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Monografia Evangelista
Monografia Evangelista
SEQUESTRO RELAMPAGO
ITURAMA
2007
ÉLSON DE OLIVEIRA EVANGELISTA
SEQUESTRO RELAMPAGO
ITURAMA
2007
ÉLSON DE OLIVEIRA EVANGELISTA
SEQUESTRO RELAMPAGO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Orientador: Prof. Ilidia Aparecida da Silva
_________________________________________________________
Professor:
_________________________________________________________
Professor:
Rui Barbosa
RESUMO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................10
CAPÍTULO I - O CRIME NO DIREITO PENAL BRASILEIRO.................................................................12
1.1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................12
1.2 CONCEITO DE CRIME........................................................................................................................................12
1.3 CONCEITO DE CRIME FORMAL..........................................................................................................................13
1.4 CONCEITO DE CRIME MATERIAL.......................................................................................................................15
1.5 CONCEITO MODERNO MATERIAL DE CRIME....................................................................................................17
1.6 CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME.....................................................................................................................18
CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO........................................................................20
2.1 ROUBO – ART. 157 DO CÓDIGO PENAL............................................................................................................20
2.2 EXTORSÃO – ART. 158 DO CÓDIGO PENAL......................................................................................................22
2.3 EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO – ART. 159 DO CÓDIGO PENAL................................................................28
CAPÍTULO III - O SEQUESTRO RELÂMPAGO..........................................................................................33
3.1 A MÍDIA NACIONAL.........................................................................................................................................33
3.2 SEQÜESTRO RELÂMPAGO..................................................................................................................................34
3.3 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................34
3.4 TIPICIDADE.......................................................................................................................................................36
3.5 TIPICIDADE DO SEQÜESTRO RELÂMPAGO.........................................................................................................36
3.5.1 ANÁLISE DA PRIMEIRA HIPÓTESE DE SEQÜESTRO RELÂMPAGO..............................................................38
3.5.2 ANÁLISE DA SEGUNDA HIPÓTESE DE SEQÜESTRO RELÂMPAGO...............................................................45
CONCLUSÃO.......................................................................................................................................................48
REFERENCIAS......................................................................................................................................................50
10
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios o homem vive cercado pela ocorrência de fatos sociais. Dentre
tais eventos, os gerados pela exteriorização da vontade dos indivíduos solicitam a todo
instante a elaboração de normas que regulem a convivência entre os mesmos.
Este trabalho tem como objetivo, a adequação dessa dicotomia fato-norma ao
acontecimento social do “seqüestro relâmpago” ainda não acolhido especificamente pela
legislação criminal pátria.
O homem vem sendo e sempre será tolhido em sua liberdade, já que seu
comportamento deve estar invariavelmente adstrito aos limites ali impostos.
Dessa forma, vislumbra-se um ilícito jurídico no exato instante em que qualquer
integrante do corpo social olvida o cumprimento dos ditos preceitos, ultrapassando os liames
neles traçados e, via de conseqüência, agindo em desacordo com o ordenamento vigente. O
gênero ilícito jurídico, assim demonstrado, tem no ilícito penal a sua espécie mais relevante,
tendo em vista serem protegidos nesse último os bens de maior importância para os
componentes da sociedade.
Daí decorre o raciocínio segundo o qual falar em Direito Penal significa discorrer
acerca da violência exercida contra determinados bens, cuja tutela necessariamente precisa ser
exercida pelas normas criminais, haja vista terem os demais ramos do Direito demonstrado a
sua incapacidade de, sozinhos, conferirem aos mesmos a proteção indispensável.
O Seqüestro Relâmpago, assim impropriamente denominado pela mídia nacional, vem
sendo caracterizado como uma conduta típica nuclear, constante de restringir a liberdade do
ser humano como forma de obter indevida vantagem econômica.
Neste aspecto, surgem insinuações incorretas por parte da imprensa no tocante à
verdadeira adequação típica, pois, conforme o caso, enseja a ocorrência de roubo, extorsão ou
extorsão mediante seqüestro, confundindo não só o homem leigo, no aspecto legislativo,
como também o operador do direito.
Os legisladores infraconstitucionais buscam a tipificação do denominado “Seqüestro
Relâmpago” como crime, visando minorar o dilema enfocado.
O objeto fundamental do Seqüestro Relâmpago está na ofensa ao bem patrimonial e na
liberdade pessoal do individuo, consistindo, inicialmente, na privação da liberdade exercida
por um ou mais sujeitos ativos contra determinados sujeitos passivos, ainda que dita privação
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1.1 Introdução
O art. 1º do Código Penal Brasileiro afirma que não há crime sem lei anterior que o
defina. Não há pena sem previa cominação legal: nullum crimen, nulla poena sine praevia
lege.
