Você está na página 1de 72

FACULDADE ALDETE MARIA ALVES

LUIS GOUVEIA TEIXEIRA

ALIMENTOS PROVISIONAIS E PROVISÓRIOS

ITURAMA
2007
LUIS GOUVEIA TEIXEIRA

ALIMENTOS PROVISIONAIS E PROVISÓRIOS

Monografia apresentada como requisito


parcial para conclusão do curso de Direito,
da Faculdade Aldete Maria Alves, sob
orientação do Professor Juliano Gil Pereira

ITURAMA
2007
LUIS GOUVEIA TEIXEIRA

ALIMENTOS PROVISIONAIS E PROVISÓRIOS

Monografia apresentada como requisito


parcial para conclusão do curso de Direito,
da Faculdade Aldete Maria Alves, sob
orientação do Professor Juliano Gil Pereira.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________
Orientador: Professor Juliano Gil

___________________________________________________________________________
Professor:

___________________________________________________________________________
Professor:

Iturama: _____ de _____________________de 2007.


Dedico este trabalho à minha família, representados
pelo meu pai e minha mãe. Á meus filhos.
AGRADECIMENTOS

Aos meus professores, que durante o transcorrer do curso me fizeram crescer

como pessoa, transmitindo da melhor forma possível seus conhecimentos, e especialmente aos

professores Janaína dos Reis Guimarães e Juliano Gil, pela paciência e por transmitir para

mim tanta segurança e sabedoria.

À diretoria da Faculdade Aldete Maria Alves, que me deu esta oportunidade.

Aos meus amigos por caminharem ao meu lado durante estes anos e pela

sincera amizade.
“Não importa onde você parou, em que momento da
vida você cansou. Recomeçar é dar uma nova
chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida
e o mais importante, acreditar em você de novo”.

Carlos Drummond de Andrade


RESUMO

O objeto desta monografia recaiu no Instituto dos Alimentos, com ênfase para o Instituto dos
Alimentos provisionais e para os Alimentos provisórios. Seu objetivo geral é verificar, com
base, principalmente, na doutrina e legislação brasileira, os Institutos dos Alimentos, com
enfoque aos Alimentos provisionais e os Alimentos provisórios. Constituem objetivos
específicos: obter dados históricos e atuais sobre o Instituto dos Alimentos, a partir da
doutrina e legislação pátria. Aprofundar o conhecimento nos Institutos dos Alimentos
provisionais e Alimentos provisórios. O método empregado foi o indutivo, operacionalizado
pelas técnicas do referente, das categorias e conceitos operacionais e da pesquisa
bibliográfica. Para atingir os objetivos propostos (o geral e os específicos), o trabalho
monográfico foi dividido em três capítulos. Ao final, verificou-se que os Alimentos
provisionais e os Alimentos provisórios possuem algumas diferenciações.

PALAVRAS-CHAVE: Poder Familiar; Alimentos Provisionais; Alimentos Provisórios..


ABSTRACT

The object of this monograph fell again into the Institute of Foods, with emphasis for the
Institute of Provisional alimonies and for Maintenance pending suits. Its general objective is
to verify, with base, mainly, in the doctrine and Brazilian legislation, the Justinian codes of
Foods, with approach to Provisional alimonies and Maintenance pending suits. They
constitute specific objectives: to get historical and current data on the Institute of Foods, from
the doctrine and native legislation. To deepen the knowledge in the Justinian codes of
Provisional alimonies and Maintenance pending suits. The employed method was the
inductive one, operacionalizado for the techniques of the referring one, the operational
categories and concepts and the bibliographical research. To reach the considered objectives
(the generality and the specific ones), the monographic work was divided in three chapters.
To the end, it was verified that the Provisional alimonies and the Maintenance pending suits
possess some differentiations.

KEY-WORDS: To be able Familiar; Provisional alimonies; Maintenance pending suits.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo

CC Código Civil

CCB Código Civil Brasileiro

CF Constituição Federal

CPC Código de Processo Civil

DEC. LEI Decreto Lei

EX. Exemplo

TIT. Titulo
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................10
CAPÍTULO I - ASPECTOS GENÉRICOS DO INSTITUTO DOS ALIMENTOS.......................................12
1.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................12
1.2 ORIGEM HISTÓRICA DOS ALIMENTOS...............................................................................................................13
1.2.1 IDADE ANTIGA................................................................................................................................................13
1.2.2 IDADE MÉDIA.................................................................................................................................................14
1.3 CONCEITUAÇÃO DE ALIMENTOS E OBRIGAÇÃO ALIMENTAR............................................................................15
1.3.1 ALIMENTOS.....................................................................................................................................................15
1.3.2 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR NO DIREITO BRASILEIRO........................................................................................17
1.3.3 PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.................................................................................................20
1.4 MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES ALIMENTARES................................................................................................21
1.5 NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO AOS ALIMENTOS...........................................................................................22
1.6 CAUSA JURÍDICA...............................................................................................................................................23
1.7 FINALIDADE.......................................................................................................................................................23
1.8 MOMENTO DA PRESTAÇÃO................................................................................................................................24
1.9 MODALIDADE DA PRESTAÇÃO...........................................................................................................................25
1.10 CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS.................................................................................................................26
CAPÍTULO II – ALIMENTOS ENTRE PARENTES, CÔNJUGES E COMPANHEIROS NO DIREITO
BRASILEIRO........................................................................................................................................................29
2.1 O PARENTESCO E O INSTITUTO DOS ALIMENTOS..............................................................................................29
2.1.1 OS PARENTES QUE DETÊM O DIREITO DE PLEITEAR ALIMENTOS....................................................................29
2.1.2 PESSOAS OBRIGADAS A PRESTAR ALIMENTOS AOS PARENTES........................................................................31
2.1.4 ALIMENTOS AOS FILHOS MENORES.................................................................................................................34
2.1.5 ALIMENTOS AOS FILHOS MAIORES, PAIS E IRMÃOS........................................................................................36
2.2 ALIMENTOS DECORRENTES DO CASAMENTO E DA UNIÃO ESTÁVEL..................................................................37
2.2.1 ALIMENTOS E CULPA PELA SEPARAÇÃO JUDICIAL OU DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL...............................40
2.2.2 IMPOSSIBILIDADE DE RENÚNCIA AOS ALIMENTOS..........................................................................................43
2.3 MODOS DE SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.......................................................................................44
2.4 ALIMENTOS PROVISÓRIOS NA UNIÃO ESTÁVEL..................................................................................................45
2.5 GARANTIAS PARA O PAGAMENTO DA PENSÃO...................................................................................................46
2.6 EXTINÇÃO DO PAGAMENTO DA PENSÃO............................................................................................................49
CAPÍTULO III – QUESTÕES PROCESSUAIS...............................................................................................51
3.1 O PROCESSO CAUTELAR E OS ALIMENTOS PROVISIONAIS:...............................................................................51
3.1.1 PROCESSO CAUTELAR E MEDIDAS CAUTELARES: BASES CONCEITUAIS GENÉRICAS.......................................51
3.1.2 ALIMENTOS PROVISIONAIS COMO PROCEDIMENTO CAUTELAR ESPECÍFICO....................................................52
3.1.2.1 FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA: REQUISITOS FUNDAMENTAIS DOS ALIMENTOS PROVISIONAIS...55
3.1.2.2 O DEFERIMENTO LIMINAR, POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO OU REVOGAÇÃO..........................................56
3.2 ALIMENTOS PROVISÓRIOS.................................................................................................................................57
3.2.1 CONCEITUAÇÃO E PRESSUPOSTOS JURÍDICOS.................................................................................................57
3.2.2 RITO ESPECIAL, JUÍZO COMPETENTE, TERMO INICIAL E FINAL DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS......................59
3.2.3 A FIXAÇÃO DO MONTANTE DA PENSÃO ALIMENTÍCIA PROVISÓRIA E ALTERAÇÃO.........................................60
3.2.4 ALIMENTOS PROVISÓRIOS EM AÇÕES REVISIONAIS........................................................................................62
3.3 ALIMENTOS PROVISIONAIS E ALIMENTOS PROVISÓRIOS: ALGUMAS DIFERENCIAÇÕES......................................63
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................................................65
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................67
INTRODUÇÃO

Esta Monografia tem como objeto a análise do Instituto dos Alimentos, enfatizando os
Institutos dos Alimentos provisionais e os Alimentos provisórios no Direito Brasileiro.
Seus objetivos são: a) institucional: produzir uma monografia para obtenção do grau
de bacharel em Direito; b) geral: verificar, com base, principalmente, na doutrina e legislação
brasileira, os Institutos dos Alimentos, com enfoque aos Alimentos provisionais e os
Alimentos provisórios; c) específicos: obter dados históricos e atuais sobre o Instituto dos
Alimentos, a partir da doutrina e legislação pátria; aprofundar o conhecimento nos Institutos
dos Alimentos provisionais e os Alimentos provisórios.
A opção pelo tema deu-se ao grande interesse do acadêmico pelo vigente Direito de
Família brasileiro, levando-o a aprofundar seu conhecimento no Instituto dos Alimentos.
A monografia se encontra dividida em três capítulos. Para tanto, principia-se, no
Capítulo 1, tratando dos Aspectos Genéricos do Instituto dos Alimentos, desde o
conhecimento histórico do tema até os tempos atuais, suas bases conceituais, critérios de
classificação, bem como suas características.
No Capítulo 2, trata dos Alimentos entre Parentes, Cônjuges e Companheiros no
direito brasileiro, expõe um breve histórico, seus conceitos, bem como o Parentesco e o
Instituto dos Alimentos, os Alimentos oriundos da dissolução do Casamento e da União
estável, modos de satisfação da Obrigação alimentar, garantias para pagamento da pensão e a
extinção do pagamento da pensão.
No Capítulo 3, por sua vez, trata especificamente dos Alimentos provisionais e
Alimentos provisórios no direito brasileiro, conceitos, pressupostos, processo cautelar,
requisitos fundamentais, deferimento liminar, possibilidade de modificação ou revogação, rito
, juízo competente, termo inicial e final, fixação do montante, e se finda com algumas
diferenciações dos Alimentos provisionais e os Alimentos provisórios.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: a) A Obrigação
alimentar decorre do dever de sustento ou de assistência que existe entre Cônjuges,
Companheiros e entre Parentes – consangüíneos -, nos casos previstos em lei. b) Alimentos
provisórios e Alimentos provisionais, apesar de possuírem em comum a característica de
“provisoriedade”, tratam-se de institutos jurídicos diferenciados.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais
são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos
estudos e das reflexões sobre a Obrigação alimentar.
10

CAPÍTULO I - ASPECTOS GENÉRICOS DO INSTITUTO DOS ALIMENTOS

1.1 Introdução

A Obrigação alimentar constitui matéria que interessa ao Estado, à sociedade e à


Família. De fato, sobre a terra, o indivíduo tem inauferível direito de conservar a própria
existência, a fim de atingir seu aperfeiçoamento moral e espiritual. (MONTEIRO, 1993,
p.289)
No entanto, todo o indivíduo tem direito à subsistência, quem não pode prover a sua,
não será deixado à própria sorte. A sociedade há de propiciar-lhe sobrevivência. Pereira
(1999, p.275-276) menciona que “Ao Poder Público compete desenvolver a assistência social,
estimular o seguro, tomar medidas defensivas e adequadas”. É o que dispõe o art. 6º da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que diz: “São direitos sociais, a
educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Doravante denominada Constituição Federal”.
Cahali (1999, p.30-31) relata que:

Desde o momento da concepção, o ser humano – por sua estrutura e natureza – é um


ser carente por excelência; ainda no colo materno, ou já fora dele, a sua
incapacidade ingênita de produzir os meios necessários à sua manutenção faz como
que se lhe reconheça, por um principio natural jamais questionado, o superior direito
de ser nutrido pelos responsáveis por sua geração. Mas, atingindo o ser humano o
seu desenvolvimento completo, o adulto, este assume, em principio, a
responsabilidade por sua subsistência; deveria cessar, então para ele, o direito de
reclamar de quem quer que seja a prestação daquilo que é necessário para a sua
manutenção.

No entender do autor, ainda no colo materno o ser humano tem direito de ser
“alimentado” pelos responsáveis por sua origem, bem como, de se desenvolver
completamente, desta forma, os responsáveis ostentam a prestação daquilo que é
indispensável para o seu sustento.
Nesta temática prossegue Viana (1998, p.100):
11

À medida que o tráfico social se tornou mais complexo, que o Estado assumiu
muitas daquelas funções, a de cunho assistencial modificou-se, mas foi mantido na
família o socorro aos Parentes, pelo Instituto dos Alimentos. O Estado toma a si a
assistência social, é responsável pelo serviço de saúde, tarefas que tem cumprido de
forma sempre insatisfatória. Cumpre-lhe velar para que não falte trabalho e meio de
vida para todos, mas à Família, nos limites do Parentesco que a lei determina, tem
papel preponderante na preservação da vida humana. Esse papel é desempenhado
pelos Alimentos.

No entendimento dos doutrinadores, a conservação da espécie humana frente à


Obrigação alimentar deverá ter o interesse do Estado, da sociedade e da família.

1.2 Origem Histórica dos Alimentos

1.2.1 Idade Antiga

Nesta época, mais precisamente em Roma Antiga, já ocorria uma obrigação na figura
dos Alimentos, todavia, eram eles tratados apenas como um dever moral.
Segundo Áurea Pimentel Pereira (1998, p.2), nos primórdios da civilização, os
Alimentos constituíam dever moral, sendo considerados pietatis causa, sem regra jurídica a
impor-lhes a prestação. Ressalta Viana (1998, p.275) que existiu “no direito romano o
officium pietatis, em que se destacava o aspecto moral do instituto, o dever em que os
Parentes estavam de socorrer nas adversidades”.
Conforme observa Segré citado por Cahali (1999, p.43), referendado por outros
autores, no Direito Romano, a Obrigação alimentar foi estatuída inicialmente nas relações de
clientela e patronato, vindo a ter aplicação muito tardia (na época imperial) nas relações de
Família.
Omissão esta que foi reflexo da própria constituição da Família romana antiga, que
subsistiu durante todo período arcaico e republicano; um direito a Alimentos resultante de
uma relação de Parentesco seria até mesmo sem sentido, tendo em vista que o único vínculo
existente entre os integrantes do grupo familiar seria o vínculo derivado do pátrio poder.
(CAHALI, 1999, p.44)
No entender de Cahali (1999, p.43), “a doutrina mostra-se uniforme no sentido de que
a obrigação alimentícia fundada sobre as relações de família não é mencionada nos primeiros
momentos da legislação romana”.
Segundo Venosa (2003, p.372):
12

No Direito Romano clássico, a concepção de Alimentos não era conhecida. A


própria estrutura da Família romana, sob a direção do pater famílias, que tinha sob
seu manto e condução todos os demais membros, os alieni juris, não permitia o
reconhecimento dessa obrigação.

Possivelmente, só a partir do principado, constatou-se a Obrigação alimentar,


fundamentando-se em várias causas: a) na convenção; b) no testamento; c) na relação
familiar; d) na relação de patronato; e) na tutela.
Neste sentido, complementa Cahali (1999, p.44-45):

Não há uma determinação precisa do momento histórico a partir do qual essa


estrutura foi se permeabilizando no sentido do reconhecimento da Obrigação
alimentar no contexto da Família. Terá sido a partir do principado, em
concomitância com a progressiva afirmação de um conceito de Família em que o
vínculo de sangue adquire uma importância maior, quando então se assiste a uma
pauliana transformação do dever moral de socorro, embora largamente sentido, em
obrigação jurídica própria, a que corresponderia o direito alimentar, tutelável através
da cognitio extra ordinem; a controvérsia então se desloca para a extensão das
pessoas vinculadas à Obrigação alimentar.

Observou-se, assim, que os doutrinadores comungam do mesmo entendimento: no


Direito Romano Antigo a Obrigação alimentar era considerada mais exatamente um dever
moral, não existindo norma regulamentar para a sua prestação.

1.2.2 Idade Média

No início da Idade Média, segundo Cahali (1999, p.47) porém: “dilargou


substancialmente o âmbito das Obrigações alimentares, inclusive na esfera de relações
extrafamiliares”.
Para Covello (1992, p.4), na época de Justiniano, foram reconhecidas obrigações
recíprocas entre ascendentes em linha reta, que pode ser vista como ponto de partida.
Complemente o autor:
13

[...] foi reconhecida à Obrigação alimentar entre ascendentes, em linha reta até o
infinito, no âmbito da Família legítima, excluídas as hipóteses ex nefariis vel incestis
vel damnatis complexibus, admitindo-se a existência da obrigação entre irmãos,
advindo, possivelmente, desta fase, o estabelecimento da Obrigação alimentar, à
linha colateral.

