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e Vinhos do Brasil
Rogerio Dardeau
2020
13%v
2020
13%vol 750ml
mauad X
Copyright © by Rogerio Dardeau, 2020
Revisão:
Mauad Editora
Capa:
Barbara Bravo
D228g
Dardeau, Rogerio, 1953-
Gente, lugares e vinhos do Brasil/ Rogerio Dardeau. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Mauad X, 2020.
456 p. : il. ; 17 x 24 cm.
Apêndice
Inclui bibliogra ia e índice
ISBN 978-65-8763-128-8
1. Vinho e vinificação. 1. Título.
20-65811 CDD: 641.22
CDU: 641.87
lfo
~ Agradecimentos
São inúmeros. Começo com Denise. Você foi a grande incentivadora. Foi você
quem disse: o que você está escrevendo não é a segunda edição de Vinho fino brasileiro;
você está escrevendo um livro novo ... e ainda contribuiu com arte e revisões.
Pedro, filho por afeto, sua vibração me contagia sempre! Você é meu crítico
predileto. Valeu!
Mateus, neto primeiro, com a certeza de que você escreverá muitos livros, com
alma e vinho. Seja sempre solidário a seu irmão Tomaz, à sua linda irmãzinha
Isabel, ao caçulinhaJoão e a seus primos Felipe e Daniel.
A Barbara Bravo, incansável nas versões da capa, desde a residência, em Lisboa.
Aos professores Eduardo Giovannini, Eduardo Torres, Valdiney Ferreira
e Vander Valduga, e ao empresário vitivinicultor Júlio Gostisa, que muito
contribuíram com artigos esclarecedores.
E ainda: aos meus editores, que não poupam esforços na parceria pela causa
que abracei; ao Frederico Santos Lopes e a minha irmã Myriam, pelas revisões
de conteúdo e forma importantíssima; a Ataide Venâncio e Leôncio Barreto
Neto, pelo prefácio amigo e pelas sugestões; a Rosana dos Santos, pelas
competentes e carinhosas ações comercial e de distribuição de meus livros, na
Mauad Editora.
Sumário
Prefácio 15
Apresentação 17
Memória 397
Horizonte 409
APÊNDICE 1 - Gente 415
APÊNDICE 2 - Produtores e Negociantes (pessoas jurídicas) 427
APÊNDICE 3 - Lugares 435
APÊNDICE 4 - Instituições públicas e privadas citadas 441
APÊNDICE 5 - Alguns conceitos importantes 445
APÊNDICE 6 - Gente brasileira que elabora vinhos finos no exterior 447
Bibliografia 449
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li.,)A-" . . Prefácio
Ficamos muito agradecidos com o convite para prefaciar Gente, lugares e vinhos do
Brasil - Uma viagem inesquecível, este novo livro do escritor Rogerio Dardeau. Esse con-
vite é consequência de uma afinidade criada em torno do tema desta obra, ou seja, os
vinhos do Brasil.
Para nós, Dardeau é uma das maiores autoridades no que se refere ao cenário atual
do vinho fino brasileiro, assim como à sua evolução através dos anos.
Por sermos sócios proprietários da Vinum Rio, uma das primeiras lojas exclusi-
vamente de vinhos finos produzidos no Brasil, nossa amizade surgiu naturalmente e
vem se fortalecendo pela convivência em torno desse interesse em comum.
Diversas vezes tivemos o prazer de recebê-lo na Vinum Rio para conduzir, com
maestria, enoencontros e apresentações temáticas sobre os vinhos brasileiros e suas
regiões de cultivo e elaboração. Esses encontros sempre proporcionaram ampliação de
nosso círculo de amizades e novos conhecimentos que levaram muitos participantes a
mudar seu ponto de vista sobre os vinhos nacionais e, em muitos casos, a se tornaram
verdadeiros apaixonados pela produção brasileira.
Neste livro, agradavelmente são passados alguns conceitos fundamentais sobre a vi-
tivinicultura, algumas de suas técnicas e as principais uvas viníferas cultivadas no Brasil.
Entendemos que esse conteúdo temático ajudará o leitor nas suas escolhas, sem a
intenção de torná-lo um especialista, mas sim em um iniciado e feliz consumidor de
bons vinhos produzidos em nosso país.
Você sabia, por exemplo, que temos vinhos de butique? Você saberá o que são e,
também, como podemos classificar e agrupar as vinícolas brasileiras.
Os franceses criaram a palavra "terroir" e nós, brasileiros, já possuímos nossos
vinhos de terroir e, aqui, o Rogerio nos mostra que a referência ao vinho brasileiro
deve passar a levar isso em conta.
Nossa gente que produz vinho é apresentada, considerando sua localização geo-
gráfica, indicação de procedência ou denominação de origem. Veremos também suas
interessantes histórias, contadas por quem as conhece de perto.
Aprendam sobre o vinho brasileiro e se encantem com um livro que faz justiça a
toda essa gente que produz vinho no Brasil.
Vinum
• Ro 1
· lcºIT!ercializ.ação
de Vinhos Leda .
16 Rogerio Dardeau
~ Apresentação
O tempo vai distante. Vivíamos momentos difíceis de nossa história, quando Ca-
etano escreveu Gente, para que não esquecêssemos jamais: gente é fundamental! Mas
quem não sabe disso? Pois é, todos sabemos. Sabemos? Às vezes, esquecemos da gente
que vive, sonha, transforma, come, peleia, cria, agrega, erra, bebe, acerta, pinta, escre-
ve, borda, caminha, caminha, caminha...
No mundo do vinho, não é diferente. Gente de muitos lugares, de muitas culturas
faz vinhos diferentes e vai deixando marcas. É isso que desejamos mostrar neste livro:
a caminhada dos vinhateiros 1 do Brasil, num contraste com o conteúdo de Vinho fino
brasileiro, lançado na primavera-verão de 2015. Naquela época, tomei a decisão de pu-
blicar o estudo que vinha fazendo há anos, para oferecer aos amantes de vinhos uma
resenha muito ampla do que se fazia, no Brasil, em matéria de vinhos finos. Mas eu
sabia que, ao lançá-lo, deixaria de incluir projetos vitivinícolas, que davam os passos
iniciais. O que eu não imaginava é que seriam tantos e que, além daqueles, haveria
muitos outros, absolutamente novos, inéditos, configurando um cenário amplamente
modificado! Muita gente, em muitos lugares do Brasil, estava começando vida nova ou
recomeçando, resgatando a história de um vinho 'para chamar de seu', cada um em seu
próprio tempo, nos mais variados endereços.
Vinhateiro é todo aquele ou aquela que faz vinho, independentemente de formação acadêmica em eno-
logia. Em diversas passagens do livro, farei referência a vinhateiro. Refiro-me, então, ao produtor que
elabora seus vinhos com saberes da própria cultura.
2 Vander é um dos filhos de Edir e Nedi Valduga, fundadores da Vinícola Vallontano, localizada no Vale dos
Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS. Optou pela vida acadêmica em Turismo e, hoje, é o conceituado
Prof. Dr. Vander Valduga, coordenador do Programa de Pós-graduação em Turismo, do Departamento de
Turismo, da Universidade Federal do Paraná - UFPR, em Curitiba.
18 Rogerio Dardeau
Gente, lugares e vinhos do Brasil está distribuído em cinco tempos .
Consolidação - Século XX
• ítalo-descendentes, na Serra Gaúcha, RS
3 Refiro-me ao movimento de vitivinicultores gaúchos para fora do Rio Grande do Sul, em busca de novos
lugares onde pudessem cultivar viníferas e elaborar vinhos finos.
20 Rogerio Dardeau
TEMPO I
Brás Cubas teve seu vinhedo brasileiro, na então capitania de São Vicente (no atual esta-
do de São Paulo), por volta de 1551. Pedro Vaz de Barros cultivou videiras para vinhos, em
São Roque, SP, no século XVII. Na mesma época, jesuítas implantaram e mantiveram vinhas,
elaborando seus vinhos, nos Sete Povos das Missões, no Sudoeste riograndense. Foi, porém,
com a imigração italiana, ocorrida a partir de 1875, especialmente aquela assentada no estado
do Rio Grande do Sul,4 que a vitivinicultura brasileira fincou raízes e desenvolveu-se até os
vinhos finos de nossos dias.
Os colonos, instalados na então Dona Isabel - atual região de Bento Gonçalves e muni-
cípios vizinhos - desenvolveram, com muita luta, o cultivo de videiras para a fabricação do
próprio vinho .
... eram na maioria camponeses, que fustigados pelas vicissitudes em sua pátria (Itália), saíram
em busca de uma nova vida na América, trazendo na bagagem um mundo de fantasias, expecta-
tivas e apreensões: Cosa sarà lo st'America? A viagem não era um empreendimento fácil, exigia
além da resistência física, uma resistência psicológica para não se desestruturar; suas raízes aca-
bavam de ser arrancadas e novas relações tiveram que ser estabelecidas, durante a travessia do
Atlântico, relações estas que provavelmente foram o agente embrionário para a manutenção de
certos traços culturais, que já se haviam perdido, em sua região de origem, na Itália ... Apesar das
raízes arrancadas, da viagem difícil e da incerteza que lhes atormentava a alma, os migrantes,
contando com a solidariedade de seu grupo (elemento básico da sua cultura), vinham confiantes
e esperançosos na nova vida. 5
7 Há ainda o sistema de latada semiaberta, utilizada quando se deseja maior espaço à insolação, mas também
um pouco de proteção relativamente a outros fatores climáticos.
8 Consideradas as uvas 'de mesa' e as uvas 'viníferas', os parreirais da Serra Gaúcha ainda são majorita-
riamente conduzidos em pérgolas ou latadas. Embora haja especialistas que elogiem tal condução das
parreiras, encontro unanimidade entre os agrônomos de que, na umidade daquela região, ou mesmo
diante do semiúmido da Campanha Gaúcha, a exposição ao sol, permitida pela espaldeira, transforma
esse método de condução no mais adequado. Alguns defensores das latadas argumentam que os adep-
tos das espaldeiras o são apenas pela facilidade de mecanização.
9 A uva Bordô era, originalmente, lves Seedling ou lves, ou ainda York Madeira ou Folha de Figo, esta
última, denominação em Minas Gerais.
1O "A cultivar BRS Margot é uma híbrida interespecífica, cuja constituição genética é composta por 74,22% de
Vitis Vinifera, 14,84% de Vitis rupestris, 4,69% de Vitis aestivalis, 3,52% de Vitis labrusca, 1,95% de Vitis
riparia e 0,78% de Vitis cinerea. Foi obtida a partir do cruzamento Merlot e Villard Noir, realizado na Embrapa
Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, em 1977." Embrapa Uva e Vinho. Comunicado Técnico n. 73, jan. 2007.
11 A BRS Bibiana é mais uma importante contribuição da Embrapa Uva e Vinho. De perfil Sauvignon Blanc,
essa híbrida é muito resistente e produtiva.
24 Rogerio Dardeau
Goethe, Lorena e Niágara, entre as brancas. Outra casta que se faz muito presente entre as
destinadas aos vinhos comuns ou de mesa é a Seibel, extensa família de mais de trinta varieda-
des (somente entre as tintas), obtidas por diversos cruzamentos, entre viníferas e americanas,
pelo médico, pesquisador e viticultor francês Albert Seibel, no início de século XX. Seibel tinha
pouco mais de 20 anos, quando presenciou a devastação causada pela filoxera nos vinhedos
franceses e concebeu suas híbridas, como solução. As variedades foram muito plantadas na
França, até os anos 1950, quando o INA0 12 decidiu banir híbridas das AOCs. Afinal, há muito
se praticava a solução definitiva de variedade francesa sobre porta-enxerto americano. A família
Seibel é encontrada também no Canadá, na Inglaterra, no Japão e na Nova Zelândia. Entre os
diversos clones, alguns assumiram denominações próprias, como Aurore, Chancellor, Chelois,
De Chaunac, Rubis e Verdelet. As variedades brancas têm menor representação, entre as quais
Seibel 8724, 10546, 13680. Em geral, dão origem aos conhecidos vinhos de garrafão, embora
haja vinícolas brasileiras que comercializam vinhos finos em garrafões.
A cultura italiana, entre tantos outros aspectos positivos, foi fundamental ao nos trazer os
métodos que fizeram a vitivinicultura do Brasil. Havia uma vontade natural de elaborar vinhos
nos padrões que lhes eram familiares: vinhos da lembrança do Velho Mundo.
"Son tanto premoso de un bicier de vin del ciodo."
[Sinto muita falta de um copo de vinho do nosso.] 13
Mas as condições da terra que lhes fora destinada, impuseram-lhes uma nova realidade. A
umidade dificulta bastante a obtenção de frutos com bons teores de açúcar. Como se confirma-
ria bem mais tarde, a região não apresentava as condições ideais 14 ao cultivo de videiras des-
tinadas a uvas para vinhos finos, principalmente em razão do manejo em latadas ou pérgolas,
usuais à época. A memória dos vinhos da origem, porém, nunca deixou de marcar presença
entre os colonos, que superaram as dificuldades, com muita fé, perseverança e técnica, e cons-
truíram a qualidade elevada de nossos vinhos finos de hoje.
Aqui, é preciso fazer uma digressão, para falar de qualidade. Objetivamente, significa atri-
buto. Há, porém, um uso ampliado, coloquial, dando conta de um atributo de superioridade,
diferentemente do conceito de conformidade. Então, um vinho de qualidade é um vinho supe-
rior. Os franceses, quando é o caso, especificam supérieur, enquanto os italianos usam superiore.
Mas se falo de 'qualidade elevada', o que exatamente quero dizer? Sempre que aparecer essa
expressão ou alguma semelhante, refiro-me àquele vinho que apresenta uma cor brilhante,
aromas francos e/ou complexos e uma boa estrutura, compatível com a proposta do produtor,
seja branco, rosado ou tinto. Um vinho de qualidade elevada precisa ser equilibrado, entre
álcool e acidez.
12 lnstitut National de /'Origine et de la Qualité, anteriormente chamado lnstitut National de l'Appelation d'Origine.
13 Trecho de carta de Luigi Vigilio Valduga, de outubro de 1875, do interior de São Paulo, aos irmãos que
ainda estavam na Itália, segundo relato de Remy Valduga, na obra Sonho de um imigrante, citada na
bibliografia.
14 Consideram-se condições naturais fundamentais para a obtenção de frutos ideais à vinificação: invernos
rigorosos, baixos índices de precipitação pluviométrica e de umidade, durante as fases de floração e de
desenvolvimento das videiras.
15 Definição internacional.
26 Rogerio Dardeau
gaúchos, que chegam em barricas de madeira e são adquiridos em vasilhames, trazidos pelos
próprios clientes. A década de 1930 assiste ao nascimento da Cooperativa Vinícola Aurora, um
marco na elaboração de vinhos no Brasil.
Em 1960, estabeleceu-se a primeira instituição voltada à formação de enólogos, nos níveis
médio e superior, o então Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, atualmente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus de Bento
Gonçalves. 16
Na década de 1970, empresas multinacionais do ramo de bebidas se interessaram pelo
Brasil. Instalaram-se por aqui Martini & Rossi, Mõet & Chandon, Maison Forestier, Heublein
e Almadén. Quase ao mesmo tempo, um movimento lento, mas firme, acontece entre os
vitivinicultores: começam a se formar profissionais do Colégio de Viticultura e Enologia de
Bento Gonçalves, muitos dos quais vão à Europa e se especializam em vinícolas francesas e
italianas; vinhedos são convertidos em viníferas europeias, e as latadas ou pérgolas começam
a ser substituídas por espaldeiras. 17
Tudo isso confirma que os cidadãos rio-grandenses ítalo-descendentes conseguiram equi-
librar as deficiências de toda ordem, com trabalho árduo e muita técnica. Buscaram e elabo-
raram vinhos finos autenticamente brasileiros, com inspiração europeia dos ancestrais. O
curioso é que as famílias italianas, ao decidirem pela elaboração de vinhos finos, buscaram
cepas francesas, em vez das magníficas viníferas da própria origem.
São exemplos de vinhos expressivos daquela fase: varietais elaborados pela Cia. Vinícola
Riograndense; nebbiolos do temperamental Oscar Guglielmone, na sua Adega Medieval, 18 em
Viamão; os Jolimont de Jacques Briere, no Morro Calçado, em Canela; Majou Tanret, da família
Fasano; Velho do Museu, de Juan Carrau Pujol; Cios des Nobles, da Aurora; Petronius, de Emilio
Kunz, elaborado em Gramado; Château Duvalier, da Martini & Rossi; Marjolet e Velho Capitão,
elaborados pela Dreher; Château D'Argent, ou ainda, um pouco mais tarde, o vinho fortificado
(tipo Porto) da Maison Forestier, vinificado a partir da Alicante Bouschet e vendido somente
aos visitantes da cantina, localizada entre Garibaldi e Bento Gonçalves.
É desse período também o entusiasmo do príncipe Dom Eudes de Orléans e Bragança,
da família real brasileira, que decidiu ter o próprio vinho e criou, em 1978, a Sociedade
Vinícola Dom Eudes. Teve sociedade com Romualdo Pereira e, em 1987, chegou a produ-
zir 40.000 caixas de brancos e tintos, na cantina do castelo Lacave, da família Carrau, em
Caxias do Sul. Há registros da presença dos vinhos Dom Eudes até em Paris, na elegante
deli Fauchon, na Place de la Madeleine. Eram um Sémillon, um Merlot e um Cabernet Sauvig-
non. Vejamos o testemunho do próprio Dom Eudes, ao Caderno B, do Jornal do Brasil, em
10 de janeiro de 1987:
16 Em 1985, o Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves passou a ser denominado Escola
Agrotécnica Federal Presidente Juscelino Kubistchek e, a partir de 2008, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, campus Bento Gonçalves.
17 Sistema de condução das videiras que consiste em linhas retas de arames, sustentados por postes nas
extremidades das linhas e por hastes verticais intermediárias. Há algumas variações como o Y e a Lira.
As alturas dos arames são variadas, dependendo da umidade do solo.
18 Os vinhos e o próprio Oscar Guglielmone, eu, lamentavelmente, não conheci naquela época! Quando tive
acesso àqueles prazeres, o autor já não estava entre nós.
28 Rogerio Dardeau
os protagonistas, gente que caminhou, tropeçou, se levantou e ergueu um importante seg-
mento da economia e da cultura locais. Em Vinhos do Brasil do passado para o futuro, de Valdiney
e Marieta Ferreira, notável trabalho de resgate da história oral de 16 famílias e do Instituto
Brasileiro do Vinho (lbravin), os autores exploram vivências, num passo a passo narrado em
entrevistas memoráveis, das quais ainda há muito material em arquivo. Essas duas obras es-
tão indicadas na Bibliografia.
O vinho fino brasileiro avançou das Raízes, qualificando-se, e rumou a novos lugares. E la
nave va ...
E ingressamos no terceiro milênio em franca expansão. Observo dois caminhos, clara-
mente: uma expansão territorial, natural, e uma expansão conceituai.
Expansão
--...-
✓
1
'
Territorial
1
---'
O berço de nossa vitivinicultura, a Serra Gaúcha, já não era suficiente. Ocorre então a
migração de vinhedos, internamente ao estado do Rio Grande do Sul, para a Serra do Sudeste
e para a Campanha Gaúcha, que, desde a década de 1970, já abrigava produtores.
19 É nosso dever recordar que, até o início dos anos 2000, a nossa vitivinicultura obedecia a uma única
sequência de eventos, ano a ano. Era a vitivinicultura tradicional, hoje ainda praticada regularmente, por
muitos produtores.
30 Ro ge ri o D ard e a u
FRONTEIRA VITIVINÍCOLA BRASILEIRA
Orgânicos
Biodinâmicos
Expansão
Conceituai
Naturais
Dupla poda ou
c iclo invertido
da videira
Orgânicos & biodinâmicos & naturais ou 'naturebas' & puristas & veganos
Esses são conceitos que, talvez, devêssemos apresentar separadamente. Acontece, porém, que
todos derivam de uma única realidade: a demanda crescente por vinhos obtidos a partir de uvas
de vinhedos sem tratamentos venenosos e elaborados sob grande espontaneidade, sob mínima
intervenção. Mas o fato é que ainda não há consenso sobre tudo isso. Há muitos aspectos em
debate. Um pouco de normatização ainda falta. Então, recomendo enfaticamente leituras de Edu-
ardo Zenker e Gabriela Schãfer2º e, ainda, de Lis Cereja,2 1 que nos oferecem perspectivas esclare-
cedoras e nos auxiliam na escolha de nossos estilos de vinhos. Eu, porém, não poderia deixar de
oferecer aqui uma introdução, uma vez que constato um expressivo crescimento da demanda por
esses vinhos e, consequentemente, do número de produtores de vinhos finos, que vêm adotando
orientações orgânicas, biodinâmicas e naturais, para a elaboração de seus vinhos, no Brasil. São
tendências crescentes, muitas vezes complementares, que preconizam intervenção mínima ou,
no limite, intervenção zero, no campo e na cantina. Grande parte do debate se dá em razão dos
ambientes úmidos de muitos de nossos vinhedos, perfeitos para proliferação de fungos, o que
exige um combate efetivo. Como proceder então? Usar intensivamente defensivos químicos ou
atuar biodinamicamente? Outra discussão: vinhedos extensos, no Brasil, têm viabilidade de tra-
tamento orgânico ou biodinâmico? E na cantina, como proceder? Devemos permitir que o vinho
aconteça como for ou devemos intervir? Ainda não temos respostas consensuais.
A premissa dos apologistas dos manejos orgânico, biodinâmico e natural é simples: se os
primeiros vinhos foram obtidos de forma absolutamente espontânea, por que não voltar a
fazê-los dessa forma? E o que significa isso no cultivo da videira e na elaboração dos vinhos?
Em síntese, significa: vinhedos livres de química, tanto na fertilização quanto na proteção, e
vinificação com leveduras selvagens e processos espontâneos, sem clarificações, filtragens,
conservantes e outros recursos.
Vinhedos orgânicos rejeitam os defensivos agrícolas químicos.
No Brasil, é bem comum o uso da chamada "calda bordalesa",
especialmente por ser admitida em vinhedos orgânicos franceses.
20 Realinversa - O memorial do projeto Arte da Vinha. Garibaldi, RS. Gabriela Schafer. 2018.
21 Vinhos Naturebas. E-book 2019.
22 Míldio ou Plasmopara vitícola é a principal doença fúngica da videira, podendo infectar todas as partes
verdes da planta, causando maiores danos quando afeta as flores e os frutos (www.embrapa.br). Nas
folhas, deixa feridas amarronzadas, que impedem a respiração normal da planta.
32 Rogerio Dardeau
(Domínio Vicari), Luís Henrique Zanini (Era dos Ventos), Marco Danielle (formentas), Marina
Santos (Vinha Unna) e Mauricio Ribeiro (Vinhedo Serena). Em 2016, realizou-se o II Encontro
Franco-Brasileiro de Vinhos Naturais, em Paris, com grande repercussão no mundo do vinho.
Entre os produtores brasileiros de vinhos naturais, encontramos aqueles que, por conside-
rarem desafiante o manejo apenas orgânico e/ou biodinâmico dos vinhedos, admitem alguma
intervenção no campo. Na cantina, porém, não admitem nenhuma intervenção, além dos mo-
vimentos de elaboração.
Desde 2020, na França, está em uso o selo 'Vin Méthode Nature', a partir de um acordo entre
produtores, o instituto francês que regula a vitivinicultura, o Inao, e a Direction Générale de la
Concurrence, de la Consommation et de la Répression des Fraudes (DGCCRF). Por esse acordo,
poderão ostentar o selo 'vinho método natural' aqueles que forem elaborados a partir de uvas de
vinhedos orgânicos, colhidas manualmente, sem insumos, com uso de leveduras selvagens, e sem
adição de sulfitos, mas podendo adicionar até 30mg/litro, com declaração expressa no rótulo.
Para serem considerados veganos, os vinhos, além de não sofrerem qualquer tipo de inter-
venção técnica com produto de origem animal, 23 precisam ter o que se denomina 'responsabi-
lidade vegana', ou seja, as uvas não podem ter sido colhidas por trabalhadores usando luvas de
couro, nem os rótulos fixados com colas que tenham componentes de origem animal. É isso
o que vem sendo exigido por consumídores veganos, na Itália. Naquele país, os vinhos que
apenas não utilizam recursos de elaboração com produtos de origem animal são chamados de
vinhos vegetarianos. Operam no Brasil algumas certificadoras privadas de produtos veganos.
Um fato altamente relevante: orgânicos, biodinâmicos e naturais, com suas exigências, vêm
provocando muito os produtores tradicionais. Não raro, técnicas comumente adotadas na ela-
boração tradicional vêm sendo alteradas. Volumes de defensivos químicos e de SO2 vêm sendo
reduzidos, entre os tradicionais, pelo ensinamento dos 'naturebas'. Já encontramos diversos
produtores convencionais utilizando levedura selvagem, em vez de adicioná-la, reduzindo SO2
e adotando outras condutas, sempre por influência das experiências dos naturebas.
Apenas uma observação final: ser produtor orgânico, biodinâmico ou natural não dá ates-
tado de excelência de produto. Há ótimos vinhos elaborados sob esses princípios, assim como
se encontram vinhos desequilibrados e defeituosos.
23 No processo de elaboração tradicional, muitos vinhos são clarificados, com a utilização de substâncias de
origem animal, que literalmente filtram os vinhos, agindo como redes de malha extremamente fina, elimi-
nando resíduos. A gelatina {do colágeno do boi), a albumina {do ovo) e a caseína {do leite) são algumas
dessas substâncias. Nos vinhos veganos, esse tipo de substância não pode ser utilizado.
Uma poda deve ser feita em agosto e a outra em janeiro. Com a segunda poda, o ciclo recomeça.
A planta floresce em abril e maio e as uvas são colhidas no final de julho, início de agosto. Na
época da colheita, os dias estão ensolarados (até 27°C) e as noites mais frias(+/- l()<>C). A
amplitude térmica pode chegar aos 17° e o clima está seco. Todo ano é necessário fazer as duas
podas. Os ciclos das parreiras são sempre de 180 dias.
Mas era preciso testar, era preciso criar um vinhedo naquelas condições, proceder como
proposto e aguardar. Isso requeria investimento. Certo dia, Murillo fazia uma apresentação para
alguns enófilos e contou sobre seus estudos. Foi então que um dos presentes, o médico Marcos
Arruda, perguntou o que faltava para o começo de um projeto. Murillo Albuquerque Regina,
funcionário da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), foi simples e ta-
xativo: recursos financeiros. Diante dessa resposta, Marcos Arruda, entusiasmado com a ideia
de ter vinhos de alto padrão, elaborados no sul de Minas Gerais, imediatamente manifestou-se
interessado em apoiar o projeto. Pouco tempo depois, implantava-se o vinhedo da Estrada
Real Vinhos de Outono, que viria dar origem aos conceituados vinhos Primeira Estrada e que
despertaria o interesse de inúmeros produtores rurais de Minas Gerais e de São Paulo, pela
metodologia de vinhedo manejado com dupla poda. Estávamos no início dos anos 2000.
Quando se pratica o manejo do vinhedo pelo ciclo invertido, com dupla poda, é neces-
sário utilizar produtos para a quebra de dormência das plantas, sendo o mais eficaz a cianamida
hidrogenada. Trata-se de produto altamente tóxico na aplicação, exigindo equipamento especial de
proteção dos trabalhadores. Tem uso vedado em manejo orgânico. Já ouvi depoimentos de diversos
agrônomos que me garantiram: a cianamida hidrogenada não deixa qualquer resíduo na videira,
nem na uva, nem no vinho e nem na terra. Os produtos alternativos para a quebra de dormência
ainda não tiveram êxito, mas continuam sendo amplamente pesquisados. A cianamida hidrogenada
já era usada no sul do Brasil, em outras aplicações diferentes da finalidade indutora de brotação,
necessária à inversão do ciclo da videira. Claro, nos lugares frios da Europa, ou mesmo do Brasil,
não existe a necessidade da dupla poda, pois o frio impede o florescimento das plantas no inverno.
A adoção da dupla poda em lugares afastados da região Sul do Brasil gerou uma movi-
mentação tão grande que, em 2016, produtores de estados diferentes lançaram bases para uma
Associação Nacional de Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin). As distâncias, porém,
dificultaram a integração entre os fundadores, 24 que acabaram optando por associações locais.
24 Carvalho Branco (Caldas, MG), Casa Verrone {ltobi, SP), Estrada Real {Três Corações, MG), Guaspari
(Espírito Santo do Pinhal, SP), Maria Maria {Três Pontas, MG), Inconfidência (Paraíba do Sul, RJ), Luiz
Porto (Cordislândia, MG).
34 Rogerio Dardeau
Diante dessa evolução, sinto necessidade de sugerir que deveríamos adotar dois grandes
conjuntos de vinhos finos, no Brasil. Primeiramente, reconheço aqueles que cumprem os
requisitos legais, aos quais denomino vinhos finos correntes. Em outro conjunto, vejo os
vinhos finos muito especiais, que excedem a norma legal. Proponho denominá-los vinhos
brasileiros de terroir - VBdT. Vejamos!
25 Quem acompanha meus estudos recordará que eu falava , há pouco tempo, de vinho fino diferenciado. É
o mesmo conceito, hoje, aperfeiçoado na expressão vinho brasileiro de terroir.
26 Entre as raríssimas exceções, destaco o Miolo Lote 43, que, na safra 2012, ofereceu 90.000 garrafas.
36 Rogerio Dardeau
No quesito "compra de uva de terceiros", é bom que se saiba que, em tese, não há qualquer
problema em fazê-lo. Porém, controlar efetivamente a qualidade das uvas em vinhedos de ou-
tros produtores pode não ser muito eficaz, e mais: pode não sair nada barato.
A responsabilidade ambiental é também um bom indicador da busca pela excelência de
produtos.
Na apresentação dos produtores brasileiros que faço adiante, diversos "vinhos brasileiros
de terroir" são citados com as iniciais VBdT.
Em resumo, vinhos brasileiros de terroir são exclusivos e singulares e excedem as definições
legais. A produção é pequena. São volumes reduzidos. Há tintos que podem evoluir na garrafa
por dez anos ou mais, uma vez que são elaborados para isso, a partir de vinhedos muito cuidados,
com rigorosa seleção de frutos e atenção especial na elaboração. Os VBdT brancos exibem brilho,
aromas, frescor e boa presença no paladar, havendo ainda alguns com potencial de guarda.
Os vinhos brasileiros de terroir - VBdT - podem ter três origens, cujas distinções o apreciador
fará: de produtores artesanais; de butiques de vinhos; e, nas grandes vinícolas, a partir de uvas
cultivadas em parcelas espeáficas de vinhedos, com elaboração exclusiva de pequenas partidas.
Concursos
Há não muito tempo, foram inaugurados, no país, os concursos de vinhos. Se, por um
lado, um vinho ouro, prata, bronze ou recomendado leva prestígio ao produtor, por outro,
impressiona, até estimula, mas deseduca o consumidor. Infelizmente, não é raro ver aprecia-
dores de vinhos em busca de medalhados, tendo decepções. Claro, a apreciação é pessoal e
seus parâmetros podem não combinar com os que laurearam o vinho. Frequentemente, ouço
depoimentos de pessoas que compraram algum vinho sem nenhuma recomendação e ficaram
felizes. Isso é bem melhor.
38 Rogerio Dardeau
~ Aprendizados
A vitivinicultura brasileira vem formando a própria história. Embora ainda tenhamos muito
a aprender, temos lições já memorizadas. A seguir, apresento alguns conceitos de viticultura,
enologia e apreciação que foram aprendidos e estão em pleno uso. Vejamos!
Vinhas velhas
Sabe-se que de vinhas velhas podem nascer grandes vinhos. Como nossa história vitícola
de castas viníferas não é muito antiga, ainda não tínhamos dado muita atenção a isso. Agora,
porém, é necessário observar esse quesito. O Almadén Vinhas Velhas Tannat, por exemplo,
obtido de uvas das primeiras espaldeiras daquela casa, implantadas em Santana do Livra-
mento, na Campanha Gaúcha, é um vinho de grande expressão, elaborado a partir de uvas de
vinhedos com idade superior a 40 anos.
Viticultura de precisão
É uma prática derivada da agricultura de precisão. Trata-se de estudo profundo das áreas
de vinhedos, para parcelá-las, segundo as características dos solos e outros fatores georrefe-
renciados, no sentido do estabelecimento de castas indicadas aos tipos de solo identificados.
Já há inúmeros viticultores brasileiros adotando essa técnica. Alguns exemplos são: Lidio
Carraro, Miolo, Terras Altas, vinhedos do professor Norton Sampaio.27
Vinhedo identificado a determinada casta. Dali são obtidos frutos que geram vinhos ca-
racterísticos. O conceito deriva diretamente da viticultura de precisão e da definição de terroir.
Um terroir, com suas características singulares de cultura, solo e microclima, uma vez iden-
tificado a uma casta, proporciona vinhos únicos. A informação single vineyard no rótulo é boa
indicação. Significa que o produtor identificou o vinhedo com a casta, obtendo um "vinho
brasileiro de terroir". São diversos os exemplos de viticultura parcelada, no Brasil: vinhedos da
Vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, SP; em todas as áreas vitícolas do Miolo Wine
Group, na Serra Gaúcha, na Campanha Gaúcha e no Vale do São Francisco; na viticultura da
Larentis, no Vale dos Vinhedos e em muitos outros espaços vitícolas. Alguns produtores bra-
Mantas reflexivas
São instaladas nas fileiras dos vinhedos, para potencializar o efeito da luz solar sobre as
videiras. Foi um recurso utilizado, por exemplo, pelo enólogo Roberto Cipresso, assessor
da Bueno Wines, para a obtenção de uvas muito maduras, destinadas à elaboração do vinho
ícone da casa, o Anima Gran Reserva Merlot 2015.
Cantina
O lugar em que são elaborados os vinhos é a cantina. Lá, nas Raízes, era apenas um prédio
anexo às moradas dos vinhateiros ou mesmo um cômodo da residência. Depois de muito apren-
dizado, sabemos que as cantinas têm exigências específicas, são edifícios planejados e construídos
para a finalidade a que se destinam. Precisam ter funcionalidade que considere recepção das uvas,
prensagem, maceração/ fermentação, remontagens, trasfegas, filtragens, se for o caso, estabiliza-
ção, engarrafamento e expedição. Ao construir uma cantina, o produtor precisa observar a lógica
dos movimentos. Em muitas cantinas, a movimentação do mosto/ vinho exige bombeamentos.
Há estudos mostrando que a ação das bombas pode não ser benéfica aos vinhos. Assim, muitos
produtores optaram por realizar toda a movimentação por gravidade. A uva entra por um de-
terminado nível do terreno e vai descendo a cada etapa do processo, até sair vinho engarrafado
num patamar inferior do terreno. No Brasil, já temos escritórios de arquitetura especializados em
28 Brix, com símbolo Bx, é uma escala desenvolvida pelo cientista alemão Adolf F. W. Brix para medir,
via refração, compostos solúveis numa solução de sacarose. Viticultores utilizam refratômetros, nos
vinhedos, e medem a quantidade de açúcar presente nas uvas. 1ºBx informa que há 1g de açúcar para
cada 100g de solução. Uma uva que apresente o excelente nível de 25°Bx tem 25g de açúcar em 100g de
líquido, que se transformarão em álcool, elemento fundamental na elaboração e na evolução dos vinhos.
40 Roge ri o D ard ea u
cantinas, como Rossi Arquitetura, de Caxias do Sul, e Vanja Hertcert, de Bento Gonçalves. No
jargão da Serra Gaúcha, a palavra cantina é, muitas vezes, utilizada como sinônimo de vinícola.
Chaptalização
Essa denominação deriva do sobrenome de Jean Antoine Chaptal, químico e político fran-
cês, criador do processo, pelo qual se intervém na vinificação, adicionando-se ao mosto açúcares
não provenientes da uva, como, por exemplo, da cana-de-açúcar, quando as uvas não atingem
os teores de açúcar necessários à liberação de alcoóis. Esse recurso foi introduzido no Brasil,
no início do século XX, pelos irmãos Mônaco. A correção de mosto, ou seja, a adição de açúcar
quando a uva não atingiu os melhores índices nesse quesito, é livre, no Brasil, salvo na DO
Vale dos Vinhedos, e pode ser necessária nos lugares em que incidem, com muita frequência,
chuvas intensas sobre os frutos em fase de amadurecimento. Algumas vinícolas brasileiras,
porém, vêm buscando destaque por meio de técnicas de plantio que permitem a produção de
vinhos apenas com os açúcares naturais. Outras, sem descuidar da técnica, buscaram localizar
novos vinhedos em regiões de microclimas mais favoráveis, em que as precipitações não são
tão intensas, proporcionando a obtenção de vinhos finos sem chaptalização.
Vinificação em pureza
Trata-se de forma de identificação do processo que privilegia a fruta. Método que não ad-
mite o uso de madeira. A expressão vem sendo muito utilizada, especialmente pela Vinícola
Lidio Carraro, que a adotou como princípio, mas não é oficial.
Cofermentação
Processo que vem sendo transformado quase em um estilo. Vinificação de castas diferentes em
conjunto. Foi muito utilizada nos primórdios da vinicultura, de forma aleatória, acidentalmente,
em razão do cultivo de variedades distintas, não identificadas, nos mesmos vinhedos. A colheita
era feita simultaneamente e imediatamente iniciada a elaboração do vinho. Atualmente, o conhe-
cimento dos perfis das diferentes espécies, dos DNAs diversos permite aos enólogos combinações
voluntárias, em busca de determinados resultados. Nesse caso, viticultores que cultivam castas
variadas, as têm em linhas definidas e conhecidas. Como a maturação de cada uma raramente coin-
cide com a de outra, procede-se à colheita, que é guardada em câmara fria, até que aconteça a outra
colheita, quando se passa à cofermentação voluntária. O professor Eduardo Giovannini é um dos
raros produtores brasileiros que utiliza tal recurso, em sua Quinta Barroca da Tília, em Viamão, RS.
Barricas e madeiras
As barricas, ao permitirem que os vinhos respirem pelos poros da madeira, afinam os vinhos
e aportam certos atributos. É sempre escolha dos vinhateiros: privilegiar a fruta com nitidez ou
aportar a complexidade da madeira. Mas acontece que, na origem da vitivinicultura brasileira de
vinhos finos, ainda não se podia trabalhar facilmente com essas escolhas. Barricas de carvalho
eram raras. Havia, sim, grandes tanques construídos com araucária e grapia, 29 duas madeiras
29 Regionalismo utilizado para referir à Grapiapunha, madeira de lei, também chamada Garapa.
42 Rogerio Dardeau
produtores vêm preferindo tanques esféricos para a fermentação de castas específicas, mas
ainda não temos conhecimento desse formato no Brasil.
Ânforas
Assim como reconhecemos o corte bordalês, pela mistura de vinhos das castas Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e Petit Verdot, ou o delicioso corte GSM (Grena-
che, Syrah, Mourvedre), típico do Rhône Sul, os produtores da Serra Gaúcha criaram um corte
próprio, único no mundo, que vem dando origem a vinhos que exibem uma cor rubi intensa,
aromas complexos, excelente estrutura e perfil longevo. Trata-se da mescla entre Cabernet
Sauvignon, Merlot e Tannat, castas com origens em regiões distintas. A Cabernet Sauvignon e
a Merlot, embora bordalesas, prosperam em margens distintas do rio Gironde. A primeira pre-
fere as terras bem drenadas, características da margem esquerda. A segunda aprecia a argila
rica e úmida da margem direita. A Tannat vem da Gasconha, ali pelo país basco. Para citar ape-
nas alguns vinhos, clássicas expressões do corte CMT: Angelo 2012 (Galiotto), Equilibrium
(Cordelier), Gran Lovara, Helios 5, Quinta da Orada 2012 Corte 1 (Casa Marques Pereira),
Pizzato Concentus, Pizzato Fausto GR Verve, Torcello Remy Valduga 2015, Ulian Assemblage
2004, Virtuoso 2005 (Dachery), e muitos outros. No início de 2020, a Vinícola Don Laurindo
lançou o Assemblage DO 2018, mesclando 60% de vinho Merlot da origem, uma exigência das
regras da DO, com 25% de Tannat e 15% de Cabernet Sauvignon.
Vinho laranja
Estilo recentemente incorporado a nossa cultura. Vinho de castas brancas vinificadas com as
cascas, como são elaborados os tintos. Significa proceder à maceração pelicular, na vinificação de
uvas brancas. A consequência é um vinho 'branco' com tons amarelos fortes, tendendo ao laranja,
ao âmbar. Aliás, embora no Brasil esteja consagrada a expressão 'vinho laranja', muitos produ-
tores a rejeitam, preferindo 'vinho âmbar'. Fica untuoso e encorpado, podendo mostrar aromas
Vinho de solo
Vinho de chuva
É ainda um conceito impreciso. Mas a ideia tem total relação com o tempo chuvoso que há
muitos anos os produtores têm na Serra Gaúcha. A consequência é um estilo de vinho que, uma
vez concluída a elaboração, tem álcool entre baixo e moderado teor, e precisa de um período curto
na garrafa, algo próximo a 12 meses. Deve ser apreciado nesse prazo, pois não tem vida longa. Os
atributos, porém, são surpreendentes: fica leve, fresco, envolvente, alegre, único. Esse, certamen-
te, será um dos estilos de vinhos do Brasil. Notemos que, evidentemente, só será produto das
áreas chuvosas do país. Cantina Mincarone, Vinha Unna e Vinhedo Serena têm ótimos exemplos.
Amarone
Pode parecer estranho falar de estilo 'amarone', num livro dedicado à vitivinicultura
brasileira. Acontece, porém, que nossa cultura vitivinícola é ítalo-descendente e não deixa
escapar também esse vinho. O amarone é um vinho da região italiana do Vêneto, sobre o
qual há muitas lendas, uma delas dizendo que é elaborado por técnica do tempo dos roma-
nos. Trata-se do emprego de uvas levemente passificadas. O appassimento se dá em mesas de
bambu, durante os três meses do inverno, quando as uvas perdem até 35% do peso. Isso faz
que concentrem cor, aromas e açúcar. O amarone adquire um alto teor alcoólico, podendo
superar os 15%, e um final de boca levemente doce. Originalmente, nasce pelo corte entre
vinhos das castas Corvina Veronese, Corvinone, Rondinella e Molinara. A Vinícola Barca-
rola tem o Luiz Petroli, a Leone di Venezia tem o Passione, e a Luiz Argenta tem o Luiz
Argenta Merlot Uvas Desidratadas.
30 Só para recordar, tanino é a manifestação do ácido tânico, no vinho, pela presença natural (possível) das
cascas e dos engaços das uvas, na elaboração dos vinhos. Produz a sensação típica de adstringência,
sentida no canto da boca, por exemplo, quando se come um caqui 'de vez'. Diz-se 'de vez' para referência ao
momento anterior ao amadurecimento completo.
44 Rogerio Dardeau
Brandy
Brandy é um destilado a partir de um vinho branco. Imediatamente após a colheita que,
na França, acontece em outubro, as uvas são prensadas em prensas pneumáticas horizontais
tradicionais. O suco é então deixado de imediato a fermentar. Três semanas depois da fer-
mentação natural, sem nenhum aditivo, nem açúcar, o vinho já atingiu um volume de álcool
da ordem de 8%. A partir de então, está pronto para a destilação. Brandy é um anglicismo
derivado de brandewijn, vinho queimado, em holandês. Os holandeses, junto com os ingleses,
foram os comerciantes que decidiram destilar vinhos, a fim de 'protegê-los', nas grandes
viagens marítimas. Nas regiões francesas de Cognac e Armagnac (AOC's), são produzidos os
brandies mais conceituados do mundo. O nome conhaque, embora tenha sido internaciona-
lizado, em razão da fama do brandy daquela região, hoje é privativo da bebida ali elaborada.
Não confundir com Calvados, destilado a partir de cidra (maçã), costume do norte da França,
na Normandia. Entre nós, há diversos produtores que elaboram brandies em excelência, por
exemplo: Aurora VSOP 12 anos; Campos de Cima XO 6 anos (Merlot); Casa Bucco X Anos
(CS + Trebbiano); Casa Fontanari Conhaque do Nonno 21 anos (Trebbiano); Don Giovanni
12 Anos; Luiz Argenta 10 Anos (Trebbiano); Miolo Imperial 10 Anos; Miolo Imperial 15
Anos; Quinta do Herval 2 anos (Trebbiano); Valdemiz XO 40 Anos (vinhos de 1975) - co-
mercializado em 2018; Valduga X Anos; Valduga XV Anos; Valduga XX Anos (Trebbiano).
Historicamente, não posso deixar de citar dois exemplos especialíssimos: o Casque D'Or,
produzido pela Dreher, e o Domecq Solera. Sobre este último, recorro à narrativa que me fez
o professor de destilados da ABS Rio, Eduardo Torres:
Tanto o Brandy Domecq quanto o Brandy Domecg Solera eram elaborados a partir da destilação de
um vinho base feito no Brasil, com uvas brasileiras. O vinho base do Brandy de Jerez original é de
uva Airen. Manoelito (Manuel Reyes, o enólogo residente) pesquisou qual uva já cultivada no Bra-
sil daria o vinho base mais adequado à destilação, em termos técnicos e econômicos. Deveria ser um
vinho não muito akoólico, que não fosse tão complexo e com uma faixa de acidez semelhante à do
vinho da Airen. Escolheu a americana Herbemont (vitis bourquina), também conhecida como 'Uva
Champanha' e 'Borgonha'. Disse que funcionava tão bem como a Airen (obs: em Armagnac tam-
bém usam uma híbrida, a Bacco-22, provavelmente a única não vinifera autorizada para fazer
vinho na UE, mas exclusivamente como vinho base de Armagnac). A vinificação e a destilação
eram feitas na própria Domecq. Manoelito comprava as uvas de viticultores parceiros. A principal
diferença entre o Domecq e o Solera é que o primeiro era um blend de destilado em coluna contínua
e em alambique de cobre ('a/quitaras' iguais às de Brandy de Jerez que Manoelito trouxera da Es-
panha), e o Solera era 100% alambique. A outra diferença era o tempo maior de envelhecimento do
Solera. Ambos os envelhecimentos se davam em barris de carvalho vindos da matriz e pelo método
de soleras e criaderas. Mas Manoelito, por motivos operacionais, não colocou as soleras e criaderas
verticalmente. Fez uma pilha de cada criadera e uma pilha de solera. Era o mesmo processo, mas ele
disse que assim facilitava para o operador fazer a trasfega de 25% de cada criadera para a próxi-
ma, até a pilha da solera. Manoelito disse que era menos tradicional, mas permitido pela legislação
do Brandy de Jerez e no fundo era só um rearranjo sem mudar o processo. Os brandies brasileiros
elaborados pela Domecq, sob a batuta do Manoelito, foram os melhores brandies nacionais jamais
feitos, praticamente indistinguíveis, em qualidade, aos elaborados na matriz espanhola.
Vinho elaborado sob a supervisão de rabinos, de acordo com as tradições judaicas, certificado,
por exemplo, pela organização BDK Brasil. Kosher, em hebraico, significa algo como 'digno de
confiança'. São raros os produtores brasileiros que se dedicam a elaborar tais vinhos. Periodica-
mente a Casa Valduga apresenta varietais e espumantes Kosher. Recentemente a Lidio Carraro
também adotou essa prática, iniciada com o Espumante Brut Rosé Kosher Mahut (Essência).
A oferta de tipos variados de garrafas, por parte das poucas indústrias de vidros fornecedoras
do setor, é pequena. Isso faz com que a maioria dos produtores de vinhos escolha a garrafa tipo
bordalesa. Tipos diferentes precisam ser importados, o que encarece os vinhos. A garrafa tipo
borgonha abriga com mais frequência os brancos, como o Cavalleri Chardonnay, mas também o tin-
to Miolo Quinta do Seiva/ Castas Portuguesas. O Vinho Velho do Museu e o Anticuário são apresentados
no modelo conhecido como bocksbeutel (saco de bode). Os espumantes, além da grande maioria
que se apresenta em garrafas champenoise, já são oferecidos também na garrafa tipo sino, presente
nos espumantes Guatambu, Kranz, no Millésime, da Miolo, e no Valduga 130, entre outros. Poucas
são as vinícolas que oferecem a garrafinha de 187,5 ml, a nova de 245 ml, a Magnum (1,5 1) e
a Mathusalem (6 1). No passado, os vinhos Granja União, elaborados pela antiga Companhia
Vinícola Rio Grandense, fizeram fama entre nós, e eram apresentados em garrafas Madleine,
de 750 ml. A indústria Verallia já oferece a linha Ecova de garrafas leves. A linha é composta
de garrafas estilo bordeaux e estilo borgonha. Segundo informa a indústria, a produção de tais
garrafas emite 15% menos de CO2 e o transporte emite menos 6% de cor Nesse item, não
podemos deixar de mencionar o envase em caixas com membranas, as consagradas bag-in-box.
De fato, representam um recurso de grande economia, para o consumo diário e o serviço em
bares. As caixas são oferecidas com uma pequena torneira, conectada à membrana interna, de
modo que, à medida que o vinho é servido, a membrana se contrai, não admitindo a presença
de ar. Outra novidade é o vinho fino em lata. Já encontramos diversos rótulos pela Vivant
Wines e pela novíssima Arya Wines.
Rolhas e fechamentos
Rolhas são outro insumo caro, pois a cortiça é importada. Nosso padrão (não regula-
mentado) de rolhas é de 4,5 cm, havendo algumas que chegam a 5 cm, como a adotada pela
Boscato em seu Gran Cave Cabernet Sauvignon ou no RAR Reserva de Família, ou ainda pela
Villa Francioni, no corte de mesmo nome e outros da casa. A maior produtora de rolhas
de cortiça, no Brasil, é a Corticeira Paulista, com unidade industrial em Jundiaí. Em 2008,
instalou-se em Garibaldi uma unidade da empresa portuguesa M. A. Silva Cortiças Lda., que
tem ampliado o fornecimento aos vinicultores, ano a ano. O fechamento com tampa de rosca
ou screw cap já aparece em muitos rótulos. Esse fechamento exige muita precisão na rosca do
vidro, por isso demorou a ser adotado pelos produtores brasileiros. Hoje, porém, as questões
técnicas estão superadas e encontramos muitas garrafas com tampa de rosca, em segurança.
Em 2019, a sempre inovadora Pericó lançou o Vigneto Sauvignon Blanc e o Taipa Rosé, com
tampas de vidro.
46 Rogerio Dardeau
Resveratrol
Trata-se de um polifenol encontrado principalmente nas sementes de uvas, na casca das uvas
escuras e, por consequência, no vinho tinto. Estudos têm mostrado os beneficios do resveratrol
como estimulante dos índices do colesterol HDL, chamado colesterol do bem, e redução do co-
lesterol do mal, o LDL. As primeiras análises laboratoriais, investigando doses de resveratrol, têm
pouco mais de três décadas, no Brasil. E os resultados têm sido alvissareiros. Nossos vinhos têm
exibido uma quantidade média de resveratrol superior aos da América do Sul e até da Europa. Uma
das hipóteses é a de que os frutos, em nosso clima tropical, sujeito a chuvas, necessitam de proteção
e desenvolvem isso. As videiras tenderiam a produzir mais resveratrol sob estresse, em climas exi-
gentes, concentrando-o e elevando sua presença. Em regiões com vinhedos de altitude, a insolação
carregada de raios ultravioleta pode provocar maior concentração de polifenóis, aumentando con-
sequentemente os níveis de resveratrol nos vinhos. Bom para nós, não é mesmo? O vinho Tabocas
Cabemet Sauvignon 2013, de Santa Teresa, ES, de Vinicius Corbellini, teve análise pelo Laboratório
Randon e apresentou índice de resveratrol de 6, 17mg/I. O Vinhedo Serena Pinot Noir, de Maurício
e Cristina Ribeiro, em Nova Pádua, RS, tem média de resveratrol em 6,02mg/I, tendo o vinho da
colheita de 2011 atingido a impressionante marca de 7,48mg/I. Os vinhos importados que circulam
por nossas gôndolas de supermercados e delicatéssens, em geral, não atingem 3,0mg/1. Agora, uma
nota importante: não há relação entre um determinado nível elevado de resveratrol encontrado num
vinho e a sua qualidade. Há muitos vinhos que não apresentam tal índice em nível alto, mas têm
muito equilíbrio e elegância.
Estilo
Elegância
Esse é um termo que frequenta o mundo do vinho, mas que não é muito aceito tecnica-
mente. No entanto, é bastante utilizado, como harmonia. Como sabemos, os vinhos se ex-
pressam pelo conjunto de cores, aromas e sabores. Considero elegante o vinho que se mostra
harmônico, entre as expressões desses três atributos. Não seria elegante um vinho de cor
exuberante, demonstrativa da casta ou do corte, com aromas inexpressivos. E também assim,
todas as combinações possíveis de desarmonias entre as três expressões. Um vinho que seja
uma explosão aromática, mas com pouca estrutura, também não é elegante. Mas cuidado, essa
terminologia não se aplica aos vinhos harmônicos 'pancadões', aqueles que têm cor intensa,
profunda, aromas muito expressivos e um grande corpo. A elegância pede sutileza!
Volume
Um vinho denso, com taninos macios, boa acidez, que preenche a boca, envolve as papilas
gustativas, provocando intensas sensações de gosto e retrogosto, 31 é um vinho volumoso.
48 Rogerio Dardeau
~ Direito do vinho
Nessa prazerosa tarefa de permanentemente pesquisar, estudar e escrever sobre a vitivini-
cultura brasileira contemporânea, no campo dos vinhos finos, vejo expressiva qualificação de
nossa produção, especialmente nas últimas três décadas. São inúmeros os produtores inde-
pendentes nascidos nos últimos anos, com projetos exclusivos de vinhos brasileiros de terroir.
Todo esse cenário nos mostra grande necessidade de aperfeiçoamento do regime jurídico do
vinho brasileiro, para facilitar a produção, a logística e a comercialização. A seguir, registro
as práticas de vitivinicultura que nossos produtores vêm adotando, estejam regulamentadas
ou não. Nas abordagens de 'gente', 'lugares' e 'vinhos', apresento sempre aspectos legais e
consuetudinários. A norma jurídica, quando existente, vai comentada dentro de cada uma das
três abordagens, assim como os costumes.
A legislação brasileira sobre vinhos, origens e seus produtores, do meu ponto de vista,
ainda é insuficiente, embora o Decreto 8.198, de 20 de fevereiro de 2014, regulamentador do
assunto, e a Instrução Normativa nº 14, de 8 de fevereiro de 2018, do Ministério da Agricul-
tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tragam alguns pontos positivos. A Lei 7.678, de 8 de
novembro de 1988, chamada Lei do Vinho, foi modificada e complementada pela Lei 10.970,
de 12 de novembro de 2004, sendo regulamentada apenas em 20 de fevereiro de 2014, pelo
Decreto 8.198.
O nascimento da Academia Brasileira de Direito do Vinho (Abdvin) , em abril de 2018, já
começou a trazer inúmeras e relevantes contribuições à formulação de um arcabouço jurídico
mais consistente para o vinho brasileiro. A simples observação do Mapa Estrutural Normati-
vo Conceituai do Direito do Vinho Brasileiro, a seguir apresentado, elaborado pelo professor
Júlio César Pogorzelski Gonçalves, presidente da Abdvin, evidencia a qualidade dos estudos
que se iniciaram com a Academia, o que, sem dúvida, é prenúncio de melhores dias para pro-
dutores e consumidores.
DIREITO DO VINHO
SISTEMAS E MICROSSISTEMAS JURÍDICOS I NORMAS PRIMÁRIAS
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~ Regulamenta a Lei n~ 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a
;- classificação , o registro , a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas.
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elt1ss1f1r:açao , o registro, a inspr.ção , a pr0<1uçf.o e., fü,cahzação 11B bchit1as
apresentar o rol das principais normas primárias incidentes sobre a atividade econômica da vitivinicultura brasileira.
JÚLIOC~SAR POGORZELSKI GONÇALVES
GENTE VINHATEIRA - LEGISLAÇÃO E COSTUMES
A Lei do Vinho se utiliza dos termos viticultor, vinicultor e vitivinicultor. No entanto, não
amplia definições, tampouco trata especificamente das pessoas jurídicas dedicadas à elabora-
ção de vinhos.
A Lei 12.959, de 19 de março de 2014, alterou o texto da Lei 7.678, incluindo o conceito
de vinho produzido por agricultor familiar, vinho produzido por empreendedor familiar rural
(nos termos da Lei 11.326/2006, de 24 de julho de 2006) ou vinho colonial. Isso trouxe um
sensível (mas não definitivo) alívio aos produtores artesanais, também de vinhos finos.
Art. 1° A Lei nº 7.678, de 8 de novembro de 1988, passa a vigorar acrescida do seguinte art.
2°-A:
''A.rt. 2°-A. O vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural é a bebida
elaborada de acordo com as características culturais, históricas e sociais da vitivinicultura desen-
volvida por aquele que atenda às condições da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, observados
os requisitos e limites estabelecidos nesta Lei.
§ 1° O vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural deve ser elabo-
rado com o mínimo de 70% (setenta por cento) de uvas colhidas no imóvel rural do agricultor
familiar e na quantidade máxima de 20.000 l (vinte mil litros) anuais.
§ 2° A elaboração, a padronização e o envasilhamento do vinho produzido por agricultor fami-
liar ou empreendedor familiar rural devem ser feitos exclusivamente no imóvel rural do agri-
cultor familiar, adotando-se os preceitos das Boas Práticas de Fabricação e sob a supervisão de
responsável técnico habilitado.
§ 3° A comercialização do vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar
rural deverá ser realizada diretamente com o consumidor final, na sede do imóvel rural onde foi
produzido, em estabelecimento mantido por associação ou cooperativa de produtores rurais ou
em feiras da agricultura familiar.
§ 4° Deverão constar do rótulo do vinho de que trata o caput deste artigo:
I - a denominação de "vinho produzido por agricultor familiar ou empreendedor familiar rural",
"vinho colonial" ou "produto colonial";
Embora eu tenha muito apreço pelos agricultores em questão, o vinho colonial não é o
objeto deste livro.
