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-i E:JITOPA
VOZES
M
,
INDICE
Apresentação, 9
Dados biobibliográficos, 11
1. A concepção de língua, 13
1.1. A linguagem no contexto social, 13
1.2. A descrição da heterogeneidade lingüística, 15
1.3. A função social da linguagem, 16
1.4. O condicionamento lingüístico da sociedade, 17
1.5. O condicionamento social da língua, 18
Exercício I, 21
2. O escopo da sociolingidstica, 25
2.1. O objeto da sociolingüística, 25
2.1.1. A macro-sociolingüística, 26
2.1.2. A micro-sociolingüística, 26
2.2. As disciplinas afins, 27
2.2.1. A sociologia da linguagem, 27
2.2.2. A etnografia da comunicação, 28
2.2.3. A dialetologia, 29
2.2.4. A geografia lingüística, 30
2.2.5. A pragmática, 31
2.3. Os problemas da descrição da fala, 31
2.3.1. A agramaticalidade do discurso, 31
2.3.2. A variação na fala, 32
2.3.3. As dificuldades do registro, 33
2.3.4. As limitações do corpus, 33
Exercício II, 35
165
3.1/.1' ('O/llllllld{/d<',I' (' (}S (rliU)/I'I(},\', ili p(',\'(/"I,\'(/ vnriucionist«. 81
3.1. A que tão dos limites, 9 5.1. princípio da investi Ja~a(), H
3.2. As concepções de comunidade, 40 5.2. A coleta dos dados, 85
3.3. As áreas lingüísticas, 45 5.3. A formulação das hipóteses, 87
3.4. Os domínios, 45
5.4. A determinação da amostra, 88
3.5. Os (dia)letos, 45
5.5. A codificação dos dados, 90
3.5.1. A língua e os dialetos, 46
5.6. Um exemplo de análise laboviana, 91
3.5.2. O sotaque e o dialeto, 47
5.7. As atitudes dos falantes, 93
3.5.3. As variedades lingüísticas, 48
5.8. O processamento dos dados, 95
3.5.4. O vernáculo, 48
5.9. A interpretação dos resultados, 99
3.5.5. Outros letos, 49
5.10. A visão sistêmica, 101
3.5.5.1. O idioleto, 50
Exercício V, 106
3.5.5.2. O socioleto, 50
3.5.5.3. O tecnoleto, 51 6. A mudança lingüística, 109
3.5.5.4. O bioleto, 51 6.1. A questão da mudança, 109
3.5.5.5. O interleto, 52 6.2. As teorias sobre a mudança, 110
Exercício ru, 53 6.2.1. A lei do menor esforço, 111
6.2.2. A influência do substrato, 111
\4. A variação lingüística, 57 6.2.3. A herança genética, 111
4.1. A variação inerente ao sistema , 57 6.2.4. A influência climática, 112
4.2. As regras categóricas e variáveis, 58 , 6.2.5. Os condicionamentos culturais, 112
4.3. A variável lingüística, 59 6.2.6. A mudança de geração, 113
4.4. As variantes livres e combinatórias , 63 6.2.7. A hipótese funcional, 113
4.5. As variantes de prestígio, 64 6.2.8. A hipótese intralingüística, 113
4.6. As variantes estigmatizadas, 65 6.2.9. A teoria das ondas, 114
4.7. As variantes inovadoras e conservadoras , 65 6.2.10. A difusão lexical, 115
4.8. Os estereótipos, indicadores e marcadores , 66 6.2.11. A regularidade da mudança, 116
4.9. As variáveis externas , 67 6.2.12. A teoria da inovação ativa, 118
4.9.1. Os estilos de fala, 68 6.2.13. A resistência à mudança, 119
4.9.2. A variável sexo , 71 6.3. Os princípios reguladores da mudança, 120
4.9.3. A faixa etária, 76 6.3.1. O princípio da uniformidade, 120
4.9.4. A classe social, 77 6.3.2. O princípio da compensação estrutural, 121
4.9.5. O grupo étnico, 77
6.3.3. O princípio da mecanicidade, 121
4.9.6. A localidade, 78
6.3.4. O princípio da mudança categorial, 121
Exercício IV, 79
166 167
6.4. Os tipos de mudança, 121
6.4.1. Mudanças vindas de baixo, 122
6.4.2. Mudanças vindas de cima, 122
1
6.5. Os fatores condicionantes, 123
6.5.1. Mudança e classe social, 124
6.5.2. Indivíduo e mudança, 125
6.5.3. Sexo e mudança, 127
6.5.4. Raça e mudança, 128
6.5.5. Isolamento e mudança, 129
6.5.6. Mídia e mudança, 129
6.5.7. Política e mudança, 129
6.6. Mudança em curso e mudança realizada, 130
6.6.1. Mudança em tempo aparente, 131
Paraense radicado em FOllllk,
6.6.2. Mudança em tempo real, l33 José Lemos Monteiro 1011101
11
1'111 11) /0.1, .t1lOV 1I11f1 011 S '( t' 111111111(1 !l(11 I I' '1111, h 111111.1111111 ,'', I" 011 1
pulmcnt 'P IU,"ll" 'SS' '111 'slu lar os /"110111 'nos ti' mudança 1011 '111 I, I1 '1"1• l'
~Llndo ~I?, o dialeto da Philadclphia constitui um laboratóri idcal purn 'SS(' 0111,_
t,VO.Aí.juntamente com Sankoff, Kroch c Prince consolidou os seus ideais de /à-
zcr da lingüística uma ciência empírica, dotada de métodos objetivos e precisos.
Pelas suas idéias e pelo trabalho proficuo que vem realizando, tem sido considera-
do o representante maior da corrente sociolingüística denominada de variacionis-
1
mo e sua influência já alcançou as mais diversas regiões do mundo. O reconheci-
mento da comunidade científica internacional a ele devido é demonstrado entre A CONCEPÇÃO DE LÍNGUA
outras homenagens, pela concessão do título de Doutor Honoris Causa quejá lhe
outorgaram as Universidades de Uppsala (1985), de Liége (1990), de York (1998) Os procedimentos da lingüística descritiva se baseiam no
e de Haifa (1999). entendimento de que a língua é um conjunto estruturado de
normas sociais. No passado, foi útil considerar que tais normas
Sua produção científica é incessante e vasta. Além de cerca de uma centena de eram invariantes e compartilhadas por todos os membros da
artigos publicados em revistas especializadas, constam de sua bibliografia, entre comunidade lingüística. Todavia, as análises do contexto social
outros, os seguintes livros: em que a língua é utilizada vieram demonstrar que muitos
elementos da estrutura lingüística estão implicados na variação
The Social Stratification of English in New York City. Washington, D.e.: Center sistemática que reflete tanto a mudança no tempo quanto os
for Applied Linguistics, 1966. processos sociais extralingüisticos (Labov, 1968) I.
The Study of Non-Standard English, Champaign, IL: National Council of Tea-
chers of English, 1970 ..
Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: U. of Pennsylvania Press, 1972.
1.1. A linguagem no contexto social
Language in the Inner City. Philadelphia: U. ofPennsylvania Press,1972.
Para se compreender Labov, o primeiro e decisivo passo há de ser o de refle-
What is a linguistic fact? Lisse: Peter de Ridder Press. New York: Humanities tir sobre a natureza da linguagem humana, no sentido de percebê-Ia em suas ca-
Press.
ractcristicas essenciais. Dois aspectos devem então de imediato ser postos em
1/ Continuo e il Discreto nel Linguaggio. Bologna: Il Mulino, 1977. discussão: o primeiro relacionado ao caráter eminentemente social dos fatos lin-
iüisticos e o segundo, à percepção da variabilidade a que tais fatos estão conti-
Locating Language in Time and Space. (ed.) New York: Academic Press, 1980.
nuamente submetidos.
Principies of Linguistic Change. VoI. 1: Internal Factors. Oxford: Basil Black-
Na realidade, não constitui nada de novo dizer que a língua e a sociedade são
well,1994.
duas realidades que se inter-relacionarn de tal modo, que é impossível conce-
ber-se a existência de uma sem a outra. Com efeito, a finalidade básica de uma lín-
gua é a de servir como meio de comunicação e, por isso mesmo, ela costuma ser
interpretada como produto e expressão da cultura de que faz parte.
Entretanto, a lingüística, ciência cujo objeto material é a descrição das lín-
guas, nem sempre incluiu no seu escopo a preocupação com os aspectos de natu-
I
'-- /J;'j )~,
I. The proeedures of descriptive linguistics are based upon the conception of language as a structured set of social
norms. It has been useful in the past to eonsider these norrns as invariants, shared by ali members of the spccch com-
munity. However, closer studics ofthe social contcxt in which language is used show that many clcments oflinguistic
structurc are involvcd in systematic variation which reflects both temporal change and extralinguistic social proces-
ses (Labov, 1968:241).
12
13
reza social. ~ começar de Saussure (1916)2 que, ao estabelecer a dicotomia língua Por seu turno, o modelo gerativista, ainda que teórica e metodologicamente
(langue) e dISCurSO(parole), não soube como dar conta dos fatos do discurso em distanciado dessas três posturas, concorda com elas ao admitir a homogeneidade
virtude do caráter multiforme e heteróclito que o define. Na realidade, é o próprio lingüistica e excluir a reflexão sobre os conteúdos sociais. Basta lembrar que
Labo." (1972) quem observa, o discurso da maioria dos indivíduos não constitui ( 'homsky (1965) delimitou como objeto de sua teoria lingüística a competência
um sistema coerente e racional, uma vez que é marcado por numerosas oscila- de um falante-ouvinte ideal.', membro de uma comunidade lingüística completa-
ções, contradições e alterações. E, sendo assim, Saussure estabeleceu um corte mente homogênea e possuidor de um conhecimento excelente da língua, além de,
metodológico, ~eterminando que o objeto de estudo da lingüística teria que ser a uo realizá-Ia, não ser afetado por nenhum problema que pudesse causar redução
langue, concebida como um sistema regido por leis próprias e dotado pois de da memória, dispersão mental, deslocamentos de atenção ou de interesse e lapsos
uma certa homogeneidade. ' , quase sempre casuais.
O mais curioso é que essa dicotomia termina gerando um paradoxo. Labov Dessa forma, demorou bastante tempo até que os lingüistas se decidissem a
(1972) interpreta que, de acordo com o pensamento de Saussure, se todos os fa- mcorporar os aspectos sociais nas descrições das línguas. Alguns desses aspectos
lantes ~ossu.em um conhecimento da língua (langue), desde que esta é um sistema eram destacados geralmente por antropólogos ou sociólogos, que trabalhavam
q~e :xlste vI.rtualmente em cada cérebro, seria possível obter os dados para a des- com conceitos de linguagem bastante rudimentares. Não foi por acaso que os no-
cnçao a partir do t~stemunho de um único falante. E, de maneira oposta, os dados vos estudos sociolingüísticos foram inaugurados, em 1963, por uma associação
para se estudar o discurso (parole) só poderiam ser obtidos mediante o exame do de sociólogos - a Social Sciences Research Council.
c?mporta~ent? dos indivíduos no uso da linguagem, ou seja, num contexto so-
cial. Este e, pOIS, um famoso paradoxo saussuriano: partindo-se de um único in- 1.2. A descrição da heterogeneidade lingüística
?ivídu~, seria possível a?alisar-se o lado social da linguagem, mas somente pela
interação de duas ou mais pessoas se poderia estudar o aspecto individual. As primeiras intenções de se delimitar o campo da sociolingüística foram in-
li lilÍ feras, pois nem mesmo Bright (1966) e Fishman (1972), que foram os pionei-
De todo. mOd?, confor:me vimos, embora Saussure tenha definido a língua IOS, conseguiram defini-Ia com precisão. A nova disciplina surgiu então meio
como iun fait soczal, excluiu das tarefas da lingüística a preocupação com os ele- confusa, desprovida de um rigoroso marco teórico, além de sofrer a desconfiança
mentos de ordem social e pressupôs a homogeneidade como um requisito básico do lingüistas que já pertenciam a alguma escola.
para a descrição. Este ~r~ncípio foi seguido pelo estruturalismo, intensificado pe-
los adeptos da glossemática e levado às últimas conseqüências pelo gerativismo. De qualquer, modo, embora sem conseguir efetivar plenamente seus objeti-
vos, deve-se a Bright o primeiro esforço no sentido de especificar o conteúdo da
Nessa li~~, Bloomfield (1933), adotando um enfoque estritamente formalista, sociolingüistica. Insistindo no caráter inovador, ele formula uma série de vagas
ao tentar delimitar o campo de interesse da lingüística, acabou por desconsiderar di- «leias sobre a relação entre língua e sociedade e termina afirmando que o objeto
versos aspectos da lin~agem: a natureza semântica do signo e sua função social, d ' estudo da sociolingüística é a diversidade lingüística.
por exemplo.' ficaram a margem de qualquer preocupação descritiva. E assim, para
os est~turahstas ort~doxos, tudo o que ficou fora dos limites marcados para o estu- A tese fundamental de Bright é a de que um sistema lingüístico monolítico,
do da língua como sistema de abstrações deixou de ser objeto de atenção. I .nlizado sem variações ou com variações fortuitas e imotivadas, é incapaz de ex-
pli 'ar toda uma gama de associações com a estrutura social. Em seu estudo, ele
. A glossemática de Hjelmslev mostrou-se mais rígida ainda na definição de seu u-nta estabelecer várias dimensões, das quais a de maior importância é a diversi-
~bJe.~?~e es~do: a. análise das relações entre as formas que integram um sistema dudc, percebida sob três ângulos principais: a identidade social do emissor, a
11l1gUlStICO nao podia deter-se na observação de uma variabilidade extra-sistemática Id .ntidade social do receptor e as condições da situação comunicativa.
e sup.erficial. O desprezo à substância da língua eliminou, entre outras coisas, toda
um~ Importante zona.de variáveis lingüísticas que servem para a caracterização das
,,:anedades de fala. HJ~lmslev (1953) foi bastante taxativo ao afirmar que a lingüís- \ Ambos os conceitos (o de competência lingüística c o dela/ante-ouvinte ideal) são bastante criticados pelos so-
tica deve conceber a linguagem; não como um aglomerado de fenômenos não lin- 1101111 '(listas. O falante ideal chegou a ser caracterizado por Bernstein (ap. Marcuschi (1975:32) como uma con-
II'P~' o mltica, por ignorar toda a vinculação com os aspectos de natureza social a que estão sujeitos os fenômenos
güísticos, mas como uma totalidade auto-suficiente, uma estrutura sui generis.
1111 llsucos, Por outro lado, a concepção teórica de competência, no sentido chomskiano, não tem vez na sociolin-
1'111 I1 'U, umn vez que não expressa a enorme complexidade de um sistema lingüístieo em suas várias dimensões,
111111111 L'I1(lo no máximo as Arcas da gramática c da fonologia. E foi devido a isso que Hymes (1972) introduziu a cx-
111' 00 (1I1II/1('/()IIC"i1l comunlcotiva, para abranger os elementos de natureza lingüística, psiquica, social c pragmática
2. Para a compreensão da obra de Saussure, sugerimos a leitura de Carvalho (1998). "'111111111111 '11~'1 n Cll1 IC 1111,
T()dIlVIH, os propósitos de descrever a heterogeneidade lingüística e de encon- modo os padrões de comportamento, que variam em função do tempo e do espa-
trar um modelo capaz de dar conta da influência dos fatores sociais que atuam na 'o. Assim se explicam os fenômenos de diversidade e até mesmo de mudança lin-
lin tua somente passaram a ter êxito com os trabalhos de Labov, que logo se tor- iülstica, conforme Labov tem insistido. E, inversamente, pode-se supor que cer-
nou o representante mais conhecido da chamada teoria da variação lingüística. tas atitudes sociais ou manifestações do pensamento sejam influenciadas pelas
Isto porque, conforme assinala o próprio Labov (1972), na década de 60, era ainda .aracteristicas que a língua da comunidade apresenta. É o caso então de exami-
muito remota a possibilidade de que os estudos lingüísticos adotassem uma pers- narmos, com mais vagar, até que ponto.a sociedade.é.ccndicionada gela língua e,
peetiva socialmente realista, uma vez que a maioria dos pesquisadores se dedica- vice-versa, em que medida a lín ua é condicionada pela sociedade,
- -
va à contemplação de seus próprios idioletos. Para Labov, todo enfoque lingüísti-
co .teria que necessariamente ser social, em virtude da natureza do fenômeno que é
1.4. O condicionamento Iingüístico da sociedade
a linguagem. Em função dessa certeza, ele até considerou redundante o termo so-
ciolinguistica e não foi sem grande relutância que passou a aceitá-Ia. Quando se pensa nas relações existentes entre linguagem, cultura e pensa-
Diga-se de passagem, porém, que esse raciocínio de Labov só é correto em mente, surgem questões como as seguintes:
parte: se toda lingüística, pelo caráter social que define a linguagem humana, tem a) Até que ponto a linguagem exerce influência no modo de pensar dos povos?
que ser sociolingüística, cumpre observar que a linguagem não é um fenômeno de
b) Se as línguas têm estruturas tão diversificadas, será que também é dife-
natureza apenas social. Ela é também um fenômeno que tem implicações de or-
rente a organização mental dos homens?
dem psicológica, fisiológica etc. Assim, uma perspectiva, como por exemplo a da
psicolingüística, não deixa de ser útil e necessária, pelo menos no estágio atual, c) Um japonês, que fala um idioma tão distanciado do português, pensa da
em que se torna praticamente impossível criar uma disciplina que reúna em si mesma forma que um brasileiro?
mesma todos os enfoques. d) Até que ponto a evolução ou desenvolvimento de uma sociedade depen-
de do tipo de língua em que nela se fala?
1.3. A função social da linguagem
Vamos fundamentar um pouco mais a relação intrínseca que existe entre a lín- Questões como essas, com todo o perigo de suscitarem a idéia de superiorida-
g.ua e a sociedade. Em primeiro lugar, devemos ter em mente que a língua não é de racial, de vez em quando reaparecem. Um dos primeiros a formular uma hipó-
simplesmente um veículo para se transmitir informações, mas é também um meio ( 'se nesse sentido foi Humboldt, ao dizer que há uma relação de dependência en-
para se estabelecer e manter relacionamentos com outras pessoas. tre a língua e a mentalidade nacional e, por conseguinte, os povos não pensariam
10 mesmo modo. Assim, por exemplo, a língua e os esquemas de pensar dos fran-
A fim de ilustrar essa importante função social por ela desempenhada; pense- .cscs seriam analíticos, diversamente da mentalidade sintética dos alemães.
mos no exemplo, apresentado por Trudgill (1979), de dois ingleses numa estação
de trem, ~ue nunca se encontraram antes e que começam a falar sobre o tempo. A intuição de Humboldt foi bastante divulgada fora do contexto de sua obra e,
Uma explicação para o comportamento dos dois é que deve ser constrangedor es- por isso mesmo, talvez a interpretação que se tem hoje pode não corresponder ao
tar na companhia de alguém com quem não se está familiarizado e não lhe dirigir que realmente ele pretendeu dizer. Mas, seja como for, a idéia de uma relação en-
a palavra. Pode-se também supor que um dos homens, talvez inconscientemente, tre língua e visão de mundo adquiriu enormes proporções com as especulações de
deseja antes de tudo saber alguns pormenores sobre o outro, como o tipo de traba- Sapir e Whorf, ainda hoje bastante discutidas.
lho ou o seu status social; sem tais informações, ele por certo não saberia como se Em termos bem resumidos, ~SJles-d.e.sses dois estudiosos re~
portar diante do estranho. que um falante nativo de uma língua desenvolve u 'rie de categorias ql!e..