Neste mesmo pensamento Cahali (1999, p.47), assim leciona:

[...] da síntese feita por Orestano, extraem-se os seguintes aspectos fundamentais: no


plano das relações determinadas pelo vínculo de sangue, um texto, que em realidade
se referia aos libeli naturales do direito justinianeu, inexatamente interpretado, terá
sido o ponto de partida para o reconhecimento do direito de Alimentos também aos
filhos espúrios em relação ao Companheiro da mãe durante o período de gravidez,
sem que se pudesse invocar, para excluí-lo, [...] a Obrigação alimentar poderia
originar-se, para além do vínculo de sangue, de outras relações “quase religiosas”,
como o clericato, o monastério e o patronato; a igreja teria obrigação de dar
alimentos ao asilado; questionava-se entre os canonistas se haveria uma Obrigação
alimentar entre tio e sobrinho, ou entre o padrinho e o afilhado, em razão do vínculo
espiritual.

Covello (1992, p.4) prossegue esclarecendo que:

No Direito Canônico, o instituto dos Alimentos encontra seu mais amplo


desenvolvimento, pois tais corpos normativos, inspirados nos princípios
evangélicos, estenderam esse direito à Família ilegítima, aos Parentes meramente
civil, e mesmo espiritualmente.

Assim, a Obrigação alimentar, que era puramente um dever moral no direito romano,
sofreu uma transformação, sob influência de vários fatores, tornou-se uma obrigação jurídica,
ou seja, passou a ser um dever legal.

1.3 Conceituação de Alimentos e Obrigação Alimentar

1.3.1 Alimentos

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita de amparo de seus
semelhantes e de bens essenciais ou necessários para a sobrevivência. Nesse aspecto, realça-
14

se a necessidade de alimentos. Desse modo, o termo alimentos pode ser entendido segundo
Venosa (2006, p.375) “como tudo aquilo necessário para sua subsistência”.
Acrescenta-se a essa noção o conceito de obrigação que tem uma pessoa de fornecer
esses alimentos a outra e chega-se facilmente à noção jurídica.
Várias têm sido as conceituações elaboradas pelos juristas ao Instituto dos Alimentos,
sendo que todos chegam a um mesmo entendimento, ou seja, Alimentos são tudo aquilo que é
necessário a uma pessoa para o seu sustento. Inclui alimentação, moradia, vestuário,
tratamento médico (bem como odontológico etc.), educação e instrução. (CAHALI, 1999,
p.51)
O Código Civil, no capítulo específico (arts. 1.694 a 1.710), não se preocupou em
definir o que se entende por alimentos. Porém, no art. 1.920, encontra-se o conteúdo legal de
alimentos quando a lei refere-se ao legado: “O legado de alimentos abrange o sustento, a cura,
o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor”.
Alimentos, prestação pecuniária ou na espécie, no entender de Viana (1998, p. 102):

Em linguagem jurídica, Alimentos constituem as prestações em dinheiro ou em


espécie, fornecidas por uma pessoa a outra para que ela possa viver. Eles envolvem
tudo aquilo que o ser humano necessita para sua sobrevivência e para sua preparação
para a vida. O seu conteúdo abarca, assim, o necessário à subsistência, os
denominados alimentos naturais, aqui incluído alimentação, vestuário, habilitação, e
os alimentos civis, que contempla o necessário à instrução e educação.

Sobre os Alimentos naturais e civis; serão abordados, com mais profundidade no item
alusivo à natureza jurídica, do instituto em questão.
Pimentel Pereira (1998, p.1) entende que “os Alimentos são apreciados, em princípio,
como representativos do estritamente indispensável à sobrevivência dos Alimentandos”,
advertindo que nas Ordenações Filipinas, incluía, além do Alimento, o vestuário e habitação.
Neste mesmo sentido, Da Luz (2003. p.290), assevera que “os Alimentos, cujo
conteúdo deve abranger o necessário à alimentação, o vestuário, à habitação e educação do
alimentando, têm por escopo, em primeiro lugar, a subsistência e, em segundo, a existência
com dignidade, do Alimentando”.
De acordo com Plácido e Silva (1998, p.135), o sentido jurídico do termo Alimentos
abrange:
15

Pensões, ordenados, ou quaisquer quantias concedidas ou dadas, a titulo de provisão,


assistência ou manutenção, a uma pessoa por outra que, por força de lei, é obrigada a
prover às suas necessidades alimentícias e de habitação. Em regra os Alimentos são
prestados por uma soma de dinheiro; mas, excepcionalmente, podem ser prestados
“in natura”, isto e, no próprio fornecimento dos gêneros alimentícios e de outras
utilidades indisponíveis ao alimentado. A prestação alimentícia alcança não somente
a subsistência material do alimentado, como lhe cabe ser educado e instituído,
quando menor, e vestido pelo alimentado.

Alimentos, no núcleo familiar, vêm sob a forma de obrigação ou de dever de sustento.


A distinção tem importantes conseqüências práticas. Na Constituição Federal e no diploma
civil, encontra-se estatuído que a assistência à criança e ao adolescente é dever da família. Os
deveres familiares não se orientam pelos pressupostos que informam a Obrigação alimentar.
O dever é cumprido de forma incondicional, bastando apenas que o titular do direito aos
Alimentos esteja alinhado no seu universo. (VIANA, p.103)
Conhecendo essas manifestações dos doutrinadores sobre a conceituação jurídica de
“Alimentos”, difícil será formular um conceito preciso, por se tratar de um instituto
complexo. Contudo, seguindo as noções emitidas por Magalhães, Malta, Viana, Miranda, Da
Luz e Silva, bem como o próprio Código Civil, pode-se conceituar Alimentos, em um
primeiro momento, como sendo tudo aquilo que é necessário para o sustento de uma pessoa,
seja esta necessidade: alimentação, habitação, vestuário, despesas médicas e educação.

1.3.2 Obrigação alimentar no Direito Brasileiro

A obrigação legal de prestar alimentos existe entre os parentes, na graduação e


condições estabelecidas pela lei, constituindo um dos aspectos das relações patrimoniais
pertencentes ao direito de família.
Frente ao Direito Brasileiro, a Obrigação alimentar teve seu surgimento, mais
exatamente, no direito português, como dispõe Contijo (1995, p.78-93):

[...] o direito português regia-se pelas Ordenações Manuelinas e, logo depois, pelas
Ordenações Filipinas que disciplinaram toda a Península Ibérica e com ela as
colônias portuguesas, transmudando o direito brasileiro. Não houve alteração
significativa quanto às raízes fincadas sempre no direito canônico e no horror à
Família ilegítima, em especial à adulterina. Esta eficácia das Ordenações Filipinas
perdurou praticamente até o Código Civil.
16

A obrigação alimentar compreende tudo quando for necessário para o sustento,


vestuário, habitação, cuidado da saúde.
Em se tratando de menores, além da criação, cumpre atender às despesas de educação,
as quais, entretanto, não se incluem no conceito de obrigação alimentar.
Ribeiro (1998, p.33-42), nesta mesma linha de pensamento, apresenta seu estudo
quanto ao surgimento da Obrigação alimentar no direito brasileiro, mostrando que “após a
descoberta pelos portugueses em 1.500, o Brasil ficou sob o jugo de Portugal, até a data da
proclamação da República, sendo que a legislação portuguesa perdurou em grande parte, até a
promulgação do Código Civil, contendo preceitos rígidos no campo do Direito de Família”.
Nesta mesma temática, Cahali (1999, p.48-49) aduz que:

Nas Ordenações Filipinas, o texto mais expressivo a respeito da Obrigação alimentar


(pelo menos o mais citado na doutrina) encontra-se no Liv. 1, Tit. LXXXVIII, 15, na
medida em que, embora provendo sobre a proteção orfanológica, traz a indicação
dos elementos que comporiam a obrigação: “Se alguns órfãos forem filho de tais
pessoas, o Juiz lhes ordenará o que lhes necessário for para seu mantimento, vestido
e calçado, e tudo mais em cada um ano. E mandará ensinar a ler e escrever aqueles,
que forem para isso, até a idade de 12 anos. E daí em diante lhes ordenará sua vida e
ensino”.

Nessa fase, segundo Cahali (1999, p.49), é apresentado um dos documentos jurídicos
mais importantes sobre o instituto em questão, representado pelo Assento de 09/04/1772,
apregoando ser dever de cada um alimentar e sustentar a si mesmo, fundando “algumas
exceções àquele princípio em certos casos de descendentes legítimos e ilegítimos;
ascendentes, transversais, irmãos legítimos e irmãos ilegítimos, primos e outros
consangüíneos legítimos, primos e outros consangüíneos ilegítimos”.
Referido Assento, que recebeu eficácia e autoridade de lei por meio do Alvará de
29.08.1776, revela-se minucioso e detalhista, restando atualmente apenas como documento
histórico. (CAHALI, 1999, p.49)
O Código Civil de 1916 preocupou-se em debater a Obrigação alimentar frente à
família, como resultado jurídico do Casamento, inserindo-a entre os deveres dos Cônjuges sob
formato de mútuo amparo, como preconizava o art. 231, inciso III, ou de sustento e educação
dos filhos em seu art. 231, inciso IV, bem como o dever em decorrência das relações de
Parentesco em seu art. 396 e seguintes. (CAHALI, 1999, p.51)
17

Através de múltiplas alterações, algumas atribuídas em razão da reformulação por


ativa elaboração jurisprudencial, foram introduzidas no ordenamento jurídico um complexo
de lei extravagantes, frente às obrigações alimentares. Segundo Cahali (1999, p.51-52) são
elas:

Tivemos, assim, o Dec. Lei 3.200/41 (Lei de Proteção à Família), preconizando em


seu art. 7º o desconto em folha da pensão alimentícia, igualmente o Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis (Lei 1.711/52, art 126); Estatuto dos Funcionários
Públicos Militares (Dec. Lei 9.698/46, art. 40); a Lei 968/49, instituindo a tentativa
de acordo nas causas de desquite litigioso e alimentos, inclusive os provisionais (art.
1º); a Lei 883/49, cuidando dos alimentos provisionais em favor do filho ilegítimo
reconhecimento pela sentença de primeira instância; a Lei 5.478/68, que dispõe
sobre a ação de alimentos; a Lei 8791/94 que regula o direito dos companheiros a
alimentos e à sucessão , logo se lhe seguindo a Lei 9278/96 que regula o § 3º do art.
226 da Constituição Federal, e que também dispôs a respeito de obrigação alimentar
entre conviventes.

Por fim, completada esta etapa alusiva ao histórico da Obrigação alimentar no Brasil
até os dias atuais, nos próximos itens, passar-se-á à verificação dos pressupostos da Obrigação
alimentar, bem como dos Alimentos no direito brasileiro vigente.
Pereira (1998, p.22) conceitua a Obrigação alimentar no direito de família como sendo
um cumprimento decretado, nas hipóteses prevista em lei, “ora por direito de sangue (iure
sanguinis), vale dizer por força de relação de parentesco, ora com base em relação jurídica
decorrente do casamento (iure conjugii), ou ainda, como obrigação inerente ao pátrio poder”.
Mesmo os Alimentos sendo devidos por iure sanguinis e iure conjugii ou decorrentes do
poder familiar, deve-se ter em mente que a prestação devida, em princípio, deve ser feita em
dinheiro, podendo, todavia, exclusivamente, ser prestada através de concessão.
Neste mesmo entendimento, Magalhães e Malta (1990, p.639) ponderam que a
Obrigação alimentar ocorre da “existência entre cônjuges e entre parentes no sentido de que
uns sustentem os outros nos casos previstos na lei (Direito de Família). Ex: a obrigação de
manter um filho menor ou inválido”.
Em sentido estrito, Viana (1998, p.104-105) salienta que a Obrigação alimentar
tipifica-se com a ocorrência dos seguintes requisitos ou pressupostos:

a) vínculo de parentesco entre o credor e o devedor; b) o estado de miserabilidade do


credor; c) a condição econômico-financeira do devedor; d) a proporcionalidade, na
18

sua fixação, entre as necessidades do credor (estado de miserabilidade) e os recursos


do devedor (condição econômica financeira).

Vínculo de parentesco, para Viana (1998, p.105), ocorre entre pais e filhos,
mutuamente; na ausência destes, aos ascendentes, na ordem de proximidade; na sua falta aos
descendentes na ordem de proximidade e os irmãos, sejam estes germanos ou unilaterais.
Neste mesmo entendimento, salienta, Diniz (1995, p.319), são os ascendentes; descendentes
maiores; irmãos germanos ou unilaterais que são obrigados entre si a prestar Alimentos.
Com relação ao Estado de miserabilidade do credor, para Diniz (1995, p.319), o
Alimentando, além de não ter bens suficientes, também não tem capacidade de prover a
própria subsistência. Viana (1998, p.105), nesta mesma linha de raciocínio, diz que, aquele
que demanda Alimentos deve comprovar a impossibilidade de se sustentar, salvo se menor de
idade for, pois, neste caso, a Obrigação alimentar se origina de um dever de sustento dos
genitores.
Sobre a Condição econômico-financeira do devedor, Viana (1998, p.108), salienta que
o devedor deve estar em condição de acolher ao pedido de Alimentos. Já Diniz (1995, p.320)
ensina que é preciso conferir a capacidade financeira do devedor para que o mesmo cumpra
tal obrigação.
Frente à proporcionalidade na sua fixação, Diniz (1995, p.320), em breve análise,
leciona que a proporcionalidade deverá ser feita em cada caso, levando-se em consideração
que os Alimentos são concedidos conforme a necessidade. Também neste entendimento,
Viana (1998, p.111) salienta que os Alimentos, quanto à proporcionalidade, são fixados
considerando-se a necessidade do credor e os recursos do devedor.
Destacam-se no Código Civil, o art. 1.694 e seus parágrafos os requisitos ou
pressupostos da Obrigação alimentar, anteriormente descriminados:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e
dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação
de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
19

Não havendo culpa, a prestação alimentícia abrangerá não só o quantum destinado à


sobrevivência do alimentando, mas também a verba para o vestuário, lazer, educação, etc.,
devendo ser compatível com a condição social.

1.3.3 Pressupostos da Obrigação Alimentar

Com ênfase na Obrigação alimentar, preceitua o art. 1.695 do Código Civil:

Art. 1695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens
suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de
quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.

O dispositivo coroa o princípio básico da obrigação alimentar pelo qual o montante


dos alimentos deve ser fixado de acordo com as necessidades do alimentando e as
possibilidades do alimentante, complementando pelo art. 1.694, § 1º. Eis a regra fundamental
dos chamados alimentos civis: “Os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.
Segundo Venosa (2006, p.378):

Não podemos pretender que o fornecedor de alimentos fique entregue à necessidade,


nem que o necessitado se locuplete a sua custa. Cabe ao juiz ponderar os dois
valores de ordem axiológica em destaque. Destarte, só pode reclamar alimentos
quem comprovar que não pode sustentar-se com seu próprio esforço.

Assim, não podem os alimentos converter-se em prêmio para os néscios e


descomprometidos com a vida. Se, no entanto, o alimentando encontra-se em situação de
penúria, ainda que por ele causada, poderá pedir alimentos.
Complementa Viana (1998, p.277) que existem os Alimentos decorrentes da
Obrigação alimentar e aqueles fundados no dever familiar, os quais não devemos confundir. O
primeiro, ou seja, a Obrigação alimentar é decorrente do jus sanguinis, fundada no parentesco,
já o dever familiar ou dever de sustento, é a assistência e socorro entre os cônjuges, entre
companheiros e entre pais em relação aos filhos menores. Todavia, neste estudo, será
20

utilizado o termo “Obrigação alimentar” em seu sentido genérico, conforme ensinamento de


Pereira, mencionado no inicio deste item.

1.4 Modalidades de obrigações alimentares

Os alimentos ora enfocados são aqueles derivados de direito de família, do casamento,


e do companheirismo, portanto obrigação legal, como estatui o art. 1.694 do Código Civil.
O Projeto nº 6.960/2002 tentou modificar o final dessa redação para dizer que os
alimentos devem servir para a pessoa “viver com dignidade”. No entanto, os alimentos, com a
mesma compreensão básica, podem decorrer da vontade, serem instituídos em contrato
gratuito ou oneroso e por testamento, bem como derivar de sentença condenatória decorrente
de responsabilidade civil aquiliana.
Para Venosa (2006, p.381) “Nada impede, embora raro seja, dentro da autonomia da
vontade, que os interessados contratem pensão alimentícia, nem que por testamento ou doação
seja ela atribuída”.
A doutrina (CAHALI, 1999, p.18) classifica os Alimentos segundo vários critérios: I)
quanto à natureza (naturais e civis); II) quanto à causa jurídica (a lei, à vontade, o delito); III)
quanto à finalidade (provisionais e regulares); IV) quanto ao momento da prestação; V)
quanto à modalidade da prestação, espécies estas que serão analisadas com mais profundidade
nos sub-itens que seguem:

1.5 Natureza jurídica do direito aos alimentos

Bastante Controvertida é a questão da natureza jurídica dos alimentos.