Para o nobre doutrinador Mirabete (2006, p. 81):
Afirma Jesus (1980, p.142) que este conceito deriva da análise do crime sobre o:
“aspecto da técnica jurídica, do ponto de vista da lei”. Neste sentido, Mirabete (2001, p.95)
relata abundam definições:
14
“Todo ato ou fato que a lei proíbe sob ameaça de uma pena” (Bruno), “o fato ao qual
a ordem jurídica associa a pena como legítima conseqüência” (Liszt), “ação punível:
conjunto dos pressupostos da pena” (Mezger), “l´azione vietata dal diritto con la
minacia della pena” (Petrocelli).
ausente de dúvidas interpretativas que afirmar “crime é crime”. Todavia, está clara a
tautologia, assim como a impossibilidade de se utilizar deste conceito para desenhar os
critérios de orientação da materialidade legislativa, que serão tratados no segundo volume, ao
lado dos avanços da hermenêutica de Kelsen.
Como afirma o Machado (1978, p.78): “o conceito material busca a essência [...] do
delito, a fixação de limites legislativos à incriminação de condutas”. Desta forma, o crime é
para Fragoso (1995, p.144): “um desvalor da vida social”. Segundo Garofalo (apud Machado,
1987, p.78): “a violação dos sentimentos altruísticos fundamentais de piedade e probidade, na
medida média em que se encontram na humanidade civilizada, por meio de ações nocivas à
coletividade”.
A raiz da valorização destes tipos de conceitos puramente materiais do direito pode ser
encontrada através do desenvolvimento de correntes que negavam o direito como uma
expressão autônoma, ora o caracterizando como apenas um fato social (sociologismo
jurídico), ora como expressão de relações puramente econômicas de repressão (materialismo
jurídico), o que castravam do mundo jurídico a sua capacidade de auto-alimentação científica.
Na corrente materialista econômica mais radical (marxismo vulgar), para compreender
o fenômeno jurídico, se utiliza uma compreensão sociológica baseada em fatos
economicamente valorados, na qual as condições materiais de produção e existência
econômica (a infra-estrutura) exerceriam um determinismo sobre a superestrutura, isto é,
sobre o plano cultural e psicológico, na qual se insere o estado, o direito, a política, a
consciência individual e coletiva, etc. Esta corrente era tão exacerbada que não admitia que a
superestrutura influenciasse a infra-estrutura, e, desta forma, o direito adquiria a forma de um
“instrumento de dominação do homem pelo homem”, refletindo condições concretas de
existência puramente econômica.
Evidentemente, esta teoria não era capaz de formular um importante conceito
suficiente de crime, já que, se o direito era um instrumento de dominação, não explicava
como o crime poderia ser um mal social que poderia afetar toda a sociedade, e não apenas a
sua classe dominante. Outro erro era o fato de asseverar que as correntes sociais se
constituíam principalmente por interesses econômicos.
A expressão mais correta é que as realizações subjetivas podem ser traduzidas e
expressas através dos seus equivalentes econômicos, muitas vezes de forma árdua e
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É evidente que, pela sua amplitude conceitual, a definição material de crime tem
sabor pré-legislativo, de orientação e parâmetro à liberdade legislativa de criação de
delitos [...]. Não presta à formulação dogmática pela sua volatilidade e insegurança
conceituais.
No entanto, mesmo como definidor pré-legislativo, o conceito material puro é
incompetente, pois resume os crimes aos de dano, perigo e dano presumido (sem
comprovação prática), quando, como em caso de alguns crimes de mera desobediência, o
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sistema penal pode classificar algo como crime apenas por causa da mobilização social que se
comove a favor de tal medida, sem que este represente um problema efetivo.
Várias condutas são proibidas não porque representam ou podem potencialmente
representar algum dano, mas por razões de vontade, pura e simples. Na sociedade atual, o
surgimento destes crimes ocorre pela proliferação de toda sorte de fobias, terrores, horrores e
medos, são gerados pelo constante fluxo de informações realizadas por veículos de
informação, cujo interesse primário é de atrair o público com notícias chocantes.
Não obstante, quase todos os autores conceituados, ao definirem o conceito material
de crime, sempre trazem ao bojo uma análise material através dos olhos da modernidade, não
tratando do conceito material puro justamente por causa da sua instabilidade, instabilidade
esta que surge do fato que alguns fatos só são danosos se situados em uma determinada
conjuntura, e estas conjunturas modificam rapidamente, assim como o dano potencial destas
condutas, que pode mesmo não mais existir; enquanto, por outro lado, o direito penal é
dogmático, e a descriminalização de uma conduta não depende de uma modificação social,
pura e simples, mas um esforço despendido através do processo legislativo.
Então, atualmente, o conceito de crime não pode ser desvinculado da legislação penal,
e uma análise científica da lei deve ser necessariamente destacada como independente do
corpo social que lhe deu razão, mesmo que apenas a título de interpretação.
Este conceito que foi inaugurado por Rudolf Von Ihering, e baseado neste, Machado
(1987, p.78) defende que: “crime seria o ato que ofende ou ameaça um bem jurídico tutelado
pela lei penal”, o que, ao contrário do conceito anterior, vincula a avaliação do que seja
socialmente valioso a noção de bem jurídico (valor juridicamente protegido).
Portanto, Fragoso (1995, p.145) relata que: “crime é, assim, numa definição material, a
ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses
do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena”. Seria a “infração da lei
do Estado, promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo
do homem, positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso”1.