11) rn como grades através d~ek.p.eLc.ehe_o..mundo.,...gerandQ a fonaa.pela,
Esses aspectos são muito relevantes sob uma perspectiva social: a fun ~
Iíngua.de estabelecer co tato sociais e_o ga e sociaí, por ela desempenhado, d lua I ele cate oriza e c .. alidade.fe ê ica. Ou seja, aJingua.
transmitir informacões.sohre.c.falante constiruem.uma.preva cabal de que exist IH te afetar a sociedade, in~ mo contro andc.a.zisão de mundo.,
uma' ima relação entre Iíngua,e sociedad <; p.QX' 1".1(;\ I ' u fal antes.L
Essa relação, porém, é muito mais profunda do que se imagina. A própria lín- A im cndo, de acordo com as concepções whorfianas, nenhum indivíduo
gua como sistema acompanha de perto a evolução da sociedade e refi t de "1(0 m a li rdadc d p r b r a natureza com total imparcialidade, uma vez que,
embora ele possa imaginar-se livre, na realidade está limitado a determinados t ' entre os diferentestipos de neve. É claro que o português dispõe de recursos
condicionamentos de interpretação. Ou seja, nem todos os observadores, mesmo pura se fazerem as mesmas distinções: neve fina, neve seca, neve macia e outras
que tenham a vivência de iguais situações fisicas, adquirem a mesma imagem do t unas, mas para o esquimó este tipo de distinção é lexicalizado, feito por meio de
mundo, salvo se sua base lingüística for a mesma. pulavras simples. Cada língua existe, pois, em função das necessidades sociais de
É fato que muitas línguas de origem européia são bastante similares, presumi- 11 .signar ou nomear a realidade. Numa sociedade onde os camelos fazem parte
velmente por causa de suas relações genéticas comuns e do longo contato cultural tias condições básicas da vida, a língua correspondente deverá ter inúmeras pala-
entre elas; as visões de mundo dos povos que as falam não são talvez, por esta ra- vras para expressar essas condições.
zão, tão diferentes. Se, entretanto, as diferenças lingüísticas são capazes de produ- Um outro exemplo do condicionamento social das línguas diz respeito ao am-
zir diferenças cognitivas, deve-se demonstrar isso pela comparação de um con- !li inte social, que também pode ter alguma influência sobre a estrutura do voca-
junto muito grande de línguas culturalmente separadas. Em síntese, pois, a hipó- bulário. Nesse sentido, os sistemas de parentesco da sociedade geralmente trans-
tese de Sapir- Whorf se associa à possibilidade de que a visão que o ser humano pnrccem no tipo de vocabulário. E, se uma sociedade é estruturada por um rígido
tem da realidade que o cerca seja condicionada por sua língua. istcma hierárquico, isto repercute na formação de um diferenciado sistema de
V ários lingüistas se vêem atraídos por essa idéia. Malmberg (1979), por pronomes de tratamento.
exemplo, explica que a maneira pela qual nós categorizamos as inumeráveis im- Além disso, os valores sociais costumam ter efeito sobre a língua. É o caso do fe-
pressões concretas, que nos chegam pelos sentidos e com as quais formamos nos- n rncno conhecido como tabu, que se relaciona com os comportamentos proibidos
sos pensamentos, será nessas condições uma conseqüência do modelo de sistema nu vistos como imorais ou impróprios. Para aqueles que usam tabus, quebrar as re-
lingüístico. E conclui: nossa visão de mundo é determinada por nossa língua". I ItIS pode ter uma conotação de força ou liberdade, que eles sentem como desej áveis.
Todavia, pelo menos no estágio atual do desenvolvimento científico, não se Geralmente, um vocábulo considerado tabu numa determinada língua será re-
pode dar total crédito à hipótese do d~inismo lingüístico, embora haja algu- Ii .xo de pelo menos parte do sistema de crenças e valores da sociedade em ques-
mas indicações que sugerem, sem radicalismos, a influência do sistema lingüísti- t o. Wardhaugh (1993) assim define:
co na forma de pensar do indivíduo. Quem é bilíngüe talvez perceba isso de ma-
neira bem clara. O tabu é uma forma pela qual a sociedade expressa sua de-
saprovação a certos comportamentos considerados nocivos a
seus membros, seja por motivos de ordem sobrenatural seja
1.5. O condicionamento social da língua por uma questão de violar um código moral'.
Se a hipótese do determinismo lingüístico pode ser refutada e, por isso, não é
Assim sendo, certas coisas não podem ser ditas ou alguns objetos não podem
universalmente aceita, o mesmo não acontece com o outro lado da questão. Ou seja,
'r mencionados,
salvo em determinadas circunstâncias, e em geral os termos que
se as línguas não exercem influências no modo de pensar das pessoas nem são capa-
(11\ designam são substituídos por expressões eufêmicas. Analogamente, Trudgill
zes de influenciar os padrões sociais, estes podem em certa medida condicioná-las.
( I (79), após explicar que o tabu se relaciona a um comportamento proibido ou
Trudgill (1979) e outros autores apresentam vários exemplos que evidenciam "libido de uma maneira aparentemente irracional, sentencia:
os efeitos da sociedade sobre a língua e da maneira pela qual o mundo exterior
Na língua, o tabu é associado com as coisas que não são ditas
nela se reflete.
e, em particular, com palavras e expressões que não são usadas".
Um deles diz respeito a aspectos do ambiente fisico .que são refletidos nos sis-
temas lingüísticos, normalmente na organização do léxico. Enquanto o português, É fato que, em algumas comunidades, palavras consideradas mágicas desem-
por exemplo, tem apenas uma palavra para neve, o esquimó tem várias. As razões li .nharn um importante papel na religião e certos termos vistos como poderosos
para esse fato são óbvias: é essencial para o esquimó saber discemir eficientemen-
VOCo ~!"",,.').
'I. Tuboo is one way in whieh a soeiety expresses its disapproval of eertain kinds of behaviour belicved to bc
luu mful to its mcmbcrs, cithcr for supcrnatural
rcasons or beeause sue h bchaviour is hcld to violate a moral codc
(Wordl uugh, 1993:236).
4. La maniêre dont nous eatégorisons les innombrables impressions concrêtes, qui nous viennent par nos organes et
dont nous formons nos pensées, sera dans ees conditions une eonséquence de Ia structure de ce systõrnc (Ie systémc (I. ln lun 111\ c, Inboo is assochn d with things which are 1/01 said, and in particular with words and expressions whieh
linguistique). Notrc "vision du monde" scrait détcrminéc par notrc langue (Malmberg, 1979: 18). 111 /II1/IINcd (TIII(] 111,1979:29).
são usados em feitiços e encantamentos. E é curioso que, nas mais diferentes par- Exercício I
tes do mundo, os tabus lingüísticos estão associados à mão esquerda, a rela-
ções sexuais, a doenças ou a entidades do Mal. Na sociedade brasileira ainda I t questão - Das alternativas abaixo, assinale a que Labov rejeitaria:
hoje se evitam palavras como lepra (substituída às vezes por hanseaniase, às
vezes por doença de pele), câncer (os próprios médicos na relação com os pa- a) Compreensão da língua como heterogênea e condicionada por fatores
cientes preferem usar apenas as duas letras iniciais) e inúmeras outras. Em I' Iralingüísticos e em constante variação.
Monteiro (1986), realizamos um estudo sobre as estratégias lingüísticas que os I ) Concepção plural da competência lingüística e eliminação da distância
falantes empregam para evitá-Ias. l'lllre esta e o desempenho do falante.
Entretanto, talvez o aspecto mais relevante do condicionamento social das ) lndissociabilidade entre o domínio da linguagem e o da interação social.
,,/ línguas se relaciona aos fenômenos de variação e de mudança lingüística, que
l' constituem o interesse principal dos trabalhos de Labov. Conforme veremos, a I I) Aceit:;i;'d.c;princípio da imanência, estabelecido por Saussure, segun-
mudança ocorre em função de pressões sociais que podem até mesmo ser obser- di, () qual o estudo da língua deve ~r corno objeto exclusivo a própria língua.
p('.,y(l ...•
~I1.(.qCl'"
vadas e descritas. A própria fala (a parole) dos indivíduos, se não tem o poder de ) Percepção de que o discurso da maioria dos indivíduos não constitui
influenciar os padrões sociais, pode ao contrário ser afetada por estes. É o que ex- 11111 sistema coerente e racional, desde que é marcado por numerosas oscila-
plica Labov (1968): 1 II('S, contradições e alterações.
E, para concluir essas observações sobre o condicionamento social das lín- (v) Bloomfield, ao tentar delimitar o campo de interesse da lingüística, en-
guas, pode-se até especular que certas características de um dado sistema lingüís- 1I'IIeI u que a função social da linguagem teria que ficar à margem de qual-
tico estão pelo menos em consonância com traços que se enraizaram, de forma ,!II! 'r preocu pação descritiva.
muito profunda, na mente coletiva da comunidade. Pensemos, por exemplo, nas
(~ ) Saussurejulgou necessário pressupor a homogeneidade como condição
regras de concordância nominal vigentes no português: Por que o gênero masculi-
llol'tica para a tarefa de descrever a língua.
no prevalece sobre o feminino? Não estaria aí um reflexo do machismo milenar
de nossa cultura ocidental? (( ) Os adeptos da glossemática foram os primeiros a propor que a variabili-
d.1( lI' dos sistemas lingüísticos fosse analisada em função do contexto social.
(, ) A corrente gerativo-transformacional reagiu contra os postulados estrutura-
1',1.1", o admitir a heterogeneidade lingüística e utilizar a intuição para a análise
,11" c nteúdos sociais que afetam o desempenho dos usuários da língua.
a) Os valores sociais costumam ter efeito sobre a língua. a) O pesquisador,ao realizar uma entrevista com alguém, objetiva colher
d.tdos da fala espontânea, que normalmente ocorrem quando o falante não
b) A forma do comportamento lingüístico muda quando muda a posição
I'~lásendo observado; ora, estando presente o investigador, o falante se ex-
social do falante.
1)I('ssa com algum grau de formalidade e, por conseguinte, sua fala não será
c) A língua acompanha de perto a evolução da sociedade e reflete de certo ,wpontânea.
modo os padrões de comportamento dos indivíduos.
b) Partindo-se de um único indivíduo, é possível analisar-se o lado social
d) Cada língua existe em função das necessidades sociais de designar ou doi linguagem, mas somente pela interação de duas ou mais pessoas se pode
nomear a realidade .• I'~(udar o aspecto individual.
e) A língua deve ser concebida como uma totalidade auto-suficiente e c) A língua se comporta como se a unidade significante afetada pela mudança
analisada nela e por ela mesma. tosse o fonema e também como se a unidade de mudança fosse a palavra.
I. O objeto da sociolingüística
j I hnvc rcsistcd thc tcrrn sociolinguistics for rnany ycars, sincc it implies that there can be a successful linguistic
111\'01 y r practicc which is not social (Labov, I972:XIII).
N () ()b~IIIIlIC" 'lindo Mor uschi (1975: 14), o termo foi empregado pela primeira vez em 1952, num trabalho so-
l" 'lI'('\II~' o ",1, . o compounmcruo lin lll~ti O C 11,\'111111.\' social, publicado por II.C. Curric.
pressão sociologia da linguagem", que à primeira vista traduziria algo semelhante Será útil anotar a distinção proposta em Romaine (1994):
ao que se propunha para o vocábulo sociolingiiistica.
Enquanto a macro-sociolingüística toma a sociedade como ponto de partida e
Para Labov (1972), insistimos, a designação não deixa de ser redundante, IIIIta da linguagem como um elemento básico na organização das comunidades, a
uma vez que não se pode conceber uma lingüística que não seja social. E, assim, 1111 .ro-sociolingüistica toma a própria língua como alvo e trata as pressões sociais
não haveria a rigor uma nova disciplina, mas apenas a lingüística teria resgatado o \ 01110 fatores essenciais na determinação das estruturas lingüísticas".
seu verdadeiro enfoque.
O fato é que, com o tempo, muita coisa passou a ser tema de investigações so- , .As disciplinas afins
cio lingüísticas. Baylon (1991) arrola, entre outros, os seguintes assuntos: as fim-
Vários ramos do conhecimento humano enfocam o mesmo objeto, a língua.
ções e os usos da linguagem na sociedade, a análise do discurso, o domínio da lín-
Mus, apesar de terem em comum o mesmo conteúdo material, tais ramos se dis-
gua, as atitudes e julgamentos das comunidades de fala acerca de sua(s) língua(s),
1111 ruem entre si pela forma como vêem ou analisam a língua. Uma disciplina se
a planificação e a normativização lingüística. E comenta que se, em sua fase ini-
ilrfcrcncia das demais que lhe são correlatas muito mais pelo objeto formal do que
cial, a sociolingüística tinha por tarefa descrever as diferentes variedades que coe-
1H'lo objeto material.
xistem dentro de uma comunidade de fala, relacionando-as com as estruturas so-
ciais, hoje ela engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da lingua- Todavia, nem sempre parece fácil discernir bem os campos ou as perspectivas
gem em seu contexto sociocultural. «Iotadas. No caso específico da sociolingüística, como o conceito se elasteceu
hustante, houve por certo invasão de outros domínios e assim se toma às vezes tra-
Seja como for, o fato é que fenômenos de ordem diversa ou analisados sob di-
hulhoso distingui-Ia de disciplinas afins, tais como a sociologia da linguagem, a
ferentes perspectivas passaram a ser classificados como sociolingüísticos, o que
tnologia, a dialetologia e outras tantas. A esse respeito, Trudgill (1979) assinala
levou a uma compreensão de duas áreas de estudo, identificadas então como a
que certos tipos de estudos sociolingüísticos são de caráter sociológico ou podem
macro-sociolingidstica e a micro-sociolingidstica.
1 enquadrados dentro da lingüística antropológica, da geolingüística ou da psi-
uilogia social. Vamos, porém, tentar algumas possíveis diferenciações, pelo me-
2.1.1. A macro-sociolingidstica IIIIS com relação às disciplinas que às vezes se confundem com a sociolingüística.
I Mil 'o NO 'Iulilll lIi~1i ~ tuk . NO 'icty /IR its stnrring-point and dcals with languagc as a pivotal factor in thc organi-
3. Já em 1935, segundo informa Halliday (1997), J.R. Firth havia introduzido o termo lingiilstica sociológica isocio- 1111111111.mumnmuc M, '00 'io\II' \I,~t,·S bc rins with languagc and treats social forces as essential factors influ-
logical linguisticsi para tratar do estudo da linguagem numa perspectiva social. til "1 til IIIIl'II111 1111111111111 ' (1~lIlIlIlIn', IC)CI4:VIII).
opondo-a à sociolingüística, concebida esta como o estudo da linguagem em rela- Como se vê, o objeto da etnografia da comunicação parece bem mais amplo
ção com a sociedade. Amusategi (1990) afirma praticamente o mesmo, ao enfati- tlll que o da sociolingüística. Esta última se ocupa somente com a comunicação
zar que os fatos da língua podem esclarecer fenômenos de ordem social e, por I rbal em seus aspectos lingüísticos; outros códigos comunicativos não são de
conseguinte, quando se toma como objeto a sociedade em relação com a língua, 111 incumbência nem tampouco outras características fisicas da comunicação,
faz-se a opção pela sociologia da linguagem. I .uno o tom de voz, a distância entre os interlocutores, a gesticulação etc. Tais
IIIII\;ÕCS comunicativas são de interesse fundamental da etnografia da comunica-
A distinção agora parece nítida: a sociolingüística analisa os aspectos sociais
I li, que com isso se aproxima da teoria dos atos de fala ou pragmática.
com o intuito de compreender melhor a estrutura das línguas e seu funcionamen-
to. Por sua vez, a sociologia da linguagem busca alcançar um melhor entendimen- Além disso, sendo ligada muito mais à antropologia, a etnografia da cornuni-
to da estrutura social através do estudo da linguagem. A diferença, em última aná- I 11\'~() não é uma disciplina essencialmente lingüística. Morales vê como pontos
lise, é uma questão çie ênfase, conforme o pesquisador esteja mais interessado dI .ontato externo entre as duas áreas apenas as variedades estilísticas. Mas há
pela linguagem ou peta sociedade. Dito de outra forma, se o investigador é por sua '1111'111 pense de outro modo. Baylon (1991), por exemplo, argumenta:
formação e índole um sociólogo, seu trabalho certamente será enquadrado na so- Se se entende por sociolingüística o estudo sistemático do
ciologia da linguagem; se, por outro lado, ele é um lingüista, a descrição ou análi- uso da língua na vida social, não há como deixar de conside-
se que fará sem dúvida será de cunho sociolingüístico. rar a etnografia da comunicação como uma subdisciplina da
Labov (1972) entende que a sociologia da linguagem nada mais é que um ramo sociolingüística'.
da sociolingüística, sendo sua tarefa fundamental o estudo dos grandes fatores so-
ciais e de suas mútuas interações com as línguas e os dialetos. Acrescenta que nesse • ) 1. A dialetologia
campo há muitas questões abertas e inúmeros problemas práticos associados com a
Talvez a dialetologia seja a disciplina mais próxima da sociolingüística, a ponto
decadência e assimilação das línguas minoritárias, o desenvolvimento do bilingüis-
mo estável, a normativização das línguas e a planificação do destino lingüístico das
.Ii muitas vezes os campos se entrecruzarem. Os lingüistas entendem, de maneira
r.tutológica, que cabe à dialetologia a descrição dos dialetos, tarefa porém que não
novas nações. Conforme se deduz, parece que as expressões sociologia da lingua-
,!t'1 1\ de ser ocupação da sociolingüística, considerada por isso mesmo como parei-
gem e macro-sociolingidstica terminam sendo sinônimas.
11111 .ntc herdeira da dialetologia. Tenta-se então estabelecer alguma distinção, para
1111\' urnbas as disciplinas possam subsistir sem o risco de uma fusão.
2.2.2. A etnograJia da comunicação
Morales (1993) atribui à dialetologia o trabalho de estudar os tetos" diatópica
Segundo Labov (1972), a área de estudo que se ocupa mais especificamente 1 dlllstraticamente7, como gramáticas internalizadas, e à sociolingüística, o trabalho
com os aspectos relacionados às formas como se utiliza a linguagem às vezes é in-
cluída na sociolingüística, mas talvez seja preferível considerá-Ia uma disciplina
I" estudar esses fenômenos no contexto social, preocupando-se com as possibilida-
.11 de realização. De acordo com outra versão muito divulgada, enquanto a dialeto-
distinta, denominada por Hymes de etnograJia dafala ou, como também se costu- 1111'" se volta para a descrição dos falares, levando em conta a diversidade regional
ma usar, etnograJia da comunicação. 1111 IIiatópica, a sociolingüística analisa as variações de ordem social ou diastrática.
1111 seja, uma realiza pesquisas de caráter horizontal; a outra, investigações de natu-
As tarefas básicas dessa disciplina seriam, ainda repetindo Labov, descrever e
I1 / I vertical. Também se procurou ver uma nota específica na base da escolha do
analisar as modalidades de uso de línguas e dialetos dentro de uma dada cultura, os
eventos de fala, as regras para a seleção adequada dos falantes, as inter-relações en- di ti 'to, se urbano (para a sociolingüística) ou se rural (para a dialetologia).
tre o falante, o receptor, o tema, o canal etc., bem como as formas em que os falan-
tes empregam os recursos de sua língua para realizar determinadas funções.
