campos de Cima da Serra,
no norte do Rio Grande do Sul, e os vinhos da Vinícola Legado, em Campo Largo, PR, na região
metropolitana de Curitiba, com varietal e um notável espumante Millésime, a 100% da casta.

TINTAS

Cabernet Sauvignon

É a variedade tinta mais conhecida e mais citada. Com certeza a mais difundida, atualmente,
em todo o mundo. Sobre ela, diz-se que é como a globalização: tem identidade global e persona-
lidade local. Vem da região de Bordeaux, onde nasceu de cruzamento natural entre a Cabernet
Franc e a Sauvignon Blanc. É dominante nos grandes vinhos de Médoc, aos quais contribui com
estrutura e corpo, marcando a maciez e a elegância. Seus cachos, em geral, são grandes e com
as bagas mais afastadas - irregularmente dispostas - do que nos cachos de outras variedades.
Isso é muito bom para um eficiente escoamento da água da chuva ou da aspersão. Certamente
por isso tem uma grande adaptação a diversas regiões da Terra. A Cabernet Sauvignon está
cultivada com êxito na Califórnia, Chile, Austrália, Argentina, Espanha, Itália e Brasil, sem
perder suas características principais. A casta confere a seus vinhos sinais marcantes e de fácil

96 Roge rio D ard ea u


reconhecimento, lembrando a groselha (cassis) e outras frutas. Nos vinhos mais correntes, com
frequência, identifica-se aroma de pimentão. Mas não nos surpreendamos caso sintamos aroma
de pão italiano fresquinho em algum vinho dessa francesíssima uva. O Rota 324, da Vinícola
Don Abel, de Casca, RS, é uma bela expressão da casta, assim como o Sanjo Maestrale lntegrus,
de São Joaquim, SC. Vinhos elaborados a partir dessa casta têm aptidão a envelhecer, podendo
ser companhia excelente das carnes vermelhas (grelhados e outras), além do cordeiro, dos
queijos maduros, das lasanhas, do peru, das linguiças e das caças. Vão muito bem com fondue de
carne. Quando bem envelhecidos, podem admitir a companhia do chocolate intenso, no final da
refeição. O famoso risoto de alcachofra da Pousada Don Giovanni, em Bento Gonçalves, poderá
ter companhia de um Cabernet Sauvignon da casa. Gosto, também, dos monocastas encorpados
dessa uva, acompanhando um cabrito assado alentejano.

Aglianico

Variedade do sul da Itália, especialmente Campania e Basilicata. É uma casta que pode
apresentar elevados níveis de acidez. Na origem, é muito utilizada em cortes. Quando jovens,
seus vinhos tendem a ser tânicos e volumosos. No Brasil, tem presença na Serra Catarinense,
aparecendo em cortes na Villaggio Conti e na Leone di Venezia.

Albarossa

O professor Giovanni Dalmasso foi um agrônomo e pesquisador italiano, falecido em


1976, que muito contribuiu para o desenvolvimento da ampelografia, em sua terra. Em 1938,
desenvolveu um cruzamento que ele acreditava ser entre Nebbiolo e Barbera. Batizou de Alba-
rossa. Não era exatamente da Nebbiolo conhecida, mas da variedade Nebbiolo di Dronero ou
Chatus. Na origem, as bagas são pequenas e escuras, e os cachos são compactos. A Albarossa
prosperou, mas não teve muita atenção até os anos 1970. Atualmente, é reconhecida como
casta fina e integra o conjunto das cepas autorizadas no Piemonte. Seus varietais expressam
mais a Barbera do que a complexidade da Nebbiolo. Entre nós, está implantada pelo jovem
casal Geyce Salton e Anderson De Césaro, nos vinhedos da Vistamontes, em Bento Gonçalves.

Alfrocheiro Preto

Casta de origem portuguesa, especialmente do Dão, mas já difundida em outros espaços


em Portugal. Teve marcante presença nas primeiras edições do vinho Miolo Castas Portugue-
sas. Agora, retorna à cena como uma das castas autorizadas da IP Campanha Gaúcha.

Alicante-Bouschet

Cultivar escura e aromática, obtida por Henri Bouschet, em 1866, a partir do cruzamen-
to entre a Petit-Bouschet e a Grenache. É uma uva escura, muito utilizada em cortes, como
tintureira. Adaptou-se bem ao sul da França, que passou a ser considerado lugar de origem
da cepa. Em Portugal tem presença expressiva em diversos cortes, por exemplo, no Mouchão.
Lá também, no Alentejo, encontramos um marcante monocasta, elaborado pelo conceituado
enólogo e produtor Paulo Laureano. No meu entendimento, atualmente, a Alicante-Bouschet
é mais portuguesa do que francesa. Pela concentração que possui, foi cepa muito importante
nos Estados Unidos, durante a lei seca, para a elaboração de suco de uva. Essa característi-

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 97


ca proporcionou aos vinhateiros norte-americanos disfarçar vinhedos, entremeando outras
castas nobres, especialmente a Zinfandel, nas linhas de Alicante-Bouschet. No Brasil, a casta
foi utilizada no mais expressivo vinho tipo Porto brasileiro, elaborado pela Maison Forestier,
quando ainda atuava no país, na década de 1980. A Vinícola Pizzato tem um ótimo varietal
da casta. Está presente nos cortes Minimus Anima 2005, da Tormentas, e Anima Vitis 2005, da
Boscato. Tem mostrado grande adaptação ao cultivo no Vale do São Francisco, onde se presta
a ótimos varietais longevos.

Ancelota ou Ancellotta

Casta de origem italiana que começou a ter presença no Brasil em meados da década de
1990, trazida pela família Brandelli (Don Laurinda). Trata-se de uma tinta com excepcional
quantidade de pigmentos, levando seus vinhos ao tom púrpura. Equilibra muito bem os vi-
nhos tânicos, como os de Tannat ou Malbec, conferindo-lhes cor mais intensa e um paladar
mais equilibrado, sem prejuízo dos seus aromas. O corte Ancellotta + Tannat, presente no
Grand Reserva '99 da casa Don Laurinda, é ótimo parceiro das carnes assadas com molho fer-
rugem. O varietal Ancellotta, da mesma casa, é vinho de aromas complexos e excelente corpo.
É perfeito se bebido solo, mas acompanha os queijos fortes e os salames, enriquecendo-os.
Ambos, Gran Reserva e Ancellotta, devem repousar por pelo menos trinta minutos em decanta-
dor antes do consumo, para retirar do ar sua melhor expressão.
Aragonez (no Alentejo) ou Tinta Roriz (no Douro e no Dão) e outras denominações regio-
nais em Portugal; Tempranillo, Tinto Fino em Ribera Del Duero e outras denominações regio-
nais na Espanha; Midi (França); Valdepefias (Argentina e Califórnia). Essa é uma casta ibérica,
que se espalha pelo mundo, assumindo perfis próprios dos lugares, sem perder o DNA. Como
Aragonez, no Alentejo, está em varietais e participa de muitos cortes, aportando estrutura aos
vinhos. No Vale do Douro, como Tinta Roriz, participa de cortes encorpados da região e é tam-
bém utilizada na produção de vinhos do Porto. Como Tempranillo, é a uva principal dos vinhos
de Rioja, marcados por grande classe, elegância, aromas amplos e sabores de frutos vermelhos.
Os vinhos da Tempranillo são companheiros, por excelência, das caças, das perdizes, das co-
dornas e dos faisões. No Brasil, diversas vinícolas exploram a Tempranillo, enquanto a Quinta
Santa Maria (SC) e a Seival Estate (MWG Campanha Gaúcha) desenvolvem a denominação
duriense Tinta Roriz. A Vinícola Hermann, de Pinheiro Machado, RS, implantou a denominação
alentejana Aragonez. A Vinícola Malgarim encontrou ótima adaptação da Tempranillo, na região
das Missões, enquanto produtores do Sudeste vêm tendo êxito no cultivo com dupla poda. Em
Minas Gerais, a vinícola Buenos Momentos, de Diamantina, e Stella Valentino, de Andradas,
têm apresentado varietais marcantes, da Tempranillo.

Arinarnoa
Trata-se de variedade francesa, que se julgava nascida pelo cruzamento entre Merlot e Petit
Verdot. Recentemente, análises de DNA indicaram que essa uva vem de cruzamento entre a
Tannat e a Cabernet Sauvignon. Está muito difundida na região do Languedoc-Roussillon.
Seus vinhos apresentam um violeta profundo, aromas frutados intensos e, na boca, marcantes
especiarias, podendo ser longevos. No Brasil, a Casa Valduga tem o Terroir Identidade Arinarnoa
Single Vineyard, com muito boa expressão da cepa. A palavra arinarnoa é uma composição entre

98 Rogerio Dardeau
arin (leve, agradável) e arnoa (amo = vinho), palavras tomadas do idioma basco (euskara),
falado no País Basco, entre o centro-norte da Espanha e o sudoeste francês.

Barbera

Uva italiana da área de Piemonte. Vinhos comumente frutados, com bastante acidez, um
tanto rústicos. 61 O vinho do dia a dia em Piemonte. É mais usada para cortes. Os vinhos
originais italianos à base dessa uva acompanham muito bem o salmão defumado puro, os
antepastos à moda italiana, o presunto de Parma e as massas com molhos à base de tomate
(al sugo). Podem ser boa companhia também para a feijoada. No Brasil, foi uma das castas
pioneiras entre as viníferas. A Angheben já elabora, desde 2004, expressivo varietal dessa uva.
Mais recentemente, a Pireneus, de Goiás, apresentou seu varietal da casta (85%), o Bandeiras
2010, com um leve tempero de Tempranillo (10%) e de Sangiovese (5%). A Casa Perini tem
um varietal, com uvas do Vale Trentino, na linha Vitis.

Cabernet Franc

Outra uva do chamado corte bordalês. Entra em proporções menores no Médoc, sendo
muito disseminada em Saint-Émilion e Pomerol. Em microrregiões de Saint-Émilion, a cepa é
também chamada de Bouschet. Trata-se de cepa de casca escura, que transmite a seus vinhos
toques herbáceos de tabaco e pimenta-negra. É a base de vinhos frutados, agradáveis e bem
estruturados, que podem ser consumidos mais rapidamente, sem necessidade de envelhecer
tanto. Bastante utilizada na região do Loire e também na Itália. No Brasil, foi a vinífera fina
tinta mais difundida quando se iniciou o movimento de substituição de uvas comuns por vi-
níferas. Adaptou-se muito bem ao Rio Grande do Sul e dá bons vinhos, diretos, frutados e
aptos ao envelhecimento. São bons exemplos: Valmarino, Churchill, Bettú, Viapiana, Dunamis, Dal
Pizzol - com o tradicional Do Lugar-, Don Giovanni e o Casa Valduga Premium Raízes. É a principal
casta tinta da jovem IP Pinto Bandeira. É boa companhia dos picadinhos, dos pratos ao curry,
de um filé ao vinho, de vitela, de um risoto de cogumelos e até de um hambúrguer. Vai muito
bem com os pratos da cozinha mineira. Quando os comensais de um risoto de alcachofra da
Pousada Don Giovanni preferem um vinho macio, um Cabernet Franc daquela casa é perfeita
companhia. A casta vem tendo ótimo desempenho nos vinhedos de dupla poda da Vinícola
Inconfidência, em Paraíba do Sul, RJ, e, pelo mesmo tipo de manejo, nos vinhedos da Vinícola
Góes, em São Roque, SP. Entre os autores, Marco Danielle (Atelier Tormentas) tem magníficas
expressões dessa uva, sempre que identifica frutos especiais, como fez nas colheitas de 2013,
com o Fvlvia, e em 2015, com o Vermelho. Mais recentemente, o autor Eduardo Gastaldo, de
Porto Alegre, RS, nos trouxe o excelente Matheus 2018, a 100% da casta, a partir de uvas do
distrito de Fazenda Souza, Caxias do Sul. O vinho mostrou uma cor rubi brilhante, aromas
ainda fechados, bom volume de boca e um perfil longevo.

61 Pela concepção francesa, rústicos são os vinhos muito tânicos e adstringentes, vinhos que pegam na
boca, como o sabor de um caqui ainda não amadurecido.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 99


Carmenere

Uva francesa de Bordeaux que se julgava extinta desde o desastre da filoxera, em mea-
dos do século XIX. Foi identificada no final dos anos 1980, no Chile, em 'pé franco', 62 con-
fundida por muitos anos com variação de Merlot. Seu nome deriva certamente da cor, o tom
forte carmim, sempre emprestado aos vinhos com ela elaborados. Embora os chilenos bus-
quem identificá-la como uma variedade nacional, não tem sido fácil a elaboração uniforme
de vinhos dessa espécie. A enóloga Ximena Egafia adverte para o fato de que a vinificação da
casta não é simples, fundamentalmente porque a temperatura ideal de fermentação situa-se
em intervalo muito estreito, entre a máxima e a mínima, exigindo tecnologia sofisticada.
Sabe-se que a elaboração a baixas temperaturas libera aromas desagradáveis. No Brasil, a
Adega Cavalleri vinificou essa cepa, em 1999, num corte (apenas 15%) com Cabernet Franc
(85%). Posteriormente (2002), elaborou um expressivo varietal da casta, que teve ótima
longevidade, apresentando fruta e alguma complexidade nos aromas, um bom volume de
boca, com maciez, quando degustado com oito anos, em 2010. Atualmente, a Vinícola Fa-
bian e a Vinícola Gheller elaboram varietais da casta muito equilibrados. Esta última é a
responsável pelo excelente Helios Rodes 2017, varietal a 100% da casta. Alguns viticultores
entregam suas cotas à Cooperativa Vinícola Aurora, que a apresenta em varietal da coleção
Pequenas Partilhas. Seus varietais acompanham muito bem as carnes grelhadas e os assados
com molhos suculentos.

Corvina

Variedade nativa do Vêneto, tipicamente Valpolicella. É a principal casta dos Amarone,


pois se presta com excelência à técnica do apassiamento. No Brasil, está presente pelas mãos
da família Tonet, em Caxias do Sul, e em São Joaquim, SC, nos vinhedos de Saul Bianco, Viní-
cola Leone di Venezia, que elabora um exclusivíssimo vinho estilo Amarone, um corte entre
Corvina, Molinara e Rondinella, chamado Passione - Vinho Nobre Tinto Seco, com 16% de
teor alcoólico.

Egiodola

Variedade obtida pelo lnstitut National de la Recherche Agronomique (Inra), por meio do
cruzamento entre as viníferas Fer Servadou, chamada frequentemente apenas Fer ou Pinenc, e
Abouriou. Recentemente, testes de DNA contestaram esse cruzamento, afirmando que, na verda-
de, deve ter sido entre Abouriou e Tinta Negra Mole. Trata-se de cepa precoce, com boa concen-
tração de taninos. Está implantada no Brasil desde 1988 pela familia Pizzato, quando esses produ-
tores ainda eram associados à Cooperativa Vinícola Aurora, fornecendo-lhe uvas. Após a criação
da Pizzato Vinhas e Vmhos, em 1998, a vinícola decidiu criar um varietal muito expressivo da
casta. Na França, está presente na região basca, onde é muito utilizada em cortes. Aliás, o nome é
uma corruptela da expressão basca egiasko odola, que significa sangue de verdade ou puro sangue.
Os varietais a 100% dessa casta são ótima companhia das massas com molhos encorpados e das
lebres ensopadas. A VinícolaJolimont, de Canela, RS, apresenta um varietal leve dessa uva.

62 Enraizamento direto da planta, no solo, sem uso de porta-enxerto.

100 Rogerio Dardeau


Gamay (de Beaujolais)

Variedade de casca escura, originária da região de Beaujolais, na França. Dá vinhos de


corpo médio, quando obtidos por fermentação tradicional. Nesse caso, os Crus de Beaujolais
podem atingir dez anos. Os nouveaux, obtidos pelo processo de maceração carbônica, são vi-
nhos frutados, simples, e que devem ser consumidos jovens, ainda no primeiro ano de vida.
Dificilmente conserva suas características fora da região de origem. Entre nós, aparece pela
Miolo e pela Vinhedos Capoani.

Grenache (Garnacha, na Espanha e Cannonau, na Sardegna - Itália)

Vinífera francesa do Rhone Sul, tendo forte presença em cortes com Syrah e Mourvedre.
Trata-se de uma casta vigorosa, resistente e muito versátil. É uma das tintas autorizadas da
novíssima IP Campanha Gaúcha.

Lagrein

Antiga variedade italiana, da região de Trentino-Alto Adige, que mostra casca muito escura.
De cor profunda e textura rica, tem ótima presença de boca. Seus vinhos são frescos e ácidos,
com taninos macios, devendo ser apreciados com comidas regionais. Está presente, no Brasil,
nos vinhedos da Vinícola Barcarola, que elabora um varietal marcante da casta, em safras suces-
sivas com pequenas tiragens, desde 2007.

Lambrusco
Ampla variedade de uvas do norte da Itália, especialmente da Emília-Romanha, as quais
dão origem ao vinho frisante de mesmo nome. Os vinhos lambrusco podem ser tintos, bran-
cos ou rosados. O resultado da vinificação dependerá exclusivamente do tempo de permanên-
cia das cascas no processo. Os Lambrusco são ótima companhia para o presunto Parma, típico
daquela região, e os salames. Combinam tradicionalmente com um queijo grana padano, leve-
mente regado por um aceto (vinagre) balsâmico, degustado com peras, que amaciam o paladar.
O Lambrusco brasileiro nos chega à mesa pelas mãos dos enólogos da Vinícola Courmayeur,
que vinificam a partir de uvas de vinhedos próprios, em Garibaldi.

Longanese (Uva Longanese)

Vinífera antiga da Emilia-Romagna que vem voltando à cena. É uma casta resistente a do-
enças fúngicas. Foi oficializada nos registros italianos, somente no ano 2000. É uma das tintas
autorizadas da IP Campanha Gaúcha.

Malbec

Casta de origem francesa, predominante na região de Cahors, sendo também conhecida


como Auxerrois. Integra o corte bordalês, em pequenas proporções, nos grandes vinhos do
Médoc, onde é chamada de Cot. Na Argentina, a Malbec descobriu o próprio ambiente, apre-
senta-se muito versátil e dá origem a variados vinhos:

•• jovens e frutados, sem madeira;


de médio corpo, com passagem por barrica;

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 101


,t estilo premium, cujos frutos foram selecionados muito maduros e o vinho estagiou em
carvalho novo;
.ft os chamados clássicos, elaborados segundo processos antigos e com passagem por
grandes tonéis de madeira.
Além de espumantes, rosados, licorosos e fortificados
Os vinhos estilo premium da Malbec argentina são varietais potentes, encorpados e re-
dondos, frequentemente superiores aos irmãos franceses
Por isso tudo, a Malbec é considerada a uva de bandera ou patrimonio enológico nacional,
na Argentina
Desde 1998 aparece na Itália, especialmente no Vêneto, onde vem tendo o nome escrito
com um "h" no final, Malbech. No Brasil, embora esteja presente na Serra Gaúcha, vem tendo
notável expressão em Chapecó, no oeste catarinense, pelas mãos do enólogo Edegar Viel.
Aprecie o Adega Viel Malbec, inclusive de safras antigas. As vinícolas Don Laurinda, de Bento
Gonçalves, RS, e a Don Guerino, de Alto Feliz, RS, oferecem regularmente o Don Laurinda
Malbec e o Don Guerino Malbec Vintage. Esses vinhos acompanham maravilhosamente as coste-
letas de porco e o lombinho, mas também o pato, o faisão e o ganso, além do chivito e outros
assados argentinos.

Marselan

Variedade de origem francesa obtida a partir do cruzamento entre Cabernet Sauvignon e


Grenache. Os vinhos dessa uva têm cor rubi intensa, aromas complexos e, na boca, se apre-
sentam bem estruturados e persistentes. No Brasil, a Vinícola Dom Cândido elaborou o Dom
Cândido 4ª. Geração Marselan, um elegante vinho dessa uva, da safra de 2004, para comemorar
a quarta geração da família, que segue notável em sucessivas colheitas. A vinícola recomenda
harmonização com carnes bem temperadas, assados e massas com molhos fortes. A Casa
Perini (Vitis), a Casa Santini e a Vinícola Viapiana (Expressões) também apresentam varietais
dessa casta.

Marzemino

Variedade da região italiana de Trentino-Alto-Adige, atualmente pouco difundida, mas


que dá vinhos de muito bom corpo e presença de boca. Está no Brasil por meio da Vinícola
Barcarola.

Máximo

Híbrida resultante de cruzamento entre as variedades Seibel 11342 e Syrah, desenvolvida


pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), já em cultivo pela Vinícola Terrassos, com
manejas por ciclo normal e por ciclo invertido (dupla poda), no município de Amparo, na
região de Campinas, SP. Apresenta várias características da Syrah e, quando colhida no mo-
mento de melhor maturação, tem dado origem a vinhos agradáveis, com características finas
marcantes. A Vinícola Terrassos elabora vinhos dessa casta em ciclos de verão e de inverno,
também para cortes com vinhos da Syrah.

102 Rogerio Dardeau


Merlot
Outra uva de Bordeaux, mais precisamente, a rainha do Pomerol, onde está o Chateau
Pétrus. Dá vinhos mais redondos, não tão agressivos na juventude, como os da Cabernet
Sauvignon. Não precisam envelhecer tanto. É plantada também nas zonas de Médoc e Sain-
t-Emilion. No Brasil, é bastante difundida, comumente assumida como casta "brasileira",
pelo ótimo desempenho na Serra Gaúcha. É a grande tinta da DO Vale dos Vinhedos. Em-
bora seus vinhos sejam diferentes dos franceses, as casas brasileiras Angheben, Antonio
Dias, Bodega Czarnobay, Boscato, Casa Valduga (com o marcante Storia), Don Giovanni,
Don Laurinda, Giacomin, Kranz, Maximo Boschi, Miolo (com o notável Terroir) Pizzato
(com o emblemático DNA 99) e Vallontano, entre outras, vêm apresentando expressivos
exemplares. Num verdadeiro salto geográfico, vem mostrando um perfil notável, nos vi-
nhedos da Vinícola Ametista, em Ametista do Sul, onde ainda brilha o Ágata de Fogo
2012. Acompanha bem os pratos de carne temperada e refogada, inclusive os preparados na
cerveja, o fígado bovino, os pratos grelhados e o atum. Carne de sol é boa companhia dos
tintos à base da Merlot, assim como as pizzas.

Molinara

Casta originária do Vêneto, responsável pela acidez dos vinhos Valpolicella e Bardolino.
No Brasil, está presente pelas mãos da família Tonet, em Caxias do Sul, e em São Joaquim, SC,
nos vinhedos de Saul Bianco, Vinícola Leone di Venezia, onde participa do corte do Passione.

Montepulciano

Variedade cultivada na região central da Itália, empregada nos vinhos Montepulciano d'Abru-
zzo, Rosso Conero e Rosso Piceno, estes dois últimos da região de Marche. É também chama-
da Cordisco, Primaticcio, Uva Abruzzi e Morellone. As pesquisas mostram que o nome foi
adotado, posteriormente ao da cidade de Montepulciano, na Toscana. Para não confundir,
é importante saber que o Vino Nobile di Montepulciano (a cidade) é elaborado a partir da uva
Sangiovese. A Montepulciano é cepa que, na origem, dá vinhos macios, com tonalidades do
rubi intenso, quase púrpura, e sabor leve. No Brasil, vem sendo cultivada pela família Bettú,
em Garibaldi, pela família DeNardi (Vinícola Santa Augusta), em Videira, SC, além de estar
assumindo expressiva presença na Serra Catarinense, especialmente em vinhos da Leone di
Venezia e da Villaggio Conti.

Moscato Bailey (Muscat Bailey)

Híbrida desenvolvida no Japão, por Kawakami Zenbei, considerado o pai da vitivinicultura


japonesa, nos anos 1920. Zenbei procurava uma casta que resistisse à neve em Takada, onde
ele fundara sua vinícola Iwanohara, em 1890. Trata-se de uma híbrida decorrente do cruza-
mento entre a Moscato Hamburgo e a Bailey, que já é uma híbrida americana. É uma casta de
casca rosada, muito usada na elaboração de tintos leves. Na Serra Gaúcha, tem-se mostrado
muito resistente. O produtor Eduardo Mendonça, de Monte Belo do Sul, vem tendo ótimos
resultados com essa uva, tanto em vinhos tranquilos quanto em espumantes.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 103


Moscato Hamburgo
(Black Hamburg, Black Muscat ou Muskat Trollinger, entre outras denominações)
Variedade de casca muito escura, mas que não transfere toda a tintura aos vinhos a que dá
origem, os quais, em geral, ficam com tons rosados, ou blush, como preferem os estaduniden-
ses. Trata-se de uva muito apreciada também à mesa. Seus vinhos assumem a ampla quantida-
de de aromas da casta. As melhores expressões no Brasil estão em dois espumantes: o incrível
brut Espírito Pacômio, do autor Eduardo Zenker, de Garibaldi, RS, e o Moscatel Cavalleri Rosé, da
Adega Cavalleri, do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS.

Mourvedre
Casta presente na Provence, no Languedoc-Roussillon e no sul do Rhône. Integra os cortes dos
vinhos Châteauneufdu-Pape e Bando/. Dá vinhos escuros e tânicos. É apresentada em varietais
e em cortes, especialmente com Syrah e, no Chile, com Merlot, contribuindo com seu tom
rubi intenso para os produtos assim elaborados. Na Espanha, onde se supõe tenha tido ori-
gem, chama-se Monastrell, nome que pode derivar da localidade mediterrânea espanhola de
Murviedro, onde a casta se desenvolveu em primazia, até chegar à França. Em idioma catalão,
a palavra é Morvedre. Está presente, no Brasil, pelas mãos de Prof. Eduardo Giovannini, na
Quinta Barroca da Tília, em Viamão, e ainda em Garanhuns, Pernambuco, na vinícola Vale
das Colinas.

Nebbiolo
Assim chamada por causa da névoa de Piemonte, noroeste da Itália, de onde é originária.
Dá vinhos encorpados, com grande concentração de cor, que podem envelhecer esplendida-
mente. É a uva dos grandes Barolo, Barbaresco, Gattinara, que têm muita classe quando chegam
ao ponto. Esses vinhos são companhia de carnes-secas, contrafilé, caça assada e trufas. Em
Alba, ganha a denominação de Nebbiolo d'Alba, e os vinhos tendem a ser mais suaves, menos
intensos e de amadurecimento mais precoce do que o Barolo e, também, o Barbaresco. A casta
também é conhecida como Spanna, na DOCG Ghemme, e como Chiavennasca, na DOCG Val-
tellina Superiore e na DOC Valtellina. No Brasil, está presente, pelas mãos de Lídio Carraro,
nos vinhedos da vinícola que tem seu nome, em Encruzilhada do Sul, em Garibaldi, com o
talento artesão de Vilmar Bettú, em Pinto Bandeira, com a família Fontanari e em vinhedos do
Prof. Eduardo Giovannini, em Viamão.

Nero D'Avola

Casta proveniente da Sicília, no sul da Itália. Está também na Calábria, onde é conhecida
como Calabrese. Tem casca escura e por muito tempo foi usada como tintureira em cortes. Dá
origem a vinhos tânicos, de acidez média e ótimo corpo. No Brasil, vem sendo trabalhada por
produtores da Serra Catarinense. Destaca-se o Villaggio Conti Conti Tutto.

Petit Verdot

Casta bordalesa de maturação tardia, com frutos pequeninos e escuros, geralmente utiliza-
da em cortes. A casca espessa, bastante resistente às doenças, contribui com taninos fortes. Os

104 Rogerio Dardeau


varietais da casta tendem a apresentar coloração púrpura e podem ser longevos. Tem presença
na Austrália, na Califórnia e no Brasil. Aqui marcou presença no Vale do São Francisco, pelas
mãos dos enólogos da Vinícola Ducos. O varietal da safra 2005, apresentado ao público a par-
tir de 2009, deixou positiva impressão sobre as possibilidades da cepa na região. Infelizmente,
essa produção foi descontinuada. Agora, porém, na Serra Gaúcha, está presente na Vinícola
Dom Cândido.

Petite Sirah ou Durif

Casta de casca escura e bagos pequeninos identificada pelo especialista francês François
Durif, em 1880. Desenvolveu-se muito bem na Califórnia, onde dá varietais encorpados, po-
tentes. Entre nós foi implantada no Vale do São Francisco e vem demonstrando boa adaptação.

Pignolo
Essa é uma casta de difícil cultivo, domada pelos italianos do Friuli. Tem uma casca muito
escura e é muito tânica. Seus vinhos são potentes e estruturados, com grande capacidade de
envelhecimento em barricas de carvalho. O nome é consequência da semelhança entre o cacho
e uma pinha (pignolo). No Brasil, está implantada nos vinhedos da Villaggio Conti, em São
Joaquim, SC. Consta que o Villaggio Conti Pignolo 2017 é o primeiro e único varietal da casta,
fora da Itália.

Pinot Meunier

A inclusão dessa casta entre as viníferas plantadas no Brasil deve ser motivo de orgulho.
É uma planta típica de áreas bem frias, o que raramente se configura em nossa geografia. Tra-
ta-se de uva de casca muito escura. Na região de Champagne, onde integra o corte clássico,
com a Chardonnay e a Pinot Noir, a cepa sempre foi uma garantia contra as safras difíceis. Ali,
a Pinot Meunier brota mais tarde e amadurece mais cedo do que a Pinot Noir. A casta oferece
muito boa acidez aos vinhos. A palavra meunier tem, em português, numa interpretação livre,
o significado de "esfarelado", referindo-se à característica das extremidades das folhas das
videiras. Está cultivada nos vinhedos da Villaggio Grando, nos Campos de Herciliópolis, mu-
nicípio de Água Doce, no oeste catarinense, localidade que tem uma temperatura média anual
em torno dos 16ºC, e ainda nos vinhedos da vinícola Baú 9.4, em São Bento do Sapucaí, SP, e
da Quinta D'Alva, em Diamantina, MG.

PinotNoir

A grande cepa dos tintos da Borgonha. Uma espécie difícil de cultivar, mas que dá tintos
excepcionais e de personalidade única. Embora na região de origem seja espetacular, raramen-
te conserva suas características fora dela. Seus vinhos são de um rubi translúcido. Mundo
afora, encontram-se clones da Pinot Noir, frequentemente gerando vinhos escuros. Há, toda-
via, vinhos Pinot de grande autenticidade no Oregon, Estados Unidos, e na Nova Zelândia.
Também é importante em Champagne, onde empresta corpo e classe ao famoso espumante.
Na Alemanha se apresenta sob o nome de Spatburgunder, gerando vinhos leves na região de
Rheingau - Assmannshauser, mas há uns poucos muito expressivos, como o Hollenberg Spiitlese
trocken Spiitburgunder 1999, elaborado por August Kesseler. No norte de Portugal foi conhecida

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 105


como Tinta Francisca, mas não prosperou. Recentemente, foi implantada em outras regiões
do país como Pinot Noir, mesmo. No Brasil, tem maior presença exatamente na elaboração de
espumantes. Hoje, porém, dá origem a alguns vinhos muito bons, aproximando-se dos borgo-
nheses. Vejo como destaques o Fvlvia Pinot Noir, do Atelier Tormentas, e o Serena Pinot Noir, o
Villaggio Bassetti Ana Cristina, o Quinta da Neve, de São Joaquim, SC, e o Vinhedos Hood Pinot
Noir Fred, este último vinificado pela Vinícola Geisse. São mais recentes e bem típicos o Quinta
do Herval, o Lemos de Almeida e o Helios. Os vinhos dessa casta são parceiros de aves assadas
(sobretudo quando acompanhadas de manga), de embutidos, de peixes carnudos, como o tam-
baqui, o filhote e o tucunaré, e de caça. Entre as possibilidades de harmonização com carnes,
na cozinha brasileira, recomendo fazê-los acompanhar uma carne-seca desfiada, na cebola em
tiras, com abóbora.

Pinotage
Cruzamento de Pinot Noir com Cinzault, desenvolvida na África do Sul, onde dá bons
vinhos, que acompanham aves bem temperadas. Já tem presença no Brasil, principalmente
na Campanha Gaúcha, em vinhedos da Vinícola Dom Pedrito. Numa viagem à África do Sul,
José Rigo, o empresário que criou a vinícola, ficou impressionado com as semelhanças de
condições climáticas e edafológicas entre suas terras e aquelas que visitava. Decidiu importar
a Pinotage. Os resultados têm sido positivos. A casa vem obtendo bons varietais. O destaque,
porém, fica para o corte da Pinotage com a Tannat. As vinícolas Simonetto, de Veranópolis, e
Casa Marques Pereira, de Bento Gonçalves, também vêm tendo ótimos resultados com a cepa.

Primitivo
Casta cultivada especialmente na região italiana da Puglia, no sul da Itália, onde se desta-
ca na DOC Primitivo de Manduria. É a Zinfandel, de êxito nos Estados Unidos, e a Crljenak
Kasteljanski ou simplesmente Kasteljanski, na Croácia. Entre nós, foi assumida por produtores
da Serra Catarinense, em São Joaquim, com destaque para o trabalho da Vinícola Leone di
Venezia. É relativamente precoce, podendo sofrer danos com as geadas tardias. Tem cachos
médios, cilíndricos e um pouco compactos. Pode apresentar alguma sensibilidade às doen-
ças fúngicas, e, portanto, requer atenção em sua condução em períodos muito chuvosos.
Superados os obstáculos naturais, a uva é muito boa, resultando em vinhos com tipicidade,
equilibrados e de excepcional qualidade.

Rebo
Variedade trentina, obtida a partir do cruzamento entre as viníferas Teroldego e Merlot,
pelo agrônomo Rebo Rigotti. É cultivada pelas famílias Bettú (Reliquiae Vini), em Garibaldi,
e Petroli (Barcarola), em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, além dos Conti (Villaggio
Conti), em São Joaquim, SC. É variedade de casca muito escura, que gera varietais encorpa-
dos, aptos ao amadurecimento em barricas. O Bettú Rebo harmoniza com as carnes verme-
lhas de panela, bem temperadas. Na Itália, os vinhos da Rebo são recomendados aos gnocchi
(nhoques) com molhos escuros e bacon. Recomendam-se ainda as combinações com o porco
agridoce, da culinária asiática, e com as fritadas de carne e cogumelos.

106 Rogerio Dardeau


Refosco

Antiga espécie da região do Vêneto e Friuli, no norte da Itália, mencionada em escritos que
remontam ao ano 1300. Tem muitas variedades, sendo a mais expressiva denominada Refosco
Dal Peduncolo Rosso (Refosco do talo vermelho), que cresce em todo o Friuli. É variedade de
casca muito escura. Seus vinhos têm um profundo rubi, aproximando-se do violeta. Os aromas
são das frutas vermelhas com tons de especiarias. Na boca são plenos e secos. Acompanham
massas, risotos e carnes grelhadas. Está presente nos vinhedos da família Boscato, em Nova
Pádua, RS, participando do corte do Anima Vitis 2005, nos vinhedos da Leone di Venezia e da
Villaggio Conti, em Santa Catarina, além da Quinta Don Bonifácio, em Caxias do Sul.

Rondinella

Casta originária do Vêneto, especialmente Verona, muito presente nos cortes de vinhos
Valpolicella e Bardolino, aos quais empresta toques herbáceos. Raramente é utilizada em va-
rietais. No Brasil, está presente pelas mãos da família Tonet, em Caxias do Sul, e em São
Joaquim, SC, nos vinhedos de Saul Bianco, Vinícola Leone di Venezia, onde participa no corte
do Passione.

Ruby Cabernet

Cultivar criada na Califórnia a partir do cruzamento entre Cabernet Sauvignon e Carignan,


especialmente para resistir às altas temperaturas do Vale de São Joaquim (San Joaquin Valley).
Já tem presença na Austrália, Argentina, Chile, África do Sul e Brasil. A casta não é muito re-
sistente ao míldio e a certos vírus. Os vinhos dessa cepa não atingem os níveis de estrutura e
complexidade da prima mais nobre Cabernet Sauvignon, mas podem conferir aromas frutados
agradáveis aos cortes que a utilizem. O varietal brasileiro da casta, elaborado pela Vinícola
Campos de Cima Vinhos Finos, tem estrutura para acompanhar pratos de carne ensopada e
massas. Está também no Vale do São Francisco. Credita-se o desenvolvimento dessa variedade
ao professor Harold P. Olmo, PhD em genética, que desenvolveu outros cultivares, na Cali-
fórnia, tais como Redglobe, Perlette, Ruby Seedless, e Rubired. Aliás, o Prof. Olmo esteve no
Brasil, atuando nas pesquisas da Universidade Davis, para o estado do Rio Grande do Sul, que
culminaria com a vinda da Almadén (National Destillers) para o país e a entrada definitiva da
Campanha Gaúcha no cenário do vinho fino brasileiro.

Sangiovese

Uma das mais difundidas castas da Itália Central. A uva principal dos Brune/lo e dos Chian-
ti, que acompanham bem as carnes de panela, com molhos escuros, todas as massas com
molhos vermelhos e as pizzas de mozzarella, tomate e orégano. No Brasil, está presente pelas
mãos do talentoso Vilmar Bettú, de Garibaldi, RS; pelo trabalho da Vinícola Lídio Carraro, nos
vinhedos de Encruzilhada do Sul; em Monte Belo do Sul, pela família Calza; em Bento Gon-
çalves, pelos Cristofolis; em varietal da Dominio Vicari, de Lizete Vicari, ainda na Valmarino,
em São Joaquim, SC, nos vinhedos Villaggio Conti, e em Ituverava, SP, pela ação da Vinícola
Marchese di Ivrea.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 107


Saperavi

Casta de grande expressão, na República da Geórgia, onde tem origem na conceituada


região de Kakheti. No idioma georgiano, saperavi significa tintura, o que bem expressa uma
das características fundamentais da casta, que tem pele escura. Inicialmente, foi muito usada
em cortes, mas na atualidade vem apresentando notáveis varietais, com grande capacidade de
envelhecimento, especialmente após amadurecerem em barricas de carvalho. No Brasil, foi in-
troduzida pelo estudioso vinhateiro James Martini Carl, nos vinhedos da conceituada empresa
Viveiro Sinigaglia, fundada em 2001, pelo enólogo Edgar Sinigaglia. Um entusiasta das castas
georgianas, James difundiu o conhecimento sobre elas pelo Brasil e testemunha, hoje, mais de
dez produtores com vinhedos da Saperavi. Seus vinhos tendem a apresentar um rubi intenso,
aromas complexos e corpo entre médio e encorpado. Os primeiros varietais brasileiros da Sa-
peravi foram elaborados pelo próprio James Martini Carl e pelos sócios Edgar SinigagliaJunior
e Roberto CainelliJr., pelo projeto Aventura Garage Wine.

Sousão

É casta da região dos vinhos verdes, especificamente do Minho, no norte de Portugal, onde
também é conhecida como Vinhão. Adota ainda as denominações de Tinto, Tinto Nacional,
Negrão, Pé de Perdiz, Espadeiro Preto, Espadeiro de Basto, Tinta Antiga e Tinta de Parada.
Tem pele negra, muito escura. Seus vinhos carregam o escuro da cepa, tendo forte opacidade.
Foi adotada no Douro, como participante de vinhos do Porto, exatamente para contribuir com
a cor. Trata-se de variedade que ficou esquecida por muito tempo, lá mesmo na origem, tendo
um resgate recente. No Brasil ainda se apresenta timidamente. Foi testada em vinhedos do
Vale do São Francisco e até no Ceará. Está implantada nos vinhedos da Bodegas Carrau, em
sua área brasileira, em Santana do Livramento.

Syrah 63

Casta tinta majestosa, típica dos climas quentes, como o do sul da França, onde tem
origem. É a fruta que tem mais classe no corte dos vinhos das Côtes du Rhône. Dá origem a
vinhos passíveis de envelhecer por até meio século. Entra também na elaboração dos vinhos
do sul do Rhône, mas, ali, cortada com a Grenache (principal tinta da região), a Mourvedre
(os conhecidos GSM), a Marsanne e a Cinsault. Está, portanto, presente nos Châteauneufdu-
-Pape e Gigondas, entre outras denominações regionais. No Rhône Norte, especialmente na
Côte-Rôtie, os vinhos da Syrah são temperados com um toque da Viognier, com o objetivo
de obter aromas mais intensos e, ainda, amenizar a potente Syrah. Os vinhos da Syrah, ape-
sar da boa presença de taninos - o que lhes dá boa capacidade de envelhecimento -, podem
ser bebidos com grande prazer desde a juventude, pois os taninos podem ser redondos e
doces. Os aromas e sabores mais presentes são: frutas escuras maduras (framboesa-negra,
groselha-negra, amora), especiarias (pimenta-do-reino preta), couro, caça e alcatrão, além

63 Não deve ser confundida com a Petite Sirah ou Durif, identificada por meio do trabalho do botânico francês
François Durif, no final do século XIX, como cruzamento natural entre a Syrah e a Peloursin. Embora
nascida na França, deu-se melhor nos climas secos, como os da Califórnia e da Austrália.

108 Rogerio Dardeau


de "tostado" e "defumado". Aparecem ainda notas florais, especialmente violeta, e aromas
de gengibre. A Syrah só ganhou o resto do mundo após 1970, já conquistando espaços na
Itália, no Chile e na Argentina. Syrah e Shiraz, apesar de idênticas sob o aspecto genético e
vitivinícola, são diferentes no sabor, devido às diferenças entre os terroirs e os processos de
vinificação. A francesa dá um vinho com mais presença de pimenta e especiarias; a austra-
liana é mais doce e madura, sugerindo chocolate. No Brasil, há documentos que indicam ter
sido registrada, junto ao Ministério da Agricultura, pela primeira vez, no ano 2000, a partir
de uma importação conduzida pela Vinícola Salton, para produção pelos parceiros localizados
na Campanha Gaúcha, onde vem mostrando bom desempenho. A Estância Paraizo, de Bagé,
foi uma das percussoras. Está também na Serra Gaúcha, mas ali não avançou muito. No Vale
dos Vinhedos, está presente pelo trabalho da Vinícola Almaúnica, embora não seja casta da
DO. É também cultivada e vinificada pela Intervin, em Maringá, PR. O grande crescimento
da presença da casta entre nós está acontecendo pelo manejo com dupla poda e colheita de
inverno, no Sudeste e em outras regiões. Sem dúvida, já é a casta tinta rainha da dupla poda.
Todos os produtores que assumiram o manejo pelo ciclo invertido têm varietais da Syrah. A
casta foi a escolhida pelos vitivinicultores do Cerrado brasileiro, estando presente em vinhos
mineiros, pelas mãos da Vinícola Estrada Real Vinhos de Outono (Primeira Estrada Syrah
2010), e em Goiás, no Intrépido 2010, da Pireneus Vinhos e Vinhedos. As casas Baú 9.4, Bue-
nos Momentos, Guaspari, Luiz Porto, Maria Maria, Parziale, Pioli, Quinta D'Alva, Quinta do
Campo Alegre, Quinta da Matriculada, Terra Nossa, Verrone e Vesperata também já associa-
ram a variedade aos nomes. Os vinhos com Syrah, entre outras possibilidades, acompanham
as caças e as carnes frias, a carne de boi cozida em vinho tinto, os pratos com cogumelos e
os queijos duros.

Shiraz

Nada mais é do que a Syrah adaptada à Austrália, para onde foi levada em meados do sé-
culo XIX. Teve uma excelente adaptação ao clima quente de diversas microrregiões daquele
país. Dali, foi exportada para a África do Sul e o Brasil. Embora tenha idêntica genética à
Syrah, adquiriu nova personalidade, desenvolvendo aromas de chocolate e toque discreto
de hortelã. Uva preta que produz um dos vinhos tintos mais famosos do mundo, o Penfold's
Grange, no qual se apresenta cortada com um mínimo da Cabernet Sauvignon, apenas para
temperar, num corte tipicamente australiano. Também na Austrália usa-se cortar vinhos da
Shiraz com um tempero de Viognier, obtendo-se ótimos resultados. Os vinhos australianos
e sul-africanos, à base da Shiraz, acompanham com excelência os pratos apimentados, as
carnes de boi ensopadas, os vegetais, o pato e o peru, o velho stroganov, strogonoff ou estro-
gonofe, o rosbife. Uma refeição, como qualquer das sugeridas, que apresente sobremesa à
base de chocolate, especialmente os meio-amargos e amargos, não inibirá a continuidade
do vinho de Shiraz. Os poucos vinhos brasileiros dessa casta que começam a aparecer,
inclusive aqueles elaborados a partir de uvas do Vale do Rio São Francisco, pelas casas Lo-
vara e Miolo, são de consumo rápido. Acompanham com excelência medalhões de picanha
grelhados, com arroz e batata sautée.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 109


Tannat
Cepa originária da Gasconha, no sudoeste da França, com excelente adaptação ao terruiio uru-
guaio, onde dá excelentes varietais. Uva tintureira, de casca negra, que empresta cor escura ao
mosto, destinado aos varietais, e tons fortes aos cortes com uvas de tonalidades menos intensas.
É bastante tânica. Implantada no Brasil, tem produzido vinhos encorpados, de aromas picantes,
excelentes para o acompanhamento de carnes vermelhas e de aves elegantemente temperadas.
Combinam também com queijos pouco gordurosos. Entre nós, vem mostrando três perfis, bem
distintos. O primeiro, no lugar de origem dos primeiros varietais brasileiros da casta, a Serra
Gaúcha. O segundo, na Campanha Gaúcha, onde está presente em varietais de praticamente
todos os produtores da região. O terceiro perfil está no Alto Uruguai. As vinícolas Antônio Dias,
de Três Palmeiras, Ametista, de Ametista do Sul, e Weber, de Crissiumal, nos mostram varietais
de grande tipicidade. Em Veranópolis, RS, encontramos varietais leves da casta.

Tempranillo
Ver Aragonez.

Teroldego

Variedade trentina que dá origem a vinhos potentes e de média longevidade. Adquirem


melhor expressão depois de, pelo menos, três anos de evolução na garrafa. No Brasil, está
presente, pela Vinícola Angheben, nos vinhedos de Encruzilhada do Sul, RS, pela Milantino,
no Vale dos Vinhedos, e pela Era dos Ventos. Os varietais da Teroldego (100%) harmonizam
muito bem com as carnes vermelhas bem temperadas e com as massas com molhos escuros.

TintaRoriz
Ver Aragonez.

Touriga Nacional

Originária do Dão, é também uma das cepas de maior prestígio no Douro. Está presente
em praticamente todo o Portugal. Tem frutos muito escuros, muito doces, quando maduros.
É, de fato, a uva nacional portuguesa de maior expressão. Usada no Porto e nos vinhos de
mesa da região. O varietal dessa uva é um vinho intenso, escuro, concentrado, aromático, com
corpo e calor, excelente companhia para os queijos leves, mas enfrenta com harmonia uma lula
com ferrado, um frango na púcara ou uma patuscada de bacalhau. É presença marcante em
vinhos cortados portugueses. Entre nós, tem muito boa expressão nos varietais da Angheben,
Dal Pizzol, Enos, Quinta Santa Maria (Utopia Purpurata) e da Valdemiz, além da presença nos
cortes Utopia Lote Um e Mosai"que, da Quinta Santa Maria.

110 Rogerio Dardeau


Lugares onde se encontra vitivinicultura
de vinhos finos, no Brasil

A vivência do setor vitivinícola brasileiro me leva a sugerir uma regionalização distinta da


preconizada pelo citado Decreto 8.198/ 2014. Procuro reduzir as áreas de viticultura e aumen-
tar a quantidade delas, buscando um aprofundamento da identificação de características eda-
fológicas, climáticas, ambientais e culturais, no sentido da proposição de mais microterroirs. Só
para recordar, Bordeaux, na França, é uma AOC 64 ampla, que tem dentro outras AOC, como,
por exemplo Margaux. Penso que é isso que devemos perseguir, para termos perfis de vinhos
mais identificados com os ambientes onde são elaborados.
A partir do Tempo II, apresentaremos os produtores de vinhos finos, nos lugares onde
elaboram seus vinhos, com mapas, caraterizações físicas, associações, sempre registrando,
junto a cada nome, o grupo ao qual pertence, de acordo com o sugerido no item 3.1.3. Apre-
sentamos, primeiramente, o Rio Grande Sul, começando pelas indicações geográficas, segui-
das dos demais municípios da Serra Gaúcha, exatamente por ela consistir, nesse conjunto, na
principal e maior região brasileira produtora de vinhos finos. Em seguida, mostramos o lugar
que recebeu a primeira expansão territorial da vitivinicultura brasileira, fora do estado do Rio
Grande do Sul, para obedecer a uma cronologia, na história de nossos vinhos. Depois, realiza-
mos um passeio pelo país, alertando para o fato de que, excetuando-se as citadas indicações
geográficas já estabelecidas, todos os demais lugares ainda carecem de redesenhos; muitos
deles não são oficiais, embora, em vários, vinhos sejam elaborados há décadas. Em 2020, es-
tão em andamento pleitos para constituição das seguintes indicações geográficas: IP Vale do
Submédio São Francisco, entre Bahia e Pernambuco, e a DO Espumante Pinto Bandeira, no
Rio Grande do Sul.

TERROIRS DO BRASIL
A jovem vitivinicultura brasileira, independentemente do excelente trabalho da Embrapa
Uva e Vinho, ainda não construiu as séries históricas de dados sobre regiões e microrregiões,
de modo a serem identificados, com mais precisão, os vinhos nascidos em cada uma. A fron-
teira vitícola das castas para vinhos finos, que, há pouco mais de vinte anos, praticamente se
resumia à Serra Gaúcha, hoje se instala em diferentes pontos do Rio Grande do Sul e em mais
uma dezena de estados. O Rio Grande do Sul já conta com uma DO e quatro IPs, indicações
que contribuem para a formação da identidade dos vinhos. É, porém, fundamental salientar
que a DO Vale dos Vinhedos se constituiu como IP, em 2001, chegando a DO, 11 anos depois,

64 Appellation d'Origine Controlée.

Gen t e . Lugares e Vin hos do B ras il 111


em 2012; a IP Pinto Bandeira nasceu em 2010; as IP Altos Montes e Região de Monte Belo fo-
ram regulamentadas em 2013. E mais recentemente, em 2015, regulamentou-se a IP Farrou-
pilha, para vinhos elaborados a partir de uvas da família Moscatel. Então, como se observa, é
a infância do processo de consolidação de variedades, procedimentos e identidade dos vinhos.
Isso, no entanto, é essencial. Em todos os países de tradição vitivinícola, o tempo foi precioso
para a caracterização dos terroirs. Temos noção do que representa dizer "é um Bordeaux", pois
há séculos o terroir se manifesta nos vinhos daquela procedência.
O que pretendo com este trabalho é enfatizar que não nos devemos referir a "um vinho
brasileiro", como já não o fazemos relativamente aos vinhos da França, da Itália, de Portugal
e a outros do Velho Mundo. Cada uma dessas tradições tem inúmeras identidades de vinhos,
e nos acostumamos a identificar borgonheses, bordaleses, toscanos, friulanos, durienses e
alentejanos, apenas para citar algumas regiões. E o Brasil também as terá, claro. Como já
ressaltei, há pouco tempo, havia praticamente um único vinho fino brasileiro: o da Serra Gaú-
cha. Agora, por exemplo, já identificamos os momentos distintos de colheita ou vindima. Em
nossa principal região produtora de vinhos finos, a Serra Gaúcha, ocorre entre fevereiro e abril,
com pequenas variações, dependendo da microrregião e da casta, ali, sempre, com o cultivo
pelo ciclo natural da vinha. Na Serra Catarinense, ocorre mais tarde, podendo chegar a maio.
Quando razões de natureza climática, em certas regiões, impõem o ciclo invertido, a colheita
será em julho e agosto. O ciclo invertido, hoje bastante presente em vinhedos acima do paralelo
25° S, consiste, como vimos, num regime de poda que leve a videira a reinterpretar as estações,
alterando o ciclo produtivo.
Com certeza, no futuro, poderemos reconhecer o "vinho brasileiro do Vale dos Vinhedos",
o "vinho brasileiro de Pinto Bandeira", o "vinho brasileiro dos Altos Montes", o "vinho brasi-
leiro de inverno", o "vinho brasileiro de Cocalzinho", o "vinho brasileiro de Santa Teresa", no
Espírito Santo, o "vinho brasileiro de Garanhuns", em Pernambuco, etc. A ideia, ainda muito
presente, de que deveríamos concentrar esforços na produção única e exclusiva de vinhos
jovens, frutados, fáceis, pois essa seria nossa vocação, me parece totalmente superada pelos
indicadores de definição de terroirs com perfis diferentes daquele.
Como anotei, ainda temos muito a aprender sobre os terroirs do Brasil, para definir e regis-
trar características que identifiquem, com clareza, os vinhos nascidos em cada um. No entanto,
sob meu ponto de vista, já podemos admitir os 3465 lugares seguintes, onde Vinhos Brasileiros
de Terroir - VBdT são elaborados, como Terroirs do Brasil. São eles: Estado/região do RS: 1.
DOVV - Denominação de Origem Vale dos Vinhedos; 2. IPPB - Indicação de Procedência
Pinto Bandeira; 3. IPAM - Indicação de Procedência Altos Montes; 4. IPMB - Indicação de
Procedência Região de Monte Belo do Sul; 5. IPFA - Indicação de Procedência Farroupilha;
6. SG - Serra Gaúcha* 66 ; 7. IPCG - Indicação de Procedência Campanha Gaúcha*; 8. SS -
Serra do Sudeste*; 9. VC - Vale Central*; 10. GP - Grande Porto Alegre*; 11. MI - Missões*;
12. CC - Campos de Cima da Serra*; 13. AU -Alto Uruguai*; 14. RS - Outros lugares no
estado do Rio Grande do Sul. Demais lugares em outros estados da Federação: BA/PE 15.

65 No livro Vinho fino brasileiro, eram reconhecidos 17 terroirs


66 O asterisco indica que, em minha avaliação, o Terroir assinalado poderá vir a ter as próprias fronteiras
territoriais redesenhadas, futuramente, podendo ser ampliado ou dividido.

112 Rogerio Dardeau


VASF - Vale do São Francisco; SC: 16. SE - Serra Catarinense*; 17. PO - Planalto Oeste*;
18. OU - outros lugares no estado de Santa Catarina. PR: 19. GC - Grande Curitiba; 20.
OP- Oeste Paranaense•. SP: 21. SR - São Roque; 22. LE - Leste e região de Campinas; 23.
MA - Mantiqueira Alta*; 24. SA - Noroeste e Alta Mogiana*; 25. ou - outros lugares no es-
tado de São Paulo. MG: 26. SU - Sul de Minas*; 27. DJ - Diamantina e Alto Jequitinhonha*;
28. TA - Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba*; 29. ou - outros lugares no estado de Minas
Gerais. RJ: 30. SS - Serra do Centro-Sul Fluminense• . ES: 31. CA - Serra Capixaba. GO:
32. PC - Planalto Central (Centro-Sul Goiano e Distrito Federal)*. BA: 33. CD - Chapada
Diamantina. PE: 34. GA - Garanhuns.

Brasil Vitivinícola de Vinhos Finos 2020

Vale do São Francisco


BA e PE
Múltiplas colheitas

MG
Videiras em ciclo inverti do,
com colheitas de inverno, RJ, ES, BA
majoritariamente Videin11s em ciclo invertido,
com colheitas de inverno

SP
Videiras em ciclo invertido,
com colheitas de invemo, e
videiras em ciclo norm11 I,
com colheitas de verio, em al1uns pontos

RS, SCe PR
Videiras em ciclo normal
R01erto OudNu º'°'°
Colheitas de verão

Gen t e. Lugares e Vin ho s do Bras il 113


PARA FACILITAR O ENTENDIMENTO DA LEITURA
DAS DESCRIÇÕES DOS PRODUTORES APRESENTADOS A SEGUIR

Passaporte para admissão aos Tempos 11, Ili e IV


Em todos os espaços de elaboração de vinhos finos apresentados adiante, os pro-
dutores aparecem por ordem alfabética, dentro dos municípios, estes também
mostrados alfabeticamente.
Em cada produtor apresentado, você verá:
Logomarca e, ao lado, as seguintes referências:
Gr IV - 1991 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr' - 'N'
A ordem alfabética dos produtores é dada pelos nomes principais. Assim, você não en-
contrará nenhum ordenado pela inicial 'V', da palavra 'vinícola'. Mas 'Bodega', 'Casa'
e 'Quinta' definem as posições.
Gr I, II, III, IV ou V (este com a variação Vb): grupo de produtores no qual incluo
o apresentado;
,... ano de estabelecimento;
vinhos que elabora (confira, no subitem "Uma sugestão de grupos de produtores
de vinhos finos, no Brasil");
origem da vitivinicultura: se é cultural (C) ou de investimento (I);
EnoT: se atua em enoturismo, com ações receptivas e outras;
'VdoBr': se foi um dos 17 entrevistados por Valdiney e Marieta Ferreira, para o
livro Vinhos do Brasil, do passado para o futuro;
'N': se adota preceitos de vitivinicultura natural ou natureba.
Abaixo dessas informações, aparece o endereço da página do produtor na internet.
Caso não haja indicação, não deixe de procurar pelo nome, no Facebook. Alguns pro-
dutores estão preferindo as chamadas fan pages naquela rede.

114 Roge rio Dardea u


TEMPO II

Consolidação do setor vitivinícola brasileiro


A vitivinicultura de vinhos finos,
no estado do Rio Grande do Sul

O estado do Rio Grande do Sul tem a primazia da produção vitivinícola brasileira de vi-
nhos finos, com o berço na Serra Gaúcha. Hoje, no entanto, talvez não cometamos erro se
dissermos que há produção de uva, vinho ou uva e vinho nos 497 municípios do estado. Es-
tudo da Universidade Federal de Santa Maria67 estabelece as seguintes regiões no estado: Alto
Uruguai, Campos de Cima da Serra, Missões, Planalto Médio, Encosta Superior do Nordeste
(onde se localiza a Serra Gaúcha), Encosta Inferior do Nordeste, Depressão Central, Campa-
nha, Serra do Sudeste, Encosta do Sudeste. Vejamos o mapa a seguir.

Penso, porém, que é necessário detalhar um pouco mais. Vejo um quadro real da vitivini-
cultura já mais bem definido do que a proposição do Decreto 8.198/2014. Identifico um mapa
ligeiramente distinto, com os seguintes lugares onde vinhos finos são elaborados: DOVV,
IPPB, IPAM, IPMB, IP Farroupilha, demais localidades da Serra Gaúcha, IP Campanha Gaúcha,
Serra do Sudeste, Vale Central Gaúcho, Grande Porto Alegre, Missões, Campos de Cima da
Serra e Alto Uruguai. Todos esses lugares poderão sofrer, pouco a pouco, modificações sempre
no sentido de melhor identificar os próprios vinhos.
Vejamos, a seguir, um mapa com as principais localidades onde vinhos finos são elabora-
dos no Rio Grande do Sul.

67 Disponível em: http:/lcoralx.ufsm.br/ifcrs/fisiografia.htm#mapageral.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 117


ltatiba do Sul Três Palmeiras

DOVV
IPPB
{
São Borja IPAM
IPMB
IPFarr
Uruguaiana

Rosário do Sul

Candiota

------ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES NO ÂMBITO ESTADUAL


Agavi - Associação Gaúcha de Vinicultores
Reúne produtores de Antônio Prado, Bento Gonçalves, Campestre da Serra, Caxias do Sul,
Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Pádua e São Marcos. Em Antônio Prado, está a Sociedade
de Bebidas Serrana Ltda.; em Bento Gonçalves, é associada à Tecnovin do Brasil 1. C. Imp. Exp.
Ltda.; em Campestre da Serra, estão a Vinícola Campestre Ltda. e a Vinícola Castelo Ltda.; em
Caxias do Sul, estão Ernesto Zanrosso Ind. Vinhos Ltda., Ind. de Vinhos Rossatto Ltda., Ind.
Com. de Vinhos Pozzer Ltda., Irmãos Arbugeri Ltda., Lovatel Ind. Vinícola Ltda., Laboratório
Randon Ltda., Real Bebidas Ltda., Trentin Ind. Vinícola Ltda., Vinhos Bampi Ltda., Vinícola
Grutinha Ltda.; em Farroupilha, estão Golden Sucos Ltda., Nelmar Vinhos Ltda., Basso Vi-
nhos e Espumantes Ltda., Vinícola Perini Ltda.; em Flores da Cunha, estão Alberto Andreazza
e Filhos Ltda., Antonio Basso e Filhos Ltda., Cantina Veneza Ltda.; Fante Ind. de Bebidas
Ltda.; Ind. de Vinhos Irmãos Mioranza Ltda., Muraro & Cia Ltda. Soe. de Bebidas Gazzi Ltda.;
Soe. de Bebidas Malacarne Ltda., Soe. de Bebidas Massarotto Ltda; Soe. de Bebidas Mioranza
Ltda. (vinhos Mioranza, Catania e A/vise); Soe. de Bebidas Panizzon Ltda. (vinhos Panizzon e
San Martin) ; Soe. de Vinhos Rech Ltda.; Soe. Florense de Bebidas Ltda.; Terrasul Ind. Vinhos
Finos Ltda.; Toscan Indústria Bebidas Ltda.; União de Vinhos do R. G. Ltda.; Vinhos Monte
Reale Ltda.; Vinhos Scopel Ltda. Vinícola Angelo Luvison Ltda.; Vinícola Casa Martin Ltda.;
Vinícola Galiotto Ltda.; Vinícola Giacomin Ltda.; Vinícola Giachelin Ltda.; Vinícola Giliolli
Ltda.(anteriormente Salvador); Vinícola Goes Venturini Ltda.; Vinícola Pipa de Ouro Ltda.;
Vinícola Salvattore Ltda.; Vinícola Viapiana Ltda.; em Nova Pádua, Boscato Ind. Vinícola Ltda.;
Vinícola Milano Ltda.; Vinícola Sulmente Ltda.; Vinícola Zorzi Ltda.; em São Marcos, Catafesta
Ind. de Vinhos Ltda.; Irmãos Molon Ltda.; Vinícola Serra Gaúcha SIA.

118 Roge rio D ard ea u


Fecovinho - Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul
As associadas são: Alfredo Chavense, Aurora, Forqueta, Garibaldi, Ipê, Nova Aliança,
Pompeia, Pradense, São João, Victor Emanuel e Uruguaiana. Dentro dessa federação está a
Cenecoop Serra - Central das Cooperativas da Serra Gaúcha.

Uvifam - União das Vinícolas Familiares e de Pequenos Vinicultores


São mais de sessenta pequenos produtores, ainda em fase de organização associativa, defi-
nição de objetivos e metodologia de ação. O projeto principal da Uvifam é participar ativamen-
te do debate de propostas para regulamentação do setor vitivinícola, de forma a proteger a pe-
quena produção de uva e de vinho. Infelizmente, esse grupo não tem atuado com regularidade.

Sindivinho RS -
Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (1948),
São a ele associadas as seguintes empresas: em Antonio Prado: Sociedade de Bebidas Serra-
na Ltda.; em Flores da Cunha : Fante Indústria de Bebidas Ltda., Sociedade Florense de Bebidas
Ltda., Terrasul Vinhos Finos Ltda., União de Vinhos do Rio Grande Ltda., Vinícola Goes e Ven-
turini Ltda., Vinícola Pipa de Ouro Ltda., Vinícola Veadrigo Ltda., Vinícola Viapiana Ltda.; em
Farroupilha: Vinícola Perini Ltda.; em Garibaldi: Courmayeur do Brasil Vinhos Ltda., Moet Hen-
nessy do Brasil - Vinhos e Destilados Ltda. (Chandon), Vinhos Don Laurindo Ltda., Vinícola
Pedrucci Ltda.; e em São Marcos : Catafesta Indústria de Vinhos Ltda. O Sindivinho faz questão
de registrar que essas são as vinícolas associadas, portanto comprometidas, voluntariamente,
com as questões do setor. Todas as vinícolas do estado devem ser filiadas, por força das contri-
buições legais compulsórias.

DENOMINAÇÃO DE ORIGEM VALE DOS VINHEDOS - DOVV

Gen t e. Lugares e Vin ho s d o B r as il 119


A região do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, foi a primeira Indicação de Proce-
dência (IP) do Brasil (2001), passo importante para constituir-se, posteriormente, numa De-
nominação de Origem (DO), o que aconteceu em setembro de 2012. Essas foram conquistas
da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), fundada em
1995, com as seguintes vinícolas associadas: Adega Cavalleri, Almaúnica, Angheben, Calza,
Capoani, Casa Valduga, Cavas do Vale, Cave de Pedra, Dom Cândido, Dom Eliziario, Don Lau-
rindo, Chandon, Cooperativa Vinícola Aurora, Famiglia Tasca, Larentis, Lídio Carraro, Marco
Luigi, Michele Carraro, Milantino, Miolo, Peculiare, Pizzato, Terragnolo, Vallontano, Titton,
Torcello, Toscana e Wine Park Gran Legado. É também associado o Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, campus Bento Gonçalves. A Aprovale lançou,
em 2014, vinhos do projeto Vinhateiros do Vale. Trata-se de um antigo desejo de ter marca
própria, porém guardando as identidades dos produtores. Até o momento desta edição, ha-
viam aderido ao projeto as oito vinícolas seguintes: Aurora, Casa Valduga, Cavas do Vale, Dom
Cândido, Don Laurindo, Larentis, Miolo e Torcello. Foram lançados em setembro de 2014 os
primeiros seis vinhos, todos rotulados como Vinhateiros do Vale: Aurora Merlot 2014, Cavas do
Vale Cabernet Sauvignon 2012, Dom Cândido Merlot 2013, Don Laurinda Merlot 2012, Larentis Merlot/
Marselan 2013 (60% Merlot, 40% Marselan) e Torce/lo Assemblage 2013 (40% Merlot, 30% Caber-
net Sauvignon, 30% Tannat).
O estabelecimento da IP teve início com o registro do Vale dos Vinhedos no Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) como indicação geográfica de região produtora de
vinhos. A IP Vale dos Vinhedos foi, inclusive, reconhecida pela União Europeia. Os solos do
Vale dos Vinhedos são predominantemente argiloarenosos, de formação basáltica, vulcânicos,
apresentando-se heterogêneos, pedregosos profundos, em alguns pontos, mas superficiais em
outros espaços. Como DO, toda a produção de uvas e o processamento da bebida devem ser
realizados na região delimitada do Vale dos Vinhedos. São 81 km2 de área, situada em três
municípios - Bento Gonçalves (60%), Garibaldi (33%) e Monte Belo do Sul (7%) - na serra
do nordeste do Rio Grande do Sul, conhecida como Serra Gaúcha. Como se observa, foram
11 anos de trabalho para que a IPVV se transformasse em DOVV. Isso mostra a exigência
do processo. A DO Vale dos Vinhedos determina regras de cultivo e de processamento mais
restritas do que as anteriormente estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), sendo os
principais requisitos e características os abaixo relacionados .

• ll!IIOMINAÇÃDDl0111GEM
Definições da DOW VAL!I DOS VlNHEOO$ !
Castas autorizadas - Tintas: Merlot, considerada a variedade que será a marca da DO,
mas também Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat como variedades complementa-
res, para a elaboração de cortes de vinhos; brancas: Chardonnay como casta principal, e Ries-
ling Itálico como variedade para cortes.
Limites de produtividade - Para uvas tintas: 1Otoneladas/ha ou 2,5 kg de uva por planta;
para uvas brancas: 10 toneladas/ha ou 3 kg de uva por planta; para uvas a serem utilizadas na
elaboração de espumantes: 12 ton/ha ou 4 kg de uva por planta.
Vinhos - Os vinhos poderão ser varietais com um mínimo de 85% da casta, a partir da
Merlot, no caso dos tintos, ou, no caso dos brancos, Chardonnay. São também permitidos

120 Rogerio Dardeau


os cortes ou assemblages. Os cortes tintos devem conter, no mínimo, 60% de vinho Merlot,
podendo ser mesclados com vinhos das outras três variedades tintas autorizadas: Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat. Os vinhos brancos, do tipo assemblage, devem conter pelo
menos 60% da casta Chardonnay, complementando-se o corte com vinhos à base de Riesling
Itálico. Para espumantes, o vinho deve ter base Chardonnay e/ou Pinot Noir em pelo menos
60% de sua composição. O complemento deverá ser por vinho da casta Riesling Itálico. Os
espumantes só podem ser elaborados pelo chamado método tradicional (champenoise), 68 com
surgimento das "borbulhas" em processo natural, através de segunda fermentação na própria
garrafa. São admitidos somente espumantes nature, extra brut e brut. A chaptalização e a con-
centração dos mostos não são permitidas. Nos anos muito difíceis, com grande umidade, o
Conselho Regulador da Aprovale poderá permitir o enriquecimento em até um grau. É permi-
tido o amadurecimento de vinhos em barricas de madeira. Mas estão vedados os usos de chips
ou lascas de madeira, em imersão nos vinhos, a fim de conferir gosto amadeirado.
Graduação alcoólica - Tintos: mínimo de 12%, em volume; brancos: mínimo de 11 %, em
volume; espumantes (vinhos-base) : mínimo de 11,5%, em volume.
Comercialização - Permitida apenas após 12 meses de envelhecimento nas adegas pro-
dutoras.
Identificação visual - Os vinhos deverão conter o selo específico (normatizado) com a
inscrição 'D.O. Denominação de Origem Vale dos Vinhedos' nos rótulos, e nos contrarrótulos,
a mesma inscrição adicionada do número do selo.

GENTE que elabora vinhos finos na área da denominação de origem


Vale dos Vinhedos - DOVV69

ALMAÚNICA, Vinícola
Gr IV - 2008 - VBdT* - (C) - EnoT
almaunica.com. br
Vinícola nascida pela vontade dos irmãos gêmeos Márcio (enólo-
go) e Magda Brandelli (administradora), depois de larga experiên-
cia junto à Vinícola Don Laurindo, de quem carregam o sobreno-
me. Márcio Brandelli, lamentavelmente, nos deixou, aos 4 7 anos,
VINÍCOLA
em março de 2020. São apenas 2,5 hectares de vinhedos próprios,
ALMAÚNlC A" estrategicamente localizados na entrada da vinícola, compondo
do Brasil com orgulho.
uma paisagem muito bonita, emoldurada de ciprestes italianos.
A Almaúnica tem, ainda, três viticultores parceiros, num total de
8 hectares, com os quais a casa mantém um rigoroso acordo de

68 O método tradicional ou champenoise de elaboração de espumantes consiste em submeter o vinho-base


a uma segunda fermentação, na própria garrafa, na qual permanecerá por, no mínimo, 12 meses, sofren-
do giros de¼ por dia (remouage) , de modo que a levedura tenha contato uniforme com a bebida.
69 Há produtores localizados no Vale dos Vinhedos que, não estando associados á Aprovale, estão fora do
regime da DO, mas estão citados aqui.

Gen t e. Lu gares e Vin h os do Bras il 121


compra de uvas, cultivadas sob a orientação e o controle da família. A cantina tem a compe-
tente assinatura arquitetônica de Celestino Rossi e foi dimensionada para 150 mil garrafas/
ano. A proposta é elaborar apenas vinhos brasileiros de terroir, espumantes, brancos e tintos,
em pequenas partidas. Seus vinhos são todos denominados Almaúnica. Além de varietais Char-
donnay, Riesling, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Syrah, muito expressivos, elabora
o Almaúnica Super Premium Quatro Castas, um fantástico corte entre Syrah (34%), Merlot (22%),
Malbec (22%) e Cabernet Sauvignon (22%), o Almaúnica Syrah S8 e os dois vinhos dos vinhedos
próprios, diante da cantina, ambos DO: Almaúnica Parte 2 DO Merlot 2016, elaborado a partir de
85% de vinho da casta Merlot, da DOVV, com 15% de Cabernet Sauvignon, e o Chardonnay DO
Parte 2. Os vinhos tintos estagiam por 24 meses em barricas de carvalho francês, salvo o Syrah,
que passou por carvalho americano. Essa obra de arte atingiu 14% de graduação alcoólica. As
safras seguintes consolidaram a Almaúnica como produtora de vinhos brasileiros de terroir.

ANGHEBEN, Vinícola
Gr IV - 1999 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBrno
angheben.com.br
Vinícola criada pelo professor Idalencio Francisco Angheben, do
Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, com o fi-
A lho, também enólogo, Eduardo. Profissional com grande qualifi-
cação técnica, obtida no Brasil e no exterior, o professor Idalencio
foi um dos responsáveis pela identificação da Serra do Sudeste
como microrregião vitícola. A empresa é uma das que estão com-
prometidas com a luta por melhor enquadramento tributário dos
pequenos produtores. Seus vinhos são elaborados a partir de uvas de vinhedos implantados
pelo próprio Idalencio Angheben, em Encruzilhada do Sul, e outras cultivadas por parceiros, em
Vacaria e Guaporé. A empresa se dedica exclusivamente aos vinhos brasileiros de terroir. Ela-
bora atualmente sete vinhos, todos sob a denominação Angheben. Privilegia os tintos. São cinco
varietais: Barbera, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Teroldego e Touriga Nacional,7 1 com estágio
em barricas de carvalho. O espumante é um corte Chardonnay com Pinot Noir, a 50%, com 12
meses de autólise. O branco é um Gewurztraminer. A produção anual é de 30 mil garrafas, mas
há projeto para chegar ao máximo de 60 mil garrafas/ ano, além de novo vinhedo próprio. Uma
visita à cantina, no Vale dos Vinhedos, para uma conversa com pai e filho é sempre uma aula de
vitivinicultura.

70 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
71 Com avencas na caatinga/ alecrins no canavial/ licores na moringa/ um vinho tropical. Teria sido, como
de costume, pura poesia ou será que Chico Buarque previu, em 1973, que o Brasil elaboraria vinhos com
a Touriga Nacional, essa clássica casta portuguesa?

122 Roge rio D ard ea u


BARCAROLA, Vinícola
Gr IV - 2005 - VBdT* - (C) - EnoT
barcarola.com.br
Luiz Petroli tem o vinho na alma. Desde pequeno acompanhava o
pai, no vinhedo e na cantina familiar, elaborando vinhos para o pró-
prio consumo, ali mesmo no Vale Aurora. Como cooperado, desde
VINÍCOLA
BARCAROLA a década de 1990, vendia uvas viníferas à cooperativa. No início
C}1'i',,!~ o/i~,'ifi111Ai
<Butique dos anos 2000, decidiu criar a própria vinícola. Lembrou-se, então,
da alegoria criada em Cimone, origem da família, para homenagear
os parentes que haviam emigrado para o Brasil. Ali, naquela pequena localidade da província de
Trento, no norte da Itália, nasceu a festa da Barcarola. Uma pequena barca, sobre rodas, percorre
a cidade, com os ocupantes a entoar canções que recordam a travessia do Atlântico. Nascia a Bu-
tique BARCAROLA - Vinhedos e Vinhos Finos, em 10 hectares de vinhedos contínuos, em es-
paldeiras e cantina própria. As variedades são as francesas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e
Chardonnay, e as italianas Teroldego, Lagrein, Rebo e Marzemino. Há ainda a uva Moscato, para
elaboração do espumante moscatel. No dizer de Cesar Petroli, um dos filhos de Luiz, enólogo
formado na Itália: "são variedades que têm vínculo familiar com nossa história, por isso as cul-
tivamos". A cantina é própria. A filosofia dos Petroli é de elaboração de varietais, sem passagem
por barrica. A produção está em torno de 25 mil garrafas/ano. Todos os vinhos são rotulados
como Barcarola Specialità. São os seguintes: varietais tintos - Lagrein, Teroldego, Rebo, Merlot,
Tannat e Cabernet Sauvignon; varietal branco Chardonnay; dois espumantes: Brut (charmat) e
Moscatel. Em 2015, a casa trouxe ao mercado o Luiz Petroli, um vinho excepcional, elaborado pela
técnica dos amarone. O Luiz Petroli, assim como os similares italianos, foi elaborado por processo
natural. As uvas selecionadas, entre as castas italianas da Barcarola, passaram pela desidratação,
em telas organizadas no sótão do casarão da vinícola, ali permanecendo por trinta dias, respi-
rando livremente entre o abre-e-fecha das janelas. A partir de então, a vinificação foi tradicional,
com temperatura controlada a 26ºC. Os 225 litros obtidos estagiaram numa barrica de carvalho
de segundo uso, gerando trezentas garrafas, com 15% de teor alcoólico. A decisão da vinícola é
de elaborá-lo somente nas safras muito propícias àquela complexa elaboração.

BATTISTELLO, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT - (C) - EnoT
vinicolabattistello.com.br
Vinícola da família Battistello, voltada à elaboração de vinhos fi-
nos, a partir de vinhedos próprios, na região da DOVV. Trabalha
as castas brancas Chardonnay e Moscato Giallo, além das tintas
Ancellotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e
Tannat. Em algumas safras, a casa elabora cortes tintos como o Cabernet Sauvignon com Merlot
e o Ancellotta com Tannat.

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 123


CAPOANI, Vinhedos
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I)
vinhedoscapoani.com.br
Iniciativa do empresário Noemir Capoani, inspirado nos ensi-
namentos do pai Volmir Luis Capoani, que, desde 1973, culti-
vava a própria vinha, para suprir de vinhos o consumo familiar.
Incentivado pelo pai a empreender em outra área de negócios, em
1990, Noemir fundou a D'Itália Móveis, transformando-a numa
das maiores exportadoras brasileiras de modulados. Com o falecimento do pai, Noemir de-
cidiu criar, com os filhos Wilian e Renan, a empresa Vinhedos Capoani. São 13 hectares de
vinhedos, estando a maior parte na área da DOVV, com as castas Merlot, Tannat, Pinot Noir,
Gamay, Chardonnay e Moscato Giallo. A cantina ainda não foi edificada, mas está em projeto.
A Capoani tem um intenso trabalho de acompanhamento de mercado, buscando conhecer as
preferências dos consumidores, investindo na qualidade dos vinhos que produz e, também,
em imagem. Não por acaso, escolheu o verde Tiffany para cobrir a própria identidade visual
e os rótulos. Em 2019, lançou um vinho frisante branco, base Chardonnay da colheita de 2018,
numa elegante garrafa italiana, para se somar aos demais vinhos do portfólio que são: Merlot
2012, Tannat 2015, Merlot/fannat 2013, Pinot Noir 2017, Gamay 2017, Rose Merlot/ Gamay
2018, Chardonnay 2017, Espumante Brut 2011, Espumante Nature 2011, Espumante Brut
2016, Espumante Brut Rose 2017 e Espumante Branco Doce Moscato Giallo, todos sob a única
denominação Capoani. Os destaques são os espumantes brut e extra brut, além do CAPOANI
Gamay Nouveau, marcante expressão da casta. A enologia está sob os cuidados de Marcos Vian,
que orienta vinificações em espaço próprio, junto à D'Itália e em vinícola parceira.

CAVALLERI Vinhos Finos


Gr IV - 1987 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
cavalleri.com.br

e
A Adega Cavalleri ou Cavalleri Vinhos finos nasceu pelo desejo do
empresário Nilso Cavalleri de ampliar a produção dos vinhos que
elaborava artesanalmente. Concentra-se na elaboração de vinhos
CAVALLERI brasileiros de terroir. São espumantes, além de vinhos tranquilos
V'""ºº " "ºº brancos, rosados e tintos, todos sob a denominação Cavalleri. São
160 mil garrafas por ano, obtidas de 32 hectares de vinhedos próprios. Os espumantes são ela-
borados pelos métodos tradicional e Charmat. A Adega Cavalleri foi a primeira vinícola brasileira
a ter a variedade Carménere entre seus varietais. O vinho da safra de 2002 dessa casta foi muito
elogiado, mas infelizmente não teve continuidade. O branco Chardonnay é sempre um destaque da
casa, tendo sido um dos primeiros varietais da casta a ter selo da DOVV. Outra expressão de cria-
tividade é o espumante moscatel Moscato Hamburgo rosado, pouco doce, muito marcante. Além
do Cabernet Sauvignon, a casa ofereceu o Cavalleri Merlot Pecato e o Cavalleri Merlot Segredo.
Mais recentemente, vieram o Cavalleri Confraria Merlot e o corte Vero, a partir de Cabernet Sau-
vignon, Cabernet Franc e Merlot. O rosado de Pinot Noir La Vie 2018 - Uma Bela História é um
tributo à vida de Vanessa Cavalleri, filha de Nilso e Vani, que venceu problemas graves de saúde.
O enólogo é o jovem Tiago Lazzarotto, sempre ao lado da experiência de Nilso Cavalleri.

124 Ro ge rio Dardea u


CAVAS DO VALE Vinhos Finos
Gr IV - 2005 - VBdT- (C) - EnoT
cavasdovale.com.br
Esse é mais um empreendimento com o sobrenome Brandelli. Iri-
___fL_ neu Brandelli e os filhos Luís Eduardo e Luís Augusto cultivam, em
CAVAS DO VALE 12 hectares de vinhedos próprios, as castas tintas Cabernet Sauvig-
Vi11lmNnostEspu111111111'S
non, Merlot e Tannat. Elaboram seus vinhos em cantina própria,
que ainda guarda algo de rústico, pelos grandes tanques de madeira
utilizados na fermentação e no armazenamento dos vinhos. A produção anual de 50 mil garrafas
de vinhos finos é um terço da produção total. Os outros dois terços (80 mil litros, aproximada-
mente) são vinhos comuns. Os vinhos finos estão distribuídos em três linhas. A linha Lucinda
reúne os vinhos gran reserva. O nome homenageia o patriarca dos Brandelli, um dos pioneiros
na elaboração de vinhos no Vale dos Vinhedos. A quem pergunte por que razão os rótulos dos
vinhos gran reserva Lucinda têm um faisão, explica-se que a criação daquela ave é hoje a atividade
do patriarca. A linha Cavas do Vale traz varietais com passagem por madeira. A linha Provado
tem vinhos de estilo jovial, em varietais, um assemblage e um espumante Moscatel. O estilo de
elaboração adotado é o de mínima intervenção e mínimo maquinário.

CAVE DE PEDRA Winery


Gr IV - 1997 - VBdT* - (C) - EnoT
cavedepedra.com.br
Vinícola cuja cantina foi totalmente construída em basalto lavrado,
Elg
com projeto arquitetônico de castelo medieval, já idealizado com
CAVE DE PEDRA
W I N E R Y
potencial enoturístico. Elabora espumantes (foco), brancos e tin-
tos, sob os rótulos Cave de Pedra, Adaga, Piedra D'Oro e Rosa Negra.
Entre os sócios, tem um nome Valduga. O ícone da vinícola é o Cave de Pedra Special Blend 2005,
14,0%, um corte entre vinhos de Merlot, Marselan e Ancellotta, com estágio de 12 meses em
barricas de carvalho francês. A filosofia é de somente elaborar esse vinho em anos de safras
muito especiais.

CAVE DO SOL
Gr IV - 2020 - VBdT* - (C) - EnoT
Empreendimento da família Passarin, inaugurado em 4 de setem-
bro de 2020, realizando um sonho que foi nutrido em vinhedos,
desde 1927. Tem a direção de Arnaldo Passarin, que, nascido em
CAVE !22 SOL Jundiaí, SP, viajou ao Rio Grande do Sul, em 1960, e ali passou a
0ts0f:1927
atuar no ambiente da vitivinicultura. Transferiu-se definitivamen-
te para Flores da Cunha, em 1975, quando comprou a União de
Vinhos do Rio Grande. A partir de então, teve seu nome associado ao vinho brasileiro, desde a
produção até ações de natureza política, em defesa do setor. Em meados dos anos 1990, adquiriu
um terreno de 36.600m2, para uma vinícola, em excelente localização, no Vale dos Vinhedos.
Nas duas últimas décadas, trabalhou na edificação de um belíssimo projeto de 5.000 m2, desen-

Gen t e. Lu gares e Vin h os do Bras il 125


volvido pelo consagrado escritório de arquitetura de Vanja Hertcert, com rico paisagismo. Os
ambientes são amplos, com fina decoração. Os vinhos são apresentados em quatro linhas: Cave
do Sol, Solar do Vale, Vulcano e Monarca, a partir de uvas de vinhedos localizados em diversos
pontos do Rio Grande do Sul. Os ícones da casa homenageiam a família. São os vinhos Capitão
Chico, como Arnaldo Passarin é chamado, e Vitória Lúcia, reunindo os nomes das mães de Ar-
lete, a esposa de Arnaldo, e de sua própria mãe, respectivamente. O Capitão Chico é um tinto
100% Cabernet Sauvignon. O outro é um espumante Nature Método Tradicional. Ao todo, são
34 rótulos entre espumantes, vinhos e suco de uva.

DOM BERNARDO, Vinícola


Gr IV - 2010 - VBdT* - (C) - EnoT
Mateus Batistelo é um jovem enólogo que decidiu criar um pro-
jeto vitivinícola distinto da empresa que leva o nome da família,
~
também localizada no Vale dos Vinhedos. O que pretende é elabo-

db
©(JIJTl,fi/3~
rar vinhos brasileiros de terroir de alto padrão. O nome escolhido
é do avô. O empreendimento tem vinhedos e cantina localizados
na parte da DO, que está situada no município de Garibaldi. São
5 hectares de vinhedos, com as variedades Chardonnay, Cabernet
Franc, Malbec, Marselan, Merlot, Syrah e Tempranillo. Desde 2013, a vinícola vem-se aperfeiço-
ando a cada colheita. Os rótulos são varietais de Chardonnay, com passagem por barricas, além
dos tintos Malbec, Marselan, Merlot, Syrah, Tempranillo e os cortes Edição do Enólogo, com
Marselan, Syrah e Merlot, e Gran Luiz. A vinícola conta com assessoria enológica e comercial da
enóloga Paula Guerra Schenato.

DOM CÂNDIDO, Vinícola


Gr IV - 1986 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
domcandido.com. br
Fundada por Cândido Valduga, que conduziu a vinícola até outu-
,_DOM bro de 2015, quando faleceu . A vinícola ficou então sob o controle
CANDIDO da viúva, dona Lourdes, com os filhos Roberto, Celso, Marcos e
oo DB S DE 187S
Carlos Valduga. Cândido insistia que a data de fundação da vinícola
era apenas um dado formal, uma vez que a atividade de vitivinicul-
tura era bem anterior. A Vinícola Dom Cândido é mais um ramo Valduga dedicado à cultura do
vinho. Elabora espumantes, brancos e tintos sob a denominação Dom Cândido. Em 2009 lançou
o corte Tannat + Marselan + Merlot, sob o rótulo 80 Anos Cândido Valduga, em homenagem ao
fundador. Tem uma área aproximada de 50 hectares no município de Veranópolis, RS, adquirida
em 2001 e onde já estão implantados 25 hectares de vinhedos. Ali, também cultiva a variedade
Marselan. A Dom Cândido foi a primeira cantina brasileira a elaborar um varietal daquela cepa.
A vinícola mantém um segundo rótulo com o nome Dvald.

126 Roge rio D ard ea u


DOM ELIZIARIO, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (C) - EnoT
domeliziario.com.br
Uma das poucas vinícolas da região do Vale dos Vinhedos com
origem portuguesa e, certamente, entre as butiques de vinhos, a
de menor área de vinhedos: precisamente 1,46 hectare. O nome
homenageia a memória de Eliziario Chaves, o patriarca da famí-
lia. Desde a constituição, está dedicada exclusivamente aos vi-
nhos brasileiros de terroir, aptos à guarda. Em razão disso, a vinícola não dispõe de vinhos em
todas as safras. Em 2018, iniciaram operação de instalações de varejo, projetadas pelo escritó-
rio de arquitetura de Vanja Hertcert. Uma edificação que se debruça sobre o vale, com belíssi-
ma vista. O local ainda terá novos espaços, como uma capela dedicada a N. S. das Graças, com
"uma perspectiva de espiritualidade aberta", como nos afirmou a senhora Maria Bernardete
Chaves Müller, esposa de Pedro Müller, gestor dos negócios da vinícola, com os filhos Renata e
Rafael. Os vinhos são sempre elaborados pelo enólogo Sandro Valduga, na cantina da Vinícola
Terragnolo. São rótulos muito exclusivos, sempre sob a denominação Dom Eliziario. Em 2019,
estavam em comercialização: Chardonnay 2016; Cabernet Sauvignon, Merlot e Reserva 110
Anos, os três da colheita de 2005; Merlot, Marselan e Merlot Rosé, da safra 2011; Marselan
2012. Para 2020, a casa prepara o lançamento do vinho Capela dos Vinhedos, um corte Caber-
net Sauvignon + Merlot, da safra de 2012.

DON LAURINDO, Vinícola


Gr IV - 1991 - VBdT* - (C histórica) - EnoT- 'VdoBr' 72
donlaurindo.com.br
Estabelecida por Laurindo Brandelli na Linha 8 da Graciema.
Laurindo já não está entre nós, desde novembro de 2014. A em-
presa é totalmente familiar, e os filhos Ademir, Adelar, Afonso,
Mareio e Magda, por muitos anos, tiveram, juntos, relevantes
papéis na vinícola. Em 2008, os dois mais novos saíram para atuar em projeto próprio, a Vi-
nícola Almaúnica. Ademir Brandelli, o enólogo, que desde o início da atuação profissional se
destacou como um dos nomes mais respeitados entre a jovem Enologia brasileira, adquiriu
a parte dos demais irmãos e, agora, dirige a vinícola com os filhos Lucas (agrônomo) e Moi-
sés (enólogo) . São 15 hectares de vinhedos. Os vinhos Don Laurinda (denominação única da
empresa) se caracterizam por uma presença de madeira (carvalho novo e de reuso) a amaciar
varietais nobres e cortes marcantes. Além dos cortes Comemorativo 80 Anos, Estilo e Gran Reser-
va, apresenta varietais de Ancellotta, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot (DO em diversas
colheitas) e Tannat, e das brancas Chardonnay (DO, também em diversas safras) e Malvasia
de Candia. A vinícola ainda apresenta espumantes e um vinho licoroso, tipo Porto. Em 2019,

72 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Ge nte. Luga res e Vinho s do Bras il 127


a vinícola lançou o Don Laurindo Clássico 2017, um inusitado vinho de cofermentação de
Merlot (60%), Cabernet Sauvignon (25%) e Tannat (15%) , com 12 meses de estágio em barricas
de carvalho francês.

GRAN LEGADO Vinhos e Espumantes


Gr II - 2008 - (C) - VBdT
granlegado.com.br
Vinícola estabelecida a partir da antiga propriedade da Maison
Forestier, como investimento do Grupo Tecnovin/Suvalan. Foi
inicialmente denominada Wine Park Ltda. Tem origem em um
grupo empresarial do mundo vitivinícola. Os vinhedos estão
dentro da área da DOW e em Garibaldi, junto à cantina que
pertenceu à Maison Forestier. Elabora sucos, vinhos finos e espumantes sob a denominação
Gran Legado, referindo tal nome à contribuição dos imigrantes italianos. O enólogo é Chris-
tian Bernardi. Há alguns anos investiu no lançamento de um corte branco (Chardonnay +
Riesling) e outro tinto (Cabernet Sauvignon + Merlot), sob o nome Onorabile, em embalagem
cartonada asséptica (marca Tetra Pak), mas a iniciativa não prosperou. Em 2009, apresentou o
Gran Legado Omaggio Espumante Nature, à base de Chardonnay (predominante) com Pinot Noir,
que teve 46 meses de estágio sur lies. As 1.200 garrafas foram disponibilizadas ao mercado em
2013. Em 2015, o grupo Gran Legado adquiriu os direitos sobre a marca Forestier, iniciando en-
tão um processo de relançamento. O espumante Forestier Nature Champenoise (Chardonnay +
Pinot Noir), apresentado em 2016, foi a partida, seguida do Forestier Blanc des Blancs, também
elaborado pelo método tradicional, com vinho base a partir de Chardonnay e Riesling Itálico. A
Gran Legado segue elaborando espumantes, com seu próprio nome, pelos métodos tradicional
e Charmat, brancos e rosados, além de um Moscatel. Os vinhos tranquilos são todos apre-
sentados em garrafas com tampas de rosca. Os secos são Chardonnay, Cabernet Sauvignon,
Merlot e um corte Cabernet/Merlot. Há ainda um vinho suave, de corte não declarado. Com
a marca Forestier, a vinícola, preferencialmente voltada aos espumantes, define com clareza
duas linhas de atuação: a Gran Legado, para vinhos de entrada, e a Maison Forestier, para
produtos mais sofisticados.

LARENTIS, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (C) - EnoT
larentis.com.br


Vinícola familiar também dedicada integralmente aos vinhos finos,
elaborados em cantina própria, com uvas de vinhedos próprios,
em área de 14 hectares. Foi criada por Cilo Larentis, com os filhos
LARENTIS Olivar, Larri e Celso. Contou logo com a assessoria enológica do
conceituado Aldérico Sassi. Elabora espumantes, vinhos brancos
e tintos. Sob a denominação Larentis Cepas Selecionadas, traz os varietais Ancellotta, Marselan e
Teroldego. Já sob a denominação Larentis Reserva Especial, trabalha com as castas tintas Cabernet
Sauvignon, Malbec, Merlot e Tannat. Nessa linha, as quantidades produzidas não excedem 3.000

128 Rogerio Dardeau


garrafas por rótulo. Há ainda uma linha Varietais, em que se oferece um Chardonnay, e outra de
espumantes. Os ícones da casa são o Larentis Gran Reserva Mérito 2012 (60% Merlot, 20% Caber-
net Sauvignon, 10% Ancellotta e 10% Marselan) , com graduação alcoólica de 13%, do qual se
elaboraram 1.000 garrafas, e o Larentis Gran Reserva Merlot Sta. Lúcia DO 2013. A empresa vem
investindo fortemente no público jovem, por meio da linha Varietais. Mantém ainda uma linha
denominada Vigna D'Oro, composta de vinhos finos correntes, apresentados em embalagem bag-
-in-box. O jovem enólogo André Larentis é um dos nomes que despontaram no Tempo Novo da
enologia brasileira. Foi o responsável pelo primeiro varietal da casta Teroldego da vinícola, muito
elogiado por apreciadores Brasil afora. A cantina é própria e está equipada para uma produção de
80.000 litros/ano. A casa tem intensa programação de enoturismo, especialmente na colheita.

LIDIO CARRARO, Vinícola Boutique


Gr IV - 1998 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr' 73
lidiocarraro.com
Fundada por Lidio Carraro e, hoje, conduzida por ele, pela esposa
Isabel e os filhos Juliano, Patrícia e Giovanni. Foi a primeira vinícola
brasileira a ter vinhos nas lojas duty free dos aeroportos brasilei-
LJDJO CARRARO
VllllCOJ.A BOUTIQUE
ros. Trata-se de empresa inovadora, comprometida com uma gestão
integrada e sustentável. Em seus vinhedos, faz uso da tecnologia
Thermal Pest Control, o TPC, para um cultivo orgânico. São 7 hec-
tares de vinhedos no Vale dos Vinhedos e outros 48 hectares, em produção, sobre propriedade
de 230 hectares, em Encruzilhada do Sul, na excelente região vitícola da Serra do Sudeste Gaú-
cho. A vinícola foi pioneira na adoção da viticultura de precisão, com parcelas de cultivo, após
estudos das próprias áreas. Notabiliza-se pela ortodoxia na elaboração de vinhos sem madeira
e privilegia a qualidade dos frutos, difundindo o que chamam de "filosofia purista". O conceito
de "filosofia purista" abarca os seguintes requisitos, segundo a empresa: vinhedos próprios,
colheita manual, produção limitada, vinificação por parcelas, sem madeira, sem filtração
(exceto para os vinhos que não fazem fermentação malolática, cujo processo é uma filtra-
ção 'física' através de uma membrana), sem adição de açúcar, vinificação por gravidade,
clarificação a frio, sem aditivos, sem correções enológicas. O patriarca Lidio é diretamente
responsável pelos vinhedos, em Encruzilhada do Sul, e o filho Giovani atua na Enologia. O
também enólogo Juliano hoje está mais à frente da política comercial da empresa. A irmã,
Patrícia, cuida do marketing, enquanto a mãe, Isabel, gerencia pessoalmente toda a recepção
de visitantes. A Vinícola Lidio Carraro tem forte presença em apoios e patrocínios de eventos
esportivos, tendo desenvolvido vinhos para a Copa do Mundo da Fifa e para as Olimpíadas,
além de assinar o espumante oficial do Rio Open de tênis. Mantém as seguintes linhas de
comercialização, todas VBdT: Lidio Carraro Solo 2004 - edição especial (única) comemorativa

73 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 129


do primeiro estudo de parcelamento de solos e microclimas do Vale dos Vinhedos, lançada em
2017; Grande Vindima -vinhos superiores, de grandes safras (Quorum, Merlot e Tannat) ; Singular
- varietais de castas singulares, tais como Teroldego, Tempranillo e Nebbiolo; Elos - bivarie-
tais; Agnvs - varietais com uvas de Encruzilhada do Sul; Dádivas, Faces do Brasil e Selo - vinhos
de entrada. O Quorum, um corte robusto entre Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e
Tannat, é um dos bons exemplares de VBdT da casa.

MARCO LUIGI, Vinícola


Gr IV - 1946 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
marcoluigi.com. br/
Fundada por Marco Luigi Valduga, patriarca da família. Essa foi a
vinícola original da família Valduga, assumida posteriormente pelo
filho mais novo, Victor. São 32 hectares de vinhedos, onde estão
implantadas as variedades Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardon-
nay, consideradas as tradicionais, além de Tempranillo, Touriga Na-
cional, Malbec, Ancelotta, Moscatel e Glera. Elabora, em cantina própria, espumantes, brancos e
tintos sob uma única denominação, Marco Luigi, segmentada em Gran Reserva, Reserva da Família,
Reserva, Tributo e bag-in-box. O enólogo é Leonardo Valduga. Essa vinícola mantém estoque de sa-
fras antigas VBdT (Vinhos Raros) à disposição dos enófilos. A vinícola conta, hoje, com um amplo
e bem localizado centro de eventos num ponto privilegiado do Vale dos Vinhedos.

MICHELE CARRARO - Reserva da Cantina


Gr IV - 1987 - VBdT - (C) - EnoT
michelecarraro.com. br
A atividade vitivinícola do imigrante Michele Carraro foi iniciada
como cantina rural, na Linha Leopoldina, em Bento Gonçalves.
Algumas gerações depois, foi consolidada com a fundação da vi-
nícola Reserva da Cantina, no Vale dos Vinhedos, pelos bisnetos
Carlos Miguel, Ivair e Vilson. Ali, são 12 hectares de vinhedos e
cantina própria, onde são elaborados vinhos finos de perfil leve,
que evidenciam as variedades de que têm origem, sem passagem por barricas de carvalho.
Entre os vinhos secos, os tintos são o forte dessa vinícola familiar. São varietais de Ancellotta,
Barbera Piemonte (o ícone da casa), Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec e Merlot.

MILANTINO, Vinícola
Gr IV - 1989 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
milantino.com.br
Vinícola estabelecida pela família Milani, integralmente dedica-
da aos vinhos finos. Elabora varietais e cortes, a partir de uvas
colhidas em 7 hectares de vinhedos próprios localizados na pres-
M I LANTINO tigiada DOW (Denominação de Origem Vale dos Vinhedos) . A
casa trabalha com as variedades brancas Chardonnay e Malvasia

130 Roge ri o D ard ea u


de Cândia. Aliás, são excepcionais os varietais Milantino da Malvasia de Cândia. As tintas são
Ancellotta, cujos vinhos têm grande tipicidade, Cabemet Sauvignon, Merlot, Tannat e Teroldego.
Os tintos têm demonstrado ótima longevidade, especialmente os varietais de Ancellotta e o corte
entre Cabemet Sauvignon, Merlot e Ancellotta. Os exemplares das colheitas de 2005 e 2006,
em degustações no ano de 2018, se apresentaram notáveis! O enólogo é o proprietário Luiz
Milani, que, desde o início dos anos 2000, admitiu como sócio Sadi Andrighetto, que fortaleceu
o perfil e a vocação por vinhos estilo 'premium'. Dessa constituição societária, nasceu uma nova
cantina, ampla, com arquitetura contemporânea, totalmente adaptada ao enoturismo. Safras re-
centes exibem, nos rótulos, pinturas de Menelaw Sete, artista baiano, que leva muita elegância
à apresentação dos vinhos. Sadi é um gaúcho de Cruz Alta que fez carreira como advogado, ali-
mentando o sonho de, um dia, ser um produtor de vinhos. Em certo momento da vida, viu a pos-
sibilidade e se associou à Milantino, que segue com a filosofia de vinhos complexos e longevos.

MIOLO WINE GROUP - MWG


Gr 1- 2009 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr"4
miolo.com.br/controller.php
A história do Miolo Wine Group é bastante singular. O berço

MIOLO
W J N E G R O U P
foi a Vinícola Miolo, criada em 1989, que teve um vertiginoso
crescimento, sustentado pela eficiente comercialização (aliada a
uma estrutura competente de distribuição) de seus vinhos finos
correntes, especialmente o Miolo Seleção tinto. Sempre buscou
elaborar pequenas partidas de vinhos brasileiros de terroir, a partir de safras próprias muito
especiais. Mediante uma sequência exitosa de alianças estratégicas, associou definitivamente
o nome a vinhos brasileiros de terroir. Em 2006, assumiu o desenho organizacional de grupo
empresarial. No final de 2009, o grupo adquiriu o controle acionário da Almadén, do grupo
francês Pemod Ricard, e realizou estudos profundos das regiões onde está, de modo a definir
parcelas de terra e suas vocações vitícolas. Cada vinícola do grupo aparecerá, adiante, na re-
gião onde se encontra: Vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS (Serra
Gaúcha); Vinícola Almadén, na Campanha Gaúcha (Santana do Livramento); Vinícola Seiva!,
na Campanha Meridional; e Vinícola Terranova (antiga Fazenda Ouro Verde), no Vale do São
Francisco. É importante registrar que o MWG não tem vinhos de mesa no portfólio. Tem, sim, o
que chamo de 'vinhos finos correntes', foco do negócio da Almadén, por décadas, mas também
elaborados pela Vinícola Miolo. Mas o MWG mantém a política de elaborar rótulos 'singulares',
Vinhos Brasileiros de Terroir, como denomino, que serão citados adiante, nos textos de cada
uma das quatro vinícolas (Miolo, Almadén, Seiva! e Terranova) do grupo. O MWG atua ainda
no mercado internacional, não somente como exportador, mas importador, a partir das vinícolas
parceiras Viasul (Chile), Osbome (Espanha e Portugal) e Los Nevados (Argentina).

74 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 131


MIOLO, Vinícola
Gr I - 1989 - VBdT* - (C histórica) - EnoT- 'VdoBr'
miolo.com.br/controller.php
A Vinícola Miolo é o berço e principal empresa do grande Miolo
.- Wine Group. Do lote 43, parcela de terra entregue ao imigrante
Giuseppe Miolo, em 1897, no Vale dos Vinhedos, ao estabeleci-
MIOLO mento do MWG, com quatro vinícolas, em quatro terroirs distintos,
todo o crescimento é devido às conquistas empresariais da Viníco-
la Miolo. Os irmãos Darcy, Antônio e Paulo Miolo, netos de Giu-
seppe, foram os precursores. Adriano Miolo, enólogo e líder de negócio, é, hoje, referência em-
presarial no ambiente dos vinhos finos brasileiros, assim como seus irmãos Alexandre e Fábio,
respectivamente, no Rio de Janeiro e em São Paulo, nas estratégias de comercialização setorial. A
Vinícola Miolo vem praticando uma viticultura de precisão: identificou as manchas de solo para,
em seguida, definir parcelas. No Vale dos Vinhedos, estão identificados os vinhedos Leopoldina,
Graciema, Santa Lúcia (integralmente Pinot Noir), Monte Belo e São Gabriel. São 100 hectares,
com 63 parcelas identificadas. Nascem de uvas desses vinhedos, na cantina da Vinícola Miolo, os
seguintes vinhos brasileiros de terroir, todos com a identificação da Denominação de Origem Vale
dos Vinhedos: Cuvée Giuseppe Chardonnay, um vinho branco de corpo, com frescor; Cuvée Giuseppe
Tinto; Merlot Terroir; e os espumantes Miolo Millésime e Miolo Cuvée Tradition. Um dos ícones da
casa é o Lote 43, notável corte Merlot + Cabernet Sauvignon, de safras especiais. Esse nome
homenageia a parcela de terra comprada pelo imigrante Giuseppe Miolo, que chegou ao Brasil
em 1897, onde hoje está localizada a vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos. Com uvas Viognier
e Gewurztraminer colhidas na Campanha Gaúcha, nasceu também aqui o Late Harvest 2012,
de uvas supermaduras, vinificadas tradicionalmente, com maturação por 60 meses em barricas
de carvalho francês. Trata-se de um delicioso vinho de sobremesa, com 13,5% de teor alcoólico.
O ano de 2018 está batizado pela Miolo como "o ano dos vinhos lendários". Grande parte dos
vinhos já é de vinhos nobres, uma vez que têm teor alcoólico acima de 14,1 %. Em 2019, come-
morando os 30 anos da vinícola, a Miolo lançou seu primeiro espumante nature, o exclusivíssi-
mo Íride, que repousou sobre borras por dez anos. O vinho base foi um corte entre Pinot Noir
(75%), do Vinhedo Santa Lúcia, e Chardonnay (25%), do Vinhedo São Gabriel. Foram apenas
1.830 garrafas. Em 2020, a vinícola lançou o que se revelava o
primeiro vinho de colheita daquela safra, no mundo, tirando pro-
veito da localização no hemisfério Sul. Foi apresentado o Miolo
Gamay Nouveau 2020 (12,5%), com uvas da Campanha Gaúcha,
elaborado com levedura selvagem e sem adição de SOz- Como
registrei no início, são os naturebas influenciando a produção de
grande porte. O vinho inclusive incorporou o selo vegano ao ró-
tulo, assegurando também estar livre de alergênicos.

132 Rogerio Dardeau


MIOLO WINEMAKER
Gr Vb - (VBdT*)
Trata-se de um relevante projeto da Vinícola Miolo. Desde 2008,
periodicamente, são abertas inscrições para formação de enólogos
amadores. Durante o Winemaker Miolo, os participantes se en-
volvem em todo o processo de elaboração de um vinho, des-
de o vinhedo até o desenvolvimento do design do rótulo. O
projeto é integralmente supervisionado por Adriano Miolo,
enólogo da vinícola, e pela equipe técnica do grupo. O vinho
elaborado no Winemaker é um Merlot, que pode receber em seu corte outros vinhos, a
serem definidos pelo grupo. O vinhedo exclusivo do Wmemaker é uma das melhores
parcelas da família e está localizado dentro do histórico Lote 43, na região demarcada do
Vale dos Vinhedos. Ao longo de seus dez anos, com vinhos em 2009, 2011, 2013, 2015 e 2017,
o projeto formou cinco turmas de Winemakers do módulo 'Vinhos Tintos' e duas turmas do mó-
dulo 'Espumantes'. Passaram pelo programa mais de cem apaixonados pelo universo do vinho.
O Winemaker Miolo conta também com o entusiasmo do enólogo Miguel Ângelo Almeida, que
inclusive recomendou uma edição de tintos fora da Serra Gaúcha, com a uva Touriga Nacional,
de vinhedos da Miolo, na Campanha. Reproduzimos, a seguir, algumas histórias de vinhos pes-
soais, nascidos no Winemaker Miolo.

JULIO GOSTISA - Voglio Vincere


Gr Vb - (VBdT)
Julio Gostisa é um experiente administrador, com formação internacional. Em 2009, quando
voltava dos Estados Unidos, conheceu Adriano Miolo, que o estimulou a ingressar no Wine-
maker Miolo. Ele não teve dúvida: participou da turma de 2011, tornando-se um entusiasta do
programa, a ponto de ter presença nas edições seguintes. Ao final de sua primeira participação,
Adriano Miolo identificou o perfil do profissional e o apresentou a Anthony Darricarrere. Logo,
Julio Gostisa viria a ser o diretor Comercial da Routhier & Darricarrere, vinícola apresentada,
neste livro, no ambiente Campanha Gaúcha. Os vinhos queJulio Gostisa rotula, a partir do Wi-
nemaker Miolo, sempre levam o nome Voglio Vincere, em homenagem aos avós, que utilizavam
tal expressão, quando chegaram ao Brasil. Mas a paixão desse produtor pessoal está sempre
criando vinhos exclusivos, como o Los Padres, vinificado numa cantina, no subsolo de uma
gráfica, em Santa Maria, RS. "Lá nos padres, debaixo da capela, uma austera cantina, uva se fez vinho!
Lá naquele porão, amigos e irmãos, filósofos e críticos viram tempo passar, ao ritmo de baco, rei que brilha."
(rótulo do Los Padres 2014).

PAULO UMPIERRE - Gran Canário


Gr Vb - (VBdT*)
Paulo Umpierre é um empresário, gaúcho de Bagé, apaixonado por vinhos desde a juventude.
O avô Martim Umpierre foi um imigrante das Ilhas Canárias que, na metade do século XIX, de-
cidiu ir para o Uruguai. Posteriormente, Martim Umpierre veio para o Brasil, estabelecendo-se
em Dom Pedrito. Ali, deu início à família brasileira. No final da década de 1990, início dos anos

Gente. Lu gares e Vinhos do Brasil 133


2000, a curiosidade de Paulo Umpierre por vinhos aumentou. Ele não queria somente beber.
Desejava apreciar. Fez então uma visita ao Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e sentiu mais
ainda a necessidade de se aprofundar, como eu gosto de dizer, para apreciar melhor. Participou
então de cursos e degustações orientadas, inclusive de edições do Miolo Wine Day, no Vale dos
Vinhedos e na Campanha Gaúcha. Nessas experiências, os participantes são envolvidos por to-
das as tarefas clássicas da vitivinicultura. Em 2005, Paulo cria uma confraria entre familiares e
amigos, sempre prestigiando o vinho fino brasileiro e as degustações às cegas. Em 2011, Paulo
viaja à Itália, acompanhando um dos excelentes grupos organizados e acompanhados pela enólo-
ga Maria Amélia Duarte Flores, da Vinho & Arte, de Porto Alegre. Ao regressar, está mais apai-
xonado do que nunca pelo mundo dos vinhos e cria o blog "Vinhos do Umpierre - Tudo sobre o
Mundo do Vinho de forma Livre, Leve e Descontraída", para partilhar experiências. Veio então
a tão sonhada aposentadoria, em 2015, para fruição, qualidade de vida. Nesse ponto, ele se per-
gunta: por que não fazer algo no mundo do vinho? Descobre então a quinta edição do programa Miolo
Winemaker, que introduz enófilos na elaboração de um vinho, em aulas práticas e metas. Paulo,
então, mergulha no processo com imenso compromisso. Daí, nasce o "Vinhos do Umpierre Gran
Canário 2017 DO Merlot/Cabernet Sauvignon 13,5%". Paulo, desde menino, dada a origem
familiar, habituou-se ao tratamento 'canário' dado aos descendentes. Nada mais apropriado ao
nome escolhido. O vinho é um corte bordalês clássico, nos moldes do ícone da Miolo, o Lote 43.
As uvas Merlot foram colhidas em dois vinhedos: 60% no próprio lote 43 e 20% provenientes do
vinhedo Winemaker. As uvas Cabernet Sauvignon (20%) são do vinhedo São Gabriel, em Monte
Belo do Sul. O vinho estagiou por dez meses em barricas de carvalho francês, de segundo uso,
tendo sido o primeiro uso pelo Miolo Lote 43. Paulo Umpierre não tem pretensão de adquirir
vinhedo, nem cantina, mas, como empreendedor nato que é, só o futuro dirá. Torçamos para que
ele desenvolva novas parcerias com o afinco que desenvolveu a criação do Vinhos do Umpierre
Gran Canário 2017 DO. Pois é, e como empreendedor incansável, criou, em 2020, o projeto Des-
cobertas do Umpierre. Com essa iniciativa, Paulo Umpierre, após apreciar determinados vinhos,
estabelece entendimentos com os produtores e cria uma oferta por suas redes. Os interessados
então adquirem, a preços especiais, diretamente. A primeira oferta foi de um kit de seis vinhos
da Vinícola Cristofoli. Foram montados 20 kits e 17 vendidos em uma semana. É um serviço
muito especial ao vinho fino brasileiro.

PECULIARE Vinhos Finos - Cantina Oi Zorzi


Gr IV - 2003 - VBdT* - (C) - EnoT
peculiare.com.br
Empreendimento da família di Zorzi (Casa di Zorzi). São 7 hec-
tares de vinhedos, com as variedades viníferas Chardonnay, An-
cellotta, Cabernet Sauvignon e Merlot, além de uvas americanas. A
cantina elabora 20.000 !/ano de vinhos finos. Todos os vinhos são
elaborados com uvas próprias e têm a denominação Peculiare. Os
destaques são o Peculiare Chardonnay, que tem 50% do vinho barricado, o Peculiare Merlot DO,
com estágio de 18 meses em barricas novas de carvalho francês, e o Peculiare Gran Reserva An-
cellotta, barricado por 12 meses. A enologia está sob a responsabilidade de Ronaldo di Zorzi. A
vinícola está preparada para o enoturismo, com um varejo ativo e o restaurante Osteria Dei Valle.

134 Rogerio Dardeau


PIZZATO Vinhas e Vinhos
Gr IV -1998 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr' 75
pizzato.net
Vinícola familiar fundada por Plínio Pizzato, sua esposa e os quatro
PIZZATO filhos Flávio, Flávia, Jane e Ivo. Dedica-se integralmente à elabo-
• VINHAS E VINHOS•
ração de vinhos brasileiros de terroir. No ano 2000, lançou ao mer-
cado o Pizzato Reserva Merlot 1999, que foi considerado por muitos
especialistas o melhor Merlot brasileiro de todos os tempos. Naquela época, o enólogo era o
jovem Ivo Pizzato, recém-saído da escola de Enologia. Ivo faleceu no final de 2007, aos 29 anos.
Desde então é o irmão mais velho, o também enólogo Flávio, quem responde pelos vinhos Pi-
zzato. Os vinhedos têm videiras conduzidas em espaldeiras, em todas as variedades cultivadas.
Para o processo de vinificação, a Pizzato desenvolveu tanques de aço com relação diâmetro/al-
tura maior do que a utilizada entre outros produtores, com o objetivo de melhorar os resultados
do processo de remontagem, pela maior área de interação entre mosto e cascas. Elabora duas
linhas de vinhos com espumantes, brancos, rosados e tintos. A linha Pizzato Reserva é dedicada
aos vinhos mais nobres. No caso dos tintos, essa linha é marcada pela passagem por barricas de
carvalho americano e/ou francês. Entre esses vinhos, está o Pizzato Reserva Egiodola, cultivar rara
entre nós. A linha Pizzato Fausto é a segunda linha da vinícola e tem apenas uma pequena parte
do volume com estágio em madeira. Os destaques da vinícola são os tintos Pizzato Merlot Reserva
DNA 99 - Single Vineyard, o Pizzato Reserva Concentus, um corte entre Merlot, Tannat e Cabemet
Sauvignon, e o Fausto (de Pizzato) Gran Reserva Verve 2009, um corte entre Cabemet Sauvig-
non, Merlot e Tannat, com 12 meses de barrica francesa. O Pizzato Legno Chardonnay 2011, com
passagem por barrica francesa Perle Blanche, é o destaque branco. Em 2013 foi apresentado o
vinho tinto suave76 fino Pizzato Fausto Violette, corte entre Cabemet Sauvignon, Merlot e Alicante
Bouschet. Os espumantes são clássicos, mas há também o Vertigo Nature Branco Tradicional, sem
dégorgement. Flávio Pizzato, além das responsabilidades com a própria vinícola, assessora alguns
outros projetos vitivinícolas, como, por exemplo, o A.R.M.M. 77 Recentemente, desenvolveu um
espumante exclusivamente para a Importadora Hannover, o Charlotte Brut, a pedido de Niels
Bosner, sócio daquela empresa. O nome é o da mãe de Niels, que foi uma pianista de renome
no Rio Grande do Sul. A Pizzato tem ainda a denominação Allumé, para vinhos finos correntes,
elaborados para comercialização pelo Grupo Pão de Açúcar. A produção total da vinícola está em
300 mil garrafas por ano.

75 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
76 Açúcar residual de 55 g/1.
77 Iniciais de Alexandre Rodrigues e Marcel Miwa.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 135


TERRAGNOLO, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (C) - EnoT
terragnolo.com.br
Empreendimento do casal Sandro e Shana Valduga. Sandro é bis-
TERRAGNOLO neto de Luigi Valduga, o imigrante que deu origem a uma gran-
\\:lledosVfr,l.w<fos
de família de vitivinicultores brasileiros. O nome homenageia a
origem dos ascendentes, a Comuna de Terragnolo, na Província de Trento, no norte da Itália.
Trata-se de organização tipicamente familiar, da qual participa também a irmã de Sandro,
Giovana, além dos pais e da cunhada. São 3 hectares de vinhedos, com cantina e uma elegante
pousada. Além de vinhos, o casal elabora geleias e sucos. A vinícola privilegia as castas tintas
Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Marselan, Merlot e Pinot Noir, além das brancas Char-
donnay e Riesling para os espumantes. A primeira safra da vinícola foi a de 2005. Todos os
vinhos são barricados. Seus vinhos vêm tendo presença muito boa entre enófilos. Os vinhos
Terragnolo são apresentados em duas linhas: a chamada linha Top e a Reserva. A linha Top
homenageia os solos de onde provêm as uvas. Greda é um solo esponjoso, de calcário poroso.
Boulder é um solo com rochas de diâmetro médio acima de 100 cm, encontradas tanto na super-
fície quanto abaixo. Loess é um solo fértil, bem drenado, formado por sedimentos de fina gra-
nulação trazidos pelo vento. São os seguintes os rótulos, todos sob a denominação Terragnolo:
Espumante Brut, Chardonnay Greda Top, Marselan Boulder Top, Pinot Noir Loess, Merlot Top
DO, Merlot Reserva DO, Merlot Reserva além do corte Marselan com Cabernet Sauvignon.
A vinícola, como mencionado, mantém uma acolhedora pousada, junto à cantina, diante dos
vinhedos, com cinco suítes denominadas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay,
Marselan e Merlot. Quem se hospeda na Pousada Terragnolo ainda tem a oportunidade de
usufruir do SPA Terragnolo, com diversas modalidades de terapias, sob requisição.

Gr IV - 2000 - VBdT* - (C) - EnoT


torcello.com.br
Rogério Carlos Valduga pertence à quinta geração de vinhateiros
descendentes do imigrante Marco Luigi. Ele e a esposa, Luciana,
dedicam-se integralmente ao que denominam "menor vinícola
do Vale dos Vinhedos". O símbolo da vinícola é o Leão Alado de
Veneza, guardião da lei, símbolo de poder e mensageiro divino. São 4,5
hectares, onde estão implantadas variedades tintas. A Vinícola Torcello trabalha com uvas
brancas de viticultores parceiros. A proposta da casa é elaborar vinhos jovens leves, com uma
breve passagem em barrica, e alguns encorpados, num volume anual aproximado de 25 mil
garrafas, entre vinhos tranquilos e espumantes. A cantina é própria e está também preparada
para o enoturismo, com uma arquitetura contemporânea, muito funcional e em harmonia
com o terreno. Ali, Rogério e Luciana recebem os visitantes com todo o carinho. Os espuman-
tes são elaborados na Domno, empresa do grupo Famiglia Valduga. O vinho branco principal
é o Torce/lo Chardonnay 2018, que estagiou por 120 dias em barricas de carvalho americano,
de primeiro uso. Mas há o Torce/lo Moscato Giallo, com os aromas e a acidez gostosa da casta.

136 Rogerio Dardeau


Os ícones da casa são o Remy Valduga 78 2015, um corte entre Merlot, Cabernet Sauvignon e
Tannat, afinado por 12 meses em barricas novas de carvalho americano, e o Perfetto Tannat
2014, um vinho bastante encorpado, ainda jovem em 2018. E há ainda o Perfetto Merlot e o
Perfetto Malbec. Depois aparecem os vinhos tranquilos de entrada, que são o Torce/lo Merlot, o
Torce/lo Cabernet Sauvignon e o Torce/lo Tannat. Esses três varietais têm metade do volume afi-
nado em barricas de carvalho francês . O Torce/lo Espumante Brut (12,0%) é um elegante corte
entre 80% Chardonnay, 15% Pinot Noir e 5% Merlot. Na Vinícola Torcello, há vinificações
realizadas apenas com levedura selvagem. No entanto, se essa não for suficiente, a presença
do vinhateiro Rogério verificará e adotará a adição de levedura selecionada.

VALDUGA

VALDUGA, Famiglia
Gr I - 2010- VBdT* - 'VdoBr' 79
O Grupo Famiglia Valduga está sediado no Vale dos Vinhedos, em
* * Bento Gonçalves, RS. É formado pelas empresas Casa Valduga, a tra-
*
FAMIGLIA V ALDUGA Co.
dicional vinícola, com forte presença no mercado de vinhos brasilei-
ros de terroir; Domno Importadora, fundada em 2008, voltada à im-
portação80 e distribuição de vinhos, bem como à elaboração de espu-
mantes e vinhos tranquilos, sob as denominações .Nero (ponto Nero) e Alto Vale, com a aquisição,
pelo grupo, das instalações da Allied Domecq Brasil, em Garibaldi, capital brasileira do espumante;
Casa Madeira, voltada à produção e comercialização de sucos, chás preparados e comestíveis finos
em conserva; Cervejaria Leopoldina; Vinotage, empresa pioneira no Brasil na fabricação de cosméti-
cos à base dos óleos das sementes das uvas. Há, ainda, a Confraria Famiglia Valduga, uma operação
de e-commerce do Grupo e outras empresas. O grupo Famiglia Valduga é importador de variados
rótulos do mundo para o Brasil, e tem atuação produtiva no Chile, na Argentina e em Portugal.

CASA VALDUGA
Gr I - 1985 - VBdT* - (C histórica) - EnoT- 'VdoBr'
casavalduga.com.br
Fundada por Luís Valduga, o irmão mais velho dos três filhos de
rnfntni Marco Luigi Valduga, Luís, Cândido e Victor, a Casa Valduga tam-
C ASA VALDUGA bém avançou sua organização como grupo empresarial. A produ-
OF. S0 1: 1875

78 Remy Valduga é o pai de Rogério Carlos Valduga . Trata-se de uma pessoa de grande memória e
sensibilidade. É autor, entre outros livros, de Sonho de um imigrante (Letra & Vida Editora - Porto Alegre,
2010), no qual narra, com emoção, a saga da imigração italiana ao Sul do Brasil.
79 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
80 Importação iniciada por meio de parceria com Carlos Pulenta (Argentina), com os rótulos Tomero, Árido e
Vistalba (Corte A , Corte B e Corte C) e a também argentina Sottano.

Ge nte. Lugares e Vinh os do Bras il 137


ção anual supera dois milhões de garrafas, a partir de uvas de 150 hectares de vinhedos próprios,
localizados nas três principais áreas vitícolas do Rio Grande do Sul. A tradição de espumantes
elaborados pelo método tradicional é marca da casa. A bela cantina, no Vale dos Vinhedos, é a
maior adega de espumantes da América Latina, com espaço para 6 milhões de garrafas. Aliás, os
espumantes da casa costumam trazer explícito no contrarrótulo o tempo de autólise, uma ótima
informação. A Enologia está a cargo de João Valduga, Daniel Dalla Vale e uma equipe. A direção
conta, além de João, com os irmãos Erielso e Juarez Valduga, gestão hoje integrada também por
netos do fundador. A Casa Valduga teve origem na Serra Gaúcha. Atualmente, também tem
vinhedos em Encruzilhada do Sul, região da Serra do Sudeste Gaúcho, e na Campanha Gaúcha.
Em novembro de 2011, a Câmara de Vereadores de Uruguaiana aprovou as condições da trans-
ferência para a Casa Valduga dos vinhedos, equipamentos e cantina da Cooperativa Vinoeste, no
distrito de São Marcos, naquele município, em plena Campanha Gaúcha. A presença nessas três
regiões motivou a vinícola a estabelecer três linhas de vinhos identificados a cada terroir: Leopoldi-
na, no Vale dos Vmhedos, Identidade, na Serra do Sudeste (com centro no município de Encruzi-
lhada do Sul), e Raízes, na Campanha Gaúcha. A Casa Valduga, depois de ter o nome associado a
vinhos singulares, vinhos brasileiros de terroir, se apresenta, também, como produtora de vinhos
finos correntes, mais populares. A Villa Valduga, no Vale dos Vmhedos, oferece programas re-
gulares de enoturismo, contando com restaurantes e pousada. Os rótulos: Luiz Valduga NV, um
corte secreto, em homenagem ao fundador; Naturelle - vinhos suaves; Duetto - bivarietais; Arte
- consumo diário, inclusive bag-in-box; Premium - varietais nobres, inclusive um rosado Merlot e
espumantes; Leopoldina, com destaque para o icônico espumante Maria Valduga Brut Champenoise,
o Gran Chardonnay DO e o licoroso 1875; Identidade -varietais exóticos (Ancellotta, Marselan,
Arinamoa); Amante - espumante e vinho rosado (Amante, elaborado com 100% de uvas Malbec,
dos vinhedos da empresa, em Encruzilhada do Sul); Raízes, com destaque para o Gran Corte e
para o varietal Cabemet Franc; Mundvs - exemplares de Argentina, Chile e Portugal, vinificados
nas origens, sob supervisão de profissionais da Casa Valduga; Casa Valduga Gran Reserva - dois
espumantes (nature e extra brut), um branco (Chardonnay) e um tinto; 130 - espumante brut
champenoise, em homenagem aos 130 anos da chegada da família Valduga ao Brasil, em 1875;
Casa Valduga Sur Lie; Villa-Lobos Cabernet Sauvignon; Storia Merlot. Recentemente, a casa criou as
linhas Terroir e Terroir Exclusivo. A Terroir nos traz os varietais Cabemet Sauvignon, Cabemet
Franc e Sauvignon Blanc, da Campanha Gaúcha; Gewurztraminer e Pinot Noir, da Serra do Su-
deste; Chardonnay, Merlot e Merlot Rosé, do Vale dos Vinhedos. A linha Terroir Exclusivo apre-
senta Viognier, o corte Syrah + Viognier, além dos tintos Arinamoa, Malbec e Marselan, da Serra
do Sudeste, complementados por um Tannat, da Campanha Gaúcha. A Casa Valduga é dos raros
produtores brasileiros que elaboram vinhos Kosher, sob a supervisão rigorosa de rabinos, na tra-
dição judaica. Uma das boas expressões é o espumante Mevushal. Nos últimos anos, a vinícola
vem investindo em pesquisas para obtenção de vinhos com menor intervenção química, já tendo
lançado vinhos com expressiva redução do uso de SOi- A Casa Valduga se notabiliza, ainda, pelos
brandies, com dez, quinze e vinte anos, e grappas que destila. Ah, sim, se você aprecia vinhos
maduros, com muitos anos de garrafa, consulte a Enoteca da Casa Valduga. Há rótulos com mais
de vinte anos sensacionais.

