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2 Nota Editorial

4 Segurança Em Moçambique: Factores Geopolíticos Como Base Para a Defesa e


Segurança Nacional face às Ameaças Transnacionais
15 Análise dos Factores de Atropelamentos no Distrito Municipal KaMubukwane: caso
da Avenida de Moçambique - 2015 – 2019
30 Satisfação e Expectativas dos Cadetes do II E III anos em Relação ao Processo de
Ensino e Aprendizagem no Curso de Licenciatura em Ciências Policiais -2020/2021

51 A Política Externa de Moçambique para a África do Sul na segurança pública: o tráfico de pessoas
como instrumento indicador
61 A Postura de Trânsito aprovada pela Assembleia Municipal de Maputo à luz
dos princípios do direito
73 Uma Análise à Vulnerabilidade dos Agentes da Polícia Municipal de Maputo
Emergente da Falta de Regulamentação do Uso de Armas de Fogo
81 Avaliação de Qualidade nas Instituições de Ensino Superior em Moçambique: A
Experiência da ACIPOL
90 Linha Editorial, Público - Alvo e Instruções aos Autores

José de Jesus Mateus Pedro Mandra João Moisés Essinalo Raúl Álvaro Freia
Reitor Superintendente Principal da Polícia Superintendente Principal da Polícia
Director de Investigação e Extensão Director de Pessoal
Rodrigues Nhiuane Cumbane Alicénia da Conceição Filomena
Superintendente Principal da Polícia Pensar Abudo Maria das Dores Machava
Director Pedagógico Superintendente Principal da Polícia Superintendente da Polícia
Directora Interina de Logística e Finanças Chefe de Gabinete do Reitor

Ficha Técnica
Título: Prof. Doutor Francisco Bilério Prof. Doutor António Espada
Revista Científica da ACIPOL Prof. Doutor Hélder Pires Amâncio Profª Doutora Tulnega Agostinho
Prof. Doutor António Espada Profª Doutora Alice Langa
Profª. Doutora Tunelga Agostinho Profª. Doutora Pensar Abudo
Corpo Editorial Profª. Doutora Santa Mónica Mugime Prof. Doutor Albino José Eusébio
Editor Chefe: Prof. Doutor José Cossa Prof. Doutor Bernardino Bilério Profª. Doutora Verónica Korber
Prof. Doutor Fiel Matsinhe Prof. Doutor Eduardo Filipo
Co-Editores: Mestre Jafete Mabote Prof. Doutor Lisboa Augusto Machavane
Profª. Doutor Santa Mónica Mugime Mestre Mateus Fachini Profª. Doutora Olga Jamisse
Prof. Doutor Sérgio Mendes Profª. Doutora Lurdes Cossa Profª. Doutora Imeldina Matimbe
Prof. Doutor Francisco Bilério Prof. Doutor Jochua Balói Prof. Doutor Roberto N. A. Fernandes
Mestre Florinda Muhate Prof. Doutor Edson Marcos Leal Soares
dr. Henrique Jaime Langa Ramos
Prof. Doutor Luís Bembele Prof. Doutor Viriato Dias Design Gráfico:
Prof. Doutor Nelson Mabucanhane Profª. Doutora Sílvia dos Santos de Almeida Sérgio Tique
Prof. Doutor Giverage Alves de Amaral
Prof. Doutor Octávio José Zimbico Comissão de Revisão de Pares da
Mestre Vicente António Vicente Revista Científica da ACIPOL Impressão:
Mestre Ezequiel Conjo Co-Editor CIEDIMA, Lda
Prof. Doutor Hélder Pires Amâncio Prof. Doutor Fernando Francisco Tsucana
Profª. Doutora Alice Langa Prof. Doutor Viriato Dias Tiragem:
Mestre Francisco Marrumbine Prof. Doutor Fernando Francisco 200 exemplares
Prof. Doutor Brazão Catopola Prof. Doutor Rodrigues Nhiuane Cumbane
Prof. Doutor Viriato Dias Prof. Doutor João Moisés Essinalo Deposito Legal;
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Mestre Salmina Mondlane Cumbane Prof. Doutor José Cossa
Mestre Sílvia Suaze Prof. Doutor Luís Bembele Distribuição;
Mestre Duarte Tembe Prof. Doutor Giverage Amaral UERCACIPOL (Unidade Editorial da Revista
Conselho Científico da Revista Prof. Doutor Hélder Pires Amâncio
Prof. Doutor Benedito Maurício Sapane
Científica da ACIPOL Prof. Doutor Fernando Niquice Científica da Academia de Ciências Policiais)
Prof. Doutor Tony Viera
Prof. Doutor Rodrigues Nhiuane Cumbane Mestre Mateus Fachini 2023 N 8. Ano VI República de Moçambique
Prof. Doutor João Moisés Essinalo Prof. Doutor Guebuza Mahavane Guiliche
Prof. Doutor Lisboa Machavane Prof. Doutor Francisco Alar
Prof. Doutor José Cossa Prof. Doutor Francisco da Conceição
Prof. Doutor Giverage Alves de Amaral Prof. Doutor Fulgêncio Multi Seda
A Academia de Ciências Outra decisão tomada nesta
Policiais, continuando a sua reunião é que a Revista
actividade de investigação e Científica da ACIPOL passa a
extensão na área das Ciências ser semestral.
Policias e dando ênfase à Outro aspecto de realce é
abrangência temática que que a Revista Científica passa
caracteriza esta publicação a incluir publicações de
científica, o número da resenhas, tendo em vista a
Revista Científica que aqui se valorização de livros publi-
apresenta reúne um conjunto cados por autores nacionais e
díspar de artigos e de estrangeiros, mas também para
actividades desenvolvidas permitir maior circulação do
durante o primeiro semestre conhecimento por si produ-
de 2023. zido.
Simultaneamente, a Outro evento científico
Revista Científica continua a meritório que marcou a
apostar na valorização não só ACIPOL, foi a presença de Sua
de autores de reconhecido Excelência o Presidente da
mérito científico, mas República de Moçambique,
também dos trabalhos de Filipe Jacinto Nyusi no
novos investigadores em Campus da ACIPOL, no dia 23
desenvolvimento da sua de Março de 2023, por ocasião
carreira e outros que ainda da realização da XVIII
estão em fase de conclusão Dr. José de Jesus Mateus Pedro Mandra Cerimónia de Graduação de
dos seus doutoramentos que Reitor da ACIPOL Oficiais da Polícia da
todos os anos enriquecem o República de Moçambique nos
debate em torno de temas de Cursos de Licenciatura e de
cariz policial e não só, pois Mestrado, na Academia de
uma Instituição Superior de Ciências Policiais. Na ocasião,
ensino que não aposta na divulgação do o Presidente da República e Comandante-Chefe
conhecimento científico corre o risco de sofrer um das Forças de Defesa e Segurança (FDS), com
naufrágio científico. sagacidade instou aos graduados a serem honestos
Deste modo, convindo a conferir um e a terem disciplina no exercício das suas funções.
dinamismo funcional à Revista, orientamos no Ainda no leque das realizações dos eventos
dia17/03/2024, um encontro com os membros do científicos, a ACIPOL realizou no passado dia 13
Corpo Editorial e Conselhos da Revista Científica de Abril de 2023, a aula inaugural enquadrada na
da ACIPOL, do qual resultou a criação da abertura oficial do ano académico, a qual foi
Comissão de Revisores de Pares, a reestruturação proferida pela Profª. Doutora Lúcia Ribeiro,
dos Corpo Editorial e do Conselho Científico da Veneranda Presidente do Conselho Constitucional
Revista Científica da ACIPOL. Simultaneamente, de Moçambique, intitulada “O quadro
foi nomeado um novo editor-chefe, Prof. Doutor Constitucional da Missão das Forças da Lei e
José de Inocêncio Narciso Cossa, Professor Ordem em Moçambique: Uma reflexão sobre o
Auxiliar, Chefe de Departamento de Investigação Papel da Academia de Ciências Policiais”.
Científica de ACIPOL, em substituição do Msc. A Oradora referiu que com vista a conferir mais
Duarte Xavier Tembe. qualidade ao trabalho da Polícia, através da

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formação de oficiais pejados de conhecimentos e 2021. O trabalho é da autoria do Msc.Adérito
técnico-científicos de modo a assegurar a defesa Arone Fijamo, Adjunto de Superintendente da
da legalidade democrática, foi criada a ACIPOL Polícia e docente da ACIPOL.
através do Decreto nº 24/99 de 18 de Maio, como Por sua vez, o Msc. Francisco Marrumbine
instituição Policial de Ensino Superior em Novela, Inspector da Polícia e docente da
Moçambique. ACIPOL, contribui nesta edição da Revista
Caro leitor, a presente edição da Revista Científica da ACIPOL com o trabalho intitulado
Científica da Academia de Ciências Policiais, “A Política Externa de Moçambique para a África
destaca trabalhos Científicos com impacto a do Sul na Segurança Pública, tendo como caso de
diferentes níveis pelo que é convidado a lê-los e estudo o tráfico de pessoas como instrumento de
fazer o melhor aproveitamento. A nossa seu indicador.
expectativa como Revista Científica da ACIPOL é Outro trabalho científico de relevo nesta edição
que melhoremos cada vez mais, sob ponto de vista da Revista Científica é o do Prof. Doutor Zélio
de qualidade e que os trabalhos contribuam cada Ivan Banze, cujo título é “a Postura de Trânsito
vez mais na segurança e por conseguinte no aprovada pela Assembleia Municipal de Maputo à
desenvolvimento do país. luz dos princípios do direito”.
O primeiro trabalho especializa-se sobre O sexto artigo científico é dos autores Edson
Segurança em Moçambique: Factores Abílio Quive; Zélio Ivan Banze e Henrique Zuber
Geopolíticos como Base Para a Defesa e com o título “Uma Análise à Vulnerabilidade dos
Segurança Nacional face às Ameaças Agentes da Polícia Municipal de Maputo
Transnacionais, que é da autoria do Msc. Amílcar Emergente da Falta de Regulamentação do Uso de
Júlio Cossa, Superintendente da Polícia e docente Armas de Fogo.
da ACIPOL. A encerrar este número, a Revista Científica
O segundo trabalho é dos autores Abílio José apresenta o trabalho da Mestre Ana Paula
Mapilele, Superintendente Principal da Polícia e Macamo, docente da ACIPOL, cujo título é
Mestre em Ciências Policiais e Prof. Doutor “Avaliação de Qualidade nas Instituições de
Rodrigues Nhiuane Cumbane, Superintendente Ensino Superior em Moçambique, tendo feito a
Principal da Polícia e docente da ACIPOL. O leitura a partir da Experiência da ACIPOL.
artigo da autoria deste dueto, aborda sobre a Mais uma vez, este número da Revista resultou
Análise dos Factores de Atropelamentos no de um esforço conjunto, envolvendo a equipa
Distrito Municipal KaMubukwane da Cidade de editorial, a revisão e o apoio de membros da
Maputo, tendo como “lócus” de estudo a Avenida comissão científica. A todos aqueles que
de Moçambique entre os anos 2015 e 2019. aceitaram prestar o seu tempo a ela, vai uma
Consta desta edição de Revista, o artigo referência especial, pois sem o seu esforço seria
científico intitulado “a Satisfação e Expectativas impossível a Revista continuar a existir e fazer
dos Cadetes do II E III anos em Relação ao alguma diferença no “mundo” das publicações
Processo de Ensino - Aprendizagem no Curso de científicas. BEM HAJA!
Licenciatura em Ciências Policiais nos anos 2020

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Segurança em Moçambique: Factores Geopolíticos como base
para a Defesa e Segurança Nacional face às Ameaças
Transnacionais

Resumo
A presente pesquisa procura, à luz de pressupostos qualitativos, compreender
as condições, internas e externas, que propiciam a eclosão das ameaças
transnacionais em Moçambique. A partir de uma analise perspectiva
interpretativista constatámos que a transição da segurança do sistema
monopartidário para a segurança no sistema multipartidário não foi
acompanhada pelos requisitos exigíveis pelos doutrinários que estudam estas
matérias. Ora, introduzida a democracia houve necessidade de se conceber a
Amílcar Júlio Cossa
política de defesa e segurança a qual foi aprovada em 1997, no entanto, ela estava
desacompanhada do respectivo conceito estratégico. Transcorridos nove anos,
isto é, em 2004, aprova-se o conceito estratégico de defesa. Este conceito, por um
lado baseava-se no conceito de segurança na perspectiva do realismo clássico, isto é, valorização dos
aspectos militares para segurança nacional, por outro lado, deste conceito estratégico emergiram
directrizes nos planos interno, externo e militares as quais não foram cumpridas na íntegra, o que criou
ambiente propício para a eclosão e desenvolvimento das ameaças transnacionais. A pesquisa mostra que o
recomendável seria: conceber-se um conceito estratégico global da responsabilidade conjunta do poder
executivo e legislativo; Conceitos estratégicos sectoriais (de responsabilidade de cada área sectorial do
executivo) e, por fim, os conceitos estratégicos particulares (diversas áreas adstritas aos sectores do
executivo). Portanto, elaboram-se conceitos estratégicos em cada um dos níveis estratégicos para que o
conceito de cada escalão resulte do conceito do escalão imediatamente superior. Concebidos os conceitos e
para concretização das orientações estratégicas neles constantes são elaborados, a todos os níveis, os
competentes planeamentos estratégicos.

Conceitos-chave: ameaças transnacionais, segurança nacional e defesa nacional

Abstract
This research focuses on defense and security in Mozambique in the face of transnational threats. The
objective is to understand the conditions, internal and external, that favor the outbreak of transnational

Superintendente da Polícia, Docente da ACIPOL, Mestre em Ciências Policiais na especialidade de Investigação Criminal, Licenciado
em Ciências Policiais, Chefe do Departamento de Ensino e Aprendizagem na Academia de Ciências Policiais..

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threats in Mozambique, from which one can understand why the country is constantly in conflict. Using a
qualitative approach from an interpretive perspective, we found that the transition from security in a
single-party system to security in a multi-party system was not accompanied by the requirements
demanded by scholars who study these matters. Now, with the introduction of democracy there was a need
to design the defense and security policy which was approved in 1997, however, it was unaccompanied by
the respective strategic concept. Nine years later, that is, in 2004, the strategic defense concept was
approved. This concept, on the one hand, was based on the concept of security in the perspective of
classical realism, that is, the valorization of military aspects for national security, on the other hand, from
this strategic concept, guidelines emerged at the internal, external and military levels, which were not
fully complied with, which created a favorable environment for the outbreak and development of
transnational threats. The research shows that the recommendation would be: to conceive a global
strategic concept of the joint responsibility of the executive and legislative powers; Sectoral strategic
concepts (responsibility of each sectoral area of the executive) and, finally, the particular strategic
concepts (various areas linked to the sectors of the executive). Therefore, strategic concepts are elaborated
in each one of the strategic levels so that the concept of each echelon results from the concept of the
immediately superior echelon. Once the concepts have been conceived and in order to implement the
strategic guidelines contained therein, competent strategic plans are drawn up at all levels.

Key concepts: transnational threats, national security and national defense

Introdução na variante neoclássica auxiliada pela teoria de


segurança na perspectiva da Escola de Copenha-
Num ambiente internacional anárquico, as ga.
ameaças transnacionais tendem a ganhar maior O Estado Moçambicano definiu como
atenção na construção de segurança dentro das objectivos fundamentais a defesa da independên-
unidades políticas (Estados). Actualmente, as cia e da soberania, a consolidação da unidade
evidências demonstram que uma unidade política nacional, a promoção de uma sociedade de
por si só, não está em condições de fazer frente as pluralismo, tolerância e cultura de paz, a edifica-
ameaças transnacionais o que compele os Estados ção de uma sociedade de justiça social e a criação
a terem que cooperar e coordenar para o seu do bem-estar material, espiritual e de qualidade de
enfrentamento. Portanto, podemos afirmar que a vida dos cidadãos (art.º 11 da Constituição da
construção da segurança de um Estado não República de Moçambique – CRM, 2018). Ora,
requere somente um forte aparato militar, pois, há estes objectivos são confrontados com situações
outras variáveis que jogam um papel de extrema de ameaças que têm dominado o ambiente
importância na articulação de estratégias de internacional com implicações no ambiente
defesa e segurança dos Estados. doméstico nomeadamente, terrorismo internacio-
Esta pesquisa, é uma parte do trabalho que está nal, criminalidade organizada e transnacional,
sendo desenvolvido dentro da área de Relações migrações ilegais que constituem ameaças
Internacionais concretamente nos Estudos de relevantes na edificação da segurança do Estado.
Segurança tendo como teoria básica o Realismo O objectivo desta pesquisa é: Compreender as

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condições, internas e externas, que propiciam a pode ser abordado na perspectiva interpretativis-
eclosão das ameaças transnacionais em ta baseado no “process tracing” (rastreamento do
Moçambique como pressuposto para explorar os processo) o qual possibilita ao pesquisador obter
factores geopolíticos indispensáveis para as formas pelas quais os vínculos se manifestam
redefinição da estratégia de defesa e segurança. permitindo igualmente, não só se focar no que
aconteceu, mas também no como aconteceu o que
1. Enquadramento Metodológico facilita a análise dos motivos que os diferentes
actores dão para as suas acções (Jervis em Ven-
Adoptámos o método qualitativo o qual é nesson, 2008, p. 233) e, na perspectiva positivista,
referente à estratégia de colecta e posterior análise na qual o “process tracing” tem como objectivo
de dados não numéricos. Como ensina Lamont avaliar as conexões entre os diferentes factores
(2015), os “métodos qualitativos são usados para através do uso de dados, entrevistas transcritas,
compreender melhor o mundo que nos rodeia e, entre outras; portanto, o pesquisador examina o
como tal, exigem que nos concentremos nos nexo causal entre a teoria de base que está usando
significados e processos” (p. 95). e as variáveis intervenientes, isto é, se a teoria que
Dentro da abordagem qualitativa recorreremos usa pode ser observada nos valores das variáveis
ao estudo de caso, mas no resumo falou da verten- intervenientes (Mahoney, George e Bennett em
te interpretativista!!!. Com o desenvolvimento Vennesson, 2008, p. 232).
científico o “conceito de caso (…) ampliou-se, a Neste ensaio, recorremos ao estudo do caso do
ponto de poder ser entendido como uma família tipo interpretativo na perspectiva interpretativis-
ou qualquer outro grupo social (…), uma organi- ta, auxiliado pela pesquisa documental e biblio-
zação, um conjunto de relações, um papel social, gráfica (Gil, 2002).
um processo social, uma comunidade, uma nação
ou mesmo toda uma cultura” (Gil, 2002, p. 138). 2. Definição de Conceitos-chave
Neste sentido, entenda-se por estudo de caso,
“uma estratégia de pesquisa baseada na investiga- 2.1. Ameaças |transnacionais|
ção empírica aprofundada de um ou pequeno Tal como expôs David (2001), qualquer
número de fenómenos a fim de explorar a ameaça influencia o “comportamento dos Estados
configuração de cada caso e elucidar característi- na definição das suas políticas de segurança
cas de uma classe maior de fenómenos (seme- nacional, regional e internacional.” O autor
lhantes) por desenvolver e avaliar explicações classifica a ameaça quanto à sua natureza em
teóricas (Ragin em Vennesson, 2008, p. 226). objectiva e subjectiva podendo ser real ou percep-
Há 4 tipos de estudo de casos para diferentes cionada e, podendo igualmente comportar
propósitos nomeadamente, estudo de caso incidências directas (ataque armado à uma
descritivo (configurativos ideográficos), estudo determinada unidade política) ou indirectas
de caso interpretativo, estudo de caso de geração e (pertença à uma aliança que não comunga dos
refinamento de hipóteses, estudo de caso para ideias políticos de uma outra aliança ou unidade
avaliação das teorias existentes (Vennesson, política). A avaliação que as unidades políticas
2008, pp. 227-228). fazem da ameaça, isto é, a probabilidade de
Em termos de perspectiva, o estudo de caso ocorrência e a severidade dos danos que podem

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causar determinam a política de defesa e seguran- interferência” (Correia, 2015, p. 54).
ça de um Estado. Ora, o desenvolvimento da
sociedade trouxe novos valores que ao longo do 2.2. Segurança Nacional
tempo foram se consubstanciando em direitos Os conceitos são ferramentas epistêmicas que
inerentes ao Homem os quais passam a reclamar são construídos para permitir uma aproximação
de garantia de protecção e segurança. A “progres- aos mesmos com o objectivo de compreendê-los,
são de uma visão estatal para uma visão humana explicá-los e, eventualmente, operar sobre eles
da segurança” (David, 2001, p. 75), fez nascer um (Saint-Pierre, 2012, p. 409). Ora, quando se trata
novo tipo de ameaças não militares nomeadamen- de conceito de segurança, esse exercício é penoso,
te, a insegurança económica, social, jurídica, pois, na sua definição, não há consenso. Talvez
ambiental, entre outras, cuja sua desvalorização seja esse motivo que forçou Williams (2013) a
pode levar à anarquia que vitimará não só aos considerar que a “segurança, sem dúvida, signifi-
cidadãos nacionais, mas também ao próprio ca coisas diferentes para pessoas diferentes – em
Estado, uma vez que “provocam conflitos e uma um nível abstrato” (p. 1).
violência civil que perturbam as condições de Ribeiro (2020), referencia que “a conservação
existência das populações. Essas condições da sociedade política está associada à noção de
modificam, multiplicam e diversificam as segurança nacional,” logo, esta “tem por objeto os
ameaças, obrigando assim ao alargamento de interesses nacionais” (p. 48). Este autor define a
estudos de segurança” (David, 2001, p. 87). segurança nacional como a “situação que garante
Há uma relação entre ameaças e segurança a unidade, a soberania e a independência da
pois, esta é objecto de pesquisa sobre as ameaças, nação, a integridade e segurança das pessoas e dos
sejam elas reais ou percepcionadas, sejam elas do bens; o bem-estar e a prosperidade da nação; a
domínio militar ou não militar, sejam elas do unidade do Estado e o desenvolvimento normal
plano nacional ou internacional (David, 2001, p. das suas tarefas; a liberdade de acção política dos
25). órgãos de soberania e regular funcionamento das
Nesta pesquisa, consideramos ameaça qual- instituições democráticas, no quadro constitucio-
quer situação em curso ou que indicie probabili- nal (p. 49). Trata-se de um conceito construído
dade de ocorrência, que possa resultar da acção ou pelo Instituto de Defesa Nacional (português).
omissão humana, passível de causar insegurança Ora, com o vasto leque de ameaças, o conceito de
real ou percepcionada com potencialidade de pôr segurança nacional não se restringe apenas dentro
em causa, não só os interesses vitais, mas também das fronteiras dos Estados, pois, “as ameaças são
os objectivos fundamentais de uma unidade estruturais, complexas, dispõem de grande
política. Consideram-se ameaças transnacionais mobilidade e possuem um caracter transnacional
quando têm origem num Estado e projectam-se e difuso,” o que dificulta a demarcação das
para os outros seja em trânsito ou como destino ameaças que devem ser combatidas por forças
final. Por interesses nacionais vitais, entenda-se, policiais das que devem ser combatidas por
aqueles que dizem respeito à “manutenção da forças militares, portanto, a segurança nacional
independência nacional, à sua identidade, à “passou a reclamar dos Estados uma outra respos-
soberania territorial, à salvaguarda do exercício ta, com recurso às estruturas orgânicas militares e
de um conjunto de políticas nacionais, sem policiais em perfeita coordenação, de forma a

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criarem-se efeitos sinérgicos, impossíveis de consolidação da unidade nacional, a edificação de
atingir com compartimentações não concertadas e uma sociedade de justiça, o funcionamento
estanque do próprio Estado” (Ribeiro, 2020, p. normal das instituições bem como a criação de
50). bem-estar material espiritual e qualidade de vida
Para David em Ribeiro, (2020), a segurança dos cidadãos.
nacional “é uma condição, um estado, um valor a
atingir, de cariz relativo e resultante de uma 2.3. Defesa Nacional
reflexão, destinado a mobilizar esforço de defesa A realidade anárquica do sistema internacio-
nacional em função da probabilidade de ocorrên- nal, conforme a tese do Realismo, alerta aos
cia das ameaças admitidas e da sua periculosidade Estados a preocuparem-se com a sua self-defense
(actor contrário), da urgência e do valor que está contra as ameaças internas e externas. A defesa
em jogo (bens a proteger), e do grau de cobertura a nacional mantém uma relação intrínseca com a
alcançar” (, p. 55). segurança nacional, pois, “enquanto a defesa
Cada Estado é responsável pela definição dos enfrenta ameaças, isto é, contrariedades promovi-
níveis de segurança nacional desejáveis como das por oponentes, que são agentes nacionais, a
meta a alcançar, podendo delimitar por dois segurança enfrenta riscos, que incluem as amea-
níveis: mínimo (segurança primordial para ças que vão mais além” (Correia em Ribeiro,
defender os interesses nacionais) e máximo 2020, p. 58).
(segurança ideal). Partindo da premissa de que é A noção de sentir-se seguro resulta da percep-
impossível garantir-se a segurança em 100%, é ção efectiva da carência de ameaças relativamen-
necessário admitir o risco aceitável. A segurança te à prossecução do interesse nacional. O que
nacional possível será obtida através da pondera- significa que “a sensação de insegurança, mesmo
ção de actores contrários com as capacidade e que injustificada, pode ser tão prejudicial como a
possibilidades de o Estado defender os interesses própria insegurança, e a sensação de segurança é,
nacionais (Ribeiro, 2020, p. 53). em determinada circunstância, tão importante
Com base no exposto nos parágrafos anterio- como a segurança real. Por isso, no âmbito da
res, o conceito de Segurança Nacional que segurança nacional deve considerar-se as amea-
adoptámos foi construído tendo como alicerce os ças reais e as percepcionadas. Estas, serão comba-
interesses e objectivos fundamentais do Estado tidas com acções psicológicas, enquanto outras
moçambicano consagrados no art.º 11 da CRM de requerem medidas materiais,” daí a necessidade
2018 a destacar: defesa da integridade territorial e da defesa nacional, entendida como “actividade
soberania, consolidação da unidade nacional, que visa garantir a segurança nacional” (Ribeiro,
edificação de uma sociedade de justiça, a criação 2020, pp. 54-55). De uma forma mais elaborada o
de bem-estar material espiritual e qualidade de autor considera defesa nacional o “conjunto de
vida dos cidadãos. Realçamos que os objectivos actos que permitem ao Estado proteger-se de uma
mencionados são de verificação comutativa, isto ameaça pontual, latente ou concretizada que
é, a fragilidade de um pode afectar todo sistema afecte os interesses nacionais” (Ribeiro, 2020, p.
securitário nacional. Entenda-se por segurança 55).
nacional o conjunto de actividades que visam David em Ribeiro (2020) formulou a seguinte
assegurar a integridade territorial e soberania, a reflexão: “sem a compreensão do que é a

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segurança e, sobre tudo, para quem e porquê é ela Libertação de Moçambique (FRELIMO). As
necessária, a defesa nacional não tem fim, nem forças de defesa e segurança (FDS), eram dirigi-
razão” (p. 55). das pelo partido, conforme se pode conferir no
Couto (1981) observa que, actualmente, a art.º 5 da CRM de 1975 e, tinham uma responsabi-
defesa nacional deve ser objecto de especial lidade fundamental na defesa e consolidação da
atenção e, adverte que é necessário que seja independência e da unidade nacional. A acção e
“claramente definido o seu objecto, concebido em desenvolvimento das FALM fundava-se na
torno de valores fundamentais,” assim sendo, terá direcção política da FRELIMO e na ligação
maior aceitabilidade por parte da população, que estreita com o povo (Revista Tempo, 1975, p. 18).
constitui um forte actor em matéria de defesa Dois anos depois da independência, no III
nacional (p. 11). O autor conclui citando uma Congresso da FRELIMO realizado em 1977,
equipa de oficiais franceses que aconselham que traçaram-se as diretrizes do novo Estado. No
na defesa nacional deve proteger-se não só os domínio da Defesa Nacional e da Segurança
valores materiais, mas também os culturais de Popular, com se designava, a tarefa principal do
uma nação (Couto, 1981, p. 6). Partido era fortalecer a “capacidade defensiva do
Do exposto, resulta evidente que, o exercício país e a consolidação da ordem, da disciplina e da
de construção dos conceitos de segurança segurança pública.” Para isso, as FDS, que
nacional e defesa nacional é feito com base nos integravam as forças armadas, as forças policiais
valore fundamentais em concomitância com os e outras forças incluindo órgãos de segurança
objectivos nacionais que corporizam os interesses popular eram “instrumentos políticos da revolu-
nacionais consagrados na Constituição. A LPDS ção moçambicana,” sobre elas pesava a grande
de 2019 não define a segurança nacional, no responsabilidade da defesa da integridade territo-
entanto, o art.º 7 deste diploma legal, define a rial, consolidação da independência e da sobera-
Defesa nacional como “actividade desenvolvida nia nacional (Revista Tempo, 1977, p. 28).
pelo Estado e pelos cidadãos, que visa defender a Para a actuação dos órgãos militares e parami-
independência e a unidade nacional, preservar a litares, o Partido definiu as seguintes directivas:
paz, a soberania, a integridade e a inviolabilidade proteger e apoiar as conquistas das classes
do país, garantir o funcionamento normal das trabalhadoras e o desenvolvimento da sociedade
instituições e a segurança dos cidadãos contra moçambicana na via do socialismo contra o
qualquer ameaça ou agressão.” Este conceito imperialismo internacional e a reacção interna;
orientará a pesquisa por entendermos que, deriva Lutar contra a criminalidade e outras agressões
do ordenamento jurídico moçambicano que em das leis revolucionárias; Velar pela manutenção
última instância reflete a vontade política do da paz, da tranquilidade, da ordem e da segurança
Estado. públicas (Revista Tempo, 1977, p. 29).
Como forma de extensão das FDS nas popula-
3. Segurança em Moçambique ções, o Partido criou as milícias populares em
todo o país que constituíam um instrumento da
Com a proclamação da independência nacio- revolução moçambicana e tinham as seguintes
nal, o país adoptou o sistema socialista com um tarefas: “Apoiar os órgãos de segurança na luta
único partido político dirigido pela Frente de pela defesa das conquistas revolucionárias, da

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soberania nacional e da integridade territorial moçambicanas através da “polícia secreta rodesi-
contra o inimigo interno e contra as acções ana formou a Resistência Nacional de Moçambi-
agressivas e contra-revolucionárias do imperialis- que” - RENAMO (Abrahamsson, 1998 p. 102).
mo e dos seus agentes,” A formação política e Por isso, a “política de segurança formulada,
militar das milícias populares estava a cargo do tendo esse pano de fundo, era convencional e de
Partido, (Revista Tempo, 1977, p. 29). orientação da teoria realista no sentido de que a
É necessário sublinharmos que estamos no segurança nacional foi principalmente analisada
período da “guerra fria” onde a disputa de zonas em termos militares” (Abrahamsson (1998, p.
de influência entre União das Repúblicas 101).
Socialistas Soviéticas - URSS e os Estados Foram estes eventos que determinaram o início
Unidos da América – EUA, era a principal preo- da guerra civil em 1977 entre a FRELIMO (no
cupação na política externa dessas potências. O poder) e a RENAMO, que terminou em 1992 com
posicionamento geoestratégico de Moçambique assinatura do Acordo Geral de Paz - AGP em
em relação ao mundo e à região torna-o vulnerá- Roma. Neste acordo, por um lado, o Governo
vel aos aliciamentos estratégicos provindos das comprometeu-se a não agir de forma contrária aos
grandes potências. Claramente que a adopção do termos dos Protocolos constantes do acordo e a
modelo socialista não podia agradar ao bloco não aplicar leis que vigoravam e que eventual-
ocidental, o qual tinha fortes influências no mente contrariassem os mesmos Protocolos (nº 1
regime de apartheid na África do sul e na Rodésia do Protocolo-1, da Lei n° 13/92 de 14 de Outubro
do sul. Por isso, após o Congresso, o país foi – lei do AGP), por outro lado, a RENAMO
vítima de agressões armadas protagonizadas comprometeu-se a partir da entrada em vigor do
pelos regimes atrás referidos, o que comprometeu cessar-fogo, a não combater pela força das armas
o processo de construção da segurança nacional. mas, a conduzir a sua luta política na observância
O maior fundamento das agressões armadas das leis em vigor, no âmbito das instituições do
que o país sofreu, pode ser explicado no papel Estado existentes e no respeito das condições e
activo que Moçambique teve na região que, garantias estabelecidas no Acordo (nº 2 do
aproveitando-se do seu posicionamento, geoes- Protocolo -1 do AGP).
tratégico usou o sector dos transportes “para que o O AGP introduz o Estado de direito democráti-
regime de apartheid da África do sul pudesse ser co (art.º 1 da CRM de 1990), posição consolidada
isolado” e, simultaneamente apoiou aos movi- na CRM de 2004), como sendo um Estado “basea-
mentos de libertação da África do Sul (African do no pluralismo de expressão, na organização
National Congress – ANC e, da Rodésia do sul política democrática, no respeito e garantia dos
(Zimbabwe African National Union –ZANU). direitos e liberdades fundamentais do Homem”
Essas acções foram penalizadas pelo então (art.º 3 da CRM de 2004). A segurança e liberdade
presidente da África do Sul (P. Botha), que passam a ser direitos consagrados na constituição
“utilizou a sua estratégia total e deu início à (art.º 59 CRM, 2004), o que modificou profunda-
desestabilização económica e militar.” Na mente a estrutura de defesa e segurança nacionais
circunstância, a Rodésia do Sul, com o objectivo que vigorou no período de partido único.
de combater a ZANU dentro das fronteiras Sucede, porém, que no processo de paz e de