'lI 1'011cntcnd par sociolinguistique l'étude systématique de l'usage de Ia langue dans Ia vie socia/e, il ne fait alors
Morales (1993) explica que a etnografia da comunicação estuda as normas de 111111111doutc que l'cthnographic de Ia communication puisse être considérée comme un sous-discipline de Ia sociolin-
conduta comunicativa próprias de uma comunidade de fala, no sentido de se saber 11I'"llque (Baylon, 1991 :265).
municação, tanto lingüísticas como sociais, mas também normas de intcração. I "llqlllllllO lIui11lellSl o dilllÓpi n se refere u variações no espaço físico ou geográfico, a diastrática se refere a varia-
\ I'M IIl'llIlO do CSpli~'\l so iial,
Entretanto, nenhuma dessas diferenças parece funcionar na prática. Se lermos . ~ A pragmática
um livro recente, como o de Chambers & Trudgill (1993), observaremos que,
apesar do título, os conteúdos da moderna dialetologia se confundem de certa for- ;\ pragmática tem como objeto as investigações lingüísticas que fazem refe-
ma com os da sociolingüística. É de crer, por conseguinte, que a separação é mui- I nera necessária a aspectos do contexto comunicativo, tais como a identidade
to mais de cunho metodológico, reservando-se à sociolingüística a análise das va- dll participantes ou suas crenças, atitudes e intenções.
riações mediante um tratamento estatístico, em que se busca medir o peso de cada Das definições apresentadas em Levinson (1983), duas delas insistem nesse
grupo de fatores favorecedores ou inibidores da aplicação de uma dada regra va- 111'1110:a pragmática é..ainterpretação da linguagem numa perspectiva funcional,
riável. Além disso, a dialetologia não parece tão preocupada com os problemas 1111 s '.ia, a explicação das múltiplas.facetas do sistema lingüístico relacionadas a
tratados pela macro-sociolingüística, como a planificação ou nonnativização de I III1.'as e eventos extralingüísticos ou o estudo das associações entre linguagem e
línguas minoritárias, os obstáculos causados pelas diferenças lingüísticas no ensi- \ untexto, desde que gramaticalizadas ou codificadas na estrutura lingüística,
no das populações de-baixa renda e assim por diante.
Ora, a sociolingüística também se volta para o problema do contexto em que se
IlIlduz o evento de fala e nesse sentido usa-se muito a expressão sociolingidstica
2.2.4. A geografia lingidstica
uucr« ional, definida por Gannadi (1983) como o ramo da sociolingüística que de-
Se é dificil perceber diferenças entre os conteúdos sociolingüísticos e os dia- du n uma grande importância às relações de papéis entre indivíduos e define esses
letológicos, o mesmo acontece com relação à geografia lingüística, que em última llilp"is como maneiras de agir consignadas aos indivíduos numa sociedade.
instância é quase uma outra designação (como também se diz geolingüística) para Inúmeros temas tratados pela pragmática, entre os quais a análise do discurso
a dialetologia. I I análise da conversação, aparecem em alguns livros de sociolingüística (cf.
O propósito principal da geografia lingüística é o de elaborar análises minucio- ltuylon, 1991 ou Fasold, 1990, a título de exemplo). O enfoque é que talvez seja
sas de variações dialetais localizadas numa ampla área geográfica, apresentando dll~'lcnte: a pragmática se preocupa sobretudo com os traços contextuais que afe-
em geral os resultados numa série de mapas reunidos no que se denomina um atlas 11111 o significado.
lingidstico. Costuma-se estabelecer nessas cartas linhas isoglóssicas", no sentido de Finalmente, vale dizer que todas as disciplinas que se aproximam da sociolin-
separar zonas que revelam diferenças com relação a um dado item lingüístico. ,llstica também têm problemas de delimitação com várias outras. Assim, por
I vmplo, qualquer que seja o ramo em que deva ser tratada a análise do discurso,
A geografia lingüística tem, pois, a tarefa de descrever comparativamente os di-
11\ 11 {I vinculações com a estilística ou mesmo com a retórica. E, onde quer que se
versos dialetos nos quais uma língua se diversifica no espaço e estabelecer os seus
limites. Ela demarca as regiões dialetais de acordo com critérios fonéticos, gramati- . nloque a questão do significado, disciplinas como a semântica, a pragmática ou
1II\'Sl110a filosofia da linguagem se tornam limítrofes. Em grande parte, pois, tra-
cais e léxicos, mas, segundo Baylon (1991), pode também descrever um falar toma-
1,\ 'de uma questão de ponto de vista.
do isoladamente, sem referência aos falares vizinhos ou da mesma família. Para o
referido autor, a investigação sociolingüística é como se fosse uma versão moderna
do que se fazia na área da geografia lingüística. Assim, ele conclui: . l. Os problemas da descrição da fala
O que é realmente novo é a busca sistemática das correla- I esde Saussure, conforme vimos, a lingüística sempre se voltou para a análi-
ções entre certas variações lingüísticas e a posição social dos ( da língua enquanto modelo abstrato. Os fatos do discurso tiveram que ser pos-
falantes ou a situação comunicativa". 111. de lado pelos motivos que já assinalamos: o caráter heterogêneo, as numerosas
II cilaçõcs, contradições e alterações. Labov (1972), nesse sentido, enumera qua-
110 problemas ou dificuldades metodológicas que inviabilizaram, durante muito
Il'1I1PO, a descrição da língua a partir de dados coletados da fala dos indivíduos.
8. As isoglossas são as fronteiras entre duas regiões que diferem com respeito a algum traço lingüística (um item lc- ',umos quais seriam esses problemas.
xical, a pronúncia de uma palavra etc.). Segundo Chambers & Trudgill (1993: 103), o termo foi usado pela primeira
vez por Bielenstein, em 1892. Cada isoglossa define apenas um traço lingüística. Vale a pena enfatizar este ponto,
uma vez que no uso comum este termo algumas vezes se refere ao conjunto de todos os traços que demarcam uma área 1,/. A agramaticalidade do discurso
dialetal. A coincidência de um conjunto de isoglossas denomina-se umfeixe de isoglossas.
9. Ce qui est réellementnouveau, en revanche, c'est Ia recherche systématique des corrélations entre certaines varia- S lingüista em geral entendiam que os enunciados proferidos numa fala es-
tions linguistiques et Ia position social e des locutcurs ou Ia situation de communication (Baylon, 1991 :64). pOIII.lIl 'a iram com ba tante freqüência agrarnaticais, uma vez que a atualização
u r n I~ - ti i !j li U I I: ~ A L:t N r ii A l
Rei1f1e. f..lIIJl~ Sâuro Ca!alCltnle D..allfa3
da competência do falante sempre se sujeita a fatores tais como o cansaço, a inibi- Nenhuma dessas duas alternativas trata adequadamente o fenômeno da varia-
ção, os lapsos de memória, a pressa etc. Tais fatores determinam que o desempe- 111 1111 ' üística. Mas, a partir do momento em que se dissolve a suposta associação
nho lingüístico ou os atos de fala sejam eivados de frases mal formadas, as quais 1IIIl'l'slrutura e homogeneidade, não há mais problemas para a adoção de instru-
os próprios falantes condenam e às vezes até costumam corrigi-Ias, quando se dão 111IIlos formais necessários para o estudo da variação inerente à comunidade lin-
conta de que não se expressaram bem. A ser assim, os dados do discurso coletados 111I1 ',L Nesse sentido, a metodologia desenvolvida por Labov e seus seguidores
num contexto de interação social não teriam muita utilidade para a descrição da '111l' 'lIC dar um tratamento coerente a essa questão, comprovando que o caos
língua que, por ser um sistema, deve necessariamente fundamentar-se em princí- qllll'lllc dos discursos individuais está sujeito a sistematização e análise.
pios ou leis de organização.
A teoria sociolingüística veio, porém, demonstrar que a agramaticalidade na / As dificuldades do registro
fala cotidiana não passa de um mito, sem base em dados reais. Deixando de lado
Outro obstáculo contra a utilização de dados coletados em situações reais de
os titubeios ou lapsos 'normais, qualquer enunciado reúne condições de ser descri-
I dll dizia respeito ao registro ou gravação das entrevistas e diálogos espontâneos.
to, não passando de mera diferença dialetal o que muitas vezes se julga uma frase
I" 1I111 lado, as gravações feitas em lugares públicos apresentam todo tipo de ruído,
impossível. Labov (1972) afirma que, nos diversos estudos empíricos que reali-
, '1111dificulta
' a própria audição ou reconhecimento preciso das unidades ou seg-
zou, a grande maioria dos enunciados é constituída de frases corretamente forma-
111 ntos de fala. De outro, existe a questão do chamado paradoxo do observador,
das segundo todos os critérios. Assim sendo, em termos sociolingüísticos, a pro-
1111 I onsiste no seguinte: o pesquisador, ao realizar uma entrevista com alguém, ob-
babilidade de que alguém produza uma sentença agramatical é quase nula.
" II I .olher dados da fala espontânea, que normalmente ocorrem quando o falante
Na realidade, conforme ressaltamos em outro estudo (Monteiro, 1999), o cos- I1 1I 'SIÚ sendo observado; ora, estando presente o investigador, o falante se expres-
tume de avaliar as frases como bem ou mal formadas tem muito de subjetividade, ' I , I" 11ti Igum grau de formalidade e, por conseguinte, sua fala não será espontânea.
pois isso depende da intuição do pesquisador. O que se constata em geral é que os I dl'lll disso, conforme adverte Trippel (1997), se o entrevistador se apresenta
enunciados tidos como agramaticais são frases perfeitamente normais em outro 111111) um lingüista que está realizando uma pesquisa sobre linguagem, só isso já
dialeto ou são construções absurdas forjadas pelo pesquisador para servirem de 1IIIIIbllipara que o informante use uma pronúncia mais cuidada.
exemplo. Nesse último caso, como o sistema lingüístico não as prevê, dificilmen-
te ocoqem no desempenho dos falantes nativos. l lojc, contudo, não só existem recursos tecnológicos para se obter uma grava-
1111' alta qualidade, como também há técnicas para se conseguir um registro de
Não se deve esquecer que o sistema, sendo um conjunto de oposições funcio- I tli! 11'111informal, se este for o propósito do observador. Labov (1972) observa,
nais, oferece múltiplas possibilidades de realização. O fato de que uma constru- til t' sentido, que uma forma de superar o paradoxo do observador consiste em utili-
ção possa parecer estranha às vezes decorre de sua baixa ou quase nula freqüên- 11111occdimentos que distraiam a atenção do discurso, possibilitando assim uma fala
cia, mas isto não equivale a dizer que o sistema não a aceita. I, 11111 .scontraida. Uma excelente técnica é propor questões que levem o informante
I 1I1'1 oduzir emoções fortes que já tenha experimentado alguma vez. Pode-se, por
2.3.2. A variação nafala I mplo, perguntar se ele já vivenciou alguma situação em que tenha passado pelo
I1 1110de morte. Os relatos derivados como resposta a essa questão quase sempre
É bastante comum que diversas formas lingüísticas possam ser usadas para se I1 I 111esquecer o estilo cuidado e a fala se toma bastante espontânea.
dizer a mesma coisa. Os gramáticos se referem então às construções variantes ou
sincréticas e até os dicionários costumam registrá-Ias. Tal, por exemplo, o caso de
coisa e cousa ou de projétil e projetil. Mas a variação é muito mais freqüente do I I As limitações do corpus
que se imagina e ocorre em todos os níveis: um mesmo fonema se realiza em alo-
( )s dados da fala real são muito úteis e adequados para a análise das formas lin-
fones distintos, um único referente nem sempre é designado por um só e mesmo
I 01 11'as mais usuais. Todavia, o pesquisador poderá não encontrar aquilo que deseja,
vocábulo e as estruturas sintáticas geralmente apresentam alternâncias.
1111mo d pois de ter ouvido horas seguidas de gravação, se as unidades pretendidas
O problema crucial sempre foi o de decidir onde se deve situar a variação no 111li ' ba ixa freqüência. Caso ele decida realizar um estudo sobre a pronúncia de um
sistema lingüístico. As alternativas oferecidas pela análise estrutural são basica- d, íruuinado fi ncma, este problema talvez nem ocorra. Mas, se sua preocupação é
mente duas: a) atribuir as variantes a sistemas diferentes e considerar as alternân- 111111 1111tip d estrutura sintática, digamos o empego da passiva, é possível que
cias como casos de mistura de dialetos ou de permuta de códigos; b) interpretar 11p 'leu 11111 t rnp n 1'111I ara c Iher 6 un poucos e pobres exemplos.
que as formas alternantes se encontram em variação livre no rncsrn
Por causa disso, alguns lingüistas analisam as estruturas a partir de exemplos Exercício 11
forjados por eles próprios. Tal é o procedimento comum entre os adeptos ~a.cor-
rente gerativo-transformacional que, em vez de valonzar os dados em~mcos, '111 tão - Estabeleça a correspondência:
busca na intuição a via mais direta para in~erê~cias e descob~rtas. ,Se? obJe.~?da
,I) ociolingüística;
lingüística é a competência do falante-ouvmte Ideal, este sera. o.propno 1mgüista,
que não estará fazendo outra coisa senão descrevendo o seu idioleto ... h) ociologia da linguagem;
Ora, a verdade é que, mesmo no caso das uni?ades de bai~a freqüê~cia, o ,) tnografia da comunicação;
pesquisador, com a ajuda de instrumentos apropriados, P?~era conseguir uma
(I) Dialetologia;
boa soma de dados. Basta às vezes elaborar um questionarro direcionado para
as respostas que de eja obter ou variar as formas das entrevistas, acrescentando I') I ragmática;
leitura ou provocando narrativas de experiência pessoal, em que o discurso se I) J ografia lingüística.
torna bem espontâneo.
( ) estuda as associações entre linguagem e contexto social, desde que
I 1I1l,lti alizadas ou codificadas na estrutura lingüística;
( ) descreve as normas de conduta próprias de uma comunidade de fala,
Ilfl ,c'IHido de se saber o que um falante necessita para comunicar-se adequa-
l uuont ;
b) Os dados coletados num contexto de interação social não têm muita I,) Lntre as questões básicas discutidas pela d
utilidade para a descrição da língua. I1 " () cI bat d bl . po emos
\ e ?~pro_ e~as que atmgem as línguas a lanifica-
c) A avaliação de frases como bem ou mal formadas não depende da intui- I., I d normatlvlzaçao lingüística, os efeitos do bilin üismo d P
11 111( 01110 as conse üências do .. g e a .
ção do pesquisador.
/ 1'1" rldções desfavo~cidas. .. no fracasso escolar das
d) O sistema lingüístico, sendo um conjunto de oposições funcionais, ofe-
rece múltiplas possibilidades de realização. I) A analisa os efeitos dos fatores sociais sobre as estr
I 1/ I' . I'
me uindo tudo o que diz respeito à teoria da
u-
e) Quando uma construção parece estranha, isto equivale a dizer que o I ••••............................ ,
Para compreender Labov, uma das questões complexas diz respeito ao alcan-
I I do conceito de comunidade, um dos termos mais freqüentes em sua teoria.
I 11111 efeito, trata-se de uma questão complexa porque, além de não ser fácil esta-
I1 I iccr os limites geográficos ou sociais de uma comunidade, os lingüistas não
I) unânimes quanto aos critérios de demarcação.
"onforme já vimos, uma das tarefas da sociolingüística é descrever as línguas
111 sua diversidade funcional e social. E, para tanto, o pesquisador terá que regis-
11111 dados. Em vez de partir do modelo abstrato, ele inicia seu trabalho nas situa-
\1 's concretas em que a fala ocorre. E, nesse ponto, surge uma primeira indaga-
\ ti: que tipo de fala se deve analisar? O discurso (a parole saussuriana) do indiví-
duo tornado isoladamente ou as características das manifestações lingüísticas de
\1111 determinado grupo social?
No modelo laboviano, a opção de pesquisa tem sido, não sem inúmeras críti-
I "•• a análise de grupos de indivíduos, observando-se os aspectos sociais que in-
11'1 lerem em sua fala. É que, conforme argumenta Labov (1984:256), o vernáculo
propriedade de um grupo, não de um indivíduo sozinho. Assim sendo, a preocu-
1 I h •spccch ommunity is nOI dcfincd by nny markcd agrccmcnt in thc use of language elcmcnts, so much as by
1 ,1111 'IPllli 111 111 11 S r of'shurcd norms; Ihcsc norms mny bc obscrvcd in ovcrt typcs ofcvaluativc bchavior, anel by thc
'
1111110111111 of IIh~lrll'l flllll IIIS of vurintion whi h are invarinnt to rcspcct to particular Icvcls of usagc (Labov,
I%H I () I).
pação básica do investigador deve ser a de descrever uma variedade lingüística. de normas e regras para o uso dela'". A dificuldade em compreender esse
1111111)
Mas, insistimos na questão, onde ou como se delimitam as fronteiras de uma va- .1\11-uo consiste em imaginar como é possível um grupo de pessoas manter as
riedade lingüística? 1111IIIaSatitudes face a uma língua, que poderá não ser a que de fato todos usam.
É lógico que nem sempre há coincidência entre o domínio de atuação de uma
" 11I .sclarecer (ou talvez complicar) mais a distinção, Romaine acrescenta que \c
língua ou dialeto e os limites territoriais de uma nação ou região. Um .idioma,
1 I1 ontciras entre as comunidades de fala são essencialmente mais de caráter so-I \.
11do quc lingüístico'".
como o português, é falado por diferentes povos, que não estão necessanamente
em contato. E, por outro lado, numa mesma zona territorial podem coexistir duas Moralcs (1993) também mostra que comunidade lingüística e comunidade de
ou mais línguas. Se o lingüista se volta para os aspectos sociais da linguagem, ele I ti Inem sempre se confundem: Madrid e Caracas, por exemplo, participam da
já se defronta com esse problema de saber o que realmente circunscreve uma co- 1111ma comunidade lingüística, porém são distintas comunidades de fala, justa-
munidade de fala. 111111I. porque não compartilham de uma série de atitudes lingüísticas com relação
1 11IIII11asvariedades e, conseqüentemente, diferem nas regras de uso. O exemplo
•I" .idativo e sugere que se possa dizer o mesmo em relação ao português falado
3.2. As concepções de comunidade
101llrusil c em Portugal. Ou seja: embora tanto os brasileiros quanto os portugue-
Para termos uma idéia dessa dificuldade, observemos como não se consegue possam fazer parte de uma única comunidade lingüística, distinguem-se quan-
estabelecer um acordo sobre o que de fato constitui uma comunidade defala. I11I regras e atitudes face ao uso do idioma.
Assim, para Labov (1972), a expressão não pode ser aplicada a um grupo de fa- Por seu turno, Marcos (1993) assinala que a comunidade lingüística pressu-
lantes que utilizam todos as mesmas formas e, sim, a um grupo que segue as mes- I" ti existência de uma demarcação fisica que, em princípio, iria desde peque-
mas normas relativas ao uso da língua. E chega até a dizer que, numa cidade como ,,<I núcleos territoriais até países ou áreas supranacionais. E há também a possi-
Nova Iorque, os falantes mais idosos não pertencem à mesma comunidade dos mais 1IIIIdudcde que, em sentido amplo, seus membros não sejam única e exclusiva-
jovens. Já, para Fishman (1972), o que vale é o fato de que ~odos o~ m~~n~ros do 1I1I1I1t.:
monolíngües.
agrupamento social tenham pelo menos em comum uma vanedade lingüística, as~
Aliás, a idéia de que não existe um tamanho preciso ou ideal para uma cornu-
sim como as normas de seu emprego. Quase o mesmo diz a definição de Amusategi
111.1'de, havendo, pois, uma relatividade muito grande sob esse aspecto, é prevista
(1990): "um grupo cujos membros têm pelo menos em comum umat variedade
,,2
e
111I crnplificação que Labov (1989) apresenta: os falantes do inglês da Phila-
compartilham acordos, regras ou normas para o seu emprego corre o .