138 Rogerio Dardeau


VALLONTANO Vinhos Nobres
Gr IV - 1999 - VBdT* - (C) - EnoT
vallontano.com.br
Trata-se de empreendimento iniciado por Edir e Nedi Valduga,
com os filhos Giovani (não mais entre nós), Vander, Mateus,
Eduardo e Lucas, além do enólogo Luis Henrique Zanini. É uma
vinícola totalmente dedicada aos vinhos brasileiros de terroir.
Atualmente, a casa está sob a direção de Zanini, que inspira a
enologia, diretamente cuidada por Fernando Andreazza. O nome da vinícola é uma corruptela
das palavras italianas valle e lontano, no significado de "vale distante", remetendo à distância
que separa a origem europeia da família da localização da vinícola, no hemisfério Sul. Em 7
hectares de vinhedos próprios, a Vallontano cultiva as castas Chardonnay, Cabernet Sauvig-
non, Merlot, Pinot Noir e Tannat. A cantina própria dispõe de bons recursos tecnológicos, mas
seus técnicos privilegiam o conhecimento. Algumas tarefas ainda são manuais. Comprometi-
da com a elaboração de vinhos exclusivos, elabora varietais (brancos e tintos) e espumantes,
na busca da expressão do terroir em que se localiza, por meio de práticas não intervencionistas.
Produze, no máximo, 60 mil garrafas por ano. Uma visita à vinícola, com um bate-papo infor-
mal no Café Vallontano, junto à cantina, bem no início do Vale dos Vinhedos, será certamente
inesquecível. A empresa tem cuidados com o meio ambiente e já instalou uma estação de tra-
tamento de efluentes. A enologia de Zanini segue inspirada pelas práticas adotadas no mítico
Domaine de Montille, na Borgonha, onde ele trabalhou e aprendeu a expressar a individuali-
dade de cada microclima. Os vinhos da casa são todos comercializados sob as denominações
.Vallontano, com varietais e espumantes de entrada, Vallontano Reserva e LH, para edições
especiais. O espumante LH Zanini Extra Brut 2010 (75% Chardonnay + 25% Pinot Noir) é um
dos destaques da vinícola. É ele, Luis Zanini, quem afirma, em entrevista a Didu Russo: "O
vinho me proporcionou a maior conquista de um ser humano: a liberdade de ser ele mesmo. Não interpreto
personagens, amo o vinho, as videiras, as pedras, a chuva, o vento, o sol. Estar ligado à natureza e ser par-
te dela é atingir a plenitude da alma. Sinto-me um pouco engarrafado em cada vinho que faço" (site Didu
Russo). Em 2013, a Vallontano lançou o Rosé Tempranillo, com uvas selecionadas, em vinhedos
parceiros nos Caminhos de Pedra, localizados no jovem município de Pinto Bandeira. Um dos
lançamentos novos é o Vallontano LH Zanini Tinto 2013, um corte inusitado entre Ancellotta
(30%), Tannat (30%) , Teroldego (30%), Alicante Bouschet (5%) e Tempranillo (5%).

VANESSA KOHLRAUSCH MEDIN


Gr V - 2014- (VBdT*) - (C)
Vanessa Kohlrausch Medin é uma jovem vinhateira (enóloga), de
uma família que trouxe o vinho na alma, como muitas originadas
dos ciclos migratórios de europeus ao Brasil. Em 2014, Vanessa
ganhou do pai um lindo presente: 1 hectare de Chardonnay, na pro-
priedade da família. Naquela ocasião, Vanessa já trazia no currículo
uma significativa experiência, da passagem que teve pela Vinícola
Miolo, em todos os terroirs em que a empresa atua. Ela então tra-

Ge nte. Lugares e Vinho s do Bra sil 139


vou contato com a elaboração de vinhos naturais, aqueles produzidos com mínima intervenção.
Hoje, a grande referência de Vanessa Medin é Pierre Overnoy, o octogenário produtor francês,
da região de Jura, que silenciosamente influencia o mundo dos vitivinicultores não intervencio-
nistas. A produção de Vanessa se dá a partir de uvas escolhidas de viticultores parceiros, que co-
mungam da filosofia de não utilização de química, nem venenos, nos vinhedos. O primeiro vinho
de Vanessa Medin foi o Rosa Evanescente Pinot Noir 2016, com uvas dos Campos de Cima da
Serra, uma breve passagem por barricas novas de carvalho francês e 12,2% de teor alcoólico, um
vinho sutil, instigante, em apenas 280 garrafas, zero S02 adicionado. Ainda de 2016, tivemos:
Olhos da Alma, um corte entre as castas Primitivo, Negroamaro, Ancellotta e Sangiovese, de
vinhedos da Campanha Gaúcha, sem sulfito adicionado, com teor alcoólico de 10,5%; Guardião
da Intuição, corte branco entre Gewürztraminer, Riesling Itálico, vinificado em estilo laranja,
elaborado com uvas dos Campos de Cima da Serra, teor alcoólico de 10,5%, sem sulfito adicio-
nado; Força da Natureza Teroldego, varietal a 100% da casta, com uvas dos Campos de Cima
da Serra, RS. Vinho sem sulfito adicionado, com 9,0% de teor alcoólico. A produção atual segue
pequena, mas com grande personalidade. "O melhor lugar para se guardar um vinho é na memória."
Esse é o princípio de Vanessa Medin, em relação aos vinhos. É o que ela busca que seus vinhos
façam conosco. E, a cada colheita, novas inspirações, novos rótulos.

OUTROS PRODUTORES NA DOVV

Além dos produtores descritos acima, na DOVV, ainda encontramos os seguintes, todos
com origem na cultura do vinho e integrantes do Grupo III - produtores tradicionais de pe-
queno a médio porte: Casa Graciema; Famiglia Tasca; Titton; Toscana.

INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA PINTO BANDEIRA - IPPB

[Nova Roma do Sul

140 R oge rio D ard ea u


Os produtores de Pinto Bandeira se organizaram na Asprovinho
- Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Vinhos de
Montanha), com os seguintes associados: Vinícolas - Cooperativa Vi-
nícola Aurora; Vinícola Geisse (Cave de Amadeu); Vinhos, Vinhedos
e Pousada Don Giovanni; Cooperativa Vitivinícola Pompeia; Viníco- Conselho regulador nil

la Valmarino. Produtores associados - Vinhos Bigolin; Vinícola Dalla 000885455


Costa; e Vinícola Terraças.
Em 13 de julho de 2010, a Asprovinho obteve o reconhecimento formal como mais uma
indicação de procedência, a IP Pinto Bandeira, estando 9% da área da IP no município de
Farroupilha. A região já está identificada como ideal para uvas de maturação precoce, como a
Chardonnay e a Pinot Noir, sendo, então, muito indicada aos espumantes. Os produtores Auro-
ra, Cave Geisse, Don Giovanni e Valmarino lideram trabalho para obtenção do reconhecimento
de Pinto Bandeira como uma IG de espumantes. Serão sempre pelo método tradicional, a partir
de vinhos base elaborados com uvas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico.
Os vinhos e as variedades autorizadas, atualmente, na IP Pinto Bandeira são:
• Vinhos espumantes finos, elaborados exclusivamente pelo método tradicional com as
castas Chardonnay, Pinot Noir, Riesling Itálico e Viognier.
• Vinhos finos tintos secos, a partir de Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon,
Pinot Noir, Tannat, Pinotage, Ancellotta e Sangiovese.
• Vinhos finos brancos secos, a partir de Chardonnay, Riesling Itálico, Moscato Bianco,
Moscato Giallo, Trebbiano, Malvasia Bianca, Malvasia de Candia, Sémillon, Peverella,
Viognier, Sauvignon Blanc e Gewurztraminer.
• Vinhos espumantes Moscatel, a partir das castas Moscato Bianco, Moscato Giallo,
Moscatel Nazareno, Moscatel de Alexandria, Malvasia de Candia e Malvasia Bianca.

GENTE que elabora vinhos finos na área


da Indicação de Procedência Pinto Bandeira - IPPB

3 ATELIER
Gr V - 2017 - (VBdT*) - (I)
Trata-se de um projeto realizado por três amigos, amantes de vi-
nhos, que desejavam elaborar vinhos com os perfis deles. João Ga-
briel Borzani Silva é um consultor em gestão de projetos vitiviníco-

........
:,,,. las. Luciano Vasconcelos é empresário. Maciel Ampese é enólogo.
,- Os três propuseram então parceria à Vinícola Don Giovanni, que
....
::a concordou em ceder uvas e cantina. O volume é bem pequeno,
menos de 1.000 garrafas por ano. Os nomes dos vinhos sugerem
fenômenos da natureza, aludindo aos estilos de cada um. Os três primeiros vinhos são: Orvalho
2017 - algo sutil e delicado-, um varietal da consagrada Chardonnay de Pinto Bandeira; Garoa -
lembrando o movimento de bolhas do espumante -, um extra brut, com 30 meses de autólise, a
partir de um vinho base Chardonnay + Pinot Noir; Névoa 2017 -algo específico e restrito como
a Pinot Noir -, um clássico varietal dessa casta, maturado por 12 meses.

Gen t e. Lu gares e Vin h os d o B r as il 141


CASAÁGORA
Gr V - 2014- VBdT* - (C) - 'N'
Hélio Marchioro é um especialista em cooperativismo, que sempre
participou da cultura de uvas e da elaboração de vinhos, para con-
sumo familiar, com o pai Alberto Marchioro. Isso o fez vinhateiro,
com uma grande preocupação em buscar incessantemente e, tanto
quanto possível, cultura orgânica e biodinâmica nos próprios vinhedos. Em 2014, iniciou o pró-
prio projeto, a Casa Ágora, em 5 hectares de área cultivável, protegidos por outros 5 hectares de
matas. Como se vê, não por acaso o projeto tem a denominação de origem grega, que nos conduz
ao local de assembleias populares, reuniões. Nada mais apropriado para quem pensa de forma
cooperativa, participativa, sendo ainda membro da diretoria da Federação das Cooperativas Vi-
nícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho) e do conselho do Ibravin. A produção ainda é bem
pequena, ao estilo vinho de garagem, com alguns poucos rótulos, de grande qualidade, inclusive
um vinho seco, elaborado a partir da vitis labrusca Isabel, casta fundamental na história da viti-
vinicultura brasileira. O destaque vai para o Casa Ágora estilo laranja, elaborado a partir de um
corte entre 60% de Moscato R2 e 40% Pinot Noir, da colheita de 2017. A Pinot teve contato com
as cascas por 12 horas, enquanto a Moscato R2 ficou por sete dias. O corte permaneceu por 11
meses em tanques, estabilizando e evoluindo, sendo engarrafado em 19 de janeiro de 2018. O
resultado é um típico vinho laranja, no qual a cor é expressão clássica do estilo: um amarelo-ou-
ro, muito brilhante, intenso. Os aromas nos remetem aos doces de frutas brancas. No paladar,
mostra uma acidez envolvente, um bom volume, e ótima persistência. Um grande vinho, do qual
foram elaboradas apenas 660 garrafas.

CHURCHILL
Gr V - 2006 - (VBdT*) - (I)
Projeto de vinho de autor, idealizado pelo empresário Nathan J.
CH URCHI LL Churchill, norte-americano, representante, no Brasil, da tanoaria
Taransaud. Churchill comentava que os vinhos tintos brasileiros já
apresentavam certa "maturidade", mas careciam de um afinamen-
to na madeira, e ele considerava o carvalho americano o indicado. O projeto tem parceria com
a Vinícola Valmarino. Nathan escolhe vinhos elaborados por Marco Antonio Salton, enólogo
daquela casa, a partir da casta Cabernet Franc, e os submete a estágios em barricas de carvalho
novo americano, tipo Canton Vintage. Os resultados foram expressivos varietais (2006 e 2008)
denominados Churchil Cabemet Franc, com as limitadas tiragens de 600 e 1.500 garrafas. O vinho
da colheita de 2010, depois de certo tempo em barrica, não agradou e foi descartado. Churchill
não elimina a possibilidade de outro vinho, mas ainda não tem projeto específico além da parce-
ria Valmarino & Churchill. Adianta, porém, o autor que outro vinho terá outro nome. Em 2013,
foi lançado o Churchill 2011 , que estagiou 18 meses em carvalho novo. O vinho Terço 2014 é
mais um exemplo notável da parceria Valmarino & Churchill. Trata-se de um corte entre Caber-
net Franc, Merlot e Tannat, na mesma proporção, com estágio de 18 meses em barricas. Foram
elaboradas somente 900 garrafas desse ícone.

142 Roge ri o D ard ea u


DON GIOVANNI
Gr IV - 1982 - (C histórica) - EnoT- VBdT* - 'VdoBr' 81
dongiovanni.com. br
Vinícola nascida no local onde havia funcionado uma espécie de
estação experimental da empresa Dreher, para o desenvolvimento
de uvas viníferas e de processos de vinificação. Após a venda da
DON GIOVANNI
Dreher à Heublein, a propriedade foi adquirida pelo casal Ayrton
Giovannini e Beatriz Dreher Giovannini. Além de vinhos brancos
e tintos, notabiliza-se pelos espumantes Brut (aproximadamente, 75% Chardonnay + 25% Pinot
Noir) , Brut Rosé (50% Pinot Noir + 40% Merlot + 10% Chardonnay) , Nature (corte do Brut), Série
Ouro Brut (aproximadamente, 60% Chardonnay + 40% Pinot Noir) e Dona Bita Brut (mesmo corte
do Série Ouro) , todos elaborados pelo método tradicional, na própria vinícola, embora também
esteja habilitada aos métodos charmat e asti. A Don Giovanni foi a pioneira na utilização de barricas
de carvalho francês para amadurecimento de vinhos, havendo inaugurado o processo em 1972,
quando lançou o Marjolet. Os destaques tintos são o Don Giovanni Cuvée, um corte entre Cabernet
Sauvignon (40%), Merlot (40%) e Ancellotta (20%) de grande estrutura, além dos varietais da Ca-
bernet Franc e da Merlot. O enólogo é Maciel Ampese. A produção, na quase totalidade, vem dos
18 hectares de vinhedos próprios. A Don Giovanni está entrando fortemente no cultivo orgânico
e também já adota o thermal pest contrai como substituição de pesticidas. O excelente brandy Don
Giovanni é também marca da empresa. A Don Giovanni mantém uma pousada de charme com seis
quartos, junto à cantina, em Pinto Bandeira. Lá, o hóspede pode retirar um espumante (ou um ou-
tro vinho) da adega climatizada localizada na sala de estar, anotar o consumo numa prancheta e se
servir à vontade. Uns dias de hospedagem por lá serão, certamente, dias de paz e deslumbramento,
especialmente se você tiver a oportunidade de trocar umas ideias com o casal Ayrton e Beatriz.

GEISSE, Vinícola
Gr IV - 1979 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
vinicolageisse.com.br
Criada pelo enólogo chileno Mario Geisse, trazido ao Brasil pela
Chandon. Geisse logo percebeu a potencialidade daquelas terras e
instalou a própria vinícola. O nome Mario Geisse é hoje referência
do espumante brasileiro, tendo orientado e apoiado muitos produ-
tores. Cave Geisse Champenoise, Cave Amadeu e Victoria Geisse são as
três denominações da vinícola no Brasil. Mario Geisse e Philippe Dumont, tradicional produtor
de champagnes, em Chigny-les-Roses, Reims, na França, uniram conhecimentos e elaboraram o
que se denominou primeiro champagne com alma brasileira. É o Geisse & Dumont l"Cru, que teve
uma partida inicial de 1.500 garrafas. O empreendedor tem ainda o projeto Família Geisse, volta-
do à elaboração de vinhos característicos em outras regiões produtoras. A denominação El Sueíio

81 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 143


tem, no Chile, no Valle Colchagua, varietais de Cabernet Sauvignon e Carménere muito expressi-
vos. Na Argentina, encontramos o EI Suefío Malbec. Os espumantes Geisse são sempre safrados:
Espumante Cave Geisse Brut 2010 (30% Pinot Noir + 70% Chardonnay); Espumante Cave Geisse Na-
ture 2010 (aproximadamente, 30% Pinot Noir + 70% Chardonnay); Espumante Cave Geisse Terroir
Rosé Brut 2008 (100% Pinot Noir); Espumante Cave Geisse Blanc de Noir 2009 (100% Pinot Noir);
Espumante Cave Geisse Blanc de Blanc 2009 (100% Chardonnay). Como recorda Sonia Denicol, edi-
tora do blog Sonia Denicol Travessias (soniadenicol.com.br), o Cave Geisse Brut 1998 (em garrafa
Magnum) encantou a crítica inglesaJancis Robinson, que o apresentou a especialistas do mundo
todo no evento Wine Future Conference 2011 , realizado em Hong Kong, quando declarou:

"Um dos mais impressionantes espumantes que me chegaram em muito tempo."


"Cada país tem sua característica e, sem dúvida, esta é uma região para espumantes."
Mario Geisse

HOOD, Vinhedos - Stephen Hood


Gr V - 2000 - VBdT* - (I)
Trata-se de investimento associado à vizinha Vinícola Geisse, com
vinhedos a 850 metros de altitude, para cultivo de Pinot Noir,
iniciativa de Stephen Hood, amante daquela casta. São vinhedos
próprios, dos quais é colhida parte das uvas Pinot Noir destinada
à elaboração dos espumantes Cave Geisse. Na colheita, preserva-se
apenas um cacho por vinha, que é deixado amadurecendo por mais três semanas. Esses cachos
geram o Vinhedos Hood Pinot Noir Fred, com a assinatura de Mario Geisse. O primeiro vinho do
projeto foi da colheita de 2011; atingiu 12,0% de graduação alcoólica. Nas safras seguintes, das
quais foram destinadas uvas ao projeto, os vinhos mantiveram a cor rubi translúcida, como os
primos nobres da Borgonha, além de jovialidade e boa presença de boca. Em geral, são elabora-
das menos de 2.000 garrafas por safra.

POMPEIA/MIRAGGIO, Cooperativa Vitivinícola


Gr II - 1965 - VM - (C)
Foi de uma crise que nasceu a Cooperativa Vitivinícola Pompeia. A Cia. Vinícola Riograndense
havia fechado um posto de vinificação na localidade e os viticultores ficaram sem uma unidade
que processasse suas colheitas. Em razão disso, 59 produtores assinaram a ata de fundação.
Entre ampla oferta de derivados de uva, elabora um varietal de Cabernet Sauvignon que é co-
mercializado em garrafões.

SALVATI & SIRENA, Cantina de Vinhos Finos


Gr III - 2000 - VBdT - (C) - EnoT
Vinícola familiar, constituída e administrada pelo enólogo Silvério
V I NÍ C O I A
Salvati, com a esposa Rosângela e as filhas. Está instalada em edifi-
SALVATI
&SIRENA cação de basalto lavrado a mão, com planta octogonal, na qual são
preservados barris de madeira, de diversas capacidades, ao lado de equipamentos modernos de
vinificação. Elabora diversos varietais, com destaque para o vinho da casta Peverella.

144 Rogerio Dardeau


VALMARINO, Vinícola
Gr IV - 1997 - VBdT* - (C) - EnoT - 'VdoBr' 82
valmarino.com.br

VINÍCOLA
Trata-se de um ramo da família Salton. Orval Salton, enólogo com
VAIMARINO experiência, e seus filhos criaram a Estabelecimento Vinícola Vai-
marino Ltda., homenageando a localidade de Cison di Valmarino,
origem dos Salton na Itália. São 16 hectares de vinhedos próprios,
localizados na IP Pinto Bandeira. Desse total, há 5 hectares dedicados integralmente à casta Ca-
bernet Franc, a tinta prevalente da IPPB. O enólogo é Marco Antonio Salton, que busca mínima
intervenção possível na elaboração dos vinhos. Para as pequenas quantidades, utiliza, até mesmo,
prensas tipo gaiola, manuais. Elabora o interessante Sushi Vin (VBdT), corte entre Chardonnay,
Malvasia Bianca e Moscato, indicado à harmonização com comida japonesa; o fino espumante Vai-
marino & Churchill e o varietal Valmarino Cabernet Franc, todos VBdT. O varietal Valmarino Cabernet
Franc se tornou um ícone da casa. Nascido em 2008, aos 13 anos da empresa vem tendo edições
sucessivas, com o mesmo nome, seguido de um número em algarismos romanos, que aumenta
safra a safra. O mais recente é o Valmarino Cabernet Franc XXI, da colheita de 2016. Outros vi-
nhos marcantes são o Valmarino Reserva da Família, um corte entre Cabernet Franc (45%), Merlot
(25%), Tannat (15%) e Cabernet Sauvignon (15%), e o Terço 2014 - Valmarino & Churchill, uma
partida exclusiva de um corte, em iguais proporções, de Cabernet Franc, Merlot e Tannat, com
afinamento por 18 meses em barricas novas de carvalho francês, de secagem natural. Um espu-
mante especial é o Valmarino Nature 2012, elaborado pelo método tradicional, com vinho base 70%
Chardonnay mais 30% Pinot Noir e brandy próprio como licor de expedição. A vinícola é parceira
do projeto Churchill, do empresário Nathan Churchill. Em 2013 aparece o Valmarino & Churchill
Extra Brut 2011, com 14 meses de barrica de terceiro uso. Veja detalhes no item "Vinhos de Au-
tor". Os espumantes da parceria Valmarino & Churchill têm o apoio da Vinícola Geisse. Todos os
vinhos têm a denominação Valmarino, embora a linha top receba nomes específicos.

VILLA CRISTINA
Gr IV - 2010- VBdT* - EnoT- (I)
Ricardo Saad foi executivo do ramo de seguros, apaixonado por
vinhos. Ao se aposentar, decidiu dedicar-se à própria paixão. É ele
mesmo quem afirma: "Resolvi parar e me dedicar a essa paixão. O nome
é homenagem a minha mulher e a minha filha. O local foi escolhido por ser
o melhor terroir, no meu conceito, para uvas de colheita precoce, como a
Chardonnay e a Pinot Nair para espumantes". A propriedade tem 10 hectares. Os vinhedos foram
implantados em 2011 e 2013, em área de 3,5 hectares. Nessa fase inicial do projeto, a vinificação
vem ocorrendo na Vinícola Don Giovanni. Saad deseja elaborar apenas os espumantes nature,
brut e brut rosé, em qualidade superior. O responsável técnico pelos vinhedos é o agrônomo Ciro

82 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 145


Pavan, que trabalha também para a Vinícola Miolo. O enólogo é Maciel Ampese, da Don Gio-
vanni. Saad restaurou uma casa de pedra com mais de 130 anos, que comporá a sede da Villa
Cristina. O primeiro espumante, o Vil/a Cristina Extra Brut Nature 2013 (70% Chardonnay + 30%
Pinot Noir), tem um teor alcoólico de 12,6%. Impressiona pela per/age intensa e fina, pela bela
cor palha, pelos aromas e pela presença no paladar. Em 2015, foi plantado mais um vinhedo,
totalizando 4,5 hectares de vinhedos. O vinho-base passa por barris de carvalho francês, para
adquirir mais complexidade. A produção anual é de 9 mil garrafas. Em anos excepcionais, como
o de 2015, a Villa Cristina apresentou uma edição especial de Blanc de Blanc.

VINHAUNNA
Gr V - 2014- VBdT* - (C) - 'N'
vinhaunna.com. br
Iniciativa da enóloga - ela prefere vinhateira - Marina Santos,
comprometida com uma busca permanente de uvas orgânicas e
de produção biodinâmica, associada a uma enologia não interven-
cionista. O projeto, embora iniciado em 2014, vinha sendo gestado
há bastante tempo, desde que Marina iniciou o curso de sommelier
e o curso superior em Viticultura e Enologia em 2009, quando con-
cluiu que trabalharia com vinhos naturais e com viticultura biodinâmica e orgânica, num projeto
integrado. O nome procura evidenciar a síntese do que Marina Santos pensa: "Único, precioso,
puro ... É a união de tudo que aprendi em minha trajetória profissional, e uma convicção, um olhar atento e
amoroso aos saberes ancestrais em viticultura e Enologia ... é bem mais, é um modelo de vida!". Não por aca-
so, alguns anos depois de começar, o projeto não para de crescer, no sentido da sustentabilidade,
sendo um integrador da família, "uma família superunida e que ama sua forma de viver. .. nosso chalezinho
de madeira na mata, plantar e colher a maioria de nossos alimentos, sem maquinário, sem funcionários, vene-
nos ou adubos químicos, só a boa e velha enxada, biodinâmica e nosso trabalho". Marina, com o marido,
Israel, sempre acompanhados da filha Leona e do filho Benjamin, organizam o projeto em quatro
frentes: Terroir de Chuva, Viticultura Ancestral, Champenoise Bistrô e Banco de Sementes Criou-
las. A primeira frente cuida de conhecer profundamente a região em que se situa e identificar
quais castas têm capacidade de viver em harmonia com os solos e o clima chuvoso. Em princípio,
foram identificadas as castas Cabernet Franc e Chardonnay. "O Terroir de Chuva está localizado em
Pinto Bandeira, entre 680 m e 750 m de altitude e compreende uma área de aproximadamente 5 hectares de
uvas em vários estágios, plena produção, recém implantados, recém enxertados, vinhas antigas ... o que é uma
grande oportunidade para estudar e avaliar todos os estágios de uma produção sustentável com seus acertos e
dificuldades", informa Marina A frente de Viticultura Ancestral ou Terroir Ancestral estabelece os
princípios de elaboração dos vinhos. Prossegue a enóloga: ''A Vinha Unna acredita que a adaptação de
uma videira começa pelo seu comportamento em campo, com base no manejo que damos a ela, nas suas reações
às doenças, às variações climáticas, ao excesso ou escassez naturais de nutrientes no solo, na resposta aos tratos
culturais, na sua resiliência ... mas principalmente na tipicidade dos vinhos, aquela marca registrada dela que só
identificamos nas uvas que vêm daquele local, por isso a importância da adaptação. Para isso o Projeto Terroir
Ancestral trabalhou da seguinte maneira: levantamento histórico da região de Pinto Bandeira; levantamento
histórico da viticultura e cepas na região de Pinto Bandeira; entrevista com viticultores com mais de 70 anos
de idade, que cultivavam as cepas levantadas; levantamento histórico do centro de origem das cepas na Itália;

146 Rogerio Dardeau


identificação de material vegetativo de qualidade dessas cultivares para propagação; testes com diferentes
porta-enxertos, segundo indicação dos viticultores antigos. Ufa!!! E toda essa pesquisa gerou os vinhedos im-
plantados em 2016 e que estão enchendo nossos olhos com os resultados. E melhor, manejo orgânico certificado
e biodinâmico!". O Champenoise Bistrô compõe o projeto de vida do casal Marina e Israel. O cozi-
nheiro Israel Dedea Santos aplica simplicidade com sofisticação em sua cozinha, trabalhando com
alimentos de cultivo próprio, sem defensivos químicos. Como ele mesmo afirma, "sem venenos" .
. O projeto Vinha Unna, na forma como se desenha, não poderia deixar de oferecer opor-
tunidades a novos empreendedores de mesma filosofia. Assim, concebeu o Banco de Se-
mentes Crioulas. São 80 tipos de sementes crioulas de frutas nativas, hortaliças, legumes,
flores comestíveis! "Plantamos com nossas sementes, fazemos as nossas mudas e produzimos alimentos
limpos, saborosos e nutritivos", destaca Marina. Ela é obstinada por demonstrar que os vinhos
têm personalidade, e seus vinhos mostram isso com cores, aromas e sabores únicos. Além
dos rótulos de época, há microvinificações que podem ser disponibilizadas, sempre por meio
das vendas en primeur, que a Vinha Unna promove. Na edição deste livro, era possível ter
acesso aos seguintes vinhos, com rótulos artísticos, muito finos, concebidos pela própria
Marina: Lunações - Chardonnay; As Bacantes - Cabernet Franc; Canto da Sereia - Barbera;
As Bacantes em Êxtase - Cabernet Franc; Censura Rosé, um espumante tradicional; Censura,
espumante branco; e as microvinificações Evoé; Caixa de Pandora; Lúmina - Riesling Rena-
no; Livre Arbítrio - Moscato Antigo; Teimosa, um corte tinto surpresa; Psique - Malvasia de
Cândia; e Moscato Antigo e Canto da Sereia Outras Águas - Merlot.
Outros produtores: Além dos descritos acima, na IPPB ainda encontramos os seguintes,
todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Dalla Costa; Vinícola
Fornasier - Vinhos de Montanha (T), tem pousada com 36 apartamentos; Vinhos Bigolin;
Vinhos Rubbo; e Cantina Strapazzon.

INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA ALTOS MONTES - IPAM

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__ _!""-Caxias do Sul

Gen t e. Lu gares e Vin h os do Bras il 147


Os produtores da região dos Altos Montes se organizaram na Associação dos Produtores
de Vinhos dos Altos Montes (Apromontes) . Boscato, Fabian, Fante, Luiz Argenta, Mioranza,
Monte Reale, Panizzon, Salvattore, Terrasul, União de Vinhos, Valdemiz, Venturini e Viapiana
obtiveram, em 11 de dezembro de 2012, o registro da Indicação de Procedência dos Altos Mon-
tes (IPAM) . A região dos Altos Montes tem uma área aproximada de 174 km2, 66,6% dos quais
localizados em Flores da Cunha e 33,4% em Nova Pádua. A altitude média é de 678 metros.
Ali, estão autorizadas as seguintes castas: para vinhos finos tintos secos: Cabernet Franc, Mer-
lot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan e Tannat; para vinhos finos
brancos secos: Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon
Blanc e Gewurztraminer; para vinhos finos rosados secos: Pinot Noir e Merlot; para espuman-
tes brut brancos e rosados: Riesling Itálico, Chardonnay, Pinot Noir e Trebbiano; para espuman-
tes doces brancos e rosados: Moscato Bianco e Moscato Bianco - Clone R2, Malvasia, Moscato
Giallo e Moscatel de Alexandria. Os produtores poderão elaborar vinhos de viníferas não au-
torizadas, até o limite de 15% do volume total elaborado. Os varietais tintos e rosados secos
deverão conter, em sua composição, no mínimo 85% da variedade declarada. Os brancos secos
e os espumantes finos brancos e rosados de uma só casta deverão ter 100% da uva declarada.

GENTE que elabora vinhos finos


na área da Indicação de Procedência Altos Montes (IPAM)

São apresentados, primeiramente, os produtores situados no município de Flores da


Cunha, seguidos daqueles localizados em Nova Pádua.

FLORES DA CUNHA

AVVOCATO
Gr Vb- 2016- VBdT* - (I)
Rótulos de vinhos pessoais do advogado Ralph Hage, criados especialmente por Elton Viapiana,
em sua vinícola. O vinho Awocato Merlot 2013 ficou um ótimo exemplar da casta.

CASA VENTURINI
Gr IV - 1989 - VBdT - (C histórica)
casaventurini.com.br
A família Venturini já elaborava os próprios vinhos desde 1970.

~
-Ir Hoje pode ser considerada a butique do grupo Góes & Venturini,
que tem origem em São Paulo. A vinícola tem vinhedos próprios
VENTURINI e cantina, onde elabora vinhos finos de terroir, tranquilos e espu-
mantes. Os destaques são Casa Venturini Chardonnay Reserva, Casa

148 Roge rio D ard ea u


Venturini Sauvignon Blanc Varietal, Casa Venturini Cabernet Sauvignon Reserva, Casa Venturini Merlot
Reserva, Casa Venturini Tannat Reserva e Casa Venturini Le Bateleur Cabernet Sauvignon.

FAMÍLIA BEBBER
Gr IV - 2014- VBdT* - EnoT- (C)
Esse é mais um caso de perseverança, pela causa do vinho fino bra-
sileiro. Felippe Bebber é o filho enólogo de Valter Bebber, este com
origem profissional em atividade diferente da elaboração de vinhos,
assim como diferente também é o trabalho de Thelma, a esposa de
seu pai. Acontece que Felipe sempre esteve determinado a elaborar
os próprios vinhos, mas não dispunha de recursos para tal empreitada. Iniciou então a carreira tra-
balhando em vinícolas grandes. Teve paciência e foi complementando, na prática, os conhecimentos
da academia. A partir de certo instante, decidiu oferecer consultoria a clientes interessados em ter
rótulos próprios. Com um raro talento para escolha de frutos e competência na enologia, Felipe
começou a produzir para clientes específicos, a partir de uvas de fornecedores parceiros, e sempre
elaborando em cantinas de terceiros. Com o passar dos anos, o acúmulo de experiência e o êxito
no elevado padrão dos vinhos finos que rotulava para clientes, Felipe reuniu o pai e o irmão mais
novo, Rafael, propondo a criação da vinícola Família Bebber. Atualmente, Felipe continua a atender
interessados em ter rótulos próprios, mas já tem a própria cantina e 2 hectares de vinhedos em ex-
pansão para 6 hectares, no Travessão Alfredo Chaves. Elabora 85.000 litros de vinhos por ano, mas
tem capacidade instalada para 300.000 !/ano. Sua linha de vinhos finos Familia Bebber está comple-
ta: espumantes (linha Vero) e vinhos tranquilos de grande presença (linha Sentiero). São criações
de Felippe Bebber os diversos rótulos do Barão de Petrópolis, de Petrópolis, RJ, da Enoch Vinhos
Inspirados/Enos, de Balneário Rincão, SC, da Bibulus, do sommelier e chefe Lauro Carvalho, do Rio
de Janeiro, e do Villa Castro, de Gramado, RS, além dos vinhos personalizados Caberlon, do restau-
rante La Vue de la Vallée, e Maison, do restaurante homônimo, também em Gramado, entre muitos
outros. Assim, caso você encontre, num contrarrótulo, a clássica sentença "vinho elaborado exclu-
sivamente para.......... , por CNPJ 20.296.267/0001-85", significa que tem a garantia Família Bebber.

FANTE Indústria de Bebidas Lida. - Vinhos, Sucos e Destilados


Gr II- 1970- VM + VBdT- (C)
fante.com.br
Trata-se de um grupo empresarial com bastante expressão nacional e
grande volume de processamento. Como a própria logomarca estam-
pa, elabora vinhos, sucos e destilados. Toda a uva provém de viticulto-
res parceiros. Foi fundada por João Fante e seus filhos, Júlio, Eduardo,
VINHOS, SUCOS E DESTILADOS

Homero, Fernando e José. Ao longo de sua história a empresa cres-


ceu, incorporou outras e assumiu marcas e rótulos diversos. A sociedade atualmente é composta
pelos irmãos Júlio, Eduardo, Homero e Fernando, com Renato Sandi, Jorge Ferreira e Gian Cario Fa-
roni. No campo dos vinhos finos, os rótulos próprios estão nas linhas Quinta do Morgado e Oremus,
com varietais de Cabernet Sauvignon e Merlot, apresentados também em garrafas de 245 mi, além
de um vinho branco frisante, e espumantes brut, demi-sec, moscatel branco e moscatel rosé. Entre as
marcas incorporadas está a Cordelier, sobre a qual valem os registros a seguir.

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 149


A vinícola Cordelier, do empreendedor Lídio Ziero, foi fundada
em 1987 e teve importante papel na reformulação da vitivinicul-
tura brasileira. Nasceu e foi batizada com o nome do cordão dos
CORDELIER Franciscanos, pela devoção da família Ziero. Instalou-se em bonito
prédio, na entrada do Vale dos Vinhedos, em área de 9 hectares
e capacidade de armazenamento de 2 milhões de litros. Criou um espaço enogastronômico e
o restaurante Don Ziero. Seus vinhos eram elaborados a partir de uvas de vinhedos próprios
e de viticultores parceiros. Houve um período no qual assumiu a marca Granja União e deu
nova expressão àqueles vinhos tradicionais. Hoje, o empreendedor está dedicado à elaboração de
destilados. A marca Cordelier foi vendida à Fante. Além dos vinhos finos correntes, a Cordelier
elaborava varietais e um Vinde Liqueur indispensável à boa cozinha, fundamental aos patos, perdi-
zes e codornas. Em 2005, a Cordelier apresentou o Equilibrium, um corte entre vinhos das castas
Ancellotta, Cabernet Sauvignon e Merlot, sem dúvida, um VBdT. Atualmente, sob o comando
da Fante, são oferecidos os rótulos Equilibrium, os varietais Chardonnay, Cabernet Sauvignon,
Merlot jovem e Merlot envelhecido, espumante Moscatel, espumante brut e licoroso rosado.

GALIOTTO Vinhos e Sucos


Gr II- VM-1966 - (C)
vinicolagaliotto.com.br
Tradicional empresa produtora de vinhos de mesa, com uma tanca-
gem instalada da ordem de 10 milhões de litros. Em 2002, decidiu
criar a linha Casa Galiotto, para vinhos finos. Inicialmente com a
casta Cabernet Sauvignon, adquirida de parceiros, ampliou para
outras castas, algumas compradas na região da Serra Gaúcha. As
uvas Tannat vêm do Alto Uruguai, e a Chardonnay vem da Campanha Gaúcha. Com fortes in-
vestimentos em viníferas, a Galiotto desenvolve vinhedos de Pinot Noir, Moscato e Cabernet
Franc. A produção atual é de 100 mil garrafas/ano de vinhos finos, em crescimento. O enólogo
é Samuel Cervi. Os varietais têm de 20% a 30% com estágio em barricas, "na busca de maior com-
plexidade", diz Cervi. Quando são definidos frutos de qualidade rara, é elaborado o corte Angelo,
cujo nome homenageia o imigrante patriarca Angelo Galiotto. O vinho Angelo 2012 é um corte
entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, que teve estágio de 50% do volume, por 12 meses,
em barricas de carvalho americano. Foi engarrafado e descansou por mais 12 meses nas adegas
da vinícola. Para a safra de 2015 a casa desenvolveu uma nova linha de varietais jovens, sem
passagem por barricas, procurando "manter caráter varietal, com intensidade, frescor e jovialidade".

GIACOMIN, Vinícola
Gr IV - 1985 - VBdT* - (C histórica)
giacomin.com.br
A Vinícola Giacomin é uma empresa familiar dedicada integral-
mente ao vinho fino, localizada no distrito florense de Mato Per-
so. Implantou, pioneiramente, vinhedos em espaldeiras altas, com
postes de concreto, em Y. A empresa não utiliza defensivos agrí-

150 Rogerio Dardeau


colas nos vinhedos. Seus vinhos derivam sempre de vinhedos próprios. O teor alcoólico nasce
dos açúcares naturais, derivados da maturação dos frutos. Os vinhos da casa têm conquistado
destaque pela grande presença de resveratrol. Só para recordar: resveratrol é uma molécula que
contribui para a redução da taxa do colesterol LDL, também chamado "colesterol do mal". Re-
centemente, estudos do conceituado Laboratório Laren identificaram ainda elevados índices de
trans-delta-viniferin, os melhores entre as amostras analisadas. Tal substância tem comprovada-
mente efeito antioxidante e anticancerígeno. O Giacomin Reserva Merlot 2002, com 12,2% de
teor alcoólico, aberto em 2018, se mostrou um vinho de coloração rubi, com reflexos levemente
alaranjados, característica da evolução. Os aromas são complexos, remetendo-nos às geleias de
frutas vermelhas. No paladar, estava macio, redondo, com agradável persistência. Esse vinho tem
sido a grande expressão de presença de resveratrol. Outro vinho muito elogiado é o Giacomin
Gran Reserva Moscato Giallo 2005, com 11,8% de teor alcoólico. A vinícola elabora espumantes,
vinhos brancos e tintos, todos sob a denominação Giacomin, com as linhas Gran Reserva, Reserva e
Clássicos. A cantina é um prédio de estilo, totalmente construído em basalto lavrado, pela própria
família. A consultoria enológica está a cargo de Paula Guerra Schenato.

LUIZ ARGENTA Vinhos e Espumantes


Gr IV - 1999 - VBdT* - EnoT- (I) - 'VdoBr' 83
luizargenta.com.br
Embora a família Argenta já tivesse vinhedos há décadas, não fo-
LUI Z ram vinhos os produtos que proporcionaram o crescimento dos
AR.GENTA negócios familiares. O Grupo Ditrento, atualmente Rede SIM,
consolidou-se como distribuidor de combustíveis. A vinícola é um
empreendimento de vulto do grupo. Nasceu quando uma antiga
propriedade da Cia. Vinícola Riograndense (Vinícola Granja União) foi posta à venda e adquirida
pelos Argenta. Tratava-se, nada mais, nada menos, daquela que é considerada a primeira área a
receber viníferas no Brasil, em 1929. São 140 hectares, com 55 hectares de vinhedos. Tal área é
bem superior à da maioria das vinícolas brasileiras. Conduzida por Deunir Luís Argenta e pela
filha Daiane, a vinícola tem cantina instalada em prédio de arquitetura contemporânea, que
conta com os mais modernos equipamentos de vinificação, além de adega subterrânea, sobre o
basalto do solo, com grande quantidade de barricas de carvalho. O arrojado projeto é da arqui-
teta Vanja Hertcert, de Bento Gonçalves, RS. A cantina, totalmente integrada à paisagem, foi
projetada para que todo o processo de vinificação se utilize da gravidade. Os vinhedos são or-
ganizados por quadras que levam nomes de brasileiros que projetaram o país no exterior. São
Ayrton Senna, Cândido Portinari, Carmen Miranda, Elis Regina e Roberto Carlos. O enólogo
é Edegar Scortegagna. Elabora espumantes, vinhos brancos, rosados e tintos. Os de primeira
linha têm a denominação Luiz Argenta. Os demais são chamados LA e LA Jovem . Registro,
especialmente, o Luiz Argenta Cuvée (50% Cabernet Sauvignon e Merlot, com 13,8%), o Luiz

83 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 151


Argenta Chardonnay, o LA Cabernet Franc e o LA Jovem Rosé, a partir das castas Merlot, Caber-
net Sauvignon, Cabernet Franc e Syrah. A vinícola Luiz Argenta disponibiliza um sistema de
rastreamento de garrafas, na página da internet, de modo que o enófilo possa conhecer todas
as características do vinho desde o vinhedo. Aliás, algumas garrafas utilizadas vêm da Itália e,
em geral, são escolhidas por Daiane Argenta, filha de Deunir, que está à frente da acolhida aos
visitantes. Em 2014, a casa trouxe ao mercado o Luiz Argenta Merlot Uvas Desidratadas 2009,
um vinho excepcional, elaborado pela técnica dos amarone, também produzido por processo
natural. Os 1.500 quilos de uvas selecionadas passaram pela desidratação em telas organiza-
das no sótão do casarão de 1931 existente na propriedade, e ali permaneceram por 43 dias,
respirando livremente entre o abre-e-fecha das janelas. No final da desidratação, o peso foi
de 1.000 quilos. A partir de então, a vinificação foi tradicional, com temperatura controlada
a 26° C, por 45 dias. O vinho estagiou por três anos em duas barricas de carvalho de segundo
uso, gerando seiscentas garrafas, com 16% de teor alcoólico. A segunda partida desse vinho
aconteceu na safra 2011. A decisão da vinícola é de somente elaborá-lo nas safras muito pro-
pícias àquela complexa elaboração. Ficaram assim as características finais do vinho da safra de
2009: Cor: vermelho rubi intenso e brilhante. Aroma: aromas complexos que lembram princi-
palmente geleia de frutas vermelhas, pimenta preta, louro, ameixa seca e leve tostado. Sabor:
vinho muito estruturado, com ótimo volume de boca, com excelente persistência e equilíbrio.
Macio, com ótima acidez. Os aromas percebidos no olfato permanecem no retrogosto. Um ou-
tro projeto ousado da casa foi o vinho de sobremesa de uvas Gewurztraminer passificadas. O
resultado foram 130 garrafas de um vinho doce muito elegante, com 14,8% de teor alcoólico.
Finalmente, não posso deixar de mencionar o Luiz Argenta Brandy 10 anos, 100% Trebbiano.

MARZAROTTO, Vinícola
Gr IV - 2017 - VBdT* - (C)
Janaína Massarotto é uma jovem enóloga, nascida em berço de
produtores de uvas e vinhos, compondo a quarta geração de viti-
MARZAROTTO vinicultores de sua família. Mesmo com toda essa tradição, decidiu
inovar no processo de vinificação, dedicando-se a pequenos lotes,
para obter melhores expressões em seus vinhos. E ela tem tanto entusiasmo pela experiência
de elaborar vinhos próprios, que decidiu criar a própria vinícola. A filosofia da vinícola está na
palavra encontro. É Janaína quem nos conta: "Busco produtores parceiros em diversas regiões vitícolas
e seleciono as melhores castas. Aproveito os mais ricos terroirs, para ter uvas que vinifico com a expressão
máxima da fruta, fonte de prazer para os sentidos. Quero com isso estimular a convivência entre as pessoas.
Desejo que meus vinhos possam catalisar encontros casuais, românticos, em família, entre amigos". A opção
é pelos vinhos frescos, cheios de jovialidade, mas com presença no paladar. Alguns ícones da
vinícola estagiam em barricas de carvalho francês. Os vinhos são elaborados numa cantina pro-
visória, enquanto está sendo projetada uma nova vinícola butique, em Nova Pádua, na região da
IP Altos Montes. O projeto arquitetônico é assinado por Celestino Rossi, conceituado nome em
arquitetura de vinícolas. A área de vinificação terá capacidade para produção de 200 mil garrafas/
ano, além de loja de vinhos, espaço gourmet e enoturístico. A conclusão da obra está prevista
para 2021. Os vinhos são apresentados em duas linhas: Pleno e Marzarotto. A linha Pleno, com
Merlot (uvas de Campos de Cima da Serra), Cabernet Franc (uvas da Serra do Sudeste), Char-

152 Rogerio Dardeau


donnay/Moscato Giallo (uvas da Serra Gaúcha) e Rosé de Merlot (com uvas também da Serra
Gaúcha). A linha Marzarotto oferece espumantes pelo método Charmat, sendo um Brut Branco
(Chardonnay e Pinot Noir), um Brut Rosé (Pinot Noir) e um Moscatel (100% Moscato Giallo).

MIORANZA, Vinícola
Gr II - 1964 - VM - (C)
mioranza.com
Outro empreendimento com origem familiar e descendência dos
é colonos italianos. Tem vinhedos próprios, com condução em Y,
Mioranza mas também compra uvas de terceiros. A cantina é própria, com
Desde 1964 tecnologia avançada de produção e porte expressivo de armaze-
namento. Em 2018, a casa processou mais de 8 milhões de litros
de derivados de uva. O enólogo é Delto Garibaldi, fundador do Laboratório Lavin. A vinícola
apresenta seus vinhos nas linhas: Mioranza (de mesa), Mioranza Reserva da Família (de mesa)
Catania (cortes com viníferas) e Alvise (varietais de viníferas), RioBravo (espumantes). No ano
de 2005, a casa comemorou as bodas de ouro de Antonio Alvise Mioranza (sócio fundador) e
Aurora Toscan. Para celebrar, a vinícola lançou um VBdT, que chamou 50 d'Oro. Foi um vinho
exclusivo, do qual apenas 3.450 garrafas foram elaboradas. O Mioranza 50 d'Oro é um varietal
da casta Ancellotta, de vinhedos próprios. Passou 18 meses em barricas de carvalho e tem teor
alcoólico de 14,09%. Antonio Mioranza, hoje um octogenário, além de comandar a vinícola,
controla a própria transportadora. Aliás, ele não esconde que o início de sua vida profissional
foi como caminhoneiro. A Sociedade de Bebidas Mioranza mantém parceria com a Cooperativa
Vitivinícola San Carlos Sud, no Vale de Uco, Mendoza, Argentina, produzindo lá os rótulos Verza
(oito varietais), a partir de uvas de vinhedos dos cooperados.

NOVA ALIANÇA, Cooperativa


Gr II - 2010 - VM + VBdT - (C)
novaalianca.coop. br
Arrojada iniciativa empresarial por parte de cinco cooperativas. A
nova empresa nasceu da união das cooperativas Aliança e São Vic-
tor, de Caxias do Sul, Linha Jacinto, de Farroupilha, mais as coo-
perativas Santo Antônio e São Pedro, de Flores da Cunha. Alguns
cooperados acumulam oitenta anos de vitivinicultura. As cinco cooperativas reúnem novecentos
cooperados, que possuem, juntos, uma área de 1.350 hectares de vinhedos, extensão incomum
entre os produtores brasileiros. Esses vinhedos encontram-se localizados na Serra Gaúcha, na
Serra do Sudeste e na Campanha. Têm grande força na elaboração de vinhos de mesa e sucos,
mas criaram os vinhos finos Santa Colina, para disputar mercado também nesse segmento. São
três linhas: Santa Colina Estilo, com varietais jovens; Santa Colina Premium, com varietais brancos
e tintos barricados por nove meses; Santa Colina Reserva, com dois varietais tintos e um branco,
barricados por 12 meses. Foram também obra da Nova Aliança, pelas mãos do enólogo Flávio
Novelo, os notáveis VBdT Cerro da Cruz 2012, nas versões Tannat e corte entre Cabemet Sau-
vignon e Tannat, a partir de uvas de vinhedos em Santana do Livramento. Os vinhos tintos Cerro

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 153


da Cruz estagiam por período superior a um ano em barricas de carvalho francês. A vinícola tem
também o Cerro da Cruz Chardonnay, com ótima expressão da casta, depois de oito meses de
estágio em carvalho. A Nova Aliança vem investindo no segmento de produtos orgânicos, ali-
mentando os projetos Ecouva e Ecooperativa.

PANIZZON Vinhos, Sucos e Espumantes


Gr II- 1960- VM- (C)
panizzon.com.br ou durans.com.br
A empresa começou com a produção de vinhos de mesa, mantida,
PANIZZON atualmente, em quatro linhas. A partir de 1991, investiu no mer-
1/4.,j.,, S.w, C,,,.-,1,,
cado de vinagres, no qual se firmou como grande produtor. Em
1999, entrou no mundo dos vinhos finos, logo chegando aos es-
pumantes. Essa é também uma empresa de grandes volumes e com amplo portfólio de produtos.
Os vinhedos são próprios, por meio da Durans Agropecuária Ltda., de Campestre da Serra, RS,
mas há aquisição de uvas de viticultores parceiros. Os vinhos finos estão em duas linhas: Paniz-
zon, com diversos varietais, inclusive um Refosco dai Peduncolo Rosso, e San Martin. O destaque
fica para o Panizzon Gran Reserva Maximus, um corte clássico entre Cabernet Sauvignon e Merlot.

SALVATTORE, Vinícola (anteriormente, Vinícola Salvador)


Gr IV - 1998 - VBdT- EnoT- (C)
vinicolasalvattore.com.br
A Vinícola Salvattore nasceu na elaboração de vinhos de mesa,
mas decidiu caminhar no sentido dos vinhos finos. Foi fundada
~ em 1998 pelo enólogo Antonio Salvador. Ele se dedicara, por
)1111, ;,,
muito tempo, exclusivamente, à consultoria em Enologia, para
:-,1\IVAI k 1 IU
muitos vitivinicultores em diversos estados. Hoje, com quase
quarenta anos de experiência, é o responsável por toda a elabora-
ção de vinhos da casa. Daniel Salvador, o filho, é também enólogo, mas se ocupa da gestão da
empresa. A vinícola ainda não tem vinhedos próprios e a maior parte da produção ainda é de
vinhos de mesa. Os vinhos finos representam 40% do total elaborado com rótulos próprios.
Se computado o volume de vinho a granel, o percentual de vinhos finos cai para 20%. A em-
presa anuncia, porém, que se prepara para gradualmente eliminar aquela parte do negócio.
A implantação dos vinhedos está prevista para 2017 ou 2018. O momento é de procura de
terrenos. A cantina é própria, instalada em um dos prédios mais antigos do município de
Flores da Cunha, em ambiente totalmente restaurado e adaptado para elaboração de vinhos,
com uso de alta tecnologia. Os primeiros vinhos finos produzidos e engarrafados com a marca
da vinícola foram um Merlot e um Cabernet Sauvignon, ambos da safra de 2005. A vinícola
mantém quatro famílias de vinhos finos. A primeira é chamada Gran Báculo, destinada aos
vinhos gran reserva. Reúne o Gran Báculo Reserva Cabernet Sauvignon 2005 e o homônimo, da
colheita de 2012, ambos Vinhos Brasileiros de Terroir, que estagiaram em madeira. O 2005
foi engarrafado em 2007, sendo lançado apenas em 2009. O lote da excelente safra de 2012
teve 60% com estágio de 10 meses em carvalho francês, cortados com 40% do tanque de inox,

154 Rogerio Dardeau


sobre borras finas. Foi envasado em 26 de junho de 2014, num total de 5.950 garrafas de 750 mi.
Vedação: ambas as colheitas trazem um detalhe singular, que lhes confere distinção: cada rolha
é numerada e cada garrafa, registrada num grande livro. A casa quer manter nome e contato
dos clientes que apreciaram o primeiro gran reserva da família. A segunda família é a Salvattore
Reserva. São varietais de Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, todos VBdT. Em seguida
vem a família de espumantes também sob a denominação Salvattore: um brut e um brut rosé,
elaborados pelo método Charmat, além de um Moscatel. A família de vinhos finos correntes é
chamada Casa Salvador. São varietais de Cabernet Sauvignon, Merlot e Moscato, mais leves e
sutis, com aromas jovens. Em termos de volume, a empresa se prepara para produzir 130 mil
litros de vinhos finos por ano.

TERRASUL Vinhos Finos


Gr IV - 1996 - VBdT - (C) - EnoT
vinhosterrasul.com.br
Empreendimento instalado em prédio da antiga sede da Cia. Viní-
cola Riograndense. Os 65 hectares de vinhedos estão localizados
em Pinheiro Machado, numa área total que atinge 300 hectares.
f ERRASU L
A vinícola é conduzida pelos sócios Paulo Roberto Tonet e Volmar
José Salvador. Está exclusivamente dedicada aos vinhos finos que
engarrafa com o rótulo Terrasul e apresenta sob a denominação San Felício em embalagem ba-
g-in-box. A vinícola apresenta ainda, a partir de 2017, a linha Lindeiro, composta pelos varietais
Cabernet Sauvignon e Merlot, com passagem de oito meses por barricas de carvalho francês.

ULIAN, Vinhos
Gr IV - 2002 - VBdT - (C)
vinhosulian.com.br
A empresa vinícola Vinhos Ulian foi criada pelo vinhateiro Vilmar

Ili Ulian para elaborar vinhos de mesa e vinhos finos expressivos. Desde
a criação, a vinícola vem entremeando a produção corrente de vinhos
de mesa com pequenas partidas de bons vinhos finos. No ano de
2012, aproveitando a excelente safra, na Serra Gaúcha, a vinícola criou a marca L Oitenta (Linha
80), que homenageia a própria localização, segundo a geografia da época da distribuição de terras
aos colonos italianos. O L Oitenta Cabernet Sauvignon 2012 (13, 4%) é um varietal a 100% da casta,
de vinhedos na Serra Gaúcha. Foi elaborado por processo tradicional, com leveduras selecionadas
e controle de temperatura de fermentação. Estagiou em barricas de carvalho francês. O resultado
é um tinto de um rubi intenso que, aos cinco anos de vida, em 2017, não mostrava qualquer sinal
de evolução. Embora pronto para o consumo, ainda poderia evoluir na garrafa por alguns anos. Os
aromas nos remeteram às frutas escuras, como a ameixa e a amora, já em compotas. Trouxeram
também notas vegetais. No paladar, exibiu boa acidez e muito equilíbrio, com ótimo volume. O L
Oitenta Cabernet Sauvignon 2012 é um vinho muito harmônico. Pode ser apreciado com petiscos,
mas teria ótimo desempenho com as massas de molhos escuros, as carnes temperadas, de panela,
os risotos de cogumelos e outras inúmeras combinações, ao critério de cada apreciador. A marca
Ulian L Oitenta teve ainda os varietais Pinot Noir e Merlot, da mesma colheita de 2012

Gen t e. Lugares e Vin hos do Bras il 155


VALDEMIZ Vinhos Finos
Gr IV - 1999 - VBdT - EnoT - (C)
valdemiz.com. br ~
VALDEMIZ'
MONTE REALE, Vinícola
Gr II - 1972 - VM - (C)
A vinícola Monte Reale é uma empresa fundada por Valdecir Mioranza, cujo
sobrenome tem presença em outros empreendimentos vitivinícolas. Foi criada
e se consolidou como produtora de sucos e vinhos de mesa. Em 1999, no entan- MONTE
REALE
to, decidiu criar a divisão de vinhos finos, que batizou de Valdemiz, corruptela
do nome da localidade de origem da família, na Itália. Os vinhedos são próprios.
Os VBdT da casa são o corte Sospirolo Clássico, obtido por mescla dos melhores vinhos da safra
(60% Merlot + Cabernet Sauvignon e 40% de Cabernet Franc + Tannat + Ancellotta), o Reserva
TourigaNacional, o Cabernet Sauvignon, oMerlot e o Reserva Vai 13 da safra de 2013, em homenagem
ao fundador da Monte Reale e ao lote recebido pela família Mioranza. Esse vinho Reserva Vai 13,
um corte entre Tannat e Cabernet Franc, com 13,2% de teor alcoólico, foi um vinho comemo-
rativo, infelizmente descontinuado. Era muito expressivo. Os vinhos estilo reserva são varietais
Cabernet Sauvignon, Merlot, Ancellotta e Arinarnoa. A linha de entrada se chama Videiras e
traz Cabernet Sauvignon, Merlot e Moscato Giallo. Os espumantes são apresentados nas linhas
Sospirolo, com Nature Pinot Noir e Nature Prosecco, elaborados pelo método tradicional, e Val-
demiz (Brut Branco, Brut Rosé e Moscatel) . Há ainda graspas e houve um notável Brandy X.O. a
partir de vinhos da colheita de 1975, comercializado após 40 anos de barrica.

VIAPIANA, Vinícola
Gr IV - 1999 - VBdT* - EnoT- (C) - 'VdoBr' 84
vinhosviapiana.com.br
A família Viapiana já elaborava vinhos de mesa desde os anos
VIAPIANA 1980. Em 1999 trouxe ao mercado o primeiro vinho fino. Desde
VINJJOS &V INllfDOSentão vem aprimorando a qualidade de seus produtos, ampliando
a presença no mercado. A empresa tem 30 hectares de vinhedos.
Mantém as denominações Premium, com os cortes chamados de Barricas Selecionadas e organi-
zados por lotes, além dos varietais Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Marselan, Merlot, Pinot
Noir e Chardonnay), Microlotes e Jovem. Todos os espumantes são elaborados pelo método tradi-
cional e são rotulados com denominação que incorpora o tempo de autólise, bem explicitamente.
O espumante brut champenoise Viapiana 192 (192 dias de autólise) , corte entre Glera, Viognier e
Chardonnay, é uma ótima manifestação de criatividade da enologia brasileira. O Viapiana Brut
250 (250 dias de autólise) tem vinho base 100% Riesling Itálico. O 575 é um Nature 80% Char-
donnay com 20% de Riesling Itálico. O tinto Via 1986 Gerant Cuvée Prestige, 15,33%, um corte

84 'VdoBr' - Essa referência aparece dezessete vezes neste livro. Significa que os dezesseis produtores de
vinhos finos assim marcados e o presidente do IBRAVIN, em 2015, concederam longas entrevistas sobre
suas vidas e os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro
Vinhos do Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

156 Roge ri o D a rdea u


não revelado, foi o ícone da casa. Recentemente a casa lançou o Viapiana Laranja Gros Manseng
2017, com 13 meses de barricas francesas, uma ótima expressão desse tipo de vinho. A vinícola
elabora para o advogado Ralph Hage o vinho Awocato Merlot. O enólogo é Elton Viapiana.

OUTROS PRODUTORES em Flores da Cunha


Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes: Grupo II - União de
Vinhos do Rio Grande Ltda. (vinhos Charboneau e Casa Vitória Lúcia). Grupo III -Adega Masca-
rello - Dom Bortolo Vinhos Finos; Castel Franc Adega de Vinhos Finos; GBM Vinhos Finos - Gio
Batta; Hortência, Vinhos e Espumantes; Luvison Wmery; Sociedade Florense de Bebidas (7
Irmãos - Vinhos, Sucos e Espumantes; Quinta do Carvalho; Piero Sec Vinhos Finos; Sociedade
de Bebidas Massarotto (Monte Bel/uno Moscato Giallo) , do produtor Luiz Massarotto; Vinícola
Gazzaro (dedicada aos espumantes, além de sucos; não elabora vinhos tranquilos; vale notar os
espumantes Gazzaro Brut champenoise, Gazzaro Extra Brut champenoise e Gazzaro Brut Rosé champenoise,
este à base de Merlot e Pinot Noir), Vinícola Gilioli, Vinícola Isabela, Vinícola Muraro.

NOVA PÁDUA

BOSCATO Vinhos Finos


Gr IV - 1983 - VBdT* - (C histórica) - EnoT - 'VdoBr' 85
boscato.com.br
Obra dos irmãos Clóvis e Valmor Boscato, conduzida pelo pri-
BOSCATO
6)(,;,i,.g;;;., meiro, com a esposa Inês e a filha Roberta Boscato, agrônoma
com destacada contribuição aos trabalho da casa. Elabora vinhos
brasileiros de terroir e mantém um espaço enogastronômico junto à vinícola, onde oferece
cursos e degustações orientadas, em instalações especialmente construídas para a finalidade.
Em razão disso, conquistou, em 2007, a sede da Federazione Italiana Sommeliers Albergatori
Ristoratori, para formação de sommeliers. A vinícola inova permanentemente, em processos
e em viticultura. Os vinhedos são próprios. Num dos vinhedos, localizado em terreno de cota
mais elevada, com clima mais seco, há um sistema de irrigação por gotejamento, controlado
por computador e monitoramento desde uma central, na cantina. Os vinhos brancos e tintos
são todos comercializados sob a denominação Boscato. Além dos vinhos Boscato, Boscato Cave
e Boscato Gran Cave, a casa apresenta um vinho categorizado como Edição Especial. Trata-se
do Boscato Anima Vitis 2005, um corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot, Ancellotta, Refosco
e Alicante Bouschet, com 13% de graduação alcoólica. Muito encorpado, ele permaneceu 13
meses em barricas de carvalho francês e ficou na adega da vinícola por 28 meses. Esse vinho
somente voltou a ser elaborado dez anos depois, na safra de 2015. A Boscato integra o grupo
The Leading Wineries of the World.

85 'VdoBr' - Essa referência aparece dezessete vezes neste livro. Significa que os dezesseis produtores de
vinhos finos assim marcados e o presidente do IBRAVIN, em 2015, concederam longas entrevistas sobre
suas vidas e os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro
Vinhos do Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Ge nte. Lu gares e Vinhos do Bras il 157


CAVE DE ANGELINA
Gr IV - 2009 - VBdT - (C)
vinicolacavedeangelina.com.br
Angelina Tonet foi mulher de muita fibra, dessas que dominam o
,,;.j, \ lar e desenvolvem inúmeras aptidões no trabalho. Tanto era assim
que elaborava os próprios espumantes, artesanalmente. Décadas
~ i:'f
J l depois, o neto André Tonet, graduado enólogo, decidiu seguir avo-
l -\li l lf
cação dos Tonets no mundo do vinho, homenageando a avó. André
ANCELINJ\ Tonet maneja 5 hectares de vinhedos, com as variedades Chardon-
nay, Pinot Noir, Moscato Bianco e um pouco de Bordô, que será,
em breve, substituída por Petit Verdot. O foco de produção está nos espumantes, pelo método
tradicional, mas há também pequenas partidas de vinhos tranquilos, em geral, com uvas de par-
ceiros. A cantina é própria e tem capacidade para 30 mil litros por ano. Atualmente, a Cave de
Angelina oferece os espumantes Domans, nome que homenageia o avô Antônio, que era chama-
do de Dom Antônio, Doman, Domans, com o 's', como nos informa André Tonet, para melhor
sonoridade. Os espumantes são o Domans Brut Branco (80% Chardonnay e 20% Pinot Noir) e
o Domans Brut Rosado (100% Pinot Noir). Ambos são agradavelmente secos, com açúcar resi-
dual de 8g/l. Em 2020 chegou o Nature, com vinho base 50% Chardonnay + 50% Pinot Noir.
Há ainda dois vinhos tranquilos: um Chardonnay e um rosado de Cabernet Franc com Merlot.

FABIAN Vinhedos e Vinhos Finos


Gr IV - 1985 - VBdT* - (C)
vinhosfabian.com. br
Vinícola estabelecida em área própria, com cantina e 1O hectares
de vinhedos em espaldeiras altas. Diferentemente da maioria dos
produtores de vinhos finos da Serra Gaúcha, que são ítalo-descen-
dentes, essa é uma família de imigrantes franceses. Não por aca-
so, a flor-de-lis está na logomarca da empresa. Guerino Fabian é
um incansável experimentador. Em sua vinícola, ele cria vinhos tintos e brancos, com misturas
de mais de vinte castas. Ficou famoso o F35. Além disso, desenvolve processos exclusivos, ob-
jetivando melhores vinhos. O licor de expedição do Fabian Brut Champenoise, por exemplo, é
um vinho Chardonnay com 12 meses em barrica de carvalho. Há trabalho com uvas conservadas
em câmara fria, a 1º C, por três anos. Os vinhos são apresentados nas linhas Intuição, para os
vinhos jovens, Reserva, para os vinhos com estágios diversos em barricas de carvalho francês e
americano, e Gran Fabian, vinhos de guarda, a partir de excelentes colheitas. A linha Reserva
apresenta varietais tintos de Cabernet Sauvignon, Carménere, Malbec, Merlot e Tannat, além de
um branco Chardonnay e um corte Cabernet/Merlot. O Gran Fabian das safras de 2004 e 2005
são expressões VBdT da casa. O 2004 é um corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Ancellotta.
O 2005 tem Cabernet Sauvignon, Merlot, Carménere e Ancellotta. Esses vinhos estavam vivos,
em 2018! Atualmente, o sobrinho Giovani tem forte presença na gestão da vinícola.

158 Rogerio Dardeau


INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA REGIÃO DE MONTE BELO - IPMB

0000000001

É a mais nova indicação geográfica para a elaboração de vinhos finos do Brasil, com mais de
uma variedade licenciada. O registro foi concedido à Associação dos Vitivinicultores de Monte
Belo do Sul (Aprobelo), pelo Inpi, em 13 de dezembro de 2013. Trata-se de uma área de 56,09
km2 , com 80% no município de Monte Belo do Sul e os restantes 20% entre Bento Gonçalves
e Santa Tereza. A Aprobelo congrega as seguintes vinícolas: Vinícola Armênio; Casa Angelo
Fantin; Adega de Vinhos Finos Reginato; Faé Vinhos Finos e Espumantes; Famiglia Tasca; Santa
Bárbara Vinhedos e Vinhos Finos; Adega Dei Monte; Calza Vinhos Finos e Espumantes; Megio-
laro Vinhos; Honório Milani Vinhos Finos e Espumantes.

A região está caracterizada por pequenas propriedades, já contando com dez vinícolas
e seiscentos estabelecimentos vitícolas. Está totalmente georreferenciada, com informações
completas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os vinhos finos poderão
ostentar o selo de indicação de procedência, depois de aprovados pelo Conselho Regulador
e cumpridos os seguintes padrões de identidade e qualidade dos produtos: vinhedos com
controle de produtividade; 100% das uvas produzidas na área geográfica delimitada; padrões
diferenciais de maturação das uvas para vinificação; vinhos elaborados somente com as
variedades autorizadas e com os padrões da região; disponibilidade de levedura nativa
selecionada na região da IP; elaboração, engarrafamento e envelhecimento na área geográfica

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ra sil 159


delimitada; padrões de qualidade química diferenciados para vinhos de qualidade; padrões
de qualidade sensorial dos vinhos. São as seguintes as castas autorizadas, com os vinhos
correspondentes: Riesling Itálico e Chardonnay, autorizadas para elaboração de vinhos
finos brancos tranquilos secos. Essas variedades, juntamente com a Pinot Noir e a Glera,
são autorizadas também para a elaboração de espumantes finos . Para a produção de vinhos
finos tintos tranquilos secos, estão licenciadas as uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc,
Merlot, Egiodola, Tannat e Alicante Bouschet. Para os espumantes, com vinhos-base Moscatel,
estão autorizadas as castas Moscato Branco, Moscato Giallo, Moscato de Alexandria, Moscato
de Hamburgo, Malvasia Bianca e Malvasia de Cândia.
O Conselho Regulador da IP Região de Monte Belo adota as seguintes normas de controle:
cadastro dos vinhedos da região; cadastro das vinícolas; declaração de colheita e de produtos
elaborados; controles diferenciados por análises fisíco-químicas dos vinhos; 100% dos vinhos
levados ao mercado são aprovados pela comissão de degustação; controle e rastreabilidade dos
produtos; rotulagem com as seguintes informações: Região de MONTE BELO - Indicação de
Procedência - (número do selo) .

GENTE que elabora vinhos finos


na área da Indicação de Procedência Região de Monte Belo - IPMB

CALZA, Vinícola
Gr IV - 1995 - VBdT- (C) - EnoT
vinicolacalza.com. br
Certamente essa é a principal vinícola integrante da Aprobelo e da
mais nova indicação geográfica do Brasil. Foi estabelecida pelo enó-
Calza logo Antoninho Calza e sua família. Tem 16 hectares de vinhedos
próprios, onde cultiva principalmente as variedades Tannat, Mer-
lot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Chardonnay. A cantina tem
arquitetura tipicamente colonial. Está instalada em prédio reformado da antiga Vinícola Capoani,
localizada na Linha 80 da Leopoldina. Os vinhedos próprios fornecem 70% das uvas com as
quais são elaborados os vinhos da casa. A produção fica pouco abaixo das 100 mil garrafas/ ano.
Os vinhos são apresentados em três linhas. A linha Calza está composta por um corte Cabemet
Sauvignon, Tannat, Ancellotta, varietais brancos de Chardonnay e Riesling, além de varietais tin-
tos de Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Sangiovese. Essa linha tem ainda os espumantes da
casa: brut champenoise, à base de Pinot Noir e Chardonnay, brut champenoise rosé, a partir do vinho
base de Chardonnay, Pinot Noir e Riesling, brut charmat, com vinho base de Riesling, Chardonnay
e Pinot Noir, e um espumante Moscatel. A linha Ouro Negro tem um estilo reserva, com varietais
barricados de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat. A linha básica, denominada Quinta Adega,
tem cortes e varietais, e é apresentada também na embalagem bag-in-box. A postura articulada do
produtor Antoninho Calza o fez estar associado à Aprobelo e à Aprovale, dada a vizinhança do
Vale dos Vinhedos. O vinho Calza Tannat 2008 conquistou o selo da então IP Vale dos Vinhedos.
Hoje, a Vinícola Calza tem vários vinhos com o selo da própria Indicação de Procedência, a IPMB.

160 Roge rio D ard ea u


CASA FANTIN
Gr IV - 2008 - VBdT- (C) - EnoT
Aristides Fantin é um vitivinicultor entusiasmado pelo que faz,
CASA
8(n
a ponto de ter, ele mesmo, reformado a casa de pedra do bisavô.
FA TIN Hoje, a bela construção, representativa do início da imigração ita-
Vinhos( l'.spumo.n,es
liana, totalmente edificada em blocos de basalto, é a acolhida aos
visitantes. Os vinhedos próprios têm as castas Chardonnay, Mos-
cato, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Merlot. A proposta da vinícola é de vinhos leves,
sem passagem por barricas de madeira. São dois espumantes, um Brut e um Moscatel, e três
vinhos tranquilos varietais das viníferas cultivadas. Todos são rotulados como Casa Fantin. A
família recebe permanentemente visitantes e grupos, sob reserva.

CASA MARQUES PEREIRA


Gr IV - 2015 - VBdT* (I)
Esta é uma bela história. Em 2004, Felipe Marques Pereira adquiriu
terras numa região nobre da Serra Gaúcha, o Vale dos Vinhedos. Em-
CASA
MARQUES bora não sendo do mundo dos vinhos, Felipe respeitou a vocação da
PEREIRA propriedade, a Quinta da Orada, e preservou a viticultura, ali existen-
te. Ano a ano foi realizando colheitas e elaborando vinhos com vini-
cultor parceiro, sob a orientação do talentoso enólogo Marcos Vian,
sempre adegando a produção. A cada degustação que fazia de seus vinhos, com amigos e parceiros,
Felipe ouvia elogios e opiniões muito favoráveis. Finalmente, em 2015, foi constituída a pessoa
jurídica Casa Marques Pereira, com um estoque expressivo de vinhos longevos na adega. Além dos
notáveis vinhos da linha Quinta da Orada, nada mais natural: nasceu a linha Segredos da Adega.
O vinho Casa Marques Pereira Segredos da Adega Gran Reserva Chardonnay 2015 (12,0%), por
exemplo, foi fermentado e afinado em barricas novas de carvalho francês. O resultado é um vinho
com uma bela cor amarelo-ouro e aromas complexos, trazendo notas de abacaxi maduro, uma leve
baunilha e muitas outras. No paladar, traz boa acidez e está envolvente, macio, persistente e muito
equilibrado. Um vinho gastronômico, muito fino, apto a ampla harmonização com aves e peixes re-
fogados com temperos. Segue-se o Pinotage Blush 2017, um rosé de muito boa presença ao paladar.
Mas a linha Segredos da Adega nos brinda ainda com tintos maduros muito marcantes, expressões
de elevado padrão, na maturidade: Gran Reserva Merlot 2005, 2006 e 2010; Gran Reserva Cabernet
Sauvignon 2005, 2007 e 2009; Gran Reserva Tannat 2008 e 2010; Corte A Gran Reserva (Cabernet
+ Merlot + Tannat) 2006; Corte B Gran Reserva (Cabernet + Merlot + Carménere) 2005; Corte C
Gran Reserva (Cabernet + Merlot) 2006. Todos esses tintos têm estágio de 24 meses em barricas
novas francesas. Por enquanto, as vinificações seguem na Vinícola Gheller, em Guaporé.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 161


DE MARI Vinhos Finos e Espumantes
Gr IV - 2007 - VBdT - (C) - EnoT
Pequena vinícola familiar, de Sérgio, Nilva, Ricardo e Marcela De
Mari. Tem 8 hectares de vinhedos com as castas brancas Chardon-
nay, Moscato e Riesling Itálico, além das tintas Cabemet Sauvignon
e Merlot. As vinificações ainda são feitas na Vinícola Calza. A fanulia
prevê para breve uma linda cantina, em prédio que pertenceu à histórica Companhia Vinícola Rio
Grandense (Vinícola Beija-Flor) . Os primeiros vinhos varietais, o Riesling, o Cabemet Sauvignon
e o Merlot, mostraram uma tendência a vinhos leves. O brut é um Charmat elaborado com vinho
base 100% Chardonnay. O resultado é um espumante leve, vibrante, com muitas e rápidas bolhas.
No paladar, fica envolvente e persiste, combinando perfeitamente com os petiscos. Em 2018, a
produção foi de 10.000 garrafas.

DOMÍNIO VICARI
Gr V - 2008 - VBdT* - (C) - 'N'
dominiovicari.blogspot.com.br
Este é mais um projeto de vida no mundo dos vinhos artesanais
brasileiros. Sonho da mãe ceramista Lizete Vicari com o filho enó-
logo José Augusto Vicari Fasolo, vivido em diversas etapas, desde
que instalaram cantina na Praia do Rosa, no litoral catarinense.
nomf n10V1ca n
Lizete é dessas pessoas que desafiam realidades e enfrentam vi-
cissitudes com força e serenidade. Em 2015, após a experiência no
município de Imbituba - SC, estabeleceu-se em Monte Belo do Sul - RS, numa pequena proprie-
dade com área total de 3 hectares, onde implantou 1, 7 hectare de Chardonnay, Riesling Itálico e
Pinot Noir, além de um experimento em 24 linhas de Vermentino. Lizete travou uma luta muito
intensa naquela propriedade. As terríveis doenças fúngicas, especialmente o míldio, são pre-
senças frequentes, extremamente difíceis de serem enfrentadas somente com ações orgânicas e
biodinâmicas. A decisão foi mudar. A propriedade foi vendida e Lizete transferiu-se para Torres
Vedras, em Portugal, onde adquiriu um imóvel e vem criando seus vinhos com José Augusto, a
partir de uvas de terceiros. Já nasceram por lá um Gewurztraminer com Fernão Pires, um Mos-
cato Graúdo, um Caladoc, um Tinta Roriz, um Castelão, um Tinta Barroca e um Trincadeira,
experimentos que nos apontam promissor futuro. A previsão é de um vinhedo Domínio Vicari
português, para breve. Mas a ideia da família Vicari é seguir vinificando também no Brasil, com
as uvas de viticultores que também pratiquem a filosofia de química zero nos vinhedos. Todas
as etapas, da colheita à vinificação, ocorrem de forma totalmente artesanal. No Brasil, a base da
família seguirá sendo o município de Monte Belo do Sul. Os vinhos são rotulados com a deno-
minação Domínio Vicari, com uma linda mandala e o brasão do nome. Lizete Vicari é apaixonada
por vinificar. Em 2018, criou vinhos a partir de 11 castas e tem outros a engarrafar. São notáveis
os brancos Domínio Vicari Gewurztraminer, Domínio Vicari Ribolla Gialla e o tinto Domínio Vicari
Sangiovese, além de espumantes únicos.

162 Roge ri o D a rdea u


EDUARDO MENDONÇA Vinhos Livres
Gr V - 2016- VBdT- (C) - 'N'
Trata-se de mais um discípulo de Lizete Vicari. Eduardo Mendon-
ça, jovem de origem familiar portuguesa, com uma experiência de
quinze anos como viticultor, lançou-se à elaboração de vinhos sem


intervenção e vem tendo reconhecimento. Tem sido discreto na di-
vulgação do próprio trabalho, mas já elabora 2.000 garrafas/ano.
Eduardo tem um pequeno vinhedo, mas também recorre a uvas de
vizinhos, quando necessita. Suas uvas são Lorena, Merlot, Moscato Bailey e Borgonha. A filosofia é
a dos vinhos naturais, sem química, sem filtração e sem SOr Gosta de vinificar, inclusive os brancos,
com as cascas. O espumante Bailene, com vinho base Moscato Bailey mais 10% de Chardonnay,
tem grande expressão: uma bonita cor rosada, borbulhas intensas, cremosidade e um bom volume.

FACCIN Vinhos
Gr V - 2016- VBdT- (C) - 'N'
faccinvinhos.com
Iniciativa de Antônio e Bruno Faccin, pai e filho, consolidando uma
caminhada de muitos anos em viticultura e elaboração de vinhos
para consumo familiar. A família iniciou-se na vitivinicultura no
FACCIN"
------.,.------ ano de 1936, na comunidade Linha Armênio Baixa, município de
Monte Belo do Sul. Ali se instalaram Ermínio Faccin e Joana Volpa-
to (avós de Antônio). Constituíram família e começaram com o cultivo da videira e a produção de
vinhos. Lindo Faccin (pai de Antônio) foi o sucessor, que se casou com Maria Luiza Vicari Faccin,
seguindo com a produção de uvas e vinhos. Chegamos então a Antonio Faccin, um dos 12 filhos
do casal, que se casou com Clarice Lourdes Benvenutti Faccin, nunca interrompendo a atividade
vitivinícola. A filosofia da vinícola, nas palavras de Bruno Faccin, é "elaborar vinhos sem utilização de
aditivos e sem passagem por madeira, no sentido de que o vinho demonstre todo o seu potencial, tornando-o
assim um produto sem máscaras". A área total é de 9,4 hectares, com 6,5 hectares de vinhedos, alguns
em renovação. As castas em produção são Chardonnay, Riesling Itálico, Pinot Noir e Merlot, além
das americanas Isabel, Lorena, Hebermont, Concord e Seibel. Antônio e Bruno Faccin trabalham
ainda na preservação da casta Zeperina, uma vitis bourquina, também conhecida como Santiago
(Cynthiana). Em avaliação estão Gewurztraminer, Cabernet Franc e outras. As mudas foram ad-
quiridas na França, outras em Minas Gerais e há aquelas que vieram com os primeiros colonos,
da Itália. A ideia é produzir em torno de 3.000 garrafas por ano, na cantina própria.

SANTA BÁRBARA, Vinícola


Gr III - 1992 - VBdT - (C)
vinicolasantabarbara.com. br
São 15 hectares de vinhedos, com as variedades tintas Alicante
Bouschet, Arinarnoa, Marselan, Rebo e Tannat, além das brancas
Chardonnay, Moscato e Riesling. Elabora em cantina própria, lo-
calizada no município de Garibaldi, vinhos finos tranquilos e es-

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 163


pumantes em três linhas: Romano Cadetto (linha de maior destaque), Santa Bárbara e Villa Qua-
renta, esta última com apresentação também em bag-in-box. O enólogo é Elenir Antonio Cesca.

SBAGLIO
Gr V - 2015 - VBdT- (C)
O projeto dos amigos enófilos Ivan Cini e Ronaldo Turri é absolu-
tamente singular, pois não tem nem previsão de tornar-se comer-
S8AGL10 cial. Por segurança, porém, já estão inscritos e licenciados como
agroindústria familiar. Tudo começou com o desejo de elaborar
vinhos próprios. Sem conhecimentos de Enologia, convocaram amigos com formação e se ini-
ciaram. Primeiramente, adotaram castas brancas, Chardonnay e Riesling Itálico, cultivadas por
familiares, e buscaram parceiros viticultores para adquirir pequenas partidas das tintas Merlot,
Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. A cantina é literalmente o porão de uma casa
da família, no bairro de Santa Bárbara, mas está surpreendentemente bem equipada. A filosofia
é a de realizar as vinificações com mínima intervenção. Na fermentação, o comportamento é
clássico: usam leveduras selecionadas e controlam a temperatura. O conservante é o mínimo
necessário. Não usam processo químico de clarificação e não filtram. Os espumantes são nature,
não passam por dégorgement. Os varietais que degustei estavam muito bons: Espumante Brut,
Chardonnay, Riesling Itálico, Malbec e um muito expressivo Merlot 2015. Ah, sim, Sbaglio é uma
brincadeira dos amigos, que decidiram batizar os próprios vinhos de "erro", "equívoco", o que,
sinceramente, não são!

VALLEBELLO, Vinícola
Gr IV - 2018 - VBdT* - (C)
Vinícola familiar liderada pelo enólogo Tiago Lazzarotto, jovem
-
profissional com excelente currículo, consolidado em boas canti-
'
nas, antes de propor à família o projeto Vallebello. A propriedade
\/ ,b..LLEBELLo tem 6,5 hectares de vinhedos com as variedades Chardonnay,
Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir. A cantina é própria.
Os vinhos tranquilos, por enquanto, são varietais das castas im-
plantadas, todos rotulados como Vallebello. Os espumantes são
um brut branco e um brut rosado.

VINHAS DO TEMPO
Gr V - 2011 - VBdT* - (C)
vinhasdotempo.com.br
Daniel Lopes é um jovem inquieto. Graduado em comércio exte-
rior, em dado momento decidiu realizar um Mestrado na França.
Foi o bastante para o seu envolvimento profundo com o mundo
do vinho, não somente nos prazeres, mas principalmente no apro-
fundamento dos estudos de vitivinicultura. A decisão de elaborar
os próprios vinhos veio automaticamente, dentro da filosofia de vi-

164 Roge ri o D a rdea u


nhos naturais. Como ele mesmo explicita em seu blog: "Na inquieta busca por vinhos livres, autênti-
cos e sem manipulação, nasce a Vinhas do Tempo, um projeto que busca expressar em seus vinhos, da maneira
mais pura possível, a relação entre o homem e a natureza. Em 2011 começaram as vinificações experimentais,
porém somente a partir de 2017 os vinhos foram a público, através do lançamento da primeira safra oficial
do projeto, que tem como foco a elaboração de PÉT-NATs e alguns vinhos tranquilos de castas espedficas,
valorizando sempre o terroir em que as uvas foram cultivadas. O foco não é quantidade, mas sim a quali-
dade aliada à autenticidade. Por isso o projeto conta com parceiros que buscam o cultivo de uvas de extrema
qualidade, das principais regiões vitivinícolas do Brasil. O processo de desenvolvimento das plantas é acom-
panhado durante todo o ano, para que, no momento da vinificação, a interferência seja a mínima possível.
Atualmente, todos os vinhos são elaborados com uvas de parceiros, sendo o objetivo principal a elaboração de
vinhos com uvas próprias, que sigam uma filosofia de cultivo compatível com os ideais já aplicados na vinifi-
cação de baixa intervenção. Os vinhos são elaborados em escala artesanal, resgatando práticas de vinificações
ancestrais, com fermentação espontânea, sem filtração e estabilizados naturalmente, preservando ao máximo
seu caráter natural. São vinhos independentes, que não seguem conceitos ou padrões preestabelecidos". Até
o fechamento deste livro, Daniel Lopes havia apresentado os seguintes vinhos, todos elaborados
em tanques de inox e de polipropileno: Cuvée A Vindimas 2017 (400 garrafas) e 2018 (300 garrafas)
- dois varietais de Pinot Noir elaborados com uvas de vinhedo em Encruzilhada do Sul, RS, de
fermentação integral (cachos inteiros), com leveduras indígenas; estágio em barricas francesas
usadas; graduação alcoólica de 11,0% ABV, sem filtração e estabilizado naturalmente. ln Vitro
Pét-Nat Vindima 2017 (400 garrafas) - Espumante natural (Pét-Nat) rosé, 100% Pinot Noir, tam-
bém de Encruzilhada do Sul; espumante com pressão de 4ATM, portanto inferior à pressão dos
tradicionais; rosé de prensagem direta, elaborado pelo método ancestral de fermentação única, a
partir de leveduras indígenas, na própria garrafa; fechamento com tampa metálica crown cap; teor
alcoólico de 10,5% ABV; apresenta turbidez, em razão da presença das borras. Petulante Natural
Rosé Vindima 2018 (300 garrafas) - Espumante natural (Pét-Nat) rosé, 100% Pinot Noir, também
de Encruzilhada do Sul. É um espumante com pressão de 4ATM, portanto inferior à pressão
dos tradicionais. É um rosé de saignée, com, aproximadamente, 9 horas de maceração pelicular,
elaborado pelo método ancestral de fermentação única, na garrafa, com leveduras indígenas. Fe-
chamento com tampa metálica crown cap. Teor alcoólico de 12,0% ABV. Apresenta turbidez, em
razão da presença das borras. Petulante Natural Macerado Vindima 2018 (350 garrafas) - Espumante
natural (Pét-Nat) de maceração curta, 100% Chardonnay, também de Encruzilhada do Sul; espu-
mante com pressão de 4ATM, portanto inferior à pressão dos tradicionais; uvas maceradas por
dois dias, com prensagem posterior; elaborado pelo método ancestral de fermentação única, a
partir de leveduras indígenas, na própria garrafa; fechamento com tampa metálica crown cap; teor
alcoólico de 11,0% ABV; Apresenta turbidez, em razão da presença das borras.

OUTROS PRODUTORES
Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes, na área da IPMB,
todos no Grupo III- produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Adega da Serra; Adega
de Vinhos Finos Reginato; Adega del Monte; Famiglia Barbieri; Famiglia Tasca; Honório
Milani Vinhos Finos e Espumantes; Megiolaro Vinhos; Vinhos Faé; Vinícola Armênio.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 165


INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA FARROUPILHA - IP Farr
INDICAÇÃO OE PROCEO~NCIA FARROUPILHA: llmite e localização

FarroupHha
lndicaçio de Procedincia

-·1 ~~~~f l
-
,m.
'--' i....•--

Antiga região produtora de vinhos de mesa, Farroupilha avança na elaboração de vinhos


finos e no enoturismo. O Vale Trentino já é um consagrado roteiro essencialmente enoturístico
na localidade de Forqueta, distante 15 km da área urbana do município. Registros indicam
que o nome Forqueta teria surgido como referência à localização de uma casa comercial no
entroncamento da então Estrada Geral com a estrada que levava aos Santos Anjos, hoje um
distrito, onde se localizam várias vinícolas. O entroncamento tinha a forma de um garfo,
"forchetta" em italiano, derivando daí o nome. Além da vitivinicultura, o lugar é marcado pela
religiosidade das famílias ítalo-descendentes. Há quinze capelas ou oratórios pelos caminhos,
sendo uma em devoção a Nossa Senhora da Salete, padroeira dos agricultores, e outra dedicada
a São Roque, datada de 1898, sendo uma das mais antigas de que se tem conhecimento.

FARROUPILHA

Desde 14 de julho de 2015, está definida a Indicação de Procedência Farroupilha para


vinhos finos Moscatel, por concessão do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) à
Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin).
Trata-se de uma área geográfica contínua de 379 ,20 km2, abrangendo integralmente o município
de Farroupilha. A IP poderá produzir vinho fino branco Moscatel, vinho Moscatel espumante,
vinho frisante Moscatel, vinho licoroso Moscatel, mistela simples Moscatel e brandy de vinho
Moscatel. Em 3 de janeiro de 2019, foi sancionada, pelo presidente da República, a Lei 13.795,
que confere o título de Capital Nacional do Moscatel à cidade de Farroupilha.

166 Ro ge ri o D a rdea u
A IP foi concedida à Afavin, com as seguintes empresas vinícolas: Adega Chesini; Adega
Silvestri; Basso Vinhos e Espumantes; Cooperativa Vinícola São João; Golden Sucos; Irmãos
Benacchio; Lazzmar Indústria de Vinhos; Vinhos Don Giusepp; Vinhos Finos Velha Cantina;
Vinhos N. S. de Caravaggio; Vinhos Xangrilá; Vinícola Cappelletti; Vinícola Colombo; Vinícola
Perini; Vinícola Tonini.

GENTE que elabora vinhos finos


na área da Indicação de Procedência Farroupilha - IPFARR

ADEGA RIGON
Gr III - 2013 - VBdT - (C)
A Agrovinícola Rigon Ltda. é um pequeno empreendimento fa-
miliar fundado e gerenciado por Marcelo Rigon, em sociedade
com os pais, Severino e Albina Rigon. Desde 2004, Marcelo Rigon
está envolvido com a vitivinicultura, elaborando vinhos em cantina
parceira. Em 2012, edificou instalações próprias em terras da fa-
mília, iniciando nova etapa. Todos os vinhos Rigon são elaborados
com uvas dos próprios vinhedos. São 10 hectares, com as viníferas
Trebbiano Toscano, Chardonnay, Moscato Giallo, Merlot e Cabernet Sauvignon. A família cultiva
também as uvas comuns Bordô, Isabel, Carmem. Os rótulos atuais são os espumantes brut tradi-
cional, nature e moscatel, os varietais finos Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Trebbiano
e Moscato Giallo, além de tinto de mesa, branco de mesa e suco de uva natural integral. A pro-
dução anual está, em média, entre 13 e 15 mil garrafas de vinho fino.

CÃO PERDIGUEIRO
Gr V -2017 - VBdT* - (C)
Projeto nascido como de "vinhos autorais", que rapidamente vem
e AI r,..Aoi~f,ÍPI ampliando a presença de mercado, como sempre, em face das de-
•• •·: •: -; -~~ - · mandas de amigos pelos rótulos de alto padrão elaborados. O enólo-
go Arlindo Menoncin (Menon) busca viticultores com castas muito
bem cuidadas, e seleciona pessoalmente cachos e bagas, em colhei-
tas manuais. O nome do projeto mostra que há uma caça às uvas de qualidade, que são "farejadas"
por ele. Em seguida, transporta-as para a cantina da família Rigon, em Farroupilha, RS, e vinifica
pessoalmente. A filosofia do projeto é valorizar o colono, o agricultor, sempre declarando a origem
das uvas. O enólogo deseja explicitar que, se o vinho está excelente, isso se deve, em grande parte,
ao trabalho do viticultor. Já foram elaborados: Cão Perdigueiro Chardonnay 2017, único vinho
daquela colheita, com uvas da família Rigon; Peverella 2018, vinificado em laranja, com uvas do
produtor Strapazzon, nos Caminhos de Pedra; Trebbiano 2018, também com frutos da família
Rigon. Menon, como é conhecido, colhe sempre os melhores cachos, não se importando com a de-
corrência natural de ter de pagar mais por isso. Em 2019, foram elaborados espumantes, inclusive
um por método ancestral.

Gen te. Lugares e Vin hos do B rasil 167


CASA PERINI
Gr II- 1970- VBdT- (C) - EnoT
vinicolaperini.com. br
Empreendimento iniciado por João Perini, em 1929. Em 1970, Be-
nildo Perini, filho de João, e neto do patriarca imigrante Giuseppe,
deu contorno de empresa ao negócio. Em 1996 terceirizou a canti-
CASA PERIN1
na em Garibaldi, para elaboração de espumantes. Em 2005, a Perini
consolidou sua posição, adquirindo as instalações da Vinícola De
Lantier. Atualmente, a Perini tem 80 hectares de vinhedos próprios, em Farroupilha, e 12 hecta-
res em Garibaldi. Os vinhedos são conduzidos em Y. A cantina própria tem capacidade de arma-
zenamento de 16 milhões de litros. A Enologia está a cargo de Franco Perini e Leandro Santini.
A casa elabora vinhos de mesa, vinhos finos correntes e VBdT. As linhas elaboradas são: Jota Pe,
Arbo, Macaw, Casa Perini e Perini. As duas últimas estão dedicadas aos VBdT, com destaque para o
Perini Qu4tro, os vinhos Parcela Única e os varietais da recém denominada linha Vitis. Essa é uma
das vinícolas do Grupo II, a qual, elaborando grandes volumes de vinhos de mesa e vinhos finos
correntes, vem buscando avanços qualitativos para a elaboração de vinhos brasileiros de terroir,
VBdT. A linha Parcela Única, por exemplo, é um esforço de identificação de partes de terreno a
determinadas castas (single vineyard) . Os varietais Parcela Única são, de fato, claras expressões
das castas implantadas em parcelas, no chamado Vale Trentino, em Farroupilha. São Chardon-
nay, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir. A Casa Perini oferece ainda uma
ampla linha de espumantes, sendo dois elaborados pelo método tradicional, um brut e outro
nature, com vinhos base a partir de Chardonnay com Pinot Noir, além de outros pelo método
Charmat e um premiadíssimo Moscatel.

CAVE ANTIGA
Gr IV - desde 2009, após 1928 - VBdT* - (C) - EnoT
Um dos aspectos mais importantes na gestão das organizações é,
sem dúvida, a capacidade de superação de obstáculos, em momen-
tos de dificuldades. A Cave Antiga fez mais: a vinícola se rein-
ventou. Sob o comando do enólogo João Carlos Taffarel, família,
sócios e profissionais reergueram um patrimônio que, agora, pas-
sados quase dez anos do início de uma nova fase, apresenta vinhos
notáveis. As instalações próprias, da recepção e varejo à cantina, estão revitalizadas, em espaços
que resgatam uma bela arquitetura colonial, agregando criativos elementos de decoração, como
lustres elegantemente construídos a partir de originais galhadas de videiras secas. Uma renova-
ção completa, que ainda nos trará muitas surpresas. Os vinhos são elaborados a partir de uvas
dos vinhedos próprios, no município de Cotiporã, e de uvas de viticultores parceiros. Há varie-
tais brancos, com destaque para o Cave Antiga Moscato 2018 IP, e tintos. A linha Venerabile e o
tinto premium Cave Antiga Iridium 2009 selam um estilo com aptidão à longevidade. Entre os
espumantes, em ampla linha, o destaque fica para o Cave Antiga Nature, com vinho base 100%
Chardonnay, e menos de 3g/l de açúcar residual. Em 2020, a Cave Antiga lançou o vinho Taffarel
2019, um corte entre a casta alemã Schõnburger e a francesa Chardonnay.

168 Rogerio Dardeau


MAISON DACHERY
Gr IV - 2005 - VBdT* - (C)
O empreendimento vinícola de Roberto Dachery é, sem dúvida,

I
iviAISON DACHERY
um projeto de vida. Ele foi um dos enólogos da Maison Fores-
tier, nos anos 1980. Quando a empresa deixou o Brasil, Dachery
tomou um rumo diferente da Enologia, sem nunca abandoná-la.
Estabeleceu parcerias com viticultores, num modelo de negócio
similar ao que vivera na Forestier, e vem elaborando seus pró-
prios vinhos, exclusivos. A Maison Dachery é uma das poucas vinícolas brasileiras de origem
familiar francesa. O desejo é ter vinhos que sejam a expressão mais forte do próprio terroir na
Serra Gaúcha, com muita condição de longevidade. A ideia é de longo prazo, como o próprio
Roberto diz, "para aparecer em trinta anos". O objetivo é elaborar vinhos muito especiais e obter
muito reconhecimento nacional e internacional, no sentido de agregar valor aos rótulos. Atu-
almente, a Maison Dachery tem os seguintes vinhos brasileiros de terroir: Dachery Virtuoso 2005
(corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat de maceração lenta, engarrafado em 2007);
Dachery Millésime 2005 (corte entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Tannat);
Dachery Terroir Serra Gaúcha 2005 (corte entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot,
elaborado por meio da técnica de uvas sobre uvas ou cofermentação); Dachery Raimundo 2005
(corte Cabernet Sauvignon + Merlot, engarrafado em dezembro de 2007). A casa apresenta
ainda três varietais: Dachery Varieté Cabernet Sauvignon, Dachery Varieté Merlot e Dachery Varieté
Tannat. Em tanques, a casa tem o Dachery Théophile. O Dachery Cuvée Historique 2005 é um inte-
ressante corte entre Cabernet Sauvignon (70%) e Tannat (30%), no qual o vinho da Cabernet
Sauvignon recebeu o corte do vinho da Tannat, de maturação precoce, quarenta dias depois da
vinificação deste. O resultado é um vinho encorpado, com uma graduação alcoólica expressiva
de 14,0%. A cor é rubi intensa, quase púrpura. Os aromas são complexos, mostrando trufas,
compotas de frutas vermelhas e tabaco. No paladar, o vinho mostra um bom volume, maciez
e ótima persistência. É apto à combinação com pratos de carnes temperadas e massas com
molhos picantes. O pato ao vinho recebe muito bem o Dachery Cuvée Historique 2005. Trata-se
de um tinto muito elegante. No fechamento deste livro, a Maison Dachery vivia um período
de produção interrompida, seguindo com a comercialização de estoques.

MAXIMO BOSCHI
Gr IV - 1998 - VBdT* - (C)
maximoboschi.com.br
Empreendimento criado pelos enólogos Daniel Dalla Valle, que
também assina vinhos na Casa Valduga, e Renato Antonio Sava-
ris, estabelecido na Serra Gaúcha, em área que pertenceu aos fa-
miliares imigrantes. Elabora pequena produção de espumantes e
MAXIMOBOSCHI varietais tintos e brancos. Tem a filosofia de vinhos longevos, sem
desconsiderar os vinhos jovens. Os donos fundamentam a opção
em Eclesiástico 9: 15, no qual se encontra: ''Amigo novo é vinho novo: deixe que envelheça e depois o
beberá com prazer". São destaques o Cabernet Sauvignon 2000 e o Merlot 2000, que estavam no mer-

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 169


cado até recentemente, além do histórico Chardonnay 2004, todos, hoje, ícones da vinícola. São as
seguintes as linhas: Espumante pelo método Asti - Vezzi per Boschi Moscatel; Espumantes pelo
método clássico, tradicional ou champenoise - Biografia e Racconto; Espumantes pelo método
Martinotti (Charmat) - Vezzi per Boschi Brut Branco e Vezzi per Boschi Brut Rosé. As linhas de
vinhos tranquilos são: vinhos tintos de guarda - Biografia Cabernet Sauvignon e Merlot; vinhos
tintos jovens - Vezzi per Boschi, com varietais das castas Cabernet Sauvignon e Merlot; vinho
branco de guarda - Biografia Chardonnay. A empresa aplica parte dos resultados financeiros que
obtém em projetos sociais na região em que está situada.

MONTE PASCHOAL
Gr IV - 1990- VBdT* - (C)

MONTE
PASCHOAL

BASSO
Gr II- 1940- VM + VBdT- (C)
vinicolabasso.com.br
Os vinhos Monte Paschoal constituem marca do grupo Basso, or-
ganização de porte expressivo, nascida no distrito farroupilhense
de Monte Bérico, sucedendo à antiga Vinícola Irmãos Basso. A em-
o
VINHOS E ESJ>UMANTES
presa Basso Vinhos e Espumantes, administrada por um elenco
profissional, coordenado por Fabiano Basso, elabora anualmente
mais de 6 milhões de litros de derivados de uva e tem tanques para
armazenar 9 milhões de litros, em cantina própria. Tem vinhedos conduzidos em Y, mas também
compra uvas de parceiros. A assessoria enológica fica por conta de Marcos Vian. Os produtos
Basso são apresentados por meio de duas divisões: Dei Grano, que elabora vinhos de mesa e su-
cos; Monte Paschoal, com três linhas de VBdT: Reserva (Pinot Noir, Merlot e Tannat), Dedicato
(varietais barricados de Chardonnay, Pinot Noir, Merlot, Cabernet Sauvignon e Tannat) e Virtus
(varietais leves, apresentados em garrafas com tampa de rosca, das castas Moscato, Chardonnay,
Merlot Rosé, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Sauvignon Suave, Tannat e Tempranillo).
Os espumantes estão presentes sob as denominações Virtus Qovens, Charmat), Monte Paschoal
(Charmat) e Dedicato (método tradicional) . Há rótulos apresentados em 187ml e 250ml. A casa
vem trabalhando também para o público jovem, com frisantes branco e rosado, leves e refrescan-
tes, à base da casta Moscato, com 7,0% de teor alcoólico. A empresa Basso Vinhos e Espumantes
exporta para a Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Noruega. O grupo é controlador
da vinícola Lacave, de Caxias do Sul, e da Vinhos Canção.

170 Rogerio Dardeau


PLÁTANOS, Vinícola dos
Gr IV - 2014 - VBdT* - (C)
Mais um empreendimento dos dinâmicos e amigos enólogos An-

ti
derson Schmitz e Marcos Vian, também sócios na consultoria
Enovitis, que assessora inúmeros produtores Brasil afora. A Plá-
tanos é um trabalho de reconstituição de uma vinícola que não
- VlNÍCOLA DOS - operava há muitos anos. Foi totalmente renovada e reequipada
PLÁTANOS pelos novos sócios, com uso de alta tecnologia. Elabora vinhos
para clientes, bem como tem rótulos próprios, sempre que os
sócios constatam elevado padrão de determinada colheita. As instalações apresentam uma
bonita arquitetura típica da colônia italiana, com paredes externas em tijolos maciços apa-
rentes. Os primeiros vinhos com rótulos próprios foram da safra de 2015, literalmente em
quantidades de butique. Caso você encontre, num contrarrótulo, a clássica sentença "vinho ela-
borado exclusivamente para.......... , por CNPJ 90.129.388/0001-18", significa que tem a garantia
de Anderson Schmitz, Marcos Vian e Vinícola dos Plátanos.

SÃO JOÃO, Cooperativa Vinícola


Gr II- 1931 - VM- (C) - EnoT
Iniciativa do produtor Júlio Mangoni, que viu a perspectiva de
melhores resultados da vitivinicultura, mediante a associação
com outros produtores em uma cooperativa. Em mais de 80 anos
coo,EIU,TIVA VIN1COLA de história, os negócios se consolidaram e são processados mi-
SÃOJOÃO lhões de quilos de uvas de vinhedos próprios, dos mais de 400
associados. São cultivadas as viníferas Cabernet Sauvignon, Mer-
lot, Tannat, Chardonnay, Riesling e Moscato, além das comuns
Isabel e Niágara. A cantina é muito bem equipada. Seus vinhos são organizados em duas
linhas: Castellmare, para os vinhos finos, e San Diego, para os vinhos de mesa, apresentados
em garrafas, bag-in-box e garrafões. A enologia está a cargo de uma equipe coordenada por
Valmor Pozza. Nascem na cantina da Cooperativa Vinícola São João os espumantes Barão
Invest, negociante citado adiante, em título específico.

OUTROS PRODUTORES
Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes, na área da IP
Farroupilha, todos do Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Vinícola
Cappelletti; Adega Chesini, que elaborou o VBdT Chesini Gran Vin 2005 (100% Cabernet
Sauvignon) . Os espumantes Chesini são rotulados como Cave Dei Veneto; Vinícola De Cezaro,
com sucos e vinhos de mesa orgânicos; Vinícola Tonini - João.

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 171


SERRA GAÚCHA ALÉM DAS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

Outros lugares na Serra Gaúcha, nos quais vinhos finos são elaborados, não
abrangidos por nenhuma indicação geográfica (a Serra Gaúcha é, hoje, considerada zona
de produção, pelo decreto 8.198/ 2014) .
A Serra Gaúcha, com seus inúmeros municípios, é a macrorregião tradicional, onde
nascem, hoje, 80% dos vinhos finos brasileiros. Para lá foi encaminhado o maior contingente
de imigrantes italianos, chegados ao Brasil a partir de 1875. Está situada a 29º de latitude Sul,
entre 400 metros e 700 metros acima do nível do mar. O contorno é amplo, especialmente
no sentido norte, rumo aos Campos de Cima da Serra. O clima é temperado a quente, com
noites temperadas e, frequentemente, elevada umidade. As temperaturas médias ficam entre
16 ºC e 18 ºC. A ocupação territorial herdou o formato da colonização, ou seja, o minifúndio, a
pequena propriedade. Apesar de não ostentar as melhores condições climáticas nem a melhor
topografia para o cultivo de videiras, a Serra Gaúcha é a macrorregião brasileira que se pode
considerar domada. Sobre aquele espaço há inúmeros estudos e registros, em especial, pela
Embrapa Uva e Vinho. As vindimas, ali, estão categorizadas, a partir de 1982: cinco estrelas -
as safras de 1991, 1999, 2005, as três consideradas excepcionais, e mais as de 2012, 2018 e
2020, esta unanimemente tratada como 'a safra das safras'; quatro estrelas - 2019, 2017, 2014,
2011, 2010, 2008, 2006, 2004, 2002, 2001, 2000, 1997, 1996, 1986 e 1982; três estrelas - 2015,
2016, 2013, 2009, 2007, 1995, 1994, 1990, 1988, 1987 e 1985; duas estrelas - 2003, 1998,
1993, 1992, 1989, 1984 e 1983. Há especialistas que atribuem também cinco estrelas às
safras de 2002, 2004 e 2006, na Serra Gaúcha. Prefiro admitir que foram, sim, safras quatro
estrelas muito especiais, numa interpretação muito pessoal. Como o leitor pode perceber,
quero agrupar no elenco máximo apenas aquelas incontestáveis. Os produtores instalados
na Serra Gaúcha adquiriram o domínio do terroir, dos microclimas, do manejo, e já podem
garantir diversos vinhos brasileiros de terroir, em padrões internacionais. Listamos, por ordem
alfabética, os seguintes municípios: Alto Feliz, Antônio Prado, Bento Gonçalves, Boa Vista
do Sul, Campestre da Serra (pode ser que venha a integrar a região dos Campos de Cima da
Serra) , Carlos Barbosa, Casca, Caxias do Sul, Coronel Pilar, Cotiporã, Dois Lajeados, Fagundes
Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Gramado, Guaporé, Ipê, Monte Belo do Sul,

172 Roge ri o D a rdea u


Nova Araçá, Nova Bassano, Nova Pádua, Nova Prata, Nova Roma do Sul, Protásio Alves, Santa
Tereza, Santo Antônio do Palma, São Marcos, São Valentim do Sul, Serafina Corrêa, Veranópolis,
Vespasiano Correa, Vila Flores e Vista Alegre do Prata. Na Serra Gaúcha, além de todos os
produtores de vinhos finos elencados adiante, e daqueles já apresentados nos contextos das
cinco IGs ali localizadas, há inúmeras outras pequeninas iniciativas de elaboração de vinhos
finos, algumas com surpreendente padrão de qualidade.

VIVEIRO

VIVEIRO SINIGAGLIA
(Bento Gonçalves, RS, 2001)
viveirosinigaglia.com
Tradicional empreendimento vitícola da Serra Gaúcha fundado pelo

~ agrônomo Edgar Sinigaglia, depois de larga experiência na Coope-


rativa Vinícola Aurora, onde teve a oportunidade de conhecer expe-
Sinigaglia riências viveiristas em diversos países, havendo criado produção de
mudas naquela cooperativa e orientado os viticultores associados.
Falecido precocemente, em 2016, deixou o controle da empresa com o filho Edgar SinigagliaJr.,
que vem desenvolvendo o Viveiro e elaborando vinhos próprios, no projeto Aventura Garage
Wine, em sociedade com Roberto Cainelli Jr.

GENTE que elabora vinhos finos em outros municípios da Serra Gaúcha,


não abrangidos por indicações geográficas
Aqui, são apresentados, por municípios da Serra Gaúcha, em ordem alfabética, os principais
produtores cujas localizações não coincidem com indicações geográficas. Consideramos
relevante reuni-los por municípios, para que um leitor viajante possa decidir visitar aqueles
fisicamente próximos. Dentro de cada município, estão relacionados, por ordem alfabética,
produtores de vinhos finos dos cinco grupos sugeridos. Os municípios são: Alto Feliz, Antônio
Prado, Bento Gonçalves (fora da DOW), Canela, Carlos Barbosa, Casca, Colinas, Caxias do
Sul, Cotiporã, Encantado, Fagundes Varela, Garibaldi, Gramado, Guaporé, Nova Roma do Sul,
Picada Café, Santa Teresa, São Marcos, São Valentim do Sul e Veranópolis

ALTO FELIZ

DON GUERINO Vinhos Finos


Gr IV - 2000 - VBdT* - (C) - EnoT
donguerino.com.br
Vinícola dedicada integralmente aos vinhos brasileiros de terroir,
@ a partir do êxito empresarial da família Motter nos negócios de
DON GUERINO vinhos de mesa. Foi fundada por Osvaldo Motter e sua esposa,

Gen te. Lugares e Vin hos do B ras il 173


Salete. São 55 hectares de vinhedos, produzindo castas de Vitis Vinífera. Passo a passo e com
muita determinação, o casal foi formando os filhos, enquanto edificava uma belíssima e bem
equipada cantina, que hoje conta com amplas instalações para enoturismo, restaurante, sala
de conferências e um <leque magnífico, avistando a serra. Elabora as seguinte linhas de vinhos
finos: Espumantes, com sete rótulos, num grande espectro de opções, pelos métodos Asti,
Charmat e Charmat longo; Lúmen, com dois espumantes elaborados pelo método Charmat
longo; Sinais, com seis varietais de entrada, fechados com tampa de rosca, das cepas Merlot,
Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Moscato Giallo, Riesling Itálico e Malbec Rosé; Reserva,
com cinco varietais tintos - Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Teroldego, Pinot Noir - e um
Chardonnay, todos sob a denominação Don Guerino; Vintage, com os varietais Malbec e Tor-
rontés. A linha Gran Reserva apresenta o notável corte Traços, entre vinhos das castas Merlot,
Tannat, Cabernet Sauvignon, Teroldego e Ancellotta, com estágio de 12 meses em barricas no-
vas de carvalho francês (60%) e americano (40%) . Em 2019, apresentou o Don Guerino Terroir
Selection Malbec 2017 Barrei Selected, um single Vineyard, típico premium argentino de alta
gama. A vinícola tem ainda o vinho E/ Gaucho, elaborado a partir de uvas Tannat, da parcela mais
antiga da vinícola, implantada em 2001 , em Alto Feliz. Foi vinificado com leveduras indígenas e
passou por maceração pós-fermentativa e afinamento em barricas de carvalho francês e ameri-
cano, por nove meses. A Vinícola Don Guerino importou da Itália quatro ânforas de 450 litros,
cada, para realizar a fermentação integral de um tinto, que estagiará, posteriormente, em três
barricas de carvalho, comemorando a excelente colheita de 2020. A casa nos traz ainda a linha
Avvio, para os vinhos suaves, os sucos e dois cortes, um branco e um tinto, em bag-in-box, de
muito bom padrão. O enólogo é Bruno Motter, a área comercial está a cargo de Maicon Motter,
e os eventos estão sob a coordenação de Lucas Motter, o mais novo dos três filhos.

ANTÔNIO PRADO

CASA MUTERLE
Gr III - 2000 - VM - (C) - EnoT
Iniciativa familiar, a partir da experiência como viticultores. Ela-
boram vinhos de mesa, sucos, coolers, vinagres e duas linhas de
- CASA- vinhos finos, a linha Dei Tchodo, com um rótulo de entrada da
MUTERLE variedade Cabernet Sauvignon, e a linha Dom Lauro, também com
vinhos finos correntes das castas Chardonnay, Cabernet Sauvig-
non, Merlot e Tannat. A casa também oferece espumantes, sendo um branco brut, um rosado e
um moscatel.

CASA OLIVO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
Empreendimento vitivinícola de vinhos finos do experiente
agricultor Aureo Ditadi, iniciado em 2008, com a implanta-
ção de 3 hectares de vinhedos de viníferas, entre o total de
14 hectares com outras variedades, estas especialmente para

174 Ro ge rio Dardea u


a produção de sucos, em Monte Alegre dos Campos e Vacaria, nos Campos de Cima da
Serra. Os solos são compostos de matéria orgânica, arenitos, argila e basalto com boa
drenagem. O clima é bem definido, com ótima amplitude térmica. São quatro castas
brancas (Chardonnay, Pinot Grigio, Sauvignon Blanc e Viognier) e duas tintas clássicas
(Cabernet Sauvignon e Merlot). Há projeto de implantação da Pinot Noir, diante do êxito
de outros produtores da região com essa uva. A cantina foi instalada no município de
Antônio Prado. Os vinhedos de Monte Alegre dos Campos estão implantados a 1.033 me-
tros de altitude. Tal número, aliás, denomina alguns dos varietais brancos da Casa Olivo,
que começaram a nascer na excelente safra de 2012. Os tintos são denominados Passo da
Caveira , numa referência ao Capão da Caveira, localizado na frente dos vinhedos, palco
das históricas escaramuças entre partidários de Assis Brasil e de Borges de Medeiros. Um
detalhe importante é que o Passo da Caveira Merlot tem apresentado níveis excelentes de
resveratrol. Além dos tradicionais Pinot Grigio, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Viognier e
Merlot Passo da Caveira, em 2017 a Casa Olivo elaborou o vinho Rosé Místico, a partir da
casta Merlot. A exemplo dos demais rótulos, o Místico também foi uma escolha feita com
a participação de toda a comunidade pradense e turistas de diversas localidades, durante
o Festival Nacional da Massa (Fenamassa), em Antônio Prado, onde diferentes propostas
foram apresentadas, tendo permanecido o rótulo mais votado. Os produtores estão muito
entusiasmados com os vinhos da colheita de 2019 . O enólogo é Jamur Mascarello. A vi-
nícola conta, atualmente, com o espaço Casa Olivo - Vinhos e Bistrô, no centro histórico
de Antônio Prado, em casa tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que
tem como principal atrativo o vinho. A casa está aberta ao público para consumo e degus-
tação dos vinhos Casa Olivo, harmonizando-os com a gastronomia regional, no ambiente
típico, de arquitetura e cultura italiana.

PRIMO FIOR, Vinícola


Gr II- 1974- VM- (C)
Essa vinícola já processa mais de 8 milhões de quilos de uvas por
ano, de viticultores associados à Cooperativa Agroindustrial Praden-
se, que é a titular da cantina. São quatro linhas, com vinhos finos e de
mesa: Dom Simão, Origini, Primo Fiar e Quinta de Santo Antônio.

SERRANA, Sociedade de Bebidas


Gr III - 2004 - VM - (C)

Vinhos de mesa Imperador e Beltrame, além de sucos. Os vinhos


SOCIUHDI. DL l\llilD,\S
da linha Casa do Imperador são vinhos finos VBdT, de pequena
SER tiragem.

Gen te. Lugares e Vin hos do Bras il 175


ZANELLA, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT* - (C) - EnoT
vinicolazanella.com. br
Pedro Zanella deu origem a sua família brasileira, no final do sécu-
lo XIX, ali em Antônio Prado. Ele foi um dos nomes que trouxeram
a cultura do vinho na bagagem, confirmando a imigração italiana,
assentada no Sul do Brasil, como protagonista de nossa vitivinicul-
tura. A Vinícola Zanella é um empreendimento de 32 hectares de vinhedos, implementado pe-
los irmãos Gladimir José e Dirceu Zanella, com cantina própria. Os vinhos finos são rotulados
como Zanella, Villa de Vinhas e Surrender. A casa tem trazido muitas alegrias aos apreciadores
de vinhos finos, consolidando o perfil de butique, inclusive pela interessante iniciativa, desde
2013, das Settimana in Cantina, nas quais enófilos inscritos participam de colheitas e elaborações
de vinhos. Em setembro de 2018, numa rápida visita à feira Wine South America, em Bento
Gonçalves, fui apresentado ao lançamento do Zanella Pedro... Castas Negras, pelo autor, o enó-
logo da nova geração Maicol Zanella. Trouxe uma garrafa. Permiti que tivesse o devido descanso
e então abri: um vinho notável! O Zanella Pedro ... Castas Negras é um corte entre vinhos de sa-
fras diferentes das castas Cabemet Sauvignon, Tannat, Merlot e Alicante Bouschet, de vinhedos
próprios, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. O vinho mostra uma cor rubi
muito brilhante. Os aromas nos lembram amoras e outras frutas vermelhas, mas vão-se abrindo,
com o tempo na taça, trazendo notas leves de especiarias e, em seguida, de chocolate e uma
suave baunilha. As barricas cumpriram o papel e não invadiram o vinho. No paladar, o Zanella
Pedro... Castas Negras é muito envolvente, com um ótimo volume, boa acidez, em grande equi-
líbrio com os 13,0% de teor alcoólico, e taninos totalmente aveludados, deixando um final longo.
O Zanella Pedro... Castas Negras é um tinto muito elegante, delicado, apto a harmonizar com
carnes e aves de panela, sob temperos leves. A notícia triste é que se trata de uma partida muito
exclusiva, de apenas 1.000 garrafas, todas decoradas com uma gravata que traz um pedacinho
de basalto proveniente dos vinhedos, recordando que Pedro é pedra, resistência, força, perseve-
rança... Essa linha tem também um espumante brut, elaborado pelo método tradicional, com 48
meses de autólise, a partir de um vinho base Pinot Noir + Chardonnay.

BENTO GONÇALVES {fora da DOW)


Bento Gonçalves é, sem dúvida, a capital do vinho fino gaúcho. Com área urbana
aconchegante, de topografia levemente acidentada, o município encontrou a vocação
enoturística, depois de albergar diversas e ativas organizações de classe, promotoras de
eventos entre os produtores de uva e vinho, negociantes e consumidores. É lá, no amplo e bem
estruturado Parque de Eventos, onde são realizados encontros temáticos, como a Avaliação
Nacional de Vinhos e outros. A cidade conta com excelente hotelaria e uma grande diversidade
de restaurantes.

176 Rogerio Dardeau


AURORA, Vinícola - Cooperativa
Gr I - 1931 - VBdT - (C histórica) - (C) - EnoT - 'VdoBr' 86
vinicolaaurora.com.br
É o maior empreendimento vitivinícola do Brasil, pela quantida-
VINÍCOLA
de de produtores que envolve, pela dinâmica de captação de uvas
AURORA e pelos volumes de derivados de uva processados. É uma coope-
rativa que adota princípios de gestão das grandes organizações
empresariais. Data de 1931, quando reuniu as primeiras 16 famílias de viticultores. Atualmen-
te, são mais de mil produtores de uva, que encaminham, aproximadamente, 60 milhões de qui-
los de uva por ano à cantina. Localizada no centro da cidade de Bento Gonçalves, em históricas
instalações, tornou-se uma referência do vinho brasileiro. Por ali passaram e se formaram muitos
dos jovens talentosos profissionais do vinho no Brasil. Antonio Czarnobay87 é um desses nomes,
havendo atuado na cooperativa por mais de trinta anos. Atualmente, a Enologia da Aurora conta
com uma equipe coordenada por Flávio Zílio, há quase três décadas na casa, tendo ainda os enó-
logos Jurandir Nosini e Nauro Morbini. A cantina e as adegas sob as ruas de Bento Gonçalves
são visitas necessárias. Elabora mais de dez linhas de vinhos tranquilos e espumantes, cada uma
com vários rótulos. Desde os anos 1970, a Aurora mantém o Centro Tecnológico de Viticultura,
de Pinto Bandeira, com uma área de 24 hectares, onde muitas pesquisas são desenvolvidas e
onde estão implantados 16 hectares de vinhedos. Os destaques são os vinhos tranquilos com o
selo da IP Pinto Bandeira Chardonnay, Merlot e Pinot Noir, além do complexo espumante Aurora
Pinto Bandeira Extra Brut (Chardonnay + 1Pinot Noir + Riesling Itálico), todos elaborados com
uvas dos vinhedos implantados na área do CT. O Aurora Pequenas Partilhas Cabernet Franc (VBdT)
também é um vinho de destaque. Aliás, o Projeto Pequenas Partilhas ampliou as ações a vinhos
de outros países da América Latina e incorporou azeites. Outro vinho marcante é o de sobreme-
sa Aurora Colheita Tardia Semillon Malvasia Bianca, com 13,0% de graduação alcoólica. A vinícola
ainda oferece o Brandy 12 anos Aurora VSOP.

AVENTURA GARAGE WINE


Gr V - 2017 - VBdT* - (C)
Iniciativa de dois jovens enólogos gaúchos na busca de vinhos jo-
viais exclusivos, de pequeníssima tiragem, elaborados a partir de
uvas selecionadas. Roberto Cainelli Jr. e Edgar Sinigaglia Jr. des-
cobriram grande afinidade de gostos em relação aos vinhos que
apreciavam. Decidiram, então, partir para esse estilo de criação:
Edgar seleciona uvas e Roberto vinifica, na cantina da própria família Cainelli. Um projeto bem
definido, pois Edgar é titular da Sinigaglia & Cia. Ltda. ou Viveiro Sinigaglia, empresa que já tem

86 'VdoBr" - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
87 Em 2004 era 1a vice-presidente da Union lntemationale des (Enologues (UIOE), o primeiro não europeu
a integrar a diretoria daquela organização, com sede em Paris.

Gen te. Lugares e Vin hos do B rasil 177


tradição na produção de mudas, e Roberto é o enólogo e diretor da Vinícola Cainelli. Os dois
primeiros lançamentos foram um Alvarinho e um Rebo, da safra de 2017. Repetiram a dose em
2018 e há novidades sendo preparadas. Os vinhos têm rótulos muito completos, que estampam
inclusive um número que corresponde ao lote. O Rebo 2017 foi o Vinho 01. O Alvarinho 2017
foi o Vinho 02. O Vinho 03 é o Aventura Garage Wine Saperavi 2017.

CAINELLI, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT - (C) - EnoT
vinicoloacainelli.com
A história da família Cainelli na vitivinicultura brasileira remonta
ao distante ano de 1929 e às batalhas travadas até 1970, quando
foi necessário interromper os trabalhos da vinícola. Em 2004, po-
rém, Roberto Cainelli revolvia alguns papéis pessoais e encontrou
rótulos antigos. Teve, então, o ímpeto de reativar a vinícola. Levou
o assunto à família e, imediatamente, contou com o apoio da esposa, Bernadete, e do filho Ro-
berto Cainelli Jr., que já trazia no sangue o amor pelo trabalho com uvas e vinhos. A família se
reorganizou, redistribuiu tarefas e renascia a Vinícola Cainelli. Em 2006, Roberto Cainelli Jr.
iniciou seu primeiro curso de Enologia, complementado, posteriormente, com o de tecnólogo
em Viticultura e Enologia, concluído em 2013. Desde então, a Vinícola Cainelli tem apresentado
vinhos de terroir, sempre com a filosofia de jovialidade. Os vinhedos têm 6 hectares, com varie-
dades de uvas comuns e as viníferas Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. A cantina é própria.
No campo dos vinhos finos, são apresentadas três linhas: a de entrada, composta de varietais
e espumantes, denominada Cainelli; as linhas Tempo, com cortes nobres, e Origem 1929, com
varietais. A Vinícola Cainelli tem forte atuação em enoturismo, difundindo a cultura do vinho.
A família recebe visitantes permanentemente, com especial programação na colheita, quando
todos são envolvidos pelas atividades típicas da época, como a tradicional pisa da uva.

CASA FONTANARI
Gr IV - 2012 - VBdT* - (C) - EnoT
casafontanari.com.br
A família Fontanari pratica a vitivinicultura desde os anos 1930.
""~.ur-: Mas foi em 1989 que o neurocirurgião Juliano Fontanari começou
~.;;,
CASA a elaborar, regularmente, vinhos para o consumo da família, logo
FONTANARI despertando o interesse do filho Victor, que, pouco tempo depois,
estaria formado em Enologia. Em 2012, formalizaram a Casa Fon-
tanari. Os vinhedos são próprios e, embora a cantina esteja localizada no município de Bento
Gonçalves, os 14 hectares de vinhedos invadem o município vizinho, situando-se na região da
IP Pinto Bandeira. Os solos são profundos, sobre o basalto que está presente amplamente no
subsolo da Serra Gaúcha. As castas brancas implantadas são as Chardonnay, Malvasia de Cân-
dia, Moscato, Riesling Itálico e Trebbiano. As tintas são: Ancellotta, Cabernet Franc, Cabernet
Sauvignon, Marselan, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Shiraz e Tannat. A cantina é própria e muito
bem instalada em edificação histórica da família, contando com prensa pneumática, para a vinifi-

178 Roge rio D ard ea u


cação das castas brancas. De acordo com a colheita, Victor Fontanari decide se pratica vinificação
integral (com cachos) ou faz desengace, processando exclusivamente as bagas. Os vinhos são
sempre rotulados como Casa Fontanari. Os destaques são os brancos Chardonnay e Trebbiano
elaborados com a técnica da bâtonnage, em barricas per/e blanche88 de carvalho francês, além do
corte Quasímodo (Cabernet Franc, Merlot e Ancellotta) e dos diversos varietais, especialmente o
Nebbiolo. A casa elabora ainda espumantes e destilados, inclusive um Pisco, à moda dos Andes.

CASA POSTAL Vinícola e Bistrô


Gr IV - 2002 - VBdT* - (C) - EnoT
casapostal.com.br
A Casa Postal Vinícola e Bistrô de nossos dias é o fruto planta-
do por Ernesto Postal, em 1957. Viticultor e vinhateiro, Ernesto
criou uma bela vinícola, que ainda nos mostra bem conservadas
pipas construídas de araucária para 100 mil litros de vinho. E não
é uma; são várias, atualmente apenas destinadas ao testemunho
da história de uma família dedicada à vitivinicultura. Os responsáveis pelos vinhos são o viticul-
tor Gilberto Postal e seu filho, o jovem enólogo Élison Postal. O bistrô está sob o comando de
Berenice Postal, mãe de Élison, chefe da cozinha, e é mantido junto à vinícola, na comunidade
de São Valentim, em Bento Gonçalves. Na Serra Gaúcha, a família Postal vem conduzindo os
vinhedos, em sua quase totalidade, segundo princípios orgânicos. Em 2008 foram implantados
vinhedos em Caçapava do Sul, que estão sendo convertidos a biodinâmicos. A Casa Postal tem
uma variada linha de vinhos tranquilos e espumantes. Os destaques são o Casa Postal Ancellotta
e o Casa Postal Rosa Vento, ambos da colheita de 2005. O primeiro é um varietal a 100% da
casta, com 13,0% de graduação alcoólica, que evoluiu de maneira notável. Apresenta um ver-
melho rubi brilhante e nos aromas ainda exibe frutas vermelhas, em conjunto com aromas mais
complexos, típicos dos 11 anos de vida. No paladar, é um veludo, envolvente e com persistên-
cia muito agradável. O Casa Postal Rosa Vento (13,5%) é um corte entre Cabernet Sauvignon
(45%), Merlot (45%) e Ancellotta (10%). Esse vinho ainda estava jovem, aos 11 anos. Mostrava
um rubi profundo, aromas complexos e uma ótima presença no paladar, com taninos vivos (!),
mas amaciados. São dois grandes tintos. Se você for a Bento Gonçalves, não deixe de reservar
um delicioso almoço no Bistrô Postal e experimentar as delícias preparadas pela Sra. Berenice e
os vinhos de Élison Postal. Há vários vinhos tranquilos, brancos e tintos, de safras recentes, além
de espumantes que merecem ser apreciados.

CRISTOFOLI Vinhos de Família


Gr IV - 2005 - VBdT* - (C) - EnoT
vinhoscristofoli.com.br

_1)_ Projeto iniciado pela mais nova geração da família Cristofoli, man-
tendo a cultura herdada de pais, avós e bisavós. São vinhedos pró-
CRISTOFOLI prios com pouco mais de 1 hectare de terra, onde estão implanta-
• • • Vinhos de Família • • •

88 Denominação que é marca da Tonelerie Nadalié. Veja em Barricas e madeiras.

Gen te. Lugares e Vin hos do B ras il 179


das vinhas das viníferas tintas Merlot, Cabernet Sauvignon e Sangiovese, a branca Moscatel de
Alexandria, além das cepas comuns Lorena, Bordô e Isabel, destinadas aos vinhos de mesa, da
linha Delice e Allegro, todos secos. Uma das propostas da casa é resgatar castas tradicionais que
eram cultivadas pela família, especialmente a Sangiovese. A cantina é própria e está sob os cuida-
dos da jovem e criativa enóloga Bruna Cristofoli. Do local se tem uma vista do rio das Antas. Se
você deseja degustar um vinho sob o parreiral, confortável e romanticamente sentado sobre um
edredom, visite a Cristofoli. A vinícola, com seu Spazio dei Vino, está inserida na Rota Turística
Cantinas Históricas, no distrito de Faria Lemos. A casa elabora três varietais rotulados como
Cristofoli, todos marcados por grande elegância.