Podemos destacar deste discurso dois elementos, a lei penal e o bem jurídico material
que visa proteger, sabendo que bem jurídico material não só engloba objetos materiais, como
1
Carrara, Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal; trad. José Luiz V. de A. Franceschini e J. R.
Prestes Barra; Saraiva, 1956, vol. 1º. Pág. 45, §21. apud Jesus, Damásio Evangelista de, 1935. Direito Penal. São
Paulo: Saraiva, 1980.
18
Com segurança escreve Hungria que um fato pode ser típico, antijurídico, culpado e
ameaçado com pena ("in thesi"), isto é, criminoso, e, no entanto, anormalmente
deixar de acarretar a efetiva imposição de pena, como nas causas pessoais de
exclusão da pena (eximentes, escusas absolutórias), tal qual se dá no furto familiar
(art. 181, I e II) e no favorecimento pessoal (art. 348, §2º), nas causas de extinção da
punibilidade nas extintivas condicionais (livramento condicional e "sursis"), em que
não há aplicação de pena, mas o crime permanece.
Enquanto a ação é atividade, a omissão seria a falta de ação, falta que é uma
transgressão a uma expectativa jurídica sobre um ato considerado imperativo e necessário. A
conduta típica seria a correspondência entre o fato concreto e o modelo abstrato (previsão
legislativa), a ilicitude (antijuridicidade) é a característica deste ato, que é juridicamente
proibida, (sempre que a conduta é típica e não estão presentes os excludentes de ilicitude, quer
dizer, a legítima defesa, o estado de necessidade e o estrito cumprimento de dever legal e o
exercício regular de direito, conforme art. 19 do Código Penal).
Já a culpabilidade seria o juízo de reprovação social sobre a ação ou omissão, pois,
quando era esperado que o sujeito tomasse uma determinada atitude, toma outra proibida em
seu lugar. Todavia, a conduta, apesar de ser vedada pelo ordenamento, não é reprovável
quando o sujeito não é imputável, quando não tem potencial consciência da ilicitude ou
quando dele não se poderia exigir do indivíduo conduta diversa.
Parte bastante recessiva da doutrina diverge do aqui estabelecido, fixando que o
conceito de crime é constituído apenas de uma conduta ilegal e culpável, já que a conduta
ilegal é necessariamente típica. Outros acreditam que a culpabilidade é pressuposto da pena, e
não do crime. Como podemos perceber, nos baseamos na doutrina dominante para trabalhar
esta parte.
Baseada nesta caracterização analítica, afirma Fragoso (1995, p.147) que: “é feliz a
expressão que alguns autores empregam, segundo a qual, se se concebe o crime como um
prisma, seus componentes devem ser representados por suas faces e não como suas partes”.
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O crime de roubo se encontra inserido no rol dos crimes contra o patrimônio. Esse
crime possui as mesmas características do furto, porém, possui fatores que agregados ao
elemento do tipo subtrair, geram um novo tipo penal. Há no roubo a subtração de coisa alheia
móvel, para si ou para outrem, porém com a existência de grave ameaça ou com o emprego de
violência contra a pessoa, os fatores que empregados fazem com que haja a entrega da coisa,
são as circunstâncias especiais que relevam sua diferença para o furto. Assim ensina Fragoso
(1988, p.342): “A distinção conceitual entre furto e roubo é que no primeiro é a subtração
clandestina; o segundo, o arrebatamento público e violento”.
Nesse sentido é a descrição típica do artigo 157 do Código Penal: “Subtrair coisa
móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência Pena - reclusão, de 4
(quatro) a 10 (dez) anos, e multa”.
Segundo leciona Noronha (1996 p.252-256): “O roubo nada mais é que o furto
agravado pelas circunstancias da violência física ou psíquica contra a pessoa, ou ainda por
outro meio que a impede de resistir aos propósitos e a ação do delinqüente”.
Subtrair coisa alheia móvel é retirar tudo aquilo que pertence a outrem e que pode ser
deslocado de um lugar para outro.
Grave ameaça é o prenúncio de um acontecimento desagradável com força
intimidativa, desde que importante e sério. A violência é constituída de toda forma de
constrangimento físico voltado a pessoa humana.
Qualquer outro meio é chamado violência indireta ou imprópria. Assim, aquele que
droga a vítima para enquanto ela esta desacordada, leva-lhes os seus pertences, esta
cometendo o crime de roubo e não de furto.
Segundo Nucci (2003, p.496-525): “A trombada é qualquer tipo de violência incidente
sobre a pessoa humana, com a finalidade de levar-lhe os pertences, configurando, portanto o
roubo e não o furto simples”.
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que sofra diminuição (perda) patrimonial
(proprietário ou possuidor) ou que seja atingida pela violência ou grave ameaça.
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Que apesar de serem exigidas para fins de consumação a retirada da coisa da esfera
de vigilância da vitima e a posse tranqüila, há que se ressaltar que a existência de
prisão em flagrante não implica necessariamente o reconhecimento da tentativa,
como por exemplo, no caso do flagrante ficto ou presumido, previsto no art. 302,
IV, do Código de Processo Penal, que permite que o agente seja preso algum
tempo depois da subtração.