O estudo 32 sobre a vitivinicultura brasileira, que permanentemente realizo, me leva a su-
gerir que possuímos, no Brasil, dois grandes conjuntos de produtores brasileiros de vinhos
finos: os produtores com origem na cultura do vinho (C) e os produtores investidores (I) ..
Entre os produtores com origem na cultura do vinho, estão as cantinas históricas. Entendo
como tais aquelas nascidas na região de origem da produção brasileira continuada de vinhos,
a Serra Gaúcha, cujos protagonistas, em geral representantes das segunda e terceira gerações
dos imigrantes italianos, muito contribuíram para o redesenho da vitivinicultura brasileira
a partir dos anos 1980, no sentido da elaboração de vinhos brasileiros de terroir. Cito, entre
outros, Boscato, Cavalleri, Dal Pizzol, Giovannini (Don Giovanni), Giacomin, Miolo, Salton,
e, pelo menos três 34 ramos dos "Valduga" (Casa Valduga, Dom Cândido e Marco Luigi). Aqui,
não podemos deixar de destacar três nomes, não italianos, mas que realizaram cantinas histó-
ricas naquele mesmo ambiente da Serra Gaúcha: Carrau (Lacave e Velho do Museu), Dreher (Don
Giovanni) e Geisse (Amadeu e Cave Geisse).
33 Estrofe final da canção popular italiana, do Vêneto, La bel/a polenta, de autor desconhecido, identificada
a partir de 1919, muito entoada pelos colonos italianos do Rio Grande do Sul.
34 O sobrenome Valduga assina ainda os vinhos Cave de Pedra, Terragnolo, Torcello e Vallontano.
52 Rogerio Dardeau
causa e objetivo dos próprios interesses, estamos diante de um produtor desse conjunto, o
que mais cresce, atualmente, no Brasil. Esse fenômeno demonstra a identificação pelos inves-
tidores da demanda por vinhos diferenciados. Essa é a marca. Aqui vemos projetos muito bem
estudados, com equipes técnicas especializadas, contratadas no mercado, instalações de pa-
drão internacional e o foco de produção no vinho brasileiro de terroir. Um alerta: não devemos
confundir o termo investidor com alguém possuidor de grande capital. Um cidadão que não
tem origem na cultura do vinho, tem capital reduzido, mas que decide montar sua pequena
produção, é também um investidor.
54 Rogerio Dardeau
Grupo III - Produtores tradicionais de pequeno a médio porte (VM)
O terceiro grupo que sugiro é composto por produtores de pequeno a médio porte, que
elaboram essencialmente vinhos finos correntes e de mesa, além de sucos e outros produtos
derivados da uva, mas desejam ter presença no mercado de VBdT. Seus vinhos nascem impul-
sionados pela cultura. Algumas já elaboram um ou outro rótulo VBdT. Nem todas têm cantinas
próprias, realizando a vinificação em parceria com vinícolas maiores. Em alguns casos, não vi-
nificam toda a produção, vendendo uvas a outros produtores. Seus nomes ainda não chegaram
aos consumidores dos grandes centros urbanos, ficando apenas na região onde se localizam ou
em mercados direcionados. Exatamente por isso realizam, à própria moda, expressivo trabalho
de fortalecimento da vitivinicultura brasileira. Alguns produtores desse grupo elaboram vinhos
finos somente para compor atividade de enoturismo.
O conceito de vinho de butique nasceu, como não poderia deixar de ser, na França. Não é de
hoje que vinhateiros, enólogos, enófilos, investidores e até cidadãos comuns tomaram a árdua
e prazerosa decisão de elaborar seus próprios vinhos e comercializá-los. No Brasil, essa ação é
desencadeada a partir da crise conjuntural do setor vitivinícola, em meados da década de 1980.
Os empreendimentos assim categorizados, neste livro, são pequenos; poucos atingem 100 mil
garrafas/ano, embora alguns possam chegar às 300 mil garrafas/ano, e um ou outro ultrapasse
essa marca. A principal característica das butiques de vinho é a busca de expressões dos luga-
res que escolheram, divulgando-os. Concentram os negócios na elaboração de poucos rótulos,
com muito rigor na preservação de castas e de processos produtivos. Desejam elaborar os vi-
nhos premium brasileiros, os quais, desde 2018, podem ser identificados, nos termos da IN 14,
do Mapa, como gran reserva. Esses produtores podem não apresentar determinado rótulo em
alguma safra, caso não a considerem muito boa, ou reduzir a litragem engarrafada ao mínimo
possível de vinho elaborado a partir de uvas sãs. Podem também incorporar processos produ-
tivos inovadores, de comprometimento social e ambiental, com mais facilidade do que antigas
e grandes vinícolas. As butiques privilegiam o plantio de viníferas nobres, com vinhedos con-
duzidos em espaldeiras, e reduzem a produtividade das videiras, buscando concentração de
qualidade dos frutos. Querem agregar valor a seus rótulos. 37 Esses vitivinicultores realizam
pequenos, mas permanentes, investimentos em experiências com novas variedades. Também
exploram novos microclimas na busca de melhores frutos, e pesquisam processos produtivos,
na cantina, para obtenção de vinhos singulares. Os vinhos das butiques têm construído boa
56 Rogerio Dardeau
Nunca devemos esquecer que, enquanto o vinho de uma safra é elaborado, outros, de
safras anteriores, evoluem na cantina. Seus criadores constroem, então, registros completos
das características de cada um, nos diversos momentos de evolução. Isso possibilitará am-
plo aprendizado, para futuras vinificações. Possibilitará também o reconhecimento de algum
"mistério" ou vinho não explicado, favorável ou desfavoravelmente. É como Deleuze38 afir-
mou certa vez: "Existem os criadores, originais, e os que só seguem o que foi criado". Vinhos
de autor são vinhos de criadores, originais. Trata-se de um processo de busca permanente
rumo ao horizonte utópico. Isso é o que move tais personagens e faz com que suas criaturas,
seus vinhos, terminem por encantar aqueles que os degustam, mais do que quaisquer outros.
Não devemos procurar por prêmios oficiais para os vinhos desses autores. Eles não gostam
de submeter as próprias criações às tribunas de concursos. Mas, claro, se orgulham das cita-
ções elogiosas de consumidores e de formadores de opinião.
Como verificaremos na descrição de cada produtor, entre os autores poderão ser identifica-
dos diversos perfis: há os que estão integralmente dedicados à vitivinicultura e são enólogos;
outros que nem são enólogos, mas trazem a vitivinicultura no sangue; há os que têm nos
vinhos uma atividade subsidiária; outros são apreciadores muito sensíveis que, atuando junto
a enólogos profissionais, modificam os vinhos, carregando filosofias próprias. Enfim, vale
muito a pena reconhecê-los.
Nossos produtores desse Grupo V já tentaram, mas ainda não encontraram uma forma de
organização deles, com vistas a uma identidade coletiva de seus vinhos, especialmente para
o campo da comercialização. Seria tentar algo como o Movimiento de Vinateros Independientes
(Movi), do Chile, ou o Vignerons Indépendants, francês. O debate não é simples, pois há diver-
gências de posicionamentos em diversos aspectos, o que dificulta o estabelecimento de uma
carta de princípios. Entre os autores, há práticas de vitivinicultura tradicional, orgânica, bio-
dinâmica e natural. Há uma ampla diversidade de crenças. Entre os produtores que abraçam o
estilo natural, identificados como 'N' nas descrições individuais, encontramos mais um traba-
lho importante: o resgate de castas americanas e híbridas. Vinhos que se utilizam dessas uvas,
cultivadas com a atenção que se dá às viníferas, e elaborados com os cuidados dispensados aos
vinhos finos, ficam muito especiais, típicos.
É preciso dizer ainda que são inúmeros os autores que trabalham isoladamente e raramen-
te se apresentam. Alguns praticam ao extremo o que se chama de "vinho de garagem ou até
de apartamento", microvinificando nas próprias residências.
Em função de todas as características mencionadas, há duas consequências muito desa-
gradáveis para nós, enófilos: infelizmente, as obras de arte podem não ter regularidade, ou
seja, existem em uma safra e podem não existir em outra, ou até nunca mais; segunda: pelas
pequenas dimensões da produção, alguns vinhos de autor têm preços elevados. Isso não sig-
nifica que não valham; ao contrário, pois apresentam excelente nível de qualidade e, como já
salientei, personalidades únicas.
Há muitos críticos dessa realidade, especialmente por causa da irregularidade de produto.
Respeito o desejo de muitos consumidores de poder chegar à gôndola de um supermercado
38 O filósofo Gilles Deleuze, em entrevista a Claire Parnet. Deleuze, Gilles; Parnet, Claire. Diálogos. Trad.
Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.
58 Rogerio Dardeau
ao lançamento de Vinho fino brasileiro: enquanto três produtores se revelaram, mesmo em fase
inicial de implantação de vinhedos, outros preferiram não se apresentar naquele momento; al-
guns que já estavam estabelecidos, ainda não elaboravam/comercializavam vinhos finos. Então,
aqui, no campo do estudo, da análise, da pesquisa da vitivinicultura brasileira, matéria em evo-
lução permanente, caberão sempre releituras, reconceituações e repovoamento de integrantes
dos grupos sugeridos. Nossa caminhada ainda é longa até a almejada maturidade, lá no Horizon-
te, cujas perspectivas buscamos resumir no último Tempo, ao final do livro.
A base dos dados é o conjunto dos 419 produtores de vinhos finos presentes neste livro,
dos quais 342 estão descritos e 77 citados, sem descrição, apenas com a informação dos gru-
pos nos quais os incluo. Dos 419 produtores, 66,8% (280) têm origem na cultura ancestral de
elaboração de vinhos, enquanto 33,2% (139) são investidores de origens diversas. Vejamos,
na tabela a seguir, a distribuição por unidade da federação.
■ RS 299
■ SC37
■ PR9
SP 29
■ MG 22
■ ES4
• RJ 2
■ G03
■ DF 1
■ BAS
■ PES
Até o ano 2000, estavam identificados e estão aqui descritos 99 vinicultores que tinham vi-
nhos finos em produção. A partir do início daquele ano, vieram-se somar àqueles, outros 245
novos produtores de vinhos brasileiros de terroir. Além disso, 28 negociantes se estabeleceram
no país, para criar e distribuir vinhos finos. De lá para cá, 18 produtores e dois negociantes
(A.R.M.M. e LPG Wines) interromperam as atividades; 22 produtores não iniciaram a comer-
cialização!39 Se voltarmos um pouco mais, a 1989, para contarmos três décadas de vitivinicul-
tura brasileira de vinhos finos, somaremos ao conjunto citado 99 vinícolas. Em resumo: nos
últimos trinta anos (entre 1989 e 2019), entraram em operação, e seguem operando [(245 +
99) - 18] = 326 produtores de vinhos finos!!! E mais: são inúmeras as vinícolas, antes apenas
dedicadas aos vinhos de mesa e aos sucos, que estão investindo em novas linhas, departamen-
39 Allegro; Alto do Gavião; Barbara Eliodora; Carrereth; Cerro da Trindade; De Mentes; Di Vino; Diamante;
Fattoria Monte Alegre; Finca Tuíra; Mandacaru; Pioli; Quinta Canova; Quinta da Lapa; Quintas de São Braz;
Reconvexo; Sítio Polesano; Vale das Colinas; Vila Campana; Villa Triacca ; Villa Zasso; Vinhas do Morro.
40" Todos os especialistas são amantes de vinhos, mas nem todo amante é um especialista." Jancis Robinson
não gosta da denominação "especialista". Prefere "amante de vinhos". Está na página 35 de Confissões de
uma amante de vinhos. Os comerciantes e restaurateurs citados são verdadeiramente amantes de vinhos.
41 A Vistamontes está estabelecida desde 2009, elaborando sucos de excelente padrão. Ingressou no mun-
do dos vinhos finos apenas dez anos depois.
42 A Petronius Beverages by Authors foi estabelecida em 2013, mas iniciou-se no segmento de vinhos finos
em 2017.
62 Roge ri o D ard ea u
2015: Adega do Chamon - negociante (SG) , Bárbara Eliodora - MG (IV) *, Carvalho Branco -
MG (IV), Casa Marques Pereira - MB (IV), Clima - negociante (RJ) , Família Davo - SP
(IV) , Fortaleza - MG (IV) , Pianegonda - GP (V), Pioli - MG (IV) *, Sbaglio - SG (V),
Villa Castro - negociante (RS) , Vivalti- SC (IV), VSB- BA (V); (10+3) ac: 210 + 17.
2016: Avvocato - SG (Vb), Barão Invest - negociante (RJ) , Bertolini - SS (IV), Bodega Ruiz
Gastaldo - GP (IV) , Eduardo Mendonça - MB (V), ENOS/ ENOCH Vinhos Inspirados
- negociante (SC) , Faccin - MB (V), Fattoria Monte Alegre - SC (IV) , Las Chicas del
Vino - negociante (RJ) , Monte - GP (V), O Encantado - SP (III), Sítio Polesano - SP
(IV) *, Vinhas do Morro - BA (IV) *; (10+3) ac: 220 + 20.
2017: 3 Atelier - PB (V), Alto do Gavião - MG (IV) *, Aventura Garage Wines - SG (V), Canti-
na Mincarone - GP (V), Cão Perdigueiro - FA (V) , Carrereth - ES (IV) *, Casa Tertúlia
- AU (IV), Cave Nacional - negociante (RJ) , Marzarotto - AM (IV), Penzo - SG (V),
Quinta da Lapa - MG (IV) *, Terras Altas - SP (IV) , Terroir da Vigia - CG (V), Villa
Triacca - DF (III) *, Vivente-SG (V); (14+1) ac: 234 + 21.
2018: Altos do Paraíso - SS (IV) , Amitié - negociante (RS), Arte Líquida - negociante (RS) ,
Bibulus - negociante (RJ), Choro da Videira - negociante (SP) , De Mentes - GP (V) ,
DEXMA, anterior Décima X - negociante (SP) , Di Vino - GP (V) , Família Aguiar -
negociante (RJ) , Orgalindo Bettú - SG (V), Reconvexo - BA (IV) *, Tenuta Foppa &
Ambrosi - SG (V) , Vallebello - MB (IV) , Vivant Wines (RJ) ; (8+ 7) ac: 242 + 28 .
2019: Cata Terroirs - SC (V) , DiVino - GP (V) , Vila Campana - MG (IV) *. (3) ac: 245.
* Os produtores grafados em violeta, marcados com um asterisco verde adotam dupla poda e
colheita de inverno, mas ainda não iniciaram operação comercial.
2000
1
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
■1
2012 2013 2014
·I •
2015 2016 2017 2018 2019 Total
Como se vê, parece que desejamos ardentemente superar a pequeníssima taxa de 0,6 ou
0,7 litro por ano, per capita, no consumo de vinhos finos no Brasil, enfrentando com serieda-
de a presença dos importados. O que constato é um aumento de opções. Mas, infelizmente,
embora a oferta de produtos esteja crescendo, nossa participação no mercado não tem sido
corretamente medida, como detalharemos mais adiante, no "Horizonte". Caberia um estudo
da quantidade de rótulos de vinhos brasileiros de terroir elaborados. Como já salientei, há
RS DOVV 15 PRGC 3
RSIPPB 7 PROP 4
RS IPAM 6 SPSR 3
RS IPMB 9 SPLE 6
RS IPFA 5 SPMA 5
RSSG 44 SPNO 4
RSCG 20 SPou 4
RSSS 8 MGSU 9
RSVC 3 MGDJ 6
RSGP 14 MGTA 1
RSMI 2 MGou 2
RSCC 5 RJSS 3
RSAU 7 ESCA 3
VASF 6 GOPC 4
SCSE 25 BACD 3
SCPO 4 PEGA 1
SCou 4
Total 245
64 Roge ri o D ard ea u
DJ - Diamantina e Alto Jequitinhonha; 28. TA -Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba; 29.
ou - outros lugares no estado de Minas Gerais. RJ: 30. SS - Serra do Centro-Sul Flumi-
nense. ES: 31. CA- Serra Capixaba. GO: 32. PC - Planalto Central (Centro-Sul Goiano
e Distrito Federal). BA: 33. CD - Chapada Diamantina. PE: 34. GA- Garanhuns.
Em Vinho fino brasileiro, livro de 2015, estavam relacionados apenas 17 lugares onde
vinhos brasileiros de terroir eram elaborados.
43 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, Carlos Paviani, concederam longas entrevistas sobre
suas vidas e os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro
Vinhos do Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
Zonas de produção
O Decreto 8.198, de 20 de fevereiro de 2014, publicado no DOU de 24 de fevereiro de
2014, estabelece o conceito de "zona de produção", por tratamento fisiográfico. Vejamos:
Art. 58. Para efeito deste Regulamento, zona de produção é a região geográfica formada por
parte ou totalidade de um ou mais municípios, dentro de uma ou mais unidades da Federação,
onde se realiza: I - a produção de uva destinada à industrialização; II - a industrialização da
uva; ou III - as atividades previstas nos incisos I e II.
66 Roge ri o D ard ea u
§ 111 A unidade da Federação onde existir a produção e industrialização da uva também será
considerada zona de produção.
§ 211 São zonas de produção:
I - Rio Grande do Sul: a) Alto Uruguai; b) Campanha; c) Campos de Cima da Serra; d) De-
pressão Central; e) Encosta do Sudeste; J) Encosta Inferior do Nordeste; g) Missões; h) Planalto
Médio; i) Serra Gaúcha; e j) Serra do Sudeste;
II - Santa Catarina: a) Litoral Sul Catarinense; b) Planalto Catarinense; c) Vale do Rio do
Peixe; e d) Vale do Rio Tijucas;
III - Paraná: a) Região da Grande Curitiba; e b) Região de Maringá;
W - São Paulo: a) Região de Jundiaí; e b) Região de São Roque;
V - Minas Gerais: a) Cerrado Mineiro; b) Região Sul-Sudoeste de Minas; e c) Vale do Alto
São Francisco;
VI - Espírito Santo: Região Serrana do Espírito Santo;
VII - Mato Grosso: Região de Nova Mutum;
VIII - Goiás: Centro-Sul Goiano;
IX - Bahia: Região de Petrolina e Juazeiro; e
X - Pernambuco: Região de Petrolina e Juazeiro.
Indicações geográficas
A ideia de zoneamento físico é importante. Criam-se áreas de contorno amplo, mas com
perfis consistentes, que certamente poderão facilitar as demarcações de regiões e microrregi-
ões vitícolas e, por consequência, regiões vinícolas.
As indicações geográficas existem no mundo desde o século XVIII. O gran duque Cosimo
III, da família Médici, de Florença, assinalou, em 1716, a primeira delimitação geográfica de uma
área vinícola: a região do Chianti, na Toscana, Itália. Porém, somente quarenta anos depois, em
1756, uma região foi regulamentada. Foi o marquês de Pombal, que, ao criar a Companhia Geral
de Agricultura do Alto Douro e delimitar as fronteiras do vinho do Porto, estabeleceu regras para
sua produção. A França teve sua primeira demarcação quase um século depois, em 1855.
Segundo o advogado Alexandre Fragoso Machado, especialista em Direito da Propriedade
Intelectual pela PUC-RJ, ex-examinador de marcas do INPI,
[...] as indicações geográficas constituem-se em uma das formas especiais de proteção a bens ima-
teriais ou intangíveis, residentes em uma das especialidades do Direito, a propriedade intelectual.
A indicação geográfica visa, principalmente, a distinguir a origem de um produto ou serviço,
através da diferenciação da qualidade e/ou da excelência da manufatura dos mesmos, ou através
da fama de uma área geográfica pela comercialização ou obtenção de um determinado produto.
(Revista GEINTEC, São Cristóvão, SE, v. 2, n. 4, p. 353-364, 2012)
No Brasil, o assunto é pautado pela Lei 9.279, de 14 de maio de 1996, que "regula direitos
e obrigações relativos à propriedade industrial". Segundo essa lei,
68 Rogerio Dardeau
Enoturismo
Diante da relevância do tema, solicitei ao amigo Vander Valduga uma reflexão.
O enoturismo é uma atividade que acompanhou a produção vinícola mundial desde os tempos
mais remotos da vitivinicultura. O deslocamento humano aguçado pelo desejo de conhecer a
produção do vinho antecedeu em muito o início dos estudos de enoturismo, que, efetivamente,
começaram a ganhar corpo a partir de meados dos anos 1990. De pouco mais de 50 artigos
científicos internacionais publicados até 2004, quando iniciamos os estudos de enoturismo no
Brasil, em 2019, numa simples busca pelo termo "winetourism" na básica ferramenta do google
acadêmico, foi possível encontrar mais de 148 mil menções em distintas esferas. A literatura
sobre enoturismo avançou muito e haveria muito o que se dizer, especialmente ao se adentrar nas
especificidades dos territórios do vinho; porém, o objetivo aqui é dissertar sobre alguns aspectos
centrais e essenciais do enoturismo.
Os primeiros estudos de enoturismo abordavam o fenômeno de maneira bastante descritiva, como
a visitação aos vinhedos e vinícolas, contemplação e apreciação da enogastronomia, dos festivais
e da comercialização de produtos oriundos da uva e das regiões vinícolas. De um olhar descritivo,
os estudos avançaram para outras esferas, com abordagens mais complexas a respeito da ampli-
tude do enoturismo, do ferramental do marketing e da gestão, da cultura e do patrimônio, das
preocupações com o ambiente, da incorporação de tecnologia ao enoturismo e da ampliação do
conceito da paisagem vitícola. 44 Em trabalho recente que tive o privilégio de orientar, Gabardo
(2019, p. 105) 45 definiu que o enoturismo "constitui uma experiência repleta de estímulos sen-
soriais, emanados pelo vinho e suas paisagens, na qual visitantes e anfitriões exercitam o gosto e
alimentam emoções, conjugando o prazer e saber, conhecimento e afetividade. Onde saber e sabor
se aproximam de forma concreta, não apenas etimologicamente".
As práticas do enoturismo atendem e acompanham, em geral, os modelos regionais e organizacionais
de produção vinícola, isto é, regiões e empresas de produção em larga escala tendem a atuar no enotu-
rismo da mesma maneira, pasteurizando as experiências turísticas. Por outro lado, experiências tidas
como mais autênticas, em que anfitrião e turistas têm oportunidades de gerar sentimentos de hospi-
talidade, tendem a maximizar positivamente experiências turísticas ligadas aos territórios do vinho.
A hora da verdade no atendimento é uma oportunidade única de gerar conhecimentos, tornar um
iniciante consumidor de vinhos num promotor da região enoturística; portanto, produtores devem
compreender o caráter pedagógico que o enoturismo tem. Houve uma tendência no mundo do vinho
que perdurou, ao menos, duas décadas, em insistir em termos técnicos do vinho com consumidores e
turistas iniciantes, o que sabidamente afastou potenciais consumidores, tornando a área mais restrita
aos "especialistas", em detrimento de universalizar o acesso ao vinho.
44 Sugere-se a leitura complementar do trabalho de Gabardo e Valduga (2019): Los Sistemas Culturales
y el Paisaje dei Viiiedo Brasileiio como Recursos para el enoturismo. Estudios y Perspectivas en Turis-
mo, Ciet, v. 28, p. 759-779, 2019. Disponível em: https://www.estudiosenturismo.com.ar/PDFN28/N03/
v28n3a11.pdf.
45 Gabardo, Wagner, O. A paisagem sensível do enoturismo: uma abordagem fenomenológica. Dissertação.
Programa de Pós-graduação em Turismo, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019. Disponível
em: https://hdl.handle.net/1884/61378.
Depois dessa aula, fica mais fácil compreender a importância da atividade econômica de
trabalhar culturalmente os lugares onde os vinhos finos são elaborados, seja na arte, na his-
tória, na literatura, na gastronomia, etc. Felizmente, já é uma atividade incorporada ao pen-
samento de muitos produtores. Muitas cantinas brasileiras já estão aparelhadas para receber
visitantes, algumas delas com sofisticadas instalações. Mas enoturismo não significa apenas
receber viajantes e exibir os vinhos. É necessário atraí-los, criar elementos de motivação no
próprio empreendimento e nas regiões. Os produtores que operam enoturismo declaram a
importância das receitas imediatas e dos desdobramentos da imagem que adquirem junto ao
consumidor final, que tende a se fidelizar. Além de todos os aspectos específicos de vitivinicul-
tura que os produtores nos ensinam, você encontrará quem tenha vinícola num túnel imperial,
num sítio arqueológico, com vinhos enterrados, vinhos adegados com música e muito mais.
Nesse contexto, é importante registrar que ainda temos muitas carências de infraestrutura.
Acesso e hospedagem são aspectos críticos em muitas regiões brasileiras. Precisamos também
reforçar as experiências do 'turismo-de-um-dia'. Nossos destaques são o Vale dos Vinhedos,
em Bento Gonçalves, RS, e o Roteiro do Vinho, em São Roque, SP. No campo dos eventos, as
feiras e a Avaliação Nacional de Vinhos têm relevância. Os produtores que já adotam a prática
estarão sinalizados, aqui em Gente, lugares e vinhos do Brasil, com a sigla EnoT.
46 Dados da demanda do enoturismo no Brasil foram analisados em Valduga e Minasse (2018). O Enoturismo
no Brasil: principais regiões e características da atividade. Territoires du Vin . Disponível em: http://preo.u-
bourgogne.fr/territoiresduvi n/i ndex.ph p?id =1635.
Exigências legais
• Classe: leve, com teor alcoólico entre 7,0% e 8,5%; espumante; frisante; gaseificado;
licoroso e composto.
• Tipo ou classificação quanto à cor: tinto, rosado ou rosé e branco.
• Classificação quanto aos teores de açúcar (em gramas de açúcar por litro): até 4gll,
para vinhos finos secos; de 4, 1 gil a 25 gil para os vinhos meio-secos ou demi-sec; de
25, 1 gil até 80 gil, no caso de vinhos suaves. Ou ainda nature, extra brut, brut ou doce, na
designação dos espumantes.
• Graduação alcoólica: de 8,6% a 14%, tanto para vinhos finos quanto para vinhos de
mesa. Como vimos, a IN Mapa 14, de 8 de fevereiro de 2018, introduziu o conceito de
vinho nobre para os elaborados com viníferas com teor alcoólico entre 14, 1% e 16,0%.
Os vinhos que declaram uma variedade da uva com a qual foram elaborados são os vinhos
varietais, e os que não o fazem são vinhos genéricos. No caso do varietal, até a safra 2005
a vinícola devia comprovar, junto ao órgão fiscalizador, a existência do vinho na cantina e a
presença no produto de no mínimo 60% da variedade citada; a partir da safra de 2006, esse
percentual passou para 75%, ressalvados os percentuais específicos de cada denominação de
origem. O saldo deverá ser completado com vinho de variedade pertencente à mesma catego-
ria, ou seja, uma variedade nobre pode ser cortada com outra nobre: Cabernet Sauvignon com
Cabernet Franc ou Merlot, mas não com Bordô ou Isabel.
A citada Instrução Normativa do Mapa nº 14, de 8 de fevereiro de 2018, nos traz ainda o
seguinte:
Art. 30 Em função de características adicionais de qualidade, o vinho fino e o vinho nobre, pro-
duzidos em território nacional, podem ser classificados como:
§ 1° Reservado:
vinho jovem pronto para consumo, com graduação alcoólica mínima de 10 % (v/v).
§ 2° Reserva:
1 - quando o vinho tinto, com graduação alcoólica mínima de 11 % (v/v), passar por um período
mínimo de envelhecimento de doze meses, sendo facultada a utilização de recipientes de madeira
apropriada;
11- quando o vinho branco ou rosado, com graduação alcoólica mínima de 11% (v/v), passar por
um período mínimo de envelhecimento de seis meses, sendo facultada a utilização de recipientes
de madeira apropriada.
Observemos que falar de vinho Reservado, 47 Reserva e vinho Gran Reserva significa aten-
tar para atributos de idade, iniciados nas cantinas, para uma perspectiva de vida futura. Vejo,
então, necessidade de fazer uma pequena digressão sobre a idade dos vinhos.
47 É uma pena que tenhamos adotado esse conceito, tão desvalorizado entre nós, pela presença de grande
quantidade de vinhos 'reservados' importados de péssima qualidade.
72 Rogerio Dardeau
Vinhos de teor alcoólico mais elevado (13,5% a 14,5%) têm mais possibilidades de envelhecer,
apurando as virtudes. Mas veja, estimado leitor: tem possibilidade. Isso não significa dizer que
todo vinho muito alcoólico envelhecerá mais e melhor.
Confirmados os predicados ao envelhecimento, convém então deixar o vinho adormecer
por uns aninhos! Se possível, compre uma caixa, nela anotando local e data da compra, em
etiquetas apropriadas, ou registre como achar mais prático. Se você tem adega, elimine as
caixas e retire os papéis de seda que as melhores vinícolas utilizam para proteger os rótulos.
Periodicamente, abra uma garrafa e vá reconhecendo a evolução. O importante é que as garra-
fas repousem na posição horizontal, ao abrigo da luz, no lugar mais ventilado possível. É bom
recordar: garrafas em adegas pessoais devem repousar sem cápsula. Isso permitirá perceber
algum vazamento, de início, e consumir prontamente o vinho.
Mais um detalhe importante: ar, aeração. Os vinhos jovens elaborados no Novo Mundo,
inclusive, obviamente, os brasileiros, precisam de ar. Sim, frequentemente, estão prontos.
Mas ganham imensa expressão ao experimentarem ar, muito ar. Tenho falado muito nos vi-
nhos do dia seguinte. Você abre uma garrafa e não termina. Vai buscá-la no outro dia e se
surpreende: sente muito mais prazer. O que aconteceu? Seu vinho respirou. O que fazer? Se
não for possível usar uma jarra ou decantador, vá apreciando lentamente, agitando sua taça. A
experiência da degustação mais lenta, com vagar, será muito mais prazerosa.
Art. 5° A PI-Brasil, em seu rol de orientações, prioriza o uso de sistemas sustentáveis de pro-
dução agropecuária e preconiza a produção orientada por parte do público-alvo que é formado
majoritariamente por produtores agropecuários e agroindústrias.
Instrução Normativa nº 42, de 9 de novembro de 2016
O Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no uso das atribuições que lhe
confere... , resolve:
74 Rogerio Dardeau
Art. 1° Ficam aprovadas as Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada do Trigo; do
Arroz, de Gengibre, lnhame e Taro; do Feijão; de Flores e Plantas Ornamentais; de Uva para
Processamento; das Anonáceas; do Amendoim; e de Tomate Tutorado, respectivamente, na
forma dos Anexos 1 a lX desta Instrução Normativa.
ANEXO VI
Normas técnicas específicas para
a produção integrada de uva para processamento
Esta Norma Técnica Espedfica, formulada por premissas estabelecidas pela Instrução Normati-
va nº 2 7, de 30 de agosto de 201 O, refere-se às etapas Fazenda e Indústria da Produção Integra-
da de Uva para Processamento, que abrange todos os processos conduzidos na produção agrícola
e no processamento, respectivamente, conforme [veadas pelo Anexo da Portaria nº 443, de 23
de novembro de 2011, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (lnmetro).
Etapa 1 - Fazenda: 1. Capacitação; 2. Gestão ambiental; 3. Material propagativo; 4. Implan-
tação de vinhedos; 5. Nutrição de plantas; 6. Manejo do solo; 7. Irrigação; 8. Manejo da parte
aérea; 9. Proteção integrada da planta; 1O. Colheita; 11. Carência e sistema de rastreabilidade
e auditoria; 12. Análise de resíduos; 13. Assistência técnica e mão de obra.
Etapa 11 - Indústria: 1. Capacitação; 2. Gestão ambiental; 3. Estabelecimento vinícola; 4.
Processamento.
• Nome do vinho -É a identificação principal, não devendo ser confundido com varie-
dade de uva, nem com o produtor e nem com região produtora. Alguns produtores e
autores utilizam o nome principal da casa com a casta, em caso de varietal, como um
sobrenome. Exemplos: Antonio Dias Tannat, Don Laurindo Merlot, Quinta do Her-
val Trebbiano. Outros buscam dar personalidade exclusiva ao vinho. Exemplos: Alma
de Viamão, Intrépido, Minimvs Anima. Há o interessante caso da vinícola Maria Ma-
ria, de Três Pontas, MG, que batiza com um novo nome, o mesmo vinho, a cada safra.
• Produtor - É a vinícola ou vinicultor que elabora. Pode aparecer em diversas posi-
ções no rótulo.
76 Rogerio Dardeau
demonstrar certos cuidados especiais, se apresentadas em conjunto. Saber que foram
produzidas 25.000 garrafas de certo vinho e que se tem em mãos a de número 16.397
é, sem dúvida, um tratamento diferenciado para o consumidor. A informação do nú-
mero da garrafa perderá o sentido, caso não saibamos quantas foram produzidas. No
entanto, a informação isolada da quantidade produzida já é um cuidado.
• Enólogo - Confere valor e credibilidade ao vinho.
• Graduação alcoólica - Contribui na escolha de acompanhamentos e na identificação
da possibilidade de envelhecimento, sendo também cumprimento de dispositivo legal.
• Conservante - Na produção convencional, utiliza-se anidrido sulfuroso (S02), INS
220 ou PV. Vale registrar que, em Portugal, já se verifica a utilização de flor de cas-
tanheira como substituto do S02 na vinificação, com influência sobre pesquisadores
brasileiros. Há, todavia, vinhos sem conservantes ou com baixíssima presença de
S02, atualmente bastante procurados por um público muito exigente diante de ques-
tões ambientais e de preocupações com a ingestão de aditivos químicos. Esses vinhos
são, quase sempre, artesanais e requerem mais cuidado na guarda. O fato de serem
livres de química tem o preço da exigência de transporte mais cuidadoso, o que ainda
é problemático entre nós, e tratamento mais delicado.
• Amadurecimento - Podemos listar as seguintes formas: vinho que após a estabiliza-
ção em tonéis de aço, foi logo engarrafado; vinho que passou por barricas de madeira;
vinho do qual apenas uma parte estagiou em barrica de madeira, sendo cortado com
vinho procedente de tonel de aço; vinho do qual parte estagiou em madeira de uma
procedência (por exemplo, França) e parte passou por carvalho americano ou outro.
Cada processo propiciará uma característica ao vinho. O conhecimento disso nos
ajudará a melhor compreender o vinho e o nosso próprio gosto. Além disso, é sempre
bom saber se o vinho descansou na adega do produtor, antes da comercialização, e
por quanto tempo.
• Tempo de guarda - Se é um vinho de guarda, seria muito bom conhecer a recomen-
dação do produtor quanto ao tempo mínimo de envelhecimento. Devo reconhecer,
todavia, que se trata de informação imprecisa.
Como sabemos, o nome champagne é exclusivo dos espumantes produzidos naquela região
da França e está garantido por um acordo internacional, que o protege. 48 Sobre isso, havia uma
exceção curiosa no Brasil. Na década de 1970, as empresas francesas Champagne Lanson Pere
et Fils, Champagne G. H. Mumm & Cie. e Champagne Taittinger ajuizaram ação declaratória
contra a União Federal, visando o Instituto Nacional da Propriedade Industrial e o Instituto de
Fermentação, 49 pelo que entendiam haver descumprimento do Acordo de Madri pelas empre-
sas brasileiras Armando Peterlongo, Champagne Georges Aubert, Mosele e Dreher, em razão
do uso, por aquelas vinícolas, dos nomes champagne, champanha ou champanhe em seus espu-
mantes. Em decisão final, respondendo ao Recurso Extraordinário n. 78835, o Supremo Tribu-
nal Federal deu ganho de causa, em 25 de novembro de 1974, às quatro vinícolas brasileiras,
decidindo por relatoria do ministro João Baptista Cordeiro Guerra: "Não viola o art. 4 do
Acordo de Madrid, de 14.04.1891, decisão que admite a denominação champagne, champanhe
ou champanha em vinhos espumantes nacionais". O fato novo é que, no dia 11 de dezembro
de 2012, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à França, o governo brasileiro emitiu
declaração de reconhecimento da região francesa de Champagne como indicação geográfica.
Isso equivale a dizer que a partir da publicação daquele ato no Brasil, espumantes brasileiros
não podem ostentar os nomes champagne, champanha ou champanhe.
Os espumantes brasileiros, produzidos em Garibaldi, Bento Gonçalves, Pinto Bandeira, em
outros municípios gaúchos e até em outros estados, já são apreciados internacionalmente,
obtendo muito boas apreciações de especialistas mundo afora. Os cortes são variados, muitas
vezes numa tentativa de encontrar a melhor aproximação possível de champanhe. 50 Algumas
vinícolas substituem a Pinot Meunier por vinhos da casta Riesling Itálico. Mas há quem sim-
plesmente a elimine, elaborando o espumante apenas com vinhos base de Chardonnay e Pinot
Noir. Em ambos os casos, encontram-se produtos de primeira linha. Recentemente a Villaggio
Grando, de Água Doce, SC, apresentou um brut charmat, utilizando o corte tradicional francês,
com a Pinot Meunier. São muitos os espumantes brut notáveis, elaborados rigorosamente pelo
método tradicional, clássico ou champenoise (outra denominação francesa exclusiva), assim
como os blancs de noir e os blancs de blanc. Algumas vinícolas elaboram também o nature ou dosa-
Vivendo de seu trabalho de técnico, Manoel (Peterlongo) tinha um sonho: produzir em Garibaldi
um vinho que tivesse a mesma qualidade daquele da Europa. Esse sonho começava a se tornar
realidade em 1913, pelos conhecimentos que recebeu do irmão Pacômio. 53
51 Consta que o método foi concebido pelo italiano Federico Martinotti, mas que ele não dispunha de
recursos para executá-lo, vindo a ser aplicado, mais tarde, por Eugéne Charmat.
52 O certo seria escrever aqui 'método champenois', sim, sem o 'e' final, pela simples razão de que a palavra mé-
todo, em nosso idioma, é masculina. Mantenho, porém, champenoise, que faz concordância com la méthode,
feminina em francês, apenas pelo fato de estar consagrada, entre nós, a expressão "método champenoise".
53 Clemente, Elvo; Ungaretti, Maura. História de Garibaldi: 1870-1993. Porto Alegre: PUC-RS, 1993.
80 Rogerio Dardeau
• Nature ou dosage zéro - é o espumante com até 3 gramas de açúcar por litro;
• Extra-sec ou extrabrut - com teor de açúcar entre 3 e 8 gramas por litro;
• Brut- com teor de açúcar entre 8 e 15 gramas por litro;
• Sec - com teor de açúcar entre 15 e 20 gramas por litro;
• Demi-sec, meio-doce ou meio-seco - com teor de açúcar entre 20 e 60 gramas por litro;
• Doce ou doux - com teor de açúcar acima de 60 gramas por litro.
Dada a amplitude de cada faixa, seria desejável que os produtores declarassem a doçura
nos rótulos. A razão é simples. Se você é um apreciador de espumantes mais secos, terá pleno
prazer diante de um brut com dosagem de 8,0 gil. Acontece que, como vimos, pelos preceitos
legais, ele também será brut com 15,0 gil. Com certeza, quando você experimentar este últi-
mo, dirá que é doce.
Há também os espumantes chamados crus, integrais, sem dégorgement. São, sem dúvida
alguma, bebidas únicas, levando as leveduras até o consumo, com açúcar residual próximo de
zero, portanto nature. Enquanto as garrafas de espumantes precisam de trato muito cuidadoso
no serviço, um espumante integral deve passar por leve movimentação da garrafa para homo-
geneizar a bebida. Há, porém, quem prefira deixar a garrafa na vertical, antes do serviço, para
decantar a levedura. Como sempre, uma questão de gosto: sentir mais ou sentir menos a pre-
sença da levedura. Os aromas e sabores são completamente distintos, além do paladar que é
volumoso. São notáveis: Casa Valduga Sur Lie, Cave Amadeu Rústico Nature, Hermann Lírica
Crua, Otto Nature Sur Lie 2016 (iniciativa da Adega Refinaria de Bento Gonçalves, lançado
em 2019), Petronius Sur Lie 2017, Pizzato Vertigo, Routhier & Darricarrere Província de São
Pedro Ancestral, Valmarino Nature Sur Lie 2015.
Champagnes (os franceses) só são safrados em anos especiais, que evidenciem uma colheita
especial, e ganham a denominação millésime. Muitos dos produtores brasileiros de espumantes
finos têm adotado o costume saudável de safrar as bebidas, nas melhores safras. Como se sabe,
não há, em relação aos espumantes, uma obrigatoriedade de colheitas específicas. Encontramos
os espumantes longevos Legado Millésime, Miolo Millésime, Pedrucci Millésime, Don Gio-
vanni e Maximo Boschi, com alongados tempos de garrafa e ótimas expressões.
Estamos em amplo debate, no Brasil, por um nome específico para o nosso espumante, as-
sim como os espanhóis consagraram as cavas e os alemães, os sekt. Outra iniciativa importante
é a ação conjunta das vinícolas Aurora, Cave Geisse, Don Giovanni e Valmarino para ter Pinto
Bandeira como a primeira Indicação Geográfica específica de espumantes, que seria a primeira
no Novo Mundo. Em princípio, seriam admitidos somente espumantes elaborados pelo méto-
do tradicional, a partir de vinho base com as castas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico,
cultivadas em espaldeiras, e com limite de produção por hectare.
Os nomes que fazem a história do espumante brasileiro são Peterlongo, Acir Boroto (que
elabora, em Garibaldi, um espumante orgânico, certificado), Adolfo Lona (com sua butique e
com os espumantes Baron de Lantier, que não mais existem, do Grupo Bacardi Martini), Car-
valho Branco, Casa Pedrucci, Casa Valduga, Cattacini, Cave Colinas de Pedra, Cave Geisse,
Chandon, Clima, Don Giovanni, Eduardo Zenker (Arte da Vinha), Estrelas do Brasil, Hermann,
Maximo Boschi, Pizzato, 3 Atelier Garoa e Vallontano, entre muitos outros que, não tendo foco
exclusivo nos espumantes, os elaboram em elevado padrão. Aliás, é preciso registrar que os
82 Rogerio Dardeau
IMPORTADOS BRASILEIROS TOTAL
■ LITROS 9.165.991 17.950.127 27.116.118
% 33,8% 66,2% 100%
Desde que os vinhedos começaram a ser convertidos para espécies viníferas, os viticultores
privilegiam castas francesas . Sob o meu ponto de vista, a casta tinta de origem francesa que
melhor se adaptou à Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, foi a Cabernet Franc. Os vinhos
brasileiros dessa vinífera pioneira, produzidos em diversos pontos daquela área, tendem a
assumir muito bom corpo e a evoluir muito bem na garrafa. No entanto, por diversas razões,
a Cabernet Franc não figura atualmente entre as principais viníferas plantadas no Brasil, em-
bora tenha conquistado o título de tinta principal da IP Pinto Bandeira. A Merlot, hoje a tinta
titular da DO Vale dos Vinhedos, é a que vem se firmando como a "casta brasileira", sobretudo
após o êxito do Pizzato Reserva Merlot 1999. Essa casta, porém, está em segundo lugar entre
as viníferas tintas processadas. A primeira posição no pódio fica para a Cabernet Sauvignon,
conforme dados da Embrapa Uva e Vinho. Contudo, praticamente todas as vinícolas que se
dedicam a vinhos brasileiros de terroir têm a casta Merlot nos próprios vinhedos ou, quando
não a têm, vinificam a partir de uvas compradas de terceiros.
Insistimos: os terroirs brasileiros ainda estão em definição. Muito ainda há a aprender
sobre a relação entre determinada casta e a adaptação ao lugar onde está implantada. São inú-
meras as viníferas ainda em teste no Brasil. Encontramos as castas gregas Assyrtiko (branca),
além da tintas Agiorgitiko e Xinomavro. Há também castas georgianas. As brancas são Mtsva-
ne, Chinuri, Gorula (Mrgvali Kurdzeni) e Rakaziteli (Rkatsiteli); as tintas Aleksandrouli, Jani
Nakashidzis, Mujuretuli, Ojaleshi, Taveri (Tavkveri) e Usachelari (Usakhelouri). Todas essas
são certificadas e nos chegaram pelas mãos do produtor James Martini Carl.
Com as crises provocadas na viticultura europeia, inicialmente pela filoxera e depois por míldio
e oídio, houve a necessidade de desenvolvimento de novas variedades de videiras, que resistissem
àquelas pragas. A enxertia, em "cavalos" americanos, solucionou o problema da filoxera; a cria-
ção de híbridos produtores diretos, os problemas de míldio e oídio. Foram criadas variedades que
tinham algum grau de resistência aos fungos e qualidade de vinho semelhante aos de viniferas.
No Brasil, não podemos deixar de destacar as ações da Embrapa Uva e Vinho e do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC) , com relevantes contribuições no desenvolvimento de novas
cultivares autenticamente brasileiras, regionais. Incluí, neste trabalho, as híbridas brancas
Goethe e Lorena, além das tintas Máximo e Moscato Bailey, pela forte presença que ambas
vêm tendo na vizinhança das viníferas e até em cortes com essas.
A seguir, relacionamos as castas mais cultivadas, na certeza de alguma omissão de cepa em
pesquisa de adaptação por algum viticultor.
86 Ro ge rio Darde au
BRANCAS
Chardonnay
É a branca mais cultivada em todo o mundo. Originária da França, na Borgonha e em Cham-
pagne, onde nasceu o espumante homônimo. Cultivada também na Argentina, na Austrália, no
Brasil, na Califórnia (maior reduto produtor depois da Europa), no Chile e em muitos outros
países. Na Borgonha, produz os famosos Chablis e Montrachet, cujos nomes se confundem com
as regiões. Os Pouilly-Fuissé são também elaborados com a Chardonnay. Vinhos com a Chardon-
nay combinam com massas e frangos levemente temperados, além das sopas e alguns pratos de
camarões. São ótimo acompanhamento para a fondue de queijo. Portugal vem produzindo exce-
lentes vinhos maduros à base da Chardonnay, que são ótima companhia para os bacalhaus e fe-
cham muito bem com chocolate intenso. 56 No Brasil, é a casta branca principal da Denominação
de Origem Vale dos Vinhedos (DOVV) . Praticamente todas as vinícolas que elaboram vinhos
brancos secos têm um Chardonnay. Aos apreciadores de vinhos brancos barricados, recomendo
o Casa Fontanari Chardonnay Bâtonnage, dos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, RS.
Alvarinho
Cepa da região do vinho verde. Produz alguns dos melhores verdes em Monções. Um peixe
ao molho de gengibre pede um vinho de Alvarinho com boa acidez. Aliás, os vinhos à base
da Alvarinho são tão singulares que podem oferecer amplas possibilidades de harmonização.
Que tal um arroz de lampreia? Na Espanha é a Albarifio. No Brasil, é cultivada pela Miolo, na
Campanha Gaúcha; pela Vinícola Hermann, em Pinheiro Machado; pela Lemos de Almeida,
nos Campos de Cima da Serra; e pela Famiglia Tasca, em Monte Belo do Sul.
Arinto
Uva branca muito presente no centro-sul de Portugal (áreas mais quentes), especialmente
no entorno de Lisboa, inclusive nos vinhedos arenosos de Bucelas. É casta de acidez elevada
que aporta aromas cítricos aos vinhos e tem capacidade de envelhecer. No Brasil vem sendo
testada por Rogério Gomes, em vinhedos implantados no norte da ilha de Santa Catarina.
Assyrtiko
Variedade grega encontrada em Santorini e na Macedônia, muito versátil, em varietais se-
cos, jovens, cortes estruturados, vinhos de sobremesa e até no estilo retsina, tipo de elaboração
ancestral que tomava a resina de pinheiro dos tonéis. A casta está implantada, na Campanha
Gaúcha, como experimento, numa parceria entre a vinícola Campos de Cima, a Embrapa Uva
e Vinho e o produtor James Martini Carl. Em outubro de 2019, tive a oportunidade de apreciar
o primeiro vinho. Estava equilibrado, com uma bonita cor amarela com reflexos esverdeados,
aromas leves e ótima presença no paladar, com boa acidez. O vinho manteve as características
da casta, mostrando algo do terroir sob o qual foi desenvolvida.
56 Aprendi com a mestra chocolatier Mirian Rocha que não é correta a popular expressão 'chocolate amar-
go', mas sim chocolate intenso.
Principal uva branca de várias regiões do Vale do Loire, utilizada na produção do espuman-
te daquela região. Ali, é conhecida como Pineau-de-la-Loire. Os vinhos dessa uva acompanham
muito bem os risotos de queijo. Casta autorizada na AOC Montlouis-sur-Loire, onde seus vi-
nhos tendem à longevidade. A Chenin Blanc está nos vinhedos da família Dardeau, na Domai-
ne La Milletiere, de René-Pierre Dardeau, e na Domaine Les Lutinieres, de Jean-Christophe
Dardeau. No Brasil, vem sendo testada no Vale do São Francisco, já tendo sido apresentada
com boa expressão no Botticelli Chenin Blanc 2007, em corte com a Viognier, pela Vinícola Rio
Sol, e no untuoso Cattacini Vale do Luar 2014.
Colombard
Casta do sul da França, portanto adaptada aos climas quentes. Por essa razão encontrou
ambiente e prosperou muito na Califórnia, sendo inclusive identificada ao varietal French
Colombard. Transmite boa acidez aos vinhos, bem como notas florais e muito frescor. É mais
uma das brancas admitidas na IP Campanha Gaúcha.
Casta muito presente em todo o território português, mas que prefere as regiões mais
quentes. Na origem, é usada na elaboração de vinhos secos, doces e até em espumantes. Não
tem acidez elevada e dá origem a vinhos leves. Está em avaliação pelo produtor Rogério Go-
mes, no norte da ilha de Santa Catarina, com vinificação prevista para 2020.
Flora
Cultivar resultante do cruzamento entre as viníferas Gewurztra-
miner e Sémillon, de casca levemente rosada, implantada no sul do
Brasil pela Vinícola Vallontano. Há algum tempo, porém, por diversas 2001
Gewürztraminer
Uva aromática, de casca rosada, que teve importante presença no norte da Itália, na região
de Tramina. Ali, a variedade Traminer já tinha tal denominação, antes do reconhecimento do
mesmo nome à região. Sugere-se que os alemães tenham adicionado o prefixo gewurz (espe-
ciaria) para evidenciar a característica aromática de especiarias. Tem excelência de produção
na Alsácia, onde dá vinhos untuosos e persistentes. Esteve muito presente em vinhos produ-
zidos em nossa terra, no início dos anos 1980, na Serra Gaúcha. Acontece que aquela não era
a região mais apropriada a essa casta. Então, experimentou certo declínio, mas vem ganhando
posições, especialmente na Campanha Gaúcha, com os varietais elaborados pela Cordilheira
de Sant'Ana e pela Guatambu. Aliás, essa vinícola tem, inclusive, um ótimo espumante ro-
sado, no qual a Gewürztraminer entra em corte com a Pinot Noir, no vinho base. Saul Bian-
co (Leone di Venezia) e Lizete Vicari (Domínio Vicari) também oferecem excelentes rótulos
dessa casta. Os vinhos dessa casta nobre podem acompanhar salmão defumado, pratos com
queijos e outros com pimentões, além da maniçoba.
Goethe (clássica)
Essa não é uma vinífera, mas, dada a importância que assumiu em Santa Catarina, con-
quistando até uma IP, não posso deixar de citá-la com destaque. Trata-se de uma cepa híbrida,
desenvolvida a partir do cruzamento entre a variedade vinífera europeia Moscato Hamburgo
(Black Hamburg ou Black Muscat) e a americana Carter. Data de 1851, quando o norte-ameri-
cano Edward Stanniford Roger criou, no estado americano de Massachusetts, vários cultivares
Gouveia
Variedade fundamental aos vinhos do Porto, sobretudo pelo equilíbrio de acidez de seus
vinhos. Durante muito tempo julgava-se que era a Verdelho, de fora do Douro. Atualmente é
identificada como casta autônoma. É Godello na Galícia. Está presente nos vinhedos da Viní-
cola Hermann, em Pinheiro Machado, RS, e integra o corte do espumante prestígio daquela
casa, o elegante Hermann Lírica Brut (11,8%), elaborado pelo método clássico.
Grechetto Bianca
Trata-se de mutação da homônima tinta, com origem no norte da Espanha, com forte pre-
sença no sul da França, onde entra no corte de Chateauneuf-du-Pape. Seus varietais são claros
e exalam maçã verde. É considerada uma casta que se transforma, conforme a região na qual
está implantada.
Gros Manseng
Casta francesa, muito presente no sudoeste da França, irmã da Petit Manseng. Como o próprio
nome evidencia, tem bagos grandes. A casca tem uma coloração verde-dara e é espessa. A acidez
é semelhante à da Petit. Quando colhida normalmente pode gerar vinhos secos elegantes e florais.
Porém, é muito utilizada em colheita tardia, depois de ser atacada pelo fungo Botrytis cinerea, que
perfura a casca e drena o bago, favorecendo alta concentração de açúcar, desejável à elaboração dos
vinhos doces de sobremesa. Está muito presente na Gasconha e no Jurançon. Foi implantada no
Brasil pela Vtllaggio Grando, de Santa Catarina, em vinhedos a 1.300 metros de altitude. Integra o
corte do Villaggio Grando Colheita Tardia de Altitude. É a casta do Viapiana Laranja 2017.
Híbrida desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho para a Serra Gaúcha que vem tendo ex-
celente adaptação a outras regiões vitícolas brasileiras, inclusive São Paulo. Foi obtida pelo
90 Rogerio Dardeau
cruzamento entre a vinífera Malvasia Bianca e a híbrida Seyval. A BRS UV 127 3', como é
tecnicamente conhecida a Lorena, possui alta produtividade (25-30 t/ha), vigor moderado e
resistência às principais doenças que ocorrem na região. A uva madura atinge teores de açúcar
entre 20 e 22 graus Brix, com muito boa acidez. Seus vinhos têm mostrado muita elegância, são
aromáticos e de muito boa presença no paladar. Têm amplas possibilidades de harmonização.
Malvasia
Trata-se de uma grande família, com origem grega, na qual estão a Malvasia Bianca, a Mal-
vasia Nera e a Malvasia de Candia. Prospera em praticamente toda a Itália. Tem uma reputação
de elegância e é utilizada indiscriminadamente em cortes brancos e tintos. Os Chianti destina-
dos ao consumo rápido são temperados com Malvasia. No Piemonte é cortada também com
Barbera. Varietais dessa uva são produzidos de Friuli à Sicília. Esses vinhos podem ser secos e
acompanhar bem as entradas italianas e os peixes, mas também podem ser abocados ou meio-
-doces, então indicados a aperitivos. Há ainda os vinhos de sobremesa elaborados com Malva-
sia. No Brasil, a casta dá origem a muitos espumantes doces e meio-doces. Em varietais secos,
destacam-se os elaborados por Vilmar Bettú, em Garibaldi, por Ademir Brandelli, da Casa
Don Laurinda, em Bento Gonçalves, além do Dezem Magne. A denominação Malvasia também
aparece nas variedades espanhola (Malvasía Aromática) e portuguesa (Malvasia Fina).
Manzoni Bianca
Variedade criada em 1930, pelo professor Luigi Manzoni, da escola de enologia de Cone-
gliano, a partir do cruzamento entre Pinot Bianco e Riesling. O objetivo foi aprofundar a já
conhecida adaptabilidade das duas castas originárias aos climas frios. A Manzoni é hoje casta
típica do Vêneto, gerando varietais bem estruturados, florais, com toques minerais e frescos.
No Brasil, está implantada em Sapucaí Mirim, MG, no ambiente que apresento como Manti-
queira Alta, no Sítio Polesano.
É uma grande família de uvas, uma das castas mais antigas conhecidas. Responsável por
vinhos brancos doces e aromáticos, mas também por secos de boa estrutura. Dá origem ao
doce Moscatel. No Brasil é bastante difundida, gerando ótimos varietais no Rio Grande do Sul.
Está presente até no Vale do São Francisco, onde gera também vinhos "colheita tardia". Mos-
cato Bianco, Moscato Giallo e Moscatel de Alexandria são as mais cultivadas por aqui. A jovem
vinícola Vale das Colinas, em Garanhuns, PE, tem a Muscat Blanc à Petits Grains como uma
das principais brancas da casa. Na Itália, é a base do Asti Spumante. Em Portugal, na DOC Setú-
bal, dá origem ao famoso Moscatel de Setúbal, VLQPRD. 58 Acompanha os doces e alguns pratos
leves servidos com doces de frutas. Aparece ainda como Moscatel de Alejandría, na Espanha;
Moscatel Graúdo e Moscatel Branco, em Portugal; Lexia, na Austrália; Hanepoot, na África do
Sul; e Angliko ou Moschato Alexandrias, na Grécia. Veja a Moscato Hamburgo, entre as tintas.
Petit Manseng
Casta francesa de elevada acidez, à qual se atribui vínculo genético com a Alvarinho. É
a irmã menor (em tamanho mesmo) da Gros Manseng. Também tem casca espessa, o que
facilita a ação do fungo Botrytis cinerea, que perfura a casca e drena o bago, favorecendo alta
concentração de açúcar, desejável à elaboração dos vinhos doces de sobremesa. Está muito
presente na região francesa do Languedoc-Roussillon. Nos Estados Unidos, tem presença na
Califórnia. Foi implantada no Brasil pela Villaggio Grando, de Santa Catarina, em vinhedos a
1.300 metros de altitude. Integra o corte do Villaggio Grando Colheita Tardia de Altitude e está
também nos vinhedos de Orgalindo Bettú, em Garibaldi.
Variedade trentina (Trentino-Alto Adige, Itália) adotada, no Brasil, por alguns viticultores
do Rio Grande do Sul, num retorno à cena, após longo período de ostracismo. Consta que foi
a primeira vinífera branca a chegar ao Brasil pelas mãos dos pioneiros imigrantes italianos,
na segunda metade do século XIX. Teria praticamente desaparecido anos depois, e retornado
por iniciativa de Carlos Dreher nos anos 1930, para, depois, se transformar na vinífera branca
mais plantada no Brasil, até 1970. Seu nome deriva de pevero, pimenta, em dialeto do Vêneto,
o que traduz uma identidade da cepa, na origem. Ganhou expressão com o varietal de Álvaro e
Vítor Escher, o Cave Ouvidor Insólito Peverella, com leve oxidação provocada das safras de 2004
e de 2005, que se esgotaram, sendo muito elogiados por Ed Motta. 59 Com o encerramento das
atividades da Cave Ouvidor, Álvaro Escher voltou a vinificá-la, com a mesma proposta, obtendo
o expressivo Era dos Ventos Peverella 2008. Experimente o palmito in natura, assado, do Restau-
rante Aprazível, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, com um Era dos Ventos Peverella. Harmoniza
59 O músico Ed Motta é um apreciador qualificado de vinhos e, inclusive, escreve colunas e notas de degus-
tação em diversos veículos de imprensa.