Para Cahali (1999, p.19), a natureza dos Alimentos se subdivide em “Alimentos
naturais e Alimentos civis”.
Percebe-se que os necessários à subsistência, o necessarium vitae, como vestuários,
alimentação, são os alimentos denominados naturais; já os necessários à instrução e educação
que abrangem as necessidades intelectuais e morais, o necessarium personae, são os
chamados alimentos civis, sendo que alguns doutrinadores estabelecem nomenclatura
diferente, mas contendo a mesma distinção: Alimentos necessários para aqueles e Alimentos
côngruos para estes.
Neste mesmo patamar, Diniz (1995, p.467-468) salienta que nos Alimentos naturais
está compreendido o estritamente necessário à subsistência, ou seja, alimentação, despesas
21

médicas, vestuário, habitação; já os Alimentos civis concernem a outras necessidades, como


as intelectuais e morais, ou seja, educação, instrução, assistência, recreação.
Assim, tem-se que os Alimentos naturais (necessários), são aqueles básicos à
mantença da vida do ser humano, obedecendo, aos limites necessários para a vida, (art. 1.694,
§ 2º do CCB). Já os Alimentos civis (côngruos), reportam-se a outras necessidades, sendo
estas o próprio estudo e instrução, devendo ser fixados em cada caso específico, (art. 1.694
caput do CCB).
22

1.6 Causa Jurídica

Para Cahali (1999, p.22), a causa jurídica da Obrigação alimentícia poderá resultar da
lei, da vontade ou de algum delito, sendo que estas duas últimas causas, constituem razão de
uma atividade praticada pelo homem. Diniz (1995, p.324), neste diapasão, apenas diferencia a
nomenclatura ao mencionar a existência de Alimentos legítimos, voluntários e ressarcitórios,
respectivamente.
Os Alimentos legítimos, segundo observação de Cahali (1999, p.22), “são os que
decorrem de uma obrigação legal”. No sistema brasileiro são aqueles devidos por direito de
sangue (ex iure sanguinis), em virtude das relações de Parentesco ou familiares, ou em
decorrência do matrimonio ou união estável. Desta forma, só os Alimentos legítimos assim
chamados, inserem-se no Direito de Família.
Já os Alimentos voluntários, são os que decorrem da declaração de vontade, inter
vivos ou causa mortis, brotando-se assim, no direito das obrigações ou no direito das
sucessões.
Cahali (1999, p.23) salienta que os alimentos voluntários, também decorrem “de uma
declaração de vontade, inter vivos ou mortis causa; resultantes ex dispositione hominis,
também chamados obrigacionais, ou prometidos ou deixados”, através de um contrato ou de
disposição de última vontade.
Os Alimentos decorrentes de algum delito, ou seja, os ressarcitórios, são os destinados
a indenizar a vítima por ato ilícito. Para Cahali (1999, p.24), “quanto à Obrigação alimentar
conseqüente da prática de ato ilícito, representa ela uma forma de indenização do dano ex
delicto”.
Em síntese, a causa jurídica dos Alimentos pode decorrer de uma obrigação legal, de
uma declaração de vontade ou de algum ato ilícito, sendo que para as decorrentes da lei
devem existir uma relação de Parentesco ou familiar. No tocante à vontade, poderá ser
declarada entre as pessoas vivas e as pessoas mortas, através do direito de obrigação ou
sucessão. Já no ato ilícito, vê-se a possibilidade de indenização da vítima ou seus parentes.

1.7 Finalidade

Quanto à finalidade, os alimentos são classificados como provisórios ou provisionais e


regulares ou definitivos.
23

Para Diniz (1995, p.323) são provisórios ou provisionais os Alimentos “se concedidos
ao mesmo tempo, ou antes, da ação de Separação judicial, de nulidade ou anulação de
Casamento ou de Alimentos, para manter o suplicante a sua prole na pendência da lide”.
Neste mesmo pensamento segue Cahali (1999, p.28):

Dizem-se provisionais, provisórios ou in litem os Alimentos que, precedendo ou


concomitantemente à ação de Separação judicial, de Divórcio, de nulidade ou de
anulação do Casamento, ou ainda à própria ação de Alimentos, são concedidos para
a manutenção do suplicante, ou de sua prole, na pendência do processo,
compreendendo também o necessário para cobrir as despesas da lide.

Conforme destaca Covello (1992, p.2), não se pode confundir alimentos provisionais e
provisórios, uma vez que apesar de serem sinônimos, o adjetivo “provisionais” é para dar
nome a uma das ações cautelares previstas no Código de Processo Civil (ação de Alimentos
provisionais), sendo que o adjetivo “provisório” trata dos alimentos fixados no início do
conflito, seja especial ou cautelar. Este assunto será tratado com mais profundidade no
capítulo três deste trabalho.
Já os alimentos regulares ou definitivos, no entender de Cahali (1999, p.28) e Diniz
(1995, p.323), são aqueles estabelecidos pelo magistrado ou através de acordo pelas partes,
com prestações periódicas, de caráter permanente, sendo sujeitos à revisão do quantum.
Venosa (2006, p.381) relata que:

Denominam-se alimentos provisionais ou provisórios aqueles que precedem ou são


concomitantes a uma demanda de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulação
de casamento, ou mesmo ação de alimentos.

Assim, a finalidade dos alimentos é propiciar meios para que a ação seja proposta e
prover a mantença do alimentando e seus dependentes durante o curso do processo.

1.8 Momento da prestação

O momento da prestação ou o momento em que são reclamados, os Alimentos


classifica-se em alimenta futura ou alimenta pretérita, ou seja, Alimentos futuros e Alimentos
pretéritos.
24

Para Cahali (1999, p.28), os Alimentos futuros, “são os Alimentos que se prestam em
virtude de decisão judicial ou acordo, e a partir dela: Alimentos pretéritos são aqueles
constituídos em momento anterior ao pacto da pretensão das partes ou determinação judicial”.
No entanto, esta diferença tem importância na decisão do termo a quo a partir do qual o
sustento torna-se exigível.
Nesta mesma linha Assis (1998, p.103):

Os Alimentos futuros são os que se prestam em virtude de sentença, transita em


julgado e a partir da coisa julgada, ou em virtude de acordo e a partir deste. E
pretéritos são Alimentos anteriores a esses momentos, e acumulados, considerando a
oportunidade da sua constituição e a da exigência mediante demanda executiva.

Gonçalves (2003, p.134) leciona que no momento da prestação, os Alimentos


classificam-se em pretéritos, atuais e futuros. “São pretéritos quando o pedido retroage a
período anterior ao ajuizamento da ação; atuais, os postulados a partir do ajuizamento; e
futuros, os Alimentos devidos somente a partir da sentença. O direito brasileiro só admite os
Alimentos atuais e futuros”.

1.9 Modalidade da prestação

Destaca-se neste subtítulo a existência de duas modalidades de prestação, a Obrigação


alimentar própria e a imprópria.
Cahali (1999, p.29) traz a diferença entre a Obrigação alimentar própria e a imprópria:
“a própria se trata da prestação daquilo que é diretamente necessário à manutenção da pessoa.
Já a imprópria, tem como conteúdo o fornecimento dos meios adequados à aquisição de bens
necessários à subsistência”.
Quanto à Obrigação alimentar imprópria, escrevem Azzariti e Martinez citado por
Cahali (1999, p.29), que se perfaz mediante o fornecimento da prestação, sob forma de
pensão, dos meios para obtenção do necessário à vida, assegura-se ao credor um direito de
crédito, que encontra garantia genérica no patrimônio do devedor.
Todo o dito está disposto no art. 1.701 do Código Civil, sendo que a pessoa obrigada a
suprir Alimentos poderá pensionar o credor, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo
do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor. Desta forma, entende-se que
25

a primeira parte do referido artigo trata da Obrigação alimentar imprópria, e a segunda parte,
trata da Obrigação alimentar própria.

1.10 Características fundamentais

Através da natureza publicística das normas disciplinadoras da Obrigação alimentícia,


chega-se às características fundamentais do instituto que são: personalíssimo; irrenunciável;
não transacionável; intransmissível; impenhorável; incompensável; imprescritível e
irretroativo.
A doutrina mais recente não tem encontrado dificuldades em identificar na obrigação
de alimentos uma forma com que se manifesta um dos essenciais direitos da personalidade,
que é o direito à vida, também é especialmente protegido pelo Estado.
Segundo Venosa (2006, p.382) no direito pessoal e instranferível,

Sua titularidade não se transfere, nem se cede a outrem. Embora de natureza pública,
o direito é personalíssimo, pois visa preservar a vida do necessitado. O direito não se
transfere, mas uma vez materializadas as prestações periódicas como objeto da
obrigação, podem elas ser cedidas.

Os alimentos, ou melhor, o direito aos mesmos é irrenunciável. Assim dispõe o art.


1.707 do Código Civil, que diz: “Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou
penhora”.
Nesta interpretação, Viana (1998, p.280) menciona que:

O credor não pode ser forçado a pedir Alimentos, mas lhe é proibido renunciar ao
direito a Alimentos, sendo inválido qualquer documento em que um filho venha se
exonerar de pleitear Alimentos contra o pai, ou seja, a pessoa carente pode deixar de
pedir Alimentos, mas não pode abdicar esse direito.

Não obstante, o respectivo crédito é insuscetível de cessão, ou seja, como ensina Diniz
(1995, p.322), “é intransacionável, não podendo ser objeto de transação o direito de pedir
26

Alimentos (art. 841 do CCB), mas o quantum das prestações vencidas ou vincendas é
transacionável”.
Referente a intransmissibilidade da Obrigação alimentar, Diniz (1995, p.321)
destacava o art. 402 do Código Civil de 1916 que “o credor dos Alimentos só podia reclamá-
los do parente que estivesse obrigado a pagá-los, não podendo exigi-los dos herdeiros do
devedor, se este falecer, porque a estes não se transmitia a Obrigação alimentar”. Contudo,
este artigo foi revogado implicitamente pelo art. 23 da Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de
1977, in verbis: “A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na
forma do artigo 1.796 do Código Civil de 1916”.
Desta forma, rompendo com a tradição jurídica brasileira (art. 402 do Código Civil de
1916), veio o art. 23 da Lei nº 6.515/77 estabelecer que a obrigação de prestar Alimentos
transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1796 do Código Civil de 1916,
“dispondo que a herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a
partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que a herança lhe
coube”. (Cahali, 1999, p.78)
No entanto, pelo regime do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002), a
obrigação de prestar Alimentos continua sendo transmitida aos herdeiros do devedor,
conforme dispõe o art. 1.700, na forma do art. 1.694, ambos da mesma Lei. Destaca-se que,
conforme disposto no art. 1.845 do Código Civil, o Cônjuge também passou a ser herdeiro
necessário, devendo a Obrigação alimentar também ser transmitida ao mesmo.
Em razão da finalidade do instituto, os Alimentos são impenhoráveis. Segundo Venosa
(2006, p.385) “os alimentos não podem ser penhorados (art. 649, II, do CPC). Destinados à
sobrevivência, os créditos de alimentos não podem ser penhorados. Essa impenhorabilidade,
no entanto, não atinge os frutos”.
Com relação a incompensabilidade dos Alimentos, Cahali (1999, p.111) observa-se
que “o crédito alimentar não pode ser compensado em virtude de um sentimento de
humanidade e interesse público; nessas condições, se o devedor da pensão alimentícia se torna
credor de pessoa alimentada, não pode opor-lhe”.
Neste mesmo entendimento, Diniz (2006, p.563) ensina que:

Se admitisse a extinção da obrigação por meio de compensação, privar-se-ia o


alimentando dos meios de sobrevivência, de modo que, nessas condições, se o
devedor da pensão alimentícia tornar-se credor do alimentando, não poderá opor-lhe
o crédito, quando lhe for exigida a obrigação.
27

A tese da imprescritibilidade dos Alimentos destaca que se ainda não exercido por
longo tempo, enquanto vivo, tem o Alimentando direito a demandar do Alimentante recursos
materiais indispensáveis a sua sobrevivência, porém, se seu quantum for fixado,
judicialmente, prescreve em 2 anos as prestações de pensão alimentícia, a partir da data que se
vencerem (art. 206, § 2º do CCB). Segundo Venosa (2006, p.385), “Esse prazo era de cinco
anos no Código anterior (art. 178, § 10, I). O direito a alimentos, contudo, é imprescritível. A
qualquer momento, na vida da pessoa, pode esta vir a necessitar de alimentos”.
A necessidade do momento rege o instituto e faz nascer o direito à ação (actio nata).
Não se subordina, portanto, a um prazo de propositura. No entanto, uma vez fixado
judicialmente o quantum, a partir de então inicia-se o lapso prescricional. A prescrição atinge
paulatinamente cada prestação, à medida que cada uma delas vai atingindo o qüinqüênio, ou o
biênio, a partir da vigência do Código de 2002.
Quanto à irretroatividade, a obrigação de pagar Alimentos não retroage à época
anterior ao ajuizamento da ação. A obrigação somente retroage à citação, conforme já
mencionado anteriormente.
Cahali (1999, p.126), frente à irretroatividade dos Alimentos traz o seguinte
entendimento:

[...] se os Alimentos se destinam a assegurar a vida, é evidente que não se dá


Alimentos correspondentes aos passados; se o Alimentando já viveu, perde a
prestação a sua razão de ser; se a pessoa que tinha o direito de pedir Alimentos não
os reclamou, não deixou por isso de viver e não se torna, pois, necessário sustentá-la
pelo tempo que já decorreu, mas sim para o futuro [...].

Tendo sido observados os aspectos genéricos do instituto dos Alimentos, no próximo


capítulo, tratar-se-á da Obrigação alimentar entre Parentes, Cônjuges e Companheiros sob a
luz do atual direito brasileiro.
28

CAPÍTULO II – ALIMENTOS ENTRE PARENTES, CÔNJUGES E


COMPANHEIROS NO DIREITO BRASILEIRO

2.1 O Parentesco e o Instituto dos Alimentos

2.1.1 Os parentes que detêm o direito de pleitear alimentos

Dentre as variadas espécies de relações humanas, avulta-se o parentesco, seja no


mundo jurídico, seja na vida em sociedade, classificando-se diferentemente e se distribuindo
em categorias, tendo em vista os múltiplos aspectos de dependência.
Parentesco, na visão de Viana (1998, p.139)

Expressa a relação entre pessoas que descendem umas das outras, unidas pelo
sangue; significa, também, a vinculação de uma pessoa aos parentes de seu cônjuge,
tipificando-se a afinidade; por derradeiro, pode resultar da lei, o que se dá com a
adoção, nascendo o parentesco civil.

A família é o núcleo central da sociedade, surgindo fundamentalmente de dois eventos


biológicos, que são a união sexual e a apropriação, levando a dois institutos: matrimônio e
filiação. Mas, cumpre salientar que nem todas as relações familiares restam absorvidas pelo
matrimônio e pela filiação. Sendo, no entanto, procedente a observação no sentido de que,
entre as várias espécies de relações humanas, destaca-se em importância o Parentesco,
despontando em constância no comércio jurídico e na vida social .
Na visão de Cahali (1999, p.725-727):

A afinidade não gera Parentesco, mas apenas uma aliança, que não é poderosa para
criar direito a Alimentos. A doutrina é uniforme no sentido da inadmissibilidade de
Obrigação alimentar entre pessoas ligadas pelo vínculo de afinidade, perante o nosso
direito. Como, por exemplo, a sogra reclamar direito a Alimentos de seu genro.