,11[phia são membros de uma comunidade mais ampla dos que falam o inglês
Por enquanto, não vemos tanta discrepância, mas não compreendemos o al- 1111
'I icano, que por sua vez são membros de uma comunidade mais ampla dos fa-
cance das definições, em termos práticos. Pensando no caso da língua portuguesa: 11111 'S do inglês. E também é lícito dizer que, aplicando a perspectiva inversa, Phi-
se o que conta é um conjunto de atitudes idênticas, até que ponto se pode dizer que luk-lphia é composta de várias subcomunidades menores.
todos os falantes do português, sejam do Brasil ou de qualquer outro país, perten-
Se, continuando, consultarmos um dicionário, como o de Dubois et ai. (1993),
cem à mesma comunidade? , I '1I10Sque o conceito d 'omunidade lingüística implica simplesmente que sé:
Se observarmos bem, constataremos que a divergência entre os lingüistas se '"11 reuni as certas condições específicas de comunicação, preenchidas nun1
torna bastante evidente por causa da indefinição de um critério único. Em razão d,ldo momento por todos os membros de um grupo e exclusivamente por eles.
disso, uma solução proposta é a de distinguir o conceito de comunidade defala do 111'o grupo pode ser de qualquer natureza: estável ou instável, permanente ou
de comunidade lingüistica. , 1\ 111<;rO,de base geográfica ou social. Pode ser uma nação inteira ou simplesmen-
11 os membros de uma profissão que usam uma determinada gíria ou vocabulário
Nesse sentido, Romaine (1994) explica que uma comunidade de fala (speech
I p -cializado. Diante disso, tem toda a razão Hudson (1984), ao comentar que as
community) não é necessariamente coextensiva com uma comunidade lingüística
(linguistic community). E conceitua a primeira como "um grupo ~e pessoas que
não compartilham necessariamente a mesma língua, mas compartilham um con-
pc 'h community is not ncccssarily cocxtcnsivc with a language cornmunity. A speech cornrnunity is a group
"'I" IIpl' ho do IIOtncccssurily sharc the samc languagc, but share a set of norrns and rules for the use of language
11"111111111',1<)<)4:22).
2. Grupo cuyos micmbros tienen ai menos en cornún una varicdad y comparten consensos, regias o normas para cI
cmplco correcto de Ia misma (Amusatcgi, 1990:31). I 1111' 11111111(111111',
IWlwl'\'" (1' '('h 'clll1l1l1l1lili S nrc cs cntially social rathcr than linguistic (Romainc, 1994:22).
Comunidade de fala são todas as pessoas que usam uma
duas expressões (comunidade lingüística e comunidade defala) freqüentemente
dada língua ou dialeto (Lyons, 1970)7.
são usadas com o mesmo sentido.
Pensou-se também, conforme se lê em Dittmar (1997)5, em introduzir um Cada língua define uma comunidade de fala: o conjunto com-
novo conceito, o de comunidade de comunicação. Leia-se a propósito a seguinte pleto de pessoas que se comunicam entre si, seja direta ou indire-
passagem de Neumann et al., citada em Dittmar (1997): tamente, por meio de uma linguagem comum (Hockett, 1958)8.
Se as relações comunicativas representam um aspecto das, Uma comunidade de fala é um grupo de pessoas que inte-
relações sociais, segue-se que os respectivos indivíduos em co- ragem por meio da fala (Bloomfield, 1933t
municação se tomam constantemente parceiros (reais ou po-
tenciais) de comunicação, na medida em que formam uma uni- É uI? agru~ament~ humano caracterizado por freqüente e
dade social que, por sua vez, deve sua existência essencial- regular mteraçao, efetivada através de um mesmo sistema de
mente à comunicação lingüística. Se analisarmos, então, os di- si.gnos verb~is, e separado de agrupamentos similares por sig-
ferentes grupos sociais, classes e níveis, sob a ótica de suas re- nificantes diferenças no uso da linguagem (Gumperz, 1971) 10.
lações comunicativas, poderemos interpretá-los como um sis-
tema de diferentes comunidades de fala que se sobrepõem umas Como ~e vê, tai,s definições são amplas demais ou muito pouco precisas, difi-
às outras. As comunidades de fala, portanto, correspondem às ~lIlta?do ~!nda mais a separação dos conceitos. Dittmar (1997) qualifica-as de
unidades dos diversos níveis estruturais da sociedade; elas mgenuas , afi~a~do q~e o critério da interação é inconsistente. E acrescenta
apenas realçam o seu aspecto comunicativo". que nem a freqüência de mterações nem as diferenças observáveis no uso da lín-
gua fornecem um fundamento adequado para uma boa definição.
Como se percebe, a questão não fica de todo esclarecida. E até se pode argu-
mentar que, em última análise, o conceito de comunidade de comunicação, face Se~uindo a análise crítica feita por Dittmar (1997), podemos então agrupar as
ao de comunidade de fala, termina sendo de dificil aplicação. O próprio Dittmar (.I~fi11lçoesapres.entad,as em ~nção _de três critérios básicos. O primeiro, conforme
(1997) se indaga se, pensando no caso do alemão, desde que este é falado na Ale- se comento,u acima, e o da mteraçao ou das regras compartilhadas para o uso de
manha, Suíça e Áustria, haveria três comunidades de comunicação e apenas uma l.I~11a
dada ~mgua (cf. as definiç.ões d~ Lyons, Hockett, Bloomfield e Gumperz). O
segundo nao leva em.conta obngatonam~nte que a língua de uma comunidade seja
comunidade de fala.
1\ me~~a. (cf. a~ ?e F~shman e Amusategi, entre outras), mas exige a consideração
Agrava-se o problema com a falta de correspondência entre os termos, devida l~C cntenos adl.clOnaIS ~ue rcs~ltam do caráter. pragmático da comunicação. Ou,
a lacunas ou especializações semânticas que eles podem ter em função da necessi- orno sug~re Fishman: a densidade da comunicação e/ou a integração simbólica
dade de traduzi-los. Em português, por exemplo, podemos distinguir conceitos .orn respeito à competência comunicativa, independente do número de línguas ou
como os de linguagem, lingua.fala ou discurso. Mas em que medida consegui- vanedad~s ?,mpregadas" II. Finalmente, o terceiro crité" _utilizado é o da "identi-
mos empregá-los adequadamente em relação aos ingleses Zanguage e speech ou dade SOCIal . Observe-se, a esse aspecto, a explicação dada por Halliday et aZ.:
aos franceses langage, Zangue, paroZe ou discours?
Feito esse comentário, apresentemos mais algumas definições:
7. Speech comrnunity: ali lhe peoplc who use a given language (or dialect) (Lyons, 1970:326).
5. o acesso a este manual de Dittmar só nos foi possível graças a Hans Peter Wicser, que gentilmente se dispôs a tra- H: .~~achlal~guag~ defines a speech community: the wholc set ofpeople who cornmunicatc with each other cither di-
duzir para o português os trechos que lhe solicitamos. I c y or in ircct y, via thc comrnon languagc (Hockett, 1958:8). '
6. Wenn kommunikative Bezichungen ein Aspckt gcsellschaftlicher Beziehungcn sind, folgt daraus, dass diejewcils ~I, 11 speech comrnunity is a group ofpcople who interact by rncans ofspeech (Bloornficld, 1933:42).
miteinander kommunizierendcn lndividucn in dcm Masse konstante (tatsãchlichc oder potcnticlle) Kommunika-
tionspartncr blciben, in dcrn sic einc sozialc Einhcit bilden, für dercn Bestand dic sprachliche Kommunikation cinc 10. Any human aggre~at: characterised by regular and frequent interaction by means of a shared body of ve bal
wcsentlichc Rolle spielt. Wenn wir also dic vcrschicdencn Klasscn, Schichtcn und sozialen Gruppen untcr dcm Gc- I ns and set off frorn similar aggregates by significant differcnccs in language usage (Gumperz, 1971: 114). r
siehtspunkt ihrcr kommunikativen Bezichungcn bctrachten, dann schcn wir sie ais cin Gcfügc untcrschicdlicher und
sieh überschneidender Kommunikationsgemcinsehafien ano Kommunikationsgemeinschafien entspreehcn somit Ei- ,1,1. "j~I~",silY(Ir :OI1~mlllll'1IIiC)l1or/lllld,,: sym olie inl grntion with respect to communicativc cornpctcncc rcgard-
nhcitcn auf dcn vcrschiedencn Ebcncn der Gesellschafisstruktur, nur rückcn sie deren kornmunikntivcn Aspckt in dcn e ~ () t I( 1Il1111h r (lI '1I111111~
'S ~1IVIIII '\I' 'lIlploy ti (1Ij}. itunur, 1997: I ).
Vordcr rund (N eumnnn et ol .• 1111. Diumnr, '997:' 6).
A comunidade de fala é um grupo de pessoas que se consi- II \0 raro, como no caso que estamos analisando, as conceituações divergem até se
deram como usuários da mesma língua. Neste sentido, existe r uusidcrarmos os usos nas obras de um mesmo lingüista. Um dos caminhos para
uma comunidade de fala dos chineses, uma vez que eles se jul- \' minorar o problema, que às vezes até se agrava mais, tem sido o de se criar con-
gam falantes do chinês e não do pequinês, cantonês etc. Por ou- [['I tos paralelos ou adicionais, como os de área lingüística e domínio, os quais
tro lado, não há uma comunidade de fala em relação às línguas rprcscntamos a seguir.
escandinavas, muito embora estas sejam, em grande parte, com-
preensíveis entre si". \,t As áreas lingüísticas
De modo análogo, na teoria da variação, segundo observou Baylon (1991), A área lingüística, segundo explica Trudgill (1979), se refere a um território
subsistem também pelo menos três concepções diferentes de comunidade. A pri- uudc se falam muitas línguas que, embora não sejam necessariamente relaciona-
meira é a de Labov: Ull]. grande número de pessoas de diferentes classes sócio-eco- I1 IS, têm um certo número de traços em comum, como resultado da difusão de ino-
nômicas que vivem num mesmo território, quase sempre uma grande cidade. As , içõcs através das fronteiras lingüísticas. Na Europa, um dos exemplos de área
duas outras concepções põem em relevo o indivíduo, em vez da classe socioeco- lrngüistica compreende a Iugoslávia, a Albânia, a Grécia, a Bulgária e a Romênia.
nômica, e se distinguem pelo fato de escolherem níveis diferentes para o início da
análise: uma se detém nas redes sociais, em todas as espécies de laços entre gru- Não obstante, para Gumperz (ap. Garmadi, 1983), a área lingüística é um gru-
pos de indivíduos (vizinhança, parentesco, relações de trabalho etc.); a outra con- po social unilíngüe, bilíngüe ou plurilíngüe, que deve a sua coesão à freqüência e
centra sua atenção no próprio indivíduo. 1 densidade da interação social. Pode compor-se de pequenos grupos ou cobrir
istas regiões, conforme o grau de abstração a que se queira conduzir a investiga-
É ainda de Baylon (1991) o seguinte comentário:
\ 10. Pelo que se vê, o conceito de Gumperz de certo modo se aproxima do de co-
Labov define parcialmente a comunidade lingüística em ruunidade de fala.
termos de normas compartilhadas. Se levarmos em conta cida-
des como São Paulo, Lagos e Djakarta, onde talvez a maioria 1.4. Os domínios
da população atual é de imigrantes e não consegue nem mesmo
falar a língua oficial, colocado à parte o dialeto padrão, pare- Quanto à noção de domínio, foi Fishman quem, segundo Femández (1988),
ce inverossímil que elas constituam comunidades lingüísticas \'slabc1eceu o conceito, em 1971. Trata-se de um âmbito sociocultural que abran-
no mesmo sentido que a cidade de Nova Iorque. Como para a t' as relações entre os membros de um grupo e as situações comunicativas, em
comunidade em seu conjunto, pode-se esperar que as classes íunção do instituído pelas esferas de atividade de uma comunidade de fala. Rornai-
sociais sejam menos homo~êneas, em virtude de uma: divisão 11' (1994) cita como exemplos a família, a religião, os círculos de amigos, o em-
étnica e regional mais forte 3. p' .go e a educação, afirmando que servem como âncoras para distintos sistemas
li· valores. O domínio, pois, é um núcleo de atividades que representa uma com-
Essas imprecisões prejudicam muito a própria compreensão das teorias lin- lunação de ambientes, tempo específico e papel das relações sociais.
güísticas. O que se constata é que um mesmo termo passa a circular com diferen-
tes alcances e acepções, dependendo dos autores que os empregam. E o pior é que
1.5. Os (dia)letos
O termo dialeto, segundo informa Calvet (1 993b ), apareceu pela primeira vez
12. Thc languagc community is a group ofpcople who rcgard thcmsclvcs as using thc same Janguagc. In this scnsc,
thcrc·is a languagc community "thc chincsc", sincc they regard themscIves as speaking "chincsc", and not "Pckincse,
1111literatura francesa em 1565, num texto de Ronsard, com o sentido de "falar de
Cantoncse and so on. There is no language community "thc Scandinavic language" cven though they are by and Jarge lima região". Atualmente, porém, tem um emprego bastante amplo e diversifica-
ali mutually intcIligible ... (Halliday et al., apud Dittmar, 1997: 134). Observe-se, porém, que nesta definição é usado o
lo entre os lingüistas. E, desde que costuma ser associado ao conceito de língua,
termo language, e não speech, como se vê, por exemplo, nos trabalhos de Labov. Se se quiser tentar uma nova distin-
ção, corre-se o risco de complicar ainda mais as coisas. ,)ualmente di fuso, muitas vezes tem dado margem a interpretações duvidosas.
13. Labov définit partiellcmcnt Ia communauté linguistique cn tcrrncs de nonnes linguistiques partagécs. Si nous om efeito, se tomarmos como referência a língua portuguesa, podemos dizer
prenons des villes cornmc São Paulo, Lagos ct Djakarta, ou pcut-être Ia majorité de Ia population actucllc cst néc ailleurs,
et ou Ia majorité ne peut même pas parler Ia langue officielle, mis à part le dialecte standard, il semble invraisemblable
'lu' sã dialet s di tintos O português de Angola, o do Brasil, o de Cabo Verde, o
qu'ellcs constituent dcs communautés Iinguistiqucs au mêmc sens que Ia villc de Ncw York. Comme pour Ia cornmu- 11 • P rtugal c assim p r diante. Por outro lado, dentro de um mesmo país como o
nauté dans son ensemble, on peut s'attendre à ce que les classes socialcs soient moins homogêncs, à cause d'unc divi- Illtlsi I, pod 'mos adm ilir a xist ên ia de vári s dia leto , entre os quais o carioca, o
sion ethnique ct régionale plus forte (Baylon, 1991 :83).
cearense, o caipira etc. E o termo pode ser aplicado a todos os tipos de variedade, b) O prestígio, porque os dialetos em geral são variedades menos prestígio
inclusive à variedade padrão. É importante observar que as expressões dialeto pa- sas do que a língua;
drão e dialeto popular não têm em princípio nenhuma relação com diferenças en- c) a mútua inteligibilidade, porque, se os falantes se entendem, isso signifi 'o
tre linguagem ou estilo formal e coloquial. que estão usando a mesma língua, mas não necessariamente o mesmo dialeto,
A delimitação de um dialeto não é tarefa fácil. A título de ilustração, se pen- Todavia, as restrições a esses critérios são bastante sérias. Em primeiro lu )ur.
sarmos no caso do Ceará, veremos que a expressão dialeto cearense pode ser ina- li" línguas assim consideradas que são semelhantes a ponto de se tomarem pcrfc i
dequada, visto que há localidades, como a região do Cariri, que contêm traços nã? uuncnte inteligíveis, sem que sejam classificadas como simples dialetos. O gal '
pertinentes em outras (por exemplo, a dentalização do ItI e do Idl antes d.avogal/~/ '11,falado na Galícia, hoje é uma das línguas oficiais da Espanha e, entretanto.
ou a omissão de artigos antes de nomes próprios). Por esse e outros motivos, utili- pode muito bem ser compreendido por um brasileiro ou um português ou até POI'
za-se com freqüência em vez de dialeto, a expressãoJalar cearense. E, conforme IIIllespanhol. Em contrapartida, diz-se que os dialetos do chinês são ininteligiv 'is
o local em que a variedade existe, outras tantas denominações costumam ser usa- I "Ire si e, apesar disso, não são reconhecidos como línguas autônomas. srn S'
das, como dialeto rural, dialeto urbano, vernacu, I o, koi
ame ,14 ,patoa ,15 e tc. 1'Ilndo lugar, a mútua inteligibilidade é uma questão de maior ou menor grau, vu
111Ide acordo com os indivíduos e nem sempre tem o caráter de reciprocidad '11
3.5.1. A língua e os dialetos 11 ' os falantes e ouvintes: num contato inicial, um brasileiro pode compreendo
11111falante do espanhol que, por seu turno, poderá não sentir a mesma facilidad "
Costuma-se dizer que o dialeto é uma variedade subordinada a uma dada lín-
gua, que assim seria entendida como a soma de vários dialetos. Em geral, enten- Diante disso, temos que concluir que não há nenhuma distinção válida cnh '
de-se que um dialeto se circunscreve a uma zona ou região territorial, que fre- IIl1gllae dialeto. O que faz que uma variedade passe a ser considerada com li11
qüentemente coincide com as fronteiras ou barreiras geográficas, tais coI?o rios 1-'11:1
é uma decisão puramente política. Se, por exemplo, a constituição bra il 'ilil
ou montanhas. Mas, quando se tenta estabelecer limites entre diferentes dialetos, üvcsse tomado a decisão de mudar o nome oficial da língua falada no Bra il, "01'
corre-se o risco de se considerar muito mais os fatos sociais do que os lingüísticos. 111\11certeza diríamos que aqui não se fala mais o português, mas o brasiJ iro ou
Assim, se pensarmos no caso da língua portuguesa, não seríamos capazes de diz~r nutra designação qualquer que pudesse ter.
quantos dialetos ela possui. E, por outro lado, em que medida ainda é válido di-
zer-se que o português do Brasil constitui um dialeto? / ~.2.O sotaque e o dialeto
O mesmo caso acontece com o termo língua. O holandês e o alemão são co- Considerando-se agora fatos puramente lingüísticos, costuma-se estab I" 'I
nhecidos por serem duas línguas distintas, mas em alguns lugares, ao longo das ItIlWnova oposição: a que existe entre sotaque e dialeto. Este se refere a di fcr '11
fronteiras da Holanda e da Alemanha, as variedades faladas em cada lado limítro- ~ ISque dizem respeito a vocabulário, sintaxe e também pronúncia. O sotaqu ' r '
fe são extremamente similares. Se se decide dizer que as pessoas de um lado da 11'1c-se' apenas a diferenças de pronúncia. Isso é o que afirmam vários pcsquisudo
fronteira falam alemão e as do outro, holandês, essa escolha está novamente colo- II'S,entre os quais Chambers & Trudgill (1993):
cando os fatores político-sociais acima dos lingüísticos.