2104
ajustamento das estruturas governativas “pouca pública (al. j do art.º 3 da LPDS), entre outros.
atenção foi dada às dimensões internas que Correia (2020) ensina que a aplicação de uma
precederam a guerra. As exigências da RENAMO estratégia se faz através de certos processos que se
foram apresentadas num contexto mais de demo- traduzem na elaboração de conceitos estratégicos
cratização e política económica neoliberal” (p. 39), portanto, a ausência do referido conceito
imposta por USA (Nilsson, 2001, p. 223). Para o prejudica a construção dos mecanismos de defesa
autor, o menosprezo das dimensões socioecóno- e segurança nacionais.
micas foi devido a “atenção exagerada que estava Sucede, no entanto, que após a aprovação da
sendo dada a segurança no sentido convencional LPDS, transcorreram nove anos sem o conceito
do conceito”, ou seja, “ausência de violência estratégico de defesa e segurança. Depois do
directa” (Nilsson, 2001, p. 224). O autor desperta- referido período, o Conselho de Ministros através
nos o peso que as teses do neoliberalismo tiveram da Resolução nº 42/2006 de 26 de Dezembro,
na transformação do ambiente de guerra civil ao aprovou o Conceito Estratégico de Defesa
ambiente de paz em Moçambique. Essa realidade Nacional (CEDN) e diz, no ponto 1, que “é a
teve como consequência o reinício dos confrontos definição dos aspectos fundamentais da estratégia
na região central do país. global do Estado, adoptada para a consecução dos
Em razão da transformação introduzida pela objectivos da política de defesa nacional.” Este
CRM de 1990, as FDS deixam de estar sob conceito estratégico convoca somente a Lei da
orientação partidária passando a subordinar-se à Defesa Nacional e das FADM. Depreende-se
política nacional de defesa e segurança devendo deste facto que, por um lado, embora se use o
fidelidade à Constituição e à Nação (nº 1 do art.º termo “estratégia global do Estado,” ao convocar-
60 da CRM de 1990) e, igualmente introduziu-se, se a lei das FADM e excluir-se as leis da PRM e do
pela primeira vez, a figura de política de defesa e SISE, é evidência de que a LPDS de 1997 basea-
segurança (art.º 59 da CRM de 1990). va-se no conceito de segurança na perspectiva do
Foi com base nesse fundamento constitucional realismo clássico, isto é, valorização dos aspectos
que se aprovou a política de defesa e segurança, militares para segurança nacional, portanto, não é
através da Lei nº 17/97 de 1 de Outubro, definida um conceito estratégico global, mas sim sectorial.
como “um conjunto de princípios, objectivos e Por outro lado, deste conceito estratégico emergi-
diretrizes, que visa defender a independência ram directrizes nos planos interno, externo e
nacional, preservar a soberania e a integridade do militares as quais não foram cumpridas (vide
país e garantir o funcionamento normal das pontos 6.1, 6.2, 6.3 do CEDN), o que com ajuda
instituições e a segurança dos cidadãos” (art.º 1 da da corrupção, criou ambiente propício para a
LPDS de 1997). Esta política, é baseada numa eclosão e desenvolvimento das ameaças transna-
orientação estratégica de diplomacia voltada para cionais a destacar a criminalidade organizada que
a paz que se consubstancia numa postura estraté- se manifesta em tráfico de drogas, tráfico de seres
gica dissuasora e defensiva com recurso a força na humanos e de armas, pirataria marítima, imigra-
situação de legítima defesa e, tinha como objecti- ções ilegais, cibercriminalidade, branqueamento
vos principais: prevenir e combater a criminalida- de capitais e, por fim o terrorismo de matriz
de organizada incluindo o terrorismo (al. i do art.º islâmica.
3 da LPDS de 1997); manter a ordem e segurança Com a evolução do terrorismo, consolidou-se

2115
mais uma ameaça transnacional que colocou o classificar as ameaças, ou seja, materializar os
país, sobre tudo em algumas regiões de Cabo objectivos definidos na LPDS. A falta ou deficien-
Delgado, numa posição de vulnerabilidade em te definição deste conceito compromete a defesa e
termos securitários. A corrupção dos jovens para segurança nacionais, principalmente num ambi-
aderirem ao terrorismo, confirma o vaticínio de ente onde as “ameaças e oportunidades não são
Abrahamsson e Nilsson (1995, p. 54), os quais facilmente identificáveis” (Elman e Jensen, 2008,
advertiram que o fenómeno de corrupção que p. 26).
emergia naquela época (1995), em concomitância O desenvolvimento dos ataques terroristas,
com a insegurança social e económica tinham que levou à paralisação do poder do Estado em
aberto espaço para a penetração de crimes trans- algumas regiões à Norte de Cabo Delgado,
nacionais, e alertaram que, caso não fossem obrigou à necessidade de adequar os instrumentos
resolvidos, futuramente seriam um obstáculo matriciais da Política de Defesa e Segurança à
nacional de difícil solução para o governo realidade actual do País, assim, revogou-se a
moçambicano. LPDS de 1997 e, aprovou-se a Lei n.º 12/2019 de
Tal como sublinha David em Ribeiro (2020), 23 de Setembro. Esta Lei reforça o “monopólio
“sem a compreensão do que é a segurança e, sobre legítimo do Estado sobre os meios de coerção,
tudo, para quem e porquê é ela necessária, a para fazer valer a defesa nacional” (al. c do art.º
defesa nacional não tem fim, nem razão” (p. 55). 2).
Compulsada a legislação moçambicana foi A grande alteração introduzida pela LPDS de
possível encontrar o conceito de defesa nacional, 2019, pode ser encontrada nos objectivos, onde
mas não foi possível encontrar o de segurança identifica claramente as ameaças que devem ser
nacional. Ora, uma vez que “as ameaças são prevenidas e/ou combatidas que são: “crimes
estruturais, complexas, dispõem de grande contra a segurança do Estado ou de natureza
mobilidade e possuem um caracter transnacional transnacional e outras formas de crime organiza-
e difuso,” (Ribeiro, 2020, p. 50), a falta de noção do (al. i do art.º 3) e, “tráfico de pessoas, de órgãos
clara do que é segurança nacional, seguramente humanos e de armas” (al. j do art.º 3). Igualmente
influencia nas estratégias de defesa nacional, o introduz o refinamento do conceito de Política de
que abre espaço para a eclosão de ameaças. Defesa e Segurança e detalha o âmbito de actua-
Assumindo que a segurança é objecto de ção das forças policiais no estrangeiro, sinal claro
pesquisa sobre as ameaças, sejam elas reais ou de reconhecimento da transnacionalidade das
percepcionadas, sejam elas do domínio militar ou ameaças, e, cria o comando conjunto das FDS. No
não militar, sejam elas do plano nacional ou entanto, persiste a lacuna identificada na LPDS de
internacional (David, 2001, p. 25), depois de a 1997 nomeadamente, a inexistência do conceito
política de defesa e segurança ter traçado os estratégico global do qual derivaria o sectorial da
objectivos, cabe ao conceito estratégico de defesa área de defesa e segurança. Esta lacuna dificulta
e segurança identificar, definir, interpretar e igualmente a definição dos “códigos geopolíti-

É uma grande ideia estratégica de materialização dos objectivos nacionais permanentes, adequada ao ambiente externo e interno,
destinada a garantir a manutenção do país numa posição favorável de tal forma que seja difícil aos seus contendores provocar-lhe
prejuízos” (Ribeiro, 2010, p. 56),

12
cos ” (Flint, 2006). nacionais, razão pela qual tomou o CEDN de
Para a segurança nacional, o recomendável 2006 (que é sectorial) como conceito global do
segundo Correia (2020) seria, conceber-se um Estado, portanto, estamos perante um conceito
conceito estratégico global da responsabilidade sectorial da área de defesa nacional que assume
conjunta do poder executivo e legislativo; Conce- abrangência de um conceito global. Esse proble-
itos estratégicos sectoriais (de responsabilidade ma é descrito em Correia (2020, p. 41) como uma
de cada área sectorial do executivo) e, por fim, os lacuna, que no nosso ponto de vista, a avaliar a
conceitos estratégicos particulares (diversas áreas actual situação de segurança do país, devia ser
adstritas aos sectores do executivo). O autor colmatada; Por outro lado, mesmo com as fragili-
ensina que “devem ser elaborados conceitos dades apontadas no CEDN de 2006, sucede que as
estratégicos em cada um dos níveis estratégicos directrizes nele traçadas não foram cumpridas;
por forma que o conceito de cada escalão resulte Por fim, actualmente está se cometendo o mesmo
dos conceitos do escalão imediatamente superi- erro decorrente da aprovação da LPDS de 1997
or.” Concebidos os conceitos e para concretização nomeadamente, actualizou-se a LPDS (em 2019),
das orientações estratégicas neles constantes “são no entanto, está desacompanhada do respectivo
elaborados, a todos os níveis, os competentes conceito estratégico.
planeamentos estratégicos” (p. 40). Urge a necessidade de se conceber o conceito
estratégico global; os conceitos estratégicos
4. Considerações finais sectoriais e os conceitos estratégicos particulares.
Sublinhe-se que o conceito de cada escalão deve
De forma sintética diríamos, por um lado, que resultar do conceito do escalão imediatamente
Moçambique não possui o conceito estratégico superior. Feito isto, são elaborados, a todos os
global do Estado do qual derivaria o conceito níveis, os competentes planeamentos estratégi-
estratégico do sector de defesa e segurança cos.

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O “códigos geopolíticos” baseiam-se em cinco cálculos principais a saber: Quais são os aliados actuais e potenciais? Quais os actuais e
potenciais adversários? Como pode o país manter os seus aliados e persuadir potenciais aliados? Como se pode vencer os adversários
actuais e as ameaças emergentes? (Flint, 2006).

13
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2145
Análise dos Factores de Atropelamentos no Distrito Municipal
KaMubukwane: caso da Avenida de Moçambique - 2015 – 2019

Resumo
O presente artigo analisa os factores de atropela-
mentos na Avenida de Moçambique, Distrito KaMu-
bukwane, na Cidade de Maputo entre 2015 e 2019, à luz
da abordagem explicativa e descritiva como resultado
de combinação dos métodos qualitativo e quantitativo.
Para a colecta de dados, foram usadas três técnicas:
questionário, entrevistas e análise documental. Os
resultados das três técnicas mostram que é na Avenida
Abílio José Mapilele Rodrigues Nhiuane
Cumbane de Moçambique onde se registam maiores índices de
atropelamentos com 216 casos, equivalendo a 53,33%
dos 405 casos registados neste Distrito e os restantes 189 casos equivalendo 46,67% tiveram lugar em
outras vias do Distrito. São apontados como factores de atropelamentos: o homem, a via, o veículo e o meio
ambiente, destes factores o Homem é tido como o principal, devido à sua capacidade de discernir. Con-
substanciando a esta afirmação, os resultados indicam ainda que, os condutores do sexo masculino e
jovens (dos 18 a 29 anos) são os que mais se envolvem em acidentes de viação, na proporção igualitária de
83,13%, seguidos de condutores dos transportes semi-colectivos de passageiros e jovens na ordem de
66,26% e 63.86%, respectivamente. Outros elementos que favorecem a ocorrência de acidentes são a fraca
fiscalização do estado técnico de veículos com cerca de 43,37%, a degradação das vias com aproximada-
mente 45,78% e o desconhecimento das regras de trânsito. Ainda, ouvindo os utentes da via, apontou-se a
degradação das vias que além de influenciar a má circulação de pessoas e bens, são tidas como assassinas
de peões e danificadores de veículos. Para minimizar as diversas infracções de trânsito, sugere-se, dentre
outras medidas, a adopção da caderneta de registo das transgressões cometidas pelos condutores efacili-
tar o seu acesso em zonas onde não há condições de se recorrer aos aparelhos electrónicos de conservação
de dados.

Palavras-chave: Acidente de Viação, Atropelamento, Segurança Rodoviária e Avenida de


Moçambique

Mestre em Ciências Policiais na especialidade de Segurança Pública; Licenciado em Psicologia variante de Psicologia das Organizações
e do Trabalho, Bacharel em Psicologia e Curso Médio Profissional da Polícia de Protecção. abimapilele@yahoo.com.br
Doutor em Território, Risco e Políticas Públicas; Mestre em Administração Pública e Licenciado em Ciências Policiais.
manyune@gmail.com
O artigo resulta de um estudo apresentado à ACIPOL para a obtenção de Grau de Mestrado em Ciências Policiais na especialidade da
Segurança Pública.

11548
Abstract
This article analyzes the factors of pedestrian accidents at Avenida de Moçambique, KaMubukwane
District, in Maputo City, between 2015 and 2019, in the light of explanatory and descriptive approaches as
a result of the combination of qualitative and quantitative methods. Three techniques have been used for
data collection: a questionnaire, interviews, and document analysis. The results of the three techniques
show that the highest rates of accidents were recorded at Avenida de Moçambique, with 216 cases,
equivalent to 53.33% among 405 cases registered in this District, and the remaining 189 cases, equivalent
to 46.67%, which took place on other roads in the District. Factors such as: man, road, vehicle, and
environment have been pointed out as causes of accidents. The man is considered to be the main factor due
to his discernment capacity. Substantiating this statement, the results also indicate that male drivers and
young people (aged 18 to 29 years) are the most involved in traffic accidents, with an equal proportion of
83.13%, followed by semi-collective bus drivers and young people in the order of 66.26% and 63.86%,
respectively. Other elements that foster the incidence of accidents are the poor technical condition of
vehicles with approximately 43.37%, the degradation of roads with approximately 45.78%, and the lack
of traffic rules knowledge. Still, listening to the road users, the degradation of roads has been pointed out,
which besides influencing bad traffic of people and goods, are regarded as killers of pedestrians and
damages to vehicles. In order to reduce various traffic violations, it is suggested, among other measures,
the adoption of drivers' transgression record books to facilitate their access in areas where there are no
conditions for using electronic data storage devices.

Keywords: Traffic Accident, Hit-and-run, Road Safety, Avenida de Moçambique

Introdução seu produto interno bruto (PIB), principalmente


A presente pesquisa realizou-se no contexto de em países com baixos e médios rendimentos, a
busca de factores subjacentes aos altos índices de exemplo de Moçambique. Consubstanciado a
atropelamentos verificados no troço atravessado esta realidade, o estudo procurou responder às
pela Avenida de Moçambique, no Distrito Muni- seguintes questões de investigação: Quais são os
cipal Ka Mubukwane, pois estes contribuem nas factores que estão na origem dos atropelamentos
consequências nefastas daí resultantes, por ceifar na Av. Moçambique? Quais os pontos mais
vidas humanas, politraumatizar suas vítimas, bem frequentes de ocorrência desses atropelamentos?
como produzir deficiências físico-motoras que Que medidas ou estratégias devem ser adoptadas
tornam as vítimas temporária ou permanente- para a contenção desse fenómeno? De acordo com
mente incapacitadas, para além de destruir bens as questões de investigação retro-formuladas,
materiais. Estudos realizados por Cardoso, Roque estabeleceu-se como objectivo geral: Analisar os
e Gomes (2016) apontam os atropelamentos factores dos atropelamentos registados na Aveni-
como os maiores causadores de óbitos em jovens da de Moçambique no período de 2015 a 2019.
dos 15 a 29 anos de idade e provocam, ainda, Especificamente, o estudo procurou: identificar
avultadas perdas aos governos na ordem de 3% do os factores subjacentes aos atropelamentos;

1169
indicar os pontos críticos e formas de atropela- resultado de um choque entre uma viatura em
mentos; e propor medidas e/ou estratégias para a movimento e um peão ou animal. Também, pode-
redução dos atropelamentos na área estudada. O se descrever o atropelamento como choque de
artigo, para além da introdução, estrutura-se em vi um veículo motorizado com pessoa circulando a
secções: (ii) conceitos e enquadramento teórico, pé ou conduzindo animal ou veículo não motori-
(iii) metodologia, (iv) apresentação e análise de zado, na área da via destinada ao trânsito de
dados, (v) conclusões, e (vi) sugestões. veículos. Deste modo, o atropelamento consiste
no embate provocado por uma viatura contra uma
2. Conceitos e enquadramento teórico pessoa ou um animal na via pública e pode
produzir danos humanos ou materiais.
Esta secção é reservada à apresentação dos O peão é aquela pessoa que caminha a pé numa
principais conceitos utilizados para a elaboração via de comunicação e segundo Seco, Macedo e
do presente artigo e respectivo enquadramento Costa (2008, pp. 6-7) “os peões são, de todos os
teórico. utentes das estradas, os mais vulneráveis, …”, por
serem constituídos por grupos heterogéneos, em
2.1 Conceitos-chave virtude de não possuirem o mesmo tipo de com-
Segundo Pinto (2006) o acidente de viação portamento, carácter, atitude e desempenho na via
resulta da disfunção do sistema de interacção do pública. Existem peões tidos de normais e outros
trinómio homem, via e veículo; enquanto Oliveira com limitações que exigem especial atenção para
(2007), considera-no de um fenómeno civilizaci- a sua circulação, protecção e segurança na via
onal resultante da circulação de veículos em pública.
grande escala na via pública, tendo como factores: O termo 'segurança' é descrito como um
o homem, o veículo, a via e o ambiente; para Leal conceito amplo e multifacetado que compreende
et al. (2008), o acidente é um acontecimento a “gestão da segurança pública, no âmbito da
fortuito que altera a ordem das coisas e pode prevenção à violência, à criminalidade, à seguran-
resultar da disfunção dos elementos da condução ça rodoviária e à insegurança social, …” Mota
automóvel (homem, via e veículo) e o Código de (2014, pp. 7 -31); por seu turno, Soares (2003),
Estrada moçambicano caracteriza o acidente de p.89) define a segurança como uma “…estabilida-
viação como resultado da acção de uma violência de de expectativas positivas, compatíveis com a
exterior súbita produzida por qualquer veículo ou ordem democrática e a cidadania, envolvendo,
meio de transporte em circulação na via pública. portanto, múltiplas esferas formadoras da quali-
Apesar de ambos conceitos descreverem o dade de vida, cuja definição subsume dignidade e
acidente de viação de forma concisa, o primeiro é respeito à justiça, à liberdade e aos direitos
o mais abrangente por apresentar os principais humanos.” e, para Soares (2003), Nunes (2010),
factores ou elementos da circulação rodoviária, Mota (2014) & Costa, Lacaz, Jackson e Vilela
não obstante a ausência do elemento ambiente (2014) a segurança pressupõe estar livre do
circundante, que também exerce a sua influência perigo, do risco e do dano de qualquer situação
na circulação automóvel. adversa. Para uma melhor compreensão do termo
Alguns acidentes incidem sobre os atropela- segurança, Mota (2014) aflora outros campos da
mentos definidos por Ramos (2008), como sendo actuação da segurança pública, com enfoque nos

17
direitos e liberdades dos homens, sendo neste 2.2 Enquadramento Teórico
campo onde encontramos vários sub-campos, Este artigo ancorra-se em três teorias: (i)
como o da segurança rodoviária, cujo objectivo é Teoria Sociológica, (ii) Teoria Comportamental e
assegurar a fluidez da circulação de pessoas e (iii) Teoria de Prevenção Geral.
bens. Baseando-se em Gunnarson (1999), Sitoe A Teoria Sociológica tem como percursores
(2014) caracteriza a segurança rodoviária como Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, os
conjunto de medidas preventivas que perspecti- quais dedicaram parte do seu tempo a procura de
vam suprimir factores de perigo ou geradoras de esclarecimentos que justificavam as diferenças e
obstrução do trânsito e garantir fluidez, comodi- desigualdades sociais em curso na sua época,
dade e segurança dos peões e veículos nas vias de influenciadas pela revolução industrial na
comunicação. Entende, ainda, o autor como um Inglaterra entre 1760-1840 (Macedo, 2016). Esta
conjunto de métodos e medidas cujo objectivo é teoria procura influenciar positivamente o
reduzir o risco de acidentes de viação e minimizar comportamento humano, através das instituições
as suas consequências (perdas de vida, ferimentos existentes na sociedade (família, escolas, igrejas,
de pessoas e destruição de bens); e Gomes (2015, etc.), cuja função é incentivar o acatamento das
p. 6) diz que “a segurança rodoviária é o resultado normas, princípios e valores que orientam a
do equilíbrio entre as exigências impostas pelo inserção do homem no seu meio social.
ambiente e as capacidades do utente para agir”. A Teoria Comportamental auxilia a compreen-
Esse equilíbrio pode ajudar a regular as atitudes e são e interpretação dos mecanismos funcionais do
comportamentos dos utentes das vias de comuni- comportamento humano, regulado pelo poder
cação e assegurar, desse modo, a prevenção da instituído na sociedade e responsabiliza o homem
ocorrência de acidentes, proporcionando a pelos problemas por si despoletados. É em função
protecção de vidas e bens das pessoas. disso que, McGregor adoptou mecanismos para
A via de comunicação é um elemento impor- cogitar os comportamentos positivos e dos que
tante para o desenvolvimento económico e social resultam da fraca condição da natureza humana,
de um país e é destinada ao trânsito de meios de tendo para o efeito adoptado a Teoria X e Y, da
transporte Santos (2006). Na óptica de Leal et al., qual a teoria 'X' cuida das convicções negativas do
(2008), o trânsito é um movimento de transeuntes comportamento e a 'Y' das concepções da nature-
ou de veículos numa via de comunicação, cuja za humana (McGregor, 1999). Portanto, é uma
essência é possibilitar o aumento da disponibili- teoria que encontra nas leis o mecanismo para
dade de transportar pessoas e mercadorias, regular o comportamento humano e a aplicação
reduzir as distâncias e rentabilizar cada vez mais o de penalizações visa banir o mau comportamento
tempo. Portanto, o decurso normal das activida- e obrigar os infractores a conformarem-se com as
des viárias, depende do comportamento, atenção normas e regras estabelecidas pela sociedade.
e responsabilidade do homem, por ser o elemento- A Teoria de Prevenção Geral toma como
chave de todo o sistema rodoviário. A seguir, pressupostos os factores estruturais, sociais e
descrevem-se as principais linhas de embasamen- psicológicos existentes para motivar o infractor a
to teórico deste estudo. materializar a intenção de praticar ou não uma
infracção. Nesta senda, Sampaio, (2007) e
Martins, (2008), apontam dois pressupostos para

2181
a efectivação de uma infracção: a) a criação da ninguém decide praticar um acto ilícito ou
motivação e b) a disponibilidade de alvos adequa- delituoso sem avaliar as condições físicas do
dos para a concretização da infracção. Essencial- espaço e sem antecipar os actos preparatórios da
mente, a exequibilidade destes pressupostos sua actuação. É, por isso, que Sampaio (2007),
ocorre quando há alteração das actividades afirma que a prática de trangressões impõe a
rotineiras dos indivíduos associadas à fraca ou existência de oportunidade acima de todas outras
inexistência da vigilância (prevenção) que visa condições. As teorias de oportunidade estão,
precaver e antecipar a prática de infracções inequivocamente, aliadas ao comportamento por
(Martins, 2008). Para minimizar a prática de ser um elemento incentivador na procura de
infracções, Fernandes e Fernandes (2002) indi- ocasiões que favoreçam a prática de infracções
cam dois caminhos, mormente: prevenção social em alvos, preferencialmente, perfeitos e privilegi-
e prevenção situacional. Sendo que, a prevenção ados para o efeito (Lüdke e André, 1986). O sector
social actua sobre as causas sociais da infracção da segurança rodoviária não está isento disso, pois
visando reduzir os factores psicológicos, consci- os infractores buscam oportunidades em locais
entes ou não, de ordem fisiológica, intelectual ou longe do olhar policial e sem vigilância de autori-
afectiva, que podem determinar o tipo de conduta dade para não pôr em risco a regra da escolha
e funcionar como catalisador no cometimento de racional antes da tomada de qualquer decisão
infrações; e a prevenção situacional, visa ameni- sobre a prática do acto ilícito. Certamente, alguns
zar as oportunidades de prática de infracções autores apontam a prevenção situacional como
buscando fundamentos alicerçados em novas solução de casos concretos, com o envolvimento
teorias da criminalidade. Mapilele (2021) ao do Design Against Crime - princípio aplicado em
transportar o conhecimento aflorado anteriormen- casos criminais mas válido nas transgressões às
te constata que, no campo da segurança rodoviária regras de trânsito rodoviário - pois são políticas
as transgressões, são influenciadas pela pré- recentes que visam a redução das oportunidades
disposição e avidez dos condutores em praticar para o cometimento de crimes e consiste em
algo fora de parâmetros normais e da conduta medidas de prevenção situacional de crime, para
social sã, e optam pela violação das normas e diminuir o volume dessas oportunidades no
procedimentos estabelecidos para o efeito. cometimento de ilícitos (Sampaio, 2007), este
Fernandes e Fernandes (2002, p.340), encontram autor destaca ainda que, o sucesso da prevenção,
um alicerce fundamental na prevenção ao afirma- reside na capacidade de prover soluções simples e
rem que ela é uma “[…] orientação lógica a ser realistas para o momento ideal da prática de
adoptada quando se procura evitar o aconteci- infracções, independentemente do lugar e da
mento delinquente”. perspectiva de alterações passíveis de originar
As infracções, no sector rodoviário, favorecem ambientes opostos em função do risco iminente
a ocorrência de acidentes de viação, que perigam da prática da infracção e a forma como essas
a vida dos utentes das vias e danificam seus bens. alterações podem influenciar a compreensão dos
Portanto, a vigilância e a prevenção são as respos- infractores em suas decisões.
tas adequadas para a redução de oportunidades de As três teorias: sociológica, comportamental e
prática dessas infracções, sejam de natureza da prevenção geral, têm a responsabilidade de
criminal ou transgressional, considerando que recorrer aos mecanismos por si e por outras

2192
teorias adoptadas para impedir a prática de ocorrência de um determinado fenómeno e
violações e abusos resultantes da natureza e permite realizar descrições exactas dos factos
fraqueza humana. Esses mecanismos impelem os observados, bem como das relações existentes
membros da sociedade a guiarem-se pelas nor- entre os seus elementos. Assim, a escolha desta
mas, regras e valores criados e defendidos pela pesquisa permitiu entender, descrever e explicar
sociedade, sendo que, em caso de desvios com- os fenómenos relativos aos factores que influenci-
portamentais estas teorias recorrem à medidas am a ocorrência de atropelamentos na área em
sancionatórias visando a sua correcção. A perfeita estudo.
conjugação dessas teorias supõe produzir efeitos Os dados usados, neste artigo, foram colecta-
positivos para a segurança rodoviária. dos com base nas técnicas de pesquisa documen-
tal, bibliográfica, inquérito por questionário,
3. Metodologia entrevistas, grupo focal e observação, tendo sido
utilizados o questionário, entrevista e análise
Este estudo orientou-se pela abordagem documental.
qualitativa e quantitativa que, segundo Bogdan e O recurso à técnica de pesquisa documental
Biklen (1992) citados por Freixo (2009, p. 146), baseou-se na leitura de documentos que ainda não
apresentam cinco principais características: i) A tinham recebido qualquer tratamento analítico
situação natural constitui a fonte dos dados, sendo que, segundo Prodanov e Freitas (2013), constitu-
o investigador o instrumento-chave da recolha de em matéria-prima a partir da qual o pesquisador
dados; ii) A sua primeira preocupação é descrever desenvolve sua investigação e análise. Foi na
e só secundariamente analisar os dados; iii) A senda da aplicação desta técnica que se buscou
questão fundamental é todo o progresso, ou seja, o informações em documentos facultados pelos
que aconteceu, bem como o produto e o resultado Comando-Geral da PRM e Comando da PRM da
final; iv) Os dados são analisados indubitavel- Cidade de Maputo, bem como outras instituições
mente, como se reunissem, em conjunto, todas as que lidam com a segurança rodoviária. Esta
partes de um puzzle; e v) Diz respeito, essencial- técnica permitiu a verificação do nível de
mente, ao significado das coisas, ou seja, ao ocorrência de atropelamentos no local de estudo
“porquê” e ao “o quê”. em relação ao período em análise.
Quanto à natureza, a pesquisa é básica, por- Quanto à técnica de pesquisa bibliográfica,
quanto objectiva gerar conhecimentos novos úteis consistiu na leitura e recolha de registos disponí-
para o avanço da ciência (Silva e Menezes, 2001). veis em pesquisas anteriormente impressas, ou
A classificação desta pesquisa em básica deve-se seja, recorreu-se a dados teóricos já trabalhados
ao facto de se analisar os factores que contribuem por outros pesquisadores e devidamente regista-
para o recrudescimento dos atropelamentos no dos, como livros, artigos, teses, etc. É neste
Distrito Municipal KaMubukwane, em particular contexto que esta técnica foi imprescindível para
na Avenida de Moçambique. a pesquisa, uma vez ter permitido a problematiza-
É nesta base que, a presente pesquisa, é ção do tema de estudo, bem como a construção de
descrita como explicativo-descritiva por, de bases teóricas e conceptuais sobre os factores que
acordo com Rodrigues (2007), ser utilizada para propiciam a ocorrência de atropelamentos nos
identificar os factores determinantes para a centros urbanos, como é o caso do Distrito

2203
Municipal KaMubukwane, com particular Gray (2012, p. 320), a observação ajuda na “[…]
destaque, na Avenida de Moçambique, o que interpretação dos significados e percepções […]”
permitiu a obtenção de uma visão mais ampla do dos comportamentos e atitudes espontâneos dos
que já se tinha elaborado acerca do tema. utentes das vias durante os seus movimentos nas
No tocante ao inquérito por questionário, rodovias. Para o caso vertente, usou-se a observa-
preparou-se um formulário por escrito com um ção não estruturada por anuir a recolha e registo
conjunto de questões para a pesquisa, cuja dos factos sem recorrer aos meios técnicos
finalidade era a recolha de dados que propicias- especiais e tinha como roteiro de observação a Av.
sem algum conhecimento ao pesquisador. O de Moçambique. As anotações e avaliação dos
questionário foi constituído por questões abertas e factos observados foram da responsabilidade do
fechadas, tendo sido aplicado a uma amostra pesquisador.
devidamente seleccionada em diferentes institui- Também, recorreu-se ao Grupo focal por ser
ções que lidam com matérias de segurança uma “técnica de pesquisa qualitativa, derivada
rodoviária: agentes das Polícias de Trânsito e das entrevistas grupais, que coleta informações
Municipal da Cidade de Maputo e condutores- por meio das interações grupais”, Morgan (1997,
auto interpelados na via pública, cujo resultados p. 4) e não recorre a dados numéricos e nem a
constam do ponto 4 deste trabalho, relativo à análises estatísticas. A entrevista grupal foi
apresentação e análise de dados. aplicada aos funcionários da ANE, por estes
Em relação à entrevista, optou-se pela variante disporem de informações relativas às rodovias
semi-estruturada, por permitir intercalar pergun- nas suas diferentes nuances e proporcionou um
tas não previstas no guião, dar acesso a grande ambiente natural e holístico na recolha dessas
quantidade de informação e favorecer o esclareci- informações pois, os entrevistados puderam
mento de questões em pesquisa, ela foi dirigida interagir entre si o que permitiu acolher as opi-
aos representantes do Instituto Nacional dos niões de outros intervenientes para depois formu-
Transportes Terrestres, Administração Nacional lar as suas próprias ideias, nisso tiveram de lidar
das Estradas; representante do Distrito Municipal com divergências emergentes dos debates. O
KaMubukwane e Comandante do Distrito Muni- maior ganho deste tipo de entrevista foi a redução
cipal KaMubukwane e Associação Moçambicana do número de entrevistas, por ela decorrer em
das Vítimas de Insegurança Rodoviária, por simultâneo e por via disso economizar o tempo de
serem intervenientes no processo de segurança realização da mesma entrevista.
rodoviária no território em estudo. A entrevista foi O Questionário, instrumento aplicado aos
anómima. As respostas resultantes da aplicação agentes da Polícia de Trânsito, da Polícia Munici-
desta técnica constam do capítulo quatro, relativo pal e Condutores interpelados na via pública,
à apresentação e análise de dados. permitiu obter grande número de respostas, que
Outra técnica aplicada neste trabalho, que tinham em vista estabelecer uma relação entre o
permitiu verificar e seleccionar informações trabalho por estes realizados na via pública, elas
pertinentes, através dos órgãos sensoriais e com estão de forma resumida neste artigo, no capítulo
recurso à teoria e metodologia científica, a fim de quatro, relativo à apresentação e análise de dados.
poder descrever, interpretar e actuar sobre a Quanto à amostra da pesquisa foi estratificada
realidade em estudo, foi a observação. Segundo em seis instituições que lidam com a segurança

2214
rodoviária na Cidade de Maputo e condutores como factores de atropelamentos o homem, a via,
residentes ou em trânsito no Distrito de KaMu- o veículo e o meio ambiente. Destes factores ou
bukwane, especificamente na Avenida de elementos de circulação rodoviária, o Homem é
Moçambique. Neste contexto, participaram do tido como o principal, devido à sua capacidade de
estudo 98 indivíduos selecionados por conve- discernir e pôr em prática o que pensa. Os condu-
niência os quais se distribuem pelo INATTER tores de sexo masculino na ordem de 83,13%;
(01), ANE (10), AMVIRO (01), Distrito Munici- condutores semi-colectivos de passageiros na
pal KaMubukwane (03), Polícia de Trânsito (50), proporção de 66,26% e jovens na ordem de
Polícia Municipal da Cidade de Maputo (22) e 11 63,86%, são apontados como sendo os que mais
condutores interpelados aleatoriamente na via se envolvem em acidentes, com maior enfoque
pública. nos atropelamentos, cujas causas frequentes são a
O estudo foi realizado com o consentimento condução em excesso de velocidade (48,20%), a
dos envolvidos no processo de recolha de dados, imprudência dos condutores (jovens 63,86%,
obedecendo à condição do anonimato e todos adultos 22,89% e idosos 13,25%), a má travessia
inquiridos foram igualmente tratados da mesma das vias 31,32%, a condução sob efeitos de álcool
maneira. Importa destacar a exclusão, no proces- 12,05%) e desconhecimento ou desrespeitoàs
so de tratamento de dados, de algumas respostas regras de condução por parte de alguns conduto-
dos inquiridos ou por serem iguais ou por não res. Estes dados podem reflectir-se, ainda, no
terem nada a ver com as questões indagadas, o que comportamento competitivo dos indivíduos do
podia, desvirtuar a real intenção da pesquisa. sexo masculino, condutores semi-colectivos de
passageiros e jovens por se associarem à agressi-
4. Apresentação e análise de dados vidade, auto-confiança e pré-disposição na
realização de manobras mais arriscadas, pois
Para a recolha de dados foram inquiridos 98 estes indivíduos têm apetência de demonstrar a
indivíduos dos quais, 10 foram submetidos a perícia e habilidades na condução automóvel.
entrevista grupal, cinco a uma entrevista semi- Associado aos factores de atropelamentos,
estruturada e 83 ao inquérito por questionário. Os encontramos a criação, pelo homem, de uma
83 indivíduos inquiridos por questionário, 62 são terceira fila de trânsito, para auxiliar o escoamen-
do sexo masculino, o correspondente a 74,7% e to do tráfego, no sentido Norte – Sul, no período
21 do feminino, o equivalente a 25,3%. das 06:00 às 08:00 horas, dos dias úteis, no troço
No cômputo geral, no período em estudo, entre o entroncamento da Av. de Moçambique
ocorreram no Distrito Municipal KaMubukwane com a Rua Mártires de Nkusa (Rua nº 5.582), no
405 atropelamentos equivalendo 31,35%, bairro George Dimitrov, e com Av. 19 de Outu-
comparados com os 1292 casos da Cidade de bro, junto ao semáforo que separa os bairros de
Maputo. Desses atropelamentos 216 tiveram Inhagóia, Nsalene e Aeroporto B; comportamento
lugar na Av. de Moçambique equivalentes a inadequado de alguns utentes ao longo das vias,
53,33% dos casos registados e os restantes 189 bem como por prática de drifts pelos condutores
casos, ou seja, cerca de 46,67%, tiveram lugar em mais jovens, aliado à corrupção praticada tanto
outras rodovias do mesmo distrito. por agentes da Polícia de Trânsito como por
Quanto aos resultados, os dados apontam agentes da Polícia Municipais; condução sob o