92 Rogerio Dardeau
em excelência, também, com as ostras frescas. Entre nós, ainda encontramos o vinho Caminhos
de Pedra Peverella, elaborado pela vinícola Salvati & Sirena, situada na Linha Palmeiro, distrito
de São Pedro, em Pinto Bandeira, RS, vinificado tradicionalmente, sem passagem por madei-
ra. Nesse caso, pela leveza e frescor, recomenda-se harmonizá-lo com queijos leves e saladas
verdes. O mesmo vinho, oferecido pelo négociant Luiz Carlos Cattacini Gelli, tem passagem por
barrica. Aliás, Gelli elabora o Cattacini Azzul, um extra brut 100% Peverella notável.
Pinot Blanc
Ribolla Gialla
Um dos clones da casta Ribolla, que, embora identificada à região do Friuli, no norte da
Itália, tem muito provavelmente origem na Grécia, onde adota o nome de Cephalonia. Chegou
àquela região italiana via Eslovênia, onde deixou rastros e se chama Rebula. Tem uma casca
fina que facilita a maceração para a obtenção de vinhos chamados naturais, como os do produ-
tor Josko Gravner, do Friuli. Os vinhos da Ribolla Gialla têm, em geral, muito boa acidez e nos
remetem à pera e aos cítricos, com notas florais. No Brasil é vinificada pela Domínio Vicari, a
partir de frutos colhidos em vinhedos biodinâmicos de um parceiro da vinícola, em Urubici,
SC, e também por Humberto Conti, na Villaggio Conti, em São Joaquim, se.
É citada como uma das grandes brancas do mundo, ao lado da Chardonnay. Na Alema-
nha, é a base dos melhores brancos. Fruta aromática, bastante elegante. Na Alsácia, produz
excelentes brancos secos. No Brasil, atualmente, poucos produtores a cultivam. Aqueles que
a vinificam, obtêm tipicidade, mas não conseguem vinhos como os alemães ou alsacianos.
Exceção honrosa podia ser feita aos Weingut Weinzierle, de Nova Petrópolis, RS, mas infeliz-
mente não são mais produzidos. Uma das melhores expressões brasileiras dessa casta tão
fina, na atualidade, é o Miolo Single Vineyard RieslingJohannisberg 2018, um raro Riesling
Renano, com uvas da Almadén, de um microlote: o vinhedo Toca do Tigre, Quadra 121, Par-
cela A, plantado em 1978, na região gaúcha da Campanha Central. Outro produtor que tem
a casta é a Nova Aliança, em vinhedo próximo ao da Almadén, no município de Santana do
Livramento, e aplica as uvas no corte do vinho base para o espumante Santorini. Os vinhos
Riesling Itálico
Não é parente da Riesling alemã (Riesling]ohannisberg ou Riesling Renano) e é bastante diferente.
No passado, no Brasil, foi a vinífera branca fina mais difundida. Dava origem a alguns dos melhores
vinhos brancos da Serra Gaúcha, sempre frutados, frescos, agradáveis, não muito aromáticos. De
uns anos para cá, seu cultivo vem sendo mais cuidado e podemos dizer que temos varietais muito
marcantes dessa casta, como, por exemplo, o Bettú, o Don Guerino Sinais, o Faccin e o Quinta do
Herval. Alguns produtores a incluem no corte de espumante. Na Europa, é muito usada para cortes.
Salarina
Na verdade, não é uma casta, embora muito se ouça sobre tal denominação, na Serra
Gaúcha. Há quem a considere uma mutação da Verdelho. Vejamos o depoimento de Maurício
Voigt Furtado Ribeiro, Vinhedo Serena, um dos raros produtores que vinifica a casta, aliás,
em excelência: "Salarina é o apelido de uma casta antiga e rara no nosso meio, sendo reproduzida há
gerações em pé franco, sobre solos basálticos. Acreditamos tratar-se da Verdelho, original dos Açores".
Sauvignon Blanc
Francesa bastante plantada em Bordeaux, onde participa de brancos frutados, e no Vale do
Loire. É marcante o aroma de maracujá que, em geral, seus vinhos jovens apresentam. Dá al-
guns dos melhores brancos do Chile. No Brasil, está em fase de expansão, em áreas cultivadas,
inclusive quando o manejo se dá por dupla poda. São dignos de nota os untuosos varietais a
100% dessa uva produzidos pela Villaggio Grando, no município de Caçador; pela Villa Fran-
cioni, em São Joaquim, SC, além dos elaborados na Campanha Gaúcha, mais jovens e frescos.
Quem valoriza maior complexidade entre os brancos, não deve deixar de apreciar os barricados
Donna Enny e Salvaggio D'Manny, da Villaggio Bassetti. O Dall'Agnol Fumé Blanc é outro
vinho notável dessa casta. Recomendo enfaticamente a apreciação dos varietais longevos (rari-
dade) dessa casta, elaborados na região do Alto Uruguai, pelas vinícolas Ametista, em Ametista
do Sul, RS, e Weber, em Crissiumal, RS. Há garrafas sensacionais, com seis, oito e até dez anos.
A Sauvignon Blanc vem demonstrando ser a casta branca mais adaptada ao manejo pelo ciclo
invertido, com dupla poda e colheita de inverno. São muito expressivos e singulares os varietais
elaborados no Sudeste, por exemplo, pela Vinícola Inconfidência, de Paraíba do Sul, RJ, e pela
Guaspari, de Espírito Santo do Pinhal, SP, este com a denominação Vale da Pedra. Os varietais da
Sauvignon Blanc são boa companhia para as saladas de frutos do mar e outras à base de aspargos
e tomates. Os vinhos mais aromáticos da Sauvignon Blanc são excelente companhia para os
pratos de frutos do mar da cozinha baiana, como vatapá, caruru, bobó, moquecas e outros. Com
esses pratos, que me perdoem os puristas, fica também delicioso um Pouilly-Fumé! 60 Da mesma
60 Varietal da Sauvignon Blanc, do Vale do Loire, França a qual, em razão do clima e do solo, apresenta um
agradabilíssimo defumado no aroma. A denominação se dá pela localidade de Pouilly-sur-Loire.
94 Rogerio Dardeau
forma, vão muito bem regando um acarajé e até um ceviche de pescado peruano, não esquecendo,
é claro, o Chupe de Locos e outras delícias do mar da culinária chilena. Para os que apreciam
a culinária das Minas Gerais, recomendo os Sauvignon Blanc de dupla poda, do Sudeste, para
harmonizar com um frango com quiabo al dente. É uma das boas harmonizações possíveis.
Sauvignon Gris
Trata-se de mutação da Sauvignon Blanc, ocorrida na França, na região de Bordeaux. Avan-
çou ao Vale do Loire, onde vem sendo cortada com a cepa de origem, para conferir estrutura,
volume, aos vinhos. Não é tão aromática quanto a Sauvignon Blanc. Tem presença reduzida no
mundo.Já encontramos varietais e cortes no Chile e no Uruguai. No Brasil, está implantada nos
vinhedos da Vinícola Inconfidência, em Paraíba do Sul, RJ, para avaliação.
Sémillon
Outra uva de Bordeaux. É a base dos grandes vinhos de sobremesa de Sauternes, pois se
presta, em excelência, ao ataque pelo Botrytis cinerea. No que diz respeito aos brancos secos de
Bordeaux, vêm perdendo terreno para a Sauvignon Blanc, mais adequada a esse propósito. No
Brasil, a Sémillon não é tão comum, embora apareça na colheita tardia da Aurora. Recentemen-
te, a vinícola Pizzato homenageou o patriarca Plinio Pizzato com um varietal bem complexo da
casta. Plínio foi um dos precursores do cultivo da Sémillon entre nós. No Chile e na Argentina,
dá origem a alguns brancos tradicionais. Os vinhos dessa uva são bons candidatos à guarda,
para quem gosta dos brancos maduros. Devem acompanhar camarões e peixes (um pargo ao
sal grosso, por exemplo), mas podem também seguir os pratos à base de porco condimentado e
queijo roquefort, quando mais amadurecidos. Os mais jovens são indicados ao cozido.
Traminer
Trebbiano
Verdejo
Casta aromática da Espanha central que dá origem a varietais estruturados e de bom volu-
me, com boa acidez, toques herbáceos e notas de castanhas. Lá é encontrada frequentemente
em cortes com a Viura e com a francesa Sauvignon Blanc.
Veja Gouveio. Casta que se notabilizou como a protagonista dos vinhos fortificados da ilha
da Madeira e dos Açores. Seus varietais são, em geral, claros, com alguns aromas cítricos e
leveza no paladar. Está implantada no Brasil nos vinhedos da família Lemos de Almeida, em
Muitos Capões, RS, de onde já sai um vinho agradável, leve, apto aos verões brasileiros.
Verdello
Durante muito tempo, pensava-se que era a mesma Verdelho. Estudos recentes, porém,
demonstraram tratar-se de casta específica, uva típica da região de Orvieto, na Úmbria, Itália.
Entra em inúmeros cortes de vinhos brancos daquela região. Dá origem a vinhos frutados, de
corpo médio, com leve e delicado amargor e boa acidez. Participa dos cortes do Leone di Venezia
Rialto e da fermentação com as cascas do Leone di Venezia Oro Vecchio, vinho ao estilo laranja.
Vermentino
Viognier
TINTAS
Cabernet Sauvignon
É a variedade tinta mais conhecida e mais citada. Com certeza a mais difundida, atualmente,
em todo o mundo. Sobre ela, diz-se que é como a globalização: tem identidade global e persona-
lidade local. Vem da região de Bordeaux, onde nasceu de cruzamento natural entre a Cabernet
Franc e a Sauvignon Blanc. É dominante nos grandes vinhos de Médoc, aos quais contribui com
estrutura e corpo, marcando a maciez e a elegância. Seus cachos, em geral, são grandes e com
as bagas mais afastadas - irregularmente dispostas - do que nos cachos de outras variedades.
Isso é muito bom para um eficiente escoamento da água da chuva ou da aspersão. Certamente
por isso tem uma grande adaptação a diversas regiões da Terra. A Cabernet Sauvignon está
cultivada com êxito na Califórnia, Chile, Austrália, Argentina, Espanha, Itália e Brasil, sem
perder suas características principais. A casta confere a seus vinhos sinais marcantes e de fácil
Aglianico
Variedade do sul da Itália, especialmente Campania e Basilicata. É uma casta que pode
apresentar elevados níveis de acidez. Na origem, é muito utilizada em cortes. Quando jovens,
seus vinhos tendem a ser tânicos e volumosos. No Brasil, tem presença na Serra Catarinense,
aparecendo em cortes na Villaggio Conti e na Leone di Venezia.
Albarossa
Alfrocheiro Preto
Alicante-Bouschet
Cultivar escura e aromática, obtida por Henri Bouschet, em 1866, a partir do cruzamen-
to entre a Petit-Bouschet e a Grenache. É uma uva escura, muito utilizada em cortes, como
tintureira. Adaptou-se bem ao sul da França, que passou a ser considerado lugar de origem
da cepa. Em Portugal tem presença expressiva em diversos cortes, por exemplo, no Mouchão.
Lá também, no Alentejo, encontramos um marcante monocasta, elaborado pelo conceituado
enólogo e produtor Paulo Laureano. No meu entendimento, atualmente, a Alicante-Bouschet
é mais portuguesa do que francesa. Pela concentração que possui, foi cepa muito importante
nos Estados Unidos, durante a lei seca, para a elaboração de suco de uva. Essa característi-
Ancelota ou Ancellotta
Casta de origem italiana que começou a ter presença no Brasil em meados da década de
1990, trazida pela família Brandelli (Don Laurinda). Trata-se de uma tinta com excepcional
quantidade de pigmentos, levando seus vinhos ao tom púrpura. Equilibra muito bem os vi-
nhos tânicos, como os de Tannat ou Malbec, conferindo-lhes cor mais intensa e um paladar
mais equilibrado, sem prejuízo dos seus aromas. O corte Ancellotta + Tannat, presente no
Grand Reserva '99 da casa Don Laurinda, é ótimo parceiro das carnes assadas com molho fer-
rugem. O varietal Ancellotta, da mesma casa, é vinho de aromas complexos e excelente corpo.
É perfeito se bebido solo, mas acompanha os queijos fortes e os salames, enriquecendo-os.
Ambos, Gran Reserva e Ancellotta, devem repousar por pelo menos trinta minutos em decanta-
dor antes do consumo, para retirar do ar sua melhor expressão.
Aragonez (no Alentejo) ou Tinta Roriz (no Douro e no Dão) e outras denominações regio-
nais em Portugal; Tempranillo, Tinto Fino em Ribera Del Duero e outras denominações regio-
nais na Espanha; Midi (França); Valdepefias (Argentina e Califórnia). Essa é uma casta ibérica,
que se espalha pelo mundo, assumindo perfis próprios dos lugares, sem perder o DNA. Como
Aragonez, no Alentejo, está em varietais e participa de muitos cortes, aportando estrutura aos
vinhos. No Vale do Douro, como Tinta Roriz, participa de cortes encorpados da região e é tam-
bém utilizada na produção de vinhos do Porto. Como Tempranillo, é a uva principal dos vinhos
de Rioja, marcados por grande classe, elegância, aromas amplos e sabores de frutos vermelhos.
Os vinhos da Tempranillo são companheiros, por excelência, das caças, das perdizes, das co-
dornas e dos faisões. No Brasil, diversas vinícolas exploram a Tempranillo, enquanto a Quinta
Santa Maria (SC) e a Seival Estate (MWG Campanha Gaúcha) desenvolvem a denominação
duriense Tinta Roriz. A Vinícola Hermann, de Pinheiro Machado, RS, implantou a denominação
alentejana Aragonez. A Vinícola Malgarim encontrou ótima adaptação da Tempranillo, na região
das Missões, enquanto produtores do Sudeste vêm tendo êxito no cultivo com dupla poda. Em
Minas Gerais, a vinícola Buenos Momentos, de Diamantina, e Stella Valentino, de Andradas,
têm apresentado varietais marcantes, da Tempranillo.
Arinarnoa
Trata-se de variedade francesa, que se julgava nascida pelo cruzamento entre Merlot e Petit
Verdot. Recentemente, análises de DNA indicaram que essa uva vem de cruzamento entre a
Tannat e a Cabernet Sauvignon. Está muito difundida na região do Languedoc-Roussillon.
Seus vinhos apresentam um violeta profundo, aromas frutados intensos e, na boca, marcantes
especiarias, podendo ser longevos. No Brasil, a Casa Valduga tem o Terroir Identidade Arinarnoa
Single Vineyard, com muito boa expressão da cepa. A palavra arinarnoa é uma composição entre
98 Rogerio Dardeau
arin (leve, agradável) e arnoa (amo = vinho), palavras tomadas do idioma basco (euskara),
falado no País Basco, entre o centro-norte da Espanha e o sudoeste francês.
Barbera
Uva italiana da área de Piemonte. Vinhos comumente frutados, com bastante acidez, um
tanto rústicos. 61 O vinho do dia a dia em Piemonte. É mais usada para cortes. Os vinhos
originais italianos à base dessa uva acompanham muito bem o salmão defumado puro, os
antepastos à moda italiana, o presunto de Parma e as massas com molhos à base de tomate
(al sugo). Podem ser boa companhia também para a feijoada. No Brasil, foi uma das castas
pioneiras entre as viníferas. A Angheben já elabora, desde 2004, expressivo varietal dessa uva.
Mais recentemente, a Pireneus, de Goiás, apresentou seu varietal da casta (85%), o Bandeiras
2010, com um leve tempero de Tempranillo (10%) e de Sangiovese (5%). A Casa Perini tem
um varietal, com uvas do Vale Trentino, na linha Vitis.
Cabernet Franc
Outra uva do chamado corte bordalês. Entra em proporções menores no Médoc, sendo
muito disseminada em Saint-Émilion e Pomerol. Em microrregiões de Saint-Émilion, a cepa é
também chamada de Bouschet. Trata-se de cepa de casca escura, que transmite a seus vinhos
toques herbáceos de tabaco e pimenta-negra. É a base de vinhos frutados, agradáveis e bem
estruturados, que podem ser consumidos mais rapidamente, sem necessidade de envelhecer
tanto. Bastante utilizada na região do Loire e também na Itália. No Brasil, foi a vinífera fina
tinta mais difundida quando se iniciou o movimento de substituição de uvas comuns por vi-
níferas. Adaptou-se muito bem ao Rio Grande do Sul e dá bons vinhos, diretos, frutados e
aptos ao envelhecimento. São bons exemplos: Valmarino, Churchill, Bettú, Viapiana, Dunamis, Dal
Pizzol - com o tradicional Do Lugar-, Don Giovanni e o Casa Valduga Premium Raízes. É a principal
casta tinta da jovem IP Pinto Bandeira. É boa companhia dos picadinhos, dos pratos ao curry,
de um filé ao vinho, de vitela, de um risoto de cogumelos e até de um hambúrguer. Vai muito
bem com os pratos da cozinha mineira. Quando os comensais de um risoto de alcachofra da
Pousada Don Giovanni preferem um vinho macio, um Cabernet Franc daquela casa é perfeita
companhia. A casta vem tendo ótimo desempenho nos vinhedos de dupla poda da Vinícola
Inconfidência, em Paraíba do Sul, RJ, e, pelo mesmo tipo de manejo, nos vinhedos da Vinícola
Góes, em São Roque, SP. Entre os autores, Marco Danielle (Atelier Tormentas) tem magníficas
expressões dessa uva, sempre que identifica frutos especiais, como fez nas colheitas de 2013,
com o Fvlvia, e em 2015, com o Vermelho. Mais recentemente, o autor Eduardo Gastaldo, de
Porto Alegre, RS, nos trouxe o excelente Matheus 2018, a 100% da casta, a partir de uvas do
distrito de Fazenda Souza, Caxias do Sul. O vinho mostrou uma cor rubi brilhante, aromas
ainda fechados, bom volume de boca e um perfil longevo.
61 Pela concepção francesa, rústicos são os vinhos muito tânicos e adstringentes, vinhos que pegam na
boca, como o sabor de um caqui ainda não amadurecido.
Uva francesa de Bordeaux que se julgava extinta desde o desastre da filoxera, em mea-
dos do século XIX. Foi identificada no final dos anos 1980, no Chile, em 'pé franco', 62 con-
fundida por muitos anos com variação de Merlot. Seu nome deriva certamente da cor, o tom
forte carmim, sempre emprestado aos vinhos com ela elaborados. Embora os chilenos bus-
quem identificá-la como uma variedade nacional, não tem sido fácil a elaboração uniforme
de vinhos dessa espécie. A enóloga Ximena Egafia adverte para o fato de que a vinificação da
casta não é simples, fundamentalmente porque a temperatura ideal de fermentação situa-se
em intervalo muito estreito, entre a máxima e a mínima, exigindo tecnologia sofisticada.
Sabe-se que a elaboração a baixas temperaturas libera aromas desagradáveis. No Brasil, a
Adega Cavalleri vinificou essa cepa, em 1999, num corte (apenas 15%) com Cabernet Franc
(85%). Posteriormente (2002), elaborou um expressivo varietal da casta, que teve ótima
longevidade, apresentando fruta e alguma complexidade nos aromas, um bom volume de
boca, com maciez, quando degustado com oito anos, em 2010. Atualmente, a Vinícola Fa-
bian e a Vinícola Gheller elaboram varietais da casta muito equilibrados. Esta última é a
responsável pelo excelente Helios Rodes 2017, varietal a 100% da casta. Alguns viticultores
entregam suas cotas à Cooperativa Vinícola Aurora, que a apresenta em varietal da coleção
Pequenas Partilhas. Seus varietais acompanham muito bem as carnes grelhadas e os assados
com molhos suculentos.
Corvina
Egiodola
Variedade obtida pelo lnstitut National de la Recherche Agronomique (Inra), por meio do
cruzamento entre as viníferas Fer Servadou, chamada frequentemente apenas Fer ou Pinenc, e
Abouriou. Recentemente, testes de DNA contestaram esse cruzamento, afirmando que, na verda-
de, deve ter sido entre Abouriou e Tinta Negra Mole. Trata-se de cepa precoce, com boa concen-
tração de taninos. Está implantada no Brasil desde 1988 pela familia Pizzato, quando esses produ-
tores ainda eram associados à Cooperativa Vinícola Aurora, fornecendo-lhe uvas. Após a criação
da Pizzato Vinhas e Vmhos, em 1998, a vinícola decidiu criar um varietal muito expressivo da
casta. Na França, está presente na região basca, onde é muito utilizada em cortes. Aliás, o nome é
uma corruptela da expressão basca egiasko odola, que significa sangue de verdade ou puro sangue.
Os varietais a 100% dessa casta são ótima companhia das massas com molhos encorpados e das
lebres ensopadas. A VinícolaJolimont, de Canela, RS, apresenta um varietal leve dessa uva.
Vinífera francesa do Rhone Sul, tendo forte presença em cortes com Syrah e Mourvedre.
Trata-se de uma casta vigorosa, resistente e muito versátil. É uma das tintas autorizadas da
novíssima IP Campanha Gaúcha.
Lagrein
Antiga variedade italiana, da região de Trentino-Alto Adige, que mostra casca muito escura.
De cor profunda e textura rica, tem ótima presença de boca. Seus vinhos são frescos e ácidos,
com taninos macios, devendo ser apreciados com comidas regionais. Está presente, no Brasil,
nos vinhedos da Vinícola Barcarola, que elabora um varietal marcante da casta, em safras suces-
sivas com pequenas tiragens, desde 2007.
Lambrusco
Ampla variedade de uvas do norte da Itália, especialmente da Emília-Romanha, as quais
dão origem ao vinho frisante de mesmo nome. Os vinhos lambrusco podem ser tintos, bran-
cos ou rosados. O resultado da vinificação dependerá exclusivamente do tempo de permanên-
cia das cascas no processo. Os Lambrusco são ótima companhia para o presunto Parma, típico
daquela região, e os salames. Combinam tradicionalmente com um queijo grana padano, leve-
mente regado por um aceto (vinagre) balsâmico, degustado com peras, que amaciam o paladar.
O Lambrusco brasileiro nos chega à mesa pelas mãos dos enólogos da Vinícola Courmayeur,
que vinificam a partir de uvas de vinhedos próprios, em Garibaldi.
Vinífera antiga da Emilia-Romagna que vem voltando à cena. É uma casta resistente a do-
enças fúngicas. Foi oficializada nos registros italianos, somente no ano 2000. É uma das tintas
autorizadas da IP Campanha Gaúcha.
Malbec
Marselan
Marzemino
Máximo
Molinara
Casta originária do Vêneto, responsável pela acidez dos vinhos Valpolicella e Bardolino.
No Brasil, está presente pelas mãos da família Tonet, em Caxias do Sul, e em São Joaquim, SC,
nos vinhedos de Saul Bianco, Vinícola Leone di Venezia, onde participa do corte do Passione.
Montepulciano
Variedade cultivada na região central da Itália, empregada nos vinhos Montepulciano d'Abru-
zzo, Rosso Conero e Rosso Piceno, estes dois últimos da região de Marche. É também chama-
da Cordisco, Primaticcio, Uva Abruzzi e Morellone. As pesquisas mostram que o nome foi
adotado, posteriormente ao da cidade de Montepulciano, na Toscana. Para não confundir,
é importante saber que o Vino Nobile di Montepulciano (a cidade) é elaborado a partir da uva
Sangiovese. A Montepulciano é cepa que, na origem, dá vinhos macios, com tonalidades do
rubi intenso, quase púrpura, e sabor leve. No Brasil, vem sendo cultivada pela família Bettú,
em Garibaldi, pela família DeNardi (Vinícola Santa Augusta), em Videira, SC, além de estar
assumindo expressiva presença na Serra Catarinense, especialmente em vinhos da Leone di
Venezia e da Villaggio Conti.
Mourvedre
Casta presente na Provence, no Languedoc-Roussillon e no sul do Rhône. Integra os cortes dos
vinhos Châteauneufdu-Pape e Bando/. Dá vinhos escuros e tânicos. É apresentada em varietais
e em cortes, especialmente com Syrah e, no Chile, com Merlot, contribuindo com seu tom
rubi intenso para os produtos assim elaborados. Na Espanha, onde se supõe tenha tido ori-
gem, chama-se Monastrell, nome que pode derivar da localidade mediterrânea espanhola de
Murviedro, onde a casta se desenvolveu em primazia, até chegar à França. Em idioma catalão,
a palavra é Morvedre. Está presente, no Brasil, pelas mãos de Prof. Eduardo Giovannini, na
Quinta Barroca da Tília, em Viamão, e ainda em Garanhuns, Pernambuco, na vinícola Vale
das Colinas.
Nebbiolo
Assim chamada por causa da névoa de Piemonte, noroeste da Itália, de onde é originária.
Dá vinhos encorpados, com grande concentração de cor, que podem envelhecer esplendida-
mente. É a uva dos grandes Barolo, Barbaresco, Gattinara, que têm muita classe quando chegam
ao ponto. Esses vinhos são companhia de carnes-secas, contrafilé, caça assada e trufas. Em
Alba, ganha a denominação de Nebbiolo d'Alba, e os vinhos tendem a ser mais suaves, menos
intensos e de amadurecimento mais precoce do que o Barolo e, também, o Barbaresco. A casta
também é conhecida como Spanna, na DOCG Ghemme, e como Chiavennasca, na DOCG Val-
tellina Superiore e na DOC Valtellina. No Brasil, está presente, pelas mãos de Lídio Carraro,
nos vinhedos da vinícola que tem seu nome, em Encruzilhada do Sul, em Garibaldi, com o
talento artesão de Vilmar Bettú, em Pinto Bandeira, com a família Fontanari e em vinhedos do
Prof. Eduardo Giovannini, em Viamão.
Nero D'Avola
Casta proveniente da Sicília, no sul da Itália. Está também na Calábria, onde é conhecida
como Calabrese. Tem casca escura e por muito tempo foi usada como tintureira em cortes. Dá
origem a vinhos tânicos, de acidez média e ótimo corpo. No Brasil, vem sendo trabalhada por
produtores da Serra Catarinense. Destaca-se o Villaggio Conti Conti Tutto.
Petit Verdot
Casta bordalesa de maturação tardia, com frutos pequeninos e escuros, geralmente utiliza-
da em cortes. A casca espessa, bastante resistente às doenças, contribui com taninos fortes. Os
Casta de casca escura e bagos pequeninos identificada pelo especialista francês François
Durif, em 1880. Desenvolveu-se muito bem na Califórnia, onde dá varietais encorpados, po-
tentes. Entre nós foi implantada no Vale do São Francisco e vem demonstrando boa adaptação.
Pignolo
Essa é uma casta de difícil cultivo, domada pelos italianos do Friuli. Tem uma casca muito
escura e é muito tânica. Seus vinhos são potentes e estruturados, com grande capacidade de
envelhecimento em barricas de carvalho. O nome é consequência da semelhança entre o cacho
e uma pinha (pignolo). No Brasil, está implantada nos vinhedos da Villaggio Conti, em São
Joaquim, SC. Consta que o Villaggio Conti Pignolo 2017 é o primeiro e único varietal da casta,
fora da Itália.
Pinot Meunier
A inclusão dessa casta entre as viníferas plantadas no Brasil deve ser motivo de orgulho.
É uma planta típica de áreas bem frias, o que raramente se configura em nossa geografia. Tra-
ta-se de uva de casca muito escura. Na região de Champagne, onde integra o corte clássico,
com a Chardonnay e a Pinot Noir, a cepa sempre foi uma garantia contra as safras difíceis. Ali,
a Pinot Meunier brota mais tarde e amadurece mais cedo do que a Pinot Noir. A casta oferece
muito boa acidez aos vinhos. A palavra meunier tem, em português, numa interpretação livre,
o significado de "esfarelado", referindo-se à característica das extremidades das folhas das
videiras. Está cultivada nos vinhedos da Villaggio Grando, nos Campos de Herciliópolis, mu-
nicípio de Água Doce, no oeste catarinense, localidade que tem uma temperatura média anual
em torno dos 16ºC, e ainda nos vinhedos da vinícola Baú 9.4, em São Bento do Sapucaí, SP, e
da Quinta D'Alva, em Diamantina, MG.
PinotNoir
A grande cepa dos tintos da Borgonha. Uma espécie difícil de cultivar, mas que dá tintos
excepcionais e de personalidade única. Embora na região de origem seja espetacular, raramen-
te conserva suas características fora dela. Seus vinhos são de um rubi translúcido. Mundo
afora, encontram-se clones da Pinot Noir, frequentemente gerando vinhos escuros. Há, toda-
via, vinhos Pinot de grande autenticidade no Oregon, Estados Unidos, e na Nova Zelândia.
Também é importante em Champagne, onde empresta corpo e classe ao famoso espumante.
Na Alemanha se apresenta sob o nome de Spatburgunder, gerando vinhos leves na região de
Rheingau - Assmannshauser, mas há uns poucos muito expressivos, como o Hollenberg Spiitlese
trocken Spiitburgunder 1999, elaborado por August Kesseler. No norte de Portugal foi conhecida
Pinotage
Cruzamento de Pinot Noir com Cinzault, desenvolvida na África do Sul, onde dá bons
vinhos, que acompanham aves bem temperadas. Já tem presença no Brasil, principalmente
na Campanha Gaúcha, em vinhedos da Vinícola Dom Pedrito. Numa viagem à África do Sul,
José Rigo, o empresário que criou a vinícola, ficou impressionado com as semelhanças de
condições climáticas e edafológicas entre suas terras e aquelas que visitava. Decidiu importar
a Pinotage. Os resultados têm sido positivos. A casa vem obtendo bons varietais. O destaque,
porém, fica para o corte da Pinotage com a Tannat. As vinícolas Simonetto, de Veranópolis, e
Casa Marques Pereira, de Bento Gonçalves, também vêm tendo ótimos resultados com a cepa.
Primitivo
Casta cultivada especialmente na região italiana da Puglia, no sul da Itália, onde se desta-
ca na DOC Primitivo de Manduria. É a Zinfandel, de êxito nos Estados Unidos, e a Crljenak
Kasteljanski ou simplesmente Kasteljanski, na Croácia. Entre nós, foi assumida por produtores
da Serra Catarinense, em São Joaquim, com destaque para o trabalho da Vinícola Leone di
Venezia. É relativamente precoce, podendo sofrer danos com as geadas tardias. Tem cachos
médios, cilíndricos e um pouco compactos. Pode apresentar alguma sensibilidade às doen-
ças fúngicas, e, portanto, requer atenção em sua condução em períodos muito chuvosos.
Superados os obstáculos naturais, a uva é muito boa, resultando em vinhos com tipicidade,
equilibrados e de excepcional qualidade.
Rebo
Variedade trentina, obtida a partir do cruzamento entre as viníferas Teroldego e Merlot,
pelo agrônomo Rebo Rigotti. É cultivada pelas famílias Bettú (Reliquiae Vini), em Garibaldi,
e Petroli (Barcarola), em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, além dos Conti (Villaggio
Conti), em São Joaquim, SC. É variedade de casca muito escura, que gera varietais encorpa-
dos, aptos ao amadurecimento em barricas. O Bettú Rebo harmoniza com as carnes verme-
lhas de panela, bem temperadas. Na Itália, os vinhos da Rebo são recomendados aos gnocchi
(nhoques) com molhos escuros e bacon. Recomendam-se ainda as combinações com o porco
agridoce, da culinária asiática, e com as fritadas de carne e cogumelos.
Antiga espécie da região do Vêneto e Friuli, no norte da Itália, mencionada em escritos que
remontam ao ano 1300. Tem muitas variedades, sendo a mais expressiva denominada Refosco
Dal Peduncolo Rosso (Refosco do talo vermelho), que cresce em todo o Friuli. É variedade de
casca muito escura. Seus vinhos têm um profundo rubi, aproximando-se do violeta. Os aromas
são das frutas vermelhas com tons de especiarias. Na boca são plenos e secos. Acompanham
massas, risotos e carnes grelhadas. Está presente nos vinhedos da família Boscato, em Nova
Pádua, RS, participando do corte do Anima Vitis 2005, nos vinhedos da Leone di Venezia e da
Villaggio Conti, em Santa Catarina, além da Quinta Don Bonifácio, em Caxias do Sul.
Rondinella
Casta originária do Vêneto, especialmente Verona, muito presente nos cortes de vinhos
Valpolicella e Bardolino, aos quais empresta toques herbáceos. Raramente é utilizada em va-
rietais. No Brasil, está presente pelas mãos da família Tonet, em Caxias do Sul, e em São
Joaquim, SC, nos vinhedos de Saul Bianco, Vinícola Leone di Venezia, onde participa no corte
do Passione.
Ruby Cabernet
Sangiovese
Uma das mais difundidas castas da Itália Central. A uva principal dos Brune/lo e dos Chian-
ti, que acompanham bem as carnes de panela, com molhos escuros, todas as massas com
molhos vermelhos e as pizzas de mozzarella, tomate e orégano. No Brasil, está presente pelas
mãos do talentoso Vilmar Bettú, de Garibaldi, RS; pelo trabalho da Vinícola Lídio Carraro, nos
vinhedos de Encruzilhada do Sul; em Monte Belo do Sul, pela família Calza; em Bento Gon-
çalves, pelos Cristofolis; em varietal da Dominio Vicari, de Lizete Vicari, ainda na Valmarino,
em São Joaquim, SC, nos vinhedos Villaggio Conti, e em Ituverava, SP, pela ação da Vinícola
Marchese di Ivrea.
Sousão
É casta da região dos vinhos verdes, especificamente do Minho, no norte de Portugal, onde
também é conhecida como Vinhão. Adota ainda as denominações de Tinto, Tinto Nacional,
Negrão, Pé de Perdiz, Espadeiro Preto, Espadeiro de Basto, Tinta Antiga e Tinta de Parada.
Tem pele negra, muito escura. Seus vinhos carregam o escuro da cepa, tendo forte opacidade.
Foi adotada no Douro, como participante de vinhos do Porto, exatamente para contribuir com
a cor. Trata-se de variedade que ficou esquecida por muito tempo, lá mesmo na origem, tendo
um resgate recente. No Brasil ainda se apresenta timidamente. Foi testada em vinhedos do
Vale do São Francisco e até no Ceará. Está implantada nos vinhedos da Bodegas Carrau, em
sua área brasileira, em Santana do Livramento.
Syrah 63
Casta tinta majestosa, típica dos climas quentes, como o do sul da França, onde tem
origem. É a fruta que tem mais classe no corte dos vinhos das Côtes du Rhône. Dá origem a
vinhos passíveis de envelhecer por até meio século. Entra também na elaboração dos vinhos
do sul do Rhône, mas, ali, cortada com a Grenache (principal tinta da região), a Mourvedre
(os conhecidos GSM), a Marsanne e a Cinsault. Está, portanto, presente nos Châteauneufdu-
-Pape e Gigondas, entre outras denominações regionais. No Rhône Norte, especialmente na
Côte-Rôtie, os vinhos da Syrah são temperados com um toque da Viognier, com o objetivo
de obter aromas mais intensos e, ainda, amenizar a potente Syrah. Os vinhos da Syrah, ape-
sar da boa presença de taninos - o que lhes dá boa capacidade de envelhecimento -, podem
ser bebidos com grande prazer desde a juventude, pois os taninos podem ser redondos e
doces. Os aromas e sabores mais presentes são: frutas escuras maduras (framboesa-negra,
groselha-negra, amora), especiarias (pimenta-do-reino preta), couro, caça e alcatrão, além
63 Não deve ser confundida com a Petite Sirah ou Durif, identificada por meio do trabalho do botânico francês
François Durif, no final do século XIX, como cruzamento natural entre a Syrah e a Peloursin. Embora
nascida na França, deu-se melhor nos climas secos, como os da Califórnia e da Austrália.
Shiraz
Nada mais é do que a Syrah adaptada à Austrália, para onde foi levada em meados do sé-
culo XIX. Teve uma excelente adaptação ao clima quente de diversas microrregiões daquele
país. Dali, foi exportada para a África do Sul e o Brasil. Embora tenha idêntica genética à
Syrah, adquiriu nova personalidade, desenvolvendo aromas de chocolate e toque discreto
de hortelã. Uva preta que produz um dos vinhos tintos mais famosos do mundo, o Penfold's
Grange, no qual se apresenta cortada com um mínimo da Cabernet Sauvignon, apenas para
temperar, num corte tipicamente australiano. Também na Austrália usa-se cortar vinhos da
Shiraz com um tempero de Viognier, obtendo-se ótimos resultados. Os vinhos australianos
e sul-africanos, à base da Shiraz, acompanham com excelência os pratos apimentados, as
carnes de boi ensopadas, os vegetais, o pato e o peru, o velho stroganov, strogonoff ou estro-
gonofe, o rosbife. Uma refeição, como qualquer das sugeridas, que apresente sobremesa à
base de chocolate, especialmente os meio-amargos e amargos, não inibirá a continuidade
do vinho de Shiraz. Os poucos vinhos brasileiros dessa casta que começam a aparecer,
inclusive aqueles elaborados a partir de uvas do Vale do Rio São Francisco, pelas casas Lo-
vara e Miolo, são de consumo rápido. Acompanham com excelência medalhões de picanha
grelhados, com arroz e batata sautée.
Tempranillo
Ver Aragonez.
Teroldego
TintaRoriz
Ver Aragonez.
Touriga Nacional
Originária do Dão, é também uma das cepas de maior prestígio no Douro. Está presente
em praticamente todo o Portugal. Tem frutos muito escuros, muito doces, quando maduros.
É, de fato, a uva nacional portuguesa de maior expressão. Usada no Porto e nos vinhos de
mesa da região. O varietal dessa uva é um vinho intenso, escuro, concentrado, aromático, com
corpo e calor, excelente companhia para os queijos leves, mas enfrenta com harmonia uma lula
com ferrado, um frango na púcara ou uma patuscada de bacalhau. É presença marcante em
vinhos cortados portugueses. Entre nós, tem muito boa expressão nos varietais da Angheben,
Dal Pizzol, Enos, Quinta Santa Maria (Utopia Purpurata) e da Valdemiz, além da presença nos
cortes Utopia Lote Um e Mosai"que, da Quinta Santa Maria.
TERROIRS DO BRASIL
A jovem vitivinicultura brasileira, independentemente do excelente trabalho da Embrapa
Uva e Vinho, ainda não construiu as séries históricas de dados sobre regiões e microrregiões,
de modo a serem identificados, com mais precisão, os vinhos nascidos em cada uma. A fron-
teira vitícola das castas para vinhos finos, que, há pouco mais de vinte anos, praticamente se
resumia à Serra Gaúcha, hoje se instala em diferentes pontos do Rio Grande do Sul e em mais
uma dezena de estados. O Rio Grande do Sul já conta com uma DO e quatro IPs, indicações
que contribuem para a formação da identidade dos vinhos. É, porém, fundamental salientar
que a DO Vale dos Vinhedos se constituiu como IP, em 2001, chegando a DO, 11 anos depois,
MG
Videiras em ciclo inverti do,
com colheitas de inverno, RJ, ES, BA
majoritariamente Videin11s em ciclo invertido,
com colheitas de inverno
SP
Videiras em ciclo invertido,
com colheitas de invemo, e
videiras em ciclo norm11 I,
com colheitas de verio, em al1uns pontos
RS, SCe PR
Videiras em ciclo normal
R01erto OudNu º'°'°
Colheitas de verão
O estado do Rio Grande do Sul tem a primazia da produção vitivinícola brasileira de vi-
nhos finos, com o berço na Serra Gaúcha. Hoje, no entanto, talvez não cometamos erro se
dissermos que há produção de uva, vinho ou uva e vinho nos 497 municípios do estado. Es-
tudo da Universidade Federal de Santa Maria67 estabelece as seguintes regiões no estado: Alto
Uruguai, Campos de Cima da Serra, Missões, Planalto Médio, Encosta Superior do Nordeste
(onde se localiza a Serra Gaúcha), Encosta Inferior do Nordeste, Depressão Central, Campa-
nha, Serra do Sudeste, Encosta do Sudeste. Vejamos o mapa a seguir.
Penso, porém, que é necessário detalhar um pouco mais. Vejo um quadro real da vitivini-
cultura já mais bem definido do que a proposição do Decreto 8.198/2014. Identifico um mapa
ligeiramente distinto, com os seguintes lugares onde vinhos finos são elaborados: DOVV,
IPPB, IPAM, IPMB, IP Farroupilha, demais localidades da Serra Gaúcha, IP Campanha Gaúcha,
Serra do Sudeste, Vale Central Gaúcho, Grande Porto Alegre, Missões, Campos de Cima da
Serra e Alto Uruguai. Todos esses lugares poderão sofrer, pouco a pouco, modificações sempre
no sentido de melhor identificar os próprios vinhos.
Vejamos, a seguir, um mapa com as principais localidades onde vinhos finos são elabora-
dos no Rio Grande do Sul.
DOVV
IPPB
{
São Borja IPAM
IPMB
IPFarr
Uruguaiana
Rosário do Sul
Candiota
Sindivinho RS -
Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (1948),
São a ele associadas as seguintes empresas: em Antonio Prado: Sociedade de Bebidas Serra-
na Ltda.; em Flores da Cunha : Fante Indústria de Bebidas Ltda., Sociedade Florense de Bebidas
Ltda., Terrasul Vinhos Finos Ltda., União de Vinhos do Rio Grande Ltda., Vinícola Goes e Ven-
turini Ltda., Vinícola Pipa de Ouro Ltda., Vinícola Veadrigo Ltda., Vinícola Viapiana Ltda.; em
Farroupilha: Vinícola Perini Ltda.; em Garibaldi: Courmayeur do Brasil Vinhos Ltda., Moet Hen-
nessy do Brasil - Vinhos e Destilados Ltda. (Chandon), Vinhos Don Laurindo Ltda., Vinícola
Pedrucci Ltda.; e em São Marcos : Catafesta Indústria de Vinhos Ltda. O Sindivinho faz questão
de registrar que essas são as vinícolas associadas, portanto comprometidas, voluntariamente,
com as questões do setor. Todas as vinícolas do estado devem ser filiadas, por força das contri-
buições legais compulsórias.
• ll!IIOMINAÇÃDDl0111GEM
Definições da DOW VAL!I DOS VlNHEOO$ !
Castas autorizadas - Tintas: Merlot, considerada a variedade que será a marca da DO,
mas também Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat como variedades complementa-
res, para a elaboração de cortes de vinhos; brancas: Chardonnay como casta principal, e Ries-
ling Itálico como variedade para cortes.
Limites de produtividade - Para uvas tintas: 1Otoneladas/ha ou 2,5 kg de uva por planta;
para uvas brancas: 10 toneladas/ha ou 3 kg de uva por planta; para uvas a serem utilizadas na
elaboração de espumantes: 12 ton/ha ou 4 kg de uva por planta.
Vinhos - Os vinhos poderão ser varietais com um mínimo de 85% da casta, a partir da
Merlot, no caso dos tintos, ou, no caso dos brancos, Chardonnay. São também permitidos
ALMAÚNICA, Vinícola
Gr IV - 2008 - VBdT* - (C) - EnoT
almaunica.com. br
Vinícola nascida pela vontade dos irmãos gêmeos Márcio (enólo-
go) e Magda Brandelli (administradora), depois de larga experiên-
cia junto à Vinícola Don Laurindo, de quem carregam o sobreno-
me. Márcio Brandelli, lamentavelmente, nos deixou, aos 4 7 anos,
VINÍCOLA
em março de 2020. São apenas 2,5 hectares de vinhedos próprios,
ALMAÚNlC A" estrategicamente localizados na entrada da vinícola, compondo
do Brasil com orgulho.
uma paisagem muito bonita, emoldurada de ciprestes italianos.
A Almaúnica tem, ainda, três viticultores parceiros, num total de
8 hectares, com os quais a casa mantém um rigoroso acordo de
ANGHEBEN, Vinícola
Gr IV - 1999 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBrno
angheben.com.br
Vinícola criada pelo professor Idalencio Francisco Angheben, do
Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, com o fi-
A lho, também enólogo, Eduardo. Profissional com grande qualifi-
cação técnica, obtida no Brasil e no exterior, o professor Idalencio
foi um dos responsáveis pela identificação da Serra do Sudeste
como microrregião vitícola. A empresa é uma das que estão com-
prometidas com a luta por melhor enquadramento tributário dos
pequenos produtores. Seus vinhos são elaborados a partir de uvas de vinhedos implantados
pelo próprio Idalencio Angheben, em Encruzilhada do Sul, e outras cultivadas por parceiros, em
Vacaria e Guaporé. A empresa se dedica exclusivamente aos vinhos brasileiros de terroir. Ela-
bora atualmente sete vinhos, todos sob a denominação Angheben. Privilegia os tintos. São cinco
varietais: Barbera, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Teroldego e Touriga Nacional,7 1 com estágio
em barricas de carvalho. O espumante é um corte Chardonnay com Pinot Noir, a 50%, com 12
meses de autólise. O branco é um Gewurztraminer. A produção anual é de 30 mil garrafas, mas
há projeto para chegar ao máximo de 60 mil garrafas/ ano, além de novo vinhedo próprio. Uma
visita à cantina, no Vale dos Vinhedos, para uma conversa com pai e filho é sempre uma aula de
vitivinicultura.
70 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
71 Com avencas na caatinga/ alecrins no canavial/ licores na moringa/ um vinho tropical. Teria sido, como
de costume, pura poesia ou será que Chico Buarque previu, em 1973, que o Brasil elaboraria vinhos com
a Touriga Nacional, essa clássica casta portuguesa?
BATTISTELLO, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT - (C) - EnoT
vinicolabattistello.com.br
Vinícola da família Battistello, voltada à elaboração de vinhos fi-
nos, a partir de vinhedos próprios, na região da DOVV. Trabalha
as castas brancas Chardonnay e Moscato Giallo, além das tintas
Ancellotta, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e
Tannat. Em algumas safras, a casa elabora cortes tintos como o Cabernet Sauvignon com Merlot
e o Ancellotta com Tannat.
e
A Adega Cavalleri ou Cavalleri Vinhos finos nasceu pelo desejo do
empresário Nilso Cavalleri de ampliar a produção dos vinhos que
elaborava artesanalmente. Concentra-se na elaboração de vinhos
CAVALLERI brasileiros de terroir. São espumantes, além de vinhos tranquilos
V'""ºº " "ºº brancos, rosados e tintos, todos sob a denominação Cavalleri. São
160 mil garrafas por ano, obtidas de 32 hectares de vinhedos próprios. Os espumantes são ela-
borados pelos métodos tradicional e Charmat. A Adega Cavalleri foi a primeira vinícola brasileira
a ter a variedade Carménere entre seus varietais. O vinho da safra de 2002 dessa casta foi muito
elogiado, mas infelizmente não teve continuidade. O branco Chardonnay é sempre um destaque da
casa, tendo sido um dos primeiros varietais da casta a ter selo da DOVV. Outra expressão de cria-
tividade é o espumante moscatel Moscato Hamburgo rosado, pouco doce, muito marcante. Além
do Cabernet Sauvignon, a casa ofereceu o Cavalleri Merlot Pecato e o Cavalleri Merlot Segredo.
Mais recentemente, vieram o Cavalleri Confraria Merlot e o corte Vero, a partir de Cabernet Sau-
vignon, Cabernet Franc e Merlot. O rosado de Pinot Noir La Vie 2018 - Uma Bela História é um
tributo à vida de Vanessa Cavalleri, filha de Nilso e Vani, que venceu problemas graves de saúde.
O enólogo é o jovem Tiago Lazzarotto, sempre ao lado da experiência de Nilso Cavalleri.
CAVE DO SOL
Gr IV - 2020 - VBdT* - (C) - EnoT
Empreendimento da família Passarin, inaugurado em 4 de setem-
bro de 2020, realizando um sonho que foi nutrido em vinhedos,
desde 1927. Tem a direção de Arnaldo Passarin, que, nascido em
CAVE !22 SOL Jundiaí, SP, viajou ao Rio Grande do Sul, em 1960, e ali passou a
0ts0f:1927
atuar no ambiente da vitivinicultura. Transferiu-se definitivamen-
te para Flores da Cunha, em 1975, quando comprou a União de
Vinhos do Rio Grande. A partir de então, teve seu nome associado ao vinho brasileiro, desde a
produção até ações de natureza política, em defesa do setor. Em meados dos anos 1990, adquiriu
um terreno de 36.600m2, para uma vinícola, em excelente localização, no Vale dos Vinhedos.
Nas duas últimas décadas, trabalhou na edificação de um belíssimo projeto de 5.000 m2, desen-
db
©(JIJTl,fi/3~
rar vinhos brasileiros de terroir de alto padrão. O nome escolhido
é do avô. O empreendimento tem vinhedos e cantina localizados
na parte da DO, que está situada no município de Garibaldi. São
5 hectares de vinhedos, com as variedades Chardonnay, Cabernet
Franc, Malbec, Marselan, Merlot, Syrah e Tempranillo. Desde 2013, a vinícola vem-se aperfeiço-
ando a cada colheita. Os rótulos são varietais de Chardonnay, com passagem por barricas, além
dos tintos Malbec, Marselan, Merlot, Syrah, Tempranillo e os cortes Edição do Enólogo, com
Marselan, Syrah e Merlot, e Gran Luiz. A vinícola conta com assessoria enológica e comercial da
enóloga Paula Guerra Schenato.
72 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
LARENTIS, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (C) - EnoT
larentis.com.br
•
Vinícola familiar também dedicada integralmente aos vinhos finos,
elaborados em cantina própria, com uvas de vinhedos próprios,
em área de 14 hectares. Foi criada por Cilo Larentis, com os filhos
LARENTIS Olivar, Larri e Celso. Contou logo com a assessoria enológica do
conceituado Aldérico Sassi. Elabora espumantes, vinhos brancos
e tintos. Sob a denominação Larentis Cepas Selecionadas, traz os varietais Ancellotta, Marselan e
Teroldego. Já sob a denominação Larentis Reserva Especial, trabalha com as castas tintas Cabernet
Sauvignon, Malbec, Merlot e Tannat. Nessa linha, as quantidades produzidas não excedem 3.000
73 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
MILANTINO, Vinícola
Gr IV - 1989 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
milantino.com.br
Vinícola estabelecida pela família Milani, integralmente dedica-
da aos vinhos finos. Elabora varietais e cortes, a partir de uvas
colhidas em 7 hectares de vinhedos próprios localizados na pres-
M I LANTINO tigiada DOW (Denominação de Origem Vale dos Vinhedos) . A
casa trabalha com as variedades brancas Chardonnay e Malvasia
MIOLO
W J N E G R O U P
foi a Vinícola Miolo, criada em 1989, que teve um vertiginoso
crescimento, sustentado pela eficiente comercialização (aliada a
uma estrutura competente de distribuição) de seus vinhos finos
correntes, especialmente o Miolo Seleção tinto. Sempre buscou
elaborar pequenas partidas de vinhos brasileiros de terroir, a partir de safras próprias muito
especiais. Mediante uma sequência exitosa de alianças estratégicas, associou definitivamente
o nome a vinhos brasileiros de terroir. Em 2006, assumiu o desenho organizacional de grupo
empresarial. No final de 2009, o grupo adquiriu o controle acionário da Almadén, do grupo
francês Pemod Ricard, e realizou estudos profundos das regiões onde está, de modo a definir
parcelas de terra e suas vocações vitícolas. Cada vinícola do grupo aparecerá, adiante, na re-
gião onde se encontra: Vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS (Serra
Gaúcha); Vinícola Almadén, na Campanha Gaúcha (Santana do Livramento); Vinícola Seiva!,
na Campanha Meridional; e Vinícola Terranova (antiga Fazenda Ouro Verde), no Vale do São
Francisco. É importante registrar que o MWG não tem vinhos de mesa no portfólio. Tem, sim, o
que chamo de 'vinhos finos correntes', foco do negócio da Almadén, por décadas, mas também
elaborados pela Vinícola Miolo. Mas o MWG mantém a política de elaborar rótulos 'singulares',
Vinhos Brasileiros de Terroir, como denomino, que serão citados adiante, nos textos de cada
uma das quatro vinícolas (Miolo, Almadén, Seiva! e Terranova) do grupo. O MWG atua ainda
no mercado internacional, não somente como exportador, mas importador, a partir das vinícolas
parceiras Viasul (Chile), Osbome (Espanha e Portugal) e Los Nevados (Argentina).
74 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
75 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
76 Açúcar residual de 55 g/1.
77 Iniciais de Alexandre Rodrigues e Marcel Miwa.
VALDUGA
VALDUGA, Famiglia
Gr I - 2010- VBdT* - 'VdoBr' 79
O Grupo Famiglia Valduga está sediado no Vale dos Vinhedos, em
* * Bento Gonçalves, RS. É formado pelas empresas Casa Valduga, a tra-
*
FAMIGLIA V ALDUGA Co.
dicional vinícola, com forte presença no mercado de vinhos brasilei-
ros de terroir; Domno Importadora, fundada em 2008, voltada à im-
portação80 e distribuição de vinhos, bem como à elaboração de espu-
mantes e vinhos tranquilos, sob as denominações .Nero (ponto Nero) e Alto Vale, com a aquisição,
pelo grupo, das instalações da Allied Domecq Brasil, em Garibaldi, capital brasileira do espumante;
Casa Madeira, voltada à produção e comercialização de sucos, chás preparados e comestíveis finos
em conserva; Cervejaria Leopoldina; Vinotage, empresa pioneira no Brasil na fabricação de cosméti-
cos à base dos óleos das sementes das uvas. Há, ainda, a Confraria Famiglia Valduga, uma operação
de e-commerce do Grupo e outras empresas. O grupo Famiglia Valduga é importador de variados
rótulos do mundo para o Brasil, e tem atuação produtiva no Chile, na Argentina e em Portugal.
CASA VALDUGA
Gr I - 1985 - VBdT* - (C histórica) - EnoT- 'VdoBr'
casavalduga.com.br
Fundada por Luís Valduga, o irmão mais velho dos três filhos de
rnfntni Marco Luigi Valduga, Luís, Cândido e Victor, a Casa Valduga tam-
C ASA VALDUGA bém avançou sua organização como grupo empresarial. A produ-
OF. S0 1: 1875
78 Remy Valduga é o pai de Rogério Carlos Valduga . Trata-se de uma pessoa de grande memória e
sensibilidade. É autor, entre outros livros, de Sonho de um imigrante (Letra & Vida Editora - Porto Alegre,
2010), no qual narra, com emoção, a saga da imigração italiana ao Sul do Brasil.
79 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
80 Importação iniciada por meio de parceria com Carlos Pulenta (Argentina), com os rótulos Tomero, Árido e
Vistalba (Corte A , Corte B e Corte C) e a também argentina Sottano.
Além dos produtores descritos acima, na DOVV, ainda encontramos os seguintes, todos
com origem na cultura do vinho e integrantes do Grupo III - produtores tradicionais de pe-
queno a médio porte: Casa Graciema; Famiglia Tasca; Titton; Toscana.
3 ATELIER
Gr V - 2017 - (VBdT*) - (I)
Trata-se de um projeto realizado por três amigos, amantes de vi-
nhos, que desejavam elaborar vinhos com os perfis deles. João Ga-
briel Borzani Silva é um consultor em gestão de projetos vitiviníco-
........
:,,,. las. Luciano Vasconcelos é empresário. Maciel Ampese é enólogo.
,- Os três propuseram então parceria à Vinícola Don Giovanni, que
....
::a concordou em ceder uvas e cantina. O volume é bem pequeno,
menos de 1.000 garrafas por ano. Os nomes dos vinhos sugerem
fenômenos da natureza, aludindo aos estilos de cada um. Os três primeiros vinhos são: Orvalho
2017 - algo sutil e delicado-, um varietal da consagrada Chardonnay de Pinto Bandeira; Garoa -
lembrando o movimento de bolhas do espumante -, um extra brut, com 30 meses de autólise, a
partir de um vinho base Chardonnay + Pinot Noir; Névoa 2017 -algo específico e restrito como
a Pinot Noir -, um clássico varietal dessa casta, maturado por 12 meses.
CHURCHILL
Gr V - 2006 - (VBdT*) - (I)
Projeto de vinho de autor, idealizado pelo empresário Nathan J.
CH URCHI LL Churchill, norte-americano, representante, no Brasil, da tanoaria
Taransaud. Churchill comentava que os vinhos tintos brasileiros já
apresentavam certa "maturidade", mas careciam de um afinamen-
to na madeira, e ele considerava o carvalho americano o indicado. O projeto tem parceria com
a Vinícola Valmarino. Nathan escolhe vinhos elaborados por Marco Antonio Salton, enólogo
daquela casa, a partir da casta Cabernet Franc, e os submete a estágios em barricas de carvalho
novo americano, tipo Canton Vintage. Os resultados foram expressivos varietais (2006 e 2008)
denominados Churchil Cabemet Franc, com as limitadas tiragens de 600 e 1.500 garrafas. O vinho
da colheita de 2010, depois de certo tempo em barrica, não agradou e foi descartado. Churchill
não elimina a possibilidade de outro vinho, mas ainda não tem projeto específico além da parce-
ria Valmarino & Churchill. Adianta, porém, o autor que outro vinho terá outro nome. Em 2013,
foi lançado o Churchill 2011 , que estagiou 18 meses em carvalho novo. O vinho Terço 2014 é
mais um exemplo notável da parceria Valmarino & Churchill. Trata-se de um corte entre Caber-
net Franc, Merlot e Tannat, na mesma proporção, com estágio de 18 meses em barricas. Foram
elaboradas somente 900 garrafas desse ícone.