Desta forma, é possível considerar o Parentesco por consangüinidade, afinidade e


adoção. Neste sentido, discorda-se, em parte da visão de Cahali acima, porque se entende a
afinidade como uma espécie de Parentesco, todavia, concorda-se com o referido autor, no que
pertine a inadmissibilidade da existência de obrigação alimentar entre parentes afins.
29

Discorrendo sobre o assunto, Viana (1998, p.203-204), destaca que:

A consangüinidade é a relação vinculando entre si pessoas que descendem uma das


outras, ou que descendem de um mesmo tronco. Na afinidade, temos o vínculo que
se estabelece entre um Cônjuge e os parentes do outro. Nasce com o Casamento e,
em regra, com a sua extinção pela morte, pela anulação, ou pelo Divórcio, cessa. Já
na adoção é criado o parentesco civil entre o adotante e o adotado. Mas, em certas
circunstâncias, sobrevivem seus efeitos, como se dá no campo dos impedimentos
dirimentes públicos, inibindo o Casamento entre ascendente e descendente por
afinidade (sogro e nora, sogra e genro). A adoção disciplinada pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente tem reflexos mais amplos, porque implica introdução do
adotando na Família do adotante, cessando a filiação biológica.

As espécies de Parentesco se dividem em linhas e graus, sendo que a linha se


subdivide em linha reta e linha colateral ou oblíqua ou transversal.
Para Viana (1998, p.204), “linha é a vinculação de uma pessoa a tronco ancestral
comum”.
Com relação aos parentes em linha reta, o Código Civil em seu art. 1.591, assim
prescreve: “São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na
relação de ascendentes e descendentes”.
Para Venosa (2006, p.219), “A compreensão do parentesco é base para inúmeras
relações de Direito de Família, com repercussões intensas em todos os ramos da ciência
jurídica”.
Sendo assim, são parentes consangüíneos na linha reta ascendente o pai, o avô, o
bisavô etc., e na linha reta descendente, o filho, o neto, o bisneto etc.
Parentesco em linha reta é o que une pessoas que descendem umas das outras, vale
dizer, pessoas que foram procriadas uma de outra diretamente.
Já com relação aos parentes consangüíneos da linha colateral, o Código Civil, em seu
art. 1.592 prescreve: “São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as
pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra”.
Nesta classe, entram os irmãos, os tios, os sobrinhos, os primos, alcançando apenas até
o quarto grau. Diniz (2006, p.428) ensina que “após esse limite, o afastamento é tão grande
que o afeto e a solidariedade não mais servem de apoio às relações de direito”.
Com relação à contagem em graus, Viana (1998, p.205) ensina que grau “é à distância
em gerações, que vai de um a outro parente”. Diniz (2006, p.428) por sua vez, complementa
30

que, “para se saber o grau de Parentesco que há entre um parente em relação ao outro, basta
verificar as gerações que os separam, já que cada geração forma um grau”.
Segundo Diniz (2006, p.428):

Na linha reta, o grau de parentesco é contado pelo número de gerações existentes, ou


seja, de relações existentes entre o genitor e o gerado. Tantos serão os graus quantas
forem às gerações (art. 1.594, 1ª parte): de pai a filho, um grau; de avô a neto, dois
graus, de bisavô a bisneto, três graus; de trisavô a trineto, quatro graus; de tetravô a
tetraneto, cinco graus; de pentavô a pentaneto, seis graus etc. Cada geração um grau.

Na linha colateral, prossegue Viana (1998, p.205):

A contagem é feita tendo em vista o número de gerações. Para se saber o grau de


Parentesco entre duas pessoas, basta subir, contando-se as gerações, até o ascendente
comum, descendendo até o outro parente (art. 1.594, 2ª parte).

Por exemplo: entre dois irmãos há dois graus, porque de um irmão para o pai
(ascendente comum) há um grau, e do pai para o outro irmão, outro grau, o que perfaz dois
graus.
Contam-se os parentes por afinidade conforme as linhas e graus alusivos ao Parentesco
consangüíneo.
Fica desta forma, esclarecido que apenas os parentes consangüíneos estão atrelados
pelo vínculo da solidariedade, em que o dever de amparar os seus membros necessitados deve
ser assumido por todos. Contudo, estão unidos também pelo caráter da reciprocidade, de
maneira que todos são, ao mesmo tempo, potencialmente obrigados e beneficiários da
prestação alimentar.

2.1.2 Pessoas obrigadas a prestar alimentos aos parentes

No tocante aos parentes consangüíneos e o instituto dos Alimentos, o Código Civil,


em seu art. 1.694, estatui que os parentes podem exigir Alimentos uns dos outros.
Viana (1998, p.141) enumera e indica os parentes titulares da pretensão, ou seja,
indica as classes de pessoas que estão, pelo vínculo do Parentesco, obrigadas a prestar
31

alimentos, alinhando: a) pais e filhos, reciprocamente (alimentos entre pais e filhos); b) na


falta destes, os demais ascendentes, na ordem de proximidade (ascendentes); c) os
descendentes, na ordem de proximidade, também (descendentes); d) os irmãos, sejam estes
germanos ou unilaterais (colaterais).
a) pais e filhos, reciprocamente (Alimentos entre pais e filhos): Os Alimentos entre
pais e filhos vêm dispostos na Constituição Federal em seu art. 227, § 6º, que assim prescreve:
“Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Segundo Viana (1998, p.142), “o estudo dos Alimentos entre pais e filhos reclama
abordagem sob três aspectos: I) os Alimentos entre pais e filhos menores; II) Alimentos entre
pais e filhos maiores; III) Alimentos entre filhos e pais velhos, carentes ou enfermos”.
I) Pais e filhos menores: “no tocante aos filhos menores, cabe aos pais alimentá-los,
porque, de acordo com a lei civil, lhes toca indeclinável obrigação de prover a mantença da
prole” (MONTEIRO, 1993, p.291). Não obstante, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em
seu art. 22, estatui o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores pelos pais, sem
vinculação com o Casamento, fundado no fato da paternidade ou maternidade. Nesta mesma
linha, o art. 1.703 do Código Civil prescreve que para a manutenção dos filhos, os Cônjuges,
separados judicialmente, contribuirão na proporção de seus recursos.
Ainda neste contexto, Viana (1998, p.142) assenta que “não se cogita das condições
econômico-financeiras dos pais para que sejam compelidos ao cumprimento dos Alimentos. A
precariedade da condição econômica do pai não o isenta de atender ao filho menor”. Será
obrigado a dividir o pouco que disponha para socorrer à prole. Contudo, o dever familiar é
interrompido com a maioridade, transmudando-se em Obrigação alimentar, se o filho vier a
carecer.
II) Pais e filhos maiores: “cessando o pátrio poder (hoje, poder familiar), com o
advento da maioridade, os Alimentos passam a ser devidos em decorrência de obrigação
alimentícia, e não mais como conseqüência do dever” (VIANA, 1998, p.144). Este está
vinculado ao pátrio poder. Desta forma, interrompe o dever familiar e nasce a obrigação de
sustentar.
Neste mesmo entendimento, Monteiro (1993, p.291) traz que: “a maioridade não põe
ponto final ao direito do filho: concorrendo os pressupostos legais, assiste-lhe o direito de
reclamar Alimentos aos genitores”.
Complementa Viana (1998, p.146) que:
32

O filho maior poderá demandar Alimentos, mas deverá provar a concorrência dos
pressupostos da Obrigação alimentar. Se o filho maior pede Alimentos ao argumento
de que estuda e não tem condições de trabalhar, o pedido merece acolhido. Não se
pode esquecer que cada caso é um caso.

III) Alimentos entre filhos maiores e pais velhos, carentes ou enfermos: neste último
aspecto, o art. 229 da Constituição Federal dispõe que: “os filhos maiores têm o dever de
ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. O diploma civil dispõe que o
direito à prestação de Alimentos é recíproco entre pais e filhos (art. 1.696).
Segundo Viana (1998, p.145) “o pai que se encontre em uma das condições indicadas -
velhice, carência ou enfermidade – impossibilitado de prover ao próprio sustento, é titular do
direito irrenunciável aos Alimentos”.
b) na falta destes, os demais ascendentes, na ordem de proximidade (ascendentes): os
sujeitos da relação jurídico-alimentar não se limitam à condição de pai e filho, havendo
obrigação entre filho, genitores, avós e ascendentes em grau subseqüente, porque em linha
reta inexiste limite de grau, presente a reciprocidade.
Assim, dispõe o art. 1.696 do Código Civil, que: “O direito à prestação de alimentos é
recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos
mais próximos em grau, uns em falta de outros”.
Segundo Venosa (2006, p.386) “existindo vários parentes do mesmo grau, em
condições de alimentar, não existe solidariedade entre eles”.
Complementa Viana (1998, p.147):

O dispositivo legal em estudo dispõe, também, a respeito da ordem sucessiva do


chamamento, o que não significa que os mais próximos excluem os mais remotos,
como se dá em matéria de vocação hereditária. Nada impede que, em havendo os
mais chegados, sejam acionados os mais distantes, se aqueles não estiverem em
condições de atender ao chamamento. A solução não varia quando falta o de grau
mais próximo. Só ocorrendo uma das hipóteses indicadas é que o mais remoto é
convocado.

A obrigação é divisível, podendo cada um concorrer, na medida de suas


possibilidades, com parte do valor devido e adequado ao alimentando. Na falta dos
ascendentes, caberá a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando
estes, aos irmãos, assim germanos, como unilaterais (art. 1.697).
33

c) os descendentes, na ordem de proximidade, também (descendentes): Completando o


dispositivo anterior, o Código Civil, em seu art. 1.697, estatui que na falta de ascendentes a
obrigação cabe aos descendentes, guardada a ordem de sucessão.
Desta forma, em primeiro lugar, cabe a Obrigação alimentar aos filhos maiores de
idade, em segundo os netos igualmente maiores, e assim sucessivamente, prevalecendo a
reciprocidade.
d) os irmãos, sejam estes germanos ou unilaterais (colaterais): Faltando descendentes
são convocados os irmãos, assim germanos, como unilaterais, entre irmãos não há distinção
de qualquer espécie, vigorando a reciprocidade.
Se o credor ajuíza o feito apenas contra um dos devedores, ou seja, contra um dos
vários irmãos que tenha, este responderá somente pela sua cota. O ideal é que a ação venha
contra todos.
Ao mencionar a Obrigação alimentar dos parentes, vários fatores são destacados.
Importante ressaltar que a mesma não decorre apenas da relação entre pais e filhos, mas
também entre ascendentes, descendentes e colaterais de 2º grau, ou seja, busca a prestação
alimentícia dentre vários os parentes, e não, somente perante os pais e os filhos.

2.1.4 Alimentos aos filhos menores

Quanto ao poder familiar, enfatiza-se que o dever de os pais proverem a subsistência e


educação dos filhos é fundamental. Esse dever transmuta-se na obrigação legal de prestar
alimentos. Não somente o Código Civil, como também a Lei do Divórcio, preocuparam-se
com o problema. Nesse sentido, o art. 20 deste último diploma menciona que os cônjuges
separados deverão contribuir na proporção de seus recursos para a manutenção dos filhos.
Esse dispositivo é repetido pelo art. 1.703 do vigente Código.
O art. 21 da Lei de Divórcio completa, por sua vez, que o juiz pode determinar a
constituição de garantia real ou fidejussória para assegurar o cumprimento dessa obrigação. O
art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente reafirma o dever dos pais com relação aos
filhos menores.
Menciona Venosa (2006, p.389) que:

Atualmente, como sempre se repete, não se faz mais distinção entre filhos legítimos
e ilegítimos. O descumprimento contumaz do dever alimentar pode até mesmo
autorizar a suspensão ou perda do pátrio poder.
34

Não é só dos tempos atuais que os pais, ou seja, os genitores são responsáveis, pelo
sustento dos filhos, dando-lhes, assim, uma estabilidade material e moral mais digna,
fornecendo-lhes alimentação, vestuário, abrigo, educação, entre outros, mas sim dos tempos
mais antigos como já frisado.
Preleciona Cahali (1999, p.542):

Pátrio poder (poder familiar) representa nos tempos modernos uma instituição
destinada a proteger o filho e, desse modo, certos poderes ou certas prerrogativas
são outorgadas aos pais, para com isto facilitar-lhes o cumprimento daqueles
deveres.

Defende-se também que ao nascituro é possível a prestação alimentícia, sob o


fundamento de que a lei ampara a concepção. Vale lembrar também do artigo 121, do Código
de 1916, que permite ao titular de direito eventual exercer os atos necessários à conservação
de tais direitos, embora divirja a doutrina a esse respeito. Rizzardo (1994, p.711) observa que:

Desde que presentes os requisitos próprios, como o fumus boni iuris e a certeza de
quem é o pai, mesmo os alimentos provisionais é possível conceder, com o que se
garantirá uma adequada assistência pré-natal ao concebido.

Continua Cahali (1999, p.543):

Quanto aos filhos sendo menores e submetidos ao pátrio poder, não há um direito
autônomo de alimentos, mas sim uma obrigação genérica e mais ampla de
assistência paterna, representada pelo dever e de criar e sustentar a prole [...] esta
obrigação não se altera diante da precariedade da condição econômica do genitor: o
pai, ainda que pobre, não se isenta, por esse motivo, da obrigação de prestar
alimentos ao filho menor; do pouco que ganhar, alguma coisa deverá dar ao filho.

O art. 1.705 refere-se à possibilidade de o filho havido fora do casamento acionar o


genitor para obter alimentos. Nesse caso, será facultado ao juiz determinar, a pedido de
qualquer das partes, que a ação se processe em segredo de justiça. O que se mostra é que o
juiz deve deferir o segredo de justiça nessa situação, se lhe for requerido.
35

2.1.5 Alimentos aos filhos maiores, pais e irmãos

Certamente, a problemática de alimentos aos filhos menores é a que mais preocupa a


sociedade. Contudo, outros problemas sociais podem advir com relação aos demais parentes.
Os parentes carentes de meios econômicos, também podem exigir reciprocamente
alimentos.

Assim, Venosa (2006, p.390) preleciona:

Com relação ao direito de os filhos maiores pedirem alimentos aos pais, não é o
pátrio poder que o determina, mas a relação de parentesco, que predomina e acarreta
a responsabilidade alimentícia. Com relação aos filhos que atingem a maioridade, a
idéia que deve preponderar é que os alimentos cessam com ela.

Entende-se que a pensão poderá distender-se por mais algum tempo, até que o filho
complete os estudos superiores ou profissionalizantes, com idade razoável, e possa prover a
própria subsistência.
Nesse sentido, o art. 1.694 do Código Civil sublinha que os alimentos devem atender,
inclusive, às necessidades de educação.
Venosa (2006, p.390) conclui que “Tem-se entendido que, por aplicação do
entendimento fiscal quanto à dependência para o Imposto de Renda, que o pensionamento
deva ir até os 24 anos de idade”.
Não deixando de ser um dever assistencial, inerente à vida, o dever de sustento cessa
com a maioridade do filho ou mesmo com a emancipação do filho, mas, podem surgir
obrigações alimentares dos pais em relação aos filhos adultos, porém, de natureza diversa,
sempre analisando o estado de necessidade do filho e a possibilidade do genitor, fundada no
art. 1.696 do Código Civil.
Segundo Diniz (1995, p.460):

Já quanto ao dever de sustento em relação aos parentes maiores, diferencia-se do


dever de sustento dos filhos menores, ou seja, a assistência e socorro que tem o
marido em relação à mulher e vice-versa e os pais para com os filhos menores,
devido ao poder familiar, alteram-se.
36

Os Alimentos deveriam sempre ser diferenciado entre dever e obrigação, dependendo


os primeiros dos liames do poder familiar, e os últimos da relação com os demais vínculos
parentais entre pessoas maiores e capazes e entre Cônjuges ou Companheiros.
Com isso, chega-se ao entendimento de que o dever de sustento está invocado para
ambos os pais em relação aos filhos, subsistindo desta forma a obrigação de sustentar os
filhos menores e de lhes dar orientação educacional e moral, extinguindo-se com a
maioridade. E em relação aos parentes maiores, a obrigação de prestar Alimentos é recíproca
caso um deles vir a se encontrar em situação difícil, prestação esta que poderá perdurar por
toda a vida.

2.2 Alimentos decorrentes do casamento e da união estável

Viana (1998, p.155) explica que “os Alimentos entre o casal decorrem do dever
familiar, inexistindo Obrigação alimentar. Como já estudado está existe entre parentes, nos
limites traçados pela lei”, ou seja, os cônjuges não são parentes, por isso, os alimentos são
devidos com reciprocidade, em decorrência de dever familiar.
Desta forma, não sendo o Cônjuge parente do outro, ali não se encontra embasamento
legal da obrigação de Alimentos entre o casal. Por isso, esse dever se origina dos arts. 1.614 e
1.566, inciso III do Código Civil. Daí o direito a alimentos, embora a expressão “mútua
assistência” não se refira somente aos alimentos. A regra geral é, portanto, que, em caso de
separação judicial ou de fato, o marido prestará pensão alimentícia à mulher. Segundo Pereira
(1998, p.89):

A doutrina e a jurisprudência brasileira têm emprestado à pensão, concedida na


separação judicial ou no divórcio, nítida natureza alimentar, representativa do
prolongamento do dever de assistência, nascido com o vínculo do casamento.