2225
efeito de produtos psicotrópicos (drogas e álcool); influenciada por falta de reabilitação e manuten-
fadiga; condução desregrada de veículos pelos ção das vias evocadas por 44,58% dos inquiridos.
condutores de transportes colectivos e semi- O factor via, além de condicionar a circulação,
colectivos de passageiros; crescimento do parque contribui para a danificação dos meios circulantes
automóvel na cidade de Maputo; desactualização e a ocorrência de todos os tipos de acidentes de
da sinalização em várias vias desta urbe, o que viação incluidos os atropelamentos devido a sua
desorienta os utentes das vias; falta de reabilita- obsolência.
ção e manutenção das vias, condicionando a Face aos constragimentos influenciados pelo
qualidade de transitabilidade de veículos automó- estado dos factores da circulação rodoviária, a
veis e transeuntes; fraco controlo e fiscalização condução automóvel exige do homem capacida-
das regras de segurança rodoviária e derrube de des mentais que agregam o conhecimento, o
sinais de trânsito sem responsabilização dos seus processamento de informações, o domínio,
infractores; ocupação dos espaços reservados ao apropriação e valorização das técnicas de condu-
desenvolvimento de actividades de estradas pelo ção e o respeito por outros utentes das vias,
comércio informal, forçando os peões a recorrem secundando a afirmação dada por Aragão (2011,
às faixas de rodagem para realizar os seus movi- p. 239) segundo a qual exigem “… capacidades
mentos. mentais e físicas da espécie humana …” que, por
Segundo Jesus (2016), o estado técnico dos vezes, são inferiores às requeridas para realizar
veículos e das infra-estruturas viárias associados com perfeição uma determinada situação. Para
ao comportamento do Homem, contribuem consubstanciar os fundamentos atrás referidos,
sobremaneira para a ocorrência dos acidentes de Jesus (2016, p. 16) afirma que “as causas dos
viação e condicionam a actuação do condutor na acidentes de viação residem, em regra, nos
via pública. Sobre estas matérias 43,37% dos elementos físicos e humanos que introduzem no
inquiridos responderam não existir nenhuma tráfego das vias de comunicação situações
fiscalização do estado técnico de veículos pois, se anormais propiciadoras de efeitos lesivos nas
existisse não haveria espaço para a circulação de pessoas e nos bens”, sendo esses elementos
viaturas em estado obsoleto que subsequentemen- físicos e humanos caracterizados por factores
te contribuem na perturbação do tráfego normal ligados ao comportamento das pessoas, factores
do trânsito e na ocorrência dos acidentes. que se referem às inadequações do estado operaci-
Quanto às vias, cerca de 45,78% dos inquiridos onal dos veículos e factores ligados directamente
responderam não existirem boas condições de às características da via, da sinalização e das áreas
transitabilidade devido aos estado deplorável das próximas à via, no entanto, o meio ambiente.
mesmas que chegam a condicionar a circulação de Deste modo, pode se aferir que os principais
pessoas e veículos por haver tendência de disputa factores dos atropelamentos estão circunscritos
do mesmo espaço para os seus movimentos. As no trinómio: Homem, veículo e via, também,
respostas dadas em relação a transitabilidade considerados elementos do sistema rodoviário e
comprovam a situação das vias a nível da Cidade estão intrinsecamente ligados, pois na ausência de
de Maputo no geral e do Distrito Municipal um deles não há circulação rodoviária e sem
KaMubukwane em particular. Sendo que, a circulação rodoviária não há atropelamentos,
ausência de condições de transitabilidade é salvo nos casos em que uma viatura estacionada

23
particularmente numa zona com declive, por sejam afastadas as premissas da sua ocorrência,
algum motivo, deslize descomandada e descon- porque, na maioria das vezes, eles resultam da
troladamente movimentar-se de modo a causar imprudência e negligência dos utentes das vias,
algum acidente. Um quarto elemento que se das fragilidades da aplicação das leis e normas de
agrega a estes é o meio ambiente, cujo papel segurança rodoviária, da precária conservação
reside na capacidade de influenciar negativamen- das vias, do longo tempo de duração dos veículos
te o ser humano ao ponto de se distrair e daí e sua deficiente manutenção. Sendo por isso,
provocar algum sinistro durante o exercício da necessário recorrer às leis para regular o compor-
condução. tamento humano, pois as leis têm poder para
Autores como Oliveira (2007, p. 3) agrega impelir os utentes a acatarem as normas e regras
outros elementos complementares, designada- impostas pela sociedade.
mente “… factores como a formação teórico- Os resultados do estudo apontam, como
prática dos condutores, as condições das vias, o principais causas de atropelamentos na via
parque automóvel e questões culturais”. Para ele o pública, o excesso de velocidade na ordem de
desenvolvimento cultural e o comportamento dos 48,2%, seguido de má travessia das vias com
utentes das vias podem interferir nas acções de 31,32%, condução sob efeitos de produtos
segurança rodoviária, no sentido em que se se psicotrópicos (drogas e álcool) associados à
associarem às atitudes e carácter dos utentes das fadiga com 12,05% e despistes com 8,43%. Estes
vias, sobre os quais são exigidos maior concentra- dados revelam o fraco nível de desempenho das
ção e prudência durante os seus movimentos na autoridades policiais e municipais na prevenção e
via pública, conjugado ao intenso tráfego de na realização do controlo e fiscalização do
veículos, a circulação desregrada das pessoas nas trânsito.
vias, o desrespeito das regras de trânsito, a condu- De acordo com os resultados do estudo, foram
ção em velocidade excessiva, aumenta a probabi- mapeadas 18 zonas ou pontos críticos de maior
lidade de ocorrência de acidentes rodoviários registo de atropelamentos no Distrito Municipal
incluindo os atropelamentos. Ka Mubukwane, dos quais 12 estão localizados na
A maior responsabilidade, disso tudo, recai Avenida de Moçambique, designadamente:
sobre o ser humano por ser só ele capaz de tomar cruzamento da EN4 com a Av. Moçambique;
providências que previnam os malefícios da rotunda da Junta (na zona da Estátua de Filipe
condução-auto, devendo para o efeito adoptar um Samuel Magaia); cruzamento da Av. Moçambi-
comportamento compatível com a realidade da que com a Rua do Jardim; entrocamento da Av.
circulação automóvel e pedonal em prol de Moçambique com a Rua 19 de Outubro; cruza-
objectivos colectivos da segurança rodoviária, mento da Av. Moçambique com a Opway; para-
alguns autores, afirmam que cerca de 90% dos gem Carcaça; entrocamento da Av. Moçambique
atropelamentos têm origem em falhas humanas, com a Rua de Bagamoyo; Escola Infulene Benfi-
razão porque se considera o homem de principal ca; Missão Roque; Mulumbela; entrocamento de
factor de acidentes devido ao seu comportamento Matendene com uma Rua sem nome na zona da
volátel Mafureira, proximidades do Mercado Grossista
Na óptica de Ramos (2008), os acidentes de do Zimpeto. Portanto, é nestes pontos críticos
trânsito são preveníveis em 100%, desde que onde a Polícia de Trânsito devia concentrar maior

24
esforço do seu trabalho preventivo, que podia a adoptarem normas e medidas que tornem suas
auxiliar na minimização da ocorrência dos estradas mais seguras devido à ocorrência de
acidentes de viação. atropelamentos que, pela sua natureza incidem
As formas ou tipos mais frequentes dos directamente sobre a sua vítima.
acidentes de viação, com destaque para os atrope- Foi nesta senda que, o governo de Moçambi-
lamentos, circunscreveram-se nos embates que, aprovou em 2011 o Plano Estratégico Nacio-
frontais, embates laterais, embates traseiros e nal Multissectorial de Segurança Rodoviária, o
despistes. Nos embates frontais, a vítima é qual define a missão de cada sector integrante do
recolhida pela parte frontal do veículo automóvel, sistema de segurança rodoviária no país. Contu-
muita das vezes, devido à condução em à alta do, apesar desta medida adoptada pelo Governo
velocidade, que reduz a capacidade do automo- de Moçambique há ainda desafios pelo facto dos
bilista imobilizar o veículo num espaço livre acidentes rodoviários no geral e dos atropelamen-
visível a sua frente, acabando por perder o contro- tos em particular não param de ceifar vidas
lo do veículo que acaba resultar em atropelamen- humanas e danificar meios materiais, situação que
tos frontais. Portanto, esta é a forma a mais exige o aprimoramento e endurecimento de
frequente e perigosa e produzir efeitos assinaláve- medidas, fazendo das leis as reguladoras do
is às suas vitimas. Os atropelamentos laterais e comportamento humano, pois o que falta é
traseiros, são os menos frequentes e ocorrem, aplicação dessas leis e normas atinentes à regula-
sobretudo, por falta de atenção tanto de peões ção de trânsito, bem como a selecção e formação
como de automobilistas, enquanto que os despis- adequada dos agentes reguladores e fiscalizadores
tes, resultam do descontrolo do veículo que em do trânsito rodoviário.
seguida tomba, por vezes, na pista ou fora da pista
de rodagem onde atingem suas vítimas, a exemplo 5. Conclusões
do despiste e atropelamento ocorrido na EN4, no
Bairro Luís Cabral, na madrugada do dia 25 de No período em estudo, ocorreram no Distrito
Março de 2018, no qual 23 pessoas perderam a Municipal KaMubukwane 405 atropelamentos
vida e outras 28 pessoas contraíram ferimentos. equivalendo 31,35%, comparados com os 1292
Assim, depreende-se que, parte significativa de casos da Cidade de Maputo. Desses atropelamen-
atropelamentos, têm como causas frequentes a tos, 216 tiveram lugar na Av. de Moçambique
condução em velocidade excessiva, a imprudên- equivalentes a 53,33% dos casos registados em
cia de condutores, o não domínio das regras do todo o distrito e os restantes 189 casos, ou seja,
Código da Estrada por parte dos utentes das vias cerca de 46,67%, tiveram lugar em outras rodovi-
peões e condutores. as do mesmo distrito. Neste distrito, entre 2018 e
No que toca às estratégias para a redução de 2019 foram identificados 18 focos de ocorrência
atropelamentos, muitos passos foram dados, dos atropelamentos, dos quais 12 se localizavam
começando pela Resolução A/RES/64/255, de 02 na Av. de Moçambique. Os atropelamentos têm
de Maio de 2010, da Assembleia Geral das resultado de choques frontais carro-peão, emba-
Nações Unidas, que tomava o período de 2011 a tes laterais e traseiros, bem como despistes que
2020 como Década de Acção para a Segurança consequentemente atingem os peões provocando-
Rodoviária, apelando os países do mundo inteiro lhes danos corporais.

25
A violação do Código da Estrada associada ao entrada e saída da cidade de Maputo para as
comportamento e atitudes dos utentes das vias, regiões Sul, Centro e Norte de Moçambique,
são apontadas como principais causas de atrope- associado ao intenso tráfego rodoviário, dispõe de
lamentos. Destacando-se o desconhecimento das condições favoráveis para o registo de muitos
regras de condução por parte de alguns conduto- casos de atropelamentos e outros tipos de aciden-
res que, por exemplo, acabam criando congestio- tes. É, em função dessa realidade que a temática
namento ou engarrafamento nos cruzamentos e em estudo foi, é e sempre será actual e pertinente,
entroncamentos das vias; a desactualização e por causa do impacto que cria nas pessoas e na
dificuldades de interpretação da sinalização sociedade em geral, por provocar perdas de vidas
existente nas vias; a condução sob efeito de humanas e destruição de bens materiais, funda-
produtos psicotrópicos aliados à fadiga de mento bastante para se continuar a busca de
condutores; a distracção dos utentes das vias medidas para a sua mitigação ou eliminação.
causada por uso de telemóveis na via pública; o Os resultados destacam o comportamento
comportamento inadequado de alguns agentes competitivo de indivíduos do sexo masculino, de
das Polícias de Trânsito e Municipal. jovens e de condutores semi-colectivos de
Em paralelo, encontramos a adopção de uma passageiros como estando por detrás destas
terceira faixa de rodagem com sentido inverso ao nefastas consequências da condução irresponsá-
curso nomal de trânsito, para auxiliar o escoamen- vel associadas à agressividade, auto-confiança e
to do tráfego, no período das 06:00 às 08:00 horas, pré-disposição em realizar manobras mais
dos dias úteis de trabalho, ao longo da Av. de arriscadas nas vias, devido à avidez em demons-
Moçambique, situação que só veio criar outras trar a perícia e habilidades na condução automó-
complicações; a ocupação dos espaços reservados vel, o que lhes leva aos despistes e outros tipos de
ao desenvolvimento de actividades estradais pelo acidentes que resultam em danos humanos e
comércio formal ou informal, facto que força os materiais.
peões a recorrem às faixas de rodagem para
realizar os seus movimentos, expondo-se desta 6. Sugestões
forma aos atropelamentos.
A via pública como um dos factores da circula- Para mitigar os efeitos dos atropelamentos e
ção rodoviária a sua degradação pode contribuir outros tipos de acidentes de viação, recomenda-se
para o incremento dos atropelamentos, razão às entidades reguladoras do trânsito a adopção das
porque os inquiridos apelidam-nas de assassinas sugestões em apreço, designadamente:
de seres humanos e causador de outro tipo de
acidentes de viação na cidade de Maputo. · A adopção de uma caderneta para
Podendo se aferir que cerca de 90% dos o registo de infracções praticadas por
atropelamentos têm origem em falhas humanas, condutores na via pública, violando o
razão porque se considera o homem de principal Código de Estrada.
factor dos acidentes devido ao seu comportamen- · Retirada da carta de condução até
to. a apresentação desse instrumento de
Associando os factos expostos, a Av. de controlo de infracções viárias ao
Moçambique, por ser uma das principais vias de condutor sem porte da caderneta.

26
· Criação de uma base de dados para infringem as regras de trânsito e colocam
o registo das infracções e melhor controlo em perigo suas vidas e as de terceiros, a
pela parte da Polícia de Trânsito. título de exemplo: conduzir consumindo
· Criação de uma equipa de agentes bebida alcóolica, falar ao celular ou
da Polícia de Trânsito que circula em realizar outro tipo de manobras perigosas
viaturas ou motorizadas descarectrizadas na via pública.
para surpreender os condutores que

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29
Satisfação e Expectativas dos Cadetes do II E III anos em
Relação ao Processo de Ensino e Aprendizagem no Curso de
Licenciatura em Ciências Policiais -2020/2021

Resumo
A presente pesquisa de natureza quantitativa
analisa o nível de satisfação e as expectativas dos
Cadetes em relação aos Docentes e suas expectativas
sobre a aplicação das diferentes Cadeiras, ministradas
ao longo do II e III anos do Curso de Licenciatura, na
vida profissional., foi conduzido com base num
questionário on-line administrado a uma amostra
composta por 94 Cadetes do Curso de Licenciatura em
Adérito Fijamo Jéssica António Mitende
Ciências Policiais, sendo 44 (46,8%) do 2.º e 50 (53,2%)
do 3.º ano em 2021. De entre outras, apurámos que no
que concerne a perceção dos Cadetes em relação à qualidade de ensino na ACIPOL 90% da amostra
considera que o ensino na ACIPOL está acima da média dos estabelecimentos de ensino por onde passa-
ram, 14% entende que é excelente e 37% é de opinião que a ACIPOL está na média dos estabelecimentos
de ensino por onde passaram.

Palavras-Chave: ACIPOL, Avaliação; Cadetes, Ensino Satisfação;

Abstract
This research of quantitative nature aims to analyze the level of satisfaction and expectations
of cadets in relation to teachers and their expectations on the application of different Chairs,
taught throughout the II and III years of the Undergraduate Course, in professional life., was
conducted based on an online questionnaire administered to a sample composed of 94 Cadets of
the Undergraduate Course in Police Sciences, 44 (46.8%) of the 2nd and 50 (53.2%) of the 3rd
year in 2021. Among others, we believe that with regard to the perception of cadets in relation to
the quality of teaching in ACIPOL 90% of the sample considers that teaching at ACIPOL is above
the average of the educational establishments where they passed, 14% understand that it is

Licenciado em Ciências Militares, Mestre em Ciências Militares na Especialidade de Segurança (Academia Militar- Portugal),
Doutorando em História, Estudos de Segurança e Defesa (ISCTE-IUL, Portugal). Docente na ACIPOL.
Licenciada em Ciências Policiais pela ACIPOL.

30
excellent and 37% is of the opinion that ACIPOL is on average of the educational establishments
through which they attended.

Keywords: Evaluation; Satisfiement; Cadets; Teaching; ACIPOL

Introdução Cadetes do II e III anos do Curso de Licenciatura


em Ciências Policiais (2020/21), abaixo apresen-
1. Problema ta-se a Grelha Curricular saída da última revisão
curricular ocorrida em 2012 que enquadrou as
A criação de uma instituição vocacionada para diferentes disciplinas em 04 áreas científicas, a
a formação superior dos oficiais da PRM em saber:
ciências policiais foi sempre vista como a plata-
forma necessária para o desenvolvimento, · Área de Ciências E Tecnologias
transformação e profissionalização da polícia em Policias: 1.º Ano (Topografia, Introdução
Moçambique. Criada pelo Decreto 24/99 de 18 de aos Procedimentos Policiais, Instrução
Maio, com vista a garantir a formação superior de ao Corpo de Alunos I, Comunicação,
oficiais de polícia, a ACIPOL é uma instituição de Armamento e Explosivos e Práticas pré-
ensino superior que goza de autonomia adminis- profissionais), 2. Ano (Instrução ao
trativa, científica a quem compete: organizar e Corpo de Alunos II, Planeamento Opera-
ministrar cursos superiores em ciências policiais, tivo, Protecção de Altas Individualida-
cursos de aperfeiçoamento e estágio para oficiais des, Criminologia, práticas pré-
de polícia, realizar e ministrar outros cursos de profissionais e Instrução ao Corpo de
formação, de aperfeiçoamento e estágios; e Alunos II) 3. Ano (Direito Policial I,
Apoiar pedagogicamente e metodologicamente Direito Policial II, Comando e Liderança,
outras instituições de ensino policial moçambica- Controlo de Massas, Teoria de Segurança
nas, desenvolver nos formandos a consciência Rodoviária, Investigação Criminal e
deontológica e o brilho profissional e contribuir Criminalística, Introdução à Análise
permanentemente na introdução de inovações na Criminal, Instrução ao Corpo de Alunos
doutrina, técnica e táctica policiais. III, Práticas pré-profissionais) e 4.º Ano
Desde a sua fundação em 1999, a ACIPOL (Migrações Internacional e Transnacio-
limitava-se a outorgar os graus de Bacharelato e nalismos, Criminalística, Controlo
Licenciatura em Ciências Policiais, sendo que no Migratório, Instrução ao Corpo de
ano de 2012, foi introduzido o nível de Mestrado Alunos IV, Estágio Pré-profissional,
em Ciências Policiais. (Tsucana e Machavana, Teoria Geral de Segurança Pública,
2016). Como para esta pesquisa somente nos Serviço Policial Comunitário, Técnicas
interessa estudar a satisfação e expectativas dos de Serviços Policiais e Trânsito);

31
· Área de Ciências Sociais e impacta diretamente na qualidade da manutenção
Humanas: 1.º Ano (Psicologia, Filoso- da Ordem, Segurança e Tranquilidade Públicas
fia, Antropologia e Técnicas de Expres- em Moçambique. Foi com base nesse pressuposto
são) 2.º Ano (Sociologia, Geopolítica e que levantamos a questão de partida desta investi-
Geoestratégia, Inglês/Francês, Metodo- gação nos seguintes termos: Qual é o nível de
logia de Investigação Científica) 3.º Ano satisfação dos Cadetes em relação aos Processo
(Metodologia de Pesquisa Científica), 4.º de Ensino e Aprendizagem e que expetativas têm
Ano (Sociologia da Prevenção, Projecto quanto à aplicação, na vida profissional, das
de Pesquisa e Elaboração da Monogra- Cadeiras ministradas no II e III anos do Curso de
fia); Licenciatura em Ciências Policiais?
· Área De Ciências Jurídicas 1.º
Ano (Introdução ao Estudo do Direito, 1.1. Objectivos e Questões da Investigação
Ciências Política e Direito Constitucio- Para Eco (2009), é necessário estabelecer as
nal, Administração Pública, Direito condições para a elaboração de um Trabalho de
Civil, Direito Internacional Público) 2.º Investigação, ou seja, ao se restringir o campo de
Ano (Direito Criminal Geral, Direito investigação a objetivos concretos melhor se
Administrativo, Fundamentos do Polici- trabalha e com maior segurança; Esta investiga-
amento Ambiental, Direito Criminal ção tem como objetivo geral Analisar o nível de
Especial) 3.º Ano (Direito Processual satisfação e as expetativas dos Cadetes em relação
Penal, Direito Fiscal, Estado e Boa aos Docentes e das Cadeiras do Curso de Licenci-
Governação, Ética e Deontologia Profis- atura em Ciências Policiais e com vista a alcançar
sional) 4.º Ano (Direito de Integração o objetivo geral acima enunciado o estudo preten-
Regional); de de modo específico (1) Aferir a perceção dos
· Área de Ciências Exactas e de Cadetes em relação a qualidade de ensino na
Gestão: 1.º Ano (Tecnologias de Infor- ACIPOL; (2) Verificar o nível de motivação dos
mação e Comunicação, Estatística) 2.º Cadetes para participar nas aulas; (3) Avaliar o
Ano (Introdução à Economia) 3.º Ano nível de satisfação dos Cadetes quanto ao desem-
(Introdução à Gestão, Gestão de Recur- penho dos Docentes; e (4) Aferir a expectativa dos
sos Humanos) 4.º Ano (Contabilidade e Cadetes quanto a utilidade pratica das Cadeiras
Auditoria, Logística, Finanças Públicas e leccionadas no Curso de Licenciatura em Ciênci-
Investigação Operacional). as Policiais.
Para Fortin (2009, p.51), a pergunta de partida
À semelhança de outras instituições do ensino de uma investigação científica deve ser “um
superior no país, o alcance do êxito no processo de enunciado interrogativo e não equívoco que
formação profissional dos graduados da ACIPOL precisa os conceitos-chave, especifica a natureza
está condicionado, não só ao espaço físico onde da população que se quer estudar e sugere uma
são ministradas as aulas, mas também, à qualida- investigação empírica”. Para dar resposta à
de dos conhecimentos científicos transmitido questão central da presente investigação e com
pelos Docentes no decorrer do processo de ensino vista a se alcançar tentaremos dar respostas às
e aprendizagem, o que no caso da ACIPOL, seguintes questões de pesquisa (1) Qual é a

2320
perceção dos Cadetes em relação a qualidade de fornecer informação mais elaborada e consistente
ensino na ACIPOL? (2) Qual é o nível de motiva- com os objetivos propostos.
ção dos Cadetes para participar nas aulas? (3) Que
perceção os Cadetes têm em relação ao desempe- 2. O Estado da Arte
nho do pessoal Docente? E (4) Quais as expetati-
vas dos Cadetes quanto a utilidade prática das 2.1. Definição de Conceitos
Cadeiras leccionadas no Curso de Licenciatura 2.1.1. Satisfação
em Ciências Policiais? Na concepção de Miranda (2014), Locke
(1976) é detentor da mais conhecida definição de
1.3. Delimitação do Estudo satisfação, a qual a qualifica como sendo uma
A pesquisa procura entender as dinâmicas do resposta afectiva a actividade desempenhada por
processo de ensino e aprendizagem focando-se, determinada pessoa, onde se manifesta um estado
essencialmente, da dialética Estudante-Docente emocional positivo e/ou de prazer, resultante das
sob o prisma da Taxonomia de Bloom, enquadra- experiências proporcionadas pela atividade
se na linha de pesquisa “Organização e Profissão desempenhada. Lopes (2012) traz a discussão de
Policial” pois procuramos analisar a satisfação Hackman e Oldham (1980, cit in Alcobia, 2001) e
dos Cadetes do II e III anos do Curso de Licencia- de Locke (1969, cit in Paraguay e Mártinez,
tura em Ciências Policiais em relação ao desem- 2003), onde o primeiro apresenta a satisfação
penho do pessoal Docente no ano de 2020 e as como resultado das características do trabalho
suas expectativas quanto aplicação prática das executado pelo indivíduo, ao passo que Locke
Cadeiras constantes no plano curricular. aborda o conceito de satisfação como resultado de
A pesquisa teve lugar no campus da ACIPOL uma avaliação que o indivíduo faz de seu trabalho
que se localiza na Avenida de Moçambique, e resulta da percepção da pessoa sobre como este
Estrada Nacional nº 01, Km 16, caixa postal 1718, satisfaz, de modo que lhe proporcione um estado
Distrito de Marracuene -Província de Maputo A emocional agradável.
escolha da ACIPOL, justifica-se pelo facto de esta
ser a única instituição de ensino superior como 2.1.2. Avaliação
responsabilidade formação dos Oficias de Polícia, A avaliação deve ajudar-nos a conhecer e a
facto este que obriga que sejam feitas avaliações compreender as realidades para que as possamos
periódicas sobre a qualidade dos cursos ministra- transformar e melhorar. (Fernandes, 2009, p. 20,
dos e do pessoal docente, uma vez que é nosso cit in Moreia 2012, p.12) Moreira (2012), relata
entendimento que uma boa formação de Quadros que o processo de avaliação do docente está ainda
pela ACIPOL resulta na melhoria dos serviços de ligado as finalidades de controlo da acção
manutenção da Ordem, Segurança e Tranquilida- docente. Acrescenta a autora, com base no
de Públicas por parte da PRM. pensamento de Danielson & McGreal (2000) que
Escolhemos como período de estudo o ano as finalidades da avaliação do docente devem ser
2020 e os Cadetes do II e III anos como objecto de de natureza formativa, de desenvolvimento e de
estudo pelo facto de serem os anos cujos Cadetes melhoria das aprendizagens dos alunos, obrigan-
já tinham concluído todas as Cadeiras Curricula- do assim os docentes a flexibilizar seus próprios
res que são objeto desta pesquisa, podendo assim planos de desenvolvimento profissional.

2331
A autora relata ainda que o processo de avalia- mento, atitudes e ainda a sua conduta.
ção de desempenho do docente deve ser exercido Relativamente ao conceito de desempenho, os
no interior de cada instituição de ensino, sendo os três autores apresentados anteriormente, comun-
membros do órgão executivo e os professores gam da mesma ideia ao conceituar desempenho
coordenadores de departamento, responsáveis como acto que depende de determinados factores
por este processo de avaliação. que vão conduzir o colaborador (funcionário) a
Não contrapondo a ideologia da autora, deve- ser recompensado pela instituição, mas também
se observar a necessidade da participação dos ao declararem que tudo depende da assimilação e
cadetes neste processo, tendo em conta que é o conhecimento das tarefas a executar por parte do
único órgão da instituição de ensino que directa- colaborador. Todavia, Rego (2012) difere dos dois
mente interage com o corpo docente no processo autores supracitados, ao focar na organização
de ensino e aprendizagem. (Boclin, 2004) policial e acreditar que o conhecimento, habilida-
Boclin (2004, p. 962) assegura que a participa- des e atitudes do colaborador podem interferir no
ção dos alunos como sujeitos dos currículos e do cumprimento das tarefas do colaborador. Por um
aprendizado os habilita a exercer o papel de lado, Chiavenato (2009), é mais objectivo no seu
avaliadores e de parceiros da construção de um conceito, e afirma categoricamente que existem
novo processo devendo, portanto, ser envolvidos factores que podem condicionar o cumprimento
nas ações de mudança do desempenho da univer- das actividades do funcionário dentro da organi-
sidade. zação. Em última instância, Rocha destaca a
disciplina e a colocação do funcionário de acordo
2.1.3. Desempenho com a sua formação dentro da organização. Para o
Rocha e Oliveira (2007) conceituam desem- presente trabalho, demos crédito ao conceito de
penho como o reflexo ou o resultado do cumpri- Rego (2012), na medida em que ela invoca
mento das missões por parte do indivíduo dentro elementos cruciais para o desempenho policial
da organização, o que implica conhecimentos como comportamento, atitudes, conduta e habili-
sólidos, e deve exercer a acção em função do dades que constituem alicerce para a garantia da
cargo que exerce e da capacidade de interacção OSTP.
que possui com os outros e Chiavenato (2009) o
desempenho se reflete graças ao cumprimento das 2.2. A Taxonomia de Bloom e os indicadores de
actividades e defende a existência de alguns qualidade do ensino superior
fatores que podem condicionar a sua realização, A taxonomia dos objetivos educacionais, mais
desde o valor das recompensas, a relação de custo conhecida por Taxonomia de Bloom foi resultado
- benefício, o esforço individual e o entendimento do trabalho da uma comissão de especialistas de
ou dedicação do individuo em relação as suas várias universidades dos Estados Unidos de
tarefas. Rego (2012), aprofunda e sintetiza as América dirigida por Benjamin Bloom (1913-
definições de Rocha e Chiavenato ao postular que 1999), a qual, é uma estrutura de organização
desempenho se refere a um conjunto de qualida- hierárquica onde são observadas e estudadas as
des do colaborador dentro da organização que categorias cognitivas e/ou de pensamento, em
interferem no seu rendimento, que se caracteri- 1970. Nesta estrutura, Bloom contava em trazer a
zam pelo conhecimento, habilidades, comporta- acção dos estudantes e/ou alunos, diante de

2342
problemas intelectuais, de modo que estes possam (1956) observam a taxonomia como uma teoria
ser capazes de identificar e organizar um proble- que padronizaria a linguagem sobre os objetivos
ma de modo que reconheça o material necessário de aprendizagem; serviria também como base
para a situação da problemática. (Anderson et.al para determinados cursos; determinaria a harmo-
2001). nia dos objetivos educacionais; e definiria um
Na concepção de Soares (2019), na taxonomia cenário para novas oportunidades educacionais.
de Bloom o saber é aplicado pela expressão Sendo a taxonomia dos objetivos educaciona-
“capacidades e habilidades intelectuais”. Segun- is, assumindo a posição de teoria, conforme os
do a autora relata, Benjamin Bloom, considera as autores supra, torna-se uma das bases necessárias
capacidades e habilidades que o indivíduo tem de para o processo de ensino e aprendizagem, uma
formar uma concepção sobre determinado vez que permite que os cadetes sejam capazes de
assunto e desenvolver capacidade de questioná-lo adquirir capacidades e habilidades intelectuais
sempre que possível, sendo esta a principal via de resultantes de estímulos fornecidos pelo corpo
demonstração do nível de aprendizagem adquiri- docente, de tal forma que identifiquem problemas
do pelo aluno. A taxonomia de Bloom apresenta e organizá-los de modo a alcançar uma solução.
níveis de complexidade de aquisição do conheci- Na presente pesquisa, o cerne do pensamento
mento que compreendem o desenvolvimento de se vincula no grau de satisfação dos cadetes tendo
capacidades e habilidades conforme o estímulo em conta o processo de ensino e aprendizagem, o
fornecido pelo professor (Soares. 2019, p.24) . que, de certa forma desperta a necessidade de
Nestes níveis de complexidade, encontramos busca da avaliação de desempenho do corpo
como categorias de domínio cognitivo, a avalia- docente, tendo em observância a Taxonomia de
ção, a síntese, a análise, a aplicação, a compreen- Bloom, com base nas expectativas e satisfação
são do conhecimento. Segundo a autora, apesar de dos cadetes face ao desempenho dos docentes.
ser desafiador para professores, a taxonomia pode
ser utilizada no processo de planeamento, contu- 3. Metodologia
do se bem interpretada e compreendida, ajuda aos
professores na escolha adequada de estratégias Como forma de alcançar o objetivo geral do
para o processo de ensino-aprendizagem. trabalho, recorremos ao método científico que na
Ferraz & Belhot (2010) compreendem Taxo- perspetiva de Silva & Menezes (2001, p.25), “é o
nomia de Bloom como sendo um instrumento conjunto de processos ou operações mentais que
com a finalidade de auxiliar o reconhecimento e a se devem empregar na investigação; é a linha de
declaração dos objetivos relacionados ao progres- raciocínio adotada no processo de pesquisa.” No
so intelectual, o qual engloba a obtenção do que concerne a metodologia, Gerhardt e Silvei-
conhecimento, competência e atitudes, facilitan- ra,(2009) conceituam como pressuposto essencial
do assim o processo de ensino e aprendizagem. que deve ser seguido para se fazer ciência. No
Segundo os autores, este instrumento, embora presente estudo, observamos uma pesquisa de
apropriado para uso no ensino superior, poucos cariz quantitativo, com objectivo de dar maior
professores fazem uso dele por não saberem uma aprofundamento e interpretação em relação à
maneira adequada de utilizá-lo. Os autores satisfação dos Cadetes em relação a qualidade das
alegam ainda que Krathwohl (2002), Bloom et al. aulas ministradas e suas expetativas sobre a