GEISSE, Vinícola
Gr IV - 1979 - VBdT* - (C histórica) - EnoT
vinicolageisse.com.br
Criada pelo enólogo chileno Mario Geisse, trazido ao Brasil pela
Chandon. Geisse logo percebeu a potencialidade daquelas terras e
instalou a própria vinícola. O nome Mario Geisse é hoje referência
do espumante brasileiro, tendo orientado e apoiado muitos produ-
tores. Cave Geisse Champenoise, Cave Amadeu e Victoria Geisse são as
três denominações da vinícola no Brasil. Mario Geisse e Philippe Dumont, tradicional produtor
de champagnes, em Chigny-les-Roses, Reims, na França, uniram conhecimentos e elaboraram o
que se denominou primeiro champagne com alma brasileira. É o Geisse & Dumont l"Cru, que teve
uma partida inicial de 1.500 garrafas. O empreendedor tem ainda o projeto Família Geisse, volta-
do à elaboração de vinhos característicos em outras regiões produtoras. A denominação El Sueíio
81 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
VINÍCOLA
Trata-se de um ramo da família Salton. Orval Salton, enólogo com
VAIMARINO experiência, e seus filhos criaram a Estabelecimento Vinícola Vai-
marino Ltda., homenageando a localidade de Cison di Valmarino,
origem dos Salton na Itália. São 16 hectares de vinhedos próprios,
localizados na IP Pinto Bandeira. Desse total, há 5 hectares dedicados integralmente à casta Ca-
bernet Franc, a tinta prevalente da IPPB. O enólogo é Marco Antonio Salton, que busca mínima
intervenção possível na elaboração dos vinhos. Para as pequenas quantidades, utiliza, até mesmo,
prensas tipo gaiola, manuais. Elabora o interessante Sushi Vin (VBdT), corte entre Chardonnay,
Malvasia Bianca e Moscato, indicado à harmonização com comida japonesa; o fino espumante Vai-
marino & Churchill e o varietal Valmarino Cabernet Franc, todos VBdT. O varietal Valmarino Cabernet
Franc se tornou um ícone da casa. Nascido em 2008, aos 13 anos da empresa vem tendo edições
sucessivas, com o mesmo nome, seguido de um número em algarismos romanos, que aumenta
safra a safra. O mais recente é o Valmarino Cabernet Franc XXI, da colheita de 2016. Outros vi-
nhos marcantes são o Valmarino Reserva da Família, um corte entre Cabernet Franc (45%), Merlot
(25%), Tannat (15%) e Cabernet Sauvignon (15%), e o Terço 2014 - Valmarino & Churchill, uma
partida exclusiva de um corte, em iguais proporções, de Cabernet Franc, Merlot e Tannat, com
afinamento por 18 meses em barricas novas de carvalho francês, de secagem natural. Um espu-
mante especial é o Valmarino Nature 2012, elaborado pelo método tradicional, com vinho base 70%
Chardonnay mais 30% Pinot Noir e brandy próprio como licor de expedição. A vinícola é parceira
do projeto Churchill, do empresário Nathan Churchill. Em 2013 aparece o Valmarino & Churchill
Extra Brut 2011, com 14 meses de barrica de terceiro uso. Veja detalhes no item "Vinhos de Au-
tor". Os espumantes da parceria Valmarino & Churchill têm o apoio da Vinícola Geisse. Todos os
vinhos têm a denominação Valmarino, embora a linha top receba nomes específicos.
VILLA CRISTINA
Gr IV - 2010- VBdT* - EnoT- (I)
Ricardo Saad foi executivo do ramo de seguros, apaixonado por
vinhos. Ao se aposentar, decidiu dedicar-se à própria paixão. É ele
mesmo quem afirma: "Resolvi parar e me dedicar a essa paixão. O nome
é homenagem a minha mulher e a minha filha. O local foi escolhido por ser
o melhor terroir, no meu conceito, para uvas de colheita precoce, como a
Chardonnay e a Pinot Nair para espumantes". A propriedade tem 10 hectares. Os vinhedos foram
implantados em 2011 e 2013, em área de 3,5 hectares. Nessa fase inicial do projeto, a vinificação
vem ocorrendo na Vinícola Don Giovanni. Saad deseja elaborar apenas os espumantes nature,
brut e brut rosé, em qualidade superior. O responsável técnico pelos vinhedos é o agrônomo Ciro
82 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
VINHAUNNA
Gr V - 2014- VBdT* - (C) - 'N'
vinhaunna.com. br
Iniciativa da enóloga - ela prefere vinhateira - Marina Santos,
comprometida com uma busca permanente de uvas orgânicas e
de produção biodinâmica, associada a uma enologia não interven-
cionista. O projeto, embora iniciado em 2014, vinha sendo gestado
há bastante tempo, desde que Marina iniciou o curso de sommelier
e o curso superior em Viticultura e Enologia em 2009, quando con-
cluiu que trabalharia com vinhos naturais e com viticultura biodinâmica e orgânica, num projeto
integrado. O nome procura evidenciar a síntese do que Marina Santos pensa: "Único, precioso,
puro ... É a união de tudo que aprendi em minha trajetória profissional, e uma convicção, um olhar atento e
amoroso aos saberes ancestrais em viticultura e Enologia ... é bem mais, é um modelo de vida!". Não por aca-
so, alguns anos depois de começar, o projeto não para de crescer, no sentido da sustentabilidade,
sendo um integrador da família, "uma família superunida e que ama sua forma de viver. .. nosso chalezinho
de madeira na mata, plantar e colher a maioria de nossos alimentos, sem maquinário, sem funcionários, vene-
nos ou adubos químicos, só a boa e velha enxada, biodinâmica e nosso trabalho". Marina, com o marido,
Israel, sempre acompanhados da filha Leona e do filho Benjamin, organizam o projeto em quatro
frentes: Terroir de Chuva, Viticultura Ancestral, Champenoise Bistrô e Banco de Sementes Criou-
las. A primeira frente cuida de conhecer profundamente a região em que se situa e identificar
quais castas têm capacidade de viver em harmonia com os solos e o clima chuvoso. Em princípio,
foram identificadas as castas Cabernet Franc e Chardonnay. "O Terroir de Chuva está localizado em
Pinto Bandeira, entre 680 m e 750 m de altitude e compreende uma área de aproximadamente 5 hectares de
uvas em vários estágios, plena produção, recém implantados, recém enxertados, vinhas antigas ... o que é uma
grande oportunidade para estudar e avaliar todos os estágios de uma produção sustentável com seus acertos e
dificuldades", informa Marina A frente de Viticultura Ancestral ou Terroir Ancestral estabelece os
princípios de elaboração dos vinhos. Prossegue a enóloga: ''A Vinha Unna acredita que a adaptação de
uma videira começa pelo seu comportamento em campo, com base no manejo que damos a ela, nas suas reações
às doenças, às variações climáticas, ao excesso ou escassez naturais de nutrientes no solo, na resposta aos tratos
culturais, na sua resiliência ... mas principalmente na tipicidade dos vinhos, aquela marca registrada dela que só
identificamos nas uvas que vêm daquele local, por isso a importância da adaptação. Para isso o Projeto Terroir
Ancestral trabalhou da seguinte maneira: levantamento histórico da região de Pinto Bandeira; levantamento
histórico da viticultura e cepas na região de Pinto Bandeira; entrevista com viticultores com mais de 70 anos
de idade, que cultivavam as cepas levantadas; levantamento histórico do centro de origem das cepas na Itália;
,=/
__ _!""-Caxias do Sul
FLORES DA CUNHA
AVVOCATO
Gr Vb- 2016- VBdT* - (I)
Rótulos de vinhos pessoais do advogado Ralph Hage, criados especialmente por Elton Viapiana,
em sua vinícola. O vinho Awocato Merlot 2013 ficou um ótimo exemplar da casta.
CASA VENTURINI
Gr IV - 1989 - VBdT - (C histórica)
casaventurini.com.br
A família Venturini já elaborava os próprios vinhos desde 1970.
~
-Ir Hoje pode ser considerada a butique do grupo Góes & Venturini,
que tem origem em São Paulo. A vinícola tem vinhedos próprios
VENTURINI e cantina, onde elabora vinhos finos de terroir, tranquilos e espu-
mantes. Os destaques são Casa Venturini Chardonnay Reserva, Casa
FAMÍLIA BEBBER
Gr IV - 2014- VBdT* - EnoT- (C)
Esse é mais um caso de perseverança, pela causa do vinho fino bra-
sileiro. Felippe Bebber é o filho enólogo de Valter Bebber, este com
origem profissional em atividade diferente da elaboração de vinhos,
assim como diferente também é o trabalho de Thelma, a esposa de
seu pai. Acontece que Felipe sempre esteve determinado a elaborar
os próprios vinhos, mas não dispunha de recursos para tal empreitada. Iniciou então a carreira tra-
balhando em vinícolas grandes. Teve paciência e foi complementando, na prática, os conhecimentos
da academia. A partir de certo instante, decidiu oferecer consultoria a clientes interessados em ter
rótulos próprios. Com um raro talento para escolha de frutos e competência na enologia, Felipe
começou a produzir para clientes específicos, a partir de uvas de fornecedores parceiros, e sempre
elaborando em cantinas de terceiros. Com o passar dos anos, o acúmulo de experiência e o êxito
no elevado padrão dos vinhos finos que rotulava para clientes, Felipe reuniu o pai e o irmão mais
novo, Rafael, propondo a criação da vinícola Família Bebber. Atualmente, Felipe continua a atender
interessados em ter rótulos próprios, mas já tem a própria cantina e 2 hectares de vinhedos em ex-
pansão para 6 hectares, no Travessão Alfredo Chaves. Elabora 85.000 litros de vinhos por ano, mas
tem capacidade instalada para 300.000 !/ano. Sua linha de vinhos finos Familia Bebber está comple-
ta: espumantes (linha Vero) e vinhos tranquilos de grande presença (linha Sentiero). São criações
de Felippe Bebber os diversos rótulos do Barão de Petrópolis, de Petrópolis, RJ, da Enoch Vinhos
Inspirados/Enos, de Balneário Rincão, SC, da Bibulus, do sommelier e chefe Lauro Carvalho, do Rio
de Janeiro, e do Villa Castro, de Gramado, RS, além dos vinhos personalizados Caberlon, do restau-
rante La Vue de la Vallée, e Maison, do restaurante homônimo, também em Gramado, entre muitos
outros. Assim, caso você encontre, num contrarrótulo, a clássica sentença "vinho elaborado exclu-
sivamente para.......... , por CNPJ 20.296.267/0001-85", significa que tem a garantia Família Bebber.
GIACOMIN, Vinícola
Gr IV - 1985 - VBdT* - (C histórica)
giacomin.com.br
A Vinícola Giacomin é uma empresa familiar dedicada integral-
mente ao vinho fino, localizada no distrito florense de Mato Per-
so. Implantou, pioneiramente, vinhedos em espaldeiras altas, com
postes de concreto, em Y. A empresa não utiliza defensivos agrí-
83 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
MARZAROTTO, Vinícola
Gr IV - 2017 - VBdT* - (C)
Janaína Massarotto é uma jovem enóloga, nascida em berço de
produtores de uvas e vinhos, compondo a quarta geração de viti-
MARZAROTTO vinicultores de sua família. Mesmo com toda essa tradição, decidiu
inovar no processo de vinificação, dedicando-se a pequenos lotes,
para obter melhores expressões em seus vinhos. E ela tem tanto entusiasmo pela experiência
de elaborar vinhos próprios, que decidiu criar a própria vinícola. A filosofia da vinícola está na
palavra encontro. É Janaína quem nos conta: "Busco produtores parceiros em diversas regiões vitícolas
e seleciono as melhores castas. Aproveito os mais ricos terroirs, para ter uvas que vinifico com a expressão
máxima da fruta, fonte de prazer para os sentidos. Quero com isso estimular a convivência entre as pessoas.
Desejo que meus vinhos possam catalisar encontros casuais, românticos, em família, entre amigos". A opção
é pelos vinhos frescos, cheios de jovialidade, mas com presença no paladar. Alguns ícones da
vinícola estagiam em barricas de carvalho francês. Os vinhos são elaborados numa cantina pro-
visória, enquanto está sendo projetada uma nova vinícola butique, em Nova Pádua, na região da
IP Altos Montes. O projeto arquitetônico é assinado por Celestino Rossi, conceituado nome em
arquitetura de vinícolas. A área de vinificação terá capacidade para produção de 200 mil garrafas/
ano, além de loja de vinhos, espaço gourmet e enoturístico. A conclusão da obra está prevista
para 2021. Os vinhos são apresentados em duas linhas: Pleno e Marzarotto. A linha Pleno, com
Merlot (uvas de Campos de Cima da Serra), Cabernet Franc (uvas da Serra do Sudeste), Char-
MIORANZA, Vinícola
Gr II - 1964 - VM - (C)
mioranza.com
Outro empreendimento com origem familiar e descendência dos
é colonos italianos. Tem vinhedos próprios, com condução em Y,
Mioranza mas também compra uvas de terceiros. A cantina é própria, com
Desde 1964 tecnologia avançada de produção e porte expressivo de armaze-
namento. Em 2018, a casa processou mais de 8 milhões de litros
de derivados de uva. O enólogo é Delto Garibaldi, fundador do Laboratório Lavin. A vinícola
apresenta seus vinhos nas linhas: Mioranza (de mesa), Mioranza Reserva da Família (de mesa)
Catania (cortes com viníferas) e Alvise (varietais de viníferas), RioBravo (espumantes). No ano
de 2005, a casa comemorou as bodas de ouro de Antonio Alvise Mioranza (sócio fundador) e
Aurora Toscan. Para celebrar, a vinícola lançou um VBdT, que chamou 50 d'Oro. Foi um vinho
exclusivo, do qual apenas 3.450 garrafas foram elaboradas. O Mioranza 50 d'Oro é um varietal
da casta Ancellotta, de vinhedos próprios. Passou 18 meses em barricas de carvalho e tem teor
alcoólico de 14,09%. Antonio Mioranza, hoje um octogenário, além de comandar a vinícola,
controla a própria transportadora. Aliás, ele não esconde que o início de sua vida profissional
foi como caminhoneiro. A Sociedade de Bebidas Mioranza mantém parceria com a Cooperativa
Vitivinícola San Carlos Sud, no Vale de Uco, Mendoza, Argentina, produzindo lá os rótulos Verza
(oito varietais), a partir de uvas de vinhedos dos cooperados.
ULIAN, Vinhos
Gr IV - 2002 - VBdT - (C)
vinhosulian.com.br
A empresa vinícola Vinhos Ulian foi criada pelo vinhateiro Vilmar
Ili Ulian para elaborar vinhos de mesa e vinhos finos expressivos. Desde
a criação, a vinícola vem entremeando a produção corrente de vinhos
de mesa com pequenas partidas de bons vinhos finos. No ano de
2012, aproveitando a excelente safra, na Serra Gaúcha, a vinícola criou a marca L Oitenta (Linha
80), que homenageia a própria localização, segundo a geografia da época da distribuição de terras
aos colonos italianos. O L Oitenta Cabernet Sauvignon 2012 (13, 4%) é um varietal a 100% da casta,
de vinhedos na Serra Gaúcha. Foi elaborado por processo tradicional, com leveduras selecionadas
e controle de temperatura de fermentação. Estagiou em barricas de carvalho francês. O resultado
é um tinto de um rubi intenso que, aos cinco anos de vida, em 2017, não mostrava qualquer sinal
de evolução. Embora pronto para o consumo, ainda poderia evoluir na garrafa por alguns anos. Os
aromas nos remeteram às frutas escuras, como a ameixa e a amora, já em compotas. Trouxeram
também notas vegetais. No paladar, exibiu boa acidez e muito equilíbrio, com ótimo volume. O L
Oitenta Cabernet Sauvignon 2012 é um vinho muito harmônico. Pode ser apreciado com petiscos,
mas teria ótimo desempenho com as massas de molhos escuros, as carnes temperadas, de panela,
os risotos de cogumelos e outras inúmeras combinações, ao critério de cada apreciador. A marca
Ulian L Oitenta teve ainda os varietais Pinot Noir e Merlot, da mesma colheita de 2012
VIAPIANA, Vinícola
Gr IV - 1999 - VBdT* - EnoT- (C) - 'VdoBr' 84
vinhosviapiana.com.br
A família Viapiana já elaborava vinhos de mesa desde os anos
VIAPIANA 1980. Em 1999 trouxe ao mercado o primeiro vinho fino. Desde
VINJJOS &V INllfDOSentão vem aprimorando a qualidade de seus produtos, ampliando
a presença no mercado. A empresa tem 30 hectares de vinhedos.
Mantém as denominações Premium, com os cortes chamados de Barricas Selecionadas e organi-
zados por lotes, além dos varietais Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Marselan, Merlot, Pinot
Noir e Chardonnay), Microlotes e Jovem. Todos os espumantes são elaborados pelo método tradi-
cional e são rotulados com denominação que incorpora o tempo de autólise, bem explicitamente.
O espumante brut champenoise Viapiana 192 (192 dias de autólise) , corte entre Glera, Viognier e
Chardonnay, é uma ótima manifestação de criatividade da enologia brasileira. O Viapiana Brut
250 (250 dias de autólise) tem vinho base 100% Riesling Itálico. O 575 é um Nature 80% Char-
donnay com 20% de Riesling Itálico. O tinto Via 1986 Gerant Cuvée Prestige, 15,33%, um corte
84 'VdoBr' - Essa referência aparece dezessete vezes neste livro. Significa que os dezesseis produtores de
vinhos finos assim marcados e o presidente do IBRAVIN, em 2015, concederam longas entrevistas sobre
suas vidas e os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro
Vinhos do Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
NOVA PÁDUA
85 'VdoBr' - Essa referência aparece dezessete vezes neste livro. Significa que os dezesseis produtores de
vinhos finos assim marcados e o presidente do IBRAVIN, em 2015, concederam longas entrevistas sobre
suas vidas e os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro
Vinhos do Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
0000000001
É a mais nova indicação geográfica para a elaboração de vinhos finos do Brasil, com mais de
uma variedade licenciada. O registro foi concedido à Associação dos Vitivinicultores de Monte
Belo do Sul (Aprobelo), pelo Inpi, em 13 de dezembro de 2013. Trata-se de uma área de 56,09
km2 , com 80% no município de Monte Belo do Sul e os restantes 20% entre Bento Gonçalves
e Santa Tereza. A Aprobelo congrega as seguintes vinícolas: Vinícola Armênio; Casa Angelo
Fantin; Adega de Vinhos Finos Reginato; Faé Vinhos Finos e Espumantes; Famiglia Tasca; Santa
Bárbara Vinhedos e Vinhos Finos; Adega Dei Monte; Calza Vinhos Finos e Espumantes; Megio-
laro Vinhos; Honório Milani Vinhos Finos e Espumantes.
A região está caracterizada por pequenas propriedades, já contando com dez vinícolas
e seiscentos estabelecimentos vitícolas. Está totalmente georreferenciada, com informações
completas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os vinhos finos poderão
ostentar o selo de indicação de procedência, depois de aprovados pelo Conselho Regulador
e cumpridos os seguintes padrões de identidade e qualidade dos produtos: vinhedos com
controle de produtividade; 100% das uvas produzidas na área geográfica delimitada; padrões
diferenciais de maturação das uvas para vinificação; vinhos elaborados somente com as
variedades autorizadas e com os padrões da região; disponibilidade de levedura nativa
selecionada na região da IP; elaboração, engarrafamento e envelhecimento na área geográfica
CALZA, Vinícola
Gr IV - 1995 - VBdT- (C) - EnoT
vinicolacalza.com. br
Certamente essa é a principal vinícola integrante da Aprobelo e da
mais nova indicação geográfica do Brasil. Foi estabelecida pelo enó-
Calza logo Antoninho Calza e sua família. Tem 16 hectares de vinhedos
próprios, onde cultiva principalmente as variedades Tannat, Mer-
lot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Chardonnay. A cantina tem
arquitetura tipicamente colonial. Está instalada em prédio reformado da antiga Vinícola Capoani,
localizada na Linha 80 da Leopoldina. Os vinhedos próprios fornecem 70% das uvas com as
quais são elaborados os vinhos da casa. A produção fica pouco abaixo das 100 mil garrafas/ ano.
Os vinhos são apresentados em três linhas. A linha Calza está composta por um corte Cabemet
Sauvignon, Tannat, Ancellotta, varietais brancos de Chardonnay e Riesling, além de varietais tin-
tos de Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Sangiovese. Essa linha tem ainda os espumantes da
casa: brut champenoise, à base de Pinot Noir e Chardonnay, brut champenoise rosé, a partir do vinho
base de Chardonnay, Pinot Noir e Riesling, brut charmat, com vinho base de Riesling, Chardonnay
e Pinot Noir, e um espumante Moscatel. A linha Ouro Negro tem um estilo reserva, com varietais
barricados de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat. A linha básica, denominada Quinta Adega,
tem cortes e varietais, e é apresentada também na embalagem bag-in-box. A postura articulada do
produtor Antoninho Calza o fez estar associado à Aprobelo e à Aprovale, dada a vizinhança do
Vale dos Vinhedos. O vinho Calza Tannat 2008 conquistou o selo da então IP Vale dos Vinhedos.
Hoje, a Vinícola Calza tem vários vinhos com o selo da própria Indicação de Procedência, a IPMB.
DOMÍNIO VICARI
Gr V - 2008 - VBdT* - (C) - 'N'
dominiovicari.blogspot.com.br
Este é mais um projeto de vida no mundo dos vinhos artesanais
brasileiros. Sonho da mãe ceramista Lizete Vicari com o filho enó-
logo José Augusto Vicari Fasolo, vivido em diversas etapas, desde
que instalaram cantina na Praia do Rosa, no litoral catarinense.
nomf n10V1ca n
Lizete é dessas pessoas que desafiam realidades e enfrentam vi-
cissitudes com força e serenidade. Em 2015, após a experiência no
município de Imbituba - SC, estabeleceu-se em Monte Belo do Sul - RS, numa pequena proprie-
dade com área total de 3 hectares, onde implantou 1, 7 hectare de Chardonnay, Riesling Itálico e
Pinot Noir, além de um experimento em 24 linhas de Vermentino. Lizete travou uma luta muito
intensa naquela propriedade. As terríveis doenças fúngicas, especialmente o míldio, são pre-
senças frequentes, extremamente difíceis de serem enfrentadas somente com ações orgânicas e
biodinâmicas. A decisão foi mudar. A propriedade foi vendida e Lizete transferiu-se para Torres
Vedras, em Portugal, onde adquiriu um imóvel e vem criando seus vinhos com José Augusto, a
partir de uvas de terceiros. Já nasceram por lá um Gewurztraminer com Fernão Pires, um Mos-
cato Graúdo, um Caladoc, um Tinta Roriz, um Castelão, um Tinta Barroca e um Trincadeira,
experimentos que nos apontam promissor futuro. A previsão é de um vinhedo Domínio Vicari
português, para breve. Mas a ideia da família Vicari é seguir vinificando também no Brasil, com
as uvas de viticultores que também pratiquem a filosofia de química zero nos vinhedos. Todas
as etapas, da colheita à vinificação, ocorrem de forma totalmente artesanal. No Brasil, a base da
família seguirá sendo o município de Monte Belo do Sul. Os vinhos são rotulados com a deno-
minação Domínio Vicari, com uma linda mandala e o brasão do nome. Lizete Vicari é apaixonada
por vinificar. Em 2018, criou vinhos a partir de 11 castas e tem outros a engarrafar. São notáveis
os brancos Domínio Vicari Gewurztraminer, Domínio Vicari Ribolla Gialla e o tinto Domínio Vicari
Sangiovese, além de espumantes únicos.
•
intervenção e vem tendo reconhecimento. Tem sido discreto na di-
vulgação do próprio trabalho, mas já elabora 2.000 garrafas/ano.
Eduardo tem um pequeno vinhedo, mas também recorre a uvas de
vizinhos, quando necessita. Suas uvas são Lorena, Merlot, Moscato Bailey e Borgonha. A filosofia é
a dos vinhos naturais, sem química, sem filtração e sem SOr Gosta de vinificar, inclusive os brancos,
com as cascas. O espumante Bailene, com vinho base Moscato Bailey mais 10% de Chardonnay,
tem grande expressão: uma bonita cor rosada, borbulhas intensas, cremosidade e um bom volume.
FACCIN Vinhos
Gr V - 2016- VBdT- (C) - 'N'
faccinvinhos.com
Iniciativa de Antônio e Bruno Faccin, pai e filho, consolidando uma
caminhada de muitos anos em viticultura e elaboração de vinhos
para consumo familiar. A família iniciou-se na vitivinicultura no
FACCIN"
------.,.------ ano de 1936, na comunidade Linha Armênio Baixa, município de
Monte Belo do Sul. Ali se instalaram Ermínio Faccin e Joana Volpa-
to (avós de Antônio). Constituíram família e começaram com o cultivo da videira e a produção de
vinhos. Lindo Faccin (pai de Antônio) foi o sucessor, que se casou com Maria Luiza Vicari Faccin,
seguindo com a produção de uvas e vinhos. Chegamos então a Antonio Faccin, um dos 12 filhos
do casal, que se casou com Clarice Lourdes Benvenutti Faccin, nunca interrompendo a atividade
vitivinícola. A filosofia da vinícola, nas palavras de Bruno Faccin, é "elaborar vinhos sem utilização de
aditivos e sem passagem por madeira, no sentido de que o vinho demonstre todo o seu potencial, tornando-o
assim um produto sem máscaras". A área total é de 9,4 hectares, com 6,5 hectares de vinhedos, alguns
em renovação. As castas em produção são Chardonnay, Riesling Itálico, Pinot Noir e Merlot, além
das americanas Isabel, Lorena, Hebermont, Concord e Seibel. Antônio e Bruno Faccin trabalham
ainda na preservação da casta Zeperina, uma vitis bourquina, também conhecida como Santiago
(Cynthiana). Em avaliação estão Gewurztraminer, Cabernet Franc e outras. As mudas foram ad-
quiridas na França, outras em Minas Gerais e há aquelas que vieram com os primeiros colonos,
da Itália. A ideia é produzir em torno de 3.000 garrafas por ano, na cantina própria.
SBAGLIO
Gr V - 2015 - VBdT- (C)
O projeto dos amigos enófilos Ivan Cini e Ronaldo Turri é absolu-
tamente singular, pois não tem nem previsão de tornar-se comer-
S8AGL10 cial. Por segurança, porém, já estão inscritos e licenciados como
agroindústria familiar. Tudo começou com o desejo de elaborar
vinhos próprios. Sem conhecimentos de Enologia, convocaram amigos com formação e se ini-
ciaram. Primeiramente, adotaram castas brancas, Chardonnay e Riesling Itálico, cultivadas por
familiares, e buscaram parceiros viticultores para adquirir pequenas partidas das tintas Merlot,
Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. A cantina é literalmente o porão de uma casa
da família, no bairro de Santa Bárbara, mas está surpreendentemente bem equipada. A filosofia
é a de realizar as vinificações com mínima intervenção. Na fermentação, o comportamento é
clássico: usam leveduras selecionadas e controlam a temperatura. O conservante é o mínimo
necessário. Não usam processo químico de clarificação e não filtram. Os espumantes são nature,
não passam por dégorgement. Os varietais que degustei estavam muito bons: Espumante Brut,
Chardonnay, Riesling Itálico, Malbec e um muito expressivo Merlot 2015. Ah, sim, Sbaglio é uma
brincadeira dos amigos, que decidiram batizar os próprios vinhos de "erro", "equívoco", o que,
sinceramente, não são!
VALLEBELLO, Vinícola
Gr IV - 2018 - VBdT* - (C)
Vinícola familiar liderada pelo enólogo Tiago Lazzarotto, jovem
-
profissional com excelente currículo, consolidado em boas canti-
'
nas, antes de propor à família o projeto Vallebello. A propriedade
\/ ,b..LLEBELLo tem 6,5 hectares de vinhedos com as variedades Chardonnay,
Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir. A cantina é própria.
Os vinhos tranquilos, por enquanto, são varietais das castas im-
plantadas, todos rotulados como Vallebello. Os espumantes são
um brut branco e um brut rosado.
VINHAS DO TEMPO
Gr V - 2011 - VBdT* - (C)
vinhasdotempo.com.br
Daniel Lopes é um jovem inquieto. Graduado em comércio exte-
rior, em dado momento decidiu realizar um Mestrado na França.
Foi o bastante para o seu envolvimento profundo com o mundo
do vinho, não somente nos prazeres, mas principalmente no apro-
fundamento dos estudos de vitivinicultura. A decisão de elaborar
os próprios vinhos veio automaticamente, dentro da filosofia de vi-
OUTROS PRODUTORES
Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes, na área da IPMB,
todos no Grupo III- produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Adega da Serra; Adega
de Vinhos Finos Reginato; Adega del Monte; Famiglia Barbieri; Famiglia Tasca; Honório
Milani Vinhos Finos e Espumantes; Megiolaro Vinhos; Vinhos Faé; Vinícola Armênio.
FarroupHha
lndicaçio de Procedincia
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FARROUPILHA
166 Ro ge ri o D a rdea u
A IP foi concedida à Afavin, com as seguintes empresas vinícolas: Adega Chesini; Adega
Silvestri; Basso Vinhos e Espumantes; Cooperativa Vinícola São João; Golden Sucos; Irmãos
Benacchio; Lazzmar Indústria de Vinhos; Vinhos Don Giusepp; Vinhos Finos Velha Cantina;
Vinhos N. S. de Caravaggio; Vinhos Xangrilá; Vinícola Cappelletti; Vinícola Colombo; Vinícola
Perini; Vinícola Tonini.
ADEGA RIGON
Gr III - 2013 - VBdT - (C)
A Agrovinícola Rigon Ltda. é um pequeno empreendimento fa-
miliar fundado e gerenciado por Marcelo Rigon, em sociedade
com os pais, Severino e Albina Rigon. Desde 2004, Marcelo Rigon
está envolvido com a vitivinicultura, elaborando vinhos em cantina
parceira. Em 2012, edificou instalações próprias em terras da fa-
mília, iniciando nova etapa. Todos os vinhos Rigon são elaborados
com uvas dos próprios vinhedos. São 10 hectares, com as viníferas
Trebbiano Toscano, Chardonnay, Moscato Giallo, Merlot e Cabernet Sauvignon. A família cultiva
também as uvas comuns Bordô, Isabel, Carmem. Os rótulos atuais são os espumantes brut tradi-
cional, nature e moscatel, os varietais finos Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Trebbiano
e Moscato Giallo, além de tinto de mesa, branco de mesa e suco de uva natural integral. A pro-
dução anual está, em média, entre 13 e 15 mil garrafas de vinho fino.
CÃO PERDIGUEIRO
Gr V -2017 - VBdT* - (C)
Projeto nascido como de "vinhos autorais", que rapidamente vem
e AI r,..Aoi~f,ÍPI ampliando a presença de mercado, como sempre, em face das de-
•• •·: •: -; -~~ - · mandas de amigos pelos rótulos de alto padrão elaborados. O enólo-
go Arlindo Menoncin (Menon) busca viticultores com castas muito
bem cuidadas, e seleciona pessoalmente cachos e bagas, em colhei-
tas manuais. O nome do projeto mostra que há uma caça às uvas de qualidade, que são "farejadas"
por ele. Em seguida, transporta-as para a cantina da família Rigon, em Farroupilha, RS, e vinifica
pessoalmente. A filosofia do projeto é valorizar o colono, o agricultor, sempre declarando a origem
das uvas. O enólogo deseja explicitar que, se o vinho está excelente, isso se deve, em grande parte,
ao trabalho do viticultor. Já foram elaborados: Cão Perdigueiro Chardonnay 2017, único vinho
daquela colheita, com uvas da família Rigon; Peverella 2018, vinificado em laranja, com uvas do
produtor Strapazzon, nos Caminhos de Pedra; Trebbiano 2018, também com frutos da família
Rigon. Menon, como é conhecido, colhe sempre os melhores cachos, não se importando com a de-
corrência natural de ter de pagar mais por isso. Em 2019, foram elaborados espumantes, inclusive
um por método ancestral.
CAVE ANTIGA
Gr IV - desde 2009, após 1928 - VBdT* - (C) - EnoT
Um dos aspectos mais importantes na gestão das organizações é,
sem dúvida, a capacidade de superação de obstáculos, em momen-
tos de dificuldades. A Cave Antiga fez mais: a vinícola se rein-
ventou. Sob o comando do enólogo João Carlos Taffarel, família,
sócios e profissionais reergueram um patrimônio que, agora, pas-
sados quase dez anos do início de uma nova fase, apresenta vinhos
notáveis. As instalações próprias, da recepção e varejo à cantina, estão revitalizadas, em espaços
que resgatam uma bela arquitetura colonial, agregando criativos elementos de decoração, como
lustres elegantemente construídos a partir de originais galhadas de videiras secas. Uma renova-
ção completa, que ainda nos trará muitas surpresas. Os vinhos são elaborados a partir de uvas
dos vinhedos próprios, no município de Cotiporã, e de uvas de viticultores parceiros. Há varie-
tais brancos, com destaque para o Cave Antiga Moscato 2018 IP, e tintos. A linha Venerabile e o
tinto premium Cave Antiga Iridium 2009 selam um estilo com aptidão à longevidade. Entre os
espumantes, em ampla linha, o destaque fica para o Cave Antiga Nature, com vinho base 100%
Chardonnay, e menos de 3g/l de açúcar residual. Em 2020, a Cave Antiga lançou o vinho Taffarel
2019, um corte entre a casta alemã Schõnburger e a francesa Chardonnay.
I
iviAISON DACHERY
um projeto de vida. Ele foi um dos enólogos da Maison Fores-
tier, nos anos 1980. Quando a empresa deixou o Brasil, Dachery
tomou um rumo diferente da Enologia, sem nunca abandoná-la.
Estabeleceu parcerias com viticultores, num modelo de negócio
similar ao que vivera na Forestier, e vem elaborando seus pró-
prios vinhos, exclusivos. A Maison Dachery é uma das poucas vinícolas brasileiras de origem
familiar francesa. O desejo é ter vinhos que sejam a expressão mais forte do próprio terroir na
Serra Gaúcha, com muita condição de longevidade. A ideia é de longo prazo, como o próprio
Roberto diz, "para aparecer em trinta anos". O objetivo é elaborar vinhos muito especiais e obter
muito reconhecimento nacional e internacional, no sentido de agregar valor aos rótulos. Atu-
almente, a Maison Dachery tem os seguintes vinhos brasileiros de terroir: Dachery Virtuoso 2005
(corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat de maceração lenta, engarrafado em 2007);
Dachery Millésime 2005 (corte entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Tannat);
Dachery Terroir Serra Gaúcha 2005 (corte entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot,
elaborado por meio da técnica de uvas sobre uvas ou cofermentação); Dachery Raimundo 2005
(corte Cabernet Sauvignon + Merlot, engarrafado em dezembro de 2007). A casa apresenta
ainda três varietais: Dachery Varieté Cabernet Sauvignon, Dachery Varieté Merlot e Dachery Varieté
Tannat. Em tanques, a casa tem o Dachery Théophile. O Dachery Cuvée Historique 2005 é um inte-
ressante corte entre Cabernet Sauvignon (70%) e Tannat (30%), no qual o vinho da Cabernet
Sauvignon recebeu o corte do vinho da Tannat, de maturação precoce, quarenta dias depois da
vinificação deste. O resultado é um vinho encorpado, com uma graduação alcoólica expressiva
de 14,0%. A cor é rubi intensa, quase púrpura. Os aromas são complexos, mostrando trufas,
compotas de frutas vermelhas e tabaco. No paladar, o vinho mostra um bom volume, maciez
e ótima persistência. É apto à combinação com pratos de carnes temperadas e massas com
molhos picantes. O pato ao vinho recebe muito bem o Dachery Cuvée Historique 2005. Trata-se
de um tinto muito elegante. No fechamento deste livro, a Maison Dachery vivia um período
de produção interrompida, seguindo com a comercialização de estoques.
MAXIMO BOSCHI
Gr IV - 1998 - VBdT* - (C)
maximoboschi.com.br
Empreendimento criado pelos enólogos Daniel Dalla Valle, que
também assina vinhos na Casa Valduga, e Renato Antonio Sava-
ris, estabelecido na Serra Gaúcha, em área que pertenceu aos fa-
miliares imigrantes. Elabora pequena produção de espumantes e
MAXIMOBOSCHI varietais tintos e brancos. Tem a filosofia de vinhos longevos, sem
desconsiderar os vinhos jovens. Os donos fundamentam a opção
em Eclesiástico 9: 15, no qual se encontra: ''Amigo novo é vinho novo: deixe que envelheça e depois o
beberá com prazer". São destaques o Cabernet Sauvignon 2000 e o Merlot 2000, que estavam no mer-
MONTE PASCHOAL
Gr IV - 1990- VBdT* - (C)
MONTE
PASCHOAL
BASSO
Gr II- 1940- VM + VBdT- (C)
vinicolabasso.com.br
Os vinhos Monte Paschoal constituem marca do grupo Basso, or-
ganização de porte expressivo, nascida no distrito farroupilhense
de Monte Bérico, sucedendo à antiga Vinícola Irmãos Basso. A em-
o
VINHOS E ESJ>UMANTES
presa Basso Vinhos e Espumantes, administrada por um elenco
profissional, coordenado por Fabiano Basso, elabora anualmente
mais de 6 milhões de litros de derivados de uva e tem tanques para
armazenar 9 milhões de litros, em cantina própria. Tem vinhedos conduzidos em Y, mas também
compra uvas de parceiros. A assessoria enológica fica por conta de Marcos Vian. Os produtos
Basso são apresentados por meio de duas divisões: Dei Grano, que elabora vinhos de mesa e su-
cos; Monte Paschoal, com três linhas de VBdT: Reserva (Pinot Noir, Merlot e Tannat), Dedicato
(varietais barricados de Chardonnay, Pinot Noir, Merlot, Cabernet Sauvignon e Tannat) e Virtus
(varietais leves, apresentados em garrafas com tampa de rosca, das castas Moscato, Chardonnay,
Merlot Rosé, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Sauvignon Suave, Tannat e Tempranillo).
Os espumantes estão presentes sob as denominações Virtus Qovens, Charmat), Monte Paschoal
(Charmat) e Dedicato (método tradicional) . Há rótulos apresentados em 187ml e 250ml. A casa
vem trabalhando também para o público jovem, com frisantes branco e rosado, leves e refrescan-
tes, à base da casta Moscato, com 7,0% de teor alcoólico. A empresa Basso Vinhos e Espumantes
exporta para a Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Noruega. O grupo é controlador
da vinícola Lacave, de Caxias do Sul, e da Vinhos Canção.
ti
derson Schmitz e Marcos Vian, também sócios na consultoria
Enovitis, que assessora inúmeros produtores Brasil afora. A Plá-
tanos é um trabalho de reconstituição de uma vinícola que não
- VlNÍCOLA DOS - operava há muitos anos. Foi totalmente renovada e reequipada
PLÁTANOS pelos novos sócios, com uso de alta tecnologia. Elabora vinhos
para clientes, bem como tem rótulos próprios, sempre que os
sócios constatam elevado padrão de determinada colheita. As instalações apresentam uma
bonita arquitetura típica da colônia italiana, com paredes externas em tijolos maciços apa-
rentes. Os primeiros vinhos com rótulos próprios foram da safra de 2015, literalmente em
quantidades de butique. Caso você encontre, num contrarrótulo, a clássica sentença "vinho ela-
borado exclusivamente para.......... , por CNPJ 90.129.388/0001-18", significa que tem a garantia
de Anderson Schmitz, Marcos Vian e Vinícola dos Plátanos.
OUTROS PRODUTORES
Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes, na área da IP
Farroupilha, todos do Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Vinícola
Cappelletti; Adega Chesini, que elaborou o VBdT Chesini Gran Vin 2005 (100% Cabernet
Sauvignon) . Os espumantes Chesini são rotulados como Cave Dei Veneto; Vinícola De Cezaro,
com sucos e vinhos de mesa orgânicos; Vinícola Tonini - João.
Outros lugares na Serra Gaúcha, nos quais vinhos finos são elaborados, não
abrangidos por nenhuma indicação geográfica (a Serra Gaúcha é, hoje, considerada zona
de produção, pelo decreto 8.198/ 2014) .
A Serra Gaúcha, com seus inúmeros municípios, é a macrorregião tradicional, onde
nascem, hoje, 80% dos vinhos finos brasileiros. Para lá foi encaminhado o maior contingente
de imigrantes italianos, chegados ao Brasil a partir de 1875. Está situada a 29º de latitude Sul,
entre 400 metros e 700 metros acima do nível do mar. O contorno é amplo, especialmente
no sentido norte, rumo aos Campos de Cima da Serra. O clima é temperado a quente, com
noites temperadas e, frequentemente, elevada umidade. As temperaturas médias ficam entre
16 ºC e 18 ºC. A ocupação territorial herdou o formato da colonização, ou seja, o minifúndio, a
pequena propriedade. Apesar de não ostentar as melhores condições climáticas nem a melhor
topografia para o cultivo de videiras, a Serra Gaúcha é a macrorregião brasileira que se pode
considerar domada. Sobre aquele espaço há inúmeros estudos e registros, em especial, pela
Embrapa Uva e Vinho. As vindimas, ali, estão categorizadas, a partir de 1982: cinco estrelas -
as safras de 1991, 1999, 2005, as três consideradas excepcionais, e mais as de 2012, 2018 e
2020, esta unanimemente tratada como 'a safra das safras'; quatro estrelas - 2019, 2017, 2014,
2011, 2010, 2008, 2006, 2004, 2002, 2001, 2000, 1997, 1996, 1986 e 1982; três estrelas - 2015,
2016, 2013, 2009, 2007, 1995, 1994, 1990, 1988, 1987 e 1985; duas estrelas - 2003, 1998,
1993, 1992, 1989, 1984 e 1983. Há especialistas que atribuem também cinco estrelas às
safras de 2002, 2004 e 2006, na Serra Gaúcha. Prefiro admitir que foram, sim, safras quatro
estrelas muito especiais, numa interpretação muito pessoal. Como o leitor pode perceber,
quero agrupar no elenco máximo apenas aquelas incontestáveis. Os produtores instalados
na Serra Gaúcha adquiriram o domínio do terroir, dos microclimas, do manejo, e já podem
garantir diversos vinhos brasileiros de terroir, em padrões internacionais. Listamos, por ordem
alfabética, os seguintes municípios: Alto Feliz, Antônio Prado, Bento Gonçalves, Boa Vista
do Sul, Campestre da Serra (pode ser que venha a integrar a região dos Campos de Cima da
Serra) , Carlos Barbosa, Casca, Caxias do Sul, Coronel Pilar, Cotiporã, Dois Lajeados, Fagundes
Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Gramado, Guaporé, Ipê, Monte Belo do Sul,
VIVEIRO
VIVEIRO SINIGAGLIA
(Bento Gonçalves, RS, 2001)
viveirosinigaglia.com
Tradicional empreendimento vitícola da Serra Gaúcha fundado pelo
ALTO FELIZ
ANTÔNIO PRADO
CASA MUTERLE
Gr III - 2000 - VM - (C) - EnoT
Iniciativa familiar, a partir da experiência como viticultores. Ela-
boram vinhos de mesa, sucos, coolers, vinagres e duas linhas de
- CASA- vinhos finos, a linha Dei Tchodo, com um rótulo de entrada da
MUTERLE variedade Cabernet Sauvignon, e a linha Dom Lauro, também com
vinhos finos correntes das castas Chardonnay, Cabernet Sauvig-
non, Merlot e Tannat. A casa também oferece espumantes, sendo um branco brut, um rosado e
um moscatel.
CASA OLIVO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
Empreendimento vitivinícola de vinhos finos do experiente
agricultor Aureo Ditadi, iniciado em 2008, com a implanta-
ção de 3 hectares de vinhedos de viníferas, entre o total de
14 hectares com outras variedades, estas especialmente para
86 'VdoBr" - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
87 Em 2004 era 1a vice-presidente da Union lntemationale des (Enologues (UIOE), o primeiro não europeu
a integrar a diretoria daquela organização, com sede em Paris.
CAINELLI, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT - (C) - EnoT
vinicoloacainelli.com
A história da família Cainelli na vitivinicultura brasileira remonta
ao distante ano de 1929 e às batalhas travadas até 1970, quando
foi necessário interromper os trabalhos da vinícola. Em 2004, po-
rém, Roberto Cainelli revolvia alguns papéis pessoais e encontrou
rótulos antigos. Teve, então, o ímpeto de reativar a vinícola. Levou
o assunto à família e, imediatamente, contou com o apoio da esposa, Bernadete, e do filho Ro-
berto Cainelli Jr., que já trazia no sangue o amor pelo trabalho com uvas e vinhos. A família se
reorganizou, redistribuiu tarefas e renascia a Vinícola Cainelli. Em 2006, Roberto Cainelli Jr.
iniciou seu primeiro curso de Enologia, complementado, posteriormente, com o de tecnólogo
em Viticultura e Enologia, concluído em 2013. Desde então, a Vinícola Cainelli tem apresentado
vinhos de terroir, sempre com a filosofia de jovialidade. Os vinhedos têm 6 hectares, com varie-
dades de uvas comuns e as viníferas Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. A cantina é própria.
No campo dos vinhos finos, são apresentadas três linhas: a de entrada, composta de varietais
e espumantes, denominada Cainelli; as linhas Tempo, com cortes nobres, e Origem 1929, com
varietais. A Vinícola Cainelli tem forte atuação em enoturismo, difundindo a cultura do vinho.
A família recebe visitantes permanentemente, com especial programação na colheita, quando
todos são envolvidos pelas atividades típicas da época, como a tradicional pisa da uva.
CASA FONTANARI
Gr IV - 2012 - VBdT* - (C) - EnoT
casafontanari.com.br
A família Fontanari pratica a vitivinicultura desde os anos 1930.
""~.ur-: Mas foi em 1989 que o neurocirurgião Juliano Fontanari começou
~.;;,
CASA a elaborar, regularmente, vinhos para o consumo da família, logo
FONTANARI despertando o interesse do filho Victor, que, pouco tempo depois,
estaria formado em Enologia. Em 2012, formalizaram a Casa Fon-
tanari. Os vinhedos são próprios e, embora a cantina esteja localizada no município de Bento
Gonçalves, os 14 hectares de vinhedos invadem o município vizinho, situando-se na região da
IP Pinto Bandeira. Os solos são profundos, sobre o basalto que está presente amplamente no
subsolo da Serra Gaúcha. As castas brancas implantadas são as Chardonnay, Malvasia de Cân-
dia, Moscato, Riesling Itálico e Trebbiano. As tintas são: Ancellotta, Cabernet Franc, Cabernet
Sauvignon, Marselan, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Shiraz e Tannat. A cantina é própria e muito
bem instalada em edificação histórica da família, contando com prensa pneumática, para a vinifi-
_1)_ Projeto iniciado pela mais nova geração da família Cristofoli, man-
tendo a cultura herdada de pais, avós e bisavós. São vinhedos pró-
CRISTOFOLI prios com pouco mais de 1 hectare de terra, onde estão implanta-
• • • Vinhos de Família • • •
89 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
~
Henrique Zanini, ambos enólogos, e Pedro Hermeto, sócio do
restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro. São 2 hectares de vi-
ERA D O ~ nhedos, na Linha Palmeiro, onde frutificam as tintas Marselan,
Merlot, Tempranillo e Teroldego. É um projeto de sonho, cer-
tamente filosófico. As relações entre produtores, vinhedos e
vinhos se dão de forma poética, musical, numa estética decor-
rente das personalidades dos três mentores, que se utilizam sempre da melhor técnica, não
intervencionista, é claro. O introspectivo Escher, o romântico Zanini e o intrépido Hermeto
harmonizam suas personalidades, e os resultados são os vinhos marcantes que nascem num
porão cheio de energia. Vinhedos e cantina ainda são pequenos, mas plenos da história que
serpenteia nos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, RS. Os primeiros vinhos foram da
safra de 2007: o Era dos Ventos Merlot e o Era dos Ventos Tempranillo. Em 2008, vieram o Era dos
Ventos Teroldego, o Era dos Ventos Marselan e o instigante branco Era dos Ventos Peverella, repetido
em 2010, com uma leve oxidação provocada (e controlada). A Peverella é a única casta tra-
balhada pelo projeto Era dos Ventos que não provém de vinhedo próprio. É um típico orange
wine, que mostra um amarelo-ouro, aromas tostados e boca untuosa, um vinho emocionante.
Aliás, a casta Peverella estava praticamente extinta, inclusive no Brasil. Agora, retorna em alto
estilo, pelas mãos desses três artesãos das uvas. Mas é importante registrar a afirmação de
Zanini: "Nossos vinhos não são feitos a seis mãos, mas a três corações!". Os tintos 'Era dos Ventos' são
vinhos aptos à longevidade, uma verdadeira retribuição das uvas vinificadas ao tempo que lhes
dedicam seus tratadores. Vejamos o depoimento de Pedro Hermeto ao jornalista especializado
Didu Russo, no Restaurante Aprazível, em 15 de outubro de 2013 (didu.com.br):
"Era dos Ventos Peverella é um vinho de raiz cultural. A Peverella era a branca mais plantada pelas
famílias italianas na chegada ao Brasil. Era o vinho bebido pelo Álvaro Escher com os avós. Foi difícil
encontrar vinhedo contínuo da casta, pois, com o envelhecimento, a produtividade cai e os produtores
arrancam para plantar Cabernet Sauvignon e Merlot. Atualmente, a uva de nosso vinho vem de um
vinhedo com oitenta anos. A maceração com as cascas (skin contact) é feita em cubas de madeira muito
antigas, assim como a fermentação. O processo confere traços oxidativos desejados por nós, com uma
complexidade aromática fantástica e até um pouco de tanino. O vinho descansa em barricas velhas, por 12
a 14 meses. O engarrafamento é feito sem filtragem, sem leveduras sólidas (só usamos levedura indígena).
Usamos o mínimo de sulfito no envase e trabalhamos pela eliminação total do sulfito. Assumimos os riscos.
Alicia Keys vem aqui e bebe, quando vai dar show no Rock in Rio".
O vinhateiro Álvaro Escher, além de se ocupar com todos os aspectos diretamente ligados
ao vinhedo e com a elaboração dos vinhos, na cantina, também constrói as cubas, nas quais
maceram e fermentam as uvas, os pequenos recipientes chamados "mastelas", e prepara a cera
natural que encobre as rolhas, como cápsula. A criação Trebbiano on the Rock vem de uvas
maceradas num lagar de basalto, especialmente construído para a elaboração desse vinho, que
se expressa numa linda cor dourada, em aromas frutados leves e enorme frescor no paladar.
Os espumantes são também criações com vinhos base da Peverella. Os vinhos tranquilos dessa
ESTRELAS DO BRASIL
Gr IV - 2005 - VBdT* - (C) - EnoT
estrelasdobrasil.com. br
Vinhedos localizados no distrito de Faria Lemos e no município
de Nova Prata. A empresa tem as assinaturas de dois amigos
enólogos, o brasileiro Irineo Dall'Agnol (que tem Embrapa no
currículo) e o uruguaio Alejandro Cardozo. A localização é pri-
vilegiada e emociona quem visita. O Vale Aurora e a região de Montevino descortinam-se aos
olhos, num deslumbramento. As terras foram compradas por Irineo, que nelas implantou
vinhedos e vende praticamente 80% da produção. Com os 20% restantes, os dois amigos se
alegram, deliciando os enófilos, especialmente aqueles que têm a oportunidade de ir até lá.
As uvas são colhidas, selecionadas e transportadas até a Vinícola Piagentini, em Caxias do
Sul,a, onde nascem os espumantes e os vinhos tranquilos. O nome ESTRELAS DO BRASIL
é uma homenagem especial ao descobridor Don Pérignon, que, no ano de 1670, na região de
Champagne, França, após desvendar essa magnífica bebida, saiu gritando: "Estou provando
estrelas". A vinícola tem uma dedicação especial aos espumantes. Já disponibiliza ao merca-
do espumantes, vinhos tranquilos tintos e um branco. Os espumantes são: Estrelas do Brasil
Brut Rosé (champenoise), 100% Pinot Noir, 12,5%; Estrelas do Brasil Brut (champenoise) Pinot
Noir, Chardonnay, Viognier, 12,5%; Estrelas do Brasil Brut (charmat) Chardonnay, Viognier,
12,5%; Estrelas do Brasil Riesling (charmat) 100% Riesling Itálico, 12,5%; Estrelas do Brasil Pro-
secco (charmat) 100% Prosecco, 12,5%; Estrelas do Brasil Moscatel (charmat) Moscato Bianco,
Malvasia de Cândia, Moscato Giallo, 7,5%. A Estrelas do Brasil é uma das vinícolas brasileiras
que vêm testando o uso de levedura encapsulada para a realização da segunda fermentação
na garrafa. Os tintos são o Dall'Agnol DMD 2005 e o Dall'Agnol Superiore 2005, um corte entre
Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Tannat. O Dall'Agnol DMD 2005 é um varietal
de Cabernet Sauvignon que passou por processo de dupla maceração direcionada - DMD,
como a abreviação usada no nome indica. Para esse vinho, os produtores deixaram as uvas
passificando no próprio vinhedo, depois de maduras. O processo é simples: faz-se um tor-
niquete nos galhos dos cachos. Isso impede o fluxo da seiva para as uvas e estas passificam.
É quase um ripasso italiano, com a diferença de que a passificação não se obteve em salas
ventiladas. Outra estrela foi lançada em 2014: o Dall'Agnol Fumé Blanc Sauvignon Blanc.
SALTON, Vinícola
Gr I - 1910 - VBdT- (C) - EnoT - 'VdoBr' 9º
salton.com.br
A Vinícola Salton é uma empresa secular. Foi constituída formal-
~
mente em 1910, como Paulo Salton & Irmãos, no centro de Bento
Gonçalves. Em 1948, por iniciativa de José Salton, instalou uma
\ l :\ !C ,11 \ filial no bairro de Santana, na capital paulista, que viria ser funda-
SALTON mental à boa distribuição dos vinhos Salton aos estados brasileiros
e, logicamente, ao crescimento da organização. Naquela unidade
instalou-se a produção do conhaque Presidente, produto que sempre teve êxito em vendas e, por-
tanto, participação efetiva no faturamento. Esses recursos, somados aos obtidos da expressiva
carta de vinhos que disponibiliza ao mercado, proporcionaram os investimentos necessários ao
90 'VdoBr' - Essa referência aparece 17vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
VISTAMONTES, Vinícola
Gr III - 2009 - VM + VBdT - (C) - EnoT
A Vinícola Vistamontes é a realização do sonho do jovem casal de
~I[ enólogos Geyce Marta Salton e Anderson De Césaro, 92 na proprie-
li~ dade da família, dedicada, desde 1918, à viticultura, no distrito
VLSTAMONTES de Faria Lemos, Bento Gonçalves. A área tem uma rara beleza,
com uma impressionante vista dos vales e das montanhas, num
cenário bem piamontês. Aliás, não devemos confundir esse produtor com a Vistamonti, lá do
Piemonte, na Itália. As nuvens que encobrem o vale do rio das Antas, nas madrugadas, ao ama-
nhecer sobem ao lugar, contribuindo com umidade. Geyce e Anderson, com sólidos conhecimen-
tos de enologia, implementaram o processo de elaboração de suco de uva integral, e com isso,
além de agregar valor às uvas, desde muitas décadas colhidas pela família, também resgataram
saberes e fazeres de seus antepassados. Após a consolidação do negócio de sucos, implantaram,
OUTROS PRODUTORES
Além dos produtores descritos acima, em Bento Gonçalves, fora de IGs, ainda encontramos
os seguintes, todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Adega
Campolaro; Adega Splendor (a elaboração de vinhos está interrompida); Casa Bucco (vinhos
Oi Pietro e brandy dez anos Casa Bucco); Casa Dequigiovanni (EnoT) , na Linha Eulália,
onde o enólogo Jatir Dequigiovanni, proprietário, comanda incríveis momentos de cultura,
enogastronomia e música, em memoráveis refeições típicas. A Casa Dequigiovanni elabora um
Limoncello, com receita original italiana; Vinícola Monte Rosário (T), instalada, desde 1993,
na Linha Eulália, em prédio de filial da antiga Cooperativa Vinícola Tamandaré. Elabora vinhos
finos sob a denominação Rotava, sobrenome da família; Vinhos Petroli; Vinhos Possamai;
Zucchi (Sítio de Lazer, também na Linha Eulália) (EnoT).
CANELA
JOLIMONT, Vinícola
Gr III - 1948 - VM + VBdT - (I) - EnoT
vinhosjolimont.com. br
Antiga Vitivinícola Briere, fundada pelo francês Jacques Briere,
no Morro Calçado. Certamente, não houvesse falecido prematu-
VI rlYINiCOLA ramente, o francês teria conduzido sua vinícola ao seleto grupo
JOUMONT+--191,V
de elaboradores de vinhos brasileiros de terroir, que ele perseguia
desde os anos 1970, havendo elaborado varietais (especialmente
Cabernet Sauvignon e Merlot) que somente muitos anos depois
viriam a ser elaborados no Brasil. São 27 hectares de vinhedos a uma altitude média de 800m.
Desde 1987 está sob o controle do empresário Ernani de Napoli Velho, que vem
mantendo o perfil de um pequeno produtor. Jolimont era nome de um dos ró-
tulos da casa, que teve também o memorável Reserva Morro Calçado Cabernet
Sauvignon. Atualmente, a casa mantém linhas Reserva, Gran Reserva e deno-
minações singulares como Morro Calçado e Récolte Secrete 2015, um Cabernet
Sauvignon de uvas desidratadas por 27 dias, ainda no parreiral.
CARLOS BARBOSA
93 Depois da fermentação alcoólica, os sedimentos {leveduras mortas e resíduos de uva) estão no fundo
dos barris. Bátonnage é a ação de agitar o vinho para suspender os sedimentos. A operação é feita
tradicionalmente com uma vara (báton). Pela bátonnage, promove-se a volta dos sedimentos à suspensão,
para um contato maior com o vinho. O procedimento permite ao vinho adquirir mais corpo e desenvolver
maior complexidade de sabores.