Há outra corrente, a qual defende ser a extorsão crime material, o qual se consuma
com a produção do resultado obtenção indevida de vantagem econômica. Trata-se
24
de posição minoritária e vencida, haja vista que o verbo do tipo não é obter, e sim
constranger com a finalidade de obter.
que um dos co-autores seja inimputável. Com isto, estabelecemos que o delito de extorsão é
de natureza jurídica monossubjetiva, ou de concurso eventual
Extorsão cometida com o emprego de arma. O emprego de arma imputa maior temor à
vítima, diminuindo-lhe a capacidade de resistência. Arma, deve-se salientar, não é apenas
aquele instrumento destinado ao ataque ou à defesa (arma própria), mas também qualquer
outro instrumento que possa ser utilizado com o fim de diminuir a capacidade de resistência
da vítima (arma imprópria). O emprego de arma, mesmo que não efetue disparo, propicia ao
agente maior êxito na ação delituosa, acentuando a gravidade do injusto, bastando, pois, que o
sujeito ativo porte a arma ostensivamente, isto é, não é preciso que faça uso da arma.
Questão tormentosa é a das armas de brinquedo e das armas desmuniciadas. O
problema do porte se estende ao Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03), o qual
revogou expressamente a Lei nº 9467/97, a qual previa como crime o porte de arma de
brinquedo ou de simulacro, lei esta que era coadunada pela Súmula 174 do Superior Tribunal
de Justiça: nos crimes de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o
aumento da pena, tal Súmula foi, todavia, revogada pelo mesmo Tribunal, de modo que se
operou a abolitio criminis em relação à arma de brinquedo. Duas são as correntes para a
questão da arma de brinquedo e da arma desmuniciada.
A corrente minoritária, defendida por Capez (2005: 295), entende que: “se o porte é
ostensivo, usado com o propósito de infundir medo, ocorre a majorante”. Isto é: no caso da
arma de brinquedo, mesmo que o porte desta não seja mais previsto como crime, se ela for
utilizada para infundir medo na vítima, ocorre a majorante do § 1º. Ora, há que se observar à
redação do artigo 157, § 2º, I: se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma.
De acordo com esta redação, tanto faz se a arma é própria ou imprópria, e tanto faz se
a violência é física ou moral, o importante é que a violência própria seja provocada mediante
o emprego de arma, de modo a, idoneamente, facilitar a finalidade de subtrair coisa móvel
alheia, para si ou para outrem.
Bitencourt (2003, p.86-87), apesar de não fazer coro ao posicionamento de Capez, faz
importante ponderação: “a simulação de estar armado ou a utilização de arma de brinquedo,
quando desconhecida ou não percebida pela vítima, constituem grave ameaça,
suficientemente idônea” para poder reduzir o sujeito passivo à impossibilidade de resistência.
Ora, não se pode exigir da vítima, que esta saiba ou não que a arma é de brinquedo, ou que a
arma esteja desmuniciada.
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resultado morte quando há a morte de co-autor do delito de extorsão, uma vez que a morte do
co-autor “não é meio, modo ou forma de agravar a ação desvalisosa” do delito qualificado;
ora, o tipo penal exige que a violência seja cometida contra o sujeito passivo, e não contra um
dos sujeitos ativos. (BITENCOURT, 2003, p.112)
Deve-se, contudo, tomar cuidado com o erro quanto à pessoa (artigo 20, § 3º). Jesus
(1998, p.528) explica que:
Contempla o Código Penal no art. 159 mais um crime de extorsão. Cuida-se contudo,
da privação da liberdade da vítima tendo por fim a obtenção de vantagem, como condição ou
preço do resgate.
A exemplo dos delitos dos artigos 157 e 158, o delito de extorsão mediante seqüestro é
crime complexo e pluriofensivo. Pluriofensivo porque os bens jurídicos tutelados são o
patrimônio do indivíduo, a liberdade pessoal e a integridade física e psíquica da pessoa.
Complexo porque engloba os crimes de extorsão (artigo 158) e de seqüestro (artigo 148).
Deste modo, segundo Bitencourt (2003, p.136) “temos de prestar atenção ao nomen
iuris dado pelo legislador ao tipo previsto no artigo 159: extorsão mediante seqüestro, ou seja,
a definição trazida pelo caput do artigo 159 deve ser interpretada com cautela”.
Trata-se de crime hediondo em todas as modalidades simples ou qualificada (Lei
8.072/90).
A objetividade jurídica imediata é a inviolabilidade do patrimônio. De forma
secundária, o CP tutela também a liberdade de locomoção. Trata-se de crime complexo, em
que, há um tempo, o legislador protege dois bens jurídicos: um referente ao patrimônio e
outro concernente à liberdade pessoal.
Sujeito ativo é qualquer pessoa.
Sujeito Passivo é qualquer pessoa. Pode ocorrer hipótese de dois sujeitos passivos: um
que é seqüestrado e outro a quem se dirige à intenção do agente de obter qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate. Ex: o sujeito seqüestra uma criança pretendendo obter
resgate de seus pais. Há dois sujeitos passivos. Um a criança; outro, seu representante legal.