DAL PIZZOL, Vinícola


Gr IV - 1974 - VBdT* - (C histórica) - EnoT - 'VdoBr' 89
dalpizzol.com. br
Vinícola fundada no distrito bento-gonçalvense de Faria Lemos
por Atílio Dai Pizzol, nome que teve papel preponderante na re-
VINHOS ÚNI O OS
formulação da elaboração de vinhos finos no Brasil a partir dos
DAL PIZZOL anos 1980. Atílio foi um dos ítalo-brasileiros que investiram na
1878
ITÁLl-' flAJt,SIL casta Cabernet Franc, por reconhecer sua adaptabilidade ao terroir
.9/ld,,_,.;.,.,,-~.f-
da Serra Gaúcha. Originalmente, tinha apenas os vinhos Do Lugar.
Conta a tradição que esse nome deriva do fato de viajantes inda-
garem, na região, "qual era o vinho recomendado" e receberem
sempre a resposta "beba o vinho do lugar". A vinícola tem diversos produtores de uva, parceiros,
que recebem orientação desde o plantio até a colheita, contando ainda com uma cartilha de
princípios e técnicas. Hoje a casa elabora espumantes, brancos e tintos, sob três marcas: Enoteca,
inaugurada em 2013, dedicada a vinhos de colheitas especiais; Dai Pizzol, a primeira linha, e Do
Lugar, deixada para os segundos vinhos. Sob a direção dos irmãos Antonio e Rinaldo, tem como
enólogo Dirceu Scottá. A Dai Pizzol criou o "Vinhedo do Mundo", uma experiência que reúne
centenas de variedades de viníferas em um projeto cultural, com o desejo de apresentar um único
vinho, que celebre a fraternidade e a solidariedade entre os povos, em poucas garrafas. A vinícola
elabora, aproximadamente, 250 mil garrafas/ ano. O vinho inaugural da linha Enoteca é um corte
entre Merlot (70%) , Cabernet Sauvignon (15%) e Cabernet Franc (15%), da safra de 2011. Tra-
ta-se de um tinto de corpo médio, com 13,3% de graduação alcoólica, uma bonita cor rubi, muito
intensa, e aromas complexos. Para comemorar os quarenta anos (em 2014), a casa elaborou um
corte especial entre vinhos da safra de 2012, sendo 40% Merlot, 30% Cabernet Sauvignon, 15%
Tannat e 15% Nebbiolo. A elaboração ocorreu por método tradicional. Obteve-se um vinho com
12,0% de teor alcoólico. Apenas uma parcela do corte (15%) estagiou por 12 meses em barricas
novas de carvalho francês . Foram 3.541 garrafas.

89 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

180 Roge rio D ard ea u


ERA DOS VENTOS
Gr V - 2007 - VBdT* - (C) - 'N'
eradosventos.com.br
Trata-se de um delicado projeto dos amigos Álvaro Escher, Luis

~
Henrique Zanini, ambos enólogos, e Pedro Hermeto, sócio do
restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro. São 2 hectares de vi-
ERA D O ~ nhedos, na Linha Palmeiro, onde frutificam as tintas Marselan,
Merlot, Tempranillo e Teroldego. É um projeto de sonho, cer-
tamente filosófico. As relações entre produtores, vinhedos e
vinhos se dão de forma poética, musical, numa estética decor-
rente das personalidades dos três mentores, que se utilizam sempre da melhor técnica, não
intervencionista, é claro. O introspectivo Escher, o romântico Zanini e o intrépido Hermeto
harmonizam suas personalidades, e os resultados são os vinhos marcantes que nascem num
porão cheio de energia. Vinhedos e cantina ainda são pequenos, mas plenos da história que
serpenteia nos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, RS. Os primeiros vinhos foram da
safra de 2007: o Era dos Ventos Merlot e o Era dos Ventos Tempranillo. Em 2008, vieram o Era dos
Ventos Teroldego, o Era dos Ventos Marselan e o instigante branco Era dos Ventos Peverella, repetido
em 2010, com uma leve oxidação provocada (e controlada). A Peverella é a única casta tra-
balhada pelo projeto Era dos Ventos que não provém de vinhedo próprio. É um típico orange
wine, que mostra um amarelo-ouro, aromas tostados e boca untuosa, um vinho emocionante.
Aliás, a casta Peverella estava praticamente extinta, inclusive no Brasil. Agora, retorna em alto
estilo, pelas mãos desses três artesãos das uvas. Mas é importante registrar a afirmação de
Zanini: "Nossos vinhos não são feitos a seis mãos, mas a três corações!". Os tintos 'Era dos Ventos' são
vinhos aptos à longevidade, uma verdadeira retribuição das uvas vinificadas ao tempo que lhes
dedicam seus tratadores. Vejamos o depoimento de Pedro Hermeto ao jornalista especializado
Didu Russo, no Restaurante Aprazível, em 15 de outubro de 2013 (didu.com.br):
"Era dos Ventos Peverella é um vinho de raiz cultural. A Peverella era a branca mais plantada pelas
famílias italianas na chegada ao Brasil. Era o vinho bebido pelo Álvaro Escher com os avós. Foi difícil
encontrar vinhedo contínuo da casta, pois, com o envelhecimento, a produtividade cai e os produtores
arrancam para plantar Cabernet Sauvignon e Merlot. Atualmente, a uva de nosso vinho vem de um
vinhedo com oitenta anos. A maceração com as cascas (skin contact) é feita em cubas de madeira muito
antigas, assim como a fermentação. O processo confere traços oxidativos desejados por nós, com uma
complexidade aromática fantástica e até um pouco de tanino. O vinho descansa em barricas velhas, por 12
a 14 meses. O engarrafamento é feito sem filtragem, sem leveduras sólidas (só usamos levedura indígena).
Usamos o mínimo de sulfito no envase e trabalhamos pela eliminação total do sulfito. Assumimos os riscos.
Alicia Keys vem aqui e bebe, quando vai dar show no Rock in Rio".
O vinhateiro Álvaro Escher, além de se ocupar com todos os aspectos diretamente ligados
ao vinhedo e com a elaboração dos vinhos, na cantina, também constrói as cubas, nas quais
maceram e fermentam as uvas, os pequenos recipientes chamados "mastelas", e prepara a cera
natural que encobre as rolhas, como cápsula. A criação Trebbiano on the Rock vem de uvas
maceradas num lagar de basalto, especialmente construído para a elaboração desse vinho, que
se expressa numa linda cor dourada, em aromas frutados leves e enorme frescor no paladar.
Os espumantes são também criações com vinhos base da Peverella. Os vinhos tranquilos dessa

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 181


casta, de safras mais recentes, assumiram um perfil próprio. A partir de vinificação integral em
barricas (500 litros em Ipê e 500 litros em Carvalho), o vinho assume uma cor âmbar, aroma
que nos remete, frequentemente, ao morango e untuosidade com boa acidez, no paladar. A ave
Maçarico está sempre presente nos rótulos. São as colheitas que definem os vinhos, a cada ano.

ESTRELAS DO BRASIL
Gr IV - 2005 - VBdT* - (C) - EnoT
estrelasdobrasil.com. br
Vinhedos localizados no distrito de Faria Lemos e no município
de Nova Prata. A empresa tem as assinaturas de dois amigos
enólogos, o brasileiro Irineo Dall'Agnol (que tem Embrapa no
currículo) e o uruguaio Alejandro Cardozo. A localização é pri-
vilegiada e emociona quem visita. O Vale Aurora e a região de Montevino descortinam-se aos
olhos, num deslumbramento. As terras foram compradas por Irineo, que nelas implantou
vinhedos e vende praticamente 80% da produção. Com os 20% restantes, os dois amigos se
alegram, deliciando os enófilos, especialmente aqueles que têm a oportunidade de ir até lá.
As uvas são colhidas, selecionadas e transportadas até a Vinícola Piagentini, em Caxias do
Sul,a, onde nascem os espumantes e os vinhos tranquilos. O nome ESTRELAS DO BRASIL
é uma homenagem especial ao descobridor Don Pérignon, que, no ano de 1670, na região de
Champagne, França, após desvendar essa magnífica bebida, saiu gritando: "Estou provando
estrelas". A vinícola tem uma dedicação especial aos espumantes. Já disponibiliza ao merca-
do espumantes, vinhos tranquilos tintos e um branco. Os espumantes são: Estrelas do Brasil
Brut Rosé (champenoise), 100% Pinot Noir, 12,5%; Estrelas do Brasil Brut (champenoise) Pinot
Noir, Chardonnay, Viognier, 12,5%; Estrelas do Brasil Brut (charmat) Chardonnay, Viognier,
12,5%; Estrelas do Brasil Riesling (charmat) 100% Riesling Itálico, 12,5%; Estrelas do Brasil Pro-
secco (charmat) 100% Prosecco, 12,5%; Estrelas do Brasil Moscatel (charmat) Moscato Bianco,
Malvasia de Cândia, Moscato Giallo, 7,5%. A Estrelas do Brasil é uma das vinícolas brasileiras
que vêm testando o uso de levedura encapsulada para a realização da segunda fermentação
na garrafa. Os tintos são o Dall'Agnol DMD 2005 e o Dall'Agnol Superiore 2005, um corte entre
Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Tannat. O Dall'Agnol DMD 2005 é um varietal
de Cabernet Sauvignon que passou por processo de dupla maceração direcionada - DMD,
como a abreviação usada no nome indica. Para esse vinho, os produtores deixaram as uvas
passificando no próprio vinhedo, depois de maduras. O processo é simples: faz-se um tor-
niquete nos galhos dos cachos. Isso impede o fluxo da seiva para as uvas e estas passificam.
É quase um ripasso italiano, com a diferença de que a passificação não se obteve em salas
ventiladas. Outra estrela foi lançada em 2014: o Dall'Agnol Fumé Blanc Sauvignon Blanc.

LOVARA Vinhas & Vinhos


Gr IV - 1967 - VBdT* - (C) - EnoT
vinicolalovara.com
A Lovara foi uma divisão vinícola da indústria de móveis Bentec
(famílias Benedetti & Tecchio), fundada em 1967. Atualmente,
embora pertencente às mesmas famílias, é uma vinícola autôno-

182 Roge rio D ard ea u


ma. Elabora varietais tintos e brancos, e o Gran Lovara, um expressivo corte entre Merlot (60%),
Cabernet Sauvignon (25%) e Tannat (15%) , a partir de vinhedos próprios. Seus vinhedos ocu-
pam uma área de 5 hectares, com as variedades tintas Merlot, Cabernet Sauvignon e Tannat.
Eventualmente, a Lovara vinifica outras uvas, quando encontra alta qualidade em viticultores
parceiros. É o caso do vinho Lovara Chardonnay. As famílias Benedetti e Tecchio são acionistas
do Miolo Wine Group, sociedade iniciada ainda em 2001, antes, portanto, da estruturação da
Miolo como grupo empresarial, no empreendimento vitivinícola Fazenda Ouro Verde, no Vale
do São Francisco, com os vinhos Terranova.

MENA KAHO, Vinícola


Gr IV - 2002 - VBdT - (C) - EnoT
menakaho.com.br
Mena Kaho é uma expressão em dialeto vêneto. Expressa a ideia
!;ao
ºº de viticultor. Segundo a família Roman, que estabeleceu a vinícola
Méii'a kaho
º no Brasil, foi a denominação atribuída a um determinado ramo
familiar, ainda no século XVII, em razão da atividade exercida por
seus membros. Emigrados para o Brasil, no século XIX, os Romans viticultores trouxeram o
nome e o assumiram, confundindo a própria história, no Brasil, com a vitivinicultura que sem-
pre desenvolveram. Desde que se estabeleceram comercialmente, os Romans buscam produzir
suas uvas sem defensivos químicos. Isso lhes permitiu a obtenção de certificação em alguns dos
vinhos que elaboram e na totalidade dos sucos de uvas, elaborados a partir de vinhedos parceiros
certificados. A cantina é própria, localizada na Linha Eulália, em Bento Gonçalves. A orientação
técnica é do enólogo Daniel Garbin. Elaboram vinhos finos VBdT em duas linhas: os 'reserva'
e os 'gran reserva', como o Mena Kaho Gran Reserva Merlot 2017, que apresenta uma cor rubi
intensa, aromas complexos e um corpo médio.

SALTON, Vinícola
Gr I - 1910 - VBdT- (C) - EnoT - 'VdoBr' 9º
salton.com.br
A Vinícola Salton é uma empresa secular. Foi constituída formal-

~
mente em 1910, como Paulo Salton & Irmãos, no centro de Bento
Gonçalves. Em 1948, por iniciativa de José Salton, instalou uma
\ l :\ !C ,11 \ filial no bairro de Santana, na capital paulista, que viria ser funda-
SALTON mental à boa distribuição dos vinhos Salton aos estados brasileiros
e, logicamente, ao crescimento da organização. Naquela unidade
instalou-se a produção do conhaque Presidente, produto que sempre teve êxito em vendas e, por-
tanto, participação efetiva no faturamento. Esses recursos, somados aos obtidos da expressiva
carta de vinhos que disponibiliza ao mercado, proporcionaram os investimentos necessários ao

90 'VdoBr' - Essa referência aparece 17vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

Gen t e . Lugares e Vin hos do Bras il 183


crescimento. A cantina atual está localizada no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, RS, em
magníficas instalações de mais de 30 mil metros quadrados, inauguradas em 2004. No ano de
2009 a empresa perdeu seu presidente Ângelo Salton Neto, que deixou importantes marcas na
gestão do negócio, com um carisma único. Em 2013, sob o comando de Daniel Salton, a vinícola
processou mais de 15 milhões de quilos de uvas. A organização está ainda sob o comando da
terceira geração dos Saltons, mas já há diversos representantes da quarta em formação. Além
de vinhedos próprios, a empresa pratica parcerias com viticultores em diversos pontos do Rio
Grande do Sul, oferecendo-lhes permanente orientação e comprando-lhes as uvas. A Salton tem
mais de 500 hectares de terras na região de Santana do Livramento, com mais de 100 hectares
de vinhedos e uma nova cantina, na qual faz o processamento inicial da colheita, finalizando os
vinhos em Bento Gonçalves. O corpo técnico é de profissionais com ótima formação. Nomes
como o do enólogo Giovanni Ferrari e, anteriormente, Lucindo Copat contribuem com os bons
resultados da empresa. A Salton é administrada por meio de princípios técnicos de gestão inter-
nacionalmente reconhecidos, explicitando missão, visão e valores. A empresa mantém progra-
mas permanentes de conservação do meio ambiente. A Salton elabora mais de quarenta rótulos,
em seis linhas: Exclusividade, Adega, Fantasia, Fresh, Contemporâneo e Cotidiano. A loja virtual
da vinícola adota o conceito de categoria, reagrupando as linhas em quatro categorias: top, pre-
mium, fino superior e fino. Há, ainda, "projetos": por exemplo, o Gerações, que homenageia os
nomes importantes da família Salton, atuantes na construção e no desenvolvimento da casa. Se,
por um lado, são amplas as informações, por outro, fica um excesso de denominações, que pode
confundir o consumidor. Além dos vinhos de mesa, dos vinhos finos de consumo corrente e de
outros derivados de uva, comercializados em supermercados, a Salton elabora VBdTs, em amplas
e variadas linhas, com destaque para: Domenico, Gerações Antonio Nini Salton (corte entre Cabemet
Sauvignon, Merlot, Cabemet Franc e Malbec), Gerações Azir Antonio Salton, (espumante brut
champenoise Pinot Noir + Chardonnay + Riesling Itálico - contato com leveduras por 28 meses),
Salton Lucia Canei (espumante brut champenoise 100% Pinot Noir - contato com leveduras por
mínimo de 12 meses), Salton Septimum, elaborado a partir dos melhores bagos das castas Tannat,
Ancelota, Merlot, Cabemet Franc, Teroldego, Cabemet Sauvignon e Marselan, os quais são ho-
mogeneizados e macerados em tanque a 10 ºC durante cinco dias, passando em seguida a uma
fermentação em barricas. E, ainda, Salton Talento (60% Cabemet Sauvignon, 30% Merlot e 10%
Tannat), Salton Desejo Merlot, Salton 100 Anos (50% Cabemet Sauvignon, 40% Merlot e 10% Ca-
bemet Franc) e Salton Virtude Chardonnay, além do expressivo espumante Nature 100 Anos (70%
Pinot Noir e 30% Chardonnay), todos esses em pequenas tiragens, claramente vinhos brasileiros
de terroir, encontrados em lojas especializadas e em alguns supermercados.

TENUTA FOPPA & AMBROSI


Gr V -2018 - VBdT- (C)
Lucas Foppa e Ricardo Ambrosi se conheceram na escola de Eno-
logia, no Instituto Federal RS, campus Bento Gonçalves, durante
TE NU TA
o ensino médio e o curso técnico em Viticultura e Enologia. Foppa
FOPPA & À._MBROSI
ingressou em 2010 e Ambrosi em 2011. Mesmo sendo de turmas
diferentes ("normalmente é o círculo de convívio diário, entre pessoas da
mesma turma, círculo que estreita relações e forma as amizades nesse perío-

184 Rogerio Dardeau


do", explica Foppa), com o passar do tempo e a paixão pela uva e pelo vinho, eles se aproximaram
e fizeram grande amizade, consolidada no período em que ambos trabalharam na vinícola Cave
de Pedra. Ali, prossegue Foppa, "com muita alegria, aos finais de semana, como um serviço extra, rece-
bíamos turistas, explicando sobre os processos de vinificação, vinhos e tudo mais". Juntos, os dois amigos
foram também fundadores da Confraria VinhAlma, da qual participam até hoje. "Não contentes
com tudo isso, um belo dia decidimos que queríamos, de novo juntos, estagiar nos Estados Unidos, na "Dis-
neyland do vinho", Napa Valley. Corremos atrás e conseguimos! Participamos juntos da elaboração de vinhos,
por uma vindima, na vinícola Rombauer Vineyards, uma vinícola familiar que fica em Saint Helena, na Ca-
lifórnia, bem no coração do Napa Valley! Um sonho realizado, com direito até a fuga de um triste e gigante
incêndio que ocorreu enquanto estávamos lá", conta Foppa. Aquela vivência foi o grande estopim para
a idealização do projeto Tenuta Foppa & Ambrosi. Foram tantas aventuras vividas juntos, que o
projeto se concretizou, dando forma ao "desejo de criar vinhos e espumantes especiais, que possam refle-
tir todo o nosso amor por este mundo que nos move e utilizar de toda a experiência adquirida ao longo desses
oito anos compartilhando histórias. Assim nasceu, pelas nossas mãos de jovens enólogos, em 2019 (oficial-
mente, já que elaboramos vinhos juntos desde 201 7), a Tenuta Foppa & Ambrosi, destinada, se Deus quiser
e com todo o nosso esforço, a promover brindes inesquecíveis", destaca Foppa. A uva é toda comprada.
Vinificam predominantemente uvas de Caxias do Sul, Farroupilha, Garibaldi e Bento Gonçalves,
nessa ordem, sendo Caxias onde mais compram e Bento onde menos compram. São os seguintes
os vinhos lançados: Entrenó Cabernet Sauvignon 2018; Entrenó Merlot 2018; Insolito91 2018
(corte entre Cabernet Sauvignon - 74%- e Tannat- 26%- barricado por oito meses em barricas
francesas); espumantes brut rosé e moscatel, que atendem pelo nome Viticcio (gavinha, em
italiano). Os 'Entrenó' foram vinificados na Arbugeri. O Insolito é parte Cave Antiga (onde o
irmão do Ricardo, Christian Ambrosi, é o enólogo responsável) e outra Plátanos (onde Ricardo
trabalha atualmente). Tanto Ricardo Ambrosi quanto Lucas Foppa ainda têm trabalhos fora do
projeto Tenuta Foppa & Ambrosi: o primeiro, na Plátanos, e o segundo, na Maximo Boschi.

VISTAMONTES, Vinícola
Gr III - 2009 - VM + VBdT - (C) - EnoT
A Vinícola Vistamontes é a realização do sonho do jovem casal de
~I[ enólogos Geyce Marta Salton e Anderson De Césaro, 92 na proprie-
li~ dade da família, dedicada, desde 1918, à viticultura, no distrito
VLSTAMONTES de Faria Lemos, Bento Gonçalves. A área tem uma rara beleza,
com uma impressionante vista dos vales e das montanhas, num
cenário bem piamontês. Aliás, não devemos confundir esse produtor com a Vistamonti, lá do
Piemonte, na Itália. As nuvens que encobrem o vale do rio das Antas, nas madrugadas, ao ama-
nhecer sobem ao lugar, contribuindo com umidade. Geyce e Anderson, com sólidos conhecimen-
tos de enologia, implementaram o processo de elaboração de suco de uva integral, e com isso,
além de agregar valor às uvas, desde muitas décadas colhidas pela família, também resgataram
saberes e fazeres de seus antepassados. Após a consolidação do negócio de sucos, implantaram,

91 Grafado sem acento, por estar em italiano, significando "incomum".


92 Veja 'Generoso', no Tempo Memória.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 185


a partir de 2018, vinhedo de viníferas, em 1 hectare, com Malbec, Syrah e Albarossa, com mudas
importadas da Itália, e cultivo no sistema orgânico. E mais: diversificaram a atividade agrícola,
com outras frutas, verduras e legumes, e iniciaram criação de ovelhas. Com isso, avançaram no
sentido da sustentabilidade da propriedade. Em 2019, apresentaram o primeiro vinho fino, o
Vistamontes Merlot 2019 (uma barrica), elaborado na própria cantina, com uvas adquiridas do
consagrado viticultor Lóris Rasia, do Vale dos Vinhedos. Então, embora fundada em 2009, fica o
registro de que a Vistamontes só ingressa no mundo dos vinhos finos dez anos depois.

OUTROS PRODUTORES
Além dos produtores descritos acima, em Bento Gonçalves, fora de IGs, ainda encontramos
os seguintes, todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Adega
Campolaro; Adega Splendor (a elaboração de vinhos está interrompida); Casa Bucco (vinhos
Oi Pietro e brandy dez anos Casa Bucco); Casa Dequigiovanni (EnoT) , na Linha Eulália,
onde o enólogo Jatir Dequigiovanni, proprietário, comanda incríveis momentos de cultura,
enogastronomia e música, em memoráveis refeições típicas. A Casa Dequigiovanni elabora um
Limoncello, com receita original italiana; Vinícola Monte Rosário (T), instalada, desde 1993,
na Linha Eulália, em prédio de filial da antiga Cooperativa Vinícola Tamandaré. Elabora vinhos
finos sob a denominação Rotava, sobrenome da família; Vinhos Petroli; Vinhos Possamai;
Zucchi (Sítio de Lazer, também na Linha Eulália) (EnoT).

CANELA
JOLIMONT, Vinícola
Gr III - 1948 - VM + VBdT - (I) - EnoT
vinhosjolimont.com. br
Antiga Vitivinícola Briere, fundada pelo francês Jacques Briere,
no Morro Calçado. Certamente, não houvesse falecido prematu-
VI rlYINiCOLA ramente, o francês teria conduzido sua vinícola ao seleto grupo
JOUMONT+--191,V
de elaboradores de vinhos brasileiros de terroir, que ele perseguia
desde os anos 1970, havendo elaborado varietais (especialmente
Cabernet Sauvignon e Merlot) que somente muitos anos depois
viriam a ser elaborados no Brasil. São 27 hectares de vinhedos a uma altitude média de 800m.
Desde 1987 está sob o controle do empresário Ernani de Napoli Velho, que vem
mantendo o perfil de um pequeno produtor. Jolimont era nome de um dos ró-
tulos da casa, que teve também o memorável Reserva Morro Calçado Cabernet
Sauvignon. Atualmente, a casa mantém linhas Reserva, Gran Reserva e deno-
minações singulares como Morro Calçado e Récolte Secrete 2015, um Cabernet
Sauvignon de uvas desidratadas por 27 dias, ainda no parreiral.

186 Rogerio Dardeau


TORMENTAS, Atelier
Gr V - 1990- VBdT* - (C) - 'N'
tormentas.com.br
Marco Danielle é o pseudônimo de Maurício Heller Dani. É al-

Ili guém que impõe à própria produção a sensibilidade estética de


um fotógrafo, sua atividade original, sempre atento à arte e à
natureza. Aliás, é o que ele mesmo sugere, desde os primeiros
vinhos, nos contrarrótulos: "Se ao retirar esta rolha não se seguir uma experiência de total encanta-
mento, não terei alcançado meu objetivo". A preocupação de Marco Danielle com vinhos singulares
é de tal ordem que escreveu, no início de sua experiência como vinhateiro, o Livro de Tormentas:
grande vinho do Brasil, no qual expôs suas crenças e os próprios compromissos de elaboração.
Ele, hoje, reconhece que superou muitos aspectos ali preconizados e assume que teve, no
passado, certa soberba. Além disso, ao longo dos anos de prática vinhateira, Marco Danielle
seguiu aprofundando estudos teóricos, sempre comparando com os ensinamentos das prá-
ticas de vinhedos e cantina. Defensor do vinho de terroir ou de origem, portanto totalmente
contrário às teses intervencionistas e de padronização, Marco Danielle colhe suas uvas em
vinhedos de produtores nos quais confia e encontra identidades de princípios. Adota processo
totalmente artesanal, revestido de enorme cuidado com asseio e técnica. E, para ele, técnica
não se confunde com muitos equipamentos ou aditivos químicos. O uso adequado de barricas
de carvalho, em tempos certos, é admissível, mas ele considera que a expressão máxima de
um vinho se conquista num caldo sem a micro-oxigenação pelos poros do carvalho novo ou
de outra madeira. Para o produtor, também não há necessidade de leveduras especiais, nem
de rigoroso controle das temperaturas de fermentação, apoiando-se, para isso, na tradição de
renomados vinhateiros franceses. Os vinhos são elaborados a zero SO2 (sem conservante INS
220) ou com um mínimo. Isso impõe transporte mais cuidadoso e guarda climatizada. É a
vinicultura não intervencionista. Por essas razões, edificou pequena e funcional cantina, que
não recebe visitantes, sendo um atelier exclusivo. Outra característica dos vinhos de Marco
Danielle está no conjunto de informações disponibilizadas aos consumidores na página web
do autor e nos rótulos, bastante abrangentes. Aliás, são sofisticados os rótulos de Marco
Danielle, sustentados sobre concepções e fotografias próprias, feitas com arte e criativida-
de. Entre os diversos vinhos marcantes do Atelier Tormentas, gosto de comentar um, pela
simplicidade de concepção e o excelente resultado, com o tempo: o Prelúdio 2007, nascido de
uma parceria com o arquiteto Milton Scola, que já implantara um vinhedo próprio no distrito
caxiense de Fazenda Souza, na fronteira sul da região dos Campos de Cima da Serra, RS. Era
um corte entre Merlot (70%) , Cabernet Sauvignon (20%) e Cabernet Franc (10%), criado
com o pensamento em um corte bordalês clássico e simples. Era, inclusive, o vinho de preço
mais cômodo do Atelier Tormentas. Acontece que teve uma evolução notável, na garrafa, su-
perando todas as expectativas. Embora a parceria de produção tenha sido encerrada, Marco
Danielle e Milton Scola seguem amigos, e é no vinhedo de Fazenda Souza que são colhidas as
uvas Cabernet Franc utilizadas nos vinhos Tormentas. A linha Fvlvia, composta de varietais de
Cabernet Franc (2008 e 2010) e Pinot Noir (2009 e 2011) , arrancou os mais calorosos elogios
de muitos enófilos. O Tormentas Fvlvia Pinot Noir 2011 foi aclamado como o melhor varietal da
casta elaborado no Brasil. Marco Danielle vem se notabilizando pelo trato da casta Pinot Noir

Gen t e . Lugares e Vin hos do B ras il 187


e pelo reconhecimento nacional e internacional que seus varietais dessa casta vêm obtendo.
Em 2013, ele apresentou apenas varietais da Pinot Noir, de quatro terroirs distintos, e um
vinho branco. O Pinot Nair daquele ano, diz Marco Danielle, foi assim elaborado: com uvas
de agricultura biodinâmica, "de um vinhedo de 1,8 hectare situado em Nova Pádua, de meu amigo
enófilo e agrônomo Mauricio Ribeiro". Os outros Pinots são elaborados com uvas dos Campos de
Cima da Serra (Monte Alegre dos Campos Pinot Nair 2013) e de Piratini (Piratini Pinot Nair 2013).
Em 2014, o Atelier Tormentas trouxe apenas dois vinhos: Tormentas Âmbar, um vinho laranja,
e Tormentas Vermelho. Este último inaugurou no Brasil essa nova denominação para tintos.
Marco Danielle argumenta que se trata de proposta puramente plástica ou estética: "O fato é
que a palavra 'vermelho' excita muito mais os sentidos e a imaginação do que a palavra 'tinto"'. Além
disso, ele nos lembra que é assim em grande parte dos idiomas: vin rouge, vino rosso, rot wein, red
wine. Marco Danielle é um pioneiro na venda en primeur, oferecendo a seus clientes vinhos
recém elaborados, certificados no padrão do Atelier Tormentas, que ainda permanecerão
na cantina até que estejam mais desenvolvidos, em melhor ponto de apreciação. No fecha-
mento desta edição, a página web do Atelier Tormentas apresentava disponibilidade dos
seguintes rótulos: Fvlvia Pinot Noir 2015, Monte Alegre Pinot Noir 2015 e 2016, Vermelho
2015 e 2016, Âmbar 2015 e Branco 2015. Marco Danielle tem declarado que, ao ver uma
uva perfeita, tem enorme tentação de vinificar. No entanto, tem-se esforçado para trabalhar
unicamente com a Pinot Noir, efetivamente a paixão desse autor, com a Cabernet Franc e
com a Nebbiolo.

CARLOS BARBOSA

ARTE DA VINHA Vinificações Artesanais - Eduardo Zenker e Gabriela Schafer


Gr V - 2008 - VBdT* - (C) - 'N'
eduardozenker.com. br
Eduardo Zenker já elaborava o próprio vinho desde os anos 1990.
Com o tempo, os pedidos de parentes e amigos cresceram tanto
que ele decidiu vender algumas garrafas. Foi então que, em 2008,
como ele mesmo conta, "larguei tudo, vendi as lojas de celulares e mer-
gulhei na elaboração de vinhos finos". Eduardo é um autodidata, im-
pregnado da cultura do vinho da Serra Gaúcha, e muito estudioso.
Adquiriu 1,5 hectare de terra no município de Carlos Barbosa e
implantou as castas Pinot Noir e Chardonnay, no vinhedo batizado
de Vinhas da Loucura. As mudas foram importadas da prestigiada
Vivai Cooperativi Rauscedo, da província de Pordenone, no norte da Itália. Outras uvas, ele
compra de amigos. É um apaixonado por espumantes, mas não deixa de apreciar os vinhos tran-
quilos. Zenker é também aficionado pelos processos antigos de vinificação, os quais busca re-
produzir, na intenção de obter vinhos com personalidades de épocas passadas, com um mínimo
de intervenção. Os rótulos são criações artísticas com muito bom nível de informação. A cantina
inicial era efetivamente a própria garagem, revela ele: "No verão, o carro dormia na rua e a garagem
virava cantina". A adega era o porão da casa paterna, dentro de Garibaldi. Zenker e a esposa, a bió-

188 Rogerio Dardeau


Ioga e professora Gabriela Schãfer, desde os primeiros momentos aprofundaram-se muito na arte
da vinha, tendo elaborado muitos espumantes e vinhos notáveis, como: Espumante Inusitado Brut
2011 12,5% (300 garrafas) - elaborado a partir de vinificações em branco de cinco castas tintas
(Pinot Noir, Cabemet Franc, Carménere, Cabemet Sauvignon e Malbec); Espumante Lúdico Brut
2012 12,5% (180 garrafas) - feito com 100% de uva própria, colhida e selecionada pelo autor
(75% Pinot Noir + 25% Chardonnay), teve dez meses de autólise; Espumante Espírito Pacômio Brut
2013 11,5% (195 garrafas) - 100% Moscato Hamburgo, uma raridade, cujo nome homenageia
o irmão marista a quem a tradição atribui o protagonismo na elaboração de espumantes pelo
método champenoise no Brasil; Bianca 2012 12,5% (100 garrafas) -varietal da casta Chardonnay a
100%, elaborado com uso de bâtonnage93 (veja adiante); Benedito Tannat 2008 13,0% (254 garra-
fas), elaborado com uvas dos vinhedos da família Fitarelli, de São Jorge, com passagem por barri-
ca bordalesa de segundo uso. Outros foram: Pinoto 2012, 12,2% (240 garrafas) -varietal a 100%
da Pinot Noir, colhida de vinhedo próprio; Benedito Malbec 2011, 12, 7% (254 garrafas) -varietal
elaborado com uvas dos vinhedos da família Sartori, estabelecida na linha São José, numa das
comunidades mais afastadas do centro de Garibaldi, quase na divisa com o município de Monte
Belo do Sul; Benedito Cabernet Sauvignon 2011 13,0% (254 garrafas) - elaborado com uvas dos
vinhedos da família Vaccaro, em Santo Alexandre. Em 2013, apresentou o Bruta Bestia Teroldego
2013 (13,0%), uma colheita tardia, com uma cor púrpura profunda, e acompanha a evolução nas
pipas do Alma Penada Ancellotta 2013, elaborado a partir de uvas cujo produtor cortou as videiras
logo após a colheita. São componentes do que Zenker batizou de Linha Baú Vale dos Vinhedos
Garibaldi RS Brasil. Os vinhos elaborados superam as citações nominais de rótulos. Acontece
que a Arte da Vinha impressionou tanta gente, que foi levada inclusive a programa de televisão,
em rede nacional, na maior emissora do país. Logo após, porém, uma injusta denúncia, baseada
numa sequência de ações desleais, levou Eduardo Zenker a uma autuação pela Secretaria de
Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. Na manhã do dia 7 de junho de 2017, encerrava-se
um ciclo na vida de um dos mais notáveis vinhateiros do Brasil, com o confisco de toda a peque-
na produção mantida na garagem. Mas nem Zenker, nem a esposa Gabriela Schãfer se abateram,
inclusive porque já tramitavam com todo o processo de formalização da atividade. Lançaram-se,
então, à missão de relatar toda a experiência e escreveram o livro Realinversa - O memorial do pro-
jeto Arte da Vinha, importantíssima contribuição sobre vitivinicultura sem intervenção e sobre os
fatos que rondaram todo o episódio da denúncia. Recomendo enfaticamente a leitura, enquanto
aguardamos os novos vinhos de Eduardo e Gabriela. Eu não tinha dúvida de que o casal se rein-
ventaria numa vida nova, com mais força ainda e vinhos especialíssimos. Hoje, estão instalados
em ambiente próprio, na localidade de São Rafael, no município de Carlos Barbosa, com um
pequeno vinhedo e cantina, onde nascerão, novamente, grandes vinhos.

93 Depois da fermentação alcoólica, os sedimentos {leveduras mortas e resíduos de uva) estão no fundo
dos barris. Bátonnage é a ação de agitar o vinho para suspender os sedimentos. A operação é feita
tradicionalmente com uma vara (báton). Pela bátonnage, promove-se a volta dos sedimentos à suspensão,
para um contato maior com o vinho. O procedimento permite ao vinho adquirir mais corpo e desenvolver
maior complexidade de sabores.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 189


CASA GARCIA
Gr III - 2000 - VBdT - (C)
vinhoscasagarcia.com. br
Empreendimento vitivinícola dos irmãos Alzemiro André e Iria-
ne Cristina, ele com curso superior de Viticultura e Enologia, ela
com o curso técnico. Cultivam, na Linha 7 de Castro, as castas Ca-
bernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Chardonnay,
em vinhedos próprios. As vinificações também são realizadas em
cantina própria. Elaboram um espumante moscatel e dois varietais das uvas Cabernet, rotulados
como Cave D'Castro.

CASCA

DON ABEL VINHOS PREMIUM


Gr IV - 2005 - VBdT* - (I) - EnoT
donabel.com.br
Trata-se de vinícola conduzida por Sérgio Luiz de Bastiani, ex-exe-
Don Abel cutivo de uma empresa multinacional, que decidiu entregar-se ao
VINHOS PR EM IUM mundo do vinho. Instalou sua vinícola às margens da rodovia RS
324, a noroeste de Bento Gonçalves, no sentido de Passo Fundo,
a partir de Caxias do Sul, numa região ainda pouco explorada do ponto de vista vitivinícola. Os
vinhedos estão no município de David Canabarro e foram implantados em 1999. A cantina é
própria, e os equipamentos adequados a uma produção total de 40 mil garrafas por ano. Adota
como princípio a não chaptalização e a utilização de madeira apenas em alguns vinhos. Com isso,
consegue oferecer bons vinhos a preços cômodos. Quando utiliza barricas, a passagem é breve.
A experiência vem mostrando que os vinhos tintos Don Abel tendem a ser longevos. Os brancos
da Chardonnay mostram muito boa acidez, frescor e bom volume. O enólogo é Ben-Hur Rigoni,
que sucedeu Silvânio Antônio Dias. O Don Abel Rota 324 Cabernet Sauvignon 2005 (14%) perma-
neceu cinco anos em tanque de aço, depois seis meses em barricas de carvalho francês e mais um
ano engarrafado, em adega climatizada, na própria vinícola. Além deste, considerado o ícone, a
casa apresenta: Don Abel Gran Reserva 2005, 14,0%, um corte entre Cabernet Sauvignon (70%) e
Merlot (30%) ; Don Abel Premium Cabernet Sauvignon 2005, 14,0%; Don Abel Merlot Reserva 2006,
12,6%; Don Abel Tannat Reserva 2008, 13,4%; Don Abel Chardonnay Reserva 2011 , 12,8%; Don Abel
Espumante Brut Charmat e Don Abel Espumante Moscatel.
Em 2017, foi inaugurada uma pizzaria, anexa à vinícola, que tem fortalecido o enoturismo.

190 Roge rio D ard ea u


COLINAS

VIVENTE
Gr V - 2017 - VBdT* - (I) - 'N'
Iniciativa dos amigos Micael Eckert, de Estrela, Diego Cartier e
Rafael Rodrigues, ambos de Porto Alegre, trata-se de empreendi-
mento voltado à elaboração de vinhos com filosofia não interven-
cionista. A fermentação se dá sempre de maneira espontânea, por
meio da levedura da própria fruta, dita levedura selvagem. A pri-
meira elaboração se deu com a colheita de 2018, com uvas com-
pradas na região de Campos de Cima da Serra. Foram três espumantes: Glera (uva do prosecco)
com Chardonnay; Cabernet Franc com Merlot; Pinot Noir com Chardonnay. Esses espumantes
foram elaborados sem adição de qualquer aditivo ou produto químico, com permanente acom-
panhamento dos teores de açúcar nas bebidas, durante a elaboração. Quando o açúcar atingiu
16g/l, o líquido foi engarrafado e prosseguiu em fermentação para a tomada de espuma. Nesse
mesmo ano de 2018, os sócios iniciaram a implantação de vinhedos próprios, com mudas fran-
cesas, de modo que preveem os primeiros vinhos de uvas orgânicas próprias em três anos.

CAXIAS DO SUL

Antes de apresentar os produtores de vinhos finos situados no município de Caxias do Sul, é


relevante apresentar dois empreendimentos: o primeiro é dedicado à viticultura, e o segundo, à
vinicultura, ambos focados em vinhos finos.

VINHA SOLO Viticultura


vinhasolo.com.br
O projeto inicial do arquiteto Milton Scola e do empresário Rai-
mundo Demore estava destinado à vitivinicultura. Eles escolheram
uma localização preciosa no distrito de Fazenda Souza, no norte
de Caxias do Sul, a 880 m de altitude. O distrito esbarra na fronteira sul da região dos Campos
de Cima da Serra, razão pela qual especialistas afirmam que já apresenta as mesmas caracterís-
ticas daquela área. Os dois amigos desejavam elaborar os chamados "vinhos naturais", ou seja,
totalmente livres de interferências no cultivo das videiras e no processo de vinificação. São 20
hectares de vinhedos tratados, tanto quanto possível, de forma orgânica e biodinâmica. O solo
é de origem vulcânica, com predominância basáltica, e estrutura argiloarenosa. Apresenta cerca
de 2% de matéria orgânica, concentração baixa de fósforo e elevada de potássio. A viticultura
conta com a consultoria do agrônomo Fernando Andreazza. As mudas foram importadas da
conceituada Rauscedo, na Itália. Adota-se o raleio94 radical, de modo a reduzir a produtividade

94 Raleio de cachos é uma poda verde. Podam-se ramos em estado herbáceo e tenro, no período de plena
atividade vegetativa das plantas. Essa prática altera a relação entre a superfície foliar e o número de
cachos. O objetivo é reduzir a produção e melhorar a qualidade das uvas. O número reduzido de cachos
melhora o teor de açúcar e baixa a acidez.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 191


das plantas, e não são usados herbicidas. No momento, as atividades vinícolas estão suspensas
e toda a excelente uva é vendida a outros produtores. A produção anual está entre 120 e 150
toneladas de uvas, nascidas de 60 mil plantas.

Empresa Brasileira de Vinificações - EBV (2017)


Ainda que consideremos a real expansão das importações, as bus-
cas por vinhos finos que efetivamente representem nossas regiões
têm impulsionado vitivinicultores a avançar. Decididamente não es-
tamos intimidados e estamos sendo reconhecidos! Sobre perfis de
produtores, por exemplo, os viticultores que querem levar ao mer-
cado vinhos próprios, mas não desejam ou não podem investir na
construção de cantina própria, têm aumentado. Não raro, vinícolas têm oferecido espaço de vini-
ficação nas próprias cantinas a esses produtores. Foi pensando nesse mercado em expansão que o
enólogo Alejandro Cardozo e seu sócio, o engenheiro e administrador Júlio Slovinscki, decidiram
fundar, em 2017, a Empresa Brasileira de Vinificações (EBV). Cardozo dispensa apresentações,
pois, nascido no Uruguai, transita em nossa vitivinicultura há mais de 20 anos, contribuindo di-
retamente com a elaboração de grandes vinhos brasileiros, como os Estrelas do Brasil, Guatambu,
Decima, Villa Matarazzo, Aracuri, Cattacini, Vinhética e muitos outros. Júlio Slovinscki, além de
cuidar de aspectos da gestão econômico-financeira da organização, coordena o negócio dos equi-
pamentos para espumantes em torneiras da EBV, com os quais pretende ver ampliado o consumo
em taças. Como podemos constatar, muitos bares já estão equipados com câmaras frigoríficas
que, como informa a EBV, "mantêm em perfeita conservação os barris de espumantes, da primeira à última
taça". Em pouco mais de um ano de vida, a EBV já acumulava, aproximadamente, 30 clientes de
diversos portes, essa, aliás, uma grande virtude do projeto. A empresa aceita vinificar também
pequenos volumes, dedicando-lhes a mesma atenção e os mesmos cuidados dados aos maiores.
As instalações estão dimensionadas para um volume total superior a 1.000.000 de litros, e a tan-
cagem é bastante diversificada. De prensas pneumáticas a unidades engarrafadoras e rotuladoras,
tudo está pensado para que nós, apreciadores, tenhamos mais opções de vinhos finos de terroir.
Caso você encontre, em um contrarrótulo, a clássica sentença "vinho elaborado exclusivamente
para.......... , por CNPJ 25.532.561/0001-62", significa que tem a garantia EBV.

Agora, sim, sigamos com os produtores de vinhos finos em Caxias do Sul.

ARBUGERI, Vinícola
Gr III - 2000 - VBdT - (C)
vinhoscristalle. com. br
Empresa voltada aos sucos e vinhos de mesa, com pequena pre-
sença no ambiente dos vinhos finos. Elabora espumantes Victória,
varietais jovens com a denominação Cristalle, varietais barricados
com o nome Sfera, o corte xv; que homenageou os quinze anos
da vinícola, e o corte 1885, entre Petit Verdote Alicante Bouschet,
da colheita de 2008, com 31 meses de estágio em barricas de carvalho francês e americano. O
enólogo é Eduardo Arbugeri.

192 Rogerio Dardeau


CASAMOTTER
Gr II- 1974- VM- (C)
casamotter. com. br
A família Motter já tinha cultivo de vinhedos e elaborava vinhos
em Tenna, no norte da Itália, antes da emigração para o Brasil, em
CASAMOTTER 1879. Valentino, Giudita e seus filhos, ao chegarem aqui, logo cui-
p{,,,ru • &;,,,~,,,(-, daram de se adaptar à nova realidade (tudo por fazer). Implanta-
ram vinhas e começaram a elaborar seus vinhos artesanalmente.
A vinícola Casa Motter nasceria numa outra geração, pelas mãos de Guerino Motter, neto de
Valentino e Giudita. Hoje, a vinícola elabora grandes volumes de vinhos de mesa e mantém a
linha Tons, para os varietais correntes de viníferas, além do corte Nobre.

DOM DIONYSIUS, Vinhos - Vinícola Conceição


Gr III - 1998 - VM + VBdT- (C)
vinhosdionysius.com.br
Empreendimento da família Tisatto, conduzido pelo enólogo Ivan Tisatto. Elabora vinhos de
mesa e alguns rótulos de vinhos finos, com destaque para o varietal branco Moscato Giallo e
o tinto Cabernet Sauvignon. A família tem vinhedos, mas também adquire uvas de parceiros,
quando necessita e identifica a qualidade dos frutos. A cantina é própria, e ali nascem vinhos de
parceiros, como, por exemplo, da Vinícola BellaQuinta, de São Roque, SP.

FOROUETA Cooperativa Vitivinícola


Gr II - 1929 - VM - (C)
Considerada a primeira cooperativa vitivinícola da América Latina,
foi fundada por 12 viticultores que não mais se submeteriam ao
aviltamento do preço da uva imposto pelas indústrias vinícolas,
desejosas de superar os impactos negativos da crise de 1929 sobre
os próprios capitais. Atualmente, são mais de 300 associados. A
cooperativa processa mais de cinco milhões de litros de vinho. São
diversos derivados de uva, em dez linhas de produtos, das quais duas são de vinhos finos, com
a denominação Prosummo.

LACAVE Vinhos Nobres (antigo Château Lacave)


Gr IV - 1968 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
lacave.com. br
A Lacave é uma vinícola herdeira dos empreendimentos vitiviní-
LACAVE colas do uruguaio Juan Francisco Jaime Carrau Pujo! (Quico), que
implantou vinhedos e a marca Château Lacave. Desde 2001, ocas-
telo Lacave, em Caxias do Sul, é administrado pela família Basso
(Vinhos Canção). Os vinhedos são próprios e têm as castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat,
Cabernet Franc, Riesling, Moscato, Sauvignon Blanc e Chardonnay. A casa se dedicou, no passa-
do, aos vinhos brasileiros de terroir. O Château Lacave é um histórico castelo, idealizado e cons-

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 193


truído por Carrau (o mesmo do vinho Velho do Museu) especialmente para ser vinícola. Trata-se
de edificação inspirada num castelo espanhol do século XI. Atualmente, a denominação Lacave
é a adotada para os vinhos tranquilos e espumantes. As estrelas da casa foram: Lacave Detalhes
Cabernet Sauvignon e o tradicional Reserva Anticuário, um elegante corte entre Cabernet Sauvignon
(70%), Merlot (20%) e Cabernet Franc (10%), com 13,0% de teor alcoólico. A família Carrau
não tem mais participação nessa vinícola, havendo transferido a marca Velho do Museu - Atelier
Carrau (veja adiante). A vinícola iniciou uma reestruturação em 2019, com nova cantina, nos
fundos da propriedade, preservando o castelo para eventos sociais.

LOVATEL
Gr II - 1979 - VM - (C)
vinicolalovatel.com. br
Empreendimento da família Lovatel, que herdou do imigrante Giu-
seppe Lovatel a cultura do vinho. Elabora ampla linha de derivados
de uva e um vinho fino, a partir da casta Cabernet Sauvignon, de-
nominado Giuseppe Lovatel, em colheitas especiais. Esse vinho é
também apresentado em garrafas Magnum (1,51) e garrafões (4,61).

PETRONIUS Beverages by Authors


Gr IV - 2013 - VBdT* - (C) - EnoT
petronius.com.br
O nome Petronius foi citado, no início deste livro, como de uma
PETRONIUS vinícola histórica. De fato, nos anos 1930, Emílio Kunz estabele-
H1r byAul10, ceu o próprio negócio, comprometido com bebidas finas, inclusive
vinhos. A empresa produziu regularmente até a década de 1970.
Não é, portanto, surpresa que Emílio Kunz Neto tenha trazido no sangue o empreendedorismo
e a cultura ancestrais. Com um histórico de inúmeras presenças e ações no ambiente da vitivi-
nicultura brasileira contemporânea, Emílio resgata a vocação familiar, nessa empresa, com os
filhos Augusto e Júlio Cesar. Como a própria denominação internacionalizada indica, a Petro-
nius renasce com a mesma vocação da origem: bebidas finas autorais, assinadas por um autor.
Foi inaugurada com a cerveja, e logo firmou-se no cenário. Mas Emílio é um vinhateiro muito
experiente e ansiava por criar rótulos próprios. A partir de 2017, 95 inicia essa atividade e atu-
almente comercializa três vinhos, elaborados com uvas de Pinto Bandeira e Encruzilhada do
Sul: Petronius Sur Lie, um espumante nature comercializado ainda sobre leveduras; Petronius
Barbera Rosé 2017; Petronius Trebbiano 2017. A cantina está instalada no conjunto industrial da
família, numa propriedade belíssima, em São Valentim da 2ª Légua, em Caxias do Sul. No local
está a edificação identificada como a mais antiga casa do município, construída pelos primeiros
imigrantes italianos, em 1876.

95 Essa é a data considerada como o começo da produção de vinhos finos. Nos quadros estatísticos na
página 58 e seguintes, a Petronius Beverages by Authors aparece em 2017.

194 Roge rio D ard ea u


PIAGENTINI, Cia. de Bebidas e Alimentos
Gr II- 1985 - VM + VBdT- (C)
piagentini.com.br
A Vinícola Piagentini tem uma história interessante. Nasceu nos
anos 1930, no município de Andradas, em Minas Gerais, e teve
papel marcante na indústria do vinho, por ter sido a empresa que
iniciou o engarrafamento, no Brasil, de vinhos importados. Re-
cordemos que, antes disso, era comum a venda a partir de barricas. O cliente levava o próprio
recipiente e adquiria o vinho. Nos anos 1970, a Piagentini lançou o espumante em garrafas cham-
penoise de 3 litros, conhecidas como Jeroboam ou double magnum, para as grandes comemorações,
e o vinho réplica do Chianti, com palhinha, chamado Clássico Piagentini. Em meados da década
de 1980, a empresa instalou-se em Caxias do Sul, onde passou a produzir grande variedade de
vinhos de mesa e alguns vinhos finos. Atualmente, além de ter se firmado como uma vinícola
com um amplo portfólio de produtos, adotou um perfil de terceirizadora de serviços de vini-
cultura. Elabora vinhos e espumantes para mais de uma dezena de produtores. Uma das linhas
de destaque, entre os derivados de uva, é a Chef Izidro, com vinhos temperados, para culinária.
A Piagentini investe muito em inovação, havendo criado um Centro de Inovação Tecnológica.
Adota a denominação Cordon D'Or para seus vinhos e espumantes finos.

QUINTA DON BONIFÁCIO


Gr IV - 2000 - VBdT* - (C) - EnoT
quintadonbonifacio.com.br
Interessante projeto nascido a partir da implantação de dois Vi-
Q.U I N TA nhedos: o Santa Lúcia e o São Francisco, no ano 2000. Somente
DON em 2007 foi instalada uma cantina, completamente reconstruída
BONIFÁCIO e reinaugurada em 2018. Essa nova cantina tem um projeto ar-
VINHOS E ESPUMANTES
quitetônico contemporâneo, leve, perfeitamente integrado à belís-
sima natureza da região na qual está, e é totalmente funcional. O
empreendimento é coordenado pelos irmãos Gonçalo e Marina Libardi e os tios José Vergani
e Itacir Sirtori. Essa vinícola organiza a produção em duas linhas de vinhos finos: Habitat (vi-
nhos premium ou VBdT), e Quinta Don Bonifácio, além de bag-in-box. O espumante brut champe-
noise Habitat, um corte entre Chardonnay e Pinot Noir a 50%, é notável. O Don Bonifácio Merlot
também é um VBdT muito marcante. Essa linha ainda tem um vinho licoroso digno de nota: o
Habitat Alta Gama, que é um belo trabalho de enologia e sensibilidade. É um corte entre vinhos
das castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Tannat, Petit Verdot, Ancellotta e Sangiovese,
de vinhedos próprios, das colheitas de 2010, 2011 e 2012, que estagiou por 12 meses em barricas
de carvalho francês de primeiro uso. A casa tem ainda os vinhos de entrada, marcados com lo-
gomarca Sa, que trazem leveza e frescor, indicando-os aos climas de temperaturas mais elevadas.
A assessoria enológica está a cargo de Deito Garibaldi.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 195


CASA SANTINI
Gr III - 1986 - VM + VBdT- (C)
Empreendimento vinícola nascido do sonho de Armando Santini,
V INÍCOL/\ filho de imigrantes italianos, com experiência na produção de vi-
S/\NTINI nhos e sucos de uva, que foi transmitida de geração em geração.
Armando foi associado a uma cooperativa de viticultores, até que
decidiu montar a própria vinícola. Em 1986, fundou a Santini ln-
dústria Vinícola Ltda., mas faleceu oito anos mais tarde, legando aos filhos, Milton, Nestor e
Valmir, a tradição de elaborar vinhos finos, de mesa, sucos e espumantes. Na atualidade, é o neto
Samuel Santini quem está à frente dos negócios. Os vinhos de mesa e os sucos são rotulados
como ~America. Os vinhos finos têm as denominações Rota e Cerro. Os espumantes são Casa
Santini. Os vinhedos e a cantina estão no Cerro da Glória, 2ª Légua, Vila Cristina, em Caxias do
Sul. Samuel tem projeto para enoturismo, beneficiando-se do fato de que o distrito caxiense de
Vila Cristina está próximo a Nova Petrópolis, um ativo polo turístico da Serra Gaúcha.

SÃO LUIZ, Vinícola (vinhos DEL REI)


Gr II - 1985 - VM - (C)
vinicoladelrei.com. br
Empreendimento vitivinícola da família Scopel, que, com insta-
~• i DEL REI lações de 5.000m2, está equipado para processar mais de três mi-
lhões de litros de vinho. Elabora o vinho fino Ramos de Zeus Ca-
bernet Sauvignon, nas versões seco e suave, além dos espumantes
Vector Valentino.

CANTINA TONET
Gr IV - 1950- VBdT- (C) - EnoT
cantinatonet.com.br
A família Tonet está dedicada aos derivados da uva desde que
chegou ao Brasil, em 1897. Comercialmente, iniciou atividades
empresariais em 1950. O patriarca Ivo Tonet é quem conduz a
casa, na atualidade. A vinícola elabora vinhos de mesa e vinhos
finos. Entre os finos, encontramos duas linhas: Tonet e Reser-
va. São varietais das tintas Ancellotta, Malbec, Merlot, Cabernet
Sauvignon, Tannat, Tempranillo, Touriga Nacional e Nebbiolo. A Cantina Tonet oferece ainda
um vinho estilo Amarone. Trata-se do Tonet Amaro, elaborado a partir de um corte entre
vinhos das uvas Corvina, Molinara e Rondinella, de vinhedos próprios. Para esse vinho, as
uvas são colhidas e deixadas em estufa, para a desidratação. O vinho fermenta em tempera-
tura controlada entre 20ºC a 25ºC, para maior extração de compostos fenólicos. A maceração
pós fermentativa se dá em sete dias. A fermentação malolática ocorre em tanques de inox.
Após estabilização tartárica, o vinho evolui em barricas de carvalho francês e americano por
24 meses. As garrafas permanecem em repouso por, pelo menos, 12 meses, nas caves, para
afinamento, até sua comercialização.

196 Rogerio Dardeau


VELHO DO MUSEU - Atelier Carrau Lida.
Gr IV - 1968 - VBdT* - (C histórica)
juancarrau.com.br
Empreendimento vitivinícola pioneiro, preliminar à nova fase da
Vmho \dho do
vitivinicultura brasileira, estabelecido pelo empresário hispano-uru-
1/l«~,'"" guaio Juan Francisco Jaime Carrau Pujol (Quico). Na época em que
chegou a Caxias do Sul, Juan Carrau constatou que os vinicultores
brasileiros pagavam aos viticultores o mesmo preço por uvas comuns e por uvas viníferas. Estabe-
leceu, então, negociações com os produtores de uvas, de modo a conseguir para as suas plantações
mudas de viníferas finas de boa procedência, para poder adquirir melhores frutos, ainda que pagan-
do mais pelas uvas daquelas plantas. Criou, assim, incentivo ao plantio de castas finas. Isso foi um
marco na vitivinicultura brasileira. A vinícola comercializa, atualmente, as linhas Velho do Museu,
em garrafas bocksbeutel, fechadas com lacre sobre as rolhas, e Juan Carrau, em garrafas tradicionais
bordalesas, a partir de uvas de vinhedos próprios, implantados em Santana do Livramento em 1978,
e convertidos ao manejo orgânico em 1994. São 75 hectares, no chamado Vinhedo La Mafíana. Os
vinhos foram certificados pelo IBD Certificações. A casa ainda dispõe de algumas safras antigas. A
linha Juan Carrau apresenta varietais da casta branca Gewurztraminer, e das castas tintas Cabemet
Sauvignon e Merlot. Viticultura e enologia estão a cargo do herdeiro Juan Luis Carrau-Bonomi,
um exigente professor de vitivinicultura da Universidade de Caxias do Sul (UCS), que coordenou
equipe de pesquisadores (Franciele Flores Vit e Thais Rovaris), e obteve, em outubro de 2017, car-
ta-patente do Inpi, para a UCS, do Processo para cultivo de plasmopara vitícola, processo e kit para avaliar
a eficácia de antagônicos sintéticos e/ou naturais de plasmopara vitícola e processo de detecção de antagônicos de
plasmopara vitícola. Trata-se de importante contribuição para o combate ao míldio ou mofo, tão fre-
quente na viticultura e tão nocivo às videiras. O vinho Velho do Museu é um clássico. Trata-se de corte
inicialmente definido entre Cabemet Franc e Merlot, ao qual, a partir dos anos 1980, somou-se a
Cabemet Sauvignon. A safra 2004, que estava em comercialização quando do fechamento deste
livro, tem graduação alcoólica de 12,3%. Em 14 de maio de 2014, participei de uma degustação
vertical do Velho do Museu, ambientada no espaço acolhedor e sofisticado do Restaurante Apra-
zível, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. A apresentação, para um grupo de 40 pessoas do Rio de
Janeiro e de São Paulo, foi organizadíssima, conduzida por Juan Carrau-Bonomi e seu filho Juan
Francisco Carrau. Foram oferecidas oito safras: 2004, 2000, 1996, 1993, 1988, 1985, 1978 e 1972! !!
Como se pode ver, apreciamos somente vinhos envelhecidos: 10, 14, 18, 21, 26, 29, 36 e 42 anos!!!
Foram três garrafas de cada safra, todas decantadas e identificadas, num serviço impecável, obra dos
sommeliers da casa. Todos os vinhos estavam íntegros, perfeitos, cada um apresentando a própria
evolução. Durante a apresentação foram servidos os deliciosos pães da casa, com destaque para o
pãozinho de queijo com linguiça mineira. Na sequência, como harmonização principal, serviu-se a
galinhada, um dos pratos fundamentais da culinária de Ana Castilho. Foi uma festa para os aprecia-
dores, que se manifestaram livremente sobre preferências, num debate muito agradável. Eu fiquei
absolutamente encantado com o Velho do Museu 1972. Com a altivez dos 42 anos, exibiu uma cor
rubi ainda viva, aromas complexos, com presença de geleias de frutas vermelhas, fumo, especia-
rias ... Na boca se mostrou equilibrado, com bom volume, leve, exatamente como foi concebido.
A vinícola tem vinhos da safra de 2005 ainda não comercializados. Está com a produção
temporariamente suspensa.

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 197


ZANROSSO Vinhos e Sucos
Gr III - 1937 - VM - (C)
vinhoszanrosso.com.br
Vinícola iniciada por Ernesto Zanrosso, que tinha 11 anos quando
chegou ao Brasil com os pais e cinco irmãos, em 1914. Tem ampla
linha de vinhos finos, sob a rotulagem Zanrosso, com oito varietais
:l:ianrosso
e um corte Carménere, Merlot e Cabemet Sauvignon, da colheita
de 2014, denominado 100 Anos, em comemoração ao centenário
da chegada da família ao Brasil. A vinícola apresenta o Moscato e o Merlot também em garrafões
de 4,51. Os vinhos de mesa são rotulados como Do Nono.

OUTROS PRODUTORES em Caxias do Sul


Além dos produtores descritos acima, em Caxias do Sul, ainda encontramos os seguintes,
todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Casa Onzi; Vinícola
Demori; Vinícola Don Affonso (fundada em 1982, por Affonso Gasperin - Gran Reserva AG
Distinto - enólogo André Gasperin); Vinícola Don Giusepp; Vinícola Don Giácomo; Vinícola
Ferdinando Zattera; Vinícola Grutinha (vinhos Tradição) .

COTIPORÃ

CAVE MARSON
Gr II- 1970- VBdT- (C)
cavemarson.com.br
A história da Marson antecede a do município de Cotiporã, posto
C AVE que ali está desde quando a localidade era apenas a colônia Mon-
MARS ON te Vêneto. A empresa foi constituída pelo neto e bisnetos do pa-
triarca Antonio Marson, que implantou a cultura do vinho desde
a chegada ao Brasil, em 1887. É bem verdade que, desde 1938, a
família mantinha uma pequena indústria de vinhos comuns. A Marson, além dos vinhos finos
de consumo corrente da linha Vale da Ferradura e dos vinhos de mesa da linha Dei Coloni, elabora
vinhos de terroir organizados em: gran reserva, premium (Famiglia e Vinhas d'Encruzilhada) e re-
serva, em que estão os varietais. O Marson Gran Reserva Cabernet Sauvignon e a linha Cave Marson
Vinhas D'Encruzilhada, com uvas adquiridas de parceiros das castas Cabemet Sauvignon, Merlot e
Touriga Nacional, de vinhedos localizados em Encruzilhada do Sul, são os VBdT. A Cave Marson
tem também uma linha de espumantes. A casa tem no currículo o nobre apoio à produção de
uvas por assentados de reforma agrária, havendo elaborado na própria cantina o tinto Veritas,
com uvas de assentamentos, assim batizado pelo publicitário Carlito Maia, grande apoiador do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

198 Rogerio Dardeau


ENCANTADO

DOM ELISEO, Vinícola Butique


Gr IV - 2010 - VBdT - (C)
domeliseo.com.br
Mais um exemplo de trabalho em família. Os descendentes de Eli-
seo Civardi, que tinha suas videiras para vinho de consumo familiar
desde 1948, decidiram ingressar no segmento de elaboração comer-
cial de vinhos finos e sucos. O filho Nestor e o neto Lucas estive-
ram à frente da iniciativa. Os vinhedos próprios estão localizados no
município de Muçum, RS. De início, elaboraram dois tintos e dois espumantes. Os tintos foram
varietais, da safra inicial de 2014, a partir de Cabernet Sauvignon e Tannat. Levaram a marca Dom
Eliseo. Os espumantes foram um Moscatel e um Brut Charmat, sob a marca Caves Brasil. Recente-
mente, por razões econômicas, a vinícola decidiu interromper a elaboração de vinhos finos, para
se concentrar em sucos.

FAGUNDES VARELA

BASSANI
Gr IV - 2005 - VBdT - (C)
Vinícola estabelecida pela família Bassani, com produção de vinhos
~~..!"'~""~ ~ finos e de mesa. Os vinhos finos estão organizados em duas linhas:
Bassani, para os vinhos de entrada, e Azienda Bassani, para os vi-
nhos tipo premium. Registramos um espumante brut e um moscatel, além dos varietais Merlot,
Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, este nas versões gran reserva, reserva e bag-in-box.

GARIBALDI
Esse histórico município, com sua bela área urbana, como já vimos, é a capital brasileira
do espumante. Lá se instalaram irmãos Maristas, em 1904, que depois fundaram a Pindorama
S.A. Vinhos e Champanhas, com vinhedos e cantinas, dando expressiva contribuição à
vitivinicultura brasileira, especialmente pelo trabalho do irmão Pacômio. Nascido na Alsácia,
Charles Sion assumiu os votos na Congregação Marista com o nome Marie-Pacôme, que, entre
os brasileiros, foi popularizado como Pacômio, um entusiasta da vitivinicultura, que levou a
Pindorama a edificar três cantinas e a processar milhares de litros de vinho. Em Garibaldi,
estão concentrados diversos produtores da bebida das borbulhas, mas também de vinhos
tranquilos, muitos dos quais organizados em três importantes associações.

Associações de produtores
Aviga - Associação dos Vinicultores de Garibaldi. Congrega diversas vinícolas e, entre
estas, algumas microchampanharias, como: Adega Chesini, Adega Don Avelino, Vinhos

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 199


Mânica, Vinícola Agostini, Vinícola Courmayeur, Vinícola Faubel Aigues, Vinícola Lazzari,
Vinícola La Cantina, Vinícola Milantino, Vinícola Pedrucci, Vinícola São Luiz, Vinícola Vaccaro.
Cpeg - Consórcio de Produtores de Espumantes de Garibaldi. Organização com o
objetivo de reunir pequenos produtores em torno de princípios de autorregulação e certificação
de qualidade. Para isso, o consórcio contratou a empresa Certifica, credenciada pelo Inpi
para atestar a conformidade dos espumantes produzidos aos princípios da associação. A
estrutura define um presidente e dois vices, sendo um para o método tradicional e outro para
o método Charmat. Os membros, até o momento, são: Adega Chesini, Adolfo Lona Vinhos
e Espumantes, Cooperativa Vinícola Garibaldi, Vinícola Agostini, Vinícola Bolsoni, Vinícola
Courmayeur, Vinícola La Cantina, Vinícola Pedrucci, e Vinícola Casa Perini. O rigoroso
Relatório de Avaliação de Conformidade (RAC) está disponível em http://www.cpeggaribaldi.
com.br/anexos/rac.pdf. Os espumantes atestados terão selos de cores diferentes, no sentido
de indicar método tradicional (cobre), charmat (ouro), prosecco (trigo) ou Moscatel (prata).
Coopeg - Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi Ltda. Organização
fundada em 2001 por 31 associados, todos pequenos produtores rurais, preocupados não só
com os aspectos produtivos e quantitativos, como também com a "construção de um ambiente
sadio, limpo e harmônico com responsabilidade social" (www.coopeg.com.br). Está voltada à
comercialização dos produtos dos associados, orientados para a produção orgânica, sem uso
de agrotóxicos, como uvas, sucos e vinhos. Também são produzidos diversos hortigranjeiros.
Destacam-se como produtores de uvas, sucos e vinhos: Acir Boroto, Claudete Salvi, Claudio e
Armelindo Costi, Danes Luiz Mariani, Darcy Lazzari, Família Debiasi, Helvécio Dellarmelin,
Honório Furlanetto, João e Diva Massola, Lourdes Mazzola Mariani, Marciano De Pizzol, Olir
Brugalli, Salete Arruda da Silva e Jorge Mariani, Zaime Ferranti.

ADOLFO LONA
Gr IV - 2004- VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr'96
adolfolona.com.br
O enólogo e professor argentino Adolfo Alberto Lona, após ex-
pressiva carreira como enólogo e até diretor de grande empresa
vinícola, decidiu conduzir a elaboração de vinhos próprios. Lona
veio para o Brasil a convite da Martini & Rossi, nos anos 1970, e
permaneceu no grupo por mais de trinta anos. Seu competente
trabalho o conduziu à direção técnica da empresa e à fundação da
Casa De Lantier, responsável pelos vinhos Baron De Lantier e pelos espumantes De Greville. No
período em que orientou os rumos daquela divisão da M&R, Lona conduziu inúmeras pesquisas
de terroir. Em 2002, a Casa De Lantier lançou a Coleção Regionais. Eram três vinhos vendidos
somente em conjunto: um Cabernet Franc, com uvas de Pinheiro Machado, e dois Cabernet
Sauvignon, o primeiro com uvas de vinhedos próprios em Garibaldi e o outro com uvas pro-

96 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

200 Rogerio Dardeau


venientes da região de Planato e Ametista, no norte do estado do Rio Grande do Sul. Foram
amostras ótimas de características marcantes de cada região. No ano de 2004, já na própria
vinícola, Adolfo Lona lançou seu tinto (Merlot + Cabernet Sauvignon). Era um vinho leve e de
média persistência. Foi, diz o rótulo, "produzido e engarrafado para A. L. Vinhos e Espumantes Ltda.,
por Bacardi-Martini do Brasil Ind. e Com. - Divisão Casa Vinícola De Lantier", em Pinheiro Machado,
RS. Atualmente, sua cantina está dedicada exclusivamente aos espumantes, bebida em relação
à qual Lona é uma referência. O brut está muito charmoso e jovial. O Nature (champenoise) , ta-
lentosa mescla de Chardonnay e Pinot Noir, com um toque de Merlot, vinificada em branco, é
muito marcante, persistente e cheio de energia, um dos meus preferidos. O Lona Rosé Brut (char-
mat - 40% Chardonnay + 60% Pinot Noir) está muito fino e harmônico, com muito boa per/age.
No meu ponto de vista, o Orus Pas Dosé Extra Brut Rosé é um vinho excepcional. São apenas 500
litros por ano, ou seja, 608 garrafas. Trata-se de espumante nature (zero açúcar) elaborado pelo
método tradicional ou champenoise. O ciclo de produção é de 12 + 12 meses: 12 meses maturando
sobre as leveduras (autólise), quando então ganha a complexidade aromática e gustativa, e mais
12 meses envelhecendo com a rolha definitiva, quando ganha sutileza, elegância e potência. O
corte é feito com vinhos de três variedades: Chardonnay, que participa com seu frescor; Pinot
Noir, vinificada em rosado, que agrega força; e uma pequena parcela de Merlot, também em ro-
sado, que complementa com elegância e ameniza a acidez. A cor é típica dos rosados feitos pelo
método tradicional: rosada com tons alaranjados, lembrando casca de cebola. O aroma é intenso,
complexo e convidativo. Na boca, se apresenta longo, marcante e potente.

BETTÚ, Orgalindo
Gr V - 2018 - VBdT* - (C)
O nome Orgalindo Bettú já é um clássico na vitivinicultura bra-
sileira contemporânea. Enólogo pela escola de Bento Gonçalves,
Orgalindo compôs o grupo inicial de profissionais escolhidos por
Manuel Dilor de Freitas, para efetivação do projeto Villa Francio-
ni, na Serra de São Joaquim, SC. Embora de família de vinhateiros
experientes, como o produtor autoral Vilmar Bettú, Orgalindo escolheu uma carreira solo e
decolou, vendo seu nome associado ao êxito e aos prêmios dos vinhos Villa Francioni. De
temperamento reservado e muito exigente, ele desejou realizar o projeto de vinhos próprios e
vem executando tarefa por tarefa, de modo a ter tudo altamente profissionalizado, com lega-
lização pela via de pequeno produtor rural, mantendo sempre o perfil de vinhateiro artesanal.
A operação se iniciou em 2019, com espaço para recepção e enoturismo, tudo sob a condução
do casal Orgalindo e Fátima. Seus vinhedos são bem pequenos: uma área pouco maior que
0,5 hectare, na Linha São Jorge, em Garibaldi, onde estão implantadas as variedades brancas
Chardonnay, Petit Manseng, Sauvignon Blanc e Sémillon, além das tintas Cabernet Sauvignon,
Malbec, Marselan, Nebbiolo, Petit Verdot, Sangiovese e Syrah. O projeto é de 3.000 garrafas/
ano de vinhos barricados, uma vez que o desejo é oferecer vinhos maduros. Serão no máximo
duas barricas por variedade. A carta será composta por vinhos tranquilos brancos e tintos,
espumante branco e vinhos de sobremesa brancos e tintos. Eventualmente, outros vinhos com
variedades de viticultores parceiros poderão ser elaborados. Em se tratando de um empreendi-
mento estritamente familiar, a ideia é comercializar os vinhos sempre a partir do varejo local,

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 201


de modo a proporcionar conhecimento sobre os vinhos aos visitantes, buscando a fidelização.
Os vinhos tintos serão sempre Orgalindo Bettú e os brancos, Fátima Bettú.

CASA PEDRUCCI
Gr IV - 2002 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr' 97
casapedrucci.com. br
Iniciativa do enólogo Gilberto Pedrucci, quando encontrou o espa-
1 1. 1 1

ço histórico ideal para realizar seu projeto de uma vinícola vocacio-


PEDRUCCi nada aos espumantes, na capital brasileira do espumante. Era uma
VINHOS E ESPUMANTES
das mais antigas cantinas do Brasil, edificada em basalto lavrado. O
enólogo vinha de um currículo com 24 anos na Peterlongo, introdutora do método champenoise no
país, mais três anos na consagrada Vinícola Cave Geisse. O objetivo central de Gilberto Pedrucci é a
elaboração de espumantes pelo método tradicional, podendo também elaborar sucos e vinhos tran-
quilos. Os rótulos Casa Pedrucci são divididos nas seguintes linhas: Premium, com os espumantes
Millésime, Reserva Nature e Reserva Brut; Tradicional, com Brut Branco, Brut Rosé e Moscatel;
Occasione, com vinhos tranquilos branco e rosé, além de um Brut Branco e um Brut Rosé; Reserva
Tinto; suco integral. Pedrucci se utiliza de castas Chardonnay, Riesling Itálico e Pinot Noir na elabo-
ração dos vinhos base de seus espumantes clássicos, além da moscatel, para o espumante específico.

CHANDON - Moêt Hennessy do Brasil - Vinhos e Destilados Lida.


Gr I - 1973 - VBdT* - (I)
chandon.com. br
A Chandon é um raro exemplo de multinacional do vinho, no
(~ Brasil. A unidade brasileira é a sexta no mundo, acompanhada
CHANDON de vinícolas similares em Mendoza, na Argentina; Yountville, na
'- Califórnia; Nashik, na Índia; Ningxia, na China; e Yarra Valley, na
Austrália. Desde que por aqui chegou se ocupa da elaboração de
espumantes finos, sempre pelo método Charmat, a partir de uvas de vinhedos próprios. As castas
são as variedades Chardonnay e Pinot Noir, trazidas com os franceses, além da Riesling Itálico,
que já estava muito adaptada à Serra Gaúcha. A empresa integra o imenso grupo francês LVMH,
voltado à produção de produtos de luxo. Os espumantes brasileiros são Réserve Brut, Brut Rosé,
Richie Demi-Sec, Passion, além dos exclusivos Chandon Excellence Cuvée Prestige Brut (65%
Chardonnay + 35% Pinot Noir) e Chandon Excellence Cuvée Prestige Rosé (74% Pinot Noir,
com 24% vinificados em tinto+ 26% Chardonnay). O diretor enólogo é o francês Philippe Mé-
vel, com magnífico currículo, o que explica também a qualidade e a regularidade dos espumantes
Chandon. Aliás, foi Mével o responsável por vocacionar a Chandon, no Brasil, integralmente aos
espumantes. Vale recordar que, num período da história da empresa, houve produção de vinhos
tranquilos. Hoje, a marca é líder entre os produtores de espumantes de luxo.

97 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.

202 Rogerio Dardeau


COURMAYEUR
Gr IV - 1976- VM +VBdT- (C) - EnoT
courmayeur.com.br
O nome Courmayeur se refere a uma comuna italiana, situada no
Val D' Aosta, quase na fronteira com a França. A vinícola brasilei-
ra, após ser fundada por um grupo de amigos, operou até 1986,
quando foi adquirida pela Cinzano. Em 2003, a família Nicolini
COURMAYElJR
Verzeletti assumiu a empresa. Os espumantes são o que podemos
chamar de "o carro-chefe" da vinícola, com rótulos pelo método
tradicional, e outros pelo Charmat. Em anos especiais, a casa apre-
senta o Courmayeur Retrato Nature, 100% Chardonnay, de vinhedo único. A linha Essencial
apresenta os VBdT (tranquilos) da casa, com um Chardonnay, um Ancellotta, um Marselan e
um rosado (corte). A linha Acclamé difunde compromissos de responsabilidade socioambien-
tal, inclusive utilizando garrafas leves. A Courmayeur oferece também vinhos finos branco e
tinto (cortes), em embalagem bag-in-box, o Courmayeur Lambrusco (com uvas da variedade,
importadas da Itália), o frisante Weindorf e sucos. Uma nota relevante é a linha de espumantes
Tevere (brut, demi-sec e moscatel), com bebidas jovens e leves, com ótima relação custo-qua-
lidade. Um bistrô recebe visitantes, com comidas típicas harmonizadas com os vinhos da casa.

DON MIGUEL
Gr IV - 2002 - VBdT* - (C)
donmiguel.com. br
Butique, de origem familiar, orientada pelos herdeiros de Miguel
Bortolini. Ernando Bortolini, filho de Miguel, é o enólogo, formado
DON pela Faculdade de Enologia do Instituto Federal de Educação, Ci-
ência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves. Os
MIGUEL vinhedos são próprios, no distrito de Marcorama, conduzidos em
espaldeiras e em Y. A atividade comercial foi iniciada com a safra
de 2005. A Vinícola Don Miguel se destaca pelo alto padrão de seus vinhos, especialmente os
varietais de Merlot, Moscato Giallo e Peverella. A Cabernet Sauvignon é apresentada em emba-
lagem bag-in-box.

FAMIGLIA BOROTO
Gr III - 1989 - VM + VBdT- (C) 'N'
Iniciativa do produtor rural Acir Boroto, que, a partir de uma grande experiência como vi-
ticultor, avançou na elaboração de vinhos sem intervenção, destacando inúmeras criações,
especialmente espumantes. A propriedade tem 15,8 hectares, dos quais 5,8 hectares estão
dedicados integralmente à viticultura. As vinificações são realizadas em ambiente próprio.
Acir Boroto é sócio fundador da citada Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi
Ltda. (Coopeg). O Espumante Brut Coopeg, elaborado por Acir Boroto pelo método tradicional,
é considerado o primeiro espumante orgânico do Brasil.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 203


GARIBALDI, Cooperativa Vinícola
Gr II- 1931 - VBdT- (C) - EnoT
vinicolagaribaldi.com. br
Trata-se de empreendimento de vulto, nascido com a primeira

'~
GARIBALDI
fase da vinicultura rio-grandense, pela associação de 73 produto-
res. Atualmente, esse número avança dos trezentos e as instala-
COOPERATIVA VINfCOLA
ções da cantina própria superam a capacidade dos 18 milhões de
litros. São muitos os vinhos finos correntes produzidos por essa
cooperativa, e estão organizados em dez linhas: Raschiatti, que conta apenas com um varietal
da Merlot; Chalet du Clermont (Chardonnay, Merlot e um corte Cabernet/Merlot); Espumantes
Garibaldi; Granja União; Acquasantiera; Da Casa; Relax; Precioso; Vino Di Bartolo; e Nachtliebewein.
Em 2014, lançou a linha Acordes, de vinhos brasileiros de terroir, com os varietais Merlot e
Chardonnay, e um espumante champenoise Chardonnay + Pinot Noir. A Cooperativa Vinícola
Garibaldi elabora e envasa, em barris apropriados, espumantes expressos, com o sistema Ex-
press Sparling Wine, para serviço direto em torneiras, como nas tradicionais chopeiras. Tal opção
foi desenvolvida pela empresa Bonevi.

PETERLONGO
Gr II- 1915 - (VBdT) - (C histórica) - EnoT
peterlongo.com.br
Vinícola fundada por Manuel Peterlongo, para produzir champanhe,
PE.TERLONGO pelo método tradicional. O objetivo foi conseguido. Manuel então
edificou, com um projeto francês, o prédio da cantina, em blocos de
basalto lavrado a mão, blocos que começou a juntar em 1910. Ali,
concebeu e realizou uma inteligente e criativa solução para obter temperaturas baixas nas caves
dos espumantes: construiu um túnel em direção estudada, para captar o vento minuano, obtendo o
congelamento de garrafas armazenadas em pupitres. A vinícola tem uma bela história de pioneiris-
mos: pagou salário mínimo a trabalhadores, admitiu mulheres em plena década de 1930, edificou a
cantina em basalto lavrado, furou um poço para obter umidade, etc. A empresa passou por diversas
configurações societárias. Atualmente, elabora ampla carta de vinhos finos tranquilos, nas linhas
Armando Memória e Terras, além dos tradicionais espumantes. Os ícones da casa são o Peterlongo
Presence Champenoise Brut, o Peterlongo Elégance Champenoise Brut e o Peterlongo Presence Moscatel Rosé.
O francês Pascal Marty, atual enólogo da casa, vem trazendo excelentes novidades de processo,
que têm contribuído para novos e representativos vinhos, como o Armando Memória Chardonnay
2018, barricado. Além desse belo vinho, integram a linha cinco varietais tintos: Teroldego, Touriga
Nacional, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat.

QUINTA CANOVA
Gr V - 2011- VBdT* - (C)
Jaime Fensterseifer é um professor universitário e pesquisador, dedicado ao aprofundamento de
questões voltadas ao desenvolvimento da vitivinicultura da Serra Gaúcha, especialmente em re-
lação à consolidação da posição de prestígio que o espumante brasileiro já conquistou nacional e

204 Rogerio Dardeau


internacionalmente. Fensterseifer identifica dois grandes desafios para a efetiva materialização da
posição citada, que, em suma, pretende caracterizar com clareza a tipicidade e a qualidade de nossos
espumantes. O primeiro desafio é o da identidade do produto. O outro é o da reputação associada
à identidade e vinculada à região de origem. Tudo isso o fez procurar muito uma área em que pu-
desse transformar um projeto em realidade. Encontrou, após seis anos de busca, graças ao amigo e
produtor Vilmar Bettú. A Quinta Canova está assentada em propriedade de 6 hectares, adquirida
quando Jaime iniciou também a adoção de práticas agroecológicas, com vistas à reconversão para a
viticultura biodinâmica. Dava, assim, partida ao seu projeto, que vinha sendo gestado desde 2005,
época em que ele decidiu fazer o curso de Tecnólogo em Viticultura e Enologia, no então Cefet -
Bento Gonçalves, hoje IFRS. A área, localizada na Estrada do Sabor, município de Garibaldi, tinha,
aproximadamente, 2 hectares de parreirais com uvas de mesa; destes, apenas 0,45 hectare foi man-
tido, na parte mais baixa da encosta, em razão da identificada baixa aptidão para uvas finas de alta
qualidade, próxima à casa do antigo viticultor. Mantiveram-se, assim, na parcela de uvas de mesa,
as características originais da antiga propriedade vitícola. O antigo proprietário vivia ali há 41 anos e
tornou-se um verdadeiro parceiro no projeto Quinta Canova, tendo ensinado muito sobre as antigas
práticas vitícolas, especialmente as anteriores ao uso indiscriminado de agrotóxicos (e inclusive as que
se baseavam nas fases da lua. É impressionante a semelhança com o que recomenda o Calendário Biodinâmico).
Outro fato importante: houve um período em que eram cultivadas também uvas finas, especial-
mente para Oscar Guglielmone, que subia a serra para adquirir uvas de qualidade na região e levar
para vinificar em sua Adega Medieval, em Viamão. Após deixar cobertura verde por um período, de
modo a desintoxicar o solo, a Quinta Canova está organizada da seguinte forma: Parcela 1 (espu-
mantes): 0,3 hectare com Pinot Noir e Chardonnay; Parcela 2 (experimentação): 0,2 hectare com
Pinot Noir e Chardonnay (de clones diferentes dos da Parcela 1), mais as castas portuguesas Atinto
e Gouveio; Parcela 3: 0,3 hectare com Merlot (40%, com dois clones diferentes), Cabernet Franc
(40%, também com dois clones diferentes), Blaufrankisch (10%) e Cabernet Sauvignon (10%). Em
2019, foi colhida a primeira safra de Pinot Noir e Chardonnay da Parcela 1 e Merlot da Parcela 3. Fe-
z-se, então, a primeira vinificação no "Porão Novo" (microcantina). Alguma uva dessas variedades
foi colhida em 2018, mas essencialmente para experimentação, pois o manejo, até 2018, foi ainda vi-
sando o desenvolvimento das videiras, especialmente o radicular. Os resultados das microvinificações
de 2018 foram promissores. Em 2020 ocorreu a primeira safra de Cabernet Franc (aliás, aposto muito
nesta casta aqui para a Serra Gaúcha!). A partir de 2021, todas as variedades cultivadas estarão em
produção, sob os princípios da antroposofia, levando em conta as considerações sobre o homem tri-
membrado (corpo tisico, anímico e espiritual), num jardim naturalista, com paisagismo biodinâmico.

RELIQUIAE VINI - Vinhos Bettú


Gr V - 1990- VBdT* - (C) - EnoT
Na Reliquiae Vini, em Garibaldi, a família Bettú cultiva inúmeras
variedades, como Barbera, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon,
Chardonnay, Garganega, Malvasia de Candia, Malbec, Merlot,
Rebo, 98 Tannat, Teroldego e Touriga Nacional, entre outras. Cu!-

98 Variedade obtida a partir do cruzamento entre Merlot e Teroldego.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 205


tiva também muitas amizades, entre as quais de viticultores, que oferecem suas uvas à vini-
ficação por Vilmar Bettú. O engenheiro e professor, com sua esposa Salete, elabora vinhos
brasileiros de terroir, com uma produção artesanal e muito pequena, até porque Bettú tem
grande prazer em vinificar. Então, a cada ano, ele elabora muitos vinhos, sempre atento à
qualidade das uvas das quais dispõe. Até recentemente, as filhas Larissa e Catenca também
estavam diretamente envolvidas. Agora, porém, tomaram rumo próprio, mas seguem par-
ceiras dos pais. Sobre os nomes, a própria Catenca nos explica: "Sou a filha caçula de Vilmar e
Salete e irmã de Larissa. Como imagino que muitos devem estar se perguntando: "Catenca?", explicarei
a origem de meu nome. Meus pais tiraram meu nome (assim como o da Larissa) do livro O Doutor Ji-
vago, 99 um romance que acontece durante a I Guerra Mundial. A Cátia, que chamavam de Catenca, era
filha de Lara (protagonista da história), que chamavam de Larissa. Como podem ver, meus pais gostaram
bastante desse livro ... 100
A produção está entre 2 mil e 5 mil garrafas/ano, dependendo da safra. As vendas são
diretas e principalmente a clientes que os descobrem, na origem, e a alguns restaurantes do
eixo Rio-São Paulo. Todos os vinhos são vinificados a partir do esmagamento suave das uvas
com os pés. Bettú cuida tanto da própria produção que elabora um incrível varietal da casta
americana Isabel, quase um vinho fino. São dele as palavras: ''A.pós o labutar entre as vinhas
ou junto ao hábitat dos vinhos misteriosos, quando o corpo parece cansado, encontro, no convívio com
enófilos, a fonte das energias, principalmente as energias da alma". Só para se ter uma ideia do rigor
e da paixão com que Vilmar conduz a própria produção, vejam o que ele fez, em 2009, por ter
considerado ruim a safra: ele colheu as uvas Pinot Noir de forma tão selecionada que elaborou
apenas dez garrafas de 750 ml e trinta garrafas de 375 ml. Mas não deixou de vinificar! A
grande maioria dos produtores teria desprezado os poucos quilos colhidos! Bettú é um ser
humano preocupado com a vida e a sociedade. Vê a elaboração de vinhos como arte, e age
politicamente em relação ao trabalho de vitivinicultor. Em 13 de setembro de 2008, Vilmar
Bettú iniciou a publicação de um boletim eletrônico semanal, relatando a lide do vinhateiro.
Foram 52 edições, nas quais o dia a dia da vinha e do vinho era abertamente explicitado.
Aspectos favoráveis e até os óbices, como condições climáticas adversas, foram apresentados
de maneira franca. Nada era omitido. Foi uma grande contribuição aos amantes de vinhos.
Bettú é um incentivador de viticultores na região onde se localiza. Frequentemente, ele
adquire uvas de terceiros, quando identifica como de alta qualidade, e vinifica, declarando
sempre a procedência.
Vejamos algumas das preciosidades que Vilmar Bettú tem na cantina: Alicante Bouschet
2006; Ancellotta 2006; Arinarnoa 2004 e 2005; Assemblage Montepulciano 2003; Barbera 2005;
Cabernet Franc 2003 e 2004; Cabernet Sauvignon 2002, 2004, 2005; Carménere 2007; Chardonnay
2006; Corte Bordalês ''A." 2000; Corte Bordalês "C" 2001; Corte Bordalês "D" 2002; Corte Bordalês
"B" 2003; Corte Bordalês "E" 2004; Corte Merlot c/ Rebo 2006; Exacorte 2001/2/3/4; Malbec 2002;
Malbec c/ 10% Barbera 2003; Malvasia de Candia Licoroso 2005; Malvasia de Candia 2008; Marselan

99 Pasternak, Boris. O Doutor Jivago. Belo Horizonte: Itatiaia, 1958. O filme de David Lean, em 1965, entre
muitos prêmios, ganhou o Oscar em cinco categorias: melhor roteiro adaptado, melhor direção de arte
(em cores), melhor fotografia (em cores), melhor figurino (em cores) e melhor trilha sonora.
100 Vinhos e Videiras de Vilmar Bettú. Boletim n. 47, de 26/07/2009 a 01/08/2009.

206 Rogerio Dardeau


Corte 2004; Marselan 2005; Merlot 2003, 2004 e 2005; Montepulciano 2007; Nebbiolo 2002 e
2004; Pinotage 2005; Pentacorte 2003; Rebo 2005, 2006 e 2007; Rosé de Cabernet Sauvignon 2008;
Rosé de Merlot 2008; Riesling Itálico Licoroso 1992; Sangiovese 2003; Tannat 2002, 2003/ 4, e 2004;
Teroldego 2006; e Touriga Nacional 2005.
O Exacorte (ksi) foi um vinho elaborado a partir dos excedentes de produção das safras
de 2001, 2002, 2003 e 2004, armazenados em garrafões de 5 litros. Esses vinhos recebem os
mesmos cuidados que os demais e, no final da safra, são colocados num único tanque, em que
estão vinhos de, no mínimo, 25 vinificações e 15 variedades de uva. É Vilmar Bettú quem explica:
"Quando dei este nome ao vinho, estava pensando na Resolução nº 1Oda Décima Quinta Conferência Geral
de Pesos e Medidas, realizada em 1975, na cidade de Genebra. Na referida conferência, ficou estabelecido
que no SI (Sistema Internacional de Unidades) o prefixo EXA seria simbolizado por E, adaptado
arbitrariamente do grego héks (multiplicado por 10 na potência 18: l.000.000.000.000.000.000).
Portanto, o prefixo exa indica um número muito grande. Era esse o significado que eu dei quando chamei o
vinho de Exacorte. Fiz isso em 2001 , 2002, 2003 e 2004. No início de 2008, resolvi fazer um corte com
esses quatro vinhos, que são resultado de aproximadamente cem vinificações, 25 variedades e quatro safras
diferentes". Todos os vinhos têm como rótulo uma folha de parreira, com a variedade grafada em
dourado e a denominação Bettú. Os contrarrótulos trazem uma pequena história da vinícola, a
numeração da garrafa, com o total elaborado, e a rubrica do Vilmar Bettú.
Se você ama os vinhos de terroir, programe-se e visite Vilmar Bettú, em Garibaldi. A "casa-
cantina" está equipada para receber grupos de até 12 pessoas, confortavelmente, à mesa. Tenho
certeza de que terá um dia inesquecível. Mas prepare-se: no portfólio do autor há oitenta
vinhos secos disponíveis, desde o ano 2000! As safras recentes também trazem excelentes
surpresas. Aprecie o Chardonnay 2015, o Riesling 2010, o vinho estilo laranja Moscato de
Alexandria 2018 e o Barbera 2016, pelo menos .

SÃO LUIZ Indústria Vinícola


Gr II - 1980 - VM - (C)
A São Luiz Indústria Vinícola, de Garibaldi, localizada no distrito

~
de Marcorama, tem a assinatura da família Bortolini. Angelo Bor-
tolini foi o imigrante. A atividade comercial vitivinícola foi incre-
-
SAO LUIZ
INDÚSTRI/\ VINICOLA- mentada por João Bortolini, que era o filho mais novo e, por isso,
chamado Naneto Ooãozinho), ainda nos anos 1930. Na década de
1980, Luiz Bortolini registrou o nome. A Indústria Vinícola São Luiz elabora grandes volumes
de vinhos de mesa, mas mantém as linhas Naneto e Dom Naneto de vinhos finos tranquilos e
espumantes. Não confundir com Vinícola São Luiz (vinhos Dei Rei), de Caxias do Sul.

VACCARO Vinhos Finos


Gr IV - 2000 - VBdT* - (C) - EnoT

- •-
A família Vaccaro elabora e comercializa vinhos desde 1954. No
entanto, somente a partir do ano 2000 passou a se dedicar, de
Y.ACCAR:O maneira mais comprometida, à elaboração e comercialização de
VINIIOSf.f.SPUMr..NTf.S

'"'
vinhos finos de terroir. A família está sempre envolvida com as or-

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 207


ganizações culturais da região, em especial com o grupo Estrada do Sabor, sendo difusora da
cultura do vinho. Os dois ramos dos Vaccaros, o de José e o de Francisco Neto, têm, em conjunto,
25 hectares de vinhedos, na Linha Alexandre. A produção anual está em 44 mil garrafas, entre
varietais, cortes e espumantes. O enólogo é Lourenço Vaccaro. Os vinhos são elaborados em can-
tina própria, a partir de uvas colhidas dos próprios vinhedos, e são comercializados com o nome
Vaccaro . Os cortes são o Trifoglio Rosso (Cabernet Sauvignon, Merlot e Ancellotta) e o Degli Amici,
este nascido pela escolha de parceiros da vinícola. Entre os varietais, destaco o Vaccaro Cabernet
Franc, de grande tipicidade. Recentemente, a família criou a linha Collina D'Oro, para vinhos
estilo premium, nem sempre elaborados com uvas próprias. Destacam-se o Collina D'Oro San-
giovese e o Collina D'Oro Malbec.

OUTROS PRODUTORES em Garibaldi


Além dos produtores descritos acima, em Garibaldi, ainda encontramos os seguintes,
todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Vinícola Agostini;
Cave Darci Locatelli; Dom Avelino; La Cantina, Vinícola (vinhos La Cantina e D'Costa);
Lazzari, Indústria Vinícola; Santa Bárbara, Vinícola.

GRAMADO

CASA SEGANFREDO
Gr IV - 2000 - VBdT - (I) - EnoT
casaseganfredo.com.br
Empreendimento do casal Paulo e Ana Cecília Seganfredo, que
CASA SEGANFREDO buscava, inicialmente, um ambiente rural de lazer, com beleza,
tranquilidade e paz. São 16 hectares, dos quais 5 hectares, atu-
almente, dedicados às viníferas. A área já tinha videiras americanas quase centenárias. No
início, os proprietários implantaram novas mudas de castas americanas. No entanto, não hou-
ve adaptação. Hoje, estão eleitas as viníferas Cabernet Sauvignon, Merlot, Montepulciano,
Pinot Noir e Chardonnay. Os vinhos tranquilos têm a marca Barbatoni, homenagem ao tio-avô
barbudo Antônio, que tinha esse apelido. São varietais de estilo jovem das castas tintas e um
corte Cabernet Sauvignon com Merlot, chamado Anastazia. Os espumantes, todos tradicio-
nais, têm a marca Casa Seganfredo e são oferecidos em versões Brut Branco, Brut Rosé e Rosé
Nature. A Casa Seganfredo oferece ainda suco de uva sob a denominação Vacamora. Esse
nome homenageia o avô Cirillo Seganfredo, instalado em Nova Prata, quando chegou da Itália,
com a família, aos 6 anos. Jovem, ele voltou à Itália para prestar serviço militar, período em que
assistiu à inauguração da ferrovia "Vacamora", entre Vicenza e Maróstica. Cirillo participou e
venceu a primeira edição da corrida sobre os trilhos do trem. Nada mais razoável para nome de
suco de uva, que preconiza alimentação e energia. A produção, toda em cantina própria, está
em 10 mil garrafas/ ano de vinhos tranquilos, 3 mil de espumantes e 3 mil de suco. A casa tem
dois enólogos: Nelson Randon e Bruno Onsi. As edificações têm projeto arquitetônico afinado
com a cultura local, exibindo a pedra como elemento estrutural e decorativo.

208 Roge ri o D ard ea u


RAVANELLO, Vinícola
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaravanello.com.br
O empresário Normélio Ravanello sonhou, por muitos anos, com a

~
própria vinícola. Primeiramente, vivendo em ambiente vitivinícola,
desde a infância, em Antônio Prado, RS. Depois, durante os 37
RAVANELLÜ anos nos quais atuou para a Massey Ferguson do Brasil, chegando
à Vice-presidência, não deixou de acompanhar a evolução da vitivi-
nicultura brasileira. Em 1987, com a esposa, Rosa Maria, que tem origem familiar em Gramado,
Ravanello adquiriu a propriedade com 2,5 hectares e iniciou a realização de seu sonho, passo
a passo. Desde 2008 elabora o próprio vinho. A cantina começou a operar em 2010, em prédio
especialmente construído, em estilo toscano. A vinícola somente elabora vinhos brasileiros de
terroir, com uma produção máxima de 50 mil garrafas/ano. Trabalha com uva própria, mas tam-
bém adquire de outros produtores. Nesse caso, imediatamente após a colheita, as uvas são leva-
das à cantina em caminhão refrigerado, numa temperatura de 10 ºC. A cantina tem excelentes
instalações, com tanques de aço inox. Alguns tintos ou brancos, por escolha dos enólogos, são
elaborados em barricas de carvalho francês de 400 litros, no sistema de vinificação integral. Após
a fermentação, a estabilização dos vinhos pode ocorrer nos próprios tanques de aço inoxidável ou
em barricas de 300 litros, da mesma qualidade e origem daquelas utilizadas na vinificação inte-
gral. A Enologia está a cargo do enólogo Sandro Saul, com o técnico agrícola Rudilei Carniel, sob
planejamento e orientação de Celito Crivellaro Guerra, pesquisador da Embrapa e responsável
técnico pela vinícola. A casa iniciou a produção definindo três linhas de vinhos, todas engarra-
fadas com o nome Ravanello: linha Prestígio da Casa, integrada por vinhos elaborados a partir de
uvas de vinhedos próprios; linha Regiões Emblemáticas, com vinhos elaborados a partir de uvas de
produtores parceiros da Campanha Oriental, da Serra do Sudeste, de Campos de Cima da Serra,
três regiões gaúchas, e também do Alto Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina; linha Melhores
Misturas, a partir de cortes entre variedades obtidas de vinhedos próprios e dos parceiros, a cri-
tério do enólogo. Atualmente as linhas estão renomeadas como Clássica, Premium e Dionísio. A
linha Ravanello Clássica apresenta vinhos produzidos por processo tradicional, com afinamento
em barrica. A linha Ravanello Premium traz vinhos fermentados em barricas de carvalho francês
de 400 litros (método de vinificação integral) e em tanques verticais de aço inoxidável. Após a
fermentação, os vinhos estabilizam em barricas de carvalho francês por, pelo menos, seis meses.
A linha Ravanello Dionísio somente oferece vinhos de colheitas consideradas excepcionais, como
foi o caso do Tannat 2011 (14,0%), elaborado com uvas de vinhedos no município de Maçam-
bará, na Campanha Gaúcha. A Ravanello tornou-se, recentemente, a primeira vinícola brasileira
a conquistar o selo de produção integrada, em dois de seus vinhos: Chardonnay 2018 e o corte
Merlot + Cabernet Sauvignon.

Ge nte. Lugares e Vinh os do Bras il 209


STOPASSOLA, Vinícola
Gr III - 2004 - VM + VBdT - (C) - EnoT
stopassola.com.br
Empreendimento familiar com vinhedos próprios e foco no eno-
-W- VINÍCOLA turismo. Os vinhos finos elaborados são um corte Cabernet Sau-
IH
#
STOPASSOLA
vignon + Merlot e um varietal da Merlot. A casa tem uva Goethe,
com a qual elabora o vinho Gota de Ouro. Todos os vinhos são
denominados Stopassola. É a vinícola parceira do projeto ArteLíquida, de Cris Ribeiro e Matías
Michelini, que assessoram os Stopassolas na elaboração dos próprios vinhos.

GUABIJU

CASA ANTONIOLLI
Gr III - 2010 - VM + VBdT - (C)
A família de Aldir Antoniolli é de produtores rurais, desde o século

Pr\ XIX, quando da chegada do primeiro imigrante. O cultivo da vinha


se confunde com os Antoniollis e o município de Guabiju. Por todo
o tempo, porém, a produção era para escoamento local. Numa pro-
VINHO ARTESANAL E COt.ONIAL
priedade de 20 hectares, eles têm 10 hectares de vinhedos, com 4
hectares de viníferas. Por volta de 2010, Adrian, o filho mais velho de Aldir e Elba Vizzotto Anto-
niolli, que já desenvolvia negócios próprios no Rio de Janeiro, constatou a qualidade dos varietais
das viníferas Cabernet Sauvignon e Merlot, além de um branco seco Moscato, elaborados pelo pai.
Nascia a Casa Antoniolli, aberta então ao mundo dos vinhos finos, para além da Serra Gaúcha.

GUAPORÉ

GHELLER, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolagheller.com.br
(A o/fn1da Originalmente, eram duas vinícolas: Gheller, do empresário José
@l~
Antonio Gheller, do ramo de bijuteria fina, e Monte Azzurro (antiga
Vinícola Serafini), de Carlos Serafini. A nova empresa, nascida da
união das duas, mantém vinhos brasileiros de terroir e vinhos finos
correntes, sob a denominação Vinícola Gheller e sob o controle dos
irmãos José Antônio e José Domingos Gheller. São 40 hectares de vinhedos, com as viníferas
tintas Cabernet Sauvignon, Carménere, Merlot, Tannat e a branca Chardonnay. Da linha Mon-
te Azzurro ainda é possível apreciar o corte Cabernet Sauvignon - Merlot, com o nome Monte
Azzurro Crepusculum, da safra de 2006, 13,5%, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho
francês, e o Monte Azzurro Gran Reserva Tríplice Rosso 2005, 13,8%, um corte entre Cabernet Sau-
vignon, Merlot e Carménere. De igual maneira, há rótulos Gheller longevos, como, por exemplo,
o Vitral 2005, um corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Carménere, com 13,0% de teor
alcoólico. Apreciado em 2018, mostrou-se vivo, brilhante, complexo. O enólogo é Marcos Vian.

210 Roge rio D ard ea u


OUTROS PRODUTORES em Guaporé

Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes, todos no Grupo
III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Vinhedos Longhi; Vinícola Giaretta,
com ampla linha de produtos, inclusive vinhos finos tranquilos e espumantes; Vinícola Scalco,
com varietais finos, espumantes e sucos.

NOVA ROMA DO SUL

CASACORBA, Vinícola
Gr IV - 1999 - VBdT* - (C) - EnoT
casacorba.com.br
Casacorba é um empreendimento realizado pela família Tessaro, a
partir de um histórico familiar de cultivo de videiras, desde a che-
CA SACOR BA gada dos irmãos Vicenzo e Luigi Tessaro, em 1888. São 19 hectares
de área, com vinhedos próprios nos quais estão implantadas as va-
riedades viníferas Merlot, Tannat, Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon e Moscato R2.
A família Tessaro cultiva ainda as variedades americanas Concord, Bordô e Isabel, para suco, e
oliveiras, para a produção de azeite.

OUTROS PRODUTORES em Nova Roma do Sul

Além dos produtores descritos acima, em Nova Roma do Sul, ainda encontramos os
seguintes, todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Cooperativa
Vinícola de Trajano, Vinícola São Rafael, Vinícola Vale Dei Mis.

PICADA CAFÉ

COOPERNATURAL - Hex Von Kaffeeschneis


Gr III - 2004 - VBdT - (C) - 'N'
coopernatural.com.br
Grupo de produtores orgânicos da Serra Gaúcha. No caso de uva
e vinho, são duas famílias de Ipê, também na Serra Gaúcha, com
origem italiana (Pauletti), que cuidam dos vinhedos. A vinificação
fica por conta da família de origem alemã Fritsch. Seus vinhos Ca-
bernet Sauvignon 2007 e Moscato 2008 destacaram-se pela estrutura,
complexidade e presença de boca. No dizer dos produtores: "Gosta-
ríamos de ressaltar aqui que nossa preocupação não é só com dinheiro, mas também em espalhar um estilo de
vida mais saudável". Os vinhos são rotulados como Hex Von Wein ("vinho da bruxa"). Esse grupo
passa por um processo de redefinição dos meios de comercialização, havendo incerteza também
sobre a continuidade da elaboração comercial dos vinhos. Sem dúvida, será uma pena perder o
estilo Hex.

Gente. Lu gares e Vinhos do Brasil 211


SANTA TERESA
Em Santa Teresa, encontram-se diversos viticultores do Grupo III que engarrafam vinhos
finos próprios, inclusive Vicezar (família Vignatti) , com o vinho Reserva Vignatti.

SÃO JORGE
Em São Jorge, encontramos diversos viticultores que engarrafam varietais próprios,
inclusive a família Zanon. Estão entre os produtores do Grupo III.

SÃO MARCOS

CATAFESTA
Gr II - 1963 - VM - (C)
catafesta.com.br
Vinícola criada por Augusto Catafesta, com seus filhos. Processa uvas
I A'JAFES'JA
1

------ de vinhedos próprios e de mais de trezentos viticultores das regiões


da Serra Gaúcha e dos Campos de Cima da Serra. Até 1998 elaborava
apenas vinhos de mesa. A partir de então, implantou vinhedos com as variedades Cabernet Sau-
vignon, Merlot e Chardonnay, logo ampliando com Ancellotta e Riesling. A cantina está instalada
numa área de 6 mil metros quadrados, e os tanques internos e externos têm capacidade para arma-
zenar 13 milhões de litros de vinhos. O enólogo é Juarez Meneguzzo. Os vinhos finos tranquilos
da casa mantêm a denominação Catafesta, enquanto os espumantes (um brut e um Moscatel) levam
o nome Don Augusto. Dois varietais tintos são classificados como gran reserva. Os dois brancos
são reserva, assim como o corte tinto Cabernet Sauvignon + Merlot. Todos os vinhos têm alguma
passagem por barrica. Os vinhos 'reserva' são também apresentados em garrafões de 4,6 litros e
embalagens bag-in-box de 3 litros. A empresa é administrada por Luiz e Valdomiro Catafesta.

MONTE SANTANA, Vinícola


Gr III - 2010 - VBdT- EnoT- (C)
Empreendimento das famílias Soldatelli e Panassol. Inicialmente,
vinificavam com uvas de terceiros. Em 2012 iniciaram a implan-
tação de 1,6 ha de vinhedos com Moscato Giallo (0,6 ha), Merlot
VI NI CO (0,8 ha) e Ancellotta (0,2 ha) . A enologia está sob os cuidados do
L '-

MONTE SANT'ANA jovem Vagner de Vargas. O varietal da Moscato Giallo é uma expio-
são incrível de aromas. Há também outros vinhos, elaborados com
uvas de terceiros. A produção está em 15.000 gfs/ ano, incluídos espumantes e suco. A localização,
ligeiramente elevada, é privilegiada, oferecendo uma vista ampla de toda a região. A vinícola se
prepara para avançar no enoturismo.

212 Roge ri o D ard ea u


SINUELO - Irmãos Molon
Gr II- 1963 - VM + VBdT- (C)
sinuelo.com.br
Vinhos de mesa e vinhos finos Pietro Feiice e Sinuelo Prime. São 12
hectares de vinhedos próprios, com as variedades finas Cabernet
Sauvignon, Merlot, Moscato Giallo e Riesling, importadas da Itália
em 1995, que alimentam toda a produção da vinícola.

ZANLORENZI, Famiglia - Vinícola Serra Gaúcha


Gr II - 1942 - VM - (C)
famigliazanlorenzi.com.br
Vinícola fundada por Carlos e Julia Zanlorenzi, como Zanlorenzi
& Irmão Ltda., em Campo Largo, Paraná. Em 1977 abriu uma
FAMIGLIA filial em São Marcos, RS. Em 1991, passou a se chamar Vinhos
~LOR.ENZI
Campo Largo, mudando para Vinícola Campo Largo em 2005.
A partir de 2010, chegou à denominação atual. Atualmente, as duas unidades têm finalidades
distintas. Em São Marcos, a Vinícola Serra Gaúcha mantém parceria com mais de mil famílias
de viticultores, de 16 municípios da região, os quais entregam suas uvas à cantina, para os cui-
dados iniciais do processo de vinificação. Ali, é possível armazenar mais de 10 milhões de litros
de derivados de uva. É nessa unidade que nascem os vinhos finos e espumantes premium do
grupo. A cantina paranaense - Vinícola Campo Largo - tem capacidade instalada para envasar
mais de 37 mil garrafas por hora e pode armazenar mais de 4 milhões de litros de vinho. O
Grupo Vinícola Famiglia Zanlorenzi mantém parcerias internacionais na Argentina e no Chile,
para importação de vinhos finos. O portfólio de produtos é amplo, especialmente vinhos de
mesa, em grande variedade de rótulos. O enólogo é o jovem Mateus Poggere, aliás, uma família
comprometida com os vinhos: além de uma pequena vinícola em São Marcos, tem, entre seus
membros, Patrícia Poggere, enóloga com experiência internacional. A Vinícola Serra Gaúcha
elabora dois varietais finos, um Merlot e um Chardonnay, ambos barricados em carvalho novo
francês Allier. Saíram da Vinícola Serra Gaúcha o Famiglia Zanlorenzi 70 Merlot 2012, come-
morando os 70 anos da chegada ao Brasil e, pouco depois, o Famiglia Zanlorenzi Gran Cuvée
Brut, elaborado pelo método tradicional, com vinho base a partir de Chardonnay e Pinot Noir,
para celebrar os 75 anos de presença dos Zanlorenzis no Brasil.

OUTROS PRODUTORES em São Marcos

Ainda em São Marcos, encontramos os seguintes produtores, todos do GRUPO III -


produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Vinícola Meneguzzo; Vinhos Poggere
(Don Celesto)

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 213


SÃO VALENTIM DO SUL
PENZO
Gr V - 2017 - VBdT* - (C) - 'N'
Flavio Penso (originalmente o nome está grafado assim, certa-
mente por um equívoco de cartório) é um técnico em enologia e vi-
ticultura, com especialização em reprodução de viníferas, um vivei-
rista experiente. Descende de família imigrante do Vêneto. Atuou
por mais de uma década na Agrovitivinícola Vallagarina, no viveiro
de Sant'Ana do Livramento, na fronteira Sul do Brasil. Trata-se de um projeto apoiado pela Associa-
zione Trentini nel Mondo (os Círculos Trentinos, no Brasil) e pelo governo do estado do Rio Grande
do Sul, com o objetivo de estudar o comportamento de viníferas trentinas no Brasil, sempre com
intercâmbio técnico com o lstituto Agrario di San Michele all'Adige. Flavio nos conta que o projeto
foi iniciado em 2002, com o plantio das primeiras matrizes de porta-enxertos. Em 2005, veio o
primeiro plantio de matrizes reprodutoras, com Cabernet Sauvignon, Merlot e outras. Em 2006,
chegou uma nova partida de matrizes reprodutoras e, entre essas, um lote de 50 mudas de Merlot,
logo implantadas. Com o desenvolvimento das plantas, verificou-se que uma planta, apenas uma,
era muito diferente das Merlots. Feitas as análises, constatou-se que era Nosiola, com excelente
adaptação. Por essa época, era pároco da Igreja Matriz de Livramento o padre Ezio Berteotti, um
amante da viticultura. Em visita ao projeto Vallagarina, Flavio Penso mostrou-lhe a Nosiola. Como
trentino, o padre Ezio ficou emocionado, por ver a casta de sua terra, que dá origem ao vin santo,
em pleno desenvolvimento no Brasil. A partir daquele episódio, Flavio não somente intensificou os
cuidados com aquela matriz, como produziu inúmeras mudas, para diversos produtores.

VERANÓPOLIS

DA PAZ, Vinícola
Gr III - 1991 - VBdT - (C)
Foi num encontro casual, há muitos anos, na acolhedora cantina
da família Brugalli, em Garibaldi, que um senhor me falou sobre

DAPAZ o Tannat da Paz, de Veranópolis. Achei curioso o nome e fui lá


para entender. Fui recebido pelo simpático casal Luiz Carlos e Jô
Luchini, que me explicou. A história é bem simples. As famílias Ceppo, Luchini e Tedesco têm,
aproximadamente, 15 hectares de vinhedos, na localidade de Nossa Senhora da Paz, em Vera-
nópolis. Elaboram, em conjunto, seus vinhos, que logo foram apreciados pela população local.
Assim, quando alguém perguntava por um vinho da região, logo indicavam: "ali, o vinho da Paz".
E o nome ficou. Os vinhedos, nas colinas próximas ao arroio Jaboticaba, voltam-se para o norte,
conseguindo ótima insolação, e as uvas são colhidas em excelente estágio de maturação. O Tan-
nat Da Paz 2013 é um vinho de personalidade única. Diferentemente da robustez frequente dos
vinhos dessa casta, o Tannat Da Paz 2013 é um vinho de cor rubi brilhante, com leve opacidade,
pleno de aromas de frutas vermelhas e vegetais, muito macio e persistente. Com apenas 12,0%
de teor alcoólico, é um dos tannats mais leves da Serra Gaúcha, mas com sabor e identidade. A
vinícola tem outros varietais finos e vinhos de mesa. O enólogo é Edemir Ceppo.

214 Rogerio Dardeau


SIMONETTO, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (C) - EnoT
A Simonetto Vinhos Finos é uma pequena e simpática vinícola
familiar, fundada por Claudionor Simonetto. Tem 4,5 hectares de
vinhedos, no quais se cultivam uvas comuns e viníferas. A cantina
própria é bem pequenina, mas equipada, contando com adega para
envelhecimento de vinhos. O destaque, entre os vinhos finos, é
o Simonetto Pinotage 2014. Trata-se de um varietal a 100% da casta, de vinhedos próprios. O
vinho, com 12,5% de teor alcoólico, é um tinto de um rubi translúcido, com aromas frutados,
lembrando amoras, e uma presença aveludada ao paladar. É um tinto muito indicado às tempe-
raturas elevadas, nos dias de outono e verão.

OUTROS PRODUTORES em Veranópolis

Ainda em Veranópolis, encontramos como integrantes do Grupo III - produtores


tradicionais de pequeno a médio porte: Cooperativa Alfredochavense - Vinhos Noé
(Noé Barbera); Vinícola Antonio Bin; Vinícola Barbarano; Vinícola Farenzena; Vinícola
Mazzarollo; Vinícola Pessin.

CAMPANHA GAÚCHA (hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)


e IP CAMPANHA GAÚCHA (desde 30/04/2020)

Está situada no Paralelo 31 º S, região considerada muito boa ao cultivo de viníferas, tal como
ocorre na Argentina e no Chile. Recebeu as primeiras mudas de viníferas por volta de 1880. Ali
se estabeleceu a família Marimon, de imigrantes espanhóis, vindos do Uruguai. Em 1888, já
elaborava o próprio vinho, em cantina própria, na Quinta do Seival, 101 na época ainda Bagé, atual
Candiota. A vinícola funcionou por mais de cinquenta anos. Atualmente há apenas ruínas.

101 O nome seival é uma corruptela de ceibal ou seibal, usado para mostrar a grande presença da árvore
típica da região dos pampas, a Erythrina falcata Benth, desde Argentina e Uruguai. Conhecida como
corticeira-da-serra e corticeira-do-seco, mas também ceibo ou seibo, além de bucare.

Ge nte. Lu gares e Vinhos do Bras il 215


Mesmo com essa história, a vitivinicultura não se difundiu. No início dos anos 1970,
porém, estudos conjuntos da Universidade da Califórnia (Davis) com a Universidade Federal
de Santa Maria e a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, para um zoneamento
agroclimático voltado à cultura de viníferas naquele estado, reafirmaram a aptidão da
Campanha Gaúcha para a vitivinicultura. Participaram daqueles estudos diversos personagens
importantes. Destaco o vitivinicultor uruguaio Juan Francisco Jaime Carrau Pujol, o professor
Carlos Eugênio Daudt, da Universidade de Santa Maria, e o professor Harold Olmo, PhD, da
UCLA Davis. Concluídos os trabalhos, os técnicos da Universidade da Califórnia regressaram
aos Estados Unidos e apresentaram relatos à Almadén (então, National Destillers), 102 que veio
para o Brasil em 1974 e se estabeleceu em Bagé, por meio da Vinhedos Santa Tecla. Em 1976,
mudou-se para Santana do Livramento e iniciou a produção por volta de 1980. Ocorre que
a empresa desejava produzir, em larga escala, vinhos finos de consumo corrente. Esse era o
plano de negócios da companhia, o que fez com que, por muitos anos, tivesse circulado, entre
consumidores de vinhos e até entre produtores, a ideia de que da Campanha somente sairiam
vinhos daquele tipo. Foram necessários alguns bons anos para que nossos próprios técnicos,
oriundos do Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, demonstrassem que a
Campanha Gaúcha não somente é uma excelente região para o plantio de viníferas, como ali é
possível elaborar grandes vinhos, caso o produtor assim deseje. Hoje, isso está completamente
confirmado, e a fronteira vitivinícola gaúcha ganhou o extremo sul do estado. A Campanha Gaúcha é
uma enorme região, estendendo-se de leste a oeste da fronteira Sul do Brasil. Hoje são considerados
os seguintes munidpios: Alegrete, Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Qµarai, Rosário do
Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana. O Miolo Wine Group, representado na Campanha pelas
vinícolas Almadén e Seival, fundamentado em documentos da geografia rio-grandense, localiza cada
uma num espaço: Almadén está na Campanha Central, pois o munidpio de Santana do Livramento
fica, geograficamente, no centro do imenso espaço da Campanha; e a Seival está na Campanha
Meridional, onde se situa o munidpio de Candiota. Por esse viés, temos as seguintes divisões:
Campanha Ocidental, com os munidpios de Alegrete, Quaraí e Uruguaiana, podendo agregar ainda
Itaqui e Maçambará; Campanha Central, com Santana do Livramento; e Campanha Meridional,
com Bagé, Candiota, Dom Pedrito e Hulha Negra. Há pouco mais de uma década, identificava-se
uma Campanha Oriental, relativamente ao rio Uruguai, ou seja, munidpios ao oriente daquele rio,
Itaqui e Maçambará. Atualmente, prefere-se a integração desses à grande Campanha Gaúcha.
A recente definição de uma Indicação de Procedência (30/4/2020) obedeceu a rigorosos
estudos e estabeleceu a delimitação da indicação geográfica, como segue: "Área geográfica contínua
de 44.365 km2 que inclui integralmente a área dos municípios de Aceguá, Barra do Quaraí, Candiota,
Hulha Negra, Itaqui, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana; integralmente
a área dos distritos de Alegrete (pertencente ao município de Alegrete); de Bagé, Piraí e José Otávio
(pertencentes ao município de Bagé); de Dom Pedrito (pertencente ao município Dom Pedrito); de Ibaré
(pertencente ao município de Lavras do Sul), de Maçambará, Bororé e Encruzilhada (pertencentes ao
município de Maçambará); parcialmente a área do distrito de Torquato Severo, pertencente ao município
Dom Pedrito; e parcialmente a área do distrito de ]oca Tavares, pertencente ao município de Bagé".

102 Veja mais sobre a Almadén em Miolo Wine Group.

216 Rogerio Dardeau


O Regulamento de Uso da Indicação de Procedência Campanha Gaúcha proíbe o uso de
uvas americanas, bem como de híbridas interespecíficas, e autoriza o cultivo de 36 castas
viníferas. São as seguintes: brancas - Alvarinho, Chardonnay, Chenin Blanc, Colombard,
Gewurztraminer, Moscato Branco (Moscato Petit Grain), Moscato Giallo, Pinot Grigio,
Riesling Itálico, Riesling Renano, Sauvignon Blanc, Sémillon, Trebbiano e Viognier (14);
tintas - Alfrocheiro Preto, Alicante Bouschet, Ancellotta, Barbera, Cabernet Franc, Cabernet
Sauvignon, Gamay, Grenache, Longanesi (Uva Longanesi), Malbec, Marselan, Merlot,
Moscato Hamburgo, Petit Verdot, Pinot Noir, Pinotage, Ruby Cabernet, Sangiovese, Syrah,
Tannat, Tempranillo e Touriga Nacional (22). O Conselho Regulador da IP poderá autorizar,
mediante solicitação fundamentada de algum produtor, o cultivo de outras viníferas em caráter
experimental. Caso uma determinada vinífera usada experimentalmente seja vinificada por
mais de três anos, poderá vir a ser incluída no conjunto das castas autorizadas. O sistema de
condução das videiras é espaldeira. Outros podem ser autorizados experimentalmente. Os
varietais devem conter 85% da casta. A chaptalização é permitida a um máximo de 2% em
álcool. Enfim, o regulamento é bem completo, condicionando diversos outros fatores.
Em geral, a Campanha Gaúcha apresenta clima temperado com invernos rigorosos, verões
quentes e secos, com muito boa amplitude térmica. Todavia, questões como desfolha, irrigação
e mesmo de adaptação de variedades ainda carecem de estudos e debates. Essa região, além dos
produtores já organizados na associação Vinhos da Campanha, apresentados adiante, vem tendo
muitos produtores independentes de viníferas e vinhos.
Entendo que, no futuro, a Campanha Gaúcha poderá vir a ser redesenhada, inclusive com
outras IPs, internamente à grande IP Campanha Gaúcha, à medida que os diversos microclimas
ali encontrados sejam mais bem caracterizados, e a adaptação de castas seja confirmada em cada
microrregião.
Os produtores estão organizados na associação VINHOS da CAMPANHA - Associação
dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, com os seguintes associados: Almadén,
Associação Quaraiense de Fruticultores, Bellavista Estate (Galvão Bueno), Cooperativa
Vinoeste (sob o controle da Casa Valduga), Cooperativa Vitivinicola Aliança, Cordilheira de
Sant'Ana, Dunamis Vinhos e Vinhedos, Guatambu Estância do Vinho, Seival Estate, Vinhedo
Irmãos Camponogara, Vinhedos Routhier & Darricarrere, Vinhos Dom Pedrito - Rigo
Vinhedos, Vinhos Rio Velho, Vinícola Campos de Cima, Vinícola Peruzzo e Vinícola Serra do
Caverá. A associação instalou recentemente o projeto para estruturar e implantar a Indicação
de Procedência Campanha, com apoio e financiamento da Finep. Trata-se de um projeto de
cooperação com a Rede de Centros de Inovação em Vitivinicultura (Recivitis).
Na Campanha Gaúcha, especificamente em Bagé, é importante registrar o trabalho do
professor Norton Sampaio, que repercute em inúmeros produtores de vinhos finos no estado
do Rio Grande do Sul. Vejamos!

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 217


FRUTICULTURA SÃO XICO - Norton Sampaio - Viticultura
(Bagé, RS - 2000)
Norton Victor Sampaio é um engenheiro agrônomo, com Dou-
~IR:ef torado em Fitotecnia, professor de disciplinas relacionadas à vi-
ticultura, no curso de Enologia da Universidade Federal do Pam-
SÃC XIG pa, na cidade de Dom Pedrito/ RS. Ele é também viticultor, desde
o ano de 2000, num empreendimento familiar, em área própria
de 50 hectares, dos quais 7,6 hectares de vinhedos. A propriedade está situada no bairro
rural Olhos D' Água, distrito de Joca Tavares, no município de Bagé - RS. Sobre os vinhedos
é importante registrar que são georreferenciados, com cadastro vitivinícola, em que constam
idade do vinhedo, número de plantas e outras informações. São quinze parcelas, nas quais
estão implantadas as viníferas brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling Itálico, além
das tintas Alicante Bouschet, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir, Tannat e Touriga Nacional.
Toda a produção é destinada a vinicultores, tais como Vinícola Monte Lemos (Dal Pizzol),
Guatambu, Batalha, Vinhética e outros. Por ser um profissional exigente, Norton Sampaio
permanentemente participa de grupos de especialistas em viticultura, em que trocam ideias
e informações, buscando soluções para as distintas surpresas de cada ano e de cada safra. So-
bre uma filosofia de trabalho, ele sentencia: "Não creio que seja importante optar por uma filosofia
de produção. Todo produtor rural precisa estar atento ao máximo possível de alternativas sustentáveis
econômica, social e ambientalmente. Em nossa região produtiva, é praticamente impossível fazer pro-
dução sustentável economicamente com viticultura de espécies viníferas "europeias" de forma orgânica
ou biodinâmica. Em outros ecossistemas, sim, é possível e desejável". Norton não elabora vinhos,
apenas uvas viníferas, sob cuidados rigorosos. Novamente é ele quem diz: "Não creio ser uma
boa alternativa econômica produzir vinhos sem ter o tempo necessário para dedicação e comprometimento
de se fazer benfeito. Minha filha é enóloga, minha colega na Unipampa, e trata de enologia com saberes
suficientes para me desestimular de fazer algo sem ter os parâmetros de qualidade mínimos. Talvez depois
que me aposentar de tantos afazeres profissionais, possamos nos dedicar à elaboração de vinhos!". Sem
dúvida alguma, uma opção acertada. Norton toca em um tema que vejo como da mais alta
relevância: dedicação integral. Concordo inteiramente que elaborar vinhos sem dedicação in-
tegral certamente conduz a resultados comuns, sem muita agregação de valor. Faço questão,
porém, de tê-lo aqui situado, pela importância dos frutos que ele colhe em seus vinhedos, em
muitos vinhos que conhecemos.

GENTE que elabora vinhos finos na CAMPANHA GAÚCHA


Produtores apresentados por ordem alfabética, por município, também ordenados
alfabeticamente.