2353
aplicação das diferentes Cadeiras, ministradas ao informações sobre conhecimentos, crenças,
longo do II e III anos do Curso de Licenciatura, na sentimentos, valores, interesses, expectativas,
vida profissional. , com objetivo de recolher aspirações, temores, comportamento presente ou
dados atinentes a sua percepcao sobre o ensino na passado (Gil (2008, p.140)] para se colher infor-
ACIPOL. mações que concorressem para dar resposta a
Para a realização do trabalho, optamos por uma questão de partida desta investigação. O guião de
abordagem, fundamentalmente, quantitativa, que questionário, que permitiu recolher dados atinen-
segundo Sarmento (2013) deve saber- se cercar tes a perceção da nossa amostra em relação a
inteligentemente da abordagem quantitativa, uma qualidade de ensino-aprendizagem na ACIPOL e
vez que só tem a ganhar, pois a qualidade não é captar/ inferir o sentimento da amostra em relação
contradição lógica da quantidade, mas sim a face a satisfação em desempenho dos Docentes
contrária da moeda. Por um lado, a opção pela durante as aulas e suas expectativas quando a
pesquisa quantitativa resulta pelo facto desta importância relativa para cada Cadeira tendo em
permitir a correlação das três variáveis em conta a perceção da sua utilidade na vida profissi-
análise, isto é, das perceção dos Cadetes sobre a onal foi ministrado exclusivamente via online
qualidade de ensino na ACIPOL, grau de satisfa- através da disponibilização do link de acesso para
ção em relação ao processo de ensino e aprendiza- cada grupo de Cadetes conforme o seu ano e foi
gem e as expetativas sobre a aplicação das dife- respondido de forma anonima, garantindo-se
rentes Cadeiras no desempenho da função de assim a liberdade de respostas por parte da
Oficial de Policial abrindo espaço para uma visão amostra.
abrangente da situação e das ilações e perceção
IV - Apresentação, Análise e Discussão dos
que daí se podem tirar. Resultados
Definida como “a totalidade de indivíduos que
possuem as mesmas características definidas para
No presente capítulo fazemos a apresentação,
um determinado estudo” (Silva & Menezes, 2001,
análise e discussão dos resultados resultantes da
p.32) neste estudo, a população foi constituída
aplicação das técnicas de recolha de dados
pelos 625 Cadetes que frequentaram o II e III anos
enunciados no Capítulo III “Metodologia” e
do Curso de Licenciatura em Ciências Policias no
resultam da análise das respostas aos questionári-
ano de 2020 tendo como amostra [escolhida por
os aplicados. O objetivo da aplicação destes
acessibilidade ou por conveniência, que para Gil
questionários prende-se com a possibilidade de
(2008, p. 113) é a mais ideal em estudos qualitati-
“…recolher a opinião do sujeito da investigação
vos, pois o pesquisador seleciona os elementos do
sobre temáticas de interesse para a própria
universo, admitindo que estes possam de alguma
investigação” (Azevedo & Azevedo 2008) uma
forma lhe conferir maior nível de precisão] 44
vez que estes permitiram acrescentar à investiga-
Cadetes do II ano e 50 do III ano do Curso de
ção o conhecimento mais afastado e com uma
Licenciatura em Ciências Policiais.
perspetiva mais global que não seria possível
Para a recolha de dados, foi aplicado um
através da aplicação de Entrevistas, sendo que a
Questionário [que é uma técnica de investigação
exposição mencionada não se pretende exaustiva,
composta por um conjunto de questões que são
uma vez que apenas são apresentados os dados
submetidas a pessoas com propósito de obter
que corroboram ou refutam os conceitos julgados
2364
mais relevantes para a investigação em curso. ensino na ACIPOL esta na média e somente 6
(14%) é que consideram que o ensino na
4.1. Caracterização da amostra ACIPOL é excelente.
Para a recolha de dados quantitativos (aplica- Para a mesma pergunta, desta vez colocada aos
ção de inquéritos), foi selecionada uma amostra 50 Cadetes do 3 ano do Curso de Licenciatura
composta por 94 Cadetes do Curso de Licenciatu- Ciências Policias, resultou que 22 (44%) conside-
ra em Ciências Policiais, sendo 44 (46,8%) do 2 e ram que o ensino na ACIPOL está acima da média
50 (53,2%) do 3 Ano, cujas características demo- dos estabelecimentos de ensino por onde passa-
gráficas apresentamos na tabela 01- Estratificação ram, 14 (28%) responderam que o ensino na
da amostra por género, idade, condição antes de ACIPOL está na média e 14 (28%) consideram
entrar para ACIPOL e ano de frequência em 2020. que o ensino na ACIPOL é excelente.
No que concerne ao género, a amostra seleciona-
da contém um total de 57 (60,6%) Cadetes do 4.3. Motivação dos Cadetes para participar
género masculino e 37 (39,4%) do género mascu- nas Aulas
lino. 66 (70,2%) provém da sociedade civil e 28 Perguntado aos 44 Cadetes do 2º ano do Curso
(29,8%) eram membros das FDS antes de ingres- de Licenciatura em Ciências Policias, sobre o seu
sar na ACIPOL. Quanto às faixas etárias, a grau de motivação para participar nas aulas de um
amostra é constituída por 43 (45,7%) Cadetes na modo geral 46% dos Cadetes afirma que estava
faixa entre os 18-25 anos de idade, 39 (41,5%) motivado para participar nas aulas na medida em
entre os 26-32 anos de idade e 12 (12,8%) entre os que participava normalmente das mesmas; Por
33-40 anos de idade. seu lado 33% intervinham poucas vezes nas aulas,
Tabela 1-Estratificação da amostra por género, idade, condição antes de entrar para ACIPOL
Condição antes do
Género Faixa etária
Ano ingresso
M F Civil FDS 18-25 26-32 33-40 + 40
2o Ano 25 19 28 16 14 21 9 0
3o Ano 32 18 38 12 29 18 3 0
Total Parcial 57 37 66 28 43 39 12 0
Total Global 94 94 94
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

4.2. Perceção dos Cadetes quanto a qualidade 3% só intervinham quando solicitado e 1%


do ensino na ACIPOL nunca intervieram nas aulas. Somente 17% dos
Analisando as respostas dadas, pelos nossos Cadetes é que intervinha frequente e espontanea-
inquiridos em cada um dos anos em estudo, à mente nas aulas.
pergunta para se captar a perceção sobre “como Ao se discriminar os dados pelas diferentes
é que avalia a qualidade de ensino na ACIPOL Cadeiras destacam-se “Introdução à Economia” e
“consta que dos 44 Cadetes do 2º ano do Curso “Introdução à Metodologia de Investigação
de Licenciatura em Ciências Policias, 28 (68%) Científica” como aquelas em que os alunos mais
consideram que o ensino na ACIPOL está acima participaram “frequente e espontaneamente nas
da média dos estabelecimentos de ensino por aulas” (ambas com 23%) e no extremo oposto ao
onde passaram, 10 (23%) responderam que o analisarmos os dados cumulativos sobre os

2375
indicadores que avaliam a baixa ou nenhuma só intervinha quando solicitado e 1% nunca
intervenção dos alunos nas aulas temos as Cadei- interveio nas aulas. Somente 16% dos Cadetes é
ras de Direito Administrativo com 44%, Direitos que intervinha frequente e espontaneamente nas
Fundamentais e Criminologia, ambas com 39%. aulas.
A tabela VI, indica a súmula dos dados estatísticos Ao se discriminar os dados pelas diferentes
sobre o grau de participação nas aulas relativa aos Cadeiras, destacam-se “Introdução à Análise
Cadetes do 2º Ano do Curso de Licenciatura em Criminal” e “Teoria de Segurança Rodoviária”
Ciências Policiais . como aquelas em que os alunos mais participaram

Tabela 2. Frequência de participação dos cadetes do 2º ano.


Cadeiras (resultados em %)
indicadores Média
CRI PAI DCG IE IMIC SOC FPA DA PO DFU GEO
Intervinham normalmente 45 50 45 41 48 45 48 45 41 45 48 46
Intervinham poucas vezes 32 34 34 34 27 34 34 39 36 36 27 33
Intervinham frequente e
16 14 18 23 23 18 16 11 18 16 18 17
espontaneament e
Intervinham quando
5 2 2 2 2 2 2 5 2 2 7 3
solicitados
Nunca intervinham 2 0 1 0 0 1 0 0 3 1 0 1
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

Perguntado aos 50 Cadetes do 3º ano do Curso “frequente e espontaneamente nas aulas” (ambas
de Licenciatura Ciências Policiais, sobre o seu com 24%) e no extremo oposto ao analisarmos os
grau de motivação para participar nas aulas de um dados cumulativos sobre os indicadores que
modo geral 45% dos Cadetes afirma que estava avaliam a baixa ou nenhuma intervenção dos
motivado para participar nas aulas na medida em alunos nas aulas temos as Cadeiras de Comando e
que participava normalmente nas aulas; Por seu Liderança com 46% e Ética e Deontologia
lado 35% intervinha poucas vezes nas aulas, 3% Policial com 44%. A tabela VII, indica a súmula

Tabela 3: Frequência de participação dos cadetes do 3º ano.


Cadeiras (resultados em %)
indicadores Media
CM EBG DPOL DFA CL IAC TRS ICC GRH DPP EDP DCE
Intervinham
50 50 42 32 44 36 36 54 46 46 46 52 45
normalmente
Intervinham poucas
22 22 40 26 42 34 36 42 36 40 42 40 35
vezes nas aulas
Intervinham
frequente e 22 20 10 26 10 24 24 4 16 14 10 8 16
espontaneamente
Intervinham
6 6 0 8 4 6 6 0 2 0 2 0 3
quando solicitados
Nunca intervinham
0 2 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 1
nas aulas
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

Legenda: CRI-Criminologia; PAI- Proteção de Altas Individualidades; DCG-Direito Criminal Geral; IE- Introdução à Economia;
IMIC-Introdução à Metodologia de Investigação Científica; SOC-Sociologia, FPA- Fundamentos de Policiamento Ambiental; DA-
Direito Administrativo; PO-Policiamento Ambiental; DFU- Direitos Fundamentais; GEO- Geopolítica.

2385
dos dados estatísticos sobre a grau de participação Policias sobre a “sua perceção relativa ao domí-
nas aulas relativo aos Cadetes do 3.º Ano do Curso nio das matérias demostrado pelo docente ao
de Licenciatura em Ciências Policiais . longo das aulas?” por um lado, cerca de 57% dos
Cadetes consideram que os Docentes dominavam
4.4. Perceção dos Cadetes quanto ao desempe- muito bem as matérias que leccionavam, 25%
nho do pessoal docente na ACIPOL mostraram um bom domínio das matérias leccio-
Na presente pesquisa, o cerne do pensamento nadas; Por outro lado, 13% consideram que os
se vincula no grau de satisfação dos cadetes tendo Docentes tinham um domínio razoável das
em conta o processo de ensino-aprendizagem, o matérias enquanto que 3% consideram que os
que, de certa forma desperta a necessidade de mesmos tinham pouco domínio.
busca da avaliação de desempenho do corpo Ao se discriminar os dados pelas diferentes
docente, tendo em observância a Taxonomia de Cadeiras destacam-se “Fundamentos do Policia-
Bloom, com ênfase nas expectativas e satisfação mento Ambiental” e “Direito Criminal Geral”
dos cadetes face ao desempenho dos docentes. como aquelas em que os alunos consideram como
Neste sentido, apresentamos os dados relativos sendo a que os Docentes demostraram maior
a perceção da amostra selecionada quanto domí- domínio das matérias leccionadas (ambas com
nio das matérias por parte dos Docentes, a capaci- 66%) e no extremo oposto ao analisarmos os
dade do Docente em estimular a participação dos dados cumulativos sobre os indicadores que
Cadetes nas aulas, a Satisfação dos Cadetes em avaliam a perceção de baixo ou nenhum domínio
relação a forma como as aulas foram ministradas e das matérias por parte dos Docentes destacam-se
perceção relativa à aplicação das Cadeiras Direitos Fundamentais, Criminologia e Geopoli-
ministradas ao longo do Curso na vida profissio- tica (18%) e Planeamento Operativo (19%). A
nal. tabela VIII, indica a súmula dos dados estatísticos
sobre a perceção dos Cadetes do 2º Ano do Curso
4.4.1. Do domínio das matérias por parte dos de Licenciatura em Ciências Policiais em relação
Docentes ao domínio das matérias por parte dos Docentes.
Questionada a nossa amostra de 44 Cadetes do Questionada a nossa amostra de 50 Cadetes do
2º ano do Curso de Licenciatura em Ciências 3º ano do Curso de Licenciatura em Ciências

Tabela 4. Percepção dos cadetes do 2º ano face ao domínio das matérias dos docentes
Cadeiras (resultados em %)
Indicadores Média
CRI PAI DCG IE IMIC SOC FPA DA PO DFU GEO
Dominava muito bem 61 52 66 52 57 45 66 52 61 59 61 57
Dominava bem 20 25 25 32 27 36 18 34 20 23 20 25
Dominava razoavelmente 11 16 9 14 11 14 14 11 14 18 16 13
Dominava pouco 5 7 0 2 2 5 2 2 5 0 2 3
Não tinha nenhum domínio 2 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

Legenda: CM-Controlo de Massas; EBG-Estado e Boa Governação; DPOL-Direito Policial; DFA-Direito Fiscal e Aduaneiro; CL-
Comando e Liderança; IAC-Introdução à Análise Criminal; TSR-Teoria de Segurança Rodoviária; ICC-Investigação Criminal e
Criminalística; GRH-Gestão de Recursos Humanos; DPP- Direito Processual Penal; EDP-Ética e Deontologia Profissional; DCE-Direito
Criminal Especial.

2395
Policias sobre a “sua percepção relativo ao 4.4.2. Da capacidade do Docente em estimular
domínio das matérias demostrado pelo docente a participação dos Cadetes nas aulas
ao longo das aulas?” por um lado, cerca de 44% Perguntado aos 44 Cadetes do 2º ano do Curso
dos Cadetes consideram que os Docentes domina- de Licenciatura em Ciências Policias, sobre o as
vam muito bem as matérias que leccionavam, 33% dinâmicas do processo de ensino e aprendizagem
mostraram um bom domínio das matérias leccio- durante as aulas, em média 14% dos Cadetes
nadas; Por outro lado, 17% consideram que os afirma que os Docentes exploravam cada
Docentes tinham um domínio razoável, enquanto intervenção dos Cadetes, corrigiam as respostas
5% consideram que os mesmos tinham pouco erradas e apontavam novas formas de analisar os
domínio e 2% são do entendimento que os Docen- problemas que surgiam durante as sessões, 52%
tes não demostraram nenhum domínio das consideravam as intervenções dos Cadetes e
matérias leccionadas. corrigia as respostas erradas apresentadas, 31%
Ao se discriminar os dados pelas diferentes consideravam apenas as intervenções de alguns
Cadeiras destacam- “Direito Processual Penal” Cadetes previamente seleccionados, 3%
como aquelas em que os alunos consideram como evidenciavam as intervenções erradas,
sendo a que os Docentes demostraram maior ridicularizavam os Cadetes criando um ambiente
domínio das matérias leccionadas (56%) e no de angústia e mal-estar e 1% simplesmente
extremo oposto ao analisarmos os dados ignorava as intervenções dos Cadetes não
cumulativos sobre os indicadores que avaliam a suscitando neles a vontade de participar nos
perceção de baixo ou nenhum domínio das debates que surgiam ao longo das aulas.
matérias por parte dos Docentes destacam-se Ao se discriminar os dados pelas diferentes
Controlo de Massas (30%) e Introdução a Analise Cadeiras, destacam-se os Docentes de “Direitos
Criminal (32%). A tabela IX, indica a súmula dos Fundamentais” como sendo os que mais Explora-
dados estatísticos sobre a perceção dos Cadetes vam cada intervenção dos Cadetes, corrigiam as
do 3º Ano do Curso de Licenciatura em Ciências respostas erradas e apontavam novas formas de
Policiais em relação ao domínio das matérias por analisar os problemas que surgiam durante as
parte dos Docentes. sessões (39%), os de “ Planeamento Operativo”

Tabela 5. Percepção dos cadetes do 3º ano face ao domínio das matérias dos docentes
Cadeiras (resultados em %)
indicadores Media
CM EBG DPOL DFA CL IAC TRS ICC GRH DPP EDP DCE
Dominava muito
48 48 38 44 42 40 36 40 44 56 44 50 44
bem
Dominava bem 22 26 34 28 36 28 30 36 36 34 40 44 33
Dominava
18 18 18 18 18 22 24 22 16 8 10 6 17
razoavelmente
Dominava pouco 8 4 8 6 4 6 10 2 4 2 4 0 5
Nenhum domínio 4 4 2 4 0 4 0 0 0 0 2 0 2
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

como sendo os que mais Consideravam as inter-


venções dos Cadetes e corrigia as respostas

2405
erradas (55%), os de 'Direito Administrativo” erradas e apontavam novas formas de analisar os
como sendo os que consideravam apenas as problemas que surgiam durante as sessões, 40%
intervenções de alguns Cadetes previamente consideravam as intervenções dos Cadetes e
seleccionados, os de “Introdução à Economia” corrigia as respostas erradas apresentadas, 10%
como sendo os que evidenciavam as intervenções consideravam apenas as intervenções de alguns
erradas, ridicularizavam os Cadetes criando um Cadetes previamente seleccionados, 1% eviden-
ambiente de angústia e mal-estar (5%) e os de ciavam as intervenções erradas, ridicularizavam
“Geopolítica” como sendo os que mais ignora- os Cadetes criando um ambiente de angústia e
vam as intervenções dos Cadetes não suscitando mal-estar e 4% simplesmente ignorava as inter-
neles a vontade de participar nos debates que venções dos Cadetes não suscitando neles a
surgiam ao longo das aulas (5%). A tabela 10 vontade de participar nos debates que surgiam ao
indica a súmula dos dados estatísticos sobre o longo das aulas.
grau de capacidade dos docentes estimularem a Ao se discriminar os dados pelas diferentes
participação dos Cadetes do 2º Ano do Curso de Cadeiras, destacam-se os Docentes de “Direito
Licenciatura em Ciências Policiais nas aulas. Criminal Especial” como sendo os que mais
Perguntado aos 50 Cadetes do 3º ano do Curso Exploravam cada intervenção dos Cadetes,
de Licenciatura em Ciências Policias, sobre o as

Tabela 6. Capacidade de Estimulação da participação dos cadetes do 2º ano.


Cadeiras (resultados em %)
indicadores Média
CRI PAI DCG IE IMIC SOC FPA DA PO DFU GEO
Considerava as interv enções
dos Cadetes e corrigia as 50 50 55 45 43 45 50 45 55 45 45 52
respostas erradas
Considerava apenas as
intervenções de alguns 27 32 36 39 32 39 30 41 27 14 16 31
Cadetes
Explorava cada intervenção
dos Cadetes, corrigia as
respostas erradas e aponta va 18 14 7 11 20 14 18 14 18 39 34 14
novas formas de analisar os
problemas
Evidenciava as intervenções
erradas, ridicularizava os
2 2 2 5 2 2 2 0 0 0 0 3
Cadetes criando um ambiente
de angústia e mal -estar
Ignorava as intervenções dos
Cadetes não suscit ando neles 2 2 0 0 2 0 0 0 2 5 1
a vontade de participar
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

dinâmicas do processo de ensino e aprendizagem corrigiam as respostas erradas e apontavam novas


durante as aulas, em média 45% dos Cadetes formas de analisar os problemas que surgiam
afirma que os Docentes exploravam cada durante as sessões (64%), os de “ Estado e Boa
intervenção dos Cadetes, corrigiam as respostas Governação” como sendo os que mais Considera-

2415
vam as intervenções dos Cadetes e corrigia as gem durante as aulas, em média 45% dos Cadetes
respostas erradas (60%), os de 'Introdução à afirma que os Docentes exploravam cada
analise Criminal” como sendo os que considera- intervenção dos Cadetes, corrigiam as respostas
vam apenas as intervenções de alguns Cadetes erradas e apontavam novas formas de analisar os
previamente seleccionados (26%), os de “Direito problemas que surgiam durante as sessões, 40%
Fiscal e Aduaneiro” como sendo os que evidenci- consideravam as intervenções dos Cadetes e
avam as intervenções erradas, ridicularizavam os corrigia as respostas erradas apresentadas, 10%
Cadetes criando um ambiente de angústia e mal- consideravam apenas as intervenções de alguns
estar (8%) e os de “Direito Fiscal e Aduaneiro” e Cadetes previamente seleccionados, 1% eviden-
“Investigação Criminal e Criminalística” como ciavam as intervenções erradas, ridicularizavam
sendo os que mais ignoravam as intervenções dos os Cadetes criando um ambiente de angústia e
Cadetes não suscitando neles a vontade de mal-estar e 4% simplesmente ignorava as inter-
participar nos debates que surgiam ao longo das venções dos Cadetes não suscitando neles a
aulas (ambas com 10%). A tabela XI, indica a vontade de participar nos debates que surgiam ao
sumula dos dados estatísticos sobre o grau de longo das aulas.
capacidade dos docentes estimularem a participa- Ao se discriminar os dados pelas diferentes
ção dos Cadetes do 3º Ano do Curso de Licencia- Cadeiras, destacam-se os Docentes de “Direito
tura em Ciências Policiais nas aulas. Criminal Especial” como sendo os que mais
Perguntado aos 50 Cadetes do 3º ano do Exploravam cada intervenção dos Cadetes,
Curso de Licenciatura em Ciências Policias, sobre corrigiam as respostas erradas e apontavam novas
o as dinâmicas do processo de ensino e aprendiza- formas de analisar os problemas que surgiam

Tabela 6. Capacidade de Estimulação da participação dos cadetes do 2º ano.


Cadeiras (resultados em %)
indicadores Média
CRI PAI DCG IE IMIC SOC FPA DA PO DFU GEO
Considerava as interv enções
dos Cadetes e corrigia as 50 50 55 45 43 45 50 45 55 45 45 52
respostas erradas
Considerava apenas as
intervenções de alguns 27 32 36 39 32 39 30 41 27 14 16 31
Cadetes
Explorava cada intervenção
dos Cadetes, corrigia as
respostas erradas e aponta va 18 14 7 11 20 14 18 14 18 39 34 14
novas formas de analisar os
problemas
Evidenciava as intervenções
erradas, ridicularizava os
2 2 2 5 2 2 2 0 0 0 0 3
Cadetes criando um ambiente
de angústia e mal -estar
Ignorava as intervenções dos
Cadetes não suscit ando neles 2 2 0 0 2 0 0 0 2 5 1
a vontade de participar
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

2425
durante as sessões (64%), os de “ Estado e Boa tura em Ciências Policiais nas aulas.
Governação” como sendo os que mais Considera-
vam as intervenções dos Cadetes e corrigia as 4.4.3. Da Satisfação dos Cadetes em relação a
respostas erradas (60%), os de 'Introdução à forma como as aulas foram ministradas
analise Criminal” como sendo os que considera- Em resposta à pergunta sobre a “qual é o teu
vam apenas as intervenções de alguns Cadetes grau de satisfação de como as aulas foram
previamente seleccionados (26%), os de “Direito ministradas?” da nossa amostra, de 44 Cadetes do
2º ano do Curso de Licenciatura em Ciências
Fiscal e Aduaneiro” como sendo os que evidenci-
Policias, cerca de 75% dos Cadetes consideram
avam as intervenções erradas, ridicularizavam os
que as aulas foram boas e 6% entendem que foram
Cadetes criando um ambiente de angústia e mal-
muito boas. Por outro lado, 17% consideram que
estar (8%) e os de “Direito Fiscal e Aduaneiro” e
as aulas foram más e 2% são de opinião que as
“Investigação Criminal e Criminalística” como
mesmas foram muito más.
sendo os que mais ignoravam as intervenções dos Ao se discriminar os dados pelas diferentes
Cadetes não suscitando neles a vontade de Cadeiras, destacam-se “Direitos Fundamentais” e
participar nos debates que surgiam ao longo das “Geopolítica” como aquelas em que os alunos
aulas (ambas com 10%). A tabela XI, indica a afirmaram estar mais satisfeitos com o modo
sumula dos dados estatísticos sobre o grau de como as aulas foram ministradas (com 91% e
capacidade dos docentes estimularem a participa- 89%, respetivamente) e no extremo oposto ao
ção dos Cadetes do 3º Ano do Curso de Licencia- analisarmos os dados cumulativos sobre os

Tabela 7. Capacidade de Estimulação da participação dos cadetes do 3º ano.


Cadeiras (resultados em %)
indicadores Media
CM EBG DPOL DFA CL IAC TRS ICC GRH DPP EDP DCE
Considerava as
intervenções dos
56 60 36 34 36 38 38 32 38 40 44 30 40
Cadetes e corrigia as
respostas erradas
Considerava apenas as
intervenções de alguns 10 12 10 20 2 26 8 12 2 10 4 6 10
Cadetes
Explorava cada
intervenção dos
Cadetes, corrigia as
respostas erradas e 30 22 50 28 56 32 44 56 58 48 48 64 45
apontava novas formas
de analisar os
problemas
Evidenciava as
intervenções erradas,
ridicularizava os
2 2 4 8 0 0 0 0 0 0 0 0 1
Cadetes criando um
ambiente de angústia e
mal-estar
Ignorava as
intervenções dos
Cadetes não 2 4 0 10 6 4 0 10 2 2 4 0 4
suscitando neles a
vontade de participar
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

2435
indicadores de baixa satisfação em relação ao súmula dos dados estatísticos sobre a satisfação
modo como as aulas foram ministradas destacam- dos Cadetes do 3º Ano do Curso de Licenciatura
se Introdução à Metodologia de Investigação em Ciências Policiais em relação ao a forma de
Cientifica (31%), Introdução a Economia e ministrar as aulas por parte dos Docentes.
Proteção de Altas Individualidades (ambas com Em resposta à pergunta sobre a “qual é o teu
30%). A tabela XIII, indica a súmula dos dados grau de satisfação de como as aulas foram
estatísticos sobre a satisfação dos Cadetes do 2º ministradas?” da nossa amostra, de 50 Cadetes do
Ano do Curso de Licenciatura em Ciências 3º ano do Curso de Licenciatura em Ciências
Policiais em relação ao a forma de ministrar as Policias, cerca de 52% dos Cadetes consideram
aulas por parte dos Docentes. que as aulas foram boas e 43% entendem que
Em resposta à pergunta sobre a “qual é o teu foram muito boas. Por outro lado, 4% consideram
Tabela 8. Satisfação dos cadetes do 2º ano
Cadeiras (resultados em %)
indicadores Média
CRI PAI DCG IE IMIC SOC FPA DA PO DFU GEO
Boa 77 68 70 68 64 86 77 59 77 91 89 75
Má 11 27 23 27 30 9 16 14 18 7 7 17
Muito boa 9 2 5 2 5 3 2 25 5 2 5 6
Muito má 2 3 2 3 1 2 5 2 0 0 0 2
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

grau de satisfação de como as aulas foram que as aulas foram más e 1% são de opinião que as
ministradas?” da nossa amostra, de 50 Cadetes do mesmas foram muito más.
3º ano do Curso de Licenciatura em Ciências Ao se discriminar os dados pelas diferentes
Policias, cerca de 52% dos Cadetes consideram Cadeiras destacam-se “Ética e Deontologia
que as aulas foram boas e 43% entendem que Policial” e “Direito Criminal Especial” como
foram muito boas. Por outro lado, 4% consideram aquelas em que os alunos afirmaram estar mais
que as aulas foram más e 1% são de opinião que as satisfeitos com o modo como as aulas foram
mesmas foram muito más. ministradas (ambas com 58%) e no extremo
Ao se discriminar os dados pelas diferentes oposto ao analisarmos os dados cumulativos
Cadeiras destacam-se “Ética e Deontologia sobre os indicadores de baixa satisfação em
Policial” e “Direito Criminal Especial” como relação ao modo como as aulas foram ministradas
aquelas em que os alunos afirmaram estar mais destaca-se a Cadeira de Estado e Boa Governação
satisfeitos com o modo como as aulas foram (20%) dos Cadetes a afirmarem que as aulas
ministradas (ambas com 58%) e no extremo foram más ou muito más. A tabela XIV, indica a
súmula dos dados estatísticos sobre a satisfação
oposto ao analisarmos os dados cumulativos
dos Cadetes do 3º Ano do Curso de Licenciatura
sobre os indicadores de baixa satisfação em
em Ciências Policiais em relação ao a forma de
relação ao modo como as aulas foram ministradas
ministrar as aulas por parte dos Docentes
destaca-se a Cadeira de Estado e Boa Governação
(20%) dos Cadetes a afirmarem que as aulas
foram más ou muito más. A tabela XIV, indica a

2445
Tabela 9. Satisfação dos cadetes do 3º ano
Cadeiras (resultados em %)
indicadores Media
CM EBG DPOL DFA CL IAC TRS ICC GRH DPP EDP DCE
Boa 68 56 54 68 46 68 46 48 56 50 38 40 52
Má 10 14 0 10 2 6 10 0 0 0 4 2 4
Muito boa 20 24 46 20 52 26 42 52 44 50 58 58 43
Muito má 2 6 0 2 0 0 2 0 0 0 0 0 1
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

4.4.4. Percepção dos Cadetes em relação à Em resposta à pergunta sobre a “espera que a
aplicação das Cadeiras ministradas ao longo Cadeiras ministradas no 3 ano te sejam úteis na
do Curso na vida profissional futura vida profissional?” da nossa amostra, de 50
Em resposta à pergunta sobre a “espera que a Cadetes do 3 ano do Curso de Licenciatura em
Cadeiras ministradas no 2 ano te sejam úteis na Ciências Policias, cerca de 92% dos Cadetes
futura vida profissional?” da nossa amostra, de 44 consideram que as Cadeiras ministradas serão
Cadetes do 2 ano do Curso de Licenciatura em muito úteis na vida enquanto 8% consideram que
Ciências Policias, cerca de 91% dos Cadetes as mesmas não serão úteis na sua vida
consideram que as Cadeiras ministradas serão profissional.
muito úteis na vida enquanto 9% consideram que Ao se discriminar os dados pelas diferentes
as mesmas não serão úteis na sua vida Cadeiras destacam-se “Ética e Deontologia
profissional. Policial” como aquela em que os alunos
Ao se discriminar os dados pelas diferentes afirmaram que será a Cadeira com mais utilidade
Cadeiras destacam-se “Sociologia” como aquela na sua vida profissional (95%) e no extremo
em que os alunos percepcionam como sendo a que oposto destaca-se “Direito Fiscal e Aduaneiro” e
será mais útil na sua vida profissional (95%) e no “Introdução à Análise Criminal” com 16% dos
extremo oposto destaca-se “Criminologia” com Cadetes a considerarem como sendo aquela que
16% dos Cadetes a considerarem como sendo será menos útil na sua vida profissional.
aquela que será menos útil na sua vida A tabela XVI, indica a súmula dos dados
profissional. A tabela XV, indica a súmula dos estatísticos sobre a perceção dos Cadetes do 3º
dados estatísticos sobre a perceção dos Cadetes Ano do Curso de Licenciatura em Ciências
do 2º Ano do Curso de Licenciatura em Ciências Policiais em relação a aplicabilidade das cadeiras
Policiais em relação a aplicabilidade das cadeiras na vida profissional.
na vida profissional.