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de seqüestrar pessoa, tendo a
finalidade de obter resgate. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o
delito esta consumado quando a liberdade da vitima é cerceada.
O seqüestro é delito permanente, protraindo-se no tempo o seu momento consumativo,
e formal, vale dizer, realizado o ato de seqüestrar a pessoa, detê-la, estará consumado o crime,
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É o dolo, que deve abranger os elementos objetivos do tipo. Não há a forma culposa.
Exige-se, ainda, o elemento subjetivo do tipo especifico - “com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”. É o dolo especifico na
doutrina tradicional.
O artigo 148, que trata do delito de seqüestro e de cárcere privado, tutela a liberdade
física individual, de modo que, como a liberdade é um bem jurídico disponível, não haverá
crime quando, para o cerceamento da liberdade, houver consentimento válido da vítima, mas,
se em algum momento houver dissentimento da vítima, restará configurada a liberdade
cerceada e o tipo penal em questão.
O seqüestro consiste, segundo a lição doutrinária, na privação da liberdade de
locomoção do sujeito passivo, não implicando em seu confinamento.
Para haver, efetivamente, o seqüestro, é preciso que o agente atue com a intenção de
seqüestrar, ou seja, é necessária a presença do dolo específico de privar a pessoa de sua
liberdade.
De acordo com Mirabete (2005, p.187):
Se tal elemento subjetivo estiver ausente, ou seja, se o agente atua por outro intento
que não o de seqüestrar a vítima, não se configura o seqüestro, o mesmo se dando
em relação ao cárcere privado, de modo que o crime será de constrangimento ilegal.
Como se trata de crime comum, o sujeito passivo, bem como o sujeito ativo, pode ser
qualquer pessoa. Repetimos a lição dada alhures de que todo crime complexo pode apresentar
dois sujeitos passivos: aquele que sofre a lesão patrimonial e aquele que sofre o seqüestro. A
pessoa jurídica pode figurar como sujeito passivo da lesão patrimonial, mas não do seqüestro.
Em sua forma simples, a extorsão mediante seqüestro apresenta como pena in abstrato
a reclusão de oito a quinze anos. Pena esta que poderá ser qualificada de acordo com uma das
situações seguintes: a) a pena será de reclusão de doze a vinte anos, se o seqüestro durar mais
de vinte e quatro horas, se o seqüestrado for menor de dezoito anos, se o seqüestrado for
maior de sessenta anos, ou se o crime for cometido por bando ou quadrilha; b) a pena será de
reclusão de dezesseis a vinte e quatro anos se do seqüestro cuja finalidade seja a extorsão
resultar lesão corporal de natureza grave; c) a pena será de reclusão de vinte e quatro a trinta
anos se do seqüestro cuja finalidade seja a extorsão resultar morte. Veja-se cada qualificadora:
Na o seqüestro durar mais de vinte e quatro horas. A duração do seqüestro por mais de
um dia aumenta o sofrimento da vítima, bem como de seus familiares.
Caso o seqüestrado for menor de dezoito anos. A lei presume que o menor de dezoito
tem sua resistência diminuída em relação ao sujeito ativo do crime. Deve-se ter em mente que
o sujeito passivo deve ser menor de dezoito anos e maior de quatorze anos, haja vista que a
Lei nº 8.072/90, traz a previsão de aumento da pena de metade se o sujeito passivo for menor
de quatorze anos de idade. Assim, a qualificadora só incidirá se o sujeito for maior de
quatorze anos e menor de dezoito anos na data do delito; se for menor de quatorze anos,
incidirá o caput do artigo com aumento de metade da pena prevista.
No caso do seqüestrado for maior de sessenta anos. A lei presume que o maior de
sessenta anos tem sua resistência diminuída em relação ao sujeito ativo do crime. A inclusão
do idoso nesta qualificadora decorre do Estatuto do Idoso.
Se o crime for cometido por bando ou quadrilha. A definição de quadrilha ou bando
encontra-se no artigo 288: associação de mais de três pessoas, com a intenção de formar
bando ou quadrilha, para o fim de cometer crimes. Deve-se prestar atenção ao objetivo da
quadrilha ou do bando ser o de cometer mais de um crime, de modo que se mais de três
pessoas tiverem como objetivo a prática de um único crime, não há que se falar em bando ou
quadrilha, e, por conseguinte, na incidência da qualificadora.
Acaso, do crime resultar lesão corporal de natureza grave. A doutrina tem entendido
que tal situação pode ser tanto preterdolosa quanto dolosa, de modo que é indiferente para a
cominação da pena se o resultado mais grave foi produzido por culpa (involuntariamente) ou
32
por dolo (voluntariamente) do agente. E mais: se o resultado mais grave decorreu do seqüestro
ou da extorsão. Em qualquer desses casos incidirá a qualificadora.
Se do crime resultar morte. O resultado morte resultante do seqüestro ou da extorsão
no crime em apreço, produz o tipo penal mais severamente punido, in abstrato, no Código
Penal brasileiro. Repetimos que é indiferente para a cominação da pena se o resultado adveio
de culpa (caso preterdoloso) ou de dolo (caso doloso).