218 Roge rio D ard ea u


BAGÉ

ESTÂNCIA PARAIZO
Gr IV - 2000 - VBdT* - (I) - EnoT
estanciaparaizo.org.br
A família Mércio tem origem açoriana. Está instalada no distrito
de Joca Tavares, em Bagé, desde 1790. Ao longo de sua história,
a Estância Paraizo se desenvolveu com pecuária de corte, ovino-
cultura e silvicultura, até decidir-se por adicionar a viticultura,
destinando uvas a um grande vinicultor. No ano 2000, porém, o
agrônomo Thomaz Alves Pereira Mércio e a esposa, Monica Patri-
zia Zara Mércio, tomaram a decisão de ser também vitivinicultores, entre os demais negócios da
Estância, que tem 3 hectares de vinhedos contínuos, com as variedades Cabernet Sauvignon e
Shiraz. Aliás, a Estância Paraizo tem o primeiro registro, no Ministério da Agricultura, de vinhe-
do de Shiraz do Brasil, a partir de uma importação conjunta de mudas, feita pela Salton e parcei-
ros, da África do Sul. Em 2011, a Agropecuária Zara Mércio, empresa familiar da qual participam
ainda Thomaz e Victoria, os dois filhos do casal, em sociedade, apresentou comercialmente o
primeiro vinho. Foram 1.147 garrafas de um varietal a 100% da casta Cabernet Sauvignon, sem
passagem por barricas de madeira, repetido em 2012, com 1.372 garrafas. Esses primeiros vi-
nhos foram elaborados na cantina da Vinícola Peruzzo, em Bagé, sob a supervisão do enólogo
Éder Peruzzo e assessoria do consagrado enólogo Adolfo Lona. Os vinhos das duas colheitas,
batizados de Don Thomaz y Victoria Cabernet Sauvignon, atingiram 13,6% de teor alcoólico e
expressam a robustez da casta daquela região da Campanha Gaúcha, com uma cor rubi intensa
e jovem. Há projeto de uma cantina própria para 20.000 garrafas/ano: sem dúvida, uma butique
de vinhos. Desde 2015, a Estância Paraizo conta com a assessoria do enólogo )avier González
Michelena, e as vinificações vêm sendo feitas na cantina Pueblo Pampeiro. Desde 2018, a vinícola
vem vinificando o Don, um Cabernet Sauvignon de entrada, macio e vivo. Tem também investido
em ações de enoturismo, uma vez que conta com ricas instalações históricas, numa paisagem
belíssima. O Galpão Crioulo, por exemplo, tem arquitetura típica da região, tendo sido edificado
com as mesmas pedras utilizadas em todo o complexo da Estância Paraizo, onde inclusive as
cercas são de arenito, extraído do próprio solo da propriedade. De espaço dos arreios dos cavalos
e de área de convívio dos antigos gaúchos, o Galpão Crioulo passou por uma restauração com-
pleta, dando lugar a uma área de degustação dos vinhos e produtos elaborados na estância. Em
2020, a Estância Paraizo lançou seus notáveis vinhos da colheita 2018: Don Cabernet Sauvignon,
Don Thomaz y Victoria, e Camilo Primeiro, um Syrah ao estilo Rhône Norte, com uvas do pri-
meiro vinhedo, além do espumante GaYda, um brut 100% Chardonnay, para o qual o vinho base
estagiou em barricas, antes da fermentação nas garrafas, em que fez autólise, por 18 meses, um
Millésime. GaYda era o apelido carinhoso da elegante Margarida Bretas Mércio, primeira mulher
a viver na estância, nos intervalos das inúmeras viagens Brasil-Europa-Brasil. Camilo foi o titula-
do ancestral que recebeu as terras e deu início à cultura da família Mércio na região. A Estância
Paraizo faz parte da iniciativa Aliança do Pampa (Alianza dei Pastizal - @alianzabr - http://www.
savebrasil.org.br/pampa/), entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que busca rentabilidade
das propriedades rurais com manejo sustentável, com vistas à preservação do biorna Pampa.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 219


PERUZZO, Vinícola
Gr IV - 2003 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaperuzzo.com.br
Empreendimento vitivinícola de empresário Lindonor Peruzzo, do
setor varejista (supermercados). São 16 hectares de vinhedos, em
'P 180 hectares de propriedade, onde estão plantadas as variedades
PEPiJZZO
tintas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, e a branca
Chardonnay. O primeiro vinho foi elaborado em 2007. O enólogo
é o jovem Éder Peruzzo, assessorado pelo uruguaio Ariel Pereira. A cantina é própria, constru-
ída especificamente para a finalidade . A Peruzzo apoia vários viticultores da região, elaborando
seus vinhos. A empresa oferece duas linhas de vinhos tranquilos e uma de espumantes. A pri-
meira, sob a denominação Peruzzo, com quatro varietais tintos e um Chardonnay. A segunda,
chamada linha Jovem, tem três rótulos: Do Forte; Vogue, um corte entre Cabernet Sauvignon e
Cabernet Franc; e Sensus, um varietal de Cabernet Sauvignon, de corpo leve. A tendência da
empresa é levar todos os vinhos da linha Peruzzo a estágios em madeira. Estão no mercado os
varietais Peruzzo Merlot (13,8%) e Peruzzo Cabernet Sauvignon (13,0%), da safra de 2012, além do
Peruzzo Cabernet Franc (13,9%) , da safra de 2012. Em relação ao Merlot e ao Cabernet Sauvignon,
metade da produção teve estágio de três meses em barricas. O Cabernet Franc não estagiou em
madeira e mostra muito boa complexidade. Todos os espumantes têm a denominação Peruzzo.

CANDIOTA
BATALHA, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (C) - EnoT
vinhosbatalha.com.br
Butique idealizada pelo jovem agrônomo Giovâni Silveira Peres,


BATALHA
VINHO ■
1/ IN HAS'
que arregimentou o amigo Gilberto Pozzan, com o filho Felipe Po-
zzan, para a sociedade. São 6,5 hectares de vinhedos, com solos
franco-arenosos, situados na localidade em que se deu a Batalha do
Seival, fato relevante na Guerra dos Farrapos. A cantina é própria,
situada em excelente ponto, às margens da rodovia BR 293 (km 144). As variedades são: Caber-
net Sauvignon, Merlot e Chardonnay. A área total é de 29 hectares, e o projeto prevê 15 hectares
de vinhedos. Oferece ao mercado os seguintes rótulos: varietais Cabernet Sauvignon, Merlot,
Tannat e Chardonnay; vinho de entrada Ideologia, um corte entre as três tintas da vinícola, além
dos espumantes Brut e Nature, ambos com vinho base 100% Chardonnay.

BUENOWINES
Bellavista Estate
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I)
buenowines.com.br

~
Vinhedos implantados a partir de iniciativa do jornalista Car-
BUENO· los Eduardo Galvão Bueno, atualmente um dos sócios do Miolo
WtneS Wine Group. Seus vinhos são vinificados pela Seival Estate. Já

220 Ro ge rio Dardea u


levou ao mercado os seguintes vinhos: espumante tradicional - Bueno Cuvée Prestige, à base
de Pinot Noir e Chardonnay; Paralelo 31, um corte tinto, a partir de Cabernet Sauvignon,
Merlot e Petit Verdot; Bueno Bellavista Pinot Noir e Bueno Bellavista Sauvignon Blanc. Em 2012,
a Bueno Wines assumiu uma parceria com a Tenuta La Valletta de Sant'Antimo, na Toscana,
onde elabora alguns vinhos sob a orientação do enólogo Roberto Cipresso. Em 2019, a casa
lançou o Bueno VIN 2018. Trata-se de uma Very lmportant News (VIN): um Cabernet Sauvignon
para entrar no mundo do baixo custo. O Anima Gran Reserva Merlot 2015 é fruto da expertise
enológica de Roberto Cipresso, que empregou técnicas de vanguarda na sua elaboração, entre
as quais o uso de mantas reflexivas nas fileiras dos vinhedos, para potencializar o efeito da luz
solar sobre as videiras.

SEIVAL, Vinícola
Miolo Wine Group
Gr IV - 2000 - VBdT - (I)
miolo.com.br/controller.php
Trata-se do braço Campanha Gaúcha Meridional do MWG, onde

l> foram implantados vinhedos e uma cantina de grande porte, com


padrão internacional de instalações e equipamentos. A mecaniza-
SEIV\L ção é muito bem utilizada nos vinhedos, inclusive com colheitas
ESTATE
noturnas, em algumas circunstâncias. Aliás, o Sauvignon Blanc de
colheita noturna exibe todo o frescor das madrugadas de verão na
Campanha. É na Seival Estate que nasce, pelas mãos de um dos enólogos da casa, o apaixonado
Miguel Ângelo Almeida, o expressivo e icônico Sesmarias (VBdT), elaborado apenas em colhei-
tas excepcionais. Aliás, vejamos o depoimento desse enólogo, em postagem no Facebook, em
novembro de 2019:
"Estou demasiado excitado, extenuado, extasiado, exagerado quiçá. No dia 20 de novembro de 2019,
das 9:30 às 11 :30 materializou-se história na linha de engarrafamento da Vinícola Miolo. A última
intervenção humana no Sesmarias 2018, o último afago, 6.945 nascimentos de parto natural. Esse vinho
fabuloso teve início no Seiva[ num ano em que a natureza foi perfeita e generosa e os Homens bondosos,
sonhadores e abnegados: Alécio, és enorme, Zucchello, Zanella, Tais, Letícia, Seu Paulo, Jair, Miranda,
johnatan e tantos outros. Esse vinho subiu para o Vale dos Vinhedos dentro de barricas em cima de um
caminhão, carregadas com uma retroescavadeira. Se amansou nas caves da Miolo e no momento decidido
a três, Adriano, Gilberto e eu, saiu de 20 meses no carvalho francês. Vinho de sedimentação natural, não
filtrado, de 15,5% vol, de 2100 de IC, !PT maior que 100... Foi engarrafado por outra equipe fantástica
(Cleomir, Marizete, Preto, Tiago, Tainan, Alberi, André, Paulo, Carlinhos, Édila, Lisa, Iliane, Vivi, Ana,
lzanir, Kevlin, Sérgio, Denise, Leopoldo, Calza, Dona Maria, João e Geneci) em fase de lua minguante,
vedado com uma rolha natural flor de 49mm *25mm, zero tricloroanizol da MASilva. Para grandes
vinhos, todos os detalhes. Mas estou que nem brasileiro, sonhando já com o próximo Carnaval. Ufa!!!".
No Seival, são 200 hectares de vinhedos, sobre 500 hectares de propriedade, com 57 parcelas
identificadas e definidas. São destaques do MWG, pela Vinícola Seival: o delicado e expressivo
Quinta do Seiva[ Alvarinho; depois, a linha Single Vineyard, todos com estágio de 12 meses em
barricas francesas, com o Pinot Noir 2017, elaborado com uvas do Vinhedo da Ponte, Quadra 7,
Parcela C e o Touriga Nacional 2017. Finalmente, o Miolo Quinta do Seiva[ Castas Portuguesas, cujo

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 221


vinho da safra 2008 foi elogiado por Steven Spurrier. 103 Apenas lamento que, nas safras recentes,
esse vinho não tenha mais a presença, no corte, da casta Alfrocheiro, mantendo apenas Touriga
Nacional e Tinta Roriz. Ali, na Campanha Meridional, ainda são elaborados alguns rótulos para
exportação, como o Seiva[ Estate Alísios Pinot Grigio Riesling (tampa de rosca) e o Seiva[ Estate
Alísios Tempranillo Touriga (com rolha de cortiça) .

DOM PEDRITO

CAMPONOGARA, Vinhedos - Rota 293 - Viticultura


Gr IV - 2009 - VBdT - (C)
Os irmãos Adair e Sadi Camponogara estão entre os primeiros vi-
ticultores da Campanha Gaúcha, havendo implantado os próprios
vinhedos em 1990, com orientação técnica da Vinícola Almadén,
que lhes garantiu aquisição de toda a produção. São 20 hectares,
em uma propriedade com área total de 130 hectares. Adair orientou muitos dos atuais viticul-
tores da região. No ano de 2009, decidiu elaborar um rótulo próprio e criou o Rota 293, home-
nageando a rodovia BR 293, que margeia não somente o seu, mas outros vinhedos dos Pampas.
Contratou a vinificação com a Vinícola Velho Amâncio, entre Itaara e Santa Maria, RS, sob a
orientação da enóloga Aline Fogaça e do professor doutor Carlos Eugênio Daudt. Teve apoio do
Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa no projeto vinícola. Os Camponogaras
produzem as próprias mudas. Recentemente, a família decidiu voltar a concentrar as atenções
nos vinhedos e interrompeu a elaboração dos vinhos próprios Rota 293 Cabernet Sauvignon e
Rota 293 Merlot.

DOM PEDRITO, Vinícola • Rigo Vinhedos


Gr IV - 2002 - VBdT* (I)
vinhosdompedrito.com.br
Empreendimento de José Rigo, empresário estabelecido no setor
de implementos agrícolas. São 22 hectares de vinhedos. Estão im-
D M lEJDlRill'][I:[)) plantadas as seguintes variedades: brancas - Chardonnay, Gewur-
ztraminer, Moscato Giallo e Sauvignon Blanc; tintas - Cabernet
Sauvignon, Malbec, Merlot, Pinotage, Shiraz e Tannat. A meta é de
140 mil litros de vinhos e 15 mil litros de espumantes. O projeto tem a consultoria do conceitu-
ado agrônomo Antonio Santin, profundo conhecedor da região, que atuou por muitos anos na
Almadén. A vinificação é contratada com a Vinícola Velho Amâncio. Os primeiros vinhos são da
safra 2009, todos sob a denominação Dom Pedrito. São três brancos: Chardonnay, Gewurztrami-
ner e Sauvignon Blanc; e três tintos: Merlot, Pinotage e o corte Merlot + Pinotage. O Dom Pedrito
Sauvignon Blanc 2009 é merecedor de prêmios. Apresenta-se claro, brilhante, num amarelo-palha

103 Organizador do "Julgamento de Paris", que, em maio de 1976, terminou por consagrar vinhos norte-ame-
ricanos, diante de franceses, numa degustação às cegas. Ver livro de George M. Taber, naBibliografia.
Steven Spurrier é hoje articulista da prestigiosa revista inglesa Decanter

222 Roge rio D ard ea u


bem leve, aromas complexos, evidenciando muito en passant o maracujá, e uma presença de
boca com ótimo volume e untuosidade. O projeto tem ainda maçãs e oliveiras das variedades
arbequina, arbosana, koroneiki e picual, sob recomendação da Embrapa, para produção de azeite
de oliva extravirgem. -

DUNAMIS
Gr IV - 2002 - VBdT* - (I)
dunamisvinhos.com.br
Empreendimento concebido pelo empresário gaúcho José Antônio
Peterle. Experiente agrônomo na produção de arroz e de soja, Peter-
le se decidiu pela expansão dos negócios aos vinhedos e aos vinhos
brasileiros de terroir. Para isso, buscou as competentes assessorias
dos agrônomos Carlos Alberto Flores e Enrique Mirazo, e do enólogo (também agrônomo) Mario
Geisse. A vinícola está sob a gestão da jovem Carolina Salvadori Peterle. Os aspectos técnicos de
agronomia e enologia são coordenados pelo enólogo Thiago Salvadori Peterle, que tem, nos vinhe-
dos, a atuação de Ciro Pavan. Na cantina, Thiago conta com as participações de Cesar Azevedo e
Vinicius Bortolini Cercato. As metas da Dunamis incluem a formação de novos consumidores,
inclusive o público jovem, descolado, mas também chegar aos apreciadores de vinhos complexos.
A empresa desenvolveu o hábito de realizar "degustações-consulta", em que oferece seus vinhos
às cegas e ouve as opiniões dos apreciadores, que podem ser formadores de opinião, mas também
consumidores comuns. Tais opiniões são, então, consideradas e sustentam decisões sobre os vi-
nhos a serem lançados. A vinícola se pauta por compromissos ambientais: usa o sistema Thermal
Pest Control, que evita pesticidas químicos; utiliza amarras de vime (cresce na propriedade) para
condução das videiras nas espaldeiras, em vez das convencionais amarras de plástico. Os vinhe-
dos estão em Dom Pedrito (15 hectares), em Cotiporã (10 hectares) e, em breve, na região dos
Campos de Cima da Serra, no município de Muitos Capões. Saem dos vinhedos de Cotiporã as
uvas destinadas aos espumantes, elaborados na Cave Geisse. A casa organiza a produção adotando
nomes inspirados. Os espumantes são chamados Dunamis Ar. O corte branco entre Chardonnay e
Sauvignon Blanc se chama Dunamis Ser. O vinho rosado é o Dunamis Tom. O corte tinto é o Du-
namis Cor. Os varietais brancos são um Pinot Grigio e o incrível Merlot em branco. Os tintos são o
Merlot e os notáveis Dunamis Tannat e Dunamis Cabemet Franc. A cantina ainda está em projeto.
Os vinhos tranquilos Dunamis são cuidadosamente elaborados na Cordilheira de Sant'Ana.

GUATAMBU Estância do Vinho


Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
estanciaguatambu.com.br
Empresa familiar do setor agropecuário. Cria bovinos de corte das
raças Hareford e Bradford, com diversas condecorações de qualida-
GUATAMBU de. Produz arroz, milho, soja, sorgo, sementes forrageiras e, mais
u,~t&,.~ recentemente, uvas viníferas. Em 2003, Valter José Potter e sua
filha, a engenheira agrônoma Gabriela Hermann Potter, implan-
taram 20 hectares de vinhedos numa área da família chamada Fazenda Leões, localizada na
serrinha de Dom Pedrito. A partir de 2008, a Guatambu inaugurou sua presença no mercado de

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 223


vinhos, apresentando o Rastros do Pampa Premium Cabernet Sauvignon, repetido nos anos seguin-
tes. A partir de 2010, vieram os vinhos Luar do Pampa Gewürztraminer e o Ecos do Pampa Sauvignon
Blanc, além de um espumante extra brut, com a denominação Guatambu. A vinícola tem a assesso-
ria do conceituado enólogo uruguaio Alejandro Cardozo, que conta com a ação do também uru-
guaio ]avier Gonzalez, como enólogo de produção. Até 2011 , vinificava na Vinícola Piagentini, de
Garibaldi. Em 2012, inaugurou a vinificação em instalações próprias, numa bela cantina edificada
em estilo colonial hispânico. Em junho de 2013, a empresa inaugurou um amplo complexo eno-
turístico envolvendo a cantina. Ali, o visitante conhece a área de produção, assiste a apresentações
num auditório, aprecia vinhos na sala de degustação e pode comer um autêntico churrasco no sa-
lão com parrilla para eventos. Na loja, com referências arquitetônicas voltadas à cultura gaúcha e
às estâncias do Pampa, o turista pode adquirir os vinhos e outros produtos regionais. Na ocasião,
foi lançado o Guatambu Espumante Brut Rosé, um corte entre Gewurztraminer (60%) e Pinot Noir
(40%), de intensa per/age e ótima presença de boca. Desde 2015, o Guatambu Épico vem sendo o
ícone da vinícola, com passagens por barricas de carvalho francês e americano. O Guatambu Épico
Edição I, com 14,0% de teor alcoólico, foi um corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat,
das safras de 2011 (12%), 2012 (60%) e 2013 (28%). Tal arte enológica tem a composição de
28% de Tannat 2013, 24% de um corte entre Cabernet Sauvignon e Tannat, de 2012, além de 12%
de um Merlot 2011, e o mesmo percentual dos varietais Merlot, Cabernet Sauvignon e Tannat
de 2012. Depois vieram as Edições II, III e IV. O Guatambu Épico Edição II, que agregou vinhos das
colheitas de 2013, 2014 e 2015, passou a incorporar um percentual da casta Tempranillo. O Gua-
tambu Épico Edição III agregou vinhos das colheitas de 2015, 2016 e 2017. O Edição IV teve distri-
buição iniciada quando fechávamos este texto e também se revelou um grande vinho. A empresa
se capacitou para exercer comércio justo (fair trade), numa postura vanguardista de responsabili-
dade social. Além disso, a Guatambu Estância do Vinho é a primeira vinícola da América Latina a
ser alimentada integralmente por energia solar, com um parque de 600 placas fotovoltaicas, que
cobrem um confortável estacionamento de veículos. Dentro do programa denominado Vinhética,
em parceria com o produtor francês Gaspar Desurmont, já foram lançados um vinho rosado à
base de Teroldego e Merlot, e um corte tinto, entre Cabernet Sauvignon e Arinarnoa.

PREVITALI, Vinhedos - Vinhos Cerros de Gaya


Gr IV - 2012 - VBdT - (I)
Empreendimento da família Previtali, invocando as culturas italiana
e espanhola, origens do casal André e Eveline, ele médico, ela agrô-
noma. São 12 hectares de vinhedos, com a variedade branca Char-
donnay e as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Tan-
VINH EDO'i lll:V JJ,\J,1
nat, além de oliveiras, das quais já elaboram um azeite extravirgem,
R!GlAO l lA t:..\MPA NI IA
que está sendo comercializado. A localização não podia ser melhor:
Três Cerros, no interior do município de Dom Pedrito. A consulto-
ria enológica está a cargo do renomado Adolfo Lona. Iniciaram a produção em 2017. Adotaram o
nome Cerros de Gaya, em homenagem à mãe Terra. Em 2020 lançaram um espumante brut, com
vinho base Chardonnay + Pinot Noir e um vinho tranquilo rosado. Enquanto não têm cantina
própria, utilizam espaços na Vinícola Batalha, para elaboração de espumantes, e Peruzzo, no caso
dos vinhos tranquilos. A produção inicial ainda está na casa das mil garrafas por variedade.

224 Rogerio Dardeau


ITAQUI

CAMPOS DE CIMA, Vinícola


Gr IV - 2002 - VBdT* - (I) - EnoT
camposdecima.com. br
O nome da vinícola destina-se a lembrar as coxilhas da região,
especialmente nas terras dos vinhedos, e não deve ser confundi-
do com a região de Campos de Cima da Serra, muito distante de
Itaqui. O empreendimento tem origem no trabalho da família do
CAMPOS DE CIMA
médico José Ayub e de sua esposa, Hortência. São 15 hectares de
vinhedos, inseridos entre áreas destinadas a arroz e gado. A pro-
posta é de vinhos com e sem estágio em barricas, e um mínimo de intervenção. O casal objetiva
mostrar as características do terroir escolhido. A cantina própria, especialmente concebida para
a vinícola pela filha Manuela, está construída para uma produção máxima de 100 mil garrafas
por ano. A assessoria enológica está a cargo do conceituado enólogo francês Michel Fabre e do
brasileiro Celito Guerra. Como enólogo residente aparece o jovem Iuri de Rosso. Implantaram
a casta Ruby Cabernet, da qual elaboraram 2.800 garrafas de um expressivo varietal, da safra de
2008, além de cortes e outros varietais tintos e brancos. A casa elabora ainda dois espumantes:
um brut e o outro extra brut. O Campos de Cima Espumante Brut foi recentemente agraciado com
medalha de ouro no 811 Concurso Nacional de Vinhos Finos e Destilados do Brasil, realizado pelo
Concurso Mundial de Bruxelas. Destacam-se também o Campos de Cima Viognier 2014, com um
toque de 15% de Chardonnay e passagem por barricas; o Irene Antonietta 2014, um rosado à base
de Merlot e Cabernet Sauvignon, que parece muito com franceses da Provence; e o Campos de
Cima Assinatura 2014, um corte entre Syrah, Malbec e Tannat, com estágio em madeira. Todos são
ótimos reveladores da adaptabilidade das castas àquela região. Em 2014, como um experimento,
a vinícola implantou mil mudas da casta branca grega Assyrtico, em parceria com a Embrapa Uva
e Vinho e o produtor James Martini Carl. Em outubro de 2019, foi apresentado o primeiro As-
syrtiko brasileiro, com notável expressão. A Vinícola Campos de Cima oferece ainda um Brandy
XO 6 anos, a partir de vinho Merlot, e um licoroso de Tannat.

ROSÁRIO DO SUL

ROUTHIER & DARRICARRERE


Província de São Pedro
Gr IV - 2002 - VBdT* - (I) - EnoT
vinhedorouthieredarricarrere.blogspot.com
Evolução de um projeto frutícola geral para o segmento de uvas
viníferas e vinhos finos, criado pelos irmãos Pierre e Jean Daniel
Darricarrere. Impressionado com o entusiasmo dos Darricarreres
e com a constatação do excelente terroir identificado, Michel Routhier, importador canadense,
se associou ao projeto, no caminho da vinicultura. Hoje, a vinícola é gerida por um time de es-
pecialistas: Anthony Darricarrere, o enólogo; Alexis Darricarrere, o diretor de operações; Julio

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 225


Gostisa, diretor comercial; e Gabriela Puhl Darricarrere, designer premiada, responsável por toda
a arte da vinícola. A empresa tem capacidade para produzir pouco mais de 20 mil garrafas/ ano.
O primeiro vinho, o tinto Província de São Pedro Cabernet Sauvignon Lote 1, com teor alcoólico de
12,5%, foi um assemblage entre vinhos das colheitas de 2008 e 2009. O Routhier e Darricarrere,
(R&D ou vinho da Kombi) é um corte entre Cabernet Sauvignon e Merlot, um vinho jovem,
com muito boa relação custo-qualidade. A história da família Darricarrere nos conta que Pierre
e Jean Daniel entraram no Brasil com a kombi que aparece estilizada no rótulo e viajaram pelo
país, até escolherem Rosário do Sul como chão para seus vinhedos. O Província de São Pedro
Cabernet Sauvignon e o Província de São Pedro Chardonnay são outros varietais da casa. Em 2014,
a vinícola lançou uma série especial de 2 mil garrafas de um Cabernet Sauvignon exclusivo.
Trata-se do Routhier & Darricarrere Salamanca do Jarau Cabernet Sauvignon 2012. Esse vinho de-
riva do encontro de desejos dos amigos Julio Gostisa, Gelson Radaelli (Atelier de Massas) e
Anthony Darricarrere. Provém de uvas de um único vinhedo (single vineyard) , fermentado com
levedura indígena. Os rótulos são quatro diferentes obras de arte do artista plástico Gelson
Radaelli . O Província de São Pedro Extra Brut é um espu-
mante 100% Chardonnay, elaborado pelo método tradi- (í·~ -
P. . - ~~
cional, com segunda fermentação na própria garrafa. Teve
- D E ÃQ_PE o-
&
R o UTHIEA DARRICARRERE

autólise de 12 meses.

SANTANA DO LIVRAMENTO

ALMADEN
Miolo Wine Group
Gr I - 1974 - VBdT - (I)
miolo.com.br/ controller.php
A empresa Almadén pertencia ao grupo norte-americano Na-
tional Destillers quando veio para o Brasil, em 1974, e se esta-
beleceu em Bagé, por meio da Vinhedos Santa Tecla. Em 1976,
52
mudou-se para Santana do Livramento, na belíssima localidade
ALMA DÉNI do Cerro Palomas, paralelo 31 º S. Ali construiu cantina própria e
testou inúmeras variedades de viníferas. Implantou os primeiros
vinhedos contínuos em espaldeiras no Brasil. Iniciou a produção por volta de 1980. A área
total é de 1.200 hectares, com 450 hectares de vinhedos produtivos, onde se encontra o maior
parreiral contínuo da América Latina. Alguns anos depois da fundação, passou ao controle dos
grupos LVMH e Seagram. Em 2001, foi incorporada ao grupo Pernod Ricard, no qual perma-
neceu até a aquisição pelo MWG. Na Almadén, há 111 parcelas identificadas e definidas. Os
destaques: Tannat Vinhas Velhas (14%), cujas uvas vêm de 4 hectares de vinhedos com mais de
40 anos, elaborado em tanques de inox com rigoroso controle da temperatura de fermentação
e afinado em barricas de carvalho francês, por até dez meses; Single Vineyard Rieslingfohannisberg
2018, um raro Riesling Renano, com uvas de vinhedo plantado em 1978, colhidas no microlote
Vinhedo da Toca do Tigre, Quadra 121, Parcela A.

226 Roge rio D ard ea u


CERRO DA TRINDADE, Vinhedos
Gr IV - 2005 - VBdT* - (C)
Empreendimento do grupo Bodegas Carrau, que mantém vinhe-
dos e cantinas em Las Violetas, Canelones, no sul do Uruguai,
BODEGAS
CARRAU e no Cerro Chapeu, em Rivera, no noroeste daquele país. São
cinco dos oito filhos e filhas do empreendedor apaixonado Juan
Francisco Carrau Pujol, o mesmo que lançou as sementes de pro-
cessos importantes em vitivinicultura e em negócios do vinho fino,
no Brasil, por meio do Château Lacave, em Caxias do Sul, por ele fundado em 1968, e do vinho
Velho do Museu, marco histórico entre os vinhos finos brasileiros. A nova vinícola brasileira é um
braço da experiência uruguaia. Está regida por princípios de gestão semelhantes aos da empresa-
-mãe e da família Carrau, que traz mais de 250 anos de tradição na elaboração de vinhos finos. O
projeto foi iniciado com o plantio de vinhedos em terras brasileiras, a partir de 2006, à base de 1
hectare por ano, buscando a perfeita integração das castas. No total, são 60 hectares contínuos,
dos quais 6 hectares já estão em produção. A área é contígua à propriedade daquela empresa,
no Cerro Chapeu, separando-se de Rivera apenas pela linha de limite territorial entre Brasil e
Uruguai. As castas implantadas são as tintas Tannat, de origem francesa, e Teroldego, de origem
italiana, além da portuguesa Sousão. A empresa já conta com cantina, para uma produção máxi-
ma de 100 mil garrafas/ano. As instalações, em prédio de elegante planta hexagonal, contemplam
recursos tecnológicos avançados e uma cave para evolução de vinhos barricados e engarrafados. A
filosofia é a de elaborar especialmente vinhos tintos de guarda, com passagem por barricas novas
e seminovas, de carvalho francês e americano. Serão barricas fabricadas pelos mesmos tanoeiros
fornecedores tradicionais das Bodegas Carrau. A Enologia está sob a responsabilidade dos com-
petentes irmãos )avier, Francisco e Margarita Carrau, também diretores da empresa uruguaia. O
início da operação comercial com distribuição de vinhos no Brasil ainda não tem previsão.

CORDILHEIRA DE SANTANA
Gr IV - 2000 - VBdT* - (C) - EnoT
cordilheiradesantana.com. br
Vinícola fundada e mantida pelo casal Gladistão Omizzolo e Ro-
sana Wagner, sendo ela a enóloga responsável por vinhos que vêm
marcando os enófilos Brasil afora. São 24 hectares de vinhedos na
CORD[UllllIRA
!Dlll SAN'f'ANA consagrada região de Cerro Palomas (município de Santana do Li-
vramento, RS), no paralelo 31 º S, região com muito boa amplitude
térmica, baixa umidade e pouca chuva, no chamado terroir Palomas, assim denominado em razão
do belíssimo Cerro Palomas. Aliás, a vista que se tem do Cerro Palomas, a partir da colina na qual
está a cantina, é algo deslumbrante, inesquecível. Embora com dimensões moderadas, a cantina
reúne tecnologia de ponta, como tanques de aço com sistemas de monitoramento de temperatura
e remontagens automáticas, computadorizadas. Observa tradição no uso de barricas para ama-
durecimento dos vinhos. Elabora varietais de Cabemet Sauvignon, Merlot, Tannat, Chardonnay e
Gewurztraminer, além de um corte tinto Cabemet Sauvignon + Tannat + Merlot. Comercializa
os vinhos sob os rótulos Cordilheira de Sant'Ana e Reserva dos Pampas. Destaco o Tannat 2004, com
cor, aromas e sabor dos grandes vinhos da casta e o notável varietal da Gewürztraminer.

Ge nte. Lugares e Vinho s do Bra sil 227


NOVA ALIANÇA
Gr II - 2010 - VBdT - (C)
novaalianca.coop.br
Ver em Flores da Cunha, RS. Fazenda Santo Antonio, s/ n - Pas-
so dos Guedes, Santana do Livramento. Foram obra da Nova
NOVA ALIANCA Aliança, pelas mãos do enólogo Flávio Novelo, os notáveis VBdT
Oaterra como1mo<d1noss1 gente

Cerro da Cruz 2012, nas versões Tannat e corte entre Cabernet


Sauvignon e Tannat, a partir de uvas de vinhedos em Santana do
Livramento. Os vinhos Cerro da Cruz estagiaram por período superior a um ano em barricas
de carvalho francês .

PUEBLO PAMPEIRO
Gr V - 2014- VBdT* - (C)
Pueblo Pampeiro expressa a união que se desfruta entre o Brasil,
'b por Santana do Livramento (na localidade de Vila Pampeiro), e
o Uruguai, por Rivera. É um projeto vitivinícola concebido pelo
Pueblo Pdmpeiro
agrônomo brasileiro Marcos Obrakat com o enólogo uruguaio )a-
vier Gonzales. Os vinhedos, em 3 hectares, são jovens, e além das
tradicionais Tannat, Syrah e Cabernet Sauvignon, bem adaptadas à Campanha, têm a Saperavi
georgiana e a italiana do Marche, Lacrima, em testes. Um dos vinhos marcantes da casa é o Pue-
blo Pampeiro Indómito 2014 (18,0%) , um vinho fortificado, tipo Porto, elaborado com um corte
entre Tannat (80%) e Cabernet Sauvignon (20%), a partir de uvas sobrematuradas. O resultado
é um vinho muito delicado, macio, de boa acidez, não muito doce, que, portanto, harmoniza
maravilhosamente com a massa cremosa do pastel de nata. Um projeto de amizade que avançará
muito, com certeza.

SALTON, Vinícola
Gr 1- 1910- VBdT- (C)
salton.com.br
A Vinícola Salton, integralmente apresentada junto à região de

$
Bento Gonçalves, tem mais de 500 hectares de terras na região
de Santana do Livramento, com mais de 100 hectares de vinhe-
\ '\](' 1 \dos e uma cantina muito bem equipada, na qual é processada a
SALTON colheita. A gestão da equipe de enologia está a cargo do jovem
enólogo Gregório Salton. Entre diversos vinhos de terroir ali ela-
borados, destaco o notável Salton Campanha Domenico Reserva da Família 2016, que exibe as
potencialidades das castas Tannat e Marselan, daquela região, aplicadas no corte.

228 Roge ri o D ard ea u


VINHETICA (201 O)
TERROIR DA VIGIA (Cerro da Vigia - 2017)
Gr V - VBdT* - (C)
vinhetica.com
Esta é mais uma interessantíssima história dentro da vitivinicul-
\:\ tura brasileira contemporânea: Gaspar Emmanuel Desurmont é
\ 'I:\"IILI Il',\ um francês vitivinicultor que poderia perfeitamente permanecer
trabalhando na França, mas ele queria algo novo, próprio, em que
pudesse elaborar seus vinhos, com compromissos de sustentabi-
lidade e práticas de comércio justo. Além disso, sonhava com um projeto amplo de culturas
rurais integradas. Chegou ao Brasil em 2010 e saiu a identificar terroirs. Viajou o país de Nor-
te a Sul e ancorou, finalmente, na Campanha Gaúcha. Ali conheceu pequenos produtores e
iniciou suas atividades. É o próprio Gaspar quem nos conta: ''A proposta é somar uma superfície
de 120 hectares de vinhedos, sendo metade própria, sob minha responsabilidade direta, com parceiros
brasileiros e estrangeiros, e a outra metade formada por vinte famílias oriundas da agricultura familiar,
com lotes de 3 hectares, para aumentar seus recursos e contribuir no desenvolvimento da viticultura na
região". Os parceiros atuais são: Isidoro Evangelho, de Caçapava do Sul, com 1 hectare de Mer-
lot, para os vinhos rosados; Vitor Nunes, em Bagé, com Merlot e Cabernet Sauvignon, para os
tintos; Família Mércio, em Bagé, para a Syrah; Família Maufer, em Hulha Negra, para Cabernet
Sauvignon e Cabernet Franc; Norton Sampaio, em Bagé, para Tannat e Petit Verdot. Em 2014,
Gaspar lançou seus dois primeiros vinhos, um rosado, corte entre Merlot e Teroldego, e um
tinto, corte entre Cabernet Sauvignon e Arinarnoa. A vinificação foi realizada na cantina da
Estância Guatambu, em Dom Pedrito. O reconhecimento logo veio e os vinhos Vinhética, de
Gaspar Desurmont, passaram a ser citados entre apreciadores.
Então, em 2016, a tão sonhada terra foi encontrada: uma área de
70 hectares, não mais para exclusivamente vinhedos e cantina, mas
IJi:\
T ERROIR
para o sonhado projeto integrado. É, novamente, o próprio Gaspar
quem define: "Terroir da Vigia é uma empresa de produtos gastronômi-
~
~
cos da Campanha Gaúcha, cujos valores são: qualidade, sustentabilidade e
valorização do terroir. Produz carnes suínas (presunto cru, salame, copa,
bacon e costela defumada) e queijos de ovelha". A definição traduz exa-
tamente a realidade atual, não abordando a implantação de vinhedos com castas variadas. As
brancas são: as portuguesas Alvarinho e Arinto, além de futuramente a francesa Savagnin. As
tintas são: a portuguesa Baga, a georgiana Saperavi e as francesas Tannat, Cabernet Franc, Petit
Verdot e Syrah. No futuro, será edificada uma cantina com estrutura para enoturismo. O projeto
Vinhética está sendo conduzido pelo casal Gaspar Desurmont e Graciela Bittencourt, uma som-
meliere carioca, completamente comprometida com os ideais de alta qualidade em harmonia
com a natureza. Na propriedade criam-se porcos Moura, ovelhas Lacaune e Crioulas, e cultiva-se
o milho crioulo. Os destaques atuais, entre os vinhos Vinhética, são: espumante Terroir D'Ef-
fervescence; Sauvignon Blanc 2017, com leveduras; Chardonnay 2017, de fermentação integral;
Petit Verdot 2018. Tenho certeza de que o Terroir da Vigia crescerá bastante, dentro de princípios
de produção sustentável, cada vez mais necessários, trazendo sabores únicos.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 229


URUGUAIANA

BODEGA SOSSEGO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I)
sossego.net

-
Bodega Sossego
Os vinhedos da Estância Sossego foram implantados em 2004,
com as variedades Cabernet Sauvignon e Chardonnay. A empresa
vitivinícola, porém, nasceu bem depois, por iniciativa do jovem
René Ormazabal Moura, que, após graduar-se em Administração,
desejou profissionalizar o hobby do pai, de elaborar vinhos a partir dos vinhedos daquela es-
tância familiar. Decidiu então se especializar no negócio de vinhos e tomou o rumo do Reino
Unido, para um Mestrado em Wine Business Management no conceituado Royal Agricultura!
College (RAC). Concluída a dissertação - Propor um conceito de marca para um vinho da Campa-
nha, Rio Grande do Sul, Brasil -, René ainda participou de um curso na Wine & Spirits Education
Trust (WSET) , para, logo em seguida, trabalhar na Borough Wines. Essa loja, em pleno Borou-
gh Market, em Londres, foi criada por Muriel Chatel, uma empreendedora francesa, cunhada
de Yves Eric Sahul, do pequenino Château Ponchapt, de Bergerac, na França. Apaixonada por
Londres, ela decidira conduzir a comercialização dos vinhos e das geleias de uvas viníferas da
família Sahul na capital da Inglaterra, desenvolvendo muito os negócios com vinhos. Como se
constata, René é um caso raro de produtor que estudou bastante e praticou a comercialização
de vinhos. Chegado ao Brasil, ele iniciou seu projeto vitivinícola, em parceria com a Vinícola
Don Giovanni, onde os vinhos são elaborados. A casa tem projeto para cantina própria, em
médio prazo. O vinho Campana Cabernet Sauvignon, com passagem por barricas novas de
carvalho francês, é o destaque tinto. O Campana Chardonnay 2014, com passagem por barri-
cas novas de carvalho americano, atingiu 14,0% de teor alcoólico e é bastante gastronômico.
O Camp4na Chardonnay Chardonnay é um espumante brut com uvas de quatro vinhedos, nas
regiões de Uruguaiana, Campanha Gaúcha, Pinto Bandeira e Serra Gaúcha.

VALDUGA

CASA VALDUGA
Gr 1- 1985 - VBdT* - (C) - EnoT
casavalduga.com.br
Em novembro de 2011, a Câmara de Vereadores de Uruguaiana
aprovou as condições da transferência para a Casa Valduga dos
rnÍnrn7 vinhedos, equipamentos e cantina da Cooperativa Vinoeste, no
distrito de São Marcos, naquele município, em plena Campanha
CASA VALDUGA
Gaúcha. Ficaram definidos os seguintes termos: vinte anos de con-
cessão, com possibilidade de renovação por outros tantos; vedada
a transferência do patrimônio e a oferta como garantia de negócios; obrigação de preservar os
parreirais e ampliar a área de cultivo; transferir tecnologia a quem queira se dedicar à vitivinicul-
tura. O acordo também define o incremento do cultivo de frutas cítricas e a produção de sucos,
além do cultivo de uvas, numa área de 5 hectares, junto à Escola Agrícola de Uruguaiana.

230 Rogerio Dardeau


SERRA DO SUDESTE (hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

Pedras Altas

Pe lotas

Essa é mais uma região que, assim como a Campanha Gaúcha, certamente terá, no futuro,
um outro perfil. Em princípio, engloba os municípios de Encruzilhada do Sul, Caçapava
do Sul, Santana da Boa Vista, Amaral Ferrador, Pinheiro Machado, Piratini e Pedras Altas.
Mas poderia incluir ainda Herval ou separar, numa outra região, os municípios de Pinheiro
Machado e Piratini, apenas para enfatizar a diversidade geográfica ..
O município de Pinheiro Machado conhece a vitivinicultura de vinhos finos desde os
anos 1970, quando ali se instalaram a Vinícola Heublein, com 60 hectares de vinhedos, e a
Companhia Vinícola Rio Grandense, implantando o vinhedo San Felício, com 70 hectares,
hoje propriedade da Terrasul Vinhos Finos. Em Pinheiro Machado ainda encontramos os
vinhedos da Cooperativa Nova Aliança e da Vinícola Hermann. A topografia é acidentada.
Os solos, nessa região, são predominantemente granítico-arenosos, profundos, com manchas
calcárias em alguns pontos, baixo teor de matéria orgânica e com muito boa drenagem. O
clima oferece boa amplitude térmica, mas pede irrigação nos verões intensos. As variedades
mais cultivadas são (em ordem alfabética): brancas: Chardonnay, Gewurztraminer e Moscatel;
tintas: Alicante-Bouschet, Arinarnoa, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Marselan,
Merlot, Pinot Noir, Tannat e Touriga Nacional. A Serra do Sudeste, durante muito tempo,
teve viticultura, somente nos municípios mais ao sul. No final dos anos 1980, estudos dos
professores Eduardo Giovannini e Idalencio Angheben, do IFRS, campus Bento Gonçalves,
e outros técnicos incluíram definitivamente o município de Encruzilhada do Sul no cenário
vitivinícola da Serra do Sudeste, com instalação de vinhedos por Angheben, Bertolini, Bodega
Czarnobay, Casa Valduga, Lídio Carraro, Torre do Meio, Vinhedos da Quinta e Chandon.
Bodega Czarnobay foi a primeira a instalar cantina naquele município. Os demais produtores
seguem vinificando em suas sedes, na Serra Gaúcha. Em Caçapava do Sul, está o Vinhedo De
Lucca. Em Piratini, a Vinícola Don Basílio (vinhos Quinta do Herval). O município de Pelotas
aparece evidenciado no mapa, acima, apenas por ser limítrofe e ter um produtor artesanal que
elabora ali seus vinhos, com uvas de vinhedos situados na Serra do Sudeste. Tal produtor está
apresentado adiante, sob o título "Outros lugares onde vinhos finos são elaborados no Rio
Grande do Sul".
Na encosta leste da serra está o município de Camaquã, que começa a despontar na
vitivinicultura de vinhos finos, com o projeto Altos do Paraíso Vinhedos, de Valtencir Gama.

Ge n t e. Lugares e Vin hos do B ra sil 231


Camaquã tem história muito ligada à Revolução Farroupilha. O general Bento Gonçalves
da Silva residiu ali, durante muitos anos, na Estância do Cristal, atualmente Parque Bento
Gonçalves, tombado como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul. Cayetana Gonçalves
da Silva, a bela mulher uruguaia, esposa de Bento Gonçalves, primeira-dama da República
Rio-Grandense, está sepultada num jazigo perpétuo, no Cemitério São João, em Camaquã.
Foi na barra do rio Camaquã que Giuseppe Garibaldi montou o estaleiro da República Rio-
Grandense e lá construiu os lanchões Seival e Farroupilha. O livro, que depois deu origem à
minissérie de TV A casa das sete mulheres, é ambientado no interior do município de Camaquã.
Aliás, o cineasta Jayme Monjardim tem ali a Estância da Figueira. Como veremos adiante,
em negociantes, restaurateurs e empresários de delicatéssens que têm vinhos próprios, Jayme
Monjardim tem parceria com a enóloga Maria Amélia Duarte Flores, da Vinho & Arte, de
Porto Alegre, com os vinhos Villa Matarazzo.

Associação de Produtores: Vitisul - Associação dos Vitivinicultores do Extremo Sul


Com os associados listados, nos municípios de Pedras Altas, Piratini e Pinheiro Machado:
Anir Borsatto, Luis Eduardo Batalha, Rossano Lazzarotto, Terrasul, Vinhedo Dom Basílio,
Vinhedos Hermano e Vinhedo Pedras Altas.

GENTE que elabora vinhos finos na serra do sudeste gaúcho


Os produtores seguem apresentados na ordem alfabética dos municípios nos quais estão
situados.

CAÇAPAVA DO SUL

DE LUCCA, Vinhos Finos Orgânicos


Gr V - 2002 - VBdT - (C) - 'N'
Zulmir de Lucca é um engenheiro de alimentos, com formação em

©e Lucca Mendoza, na Argentina. Viveu sempre a cultura do vinho, desde


os tempos nos quais, ainda na Serra Gaúcha, gerenciava sua Adega
Regional de Vinhos Finos De Lucca, que se estabelecera no ano de
1992, em Farroupilha. Motivado pelas condições da região oeste da Serra do Sudeste Gaúcho,
mudou-se com a esposa, Neusa, e os filhos para Caçapava do Sul. O município está a meio ca-
minho entre a Campanha Gaúcha e a região central do estado, no Paralelo 30° 30' 43" S, a uma
altitude superior aos 400 m. Ali, De Lucca implantou 8 hectares de vinhedos. As variedades são
as brancas Chardonnay, Moscato e Peverella. As tintas são Barbera, Cabemet Sauvignon, Pinot
Noir e Tannat. Os vinhedos estampam os cuidados do produtor. De Lucca pratica viticultura or-
gânica e vinicultura de mínima intervenção. A cantina é ainda doméstica, provisória. Uma nova,
com planta em níveis, privilegiando a gravidade, está em construção. Entre as inovações, está um
varietal de Peverella afinado em tonel de castanheira. Seus vinhos são rotulados como De Lucca.

232 Roge rio D ard e a u


CAMAQUÃ

ALTOS PARAÍSO Vinhedos


Gr IV - 2018 - VBdT - (I)
Projeto vitivinícola do advogado Valtencir Kubaszwski Gama e fa-
mília. Valtencir estuda, há anos, temas de vitivinicultura, sempre
ALT OS PAR A~.::; o com o sonho de produzir os próprios vinhos. O desejo é elaborar
V I NHEDO S
llASILIC&M&Od
vinhos autorais, que contenham as próprias histórias nas taças,
a partir de uvas próprias, de vinhedos tratados com mínima in-
tervenção. O empreendimento está localizado no distrito de Capela Velha, interior de Camaquã.
O nome Capela Velha é devido ao fato de, naquele local, haver se iniciado a construção de uma
capela dedicada a São João Velho, que seria o marco inicial da cidade de Camaquã. A construção,
porém, não foi concluída, tendo sido erguida, posteriormente, em outro local, e dado origem à
Igreja Matriz de Camaquã, na sede do município. No distrito de Capela Velha há uma localidade
denominada Paraíso, onde está a propriedade da família Gama. Como o vinhedo está na parte
alta de Paraíso, então foi escolhido o nome Altos Paraíso Vinhedos. O projeto, iniciado com o
plantio de 1 hectare de videiras, teve, em 2019, a sua primeira expansão, com mais 1 hectare
plantado, e depois outras sucessivas ampliações, ano a ano, a fim de atingir entre 5 e 7 hectares
de vinhedos em 2021, para quando está prevista a implantação da cantina. Iniciado com uvas
bordô, para elaboração de suco, o projeto já conta com Merlot, Tannat e Chardonnay. A partir de
2020 estão sendo plantadas apenas viníferas, foco do empreendimento. Em janeiro desse ano, a
Altos Paraíso Vinhedos lançou seu primeiro vinho, o espumante Cayetana, desenvolvido sob a
enologia de Arlindo Menoncin, com supervisão de Valtencir Gama, na cantina da Adega Rigon,
em Farroupilha. Trata-se de um brut 100% Chardonnay, elaborado pelo método tradicional, com
autólise de 14 meses (dégorgement em 04/12/2019), 12,0% de teor alcoólico e 8,0g/l de açúcar
residual. Está identificado como Lote nº O1, com 341 garrafas numeradas.

ENCRUZILHADA DO SUL
BERTOLINI
Gr IV - 2016 - VBdT* - (C)
Iniciativa vitivinícola da família Bertolini, que atua em diversos
outros ramos de negócio, especialmente o moveleiro. As uvas são
colhidas nos vinhedos da família, em Encruzilhada do Sul. Gustavo
11EHTOLII\/
Bertolini concebe vinhos, sob a denominação BERTOLINI Riserva
Famiglia, que são elaborados pela Bodega Czamobay, com a con-
sultoria da enóloga Paula Guerra Schenato. Numa primeira fase a
parceria para elaboração estava constituída com a Vinícola Lidio Carraro, no Vale dos Vinhedos,
onde nasceram os seguintes rótulos: Tenaz 2014, um varietal da Chardonnay; Bigorna 2012, um
varietal da casta Teroldego; Balança 2014, um corte entre Merlot e Touriga Nacional; Cadinho
2014, outro corte, mas este a partir de vinhos Merlot (41 ,7%), Nebbiolo (33,3%) e Touriga Na-
cional (25,0%). Como se observa, os vinhos recebem nomes de instrumentos de trabalho, com
os quais a família Bertolini construiu a própria história de êxitos empresariais.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 233


BODEGA CZARNOBAY
Gr IV - 2003 - VBdT* - (C)
Vinícola do experiente enólogo Antônio Czarnobay, único brasilei-
ro a ter ocupado o cargo de vice-presidente da Union Internationale
• llODEGA • des OEnologues - UIOE. Dedica-se exclusivamente à pequena pro-
GZARNO-BAY dução de vinhos brasileiros de terroir, com uvas de 4 hectares de
vinhedos próprios. A vinícola produz a linha de varietais Alto das
Figueiras, com um Merlot e um Touriga Nacional. O espumante Czar-
nobay Pedregais Brut (12,0%) foi elaborado pelo método Charmat longo. Na primeira tiragem foi
um corte complexo entre Chardonnay (75%) e um vinho branco de tintas (Blanc de Noir) obtido
a partir de 10% de Merlot e 15% de Cabernet Sauvignon. Atualmente, o Czarnobay Pedregais
Brut é um Charmat longo com vinho base 75% Chardonnay + 25% Pinot Noir, elaborado sob a
supervisão do enólogo Mario Lucas Ieggli. A Bodega Czarnobay foi a primeira vinícola a instalar
cantina em Encruzilhada do Sul.

PEDRAS ALTAS

PEDRAS ALTAS Viticultura


Gr IV - 2003 - VBdT* - (I)
http://vinhedo-pedras-altas.blogspot.eom.br/
Empreendimento desenvolvido pelo empresário Manoel Antonio
Araújo, em sociedade com o veterinário Carlos Hofmeister, em
área deste, a Estância Cerro da Guarda, a 380 metros de altitude.
A propriedade de 600 hectares tem maior área dedicada à pecuá-
ria de bovinos e ovinos. Nesse campo, tem história, pois partici-
pou ativamente do desenvolvimento do projeto Cordeiro Herval
Premium, entre 1999 e 2014, de notáveis resultados, elevando os
padrões dos ovinos brasileiros. O vinhedo é vizinho ao histórico castelo de Pedras Altas, que
pertenceu a Assis Brasil e foi palco de diversos eventos políticos. São 9 hectares com as castas
Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Merlot. O solo é granítico, franco-arenoso. O primeiro vinho,
um Merlot 2009, tinha um tempero de 20% de Cabernet Sauvignon, sob a assinatura do enólogo
Anthony Darricarrere. Os vinhedos seguem em produção, mas, desde 2011, não havia mais
vinificações. As uvas eram sempre destinadas a vinicultores parceiros. Em 2018, porém, diante
da magnífica colheita que teve, o Vinhedo Pedras Altas elaborou, em pequenas partidas, um
Cabernet Sauvignon, um Merlot e um Pinot Noir na cantina da Vinícola Peruzzo, em Bagé. Em
2019, o Pinot Noir se mostrou pronto, vivo, intenso, com um perfil da Spãtburgunder. O Merlot
e o Cabernet Sauvignon mostraram ser vinhos preparados para a longevidade.

234 Roge ri o D ard ea u


PINHEIRO MACHADO

HERMANN, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (I)
vinicolahermann.com.br
Esse é mais um investimento da importadora Decanter, por meio
de seu sócio Adolar Hermano, além da vinícola Quinta da Neve,
de São Joaquim, SC (veja adiante). Com vinhedos implantados na
prestigiada região da Serra do Sudeste Gaúcho, dedica-se preferen-
cialmente à elaboração de espumantes, vinificados na Vinícola Geisse. A consultoria do enólogo
português Anselmo Mendes tem sido marcante. Os espumantes são: Hermann Lírica Brut (11,8%),
com vinho base corte entre Chardonnay (80%), Gouveio (10%) e Pinot Noir (10%), elaborado
pelo método clássico - trata-se de um vinho pleno de frescor, elegância e energia; Hermann Lírica
Crua, um excelente espumante elaborado com o mesmo vinho base do Hermann Lírica Brut, apenas
sem dégorgement. Os outros espumantes são mais simples, rotulados com o nome Bossa. O Bossa
N° 1 (12,5%) e o Bossa Nº 2 (12,0%) são blanc de blanc da casta Chardonnay, obtidos pelo método
Charmat. O Bossa Nº 3 (11,5%) é um rosado, produzido a partir de corte entre Pinotage, Cabernet
Franc e Merlot, também pelo método Charmat. O Bossa N° 4 (7,5%) é um espumante Moscatel,
elaborado pelo método Asti, depois de corte entre as variedades Moscato Bianco, Moscato Giallo e
Malvasia. O Bossa Nº 5 é um 100% Glera (Prosecco) e o Bossa Nº 6 é um clássico Bellini. A vinícola
elabora ainda vinhos tranquilos sob a denominação Matiz. São três varietais (Alvarinho, Cabernet
Sauvignon e Touriga Nacional) e o Matiz Plural, um corte complexo entre Aragonez (40%), Caber-
net Sauvignon (26,5%), Syrah (17%), Touriga Nacional (11,5%) e Cabernet Franc (5%).

TERRASUL
Gr IV - 1996 - VBdT - (C) - EnoT
vinhosterrasul.com. br

~~--m Vinhedos com 65 hectares, do empreendimento vitivinícola


instalado em prédio da antiga sede da Companhia Vinícola Rio
TERRASUL Grandense, em Flores da Cunha. A área total atinge 300 hectares.

PIRATINI

VILLA DON BASÍLIO • Vinhos Quinta do Herval


Gr IV - 2006 - VBdT* - (C) EnoT
villadonbasilio.com.br
Basílio foi uma estação de trem, construída no final do sécu-
lo XIX, que se manteve em operação por quase um século, até
transformar a localidade que a rodeia em bucólico cenário para
encontro de amigos. Cézar Lindenmeyer e Suzane Bittencourt,
agrônomos e professores, iniciaram em 2006 o que eles mesmos

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 235


identificam a um projeto de vida. Implantaram 5 hectares de vinhedos, e, enquanto viabilizavam
a própria cantina, vendiam suas colheitas a vinicultores parceiros. Sempre, porém, reservaram
uvas para suas vinificações de avaliação. Em pouco tempo, conseguiram edificar uma vinícola
butique, pequenina mesmo, mas muito bem instalada. E os testes foram muito bem-sucedidos ...
E os registros, concluídos ... E nasceu a Vinícola Don Basílio ... E prepare-se para chegar lá, pelo
histórico mapa estampado nos rótulos!!! Aliás, a vinícola está no seleto grupo que evidencia,
permanentemente, a história do ambiente em que está inserido. Outros elementos nos rótulos
trazem um trecho de ferrovia, estilizado, algo muito simpático. Atualmente, a Vinícola Don
Basílio tem, em seus vinhedos, as castas brancas Moscato Giallo, Riesling e Trebbiano, além das
tintas Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Marselan e Tannat. Em 2018, chegaram os primeiros
cinco vinhos registrados da vinícola, os quais inauguraram nova etapa do projeto: Quinta do
Herval Riesling 2018 (12,0%) - vinho de aromas leves, muito boa acidez e um frescor incrível,
que pode ser apreciado com canapés ou acompanhando pescados grelhados; Quinta do Herval
Moscato Giallo 2018 (11 ,5%) -vinho de aromas marcantes, grande leveza e paladar provocante,
que me agradou muito com as saladas, inclusive quando têm gotas de vinagre balsâmico; Quinta
do Herval Trebbiano 2017 (12,0%)-um vinho branco muito envolvente, de cor dourada, aromas
complexos, que podem nos levar ao damasco, uma acidez em grande equilíbrio com o álcool e
uma excelente presença no paladar, com boa persistência. É vinho gastronômico, que acom-
panha muito bem as aves temperadas e fondues (de queijo, naturalmente) . Os outros foram o
Quinta do Herval Pinot Noir 2017 (12,0%), um Pinot que, me parece, será uma das marcas da
Vinícola Don Basílio, entre os tintos - trata-se de um vinho vivo, com todo o perfil da casta,
translúcido, e com grande delicadeza (certamente, ainda evoluirá na garrafa, mas já mostra com-
plexidade e um final longo); e o Quinta do Herval Cabernet Sauvignon 2017 (13,0%) - típico
varietal da casta, que ainda terá muita vida; é de um rubi brilhante, intenso, seus aromas são
frutados, com algumas notas vegetais, e, no paladar, os taninos mostram potência, sendo que o
volume é muito bom. A enologia está a cargo da estudiosíssima Eliane Pereira, com a assessoria
de Alejandro Cardozo e do casal proprietário. Sem dúvida, Cézar Lindenmeyer e Suzane Bitten-
court, bem como a gentil equipe da Vinícola Don Basílio, estão definindo um novo terroir para
vinhos finos no Brasil.

VALE CENTRAL GAÚCHO


(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

236 Roge rio D ard e a u


Região que tem como núcleo o município de Santa Maria. Participam, também: Itaara, São
João do Polésine, São Sepé e outros.
Os produtores dessa região do Rio Grande do Sul, organizados em torno das personalidades
de Carlos Daudt e Rubens Fogaça, na Associação dos Vitivinicultores do Vale Central Gaúcho,
registraram a marca Vinhos do Coração, em referência à localização central. Sem dúvida, um
belo marketing!
Associação de Produtores: VINHOS DO CORAÇÃO - Associação dos Vitivinicultores
do Vale Central Gaúcho. Tem os seguintes associados: Vinícola Velho Amâncio, Vinhos da
Toka, Adega Torri, Quinta do Gama, Vinhos Dom Robertto, Vinhos Dalla Corte, Quinta
Teixeira, e Vinícola Vali e Veneta (Domus Mea) .
Uma segunda associação também está presente nessa região: a Avitis - Associação dos
Vitivinicultores do Centro Serra. Reúne produtores dos municípios de Arroio do Tigre,
lbarama, Sobradinho e Segredo, que produzem uva em cerca de 50 hectares. Os 17 associados,
até o momento, produzem uvas comuns, mas há projetos, entre vários deles, para ingresso no
mundo das viníferas.

GENTE que elabora vinhos finos na região central do Rio Grande do Sul

ITAARA

VELHO AMÂNCIO, Vinícola


Gr IV - 1999 - VBdT* - (C) - EnoT
velhoamancio.com.br
A Vinícola Velho Amâncio tem uma história que antecede a sua
fundação formal. A partir de 1986, Rubens Fogaça deu asas às ra-
ízes italianas e começou a testar a terra, algumas variedades de
VELHO uvas, e se iniciou como vinhateiro, além das outras atividades pro-
AMÂNCIO fissionais que desempenhava. Assim, ao decidir implantar vinífe-
ras nobres, em 1999, e criar sua vinícola, já tinha bom acúmulo
de experiência. A Velho Amâncio, ao longo dos anos, tomou-se
referência na região, não somente pelos vinhos, como também por prestar serviços de vinificação
a viticultores que não têm cantina, e pelas ações de enoturismo, recebendo inúmeras visitas de
apreciadores e realizando eventos culturais. Mas o momento atual é de completa revitalização. O
belo edifício da cantina, construído em basalto, passa por ampliação e remodelação, com foco em
maior funcionalidade. Os vinhedos também estão sendo reavaliados, no sentido de confirmação
das melhores castas e das melhores parcelas. O aspecto, porém, que mais chama atenção é o
exitoso processo sucessório desenvolvido por Rubens Fogaça. Faz muita diferença, na história de
uma empresa, uma sucessão bem resolvida. O interesse da filha Aline, com excelente formação
acadêmica, em Agronomia e Enologia, e do genro Alisson Celmer, também agrônomo e gestor,
dá outra dinâmica ao processo criativo e produtivo da organização. Aline tem, no currículo, ter
sido orientanda do Prof. Carlos Eugênio Daudt, PhD, que hoje tem uma propriedade vizinha,

G e n t e. Lu gares e Vin h os d o B r a sil 237


com vinhedo próprio. E a renovação não se limita às ações internas à vinícola. A visão do negó-
cio passa também pela liderança na criação da Associação dos Vitivinicultores do Vale Central
Gaúcho - Vinhos do Coração (estão situados no coração do Rio Grande do Sul), no sentido de
uma futura Indicação Geográfica. A vinícola mantém estreito relacionamento com o ambiente
acadêmico, buscando permanente atualização no campo científico. O resultado de tudo isso, evi-
dentemente, são vinhos tranquilos e espumantes com novas expressões. Os vinhos Velho Amân-
cio Merlot 2012 (13,5%) e Velho Amâncio Estação 2011 (14,0%),
ainda disponíveis, são exemplos vivos da renovação, assim como os
espumantes VIVELAM, denominação específica. Sem dúvida, a Vi-
nícola Velho Amâncio é um exemplo de continuidade de projeto, por
VlVELAM
CV
intervenção de uma nova geração bem orientada.

JAGUARI

JAGUARI, Vinhos - Cooperativa Agrária São José


Gr III - 1932 - VM - (C)
vinhosjaguari.com. br
Entre os diversos vinhos que elabora, há uma linha de vinhos finos
denominada Medalhão.

SANTA MARIA

DOM ROBERTTO, Vinícola


Gr IV - 1990 - VBdT* - (C histórica)
domrobertto.com. br
A vinícola Dom Robertto nasceu como fruto da parceria entre Ro-
berto Beltrami e o agrônomo José Antônio Simon. Os vinhedos,
em área de parceiro, localizam-se no município de São Sepé, ao
norte da Serra de Caçapava do Sul, em solo granítico, sub-região
da Serra do Sudeste. As videiras são conduzidas em espaldeiras e a produção é controlada. Simon
acompanhou todo o processo de implantação das videiras na propriedade de Isidoro Silva Evan-
gelho, no Passo dos Freire, e afirma: "São Sepé apresenta locais com solos e clima próprios para o cultivo
de uvas viniferas, com a especial característica de ter restrição hídrica nos períodos próximos à vindima, o que
é passo fundamental para a obtenção de matéria-prima de qualidade superior para vinificação". Até 2016,
a elaboração dos vinhos era orientada por seu idealizador, Roberto Beltrami, em sua proprieda-
de de lazer, a cantina A Boca do Monte, acompanhado pelo enólogo James Alves e por Simon.
Naquele ano, Beltrami faleceu. Desde então, a vinícola passa por reorganização e redefinição de
liderança, estando com atividades suspensas. A cantina A Boca do Monte tinha como proposta
uma produção limitada de vinhos finos secos das castas tintas Cabernet Sauvignon, Merlot e
Tannat, e da branca Chardonnay, além de um espumante brut e um Moscatel.

238 Rogerio Dardeau


VINHO DA TOKA Carlos Eugênio Daudt
Gr Vb - 2005 - VBdT* - (C)
Falar sobre o Professor Daudt, como ele é conhecido, é tarefa muito
séria. Agrônomo, com Mestrado e Doutorado na University of Ca-
lifornia Davis, além de um estágio pós-doutorado na mesma uni-
versidade, ele assina inúmeras publicações, artigos e livros da mais
alta relevância para a vitivinicultura brasileira. Tem sido orientador de dissertações (Mestrado)
e teses (Doutorado) de inúmeros profissionais brasileiros que assinam vinhos que apreciamos.
É um nome fundamental na chegada da viticultura gaúcha à Campanha. Foi contemporâneo do
Prof. Harold Olmo, também da Davis, nos estudos encomendados pela Secretaria de Agricultura
do Rio Grande do Sul para a identificação de regiões do estado indicadas à viticultura, nos anos
1970. Mas, aqui, quero apresentar o projeto de vinhos pessoais que ele desenvolve. A Toka do
Vinho está situada num pequeno vale de solo pedregoso, na divisa entre os municípios de San-
ta Maria e Itaara, numa altitude de 175m. Como o vale é bastante fechado, possui microclima
próprio, com muita insolação e boa amplitude térmica. É mesmo um terroir muito peculiar. Ali
foram implantadas três variedades, importadas de Montpellier, na França, das quais são elabora-
dos três varietais: Sauvignon Blanc, Malbec e Shiraz. As vinificações são conduzidas na vizinha
Vinícola Velho Amâncio. Cada rótulo estampa reprodução da folha da vinífera correspondente.

SÃO JOÃO DO POLÊSINE

DOMUS MEA, Vinícola (ex-Vinícola ÓPERA VIVA- Valle Veneta)


Gr IV - 2007 - VBdT* - (I)
domusmea.com. br
Projeto iniciado pelo vitivinicultor italiano Edi Kante, da região de
~ !2}01,utl'/Jf{_t?«_,, Trieste, que desejava elaborar vinhos brancos finos no Brasil, mais
/ VINÍCOLA
especificamente na região da 4ª colônia (italiana), na localidade
chamada Recanto Maestro, no município de São João do Polêsine,
RS. Os primeiros vinhedos, com 2,5 hectares, começaram a ser implantados em 2007, numa área
total aproximada de 8 hectares. Nascia a Vinícola Valle Veneta Ltda. As mudas, trazidas da Itália,
foram Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Grigio, Traminer Aromático, Riesling e Montepulcia-
no (a única tinta). Logo, Edi Kante percebeu que o terroir da região era propício para um branco
leve, mineral, pouco aromático, bastante similar ao que ele já produzia na sua terra natal, haven-
do definido essa opção. Importou equipamentos de ponta da Itália e, com o seu conhecimento de
vinificação, começou a elaborar varietais de Chardonnay, Sauvignon Blanc, além de espumantes
e um tinto Montepulciano. À medida que os vinhedos cresciam, foi estruturando uma pequena
cantina, bem organizada, com equipamentos de vanguarda e técnica de refrigeração trazida da
Itália. Assim nasceram os vinhos "EnKanto" e o espumante "KK". No início de 2017, Edi Kante,
já um pouco cansado com as viagens entre Brasil e Itália, começou a buscar parceiro para dar
continuidade ao trabalho no Brasil. Associou-se então a um jovem empresário e passou a produ-
zir seu vinho com a marca "Ópera Viva". A parceria, porém, com o tempo, não correspondeu ao
desejado e ele pensou em fechar o negócio. Foi nesse momento que entraram três novos sócios,

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 239


empresários que, apesar de não serem do ramo de vinhos, eram muito próximos de Edi. Sabiam
da paixão que ele nutria pelo projeto no Recanto Maestro, da capacidade de produção e da qua-
lidade dos vinhos que elaborava. Com essa nova parceria, a vinícola entrou em outra fase. Entu-
siastas dos vinhos finos de Edi Kante, os sócios atuais são os empresários Adernar Silva Junior
(agronegócios) , Wesley Lacerda (tecnologia da informação) e Sergio Marin (contabilidade). Os
novos investimentos começaram em 2018, com ampliação da vinícola, revitalização e expansão
dos vinhedos em mais 2,5 hectares. Foi adquirida uma propriedade vizinha para sede adminis-
trativa e onde será construída a nova cantina. No final do primeiro trimestre de 2018, foi criada
a marca "Domus Mea", que significa "Casa Minha", em latim. Reorganizou-se o estoque dos
vinhos ainda não engarrafados e expandiram-se os espaços de câmaras de refrigeração. Edi Kante
foi sempre o responsável por todo processo de vinificação. Elisandro Bortoluzzi, que acompanha
Kante desde o início da implantação, é o responsável pela operação da vinícola. O responsável
técnico é Darci Guadalin, enólogo e professor da Universidade de Santa Maria. Recentemente,
incorporou-se ao grupo Silvano Michelon, agrônomo com ampla experiência em implantação de
vinhedos, com passagem em várias empresas do ramo, como Chandon e Almaúnica. A Vinícola
Domus Mea ainda está firmando a própria filosofia de trabalho, mas quer seguir o conceito de
vinícola butique, elaborando espumantes e vinhos brancos de alta qualidade. A vinícola manifes-
ta preferência por vinhos sem passagem por carvalho. A Domus Mea tem, hoje, vinhos maduros,
de dez anos ou mais, que ainda se apresentam com bastante vigor e muito refrescantes. Por isso
acredita que, mesmo sem o uso de barricas de madeira, continuará produzindo vinhos de alta
qualidade, para consumo imediato, e vinhos de guarda média, sem perda das suas características.

SOBRADINHO

GRANJA DO SILÊNCIO, Vinícola


Gr III - VM - 1999 - (C)

Elabora alguns rótulos de vinhos finos correntes.

VILLA ZASSO
Gr Vb - 2005 - VBdT - (C)
Carlos Alberto Zasso é um engenheiro, apreciador de vinhos. Par-
tiu assim para o projeto de um vinho próprio. Implantou vinhedos
em sua propriedade, a Villa Zasso, localizada no município de So-
bradinho, região central do Rio Grande do Sul. O Villa Zasso Tra-
montana 2013 é um corte Cabernet Sauvignon/ Merlot, elaborado
tradicionalmente, sem filtração, em cantina própria, e envelhecido por 10 meses em barricas de
carvalho americano. Foram produzidas 2.500 garrafas.

240 Roge rio D ard ea u


GRANDE PORTO ALEGRE

Região que já teve prestígio maior na vitivinicultura brasileira. Hoje são poucas vinícolas
ali instaladas, mas observa-se uma retomada gradual da antiga importância, pelos novos
empreendimentos vitivinícolas. A região metropolitana de Porto Alegre ou Grande Porto Alegre
apresenta contorno amplo. Algumas organizações estendem-na até o litoral norte, como zona
de influência. Há órgãos que consideram que ela abarca 30 municípios, e outros, 34. Os terroirs
são bem diferentes de uma localidade a outra. Os solos são muito antigos, em grande parte da
área. Os invernos são rigorosos e os verões longos, com influência da brisa da Lagoa dos Patos.
Aliás, no município de Tapes, por alguns anos desenvolveu-se a Vinhas da Lagoa, que já não
produz. A Grande Porto Alegre é hoje uma área de concentração de produtores de garagem e
de vinhos pessoais, com expressiva quantidade de rótulos, os mais singulares que se imaginam.

GENTE que elabora vinhos finos em municípios da região metropolitana


de Porto Alegre (Grande Porto Alegre)
Os produtores estão apresentados pela ordem alfabética de municípios.

BARRA DO RIBEIRO

LAURENTIA
Gr IV - 1996 - VBdT* - (I) - EnoT
laurentia.com.br
Vinícola criada pelo casal de médicos Gilberto e Leonor Schwarts-
j)
mann na propriedade rural da família, num terroir totalmente novo
1 \1 1~ 1 ~ 1 1 \ à viticultura, às margens do lago Guaíba. São 400 hectares, dos
quais 32 hectares de vinhedos. Logo de início, implantaram mudas
importadas das variedades Montepulciano e Tempranillo, além da branca Chardonnay, às quais,
mais recentemente, somaram-se as tintas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Carménere,
Merlot e Nebbiolo, além da branca Riesling. A cantina é própria e preparada para um volume
de 180.000 Vano. Como outros empreendimentos vitivinícolas brasileiros, a Laurentia está em
busca da identidade do terroir, especialmente da identificação das castas mais bem adaptadas.
A Laurentia tem a assessoria do enólogo Deito Garibaldi, entre outros especialistas. Todos os
vinhos (tranquilos e espumantes) são rotulados com a marca Laurentia. O espaço no entorno da

Ge n t e . Lugare s e Vin hos do Bra sil 241


cantina é um parque de belos jardins e ambientes muito agradáveis. A vinícola está equipada
para o enoturismo, inclusive com 11 chalés.

GUAIBA

GUAHYBA ESTATE WINES


Gr IV - 2015 - VBdT- EnoT- (I)
guahyba.com.br
Luis Wulff é um jovem, mas consagrado, tributarista gaúcho que,
entre os inúmeros compromissos profissionais nas empresas pelas
quais atua (fax Group e Banco Fiscal), tem com o vinho encontros
C i.;111-l\'11\ ES' li\ l"E\ \ 'INES
apaixonados. Ele é o criador desse projeto vitivinícola, inovador
como tudo em que se envolve: vinhedos e espaço de degustação a
30 minutos do centro de Porto Alegre, literalmente ao nível do mar, mas em pequena elevação.
Ali, numa área total de 4 ha, o solo é argilocalcário, o que garante nutrientes às videiras, com uma
excelente drenagem. Os vinhedos foram implantados com mudas italianas da Vivai Rauscedo. São
2 ha com a portuguesa Alvarinho e a italiana Teroldego. Aliás, as duas foram recomendadas por
estudo detalhado desenvolvido pelo professor Idalêncio Angheben. Mas como todo produtor tem
suas escolhas, Luis Wulff adicionou a Cabernet Franc, pela qual é apaixonado. O agrônomo é o
conceituado Silvano Michelon. Wulff aprecia vinhos barricados e faz uso dessa filosofia nos pró-
prios vinhos. O primeiro vinho é o Guahyba Revolução Alvarinho, corte especial das safras 2019
e 2020, que estagiou por 15 meses em barricas de carvalho francês de 1° uso. Em seguida, virão
Bravura, Pacto e outros. O projeto prevê uma pousada de charme e a cantina. Por enquanto, os
vinhos são elaborados na EBV, sob a batuta do enólogo Alejandro Cardozo.

MARIANA PIMENTEL

CÁRDENAS, Vinícola
Gr IV - 2010 - VBdT* - (I)
vinicolacardenas.com.br
Eu já estava encerrando a pesquisa para este livro, em junho de
2019, quando Gustavo Pacheco, idealizador da Vini Bra Expo Vi-
nhos do Brasil, me falou sobre esse empreendimento. Quando ouvi
o nome, fiquei bem intrigado. Acostumado aos sons do idioma ita-
CARDENAS liano, ante o protagonismo dos imigrantes daquele país na nossa
vitivinicultura, logo percebi que ali haveria outra história. E acertei:
Luis Renato Cárdenas Santander é um peruano cuzquefío que, tendo vindo estudar no Brasil
ainda jovem, conheceu a mulher que o conquistou e o fez fincar raízes por aqui. Dessa relação,
nasceu Renato Cárdenas, que hoje dirige a casa, enquanto o pai dá toda atenção aos vinhedos.
A propriedade da família foi adquirida, em 1975, de uma família francesa, que desmembrou a
área, permanecendo pela vizinhança. Aliás, ali se elaborava vinho, para consumo próprio, há
muito tempo. Hoje, os Cárdenas têm 16 hectares de vinhedos, numa área total de 60 hectares.

242 Rogerio Dardeau


São 8 hectares das tintas Merlot, Petit Verdote Syrah, para vinhos tintos tranquilos, e os outros 8
hectares de uvas Pinot Noir e Chardonnay, para espumantes. Desde a implantação dos vinhedos,
a Vinícola Cárdenas vem acompanhando seus vinhos, num rigoroso processo de aprendizado,
registrando tudo, de modo a ter a propriedade muito bem conhecida. A comercialização dos
vinhos se deu a partir de 2018, por ocasião da presença da empresa na feira Wine South America,
em Bento Gonçalves, no mês de setembro. A região de Mariana Pimentel é habitada pela ave co-
nhecida como Urutau, pássaro fantasma, no Tupi. Trata-se de espécie com grande capacidade de
camuflagem, um canto lúgubre e hábitos noturnos. O voo do Urutau, no escuro da noite, inspirou
a família Cárdenas, que batizou seus vinhos de Pássaro da Lua, em varietais Merlot, Petit Verdote
Syrah. Os espumantes têm a denominação Cárdenas e são Rosé Brut, com vinho base 80% Pinot
Noir e 20% Chardonnay, com 24 meses de autólise; Nature, invertendo-se a proporção, e o mes-
mo tempo sobre as leveduras; Brut Branco e Demi-Sec, em idêntica formulação à do Nature. A
vinificação é realizada em Farroupilha, na Adega Chesini, com assessoria técnica do conceituado
João Carlos Taffarel. Em 2018, a colheita em Mariana Pimentel sofreu forte e positiva influência
do fenômeno La Nifía (A Menina), que, com origem no Pacífico, atravessou os Andes Peruanos,
derramando condições climáticas especialíssimas e uma safra magnífica. Exatamente por isso e
pela chegada de duas netinhas, a família Cárdenas denominou seus vinhos dessa colheita de Me-
ninas do Vinhedo. Os vinhos são um corte entre as três tintas para vinhos tranquilos da vinícola,
além de três varietais dessas tintas e um Pinot Noir, decidido pela grande qualidade das uvas.

DUCATI, Vinhos
Gr V - 1998 - VBdT* - (C)
O Prof. Jorge Ducati, consagrado nome da vitivinicultura brasileira,
titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, implantou
seus vinhedos no município de Mariana Pimentel, a, aproximada-
mente, 90 km de Porto Alegre, em plena região metropolitana da
capital gaúcha. Numa área de meio hectare, ele cultiva as tintas
Cabernet Sauvignon, Merlot, Barbera e Brunello (Sangiovese), além da branca Garganega. O
projeto de Jorge Ducati tem a parceria do criativo vinhateiro Vilmar Bettú. O primeiro cuida
pessoalmente da viticultura, e o segundo, da elaboração dos vinhos. Aliás, essa é uma parceria
com linguagem própria. Ducati é um doutor em Astrofísica e Bettú é físico! A proposta é criar
vinhos muito cuidados, do vinhedo à cantina, que espelhem o terroir. Então, esses vinhos car-
regam os saberes de Ducati e Bettú, além das expressões de solo e clima de Mariana Pimentel.
A primeira colheita foi em 2005 e, de lá para cá, temos apreciado maravilhosas raridades. O
Cortes de Mariana C 2012 é um típico blend bordalês, com 50% de Cabernet Sauvignon e 50%
de Merlot. O vinho tem uma bela cor rubi, muito brilhante. Os aromas são amplos, frutados. No
paladar, mostrou bom volume, equilíbrio, maciez aveludada e leveza com persistência. Como se
vê no rótulo, tem 12,0% de teor alcoólico e dele foram elaboradas apenas 147 garrafas. Os vi-
nhos Ducati + Bettú são longevos. Tive a honra de apreciar o Ducati Garganega de Mariana 2008
e o Ducati Garganega de Mariana 2005, em agosto de 2016. Os vinhos estavam íntegros, vivos,
instigantes. Como diz o próprio Jorge Ducati, "vinho é uma experiência estética". Não surpreende,
então, que seja ele, o viticultor, quem escreva e cole os rótulos. Bem ... imagino que você esteja
perguntando: mas, com essa produção tão pequena, há algum excedente? Então, alegre-se: há,

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 243


sim! As poucas garrafas excedentes podem ser obtidas com Augusto Gheno e Eliseu Dalpra, na
Vinhos & Sabores, na Rua General Lima e Silva, 693-Cidade Baixa-Porto Alegre, RS. 51-3062-
4699 ou 3024-2799. Eles enviam para todo o Brasil. www.vinhosesabores.com.br

PORTO ALEGRE
Porto Alegre abriga, desde 2020, uma iniciativa que contribuirá muito com a divulgação e
a comercialização de vinhos finos brasileiros, especialmente aqueles elaborados no estado do
Rio Grande do Sul. Trata-se das Descobertas do Umpierre.

DESCOBERTAS DO UMPIERRE
Paulo Umpierre não é um negociante, pois não formula vinhos com os produtores,
tampouco tem resultado econômico no projeto. A história desse empreendedor está narrada
no texto Miolo Winemaker, exposto junto à apresentação da Vinícola Miolo, no lugar Vale dos
Vinhedos. Como incansável formador de opinião, ele degusta vinhos e sugere aos seguidores.
Em seguida, estabelece entendimentos com os produtores e cria uma oferta por suas redes,
em especial o blog Vinhos do Umpierre. Os interessados então adquirem os vinhos, a preços
especiais, diretamente. A primeira oferta foi de um kit de seis vinhos da Vinícola Cristofoli.
Foram montados 20 kits, com 17 vendidos em uma semana. É um serviço de destaque ao
vinho fino brasileiro.

BODEGA RUIZ GASTALDO


Gr IV - 2016 - VBdT* - (I) - EnoT
(Porto Alegre, RS - 2016)
Elaborar o próprio vinho: eis o desejo que impulsiona (e impulsio-
BODEGA nou) o começo de muitos reconhecidos produtores brasileiros de
vinhos finos. Um dos mais recentemente estabelecidos é Eduardo
[{j}{Jrfi ~ ada/cio Gastaldo, jovem empreendedor gaúcho, engenheiro que, iniciado
na apreciação de vinhos pelo sogro, decidiu estudar, aprofundar-se,
equipar-se e criar vinhos únicos, para degustar em família e com
amigos, muito provavelmente dando continuidade, por DNA, ao dom de vinhateiro artesanal do
bisavô, no início do século XX, ali mesmo, na Grande Porto Alegre. O nome da vinícola, localiza-
da dentro da capital gaúcha, reverencia a família do produtor, pela união dos sobrenomes Ruiz,
da esposa Camila, e Gastaldo, dele mesmo. Trata-se de uma clássica elaboração de vinhos de
garagem, literalmente, pois Eduardo construiu sua cantina - rigorosamente dentro das recomen-
dações técnicas-, roubando espaço da garagem de sua casa. Em 2019, a Bodega Ruiz Gastaldo
obteve o registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Tive a honrosa oportu-
nidade de apreciar seus três primeiros vinhos: o Luísa 2017, o Luísa 2017 Reserva e o João Pedro
Reserva. Os três mostram um teor alcoólico agradável de 12,0%. Esses nomes homenageiam a
filha e o filho. O Luísa 2017 Reserva é um varietal da casta Chardonnay, com uvas adquiridas de
viticultor parceiro, da Serra Gaúcha, e foi elaborado de forma tradicional, com rigoroso controle
da temperatura de fermentação, realizado por equipamento desenvolvido pelo próprio Eduardo.
Depois da estabilização em tanque, o vinho ganhou um toque de carvalho, por três meses. Tem

244 Rogerio Dardeau


uma belíssima cor palha, brilhante, aromas complexos, lembrando a pera madura, o damasco,
um toque de abacaxi e muitos outros; no paladar, nos envolve totalmente, é untuoso, macio, com
acidez média e muito boa persistência. É um vinho que pede comida, diferentemente do irmão
sem carvalho, que mostra logo grande frescor e acidez mais pronunciada, podendo ser degusta-
do com ou sem aperitivos leves. Outro grande vinho, no próprio estilo, o João Pedro Reserva é
um corte entre três colheitas (2015, 2016 e 2017) de Cabernet Sauvignon, procedentes de dois
vinhedos na Serra Gaúcha. Esse corte recebeu um toque de carvalho (staves) por três meses. Em
2019, Eduardo apresentou o seu Bodega Ruiz Gastaldo Matheus 2018, um notável varietal da
Cabernet Franc, seguido do Marina, um rosado também de Cabernet Franc e de um espumante
nature, o Chácara das Pedras, elaborado pelo método tradicional, a partir de vinho base Char-
donnay + Pinot Noir, todos típicos VBdT. Alguns dos vinhos da Bodega Ruiz Gastaldo têm tido
acompanhamento do enólogo Luiz Gustavo Lovato, nas vinificações.

CANTINA MINCARONE
Gr V - 2017 - VBdT* - (C) - 'N'
Caio Guedes é um vinhateiro independente, muito estudioso e cui-
CANTINA dadoso, além de músico e fotógrafo, que faz de todas as atividades
Míl C~ O lê
[N] ~ [N] que realiza uma arte. Preferiu, assim, adotar o compromisso de
elaborar vinhos com mínima intervenção. Aliás, é melhor que ele
mesmo fale de seu trabalho como vinhateiro: "O projeto da Cantina Mincarone nasceu por acaso,
despretensiosamente... a ideia era simplesmente fazer vinhos à moda antiga, inspirados por amigos vinha-
teiros que já trilham esse caminho. Nossos MINCA não foram elaborados com grandes intervenções que os
moldassem ao paladar de analistas pontuadores. Só tentamos entregar vinhos que carreguem consigo a melhor
expressão da uva em seu terroir... e das pessoas que neles colocaram sua energia. O trabalho é basicamente
artesanal e manual, desde a colheita e processamento das uvas até o envase. Nossa escola de vinificação ensina
que o vinho é feito de uvas e pessoas, então não utilizamos insumos enológicos que aportem características ou
corrijam algum elemento específico. Não contém conservantes (sulfitos). Por não ser filtrado ou clarificado,
pode apresentar turbidez e sedimentos". Caio tem uma área um pouco maior que 17 hectares, na
Lomba do Pinheiro, em pleno município de Porto Alegre, onde mantém um pequeno vinhedo.
Ali, foram implantadas variedades americanas, e algumas plantas de Nebbiolo, em 2017. Porém,
o lugar escolhido não se demonstrou adequado. Assim, fez replantio em 2018, reformulando em
2019, com 370 plantas e variedades resistentes. Em princípio, permaneceu a Nebbiolo e a branca
resistente Sauvignon Kretos. Por enquanto, Caio tem elaborado seus vinhos com uvas de viticul-
tores parceiros, vinificando em espaço adequado, enquanto vai sendo edificada a cantina. Os pri-
meiros vinhos foram batizados de Cantina Mincarone Safra 1 - 2018, com os seguintes rótulos:
Minca Pét-Nat104 Pinot Noir 11,5%; Minca Pét-Nat* Chardonnay 11,5%; Minca Gewurztraminer
(estilo laranja) 12,3%; Minca Pinot Noir Monte VacaPira 12,6%; Minca Merlot 12,3%; Minca
Cabernet Franc 13,1%. Apreciei a singularidade de cada vinho, mas me encantaram o Pét-Nat

104 Só para recordar: Pét-Nat é uma abreviatura carinhosa da expressão francesa Pétillant-naturel. Isso nos
informa que estamos diante de um espumante elaborado por método ancestral, anterior ao tradicional de
champagne, pelo qual o vinho termina a única fermentação já engarrafado. Permanecerá, portanto, com
a chapinha metálica como vedação.

Gen t e. Lugares e Vin hos do Bras il 245


Chardonnay, o Gewurz laranja e o Cabernet Franc, este, aliás, preferido do autor. Mas não canso
de afirmar: vinho é prazer pessoal. E Caio não cessa de criar novos rótulos, com grande expec-
tativa em relação aos vinhos da colheita de 2020, quase todos com uvas do viticultor De Lucca.

MONTE Vinhos de Autor


Gr V - 2016 - VBdT* - (I)
Paulo Backes é um gaúcho de Santa Cruz do Sul, agrônomo, que
trabalha com paisagismo, fotografia e edição de livros sobre esses
MONTE
VINHOS temas. Diferentemente da grande maioria de nossos produtores
DE AUTOR
gaúchos, que têm origem em famílias italianas, ele é, como diz,
"chucrute dos quatro costados: Backes, Marx, Filter e Naglic, apesar de
esse último ser esloveno". É um apaixonado por vinhos, que decidiu
elaborar os próprios. Como não tem vinhedo, aprendeu a identificar qualidades das uvas e as
adquire na Serra do Sudeste Gaúcho, na Serra Gaúcha, especialmente em Monte Belo do Sul e na
Serra Catarinense. A filosofia é de mínima intervenção. São vinhos quase sempre com leveduras
indígenas, sem filtragem, sem clarificação e sem passagem por madeira. Backes explica: "O que
define meu processo é controlar a fermentação por técnicas brandas, como frio ou leveduras autolisadas, para
nutrir as que fermentam. Os parâmetros da uva, após degustação e análise do mosto, me dão parte dos cami-
nhos e escolhas". A primeira produção foi de 100 garrafas; depois, 900; mais recentemente, 1.300;
e, para 2020, a previsão é de 4 mil garrafas. O Monte Cristalino 2019 (12,0%), um varietal da
Cabernet Franc, de Pinheiro Machado, e o varietal da Montepulciano 2018 (14,0%), de São Joa-
quim, têm recebido elogios dos apreciadores. Backes criou a Casa Aberta, em Porto Alegre, um
espaço cultural com muita arte. Ali, realiza encontros informais entre apreciadores de vinhos. A
arte da logomarca é desenvolvida a partir de fotografia de análise de vinho.

SERENA, Vinhedo
Gr V - 2001- VBdT* - (I) - 'N'
vinhedoserena.com
Sonho e realização do engenheiro agrônomo gaúcho Maurício Ri-
beiro, juntamente com a mulher, a administradora Cristina. Como
ele mesmo explica:
"Pelo lado de mãe, descendo de alemães, isso explica um pouco do
biodinamismo com o qual travei contato ali pelos 16, 17 anos de idade. Então são quarenta anos de
experiência com essa vertente de agricultura. A ideia do Vinhedo Serena foi gestada por 2 7 anos e, em
2001, minha mulher e eu finalmente encontramos o terreno ideal para o nosso projeto de produzir um
Pinot Nair equilibrado, delicioso e com profundo sense of place. É uma propriedade pequena (2 hectares),
no 'pequeno paraíso italiano' de Nova Pádua, a 750 m de altitude, conjugando o maior número de horas
de frio com o menor risco de geada e o menor excesso hídrico da Serra Gaúcha (Fonte: Embrapa Uva e
Vinho), pensada e dimensionada visando autossuficiência e dinamismo (biodinâmica) na fase avançada da
vida. Implantamos o vinhedo entre 2002 e 2003, com mudas Guillaume Pépinieres, de um ano, que nós
mesmos importamos da França. Escolhemos os clones 114, 115, 667, 777, 828 e 943. Nosso vinhedo,
penso que foi o segundo na América do Sul com essa condução (Alvaro Spinoza - Antiyal - saiu antes),

246 Rogerio Dardeau


porém nossas condições ambientais não têm paralelo no planeta quanto à 'marginalidade' e o desafio
para produzir uvas de grande qualidade, e é justamente isso que torna o resultado tão especial ... porém, o
mercado, soberano, é quem deve julgar, certo? A vinha está desenvolvida em espaldeira média (170 cm),
primeiro fio a 90 cm e mais 90 cm de stand, de forma que, andando entre as fileiras, se consegue olhar
por cima do stand, para não produzir aquela sensação de sufocar, de um labirinto ... sempre é possível ver
sobre o vinhedo, sempre é possível ver o horizonte e o pôr do sol. A orientação da encosta, com 4% a 6%
de declividade, é norte-noroeste, e das fileiras é norte-sul, perfeito, com também 170-180 cm entre fileiras,
produzindo uma relação 'ideal' de 170/180 cm altura stand para 170-180 cm largura entre fileiras, o
que é o 'máximo' potencial qualitativo de captação de radiação solar para a videira no nosso planeta (tudo
isso é fundamental para a sanidade, e fundamental na agricultura biodinâmica). Essa relação também
é determinante na densidade, porque com o porta-enxerto 101-14, nas minhas condições de solo (ph 7
na superfície e ph 5 no subsolo eruptivo basáltico rochoso), consigo um sistema radicular absurdamente
amplo (o 101-14 trabalha melhor entre ph 5,0 e 5,5), com uma expressão vegetativa modesta e produção
limitada naturalmente, apenas pela poda, sem artificialismos (novamente biodinâmica). A densidade
atual é de +/- 8 mil plantas por hectare. Então nossas videiras, após 13 anos, produzem 'naturalmente'
entre quatro e oito cachos por planta, o que, na origem (Borgonha), exige, talvez, duas a quatro vezes mais
tempo para a natureza produzir esta maturidade 'natural'". Como se observa, o projeto de Maurício
e Cristina nasceu com muito estudo, muita análise, no sentido do resultado pretendido: uvas
Pinot Noir de alto padrão de qualidade. Maurício tem ainda pequena parcela de Salarina, a
denominação da Serra Gaúcha, para a Verdelho açoriana, e a Traminer. No início do projeto, o
casal se valia de cantinas parceiras para vinificar, lá mesmo na Serra Gaúcha. Depois, concluiu
que seria mais lógica a vinificação na própria residência, em Porto Alegre, para que pudessem
acompanhar o processo diariamente. Maurício vinifica sozinho, tal como na Borgonha,
utilizando pipas abertas de carvalho de 1.200 litros. Os vinhos Serena Pinot Nair passam por
barricas novas de carvalho francês, importadas pelo próprio Maurício. Embora os cuidados
no vinhedo sejam intensos, houve anos em que problemas climáticos não permitiram que
as uvas atingissem os padrões exigidos. Os vinhos de Maurício e Cristina são geralmente
apresentados no perfil varietal, ano a ano, e um NV (non vintage), no qual Maurício aplica
toda a sensibilidade, mesclando safras, sempre com ótimos resultados. Os Vinhedo Serena
Pinot Noir, o Salarina e o Traminer são hoje referência entre os apreciadores dessas castas.

VILLA BARI
Agrovinícola Barichello Ltda.
Gr IV - 2003 - VBdT* - (I) - EnoT
villabari.com.br
Vinícola conduzida por Luiz Alberto Barichello, terceira geração
de uma família de imigrantes de Treviso, Itália, que, procedente
da Serra Gaúcha, se estabeleceu desde 1978 nas colinas de Vila
Nova, em Porto Alegre. Todavia, somente a partir de 1999 iniciou a
produção de viníferas. Elabora um varietal, a partir da Merlot, e
dois cortes: o primeiro entre Cabernet Sauvignon (70%) e Caber-
net Franc (30%), e o segundo, a 50%, entre Cabernet Sauvignon e Merlot, num total de 4.800
garrafas por ano. Utiliza o recurso do apassiamento, que acontece em câmaras frigoríficas com

Gente. Lugares e Vinhos do Bra sil 247


temperatura e umidade controladas. As uvas são colhidas, desengaçadas, e parte delas segue
para o apassiamento. O vinho obtido a partir de uvas semipassificadas é cortado com vinho de
uvas frescas, vinificadas tradicionalmente. Em princípio, podemos considerar a Villa Bari uma
butique, mas é preciso alertar para o fato de que já está associada à Luca Fedrigo, em Verona,
Itália, e elabora vinhos naquela região, por meio da Barichello & Fedrigo SRL.

SANTO ANTONIO DA PATRULHA

ZOLIN
Gr IV - 2005 - VBdT - (I)
vinicolazolin.com.br
O ex-comandante da Varig Iran S. Zolin conduziu Boeing e Airbus
por 35 anos. Quando começou a pensar na aposentadoria, voou
para o mundo dos vinhos. Acalentava o sonho de elaborar o pró-
prio vinho. Encerrada a carreira na aviação, criou sua vinícola. Os
vinhedos e a cantina estão no sítio Paralelo 30, propriedade rural do comandante, localizada num
microterroir desconhecido em termos de experiência vitivinícola. Na pequena cantina, montada
com equipamentos importados de boa procedência, elaboram-se varietais a partir das castas Ca-
bernet Sauvignon e Merlot, um corte entre as duas chamado Tributo (60% Cabernet Sauvignon +
40% Merlot), além de vinhos de mesa. No amadurecimento dos vinhos, o produtor recorre aos
chips. Trata-se de inserir lascas de madeira nos vinhos elaborados. São tubos cilíndricos de tela
de aço inox, contendo as lascas de carvalho, para conferir um toque de madeira aos vinhos. Os
vinhos Zolin têm sempre trinta dias de contato com chips de carvalho americano e trinta dias de
contato com chips de carvalho francês.

TAQUARA

BODEGA KOETZ
Gr V - 2016 - VBdT (C)
Roger Kõetz é um empresário do comércio de móveis, atuando nesse
~ segmento com a esposa. Após ter sido introduzido no consumo de
~I vinhos pelo sogro, que o presenteou com o livro Vinhos para leigos,
KÕETZ apaixonou-se pela bebida. Inicialmente, teve receio de elaborar vi-
nhos e iniciou uma produção de cervejas. Em 2016, vinificou pela
primeira vez e não interrompeu mais. Compra uvas de produtores parceiros e elabora, domesti-
camente, em espaço próprio. Sonha ter um vinhedo. A proposta é de dois tintos e dois rosados,
por safra. Caso tudo evolua como planejado, Roger pretende, um dia, ter uma produção regular
de 5.000 gfs/ano. Está notável o Cabernet Franc 2020.

248 Rogerio Dardeau


DEMENTES, Vinho de Garagem
Gr V - 2018 - VBdT* - (C)
Ricardo Ivanhoé Kunz e Adriana Kunz são um casal de médicos
(psiquiatras), enófi.los de longa data. Há alguns anos, ao verem
amigos da Serra Gaúcha fazendo vinho em casa, iniciaram um "na-
moro" com a ideia de fazer os próprios vinhos. A experiência de
auxiliar Rubem Kunz, irmão de Ricardo, em suas primeiras vinificações encorajou o casal, que
logo partiu para o próprio projeto: DeMentes Vinho de Garagem. Em 2018, começaram a estu-
dar mais a fundo o processo de vinificação e a adquirir os materiais necessários à primeira pro-
dução, na própria casa, a partir de janeiro de 2019. Desde então, Ricardo e Adriana se apelidaram
de Vinhonautas. Vinificaram 60 garrafas de Riesling Itálico Âmbar, 120 de Chardonnay, 120
de Riesling Itálico, 140 de Cabernet Franc Tinto e 60 de Cabernet Franc Rosé, todos com uvas
provenientes de Monte Belo do Sul, RS, além de 85 garrafas de Pinot Noir Tinto e 65 de Pinot
Noir Rosé, estes com uvas de Piratini, RS, dos vinhedos de Cézar Lindenmeyer (Vinícola Don
Basílio - Vinhos Quinta do Herval). O projeto para 2020 é aumentar a produção total para, apro-
ximadamente, 1.000 garrafas. Vinificaram um vinho âmbar (laranja), cofermentação de Riesling
Itálico (de Monte Belo do Sul/RS) com Gewürztraminer (de Vacaria/RS - Campos de Cima da
Serra). Também com uvas de Vacaria, elaboraram Chardonnay, Pinot Noir (blanc de noir, rosé e
tinto), Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Merlot.

DIVINO
Gr V - 2019 - VBdT* - (C)
Renato Coelho é um pediatra, especializado e doutorando em pe-
diatria do desenvolvimento. Amante de vinhos, estuda o assunto
há 35 anos. Integra uma confraria com reuniões quinzenais há 25
anos. Ele relata: "Minha história de relação com o vinho se inicia na in-
fância, o que seria hoje algo completamente inaceitável, mas tomei com meu
avô paterno, antes dos 1O anos de idade. Ele fazia um refresco de vinho,
com vinho Cabernet seco, Granja União, água e açúcar. Creio que muitos tiveram experiência semelhante".
Na juventude, teve um inesquecível encontro amoroso, acompanhado de um vinho Costebel, um
rótulo da Cooperativa Vinícola Aurora, que marcou época e cujas garrafas são, hoje, vendidas a
colecionadores. Como vinho é uma bebida agregadora, Renato conheceu Rubem Kunz, adiante
apresentado em Vinhos da Rua do Urtigão, tendo, inclusive, participado de vinificação com o
amigo, ali por 2014. A partir de então, começou a pensar em enveredar pelo mesmo caminho.
Em 2018, sacramentou o desejo de elaborar vinhos próprios, numa viagem à Provence, com a
esposa, Maristela, e o casal Ricardo e Adriana Kunz (DeMentes). Na volta da Europa, o projeto
tomou corpo, com os investimentos iniciais. Em 2019, Renato vinificou, pela primeira vez, um
Chardonnay, com uvas de Monte Belo do Sul. Em seguida, vinificou um Pinot Noir, com uvas de
Piratini (dos vinhedos do Cezar Lindenmeyer- Villa Don Basílio) e um Cabernet Franc, também
com uvas de Monte Belo do Sul. Novamente, Renato é quem nos conta: "Seguindo uma experiência
que tive com o Rubem, vinifiquei o Chardonnay com 6 horas na casca. Usei levedura selecionada e S02• Com
o Pinote o Cabernet Franc, fiz uma experiência de rosé e tinto, também com leveduras selecionadas e S02• O

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 249


Pinot Rosé foi com 12 horas de maceração e o Franc com 1O horas. Os tintos ficaram assim: Pinot Noir - 4
dias de maceração; Cabernet Franc - 3 dias de maceração". O aprendizado do ano anterior proporcio-
nou ideias novas ao produtor. Em 2020, nasceram os seguintes vinhos: Chardonnay, com uva de
Vacaria, elaborado com leveduras indígenas e maceração mais longa; vinho laranja, a partir de
cofermentação de Riesling (Monte Belo do Sul) com Gewurztraminer (Vacaria); Pinot Noir (Va-
caria), em branco, rosé e tinto, sendo o tinto com leveduras indígenas. Cabemet Franc (Monte
Belo do Sul); Alvarinho (Monte Belo do Sul); Tempranillo (Vacaria); Merlot (Monte Belo do Sul).
Que bonito trabalho! Insisto em dizer que considero essas experiências muito importantes, pois,
embora atinjam um público restrito, formam apreciadores, qualificando o consumo. Os vinhos
são elaborados em ambiente próprio, na residência de Ricardo Kunz (DeMentes).

VINHOS DA RUA DO URTIGÃO


Gr V - 2014- VBdT* - (C)
Rubem Ernesto Kunz é um cardiologista gaúcho que se apaixonou
por vinhos, a partir de vivência na casa dos avós, onde passava
férias. Como ele mesmo conta: "Lá senti o gosto do vinho, que nunca
mais me saiu da boca. Sempre me intrigaram seus aromas e sabores. Suas
diferenças. Fui atrás de literatura, mergulhei na história, na geografia, visitei vinhedos e vinícolas mundo
afora, encantado com as nuances de cada garrafa. Ao longo do tempo passei a valorizar a tipicidade de cada
local. Me entristece a padronização da maioria dos vinhos do mercado. Não nos falam mais do solo onde estão
fincadas suas raízes, como foram as estações daquele ano e do vinhateiro que os criou". Rubem tem traba-
lhado com diferentes castas de cada um de seus viticultores parceiros, procurando entender cada
uma, buscando sentir o que expressam da origem. Ele deseja estabelecer com clareza as relações
entre os frutos e os vinhos, se leves ou mais encorpados. Ele procura tipicidade, identidade, e se
sente contagiado pelos princípios de produção de vinhos naturais adotados por Lizete Vicari e
Eduardo Zenker. Seus vinhos são elaborados com leveduras nativas e uso de lOg/hectolitro de
metabissulfito, apenas no momento do desengace. Em 2018, elaborou os seguintes vinhos, na
cantina da Güntherland: Nebula, um Chardonnay com uvas do Vinhedo Tasca, de Monte Belo do
Sul; Nuances, um Merlot rosé, também com uvas da Família Tasca; ãtma, outro Merlot, mas esse,
tinto, com as mesmas uvas; ãrima, um Pinot Noir rosé, com uvas do Vinhedo Don Basílio, de
Piratini; ãnima, um Pinot Noir tinto, com 30% de maceração carbônica, também com uvas do
Vinhedo Don Basílio. A partir de 2019, Rubem Kunz vem vinificando, em ambiente apropriado
cedido por um amigo, no próprio município de Taquara. São daquela safra um Alvarinho excep-
cional, com uvas da Famiglia Tasca e um Cabemet Franc. Em seus rótulos, aparece a inscrição:
"Produzido e engarrafado por Vinhos da Rua do Urtigão, na Güntherland, Araricá, com uvas do vinhe-
do ...". E mais, emociona ler: "Nesta garrafa está a seiva absorvida da terra. Nesta terra estão os aromas
e sabores deste vinho. Neste vinho estão as mãos, o suor e a alegria da Valéria, Sílvia, Alfredo, Stephan,
Edmilson, Kady, Biru, Jairo, Tati, Bia, Digo, Gabriela, Marga, Rômulo, Marcos, Álvaro e João Guilherme,
que o elaboraram comigo". Mas Rubem Kunz não se limita nem aos vinhos, nem à medicina. É um
especialista em cogumelos, os quais identifica, colhe e prepara em pratos deliciosos, juntamente
com a esposa, Valéria.

250 Rogerio Dardeau


VIAMÃO

ADEGA SOLAR
Gr V - 2001 - VBdT* - (C) - 'N'
http://aadegasolar.weebly.com/
Carlos Manuel Dias, o Nenel, e Elizabeth Braz (Sundari) sempre
apreciaram um bom vinho e desejavam elaborar os próprios. En-
tão, em comum acordo, iniciaram a produção artesanal. Eles são
descendentes de açorianos e, por isso, imprimem um certo "tem-
pero português" nos vinhos que elaboram. Como eles explicam,
um concordando com o outro: "Uma paixão que nasceu e cresceu de um
sonho de produzir um vinho natural e especial, no próprio local de moradia: um simples e maravilhoso sítio
em Viamão" . Os vinhedos ainda são em latada semiaberta. São 8 hectares, dos quais apenas 1 hec-
tare é dedicado às viníferas Cabernet Sauvignon e Tannat. A cantina é simples e muito cuidada.
Praticam o esmagamento com os pés, mas já têm equipamentos mais modernos. A produção é
muito pequena: de 300 a 750 garrafas, dependendo da variedade. A Adega Solar tem os seguintes
vinhos, todos batizados de Alma de Viamão, trazendo como sobrenome a casta: Cabernet Sauvignon
2008, 12,0%; Tannat 2008, 12,5%; Reserva Cabernet 2011, 13,3% (barricado); Reserva Tannat 2011,
13,8% (barricado); Reserva Cabernet 2012, 14,0%; Reserva Tannat Demi Sec 2012, 14,5%; Porto de
Itapuã 2009 (vinho fortificado), 20,0%; Conhaque Adega Solar 2009, 35,0%. O casal ainda elabora
dois vinhos de mesa e um suco de uva. Recentemente, mudaram o nome dos vinhos para Alma
(apenas).

FINCA TUÍRA
Gr V -2011- VBdT* - (I) - 'N'
Getúlio Teixeira e Gládis Cury são advogados, aposentados. Mas
estão trabalhando bastante no vinhedo de pouco menos de 1 hec-
tare que implantaram no início de 2018 na localidade de Lombas,
com mil mudas, na propriedade da família. As mudas de Cabernet
Sauvignon e Merlot têm origem em São Joaquim, SC, onde um an-
tigo parceiro desistiu do cultivo. Aliás, era sim um antigo parceiro,
pois, com as uvas dele, Gladys e Getúlio elaboravam vinhos artesa-
nalmente, desde 2011. A filosofia é de produção com mínima intervenção, admitindo somente
pequena presença de metabissulfito, durante a fermentação tumultuosa. A produção atinge, no
máximo, 700 garrafas por ano, mas o casal deseja ampliá-la, com uvas do próprio vinhedo, culti-
vadas organicamente. A cantina já está edificada, tendo os equipamentos necessários. Os rótulos
dos vinhos, com a denominação Finca Tuíra, são concebidos por Rodrigo Cury Teixeira, filho do
casal, que estuda design na UFGRS e é sócio da empresa Preza, que desenvolve armações de
óculos em madeira.

Ge nte. Lugares e Vinh os do Bras il 251


PIANEGONDA Vinhos
Gr V - 2015 - VBdT- (C)

•1 Gabriel Pianegonda ainda está começando. Tem uma propriedade


de 1 hectare, onde implantou Chardonnay, Nebbiolo e Tannat. Vem
trabalhando com produção orgânica e projeto para a conversão do
vinhedo em biodinâmico. Tem também idealizada uma cantina,
PIANEGONDA
mas as vinificações iniciais vêm sendo feitas com parceiros. Já ela-
borou um espumante 100% Chardonnay, de uvas próprias, sur lie com 36 meses sobre as borras.

QUINTA BARROCA DA TÍLIA


Gr V - 2007 - VBdT* - (C)eduardogiovannini@hotmail.com
Eduardo Giovannini é um conceituado engenheiro agrônomo, dou-
tor, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnolo-
gia do Rio Grande do Sul. Tem experiência de mais de trinta anos
em vitivinicultura e é autor de diversos livros, inclusive Viticultura
e Enologia - Elaboração de grandes vinhos nos terroirs brasileiros, com
Vitor Manfroi, da UFRGS. Por muito tempo, Eduardo e a esposa,
Simone, alimentaram o sonho de se instalar em uma quinta, ali
viver, cultivar as próprias uvas e elaborar os próprios vinhos. Em
2007, conseguiram iniciar o projeto, com a aquisição de 3,1 hectares, na localidade de Águas
Claras, município de Viamão, vizinho a Porto Alegre. É ele quem nos conta: "Viamão foi escolhida
pelo clima, solo etambém em função do histórico do "Seu" Oscar (Guglielmone). Foi nosso amigo e muitas
vezes o visitávamos para conhecer outros vinhos fora do curriculum tradicional. Na época, eu era bem jovem,
teria uns 20 e poucos anos. Somente lá tinha Gamay e Nebbiolo. Uma vez, ele nos apresentou um Moscato
Rosado, estilo uruguaio. Cabernet Sauvignon também era só ele quem tinha, pois na Serra Gaúcha o que
existia era o Franc". Mas, além disso, Eduardo Giovannini se sentiu atraído e desafiado pelo solo
da propriedade, pobre e arenoso. Ali, implantou perto de 20 castas, algumas com mais de um
clone, que estão sendo avaliadas. No entanto, algumas já respondem favoravelmente. Os vinhos
que ele elabora, em cantina própria, muito bem equipada, têm estilo autoral e são únicos. São
produzidos a partir de cuidadosa seleção de bagas, em seguida cofermentadas. Sem dúvida, a
cofermentação de distintas cepas é um recurso incrível, que permite uma criação infinita de co-
res, aromas e sabores. É preciso, porém, muito conhecimento das características de cada uma,
pois, caso contrário, nem hipóteses de resultados são possíveis. Além disso, é preciso dispor de
uma câmara fria, como a que Giovannini instalou junto ao vinhedo, para que uma casta colhida
aguarde madura pelas outras que amadurecerão em mais alguns dias. Aliás, neste ponto, é pre-
ciso mencionar outro aspecto raro, que diferencia a elaboração dos vinhos na Quinta Barroca da
Tília: Giovannini lava as uvas! Diz ele: ''A lavagem das uvas é feita por imersão em água. Nessa etapa
são eliminados insetos, como aranhas, e eventualmente outros animais e/ou resíduos. A água sai com muita
argila e poeira. Esses componentes, de acordo com estudos, quando em contato com o mosto, se combinam com
substâncias precursoras de aromas, empobrecendo o vinho. Depois de lavadas, as uvas vão à câmara fria, na
qual ficam por pelo menos 30 dias, para, assim, secarem e mesmo desidratarem, chegando a aumentar 2 graus
Brix. Em função disso, tenho que adicionar leveduras selecionadas". Eduardo, Simone e as filhas - Maria
Vitória, que assina a arte dos rótulos, e Diana - participam de todas as ações. Um de seus vinhos

252 Rogerio Dardeau


é o Kalani 2013 (13,5%) Primeira Edição - Vermentino 26% + Alvarinho 22% + Petit Manseng
20% + Cabemet Sauvignon 12% + Tannat 10% + Alicante Bouschet 10%: um tinto de bonita
cor, de médio corpo e muito boa presença ao paladar. Identifico esse vinho com os canapés de
embutidos, os salames, e os queijos amarelos. Outros são o Bruma Simone 2014 (13,4%) Primeira
Edição - Vermentino 46% + Nebbiolo 27% + Alicante Bouschet 16% + Teroldego 11 %: tinto
encorpado, com aromas frutados e complexos, excelente volume, maciez e muita persistência -
vejo esse vinho acompanhando pratos sofisticados, como o pato e o coelho ao vinho - e o Quinta
do Arbrochão 2014 (13,4%) Primeira Edição - Petit Manseng 21 o/o + Alvarinho 18% + Cabemet
Sauvignon 12% + Tannat 10% + Alicante Bouschet 7% + Sangiovese 7% + Teroldego 7% + Pe-
tit Verdot 5% + Viognier 5% + Marzemino 4% + Nero D' Avola 4% - 11 castas!!!, que formaram
outro tinto encorpado, com ótimo volume, taninos vivos e muito boa persistência. Esse Quinta
do Arbrochão 2014 Primeira Edição, no meu ponto de vista, é muito adequado aos assados, aos
churrascos gaúchos. Em resumo, são três grandes vinhos, únicos, emocionantes. E há novos,
também únicos, a cada safra, como Maia, Terra[ e Quinta do Jardim, todos de 2015. Giovannini tem
também videiras resistentes, importadas da Itália. Vejamos o que ele descreve: "Tenho Cabernet
Valos e Sauvignon Kretos, as quais produzem muito mais uvas, com maturação completa e total sanidade, com
apenas três aplicações de produtos cúpricos. No resto do vinhedo de uvas finas, faço de 16 a 18 aplicações por
ciclo. Fiz os vinhos em pequena escala: não deixam nada a desejar em relação aos seus genitores 'puro sangue'
europeus". Os vinhos Quinta Barroca da Tília são, de fato, obras de arte raras, que dificilmente
poderão ser repetidos.

MISSÕES (hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

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Sem dúvida, iniciativas pioneiras na região nos fazem caminhar rapidamente rumo ao
reconhecimento do terroir missioneiro, a partir de São Borja, no sentido norte, aos municípios
que englobam os históricos Sete Povos das Missões. Só para recordar, refiro-me às reduções
instaladas junto aos indígenas por missionários jesuítas em São Francisco de Borja, São
Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo
Ângelo Custódio. O município de Entre Ijuís também integra essa nova área vitivinícola. O lugar
Missões tem notoriedade pelas extensas áreas dedicadas ao cultivo do arroz.

Ge n t e. Lugares e Vin hos do Bra sil 253


GENTE que elabora vinhos finos nas Missões

ENTRE IJUÍS

FIN, Vinícola
Gr IV - 2003 - VBdT* - (C) - EnoT
vinicolafin.com.br
Vinícola fundada e mantida pelo casal Jorge e Eleana Fin, com os
filhos Mareio, Cristiano e Larissa. Jorge Fin descende de família
vinhateira, iniciada pelo avô Patrício, que foi vitivinicultor em Três
de Maio, no noroeste do Rio Grande do Sul. A Vinícola Fin tem,
atualmente, 15 hectares de vinhedos com as variedades Ancellotta,
Cabernet Sauvignon, Merlot e a branca Viognier, desde 2017. A
cantina é própria e muito bem equipada. A família adota o enoturismo há vários anos, recebendo
viajantes que transitam pela rodovia BR 285 e grupos que agendam eventos. Desde 2014, Jorge
Fin mantém parceria com viticultor da Campanha Gaúcha, no sentido de adquirir uvas Sauvig-
non Blanc e Malbec. A proposta da casa é elaborar vinhos de volume médio, leves. Os varietais
tintos cumprem esse perfil, exceção feita ao Ancellotta do Produtor 2012 (13,0%), envelhecido
por oito meses, em barricas novas de carvalho francês, que se mostra um vinho de médio corpo,
para encorpado. Alguns tintos são amadurecidos com lascas de carvalho (staves) .

SANTO ÂNGELO

DON CARLOS, Vinhos e Espumantes Artesanais


Gr IV -1998 - VBdT* - (C) - 'N'
Carlos Boff é um vinhateiro cuidadoso, que vem fazendo colhei-
\..~ DON C'
,0º 1-9 tas e elaborando seus vinhos artesanalmente, de modo a aperfei-
-',"> ~ 'o" çoá-los a cada ano. Os vinhedos já ocupam 2 hectares (em amplia-
ção), em uma propriedade de 5 hectares. Ali estão implantadas, em
-; ,
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-"' espaldeiras e Y, mudas certificadas das variedades francesas tintas
q-
0
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.
.,, "- Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Syrah, as brancas
SpUMAtft'i-
Chardonnay e Viognier, além das italianas Nebbiolo, Nero d'Avola,
Sangiovese e de variedades resistentes. A cantina é bem pequena,
intimista, uma butique, mas bem equipada. Desde 2008, Carlos Boff tem criado diversos vinhos,
em busca da melhor expressão do próprio ambiente. O Don Carlos Cabernet Sauvignon 2012
(13,0%) é um varietal a 100% da casta. Foram apenas 1.200 garrafas, das quais tive a oportu-
nidade de apreciar um, em 2017. Assim como todos os vinhos que Carlos Boff elabora, esse
também foi feito com uvas dos próprios vinhedos. A vinificação foi tradicional, feita com um
mínimo de intervenção. A fermentação, por exemplo, foi natural; se fez com levedura indígena,
ou seja, aquela que se apresenta nos próprios frutos. O vinho não foi filtrado, mantendo-se
integral, podendo apresentar algum depósito, com o tempo. A garrafa, aberta aos cinco anos de

254 Ro ge ri o D ard e a u
vida, nos mostrou um vinho vivo, intenso, de cor rubi brilhante, sem notas de evolução, portan-
to ainda com vida pela frente. Os aromas nos levaram às frutas escuras, como ameixa, além de
compotas, especiarias e notas vegetais. No paladar, o vinho se apresentou profundo, instigante,
com taninos arredondados, muito bom volume e persistência. Um típico missioneiro! Ainda que
saibamos que é com muito tempo que se definem efetivamente as características, já é possível
sentir grande tipicidade no Don Carlos Cabernet Sauvignon 2012. A Vinícola Don Carlos vem
apresentando diversos rótulos novos, como o Don Carlos Cabernet Sauvignon Reserva 2013,
com estágio de 21 meses em barrica de carvalho de segundo uso, os espumantes Don Carlos
Brut 7 Mistérios, com vinho base corte entre sete castas, e Don Carlos Ancestral Blanc de Noirs
Nature, ambos com vinhos da colheita de 2017, e o Don Carlos Viognier 2018, todos vinhos que
sugerem o novo terroir Don Carlos.

SÃO BORJA

MALGARIM, Vinhos
Gr IV - 2001 - VBdT* - (C)
malgarimvinhos.com. br
Sérgio Malgarim é desses vinhateiros dedicados, que se envol-
vem por completo com seus projetos. É o criador da coopera-
tiva Agrocooper, que representa 30% da área arrozeira de sua
região. Sem dúvida, um agrônomo idealista e experiente que,
desde 1997, planejava o próprio negócio de vinhos finos. Todas
as etapas de seus vinhos, da implantação dos vinhedos até à can-
tina na Quinta do Sino, tudo passa por suas mãos, com o cuidado da transmissão de conhe-
cimentos ao filho, Daniel, que fez sua iniciação com o jovem e talentoso enólogo português
Miguel Ângelo Almeida. A cantina é muito bem montada. Conta com equipamentos novos
e homenageia, com o nome Dom Augusto, o avô vinhateiro que semeou a cultura enológica
na família. Os vinhedos Malgarim têm 4 hectares de área, com as variedades tintas Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc, Carménere, Merlot e Tempranillo, e as brancas Chardonnay e
Riesling. Os varietais e cortes tintos, bem como os brancos, têm a denominação Malgarim . A
produção máxima é de 12 mil garrafas por ano. Sérgio Malgarim acredita que a Tempranillo
é a casta tinta mais bem adaptada ao terroir missioneiro de São Borja. De fato, os varietais
daquela casta, dos anos de 2013 e 2015 ganharam notoriedade entre apreciadores.

Gen t e. Lugares e Vin hos do Bras il 255


CAMPOS DE CIMA DA SERRA
(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

Monte Alegre dos Campos

são Francisco de Paula, Jaquirana, Cambará do Sul, são José dos Ausentes

Trata-se da região mais alta e fria do estado do Rio Grande do Sul, ao norte do estado, na
fronteira com Santa Catarina. Engloba os municípios de Bom Jesus, Cambará do Sul, Campestre
da Serra, Esmeralda, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, São Francisco de
Paula, São José dos Ausentes e Vacaria. As variedades Cabernet Sauvignon e Merlot têm sido as
tintas preferidas na região.
Associação de Produtores: Avices - Associação dos Produtores de Vinhos Finos dos
Campos de Cima da Serra - Reúne as vinícolas Aracuri, Campestre, Fazenda Santa Rita, RAR,
Sopra e Sozo.

GENTE que elabora vinhos finos na região dos Campos de Cima da Serra,
por ordem alfabética dos municípios e, dentro desses, pela ordem alfabética
dos nomes dos produtores

CAMPESTRE da SERRA

CAMPESTRE, Vinícola
Gr II- 1968 - VBdT- (C)
pergola.com.br
Empreendimento da família Zanotto, com mais de cinquenta
anos de história. Atualmente, sob a direção de João Carlos Za-
notto, produz diversos derivados da uva em mais de cinquenta
produtos, além de cervejas. Os vinhos finos têm sempre a de-
nominação Zanotto. A linha Pérgola define vinhos de mesa e
sucos. O enólogo é André Donatti.

256 Ro ge ri o D a rcl e a u
MONTE ALEGRE DOS CAMPOS
CASA OLIVO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
Veja em Antônio Prado, Serra Gaúcha, onde se localiza a cantina.
Em Monte Alegre dos Campos estão os vinhedos da Casa Olivo.

MUITOS CAPÕES
ARACURI Vinhos Finos
Aliprandini e Meyer Vinhos Finos Ltda.
Gr IV - 2005 - VBdT* - (I)
aracuri.com. br
A Aracuri Vmhos Finos está localizada na belíssima região de Cam-
pos de Cima da Serra, Rio Grande do Sul, na fronteira norte, junto ao
estado de Santa Catarina. Foi uma iniciativa dos experientes empre-
sários do ramo de produção e comercialização de frutas João Meyer
ARACURI e Henrique Aliprandini. Depois da implantação dos primeiros vinhe-
dos e elaboração dos primeiros vinhos, a vinícola se destacou no ce-
nário vitivinícola brasileiro. Seus varietais brancos e tintos e seu corte tinto são todos apresentados
sob a denominação Aracuri, homenageando um pequeno papagaio da região. A enóloga é Paula
Guerra Schenato, jovem e criativa profissional formada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Os destaques tintos da vinícola são o Aracuri Collector Cabernet
Sauvignon safra 2008, 13,5%, que estagiou por 12 meses em barricas de carvalho e permaneceu
outro tanto engarrafado, na própria vinícola, antes de ir para o mercado, e o Aracuri Pinot Noir 2012,
12,0%, que passou cinco meses em barricas. Entre os brancos, a casa elabora os varietais Chardon-
nay e Sauvignon Blanc, com um estilo mineral marcante. O Aracuri Chardonnay 2012 teve 10% do
volume total (7 mil garrafas) com estágio por 12 meses em barricas de carvalho americano, mos-
trando aromas complexos e untuosidade muito agradável, com ótima persistência. O Aracuri Caber-
net Sauvignon 2009 é um vinho com uma bonita cor rubi, aromas jovens, frutados e ótima presença
no paladar. Em 2014, a casa lançou o Aracuri Reduto, um vinho excepcional, elaborado com uvas
Merlot de três safras, dos vinhedos próprios, a 960 m de altitude. Após a colheita, as uvas foram
submetidas à desidratação natural antes do processamento. Tal conduta, associada ao estágio em
barricas de carvalho, proporcionou um vinho estruturado e potente, com 14,0% de teor alcoólico.

FAMÍLIA LEMOS DE ALMEIDA Vinhas e Vinhos


(antiga Vinícola Fazenda Sta Rita)
Gr IV - 2005 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolafazendasantarita.com.br
É pela qualidade, pelo alto padrão dos vinhos e pela cultura que
LIMOS DI ALMIIDA a nossa vitivinicultura se impõe. Essa é, sem dúvida, a máxima

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 257


que também norteia o empreendimento de Agamenon Lemos de Almeida e família. Um projeto
estudado há décadas, que tomou forma a partir de 2009, com a implantação, em parte dos 12
hectares, das viníferas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Merlot e Pinot Noir. Inspirado pelos escri-
tos do gaúcho João Borges Fortes, Agamenon decidiu edificar uma Vila Açoriana, para abrigar a
cantina e homenagear as 6;000 famílias que, como a dele, cruzaram o Atlântico, emigrando do
arquipélago português dos Açores com destino a Santa Catarina e ao Rio Grande do Sul. Quem
desce à área de elaboração dos vinhos, pode ver um enorme mural, no qual estão grafados os
nomes dos 300 troncos de famílias açorianas que chegaram aqui. O resultado é um conjunto
arquitetônico harmônico, totalmente integrado à natureza dos Campos de Cima da Serra e aos
vinhedos. A cantina, muitíssimo bem equipada e funcional, por gravidade, tem capacidade para
100.000 litros/ano, mas ainda não atingiu tal volume. A enologia está a cargo do renomado
Deito Garibaldi, sempre acompanhado pelo empreendedor. Em 2016, foram implantadas mudas
das castas brancas Alvarinho e Verdelho, além das tintas Touriga Nacional e Tinta Roriz, todas,
como sabemos, de origem portuguesa. Tive a grata oportunidade de apreciar os primeiros vi-
nhos de tais variedades, ainda nos tanques, e fiquei muito bem impressionado. Aliás, confirmei
posteriormente, no mercado: os quatro varietais e o corte tinto da linha Capella dos Campos
firmam-se como vinhos leves, muito recomendados aos verões brasileiros. Os vinhos elabora-
dos na Fazenda Santa Rita, da Vinícola Família Lemos de Almeida, estão organizados em duas
linhas de espumantes, Casa Portuguesa e Villa Açoriana, mais duas linhas de vinhos tranquilos,
Capella dos Campos, para os vinhos que mostram frescor, sem passagem por barrica, e Família
Lemos de Almeida, para os vinhos de maior complexidade. A vinícola organiza visitas à cantina,
a partir da elegante loja montada em Vacaria, RS, escritório central da empresa. Os vinhos são
elaborados exclusivamente com uvas dos próprios vinhedos. Os Família Lemos de Almeida Char-
donnay e Família Lemos de Almeida Pinot Noir, ambos barricados, são vinhos notáveis. A vinícola
avança em sustentabilidade. Já conta com um conjunto de placas fotovoltaicas (energia solar),
com capacidade de gerar toda a energia necessária ao seu funcionamento; possui uma central de
efluentes e líquidos; e uma central de compostagem.

RAR
Gr IV - 2002 - VBdT* - (1)
rarvinhos.com.br
Raul Anselmo Randon foi um empresário brasileiro do segmento
metal mecânico e do agronegócio, apaixonado por vinhos, falecido
em março de 2018. O projeto de vinhos RAR nasceu no contexto
de uma das unidades de seu grupo empresarial Randon, a Rasip
Agro Pastoril S/A. Implantaram-se vinhedos próprios, nos Cam-
pos de Cima da Serra, a uma altitude no entorno de 1.000 metros,
com as variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay, Gewurztraminer, Pinot
Gris e Viognier. Randon foi, sem dúvida, o protagonista do cultivo de viníferas nos Campos de
Cima da Serra. Os vinhedos chegaram a atingir área próxima a 80 hectares, mas estão sendo
reduzidos. As uvas são colhidas bem cedo, são climatizadas e transportadas à Miolo, no Vale
dos Vinhedos, onde ocorre a vinificação, o amadurecimento e o envelhecimento dos vinhos,
quando é o caso. A linha de vinhos e espumantes RAR está assim organizada: RAR Laurea Ad

258 Rogerio Darcleau


Honorem Reserva da Família 2012, em homenagem ao fundador Raul Anselmo Randon, um
Cabernet Sauvignon/ Merlot, com 14,0% de teor alcoólico, que teve elaboração tradicional com
temperatura de fermentação controlada. Dez por cento das uvas foram submetidas ao 'apassia-
mento', método que consiste em submeter as uvas a um processo de desidratação, por semanas,
em ambiente coberto e ventilado. O corte amadureceu em barricas novas de carvalho francês
e americano por 12 meses. Depois vêm Reserva de Família, um Cabernet Sauvignon/Merlot,
encorpado, de cor rubi intensa, aromas complexos e muita presença de boca. É apresentado
também em garrafa Mathusalem, de 6 litros; Collezione Merlot; Collezione Pinot Noir; Reserva
Merlot; Collezione Gewurztraminer; Collezione Viognier e Collezione Sauvignon Blanc, além
dos espumantes Cuvée Brut, Cuvée Nilva Brut Rosé, Brut Reserva e Moscatel. A empresa vem
comercializando cinco rótulos de vinhos importados de parceiros na Argentina e na Itália.

VACARIA

SOPRA
Vinhedos Entre Rios
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I)
vinhosopra.com.br
Trata-se de empreendimento da família Varaschin, tradicional pro-
dutora de frutas no Rio Grande do Sul. São 3 hectares de vinhe-
dos, a 950 m de altitude, com as castas Chardonnay, Pinot Noir e
Merlot, implantados sob a consultoria da Embrapa Uva e Vinho. O
projeto caminha com a supervisão direta do proprietário, o agrô-
nomo Ermano Varaschin Jr., e a equipe formada pelos enólogos
Alejandro Cardozo, Mauro Zanus e Junior Maroso. Todo vinho é elaborado a partir das uvas de
vinhedos próprios, nas instalações da Vinícola Piagentini, em Caxias do Sul, enquanto a vinícola
não dispõe de cantina própria. A proposta é a de elaborar um máximo de 15 mil garrafas/ ano.
Disponibiliza atualmente, pela página web: Brut Santé Branco 2017 (método tradicional 60%
Chardonnay + 40% PN), Brut Santé Rosé 2017 (método tradicional 60% Chardonnay + 40%
PN), Chardonnay Unoaked 2018, Rosé Celina 2019 (60% PN + 40% Chardonnay), Pinot Noir
2014, Merlot Riguardo 2016 (carvalho francês de segundo uso + carvalho americano novo) e
Merlot 2013 com passagem breve por carvalho francês.