O sotaque se refere à maneira como um falante pr nuuc] I
Hudson (1984), ao questionar sobre a diferença entre língua e dialeto, apre- e, por conseguinte, a uma variedade que é foneticamente '/ou
senta os seguintes critérios: fonologicamente distinta de outras variedades. O dialeto, por
a) o tamanho, porque os dialetos são partes ou subconjuntos da língua; outro lado, se refere a variedades que são grarnaticalrn nl \ ( \
talvez lexicalmente) tanto quanto fonologicamentc distintas 1\
outras variedades".
É muito lúcida a crítica que Wardhaugh (1993:22) faz desta definição. Diz ele ~ to lingüística. Mas, antes de fazê-lo, temos que insistir numa observação preli-
que, da forma como é redigi da, ela nos permite afirmar que o inglês, o francês, o in- uunar: o fato de que não faz nenhum sentido supor que um determinado dialeto
glês de Londres ou o dos comentários futebolísticos e assim por diante são varieda- "pl lingüisticamente inferior ou superior aos demais. Há, por exemplo, certas
des, uma vez que se constituem de itens lingüísticos com similar distribuição. Permite , I .nças populares de que o português do Maranhão é o mais correto ou de que a
também considerar como uma única variedade todas as línguas de algum falante mul- 111 onúncia de uma determinada região é errada.
tilíngüe, ou de uma comunidade, já que a totalidade dos itens lingüísticos relaciona- Tudo isto é completamente absurdo: em termos científicos nada há que possa
dos tem uma similar distribuição social. Uma variedade pode, pois, ser muito maior lundamcntar a superioridade ou inferioridade de uma forma de falar em relação a
do que uma língua ou menor do que um dialeto. E, ao final, a expressão termina sendo nutras. Se o falar do campo é visto como errado ou inferior face à norma dita culta
usada de forma até mais vaga e imprecisa do que o seu sinônimo denotativo. un Hngua-padrãc, isto é apenas umjulgamento social, motivado por preconceitos.
1'111 C nscguintc, conforme explica Trudgil1 (1979), lingüisticamente falando,
11\1111 variedade nã p de ser considerada melhor que a outra. Todos os dialetos
17. Segundo Malmberg (1979), em vez de dialeto, conviria usar o termo/alar para os casos em que as diferenças são () .suuturndos, complexos, governados por um sistema de regras e adequados
menos marcadas ou limitadas a fatos dc pronúncia ou de vocabulário.
às necessidades do falante. O que ocorre é que os julgamentos relativos à correção 'em diferenças muito fortes quanto ao uso da língua por parte de pessoas que per~
e pureza são mais sociais do que lingüísticos. Na realidade, são completamente tcnçam a camadas distintas. Percebe-se facilmente que um indivíduo, tenha a apa-
arbitrários, pois não passam de preconceitos baseados em conotações que um tra- rência que tiver, revela pela sua linguagem a classe a que pertence. É interessante
ço particular possa ter. observar com Hudson (1984):
De modo análogo, não se pode afirmar, em termos científicos, que uma língua A fala das pessoas de uma mesma classe social, em regiões
seja superior ou inferior a outras. Costuma-se dizer, a esse propósito, que o fran- diferentes, é mais semelhante do que a fala das pessoas de dis-
cês se distingue pela clareza ou que os textos de natureza filosófica são mais facil- tintas classes sociais numa mesma área territorial".
mente produzidos em alemão. Na realidade, tais impressões parecem não ter fun-
Acrescente-se ainda, com Malmberg (1979), que as variações regionais po-
damento. Conforme diz Malmberg:
dem transformar-se em diferenças socioletais, na medida em que os falares rurais
Uma língua não é em si mesma nem mais clara, nem mais não se conservam nas camadas inferiores de uma sociedade.
lógica, nem mais abstrata que outra. Toda língua permite -
desde que seu vocabulário seja suficientemente grande - a ex-
pressão dos pensamentos mais claros e mais confusos, mais ló- \.5.5.3. O tecnoleto
gicos e mais estúpidos, mais abstratos e mais concretos". Trata-se da linguagem própria de um domínio profissional. Os traços mais
marcantes dizem respeito aos léxicos, às vezes tão especializados que se tomam
Voltemos à questão dos dialetos. Já vimos que o conceito é extremamente
Incompreensíveis para falantes de outros domínios, que até os ironizam como se
amplo, a ponto de se tomar ambíguo. Em função disso, os lingüistas passaram a fossem de línguas diferentes: o economês, o pedagogês etc. Às vezes, esse tipo de
forjar termos em leto para dar conta de usos bastante específicos. Anotemos al- I 'to é denominado de jargão. Mas jargão é também um termo que tem outras
guns desses termos, com a ressalva já antes feita de que nem todos são amplamen- nplicações, Segundo Chaica (1982), constitui uma variedade lingüística criada
te usados nos textos de Labov. para situações específicas, atendendo a necessidades pessoais e sociais dos falan-
\ I .s. Refere-se, de acordo com Romaine (1994), a uma variedade de fala bastante
.v 3.5.5.1. O idioleto rrnplificada, com enorme variação individual, usada para propósitos comunicati-
vos em situações limitadas entre falantes de diferentes idiomas.
É a maneira de falar característica de um indivíduo. Numa comunidade, não
há duas pessoas que falem igualmente, empregando os mesmos tipos de constru-
1.5.5.4. O bioleto
ção sintática, uma freqüência igual na seleção de vocábulos ou uma realização de
fonemas sem distinção. Aliás, a variação no uso da língua é tamanha que um úni- Aplica-se este termo ao uso Iingüístico diferenciado em função de caracterís-
co indivíduo fala de diversas maneiras, de acordo com a situação. O termo idiole- ricas de fases da própria vida ou de atributos biológicos do falante. Fala-se em eto-
to, segundo Labov (1972), foi introduzido por Bloch para representar o discurso 1(110 e sexoleto.
de uma pessoa determinada que fala sobre um tema determinado ao mesmo ou-
O primeiro se refere a diferenças em função da faixa etária. Não é difícil per-
vinte durante um tempo limitado.
ccbcr que a linguagem dos idosos, em virtude de conservar traços que já evoluí-
ium, difere bastante da dos jovens. Mas, conforme ressalta Labov (1972), a dife-
3.5.5.2. O socioleto I .nça entre as faixas etárias pode ser fictícia, se se leva em conta que os grupos
Também denominado de dialeto social, é o uso lingüístico próprio de uma 111~lisjo~ens se distinguem dos mais idosos em função de outras variáveis que não
classe ou categoria social específica. Dito de outro modo, é um conjunto de traços '.lu a Simples passagem do tempo. Um grupo pode ter uma educação mais com-
lingüísticos empregados preferentemente por um determinado estrato social. As pleta c melhores perspectivas, precisamente como resultado lógico do movimento
comunidades, principalmente as complexas, são estratificadas e, com isso, apare- isccndcnte experimentado pelas sucessivas gerações. E assim o que parece devi-
do à faixa ctária termina sendo condicionado por outros fatores.
18. Une langue n'est pas comme tcllc ni plus c1aire, ni plus logique, ni plus abstraitc qu'une autrc, Toutc languc pc r-
mel- à condition que son vocabulaire soit suffisamrncnt grand -Tcxprcssion dcs pensées Ics plus cluircs ct lcs plus 111, /I spcnkcr 11111)' show IlItll~' Nlmlllll ity 111his lan lia e I pcoplc from lhe samc social group in a differcnl arca Ihan
confuscs, Ics plu logiqucs ct lc: plus stunidcs, les plus nbstraitcs ct Ics plus concrctcs (Mulmh 'I" , 1979: I 56). 11111\'0111 110111ulllfll'l '11\ n '1111f 10\111m the 11111til fi (1Iudson, 1984:4 ).
Com relação às diversidades devidas ao sexo, não é dificil encontrar uma sé- Exercício 111
rie de traços que distinguem a forma como homens e mulheres utilizam a mesma
língua. Para o inglês e para o português, inúmeras pesquisas já comprovaram, a tí-
questão - O locutor de uma cidadezi nha qualquer do interior do Brasil fala
I!!
tulo de ilustração, que as mulheres utilizam uma linguagem muito mais cuidada
.10microfone: "Alo r, alor, atenção!" A pronúncia enfática do lvl, que na reali-
do que os homens. Labov (1992) chega inclusive a afirmar que se trata de uma
dade não existe em alô, se deve ao fenômeno denominado de:
tendência quase universal o fato de que as mulheres procuram evitar as constru-
ções estigmatizadas e privilegiam as formas de prestígio. a) hipercorreção;
Entretanto, é pouco provável que o sexo como fator biológico seja causa das b) contaminação analógica;
divergências que se costumam analisar. Ao que tudo indica, a linguagem femini- c) idioleto;
na é diferente da masculina muito mais em função de fatores sociais do que de ca-
racterísticas puramentebiológicas, Assim, por exemplo, se é verdade que as mu- d) sotaque;
lheres empregam com maior freqüência as formas diminutivas, isto se deve a ele- e) mistura de dialetos.
mentos de ordem cultural, já que as regras estabelecidas pela sociedade determi-
nam que as mulheres sejam delicadas e meigas ou até submissas. Nada tem a ver,
21! questão - Você deve ter observado que a frase inicial de cada capítulo re-
por conseguinte, com atributos de ordem biológica.
produz o título deste livro, às vezes com uma pequena alteração. Com isso o
.iutor tenta mostrar que:
~ 3.5.5.5. O interleto
a) o idioleto é a maneira própria de falar de um indivíduo;
Comumente utilizado nas situações em que se verifica um processo de criou-
b) a variação lingüística ocorre até no discurso de um mesmo indivíduo;
lização, equivale, em última análise, ao conceito de língua franca. O termo tem
como concorrentes os que ressaltam a noção de continuum lingidstico: o mesole- c) tem consciência de que o título deste livro pode conter um erro gramatical;
to, que designa toda a zona de produções lingüísticas híbridas, o acroleto ou va-
d) está havendo um processo de mudança no emprego dos clíticos;
riedade superior e o basileto ou variedade inferior (Boyer, 1991).
e) a variaçã.? lingüística é sempre aleatória ou puramente casual.
Outros termos foram e continuam a ser cunhados pelo mesmo paradigma: ur-
banoleto, regioleto, gerontoleto.familioleto e tantos mais. Não sabemos até que
ponto se consegue resolver por essa via o problema da imprecisão conceitual do 3ª questão - Assinale o que está de acordo com o pensamento de Labov:
termo dialeto, que muitos, como vimos, até preferem substitui-lo por uma expres- a) A diversificação das línguas é de forma evidente algo funcional, tal
são mais neutra como variedade lingüística. Esta, embora seja igualmente bastan- como pode ser a diversificação das espécies.
te imprecisa, teria a vantagem de não sugerir as conotações de inferioridade ou
b) Em cada língua ocorre entre as palavras uma luta pela vida e sempre
desprestígio face ao termo língua. Basta refletir que, em sã consciência, hoje não
•..
aern vencedoras as melhores formas.
admitimos que o português do Brasil seja um dialeto do português de Portugal. Se
os dois países falam a mesma língua, concordamos em que ambos possuem varie- c) O fenômeno da diversificação lingüística é devido à ruptura de comuni-
dades lingüísticas próprias. É o mesmo que afirmar que os dois países falam diale- cações entre grupos isolados.
tos diferentes, sem ferir os sentimentos ou a consciência lingüística de ninguém.
d) Todo movimento de formas lingüísticas vai do grupo de maior ao de
menor prestígio social.
e) Em vez de partir de um modelo abstrato, o lingüista deve iniciar seu tra-
balho nas situações concretas em que a fala ocorre.
4ª questão - Indique a afirmativa verdadeira: e) zona ou região territorial, que coincide com as fronteiras ou barreiras
a) O domínio de atuação de uma língua corresponde aos limites territoriais Ijc'ográficas.
de uma nação.
7,1 questão - Sobre a distinção entre língua e dialeto, é válido afirmar:
b) O domínio de atuação de um dialeto corresponde aos limites territoriais
de uma região. a) Sempre que os falantes se entendem mutuamente é porque estão usan-
do a mesma língua, embora possam estar falando diferentes dialetos.
c) Para Labov, uma comunidade de fala deve ser entendida como um gru-
po de pessoas que utilizam todas as mesmas formas de expressão. b) Em termos lingüísticos, não há nenhuma distinção válida entre língua e
d) No modelo laboviano, a opção de pesquisa tem sido direcionada para a dialeto.
análise da fala de indiyíduos isolados. c) Enquanto o dialeto é falado pelo povo, a língua é o meio de expressão
da classe dominante.
e) No modelo variacionista, a opção de pesquisa tem sido direcionada
para a análise da fala de grupos de indivíduos. d) A língua está sempre em evolução; os dialetos são os traços conservado-
I -s da língua.
5ª questão - Das afirmativas abaixo, assinale a que mais se distancia do con- e) Os dialetos são bem menos estruturados do que as línguas.
ceito laboviano de comunidade de fala:
a) As fronteiras entre as comunidades de fala são essencialmente mais de II~questão - Assinale a opção falsa:
caráter social do que lingüístico.
a) O que faz que um dialeto passe a ser considerado como língua é uma
b) Comunidade de fala são todas as pessoasque usam uma dada língua ou d cisão puramente política.
dialeto.
b) Enquanto o dialeto se refere a diferenças de vocabulário, sintaxe e pro-
c) Comunidade de fala é um grande número de pessoasde diferentes clas- núncia, o sotaque refere-se apenas a diferenças de pronúncia.
ses socioeconômicas que vivem num mesmo território.
c) O falar do campo é errado ou inferior face à língua-padrão, porque é
d) Comunidade de fala é um agrupamento humano caracterizado por fre- próprio de pessoas analfabetas.
qüente e regular interação, efetivada através de um mesmo sistema de signos
d) Todos os dialetos são estruturados, complexos, governados por um sis-
verbais.
torna de regras e adequados às necessidades do falante.
e) Comunidade de fala é um grupo cujos membros têm em comum uma
e) Uma língua não é em si mesma nem mais clara, nem mais lógica, nem
variedade lingüística e compartilham acordos, regras ou normas para o seu
mais abstrata que outras.
emprego.
Para compreender Labov, temos que dedicar uma atenção maior ao cone i10
de variação e percebê-Ia como requisito ou condição do próprio sistema lingüisti-
1'0. Os modelos teóricos que fazem abstração da variação entendem que ela é ar> '
lias um acidente e não uma característica essencial das línguas. Tal premissa, 011
lnrrne já vimos, foi a base de concepções lingüísticas bastante divergentes cnu '
I, como o mecanicismo de Bloomfield, a teoria glossemática de Hjelmslev 'o
irativismo de Chomsky.
Contra esta posição homogeneizadora insurgiu-se a sociolingüística, tentando
provar a premissa oposta, ou seja, a de que a variação é essencial à própria natur :111
tln linguagem humana e, sendo assim, dado o tipo de atividade que é a cornuni 'U~'lill
lmgüistica, seria a ausência de variação no sistema o que necessitaria ser cxplirun
do. Conforme observa Gadet (1992), o modelo laboviano permitiu compr 't'lI 11'1
que as estruturas variantes, muito mais do que as invariantes, relevam patim', ti
I 'gularidade que, de tão sistemáticos, não podem ser devidos ao acaso.
Nesse sentido, Weinreich (ap. Labov, 1972) raciocina que, numa língua qu '
nvc a uma comunidade complexa (isto é, real), a ausência de heterogen 'idod '
cstruturada é que seria disfuncional. E Hudson (1984) diz estar absolutament ' s '
I I 111 lIlSIS hnve ucvcr h cn un .onsciou» of'thc problcm ofslylisli vnriution. Th 'll(llllllll 11111'11' I lU ~I 11\ 11VII
11,1111 IINld' 1101 h 'CII\l~ IlIl'y nrc COlhldcl , bui h' !lUSC 111 I'
,(\ li 111111(1(\1111111 IlIlIqueM 01 1IIIIlIINIIC 111\' 11111111'"1111111
11I1~lIlllIhlc (li 111IId 'q\llll' 1111'111(I 1I11nv, 1'172:70 1).
1111111111111'
guro de que não há sequer dois falantes que tenham a mesma linguagem, porque é U. A variável lingüística
impossível haver duas pessoas que tenham a mesma experiência lingüística'.
Duas ou mais formas distintas de se transmitir um conteúdo informativ
Por tudo isso, assinala Dorian (1994), cada vez mais se aceita a idéia de que a i onstituem, pois, uma variável lingüística. As formas alternantes, que expressam
heterogeneidade lingüística reflete a variabilidade social e as diferenças no uso Ii mesma coisa num mesmo contexto, são denominadas de variantes lingüísticas.
das variantes lingüísticas correspondem às diversidades dos grupos sociais e à ssirn, por exemplo, não há qualquer diferença semântica se pronunciamos a pri-
sensibilidade que eles mantêm em termos de uma ou mais normas de prestígio. 11H.: ira pessoa singular do indicativo presente dos verbos dar, ser ou estar com LI
~'111ditongo. Ou se realizamos a vogal pretônica de Recife como lei, lEi ou li/.
4.2. As regras categóricas e variáveis Segundo Labov (1972), para definir-se uma variável lingüística é necessário:
É óbvio, porém, C],uenem todos os fatos da língua estão sujeitos a variações. a) definir o número exato de variantes;
Existem regras gramaticais que se definem como categóricas, desde que um falante
b) estabelecer toda a multiplicidade de contextos em que ela aparece;
não pode violá-Ias. De acordo com Waulhaugh-C1993), são "regras que especifi-
cam exatamente o que é - e conseqüentemente o que não é - possível na Iíngua'". c) elaborar um índice quantitativo que permita mediros valores das variávci .
Sabe-se, por exemplo, que em romeno o artigo se pospõe ao nome. Em portu-
guês, porém, como em inúmeras outras línguas, o artigo sempre antecede o nome Os sociolingüistas em geral entendem que, para estabelecer-se o conceito de
e qualquer alteração nessa ordem redundaria numa construção agramatical. vuriável lingüistica, é necessário que as duas ou mais variantes tenham o mcsrn
rgnificado referencial ou denotativo. Essa pressuposição de dizer o mesmo de
Outra regra categórica seria a do preenchimento do pronome sujeito no inglês
modos diferentes se aplica sem grandes controvérsias a variáveis fonológicas.
ou francês: enquanto em português ainda se pode dizer amo Maria, embora seja
/ri de elixir pode ser pronunciado com maior ou menor força expiratória, pode até
bem mais freqüente eu amo Maria, frases como *love Mary ou "aime Marie são
cr apagado, sem que o significado denotativo do vocábulo se modifique. Já não 6
praticamente impossíveis. rssim com ignificado ~xwessiY...o..o1Io social: se o Irl é pronunciado com bas-
Todo sistema lingüístico é dotado, pois, de um conjunto de regras que não podem I mie força, pode ser enfático, adquirir um símbolo de prestígio ou, em vez dis ,
ser infringidas, sob pena de dificultar ou mesmo inviabilizar a compreensão dos enun- 'r estigmatizado se, por exemplo, for pronunciado à moda caipira.
ciados. A esse conjunto de leis internas se costuma dar o nome de invariante. Cumpre ressaltar que, para Labov (1972), somente se atribuem valores
t Mas,além das regras categóricas ou invariantes, existem e, sem dúvida em ruus às regras lingüísticas quando existe variação. Isto porque os falantes nã
maior abundância, as regras variáveis. Aplicam-se sempre quando duas ou mais II 'citam facilmente o fato de que duas expressões distintas signifiquem exatamcn-
formas estão em concorrência num mesmo contexto e a escolha de uma depende I ' a mesmacoisa, havendo pois uma forte tendência a conferir-lhes significad s
de uma série de fatores, tanto de ordem interna ou estrutural como de ordem exter- diferentes. Se um determinado grupo utiliza uma variante particular, normalmcn-
na ou social. I Il' as conotações sociais atribuídas a esse grupo se transferem à variável lingülsti-
1'11. Mas os valores de referência continuam iguais, pelo menos quando se trata I\
Labov (1972) estabelece, além disso, uma outra distinção. Diz ele que as re- I -nlização de fonemas. Ou seja:
gras variáveis têm uma função comunicativa (estilística, expressiva ou enfatiza-
dora), ao passo que as regras invariantes não têm essa função, servindo apenas As variantes são idênticas quanto à referência ou valor ti '
para facilitar a expressão das seleções já realizadas. verdade, mas opostas em sua significação social e/ou estilistica".
