7º C O trabalho escravo, infelizmente, é uma realidade para muitas pessoas no Brasil e no mundo. Dados levantados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que existem, no mínimo, 20,9 milhões de pessoas escravizadas, enquanto um levantamento promovido pela ONG estadunidense “Free the Slaves” estima um total de 27 milhões de pessoas que trabalham em condições análogas à escravidão no mundo. Existem duas convenções de trabalho da OIT, uma de 1930 e outra de 1957, que visam a regulamentar as condições de trabalho e erradicar o trabalho escravo. No Brasil, o artigo 149 do Código Penal Brasileiro define as condições de trabalho análogo à escravidão que incluem o trabalho forçado e as condições degradantes de trabalho e prevê punições para quem for condenado pela prática de escravização e aliciamento de pessoas para trabalhos forçados. Vale ressaltar que a ONU e a OIT reconhecem o conceito de trabalho escravo disposto no Código Penal Brasileiro. Existe um ciclo do trabalho escravo que inclui, a miséria em que muitas pessoas se encontram, o aliciamento dessas pessoas com promessas de mudança de vida e o trabalho que elimina as condições de desligamento entre o trabalhador e o patrão. Esse ciclo somente pode ser encerrado com a denúncia e a fiscalização.
INFORMAÇÕES SOBRE A ESCRAVIDÃO
Além disso, as pessoas escravizadas têm suas liberdades tolhidas, pois são consideradas propriedades de seus senhores, podendo ser vendidas ou trocadas como mercadorias. Esse tipo de mão de obra foi muito empregada no Brasil, mas também em diversas partes do mundo durante períodos distintos. O trabalho escravo é uma prática que permeia a história mundial. Sua origem está relacionada às guerras e conquistas de territórios, onde os povos vencidos eram submetidos ao trabalho forçado pelos conquistadores. Pelo que se sabe, os primórdios da escravidão vêm do Oriente Médio (Antigo Oriente), mas povos nas Américas como os maias também se serviram de cativos. INFORMAÇÕES SOBRE A ESCRAVIDÃO NOS TEMPOS ATUAIS A chamada escravidão moderna atinge mais de 45,8 milhões de pessoas no mundo, segundo a edição deste ano do Índice Global de Escravidão, publicado pela Fundação Walk Free, da Austrália. A maioria (quase 35%) está na Ásia. Na América Latina, são 2,16 milhões de trabalhadores, 161,1 mil deles no Brasil - em 2014, eram 155,3 mil. Segundo o relatório, a incidência desse crime é maior nas áreas rurais no país, principalmente em regiões de cerrado e na Amazônia. Os setores que concentram a maior parte dos trabalhadores explorados são: criação de bovinos para corte (32%), cultivo de arroz (20%) e fabricação de álcool (11%). No total, 39% das vítimas tinham até o 5º ano do Ensino Fundamental incompleto, enquanto 31% eram analfabetos. Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que milhares de pessoas são forçadas a trabalhar em barcos de pesca, onde podem permanecer durante anos sem nem sequer poder ver a costa. As vítimas afirmam que, caso sejam flagradas tentando escapar, podem ser mortas ou lançadas ao mar. Os números sugerem a existência de 10 mil a 13 mil vítimas de escravidão no Reino Unido, vindas de países como Albânia, Nigéria, Vietnã e Romênia. Acredita-se que cerca de 3 mil crianças vietnamitas estejam trabalhando em "fábricas de maconha" e salões de unha, onde ouvem que "suas famílias lamentarão muito" se escaparem. A Organização Internacional do Trabalho calcula que existam cerca de 4,5 milhões de vítimas de exploração sexual no mundo. O relatório destaca que muitas crianças na Europa, Ásia, África, América Latina e Oriente Médio são forçadas por criminosos a pedir esmolas nas ruas. Grande parte da escravidão moderna não é visível para o público - ela acontece em casas, fazendas ou outros tipos de propriedades particulares.
ESCRAVOS IMPORTANTES QUE NÃO FORAM
RECONHECIDOS BENKOS BIOHÓ Sua história começa no Arquipélago dos Bijagós, atual Guiné-Bissau. A presença de escravagistas no arquipélago levou ao aprisionamento da família inteira de Benkos em 1596. Mas sua vida como escravo duraria meros três anos. Em 1599, agora batizado e renomeado Domingos Biohó, ele liderou uma rebelião com 30 homens em Cartagena das Índias, norte da Colômbia. O grupo tomou conta de uma região elevada conhecida como Montes de María. A partir dali, formaram uma rede de inteligência que mantinha o exército de Benkos atualizado sobre o que ocorria na cidade. Assim, era possível organizar novas fugas de escravos para o palenque – o equivalente colombiano do quilombo brasileiro. A terra dos negros liderados por Benkos ficou conhecida como Arcabuco, que quer dizer “lugar de arvoredos intrincados” mata fechada e, por isso mesmo, difícil de invadir. Sem saber como derrotar os maroons, o termo para negros foragidos, o governador de Cartagena, Geronimo de Suazo e Casasola ofereceu um tratado de paz em 18 de julho de 1605 – que autorizava os habitantes a circular pela cidade. O tratado foi violado em 1619, quando, andando desprotegido, Biohó foi surpreendido próximo à Muralha de Cartagena e aprisionado. Em 1621, Benkos foi enforcado – mas a localização estratégica do quilombo, a coroa espanhola voltou a ceder, emitindo um decreto real no ano de 1691 que fundava, oficialmente, o Palenque de San Basilio. Desde 2005, ele é considerado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. E foi ali que os libertos de Benkos tornaram-se o primeiro povo negro livre das Américas. PRINCESA AQUALTUNE Aqualtune fazia parte da nobreza do Reino do Congo – cuja relação com Portugal era problemática. A rivalidade entre as duas nações levou a uma série de conflitos a partir de 1620 – em alguns deles, a Holanda chegou a apoiar as tropas congolesas contra Portugal. Por mais de três décadas, os portugueses levaram a pior, perdendo territórios importantes para o Congo. O confronto chegou ao seu ápice em 1665, na Batalha de Mbwila. O rei congolês Nvita-a-Nkanga – ou Antonio 1º – foi capturado e decapitado pelos portugueses. Mais de 5 mil congoleses morreram, e centenas de membros da nobreza foram presos. Entre eles, uma das guerreiras que liderara um batalhão em Mbwila: Aqualtune. Os cativos do Congo foram espalhados pelas colônias europeias nas Américas. E boa parte foi escravizada e comprada no Brasil. Nesse ponto, os registros se perdem. Aqualtune reaparece escrava na Capitania de Pernambuco – e já com um filho: Ganga Zumba. Motivada pelos corriqueiros estupros sofridos pelas escravas negras, Aqualtune decide tentar a sorte na fuga em direção à já conhecida região de Palmares, atual Alagoas que, na época, era só um protótipo do quilombo que viria a ser.