CASCA
VIVENTE
Gr V - 2017 - VBdT* - (I) - 'N'
Iniciativa dos amigos Micael Eckert, de Estrela, Diego Cartier e
Rafael Rodrigues, ambos de Porto Alegre, trata-se de empreendi-
mento voltado à elaboração de vinhos com filosofia não interven-
cionista. A fermentação se dá sempre de maneira espontânea, por
meio da levedura da própria fruta, dita levedura selvagem. A pri-
meira elaboração se deu com a colheita de 2018, com uvas com-
pradas na região de Campos de Cima da Serra. Foram três espumantes: Glera (uva do prosecco)
com Chardonnay; Cabernet Franc com Merlot; Pinot Noir com Chardonnay. Esses espumantes
foram elaborados sem adição de qualquer aditivo ou produto químico, com permanente acom-
panhamento dos teores de açúcar nas bebidas, durante a elaboração. Quando o açúcar atingiu
16g/l, o líquido foi engarrafado e prosseguiu em fermentação para a tomada de espuma. Nesse
mesmo ano de 2018, os sócios iniciaram a implantação de vinhedos próprios, com mudas fran-
cesas, de modo que preveem os primeiros vinhos de uvas orgânicas próprias em três anos.
CAXIAS DO SUL
94 Raleio de cachos é uma poda verde. Podam-se ramos em estado herbáceo e tenro, no período de plena
atividade vegetativa das plantas. Essa prática altera a relação entre a superfície foliar e o número de
cachos. O objetivo é reduzir a produção e melhorar a qualidade das uvas. O número reduzido de cachos
melhora o teor de açúcar e baixa a acidez.
ARBUGERI, Vinícola
Gr III - 2000 - VBdT - (C)
vinhoscristalle. com. br
Empresa voltada aos sucos e vinhos de mesa, com pequena pre-
sença no ambiente dos vinhos finos. Elabora espumantes Victória,
varietais jovens com a denominação Cristalle, varietais barricados
com o nome Sfera, o corte xv; que homenageou os quinze anos
da vinícola, e o corte 1885, entre Petit Verdote Alicante Bouschet,
da colheita de 2008, com 31 meses de estágio em barricas de carvalho francês e americano. O
enólogo é Eduardo Arbugeri.
LOVATEL
Gr II - 1979 - VM - (C)
vinicolalovatel.com. br
Empreendimento da família Lovatel, que herdou do imigrante Giu-
seppe Lovatel a cultura do vinho. Elabora ampla linha de derivados
de uva e um vinho fino, a partir da casta Cabernet Sauvignon, de-
nominado Giuseppe Lovatel, em colheitas especiais. Esse vinho é
também apresentado em garrafas Magnum (1,51) e garrafões (4,61).
95 Essa é a data considerada como o começo da produção de vinhos finos. Nos quadros estatísticos na
página 58 e seguintes, a Petronius Beverages by Authors aparece em 2017.
CANTINA TONET
Gr IV - 1950- VBdT- (C) - EnoT
cantinatonet.com.br
A família Tonet está dedicada aos derivados da uva desde que
chegou ao Brasil, em 1897. Comercialmente, iniciou atividades
empresariais em 1950. O patriarca Ivo Tonet é quem conduz a
casa, na atualidade. A vinícola elabora vinhos de mesa e vinhos
finos. Entre os finos, encontramos duas linhas: Tonet e Reser-
va. São varietais das tintas Ancellotta, Malbec, Merlot, Cabernet
Sauvignon, Tannat, Tempranillo, Touriga Nacional e Nebbiolo. A Cantina Tonet oferece ainda
um vinho estilo Amarone. Trata-se do Tonet Amaro, elaborado a partir de um corte entre
vinhos das uvas Corvina, Molinara e Rondinella, de vinhedos próprios. Para esse vinho, as
uvas são colhidas e deixadas em estufa, para a desidratação. O vinho fermenta em tempera-
tura controlada entre 20ºC a 25ºC, para maior extração de compostos fenólicos. A maceração
pós fermentativa se dá em sete dias. A fermentação malolática ocorre em tanques de inox.
Após estabilização tartárica, o vinho evolui em barricas de carvalho francês e americano por
24 meses. As garrafas permanecem em repouso por, pelo menos, 12 meses, nas caves, para
afinamento, até sua comercialização.
COTIPORÃ
CAVE MARSON
Gr II- 1970- VBdT- (C)
cavemarson.com.br
A história da Marson antecede a do município de Cotiporã, posto
C AVE que ali está desde quando a localidade era apenas a colônia Mon-
MARS ON te Vêneto. A empresa foi constituída pelo neto e bisnetos do pa-
triarca Antonio Marson, que implantou a cultura do vinho desde
a chegada ao Brasil, em 1887. É bem verdade que, desde 1938, a
família mantinha uma pequena indústria de vinhos comuns. A Marson, além dos vinhos finos
de consumo corrente da linha Vale da Ferradura e dos vinhos de mesa da linha Dei Coloni, elabora
vinhos de terroir organizados em: gran reserva, premium (Famiglia e Vinhas d'Encruzilhada) e re-
serva, em que estão os varietais. O Marson Gran Reserva Cabernet Sauvignon e a linha Cave Marson
Vinhas D'Encruzilhada, com uvas adquiridas de parceiros das castas Cabemet Sauvignon, Merlot e
Touriga Nacional, de vinhedos localizados em Encruzilhada do Sul, são os VBdT. A Cave Marson
tem também uma linha de espumantes. A casa tem no currículo o nobre apoio à produção de
uvas por assentados de reforma agrária, havendo elaborado na própria cantina o tinto Veritas,
com uvas de assentamentos, assim batizado pelo publicitário Carlito Maia, grande apoiador do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
FAGUNDES VARELA
BASSANI
Gr IV - 2005 - VBdT - (C)
Vinícola estabelecida pela família Bassani, com produção de vinhos
~~..!"'~""~ ~ finos e de mesa. Os vinhos finos estão organizados em duas linhas:
Bassani, para os vinhos de entrada, e Azienda Bassani, para os vi-
nhos tipo premium. Registramos um espumante brut e um moscatel, além dos varietais Merlot,
Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, este nas versões gran reserva, reserva e bag-in-box.
GARIBALDI
Esse histórico município, com sua bela área urbana, como já vimos, é a capital brasileira
do espumante. Lá se instalaram irmãos Maristas, em 1904, que depois fundaram a Pindorama
S.A. Vinhos e Champanhas, com vinhedos e cantinas, dando expressiva contribuição à
vitivinicultura brasileira, especialmente pelo trabalho do irmão Pacômio. Nascido na Alsácia,
Charles Sion assumiu os votos na Congregação Marista com o nome Marie-Pacôme, que, entre
os brasileiros, foi popularizado como Pacômio, um entusiasta da vitivinicultura, que levou a
Pindorama a edificar três cantinas e a processar milhares de litros de vinho. Em Garibaldi,
estão concentrados diversos produtores da bebida das borbulhas, mas também de vinhos
tranquilos, muitos dos quais organizados em três importantes associações.
Associações de produtores
Aviga - Associação dos Vinicultores de Garibaldi. Congrega diversas vinícolas e, entre
estas, algumas microchampanharias, como: Adega Chesini, Adega Don Avelino, Vinhos
ADOLFO LONA
Gr IV - 2004- VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr'96
adolfolona.com.br
O enólogo e professor argentino Adolfo Alberto Lona, após ex-
pressiva carreira como enólogo e até diretor de grande empresa
vinícola, decidiu conduzir a elaboração de vinhos próprios. Lona
veio para o Brasil a convite da Martini & Rossi, nos anos 1970, e
permaneceu no grupo por mais de trinta anos. Seu competente
trabalho o conduziu à direção técnica da empresa e à fundação da
Casa De Lantier, responsável pelos vinhos Baron De Lantier e pelos espumantes De Greville. No
período em que orientou os rumos daquela divisão da M&R, Lona conduziu inúmeras pesquisas
de terroir. Em 2002, a Casa De Lantier lançou a Coleção Regionais. Eram três vinhos vendidos
somente em conjunto: um Cabernet Franc, com uvas de Pinheiro Machado, e dois Cabernet
Sauvignon, o primeiro com uvas de vinhedos próprios em Garibaldi e o outro com uvas pro-
96 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
BETTÚ, Orgalindo
Gr V - 2018 - VBdT* - (C)
O nome Orgalindo Bettú já é um clássico na vitivinicultura bra-
sileira contemporânea. Enólogo pela escola de Bento Gonçalves,
Orgalindo compôs o grupo inicial de profissionais escolhidos por
Manuel Dilor de Freitas, para efetivação do projeto Villa Francio-
ni, na Serra de São Joaquim, SC. Embora de família de vinhateiros
experientes, como o produtor autoral Vilmar Bettú, Orgalindo escolheu uma carreira solo e
decolou, vendo seu nome associado ao êxito e aos prêmios dos vinhos Villa Francioni. De
temperamento reservado e muito exigente, ele desejou realizar o projeto de vinhos próprios e
vem executando tarefa por tarefa, de modo a ter tudo altamente profissionalizado, com lega-
lização pela via de pequeno produtor rural, mantendo sempre o perfil de vinhateiro artesanal.
A operação se iniciou em 2019, com espaço para recepção e enoturismo, tudo sob a condução
do casal Orgalindo e Fátima. Seus vinhedos são bem pequenos: uma área pouco maior que
0,5 hectare, na Linha São Jorge, em Garibaldi, onde estão implantadas as variedades brancas
Chardonnay, Petit Manseng, Sauvignon Blanc e Sémillon, além das tintas Cabernet Sauvignon,
Malbec, Marselan, Nebbiolo, Petit Verdot, Sangiovese e Syrah. O projeto é de 3.000 garrafas/
ano de vinhos barricados, uma vez que o desejo é oferecer vinhos maduros. Serão no máximo
duas barricas por variedade. A carta será composta por vinhos tranquilos brancos e tintos,
espumante branco e vinhos de sobremesa brancos e tintos. Eventualmente, outros vinhos com
variedades de viticultores parceiros poderão ser elaborados. Em se tratando de um empreendi-
mento estritamente familiar, a ideia é comercializar os vinhos sempre a partir do varejo local,
CASA PEDRUCCI
Gr IV - 2002 - VBdT* - (C) - EnoT- 'VdoBr' 97
casapedrucci.com. br
Iniciativa do enólogo Gilberto Pedrucci, quando encontrou o espa-
1 1. 1 1
97 'VdoBr' - Essa referência aparece 17 vezes neste livro. Significa que os 16 produtores de vinhos finos
assim marcados e o presidente do lbravin, em 2015, concederam longas entrevistas sobre suas vidas e
os empreendimentos que dirigem a Valdiney C. Ferreira e Marieta de M. Ferreira, para o livro Vinhos do
Brasil do passado para o futuro, editado pela FGV Editora, em 2016.
DON MIGUEL
Gr IV - 2002 - VBdT* - (C)
donmiguel.com. br
Butique, de origem familiar, orientada pelos herdeiros de Miguel
Bortolini. Ernando Bortolini, filho de Miguel, é o enólogo, formado
DON pela Faculdade de Enologia do Instituto Federal de Educação, Ci-
ência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves. Os
MIGUEL vinhedos são próprios, no distrito de Marcorama, conduzidos em
espaldeiras e em Y. A atividade comercial foi iniciada com a safra
de 2005. A Vinícola Don Miguel se destaca pelo alto padrão de seus vinhos, especialmente os
varietais de Merlot, Moscato Giallo e Peverella. A Cabernet Sauvignon é apresentada em emba-
lagem bag-in-box.
FAMIGLIA BOROTO
Gr III - 1989 - VM + VBdT- (C) 'N'
Iniciativa do produtor rural Acir Boroto, que, a partir de uma grande experiência como vi-
ticultor, avançou na elaboração de vinhos sem intervenção, destacando inúmeras criações,
especialmente espumantes. A propriedade tem 15,8 hectares, dos quais 5,8 hectares estão
dedicados integralmente à viticultura. As vinificações são realizadas em ambiente próprio.
Acir Boroto é sócio fundador da citada Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi
Ltda. (Coopeg). O Espumante Brut Coopeg, elaborado por Acir Boroto pelo método tradicional,
é considerado o primeiro espumante orgânico do Brasil.
'~
GARIBALDI
fase da vinicultura rio-grandense, pela associação de 73 produto-
res. Atualmente, esse número avança dos trezentos e as instala-
COOPERATIVA VINfCOLA
ções da cantina própria superam a capacidade dos 18 milhões de
litros. São muitos os vinhos finos correntes produzidos por essa
cooperativa, e estão organizados em dez linhas: Raschiatti, que conta apenas com um varietal
da Merlot; Chalet du Clermont (Chardonnay, Merlot e um corte Cabernet/Merlot); Espumantes
Garibaldi; Granja União; Acquasantiera; Da Casa; Relax; Precioso; Vino Di Bartolo; e Nachtliebewein.
Em 2014, lançou a linha Acordes, de vinhos brasileiros de terroir, com os varietais Merlot e
Chardonnay, e um espumante champenoise Chardonnay + Pinot Noir. A Cooperativa Vinícola
Garibaldi elabora e envasa, em barris apropriados, espumantes expressos, com o sistema Ex-
press Sparling Wine, para serviço direto em torneiras, como nas tradicionais chopeiras. Tal opção
foi desenvolvida pela empresa Bonevi.
PETERLONGO
Gr II- 1915 - (VBdT) - (C histórica) - EnoT
peterlongo.com.br
Vinícola fundada por Manuel Peterlongo, para produzir champanhe,
PE.TERLONGO pelo método tradicional. O objetivo foi conseguido. Manuel então
edificou, com um projeto francês, o prédio da cantina, em blocos de
basalto lavrado a mão, blocos que começou a juntar em 1910. Ali,
concebeu e realizou uma inteligente e criativa solução para obter temperaturas baixas nas caves
dos espumantes: construiu um túnel em direção estudada, para captar o vento minuano, obtendo o
congelamento de garrafas armazenadas em pupitres. A vinícola tem uma bela história de pioneiris-
mos: pagou salário mínimo a trabalhadores, admitiu mulheres em plena década de 1930, edificou a
cantina em basalto lavrado, furou um poço para obter umidade, etc. A empresa passou por diversas
configurações societárias. Atualmente, elabora ampla carta de vinhos finos tranquilos, nas linhas
Armando Memória e Terras, além dos tradicionais espumantes. Os ícones da casa são o Peterlongo
Presence Champenoise Brut, o Peterlongo Elégance Champenoise Brut e o Peterlongo Presence Moscatel Rosé.
O francês Pascal Marty, atual enólogo da casa, vem trazendo excelentes novidades de processo,
que têm contribuído para novos e representativos vinhos, como o Armando Memória Chardonnay
2018, barricado. Além desse belo vinho, integram a linha cinco varietais tintos: Teroldego, Touriga
Nacional, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat.
QUINTA CANOVA
Gr V - 2011- VBdT* - (C)
Jaime Fensterseifer é um professor universitário e pesquisador, dedicado ao aprofundamento de
questões voltadas ao desenvolvimento da vitivinicultura da Serra Gaúcha, especialmente em re-
lação à consolidação da posição de prestígio que o espumante brasileiro já conquistou nacional e
99 Pasternak, Boris. O Doutor Jivago. Belo Horizonte: Itatiaia, 1958. O filme de David Lean, em 1965, entre
muitos prêmios, ganhou o Oscar em cinco categorias: melhor roteiro adaptado, melhor direção de arte
(em cores), melhor fotografia (em cores), melhor figurino (em cores) e melhor trilha sonora.
100 Vinhos e Videiras de Vilmar Bettú. Boletim n. 47, de 26/07/2009 a 01/08/2009.
~
de Marcorama, tem a assinatura da família Bortolini. Angelo Bor-
tolini foi o imigrante. A atividade comercial vitivinícola foi incre-
-
SAO LUIZ
INDÚSTRI/\ VINICOLA- mentada por João Bortolini, que era o filho mais novo e, por isso,
chamado Naneto Ooãozinho), ainda nos anos 1930. Na década de
1980, Luiz Bortolini registrou o nome. A Indústria Vinícola São Luiz elabora grandes volumes
de vinhos de mesa, mas mantém as linhas Naneto e Dom Naneto de vinhos finos tranquilos e
espumantes. Não confundir com Vinícola São Luiz (vinhos Dei Rei), de Caxias do Sul.
- •-
A família Vaccaro elabora e comercializa vinhos desde 1954. No
entanto, somente a partir do ano 2000 passou a se dedicar, de
Y.ACCAR:O maneira mais comprometida, à elaboração e comercialização de
VINIIOSf.f.SPUMr..NTf.S
'"'
vinhos finos de terroir. A família está sempre envolvida com as or-
GRAMADO
CASA SEGANFREDO
Gr IV - 2000 - VBdT - (I) - EnoT
casaseganfredo.com.br
Empreendimento do casal Paulo e Ana Cecília Seganfredo, que
CASA SEGANFREDO buscava, inicialmente, um ambiente rural de lazer, com beleza,
tranquilidade e paz. São 16 hectares, dos quais 5 hectares, atu-
almente, dedicados às viníferas. A área já tinha videiras americanas quase centenárias. No
início, os proprietários implantaram novas mudas de castas americanas. No entanto, não hou-
ve adaptação. Hoje, estão eleitas as viníferas Cabernet Sauvignon, Merlot, Montepulciano,
Pinot Noir e Chardonnay. Os vinhos tranquilos têm a marca Barbatoni, homenagem ao tio-avô
barbudo Antônio, que tinha esse apelido. São varietais de estilo jovem das castas tintas e um
corte Cabernet Sauvignon com Merlot, chamado Anastazia. Os espumantes, todos tradicio-
nais, têm a marca Casa Seganfredo e são oferecidos em versões Brut Branco, Brut Rosé e Rosé
Nature. A Casa Seganfredo oferece ainda suco de uva sob a denominação Vacamora. Esse
nome homenageia o avô Cirillo Seganfredo, instalado em Nova Prata, quando chegou da Itália,
com a família, aos 6 anos. Jovem, ele voltou à Itália para prestar serviço militar, período em que
assistiu à inauguração da ferrovia "Vacamora", entre Vicenza e Maróstica. Cirillo participou e
venceu a primeira edição da corrida sobre os trilhos do trem. Nada mais razoável para nome de
suco de uva, que preconiza alimentação e energia. A produção, toda em cantina própria, está
em 10 mil garrafas/ ano de vinhos tranquilos, 3 mil de espumantes e 3 mil de suco. A casa tem
dois enólogos: Nelson Randon e Bruno Onsi. As edificações têm projeto arquitetônico afinado
com a cultura local, exibindo a pedra como elemento estrutural e decorativo.
~
própria vinícola. Primeiramente, vivendo em ambiente vitivinícola,
desde a infância, em Antônio Prado, RS. Depois, durante os 37
RAVANELLÜ anos nos quais atuou para a Massey Ferguson do Brasil, chegando
à Vice-presidência, não deixou de acompanhar a evolução da vitivi-
nicultura brasileira. Em 1987, com a esposa, Rosa Maria, que tem origem familiar em Gramado,
Ravanello adquiriu a propriedade com 2,5 hectares e iniciou a realização de seu sonho, passo
a passo. Desde 2008 elabora o próprio vinho. A cantina começou a operar em 2010, em prédio
especialmente construído, em estilo toscano. A vinícola somente elabora vinhos brasileiros de
terroir, com uma produção máxima de 50 mil garrafas/ano. Trabalha com uva própria, mas tam-
bém adquire de outros produtores. Nesse caso, imediatamente após a colheita, as uvas são leva-
das à cantina em caminhão refrigerado, numa temperatura de 10 ºC. A cantina tem excelentes
instalações, com tanques de aço inox. Alguns tintos ou brancos, por escolha dos enólogos, são
elaborados em barricas de carvalho francês de 400 litros, no sistema de vinificação integral. Após
a fermentação, a estabilização dos vinhos pode ocorrer nos próprios tanques de aço inoxidável ou
em barricas de 300 litros, da mesma qualidade e origem daquelas utilizadas na vinificação inte-
gral. A Enologia está a cargo do enólogo Sandro Saul, com o técnico agrícola Rudilei Carniel, sob
planejamento e orientação de Celito Crivellaro Guerra, pesquisador da Embrapa e responsável
técnico pela vinícola. A casa iniciou a produção definindo três linhas de vinhos, todas engarra-
fadas com o nome Ravanello: linha Prestígio da Casa, integrada por vinhos elaborados a partir de
uvas de vinhedos próprios; linha Regiões Emblemáticas, com vinhos elaborados a partir de uvas de
produtores parceiros da Campanha Oriental, da Serra do Sudeste, de Campos de Cima da Serra,
três regiões gaúchas, e também do Alto Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina; linha Melhores
Misturas, a partir de cortes entre variedades obtidas de vinhedos próprios e dos parceiros, a cri-
tério do enólogo. Atualmente as linhas estão renomeadas como Clássica, Premium e Dionísio. A
linha Ravanello Clássica apresenta vinhos produzidos por processo tradicional, com afinamento
em barrica. A linha Ravanello Premium traz vinhos fermentados em barricas de carvalho francês
de 400 litros (método de vinificação integral) e em tanques verticais de aço inoxidável. Após a
fermentação, os vinhos estabilizam em barricas de carvalho francês por, pelo menos, seis meses.
A linha Ravanello Dionísio somente oferece vinhos de colheitas consideradas excepcionais, como
foi o caso do Tannat 2011 (14,0%), elaborado com uvas de vinhedos no município de Maçam-
bará, na Campanha Gaúcha. A Ravanello tornou-se, recentemente, a primeira vinícola brasileira
a conquistar o selo de produção integrada, em dois de seus vinhos: Chardonnay 2018 e o corte
Merlot + Cabernet Sauvignon.
GUABIJU
CASA ANTONIOLLI
Gr III - 2010 - VM + VBdT - (C)
A família de Aldir Antoniolli é de produtores rurais, desde o século
GUAPORÉ
GHELLER, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolagheller.com.br
(A o/fn1da Originalmente, eram duas vinícolas: Gheller, do empresário José
@l~
Antonio Gheller, do ramo de bijuteria fina, e Monte Azzurro (antiga
Vinícola Serafini), de Carlos Serafini. A nova empresa, nascida da
união das duas, mantém vinhos brasileiros de terroir e vinhos finos
correntes, sob a denominação Vinícola Gheller e sob o controle dos
irmãos José Antônio e José Domingos Gheller. São 40 hectares de vinhedos, com as viníferas
tintas Cabernet Sauvignon, Carménere, Merlot, Tannat e a branca Chardonnay. Da linha Mon-
te Azzurro ainda é possível apreciar o corte Cabernet Sauvignon - Merlot, com o nome Monte
Azzurro Crepusculum, da safra de 2006, 13,5%, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho
francês, e o Monte Azzurro Gran Reserva Tríplice Rosso 2005, 13,8%, um corte entre Cabernet Sau-
vignon, Merlot e Carménere. De igual maneira, há rótulos Gheller longevos, como, por exemplo,
o Vitral 2005, um corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Carménere, com 13,0% de teor
alcoólico. Apreciado em 2018, mostrou-se vivo, brilhante, complexo. O enólogo é Marcos Vian.
Além dos produtores descritos acima, ainda encontramos os seguintes, todos no Grupo
III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Vinhedos Longhi; Vinícola Giaretta,
com ampla linha de produtos, inclusive vinhos finos tranquilos e espumantes; Vinícola Scalco,
com varietais finos, espumantes e sucos.
CASACORBA, Vinícola
Gr IV - 1999 - VBdT* - (C) - EnoT
casacorba.com.br
Casacorba é um empreendimento realizado pela família Tessaro, a
partir de um histórico familiar de cultivo de videiras, desde a che-
CA SACOR BA gada dos irmãos Vicenzo e Luigi Tessaro, em 1888. São 19 hectares
de área, com vinhedos próprios nos quais estão implantadas as va-
riedades viníferas Merlot, Tannat, Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon e Moscato R2.
A família Tessaro cultiva ainda as variedades americanas Concord, Bordô e Isabel, para suco, e
oliveiras, para a produção de azeite.
Além dos produtores descritos acima, em Nova Roma do Sul, ainda encontramos os
seguintes, todos no Grupo III - produtores tradicionais de pequeno a médio porte: Cooperativa
Vinícola de Trajano, Vinícola São Rafael, Vinícola Vale Dei Mis.
PICADA CAFÉ
SÃO JORGE
Em São Jorge, encontramos diversos viticultores que engarrafam varietais próprios,
inclusive a família Zanon. Estão entre os produtores do Grupo III.
SÃO MARCOS
CATAFESTA
Gr II - 1963 - VM - (C)
catafesta.com.br
Vinícola criada por Augusto Catafesta, com seus filhos. Processa uvas
I A'JAFES'JA
1
MONTE SANT'ANA jovem Vagner de Vargas. O varietal da Moscato Giallo é uma expio-
são incrível de aromas. Há também outros vinhos, elaborados com
uvas de terceiros. A produção está em 15.000 gfs/ ano, incluídos espumantes e suco. A localização,
ligeiramente elevada, é privilegiada, oferecendo uma vista ampla de toda a região. A vinícola se
prepara para avançar no enoturismo.
VERANÓPOLIS
DA PAZ, Vinícola
Gr III - 1991 - VBdT - (C)
Foi num encontro casual, há muitos anos, na acolhedora cantina
da família Brugalli, em Garibaldi, que um senhor me falou sobre
Está situada no Paralelo 31 º S, região considerada muito boa ao cultivo de viníferas, tal como
ocorre na Argentina e no Chile. Recebeu as primeiras mudas de viníferas por volta de 1880. Ali
se estabeleceu a família Marimon, de imigrantes espanhóis, vindos do Uruguai. Em 1888, já
elaborava o próprio vinho, em cantina própria, na Quinta do Seival, 101 na época ainda Bagé, atual
Candiota. A vinícola funcionou por mais de cinquenta anos. Atualmente há apenas ruínas.
101 O nome seival é uma corruptela de ceibal ou seibal, usado para mostrar a grande presença da árvore
típica da região dos pampas, a Erythrina falcata Benth, desde Argentina e Uruguai. Conhecida como
corticeira-da-serra e corticeira-do-seco, mas também ceibo ou seibo, além de bucare.
ESTÂNCIA PARAIZO
Gr IV - 2000 - VBdT* - (I) - EnoT
estanciaparaizo.org.br
A família Mércio tem origem açoriana. Está instalada no distrito
de Joca Tavares, em Bagé, desde 1790. Ao longo de sua história,
a Estância Paraizo se desenvolveu com pecuária de corte, ovino-
cultura e silvicultura, até decidir-se por adicionar a viticultura,
destinando uvas a um grande vinicultor. No ano 2000, porém, o
agrônomo Thomaz Alves Pereira Mércio e a esposa, Monica Patri-
zia Zara Mércio, tomaram a decisão de ser também vitivinicultores, entre os demais negócios da
Estância, que tem 3 hectares de vinhedos contínuos, com as variedades Cabernet Sauvignon e
Shiraz. Aliás, a Estância Paraizo tem o primeiro registro, no Ministério da Agricultura, de vinhe-
do de Shiraz do Brasil, a partir de uma importação conjunta de mudas, feita pela Salton e parcei-
ros, da África do Sul. Em 2011, a Agropecuária Zara Mércio, empresa familiar da qual participam
ainda Thomaz e Victoria, os dois filhos do casal, em sociedade, apresentou comercialmente o
primeiro vinho. Foram 1.147 garrafas de um varietal a 100% da casta Cabernet Sauvignon, sem
passagem por barricas de madeira, repetido em 2012, com 1.372 garrafas. Esses primeiros vi-
nhos foram elaborados na cantina da Vinícola Peruzzo, em Bagé, sob a supervisão do enólogo
Éder Peruzzo e assessoria do consagrado enólogo Adolfo Lona. Os vinhos das duas colheitas,
batizados de Don Thomaz y Victoria Cabernet Sauvignon, atingiram 13,6% de teor alcoólico e
expressam a robustez da casta daquela região da Campanha Gaúcha, com uma cor rubi intensa
e jovem. Há projeto de uma cantina própria para 20.000 garrafas/ano: sem dúvida, uma butique
de vinhos. Desde 2015, a Estância Paraizo conta com a assessoria do enólogo )avier González
Michelena, e as vinificações vêm sendo feitas na cantina Pueblo Pampeiro. Desde 2018, a vinícola
vem vinificando o Don, um Cabernet Sauvignon de entrada, macio e vivo. Tem também investido
em ações de enoturismo, uma vez que conta com ricas instalações históricas, numa paisagem
belíssima. O Galpão Crioulo, por exemplo, tem arquitetura típica da região, tendo sido edificado
com as mesmas pedras utilizadas em todo o complexo da Estância Paraizo, onde inclusive as
cercas são de arenito, extraído do próprio solo da propriedade. De espaço dos arreios dos cavalos
e de área de convívio dos antigos gaúchos, o Galpão Crioulo passou por uma restauração com-
pleta, dando lugar a uma área de degustação dos vinhos e produtos elaborados na estância. Em
2020, a Estância Paraizo lançou seus notáveis vinhos da colheita 2018: Don Cabernet Sauvignon,
Don Thomaz y Victoria, e Camilo Primeiro, um Syrah ao estilo Rhône Norte, com uvas do pri-
meiro vinhedo, além do espumante GaYda, um brut 100% Chardonnay, para o qual o vinho base
estagiou em barricas, antes da fermentação nas garrafas, em que fez autólise, por 18 meses, um
Millésime. GaYda era o apelido carinhoso da elegante Margarida Bretas Mércio, primeira mulher
a viver na estância, nos intervalos das inúmeras viagens Brasil-Europa-Brasil. Camilo foi o titula-
do ancestral que recebeu as terras e deu início à cultura da família Mércio na região. A Estância
Paraizo faz parte da iniciativa Aliança do Pampa (Alianza dei Pastizal - @alianzabr - http://www.
savebrasil.org.br/pampa/), entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que busca rentabilidade
das propriedades rurais com manejo sustentável, com vistas à preservação do biorna Pampa.
CANDIOTA
BATALHA, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (C) - EnoT
vinhosbatalha.com.br
Butique idealizada pelo jovem agrônomo Giovâni Silveira Peres,
Jí
BATALHA
VINHO ■
1/ IN HAS'
que arregimentou o amigo Gilberto Pozzan, com o filho Felipe Po-
zzan, para a sociedade. São 6,5 hectares de vinhedos, com solos
franco-arenosos, situados na localidade em que se deu a Batalha do
Seival, fato relevante na Guerra dos Farrapos. A cantina é própria,
situada em excelente ponto, às margens da rodovia BR 293 (km 144). As variedades são: Caber-
net Sauvignon, Merlot e Chardonnay. A área total é de 29 hectares, e o projeto prevê 15 hectares
de vinhedos. Oferece ao mercado os seguintes rótulos: varietais Cabernet Sauvignon, Merlot,
Tannat e Chardonnay; vinho de entrada Ideologia, um corte entre as três tintas da vinícola, além
dos espumantes Brut e Nature, ambos com vinho base 100% Chardonnay.
BUENOWINES
Bellavista Estate
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I)
buenowines.com.br
~
Vinhedos implantados a partir de iniciativa do jornalista Car-
BUENO· los Eduardo Galvão Bueno, atualmente um dos sócios do Miolo
WtneS Wine Group. Seus vinhos são vinificados pela Seival Estate. Já
SEIVAL, Vinícola
Miolo Wine Group
Gr IV - 2000 - VBdT - (I)
miolo.com.br/controller.php
Trata-se do braço Campanha Gaúcha Meridional do MWG, onde
DOM PEDRITO
103 Organizador do "Julgamento de Paris", que, em maio de 1976, terminou por consagrar vinhos norte-ame-
ricanos, diante de franceses, numa degustação às cegas. Ver livro de George M. Taber, naBibliografia.
Steven Spurrier é hoje articulista da prestigiosa revista inglesa Decanter
DUNAMIS
Gr IV - 2002 - VBdT* - (I)
dunamisvinhos.com.br
Empreendimento concebido pelo empresário gaúcho José Antônio
Peterle. Experiente agrônomo na produção de arroz e de soja, Peter-
le se decidiu pela expansão dos negócios aos vinhedos e aos vinhos
brasileiros de terroir. Para isso, buscou as competentes assessorias
dos agrônomos Carlos Alberto Flores e Enrique Mirazo, e do enólogo (também agrônomo) Mario
Geisse. A vinícola está sob a gestão da jovem Carolina Salvadori Peterle. Os aspectos técnicos de
agronomia e enologia são coordenados pelo enólogo Thiago Salvadori Peterle, que tem, nos vinhe-
dos, a atuação de Ciro Pavan. Na cantina, Thiago conta com as participações de Cesar Azevedo e
Vinicius Bortolini Cercato. As metas da Dunamis incluem a formação de novos consumidores,
inclusive o público jovem, descolado, mas também chegar aos apreciadores de vinhos complexos.
A empresa desenvolveu o hábito de realizar "degustações-consulta", em que oferece seus vinhos
às cegas e ouve as opiniões dos apreciadores, que podem ser formadores de opinião, mas também
consumidores comuns. Tais opiniões são, então, consideradas e sustentam decisões sobre os vi-
nhos a serem lançados. A vinícola se pauta por compromissos ambientais: usa o sistema Thermal
Pest Control, que evita pesticidas químicos; utiliza amarras de vime (cresce na propriedade) para
condução das videiras nas espaldeiras, em vez das convencionais amarras de plástico. Os vinhe-
dos estão em Dom Pedrito (15 hectares), em Cotiporã (10 hectares) e, em breve, na região dos
Campos de Cima da Serra, no município de Muitos Capões. Saem dos vinhedos de Cotiporã as
uvas destinadas aos espumantes, elaborados na Cave Geisse. A casa organiza a produção adotando
nomes inspirados. Os espumantes são chamados Dunamis Ar. O corte branco entre Chardonnay e
Sauvignon Blanc se chama Dunamis Ser. O vinho rosado é o Dunamis Tom. O corte tinto é o Du-
namis Cor. Os varietais brancos são um Pinot Grigio e o incrível Merlot em branco. Os tintos são o
Merlot e os notáveis Dunamis Tannat e Dunamis Cabemet Franc. A cantina ainda está em projeto.
Os vinhos tranquilos Dunamis são cuidadosamente elaborados na Cordilheira de Sant'Ana.
ROSÁRIO DO SUL
autólise de 12 meses.
SANTANA DO LIVRAMENTO
ALMADEN
Miolo Wine Group
Gr I - 1974 - VBdT - (I)
miolo.com.br/ controller.php
A empresa Almadén pertencia ao grupo norte-americano Na-
tional Destillers quando veio para o Brasil, em 1974, e se esta-
beleceu em Bagé, por meio da Vinhedos Santa Tecla. Em 1976,
52
mudou-se para Santana do Livramento, na belíssima localidade
ALMA DÉNI do Cerro Palomas, paralelo 31 º S. Ali construiu cantina própria e
testou inúmeras variedades de viníferas. Implantou os primeiros
vinhedos contínuos em espaldeiras no Brasil. Iniciou a produção por volta de 1980. A área
total é de 1.200 hectares, com 450 hectares de vinhedos produtivos, onde se encontra o maior
parreiral contínuo da América Latina. Alguns anos depois da fundação, passou ao controle dos
grupos LVMH e Seagram. Em 2001, foi incorporada ao grupo Pernod Ricard, no qual perma-
neceu até a aquisição pelo MWG. Na Almadén, há 111 parcelas identificadas e definidas. Os
destaques: Tannat Vinhas Velhas (14%), cujas uvas vêm de 4 hectares de vinhedos com mais de
40 anos, elaborado em tanques de inox com rigoroso controle da temperatura de fermentação
e afinado em barricas de carvalho francês, por até dez meses; Single Vineyard Rieslingfohannisberg
2018, um raro Riesling Renano, com uvas de vinhedo plantado em 1978, colhidas no microlote
Vinhedo da Toca do Tigre, Quadra 121, Parcela A.
CORDILHEIRA DE SANTANA
Gr IV - 2000 - VBdT* - (C) - EnoT
cordilheiradesantana.com. br
Vinícola fundada e mantida pelo casal Gladistão Omizzolo e Ro-
sana Wagner, sendo ela a enóloga responsável por vinhos que vêm
marcando os enófilos Brasil afora. São 24 hectares de vinhedos na
CORD[UllllIRA
!Dlll SAN'f'ANA consagrada região de Cerro Palomas (município de Santana do Li-
vramento, RS), no paralelo 31 º S, região com muito boa amplitude
térmica, baixa umidade e pouca chuva, no chamado terroir Palomas, assim denominado em razão
do belíssimo Cerro Palomas. Aliás, a vista que se tem do Cerro Palomas, a partir da colina na qual
está a cantina, é algo deslumbrante, inesquecível. Embora com dimensões moderadas, a cantina
reúne tecnologia de ponta, como tanques de aço com sistemas de monitoramento de temperatura
e remontagens automáticas, computadorizadas. Observa tradição no uso de barricas para ama-
durecimento dos vinhos. Elabora varietais de Cabemet Sauvignon, Merlot, Tannat, Chardonnay e
Gewurztraminer, além de um corte tinto Cabemet Sauvignon + Tannat + Merlot. Comercializa
os vinhos sob os rótulos Cordilheira de Sant'Ana e Reserva dos Pampas. Destaco o Tannat 2004, com
cor, aromas e sabor dos grandes vinhos da casta e o notável varietal da Gewürztraminer.
PUEBLO PAMPEIRO
Gr V - 2014- VBdT* - (C)
Pueblo Pampeiro expressa a união que se desfruta entre o Brasil,
'b por Santana do Livramento (na localidade de Vila Pampeiro), e
o Uruguai, por Rivera. É um projeto vitivinícola concebido pelo
Pueblo Pdmpeiro
agrônomo brasileiro Marcos Obrakat com o enólogo uruguaio )a-
vier Gonzales. Os vinhedos, em 3 hectares, são jovens, e além das
tradicionais Tannat, Syrah e Cabernet Sauvignon, bem adaptadas à Campanha, têm a Saperavi
georgiana e a italiana do Marche, Lacrima, em testes. Um dos vinhos marcantes da casa é o Pue-
blo Pampeiro Indómito 2014 (18,0%) , um vinho fortificado, tipo Porto, elaborado com um corte
entre Tannat (80%) e Cabernet Sauvignon (20%), a partir de uvas sobrematuradas. O resultado
é um vinho muito delicado, macio, de boa acidez, não muito doce, que, portanto, harmoniza
maravilhosamente com a massa cremosa do pastel de nata. Um projeto de amizade que avançará
muito, com certeza.
SALTON, Vinícola
Gr 1- 1910- VBdT- (C)
salton.com.br
A Vinícola Salton, integralmente apresentada junto à região de
$
Bento Gonçalves, tem mais de 500 hectares de terras na região
de Santana do Livramento, com mais de 100 hectares de vinhe-
\ '\](' 1 \dos e uma cantina muito bem equipada, na qual é processada a
SALTON colheita. A gestão da equipe de enologia está a cargo do jovem
enólogo Gregório Salton. Entre diversos vinhos de terroir ali ela-
borados, destaco o notável Salton Campanha Domenico Reserva da Família 2016, que exibe as
potencialidades das castas Tannat e Marselan, daquela região, aplicadas no corte.
BODEGA SOSSEGO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I)
sossego.net
-
Bodega Sossego
Os vinhedos da Estância Sossego foram implantados em 2004,
com as variedades Cabernet Sauvignon e Chardonnay. A empresa
vitivinícola, porém, nasceu bem depois, por iniciativa do jovem
René Ormazabal Moura, que, após graduar-se em Administração,
desejou profissionalizar o hobby do pai, de elaborar vinhos a partir dos vinhedos daquela es-
tância familiar. Decidiu então se especializar no negócio de vinhos e tomou o rumo do Reino
Unido, para um Mestrado em Wine Business Management no conceituado Royal Agricultura!
College (RAC). Concluída a dissertação - Propor um conceito de marca para um vinho da Campa-
nha, Rio Grande do Sul, Brasil -, René ainda participou de um curso na Wine & Spirits Education
Trust (WSET) , para, logo em seguida, trabalhar na Borough Wines. Essa loja, em pleno Borou-
gh Market, em Londres, foi criada por Muriel Chatel, uma empreendedora francesa, cunhada
de Yves Eric Sahul, do pequenino Château Ponchapt, de Bergerac, na França. Apaixonada por
Londres, ela decidira conduzir a comercialização dos vinhos e das geleias de uvas viníferas da
família Sahul na capital da Inglaterra, desenvolvendo muito os negócios com vinhos. Como se
constata, René é um caso raro de produtor que estudou bastante e praticou a comercialização
de vinhos. Chegado ao Brasil, ele iniciou seu projeto vitivinícola, em parceria com a Vinícola
Don Giovanni, onde os vinhos são elaborados. A casa tem projeto para cantina própria, em
médio prazo. O vinho Campana Cabernet Sauvignon, com passagem por barricas novas de
carvalho francês, é o destaque tinto. O Campana Chardonnay 2014, com passagem por barri-
cas novas de carvalho americano, atingiu 14,0% de teor alcoólico e é bastante gastronômico.
O Camp4na Chardonnay Chardonnay é um espumante brut com uvas de quatro vinhedos, nas
regiões de Uruguaiana, Campanha Gaúcha, Pinto Bandeira e Serra Gaúcha.
VALDUGA
CASA VALDUGA
Gr 1- 1985 - VBdT* - (C) - EnoT
casavalduga.com.br
Em novembro de 2011, a Câmara de Vereadores de Uruguaiana
aprovou as condições da transferência para a Casa Valduga dos
rnÍnrn7 vinhedos, equipamentos e cantina da Cooperativa Vinoeste, no
distrito de São Marcos, naquele município, em plena Campanha
CASA VALDUGA
Gaúcha. Ficaram definidos os seguintes termos: vinte anos de con-
cessão, com possibilidade de renovação por outros tantos; vedada
a transferência do patrimônio e a oferta como garantia de negócios; obrigação de preservar os
parreirais e ampliar a área de cultivo; transferir tecnologia a quem queira se dedicar à vitivinicul-
tura. O acordo também define o incremento do cultivo de frutas cítricas e a produção de sucos,
além do cultivo de uvas, numa área de 5 hectares, junto à Escola Agrícola de Uruguaiana.
Pedras Altas
Pe lotas
Essa é mais uma região que, assim como a Campanha Gaúcha, certamente terá, no futuro,
um outro perfil. Em princípio, engloba os municípios de Encruzilhada do Sul, Caçapava
do Sul, Santana da Boa Vista, Amaral Ferrador, Pinheiro Machado, Piratini e Pedras Altas.
Mas poderia incluir ainda Herval ou separar, numa outra região, os municípios de Pinheiro
Machado e Piratini, apenas para enfatizar a diversidade geográfica ..
O município de Pinheiro Machado conhece a vitivinicultura de vinhos finos desde os
anos 1970, quando ali se instalaram a Vinícola Heublein, com 60 hectares de vinhedos, e a
Companhia Vinícola Rio Grandense, implantando o vinhedo San Felício, com 70 hectares,
hoje propriedade da Terrasul Vinhos Finos. Em Pinheiro Machado ainda encontramos os
vinhedos da Cooperativa Nova Aliança e da Vinícola Hermann. A topografia é acidentada.
Os solos, nessa região, são predominantemente granítico-arenosos, profundos, com manchas
calcárias em alguns pontos, baixo teor de matéria orgânica e com muito boa drenagem. O
clima oferece boa amplitude térmica, mas pede irrigação nos verões intensos. As variedades
mais cultivadas são (em ordem alfabética): brancas: Chardonnay, Gewurztraminer e Moscatel;
tintas: Alicante-Bouschet, Arinarnoa, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec, Marselan,
Merlot, Pinot Noir, Tannat e Touriga Nacional. A Serra do Sudeste, durante muito tempo,
teve viticultura, somente nos municípios mais ao sul. No final dos anos 1980, estudos dos
professores Eduardo Giovannini e Idalencio Angheben, do IFRS, campus Bento Gonçalves,
e outros técnicos incluíram definitivamente o município de Encruzilhada do Sul no cenário
vitivinícola da Serra do Sudeste, com instalação de vinhedos por Angheben, Bertolini, Bodega
Czarnobay, Casa Valduga, Lídio Carraro, Torre do Meio, Vinhedos da Quinta e Chandon.
Bodega Czarnobay foi a primeira a instalar cantina naquele município. Os demais produtores
seguem vinificando em suas sedes, na Serra Gaúcha. Em Caçapava do Sul, está o Vinhedo De
Lucca. Em Piratini, a Vinícola Don Basílio (vinhos Quinta do Herval). O município de Pelotas
aparece evidenciado no mapa, acima, apenas por ser limítrofe e ter um produtor artesanal que
elabora ali seus vinhos, com uvas de vinhedos situados na Serra do Sudeste. Tal produtor está
apresentado adiante, sob o título "Outros lugares onde vinhos finos são elaborados no Rio
Grande do Sul".
Na encosta leste da serra está o município de Camaquã, que começa a despontar na
vitivinicultura de vinhos finos, com o projeto Altos do Paraíso Vinhedos, de Valtencir Gama.
CAÇAPAVA DO SUL
ENCRUZILHADA DO SUL
BERTOLINI
Gr IV - 2016 - VBdT* - (C)
Iniciativa vitivinícola da família Bertolini, que atua em diversos
outros ramos de negócio, especialmente o moveleiro. As uvas são
colhidas nos vinhedos da família, em Encruzilhada do Sul. Gustavo
11EHTOLII\/
Bertolini concebe vinhos, sob a denominação BERTOLINI Riserva
Famiglia, que são elaborados pela Bodega Czamobay, com a con-
sultoria da enóloga Paula Guerra Schenato. Numa primeira fase a
parceria para elaboração estava constituída com a Vinícola Lidio Carraro, no Vale dos Vinhedos,
onde nasceram os seguintes rótulos: Tenaz 2014, um varietal da Chardonnay; Bigorna 2012, um
varietal da casta Teroldego; Balança 2014, um corte entre Merlot e Touriga Nacional; Cadinho
2014, outro corte, mas este a partir de vinhos Merlot (41 ,7%), Nebbiolo (33,3%) e Touriga Na-
cional (25,0%). Como se observa, os vinhos recebem nomes de instrumentos de trabalho, com
os quais a família Bertolini construiu a própria história de êxitos empresariais.
PEDRAS ALTAS
HERMANN, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (I)
vinicolahermann.com.br
Esse é mais um investimento da importadora Decanter, por meio
de seu sócio Adolar Hermano, além da vinícola Quinta da Neve,
de São Joaquim, SC (veja adiante). Com vinhedos implantados na
prestigiada região da Serra do Sudeste Gaúcho, dedica-se preferen-
cialmente à elaboração de espumantes, vinificados na Vinícola Geisse. A consultoria do enólogo
português Anselmo Mendes tem sido marcante. Os espumantes são: Hermann Lírica Brut (11,8%),
com vinho base corte entre Chardonnay (80%), Gouveio (10%) e Pinot Noir (10%), elaborado
pelo método clássico - trata-se de um vinho pleno de frescor, elegância e energia; Hermann Lírica
Crua, um excelente espumante elaborado com o mesmo vinho base do Hermann Lírica Brut, apenas
sem dégorgement. Os outros espumantes são mais simples, rotulados com o nome Bossa. O Bossa
N° 1 (12,5%) e o Bossa Nº 2 (12,0%) são blanc de blanc da casta Chardonnay, obtidos pelo método
Charmat. O Bossa Nº 3 (11,5%) é um rosado, produzido a partir de corte entre Pinotage, Cabernet
Franc e Merlot, também pelo método Charmat. O Bossa N° 4 (7,5%) é um espumante Moscatel,
elaborado pelo método Asti, depois de corte entre as variedades Moscato Bianco, Moscato Giallo e
Malvasia. O Bossa Nº 5 é um 100% Glera (Prosecco) e o Bossa Nº 6 é um clássico Bellini. A vinícola
elabora ainda vinhos tranquilos sob a denominação Matiz. São três varietais (Alvarinho, Cabernet
Sauvignon e Touriga Nacional) e o Matiz Plural, um corte complexo entre Aragonez (40%), Caber-
net Sauvignon (26,5%), Syrah (17%), Touriga Nacional (11,5%) e Cabernet Franc (5%).
TERRASUL
Gr IV - 1996 - VBdT - (C) - EnoT
vinhosterrasul.com. br
PIRATINI
GENTE que elabora vinhos finos na região central do Rio Grande do Sul
ITAARA
JAGUARI
SANTA MARIA
SOBRADINHO
VILLA ZASSO
Gr Vb - 2005 - VBdT - (C)
Carlos Alberto Zasso é um engenheiro, apreciador de vinhos. Par-
tiu assim para o projeto de um vinho próprio. Implantou vinhedos
em sua propriedade, a Villa Zasso, localizada no município de So-
bradinho, região central do Rio Grande do Sul. O Villa Zasso Tra-
montana 2013 é um corte Cabernet Sauvignon/ Merlot, elaborado
tradicionalmente, sem filtração, em cantina própria, e envelhecido por 10 meses em barricas de
carvalho americano. Foram produzidas 2.500 garrafas.
Região que já teve prestígio maior na vitivinicultura brasileira. Hoje são poucas vinícolas
ali instaladas, mas observa-se uma retomada gradual da antiga importância, pelos novos
empreendimentos vitivinícolas. A região metropolitana de Porto Alegre ou Grande Porto Alegre
apresenta contorno amplo. Algumas organizações estendem-na até o litoral norte, como zona
de influência. Há órgãos que consideram que ela abarca 30 municípios, e outros, 34. Os terroirs
são bem diferentes de uma localidade a outra. Os solos são muito antigos, em grande parte da
área. Os invernos são rigorosos e os verões longos, com influência da brisa da Lagoa dos Patos.
Aliás, no município de Tapes, por alguns anos desenvolveu-se a Vinhas da Lagoa, que já não
produz. A Grande Porto Alegre é hoje uma área de concentração de produtores de garagem e
de vinhos pessoais, com expressiva quantidade de rótulos, os mais singulares que se imaginam.
BARRA DO RIBEIRO
LAURENTIA
Gr IV - 1996 - VBdT* - (I) - EnoT
laurentia.com.br
Vinícola criada pelo casal de médicos Gilberto e Leonor Schwarts-
j)
mann na propriedade rural da família, num terroir totalmente novo
1 \1 1~ 1 ~ 1 1 \ à viticultura, às margens do lago Guaíba. São 400 hectares, dos
quais 32 hectares de vinhedos. Logo de início, implantaram mudas
importadas das variedades Montepulciano e Tempranillo, além da branca Chardonnay, às quais,
mais recentemente, somaram-se as tintas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Carménere,
Merlot e Nebbiolo, além da branca Riesling. A cantina é própria e preparada para um volume
de 180.000 Vano. Como outros empreendimentos vitivinícolas brasileiros, a Laurentia está em
busca da identidade do terroir, especialmente da identificação das castas mais bem adaptadas.
A Laurentia tem a assessoria do enólogo Deito Garibaldi, entre outros especialistas. Todos os
vinhos (tranquilos e espumantes) são rotulados com a marca Laurentia. O espaço no entorno da
GUAIBA
MARIANA PIMENTEL
CÁRDENAS, Vinícola
Gr IV - 2010 - VBdT* - (I)
vinicolacardenas.com.br
Eu já estava encerrando a pesquisa para este livro, em junho de
2019, quando Gustavo Pacheco, idealizador da Vini Bra Expo Vi-
nhos do Brasil, me falou sobre esse empreendimento. Quando ouvi
o nome, fiquei bem intrigado. Acostumado aos sons do idioma ita-
CARDENAS liano, ante o protagonismo dos imigrantes daquele país na nossa
vitivinicultura, logo percebi que ali haveria outra história. E acertei:
Luis Renato Cárdenas Santander é um peruano cuzquefío que, tendo vindo estudar no Brasil
ainda jovem, conheceu a mulher que o conquistou e o fez fincar raízes por aqui. Dessa relação,
nasceu Renato Cárdenas, que hoje dirige a casa, enquanto o pai dá toda atenção aos vinhedos.
A propriedade da família foi adquirida, em 1975, de uma família francesa, que desmembrou a
área, permanecendo pela vizinhança. Aliás, ali se elaborava vinho, para consumo próprio, há
muito tempo. Hoje, os Cárdenas têm 16 hectares de vinhedos, numa área total de 60 hectares.
DUCATI, Vinhos
Gr V - 1998 - VBdT* - (C)
O Prof. Jorge Ducati, consagrado nome da vitivinicultura brasileira,
titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, implantou
seus vinhedos no município de Mariana Pimentel, a, aproximada-
mente, 90 km de Porto Alegre, em plena região metropolitana da
capital gaúcha. Numa área de meio hectare, ele cultiva as tintas
Cabernet Sauvignon, Merlot, Barbera e Brunello (Sangiovese), além da branca Garganega. O
projeto de Jorge Ducati tem a parceria do criativo vinhateiro Vilmar Bettú. O primeiro cuida
pessoalmente da viticultura, e o segundo, da elaboração dos vinhos. Aliás, essa é uma parceria
com linguagem própria. Ducati é um doutor em Astrofísica e Bettú é físico! A proposta é criar
vinhos muito cuidados, do vinhedo à cantina, que espelhem o terroir. Então, esses vinhos car-
regam os saberes de Ducati e Bettú, além das expressões de solo e clima de Mariana Pimentel.
A primeira colheita foi em 2005 e, de lá para cá, temos apreciado maravilhosas raridades. O
Cortes de Mariana C 2012 é um típico blend bordalês, com 50% de Cabernet Sauvignon e 50%
de Merlot. O vinho tem uma bela cor rubi, muito brilhante. Os aromas são amplos, frutados. No
paladar, mostrou bom volume, equilíbrio, maciez aveludada e leveza com persistência. Como se
vê no rótulo, tem 12,0% de teor alcoólico e dele foram elaboradas apenas 147 garrafas. Os vi-
nhos Ducati + Bettú são longevos. Tive a honra de apreciar o Ducati Garganega de Mariana 2008
e o Ducati Garganega de Mariana 2005, em agosto de 2016. Os vinhos estavam íntegros, vivos,
instigantes. Como diz o próprio Jorge Ducati, "vinho é uma experiência estética". Não surpreende,
então, que seja ele, o viticultor, quem escreva e cole os rótulos. Bem ... imagino que você esteja
perguntando: mas, com essa produção tão pequena, há algum excedente? Então, alegre-se: há,
PORTO ALEGRE
Porto Alegre abriga, desde 2020, uma iniciativa que contribuirá muito com a divulgação e
a comercialização de vinhos finos brasileiros, especialmente aqueles elaborados no estado do
Rio Grande do Sul. Trata-se das Descobertas do Umpierre.
DESCOBERTAS DO UMPIERRE
Paulo Umpierre não é um negociante, pois não formula vinhos com os produtores,
tampouco tem resultado econômico no projeto. A história desse empreendedor está narrada
no texto Miolo Winemaker, exposto junto à apresentação da Vinícola Miolo, no lugar Vale dos
Vinhedos. Como incansável formador de opinião, ele degusta vinhos e sugere aos seguidores.
Em seguida, estabelece entendimentos com os produtores e cria uma oferta por suas redes,
em especial o blog Vinhos do Umpierre. Os interessados então adquirem os vinhos, a preços
especiais, diretamente. A primeira oferta foi de um kit de seis vinhos da Vinícola Cristofoli.
Foram montados 20 kits, com 17 vendidos em uma semana. É um serviço de destaque ao
vinho fino brasileiro.
CANTINA MINCARONE
Gr V - 2017 - VBdT* - (C) - 'N'
Caio Guedes é um vinhateiro independente, muito estudioso e cui-
CANTINA dadoso, além de músico e fotógrafo, que faz de todas as atividades
Míl C~ O lê
[N] ~ [N] que realiza uma arte. Preferiu, assim, adotar o compromisso de
elaborar vinhos com mínima intervenção. Aliás, é melhor que ele
mesmo fale de seu trabalho como vinhateiro: "O projeto da Cantina Mincarone nasceu por acaso,
despretensiosamente... a ideia era simplesmente fazer vinhos à moda antiga, inspirados por amigos vinha-
teiros que já trilham esse caminho. Nossos MINCA não foram elaborados com grandes intervenções que os
moldassem ao paladar de analistas pontuadores. Só tentamos entregar vinhos que carreguem consigo a melhor
expressão da uva em seu terroir... e das pessoas que neles colocaram sua energia. O trabalho é basicamente
artesanal e manual, desde a colheita e processamento das uvas até o envase. Nossa escola de vinificação ensina
que o vinho é feito de uvas e pessoas, então não utilizamos insumos enológicos que aportem características ou
corrijam algum elemento específico. Não contém conservantes (sulfitos). Por não ser filtrado ou clarificado,
pode apresentar turbidez e sedimentos". Caio tem uma área um pouco maior que 17 hectares, na
Lomba do Pinheiro, em pleno município de Porto Alegre, onde mantém um pequeno vinhedo.
Ali, foram implantadas variedades americanas, e algumas plantas de Nebbiolo, em 2017. Porém,
o lugar escolhido não se demonstrou adequado. Assim, fez replantio em 2018, reformulando em
2019, com 370 plantas e variedades resistentes. Em princípio, permaneceu a Nebbiolo e a branca
resistente Sauvignon Kretos. Por enquanto, Caio tem elaborado seus vinhos com uvas de viticul-
tores parceiros, vinificando em espaço adequado, enquanto vai sendo edificada a cantina. Os pri-
meiros vinhos foram batizados de Cantina Mincarone Safra 1 - 2018, com os seguintes rótulos:
Minca Pét-Nat104 Pinot Noir 11,5%; Minca Pét-Nat* Chardonnay 11,5%; Minca Gewurztraminer
(estilo laranja) 12,3%; Minca Pinot Noir Monte VacaPira 12,6%; Minca Merlot 12,3%; Minca
Cabernet Franc 13,1%. Apreciei a singularidade de cada vinho, mas me encantaram o Pét-Nat
104 Só para recordar: Pét-Nat é uma abreviatura carinhosa da expressão francesa Pétillant-naturel. Isso nos
informa que estamos diante de um espumante elaborado por método ancestral, anterior ao tradicional de
champagne, pelo qual o vinho termina a única fermentação já engarrafado. Permanecerá, portanto, com
a chapinha metálica como vedação.