Tabela 10: Percepção dos cadetes do 2º ano, quanto a aplicação das cadeiras
Cadeiras (resultados em %)
Indicadores Média
CRI PAI DCG IE IMIC SOC FPA DA PO DFU GEO
Mais do que o esperado 59 45 48 48 54 50 55 52 59 50 59 53
Muito mais do que o
25 43 48 43 36 45 36 41 34 39 30 38
esperado
Menos do que o esperado 16 10 2 7 5 5 9 7 5 11 11 8
Muito menos do que o
0 2 2 2 5 0 0 0 2 0 0 1
esperado
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

2455
Tabela 11. Percepção dos cadetes do 3º ano, quanto a aplicação das cadeiras
Cadeiras (resultados em %)
Medi
indicadores C IC
CM EBG DPOL DFA IAC TRS GRH DPP EDP DCE a
L C
Mais do que o
52 64 40 48 42 48 38 38 54 44 36 34 44
esperado
Muito mais do que o
38 26 52 32 56 32 54 58 42 54 58 62 48
esperado
Menos do que o
8 6 4 16 2 18 8 2 4 2 6 4 7
esperado
Muito menos do que o
2 4 4 4 0 2 0 2 0 0 0 0 1
esperado
Fonte: Adaptado com base nos questionários aplicados pelos investigadores

V. Conclusões e Sugestões Somente 17% dos Cadetes é que intervinha


frequente e espontaneamente nas aulas. Ao se
Este trabalho de fim de curso subordinado ao discriminar os dados pelas diferentes Cadeiras
tema: a Taxonomia de Bloom e avaliação do destacam-se “Introdução à Economia” e “Intro-
pessoal docente: expectativas e satisfação dos dução à Metodologia de Investigação Científica”
cadetes do II e III anos do Curso de Licenciatura como aquelas em que os alunos mais participaram
em Ciências Policiais-2020” foi conduzido tendo “frequente e espontaneamente nas aulas” (ambas
como Questão Central “Qual é o nível de satisfa- com 23%) e no extremo oposto ao analisarmos os
ção dos Cadetes em relação aos Docentes e as dados cumulativos sobre os indicadores que
expetativas quanto à aplicação na vida profissio- avaliam a baixa ou nenhuma intervenção dos
nal das Cadeiras ministradas no II e III anos do alunos nas aulas temos as Cadeiras de Direito
Curso de Licenciatura em Ciências Policiais?” Administrativo com 44%, Direitos Fundamentais
Assim, desta pesquisa apuramos que no que e Criminologia, ambas com 39%.
concerne a perceção dos Cadetes em relação a Em relação aos Cadetes do 3º ano do Curso de
qualidade de ensino na ACIPOL 90% da amostra Licenciatura Ciências Policias, 45% dos Cadetes
considera que o ensino na ACIPOL está acima da afirma que estava motivado para participar nas
média dos estabelecimentos de ensino por onde aulas na medida em que participava normalmente
passaram, 14% entende que é excelente e 37% é nas aulas; Por seu lado 35% intervinha poucas
de opinião que a ACIPOL está na média dos vezes nas aulas, 3% só intervinha quando solicita-
estabelecimentos de ensino por onde passaram. do e 1% nunca interveio nas aulas. Somente 16%
No que tange à motivação dos Cadetes para dos Cadetes é que intervinha frequente e esponta-
participar nas aulas dos Cadetes do II ano do neamente nas aulas. Ao se discriminar os dados
Curso de Licenciatura em Ciências Policias, 46% pelas diferentes Cadeiras destacam-se “Introdu-
afirmou que estava motivado para participar nas ção à Análise Criminal” e “Teoria de Segurança
aulas na medida em que participava normalmente Rodoviária” como aquelas em que os alunos mais
nas aulas; Por seu lado, 33% intervinham poucas participaram “frequente e espontaneamente nas
vezes nas aulas, 3% só intervinham quando aulas” (ambas com 24%) e no extremo oposto ao
solicitado e 1% nunca intervieram nas aulas. analisarmos os dados cumulativos sobre os

2465
indicadores que avaliam a baixa ou nenhuma mente ignorava as intervenções dos Cadetes não
intervenção dos alunos nas aulas temos as Cadei- suscitando neles a vontade de participar nos
ras de Comando e Liderança com 46% e Ética e debates que surgiam ao longo das aulas. Ao se
Deontologia Policial com 44%. discriminar os dados pelas diferentes Cadeiras
Concernente à percepção que os Cadetes têm destacam-se os Docentes de “Direitos Fundamen-
em relação ao desempenho do pessoal Docente tais” como sendo os que mais Exploravam cada
dos Cadetes do II ano do Curso de Licenciatura intervenção dos Cadetes, corrigiam as respostas
em Ciências Policias, 57% consideram que os erradas e apontavam novas formas de analisar os
Docentes dominavam muito bem as matérias que problemas que surgiam durante as sessões (39%),
leccionavam, 25% mostraram um bom domínio os de “ Planeamento Operativo” como sendo os
das matérias leccionadas; Por outro lado, 13% que mais Consideravam as intervenções dos
consideram que os Docentes tinham um domínio Cadetes e corrigia as respostas erradas (55%), os
razoável das matérias enquanto 3% consideram de 'Direito Administrativo” como sendo os que
que os mesmos tinham pouco domínio. Ao se consideravam apenas as intervenções de alguns
discriminar os dados pelas diferentes Cadeiras Cadetes previamente seleccionados, os de
destacam-se “Fundamentos do Policiamento “Introdução à Economia” como sendo os que
Ambiental” e “Direito Criminal Geral” como evidenciavam as intervenções erradas, ridiculari-
aquelas em que os alunos consideram como sendo zavam os Cadetes criando um ambiente de
a que os Docentes demostraram maior domínio angústia e mal-estar (5%) e os de “Geopolítica”
das matérias leccionadas (ambas com 66%) e no como sendo os que mais ignoravam as interven-
extremo oposto ao analisarmos os dados cumula- ções dos Cadetes não suscitando neles a vontade
tivos sobre os indicadores que avaliam a perceção de participar nos debates que surgiam ao longo
de baixo ou nenhum domínio das matérias por das aulas (5%).
parte dos Docentes destacam-se Direitos Funda- Dos Cadetes do 3º ano do Curso de Licenciatu-
mentais, Criminologia e Geopolítica (18%) e ra em Ciências Policiais, 45% afirma que os
Planeamento Operativo (19%). Docentes exploravam cada intervenção dos
Sobre as dinâmicas do processo de ensino e Cadetes, corrigiam as respostas erradas e aponta-
aprendizagem durante as aulas, dos Cadetes do 2 vam novas formas de analisar os problemas que
ano do Curso de Licenciatura em Ciências surgiam durante as sessões, 40% consideravam as
Policias, 14% dos Cadetes afirma que os Docentes intervenções dos Cadetes e corrigia as respostas
exploravam cada intervenção dos Cadetes, erradas apresentadas, 10% consideravam apenas
corrigiam as respostas erradas e apontavam novas as intervenções de alguns Cadetes previamente
formas de analisar os problemas que surgiam seleccionados, 1% evidenciavam as intervenções
durante as sessões, 52% consideravam as inter- erradas, ridicularizavam os Cadetes criando um
venções dos Cadetes e corrigia as respostas ambiente de angústia e mal-estar e 4% simples-
erradas apresentadas, 31% consideravam apenas mente ignorava as intervenções dos Cadetes não
as intervenções de alguns Cadetes previamente suscitando neles a vontade de participar nos
seleccionados, 3% evidenciavam as intervenções debates que surgiam ao longo das aulas.
erradas, ridicularizavam os Cadetes criando um Ao se discriminar os dados pelas diferentes
ambiente de angústia e mal-estar e 1% simples- Cadeiras destacam-se os Docentes de “Direito
2475
Criminal Especial” como sendo os que mais te) e no extremo oposto ao analisarmos os
exploravam cada intervenção dos Cadetes, dados cumulativos sobre os indicadores
corrigiam as respostas erradas e apontavam novas de baixa satisfação em relação ao modo
formas de analisar os problemas que surgiam como as aulas foram ministradas desta-
durante as sessões (64%), os de “ Estado e Boa cam-se Introdução à Metodologia de
Governação” como sendo os que mais Considera- Investigação Científica (31%), Introdu-
vam as intervenções dos Cadetes e corrigia as ção a Economia e Protecção de Altas
respostas erradas (60%), os de 'Introdução à Individualidades (ambas com 30%).
analise Criminal” como sendo os que considera- · Cerca 91% dos Cadetes do 2º ano
vam apenas as intervenções de alguns Cadetes do Curso de Licenciatura em Ciências
previamente seleccionados (26%), os de “Direito Policiais, consideram que as Cadeiras
Fiscal e Aduaneiro” como sendo os que evidenci- ministradas serão muito úteis na vida
avam as intervenções erradas, ridicularizavam os enquanto 9% consideram que as mesmas
Cadetes criando um ambiente de angústia e mal- não serão úteis na sua vida profissional.
estar (8%) e os de “Direito Fiscal e Aduaneiro” e “Sociologia” surge como aquela em que
“Investigação Criminal e Criminalística” como os alunos afirmaram que é a Cadeira com
sendo os que mais ignoravam as intervenções dos mais utilidade na sua vida profissional
Cadetes não suscitando neles a vontade de (95%) e no extremo oposto destaca-se
participar nos debates que surgiam ao longo das “Criminologia” com 16% dos Cadetes a
aulas (ambas com 10%). considerarem como sendo aquela que
Em resposta à questão de partida desta investi- será menos útil na sua vida profissional;
gação, definida por Fortin (2009, p.51) como · No 3º ano do Curso de Licencia-
sendo “um enunciado interrogativo e não equívo- tura em Ciências Policias, cerca de 52%
co que precisa dos conceitos - chave, especifica a dos Cadetes consideram que as aulas
natureza da população que se quer estudar e foram boas e 43% entendem que foram
sugere uma investigação empírica, somos do muito boas. Por outro lado, 4% conside-
entendimento que: ram que as aulas foram más e 1% são de
opinião que as mesmas foram muito más.
· No 2º ano do Curso de Licenciatu- As Cadeiras de “Ética e Deontologia
ra em Ciências Policiais, cerca de 75% Policial” e “Direito Criminal Especial”
dos Cadetes consideram que as aulas como aquelas em que os alunos afirma-
foram boas e 6% entendem que foram ram estar mais satisfeitos com o modo
muito boas. Por outro lado, 17% conside- como as aulas foram ministradas (ambas
ram que as aulas foram más e 2% são de com 58%) e no extremo oposto ao
opinião que as mesmas foram muito más. analisarmos os dados cumulativos sobre
Destacam-se “Direitos Fundamentais” e os indicadores de baixa satisfação em
“Geopolítica” como as Cadeiras em que relação ao modo como as aulas foram
os alunos afirmaram estar mais satisfeitos ministradas destaca-se a Cadeira de
com o modo como as aulas foram minis- Estado e Boa Governação (20%) dos
tradas (com 91% e 89%, respectivamen- Cadetes a afirmarem que as aulas foram
2485
más ou muito más; Para investigações futuras, sugere-se que este
· Cerca de 92% dos Cadetes do 3º estudo seja melhorado e aprofundado, na perspe-
ano consideram que as Cadeiras minis- tiva de se lhe adicionarem dados novos que os
tradas serão muito úteis na vida enquanto autores não puderam recolher. Em segundo
8% consideram que as mesmas não serão lugar, propõe-se, com a devida consideração e
úteis na sua vida profissional. Destacam- cautela, que a ACIPOL alargue este estudo a todos
se “Ética e Deontologia Policial” como os anos e cursos ministrados de modo a:
aquela em que os alunos afirmaram que
será a Cadeira com mais utilidade na sua ü Fazer uma avaliação de cada
vida profissional (95%) e no extremo Docente uma vez que a presente pesquisa
oposto destaca-se “Direito Fiscal e avaliamos grupos de disciplinas;
Aduaneiro” e “Introdução à Análise ü Conduzir uma avaliação interna
Criminal” com 16% dos Cadetes a nos grupos disciplinares onde os Cadetes
considerarem como sendo aquela que percepcionam a qualidade de ensino
será menos útil na sua vida profissional. como sendo menos boa;

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2505
A Política Externa de Moçambique para a África do Sul na
segurança pública: o tráfico de pessoas como instrumento
indicador

Resumo
O presente artigo estuda as acções univectorias de Moçambique para a África
do Sul na área se segurança pública bem como o seu impacto a nível doméstico
recorrendo à abordagem qualitativa cruzando como técnicas a análise
bibliográfica e entrevistas. Como embasamento teórico, a pesquisa ancora-se na
teoria realista.

Palavras-chave: Tráfico de Pessoas, política externa, segurança pública

Francisco Marrumbine
Novela Abstract
This article, entitled “Mozambique's foreign policy towards South Africa in
terms of public security: human trafficking as an indicator instrument”, addresses the actions carried out
by the Republic of Mozambique towards that of South Africa with a view to respond to public security
demands regarding human trafficking. Its general objective is to study the univectorial actions of
Mozambique towards South Africa in the area of public security as well as its impact at the domestic level.
In the elaboration of the same, a qualitative approach was chosen and through the crossing of the
bibliography and interviews. The realist theory proved to be more suitable for the purpose, since it
provided foundations that allowed the interpretation of the international system in terms of its anarchy
due to the lack of sanctioning bodies to discipline offenders – thus prevailing the law of the strongest – in
the same way that when establishing cooperation between the States – unique actors of the IS – as a tool to
reduce tension, it also clarified their behavior within their not always avowed interests.

Keywords: Human Trafficking, foreign policy, public security

I. INTRODUÇÃO efectuar, através de uma intro e retrospecção,


A presente pesquisa versa sobre “A Política leituras sobre o comportamento do Estado
Externa de Moçambique para com a África do Sul moçambicano para com a sua congénere sul-
na segurança pública: o tráfico de pessoas como africana mormente no que concerne à segurança
instrumento indicador”. Com este tema procura pública tendo como item o tráfico de pessoas.

Extraído da obra “A política externa de Moçambique para a África do Sul: uma abordagem à área de segurança pública”
Mestre em Relações Internacionais e Desenvolvimento, Especialista em Política Externa (UJC - ESRI), Licenciado em
Ciências Policiais (ACIPOL). Docente da ACIPOL. Contactos 846999367,827131983 fmarrumbinenovela@gmail.com

15148
Com fortes laços entre ambos, a parte sul- como as explicações das mesmas.
africana sempre desempenhou um papel vistoso
sobre a política doméstica moçambicana mor- 1.1. Problema
mente na área de segurança facto que teve seu A República da África do Sul desde os tempos
ponto alto com o apoio político da FRELIMO ao desempenhou um papel sensível para a segurança
ANC para libertação das amarras da segregação da homóloga Moçambique. Basta lembrar que,
racial na África do Sul que precipitaram as acções ainda no regime da segregação racial, “[aquele
desestabilizadoras em Moçambique como parte Estado] empreendeu várias acções de desestabili-
de retaliação. Contudo, com os eventos 1994 – zação que assumiram várias formas – militar,
primeiras eleições na África do Sul que simboliza- destruição de infra-estruturas económicas”
ram o fim do domínio da minoria branca (Pereira (Osman e Saúte 2010, p. 326). Este modus vivendi
2008, p. 157) e primeiras eleições fundadoras da veio a refrear com o fim do apartheid, contudo
democracia em Moçambique (Nuvunga 2013, p. com inclusão, no governo sul-africano, de ele-
39), uma nova era bateu a porta e novos desafios mentos do anterior governo fez com que a “amiza-
emergiram. de e cumplicidade” entre o Congresso Nacional
À prior, a composição do Governo sul- Africano (ANC) e a Frente de Libertação de
africano, que incluía alguns elementos do extinto Moçambique (FRELIMO) ficassem estremecidas
regime de segregação racial colocou algumas se considerarmos que a política externa deste país
reticências na forma como este país iria se relacio- para com o nosso, pese embora apresente alguns
nar com os outros países da região, em particular pontos amenos, é muito reticente.
Moçambique, o que veio se mostrar, como vere- Destarte, a área da segurança pública, é que
mos ao longo da presente pesquisa. Porque os mais chama atenção pelo facto daquele país
agentes activos do crime, também, acompanham a constar dos mais mencionados como destino
evolução dos fenómenos políticos/socias assistiu- [tráfico de pessoas mormente no que concerne
se, igualmente, uma onda de acções dessa nature- aos] raptos de cidadãos moçambicanos, sendo que
za envolvendo o espaço e as pessoas dois Estados. os recrutadores/traficantes de origem sul-africana
Neste âmbito, de parte-a-parte, com particular são, alegadamente, turistas e residentes que se
incidência para a nossa, a moçambicana, foram encontram temporária e permanentemente em
desenvolvidas acções para contrariar essa realida- Moçambique. [Ou seja] supõe-se que sejam
de. brancos, de sexo masculino que servem, essenci-
Nesta pesquisa, versa-se por esses aspectos almente, como facilitadores na identificação das
tendo como epicentro as acções univectorias do vítimas no meio urbano e na disponibilização de
Estado moçambicano. Abordam-se actividades condições logísticas para acomodação e transpor-
concretas levadas a cabo por Moçambique, na te até ao destino nacional e/ou internacional (ISRI
área da segurança pública para África do Sul bem 2004, p. 57) .

Estes termos perdem, para esta pesquisa, o seu significado original pelo facto de, nas Relações Internacionais, as relações entre os actores
do sistema internacional, na perspectiva realista, se basearem em interesses contextuais.
Entretanto há casos em que, tendo como destino este país vizinho, os praticantes são moçambicanos como, a título exemplificativo, o
“Caso Diana” ou “Mabuza”.

1529
Por outro lado, justificam Astill-Brown e forma como os Estados no geral e, em particular, o
Weimer (2010, p. 11), que devido à sua geografia e Estado moçambicano, se comportam perante
outros estados na busca da sua firmação
contexto de governação, Moçambique presta-se à
respondendo aos seus próprios objectivos.
função de rota de trânsito de seres humanos e que b) No que se refere a dimensão social, o
embora haja pouca evidência destas ocorrências, estudo mostra-se pertinente na medida em que,
tem-se deparado com algumas provas. Por estando os dois estados separados por uma vasta
fronteira continental, marítima e aérea, gozando
exemplo, alguns jornalistas de investigação sul-
uma história política e cultural que se interseccio-
africanos infiltraram e expuseram uma rede de nam fora o facto da outra parte desempenhar um
tráfico de mulheres e crianças onde eram seduzi- papel preponderante na actividade comercial e
das com promessas falsas de empregos na África estratégica Moçambique, torna-se importante
do Sul, acabando por ser vendidas e obrigadas a partilhar as acções que o nosso Estado toma para
com o mesmo.
prostituir-se naquele país. As “gangs” traficavam
c) Sob prisma académico, a realização da
à volta de 40 mulheres por mês, cobrando aos presente pesquisa, mostra-se necessária na
recipientes 5.000 Rands (20.000,MT) por pessoa. medida em que poderá contribuir para o enrique-
O tráfico também incluía mulheres chinesas, cimento do arsenal académico, nacional e/ou
transportadas voluntariamente para Moçambique internacional, no campo das ciências políticas
com referência à Política Externa conferindo,
em navios porta-contentores. Segundo os relatóri-
assim, alternativas para a abordagem política
os publicados nos jornais, cada chinesa custava externa moçambicana mormente no que se refere
7.000 Rands (28.000,MT). à África do Sul, outrossim, esta pesquisa poderá
auxiliar aos tomadores de decisão no que se refere
às acções externas atinentes a aquele país vizinho
1.2. Justificativa do Estudo
muito concretamente para uma área sensível que
Justificar uma pesquisa é de extrema é segurança.
importância, porque mostra de que forma os
resultados obtidos poderão contribuir para a 1.3. Delimitação
solução ou melhorar compreensão do problema Na delimitação de pesquisa, faz-se um enqua-
formulado, e pode ser pautada nos factores dramento da pesquisa de uma forma tridimensio-
académicos, sociais e pessoais (Siena 2006, p. nal sendo uma na dimensão temática – onde se
51). Neste diapasão, na expectativa de elucidar os descreve o âmbito da abordagem - espacial – onde
caminhos a seguir para resposta do problema da se faz a localização da pesquisa a nível territorial
presente pesquisa, apresenta-se, nas três (03) ou físico – e a nível temporal – onde se enquadra a
dimensões – dimensão pessoal, social e pesquisa no tempo
académica – que impulsionaram a realização da .
mesma: 1.3.1. Espacial
[Moçambique conta] actualmente com
a) A nível pessoal, a realização desta
28.861.863 habitantes, distribuída em dez provín-
pesquisa surge como resultado da combinação
das paixões que o autor nutre, por um lado pela
cias, sendo 15.061.006 mulheres e 13.800.857
área da segurança – onde milita – e, por outro homens, sendo de faixa etária predominantemen-
lado, pela ciências políticas, mormente, a área de te jovem, conforme dados do Instituto Nacional
relações internacionais com destaque para a de Estatística (INE, 2017) relativos aos resultados

2530
definitivos do último censo geral da população e fundadores do realismo clássico podem ser
habitação realizado em 2017 e [por seu turno] a posicionados em um hexágono: três grandes
África do Sul é um país meridionalcom uma fundadores no mundo antigo (mundo oriental e
população de 54.2 milhões de habitantes. (Franze greco-romano) e três grandes teóricos no mundo
e Maloa 2018, p. 119-123). europeu pós-renascimento: Sun Tzu, Tucídides,
Tito Lívio e Maquiavel, Hobbes e Richelieu,
1.3.2. Temática respectivamente. Neste mesmo sentido histórico-
A presente pesquisa visa compreender a linear, é importante ressaltar as ricas contribui-
política externa de Moçambique para com a ções de Tucídides e sua narrativa realista sobre a
África do Sul na área de segurança pública tendo Guerra de Peloponeso, entre 431-404 AC, como
como instrumento indicador o tráfico de pessoas. corolário do realismo na política internacional. A
Para efeito, abordam-se as acções univectorias do estratégia militarista e no discurso do clássico Sun
Estado moçambicano mormente as que incidem Tzu (A Arte da Guerra) constitui elementos
no tipo legal de crime tráfico de pessoas (previsto norteadores do realismo clássico. A geopolítica de
artigo 198 do Código Penal moçambicano). A preservação nacional da raison d'état instituída
escolha deste indicador prende-se com o facto de pelo Cardeal Richelieu, consolida a última ratio
o considerar, pelas suas consequências, como a regis do armamentismo e belicismo.
que mais causa repúdio nas sociedades em geral e Neste diapasão, Castro sintetiza sete principais
na sociedade moçambicana em particular, premissas norteadoras do realismo clássico assim
paralelemente á abordagem que os estados expostas:
conferem-nos pelo seu potencial desestabilizador.
Ø A natureza humana é, em grande
medida, egoísta e individualista e tais
1.3.3. Temporal
acções se reflectem nas articulações
A realização desta pesquisa cingiu-se no internas e externas dos Estados;
intervalo temporal de 1995 -2019. A Escolha do Ø A guerra representa instrumento
ano 1995 justifica-se pelo facto de neste ano ter-se no domínio da política para fins de
assinado, entre as parte representados pelos maximização das estratégias nacionais
(razão de Estado) de sobrevivência e
respectivos Chefes dos Estados, o memorando,
segurança;
que viria a ser uma umbrela jurídica para Ø O Estado nacional utiliza a
assistência mútua em matéria de segurança – latu maximização do cálculo do poder diante
sense. Já o ano 2019 pelo facto de neste ter havido de seus constrangimentos endógenos e
operações de vulto, em Moçambique, exógenos;
Ø O militarismo e as políticas de
concernentes ao tráfico de pessoas como defesa nacional (ofensivas ou defensi-
desenvolvemos ao longo deste ao longo deste vas) são justificáveis sob o ponto de vista
trabalho. de obtenção e manutenção, a custos
crescentes, de capitais de força-poder-
interesse disponíveis;
II. TEORIA BASE
Ø A relativa baixa controlabilidade
internacional (entropia relativa) força os
2.1. Teoria realista atores estatais a tomarem posturas de
Castro (2012, p. 30-319) explica que os priorização de suas respectivas agendas;

2541
Ø O Estado nacional é um principal 3.1. Tipo de abordagem
actor do cenário internacional, permitin- No que se refere à abordagem, as pesquisas
do a si o acesso a extensa gama de acções, podem ser qualitativas, quantitativas ou mistas.
de prioridades autojustificadas e de
prerrogativas exclusivas; e, Para a presente pesquisa optou-se pela qualitativa.
Ø Por fim, os Estados são movidos e Na pesquisa qualitativa - o pesquisador é
posicionados em uma distribuição elemento chave e a fonte principal de dados é o
irregular e assimétrica de capitais de ambiente natural. O foco não é a quantificação,
força-poder-interesse, ocasionando,
mas a interpretação dos fenómenos e a atribuição
assim, uma hierarquização cratológica
em uma determinada ordem mundial. de significados, pois considera que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito
Esta teoria mostra-se eficaz na abordagem das que não pode ser quantificável. Não há emprego
relações internacionais considerando itens de métodos e técnicas estatísticas, mas pode-se
c e n t r a i s : o P O D E R , a usar a estatística descritiva para organização das
SEGURANÇA/INSEGURANÇA, a informações (Siena 2006, p. 48).
ANARQUIA (do sistema internacional) e o Eis algumas características do método na
ESTADO NACIONAL (como cerne das Relações perspectiva de Cassel e Symon (1994, p. 127 -
Internacionais). Neste contexto, o realismo 129):
centra-se, no estudo das RI, no conflito latente i. Um foco na interpretação ao invés
de na quantificação: geralmente, o
destacando que, por vezes, a segurança de um
pesquisador qualitativo está interessado
(Estado) pode significar, paradoxalmente, a na interpretação que os próprios partici-
insegurança de outro (Estado). Porém, a teoria pantes têm da situação sob estudo;
peca por chamar ao debate das relações internaci- ii. Ênfase na subjectividade ao invés
onais outros actores que, de facto, influenciam o de na objectividade: aceita-se que a busca
de objectividade é um tanto quanto
funcionamento das RI tais como as Organizações inadequada, já que o foco de interesse é
Internacionais (ONU, NATO, UA, etc) e, é neste justamente a perspectiva dos participan-
contexto que surge o neorrealismo (1979) com tes;
Waltz como uma espécie da actualização do iii. Flexibilidade no processo de
conduzir a pesquisa: o pesquisador
paradigma realista – com esta actualização a
trabalha com situações complexas que
política externa de um Estado é definido pelo não permitem a definição exacta e a
lugar desse estado no Sistema Internacional e em prioridade dos caminhos que a pesquisa
termos de poder objectivo. irá seguir; etc.

III. METODOLOGIA 3.2. Tipo de pesquisa


Do ponto de vista da sua natureza, segundo
Para o presente capítulo, apresenta-se os Predanov e Freitas (idem) a pesquisa pode ser:
procedimentos metodológicos seguidos para pesquisa básica: objectiva gerar conhecimentos
efeitos de realização da pesquisa (Predanov e novos úteis para o avanço da ciência sem
Freitas 2013, p. 28) aplicação prática prevista. Envolve verdades e
interesses universais; ou pesquisa aplicada:

2552
objectiva gerar conhecimentos para aplicação que directa ou indirectamente abordam o tema em
prática dirigidos à solução de problemas estudo. Assim, a pesquisa basea-se em diversos
específicos. Envolve verdades e interesses locais. documentos que realçam a importância da
Considerando o contexto que surge a nossa segurança pública, com maior ocorrência aos
pesquisa pode ser classificada como pesquisa relatórios policiais, legislação e mídias.
básica pois tem como fim contribuir para o avanço
da ciência. IV. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS
Assim, segundo os autores, quanto aos proce- RESULTADOS DO ESTUDO
dimentos técnicos podem ser definidos dois
grandes grupos de delineamentos: aqueles que se Moçambique é apontado tanto como país de
valem das chamadas fontes de papel (pesquisa origem assim como de trânsito de tráfico de
bibliográfica e pesquisa documental) e aqueles pessoas, havendo indicações de que são trafica-
cujos dados são fornecidos por pessoas (pesquisa das, sobretudo mulheres e crianças do sexo
experimental, pesquisa ex-postfacto, o levanta- feminino. O recrutamento faz-se normalmente na
mento, o estudo de caso, a pesquisa-ação e a área de Maputo, embora muitas crianças venham
pesquisa participante). Para a presente pesquisa de zonas rurais. As mulheres traficadas são
visto que visa contribuir para a ciência optou-se aliciadas com promessas de empregos lucrativos
pela pesquisa bibliográfica enriquecida por na África do Sul, sendo em seguida vendidas a
entrevistas. bordéis ou como concubinas de mineiros. [Por
outro lados] os rapazes traficados, em menor
3.3. Técnicas de recolha de dados número, são vendidos para trabalho em explora-
Pardal e Correia (1995, p. 48) consideram a ções agrícolas (Wlsa 2009, p. 4).
técnica como "um instrumento de trabalho que Assim, na maior parte dos casos as vítimas são
viabiliza a realização de uma pesquisa" que, levadas com o seu consentimento ou com conhe-
através de um conjunto de operações de um cimento dos parentes, no caso das crianças, por
método, permite confrontar o corpo de hipóteses aliciamento e promessas de uma vida melhor.
com informação colhida na amostra (verificação Trata-se de uma situação típica das famílias e
empírica). Na presente pesquisa, considera-se as comunidades com enormes carências que vêm as
seguintes técnicas a pesquisa bibliográfica e promessas dadas pelos membros das redes de
análise documental. tráfico de pessoas a solução dos problemas da
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a acentuada pobreza a que estão sujeitas (Francisco
partir de um material já elaborado, constituído 2018, p. 63).
principalmente de artigos e livros, (Gil 1989, p. A situação ganha outra dimensão quando,
65). Com esta técnica esperamos ter uma cobertu- segundo um agente do Serviço Nacional de
ra mais ampla do que aquela que poderia pesqui- Investigação Criminal de Moçambique, “o tráfico
sar directamente. Assim, para a materialização de pessoas é um super crime pois envolve outros
desta pesquisa, optaremos pela pesquisa biblio- crimes tais como, a nível de finalidade, explora-
gráfica, sendo que constituem auxílio de trabalho ção sexual, trabalho forçado, etc”. Por outro lado,
científico de qualquer natureza, uma vez permitir o seu combate, segundo um Oficial do Serviço
a recolha das percepções de uma gama de autores Nacional de Migração de Moçambique, “é
2563
deveras complicado pois muita das vezes o meio Parlamentar para tomar acção de forma a provi-
usado é pacífico, logo o seu acompanhamento denciar protecção para as crianças traficadas na
mostra-se complicado.” África do Sul e em Moçambique.
Esta posição é corroborada pelo Oficial do Igualmente, apostou-se na formação de
Ramo da Polícia de Fronteira 1 e Oficial do Ramo agentes policiais sobre a questão e sobre formas
da Polícia de Fronteira 2 que, no entanto, aponta- de protegerem os direitos das crianças (foram
ram que no caso de menores há, no mínimo, uma treinados agentes policiais de três esquadras
grelha de questões de despiste aplicados ao menor como um projecto piloto sobre o tráfico de
e ao acompanhante. Ainda assim, segundo a crianças e outras violações dos direitos das
literatura, o Governo Moçambicano vem envi- crianças) e partiu-se para a identificação de
dando esforços no sentido de controlar a situação crianças traficadas num centro para crianças da
através acções incidentes na matéria quer seja a rua na África do Sul a 30 de agosto de 2004. Na
nível formal – actualização da legislação – quer a mesma senda, o Procurador-geral de Moçambi-
nível de acções práticas – direcionamento do que Dr. Joaquim Madeira nomeou um Oficial de
Ministério do Interior para o efeito. Ligação para trabalhar conjuntamente como a
No quadro legislativo, Moçambique vem campanha nacional de forma a auxiliar o proces-
actualizando os instrumentos legais para efeitos sar jurídico de perpetradores em casos de negli-
de conferência de orientação jurídica tanto a nível gência comprovada por parte das autoridades
punitivo para os infractores, a protecção das policiais (Boaventura, Manjate & Mackay 2006,
vítimas e uma umbrela jurídica para os agentes p. 48-51).
que compõe a máquina da administração da Estas acções – descritas no parágrafo anterior –
justiça. Para efeitos desta pesquisa vale destacar a foram motivadas pelo facto de que pese embora o
ractificação da Protocolo de Palermo pelo facto Distrito de Chókwè, na Província de Gaza, seja
de, por um lado estar inserido contexto de interna- tido como lugar de frequência do tráfico de
cional – cerne deste trabalho – e, por outro lado, pessoas, as rotas usadas para transportar às
por constituir a maior expressão do Estado vítimas de tráfico de Moçambique para a África
moçambicano na prevenção e combate a este mal do Sul são a fronteira de Ressano Garcia para
(Observatório ACP das Migrações 2011; Lima & Gauteng, da fronteira do Libombo para África do
Roda 2018). Desta legislação avulsa assistiu-se a Sul e da fronteira de Ponta de Ouro para a África
uma massificação de acções voltadas para o do Sul (ISRI 2018, p. 119-120). Por outro lado, o
fenómeno. interesse, do lado moçambicano em incrementar
A 16 de Junho de 2000, foi oficialmente as suas acções, segundo um Oficial do Serviço
lançada, na área fronteiriça de Ressano Garcia, Nacional de Investigação Criminal de Moçambi-
perto da África do Sul, a Campanha Nacional que, justifica-se pelo facto deste crime acontecer
Contra o Abuso e Tráfico de Crianças com o de forma univectorial, de Moçambique para
objectivo de chamar a atenção dos cidadãos e dos África do Sul, uma vez que este último país se
governos de ambos os países para a necessidade apresenta como mais desenvolvido.
de se combater o abuso sexual e tráfico de pessoas. Vale ressaltar que, segundo Oficial do Ramo da
Também se fez lobbying de uma comissão Polícia de Fronteira 1 que fora subscrito pelo

2574
Oficial do Ramo da Polícia de Fronteira 2, a nível mútuo objectivo de concretizarem os respectivos
estratégico, o plano de acção da protecção de interesses nacionais. Na mesma ordem, a Resolu-
fronteiras moçambicanas é um e único para todas ção n.º 34/2010 de 30 de Agosto, no que se refere à
fronteiras variando a sua aplicação com realida- assistência das comunidades moçambicanas no
des locais. Ainda assim, segundo Oficial do Ramo exterior, defende ser da alçada do Ministério dos
da Polícia de Fronteira 2, “tem havido [no pico das Negócios Estrangeiros e Cooperação proteger e
mobilidades] uma intensificação de patrulha das assistir os moçambicanos no exterior.
fronteiras que, por vezes, é feita paralelamente Sendo que, ao abrigo do disposto no art. 25 da
com as Forças Armadas da África do Sul. Neste Resolução n.º 6/2003 de 8 de Agosto, as formas de
contexto, quando um dos lados denota algum representação do Estado no exterior podem ser
vácuo da contra-parte procede à notificação deste. em formato de Missões Diplomáticas ou Missões
Neste processo, o da varredura, a participação Consulares e Especiais que têm como uma das
passiva das populações que residem nas zonas missões informar ao MINEC sobre os assuntos do
fronteiriças é indispensável.” interesse do Estado moçambicano. Por outro lado,
Por outro lado, Moçambique criou o grupo segundo um Oficial do Ramo da Polícia de
anti-tráfico denominado Grupo de Coordenação Fronteira 2, “no âmbito do seu surgimento sob
Transfronteiriça que envolve [de] agentes de égide da cooperação Moçambique-Rússia [ainda
Segurança até líderes comunitários. Igualmente, acoplado ao Ministério da Defesa] a força [mo-
apostou na criação de grupo de referência de çambicana] de proteção de fronteira é semi-
Ressano Garcia composto por instituições e diplomática na medida em que constitui o primei-
associações baseadas nesta fronteira (migração, ro contacto estatal para com o estrangeiro [nessa
alfândega, chefe de posto, polícia da guarda condição a sua mobilidade entre Estados é
fronteira, procuradoria e acção social) com protegida].
finalidade primária de garantir a protecção das
crianças de modo que estas não sejam traficadas V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
para a África do Sul [iniciativa que depois se
estendeu à nível de todas fronteiras nacionais] A teoria realista mostrou-se mais indicada para
(Mariano, Braga & Moreira, 2016, p. 53). Por o pois, forneceu alicerces que permitiram inter-
outro, como assegurou um Oficial do Serviço pretar o sistema internacional quanto à sua
Nacional de Migração de Moçambique, uma vez anarquia pela inexistência de órgãos sancionatóri-
tomado conhecimento sobre algum moçambicano os para disciplinar os infractores – imperando
na África do Sul na situação de traficado, ao assim a lei do mais forte – da mesma forma que ao
abrigo dos memorandos de cooperação, parte-se estabelecer a cooperação entre os Estados –
para o seu repatriamento deixando para a justiça actores únicos do SI – como uma ferramenta para
sul-africana o tratamento do traficante. diminuição de tensão ainda elucidou o comporta-
Contudo, sobre este assunto, Silva (2012, p. mento destes dentro dos seus interesses nem
65) defende que a diplomacia é de longe um sempre confessos.
privilegiado instrumento – embora não seja o No caso de Moçambique e África do Sul que já
único – de relacionamento entre os Estados com o tiveram um passado de hostilidades, partilhando

2585
fronteiras (continentais, marítimas e até aéreas) a segurança viradas para o lado sul-africano uma
cooperação afigura-se estratégica para ambas vez que dadas razões que se prendem com maior
partes pois mal-entendidos são passíveis de serem fluxo migratório as dinâmicas criminais tenderão
resolvidos por via diplomática e, a prior, nenhuma a seguir a mesma velocidade.
das partes pode prosseguir, em relação a outra Tendo sido constatado que o meio mais usado
parte, uma política externa agressiva. para o tráfico de pessoas é pacífico, somos de
A política externa de Moçambique para com a opinião que deveria se investir mais no rastreio
África de Sul na área de segurança pública pode dos moçambicanos que viajem para África de Sul
ser qualificada, como comum nos meandros de através de um levantamento do nível vida que
combate criminal, por reacções estratégicas que, teriam em Moçambique através de representações
vezes em quando, vem prosseguindo como diplomáticas. Esse facto pode ser depreendido
formar de garantir a sua própria segurança através do motivo que a pessoa viajante evocar
pública. É nosso entendimento que todas as áreas para efectuar a sua viagem para este país.
que compõem a Ministério do Interior Moçambi- A par das perguntas de despiste que se aplicam
cano funcionam como vazos comunicantes no no caso das viagens envolvendo crianças, a
combate ao tráfico de pessoas e de drogas, nesse criação de uma base de dados onde, dentre outros
sentido é mais do que espectável uma abordagem aspectos julgados pertinentes, conste a data
mais alinhada na gestão das mesmas. regresso. Por essas medidas, de alguma forma,
Sendo certo que a África do Sul desempenha ainda que visem a segurança das pessoas
um papel preponderante na segurança pública (especialmente crianças), violam algumas
moçambicana é espectável que, através de liberdades – circulação – deverão ser precedidas
comissões especializadas ora existentes se parta de uma regulamentação especial.
para elaboração de políticas públicas de

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2604
A Postura de Trânsito aprovada pela Assembleia Municipal¹
de Maputo² à luz dos princípios do direito

Resumo
O presente trabalho de pesquisa parte de duas premissas, a primeira é de que
os actos normativos são uma das formas de manifestação do poder de polícia e a
segunda é de que um dos limites do poder de polícia são os princípios do direito. A
partir destes dois pressupostos faz uma análise da Postura de Trânsito vigente no
Município de Maputo à luz dos princípios da presunção de inocência, do
contraditório e da proporcionalidade. A análise é feita através de uma
abordagem qualitativa recorrendo a consulta bibliográfica e legislativa. A
consulta bibliográfica, foi constituída por doutrina brasileira, portuguesa e a
Zélio Ivan Banze
legislativa que resultou na análise de legislação Moçambicana, Portuguesa e de
dois Acórdãos Brasileiros. Como resultado, a pesquisa concluiu que a Postura de
Trânsito vigente no Município de Maputo viola o princípio da presunção de inocência pelo facto de,
constatada a infracção por parte do Agente da Polícia Municipal, que consiste no estacionamento em
lugar proibido, o cidadão é presumidamente considerado culpado e obrigado a pagar imediatamente a
multa, sob pena de ver sua viatura removida, sem espaço para abertura de um processo de averiguação. A
norma ainda viola o princípio do contraditório pois, não se dá ao cidadão a oportunidade de contradizer e
também viola o princípio da proporcionalidade, pois, nota-se uma grande desproporcionalidade entre
ausência da presunção de inocência e do direito do contraditório na esfera jurídica do cidadão e o fim
público que se pretende atingir com estas medidas. A falta de previsão legal de fiscalização das posturas
municipais pelo órgão que tutela o Município de Maputo contribui para estas limitações legais
exageradas.