SOZO Vinhos Finos de Altitude


Gr IV - 2002 - VBdT* - (1)
Iniciativa do empresário José Sozo, em 10 hectares de vinhedos,
implantados no município de Monte Alegre dos Campos, com as
variedades tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Petit
sozo Verdot, e as brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc. Os vinhedos
são elegantemente ornamentados com imponentes árvores de car-
valho. Sozo descende de italianos que, durante três gerações, cultivaram vinhas e forneceram
uvas para a Cooperativa Vinícola São Pedro, de Flores da Cunha. A casa ainda não tem cantina

Gen te. Lugares e Vin hos do B rasil 259


própria. Os vinhos são elaborados pela Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, e a primeira
vinificação ocorreu em 2004. Elabora um espumante, pelo método tradicional (60% Pinot Noir e
40% Chardonnay), denominado lmagination, e outro pelo método Charmat. Os varietais de Caber-
net Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot, Chardonnay e Sauvignon Blanc têm a denomina-
ção Sozo Reserva. O vinho estrela da casa é o Sozo Assemblage, um corte entre Cabernet Sauvignon
da safra de 2007 (60%), Merlot, da safra de 2009 (33%), e Petit Verdot, da safra de 2010 (7%).

ALTO URUGUAI OU NOROESTE GAÚCHO


(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

Alto Uruguai (noroeste gaúcho)

Três Palmeiras

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É uma região que ainda não tem um contorno claro. Tal como o que afirmei sobre a
Campanha, a Região do Alto Uruguai tem uma área muito grande, certamente com muitos
terroirs distintos. Porém, é de lá, mais precisamente do município de Três Palmeiras, que vêm
alguns dos grandes vinhos brasileiros de terroir: são vinhos da vinícola Antonio Dias - Vinhos
de Terroir. A macrorregião, no passado, já havia sido testada pela Casa De Lantier (Martini
& Rossi), por recomendação do enólogo Adolfo Lona, quando concebeu o projeto Coleção
Regionais. Pelo projeto, aquela empresa ofereceu mudas e orientação técnica a pequenos
viticultores dos municípios de Ametista do Sul e de Planalto, garantindo-lhes a compra das
uvas. Com a descontinuidade do projeto, os viticultores seguiram os próprios caminhos.
Na ocasião, Lona recomendou aos produtores que se organizassem em cooperativas, o que
veio a acontecer muitos anos depois. Hoje, algumas vinícolas em formato de empresa estão
constituídas, e pelo menos uma cooperativa, a Cooperativa dos Produtores de Uva e Derivados
de Ametista do Sul (Coperametista), já apresenta um vinho fino seco, o Ametista Cabernet
Sauvignon . É forte a presença da casta Cabernet Sauvignon entre os vinhos finos elaborados
na região, que é marcada por vinhos de mesa, à base de Bordô, Isabel e Niágara. E novas
"butiques de vinhos" vêm sendo instaladas por lá. Vejamos!
Associação de Produtores: REDE DE VINÍCOLAS DO ALTO URUGUAI - São
12 produtores, nos seguintes oito municípios: Ametista, Alpestre, Barra Funda, Frederico
Westphalen, Planalto, Rondinha, Sarandi e Três Palmeiras. As empresas são: Vinhos Finos
Antonio Dias, localizada em Três Palmeiras; Sucos Tedesco, em Rondinha; Vinícola Dom Gentil
(antiga Adega do Sul) e Sucos Tolotti, em Barra Funda; Vinhos Vizini, Sucos Vitis e Sucos

260 Ro ge ri o D a rcle a u
Carbonari, em Sarandi; Vinícola Ametista e Coperametista, em Ametista do Sul; Cooper Bom
Pastor e Vinhos Cave de Cristal, em Planalto; Vinhos Menzem, na cidade de Alpestre.

GENTE que elabora vinhos finos na região do Alto Uruguai


---~--....J
AMETISTA DO SUL

AMETISTA, Vinícola
Gr IV - 2000 - VBdT* - (I)
vinicolaametista.com. br
Impressionante projeto do jovem empresário Sílvio Pôncio e seus
dois irmãos, com origem na mineração. O município de Ametista


AMETISTA
do Sul está assentado sobre a maior jazida dessa pedra no mundo.
Os vinhedos são próprios, em solo pedregoso, bem drenado e mi-
neralizado. São 2 hectares no sítio da vinícola, mais 10 hectares a
4km e outros 15 hectares a 1O km da cantina. As estações e o clima são bem definidos. A colhei-
ta, em geral, é antecipada em relação à Serra Gaúcha, ocorrendo em janeiro e fevereiro. A cantina
está equipada para uma produção de 200 mil garrafas por ano. Sílvio instalou adega em galeria
subterrânea desativada, na qual ainda são vistos geodos de ametista, ágata, citrino e outros mine-
rais. Ali, a temperatura é praticamente constante, em torno dos 16,8 °C. A Enologia está a cargo
do talentoso Silvânio Antônio Dias. A Vinícola Ametista elabora três linhas de vinhos: Ágata
de Fogo, para os VBdT considerados superiores, Ágata, para os VBdT e Jazida, para os vinhos
de mesa e sucos. A linha Ágata é composta de varietais que descansam na cave subterrânea por
tempos específicos. Há vinhos da linha Ágata de Fogo cujas garrafas são encaixadas pelo pescoço,
diretamente no basalto e ali evoluem, depois de haverem tido estágios em barricas de carvalho.
Alguns vinhos elaborados: Ágata Cabernet Sauvignon 2012, Ágata Cabernet Sauvignon Rosé
2011 , Ágata Cabernet Sauvignon Demi Sec 2011 , Ágata Merlot 2012, Ágata de Fogo Merlot
2015, Ágata Tannat 2010, Ágata Pinot Noir 2013 e Ágata Sauvignon Blanc 2011, além dos espu-
mantes Ágata Brut, um branco de branca Chardonnay, e Ágata Moscatel, cujo vinho base é um
corte entre Moscato Giallo e Moscato Bianco. É notável a longevidade do varietal da Sauvignon
Blanc. Os vinhos da Vinícola Ametista apresentam grande tipicidade e vão definindo o terroir.

COPERAMETISTA
Gr III - 2007 - VBdT - (C)
cooperametista.com.br
Produtores rurais organizados fundaram a Coperametista, com o
objetivo primordial de coordenar a produção de vinhos e derivados
da uva de viticultores da região. Atualmente, as atividades estão
concentradas nos sucos de uva e laranja. Somente um produtor,
o agricultor Daniel Alba, ainda segue cultivando uma vinífera, a
Cabernet Sauvignon.

Gen te. Lugares e Vin hos do B rasil 261


CRISSIUMAL

WEBER, Vinícola
Gr IV - 2000- VBdT* - (C)
vinicolaweber.com. br
A família Weber produz vinhos há, pelo menos, três gerações. No
início, como no caso da maioria dos produtores, a elaboração acon-
tecia no porão de casa, de maneira colonial, apenas para consumo
próprio. Mas é preciso contar um pouco sobre o viveiro de mudas
VINÍCOLA WEBER
da família, para falar como a vinícola começou. Em 1979, Dedo
Weber se formou técnico agrícola e retomou à casa dos pais com o
sonho de fazer algo novo na propriedade. Iniciou, então, a pro-
dução e a comercialização de mudas de erva-mate, fazendo surgir os Viveiros Weber, hoje com
expressiva projeção, em razão do número de plantas ofertadas, trabalhando com plantas nativas,
ornamentais, frutíferas e outras. Chega-se, então, à circunstância de nascimento da vinícola: a
multiplicação das mudas exigia um 'matrizeiro' como fonte de material vegetativo; no caso das
videiras, um vinhedo. As uvas produzidas naquele vinhedo eram vinificadas e produziam um
vinho que passou a ser reconhecido por amigos, pela cidade. Isso provocou a implantação de
novos vinhedos, com o objetivo de alimentar uma produção comercial. A área atual de vinhedos
de viníferas é de 12 hectares, com as castas Marselan, Merlot, Malbec, Cabemet Franc, Cabemet
Sauvignon, Tannat, Chardonnay, Moscato e Pinot Noir. Todas as quadras ficam nos arredores da
vinícola. Há, ainda, um vinhedo experimental com mais de 20 variedades, em testes. Inicialmen-
te, os vinhedos foram implantados em Y, com orientação norte-sul. Esse sistema permite que os
cachos recebam insolação nas horas em que o sol não é tão quente, e, no período de maior calor,
o próprio dossel vegetativo faz sombra sobre os cachos, evitando possíveis danos aos frutos em
função do calor excessivo. Naquela região do Rio Grande do Sul, no verão, as temperaturas são
muito altas. Esse sistema apresenta alto custo de implantação, além de os postes precisarem
de ser substituídos de tempos em tempos. E mais: a poda de inverno se toma mais difícil, se
feita por pessoas sem experiência. É importante registrar que ali há escassez de trabalhadores
qualificados para a tarefa. Então, a experiência determinou a conversão gradual em espaldeiras
simples, conversão esta que tem relação custo-benefício bem melhor, facilitando muito o ma-
nejo das plantas e possibilitando, de igual maneira, a obtenção de frutos de alta qualidade, com
maturação perfeita. Todos os vinhos são elaborados a partir de uvas próprias, na cantina familiar,
construída pelo casal Dedo e Delci Weber. A capacidade da cantina é de 100.000 litros/ano,
mas a produção atual é de 40.000 litros/ano A responsabilidade pelos vinhedos é do técnico
agrícola Dedo Weber. A enóloga é Taciana Weber, filha do casal fundador, formada em Bento
Gonçalves, com carreira profissional na Chandon, na Casa Valduga e na Aurora. Tatielle Weber,
a outra filha, atua na gestão, com o marido Henrique. Há duas linhas de vinhos finos no merca-
do. A Weber é uma linha de vinhos mais jovens, de consumo rápido, vinhos para o dia a dia. Já
a linha Instantes é composta por vinhos brancos e tintos de guarda, alguns com madeira e um
bom tempo de descanso na garrafa. Esses são vinhos elaborados apenas quando a qualidade da
uva atinge os requisitos desejados. Um detalhe: as rolhas dos vinhos da linha Instantes trazem a
frase '½. vida é feita de Instantes", tendo logo abaixo o clássico espaço com duas barras, para que

262 Rogerio Dardeau


se anote a data da degustação (dia/mês/ano), e mais duas máximas: "Viva o hoje" e "Aproveite
o agora". A linha Constelações é a de espumantes, com um brut rosé, com vinho base 100%
Malbec, e um brut branco, com vinho base 100% Chardonnay. Além dessas linhas comerciais,
há uma exclusiva, vendida apenas na loja da vinícola. São microvinificações, lotes bem pequenos,
elaborados com as uvas do vinhedo experimental. Cada lote tem de 50 a 200 garrafas. A vinícola
entende que essa é uma forma de avaliar as características que cada casta desenvolve: o reflexo
do terroir em cada cepa, acompanhando no vinhedo, e, em seguida, a qualidade dos vinhos, suas
peculiaridades e sua evolução na garrafa.

ITATIBA DO SUL

SOLIMAN, Vinhedo
Gr IV - 2005 - VBdT* - (I)
vinhedosoliman.com. br
Rogério Soliman é um jovem inquieto. Cirurgião-dentista com uma
carreira sólida, decidiu ter um vinho próprio. Em 2005, iniciou o
projeto com a implantação de 6,5 hectares de vinhedos, no peque-
nino município de Itatiba do Sul, às margens do rio Uruguai, norte
gaúcho, fronteira com Santa Catarina. São nove vinhedos muito
bem cuidados, iniciados com as castas Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, seguidas de
Ancellotta, Montepulciano, Nero D'Avo la e Moscato Bianco, entre outras, em teste. Os vinhedos
estão a 830 m de altitude, em uma propriedade de grande beleza natural, em total integração
com uma flora exuberante, povoada por magnífica fauna. A cantina é pequena, mas muito fun-
cional e bem equipada. Está preparada para a dinâmica do crescimento. A primeira vinificação
comercial se deu em 2011 . Atualmente, a Vinhedo Soliman tem disponíveis um varietal a 100%
da Cabernet Sauvignon, da safra de 2015 (13,0%), e um expressivo reserva, corte Cabernet +
Merlot, da colheita de 2012 (13,5%). O mais novo vinho da casa é o Soliman Chardonnay 2018,
muito especial, recentemente rotulado como Sr. Nelson, exatamente homenageando o patriar-
ca da família Soliman. No projeto, além do próprio Rogério, atuam o pai, Nelson Soliman, e a
esposa de Rogério, Vanessa. Esses produtores, atentos ao enoturismo, mantêm o "Projeto Meu
Vinho". Trata-se de uma rara iniciativa de disponibilizar linhas de vinhedos a clientes específicos.
O mais interessante é que as linhas são identificadas, sinalizadas e monitoradas por câmeras que
permitem o acompanhamento remoto. O enófilo que adquire a linha participa integralmente de
todas as etapas: desde a evolução dos frutos nas plantas, até a elaboração do próprio vinho, e,
é claro, poderá ter presença na vinícola, se assim desejar. Como eles mesmos divulgam, é uma
"oportunidade de acompanhar on-line e 24h por dia o crescimento e desenvolvimento do seu parreiral, partici-
par da poda seca e verde, se deliciar na vindima colhendo a sua uva, e degustar a evolução do seu produto em
eventos especiais em nosso espaço, regados a comida italiana e muito vinho. No final de tudo isso, você não
vai ter apenas a sua garrafa de vinho personalizada, mas terá muita história pra contar; afinal, com o 'Pro-
jeto Meu Vinho', você não é apenas um consumidor, você é o protagonista dessa história!". A consultoria
enológica está a cargo de Marcos Vian.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 263


PLANALTO

CAVE DE CRISTAL
Gr III - 1998 - VBdT - (C)

Iniciativa do produtor Jadir José Kovaleski, que, desde 1998, elabo-


~ AVE DE ra vinhos finos correntes, a partir de vinhedos próprios, no muni-
1ST cípio de Planalto, RS.

TRÊS DE MAIO

CASA TERTÚLIA
Gr IV - 2017 - VBdT - (I) - EnoT
vinicolacasatertulia.com. br
Empreendimento familiar conduzido pela enóloga, sommeliere e
administradora Viviane Hilgert. A escolha do nome exibe o que
desejam esses produtores: "Casa - um local agradável e confortan-
te. Tertúlia - encontro de amigos, conversa sobre assuntos importantes,
palestra literária. Regados a vinho. Encontros que iniciaram na Espanha
chamados de Tertúlia. Era tudo que desejávamos para o nosso empreendimento. Por isso o nome" (www.
vinicolacasatertulia.com.br). São 2 hectares de vinhedos que começaram a ser implantados em
2012, logo tendo começado a construção da cantina, em blocos de basalto lavrado. Na viti-
cultura, há uma busca de manejo por princípios de biodinâmica. É a própria Viviane Hilgert
quem nos esclarece: "Nosso cultivo ainda não possibilita o biodinâmico; porém, usamos muitas formas
naturais para um maior equilíbrio dentro do vinhedo. Sempre com o objetivo de ter uma boa harmonia com
a natureza, introduzindo plantas nativas e colaboradores de um ambiente mais saudável para as vinhas".
Os espaços dos vinhedos são partilhados por ovelhas e aves, sempre no sentido de se evitar
uso de herbicidas químicos. Os vinhos são: varietal Casa Tertúlia Merlot, varietal Casa Ter-
túlia Cabernet Sauvignon, um varietal da casta Isabel com um tempero de Merlot e Cabernet
Sauvignon, um espumante brut e um espumante moscatel, o Casa Tertúlia Alliance. Sobre o
Isabel, novamente Viviane nos traz um precioso informe: "Optamos por produzir também o vinho
Isabel de vinha americana, porque no Brasil temos muitos apreciadores. São castas que sofrem preconceito,
por não representarem uma complexidade grande em aromas e sabores. Porém, são de fácil produção e de boa
sanidade, o que nos permite uma experiência excepcional em características das castas que, geralmente, tra-
zem muito Tutti Frutti, morango e uma leveza maravilhosa. Para tornar nosso vinho Isabel mais interessante,
adicionamos um pequeno percentual de vinho Merlot 5% e Cabernet Sauvignon 10%".

264 Ro ge rio Darclea u


TRÊS PALMEIRAS

ANTONIO DIAS VINHOS DE TERROIR


Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
vinhosantoniodias.com. br
Mais uma experiência de destaque na vitivinicultura artesanal bra-
sileira. São 6 hectares de vinhedos, nos quais frutificam, em espal-
deiras simples, Tannat (3 ha), Cabernet Sauvignon (1 ha), Merlot
Vinhos de Terro,r
(0,5 ha) , Pinot Noir (0,5 ha) e Chardonnay (1 ha) . Os solos são
argilosos e pedregosos, com boa drenagem. O clima em geral é
seco e as amplitudes térmicas são muito boas. O ciclo da videira se dá em tempos distintos das
ocorrências na Serra Gaúcha, realizando-se a colheita antecipadamente. A cantina é própria,
toda edificada em basalto lavrado, muito bem equipada, inclusive com ampla estrutura para
o enoturismo. Silvanio Antonio Dias é o enólogo e sócio de Vilnei Mendes e Mauro Belini, no
empreendimento. A linha tinta, composta por Tannat, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, todos
os vinhos com passagem por barrica, impressiona pelo equilíbrio. A proposta para os próximos
anos é a elaboração de um grande Tannat. A casa oferece, ainda, espumantes e destilados.

OUTROS LUGARES ONDE VINHOS FINOS SÃO ELABORADOS


NO RIO GRANDE DO SUL
Este é um item do livro no qual, com certeza, poderei incorrer em omissões. Desde já,
desculpo-me por isso, principalmente com os produtores não apresentados. O estado do
Rio Grande do Sul, pela ampla presença de imigrantes europeus, especialmente da colônia
italiana, tem produtores de vinhos em quase todos os 497 municípios.

IJUÍ
Município localizado no chamado Noroeste Colonial, a 30 km da região das Missões,
onde o cirurgião-dentista (implantodontista) e professor Alcindo Gomes iniciou-se na
vinicultura pelo projeto "Novos Caminhos", em parceria com o vinhateiro Carlos Boff, com
quem vinifica, e James Martini Carl, o "caçador de uvas".
Ali também está o iniciante projeto vitivinícola de Mareio Bortolini, em 3 hectares de
área, em uma propriedade que já tem 12 hectares de nogueiras e mantém outros 12 hectares
de mata nativa. As primeiras implantações privilegiam testes com as castas brancas Riesling
Itálico, Malvasia, Alvarinho e Viura (Macabeo), além das tintas Sangiovese, Primitivo,
Marselan, Nebbiolo, Barbera e Teroldego.

LAJEADO
Município do Vale do Rio Taquari, cuja sede está localizada a apenas 112 km de Porto
Alegre, numa altitude inferior a 50 m . Ali, localizamos um empreendimento vinícola.

Gen t e. Lugares e Vin h os do Br as il 265


ALLEGRO CANTINA
Gr Vb- 2014- VBdT- (C)
Iniciativa do engenheiro Nelcir José Zambiasi, que nos conta:
"Descendente de família italiana que tinha dez filhos, desde crianças aju-

AllegtQ dávamos nosso pai a produzir vinhos de uvas vitis labrusca. Por ser o ca-
çula, meu período como 'ajudante' foi o maior de todos os irmãos. Com o
passar do tempo, a vida me levou por outros caminhos. Por 25 anos, morei
longe e permaneci distante da produção, apenas apreciando e degustando
vinhos, descobrindo e desvendando outros aromas e sabores". Em 2013, Nelcir, já em Lajeado, visitando
parentes com o amigo Liu Wen, encontrou antigas pipas e um desengaçador de madeira. Foi
quando surgiu a ideia de elaborarem os próprios vinhos. Convidaram os amigos Nelson Locatelli
e Ubaldo Simões e constituíram a vinícola. As uvas são adquiridas de parceiros e processadas em
instalações próprias, bem equipadas. A produção anual é variada e atinge 1.500 garrafas, entre
vinhos brancos, rosados e tintos, além de espumante. ''Apesar do volume, do investimento financeiro
e de tempo, o objetivo ainda é o prazer de fazer uma boa bebida e satisfazer o paladar dos amigos, em longas
conversas e belas degustações. Uma visita, uma ideia solta no ar reuniu 4 amigos de diferentes áreas, e o vinho
fortaleceu e continua a fortalecer uma amizade que me teve como elo de conhecimento entre os outros 3 ", diz
Nelcir. Os amigos vêm rotulando regularmente Chardonnay, Malbec, Merlot e Tannat equilibra-
dos e de muito boa presença.

PELOTAS
O município de Pelotas é o polo econômico e cultural ao sul do estado do Rio Grande do
Sul. Com mais de 300.000 habitantes e cinco universidades, catalisa importantes iniciativas
de desenvolvimento. Geograficamente, faz fronteira, ao norte, com municípios da Serra do
Sudeste.

WEINGÃRTNER
Gr V - 1997 - VBdT* - (C) 'N'
Marimônio Alberto Weingãrtner é um dos descendentes do con-
ceituado pintor gaúcho Pedro Weingãrtner, que teve importante
papel nas artes, nos tempos do Império do Brasil. Marimônio
comenta com bom humor que, embora seu sobrenome designe
alguém que trata de vinhedos, numa tradução livre, ele é o único
\1\/ EINGARTNER
na família envolvido com o tema. Sempre elaborou os próprios
vinhos, em Pelotas, onde reside, com uvas de vinhedos de Pinheiro
Machado. Em 2017, arrendou um vinhedo naquele município e iniciou total conversão a cultivo
orgânico, uma vez que está imbuído da cultura não intervencionista. A área arrendada é de 7
hectares, com 5 hectares em produção. As castas são as brancas Malvasia de Cândia, Riesling
Itálico e Trebbiano, além das tintas Merlot e Teroldego. Os vinhos são elaborados com baixíssima
intervenção e têm muito boa expressão. Marimônio também destila um brandy, a partir da casta
Trebbiano.

266 Ro ge rio Darclea u


TERRA DE AREIA
Município no litoral norte do estado, onde localizo uma importante iniciativa: a
Negroponte Vigna.

NEGROPONTE VIGNA
Gr V - 2014- VBdT- (C) - 'N'
Primeiramente, é preciso dizer que a Negroponte Vigna está loca-
lizada aqui, em Terra de Areia, apenas por ser a sede do produtor.
O projeto pode perfeitamente ser titulado de multiterroir, diante
da presença em inúmeros municípios brasileiros. James Martini
Carl é um brasileiro vitivinicultor autodidata, entusiasmado com
as castas georgianas e gregas. Exatamente por isso, o nome de
NE(JROPONTE seu projeto - Negroponte Vigna - , que significa "Vinhas do Mar
632>(~5ó:J - Ncyp01rovrc
Negro", vem sempre escrito naqueles dois idiomas. Ele, porém,
deixa sempre muito claro que o objetivo é criar vinhos autenti-
camente brasileiros, a partir daquelas castas. James tem assessoria técnica de Celito Guerra,
renomado agrônomo da Embrapa Uva e Vinho, e de Carlos Flores, aposentado da Embrapa
Clima Temperado, que é um dos maiores especialistas em solos do Brasil. Foi esse pesquisador
que mapeou os solos de diversas regiões gaúchas, como Pinheiro Machado, Vale dos Vinhedos,
Campanha Gaúcha, e participou do zoneamento de várias culturas, como a das oliveiras. Mas
James quer mais conhecimento. Por isso, a partir de 2020 integra turma de alunos de Enologia
no prestigiado Istituto Agrario di San Michele all'Adige, em Trentino, Itália. James desenvolve
diversos projetos: castas gregas, em parceria com a vinícola Campos de Cima, de Itaqui, RS;
castas georgianas, em terras próprias ou arrendadas, no litoral norte do Rio Grande do Sul;
e variadas parcerias com outros produtores. O projeto com a Vinícola Campos de Cima está
em pleno andamento, desde o plantio, em 2014, de mudas certificadas das variedades As-
syrtiko (branca) e Agiorgitiko (tinta), importadas do viveiro Bakasietas VNB, em vinhedo
daquela casa, no município de Maçambará, RS. As castas Assyrtiko (uva branca de Santorini),
Mavrotragano (casta tinta, também de Santorini) e Xinomavro (outra tinta, essa de Naoussa)
estão muito bem adaptadas naquela região. James considera que as castas gregas têm futuro pro-
missor na Campanha Gaúcha. Em outubro de 2019, tive a oportunidade de apreciar o primeiro
varietal da Assyrtiko. Estava muito equilibrado, com aromas leves, boa acidez e ótima presença
no paladar. Há também testes, em vinhedos da Vinícola Campos de Cima, da casta portuguesa
Ramisco, da região de Colares, cujas mudas foram cedidas pela Embrapa, a partir do Banco de
Germoplasma. O produtor considera que essa casta lusitana tem grande potencial no Brasil. Um
outro projeto é o da casta georgiana Saperavi, que já vem produzindo os primeiros vinhos na Ser-
ra Gaúcha, com grande tipicidade. Segundo James, precisamos disso: aromas e sabores distintos,
novos, para fugir da "mesmice". Diz ele: ''Acredito ser a Saperavi a única uva capaz de destronar a
Cabernet Sauvignon". No litoral norte gaúcho, James vem trabalhando com as castas Alfrocheiro
e Ramisco, por considerar a boa adaptação delas aos solos arenosos. Enquanto eu terminava o
texto desta edição, James negociava a formação de nova parceria, para cultivo da casta Nosiola,
em vinhedo na Campanha Gaúcha. No período em que vai se ausentar para estudos na Itália,

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 267


todos os projetos serão acompanhados por parceiros, mas ele virá algumas vezes ao Brasil, para
vinificar a casta Montepulciano, na altitude da Serra Catarinense, e a Saperavi, na Serra Gaúcha.
Em 2019, fui brindado por James, idealizador do projeto Saperavi Brasil, com uma das 16 gar-
rafas do primeiro varietal da casta, a partir de muda implantada na Serra Gaúcha, em área do
Viveiro Sinigaglia, no muniápio de Fagundes Varela. Fiquei muito honrado! Meus primeiros
contatos com a Saperavi foram a partir de vinhos georgianos, que me foram apresentados há
muitos anos pelo amigo jornalista Alexandre Lalas. O Negroponte Saperavi 2017 foi vinho de
primeira colheita, da qual foram elaborados 20 litros, pelas mãos competentes do pesquisador
Celito Guerra, DSc, nas instalações da Embrapa Uva e Vinho. É o próprio Celito Guerra quem
nos conta: "Era uma uva de primeiro ano de produção, de modo que, nesses casos, a tipicidade do vinho
ainda não se mostra completamente. Além disso, por desconhecimento das particularidades da uva e do vinho,
o elaboramos seguindo um protocolo padrão de vinificação clássica, com 8 dias de maceração e remontagens
suaves. Precisamos ajustar melhor o protocolo à potencialidade da uva. Desde já o vinho se mostrou promissor.
Mas ainda há muito a ajustar, para revelar o real potencial da uva. Não me arrisco ainda a definir uma região
como sendo a mais promissora para o cultivo da Saperavi, no Brasil. Para isso conto com o apoio do James,
que a implantou em diferentes locais". Levei a garrafa do Negroponte Saperavi 2017 (12,0%) para
apreciar com as iguarias do chefe João Carlos, no Giro 867, esse precioso restaurante escondido
entre as matas de Vargem Grande, aqui no Rio. Pedi ao João que cuidasse da garrafa, que foi
aberta com todo o cuidado. A cor mostrou logo uma das marcas da uva: cascas muito escuras,
levando essa tintura ao vinho. Os aromas mostraram-se muito complexos, ainda novos para a
nossa experiência olfativa da casta. No paladar, o ataque foi forte, com acidez elevada e taninos
marcantes, somente amenizados com o tempo na taça e muito agito. Diante desse perfil, João
propôs um desafio ao vinho: harmonização com uma Bruschetta Gamberetto. Na descrição do
próprio chefe João Carlos: "Prato típico italiano com sotaque peruano - pão de fermentação lenta, com
chia e linhaça dourada, gotas de pimenta cremosa no pão, camadas de alface baby crespa, cebola roxa fininha
e camarão do mar conservado no azeite, sob chuva de flor de sal". A verdade é que as bruschettas rece-
beram o Negroponte Saperavi 2017 numa harmonização excelente, ainda que aparentemente
heterodoxa. Agora, o produtor James Martini Carl prossegue avaliando o desenvolvimento das
plantas, com os diversos viticultores parceiros que a implantaram nas mais variadas regiões do
Brasil. Com certeza, muito brevemente, teremos grandes varietais da Saperavi em nossa terra.
Mas ele não para por ali. Basta constatar bom tratamento de alguma casta, por algum viticultor,
de alguma região, que lhe propõe parceria e vinifica. Recentemente, descobriu uva Glera (Pro-
secco) de muita qualidade, num vinhedo em São Valentim do Sul. Colheu e vinificou em vinho
tranquilo. O Prosecco 2018 é um vinho de alto padrão: cor palha brilhante, com leves reflexos,
esverdeados, aromas de frutas brancas, como a pera, e uma ótima presença no paladar.

268 Rogerio Dardeau


TEMPO III

Primeira expansão territorial da


vitivinicultura brasileira de vinhos finos
..lO--A vitivinicultura de vinhos finos
~· no Vale do São Francisco

Lugares onde vinhos finos são elaborados, entre os estados da Bahia e Pernambuco,
no Vale do Rio São Francisco (hoje considerada zona de produção "Juazeiro e Petrolina",
pelo Decreto 8.198/ 2014). Tecnicamente falando, Vale do Submédio São Francisco (VSMSF) .

Cf::A RÃ l'ARAIB.4

O agricultor e empresário Mamoru Yamamoto, conhecido como "O Caçador de Sonhos",


nascido em Birigui, SP, é, sem dúvida, o protagonista da vitivinicultura do Vale do São
Francisco. Foi ele quem vislumbrou as possibilidades do cultivo de viníferas em suas terras,
no município de Casa Nova, BA, e logo atraiu nossos especialistas da Serra Gaúcha. A ida de
produtores gaúchos para o Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, configura uma fase
importante de nossa vitivinicultura, quando se assumiu a realidade de novos perfis de vinhos,
como acontece em outros países produtores. É muito interessante: a migração para o Vale do
São Francisco aconteceu entre o final dos anos 1970 e meados da década de 1980. Só quase
vinte anos depois, a partir do ano 2000, haveria o movimento de implantação de vinhedos de
viníferas em Santa Catarina e Paraná, não mais somente por rio-grandenses emigrados, mas
também por nativos das regiões escolhidas. O Vale do Rio São Francisco, chamado rio de
integração nacional, está no Paralelo 8°S; despertou para a vocação da fruticultura irrigada a
partir dos anos 1970, na Fazenda Milano, em Santa Maria da Boa Vista, PE. Logo se viu que
era possível ter bons resultados com as uvas de mesa. Viníferas começaram a ser implantadas
nos anos 1980, por meio de parceria da Fazenda Milano com a Maison Forestier. Ali, as
videiras encontraram solo e insolação adequados. No entanto, em função da constância da
temperatura, as plantas não têm o descanso de que precisam. O clima quase não varia entre
as estações. A amplitude térmica (variação de temperatura entre o dia e a noite) é inferior
àquela apreciada pela videira. A uniformidade da temperatura entre o dia e a noite engana as
plantas, que se põem a reproduzir o ciclo vegetativo com maior velocidade. A consequência
são cinco safras a cada dois anos. Desde 2006, o Laboratório de Enologia da Unidade da
Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), desenvolve pesquisas com as variedades implantadas.

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 271


Já se sabe que as castas brancas Moscato Canelli e Chenin Blanc, além das tintas Alicante
Bouschet, Syrah/ Shiraz e Tempranillo, estão muito bem adaptadas. Uma das características já
identificadas nos vinhos daquela região é que tendem a ser breves; não desenvolvem aptidão
de envelhecimento. Isso não é um demérito; é apenas um aspecto do terroir. Ao apreciarmos
um vinho do Vale do São Francisco, é preciso ter em mente as singularidades do terroir. Isso
permitirá uma degustação sem preconceitos. Há quem diga que "são rústicos os vinhos finos do
Vale do São Francisco e que vão melhorar, vão evoluir, em qualidade". Eu, porém, penso que essa
rusticidade pode não ser um problema, mas uma característica. Talvez aqueles consumidores
e avaliadores estejam em busca de um outro vinho, mais global. Prefiro admitir o frescor, a
acidez e a brevidade como manifestações daquele terroir exótico, pelo menos por enquanto.
Sim, enquanto novas tecnologias não fizerem transformações. A Embrapa Semiárido vem
tendo presença significativa nos estudos e no acompanhamento das iniciativas na região, por
meio de diversos profissionais, dentre os quais destaco Giuliano Elias Pareira.

Associação de Produtores

Vinho Vasf - Instituto do Vinho do Vale do São Francisco


São associadas as seguintes vinícolas: Adega Bianchetti; Botticelli; Garziera; Santa Maria;
Terranova.

GENTE QUE ELABORA VINHOS FINOS NO VALE DO SÃO FRANCISCO


Quando lançamos o livro Vinho fino brasileiro, em 2015, considerávamos os produtores de
vinhos finos da região do Vale do São Francisco como um grupo à parte. Entendíamos que
formavam um grupo ainda dependente de estudos mais aprofundados, em razão principalmente
de haver ali chegado apenas para a produção de uva. Hoje, porém, já encontramos diversas
cantinas nas quais são processadas as colheitas, com resultado em vinhos de grande tipicidade.
Mais uma vez, gente que estudou, gente que aprendeu, gente que criou novos vinhos, naquele
ambiente novo. O que se verifica é que os vinhos nascidos ali evoluem mais rapidamente na
garrafa. Então, devem ser bebidos ainda jovens. Os vinhos do Vale do São Francisco não vêm
demonstrando capacidade de envelhecer, salvo em raros e pequenos microterroirs. Como se
observa, o perfil dos vinhos está mais bem desenhado e já é possível categorizar os produtores
segundo a proposta geral que faço, nos cinco grandes grupos sugeridos: Grupo I - produtores
tradicionais de grande porte; Grupo II - produtores tradicionais de médio porte; Grupo III
- produtores tradicionais de pequeno a médio porte; Grupo IV - vinícolas butique; Grupo
V - vinhos de autor ou de garagem. Os municípios são: Casa Nova, Curaçá e Juazeiro, no
estado da Bahia, além de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, no estado de
Pernambuco.

272 Roge ri o D ard ea u


CASA NOVA, BA

TERRANOVA, Vinícola (antiga Fazenda Ouro Verde)


Miolo Wine Group
Gr I - 2000 - VBdT - (I) EnoT
miolo.com.br
Empreendimento localizado no Vale do São Francisco, com 200
ERRANOVA hectares de vinhedos irrigados, segmentados em 45 parcelas, e

,f grande cantina, em que são elaborados, aproximadamente, qua-


tro milhões de litros de vinhos, sendo dois milhões para espu-
mantes e vinhos tranquilos, e os restantes para destilação. Além
da ampla linha de vinhos Terranova, a Miolo elabora, ali, o Single Vineyard Syrah 2017, com
uvas do Vinhedo do Mandacaru, Quadra 14, Parcela A, com estágio de 12 meses em barricas de
carvalho francês, e o Testardi Syrah, também com passagem por barricas de carvalho francês. É
também produzido na Vinícola Terranova o Miolo Brandy Imperial 15 anos, elaborado em soleras,
como na Espanha, sucessor do homônimo de 10 anos.

CURAÇÁ, BA

VINUM SANCTI BENEDICTUS


Gr V - 2015 - VBdT* - (I)
José Figueiredo, o Figa, entre amigos, nasceu em Ribeirão Peque-
no, distrito de Laguna, em Santa Catarina. O trabalho o levou para
São Paulo, onde descobriu não somente ser vocacionado ao vinho,
mas apaixonado. No começo dos anos 1980, ele se tornou somme-
lier do La Tambouille. Isso o levou a estudar muito. "Quanto mais
VlnumSJIKrifknr..Ucnn
estudava vinho, maior era meu encantamento. Tudo o que eu via sobre vi-
nhos, eu comprava e lia. Essa grande busca pelo aprender me levou a ter um
acervo pessoal bastante considerável sobre o assunto", afirma ele. Como natural consequência de tanta
aplicação, em 1990 Figueiredo foi eleito campeão, no primeiro concurso realizado pela ABS-SP
e primeiro realizado no Brasil. Por todo esse tempo, sonhava com a possibilidade de elaborar o
próprio vinho. Ele conta: "Quando ganhei o campeonato, isso meu deu muita mídia. A década de 90 foi
marcada pela abertura de mercado. Bebiam-se vinhos dos 4 cantos do mundo, alguns de procedências bastante
duvidosas. Concorriam com os vinhos brasileiros deslealmente, uma vez que já tínhamos algumas vinícolas
de bastante qualidade. Naquele período, eu estava fazendo um estudo de viabilidade de implantação do meu
vinho ou na Serra Catarinense, ou em Quarai, no RS. Foi quando resolvi escrever e apresentar um docu-
mentário para potencializar nossos vinhos e quebrar preconceitos, que saiu anexo à capa da revista Vinho
Magazine e foi comercializado por eles e por outras alternativas, na época, com o título Vinhos Brasileiros
de Qualidade. Fiz parte, também, da confraria de vinhos da Playboy e me lembrava de que, na edição de
maio de 1990, fora eleito o melhor vinho tinto brasileiro um Cabernet Sauvignon do Vale do São Francisco.
Vim para cá para ver se era peça única ou tinha mais coisas (risos). Mais do que incluir os vinhos, eu me
incluí no Vale. Desafio existir outra região enológica tão ímpar. .. Assim me aportei por aqui na terça-feira

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 273


de carnaval de 2003 ... ". Em julho de 2016, foram implantadas 1.500 plantas das variedades tintas
Syrah, Touriga Nacional e Tannat, além das variedades brancas Sauvignon Blanc e Chardonnay.
Em janeiro de 2017, a área foi ampliada com 400 plantas de Syrah, mais 100 plantas de Malbec.
Finalmente, em maio de 2017, mais 700 plantas da variedade Syrah e 700 plantas de Malbec,
atingindo 3.400 plantas, em 0,75 hectare. Desde a implantação do vinhedo até 2018, quando se
afastou para um pós-doutorado, todo o processo foi orientado por Giuliano Pereira, pesquisador
da Embrapa Semiárido, com Doutorado em Enologia, em Bordeaux, um entusiasta do projeto.
Diz Giuliano: "Nossa filosofia é a busca incansável pelo vinho perfeito. Brinco sempre que é o vinho que eu
gostaria de beber. Cada planta é tratada individualmente. Os cuidados são ramo a ramo. Apenas o ramo e
as folhas. Nenhum broto ou gavinha. Baixo rendimento por planta com severa seleção de cachos. Tudo para
concentrar nutrientes nos bagos. Nossa colheita é manual e sempre noturna, privilegiando as horas mais frias
da noite. O desengace é manual, com rigorosa seleção de frutos". São dois ciclos anuais. Um no primeiro
semestre e outro no segundo semestre, com um repouso de 60 dias. Nesse período de descanso,
as plantas continuam sendo 'nutrirrigadas'. Cotidianamente o vinhedo é visitado e inspecionado,
para a retirada dos brotos que as plantas insistem em emitir. Dessa maneira, prossegue Giuliano,
"preservamos a concentração total de energia da planta. Assim sendo, quando podamos, uma poda radical
sempre com a lua na fase minguante, literalmente uma poda muito curta, com apenas 3 gemas por vara,
ocorre uma uniformidade muito grande na brotação. E quando o ciclo se encerra, por volta de 120 dias, um
novo descanso e os mesmos procedimentos". A primeira safra foi em 2017, com trezentas garrafas de
um assemblage entre Syrah (65%), Touriga Nacional (25 %) e Tannat (10%) . A segunda safra foi
em 2018, com 600 garrafas de um outro corte, dessa vez, entre Tannat (55%) e Syrah (45%). O
projeto é construir uma cantina na qual se elaborem entre 6.000 e 8.000 garrafas de vinhos tran-
quilos brancos e tintos por ano. Por enquanto, porém, as vinificações têm sido realizadas na Esco-
la do Vinho, do curso superior de Enologia do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Petro-
lina/PE. A próxima vindima, com previsão um pouco maior, será uma parceria com o Instituto do
Vinho do Vale do São Francisco (VinhovasO e o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Intep).
Além dos vinhos de estilo clássico, como os dois já elaborados, José Figueiredo pretende elaborar
uma linha menos sofisticada, para que a comunidade local tenha acesso ao vinho de Curaçá. Será
a linha Marujada, numa homenagem à tradicional e secular festa (desde o Brasil Império) que os
escravos faziam para São Benedito, patrono dos escravos e copadroeiro de Curaçá. As orientações
enológicas são do corpo docente do Curso Superior de Enologia do Instituto Federal de Petrolina.
As decisões finais, porém, são integralmente de José Figueiredo, que sonha com um tinto passado
por barrica bordalesa francesa e um Chardonnay potente, também barricado.

LAGOA GRANDE, PE

BIANCHETTI TEDESCO, Adega


Gr II - 1991 - VBdT - (I) EnoT
vinhosbianchetti.com.br
Empreendimento iniciado pelo casal de enólogos gaúchos Ineldo e
Izanete Bianchetti Tedesco, no paralelo 8°59'49", de latitude Sul.
Ineldo pode ser considerado um expert no Vale do São Francisco,

274 Ro ge rio Dardea u


pois iniciou-se na região ainda na década de 1980, quando era profissional a serviço da Maison
Forestier. Em 2004, a empresa converteu toda a produção em orgânica, obtendo em 2008 o
certificado do Instituto Biodinâmico (IBD) . Na safra de 2007, a vinícola apresentou os orgânicos
Bianchetti Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Barbera e Sauvignon Blanc.

DUCOS, Vinícola
Gr II - 2004 - VBdT* - (I)
ducos.com.br
Esse empreendimento, com 124 hectares de área e cantina, passou
por diversas mãos, iniciando atividades com franceses e tendo ita-
lianos numa outra fase. Quando foi inaugurada, a Ducos Vinícola
D ucos
VINICOIA dedicava-se à elaboração de vinhos brasileiros de terroir. Logo, re-
cebeu elogios sobre o varietal Château Ducos Petit Verdot 2005, na
época obra do enólogo Hubert Pommier. A vinícola buscava apro-
fundar-se nas castas Petit Verdote Syrah. Embora o nome da empresa seja grafado com um "c",
os vinhos mais recentes, em razão da nova constituição societária, que não poderia utilizar a
grafia anterior, apresentam seus nomes com dois "c": Château Duccos Cabernet Sauvignon 2008 e
2010, Syrah 2008 e 2010, Petit Verdot 2008, além de um Château Duccos Assemblage 2009, elabora-
do com 50% de Petit Verdot + 25% de Cabernet Sauvignon + 25% de Syrah. A vinícola deixou o
segmento de vinhos finos e ingressou no segmento de vinhos comuns pelo Vale das Videiras tinto
suave, a partir da casta Bordô.

MANDACARU, Vinha e Vinhos


Gr III - 2000 - VBdT - (I) - EnoT
Empreendimento do Grupo São Braz, de Genaldo de Oliveira Braz e Neuma Leite Pires Braz,
ainda em implantação. Cantina com projeto da consagrada arquiteta Vanja Hertcert, localizada
em terreno privilegiado, com acesso rodoviário e fluvial. O Velho Chico corre ao lado. Isso será
elemento de grande valia para a atividade enoturística. As instalações da cantina aproveitam
estrutura física da antiga Vinícola Ducos.

TERROIR DO SÃO FRANCISCO, anterior Vitivinícola Lagoa Grande - Vinhos Garziera


Gr II - 1978 - VBdT - (I) - EnoT

-
Empreendimento de Jorge Garziera para produção de uvas de
mesa. Porém, dos 200 hectares cultivados, dedica um quarto às
castas Ruby Cabernet, Petite Syrah, Cabernet Sauvignon, Bar-
bera, Moscatel e Sauvignon Blanc. Elabora as linhas Garziera e
Carrancas, esta última mais popular, de vinhos correntes. Os rótulos são: Garziera Shiraz, Garziera
Cabernet Sauvignon, Carrancas Cabernet Sauvignon/Shiraz, Carrancas Vinho Fino Branco Suave, Carran-
cas Vinho Fino Tinto Suave e Espumante Moscatel (Asti).

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 275


SANTA MARIA, Vitivinícola - VINIBRASIL
Gr II - 2003 - VBdT - (I) - EnoT
vinibrasil.com.br
Projeto iniciado pela associação entre a Vitivinícola Santa Maria,
o grupo português Dão Sul e a importadora Expand. Com o fim
desta última, o empreendimento é hoje controlado pelo sócio
português Global Wines. São 1.600 hectares de área, sendo 200
hectares de vinhedos em plena produção. Um protocolo firmado com o Instituto Superior de
Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa, viabiliza pesquisas de excelente nível em viti-
vinicultura. A cantina está na Fazenda Planaltino, com instalações e equipamentos sofisticados.
A Vitivinícola Santa Maria disponibiliza atualmente no mercado mais de vinte rótulos, inclusive
em garrafas magnum e embalagens bag-in-box. Estão organizados em várias linhas: Paralelo 8 (su-
perpremium, atualmente com um único vinho, elegante corte entre Cabernet Sauvignon, Syrah,
Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Aragonez), Rio Sol (espumantes), Rio Sol (vinhos tran-
quilos) , Allure (espumantes), Vinha Maria (vinhos tranquilos), Adega do Vale, além do Rendeiras
Syrah e do Matuto Cabernet Sauvignon . O Rio Sol Assemblage 2004, corte entre Cabernet Sauvignon,
Syrah e Alicante Bouschet, estagiou por seis meses em carvalho francês (85%) e carvalho ame-
ricano (15%) e permaneceu por mais seis meses engarrafado, na adega, lá mesmo no paralelo 8.
Chegou ao mercado arrebatando 83 pontos na revista Wine Spectator! O Rio Sol Reserva Alicante
Bouschet vem demonstrando rara aptidão para a guarda. Já o apreciamos com mais de oito anos,
mostrando notas de envelhecimento, com muito boas presenças aromática e gustativa. O Vinha
Maria Reserva 2007, com 13,5% de teor alcoólico, é corte entre Touriga Nacional e Cabernet
Sauvignon. Tal vinho é marcante, mostrando equilíbrio e elegância. As safras seguintes também
vêm tendo muito boa evolução. A empresa pesquisa ainda a adaptação das castas Tinto Cão e
Vinhão. Por muitos anos, o enólogo foi o talentoso português João Santos, que formou ótima
equipe e retornou a Portugal, em 2018, deixando em seu lugar o conterrâneo Ricardo Henriques.

PETROLINA, PE

QUINTAS SÃO BRAZ, Vinícola


Gr III - 2011 - VBdT - (I) - EnoT
Empreendimento ainda em projeto, quando do fechamento desta edição. Pertence ao mesmo
grupo empresarial da Vinícola Mandacaru.

276 Rogerio Dardeau


SANTA MARIA DA BOA VISTA, PE

VALE DO SÃO FRANCISCO, Vinícola do - Vinhos Botticelli


Gr II - 1980 - VBdT - (I) - EnoT
A Fazenda Milano, atual Vinícola Vale do São Francisco, é um dos
BOTTICELLI empreendimentos vitivinícolas mais amigos do Vale do São Fran-
Arte- ettúVúz!U'-5 cisco, idealizada e iniciada por Franco Pérsico. Considera-se que
foi a primeira propriedade a implantar castas viníferas naquela re-
gião, no distante ano de 1982. São 150 hectares, nos quais são plantadas as viníferas francesas
Cabernet Sauvignon, Tannat, Petite Syrah e Chenin Blanc, além da espanhola Tempranillo, das
italianas Barbera e Moscato Canelli, das californianas Flora e Ruby Cabernet, e da portuguesa
Alfrocheiro. O principal vinho da vinícola é o tinto 1501, 100% Cabernet Sauvignon. Elabora
ainda as linhas Botticelli, Botticelli Coleção e Equilibrium.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 277


TEMPOIV

Um novo Brasil vitivinícola


Iniciamos, aqui, contato com uma vitivinicultura
nascida no ano 2000, portanto ainda muito jovem,
com poucas informações vitícolas consolidadas. Em
Santa Catarina e no Paraná, todos os cultivas são
desenvolvidos pelo ciclo normal das videiras, com
colheitas nos verões. Em São Paulo, observam-se
manejas pelos ciclos normal e inverso, dependendo
do lugar de cultivo. Por isso, encontramos vinhos
paulistas de verão e vinhos paulistas de inverno. Em
Minas Gerais, embora também coexistam os dois
sistemas, a maior área de vinhedos é cultivada com
dupla poda e colheita de inverno. No Espírito Santo
e no Rio de Janeiro, os produtores escolheram a
dupla poda, pelo menos até agora. Na Bahia, também
predomina a colheita de inverno. Em Pernambuco,
experimentam-se ambos os sistemas.
Lugares onde vinhos finos são
IJê
elaborados, no estado de Santa Catarina
Santa Catarina vitivinícola

Norte

~ este
Planalto Meio Oeste ou
>,..,.;o-Oeste
Valedo,~; ., é J

Vale do Contestado
Produtores, especialmente, em: / Major
Água Doce, Caçador, Campos Gercino
Novos, Monte Cario, Pinheiro
Preto, Treze Tílias e Videira ui

Serra Catarinense
Produtores, especialmente, em:
São Joaquim, Bom Retiro, Campo
Belo do Sul, Urubici e Urupema

A experiência vitivinícola catarinense, no campo do cultivo de viníferas, para elaboração


de vinhos finos, é bem recente. Começa em 1982, pela iniciativa do advogado (depois
desembargador) Edson Ubaldo, na propriedade Quinta das Vinhas, no município de Campos
Novos, com a implantação de 6 hectares de vinhedos, a 920 m de altitude. Os primeiros
vinhos foram varietais das castas Riesling Itálico e Merlot, elaborados em 1986, pelo enólogo
Jean Pierre Rosier, na Cantina Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão
Rural de Santa Catarina (Epagri), em Videira. Seguiu-se a iniciativa de Genésio Mazon, que,
associado ao agrônomo Carlos Eugênio Daudt, em 1986, começou o cultivo de viníferas, em
Urussanga, tendo elaborado bons varietais, como testemunhou o engenheiro agrônomo e
professor francês, doutor em Economia e Direito Rural, Jean-Lucien Cabirol no trabalho La
Viti-viniculture Brésilienne, apresentado à École Supérieure D'Agriculture de Purpan, França,
em novembro de 1995. Depois disso, o marco foi a instalação, em 1999, da vinícola Quinta da
Neve, em São Joaquim. A quase totalidade dos empreendimentos dessa fase é de empresário
enófilo, que aplica recursos próprios, oriundos de seus negócios principais. São expressivos
os investimentos no setor, mas questões tipo identificação de castas, sub-regiões e outras
ainda estão em andamento. A associação Vinho de Altitude (primeiramente, Acavitis), adiante
citada, é bastante abrangente, geograficamente, e agrupa, sob sua grife, muitas vinícolas,
localizadas em municípios bastante dispersos. Há, porém, especialistas 105 que sugerem
identificar as seguintes sub-regiões, definidas a partir da época de implantação:

105 Ver estudo de: Ferreira, Nubia Alves de Carvalho; Nunes Júnior, Carlos Luiz; Lezana, Álvaro Guillermo
Rojas. Os empreendedores de vinhos de altitude do planalto catarinense. Navus, Revista de Gestão e
Tecnologia, Florianópolis, Senac-SC, v. 1, n. 1, p. 51-66, jul.-dez. 2011.

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 281


* Tradicional: ocupando duas áreas distintas no estado: o Vale do Rio do Peixe, no
Meio-Oeste (Videira, Tangará, Pinheiro Preto, Salto Veloso, Rio das Antas, Iomerê,
Fraiburgo e Caçador), e a área carbonífera, no sul do estado, nos municípios de
Urussanga, Pedras Grandes, Braço do Norte, Nova Veneza e Morro da Fumaça.
* Nova: localizada nos municípios de Nova Trento, no Vale do Rio Tijucas; Rodeio, no
Vale do Rio ltajaí; e Chapecó, no Oeste.
* Supernova ou 'de altitude': assim batizada pelo enólogo Jean Pierre Rosier, localizada
no Planalto Serrano (São Joaquim, Bom Retiro e Urubici).

Considero, todavia, que essas definições ainda carecem de aprofundamento e terão


certamente fortes contribuições da Epagri e de outros organismos ligados à vitivinicultura no
estado, inclusive da própria associação dos produtores.
Enquanto não vemos melhores definições dos terroirs de Santa Catarina para vinhos finos,
reduzidos às próprias microcaracterísticas físicas e culturais, prefiro observar a vitivinicultura
catarinense de vinhos finos em dois grandes espaços: Serra Catarinense e Planalto Oeste,
reconhecendo que há produção em outros municípios isolados.
Encontro vinhos finos e/ou vinhedos de viníferas em, pelo menos: Água Doce, Bom
Retiro, Caçador, Campo Belo do Sul, Campos Novos, Chapecó, Florianópolis, Garopaba
(vinhedos implantados pelos irmãos Álvaro e Vitor Escher), 106 ltajaí, Lages, Major Gercino,
Nova Veneza, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rodeio, São Joaquim, Tangará, Treze Tílias,
Urubici, Urupema e Videira. Na região Uva Goethe, alguns produtores vêm experimentando
vinificações de viníferas compradas de produtores de São Joaquim. A Casa Del Nonno ou
Vitivinícola Urussanga elabora o Casa Dei Nonno Privilege Cabernet Sauvignon . A Vinícola Mazon
ou Vigna Mazon apresenta varietais de Merlot e Cabernet Sauvignon, sob a denominação
Mazon, além do VBdT Plateau Cabernet Sauvignon 2008 e 2009, com 12,8% de teor alcoólico.

Organização de pesquisa

Epagri - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural


de Santa Catarina.

Associação de produtores: Vinho de Altitude (anteriormente denominada Acavitis)


- Associação Vinho de Altitude Produtores e Associados: em São Joaquim - D'Alture
(anteriormente, Vinhedos Terras Altas), Fattoria Monte Alegre, Leone di Venezia, Monte
Nevado, Quinta da Neve, Vinhedos Monte Agudo, Villa Francioni, Villaggio Bassetti, Villaggio
Conti, Vinícola Hiragami, Vinícola Pericó, Vinícola Suzin, Vinícola Vivalti, Zanella Back. E
ainda: Vinícola Thera (em Bom Retiro), Abreu Garcia (em Campo Belo do Sul), Serra do Sol
Vinhos Finos (em Urubici), Villaggio Grando (em Água Doce), Vinícola Santa Augusta (em
Videira), Taipa Meyer (Urupema), Terramilia (em Rancho Queimado).

106 Foram implantados em 2006, no âmbito do projeto Cave Ouvidor, que não prosperou. Veja mais adiante,
neste livro, em Tempo Memória.

282 Rogerio Dardeau


SERRA CATARINENSE
(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)
A partir do ano 2000, a vitivinicultura da Serra Catarinense invade o município de São
Joaquim, que faz fronteira com a região gaúcha dos Campos de Cima da Serra, transformando-o,
sem dúvida, na "capital" dos vinhos finos de altitude de Santa Catarina. Ali, as temperaturas
são baixas no inverno. Isso pode exigir, até mesmo, vinhedos cobertos, para proteção contra
geadas e nevascas. Os verões têm muito boa amplitude térmica. A altitude superior aos 1.000
metros, tão explorada pelos produtores, em forte marketing, pode, sim, ser positiva, mas
desde que a insolação decorrente seja bem utilizada. As colheitas são tardias, se comparadas
com as da Serra Gaúcha, começando pela segunda quinzena de março ou início de abril e
estendendo-se até o início de maio. Os empreendedores em vitivinicultura de vinhos finos, em
São Joaquim, são inegavelmente amantes de vinhos. Na terra da maçã, onde compradores vão
em busca da fruta, que praticamente não exige esforço de venda por parte do produtor, as ações
de plantar videiras, aguardar boa maturação das uvas, elaborar vinhos, engarrafá-los e sair a
vendê-los, lentamente, envolvem paixão. E ainda bem que há vários apaixonados. Considero
ainda, nesse espaço chamado Serra Catarinense, além de São Joaquim, os municípios de
Bom Retiro, Campo Belo do Sul, Campos Novos, Lages, Urubici e Urupema, nos quais já
encontramos vitivinicultores estabelecidos, entre outros.

GENTE que elabora vinhos finos na Serra Catarinense

BOM RETIRO

SANTA EULÁLIA, Vinícola - Vinhos Bandúria


Gr III - 2008 - VBdT - (I)
Empreendimento do engenheiro mecânico José de Medeiros, com
vinhedos próprios e diversas variedades implantadas. Os vinhos
são todos rotulados como Banduria, nas linhas Reserva e Gran
Reserva.

THERA, Vinícola
Gr IV - 2014- VBdT* - (I) - EnoT
vinicolathera.com.br
Complexo enoturístico idealizado por João Paulo Borges de Frei-
tas, um dos quatro filhos de Manoel Dilor de Freitas, o empresá-
rio que criou a Vinícola Vila Francioni, em São Joaquim. O nome
da vinícola é uma homenagem à mãe, Therezinha Borges de Frei-
tas, carinhosamente chamada de Thera pelo marido. O conceito do

Ge n t e. Lugare s e Vin hos do B ra sil 283


projeto procura elementos que reflitam vinho, arte e natureza. A arquitetura é do Studio Archea,
do italiano Marco Casamonti, que projetou, por exemplo, a Cantina Antinori (Antinori nel Chianti
Classico), em Florença. São 8 hectares de vinhedos, em movimento permanente de expansão, em
relação a 20 hectares, até 2023. As castas implantadas são as brancas Sauvignon Blanc, Char-
donnay e Riesling Itálico, e as tintas Pinot Noir, Merlot, Cabernet Franc, Syrah e Sangiovese. A
enologia está sob os cuidados de Átila Zavarize, experiente enólogo, com passagens por outras
grandes vinícolas brasileiras. Os vinhos: Thera Sauvignon Blanc, Thera Rosé, um corte entre
Merlot, Cabernet Franc e Syrah, Thera Chardonnay, Thera Mandai, um corte entre Merlot, Ca-
bernet Franc, Malbec e Syrah, e o espumante Charmat Auguri, com vinho base elaborado em
corte entre Chardonnay (65%) , Pinot Noir (21%) e Riesling Itálico (14%). O empreendimento
conta com um elegante Wine Bar e a Pousada Fazenda Bom Retiro, com sete suítes charmosas.

CAMPO BELO DO SUL

ABREU GARCIA, Vinhos de Altitude


Gr IV - 2005 - VBdT* - (I) - EnoT
abreugarcia.com.br
Sonho do empresário e oftalmologista Ernani Luiz Garcia, que,
com sua esposa, Janaína Abreu Garcia, implantou vinhedos (pou-
co mais de 7 hectares) na Fazenda Campo Belo, a mais de 1.000
metros de altitude, e construiu cantina, sob cuidados profissionais
ABREU"'GARCIA de nomes como os dos enólogos Aparecido Lima da Silva e Jean
Pierre Rosier. A Vinícola Abreu Garcia atua por meio de processos
que preservam o meio ambiente em toda a cadeia produtiva, com o uso de moderno maquinário
italiano na vinificação e o tratamento de resíduos, entre outras iniciativas. As castas implan-
tadas são as de origem francesa Chardonnay, Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Malbec,
Merlot e Pinot Noir, além da italiana Vermentino. Já levou ao mercado algumas edições de um
Chardonnay, com passagem por barrica, outro sem madeira. Mais recentemente, apresentou um
varietal da Vermentino. Entre os tintos, destacam-se o Cabernet Sauvignon (90%), Malbec (5%)
e Merlot (5%), com passagem por barricas francesas (50%) e americanas (50%) , este não mais
disponível, substituído por sucessivas e bem-sucedidas edições do corte Cabernet Sauvignon +
Merlot. Em 2014, a casa vinificou um varietal da Malbec. Os espumantes são também marca
de excelência na casa: Blanc de blanc Nature, Festividad Brut, Rose Brut Charmat, a partir de um
corte a 50% entre vinhos de Cabernet Sauvignon e Merlot, Rose Brut Merlot, e o incrível Geo Brut
100% Vermentino, de extremo frescor. Em 2019, a casa lançou o AMI, um corte entre vinhos da
Sauvignon Blanc de duas procedências: vinhedos próprios e vinhedos da Terramilia, em Rancho
Queimado. Os vinhos são rotulados como Abreu Garcia. O enólogo é o jovem Leonardo Ferrari.
A paisagem belíssima das montanhas nas quais se assenta a propriedade Abreu Garcia é
enriquecida por um sítio arqueológico. Trata-se de uma praça cerimonial, com um complexo
funerário, em que foram encontradas 12 ossadas humanas. O conjunto, que conta ainda com
diversas moradias subterrâneas, integra os sistemas de assentamento das populações Jê, do
Sul do Brasil, no âmbito do projeto "PaisagensJê do Sul do Brasil", cujas pesquisas, inclusive

284 Rogerio Dardeau


de vestígios arqueobotânicos, vêm sendo orientadas pelo antropólogo Rafael Cortelleti, PhD,
da Universidade Federal de Pelotas, em associação com a Universidade de Exeter, do Reino
Unido. Se você, como eu, gosta de história e arqueologia, não deixe de conhecer a vinícola
Abreu Garcia.

MONTE CARLO

CASA PISANI, Vinícola


Gr IV - 2000 - VBdT* - (I)
casapisani. wordpress.com
Iniciativa do empresário Caio Pisani, do Grupo Imaribo, com ati-
CASA PIS'w'NI vidades centradas em madeira e celulose. Os vinhedos localizados
na Serra do Marari, no meio-oeste catarinense, têm as variedades
brancas Chardonnay e Viognier, além das tintas Cabernet Sauvig-
non e Merlot, entre outras. Elaborava varietais brancos e tintos, além de um corte tinto e espu-
mantes, brut e rosé demi-sec, elaborados pelo método Charmat. O Casa Pisani Cabernet Sauvignon
Merlot passava oito meses em barricas francesas e americanas e tinha 14,0% de teor alcoólico.
Bruno Pisani e o enólogo português Miguel Viseu comandavam diretamente a vinícola, que en-
cerrou as atividades, mas mantém os vinhedos e vende as uvas a outros vinicultores.

RANCHO QUEIMADO

ALTO DA INVERNADINHA, Cantina


Gr III - 2007 - VBdT - (I)
Projeto de vinhos finos de pouca intervenção desenvolvido pelo
professor de matérias de Direito Caio César Lopes Peiter e famí-
lia. Com experiência de vinhateiro desde os anos 1980, implantou
seus vinhedos em 3 hectares, com a branca Chardonnay e as tin-
tas Cabernet Sauvignon, Merlot, Alicante Bouschet, Nero D'Avo-
la, Barbera e Pinot Noir. O manejo da vinha vem perseguindo a aplicação de cultivo orgânico e
orientação biodinâmica. A primeira vinificação foi em 2010, levando aprendizado ao produtor,
que seguiu avançando. A cantina é própria, edificada em patamares, privilegiando vinificações
com movimentos por gravidade. Em 2017, Caio expôs, pela primeira vez, seus vinhos numa
feira, lá mesmo em Rancho Queimado, com repercussão muito boa. Foram apresentados um
espumante brut, um moscatel, um vinho tranquilo Chardonnay e outro Merlot, todos rotula-
dos como Alto da Invernadinha. A assessoria técnica está por conta do Laboratório Enolab, de
Flores da Cunha, RS. O empreendimento contempla a produção de queijos e se prepara para
o enoturismo.

Gen t e. Lugares e Vin hos do Bras il 285


TERRAMILIA
Gr III - 2009 - VBdT - (I)
Empreendimento familiar iniciado em 2009, no município de
Rancho Queimado, com grande compromisso ambiental e de sus-
tentabilidade. São vinhedos de Chardonnay e Sauvignon Blanc,
com uso intensivo de conhecimentos técnico-científicos no mane-
jo, com monitoramento permanente. As vinificações são realizadas na cantina da Vinícola Abreu
Garcia, em Campo Belo do Sul.

SÃO JOAQUIM

CATA TERROIRS Strechar & Marchiori Lida.


Gr V - 2019 - VBdT* - (I)
Eduardo Strechar, embora jovem, acumula ampla experiência em
enologia. Depois de se graduar na Austrália, onde iniciou a vida
profissional, passou por três safras, no Chile, lado a lado com o
respeitado enólogo francês François Massoc, e na Toscana. Chegou
ao Brasil e logo foi para a Serra Catarinense, atuando em diversas
vinícolas e assinando vinhos com Saul Bianco e Humberto Comi,
entre outros produtores. André Marchiori é um médico gaúcho,
residente no Rio de Janeiro, que sempre desejou ter vinhos próprios, razão pela qual viaja fre-
quentemente ao Sul, em busca de novidades. Em uma dessas viagens, encontrou Eduardo, con-
versaram e nasceu uma parceria empresarial enológica, de caráter pessoal, exclusivo. A ideia de
ambos é marcar terroirs. Uvas escolhidas em vinhedos diversos, especialmente em São Joaquim,
Urubici e Urupema, e cantina de terceiros. Tudo começou em 2019 e devemos esperar grandes
vinhos para breve. A produção inicial é de, aproximadamente, 5.000 garrafas, mas o projeto
estabelece, para o futuro, a marca de 20.000 garrafas/ano. Os primeiros vinhos são varietais
da Chardonnay, um com uvas de São Joaquim, outro com uvas de Urupema; Sauvignon Blanc
com 70% de origem Urubici e 30% de São Joaquim; outro Chardonnay, mas este barricado em
tonéis de 600 litros de madeira francesa, para uvas de Urupema; Malbec, com uvas de Urupema,
barricado; Cabernet Sauvignon, com uvas dos Vinhedos do Monte Agudo, em São Joaquim. As
vinificações são realizadas na cantina da Vinícola Santa Augusta, em Videira. Ah, sim, o nome,
muito espirituoso, não? Um belo trocadilho: cata em espanhol significa prova. Uma 'cata de vinos'
é uma prova de vinhos. Em português, cata é procura. Então, é isso mesmo: André e Eduardo
estarão sempre procurando terroirs, para a elaboração de vinhos exclusivos. As garrafas têm cáp-
sulas personalizadas. Os rótulos trazem, inclusive, a localização precisa dos vinhedos de origem,
por coordenadas geográficas.

286 Rogerio Dardeau


D'ALTURE, Vinícola
(ex Vinhedos Terras Altas)
Gr IV - 2002 - VBdT* - (I)
Projeto iniciado por Giovane Franzoi, com mais 11 amigos agrô-
-n,~ VINÍCOLA
nomos, em 7 hectares de vinhedos, sob a denominação Terras
Altas. Transferido, desde 2011 , ao empresário boliviano do ramo
metalúrgico Roberto Carlos Chávez Soto, conta atualmente com
14 hectares de vinhedos, distribuídos em oito quadras, numa pro-
priedade com área total de 80 hectares, sempre em altitudes acima dos 1.000 m. As castas
implantadas são as brancas francesas Chardonnay e Sauvignon Blanc, além das tintas francesas
Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec, que partilham espaço com as italianas Montepulciano
e Sangiovese. A proposta da vinícola é elaborar tanto vinhos jovens sem estágio em barricas,
quanto vinhos barricados, com aptidão à longevidade. Chávez produz vinhos finos também em
sua terra natal. A cantina foi edificada em estilo toscano e está a cargo do jovem e talentoso
enólogo Adão Cardoso. A vinícola se ocupa, exclusivamente, com vinhos brasileiros de terroir.

FATTORIA MONTE ALEGRE


Gr IV - 2016 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empresário Joélcio Fronza, em propriedade de 14 hectares, com vinhedos implan-
tados em 2 hectares e perspectiva de chegar a 6 hectares. As variedades são as tintas Montepul-
ciano, Sangiovese, Vermentino, Cabernet Franc, além da branca Sauvignon Blanc. Existe projeto
de conversão a vinhedos orgânicos e biodinâmicos, assim que se firmem as plantas. A previsão
é de uma primeira colheita em 2022.

HIRAGAMI, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (I)
Fumio Hiragami nasceu no Japão, no pós-guerra. Desde os anos
1970 está no Brasil, no segmento de fruticultura (Hiragami's
Fruit), com muito êxito empresarial. O cultivo de Vitis Vinífera
era só mais um passo. Ainda não tem cantina. Seus vinhos são
VIN ICOLA elaborados em Treze Tílias, na Vinícola Kranz. Apresentou seus
HIRAGAMI primeiros vinhos na Expovinis 2012. Foram três varietais tintos e
um branco: Torii Cabernet Sauvignon 2008, com 14 meses de estágio
em barricas de carvalho, Torii Cabernet Sauvignon 2008, com 12 me-
ses de estágio em barricas de carvalho, Torii Merlot 2010 e Torii Sauvignon Blanc 2010. Além dos
vinhos tranquilos, mostrou também dois espumantes: Kanpai Rosé Brut e Kanpai Rosé Demi Sec.
Os vinhos tranquilos são todos rotulados como Torii, recordando os míticos portais japoneses
pelos quais é possível passar do profano ao sagrado. Os espumantes são Kanpai, a saudação dos
brindes, em japonês, tal como dizemos "Saúde!", no Brasil. O consultor de Enologia é Arlindo
Menoncin.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 287


LEONE OI VENEZIA - SP Bianco Atividades Agrícolas
Gr IV - 2011 - VBdT* - (I) - EnoT
leonedivenezia.com.br
Empenho pessoal do agrônomo Saul Paulo Bianco, que, depois de
atuar por muitos anos na indústria fumageira, viajou ao berço da
própria família, o Vêneto, estudou Enologia no Centro Regional
para a Viticultura e Enologia, em Conegliano, participou de todo
um ciclo de vinificação e regressou ao Brasil para iniciar o projeto
próprio, com a esposa, Alcinita. Natural de Caxias do Sul, Saul
viveu no mundo do vinho até a juventude, quando se decidiu pela
Engenharia Agronômica, exatamente para trabalhar a vinha. Ele trazia nas veias o DNA do avô
Guerino Bianco, tanoeiro, e do pai, Hygidio Bianco, vinhateiro. Como nem sempre se conse-
gue realizar integralmente o planejado, assim que concluiu agronomia, ele foi aprovado numa
seleção para a Cia. Souza Cruz e lá trabalhou por 32 anos, seu único emprego. Ao projetar a
aposentadoria, porém, escolheu o retorno às atividades que conhecera na infância. Identificou
então a Serra Catarinense e implantou vinhedos numa área aproximada de 5 hectares. A pro-
priedade tem área total de 15 hectares, no município de São Joaquim/ Se, numa altitude média
de 1280 metros. A Vinícola está integrada à paisagem do Morro Agudo e do Vale do Rio Anto-
nina. Em 2008, iniciaram-se os trabalhos de infraestrutura e o plantio das primeiras parreiras. A
proposta de Saul Bianco é a de privilegiar as cepas italianas; por isso, depois de muitos testes,
com mais de vinte variedades viníferas italianas, definiu as seguintes, com as quais elaboras
seus varietais e cortes: brancas - Garganega, Gewurztraminer, Grechetto Verdello e Vermenti-
no; tintas - Aglianico, Montepulciano, Primitivo, Refosco dai Peduncolo Rosso e Sangiovese.
Essa é a marca da Leone di Venezia, que se prepara inclusive para a elaboração de um Amarone.
Aliás, sobre isso, vale reproduzir explicação do próprio Saul: "Três uvas tintas são cultivadas com
paixão: a Rondinella, a Corvina e a Molinara, para a produção de um vinho especial, com uvas apassitadas,
no estilo Amarone della Valpolicella. Essas três castas especiais estão prosperando bem e estão ensinando,
cada uma, sobre o próprio comportamento, rumo à integração planta, clima, solo e ser humano". A can-
tina própria é ampla e muito bem equipada, com capacidade para uma produção de 40 mil
garrafas/ano. A arquitetura foi inspirada no palácio italiano Villa di Maser, de 1564, obra prima
de Andrea Paládio, arquiteto vicentino, que imprimiu, com sua genialidade, o estilo construtivo
que marca até hoje a arquitetura da Itália. As instalações contemplam um receptivo com área de
degustação, um pequeno restaurante, que opera em eventos agendados, além de quatro suítes
para hospedagem, abertas em ocasiões especiais, como em épocas de vindimas. Os interiores
têm inúmeros toques de decoração por Cita Bianco, esposa do empreendedor. Kátary Souza
responde pela área comercial e pelo receptivo, na cantina. Saul é hoje parceiro de diversos pro-
dutores de vinhos de Santa Catarina. Os destaques são os varietais brancos da Garganega e da
Gewurztraminer, o corte branco Rialto, os tintos de Montepulciano, de Refosco dai Peduncolo
Rosso e de Sangiovese, além do corte Palladio, a partir de quatro uvas italianas, com estágio de
18 meses em barricas de carvalho. Embora com excelente formação técnica, Saul Bianco tem
assessoramento do enólogo Eduardo Strechar e adota o princípio de manter enólogo de canti-
na, no caso, Maikely Paim, egressa da primeira turma da Graduação em Viticultura e Enologia,
pelo Instituto Federal de Santa Catarina, campus Urupema.

288 Ro ge rio Dardea u


MONTE AGUDO - Terroir de Altitude, Vinhedos do
Gr IV - 2005 - VBdT* - (I) - EnoT
monteagudo.com. br
Sonho realizado pelos amigos Leônidas Ferraz (pediatra) e Alceu
Muller (produtor de grãos), com a consultoria do enólogo Jean
Vl'.\JHEDOS DO .\10NTE AGCDO
Pierre Rosier e a ação da sommeliere Carolina Ferraz, filha de Leô-
• nidas. São 6,3 hectares de vinhedos próprios, implantados a 1.280
metros de altitude, com as variedades Chardonnay, Sauvignon
Blanc, Merlot e Cabernet Sauvignon a partir de cepas e porta-enxertos importados da França. O
empreendimento não conta com cantina própria, mas tem espaço enoturístico e gastronômico
com ampla e belíssima vista da Serra Catarinense. Aliás, a vinícola Vmhedos do Monte Agudo foi
a protagonista na realização de degustações orientadas dos próprios vinhos, ao pôr do sol belíssi-
mo que dali sempre se pode observar. Os vinhos são elaborados em cantina parceira e impressio-
nam pelo equilíbrio. No fechamento desta edição, encontrávamos os seguintes: espumante extra
brut Sinfonia Blanc de Blancs, método Charmat, 100% Chardonnay; espumante Sinfonia Rosé,
a partir de um corte entre Merlot (65%) e Cabernet Sauvignon (35%); Vivaz Sauvignon Blanc;
Chardonnay Unoaked; Sublime Rosé; corte Cabernet Sauvignon (65%) + Merlot (35%), um
clássico da casa barricado por 12 meses em carvalho francês (2/3) e americano (1/3), de primei-
ro e segundo usos, e os rótulos Expressões de Altitude, com Chardonnay (10 meses em barrica)
e o Cabernet Sauvignon 2012, barricado em carvalho francês novo, por 18 meses. Em novembro
de 2013, a vinícola foi varrida por um tornado, documentado por Ricardo Simone, que fazia
filmagens para o site da vinícola, na presença de Patrícia Ferraz, irmã de Carolina. Felizmente,
a casa logo se recuperou do susto e dos prejuízos. Atualmente, Carolina e Patrícia têm a gestão
integral da vinícola, sempre com VBdT e uma fina recepção, cheia de charme e acolhimento.

PERICÓ, Vinícola
Gr IV - 2003 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaperico.com.br
Iniciativa do empresário Wandér Weege, descendente de famí-
lia imigrante pomerana, amante de vinhos e titular da indústria
Malwee Malhas. Em 2018, ele transferiu a vinícola aos empresá-
ESPUMANTES
& VINHOS
rios Carlinhos Bogo Júnior e Diego Censi, com o vinicultor francês
Gauthier Gheysen. O novo grupo, além de manter as linhas de vi-
nhos finos, incrementou o enoturismo, com degustações orientadas e visitas guiadas à vinícola.
São 18 hectares de vinhedos, numa área total de 450 hectares, que têm ainda 20% dedicados
ao reflorestamento de araucárias. As vinhas estão implantadas a 1.300 metros de altitude, com
as variedades tintas Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Merlot, e as brancas Chardonnay e Sau-
vignon Blanc. A mecanização é utilizada em diversas fases, especialmente nas podas. A Pericó
ainda não tem cantina, mantendo parceria com a Vinícola Fabian, de Nova Pádua, RS, para vi-
nificação. O primeiro vinho nasceu em 2007. A vinícola apresenta seus vinhos sob as seguintes
denominações: Cave Pericó, para os espumantes; Pericó Taipa (um rosado e um branco, chamado
Taipa Vigneto); Basa/tino (um Chardonnay e outro Pinot Noir); Pericó Basalto, um elegante corte

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 289


entre Cabernet Sauvignon (60%) e Merlot (40%); Pericó Icewine 2009, um licoroso rosado, com
15,0% de teor alcoólico e 84 gramas de açúcar por litro, obtido integralmente de Cabernet Sau-
vignon, sendo o primeiro icewine brasileiro. O enólogo responsável por essa raridade foi Jeffer-
son Sancineto Nunes. É ele quem explica a adoção da uva Cabernet Sauvignon para a elaboração
do icewine catarinense, enquanto a maioria dos produtores na Áustria, na Alemanha, no Canadá
e nos Estados Unidos utiliza castas brancas: "Essa (Cabernet Sauvignon) era a única variedade tardia
que tínhamos no vinhedo capaz de amadurecer lentamente até a chegada das temperaturas negativas em
São Joaquim". Em 2019, a sempre inovadora Pericó lançou o Vigneto Sauvignon Blanc e o Taipa
Rosé, com tampas de vidro.

QUINTA DA NEVE, Vinícola


Gr IV - 1999 - VBdT* - (I)
quintadaneve.com.br
Vinícola criada pelos amantes de vinhos Acari Amorim, Adolar
e Edson Hermann e Robson Abdalla. Embora haja disputas na

Q
Q UINT A
DA NEVE
região de São Joaquim quanto à primazia no estabelecimento de
vinhedos dedicados à vitivinicultura de vinhos finos, terá sido
certamente ali, na antiga Fazenda Bentinho, distrito de Lomba
Seca, o nascimento da atividade no município. A propriedade
tem, hoje, 25 hectares dedicados às variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Montepulciano,
Pinot Noir, Sangiovese, Chardonnay e Sauvignon Blanc, além de uma área de experimentação
com 16 outras variedades. O enólogo consultor é o conceituado português Anselmo Men-
des, que conta com o trabalho permanente do agrônomo João Palma Jr. e do enólogo Átila
Zavarizze. Os vinhos são todos rotulados como Quinta da Neve. O elogiado Quinta da Neve
Pinot Noir 2005 estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês de segunda utiliza-
ção, recurso raro no mundo, que privilegia a barrica nova, obtendo excelente resultado tendo
sido repetido também com ótimos resultados nas colheitas de 2008, 2010, 2011 e 2014.
Além desse, há um varietal de Cabernet Sauvignon, varietais brancos de Chardonnay e de
Sauvignon Blanc, e um corte entre Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Merlot. A empresa tem
investimento da importadora Decanter.

SANJO, Vinícola
Gr IV - 2002 - VBdT (I)
sanjo.com.br
Trata-se de braço catarinense da Cooperativa Cotia (SP), de fruti-
cultores de origem japonesa, organizados desde 199 3, com sólida
Si\NJO experiência na produção, comercialização e distribuição de frutas.
Em 2002, decidiu dedicar-se também à elaboração de vinhos finos
a partir de uvas de vinhedos de cooperados, implantados na Serra
Catarinense, em uma área superior a 25 hectares. O enólogo é o conceituado Marcos Vian, que
coordena vinificações em cantina própria, com amplas e modernas instalações. Elabora sucos,
vinhos tranquilos brancos, rosados e tintos, além de espumantes, em três titulações: Maestrale,

290 Ro ge rio Dardea u


Núbio e Nobrese. O Maestra/e Integrus Branco é dos poucos cortes brancos elaborados no Brasil, com
85% de Chardonnay e 15% de Sauvignon Blanc. O Sanjo Maestrale lntegrus Cabernet Sauvignon
2008 é (ainda é, para quem o tem) um notável vinho elaborado com fermentação integral em
barricas novas de carvalho francês, com posterior afinamento por 18 meses nas mesmas barricas.
O Sanjo Núbio Vivaro Cabernet Sauvignon 2008 é (ainda é, para quem o tem) um vinho licoroso
de grande expressão, no estilo dos franceses da AOC Banyuls. A safra que está no mercado é a
de 2013. A cooperativa continua viva e atuante, apenas reduziu a atividade vinícola, uma vez que
um expressivo grupo de cooperados, organizados sob a denominação Sanviti, decidiu deixar o
cultivo de videiras, assumindo a cultura da maçã, de retorno bem mais rápido.

SUZIN Vinhedos e Vinhos Finos


Gr IV - 2001 - VBdT* - (I)
vinicolasuzin.com.br
Empreendimento do empresário de agronegócio Zelindo Melei Su-
zin, com os dois filhos, Everson (agrônomo) e Jeferson. Tem 10
hectares de vinhedos próprios, localizados em São José do Alecrim,
onde são cultivadas as variedades Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Petit
Verdot, Pinot Noir e Sauvignon Blanc. Os vinhos são elaborados em cantina de terceiros, embora
haja projeto para uma cantina própria. A consultoria enológica de implantação da vinícola foi do
conceituado Orgalindo Bettú. Na atualidade, a enologia está a cargo de André Tonet. Além de
muito bons varietais tintos e do branco Alecrim Sauvignon Blanc, merecem destaques os VBdT
Suzin Zelindo 2008, 14%, corte expressivo entre Merlot (70%) e Cabernet Sauvignon (30%), que
estagiou por dez meses em barricas novas de carvalho francês, e o Intrigante Lote I, também
corte, mas em percentuais não revelados, entre vinhos das castas Cabernet Sauvignon, Malbec,
Merlot, Cabernet France Petit Verdot, com 24 meses em barricas francesas. O Suzin Dona Arlene
Nature 2016 é um espumante 100% Pinot Noir, com mais de 36 meses de autólise, de grande
presença no paladar. A Vinícola Suzin é uma das catarinenses que investem em castas francesas,
já tendo ganhado notoriedade com o varietal da Cabernet Sauvignon. O Suzin Cabernet Sauvig-
non 2018 vem sendo chamado de supercabernet. É um vinho de guarda, nobre, ou seja, tem mais
de 14, 1% de teor alcoólico, mantendo a maciez, com um expressivo volume.

VILLA FRANCIONI, Vinícola


Gr IV - 2001 - VBdT* - (I) - EnoT
villafrancioni.com.br
Sonho feito realidade pelo empresário Manoel Dilor de Freitas,
do grupo ceramista Cecrisa. Amante de vinhos, ele não chegou

VF
VILLA FRANCIONI
Vinhos e Vinhedos
a ver o empreendimento concluído, pois faleceu em consequ-
ência de um infarto, em 2004. A vinícola é, seguramente, uma
das mais bonitas do Brasil, além de ter sido edificada com um
raro rigor técnico, levando em consideração diversos princípios
fundamentais à elaboração de vinhos, sem exageros na inter-
venção tecnológica. Projeto arquitetônico e presença integrada

Gen t e. Lugares e Vin hos do B ras il 291


à natureza da região marcam todos os visitantes da vinícola, decorada com inúmeras peças
de arte. Dedica-se exclusivamente a vinhos brasileiros de terroir, que foram, por mais de uma
década, concebidos pelo conceituado enólogo brasileiro Orgalindo Bettú. São 50 hectares de
vinhedos. Entre tintos marcantes e um Chardonnay, elabora varietais de Sauvignon Blanc e um
rosado, cortando 48% Cabernet Sauvignon, 46% Merlot, 4% Pinot Noir e 2% Malbec. Esse
vinho, aliás, ganhou grande fama, por ter sido elogiado por Madona, numa das passagens que
teve pelo Brasil. Os vinhos são rotulados em três famílias distintas: Vil/a Francioni, Joaquim e
Aparados. A Vila Francioni é, hoje, dirigida por Daniela Borges de Freitas.

VILLAGGIO BASSETTI, Vinícola


Gr IV - 2005 - VBdT* - (I) - EnoT
villaggiobassetti.com. br
"Para se fazer um vinho diferenciado, a terra é importante, uvas de


qualidade são indispensáveis, cuidado na colheita é fundamental, clima
privilegiado é decisivo, mas amor é o principal ingrediente", destaca
José Eduardo Pioli Bassetti, o líder desse empreendimento, que,
entre outras atividades anteriores, passou pelo ramo editorial,
com a Aventura Brasileira Editora. Certa feita, quando projetava uma publicação sobre a vi-
tivinicultura catarinense, tomou a decisão que mudaria a sua vida, e agora está totalmente
dedicado aos vinhos. O projeto foi iniciado com os irmãos César Juliano e Marco Aurélio.
Os vinhedos estão em altitudes que variam entre 1.230 metros e 1.260 metros. Ocupam 14
hectares e são adensados com porta-enxertos menos vigorosos do que os usuais, distribuídos
entre as seguintes castas: Cabernet Sauvignon - 2 hectares implantados em 2005, com 3.800
mudas; Merlot - 2 ha também em 2005, com 4.500 mudas, mais 1 ha em 2013, com 4 mil plan-
tas; Pinot Noir - 1 ha em 2006 (exclusivo para rosé), com 2.250 mudas, mais 3 ha (para tintos)
em 2009, com 8 mil mudas; Sauvignon Blanc - 1 ha em 2006, com 2.250 plantas, mais 1 ha em
2009, com 3.500 plantas, mais 1 ha em 2010, com 3.500 plantas; Sangiovese - 2 ha em 2010,
com 5 mil plantas e, mais recentemente, Montepulciano. A cantina própria está instalada desde
2011, com equipamentos Enovenetta e tanques Albrigi e Verona. As instalações estão dimen-
sionadas para 60 mil garrafas/ano. A Enologia está sob a orientação dos enólogos Anderson
De Césaro e Joelmir Grassi, que seguem o princípio assumido por Eduardo Bassetti: "dar tudo
à uva no campo, extrair dela o melhor na vinícola". O processo de vinificação adota, em vinhos
específicos, a fermentação integral (alcoólica e malolática) giro/ate, em barricas de 400 litros
de carvalho francês, com giro constante, e posterior amadurecimento. A casa elabora vinhos
brancos e tintos, sob a denominação única Villaggio Bassetti. Os tintos trazem nomes próprios.
O VB Primiero 2008 (13,9%) foi um varietal de Cabernet Sauvignon. O Montepioli 2010 é um
corte Cabernet Sauvignon e Merlot, com teor alcoólico natural de 13,0%. O Villaggio Bassetti
Sauvignon Blanc vem demonstrando uma excelente adaptação da casta ao terroir da vinícola.
Isso motivou a vinícola a elaborar o VB Donna Enny Sauvignon Blanc 2012 (14,0%), que descan-
sou seis meses sobre as borras, em barricas novas de carvalho francês, transformando-se num
vinho branco de grande complexidade e estrutura, que vem sendo repetido, sempre que Bas-
setti identifica a colheita com o nível de excelência que exige. Desde 2014, a casa apresenta o
Ana Cristina Pinot Noir, varietal notável da casta, com personalidade e elegância, após 12 meses

292 Rogerio Dardeau


em carvalho. Na colheita de 2019, a vinificação da Pinot Noir foi feita com levedura nativa.
O resultado foi tão positivo que a vinícola engarrafou parte do vinho sem barrica. Nasceu o
Eli Pinot Noir 2019, com um perfil exclusivo em vivacidade e maciez. O vinho Roberto é um
varietal da Sangiovese, com ótima expressão. O Selvaggio Cabernet Sauvignon mostra a potência
da casta, naquele terroir. O Rosé é também um vinho com ótima estrutura, muito gastronômi-
co, mesclando a maciez da Merlot, com a estrutura da Pinot Noir. O Selvaggio D'Manny é um
Sauvignon Blanc fermentado com as cascas em barricas de carvalho francês, nas quais perma-
neceu por três meses. Outro varietal dessa casta, com alta complexidade e ótimo volume. Um
aspecto importante é que a Villaggio Bassetti mantém as apresentações de 375 ml e 187,5 m1
para o Montepioli. Em 2019, os cinco tintos vinificados utilizaram levedura nativa ou selvagem.

VILLAGGIO CONTI, Vinícola


Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
Vinícola familiar concebida pelo engenheiro de alimentos Hum-
MÃXIMA EXPRESSÃO DE CASTAS
berto Conti, com os três filhos. Enrico, o mais velho, é o agrôno-
ITALIANAS NA ALTITUDE DO BRASIL

mo. Humberto tem permanente troca de ideias com o vizinho Saul


Bianco (Vinícola Leone di Venezia). A filosofia de ambos é presti-
giar as castas italianas, origem dos Biancos e dos Contis, buscando
SÃOJIMQI.IIM•--CA'IMIIIEIISE
aquelas que mais se adaptam às terras da propriedade, com área
total de 70 hectares, em altitudes que variam de 1.300 m a 1.400
m. Os vinhedos, em área de 8 hectares, foram implantados a partir de 2008. Futuramente, pode-
rão ser ampliados para 10 ou 12 hectares. Castas brancas: Grechetto, Gewurztraminer, Malvasia,
Ribolla Gialla e Vermentino. Castas tintas: Aglianico; Montepulciano d'Abruzzo, talvez a casta
tinta de melhor expressão da Serra Catarinense; Nero d'Ávola; Pignolo; Pinot Nero; Rebo; Re-
fosco dal Peduncolo Rosso; Sangiovese; e Teroldego. A casta Longanezi segue em avaliação. Uma
cantina própria está em construção, sob projeto arquitetônico que privilegia materiais reciclados
e de demolição. A concepção de processo prevê utilização máxima da gravidade, vinificação em
tanques de aço inox e em barricas, além de adega com pedras do próprio local. A cantina terá
capacidade para elaboração de 100 mil garrafas por ano, entre tintos, brancos e espumantes. A
primeira colheita foi a de 2013, quando foram feitas microvinificações artesanais, para avaliação
do potencial enológico das diferentes variedades. A construção da cantina está em andamento,
mas a marca Vtllaggio Conti já vem sendo apresentada, por meio dos primeiros vinhos elabora-
dos, em cantina de parceiro e, mais recentemente, nas próprias instalações. A família Villaggio
Conti atual nos apresenta: Penúltimo... sempre ci sarà un'altro - espumante brut método Charmat,
a partir de vinho base elaborado com as castas Vermentino, Greccheto e Ribolla Gialla; Gre-
chetto 2018, um varietal a 100% da casta; Arancione 2018, um vinho estilo laranja, corte entre
Vermentino, Ribolla Gialla, Grechetto e Gewurztraminer; Bacio 2018, outro estilo laranja, 100%
Gewurztraminer. Também se encontram ali o Tramonto 2018, um rosado 100% Sangiovese;
Montepulciano 2017; Pinot Nero 2017, varietal clássico a 100% da casta; Conti Tutto, um corte
entre Sangiovese e Montepulciano; e Rosso D'Altezza, um fino corte entre Sangiovese, Teroldego
e Aglianico. Em 2019, Humberto Conti nos apresentou o varietal da casta Pignolo, colheita de
2017, único varietal da casta elaborado fora da Itália. Esse vinho teve estágio em barricas novas
de carvalho francês, por 20 meses. Os vinhos Villaggio Conti vêm sendo criados por Humberto

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 293


Conti e elaborados sob a supervisão do enólogo Eduardo Strechar. A Vinícola Villaggio Conti
recebeu uma família de refugiados haitianos e está formando-os na arte da vitivinicultura.

VIVALTI, Vinícola
Gr IV - 2015 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empresário Vicente Donini (Marisol e Santinvest),
como realização do sonho de elaborar os próprios vinhos, com a
máxima, em italiano, Bere, Mangiare, Vívere (beber, comer, viver),
grafada em seus rótulos. O nome criou uma palavra que procura
explicitar a condição de vinho de altitude. São 52 hectares de área total, com 16 hectares de
vinhedos, a uma altitude média de 1300 m. Em 3 ha, na parte mais alta da propriedade, está
sendo edificado um verdadeiro complexo enoturístico, que, além da cantina, contará com re-
cepção, anfiteatro, espaço para eventos, bistrô, pousada de charme, uma capela e heliponto. O
primeiro tinto apresentado foi o Vivalti Sangiovese, com uvas da colheita de 2012. O enólogo é
Átila Zavarizze.

ZANELLA BACK, Vinícola


Gr V - 2005 - VBdT* - (I)
Vinícola familiar, artesanal, conduzida pelo agrônomo Alberto
zanellaback Back, também enólogo, pelo Instituto Federal Santa Catarina,
campus Urupema. O nome Zanella logo nos remete à vinícola
gaúcha, de Antonio Prado, RS, mas não há relação entre esses
produtores, salvo a provável origem comum, no Velho Mundo.
São 2 hectares de vinhedos, em expansão que irá dobrar essa área,
na localidade de Boava. Cultivam-se, ali, as variedades brancas
Sauvignon Blanc e Viognier, além das tintas Cabernet Franc, Ca-
bernet Sauvignon, Merlot, Rebo, Sangiovese e Touriga Nacional.
A cantina é própria. A primeira vinificação ocorreu em 2008, com
o apoio da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Os
vinhos elaborados são varietais brancos, um rosado de Sangiovese, o Vale do Boava Cabernet
Sauvignon e um corte Touriga Nacional com Merlot. Os vinhos tintos da casa são barricados
por 12 meses, em carvalho novo e reutilizado. O estilo de vinho tinto adotado trabalha com
até duas reutilizações de barricas. Ainda em São Joaquim, encontramos a recente e pequena
(como o próprio nome indica) Piccola Fattoria.

294 Roge ri o D ard ea u


URUBICI

CASA CERVANTES
Gr IV - 2010 - VBdT* - (I)
José Marquez de Cervantes, Zeca Marquez ou Pepe Cervantes são
CASA nomes de um mesmo empreendedor espanhol, há muito radicado
CER.VANTES no Brasil. Com negócios principais na área imobiliária, é também
VINHOS Df ALTTr\JDE um apaixonado por vinhos que decidiu elaborar o próprio. Adqui-
riu terras no município de Urubici, alto da Serra Catarinense, e
implantou vinhedos com as variedades que mais aprecia. Em 2012, elaborou o Altitude 1100,
corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Montepulciano, e o Curucaca, corte entre Sangiovese,
Merlot e Cabernet Sauvignon. Os investimentos caminham ainda em duas direções: enoturismo,
pois Zeca Marquez pretende ter um restaurante fino, e criação de cavalos de raça, outra paixão do
investidor. Aliás, não por acaso, os dois 'C' da logomarca da Casa Cervantes são duas ferraduras.

SERRA DO SOL, Vinícola


Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
serradosolvinhosdealtitude.com. br
A família Zilli é bem conhecida na Serra Catarinense. Sua fazenda
de maçãs, a Pousada das Flores e o Emporium Serra do Sol - Adega
e Pub - são marcas na cidade de Urubici, que tem um dos invernos
mais rigorosos do Brasil. O desejo de elaborar vinhos finos come-
çou a ser realizado em 2004, com a implantação de 6 hectares de
vinhedos, com as variedades brancas Sauvignon Blanc, Gewurz-
traminer, Grechetto, Moscato e Ribola Gialla, além das tintas Ca-
bernet Sauvignon, Merlot, Montepulciano e Sangiovese, importadas diretamente da França e da
Itália. Os vinhedos estão em região de solos profundos, bem drenados, com origem no basalto
vulcânico. O clima de altitude da Serra do Panelão, a 1.250 metros, propicia uma grande amplitu-
de térmica entre o dia e a noite, o que é muito importante para a colheita de frutos bem maduros.
A colheita, como geralmente ocorre naquela área, se dá no outono, em pleno maio, em paisagens
muito bonitas. Desde a primeira vinificação, em 2007, a vinícola tem se dedicado aos tintos de
corte, como o Augusto, que agrega Cabernet Sauvignon, Merlot e Montepulciano. Elabora tam-
bém varietais, espumantes e o Manacá, um rosado de bastante presença. A vinificação ainda é
realizada em cantina de terceiros. O projeto é de 70 mil garrafas/ano. Todo o gerenciamento da
vinícola está sob a responsabilidade de Ana Roberta Zilli.

Ge nte. Lugares e Vinh os do Bras il 295


URUPEMA

URUPEMA VINHOS DE ALTITUDE (ex-Vinícola Santo Emílio)


Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
fazendaquintadosmontes.com.br/vinicolaa.php
Vinícola do grupo empresarial Binotto, que está à frente de uma

••
•••
das maiores transportadoras de carga do país. São 13 hectares
de vinhedos, na Fazenda Quinta dos Montes, com as variedades
URUPEMA brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc, além das tintas Cabernet
VINHOS DE AL TIT UDE
Sauvignon, Malbec e Merlot. A produção atual está em 40.000
garrafas/ ano. A vinícola chegou a contar com a consultoria inicial
da conceituada enóloga argentina Suzana Balbo. O vinho Leopol-
do é o ícone da casa, um corte 60% Merlot, com 40% Cabernet Sauvignon, com dez meses de
estágio em barricas novas de carvalho francês, que vem sendo apresentado nas melhores safras,
desde 2007. Há um varietal da Malbec, o Sincelo. Os espumantes são o Stellato (brut rosé) e o
Cellebrato (moscatel de Moscato Giallo) .

PLANALTO OESTE CATARINENSE


O Planalto Oeste, sob o meu ponto de vista, pode ser "centrado" no município de Água Doce,
agrupando ainda Caçador, Campos Novos, Chapecó, Monte Cario, Tangará, Treze Tílias e Videira,
região em que já encontramos vitivinicultores estabelecidos, entre outros para os quais a fronteira
vitivinícola pode se expandir. Ali, os invernos são ligeiramente mais amenos do que os da serra.

GENTE que elabora vinhos finos no Planalto Oeste Catarinense

CAÇADOR

VILLAGGIO GRANDO, Vinícola


Gr IV - 2000 - VBdT* - (I) - EnoT
villaggiogrando.com.br
Na década de 1990, o empresário Maurício Grando (Madepinus
Indústria e Comércio, Salto Grande Poupa Madeiras Ltda. e GBM
Agroflorestal Ltda.) recebeu um amigo francês produtor de armag-
nac, o qual vaticinou ser a região um lugar propício ao cultivo de
uvas viníferas e, consequentemente, à elaboração de grandes vi-
nhos. Hoje, sob a gestão do filho Guilherme, a Villaggio Grando
tem 45 hectares de vinhedos, no município de Água Doce, e elabora vinhos brasileiros de terroir,
espumantes, brancos, rosados e tintos, todos sob uma única denominação: Villaggio Grando. O
enólogo é o conhecido Jean Pierre Rosier. São notáveis os varietais brancos da Chardonnay, o cor-
te tinto Innominabile e o principal vinho da casa, o Villaggio Grando Além Mar 2008, um corte entre

296 Roge ri o D ard ea u


Cabemet Franc, Malbec e Merlot, com teor alcoólico de 12,8%, que foi elaborado pelo consagrado
enólogo português António Saramago, com o (também português) sommelier (escanção) José
Santanita. A produção total já atinge 300 mil garrafas por ano. A vinícola recentemente arrendou
vinhedo e cantina em Mendoza, na Argentina, onde elabora o varietal Malbec, que comercializa
no Brasil. Do Chile, a empresa traz um corte Cabemet Sauvignon com Syrah. Em 2012, foi apre-
sentado o Villaggio Grando Espumante Brut (11,3%), elaborado pelo método Charmat, com o corte
clássico Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, todas uvas de vinhedos próprios. A vinícola
opera enoturismo, em ambiente e instalações de grande beleza e conforto, diante de um lago,
com vista exuberante. Estávamos concluindo este livro, quando um tomado atingiu toda a área
receptiva da vinícola, exigindo reconstrução total.

CHAPECÓ
ADEGAVIEL
Gr IV - 2004 - VBdT* - (C) - EnoT
adegaviel.com.br
A Adega Viel, em Chapecó, é uma vinícola familiar, conduzida pelo
enólogo Edegar Viel, com a participação do filho Guilherme, tam-
bém enólogo. Edegar Viel é um profissional muito experiente, com
passagens em diversos empreendimentos vitivinícolas, depois de
frmúlia Viel ter trabalhado com o mítico Oscar Guglielmone. São 2 hectares
de vinhedos, em área total de 44 hectares. A cantina foi iniciada
no subsolo da própria residência da família, com todo o equipamento necessário. Hoje, porém,
está ampliada, tendo sido construída uma instalação próxima. Com obras em andamento, em
breve deverá ser instalada junto aos vinhedos. As variedades viníferas implantadas são Cabemet
Sauvignon, Malbec, Petit Verdot e Tannat. Os vinhedos são em espaldeira e latada semiaberta. A
produção anual está em, aproximadamente, 12.000 garrafas. Os vinhos finos com a assinatura
Adega Viel vêm conquistando apreciadores. O Viel Cabemet Sauvignon Rosé 2015 é um vinho
de grande equilíbrio, bela cor, aromas leves e ótima presença no paladar. Impressiona-me, po-
rém, a regularidade de excelentes e sucessivas colheitas da Malbec, caracterizando-se um novo
terroir para essa casta, no Brasil. O Viel Malbec 2011, aberto em 2019, exibia evolução, tons
vermelhos-granadas, aromas de compotas de frutas vermelhas e um paladar macio, complexo,
maduro. Vejamos o depoimento de Edegar Viel sobre a elaboração desse vinho: "É proveniente do
primeiro vinhedo de uvas viníferas, protegido com coberturas plásticas, implantado em Chapecó - no oeste ca-
tarinense - em 2009, com mudas importadas da Itália. A primeira colheita ocorreu em 2011, proporcionan-
do uvas com 23, 5 graus babo, gerando um vinho com o teor alcoólico de 13, 1 % vol. As uvas foram colhidas
e selecionadas antes do desengace e fermentadas em fermentadores no sistema Ganimede®, 107 com controle

107 O fermentador Ganimede® é um sistema que utiliza o vapor da própria fermentação, para efetuar extra
ção seletiva e eficaz das substâncias nobres das uvas, explorando o mosto a 100%, sem agressão de
bombas e sistemas mecânicos. Um diafragma (elemento-chave do sistema) forma um espaço no qual o
gás liberado durante a fermentação pode ser armazenado e usado para misturar o mosto/manta, sempre
que é necessário. A marca pertence à Vieirinox, de Aveiro, Portugal.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 297


de temperatura de fermentação de 23 a 25 graus centígrados. Ainda, o mesmo sistema realizou remontagens
automáticas de 12 em 12 horas, por um período de 8 dias. Após a separação das cascas, o vinho foi macerado
com as borras finas por um período de 60 dias. O vinho Viel Malbec estagiou em tanques de aço inoxidável,
com staves de carvalho francês, por um período de 12 meses".

TANGARÁ

PANCERI, Vinícola
Gr III - 1990 - VBdT - (C)
panceri.com.br
Vinícola familiar criada por Nilo Panceri, com os filhos Celso e
Luiz. Elabora vinhos finos, a partir de uvas de vinhedos próprios,
nas linhas Reserva, com o Nilo Teroldego, outros varietais e o cor-
PANCERI
te Altos, entre Cabernet Sauvignon/Merlot. Há uma outra linha
que apresenta varietais correntes, sob a denominação Panceri, com
rótulos que homenageiam aves regionais. A linha Cortês apresenta
vinhos argentinos e chilenos não safrados, elaborados pela Santa Sara Casa Vinícola, de Mendo-
za, e pela ?Colores, de Maipo. Sob a mesma denominação Cortês, há vinhos de mesa.

TREZE TÍLIAS

KRANZ, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolakranz.com. br
Vinícola familiar criada por descendentes de imigrantes austríacos.
Walter Kranz, empresário com origem no setor automotivo (uma
extensa carreira na Mercedes-Benz), realizou o sonho do negócio
próprio no mundo do vinho, do qual se tornou amante há não
V I NICOLA
muito tempo. Elabora, em cantina própria, espumantes (inclusive
um 100% Cabernet Sauvignon!) e varietais brancos, rosados e tin-
tos, sob rótulos Kranz. Vinifica a partir de uvas compradas em vinhedos de terceiros. O Grupo
Kranz tem investimentos também no setor de tecnologia de ponta e automação. Em razão disso,
a vinícola conta com sistemas únicos de acompanhamento e controle da vinificação. Os recursos
digitais touch screen não somente informam amplamente ao enólogo sobre as ocorrências do pro-
cesso, como oferecem a possibilidade de correções importantes para a obtenção de vinhos de alto
nível. A vinícola conta com a assessoria do competente enólogo Antonio Czarnobay. São desta-
ques o Kranz Espumante Brut Rosé, o Kranz Cabernet Sauvignon, o Kranz Merlot, o Kranz Sauvignon
Blanc, e o Ormetà Cabernet Sauvignon 2013 - Ubaldo by Kranz, com uvas de Campos Novos, da Quinta
das Vinhas, em homenagem ao criador desse empreendimento, o desembargador aposentado Edson Ubaldo.

298 Ro ge rio Darde au


VIDEIRA

SANTA AUGUSTA, Vinícola


Gr IV - 2003 - VBdT* - (I)
santaaugusta.com. br
Outro empreendimento que investe em vinhedos e tecnologia.
VI N I CO LA
S AN TA
Os vinhedos estão em Videira (11 hectares), em altitudes que
A UG U$ TA
variam dos 878 metros a 1.004 metros, e em Água Doce (6 hec-
tares) , a 1.290 metros de altitude, em pleno Vale do Contestado.
A cantina tem instalações de muito bom nível tecnológico, no município de Videira. As pri-
mas Taline e Morgana De Nardi, com apoio dos pais, realizaram o sonho, criando a Vinícola
Santa Augusta. Os vinhos das primeiras safras foram batizados de Tapera Augusta. A vinícola,
inicialmente, teve a enologia sob os cuidados de Jefferson Sancineto Nunes, que atuou na con-
versão dos vinhedos em manejo biodinâmico. Hoje é Marcel Salame o enólogo responsável.
Os enófilos já foram apresentados ao Imortali 2012, com 12,6% de teor alcoólico. Trata-se de
um vinho 100% biodinâmico, elaborado a partir de um corte bordalês clássico, com 76% de
Cabernet Sauvignon, 19% de Merlot e 5% de Cabernet Franc. A safra 2013 do Imortali ainda
repousa em barricas. A vinícola elabora espumantes (inclusive Blanc de Noir), vinhos brancos
(Chardonnay e Sauvignon Blanc), um rosado, um corte tinto Cabernet Sauvignon e Merlot,
o Sarau, e um vinho de uvas Moscato Giallo passificadas (Passito), todos sob a denominação
Santa Augusta.

GENTE que elabora vinhos finos em outros municípios do estado de Santa Catarina,
fora da Serra e do Planalto catarinenses

FLORIANÓPOLIS

QUINTA DA FIGUEIRA Vinhos Disruptivos


Gr V - 2008 - VBdT* - (I)
quintadafigueira.com.br
Ele é um amante de vinhos finos secos. Mas há não muito tempo
QVJNTA DA FI GU EI RA apreciava vinhos doces e meio-secos. Numa tarde do ano de 2005,
VINHOS DISRUPTIVOS

ao apreciar seu primeiro varietal de Cabernet Sauvignon, tendo


uma sensação incômoda de desagrado, diante de um amigo apre-
ciador, impôs-se o desafio de se aproximar daquele novo mundo. A partir de então mergulhou
em estudos teóricos e degustações. Hoje elabora, com muito talento, pequenas partidas. Realiza
estudos acadêmicos a distância, no Winemaking Certificate Program, da Universidade da Cali-
fórnia, Davis Campus. A microempresa, porém, é registrada e seus vinhos são todos analisados
pelo prestigioso Laboratório Randon (Labran), de Caxias do Sul. Ele não tem vinhedo próprio.
Compra uvas de produtores da região de São Joaquim, especialmente da Suzin. O nome que
adota homenageia a grande figueira da Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis. Os

Ge n t e. Lugares e Vin hos do B ra sil 299


dois primeiros foram dois tintos, da safra de 2008, o Cabernet Sauvignon 2008 Pitanga (nome em
razão dos expressivos aromas daquela fruta) e o Winekit 2008, assim batizado em razão de haver
sido obtido por meio de um miniequipamento de elaboração de vinhos, importado dos Estados
Unidos. Em 2009, vieram dois brancos (Chardonnay e Sauvignon Blanc). O corte Quinta da Figueira
Reserva Perpétua Lote I (Cabernet Sauvignon 80% e Merlot 20%) tem vinhos das safras de 2009 e
2010. Em 2009, o volume de uvas adquirido exigiu empenho de toda a família no ritual de pisa
a pé. Rogério Gomes afirma: "Futuramente pretendo repetir esse trabalho familiar em torno da uva e do
vinho. São momentos como esse que nos fazem refletir o real significado do vinho". O Quinta da Figueira-
-Reserva Perpétua Lote II experimentou a curiosa assemblage de 40% do Lote I com 60% de Merlot
2011. O Miramar 2011, que ainda repousa engarrafado na garagem, é um corte entre Sangiovese
(40%), Cabernet Sauvignon (30%) e Merlot (30%), do qual 60% estagiaram em barricas novas
de carvalho americano. Em 2012, vieram o Istepô Merlot, o Purpurata Merlot e o orange wine Garapu-
vu, este muito marcante, uma raridade brasileira, de origem italiana, do Friuli. Há ainda os dois
Moça Faceira 2012, o varietal de Cabernet Sauvignon e o corte Cabernet Sauvignon + Merlot. O
corte foi assim elaborado: vinho base da Cabernet com estágio de 21 meses em barricas novas de
carvalho francês + vinho base da Merlot com estágio igual em barricas novas de carvalho ame-
ricano. O corte foi no engarrafamento. Efetivamente, são vinhos singulares, obras de artesanato.
Os nomes refletem a cultura da região: Istepô significa estupor, no coloquial de Florianópolis;
Garapuvu é uma árvore comum nas matas nativas da região de Floripa, que floresce em setembro,
em amarelo. Os rótulos são sóbrios, muito leves, elegantes. Em 2013, Rogério Gomes implantou
parreiral experimental com duzentas plantas de Merlot e Malbec, na praia da Lagoinha, norte da
ilha de Santa Catarina. Como é normal acontecer nesses experimentos, algumas plantas morre-
ram, mas ensinaram muito ao produtor. Ele importou mudas e reimplantou o vinhedo em 2018,
com cobertura plástica. A propriedade conta com as variedades brancas Arinto, Maria Gomes
e Moscato Bianco, além das tintas iniciais acompanhadas de Petit Verdot e Syrah. No início de
2020, o vinhedo Lagoinha vicejava, com belos cachos e a primeira vinificação. O vinhedo Lagoi-
nha, do empreendimento Quinta da Figueira, é o único vinhedo do Brasil a 200 metros da praia,
em solo arenoso, com castas portuguesas. Alguém se lembra de Colares?

ITAJAÍ

VILLA PRANDO, Vinícola


Gr IV - 2007 - VBdT* - (C)
villaprando.com.br
Empreendimento idealizado e efetivado pelo engenheiro agrôno-
mo Honório Francisco Prando, após a aposentadoria, pela Empre-
sa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
(Epagri). Honório nasceu no município de Campos Novos, SC, em
Villa Prando família de tradição vitivinícola e, desde criança, elaborava vinhos
vinícola
com o pai. Houve época em que, ainda estudante em Porto Alegre,
era tanto o seu gosto pelos vinhos, que marcava férias em períodos
de colheita, para viajar a sua cidade e participar da elaboração dos

300 Rogerio Dardeau


vinhos, em casa. Ao se aposentar, foi incentivado, por parceiros de um clube de vinhos do qual
participava, a elaborar vinhos próprios para comercialização. Lançou-se, assim, ao projeto da
vinícola, buscando uni-lo a uma segunda paixão: o mar. Escolheu instalar-se em Itajaí, no litoral
catarinense. Ele mesmo detalhou a estrutura da cantina, acessos, ventilação e posicionamento
de máquinas e tanques. Enquanto isso, realizava visitas a viticultores de São Joaquim, SC, e do
Rio Grande do Sul, para adquirir uvas de qualidade e vinificar. Atualmente, a Villa Prando elabora
varietais e cortes das tintas Cabemet Sauvignon, Carménere, Malbec, Merlot e Tannat, além da
branca Chardonnay. Aliás, para abrir a carta de vinhos, a Villa Prando oferece o Brisa do Mar
Brut, um espumante elaborado pelo método tradicional, com vinho base 100% Chardonnay, de
um frescor incrível. O Graciatto 2009 Cabemet Sauvignon, com uvas da Serra Catarinense, que
foi amadurecido em barricas de carvalho francês, é um vinho de muito boa expressão. Mas há
também o Marina, um rosé de Cabemet Sauvignon, e o Farol, um Cabemet Sauvignon leve, sem
passagem por barrica, elaborado com uvas das Serras Catarinense e Gaúcha. Foi batizado em
homenagem ao Farol de Itajaí, que inspira o produtor. O vinho O PORTO é um corte Cabemet
Sauvignon (60%) e Merlot (40%), elaborado dentro dos conceitos de rastreabilidade e "vinho
de autor", a partir da seleção rigorosa de uvas procedentes das Serras Catarinense e Gaúcha. O
nome poderia confundir, mas não é um vinho licoroso. É um vinho seco, com 12,0% de teor
alcoólico e grande maciez no paladar. O Graciatto 2012 é um corte entre vinhos Cabemet Sau-
vignon e Tannat, de uvas também das Serras Catarinense e Gaúcha, com passagem por barricas
de carvalho francês e americano. O vinho Prático é um varietal da Carménere de Guaporé, na
Serra Gaúcha, igualmente com passagem por barricas de carvalho francês e americano. Como se
observa, todos os vinhos têm nomes ligados ao mar. Vinhos notáveis, somente comercializados
na origem, uma opção de vinicultura autoral que muito cresce no Brasil. A consultoria enológica
está a cargo de Marcos Vian. Saúde! Veja mais em www.villaprando.com.br

MAJOR GERCINO

DIAMANTE
Vinhos Orgânicos Artesanais
Gr V - 2011 - VBdT* - (C) - 'N'
Remy Narciso Simão é um agrônomo comprometido com a agri-
cultura não intervencionista. Em seu trabalho, pesquisa perma-
nentemente métodos de manejo naturais. Assim vem procedendo
no ambiente de 1 hectare no qual implantou um experimento com
Carménere, Cabemet Sauvignon, Montepulciano, Petit Verdot e
Tannat, em latada coberta. Logo nos primeiros anos, foi possível identificar a escolha das vi-
deiras: Petit Verdot e Carménere elegeram a terra como sua, com destaque para a Petit Verdot,
que vem dando origem a bons e promissores varietais. Estou seguro de que, em breve, teremos
muito bons vinhos Diamante. Esse nome, aliás, é uma homenagem do autor à comunidade de
Diamante, onde, diz ele, vivem "amigáveis descendentes de imigrantes alemães, italianos, ucranianos e
luso-brasileiros".

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 301


NOVA VENEZA

CASASAVOIA
Gr IV - 2011 - VBdT - (I) - EnoT
casasavoia.com. br
Empreendimento destinado à cultura e à produção de vinhos.


Foi inaugurado em 2014, após três anos de trabalho dos sócios
Altair Jaime Gava (falecido em 2017) e Durei Feltrin Citadin, agrô-
nomos, Galdino Gava, engenheiro civil, e João Paulo Gava, enge-
nheiro químico. O que desejavam primordialmente esses sócios?
Em 2016, Altair Jaime Gava me respondeu: "Produção de vinhos finos
com uvas selecionadas do Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha) e de São Joaquim (Serra Catarinense). Promover
a disseminação do conhecimento do maravilhoso mundo dos vinhos através de jantares harmonizados, di-
rigidos com vinhos finos de Santa Catarina e outras regiões, nacionais ou internacionais. Criar, manter e
desenvolver a apreciação pelos vinhos finos, através do conhecimento preciso, fundamentado e independente a
ser conseguido através de cursos e palestras". A casa tem oferta permanente de cursos e degustações
orientadas. Os vinhos são: Don Gava Espumante Branco Brut, elaborado pelo método tradicio-
nal, com vinho base 75% Chardonnay + 25% Pinot Noir de Pinto Bandeira, RS; Casa Savoia
Chardonnay; Casa Savoia Merlot; Casa Savoia Cabernet Sauvignon; e Taglio 2015, um corte entre
Merlot (62%), Cabernet Sauvignon (22%) e Tannat (16%), das Serras Catarinense (São Joa-
quim) e Gaúcha (Vale dos Vinhedos), amadurecido em barricas de carvalho francês e americano.

PINHEIRO PRETO

CASAL PICCOLI, Vinícola


Gr III - 1987 - VBdT - (C)

Elabora os vinhos finos Dom Josepi.

RODEIO
SAN MICHELE, Vinícola
Gr III - 1993 - VBdT - (C)
sanmichele. ind. br
Empreendimento dos enólogos Marcelo Luiz Sardagna e Alber-
to Furlani, que tiveram ampla formação na Itália. Vinícola que
elabora vinhos tranquilos, em especial um varietal de Nebbiolo,
chamado San Michele Barone, e espumantes, apresentados em duas
linhas: Pequenas Reservas - mais complexos - e San Michele, para os
vinhos finos correntes.

302 Rogerio Dardeau


SÃO JOSÉ

TERRAZZO MANFROI
Gr V - 2017 - VBdT (C)
Elisson Ricardo Manfroi é mais um descendente de italianos que
TEIUtA 1
traz o apreço pela vinicultura no sangue. Independentemente dis-
1 so, seguiu uma vida acadêmica natural e se formou em farmácia.

~
Em 2012, começou suas experiências de vinificação. Em 2015, vie-
ram os primeiros vinhos com uvas comuns. Logo fez amizade com
_ ~ Tl~ A BOLITIQUE
o produtor Rogério Gomes (Quinta da Figueira), que o incentivou
e orientou. Em 2017, vinificou viníferas, pela primeira vez, sempre
com uvas de viticultores conhecidos, impressionando pelo padrão muito bom dos vinhos. Sua
cantina é um espaço equipado no terraço do apartamento em que reside, o que inspirou o nome.
Hoje, porém, a área de vinificação foi estendida à casa de praia, em Palhoça. Manfroi é mais
um nome adepto à mínima intervenção. Os rótulos apresentados são variados, entre brancos,
rosados e tintos, sem preocupação de repetir, a cada safra. Em três anos de história, Manfroi já
vinificou uma dezena de vinhos. As uvas têm sido selecionadas nos seguintes vinhedos: Caber-
net Sauvignon: Vinhedos do Monte Agudo (São Joaquim, SC); Moscato Bianco: Vinhedo Serra
do Sol (Urubici, SC); Sauvignon Blanc: Vinhedos Alecrim/Suzin (São Joaquim, SC) e Vinícola
Panceri (Tangará, SC); Malbec: Vinícola Urupema (Urupema, SC); Pinot Noir: Campos de Cima
da Serra; Touriga Nacional: Zanella Back (São Joaquim, SC). O projeto consiste em uma vinícola
urbana, com espaço para visitas e degustações.

URUSSANGA E IP VALES DA UVA GOETHE


(IP Vales da Uva Goethe - desde 14 de fevereiro de 2012)

O caso da uva Goethe, especialmente em Urussanga e municípios vizinhos, é bem


interessante, pois mostra as possibilidades de registro formal de "tipicidade", assim como
no Velho Mundo IGTs, DOCs e AOCs identificam vinhos de naturezas muito distintas, dos
mais leves aos mais encorpados. O esforço dos vitivinicultores dessa região aprimorou a casta
Goethe e os vinhos dela elaborados. A uva Goethe, como já vimos, é uma híbrida, obtida
pelo trabalho do horticulturista estadunidense Edward Staniford Rogers, em Massachusetts,
por volta de 1850. Ele polinizou uma planta da vitis labrusca Carter com pólen da vitis
vinífera Moscato Hamburgo. Depois de uma seleção natural, entre mais de uma centena
de sementes, restaram-lhe 45, que foram plantadas. Primeiramente foram identificadas por
números e posteriormente nominadas. A planta nascida da semente número 1 foi batizada
em homenagem aJohann Wolfgang Goethe. Devidamente analisada, a uva Goethe apresenta
formação genética com 87,5% de vitis vinífera e 12,5% de vitis labrusca. Muitos autores a
chamam de "a mais vinífera das híbridas". O detalhe importante é que a casta sofreu mutação,
dando origem àquela que passou a ser chamada de Goethe Primo, efetivamente única no
mundo e absolutamente integrada à região de Urussanga.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 303


As primeiras parreiras de uva Goethe em Urussanga foram plantadas no final do século
XIX. Entre as décadas de 1940 e 1960, os vinhos da Goethe foram muito valorizados na região
e, também, no Rio de Janeiro, então capital federal. Conta-se que Getúlio Vargas fez uso de
vinhos Goethe, no Palácio do Catete, e que a alta sociedade carioca os apreciou nos salões
do Copacabana Palace Hotel. Os rótulos de então participaram de exposições nacionais e
internacionais, arrebatando prêmios. Em Pedras Grandes, na localidade de Azambuja, a vinícola
Irmãos Felippe & Cia. Ltda. elaborou vinhos de mesa secos, tintos e brancos desde 1951.
É propósito deste livro falar dos chamados vinhos finos, ou seja, daqueles obtidos a partir,
unicamente, de variedades 100% viníferas. No entanto, a luta e a organização dos produtores
para adaptar a uva Goethe ao solo e ao clima catarinenses, no sudeste do estado, para
qualificar a variedade e os vinhos elaborados a partir dela, merecem uma atenção especial.
A trajetória da uva Goethe na região de Urussanga teve forte abalo com a descoberta
do carvão mineral, no início do século XX. Muitos trabalhadores deixaram o campo e a
viticultura, para obter sustento nas minas. De vinhos cultuados pelo presidente da República
Getúlio Vargas, nos anos 1930, à exportação e ao declínio, depois da metade do século
XX novas gerações de produtores retomaram o cultivo da casta e, em 2005, fundaram a
Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe da Região de Urussanga (ProGoethe),
com sede naquele município.


A organização tem assessoria técnica do Sebrae/SC e da Epagri, além de apoio do governo
do estado de Santa Catarina, da Prefeitura Municipal de Urussanga e da Universidade Federal
de Santa Catarina.

Como informa a Associação ProGoethe em sua página na Internet:108 ''A história da Goethe na
região começa com o regente do consulado italiano Giuseppe Caruso Mac Dona/d, que chegou
ao município de Urussanga no final do século XIX. Sua atribuição era de observar a evolução
das colônias de imigrantes italianos em Santa Catarina, prestando auxílio a sua população e
enviando relatórios à Itália. Nascido na Itália, advogado e jornalista, Caruso Mac Dona/d ti-
nha uma forte relação com a vitivinicultura. Ele mantinha contato com Benedito Marengo, um
imigrante italiano em São Paulo, que foi responsável pela introdução de diversas variedades de
uva no Brasil. A Goethe estava entre essas variedades e foi aportada por Caruso Mac Dona/d
à região de Urussanga e distribuída aos imigrantes. Essa variedade, com o decorrer dos tempos,
mostrou possuir uma boa adaptação à região e também características típicas que diferenciam o
seu vinho das demais variedades e, também, de outras regiões de cultivo (Rebolar et ai., 2007) ".

Mas o objetivo da ProGoethe era fundamentar o processo para identificar a região como
uma Indicação Geográfica da uva Goethe, no que teve apoio também da Embrapa. Assim, com

108 Disponível em: http://www.progoethe.eom.br/historico.php?id=1.

304 Ro ge rio Darde au


muita pesquisa e muitos estudos, o processo foi protocolado no Inpi
em 2011. No ano seguinte, foi homologada a Indicação de Procedência
Vales da Uva Goethe. 109
As principais características da IPVU Goethe são as seguintes:

* A área geográfica delimitada da IP (abaixo, na cor verde escura)


está contida nos municípios de Urussanga (município todo) e partes dos territórios de
Pedras Grandes, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Treze de Maio e Orleans, localizados
no estado de Santa Catarina, onde os vinhos são elaborados.

* Dentro dessa delimitação existe uma área chamada "Vales da Uva Goethe" - com
458,9 km 2, localizada nas bacias do rio Urussanga e do rio Tubarão -, na qual deve
ser produzida a uva utilizada na elaboração dos produtos da IP Vales da Uva Goethe.
* A elaboração dos vinhos da IP se dá exclusivamente com uvas da variedade Goethe
(originalmente designada como "Roger's 01", a Goethe foi obtida nos EUA no século
XIX a partir do cruzamento entre as variedades Moscato de Hamburgo e Carter) e
seus clones, como Goethe Primo (mutação da Goethe ocorrida em Urussanga na
década de 1950).
* Os vinhedos são tradicionalmente cultivados em !atadas, existindo limites máximos
de produtividade associados à qualidade dos produtos.
* Os vinhos são elaborados e engarrafados essencialmente na área geográfica delimitada.
* Os espumantes podem ser elaborados pelo método tradicional ou Charmat.
* Os produtos são autorizados para comercialização somente após terem sido
submetidos aos controles do Conselho Regulador da IP, garantindo a conformidade
da produção em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.
* Cada garrafa de vinho da IP Vales da Uva Goethe possui um selo de controle
numerado, possibilitando a rastreabilidade dos produtos.

109 Cf. Velloso, Carolina Quiumento. Indicação geográfica e desenvolvimento territorial sustentável: a atuação
dos atores sociais nas dinâmicas de desenvolvimento territorial a partir da ligação do produto ao território
- um estudo de caso em Urussanga, SC. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas), Centro de Ciên-
cias Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2008. 166 p.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 305


Além da IP Vales da Uva Goethe, são reconhecidos também, como municípios produtores
dessa uva, Içara e Nova Veneza. A associação ProGoethe conta com três tipos de membros:
organizações de apoio técnico, produtores de uva e vinícolas. As vinícolas são: Vinhos
Trevisol, Vinhos Quarezemin, Vinícola De Noni, Casa Dei Nonno e Vigna Mazon. A Casa Dei
Nonno (Vitivinícola Urussanga) elabora o Casa Dei Nonno Espumante Goethe Brut, apresentado
como único no mundo, e ainda os vinhos finos Casa Dei Nonno Privilege Cabernet Sauvignon e Casa
Dei Nonno Cabernet .
Vigna Mazon é um caso à parte. Foi estabelecida pelo agrônomo e
dinâmico empresário Genésio Mazon. Enquanto elaborava seus vi-

ffl
VIGílA mAzon
nhos Goethe, pensava em ter viníferas. Como empreendedor nato,
convidou o amigo, também agrônomo, Carlos Eugênio Daudt, para
uma sociedade no cultivo de viníferas e elaboração de vinhos finos,
em sua propriedade. Os vinhedos de Cabernet Franc, Merlot e Cou-
derc foram implantados no início dos anos 1980, e os primeiros vinhos finos, engarrafados em
1986. Com a morte prematura de Mazon, aos 48 anos, em 1988, o projeto feneceu. Uma enorme
perda. Ainda hoje, a Vigna Mazon tem garrafas de tintos íntegros dessa época. A vinícola segue
administrada pela viúva Giselda, com a filha Patrícia, elaborando diversos vinhos e em intensa
atividade enoturística.

306 Rogerio Dardeau


~
Lugares onde vinhos finos são elaborados,
no estado do Paraná
Paraná vitivinícola
Vinhos finos

I Curitiba

Em pelo menos 35 municípios paranaenses, encontramos produção de uva e vinho por,


aproximadamente, 120 produtores, a grande maioria dedicada exclusivamente aos vinhos de
mesa. Somente no município de Francisco Beltrão, há 33 produtores. Entre esses produtores,
de vez em quando, se tem notícia de tentativas com viníferas. Essas já se firmaram em dois
ambientes: a Grande Curitiba e o Planalto Oeste. Segundo a Assessoria de Imprensa da
Associação dos Vitivinicultores do Paraná (Vinopar), com dados de 16 produtores em 2018,
no estado são elaboradas cerca de 135.000 garrafas/ ano de vinhos finos tranquilos e 92.400
garrafas de espumantes.

Associação de Produtores
Associação dos Vitivinicultores do Paraná, com os seguintes asso-
ciados: Cave Colinas de Pedra, em Piraquara; Vinhos Santa Felici-
dade, em Curitiba; Vinícola Araucária, em São José dos Pinhais;
T Família Fardo, em Quatro Barras; Famiglia Zanlorenzi e Vinícola
VINOPAR_ Legado, em Campo Largo; Vinícola Franco Italiano, em Colom-
~,·><.x·r.çAo oc,.:
·,1 T1v l1ii(LLTC; ;: ; bo; Guaravera, em Londrina; Paschovino e Crevelim, em Maringá;
Bertoletti, em Bituruna; e Vinícola RH, em Mariópolis.

REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA


(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)
No entorno de Curitiba, especificamente nos municípios de Campo Largo, Colombo,
São José dos Pinhais e Piraquara, desenvolve-se rapidamente um novo polo vitivinícola e
enoturístico. Em altitudes no entorno de 900 metros, encontramos a Vinícola Legado, em
Campo Largo; a Vinícola Família Fardo, em Quatro Barras; a Vinícola Franco Italiano, no
município de Colombo; a Vinícola Araucária, em São José dos Pinhais; e a Cave Colinas de
Pedra, em Piraquara.

Ge n t e . Lugares e Vin hos do B ra sil 307


Há ainda alguns produtores de vinhos comuns de Santa Felicidade, em Curitiba, que
elaboram varietais de viníferas, por exemplo o Dall'Armi Cabernet Sauvignon 2005, que utiliza
uvas de produtores da Serra Gaúcha.

GENTE que elabora vinhos finos na região metropolitana de Curitiba

Região Metropolitana de Curitiba

Família Fardo
Campo la rgo ----
Legado
Zanlorenzi
Co lombo
Franco-Italiano

S. José dos Pinhais


Araucâria

CAMPO LARGO

LEGADO, Vinícola
Gr IV - 2006 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolalegado.com. br
Cheguei a essa produtora pela ação incessante de busca de novas
iniciativas vitivinícolas do diretor da empresa Sul Rio Represen-
tações, Milton de Souza. A Vinícola Legado está localizada na
região conhecida como Bateias, no município de Campo Largo.
Vê-se logo uma clara referência aos garimpos, ali estabelecidos
no século XIX, mostrando-nos mineralidade no solo. No passa-
do, a propriedade se dedicava ao gado leiteiro. Em 1998, foram
feitos os primeiros experimentos de viticultura com viníferas, a
partir de incentivo do vizinho, o desembargador Antônio Vida!. Confirmadas as virtudes da
região, em 2006 Heloise Merolli, a proprietária, iniciou o projeto, com a implantação de 5
hectares de vinhedos. As variedades cultivadas são as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot e
Pinot Noir. As brancas são Viognier e Fiano di Avelino. Essa casta vem da Campania, no sul
da Itália. Não é muito produtiva, em volume, mas tem mostrado muito bons resultados de
qualidade nos vinhos, numa clara adaptação ao ambiente da Vinícola Legado. O Sfizio Fiano
vem se mostrando um varietal de grande frescor, aromas amplos, boa acidez e ótima presença
no paladar, com notas de abacaxi e mel. Embora marcado pela leveza, o Sfizio Fiano é gas-
tronômico. Logo nos faz lembrar de variados pratos. O espumante Flair Brut tem a versão
Millésime. É sempre elaborado com vinho base 100% Viognier, com uvas de alta qualidade,

308 R oge rio D ard e a u


com o propósito de ser safrado, o que permite que tenha muito boa evolução na garrafa. Isso
foi exatamente o que se constatava ao se apreciar, em 2017, o Millésime 2011. A jovem Vi-
nícola Legado prepara novas instalações para atuar com enoturismo, o que já vem realizando
muito bem. O destaque tinto da Legado foi o Sfizio Merlot Lote 13, um vinho elaborado com
a técnica italiana de apassiamento das uvas antes da fermentação. Cada lote, ano a ano foi colo-
cado em barricas de carvalho francês para um estágio que durou de 12 a 36 meses, das safras
de 2013, 2014 e 2015. O vinho, comercializado a partir de 2017, ficou bem estruturado, com
belo corpo e grande maciez. Em 2018, a vinícola lançou seu primeiro vinho no estilo laranja,
o Fiano Ali'Antica, com aromas vivos, ótima acidez e persistência. Os vinhos Legado são
apresentados em três linhas: Flair, para os espumantes; Sapienza, para os vinhos de entrada; e
Sfizio para os vinhos considerados de alto padrão. São nomes de boa representatividade, com
flair indicando talento, dom; sapienza significandosabedoria e sfizio representando capricho.
Heloise Merolli é ainda professora da disciplina 'Vinhos do Brasil', no curso para sommeliers,
do conceituado Centro Europeu - Profissões e Idiomas, em Curitiba.

ZANLORENZI
Vinícola Campo Largo
Gr II - 1942 - VM- (C)
famigliazanlorenzi.com.br
Vinícola fundada por Carlos e Julia Zanlorenzi, como Zanlorenzi
& Irmão Ltda., em Campo Largo, Paraná. Em 1977, abriu uma
filial em São Marcos, RS. Em 1991, passou a se chamar Vinhos
FAMIGLIA
~LORENZI Campo Largo, mudando para Vinícola Campo Largo em 2005. A
partir de 2010, chegou à denominação atual. As duas unidades,
hoje, têm finalidades distintas. Em São Marcos, a Vinícola Serra
Gaúcha mantém parceria com mais de mil famílias de viticultores, de 16 municípios da região,
os quais entregam suas uvas à cantina, para os cuidados iniciais do processo de vinificação.
Ali, é possível armazenar mais de 10 milhões de litros de derivados de uva. É nessa unidade
que nascem os vinhos finos e espumantes premium do grupo. A cantina paranaense - Viní-
cola Campo Largo - tem capacidade instalada para envasar mais de 37 mil garrafas por hora e
pode armazenar mais de 4 milhões de litros de vinho. O Grupo Vinícola Famiglia Zanlorenzi
mantém ainda parcerias internacionais na Argentina e no Chile, para importação de vinhos
finos. O portfólio de produtos é amplo, especialmente vinhos de mesa, em grande variedade
de rótulos. O enólogo é o jovem Mateus Poggere, aliás, de uma família comprometida com os
vinhos: além de uma pequena vinícola em São Marcos, tem, entre seus membros, Patrícia Po-
ggere, enóloga com experiência internacional. A Vinícola Serra Gaúcha elabora dois varietais
finos, um Merlot e um Chardonnay, ambos barricados em carvalho novo francês Allier.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 309


COLOMBO

FRANCO ITALIANO, Vinícola


Gr IV - 1973 - VBdT - (C) - EnoT
francoitaliano.com. br
Empreendimento familiar de Dirceu Rausis e Ivonne Ceccon, com
~11
FRANCO ITALIANO
os filhos. A vinícola elabora seus vinhos em cantina própria, com
-\1-.;fcOLA- excelentes instalações, a partir de uvas de viticultores parceiros,
selecionados pelo cuidadoso vinicultor Fernando Rausis Camargo,
filho dos empreendedores. Aliás, trata-se de um vinhateiro desses
incansáveis 'garimpeiros' de novos terroirs. Uma de suas conquistas é a casta Syrah, do município
de Porto Amazonas, na mesorregião metropolitana de Curitiba. Os varietais da Syrah, com o
selo Sincronia, são elaborados com uvas daquele município e mostram grande personalidade e
tipicidade, sem perder as digitais da Syrah. Agora, imagine uma cuidadosa seleção de origens de
uma mesma casta, a Cabernet Sauvignon. Fernando Camargo e seu parceiro, o enólogo Marcos
Vian, escolheram regiões bem demarcadas de êxitos com a casta Cabernet Sauvignon: Campa-
nha Gaúcha, Serra Gaúcha e Serra Catarinense, com seus perfis específicos. Então foram vinifi-
cando safras sucessivas, para conhecer as potencialidades de cada uma, sentindo as evoluções.
Em 2017, elegeram os vinhos de 2005, 2009, 2014 e 2015 e deixaram-se deleitar com a mescla
de percentuais. Assim nasceu o Paradigma Rotto Cabernet Sauvignon, um notável cuvée. Além
desse vinho, integrante da linha mais elevada, há outros em três linhas: Reserva, Sincronia e
espumantes. Os vinhos da linha Paradigma Rotto não se repetem; são sempre ótimas surpre-
sas. E ainda temos os espumantes, com destaque para o Cuvée Extra Brut 100% Chardonnay e
para o Brut FI, a partir de vinho base Chardonnay + Pinot Noir, ambos elaborados pelo método
tradicional. A Vinícola Franco Italiano tem amplas instalações de enoturismo, com restaurante.

QUATRO BARRAS

FAMÍLIA FARDO, Vinícola


Gr IV - 2008 - VBdT* - (C) - EnoT
familiafardo.com.br
Mais um empreendimento que me foi apresentado pelo diretor da
empresa Sul Rio Representações, Milton de Souza. O casal Am-
brósio e Justina Fardo e o filho Manuel são a Família Fardo, que
FAMÍLIA FARDO elabora vinhos finos e está presente no mercado desde 2008. Trata-
q1,.J..
-se de uma vinícola butique, que adquire uvas de viticultores par-
ceiros no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e elabora os
próprios vinhos com os cuidados típicos das organizações familiares. A cantina está localizada no
município de Quatro Barras, em edificação de basalto lavrado especialmente destinada à elabora-
ção de vinhos e ao enoturismo. A enologia está a cargo de Renato Garcia, profissional experiente,
com formação em Bento Gonçalves e especialização na Espanha. A vinícola pratica a filosofia
de mínima intervenção, optando por vinhos jovens e frutados, sem passagem por barricas. Os

310 Rogerio Dardeau


vinhos são apresentados em quatro linhas: Alegria, para os espumantes (destaque para o Justina
Fardo Brut); Da Família, para os vinhos de entrada; Casa, para os varietais; e Encontro, para os
cortes. E a Família Fardo ainda destila grappa e elabora sucos, além de apresentar vinhos finos
em bag-in-box. Entre as boas descobertas da Família Fardo está a uva Malvasia de Cândia, culti-
vada no município de Dois Vizinhos, no oeste paranaense, de grande tipicidade, experimentada
no Família Fardo Casa Malvasia de Cândia 2015. Renato Garcia cria vinhos únicos, totalmente
desenhados a partir dos atributos das uvas encontradas. O Família Fardo Encontro Fiore é uma
criação típica dessa filosofia. O vinho é um corte entre a tinta Malbec (70%), da região de Monte
Cario, SC, com a branca Malvasia (30%), de Dois Vizinhos, PR, das colheitas de 2015 e 2016. O
resultado é um vinho, como eu gosto de dizer, instigante, novo, único! Um tinto leve, com uma
cor vermelha muito viva, translúcida. Os aromas são florais e frutados, mas vão-se tornando
complexos, à medida que o vinho vai respirando na taça. No paladar, mostra um bom volume,
boa acidez e ótima persistência. É um tinto apto aos dias quentes do verão. Com refinados 12,0%
de teor alcoólico, tem tudo para ficar. O destaque tinto é o corte Encontro Harmonia (12,8%),
com 20% de Cabernet Sauvignon (São Joaquim, SC - 2010) + 30% de Merlot (Dois Vizinhos,
PR-2011) + 50% de Tannat (Três Palmeiras, RS - 2012).

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS

ARAUCÁRIA, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaaraucaria.com. br
Empreendimento concebido por oito sócios, com o desejo de ver a
região metropolitana de Curitiba (Paralelo 25° S) mais inserida no

~IA
I mundo do vinho fino. Os agrônomos Adolar Adur e Pedro Galli-
na, o arquiteto Enio Perin e os empresários Renato Adur, Erivaldo
Costa de Oliveira e César Henrique de Oliveira, assessorados pelos
também sócios enólogos gaúchos Anderson Schmitz e Marcos Vian,
iniciaram o projeto em 2009, com a escolha da área, a 950 metros
de altitude, a preparação e a implantação dos vinhedos. São 4 hectares, nos quais se encontram
as variedades brancas Chardonnay e Viognier, além das tintas Cabernet Franc, Cabernet Sauvig-
non, Merlot, Pinot Noir, Nebbiolo e Teroldego. Os vinhedos estão em expansão e já receberam
variedades resistentes. Os prédios da cantina, varejo e restaurante são projetos do escritório de
Enio Perin. O planejamento é de 40 mil garrafas por ano. A produção está organizada em três li-
nhas: espumantes Poty, homenageando o muralista paranaense Poty Lazzarotto; varietais premium
Angustifólia Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, lembrando o pinheiro do Paraná; e a linha de
varietais correntes Gralha Azul Cabernet Franc e Merlot, recordando a ave símbolo da região. Os dois
primeiros vinhos comercialmente lançados foram o Poty Lazzarotto Espumante Brut Champenoise, um
corte entre Chardonnay e Pinot Noir, na proporção 70 a 30, e o tinto Araucária Angustifólia Cabernet
Sauvignon 2012 (13,5%). Foram cerca de 5 mil garrafas de cada, distribuídas entre lojas especializa-
das e restaurantes do Paraná. Em 2018, os vinhos Angustifólia, tintos das colheitas iniciais, ainda
se mostravam vivos e brilhantes, com grande presença no paladar. As safras mais recentes têm
confirmado o elevado padrão dos vinhos Araucária. Recentemente, a vinícola lançou seu primeiro

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 311


vinho fino tinto suave, chamado Manacá, nome que homenageia a flor símbolo de Curitiba. Tra-
ta-se de um varietal de Cabernet Sauvignon, da colheita de 2015, para as pessoas não afeitas aos
vinhos secos. A propriedade da Vinícola Araucária é um parque muito aprazível, com bosques de
araucárias e muito espaço para adultos e crianças. Ali as famílias de Curitiba e da região metropo-
litana têm todas as possibilidades de praticar o "turismo-de-um-dia", junto à natureza, em belo
ambiente. O restaurante oferece refeições de qualidade. O empreendimento se consolida, com a
construção de chalés, identificados com culturas específicas de alguns países ou regiões do mundo.

PLANALTO OESTE PARANAENSE E OUTROS LUGARES,


onde vinhos finos são elaborados no Paraná
No oeste do estado, está a Vinícola Dezem, no município de Toledo. No noroeste,
encontramos vinhos finos nos municípios de Londrina, Maringá (hoje considerada zona de
produção, pelo Decreto 8.198/ 2014) e Bandeirantes. Em Bandeirantes, quase na fronteira
com São Paulo, a Vinícola La Dorni elabora vinhos sem álcool. 110

GENTE que elabora vinhos finos no Planalto Oeste Paranaense


e em outros municípios do Paraná

BITURUNA

OI SANDI, Vinícola
Gr III - 2002 - VM - (C)
Quase às margens do lago da represa da hidrelétrica de Foz do
Areia, está o empreendimento da família Di Sandi, região sudeste
do estado, com vinhedos próprios e cantina, onde elaboram su-
cos, destilados, vinhos de mesa e os varietais de viníferas Di Sandi
Moscato Giallo, Di Sandi Merlot e Di Sandi Cabernet Sauvignon.

MARINGÁ

Internacional de Vinhos Lida.


Gr III - 2003 - VBdT - (I)

Com vinhedos próprios, cultiva as variedades tintas Cabernet


Sauvignon, Merlot e Syrah, além da branca Riesling Itálico, que
engarrafa sob a denominação Aljôfar.

11 O A vinícola informa que as uvas entram em fermentação efetiva, gerando álcool natural e vinhos alcoólicos,
sendo "desalcoolizados" posteriormente. O processo difere do que leva à obtenção do suco de uva, pois
este se realiza pelo aquecimento das uvas. Veja em: www.ladorni.com.br.

312 Roge rio D ard e a u


MARIÓPOLIS

RH, Vinícola
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I)
O município de Mariópolis está situado no sudoeste do Paraná,
na fronteira com Santa Catarina. Foi ali, em área própria de 9,6
hectares, que o casal Waner Herget e Odilete Rotava Herget de-
cidiu implantar 3 hectares de vinhedos de Chardonnay e Pinot
Noir, para dedicação exclusiva a espumantes pelo método tra-
dicional. A cantina é própria e muito bem equipada. Além de tanques de inox, tem ambiente
climatizado específico para 1.800 garrafas de espumante em processo de tomada de espuma e
rémuage (giro diário das garrafas, para homogeneização da bebida, nos móveis piramidais chama-
dos pupitres). Já apresenta um espumante nature, cujo vinho base 100% Chardonnay estagiou
por 24 meses em carvalho americano, um extra brut, um brut branco e um rosé, além de dois
meio-secos e um moscatel. São 25.000 litros por ano, em expansão para 50.000 !/ano.

TOLEDO

DEZEM, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
dezemvinhosfinos.com. br
Empresa familiar nascida do sonho do empresário Amélio Dezem


(farmácias de manipulação e outros negócios) e de sua mulher, Su-
san Dezem. O desejo era inserir sua região no mapa vitivinícola
brasileiro, por meio de vinhos brasileiros de terroir. O casal mantém
vinhedos próprios (10 hectares), nos quais desenvolve experiências
de aclimatação de variedades, na busca da melhor relação entre o terroir e a cepa. O solo naquela
região tem forte presença de dióxido de ferro (magnetita), oferecendo características minerais
aos vinhos. A cantina é um prédio de estilo hispânico, edificado para a função. Os enólogos são
os jovens, mas experientes Anderson Schmitz e Marcos Vian. A Dezem apresenta seus vinhos
sob três denominações: os vinhos básicos têm o nome Magne (terra); os premium são chamados
Extrus (água); os super premium são os Atmo (ar). O Magne Malvasia é um dos vinhos secos da casta
mais típicos entre os elaborados no Brasil. O Atmo Merlot é a expressão clara do terroir, com uma
deliciosa mineralidade. A Vinícola Dezem mostrou, em 2007, uma atitude típica da busca por
excelência, bem característica dos investidores desse grupo de empresas produtoras de vinhos
finos. Amélio e Susan convidaram 16 formadores de opinião do mundo dos vinhos, de São Paulo
e do Rio de Janeiro, para uma visita de dois dias à cantina. Os grupos partiram das duas capitais,
em voos fretados, diretamente para a cidade de Toledo. Lá, foram recepcionados pelo casal e,
entre as diversas atividades, realizaram uma prova dos vinhos que haviam sido elaborados até
então, entregando suas notas à empresa. Depois disso, a Dezem mergulhou nas considerações
dos convidados, interrompeu a oferta de vinhos ao mercado e realinhou a produção, aplicando
diversas recomendações. Participaram do evento, de São Paulo: Álvaro Cezar Galvão (Divino

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 313


Guia), Celso Frizon (da então Costelaria Rancho do Vinho), Paulo Greca Qornalista), Edecio
e Odila Armbruster de Moraes (SBAV-SP); e do Rio de Janeiro: Alexandre Lalas (Wine Report),
Danio Braga (Locanda della Mimosa, na época), João Souza (sommelier na época no restaurante
Terzetto), Marcos Lima (sommelier), Marcelo Copello Qornalista especializado), Marlene Souza
(restaurante Quadrifoglio), Rogerio Dardeau (escritor e enófilo), Rogerio Goulart (enófilo, à
época representante da Dezem, no Rio), Valmir Pereira (D'Amici Ristorante, na época).

314 Rogerio Dardeau


Lugares onde v ~ o s são elaborados
no estado de São Paulo

Vitivinicultura de vinhos finos em São Paulo

ltuverava
ltobi
São José do Rio Preto
Espírito Santo do Pinhal
Ribeirão Preto

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..

Santo Antônio do Jardim ~


São Roq,u~ /
Ribeirão Branco -? . l:"

São Miguel Arcanjo

São Paulo, assim como Minas Gerais, vem se beneficiando do cultivo por dupla poda ou
ciclo invertido da videira e expandindo consideravelmente seus vinhedos. Alguns municípios,
antes historicamente dedicados aos vinhos de mesa, têm buscado conhecer mais sobre as
possibilidades da colheita de inverno.
Apresentaremos, a seguir, lugares onde uvas finas são cultivadas e vinhos finos elaborados:
São Roque e municípios vizinhos; leste do estado e macrorregião de Campinas; Mantiqueira
alta; noroeste do estado e alta mogiana, entre outros locais.

SÃO ROQUE E MUNICÍPIOS VIZINHOS


(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)
A vitivinicultura naquela região "macrometropolitana paulista" tem longa e ininterrupta
história, com influências culturais de portugueses e italianos. Desde o século XVII, o município
de São Roque desenvolve a vitivinicultura. Ali, porém, as condições de clima não são favoráveis
ao cultivo de uvas viníferas, pelo ciclo normal, com colheita no verão, como no Sul do Brasil.
Alguns produtores que cresceram com a elaboração de vinhos comuns expandiram seus
negócios às cepas viníferas, na Serra Gaúcha. A Vinícola Góes (hoje Grupo Góes & Venturini) e
a Vinícola BellaQuinta são dois exemplos. Atualmente, há um movimento de adoção do cultivo
com dupla poda e colheita de inverno, iniciando um novo ciclo para as viníferas, na região.
Em São Miguel Arcanjo, cidade também conhecida pelos vinhos de mesa, alguns produtores
já vêm experimentando o caminho dos vinhos finos. O Torre Alta Cabernet Sauvignon 2011, da
vinícola de Osvaldo Zorzi, é um bom representante. Naquele município, ainda encontramos os
seguintes vinhos: Limírio Cabernet Sauvignon (11,8%) e Limírio Merlot (12,4%), Vinhos Limírio,
de Adevaldo e Magna Limirio; vinhos artesanais, de Ettore Roberto Zanini.

Ge nte . Lugare s e Vin hos do Bra sil 315


Associação de Produtores: Sindusvinho - Sindicato da Indústria do Vinho de São Roque,
com os associados Vinhos Quinta do Nino (desde 2010, com as marcas Maravilha, Monroe,
Sanroville, Balalaia); Góes Camargo & Cia. Ltda. (desde 1928, com as marcas Palmeiras,
Valdemiz); Viti-Vinícola Góes Ltda. (desde 1938, com as marcas Góes, QuintaJubair, Viveri,
Grape Coo!); Viti-Vinícola Palmares Ltda. (desde 1946, com a marca Palmares); Viti-Vinícola
Bella Aurora Ltda - EPP (desde 1932, com a marca Bella Aurora); Vinícola XV de Novembro
Ltda. (desde 1958, com a marca XV de Novembro); Vinhos Canguera Ltda. (desde 1952, com
a marca Canguera); Vinhos Maravilha de São Roque Ltda. (desde 1919, com as marcas Real
D'Ouro, Maravilha, Sanroville, Tonel Velho); Vinhos Santa Terezinha e Quinta dos Guimarães
Ltda. (desde 1947, com as marcas Quinta dos Guimarães, Santa Terezinha); Vinhos Sabbatini
Ltda. (desde 1950, com a marca Sabbatini); Bebidas Santa Cecília Ltda. (desde 1980, com
as marcas Santa Cecília, Arlanza, Canei, Absinto Camargo, Lança Chamas, Vinha Dei Mar);
Dialcool Fabricação, Beneficiamento e Comércio de Álcool Ltda. (desde 1997, com as marcas
Juju, Conichelli, Fuji, Stoliskoff); Vinhos Quinta Di Olivardo (desde 2003, com a marca
Quinta di Olivardo); HGR Beverages (desde 2000, com a marca Grape Coo!) ; Vinhos Frank e
Restaurante (desde 2008, com a marca Frank).

o- -
o- -
o- -
o-
o-•-·-

o
SÃO ROQUE

ROTEIRO DO VINHO São Roque - Organização local de turismo, estruturada


empresarialmente, que envolve mais de trinta associados, entre os quais os produtores de
vinhos: Vinhos Bella Aurora; Casa da Árvore - Vinhos, Aventura e Lazer; Vinícola Palmeiras;
Vinhos BellaQuinta; Vinícola Góes; Vinícola Canguera; Vinhos XV de Novembro; Vinícola
Sorocamirim; Ferreira & Passero; Vinhos Real D'Ouro; Vinhos Frank; Terra do Vinho. Alguns
desses produtores vêm elaborando vinhos finos, ainda em volume bem inferior ao dos vinhos
de mesa.

316 Rogerio Dardeau


GENTE que elabora vinhos finos em São Roque e municípios vizinhos

SÃO ROQUE

BELLAQUINTA Vinhos Finos


Gr IV - 2005 - VBdT - (C) - EnoT
bellaquinta.com. br
Vinícola criada, em 1920, por membros da família Góes, dentro
das possibilidades da época, para produção de vinhos de mesa.
Desde 2005, porém, as instalações históricas foram completa-
mente restauradas, preservando antigas piletas de tijolos revesti-
dos como adegas. O novo ambiente oferece agradável acolhimen-
to a quem passeia pelo Roteiro do Vinho de São Roque. A partir da inauguração dessa nova
fase, os vinhos finos da casa passaram a ser elaborados no Sul. Foi com um produtor da Serra
Gaúcha que nasceu o bem-sucedido BellaQuinta Cabernet Sauvignon. Mas a BellaQuinta não
parou e, novamente, modificou o perfil da vinícola, de maneira a também elaborar vinhos
finos, a partir de viticultores parceiros da própria região. O produtor Gustavo Borges, que
dirige a BellaQuinta com a esposa, Bruna, acompanha todo o processo, do vinhedo à cantina.
O vinho BellaQuinta Cabernet Sauvignon 2006, com teor alcoólico de 12, 7%, superou o vinho de
estreia, do ano anterior, com muito boa cor, aromas complexos e boa presença de boca, tendo
excelente repercussão entre apreciadores. Os varietais seguintes dessa casta mantiveram o
estilo, em sucessivas safras, sempre com passagem por barricas de carvalho americano. Em
2011 , foi lançado o BellaQuinta Tannat Artemis, com estágio de quatro meses em barricas de
carvalho americano e 12,5% de teor alcoólico. Mostrou-se muito equilibrado. Os espumantes
Brut Charmat e Moscatel têm a denominação Gávia. No Rio Grande do Sul, a parceria se dá
com a Vinícola Conceição, produtora de pequeno porte, que elabora os vinhos Dom Diony-
sius. A BellaQuinta vem vinificando também uvas Cabernet Franc de colheita de inverno, de
parceiro local, desde 2014. A partir de 2016, ingressou no grupo dos produtores que buscam
a elaboração dos vinhos com intervenção mínima, inclusive levedura nativa e ausência de
SOr Outro marco da vinícola é o BellaQuinta Licoroso, expressivo vinho de sobremesa, ela-
borado a partir da casta Niágara. A vinícola vem experimentando a vinicultura natural. Em
2017, lançou um varietal da Cabernet Franc - Sans Roque, vinificado com levedura selvagem
e processado a zero SOr Mais recentemente, foi lançado o BellaQuinta Song. Trata-se de um
corte entre Cabernet Sauvignon (70%) , Merlot (20%) e Tannat (10%). Esse vinho descansa
nas caves por seis meses, três dos quais ao som da melodia Little Bit of Love, composta por Eric
Silver. É o produtor Gustavo Borges, diretor da Vinícola BellaQuinta, quem explica: "Nos seis
primeiros meses de cave, o vinho passa três meses ouvindo música, uma hora pela manhã e uma à tarde. Não
teve um estudo prévio sobre a música escolhida, e sim nossa convicção das influências dos tons vibracionais.
Lançamos uma parceria, que batizamos de "enomusical" (risos), com um músico amigo chamado Eric Si/ver,
que nos cedeu uma música dele, escolhida por ele para tocar na cave. A ideia de ter um músico que realmente
participou com a gente neste projeto foi muito bem aceita pelos visitantes. Pretendemos lançar o Song vol. 2,
um novo corte, com um novo músico. Já está certo com a dupla Sá e Guarabira... ".

Gente. Lugares e Vin hos do B rasil 317


CANGUERA, Vinhos
Gr IV - 1950- VM + VBdT- (C) - EnoT
vinhoscanguera.com.br
Empreendimento da família Aldegheri, nascido e desenvolvido
com elaboração de vinhos de mesa. Recentemente, estabeleceu
parceria com produtor gaúcho e apresenta bons rótulos de vi-
nhos finos. O enoturismo é bastante forte, com restaurante e
ampla estrutura de lazer em bela área ajardinada, com lago e
espaço infantil.

VILA DON PATTO


Gr 11-1918 - VM- (C) - EnoT
viladonpatto.com. br
Se mergulharmos na história da família Patto, em São Roque,
-~ concluiremos que foram os primeiros a elaborar vinhos, comer-
VILA DON PATIO cialmente, na região. Desde que iniciaram, tiveram diversas de-
NATUREZA, LAZER & GASTRONOMIA
nominações. Chegaram a cultivar inúmeras variedades de vi-
deiras, em grande área. Desde 2008, dedicam-se integralmente
ao enoturismo, na Vila Don Patto, com vinhos de parceiros, inclusive argentinos e chilenos.
A infraestrutura é impressionante, com dois restaurantes, uma grande loja de vinhos e
artigos típicos, e uma área de lazer total com 96 hectares. O empreendimento é hoje coor-
denado por Tulio Patto.

FERREIRA & PASSERO


Monte das Vinhas
Gr IV - 2003 - VBdT - (I) - EnoT
Empreendimento do casal Fernando Passero, economista, e San-
dra Ferreira, arquiteta, em propriedade de, aproximadamente,
18 hectares. Ali, implantaram-se as viníferas tintas Cabernet
FER REIRA & PA SSE RO
Franc, Malbec e Tempranillo, além da branca Sauvignon Blanc e
da híbrida Lorena, entre outras de mesa. O manejo dos vinhedos
observa as características de cada casta. Assim, o projeto tem va-
riedades manejadas pelo ciclo invertido, com dupla poda e colheita de inverno, e outras pelo
ciclo normal. Fernando José de Góes é consultor para a elaboração de alguns dos vinhos, mas,
em outros, a casa conta com a participação de enólogos do Instituto Federal de São Roque.
Os vinhos finos são rotulados como Monte das Vinhas. A área conta com lago, casarão do
século XIX e capela, totalmente restaurados e preservados, criando um bucólico ambiente,
do qual se contempla a vinha. As vinificações são feitas na Vinícola Góes. A produção anual
está em 10.000 garrafas.

318 Ro ge rio Dardea u


GÓES, Vinícola
(Vinícola Góes & Venturini)
Gr 11-1963 - VBdT- (C) - EnoT
vinhosgoes.com.br
Empresa nascida para elaboração de vinhos de mesa, até que de-
~ cidiu investir em viníferas. Na 22• Avaliação Nacional de Vinhos
VINICOLA GOES
1938
(2014), a Vinícola Góes posicionou o Góes Tempos Philosophia
Cabernet Franc Reserva 2014 entre os melhores do Brasil. Esse vi-
nho foi elaborado com uvas de colheita de inverno e estagiou por
dez meses em barricas de carvalho francês. Esse vinho segue sendo elaborado, sempre que a
colheita é considerada muito boa. A Vinícola Góes mantém, em São Roque, vinhedos maneja-
dos tanto pelo ciclo normal (totalidade das uvas de mesa), quanto pelo ciclo invertido. A linha
Tempos é dedicada aos vinhos finos tranquilos, enquanto a Saint Tropez, aos espumantes.
Os vinhos de mesa são apresentados em cerca de vinte rótulos. Há, ainda, os sucos e outros
derivados da uva. Os vinhos são elaborados a partir de uvas próprias e também adquiridas de
parceiros, sempre na própria cantina, que, além de excelentes instalações, dispõe de grande
capacidade de armazenamento interno e externo ao prédio principal. A Vinícola Góes produz
um volume de oito milhões de litros de vinhos por ano, sendo 300 mil litros de vinhos finos,
especialmente das castas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Syrah. As instalações de eno-
turismo, com restaurante, são amplas, em terreno ajardinado, repleto de atrações.

QUINTA DO OLIVARDO
Gr III - 2007 - VM - (C) - EnoT
quintadoolivardo.com. br
Realização de Olivardo Sarchi, a partir do desejo de elaborar os
próprios vinhos. De origem italiana e esposa de raízes portugue-
QUINTA
.J,,Qd1,~ sas, Olivardo criou uma ilha de sabores e costumes lusitanos, em
pleno roteiro do vinho de São Roque. O amplo espaço tem um
restaurante inspirado na culinária da ilha da Madeira, com des-
taque para os bacalhaus e o pastel de nata. Os vinhos nascem de 2 hectares de vinhedos e são
majoritariamente de mesa, embora Olivardo tenha um Cabernet Sauvignon. Toda a produção
é comercializada na própria Quinta. Olivardo resgatou a história dos "vinhos dos mortos"
e, regularmente, oferece aos visitantes a oportunidade de enterrar vinhos escolhidos, que
repousarão sob a terra até o regresso dos que os esconderam. Essa história remonta a 1807,
quando Portugal foi invadido por Napoleão. Os zelosos portugueses, para não serem saqueados,
enterravam o que havia de mais precioso, e, entre esses itens, as suas garrafas de vinho. Abriam
buracos no meio das videiras, embaixo dos tonéis e ao lado dos lagares. Após a reconquista do
território, desenterravam seus vinhos, encontrando preciosidades.
Como pequeno produtor, ainda encontramos, em São Roque, a QUINTA MORAES, com
produção iniciante de vinhos finos.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 319


LESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO E MACRORREGIÃO DE CAMPINAS

As experiências bem-sucedidas do sul de Minas provocaram investidores dos municípios


fronteiriços paulistas. Tal como outras localidades desenhadas neste livro, o leste do estado
de São Paulo ainda definirá as vocações vitícolas, para caracterizar os vinhos. Há vinhedos
de viníferas, com produção de vinhos finos, nos seguintes municípios: Amparo (Vinícola
Terrassos); Cabreúva, onde se destaca o empreendimento de Erico Kolya, o qual, a partir
de uma muito bem-sucedida produção de queijos artesanais, implantou viníferas, fez a
primeira colheita em 2019 e já avança para o turismo rural; Espírito Santo do Pinhal (vinícolas
Floresta, Guaspari e Parziale); Itobi (Casa Verrone); Santo Antônio do Jardim (Vinícola Terra
Nossa) ; e São Sebastião da Grama. Nas cercanias de Campinas, encontramos vitivinicultura
tradicional de vinhos de mesa, mas também uma incipiente produção de vinhos finos: em
Jundiaí (Vinícola Castanho), em Valinhos (Villa Tordin), em Vinhedo (Adega Família Ferragut
e CantinaAzzolin), em Louveira (Vinhos Micheletto) e em Indaiatuba (Vinícola Bramasole).

GENTE que elabora vinhos finos no leste do estado de São Paulo


e macrorregião de Campinas

AMPARO

TERRASSOS, Vinícola
Gr III - 2003 - VM + VBdT - (I) - EnoT
terraços.com.br
Projeto iniciado pelo empresário Luiz Nascimento, com o filho
enólogo Fábio Luiz Nascimento. São 12 hectares, dos quais 3 hec-
tares com vinhedos implantados. As variedades são as tintas Má-
ximo - híbrida desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Cam-
pinas (IAC) - e Syrah, além das brancas Moscato Embrapa, Rainha (outra híbrida desenvolvida
pelo IAC) e Sauvignon Blanc. Tanto quanto possível, a casa tem buscado cultivo orgânico. Ali,
faz-se cultivo por dupla poda e também por manejo tradicional. A colheita de inverno é desti-

320 Roge rio D ard ea u


nada aos vinhos de guarda, enquanto a de verão é para os vinhos jovens e brancos. A cantina
foi erguida somente em 2010. Na elaboração dos vinhos, a Vinícola Terrassos busca intervenção
reduzida, apenas com o uso de leveduras selecionadas e o mínimo possível de sulfito. Como
resultado, vem obtendo vinhos rústicos e autênticos. Elabora uma linha jovem e também uma
linha que passa por barrica, para ser vinho de guarda. Mas a opção, quando se usa madeira, é de
passagem breve, segundo o enólogo Fábio Luiz Nascimento, "buscando salientar a natureza da uva
e a complexidade de aromas que a nossa região proporciona, devido à grande amplitude térmica. Os vinhos
de inverno tendem a ser muito concentrados, então criamos o Terrassos 4 Estações, que é um blend de vinho
de verão e de inverno, conseguindo um vinho mais elegante, equilibrado, com menos teor alcoólico, mais num
estilo Velho Mundo".

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL

FLORESTA SÃO PEDRO, Vinícola


Gr IV - 2006 - VBdT*

•·
Empreendimento de propriedade do executivo do setor de ferti-
lizantes e produtor rural Mario Alves Barbosa Neto. Os vinhedos
são próprios, na Fazenda São Pedro, que tem área total de 250 hec-
FLOReSTa
J,,, Pe-.ü, tares, com a maior parte em café e pastagem. Os vinhedos estão
assim distribuídos: 4 ha de Sauvignon Blanc e 1 ha de Syrah. O
J\ objetivo é atingir entre 20 e 25 ha de uvas plantadas em até 3 anos
e instalar uma cantina própria. As vinificações ainda ocorrem nas
instalações da Epamig, em Caldas, MG.

GUASPARI, Vinícola
Gr IV - 2006 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaguaspari.com.br
A Vinícola Guaspari (Agrícola Guaspari Indústria e Comércio de
~. Vinhos) é uma das empresas, entre várias, de um amplo conjunto
criado por Paulo Brito, empresário que atua desde a mineração
GUASPARI até a geração de energia, passando por gestão e participações.
Com a possibilidade do manejo de vinhedos pelo ciclo invertido
da videira, com dupla poda, decidiu investir em vinhos finos com a esposa, Ângela Guaspari
de Brito. Conta a história de que a família desejou, um dia, criar um labirinto de plantas.
Ocorre que um jardineiro sugeriu que aproveitassem videiras que estavam sendo arrancadas
de uma outra propriedade. A família aceitou a ideia. Chegaram as videiras, foram implantadas
e prosperaram. Assim, se já estavam propensos à vitivinicultura, o êxito com aquelas primei-
ras plantas consolidou o projeto. Antes, porém, foi contratado um mapeamento detalhado da
propriedade, que constatou mais de 200 hectares de área, nos quais os subsolos apresentam
o fenômeno de intrusão granítica, o que proporciona ótima drenagem. E mais: investigações
topográfica e edafológica levaram a família Guaspari Brito a demarcar microrregiões para a im-
plantação dos vinhedos, denominados pelas vistas que proporcionam. São 12 áreas, cada uma

Gen te. Lugares e Vin hos do B ras il 321


com as próprias características, num total de 50 hectares de vinhedos. Vistas Altas: Vista da Serra
(Syrah), Vista do Chá (Syrah), Vtsta d'Água (Syrah), Vista das Pedras (Syrah), Vtsta do Vale (Syrah, Ca-
bernet Sauvignon, Cabernet Franc e Sauvignon Blanc), Vtsta do Bosque (Viognier, Syrah, Petit Verdot
e Pinot Noir), Vtsta da Mata (Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Syrah, Chardonnay, Pinot Noir
e Sauvignon Blanc) e Vtsta do Lago (Cabernet Sauvignon e Chardonnay). Vistas Pinhal: Vtsta da
Vinícola (Chardonnay e Sauvignon Blanc), Vtsta do Barão (Chardonnay e Sauvignon Blanc), Vista do
Café (Sauvignon Blanc) e Vtsta do Pinhal (Muscat Petit Grain, Sauvignon Blanc e Syrah) . As altitudes
variam entre 850 metros e 1.300 metros. As cepas foram importadas da França: são as tintas Syrah
(36%), Cabernet Sauvignon (10%), Cabernet Franc (5%), Pinot Noir (4%) e Petit Verdot (2%), e as
brancas Sauvignon Blanc (18%), Chardonnay (15%), Viognier (8%) e Muscat Petit Grain. O mode-
lo de cultivo obedece à chamada dupla poda, que obtém a inversão do ciclo da videira, permitindo
a colheita nos meses de inverno, quando o solo está seco e os dias ensolarados, com noites frias. A
Enologia está a cargo do enólogo chileno residente Cristian Sepulveda, sob a orientação de Gustavo
Gonzalez, que atuou na prestigiada Robert Mondavi Winery, na Califórnia. A fase inicial do projeto
teve traço do escritório Rossi Arquitetura. Toda a decoração foi coordenada por Ângela Guaspari,
pessoa sensível ao mundo das artes e à cultura religiosa. Como católicos que são, assumiram uma
pomba como Iogomarca da vinícola e expõem, nas paredes do empreendimento, inúmeras telas
da arte andina cusquenha, com imagens de anjos e santos. A oferta de vinhos está diretamente
vinculada à qualidade das colheitas; por isso, haverá anos nos quais certos rótulos não aparecerão.
Os tintos são os varietais da Syrah Vtsta do Chá, um vinho muito premiado, Vista da Serra, de grande
complexidade, com uvas do vinhedo mais antigo da vinícola, e Vale da Pedra, com vinhos disponíveis
em diversas safras, além do Vtsta da Mata, um corte Cabernet Sauvignon com Cabernet Franc. Os
brancos são o Vista do Lago Chardonnay, fermentado em barricas, o Vista do Bosque Viognier, o Guaspari
Sauvignon Blanc e o Guaspari Vale da Pedra Branco. Depois de alguns anos trabalhando as vinhas de Pi-
not Noir, foi lançado, em 2019, o Vista da Mata Pinot Noir 2016, com 12 meses em barrica francesa
de segundo uso e 14,0% de teor alcoólico. A Vinícola Guaspari elabora cerca de 90.000 garrafas por
ano. Investiu bastante no enoturismo e, hoje, tem 60% da receita obtida dessa atividade, contando
com profissionais capacitados para o receptivo.

PARZIALE Vinhos
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I) - EnoT
pousadadovinhedopinhal.com.br
Luciano Parziale é um arquiteto atuante na profissão, com sítio de
1,2 hectare na área urbana do município de Espírito Santo do Pi-
VINHOS
nhal. Integrou a equipe de projeto e execução das instalações da Vi-
nícola Guaspari. A partir de então, decidiu implantar uma pequena
área de vinhedo em sua propriedade. Começou implantando mudas de Syrah, Cabernet Sauvig-
non e Malbec. Em pouco tempo, constatou a franca adaptação da casta Syrah e eliminou as outras.
Atualmente, são 1.500 plantas, em 0,2 hectare. Todo o processo é assessorado pela Epamig, de
Caldas, MG, onde as vinificações são realizadas, sob a orientação da enóloga Isabela Peregrino. A
primeira vinificação foi a da colheita de 2011. Os vinhos Parziale Syrah das colheitas de 2017 e
2018 são varietais a 100% da casta, com estágio de meses em barricas novas de carvalho francês,
com 14,0% de teor alcoólico. O Parziale Syrah apresenta um tom rubi intenso, aromas frutados

322 Rogerio Dardeau


amplos e médio corpo. A casa mantém a Pousada do Vinhedo, com uma decoração acolhedora, e
nela os hóspedes podem apreciar esse varietal único de grande presença no paladar. A Pousada do
Vinhedo está administrada por Graziella Parziale.

ITOBI

CASA VERRONE
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I)
casaverrone.com.br


O empresário Mareio Vedovato Verrone, até o ano 2000, era um
apreciador. Naquele ano, decidiu caminhar um pouco mais e mer-
CASA VER.RONE gulhou no assunto 'vinhos', por meio de cursos, leituras e encon-
tros técnicos. Pronto: em 2009, começou a implantar seus vinhe-
dos em 3 hectares de terras, que, em 2017, já atingiam 20 hectares.
Para isso, ele procurou a Epamig e o vitivinicultor Murillo de Albuquerque Regina, para ingres-
sar no novo mundo dos vinhos a partir de videiras com o ciclo invertido de produção, ou seja,
com a colheita no inverno. É exatamente essa forma de plantio que vem inserindo o Sudeste
brasileiro no cenário da elaboração de vinhos finos de terroir. Mas esse processo sempre depende
do microclima e da casta. Como veremos adiante, as uvas do Speciale Chardonnay são de ciclo
normal e as uvas do Speciale Syrah são de ciclo invertido. Toda a elaboração dos vinhos Casa
Verrone ocorre nas instalações da Epamig, em Caldas, MG, pelas mãos da competente e sensível
enóloga Isabela Peregrino, enquanto não se concretiza a construção de uma cantina própria,
ainda em projeto. Os vinhos estão organizados em duas linhas: a de entrada, chamada Casa Ver-
rone, e a linha superior, batizada de Casa Verrone Speciale. O Casa Verrone Speciale Chardonnay
2017 (13,0%) é um varietal a 100% da casta, de uvas cultivadas nos vinhedos de Divinolândia,
a 1.300 m de altitude, colhidas em ciclo normal, em janeiro daquele ano. O vinho fermentou
em barricas de carvalho e depois nelas estagiou por quatro meses. Com uma cor palha muito
brilhante, seus aromas nos fazem lembrar abacaxi maduro, pera, um toque de melão e evoluem
para sensações resultantes do estágio nas barricas de carvalho francês . No paladar, é untuoso e
nos envolve com muito boa acidez, ótimo volume e boa persistência. O Casa Verrone Speciale
Syrah 2016 (14,0%) é um varietal a 100% da casta, de uvas cultivadas nos vinhedos de Itobi, a
840 m de altitude, colhidas em ciclo invertido, em julho daquele ano. A fermentação foi realizada
em tanques de aço inox, com rígido controle de temperatura. Teve maceração longa (21 dias) . O
vinho estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês. O resultado é um tinto de muito
bom corpo. Mostra um rubi intenso, com muito brilho. Os aromas nos levam à amora madura e
compotas de frutas escuras, entre outros. No paladar, tem grande presença, com taninos vivos,
mas domesticados. Mostrou-se macio e persistente. A Casa Verrone tem, ainda, um espumante
brut branco, um rosé de Syrah e os vinhos de entrada. O Casa Verrone Brut exibe grande cremo-
sidade, e as bolhas muito pequenas movimentam-se em alta velocidade. Tem grande frescor, com
aromas daquela pera macia, certamente causado pela proporção de 75% da Chardonnay, no corte
do vinho base, complementado com 25% de Pinot Noir. O vinho ícone da casa é o Casa Verrone
Gran Speciale Cabernet 2015. Trata-se de um corte entre Cabernet Franc (67%) e Cabernet

Gen te. Lugares e Vin hos do B ras il 323


Sauvignon (33%) , dos vinhedos de Itobi, que foi elaborado com maceração longa e teve estágio
de 12 meses em barricas de carvalho francês. Em 2018, ainda estava jovem, potente, mostrando
futuro longo. A vinícola tem outras variedades implantadas, em avaliação.

JUNDIAÍ
Bragança Paulista, Jundiaí, Jarinu e outros municípios do leste do estado de São Paulo e
da macrorregião de Campinas têm história com a vitivinicultura. Essa história se escreve com
um expressivo número de pequenos produtores e por iniciativas acadêmicas e empresariais,
ligadas à uva e ao vinho. Apresento, a seguir, os exemplos da Etec e da Enoconexão, bem como
o tradicional produtor Passarin.

ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL BENEDITO STORANI


Essa instituição de ensino do sistema Centro Paula Souza, do es-
_ k __ t ~ tado de São Paulo, está implantando curso técnico de Viticultura
Etec BeSt e Enologia, e vem pesquisando o cultivo das viníferas Cabernet
Franc, Syrah e Sauvignon Blanc, com manejo de dupla poda e co-
lheita de inverno. Pesquisa também a vitivinicultura de variedades de mesa. O projeto do curso
de Viticultura e Enologia foi iniciado pelo professor Eduardo Alvarez. Atualmente, está sob ares-
ponsabilidade do professor Adilson Amatto. O curso já está montado, com estrutura pedagógica,
como também os espaços físicos (Laboratório de Viticultura, Parreirais e Cantina de Enologia).
Como o próprio professor Amatto afirma: ''Até que o curso esteja funcionando, as parreiras não esperam
e, portanto, já estamos realizando os trabalhos de poda, manejo, colheita e processamento, tirando bons re-
sultados com as uvas finas tanto na colheita convencional, com a produção de espumantes, quanto na colheita
de inverno, com tintos mais encorpados e maduros".

ENOCONEXÃO Apoio à Viticultura e Enologia


Empreendimento do casal Rafael Vicchini e Ariana Sgarioni: ele,
engenheiro de alimentos, e ela, nutricionista, pela Universidade de
São Paulo (USP), e enóloga, pelo Instituto Federal do Rio Grande
do Sul (IFRS) - campus Bento Gonçalves. Trata-se de uma empresa
criada em 2017, para suporte aos produtores artesanais do Sudes-
te, levando assessoramento e fornecendo insumos, especialmen-
te uvas. Desde sua fundação, já realizou três encontros técnicos,
ampliando a relação ensino-aprendizagem entre profissionais de
vitivinicultura e artesãos do ofício. Em 2020, a Enoconexão entregou 170 toneladas de 24 varie-
dades de viníferas aos vinicultores de São Paulo. Ariana é a atual presidente da Câmara Setorial
da Uva e do Vinho, órgão da Secretaria de Agricultura do estado de São Paulo, além de ser a
responsável técnica pela Adega Beraldo di Cale, vinícola da família, que mantém um restaurante
anexo, integrado à Rota Turística da Uva, de Jundiaí. A empresa já soma quinhentos clientes
que elaboram seus vinhos com os frutos cuidadosamente transportados, em contentores refri-
gerados, do Rio Grande do Sul e Santa Catarina a São Paulo. Rafael coordena todo o processo,

324 Roge ri o D a rdea u


acompanhando o desenvolvimento das frutas nos vinhedos, embarcando, na colheita, em caixas
próprias, higienizadas e fechando o frete. Essa é mais uma iniciativa que contribui para a maior
presença de vinhos finos entre os consumidores brasileiros.

PASSARIN Bebidas
Gr III - 1927 - VM - (C)
Tradicional produtora de bebidas destiladas e fermentadas, para
consumo corrente. Adquire uvas americanas na Serra Gaúcha, para
seus vinhos de mesa. Eventualmente também oferece o Mastela Ca-
bernet Sauvignon, vinho fino tinto seco elaborado com uvas adquiri-
das no município de Nova Pádua, na Serra Gaúcha.

SANTO ANTÔNIO DO JARDIM

TERRA NOSSA
Vinhos de Inverno
Gr IV - 2014- VBdT* - (C) - EnoT
Iniciativa de um grupo de amigos agrônomos e enólogos, coorde-
nada por Edsandro Rocha, o Sandro. Tudo começou com o desejo
de André Sano, Cristian Sepulveda, Otávio de Luca, Roberto Fer-
rari e Sandro de elaborarem vinhos próprios para suas rodas de
conversa. Acontece que os experimentos tiveram tanto êxito, que
os amigos decidiram constituir uma sociedade formal. São dois vi-
nhedos com área total de 1,50 hectare, com a variedade Syrah, em Santo Antônio do Jardim, a
920 m de altitude. Um outro, em Espírito Santo do Pinhal, com 10 hectares, foi iniciado em
2018, com a implantação de 2 hectares e, depois, mais 4 hectares de Syrah, 1 hectare de Caber-
net Sauvignon e 1 hectare de Cabernet Franc. O vinho de estreia foi o Terra Nossa Syrah 2016,
14,5%, vinificado em cantina artesanal própria, e com estágio de um ano em barricas de carvalho
francês de segundo uso. Mostrou uma cor rubi intensa, aromas frutados com leves notas de
baunilha e especiarias. No paladar, boa acidez, taninos vivos e um ótimo volume, precisando
de tempo na garrafa. O vinho da colheita de 2017 seguiu o mesmo perfil, mas mostrou-se mais
delicado. Atualmente, a Terra Nossa finaliza a construção de uma cantina maior, muito bem
instalada, na qual terá também a atividade de enoturismo, além de ter constituído a Terra Nossa
Consultoria, para assessoramento a empreendimentos de vitivinicultura, já contando com mais
de uma dezena de clientes

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 325


MANTIQUEIRA ALTA

Espírito
Santo

São Bento do Sapucaí, SP

Esse é mais um lugar onde vinhos finos são elaborados e cujo contorno ainda carece de
definição precisa, inclusive porque pode unir áreas em municípios paulistas e mineiros. Entre
as características visíveis, está a altitude, quase sempre acima dos 1.000 m. As áreas são
frequentemente acidentadas, e a altitude pode chegar a 1.600 m. Os municípios de São Bento do
Sapucaí e Campos do Jordão despontam como novos produtores que experimentam as culturas
pelo ciclo invertido da videira e pelo ciclo regular, simultaneamente, com vinhos de inverno e de
verão. A vizinhança de São Bento do Sapucaí com os municípios mineiros de Piranguçu e Sapucaí
Mirim, com semelhanças de topografia, solo e clima, vem configurando esse novo lugar onde
vinhos finos são produzidos e que ultrapassa fronteiras geopolíticas. Veraldi, Carbonari e Ferreira
são alguns dos nomes que recentemente passaram a elaborar vinhos brasileiros de terroir, com
presença no mercado. O agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael foi o protagonista que, ao implantar
os próprios vinhedos e elaborar vinhos finos, exerceu involuntária motivação entre residentes e
visitantes. Sim, visitantes, pois diversos proprietários de casas de veraneio em Campos do Jordão
solicitaram a consultoria de Veraldi Ismael e implantaram vinhedos de viníferas para vinhos finos
nos próprios jardins.

GENTE que elabora vinhos finos na Mantiqueira Alta

CAMPOS DO JORDÃO, SP

FERREIRA, Vinícola
Gr IV - 2010- VBdT* - (I) - EnoT
Dormovil Ferreira é um engenheiro eletrônico com larga experi-
~ Vinícol~ ência em tecnologia da informação, segmento ao qual se dedicou
<;1;) Ferreir~ por muitos anos, adicionando mais recentemente a construção
civil. Ele é um amante de vinhos desde a juventude, muito prova-

326 Roge ri o D a rdea u


velmente pelas raízes portuguesas. Em certo momento, dado o profundo interesse, fez o curso Wme
Making, na Universidade da Califórnia (Davis). Ferreira e a esposa, Rosana, frequentam Campos do
Jordão há muitos anos, onde têm uma propriedade, no sugestivo bairro de Descansópolis. A amiza-
de com o agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael fez com que Ferreira se interessasse mais diretamente
por um projeto pessoal de vinhos. Plantou, então, mil pés no terreno junto à casa, e mais mil pés em
área próxima, adquirindo mudas da Vitácea Brasil. O projeto se dedica a castas tintas, havendo sido
escolhidas, de início, Merlot (90%) e Pinot Noir (10%), logo em seguida incorporando Cabernet
Sauvignon e Malbec. O cultivo obedece ao ciclo normal da videira, com poda em agosto/setembro
e colheita em fevereiro/março. Ferreira já construiu e equipou uma pequena cantina, na qual vem
vinificando desde a primeira colheita. A cantina está preparada para 10 mil garrafas/ano. A ideia
é ter vinhos jovens e barricados, sempre na filosofia de vinhos obtidos com mínima intervenção.
Além da amizade com Rodrigo Veraldi Ismael, Ferreira também se orienta com o enólogo português
Luís Louro. Mas Ferreira é um homem muito ativo e, assim que percebeu o êxito de suas pequenas
iniciativas, imediatamente partiu para um investimento maior. Adquiriu terras no município mi-
neiro de Piranguçu, fronteira com São Bento do Sapucaí, e ali implantou, em espaldeiras cobertas,
as variedades Alicante Bouschet, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Carménere, Chardonnay,
Malbec, Marselan, Merlot, Pinot Noir, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Syrah/Shiraz, Tannat, Touriga
Nacional e Viognier. A nova propriedade está localizada ao lado da represa São Bernardo, na Serra
da Mantiqueira, a 1. 767 metros de altitude e a 30 km do centro de Campos do Jordão, SP. Já estão
plantadas cerca de 30.000 videiras de castas viniferas para vinhos varietais e cortes. A vinicola tem
também oliveiras e frutas vermelhas, como mirtilo, amora e framboesa. Os vinhos já disponíveis
são: Montês Merlot 2017, RV Pinot Noir 2017, Arcanum da Serra Merlot 2017, São Bernardo VF
Mélange 2018 - corte entre Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot, com 13,9% de teor alcoólico,
barricado por 12 meses em carvalho francês, e SF Trompete Gran Corte 2018 - assemblage de Merlot,
Cabernet Sauvignon e Shiraz. A nova cantina da Vinícola Ferreira, junto aos vinhedos de Piranguçu,
está em amplo desenvolvimento para firmar-se como polo enoturístico da região, com restaurante,
mirante, trilhas e uma belíssima natureza emoldurando os espaços.

SÃO BENTO DO SAPUCAÍ, SP

BAÚ 9.4
Fazenda Portal da Luz
Gr IV - 2010- VBdT* - (I)

,'
BAU ~
A Fazenda Portal da Luz é um cenário estonteante, em 84 hectares
de área. Do alto da montanha, a cada ângulo que se olhe, se vê a
natureza viva, exuberante. Se sentem aromas singulares, inebrian-
-- 9.4
tes. Tudo envolvido pela aura da imponente Pedra do Baú, com
seus 1.950 m de altitude. É esse o ambiente que Marcelo e SoniaMotta elegeram como território
de seus vinhedos, a mais de 1.000 m de altitude, em plena Serra da Mantiqueira paulista. Ali,
numa propriedade que também cultiva castanhas portuguesas, eles implantaram 3,5 hectares de
viníferas. Escolheram as brancas Viognier e Pinot Grigio, além das tintas Cabernet Sauvignon,
Malbec, Petit Verdot, Pinot Meunier, Pinot Noir e Syrah. Em princípio, adotam o manejo pelo

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 327


ciclo invertido da videira, com colheita no inverno, mas oferecem descanso à vinha e testam cultivo
também pelo ciclo normal. Há vinhedos de Cabernet Sauvignon, Malbec e Petit Verdot manejados
pelo ciclo normal.Já estão engarrafados um corte Cabernet Sauvignon + Malbec 2018 e um varietal
de Petit Verdot, ambos de ciclo normal. O projeto, como tantos outros de vitivinicultura, em nossa
terra, é bem recente. Os resultados, porém, têm sido animadores. O Baú 9.4 Syrah Viognier 2015
(14,5%) é um varietal (a lei permite assim classificá-lo) com 95% da casta tinta e 5% da branca,
que entra, assim como no Rhone (norte), para domar a potência da Syrah. O vinho mostra uma cor
rubi bem escura, brilhante. Os aromas são incrivelmente amplos, indo das frutas vermelhas às com-
potas, passando pelos vegetais (um toque levemente herbáceo) e muitos outros. No paladar, tem
um grande volume, é potente, encorpado, envolve e persiste. Está ainda jovem. É vinho de guarda.
Para ser apreciado agora, aos dois anos de vida, sugiro fazê-lo respirar por, pelo menos, 40 minutos
num decantador. Os vinhos Baú 9.4 são elaborados em cantina contratada, sob a tutela enológica
da experiente enóloga Marite Dal'Osto. Ah, sim, por que Baú 9.4? Simplesmente pelo endereço da
fazenda: Estrada Municipal José Theotônio Silva, 9.400- São Bento do Sapucaí, SP.

ENTRE VILAS
Gr V - 2006 - VBdT* - (I) - 'N' - EnoT
entrevilas.com.br
Rodrigo Veraldi Ismael é um engenheiro agrônomo, formado pela
conceituada escola da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de
Botucatu. Em 2006, implantou 0,5 hectare de viníferas no Viveiro
Frutopia, sítio localizado numa altitude superior aos 1.600 metros,
no qual já produzia algumas frutas, além de azeitonas e castanhas
portuguesas. Foi o primeiro produtor comercial brasileiro de lúpulo.
Além do azeite extravirgem que elabora, Rodrigo cria porcos alimentados com castanhas, buscando
reproduzir criações alentejanas e espanholas. Ali também se faz um bom marron glacé. As videiras
são conduzidas em espaldeiras, cultivadas pelo ciclo normal, e são protegidas permanentemente,
com capas plásticas, contra chuva e umidade. As castas são Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon,
Pinot Noir e Syrah. Recentemente, o produtor criou um vinhedo novo, com 2,5 hectares, no qual
implantou a casta Pinot Noir e um pequeno teste de Chardonnay e Sauvignon Blanc. Parte dos
vinhos é amadurecida em carvalho francês Allier. A produção é muito pequena. Os vinhos são
sempre criações, inovações a cada colheita. Os tintos, em geral, são potentes, com taninos ricos,
recomendando tempo de garrafa para afinamento. Rodrigo se inclui entre os autores naturais. Ele
não usa agrotóxicos, não chaptaliza e não usa SOr A safra de 2019 nos oferece: Equinócio - um
vinho laranja de Sauvignon Blanc; Vento - um rosado de Shiraz, Corredeira Pinot Noir; Gnaisse
- um Cabernet Franc de maceração carbônica, estilo beaujolais nouveau; Montesa - um varietal de
Cabernet Franc; Confluência - corte entre Cabernet Sauvignon (60%) + Cabernet Franc (20%) +
Malbec (20%); Obsession Cabernet Sauvignon; e Grimpa111 Shiraz. No local, Rodrigo mantém o já
conhecido Restaurante Entre Vilas, onde oferece uma slow food característica. A pequena cantina é
muito bem instalada e cuidada. Está localizada no subsolo do restaurante.

111 Nome atribuído à folha espinhosa da Araucária. Evidencia aromas e sabores resinados da Shiraz.

328 Rogerio Dardeau


Vizinhos à propriedade Entre Vilas estão os vinhedos de Gustavo Fernandes Veraldi
Ismael. Como o sobrenome explicita, é irmão do agrônomo Rodrigo, médico especializado
em hematologia e oncologia clínica, que decidiu praticar uma vitivinicultura sem intervenção,
integralmente com manejo de vinhedos pelo ciclo normal da videira, com colheita de verão,
como realiza o irmão Rodrigo. São 3 hectares em que estão implantadas as variedades
brancas Chardonnay, Marsanne e Sauvignon Blanc, além das tintas Cabernet Franc, Cabernet
Sauvignon, Grenache, Mourvedre, Pinot Noir e Syrah. As vinificações são feitas por Rodrigo
Veraldi Ismael e os vinhos são rotulados como Herdade Viela Vinhos Naturais. Veja mais
sobre esse projeto, em Sul de Minas Gerais, São João Batista do Glória, onde a Herdade Viela
tem vinhedo e cantina.

VILLA SANTA MARIA


Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
villasantamaria.com. br
Empreendimento vitivinícola profundamente planejado e estu-
dado pelo enófilo Marco Antonio Carbonari, empresário amante
de vinhos, com origem no provimento de serviços de tecnologia
VILLA SANTA MARIA
nas áreas de eletrônica e de semicondutores, além de serviços de
trading. São 30 hectares de vinhedos implantados (27 mil mu-
das) numa propriedade com 60 hectares. As mudas de Cabernet
Franc e Syrah foram adquiridas da Sociedade Vitácea de Desenvolvimento Vitícola Ltda., do
respeitado agrônomo Murillo Albuquerque Regina. São as videiras de melhor adaptação ao
terroir da propriedade, na Serra da Mantiqueira. As Cabernet Sauvignon e Merlot vieram da
França. O projeto prevê 50 mil mudas, no total. Há ainda teste com a Sauvignon Blanc. A
Villa Santa Maria pratica o ciclo invertido das videiras (vinhos de outono) com as Cabernet e
a Syrah. As Merlot e Sauvignon Blanc são cultivadas no ciclo normal das plantas. A supervi-
são agronômica está a cargo do sócio Guto Carbonari, com a assessoria da Vitácea. Em 2008,
aprovou-se o primeiro vinho, um corte entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Syrah.
Há projeto de cantina própria, mas os vinhos são ainda elaborados na Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Caldas, MG. O planejamento é de instalações
para elaboração de 80 mil a 100 mil garrafas por ano. A empresa está em operação comercial
desde 2016. Os vinhos têm a denominação Brandina, numa homenagem à avó dos Carbonaris.
O primeiro vinho foi um corte entre Cabernet e Syrah. Atualmente, esse tinto (Brandina As-
semblage 2017), muito equilibrado e gastronômico, é apresentado com o corte 71 % de Merlot,
17% de Cabernet Franc e 12% de Cabernet Sauvignon. A casa oferece ainda um Chardonnay e
um rosado, além de hidromel e conservas artesanais. A filosofia é de uso de barricas de carvalho
americano e francês. As barricas de carvalho americano abrigam os vinhos de Cabernet Sau-
vignon, e, nas de carvalho francês, estagiam os vinhos de Cabernet Franc e de Syrah.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 329


SAPUCAÍ MIRIM, MG

SÍTIO POLESANO
Gr IV - 2016 - VBdT* - (I)
René Bailo e Evellin Takahashi formam um casal urbano, com ativi-
G
"a, dades profissionais em São Paulo, no mundo corporativo. Ambos,
POLESANO
... GAÍCOl" porém, têm origens rurais. Talvez por isso sonhem com um futuro
mais ameno, no campo. O Sítio Polesano está projetado para a nova
fase do casal. Ali, já estão plantadas figueiras e oliveiras. Iniciaram o projeto vitivinícola (vinhos
pessoais), com a consultoria de Rodrigo Veraldi Ismael. Implantaram videiras de castas italianas,
mas as mudas não prosperaram, e o projeto foi reconcebido. Desde 2017, estão com Sauvignon
Blanc, da Rasip Agropecuária. Em 2019, implantaram Merlot e Syrah, do viveiro Vitácea Brasil.
Serão, no total, 2000 plantas, em cerca de 1 hectare, em espaldeiras cobertas. Todo o manejo
se dá pelo ciclo normal, com colheita de verão. O nome Polesano busca manter a memória da
origem familiar de René, no Vêneto. Aliás, em 2020, o projeto avançou com uma retomada de
castas italianas. Foram implantadas as tintas Aglianico e Teroldego, além da branca Manzoni.

NOROESTE EALTA MOGIANA


A região noroeste de São Paulo é mais um dos inúmeros espaços desenvolvidos do estado.
A cidade principal é São José do Rio Preto, com uma população aproximada de 500.000
habitantes e onde o setor de serviços já suplanta a indústria e a agropecuária. O clima é
tropical, com verões chuvosos e invernos secos. A pluviometria anual está pouco acima dos
1.200 mm, sendo inferior a 20 mm nos meses de julho e agosto. Isso motivou a presença
de viticultura pelo ciclo invertido da videira, com dupla poda, para colheita de inverno. Os
projetos vitivinícolas de vinhos finos vêm crescendo, já estando presentes em Ituverava,
Penápolis, Ribeirão Preto, São Carlos e São José do Rio Preto.

330 Roge ri o D a rdea u


GENTE que elabora vinhos finos no Noroeste de São Paulo e na Alta Mogiana

ITUVERAVA

MARCHESE OI IVREA, Vinícola


Gr IV - 2006 - VBdT* - (I) - EnoT
A família di Ivrea descende da realeza italiana e de produtores de
vinhos estabelecidos há nove séculos na Itália. O empreendimen-
to vitivinícola nasceu quando o empresário Luís Roberto Oi San
Martino-Lorenzato Di Ivrea constatou que a região de Ituverava,
no paralelo 20° 20' 20", tinha um clima muito parecido com o
de Montalcino, na Itália, apenas com manifestações em estações
diferentes, orientando o projeto brasileiro para o ciclo invertido
das videiras, com dupla poda. É o próprio Beto Lorenzato, como Luís Roberto é conhecido,
quem nos conta:
"Trata-se de um singular projeto, que transporta a tradição milenar na produção de vinhos do norte
da Itália para o norte do estado de São Paulo, quebrando paradigmas, desde o cultivo primoroso das
uvas até a finalização em vinhos finos. Nossos vinhedos são compostos por clones das castas Sangiovese
e Moscato Giallo, importadas da Itália e adaptadas com absoluto sucesso nas terras do Antigo Caminho
do Ouro, por onde passou Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, em 1722. Esta emblemática
região nos conecta a uma grande história, visto que, em 1819, a mando do rei Dom João VI, a Expedição
Real por aqui desembarcou para registrar as riquezas da fauna, flora e paisagens, sob o comando do
naturalista francês August de Saint Hilaire, ao qual prestamos homenagem em nosso rótulo rosé. Saint
Hilaire catalogou, nas colinas desta terra, as Paineiras Rosas e a Cachoeira de Salto Belo, que, em
língua indígena, significa Ituverava. Berço de tantas riquezas como ouro, café, algodão, gado e cana-
de-açúcar, agora cede seu terroir para a produção de vinhos finos, fazendo assim jus a sua fascinante
tradição. Nosso vinhedo está incrustado no Vale do Rio da Vila do Carmo da Franca do Imperador
(Ituverava, SP), em colina com excelente exposição solar; solo de terra roxa, massapé. Acima de 700
m de altitude, conta com inverno seco com média de 30% de umidade e imensa amplitude térmica, com
temperaturas médias de 5ºC a 25ºC, proporcionando elevado Brix no momento de maturação das uvas;
absolutamente favorável para grandes vinhos, inesquecíveis ao paladar".
Beto Lorenzato vem do setor açucareiro, sendo também protagonista de grandes eventos,
como a Fórmula Indy Brasil e a Fórmula 1 Náutica. Ele escolheu as variedades viníferas
Sangiovese (tinta) e Moscato Giallo (branca) para começar, entre outras comuns. As mudas
viníferas foram importadas da Itália. Implantou 14 hectares de vinhedos e inaugurou a cantina
em 18 de julho de 2015. A proposta é de dois varietais secos: um branco e um tinto, a partir
de colheita selecionada, manual, em meses de inverno, com vinificação e engarrafamento na
origem. A Vinícola elabora ainda um rosado, em corte de Sangiovese com Moscato Giallo, um
vinho canônico e um licoroso. A produção atual é de 50 mil garrafas/ano. São vinhos jovens,
sem passagem por barrica. Mas Beto Lorenzato já está preparando tinto barricado. A assessoria
técnica está conduzida pela Enovitis, com o enólogo Marcos Vian. O vinho ícone da casa é o
Arduino D'Ivrea Rei da Itália, 100% Sangiovese. A sede do empreendimento é um casarão

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 331


colonial avarandado, de grande beleza, com espaços amplos, no qual Beto recebe visitantes,
em momentos muito agradáveis, sempre regados a vinhos e História. O empresário trabalha
ainda na construção de referências vitivinícolas que contribuam para a formalização de uma
denominação de origem, à qual gostaria de batizar com o nome Cuestas Paulistas da Alta Mogiana.

PENÁPOLIS

FERRACINI, Vinícola
Gr III - 2014 - VBdT - (I) - EnoT
Empreendimento familiar liderado pelo casal Fabio e Poliane Fer-

fffi
FERRACINI
racini, integrando a produção de uvas viníferas e a elaboração de
vinhos e sucos com atividades enoturísticas. A Vinícola Ferracini
DESDE 2014
oferece permanentemente visitas guiadas, para que o visitante co-
nheça todo o processo de elaboração de vinhos, do vinhedo à canti-
na. Os vinhedos são manejados tanto em ciclo normal, com colheitas de verão, quanto por dupla
poda, para colheitas de inverno. As variedades implantadas são viníferas e de mesa. Cabernet
Sauvignon, Merlot e Tannat vêm respondendo positivamente. A cantina própria foi inaugurada
em 2016. A casa elabora diversos vinhos finos suaves, o que não é tão comum entre produtores
de viníferas. Ipê, Jacarandá e Flamboyat (sic) são marcas de vinhos finos tintos secos Ferracini.
Os espumantes têm a denominação Ferracini. Há, ainda, as linhas Donna Emília e La Casa Cen-
tenária, ambas para vinhos de mesa.

RIBEIRÃO PRETO

TERRAS ALTAS, Vinícola


Gr IV - 2017 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaterrasaltas.com.br
Liderado por José Renato Magdalena, esse empreendimento se si-
tua em área próxima ao condomínio Alphaville, na Fazenda Vale
Encantado. São 9,08 hectares de vinhedos numa viticultura de
precisão, implantados, com irrigação, a partir de 2017, protegidos
por áreas maiores de matas nativas. Estão dispostos em oito parcelas: quatro identificadas com
a casta Syrah, com áreas de 1,04 ha, 1,03 ha, 0,86 ha e 0,97 ha; duas para o cultivo da Cabernet
Sauvignon, com 1,50 ha e 1,66 ha; uma com 1,23 ha para Sauvignon Blanc, e uma última com
O, 79 ha para Cabernet Franc. As duas Cabernets serão implantadas a partir de 2020, quando
serão incorporadas ao projeto as variedades tintas Grenache e Marselan, além da branca Viog-
nier. A Embrapa vem acompanhando o desenvolvimento da iniciativa, com estudos de solos,
no sentido de seguir com a viticultura de precisão, identificando castas a microterroirs. Todo o
cultivo está previsto para manejo por dupla poda, com colheita de inverno. O projeto contempla
cantina, produção de queijos, mel e instalações para enoturismo. A agronomia e a produção
estão a cargo do jovem Ricardo Baldo, que acompanha todo o processo, desde a implantação dos
vinhedos. A vinícola ainda se utiliza das instalações da Epamig, em Caldas, MG, para vinificação,

332 Rogerio Dardeau


e a primeira foi em 2019. A Terras Altas tem um interessante projeto em andamento. Como se
sabe, Ribeirão Preto é bem próxima de Jaboticabal, município tradicionalmente oleiro, onde está
localizada a Cerâmica Stéfani, de onde saem talhas de barro (filtros) para todo o Brasil. Pois bem,
José Renato Magdalena criou, com a Stéfani, ânforas para amadurecer vinhos, como ainda fazem
outros produtores, mundo afora. O italiano Josko Gravner, por exemplo, elabora e armazena
seus vinhos, no Friuli, em ânforas trazidas do Cáucaso. Na Geórgia isso é prática corrente. Com
certeza, teremos vinhos Terras Altas de grande tipicidade.

SÃO CARLOS

ANTERO LISCIOTTO
Gr V - 1999 - VBdT* - (I)
Antero Lisciotto e a esposa, Alice, mantêm o Sítio Jequitibá há muitos anos, no distrito de Água
Vermelha, município de São Carlos. São 12,1 hectares de área. Com o conhecimento do manejo
de videiras pelo ciclo invertido, ele, um juiz aposentado, decidiu ingressar na vitivinicultura.
Implantou vinhedos de Syrah (1.000 plantas) e Cabernet Sauvignon (200 plantas). As plantas de
Cabernet Sauvignon não prosperaram e foram erradicadas. Em 2003, com o assessoramento de
Murillo Albuquerque Regina, Lisciotto implantou mais 2.000 mudas certificadas de Syrah, em
clone pré-enxertado, adquiridas da empresa SARL Salettes Pépiniere Viticole, da França, e outras
500 mudas clonadas de Cabernet Sauvignon, estas adquiridas da Vitácea Brasil, de Caldas, MG.
O vinhedo chegou a ter quase 5.000 plantas, depois reduzidas a 1.500, para manejo pessoal por
Lisciotto. Logo começou a elaborar os próprios varietais da Syrah, numa cantina própria, bem ao
estilo doméstico, mas com orientação do professor Mário Francisco Mucheroni, da USP, campus
de São Carlos. Seus vinhos evoluíram e são apreciados pela família e amigos. Tive a oportunidade
de apreciar as safras de 2004, 2008, 2010 e 2016 e atestar uma elaboração muito correta, para
bons vinhos, inclusive com aptidão à longevidade.

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

FAZENDA AMAZONAS
Gr IV - 2006 - VBdT* - (I)

FAZ ,~D
Empreendimento concebido pelo casal Paulo e Aline Girardi, em
AMAZONAS propriedade de aproximadamente 100 hectares, com vocação imo-
biliária, pois parte está em área urbana do município. A plantação
das videiras foi iniciada em 2006, como um hobby, para manejo pelo ciclo invertido, com dupla
poda e colheita de inverno. Nas palavras deles, "gostamos de vinhos e decidimos conhecer mais sobre a
produção do vinho". A fazenda Amazonas tem um projeto urbanístico em desenvolvimento, pelo
escritório do arquiteto Jaime Lerner, em parceria com a urbanizadora Emais. Os vinhedos ocu-
pam 0,8 hectare, com 60% de Cabernet Sauvignon e 40% de Syrah. Os proprietários analisam
a possibilidade de realizar experiência com uvas para vinho branco. O enólogo chileno Cristian
Rodriguez é amigo e consultor informal da família. Hoje, o francês Antoine Le Court presta as-
sistência na mudança do cultivo para orgânico e biodinâmico. Segundo os proprietários, "é uma

Gen t e. Lugares e Vin hos do Bras il 333


experiência trabalhosa e dignificante". A produção total é de cerca de 1.000 garrafas/ ano. A primeira
safra considerada aproveitável foi a 2014, "um vinho agradável e surpreendente. As safras de 2015 e de
2016 foram misturadas, por decisão técnica. Esse vinho ainda amadurece e está muito bom, melhor do que o
de 2014. Temos grandes expectativas sobre esse vinho", diz Paulo. No entanto, reservou-se um peque-
no volume para lançamento do vinho Spirituallis 2015. Em 2017, houve demora na colheita das
uvas, e o teor de açúcar ficou muito alto. O vinho ainda está em barricas de carvalho francês, na
Epamig, mas o único aproveitamento possível será destilá-lo. Ou descartar essa safra. A colheita
de 2018, em função do cultivo orgânico/ biodinâmico, sofreu alterações. A uva Syrah manteve o
próprio ciclo. A Cabernet Sauvignon, porém, entrou em dormência, e sua colheita deverá ocor-
rer no início de 2019. "Nossas vindimas são bastante agradáveis e despertam a curiosidade das pessoas
na região de São José do Rio Preto. Por isso há projeto de potencializarmos isso. Na região de Rio Preto, é a
primeira vez na história que se produziram uvas para vinho, e um bom vinho", destaca Paulo

OUTROS LUGARES onde vinhos finos são elaborados no estado de São Paulo

PARDINHO
Nesse município, situado na região central do estado, a queijaria Pardinho Artesanal criou
a Pardinho de Beber e vem desenvolvendo vinhos especiais, com equipe própria, utilizando a
infraestrutura da Vinícola Vivente, em Colinas, RS.

SÃO PAULO (capital)


São muitos os produtores individuais na capital paulista. Destaco Guilherme Pinto Alves
de Souza. Trata-se de um mestre em Ciência Política, especializado em Planejamento, que
decidiu estudar vinicultura, particularmente. Desde 2016, compra uvas e elabora seus vinhos.
Começou prudentemente elaborando a partir de uvas de mesa, mas, desde 2020, ingressou
no ambiente das viníferas. Produz 1.000 litros por ano, com tendência a elevar esse volume.
Já tem restaurantes clientes na própria cidade e vem participando regularmente da feira
Naturebas. Os vinhos têm mínima intervenção. São elaborados com levedura nativa, sem
filtragem, sem madeira e sem adoção de SOz- Na conclusão deste livro, Guilherme estava
finalizando a elaboração de um Traminer e um Marselan, safra 2020. Mas por que escolhi
esse projeto, para exemplificar os produtores de vinhos pessoais da capital de São Paulo?
Por se tratar da iniciativa de um profissional da Ciência Política, que deu ao projeto o nome
Vinícola O Encantado. Refere-se às figuras do folclore brasileiro, que


povoam nosso imaginário, como uma síntese de quem somos: curupira,
saci, boto e tantos outros. "Pretendemos demonstrar a ligação e o respeito do
nosso produto e nossa f arma de trabalho com a natureza, com os ancestrais e com
a cultura brasileira", explica Guilherme.

334 Roge rio D ard ea u


CUNHA
Quem trafega pela rodovia Presidente Outra encontra a saída para o litoral, até Paraty,
pela BR 459, nas proximidades de Guaratinguetá. Nesse caminho, há trechos da Estrada
Real. No município de Cunha, encontram-se vestígios de viticultura de tempos passados.
Agora, a atividade começa a ser resgatada. Arthur Telles Silva elabora um Cabernet Sauvignon
e outros vinhos, de vinhedos próprios, na Pousada Vinícola Vale do Vinho. Em breve,
teremos empreendimento vitivinícola da família Hirschfeld-Campolongo, a partir de videiras
cultivadas com dupla poda.

JAMBEIRO
Jambeiro, município vizinho a São José dos Campos, próximo à rodovia Presidente Outra.

VINHO D'ALMEIDA
Gr III - 2002 - VBdT - (I)
Iniciativa de Joaquim de Almeida Netto e família, em município
vizinho a São José dos Campos, próximo à rodovia Presidente Ou-
tra. Ali, desde 2002, foram implantados vinhedos com 3 mil pés de
Cabernet Sauvignon, conduzidos em espaldeiras. Os vinhos, como o D'Almeida Cabernet Sauvig-
non 2005, com 12,0% de teor alcoólico, eram elaborados em cantina própria e comercializados
localmente.

RIBEIRÃO BRANCO

FAMÍLIA DAVO Hotel & Vinícola


Gr IV - 2015 - VBdT- (I) - EnoT
O empresário José Afonso Oavo é desses homens atentos às opor-
tunidades. Por isso mesmo, ao conhecer o manejo de videiras por
dupla poda, buscou assessoria com Murillo Albuquerque Regina
e decidiu implantar um projeto próprio, com enoturismo. São 27
hectares de vinhedos em Ribeirão Branco e 23 hectares em São
Gonçalo do Sapucaí, MG. Em São Paulo, estão implantadas as va-
riedades Chardonnay e Pinot Noir, além das americanas Bordô e
Isabel, para suco, todas com manejo pelo ciclo normal, com colheita de verão. A área mineira está
dedicada à Sauvignon Blanc e à Syrah, de ciclo invertido, com dupla poda e colheita de inverno. A
vinícola tem a assessoria enológica de Isabela Peregrino, e as vinificações ainda são realizadas na
Epamig, em Caldas. Na unidade de Ribeirão Branco, está o Hotel Vinícola Oavo, com 19 suítes
muito confortáveis e aconchegantes. Os primeiros vinhos são um espumante nature, um extra
brut, um varietal tranquilo da Chardonnay e um rosado de Pinot Noir.

Gente. Lu gares e Vinhos do Brasil 335


l:)l
Lugares onde vinhos finos são elaborados
no estado de Minas Gerais
Vitivinicultura de vinhos finos em Minas Gerais
Lugares onde produtores estão instalados
ou projetos estão em andamento

Terras Altas de Diamantina


I
e Alto Jequitinhonha
BH (reg. metr

I
1 1

Triângulo Mineiro Zona da Mata


e Alto Paranaíba
1 I Cam das Vertentes

O estado de Minas Gerais está organizado em 12 mesorregiões, 112 com 853 municípios,
sendo o estado da federação com o maior número de municípios. Em sete mesorregiões,
já encontramos viticultura de uvas viníferas. Mas, antes de comentar sobre os lugares onde
vinhos finos são elaborados no estado de Minas Gerais, devo citar que, não obstante uma
história secular de cultivo de videiras, inclusive viníferas, os avanços da vitivinicultura
mineira, no campo dos vinhos finos, devem-se, fundamentalmente, ao trabalho da Epamig
Uva e Vinho 113 e aos estudos do agrônomo Murillo de Albuquerque Regina sobre a inversão
do ciclo das videiras.

Organização de pesquisa
Epamig Uva e Vinho (Núcleo Tecnológico de Caldas) - Divisão

~
fi')
•...
da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, dedica-
da aos estudos sobre vitivinicultura. A Estação Experimental de
EPAMIG Caldas foi inaugurada, em 1936, pelo presidente Getúlio Vargas.
Foi instituída como órgão de pesquisas do Ministério da Agri-
cultura, sendo um dos três primeiros centros de pesquisas especializados em uva e vinho no
Brasil, ao lado das estações experimentais de Caxias do Sul, RS, e de Jundiaí, SP. A instalação
no sul de Minas Gerais ocorreu por ser a região grande produtora de uvas e vinhos. Ali já ha-
via, na época, milhares de hectares de videiras e centenas de adegas, responsáveis em grande
parte pelo abastecimento de vinhos ao Sudeste do país. A Estação Experimental de Caldas

112 Noroeste; Norte; Jequitinhonha (onde estão Datas e Diamantina); Vale do Mucuri; Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba; Central Mineira; Metropolitana de Belo Horizonte (onde está Serro); Vale do Rio Doce; Oeste;
Sul e Sudoeste (onde estão Andradas e Caldas); Campo das Vertentes e Zona da Mata.
113 Setor dedicado à vitivinicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 337


pertenceu ao Ministério da Agricultura até o ano de 1973, quando então foi transferida para
a Embrapa, criada sob a inspiração da Epamig. Em 1976, aquela Estação foi definitivamente
incorporada à Epamig, que, a partir de 2001 , iniciou experimentos em relação à inversão do
ciclo da videira, sob a coordenação do agrônomo Murillo Albuquerque Regina. O objetivo era
"enganar" a videira, para que não atingisse o período de colheita em época chuvosa. Para isso,
desenvolveu-se a dupla poda. Recordando: a primeira poda é feita em agosto, e a segunda, em
janeiro. Após a segunda poda, a planta retoma o ciclo, florescendo em abril e maio. As uvas
estarão aptas a serem colhidas entre o final de junho e o início de agosto. Nessa época, não
somente na região sul de Minas, mas também - demonstrou-se depois - em outras localida-
des do Sudeste brasileiro, o clima tem características semelhantes ao de regiões produtoras
tradicionais do Hemisfério Norte: o solo está seco; os dias são ensolarados, com a tempera-
tura atingindo 27 ºC; as noites são mais frias, com os termômetros marcando cerca de 10 ºC;
e a amplitude térmica - diferença entre a máxima do dia e a mínima da noite - entre 15 ºC
e 17 ºC. E nasceram nossos vinhos de inverno, hoje presentes nos mais variados municípios
do estado e da região Sudeste. Em 2005, foi formalizado o Núcleo Tecnológico Epamig Uva
e Vinho. Desde então, esse Núcleo é o norteador e responsável pelas estratégias de pesquisa
em vitivinicultura para o estado de Minas Gerais, além da prestação de serviços de enologia
para viticultores associados, de diversos estados, hoje sob a orientação da enóloga Isabela
Peregrino. Considero altamente relevante o papel da Epamig no contexto da vitivinicultura
brasileira contemporânea.
Mais recentemente, incorporou-se ao cenário outro ator importante: um viveiro.

Vitácea Brasil - Sítio do Jacarandá - Caldas, MG


A Sociedade Vitácea de Desenvolvimento Vitícola é uma im-
portante organização especializada na produção de mudas e
porta-enxertos. Foi fundada em 2003 e tem como sócios Mu-
rillo Albuquerque Regina, administrador da empresa, Patrick
Arsicaud e Thibaud Pierre Marie Guyon de Salettes. A Vitácea
Brasil tem licença do Entav-Inra 114 para a multiplicação dos
principais clones de variedades francesas no Brasil, e também é licenciada para a multipli-
cação de novas variedades de uvas de mesa sem sementes da Embrapa, além de ser uma das
principais fornecedoras de mudas aos viticultores do Sudeste brasileiro que se iniciaram no
cultivo por dupla poda.

114 Órgão do lnstitut National de la Recherche Agronomique, estabelecimento público de caráter científico e
tecnológico francês, voltado á pesquisa em agronomia, fundado em 1946.

338 Rogerio Dardeau


SUL DE MINAS (hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

Trata-se de uma região que tem vitivinicultura de vinhos de mesa desde os anos 1920.
Antes, porém, teve até cultura de viníferas, extirpadas por ocasião da chegada da filoxera.
Hoje, conta com vinhedos de viníferas em Andradas, Andrelândia, Baependi, Boa Esperança,
Caldas, Cordislândia, Itamonte, Itanhandu, Jacutinga, Santa Rita de Caldas, São Sebastião do
Paraíso, Três Corações, Três Pontas, Varginha e, mais acima, já na região chamada de oeste
mineiro, em Santo Antônio do Amparo.
Em Andradas está a sede da Vinícola Piagentini, que, após uma longa experiência com o
terroir da região, expandiu sua ação à Serra Gaúcha, mais especificamente em Caxias do Sul,
onde elabora vinhos finos a partir de uvas compradas de pequenos produtores escolhidos. Em
Andradas ainda estão a Vinícola Basso e a Vinhos Marcon. Em Santo Antônio do Amparo,
o empresário Rodrigo Carrara Peixoto se prepara para lançar o Insólito, vinho fino tinto seco
produzido a partir de uvas também da variedade Syrah. A primeira safra de 4 mil garrafas
será comercializada em estabelecimentos de Belo Horizonte. Em Jacutinga, a família Pioli
implantou vinhedo de Syrah e já vem elaborando os primeiros varietais da casta.

GENTE que elabora vinhos finos no sul de Minas Gerais

ANDRADAS

CASA GERALDO
Gr II - 1968 - VBdT - (C) - EnoT
casageraldo.com.br
A família Marcon tem tradição de décadas no cultivo de videiras,
na elaboração de vinhos e na gastronomia, em Andradas, sul de
Minas Gerais. Luiz Carlos Marcon lutou muito para ver sedimen-
CASA GERALDO tado o nome que se fortalece a cada dia, especialmente depois de
à;/~6 @Í»tw- assumir o cultivo de uvas viníferas, com a adoção do ciclo inver-
tido da videira, com a dupla poda e a colheita de inverno. Vale
registrar que, por muitos anos, o desejo de elaborar vinhos finos de alto padrão fazia com que a
família Marcon fosse ao Rio Grande do Sul adquirir uvas, transportando-as até Andradas, para

Ge n t e. Lugares e Vin hos do B ra sil 339


vinificá-las. Atualmente, os filhos Carlos Geraldo, enólogo, Luis Henrique, agrônomo, e Michel,
administrador, conduzem um belo projeto enogastronômico, que recebe semanalmente mais de
2000 pessoas, em instalações muito confortáveis. São 4 7 hectares de vinhedos em Andradas, MG, e
Divinolândia, SP. As viníferas em cultivo são Shiraz, Cabemet Sauvignon, Merlot, Alicante Bouschet
e Pinot Noir, entre as tintas, e as brancas Chardonnay, Viognier, Sauvignon Blanc e Moscato Giallo.
A vinícola tem cantina muito bem instalada com volumosa tancagem, inclusive autoclaves, para
mais de 2 milhões de litros por ano, sendo 400.000 litros entre vinhos finos e espumantes. Os vi-
nhos são apresentados nas seguintes linhas: Varietais e Trivarietais (Moscato Giallo, Cabemet Sau-
vignon/Merlot/fannat e Cabemet Franc/Merlot/fempranillo); Contos da Casa (destaque: Segredo,
um corte secreto, que estagiou 14 meses em barricas francesas; Casa Geraldo Shiraz, sem madeira;
Alma Sauvignon Blanc; Arte Chardonnay; Espumante Memórias, método tradicional, homenage-
ando o patriarca Geraldo Marcon; Family Reserve Cabemet Sauvignon, com 18 meses em barricas
de carvalho francês); Borbulhas da Casa (Brut, Brut Rosé e Prosecco); Clássicos da Casa (Cabemet
Sauvignon, Merlot e Tannat) e Delicadezas da Casa (vinho Glamour Suave), além da linha Varieda-
des da Casa, dedicada aos destilados e aos vinhos doces. A Casa Geraldo controla a empresa Vinhos
Campino, responsável pela elaboração dos vinhos de mesa do grupo.

STELLA VALENTINO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (C)
stellavalentino.com.br
Empreendimento familiar, criado e gerido pelo agrônomo José

~
Procópio Stella, com o irmão Cleiber, sob a tradição que carregam
de Valentino Stella, imigrante do Vêneto, que chegou ao Brasil em
. STELLA VALENTINO
1888. São 4 hectares de vinhedos com as viníferas tintas Syrah e
Tempranillo, além das brancas Sauvignon Blanc e Riesling. A vi-
ticultura está a cargo do proprietário, que acompanha rigorosamente os vinhedos. Procópio
adotou o manejo com dupla poda, para colheitas de inverno, e já vem oferecendo períodos de
descanso às plantas, em ciclos que ainda são objeto de estudos e, portanto, sem os intervalos
definidos. As vinificações ainda são realizadas na Epamig, em Caldas, MG, sob a coordenação
da enóloga Isabela Peregrino. Prevê-se a conclusão das obras de uma cantina própria para a co-
lheita de 2020. Os vinhos Modestus 2017, um varietal da Syrah, e Angelus, um Tempranillo da
mesma safra, mostraram-se muito típicos. O Angelus, aliás, já tem a titulação de "vinho nobre
tinto seco", de acordo com a Instrução Normativa nº 14, de 8/2/2018, do Mapa, em razão da
graduação alcoólica de 14,3% que atingiu. O Lonoris, um Sauvignon Blanc da colheita de 2018,
mostrou-se com ótima acidez e bem característico da casta.

VILLA MOSCONI, Vinícola


Gr IV - 2010 - VBdT* - (I)
vinicolavillamosconi.com. br
Vinícola familiar fundada por Carlos Eduardo Venturelli Mosconi,
~~ com 4 hectares de vinhedos, sobre solo mineral, no paralelo 22º
/l li
Sul, implantados em espaldeiras, com as variedades Chardonnay,
l ]L"Lf. Ji_ '.; 8;:: '.; J1J

340 Rogerio Dardeau


Pinot Noir e Riesling Itálico, todas manejadas pelo ciclo natural das videiras e, consequente-
mente, com colheitas sempre entre novembro e janeiro. As vinificações são conduzidas nas ins-
talações da Epamig, em Caldas, MG. A vinícola vem apresentando regularmente muito boas
expressões de espumantes elaborados pelo método tradicional, tendo brut, extra brut e nature,
além de dois vinhos brancos tranquilos, um varietal da Riesling Itálico e outro da Chardonnay,
ambos leves e mostrando grande frescor. Os negócios são gerenciados por Gilberto Mosconi,
filho de Carlos Eduardo.

ANDRELÂNDIA

ABN, Vinícola (Agrocultura Biguá-Nandalina)


Gr IV - 1999 - VBdT* - (I) - EnoT
Nos contrafortes mineiros da Serra da Mantiqueira, a 1.100 me-
Vinícola ABN tros de altitude, está esse projeto, que, entre outros produtos,
!\t.,'Tot ullur.t B1gua-Namlalin a
elabora os vinhos finos Doberdo Gran Reserva Collectionneurs Syrah
e Doberdo Reserva Syrah. A vinícola foi idealizada pelo professor
da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro Istvan Kasznar, DSc, carioca de origem húngara,
cujo sobrenome do bisavô - Doberdo - é homenageado nos vinhos mais nobres da casa. Tem
assessoria de Murilo Albuquerque Regina e Daniel Angelucci Amorim.

CALDAS

CARVALHO BRANCO Agropecuária EIRELI


Gr IV - 2015 - VBdT* - (C) - EnoT
Iniciativa pessoal do agrônomo Murillo de Albuquerque Regi-
~ na, no próprio Sítio Coroado. São 2, 75 hectares de vinhedos de
Chardonnay, em propriedade de 6 hectares, situada a 1.200 m de
CAR\JALHO BRANCO
S!RU DA MAS TIQlli!IRt, CALDAS Mt,
altitude, na Mantiqueira mineira. A marca é uma referência ao so-
brenome Albuquerque, a espécie 'quercus alba'. O primeiro vinho
elaborado foi o espumante Carvalho Branco Nature, com vinho base 100% Chardonnay, autólise
mínima de 24 meses e 12,2% de teor alcoólico, processado na cantina da Epamig. Os vinhedos
foram implantados em 2009, na orientação norte-sul, em espaldeira e poda curta, para produtivi-
dade de 8 a lOt/ha. O clone é o 96, enxertado no 1103P. O empreendimento conta com o Bistrô
Carvalho Branco, coordenado pela esposa de Murillo, Eliane Brasil, que expõe, na cozinha, toda a
experiência acumulada nos longos anos em que o casal viveu na França. Só para recordar, Murillo
de Albuquerque Regina, depois de se formar em agronomia, na Escola Superior de Agricultura
e Ciências de Machado - MG, em 1983, cumpriu o seguinte currículo, na Europa: mestre em
Viticultura e Enologia - Université de Bordeaux II (1990); doutor em Viticultura e Enologia - Uni-
versité de Bordeaux II (1993); Pós-doutorado - Etablissement National Techinque Pour I.:amélioration de
La Viticulture (2000).

Gente. Lu gares e Vinhos do Brasil 341


CORDISLÂNDIA

LUIZ PORTO, Vinícola


Gr IV - 2006 - VBdT* - (I) - EnoT
luizportovinhosfinos.com. br
A Fazenda do Porto e o Haras Pinhão Roxo são, há décadas, pro-
priedades da família Porto, que atuou sempre nas tradicionais ex-
t:5
LUIZ PORTO
pressões do agronegócio mineiro: cultivo de café e pecuária leitei-
ra, além da criação de cavalos da raça Mangalarga Marchador. Mas
vinho era uma paixão do fazendeiro Luiz Porto. Assim, decidiu
diversificar o portfólio de produtos Luiz Porto, com investimento na vitivinicultura. Os estudos
do agrônomo Murillo Albuquerque Regina demonstraram a viabilidade dos chamados vinhos de
inverno, por meio do ciclo invertido da videira. A área plantada é de 15 hectares. O potencial de
produção é de 55 toneladas de uva/ano, com a colheita nos meses de junho e julho. Esse período
é extremamente seco, ensolarado e com amplitudes térmicas grandes entre os dias e as noites.
Dessa maneira, as uvas têm condições perfeitas de atingir o auge da maturação. As mudas foram
importadas da França, sendo as brancas, Chardonnay e Sauvignon Blanc, e as tintas, Merlot, Ca-
bernet Sauvignon, Syrah, Tempranillo, Pinot Noir e Cabernet Franc. A cantina está montada para
40 mil garrafas/ano, com equipamento italiano. A empresa "Vinhos Finos Luiz Porto" trabalha
com a linha Dom de Minas, com quatro varietais: Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e Sauvignon
Blanc. Além disso, haverá uma linha de vinhos com estágio em barricas de carvalho francesas
e americanas, e um espumante elaborado pelo método champenoise. Essa linha ícone será uma
homenagem ao patriarca, com o nome Luiz Porto. Os vinhos selecionados para barrica, da safra de
2012, foram Cabernet Sauvignon e Chardonnay. A assessoria agronômica está a cargo de Murillo
Regina, e a enológica, sob a responsabilidade da Enovitis, empresa que leva as assinaturas dos
conceituados enólogos Marcos Vian e Anderson Schmitz. O início da comercialização se deu no
ano de 2014. A Vinícola Luiz Porto está em fase de reorganização societária, sem interromper
a produção. Uma nova cantina, no município histórico e turístico de Tiradentes, estava em fase
final de construção, no término da redação deste livro. O gestor éJr. Porto, filho do idealizador.

JACUTINGA

PIOU
Gr IV - 2015 - VBdT* - (I)
Empreendimento do casal Luiz Marcelo e Crisley Fernandes de Andrade Pioli, na fazenda na qual
já produz café. O município deJacutinga é uma estância hidromineral e é considerada a "capital
nacional da malha". Aliás, Luiz Marcelo Pioli é empresário com origem na área de fiação de fibras
artificiais e sintéticas. A produção comercial do projeto vitivinícola marca início para 2020. Com
assessoria do agrônomo Edsandro Rocha e outros profissionais, foram implantadas as varieda-
des Syrah, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, a partir de 2017. A meta do casal é ter vinhos de alto
padrão, pensando, inclusive, no mercado externo, para o qual já exporta café.

342 Rogerio Dardeau


SÃO GONÇALO DO SAPUCAÍ

BÁRBARA ELIODORA, Vinícola


Gr IV - 2015 - VBdT* - (I)
Iniciativa do economista Guilherme Bernardes Filho e família, in-
centivada pelo agrônomo Murillo Albuquerque Regina. São 11,5
hectares de vinhedos implantados, com projeto de chegar a 20
hectares em 2021. As variedades cultivadas são as brancas Sauvig-
non Blanc e Viognier e as tintas Petit Verdote Syrah. Todas as mu-
das procedem da Vitácea Brasil. O manejo é integralmente pelo ciclo invertido da videira, com
dupla poda e colheita de inverno. A primeira colheita foi em 2018. Em 2019, as vinificações
ainda eram realizadas na Epamig, em Caldas, MG. A cantina está em construção. Prevê-se que
a colheita de 2020 será vinificada em ambiente próprio. Os vinhos brancos serão apresentados
em varietais. O Sauvignon Blanc, leve, frutado, fresco. O Viognier será barricado. Serão de três a
quatro tintos: um Syrah frutado, outro barricado, um Syrah em corte e, no futuro, outros cortes
com variedades que estão em fase de testes e validação para identificação de viabilidade, no ma-
nejo de dupla poda. Não há previsão de espumantes. O empreendimento está sendo estrutura-
do para 80.000 garrafas por ano. Guilherme fala um pouco sobre a escolha do nome da vinícola:

"É uma bela homenagem à mulher que atuou na Inconfidência Mineira e viveu nas terras do
atual município de São Gonçalo do Sapucaí, até a morte, aos 60 anos, em 1819. Ela foi casada
com Alvarenga Peixoto, numa emocionante história de vida que a vinícola resgatará num museu.
Os terrenos da vinícola estão numa área onde, no passado, ficavam algumas das chamadas 'catas
de ouro', das quais Alvarenga Peixoto era proprietário. Quando o movimento foi descoberto, ele
foi preso, declarado 'infame', pela Coroa Portuguesa, e enviado a Ambaca, atual Província de
Cuanza Norte, em Angola, onde morreu, aos 50 anos, em 1792. Barbara Heliodora era o pseu-
dônimo da crítica literária e teatral carioca Heliodora Carneiro de Mendonça".

FAMÍLIA DAVO Hotel & Vinícola


Veja em Ribeirão Branco, SP, item 3.5 Outros lugares onde vinhos finos são elaborados
no estado de São Paulo.

SÃO JOÃO BATISTA DO GLÓRIA

HERDADE VIELA
Gr V - 2013 - VBdT* - (I)
Projeto vitivinícola de vinhos pessoais, do hematologista e onco-
logista clínico Gustavo Fernando Veraldi Ismael, em plena Serra
da Canastra. Vinhedo com 1 hectare, em que estão implantadas
as castas brancas Chardonnay, Moscato Giallo e Sauvignon Blanc,
além das tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Tannat. Toda a
vinha é sempre coberta e manejada pelo ciclo normal, com colheita

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 343


de verão. O empreendimento complementa o da área vizinha à Entre Vilas, que o produtor tem
em São Bento do Sapucaí. A cantina é própria, com domas refrigeradas.

TRÊS CORAÇÕES

ESTRADA REAL Vinhos de Outono


Gr IV - 2005 - VBdT* - (I)
primeiraestrada.com.br
Investimento do médico Marcos Arruda Vieira, do agrônomo Mu-
rillo de Albuquerque Regina e da empresa Vitácea Brasil, primeira
produtora brasileira de mudas certificadas de videiras, parceira da
Etablissement National Technique pour l'Amélioration de la Viticul-
ture - Institut National de la Recherche Agronomique (Entav-Ima),
França. Trata-se da primeira vinícola de Minas Gerais a ingressar co-
mercialmente no ramo do vinho brasileiro de terroir, a partir de uvas cultivadas pelo ciclo invertido
da videira, com dupla poda e colheita de inverno. Os vinhedos estão no seio da região cafeeira de
Minas, no município de Três Corações. As vinificações ainda ocorrem na Eparnig, Caldas, MG. A
empresa teve projeto de uma cantina própria, mas encontrou solução mais econômica, realizando
parceria com a Maria Maria, para uma cantina comum, em breve O vinho comercial de estreia foi o
'Primeira Estrada Syrah 2010', 14%, que estagiou oito meses em barricas de carvalho novo, sendo 30%
americano e 70% francês. O homônimo da colheita de 2011 atingiu 14,8% de teor alcoólico e, em
2018, mostrava extrema maciez e complexidade. Depois vieram o 2014 e o 2017, igualmente vinhos
de guarda. A vinícola segue concentrada na elaboração dos varietais da Syrah e da Chardonnay. Em
2019, a Estrada Real inaugurou, em Caldas, uma cantina para a produção de 100 mil litros/ano, fruto
de associação específica com a Maria Maria, e a colheita de inverno nesse ano já foi processada ali.

TRÊS PONTAS

MARIA MARIA, Vinícola


Gr IV - 2010 - VBdT* - (I)
vinhosmariamaria.com. br
É mesmo um belíssimo nome. Maria Maria é um empreendi-

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;11"'~ . ·°51"'~ .·-:::-
mento vitivinícola, nascido no seio da Fazenda Capetinga, locali-
zada em Boa Esperança, mas que tem sede jurídica no município
de Três Pontas em que Milton Nascimento viveu na infância e
na adolescência. Por isso, a família Junqueira Nogueira, proprietária da fazenda cafeeira, ho-
menageia nosso compositor e cantor com o nome da música [Maria, Maria/É um dom, uma
certa magia, uma força que nos alerta [. ..]/É o som, é a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta/
De uma gente que ri, quando deve chorar 115 ]. Contam que quando Milton soube da ideia, teria in-

115 "Maria, Maria" (parte). Milton Nascimento e Fernando Brant, 1978.

344 Rogerio Dardeau


dagado: "Mas vinho fino no sul de Minas? Nunca vi isso!". Tudo começou no ano de 2006, quando
Eduardo Junqueira Nogueira Junior, quinta geração de uma tradicional família de cafeicultores
do sul de Minas Gerais, sofreu um ataque cardíaco e precisou repensar seus hábitos alimentares.
Seu médico receitou uma taça de vinho por dia. Foi quando idealizou produzir seu próprio vinho.
Foi então em busca de Murillo Albuquerque Regina, o pioneiro da dupla poda ou ciclo invertido
da videira, na região, viabilizando o projeto. Eduardo decidiu, assim, ampliar o desejo de seu
pai, dedicando às videiras 15 hectares de área dentro da fazenda. Em 2009, foram implantados
os primeiros 5 hectares, com 10 mil plantas de Shiraz, 4 mil de Cabernet Sauvignon e 6 mil de
Sauvignon Blanc. O ano seguinte foi dedicado ao avanço das brancas, com mais 5 hectares, sen-
do 12 mil plantas de Chardonnay e 2 mil de Sauvignon Blanc. Em 2011, foram mais 5 hectares,
com 12.500 plantas de Shiraz. Em 2018, o projeto atingiu a meta total de 80 mil plantas, em 25
hectares de vinhedos. A consultoria agronômica permanece com Murillo Albuquerque Regina
e a enóloga é Isabela Peregrino, profissional da Epamig, Caldas, MG, onde a vinificação vem
sendo realizada. A empresa teve projeto de construir cantina na própria fazenda Capetinga, mas
encontrou solução mais econômica, realizando parceria com a Estrada Real, para uma cantina co-
mum, em breve. Cada vinho leva o nome de uma mulher ligada à família. Na primeira safra, em
2013, os vinhos se chamaram Agda (Syrah), bisavó de Eduardo, Ada (Sauvignon Blanc), tia-avó
de Eduardo, e Anne (rosado) , sua cunhada. Os vinhos que estavam no mercado, no fechamento
desta edição, eram os tintos da Syrah Maria Maria Diana (2017) e Maria Maria Bia (2015) , além
dos brancos Sauvignon Blanc Maria Maria Diva (2017) e Maria Maria Elis (2018). Os brancos
anteriores eram Cida (2016) e Bel (2015) . O rosado Maria Maria de 2016 foi o Cláudia. Em
2019, chegaram ao mercado o primeiro varietal Maria Maria da Cabernet Sauvignon, da colheita
de 2018, com estágio em barricas de carvalho, num lote exclusivo de 1.200 garrafas e o Gran
Reserva Cristina Syrah 2016, barricado por nove meses. O primeiro espumante da casa é o Maria
Maria Sous Les Escaliers, um blanc de blanc nature, 100% Chardonnay, elaborado pelo método
tradicional. E esse nome? É uma história bem curiosa. A primeira partida do espumante foi bem
pequena: somente 700 garrafas. Nas conversas de cantina, assim que foi engarrafado, pergun-
tava-se onde adegá-lo. Então, alguém disse: "põe ali, debaixo da escada". Pronto. O nome ficou, e
o espumante, enquanto repousava, era tratado como 'o de baixo da escada'. Foi só traduzir para
o francês : sous les escaliers. Em 2019, a Maria Maria inaugurou, em Caldas, uma cantina para
produção de 100 mil litros/ ano, fruto de associação específica com a Estrada Real. A colheita
de inverno, nesse ano, já foi processada ali.

CERRADO MINEIRO
(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)
Trata-se de uma grande região, cujo contorno ainda está por definir. Embora com um
histórico de vitivinicultura, como veremos adiante, teve impulso com o manejo de vinhedos
com dupla poda e colheita no inverno, no século XXI. Em João Pinheiro (Vale do Paracatu), na
Fazenda Salvaterra II, aconteceu uma parceria público-privada entre os proprietários da fazenda
e a Epamig. As uvas Syrah foram colhidas na fazenda e vinificadas na Vinícola Experimental
Amintas Assis Lage, do Núcleo Tecnológico Epamig Uva e Vinho, em Caldas, no sul de
Minas, dando origem ao primeiro Syrah do Cerrado, o Epamig Syrah 2006, com 12,5% de teor

Ge n t e. Lugare s e Vin hos do B ra sil 345


alcoólico. Atualmente, podemos identificar, pelo menos, duas sub-regiões onde os avanços são
mais significativos: 'Terras Altas de Diamantina e Alto Jequitinhonha', sendo Diamantina o
município principal, e 'Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba', com centralidade em Cruzeiro da
Fortaleza, no próspero distrito de Brejo Bonito. Em todo o Cerrado Mineiro, a casta Sauvignon
Blanc desponta hegemônica entre as brancas, enquanto a Syrah e a Tempranillo - esta última,
em alguns pontos específicos - se apresentam como as tintas mais adaptadas.

Cruzeiro da Fortaleza
lbiá, Monte Carmelo
Serra do Salitre
Patos de Minas

TERRAS ALTAS DE DIAMANTINA E ALTO JEQUITINHONHA

Historicamente, o núcleo urbano de Diamantina assistiu ao plantio de videiras no


século XVIII, prosseguindo, posteriormente, numa caminhada de altos e baixos, com
marcante presença da produção por clérigos. No século XIX, Saint Hilaire, numa de suas
viagens pelo interior do Brasil, anotou ter encontrado videiras no Cerrado. No século XX,
a cidade de Diamantina chegou a ter uma Estação de Enologia, a partir de 1957 (veja dis-
positivo legal de criação, abaixo) , a qual hoje, infelizmente, está desativada. Na área ainda
podem ser vistos três frondosos sobreiros, implantados com o afã de produzir rolhas de
cortiça. João Francisco Pereira de Meira, diamantinense, doutor em Ciência Política, viti-
vinicultor protagonista da nova fase, amplia esse histórico, em preciso artigo intitulado
'½.pontamentos para uma geo-história do vinho em Diamantina (1817 - 2000)", publica-
do pela revista Espinhaço. 116 Entre 2010 e 2011, gestores do Polo de Inovação Tecnológica,
com apoio do estado de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Ciência Tec-
nologia e Ensino Superior (Sectes), inspirados pelo trabalho realizado na Quinta D'Alva,
desde 2003, decidiram contribuir para o ressurgimento da vitivinicultura diamantinense
com força, mas numa caminhada prudente. Em diversos pontos do município, vários vi-
tivinicultores já estão produzindo vinhos. Em todos os casos, a viticultura adotou a dupla
poda, mas os viticultores estão atentos às vocações de seus microclimas, no sentido de
entender a adaptação de cada casta, se pelo ciclo normal (colheita de verão) ou pelo ciclo
invertido (colheita de inverno). Nesse caso, as videiras são podadas em janeiro e março.
Com isso, as uvas são colhidas no inverno, época em que as noites são frescas, os dias
ensolarados, não há chuva e o solo permanece seco. Na colheita, as uvas estão com sa-

116 Revista Espinhaço , v. 8, n. 2, p. 58-70, 2019, . Disponível em: https:/ldoi.org/10.5281/zenodo.3585802.

346 Ro ge rio Darclea u


nidade e maturação perfeitas, tendo fortes possibilidades de ótimos teores de açúcar e,
consequentemente, de obtenção de vinhos brasileiros de terroir.

LEI Nº 3.228, DE 28 DE JULHO DE 1957


Cria no município de Diamantina, Estado de Minas Gerais, uma Estação de Enologia.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu
sanciono a seguinte lei:
Art. 1° É criada no município de Diamantina, Estado de Minas Gerais, uma Estação de Enolo-
gia, subordinada ao Instituto de Fermentação do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas, do
Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas, do Ministério da Agricultura.
Art. 2° A Estação de Enologia, de que trata o artigo anterior, será instalada em terreno doado
pela Prefeitura Municipal de Diamantina, e integrará a Rede Vitivinícola do Centro Nacional de
Ensino e Pesquisas Agronômicas, daquele Instituto de Fermentação.
Art. 3° A Estação de Enologia, criada por esta lei, será mantida com os recursos orçamentários
vigentes para o Ministério da Agricultura, consignados ao Instituto de Fermentação do Serviço
Nacional de Pesquisas Agronômicas, do Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas.
Art. 4° Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em con-
trário.
Rio de Janeiro, 28 de julho de 1957; 136° da Independência e 69° da República.
]USCELINO KUBITSCHEK
Mário Meneghetti

Associação de Produtores
Avodaj - Associação dos Vitivinicultores e Olivicultores de Diamantina e Alto
Jequitinhonha, com os produtores Álvaro Diniz e Leonardo Andrade (Quinta do Campo
Alegre), Daniel Barrote (Quinta da Matriculada - Vinhedo Fazenda Candeias), João Francisco
Meira (Quinta D'Alva), Manoel Bueno (Vinícola Buenos Momentos), Eduardo Pompeu
(Sítio Vale dos Vinhedos -vinhos Vesperata), Demóstenes (só vinho de mesa), Douglas Vale
(produz individualmente, em pequena escala), Vinhedo da Toca, Vinhedo Santa Helena,
Vinhedo Candeia Torta, Vinhedo Riacho das Varas, Vinhedo Fazenda do Sapê, Vinhedo Sítio
das Lajes, no município de Datas, além de Cláudio Mareio Pereira de Souza e Marcelo Araújo
Caldeira, Luciano Vial.

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 347


GENTE que elabora vinhos finos no Cerrado Mineiro -
Terras Altas de Diamantina e Alto Jequitinhonha
Trata-se de novíssimo território que está em franco e organizado desenvolvimento, desde
o início da primeira década dos anos 2000. Além dos produtores agrupados na Associação
dos Vitivinicultores e Olivicultores de Diamantina e Alto Jequitinhonha (Avodaj), há
outros independentes. Os vinhedos estão em altitudes superiores aos 1.200 m e são, quase
sempre, manejados pelo ciclo invertido da videira, com dupla poda e colheita no inverno.
Aliás, encontra-se nesse lugar uma rara experiência de ação coletiva de vinificação. Alguns
produtores construíram uma cantina. Vejam!

CAMPO ALEGRE, Vinícola


Gr IV - 2017 - VBdT* - (I)
Ambiente de vinificações, propriedade compartilhada de produ-
~ tores membros da Avodaj. Está localizada em área da Quinta do
Campo Alegre Campo Alegre. É a organização da qual sairão formalizados os vi-
nhos dos associados que não dispõem de cantina própria. Cada as-
sociado colhe as próprias uvas e as transporta a essa cantina, na qual são elaborados os vinhos,
separadamente, sob a orientação do enólogo Mario Lucas Ieggli, supervisão do agrônomo Ma-
teus Meira e trabalhos técnicos de Luiz Bonifácio Rodrigues.

DIAMANTINA

BUENOS MOMENTOS, Vinícola


Gr IV - 2011 - VBdT* - (I)
Empreendimento do oftalmologista Manoel Bueno Ribeiro, inte-
BUENOS MOMENTOS grante do grupo que, desde o início da primeira década do ano
2000, iniciou em Diamantina a avaliação sobre as possibilidades
da viticultura na região. São 4 hectares de vinhedos, com as varie-
dades tintas Syrah e Tempranillo, cultivadas pelo ciclo invertido da videira, com dupla poda e
colheita no inverno. O projeto é de vinhos jovens, estruturados e barricados, para atingir 10.000
garrafas/ ano, quando toda a área implantada estiver em plena produção. A cantina é própria, no
local dos vinhedos. A primeira safra foi a de 2016, com os vinhos Buenos Momentos Theo 2016,
um varietal da Tempranillo, e Buenos Momentos Ethos 2016, um Syrah a 100%.

QUINTA D'ALVA, Vinícola


Gr IV - 2004 - VBdT* - (I)
quintadalva.com.br
Empreendimento rural desenvolvido pelo empresário, cientista po-
lítico e protagonista da retomada da vitivinicultura diamantinen-
se João Francisco Pereira de Meira, para uma produção projetada
de 20 mil garrafas/ano. Os vinhedos estão localizados na periferia

348 Roge rio D arcl ea u


urbana do município de Diamantina (MG), a 5 km do Centro Histórico, em altitude superior
aos 1.300 m, com uma vista que descortina a cidade. Primeiro talhão (1 hectare) desenhado
por Murillo Albuquerque Regina, contou também com a consultoria da Epamig Uva e Vinho.
São 11.500 plantas, em cerca de 4,5 hectares. Há mais de 20 variedades, exclusivamente de vitis
viniferas, plantadas na propriedade. As de maior expressão numérica são Syrah, Tempranillo e Sau-
vignon Blanc. A Quinta D'Alva adota dupla poda e colheita de inverno para as tintas e algumas
brancas. Ciclo normal para outras brancas. As vinificações vêm sendo feitas em cantina própria,
que tem capacidade instalada para 7.500 litros/ ano. Com a conclusão da cantina da Associação de
Produtores, a vinícola poderá vinificar também naquela instalação. A primeira vinificação foi na
Epamig, em 2007. O agrônomo responsável é Mateus de Oliveira Meira. Na fase de implantação,
o projeto teve consultoria agronômica de José Procópio Stella, hoje proprietário da vinícola Stella
Valentino, em Andradas. A produção regular instalou-se a partir da colheita de 2012, sob a orien-
tação dos enólogos Antonio Czarnobay, Mário Lucas Ieggli e Procópio Stella. Desde 2019, porém,
está integralmente a cargo de Mário Lucas Ieggli. Todo o processo, do campo à cantina, é acom-
panhado, permanentemente, pelos irmãos Luiz Bonifácio e Geraldo Rodrigues. Atualmente são
apresentados os seguintes vinhos: Quinta d' Alva Syrah, Syrah-Tempranillo e Sauvignon Blanc.
Em pequenas quantidades, Quinta d'Alva Cabernet Sauvignon e Marsanne. A Quinta D'Alva
desenvolve projeto para ter, em edição limitada, um assemblage triplo: o Quinta d' Alva Singular,
elaborado com Syrah, Pinot Noir e Pinot Meunier. A casa tem, também em pequeno volume, ex-
pressivo espumante brut, elaborado com vinho base clássico de Champagne, ou seja, corte entre
Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. O Quinta D'Alva Syrah 2012, apreciado em 2019, mos-
tra excelente evolução na garrafa, com aromas complexos, buquê e uma bela presença de paladar.

QUINTA DO CAMPO ALEGRE


Gr IV - 2011 - VBdT* - (I)
A Quinta do Campo Alegre é uma iniciativa dos empresários Leo-
nardo de Andrade e Álvaro L. Palhares Diniz, após constatação das
amplas possibilidades do manejo de videiras pelo ciclo invertido,
com dupla poda e colheita no inverno, em Diamantina. Tomada a
decisão, os sócios iniciaram o plantio de videiras, no ano de 2011,
num módulo experimental de 400 plantas. Em 2019, a vinícola
tinha implantadas as variedades tintas Syrah (4.900 plantas), Tem-
pranillo (2.670 plantas), Malbec (850 plantas), Tannat (520 plantas), além da branca Sauvignon
Blanc (1 .750 plantas). Outras variedades estão em análise de adaptação (Pinot Noir, Merlot e Al-
varinho) em pequenas quantidades, totalizando 11.035 plantas. Os vinhedos somam 4 hectares,
numa altitude superior aos 1.300 m, em área total de 175 hectares. Há espaço para uma pequena
expansão, projetada pelos produtores para depois da consolidação do vinhedo e do posicionamento
dos vinhos no mercado. A consultoria agronômica está a cargo de Mateus Meira, e a enologia sob
a responsabilidade de Mario Lucas Ieggli. A cantina está equipada para uma produção de 100.000
garrafas/ ano. Os produtores estão profundamente engajados num arranjo produtivo local e, por
isso, definem as seguintes bases para o empreendimento: I - promover o desenvolvimento da
vitivinicultura e da olivicultura por meio de ações tecnológicas e gerenciais, objetivando produzir
vinhos de alta qualidade, assim como azeite artesanal de qualidade; II - atuar na preservação am-

Gen te . Lugares e Vin hos do Bras il 349


bientale ecológica, promovendo a produção sustentável de vinhos e azeite; III - promover a imple-
mentação de cultivos em conformidade com as legislações ambientais, sanitárias e trabalhistas;
IV - promover a implementação de programa de Certificação de Conformidade, Geográfica e de
Origem, conceituando os produtos originados das cadeias produtivas da Uva e da Oliveira, com
a Indicação Geográfica de Procedência e Denominação de Origem Controlada; V - apoiar e incen-
tivar a promoção do turismo na região, principalmente no desenvolvimento e consolidação do
enoturismo, abrindo tanto os plantios quanto a vinícola para visitação e degustação dos produtos
ali gerados. Desde 2017, a vinícola vem mostrando vinhos, já tendo apresentado os seguintes:
La Bianca 2017 (Sauvignon Blanc), La Campola 2017 (Tempranillo) , Diamante da Minas 2017
(Malbec), Dom Leon Alvarez 2017 (Syrah) e AI Tempo 2017 (Tannat). Sem sombra de dúvida,
os vinhos Quinta do Campo Alegre vêm contribuindo para as definições que conduzirão ao per-
fil regional. O nome Quinta do Campo Alegre não tem inspiração na residência de infância, no
Porto, da magnífica poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, mãe do escritor Miguel
Sousa Tavares. É apenas coincidência.

QUINTA DA MATRICULADA - Vin de Minas


Gr IV - 2011 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empresário e médico Daniel Barrote, integrante do
grupo que, desde o início da primeira década do ano 2000, iniciou
sr ~ em Diamantina a avaliação sobre as possibilidades da viticultura
VIN de MINAS na região. São 2 hectares de vinhedos, em expansão para 5 hec-
tares, com as variedades tintas Syrah, Tempranillo, Pinot Noir e
Malbec, além da branca Sauvignon Blanc, cultivadas pelo ciclo invertido da videira, com dupla
poda e colheita no inverno. Até o fechamento desta edição, as castas Syrah e Tempranillo eram
as mais bem adaptadas. O agrônomo é Mateus Meira, e o enólogo, Mario Lucas Ieggli. O pro-
jeto é de vinhos estruturados, inclusive barricados, de guarda. A cantina é uma sociedade com
outros produtores, específica para a finalidade, instalada na propriedade de Leonardo de Andra-
de, a Quinta do Campo Alegre. A primeira safra foi a de 2013, iniciando-se a comercialização
em 2014. O nome da vinícola homenageia a Serra da Matriculada, que margeia a propriedade,
tratada como uma quinta, tal como seria na origem portuguesa do empreendedor. Como nos
esclarece ainda Daniel Barrote, o sotaque mineiro, ao convidar para uma degustação, diz colo-
quialmente, "vamo ali tomá um vin?". Por essa razão, ele escolheu o nome Vin de Minas, para seus
vinhos. O vinho mais marcante, até o momento, foi o Quinta da Matriculada Vin de Minas Syrah
2016. Todavia, percebi ótima evolução na garrafa, de um Vinde Minas Syrah 2014, apreciado
aos cinco anos.

VESPERATA, Vinícola
Gr IV - 2011 - VBdT* - (I)
Iniciativa do casal Eduardo e Madalena Campos, em 0,5 hectare de

~
vinhedo dedicado à casta Syrah, numa altitude de 1.300 m, e im-
plantado a partir de 2011 , em plena Serra do Espinhaço. O vinho
Vesperata Syrah 2016 é um varietal a 100% da casta, de colheita de

350 Rogerio Darcleau


inverno, com 13,5% de teor alcoólico, uma bela cor rubi intensa, aromas frutados e um ótimo
volume, no paladar, com persistência. Eduardo e Madalena estão investindo na agricultura bio-
dinâmica e, também, na possibilidade de manejo pelo ciclo normal da videira, com colheita no
verão. A primeira experiência, assim, foi com uvas Syrah, colhidas em janeiro de 2018. O vinho
apreciado em abril de 2019 mostrou-se notável. O nome Vesperata homenageia a cultura dia-
mantinense, expressa nas noites de música executada a partir das sacadas dos casarões do centro
histórico, encantando os passantes nas ruas. Eduardo é um apaixonado por futebol. No ambien-
te da fazenda, em que estão os vinhedos, tem campo com toda a infraestrutura de vestiários
e salas de convivência com cozinha e churrasqueira, para receber times organizados e realizar
amistosos alegres que terminam ao redor da mesa. Aliás, quem tem a oportunidade de apreciar
as iguarias da culinária mineira de Madalena, preparadas num fogão a lenha, não esquece jamais.

SERRO

QUINTA DA LAPA
Gr IV - 2017 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empresário Marcelo Galery (Bar da Esquina - Belo Horizonte), que implantou 1
hectare de Syrah, mais 0,5 hectare de Sauvignon Blanc, no distrito de Pedro Lessa, município do
Serro, onde nasce o rio Jequitinhonha. A primeira colheita foi em julho de 2019. A assessoria
agronômica é de Mateus Meira.

TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA

Esse novo lugar de vinhos finos brasileiros vem sendo realizado por gente da cafeicultura,
com grande entusiasmo, nos municípios de Cruzeiro da Fortaleza, Ibiá, Monte Carmelo,
Patos de Minas e Serra do Salitre, podendo chegar a outros municípios, em breve.

■ Potrocinio
■ Som, do 5a1;,,..
■ Cc...,,.ndal
■ Abod<> dos Dou«xlo,
Cuimar6nio
Cnneiro da Fortaleza
■ Pato1 da Minas
■ Monto Cc<mdo
■ f'onf,u,s
tbia
■ Protônho
Ira, de Minas

■ """"
■ Ccmpo, Altos

Reproduzo, a seguir, um pouco da história desse movimento, pelas palavras de Fábio


Bambini, agrônomo, cafeicultor e empresário, protagonista do movimento vitivinícola no
Triângulo Mineiro:

Gen te . Lugares e Vin hos do Bras il 351


"Em 2013, em um almoço italiano, na cidade Serra do Salitre, próxima a Patrocínio, MG, co-
nheci José Marson, um senhor de 84 anos que tinha muita história para contar. Era cafeicultor,
empresário do ramo madeireiro e um exímio entalhador. Na nossa conversa, descobri que o Sr.
Zé Marson também produzia vinhos artesanais para o consumo da família, exatamente como
meu bisavô fazia. Como descendentes de italianos e italianos, tornamo-nos grandes amigos, e
nossa paixão por café e o vinho sempre nos proporcionou uma grande afinidade. Infelizmente,
não tive a oportunidade de vinificar com meu bisavô/avós, mas o Sr. Zé Marson me proporcionou
a oportunidade de resgatar costumes, que, com certeza, sempre estiveram no nosso DNA, pois a
paixão por vinhos de toda a minha família sempre esteve presente.
Fui conhecer o processo de produção artesanal de vinho do Sr. Zé Marson. As uvas utilizadas
vinham do Rio Grande do Sul; ele as comprava juntamente com outros descendentes de italianos
que moravam próximos a São Paulo; faziam o rateio do frete e faziam o vinho para o consumo
da família.
No ano seguinte, em fevereiro de 2014, comprei as uvas junto com o Sr. Zé Marson e, juntos,
iniciamos a minha primeira produção de vinhos artesanais. Ele fazia o vinho totalmente artesa-
nal, tudo manual, não utilizava leveduras ou qualquer tipo de conservante.
O vinho ficou bem legal, mas a qualidade final ficou abaixo da minha expectativa, e, como
agrônomo, comecei a correr atrás de informações, para ver o que poderia ser feito para melhorar
a qualidade e facilitar nosso trabalho".