Neste mesmo entendimento, Gonçalves (2003, p.50) salienta que a mútua assistência
“obriga os Cônjuges a se auxiliarem reciprocamente, em todos os níveis. Assim, inclui a
recíproca prestação de socorro material, como também a assistência moral e espiritual”. No
entanto, o auxílio mútuo entre os Cônjuges ocorre em qualquer circunstância, principalmente
em situações de maior dificuldade.
37

No antigo diploma legal, tratava-se dos direitos e deveres dos Cônjuges em capítulos
distintos, mais especificamente no art. 233, inciso IV. Estabeleciam-se direitos e deveres
apenas à pessoa do marido com relação à manutenção da Família, mas, graças à nova
elaboração do novo Código Civil, esses deveres passaram a ser entre os Cônjuges em forma
de igualdade, conforme já dispunha o art. 226 § 5º da Constituição Federal do Brasil e agora
nos arts. 1.567, 1568 e 1569 do Código Civil.
Viana (1999, p.156) preleciona:

Introduzida a isonomia conjugal, havendo igualdade entre os cônjuges, marido e


mulher encontram-se em pé de igualdade. A mulher deixa de ser colaboradora do
marido para se tornar titular de direitos e deveres inerentes à sociedade conjugal, que
exerce em pé de igualdade com o marido. O socorro material, o auxílio econômico-
financeiro, enfim, o sustento é hoje tarefa comum, sem discriminação ou privilégios.

Ainda com referência à mútua assistência, enfatiza-se que a mesma subsiste até
mesmo depois da Separação judicial, extinguindo-se, porém, quando a dissolução da
sociedade conjugal dá-se pelo Divórcio. (GONÇALVES, 2003, p.51)
Por sua vez, o art. 1.576 do Código Civil, dispõe: “A separação judicial põe termo aos
deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens”.
Quanto à União estável, o art. 1.724 do Código Civil vem estipular a Obrigação
alimentar entre Companheiros, in verbis: “As relações pessoais entre os companheiros
obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação
dos filhos”.
Com a disposição deste artigo, os alimentos oriundos da União estável serão devidos
conforme os mesmos princípios e regras aplicáveis à dissolução do Casamento.
Verifica-se, então, que quando ocorrer à ruptura do Casamento, bem como da União
estável, este dever de assistência se transforma em Obrigação alimentar, comprovada a
necessidade de quem pleiteia e a possibilidade do (a) Companheiro (a) que arcará com a
mesma.
O Código civil de 1916, todavia, não continha dispositivo algum referente a alimentos
entre cônjuges, pois a disciplina dos arts. 396 a 405 dirigia-se ao parentesco. O corrente
Código destaca os arts. 1.702, 1.703 e 1.704, para enfrentar situações de alimentos no
desfazimento da sociedade conjugal.
38

Preliminarmente, faz-se necessário apresentar sucinta noção introdutória com relação à


Separação judicial. Viana (1998, p.155) traz o seguinte conhecimento:

A separação judicial pode ser litigiosa ou consensual. A primeira se faz em processo


contencioso, devendo o interessado fundamentar o seu pedido em uma das causas
indicadas pela lei especial. A segunda constitui-se em verdadeiro negócio jurídico
bilateral, porque à vontade dos separandos conhece territórios amplos de atuação,
cumprindo-lhes estabelecer as condições para a separação.

Assim sendo, separação judicial consensual se dá quando o juiz homologa os


alimentos resultantes de pacto entre os cônjuges. Eles determinam livremente a esse respeito.
Fixam uma pensão ou dispensam-na temporariamente. Estando o interesse dos cônjuges a da
prole resguardada, o acordo é homologado.
Já quanto à contenciosa ou separação judicial litigiosa, o tema apresenta outro
contorno, porque o juiz deverá fixar os Alimentos, o que está submetido a regras próprias.
Destaca Viana (1998, p.158) que a “Separação judicial não se apresenta apenas como
sanção. Ela se coloca como sanção se há conduta desonrosa ou violação dos deveres do
casamento”.
Como traz Da Luz (2003, p.293), “o cônjuge somente terá direito à percepção de
pensão compatível com a sua condição social, se presentes as seguintes situações: a)
inexistência de culpa pela separação; b) prova da necessidade dos Alimentos (art. 1702 do
Código Civil)”. Quanto aos pontos destacados, serão abordados com mais profundidade, no
item seguinte deste capítulo.
Os Alimentos frente à separação judicial seja ela consensual ou litigiosa, nos moldes
da legislação vigente, tanto poderá ser demandada pelo cônjuge virago quanto pelo cônjuge
varão, imprescindível ao cônjuge que os pleiteia, demonstra-se a sua necessidade e a
possibilidade do cônjuge credor.
Com referência à União Estável, antes de adentrar na matéria, destacam aqui dois
conceitos, um de Santos (2001, p.20) e outro de Viana (1998, p.180):

[...] convivência notória, duradoura e contínua entre um homem e uma mulher não
impedida de realizar matrimônio ou separados de direito ou de fato do respectivo
cônjuge, com as características inerentes a uma comunhão de vidas como se casados
fossem.
39

[...] temos uma entidade familiar formada por homem e mulher que vivem em estado
de casamento aparente. Distingue-se do casamento pela origem, porque não se dá o
ato civil. Temos uma convivência notória como marido e mulher, com continuidade
das relações sexuais, coabitação e fidelidade presumida.
Viana fundamentou seu conceito na lei nº 9.278/96 art. 1º, regulando o § 3º do art. 226
da Constituição Federal.
Segundo Da Luz (2003, p.340), a concessão da verba alimentar devida na separação
frente à União estável, “além da prova da necessidade, imprescinde de dois importantes
pressupostos: a ausência de culpa da requerente e a prova pré-constituída da Obrigação
alimentar do requerido”. Pontos estes, que serão abordados no item seguinte deste capítulo.
Assim, a Lei nº 9.278/96 reconheceu a entidade familiar duradoura de um homem e de
uma mulher e prescreveu a assistência material recíproca (art. 2º, II). No art. 7º, a noção é
completada: “Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei
será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos”.
Antes dessas leis, não havia obrigação alimentar decorrente do companheirismo na lei,
e os reflexos patrimoniais eram conferidos a outro título, sem relação com o instituto.
Contudo, mesmo na Separação judicial ou na dissolução da União estável, para que
sejam fixados os Alimentos, deverá ser analisado de quem partiu a culpa para que ocorresse a
dissolução e quem tem necessidades dos Alimentos, assuntos estes que serão abordados no
item subseqüente deste capítulo.

2.2.1 Alimentos e culpa pela separação judicial ou dissolução da união estável

Como já frisado anteriormente, após a dissolução do casamento, conforme traz Da Luz


(2003, p.293), “o dever de prestar alimentos entre cônjuges está condicionado ao grau de
participação do cônjuge na separação, ou seja, inexistência de culpa pela separação e a prova
da necessidade de alimentos”.
Desta forma, em suma, não terá direito aos Alimentos o cônjuge que tiver dado causa
à separação em razão de abandono do lar, sem justa causa, ou tiver praticado ato de
infidelidade, ou qualquer outra ação ou omissão que viole os deveres conjugais ou de União
estável, mesmo quando dos Alimentos venha a carecer.
Mas, lembra-se que o art. 1.704, parágrafo único do Código Civil dispõe que:
40

Art. 1.704 Se um dos cônjuges separados judicialmente vier s necessitar de


alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz,
caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial.
§ único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver
parentes em condição de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge
será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.

No entanto, de forma inovadora, o Código Civil de 2002, estabeleceu que se o


consorte responsável pela separação vier a precisar de Alimentos, e não tiver parentes em
condição de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-
los em valor indispensável à sobrevivência deste.
Continuando, Da Luz (2003, p.295) assinala que, em razão de expressa disposição do
art. 1.572, parágrafo 2º do Código Civil, “o cônjuge que requerer a separação judicial fundada
na doença mental do outro, ou na ruptura da vida em comum há mais de um ano, continuara
com o dever de prestar alimentos ao outro”. E mais, “em havendo ruptura da vida em comum
ou doença mental grave, o cônjuge que teve a iniciativa da separação perde o direito sobre os
bens que o outro trouxe para o Casamento”. (VIANA, 1998, p.159)
Se a culpa for recíproca, ou seja, se ambos são considerados responsáveis pela
separação, haverá perda do direito aos alimentos que se impõe a ambos os cônjuges.
Através das palavras de Gonçalves (2003, p.145) “cessa o dever de prestar alimentos
com o casamento, a União estável ou o concubinato do credor”. Por outro lado, o parágrafo
único do art. 1.708 do Código Civil prevê que: “perde o direito a alimentos o credor que tiver
procedimento indigno (desprezível) em relação ao devedor”. Mas, lembra Da Luz (2003,
p.295) que:

[...] relativo ao comportamento indigno, neste não se inclui, o simples namoro com
terceiro. [...] as relações sexuais eventualmente mantidas com terceiros após a
dissolução da sociedade conjugal, desde que não de comprove desregramento de
conduta, não têm o condão de ensejar a exoneração da obrigação alimentar, dado
que não estão os ex-cônjuges impedidos de estabelecer novas relações e buscar, em
novos parceiros, afinidades e sentimentos capazes de possibilitar-lhes um futuro
convívio afetivo e feliz.

Com relação aos efeitos da Separação judicial frente aos alimentos, Da Luz (2003,
p.285-286) expõe que:
41

Relativo a ausência de pedido e à renúncia expressa a Alimentos na Separação


judicial ou Divórcio, entendermos ser possível ao cônjuge necessitado requerer
Alimentos a qualquer tempo, nos casos admitidos em lei, uma vez que o
atendimento a pedido posterior está assegurado não só pelo art. 1.704, mas também
pelo art. 1.707 ambos do Código Civil, que veda a renúncia a Alimentos.

A partir deste ponto, passa-se a adentrar a Obrigação alimentar entre Companheiros na


União Estável, disciplinado pela Lei nº 8.971/94 e, depois pela Lei nº 9.278/96, e finalmente
pelo art. 1.723 e seguintes do Código Civil.
Conforme já elencado no subtítulo anterior, mais precisamente no art. 7º da Lei nº
9.278/96, estatui que com a dissolução da União estável, por iniciativa de uma das partes, ou
de ambas, a assistência material será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar a
titulo de Alimentos. Para este caso a lei utiliza vocábulo rescisão.
Frente à dissolução por rescisão, Viana (1998, p.293) traz:

Na hipótese de dissolução por rescisão – estamos usando a linguagem da lei -, não


nos parece que os Alimentos venham apoiados necessariamente na idéia de culpa.
Essa noção que já sofreu restrições no campo da Separação judicial e do Divorcio,
assume, agora, contorno mais forte. O que se deve examinar, no caso concreto, é o
binômio necessidade-possibilidade. Aquele que deles necessitar receberá dentro das
possibilidades do que fornecer.

Segundo Da Luz (2003, p.296), para requerer a pensão alimentícia a (o) companheira
(o) deve demonstrar: “a) ter convivido com pessoa solteira, separada judicialmente, separada
de fato, divorciada ou viúva; b) que a convivência tenha sido duradoura, pública e contínua; c)
a necessidade dos Alimentos”.
Ficando, desta forma, mais uma vez protegido este direito através do art. 1.694 do
Código Civil, o qual estabelece que além dos parentes e dos Cônjuges, podem os
Companheiros pedir uns aos outros, os Alimentos que necessitam para viver de modo
adequado com a sua condição social.
Como salienta Santos (2001, p.92), apesar das dificuldades e críticas apontadas:

O aspecto da culpa continua presente no Direito de Família, traduzido na tentativa


de inserir no âmbito da União estável efeitos punitivos pela ruptura dos “deveres”
preestabelecidos pela Lei nº 9.278/96 e pelo Código Civil.
42

No entanto, frente a essas colocações, sendo Separação judicial ou dissolução da


União estável, entende-se que para o Casamento a culpa não faz perder o direito aos
Alimentos, em virtude do art. 1704, parágrafo único do Código Civil. Com referência à
dissolução da União estável, o culpado na dissolução da União estável perde o direito aos
alimentos se tiver necessidade deles.

2.2.2 Impossibilidade de renúncia aos alimentos

Com relação à renúncia aos Alimentos, a qual já foi brevemente abordada em item
pretérito desta monografia, também possui um tratamento especial no direito argentino C.C.,
art. 374; direito mexicano, art. 321 C.C., e direito português, art. 2.008 C.C., com o mesmo
entendimento do direito brasileiro, ou seja, os alimentos são irrenunciáveis.
No direito brasileiro, a impossibilidade de renúncia aos Alimentos vem disposta no art
1.707 do Código Civil, o qual prescreve que: “Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado
renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora”.
Segundo Gonçalves (2003, p.138), “o direito a Alimentos constitui uma modalidade
do direito à vida. Por isso, o Estado protege-o com normas de ordem pública, decorrendo daí a
sua irrenunciabilidade, que atinge, porém, somente o direito, não o seu exercício”.
Neste entendimento Diniz (2006, p.561) assevera que:

O Código Civil, art. 1.707, 1ª parte, permite que deixe de exercer, mas não que se
renuncie o direito de Alimentos. Pode-se renunciar o exercício e não o direito; assim
o necessitado pode deixar de pedir Alimentos, mas não renunciar esse direito.

Segundo colocações de Gonçalves (2003, p.139),

O novo diploma legal, contudo, contrariando [...] tendência, faz incidir a proibição
de renunciar ao direito a Alimentos não só aos parentes, mas também aos Cônjuges
e Companheiros, por ocasião da dissolução da sociedade conjugal ou da União
estável.
43

Dentre tantas alterações previstas para o Código Civil de 2002, há a proposta de nova
redação para aperfeiçoamento do art. 1.707, pretendendo proibir a renúncia alimentar apenas
para as relações de Parentesco, retomando o caminho já trilhado pela jurisprudência de aceitar
o repúdio do direito a Alimentos no Casamento. Proposta está estabelecida no Projeto de Lei
nº 6.960/02.
Observa-se, então, que, segundo sistemática do Código Civil de 2002, a renúncia aos
Alimentos feita por Cônjuges ou por Companheiro não é legítima. Os Alimentos também
serão irrenunciáveis se decorrentes de Parentesco.
Não há dúvida alguma de que a atual codificação precisa ser urgentemente revista pelo
legislador, se não a jurisprudência certamente fará, retomando a defesa da possibilidade de
renúncia dos Alimentos dos que não são parentes.

2.3 Modos de satisfação da obrigação alimentar

Frisou-se, inicialmente que a Obrigação alimentar interessa ao Estado. Efetivamente,


em vários dispositivos legais, depara-se esse público interesse.
Quanto ao modo de satisfação, o art. 1.701, parágrafo único do Código Civil,
prescreve:

Art. 1.701 A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou


dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua
educação, quando menor.
§ único . compete ao juiz, se as circunstâncias o exigirem, fixar a forma do
cumprimento da prestação.

Cumpre-se, desta forma, a Obrigação alimentar mediante: a) pagamento de uma soma


em dinheiro, denominada pensão; b) pelo fornecimento de casa, hospedagem e sustento.
Lembram Viana (1998, p.114) e Diniz (1995, p.327) que se trata, portanto, de uma
obrigação alternativa, conforme art. 252 do Código Civil,

Podendo o devedor escolher a forma de pagamento, mesmo que opte por um


determinado tempo pelo pagamento da pensão, preferindo, depois, dar hospedagem
e sustento ao Alimentante, mas de qualquer forma deve cumprir uma ou outra
obrigação.
44

Nesse contexto, deve o juiz ser cuidadoso ao examinar a espécie, na escolha de uma
das alternativas, rigor este mitigado pelo parágrafo único do art. 1.701 do diploma legal.
Assim, em síntese, observa-se que o direito de escolha do devedor frente ao
cumprimento da obrigação não é absoluto, sendo que o parágrafo único do art. 1.701 do
Código Civil prevê que o juiz pode determinar outra forma de prestação, se assim for mais
conveniente para as partes.
Imprescindível observar que quanto ao fornecimento de casa, hospedagem e sustento,
o art. 25 da Lei nº 5.478/68, prevê que essa forma de cumprimento só será autorizada pelo juiz
se o Alimentando for capaz de anuir; sendo cumprida na casa do devedor, não podendo ser
cumprida em casa alheia, nem interná-lo em asilos, exceto se o credor concordar.
Nas palavras de Monteiro (2003, p.309),

Existindo situação de incompatibilidade entre Alimentante e alimentado não pode o


juiz constranger o segundo a coabitar com o primeiro sob o mesmo teto. Tal
conveniência contribuiria para recrudescimento da incompatibilidade, convertendo-
se em fonte de novos atritos.