3.... "rulcs which spccify cxactly what is - and thcrcforc what is not - possible in lhe languagc' (Wardhaugh, I, Ih' vnrinnt lIl' Id 'Iltlrlllllll '''''ellce or truth vuluc, bul opposcd in Ihcir. ocinl nnd/or stylistic sil1llili rnucc (I I
1993:5). huv, 1t)J ).
POde ser adaptadoaos problemas de ordem sintática. É que a própria hipótese de uccitáveis certas construções. Em outras palavras, as regras pragmáticas, que são
lIrnavariaçàosintática por natureza é problemática. As variantes são seqüências tumbém convencionais e, portanto, conhecidas pelos falantes de uma comunidade
que têm o mesmo sentido e comportam os mesmos itens lexicais, mas seus pro- de fala, determinariam o uso sistemático das expressões.
cessoscombinatóriose hierarquias de categorias são diferentes. Para refletir um pouco mais sobre a questão da mudança semântica em constru-
Dessaforma, observando o fenômeno da posição do adjetivo em português, çõcs sintáticas tidas como equivalentes, aproveitemos a análise que Morales (1993)
Podemos até dizer que entre linda mulher e mulher linda só existe mudança nos esboça para o fenômeno do (de)queísmo6, que, em línguas como o português e o es-
~~Io:esafetivosou expressivos; mas de grande mulher pa~a mulher grande não panhol, diz respeito à presença ou ausência da preposição de. Normalmente, quan-
,adúvida,de que o adjetivo muda em seu aspecto referencial. Cabe aqUi a ques- do usada a preposição, diz-se que a relação entre o sujeito e o que o segue é menos
taocrucialproposta, entre outros, por Gadet (1992): "quem garante que as dife- , .gura, mais parcial e menos direta que nos casos de omissão de de.
rentesvariantes são variantes de uma mesma unidade'r'" Os exemplos do espanhol se aplicam ao português. Observemos as constru-
Diantede fatos como este, há sociolingüistas que não vêem grandes obstácu- çõcs:
lospara a aplicação do modelo variacionista à área da sintaxe. Outros, a exemplo a) Temo que ele venha.
deLavandera(1978,1984), não parecem estar tão certos desta afirmação '.Ela a~-
gUll1entaque é inapropriada a extensão da análise da variação, desenvolvida OrI- b) Tenho medo de que ele venha.
gInalmentesobre a base de dados fonológicos, a outros níveis, sobretudo devido à
ausên~ia.deuma teoria do significado bem formalizada que pe~ita a anál~se Uma análise superficial nos revela que, embora descrevam uma mesma situa-
qUantItativada variação morfológica, sintática e léxica. Assinala ainda que na sm- ~'1I0no mundo real, esses enunciados de fato diferem no enfoque. No primeiro
t~Ke,ao Contrárioda fonologia, construções que parecem sinônimas podem não I'OSO, a oração subordinada funciona como complemento verbal. No segundo, ela
se-Io,porque não é possível considerá-Ias membros do mesmo conjunto de equi- constitui um complemento nominal e, além disso, como no verbo se resume a re-
valências.Ao contrário dos segmentos fonológicos, os segmentos morfológicos, I .rência ao sujeito, a conexão entre este e a oração é considerada mais íntima e di-
SIntáticose léxicos apresentam um significado referencial próprio. Por tudo isso, I ·Ia.Conclui-se, então, que as construções com de têm um significado diferente, o
SUgereela que se enfraqueça a condição de igualdade de significado de todas as 11 ' distanciamento e de pouco compromisso.
fOl"lnas
aItemantes no estudo da variação extrafonológica, substituindo-a por uma
Isto se verifica com bastante clareza, se correlacionarmos os dois enunciados
COndição de igualdade funcional.
ubaixo:
~a mesma linha, Boutet (1992) entende que, dada a dificuldade de se admitir
a) João necessita que lhe emprestem dinheiro.
a eqUivalênciasemântica de construções sintáticas formalmente distintas, a teoria
V~riacionista,por não oferecer fontes seguras para o tratamento da questão do sig- b) João tem necessidade de que lhe emprestem dinheiro.
ruÜcado,não tem condições de ser aplicada a níveis acima do fonológico e do
morfofonológico. Raciocinando um pouco, dá para se perceber que a necessidade de João tor-
~or seu turno, Morales (1993) explica em acréscimo que alguns parâmetros nu-se mais urgente no primeiro exemplo.
de Significação devem ser levados em conta na decisão de identidade de formas: a As diferenças de matizes semânticos entre construções tidas como variantes sin-
per.Spectivafuncional da oração, as implicações pragmáticas e a intenção comuni- 1"licas são, pois, bem evidentes e muitas delas estão previstas até nas gramáticas nor-
~~h~ado falante. E, na medida em que se multiplicam os parâmetros de medição, mntivas. Assim, só para mencionar outra situação, tomemos as seguintes frases:
llllmuem as possibilidades de se encontrar estruturas sintáticas que expressem a
mesma coisa. Essa idéia é reforçada por alguns autores que, como Van Dijk (1984), a) Espero que ele cumpra o seu dever.
entendem que a descrição das expressões, nos níveis de forma e significado, deve b) Espero que ele cumpra com o seu dever.
ser ~ompletada por um terceiro nível, o da ação. Este nível pragmático proporcio-
nan, as Condições decisivas para reconstruir-se parte das convenções que tomam
I. 1'\ 'udoso C0l110 11 preposição de costuma. às vezes num registro formal, ser empregada após verbos transitivos di-
1 111 .. 1~1lI utrevistus de p llticos, siio comuns construções do tipo eu afirmo de que ... , eu declaro de que ...• eu digo de
1/111' 'I. () ícuôm 'IIn. qu 'OCOITe tanto no português como no espanhol,já foi objeto de algumas investigações, entre
s. MlIiHqU"Nll"IJIII 1 1\'11Ihll~I'Ilh'
111111111111 VCIIIIIIII' NOl1thi'I1VllliUI1I·N(\·UIICI1l IllCIII1il '/( IIl<lcl.1992:7) lI_qllll 1\ 11 Molllcn (1C)l!9).
Em que medida se pode afirmar que há sinonímia nessas construções? Um fa- por Labov, que devem ser preenchidas antes que o pesquisador inicie o seu traba-
lante do português é capaz de perceber, sem grandes dificuldades, qu~ a preposi- lho. Entre essas condições, citamos:
ção com transmite no caso uma espécie de maior envolvimento do SUJeIto, o que a) É necessário que a variável seja freqüente, isto é, que ocorra de tal forma
não se verifica necessariamente quando o complemento é ligado diretamente ao numa conversação espontânea que seu comportamento possa ser estabele-
verbo cumprir" cido a partir de contextos não estruturados e entrevistas breves.
E a situação se complica quando ocorrem ambigüidades, o que pode ser b) A variável terá que ser estrutural no sentido de que, quanto mais esteja o
exemplificado com as relações entre frases ativas e passivas. Confiramos: elemento integrado num sistema maior de unidades em funcionamento,
maior será o interesse lingüístico.
a) Todos os professores aprovaram somente cinco alunos.
c) A distribuição do traço deve estar altamente estratificada.
b) Somente cinco. alunos foram aprovados por todos os professores.
7. o pr blcrna da transformação da passiva em ativa ainda se complica mais CI." português, quand~ se pretende que
tola, turma etc.). Pode-se, pois, dizer que seus alofones se encontram em distribui-
os cstrururns COI11 11 purtículn .VI' scjiun consid rudns pusslvas, AI é qu o existe mesmo
l1t 5111011111113, COllfOl'l11C de- «ti cornpl '111 ntar c c nstitucrn variantes combinatórias de um único fonema.
111()IISII'IIII1()~ em MOllt -!lu (1994).
c ~f
Pensemos agora num outro caso, o das realizações das vogais pretônicas. A variedade lingüística própria da classe dominante se impõe, pois, como mar-
Uma palavra como peruca pode ser pronunciada pelo menos. de três maneiras, ca de prestígio e determina a atitude dos falantes dos grupos dominados face à sua
sem que mude de significado denotativo: /perukal, /psruka/ e /piruka/. Observa-se própria variedade. Boyer (1991) chama atenção para o fato de que os colonizadores
que o contexto ou ambiente fonético não se alterou e assim, à t:rimcira vista; o f~- sabem muito bem disso, e um de seus primeiros cuidados é o de avaliar pejorativa-
lante pode optar por uma ou outra das três formas. Trata-se entao de uma vanaçao mente as línguas vemáculas, a ponto de que os colonizados terminam desvalorizan-
livre, ou seja, o falante tem realmente liberdade de escolher qualquer uma delas? do seus dialetos e até se envergonham de não saberem falar de outro modo.
A resposta a esta questão, pelo que sugerem as pesquisas sociolingüisticas, Idêntica observação fez Labov (1972), ao afirmar que a variedade das classes
vai no sentido de dizer que a rigor não há variação livre. Se não é o contexto 1111- dominadas tende a se desestruturar, quando em contato com a variedade da classe
güístico que determina sempre o emprego de uma das formas, parece que sempre dominante, gerando inúmeros sentimentos de culpabilidade ou de inferioridade lin-
se interpõem fatores extemos ou socioeconômicos para decidir qual delas deve iüistica, que levam muitos falantes a se envergonharem de seus próprios dialetos.
ocorrer numa dada situação de fala. No exemplo da palavra peruca, basta uma
análise superficial para se chegar à conclusão de que um dos fatores decisi~os é a '-6. As variantes estigmatizadas
localidade: em Fortaleza, por exemplo, há uma tendência a que a palavra seja pro-
nunciada como /psruka/. É claro, insistimos, que isto é uma análise superficial, , Um dos preconceitos mais fortes numa sociedade de classes é o que se instau-
desde que muitos outros fatores poderão intervir. Mas, em qualquer caso.' d~ve~se Ia nos usos da linguagemj Se o falante é um camponês ou mora numa favela, se é
abandonar a idéia de variação livre, em favor da hipótese de que toda vanaçao 1111- .malfabeto ou de baixo nível de escolaridade, é lógico que sua maneira de falar
güística é condicionada por fatores estruturais e/ou por fatores sociais. nâo será a mesma que a das pessoas que se situam no ápice da pirâmide social. Em
lodos os níveis lingüísticos se manifesta essa distância: na fonologia, no léxico, na
Convém por fim ressaltar a observação de Labov (1972), segundo a qual as
mtaxe. Ele provavelmente usará formas como vrido, pranta, expilicar e musga
estruturas lingüística e social não são rigorosamente co-extensivas. Muitas regras
nu construções do tipo nós veve, ele viu eu, eu se danei etc. E, com isso, é mais
lingüísticas nada têm a ver com qualquer valor social, corno, por exemplo, as qu.e
discriminado ainda pela sociedade.
disciplinam o emprego dos quantificadores e da negação. E de crer que elas se Si-
tuam num nível inferior ao das apreciações sociais, e sua distribuição irregular ou Assim sendo, uma vez que a variação lingüística pressupõe a valoração so-
idiossincrática em qualquer população espelha este fenômeno. Apesar disso, o in- I ial, as variantes empregadas por falantes dos estratos mais baixos da população
vestigador deve, mesmo nesses casos, interpretar a ocorrência das duas formas, 1111 grande parte são estigmatizadas. E o preconceito é tanto mais forte quanto
levando-se em conta que pode haver uma delas que manifeste um uso mais ou me- maior for a identificação da forma com a classe discriminada. À proporção que]
nos freqüente em determinado contexto ou num grupo social. passa a ser usada por outros grupos, o estigma vai diminuindo até deixar de existir . "-
rompletamente, se a variante é aceita pela classe dominante. É o que está acontc- '
r cndo com o emprego do pronome ele em função de objeto direto.
4.5. As variantes de prestígio
I
I
rUma variante em geral adquire prestígio, se for associada a um falante ou gru- .t.7. As variantes inovadoras e conservadoras
'\ po social de status considerado superior'', E, com isso, tal c?mo .se verifica ll(
moda, pode passar a ser imitada por outras pessoas de classe inferior. ~ É natural que, havendo duas ou mais formas de se transmitir uma dada infor-
mação, se configure um processo de mudança lingüística. Há então uma espécie
(./ Vejamos um exemplo histórico: o/s/ implosivo ou chiante passou a existir no
ti ' conflito em que a forma mais antiga, denominada de conservadora, pode ter-
dialeto carioca a partir de 1808, quando a corte portuguesa fixou residência no
uunar sendo substituída pela mais recente ou inovadora. Em geral, quando se tra-
Rio de Janeiro. Os nobres portugueses pronunciavam assim o /s/ e, como eram
II do dialeto padrão, a primeira é a que goza de maior prestígio na comunidade, e a
nobres, sua pronúncia se transformou numa espécie de símbolo de nobreza, que
movadora, até ser aceita, sofre alguma restrição ou estigma.
foi imitado pela população local.
Assim deve ter ocorrido com a vocalização do 111pós-vocálico, no português
tio Bra il: em palavras como Alfredo e real, o 111atualmente se realiza como Iw/,
\' li iantc inovadora que entrou em competição com a pronúncia antiga, tida como
plldrfi •p r iss 111 S1110, dotada de certo prestígio. Hoje ainda, se algum idoso
8. Rcssultc-s .porém, que existe o cluunado prestlgio encoberto, em que UI11Udada e trutura pode passar li ser sim
bolo (1\1IIIIÇU de I(kntlll'lI~'1 (l tk IlIpUS 4"0 nl o P '1IC\I'0Il1 1\ elite dominonte.
não assume a nova forma, um dos motivos será uma espécie de julgamento sobre IIIIISnão sugere~1 fo1enhumavariação estilística e aparecem como dotados de es-
o valor simbólico que a variante conservadora poderia encerrar. I IS~Opod.er avah~tlvo. Ou seja, são traços que se limitam a assinalar uma diversifi-
No nível morfossintático, um bom exemplo é o da formação do plural dos sin- I içao SOCial,sem mterferência da avaliação subjetiva ou da altemância estilística.
tagmas nominais: apesar dos esforços da escola e de outras instituições no senti- O~ m~rc~d_ores (~1Qrkers), por sua vez, são variantes que apresentam não só
do de que todos os termos sujeitos a flexão recebam a marca /s/, cada vez mais a lima distribuição SOCIalmas também uma diferenciação estilística. Conforme diz
regra se simplifica. Se prestarmos bem atenção, notaremos que muitos falantes I orname ~1988), trata-se de .v~riáveis que revelam uma forte estratificação tanto
cultos já dizem meus amigo ou vinte pau, evitando a redundância própria da va- \ ()~1~ relaça? aos grupos SOCI31Scomo aos estilos". Embora possam permanecer
riante conservadora. Ih~lJ~odo nível de controle cons<:iente, ?S .marcadores costumam produzir respos-
Mas, às vezes, se o estigma imposto à inovação é demasiado intenso, a relu- I IS I cgulares nos testes de reaçao subjetiva, São em suma variações devidas à
tância em aceitá-Ia pode ser tamanha que termina surgindo uma nova alternativa I lusse SOCIaldo ~ala~te, s~~o .e/ou. idade, que se distinguem dos indicadores por
como estratégia para se evitar tanto a variante estigmatizada como a que, por seu uprcscntarem vanaçao estilística sistemática.
caráter conservador, adquire um certo tom de arcaísmo ou artificia!idade. Foi o que Para melhor diferenciação, talvez seja útil o seguinte comentário de Cham-
ocorreu ou está ocorrendo com o objeto direto dito anafórico: enquanto a variante lu-rs & Trudgill (1993):
padrão ou de prestígio tenta seguir a regra de uso do clítico acusativo, a variante
popular estabelece o emprego do pronome ele com a função de objeto direto. .~are~e .claro que, se numa dada comunidade de fala uma
vanavel e simplesmente um indicador, então ela exerce um pa-
Exemplifiquemos: pel menos deCISIVOna caracterização das diferenças de classe
a) Quando eu vi o Procópio, quase não o reconheci. ~~ que ,um marcador. [... J Uma óbvia indicação de que uma va-
navel e um marcador, e não um indicador, é que ela costuma
b) Quando eu vi o Procópio, quase não reconheci ele. ser tema de comentários desfavoráveis na comunidade 10.
De acordo com nossas investigações (Monteiro, 1994), interpretamos que, Quando os marcadores sociolingüísticos entram na consciência social eles se
como estratégia para se evitar ambas as variantes, sendo a conservadora avaliad I ()l1v~rtem em estereótipos e, segundo Labov (1972), às vezes costumam ser
como artificial ou quase pedante e a outra como "errada" ou própria de pessoas Id~l1tlficados p~r !lma fr~se cara.cterística. É o caso de lembrar, com Macambira
sem bom nível de escolaridade, surgiu uma terceira possibilidade: o apagamento ( I ~87), ~ue aq~I ~o !3rasI.I os suh:tas costumam gracejar com os pernambucanos,
puro e simples do objeto direto. Para o nosso exemplo, a estrutura mais freqüente plOl1uncI~ndo ~R~clfe, CIdade decente". Com isso, fazem referência à abertura
na norma culta falada no Brasil é a seguinte: dlls vogais pretomcas como um dos traços que estigmatizam o falar nordestino.
c) Quando eu vi o Procópio, quase não reconheci. , .Entretan~o, ~ ~p.ortuno não perder de vista que as atitudes ou crenças face aos
IIIlOmen?s lingüísticos depe~dem muito do grau de coesão dos grupos sociais.
IIr~la.vana~te pode sofrer estlg~as da classe dominante mas, se for símbolo de
4.8. Os estereótipos, indicadores e marcadores
ItI ntificação de um grupo, adquire um certo prestígio e pode até ser imitada.
Labov (1972) define os estereótipos (stereotypes) como formas lingüísticas
socialmente marcadas, etiquetadas de maneira ostensiva pela sociedade. Ou seja, 1.9.As variáveis externas
são formas que recebem uma forte estigmatização, cada vez mais estranhas aos
grupos que as censuram. São, pois, variantes que constituem patrimônio de um Ten~o e.m ment~ esses princípios, cabe então pressupor que vari ' veis de or-
grupo específico e sobre as quais atuam atitudes e crenças. li '/11 SOCIalinfluenciam na escolh~ das variantes, sem perder de vista que nem
não ter qualquer influência, apesar das hipóteses que se formularam sobre sua
b) Discurso cuidado (careful speech) - É aquele que ocorre nonnalmcnt .
participação na mudança lingüística, estágio que naturalmente pressupõe a exis-
quando o falante responde às perguntas que são reconhecidas formalm ntc
tência de variações.
como pa~e da entrevista. Em geral, se esta tem como objeto declarado a lin
guagem o !alante, apresenta um grau maior de formalidade do 'I
4.9.1. Os estilos defala quer ou~rbol.tlPode conversação. Não chega a ser tão formal quant~l~~mq~;i's:
curso pu lCO nem menos formal do c I d '
O estilo de fala constitui, de acordo com Bell (1997), um dos maiores desafios . . que a 1a a usa a numa primeira CI1[ r '
vista para se conseguir um emprego, porém é certamente mais formal do
no estudo da variação sociolingüística. O princípio básico é o de que nenhum fa-
Pod uma con~ersa entre membros da mesma família ou entre amig I1
lante utiliza a língua da mesma forma em todas as ocasiões, o que implica a esco- o e ser quahficado como estilo consultativo. '
lha entre várias possibilidades de expressão.