A partir daquele momento, Fábio Bambini mergulhou em aprendizados sobre vitivinicul-


tura. Participou de um Dia de Campo, da Epamig, com o agrônomo Murillo Albuquerque Re-
gina, visitou a instituição, teve uma entrevista com a enóloga Marite Dal'Osto, consolidando
a paixão por vinhos. É Bambini quem segue contando:

''A.pós o evento na Epamig, decidi iniciar um projeto aqui na Região do Cerrado. Para dar início
a esse projeto, contatei o consultor Dr. Frederico Nove/li e o Dr. Murillo A. Regina, consultor da
Vitácea Brasil, para fazer uma análise de viabilidade no novo terroir e nos assessorar na implan-
tação de um vinhedo através de premissas técnicas conhecidas para a região.
Verificou-se que o novo terroir, a região do Cerrado de Minas Gerais, apresenta características
do solo, climáticas e de altitude excepcionais, o que possibilita uma relação perfeita com a Tec-
nologia de Manejo da Dupla Poda. O período de maturação das uvas durante o outono/inverno
é bem definido, caracterizado por dias quentes, com temperaturas de 25 a 27°C e noites frias,
com temperaturas de 7 a 12ºC, além da diversidade de tipos de solo geralmente profundos, com
boa capacidade de drenagem e com altitudes variando de 850 a 1.250 m de altitude. Portanto,
pode-se dizer que as condições são ideais para produção e maturação da uva, fato anteriormente
inimaginável em regiões tropicais (somente o período da maturação pode estender-se de meados
de abril, quando se inicia a pintura, até final de julho/início de agosto, muitas vezes ultrapas-
sando os 100 dias de maturação).
As variedades recomendadas, atualmente, ainda são Syrah e Sauvignon Blanc, muito adaptadas
à dupla poda, com bom potencial produtivo, o que nos proporcionaria a produção de vinhos de
altíssima qualidade. Tem-se realizado diversos estudos com novas variedades e porta-enxertos.
Outro ponto levantado e bastante favorável foi a identificação de otimização de recursos, pela ati-
vidade que exercemos atualmente aqui na Região do Cerrado. Nossa região é predominantemente

352 Rogerio Dardeau


cafeeira, e os tratores, máquinas e equipamentos agrícolas utilizados na cultura do café são os
mesmos da viticultura e nos possibilitariam conduzir as lavouras de uva sem maiores investimen-
tos e, ainda, otimizando recursos e diversificando a cultura. Seria o início de um ciclo de café e
vinho, caminhando lado a lado".

Nesse momento, Flávio Bambini começou a detalhar o projeto vitivinícola pessoal,


denominado Fortaleza, descrito mais adiante, incentivando outros agricultores da região.
Surgia, então, o Projeto Vinhos do Cerrado, a partir de conversas entre Flávio Bambini e o
superintendente da Federação dos Cafeicultores, Juliano Tarabal. Decidiram reunir um grupo
de produtores entusiastas da vitivinicultur, grupo que tomou forma e deu origem ao Projeto
de Vinhos do Cerrado, cujos produtores aparecem no quadro a seguir.

GENTE que elabora vinhos finos em Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba

... . .
Flávio Bambini Cruzeiro Fortaleza 0,5 0,25 0,75
Getúlio Paiva Aguiar lbiá 0,75 o 0,75
Carlos de Ávila Neto lbiá 0,25 o 0,25
Daniel Bruxei Patos de Minas 2 8 10
Luiz Monguilod Monte Carmelo o 0,5 0,5
Marcelo Balerini Serr3 do Salitre o 2 2
14,25

CRUZEIRO DA FORTALEZA

PROJETO FORTALEZA - Flávio Bambini


Gr IV - 2015 - VBdT* - (I)
É o idealizador e proprietário quem narra:

"Dei o nome de 'Projeto Fortaleza' ao início da vitivinicultura na minha área própria, situada
na Fazenda Fortaleza, no município de Cruzeiro da Fortaleza, MG, região do Cerrado Mineiro.
O projeto foi implantado no dia 15 de outubro de 2015, com o plantio de 0,5 hectare de Syrah
e mais algumas variedades para suco de uva. O objetivo é a produção de 2,5 mil garrafas, e,
dentro desse módulo, entenderíamos os desafios técnicos da nova cultura em uma nova região, o
manejo, criaríamos know-how para expansão posterior da área. Hoje posso dizer que me sinto
muito orgulhoso por ter sido o pioneiro da cultura na região.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 353


Em julho de 2017, tivemos a primeira vindima, tendo as plantas apenas 1,8 anos de idade.
Colhemos, aproximadamente, 600 kg de uva naquele 0,5 hectare de Syrah, sendo que parte foi
descartada, devido à presença do Glomerella. Ao final, foram produzidas cerca de 200 garrafas.
Em relação à quantidade produzida, devido às plantas ainda serem jovens, e em formação, tive-
mos que fazer raleio dos cachos para limitar a produção e zelarmos pela formação das plantas.
A Glomerella foi a surpresa.
A vinificação foi realizada no Núcleo Tecnológico Uva e Vinho - Epamig Caldas, pela enóloga
Isabela Peregrino, e o resultado foi bastante satisfatório, atendendo as nossas expectativas.
O vinho 'PROJETO FORTALEZA - BAMBINI', primeiro vinho do Cerrado Mineiro, foi lança-
do oficialmente no dia 11 de junho de 2018, na Cave do Restaurante Traíras File, no encontro
dos participantes do Projeto Vinhos do Cerrado. Pode-se dizer que os participantes puderam
compartilhar o momento e sonhar com o que está por vir. O vinho ain-
da não é considerado comercial, está sendo utilizado para divulgação e
demonstração do potencial do terroir a consumidores que valorizam esse
tipo de projeto. Como se pode identificar, por meio do rótulo, temos um
produto básico, de alta qualidade, que faz parte de um projeto que vai evo-
luir juntamente com a idade da lavoura e com a vitivinicultura da região.
O resultado do Vinho Projeto Fortaleza 1ª Safra Syrah 2017 é: um vinho
fino, de cor rubi, de média intensidade, com aromas que apresentam um
bouquet levemente fechado, que, aos poucos, se abre para frutas vermelhas
frescas, com um toque de especiarias. Apresenta grande frescor. Em boca,
tem corpo leve, com taninos macios e acidez agradável.
O 'Projeto Fortaleza' produziu mais de 3 toneladas de uva em julho de
2018, ou algo em torno de 2 mil garrafas, disponíveis aos apreciadores a
partir de julho de 2019.

OUTROS LUGARES onde vinhos finos são elaborados


no estado de Minas Gerais
As not1c1as sobre implantação de projetos vitivinícolas em Minas Gerais, em lugares
diferentes do sul do estado, do Centro e do Triângulo, não param de chegar. Vêm da grande
Zona da Mata, que conta com 143 municípios, e até da mesorregião metropolitana de Belo
Horizonte - por exemplo, em Igarapé, Itabira, Juatuba e Mateus Leme. Em Santana dos
Montes, encontramos a Fazenda da Chácara, empreendimento enoturístico que conta com
hotel fazenda e, entre outras atividades, a vitivinicultura. Tem vinhedos com Merlot, Shiraz,
Cabernet Franc e Tempranillo, rotulados como Vinho dos Montes. Todas essas notícias são
candidatas a destaques numa segunda edição de Gente, lugares e vinhos do Brasil!

354 Roge rio D arcl ea u


GENTE que elabora vinhos finos em outros lugares,
no estado de Minas Gerais
Mesorregião do Campo das Vertentes

BARBACENA
Como relatei no início do livro, alguns produtores que seguem os ditames da chamada
produção natural prestigiam castas americanas. A enóloga Viviane Badaró trabalha as castas
Niágara e Niágara Rosada com tanto capricho, que me impressionou. Ela elabora vinhos
veganos, portanto com fermentação espontânea, a partir de leveduras selvagens, sem adição
de sulfito e sem filtragem, que atingem um teor alcoólico de 7,0%. As uvas são próprias e
cultivadas pelo ciclo normal, com colheita no verão. A linha se chama Alquimia e a empresa
é a Vinícola Vivinho.

Mesorregião da Zona da Mata

Zona da Mata MG

VIEIRAS

ALTO DO GAVIÃO, Vinícola


Gr IV - 2017 - VBdT* - (I)
Tudo começou quando quatro empreendedores decidiram com-
prar uma fazenda para, como eles mesmos afirmam, "termos uma
aposentadoria verde". Foi então que, no final de 2009, Cristiano No-
bre, arquiteto, Daniel Maia B. Machado, designer, Frederico Oli-
veira, engenheiro de software, e Silene Berne, relações-públicas,
encontraram a Fazenda Mundo Novo, com uma área total de 100
hectares, na Serra do Brigadeiro, Zona da Mata Mineira. Inicialmente, o projeto era o plantio de
árvores, tanto da Mata Atlântica quanto de espécies comerciais exógenas para o futuro apro-
veitamento da madeira para finalidades diversas. Novamente, são eles que falam : "Infelizmente
(ou felizmente), a segunda principal árvore do nosso projeto, o cedro australiano, não foi bem e mais de
90% dos cedros morreram. Esse revés, ao invés de nos desanimar, nos fez pensar em novos plantios para
aproveitar o espaço que acabou liberado". O grupo, então, se lançou a estudos. Buscava cultivos que
não necessitassem de cuidados diários, como, por exemplo, as hortaliças, e que pudessem gerar

Ge nte. Lugares e Vin h os do Bras il 355


receitas em até 5 a 10 anos. A partir de 2016, iniciou plantio de oliveiras (1.200 plantas) e frutas
vermelhas (800 plantas). Os dois cultivos se desenvolveram muito bem. As frutas vermelhas já
produzem bastante. Estava prevista para 2019 a colheita da primeira safra de azeitonas. Mas os
sócios ainda tinham 2 hectares de área. Procuraram a orientação do viveirista e viticultor Rodrigo
Veraldi Ismael e implantaram, em 2017, as primeiras mudas da temperamental Pinot Noir. Os
tais 2 hectares, que os proprietários apelidaram de "terroir rejeitado", davam lugar a um antigo
pasto desgastado. Está situado a 800 m de altitude, na beira de um pequeno açude, apresenta
boa inclinação, o que evita retenção de água, muito sol, temperaturas que chegam a 8 °C no
inverno (com alguns momentos abaixo disso) e a 36 ºC no verão, sem histórico de geadas na
região e cerca de 1.250 mm de chuva por ano. Analisando todas essas características, o grupo
tinha grande esperança de ser o pioneiro na produção de bons vinhos finos tintos e brancos na
região do Alto do Gavião. O plantio de 2019 e o replantio de 2018 correram muito bem. Cerca
de 70% a 75% atingiram o porte para a primeira poda. As perdas foram poucas, menos de 10%.
Com isso, esperam os produtores, haverá boa chance de uvas já no inverno de 2021. Em 2020,
adicionaram mais 2.600 plantas e replantaram o que falhou do plantio de 2019. Dessa forma, a
área de testes estará completa, com 6.000 pés de 18 variedades. O grupo segue muito empolgado
com os primeiros resultados. Por isso já separou mais uma área, de 3 hectares, para a ampliação
do cultivo das variedades que se mostrarem mais produtivas.

REGIÃO METROPOLITANA ECOLAR METROPOLITANO DE BELO HORIZONTE


O entorno da capital mineira é tão ligado a ela que precisa admitir os conceitos de Região
Metropolitana, com 34 municípios, e Colar Metropolitano, envolvendo a RM, com mais
16 municípios. Ali, convivem centros urbanos e áreas rurais, nas quais avançam projetos
vitivinícolas, inclusive com enoturismo. Em Funilândia, a 80 km da capital do estado, por
exemplo, em pleno colar metropolitano, já encontramos vinhedos implantados.

356 Roge ri o D a rcl ea u


JUATUBA

VILA CAMPANA Wine Experience


Gr IV - 2019 - VBdT* - (I) - EnoT
Glaucus Passos Botinha é um empresário em consultoria e tec-
nologia de recursos humanos. Amante de vinhos e empreende-
dor, responsável pelo Vila Campana Hotel & Bem Estar, decidiu
agregar a vitivinicultura ao empreendimento. Está graduado com
o WSET3 Wine Certified. Com a esposa, iniciou, em setembro de
2019, o próprio projeto vitivinícola, associado ao hotel, na pro-
priedade familiar, a apenas 45 km do centro de Belo Horizonte.
A fazenda tem uma área de, aproximadamente, 300 hectares, e o
vinhedo inicial tem dois hectares, implantados em novembro, sob a supervisão do conceituado
agrônomo Mateus Meira. Foram, inicialmente, 2.000 mudas de Sauvignon Blanc e 4.000 mudas
de Shiraz, provenientes do viveiro Vitácea Brasil. A família avalia, para o futuro, a construção
de cantina na fazenda. A primeira colheita de inverno ocorre em 2021, para testes, e a partir de
2022, já em escala.

SERRA DO CIPÓ
Enquanto fechávamos o conteúdo desta edição, lançava-se, em Minas Gerais, o
empreendimento Vinhas do Cipó Wine & Resort, no mesmo princípio de condomínio de
residências com acesso a vinhedo e cantina, nos moldes de vários projetos existentes na
Argentina e do empreendimento Vinhas do Morro, em Morro do Chapéu, BA, na Chapada
Diamantina.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 357


IJê
Lugares onde vinhos finos são elaborados
no estado do Rio de Janeiro
Vitivinicultura no Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

O cultivo de videiras no estado do Rio de Janeiro teve sua época, no século XIX. A história
do município de Nova Friburgo, na Serra Fluminense, traz registros de viticultura e de
vinicultura. Consta que o vinhateiro Alexandre Burnier, imigrante suíço do Cantão de Vaud,
plantou mais de 1Omil parreiras. Ele teria sido até recompensado pelas autoridades imperiais,
por ter produzido o primeiro vinho da região, na Fazenda de Morro Queimado. Esse é apenas
um dos casos citados pela professora de História do Direito da Universidade Candido Mendes,
Janaína Botelho, autora do livro Histórias e memória de Nova Friburgo . Ela destaca até um anúncio
publicado no periódico O Friburguense, de 26 de março de 1892, que dizia: "Ennes & Lusitano
tem sempre grande quantidade de vinhos superiores de uvas fabricadas e aperfeiçoadas n'esta cidade e
por isso pede a todos os seus fregueses para o coadjuvar n'este novo melhoramento industrial". Sobre
vitivinicultura em Nova Friburgo, aliás, não nos surpreendamos caso, em breve, tenhamos
produção pelo agrônomo Ricardo Salles, que implantou suas primeiras mudas no segundo
semestre de 2019, e de outros empreendedores. Também no município de Teresópolis, na
rodovia que liga a cidade a Nova Friburgo, já identificamos o nascimento de pelo menos um
projeto vitivinícola. Aqui, em Gente, lugares e vinhos do Brasil, queremos exatamente isto: avançar
na identificação das experiências contemporâneas de vitivinicultura Brasil afora.

SERRA DO CENTRO-SUL FLUMINENSE - Macrorregião de Petrópolis


A iniciativa do empresário José Cláudio Rego Aranha, que implantou vinhedos com manejo
por dupla poda, em Paraíba do Sul, e criou, em 2010, a Vinícola Inconfidência, despertou
interesse em outros empreendedores. Há projetos vitivinícolas em estudos e em implantação,
também nos municípios de Nova Friburgo, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e

Gen te . Lugares e Vin hos do B ras il 359


Teresópolis. Então, além da Vinícola Inconfidência, encontramos na região: família Tassinari,
tradicional produtora de cafés, em São José do Vale do Rio Preto; José Carlos de Freitas Eloy,
em Itaipava, distrito de Petrópolis; outro em Areal; e mais um em Paty do Alferes.

GENTE que elabora vinhos finos no estado do Rio de Janeiro


A gente que desenvolve esses projetos é do mundo empresarial. Em geral são
amantes de vinhos que vão buscar assessorias agronômicas e enológicas em profissionais
especializados, oriundos de outras regiões. A agronomia na Serra do Centro-Sul Fluminense
teve, inicialmente, presença do agrônomo Murillo Albuquerque Regina, mas, atualmente,
grande parte dos projetos tem a assessoria de outro agrônomo mineiro, o diamantinense
Mateus de Oliveira Meira. No campo da enologia, os trabalhos estão, majoritariamente, sob
a responsabilidade do gaúcho Mario Lucas dos Santos Ieggli.

PARAÍBA DO SUL

INCONFIDÊNCIA, Vinícola
Gr IV - 2010- VBdT* - (I) - EnoT
vinicolainconfidencia-rj.com.br
Empreendimento do engenheiro José Claudio Rego Aranha, asses-
V I NÍCOLA
INCON FID ÊNCIA sorado, inicialmente, por Murillo Albuquerque Regina, o introdu-
tor da cultura do ciclo invertido da videira entre produtores do Su-
deste brasileiro. Por essa técnica, apenas para recordar, as videiras
passam por dupla poda, uma em agosto, outra em janeiro. Com
isso, são levadas a frutificar no inverno, época na qual as condições
climáticas são consideradas ideais. São 6 hectares de vinhedos, im-
plantados a partir de 2010, com as brancas Sauvignon Blanc e Viognier, além das tintas Syrah,
Cabemet Franc e Cabemet Sauvignon. Há outras castas, inclusive italianas, em pequenas áreas
em testes. O projeto começou a se concretizar a partir da excelente qualidade das uvas da colhei-
ta de 2015, com um vinho branco e um tinto. A viticultura está sob a orientação do agrônomo
Mateus de Oliveira Meira. Os vinhedos estão em franco desenvolvimento. Mas o projeto ainda
está em implantação, num rigoroso planejamento de fases. Era necessário confirmar o êxito com
as uvas e com os vinhos, para iniciar a construção de uma cantina própria, já concluída. Durante
a fase inicial, até a colheita de 2017, as uvas eram transportadas durante a noite até Caldas, MG,
na Epamig, onde eram vinificadas, sob os cuidados da entusiasmada enóloga Isabela Peregrino.
Em 2018, não houve vinificações. A colheita de 2019 foi a primeira vinificada na própria cantina,
muito bem equipada, sob o comando do enólogo Mario Lucas dos Santos Ieggli. Os primeiros
vinhos apresentados foram o branco Inconfidência Sauvignon Blanc 2015 (13,2%) e o tinto In-
confidência Cabemet Franc 2015 (12,9%) . O vinho branco trouxe personalidade própria, iden-
tificando a casta, mas mostrando maior complexidade aromática e de paladar do que os vinhos
que são referência dela. O tinto mostrou-se um típico varietal dessa bela casta bordalesa, tendo
sido elaborado tradicionalmente, com fermentação e estabilização em tanques de aço inox, com

360 Roge rio D arcl ea u


temperatura controlada, e logo engarrafado. Apresentou bonita cor rubi, bem fechada e brilhan-
te. Os aromas nos remeteram às frutas escuras, como ameixa, já trazendo a complexidade das
compotas, sem que escapasse um leve toque de pimenta verde e notas vegetais. No paladar,
mostrou corpo médio e taninos vivos, com boa perspectiva de longevidade. Os vinhos da safra
de 2017 confirmaram o futuro promissor do empreendimento. Os varietais de Sauvignon Blanc
e Merlot ficaram muito expressivos. O corte Rubro - Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e
Syrah - mostrou-se vivo, volumoso, persistente. Os vinhos da safra de 2019 foram: um Sau-
vignon Blanc, de vinhedo com nove anos; um Syrah de vinhedo de três anos, outro de vinhedo
com nove anos; um Cabernet Franc, de vinhedo também de 201 O; um Cabernet Sauvignon com
10% de Merlot de vinhedos da implantação; e um vinho de corte, a partir de segunda extração
em prensa pneumática de Syrah (60%) , Cabernet Franc (30%) e Cabernet Sauvignon (10%).
Assim como em outros projetos de dupla poda, a Cabernet Sauvignon não vem proporcionando
bons volumes de colheita, embora venha gerando vinhos de boa expressão. Em janeiro de 2020,
a Vinícola Inconfidência lançou o Inconfidência Luísa Sauvignon Blanc 2019, o primeiro vinho
completamente registrado do estado do Rio de Janeiro.

O nome da vinícola homenageia, sim, a Inconfidência Mineira. É que a Estrada Real,


partindo de Diamantina, via Vila Velha (Ouro Preto) a Paraty, exigia transporte marí-
timo, para o Rio de Janeiro, do ouro das minas, chegado a Paraty em lombo de burros.
No mar, porém, as preciosas cargas eram frequentemente alvo de ataques e saques,
praticados por corsários. Foi então que o governador da capitania do Rio de Janeiro,
Arthur de Sá Menezes, alertou a Coroa Portuguesa sobre o problema, obtendo, em
1699, Carta Régia para a construção de um Caminho Novo, desviando o original em
Ouro Preto, com descida diretamente ao Rio de Janeiro. A nova rota passava exata-
mente na região da atual Paraíba do Sul, onde Tiradentes passou a servir como Co-
mandante do Destacamento do Caminho Novo, aproveitando para propagar as ideias
independentistas. Tamanha foi a importância das pregações do inconfidente na loca-
lidade de Sebollas, que parte do corpo esquartejado de Tiradentes foi ali exibido, para
atemorizar eventuais insurgentes contra a Coroa. Atualmente, a antiga Sebollas é o
distrito de Inconfidência, do município de Paraíba do Sul, onde se localiza a vinícola.

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• Distrito de Paraíba do Sul

Secretário

Ge n te . Lugares e Vin hos do Bras il 361


IJê
Lugares onde vinhos finos
são elaborados no estado do Espírito Santo
(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)

Santa Teresa está na Microrregião Central Serrana do estado do Espírito Santo (hoje
considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014), a 675 metros de altitude, com
temperatura média de 18°C e índices pluviométricos elevados. Terra de Augusto Ruschi,
patrono da Ecologia do Brasil, é mais um lugar de grande beleza serrana brasileira. Povoado
por imigrantes italianos, tem séria disputa com os ítalo-descendentes da Serra Gaúcha sobre
a primazia dessa cultura na chegada ao Brasil. A história da cidade de Santa Teresa registra:

"Segundo o sociólogo italiano Renzo M. Grosselli, a Expedição de Pietro Tabacchi foi o primeiro
caso de partida em massa de imigrantes da região norte da Itália para o Brasil. A primeira
viagem de imigrantes aconteceu no dia 3 de janeiro de 18 74 do Porto de Gênova, em um navio
a vela, o 'La Sofia', na expedição Tabacchi, e a segunda pelo 'Rivadávia', ambos de bandeira
francesa. O 'La Sofia' chegou ao Brasil em 21 de fevereiro de 1874, com 386 famílias para as
terras de Pietro Tabacchi, em Santa Cruz. Contudo, oficialmente, a imigração teve início no
Brasil com a chegada do navio 'Rivadávia', que aportou em 31 de maio de 1875, com 150 famí-
lias italianas, encaminhadas para Santa Leopoldina, dentre as quais 60 famílias seguiram para
Timbuí, onde no dia 26 de junho de 1875 foram contempladas com lotes territoriais, fundando
assim Santa Teresa, denominada então, a primeira cidade de Colonização italiana do Brasil". 11 7

Os produtores da região vêm adotando espaldeiras altas e inversão do ciclo das videiras,
com dupla poda, com variedades viníferas, para superar as características do clima quente e
úmido. Em compensação, se beneficiam de ótima amplitude térmica. A região exige irrigação
em determinados períodos do ano, para não submeter as plantas ao estresse hídrico. A maior
luta dos produtores de Santa Teresa se trava com as aves, o que exige vinhedos cobertos com

117 Fonte: Grosselli Renzo M. A Expedição Tabacchi e a Colônia Nova Trento. São Paulo: Artgraf. Gráfica e
Editora Lida., março de 1991. Disponível em: www.santateresa.es.gov.br/site/pagina/historia/90/2.

Ge nte . Lugares e Vinho s do Bra sil 363


tela, a fim de preservar os frutos . Mas a Serra Capixaba não é somente Santa Teresa. Em
Domingos Martins, município marcado pela beleza estonteante do Parque Estadual da Pedra
Azul, já são vistas iniciativas vitivinícolas. Esse é mais um terroir brasileiro que vai ganhando
definição.

GENTE QUE ELABORA VINHOS FINOS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


A população envolvida com a vitivinicultura capixaba é toda de ítalo-descendentes. As
vinhas foram implantadas a partir de sabedoria ancestral, assim como foram elaborados os
primeiros vinhos. Na atualidade, muito conhecimento acadêmico foi introduzido e muita
tecnologia adotada. Mas posso afirmar que os vinhos finos da terra do naturalista Augusto
Ruschi são impregnados da cultura dos imigrantes. Basta olhar os sobrenomes dos produtores.

Avist - Associação dos Vitivinicultores de Santa Teresa


Associados: Cantina Braun, Cantina Mattiello, Cantina Romanha, Vinícola Labiata,
Vinícola Rassele, Vinícola Tomazelli, Vinícola Vale do Tabocas, Vinícola Ziviani.

DOMINGOS MARTINS

CARRERETH, Vinícola
Gr IV - 2016 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empreendedor Rodolpho Carrereth, com os filhos
Juliano (dentista) e Anderson (médico) . A família tem origem
francesa, na região dos Pirineus, em Oloron-Sante-Marie. A área,
CARRERETH situada a 1.000 m de altitude, é própria. O solo é composto: 65%
arenoso, 33% siltoso e 2% argiloso. Em decorrência, a drenagem é
muito boa, especialmente ainda pela presença de pedras de cristal
grafite. O clima é ameno durante todo o ano. As temperaturas no vinhedo oferecem condições
favoráveis para o manejo por dupla poda, talvez com um ciclo um pouco mais longo que o en-
contrado no sul de Minas Gerais e norte de São Paulo, pela altitude e proximidade do oceano. Os
80 km que separam a área desse empreendimento do oceano Atlântico proporcionam influência
de brisas úmidas e frescas . Já foram implantadas sete mil plantas das variedades Syrah, Ca-
bernet Sauvignon, Merlot e Sauvignon Blanc, adquiridas na Vitácea Brasil. Em 2019, fez-se a
primeira vinificação experimental na Epamig, em Caldas, MG. É mais um projeto de natureza
familiar em que pai e filhos, apreciadores de vinhos, viram na elaboração de rótulos próprios
a possibilidade de ampliar relações. Nas palavras de Juliano: "Pois bem, encontramos no vinho e no
campo (rural) uma alternativa que não poderia ser mais acertada, uma vez que a vitivinicultura demanda
tanta paixão, sonho e dedicação que foi capaz de tornar ainda mais forte o amor e a união entre nós (pai e
filhos). O vinho antes já nos unia como hobby e gosto, mas nada comparado ao tempo que hoje passamos
juntos envolvidos neste mundo do vinho". A família Carrereth projeta cantina própria, de modo a
vinificar na propriedade em 2022.

364 Roge ri o D ard ea u


SANTA TERESA

CANTINA MATTIELLO
Gr III - 1996 - VM- (C) - EnoT
cantinamattiello.com.br
A saga da imigração italiana no Brasil, no final do século XIX, é
liif ( ANTI NA repleta de histórias. Falamos bastante, aqui neste livro, sobre a sua
ifi
---• MATTI ELLO
presença no Sul do Brasil. No entanto, um considerável grupo de
imigrantes foi para a Serra Capixaba, como no caso de Attilio Mat-
tielo, que se deparou com um fruto desconhecido, abundante naquela região: a jabuticaba. O
hábito do vinho o fez desenvolver a fermentação daquela frutinha que parecia uma uva e criar o
'vinho de jabuticaba'. Com o tempo e as condições de vida melhorando, as famílias foram tendo
acesso a mudas de videiras americanas e nascia a cultura do vinho (de uvas) em Santa Teresa.
Foi exatamente assim com Viviane Mattielo, neta de Attilio. A Cantina Mattielo, fundada por Vi-
viane, é hoje uma empresa que elabora grande volume de vinhos de mesa, sucos, licores, geleias
e outros produtos. Atua também no agroturismo, recebendo visitantes na bela cantina, situada
no bairro São Lourenço, em Santa Teresa. Recentemente, Eliton Stanger, o Mattielo da geração
atual, estudou sobre dupla poda e implantou vinhedos com Marselan, Sangiovese e Tannat. Em
2017, engarrafou um corte com 40% de Sangiovese, 35% de Marselan e 25% de Tannat, que re-
cebeu lascas de carvalho, no tanque, por quatro meses. O vinho mostrou-se promissor. O mesmo
corte da colheita de 2018, então no tanque, sem madeira, estava ainda mais complexo. Com toda
certeza, caso a Cantina Mattielo decida adicionar vinhos finos a sua carta de vinhos e persistir no
aprendizado, terá muito êxito.

CASA DOS ESPUMANTES


Gr III - 2012 - VM - (C) - EnoT
Iniciativa do agricultor Sérgio Sperandio e sua esposa, Cássia.
Elaboram espumantes pelo método tradicional a partir de uvas
comuns (Isabel e Niágara) . Diante da boa aceitação de seus pro-
dutos, Sperandio tem buscado apoio técnico junto à Embrapa e
apoio financeiro no Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo
(Bandes), e já pensa em caminhar rumo aos espumantes finos de
viníferas como a Glera (Prosecco).

VALE DO TABOCAS, Vinícola - Tabocas Vin de Garage


Gr IV - 2007 - VBdT* - (C)
valedotabocas. blogspot.com.br/
Trata-se de empreendimento desenvolvido por Vinicius Corbelli-
~ ni, Divanir Pascoal Zottelle e Sandro Salvador, desejosos de fazer
nascer vinhos finos naquela região, ainda fortemente identificada
TC\bocos com as uvas e vinhos de mesa. Vinicius tem formação técnica em
vitivinicultura, pelo Instituto Duca Degli Abbruzzi, de Pádua, na

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bra sil 365


Itália. São 30 hectares de área total. Os vinhedos têm condução em espaldeiras altas simples,
com 80 centímetros de altura, sendo 0,6 ha de Cabemet Sauvignon e 0,5 ha de Malbec. A co-
lheita ocorre em agosto e setembro, em função da inversão do ciclo da videira, pela dupla poda,
necessária ante as condições do microclima. A vinícola adotou o sistema de microaspersão, apli-
cada na brotação. A propriedade tem, em teste, as variedades brancas Chardonnay, Gewurztra-
miner, Glera e Sauvignon Blanc, e as tintas Cabemet Franc, Malbec, Merlot, Saperavi e Shiraz.
O Tabocas Cabernet Sauvignon é um tinto de médio corpo, intensa cor rubi e ótima concentração
de resveratrol. 118 Análise do conceituado laboratório Randon, de Caxias do Sul (Certificado de
Análise 26290/2014), mostrou um índice de polifenóis totais muito superior aos dos vinhos da
mesma casta (e mesma safra), originados no Rio Grande do Sul. Enquanto a média gaúcha está
em 2,57 mg/1, o Tabocas exibe a incrível marca de 6,17 mg/1, sendo que a média francesa fica
em, aproximadamente, 5,0 mg/1. A meta desses produtores é atingir 20 mil garrafas por ano em
vinhos brasileiros de terroir. O Tabocas Cabernet Sauvignon é apresentado em duas versões: vinho
jovem, sem barrica, e vinho afinado em barricas de carvalho francês. O Tabocas Cabernet Sauvignon
2015 barricado por 17 meses ganhou tons notáveis, grande maciez. Chamo a atenção dos leitores
para que apreciem os vinhos Tabocas, após um amplo período de aeração, e sintam a tipicidade.
Vinicius Corbellini está avaliando o desenvolvimento de seu Cabemet Sauvignon em barricas
de madeiras brasileiras. Enquanto escrevíamos este texto, a vinícola lançou o Tabocas Madeira
2016, um Cabemet Sauvignon encorpado, que estagiou por 11 meses em barril de Jequitibá
Rosa, de 500 litros. Uma outra partida passava em barril de Amburana. É importante registrar
que o êxito da Vinícola Vale do Tabocas no manejo da Cabemet Sauvignon, com dupla poda,
pode ser considerado uma raridade. Essa casta não se adaptou ao ciclo invertido em outros luga-
res. Em 2018, a vinícola implantou mudas de Malbec e ½ ha da casta Alvarinho, para avaliação.

118 Resveratrol, como já mencionado, mas vale lembrar, é um polifenol encontrado principalmente nas
sementes de uvas, na casca das uvas escuras e, por consequência, no vinho tinto. Estudos têm mostrado
os benefícios do resveratrol como estimulante dos índices do colesterol HDL, chamado colesterol do bem,
e redução do colesterol do mal, o LDL.

366 Rogerio Dardeau


IJê
Lugares onde vinhos finos são elaborados no
Planalto Central do Brasil, estado de Goiás
(hoje considerada zona de produção, pelo
Decreto 8.198/2014) e Distrito Federal

~ (

A vitivinicultura no estado foi inaugurada pela Pireneus Vinhos e Vinhedos, estabelecida


no município de Cocalzinho (latitude 15°47'38" Sul!!!). Cocalzinho fica próximo à cidade
histórica de Pirenópolis, às margens do rio das Almas, documentado por muitos bandeirantes.
Os vinhedos estão em vale, a 950 metros de altitude. As amplitudes térmicas do lugar são
muito boas, com temperaturas entre 25 °C e 35 °C, durante o dia, e entre 10 °C e 15 °C, durante
a noite. A drenagem do solo é bastante fácil. A colheita se dá no inverno. Ali, os produtores
utilizam-se de maceração prolongada a frio, com o objetivo de equilibrar a acidez dos vinhos,
que se acentuou no Cerrado. Aliás, o desafio dos produtores que escolherem a região será
equilibrar a potência dos vinhos. Recorrer ao uso das barricas de carvalho novo pode marcar
excessivamente os vinhos. Mas não somente em Cocalzinho de Goiás encontramos vinhedos.
Já existem projetos vitivinícolas em Jaraguá (Vinícola Monte Castelo), além das vinícolas
São Patrício e Assunção, em Pirenópolis. São empreendimentos instalados que poderão,
brevemente, implantar viníferas e elaborar vinhos finos .

GENTE que elabora vinhos finos no estado de Goiás

COCALZINHO DE GOIÁS

GIRASSOL, Vinhedo
Gr IV - 2014- VBdT* - (I) - EnoT
Sérgio Resende é um experiente empresário. Entre inúmeras ini-
~ \'INllll)<l ciativas bem-sucedidas, conduziu a Importadora Zahil, (depois,
~ GIRA\\()[
Espaço Vino) , em Brasília, quando criou seu primeiro rótulo pes-

Gente. L u gares e Vin h os d o B r a sil 367


soai, o Dom Espumante Brut Charmat, elaborado em Garibaldi. Inspirado pelos resultados po-
sitivos de Marcelo de Souza e Silva, na Vinícola Pireneus, Sérgio convenceu os irmãos Henrique
e Paulo Marcos e a irmã Ana Maria a serem parceiros num empreendimento de vitivinicultura,
em parte da propriedade de 500 hectares, do pai Melchior Resende, onde os três haviam passado
memoráveis momentos na infância. Ali, no distrito de Girassol, no município de Cocalzinho de
Goiás, a 1.080 m de altitude e a 65 km do plano piloto, DF, implantou a variedade Syrah (2,2
ha) , para vinho fino, e algumas americanas (0,8 ha) , para uvas de mesa. Os vinhedos estão sob a
responsabilidade do próprio Sérgio Resende, com a assessoria de Vinícius Martins Veloso, agrô-
nomo pela Universidade Estadual de Goiás, campus Ipameri, que coordena o manejo por dupla
poda. A primeira colheita se deu no inverno de 2018, mais precisamente, no final de agosto. As
uvas foram transportadas para a Vinícola Serra das Galés, para processamento, sob a orientação
do enólogo Valdir Cristofoli. Após a vinificação, decidiriam sobre passagem por carvalho, pre-
vendo-se, inicialmente, estágio de seis meses em barricas de carvalho americano e francês. O vi-
nho já tem nome: Terroir Girassol. O Vinhedo Girassol tem completa infraestrutura enoturística,
com pousada e restaurante.

PIRENEUS Vinhos e Vinhedos - Vinhos do Planalto


Gr IV - 2005 - VBdT* - (I)
pireneus-vinhos-vinhedos.business.site
Vinhos de um dos mais novos terroirs brasileiros, o Planalto
P I RENEUS Goiano, situado no paralelo 15°47'38" Sul! Ali, o otorrinolarin-
~ gologista Marcelo de Souza e Silva e sua mulher, a analista de
- ,,...--1 1\ "-.- sistemas Adriana Carvalho Rodrigues Silva, implantaram 4 hecta-
res de vinhedos com as variedades Barbera, Syrah, Tempranillo e
Sangiovese, em 2005. Marcelo é um estudioso de vitivinicultura
há mais de dez anos, ao longo dos quais adquiriu grande conhecimento teórico. Com isso, de-
cidiu pôr em prática a teoria aprendida e empreender o arrojado projeto de vinhas e vinhos do
Cerrado. Hoje, ele domina o manejo na microrregião escolhida. Ali, o regime de poda é mais
exigente e a colheita invertida (dupla poda) se desenvolve entre junho e setembro. O vinhedo
é integralmente telado, de modo que fica permanentemente protegido do ataque de pequenos
animais, e pode-se tranquilamente caminhar sob a tela, por entre as linhas da vinha. A casta
Sangiovese não se adaptou e foi descartada. A filosofia é de vinhos potentes. A Pireneus apre-
senta, desde 2010, dois rótulos, aperfeiçoados a cada colheita e todos mostrando perfil longevo.
O primeiro é o Intrépido 2010 (87% Syrah + 13% Tempranillo), com teor alcoólico de 14,5%. As
uvas desse vinho foram colhidas em agosto de 2010. Setenta por cento do vinho Syrah estagiou
por 11 meses, metade em barricas novas de carvalho francês e a outra metade em barricas novas
de carvalho americano. O outro vinho é o Bandeiras 2010 (85% Barbera, 10% Tempranillo e 5%
Sangiovese), com teor alcoólico de 15%. Metade desse vinho amadureceu por seis meses nas
barricas americanas e francesas, nas quais estagiou o Intrépido. De lá para cá, Marcelo de Souza
e Silva fez pequenas alterações no 'tempero' do Syrah, de modo a mantê-lo um varietal, nos
termos da lei, mas sempre com o objetivo de tirar o melhor proveito das colheitas. O Pireneus
Intrépido 2012 (Syrah 87% + Tempranillo 13%, de uvas colhidas em agosto de 2012, com
100% do corte tendo estagiado por 18 meses em barricas de carvalho francês e barricas de car-

368 Ro ge rio Dardea u


valho americano, das quais 50% novas) tem teor alcoólico de 14,5%. O Pireneus Intrépido 2013
(Syrah 80% + Tempranillo 10% + Barbera 10%, de uvas colhidas em agosto de 2013, com 80%
do corte tendo estagiado por oito meses em barricas de carvalho francês e barricas de carvalho
americano, das quais 30% novas) atingiu teor alcoólico de 14,5%. O Pireneus Intrépido 2014
(Syrah 80% + Tempranillo 20%, de uvas colhidas em agosto de 2014, tendo 100% do corte
passado por 12 meses em barricas de carvalho francês e barricas de carvalho americano, 20%
novas) também atingiu teor alcoólico de 14,5%. O Pireneus Intrépido 2015 (Syrah 100%, de
uvas colhidas em agosto de 2015, com a incrível marca de 26,50 graus Brix [açúcares]. Tendo
100% do vinho ficado por 12 meses em barricas de carvalho francês e barricas de carvalho ame-
ricano, das quais 20% novas) Chegou ao elevado teor alcoólico de 15,0%. O produtor utiliza-se
sempre de maceração prolongada a frio, com o objetivo de equilibrar a acidez dos vinhos, que
se revela acentuada no Cerrado. Toda a vinificação é realizada em cantina própria (galpão, como
diz Marcelo), com 200 m 2 de área. O engarrafamento é feito em vinícola parceira, no município
de São João da Paraúna, distante 271 quilômetros de Cocalzinho. O vinho viaja de madrugada,
é engarrafado, descansa e retorna a Cocalzinho, ficando parte a meio do caminho, em Goiânia.
O experiente enólogo gaúcho Marcos Vian é o consultor. A empresa projeta um futuro com 40
hectares, para uma produção máxima de 100 mil garrafas por ano. Em 2016, lançou a linha
Terroir, de varietais jovens, das três castas que alcançaram êxito na vinícola: Barbera, Syrah
e Tempranillo. A linha Terroir tem breve passagem por barricas de segundo e terceiro usos.
Barbera e Syrah estagiaram por seis meses em carvalho francês e o Tempranillo, em carvalho
americano. Desde 2017, a vinícola passa por uma reestruturação organizacional e societária.

PARAÚNA
SERRA DAS GALÉS Vinícola do Cerrado
Gr IV - 2004 - VBdT* - (I)
O médico Sebastião Ferro já cultivava vitis labruscas em sua proprie-
dade de 32 hectares, até que decidiu implantar as viníferas Syrah e
Touriga Nacional, com mudas importadas de Portugal, adotando o
manejo por dupla poda, com colheita no inverno. Os vinhedos estão
localizados no 'Vale da Felicidade', integrante da Serra da Portaria,
em pleno Cerrado Goiano. A altitude é de 700 m e a latitude aproximada, de 17° S. O primeiro vi-
nho fino da Vinícola Serra das Galés foi o Muralha 2016 - Vinho Fino do Cerrado, um corte entre
vinhos das duas viníferas cultivadas. Esse vinho foi repetido nas safras de 2017 e 2018. O Serra
das Galés Muralha 2018, apreciado em 2020, mostrava uma bela cor rubi intensa, aromas que nos
remeteram à ameixa madura, ao chocolate, café, tabaco e notas vegetais, num belo corpo. Nitida-
mente, a Touriga Nacional amaciava a Syrah. Aos dois anos de garrafa, estava jovem. A cantina,
inaugurada em 2007, está sob o comando dos enólogos gaúchos Valdir Cristófoli e Flávio Novelo.
São produzidas 150 mil garrafas/ano de vinho de mesa, o Cálice de Pedra, e 4 mil garrafas/ano do
vinho fino do Cerrado, o Muralha, envelhecido em barricas de carvalho francês e americano. Em
2018, a Vinícola Serra das Galés passou por expansão, no sentido de atingir 10 mil garrafas por
ano de vinhos finos. Em breve, a Vinícola Serra das Galés apresentará o Muralha Premium, um
corte especial entre Touriga Nacional, Malbec, Cabemet Sauvignon, Syrah e Tempranillo.

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 369


GENTE que elabora vinhos finos no Distrito Federal
O desenvolvimento da viticultura no Cerrado Goiano estimulou agricultores estabelecidos
em área do Distrito Federal. Nove produtores rurais, entre eles Ronaldo Triacca (Villa Triacca
Eco Pousada), Rodrigo Sucena e Juvenil Cenci, associaram-se em um projeto com 1 hectare
de Syrah. Os primeiros 150 kg de uva foram colhidos no inverno de 2019 e levados à Epamig
Caldas, para vinificação, dando origem ao Villa Triacca Seu Claudino Syrah 2019. Registro,
ainda, o projeto vitivinícola de Laura Perdigão, uma carioca radicada em Brasília, há mais de
uma década, que iniciou implantação de Malvasia de Cândia, numa chácara no Lago Oeste.

370 Ro ge ri o D ard ea u
Lugares onde vinhos finos são elaborados
no estado da Bahia

CHAPADA DIAMANTINA

Essa experiência de viticultura foi iniciada em 2010, com incentivo do governo do estado
da Bahia e apoio da Embrapa, por meio da Associação de Criadores e Produtores de Morro de
Chapéu e Região, com projeto de elaboração de vinhos finos e abertura ao enoturismo. Em
2011, foram implantadas as variedades Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Tannat,
Malbec, Merlot, Syrah, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Muscat Petit Grain. Os primeiros
vinhos foram elaborados na cantina da Vinícola Terranova, do Miolo Wine Group. Os vinhedos
iniciais somavam apenas 2 hectares, no município de Morro do Chapéu, embora iniciativas
paralelas também tenham ocorrido em Mucugê e Rio de Contas. Os projetos preveem
irrigação. Atualmente, já há uma dezena de produtores trabalhando com afinco na formação
desse novo terroir, que vem tendo acompanhamento da Embrapa Uva e Vinho, especialmente
do pesquisador Giuliano Elias Pereira. A implantação de vinhedos de viníferas na Chapada
Diamantina é, sem dúvida, uma ação de caráter coletivo. Vejo, no entanto, protagonismo do
engenheiro agrônomo Jairo Pinto Vaz, a quem solicitei depoimento especial para Gente, lugares
e vinhos do Brasil. Trata-se de um mineiro de Pedra Azul, formado pela Universidade Federal
de Viçosa, em 1976, com especialização em Engenharia de Irrigação, em Israel. Ele detalha:

"No ano de 1985 fui trabalhar no Vale do Rio São Francisco, no polo Juazeiro/Petrolina com
fruticultura irrigada, e lá participei do desenvolvimento da cultura de uvas de mesa, com a intro-
dução das variedades de uvas sem sementes. Fui sócio e diretor técnico de duas importantes em-
presas de exportação de frutas, a Frutinor e a Frutimag, onde permaneci até 2007. Nesse período
tive a oportunidade de conhecer as mais importantes regiões vitivinícolas do mundo, visitando
vinhedos e vinícolas na França, Itália, Espanha, Portugal, África do Sul, Chile, Argentina, Es-

Gente. Lugares e Vinhos do Bra sil 371


tados Unidos, Alemanha e Hungria. Mas foi numa pequena vila francesa, 'Les Riceys', na região
de Champagne, que pude me encantar com a vitivinicultura, ao acompanhar periodicamente, por
alguns anos, a produção de uvas e vinhos 'Champagne', nos vinhedos da Cave Cooperative des
Riceys. No início do ano de 2008, tive a oportunidade de conhecer a Chapada Diamantina e me
chamou atenção a temperatura amena em pleno verão, numa região do semiárido nordestino...
Iniciei então visitas às cidades da região, onde pude perceber a beleza dos monumentos naturais
da Chapada, montanhas, cânions, cachoeiras, grutas, fauna, flora, etc., além de uma população
amável e acolhedora. Então, depois de percorrer grande parte da Chapada e estudar as condições
de solos e clima da região, vislumbrei a possibilidade da produção de uvas viníferas, optando por
adquirir uma gleba de terras nos arredores da área urbana da cidade de Morro do Chapéu, com a
finalidade de implantar o projeto vitivinícola para a produção de vinhos e espumantes.
Em agosto de 2009, convidei o meu amigo Christian ]ojot, produtor e presidente da Cave Coo-
perative des Riceys para uma visita a Morro do Chapéu, onde, após discussões e estudos técnicos
minuciosos, analisando as características de solo e a climatologia local, decidimos pela viabili-
dade da implantação de uvas viníferas finas, como Pinot Noir, Chardonnay, entre outras. Na
sequência do aprofundamento dos estudos, em 201 O, foi então assinado um Termo de Coopera-
ção Técnica entre a Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia e a Cooperativa de Riceys, com
a participação da Embrapa, o que permitiu a implantação da Unidade de Observação de Videiras
Viniferas em Morro do Chapéu, com o plantio de dez variedades de uvas: Pinot Noir, Cabernet
Sauvignon, Petit Verdot, Tannat, Malbec, Merlot, Syrah, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Mus-
cat Petit Grain. Sem dúvidas, a participação do Christian Jojot e a do enólogo Giuliano Pereira
foram fundamentais para a viabilização técnica da vitivinicultura na Chapada Diamantina ...
em 2013, apresentamos os resultados preliminares da área experimental de Morro do Chapéu no
18° Simpósio Giesco, 119 na Universidade do Porto, em Portugal, e, no ano de 2015, recebi uma
homenagem da 'Commanderie du Saulte Bouchon Champenois' pelo trabalho desenvolvido com
a Cooperativa Les Riceys na Chapada Diamantina".

GENTE que elabora vinhos finos na Chapada Diamantina

MORRO DO CHAPÉU

RECONVEXO, Vitivinícola
Gr IV - 2018 - VBdT - (I)
Iniciativa dos investidores Murilo Plínio Nogueira Ribeiro e Rafael
Gonçalves Bezerra de Araújo, esse projeto está em fase de implan-
RE~ ONVEXO tação, com vinhedos e previsão futura de cantina. As mudas de
V INE YA A D
Malbec foram implantadas em outubro de 2019, seguidas de uma
área experimental com mais seis castas, para testes. Tem irrigação,

119 Groupe lnternational d'Experts em Systémes Vitivinicoles pour la Coopération (giesco.org)

372 Roge rio D ard ea u


e a energia elétrica é de fonte solar. Os proprietários desejam também atuar em enoturismo e
planejam inclusive, para o futuro, um restaurante junto à cantina.

VINHAS DO MORRO - Vinícola VAZ


Gr IV - 2016 - VBdT - (I)
Empreendimento liderado pelo engenheiro agrônomo Jairo Vaz,
profissional que acompanha, desde o início, os debates e expe-
~
\..,/ riências de vitivinicultura, na Chapada Diamantina. É ele quem
VINH/\S DO MORRO afirma: "O ciclo das uvas naquela região é diferente da região do Vale
do São Francisco. Temos um clima de altitude, temperaturas baixas, com
alto índice de dias nublados, o que alonga o ciclo da videira, mas temos
a possibilidade de fazer duas safras". São 5 hectares de vinhedos implantados e mais 2 hectares em
implantação. A opção de manejo foi a de dupla colheita, informa Jairo: "O ciclo de verão inicia-se
com a poda no começo da primavera, final de setembro, com colheita em janeiro/fevereiro; o ciclo de inverno,
com a poda no final do verão, em março, e colheita em julho/agosto". O empreendimento tem projeto
de cantina, iniciado com uma provisória para 5.000 litros, que será ampliada, até 2021, para
50.000 litros. Por enquanto, as uvas são transportadas em caminhão frigorífico e processadas
em cantinas parceiras, mediante contratos formais, sob a supervisão técnica do enólogo Flávio
Durante. Em 2018, foram elaborados os primeiros vinhos Vaz Malbec, Syrah, Sauvignon Blanc e
Viognier, a partir de uvas colhidas entre julho e agosto, num total de 1.200 garrafas, na cantina
da Escola do Vinho do Instituto Federal Sertão, em Petrolina. Em 2019, foi elaborado o vinho
Ferro Doido Malbec, da colheita de fevereiro, num total de 2.500 garrafas, na Vinícola Manda-
carú, em Lagoa Grande, PE, além dos espumantes Vaz Brut, Brut Rosé e Moscatel, a partir de
uvas colhidas entre julho e agosto, num total de 6.500 garrafas, na Vinícola Vale do S. Francisco,
em Santa Maria da Boa Vista, PE. Novamente é Jairo quem esclarece: ''A parceria com o Instituto
Federal foi extremamente significativa. Realmente tivemos uma grata surpresa. Os vinhos se apresentaram
com bastante potencial. É um novo terroir que já tem atraído novos investidores e que, acredito, se constitui
em oportunidades para os alunos, com ampla possibilidade de geração de trabalho". O projeto tem tam-
bém enoturismo em perspectiva, prossegue ele: "O Projeto Vinhas do Morro é fruto de um sonho e da
escolha por qualidade de vida. O objetivo não é apenas produzir vinhos de alta qualidade, mas sim oferecer
aos amantes da vitivinicultura as belezas da Chapada Diamantina, o contato com a natureza exuberante, o
clima ameno e agradável, a convivência com a amabilidade das pessoas da região e, obviamente, o prazer de
degustar vinhos finos com características únicas de um novo terroir". Esses objetivos fizeram com que
Jairo Vaz decidisse partilhar belezas naturais, cultura e prazeres com outras pessoas. Daí nasceu
o condomínio Vinhas do Morro, projeto razoavelmente frequente na Argentina, mas inédito no
Brasil: a oferta de lotes com vinhedos. Contempla 24 lotes de 2.000 metros quadrados cada e 1
hectare de uvas, com quatro variedades, comum ao condomínio, numa área total de 10 hectares,
desmembrada da propriedade da vinícola. Os condôminos terão acesso irrestrito a toda a área
das Vinhas do Morro, inclusive à vinícola. O lançamento seria em julho de 2020, durante a safra
de inverno, mas foi adiado em função da pandemia de coronavírus, que recomendou o isolamen-
to social à população.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 373


MUCUGÊ

VINÍCOLA UVVA CEPAS DIAMANTINAS


Gr IV - 2011 - VBdT* - (I)
vinicolauvva.com. br
Ivo Borré é um gaúcho de Porto Xavier, município às margens
do rio Uruguai, a quase 600 km de Porto Alegre. No início da
década de 1980, emigrou para a Chapada Diamantina, a fim de
desenvolver projetos agropecuários. Fez uma viagem da Latitude
28 S à Latitude 13 S. Instalou-se em !bicoara, onde adquiriu uma
área de 780 hectares, numa altitude superior aos 1.000 m, com
excelente amplitude térmica em todas as estações. Iniciou suas
atividades agrícolas com o cultivo de trigo e soja. Anos mais tarde, porém, descobriu que o
cultivo de batata-inglesa seria promissor. Hoje, é um dos maiores produtores de batata-ingle-
sa do país. Mas a família Borré não parou. Em 2005, incorporou a cultura do café à Fazenda
Progresso e, na sequência, identificou as possibilidades para a viticultura na Serra do Sincorá.
Fabiano Borré é quem comanda a experiência, totalmente focada em viníferas manejadas pelo
ciclo invertido da videira, com dupla poda e colheita no inverno. A fase ainda é de compre-
ender as variedades implantadas. São 32 hectares de vinhedos, em expansão para 50 hectares
até 2021. São cultivadas as brancas Sauvignon Blanc, Chardonnay e Riesling, além das tintas
Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir e Syrah, sendo que esta
última vem sendo a tinta de maior êxito sob o manejo de dupla poda. Os solos são profundos
e bem drenados, o que favorece bastante o crescimento radicular das vinhas e contribui decisi-
vamente para a qualidade das uvas. A cantina está em fase final de
testes. Prevê-se operação comercial para 2021. O enólogo é Marcelo
Petroli. Não me surpreenderei se, num futuro não muito distante,
esse produtor passar para o Grupo I - Produtores de vinhos finos
de grande porte.
61
FAZENDA PROGIESSO

374 Rogerio Dardeau


IJê
Lugares onde vinhos finos são elaborados no
estado de Pernambuco, além dos municípios
pernambucanos do Vale do São Francisco

O município de Garanhuns está situado no Planalto da Borborema, em altitude


média de 800 m, na mesorregião do agreste pernambucano. Está cercado pelos montes
Antas, Columinho, Ipiranga, Magano (1.030 m), Sinai, Quilombo e Triunfo. O clima é
tropical de altitude, com temperatura média de 21 °C. O índice pluviométrico é de 920 mm/
ano, com picos de precipitações entre junho e julho. As pesquisas foram iniciadas com a
implantação de dez variedades de viníferas, no Campo Experimental do Instituto Agronômico
de Pernambuco (IPA), em Brejão, na microrregião de Garanhuns, em 2013, fruto de parceria
com a Embrapa Semiárido, com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e
com o Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE). Lograram adaptação às
condições de solo e clima as brancas Muscat Petit Grain, Sauvignon Blanc e Viognier, além
das tintas Cabernet Sauvignon, Malbec e Syrah. As primeiras vinificações foram realizadas
no Laboratório de Enologia da Embrapa Semiárido, em Petrolina, PE, objetivando-se vinhos
jovens, e causou impacto favorável entre pesquisadores e apreciadores em evento realizado,
em agosto de 2017, na Chácara Vale das Colinas, em Garanhuns.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 375


GENTE que elabora vinhos finos no estado de Pernambuco

GARANHUNS

VALE DAS COLINAS, Vinhos & Vinhedos


Gr IV - 2013 - VBdT - (I) - EnoT
Empreendimento do casal de oftalmologistas Michel Moreira Leite
e Micheline Cavalcante. São 3,5 hectares de vinhedos, implantados
Colinas
em propriedade com 39 hectares de área total. O projeto conta
,64@~
Vinhos & Vinhedos
com amplo apoio técnico de Embrapa, IPA, UFRPE e IF Sertão PE.
As variedades implantadas são as brancas Muscat Blanc à Petits
Grains, Riesling, Sauvignon Blanc e Viognier. As tintas são Caber-
net Sauvignon, Malbec, Mourvedre, Pinot Noir e Syrah. Há testes com Merlot e Touriga Nacio-
nal. Os vinhedos são manejados para produção em ciclo normal, com as colheitas em janeiro. As
primeiras vinificações ocorreram na Embrapa Semiárido, mas a cantina já está em construção,
com inauguração prevista para novembro de 2020, quando serão apresentados os varietais de
Cabernet Sauvignon, Malbec e Muscat Blanc. O enólogo é o experiente Flávio Durante, com
grande conhecimento da região. O projeto já nasce abrangente, para realizar também enoturismo
e outras atividades correlatas.

376 Roge rio D ard e a u


~
~~ Negociantes de vinhos &
Delicatéssens & Restaurantes vinhateiros

Os negociantes de vinhos (négociants a vins) sempre foram muito importantes na França. Esses
profissionais ou empresas avaliam, compram e frequentemente criam vinhos com os produtores,
para uma comercialização mais ágil. Trata-se de compreender que o produtor pode elaborar
bons vinhos, mas pode não saber, necessariamente, levá-los à mesa dos consumidores. Entram,
então, esses profissionais ou empresas em cena: eles sabem apreciar vinhos e têm os meios para
a oferta. Em geral, decidem estilos, cortes e tempos de barrica, determinam os engarrafamentos,
definem rotulagens com o próprio nome e comercializam. O "instituto" dos negociantes (em
bom português) é tão antigo que ações correspondentes são encontradas na Europa desde a Idade
Média. No Brasil ainda há poucos, mas o movimento, com novos nomes, é expressivo. O livro Vinho
fino brasileiro, de 2015, trazia uma relação com quatro negociantes e um restaurante com vinhos
próprios. Na época, não estava listada nenhuma delicatéssen. Passados cinco anos, os negociantes
cresceram 450%: agora, são 18. Dos quatro iniciais, citados em 2015, dois saíram de cena. O
que explicaria esse vertiginoso crescimento desses atores focados em vendas? No meu ponto de
vista, uma das fortes razões para isso é a constatação de que elaboramos vinhos muito bons, mas
não sabemos identificar apreciadores, clientes. Temos tido dificuldade de desenvolver estratégias
para chegar a eles. Literalmente, nossos produtores de vinhos finos, como sempre, salvo algumas
exceções, não são bons em comercialização! Então, abre-se um espaço aos profissionais experientes
em vendas, conhecedores de vinhos e do mercado brasileiro, que vem sendo ocupado. O papel
dos negociantes brasileiros é muito relevante, pois eles atuam na difusão dos vinhos brasileiros de
terroir, conquistando apreciadores e ampliando mercados. Vale aqui uma lembrança: comerciantes
de bebidas finas e donos de restaurantes (restaurateurs) que realizam parcerias com produtores,
objetivando vinhos com o nome do estabelecimento, para comercialização na própria casa, não são
negociantes, mas têm também contribuição decisiva na formação de consumidores qualificados,
igualmente divulgando nossos vinhos finos e incrementando as demandas por eles. Aqui, neste
novo livro, além dos negociantes, aparecem ainda três restaurantes e quatro delicatéssens. Como
sabemos, é tarefa difícil, para os não iniciados, receber uma carta de vinhos, num restaurante, e
decidir qual vinho acompanhará o prato. Por outro lado, treinar garçons para indicarem vinhos
também não é simples. Isso é ação de um sommelier, que a grande maioria dos restaurantes não
consegue manter. Então, ter um vinho previamente selecionado, rotulado como o nome da casa,
facilitará muito a orientação e a decisão do cliente. Apenas para esclarecer, o negociante distribui em
rede; o dono de delicatéssen ou restaurante (restaurateur) oferece aos clientes em determinado ponto
de venda. Os donos de restaurantes que buscam rotular vinhos próprios são muitos. A listagem aqui
exposta ainda poderia incluir a Casa Sarchi, de São Paulo, e a Casa Piva, no Rio de Janeiro, sobre as
quais não foi possível ampliar informações. Os nomes apresentados a seguir estão codificados como
neg (negociante), dei (delicatéssen) e res (restaurante). Todos têm espaços próprios na Internet.

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 377


ADEGA DO CHAMON
(Bento Gonçalves, RS - 2015) Neg
Douglas Chamon é um capixaba, mestre em Ciências Econômicas,

~ll,1J
. J\ ex-professor universitário em Vitória, ES, que fez do vinho fino bra-
sileiro um projeto de vida. Enófilo desde a juventude, viu o prazer
pelo vinho envolvê-lo por completo, até a decisão de mudar-se para
Bento Gonçalves e concluir formação em Enologia, no IFRS. Criou o
ADEGA DO CHAMON" blog Adega do Chamon, com orientações precisas e farta informação
WlhoseEsruma'ltesdoBra51I

sobre vinhos finos brasileiros e seus produtores, logo liderando com-


pras coletivas, que muito facilitaram a aproximação entre enófilos e
nossos vinhos finos, especialmente aqueles elaborados por pequenos produtores. De tanto visitar
cantinas, estudar e conversar com vinhateiros e enólogos, a partir de 2017 decidiu coordenar um
projeto de vinhos coletivos. Assim, a cada ano, seus seguidores se inscrevem no projeto Vinificação
em Grupo, da colheita seguinte, e podem participar ativamente de todas as etapas, da colheita à
elaboração. Trata-se de uma dinâmica que promove o vinho fino brasileiro e escoa um bom volu-
me de vinhos finos de alto padrão e perfis singulares. No ano de inauguração, Douglas Chamon
reuniu 46 enófilos, que, em conjunto, decidiram por três varietais (Merlot, Cabemet Sauvignon e
Barbera) mais um corte entre aqueles vinhos. Em 2018, foram 190 participantes, e os vinhos foram
varietais e cortes, a partir de Tannat, Merlot, Tempranillo, Touriga Nacional, Cabemet Sauvignon e
Barbera. Em 2019, foram 273 enófilos, e vinhos Chardonnay, Viognier, Sauvignon Blanc, Barbera,
Marselan, Merlot, Petit Verdot, Rebo, Tannat e Touriga Nacional. Para a magnífica safra de 2020,
Chamon reuniu mais de 400 participantes! O projeto Vmificação em Grupo tem regras muito bem
definidas, explícitas na página web Adega do Chamon. No dizer do próprio Douglas: "Trata-se de
uma relação de amizade ao redor do vinho brasileiro, que se manterá pelos anos seguintes".

AMITIÉ
(Bento Gonçalves, RS - 2018) Neg
A sommeliere Andreia Gentilini Milan e a enóloga Juciane Casa-

AMITIÉ
e grande Doro têm uma longa amizade e experiências consolidadas
no mundo do vinho brasileiro, berço de ambas. Exatamente por
isso, amadureceram projeto de vinhos próprios e se lançaram pela
via nobre dos espumantes, criando a empresa Vitis Comércio de Alimentos e Bebidas Ltda., com
um nome fantasia muito representativo: Amitié. "Escolhemos esse nome (amizade, em francês) pela
nossa relação de anos no mundo do vinho, a qual propiciou esse projeto único", destaca Andreia, que com-
plementa: "É uma bebida [o espumante brasileiro] para celebrar os bons momentos e encontros. Os nos-
sos espumantes Amitié são produtos joviais", observa ela, que também atua como gestora e consultora
de empresas e instituições do setor vitivinícola. Os espumantes são elaborados pela Cooperativa
Vinícola São João, em Farroupilha, RS, e são apresentados nas versões Amitié (Moscatel, Brut e
Rosé), além da versão Amitié Cuvée - Brut e Brut Rosé. O Amitié Cuvée Brut e o Brut Rosé têm
vinho base a partir do corte entre Chardonnay e Pinot Noir. "Buscamos desenvolver produtos dentro
do perfil que o exigente consumidor brasileiro busca nas duas principais categorias de preço de mercado, com
a melhor relação custo/beneficio", explica, por sua vez, Juciane. O lançamento oficial da linha aconte-
ceu em 26 de setembro de 2018, no Espaço de Eventos Bem Vino, em Bento Gonçalves, durante

378 Rogerio Dardeau


a Feira Internacional do Vinho - Wine South America. O expoente da casa é o Amitié Nature,
com 18 meses de maturação sur lie. Além de intenso, vivo, com borbulhas rápidas e pequeninas,
o charme desse espumante é que a tampa metálica, aquela que fica alojada sobre a rolha, para
receber a grade, tem um cristal Swarovski incrustrado e pode ser usada como um pingente. O
cordão vem enrolado entre a tampa e a rolha.

ARTELÍQUIDA
(Gramado, RS - 2018) Dei
ArteLíquida é um projeto que aproxima as culturas vitiviníco-
las do Brasil e da Argentina, pelas mãos de dois profissionais: o
enólogo e viticultor mundialmente reconhecido Matias Micheli-
ni (Passionate Wines e Super Uco) e o sommelier, mercador de
vinhos e vinhateiro Cristiano Davoglio Ribeiro. Como este último
nos explica: "Nossa busca é a identificação dos melhores terroirs do
Brasil com o intuito de produzir vinhos autênticos, naturais e com a menor intervenção possível. Vinhos que
reflitam a identidade de nossa terra. Matias, com uma vasta experiência na elaboração de vinhos autorais
na Argentina, um clima completamente diferente do Sul do Brasil, acredita que grandes vinhos possam ser
elaborados aqui; no entanto, vinhos com outras características, 'vinhos de chuva' ou 'vinhos de paisagem'".
Cris Ribeiro, com mais de 15 anos de experiência no mercado de venda de vinhos (San Tao e
Mercadores de Vinhos) e na área educacional do vinho, como sommelier, passa agora para o
outro lado da mesa, tornando-se produtor. Diz ele: "O entendimento do mercado do vinho na área
do varejo e restauração me ajuda a entender bastante o estilo de vinhos que gostaria de vinificar. ArteLíqui-
da torna-se um lindo desafio: unir duas culturas distintas em prol de um bem maior, honrar a cultura e a
história do vinho brasileiro, mas assentar padrões altíssimos de qualidade. Não queremos provar ou impor
nada, mas queremos, sim, mostrar que o Brasil pode se tornar um grande produtor no cenário internacional,
através de uma identidade própria". As uvas são compradas de viticultores muito bem selecionados
pelos sócios e vinificadas nas instalações da vinícola Stopassola, em Gramado. Os vinhos estão
totalmente regularizados e saem com registros formais de produção, daquele produtor, para co-
mercialização direta pela Mercado de Aromas e Sabores Eireli (CR Vinhos). Os primeiros vinhos
foram da safra de 2019. Os parceiros vinificaram também em 2020. Registro os seguintes rótulos
marcantes: Corte de Brancas (Gewurztraminer 65% + Goethe 25% + Riesling Renano 10%),
Reissen (100% Riesling Renano), Touriga Pura e Barbera Pura.

BARÃO DE PETRÓPOLIS
(Petrópolis, RJ - 2014) Dei
Iniciativa do empresário petropolitano André Blanc, para ter
vinhos exclusivos nas lojas do Empório MultiMix, de sua pro-
füurão de priedade, em Petrópolis, na Serra Fluminense. Nas palavras do

Petlíópolis próprio André, "uma homenagem de apaixonados pela cidade". Ele


identificou o produtor Felipe Bebber, de Flores da Cunha, RS, e
com ele define interesses e escolhe os próprios vinhos, entre os
elaborados por Felipe, rotulando-os com a marca Barão de Petró-

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 379


polis. A marca tem exclusiva autorização da família real brasileira para estampar, nos rótulos,
reprodução de imagem do Palácio de Verão do imperador brasileiro Dom Pedro II, hoje Museu
Imperial de Petrópolis. Os vinhos têm sido varietais de excelente expressão das castas Cabernet
Franc, Merlot e Tannat.

BARÃOINVEST
(Rio de Janeiro, RJ - 2016) Neg
Grupo de investidores portugueses, importadores de bons rótulos
ô de Portugal para o Brasil. Depois de reconhecer a qualidade dos
vinhos elaborados por aqui, iniciou investimentos em vinhos bra-
l)\IZi\.__ l'\JVI ~
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sileiros. Estabeleceu acordo com a Cooperativa Vinícola São João,
de Farroupilha, RS, conhecida pelos vinhos finos Castellmare, e
inaugurou a atividade négociant por meio de dois finos espumantes brut, com a denominação
BarãoBarros e a assinatura do enólogo Valmor Pozza.

BIBULUS Vinhos - Ut Amans Vinum


(Rio de Janeiro, RJ - 2018) Neg
Iniciativa do conhecido sommelier e chefe Lauro Carvalho.
~ ........... . Como ele relata: "Entre uma taça e outra de belos rótulos nacionais,
\ ~ blbulu:> surgiu a ideia da Bibulus - Ut Amans Vinum, que, em uma tradução mais
livre do Latim, significa "Quem gosta de beber - para amantes do vinho".
Ah! Meu sócio adora Latim! Queríamos, inicialmente, trazer para o Rio de
Janeiro vinhos nacionais de qualidade, em pequenas quantidades e indisponíveis aqui, para, assim, podermos
comercializar entre amigos e confrades, e para alguns pontos de venda selecionados, já que seriam vinhos de
produção limitada. Fomos ao Rio Grande do Sul para visitar uma vinícola em especial e, claro, provar mais
vinhos. Negócio fechado, pouco tempo depois estávamos distribuindo nossos primeiros rótulos nacionais. Mas
desde a nossa primeira visita ao Sul, ficou um gostinho de quero mais. Outras tantas visitas ao Sul, mais
vinhos, churrascos, muita conversa, troca de ideias, testes, afinidades e pronto, estava criada a Linha Bibu-
lus, uma incrível parceria com a Vinícola Bebber, em Flores da Cunha, e que vem, a cada dia, nos deixando
mais contentes e felizes com os resultados. Iniciamos com oito rótulos, e, por filosofia nossa, todos vinhos de
corte, com uvas da Serra Gaúcha, da Campanha Gaúcha e da Serra do Sudeste. É isso: vamos continuar
bebericando, e aí... bem, aí só o futuro vai dizer o que vem pela frente, mas ideias não faltam". Os vinhos
são apresentados em duas linhas: Premium e Colheita. Os rótulos Bibulus Premium são, de
fato, muito expressivos, exibindo a complexidade que os cortes proporcionam. Até o fecha-
mento desta edição, estavam em comercialização os seguintes Bibulus Premium: Chardonnay
+ Chardonnay 2017; Touriga Nacional + Alicante Bouschet 2012; Cabernet Franc + Merlot
2012; Tannat Serra Gaúcha + Tannat Campanha Gaúcha; Brut Rosé. A linha Colheita traz
vinhos da safra de 2014, com os cortes Cabernet Sauvignon + Merlot + Tannat (Corte Serra
Gaúcha); Tannat + Tannat; Merlot + Tannat + Alicante Bouschet.

380 Rogerio Dardeau


CASA DO VINHO - Distribuidora de Bebidas São Joaquim Lida.
(São Joaquim, SC - estabelecida em 1995, como Dei; a partir de 2006, Neg)
A Casa do Vinho foi fundada por Vilson Ribeiro Borges, o tio
Vilson, como ele gosta de ser chamado. Especialista em comer-
cialização e distribuição, inicialmente de cervejas, tio Vilson mu-
CASAoo dou para o vinho a partir da amizade com Dilor de Freitas, tendo
VINHO acompanhado a construção da Vila Francioni. Depois da cerveja,
COMENDADOR

tio Vilson distribuiu sucos e vinhos gaúchos, vendo nascer a vi-


tivinicultura catarinense de vinhos finos de altitude. Em 2006, nasceu a linha Comendador,
inaugurando a atividade negociante, depois a linha Amália e, em 2019, a marca CV, sempre
com vinhos elaborados por vinícolas parceiras na Serra Catarinense, sob supervisão própria.
Atualmente, conta com a atuação dos filhos Claudio e Wagner, sócios no empreendimento.
São destaques o espumante Amália Brut Champenoise, elaborado a partir de vinho base
100% Sauvignon Blanc, com a Vinícola Panceri; os vinhos Comendador Merlot, com a Viníco-
la Suzin; Comendador Cabernet Sauvignon, com a Vinícola Hiragami; Comendador Touriga
Nacional, muito provavelmente com a Quinta Santa Maria; Comendador VF Lote III, com a
Vinícola Villa Francioni; e Comendador Cinco Castas Reserva Especial, muito provavelmente
também com a Vinícola Villa Francioni. A Casa do Vinho tem rótulos de todo o Brasil e do
mundo. Além disso, as instalações são notáveis, com uma sala para degustações em nível
profissional. Sem dúvida, além da atividade de negociante, tio Vilson contribui decisivamente
para o engrandecimento da vitivinicultura catarinense.

CATTACINI - Vinhos Nacionais Exclusivos


(Rio de Janeiro, RJ, 2010) Neg
cattacini.com. br
O empresário Luiz Carlos Cattacini Gelli descende de italianos,

i
CATTACINI.
como os dois sobrenomes indicam. O curioso é que seus ances-
trais deixaram a Itália no final do século XIX, durante o históri-
Vmhosnaclooa~exduSIYOS co período da migração Itália-Brasil, mas, aqui chegando, não se
Dcsdc20IO
dirigiram à Serra Gaúcha, como a grande maioria. Instalaram-se
em Petrópolis, RJ, onde nasceu a tradicional indústria de móveis
Gelli. Ele, porém, é um engenheiro eletricista que, em 2008, desejava ardentemente ingressar
no mundo do vinho. Criou, então, a Cattacini - Vinhos Nacionais Exclusivos, com sede no
Rio de Janeiro. Trata-se de um negócio voltado à definição e à comercialização de vinhos finos,
elaborados por terceiros, com rótulos próprios (Cattacini) . Gelli é, sem sombra de dúvida, o
primeiro 12º négociant brasileiro da fase contemporânea de nossa vitivinicultura, com todas as
características desses profissionais. Os vinhos são criados segundo o desejo de Gelli, e a origem
é explicitamente declarada nos contrarrótulos, aliás sempre muito completos. Os vinhos são

120 Antes dele, poderíamos resgatar o projeto do príncipe Dom Eudes de Orléans e Bragança, no final da
década de 1970, visto em Origens e Desenvolvimento, à pàgina 27. Mas não era um négociant totalmente
caracterizado, inclusive porque almejava ter a própria vinícola.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 381


os seguintes, até esta edição: Cattacini Merlot 2009 e Cattacini Extra Brut (um champenoise a 50%
de Chardonnay e Pinot Noir), ambos elaborados pela Vinícola Miolo; Cattacini Peverella 2011,
12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e Cattacini Barbera 2011, elaborados pela Cantina Salvatti & Sirena. O
Cattacini Peverella já se tomou uma referência dessa casa, com magnífica evolução na garrafa.
A safra 2011, esgotada em 2018, até esse ano mostrava brilho e integridade, com aromas e
sabores únicos. E mais: Clos Cattacini Gewurztraminer 2011, elaborado pela Luiz Argenta Vinhos
Finos; Cattacini Extra Brut Rosé (um interessante champenoise, cujo vinho base é um corte entre
45% de Cabemet Sauvignon, 20% de Merlot, 20% de Malbec, 12,5% de Montepulciano e 2,5%
de Cabemet Franc); e o branco Quíron Chardonnay Cattacini 2013, que corta 85% de Chardonnay
com 15% de Sauvignon Blanc. Estes dois últimos vinhos são elaborados pela Vinícola Santa
Augusta, de Santa Catarina. As uvas que compõem o Quíron foram cultivadas e vinificadas com
práticas biodinârnicas, adotadas sob a orientação do agrônomo Jefferson Sancineto Nunes, nos
vinhedos da Vinícola Santa Augusta. A fermentação foi conduzida em etapas distintas. Metade
da composição do vinho é de um Chardonnay que fermentou e estagiou em barricas de car-
valho francês Seguin Moreau por quatro meses; 35% desse mesmo varietal e 15% do mosto da
Sauvignon Blanc fermentaram separadamente em tonéis de aço inoxidável, com controle de
temperatura entre 12 ºC e 13 ºC. O vinho cortado apresenta graduação alcoólica de 13,2% vol.
Foram envasadas, nessa primeira safra, apenas 600 garrafas, com rolhas de cortiça. O Quíron es-
tabilizou em caves climatizadas por dois meses antes de chegar ao mercado. Outra importante
criação do Gelli é o Cattacini Vale do Luar, um varietal a 100% da casta Chenin Blanc, elaborado
em parceria com a Vinícola Terranova, antiga Ouro Verde, do Miolo Wine Group, no muniápio
de Casa Nova, BA, em pleno Vale do São Francisco (Paralelo 8°S). Como se nota pelo nome, o
produtor teve a exata intenção de referir-se aos grandes Chenins, do Vale do Loire, na França. A
elaboração seguiu um processo exclusivo, sofisticado: colheita manual, em duas etapas, com
uma semana de intervalo; uvas transportadas em caixas de 20 kg; seleção e desengaçamento;
prensa pneumática para mosto flor (100%), em ambas as ocasiões, por escorrimento; clarifica-
ção estática a frio (10 ºC); debourbage, por 24 horas. As uvas da primeira colheita fermentaram
por uma semana em barricas de carvalho Seguin Moreau e terminaram a fermentação alcoólica
em aço inox, com estágio de 11 meses, com bâtonnage, na mesma cuba. As uvas da segunda
colheita fermentaram e estagiaram, com bâtonnage, por 11 meses no Seguin Moreau, utiliza-
do anteriormente. O vinho final foi formado com 42,5% do vinho da primeira colheita, mais
42,5% do vinho da segunda colheita, mais 15% de vinho da mesma safra, fermentado em inox,
sem passagem em barrica. De fato, uma elaboração altamente complexa, com um resultado
notável. O vinho tem graduação alcoólica de 12,2%, e a produção foi de 1.026 garrafas. O rosé
de Pinot Noir, elaborado com a Vinícola Don Giovanni, também está notável, assim como foi
excepcional (pena que acabou) outro produto da parceria com a Don Giovanni, o Santiago
Brut Magnum 60 meses, a partir de vinho base 70% Chardonnay, com 30% Pinot Noir! E não
posso deixar passar a história do vinho Oito, contada pelo próprio Gelli: "Em 2018, lançamos o
OITO BARRICADO 2015. O vinho surpreendeu a muitos e ainda recebo comentários entusiasmados sobre
ele. Essa edição, Oito Barricado 2015, foi pensada no estilo de um Gran Reserva da Rioja, devido aos 42
meses de estágio em carvalho francês. Foram retirados das barricas apenas o equivalente a 72 garrafas: um
luxo! Para preencher o consequente vazio da barrica, utilizamos vinho da maravilhosa safra de 2018, e o
corte ficou até o início de maio deste ano (2019), quando foram envasadas mais 72 garrafas. A nova edição

382 Rogerio Dardeau


foi inspirada na Andaluzia e, por isso, colocamos no rótulo OITO SOLEIRA 18 - sim, soleira, e não solera,
pois se trata de uma despretensiosa comparação. O vinho é um corte de 75% do OITO BARRICADO 2015
com 25% de Peverella 2018, que estava em cuba de aço inox. O lote ficou em barrica até atingir 48 meses,
contados do 2015, e foram preenchidas mais 72 garrafas. Um vinho para poucos! Uma experiência!".

CAVE COLINAS DE PEDRA


(Piraquara, PR, 2000) Res EnoT
cavecolinasdepedra.com. br
Cave Colinas de Pedra é a realização de um sonho do empresário
(AVE
Ari Portugal, que, após a aposentadoria no ramo de seguros, em
que teve carreira de êxito, decidiu seguir pelos negócios de turis-
mo. Em 1999, ele comprou uma área de 45 hectares, localizada
nos fundos da Estação Ferroviária de Roça Nova, então desativada, no município de Piraquara,
PR, a fim de construir uma pousada ecológica, para ser conduzida com a esposa, Rose Mari Por-
tugal, professora de cálculo infinitesimal na PUC do Paraná e exímia cozinheira. No ano seguin-
te, adquiriu, em leilão público da extinta Rede Ferroviária Federal S.A., a estação; o túnel ferrovi-
ário desativado, do ano de 1883, localizado a 140 metros da estação de Roça Nova; e umalitorina
sucateada. Tudo foi arrematado com a intenção de integrar o projeto da pousada. Logo, porém,
surgiu a ideia de viabilizar a adaptação do túnel para uma cave de maturação de espumantes. O
túnel foi então fechado nas duas bocas, e, por dois anos consecutivos, foram realizados testes
diários de temperatura e umidade, além de contatos e pesquisas com profissionais do vinho. No
final do período, foi constatado que a temperatura interna variava apenas 1 ºC ao longo de todo o
ano, sendo 16 ºC no inverno e, no máximo, 17 ºC no verão, uma excepcionalidade que reunia as
melhores condições para a maturação de espumantes. Decidiu-se, então, postergar a construção
da pousada, para investir no novo e audacioso projeto de maturação e processos finais de espu-
mantes dentro do túnel, com extensão de 429 metros, 5 metros de altura e 3,5 metros de largura.
As duas portas internas, no espaço da cave, são do tipo "cofre forte", ambas de alta resistência.
A capacidade de armazenamento é de 50 mil garrafas, havendo, porém, espaço para uma cave
reserva, que eleva a capacidade de armazenamento a 500 mil garrafas. A primeira fase de elabo-
ração dos espumantes, especificamente a elaboração dos "vinhos-base", é feita pela tradicional e
categorizada Cave Geisse, localizada em Pinto Bandeira, RS, de propriedade do respeitado enó-
logo chileno Mário Geisse. A Cave Colinas de Pedra executa a fase final do método champenoise:
guarda em pupitres, com rémuage (maturação), dégorgement, adição do licor de expedição, rolha,
gaiola e rotulagem, sob supervisão técnica de enólogo. Toda gestão do processo está a cargo da
família Portugal. O filho Rafaelle cuida da recepção aos visitantes e da área comercial, Rosi Portu-
gal comanda a excelente cozinha, enquanto Ary, pessoalmente, cuida das honras da casa, dentro
do túnel, durante a espetacular visita guiada, além de comandar a rémuage (giro) das garrafas
adegadas. A Cave Colinas de Pedra oferece espumantes brut nature, brut claro e brut rosé, os três
com, no mínimo, 24 meses de autólise. Um Moscatel claro e um Mosca-
te! rosé completam a carta. A comercialização dos espumantes, todos com
a marca Tunnel, é exclusiva para quem visita o empreendimento. Hoje,
o projeto enoturístico está em plena operação, com o funcionamento do
r
túnel-cave e do restaurante com deliciosas iguarias.
TUNNE L

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 383


CAVE NACIONAL
(Rio de Janeiro, RJ - 2015)) Res
Empreendimento do casal Marcelo Rebouças e Karina Bellinfanti.
Iniciado como um comércio virtual de vinhos brasileiros, ampliou-
-se a um restobar, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Ali, os
clientes escolhem seus vinhos na adega e são servidos, sem custos
adicionais. Aos que preferirem, podem contar com a opção de con-
sumo em taças. A Cave Nacional já lançou os seguintes rótulos
próprios: Chardonnay barricado por 1O meses em carvalho francês
de primeiro uso, com a Casa Venturini (180 garrafas); Cave Nacional Tannat 2007, com a Viní-
cola Helios (250 garrafas); Ribolla Gialla/Fiano, com Cattacini e Santa Augusta (120 garrafas);
Cave Nacional Tinto, com a Vinícola Viapiana, um corte entre Merlot 2015 + Merlot e Cabernet
Franc da colheita de 2017 (300 garrafas). Em breve, a Cave Nacional oferecerá um rosado, tam-
bém em corte exclusivo.

CHORO DA VIDEIRA
(São Paulo, SP - 2018) Neg
Projeto de divulgação de rótulos brasileiros, criado pelo médico
paulista Leandro Baena, que mantém o blog Choro da Videira e
tem vinhos próprios, elaborados por produtores parceiros. Bae-
CHORO
. na tem uma dinâmica própria e intensa, movida pela paixão. São
postagens no Instagram e lives nas quais ele apresenta vinhos, en-
trevista produtores, enólogos, sommeliers, apreciadores e outras
personalidades do mundo do vinho, sempre com o objetivo de orientar e estimular os consumi-
dores, oferecendo excelentes dicas de vinhos brasileiros. O vinho próprio inaugural foi o Choro
Malbec 2012, elaborado por Felipe Bebber, em parceria com a empresa negociante Enos, como
veremos adiante. A última novidade foi a inauguração do Clube do Choro, para aquisição, por
assinatura, de vinhos selecionados pelo próprio Leandro Baena. O negócio tem a parceria da
GranVin Casa de Vinhos, de Caxias do Sul, do sommelier Cesar Curra, também ligado à Vinícola
Viapiana.

CLIMA
(Rio de Janeiro, RJ - 2015) Neg
Claudia Lima é apaixonada pelo que faz e sua paixão, há muito
tempo, são os espumantes. Por isso, decidiu mergulhar no mundo
~ da vinicultura, estudando e apreciando, com extremo afinco. A cer-
ta altura, imaginou fazer parceria com algum produtor, de modo a
LIM engarrafar um espumante próprio em garrafas pequenas, para toda
ESPUMANTES sorte de consumo informal. Acontece que as garrafas pequenas e
práticas que ela concebeu não se mostraram aptas à conservação
da bebida. Isso a fez suspender tal projeto e lançar espumantes próprios em tradicionais garrafas
champenoise, de 750 mi. Claudia elegeu como parceiro o talentoso Alejandro Cardozo, enólogo

384 Ro ge rio Dardea u


que assina excelentes espumantes brasileiros, e a Vinícola Piagentini, como berço do empreen-
dimento. O nome não poderia ter sido melhor: CLIMA. Além de ser, simplesmente, a primeira
letra do nome junto com o sobrenome dessa intrépida empresária, traduz sentimentos bons, de
alto astral. Claudia Lima acompanha todo o processo. Os espumantes só deixam a vinícola com
sua aprovação sensorial, que é muito criteriosa e experiente. Os três espumantes já disponíveis
(todos secos, elaborados pelo método Charmat) são: 100% Glera ('Prosecco'), Brut (50% Char-
donnay + 25% Riesling Itálico+ 25% Viognier) e Brut Rosé (70% Pinot Noir + 30% Riesling).

CLUB DES SOMMELIERS


(São Paulo, SP - 2000) Neg
A marca Club des Sommeliers foi criada no ano 2000 pelo Grupo
Pão de Açúcar. São vinhos brasileiros e importados, selecionados
SOMMELIERS
pelo consultor Carlos Cabral para a rede de supermercados, com
essa marca. Tal como nos casos anteriores, há sempre declaração
integral de origem nos rótulos.

CRS BRANDS
Oundiaí, SP- 2014) Neg
Empresa criada a partir do Grupo Cereser (1926), com o objetivo
de manter essa marca unicamente para a extensa linha de cidras,
que elabora há muitas décadas, instituindo o novo nome para ou-
tras bebidas, especialmente vinhos finos. Entrou no mercado com
uma linha denominada Massimiliano, com espumantes brut, pelos
métodos Charmat e Tradicional, além de demi-sec e moscatel, todos
elaborados pela Cave Geisse, em Pinto Bandeira, RS. São complementados pelos vinhos Char-
donnay, Cabernet Sauvignon, um corte branco e outro tinto, todos sob a mesma denominação
Massimiliano. A CRS Brands adquiriu a marca Georges Aubert e vem distribuindo espumantes
assim rotulados, num resgate importante daquele nome.

DEXMA Vinhos e Espumantes Reserva Premium


(São Paulo, SP, 2018) - (E) Neg
vinhosdexma.com. br
A DEXMA Vinhos e Espumantes Reserva Premium é uma sucessão da DÉCIMA X - Vinhos &
Espumantes Gran Reserva, que foi criada, em 2001, pelo enólogo Alejandro Cardozo, em asso-
ciação com a Vinícola Piagentini, no chamado Projeto Multi-Terroir. Ele identificou agricultores
em diversas regiões, e levou-lhes mudas e assessoria de plantio, cultivo, poda e colheita, garan-
tindo-lhes a compra das uvas. Alejandro não está mais associado ao projeto, hoje integralmente
assumido pelo sócio Luiz David Travesso. Os vinhos estão sendo reprojetados e serão elaborados
na Empresa Brasileira de Vinificações (EBV), a partir de uvas daqueles viticultores parceiros.

Gente. Lugares e Vinho s do Bra sil 385


ÉLÉPHANT ROUGE
Gr V - 2008 - VBdT* - (C)
Com pai francês e mãe brasileira, Jean Claude Cara é um experiente


sommelier que tem grande presença no Brasil, mas vive atualmente
em Beaune, considerada a capital vinícola da Borgonha. Trabalha no
Château de Villars Fontaine, de Bernard Hudelot, um dos tradicio-
nais produtores da Borgonha. Atua também nos setores de Enolo-
gia e de Bioquímica da Université de Bourgogne, em Dijon, além de
outras atividades no mundo do vinho. No Brasil, Jean Claude vem tendo a marca de um negociante,
no mais puro estilo. Inicialmente estabeleceu uma parceria com a família Larentis e criou o seu
Éléphant Rouge 2008, um elegante corte entre Cabemet Sauvignon (75%), Merlot (20%) e Pino-
tage (5%), com um teor alcoólico de 12,5%. As uvas foram colhidas manualmente nos vinhedos
do Villaggio Larentis, observado o grau de maturação. O vinho foi elaborado com um mínimo de
intervenção, não passou por madeira e não foi filtrado. Foi mantido em tanques de aço inox, tendo
sido engarrafado seis meses antes do início da comercialização. Foram apenas 2 mil garrafas, como
marco inicial do projeto. Jean Claude não se satisfez com as uvas da colheita de 2009, nem com as
da colheita de 2010. Elaborou o Éléphant Rouge 2011. Não confundir esse vinho com a linha Cape
Elephant, da Lutzville Vineyards, em Olifants River, África do Sul. Em 2012, Jean Claude elaborou
seu primeiro branco, também chamado Éléphant Rouge, 100% Chardonnay. Com a transferência
de moradia de Jean Claude Cara, com a família, para a França, o projeto teve um pequeno hiato.
Em 2014, porém, foi retomado com um novo Éléphant Rouge, elaborado com uvas catarinenses, da
Villaggio Grando, num corte entre Merlot (70%), Cabemet Sauvignon (10%) e mais 20% de outras
viníferas, em segredo. Esse vinho teve estágio em barrica. Entre todas as atividades que desenvolve,
Jean Claude Cara tem sido um ótimo apoio aos brasileiros que viajam àquela nobre região francesa.

ELO CRESCENTE • Ruan Rodrigues


(Nova Friburgo, RJ, Encruzilhada do Sul e Bento Gonçalves, RS, 2008) Res
elocrescente.com.br
Esta é mais uma história maravilhosa. Ruan Rodrigues nasceu na
,---,,L-

-
eLo
família que criou e administra o restaurante Crescente, na cidade
~ / ,e..
de Nova Friburgo, na Serra do Estado do Rio de Janeiro. Desde
cedo interessou-se por gastronomia e decidiu estudar Enologia,
na escola de Bento Gonçalves. Lá concluiu a formação, conservando a personalidade de quem
entende que "os vinhos têm relação íntima com nossas emoções". Trabalhou na Vinícola Miolo e fez
muitas amizades. Retornou a sua cidade e ao Crescente Gastronomia. Das boas relações com a
família Carraro, nasceu uma parceria com Juliano Carraro, seu colega enólogo, para elaboração
de vinhos próprios, destinados ao restaurante da família. Por enquanto são apenas três rótulos:
Elo Crescente Campador, Elo Crescente Calendas e Elo Crescente Vélo. Campador é aquele que sai à noite
em busca de aventuras amorosas. Calendas era o primeiro dia dos meses para os romanos; dia
em que se pagavam dívidas. Tal referência não havia entre os gregos. Adotou-se então a expressão
"calendas gregas", para significar aquilo que conhecemos como Dia de São Nunca. O Elo Crescente
Campador 2009 foi um corte de Cabernet Sauvignon, Tannat, Merlot e Ancellota, de bom corpo,
taninos macios e um ótimo final. Ao longo das safras, os cortes foram modificados. O Campador

386 Rogerio Dardeau


2017 é Teroldego (45%), Cabernet Sauvignon (40%) e Touriga Nacional (15%). É o autor Ruan
Rodrigues quem nos conta: "Campador é reflexo da nossa amizade com a família Carraro, que nos permi-
tiu envolvimento na elaboração de um vinho com identidade própria. Contamos ainda com a sensibilidade do
amigo e artista plástico Mario Moreira, para a produção visual. Não falarei dos aromas ou sabores do Cam-
pador, uma vez que estamos muito felizes em poder reunir elementos que consideramos essenciais para um bom
vinho: carinho e boas relações humanas. Sendo assim, esperamos simplesmente que lhe agrade".
O Elo Crescente Calendas é um branco untuoso, equilibrado, com aromas finos e muito bom
corpo. Trata-se de um corte entre 95% de Chardonnay e 5% de Pinot Noir (vinificada em
branco). É um vinho gastronômico. Nas palavras de Ruan: "Comecei a pensar... e se eu pudesse
engarrafar esse dia? (. .. de São Nunca, pensando nas Calendas Gregas). E se você pudesse beber um gole
desse desejo? E se a gente pudesse se embeber dessa vontade? Caramba! Viajei nessa ideia".
O Elo Crescente Vélo é um rosado Pinot Noir (95%) com Touriga Nacional (5%).
Os três vinhos são notáveis, coisas mesmo de artesão.

EMPÓRIO COLHEITA -
(Uberlândia, MG - 2012) Dei
Matheus Tomaz Machado é um mineiro apaixonado por vinhos.
PADARIA ARTESANAL
&
A D EGA
Sommelier, além de padeiro e cozinheiro, abriu, em Uberlândia,
a Empório Colheita - Padaria Artesanal & Adega. Trata-se de um
~t,,1.PO"l:110

espaço de encontro de gourmets e enófilos, no qual Matheus se-


,;.
~~\ ,;.

C-ol.. H :Et-! r--


leciona e vende bebidas e comestíveis finos. No campo dos vinhos
finos, a casa oferece tanto importados quanto brasileiros. Com o
crescimento dos negócios, ele decidiu assumir-se também um né-
gociant e criou o projeto Origens, para oferecer vinhos de regiões brasileiras determinadas, con-
cebidos por ele. De início, firmou parceria com as vinícolas Valmarino e Don Giovanni, e lançou-se
ao mundo dos tintos, com os vinhos descritos a seguir. M.A.R. 2012 (150 garrafas) - Inspirado
em corte da região francesa do Mardiran, foi elaborado com as castas Tannat, Cabernet Sauvignon
e Cabernet Franc, de videiras cultivadas em pérgolas baixas, na região de Pinto Bandeira, RS, pela
Vinícola Valmarino. A vinificação foi tradicional, em separado. Cada vinho foi afinado por 12 meses
em barrica de carvalho americano de primeiro uso. Foi engarrafado sem filtragem e repousou por
dez meses na adega da vinícola, até ser levado a Uberlândia. B.O.R.G. 2013 (150 garrafas) - Inspi-
rado em vinhos borgonheses, é 100% Pinot Noir. As uvas foram colhidas manualmente de vinhe-
dos orgânicos em espaldeiras, da Vinícola Don Giovanni, também localizada em Pinto Bandeira,
RS. A vinificação foi natural e o vinho amadureceu por oito meses em barricas de carvalho francês
e americano de segundo e terceiro usos. O vinho foi engarrafado com uso moderado de sulfitos
e descansou por sete meses na adega dos produtores. M.A.E. 2012 (200 garrafas) - Inspirado
em vinhos da margem esquerda do rio Gironde (Bordeaux, França). Uvas Cabernet Sauvignon e
Cabernet Franc de vinhedos em pérgola baixa, da Valmarino. Vinificação tradicional em separado,
com estágio em barrica de carvalho americano de primeiro uso, por 12 meses. Engarrafado sem
filtragem, com repouso por dez meses na adega do produtor. Em 2018, Matheus preparou novida-
des, voltadas aos vinhos brancos e às borbulhas. Vejamos. ER.1.U. 2015 (200 garrafas) -Inspirado
nos brancos do Friuli, no norte da Itália, especialmente na microrregião de Isonzo, identificada
como protagonista de varietais brancos da Pinot Grigio, que eram amadurecidos em barricas de

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 387


carvalho, para gerar maior complexidade aromática, mais estrutura e sabor ao vinho. O ER.l.U. é
um 100% Pinot Grigio, de vinhas com 12 anos. As uvas foram colhidas nos vinhedos da Casa Olivo,
em Monte Alegre dos Campos, RS, depois transportadas até Flores da Cunha, no final da tarde,
e vinificadas, no mesmo dia, na cantina da Adega Mascarello, sob a supervisão do enólogo Jamur
Mascarello. A fermentação foi feita com adição de leveduras selecionadas e temperatura controlada.
Após a fermentação, o vinho não passou por estabilização; ficou pouco tempo em contato com as
cascas, foi colocado em tanque de inox e permaneceu em contato com as borras por cinco meses.
Depois foi trasfegado para uma barrica de carvalho francês usada e amadureceu na cave por mais
três meses. Posteriormente foi engarrafado com leve filtragem e sem adição de sulfito, permane-
cendo na adega para evoluir por mais oito meses. Espumante ChampenUAlse Brut (100 garrafas)
- Divertida denominação para um clássico notável, inspirado em Champagne, com toque mineiro.
O vinho base Chardonnay (75%) e Pinot Noir (25%) de uvas da colheita de 2016, com manejo
biodinâmico, foi fermentado com leveduras selecionadas, e depois refermentado na garrafa por 12
meses com as próprias borras. Posteriormente foi adicionado o licor de expedição, feito com cachaça
mineira especial, afinada em carvalho, jequitibá e umburana por Geraldo Machado, pai de Matheus.
Vinificação na Vinícola Don Giovanni, sob os cuidados do enólogo Maciel Ampese. Ficha técnica:
Teor alcoólico: 12,5%. Licor de expedição (cachaça) : lOml/1. Açúcar residual: l lg/1. QU.I.N. 2018
(280 garrafas) - Vinho branco seco 100% Sauvignon Blanc, com estilo inspirado nos vinhos brancos
de Quincy, Vale do Loire, na França. Ali, os vinhos dessa casta amadurecem em barricas de carvalho,
com as borras, para maior aporte de estrutura e complexidade. Uvas da safra de 2018, colhidas em
vinhedos com 1O anos de idade, da Vinícola Aracuri, em Muitos Capões, RS. Fermentação com
leveduras selecionadas e maturação de cinco meses com as próprias borras em barrica de jequitibá,
com tampas de carvalho francês, que teve primeiro uso com cachaça. Posteriormente o vinho foi co-
locado na barrica e foi feita bâttonage leve. Todo o processo foi conduzido pela enóloga Paula Guerra
Schenato, na Empresa Brasileira de Vinificações (EBV), em Caxias do Sul. Ficha técnica: Teor alco-
ólico: 13,0%. Acidez total: 7,4 g/1. Açúcar residual: 2,0 g/1. Esses vinhos somente estão disponíveis
em Uberlândia ou pela página web da empresa, com a possibilidade de remessas para todo o Brasil.

ENOS, Vinhos de Boutique


(Balneário Rincão, SC - 2016) Neg
Léo Kades é um poeta e editor (Oxigênio Editora) , de grande sen-
sibilidade, amante de vinhos. O projeto ENOS Vinhos de Bouti-
que nasceu do desejo de criar expressões marcantes nos sentidos
dos apreciadores. Associou o sonho e a sensibilidade ao talento do
enólogo Felipe Bebber (veja em Família Bebber) . Cada vinho come-
ENOS
VINIIO~ DI l\OU IIC.U JI
ça com a escolha de uvas identificadas a cada território, na busca
de uma identidade. Em seguida, as uvas são transportadas cuida-
dosamente para a cantina, na qual cada vinho terá o processo de
elaboração mais recomendado. Como um produtor estudioso, Léo
desenvolveu linhas bem definidas para seus vinhos: a linha Enos, para os rótulos estilo 'premi um'
e a linha Reserva Clássica, para os vinhos de entrada. Em razão do perfil definido de negócio, os
vinhos tranquilos e os espumantes são sempre criações muito originais, vinculadas à qualidade
das uvas. Assim foi, por exemplo, o La Belle Blanche, um brut rosado finíssimo, cujo vinho base

388 Roge rio D ard ea u


foi um corte entre Chardonnay (60%), Pinot Noir (20%) e Trebbiano (20%), com 12,5% de teor
alcoólico. Esse espumante teve a consultoria do enólogo Alejandro Cardozo. Mas Léo Kades e seu
sócio, Teddy Amattos, não param. Eles também consideram que vinhos são manifestações cultu-
rais, de arte. E a ENOS Vinhos de Boutique criou o projeto 'Engarrafando Livros', abrindo logo
com três rótulos, que nos trouxeram fotografia e literatura, numa série dedicada a Leon Tolstoi,
o magnífico escritor russo que nos deu Guerra e Paz, Anna Karenina, A Morte de Ivan Ilitch e tantas
outras obras necessárias. Os três vinhos foram varietais a 100%, da excelente colheita de 2012.
AMOR - O rótulo nos mostra Tolstoi com a esposa, Sophia Andreievn. No contrarrótulo, além
de todas as informações importantes sobre o vinho, podemos ler: "Tudo que sei, só sei porque amo".
Trata-se de um Merlot, com 13,0% de teor alcoólico, de vinhedos na Serra Gaúcha, com estágio
de seis meses em barricas de carvalho francês. FELICIDADE - O rótulo traz Tolstoi idoso. No
contrarrótulo aparece: ''A felicidade só é real quando partilhada". É um Cabernet Sauvignon da Serra
Gaúcha, com 13,0% de teor alcoólico, elaborado de maneira análoga ao Merlot. LIBERDADE - O
rótulo mostra Tolstoi lendo. No contrarrótulo vê-se a sentença: "Não alcançamos a liberdade buscando
a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência". O vinho é um Tannat,
com 13,5% de teor alcoólico, de vinhedos na Campanha Gaúcha, com passagem de seis meses
em barricas de carvalho americano. Depois desses, vieram o Machado de Assis Reserva Merlot
2014 121 e o Dostoiévski Tannat 2914. Mais recentemente, a ENOS participou do projeto Choro
da Videira, do médico Leandro Baena, com um Malbec 2012. Agora, a casa apresenta o projeto
ENOCH - Vinhos Inspirados, começando com uma coleção de quatro vinhos dedicados à obra
do escritor britânico Charles Lutwige Dodgson, o Lewis Carroll, de Alice no país das maravilhas.
Nas palavras do próprio Léo Kades: "O nome Engarrafando Livros limitava o projeto Enos. Decidimos
ampliá-lo e criamos Enoch - Vinhos Inspirados. Enoch é descendente de Enos, no Antigo Testamento. O que
pretendemos é criar, desenvolver vinhos baseados em arte e cultura, não somente em escritores e literatura,
mas também pintura e música clássicas". Uma das últimas séries lançadas é a Mágico de Oz, com
quatro cortes muito marcantes: Dorothy Gale & Totó (Cabernet Franc
+ Cabernet Sauvignon - 13,5%); Homem de Lata (Cabernet Sauvignon
+ Tannat- 13,5%); Espantalho (Tannat + Alicante Bouschet- 13,8%);
Leão Covarde (Merlot + Tannat - 13,5%). Sem dúvida, muitos vinhos
ainda virão a nos inspirar. A comercialização é direta pela ENOS Vinhos
de Boutique. E a coleção não para de crescer.

FAMÍLIA AGUIAR
(Rio de Janeiro, RJ - 2018) Neg
Carlos Aguiar é um empresário enófilo e sommelier titulado que,
entre seus negócios, tem atuado fortemente na representação de
produtores e na distribuição de vinhos finos, por meio de sua
empresa Rio Di.Vino (desde 2013) . Dado o conhecimento que
adquiriu sobre os vinhos brasileiros, recentemente decidiu atu-
ar também como negociante, projetando vinhos com produtores

121 Sobre esse vinho, é bom registrar que traz acesso à obra de Machado de Assis pelo Código QR estam-
pado no contrarrótulo.

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 389


parceiros. Seus dois vinhos de estreia marcam qualidade e tipicidade. São o espumante Brut
Rosé 100% Pinot Noir, elaborado por Isabela Peregrino, na Epamig - Caldas, em parceria com
a Vinícola Villa Mosconi, de Andradas, MG, e o corte Cabernet Franc, Merlot e Malbec, das
safras de 2012 e 2014, elaborado com a Vinícola Villaggio Grando, de Caçador, SC. Os vinhos,
sob a denominação principal Família Aguiar, sempre trazem, no rótulo, a logomarca da vinícola
parceira, além das informações técnicas no contrarrótulo.

HELIOS, Vinícola
(Monte Belo do Sul, RS, 2014) Neg
Helios, o deus grego Sol, que 'morre' todos os dias para 'renas-

t
HELIOS
cer' no dia seguinte, inspirou os amigos enófilos Augusto Borella
Hougaz, Carolina da Silva Avelar e Rafael Schettini Frazão Filho.
Engenheiros, com uma carreira técnica bem-sucedida, foram moti-
vados por um futuro mais ameno, identificado com a vida no cam-
po. Em janeiro de 2013, os três decidiram aprofundar estudos de
viabilidade técnica e econômica para se tornarem proprietários de
uma marca de vinho brasileiro. Após ampla avaliação de modelos de negócio possíveis, os sócios
optaram por parcerias comerciais com produtores de vinhos estabelecidos nas cidades de São
Joaquim/SC e Guaporé/RS. A proposta é atuar nos segmentos de vinhos jovens e também vinhos
barricados. A consultoria enológica é da Enovitis, pelo enólogo Marcos Vian. A Vinícola Helios
nasce com visão, missão e valores definidos, em busca de um destaque empresarial, por meio dos
vinhos que pretende levar ao mercado.

"Tão importante quanto definir o que somos é deixar bem claro o que NÃO somos. Não somos
uma empresa que vende produtos por um preço. Não estamos interessados em vender uma bebida
alcoólica fermentada de uva, como a maioria. Queremos ir além. Somos uma empresa que oferece
algo não por um preço, mas por um valor. O que oferecemos é o que o vinho pode proporcionar:
experiências inesquecíveis entre amigos e familiares. Momentos que ficarão marcados na memó-
ria. Isso é a HELIOS", define Augusto Borella Hougaz.

A estratégia dos sócios passa pela escolha de vinhos já elaborados pelos parceiros,
identificados com o perfil desejado, para serem engarrafados e rotulados como Helios. É a
empresa (e não os parceiros) que cuida dos detalhes da marca, da apresentação, da garrafa, da
rolha e do rótulo, entre outros.
Os primeiros vinhos foram da safra de 2015. Sobre a produção, relata Hougaz:

"Neste primeiro ano de aprendizado do mercado, alinhados com a estratégia de fornecer vinhos
exclusivos, estamos produzindo apenas 2 mil garrafas para cada tipo de vinho tinto do nosso
portfólio, 1.500 garrafas do vinho branco, 1.000 garrafas de cada espumante, brut e Mosca-
tel ... considerando o direcionador de elaboração de vinhos exclusivos, nossa meta é de, em cinco
anos, atingirmos a distribuição de 50 mil garrafas/ano".

Os vinhos engarrafados para a estreia da vinícola - Selene Sauvignon Blanc, Dórico Merlot,
Helíades Malbec, Corcéis Tannat e 5, além de um brut e um moscatel - logo encontraram

390 Rogerio Dardeau


seus públicos específicos. A empresa, pouco a pouco, conquistou mercado e ampliou seus
lançamentos, com diversas safras do Corceis Tannat, e, ainda, com o Circe Sauvignon Blanc,
o Carménere Rodes 2017, o rosado Invictus 2017 (Pinotage 90% + Merlot 10%), o Pinot
Noir 2018 e o Helios Brut Rosé. O vinho Malbec ganhou a versão NDN, assinatura da banda
'Nenhum de Nós', que se encantou com ele. O processo de comercialização é integralmente
conduzido por Michelle Sani Borella, esposa do sócio Augusto Borella.

LAS CHICAS DEL VINO


(Rio de Janeiro, RJ - 2016) Neg
Trata-se de uma iniciativa singular, inovadora, integradora de par-
cerias, nascida do sonho de duas apaixonadas por vinhos. Ana

lasC¼as*
OH \il',jO
Paula Barreto e Martha Queiroga idealizaram um serviço móvel de
vinhos, sobre uma bicicleta, de modo a poderem estar rapidamen-
te presentes em diversos eventos, levando a cultura e os prazeres
dos vinhos. Oferecem rótulos variados, de diversas origens, e têm
profundo respeito pela produção brasileira. Agora, num novo avanço do empreendimento, outra
apaixonada por vinhos integrou-se ao projeto. Ana Borba, que mantém o blog Da Água para o
Vinho (https://anacborba.wixsite.com), chega para ampliar ações e presenças. Trabalhar com
parcerias é algo maravilhoso e sempre desafiador, não é mesmo? Mas as três Chicas dei Vino têm
realizado isso muito bem. O Las Chicas dei Vino Rosé 2017 é a concretização desse desafio: inte-
grou o enólogo produtor Marcos Vian, por meio da Vinícola dos Plátanos, e a empresa négociant
Vinícola Helios. O vinho foi elaborado a partir da casta Pinotage, de vinhedo na Serra Gaúcha.

MENIN, Paulo e Guilherme - Menimport e Livimport


(Belo Horizonte, MG e Rio de Janeiro, RJ - 2009) Neg
Eis aqui uma organização familiar, com uma origem muito curio-
sa. Em 2007, os irmãos Paulo e Guilherme Menin iniciaram um
trabalho de comercialização de bebidas finas, em Belo Horizonte.
Logo que fecharam negociações para fornecer as bebidas para um
casamento, perceberam que aquele tipo de venda não tinha a aten-
ção devida. Perceberam-se vendendo os espumantes do sonho de
cada noiva. Entenderam que tal situação requeria novos cuidados.
Era preciso assessorar noivos na escolha e nas quantidades de garrafas. Havia um outro aspecto
importante: um pós-venda longo, um negócio que somente era concluído nos finais das festas.
Tudo isso determinou que os celulares permanecessem ligados ininterruptamente. E festas fo-
ram salvas quando as bebidas estavam terminando. E, assim, o crescimento aconteceu. Então,
em 2009, fizeram a primeira viagem à Serra Gaúcha, iniciando um processo de visitas à região e
a inúmeros produtores, que se tornaria permanente. Paulo e Guilherme estabeleceram relaciona-
mento comercial e fizeram amizades, sempre estudando e assessorados por excelentes enólogos.
Guilherme tem até uma bizarra história de tentar elaborar um espumante, na própria casa, em
Belo Horizonte, e causar uma explosão, com direito a uma rolha pregada na parede. Atualmente,
estudam também participar da elaboração de vinhos tranquilos, rotulando-os, e já oferecem os

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 391


seguintes espumantes: Espumante Le Blanc Brut e Le Blanc Demi Sec, Vinicola Famiglia ZanLo-
rennzi, com uvas colhidas em São Marcos, RS, transportadas com nitrogênio, até Campo Largo,
PR, onde são vinificadas. Método Charmat, vinho base 50% Trebbiano e 50% Riesling Itálico, 40
dias de fermentação, 10 g/1 de açúcar residual; Espumante Santorini Brut, Vinícola Nova Alian-
ça, com uvas colhidas na Campanha Gaúcha. Método Charmat, vinho base Chardonnay, Riesling
Renano e Pinot Noir, 12 g/1 de açúcar residual; Espumante Vivatto Branco Brut e Vivatto Rosé
Brut, Vinícola Fante, com uvas colhidas e fermentadas, em Flores da Cunha, RS. Método Char-
mat, vinho base Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico, tanto o branco quanto o rosé; Bardot
Brut, Bardot Rosé Brut e Prosecco Bardot, Vinicola Famiglia ZanLorennzi, com uvas colhidas
em São Marcos, RS, transportadas com nitrogênio, até Campo Largo, PR, onde são vinificadas.
Método Charmat, vinho base Bardot Brut (Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico); Rosé Brut
(Pinot Noir e Chardonnay); Prosecco 100% Glera - 40 dias de fermentação - 12g/l de açúcar re-
sidual; Espumante Corteo Brut e Prosecco Corteo, Famiglia Valduga Domno, com uvas colhidas
no Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves, RS. Método Charmat, vinhos base: Corteo Brut - Char-
donnay, Pinot Noir, Riesling e Glera; Corteo Prosecco, 100% Glera, 10 g/1 de açúcar residual. E
os notáveis espumantes elaborados pelo método tradicional 'Champenoise' Ferragani Branco Brut
e Ferragani Brut Rosé, Vinícola Luiz Argenta Vinhos Finos, com uvas colhidas e fermentadas
em Flores da Cunha, RS, na região da IP Altos Montes. Esses dois últimos têm, pelo menos, 24
meses de autólise, pois o vinho permanece com as leveduras na vinícola até o despacho, quando
são feitos o dégorgement e a rotulagem para remessa ao Rio e a Belo Horizonte. Vinhos base:
Branco - 60% Chardonnay e 40% Pinot Noir; Rosé - 100% Pinot Noir - 14 g/1 de açúcar residual.
São aguardados, para breve, o Ferragani Prosecco, elaborado pelo enólogo Alejandro
Cardozo, na EBV, e vinhos tranquilos.
A premissa que orienta o trabalho de Paulo e Guilherme Menin é sempre conhecer
famílias, terroirs, enólogas e enólogos, além dos demais colaboradores das vinícolas parceiras
e participar dos processos produtivos.

VILLA CASTRO
(Gramado, RS - 2015) Dei
Trata-se de iniciativa dos propnetanos da delicatéssen Vinha
Gramado ou Ataliba Vinhos com a Família Bebber, de Flores da
Cunha. A Vinha Gramado criou o rótulo próprio Villa Castro, com
uma linha Reserva e outra Gran Reserva da histórica safra de 2012.
Os vinhos 'Reserva' são os varietais Merlot, Cabernet Sauvignon,
Tannat e Carménere, todos com maturação de seis meses em barricas de carvalho americano.
A linha Gran Reserva, com 12 meses de envelhecimento em barricas de carvalho americano,
apresenta um Merlot e um Cabernet Sauvignon a partir de uvas cultivadas na Serra Gaúcha, e
um Tannat com uvas provenientes da região da campanha. O Villa Castro
Gran Reserva Cabernet Franc estagiou por 12 meses em barricas de carvalho
francês. Esses vinhos somente estão disponíveis em Gramado ou pela página
web da empresa, com a possibilidade de remessas para todo o Brasil. V I N H A

GRAMADO

392 Rogerio Dardeau


VINHO & ARTE
(Porto Alegre, RS - 2004) Dei
Maria Amélia Duarte Flores nasceu em Garibaldi, totalmente en-
volvida pelo cenário da uva e do vinho. Ao decidir sua caminhada
profissional, escolheu, com segurança, a Enologia, na tradicional
escola de Bento Gonçalves. Ela, porém, queria mais. Desejava di-
fundir a cultura do vinho. Transfere-se, então, para Porto Alegre e
conclui Pós-graduação em Turismo. Em 2004, cria a Vinho & Arte exatamente com o propósito
de ministrar cursos, organizar eventos e orientar viagens enogastronômicas. Em 2013, inaugura
a Vinho & Arte Casa, que reúne inúmeras atividades, tendo se convertido naturalmente em um
espaço cultural do vinho, em Porto Alegre. Como se não bastasse, depois de acompanhar alguns
takes do filme O tempo e o vento, na Campanha Gaúcha, descobre a paixão do diretor Jayme Mon-
jardim pelos vinhos e criam, em conjunto, rótulos próprios somente encontrados na Vinho &
Arte, atualmente localizada no lobby do elegante Plaza San Rafael. Os vinhos têm o rótulo Villa
Matarazzo. O primeiro vinho foi português: Villa Matarazzo Quinta dos Avigados, Grande Reser-
va, Douro DOC, Lote 1. Era um clássico duriense da colheita de 2008, com estágio de 18 meses
em barricas de carvalho francês, engarrafado em dezembro de 2010. O seguinte foi o elegante
espumante Villa Matarazzo Maysa Rosé Lote I, bela homenagem de Jayme Monjardim à mãe, a
inesquecível compositora e intérprete Maysa: um brut criado com vinho base cortado entre Pinot
Noir, Gewurztraminer e um leve tempero de Chardonnay, mostrando muito frescor e presença,
com bolhas finíssimas e rápidas. O Rosé Lote II, que repetiu a fórmula, trouxe a companhia do
Brut branco, com vinho base Gewurztraminer + Chardonnay. Os espumantes são todos elabo-
rados pelo método tradicional, na Estância Guatambu, em Dom Pedrito.

VIVANT WINES
(Rio de Janeiro, RJ, 2018) Neg
Iniciativa dos jovens empreendedores cariocas Alex Homburger,
Vivant André Nogueira e Leonardo Altherino. Decididos a descomplicar
totalmente o consumo de vinhos finos, buscaram os conhecimen-
tos do sommelier Felippe Siqueira e saíram pelo Sul do Brasil, em
busca de uma vinícola parceira para o objetivo de enlatar vinhos finos. Encontraram eco da ideia
na Quinta Don Bonifácio, com a família Libardi e o enólogo Deito Garibaldi também ficando
entusiasmados. Já estão no mercado do Rio de Janeiro três rótulos, em latas de 269 mi: branco
100% Chardonnay, com 11,5% de teor alcoólico; rosado, corte entre vinhos de Syrah com Pinot
Noir, com álcool também a 11,5%; e tinto com 12,5% de teor alcoólico, um corte clássico entre
Cabernet Sauvignon e Merlot. Certamente, o grande desafio será vencer o preconceito. Testemu-
nho que os três vinhos apresentados são leves, muito agradáveis e de grande qualidade.

Gen t e. Lugares e Vinho s do Brasil 393


.YOOWINES
(Caxias do Sul, RS, 2010) Neg
Jamur Bettoni é um empresário atento ao mundo que o rodeia.
Foi DJ por 20 anos, até que criou um restaurante de culinária
japonesa, em Caxias do Sul, e iniciou um projeto de vinhos ex-
clusivos, sob a orientação do enólogo Alejandro Cardozo. Esse
restaurante ganhou o nome Umai-Yoo, que, em japonês, significa
algo muito bom, que vem do Sol (umai > bom, ótimo e thayo >
vem do Sol). Nas palavras de Jamur: "Pela nossa posição geográfica,
com esse céu azul do Rio Grande, acabamos criando uma tradução própria, algo do tipo maravilhoso Sol.
Por fim, para nós, Yoo pode se traduzir como os maravilhosos vinhos do Sol poente". Do projeto inicial
para o restaurante, as demandas pelos vinhos foram tantas, que tiveram de ganhar vida própria.
Espumantes e vinhos tranquilos são todos elaborados na Empresa Brasileira de Vinificações, de
Alejandro Cardozo e Júlio Slovinscki, a partir de criações conjuntas. As uvas são adquiridas de
pequenos produtores rurais, com lotes específicos que giram em torno de 2 mil litros de vinhos
por ano, no máximo. Alejandro é um dos idealizadores do projeto e está, desde o início, nele
participando e cuidando 100% da produção. Apresentam vinhos de personalidades únicas, como
o Yoo Fumê Blanc, um Sauvignon Blanc, com estágio de seis meses em barricas de carvalho ame-
ricano, o Yoo Rosé de Merlot, pensado para peixes e sushis, os espumantes safrados pelo método
Charmat Yoo Brut Rosé 2017 (60% Pinot Noir + 40% Riesling), Yoo Brut 2017 (40% Riesling +
40% Trebbiano + 20% Prosecco), Yoo Prosecco 2017, e os elaborados pelo método tradicional
Yoo Brut Rosé de Pinot Noir 2012 (!!!) e Yoo Brut Nature 2012 (50% Chardonnay + 30% Pinot
Noir + 20% Viognier). A empresa desenvolveu espumantes para torneiras, no estilo chopeiras.

394 Rogerio Dardeau


TEMPO V

Memória e Horizonte
~ Memória

A vitivinicultura brasileira já experimentou alguns momentos de dificuldades. Foram


questões de natureza econômica, outras vezes problemas de reorganização do setor, outras por
fenômenos naturais. Algumas vinícolas viveram problemas de gestão dos próprios negócios,
sobretudo ao enfrentar declínio de demandas, logo após expansão. Nessas situações, muitos
empreendimentos vitivinícolas superaram as adversidades; alguns, porém, sucumbiram. Há
casos como o da Companhia Vinícola Rio Grandense, grande companhia, símbolo de uma
fase importante da história de nossos vinhos, ou os das empresas Dreher e Martini & Rossi,
com divisões de vinhos finos. Esses casos são importantes e merecem estar aqui registrados.
Este capítulo do livro trata das experiências de criadores que tinham um olhar exclusivamente
voltado aos vinhos brasileiros de terroir, cujos projetos foram encerrados, mas dos quais não
devemos esquecer, pelos ensinamentos, pelas lições que legaram aos demais produtores e aos
consumidores. Há alguns que podem decidir retomar as atividades.
Outro registro relevante: no final dos anos 1990, o município de Sobral e o estado do
Ceará iniciaram pesquisas, em parceria com o empresariado rural e consultores portugueses,
para um projeto vitivinícola naquela região nordestina. Numa área inicial de 3 hectares,
foram implantados clones das castas alentejanas brancas Antão Vaz, Arinto, Rabo de Ovelha,
Fernão Pires e Tamarez, das tintas Aragonez, Trincadeira, Periquita e Moreto, além da
francesa Cabernet Sauvignon. As condições edafológicas e climáticas apresentavam muitas
dúvidas sobre as relações de causa e efeito entre uva colhida e padrão de qualidade do vinho.
A consultoria enológica foi do português Jorge Santos, e as vinificações eram realizadas na
cantina da Escola Agrícola de Sobral. Segundo os especialistas que acompanharam o projeto,
estava difícil estabelecer uma identidade de vinho fino daquele terroir, o que, certamente,
contribuiu para a interrupção das experiências. Será que deveriam ter insistido?

ADEGA MEDIEVAL- Oscar Guglielmone


(Viamão, RS, anos 1970 a 1993)
Oscar Guglielmone foi um vinhateiro temperamental e brilhante, que elaborava seus vi-
nhos sob condições que, hoje, seriam consideradas péssimas ou, no mínimo, totalmente
inadequadas a uma boa vitivinicultura. Os parreirais eram )atadas, a fermentação não tinha
a presença de leveduras especiais, os tonéis eram de 500 litros, construídos com madeiras
regionais e com muitas utilizações. Entretanto, no período em que desenvolveu os próprios
vinhos, foi criterioso e autocrítico, obtendo ótimos resultados e transformando-se num
ícone. Aliás, isso foi confirmado muito tempo depois, em 2008, quando Ennio Federico,
membro da Academia Brasileira de Gastronomia, da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho
SP (Sbav) e Cavaleiro das Confrarias do Vinho do Porto e dos Enófilos da Bairrada, ofereceu

Gente. Lugares e Vinhos do Brasil 397


a Adolar Hermann, Clóvis Siqueira, Didu Russo, Renato Fascino e Sérgio de Paula Santos
o privilégio de uma degustação de 11 garrafas de sua adega pessoal dos míticos vinhos
Guglielmone, elaborados entre 1981 e 1989. Os varietais Adega Medieval Cabernet Franc 1981,
Velha Capital Cabernet Franc 1989, Adega Medieval Nebbiolo 1985 e 1986 e Guglielmone Neb-
biolo de Viamão 1987 e 1989 foram os destaques: mais de vinte anos depois, fechados com
rolhas pequenas, mostraram-se íntegros e com magnífica evolução. Oscar foi assassinado
em 1993, por um jovem que trabalhara para ele e que, segundo depoimento, divergira dos
valores pagos como indenização. A viúva ainda tentou seguir com a vinícola, mas não teve
êxito, encerrando as atividades.

ALTO URUGUAI, Vinhos


(Erechim, RS - 2002) (I)
Empreendimento familiar, com vinhedos a 750 metros de altitude, em que eram cultivadas as va-
riedades tintas Cabernet Sauvignon, Merlot e Marselan, além da branca Chardonnay. A vinícola
elaboraria varietais e espumantes. A logomarca da vinícola era a figura estilizada de um pica-pau,
ave muito presente na região. Fez as primeiras investidas, mas não seguiu em frente.

A.R.M.M.
(São Paulo, SP - 2011) Negociantes
Alexandre Rodrigues e Marcel Miwa desejavam engarrafar vinhos que possuíssem uma iden-
tidade brasileira, que eles entendiam como bom frescor, fruta franca e direta, extrações mais
delicadas, pouca madeira, sem colagem e filtração, corpo leve, boa acidez, álcool menor que 13%,
enfim, vinhos que a eles agradassem, em primeiro lugar. O projeto contou com a assessoria do
enólogo Flávio Pizzato. Os vinhos: o primeiro foi o Pinot a la Gamay 2010, um corte entre vinho
da Campanha Gaúcha, sem passagem por barrica (80%), e vinho de Campos de Cima da Serra,
com sete meses de passagem por barricas francesas (20%). O nome exprime exatamente o que
é o vinho: um Pinot simples. Em 2012 vieram o Cab. Lot. 3 e o Mernett. O Cab. Lot. 3 é um corte
ousado entre terroirs e safras. O nome traduz o vinho: Cab, de Cabernet Sauvignon, Lot, de Mer-
lot, e 3, das três regiões de onde vieram os vinhos base: Campanha Gaúcha, Vale dos Vinhedos e
Campos de Cima da Serra. O corte incluiu um vinho de 2009, com passagem de oito meses por
barrica, e dois vinhos de 2010, sem madeira. O resultado mostrava complexidade e volume. O
rótulo, obra do artista Bruno Murai, exibia o que os autores consideravam o kit-tripé de sobre-
vivência gourmet: pão, queijo e vinho. O Mernett foi um corte entre Merlot, Cabernet Sauvignon
e, como eles mesmos diziam, um "dash de Tannat". O vinho tinha álcool a 12,8%. O rótulo, com
um farol, busca traduzir uma referência de gosto. Outra iniciativa que deixa saudade.

CAVE OUVIDOR
(Bento Gonçalves, RS - 2002; e Garopaba, SC - 2005)
Foi uma singularíssima experiência dos irmãos Álvaro (enólogo)
e Vítor Escher, iniciada em Bento Gonçalves e realocada, poste-
riormente, numa colina na região de Garopaba, litoral de Santa
Catarina. Das opções técnicas de viticultura às práticas de uma

398 Rogerio Dardeau


enologia não intervencionista, tudo passava pela mística do irmão Vítor. Os vinhedos foram
implantados em 2006, com a previsão de utilizar as aroeiras nativas como apoio e condução.
Os espaços de plantio seriam partilhados com as outras espécies nativas presentes no terreno,
como goiabeiras, gabirobas, araçás, limoeiros, açoita-cavalos, maricás, etc. A primeira safra,
ainda gaúcha, foi a de 2002, com vinhos elaborados numa estrebaria reformada, situada no mu-
nicípio de Bento Gonçalves. Mas aqueles primeiros vinhos não chegaram a ser comercializados.
Eugênio Oliveira (decantandoavida.com.br), que teve a felicidade de degustar o Peverella 2002,
afirma que aquele era, de fato, o primeiro Orange Wine brasileiro. O nome Cave Ouvidor surgiu
com a transferência para Santa Catarina e o registro, em 2005. A cantina era completamente
distinta, arquitetonicamente falando, num rústico fino, totalmente comprometida com o meio
ambiente. A escolha do nome Insólito para os vinhos definia certa excentricidade. Mas a delica-
deza me pareceu a grande marca dos vinhos Insólito, até na garrafa. Em vez de cápsula, as rolhas
recebiam uma "grade" natural de capim-dourado, em flor. Os vinhos elaborados a partir de
uvas selecionadas, compradas de terceiros, no Rio Grande do Sul, foram efetivamente vinhos de
terroir. O varietal da espécie trentina Peverella apresentava originalidade e complexidade dignas
de um ícone do empreendimento. Como nos lembra o enólogo Luís Zanini: "Peverella 2002, feito
numa estrebaria na linha Palmeiro, em Pinto Bandeira, pelo meu amigo Álvaro Escher. Desengaçado a mão,
fermentado em cubas de madeira velha, da forma mais selvagem possível. Mas eu acredito que só o que é
selvagem é realmente puro!". Outra característica dos irmãos Escher era o trabalho com carvalho
usado (obviamente tratado) e de madeiras brasileiras, como angico e pinheiro (araucária).
Algumas barricas foram construídas com aduelas (ripas) de açoita-cavalo, canela-sassafrás,
entre outras. Os tanoeiros eram eles mesmos, os irmãos Escher. A logomarca da vinícola era
Hipnos (irmão gêmeo da morte, na mitologia grega). Embora o projeto tenha sido encerrado,
Álvaro Escher continua nos emocionando com os vinhos Era dos Ventos.