O § 4º, por fim, apresenta uma causa de diminuição de pena (minorante), apresentando
a seguinte redação: se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Para a concessão da minorante, são necessários três requisitos: a) o crime deve ser cometido
em concurso de pessoas (artigo 29); b) um dos concorrentes deve denunciar o crime à
autoridade; c) a denúncia deve facilitar a libertação do seqüestrado. Trata-se do instituto da
delação premiada. Como se pode depreender dos requisitos, o escopo da delação premiada, a
despeito do nome que lhe é dado, é o de facilitar a libertação da vítima seqüestrada e punir os
demais criminosos, e não o de premiar o delator.
33
É inegável que a liberdade de imprensa deve prevalecer sobre a censura, mas jamais
ser confundida com libertinagem de imprensa, impregnada numa condenação imediata de
quem quer que esteja relacionado como suspeito da prática de uma conduta criminosa, num
verdadeiro espetáculo.
Isto revela que alguns setores da imprensa já adquiriram consciência de sua influência
na sociedade e as conseqüências do poder com o qual se reveste a mídia.
Pelo comportamento da mídia, diante de uma situação não comprovada, promoveu a
conseqüente execração pública das pessoas envolvidas, onde a sociedade, com base nas
informações difundidas nos meios de comunicação, julgou os acusados antes da devida
apreciação do caso pelo judiciário. As seqüelas emocionais dos envolvidos, com certeza, são
insanáveis. Constata-se serem, os mesmos, as verdadeiras vítimas de toda esta celeuma
amplamente propagada nos veículos da mídia nacional. A Lei Máxima assegura que são
invioláveis as intimidades, a vida privada, a honra, a imagem das pessoas, assegurada o
direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
3.3 Introdução
Desde os primórdios o homem vive cercado pela ocorrência de fatos sociais. Dentre
tais eventos, os gerados pela exteriorização da vontade dos indivíduos solicitam a todo
instante a elaboração de normas que regulem a convivência entre os mesmos.
A adequação dessa dicotomia fato-norma ao acontecimento social do seqüestro
relâmpago ainda não foi acolhido especificamente pela legislação criminal pátria, conforme
será analisado.
De fato, sob os ditames dos preceitos normativos, o homem vem sendo e sempre será
tolhido em sua liberdade, já que seu comportamento deve estar invariavelmente adstrito aos
limites ali impostos.
Dessa forma, vislumbram-se um ilícito jurídico no exato instante em que qualquer
integrante do corpo social olvida o cumprimento dos ditos preceitos, ultrapassando os liames
neles traçados e, via de conseqüência, agindo em desacordo com o ordenamento vigente. O
gênero ilícito jurídico, assim demonstrado, tem no ilícito penal a sua espécie mais relevante,
tendo em vista serem protegidos nesse último os bens de maior importância para os
componentes da sociedade.
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Daí decorre o raciocínio segundo o qual falar em Direito Penal significa discorrer
acerca da violência exercida contra determinados bens, cuja tutela necessariamente precisa ser
exercida pelas normas criminais, haja vista terem os demais ramos do Direito demonstrado a
sua incapacidade de sozinhos, conferirem aos mesmos a proteção indispensável.
Segundo Toledo (1999, p.6): “O objetivo fundamental da norma penal é a tutela de
bens, valores e interesses, para além dos quais inexistiria tutela possível”.
Possui, destarte, o Direito Penal natureza peculiar de meio de controle social
formalizado e secundário, já que procura resolver conflitos interindividuais que se mostraram
resistentes aos meios extrapenais de controle.
Para Bitencourt (2003, p.43):
Eis, portanto, o caráter fragmentário do Direito Penal, através do qual, num primeiro
passo, seleciona-se o objeto a ser posto sob a proteção social e, posteriormente, confere-se
relevância punitiva tão somente às condutas que atinjam esse objeto ou, ao menos, visem a
esse fim.
Assim, por ser, indiscutivelmente, o seqüestro relâmpago um conjunto de ações
repugnantes em qualquer sociedade, efetivamente deve ele fazer parte do rol das condutas
selecionadas como alvo da repressão penal. Destarte, é a finalidade deste ensaio perquirir
quais dispositivos normativos que hoje o alcançam.
Com efeito, da referida fragmentariedade surge uma construção tipológica
individualizadora das condutas que são consideradas gravemente lesivas àqueles bens
jurídicos que, necessitam da tutela penal.
Esta a representação esquemática do tipo legal; figura que atravessou desde os fins do
século XIX e durante todo o século passado um período de constantes modificações em seu
conceito e campo de abrangência.
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3.4 Tipicidade
Nossas atuais normas penais obedecem a essa nova formatação da estrutura delitiva,
estando nelas contidas todas as condutas proscritas pela nossa sociedade.
Assim, para que qualquer um do povo possa ser destinatário de uma sanção de
natureza criminal, faz-se mister, a princípio (pois não se está analisando a ilicitude e a
culpabilidade da ação), que a conduta concreta seja idêntica à conduta paradigmática traçada
numa das normas penais vigentes (nulla poena sine praevia lege); e o esforço intelectivo que
o intérprete faz para saber, em cada caso específico, qual das normas penais prevê a ação
incriminada é o que se chama de “Juízo de Tipicidade”.