Palavras Chaves: Poder de polícia. Limites. Interesse geral. Presunção de inocência.

Abstract
The present research work starts from two premises, the first is that normative acts are one of the forms
of manifestation of police power and the second is that one of the limits of police power is the principles of

1
A Assembleia Municipal é um órgão deliberativo do Município que é uma Autarquia Local. O Município nos termos dos artigos 32, 50 e
57 da Lei nº 6/2018, de 3 de Agosto, é constituído por três órgãos: A Assembleia Municipal deliberativos, o Conselho Municipal e o
Presidente do Conselho Municipal órgãos Executivos.
2
Maputo é capital de Moçambique, país Africano falante de língua portuguesa localizado na zona Austral de África
Doutorado em Paz, Democracia, Movimentos Sociais e Desenvolvimento Humano. Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria,
Moçambique. zeliobanze@gmail.com | ORCID 0000-0002-8895-5201 | Ciência ID DC17-FCFB-F41B

16148
law. Based on these two assumptions, it analyzes the Traffic Posture in force in the Municipality of Maputo
in the light of the principles of presumption of innocence, contradiction and proportionality. The analysis
is done through a qualitative approach using bibliographic and legislative consultation. The
bibliographical consultation was constituted by Brazilian, Portuguese and legislative doctrine that
resulted in the analysis of Mozambican and Portuguese legislation and two Brazilian Judgments. As a
result, the research concluded that the Traffic Posture in force in the Municipality of Maputo violates the
principle of the presumption of innocence because, once the offense by the Municipal Police Officer, which
consists of parking in a prohibited place, the citizen is presumed to be found guilty and obliged to pay the
fine immediately, under penalty of having their vehicle removed, with no space to open an investigation
process. The norm still violates the principle of adversary proceeding as it does not give the citizen the
opportunity to contradict and it also violates the principle of proportionality, as there is a great
disproportionate between the absence of the presumption of innocence and the right to contradict in the
legal sphere of the citizen and the public end that these measures are intended to achieve. The lack of legal
provision for inspection of municipal positions by the governing body of the Municipality of Maputo
contributes to these exaggerated legal limitations.

Keywords: Police power. Limits. General interest. Presumption of innocence.

Introdução citar uma norma que proíba que um cidadão no


Como ensina o Professor Hely Lopes Meirel- seu momento de lazer, a partir de uma determina-
les o poder de polícia é o “mecanismo de frena- da hora, através de aparelhos sonoros normalmen-
gem de que dispõe a administração pública para te de noite, emita sons a partir de um certo volu-
conter abusos do direito individual” me. A limitação da liberdade individual deste
(MEIRELLES, 2001, p. 440). As liberdades cidadão garante a manutenção do interesse geral,
individuais precisam ser limitadas com vista a uma vez que a partir de certa hora grande maioria
prossecução do interesse geral, é nisto que se das pessoas precisa de dormir.
resume o poder de polícia. O poder de polícia é o Gozar a administração pública do exercício do
poder que o Estado e outras pessoas colectivas poder de polícia, não significa exercê-lo de modo
públicas têm, de limitar as liberdades individuais liberal, ou desregrado, aprovando normas que
com vista a garantir o interesse geral. limitem ao seu bel-prazer as liberdades individua-
Dentre muitas das formas de manifestação do is, pois se assim fosse, o exercício dos direitos
poder de polícia, Maria Sylvia Zanella Di Pietro individuais dos cidadãos estaria em risco. É nesta
menciona: os actos normativos em geral (DI perspectiva que foram instituídos limites a que o
PIETRO, 2010). Estes actos normativos são poder de polícia deve se subordinar. Lopes
normas em sentido formal e material que no dia-a- Meirelles entendeu que:
dia vão estabelecer regras limitadoras das liberda-
des individuais. A título de exemplo, podemos Os limites do poder de polícia administrativa são
demarcados pelo interesse social em conciliação

1629
com os direitos fundamentais do indivíduo Maputo, que exerce o poder de polícia, à luz dos
assegurados na Constituição da República (... ). princípios do Direito. Sem dúvida a aprovação
Do absolutismo individual, evoluímos para o
desta Postura é uma das manifestações do poder
relativismo social. Os Estados democráticos,
como o nosso, inspiram-se nos princípios de de polícia, pois como veremos ela estabelece
liberdade e nos ideais de solidariedade humana. limites aos cidadãos que vivem na circunscrição
Daí o equilíbrio a ser procurado entre a fruição territorial da Autarquia. Neste sentido queremos
dos direitos de cada um e os interesses da
questionar: de que forma a Postura de Trânsito
colectividade, em favor do bem comum (Meirel-
les, 1976, p. 4).
vigente no Município de Maputo respeita os
princípios da presunção de inocência, do contra-
Um dos limites do poder de polícia são os ditório e da proporcionalidade?
princípios do direito. Os princípios jurídicos são Com vista a atingir este entendimento nos
linhas orientadoras para a elaboração de normas, e propomos a i) analisar o sentido e alcance de cada
por outro lado são as bases de interpretação de um dos princípios jurídicos acima mencionados;
qualquer sistema ou regime jurídicos. Por isso, ii) confrontar se as normas vigentes na Postura de
Celso Bandeira de Mello entende que a violação a Trânsito vigente no Município de Maputo e os
um princípio jurídico é deveras bastante grave princípios jurídicos com vista a identificar
pois sua desobediência coloca em causa inúmeras possíveis excessos, iii) encontrar alguma causa
normas jurídicas (Mello, 2009). por detrás de possíveis excessos das liberdades
Os princípios jurídicos, diferentes das normas individuais na Postura Municipal de Trânsito.
vão se revestir de uma enorme abstracção, pois Com vista a materializar os objectivos escolhi-
não se aplicam ao um sector concreto como o são dos, faremos quanto a abordagem o uso da
as normas, mas podem ser aplicados pelo legisla- metodologia qualitativa com destaque a consulta
dor em vários sectores e áreas sociais. José bibliográfica e legislativa, nomeadamente livros,
Joaquim Gomes Canotilho entende que: “Os artigos científicos, leis ordinárias regulamentos, e
princípios são multifuncionais. Podem desempe- Jurisprudência que fale do assunto, para através
nhar na função argumentativa, permitindo por de análise tirar considerações.
exemplo, denotar a ratio legis de uma disposição Sobre a Postura de Trânsito, o artigo 49 nos nºs
ou revelar normas que não são expressas por de 1 ao 4, elenca possíveis situações de estaciona-
qualquer enunciado legislativo, possibilitando mento proibido de veículos (sobre passeios, locais
aos juristas sobretudo os juízes, o desenvolvimen- de travessia de peões etc). No nº 6 do mesmo
to, integração e complementação do direito " artigo, dispõe o seguinte:
(Canotilho, 1991,p.173).
As infracções ao disposto nos números deste
Na presente pesquisa, queremos analisar a
4 artigo, podem determinar o bloqueio da viatura ou
Postura de Trânsito aprovada pela Resolução de a sua remoção para um parque do município, onde
nº 66/AM/2017 de 30 de Março da Assembleia fica sujeita a pagamento de uma taxa diária em
Municipal, órgão deliberativo do Município de conformidade em anexo I (500,00MT), só

4
Postura Municipal é um comando normativo aprovado pela Assembleia Municipal de Maputo no uso das competências previstas na
alínea a) do nº 3 do artigo 45 da Lei nº 6/2018, de 3 de Agosto

2630
podendo ser levantada mediante o pagamento de processo disciplinar afim de se averiguar os factos
multa em conformidade com o anexo II de forma justa e imparcial sendo que antes de
(1000,00MT), bem como das despesas de
findo o processo o arguido não deverá ser
remoção. Na presença do infractor, para que o
veículo não seja removido, este deve pagar a sancionado gozando deste modo de presunção de
respectiva multa. inocência ou de não-culpabilidade. Tanto no
processo penal como no direito administrativo
O artigo acima enunciado é que será objecto de existem sanções, pelo que há espaço para a
análise da presente pesquisa. incidência deste princípio fundamental, pois
antes de se esgotarem os meios recorrentes
2. Revisão da Literatura disponíveis, o cidadão deve ser tratado como
inocente. Assim sendo é bastante coerente que
2.1. Presunção de inocência abordemos o princípio de presunção de inocência
O Princípio da presunção de inocência encon- em sede de direito administrativo a partir do qual
tra-se consagrado no direito internacional e o direito de polícia vai se emergir.
interno. No contexto internacional, destacamos a
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 2.2. Princípio do contraditório
1948 que no seu artigo 11 nº 1, dispõe: “Toda O princípio do contraditório provém do latim
pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito Audi alteram partem (ou audiatur et altera pars),
de ser presumida inocente até que a sua culpabili- que significa "ouvir o outro lado", ou "deixar o
dade tenha sido provada de acordo com a lei, em outro lado ser ouvido bem"o princípio do contra-
julgamento público no qual lhe tenham sido ditório é um corolário do princípio do devido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua processo legal, e significa que todo acusado terá o
defesa”. direito de resposta contra a acusação que lhe foi
A alínea b) do artigo 7º da Carta Africana dos feita, utilizando, para tanto, todos os meios de
Direitos Humanos na mesma senda dispõe que: “o defesa admitidos em direito (Novo, 2019).
direito de presunção de inocência até que a sua O princípio do contraditório visa fundamental-
culpabilidade seja reconhecida por um tribunal mente garantir que a parte acusada se defensa.
competente”. Encontra-se consagrado no nº 2 do Este princípio deriva de um outro princípio que é
artigo 59 da Constituição da República de o da isonomia processual ou da igualdade de
Moçambique Revista pontualmente pela Lei nº armas entre as partes litigantes. Existe um com-
1/2018 de 12 de Junho, que dispõe: “os arguidos plemento entre estes dois princípios. Tem suas
gozam da presunção de inocência até decisão géneses no direito processo penal, mas expandiu-
judicial definitiva”. se em todas as áreas sancionatórias. Em Moçam-
A génese deste princípio embora seja vislum- bique o direito do contraditório tem consagração
brada no direito penal, nada impede de aplicarmos no artigo 61 nº 1 da CRM que dispõe: “O direito à
no direito administrativo área na qual o direito de defesa e em julgamento em processo criminal é
polícia emerge e se orienta. No processo discipli- inviolável e é garantido a todo arguido”. O Código
nar sancionador do funcionário público, por do Processo Penal aprovado pela Lei n.º 25/2019
exemplo, se verifica claramente este princípio, de 26 de Dezembro seguindo ortodoxamente este
pois antes da sanção ser aplicada é precedido um preceito constitucional dispõe no artigo 5 que: “O

2641
processo penal subordina-se ao princípio do a nossa lei chama princípio da proporcionalidade.
contraditório”. Recorrendo a doutrina segundo o professor Hely
Lopes de Meirelles:
Embora a génese deste princípio remota o “o princípio da razoabilidade ou proporciona-
processo penal, ele estende-se em vários ramos
lidade, (…), também chamado de princípio da
desde os processuais e em regimes
sancionatórios. Isto é, onde se verificar a
proibição de excesso, tem como intuito evitar
necessidade de aplicação legal de qualquer restrições desnecessárias ou abusivas por parte da
sanção a um presumível infractor, a este deve ser Administração Pública, com lesão aos direitos
dada a oportunidade de contradizer. No caso de fundamentais, aferindo a compatibilidade entre
aplicação de multas, ao administrado sempre
os meios e fins” (Meirelles 2007, p.102).
deve ser dada a oportunidade de contradizer,
criando assim um equilíbrio entre as duas partes. Este princípio tem sua origem no Estado de
Direito quando se começa a controlar o poder de
A Lei nº14/2011, de 10 de Agosto, Lei do polícia estatal com vista a não exceder seu poder
Procedimento Administrativo, dispõe mecanis- de coerção aos súbditos. No direito Português este
mos administrativos gerais alternativos pelos princípio tem consagração constitucional. Por
quais o particular pode exercer o contraditório, exemplo no nº 2 do artigo 18 da Constituição da
nomeadamente a Reclamação e o Recurso. Na República Portuguesa dispõe que: “A lei só pode
reclamação o particular mostra sua insatisfação restringir os direitos, liberdades e garantias nos
com o órgão que praticou o acto, enquanto no casos expressamente previstos na Constituição,
recurso, recorre ao órgão imediatamente daquele devendo as restrições limitar-se ao necessário
que tomou a decisão. Como dispõe a referida Lei para salvaguardar outros direitos ou interesses
no seu Glossário, Reclamação é a “impugnação constitucionalmente protegidos”. O artigo 266 nº
de um acto administrativo ou decisão perante o 2 da norma acima dispõe também que: “Os órgãos
respectivo autor, visando a sua revogação ou e agentes administrativos estão subordinados à
alteração”. Enquanto o recurso hierárquico é o Constituição e à lei e devem actuar, no exercício
”meio de impugnação de um acto administrativo das suas funções, com respeito pelos princípios da
praticado por um subalterno, perante o respectivo igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da
superior hierárquico, a fim de obter a revogação imparcialidade e da boa- fé”.
ou a substituição do acto recorrido. Uma das Este princípio segundo a narrativa vai compor-
vantagens do recurso hierárquico para o particu- tar três prismas nomeadamente: a adequação, a
lar, é que tem efeitos suspensivos nos termos do necessidade e a proporcionalidade strito senso.
artigo 166º, ou seja a partir do momento que o Segundo Gomes Canotilho adequação quer dizer
particular recorre o órgão que praticou determina- que a medida usada deve ser a mais conveniente
do acto deve se abster de executar o acto até para atingir o fim que se pretende. A necessidade
decisão daquele a qual se subordina. se refere ao facto de que a medida escolhida é na
verdade a menos lesiva ao particular. A proporcio-
2.3. Princípio da Proporcionalidade nalidade stritusenso pressupõe que deve existir
Para além do princípio da presunção de um equilíbrio entre os bens e valores pois, “uma
inocência e do contraditório, encontramos lei restritiva, mesmo adequada e necessária, pode
também a violação da proporcionalidade ou como ser declarada inconstitucional, quando adopte

2652
cargas coactivas de direitos, liberdades e garanti- Não existe nenhum processo antecipado para
as desmedidas desajustadas excessivas ou despro- aferir a culpa ou não do munícipe. A constatação
porcionadas em relação aos resultados obtidos.” do agente no local dos factos é bastante suficiente,
(Canotilho, 1995, p.617) não havendo espaço para análise prévia num
Deve existir um equilíbrio entre o interesse contraditório. O munícipe é liminarmente tratado
público que se pretende salvaguardar e a conse- como culpado, goza assim em outras palavras, de
quência particular prejudicada. Como ensinou o uma presunção de culpa.
Prof. Freitas do Amaral: “A proporcionalidade é o A observância ao princípio da presunção de
princípio segundo o qual a limitação de bens ou inocência no nosso entender, se verificaria pela
interesses privados por atos dos poderes públicos passagem de um aviso de multa (vide anexo 1) ao
deve ser adequada e necessária aos fins concretos invés de uma multa. O aviso de multa é uma
que tais atos prosseguem, bem como tolerável notificação emitida pelos agentes de polícia
quando confrontada com aqueles fins.” (Amaral, municipal informando ao cidadão de que dispõe
2014, pp. 141-142) de um período de y (ex: 10 dias) tempo para: pagar
No nosso ordenamento jurídico o princípio da voluntariamente a multa, ou no caso de discordar
proporcionalidade encontra-se melhor disposto com a medida pode exercer o seu direito de
no artigo 6 da Lei nº 14/2011, de 10 de Agosto que contraditório que pode significar reclamar ou
dispõe que: “a administração pública deve sempre recorrer. Durante o período em que o aviso de
tomar medidas que acarretem consequências multa estiver em dia, o munícipe é ser tratado
menos graves para a esfera jurídica do administra- como inocente. É notória que em outras Posturas
do”. Municipais a Assembleia Municipal regula desta
forma emitindo avisos de multa, pelo que não
3. Apresentação dos resultados entendemos porque aqui não procede desta forma.
A título de exemplo, na Postura de Ocupação de
Após a enunciação teórica dos princípios da Espaço Público, Postura de Publicidade e Postura
presunção, de inocência, do contraditório e da de Poluição Sonora, é emitido primeiro um aviso
proporcionalidade, ou seja, dos princípios que de multa para o cidadão no prazo de 15 dias.
qualquer norma que limite as liberdades dos efectuar o pagamento da multa ou reclamar
cidadãos em prol do interesse deve respeitar, querendo, sob pena do aviso de multa tornar-se
queremos neste subtema apresentar os resultados em multa definitiva.
da confrontação que fizemos dos três princípios Uma coisa é o munícipe pagar despesas
do direito com a Postura Municipal de Trânsito referentes a remoção da viatura na via pública
aprovada pela Assembleia Municipal de Maputo. caso obstrua a circulação normal de viaturas,
No caso da Postura de Trânsito, o indivíduo outra bem diferente, é prematuramente ser
não goza da presunção de inocência pois, a sanção sancionado e por isso pagar a multa. A aplicação
é aplicada de forma antecipada a qualquer averi- da sanção (multa), pressupõe antecedentemente, a
guação em processo administrativo. Quando a abertura de um processo que consiste em uma
viatura é bloqueada pelos agentes de polícia sequência de actos processuais tendentes a
municipal, o cidadão deve pagar imediatamente a descoberta da verdade material e a oportunidade
multa ou observará a sua viatura sendo removida. do presumível infractor contradizer. Este proces-

2663
so pode por exemplo ser acompanhado de foto-
grafias e vídeos no local que comprovem a Ø Primeiro, porque o contraditório é
exercido depois da aplicação da sanção.
infracção. Só notificado do aviso de multa e
No nosso entender este processo deveria
decorrido o prazo legal sem que o munícipe ser inverso, primeiro o munícipe deveria
efectue o pagamento, reclame ou recorra, o aviso contradizer e depois ser sancionado.
de multa tornar-se-ia definitivo. Neste instante o Ø Segundo porque, a norma dispõe que
munícipe poderia pagar voluntariamente ou o “cidadão poderá apresentar reclamação
ao Presidente do Conselho Municipal.
coercivamente através do Tribunal de Polícia em
Questionamos nós como reclamar ao
processo judicial próprio. O ónus da prova neste Presidente do Conselho Municipal se não
caso pertenceria ao agente da polícia que tem é este que autuou directamente a multa?
todos elementos para fazer prova. O nº 3 do artigo 79 da Postura de Trânsito
Entendemos nós que este deveria ser o refere-se “ao agente autuante” como
aquele que tem competência para autuar,
procedimento. A simples constatação do agente neste caso o referido agente de que se fala
da polícia de municipal não deveria ser suficiente é o agente da Polícia Municipal dirigido
para sancionar de imediato, apenas para se por um Comando da Polícia Municipal. A
presumir bastante a ilicitude do munícipe e emitir este Comando ou unidade orgânica é que
deveriam ser remetidos em primeira
o aviso de multa como explicamos atrás.
instância as reclamações. Ao Presidente
Queremos deixar claro que gozar de presunção de do Conselho Municipal que é Chefe da
inocência no direito administrativo não significa Polícia Municipal na qual o Comando da
que o munícipe só poderá ser sancionado por Polícia Municipal se subordina, caberia
sentença transitado em julgado, porque a recurso hierárquico. Reclamar ao Presi-
dente que é o topo da hierarquia do
Administração pública no âmbito do seu poder
Conselho Municipal carrega morosida-
sancionatório dispõe de poderes de executar suas de, porque este tem competências de
próprias decisões, o chamado privilégio de ordem supra institucional, sendo bastante
execução prévia. Significa antes de mais, que constrangedor ter que descer a base da
m e s m o t e n d o p o d e r e s d e s a n c i o n a r, a hierarquia vertical e resolver assuntos
relacionados com multas de trânsito em
administração pública garantirá que este poder primeira instância. Achamos ineficaz este
sancionatório seja exercido só depois de findo um procedimento.
processo, em que no decurso dele, é assegurada a Ø Terceiro porque, considerar que a
inocência do munícipe. reclamação deverá ser remetida ao
Presidente do Conselho Municipal, para
além de contrariar a definição legal de
3.1. Princípio do contraditório reclamação prevista na Lei nº 14/2011, de
O artigo 81 da Postura de Trânsito sob a 10 de Agosto, traz consequências legais
epígrafe reclamações e prazos dispõe que: “O aos munícipes, pois limita uma garantia:
infractor que não concordar com a penalização, “o recurso”. Questionamos nós, se o
munícipe efectua somente reclamação ao
poderá apresentar a sua reclamação ao Presidente
Presidente do Conselho Municipal, há
do Conselho Municipal dentro do prazo de sete quem poderá recorrer? A resposta é que
dias, a contar da data da penalização”. lhe é vedado assim a garantia de recurso
É interessante a contrariedade deste artigo: hierárquico. O recurso hierárquico para

2674
além de ser uma garantia do cidadão jurisprudência sobre autuações de normas de
prescrita numa norma hierarquicamente polícia que violem os princípios do direito. Em
superior (Lei em sentido formal) a alguns recursos interpostos por cidadãos contra a
Postura (Lei em sentido material), traz
benefícios como a suspensão de eficácia. aplicação de uma multa de trânsito sem que se lhe
Ou seja, se o cidadão tivesse direito de fosse concedido a defesa o colectivo de Juízes
recorrer nesta Postura Municipal de proferiu o seguinte:
Trânsito, poderia suspender a eficácia da
multa enquanto o órgão superior decide. A autoridade de trânsito que, antes de julgar auto
É interessante que na hierarquia vertical de infração, seja qual for a penalidade a ser em
antes do Presidente do Conselho Munici- tese, aplicada, não conceder à autuada oportuni-
pal encontramos o Vereador Municipal dade de defesa, viola direito líquido e certo deste,
de Protecção e Segurança e o Comandan- protegível por demanda de segurança. É que o
te da Polícia Municipal que muito bem atual Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº
poderiam receber as reclamações dos 9.503/97), embora não seja específico no ponto,
munícipes. assim como não era como o anterior Código
Ø Quarto qual é o efeito prático de um Nacional de Trânsito (Lei nº 5.106/66) não só
cidadão ser primeiro punido e só depois excluir o direito de o autuado contestar a peça
ter a oportunidade de reclamar? Tendo o acusatória, antes do julgamento e isso indepen-
valor da multa entrado nos cofres do dentemente da penalidade que, em tese, possa
Conselho Municipal, recebida a reclama- resultar, como reconhece, de modo implícito, ao
ção, o Conselho Municipal não estará conceder tal direito em outras situações, como a
mais tendente a desfavorecer o munícipe dos arts. 257, § 7º e 256. Mas que isso, se todas as
para não perder a receita proveniente da penalidades, como diz o art. 256, não é lógico
multa? Em caso do munícipe tiver razão conceder direito de defesa só em relação há
na reclamação em quanto tempo o seu algumas. Se não bastasse, o direito de defesa,
valor será devolvido tendo em conta a inclusive no âmbito administrativo, esta garanti-
morosidade que norteia as instituições do pelo art. 5º., LV da CF. Por isso, a Resolução
públicas em Moçambique? 568/80, do CONTRAN, foi recepcionada pelo
Ø Em outras Posturas Municipais este atual CTB, conforme admite o art., 314, parágrafo
procedimento não ocorre, a título de único. Apelo desprovido e sentença
exemplo na Postura de Ocupação de 9confirmada em reexame. "(TJRS, Primeira
Espaço Público, Postura de Publicidade e Câmara Cível, ap. nº 70000192575, j. em
Postura de Poluição Sonora é emitida 05.04.2000).
primeiro um aviso de multa para o
cidadão no prazo de 15 dias efectuar o
Interessa-nos comentar este primeiro Acórdão
pagamento da multa ou reclamar queren-
do sob pena do aviso de multa tornar-se Brasileiro, pelo facto de dispor que a ainda que a
em multa definitiva. referida norma de trânsito não fizesse menção ao
A verdade é que o agente de polícia municipal é direito de defesa do presumível infractor, por
dotado nesta postura de trânsito de plenos poderes força de outras normas de garantia, este direito
e isto abre espaço para arbitrariedades. por nenhuma circunstância pode ser afastado do
cidadão. Trata-se de uma garantia que de nenhu-
3.3 O exemplo de Brasil na inclusão do ma forma se pode limitar.
princípio do contraditório Um outro acórdão versou também que: “É
O direito Brasileiro nos traz uma rica ilegal a imposição de multa de trânsito sem

2685
procedimento administrativo regular e que peões. Estas questões são deveras pertinentes,
assegure ao autuado o exercício de direito de pois como entende Freitas do Amaral na aplicação
defesa através do contraditório. Não é suficiente a deste princípio “se uma medida concreta não for
prévia intimação pessoal. É indispensável tam- simultaneamente adequada, necessária e equili-
bém observar a influência do prazo de defesa." brada, em relação ao fim tido em vista a adopção,
RECURSO PROVIDO." (TJRS, Segunda ela será ilegal por desrespeito ao princípio da
Câmara Civil, ap., nº 70000502443, j. proporcionalidade”. (AMARAL, 2014, p.15)
29.03.2000). Concluímos que a Assembleia Municipal
Segundo este acórdão, mais do que, garantir o procurou na verdade deliberar a medida mais
direito do contraditório torna-se também necessá- grave para o munícipe, beneficiando improporci-
rio garantir o direito a uma ampla defesa, ou seja, onalmente o Conselho Municipal com a receita
um prazo razoável que permita de facto o cidadão adquirida em virtude do pagamento precoce do
contradizer. valor.
Vislumbram-se nestes dois Acórdãos, aquilo
que deveria ser a norma policial patente na 4. Ausência dos princípios do direito na
Postura Municipal de Trânsito. A presunção de Postura Municipal de Trânsito como o
inocência bem como do contraditório são inego- corolário da falta de Fiscalização Esta-
ciáveis, trata-se de garantias que a Assembleia tal
Municipal como representantes dos interesses dos
munícipes deveria a priorizar. Nós entendemos que a ausência do princípio
da presunção de inocência do cidadão, do
3.2. Princípio da Proporcionalidade contraditório bem como da proporcionalidade,
No caso em análise da Postura Municipal de reflecte:
Trânsito, não existe nenhum equilíbrio entre o fim
que se pretende atingir e o procedimento sancio- Ø A falta de fiscalização das Posturas
Municipais por órgão de tutela- O
natório aplicado. Um procedimento acompanha-
Ministério da Administração Estatal e
do de ausência de presunção de inocência e de Função Pública é o órgão governamental
contraditório devidamente estruturado. Qual é o que tutela (controla, fiscaliza) os actos
motivo da Assembleia Municipal forçar o muníci- praticados pelo Município de Maputo. O
pe a pagar a multa no local? Não pagando no local artigo 6 da Lei nº 7/97, de 31 de Maio-
Tutela Administrativa do Estado sobre as
e se beneficiando este munícipe de, por exemplo,
Autarquias Locais. Sucede que nos
15 dias ou menos como ocorre nas restantes termos do nº 2 do artigo 6, dentre os actos
sanções municipais, para efectuar qualquer tipo que devem ser ractificados não constam
de reclamação, estaria em causa a prossecução do as posturas Municipais. Quer isto dizer
interesse público? Achamos também ser despro- que a Assembleia Municipal goza da
liberdade de aprovar as Posturas sem
porcional do ponto de vista procedimental o facto nenhuma fiscalização. Esta falta de
de o cidadão ser obrigado a pagar despesas de fiscalização acaba saindo cara aos
remoção da viatura que está estacionada em local munícipes, pois as normas que vão
que não obstrui a circulação normal de viaturas e incidir sobre eles, são deliberadas ao bel-
prazer da Assembleia Municipal. Como

2695
disse o Professor Freitas do Amaral, uma particular, como por exemplo a possibilidade de
das desvantagens da descentralização é querendo, reclamar num prazo de 15 dias. Realçar
que “primeiro gera alguma descoordena- que, a Assembleia Municipal, já deliberou esta
ção no exercício da função administrati-
va, segundo abre a porta ao mau uso do última medida, em outras posturas municipais,
Poder discricionário por parte de pessoas por exemplo a Postura de Publicidade, a Postura
nem sempre bem preparadas para os de Ocupação de Espaço Público e a Postura de
exercer” (Amaral, 2015, p.726). Poluição Sonora dentre outras, excepto na Postura
Certo é que a Assembleia Municipal tem
de Trânsito é que decidiu inovar em prejuízo dos
o poder de polícia, ou seja, tem o poder de
limitar as liberdades dos munícipes, certo munícipes.
é também que este poder é exercido sem Estas violações nos fizeram querer perceber os
fiscalização do Estado e como resultado mecanismos de controlo do exercício do poder de
há espaço para o mau uso do seu poder de polícia municipal no na Assembleia Municipal de
polícia, perigando assim as liberdades
Maputo, isto é da fiscalização das posturas
individuais dos munícipes.
municipais que limitam as liberdades individuais
5. Considerações Finais dos munícipes. Ficou evidente que o Ministério
da Administração Estatal e Função Pública,o
Com a presente pesquisa chegamos a conclu- órgão governamental que tutela os actos pratica-
são de que a Postura Municipal de Trânsito dos pelo Município de Maputo, não fiscaliza o
aprovada pela Assembleia Municipal de Maputo, conteúdo das posturas municipais deixando ao
no exercício do poder de polícia, confronta-se bel-prazer da Assembleia Municipal de Maputo a
negativamente com os princípios do Direito. O estipulação normativa das limitações das liberda-
cidadão nesta postura de trânsito, ao invés de des individuais dos munícipes.
gozar de presunção de inocência, goza de presun- O presente trabalho limitou-se em analisar a
ção de culpa, uma vez que bastando apenas que o Postura Municipal de Trânsito à luz dos princípios
agente da Polícia detecte a infracção, para que o do direito. É interessante que estas Posturas
cidadão seja obrigado a pagar a multa no local, Municipais que são uma forma de actuação do
sem existência sequer de um processo que dê o poder de polícia, são aprovadas pela Assembleia
benefício da dúvida. Pagando a multa imediata- Municipal que é um órgão deliberativo e repre-
mente, sem prévia oportunidade de contradizer, sentante dos interesses dos munícipes. Neste
nota-se claramente a violação do princípio do órgão encontram-se membros de Assembleia que
contraditório. Verifica-se um contraditório são munícipes eleitos para representar os interes-
ineficaz, pois ocorre depois da sanção, depois do ses de todos os munícipes da Cidade de Maputo. A
pagamento da multa, e da entrada do montante aos questão que nos inquieta é a seguinte: os membros
cofres do Município. da assembleia têm conhecimento, dos limites do
Uma análise sobre a medida aplicada (paga- poder de polícia? Sabem que devem respeitar as
mento imediato da multa, ausência de contraditó- liberdades individuais dos cidadãos e só limitar
rio) e a finalidade que a medida deseja atingir, nos em última causa quando estiver em vista o interes-
faz concluir que há violação do princípio da se geral? Recomendamos que os próximos
proporcionalidade. Poderiam ser utilizadas pesquisadores visitem a Assembleia Municipal
medidas menos lesivas na esfera jurídica do para aferir o grau de conhecimento por parte

2705
destes representantes dos munícipes. Embora a um agir excessivamente coactivo por partes das
análise retro mencionada seja um debate de cunho autoridades municipais, recomendamos uma
legal, ou seja, tenha consistido em analisar para investigação priorize uma análise que busque
depois concluir que a Postura Municipal de subsídios em outros ramos do conhecimento
Trânsito não reflecte os princípios do direito, como a história, sociologia e outros.
entendemos que outras variáveis podem motivar

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2715
Acesso em: 05/12/2021
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acessado no dia 05/12/2020. Acesso em: 05/12/2021

2725
Uma Análise à Vulnerabilidade dos Agentes da Polícia
Municipal de Maputo Emergente da Falta de Regulamentação
do Uso de Armas de Fogo

Resumo
O presente trabalho analisa as
vulnerabilidades a que estão
sujeitos os agentes da polícia
municipal de Maputo pela falta de
regulamentação do porte e uso de
armas de fogo. Teve como base de
análise o Regulamento de Criação
e Funcionamento da Polícia
Edson Abílio Quive Zélio Ivan Banze Henrique Zuber
Municipal, aprovado pelo Decreto
nº 35/2006, de 06 de Setembro, que
remete a regulamentação do porte e uso de armas de fogo ao Ministro que Superintende a área da Polícia.
A análise é feita através de uma abordagem qualitativa e também recorrendo a consulta bibliográfica,
legislativa bem como a entrevista semiestruturada com cinco agentes da Polícia Municipal que ocupam
cargos de direcção e chefia. A pesquisa concluiu que as competências da polícia municipal acarretam o
porte e uso de arma de fogo, dado o risco e complexidade que a sua execução exige, bem como aos riscos
que as competências se revestem, aliado ao facto do decurso de tempo da aprovação do RCFPM, em nome
da boa administração os sucessivos Ministros dispunham de justificativas válidas e oportunas para
regulamentar o porte e uso de armas de fogo por parte da Polícia Municipal.