Portanto, a regra é de que os Alimentos sejam satisfeitos mediante o pagamento em


dinheiro, bem como poderá o devedor oferecer hospedagem, ou seja, fornecer sua casa e
sustento para o Alimentando.

2.4 Alimentos provisórios na união estável

Segundo Fuhrer (2001, p.115-116) cabe direito a Alimentos, na União estável, entre os
conviventes, provada a necessidade. Deverá também caber o exame de culpa, se for o caso,
nos moldes do que ocorre na Separação judicial ou no Divórcio litigiosos, perdendo o culpado
o direito a Alimentos (em que pesem respeitáveis opiniões em contrário).
Ainda neste contexto Fuhrer (2001, p.116), salienta que o art. 1º da Lei 8.971/94
manda que o rito da ação de Alimentos seja especial, da Lei nº 5.478/68, tais Alimentos
devem ser pleiteados perante a vara cível e não a vara da Família. Todavia como ponderam
vários autores, é necessária prova documental segura da União estável, como uma justificação
judicial, ou uma sentença declaratória. Caso contrário deve-se adotar o rito comum para
provar nos autos a convivência.
45

Com isso, não estando a União estável devidamente demonstrada, deve o magistrado
requerer a instrução para sua caracterização por meio do procedimento ordinário, com o
intuito de prová-la e outorgar ao companheiro o direito aos Alimentos, caso este necessite.
Desta maneira, a União estável somente merece proteção frente ao ordenamento
jurídico, quando houver pressuposição de que exista uma obrigação entre os conviventes,
apresentando principalmente provas que venham a comprovar a inequívoca existência da
União estável.

2.5 Garantias para o pagamento da pensão

Além dos modos de satisfação da Obrigação alimentar, também ocorrem algumas


garantias para assegurar essa obrigação, diante do devedor.
Gonçalves (2003, p.145-146) destaca que o credor de Alimentos dispõe de oito formas
para garantir ou satisfazer o direito à pensão alimentícia e o adimplemento da obrigação, que
são:

1º) ação de alimentos, para reclamá-los (Lei nº 5.478/68); 2º) execução por quantia
certa (CPC, art. 732); 3º) penhora em vencimento de magistrados, professores e
funcionários públicos, saldo de militares e salários em geral, inclusive subsídios de
parlamentares (CPC, art. 649, IV parte final); 4º) desconto em folha de pagamento
da pessoa obrigada (CPC, art. 734); 5º) reserva de aluguéis de prédios do
alimentante (Lei nº 5.478/68, art. 17); 6º) entrega ao cônjuge, mensalmente, para
assegurar o pagamento de alimentos provisórios (Lei nº 5.478/68 art. 4º, parágrafo
único), de parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor, se o
regime de casamento for o da comunhão universal de bens; 7º) constituição de
garantia real ou fidejussória e de usufruto (Lei nº 6.515/77, art. 21); 8º) prisão do
devedor (Lei nº 5.478/68, art. 21; CPC, art. 733 parágrafo 1º).

Quanto ao primeiro item, ação de Alimentos, segundo Diniz (1995, p.328), trata-se
meramente, de um “meio técnico de reclamar os Alimentos desde que presentes os
pressupostos jurídicos. Lembrando, também, que o foro competente é o domicílio do
Alimentando e deverá ser requerida a interferência do Ministério Público para seguir o
processo”.
Referente à execução por quantia certa contra devedor solvente ou execução da
sentença, a qual já era prevista no art. 18 da Lei nº 5.478/68; caso não for possível a satisfação
do débito, poderá o credor requerer a execução da sentença na forma dos arts. 732, 733 e 735
do Código de Processo Civil. Para Viana (1998, p.119), “executam-se as prestações vencidas,
46

procede-se à penhora, admite-se embargos do devedor, a avaliação dos bens e a arrematação,


tudo na forma dos arts. 646 a 731 do Código de Processo Civil”.
De acordo com Santos (1987, p.143), referindo-se à penhora em vencimento de
magistrados, professores e funcionários públicos, saldo de militares e salários em geral,
inclusive subsídios de parlamentares, o art. 649, inciso IV parte final do Código de Processo
Civil, prescreve que: “o caso de impenhorabilidade só se verifica quando o vencimento, o
soldo ou o salário estiver ainda em poder da fonte pagadora”. Neste mesmo sentido, Parizatto
(1997, p.80) afirma:

A partir do momento que entram na esfera de disponibilidade do funcionário, muitas


das vezes em conta corrente bancária, transformando-se em dinheiro, poderão ser
penhorados, eis que os soldos de conta corrente e importâncias em dinheiro são
suscetíveis de penhora.

E ainda, “os vencimentos do funcionário público, depois de percebidos, passam a


integrar o patrimônio ativo de quem os recebe, e, se aí forem encontrados, como dinheiro ou
convertidos em outros bens, são penhoráveis”.
Já quanto ao desconto em folha de pagamento da pessoa obrigada a prestar alimentos,
o art. 16 da Lei de Alimentos, combinado com o parágrafo único do art. 734 do Código de
Processo Civil, destaca que sempre que possível, poderá ser descontado em folha de
pagamento através de uma execução de prestação alimentar.
Segundo Viana (1998, p.116), “o desconto processa-se mediante ofício do juiz, que
comunica à autoridade, empresa ou empregador, que a entidade passa a ser responsável pelo
pagamento, cumprindo-lhe reter o valor respondente”.
Sendo assim, o desconto poderá ser feito em folha de pagamento de funcionário
público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação
trabalhista, art. 734 do Código de Processo Civil.
Entretanto, não sendo possível o desconto em folha de pagamento, poderá o credor
fazer reserva de aluguéis de prédios do alimentante, lançando mão dos alugueres ou qualquer
outros rendimentos, é o que preconiza o art. 17 da Lei nº 5.478/68. Sendo que o recebimento
do valor se faz pelo alimentando diretamente, ou por depositário nomeado pelo juiz.
Quanto ao item sexto, abordar-se-á com mais especificidade no capítulo 3 deste
trabalho.
47

No item que trata da constituição de garantia real ou fidejussória e de usufruto


vislumbra-se entendimento de Viana (1998, p.118-119):

O credor recebe o usufruto de determinados bens em lugar da pensão, cumprindo-se,


assim, com os alimentos. O usufruto implica na transferência à outra pessoa do
direito de desfrutar do bem em caráter temporário. O titular desse direito real recebe
o valor econômico contido no usar e gozar. Isso permite que ele exija do bem os
seus serviços e utilidades. Assim, constituído o usufruto, o credor passa a se pagar
com o desfrute que o bem assegura. No entanto, o usufruto virá no acordo, na
sentença, ou mesmo posteriormente, desde que justifique a solução.

Ainda com referência ao usufruto, o art. 21, § 1º da Lei nº 6.515/77, autoriza a


instituição do usufruto, em lugar da caução.
Para a garantia real ou fidejussória, na hipótese de alimentos indenizatórios, o art. 602,
§ 3º do Código de Processo Civil permite sub-rogar o capital por caução fidejussória.
Evidentemente, ao invés de substituir o capital já constituído, o devedor ou Alimentante
poderá, desde logo, prestar caução. (ASSIS, 1998, p.117)
No último item, mais especificadamente, prisão do devedor, Monteiro (1993, p.299)
traz o seguinte entendimento: “para garantir o fiel cumprimento, estabelece a lei, dentre outras
providências, a prisão do Alimentante ou devedor inadimplente, o que constitui uma das
poucas exceções ao princípio segundo o qual não há prisão por dívidas (CF, art. 5º, nº
LXVII)”, combinado com art. 733, § 1º do Código de Processo Civil, combinado com art. 21
da Lei nº 5.478/68.
Segundo Gonçalves (2003, p.149), “a prisão civil não tem caráter punitivo. Não
constitui propriamente pena, mas meio de coerção, expediente destinado a forçar o devedor a
cumprir a Obrigação alimentar”. Prisão está que será estabelecida se o Alimentante estiver
solvente e procurando frustrar-se da obrigação, e não quando se acha impossibilitado de
pagar.
Continuando, Gonçalves (2003, p.149) aduz, com referência à prisão civil, que “a
jurisprudência dominante entende que não pode o juiz decretar de ofício, para que seja
decretada depende de requerimento do credor”.
Já Cahali (1999, p.1054) traz o seguinte entendimento: “omisso o executado em
efetuar o pagamento, ou em oferecer escusa que pareça justa ao órgão judicial, este, sem
necessidade de requerimento do credor, decretará de ofício a prisão do devedor”.
48

Com referência aos recursos cabíveis, Da Luz (2003, p.303-304) salienta que alguns
doutrinadores sustentam o seguinte entendimento:

Não cabe habeas corpus, recomendando a interposição de agravo de instrumento, no


prazo legal, seguido de mandado de segurança para assegurar o direito suspensivo
do agravo. Já a outra corrente admite habeas corpus, na hipótese de ausência de
fundamentação e da não fixação do prazo de pagamento no decreto de prisão, e
quando não se esgotaram todos os meios e recursos que a lei concede (desconto
folha de pagamento, etc).

Viana (1998, p.124-125) destaca que o devedor “será citado para em até três dias, se
manifestar das seguintes formas: a) comparece e paga; b) vem em juízo e exibe prova de
pagamento; c) pede para justificar a impossibilidade do pagamento”.
Quanto ao prazo da prisão civil, a jurisprudência distingue quanto se trata de alimentos
definitivos ou provisórios, e a duração máxima é de 60 dias (art. 19 da Lei nº 5.478/68); em
caso de provisionais, o prazo máximo é de três meses (art. 733, § 1º do Código de Processo
Civil). Tem prevalecido o critério unitário e unânime de 60 dias para todos os casos.
A prisão será, primeiramente, fundamentada, e será decretada quantas vezes forem
necessárias.

2.6 Extinção do pagamento da pensão

Neste último item deste capítulo, passa-se a discorrer sobre os meios para que o
devedor ou Alimentante possui em seu favor para que a extinção da Obrigação alimentar
possa ser determinada.
Diniz (1995, p.329) prevê duas situações para que seja extinta a pensão alimentícia,
que são: a) pela morte do Alimentando, ou seja, pela morte do credor, devido a sua natureza
pessoal; b) pelo desaparecimento de um dos pressupostos do art. 1.695 combinado com art.
1.699 do Código Civil, ou seja, da necessidade do alimentário ou da capacidade econômica-
financeira do Alimentante.
Da Luz (2003, p.306-307) salienta que o pedido para que seja decretada a extinção de
Obrigação alimentar poderá ser formulado quando presente os seguintes requisitos, através da
ação de exoneração de Alimentos:
49

I) Casamento, União estável, concubinato ou procedimento indigno do Cônjuge


alimentado (art. 1.708 do Código Civil); II) aumento da fortuna do alimentado,
principalmente decorrente do recebimento ou aumento de salário; III) maioridade
dos filhos; IV) conclusão de curso universitário pelo filho maior de idade.

Por fim, a extinção da pensão, além da maioridade e a emancipação, pode ocorrer por
uma das causas do art. 1.708 do Código Civil, quais sejam: o Casamento, a União estável,
concubinato ou comportamento indigno em relação ao credor, geralmente estes fatos são
relacionados entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, ou ainda, pode ocorrer à situação
prevista no art. 1.695 combinado com art. 1.699 do Código Civil, que é a cessão da condição
de necessidade do credor ou a impossibilidade econômica do devedor.
Declinado entendimento pelos doutrinadores frente à extinção da pensão alimentícia,
passar-se-á a estudar, no próximo capítulo, a divergência entre Alimentos provisórios e
Alimentos provisionais no direito brasileiro.
50

CAPÍTULO III – QUESTÕES PROCESSUAIS

3.1 O Processo Cautelar e os Alimentos Provisionais:

3.1.1 Processo cautelar e medidas cautelares: bases conceituais genéricas.

Necessário se faz o entendimento de algumas peculiaridades do processo cautelar bem


como das medidas cautelas.
Cautelar, expressão que tem sua origem na palavra cautela, indica prevenção ou o ato
de se preservar ou se acautelar.
Theodoro Júnior (2003, p.344) escreve que:

No processo cautelar contenta-se em outorgar situação provisória de segurança para


os interesses dos litigantes, enquanto que no processo de conhecimento e no
processo de execução buscam a composição da lide, ou seja, o processo cautelar é
um processo acessório, que serve para obtenção de medidas urgentes, indispensáveis
para o bom desenvolvimento de um outro processo, seja ele de conhecimento ou de
execução.

Continuando, Theodoro Júnior (2003, p.346) assevera que:

O que se obtém no processo cautelar, e por meio de uma Medida cautelar, é apenas a
prevenção contra o risco de dano imediato que afeta o interesse litigioso da parte e
que compromete a eventual eficácia da tutela definitiva a ser alcançada no processo
de mérito. Por isso é que se diz que o processo principal é de natureza “satisfativa”,
porque redunda na satisfação efetiva do direito da parte, quando esta sai vitoriosa no
pleito forense.

Entende-se que esta garantia cautelar é destinada não tanto a fazer justiça, como a dar
tempo a que justiça seja feita. Neste mesmo contexto Da Luz (2003, p.444) salienta que “a
finalidade das medidas cautelas ou de urgência é a segurança do interesse jurídico ameaçado
de dano iminente tendo seu maior campo de incidência no Processo cautelar previsto nos arts.
796 a 889 do Código de Processo Civil”, sendo que tal medida pode ser instaurada antes do
processo principal (como medida preparatória) ou durante o curso do processo principal
(como medida incidente). Caso se trate de medida preparatória, fica o autor com a obrigação
51

de ajuizar a ação principal no prazo de 30 dias, para que não sofra os efeitos da perda da
eficácia da medida deferida provisoriamente.
Segundo Parizatto (1997, p.71), “tal medida é admitida nas ações de Separação
judicial, anulação de casamento uma vez separado os Cônjuges, nas ações de Alimentos,
desde o despacho da petição inicial, bem como nas ações de investigação de paternidade”.
Cahali (1999, p.878) prevê que a “medida é provisional, no sentido de regulação
provisória de uma situação processual vinculada ao objeto da própria demanda, de cognição
sumária e incompleta, visando à preservação de um estado momentâneo de assistência”.
Theodoro Júnior (2003, p.346), referindo senão à Medida cautelar, apresenta o
seguinte entendimento:

Assim, visto o problema, podemos definir a Medida cautelar como a providência


concreta tomada pelo órgão judicial para eliminar uma situação de perigo para
direito ou interesse de um litigante, mediante conservação do estado de fato ou de
direito que envolve as partes, durante todo o tempo necessário para o
desenvolvimento do processo principal.

Acrescenta-se, ainda, que, tratando-se das medidas cautelares, funda-se a sua


concessão em dois pressupostos: a) o fumus boni iuris (fumaça do bom direito); b) o
periculum in mora (perigo na demora). Alíneas estas que serão tratadas com mais
especificidade em item subseqüente.
Verifica-se, assim, que o processo cautelar objetiva medidas urgentes, e as medidas
cautelares são remédios jurisdicionais, indisponíveis ao bom desenvolvimento de um ou outro
processo, seja de cognição ou de execução, antecipando, desta forma, o futuro do provimento
definitivo.
De maneira geral, os Alimentos provisionais são postuláveis antes do processo
principal ou durante a sua marcha, em qualquer fase do feito, mesmo na pendência de recurso.

3.1.2 Alimentos provisionais como procedimento cautelar específico

Destacam-se, aqui, alguns conceitos estabelecidos pelos doutrinadores, frente aos


alimentos provisionais.
Cahali (1999, p.878) entende-se por alimentos provisionais:
52

Aqueles concedidos provisoriamente ao alimentário, antes ou no curso da lide


principal; no pressuposto de que são concedidos também para atender às despesas do
processo, são chamados alimenta in litem, provisão ad litem ou expensalitis.

Para Viana (1998, p.171):

Os Alimentos provisionais permitem que o alimentário obtenha recursos para seu


sustento até que seja possível definir se o pedido merece ou não ser acolhido. Assim,
antes do ajuizamento da ação, ou na sua pendência, o credor tem a seu favor a
possibilidade de obter uma pensão.

