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Hipótese do Contínuo

Gabriel F. Ferraz
Setembro 2020

. . . Topologia Algébrica. Problema que ele não tinha muito imaginação de


topologia algébrica, então quando precisou fazer uma tese de doutorado fez os
dois teoremas de Gödel, de incompletude de Gödel. Talvez dois dos teoremas
mais importantes da matemática do século XX - de toda matemática. Entre as
coisas que tudo mundo se preocupava e se preocupa até hoje, é desconfortável
é a hipótese do contínuo. Você tem um conjunto N que é enumerável, infinito e
enumerável. Existe uma bijeção entre N e N, a identidade.
Existe R, R tem cardinalidade das partes de N. Então é um infinito maior.
Não existe uma função sobrejetora de N em R, isso é clássico. Então você tem
N e tem R dois infinitos. N é o chamado ℵ0 se você tem (teoria?) dos ordinais
ou cardinais. Potência de R é 2ℵ0 que é ℵ1 . A pergunta é: existe alguma coisa
no meio? Tem algum infinito que é maior que o infinito de N, mas é menor que
o infinito de R. Cantor fez essa pergunta - acho que foi o primeiro a explicitar
a pergunta - e falou: É claro que não! Com seu altruismo usual (é claro) ele
reconheceu que não sabia fazer a prova.
Ele virou a hipótese de Cantor, que foi ser chamada de a hipótese do con-
tínuo: Não existe ninguém, nenhum conjunto que uma potência N, ℵ0 e ℵ darem
um conjunto que está entre contido em N e contém N, e está contido em R. A
potência dele ou existe uma bijeção de N pra ele (ele é enumerável) ou ele tem
uma bijeção dele pros Reais. Isso é a hipótese do contínuo.
Monte de gente quis provar essa hipótese. Até 1930 isso era um dos prob-
lemas mais . . . depois continua assim. A tese do Gödel não é sobre isso, mas o
Gödel mexeu em cima disso e ele provou o seguinte: Pega a teoria de conjuntos
mais comum do mundo - Zermelo–Fraenkel Choice, Zermelo–Fraenkel mais o
axioma da escolha. Suponha que ele não tem contradição. Vamos fazer essa
hpótese, vamos supor que ela é uma teoria consistente, então se ela não tem
contradição a hipótese do contínuo não cria contradição. Pode admitir como
axioma e seguir em frente, você não criou contradição. Não é que você provou,
mas pode admitir como axioma. Não criou contradição nova.
Isso é um teorema de Gödel usando ideias do Bertrand Russell. O Bertrand
Russell queria usar essas ideias pra provar a hipótese do contínuo, não con-
seguiu. Mas Gödel pegou as ideias do Russell e fez essa demonstração: se você
admitir que a hipótese do contínuo é um postulado, esse axioma não entra em
contradição com nada de Zermelo–Fraenkel Choice. Jóia, 1930.

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E aí acho que o Gödel diz acho que fiz o suficiente em teoria dos conjuntos,
acho que vou voltar pra topologia algébrica. E vez em quando ele voltava
para teoria dos conjuntos, ele orientou um cara chamado (. . . ) e o (. . . ) no
inicio da década de 60 deu um soco na boca do estomago de todo mundo,
provou o seguinte: Supõe que Zermelo–Fraenkel Choice não tem contradição, é
consistente, então a negação da hipótese do contínuo não cria contradição. Não
tem nenhuma contradição aqui.
Como assim? O Gödel falou pega ZFC e coloca a hipótese do contínuo,
se aqui não tem contradição, aqui também não tem. Perfeito. Agora tira a
hipótese do contínuo e põem a negação da hipótese do contínuo (existe um con-
junto ali no meio), também não cria contradição. Escolha, você gosta mais das
laranjas venusianas amarelas ou das laranjas venusianas verdes ou das laranjas
venusianas vermelhas. Escolha, você é livre.
Ou seja, dentro de Zermelo–Fraenkel Choice, a frase: "Existe um conjunto
inteiro, infinito que está entre N e R". Olha é melhor que ela seja indecidivel.
Pois se você prova alguma das duas, corolário: a teoria toda é inconsistente,
pode jogar ela fora. Porque se você provar uma, eu uso outro axioma e falo:
bom, como não tem contradição iih agora acabei de provar uma contradição
então é inconsistente, já tinha uma inconsistência antes. Então é melhor que
isso não exista.
Então existem frase que são não demonstraveis. Eu não sei se elas são falsas
ou verdadeiras. Essa pergunta não se faz. Coloca essa frase como axioma, ou a
negação dela. Tá, tem nada a ver, isso não coloca um risco demonstração por
absurdo, né? Porque não tem demonstração . Ninguém demonstrou a hipótese
do contínuo. Nem fez demonstração por absurdo de nada, então não tá em risco
nada. Se eu estou dizendo que existem frases que você não sabe demonstrar e isso
é um teorema. Se Zermelo–Fraenkel Choice não tiver contradição . . . professor,
e se tiver. Aí filho, esquece. Vamos todos fazer poesia, história em quadrinhos,
mas ciência não dá. Essa frase é indemonstrável.
. . . Só contei essa brincadeira pra vocês verem que há mais entre o céu e a
terra do que imagina nossa vã filosofia.
A tese de Gödel (o teorema de Gödel) é uma afirmação desse tipo, ele con-
struiu uma frase que é "eu sou indemonstrável". Com isso provou o teorema
dele. O problema é que quando você faz essa brincadeira, qual é a diferença en-
tre o terceiro mandato e o que eu falei. Eu não falei nada de falso e verdadeiro,
eu falei de demonstrável e não demonstrável, só isso. O grande truque pra evitar
muitas questões de paradoxo é dizer: essa pergunta eu não faço. Eu vou fazer
a pergunta se é demonstrável ou não. Então aquela brincadeira: "o que está
escrito no verso dessa folha é falso" e aí você vira "o que está escrito no verso
dessa folha é verdadeiro". Aí você pergunta: O que está escrito aqui é falso ou
verdadeiro Iiih não dá pra saber. Tem uma contradição, um paradoxo. Se você
trocar falso e verdadeiro por demonstrável e indemonstrável, some o paradoxo.
Isso foi uma sacada genial.

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