Palavras-chave: perigo, poder discricionário, competências

Abstract
This paper analyzes the vulnerabilities that Maputo municipal police officers are subjected to due to
the lack of regulation on the carrying and use of firearms. The basis of analysis is the Regulation for the
Establishment and Functioning of the Municipal Police, approved by Decree 35/2006 of September 6th,

Mestre em Direito de Trabalho. Universidade Técnica de Moçambique, Moçambique


edsonabilioquive@gmail.com | ORCID 0000-0002-5406-0629 | Ciência ID 9E17-065E-A1DC
Doutorado em Paz, Democracia, Movimentos Sociais e Desenvolvimento Humano. Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria,
Moçambique. zeliobanze@gmail.com | ORCID 0000-0002-8895-5201 | Ciência ID DC17-FCFB-F41B
Mestre em Direito de Trabalho. Academia de Altos Estudos Estratégicos, Moçambique
henriquezuber@gmail.com | ORCID 0000-0002-2759-6575 | Ciência ID FB14-A0AC-6B9D

1738
which refers the regulation of the carrying and use of firearms to the Minister that Superintends the area
of Police. The analysis is made through a qualitative approach and also resorting to bibliographic and
legislative consultation as well as semi-structured interviews with five Municipal Police officers who
occupy management and leadership positions. The research concluded that the competencies of the
municipal police involve the carrying and use of firearms, given the risk and complexity that its execution
requires, as well as the risks that the competencies entail, coupled with the fact that the passage of time of
the approval of the RCFPM, in the name of good administration the successive Ministers had valid and
opportune justifications to regulate the carrying and use of firearms by the municipal police

Keywords: danger, discretionary power, competencies

Introdução Sucede que por força implícita da lei, o nº 1 do


artigo 12 limita a actividade da Polícia Municipal
Nos termos do n°1 do artigo 2 do Regulamento ao uso dos seguintes equipamentos: bastão curto,
de Criação e Funcionamento da Polícia Munici- apito, emissor e algemas, equipamentos estes que
pal, abreviadamente designado por RCFPM de certa forma são ineficazes para a materializa-
aprovado pelo Decreto 35/2006, de 06 de Setem- ção das competências acima citadas. A título de
bro, a Polícia Municipal é o Serviço Municipal exemplo, quando os agentes da Polícia Municipal
especialmente vocacionado para o exercício executam as decisões das autoridades municipais
exclusivo de funções de polícia administrativa. como a de embargar ou demolir uma obra ilegal,
No entanto, os agentes da Polícia Municipal, ou por exemplo, quando presenciam em flagrante
abreviadamente designados por PMM, têm delito o cometimento de um crime e necessitam de
executado as suas atribuições e competências deter e entregar as autoridades competentes nos
previstas nos artigos 7 e 8 do Regulamento acima termos da lei, tal operação torna-se precária pelo
citado, sendo algumas delas, nomeadamente: i) facto de não portarem arma de fogo. Este facto
vigilância de espaços públicos ou abertos ao ocorre, embora a formação dos agentes da PMM
público referentes ao património do Conselho ocorra nos centros de formação paramilitares que
Municipal, ii) guarda de edifícios e equipamentos obrigatoriamente incluem o manuseio seguro da
públicos do Município, iii) fiscalização do arma de fogo de acordo com preceituado no n°3
cumprimento das normas de estacionamento de do artigo 11 do Regulamento de Organização e
veículos na área da jurisdição municipal, iv) Funcionamento do Curso de Formação e do
acções de policiamento ambiental, v) vigilância Estágio dos Candidatos as Carreiras da Polícia
nos transportes urbanos, execução coerciva nos Municipal, aprovado pelo Diploma Ministerial
termos da lei dos actos administrativos dos órgãos n°105/208, de 14 de Novembro.
e das autoridades municipais, vi) detenção e Dada a perigosidade na execução das compe-
entrega imediata à Polícia da República de tências ligadas à Polícia Municipal, o nº 2 do
Moçambique de suspeitos de crime punível com artigo 12 RCFPM dispõe que: os agentes da PMM
pena de prisão em caso de flagrante delito nos poderão utilizar outros equipamentos coercivos
termos da lei processual penal. que forem definidos por diplomas do Ministro que

74
superintende a área da polícia, além dos previstos 2.2 Polícia
no número anterior (bastão curto, apito, emissor e O conceito de polícia comporta vários
algemas). Sucede porém, que desde a aprovação sentidos. Para esta pesquisa, elegemos, a polícia
do RCFPM em 06 de Setembro 2006, mesmo em sentido orgânico ou institucional- segundo
sendo visível o risco e o perigo decorrente da António de Sousa “é o conjunto das forças, dos
actividade da PMM, até ao presente, não se serviços, dos entes das instituições ou das
vislumbra nenhuma regulamentação do uso de autoridades policias” (Sousa, 2006, p. 44). Esta
armas de fogo por parte da PMM. Daí que, surge a definição adequa-se perfeitamente com o
necessidade de entender: sobre que vulnerabilida- conceito adoptado pelo ordenamento jurídico
des estão sujeitos os agentes da Polícia Municipal moçambicano previsto no nº 1 do artigo 2
pela falta de regulamentação do uso de armas de RCFPM, onde dispõe que “a Polícia Municipal é
fogo? o Serviço Municipal especialmente vocacionado
Assim, constitui o objectivo desta pesquisa para o exercício exclusivo de funções de polícia
identificar as vulnerabilidades a que os agentes da administrativa”. No ordenamento jurídico
Polícia Municipal estão sujeitos pela falta de moçambicano, a Polícia Municipal não tem
regulamentação do uso de armas de fogo. Este consagração constitucional, mas ordinária, pois
objectivo desdobra-se nos seguintes objectivos emerge da descentralização administrativa. Os
específicos: conceituar a vulnerabilidade e o Municípios que se constituem como uma das
poder regulamentar ii) Identificar as vulnerabili- categorias das autarquias locais, através da
dades decorrentes da execução das competências Assembleia Municipal como um dos seus órgãos
da Policia Municipal; iii) analisar as consequênci- vão criar e extinguir a polícia Municipal nos
as da falta de regulamentação do uso de armas de termos da alínea f) do nº 3 do artigo 45 da Lei nº
fogo por parte dos agentes da Polícia Municipal. 6/2018, de 03 de Agosto, que Aprova o Quadro
Este artigo, para além da introdução conta com Jurídico-Legal para a Implantação das Autarquias
quatro (4) secções: (i) enquadramento teóri- Locais. Uma vez que a Lei que define o quadro das
co/estado da arte; (ii) Metodologia; (iii) Resulta- autarquias locais não regulamenta o exercício das
dos de estudo;(iv) Considerações Finais. Polícias Municipais, o Conselho de Ministros
com vista a complementar esta Lei aprovou o
1 Enquandramento Teórico/ Estado RCFPM.
da Arte
2.3 Regulamentos
2.1. Vulnerabilidade Os Regulamentos são uma das formas de
Importa primeiro conceituar o termo vulnera- manifestação do poder administrativo, para tanto,
bilidade, que segundo o Dicionário do Desenvol- o Professor Freitas do Amaral os define como
vimento "implica uma situação de risco; significa sendo “as normas jurídicas emanadas no exercí-
que pessoas e/ou comunidades estão numa cio do poder administrativo por um órgão da
situação de fragilidade - seja por motivos sociais, Administração ou por outra entidade pública ou
económicos, ambientais ou outros - e por isso privada para tal habilitada por lei” (Amaral, 2016,
estão mais vulneráveis ao que possa advir dessa p. 177). Os regulamentos têm natureza normativa
exposição” (Dicionário do Desenvolvimento). assumindo para tal, as mesmas características da

75
lei, nomeadamente: generalidade e abstracção. Os colaboração com as organizações de participação
regulamentos diferem da lei pelo facto, desta ser das populações.

aprovada por um órgão de competência legislati-


A PM é consequência da descentralização
va, enquanto aquele é aprovado por um órgão com
administrativa que despoletou na criação dos
competência regulamentar. Entretanto, nos
municípios, pois ela constitui um serviço munici-
termos da presente pesquisa o RCFPM, aprovado
pal subordinado ao Conselho Municipal cujo
pelo Decreto 35/2006, de 06 de Setembro é um
Presidente do Conselho Municipal exerce as
regulamento pois é aprovado pelo Conselho de
funções de Chefe da Polícia Municipal ao abrigo
Ministros órgão do poder executivo com compe-
do disposto do artigo nº 3 do RCFPM.
tências regulamentares.
A descentralização administrativa, segundo
A doutrina elenca variada espécie de regula-
Amaral, (2015, p.726) não traz apenas vantagens,
mentos onde de ponto de vista de relação dos
carrega também consigo alguns inconvenientes
regulamentos face a lei, encontramos os “regula-
como o facto de primeiro “gerar alguma descoor-
mentos complementares ou de execução” que
denação no exercício da função administrativa,
“são aqueles que desenvolvem ou aprofundam a
segundo abre a porta ao mau uso do poder discri-
disciplina jurídica constante de uma lei” (Amaral,
cionário por parte de pessoas nem sempre bem
2016, p. 185). Na presente pesquisa o RCFPM é
preparadas para os exercer”. Por vezes, a descen-
um regulamento complementar, pois visa execu-
tralização pode criar alguma descoordenação
tar a Lei nº 6/2018, de 03 de Agosto que Aprova o
entre os órgãos centrais e os locais gerando alguns
Quadro Jurídico-Legal para a Implantação das
conflitos. Também a falta de preparação técnica é
Autarquias que consagra a criação das Polícia
um inconveniente, isto porque descentralizar
Municipal.
atribuições a entidade que tenha agentes públicos
despreparadas ou sem alguma competência
2. 4 Descentralização
técnica, acarreta consequências negativas na
A descentralização administrativa é o sistema
esfera dos administrados, pois podem usar
pelo qual a função administrativa é confiada a
incorrectamente seu poder discricionário. Daí a
outras pessoas colectivas públicas completamen-
necessidade de estabelecer mecanismos de
te distintas do Estado, como as autarquias locais,
controlo da pessoa colectiva que beneficiou das
institutos públicos, empresas públicas, associa-
novas atribuições (Oliveira, 1987).
ções públicas (Amaral, 2015).
Assim, o objectivo da descentralização nos
2.5 Poder discricionário
termos do nº 1 do artigo 270-A da CRM é:
O poder discricionário segundo Juares Freitas:
1) A descentralização tem como objectivo É a competência administrativa (não faculda-
organizar a participação dos cidadãos, na solução de) de avaliar e de escolher no plano concreto, as
dos problemas próprios da sua comunidade, melhores soluções, mediante justificativas
promover o desenvolvimento local, o aprofunda- válidas, coerentes e consistentes de conveniência
mento e a consolidação da democracia no quadro
e oportunidade (com razões juridicamente
da unidade do Estado Moçambicano. 2) A
descentralização apoia-se na iniciativa e na aceitáveis), respeitando os requisitos formais e
capacidade das populações e actua em estreita substanciais da efectividade do direito fundamen-

2761
tal à boa administração pública (Juares, 2022, entrevistado, seguindo um método para se obter
p.22) informações sobre determinado assunto” (Cervo
O poder discricionário será, portanto, a & Bervian, 2002, p.65). Assim, os participantes
liberdade que lei vai conferir a administração deste estudo foram submetidos à entrevistas, e
pública de escolher o momento mais oportuno cujas informações foram analisadas.
para exercer seu poder. Importa referir que, foi usada a entrevista do
tipo semi-estruturada, cujas questões constam e
2 Metodologia podem ser conferidas nos apêndices da presente
pesquisa. As entrevistas semiestruturadas podem
Com vista a materializar os objectivos ser definidas como “uma lista das informações
escolhidos, faremos quanto a abordagem o uso da que se deseja de cada entrevistado, mas a forma de
metodologia qualitativa, com destaque a consulta perguntar (a estrutura da pergunta) e a ordem em
bibliográfica e legislativa, nomeadamente livros, que as questões são feitas irão variar de acordo
artigos científicos, leis ordinárias, regulamentos, com as características de cada entrevistado” (Gil,
para através de análise tirar considerações. 2002, p.25).
Importa descrever e valorar as vulnerabilidades
sobre as quais estão sujeitos os Agentes da Polícia 3 Resultados e Discussão do Estudo
Municipal pela falta de regulamentação do porte e Vulnerabilidade dos agentes da Polícia
uso de armas de fogo. Municipal no exercício das suas
Salientar que, no presente estudo, as unidades competências
amostrais são escolhidas por acaso, isto é, das
entrevistas aplicadas aos participantes da Os aspectos empíricos do estudo tiveram como
pesquisa, foram dadas as mesmas probabilidades fonte os sujeitos do comando da Polícia
de inclusão a todos entrevistados sem olhar para Municipal de Maputo, composto por 640 agentes.
as suas especificidades. Tendo em conta isto, o Estes agentes são provenientes de vários cursos
pesquisador faz inferências e possíveis de formação na Escola Prática da Polícia-
projecções sobre a população-alvo (Mattar, Matalane, nomeadamente:
2001). (1) 1º Curso da Polícia Municipal de 1992;
Para Lakatos e Marconi, (2001), a técnica de (2) 2º Curso da Polícia Municipal de 1998;
colecta diz respeito a parte prática da colecta de (3) 3ª Curso da Polícia Municipal de 2001;
dados, é, portanto, o momento em que se reúnem (4) 1º Grupo de Destacados da PRM para
regras ou processos para praticar a ciência. Assim, exercer funções na Polícia Municipal de
durante este momento, diferentes técnicas podem 2008;
ser utilizadas, sendo as mais empregues: a (5) 4ª Curso da Polícia Municipal de 2010; 5º
entrevista, o questionário, a observação e a Curso da Polícia Municipal de 2015 (Este
pesquisa documental. curso foi o primeiro em que se observou o
Para o presente estudo, usou-se da entrevista requisito de desmobilizado do serviço
que é uma das principais técnicas de colectas de militar como requisito de acesso. Os restan-
dados e pode ser definida como “conversa tes quatro curso não se observou este requisi-
realizada face a face pelo pesquisador junto ao to. Realçar que este requisito só entrou em

2772
vigor com a criação do Regulamento de Mau uso do poder discricionário por parte do
Criação e Funcionamento da Polícia Muni- Ministro que superintende a área da Polícia
cipal aprovado pelo Decreto nº 35/2006, de 6 Constata-se do nº 2 do artigo 12 do RCFPM,
de Setembro); sob a epígrafe “Equipamento e Armamento” que:
(6) 2º Grupo de Destacados da PRM para “os agentes da Polícia Municipal poderão utilizar
exercer funções na Polícia Municipal outros equipamentos coercivos que forem
destacados em 2020. definidos por diplomas do Ministro que
Durante a entrevista foram seleccionados superintende a área da polícia” (...).
apenas 5 Agentes da Polícia Municipal, que Pese embora, o RCFPM tenha sido aprovado
ocupam cargos de Direcção e chefia (vide anexo). no ano de 2006, portanto transcorridos dezasseis
Foram escolhidos estes agentes por se acharem anos, e mesmo tendo havido várias sucessões de
melhor posicionados na hierarquia funcional da titulares do cargo de Ministro que superintendem
polícia, o que lhes permite fornecer dados a área da polícia, nunca houve nenhum exercício
relevantes a presente pesquisa do poder regulamentar tendente a regular a
Segue-se na tabela abaixo as constatações utilização de porte e uso de armas fogo por parte
obtidas nas entrevistas: da Polícia Municipal de Maputo. Esta situação

Constatações

Não existe um regulamento que legitime o uso de armas de fogo

Algumas actividades pela sua natureza, exigem o porte esou de armas de fogo como um
mecanismo de dissuadir certas condutas tendencialmente perigosas por parte dos infractores.
Actividades tais como: Retirada de vendedores ambulantes, control
o de poluição sonora,
guarnição do património municipal, embargo de obras ilegais e outras.

A ausência de armas de fogo por parte dos Agentes da Polícia Municipal é suprida por meio da
articulação com os agentes da Polícia da República de Moçambique
- PRM detentores de armas
de fogo no âmbito da coordenação institucional. Entretanto, este recurso nem sempre se mostra
eficaz, pois vezes sem conta, os agentes da PRM mostram
-se indisponíveis por insuficiênciade
efectivos e ou meios de transporte.

No decurso das actividades, potencialmente perigosas, os agentes encontram


-se mais
vulneráveis à agressão física, desautorização do seu poder da polícia.

Semanalmente, reportam-se casos de agressão aos agentes da Po


lícia Municipal pelo não porte
e uso de armas de fogo

2783
pode decorrer do facto dos titulares deste porte e uso de armas de fogo, como são o caso de:
Ministério, subentenderem que a faculdade a eles guarnição de edifícios e equipamentos públicos,
conferida de regulamentar o porte e uso de armas detenção e entrega imediata à PRM de suspeitos
de fogo é uma mera faculdade legal. Entretanto, de crime punível com pena de prisão, em caso de
entendemos na presente pesquisa, que o poder flagrante delito nos termos da lei processual
discricionário nestes termos, não é uma mera penal, entre outros. Concluímos ainda que, face
formalidade, mas sim uma competência aos riscos que as competências materiais da
administrativa de avaliar, e escolher no plano Polícia Municipal se revestem, aliado ao facto do
concreto as melhores soluções mediante decurso de tempo da aprovação do RCFPM, em
justificativas válidas, coerentes e consistentes de nome da boa administração os sucessivos
conveniência e oportunidade. Querendo com isso, Ministros dispunham de justificativas válidas e
dizer no caso em análise, que face aos riscos que oportunas para regulamentar o porte e uso de
as competências materiais da Polícia Municipal armas de fogo por parte da Polícia Municipal.
se revestem, aliado ao facto do decurso de tempo O presente trabalho limitou-se em identificar
da aprovação do RCFPM, fica claro que em nome as vulnerabilidades a que os Agentes da Polícia
da boa administração, os sucessivos Ministros Municipal estão sujeitos, pela falta de regulamen-
dispunham de justificativas válidas e oportunas tação do porte e uso de armas de fogo. Porém,
para regulamentar o porte e uso de armas de fogo tendo sido anteriormente constatado que, a
por parte da Polícia Municipal articulação com os agentes da PRM tem sido
ineficaz dadas as justificativas de insuficiência de
Considerações Finais efectivo e meios de transporte, mostra-se perti-
Com a presente pesquisa, chegámos a nente compreender quais os mecanismos alterna-
conclusão de que as competências da Polícia tivos os agentes PMM usam nas actividades de
Municipal, acarretam o porte e uso de arma de potencial risco. Daí que, não tendo sido este o
fogo dado o risco e complexidade que a sua objecto do nosso estudo recomendamos que as
execução exige, facto este, descrito pelos próprios próximas pesquisas se orientem nesta problemati-
agentes, pese embora o próprio RCFPM tipifique zação.
competências que para a sua execução exigem o

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amaral, D.F. (2015). Curso de Direito Administrativo Vol. I 4ª Ed., Coimbra: Edições Almedina, SA
Dicionário do Desenvolvimento- https://desenvolvimento.com/portfolio/vulnerabilidade acessado no
dia 14 de Outubro de 2022
República de Moçambique. Lei nº 6/2018, de 3 de Agosto, aprova o quadro jurídico-legal para a
implantação das autarquias locais, Maputo, 2018
República de Moçambique. Lei nº 6/2018, de 3 de Agosto, aprova o quadro jurídico-legal para a
implantação das autarquias locais, Maputo, 2018

2794
República de Moçambique Decreto 35/2006, de 06 de Setembro, a Polícia Municipal Regulamento de
Organização e Funcionamento do Curso de Formação e do Estágio dos Candidatos as Carreiras da
Polícia Municipal aprovadas pelo Diploma Ministerial n°105/208, de 14 de Novembro
Sousa, A.F. (2016). Manual de Direito Policial. Porto: Vida Económica S.A
Lakatos, E. M.; Marconi, M. A. (2001). Fundamentos metodologia científica. 4.ed. São Paulo: Atlas;
Mattar, F. N. (2001). Pesquisa de marketing. 3.ed. São Paulo: Atlas.
Cervo, A. L. Bervian, P. A. (2002). Metodologia científica. 5.ed. São Paulo: Prentice Hall.
Gil, A.C (2002). Como Elaborar Projectos de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A
Oliveira, M.E.D, (1987). Direito administrativo. Vol 1 e 2, 1ª Reimpressão, Coimbra: Livraria
Almedina
Mello, C. A.B, (2001). Curso de Direito Administrativo. São Paulo, Editora Malheiros,
Freitas, Juares (2022). A discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa
administração pública, 2ª Edição, São Paulo: Melheiros

2805
Avaliação de Qualidade nas Instituições de Ensino Superior
em Moçambique: A Experiência da ACIPOL

I. INTRODUÇÃO Nacional de Avaliação, Acreditação e Garantia de


O presente trabalho, Qualidade do Ensino Superior (SINAQES)
de âmbito qualitativo, através do Decreto 63/2007 de 31 de Dezembro.
procura compreender os Nos termos da alínea a) do artigo 1 do Decreto
pressupostos da Avalia- referenciado, o SINAQES é um sistema que
ção de Qualidade nas integra normas, mecanismos e procedimentos
Instituições de Ensino coerentes e articulados que visam concretizar
Superior em Moçambi- objectivos de qualidade no ensino superior e que
que e toma a Experiên- são operados pelos actores que nele participam.
Ana Paula Macamo
cia a ACIPOL como O SINAQES compreende três subsistemas: a
eixo central. auto-avaliação, a avaliação externa e a acredita-
A questão da qualidade de ensino e em particu- ção e estes incidem sobre a qualidade institucio-
lar do Ensino Superior tem merecido atenção nal e a qualidade dos cursos e/programas.
especial nos dias de hoje. Várias reformas univer- Para o presente estudo optou-se por uma
sitárias visando a melhoria da qualidade de ensino metodologia qualitativa descritiva, auxiliada
têm ocorrido em diversas Instituições de Ensino pelos método histórico e jurídico comparado.
Superior (IES) no mundo, todavia este processo Para a materialização da metodologia, privilegi-
tem-se mostrado complexo, visto que relaciona os ou-se a pesquisa bibliográfica e análise documen-
pilares do ensino Superior: ensino, pesquisa e tal.
extensão, com dimensões de infra-estruturas, de O método histórico foi chamado para contex-
internacionalização, mas também com realidades tualizar e entender as raízes do processo de
económicas, sociais, culturais, éticas e morais avaliação de Qualidade e descrever as várias fases
vigentes no país e região onde a IES se encontra do percurso do CNAQ e da ACIPOL em matérias
localizada. No contexto moçambicano, a matéria de avaliação de qualidade.
relacionada à qualidade de ensino tem sido foco O método jurídico comparado estuda institui-
de vários estudos. ções, princípios, regras, suas formas de regula-
A crescente expansão de IES em Moçambique mentação e aplicação da lei em vários sistemas de
e a necessidade de harmonizar o ensino aos Direito, com o objectivo de determinar a singula-
ditames de qualidade regionais e globais impôs ao ridade, particularidades e generalidade entre eles,
Conselho de Ministros a criação do Sistema (Ramos e Naranjo, 2014). Este método integra o

Mestre em Ciências Jurídicas pela UEM, Faculdade de Direito da UEM. Chefe do Gabinete de Avaliação de Qualidade da ACIPOL.

18148
estudo na análise comparativa do conceito e or. É um conceito com uma natureza multidimen-
indicadores de qualidade nos diversos países e sional.
sistemas. Na óptica de Martins et al (2011), a qualidade
A pesquisa bibliográfica consistiu no levanta- no ensino superior pode ser definida em várias
mento de obras, artigos científicos e teses abordagens:
publicadas sobre as teorias de qualidade de ensino
e a análise documental compreendeu a leitura i. Economicistas — encara a quali-
dade de ensino superior como value for
atenta, interpretação de leis, decretos, regulamen-
Money, o ensino superior é visto como um
tos, manuais e guiões em matérias de avaliação de investimento. Centra-se nos custos
qualidade do Ensino Superior. envolvidos e relaciona a qualidade com o
Definicao de Conceitos-Chave retorno do investimento, que se obtém
com os cursos.
ii. Nível dos inputs — a qualidade
Avaliação está relacionada com os requisitos de
Segundo Dicionários de Língua Portuguesa, selecção dos estudantes;
"avaliação" significa acto de avaliar, de determi- iii. De processo — refere-se aos
nar o valor, o preço ou a importância de uma coisa, métodos de ensino e de aprendizagem, a
cálculo de um valor comercial, prova ou exame e competência e formação dos professores,
conteúdos das unidades curriculares,
pode ser sinónimo de apreciação, mensurar, juízo actividades sociais e de avaliação, entre
e de crítica. outros;
Para Silva (2018) a avaliação nas instituições iv. Nível dos outputs — a qualidade
de ensino permite diagnosticar, visando a supera- tem em conta a obtenção de emprego e
com boa remuneração;
ção de falhas durante o processo e a melhoria das
v. No fitness of purpose — verifica se
suas actividades, possibilitando verificar se a a IES é capaz de concluir a missão ou as
instituição está ou não atingindo os objectivos finalidades que se propôs através dos
propostos. programas académicos que implementa.
De facto, as instituições de ensino consideram
avaliação como uma prática pedagógica e pode É inegável que a qualidade do ensino superior
incidir na aprendizagem, no rendimento escolar, tem sido em alguma medida entendida pela sua
no desempenho dos professores, entre outros. No relação com o mercado, na medida em que quanto
ensino Superior, peculiarmente, a avaliação mais serve às instituições, mais qualidade tem,
também recai na própria instituição, nos cursos e todavia, a perspectiva economicista não é aceite
nos programas, conforme o artigo 16 do por vários tratadistas destas matérias, porquanto
SINAQES atesta. os estudantes não podem ser considerados simples
clientes no sentido empresarial.
Qualidade, um conceito complexo. Pode-se assim depreender que enquanto
A procura da excelência no ensino superior algumas abordagens, como a economicista, são
determinou a introdução de sistemas de qualida- refutadas, outras tantas apresentam um conteúdo
de. O conceito de qualidade tem a sua origem nas aceite e válido. O conceito de Qualidade no ensino
áreas das ciências económicas e empresariais, e superior tem-se mostrado, fundamentalmente,
posteriormente, foi introduzido no ensino superi- uma construção que sofre alterações no tempo e

1829
no espaço, assumindo Quadro 1: Indicadores de qualidade institucional e dos cursos
formas diferentes em função
Indicadores de Q ualidade Indicadores de Qualidade dos
de influências políticas,
Institucional Cursos e Programas
sociais, económicas dos
diversos sistemas. 1. Missão da instituição; 1. Missão e objectivos gerais da
Conclui-se, a este nível, unidade orgânica;
que não tem sido possível 2. Gestão/ governação;

definir o conceito de 2. Organização e gestão;


3. Currículo;
Qualidade através de uma
3. Currículo;
composição dogmática, 4. Corpo docente da instituição;
universal e aceite por todos, 4. Corpo docente;
5. Corpo discente e ambiente de
daí que, como forma de
aprendizagem; 5. Corpo discente e ambiente de
ultrapassar esse obstáculo,
aprendizagem;
os vários países ou sistemas 6. Pesquisa e extensão;
optam por adoptar critérios 6. Pesquisa e extensão;
essenciais e comuns indica- 7. Corpo técnico e administrativo;

dores de qualidade nas 7. Corpo técnico e administrativo;


8. Infra-estruturas;
instituições e nos cursos. 8. Infra-estruturas;
Moçambique também Nível de internacionalização
adoptou tal critério. 9. Nível de internacionalização.
Fonte: Mapas de indicadores, padrões e critérios de
verificação de Avaliação Institucional e dos Cursos.
Indicadores de Avaliação de Qualidade
em Moçambique Sistema Nacional de Avaliação, Acredi-
O artigo 17 do Decreto 63/2007, de 31 de tação e Garantia de Qualidade do Ensi-
Dezembro, atribui ao Conselho Nacional de no Superior
Avaliação de Qualidade do Ensino Superior
(CNAQ) a tarefa de definir e aprovar os indicado- Subsistema de Auto-avaliação
res de Avaliação Externa. As dimensões de A auto-avaliação é um processo contínuo, por
qualidade dos cursos, programas e instituições meio da qual uma instituição constrói
estão pormenorizadas nos referentes mapas de conhecimento sobre a sua própria realidade,
indicadores, padrões e critérios de verificação procurando compreender os significados do
constantes dos guiões de autoavaliação de cursos conjunto das suas actividades para melhorar a
e/programas e da instituição, respectivamente. qualidade educativa e alcançar maior relevância
Os indicadores de qualidade dos cursos e social (CNAQ, 2016).
programas são essencialmente os mesmos da A materialização deste subsistema está,
qualidade institucional, com ligeiras diferenças, portanto, a cargo da própria IES, que, tendo como
aos níveis dos vários padrões e critérios de referência os indicadores legalmente estabeleci-
verificação: dos, tem a oportunidade de se autoconhecer,
fazendo uma revisão detalhada e cíclica de modo

2830
a diagnosticar as lacunas e problemas que impe- Nível D ― não acreditado, com o desem-
dem o pleno desenvolvimento da instituição, dos penho quantitativo de 0-59 %, considera-
do não satisfatório;
cursos e dos programas.
Nível C ― acreditado condicionalmente
A auto-avaliação é sem dúvida uma ferramenta (por 2 anos), com o desempenho quanti-
que permite a IES efectuar uma reflexão do seu tativo de 60-79 %, classificado como
desempenho, nas várias dimensões que definem o satisfatório com muitas reservas;
ensino superior, como um passo necessário para Nível B ― acreditado condicionalmente
(por 3 anos), com o desempenho quanti-
identificar os problemas com vista a resolução dos
tativo de 80-89 %, considerado Bom;
mesmos. Nível A ― acreditado plenamente (por 5
O nº 2 do artigo 14 do SINAQES estabelece anos), com o desempenho quantitativo de
que a avaliação externa parte da auto-avaliação e 90-100 %, classificado como excelente.
fornece elementos para a acreditação, o que em
termos práticos significa que, é o relatório de Nos termos da alínea d) do artigo 23 do
auto-avaliação que serve de base para a avaliação Regulamentos dos Procedimentos de Auto-
externa. avaliação, Avaliação Externa e Acreditação de
cursos e/ou programas e de IES, a acreditação tem
Subsistema de Avaliação Externa entre outros objectivos, proporcionar ao público
Segundo o nº 1 do artigo 14 do SINAQES, a informações que permitam um critério de escolha
avaliação externa integra normas, mecanismos e de uma IES, curso ou programa.
procedimentos operados por entidades externas
às IES. Cabe, portanto, ao CNAQ a responsabili- Órgão implementar do SINAQES: O CNAQ
dade de coordenar o processo da avaliação O artigo 9 do SINAQES estatuiu ainda o
externa, a qual compete especificamente criar as CNAQ como órgão implementador do Sistema.
comissões de avaliação externa que analisam os Segundo Nhampule (2014), o CNAQ
relatórios de auto-avaliação, as evidências e desenvolveu após a sua criação, acções com vista
fazem visitas às infra-estruturas das IES. a materializar a sua missão: divulgou e promoveu
Segundo o Manual de Avaliação Externa do o SINAQES, elaborou juntamente com as IES
CNAQ (página), os avaliadores externos não regulamentos, manuais e guiões orientadores da
devem ter relação com a IES que se encontra em autoavaliação e avaliação externa e capacitou os
avaliação. O processo de avaliação externa principais actores das IES.
culmina com a emissão de declaração sobre a Em Março de 2013, o CNAQ iniciou uma
qualidade do curso, do programa ou da institui- experiência-piloto de auto-avaliação e de
ção. avaliação externa em dez IES seleccionadas,
Subsistema de Acreditação abrangendo 20 cursos nas áreas de Engenharia,
Segundo CNAQ (2017), a acreditação consiste Medicina, Ciências de Saúde, Educação, Gestão e
na certificação ou declaração pública do grau de Administração, cujos relatórios de auto-avaliação
qualidade de um curso, programa ou da institui- foram submetidos no 1º trimestre de 2014
ção e existem 4 escalas de desempenho e acredita- Nhampule (2014).
ção: Como resultado da experiência-piloto de auto-
avaliação e avaliação externa, o CNAQ efectuou