DE LANTIER, Casa
(Garibaldi, RS, de 1990 a 2004)
Divisão dedicada a vinhos finos da multinacional Bacardi-Martini
do Brasil Ind. e Com., criada sob a direção do conceituado enólogo
Adolfo Lona, que veio da Argentina, sua terra natal, para o Brasil a
convite da Martini & Rossi, nos anos 1970, e permaneceu por mais
de trinta anos naquela empresa. Seu competente trabalho o condu-
ziu à direção técnica e à fundação da Casa De Lantier, responsável
pelos elegantes vinhos Baron De Lantier e pelos espumantes De Greville. No período em que orien-
tou os rumos daquela divisão da Bacardi-Martini, Lona conduziu inúmeras pesquisas de terroir.
Em 2002, a Casa De Lantier lançou a coleção Regionais. Eram três vinhos vendidos somente em
conjunto: um Cabernet Franc, com uvas de Pinheiro Machado, RS, e dois Cabernet Sauvignon, o
primeiro com uvas de vinhedos próprios em Garibaldi, e o outro com uvas provenientes da re-
gião de Planalto e Ametista, no norte do estado do Rio Grande do Sul. Foram amostras ótimas,
com características marcantes de cada região. No ano de 2004, a empresa decidiu vender tudo e
fechar as portas. Uma grande perda. Até hoje, 16 anos após o encerramento das atividades, ainda
encontramos vinhos De Lantier íntegros, maravilhosos, com todos esses anos de garrafa.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 399


DOPPIO A- Alberici e Antonini - Select Com. Internacional
(Bento Gonçalves, RS, 1999)
Doppio A ou duplo A, em português, representou o sonho dos amigos Alberici e Antonini, de as-
cendência italiana, que comungam tradição, conhecimento e arte em elaboração de vinhos. Doppio
A é marca para dois varietais chamados Grande Reserva, elaborados a partir das castas Cabemet
Sauvignon e Merlot, produzidas no vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, nas instalações da
Vinhos Larentis, com Certificação de Procedência, sob orientação do enólogo Aldérico Sassi. Suas
garrafas são numeradas a partir de um lote de 9.500 garrafas de Cabemet Sauvignon e 4.500
garrafas de Merlot. O processo de vinificação foi muito cuidadoso, utilizando leveduras de alta se-
leção, fermentação lenta e alongada, e um afinamento de seis meses em barris de carvalho novos.
Doppio A Grande Reserva Cabernet Sauvignon 2002 e Doppio A Grande Reserva Merlot 2002 foram os
primeiros vinhos finos produzidos. Degustei o Cabernet Sauvignon em diversas ocasiões até 2011,
quando o vinho ainda demostrava cor perfeita, com leve evolução, aromas complexos e uma boca
excepcional, com volume, maciez e persistência especiais - um vinho nobre. Na safra de 2008, os
parceiros repetiram os vinhos Doppio A Grande Reserva, com muito bom resultado. Recentemente,
José Alberici Filho associou-se a Renan Proença (Grupo Fasolo) e Adernar de Gasperi e instalou
vinhas em 3,2 hectares no Vale dos Vinhedos. Em 2007, com a participação de Idalêncio Francisco
Angheben e Aldérico Sassi, lançou o Faso/o 90 Anos 2007, um vinho promocional das indústrias
Fasolo. Foi um corte de sete variedades: Cabemet Sauvignon (85%), Merlot (5%), Petit Verdot
(2%), Arinamoa (2%), Marselan (2%), Alicante Bouschet (2%) e Teroldego (2%).

DREHER
(Bento Gonçalves, RS - 1910)
O empreendedor Carlos Dreher Filho é conhecido como um cida-
dão de perspectivas adiante do seu tempo, virtude que transferiu
aos filhos Carlos Dreher Neto e Emy Hugo Dreher, entre muitas.
Diversas passagens nas vidas desses gaúchos de origem germâni-
ca comprovam personalidades ousadas, criativas, avançadas. Em
poucos anos, o modelo de gestão organizacional fortemente fami-
liar, mas incorporando profissionais especializados, desenvolveu os
negócios, ampliando espaços de mercado. Da produção de vinhos brancos finos, a partir da casta
Peverella, à destilação de vinhos para elaboração de brandies conceituados, e ainda tintos que
marcaram época como o Marjolet e o Velho Capitão, a história da companhia registra marcos
fundamentais na vitivinicultura brasileira. Imaginem uma empresa vinícola (a Dreher não tinha
vinhedos) que processava, nos anos 1960 a 1970, algo em tomo de 70 milhões de quilos de uva ao
ano(!!!), que tinha mais que 25 mil barris com brandies envelhecendo. Tudo isso, mediante con-
tratos com viticultores de toda a região de Bento Gonçalves e municípios vizinhos, modelo único
de parceria. Em princípio, todo viticultor vendia alguma uva à Dreher. No início dos anos 1970,
a empresa exibia balanços excelentes e, portanto, tinha enorme valor comercial. De repente, em
sucessivos infortúnios, perdeu vários dirigentes. A família decide en-
tão aceitar oferta da multinacional Heublein e a vende. Alguns anos
mais tarde, ocorre uma inexplicável alteração de marco legal do pro-

400 Rogerio Dardeau


duto 'conhaque' e se permite a produção de brandies, a partir de aguardente, alcatrão e gengibre.
Não era mais possível concorrer com esses produtos. Toda a produção é desativada, em torno dos
anos 1980. Inúmeros viticultores perdem o cliente. Ocorre um dos momentos mais dramáticos
da vitivinicultura brasileira. Por outro lado, desencadeia-se uma nova fase, na qual cada viticultor
passa a planejar a própria vinícola e os próprios vinhos.

GENEROSO
(Bento Gonçalves, RS - 2005)
Não, leitor, não se trata de nenhum vinho tipo Porto. É, sim, uma
homenagem do jovem enólogo e mestre em viticultura Anderson
De Césaro ao bisavô, cantineiro, por vinte safras, da antiga Com-
panhia Vinícola Rio Grandense, produtora da marca Granja União.
O nome foi dado a um corte entre Merlot, Tannat e Ancellotta, da
safra de 2005. Foram produzidas apenas 301 garrafas (uma barri-
ca) desse vinho singular, numa típica "obra de autor". As poucas
garrafas destinadas ao público em geral foram disponibilizadas em
somente dois pontos de venda: um em São Joaquim (Anderson es-
tagiou na Villa Francioni e deixou admiradores na cidade), e outro na loja de vinhos que havia no
restaurante Canta Maria, em Bento Gonçalves. Embora o vinho Generoso 2005 consista em uma
experiência isolada (o rótulo carrega até mesmo uma impressão digital do enólogo, como marca
de singularidade), Anderson tem projeto de continuidade. Atualmente, ele atua como enólogo
na Villaggio Bassetti e na empresa Vistamontes Sucos Naturais, mantida com a esposa, Geyce,
além de assessorar a Rossi Arquitetura & Urbanismo, de Caxias do Sul, em projetos de vinícolas.
A Vistamontes está localizada em Bento Gonçalves, no distrito de Faria Lemos.

GEORGES AUBERT
(Garibaldi, RS, de 1951 a 2012)
Essa vinícola teve papel importante na difusão dos espumantes de
Garibaldi. Nascida na França, transferiu-se para o Brasil em 1951.
Foi a responsável pela adoção do método Charmat para a segunda
fermentação de espumantes em grandes tanques autoclaves. Pro-
duziu ainda destilados. Faliu em 2012. A marca Georges Aubert foi
adquirida pela CRS Brands (veja em Negociantes).

LPG WINES
(Caxias do Sul, RS - 2008)
A LPG Wines foi fundada por três amigos, tendo o engenheiro agrônomo Laerte Pelizer Junior
na liderança. No ano de 2008, eles identificaram parceiros para um projeto de Agricultura de
Precisão e Segmentação de Colheita, na região de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Tal projeto
consistia na constante melhoria da qualidade das uvas, para a obtenção de bons vinhos. Eram
produções únicas e exclusivas com baixa tiragem, mas distribuição nacional, inclusive com ven-
das por comércio virtual.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 401


PROLA Vinhedos Lida. - Prola & Peres Lida.
(Bagé, RS - 2006)
A localização não poderia ser melhor: uma área de 2 hectares, em pleno
SAIITATHERUA
perímetro urbano do município de Bagé, na histórica Vila Industrial
de Santa Thereza. O proprietário é o militar reformado Pedro Moisés
Cardoso Prola. Ele recebeu mudas de Cabernet Franc de uma gran-
de empresa vinícola, com garantia de compra das uvas. Os 2 hectares,
integralmente daquela casta nobre, se desenvolveram e produziram
frutos excelentes. O negócio, porém, não prosperou. A empresa se de-
sinteressou pelas uvas, e o vinhedo ficou para o dono da terra, que
não é vinicultor. Então, nasceu a sociedade com o agrônomo Giovâ-
ni Peres 122 para a produção dos vinhos. Chegaram a elaborar o vinho
Dom Paulo Cabernet Franc 2007, pela empresa Vinhedos Prola Ltda., e o
Santa Thereza Cabernet Franc 2008, 12,0%, pela empresa Prola & Peres
Ltda. Ambas as organizações, por razões diversas, não avançaram e deixaram de engarrafar. O
vinhedo, embora cuidado com esforço pelo Sr. Grivicich, parceiro de Prola nas terras, está em
declínio. O proprietário ainda guarda bons Franc engarrafados e em tanques, na modesta cantina
do empreendimento.

QUINTA DA SERRA
(Macuco, RJ - 2010) 'N'
Projeto iniciado pelo jovem enófilo Alain Inglez, em sociedade com Pedro Hermeto, sócio
do Restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro. Alain é um especialista em TI, que decidiu estudar
vitivinicultura. Em 2010, fez um curso sobre condução de videiras no Núcleo Tecnológico da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Uva e Vinho, em Caldas, MG. Os
vinhedos foram implantados em 2 hectares, no Norte Fluminense, no município de Macuco,
sobre solo predominantemente areno-argiloso, com um pouco de calcáreo. Havia uma imensa
"disposição e o sonho de fazer um vinho no Rio de Janeiro", destacava Alain. Desde o início, o projeto
contou com o apoio de Luís Henrique Zanini, enólogo da Vallontano e da Era dos Ventos,
com orientações e apoio nas decisões que demandavam mais conhecimento técnico. "O ponto
mais importante do projeto está no interesse que temos em reproduzir o conceito dos vinhos de mínima
intervenção, feitos apenas de uvas esmagadas, leveduras autóctones e um mínimo de conservante S02,
como se fazia antigamente", dizia Alain. As mudas certificadas foram adquiridas junto à empresa
Vitácea Brasil. Foram plantadas quinhentas mudas de Sauvignon Blanc e quinhentas de Merlot,
entre as viníferas, além de cem mudas de Isabel e cem de Bordô, entre as labruscas. Em 2014,
foram implantadas mais oitocentas mudas de Chardonnay. As americanas foram plantadas
como teste, caso as viníferas não se adaptassem. Havia ainda intenção de cultivo de Syrah
e Cabernet Franc, além das pouco conhecidas entre nós Trousseau e Poulsard, das também
francesas Gamay e Pinot Noir, e das italianas Teroldego e Peverella. Tudo seria avaliado com

122 O mesmo que, mais tarde, com nova sociedade, criou a Batalha Vinhas & Vinhos, em Candiota, município
vizinho a Bagé.

402 Rogerio Dardeau


o tempo, passo a passo. Uma pena que não tenham conseguido avançar. Mas o envolvimento
de Alain Ingles com produtores não intervencionistas cresceu tanto que ele fundou e dirige,
atualmente, a importadora Gavinho, totalmente dedicada a esse estilo de vinho.

QUINTA RIBEIRO DE MATTOS


(Bento Gonçalves, RS - 2000)
Werner Schumacher é um nome de referência para quem se apro-
funda no mundo dos vinhos brasileiros. Ele transitou do comércio
RIBEIR~ítu,-os
e da representação de implementos para a elaboração de vinhos,
e foi diretor da Aprovale. Em certo momento, porém, decidiu in-
vestir em vinhos próprios. Instalou-se em Santa Lúcia, Linha Leopoldina, 811 Distrito de Bento
Gonçalves, na Serra Gaúcha, em 1,5 hectare, com 6 mil mudas de Cabernet Sauvignon impor-
tadas da África do Sul, em parceria com a Miolo. Seus vinhos nasceram de uvas selecionadas,
na busca da melhor expressão das excelentes condições do terroir identificado. Os varietais da
Cabernet Sauvignon Lote 1 e Lote 2, da safra de 2005, mostraram-se vinhos artesanais brasileiros,
com marca de excelência. A cantina era o porão da própria casa, uma cave de basalto com 100 m2,
muito adequada à atividade. Werner não se esquecia dos aspectos políticos e de sustentabilidade
da própria atividade, lutando pela preservação das obras autorais. Por razões diversas, o projeto
foi encerrado em 2008, para a tristeza de todos quantos provaram um Quinta Ribeiro de Mattos
2005. O nome homenageia o avô materno, contou ele: "Meu avô materno, nascido em Lisboa, era
Raul Ribeiro de Mattos, daí a razão de homenageá-lo; afinal, foi ele quem, de certo modo, nos introduziu no
mundo do vinho, nos fazendo bebericar, quando crianças, alguns goles de vinho do Porto". Hoje, Werner
vem atuando como consultor de produtores de vinhos.

QUINTA SANTA MARIA


(São Joaquim, se - 2004) (I)

.___
A sociedade entre empresários brasileiros e o português Nazário
, 1,1//1 t,1 Santa Maria Santos tinha 23 hectares de vinhedos, grande parte em patamares,
' ' no Vale do Rio Lavatudo, hoje totalmente convertidos a maçãs e
outras frutas. A produção evidenciava vinhos finos de terroir e cor-
rentes, inclusive vinhos fortificados, tipo Porto: o Portento tinto e o Portento branco. Os vinhos
eram apresentados sob duas denominações. A linha Utopia, para os titulados pela própria viníco-
la como vinhos premium, tais como o Utopia Glamour (Chardonnay), o Utopia Lote Um (corte entre
Cabernet Sauvignon, Merlot e Touriga Nacional), o Grand Utopia (Cabernet Sauvignon e Merlot)
e o varietal da Touriga Nacional denominado Utopia Purpurata. A linha QSM definia um corte
Cabernet Sauvignon, Merlot, Touriga Nacional e Tinta Roriz, indicado para o dia a dia. Em 2013,
nasceu o Passionado, um dos primeiros vinhos brasileiros elaborados como um Amarone, a partir
de uvas colhidas maduras e submetidas à desidratação em estufa, sob o calor do sol. O vinho
foi elaborado a partir de corte entre vinhos de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat de diversas
safras e tinha um teor alcoólico de 15,0%. Como afirmava Nazário Santos: "Trata-se de mais uma
vitória para produtores de vinhos no Brasil, mostrando que técnicas, associadas a planejamentos e estudos,
vencem problemas de solo e de clima". Ainda assim, desistiram das uvas e dos vinhos.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 403


RIO VELHO Cantina Rural de Vinhos Finos
(Rosário do Sul, RS - 2002)
A história desse empreendimento é a saga do produtor rural Paulo
Roberto Menezes, o "Alemão". Depois de muitos caminhos profis-
sionais, Menezes encontrou a própria história: cultivar videiras e
elaborar vinhos. Junto com um dos irmãos, comprou 80 hectares
de terras na Campanha Gaúcha. Dois anos depois, implantou 2 hectares de Cabernet Sauvignon:
"[. ..] me empolguei tanto com o negócio que cheguei a implantar 12 hectares. Mas, no início, a ideia era ser
somente um produtor de uvas e vender estas uvas para as vinícolas grandes da região e da Serra Gaúcha".
Em 2004, o produtor sentiu-se ultrajado com o preço que lhe foi ofertado e decidiu elaborar os
próprios vinhos, com as uvas colhidas em seus vinhedos. No ano de 2012, porém, ocorreu-lhe
um grande revés, contou ele: um proprietário vizinho decidiu colocar "fogo no campo para queima
de banhado. Pegou fogo no campo e queimou todo o quadro de Cabernet (então com dez anos), todo o Tannat
(seis anos) e os quadros de Arinarnoa e Merlot (também com seis anos). Como era um período pós-colheita,
não estávamos roçando, nas linhas e entre linhas. E 2012 teve uma das melhores safras dos últimos anos,
pois foi muito seco aqui na Campanha. Em função da seca, o fogo se alastrou rapidamente e queimou todo
o meu parreiral. Fiquei somente com 1 hectare de Chardonnay". Mesmo diante de tamanho prejuízo
material e moral, Menezes não recuou . Associou-se a um amigo, completando 6 hectares com
as variedades tintas Cabernet Sauvigon, Merlot e Tannat, e as brancas Chardonnay e Glera. Os
vinhos, todos sob a denominação Rio Velho, eram: varietais de Cabernet Sauvignon, Merlot e
Tannat; o corte Ciliatto, entre as três variedades tintas; o corte branco entre Chardonnay e Glera;
o vinho popular Toro Passo; e o espumante brut tradicional Espumas do Rio Velho. Menezes foi um
dos fundadores e diretor executivo da Associação Vinhos da Campanha. Encerrado o empreen-
dimento, mudou-se para São Roque, SP, onde concluiu o curso de Enologia no Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, campus São Roque. Atualmente, Paulo Roberto
Menezes é criador e sócio do Empório Brazuca, dedicado aos vinhos finos brasileiros, no bairro
de Moema, em São Paulo.

SOTERRANI Espumantes e Vinhos Artesanais


(Bento Gonçalves, RS - 2010)
O enólogo Guilherme Menezes se associou ao amigo Rafael Non-
dillo, que desde 2005 praticava uma enologia caseira, para elaborar,
com técnica, alguns vinhos. Os dois não possuíam vinhedo. Com-
pravam uvas de diferentes produtores e vinificavam no porão de
casa, mas com muitos recursos técnicos à disposição e todos os cuidados. Os equipamentos in-
dustriais eram poucos, mas a criatividade era grande, sempre respeitando os aspectos de higiene
e as boas práticas de elaboração. Como dizia o próprio Guilherme: "A velha e boa criatividade do
brasileiro". O empreendimento encontrou dificuldades, pois os amigos tinham outros compro-
missos profissionais. Somente trabalhavam para os próprios vinhos nos finais de semana, e não
em todos. Em 2014 vinificaram apenas 200 litros, sendo um rosé de Tannat, base para espuman-
te (projeto futuro) e um Moscato Giallo. Até bem pouco tempo, eles ainda tinham à venda o
Soterrani Merlot 2013, o Soterrani Rosé Tannat 2013, o Soterrani Moscato Giallo 2014 e o Soterrani

404 Rogerio Dardeau


Espumante Brut Champenoise 2012, um Blanc de Blanc 100% Chardonnay, com quase dois anos de
autólise, do qual se orgulhavam, como enólogo e vinhateiro, pois conseguiram conduzir todo o
processo em casa, sem necessidade de terceirização do dégorgement.

SPLENDOR, Adega
(Bento Gonçalves, RS - 1997)
.\D ! O ,\f: A .. \. l N II() ~
LI r OI t:S O professor Firmino Splendor é um nome de referência na vini-
tÍ SAtlll .\l~

SPLENDO cultura brasileira, com vasto currículo acadêmico-profissional, que


~ contempla diversas especializações na França e vários livros publica-
dos. Foi aluno da primeira turma da Escola de Viticultura e Enologia
de Bento Gonçalves. Fundou a Associação Brasileira de Enologia (ABE) e foi o seu primeiro pre-
sidente. Em 1997, deu início a seu projeto pessoal, a Adega Splendor, para elaboração de licores
finos, com matéria-prima natural e não apenas essências. Localizada no Parque Industrial São
Valentim, em Bento Gonçalves, a Adega Splendor une tradição e produção artesanal. Com gran-
de técnica e muita sensibilidade, Firmino Splendor também elaborou comercialmente vinhos
tranquilos e espumantes, nas vindimas de 2004, 2006, 2007, 2008 e 2009, sendo premiado di-
versas vezes. A produção comercial de vinhos foi, porém, suspensa, para tristeza de enófilos que,
como eu, puderam apreciar criações como o Grande Reserva Firmino Splendor Cabernet Sauvignon
Merlot 2004 ou o Firmino Splendor Espumante Brut Tradicional 2009. Mas o importante é que ainda
temos os finíssimos licores Firmino Splendor, elaborados com a mesma cultura e dedicação.

TENUTA BELLAVINHA
(São Joaquim, se - 2005)
Empreendimento familiar iniciado em 2005. Conta com 3 hectares de vinhedos, com as castas
Cabernet Sauvignon, Merlot e Sangiovese. Foram elaborados vinhos experimentais apenas nas
safras de 2009 e 2012. Até bem pouco tempo, esses vinhos ainda eram encontrados na proprie-
dade, situada nas margens da Rodovia SC 114, distante 15 km do centro de São Joaquim. Foi
vendida e o atual proprietário comercializa toda a uva para outras vinícolas.

VINHA SOLO
(Caxias do Sul, RS - 2001)
O projeto inicial do arquiteto Milton Scola e do empresário Rai-
mundo Demore estava destinado à vitivinicultura. Eles escolheram
uma localização preciosa no distrito de Fazenda Souza, no norte de
Caxias do Sul, a 880 metros de altitude. O distrito esbarra na fron-
teira sul da região dos Campos de Cima da Serra, razão pela qual
especialistas afirmam que já apresenta as mesmas características daquela área. Os dois amigos
desejavam elaborar os chamados "vinhos naturais", ou seja, totalmente livres de interferências
no cultivo das videiras e no processo de vinificação. São 20 hectares de vinhedos tratados, tanto
quanto possível, de forma orgânica e biodinâmica. O solo é de origem vulcânica, com predomi-
nância basáltica, e estrutura argiloarenosa. Apresenta cerca de 2% de matéria orgânica, concen-
tração baixa de fósforo e elevada de potássio. A viticultura conta com a consultoria do agrônomo

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 405


Fernando Andreazza. As mudas foram importadas da conceituada Rauscedo, na Itália. Adota-se
o raleio 123 radical, de modo a reduzir a produtividade das plantas, e não são usados herbicidas.
Ali, instalaram cantina preparada para elaborar 80 mil garrafas/ano. A responsabilidade técnica
pelos vinhos estava a cargo do Laboratório Randon, de Caxias do Sul. No momento, as atividades
vinícolas estão suspensas e toda a excelente uva é vendida a outros produtores. Os vinhos que
chegaram ao mercado privilegiavam as castas Merlot (70% do vinhedo, em dois clones diferen-
tes) e Cabernet Sauvignon (20%), em varietais, além de cortes com a Cabernet Franc, que está
em 10% do vinhedo. Todos os vinhos eram rotulados como Vinha Solo. Vinham decorados com
desenhos de aves regionais, habitantes dos vinhedos (curicaca, gavião-carijó, quero-quero), ou
com desenhos de fenômenos celestes: um dos cortes se chamava Ana/ema e outro, Zênite. A Vi-
nha Solo não utilizava barrica de carvalho em nenhum vinho. O próprio produtor Milton Scola
afirmava: "Somos partidários do vino senza legno, e de que vinho não deve ter sabor de outras coisas, senão
de uva, somente. Nada de madeira nos vinhos da marca, nem qualquer intervenção que seja. Pura uva e nada
mais, a natureza é sábia".

VINICAMPOS - Vinhos Finos de Altitude


(Campos Novos, SC - 2006) (I)
A Cooperativa de Produção e Processamento de Frutas do Pla-
nalto Sul Catarinense reunia 75 associados, que tinham, em con-
VINICAMPOS
\ 1nhos finos de- alt11ud(' junto, 25 hectares de vinhedos de viníferas, com cantina própria
desde 2006. A decisão de lançar-se ao mundo dos vinhos finos
deu-se depois de se constatarem as excelentes condições climáticas e edafológicas do município
de Campos Novos. Atribui-se ao desembargador Edison Ubaldo a primazia no cultivo de viní-
feras, em Campos Novos, a partir de 1982, e na elaboração de vinhos finos de altitude, na Serra
Catarinense, no ano de 1986, com varietais de Riesling Itálico e Merlot, pelas mãos do enólogo
Jean Pierre Rosier. Aliás, foi outro desembargador, Aluízio Blasi, que me apresentou o excelente
trabalho da Vinicampos. Os vinhedos estavam a 960 metros de altitude, com uma das mais altas
médias anuais de dias de sol, em toda a região. A primeira safra lançada comercialmente foi a de
2007. Apresentava cinco vinhos finos e um de mesa, cada um com o próprio nome. Eram dois
varietais de Cabernet Sauvignon, o Barão de Demétria 2007, 12,0%, com oito meses em barricas
de carvalho francês de primeiro uso, e o Campanello CS; dois varietais de Merlot, um tinto, o Cam-
panello Merlot, e um rosado, o Flor de Rocío. O outro vinho era um espumante brut blanc de blanc,
100% Chardonnay, chamado Luna Chiara, elaborado pelo método tradicional.

123 Raleio de cachos é uma poda verde. Podam-se ramos em estado herbáceo e tenro, no período de plena
atividade vegetativa das plantas. Essa prática altera a relação entre a superfície foliar e o número de
cachos. O objetivo é reduzir a produção e melhorar a qualidade das uvas. O número reduzido de cachos
melhora o teor de açúcar e baixa a acidez.

406 Rogerio Dardeau


WEINZIERLE - Indústria de Vinhos e Frutas Weinzierle Lida. (Vinhos e Frutas Weinzierle
Lida.)
(Nova Petrópolis, RS - 2006)
Iniciativa do casal Rolf e Ruth Weinzierle, que, em 5 hectares
de vinhedos no município de Nova Petrópolis, RS, de coloniza-
ção alemã, cultivava a uva Riesling Renano Johannisberg. Rolf
Hansjorg Weinzierle, um engenheiro agrônomo, nascido em
Stuttgart com atuação profissional também na Alemanha, sempre teve a determinação de
produzir, no Brasil, um autêntico RieslingJohannisberg. O desejo foi realizado, pela primeira
vez, na colheita de 2010, com três mil garrafas do Weingut Weinzierle Riesling 2010 meio-seco.
O Weingut Weinzierle Riesling, nos estilos seco e meio-seco, eram elaborados na Vinícola Don
Guerino, em Alto Feliz. Os vinhos eram únicos varietais da Riesling Renano no Brasil. O vinho
meio-seco era consequência de colheita tardia e apenas medianamente doce. Em novembro
de 2019, Cesar Valle, proprietário da Cavi, em Niterói, RJ, e a enóloga Paula Schenato me sur-
preenderam com uma garrafa do Weingut Weinzierle Riesling seco 2012. O vinho estava perfeito,
vivo, brilhante, com seus aromas típicos e uma grande presença no paladar, aos sete anos de
vida. Uma pena o encerramento das atividades vitivinícolas. Atualmente, o casal Rolf e Ruth
Weinzierle dedica-se à pousada que mantinham junto aos vinhedos, em Pinhal Alto, Nove
Colônias, a meia hora do centro de Gramado.

Gente. Lugares e Vinho s do Brasil 407


~ Horizonte

Primeiramente, é preciso constatar: somos pequenos na produção de vinhos finos! Basta


olharmos o cenário vitivinícola mundial. Então, o que fazer? Ou melhor: o que protagonizar
para um horizonte de melhor presença nesse cenário? Parece-me que a resposta é termos nossos
vinhos reconhecidos pelas próprias características, pelas personalidades distintas que podem
exibir, pelas identidades marcantes, especialmente no mercado interno. Certamente, o maior
desafio será definir terroirs, no sentido de que sejam conhecidas as características marcantes dos
vinhos que nascem em cada lugar, pelas mãos de pessoas diferentes, sob condições climáticas
específicas, facilitando a formação de clientelas fiéis. Seria ouvir frases assim: o corte Serra Gaúcha
é o meu favorito; gosto do Chardonnay do Vale dos Vinhedos; prefiro o Malbec do oeste catarinense; o Tannat
da Campanha é minha escolha; o Cabernet Sauvignon da Serra Capixaba me encanta; o Syrah do sul de
Minas é incrível; o varietal paranaense da Piano di Avelino é insuperável, etc., etc., etc. Significa estar
atento a todos os fenômenos que envolvem cada lugar, observando, analisando, comparando
e registrando permanentemente a caracterização de cada novo ambiente, o comportamento de
castas e seus vinhos. Isso é tarefa que exige paciência e tempo. Então, o processo de identificação
das regiões brasileiras produtoras de vinhos, já iniciado, não pode ser apressado. Definir a
caracterização de cada microrregião é tarefa complexa. Exige muita observação, registro das
ocorrências e materialização de indicadores. À medida que mais microrregiões vão sendo
claramente definidas e seus vinhos mais facilmente identificados, maior a valorização. Será a
transformação de 'lugares onde vinhos finos são elaborados' em regiões vitivinícolas. Para isso,
vejo que é fundamental termos um organismo nacional, que trate da consolidação de dados
sobre a produção brasileira de vinhos finos .
Ah, sim, depois de haver apresentado inúmeros lugares no Brasil onde vinhos finos são
elaborados, registro um em que poderão ser produzidos no futuro: no estado de Mato Grosso.
Pode parecer curioso, mas esse estado também se inicia na vitivinicultura. Conhecimento e
tecnologia, associados, permitirão a produção de uvas viníferas e a elaboração de vinhos finos
em lugares onde não se supunha ser possível. Faço a nota, pois os municípios de Primavera
do Leste (latitude 15°S), Nova Mutum (latitude 14°S) - (hoje considerada zona de produção,
pelo Decreto 8.198/2014) e Sorriso (latitude 12°S) já estão produzindo uvas, sucos e vinhos de
mesa. Em Primavera do Leste, o produtor José Simão arrendou 2,2 hectares de vinhedos com
dez anos, implantados com as variedades Niágara e Isabel em espaldeiras altas, e já elabora o
próprio vinho. Nesse município, podemos ainda encontrar mais cinco produtores. Em Nova
Mutum, a Fazenda Melina, iniciativa dos franceses Alain e Michel Leplus, ligados ao Château de
France, em Bordeaux, iniciou o plantio de uvas comuns em 1998 e tem projeto de avançar rumo
às viníferas. Em Sorriso, a experiência também se dá com a Niágara, em latada semiaberta. É
bom que fiquemos atentos, pois, de repente, aparecem viníferas ... Detalhe: os três municípios,
juntos, somam mais de 600 mil hectares de soja ... porém, já têm até festa da uva!

Gente. Lugares e Vinhos do Bra sil 409


Mas se o processo de identificação de terroirs é lento, há outros que necessitam de
rapidez: registro de produtores e mapeamento da produção. Pode parecer incrível, mas ainda
não temos dados consolidados da produção de uvas viníferas e de vinhos finos fora do Rio
Grande do Sul. E mesmo ali, tratamos dados de consumo, pela comercialização. E os vinhos
finos elaborados para consumo direto, sem atividade comercial consequente? Precisamos
avançar com as organizações locais de produtores, nos demais estados, no sentido de registrar
eficientemente as realizações. Basta olhar para o número de produtores localizados fora do
estado do Rio Grande do Sul, neste livro, para perceber que já subimos nossa taxa de consumo
de vinhos finos per capita. Mas, infelizmente, não dispomos de números exatos, tratados
estatisticamente. Isso é urgente!
Mais um tema que me preocupa: a sucessão de comando nas empresas produtoras, em nossa
região mais representativa, a Serra Gaúcha. Como vimos, os empreendimentos vitivinícolas
são majoritariamente familiares. Embora todos tenham tomado o rumo da profissionalização,
poucos ainda têm processo sucessório definido.
E há também outros desafios.
Precisamos pensar uma nova lei do vinho. Precisamos definir, ouvindo produtores e
consumidores, as características para vinhos jovens, vinhos de guarda, tempos de barrica, tempos
de garrafa antes da comercialização, enfim, denominações diversas como a sugerida de vinho
brasileiro de terroir ou vinho premium. Será preciso estreitar os limites do vinho fino, e ainda criar
melhores definições para vinho de mesa e vinho colonial. Será necessário banir da lei permissões
de uso do nome "vinho" em bebidas que não sejam vinho fino ou vinho de mesa. Vinho composto,
por exemplo, não é vinho! As graduações alcoólicas também precisam ser revistas. Em Bordeaux,
na França, por exemplo, um vinho Bordeaux tem graduação alcoólica de 12,0%, enquanto um
Boudeaux Supérieur começa com 12,5%. Necessitamos ter algo parecido, que nos ajude a diferenciar
nossos vinhos finos correntes dos VBdT. Vejo também importância no reconhecimento, pela
legislação, dos vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais, com parâmetros indicativos de cada
um, obtidos junto aos produtores e a organismos técnicos, como, por exemplo, a Embrapa Uva e
Vmho. Creio que essas, entre outras, são exigências das quais não é possível fugir.
É necessário que se consiga baixar o custo dos insumos. Equipamentos de produção,
garrafas, rolhas, rótulos e materiais de asseio das cantinas ainda têm preços muito elevados
no Brasil.
Costumo dizer a vinhateiros amigos e conhecidos: elaborar vinhos é fácil; colocá-los na
mesa do consumidor é tarefa muito difícil! Definir mercados, estabelecer preços, construir boas
relações comerciais, cobrar e receber são ações que exigem cuidados e atenção muito rigorosa.
Nos restaurantes, é fundamental que garçons e sommeliers estejam preparados e realizem
vendas. Realizar uma venda significa expor o produto, despertando interesse no cliente. Essa,
então, é tarefa desafiante. Mas tem resultados muito bons. Trata-se de adotar uma atitude, uma
postura proativa de apresentação, sem preconceito, dos vinhos brasileiros de terroir.
Observo, entre os produtores de vinhos brasileiros, uma concorrência desnecessária.
Disputam-se mercados, mas não dispõem de quantidade para entregar. Então, seria melhor
que os produtores estabelecessem alianças estratégicas, com respeito total ao perfil de
cada um. Cada grupo ou associação, reunido, estabeleceria, em acordos entre dois ou mais
membros, quais os lugares onde colocar os vinhos. Se comercializar não é fácil, a construção

410 Rogerio Dardeau


de alianças estratégicas é essencial ao bom resultado dos negócios. Uma aliança estratégica
define caminhos, espaços a serem preenchidos, mas cada produtor participante mantém as
próprias características. Todos saem ganhando.
Logística é um problema sério. Acondicionar, armazenar, transportar vinhos das cantinas
aos distribuidores, distribuir são tarefas que exigem cuidados não muito frequentemente
observados. Garrafas, por exemplo, precisam ter oferta maior e mais econômica de tipos
e volumes, especialmente nos modelos 187,5 ml, 250 ml e as Magnum, para 1,5 1. Na rota
produtor-consumidor, os problemas são muitos. Além de estradas com pavimento irregular,
que literalmente chacoalham nossos vinhos, ainda há as elevadas temperaturas tropicais, que
só serão minimizadas com a adoção de 100% de contêineres climatizados. Na distribuição,
também há muito o que fazer. A solução encontrada por algumas vinícolas, de entregar seus
vinhos a importadoras, não me parece boa. O poder econômico da grande maioria das vinícolas
estrangeiras exportadoras ao Brasil acaba pressionando o importador/distribuidor a ter mais
atenção com os vinhos de outras terras. As importadoras Decanter, Hannover, Mistral, Porto
Mediterrâneo, Vinci, Vinhos do Mundo, Zahil, entre outras, já representam e distribuem
alguns vinhos brasileiros. Insisto que considero insuficiente a formação dos vendedores, os
quais, diante do preconceito relativo aos nossos vinhos, não conseguem demonstrá-los e
cedem diante do imenso catálogo de importados que carregam.
Além de tudo isso, ainda temos a questão ambiental. O Brasil precisa ter uma agenda
ambiental com compromissos nacionais e internacionais, que restrinja o uso de herbicidas e
pesticidas nocivos a nossas culturas.
Chegamos, então, a um tema central, profundamente relevante: a viabilidade dos negócios
com vinhos, os aspectos fiscais e tributários.
A carga tributária que incide sobre vinhos e insumos precisa ser reduzida, de modo a diminuir
custos e, consequentemente, os preços dos vinhos finos brasileiros para os consumidores
finais. O sistema Simples de tributação, tendo chegado aos pequenos produtores, foi muito
bom. Mas não é o suficiente. Os produtores de vinho travam intensa batalha fiscal a fim
de conseguir que a bebida seja taxada como alimento e não como, simplesmente, bebida
alcoólica. Na França e na Itália, por exemplo, é assim. Isso baratearia o produto, permitindo
acesso da maior parte da população. Aliás, sobre o tema negócio do vinho, fiz pergunta a um
especialista. Vejam:
- Professor Valdiney Ferreira, há muito tempo os negócios com vinhos estão entre suas
preocupações, como executivo, gestor experiente e criador do curso específico sobre o assunto,
em nível de Pós-graduação, na Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro. Como vê o cenário do
vinho fino brasileiro, especialmente diante do recente acordo Mercosul - UE, firmado pelo Brasil?

''Antes de entrar na questão do acordo Mercosul - UE, é importante situar o vinho fino brasileiro no
nosso mercado. Para tanto utilizarei o período entre 2012-2017, em as comercializações dos vinhos
finos cresceram de 113 milhões de litros para 151,5 milhões de litros, com um excelente CAGR =
+5% (crescimento médio anual composto). Mas, os vinhos finos brasileiros (tranquilos+ espuman-
tes) não apresentaram o mesmo desempenho; embora positivo o crescimento foi de CAGR= +0,6%
frente aos importados, que tiveram CAGR= +6,6%. Enquanto os vinhos brasileiros cresceram de
33,5 para 34,9 milhões de litros, os importados saltaram de 79,5 para 116,6 milhões de litros. Com

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 411


esses dados, não é difícil perceber que os finos brasileiros perderam terreno e, como consequência, o
share no mercado de finos caiu de 30% para 23%. Ressalta-se que no segmento de espumantes os
brasileiros mantiveram o share de 13%, sustentando a competição com os espumantes importados.
Nas condições econômicas atuais, o share em valor dos europeus nas importações brasileiras ficou
próximo de42% (2018). Com o acordoMercosul- UE ea redução do Imposto de Importação de
27% para zero, a expectativa é a de que os preços dos vinhos europeus se reduzam, aumentando
a sua competitividade. Eles poderão, por exemplo, participar mais ativamente na principal faixa
de preços do mercado, de R$50-60 por garrafa. Logo, se não houver aumento na base de consu-
mo de vinhos no mercado brasileiro, o que depende fortemente das condições econômicas do país,
eles poderão aumentar o share, ganhando fatias dos vinhos do Mercosul, entre eles os brasileiros.
Surgem novos e grandes desafios no horizonte para o vinho fino brasileiro, que terá que se rein-
ventar para fazer frente a essas novas condições. Isso passa por questões de custo-benefício, e se
na qualidade já não fazemos feio, nos custos muito trabalho precisará ser realizado nas vinícolas
e na legislação fiscal brasileira. Medidas compensatórias nas áreas fiscais e de financiamento
serão necessárias neste novo cenário."

Entre todos os desafios permanentes, postos diante do setor vitivinícola brasileiro,


aparece mais um: como prosseguir comercializando e distribuindo vinhos, avançando nos
negócios, frente às profundas alterações da dinâmica social, necessárias como defesa contra
a propagação do novo coronavírus? Diante disso, solicitei colaboração a um produtor amigo,
Julio Gostisa, diretor da Vinícola Routhier & Darricarrere, na Campanha Gaúcha. Ele nos
distingue com a reflexão a seguir.

Desdobramentos pós-pandemia causada pelo coronavírus


Julio Gostisa - um produtor de vinhos finos brasileiro.
"Março de 2020, o mundo vive uma pandemia complexa causada por um vírus de origem desco-
nhecida. Tudo está mudando e nos tomamos pessoas diferentes. Nossos negócios sofrem mudan-
ças e prejuízos incalculáveis. Para nosso grupo de produtores brasileiros de vinhos finos, também
está difícil. Mas cuidar da higiene e manter diversos controles de saúde não são nenhuma novi-
dade. Lidamos com frutas, pessoas e processos delicados que transformam, de forma mágica, um
alimento em vinho fino! Passada a loucura, teremos uma humanidade transformada? Sairemos
dessa sinuca melhores ou piores? Quais serão os desdobramentos?
Somos uma indústria nova e basicamente formada por pequenos e médios produtores que esta-
vam acostumados a ter seus melhores parceiros em pleno funcionamento diário (restaurantes,
lojistas, bares, hotéis, cafés, eventos e outros). Esses, da noite para o dia, foram forçados a fechar
as suas portas. Já sabíamos de nossas dificuldades passadas e que não conseguíamos tempo para
gerenciar uma cooperativa de vendas local ou nacional; por isso, sempre pulverizamos nossos es-
forços de forma solitária. Com esse pensamento e atitudes, seguiremos sendo pequenos gigantes.
Mas diante de um mundo diferente e impossibilitados de mostrar o lugar onde elaboramos nossos
vinhos, tudo muda. Tempos de crise trazem novas oportunidades de estudarmos o comportamen-
to do nosso consumidor e de nos prepararmos para entender as mudanças de prioridades.
Já tínhamos alguns problemas históricos que estavam sendo tratados. Nossos avós foram ensi-

412 Rogerio Dardeau


nados e nos treinaram a beber vinhos mais doces que o normal, e por isso a maioria dos consu-
midores brasileiros ainda possui uma memória de palato associada ao vinho mais "docinho",
chamado de mesa e elaborado com uvas "selvagens". Nossa bebida mais aceita culturalmente é
a cachaça, seguida de perto pela cerveja, nossa maior competição em litragem. O que comprova
a pouca história do vinho no Brasil. Ainda lutamos diariamente contra um preconceito e favo-
ritismo perante os vinhos importados. Em geral, sou otimista e devemos nos manter orgulhosos
com o sucesso do incremento do percentual de consumo para vinho fino nacional. O brasileiro
está aprendendo a ter confiança ao escolher seu próprio vinho, daí o crescimento no consumo.
Imaginamos que os desdobramentos pós-pandemia serão duros na maioria dos segmentos de nos-
sa cadeia produtiva. Certamente irá faltar dinheiro no mercado. Muitos perderão seus empregos
e empresas serão obrigadas a fechar as portas. Temos que aproveitar este momento de isolamento
social para buscar novas estratégias em equipe para convencimento e comprovação ao consumi-
dor nacional de que já possuímos produtos de excelente qualidade em todas as linhas de vinhos
finos e não somente de espumantes.
Não existe absolutismo no mundo do vinho. Precisamos sempre nos adaptar e entender nosso cliente,
buscando canais alternativos de venda e distribuição. Precisamos seguir inovando e elaborando vinhos
surpreendentes, não temos escolha, mas nos acostumando com essa nova economia de baixo nível de
contato. Devemos seguir incentivando o consumo responsável, movimentar campanhas de valorização
do local e do nacional, exercer nosso papel social e dar prioridade as nossas empresas e pessoas.
Seremos obrigados a melhorar nossa comunicação digital, vender mais vinhos de forma remota e
encontrar canais alternativos frente à força dos supermercados, uma vez que os pequenos não possuem
escala para serem competitivos. A famosa globalização será colocada em banho-maria por alguns anos
em que voltaremos ao comércio e turismo locais. Encantar sem risco de contágio, enquanto não temos
uma vacina. Teremos muito trabalho pela frente. Infelizmente, em 2020 ainda não seremos plenos.
Olhando para o horizonte, acredito que sairemos desta situação melhores seres humanos. Huma-
nidade mais paciente. Gente mais tranquila, mais família, mais compreensiva com o próximo.
Apaixonados pelo nosso lugar, nossa casa, nosso quintal e nossa região. Apreciando um belo
vinho fino do nosso Brasil."

Essa é a nova realidade que viveremos com ousadia e determinação, para que nossos
vinhos finos tenham um horizonte repleto de brindes, e mais brasileiros tenham acesso a essa
bebida-alimento tão fundamental e rica.
Em todas as questões a superar, contamos agora com os estudos que serão oferecidos pela
Academia Brasileira do Direito do Vinho (Abdvin).
Num horizonte nem tão distante, estou certo de que veremos mais gente escolhendo
vinhos finos dos mais diferentes lugares do país nos supermercados, além de apreciadores
lendo cartas de vinhos em restaurantes, encontrando boa oferta de vinhos brasileiros de terroir
e escolhendo vinhos de nossas terras, com tranquilidade, segurança e, quando brasileiros,
com uma pitada de orgulho. Por que não?

Saúde!!!

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 413


~ APÊNDICE 1
i~ Gente

O nome correto desta relação é índice onomástico, mas preferi a coerência com o título
do livro. Assim, toda a gente citada no conteúdo do livro está aqui presente, com o objetivo
de facilitar a sua localização no texto. Sei que há mais atores nesse espetáculo chamado
vitivinicultura brasileira de vinhos finos. Por isso, antecipadamente me desculpo e me
congratulo também com todas as pessoas não citadas no livro e que, de uma forma ou de
outra, contribuem com esse cenário.

Abdalla, Robson - 290 Andresen, Sophia de M. Breyner - 350


Adur, Adolar - 311 Andrighetto, Sadi - 131
Adur, Renato - 311 Angheben, Eduardo - 122
Aguiar, Carlos - 389 Angheben, Idalêncio Francisco - 26, 231 ,
Alba, Daniel - 261 242, 400122,
Alberici Filho, José - 400 Antoniolli, Adrian - 21 O
Albuquerque Regina, Murillo - 33, 34, 329, Antoniolli, Aldir - 21 O
333,335, 338,342,343,344,345, 348, Antoniolli, Elba Vizzotto - 210
349,352, 360 Aranha, José Cláudio Rego - 359, 360
Alcântara, Fernando - 58 Araújo, Manoel Antônio - 234
Aldegheri (família) - 318 Araújo, Rafael Gonçalves Bezerra de - 372
Aliprandini, Henrique - 257 Arbugeri, Eduardo - 192
Almeida Netto, Joaquim de - 335 Argenta, Daiane - 151
Almeida, Agamenon Lemos de - 257 Argenta, Deunir Luís - 151
Almeida, Miguel Ângelo - 133, 221, 255 Arruda, Marcos - 34, 344
Altherino, Leonardo - 393 Arsicaud, Patrick - 338
Alvarez, Eduardo - 324 Assis Brasil, Joaquim F. de - 175, 234
Alves, James - 238 Avelar, Carolina da Silva - 390
Amatto, Adilson - 324 Ayub, Hortência R. Brandão - 225
Amattos, Teddy - 389 Ayub, José - 225
Ambrosi, Christian - 185 Ayub, Manuela - 225
Ambrosi, Ricardo - 184, 185 Azevedo, Cesar - 223
Amorim, Acari - 290 Back, Alberto (Betinho) - 294
Amorim, Daniel Angelucci - 341 Backes, Paulo - 246
Ampese, Maciel - 82, 141, 143, 146, 388 Badaró, Viviane - 355
Andrade, Leonardo de - 349, 350 Baena, Leandro - 384, 389
Andreazza, Fernando - 406 Baldo, Ricardo - 332

Gente. Lugares e Vinhos do Bra sil 415


Ballo, René - 58, 330 Boff, Carlos - 44, 254, 265
Bambini, Flávio - 351, 352, 353, 354 Borba, Ana Cláudia Costa- 391
Barbieri, Fabiano - 58 Borella, Michelle Sani - 391
Barichello, Luiz Alberto - 247, 461 Borges, Cláudio - 381
Barreto Neto, Leôncio - 7 Borges, Gustavo - 317
Barreto, Ana Paula - 391 Borges, Vilson Ribeiro - 381
Barros, Pedro Vaz de - 23 Borges, Wagner - 381
Barrote, Daniel - 347, 350 Boroto, Acir - 81, 200, 203
Bassani (família) - 199 Borré, Fabiano - 3 74
Bassetti, Cesar Juliano Pioli - 292 Borré, Ivo - 374
Bassetti, José Eduardo Pioli - 292 Bortolini, Ângelo - 207
Bassetti, Marco Aurélio Pioli - 292 Bortolini, Ernando - 203
Basso, Fabiano - 170 Bortolini, João - 207
Bastiani, Sérgio Luiz de - 190 Bortolini, Luiz - 207
Batistelo, Mateus - 126 Bortolini, Mareio - 265
Bebber, Felippe - 149, 379, 384, 388 Bortolini, Miguel - 203
Bebber, Rafael - 149 Bortoluzzi, Elisandro - 240
Bebber, Thelma - 149 Boscato, Clóvis - 157
Bebber, Valter - 149 Boscato, Inês - 157
Belini, Mauro - 265 Boscato, Roberta - 157
Bellinfanti, Karina - 38, 384 Boscato, Valmor - 157
Beltrami, Roberto - 238 Botelho, Janaína - 359
Benedetti (família) - 182, 183 Botinha, Glaucus Passos - 357
Bernardes Filho, Guilherme - 343 Braga, Danio - 65, 314
Berne, Silene - 355 Brandelli, Adelar - 127
Berteotti, Ezio (Padre) - 92, 214 Brandelli, Ademir- 91, 127
Bertolini, Gustavo - 233 Brandelli, Afonso - 127
Bettoni, Jamur - 294 Brandelli, Irineu - 125
Bettú, Catenca - 206 Brandelli, Laurindo - 26, 127
Bettú, Fátima - 201, 202 Brandelli, Lucas -127
Bettú, Larissa - 206 Brandelli, Luís Augusto - 125
Bettú, Orgalindo - 63, 92, 201, 202, 291, Brandelli, Luís Eduardo - 125
292 Brandelli, Magda-121, 127
Bettú, Salete - 206 Brandelli, Mareio -121, 127
Bettú, Vilmar - 206, 207, 243 Brandelli, Moisés -127
Bianco, Cita - 288 Brasil, Eliane - 341
Bianco, Saul - 44, 89, 96, 100, 103, 107, Braz, Elizabeth (Sundari) - 251
286,288,293 Braz, Genaldo de Oliveira - 275
Bianco, Saul Paulo - 288 Braz, Neuma Leite Pires - 275
Binotto (família) - 296 Briere, Jacques - 27, 186
Bittencourt, Gradeia - 229 Brito, Ângela Guaspari de - 322
Bittencourt, Suzane - 235, 236 Brito, Paulo - 321
Blanc, André - 3 79 Brugalli, Olir - 200

416 Rogerio Dardeau


Burnier, Alexandre - 359 Carrereth, Juliano - 364
Cabirol, Jean-Lucien - 281 Carrereth, Rodolpho - 364
Cabral, Carlos - 385, 463 Cartier, Diego - 191
Cainelli Jr., Roberto - 108, 173, 177, 178 Carvalho, Lauro -149, 380
Cainelli, Roberto - 178 Casamonti, Marco - 284
Caldeira, Marcelo Araújo - 347 Catafesta, Augusto - 212
Calza, Antoninho - 160 Catafesta, Valdomiro - 212
Camargo, Fernando Rausis - 31 O Cavalcante, Micheline - 376
Camponogara, Adair - 222 Cavalleri, Nilso - 26, 124
Camponogara, Sadi - 222 Cavalleri, Vanessa - 124
Campos, Eduardo - 350 Cavalleri, Vani -124
Campos, Madalena - 350 Ceccon, Ivonne - 310
Capoani, Noemir - 124 Celmer, Alisson - 23 7
Capoani, Renan -124 Cenci, Juvenil - 370
Capoani, Volmir Luís - 124 Cercato, Vinicius Bortolini - 223
Capoani, Wilian -124 Cereja, Lis - 31
Cara, Jean Claude - 386 Cervantes, José Marquez de (Pepe) - 295
Carbonari, Marco Antônio - 329 Cesca, Elemir Antônio - 164
Cárdenas Santander, Luís R. - 242 Chamon, Douglas - 3 78
Cárdenas, Renato - 242 Chaptal, Jean Antoine - 41
Cardoso, Adão - 287 Charmat, Eugene - 80
Cardozo, Alejandro - 182, 192, 224, 236, Chassang, François - 28
242,259,384,385,389,392,394 Chatel, Muriel - 230
Carl, James Martini - 42, 85, 87, 92, 108, Chaves, Eliziario - 127
225,265,267,268 Churchill, Nathan -142, 145
Carniel, Rudilei - 209 Cini, Ivan - 164
Carraro, Carlos Miguel - 130 Cipresso, Roberto - 40, 221
Carraro, Giovanni - 44, 129 Citadin, Durei Feltrin - 302
Carraro, Isabel - 129 Civardi, Eliseo - 199
Carraro, Ivair - 130 Civardi, Lucas - 199
Carraro, Juliano - 43, 129, 386 Civardi, Nestor - 199
Carraro, Lidio - 104, 129 Coelho, Maristela - 249
Carraro, Michele -120 Coelho, Renato - 249
Carraro, Patrícia - 129 Conti, Bruno - 293
Carraro, Vilson - 130 Conti, Enrico - 293
Carrau Pujol, Juan - 27 Conti, Humberto - 44, 93, 96, 286, 293
Carrau Pujol, Juan Francisco J. (Quico) - Copat, Lucindo - 184
193, 197, 216, 227 Copello, Marcelo - 314
Carrau, ]avier - 227 Corbellini, Vinicius - 47, 365, 366
Carrau, Juan Francisco - 193, 197 Cortelleti, Rafael - 285
Carrau, Margarita - 227 Cosimo III (Grão Duque) - 67
Carrau-Bonomi, Juan Luis - 197 Costi, Armelindo - 200
Carrereth, Anderson - 364 Costi, Claudio - 200

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 417


Cristofoli, Bruna - 180 Desurmont, Gaspar Emmanuel - 42, 224, 229
Cristofoli, Valdir - 368, 369 Dezem, Amélio - 313
Cubas, Brás - 23 Dezem, Susan - 313
Cury, Gládis - 251 Di Ivrea, Luís Roberto Di San Martino-
Czarnobay, Antônio - 234, 298, 349 Lorenzato (Beto Lorenzato) - 331
Dachery, Roberto - 169 Di Sandi (família) - 312
Dal Pizzol, Antônio - 180 Di Zorzi, Ronaldo - 134
Dal Pizzol, Atílio - 26, 180 Dias, Carlos Manuel (Nenel) - 251
Dal Pizzol, Rinaldo - 28, 180, 463 Dias, Silvânio Antônio - 190, 261, 265
Dal'Osto, Marite - 328, 352 Diniz, Álvaro L. Palhares - 349
Dall'Agnol, Irineo - 182 Ditadi, Aureo - 174
Dalla Valle, Daniel - 138, 169 Donatti, André - 256
Dalmasso, Giovanni - 97 Donini, Vicente - 294
Dalpra, Eliseu - 244 Doro, Juciane Casagrande - 378
Dani, Maurício Heller (Danielle, Marco) -187 Dreher, Carlos - 92, 400
Danielle, Marco - 33, 187, 188, 463 Dreher Filho, Carlos - 400
Dardeau, Jean-Christophe - 88 - Dreher Neto, Carlos - 400
Dardeau, René-Pierre - 88 Ducati, Jorge - 89, 243
Darricarrere, Alexis - 225 Dumont, Philippe - 143
Darricarrere, Anthony - 133 Durante, Flávio - 373
Darricarrere, Gabriela Puhl - 226 Eckert, Micael - 191
Darricarrere, Jean Daniel - 225 Elesbão, Petrus - 37
Darricarrere, Pierre - 225 Eloy, José Carlos de Freitas - 360
Daudt, Carlos Eugênio - 222, 237, 239, 281, Escher, Álvaro - 42, 92, 181, 282, 399
306 Escher, Vitor - 42, 92, 282, 398
Davo, José Afonso - 335 Evangelho, Isidoro Silva - 229, 238
De Césaro, Anderson - 97, 185, 292, 401 Fabian, Giovani -158
De Luca, Otávio - 325 Fabian, Guerino - 158
De Lucca, Neusa - 232 Fabre, Michel - 225
De Lucca, Zulmir - 42, 232 Faccin, Antônio - 163
De Mari, Marcela - 162 Faccin, Bruno - 163
De Mari, Nilva - 162 Fante, Eduardo - 149
De Mari, Ricardo, - 162 Fante, Homero - 149
De Mari, Sérgio - 162 Fante, João - 149
De Nardi, Morgana - 299 Fante, José - 149
De Nardi, Talini - 299 Fante, Julio - 149
De Pizzol, Marciano - 200 Fantin, Aristides - 161
Debiasi, Família - 200 Fardo, Ambrósio - 310
Deleuze, Gilles - 57, 463 Fardo, J ustina - 310
Dellarmelin, Helvécio - 200 Fardo, Manuel - 310
Demore, Raimundo - 405 Faroni, Gian Carlo - 149
Denicol, Sonia - 144 Fasolo, José Augusto Vicari - 162
Dequigiovanni, Jatir - 186 Fensterseifer, Jaime - 204, 205

418 Rogerio Dardeau


Fernandes, Marcos - 38 Galery, Marcelo - 351
Ferracini, Fábio - 332 Gallina, Pedro - 311
Ferracini, Poliane - 332 Galvão Bueno, Carlos Eduardo - 217, 220, 461
Ferranti, Zaime - 200 Galvão, Álvaro Cezar - 313
Ferrari, Giovanni - 184 Gama, Valtencir Kubaszwski - 233
Ferrari, Leonardo - 284 Garbin, Daniel - 183
Ferrari, Roberto - 325 Garcia, Alzemiro André - 190
Ferraz, Carolina - 289 Garcia, Ernani Luiz - 284
Ferraz, Leônidas - 289 Garcia, Iriane Cristina - 190
Ferraz, Patrícia - 289 Garcia, Janaína Abreu - 284
Ferreira, Dormovil - 326 Garcia, Renato - 310, 311
Ferreira, Jorge - 149 Garibaldi, Delto - 153, 195, 241, 258, 393
Ferreira, Marieta - 29 Garziera, Jorge - 275
Ferreira, Núbia A. de Carvalho - 463 Gasperi, Adernar de - 400
Ferreira, Sandra - 318 Gastaldo, Camila Ruiz - 244
Ferreira, Valdiney - 7, 411, 464 Gastaldo, Eduardo - 99, 244
Ferro, Sebastião - 369 Gava, Altair Jaime - 302
Figueiredo, José - 273 Gava, Galdino - 302
Fin, Cristiano - 254 Gava, João Paulo - 302
Fin, Eleana - 254 Geisse, Mario - 143, 144, 223, 383
Fin, Jorge - 254 Gelli, Luiz Carlos Cattacini - 93, 381, 382
Fin, Larissa - 38, 254 Gheller, José Antônio - 210
Fin, Mareio - 254 Gheno, Augusto - 244
Flores, Carlos Alberto - 223, 267 Giaretta (família) 211
Flores, Maria Amélia Duarte - 134, 232, Giovannini, Ayrton - 143
393,464 Giovannini, Beatriz Dreher - 143, 464
Fogaça, Aline - 222, 237 Giovannini, Diana - 252
Fogaça, Rubens - 237 Giovannini, Eduardo - 7, 41, 85, 96, 104,
Fontanari, Juliano - 178 231,252,253
Fontanari, Victor - 178 Giovannini, Maria Vitória - 252
Foppa, Lucas - 184, 185 Giovannini, Simone - 252
Franzoi, Giovani - 287 Girardi, Aline - 333
Frazão Filho, Rafael Schettini - 390 Girardi, Paulo - 333
Freitas, Daniela Borges de - 292 Góes (família) - 317
Freitas, João Paulo Borges de - 283 Góes, Fernando José de - 318
Freitas, Manoel Dilor de - 201, 283, 291, 381 Goethe, Johann Wolfgang - 303
Freitas, Therezinha Borges de - 283 Gomes, Alcindo - 265
Fritsch (família) - 211 Gomes, Rogério - 44, 87, 88, 300, 303
Frizon, Celso - 314 Gonçalves, Julio C. Pogorzelski - 49
Fronza, Joélcio - 287 Gonzalez, Gustavo - 322
Furlanetto, Honório - 200 González, Javier - 219, 224, 228
Furlani, Alberto - 302 Gostisa, Julio - 7, 58, 133, 226, 412
Gabardo, Wagner - 69 Goulart, Rogério - 314

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 419


Grando, Guilherme - 296 Kõetz, Roger - 248
Grando, Maurício - 296 Kolya, Erico - 320
Grassi, Joelmir - 292 Kovaleski, Jadir José - 264
Gravner, Josko - 32, 93, 333 Kranz, Walter - 298
Greca, Paulo - 314 Kunz, Adriana - 249
Grivicich - 402 Kunz, Augusto - 194
Grosselli, Renzo M. - 363 Kunz, Emílio- 27, 194
Guadalin, Darci - 240 Kunz Neto, Emílio -194
Guaspari (família) - 321 Kunz, Júlio César - 194
Guedes, Caio - 44, 245 Kunz, Ricardo 1. - 249
Guerra, Celito - 53, 209, 225, 267, 268 Kunz, Rubem Ernesto - 249, 250
Guerra, João Batista Cordeiro - 79 Kunz, Valéria - 250
Guglielmone, Oscar - 27, 205, 252, 297, Lacerda, Wesley - 240
397,398 Lalas, Alexandre - 268, 314
Hage, Ralph- 58, 148, 157 Larentis, André - 129
Henriques, Ricardo - 276 Larentis, Celso - 128
Herget, Odilete Rotava - 313 Larentis, Cilo - 128
Herget, Waner - 313 Larentis, Larri - 128
Hermann, Adolar - 290 Larentis, Olivar - 128
Hermann, Edson - 290 Laureano, Paulo - 97
Hermeto, Pedro -181, 402 Lazzari, Darcy - 200
Hertcert, Vanja - 41, 126, 127, 151, 275 Lazzarotto, Poty - 311
Hilgert, Viviane - 264 Lazzarotto, Tiago - 124, 164
Hiragami, Fumio - 287 Le Court, Antoine - 333
Hirschfeld-Campolongo (família) - 335 Leite, Michel Moreira - 376
Hofmeister, Carlos - 234 Leplus, Alain - 409
Homburger, Alex - 393 Leplus, Michel - 409
Hood, Stephen - 144 Lezana, Álvaro Guillermo - 281, 463
Hougaz, Augusto Borella- 390, 391 Libardi, Gonçalo - 195
Hudelot, Bernard - 386 Libardi, Marina - 19 5
Ideses, Marcelo - 38 Lima, Cláudia - 384
Ieggli, Mario Lucas - 234, 348, 349, 350, 360 Lima, Marcos - 314
Inglez, Alain - 402 Limirio, Adevaldo - 315
Ismael, Gustavo Fernandes V. Limirio, Magna- 315
Ismael, Rodrigo Veraldi - 326, 327, 328, Lindenmeyer, Cézar - 235, 236, 249
329,330,356 Lisciotto, Alice - 333
Jojot, Christian - 372 Lisciotto, Antero - 333
Joly, Nicolas - 32, 464 Liu Wen-266
Junqueira Nogueira (família) - 344 Locatelli, Darci - 208
Junqueira NogueiraJr., Eduardo - 344 Locatelli, Nelson - 266
Kades, Léo - 388, 389 Lona, Adolfo - 28, 81, 200, 201, 219, 224,
Kante, Edi - 239, 240 260,399,464
Kasznar, Istvan - 341 Lopes, Daniel - 164, 165

420 Rogerio Dardeau


Louro, Luís - 327 Mazon, Genésio - 281, 306
Lovatel, Giuseppe - 194 Mazon, Giselda - 306
Lovato, Luiz Gustavo - 245 Mazon, Patrícia - 306
Mac Donald, Giuseppe Caruso - 304 Médici (família) - 67
Machado, Alexandre Fragoso - 67 Medin, Vanessa Kohlrausch - 139
Machado, Daniel Maia B. - 355 Meira, João Francisco Pereira de - 346, 347,
Machado, Matheus Tomaz - 82, 387, 388 348
Magdalena, José Renato - 332, 333 Meira, Mateus de Oliveira - 348, 349, 350,
Maia, Carlito - 198 351,357,360
Malgarim, Daniel - 255 Mendes, Anselmo - 235,290
Malgarim, Sérgio - 255 Mendes, Vilnei - 265
Manfroi, Elisson R. - 303 Mendonça, Eduardo -103, 163
Manfroi, Vitor - 252 Meneguzzo (família) - 212
Mangoni, Julio - 171 Meneguzzo, Juarez - 212
Marchiori, André - 286 Menezes, Guilherme - 404
Marchioro, Alberto - 142 Menezes, Paulo Roberto - 404
Marchioro, Hélio - 142 Menin, Guilherme - 391
Marcon (família) - 339 Menin, Paulo - 391
Marcon, Carlos Geraldo - 340 Menoncin, Arlindo -167, 233,287
Marcon, Geraldo - 340 Mércio, Monica Patrizia Zara - 219
Marcon, Luiz Carlos - 339 Mércio, Thomaz Alves Pereira - 219
Marcon, Luiz Henrique - 340 Mércio, Thomaz Zara - 219
Marcon, Michel - 340 Mércio, Victoria Zara - 219
Marengo, Benedito - 304 Merolli, Heloise - 44, 88, 308, 309
Mariani, Danes Luiz - 200 Mesacaza, Eugênio - 42
Mariani, Jorge - 200 Mesacaza, Mauro - 42
Mariani, Lourdes Mazzola - 200 Mével, Philippe - 202
Marimon (família) - 215 Meyer, João - 257
Marin, Sérgio - 240 Michelena, ]avier Gonzalez - 219, 224, 228
Maroso, Junior - 259 Michelini, Matías - 210, 379
Marson (família) - 198 Michelon, Silvano - 240, 242
Marson, Antônio -198 Milan, Andreia Gentilini - 3 78
Marson, José - 352 Milani, Luiz - 131
Martinotti, Federico - 80, 170 Miolo, Adriano - 132, 133
Marty, Pascal - 204 Miolo, Alexandre - 132
Massarotto, Janaína - 152 Miolo, Antônio - 132
Massaroto, Luiz - 157 Miolo, Darcy - 132
Massoc, François - 286 Miolo, Fabio - 132
Massola, Diva - 200 Miolo, Giuseppe - 132
Massola, João - 200 Miolo, Paulo - 132
Mattielo, Atílio - 365 Mioranza, Antônio Alvise - 153
Mattielo, Viviane - 365 Mioranza, Valdecir - 156
Maufer (família) - 229 Mirazo, Enrique - 223

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 421


Miwa, Marcel - 135, 398 Olmo, Harold P. - 107, 216, 239
Molon (família) - 213 Omizzolo, Gladistão - 227
Mônaco, Horácio - 26 Onsi, Bruno - 208
Mônaco, Lourenço - 26 Orléans e Bragança, Eudes de (Dom) - 27,
Monjardim, Jayme - 232, 393 28,381
Moraes, Edecio Armbruster de - 314 Overnoy, Pierre - 32, 140
Moraes, Odila Armbruster de - 314 Pacheco, Gustavo Guagliardi - 38
Morbini, Nauro - 177 Paim, Maikely - 288
Mosconi, Carlos Eduardo V. - 340 Paladio, Andrea - 288
Mosconi, Gilberto (Beto) - 341 PalmaJr., João - 290
Motta, Marcelo Habice da - 327 Panassol (família) - 212
Motta, Sônia - 327 Panceri, Celso - 298
Motter, Bruno - 174 Panceri, Luiz - 298
Motter, Guerino - 193 Panceri, Nilo - 298
Motter, Lucas - 174 Parziale, Graziella - 323
Motter, Maicon - 174 Parziale, Luciano - 322
Motter, Osvaldo - 173 Passarin, Arnaldo - 125
Motter, Salete - 174 Passero, Fernando - 318
Moura, René Ormazabal - 230 Patto (família) - 318
Mucheroni, Mário Francisco - 333 Patto, Túlio - - 318
Müller, Alceu - 289 Pauletti (família) - 211
Müller, Maria Bernardete Chaves - 127 Pedrucci, Gilberto - 202
Müller, Pedro - 127 Peiter, Caio Cesar Lopes - 285
Müller, Rafael Chaves - 127 Peixoto, Rodrigo Carrara - 339
Müller, Renata Chaves -127 Penso, Flávio - 92, 214
Nascimento, Fábio Luiz - 320, 321 Perdigão, Laura - 3 70
Nascimento, Luiz - 320 Peregrino, Isabela - 322, 323, 335, 338, 340,
Nascimento, Milton - 344 345,354,360,390
Nobre, Cristiano - 355 Pereira, Ariel - 220
Nogueira, André - 393 Pereira, Eliane - 236
Nondillo, Rafael - 404 Pereira, Felipe Marques - 161
Nosini, Jurandir - 177 Pereira, Giuliano Elias - 274, 371, 372
Novelli, Frederico - 352 Pereira, Romualdo - 27
Novelo, Flávio - 153, 228, 369 Pereira, Valmir - 314
NunesJr., Carlos Luiz - 281,463 Peres, Giovâni Silveira - 220, 402
Nunes, Jefferson Sancineto - 290, 299, 382 Perin, Enio - 311
Nunes, Vitor - 229 Perini, Benildo - 168
Obrakat, Marcos - 228 Perini, Franco - 168
Oliveira, César Henrique de - 311 Pérsico, Franco - 277
Oliveira, Erivaldo Costa de - 311 Peruzzo, Éder - 219, 220
Oliveira, Eugênio - 399 Peruzzo, Lindonor - 220
Oliveira, Frederico - 355 Peterle, Carolina Salvadori - 223
Oliveira, Luiz - 461 Peterle, José Antônio - 223

422 Rogerio Dardeau


Peterle, Thiago Salvadori - 223 Quiumento, Carolina - 305, 466
Peterlongo, Armando - 79 Randon, Nelson - 208
Peterlongo, Manoel - 80, 204 Randon, Raul Anselmo - 258, 259
Petroli, Cesar - 123 Rausis, Dirceu - 31 O
Petroli, Luiz - 44, 123 Ravanello, Normélio - 209
Petroli, Marcelo - 374 Rebouças, Marcelo - 38, 384
Pianegonda, Gabriel - 252 Regina, Murillo Albuquerque - 34, 323,
Pioli (família) - 339 329,333,335,337,338,341,342,343,
Pioli, Crisley F. de Andrade - 342 - 344,345,349,352,360
Pioli, Luiz Marcelo - 342 Resende, Ana Maria - 368
Pisani, Bruno - 285 Resende, Henrique - 368
Pisani, Caio - 285 Resende, Melchior - 368
Pizzato Flávio - 398 Resende, Paulo Marcos
Pizzato, Flávia - 135 Resende, Sérgio - 367, 368
Pizzato, Ivo - 135 Ribeiro, Cristiano Davoglio - 379
Pizzato, Jane - 135 Ribeiro, Cristina- 47, 95, 246, 247
Pizzato, Plínio - 95 Ribeiro, Manoel Bueno - 347, 348
Poggere, Mateus - 213,309 Ribeiro, Maurício - 33, 47, 94, 95
Poggere, Patrícia - 213, 309 Ribeiro, Murilo Plínio Nogueira - 3 72
Pogorzelski Gonçalves, Júlio C. - 49 Rigo, José - 106, 222
Pombal, Marquês - 67 Rigon, Marcelo - 167
Pommier, Hubert - 275 Rigoni, Ben-Hur - 190
Pôncio, Silvio - 261 Robinson, ]aneis - 60, 144, 465
Porto, Júnior - 342 Rocha, Edsandro (Sandro) - 325, 342
Porto, Luiz - 342 Rodrigues, Alexandre - 135, 398
Portugal, Ari - 383 Rodrigues, Geraldo - 349
Portugal, Rafaelle - 383 Rodrigues, Luiz Bonifácio - 348
Portugal, Rose Mari - 383 Rodrigues, Rafael - 191
Postal, Berenice - 179 Rodrigues, Ruan - 386
Postal, Élison - 179 Rodriguez, Cristián - 333
Postal, Ernesto - 179 Rogers, Edward Staniford - 303
Postal, Gilberto - 179 Roman (família) - 183
Põtter, Gabriela Hermann - 223 Rosier, Jean Pierre - 281, 282, 284, 289,
Põtter, Valter - 223 296,406
Pozza, Valmor - 171 Rossi, Celestino - 122, 152
Pozzan, Felipe - 220 Rosso, luri de - 225
Pozzan, Gilberto - 220 Rousseff, Dilma - 79
Prando, Honório Francisco - 300 Routhier, Michel - 225
Previtali, André - 224 Ruschi, Augusto - 363, 364
Previtali, Eveline - 224 Russo, Didu - 139, 181, 398
Proença, Renan - 400 Saad, Ricardo - 145
Prola, Pedro Moisés Cardoso - 402 Sahul, Yves Eric - 230
Pujol, Jaime Carrau (Quico) - 193 Saint Hilaire, Auguste de - 331, 346

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 423


Salettes, Thibaud P. M. G. de - 338 Schwartsmann, Leonor - 241
Salles, Ricardo - 359 Scola, Milton - 187, 191, 405, 406
Salton Neto, Ângelo - 184 Scopel (família) - 196
Salton, Daniel - 184 Scortegagna, Edegar - 151
Salton, Geyce - 97, 185 Scottá, Dirceu - 180
Salton, Gregório - 228 Seganfredo, Ana Cecília - 208
Salton, José - 183 Seganfredo, Paulo - 208
Salton, Marco Antônio - 142, 145 Seibel, Albert - 25
Salton, Orval - 145 Sepulveda, Cristian - 322, 325
Salton, Paulo - 183 Sete, Menelaw - 131
Salvador, Antônio - 154 Sgarioni, Ariana - 324
Salvador, Daniel - 154, 465 SilvaJr., Adernar- 240
Salvador, Sandro - 365 Silva, Adriana Carvalho R. - 368
Salvador, Volmar José - 155 Silva, Aparecido Lima de - 284
Salvati, Rosângela - 144 Silva, Arthur Telles - 335
Salvati, Silvério - 144 Silva, Bartolomeu Bueno da - 331
Salvi, Claudete - 200 Silva, João Gabriel Borzani - 141
Sampaio, Norton - 39, 217, 218, 229 Silva, Marcelo de Souza e - 368
Sandi, Renato - 149 Silva, Salete Arruda da - 200
Sano, André - 325 Silver, Eric - 317
Santander, Luís Renato Cárdenas - 242 Simão, Remy Narciso- 301
Santin, Antônio - 222 Simões, Ubaldo - 266
Santini, Armando -196 Simon, José Antônio - 238
Santini, Leandro - 168 Simonetto, Claudionor - 215
Santini, Milton - 196 SinigagliaJr., Edgard - 173, 177
Santini, Valmir - 196 Siqueira, Felippe - 393
Santos, Israel Dedea - 147 Slovinscki, Julio - 394
Santos, João - 276 Soldatelli (família) - 212
Santos, Marina - 32, 33, 44, 146 Soliman, Nelson - 263
Santos, Nazário - 403 Soliman, Rogerio - 263
Saramago, António - 297 Soliman, Vanessa - 263
Sarchi, Olivardo - 319 Soto, Roberto Carlos Chávez - 287
Sardagna, Marcelo Luiz - 302 Souza, Cláudio Mareio Pereira de - 34 7
Sassi, Aldérico - 128, 400 Souza, Guilherme Pinto Alves de - 334
Saul, Sandro - 209 Souza, João - 314
Savaris, Renato Antônio - 169 Souza, Marlene - 314
Scalco (família) - 211 Souza, Milton de - 5, 37, 308, 310
Schãfer, Gabriela - 31, 188, 189, 466 Souza, Sérgio Inglez de - 28, 466
Schenato, Paula Guerra - 126, 151, 233, Sozo, José - 259
257,388,407 Sperandio, Cássia - 365
Schmitz, Anderson - 44, 171, 311, 313, 342 Sperandio, Sérgio - 365
Schumacher, Werner - 403 Splendor, Firmino - 405, 466
Schwartsmann, Gilberto - 241 Stanger, Eliton - 365

424 Rogerio Dardeau


Stella, Cleiber - 340 Valduga, Giovani - 139
Stella, José Procópio - 340, 349 Valduga, João - 138
Stella, Valentino - 340 Valduga, Juarez - 138
Stopassola (família) - 210 Valduga, Leonardo - 130
Strechar, Eduardo - 286, 288, 294 Valduga, Lourdes - 136
Sucena, Rodrigo - 370 Valduga, Lucas - 139
Suzin, Everson - 291 Valduga, Luciana - 136
Suzin, Jeferson - 291 Valduga, Luigi Vigilio - 25
Suzin, Zelindo Melei - 291 Valduga, Luís - 26, 13 7
Tabacchi, Pietro - 363 Valduga, Luiz - 26, 137
Taffarel, João Carlos - 168, 243 Valduga, Marco Luigi - 130, 137
Takahashi, Evellin - 330 Valduga, Marcos - 126
Tarabal, Juliano - 353 Valduga, Mateus - 139
Tassinari (família) - 360 Valduga, Nedi - 18, 139
Tavares, Miguel Sousa - 350 Valduga, Remy - 25, 13 7
Tecchio (família) - 182 Valduga, Roberto - 126
Tedesco, Ineldo - 274 Valduga, Rogério Carlos - 136, 137
Tedesco, Izanete Bianchetti - 274 Valduga, Sandro -127
Teixeira, Getúlio - 251 Valduga, Shana - 136
Teixeira, Rodrigo Cury - 251 Valduga, Vander - 7, 18, 69, 139
Tessaro, Luigi - 211 Valduga, Victor - 130, 13 7
Tessaro, Vicenzo - 211 Valle, Cesar - 407
Tisatto, Ivan - 193 Varaschini Jr., Ermano - 259
Tonet, André - 158, 291 Vargas, Vagner de - 212
Tonet, Angelina - 158 Vasconcelos, Luciano - 141
Tonet, Ivo - 196 Vaz, Jairo Pinto - 371, 373
Tonet, Paulo Roberto - 155 Velho, Ernani de Napoli - 186
Tonini, João - 171 Veloso, Caetano - 17
Toscan, Aurora - 153 Veloso, Vinicius Martins - 368
Travesso, Luiz David - 385 Venâncio, Ataide - 7, 15, 37
Triacca, Ronaldo - 3 70 Verrone, Mareio Vedovato - 323
Turri, Ronaldo - 164 Verzeletti, Nicolini - 203
Ubaldo, Edson - 281,298,406 Vial, Luciano - 34 7
Ulian, Vilmar - 155 Vian, Marcos - 124, 161, 170, 171, 210,
Umpierre, Paulo - 58, 133, 244 263,290,301,310,311,313,331,342,
Vaccaro, Lourenço - 208 369,390,391
Valandro, Pedro Oscar - 23, 466 Viapiana, Elton - 44, 148, 157
Valduga, Cândido - 126, 13 7 Vicari, Lizete - 32, 44, 89, 107, 162, 163,
Valduga, Carlos - 126 250,461
Valduga, Celso - 126 Vicchini, Rafael - 324
Valduga, Edir - 18, 139 Vidal, Antônio - 308
Valduga, Eduardo - 139 Viel, Edegar - 102, 297
Valduga, Erielso - 138 Viel, Guilherme - 297

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 425


Viseu, Miguel - 285 Zanini, Ettore Roberto - 315
Wagner, Rosana - 227 Zanini, Luis Henrique - 33, 44, 139, 181,
Weber, Dedo - 262 399,402
Weber, Delci - 262 Zanlorenzi, Carlos - 213
Weber, Fernando - 38 Zanlorenzi, Julia - 213
Weber, Paula - 38 Zanon (família) - 212
Weber, Taciana - 262 Zanotto, João Carlos - 256
Weber, Tatielli - 262 Zanrosso, Ernesto - 198
Weege, Wandér - 289 Zanus, Mauro - 259
Weingãrtner, Marimônio A. - 95, 266 Zasso, Carlos Alberto - 240
Weingãrtner, Pedro - 266 Zavarizze, Átila - 284, 290, 294
Weinzierle, Rolf - 407 Zenbei, Kawakami - 103
Weinzierle, Ruth - 407 Zenker, Eduardo - 31, 32, 43, 81, 104, 188,
Wen, Liu - 266 189,250,466
Wulff, Luis - 242 Ziero, Lidio - 150
Zaccariotto, Ângelo Conto - 58 Zílio, Flávio - 177
Zambiasi, Nelcir José - 266 Zilli, Ana Roberta - 295
Zanella, Dirceu - 176 Zolin, Iran S. - 248
Zanella, Gladimir José - 176 Zorzi, Osvaldo - 315
Zanella, Maicol - 176 Zorzi, Ronaldo di - 134
Zanella, Pedro - 176 Zottelle, Divanir Pascoal - 365

426 Rogerio Dardeau


"-'~
I~ APÊNDICE 2
-- Produtores e Negociantes
(pessoas jurídicas)

Aqui, estão relacionados os produtores (vinicultores com ou sem vinhedo), pela


personalidade jurídica de cada um, os viticultores citados, os viveiros de mudas de viníferas e
os negociantes. Como o nosso objetivo é facilitar a procura, aparecem também os nomes de
produtores que encerraram atividades, mas estão citados no livro. A ordem alfabética toma
por referência o nome principal, pelo qual se conhece a empresa (vinícola ou negociante) .
A palavra 'Vinícola' foi suprimida no ordenamento. Mas Adega, Bodega, Cantina, Casa,
Estância, Família, Fattoria, Fazenda, Quinta, Sítio, Tenuta, Vila ou Villa foram mantidas,
integradas aos nomes, como ordenadoras. Esclareço com exemplos: Casa Postal está na
letra C, Quinta D' Alva está na letra Q Os vinicultores que adotaram seus nomes próprios
para identidades de seus vinhos, como pessoas jurídicas, aparecem pelo primeiro nome
(ex. Vanessa Kohlrausch Medin), diferentemente do Apêndice 1, quando enfatizamos as
pessoas, ordenadas pelo último sobrenome (ex. Medin, Vanessa Kohlrausch). Há produtores
duplamente referidos, mas sempre identificados, nos dois nomes, por referência cruzada
numeral, em sobrescrito, por pertencerem à mesma pessoa jurídica. Ex: Província de São
Pedro 17 = Routhier & Darricarrere; 17 Quinta da Matricula18 =Vinde Minas.18

3 Atelier 63, 81 Adolfo Lona 61, 81,200, 201,219,224,


A 260,399
Agostini 200, 208
ABN 341
Alfredochavense 215
Abreu Garcia 61, 82, 282, 284, 285, 286
Allegro 59, 62, 180
Adega Campolaro 186
Almadén 27, 39, 93, 107,131,216, 217,
Adega da Serra 165
222,226
Adega dei Monte 165
Almaúnica 47, 62, 109, 120, 121, 122, 127,
Adega do Chamon 63, 378
240
Adega Mascarello 157, 388
Alto da Invernadinha 62, 285
Adega Medieval 27, 205, 398
Alto do Gavião 59, 63, 356
Adega Rigon 233
Altos do Paraíso 63, 231
Adega Solar 61, 251
Alto Uruguai 40, 48, 60, 61, 64, 67, 94,
Adega Splendor 186, 405
110,112, 11~ 150,260, 261
Adega Viel 40, 102, 297

Ge nte . Lugares e Vinho s do Bras il 427


Ametista 61, 94, 103, 110, 201, 260, 261, Bom Pastor 261
399 Boscato 46, 52, 89, 98, 103, 107, 118, 148,
Amitié 63, 378, 379 157
Angheben 26,99, 103,110,120,122,231, Botticelli 88, 272, 277
242,400 Bucco di Pietro 45, 186
Antero Lisciotto 333 Buenos Momentos 62,98, 109,347,348
Antonio Bin 215 Bueno Wines 40, 62,221
Antônio Dias 110, 190, 261 e
Aracuri 61, 192, 256, 257, 388
Cainelli 61, 108, 173, 177, 178
Araucária 62, 82,307,311,312, 328
Calza 107, 120, 159, 160, 162, 221
Arbugeri 61, 118, 185, 192
Campestre 118, 154, 172, 256
Armênio 159, 163, 165
Campolaro 186
A.R.M.M. 59, 62, 135, 398
Campos de Cima 45, 60, 61, 64, 67, 87, 93,
Arte da Vinha 31, 32, 43, 44, 62, 81, 189
96, 107, 112, 117, 140, 152, 172, 175,
ArteLíquida 210, 379
187,188,191,209,212,217,223,225,
Assunção 367
249,256,257,258,267,283,303,398,
Atelier Carrau 194, 197
405
Aurora 27, 45, 54, 58, 81, 95, 100, 119,
Canguera 316
120, 123, 141, 153, 173, 177,182,249,
Cantina di Zorzi 134
262,316
Cantina Mattiello 364
Aventura 63,108,173,178,292,316
Cantina Mincarone 44, 63, 245
Awocato 58,63, 148,157
Cantina Strapazzon 147
B Cantina Tonet 72, 196
Barão de Petrópolis 62, 149, 379 Cão Perdigueiro 63, 167
Barão Invest 63, 171 Capoani 62,101,120,124,160
Bárbara Eliodora 63 Cappelletti 167, 171
Barbarano 215 Cárdenas 62,242,243
Barcarola 44, 61, 101, 102, 106, 123 Carrereth 59, 63, 364
Bassani 61, 199 Carvalho Branco 34, 63, 81, 341
Basso 118,167,170,193,339 Casa Ágora 62, 142
Batalha 62, 218, 220, 224, 232, 402 Casa Antoniolli 210
Battistello 61, 123 Casa Cervantes 62, 295
Baú 9.4 62, 105, 109, 328 Casa Corba 211
BellaQuinta 193,315,316,317 Casa dei Nono 198
Bertolini 63, 231, 233 Casa dos Espumantes 62
Bettú Vinhos Nobres 201 Casa do Vinho 61, 381
Bianchetti Tedesco 274 Casa Fantin 161
Bibulus 63, 149, 380 Casa Fontanari 42, 45, 87, 178, 179
Bigolin 141, 147 Casa Garcia 61
Bodega Czarnobay 61,103,231,233,234 Casa Geraldo 340
Bodega Kõetz 248 Casa Graciema 140
Bodega Ruiz Gastaldo 63, 244, 245 Casal Piccoli 302
Bodega Sossego 62 Casa Marques Pereira 43, 63, 106, 161

428 Rogerio Dardeau


Casa Motter 193 Coperametista 62, 260, 261
Casa Muterle 61 Cordelier 43, 149, 150
Casa Olivo 62, 93, 175, 257, 388 Cordilheira de Santana 72
Casa Onzi 198 Courmayeur 101, 119, 200, 203
Casa Pedrucci 81, 202 Cristófoli 369
Casa Perini 99, 102, 168, 200 CRS Brands 62,385,401
Casa Pisani 285 D
Casa Postal 61,179
Dachery 43, 61, 169
Casa Savoia 62, 302
Dalla Costa 141, 147
Casa Seganfredo 61, 208
D'Almeida 61, 335
Casa Tertúlia 63, 264
Dal Pizzol 28, 52, 99, 110, 180, 218
Casa Valduga 40, 46, 52, 72, 81, 88, 93, 98,
D'Alture 61, 282
99,103,120,137,138,169,217,230,
Da Paz 214
231,262
Darci Locatelli 208
Casa Venturini 148, 149, 384
De Cezaro 171
Casa Verrone 34, 62, 320, 323
De Lantier 168, 200, 201, 260, 399
Castel Franc 157
De Lucca 42, 61,231,232,246
Catafesta 118, 119, 212
De Mari 62, 162
Cata Terroirs 63
De Mentes 59, 63
Cattacini 62, 81, 88, 93, 192, 381, 382, 384
De Zorzi 118, 134
Cavalleri 26, 46, 52, 80, 100, 104, 120, 124
Dequigiovanni 186
Cavas do Vale 61, 120, 125
Descobertas do Umpierre 134, 244
Cave Antiga 62, 168, 185
Dexma 63, 385
Cave Colinas de Pedra 61, 81, 307, 383
Dezem 61,91,312,313,314
Cave de Angelina 62, 158
Diamante 59, 62, 301, 350
Cave de Cristal 261
Di Sandi 61, 312
Cave de Pedra 52, 120, 125, 185
Di Vino 59, 63
Cave do Sol 126
Dom Avelino 208
Cave Marson 198
Dom Bernardo 62
Cave Nacional 38, 63, 384
Dom Cândido 52, 102, 105, 120, 126
Cave Ouvidor 61, 92,282,399
Dom Dionysius 317
Cerro da Trindade 59, 61
Dom Eliseo 62, 199
Cerros de Gaya 62, 224
Dom Eliziario 62, 120, 127
Chandon 27,54,58,80,81, 119,120,143,
Domínio Vicari 32, 33, 44, 62, 89, 93, 162
202,231,240,262
Dom Pedrito 30, 61, 106, 133, 216, 217,
Chesini 167, 171,199,200,243
218,222,223,224,229,393
Choro da Videira 63, 384, 389
Dom Robertto 237,238
Churchill 61, 99, 142, 145
Domus Mea 62, 23 7, 240
Clima 63, 66, 81, 267
Don Abel 61, 97, 190
Club des Sommeliers 61, 385
Don Affonso 198
Companhia Vinícola Rio Grandense 46,
Don Basílio 61, 231, 236, 249, 250
162,231,235,397,401
Don Bonifácio 61, 107, 195, 393
Coopernatural 61
Don Carlos 44, 254, 255

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 429


Don Giácomo 198 Fante 118, 119, 148, 149, 150, 392
Don Giovanni 45, 52, 72, 81, 97, 99, 103, Fantin 62, 159, 161
141,143,145,146,230,382,387,388 Farenzena 215
Don Giusepp 167, 198 Fattoria Monte Alegre 59, 63, 282
Don Guerino 42, 43, 61, 89, 94, 102,174,407 Fazenda Amazonas 61
Don Laurindo 43, 47, 75, 91, 98, 102, 103, Fazenda da Chácara 354
119,120,121, 12~ 128 Fazenda Progresso 62, 3 74
Don Miguel 61,203 Ferdinando Zattera 198
Don Patto 318 Ferracini 62, 332
DoppioA 400 Ferreira 7, 29, 40, 61, 62, 65, 114, 122,
Dreher 27,28,45,52, 79,92, 143,397,400 127, 129, 131, 135, 137, 143, 145, 149,
Ducati 89, 243 151,156,157,177,180,183,200,202,
Ducos 61,105,275 281,316,318,326,327,411
Dunamis 61, 99,217,223 Ferreira & Passero 61,316
E Fin 38, 61, 254
Finca Tuíra 59, 62, 251
Eduardo Mendonça 63, 103, 163
Florense 118, 119, 157
Éléphant Rouge 62, 129, 386
Floresta 61, 320
Elo Crescente 62, 386, 387
Foppa & Ambrosi 63, 185
Empório Colheita 62, 82, 387
Fornasier 147
Enoch 149, 389
Forqueta 119, 166
Enos 110,149,384,388,389
Fortaleza 63,346,351,353,354,451
Entre Vilas 40, 61, 328, 329, 344
Franco-Italiano 42, 82, 307, 310
Era dos Ventos 33, 44, 62, 92, 95, 110, 181,
399,402 G
Estância Paraizo 109, 219 Galiotto 43, 118, 150
Estrada Real 34, 61, 109, 335, 344, 345, Garibaldi 27, 31, 46, 54, 79, 80, 81, 89, 91,
361 92,101,103,104,106, 10~ 119,120,
Estrelas do Brasil 61, 81, 182, 192 126, 128, 137, 153, 163, 168, 172, 173,
F 185,188,189,195,199,200,201,203,
204,205,207,208,214,224,232,241,
Fabian 100,148,158,289
258,368,393,399,401
Faccin 63, 63, 94, 94, 163, 163, 163, 163,
Garziera 272, 275
163,163,163,163,163
Gazzaro 157
Faé 159,165
GBM 157,296
Famiglia Barbieri 165
Geisse 28, 52, 81, 106, 141, 143, 144, 145,
Famiglia Boroto 81, 200, 203
202,223,235,383,385
Famiglia Tasca 87, 120, 140, 159, 165
Generoso 61,185,401
Famiglia Valduga 54, 58, 136, 137, 392
Georges Aubert 79, 80, 89, 385, 401
Família Aguiar 63, 390
Gheller 61, 100, 161, 210
Família Bebber 42, 62, 149, 388, 392
Giacomin 52, 103, 118, 150, 151
Família Davo 63
Giaretta 211
Família Fardo 62,307,310, 311
Gilioli 157
Família Lemos de Almeida 61,258
Girassol 62, 368

430 Rogerio Dardeau


Góes 99,148,315,316,317,318,319 Leone di Venezia 44, 62, 82, 89, 96, 97,
Granja do Silêncio 240 100,103,106,107,282,288,293
Gran Legado 62, 120, 128 Lidio Carraro 39, 41, 44, 46, 47, 129, 233
Grutinha 118, 198 Limirio 315
Guahyba Estate Wines 242 Longhi 211
Guaspari 34, 39, 42, 61, 72, 94, 109, 320, Lovara 43,109,182,183
321,322 Lovatel 118, 194
Guatambu 46, 62, 82, 89,192,217,218, LPG Wines 59, 62, 401
223,224,229,393 Luiz Argenta 43, 44, 45, 148, 151, 152,
H 382,392
Luiz Porto 34, 61, 109, 342
Helios 43, 62, 100, 106, 384, 390, 391
Luvison 118, 157
Herdade Viela 40, 62, 329
Hermann 61, 81, 87, 89, 90, 98, 223, 231, M
232,235,290,398 Maison Forestier 27, 28, 98, 128, 169, 271,
Heublein 27, 28, 143, 231, 400 275
Hiragami 61, 282, 287, 381 Malgarim 61, 98, 255
Honório Milani 159, 165 Mandacaru 59,61,273,276
Hood 61, 106, 144 Marchese di Ivrea 61, 107
Hortência 157, 225 Marco Luigi 52, 72, 120, 130, 136, 137
I Maria Maria 34, 62, 75, 82, 109, 344, 345
Marques Pereira 43, 63, 106, 161
Inconfidência 34, 62, 94, 95, 99, 343, 359,
Marson 198, 352
360,361
Martini & Rossi 27, 200, 260, 397, 399
lnterVin 61
Marzarotto 63, 152, 153
Isabela 157, 322, 323, 335, 338, 340, 345,
Massarotto 118, 152, 157
354,360,390
Mattiello 364
J Maximo Boschi 81, 103, 185
Jaguari 238 Mazzarollo 215
Jolimont 27, 100, 186 Megiolaro 159, 165
K Mena Kaho 61, 183
Kranz 46,62, 103,287,298 Meneguzzo 212,213
Menin 62, 391, 392
L
Menzem 261
La Cantina 200, 208 Michele Carraro 120, 130
Lacave 27,52, 170,193,194,227 Milantino 72, 110, 120, 131, 200
La Dorni 312 Milton Scola 187, 191, 405, 406, 457
Lagoa Grande 272,275,373 Miolo 36, 39, 40, 45, 46, 52, 54, 58, 72, 81,
Larentis 39, 61, 120, 128, 129, 386, 400 87, 93, 97, 101, 103, 109, 120, 131, 132,
Las Chicas dei Vino 63, 391 133, 134, 139, 146, 183, 216, 220, 221,
Laurentia 241, 242 226,244,258,273,371,382,386,403
Lazzari 200, 208 Miolo Wine Group 39, 54, 93, 131, 132,
Legado 44,61, 62,81,82,88,96, 120,128, 183,216,220,221,226,273,371,382
307,308,309 Mioranza 118, 148, 153, 156

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 431


Mõet & Chandon 27 Petroli 44, 106, 123, 186, 374
Monte 42, 53, 58, 59, 60, 61, 63, 64, 87, Petronius 27, 62, 81, 194
103, 107, 112, 118, 120, 132, 134, 148, Piagentini 182, 195, 224, 259, 339, 385
156, 157, 159, 160, 162, 163, 165, 170, Pianegonda 63, 252
172,175, 18~ 18~ 189,198,210,212, Piero Sec 157
218,238,245,246,249,250,256,257, Pioli 59, 63, 109, 292, 339, 342
259,282,286,289,296,303,311,318, Pireneus 61, 99, 109, 367, 368, 369
351,367,388,390 Pizzato 40, 42, 43, 72, 81, 85, 95, 98, 100,
Monte Agudo 61, 282, 286, 289, 303 103, 120, 135, 398
Monte Castelo 367 Plátanos 62,171,185,391
Monte Nevado 282 Poggere 213, 309
Monte Paschoal 170 Pompeia Miraggio 144
Monte Reale 118, 148, 156 Possamai 186
Monte Rosário 186 Previtali 62, 224
Monte Santana 212 Primo Fior 175
Motter 173, 174, 193 Projeto Fortaleza 353, 354
Muraro 118, 157 Prola 61, 402
MWG 58,61,98, 131,132,221,226 Província de São Pedro 81, 225, 226
N Pueblo Pampeiro 62, 219, 228
Negroponte Vigna 62,267 Q
Noé 215 Quinta Barroca da Tília 41, 62, 96, 104,
Nova Aliança 62, 93, 119, 153,154,228, 252,253
231,392 Quinta Canova 59, 62,205
Novos Caminhos 265 Quinta da Figueira 44, 62, 300, 303
o Quinta da Lapa 59, 63
Quinta D'Alva 61, 105, 109, 346, 347, 349
O Encantado 63, 334
Quinta da Matriculada 62, 109, 347, 350
Orgalindo Bettú 63, 92, 201, 202, 291, 292
Quinta da Neve 106, 235, 281, 282, 290
p
Quinta da Serra 62
Panceri 72,298,303,381 Quinta do Campo Alegre 62, 109, 347, 348,
Panizzon 118, 148, 154 349,350
Pardinho de Beber 334 Quinta do Carvalho 157
Parziale 62, 109, 320, 322, 323 Quinta Don Bonifácio 107, 195, 393
Passarin 125, 126, 324 Quinta do Olivardo 62
Peculiare 61, 120, 134 Quinta Moraes 319
Pedras Altas 61, 231, 232, 234 Quinta Ribeiro de Mattos 61, 403
Pedrucci 61, 81, 119, 200, 202 Quinta Santa Maria 61, 98, 110, 381
Penzo 63, 92 Quintas São Braz 62, 275, 276
Pericó 46, 61, 282, 289, 290 R
Perini 99, 102, 118, 119, 167, 168, 200
RAR 46,61,96,256,258
Peruzzo 61,217,219,220,224,234
Ravanello 62,209
Pessin 215
Reconvexo 59, 63
Peterlongo 79, 80, 81, 202, 204

432 Rogerio Dardeau


Reginato 159, 165 Simonetto 61, 106, 215
Reliquiae Vini 106, 205 Sinigaglia 108, 173, 177, 268
Republica Missiones 38 Sinuelo 213
Reserva da Cantina 130 Sítio Polesano 59, 63, 91, 330
RH 62, 307, 313 Soliman 40, 61, 263
Rigon 62,167,233 Sopra 62, 256
Rio Velho 61, 217, 404 Soterrani 62, 404
Rotava 186, 313 Sozo 61,256,259,260
Routhier & Darricarrere 61, 81, 133, 217, Stella Valentino 62, 98, 349
226,412 Stopassola 61, 210, 379
Rubbo 147 Suzin 61, 61, 282, 282, 291, 291, 291, 291,
s 291,291,299,299,303,303,381,381
Salton 52,54,58,89,97, 109,142,145, T
183,184,185,219,228 Tabocas 42,47,62,364,365,366
Salvati & Sirena 61, 92 Tenuta BellaVinha 61, 405
Salvattore 118, 148, 154, 155 Tenuta Foppa & Ambrosi 63, 185
Sanjo 61, 72, 97, 291 Terragnolo 52, 61, 72, 120, 127, 136
San Michelle 86, 214, 267, 302 Terramilia 62, 282, 284
Santa Augusta 61, 103, 282, 286, 299, 382, Terra Nossa 62, 109, 320, 325
384 Terranova 61,131,183,272,273,371,382
Santa Bárbara 159, 164, 208 Terras Altas 39, 43, 61, 63, 282, 287, 333,
Santa Eulália 62 346,348
Santa Maria 61, 98, 110, 117, 133, 216, Terrassos 61, 102, 320, 321
222,237,239,240,271,272,276,329, Terrasul 118, 119, 148, 155, 231, 232
373,381 Terrazzo Manfroi 303
Santini 102, 168, 196 Terroir da Vigia 63, 229
Santo Emílio 61, 72, 296 Terroir do São Francisco 275
Sanviti 291 Thera 62,282,283,284
SãoJoão 119,167,171,232,233,237,239, Titton 120, 140
253,329,369,378,380 Tonet 72,100,103,107,155,158,196,291
São Luiz (Del Rei) 196 Tonini 167, 171
São Luiz, Indústria 207 Torcello 43, 52, 61, 72, 120, 136, 137
São Patrício 367 Tormentas 33, 44, 72, 75, 98, 99, 106, 187,
São Rafael 189, 211 188
Sbaglio 63,164 Toscana 67,95, 103,120,140,221,286
Scalco 211 Trajano 211
Seganfredo 61, 208 u
Seival 46, 61, 93, 98,131,215,216,217,
Ulian 43, 61, 155
220,221,222,232
União de Vinhos 118, 119, 125, 148, 157
Serena 33,44,47,61,94,95, 106,246,247
Urupema 61,282,283,286,288,294,
Serra das Galés 61, 368, 369
303
Serra do Sol 61, 282, 295, 303
Serrana 61, 67, 118, 119, 363

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 433


V Villa Santa Maria 61, 329
Vaccaro 61,189,200,207,208 Villa Triacca 59, 63, 370
Val del Mis 211 Villa Zasso 59, 240
Valdemiz 45, 110, 148, 156, 316 Vin de Minas 62, 350
Valduga 7, 18, 25, 26, 40, 43, 45, 46, 52, Vinhas da Lagoa 241
54, 58, 69, 70, 72, 81, 88, 93, 98, 99, Vinhas do Morro 59, 63, 357, 373
103, 120, 125, 126, 127, 130, 136, 137, Vinhas do Tempo 62, 165
138,139,169,217,230,231,262,392 Vinha Solo 61, 406
Vale das Colinas 59, 62, 91, 104, 375 Vinha Unna 32, 33, 44, 62, 146, 147
Vale del Mis 211 Vinhedo Serena 33, 44, 47, 61, 94, 95, 246,
Vale do São Francisco 11, 12, 30, 39, 64, 82, 247
88,91,98, 105, 10~ 108,113,131,183, Vinhética 192, 218, 224, 229
271,272,273,274,277,373,375,382 Vinho & Arte 61, 134, 232, 393
Vale do Tabocas 364, 366 Vinho D'Almeida 61, 335
ValleBello 63,164 Vinho da Toka 61
Vallontano 18, 52, 72, 81, 88, 103, 120, Vinhos da rua do Urtigão 62, 249, 250
139,402 Vinicampos 61, 406
Valmarino 72, 81, 99, 107, 141, 142, 145, Vistamontes 62, 97, 185, 186, 401
387 Vivalti 63, 282, 294
Vanessa Kohlrausch Medin 139 Vivant Wines 46, 63
Velho Amâncio 222, 237, 238, 239 Vivente 63, 334
Velho do Museu 27, 46, 52, 194, 197, 227 VSB 63
Venturini 118, 119, 148, 149, 315, 319, 384 w
Vesperata 62, 109, 347, 350, 351 Weber 38,61,94, 110,262
Viapiana 44, 89, 90, 99, 102, 118, 119, 148, Weingãrtner 95, 266
156,157,384 Weinzierle 61, 93, 407
Vicezar 212 y
Vila Campana 59, 63, 357
Vila Don Patto 318 Yoo 62,394
Villa Bari 61, 72, 248 z
Villa Castro 63, 149, 392 Zanella 61,176,221,282,294,303
Villa Cristina 62, 146 Zanella Back 61, 282, 303
Villa Don Basílio 249 Zanlorenzi 213, 307, 309
Villa Francioni 46, 61, 94, 201, 282, 292, Zanon 212
381,401 Zanrosso 118, 198
Villaggio Bassetti 42, 61, 94, 106, 282, 292, Zolin 61, 248
293,401 Zucchi 186
Villaggio Conti 44, 62, 82, 90, 93, 97, 103,
104,105,106,107,282,293,294
Villaggio Grando 61, 79, 90, 92, 94, 105,
282,296,297,390
Villa Mosconi 62, 82, 390
Villa Prando 301

434 Rogerio Dardeau


~ APÊNDICE3
· Lugares

Este é um índice alfabético de todos os lugares onde verifiquei a elaboração de vinhos


finos, no Brasil. Aqui estão os pontos nos quais se localizam iniciativas tradicionais, as
que desapareceram e aquelas mais recentes e iniciantes. Os nomes são de municípios,
regiões, inclusive das indicações geográficas. Ah, sim, sem dúvida, devo ter deixado de
identificar lugares. Desde já, peço desculpas aos produtores estabelecidos nesses pontos não
identificados. Boa viagem!

Alto Feliz, RS - 43, 89, 102, 172, 173, 174, Boa Esperança, MG - 339, 344
407 Bom Retiro, se - 282, 283, 284
Alto Jequitinhonha, MG - 65, 113, 346, 347, Caçador, se - 53, 94, 273, 282, 296, 390
348 Caçapava do Sul, RS - 179, 230, 232, 233,
Alto Paranaíba, MG - 65, 113, 337, 346, 353 239
Alto Uruguai, RS - 40, 48, 60, 61, 64, 67, Caldas, MG - 34, 321, 322, 323, 329, 332,
94,110,112, 11~ 150, 261,262 333,335,337,338, 339, 340, 341 , 343,
Ametista do Sul, RS - 94, 103, 110, 261 , 344, 345,354,360, 364, 370,390, 402
262 Camaquã, RS - 233, 234
Amparo, SP - 102, 320, 339 Campanha Gaúcha, RS - 24, 29, 30, 39, 48,
Andradas, MG - 98, 195, 337, 339, 340, 60, 64,87, 88,89, 93,94, 96,97, 98,
349,390 101, 106, 107, 109, 110, 112, 117, 131,
Andrelândia, MG - 339 132, 133, 134, 138, 140, 150, 211, 217,
Antônio Prado, RS - 118, 172, 173, 175, 218,219,220, 222,223, 230,231,232,
176, 210, 258 233,255,268, 269, 310,380, 389,392,
Bagé, RS - 39, 53, 66, 109, 133, 216, 217, 393,398,404, 412
218, 219,220,227, 230,236,402 Campestre da Serra, RS - 118, 154, 172,
Barra do Ribeiro, RS - 450 257
Bento Gonçalves, RS (fora da DOVV) - 18, Campo Belo do Sul, se - 282, 283, 286
23,24,27, 28,30, 41,66, 70, 79,81,87, Campo Largo, PR- 88, 96,214, 307, 308,
89, 91, 97, 102, 104, 106, 107, 118, 120, 309,392
122, 130, 131 , 134, 137, 151, 159, 172, Campos de Cima da Serra, RS - 60, 64, 67,
173, 176, 177, 178, 179, 181, 183, 184, 87, 93, 96, 112, 117, 140, 152, 172, 175,
185, 186, 190, 201, 203, 205, 217, 229, 187, 188, 191 , 210, 213, 224, 226, 250,
232,233,244, 261, 264,310,324,378, 257,258, 259,260,283,303,398, 405
386,392,393, 398, 399,400,401,403, Campos do Jordão, SP - 38, 326, 327
404,405 Campos Novos, SC - 53, 281 , 282,283,
Bituruna, PR - 307 296,298,300,406

Gent e. Lu ga res e Vinhos do Bras il 435


Candiota, RS- 53,216,217,402 Farroupilha, RS- 60, 64, 112, 117, 118,
Canela, RS - 27, 100, 173 119, 141, 153, 166, 167, 168, 171, 172,
Carlos Barbosa, RS - 172, 173, 188, 189 185,233,234,244,378,380
Casa Nova, BA - 273, 274, 382 Flores da Cunha, RS - 38, 118, 119, 125,
Casca, RS - 97, 172, 173 148,153,154,157,172,229,237,261,
Caxias do Sul, RS - 27, 38, 41, 66, 99, 100, 285,379,380,388,392
103, 107, 118, 153, 170, 172, 173, 182, Florianópolis, se - 38, 281, 282, 299, 300,
18~ 190,191,192,193,194,195,196, 305
197,198,208,228,261,288,299,337, Francisco Beltrão, PR - 307
339,366,384,388,394,401,405,406 Funilândia, MG - 356
Chapecó, se - 102, 282, 296, 297 Garanhuns, PE- 65, 91, 104, 112, 113, 375
Cocalzinho de Goiás, GO - 367, 368 Garibaldi, RS - 27, 31, 46, 54, 79, 80, 81,
Colinas, RS- 59, 61, 62, 81, 91, 104, 173, 89,91,92, 101,103,104,106, 10~ 119,
307,334,375,383 120, 126, 128, 137, 153, 163, 168, 172,
Colombo, PR-167, 307 173, 185, 188, 189, 195,199,200,201,
Cordislândia, MG - 34, 339 203,204,205,208,209,215,225,233,
Cotiporã, RS-168, 172, 173,198,224 243,259,368,393,399,401
Crissiumal, RS - 94, 110 Garopaba, se - 282, 398
Cruzeiro da Fortaleza, MG - 346, 351, 353 Gramado, RS - 27, 149, 172, 173, 210, 379,
Cunha, SP - 38, 118, 119, 125, 148, 153, 392,407
154,157,172,229,237,261,285,335, Grande Curitiba, PR - 64, 67, 82, 113, 307
379,380,388,392 Grande Porto Alegre, RS - 60, 64, 112, 117,
Curaçá, BA - 274, 276 242,245
Diamantina, MG - 12, 65, 98, 105, 113, Guabiju, RS - 211
337,346,347,348,349,350,357,361, Guaporé, RS - 122, 161, 172, 173, 212, 301,
371,372,373,374 390
Distrito Federal, DF-12, 65,113,367,370 Ibiá, MG - 351
Divinolândia, SP - 323, 340 Ijuí, RS - 253, 254, 265
Domingos Martins, ES- 364 IPAM, RS-10, 64, 112, 117, 147, 148
Dom Pedrito, RS - 30, 61, 106, 133, 217, IP Farroupilha, RS - 112, 117, 171
218,219,224,225,230,393 IPMB, RS - 11, 64, 112, 117, 159, 160, 165
DOVV, RS-10, 64, 87,112,117,119,120, IPPB, RS - 10, 64, 112, 117, 140, 141, 145,
121, 122, 123, 124, 128, 130, 140, 173, 147
176 IP Vales da Uva Goethe, SC - 303, 305, 306
Encantado, RS - 63, 173, 332, 334 Itaara, RS - 223, 238, 240
Encruzilhada do Sul, RS - 53, 104, 107, 110, Itajaí, se - 282, 301
122, 129, 130, 138, 165, 194, 198, 232, Itamonte, MG - 339
235,386 Itanhandu, MG - 339
Entre Ijuís, RS - 255 Itaqui, RS- 53,217,226,268
Espírito Santo do Pinhal, SP- 34, 39, 94, Itatiba do Sul, RS - 264
320,322,325 Itobi, SP - 34, 320, 323, 324
Fagundes Varela, RS - 172, 173, 269 Ituverava, SP - 107, 330, 331
Jacutinga, MG - 339, 342

436 Rogerio Dardeau


Jaguari, RS - 238 Penápolis, SP - 330
Jambeiro, SP - 335 Petrolina, PE - 66, 67, 273, 274, 276, 371,
Jaraguá, GO- 367 373,375
Juatuba, MG - 354 Petrópolis, RJ - 12, 62, 93, 149, 196, 359,
Jundiaí, SP - 46, 67, 125, 320, 324, 337, 385 360,379,380,381,407
Lagoa Grande, PE - 274, 277, 373 Picada Café, RS - 173
Lajeado, RS - 267 Pinheiro Machado, RS - 53, 87, 89, 90, 98,
Maçambará, RS - 211, 217, 218, 268 155,200,201,232,233,247,268,399
Macuco, RJ - 402 Pinheiro Preto, SC - 282
Major Gercino, SC - 282 Pinto Bandeira, RS - 60, 64, 79, 81, 82, 85,
Mantiqueira Alta, SP/MG- 64, 91, 113, 326 93,99, 104,111,112,139,141,143,
Mariana Pimentel, RS - 89, 244 145,146,177,178,194,231,302,383,
Maringá, PR- 67, 109, 307, 312 385,387,399
Mariópolis, PR - 307, 313 Piranguçu, MG - 326, 327
Missões, RS - 23, 38, 60, 64, 67, 98, 112, Piratini, RS - 188, 232, 233, 250, 251
117, 255, 267 Pirenópolis, GO - 367
Monte Alegre dos Campos, RS - 53, 175, Planalto, RS - 11, 12, 64, 65, 67, 113, 117,
188,257,258,261,388 261,262,265,282,296,299,307,312,
Monte Belo do Sul, RS - 42, 58, 64, 87, 103, 367,368,375,399,406
107, 112, 120, 134, 159, 162, 163, 172, Planalto Goiano, GO - 368
189,247,250,251,390 Planalto Oeste Paranaense, PR - 312
Monte Carlo, SC- 296, 311 Porto Alegre, RS - 38, 60, 64, 80, 85, 99,
Monte Carmelo, MG - 351 112, 117, 134, 137, 191, 233, 242, 243,
Monte Vêneto, Bento Gonçalves, RS - 198 244,245,246,247,248,249,253,267,
Morro do Chapéu, BA- 357,371,372 300,374,393
Mucugê, BA - 371, Porto Amazonas, PR - 310
Muitos Capões, RS - 96, 224, 257, 388 Primavera do Leste, MT - 409
Noroeste e Alta Mogiana, SP - 64, 113 Quatro Barras, PR- 307, 310
Nova Friburgo, RJ - 359, 386 Rancho Queimado, SC - 282, 284, 285, 286
Nova Mutum, MT - 67, 409 Ribeirão Branco, SP - 335, 343
Nova Pádua, RS - 47, 89, 107, 118, 148, Ribeirão Preto, SP - 43, 330, 333
152,173,188,247,289,325 Rio de Contas, BA- 371
Nova Petrópolis, RS - 93, 196, 407 Rodeio, se - 282, 302
Nova Roma do Sul, RS - 173, 212 Rosário do Sul, RS - 217,227,404
Nova Veneza, SC - 282, 306 Santa Maria, RS - 61, 98, 110, 117, 133,
Oeste Catarinense, SC - 296 217,223,238,240,241,273,274,277,
Paraíba do Sul, RJ - 34, 94, 95, 99, 359, 361 278,329,373,381
Paraúna, GO- 369 Santa Maria da Boa Vista, PE- 273, 274, 373
Pardinho, SP - 334 Santana do Livramento, RS - 39, 53, 93,
Patos de Minas, MG- 351 108,131,153,184,197,217,227,229
Paty do Alferes, RJ - 360 Santana dos Montes, MG - 354
Pedras Altas, RS - 61, 232, 233, 235, 236 Santa Teresa, ES - 42, 47, 112, 363, 364,
Pelotas, RS - 66, 232, 267, 268, 285 365

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 437


Santa Teresa, RS- 173,212 Serra do Salitre, MG- 351, 352
Santo Ângelo, RS - 255 Serra do Sudeste, RS - 29, 60, 64, 67, 112,
Santo Antônio da Patrulha, RS - 248 117, 122, 129, 138, 152,153,210,232,
Santo Antônio do Amparo, MG - 339 233,236,239,247,267,380
Santo Antônio do Jardim, SP - 320, 325 Serra Gaúcha, RS - 9, 19, 23, 24, 26, 28, 29,
São Bento do Sapucaí, SP - 105, 326, 327, 32,38,39,41,42,43,44,48,52,60,64,
328,344 67, 76, 85, 89, 90, 94, 95, 102, 103, 105,
São Borja, RS - 255, 257 109,110,111,112,117,118,119,120,
São Carlos, SP - 330, 333 131,133,138,150,153,155, 15~ 161,
São Gonçalo do Sapucaí, MG - 335, 343 169, 172, 173, 178, 179, 180, 188, 196,
São João Batista do Glória, MG - 329 202,204,205,211,212,213,214,216,
São João do Polêsine, RS - 240 231,232,233,246,247,248,249,250,
São Joaquim, se - 53, 89, 90, 93, 94, 97, 253,258,262,266,269,273,283,301,
100,103,105,106,107,201,236,247, 302,308,309,310,315,317,325,339,
252,281,282,283,286,288,290,294, 363,380,381,389,391,392,401,403,
299,301,302,303,311,381,390,401, 404,409,410
403,405 Serro, MG- 337, 351
São Jorge, RS - 189, 201, 213 Sobradinho, RS - 238, 242
São José do Rio Preto, SP - 330, 334 Sorriso, MT - 409
São José dos Pinhais, PR - 307 Sul de Minas, MG - 64, 113, 329
São José do Vale do Rio Preto, RJ - 359, 360 Tangará, se - 282, 296, 303
São Marcos, RS - 118, 119, 138, 173, 214, Tapes, RS - 242
232,309,392 Taquara, RS - 252
São Paulo (leste), SP - 11, 23, 25, 32, 34, Teresópolis, RJ - 359, 360
38, 56, 57, 64, 67, 90, 113, 132, 148, Terra de Areia, RS - 268
197,207,275,279,304,312,313,315, Toledo, PR - 312, 313
320,324,330,331,335,343,352,363, Três Corações, MG - 34,339,344
364,377,384,385,398,404 Três de Maio, RS - 255
São Paulo (capital), SP- 63, 173, 199, 334 Três Palmeiras, RS- 110,261,262,311
São Roque, SP - 11, 23, 64, 67, 70, 99, 113, Três Pontas, MG - 34, 75, 339, 344
166,193,315,316,317,318,319,404 Treze Tílias, SC - 282, 287, 296
São Sebastião da Grama, SP - 320 Triângulo Mineiro, MG - 65, 113, 337, 346,
São Sepé, RS - 238, 239 351,353
São Valentim do Sul, RS - 173, 270 Urubici, se - 93, 282, 283, 286, 295, 303
São Vicente, SP - 23 Uruguaiana, RS - 119, 138, 217, 231, 232
Sapucaí Mirim, MG- 58, 91, 326 Urupema, se - 61, 282, 283, 286, 288, 294,
Serra Capixaba, ES - 65, 113, 364, 365, 409 303
Serra Catarinense, SC - 64, 82, 96, 97, 103, Urussanga, SC- 90,281,282, 303, 304,
104,106,112,113,247,269,275,282, 305,306
283,286,288,289,290,293,295,301, Vacaria, RS - 53, 122, 175, 250, 251, 257,
302,310,381,406 259
Serra Centro-Sul Fluminense, RJ - 65, 113, Vale Central Gaúcho, RS - 117, 238, 239
359,360

438 Rogerio Dardeau


Vale do São Francisco - - 11, 12, 30, 39, 64,
82,88,91,98, 10~ 107,108,113,131,
183,273,274,275,276,278,373,375,
382
Vale dos Vinhedos, RS - 18, 30, 39, 41, 48,
60,64,68, 70,85,87, 103,104,109,
110, 111, 112, 120, 121, 122, 125, 126,
127, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 136,
13~ 138,139,150,160,161,186,189,
222,235,245,260,268,302,347,392,
398,400,409
Vale Trentino, RS - 99, 166, 168
Veranópolis, RS - 106, 110, 126, 173, 216
Viamão, RS- 27, 41, 75, 96,104,205,252,
253,397,398
Videira, se - 63, 103, 281, 282, 286, 296,
299,384,389
Vieiras, MG - 355
Zona da Mata, MG - 337, 354, 355

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 439


APÊNDICE4
Instituições públicas e privadas citadas

Abdvin 49, 65, 413 Associação dos Vitivinicultores do Centro


ABE 65,405 Serra 237
ABS 45, 65, 273 Associação dos Vitivinicultores do Extremo
Academia Brasileira de Direito do Vinho Sul 232
49, 65 Associação dos Vitivinicultores do Paraná
Acavitis 281, 282 307
Afavin 166, 167 Associação dos Vitivinicultores do Vale Cen-
Agavi 118 tral Gaúcho 237, 238
Anprovin 34 Associação dos Vitivinicultores e Oliviculto-
res de Diamantina e Alto Jequitinhonha
Aprobelo 159, 160
347,348
Apromontes 148
Associação Farroupilhense de Produtores de
Aprovale 68, 120, 121, 160, 403
Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados
Asprovinho 141 166
Associação Brasileira de Enologia 65, 405 Associação Gaúcha de Vinicultores 118
Associação Brasileira de Sommeliers 65 Associação Quaraiense de Fruticultores 217
Associação dos Produtores da Uva e do Vi- Associação Vinho de Altitude 282
nho Goethe da Região de Urussanga 304
Avices 256
Associação dos Produtores de Vinho de
Aviga 199
Pinto Bandeira 141
Avist 364
Associação dos Produtores de Vinhos dos
Avitis 237
Altos Montes 148
Avodaj 347, 348
Associação dos Produtores de Vinhos Finos
da Campanha Gaúcha 217 Camponogara 62, 217, 222
Associação dos Produtores de Vinhos Finos Casa Aberta 246
dos Campos de Cima da Serra 256 Cave Nacional 38, 63, 384
Associação dos Produtores de Vinhos Finos Colégio de Viticultura e Enologia de Bento
do Vale dos Vinhedos 120 Gonçalves 27, 122, 216
Associação dos Vinicultores de Garibaldi Corticeira Paulista 46
199 EBV - Empresa Brasileira de Vinificações
Associação dos Vitivinicultores de Monte 192, 242,385,388, 392
Belo do Sul 159 Embrapa 24, 53, 65, 66, 68, 76, 79, 85, 86,
Associação dos Vitivinicultores de Santa 87, 90, 111, 172, 182, 209, 223, 225,
Teresa 364 246, 259,260,267, 268,271,272, 274,

Ge nte . Lugares e Vinho s do Bras il 441


304,320,332,338,365,371,372,375, Instituto Nacional da Propriedade Industrial
376,410 30, 79,166
Empório Brazuca 38, 404 IPA 375,376
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá- Istituto Agrário de San Michele All'Adige
ria 65 86
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Laboratório Randon 47,118,299,406
Gerais 34,329,337,402 M. A. Silva Cortiças Lda 46
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Milton Scola 187, 191, 405, 406
Rural de Santa Catarina 66,281,282,294, Movi 57
300 Movimiento de Vifiateros Independientes
Enoconexão 324 57
Epagri 66, 281, 282, 294, 300, 304 Office International de la Vigne et du Vin
Epamig 34, 321, 322, 323, 329, 332, 334, 28
335,337,338,340,341,343,344,345, ProGoethe 304, 306
349,352,354,360,364,370,390,402 Recivitis 66, 217
Escola Agrotécnica Federal Presidente Jusce- Rede de Centros de Inovação em Vitivinicul-
lino Kubistchek 27 tura 66,217
Escola Técnica Estadual Benedito Storani Rede de Vinícolas do Alto Uruguai 260
324
Rossi Arquitetura 41, 322, 401
Fecovinho 119, 142
Roteiro do Vinho São Roque 316
Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio
Sbav 66,397
Grande do Sul 119, 142
Sindicato da Industria do Vinho de São
Fruticultura São Xico 39
Roque 316
IAC 86, 102, 320
Sindicato da Indústria do Vinho do Estado
IBD 32, 197, 275 do Rio Grande do Sul 119
Ibravin 29, 65, 66, 122, 127, 129, 131, 135, Sindivinho 119
137,142,143,145,151, 17~ 180,183,
Sindusvinho 316
200,202
Sinigaglia 108, 173, 177, 268
Inpi 30,120,159,166,197,200,305
Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho
Instituto Agronômico de Campinas 86,
66,397
102,320
Sociedade Vitácea de Desenvolvimento
Instituto Agronômico de Pernambuco 375
Vitícola 329, 338
Instituto Biodinâmico 32, 275
União Brasileira de Vitivinicultura 66
Instituto Brasileiro do Vinho 29, 65
União das Vinícolas Familiares e de Peque-
Instituto do Vinho do Vale do São Francisco nos Vinicultores 119
272,274
Unipampa 30, 218
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Universidade de Údine 86
Tecnologia do Rio Grande do Sul 27,
Universidade Federal do Pampa 30, 218
120,203,252,257
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Instituto Federal do Sertão Pernambucano
375
375

442 Rogerio Dardeau


Uvibra 66, 82
Uvifam 119
Vanja Hertcert Arquitetura 41, 126, 127,
151,275
Vignerons Indépendants 57
Vinha Solo 61, 406
Vinho de altitude 281, 282, 294
Vinho na Vila 38
Vinhos da Campanha 217, 404
Vinhos de Montanha 141, 147
Vinhos do Cerrado 353, 354
Vinhos do Coração 237,238
Vinho Vasf 272
ViniBraExpo 38
Vinopar 307
Vinum Brasilis 38, 56
Vinum Rio 15, 16, 37
Vitácea Brasil 327, 330, 333, 338, 343, 344,
352,357,364,402
Vitácea Brasil (viveiro) 458
Vitisul 232
Weber 38,61,94, 110,262

Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 443


~ APÊNDICE 5
· Alguns conceitos importantes

Amarone-44 Reservado - 71
Ânforas - 43 Resveratrol - 4 7
Barricas e madeiras - 41 Rolhas e fechamentos - 46
Brandy-45 Safras da Serra Gaúcha - 172
Brix - 40 Terroir-26
Cantina-40 Thermal Pest Control - 32
Chaptalização - 41 Tipicidade - 48
Cianamida hidrogenada - 34 Uvas viníferas - 26
Ciclo invertido (dupla poda) - 33 Varietal - 71
Cofermentação - 41 VBdT-35
Corte Serra Gaúcha ou CMT - 43 Vinhas velhas - 39
Denominação de Origem - 30 Vinhedo protegido (coberto) - 40
DO-30 Vinhedo único (Single vineyard) - 39
Dupla poda - 33 Vinho Biodinâmico - 32
Elegância - 48 Vinho Brasileiro de Terroir (VBdT) - 35
Envase: Gfas, caixas, latas.. . - 46 Vinho de chuva - 44
Estilo-47 Vinho de solo - 44
Genérico, vinho - 71 Vinho fino corrente - 35
Gran reserva - 72 Vinho fino - 26
IG- 68 Vinho laranja - 43
Indicação de procedência - 68 Vinho natural ou 'natureba' - 32
Indicação geográfica - 68 Vinho novo - 35
IP- 68 Vinho orgânico - 31
Kosher- 46 Vinho vegano - 33
Mantas reflexivas - 40 Vinificação convencional - 24
Míldio -85 Vinificação em pureza - 41
Nobre-26 Viticultura de precisão - 39
Plasmopara - 32 Volume (apreciando vinhos) - 48
Reserva- 36

Ge nte . Lugares e Vinho s do Bras il 445


~ APÊNDICE6

GENTE BRASILEIRA que elabora vinhos finos no exterior


E como nós viajamos, não é mesmo?
A seguir, relaciono brasileiros que se encantaram com terras de vinhos em diversos países,
na América do Sul e na Europa, e ali constroem novas histórias vitivinícolas.

•Jí- André Esteves et ai - Quinta da Romaneira - Douro, Portugal


•Jí- André Manz - Manz Wines - Lisboa e Porto, Portugal
•Jí- Carlos E. Galvão Bueno et ai - Tenuta La Valleta di Sant' Antimo - Toscana, Itália
•Jí- Durcésio Mello - O. Fournier - Mendoza, Argentina
,Jí, Euclides Penedo Borges et ai - Otaviano Bodegas & Vifios - Mendoza, Argentina
•Jí- Fernanda Zuccaro & Chico Santa Rita - Quinta Alta - Douro - Portugal
•Jí- José Castanheira e Luiz Oliveira - Duas Árvores - Quinta da Marcela, Vale de Mendiz,
Celeirós, Sabrosa, Douro, Portugal
·1- Juliana e Rafael Kelman - Kelman - Dão, Portugal
•Jí- Lizete Vicari - Torres Vedras, Portugal
•Jí- Luiz Alberto Barichelo et ai - I.;Arco di Azienda Agricola Fedrigo Luca - Verona, Itália
•1- Marcos Attilio e Angela Mochi - Attilio & Mochi, Casablanca - Chile
,Jí, Maurício Zlatki - Vifia Eden - Maldonado, Uruguai
,Jí, Noemia e Paolo D' Amici - Villa Tirrena - Toscana, Itália
,Jí, Plinio e Christiane Barbosa -Ávidos Douro - Douro Superior, Portugal

Ge nte . Lugares e Vin hos do Bras il 447


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Gente, Lugares e Vinhos do Brasil 453


Gente, lugares e vinhos do Brasil nasceu como uma segunda
edição de Vinho fino brasileiro, que Rogerio Dardeau lançou
em 2015, pela Mauad Editora. Mas não parou aí. Ganhou
muitos outros ingredientes, muitas novas gentes e inúmeros
diferentes lugares por todo este extenso Brasil. De Norte a
Sul, de Leste a Oeste, Dardeau foi minuciosamente mapeando,
visitando, entrevistando, acrescentando dados, inovando ...
E a cada vez mais entusiasmado, abriu novos caminhos,
novos capítulos, diversas seções, dando voz e vez a muitos
vinhateiros e vinícolas, a muitos profissionais do mundo dos
vinhos que antes não eram citados em livros especializados.
Assim, separando-se de Vinho fino brasileiro, tomando rumo
próprio, Gente, lugares e vinhos do Brasil se torna uma obra
de referência obrigatória para todos aqueles que conhecem e
amam, e para todos aqueles que ainda não conhecem de perto
e que certamente irão amar os vinhos do Brasil.

13%vol 750ml

mauad X

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