Venosa (2006, p.381) preleciona que “Os alimentos provisionais são estabelecidos
quando se cuida da separação de corpos, prévia à ação de nulidade ou anulação de casamento,
de separação ou divórcio”. Nesse caso, os provisionais devem perdurar até a partilha dos bens
do casal.
Alimentos estes que se encontram previstos nos arts. 852 a 854 do Código de Processo
Civil, combinado com art. 1.706 do Código Civil.
Parizatto (1997, p.72), ao discorrer sobre os Alimentos provisionais como
procedimento cautelar específico, entende que:

Cabe a Medida cautelar de Alimentos provisionais diante dos termos do art. 798 do
CPC, considerando-se que em matéria de Alimentos existe necessariamente, a
possibilidade de uma lesão grave em virtude de qualquer retardamento na sua
pretensão. Por outro lado, a circunstância de nos termos do art. 13 da Lei nº
5.478/68, e seus parágrafos, caberem os provisórios em qualquer ação de Alimentos,
não impede que antes de sua propositura quem deles precisa opte pela medida
cautelar.

Segundo Cahali (1999, p.884), o Código de Processo Civil, cuidando dos


procedimentos cautelares específicos, neles incluiu os Alimentos provisionais, dizendo ser
lícito pedir Alimentos provisionais.
Tratando-se de Alimentos provisionais, a sua concessão se sujeita aos pressupostos das
medidas cautelares específicas do Código de Processo Civil, sendo eles o fumus boni iuris e o
periculum in mora. Assunto este que será tratado em momento oportuno.
53

Para Theodoro Júnior (2003, p.466) a ação cautelar de Alimentos provisionais diverge
da ação principal de Alimentos, por possuir a seguintes características: a) é acessória de outro
processo; b) é preventiva, no sentido de evitar que a falta de alimentos prejudique o outro
pleito (venter non patitur dilationem); c) não é definitiva em relação à determinação da
dívida, pois vigora apenas até a solução definitiva da demanda.
Decretada a Medida cautelar específica dos Alimentos provisionais, deve esta conter
as necessidades do requerente, ou seja, o necessário à manutenção (gêneros alimentícios,
vestuário, cuidados de saúde etc.); o que for preciso à defesa judicial do demandante e seus
interesses (custas, despesas com produção de documentos e provas outras, honorários
advocatícios etc.), bem como a possibilidade do devedor. Desta forma, possivelmente será
admitido o deferimento da Liminar, inaudita altera parte. A fixação da verba deverá atender
ao art. 1.694, § 1º combinado com art. 1706, ambos do Código Civil.
No entendimento de Pereira (1998, p.186), tratando-se de questões de Família e no
amparo do menor e do incapaz, considera que não ocorre a caducidade da medida Liminar se
a ação principal não foi proposta em 30 dias, ou seja, concedidos Alimentos provisionais ou
provisórios (estes serão abordados em momento oportuno), não perdem a eficácia se a ação
principal não for proposta no prazo legal. Todavia, por ser uma medida cautelar, concedida
através de uma Liminar, os Alimentos provisionais poderão ser caçados a qualquer tempo (art.
807 do CPC).
Com relação aos Alimentos provisionais, verifica-se que estes não podem ser
confundidos com os Alimentos provisórios, sendo que para os primeiros o legislador deu a
característica de medida Liminar, os quais somente poderão ser deferidos se enquadrados no
art. 852 e seus incisos combinado com os arts. 796 a 889, ambos do Código de Processo Civil
combinados, ainda, com art. 1.706 do Código Civil. Já os segundos serão indicados através de
lei especial (Lei nº 5478/68).
E mais, entende-se que os Alimentos provisionais serão obtidos de forma provisória,
ou seja, será estabelecida pelo juiz uma quantidade necessária à sobrevivência do requerente,
enquanto não ajuizada ou enquanto pendente a ação que lhe fixará o valor definitivo.
No art. 852, inciso I a III do CPC, encontramos os tipos de ações judiciais que cabem
pedido de Alimentos provisionais. Ações estas que terão seguimento no rito ordinário ou
comum, in verbis:

Art. 852 É lícito pedir alimentos provisionais:


54

I – nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, desde que estejam


separados os cônjuges;
II – nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial;
III – nos demais casos expressos em lei.

Theodoro Júnior (2003, p.466) traz o seguinte entendimento frente às ações citadas:

No entanto, como acessório da ação de Alimentos só podem ser pedidos a partir da


propositura da ação principal (ou seja: “desde o despacho da petição inicial”,
conforme o art. 852, inciso II do CPC). Não há, portanto, Alimentos provisionais
preparatórios diante da ação principal de alimentos, mas apenas incidentais. Nas
ações de Separação judicial e de anulação (ou nulidade) de Casamento, sua
admissibilidade se faz presente desde o momento em que se separem os Cônjuges, o
que pode ocorrer antes da propositura da ação (art. 852, inciso II do CPC).

Postulados os Alimentos provisionais em caráter preparatório, a ação principal deverá


ser proposta no prazo de 30 dias conforme art. 806 do Código de Processo Civil, sob pena de
perda de eficácia da medida.
Quanto aos demais casos expressos em lei, temos a ação de investigação de
paternidade (Lei nº 8.560/92 art. 7º), sendo que somente após a sentença que lhe for favorável
terá o autor direito a Alimentos provisionais.

3.1.2.1 Fumus boni iuris e periculum in mora: requisitos fundamentais dos alimentos

provisionais.

Para dar início a este item, primeiramente, devem-se conceituar os requisitos para
alcançar uma providência de natureza cautelar.
Para Plácido e Silva (1998, p.372), a expressão fumus boni iuris (fumaça do bom
direito) é plausível. “A expressão é geralmente usada como requisito ou critério para a
concessão de medidas Liminares, cautelares ou de antecipação de tutela, bem como no juízo
de admissibilidade da denúncia ou queixa, no foro criminal”.
Já quanto ao periculum in mora Theodoro Júnior (2003, p.355), salienta que o mesmo
“ocorre quando haja o risco de perecimento, destruição, desvio, deterioração, ou de qualquer
mutação das pessoas, bens ou provas necessários para a perfeita e eficaz atuação do
provimento final do processo principal”.
55

Cahali (1999, p.890) salienta que, em se tratando de Alimentos provisionais, a sua


concessão se sujeita aos pressupostos das medidas cautelares específicas do Código de
Processo Civil: fumus boni iuris e periculum in mora; dispondo o art. 854 do CPC que, “na
petição inicial, exporá o requerente a sua necessidade e as possibilidades do Alimentante”, e
acrescenta o parágrafo único do mesmo dispositivo legal que “o requerente poderá pedir que o
juiz, ao despachar a petição inicial e sem audiência do requerido, lhe arbitre, desde logo uma
mensalidade para mantença.
Quanto ao periculum in mora ou perigo na demora, diz a lei que o pedido geral de
cautela, deve ser: a) “fundado”; b) relacionado ao dano “próximo”; c) que seja “grave” e de
“difícil reparação” (art. 798 do CPC).
Somente se poderá cogitar da ausência do fumus boni iuris quando, pela aparência
exterior da pretensão substancial, se divise a fatal carência de ação ou a inevitável rejeição do
pedido, pelo mérito.
Entende-se, desta forma, que os requisitos para que o Alimentando alcance as
providências da natureza cautelar, estão circunscritos ao periculum in mora e ao fumus boni
iuris, para que somente assim o juiz possa deferir o pedido frente aos Alimentos provisionais
pleiteados.

3.1.2.2 O deferimento liminar, possibilidade de modificação ou revogação

Quanto às liminares concedidas em Alimentos provisionais pelo magistrado, poderão a


qualquer tempo, ser modificadas ou revogadas. Sobre o tema, Cahali (1999, p.906) traz o
seguinte entendimento:

Os Alimentos provisionais concedidos in limine nos termos do art. 854, parágrafo


único do Código de Processo Civil, poderão ser mantidos, modificados ou cassados
pela sentença que, ao final, julga o processo cautelar (art. 803 do CPC); porém,
como preceito geral, o art. 807 havia estatuído que “as medidas cautelares
conservam a sua eficácia no prazo do artigo antecedente (30 dias) e na pendência do
processo principal; mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas”.

Neste mesmo contexto, Theodoro Júnior (2003, p.471) salienta que “é possível,
outrossim, a revogação ou modificação dos Alimentos provisionais em procedimento
apartado, conforme os arts. 807, do Código de Processo Civil”.
56

Não fugindo da regra, Pereira (1998, p.186) também entende que os Alimentos
provisionais podem ser revogados a qualquer tempo, como ocorre com as liminares
concedidas nas medidas cautelares em geral (art. 807 do CPC).
Não se pode deixar de salientar que os Alimentos provisórios deferidos como liminar
na ação de Alimentos, não podem ser abolidos, devido ao fato de serem o cerne da ação, mas
poderão ser modificados, ou seja, pode haver uma variação, podem ser diminuídos os
Alimentos provisórios, mas não pode haver revogação, por expressa disposição legal. Já os
Alimentos provisionais os quais não se confundem com os Alimentos provisórios (diferença
esta será vista logo adiante), originários de medidas cautelares preparatórias ou incidentais,
poderão ser modificados ou até mesmo revogados a qualquer tempo. E mais, os Alimentos
provisionais estão sujeitos à caducidade caso o autor não proponha a ação principal no prazo
do artigo 806 do Código de Processo Civil, in verbis: “Art. 806 Cabe à parte propor a ação, no
prazo de 30 (trinta) dias, contados da data da efetivação da medida cautelar, quando esta for
concedida em procedimento preparatório”.
Com referência à modificação, ao se tratar, porém, de pedido incidente do quantum
arbitrado, sob argumento de excesso ou insuficiência na avaliação, pode o mesmo ser
reformulado, e se tem admitido, tranqüilamente, nos próprios autos da ação de Alimentos.
Caso o Alimentante trouxer aos autos provas que desmereçam o valor arbitrado pelo juiz,
deverá este fixar em proporção justa. Providência esta que poderá ser tomada até de ofício.
Entretanto, feitas estas colocações, entende-se que os Alimentos provisionais,
concedidos a teor da sistemática processual comum, podem, a qualquer tempo ser revogados
ou modificados.

3.2 Alimentos Provisórios

3.2.1 Conceituação e pressupostos jurídicos

Preliminarmente, faz necessária a apresentação de dois conceitos sobre Alimentos


provisórios para, conseqüentemente, poder se entender melhor os assuntos que serão
explanados nos itens que seguem.
Segundo Pereira (1998, p.183) “os Alimentos provisórios constituem adiantamento de
tutela, que o juiz concede no início da ação que há de seguir, a fim de que, nos autos
respectivos se decida, afinal, sobre o direito aos Alimentos e sua fixação definitiva”.
57

Conforme já tratado, os Alimentos provisionais se aperfeiçoam através do Código de


Processo Civil, enquanto que os Alimentos provisórios serão tratados especificadamente
através da Lei de Alimentos nº 5.478 de 25 de julho de 1.968. Observa-se o que traz o art. 4º
da mesma Lei: “Art. 4º Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios
a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não
necessita”.

Segundo Viana (1998, p.174), os Alimentos provisórios têm lugar nas ações de
Alimentos regidas pela Lei de Alimentos, art. 4º. Sua fixação é feita sumariamente e sem
audiência do devedor, mediante arbitramento do juiz, no próprio despacho da inicial.
Em seguida, arremata Nogueira (1995, p.23), que:

Os alimentos provisórios devem ser fixados pelo juiz ao despachar o pedido inicial.
Ocorrendo exceção caso o credor expressamente declarar que deles não necessita, o
que geralmente não se dá, já que o Alimentando carece desses Alimentos
provisórios.

Frente aos pressupostos fumus boni iuris e periculum in mora nos Alimentos
provisórios, Cahali (1999, p.890) escreve que:

Os Alimentos provisórios frente a tais requisitos, na ação especial de Alimentos (Lei


nº 5.478/68 art. 4º), o fumus boni iuris é condição da própria ação, representado pela
prova pré-constituída da relação de Parentesco ou conjugal; e o periculum in mora é
presumido, quando não dispensados expressamente os alimentos pelo credor: exporá
suas necessidades, provando, apenas, o Parentesco ou a Obrigação alimentar do
devedor.

Os Alimentos provisórios, fixados de acordo com a Lei nº 5.478/68, não podem ser
alterados; devem vigorar, em princípio, até a sentença, só podendo ser modificados a
requerimento de uma das partes e desde que haja alteração na situação financeira do
Alimentante, os quais são devidos, desde a citação inicial até a decisão final do processo,
inclusive o julgamento do recurso extraordinário (art. 13º parágrafos 1º, 2º e 3º da Lei nº
5.478/68).
58

A lei de Alimentos foi criada com um único objetivo, simplificar o processamento das
ações de Alimentos. O legislador facilitou a posição do litigante de menor poder aquisitivo,
ampliando as vias de assistência judiciária, acelerando a ação de Alimentos, através da
supressão de muitas das formalidades de que se revestia a ação correspondente.

3.2.2 Rito especial, juízo competente, termo inicial e final dos alimentos provisórios

A ação de Alimentos a teor da Lei nº 5.478/68, tem alguns benefícios dentre os quais o
rito processual é especial, ao contrário do que acontece nas ações de Separação judicial, de
nulidade, de anulação de Casamento, de Divórcio e até mesmo de investigação de
paternidade, visto que estas ações seguem rito ordinário ou comum.
Parizatto (1997, p.85), neste mesmo diapasão, assevera que os Alimentos a teor da Lei
nº 5.478/68 seguirão o seguinte rito processual:

[...] tal ação tem rito especial, independente de prévia distribuição e de anterior
concessão dos benefícios da assistência judiciária, cabendo à parte informar na
própria inicial que não pode pagar as custas do processo, sem prejuízo do sustento
próprio ou de sua família, presumindo-se pobre, até prova em contrário [...].

No entender de Venosa (2003, p.395):

Os Alimentos provisórios têm rito procedimental sumário especial, mais célere que
o sumário; uma espécie de sumaríssimo, como o dos Juizados Especiais, e se destina
aqueles casos em que não há necessidade de provar a legitimação ativa do
Alimentando.

Para Pereira (1998, p.203), podem ajuizar o pedido de Alimentos se utilizando do rito
procedimental da Lei nº 5478/68, “o Cônjuge, os filhos menores ou maiores, estes
excepcionalmente, quando necessitados ou inválidos e os parentes designados nos arts. 1.696
e 1.697 do Código Civil”.
Com ênfase as questões processuais, o juízo competente ou o foro competente
segundo, Diniz (1995, p.474) e Nogueira (1995, p.11), será o da residência ou domicilio do
Alimentando, conforme dispõe o art. 100, inciso II do CPC.
59

Segundo Cahali (1999, p.899), “estatuindo a competência do foro do domicílio ou da


residência do Alimentando, para as ações em que se pedem Alimentos, não faz qualquer
distinção quanto a serem provisionais, provisórios ou definitivos os Alimentos reclamados”.
Quanto ao prazo inicial dos Alimentos provisórios e dos provisionais é a data da
citação (art. 263 CPC e art. 13, § 2º da Lei de Alimentos).
Neste entendimento, Cahali (1999, p.901) salienta que em condições jurisprudenciais
que faz retroagir o termo inicial dos Alimentos provisórios ou provisionais à data do
arbitramento deve ser admitido com certo cuidado, reservando-se unicamente para aqueles
casos em que o reclamante tenha cuidado eficientemente da imediata citação do réu, frustrada
esta em razão de expedientes procrastinatórios do devedor.
Viana (1998, p.176) em contrapartida salienta que, ter-se o termo inicial como sendo o
arbitramento pelo juiz, ou seja, considerar o marco inicial como equivalente o da propositura
da ação, é tese que se choca com a norma processual e o disposto na Lei nº 5.478/68.
Já com referência ao termo final dos Alimentos provisórios, Viana (1998, p.176) e
Cahali (1999, p.902), arrematam que os alimentos provisórios perduram até a decisão final,
inclusive o julgamento do recurso extraordinário, ou mesmo sua revogação, como
enfatizados.