2841
uma revisão das ferramentas de avaliação de Qualidade realizou a primeira Auto-avaliação do
garantia da qualidade, com a participação das Curso de Licenciatura em Ciências Policiais para
IES, seguida de capacitações a todos os uso exclusivamente interno com o objectivo de
intervenientes no processo de avaliação de identificar e compreender detalhadamente as
qualidade, que incluía estudantes, corpo docente, fraquezas, oportunidades e ameaças instituciona-
investigadores, CTA, empregadores, ordens e is que terminou com a elaboração do "Relatório
associações profissionais e sociedade civil, com a de pré-auto-avaliação" ACIPOL (2016).
recomendação de que todas as IES deviam Da avaliação realizada constatou-se que a
preparar-se para realizarem a auto-avaliação dos ACIPOL apresentava muitas forças, mas também
cursos e programas. apresentava fraquezas. Com vista a melhorar a
qualidade, por orientação do Reitor, a Comissão
Garantia de Qualidade na ACIPOL Central de Avaliação de Qualidade elaborou uma
A ACIPOL participa nas conferências, Matriz de actividades necessárias para corrigir as
seminários sobre avaliação de qualidade e fraquezas diagnosticadas.
reuniões dos dirigentes das IES sobre o A matriz foi implementada pelas unidades
SINAQES organizada pelo CNAQ. orgânicas e, gradualmente, foram sendo
Em Setembro de 2015, a ACIPOL formalizou a eliminadas algumas fragilidades e fortificando
criação do Gabinete de Avaliação de Qualidade indicadores chaves (currículo, corpo docente,
(GAQ). De acordo com ACIPOL (2018), O GAQ pesquisa e extensão e infra-estruturas), visto que
é uma unidade de apoio ao Reitor em matéria de nenhum curso e/ou programa é acreditado com
avaliação de qualidade dos cursos, programas e da excelente classificação sem alcançar os critérios
instituição, com a tarefa de avaliar e monitorar a de carácter obrigatório.
qualidade dos cursos, e da instituição visando Em Agosto de 2017, a ACIPOL organizou o
assegurar a qualidade de ensino, da investigação e "Seminário de Capacitação em Metodologias e
extensão. Ferramentas de Avaliação de Qualidade", dirigida
O GAQ localiza-se no campus da ACIPOL, e a todos os estratos da comunidade académica.
funciona através de uma comissão multi-sectorial Este seminário permitiu colher subsídios para o
denominada Comissão Central de Avaliação de enriquecimento e melhoramento em questões de
Qualidade encarregue de coordenar todo o qualidade e especialmente para elaboração do
processo auto-avaliativo em obediência aos Manual de Avaliação de Qualidade da ACIPOL e
princípios, regras e orientações gerais emanadas contou com a facilitação de consultores e
pelo CNAQ. especialistas do CNAQ.
A Comissão Central de Avaliação de Em 2018, foi elaborado o Manual de auto-
Qualidade é nomeada pelo Reitor e a sua avaliação, denominado "Procedimentos de Auto-
constituição obedece ao critério da inclusão e avaliação da ACIPOL" que contém políticas,
participação de representantes de todos os normas, funções, actividades, instruções e
segmentos das unidades orgânicas, ACIPOL orientações que devem ser observadas durante
(2016). todo o processo de auto-avaliação dos cursos e
Em 2016, a Comissão Central de Avaliação de programas da ACIPOL, visando assegurar um

2852
processo avaliativo que atende as especificidades de aulas teóricas, teórico-práticas, práticas e
da ACIPOL. seminários, complementados por conferências e
Os procedimentos foram elaborados tendo em por trabalhos de aplicação, estágios visitas e
conta os indicadores e padrões de qualidade missões de estudo de acordo com a metodologia
constantes no Guião de Auto-avaliação de Cursos mais aconselhável. O nº 1 do artigo 52 do Regula-
e/ou Programas e Instituições do CNAQ. mento Geral Interno da ACIPOL (RGI) estabelece
No mesmo ano, por recomendação do CNAQ que os estudantes vivem em regime de internato e
foram criadas duas Subcomissões de Auto- observam os regulamentos internos.
avaliação: Subcomissão dos Cursos de Licencia- A ACIPOL apresenta assim, um perfil único no
tura e Subcomissão dos Cursos de Pós-graduação, país, aglutinando características de uma IES, mas
competindo a estas subcomissões aferir a qualida- também de uma instituição policial, que funciona
de dos cursos de graduação e pós-graduação, em regime de aquartelamento. O facto de ser uma
ministrados pela ACIPOL e o alinhamento aos instituição paramilitar de ensino impõe-se desde
padrões de qualidade legalmente estabelecidos. logo que possua infra-estruturas adequadas e
serviços de apoio para a realização das activida-
A influência da natureza paramilitar da des paramilitares, como sejam: campo de parada,
ACIPOL na Avaliação de Qualidade campos de treinos, ginásio, campo de tiros,
A ACIPOL foi criada pelo Decreto 24/99 de 18 casernas, refeitórios e centro de saúde.
de Maio, com a missão de formar Oficiais de A natureza paramilitar da ACIPOL supõe que
Polícia e de outras áreas afins à Ordem e Seguran- os cadetes e instrutores estejam devidamente
ça Pública, mediante adequada preparação uniformizados, com vestuário completo formal e
científica, profissional e deontológica. A ACIPOL de treino, com as respectivas insígnias, regula-
é tutelada pelo Ministro que superintende a área mentação referente ao aprumo, entre outros.
da Ordem e Segurança Pública, sem prejuízo das Adicionalmente, o nº 1 do artigo 20 do RGI
normas que regem o Ensino Superior. preceitua que o Departamento de Ética, instrução
Assim, para além dos princípios gerais e e Treino tem a função de garantir o enquadramen-
pedagógicos definidos pelo Sistema Nacional de to dos estudantes na organização e disciplina
Educação e pelos que regulam a actividade do policial, bem como realizar a sua preparação
Ensino Superior, a ACIPOL orienta-se por militar, moral, ética e deontológica, e realizar a
princípios característicos ao ensino, formação, função-quartel da ACIPOL, garantindo a pronti-
instrução e actividade policial, como sejam os dão combativa de todo o pessoal.
princípios da legalidade; apartidarismo, doutrina A materialização desta incumbência passa
e disciplina policial previstos no artigo 4 dos necessariamente por a ACIPOL realizar
Estatutos da ACIPOL aprovados pelo Decreto actividades e cerimoniais de aquartelamento
acima referenciado e por valores das FDS como como o juramento da bandeira, cerimónias de
unidade nacional, patriotismo, espírito de corpo, patenteamento, de içar e arriar da bandeira,
honradez e lealdade. actividades cívicas patrióticas, ordem unida,
O artigo 28 dos Estatutos da ACIPOL determi- marchas longas, actividades agro-pecuárias
na que as actividades de ensino têm carácter complementares, entre outras práticas pré-
presencial obrigatório e desenvolvem-se através profissionais e estágios específicos.
2863
Ora, esta componente paramilitar acarreta, económico e das Forças de Defesa e
para a ACIPOL, um investimento adicional em Segurança (FDS) do país;
§ Práticas profissionais ajustadas à
infra-estruturas, recursos humanos, alimentação,
sociedade em geral e em específico às
fardamentos, que outras IES no geral não têm, daí FDS;
a necessidade da sua valoração na avaliação de § Processos de consulta à sociedade
qualidade. e às instituições de defesa e segurança no
Nesta perspectiva, a ACIPOL defendeu deste o âmbito do desenho curricular;
§ Programas de estudo que contem-
início da implementação do SINAQES que havia
plem exercícios de tirocínios e estágios
necessidade de se adoptarem indicadores, curriculares;
padrões e critérios de verificação de qualidade que § Existência de contratos ou memo-
atendesse as especificidades do regime das IES randos de prestação de serviço com os
militares e paramilitares que não eram computa- sectores de defesa e segurança.
das no mapa de avaliação de qualidade para a IES
Foi com base nesse mapa que a Comissão
no geral. A par da ACIPOL, outras IES também
Central de Avaliação de Qualidade auto-avaliou a
reivindicavam a valorização de indicadores
instituição. Na mesma ocasião, as Subcomissões
específicos nas suas áreas de ensino.
de Auto-avaliação avaliaram todos os cursos: dois
O CNAQ reconheceu esta necessidade das IES
cursos de graduação e dois de pós-graduação.
e orientou que as mesmas podiam acrescentar um
Com base nos cinco relatórios de auto-avaliação,
indicador específico, chamando atenção que os
a ACIPOL inscreveu-se para a avaliação externa
indicadores estabelecidos pelo SINAQES eram
da instituição e dos cursos.
os mínimos exigíveis (CNAQ, 2017).
A avaliação externa foi realizada em Dezem-
Foi assim que a ACIPOL acrescentou, para os
bro de 2021 por uma equipa específica composta
cursos de graduação, o indicador 10 ― que
por especialistas das FDS, docentes e investiga-
denominou de "Instrução Paramilitar" que consta
dores de outras IES militares e paramilitares e
no anexo dos Procedimentos de Auto-avaliação.
técnicos do CNAQ, processos que culminaram
Este indicador é composto por 4 padrões e 46
com acreditações plenas dos cursos e da institui-
critérios de verificação e atende em especial a
ção, conforme atestam as Declarações de Acredi-
avaliação da componente paramilitar da
tação Institucional e dos Cursos.
ACIPOL.
Reconhecendo estas particularidades das IES Considerações finais
militares e paramilitares, o CNAQ decidiu O processo de avaliação de qualidade nas IES
elaborar um mapa específico para avaliação em Moçambique é irreversível e constitui hoje um
institucional nas IES militares e paramilitares requisito para a renovação do Alvará. O processo
(CNAQ, 2021), que embora a alteração não tenha de avaliação de qualidade tem natureza obrigató-
sido significativa, passou a exigir especificamente ria, cíclica e cultural, pois a qualidade do ensino
das IES militares e paramilitares: não pode ser medida em um único momento, os
resultados da avaliação externa reflectem
§ Que a missão estivesse relaciona-
actividades desempenhadas pela instituição por
da com as estratégias de desenvolvimen-
to institucional, do sector socio- anos.

2874
Na ACIPOL, iniciou-se o ciclo com a auto- Os principais desafios para o processo de
avaliação, avaliação externa, acreditação. Neste avaliação de qualidade na ACIPOL prendem-se
momento está-se a implementar e monitorar os com o fortalecimento dos indicadores-chave,
planos de melhoria para que em 2026 se realize melhorar as infra-estruturas, celebrar acordos de
uma nova auto-avaliação e a avaliação externa e mobilidade docente, de investigadores e discen-
assim, sucessivamente, passando a qualidade a tes, garantir alocação de fundos para investiga-
ser uma cultura institucional. ção.

Referências Bibliográficas
§ ACIPOL, (2016). Relatório de Pré-autoavaliação, Michafutene;
§ ACIPOL, (2018). Procedimentos para Autoavaliação, Michafutene;
§ CNAQ, (2016). Guião de auto-avaliação de Cursos e/ou Programas e Instituições, Maputo;
§ CNAQ, (2017). Manual de Avaliação Externa de instituições, Maputo;
§ CNAQ, 2021. Mapa de indicadores de IES militares e policiais, Maputo;
§ Martins, Oliveira, Barros, Espírito Santo, Trindade e Bonito, (2011). Concepções sobre a
Qualidade de Ensino em Estabelecimento de Ensino Superior Público em Portugal in Revista
Ibero-americana de Education nº 58;
§ MCTES (2021). Declaração de Acreditação Institucional- ACIPOL, Maputo;
§ MCTES(2021). Declaração de Acreditação dos Cursos em Funcionamento -Curso de
Licenciatura em Ciências Policiais, Maputo;
§ MCTES(2021). Declaração de Acreditação dos Cursos em Funcionamento -Curso de
Licenciatura em Administração Penitenciaria; Maputo;
§ MCTES(2021). Declaração de Acreditação dos Cursos em Funcionamento -Curso de
Mestrado Académico em Ciências Policiais; Maputo;
§ MCTES(2021). Declaração de Acreditação dos Cursos em Funcionamento -Curso de
Mestrado Profissional em Ciências Policiais; Maputo;
§ Nhampule, Ana, (2014). Experiência de Avaliação e Garantia de Qualidade do Ensino Superior
em Moçambique in Conferência Nacional sobre Experiência de Implementação do SINAQES:
Resultados, Desafios e Perspectivas, Maputo;
§ Ramos, S. Taciana Carrilho e Naranjo, Erman, (2014). Metodologia da Investigação Cientifica,
Editora Escolar, Lobito;
§ Silva, Ione, (2018). Avaliação da aprendizagem na Universidade e seu reflexo na sociedade
contemporânea
https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/artigo_para_avaliacao.pdf [12.04.2023].

Fontes legislativas
§ Decreto 24/99 de 18 de Maio que cria a Academia de Ciências Policiais;

2885
§ Decreto 63/2007, de 31 de Dezembro que cria o Sistema Nacional de Avaliação, Acreditação e
Garantia de Qualidade do Ensino Superior (SINAQES) e o Conselho Nacional de Avaliação de
Qualidade;
§ Decreto nº 64/2007, de 31 de Dezembro que aprova os Estatutos do CNAQ;
§ Decreto 46/2018, de 1 de Agosto, que aprova o Regulamento de Licenciamento e
Funcionamento das IES e revoga o Decreto 48/2010;
§ Lei 27/2009, de 31 de Agosto Lei do Ensino Superior;
§ Plano estratégico da ACIPOL (PEACIPOL) 2008-2017;
§ Regulamentos dos Procedimentos de Auto-avaliação, Avaliação Externa e Acreditação de
cursos e/ou programas e de IES;
§ Regulamento Geral Interno da ACIPOL.

2894
Linha Editorial, Público - Alvo e
Instruções aos Autores

Nota introdutória
A Academia de Ciências Policiais (ACIPOL) criou a Revista Científica da ACIPOL, uma publicação
académica, destinada a divulgar e memorizar institucionalmente o conhecimento gerado a partir de
pesquisas realizadas por autores nacionais e estrangeiros com interesse no campo das Ciências
Policiais e/ ou noutras áreas do saber que possam contribuir cientificamente na actividade de polícia.
Com o objectivo de uniformizar os procedimentos dos pesquisadores e/ ou investigadores
interessados em elaborar e publicar artigos na Revista Científica da ACIPOL, é apresentado este guião,
essencialmente, constituído por três capítulos: linha editorial, público-alvo e instruções aos autores.
O primeiro capítulo, o da Linha Editorial, apresenta uma espécie de fio condutor dos assuntos
merecedores de espaço de publicação na Revista Científica da ACIPOL. Apresenta, ainda, um conjunto
de características particulares que identificam e distinguem a presente publicação das demais.
No segundo capítulo, é definido o público-alvo da Revista Científica da ACIPOL.
O terceiro e último capítulo, designado instruções aos autores, trata dos procedimentos que deverão
ser adoptados na elaboração e submissão de artigos.

1. Linha editorial
A Revista Científica da ACIPOL aceita trabalhos originais na forma de artigos de diferentes áreas do
saber que contribuam cientificamente na actividade de polícia - o objecto científico das ciências
policiais.
A Revista Científica da ACIPOL, no plano institucional, centra-se na divulgação de artigos
científicos que estejam em consonância com as suas Linhas de Pesquisa. As Linhas de Pesquisa
aglutinam e orientam esforços e recursos em temas de interesse institucional:

a) Sociedade e Segurança Pública


Temas: Modelos de Policiamento; Participação Comunitária; Análise de Políticas Públicas de
Segurança; Administração e Gestão Estratégica de Segurança Pública; Território e Segurança Pública;
Segurança Rodoviária.

90
b) Criminalidade, Violência e Controlo Social
Temas: Modelos de Prevenção Criminal; Migração e Gestão de Fronteiras; Criminalidade e
Vitimização; Crime Transfronteiriço; Investigação Criminal; Representações da Violência.

c) Organização e Profissão Policial


Temas: Modelos de Formação Policial; Carreiras Profissionais na Organização Policial; Identidade
e Profissão Policial; Liderança na Organização Policial; Planificação Policial e Logística Operacional;
Estatísticas Policiais e Gestão de Informação Policial; Organização Territorial da Polícia.

d) Direito e Polícia
Temas: Organizações Policiais e Sistema de Justiça Criminal; Direitos Humanos; Justiça e Actuação
Policial; Tradições, Costumes e Actividades Policiais; Ética e Deontologia Policial; Sistema
Penitenciário; Dinâmica da Justiça Criminal nas Instâncias Judiciais.

2. Público-alvo
A Revista Científica da ACIPOL é dirigida a professores, estudantes, pesquisadores e/ ou
investigadores, membros das Forças de Defesa e Segurança, nacionais e estrangeiros com interesse no
campo das Ciências Policiais e/ ou noutras áreas do saber que possam contribuir cientificamente na
actividade de polícia.

3. Instruções aos autores


A instrução aos autores abrange os seguintes aspectos: idioma, dimensão e estrutura; formatação;
normalização bibliográfica; direitos de autor; submissão de artigos; e revisão por pares.

3.1. Idioma, dimensão e estrutura


O artigo deverá:
a) Ser redigido na língua portuguesa;
b) Ter entre 10 (dez) e 15 (quinze) páginas, incluindo as referências bibliográficas e anexos;
c) Título do artigo (letra “Times New Roman”, tamanho 16, a negrito e centralizado e nas duas
línguas); com um máximo de 15 palavras sem abreviaturas ou siglas;
d) Título do Resumo (letra “Times New Roman”, tamanho 16, a negrito) centralizado).
e) Corpo do resumo (letra “Times New Roman”, tamanho 11, espaçamento simples), entre 150 e
200 palavras;
f) Palavras-chave (letra “Times New Roman”, tamanho 10, justificado), entre 3 e 5. O mesmo
procedimento para o abstract (em inglês);
g) Títulos principais (letra “Times New Roman”, tamanho 14, a negrito e centralizado; subtítulos,
tamanho 12, em itálico e à esquerda), espaço entre linhas de 1,5.
h) Corpo do texto (letra “Times New Roman”, tamanho 12, texto justificado). Espaço entre linhas

91
de 1,5;
i) Apresentar as notas de rodapé na página em que a ideia referenciada estiver colocada.
j) Incluir, na parte final, a lista das referências bibliográficas organizada em ordem alfabética (de
acordo com as Normas APA).

3.2. Formatação
O texto, em termos de formatação, deverá:

a) Ser configurado para papel A4;


b) Ter 3 cm nas margens esquerda e superior;
c) Ter 2 cm nas margens direita e inferior;
d) Ter parágrafos justificados;
e) Ter um espaçamento de 1,5 entre as linhas;
f) Ser redigido na fonte Time New Roman, sendo tamanho 12 no corpo do texto e 10 nas notas de
rodapé;
g) Ter, na lista de referências bibliográficas, um espaçamento simples entre as linhas; separadas
por 12pt depois; com deslocamento na segunda linha de 0,75cm e alinhamento justificado.

3.3. Procedimentos de citação


A UERCACIPOL - Unidade Editorial da Revista Científica da Academia de Ciências Policiais -
aceita artigos que tenham sido elaborados de acordo com as normas da APA (Associação Americana de
Psicologia). A UERCACIPOL, nestes termos, adopta os tipos mais comuns de referências que constam
dos manuais APA e os integra no presente capítulo com o objectivo de, tal como já foi dito, harmonizar
os procedimentos dos pesquisadores – autores que queiram publicar artigos.

3.3.1.Citação de publicações com 01 (um) autor


A citação de publicações com um autor deverá ser efectuada através da indicação do sobrenome do
autor, ano da publicação e página do texto citado (Moreira, 2014, p. 30). Vide Exemplo 01.

Exemplo 01

Citação no texto: (Almeida, 1992, p. 32) ou Almeida, (1992, p. 32)


Na lista de referências: Almeida, M.H. (1992). Novas formas de composição dos salários:
Tendências recentes (Estudos. Série B – Rendimentos e 6). Lisboa: MESS/SICT.

3.3.2.Citação de publicações com 02 (dois) autores.


A referência de publicações com dois autores deverá ser efectuada através da indicação do sobrenome
dos autores, iniciais dos nomes, separados por & (e comercial) , tal como o demonstrado no Exemplo 02.

Moreira, (2014, p. 30)

92
Exemplo 02

Citação no texto: (De Cenzo & Robbins 1996) ou De Cenzo e Robbins (1996)
Na lista de referências: De Cenzo, D.A. & Robbins, S.P. (1996). Human resource
management. New York: John Wiley & Sons .

3.3.3.Citação de publicações com 03 (três) a 05 (cinco) autores


Nos casos de citações com três a cinco autores, cite todos os nomes na primeira citação, separados por
vírgula (,) antes do último autor, coloque & (e comercial) . Vide Exemplo 03.

Exemplo 03

Na primeira citação no texto: Tsucana, Alar, Cumbane, Lourenço e Se da (2016)


Nas demais citações: (Tsucana et al., 2016) ou Tsucana et al. (2016)
Na lista de referências : Tsucana, F.T., Alar, F.I., Cumbane, R.N., Lourenço, A.C. &
Seda, F.L. (2016). Discutindo as frentes da segurança pública . Maputo: Ideias em
Marcha.

3.3.4.Citação de publicações com 06 (seis) ou mais autores


Nas publicações com seis ou mais autores, cite o primeiro acompanhado de et al. em todas as citações.
Nas referências, cite os seis primeiros autores, reticências e o último autor . Vide Exemplo 04.

Exemplo 04

Citação no texto: (Lourenço et al., 2017) ou Lourenço et al. (2017)


Na lista de referências : Lourenço, A.C., Bilério, F., Cossa, L., Taíbo, R., Mugime, S.
M., Tembe, D.,… Cossa, J. (2017). Estratégias de investigação Científica . Maputo:
Mulauze Editora.

3.3.5.Citação de publicações de autores cujos nomes apresentam sufixos e/ou títulos


Os sufixos como Jr, Filho, Sobrinho, Neto, III e outros não devem ser incluídos na citação no texto,
somente na lista de referências após o último nome (Moreira, 2014, p. 31). Vide Exemplo 05.

Exemplo 05

Citação no texto: (Zunguze et al., 2017) ou Zunguze et al. (2017)


Na lista de referências: Zunguze, O. Júnior, Xipikiri, J. J., Mabjaia, S. J. Neto, Nóbrega,
H. J. Filho. (2017). Maravilhas da Piscicultura. Inhambane: Letras Editora.

Moreira (2014, p. 30).


Idem.

93
3.3.6.Citação de publicações de autoria institucional

Na primeira citação, quando as publicações forem de autoria institucional, o nome deve estar por
extenso, seguido da sigla entre colchetes [ ]. Nas citações subsequentes, cite somente a sigla, desde
que seja de fácil identificação e/ou conhecimento. Nas referências, cite o nome por extenso, seguido
da sigla entre colchetes [ ] . Vide Exemplo 06

Exemplo 06

Primeira citação no texto : (Ministério do Interior, [MINT], 2017, p. 26) ou Ministério


do Interior, [MINT], 2017, p. 26
Citações subsequentes: MINT (2017, p. 26) ou (MINT, 2017, p. 26)
Na lista de referências: Ministério do Interior, [MINT], (2017). Estratégias de
formação de Oficiais de Polícia. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique, E.P.

3.3.7.Citação de publicações com responsabilidade de editor, coordenador, organizador


Para publicações com editor, organizador ou coordenador, faça a identificação após o nome do autor
com as abreviaturas (Ed.), (Org.), (Coord.) (Moreira, 2014, p. 32). Vide Exemplo 07.

Exemplo 07

Citação no texto: Tsucana (2017, p. 18) ou (Tsucana, 2017, p. 18)


Na lista de referências: Tsucana, F. F. (Ed.). (2017). Apontamentos de Segurança
Pública. Maputo.

3.3.8.Citação de publicações sem autoria identificada


Para obras sem identificação da autoria, a citação deverá ser feita pela primeira palavra do título
(Moreira, 2014, p. 32), tal como o demonstrado no Exemplo 08.

Exemplo 08 (Moreira, 2014, p. 32)

Citação no texto: (“Adolescentes”, 2009, p. 16)


Na lista de referências: Adolescentes e o uso de drogas. (2009).

3.3.9.Citação de publicações sem data


Quando não for identificada a data de uma publicação, insira entre parênteses a sigla relativa à
expressão sem data [s.d] (Moreira, 2014, p. 32). Vide Exemplo 09.

Moreira (2014, p. 31).

94
Exemplo 09

Citação no texto: Homo, A., Ngovene, B. [s.d.]. ou (Homo, A., Ngovene, B. [s.d.])
Na lista de referências: Homo, A., Ngovene, B. [s.d.]. Empreendedorismo de baixo
custo: Maputo: Belas Coisas.

3.3.10.Citação de publicações do mesmo autor e/ ou com datas iguais


Quando citar várias obras do mesmo autor, organize-as por data, separadas por vírgula; para distinguir
publicações do mesmo autor e mesmo ano, utilize letras após o ano. As referências devem ser
apresentadas em ordem crescente de data . Vide Exemplo 10.

Exemplo 10

Citação no texto: Intaka, (2009, 2015a, 2015b) ou (Intaka, 2009, 2015a, 2015b)
Na lista de referências: Intaka, J. (2009). Policiamento comunitário. Maputo: Fimbo
Editora.
Intaka, J. (2015a). Estratégias de plantio de mandioca. Maputo: Fimbo Editora.
Intaka, J. (2015b). Dieta verde: casos de sucesso. Maputo: Fimbo Editora.

3.3.11.Citação de vários autores


Nos casos em que tiver que mencionar a ideia de diversos autores em uma mesma citação, organize-os
por ordem de data, separados por ponto e vírgula. Nas referências, cada documento deve ser citado
individualmente. Vide Exemplo 11.

Exemplo 11

Citação no texto: (Intaka, 2009; Homo, 2014; Ngovene, 2015)


Na lista de referências: Intaka, J. (2009). Policiamento comunitário. Maputo: Fimbo
Editora.
Homo, A. (2014). Jogando N’tchuva. Maputo: Vamos Brincar.
Ngovene, B. (2015). Criação de gatos. Gaza: Press.

3.3.12.Citação de publicações com autores que têm o mesmo sobrenome


Se houver coincidência de sobrenomes de autores, inclua as iniciais do nome em todas as citações,
mesmo que o ano de publicação seja diferente; permanecendo a coincidência, colocam-se os prenomes
por extenso. Vide Exemplo 12.

95
Exemplo 12

Citação no texto:

Matirhandzi, B. (2013, p. 29)


Matirhandzi, B. A. (2016, p. 17)
Gilberto Mabjaia, (2017)
Gonçalves Mabjaia, (2017)
Na lista de referências: Matirhandzi, B. (2013). Jogos tradicionais. 2ª Edição.
Maputo: Girassol.
Matirhandzi, B. A. (2016). Infecções de Transmissão Sexual. Maputo: Índico.
Mabjaia, G. [Gilberto]. (2017). Efeitos do uniforme escolar. Maputo: Luzes da Ribalta.
Mabjaia, G. [Gonçalves]. (2017). Gestão de informação classificada. Maputo: Press.

3.3.13.Citação de um capítulo de livro


Na citação de um capítulo, deverá se referenciar o autor ou autores do capítulo, identificando os demais
dados da obra na referência bibliográfica, antecedidos do “In”. Deverá, ainda, em casos de obras com
vários autores, ser utilizada a abreviatura “Coord.” para indicar o coordenador da obra referenciada.
Vide Exemplo 13.

Exemplo 13 (Almeida, Lopes, Camilo & Choi, 2016, p. 39)

No texto: No entendimento dos autores Almeida, Parisi e Pereira (1999, p. 370), “a


Controladoria enquanto ramo do conhecimento baseada na teoria contábil (…)”.

Na lista de referências: Almeida, L. B., Parisi, C., & Pereira, C. A. (1999). Controlador ia.
In A. Catelli (Coord.), Controladoria: Uma abordagem da gestão econ ómica – GECON (pp.
369-381). São Paulo: Atlas.

3.3.14.Citação de monografias, dissertações e teses não publicadas


A citação de monografias, dissertações e teses não publicadas deverá ser efectuada através da indicação
do autor, título da tese de doutoramento ou dissertação de mestrado, nome da instituição e local. Vide
Exemplo 14.

Exemplo 14 (Moreira, 2014, p. 37)

Prada, C. G. (2002). A família, o abrigo e o futuro: Análise de relatos de crianças que


vivem em instituições. Dissertação de Mestrado não publicada, Curso de Pós-
Graduação em Psicologia da Infância e da Adolescência, Universidade Federal do
Paraná. Curitiba, Paraná.

96
3.3.15.Citação de artigo de periódico impresso
A citação de artigo de periódico impresso deverá ser efectuada através da indicação do(s) autor(es),
ano, título do artigo, título do periódico em itálico, volume (número) e as páginas inicial e final do
artigo. Vide Exemplo 15.

Exemplo 15 (Moreira, 2014, p. 37)

Heshka, S., Anderson, J.W., Atkinson, R.L., Greenwa y, F.L., Hill, J.O., Phinney, S.D.,
. . .& Pi Sunyer, F. X. (2003, Maio). A perda de peso com autoajuda em comparação
com um programa estruturado comercial: Um ensaio clínico padronizado . JAMA,
289, 1792-1798.

3.3.16.Citação de artigo de periódico on-line


A citação de um artigo de periódico On-line deverá ser efectuada através da indicação dos autor(es),
ano, título do artigo, título do periódico em itálico, volume (número), as páginas inicial e final do artigo
e dados de acesso (Moreira, 2014, p. 38). Vide Exemplo 16.

Exemplo 16 (Moreira, 2014, p. 38)

Vorcaro, A. & Lucero, A.(2010). Entre real, simbólico e imaginário: Leituras do autismo.
Psicologia Argumento, 28, pp.147-157. Obtido em 24 de maio de 2010.
Recuperado de http://www2.pucpr.br/reol/index.php/pa?dd1=3562&dd99=view

3.3.17.Citação de artigo de jornal impresso


A citação de um artigo de jornal impresso deverá ser realizada através da indicação dos autor(es), ano,
dia e mês, título do artigo, título do Jornal em itálico e páginas inicial e final do artigo .
Vide Exemplo 17.

Exemplo 17 (Moreira, 2014, p. 38)

Schwartz, J. (1993, 30 de Setembro). A obesidade afecta o estado económico, social.


TheWashington Post, pp. A1, A4.

3.3.18.Citação de publicações do mesmo autor e/ ou datas iguais


A Citação de obras do mesmo autor deverá ser realizada por ordem cronológica (sequência por datas) e
com separação por vírgula. A distinção das publicações do mesmo autor e ano deverá ser efectuada
através da colocação de letras após o ano. A apresentação das referências deverá, igualmente, ser
efectuada por ordem crescente de data. . Vide Exemplo 18.

97
Exemplo 18

Citação no texto: Xipenete, (2016, 2017a, 2017b) ou (Xipenete, 2016, 2017a, 2017b)
Na lista de referências: Xipenete, M. J. (2016). Como alimentar o seu bebé? Maputo:
Pêndulo.
Xipenete, M. J. (2017a). Gestão de conflitos familiares. Maputo: Pess.
Xipenete, M. J. (2017b). Noções fundamentais de economia doméstica. Maputo: Olho Vivo.

3.3.19.Citação de um autor repetida no mesmo parágrafo


Sempre que um autor for citado mais de uma vez no mesmo parágrafo, o ano poderá ser omitido a partir
da segunda citação. (Moreira, 2014, p. 35). Vide Exemplo 19.

Exemplo 19

Primeira citação no texto: (Xipenete, 2017, p. 34)


Segunda citação no texto: (Xipenete, p. 36)
Na lista de referências: Xipenete, M. J. (2017). Gestão de conflitos familiares.
Maputo: Press.

3.3.20.Citação de publicação sem identificação de autoria


A citação de uma publicação sem identificação de autoria deverá ser efectuada através da indicação do
título, subtítulo, ano e local de publicação e editora. (Moreira, 2014, p. 37). Vide Exemplo 20.

Exemplo 20

As barreiras da mente: perguntas e respostas. 2017. Maputo: Editora Verde.

3.4. Direitos e Deveres dos Autor


a) O autor do artigo é o primeiro titular dos direitos patrimoniais e não patrimoniais da sua obra ;
b) O autor, ao submeter o artigo à Revista Científica da ACIPOL para fins de publicação, autoriza a
execução de actos visados pelos seus direitos patrimoniais;
c) A Revista Científica da ACIPOL não se responsabiliza por situações de Plágio contidas no
artigo, sendo da inteira responsabilidade do autor;
d) O autor é responsável pela observância das normas cultas da língua portuguesa e de língua
estrangeira;
e) O autor deverá indicar, em nota de rodapé, junto do título, se o texto resulta de uma pesquisa ou

Vide Lei n.º 4/2001 de 27 de Fevereiro, que aprova os direitos de autor.

98
de monografia, dissertação de mestrado ou de uma tese;
f) O autor deverá indicar, igualmente, em nota de rodapé, se o trabalho já foi publicado em outras
revistas científicas nacionais ou estrangeiras;
g) O autor deverá indicar em que Linha de Pesquisa o seu trabalho se enquadra.

3.5. Submissão de Artigos


A submissão de artigo para fins de publicação na RCA deverá ser efectuada electronicamente,
através do seguinte endereço: acipolrevistacientifica@gmail.com. O autor deverá, para fins de apreciação,
enviar o artigo em formato PDF e em Word para edição e publicação. O autor, no acto da submissão do
artigo, deverá, ainda, anexar os seguintes elementos pessoais:
a) Uma cópia do respectivo documento de identificação (BI ou passaporte) para fins de
certificação de identidade;
b) Uma fotografia actual tipo passe (preferencialmente, de uniforme se o autor for membro das
Forças de Defesa e Segurança nacionais ou estrangeiras), que será colocada no cabeçalho do
artigo;
c) Nome completo do autor com uma nota de rodapé indicando a instituição a que pertence, a
função que exerce, os títulos e formação profissional.

3.6. Revisão por pares


Os artigos serão sujeitos à revisão por pares, avaliação dos artigos por outros pesquisadores
conhecedores do objecto pesquisado . O tipo de revisão será duplo cego (double blind peer review),
caracterizado pelo anonimato entre autores e revisores.

Referências Bibliográficas

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