SERENA, Vinhedo
Gr V - 2001- VBdT* - (I) - 'N'
vinhedoserena.com
Sonho e realização do engenheiro agrônomo gaúcho Maurício Ri-
beiro, juntamente com a mulher, a administradora Cristina. Como
ele mesmo explica:
"Pelo lado de mãe, descendo de alemães, isso explica um pouco do
biodinamismo com o qual travei contato ali pelos 16, 17 anos de idade. Então são quarenta anos de
experiência com essa vertente de agricultura. A ideia do Vinhedo Serena foi gestada por 2 7 anos e, em
2001, minha mulher e eu finalmente encontramos o terreno ideal para o nosso projeto de produzir um
Pinot Nair equilibrado, delicioso e com profundo sense of place. É uma propriedade pequena (2 hectares),
no 'pequeno paraíso italiano' de Nova Pádua, a 750 m de altitude, conjugando o maior número de horas
de frio com o menor risco de geada e o menor excesso hídrico da Serra Gaúcha (Fonte: Embrapa Uva e
Vinho), pensada e dimensionada visando autossuficiência e dinamismo (biodinâmica) na fase avançada da
vida. Implantamos o vinhedo entre 2002 e 2003, com mudas Guillaume Pépinieres, de um ano, que nós
mesmos importamos da França. Escolhemos os clones 114, 115, 667, 777, 828 e 943. Nosso vinhedo,
penso que foi o segundo na América do Sul com essa condução (Alvaro Spinoza - Antiyal - saiu antes),
VILLA BARI
Agrovinícola Barichello Ltda.
Gr IV - 2003 - VBdT* - (I) - EnoT
villabari.com.br
Vinícola conduzida por Luiz Alberto Barichello, terceira geração
de uma família de imigrantes de Treviso, Itália, que, procedente
da Serra Gaúcha, se estabeleceu desde 1978 nas colinas de Vila
Nova, em Porto Alegre. Todavia, somente a partir de 1999 iniciou a
produção de viníferas. Elabora um varietal, a partir da Merlot, e
dois cortes: o primeiro entre Cabernet Sauvignon (70%) e Caber-
net Franc (30%), e o segundo, a 50%, entre Cabernet Sauvignon e Merlot, num total de 4.800
garrafas por ano. Utiliza o recurso do apassiamento, que acontece em câmaras frigoríficas com
ZOLIN
Gr IV - 2005 - VBdT - (I)
vinicolazolin.com.br
O ex-comandante da Varig Iran S. Zolin conduziu Boeing e Airbus
por 35 anos. Quando começou a pensar na aposentadoria, voou
para o mundo dos vinhos. Acalentava o sonho de elaborar o pró-
prio vinho. Encerrada a carreira na aviação, criou sua vinícola. Os
vinhedos e a cantina estão no sítio Paralelo 30, propriedade rural do comandante, localizada num
microterroir desconhecido em termos de experiência vitivinícola. Na pequena cantina, montada
com equipamentos importados de boa procedência, elaboram-se varietais a partir das castas Ca-
bernet Sauvignon e Merlot, um corte entre as duas chamado Tributo (60% Cabernet Sauvignon +
40% Merlot), além de vinhos de mesa. No amadurecimento dos vinhos, o produtor recorre aos
chips. Trata-se de inserir lascas de madeira nos vinhos elaborados. São tubos cilíndricos de tela
de aço inox, contendo as lascas de carvalho, para conferir um toque de madeira aos vinhos. Os
vinhos Zolin têm sempre trinta dias de contato com chips de carvalho americano e trinta dias de
contato com chips de carvalho francês.
TAQUARA
BODEGA KOETZ
Gr V - 2016 - VBdT (C)
Roger Kõetz é um empresário do comércio de móveis, atuando nesse
~ segmento com a esposa. Após ter sido introduzido no consumo de
~I vinhos pelo sogro, que o presenteou com o livro Vinhos para leigos,
KÕETZ apaixonou-se pela bebida. Inicialmente, teve receio de elaborar vi-
nhos e iniciou uma produção de cervejas. Em 2016, vinificou pela
primeira vez e não interrompeu mais. Compra uvas de produtores parceiros e elabora, domesti-
camente, em espaço próprio. Sonha ter um vinhedo. A proposta é de dois tintos e dois rosados,
por safra. Caso tudo evolua como planejado, Roger pretende, um dia, ter uma produção regular
de 5.000 gfs/ano. Está notável o Cabernet Franc 2020.
DIVINO
Gr V - 2019 - VBdT* - (C)
Renato Coelho é um pediatra, especializado e doutorando em pe-
diatria do desenvolvimento. Amante de vinhos, estuda o assunto
há 35 anos. Integra uma confraria com reuniões quinzenais há 25
anos. Ele relata: "Minha história de relação com o vinho se inicia na in-
fância, o que seria hoje algo completamente inaceitável, mas tomei com meu
avô paterno, antes dos 1O anos de idade. Ele fazia um refresco de vinho,
com vinho Cabernet seco, Granja União, água e açúcar. Creio que muitos tiveram experiência semelhante".
Na juventude, teve um inesquecível encontro amoroso, acompanhado de um vinho Costebel, um
rótulo da Cooperativa Vinícola Aurora, que marcou época e cujas garrafas são, hoje, vendidas a
colecionadores. Como vinho é uma bebida agregadora, Renato conheceu Rubem Kunz, adiante
apresentado em Vinhos da Rua do Urtigão, tendo, inclusive, participado de vinificação com o
amigo, ali por 2014. A partir de então, começou a pensar em enveredar pelo mesmo caminho.
Em 2018, sacramentou o desejo de elaborar vinhos próprios, numa viagem à Provence, com a
esposa, Maristela, e o casal Ricardo e Adriana Kunz (DeMentes). Na volta da Europa, o projeto
tomou corpo, com os investimentos iniciais. Em 2019, Renato vinificou, pela primeira vez, um
Chardonnay, com uvas de Monte Belo do Sul. Em seguida, vinificou um Pinot Noir, com uvas de
Piratini (dos vinhedos do Cezar Lindenmeyer- Villa Don Basílio) e um Cabernet Franc, também
com uvas de Monte Belo do Sul. Novamente, Renato é quem nos conta: "Seguindo uma experiência
que tive com o Rubem, vinifiquei o Chardonnay com 6 horas na casca. Usei levedura selecionada e S02• Com
o Pinote o Cabernet Franc, fiz uma experiência de rosé e tinto, também com leveduras selecionadas e S02• O
ADEGA SOLAR
Gr V - 2001 - VBdT* - (C) - 'N'
http://aadegasolar.weebly.com/
Carlos Manuel Dias, o Nenel, e Elizabeth Braz (Sundari) sempre
apreciaram um bom vinho e desejavam elaborar os próprios. En-
tão, em comum acordo, iniciaram a produção artesanal. Eles são
descendentes de açorianos e, por isso, imprimem um certo "tem-
pero português" nos vinhos que elaboram. Como eles explicam,
um concordando com o outro: "Uma paixão que nasceu e cresceu de um
sonho de produzir um vinho natural e especial, no próprio local de moradia: um simples e maravilhoso sítio
em Viamão" . Os vinhedos ainda são em latada semiaberta. São 8 hectares, dos quais apenas 1 hec-
tare é dedicado às viníferas Cabernet Sauvignon e Tannat. A cantina é simples e muito cuidada.
Praticam o esmagamento com os pés, mas já têm equipamentos mais modernos. A produção é
muito pequena: de 300 a 750 garrafas, dependendo da variedade. A Adega Solar tem os seguintes
vinhos, todos batizados de Alma de Viamão, trazendo como sobrenome a casta: Cabernet Sauvignon
2008, 12,0%; Tannat 2008, 12,5%; Reserva Cabernet 2011, 13,3% (barricado); Reserva Tannat 2011,
13,8% (barricado); Reserva Cabernet 2012, 14,0%; Reserva Tannat Demi Sec 2012, 14,5%; Porto de
Itapuã 2009 (vinho fortificado), 20,0%; Conhaque Adega Solar 2009, 35,0%. O casal ainda elabora
dois vinhos de mesa e um suco de uva. Recentemente, mudaram o nome dos vinhos para Alma
(apenas).
FINCA TUÍRA
Gr V -2011- VBdT* - (I) - 'N'
Getúlio Teixeira e Gládis Cury são advogados, aposentados. Mas
estão trabalhando bastante no vinhedo de pouco menos de 1 hec-
tare que implantaram no início de 2018 na localidade de Lombas,
com mil mudas, na propriedade da família. As mudas de Cabernet
Sauvignon e Merlot têm origem em São Joaquim, SC, onde um an-
tigo parceiro desistiu do cultivo. Aliás, era sim um antigo parceiro,
pois, com as uvas dele, Gladys e Getúlio elaboravam vinhos artesa-
nalmente, desde 2011. A filosofia é de produção com mínima intervenção, admitindo somente
pequena presença de metabissulfito, durante a fermentação tumultuosa. A produção atinge, no
máximo, 700 garrafas por ano, mas o casal deseja ampliá-la, com uvas do próprio vinhedo, culti-
vadas organicamente. A cantina já está edificada, tendo os equipamentos necessários. Os rótulos
dos vinhos, com a denominação Finca Tuíra, são concebidos por Rodrigo Cury Teixeira, filho do
casal, que estuda design na UFGRS e é sócio da empresa Preza, que desenvolve armações de
óculos em madeira.
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Sem dúvida, iniciativas pioneiras na região nos fazem caminhar rapidamente rumo ao
reconhecimento do terroir missioneiro, a partir de São Borja, no sentido norte, aos municípios
que englobam os históricos Sete Povos das Missões. Só para recordar, refiro-me às reduções
instaladas junto aos indígenas por missionários jesuítas em São Francisco de Borja, São
Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo
Ângelo Custódio. O município de Entre Ijuís também integra essa nova área vitivinícola. O lugar
Missões tem notoriedade pelas extensas áreas dedicadas ao cultivo do arroz.
ENTRE IJUÍS
FIN, Vinícola
Gr IV - 2003 - VBdT* - (C) - EnoT
vinicolafin.com.br
Vinícola fundada e mantida pelo casal Jorge e Eleana Fin, com os
filhos Mareio, Cristiano e Larissa. Jorge Fin descende de família
vinhateira, iniciada pelo avô Patrício, que foi vitivinicultor em Três
de Maio, no noroeste do Rio Grande do Sul. A Vinícola Fin tem,
atualmente, 15 hectares de vinhedos com as variedades Ancellotta,
Cabernet Sauvignon, Merlot e a branca Viognier, desde 2017. A
cantina é própria e muito bem equipada. A família adota o enoturismo há vários anos, recebendo
viajantes que transitam pela rodovia BR 285 e grupos que agendam eventos. Desde 2014, Jorge
Fin mantém parceria com viticultor da Campanha Gaúcha, no sentido de adquirir uvas Sauvig-
non Blanc e Malbec. A proposta da casa é elaborar vinhos de volume médio, leves. Os varietais
tintos cumprem esse perfil, exceção feita ao Ancellotta do Produtor 2012 (13,0%), envelhecido
por oito meses, em barricas novas de carvalho francês, que se mostra um vinho de médio corpo,
para encorpado. Alguns tintos são amadurecidos com lascas de carvalho (staves) .
SANTO ÂNGELO
254 Ro ge ri o D ard e a u
vida, nos mostrou um vinho vivo, intenso, de cor rubi brilhante, sem notas de evolução, portan-
to ainda com vida pela frente. Os aromas nos levaram às frutas escuras, como ameixa, além de
compotas, especiarias e notas vegetais. No paladar, o vinho se apresentou profundo, instigante,
com taninos arredondados, muito bom volume e persistência. Um típico missioneiro! Ainda que
saibamos que é com muito tempo que se definem efetivamente as características, já é possível
sentir grande tipicidade no Don Carlos Cabernet Sauvignon 2012. A Vinícola Don Carlos vem
apresentando diversos rótulos novos, como o Don Carlos Cabernet Sauvignon Reserva 2013,
com estágio de 21 meses em barrica de carvalho de segundo uso, os espumantes Don Carlos
Brut 7 Mistérios, com vinho base corte entre sete castas, e Don Carlos Ancestral Blanc de Noirs
Nature, ambos com vinhos da colheita de 2017, e o Don Carlos Viognier 2018, todos vinhos que
sugerem o novo terroir Don Carlos.
SÃO BORJA
MALGARIM, Vinhos
Gr IV - 2001 - VBdT* - (C)
malgarimvinhos.com. br
Sérgio Malgarim é desses vinhateiros dedicados, que se envol-
vem por completo com seus projetos. É o criador da coopera-
tiva Agrocooper, que representa 30% da área arrozeira de sua
região. Sem dúvida, um agrônomo idealista e experiente que,
desde 1997, planejava o próprio negócio de vinhos finos. Todas
as etapas de seus vinhos, da implantação dos vinhedos até à can-
tina na Quinta do Sino, tudo passa por suas mãos, com o cuidado da transmissão de conhe-
cimentos ao filho, Daniel, que fez sua iniciação com o jovem e talentoso enólogo português
Miguel Ângelo Almeida. A cantina é muito bem montada. Conta com equipamentos novos
e homenageia, com o nome Dom Augusto, o avô vinhateiro que semeou a cultura enológica
na família. Os vinhedos Malgarim têm 4 hectares de área, com as variedades tintas Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc, Carménere, Merlot e Tempranillo, e as brancas Chardonnay e
Riesling. Os varietais e cortes tintos, bem como os brancos, têm a denominação Malgarim . A
produção máxima é de 12 mil garrafas por ano. Sérgio Malgarim acredita que a Tempranillo
é a casta tinta mais bem adaptada ao terroir missioneiro de São Borja. De fato, os varietais
daquela casta, dos anos de 2013 e 2015 ganharam notoriedade entre apreciadores.
são Francisco de Paula, Jaquirana, Cambará do Sul, são José dos Ausentes
Trata-se da região mais alta e fria do estado do Rio Grande do Sul, ao norte do estado, na
fronteira com Santa Catarina. Engloba os municípios de Bom Jesus, Cambará do Sul, Campestre
da Serra, Esmeralda, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, São Francisco de
Paula, São José dos Ausentes e Vacaria. As variedades Cabernet Sauvignon e Merlot têm sido as
tintas preferidas na região.
Associação de Produtores: Avices - Associação dos Produtores de Vinhos Finos dos
Campos de Cima da Serra - Reúne as vinícolas Aracuri, Campestre, Fazenda Santa Rita, RAR,
Sopra e Sozo.
GENTE que elabora vinhos finos na região dos Campos de Cima da Serra,
por ordem alfabética dos municípios e, dentro desses, pela ordem alfabética
dos nomes dos produtores
CAMPESTRE da SERRA
CAMPESTRE, Vinícola
Gr II- 1968 - VBdT- (C)
pergola.com.br
Empreendimento da família Zanotto, com mais de cinquenta
anos de história. Atualmente, sob a direção de João Carlos Za-
notto, produz diversos derivados da uva em mais de cinquenta
produtos, além de cervejas. Os vinhos finos têm sempre a de-
nominação Zanotto. A linha Pérgola define vinhos de mesa e
sucos. O enólogo é André Donatti.
256 Ro ge ri o D a rcl e a u
MONTE ALEGRE DOS CAMPOS
CASA OLIVO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I) - EnoT
Veja em Antônio Prado, Serra Gaúcha, onde se localiza a cantina.
Em Monte Alegre dos Campos estão os vinhedos da Casa Olivo.
MUITOS CAPÕES
ARACURI Vinhos Finos
Aliprandini e Meyer Vinhos Finos Ltda.
Gr IV - 2005 - VBdT* - (I)
aracuri.com. br
A Aracuri Vmhos Finos está localizada na belíssima região de Cam-
pos de Cima da Serra, Rio Grande do Sul, na fronteira norte, junto ao
estado de Santa Catarina. Foi uma iniciativa dos experientes empre-
sários do ramo de produção e comercialização de frutas João Meyer
ARACURI e Henrique Aliprandini. Depois da implantação dos primeiros vinhe-
dos e elaboração dos primeiros vinhos, a vinícola se destacou no ce-
nário vitivinícola brasileiro. Seus varietais brancos e tintos e seu corte tinto são todos apresentados
sob a denominação Aracuri, homenageando um pequeno papagaio da região. A enóloga é Paula
Guerra Schenato, jovem e criativa profissional formada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Rio Grande do Sul. Os destaques tintos da vinícola são o Aracuri Collector Cabernet
Sauvignon safra 2008, 13,5%, que estagiou por 12 meses em barricas de carvalho e permaneceu
outro tanto engarrafado, na própria vinícola, antes de ir para o mercado, e o Aracuri Pinot Noir 2012,
12,0%, que passou cinco meses em barricas. Entre os brancos, a casa elabora os varietais Chardon-
nay e Sauvignon Blanc, com um estilo mineral marcante. O Aracuri Chardonnay 2012 teve 10% do
volume total (7 mil garrafas) com estágio por 12 meses em barricas de carvalho americano, mos-
trando aromas complexos e untuosidade muito agradável, com ótima persistência. O Aracuri Caber-
net Sauvignon 2009 é um vinho com uma bonita cor rubi, aromas jovens, frutados e ótima presença
no paladar. Em 2014, a casa lançou o Aracuri Reduto, um vinho excepcional, elaborado com uvas
Merlot de três safras, dos vinhedos próprios, a 960 m de altitude. Após a colheita, as uvas foram
submetidas à desidratação natural antes do processamento. Tal conduta, associada ao estágio em
barricas de carvalho, proporcionou um vinho estruturado e potente, com 14,0% de teor alcoólico.
RAR
Gr IV - 2002 - VBdT* - (1)
rarvinhos.com.br
Raul Anselmo Randon foi um empresário brasileiro do segmento
metal mecânico e do agronegócio, apaixonado por vinhos, falecido
em março de 2018. O projeto de vinhos RAR nasceu no contexto
de uma das unidades de seu grupo empresarial Randon, a Rasip
Agro Pastoril S/A. Implantaram-se vinhedos próprios, nos Cam-
pos de Cima da Serra, a uma altitude no entorno de 1.000 metros,
com as variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay, Gewurztraminer, Pinot
Gris e Viognier. Randon foi, sem dúvida, o protagonista do cultivo de viníferas nos Campos de
Cima da Serra. Os vinhedos chegaram a atingir área próxima a 80 hectares, mas estão sendo
reduzidos. As uvas são colhidas bem cedo, são climatizadas e transportadas à Miolo, no Vale
dos Vinhedos, onde ocorre a vinificação, o amadurecimento e o envelhecimento dos vinhos,
quando é o caso. A linha de vinhos e espumantes RAR está assim organizada: RAR Laurea Ad
VACARIA
SOPRA
Vinhedos Entre Rios
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I)
vinhosopra.com.br
Trata-se de empreendimento da família Varaschin, tradicional pro-
dutora de frutas no Rio Grande do Sul. São 3 hectares de vinhe-
dos, a 950 m de altitude, com as castas Chardonnay, Pinot Noir e
Merlot, implantados sob a consultoria da Embrapa Uva e Vinho. O
projeto caminha com a supervisão direta do proprietário, o agrô-
nomo Ermano Varaschin Jr., e a equipe formada pelos enólogos
Alejandro Cardozo, Mauro Zanus e Junior Maroso. Todo vinho é elaborado a partir das uvas de
vinhedos próprios, nas instalações da Vinícola Piagentini, em Caxias do Sul, enquanto a vinícola
não dispõe de cantina própria. A proposta é a de elaborar um máximo de 15 mil garrafas/ ano.
Disponibiliza atualmente, pela página web: Brut Santé Branco 2017 (método tradicional 60%
Chardonnay + 40% PN), Brut Santé Rosé 2017 (método tradicional 60% Chardonnay + 40%
PN), Chardonnay Unoaked 2018, Rosé Celina 2019 (60% PN + 40% Chardonnay), Pinot Noir
2014, Merlot Riguardo 2016 (carvalho francês de segundo uso + carvalho americano novo) e
Merlot 2013 com passagem breve por carvalho francês.
Três Palmeiras
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Gonçalves
É uma região que ainda não tem um contorno claro. Tal como o que afirmei sobre a
Campanha, a Região do Alto Uruguai tem uma área muito grande, certamente com muitos
terroirs distintos. Porém, é de lá, mais precisamente do município de Três Palmeiras, que vêm
alguns dos grandes vinhos brasileiros de terroir: são vinhos da vinícola Antonio Dias - Vinhos
de Terroir. A macrorregião, no passado, já havia sido testada pela Casa De Lantier (Martini
& Rossi), por recomendação do enólogo Adolfo Lona, quando concebeu o projeto Coleção
Regionais. Pelo projeto, aquela empresa ofereceu mudas e orientação técnica a pequenos
viticultores dos municípios de Ametista do Sul e de Planalto, garantindo-lhes a compra das
uvas. Com a descontinuidade do projeto, os viticultores seguiram os próprios caminhos.
Na ocasião, Lona recomendou aos produtores que se organizassem em cooperativas, o que
veio a acontecer muitos anos depois. Hoje, algumas vinícolas em formato de empresa estão
constituídas, e pelo menos uma cooperativa, a Cooperativa dos Produtores de Uva e Derivados
de Ametista do Sul (Coperametista), já apresenta um vinho fino seco, o Ametista Cabernet
Sauvignon . É forte a presença da casta Cabernet Sauvignon entre os vinhos finos elaborados
na região, que é marcada por vinhos de mesa, à base de Bordô, Isabel e Niágara. E novas
"butiques de vinhos" vêm sendo instaladas por lá. Vejamos!
Associação de Produtores: REDE DE VINÍCOLAS DO ALTO URUGUAI - São
12 produtores, nos seguintes oito municípios: Ametista, Alpestre, Barra Funda, Frederico
Westphalen, Planalto, Rondinha, Sarandi e Três Palmeiras. As empresas são: Vinhos Finos
Antonio Dias, localizada em Três Palmeiras; Sucos Tedesco, em Rondinha; Vinícola Dom Gentil
(antiga Adega do Sul) e Sucos Tolotti, em Barra Funda; Vinhos Vizini, Sucos Vitis e Sucos
260 Ro ge ri o D a rcle a u
Carbonari, em Sarandi; Vinícola Ametista e Coperametista, em Ametista do Sul; Cooper Bom
Pastor e Vinhos Cave de Cristal, em Planalto; Vinhos Menzem, na cidade de Alpestre.
AMETISTA, Vinícola
Gr IV - 2000 - VBdT* - (I)
vinicolaametista.com. br
Impressionante projeto do jovem empresário Sílvio Pôncio e seus
dois irmãos, com origem na mineração. O município de Ametista
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AMETISTA
do Sul está assentado sobre a maior jazida dessa pedra no mundo.
Os vinhedos são próprios, em solo pedregoso, bem drenado e mi-
neralizado. São 2 hectares no sítio da vinícola, mais 10 hectares a
4km e outros 15 hectares a 1O km da cantina. As estações e o clima são bem definidos. A colhei-
ta, em geral, é antecipada em relação à Serra Gaúcha, ocorrendo em janeiro e fevereiro. A cantina
está equipada para uma produção de 200 mil garrafas por ano. Sílvio instalou adega em galeria
subterrânea desativada, na qual ainda são vistos geodos de ametista, ágata, citrino e outros mine-
rais. Ali, a temperatura é praticamente constante, em torno dos 16,8 °C. A Enologia está a cargo
do talentoso Silvânio Antônio Dias. A Vinícola Ametista elabora três linhas de vinhos: Ágata
de Fogo, para os VBdT considerados superiores, Ágata, para os VBdT e Jazida, para os vinhos
de mesa e sucos. A linha Ágata é composta de varietais que descansam na cave subterrânea por
tempos específicos. Há vinhos da linha Ágata de Fogo cujas garrafas são encaixadas pelo pescoço,
diretamente no basalto e ali evoluem, depois de haverem tido estágios em barricas de carvalho.
Alguns vinhos elaborados: Ágata Cabernet Sauvignon 2012, Ágata Cabernet Sauvignon Rosé
2011 , Ágata Cabernet Sauvignon Demi Sec 2011 , Ágata Merlot 2012, Ágata de Fogo Merlot
2015, Ágata Tannat 2010, Ágata Pinot Noir 2013 e Ágata Sauvignon Blanc 2011, além dos espu-
mantes Ágata Brut, um branco de branca Chardonnay, e Ágata Moscatel, cujo vinho base é um
corte entre Moscato Giallo e Moscato Bianco. É notável a longevidade do varietal da Sauvignon
Blanc. Os vinhos da Vinícola Ametista apresentam grande tipicidade e vão definindo o terroir.
COPERAMETISTA
Gr III - 2007 - VBdT - (C)
cooperametista.com.br
Produtores rurais organizados fundaram a Coperametista, com o
objetivo primordial de coordenar a produção de vinhos e derivados
da uva de viticultores da região. Atualmente, as atividades estão
concentradas nos sucos de uva e laranja. Somente um produtor,
o agricultor Daniel Alba, ainda segue cultivando uma vinífera, a
Cabernet Sauvignon.
WEBER, Vinícola
Gr IV - 2000- VBdT* - (C)
vinicolaweber.com. br
A família Weber produz vinhos há, pelo menos, três gerações. No
início, como no caso da maioria dos produtores, a elaboração acon-
tecia no porão de casa, de maneira colonial, apenas para consumo
próprio. Mas é preciso contar um pouco sobre o viveiro de mudas
VINÍCOLA WEBER
da família, para falar como a vinícola começou. Em 1979, Dedo
Weber se formou técnico agrícola e retomou à casa dos pais com o
sonho de fazer algo novo na propriedade. Iniciou, então, a pro-
dução e a comercialização de mudas de erva-mate, fazendo surgir os Viveiros Weber, hoje com
expressiva projeção, em razão do número de plantas ofertadas, trabalhando com plantas nativas,
ornamentais, frutíferas e outras. Chega-se, então, à circunstância de nascimento da vinícola: a
multiplicação das mudas exigia um 'matrizeiro' como fonte de material vegetativo; no caso das
videiras, um vinhedo. As uvas produzidas naquele vinhedo eram vinificadas e produziam um
vinho que passou a ser reconhecido por amigos, pela cidade. Isso provocou a implantação de
novos vinhedos, com o objetivo de alimentar uma produção comercial. A área atual de vinhedos
de viníferas é de 12 hectares, com as castas Marselan, Merlot, Malbec, Cabemet Franc, Cabemet
Sauvignon, Tannat, Chardonnay, Moscato e Pinot Noir. Todas as quadras ficam nos arredores da
vinícola. Há, ainda, um vinhedo experimental com mais de 20 variedades, em testes. Inicialmen-
te, os vinhedos foram implantados em Y, com orientação norte-sul. Esse sistema permite que os
cachos recebam insolação nas horas em que o sol não é tão quente, e, no período de maior calor,
o próprio dossel vegetativo faz sombra sobre os cachos, evitando possíveis danos aos frutos em
função do calor excessivo. Naquela região do Rio Grande do Sul, no verão, as temperaturas são
muito altas. Esse sistema apresenta alto custo de implantação, além de os postes precisarem
de ser substituídos de tempos em tempos. E mais: a poda de inverno se toma mais difícil, se
feita por pessoas sem experiência. É importante registrar que ali há escassez de trabalhadores
qualificados para a tarefa. Então, a experiência determinou a conversão gradual em espaldeiras
simples, conversão esta que tem relação custo-benefício bem melhor, facilitando muito o ma-
nejo das plantas e possibilitando, de igual maneira, a obtenção de frutos de alta qualidade, com
maturação perfeita. Todos os vinhos são elaborados a partir de uvas próprias, na cantina familiar,
construída pelo casal Dedo e Delci Weber. A capacidade da cantina é de 100.000 litros/ano,
mas a produção atual é de 40.000 litros/ano A responsabilidade pelos vinhedos é do técnico
agrícola Dedo Weber. A enóloga é Taciana Weber, filha do casal fundador, formada em Bento
Gonçalves, com carreira profissional na Chandon, na Casa Valduga e na Aurora. Tatielle Weber,
a outra filha, atua na gestão, com o marido Henrique. Há duas linhas de vinhos finos no merca-
do. A Weber é uma linha de vinhos mais jovens, de consumo rápido, vinhos para o dia a dia. Já
a linha Instantes é composta por vinhos brancos e tintos de guarda, alguns com madeira e um
bom tempo de descanso na garrafa. Esses são vinhos elaborados apenas quando a qualidade da
uva atinge os requisitos desejados. Um detalhe: as rolhas dos vinhos da linha Instantes trazem a
frase '½. vida é feita de Instantes", tendo logo abaixo o clássico espaço com duas barras, para que
ITATIBA DO SUL
SOLIMAN, Vinhedo
Gr IV - 2005 - VBdT* - (I)
vinhedosoliman.com. br
Rogério Soliman é um jovem inquieto. Cirurgião-dentista com uma
carreira sólida, decidiu ter um vinho próprio. Em 2005, iniciou o
projeto com a implantação de 6,5 hectares de vinhedos, no peque-
nino município de Itatiba do Sul, às margens do rio Uruguai, norte
gaúcho, fronteira com Santa Catarina. São nove vinhedos muito
bem cuidados, iniciados com as castas Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, seguidas de
Ancellotta, Montepulciano, Nero D'Avo la e Moscato Bianco, entre outras, em teste. Os vinhedos
estão a 830 m de altitude, em uma propriedade de grande beleza natural, em total integração
com uma flora exuberante, povoada por magnífica fauna. A cantina é pequena, mas muito fun-
cional e bem equipada. Está preparada para a dinâmica do crescimento. A primeira vinificação
comercial se deu em 2011 . Atualmente, a Vinhedo Soliman tem disponíveis um varietal a 100%
da Cabernet Sauvignon, da safra de 2015 (13,0%), e um expressivo reserva, corte Cabernet +
Merlot, da colheita de 2012 (13,5%). O mais novo vinho da casa é o Soliman Chardonnay 2018,
muito especial, recentemente rotulado como Sr. Nelson, exatamente homenageando o patriar-
ca da família Soliman. No projeto, além do próprio Rogério, atuam o pai, Nelson Soliman, e a
esposa de Rogério, Vanessa. Esses produtores, atentos ao enoturismo, mantêm o "Projeto Meu
Vinho". Trata-se de uma rara iniciativa de disponibilizar linhas de vinhedos a clientes específicos.
O mais interessante é que as linhas são identificadas, sinalizadas e monitoradas por câmeras que
permitem o acompanhamento remoto. O enófilo que adquire a linha participa integralmente de
todas as etapas: desde a evolução dos frutos nas plantas, até a elaboração do próprio vinho, e,
é claro, poderá ter presença na vinícola, se assim desejar. Como eles mesmos divulgam, é uma
"oportunidade de acompanhar on-line e 24h por dia o crescimento e desenvolvimento do seu parreiral, partici-
par da poda seca e verde, se deliciar na vindima colhendo a sua uva, e degustar a evolução do seu produto em
eventos especiais em nosso espaço, regados a comida italiana e muito vinho. No final de tudo isso, você não
vai ter apenas a sua garrafa de vinho personalizada, mas terá muita história pra contar; afinal, com o 'Pro-
jeto Meu Vinho', você não é apenas um consumidor, você é o protagonista dessa história!". A consultoria
enológica está a cargo de Marcos Vian.
CAVE DE CRISTAL
Gr III - 1998 - VBdT - (C)
TRÊS DE MAIO
CASA TERTÚLIA
Gr IV - 2017 - VBdT - (I) - EnoT
vinicolacasatertulia.com. br
Empreendimento familiar conduzido pela enóloga, sommeliere e
administradora Viviane Hilgert. A escolha do nome exibe o que
desejam esses produtores: "Casa - um local agradável e confortan-
te. Tertúlia - encontro de amigos, conversa sobre assuntos importantes,
palestra literária. Regados a vinho. Encontros que iniciaram na Espanha
chamados de Tertúlia. Era tudo que desejávamos para o nosso empreendimento. Por isso o nome" (www.
vinicolacasatertulia.com.br). São 2 hectares de vinhedos que começaram a ser implantados em
2012, logo tendo começado a construção da cantina, em blocos de basalto lavrado. Na viti-
cultura, há uma busca de manejo por princípios de biodinâmica. É a própria Viviane Hilgert
quem nos esclarece: "Nosso cultivo ainda não possibilita o biodinâmico; porém, usamos muitas formas
naturais para um maior equilíbrio dentro do vinhedo. Sempre com o objetivo de ter uma boa harmonia com
a natureza, introduzindo plantas nativas e colaboradores de um ambiente mais saudável para as vinhas".
Os espaços dos vinhedos são partilhados por ovelhas e aves, sempre no sentido de se evitar
uso de herbicidas químicos. Os vinhos são: varietal Casa Tertúlia Merlot, varietal Casa Ter-
túlia Cabernet Sauvignon, um varietal da casta Isabel com um tempero de Merlot e Cabernet
Sauvignon, um espumante brut e um espumante moscatel, o Casa Tertúlia Alliance. Sobre o
Isabel, novamente Viviane nos traz um precioso informe: "Optamos por produzir também o vinho
Isabel de vinha americana, porque no Brasil temos muitos apreciadores. São castas que sofrem preconceito,
por não representarem uma complexidade grande em aromas e sabores. Porém, são de fácil produção e de boa
sanidade, o que nos permite uma experiência excepcional em características das castas que, geralmente, tra-
zem muito Tutti Frutti, morango e uma leveza maravilhosa. Para tornar nosso vinho Isabel mais interessante,
adicionamos um pequeno percentual de vinho Merlot 5% e Cabernet Sauvignon 10%".
IJUÍ
Município localizado no chamado Noroeste Colonial, a 30 km da região das Missões,
onde o cirurgião-dentista (implantodontista) e professor Alcindo Gomes iniciou-se na
vinicultura pelo projeto "Novos Caminhos", em parceria com o vinhateiro Carlos Boff, com
quem vinifica, e James Martini Carl, o "caçador de uvas".
Ali também está o iniciante projeto vitivinícola de Mareio Bortolini, em 3 hectares de
área, em uma propriedade que já tem 12 hectares de nogueiras e mantém outros 12 hectares
de mata nativa. As primeiras implantações privilegiam testes com as castas brancas Riesling
Itálico, Malvasia, Alvarinho e Viura (Macabeo), além das tintas Sangiovese, Primitivo,
Marselan, Nebbiolo, Barbera e Teroldego.
LAJEADO
Município do Vale do Rio Taquari, cuja sede está localizada a apenas 112 km de Porto
Alegre, numa altitude inferior a 50 m . Ali, localizamos um empreendimento vinícola.
AllegtQ dávamos nosso pai a produzir vinhos de uvas vitis labrusca. Por ser o ca-
çula, meu período como 'ajudante' foi o maior de todos os irmãos. Com o
passar do tempo, a vida me levou por outros caminhos. Por 25 anos, morei
longe e permaneci distante da produção, apenas apreciando e degustando
vinhos, descobrindo e desvendando outros aromas e sabores". Em 2013, Nelcir, já em Lajeado, visitando
parentes com o amigo Liu Wen, encontrou antigas pipas e um desengaçador de madeira. Foi
quando surgiu a ideia de elaborarem os próprios vinhos. Convidaram os amigos Nelson Locatelli
e Ubaldo Simões e constituíram a vinícola. As uvas são adquiridas de parceiros e processadas em
instalações próprias, bem equipadas. A produção anual é variada e atinge 1.500 garrafas, entre
vinhos brancos, rosados e tintos, além de espumante. ''Apesar do volume, do investimento financeiro
e de tempo, o objetivo ainda é o prazer de fazer uma boa bebida e satisfazer o paladar dos amigos, em longas
conversas e belas degustações. Uma visita, uma ideia solta no ar reuniu 4 amigos de diferentes áreas, e o vinho
fortaleceu e continua a fortalecer uma amizade que me teve como elo de conhecimento entre os outros 3 ", diz
Nelcir. Os amigos vêm rotulando regularmente Chardonnay, Malbec, Merlot e Tannat equilibra-
dos e de muito boa presença.
PELOTAS
O município de Pelotas é o polo econômico e cultural ao sul do estado do Rio Grande do
Sul. Com mais de 300.000 habitantes e cinco universidades, catalisa importantes iniciativas
de desenvolvimento. Geograficamente, faz fronteira, ao norte, com municípios da Serra do
Sudeste.
WEINGÃRTNER
Gr V - 1997 - VBdT* - (C) 'N'
Marimônio Alberto Weingãrtner é um dos descendentes do con-
ceituado pintor gaúcho Pedro Weingãrtner, que teve importante
papel nas artes, nos tempos do Império do Brasil. Marimônio
comenta com bom humor que, embora seu sobrenome designe
alguém que trata de vinhedos, numa tradução livre, ele é o único
\1\/ EINGARTNER
na família envolvido com o tema. Sempre elaborou os próprios
vinhos, em Pelotas, onde reside, com uvas de vinhedos de Pinheiro
Machado. Em 2017, arrendou um vinhedo naquele município e iniciou total conversão a cultivo
orgânico, uma vez que está imbuído da cultura não intervencionista. A área arrendada é de 7
hectares, com 5 hectares em produção. As castas são as brancas Malvasia de Cândia, Riesling
Itálico e Trebbiano, além das tintas Merlot e Teroldego. Os vinhos são elaborados com baixíssima
intervenção e têm muito boa expressão. Marimônio também destila um brandy, a partir da casta
Trebbiano.
NEGROPONTE VIGNA
Gr V - 2014- VBdT- (C) - 'N'
Primeiramente, é preciso dizer que a Negroponte Vigna está loca-
lizada aqui, em Terra de Areia, apenas por ser a sede do produtor.
O projeto pode perfeitamente ser titulado de multiterroir, diante
da presença em inúmeros municípios brasileiros. James Martini
Carl é um brasileiro vitivinicultor autodidata, entusiasmado com
as castas georgianas e gregas. Exatamente por isso, o nome de
NE(JROPONTE seu projeto - Negroponte Vigna - , que significa "Vinhas do Mar
632>(~5ó:J - Ncyp01rovrc
Negro", vem sempre escrito naqueles dois idiomas. Ele, porém,
deixa sempre muito claro que o objetivo é criar vinhos autenti-
camente brasileiros, a partir daquelas castas. James tem assessoria técnica de Celito Guerra,
renomado agrônomo da Embrapa Uva e Vinho, e de Carlos Flores, aposentado da Embrapa
Clima Temperado, que é um dos maiores especialistas em solos do Brasil. Foi esse pesquisador
que mapeou os solos de diversas regiões gaúchas, como Pinheiro Machado, Vale dos Vinhedos,
Campanha Gaúcha, e participou do zoneamento de várias culturas, como a das oliveiras. Mas
James quer mais conhecimento. Por isso, a partir de 2020 integra turma de alunos de Enologia
no prestigiado Istituto Agrario di San Michele all'Adige, em Trentino, Itália. James desenvolve
diversos projetos: castas gregas, em parceria com a vinícola Campos de Cima, de Itaqui, RS;
castas georgianas, em terras próprias ou arrendadas, no litoral norte do Rio Grande do Sul;
e variadas parcerias com outros produtores. O projeto com a Vinícola Campos de Cima está
em pleno andamento, desde o plantio, em 2014, de mudas certificadas das variedades As-
syrtiko (branca) e Agiorgitiko (tinta), importadas do viveiro Bakasietas VNB, em vinhedo
daquela casa, no município de Maçambará, RS. As castas Assyrtiko (uva branca de Santorini),
Mavrotragano (casta tinta, também de Santorini) e Xinomavro (outra tinta, essa de Naoussa)
estão muito bem adaptadas naquela região. James considera que as castas gregas têm futuro pro-
missor na Campanha Gaúcha. Em outubro de 2019, tive a oportunidade de apreciar o primeiro
varietal da Assyrtiko. Estava muito equilibrado, com aromas leves, boa acidez e ótima presença
no paladar. Há também testes, em vinhedos da Vinícola Campos de Cima, da casta portuguesa
Ramisco, da região de Colares, cujas mudas foram cedidas pela Embrapa, a partir do Banco de
Germoplasma. O produtor considera que essa casta lusitana tem grande potencial no Brasil. Um
outro projeto é o da casta georgiana Saperavi, que já vem produzindo os primeiros vinhos na Ser-
ra Gaúcha, com grande tipicidade. Segundo James, precisamos disso: aromas e sabores distintos,
novos, para fugir da "mesmice". Diz ele: ''Acredito ser a Saperavi a única uva capaz de destronar a
Cabernet Sauvignon". No litoral norte gaúcho, James vem trabalhando com as castas Alfrocheiro
e Ramisco, por considerar a boa adaptação delas aos solos arenosos. Enquanto eu terminava o
texto desta edição, James negociava a formação de nova parceria, para cultivo da casta Nosiola,
em vinhedo na Campanha Gaúcha. No período em que vai se ausentar para estudos na Itália,
Lugares onde vinhos finos são elaborados, entre os estados da Bahia e Pernambuco,
no Vale do Rio São Francisco (hoje considerada zona de produção "Juazeiro e Petrolina",
pelo Decreto 8.198/ 2014). Tecnicamente falando, Vale do Submédio São Francisco (VSMSF) .
Cf::A RÃ l'ARAIB.4
Associação de Produtores
CURAÇÁ, BA
LAGOA GRANDE, PE
DUCOS, Vinícola
Gr II - 2004 - VBdT* - (I)
ducos.com.br
Esse empreendimento, com 124 hectares de área e cantina, passou
por diversas mãos, iniciando atividades com franceses e tendo ita-
lianos numa outra fase. Quando foi inaugurada, a Ducos Vinícola
D ucos
VINICOIA dedicava-se à elaboração de vinhos brasileiros de terroir. Logo, re-
cebeu elogios sobre o varietal Château Ducos Petit Verdot 2005, na
época obra do enólogo Hubert Pommier. A vinícola buscava apro-
fundar-se nas castas Petit Verdote Syrah. Embora o nome da empresa seja grafado com um "c",
os vinhos mais recentes, em razão da nova constituição societária, que não poderia utilizar a
grafia anterior, apresentam seus nomes com dois "c": Château Duccos Cabernet Sauvignon 2008 e
2010, Syrah 2008 e 2010, Petit Verdot 2008, além de um Château Duccos Assemblage 2009, elabora-
do com 50% de Petit Verdot + 25% de Cabernet Sauvignon + 25% de Syrah. A vinícola deixou o
segmento de vinhos finos e ingressou no segmento de vinhos comuns pelo Vale das Videiras tinto
suave, a partir da casta Bordô.
-
Empreendimento de Jorge Garziera para produção de uvas de
mesa. Porém, dos 200 hectares cultivados, dedica um quarto às
castas Ruby Cabernet, Petite Syrah, Cabernet Sauvignon, Bar-
bera, Moscatel e Sauvignon Blanc. Elabora as linhas Garziera e
Carrancas, esta última mais popular, de vinhos correntes. Os rótulos são: Garziera Shiraz, Garziera
Cabernet Sauvignon, Carrancas Cabernet Sauvignon/Shiraz, Carrancas Vinho Fino Branco Suave, Carran-
cas Vinho Fino Tinto Suave e Espumante Moscatel (Asti).
PETROLINA, PE
Norte
~ este
Planalto Meio Oeste ou
>,..,.;o-Oeste
Valedo,~; ., é J
Vale do Contestado
Produtores, especialmente, em: / Major
Água Doce, Caçador, Campos Gercino
Novos, Monte Cario, Pinheiro
Preto, Treze Tílias e Videira ui
Serra Catarinense
Produtores, especialmente, em:
São Joaquim, Bom Retiro, Campo
Belo do Sul, Urubici e Urupema
105 Ver estudo de: Ferreira, Nubia Alves de Carvalho; Nunes Júnior, Carlos Luiz; Lezana, Álvaro Guillermo
Rojas. Os empreendedores de vinhos de altitude do planalto catarinense. Navus, Revista de Gestão e
Tecnologia, Florianópolis, Senac-SC, v. 1, n. 1, p. 51-66, jul.-dez. 2011.
Organização de pesquisa
106 Foram implantados em 2006, no âmbito do projeto Cave Ouvidor, que não prosperou. Veja mais adiante,
neste livro, em Tempo Memória.
BOM RETIRO
THERA, Vinícola
Gr IV - 2014- VBdT* - (I) - EnoT
vinicolathera.com.br
Complexo enoturístico idealizado por João Paulo Borges de Frei-
tas, um dos quatro filhos de Manoel Dilor de Freitas, o empresá-
rio que criou a Vinícola Vila Francioni, em São Joaquim. O nome
da vinícola é uma homenagem à mãe, Therezinha Borges de Frei-
tas, carinhosamente chamada de Thera pelo marido. O conceito do
MONTE CARLO
RANCHO QUEIMADO
SÃO JOAQUIM
HIRAGAMI, Vinícola
Gr IV - 2001 - VBdT* - (I)
Fumio Hiragami nasceu no Japão, no pós-guerra. Desde os anos
1970 está no Brasil, no segmento de fruticultura (Hiragami's
Fruit), com muito êxito empresarial. O cultivo de Vitis Vinífera
era só mais um passo. Ainda não tem cantina. Seus vinhos são
VIN ICOLA elaborados em Treze Tílias, na Vinícola Kranz. Apresentou seus
HIRAGAMI primeiros vinhos na Expovinis 2012. Foram três varietais tintos e
um branco: Torii Cabernet Sauvignon 2008, com 14 meses de estágio
em barricas de carvalho, Torii Cabernet Sauvignon 2008, com 12 me-
ses de estágio em barricas de carvalho, Torii Merlot 2010 e Torii Sauvignon Blanc 2010. Além dos
vinhos tranquilos, mostrou também dois espumantes: Kanpai Rosé Brut e Kanpai Rosé Demi Sec.
Os vinhos tranquilos são todos rotulados como Torii, recordando os míticos portais japoneses
pelos quais é possível passar do profano ao sagrado. Os espumantes são Kanpai, a saudação dos
brindes, em japonês, tal como dizemos "Saúde!", no Brasil. O consultor de Enologia é Arlindo
Menoncin.
PERICÓ, Vinícola
Gr IV - 2003 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaperico.com.br
Iniciativa do empresário Wandér Weege, descendente de famí-
lia imigrante pomerana, amante de vinhos e titular da indústria
Malwee Malhas. Em 2018, ele transferiu a vinícola aos empresá-
ESPUMANTES
& VINHOS
rios Carlinhos Bogo Júnior e Diego Censi, com o vinicultor francês
Gauthier Gheysen. O novo grupo, além de manter as linhas de vi-
nhos finos, incrementou o enoturismo, com degustações orientadas e visitas guiadas à vinícola.
São 18 hectares de vinhedos, numa área total de 450 hectares, que têm ainda 20% dedicados
ao reflorestamento de araucárias. As vinhas estão implantadas a 1.300 metros de altitude, com
as variedades tintas Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Merlot, e as brancas Chardonnay e Sau-
vignon Blanc. A mecanização é utilizada em diversas fases, especialmente nas podas. A Pericó
ainda não tem cantina, mantendo parceria com a Vinícola Fabian, de Nova Pádua, RS, para vi-
nificação. O primeiro vinho nasceu em 2007. A vinícola apresenta seus vinhos sob as seguintes
denominações: Cave Pericó, para os espumantes; Pericó Taipa (um rosado e um branco, chamado
Taipa Vigneto); Basa/tino (um Chardonnay e outro Pinot Noir); Pericó Basalto, um elegante corte
Q
Q UINT A
DA NEVE
região de São Joaquim quanto à primazia no estabelecimento de
vinhedos dedicados à vitivinicultura de vinhos finos, terá sido
certamente ali, na antiga Fazenda Bentinho, distrito de Lomba
Seca, o nascimento da atividade no município. A propriedade
tem, hoje, 25 hectares dedicados às variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Montepulciano,
Pinot Noir, Sangiovese, Chardonnay e Sauvignon Blanc, além de uma área de experimentação
com 16 outras variedades. O enólogo consultor é o conceituado português Anselmo Men-
des, que conta com o trabalho permanente do agrônomo João Palma Jr. e do enólogo Átila
Zavarizze. Os vinhos são todos rotulados como Quinta da Neve. O elogiado Quinta da Neve
Pinot Noir 2005 estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês de segunda utiliza-
ção, recurso raro no mundo, que privilegia a barrica nova, obtendo excelente resultado tendo
sido repetido também com ótimos resultados nas colheitas de 2008, 2010, 2011 e 2014.
Além desse, há um varietal de Cabernet Sauvignon, varietais brancos de Chardonnay e de
Sauvignon Blanc, e um corte entre Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Merlot. A empresa tem
investimento da importadora Decanter.
SANJO, Vinícola
Gr IV - 2002 - VBdT (I)
sanjo.com.br
Trata-se de braço catarinense da Cooperativa Cotia (SP), de fruti-
cultores de origem japonesa, organizados desde 199 3, com sólida
Si\NJO experiência na produção, comercialização e distribuição de frutas.
Em 2002, decidiu dedicar-se também à elaboração de vinhos finos
a partir de uvas de vinhedos de cooperados, implantados na Serra
Catarinense, em uma área superior a 25 hectares. O enólogo é o conceituado Marcos Vian, que
coordena vinificações em cantina própria, com amplas e modernas instalações. Elabora sucos,
vinhos tranquilos brancos, rosados e tintos, além de espumantes, em três titulações: Maestrale,
VF
VILLA FRANCIONI
Vinhos e Vinhedos
a ver o empreendimento concluído, pois faleceu em consequ-
ência de um infarto, em 2004. A vinícola é, seguramente, uma
das mais bonitas do Brasil, além de ter sido edificada com um
raro rigor técnico, levando em consideração diversos princípios
fundamentais à elaboração de vinhos, sem exageros na inter-
venção tecnológica. Projeto arquitetônico e presença integrada
■
qualidade são indispensáveis, cuidado na colheita é fundamental, clima
privilegiado é decisivo, mas amor é o principal ingrediente", destaca
José Eduardo Pioli Bassetti, o líder desse empreendimento, que,
entre outras atividades anteriores, passou pelo ramo editorial,
com a Aventura Brasileira Editora. Certa feita, quando projetava uma publicação sobre a vi-
tivinicultura catarinense, tomou a decisão que mudaria a sua vida, e agora está totalmente
dedicado aos vinhos. O projeto foi iniciado com os irmãos César Juliano e Marco Aurélio.
Os vinhedos estão em altitudes que variam entre 1.230 metros e 1.260 metros. Ocupam 14
hectares e são adensados com porta-enxertos menos vigorosos do que os usuais, distribuídos
entre as seguintes castas: Cabernet Sauvignon - 2 hectares implantados em 2005, com 3.800
mudas; Merlot - 2 ha também em 2005, com 4.500 mudas, mais 1 ha em 2013, com 4 mil plan-
tas; Pinot Noir - 1 ha em 2006 (exclusivo para rosé), com 2.250 mudas, mais 3 ha (para tintos)
em 2009, com 8 mil mudas; Sauvignon Blanc - 1 ha em 2006, com 2.250 plantas, mais 1 ha em
2009, com 3.500 plantas, mais 1 ha em 2010, com 3.500 plantas; Sangiovese - 2 ha em 2010,
com 5 mil plantas e, mais recentemente, Montepulciano. A cantina própria está instalada desde
2011, com equipamentos Enovenetta e tanques Albrigi e Verona. As instalações estão dimen-
sionadas para 60 mil garrafas/ano. A Enologia está sob a orientação dos enólogos Anderson
De Césaro e Joelmir Grassi, que seguem o princípio assumido por Eduardo Bassetti: "dar tudo
à uva no campo, extrair dela o melhor na vinícola". O processo de vinificação adota, em vinhos
específicos, a fermentação integral (alcoólica e malolática) giro/ate, em barricas de 400 litros
de carvalho francês, com giro constante, e posterior amadurecimento. A casa elabora vinhos
brancos e tintos, sob a denominação única Villaggio Bassetti. Os tintos trazem nomes próprios.
O VB Primiero 2008 (13,9%) foi um varietal de Cabernet Sauvignon. O Montepioli 2010 é um
corte Cabernet Sauvignon e Merlot, com teor alcoólico natural de 13,0%. O Villaggio Bassetti
Sauvignon Blanc vem demonstrando uma excelente adaptação da casta ao terroir da vinícola.
Isso motivou a vinícola a elaborar o VB Donna Enny Sauvignon Blanc 2012 (14,0%), que descan-
sou seis meses sobre as borras, em barricas novas de carvalho francês, transformando-se num
vinho branco de grande complexidade e estrutura, que vem sendo repetido, sempre que Bas-
setti identifica a colheita com o nível de excelência que exige. Desde 2014, a casa apresenta o
Ana Cristina Pinot Noir, varietal notável da casta, com personalidade e elegância, após 12 meses
VIVALTI, Vinícola
Gr IV - 2015 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empresário Vicente Donini (Marisol e Santinvest),
como realização do sonho de elaborar os próprios vinhos, com a
máxima, em italiano, Bere, Mangiare, Vívere (beber, comer, viver),
grafada em seus rótulos. O nome criou uma palavra que procura
explicitar a condição de vinho de altitude. São 52 hectares de área total, com 16 hectares de
vinhedos, a uma altitude média de 1300 m. Em 3 ha, na parte mais alta da propriedade, está
sendo edificado um verdadeiro complexo enoturístico, que, além da cantina, contará com re-
cepção, anfiteatro, espaço para eventos, bistrô, pousada de charme, uma capela e heliponto. O
primeiro tinto apresentado foi o Vivalti Sangiovese, com uvas da colheita de 2012. O enólogo é
Átila Zavarizze.
CASA CERVANTES
Gr IV - 2010 - VBdT* - (I)
José Marquez de Cervantes, Zeca Marquez ou Pepe Cervantes são
CASA nomes de um mesmo empreendedor espanhol, há muito radicado
CER.VANTES no Brasil. Com negócios principais na área imobiliária, é também
VINHOS Df ALTTr\JDE um apaixonado por vinhos que decidiu elaborar o próprio. Adqui-
riu terras no município de Urubici, alto da Serra Catarinense, e
implantou vinhedos com as variedades que mais aprecia. Em 2012, elaborou o Altitude 1100,
corte entre Cabernet Sauvignon, Merlot e Montepulciano, e o Curucaca, corte entre Sangiovese,
Merlot e Cabernet Sauvignon. Os investimentos caminham ainda em duas direções: enoturismo,
pois Zeca Marquez pretende ter um restaurante fino, e criação de cavalos de raça, outra paixão do
investidor. Aliás, não por acaso, os dois 'C' da logomarca da Casa Cervantes são duas ferraduras.
••
•••
das maiores transportadoras de carga do país. São 13 hectares
de vinhedos, na Fazenda Quinta dos Montes, com as variedades
URUPEMA brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc, além das tintas Cabernet
VINHOS DE AL TIT UDE
Sauvignon, Malbec e Merlot. A produção atual está em 40.000
garrafas/ ano. A vinícola chegou a contar com a consultoria inicial
da conceituada enóloga argentina Suzana Balbo. O vinho Leopol-
do é o ícone da casa, um corte 60% Merlot, com 40% Cabernet Sauvignon, com dez meses de
estágio em barricas novas de carvalho francês, que vem sendo apresentado nas melhores safras,
desde 2007. Há um varietal da Malbec, o Sincelo. Os espumantes são o Stellato (brut rosé) e o
Cellebrato (moscatel de Moscato Giallo) .
CAÇADOR
CHAPECÓ
ADEGAVIEL
Gr IV - 2004 - VBdT* - (C) - EnoT
adegaviel.com.br
A Adega Viel, em Chapecó, é uma vinícola familiar, conduzida pelo
enólogo Edegar Viel, com a participação do filho Guilherme, tam-
bém enólogo. Edegar Viel é um profissional muito experiente, com
passagens em diversos empreendimentos vitivinícolas, depois de
frmúlia Viel ter trabalhado com o mítico Oscar Guglielmone. São 2 hectares
de vinhedos, em área total de 44 hectares. A cantina foi iniciada
no subsolo da própria residência da família, com todo o equipamento necessário. Hoje, porém,
está ampliada, tendo sido construída uma instalação próxima. Com obras em andamento, em
breve deverá ser instalada junto aos vinhedos. As variedades viníferas implantadas são Cabemet
Sauvignon, Malbec, Petit Verdot e Tannat. Os vinhedos são em espaldeira e latada semiaberta. A
produção anual está em, aproximadamente, 12.000 garrafas. Os vinhos finos com a assinatura
Adega Viel vêm conquistando apreciadores. O Viel Cabemet Sauvignon Rosé 2015 é um vinho
de grande equilíbrio, bela cor, aromas leves e ótima presença no paladar. Impressiona-me, po-
rém, a regularidade de excelentes e sucessivas colheitas da Malbec, caracterizando-se um novo
terroir para essa casta, no Brasil. O Viel Malbec 2011, aberto em 2019, exibia evolução, tons
vermelhos-granadas, aromas de compotas de frutas vermelhas e um paladar macio, complexo,
maduro. Vejamos o depoimento de Edegar Viel sobre a elaboração desse vinho: "É proveniente do
primeiro vinhedo de uvas viníferas, protegido com coberturas plásticas, implantado em Chapecó - no oeste ca-
tarinense - em 2009, com mudas importadas da Itália. A primeira colheita ocorreu em 2011, proporcionan-
do uvas com 23, 5 graus babo, gerando um vinho com o teor alcoólico de 13, 1 % vol. As uvas foram colhidas
e selecionadas antes do desengace e fermentadas em fermentadores no sistema Ganimede®, 107 com controle
107 O fermentador Ganimede® é um sistema que utiliza o vapor da própria fermentação, para efetuar extra
ção seletiva e eficaz das substâncias nobres das uvas, explorando o mosto a 100%, sem agressão de
bombas e sistemas mecânicos. Um diafragma (elemento-chave do sistema) forma um espaço no qual o
gás liberado durante a fermentação pode ser armazenado e usado para misturar o mosto/manta, sempre
que é necessário. A marca pertence à Vieirinox, de Aveiro, Portugal.
TANGARÁ
PANCERI, Vinícola
Gr III - 1990 - VBdT - (C)
panceri.com.br
Vinícola familiar criada por Nilo Panceri, com os filhos Celso e
Luiz. Elabora vinhos finos, a partir de uvas de vinhedos próprios,
nas linhas Reserva, com o Nilo Teroldego, outros varietais e o cor-
PANCERI
te Altos, entre Cabernet Sauvignon/Merlot. Há uma outra linha
que apresenta varietais correntes, sob a denominação Panceri, com
rótulos que homenageiam aves regionais. A linha Cortês apresenta
vinhos argentinos e chilenos não safrados, elaborados pela Santa Sara Casa Vinícola, de Mendo-
za, e pela ?Colores, de Maipo. Sob a mesma denominação Cortês, há vinhos de mesa.
TREZE TÍLIAS
KRANZ, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolakranz.com. br
Vinícola familiar criada por descendentes de imigrantes austríacos.