3.2.3 A fixação do montante da pensão alimentícia provisória e alteração

A fixação dos Alimentos provisórios dependerá do caso real, visível, tendo em vista as
necessidades do credor e os recursos do devedor, o que deve ser analisado com todo o critério,
para que não hajam concessões elevadas ou acanhadas, tudo dependendo, até mesmo, do
bom-senso do magistrado.
Neste mesmo diapasão, Parizatto (1997, p.88) salienta que “os Alimentos devem ser
fixados de acordo com a proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada, cabendo ao juiz verificar tais fatores”, ou seja, a lei não quer o perecimento do
credor, mas também não almeja o sacrifício do devedor, conforme art. 1.694, §1º do Código
Civil.
A fixação de Alimentos provisórios é decisão interlocutória desafiando agravo de
instrumento. O mesmo vale para os Alimentos provisionais, quando fixados liminarmente.
Neste mesmo entendimento Nogueira (1995, p.14) salienta que “contra decisão que
fixa ou nega os Alimentos provisórios, o recurso cabível será o agravo de instrumento (art.
522 do CPC), por não se tratar de decisão terminativa”, ou seja, as sentenças proferidas em
60

ações de Alimentos sempre terão julgado formal e nunca material, já que podem ser revistas a
qualquer tempo.
Caso forem fixados os Alimentos no final, por sentença, na ação de Alimentos ou na
Medida cautelar de Alimentos provisionais, o recurso cabível será a apelação, sendo recebida
apenas no efeito devolutivo, se condenatória da prestação de Alimentos (art. 521 do CPC).
Conforme já salientado no capítulo 2 mais especificadamente no item 2.4, a fixação
dos Alimentos provisórios pode se dar na ação de Alimentos, sendo que o juiz determinará a
entrega ao cônjuge, mensalmente, para assegurar o pagamento de Alimentos provisórios, de
parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor, se o regime de
Casamento for o da comunhão universal de bens é o que dispõe o artigo 4º, parágrafo único,
da Lei nº 5.478/68, ou seja, conforme nos ensina Araken de Assis (1998, p.149):

Existindo aluguéis de prédios na execução de Alimentos devidos pelo cônjuge,


havendo Casamento pelo regime da comunhão universal, exclui-se a metade da
renda líquida, que pertence ao próprio credor e outros rendimentos, o Alimentando,
compulsoriamente, terá de utilizar a expropriação.

Quanto à alteração dos Alimentos provisórios, Nogueira (1995, p.15) salienta que
ocorre uma desavença sobre este tema:

Uma corrente entende que os alimentos provisórios podem ser modificados para
mais ou para menos, conforme a alteração das condições dos alimentandos, mas
observando o princípio do contraditório. Já a outra corrente é de opinião que podem
ser até revogados em face das circunstâncias, já que se destinam às necessidades do
alimentando.

Cahali (1999, p.923) neste mesmo entendimento traz que:

[...] a regra do art. 13 § 3º da Lei de Alimentos vem sofrendo certas atenuações a


partir da própria jurisprudência, ainda que tangenciando a sua literalidade, para, sob
inspiração da equidade, impedir constrangimento injusto; e, no pressuposto da
admissibilidade da modificação do quantum a qualquer tempo da pensão provisória,
admite-se até mesmo a própria revogação do benefício [...].
61

Desta forma, concedidos os Alimentos provisórios com fundamento do art. 4º da Lei


de Alimentos, a sentença poderá mantê-los, majorá-los ou reduzi-los, como também poderá
negar o próprio direito de Alimentos.
Entretanto, na fixação dos Alimentos provisórios, deverá o magistrado observar a
necessidade do credor e a possibilidade do devedor; a alteração ou modificação se dará apenas
para mais ou para menos, e quanto a possibilidade de revogação, começa a surgir
entendimento doutrinário divergente.

3.2.4 Alimentos provisórios em ações revisionais

Os Alimentos provisionais e os provisórios derivam de conhecimento superficial,


como regra, partindo-se de informações ou dados prestadas pela parte interessada. A cautela
do meritíssimo adquire especial destaque.
Segundo Nogueira (1995, p.15), nas ações de revisão da pensão alimentícia, o juízo
competente é firmado pela prevenção do juízo onde os Alimentos foram fixados
originariamente, segundo alguns julgados. Outros entendem que o pedido de revisional é
autônomo, isolado e desvinculado da ação anterior, em que os Alimentos foram
primeiramente fixados, devendo assim haver distribuição.
Não se tem dúvida que este conflito somente traz prejuízos à parte, que busca
prestação jurisdicional urgente e vê seu direito adiado em fase dessas discussões.
Como já visto, os Alimentos provisórios podem ser revistos a qualquer tempo,
havendo modificação na fortuna das partes, processando-se em apartado. Podendo a
modificação ser para mais ou para menos, sendo admitida até mesmo à revogação se as
circunstâncias assim permitirem .
Neste mesmo entendimento, Venosa (2003, p.396) salienta que quanto aos Alimentos
provisórios, poderão ser revistos a qualquer tempo, processando-se em apartado, conforme
art. 13, § 1º da Lei de Alimentos, in verbis:

Art. 13 O disposto nesta Lei aplica-se igualmente, no que couber, às ações ordinárias
de desquite, nulidade e anulação de casamento, à revisão de sentenças proferidas em
pedidos de alimentos e respectivas execuções.
§ os alimentos provisórios fixados na inicial poderão ser revistos a qualquer tempo,
se houver modificação na situação financeira das partes, mas o pedido será sempre
processado em apartado.
62

Segundo Viana (1998, p.283), a revisão da pensão alimentícia persegue uma alteração
quantitativa dos Alimentos, decorrente de modificação da situação financeira das partes.
Legitimam-se o credor e o devedor, admitindo-se redução, agravamento ou supressão.
Cumpre salientar que nenhuma lei, por melhor que seja, terá sucesso se não tiver um
aplicador consciente e responsável, disposto a dar andamento rápido ao processo, não só
despachando as petições com presteza, como, sobretudo, fiscalizando seu bom andamento no
cartório.
Desta forma, fixados os Alimentos pelo magistrado, os quais devem satisfazer as
necessidades do credor, bem com estar de acordo com as possibilidades do devedor, poderão
também ser revisto sempre que houver alteração na situação das partes.

3.3 Alimentos provisionais e alimentos provisórios: algumas diferenciações

O Código de Processo Civil, arts. 852/854, fala em Alimentos provisionais, enquanto a


Lei nº 5.478/68 dispõe a respeito dos Alimentos provisórios.
A finalidade deles é a mesma, sendo concedidos de forma temporária para que o
credor possa atender à sua subsistência no processo. A distinção reside na sua terminologia e
no aspecto procedimental.
Outra diferença está no fato de que os Alimentos provisórios são requeridos sempre
durante a demanda, seja ela cautelar ou principal, ao passo que os Alimentos provisionais
podem ser discutidos também antes da ação principal.
Tanto os Alimentos provisionais quanto os Alimentos provisórios, tem a nota original
da irrepetibilidade, pois uma vez pagos, não podem ser restituídos, ainda que julgados
improcedentes ao final da demanda.
Ao contrário do que ocorre com os Alimentos provisórios, que uma vez concedidos
initio litis, são devidos até o julgamento final da ação, inclusive do recurso extraordinário, os
Alimentos provisionais podem ser revogados a qualquer tempo, como ocorre com as liminares
concedidas nas medidas cautelares em geral.
Os Alimentos provisórios têm lugar nas ações de Alimentos regidas pela Lei de
Alimentos, art. 4º. Sua fixação é feita sumariamente e sem audiência do devedor, mediante
arbitramento do juiz, no próprio despacho inicial. Entendemos que o juiz não atua de oficio,
dependendo, para conceder a verba, de pedido do interessado.
63

Já os Alimentos provisionais, que são pedidos com caráter preparatório ou incidental,


nas hipóteses do art. 852 do CPC, é tutela emergencial dispensada a quem deles necessita para
atender às exigências de prevenir riscos de dano atual e potencial, vindo em autos próprios
apensados da ação principal.
O juízo competente para a propositura da ação de Alimentos tanto Alimentos
provisionais quanto Alimentos provisórios, é o do domicilio ou da residência do Alimentando.
Tem-se, portanto, duas medidas temporárias: os Alimentos provisórios e os Alimentos
provisionais. Os primeiros, fixados de plano, na ação de Alimentos e de Alimentos
provisionais, podem ser alterados em qualquer fase de uma e outra e devem viger até a
sentença nestas proferidas. Os provisionais cessam com a sentença dada na ação principal que
fixa os Alimentos definitivos.
Tratando-se de Alimentos provisionais, a sua concessão se sujeita aos pressupostos das
medidas cautelares especificas do Código de Processo Civil: fumus boni iuris e periculum in
mora, dispondo o art. 854 que, na petição inicial, exporá a requerente a sua necessidade e a
possibilidade do Alimentante.
Na ação especial de Alimentos (alimentos provisórios), o fumus boni iuris é condição
da própria ação, representado pela prova pré-constituída da relação de Parentesco e conjugal,
e o periculum in mora é presumido, quando não dispensados expressamente os alimentos pelo
credor.
A jurisprudência distingue o prazo tanto para Alimentos provisórios quanto para os
Alimentos provisionais com ênfase a prisão civil. Para os primeiros, a duração máxima é de
60 (sessenta) dias (art. 19 da Lei nº 5.478/68). Já para os segundos, o prazo máximo é de 3
(três) meses (art. 733, § 1º do CPC). Mas lembra-se que tem prevalecido o critério unitário e
unânime de 60 (sessenta) dias para todos os casos.
64

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pôde ser observada, a importância do Instituto dos Alimentos consagra a


garantia básica das relações de Família, o mútuo dever de proteção.
Na conceituação de Alimentos, é unânime o entendimento dos doutrinadores no
sentido de que os mesmos são prestações (em dinheiro ou na espécie) para satisfação das
necessidades vitais à conservação do ser humano. É o subsídio diário assegurado a alguém,
por um título de direito, podendo abarcar não só o necessário à vida, como “a alimentação,
o vestuário, a assistência médica em caso de doença e a moradia”, mas também, outras
necessidades, incluindo a educação e instrução.
Com ênfase à Obrigação alimentar - no sentido de que uns sustentem os outros nos
casos previsto em lei -, a mesma poderá surgir do dever de mútuo amparo entre os
parentes, na constância do Casamento e, também, ocorrendo União estável.
Quanto ao mútuo amparo entre os parentes (iure sanguinis), o mesmo ocorre entre
pais e filhos, reciprocamente (alimentos entre pais e filhos); na falta destes, os demais
ascendentes, na ordem de proximidade; aos descendentes, na ordem de proximidade; os
irmãos, sejam estes germanos ou unilaterais.
Na relação jurídica do Casamento (iure conjugii), o dever de prestar Alimentos
entre Cônjuges está condicionado ao grau de participação do cônjuge na separação, ou
seja, a existência de culpa pela separação e a prova da necessidade de alimentos. Mas,
ressalta-se que segundo o parágrafo único do artigo 1.704 do Código Civil, se o cônjuge
declarado culpado pela separação vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em
condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a
assegurá-los.
Já na União estável, entende-se que a obrigação de prestar Alimentos a (o)
Companheiro (a), não está apoiada, necessariamente, na idéia de culpa (devido esta sofrer
restrições no campo da Separação judicial e do Divórcio), assume, agora, contorno mais
forte. Deve-se examinar no caso concreto o binômio necessidade-possibilidade
demonstrando os seguintes pressupostos: I) ter convivido com pessoa solteira, separada
judicialmente, separada de fato, divorciada ou viúva; II) que a convivência tenha sido
duradoura, pública e contínua; III) a necessidade dos Alimentos.
65

Frente aos Alimentos provisionais e Alimentos provisórios, a diferença principal é


que os primeiros vêm dispostos no Código de Processo Civil, mais especificadamente em
seus artigos 852/854, combinado com artigo 1.706 do Código Civil. Já os segundos são
tratados através de Lei especifica (Lei nº 5.478/68).
Em suma, estas são algumas das principais reflexões extraídas deste simples
trabalho. Não se pode deixar de lembrar que a obrigação de prestar os Alimentos constitui
estudo que interessa ao Estado, à sociedade e à Família, devendo sempre analisar os dois
requisitos mais importantes desta relação, ou seja, necessidade do Alimentando e a
possibilidade do Alimentante.
Finalmente, com relação às hipóteses levantadas no decorrer da pesquisa, o
resultado a que se chegou é este:
Primeira hipótese: A Obrigação alimentar decorre do dever de sustento ou de
assistência que existe entre Cônjuges, Companheiros e entre parentes, nos casos previstos
em lei.
Esta hipótese restou totalmente confirmada, uma vez que a própria legislação
brasileira mais especificadamente o Código Civil Brasileiro em seu artigo 1694, dispõe que
podem os parentes, os Cônjuges ou Companheiros pedir uns aos outros os Alimentos de
que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para
atender às necessidades de sua educação, surgindo desta forma a Obrigação alimentar.
Cumpre salientar que inexiste Obrigação alimentar entre parentes por afinidade.
Segunda hipótese: Alimentos provisórios e Alimentos provisionais, apesar de
possuírem em comum a característica de “provisoriedade”, tratam-se de institutos jurídicos
diferenciados.
Esta hipótese restou confirmada uma vez que os Alimentos provisórios são os
fixados através da Lei nº 5.478/68 em seu art. 4º, segundo o qual o juiz, ao despachar o
pedido, fixará desde logo os Alimentos provisórios, e os Alimentos provisionais, por sua
vez, tratam-se de Medida cautelar, com previsão legal no CPC, em seus arts. 796 a 889.
Desta forma, conforme já mencionado anteriormente, a finalidade dos Alimentos
provisórios e dos Alimentos provisionais é a mesma, visto serem concedidos de forma
temporária para que o credor possa atender à sua subsistência no processo, entretanto, as
diferenciações residem na terminologia e no aspecto procedimental.
66
67

REFERÊNCIAS

ASSIS, Araken de. Da execução de Alimentos e prisão do devedor. 4. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998.

BRASIL. Código de Processo Civil. 04 de janeiro de 2002. Brasília, DF.

BRASIL. Código Civil. 11 de janeiro de 2003. Brasília, DF.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 05 de outubro de 2000. Brasília,


DF.

BRASIL. Lei nº 5.478 de 25 de julho de 1968. Dispõe sobre ação de alimentos e dá outras
providências. (Dos alimentos provisórios).

CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

CONTIJO, Segismundo. Do instituto da união estável. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1995.

COSTA, Wagner Veneziani; AQUAROLI, Marcelo. Dicionário Jurídico. São Paulo: WVC,
2003.

COVELLO, Sérgio Carlos. Ação de alimentos. 3. ed. São Paulo: Universitária de Direito,
1992.

DA LUZ, Valdemar P. Manual do Advogado. 16. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2003.

DE MELO, Nehemias Domingos. União Estável – Conceito, Alimentos e Dissolução.


Consulex. IX. V. nº 196. março de 2005.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família.v.V., 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 1995.

____. ____. v.V., 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva. 1998. IV. V. 700 p.

ESPÍNOLA, Eduardo. A família no direito civil brasileiro. Campinas: Bookseller, 2001.

FEITOSA, Maria Luiza de Alencar M. Disponível em: www.ambito-juridico.com.br. Acesso


em 12 de março de 2007.

FUHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Civil. 24.ed. São Paulo:
Malheiros, 2001.
68

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de Família: Sinopses Jurídicas. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003. V. II.

IOB Thomson. Revista Brasileira de Direito de Família. São Paulo: Ano VI – nº 27 – Dez –
Jan 2005.

MAGALHÃES. Humberto Piragibe; MALTA, Christovão Piragibe Tostes. Dicionário


jurídico. 7.ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 1990.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 30.ed. São
Paulo: Saraiva, 1993.

NOGUEIRA. Paulo Lúcio. Lei de Alimentos Comentada: Doutrina e Jurisprudência. 5.


ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

OLIVEIRA, Adriane Stoll de. Disponível em: www.ambito-juridico.com.br. Acesso em 08 de


fevereiro de 2007.

OLIVEIRA, Adriane Stoll de. Disponível em: www1.jus.com.br/doutrina/texto. Acesso em


12 de outubro de 2006.

OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de Direito de
Família. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1998..

PARIZATTO, João Roberto. Divórcio e Separação: Alimentos e sua Execução. São Paulo:
de Direito, 1997.

PEREIRA, Áurea Pimentel. Alimentos no direito de família e no direito dos


companheiros. Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

PEREIRA. Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 11.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999. V. V.

RIBEIRO, Benedito Silvério. A evolução do direito de família e as expectativas para o


futuro. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura, 1998. p. 33-42.

SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva,
1987. V. III.

SANTOS, Frederico Augusto de Oliveira. Alimentos Decorrentes da União Estável. Belo


Horizonte: Del Rey, 2001.

SILVA, Plácido e. Vocabulário jurídico. 12. ed. São Paulo: Forense, 1998. V. I.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 35. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2003. V. II.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003.
69

____. ____. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006.

VIANA, Marco Aurélio S. Alimentos: Ação de investigação de paternidade e


maternidade. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.

____. Curso de direito civil: direito de família. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. V. II.

Você também pode gostar