~) ~sti.l~s de ~itura (r~ading style) - Depois de realizada a maior parte do
Segundo Chaica (1982), o estilo de fala representa um sistema de comunica- n revis a, pe e-se ao mformante que leia dois textos em que a variável li
ção controlador da interação social, indicando assim como os falantes devem pro- ~er e~~~ada apareça com bastante freqüência. Tratando-se de uma variáv 'I
duzir ou interpretar uma mensagem. Além de indicações acerca da formalidade ono og~c~, um dos textos deve ser construído de forma tal ue a rc ~l1t \
ou informalidade, intimidade ou distanciamento da relação entre os interlocuto- p~r~s rn:l~10S em_que os traços pertinentes do fonema possa~1 setevid n
res, o estilo engloba também usos ritualizados da linguagem, como as formas de ele os. s mstruçoes q?e devem ser dadas ao leitor são no sentido d qu \
saudação (greetings), de tratamento (address), entre outras. e e se expresse num estilo próximo ao coloquial.
É importante ressaltar que, numa situação comunicativa, o estilo pode forne-
cer mensagens indicativas da escolaridade, origem e classe social dos falantes,
bem como servir a certos propósitos pragmáticos, como provocar intimidade ou
distanciamento entre os interlocutores. Desse modo, conforme explica Chaica I"
g~~~:~n~~~:OoC~~~::~S~
I:tt:l~~:~~~:::~r~:l ;:~~~t::::~
,p r ~xemplo, o contexto de uma conferência ou de uma solcnidn I.
(1982), para garantir a continuidade de uma interação, faz-se necessário compati- I( posse se caractenza quase sempre com fi I J' I
exemplo, prefere o termo registro aos correlatos estl.lo o~ n~v~lde uso" para eV.1tara~ formal do que em festinhas infantis ou almoços em família.
conotações e os juízos de valor. O pr?blema é .que.~ sm.om~a as vezes e estendida ate Para concluir esta parte e insistir novamente na confluência ou interpenetra-
em relação ao termo socioleto, cujo conceito ja foi aqui esboçado (cf. 3.5.5.2.).
ção dos conceitos de natureza sociolingüística, anotamos a observação de Trud-
Assim, lemos em Amusategi (1990) que registro e sociolet? se eqUlv.ale~. Talvez a gill (1979), segundo a qual os diversos tipos de registro podem ser concebidos
confusão se deva ao fato de que estilo, registro, dialeto e llngua se distribuem num
corno variedades dialetais, uma vez que eles ocorrem, na fala de um indivíduo,
continuum ascendente de variação, conforme as exigências da interação.
'orno resultado de traços do contexto social e ainda mostram as características da
É oportuno esclarecer que os falantes de uma lí?-gua ou dialet~, ~o utilizarem hagagem social e regional do 'falante.
diferentemente os traços de estilo, produzem com 1SSOmodelos distintos de ~er-
cepção e interpretação desses traços. Nessa perspectiva, funci?n~m como índices
de significação relacionados ao que se julga serem.~s caract~ns~lcas de
cial, idade, personalidade, sexo etc., tornando frequente a cnaçao de e~te~eotlpos
so- =: .f. 9. 2. A variável sexo
Mas não apenas essas questões já foram objeto de pesquisas. Outras, talvez
Não é, porém, o fato de falar mais o que deve ser relev.a~te na descrição d~s
ué mais intrigantes, produziram um grande volume de trabalhos que seria dificil
diferenças lingüísticas relacionadas ao fator sexo. O que mais I~port~ no c~so sao
rqui resenhar. É, pois, a título de exemplificação que mencionamos a seguir algu-
as discrepâncias no uso das estruturas da língua. O exemplo mais radI~al fOI o que IIH1Sindicações do que se produziu nessa linha.
se verificou numa das Ilhas Antilhas, em que os homens falam o canbe e as mu-
lheres falam o arahuaco duas línguas aparentemente sem nenhuma relação gené- Chambers & Trudgill (1993) relatam que as diferenças lingüísticas devidas
tica. A explicação que s~ costumava dar era a de que os cari?es teriam invadido a 10 sexo ocorrem desde a fala das crianças. Numa investigação sobre a pronúncia
ilha (em que se falava arahuaco), matando todos os seus .habItante.s, menos as ~u- do /rI pós-vocálico em Edimburgo, por exemplo, comprovou-se que há um padrão
lheres, com as quais se uniram para repovoá-la. Todavia, postenorm,ente fOl.es- 11 • diferenciação, mesmo na fala de crianças de seis anos de idade.
clarecido que o que existia nas Antilhas, na verdade, não era o uso de línguas dife- Romaine (1994) informa que outras pesquisas evidenciaram que um dos tra-
rentes por parte de homens e mulheres, mas a adoção de uma mes~~ língua. c~m ços associados à fala feminina é o emprego de padrão entonacional mais alto no
, certas restrições de vocabulári~. Homens e mu~h~res ~ão falavam IdlOm~s dIstm~ 11111 de um enunciado, especialmente nas frases afirmativas, o que sugere que al-
o tos, senão que apenas duas vanedades de uma umca língua, em que as diferenças I lima questão está sendo formulada. O fato foi interpretado como um indício de
se restringiam basicamente ao léxico. li .sitação e falta de confiança que as mulheres teriam em defender suas opiniões.
" Um ponto a ressaltar é que, em princípio, as variações lingü.ísticas em .função Kramer (1978) refere-se a estudos feitos em comunidades indígenas na Sibé-
do sexo do falante não constituem característica de nenhum tipo de sociedade, II I, em Bengal, na Bolívia, nos Estados Unidos e nas Antilhas, onde foram iden-
• Mesmo nos países industrializados, o discurso feminino é marcado ~or tabus lin- uficadas diferenças fonéticas, léxicas e sintáticas, sempre apontando para a
güísticos, eufemismos, estruturas de polidez, purismo, conservadonsmo etc. La- ItI"ia de superioridade masculina. Entre os trabalhos por ela referenciados estão o
bov (1966) assinala a propósito que, no discurso cuidado, as ~ulheres empregam ,k Trudgill e o de Shuy.
menos as variantes estigmatizadas do que os homens e, aSSIm sendo, parecem
Trudgill d monstrou que, no inglês falado na Inglaterra, as mulheres usam
mais sensíveis aos valores sociais que condicionam o uso da língua. luunus asso 'illdas ao padri d prc tígio rnai freqüentcmcnte do que os homens,
ao passo que estes valorizam a linguagem não-padrão. Trudgill explica os resulta- vres a~ se dirigirem às mulheres, visto que elas são tidas como inferiores e, por
ISSO, nao requerem o mesmo respeito.
dos obtidos através das seguintes razões:
a) a posição subordinada das mulheres na sociedade exige delas tal com- . Trudgill (1979), conforme já expusemos, admite que a diferenciação lingüís-
portamento para que assegurem, pelo menos, o seu status lingüístico; llc.a obedece ao fato de que as formas femininas costumam ser mais antigas, ou
SCJa,as mulheres têm uma linguagem mais conservadora. Elas valorizam mui to
b) enquanto os homens podem ser avaliados socialmente pelo que fazem, as
mais as formas de prestígio, porque receberam uma educação que insiste bastante
mulheres são avaliadas primeiramente pelo que aparentam.
n~~s~ aspecto de que se deve falar de um jeito e não de outro. As diferenças lin-
gutsticas em função do sexo surgem porque a língua, como um fenômeno social
De modo análogo, Shuy, ao tratar das diferenças na freqüência do uso de - in está estreitamente relacionada às atitudes sociais. Homens e mulheres são social-
(no lugar de - ing) e das realizações de th, concluiu que as mulheres estão mais mente difer~~tes no sentido de que a sociedade lhes confere papéis distintos e es- '
próximas da norma que os homens, uma vez que usam mais freqüentemente a for- I~craque utilizem padrões de comportamento também distintos. Assim sendo, a
ma padrão. linguagem apenas reflete este fato social. E o que é o mais significativo: as mulhe-
res, de acordo com muitas pesquisas já realizadas, costumam empregar, bem mais
Swacker (1978) alude a alguns estudos sobre a relação linguagem e sexo,
do, que os, homens, as formas que as normas gramaticais prescrevem como pró-
destacando entre outros o de Jespersen (1922), cuja suposição básica é a de que
pnas da lmgua-padrão.
o padrão de fala masculino estabelece a norma e a linguagem feminina constitui
um desvio em relação a ela. Swacker (1978) também se preocupou em elucidar Alguns estudos demonstraram que isso ocorre por dois motivos:
as razões de certas diferenças como, por exemplo, as que se referem às marcas
a) A~ mu~heres são extremamente sensíveis ao prestígio explícito, uma vez
de mudança de tópico. Ele admite que a existência de padrões de fala específico que e mais apurada a sua percepção dos sinais de estratificação social. Em
para cada sexo é uma verdade inquestionável. E afirma inclusive que as pesqui- nossa sociedade elas são, genericamente falando, mais conscientes de seu
sas sociolingüísticas que não consideram a relevância da variável sexo devem ser status do que os homens. E é por essa razão que se mostram mais sensíveis
de validade discutível. à significação social de variáveis lingüísticas relacionadas à classe social.
Outro autor que nos relata algumas pesquisas realizadas sobre a relação lin- b) Parece que a fala da classe trabalhadora, assim como alguns outros as-
guagem e sexo é o já referido Coulthard (1991). São referenciadas, entre outras, ~e~tos da cultura dessa classe, tem conotações ou associações com mascu-
investigações sobre alguns aspectos do processo interacional, como a tomada de h~ldade, ~ que pode deixar o homem mais favoravelmente propenso ao uso
turnos e interrupções na fala. O objetivo básico é o de verificar, a partir da análise nao-padrao do que a mulher. Tais conotações ou associações são de certo
de conversas entre pessoas falando ao mesmo tempo, se há de fato diferenças de modo prestigiadas, configurando o/que Labov denominou de prestígio en-
comportamento lingüístico relacionadas ao sexo. coberto ou oculto. Este tipo de prestígio costuma ser carregado por formas
que se afastam do padrão e afeta sobretudo o discurso de falantes masculi-
Coulthard retoma também a questão do tópico e seu controle, afirmando que
nos, que inconscientemente lhe associam uma marca de virilidade.
homens e mulheres não só têm estilos interativos diferentes, mas além disso pos-
suem tópicos preferidos e formas diferentes de usá-los. Pesquisas recentes, como
a de Klein, revelaram que os homens não só diferenciam tópicos, mas também re- É.possível então explicar as diferenças lingüísticas entre os sexos da seguinte
jeitam e ridicularizam as mulheres que tentam contribuir na conversa. II1lInelf~:dado que ocorrem, numa comunidade de fala, variáveis lingüísticas que
, relacionam com a classe social, é fácil supor que existem pressões sociais sobre
Por outro lado, o estereótipo de que as mulheres são mais polidas e educadas
tlS falantes para que estes usem as formas de prestígio, que são as da classe domi-
do que os homens não é inteiramente verdadeiro para Coulthard. Argumenta ele
IHlI1te.Tais pressões serão mais fortes na mulher, por causa da grande consciência
que a necessidade de ser polido lingüisticamente depende da relação entre os fa- 1(\1 'ela tem de seu status. Isto é um reflexo do fato de que, genericamente falando,
lantes e do grau de imposição estabelecidos a eles. Segundo o autor, nas intera- I spcra-sc da mulher um comportamento social mais correto.
ções face a face, as formas de tratamento não constituem apenas uma maneira de
marcar um relacionamento, mas também uma forma de alterá-lo. É possível, por P r outro lado, haverá também injunções para que se continue a usar as vari-
exemplo, tomar-se íntimo de alguém por meio de uma mudança no tipo de trata- nã -padrão d menor prestígio, como um sinal de solidariedade do grupo e
1111 '5.
mento. Coulthard assevera ainda que os homens muitas vezes se sentem mais li- 111 'nU lad p 5S at. E, n ssc caso, erão o homens que as empregarão com mais
freqüência, devido ao conceito de masculinidade COITenteem nossa cultura. A socie- lima mudança lingüística ou se o fenômeno consiste numa variação própria da
dade burguesa quase sempre espera que as mulheres utilizem uma linguagem mais gradação etária (age grading). Raciocinemos: se os falantes modificam um hábito
polida, mais elegante, mais nobre. Dos homens tolera a linguagem rude, até obscena, lingüístico durante suas vidas, mas a comunidade como um todo não modifica o
ou mesmo distanciada da língua-padrão. Por isso, os homens e as mulheres falam padrão, é claro que não se trata de mudança lingüística. Pode no caso ocorrer uma
como falam, porque sentem que um tipo particular de língua é mais adequado a seus variação estável. É importante ter em mente que toda mudança pressupõe varia-
sexos e sabem que essa adequação é reforçada por várias pressões sociais. ção, mas a recíproca nem sempre é verdadeira. Ou seja: há fenômenos de variação
que não resultam em mudança.
As diferenças lingüísticas devidas ao fator sexo surgem, pois, porque a língua
como fenômeno social está intimamente relacionada a atitudes sociais. Os indiví-
duos são socialmente diversificados em função dos vários papéis sociais que a so- 4.9.4. A classe social
ciedade lhes impõe e das expectativas de padrões de comportamento que são cria-
Em países como os Estados Unidos, pode-se obter uma idéia mais ou menos
das para cada um deles.
precisa quanto à estratificação social da população, bastando para isso que se cor-
A esse propósito, Yaguello (ap. Baylon, 1991) traz uma formulação bastante relacionem as variáveis profissão ou ocupação, renda, educação e zona de rcsi-
lúcida, ao negar que o sexo por si só, enquanto fenômeno biológico, possa ter dência. No Brasil, o modelo de estratificação não conta talvez com o grau de pre-
qualquer repercussão na linguagem. A autora defende então que, muito mais do cisão desejado pelo investigador sociolingüista. A concentração de renda no po-
que o sexo, é a própria condição feminina a responsável pelas diferenças, adotan- der de uma minoria, entre outros fatores, faz que os limites entre a classe média e a
do assim uma explicação estritamente social, em vez de psicobiológica. As carac- classe baixa sejam vagos e nada confiáveis.
terísticas do discurso feminino, embora algumas possam ser correlacionadas à na-
tureza da mulher (voz, timbre, entonação), passam a ser vistas como essencial- De qualquer forma, ninguém duvida de que a classe social a que pertence o in-
mente culturais (linguagem polida das mulheres, privilégio da linguagem forte divíduo exerce fortes influências em seu modo de falar. É bastante fácil apontar
atribuído aos homens etc.). E mesmo as diferenças biológicas são reforçadas pela exemplos de variantes lingüísticas usadas preferencialmente numa determinada
aprendizagem cultural dos papéis, o que vale analogamente para outros códigos classe e isso pode ser objeto de estudo empírico. O problema é que há variáveis in-
(posturas, gestos, expressões faciais etc.). A diferença sexual aparece, pois, antes tcrvenientes que dificultam às vezes saber o que de fato é devido à influência da
de tudo como um fato de ordem sociocultural que se reflete na língua enquanto classe social por si mesma. Um fator que pode sobrepor-se é, por exemplo, a esco-
sistema semiótico entre outros. Ou seja, a língua é vista como um espelho cultural laridade. As classes mais desfavorecidas no Brasil são aquelas em que o índice de
que estabelece as representações simbólicas. analfabetismo é mais alarmante. O que não significa que, inversamente, toda pes-
soa com instrução superior pertença aos estratos mais elevados da sociedade. O
4.9.3. A faixa etária sociolingüista, ao analisar os dados de sua pesquisa, deve, por conseguinte, estar
atento à possibilidade de variáveis intervenientes, empregando um tratamento es-
É fácil de perceber que existem diferenças lingüísticas devidas à idade do fa- tatístico que possa dar conta de tudo isto.
lante. As mais evidentes são, com certeza, as que se observam no período de aqui-
sição da linguagem, quando, entre inúmeros fatos, a criança não consegue articu-
·1.9.5. O grupo étnico
lar bem os fonemas (diz tatolim em vez de cachorrinho) ou generaliza a aplicação
de um dado padrão morfossintático (sabi em vez de soube). Mas há também dife- Labov (1972) demonstra a importância do fator étnico, tomando como exem-
renças marcantes entre a linguagem dos idosos e a dos adolescentes, bastando plo a evolução do sistema vocálico em Nova lorque. Afirma ele que nesse proces-
mencionar que aqueles mantêm certas construções léxicas ou sintáticas que po- so a identidade étnica desempenha um papel tão relevante que chega a ser, no caso
dem até parecer estranhas. de alguns itens, até mais decisivo do que a classe socioeconôrnica.
O problema central é que a variação lingüística detectada em função da idade É evidente, porém, que em muitas localidades brasileiras não se pode detectar
do falante pode ou não denunciar a ocorrência de um fenômeno de mudança. Con- nenhuma influência da etnia na variação lingüística. Esse fator deve atuar de al-
forme veremos (cf. todo o tópico 6.6.), é possível realizar um estudo da mudança rum modo em cidades como São Paulo, onde há imigrantes de várias partes do
mediante a observação do comportamento lingüístico de falantes em diversas fai- Inundo. Ma numa cidade corno Fortaleza, pelo menos no estágio atual, o fator ra-
xas etárias. É a perspectiva que se convencionou denominar de tempo aparente. cial talvez n rn ti .va ser levado em conta nos estudos de variação.
Contudo, somente uma análise em tempo real esclarecerá se realmente se trata d
4.9.6. A localidade Exercício IV
Se fizermos uma viagem pelo Brasil, iremos com certeza perceber diferenças
I!! questão - Considere as seguintes construções:
lingüísticas nas cidades onde permanecermos por uns poucos dias ou até por umas
poucas horas. Constataremos, por outro lado, que certos traços identificam diale- 1- A gente veve em Fortaleza.
tos falados especificamente no campo, enquanto outros nos parecem mais pró-
11- Em Fortaleza vivemos nós.
prios das cidades, e assim não será difícil saber quando uma pessoa nasceu numa
capital ou numa cidade do interior. Poderemos também ter a impressão de que a 111
- A gente vivemos em Fortaleza.
fala das pessoas cultas das metrópoles é menos diversificada do que a dos povoa- IV - Nós vivemos em Fortaleza.
dos espalhados pelas diversas regiões brasileiras. Todavia, seja como for, não res-
ta nenhuma dúvida de que a linguagem reflete não apenas o local de origem do in- V - A gente vive em Fortaleza.
divíduo, mas também o local onde ele mora e trabalha. VI - Vivemos em Fortaleza.
Labov (1972) observou que os dialetos rurais podem transformar-se em diale- VII - Nós vive em Fortaleza.
tos de classe nas zonas metropolitanas, como decorrência da migração dos falan-
tes rurais para as ocupações urbanas de menor prestígio. É fato que, quando um VIII - Nós veve em Fortaleza
homem do campo chega à cidade, com freqüência sua fala regional é ridiculariza-
da. Em conseqüência, pode ocorrer uma transformação rápida dos traços mais Assinale a alternativa correta:
evidentes dos dialetos rurais, quando seus falantes passam a habitar nas cidades.
a) I e VIII são variantes estigmatizadas.