Walter Kranz, empresário com origem no setor automotivo (uma
extensa carreira na Mercedes-Benz), realizou o sonho do negócio
próprio no mundo do vinho, do qual se tornou amante há não
V I NICOLA
muito tempo. Elabora, em cantina própria, espumantes (inclusive
um 100% Cabernet Sauvignon!) e varietais brancos, rosados e tin-
tos, sob rótulos Kranz. Vinifica a partir de uvas compradas em vinhedos de terceiros. O Grupo
Kranz tem investimentos também no setor de tecnologia de ponta e automação. Em razão disso,
a vinícola conta com sistemas únicos de acompanhamento e controle da vinificação. Os recursos
digitais touch screen não somente informam amplamente ao enólogo sobre as ocorrências do pro-
cesso, como oferecem a possibilidade de correções importantes para a obtenção de vinhos de alto
nível. A vinícola conta com a assessoria do competente enólogo Antonio Czarnobay. São desta-
ques o Kranz Espumante Brut Rosé, o Kranz Cabernet Sauvignon, o Kranz Merlot, o Kranz Sauvignon
Blanc, e o Ormetà Cabernet Sauvignon 2013 - Ubaldo by Kranz, com uvas de Campos Novos, da Quinta
das Vinhas, em homenagem ao criador desse empreendimento, o desembargador aposentado Edson Ubaldo.
GENTE que elabora vinhos finos em outros municípios do estado de Santa Catarina,
fora da Serra e do Planalto catarinenses
FLORIANÓPOLIS
ITAJAÍ
MAJOR GERCINO
DIAMANTE
Vinhos Orgânicos Artesanais
Gr V - 2011 - VBdT* - (C) - 'N'
Remy Narciso Simão é um agrônomo comprometido com a agri-
cultura não intervencionista. Em seu trabalho, pesquisa perma-
nentemente métodos de manejo naturais. Assim vem procedendo
no ambiente de 1 hectare no qual implantou um experimento com
Carménere, Cabemet Sauvignon, Montepulciano, Petit Verdot e
Tannat, em latada coberta. Logo nos primeiros anos, foi possível identificar a escolha das vi-
deiras: Petit Verdot e Carménere elegeram a terra como sua, com destaque para a Petit Verdot,
que vem dando origem a bons e promissores varietais. Estou seguro de que, em breve, teremos
muito bons vinhos Diamante. Esse nome, aliás, é uma homenagem do autor à comunidade de
Diamante, onde, diz ele, vivem "amigáveis descendentes de imigrantes alemães, italianos, ucranianos e
luso-brasileiros".
CASASAVOIA
Gr IV - 2011 - VBdT - (I) - EnoT
casasavoia.com. br
Empreendimento destinado à cultura e à produção de vinhos.
■
Foi inaugurado em 2014, após três anos de trabalho dos sócios
Altair Jaime Gava (falecido em 2017) e Durei Feltrin Citadin, agrô-
nomos, Galdino Gava, engenheiro civil, e João Paulo Gava, enge-
nheiro químico. O que desejavam primordialmente esses sócios?
Em 2016, Altair Jaime Gava me respondeu: "Produção de vinhos finos
com uvas selecionadas do Vale dos Vinhedos (Serra Gaúcha) e de São Joaquim (Serra Catarinense). Promover
a disseminação do conhecimento do maravilhoso mundo dos vinhos através de jantares harmonizados, di-
rigidos com vinhos finos de Santa Catarina e outras regiões, nacionais ou internacionais. Criar, manter e
desenvolver a apreciação pelos vinhos finos, através do conhecimento preciso, fundamentado e independente a
ser conseguido através de cursos e palestras". A casa tem oferta permanente de cursos e degustações
orientadas. Os vinhos são: Don Gava Espumante Branco Brut, elaborado pelo método tradicio-
nal, com vinho base 75% Chardonnay + 25% Pinot Noir de Pinto Bandeira, RS; Casa Savoia
Chardonnay; Casa Savoia Merlot; Casa Savoia Cabernet Sauvignon; e Taglio 2015, um corte entre
Merlot (62%), Cabernet Sauvignon (22%) e Tannat (16%), das Serras Catarinense (São Joa-
quim) e Gaúcha (Vale dos Vinhedos), amadurecido em barricas de carvalho francês e americano.
PINHEIRO PRETO
RODEIO
SAN MICHELE, Vinícola
Gr III - 1993 - VBdT - (C)
sanmichele. ind. br
Empreendimento dos enólogos Marcelo Luiz Sardagna e Alber-
to Furlani, que tiveram ampla formação na Itália. Vinícola que
elabora vinhos tranquilos, em especial um varietal de Nebbiolo,
chamado San Michele Barone, e espumantes, apresentados em duas
linhas: Pequenas Reservas - mais complexos - e San Michele, para os
vinhos finos correntes.
TERRAZZO MANFROI
Gr V - 2017 - VBdT (C)
Elisson Ricardo Manfroi é mais um descendente de italianos que
TEIUtA 1
traz o apreço pela vinicultura no sangue. Independentemente dis-
1 so, seguiu uma vida acadêmica natural e se formou em farmácia.
~
Em 2012, começou suas experiências de vinificação. Em 2015, vie-
ram os primeiros vinhos com uvas comuns. Logo fez amizade com
_ ~ Tl~ A BOLITIQUE
o produtor Rogério Gomes (Quinta da Figueira), que o incentivou
e orientou. Em 2017, vinificou viníferas, pela primeira vez, sempre
com uvas de viticultores conhecidos, impressionando pelo padrão muito bom dos vinhos. Sua
cantina é um espaço equipado no terraço do apartamento em que reside, o que inspirou o nome.
Hoje, porém, a área de vinificação foi estendida à casa de praia, em Palhoça. Manfroi é mais
um nome adepto à mínima intervenção. Os rótulos apresentados são variados, entre brancos,
rosados e tintos, sem preocupação de repetir, a cada safra. Em três anos de história, Manfroi já
vinificou uma dezena de vinhos. As uvas têm sido selecionadas nos seguintes vinhedos: Caber-
net Sauvignon: Vinhedos do Monte Agudo (São Joaquim, SC); Moscato Bianco: Vinhedo Serra
do Sol (Urubici, SC); Sauvignon Blanc: Vinhedos Alecrim/Suzin (São Joaquim, SC) e Vinícola
Panceri (Tangará, SC); Malbec: Vinícola Urupema (Urupema, SC); Pinot Noir: Campos de Cima
da Serra; Touriga Nacional: Zanella Back (São Joaquim, SC). O projeto consiste em uma vinícola
urbana, com espaço para visitas e degustações.
■
A organização tem assessoria técnica do Sebrae/SC e da Epagri, além de apoio do governo
do estado de Santa Catarina, da Prefeitura Municipal de Urussanga e da Universidade Federal
de Santa Catarina.
Como informa a Associação ProGoethe em sua página na Internet:108 ''A história da Goethe na
região começa com o regente do consulado italiano Giuseppe Caruso Mac Dona/d, que chegou
ao município de Urussanga no final do século XIX. Sua atribuição era de observar a evolução
das colônias de imigrantes italianos em Santa Catarina, prestando auxílio a sua população e
enviando relatórios à Itália. Nascido na Itália, advogado e jornalista, Caruso Mac Dona/d ti-
nha uma forte relação com a vitivinicultura. Ele mantinha contato com Benedito Marengo, um
imigrante italiano em São Paulo, que foi responsável pela introdução de diversas variedades de
uva no Brasil. A Goethe estava entre essas variedades e foi aportada por Caruso Mac Dona/d
à região de Urussanga e distribuída aos imigrantes. Essa variedade, com o decorrer dos tempos,
mostrou possuir uma boa adaptação à região e também características típicas que diferenciam o
seu vinho das demais variedades e, também, de outras regiões de cultivo (Rebolar et ai., 2007) ".
Mas o objetivo da ProGoethe era fundamentar o processo para identificar a região como
uma Indicação Geográfica da uva Goethe, no que teve apoio também da Embrapa. Assim, com
* Dentro dessa delimitação existe uma área chamada "Vales da Uva Goethe" - com
458,9 km 2, localizada nas bacias do rio Urussanga e do rio Tubarão -, na qual deve
ser produzida a uva utilizada na elaboração dos produtos da IP Vales da Uva Goethe.
* A elaboração dos vinhos da IP se dá exclusivamente com uvas da variedade Goethe
(originalmente designada como "Roger's 01", a Goethe foi obtida nos EUA no século
XIX a partir do cruzamento entre as variedades Moscato de Hamburgo e Carter) e
seus clones, como Goethe Primo (mutação da Goethe ocorrida em Urussanga na
década de 1950).
* Os vinhedos são tradicionalmente cultivados em !atadas, existindo limites máximos
de produtividade associados à qualidade dos produtos.
* Os vinhos são elaborados e engarrafados essencialmente na área geográfica delimitada.
* Os espumantes podem ser elaborados pelo método tradicional ou Charmat.
* Os produtos são autorizados para comercialização somente após terem sido
submetidos aos controles do Conselho Regulador da IP, garantindo a conformidade
da produção em relação aos requisitos estabelecidos no Regulamento de Uso.
* Cada garrafa de vinho da IP Vales da Uva Goethe possui um selo de controle
numerado, possibilitando a rastreabilidade dos produtos.
109 Cf. Velloso, Carolina Quiumento. Indicação geográfica e desenvolvimento territorial sustentável: a atuação
dos atores sociais nas dinâmicas de desenvolvimento territorial a partir da ligação do produto ao território
- um estudo de caso em Urussanga, SC. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas), Centro de Ciên-
cias Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2008. 166 p.
ffl
VIGílA mAzon
nhos Goethe, pensava em ter viníferas. Como empreendedor nato,
convidou o amigo, também agrônomo, Carlos Eugênio Daudt, para
uma sociedade no cultivo de viníferas e elaboração de vinhos finos,
em sua propriedade. Os vinhedos de Cabernet Franc, Merlot e Cou-
derc foram implantados no início dos anos 1980, e os primeiros vinhos finos, engarrafados em
1986. Com a morte prematura de Mazon, aos 48 anos, em 1988, o projeto feneceu. Uma enorme
perda. Ainda hoje, a Vigna Mazon tem garrafas de tintos íntegros dessa época. A vinícola segue
administrada pela viúva Giselda, com a filha Patrícia, elaborando diversos vinhos e em intensa
atividade enoturística.
I Curitiba
Associação de Produtores
Associação dos Vitivinicultores do Paraná, com os seguintes asso-
ciados: Cave Colinas de Pedra, em Piraquara; Vinhos Santa Felici-
dade, em Curitiba; Vinícola Araucária, em São José dos Pinhais;
T Família Fardo, em Quatro Barras; Famiglia Zanlorenzi e Vinícola
VINOPAR_ Legado, em Campo Largo; Vinícola Franco Italiano, em Colom-
~,·><.x·r.çAo oc,.:
·,1 T1v l1ii(LLTC; ;: ; bo; Guaravera, em Londrina; Paschovino e Crevelim, em Maringá;
Bertoletti, em Bituruna; e Vinícola RH, em Mariópolis.
Família Fardo
Campo la rgo ----
Legado
Zanlorenzi
Co lombo
Franco-Italiano
CAMPO LARGO
LEGADO, Vinícola
Gr IV - 2006 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolalegado.com. br
Cheguei a essa produtora pela ação incessante de busca de novas
iniciativas vitivinícolas do diretor da empresa Sul Rio Represen-
tações, Milton de Souza. A Vinícola Legado está localizada na
região conhecida como Bateias, no município de Campo Largo.
Vê-se logo uma clara referência aos garimpos, ali estabelecidos
no século XIX, mostrando-nos mineralidade no solo. No passa-
do, a propriedade se dedicava ao gado leiteiro. Em 1998, foram
feitos os primeiros experimentos de viticultura com viníferas, a
partir de incentivo do vizinho, o desembargador Antônio Vida!. Confirmadas as virtudes da
região, em 2006 Heloise Merolli, a proprietária, iniciou o projeto, com a implantação de 5
hectares de vinhedos. As variedades cultivadas são as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot e
Pinot Noir. As brancas são Viognier e Fiano di Avelino. Essa casta vem da Campania, no sul
da Itália. Não é muito produtiva, em volume, mas tem mostrado muito bons resultados de
qualidade nos vinhos, numa clara adaptação ao ambiente da Vinícola Legado. O Sfizio Fiano
vem se mostrando um varietal de grande frescor, aromas amplos, boa acidez e ótima presença
no paladar, com notas de abacaxi e mel. Embora marcado pela leveza, o Sfizio Fiano é gas-
tronômico. Logo nos faz lembrar de variados pratos. O espumante Flair Brut tem a versão
Millésime. É sempre elaborado com vinho base 100% Viognier, com uvas de alta qualidade,
ZANLORENZI
Vinícola Campo Largo
Gr II - 1942 - VM- (C)
famigliazanlorenzi.com.br
Vinícola fundada por Carlos e Julia Zanlorenzi, como Zanlorenzi
& Irmão Ltda., em Campo Largo, Paraná. Em 1977, abriu uma
filial em São Marcos, RS. Em 1991, passou a se chamar Vinhos
FAMIGLIA
~LORENZI Campo Largo, mudando para Vinícola Campo Largo em 2005. A
partir de 2010, chegou à denominação atual. As duas unidades,
hoje, têm finalidades distintas. Em São Marcos, a Vinícola Serra
Gaúcha mantém parceria com mais de mil famílias de viticultores, de 16 municípios da região,
os quais entregam suas uvas à cantina, para os cuidados iniciais do processo de vinificação.
Ali, é possível armazenar mais de 10 milhões de litros de derivados de uva. É nessa unidade
que nascem os vinhos finos e espumantes premium do grupo. A cantina paranaense - Viní-
cola Campo Largo - tem capacidade instalada para envasar mais de 37 mil garrafas por hora e
pode armazenar mais de 4 milhões de litros de vinho. O Grupo Vinícola Famiglia Zanlorenzi
mantém ainda parcerias internacionais na Argentina e no Chile, para importação de vinhos
finos. O portfólio de produtos é amplo, especialmente vinhos de mesa, em grande variedade
de rótulos. O enólogo é o jovem Mateus Poggere, aliás, de uma família comprometida com os
vinhos: além de uma pequena vinícola em São Marcos, tem, entre seus membros, Patrícia Po-
ggere, enóloga com experiência internacional. A Vinícola Serra Gaúcha elabora dois varietais
finos, um Merlot e um Chardonnay, ambos barricados em carvalho novo francês Allier.
QUATRO BARRAS
ARAUCÁRIA, Vinícola
Gr IV - 2007 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaaraucaria.com. br
Empreendimento concebido por oito sócios, com o desejo de ver a
região metropolitana de Curitiba (Paralelo 25° S) mais inserida no
~IA
I mundo do vinho fino. Os agrônomos Adolar Adur e Pedro Galli-
na, o arquiteto Enio Perin e os empresários Renato Adur, Erivaldo
Costa de Oliveira e César Henrique de Oliveira, assessorados pelos
também sócios enólogos gaúchos Anderson Schmitz e Marcos Vian,
iniciaram o projeto em 2009, com a escolha da área, a 950 metros
de altitude, a preparação e a implantação dos vinhedos. São 4 hectares, nos quais se encontram
as variedades brancas Chardonnay e Viognier, além das tintas Cabernet Franc, Cabernet Sauvig-
non, Merlot, Pinot Noir, Nebbiolo e Teroldego. Os vinhedos estão em expansão e já receberam
variedades resistentes. Os prédios da cantina, varejo e restaurante são projetos do escritório de
Enio Perin. O planejamento é de 40 mil garrafas por ano. A produção está organizada em três li-
nhas: espumantes Poty, homenageando o muralista paranaense Poty Lazzarotto; varietais premium
Angustifólia Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, lembrando o pinheiro do Paraná; e a linha de
varietais correntes Gralha Azul Cabernet Franc e Merlot, recordando a ave símbolo da região. Os dois
primeiros vinhos comercialmente lançados foram o Poty Lazzarotto Espumante Brut Champenoise, um
corte entre Chardonnay e Pinot Noir, na proporção 70 a 30, e o tinto Araucária Angustifólia Cabernet
Sauvignon 2012 (13,5%). Foram cerca de 5 mil garrafas de cada, distribuídas entre lojas especializa-
das e restaurantes do Paraná. Em 2018, os vinhos Angustifólia, tintos das colheitas iniciais, ainda
se mostravam vivos e brilhantes, com grande presença no paladar. As safras mais recentes têm
confirmado o elevado padrão dos vinhos Araucária. Recentemente, a vinícola lançou seu primeiro
BITURUNA
OI SANDI, Vinícola
Gr III - 2002 - VM - (C)
Quase às margens do lago da represa da hidrelétrica de Foz do
Areia, está o empreendimento da família Di Sandi, região sudeste
do estado, com vinhedos próprios e cantina, onde elaboram su-
cos, destilados, vinhos de mesa e os varietais de viníferas Di Sandi
Moscato Giallo, Di Sandi Merlot e Di Sandi Cabernet Sauvignon.
MARINGÁ
11 O A vinícola informa que as uvas entram em fermentação efetiva, gerando álcool natural e vinhos alcoólicos,
sendo "desalcoolizados" posteriormente. O processo difere do que leva à obtenção do suco de uva, pois
este se realiza pelo aquecimento das uvas. Veja em: www.ladorni.com.br.
RH, Vinícola
Gr IV - 2008 - VBdT* - (I)
O município de Mariópolis está situado no sudoeste do Paraná,
na fronteira com Santa Catarina. Foi ali, em área própria de 9,6
hectares, que o casal Waner Herget e Odilete Rotava Herget de-
cidiu implantar 3 hectares de vinhedos de Chardonnay e Pinot
Noir, para dedicação exclusiva a espumantes pelo método tra-
dicional. A cantina é própria e muito bem equipada. Além de tanques de inox, tem ambiente
climatizado específico para 1.800 garrafas de espumante em processo de tomada de espuma e
rémuage (giro diário das garrafas, para homogeneização da bebida, nos móveis piramidais chama-
dos pupitres). Já apresenta um espumante nature, cujo vinho base 100% Chardonnay estagiou
por 24 meses em carvalho americano, um extra brut, um brut branco e um rosé, além de dois
meio-secos e um moscatel. São 25.000 litros por ano, em expansão para 50.000 !/ano.
TOLEDO
DEZEM, Vinícola
Gr IV - 2004 - VBdT* - (I) - EnoT
dezemvinhosfinos.com. br
Empresa familiar nascida do sonho do empresário Amélio Dezem
■
(farmácias de manipulação e outros negócios) e de sua mulher, Su-
san Dezem. O desejo era inserir sua região no mapa vitivinícola
brasileiro, por meio de vinhos brasileiros de terroir. O casal mantém
vinhedos próprios (10 hectares), nos quais desenvolve experiências
de aclimatação de variedades, na busca da melhor relação entre o terroir e a cepa. O solo naquela
região tem forte presença de dióxido de ferro (magnetita), oferecendo características minerais
aos vinhos. A cantina é um prédio de estilo hispânico, edificado para a função. Os enólogos são
os jovens, mas experientes Anderson Schmitz e Marcos Vian. A Dezem apresenta seus vinhos
sob três denominações: os vinhos básicos têm o nome Magne (terra); os premium são chamados
Extrus (água); os super premium são os Atmo (ar). O Magne Malvasia é um dos vinhos secos da casta
mais típicos entre os elaborados no Brasil. O Atmo Merlot é a expressão clara do terroir, com uma
deliciosa mineralidade. A Vinícola Dezem mostrou, em 2007, uma atitude típica da busca por
excelência, bem característica dos investidores desse grupo de empresas produtoras de vinhos
finos. Amélio e Susan convidaram 16 formadores de opinião do mundo dos vinhos, de São Paulo
e do Rio de Janeiro, para uma visita de dois dias à cantina. Os grupos partiram das duas capitais,
em voos fretados, diretamente para a cidade de Toledo. Lá, foram recepcionados pelo casal e,
entre as diversas atividades, realizaram uma prova dos vinhos que haviam sido elaborados até
então, entregando suas notas à empresa. Depois disso, a Dezem mergulhou nas considerações
dos convidados, interrompeu a oferta de vinhos ao mercado e realinhou a produção, aplicando
diversas recomendações. Participaram do evento, de São Paulo: Álvaro Cezar Galvão (Divino
ltuverava
ltobi
São José do Rio Preto
Espírito Santo do Pinhal
Ribeirão Preto
' 5·
..
São Paulo, assim como Minas Gerais, vem se beneficiando do cultivo por dupla poda ou
ciclo invertido da videira e expandindo consideravelmente seus vinhedos. Alguns municípios,
antes historicamente dedicados aos vinhos de mesa, têm buscado conhecer mais sobre as
possibilidades da colheita de inverno.
Apresentaremos, a seguir, lugares onde uvas finas são cultivadas e vinhos finos elaborados:
São Roque e municípios vizinhos; leste do estado e macrorregião de Campinas; Mantiqueira
alta; noroeste do estado e alta mogiana, entre outros locais.
o- -
o- -
o- -
o-
o-•-·-
o
SÃO ROQUE
SÃO ROQUE
QUINTA DO OLIVARDO
Gr III - 2007 - VM - (C) - EnoT
quintadoolivardo.com. br
Realização de Olivardo Sarchi, a partir do desejo de elaborar os
próprios vinhos. De origem italiana e esposa de raízes portugue-
QUINTA
.J,,Qd1,~ sas, Olivardo criou uma ilha de sabores e costumes lusitanos, em
pleno roteiro do vinho de São Roque. O amplo espaço tem um
restaurante inspirado na culinária da ilha da Madeira, com des-
taque para os bacalhaus e o pastel de nata. Os vinhos nascem de 2 hectares de vinhedos e são
majoritariamente de mesa, embora Olivardo tenha um Cabernet Sauvignon. Toda a produção
é comercializada na própria Quinta. Olivardo resgatou a história dos "vinhos dos mortos"
e, regularmente, oferece aos visitantes a oportunidade de enterrar vinhos escolhidos, que
repousarão sob a terra até o regresso dos que os esconderam. Essa história remonta a 1807,
quando Portugal foi invadido por Napoleão. Os zelosos portugueses, para não serem saqueados,
enterravam o que havia de mais precioso, e, entre esses itens, as suas garrafas de vinho. Abriam
buracos no meio das videiras, embaixo dos tonéis e ao lado dos lagares. Após a reconquista do
território, desenterravam seus vinhos, encontrando preciosidades.
Como pequeno produtor, ainda encontramos, em São Roque, a QUINTA MORAES, com
produção iniciante de vinhos finos.
AMPARO
TERRASSOS, Vinícola
Gr III - 2003 - VM + VBdT - (I) - EnoT
terraços.com.br
Projeto iniciado pelo empresário Luiz Nascimento, com o filho
enólogo Fábio Luiz Nascimento. São 12 hectares, dos quais 3 hec-
tares com vinhedos implantados. As variedades são as tintas Má-
ximo - híbrida desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Cam-
pinas (IAC) - e Syrah, além das brancas Moscato Embrapa, Rainha (outra híbrida desenvolvida
pelo IAC) e Sauvignon Blanc. Tanto quanto possível, a casa tem buscado cultivo orgânico. Ali,
faz-se cultivo por dupla poda e também por manejo tradicional. A colheita de inverno é desti-
•·
Empreendimento de propriedade do executivo do setor de ferti-
lizantes e produtor rural Mario Alves Barbosa Neto. Os vinhedos
são próprios, na Fazenda São Pedro, que tem área total de 250 hec-
FLOReSTa
J,,, Pe-.ü, tares, com a maior parte em café e pastagem. Os vinhedos estão
assim distribuídos: 4 ha de Sauvignon Blanc e 1 ha de Syrah. O
J\ objetivo é atingir entre 20 e 25 ha de uvas plantadas em até 3 anos
e instalar uma cantina própria. As vinificações ainda ocorrem nas
instalações da Epamig, em Caldas, MG.
GUASPARI, Vinícola
Gr IV - 2006 - VBdT* - (I) - EnoT
vinicolaguaspari.com.br
A Vinícola Guaspari (Agrícola Guaspari Indústria e Comércio de
~. Vinhos) é uma das empresas, entre várias, de um amplo conjunto
criado por Paulo Brito, empresário que atua desde a mineração
GUASPARI até a geração de energia, passando por gestão e participações.
Com a possibilidade do manejo de vinhedos pelo ciclo invertido
da videira, com dupla poda, decidiu investir em vinhos finos com a esposa, Ângela Guaspari
de Brito. Conta a história de que a família desejou, um dia, criar um labirinto de plantas.
Ocorre que um jardineiro sugeriu que aproveitassem videiras que estavam sendo arrancadas
de uma outra propriedade. A família aceitou a ideia. Chegaram as videiras, foram implantadas
e prosperaram. Assim, se já estavam propensos à vitivinicultura, o êxito com aquelas primei-
ras plantas consolidou o projeto. Antes, porém, foi contratado um mapeamento detalhado da
propriedade, que constatou mais de 200 hectares de área, nos quais os subsolos apresentam
o fenômeno de intrusão granítica, o que proporciona ótima drenagem. E mais: investigações
topográfica e edafológica levaram a família Guaspari Brito a demarcar microrregiões para a im-
plantação dos vinhedos, denominados pelas vistas que proporcionam. São 12 áreas, cada uma
PARZIALE Vinhos
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I) - EnoT
pousadadovinhedopinhal.com.br
Luciano Parziale é um arquiteto atuante na profissão, com sítio de
1,2 hectare na área urbana do município de Espírito Santo do Pi-
VINHOS
nhal. Integrou a equipe de projeto e execução das instalações da Vi-
nícola Guaspari. A partir de então, decidiu implantar uma pequena
área de vinhedo em sua propriedade. Começou implantando mudas de Syrah, Cabernet Sauvig-
non e Malbec. Em pouco tempo, constatou a franca adaptação da casta Syrah e eliminou as outras.
Atualmente, são 1.500 plantas, em 0,2 hectare. Todo o processo é assessorado pela Epamig, de
Caldas, MG, onde as vinificações são realizadas, sob a orientação da enóloga Isabela Peregrino. A
primeira vinificação foi a da colheita de 2011. Os vinhos Parziale Syrah das colheitas de 2017 e
2018 são varietais a 100% da casta, com estágio de meses em barricas novas de carvalho francês,
com 14,0% de teor alcoólico. O Parziale Syrah apresenta um tom rubi intenso, aromas frutados
ITOBI
CASA VERRONE
Gr IV - 2009 - VBdT* - (I)
casaverrone.com.br
•
O empresário Mareio Vedovato Verrone, até o ano 2000, era um
apreciador. Naquele ano, decidiu caminhar um pouco mais e mer-
CASA VER.RONE gulhou no assunto 'vinhos', por meio de cursos, leituras e encon-
tros técnicos. Pronto: em 2009, começou a implantar seus vinhe-
dos em 3 hectares de terras, que, em 2017, já atingiam 20 hectares.
Para isso, ele procurou a Epamig e o vitivinicultor Murillo de Albuquerque Regina, para ingres-
sar no novo mundo dos vinhos a partir de videiras com o ciclo invertido de produção, ou seja,
com a colheita no inverno. É exatamente essa forma de plantio que vem inserindo o Sudeste
brasileiro no cenário da elaboração de vinhos finos de terroir. Mas esse processo sempre depende
do microclima e da casta. Como veremos adiante, as uvas do Speciale Chardonnay são de ciclo
normal e as uvas do Speciale Syrah são de ciclo invertido. Toda a elaboração dos vinhos Casa
Verrone ocorre nas instalações da Epamig, em Caldas, MG, pelas mãos da competente e sensível
enóloga Isabela Peregrino, enquanto não se concretiza a construção de uma cantina própria,
ainda em projeto. Os vinhos estão organizados em duas linhas: a de entrada, chamada Casa Ver-
rone, e a linha superior, batizada de Casa Verrone Speciale. O Casa Verrone Speciale Chardonnay
2017 (13,0%) é um varietal a 100% da casta, de uvas cultivadas nos vinhedos de Divinolândia,
a 1.300 m de altitude, colhidas em ciclo normal, em janeiro daquele ano. O vinho fermentou
em barricas de carvalho e depois nelas estagiou por quatro meses. Com uma cor palha muito
brilhante, seus aromas nos fazem lembrar abacaxi maduro, pera, um toque de melão e evoluem
para sensações resultantes do estágio nas barricas de carvalho francês . No paladar, é untuoso e
nos envolve com muito boa acidez, ótimo volume e boa persistência. O Casa Verrone Speciale
Syrah 2016 (14,0%) é um varietal a 100% da casta, de uvas cultivadas nos vinhedos de Itobi, a
840 m de altitude, colhidas em ciclo invertido, em julho daquele ano. A fermentação foi realizada
em tanques de aço inox, com rígido controle de temperatura. Teve maceração longa (21 dias) . O
vinho estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês. O resultado é um tinto de muito
bom corpo. Mostra um rubi intenso, com muito brilho. Os aromas nos levam à amora madura e
compotas de frutas escuras, entre outros. No paladar, tem grande presença, com taninos vivos,
mas domesticados. Mostrou-se macio e persistente. A Casa Verrone tem, ainda, um espumante
brut branco, um rosé de Syrah e os vinhos de entrada. O Casa Verrone Brut exibe grande cremo-
sidade, e as bolhas muito pequenas movimentam-se em alta velocidade. Tem grande frescor, com
aromas daquela pera macia, certamente causado pela proporção de 75% da Chardonnay, no corte
do vinho base, complementado com 25% de Pinot Noir. O vinho ícone da casa é o Casa Verrone
Gran Speciale Cabernet 2015. Trata-se de um corte entre Cabernet Franc (67%) e Cabernet
JUNDIAÍ
Bragança Paulista, Jundiaí, Jarinu e outros municípios do leste do estado de São Paulo e
da macrorregião de Campinas têm história com a vitivinicultura. Essa história se escreve com
um expressivo número de pequenos produtores e por iniciativas acadêmicas e empresariais,
ligadas à uva e ao vinho. Apresento, a seguir, os exemplos da Etec e da Enoconexão, bem como
o tradicional produtor Passarin.
PASSARIN Bebidas
Gr III - 1927 - VM - (C)
Tradicional produtora de bebidas destiladas e fermentadas, para
consumo corrente. Adquire uvas americanas na Serra Gaúcha, para
seus vinhos de mesa. Eventualmente também oferece o Mastela Ca-
bernet Sauvignon, vinho fino tinto seco elaborado com uvas adquiri-
das no município de Nova Pádua, na Serra Gaúcha.
TERRA NOSSA
Vinhos de Inverno
Gr IV - 2014- VBdT* - (C) - EnoT
Iniciativa de um grupo de amigos agrônomos e enólogos, coorde-
nada por Edsandro Rocha, o Sandro. Tudo começou com o desejo
de André Sano, Cristian Sepulveda, Otávio de Luca, Roberto Fer-
rari e Sandro de elaborarem vinhos próprios para suas rodas de
conversa. Acontece que os experimentos tiveram tanto êxito, que
os amigos decidiram constituir uma sociedade formal. São dois vi-
nhedos com área total de 1,50 hectare, com a variedade Syrah, em Santo Antônio do Jardim, a
920 m de altitude. Um outro, em Espírito Santo do Pinhal, com 10 hectares, foi iniciado em
2018, com a implantação de 2 hectares e, depois, mais 4 hectares de Syrah, 1 hectare de Caber-
net Sauvignon e 1 hectare de Cabernet Franc. O vinho de estreia foi o Terra Nossa Syrah 2016,
14,5%, vinificado em cantina artesanal própria, e com estágio de um ano em barricas de carvalho
francês de segundo uso. Mostrou uma cor rubi intensa, aromas frutados com leves notas de
baunilha e especiarias. No paladar, boa acidez, taninos vivos e um ótimo volume, precisando
de tempo na garrafa. O vinho da colheita de 2017 seguiu o mesmo perfil, mas mostrou-se mais
delicado. Atualmente, a Terra Nossa finaliza a construção de uma cantina maior, muito bem
instalada, na qual terá também a atividade de enoturismo, além de ter constituído a Terra Nossa
Consultoria, para assessoramento a empreendimentos de vitivinicultura, já contando com mais
de uma dezena de clientes
Espírito
Santo
Esse é mais um lugar onde vinhos finos são elaborados e cujo contorno ainda carece de
definição precisa, inclusive porque pode unir áreas em municípios paulistas e mineiros. Entre
as características visíveis, está a altitude, quase sempre acima dos 1.000 m. As áreas são
frequentemente acidentadas, e a altitude pode chegar a 1.600 m. Os municípios de São Bento do
Sapucaí e Campos do Jordão despontam como novos produtores que experimentam as culturas
pelo ciclo invertido da videira e pelo ciclo regular, simultaneamente, com vinhos de inverno e de
verão. A vizinhança de São Bento do Sapucaí com os municípios mineiros de Piranguçu e Sapucaí
Mirim, com semelhanças de topografia, solo e clima, vem configurando esse novo lugar onde
vinhos finos são produzidos e que ultrapassa fronteiras geopolíticas. Veraldi, Carbonari e Ferreira
são alguns dos nomes que recentemente passaram a elaborar vinhos brasileiros de terroir, com
presença no mercado. O agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael foi o protagonista que, ao implantar
os próprios vinhedos e elaborar vinhos finos, exerceu involuntária motivação entre residentes e
visitantes. Sim, visitantes, pois diversos proprietários de casas de veraneio em Campos do Jordão
solicitaram a consultoria de Veraldi Ismael e implantaram vinhedos de viníferas para vinhos finos
nos próprios jardins.
CAMPOS DO JORDÃO, SP
FERREIRA, Vinícola
Gr IV - 2010- VBdT* - (I) - EnoT
Dormovil Ferreira é um engenheiro eletrônico com larga experi-
~ Vinícol~ ência em tecnologia da informação, segmento ao qual se dedicou
<;1;) Ferreir~ por muitos anos, adicionando mais recentemente a construção
civil. Ele é um amante de vinhos desde a juventude, muito prova-
BAÚ 9.4
Fazenda Portal da Luz
Gr IV - 2010- VBdT* - (I)
,'
BAU ~
A Fazenda Portal da Luz é um cenário estonteante, em 84 hectares
de área. Do alto da montanha, a cada ângulo que se olhe, se vê a
natureza viva, exuberante. Se sentem aromas singulares, inebrian-
-- 9.4
tes. Tudo envolvido pela aura da imponente Pedra do Baú, com
seus 1.950 m de altitude. É esse o ambiente que Marcelo e SoniaMotta elegeram como território
de seus vinhedos, a mais de 1.000 m de altitude, em plena Serra da Mantiqueira paulista. Ali,
numa propriedade que também cultiva castanhas portuguesas, eles implantaram 3,5 hectares de
viníferas. Escolheram as brancas Viognier e Pinot Grigio, além das tintas Cabernet Sauvignon,
Malbec, Petit Verdot, Pinot Meunier, Pinot Noir e Syrah. Em princípio, adotam o manejo pelo
ENTRE VILAS
Gr V - 2006 - VBdT* - (I) - 'N' - EnoT
entrevilas.com.br
Rodrigo Veraldi Ismael é um engenheiro agrônomo, formado pela
conceituada escola da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de
Botucatu. Em 2006, implantou 0,5 hectare de viníferas no Viveiro
Frutopia, sítio localizado numa altitude superior aos 1.600 metros,
no qual já produzia algumas frutas, além de azeitonas e castanhas
portuguesas. Foi o primeiro produtor comercial brasileiro de lúpulo.
Além do azeite extravirgem que elabora, Rodrigo cria porcos alimentados com castanhas, buscando
reproduzir criações alentejanas e espanholas. Ali também se faz um bom marron glacé. As videiras
são conduzidas em espaldeiras, cultivadas pelo ciclo normal, e são protegidas permanentemente,
com capas plásticas, contra chuva e umidade. As castas são Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon,
Pinot Noir e Syrah. Recentemente, o produtor criou um vinhedo novo, com 2,5 hectares, no qual
implantou a casta Pinot Noir e um pequeno teste de Chardonnay e Sauvignon Blanc. Parte dos
vinhos é amadurecida em carvalho francês Allier. A produção é muito pequena. Os vinhos são
sempre criações, inovações a cada colheita. Os tintos, em geral, são potentes, com taninos ricos,
recomendando tempo de garrafa para afinamento. Rodrigo se inclui entre os autores naturais. Ele
não usa agrotóxicos, não chaptaliza e não usa SOr A safra de 2019 nos oferece: Equinócio - um
vinho laranja de Sauvignon Blanc; Vento - um rosado de Shiraz, Corredeira Pinot Noir; Gnaisse
- um Cabernet Franc de maceração carbônica, estilo beaujolais nouveau; Montesa - um varietal de
Cabernet Franc; Confluência - corte entre Cabernet Sauvignon (60%) + Cabernet Franc (20%) +
Malbec (20%); Obsession Cabernet Sauvignon; e Grimpa111 Shiraz. No local, Rodrigo mantém o já
conhecido Restaurante Entre Vilas, onde oferece uma slow food característica. A pequena cantina é
muito bem instalada e cuidada. Está localizada no subsolo do restaurante.
111 Nome atribuído à folha espinhosa da Araucária. Evidencia aromas e sabores resinados da Shiraz.
SÍTIO POLESANO
Gr IV - 2016 - VBdT* - (I)
René Bailo e Evellin Takahashi formam um casal urbano, com ativi-
G
"a, dades profissionais em São Paulo, no mundo corporativo. Ambos,
POLESANO
... GAÍCOl" porém, têm origens rurais. Talvez por isso sonhem com um futuro
mais ameno, no campo. O Sítio Polesano está projetado para a nova
fase do casal. Ali, já estão plantadas figueiras e oliveiras. Iniciaram o projeto vitivinícola (vinhos
pessoais), com a consultoria de Rodrigo Veraldi Ismael. Implantaram videiras de castas italianas,
mas as mudas não prosperaram, e o projeto foi reconcebido. Desde 2017, estão com Sauvignon
Blanc, da Rasip Agropecuária. Em 2019, implantaram Merlot e Syrah, do viveiro Vitácea Brasil.
Serão, no total, 2000 plantas, em cerca de 1 hectare, em espaldeiras cobertas. Todo o manejo
se dá pelo ciclo normal, com colheita de verão. O nome Polesano busca manter a memória da
origem familiar de René, no Vêneto. Aliás, em 2020, o projeto avançou com uma retomada de
castas italianas. Foram implantadas as tintas Aglianico e Teroldego, além da branca Manzoni.
ITUVERAVA
PENÁPOLIS
FERRACINI, Vinícola
Gr III - 2014 - VBdT - (I) - EnoT
Empreendimento familiar liderado pelo casal Fabio e Poliane Fer-
fffi
FERRACINI
racini, integrando a produção de uvas viníferas e a elaboração de
vinhos e sucos com atividades enoturísticas. A Vinícola Ferracini
DESDE 2014
oferece permanentemente visitas guiadas, para que o visitante co-
nheça todo o processo de elaboração de vinhos, do vinhedo à canti-
na. Os vinhedos são manejados tanto em ciclo normal, com colheitas de verão, quanto por dupla
poda, para colheitas de inverno. As variedades implantadas são viníferas e de mesa. Cabernet
Sauvignon, Merlot e Tannat vêm respondendo positivamente. A cantina própria foi inaugurada
em 2016. A casa elabora diversos vinhos finos suaves, o que não é tão comum entre produtores
de viníferas. Ipê, Jacarandá e Flamboyat (sic) são marcas de vinhos finos tintos secos Ferracini.
Os espumantes têm a denominação Ferracini. Há, ainda, as linhas Donna Emília e La Casa Cen-
tenária, ambas para vinhos de mesa.
RIBEIRÃO PRETO
SÃO CARLOS
ANTERO LISCIOTTO
Gr V - 1999 - VBdT* - (I)
Antero Lisciotto e a esposa, Alice, mantêm o Sítio Jequitibá há muitos anos, no distrito de Água
Vermelha, município de São Carlos. São 12,1 hectares de área. Com o conhecimento do manejo
de videiras pelo ciclo invertido, ele, um juiz aposentado, decidiu ingressar na vitivinicultura.
Implantou vinhedos de Syrah (1.000 plantas) e Cabernet Sauvignon (200 plantas). As plantas de
Cabernet Sauvignon não prosperaram e foram erradicadas. Em 2003, com o assessoramento de
Murillo Albuquerque Regina, Lisciotto implantou mais 2.000 mudas certificadas de Syrah, em
clone pré-enxertado, adquiridas da empresa SARL Salettes Pépiniere Viticole, da França, e outras
500 mudas clonadas de Cabernet Sauvignon, estas adquiridas da Vitácea Brasil, de Caldas, MG.
O vinhedo chegou a ter quase 5.000 plantas, depois reduzidas a 1.500, para manejo pessoal por
Lisciotto. Logo começou a elaborar os próprios varietais da Syrah, numa cantina própria, bem ao
estilo doméstico, mas com orientação do professor Mário Francisco Mucheroni, da USP, campus
de São Carlos. Seus vinhos evoluíram e são apreciados pela família e amigos. Tive a oportunidade
de apreciar as safras de 2004, 2008, 2010 e 2016 e atestar uma elaboração muito correta, para
bons vinhos, inclusive com aptidão à longevidade.
FAZENDA AMAZONAS
Gr IV - 2006 - VBdT* - (I)
FAZ ,~D
Empreendimento concebido pelo casal Paulo e Aline Girardi, em
AMAZONAS propriedade de aproximadamente 100 hectares, com vocação imo-
biliária, pois parte está em área urbana do município. A plantação
das videiras foi iniciada em 2006, como um hobby, para manejo pelo ciclo invertido, com dupla
poda e colheita de inverno. Nas palavras deles, "gostamos de vinhos e decidimos conhecer mais sobre a
produção do vinho". A fazenda Amazonas tem um projeto urbanístico em desenvolvimento, pelo
escritório do arquiteto Jaime Lerner, em parceria com a urbanizadora Emais. Os vinhedos ocu-
pam 0,8 hectare, com 60% de Cabernet Sauvignon e 40% de Syrah. Os proprietários analisam
a possibilidade de realizar experiência com uvas para vinho branco. O enólogo chileno Cristian
Rodriguez é amigo e consultor informal da família. Hoje, o francês Antoine Le Court presta as-
sistência na mudança do cultivo para orgânico e biodinâmico. Segundo os proprietários, "é uma
OUTROS LUGARES onde vinhos finos são elaborados no estado de São Paulo
PARDINHO
Nesse município, situado na região central do estado, a queijaria Pardinho Artesanal criou
a Pardinho de Beber e vem desenvolvendo vinhos especiais, com equipe própria, utilizando a
infraestrutura da Vinícola Vivente, em Colinas, RS.
■
povoam nosso imaginário, como uma síntese de quem somos: curupira,
saci, boto e tantos outros. "Pretendemos demonstrar a ligação e o respeito do
nosso produto e nossa f arma de trabalho com a natureza, com os ancestrais e com
a cultura brasileira", explica Guilherme.
JAMBEIRO
Jambeiro, município vizinho a São José dos Campos, próximo à rodovia Presidente Outra.
VINHO D'ALMEIDA
Gr III - 2002 - VBdT - (I)
Iniciativa de Joaquim de Almeida Netto e família, em município
vizinho a São José dos Campos, próximo à rodovia Presidente Ou-
tra. Ali, desde 2002, foram implantados vinhedos com 3 mil pés de
Cabernet Sauvignon, conduzidos em espaldeiras. Os vinhos, como o D'Almeida Cabernet Sauvig-
non 2005, com 12,0% de teor alcoólico, eram elaborados em cantina própria e comercializados
localmente.
RIBEIRÃO BRANCO
I
1 1
O estado de Minas Gerais está organizado em 12 mesorregiões, 112 com 853 municípios,
sendo o estado da federação com o maior número de municípios. Em sete mesorregiões,
já encontramos viticultura de uvas viníferas. Mas, antes de comentar sobre os lugares onde
vinhos finos são elaborados no estado de Minas Gerais, devo citar que, não obstante uma
história secular de cultivo de videiras, inclusive viníferas, os avanços da vitivinicultura
mineira, no campo dos vinhos finos, devem-se, fundamentalmente, ao trabalho da Epamig
Uva e Vinho 113 e aos estudos do agrônomo Murillo de Albuquerque Regina sobre a inversão
do ciclo das videiras.
Organização de pesquisa
Epamig Uva e Vinho (Núcleo Tecnológico de Caldas) - Divisão
~
fi')
•...
da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, dedica-
da aos estudos sobre vitivinicultura. A Estação Experimental de
EPAMIG Caldas foi inaugurada, em 1936, pelo presidente Getúlio Vargas.
Foi instituída como órgão de pesquisas do Ministério da Agri-
cultura, sendo um dos três primeiros centros de pesquisas especializados em uva e vinho no
Brasil, ao lado das estações experimentais de Caxias do Sul, RS, e de Jundiaí, SP. A instalação
no sul de Minas Gerais ocorreu por ser a região grande produtora de uvas e vinhos. Ali já ha-
via, na época, milhares de hectares de videiras e centenas de adegas, responsáveis em grande
parte pelo abastecimento de vinhos ao Sudeste do país. A Estação Experimental de Caldas
112 Noroeste; Norte; Jequitinhonha (onde estão Datas e Diamantina); Vale do Mucuri; Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba; Central Mineira; Metropolitana de Belo Horizonte (onde está Serro); Vale do Rio Doce; Oeste;
Sul e Sudoeste (onde estão Andradas e Caldas); Campo das Vertentes e Zona da Mata.
113 Setor dedicado à vitivinicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais.
114 Órgão do lnstitut National de la Recherche Agronomique, estabelecimento público de caráter científico e
tecnológico francês, voltado á pesquisa em agronomia, fundado em 1946.
Trata-se de uma região que tem vitivinicultura de vinhos de mesa desde os anos 1920.
Antes, porém, teve até cultura de viníferas, extirpadas por ocasião da chegada da filoxera.
Hoje, conta com vinhedos de viníferas em Andradas, Andrelândia, Baependi, Boa Esperança,
Caldas, Cordislândia, Itamonte, Itanhandu, Jacutinga, Santa Rita de Caldas, São Sebastião do
Paraíso, Três Corações, Três Pontas, Varginha e, mais acima, já na região chamada de oeste
mineiro, em Santo Antônio do Amparo.
Em Andradas está a sede da Vinícola Piagentini, que, após uma longa experiência com o
terroir da região, expandiu sua ação à Serra Gaúcha, mais especificamente em Caxias do Sul,
onde elabora vinhos finos a partir de uvas compradas de pequenos produtores escolhidos. Em
Andradas ainda estão a Vinícola Basso e a Vinhos Marcon. Em Santo Antônio do Amparo,
o empresário Rodrigo Carrara Peixoto se prepara para lançar o Insólito, vinho fino tinto seco
produzido a partir de uvas também da variedade Syrah. A primeira safra de 4 mil garrafas
será comercializada em estabelecimentos de Belo Horizonte. Em Jacutinga, a família Pioli
implantou vinhedo de Syrah e já vem elaborando os primeiros varietais da casta.
ANDRADAS
CASA GERALDO
Gr II - 1968 - VBdT - (C) - EnoT
casageraldo.com.br
A família Marcon tem tradição de décadas no cultivo de videiras,
na elaboração de vinhos e na gastronomia, em Andradas, sul de
Minas Gerais. Luiz Carlos Marcon lutou muito para ver sedimen-
CASA GERALDO tado o nome que se fortalece a cada dia, especialmente depois de
à;/~6 @Í»tw- assumir o cultivo de uvas viníferas, com a adoção do ciclo inver-
tido da videira, com a dupla poda e a colheita de inverno. Vale
registrar que, por muitos anos, o desejo de elaborar vinhos finos de alto padrão fazia com que a
família Marcon fosse ao Rio Grande do Sul adquirir uvas, transportando-as até Andradas, para
STELLA VALENTINO
Gr IV - 2008 - VBdT* - (C)
stellavalentino.com.br
Empreendimento familiar, criado e gerido pelo agrônomo José
~
Procópio Stella, com o irmão Cleiber, sob a tradição que carregam
de Valentino Stella, imigrante do Vêneto, que chegou ao Brasil em
. STELLA VALENTINO
1888. São 4 hectares de vinhedos com as viníferas tintas Syrah e
Tempranillo, além das brancas Sauvignon Blanc e Riesling. A vi-
ticultura está a cargo do proprietário, que acompanha rigorosamente os vinhedos. Procópio
adotou o manejo com dupla poda, para colheitas de inverno, e já vem oferecendo períodos de
descanso às plantas, em ciclos que ainda são objeto de estudos e, portanto, sem os intervalos
definidos. As vinificações ainda são realizadas na Epamig, em Caldas, MG, sob a coordenação
da enóloga Isabela Peregrino. Prevê-se a conclusão das obras de uma cantina própria para a co-
lheita de 2020. Os vinhos Modestus 2017, um varietal da Syrah, e Angelus, um Tempranillo da
mesma safra, mostraram-se muito típicos. O Angelus, aliás, já tem a titulação de "vinho nobre
tinto seco", de acordo com a Instrução Normativa nº 14, de 8/2/2018, do Mapa, em razão da
graduação alcoólica de 14,3% que atingiu. O Lonoris, um Sauvignon Blanc da colheita de 2018,
mostrou-se com ótima acidez e bem característico da casta.
ANDRELÂNDIA
CALDAS
JACUTINGA
PIOU
Gr IV - 2015 - VBdT* - (I)
Empreendimento do casal Luiz Marcelo e Crisley Fernandes de Andrade Pioli, na fazenda na qual
já produz café. O município deJacutinga é uma estância hidromineral e é considerada a "capital
nacional da malha". Aliás, Luiz Marcelo Pioli é empresário com origem na área de fiação de fibras
artificiais e sintéticas. A produção comercial do projeto vitivinícola marca início para 2020. Com
assessoria do agrônomo Edsandro Rocha e outros profissionais, foram implantadas as varieda-
des Syrah, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, a partir de 2017. A meta do casal é ter vinhos de alto
padrão, pensando, inclusive, no mercado externo, para o qual já exporta café.
"É uma bela homenagem à mulher que atuou na Inconfidência Mineira e viveu nas terras do
atual município de São Gonçalo do Sapucaí, até a morte, aos 60 anos, em 1819. Ela foi casada
com Alvarenga Peixoto, numa emocionante história de vida que a vinícola resgatará num museu.
Os terrenos da vinícola estão numa área onde, no passado, ficavam algumas das chamadas 'catas
de ouro', das quais Alvarenga Peixoto era proprietário. Quando o movimento foi descoberto, ele
foi preso, declarado 'infame', pela Coroa Portuguesa, e enviado a Ambaca, atual Província de
Cuanza Norte, em Angola, onde morreu, aos 50 anos, em 1792. Barbara Heliodora era o pseu-
dônimo da crítica literária e teatral carioca Heliodora Carneiro de Mendonça".
HERDADE VIELA
Gr V - 2013 - VBdT* - (I)
Projeto vitivinícola de vinhos pessoais, do hematologista e onco-
logista clínico Gustavo Fernando Veraldi Ismael, em plena Serra
da Canastra. Vinhedo com 1 hectare, em que estão implantadas
as castas brancas Chardonnay, Moscato Giallo e Sauvignon Blanc,
além das tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Tannat. Toda a
vinha é sempre coberta e manejada pelo ciclo normal, com colheita
TRÊS CORAÇÕES
TRÊS PONTAS
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;11"'~ . ·°51"'~ .·-:::-
mento vitivinícola, nascido no seio da Fazenda Capetinga, locali-
zada em Boa Esperança, mas que tem sede jurídica no município
de Três Pontas em que Milton Nascimento viveu na infância e
na adolescência. Por isso, a família Junqueira Nogueira, proprietária da fazenda cafeeira, ho-
menageia nosso compositor e cantor com o nome da música [Maria, Maria/É um dom, uma
certa magia, uma força que nos alerta [. ..]/É o som, é a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta/
De uma gente que ri, quando deve chorar 115 ]. Contam que quando Milton soube da ideia, teria in-
CERRADO MINEIRO
(hoje considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014)
Trata-se de uma grande região, cujo contorno ainda está por definir. Embora com um
histórico de vitivinicultura, como veremos adiante, teve impulso com o manejo de vinhedos
com dupla poda e colheita no inverno, no século XXI. Em João Pinheiro (Vale do Paracatu), na
Fazenda Salvaterra II, aconteceu uma parceria público-privada entre os proprietários da fazenda
e a Epamig. As uvas Syrah foram colhidas na fazenda e vinificadas na Vinícola Experimental
Amintas Assis Lage, do Núcleo Tecnológico Epamig Uva e Vinho, em Caldas, no sul de
Minas, dando origem ao primeiro Syrah do Cerrado, o Epamig Syrah 2006, com 12,5% de teor
Cruzeiro da Fortaleza
lbiá, Monte Carmelo
Serra do Salitre
Patos de Minas
Associação de Produtores
Avodaj - Associação dos Vitivinicultores e Olivicultores de Diamantina e Alto
Jequitinhonha, com os produtores Álvaro Diniz e Leonardo Andrade (Quinta do Campo
Alegre), Daniel Barrote (Quinta da Matriculada - Vinhedo Fazenda Candeias), João Francisco
Meira (Quinta D'Alva), Manoel Bueno (Vinícola Buenos Momentos), Eduardo Pompeu
(Sítio Vale dos Vinhedos -vinhos Vesperata), Demóstenes (só vinho de mesa), Douglas Vale
(produz individualmente, em pequena escala), Vinhedo da Toca, Vinhedo Santa Helena,
Vinhedo Candeia Torta, Vinhedo Riacho das Varas, Vinhedo Fazenda do Sapê, Vinhedo Sítio
das Lajes, no município de Datas, além de Cláudio Mareio Pereira de Souza e Marcelo Araújo
Caldeira, Luciano Vial.
DIAMANTINA
VESPERATA, Vinícola
Gr IV - 2011 - VBdT* - (I)
Iniciativa do casal Eduardo e Madalena Campos, em 0,5 hectare de
~
vinhedo dedicado à casta Syrah, numa altitude de 1.300 m, e im-
plantado a partir de 2011 , em plena Serra do Espinhaço. O vinho
Vesperata Syrah 2016 é um varietal a 100% da casta, de colheita de
SERRO
QUINTA DA LAPA
Gr IV - 2017 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empresário Marcelo Galery (Bar da Esquina - Belo Horizonte), que implantou 1
hectare de Syrah, mais 0,5 hectare de Sauvignon Blanc, no distrito de Pedro Lessa, município do
Serro, onde nasce o rio Jequitinhonha. A primeira colheita foi em julho de 2019. A assessoria
agronômica é de Mateus Meira.
Esse novo lugar de vinhos finos brasileiros vem sendo realizado por gente da cafeicultura,
com grande entusiasmo, nos municípios de Cruzeiro da Fortaleza, Ibiá, Monte Carmelo,
Patos de Minas e Serra do Salitre, podendo chegar a outros municípios, em breve.
■ Potrocinio
■ Som, do 5a1;,,..
■ Cc...,,.ndal
■ Abod<> dos Dou«xlo,
Cuimar6nio
Cnneiro da Fortaleza
■ Pato1 da Minas
■ Monto Cc<mdo
■ f'onf,u,s
tbia
■ Protônho
Ira, de Minas
■ """"
■ Ccmpo, Altos
''A.pós o evento na Epamig, decidi iniciar um projeto aqui na Região do Cerrado. Para dar início
a esse projeto, contatei o consultor Dr. Frederico Nove/li e o Dr. Murillo A. Regina, consultor da
Vitácea Brasil, para fazer uma análise de viabilidade no novo terroir e nos assessorar na implan-
tação de um vinhedo através de premissas técnicas conhecidas para a região.
Verificou-se que o novo terroir, a região do Cerrado de Minas Gerais, apresenta características
do solo, climáticas e de altitude excepcionais, o que possibilita uma relação perfeita com a Tec-
nologia de Manejo da Dupla Poda. O período de maturação das uvas durante o outono/inverno
é bem definido, caracterizado por dias quentes, com temperaturas de 25 a 27°C e noites frias,
com temperaturas de 7 a 12ºC, além da diversidade de tipos de solo geralmente profundos, com
boa capacidade de drenagem e com altitudes variando de 850 a 1.250 m de altitude. Portanto,
pode-se dizer que as condições são ideais para produção e maturação da uva, fato anteriormente
inimaginável em regiões tropicais (somente o período da maturação pode estender-se de meados
de abril, quando se inicia a pintura, até final de julho/início de agosto, muitas vezes ultrapas-
sando os 100 dias de maturação).
As variedades recomendadas, atualmente, ainda são Syrah e Sauvignon Blanc, muito adaptadas
à dupla poda, com bom potencial produtivo, o que nos proporcionaria a produção de vinhos de
altíssima qualidade. Tem-se realizado diversos estudos com novas variedades e porta-enxertos.
Outro ponto levantado e bastante favorável foi a identificação de otimização de recursos, pela ati-
vidade que exercemos atualmente aqui na Região do Cerrado. Nossa região é predominantemente
... . .
Flávio Bambini Cruzeiro Fortaleza 0,5 0,25 0,75
Getúlio Paiva Aguiar lbiá 0,75 o 0,75
Carlos de Ávila Neto lbiá 0,25 o 0,25
Daniel Bruxei Patos de Minas 2 8 10
Luiz Monguilod Monte Carmelo o 0,5 0,5
Marcelo Balerini Serr3 do Salitre o 2 2
14,25
CRUZEIRO DA FORTALEZA
"Dei o nome de 'Projeto Fortaleza' ao início da vitivinicultura na minha área própria, situada
na Fazenda Fortaleza, no município de Cruzeiro da Fortaleza, MG, região do Cerrado Mineiro.
O projeto foi implantado no dia 15 de outubro de 2015, com o plantio de 0,5 hectare de Syrah
e mais algumas variedades para suco de uva. O objetivo é a produção de 2,5 mil garrafas, e,
dentro desse módulo, entenderíamos os desafios técnicos da nova cultura em uma nova região, o
manejo, criaríamos know-how para expansão posterior da área. Hoje posso dizer que me sinto
muito orgulhoso por ter sido o pioneiro da cultura na região.