Consiste, portanto, o “Juízo de Tipicidade” na separação de cada um dos elementos da
conduta tida como ilícita para posterior contraste entre eles e os elementos das condutas
descritas abstratamente numa ou em nalgumas capitulações jurídicas, até que se encontre a
identidade entre uma e outra. É a busca do intérprete pelo tipo ou tipos penais que possuam,
ainda que previstos abstratamente, os elementos componentes da conduta do agente.
Com efeito, ensina o festejado Cezar Roberto Bitencourt (2003, p.234) que:
Como é cediço, o seqüestro relâmpago constitui-se num fato social cada vez mais
freqüente. Também é sabido não existir no Código Penal Brasileiro o tipo denominado
seqüestro relâmpago, sendo este, na realidade, um nome impróprio desprovido de precisão
técnica. De uma forma ou de outra, novo, ou não tipificado especificamente, a sua conduta é
hoje possibilitada em função do avanço tecnológico, que não podia ser previsto pelo
legislador de 1940.
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concentrou-se apenas nos saques realizados nos caixas eletrônicos e não buscou as
subtrações), o sujeito ativo, após privar a vítima de sua liberdade, mas sem subtrair-lhe objeto
algum, apenas a coage a efetivar saques nos chamados bancos 24 horas ou a tolerar que tal
seja feito com o seu cartão bancário.
De plano, verifica-se, com facilidade, que o ilícito vulgarmente denominado de
“seqüestro relâmpago” não se exaure no ato único de o delinqüente exigir o fornecimento pela
vítima da senha do cartão bancário, como chegou-se a pensar.
O fato social conhecido por “seqüestro relâmpago” é plurissubsistente, ou seja, sua
execução desdobra-se em, no mínimo, dois atos sucessivos, de vez que sempre estão
presentes, pelo menos, a privação da liberdade e a coação acima citada.
Apenas para lembrar, a hipótese que será agora analisada é a do criminoso que, por
conseguir por em prática tudo aquilo que idealizou na fase da cogitação do iter criminis,
subtrai um ou alguns pertences do ofendido e ainda obtém êxito quanto à efetuação de saques
em caixas eletrônicos com o cartão bancário deste.
De forma objetiva, pode-se dizer que o agente praticou:
a) a abordagem à vítima, utilizando-se de violência ou sob a ameaça de, do que
decorreu a privação da liberdade durante todo o itinerário do ilícito;
b) o apossamento dos bens de propriedade da vítima, tais como: carteira, celular,
relógio etc;
c) a coação para que o ofendido efetue saques ele próprio ou forneça ao sujeito ativo a
senha do seu cartão bancário e, por fim;
d) a efetivação dos saques nos caixas eletrônicos com a posterior liberação da vítima.
Verifica-se, de logo, que o ato de privar a liberdade foi praticado pelo agente com a
finalidade específica de assegurar a consumação dos atos posteriores, os quais efetivamente
importaram em prejuízo ao patrimônio da vítima.
Pode-se dizer, portanto, que o ato ilícito consumado quando da privação da liberdade
da vítima foi cometido como o fim único de possibilitar o sucesso de toda a empreitada
criminosa, isto é, tanto do desapossamento dos pertences da vítima quanto dos saques de
dinheiro nos bancos 24 horas.
Assim, tendo em vista ser a consumação das subtrações e dos saques o motivo que
leva o sujeito ativo a praticar o “seqüestro relâmpago”, analisar-se-á primeiramente a
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Quando o autor pode obter o objeto material dispensando a conduta da vítima, trata-
se de roubo; quando, entretanto, a consecução do escopo do agente depende
necessariamente da ação do sujeito passivo, cuida-se de extorsão.
Com efeito, está ao inteiro arbítrio do ladrão, pratique a vítima algum ato ou não,
apossar-se da carteira, da bolsa, do relógio, do celular, do carro, cartão de crédito. Ele detém o
domínio do resultado do ilícito. Porém, não se dispondo a vítima a efetivar os saques ou a
fornecer a senha de seu cartão bancário, não haverá saque algum a ser efetuado nos caixas
eletrônicos; o domínio do resultado é da vítima.
Se fala em domínio do resultado, não se está fazendo menção à opção da vítima em
agir ou não agir da forma solicitada pelo coator, está-se referindo ao fato de que o marginal
não conseguirá de forma alguma atingir seu desiderato sem que a vítima pratique pelo menos
um ato. Por exemplo, se a vítima ao ser abordada pelo assaltante desmaiar ou entrar em estado
de choque, o meliante, naquele instante, poderá até praticar a extorsão, posto que esta se
consuma com o mero constrangimento (crime formal), mas exauri-la, efetuando saques nos
caixas eletrônicos, será impossível.
Aí, neste entendimento, parece estar a diferenciação perfeita entre roubo e extorsão.