BARBACENA
Como relatei no início do livro, alguns produtores que seguem os ditames da chamada
produção natural prestigiam castas americanas. A enóloga Viviane Badaró trabalha as castas
Niágara e Niágara Rosada com tanto capricho, que me impressionou. Ela elabora vinhos
veganos, portanto com fermentação espontânea, a partir de leveduras selvagens, sem adição
de sulfito e sem filtragem, que atingem um teor alcoólico de 7,0%. As uvas são próprias e
cultivadas pelo ciclo normal, com colheita no verão. A linha se chama Alquimia e a empresa
é a Vinícola Vivinho.
Zona da Mata MG
VIEIRAS
SERRA DO CIPÓ
Enquanto fechávamos o conteúdo desta edição, lançava-se, em Minas Gerais, o
empreendimento Vinhas do Cipó Wine & Resort, no mesmo princípio de condomínio de
residências com acesso a vinhedo e cantina, nos moldes de vários projetos existentes na
Argentina e do empreendimento Vinhas do Morro, em Morro do Chapéu, BA, na Chapada
Diamantina.
Rio de Janeiro
O cultivo de videiras no estado do Rio de Janeiro teve sua época, no século XIX. A história
do município de Nova Friburgo, na Serra Fluminense, traz registros de viticultura e de
vinicultura. Consta que o vinhateiro Alexandre Burnier, imigrante suíço do Cantão de Vaud,
plantou mais de 1Omil parreiras. Ele teria sido até recompensado pelas autoridades imperiais,
por ter produzido o primeiro vinho da região, na Fazenda de Morro Queimado. Esse é apenas
um dos casos citados pela professora de História do Direito da Universidade Candido Mendes,
Janaína Botelho, autora do livro Histórias e memória de Nova Friburgo . Ela destaca até um anúncio
publicado no periódico O Friburguense, de 26 de março de 1892, que dizia: "Ennes & Lusitano
tem sempre grande quantidade de vinhos superiores de uvas fabricadas e aperfeiçoadas n'esta cidade e
por isso pede a todos os seus fregueses para o coadjuvar n'este novo melhoramento industrial". Sobre
vitivinicultura em Nova Friburgo, aliás, não nos surpreendamos caso, em breve, tenhamos
produção pelo agrônomo Ricardo Salles, que implantou suas primeiras mudas no segundo
semestre de 2019, e de outros empreendedores. Também no município de Teresópolis, na
rodovia que liga a cidade a Nova Friburgo, já identificamos o nascimento de pelo menos um
projeto vitivinícola. Aqui, em Gente, lugares e vinhos do Brasil, queremos exatamente isto: avançar
na identificação das experiências contemporâneas de vitivinicultura Brasil afora.
PARAÍBA DO SUL
INCONFIDÊNCIA, Vinícola
Gr IV - 2010- VBdT* - (I) - EnoT
vinicolainconfidencia-rj.com.br
Empreendimento do engenheiro José Claudio Rego Aranha, asses-
V I NÍCOLA
INCON FID ÊNCIA sorado, inicialmente, por Murillo Albuquerque Regina, o introdu-
tor da cultura do ciclo invertido da videira entre produtores do Su-
deste brasileiro. Por essa técnica, apenas para recordar, as videiras
passam por dupla poda, uma em agosto, outra em janeiro. Com
isso, são levadas a frutificar no inverno, época na qual as condições
climáticas são consideradas ideais. São 6 hectares de vinhedos, im-
plantados a partir de 2010, com as brancas Sauvignon Blanc e Viognier, além das tintas Syrah,
Cabemet Franc e Cabemet Sauvignon. Há outras castas, inclusive italianas, em pequenas áreas
em testes. O projeto começou a se concretizar a partir da excelente qualidade das uvas da colhei-
ta de 2015, com um vinho branco e um tinto. A viticultura está sob a orientação do agrônomo
Mateus de Oliveira Meira. Os vinhedos estão em franco desenvolvimento. Mas o projeto ainda
está em implantação, num rigoroso planejamento de fases. Era necessário confirmar o êxito com
as uvas e com os vinhos, para iniciar a construção de uma cantina própria, já concluída. Durante
a fase inicial, até a colheita de 2017, as uvas eram transportadas durante a noite até Caldas, MG,
na Epamig, onde eram vinificadas, sob os cuidados da entusiasmada enóloga Isabela Peregrino.
Em 2018, não houve vinificações. A colheita de 2019 foi a primeira vinificada na própria cantina,
muito bem equipada, sob o comando do enólogo Mario Lucas dos Santos Ieggli. Os primeiros
vinhos apresentados foram o branco Inconfidência Sauvignon Blanc 2015 (13,2%) e o tinto In-
confidência Cabemet Franc 2015 (12,9%) . O vinho branco trouxe personalidade própria, iden-
tificando a casta, mas mostrando maior complexidade aromática e de paladar do que os vinhos
que são referência dela. O tinto mostrou-se um típico varietal dessa bela casta bordalesa, tendo
sido elaborado tradicionalmente, com fermentação e estabilização em tanques de aço inox, com
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• Distrito de Paraíba do Sul
Secretário
Santa Teresa está na Microrregião Central Serrana do estado do Espírito Santo (hoje
considerada zona de produção, pelo Decreto 8.198/2014), a 675 metros de altitude, com
temperatura média de 18°C e índices pluviométricos elevados. Terra de Augusto Ruschi,
patrono da Ecologia do Brasil, é mais um lugar de grande beleza serrana brasileira. Povoado
por imigrantes italianos, tem séria disputa com os ítalo-descendentes da Serra Gaúcha sobre
a primazia dessa cultura na chegada ao Brasil. A história da cidade de Santa Teresa registra:
"Segundo o sociólogo italiano Renzo M. Grosselli, a Expedição de Pietro Tabacchi foi o primeiro
caso de partida em massa de imigrantes da região norte da Itália para o Brasil. A primeira
viagem de imigrantes aconteceu no dia 3 de janeiro de 18 74 do Porto de Gênova, em um navio
a vela, o 'La Sofia', na expedição Tabacchi, e a segunda pelo 'Rivadávia', ambos de bandeira
francesa. O 'La Sofia' chegou ao Brasil em 21 de fevereiro de 1874, com 386 famílias para as
terras de Pietro Tabacchi, em Santa Cruz. Contudo, oficialmente, a imigração teve início no
Brasil com a chegada do navio 'Rivadávia', que aportou em 31 de maio de 1875, com 150 famí-
lias italianas, encaminhadas para Santa Leopoldina, dentre as quais 60 famílias seguiram para
Timbuí, onde no dia 26 de junho de 1875 foram contempladas com lotes territoriais, fundando
assim Santa Teresa, denominada então, a primeira cidade de Colonização italiana do Brasil". 11 7
Os produtores da região vêm adotando espaldeiras altas e inversão do ciclo das videiras,
com dupla poda, com variedades viníferas, para superar as características do clima quente e
úmido. Em compensação, se beneficiam de ótima amplitude térmica. A região exige irrigação
em determinados períodos do ano, para não submeter as plantas ao estresse hídrico. A maior
luta dos produtores de Santa Teresa se trava com as aves, o que exige vinhedos cobertos com
117 Fonte: Grosselli Renzo M. A Expedição Tabacchi e a Colônia Nova Trento. São Paulo: Artgraf. Gráfica e
Editora Lida., março de 1991. Disponível em: www.santateresa.es.gov.br/site/pagina/historia/90/2.
DOMINGOS MARTINS
CARRERETH, Vinícola
Gr IV - 2016 - VBdT* - (I)
Iniciativa do empreendedor Rodolpho Carrereth, com os filhos
Juliano (dentista) e Anderson (médico) . A família tem origem
francesa, na região dos Pirineus, em Oloron-Sante-Marie. A área,
CARRERETH situada a 1.000 m de altitude, é própria. O solo é composto: 65%
arenoso, 33% siltoso e 2% argiloso. Em decorrência, a drenagem é
muito boa, especialmente ainda pela presença de pedras de cristal
grafite. O clima é ameno durante todo o ano. As temperaturas no vinhedo oferecem condições
favoráveis para o manejo por dupla poda, talvez com um ciclo um pouco mais longo que o en-
contrado no sul de Minas Gerais e norte de São Paulo, pela altitude e proximidade do oceano. Os
80 km que separam a área desse empreendimento do oceano Atlântico proporcionam influência
de brisas úmidas e frescas . Já foram implantadas sete mil plantas das variedades Syrah, Ca-
bernet Sauvignon, Merlot e Sauvignon Blanc, adquiridas na Vitácea Brasil. Em 2019, fez-se a
primeira vinificação experimental na Epamig, em Caldas, MG. É mais um projeto de natureza
familiar em que pai e filhos, apreciadores de vinhos, viram na elaboração de rótulos próprios
a possibilidade de ampliar relações. Nas palavras de Juliano: "Pois bem, encontramos no vinho e no
campo (rural) uma alternativa que não poderia ser mais acertada, uma vez que a vitivinicultura demanda
tanta paixão, sonho e dedicação que foi capaz de tornar ainda mais forte o amor e a união entre nós (pai e
filhos). O vinho antes já nos unia como hobby e gosto, mas nada comparado ao tempo que hoje passamos
juntos envolvidos neste mundo do vinho". A família Carrereth projeta cantina própria, de modo a
vinificar na propriedade em 2022.
CANTINA MATTIELLO
Gr III - 1996 - VM- (C) - EnoT
cantinamattiello.com.br
A saga da imigração italiana no Brasil, no final do século XIX, é
liif ( ANTI NA repleta de histórias. Falamos bastante, aqui neste livro, sobre a sua
ifi
---• MATTI ELLO
presença no Sul do Brasil. No entanto, um considerável grupo de
imigrantes foi para a Serra Capixaba, como no caso de Attilio Mat-
tielo, que se deparou com um fruto desconhecido, abundante naquela região: a jabuticaba. O
hábito do vinho o fez desenvolver a fermentação daquela frutinha que parecia uma uva e criar o
'vinho de jabuticaba'. Com o tempo e as condições de vida melhorando, as famílias foram tendo
acesso a mudas de videiras americanas e nascia a cultura do vinho (de uvas) em Santa Teresa.
Foi exatamente assim com Viviane Mattielo, neta de Attilio. A Cantina Mattielo, fundada por Vi-
viane, é hoje uma empresa que elabora grande volume de vinhos de mesa, sucos, licores, geleias
e outros produtos. Atua também no agroturismo, recebendo visitantes na bela cantina, situada
no bairro São Lourenço, em Santa Teresa. Recentemente, Eliton Stanger, o Mattielo da geração
atual, estudou sobre dupla poda e implantou vinhedos com Marselan, Sangiovese e Tannat. Em
2017, engarrafou um corte com 40% de Sangiovese, 35% de Marselan e 25% de Tannat, que re-
cebeu lascas de carvalho, no tanque, por quatro meses. O vinho mostrou-se promissor. O mesmo
corte da colheita de 2018, então no tanque, sem madeira, estava ainda mais complexo. Com toda
certeza, caso a Cantina Mattielo decida adicionar vinhos finos a sua carta de vinhos e persistir no
aprendizado, terá muito êxito.
118 Resveratrol, como já mencionado, mas vale lembrar, é um polifenol encontrado principalmente nas
sementes de uvas, na casca das uvas escuras e, por consequência, no vinho tinto. Estudos têm mostrado
os benefícios do resveratrol como estimulante dos índices do colesterol HDL, chamado colesterol do bem,
e redução do colesterol do mal, o LDL.
~ (
COCALZINHO DE GOIÁS
GIRASSOL, Vinhedo
Gr IV - 2014- VBdT* - (I) - EnoT
Sérgio Resende é um experiente empresário. Entre inúmeras ini-
~ \'INllll)<l ciativas bem-sucedidas, conduziu a Importadora Zahil, (depois,
~ GIRA\\()[
Espaço Vino) , em Brasília, quando criou seu primeiro rótulo pes-
PARAÚNA
SERRA DAS GALÉS Vinícola do Cerrado
Gr IV - 2004 - VBdT* - (I)
O médico Sebastião Ferro já cultivava vitis labruscas em sua proprie-
dade de 32 hectares, até que decidiu implantar as viníferas Syrah e
Touriga Nacional, com mudas importadas de Portugal, adotando o
manejo por dupla poda, com colheita no inverno. Os vinhedos estão
localizados no 'Vale da Felicidade', integrante da Serra da Portaria,
em pleno Cerrado Goiano. A altitude é de 700 m e a latitude aproximada, de 17° S. O primeiro vi-
nho fino da Vinícola Serra das Galés foi o Muralha 2016 - Vinho Fino do Cerrado, um corte entre
vinhos das duas viníferas cultivadas. Esse vinho foi repetido nas safras de 2017 e 2018. O Serra
das Galés Muralha 2018, apreciado em 2020, mostrava uma bela cor rubi intensa, aromas que nos
remeteram à ameixa madura, ao chocolate, café, tabaco e notas vegetais, num belo corpo. Nitida-
mente, a Touriga Nacional amaciava a Syrah. Aos dois anos de garrafa, estava jovem. A cantina,
inaugurada em 2007, está sob o comando dos enólogos gaúchos Valdir Cristófoli e Flávio Novelo.
São produzidas 150 mil garrafas/ano de vinho de mesa, o Cálice de Pedra, e 4 mil garrafas/ano do
vinho fino do Cerrado, o Muralha, envelhecido em barricas de carvalho francês e americano. Em
2018, a Vinícola Serra das Galés passou por expansão, no sentido de atingir 10 mil garrafas por
ano de vinhos finos. Em breve, a Vinícola Serra das Galés apresentará o Muralha Premium, um
corte especial entre Touriga Nacional, Malbec, Cabemet Sauvignon, Syrah e Tempranillo.
370 Ro ge ri o D ard ea u
Lugares onde vinhos finos são elaborados
no estado da Bahia
CHAPADA DIAMANTINA
Essa experiência de viticultura foi iniciada em 2010, com incentivo do governo do estado
da Bahia e apoio da Embrapa, por meio da Associação de Criadores e Produtores de Morro de
Chapéu e Região, com projeto de elaboração de vinhos finos e abertura ao enoturismo. Em
2011, foram implantadas as variedades Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Tannat,
Malbec, Merlot, Syrah, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Muscat Petit Grain. Os primeiros
vinhos foram elaborados na cantina da Vinícola Terranova, do Miolo Wine Group. Os vinhedos
iniciais somavam apenas 2 hectares, no município de Morro do Chapéu, embora iniciativas
paralelas também tenham ocorrido em Mucugê e Rio de Contas. Os projetos preveem
irrigação. Atualmente, já há uma dezena de produtores trabalhando com afinco na formação
desse novo terroir, que vem tendo acompanhamento da Embrapa Uva e Vinho, especialmente
do pesquisador Giuliano Elias Pereira. A implantação de vinhedos de viníferas na Chapada
Diamantina é, sem dúvida, uma ação de caráter coletivo. Vejo, no entanto, protagonismo do
engenheiro agrônomo Jairo Pinto Vaz, a quem solicitei depoimento especial para Gente, lugares
e vinhos do Brasil. Trata-se de um mineiro de Pedra Azul, formado pela Universidade Federal
de Viçosa, em 1976, com especialização em Engenharia de Irrigação, em Israel. Ele detalha:
"No ano de 1985 fui trabalhar no Vale do Rio São Francisco, no polo Juazeiro/Petrolina com
fruticultura irrigada, e lá participei do desenvolvimento da cultura de uvas de mesa, com a intro-
dução das variedades de uvas sem sementes. Fui sócio e diretor técnico de duas importantes em-
presas de exportação de frutas, a Frutinor e a Frutimag, onde permaneci até 2007. Nesse período
tive a oportunidade de conhecer as mais importantes regiões vitivinícolas do mundo, visitando
vinhedos e vinícolas na França, Itália, Espanha, Portugal, África do Sul, Chile, Argentina, Es-
MORRO DO CHAPÉU
RECONVEXO, Vitivinícola
Gr IV - 2018 - VBdT - (I)
Iniciativa dos investidores Murilo Plínio Nogueira Ribeiro e Rafael
Gonçalves Bezerra de Araújo, esse projeto está em fase de implan-
RE~ ONVEXO tação, com vinhedos e previsão futura de cantina. As mudas de
V INE YA A D
Malbec foram implantadas em outubro de 2019, seguidas de uma
área experimental com mais seis castas, para testes. Tem irrigação,
GARANHUNS
Os negociantes de vinhos (négociants a vins) sempre foram muito importantes na França. Esses
profissionais ou empresas avaliam, compram e frequentemente criam vinhos com os produtores,
para uma comercialização mais ágil. Trata-se de compreender que o produtor pode elaborar
bons vinhos, mas pode não saber, necessariamente, levá-los à mesa dos consumidores. Entram,
então, esses profissionais ou empresas em cena: eles sabem apreciar vinhos e têm os meios para
a oferta. Em geral, decidem estilos, cortes e tempos de barrica, determinam os engarrafamentos,
definem rotulagens com o próprio nome e comercializam. O "instituto" dos negociantes (em
bom português) é tão antigo que ações correspondentes são encontradas na Europa desde a Idade
Média. No Brasil ainda há poucos, mas o movimento, com novos nomes, é expressivo. O livro Vinho
fino brasileiro, de 2015, trazia uma relação com quatro negociantes e um restaurante com vinhos
próprios. Na época, não estava listada nenhuma delicatéssen. Passados cinco anos, os negociantes
cresceram 450%: agora, são 18. Dos quatro iniciais, citados em 2015, dois saíram de cena. O
que explicaria esse vertiginoso crescimento desses atores focados em vendas? No meu ponto de
vista, uma das fortes razões para isso é a constatação de que elaboramos vinhos muito bons, mas
não sabemos identificar apreciadores, clientes. Temos tido dificuldade de desenvolver estratégias
para chegar a eles. Literalmente, nossos produtores de vinhos finos, como sempre, salvo algumas
exceções, não são bons em comercialização! Então, abre-se um espaço aos profissionais experientes
em vendas, conhecedores de vinhos e do mercado brasileiro, que vem sendo ocupado. O papel
dos negociantes brasileiros é muito relevante, pois eles atuam na difusão dos vinhos brasileiros de
terroir, conquistando apreciadores e ampliando mercados. Vale aqui uma lembrança: comerciantes
de bebidas finas e donos de restaurantes (restaurateurs) que realizam parcerias com produtores,
objetivando vinhos com o nome do estabelecimento, para comercialização na própria casa, não são
negociantes, mas têm também contribuição decisiva na formação de consumidores qualificados,
igualmente divulgando nossos vinhos finos e incrementando as demandas por eles. Aqui, neste
novo livro, além dos negociantes, aparecem ainda três restaurantes e quatro delicatéssens. Como
sabemos, é tarefa difícil, para os não iniciados, receber uma carta de vinhos, num restaurante, e
decidir qual vinho acompanhará o prato. Por outro lado, treinar garçons para indicarem vinhos
também não é simples. Isso é ação de um sommelier, que a grande maioria dos restaurantes não
consegue manter. Então, ter um vinho previamente selecionado, rotulado como o nome da casa,
facilitará muito a orientação e a decisão do cliente. Apenas para esclarecer, o negociante distribui em
rede; o dono de delicatéssen ou restaurante (restaurateur) oferece aos clientes em determinado ponto
de venda. Os donos de restaurantes que buscam rotular vinhos próprios são muitos. A listagem aqui
exposta ainda poderia incluir a Casa Sarchi, de São Paulo, e a Casa Piva, no Rio de Janeiro, sobre as
quais não foi possível ampliar informações. Os nomes apresentados a seguir estão codificados como
neg (negociante), dei (delicatéssen) e res (restaurante). Todos têm espaços próprios na Internet.
~ll,1J
. J\ ex-professor universitário em Vitória, ES, que fez do vinho fino bra-
sileiro um projeto de vida. Enófilo desde a juventude, viu o prazer
pelo vinho envolvê-lo por completo, até a decisão de mudar-se para
Bento Gonçalves e concluir formação em Enologia, no IFRS. Criou o
ADEGA DO CHAMON" blog Adega do Chamon, com orientações precisas e farta informação
WlhoseEsruma'ltesdoBra51I
AMITIÉ
(Bento Gonçalves, RS - 2018) Neg
A sommeliere Andreia Gentilini Milan e a enóloga Juciane Casa-
AMITIÉ
e grande Doro têm uma longa amizade e experiências consolidadas
no mundo do vinho brasileiro, berço de ambas. Exatamente por
isso, amadureceram projeto de vinhos próprios e se lançaram pela
via nobre dos espumantes, criando a empresa Vitis Comércio de Alimentos e Bebidas Ltda., com
um nome fantasia muito representativo: Amitié. "Escolhemos esse nome (amizade, em francês) pela
nossa relação de anos no mundo do vinho, a qual propiciou esse projeto único", destaca Andreia, que com-
plementa: "É uma bebida [o espumante brasileiro] para celebrar os bons momentos e encontros. Os nos-
sos espumantes Amitié são produtos joviais", observa ela, que também atua como gestora e consultora
de empresas e instituições do setor vitivinícola. Os espumantes são elaborados pela Cooperativa
Vinícola São João, em Farroupilha, RS, e são apresentados nas versões Amitié (Moscatel, Brut e
Rosé), além da versão Amitié Cuvée - Brut e Brut Rosé. O Amitié Cuvée Brut e o Brut Rosé têm
vinho base a partir do corte entre Chardonnay e Pinot Noir. "Buscamos desenvolver produtos dentro
do perfil que o exigente consumidor brasileiro busca nas duas principais categorias de preço de mercado, com
a melhor relação custo/beneficio", explica, por sua vez, Juciane. O lançamento oficial da linha aconte-
ceu em 26 de setembro de 2018, no Espaço de Eventos Bem Vino, em Bento Gonçalves, durante
ARTELÍQUIDA
(Gramado, RS - 2018) Dei
ArteLíquida é um projeto que aproxima as culturas vitiviníco-
las do Brasil e da Argentina, pelas mãos de dois profissionais: o
enólogo e viticultor mundialmente reconhecido Matias Micheli-
ni (Passionate Wines e Super Uco) e o sommelier, mercador de
vinhos e vinhateiro Cristiano Davoglio Ribeiro. Como este último
nos explica: "Nossa busca é a identificação dos melhores terroirs do
Brasil com o intuito de produzir vinhos autênticos, naturais e com a menor intervenção possível. Vinhos que
reflitam a identidade de nossa terra. Matias, com uma vasta experiência na elaboração de vinhos autorais
na Argentina, um clima completamente diferente do Sul do Brasil, acredita que grandes vinhos possam ser
elaborados aqui; no entanto, vinhos com outras características, 'vinhos de chuva' ou 'vinhos de paisagem'".
Cris Ribeiro, com mais de 15 anos de experiência no mercado de venda de vinhos (San Tao e
Mercadores de Vinhos) e na área educacional do vinho, como sommelier, passa agora para o
outro lado da mesa, tornando-se produtor. Diz ele: "O entendimento do mercado do vinho na área
do varejo e restauração me ajuda a entender bastante o estilo de vinhos que gostaria de vinificar. ArteLíqui-
da torna-se um lindo desafio: unir duas culturas distintas em prol de um bem maior, honrar a cultura e a
história do vinho brasileiro, mas assentar padrões altíssimos de qualidade. Não queremos provar ou impor
nada, mas queremos, sim, mostrar que o Brasil pode se tornar um grande produtor no cenário internacional,
através de uma identidade própria". As uvas são compradas de viticultores muito bem selecionados
pelos sócios e vinificadas nas instalações da vinícola Stopassola, em Gramado. Os vinhos estão
totalmente regularizados e saem com registros formais de produção, daquele produtor, para co-
mercialização direta pela Mercado de Aromas e Sabores Eireli (CR Vinhos). Os primeiros vinhos
foram da safra de 2019. Os parceiros vinificaram também em 2020. Registro os seguintes rótulos
marcantes: Corte de Brancas (Gewurztraminer 65% + Goethe 25% + Riesling Renano 10%),
Reissen (100% Riesling Renano), Touriga Pura e Barbera Pura.
BARÃO DE PETRÓPOLIS
(Petrópolis, RJ - 2014) Dei
Iniciativa do empresário petropolitano André Blanc, para ter
vinhos exclusivos nas lojas do Empório MultiMix, de sua pro-
füurão de priedade, em Petrópolis, na Serra Fluminense. Nas palavras do
BARÃOINVEST
(Rio de Janeiro, RJ - 2016) Neg
Grupo de investidores portugueses, importadores de bons rótulos
ô de Portugal para o Brasil. Depois de reconhecer a qualidade dos
vinhos elaborados por aqui, iniciou investimentos em vinhos bra-
l)\IZi\.__ l'\JVI ~
1 "1
1 1
sileiros. Estabeleceu acordo com a Cooperativa Vinícola São João,
de Farroupilha, RS, conhecida pelos vinhos finos Castellmare, e
inaugurou a atividade négociant por meio de dois finos espumantes brut, com a denominação
BarãoBarros e a assinatura do enólogo Valmor Pozza.
i
CATTACINI.
como os dois sobrenomes indicam. O curioso é que seus ances-
trais deixaram a Itália no final do século XIX, durante o históri-
Vmhosnaclooa~exduSIYOS co período da migração Itália-Brasil, mas, aqui chegando, não se
Dcsdc20IO
dirigiram à Serra Gaúcha, como a grande maioria. Instalaram-se
em Petrópolis, RJ, onde nasceu a tradicional indústria de móveis
Gelli. Ele, porém, é um engenheiro eletricista que, em 2008, desejava ardentemente ingressar
no mundo do vinho. Criou, então, a Cattacini - Vinhos Nacionais Exclusivos, com sede no
Rio de Janeiro. Trata-se de um negócio voltado à definição e à comercialização de vinhos finos,
elaborados por terceiros, com rótulos próprios (Cattacini) . Gelli é, sem sombra de dúvida, o
primeiro 12º négociant brasileiro da fase contemporânea de nossa vitivinicultura, com todas as
características desses profissionais. Os vinhos são criados segundo o desejo de Gelli, e a origem
é explicitamente declarada nos contrarrótulos, aliás sempre muito completos. Os vinhos são
120 Antes dele, poderíamos resgatar o projeto do príncipe Dom Eudes de Orléans e Bragança, no final da
década de 1970, visto em Origens e Desenvolvimento, à pàgina 27. Mas não era um négociant totalmente
caracterizado, inclusive porque almejava ter a própria vinícola.
CHORO DA VIDEIRA
(São Paulo, SP - 2018) Neg
Projeto de divulgação de rótulos brasileiros, criado pelo médico
paulista Leandro Baena, que mantém o blog Choro da Videira e
tem vinhos próprios, elaborados por produtores parceiros. Bae-
CHORO
. na tem uma dinâmica própria e intensa, movida pela paixão. São
postagens no Instagram e lives nas quais ele apresenta vinhos, en-
trevista produtores, enólogos, sommeliers, apreciadores e outras
personalidades do mundo do vinho, sempre com o objetivo de orientar e estimular os consumi-
dores, oferecendo excelentes dicas de vinhos brasileiros. O vinho próprio inaugural foi o Choro
Malbec 2012, elaborado por Felipe Bebber, em parceria com a empresa negociante Enos, como
veremos adiante. A última novidade foi a inauguração do Clube do Choro, para aquisição, por
assinatura, de vinhos selecionados pelo próprio Leandro Baena. O negócio tem a parceria da
GranVin Casa de Vinhos, de Caxias do Sul, do sommelier Cesar Curra, também ligado à Vinícola
Viapiana.
CLIMA
(Rio de Janeiro, RJ - 2015) Neg
Claudia Lima é apaixonada pelo que faz e sua paixão, há muito
tempo, são os espumantes. Por isso, decidiu mergulhar no mundo
~ da vinicultura, estudando e apreciando, com extremo afinco. A cer-
ta altura, imaginou fazer parceria com algum produtor, de modo a
LIM engarrafar um espumante próprio em garrafas pequenas, para toda
ESPUMANTES sorte de consumo informal. Acontece que as garrafas pequenas e
práticas que ela concebeu não se mostraram aptas à conservação
da bebida. Isso a fez suspender tal projeto e lançar espumantes próprios em tradicionais garrafas
champenoise, de 750 mi. Claudia elegeu como parceiro o talentoso Alejandro Cardozo, enólogo
CRS BRANDS
Oundiaí, SP- 2014) Neg
Empresa criada a partir do Grupo Cereser (1926), com o objetivo
de manter essa marca unicamente para a extensa linha de cidras,
que elabora há muitas décadas, instituindo o novo nome para ou-
tras bebidas, especialmente vinhos finos. Entrou no mercado com
uma linha denominada Massimiliano, com espumantes brut, pelos
métodos Charmat e Tradicional, além de demi-sec e moscatel, todos
elaborados pela Cave Geisse, em Pinto Bandeira, RS. São complementados pelos vinhos Char-
donnay, Cabernet Sauvignon, um corte branco e outro tinto, todos sob a mesma denominação
Massimiliano. A CRS Brands adquiriu a marca Georges Aubert e vem distribuindo espumantes
assim rotulados, num resgate importante daquele nome.
■
sommelier que tem grande presença no Brasil, mas vive atualmente
em Beaune, considerada a capital vinícola da Borgonha. Trabalha no
Château de Villars Fontaine, de Bernard Hudelot, um dos tradicio-
nais produtores da Borgonha. Atua também nos setores de Enolo-
gia e de Bioquímica da Université de Bourgogne, em Dijon, além de
outras atividades no mundo do vinho. No Brasil, Jean Claude vem tendo a marca de um negociante,
no mais puro estilo. Inicialmente estabeleceu uma parceria com a família Larentis e criou o seu
Éléphant Rouge 2008, um elegante corte entre Cabemet Sauvignon (75%), Merlot (20%) e Pino-
tage (5%), com um teor alcoólico de 12,5%. As uvas foram colhidas manualmente nos vinhedos
do Villaggio Larentis, observado o grau de maturação. O vinho foi elaborado com um mínimo de
intervenção, não passou por madeira e não foi filtrado. Foi mantido em tanques de aço inox, tendo
sido engarrafado seis meses antes do início da comercialização. Foram apenas 2 mil garrafas, como
marco inicial do projeto. Jean Claude não se satisfez com as uvas da colheita de 2009, nem com as
da colheita de 2010. Elaborou o Éléphant Rouge 2011. Não confundir esse vinho com a linha Cape
Elephant, da Lutzville Vineyards, em Olifants River, África do Sul. Em 2012, Jean Claude elaborou
seu primeiro branco, também chamado Éléphant Rouge, 100% Chardonnay. Com a transferência
de moradia de Jean Claude Cara, com a família, para a França, o projeto teve um pequeno hiato.
Em 2014, porém, foi retomado com um novo Éléphant Rouge, elaborado com uvas catarinenses, da
Villaggio Grando, num corte entre Merlot (70%), Cabemet Sauvignon (10%) e mais 20% de outras
viníferas, em segredo. Esse vinho teve estágio em barrica. Entre todas as atividades que desenvolve,
Jean Claude Cara tem sido um ótimo apoio aos brasileiros que viajam àquela nobre região francesa.
-
eLo
família que criou e administra o restaurante Crescente, na cidade
~ / ,e..
de Nova Friburgo, na Serra do Estado do Rio de Janeiro. Desde
cedo interessou-se por gastronomia e decidiu estudar Enologia,
na escola de Bento Gonçalves. Lá concluiu a formação, conservando a personalidade de quem
entende que "os vinhos têm relação íntima com nossas emoções". Trabalhou na Vinícola Miolo e fez
muitas amizades. Retornou a sua cidade e ao Crescente Gastronomia. Das boas relações com a
família Carraro, nasceu uma parceria com Juliano Carraro, seu colega enólogo, para elaboração
de vinhos próprios, destinados ao restaurante da família. Por enquanto são apenas três rótulos:
Elo Crescente Campador, Elo Crescente Calendas e Elo Crescente Vélo. Campador é aquele que sai à noite
em busca de aventuras amorosas. Calendas era o primeiro dia dos meses para os romanos; dia
em que se pagavam dívidas. Tal referência não havia entre os gregos. Adotou-se então a expressão
"calendas gregas", para significar aquilo que conhecemos como Dia de São Nunca. O Elo Crescente
Campador 2009 foi um corte de Cabernet Sauvignon, Tannat, Merlot e Ancellota, de bom corpo,
taninos macios e um ótimo final. Ao longo das safras, os cortes foram modificados. O Campador
EMPÓRIO COLHEITA -
(Uberlândia, MG - 2012) Dei
Matheus Tomaz Machado é um mineiro apaixonado por vinhos.
PADARIA ARTESANAL
&
A D EGA
Sommelier, além de padeiro e cozinheiro, abriu, em Uberlândia,
a Empório Colheita - Padaria Artesanal & Adega. Trata-se de um
~t,,1.PO"l:110
FAMÍLIA AGUIAR
(Rio de Janeiro, RJ - 2018) Neg
Carlos Aguiar é um empresário enófilo e sommelier titulado que,
entre seus negócios, tem atuado fortemente na representação de
produtores e na distribuição de vinhos finos, por meio de sua
empresa Rio Di.Vino (desde 2013) . Dado o conhecimento que
adquiriu sobre os vinhos brasileiros, recentemente decidiu atu-
ar também como negociante, projetando vinhos com produtores
121 Sobre esse vinho, é bom registrar que traz acesso à obra de Machado de Assis pelo Código QR estam-
pado no contrarrótulo.
HELIOS, Vinícola
(Monte Belo do Sul, RS, 2014) Neg
Helios, o deus grego Sol, que 'morre' todos os dias para 'renas-
t
HELIOS
cer' no dia seguinte, inspirou os amigos enófilos Augusto Borella
Hougaz, Carolina da Silva Avelar e Rafael Schettini Frazão Filho.
Engenheiros, com uma carreira técnica bem-sucedida, foram moti-
vados por um futuro mais ameno, identificado com a vida no cam-
po. Em janeiro de 2013, os três decidiram aprofundar estudos de
viabilidade técnica e econômica para se tornarem proprietários de
uma marca de vinho brasileiro. Após ampla avaliação de modelos de negócio possíveis, os sócios
optaram por parcerias comerciais com produtores de vinhos estabelecidos nas cidades de São
Joaquim/SC e Guaporé/RS. A proposta é atuar nos segmentos de vinhos jovens e também vinhos
barricados. A consultoria enológica é da Enovitis, pelo enólogo Marcos Vian. A Vinícola Helios
nasce com visão, missão e valores definidos, em busca de um destaque empresarial, por meio dos
vinhos que pretende levar ao mercado.
"Tão importante quanto definir o que somos é deixar bem claro o que NÃO somos. Não somos
uma empresa que vende produtos por um preço. Não estamos interessados em vender uma bebida
alcoólica fermentada de uva, como a maioria. Queremos ir além. Somos uma empresa que oferece
algo não por um preço, mas por um valor. O que oferecemos é o que o vinho pode proporcionar:
experiências inesquecíveis entre amigos e familiares. Momentos que ficarão marcados na memó-
ria. Isso é a HELIOS", define Augusto Borella Hougaz.
A estratégia dos sócios passa pela escolha de vinhos já elaborados pelos parceiros,
identificados com o perfil desejado, para serem engarrafados e rotulados como Helios. É a
empresa (e não os parceiros) que cuida dos detalhes da marca, da apresentação, da garrafa, da
rolha e do rótulo, entre outros.
Os primeiros vinhos foram da safra de 2015. Sobre a produção, relata Hougaz:
"Neste primeiro ano de aprendizado do mercado, alinhados com a estratégia de fornecer vinhos
exclusivos, estamos produzindo apenas 2 mil garrafas para cada tipo de vinho tinto do nosso
portfólio, 1.500 garrafas do vinho branco, 1.000 garrafas de cada espumante, brut e Mosca-
tel ... considerando o direcionador de elaboração de vinhos exclusivos, nossa meta é de, em cinco
anos, atingirmos a distribuição de 50 mil garrafas/ano".
Os vinhos engarrafados para a estreia da vinícola - Selene Sauvignon Blanc, Dórico Merlot,
Helíades Malbec, Corcéis Tannat e 5, além de um brut e um moscatel - logo encontraram
lasC¼as*
OH \il',jO
Paula Barreto e Martha Queiroga idealizaram um serviço móvel de
vinhos, sobre uma bicicleta, de modo a poderem estar rapidamen-
te presentes em diversos eventos, levando a cultura e os prazeres
dos vinhos. Oferecem rótulos variados, de diversas origens, e têm
profundo respeito pela produção brasileira. Agora, num novo avanço do empreendimento, outra
apaixonada por vinhos integrou-se ao projeto. Ana Borba, que mantém o blog Da Água para o
Vinho (https://anacborba.wixsite.com), chega para ampliar ações e presenças. Trabalhar com
parcerias é algo maravilhoso e sempre desafiador, não é mesmo? Mas as três Chicas dei Vino têm
realizado isso muito bem. O Las Chicas dei Vino Rosé 2017 é a concretização desse desafio: inte-
grou o enólogo produtor Marcos Vian, por meio da Vinícola dos Plátanos, e a empresa négociant
Vinícola Helios. O vinho foi elaborado a partir da casta Pinotage, de vinhedo na Serra Gaúcha.
VILLA CASTRO
(Gramado, RS - 2015) Dei
Trata-se de iniciativa dos propnetanos da delicatéssen Vinha
Gramado ou Ataliba Vinhos com a Família Bebber, de Flores da
Cunha. A Vinha Gramado criou o rótulo próprio Villa Castro, com
uma linha Reserva e outra Gran Reserva da histórica safra de 2012.
Os vinhos 'Reserva' são os varietais Merlot, Cabernet Sauvignon,
Tannat e Carménere, todos com maturação de seis meses em barricas de carvalho americano.
A linha Gran Reserva, com 12 meses de envelhecimento em barricas de carvalho americano,
apresenta um Merlot e um Cabernet Sauvignon a partir de uvas cultivadas na Serra Gaúcha, e
um Tannat com uvas provenientes da região da campanha. O Villa Castro
Gran Reserva Cabernet Franc estagiou por 12 meses em barricas de carvalho
francês. Esses vinhos somente estão disponíveis em Gramado ou pela página
web da empresa, com a possibilidade de remessas para todo o Brasil. V I N H A
GRAMADO
VIVANT WINES
(Rio de Janeiro, RJ, 2018) Neg
Iniciativa dos jovens empreendedores cariocas Alex Homburger,
Vivant André Nogueira e Leonardo Altherino. Decididos a descomplicar
totalmente o consumo de vinhos finos, buscaram os conhecimen-
tos do sommelier Felippe Siqueira e saíram pelo Sul do Brasil, em
busca de uma vinícola parceira para o objetivo de enlatar vinhos finos. Encontraram eco da ideia
na Quinta Don Bonifácio, com a família Libardi e o enólogo Deito Garibaldi também ficando
entusiasmados. Já estão no mercado do Rio de Janeiro três rótulos, em latas de 269 mi: branco
100% Chardonnay, com 11,5% de teor alcoólico; rosado, corte entre vinhos de Syrah com Pinot
Noir, com álcool também a 11,5%; e tinto com 12,5% de teor alcoólico, um corte clássico entre
Cabernet Sauvignon e Merlot. Certamente, o grande desafio será vencer o preconceito. Testemu-
nho que os três vinhos apresentados são leves, muito agradáveis e de grande qualidade.
Memória e Horizonte
~ Memória
A.R.M.M.
(São Paulo, SP - 2011) Negociantes
Alexandre Rodrigues e Marcel Miwa desejavam engarrafar vinhos que possuíssem uma iden-
tidade brasileira, que eles entendiam como bom frescor, fruta franca e direta, extrações mais
delicadas, pouca madeira, sem colagem e filtração, corpo leve, boa acidez, álcool menor que 13%,
enfim, vinhos que a eles agradassem, em primeiro lugar. O projeto contou com a assessoria do
enólogo Flávio Pizzato. Os vinhos: o primeiro foi o Pinot a la Gamay 2010, um corte entre vinho
da Campanha Gaúcha, sem passagem por barrica (80%), e vinho de Campos de Cima da Serra,
com sete meses de passagem por barricas francesas (20%). O nome exprime exatamente o que
é o vinho: um Pinot simples. Em 2012 vieram o Cab. Lot. 3 e o Mernett. O Cab. Lot. 3 é um corte
ousado entre terroirs e safras. O nome traduz o vinho: Cab, de Cabernet Sauvignon, Lot, de Mer-
lot, e 3, das três regiões de onde vieram os vinhos base: Campanha Gaúcha, Vale dos Vinhedos e
Campos de Cima da Serra. O corte incluiu um vinho de 2009, com passagem de oito meses por
barrica, e dois vinhos de 2010, sem madeira. O resultado mostrava complexidade e volume. O
rótulo, obra do artista Bruno Murai, exibia o que os autores consideravam o kit-tripé de sobre-
vivência gourmet: pão, queijo e vinho. O Mernett foi um corte entre Merlot, Cabernet Sauvignon
e, como eles mesmos diziam, um "dash de Tannat". O vinho tinha álcool a 12,8%. O rótulo, com
um farol, busca traduzir uma referência de gosto. Outra iniciativa que deixa saudade.
CAVE OUVIDOR
(Bento Gonçalves, RS - 2002; e Garopaba, SC - 2005)
Foi uma singularíssima experiência dos irmãos Álvaro (enólogo)
e Vítor Escher, iniciada em Bento Gonçalves e realocada, poste-
riormente, numa colina na região de Garopaba, litoral de Santa
Catarina. Das opções técnicas de viticultura às práticas de uma
DE LANTIER, Casa
(Garibaldi, RS, de 1990 a 2004)
Divisão dedicada a vinhos finos da multinacional Bacardi-Martini
do Brasil Ind. e Com., criada sob a direção do conceituado enólogo
Adolfo Lona, que veio da Argentina, sua terra natal, para o Brasil a
convite da Martini & Rossi, nos anos 1970, e permaneceu por mais
de trinta anos naquela empresa. Seu competente trabalho o condu-
ziu à direção técnica e à fundação da Casa De Lantier, responsável
pelos elegantes vinhos Baron De Lantier e pelos espumantes De Greville. No período em que orien-
tou os rumos daquela divisão da Bacardi-Martini, Lona conduziu inúmeras pesquisas de terroir.
Em 2002, a Casa De Lantier lançou a coleção Regionais. Eram três vinhos vendidos somente em
conjunto: um Cabernet Franc, com uvas de Pinheiro Machado, RS, e dois Cabernet Sauvignon, o
primeiro com uvas de vinhedos próprios em Garibaldi, e o outro com uvas provenientes da re-
gião de Planalto e Ametista, no norte do estado do Rio Grande do Sul. Foram amostras ótimas,
com características marcantes de cada região. No ano de 2004, a empresa decidiu vender tudo e
fechar as portas. Uma grande perda. Até hoje, 16 anos após o encerramento das atividades, ainda
encontramos vinhos De Lantier íntegros, maravilhosos, com todos esses anos de garrafa.
DREHER
(Bento Gonçalves, RS - 1910)
O empreendedor Carlos Dreher Filho é conhecido como um cida-
dão de perspectivas adiante do seu tempo, virtude que transferiu
aos filhos Carlos Dreher Neto e Emy Hugo Dreher, entre muitas.
Diversas passagens nas vidas desses gaúchos de origem germâni-
ca comprovam personalidades ousadas, criativas, avançadas. Em
poucos anos, o modelo de gestão organizacional fortemente fami-
liar, mas incorporando profissionais especializados, desenvolveu os
negócios, ampliando espaços de mercado. Da produção de vinhos brancos finos, a partir da casta
Peverella, à destilação de vinhos para elaboração de brandies conceituados, e ainda tintos que
marcaram época como o Marjolet e o Velho Capitão, a história da companhia registra marcos
fundamentais na vitivinicultura brasileira. Imaginem uma empresa vinícola (a Dreher não tinha
vinhedos) que processava, nos anos 1960 a 1970, algo em tomo de 70 milhões de quilos de uva ao
ano(!!!), que tinha mais que 25 mil barris com brandies envelhecendo. Tudo isso, mediante con-
tratos com viticultores de toda a região de Bento Gonçalves e municípios vizinhos, modelo único
de parceria. Em princípio, todo viticultor vendia alguma uva à Dreher. No início dos anos 1970,
a empresa exibia balanços excelentes e, portanto, tinha enorme valor comercial. De repente, em
sucessivos infortúnios, perdeu vários dirigentes. A família decide en-
tão aceitar oferta da multinacional Heublein e a vende. Alguns anos
mais tarde, ocorre uma inexplicável alteração de marco legal do pro-
GENEROSO
(Bento Gonçalves, RS - 2005)
Não, leitor, não se trata de nenhum vinho tipo Porto. É, sim, uma
homenagem do jovem enólogo e mestre em viticultura Anderson
De Césaro ao bisavô, cantineiro, por vinte safras, da antiga Com-
panhia Vinícola Rio Grandense, produtora da marca Granja União.
O nome foi dado a um corte entre Merlot, Tannat e Ancellotta, da
safra de 2005. Foram produzidas apenas 301 garrafas (uma barri-
ca) desse vinho singular, numa típica "obra de autor". As poucas
garrafas destinadas ao público em geral foram disponibilizadas em
somente dois pontos de venda: um em São Joaquim (Anderson es-
tagiou na Villa Francioni e deixou admiradores na cidade), e outro na loja de vinhos que havia no
restaurante Canta Maria, em Bento Gonçalves. Embora o vinho Generoso 2005 consista em uma
experiência isolada (o rótulo carrega até mesmo uma impressão digital do enólogo, como marca
de singularidade), Anderson tem projeto de continuidade. Atualmente, ele atua como enólogo
na Villaggio Bassetti e na empresa Vistamontes Sucos Naturais, mantida com a esposa, Geyce,
além de assessorar a Rossi Arquitetura & Urbanismo, de Caxias do Sul, em projetos de vinícolas.
A Vistamontes está localizada em Bento Gonçalves, no distrito de Faria Lemos.
GEORGES AUBERT
(Garibaldi, RS, de 1951 a 2012)
Essa vinícola teve papel importante na difusão dos espumantes de
Garibaldi. Nascida na França, transferiu-se para o Brasil em 1951.
Foi a responsável pela adoção do método Charmat para a segunda
fermentação de espumantes em grandes tanques autoclaves. Pro-
duziu ainda destilados. Faliu em 2012. A marca Georges Aubert foi
adquirida pela CRS Brands (veja em Negociantes).
LPG WINES
(Caxias do Sul, RS - 2008)
A LPG Wines foi fundada por três amigos, tendo o engenheiro agrônomo Laerte Pelizer Junior
na liderança. No ano de 2008, eles identificaram parceiros para um projeto de Agricultura de
Precisão e Segmentação de Colheita, na região de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Tal projeto
consistia na constante melhoria da qualidade das uvas, para a obtenção de bons vinhos. Eram
produções únicas e exclusivas com baixa tiragem, mas distribuição nacional, inclusive com ven-
das por comércio virtual.
QUINTA DA SERRA
(Macuco, RJ - 2010) 'N'
Projeto iniciado pelo jovem enófilo Alain Inglez, em sociedade com Pedro Hermeto, sócio
do Restaurante Aprazível, no Rio de Janeiro. Alain é um especialista em TI, que decidiu estudar
vitivinicultura. Em 2010, fez um curso sobre condução de videiras no Núcleo Tecnológico da
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) Uva e Vinho, em Caldas, MG. Os
vinhedos foram implantados em 2 hectares, no Norte Fluminense, no município de Macuco,
sobre solo predominantemente areno-argiloso, com um pouco de calcáreo. Havia uma imensa
"disposição e o sonho de fazer um vinho no Rio de Janeiro", destacava Alain. Desde o início, o projeto
contou com o apoio de Luís Henrique Zanini, enólogo da Vallontano e da Era dos Ventos,
com orientações e apoio nas decisões que demandavam mais conhecimento técnico. "O ponto
mais importante do projeto está no interesse que temos em reproduzir o conceito dos vinhos de mínima
intervenção, feitos apenas de uvas esmagadas, leveduras autóctones e um mínimo de conservante S02,
como se fazia antigamente", dizia Alain. As mudas certificadas foram adquiridas junto à empresa
Vitácea Brasil. Foram plantadas quinhentas mudas de Sauvignon Blanc e quinhentas de Merlot,
entre as viníferas, além de cem mudas de Isabel e cem de Bordô, entre as labruscas. Em 2014,
foram implantadas mais oitocentas mudas de Chardonnay. As americanas foram plantadas
como teste, caso as viníferas não se adaptassem. Havia ainda intenção de cultivo de Syrah
e Cabernet Franc, além das pouco conhecidas entre nós Trousseau e Poulsard, das também
francesas Gamay e Pinot Noir, e das italianas Teroldego e Peverella. Tudo seria avaliado com
122 O mesmo que, mais tarde, com nova sociedade, criou a Batalha Vinhas & Vinhos, em Candiota, município
vizinho a Bagé.
.___
A sociedade entre empresários brasileiros e o português Nazário
, 1,1//1 t,1 Santa Maria Santos tinha 23 hectares de vinhedos, grande parte em patamares,
' ' no Vale do Rio Lavatudo, hoje totalmente convertidos a maçãs e
outras frutas. A produção evidenciava vinhos finos de terroir e cor-
rentes, inclusive vinhos fortificados, tipo Porto: o Portento tinto e o Portento branco. Os vinhos
eram apresentados sob duas denominações. A linha Utopia, para os titulados pela própria viníco-
la como vinhos premium, tais como o Utopia Glamour (Chardonnay), o Utopia Lote Um (corte entre
Cabernet Sauvignon, Merlot e Touriga Nacional), o Grand Utopia (Cabernet Sauvignon e Merlot)
e o varietal da Touriga Nacional denominado Utopia Purpurata. A linha QSM definia um corte
Cabernet Sauvignon, Merlot, Touriga Nacional e Tinta Roriz, indicado para o dia a dia. Em 2013,
nasceu o Passionado, um dos primeiros vinhos brasileiros elaborados como um Amarone, a partir
de uvas colhidas maduras e submetidas à desidratação em estufa, sob o calor do sol. O vinho
foi elaborado a partir de corte entre vinhos de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat de diversas
safras e tinha um teor alcoólico de 15,0%. Como afirmava Nazário Santos: "Trata-se de mais uma
vitória para produtores de vinhos no Brasil, mostrando que técnicas, associadas a planejamentos e estudos,
vencem problemas de solo e de clima". Ainda assim, desistiram das uvas e dos vinhos.
SPLENDOR, Adega
(Bento Gonçalves, RS - 1997)
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LI r OI t:S O professor Firmino Splendor é um nome de referência na vini-
tÍ SAtlll .\l~
TENUTA BELLAVINHA
(São Joaquim, se - 2005)
Empreendimento familiar iniciado em 2005. Conta com 3 hectares de vinhedos, com as castas
Cabernet Sauvignon, Merlot e Sangiovese. Foram elaborados vinhos experimentais apenas nas
safras de 2009 e 2012. Até bem pouco tempo, esses vinhos ainda eram encontrados na proprie-
dade, situada nas margens da Rodovia SC 114, distante 15 km do centro de São Joaquim. Foi
vendida e o atual proprietário comercializa toda a uva para outras vinícolas.
VINHA SOLO
(Caxias do Sul, RS - 2001)
O projeto inicial do arquiteto Milton Scola e do empresário Rai-
mundo Demore estava destinado à vitivinicultura. Eles escolheram
uma localização preciosa no distrito de Fazenda Souza, no norte de
Caxias do Sul, a 880 metros de altitude. O distrito esbarra na fron-
teira sul da região dos Campos de Cima da Serra, razão pela qual
especialistas afirmam que já apresenta as mesmas características daquela área. Os dois amigos
desejavam elaborar os chamados "vinhos naturais", ou seja, totalmente livres de interferências
no cultivo das videiras e no processo de vinificação. São 20 hectares de vinhedos tratados, tanto
quanto possível, de forma orgânica e biodinâmica. O solo é de origem vulcânica, com predomi-
nância basáltica, e estrutura argiloarenosa. Apresenta cerca de 2% de matéria orgânica, concen-
tração baixa de fósforo e elevada de potássio. A viticultura conta com a consultoria do agrônomo
123 Raleio de cachos é uma poda verde. Podam-se ramos em estado herbáceo e tenro, no período de plena
atividade vegetativa das plantas. Essa prática altera a relação entre a superfície foliar e o número de
cachos. O objetivo é reduzir a produção e melhorar a qualidade das uvas. O número reduzido de cachos
melhora o teor de açúcar e baixa a acidez.
''Antes de entrar na questão do acordo Mercosul - UE, é importante situar o vinho fino brasileiro no
nosso mercado. Para tanto utilizarei o período entre 2012-2017, em as comercializações dos vinhos
finos cresceram de 113 milhões de litros para 151,5 milhões de litros, com um excelente CAGR =
+5% (crescimento médio anual composto). Mas, os vinhos finos brasileiros (tranquilos+ espuman-
tes) não apresentaram o mesmo desempenho; embora positivo o crescimento foi de CAGR= +0,6%
frente aos importados, que tiveram CAGR= +6,6%. Enquanto os vinhos brasileiros cresceram de
33,5 para 34,9 milhões de litros, os importados saltaram de 79,5 para 116,6 milhões de litros. Com
Essa é a nova realidade que viveremos com ousadia e determinação, para que nossos
vinhos finos tenham um horizonte repleto de brindes, e mais brasileiros tenham acesso a essa
bebida-alimento tão fundamental e rica.
Em todas as questões a superar, contamos agora com os estudos que serão oferecidos pela
Academia Brasileira do Direito do Vinho (Abdvin).
Num horizonte nem tão distante, estou certo de que veremos mais gente escolhendo
vinhos finos dos mais diferentes lugares do país nos supermercados, além de apreciadores
lendo cartas de vinhos em restaurantes, encontrando boa oferta de vinhos brasileiros de terroir
e escolhendo vinhos de nossas terras, com tranquilidade, segurança e, quando brasileiros,
com uma pitada de orgulho. Por que não?
Saúde!!!
O nome correto desta relação é índice onomástico, mas preferi a coerência com o título
do livro. Assim, toda a gente citada no conteúdo do livro está aqui presente, com o objetivo
de facilitar a sua localização no texto. Sei que há mais atores nesse espetáculo chamado
vitivinicultura brasileira de vinhos finos. Por isso, antecipadamente me desculpo e me
congratulo também com todas as pessoas não citadas no livro e que, de uma forma ou de
outra, contribuem com esse cenário.
Alto Feliz, RS - 43, 89, 102, 172, 173, 174, Boa Esperança, MG - 339, 344
407 Bom Retiro, se - 282, 283, 284
Alto Jequitinhonha, MG - 65, 113, 346, 347, Caçador, se - 53, 94, 273, 282, 296, 390
348 Caçapava do Sul, RS - 179, 230, 232, 233,
Alto Paranaíba, MG - 65, 113, 337, 346, 353 239
Alto Uruguai, RS - 40, 48, 60, 61, 64, 67, Caldas, MG - 34, 321, 322, 323, 329, 332,
94,110,112, 11~ 150, 261,262 333,335,337,338, 339, 340, 341 , 343,
Ametista do Sul, RS - 94, 103, 110, 261 , 344, 345,354,360, 364, 370,390, 402
262 Camaquã, RS - 233, 234
Amparo, SP - 102, 320, 339 Campanha Gaúcha, RS - 24, 29, 30, 39, 48,
Andradas, MG - 98, 195, 337, 339, 340, 60, 64,87, 88,89, 93,94, 96,97, 98,
349,390 101, 106, 107, 109, 110, 112, 117, 131,
Andrelândia, MG - 339 132, 133, 134, 138, 140, 150, 211, 217,
Antônio Prado, RS - 118, 172, 173, 175, 218,219,220, 222,223, 230,231,232,
176, 210, 258 233,255,268, 269, 310,380, 389,392,
Bagé, RS - 39, 53, 66, 109, 133, 216, 217, 393,398,404, 412
218, 219,220,227, 230,236,402 Campestre da Serra, RS - 118, 154, 172,
Barra do Ribeiro, RS - 450 257
Bento Gonçalves, RS (fora da DOVV) - 18, Campo Belo do Sul, se - 282, 283, 286
23,24,27, 28,30, 41,66, 70, 79,81,87, Campo Largo, PR- 88, 96,214, 307, 308,
89, 91, 97, 102, 104, 106, 107, 118, 120, 309,392
122, 130, 131 , 134, 137, 151, 159, 172, Campos de Cima da Serra, RS - 60, 64, 67,
173, 176, 177, 178, 179, 181, 183, 184, 87, 93, 96, 112, 117, 140, 152, 172, 175,
185, 186, 190, 201, 203, 205, 217, 229, 187, 188, 191 , 210, 213, 224, 226, 250,
232,233,244, 261, 264,310,324,378, 257,258, 259,260,283,303,398, 405
386,392,393, 398, 399,400,401,403, Campos do Jordão, SP - 38, 326, 327
404,405 Campos Novos, SC - 53, 281 , 282,283,
Bituruna, PR - 307 296,298,300,406
Amarone-44 Reservado - 71
Ânforas - 43 Resveratrol - 4 7
Barricas e madeiras - 41 Rolhas e fechamentos - 46
Brandy-45 Safras da Serra Gaúcha - 172
Brix - 40 Terroir-26
Cantina-40 Thermal Pest Control - 32
Chaptalização - 41 Tipicidade - 48
Cianamida hidrogenada - 34 Uvas viníferas - 26
Ciclo invertido (dupla poda) - 33 Varietal - 71
Cofermentação - 41 VBdT-35
Corte Serra Gaúcha ou CMT - 43 Vinhas velhas - 39
Denominação de Origem - 30 Vinhedo protegido (coberto) - 40
DO-30 Vinhedo único (Single vineyard) - 39
Dupla poda - 33 Vinho Biodinâmico - 32
Elegância - 48 Vinho Brasileiro de Terroir (VBdT) - 35
Envase: Gfas, caixas, latas.. . - 46 Vinho de chuva - 44
Estilo-47 Vinho de solo - 44
Genérico, vinho - 71 Vinho fino corrente - 35
Gran reserva - 72 Vinho fino - 26
IG- 68 Vinho laranja - 43
Indicação de procedência - 68 Vinho natural ou 'natureba' - 32
Indicação geográfica - 68 Vinho novo - 35
IP- 68 Vinho orgânico - 31
Kosher- 46 Vinho vegano - 33
Mantas reflexivas - 40 Vinificação convencional - 24
Míldio -85 Vinificação em pureza - 41
Nobre-26 Viticultura de precisão - 39
Plasmopara - 32 Volume (apreciando vinhos) - 48
Reserva- 36
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13%vol 750ml
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