Nesse diapasão, conclui-se que na hipótese sob análise, a do criminoso que subtrai um
ou alguns pertences do ofendido e ainda efetua saques em caixas eletrônicos com o cartão
bancário deste, houve, conforme incansável demonstração, um crime de roubo e outro de
extorsão.
De notar que a ida da vítima ao banco 24 horas ou a efetuação de saques pelo autor do
fato, constitui-se em mero exaurimento da ilícita extorsão, consumado desde a efetiva coação
do agente sobre a vítima.
Por serem crimes que, embora do mesmo gênero, não são da mesma espécie, inadmite-
se, conforme remansosa jurisprudência inclusive da Suprema Corte, continuidade delitiva
entre o roubo e a extorsão. Deve, portanto, o autor do fato sob comento responder por roubo
em concurso material com a extorsão. (RTJ 100/940 e RT 733/696)
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Nos casos em que não for possível uma interpretação unívoca, mas se conclua pela
possibilidade de duas interpretações antagônicas de uma norma legal (antinomia
interpretativa), a obrigação é de se escolher a interpretação mais favorável ao réu.
conflito de normas sem solução proposta pelos princípios que o regem (especialidade,
subsidiariedade e consunção).
Por oportuno acontecimento social que é, possui duas hipóteses de ocorrência: a que
foi acima analisada e aquela na qual o agente, após privar a liberdade da vítima, não subtrai
nenhum de seus bens, mas apenas a coage a efetivar ela própria saques nos chamados bancos
24 horas ou a tolerar que tal seja feito com o seu cartão bancário.
Consuma um “seqüestro relâmpago” com um iter criminis menor, posto que menor é o
número de ações praticadas, sendo elas: a abordagem, de onde decorre a privação da
liberdade, e o desfalque no patrimônio da vítima exercido mediante saques em caixas
eletrônicos.
A forma de ocorrência do “seqüestro relâmpago”, será primeiramente examinada a
ação delituosa que importa em efetivo prejuízo patrimonial à vítima, guardando-se para um
segundo momento o enquadramento do ato privativo da liberdade.
Assim, tem-se que, conforme demonstrado mediante as ponderações realizadas
anterior, na prática do “seqüestro relâmpago”, o desfalque no patrimônio da vítima decorrente
dos saques efetuados nos bancos 24 horas não pode ser tipificado como roubo. Configura,
doutra sorte, o exaurimento de uma extorsão em virtude da imprescindibilidade de um
comportamento da vítima, qual seja, a sua ida a caixas eletrônicos ou, no mínimo, o
fornecimento da senha de seu cartão.
E não se diga que o apossamento pelo criminoso do cartão bancário da vítima
constituiria um delito autônomo (provavelmente roubo), pois, como se sabe:
O cartão magnético por não possuir valoração econômica própria transforma-se num
objeto insusceptível de ser posto, sozinho, sob a tutela da norma penal
E, ainda que assim não fosse, estar-se-ia diante de uma situação evidente de prática de
um crime-meio (agora sim!), tanto pelo fato de a pretensa subtração do cartão magnético
prestar-se, exclusivamente, para se atingir ao exaurimento da extorsão, quanto por não haver
como se falar, in casu, na existência de norma geral ou especial.
Sabendo-se que não se trata de um crime de roubo, mas de uma extorsão, o
componente "privação da liberdade”, como visto alhures, não pode ser por ela absolvido em
função da previsão do art. 159 do Código Penal (extorsão mediante seqüestro) e da
conseqüente aplicação do princípio da especialidade.
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CONCLUSÃO
relâmpago, mas, ao mesmo tempo, foram apresentadas algumas outras soluções que
ontologicamente escapam à técnica mais apurada, talvez numa tentativa de direcionar as
decisões rumo à Justiça.
Não se pode olvidar que, ao se comparar a situação dos agentes que praticam cada
uma das hipóteses acima comentadas, verifica-se uma distorção entre a gravidade dos atos
cometidos e a punição a eles impostos.
De fato, mesmo observando, como demonstrado, que é menor tanto a pena mínima
quanto a máxima da conduta valorada como menos ofensiva (2ª hipótese), existem uma série
de outros fatores que a tornam excessivamente gravosa.
Por seu turno, àqueles que cometem a 1ª hipótese do seqüestro relâmpago, embora
tenham eles infringido dois tipos penais, a punição igualmente é pesada.
É preciso humanizar a situação, criar uma nova capitulação jurídica que tipifique o
objeto de nosso estudo e, por fim, cominar uma pena condigna à realidade valorativa das
condutas, de forma a bem reprimi-las sem fazer das sanções um meio de sofrimento
desnecessário aos agente.
Conclui-se que se trata de uma extorsão mediante seqüestro disposto no art. 159 do
Código Penal, pois, logo o sujeito ativo que pratica um seqüestro relâmpago terá tecnicamente
praticado um crime de extorsão mediante seqüestro, onde a extorsão é praticada tendo como
meio para a obtenção da vantagem econômica e a privação de liberdade de uma pessoa, sendo
o posicionamento mais acertado onde se verifica a presença de todos os elementos do crime
descritos no tipo penal e este se adequa perfeitamente o fato a norma penal, com o delito
exposto.
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