A esse propósito, refletindo sobre o crescimento populacional de uma cidade
b) 11é uma variante inovadora.
como Fortaleza, por conta de problemas como a seca e o desemprego no sertão,
chegaremos à conclusão de que a paisagem urbana se transformou drasticamente, c) 111e VII são variantes livres.
passando a contar com um grande cinturão de favelas desordenadas, sobretudo na
d) IV e V são variantes combinatórias.
zona da periferia. É claro que os habitantes dessas favelas trazem em seu discurso
marcas do dialeto rural. É claro também que o fato de residirem em zonas mais e) VI é umavariante de prestígio.
distantes do centro ou dos bairros considerados nobres vai estabelecendo pontos
de diferenciação lingüística. Mais uma vez, porém, há o risco da intersecção com questão - Marque a opção falsa:
outras variáveis, como a classe social e o grau de escolaridade. A análise das va-
riáveis externas deve dar conta de tudo isto. a) A variação é uma propriedade inerente ao sistema e não o produto de
lima mistura acidental de dialetos.
bl As regras variáveis não devem fazer parte da descrição lingüística, por-
que são regras de desempenho do falante e não de sua competência.
c) A maioria das regras lingüísticas não expressa qualquer valor social.
d) Somente se atribuem valores sociais às regras lingüísticas quando existe
variação.
e) Quando uma das formas variantes passa a ser de uso comum a todos os
Ldantes, o valor social a ela atribuído desaparece.
3ª questão - Ao deparar-se com uma frase do tipo "eu lhe amo", o investiga- óª questão - Indique a afirmativa verdadeira:
dor deve considerá-Ia: a) O chamado prestígio encoberto ocorre quando uma dada forma lingüís-
a) um erro gramatical devido a fatores que afetam o desempenho do fa- tica passa a ser símbolo ou traço de identificação da elite dominante.
lante; b) O preconceito lingüístico se relaciona intrinsecamente com o precon-
b) uma construção agramatical e, por isso, não prevista no sistema lingüís- ceito racial.
tico; c) O sentimento de inferioridade lingüística leva muitos falantes a se ~n-
c) um caso de variação condicionada por fatores estruturais e/ou sociais; vergonharem de seus próprios dialetos.
d) um caso de variação livre; d) As atitudes ou crenças face aos fenômenos lingüísticos são individuais e,
portanto, não dependem do grau de coesão dos grupos sociais.
e) algo específico dos dialetos populares e, por isso, não encontrado no
português oral culto. e) A variedade lingüística própria da classe dominante se corrompe quan-
do é aprendida pelos grupos dominados.
4ª questão - São considerados estereótipos:
7ª questão - O estilo que o falante via de regra usa quando responde às per-
a) os traços lingüísticos utilizados pelo indivíduo mais ou menos do mes-
guntas reconhecidas formalmente como parte da entrevista se classifica em
mo modo em todos os contextos; geral como:
b) os traços que se limitam a assinalar u~a d.iversi.fi,c~çãosocial, sem inter-
a) discurso cuidado;
ferência da avaliação subjetiva ou da alternância estilistica:
b) estilo casual;
c) as variantes que apresentam não só uma distribuição social mas tam-
\ bém uma diferenciação estilística; c) estilo de leitura;
d) as formas lingüísticas que recebem uma forte estigmatização, cada vez d) de lista de palavras;
mais estranhas aos grupos que as censuram; e) de pares mínimos.
e) as variantes que adquirem prestígio, P?r serem associadas a um falante
ou grupo social de status considerado superior. Ilª questão - As pesquisas realizadas sobre a influência da variável sexo apon-
tam indícios de que é falsa a idéia de que:
5ª questão - Assinale o que não está de acordo com o pensamento de Labov: a) no discurso cuidado, as mulheres empregam menos as variantes estig-
a) O status social de um indivíduo é determinado pelas reações subjetivas matizadas do que os homens;
dos demais membros da sociedade. b) as mulheres são mais sensíveis aos valores sociais que condicionam o
b) Há informantes que apresentam um campo de alternâncias estilísticas LISO da língua;
mais amplo do que outros. c) as mulheres usam formas associadas ao padrão de prestígio mais fre-
c) Na classe alta, é possível encontrar algum falante que sempre se expres- qüentemente do que os homens;
se com o mesmo estilo de fala. d) as formas empregadas pelos homens costumam ser mais antigas, ou
d) O caráter de informalidade ou formalidade do discurso admite graduação. "('ja, os homens têm uma linguagem mais conservadora;
e) Os dialetos rurais podem transformar-se em socioletos nas zonas metro- e) as diferenças lingüísticas em função do sexo surgem porque a língua,
como fenômeno social, está estreitamente relacionada às atitudes sociais.
politanas.
I W, se rupld IInd IIllonynwlI oh. \'1 vntions li lhe most importunt cxncumcnml mcthod 11111 III1J,1II1"IU' 1"1111111111
111\h IlIkl' 11MII pdlllllfy 1111I'tllhl '11 cd hy 1)I(h11l1lY P 'opl' 111Ih 'li l'WIY(\IlY 11111111 (I IIIIIIV, 111/' (,'1)
111111111111
Bell (1978) arrola oito condições ou princípios, dos quais mencionamos os nossa página na INTERNET, no seguinte endereço: www.geocities.cm/Pa-
seguintes: ris/Cathedralll 03 6/.
e) Quantos informantes serão necessários para a composição da amostra? Basta lembrar a forma como Labov colheu os dados para uma investigação
sobre a pronúncia do (r) em Nova Iorque. Ele partiu da hipótese de que a realiza-
f) Como entrar em contato com os informantes? ~'ãodo fonema seria determinada, entre outras coisas, pelo ambiente socioeconô-
mico em que o falante se encontra. E decidiu testar isso da forma mais simples:
Essas e outras inúmeras perguntas exigem que as entrevistas somente sejam mdo aos principais shoppings da cidade, cada um deles representando um local
gravadas depois de um meticuloso trabalho de preparação. Não é tarefa fácil re- freqüentado preferencialmente por clientes de uma das classes sociais.
gistrar a fala espontânea, principalmente quando o pesquisador é visto como um O entrevistador, no caso o próprio Labov, se aproximava do informante como
estranho ao grupo social. Por isso, uma boa solução é a de utilizar um corpus já se fosse um cliente que procurasse por uma dada secção. Esta secção se encontrava
estabelecido e não suficientemente estudado. No Brasil, há vários à disposição, 110 quarto andar do shopping. Quando o entrevistador perguntava "Por favor, onde
o que poupa muito trabalho e dinheiro. Assim, por exemplo, para a descrição da S' encontram os sapatos para senhoras?", a resposta era normalmente: "Fourth fio-
variedade culta do português do Brasil, há centenas de horas gravadas em três ti- 01''' ("Quarto andar"). O entrevistador então se inclinava e dizia: "Como?" Ao que o
pos de inquérito (diálogo entre informante e documentador, diálogo entre dois vendedor repetia, de modo mais cuidado e enfático: "Fourth floor".
informantes e elocução formal), com dados de cinco capitais brasileiras: São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Recife. Nos mesmos moldes, omente com esse tipo de entrevista rápido e anônimo, o emprego da variável
para a cidade de Fortaleza, organizamos o corpus denominado de PORCUFORT (I') pôde ser e, tudado em quatro realizações: nas posições pré-consonântica
(Português Oral Culto de Fortaleza),já integralmente tran crit e disp nível em (foI/r''') final (/lo()/') i n S estilos casual e enfático. E Labov provou que é possí-
vel realizar observações sistemáticas com informantes anônimos, em conversas ncontecimentos, Mas há uma função mais geral, que é a de fechar a seqüência de
rápidas que a rigor nem se caracterizam como entrevistas. Em determinados pon- lições complicadas (o clímax) e sugerir que nenhum dos eventos que apareceram
tos estratégicos, com facilidade se coletam dados de muitos sujeitos em breves depois foram importantes para a narrativa.
períodos de tempo.
Por isso, assinala Labov (1972): Labov (1984), então, ao identificar esses elementos da narrativa pessoal, esta-
É surpreendente constatar como um método tão simples e belece o seguinte percurso: a narrativa completa começa com uma orientação,
econômico pode produzir resultados tão coerentes e de grande prossegue com a complicação da ação ou clímax, é interrompida no foco da avalia-
regularidade, além de permitir testar a hipótese com um núme- ção, finda com o resultado ou resolução e retoma ao ouvinte no tempo presente
ro variado de procedimentos cuidadosos'. .orn a coda.
Mas, para concluir esta parte, é importante ressaltar que nem sempre aquele
Outra possibilidade é a de levar o informante a relatar experiências vividas. A que deseja estudar algum fenômeno de variação tem que ir à comunidade para re-
narrativa pessoal constitui um gênero que normalmente leva o falante a envol- istrar os dados de sua pesquisa nem muito menos precisa dispor de todo um apa-
ver-se bastante emotivamente, de tal sorte que ele se esquece de monitorar o seu rato metodológico que exija gasto excessivo de tempo e dinheiro. Labov (1972)
próprio discurso, que assim se toma bem espontâneo. sugere também que é válido obter dados sistemáticos até mesmo de programas de
Labov (1984) define a narrativa mínima como uma seqüência de duas cláusu- "ódio ou de televisão, principalmente no caso de entrevistas, palestras ou debates.
las ordenadas temporalmente, o que significa que uma mudança na ordem resulta- J'~necessário, porém, observar que nesses casos o estilo de fala é mais formal do
rá numa mudança na seqüência temporal da interpretação semântica original'. que o de uma entrevista face a face com o investigador.
f) a cada - Trata-se de uma das opções de que o narrador dispõe para assinalar Nossa primeira hipótese é a de que se trata de uma variação condicionada pelo
que a narrativa terminou. Uma coda, portanto, é constituída de frases que apare- contexto: a variante l-zinho! se aplicaria a bases terminadas por ditongo ou conso-
cem no fim do relato" e podem conter observações gerais sobre os efeitos dos mie. Percebemos, porém, que certas palavras terminadas em vogal, tais como
I'f(/'é, urubu ouguaraná recebem igualmente o sufixo l-zinhol. E assim deduzimos
que a acentuação da base é que talvez seja uma boa explicação: a variante l-zinho!
orncnte ocorreria nos oxítonos. Se, porém, continuarmos a listar vocábulos, ve-
2. lt is surprising that this simple and economical approach achieves results with a high degree ofconsistency and rc
I '1110S que o sufixo l-zinho! se aplica também a certas bases não oxítonas (cidade-
gularity, and allows us to test the original hypothesis in a number of subtlc ways (Labov, 1972:49).
iulia, comodazinha plasticozinho, etc.).
3 .... we can define a minimal narrative as a sequence oftwo clauses which are temporally ordered: that is, a ehange in
theirorder will result in a change in the temporal sequence ofthe original semantic interpretation (Labov, 1984:360). urge-nos então uma hipótese adicional: a regra é controlada não apenas pela
4. O termo cada é também usado em outra accpção, para referir-se ao que, em português, se denomina o declive de
tonicidadc e forma d finalização da base, mas também pelo número de sílabas.
uma sílaba: a(s) consoantc(s) que scguc(m) o núcleo (Labov et al., 1988). 1.0' fi amo» novnm »uc m dúvida, face à po ibilidade de ocorrência de pala-
vras como diazinho ou testezinho. Para buscar uma saída, podemos imaginar que vezes é mais viável. deI imitar a amostra em função de categorias sociais predeter-
a classe gramatical da base exerça alguma influência: os adjetivos, pronomes e minadas em que os informantes são selecionados para representar tais categoria".
advérbios selecionariam a variante l-inhol . Que dizer, porém, de formas como in-
teligentezinho, devagarzinho oulevezinho? E, para complicar, se prosseguirmos a O tamanho, por sua vez, dependerá da natureza lingüística da variável a cr
listagem, vamos descobrir variações ocorrentes nos mesmos contextos lingüísti- e~t~dada. Se o objeti.vo é, por exemplo, o de estudar uma variável fonológica, é
cos: probleminha e problemazinho, paizinho e painho, devagarzinho e devagari- IOgICOque poucos mmutos de cada entrevista já apresentarão uma grande quanti-
nho, livrinho e livrozinho, colherinha e colherzinha ... dade de dados. Se, porém, o investigador quiser analisar um fenômeno como a
lorma?ão do diminutivo, terá que contar talvez com centenas de horas gravadas,
Com isso, já é fácil concluir que a aplicação da regra se sujeita a um feixe de para dispor de uma freqüência razoável de dados.
fatores que podem atuar cumulativamente. E, se houver motivação de cunho so-
cial, com certeza ela será condicionada também por fatores de ordem externa. Além disso, o tamanho da amostra deve levar em conta não só o tipo de variá-
Para termos uma resposta definitiva, teremos portanto que realizar uma pesquisa vel a ser descrita mas também o número de categorias ou células. Suponhamos
empírica, controlando as variáveis e utilizando os testes estatísticos adequados. que a investigação incida sobre um grupo social, distribuído em função do sexo e
Como conduzir a investigação é, logicamente, o grande cuidado que se deve ter. da idade. Temos duas células para a variável sexo e, digamos, três para a faixa etá-
ria, o que já produz as seguintes combinações:
identificou diversos problemas, entre os quais por exemplo o da impossibilidad ' znda na ilha de Manha 's Vineyard, para uma pequena população de cerca de
de discriminar falante nativos de falantes estrangeiros. orno alternativa, muitas l).()(). Ialant 'S nativos, Lab v utilizou uma amo tra de 69 entrevistas, o que pro-
por '1011011 11111tntul de .500 o '01 r 11 ias 10 ditongo (ay) e 1.500 do ditongo (aw).
De todo modo, se essa crítica procede, é preciso ressalvar contudo que o mais im- (1- de 22 a 35 anos; II - de 36 a 50 anos; Ill- de 51 a 70 anos) e da modalidade de
portante é a análise qualitativa que Labov desenvolve. c1ocução ou registro (DID - Diálogo entre o informante e o documentador; D2 -
Diálogo entre dois informantes; EF - Elocução formal).
Por outro lado, deve-se ressaltar com Wolfram & Fasold (1997) que "a ques-
tão do tamanho ideal da amostra para o estudo dos dialetos sociais ainda continua Nossa variável dependente, que pode ser definida como binária, é constituída
sem uma boa definição'". Os lingüistas admitem que a fala de uns poucos infor- das variantes l-inho! e l-zinhol , sempre com o significado perceptível de diminuti-
mantes pode ser suficiente para uma investigação, mas ninguém sabe quantos re- vo ou afetivo. Isto implica excluir da coleta formações cristalizadas (armarinho,
almente devem ser escolhidos para cada célula. E que isso vai depender muito do padrinho, andorinha, sobrinho, rainha, galinha, colarinho, carinho, madrinha
grau de homogeneidade que se espera do comportamento lingüístico da popula- ctc.), em que não se tem consciência da presença do sufixo e de seu significado.
ção a ser analisada. E, também, conforme já vimos, do tipo de problema ou variá-
Atribuímos a cada variante um símbolo, digamos I para l-inhol e O, para /-zi-
vel que o pesquisador p, etende descrever.
nhol . Nossa hipótese é a de que uma série de fatores favorece a formação com l-zi-
Diante dessas observações, como saber se os resultados de um teste estatístico nhol, enquanto outros a inibem. Teremos então que utilizar símbolos diferentes
são confiáveis? Esta é uma questão realmente séria. A precaução de tomar uma para cada um deles. Para efeito de explicação, trabalhemos com alguns grupos de
amostra de tamanho bem considerável toma às vezes inviável qualquer trabalho, fatores, aqueles mesmos aos quais já aludimos anteriormente, sem que com isso
já que existem sérias limitações de tempo, e o esforço pode até ser desnecessário, estejamos afirmando por ora que eles exerçam alguma influência na aplicação da
desde que, atingido o número satisfatório de dados, os resultados se repetem. Su- regra variável:
gerimos, pois, que se faça uma primeira testagem com uma amostra de tamanho
1) a acentuação da base (oxítona - A; paroxítona - B; proparoxítona - C);
reduzido, à qual se possam acrescentar novos dados. Quando os resultados da
amostra expandida confirmarem os anteriores, já se pode ter uma certeza de que 2) o número de sílabas (monossílabo - D; dissílabo - E; trissílabo - F; polissí-
se conseguiu um bom grau de confiabilidade. Em casos de dúvida, pode-se tam- labo - G);
bém diminuir o número de categorias ou redistribuí-las. 3) a classe gramatical (substantivo - H; adjetivo - I; pronome - J; advérbio - L);
4) a finalização da base (vogal simples - M; ditongo - N; consoante - P);
5.5. A codificação dos dados
5) sexo do informante (masculino - Q; feminino - R);
Dispondo já de um bom número de entrevistas gravadas e/ou transcritas, vem
a fase da codificação dos dados para um posterior processamento, hoje realizado 6) registro (DID - S; D2 - T; EF - U);
sem dificuldades por um microcomputador. Para a codificação, destaca-se cada 7) a faixa etária (primeira - R; segunda - S; terceira - T).
ocorrência da variável, tendo-se o cuidado de salvar os contextos, pois é comum
que o investigador tenha intuições e formule novas hipóteses sobre a participação
de fatores lingüísticos ou contextuais no instante mesmo em que coleta os dados. De posse dos símbolos, é fácil distribuí-los para cada ocorrência. A título de
E, uma vez que deverá submetê-los a uma análise computacional, terá que antes . cmplificação, citemos uns poucos dados do Inquérito n° 48:
identificar todos os grupos de fatores, tanto estruturais como sociais, com os quais
(OBEHMQTY) - nomezinho
irá trabalhar. Com isso, fará então uma distribuição dos fatores, escolhendo um (OAFHNQTY) - violãozinho
símbolo (número, letra etc.) para cada um deles e os associará aos símbolos da va- (lBEHMQTY) - notinhas
riável dependente, que virá em primeiro lugar na seqüência da codificação. (lCFHMQTY) - musiquinha
Voltemos ao caso da formação do diminutivo. (OAFLPQTY) - devagarzinho
(OBFHMQTY) - bolerozinho.
Tomamos sessenta inquéritos do corpus PORCUFORT, representando um
total de setenta e três informantes, distribuídos em função do sexo, da faixa etária
.(). Um exemplo de análise laboviana
nho/) possa vir a substituir a outra. De duas uma: ou estamos na presença de uma nutivo do mesmo jeito (temperaturazinha,jornalzinho etc.). Ou seja, há uma rela-
variável estável ou o processo de mudança ainda irá desenvolver-se. A esse res- ção entre a classe gramatical da base e a escolha do morfe diminutivo, mas tal re-
peito, seria oportuno estudar mais detidamente o fenômeno, verifican~o se a for- lação não é causal.
ma l-zinhol ocorre em estágios anteriores da língua. Uma consulta meticulosa aos Diante disso, decidimos efetuar uma nova rodada do' programa, eliminando
documentos do passado poderá ser bastante esclarecedora nesse sentido. .sse grupo de fatores e desprezando também os fatores externos, já que todos fo-
rum considerados estatisticamente irrelevantes. Os resultados expostos a seguir
d) Os fatores estruturais .onfirmam plenamente que a escolha entre as variantes não é livre ou aleatória:
Quanto aos fatores estruturais, conforme vimos, todos contribuem para a ex- INPUT .79
B = .66 A = .02 C = .27
plicação da regra variável. Com referência à acentuação da ba~e, os cálcu~os de
E = .60 F = .42 D = .27 G = .27
probabilidade evidenciam fortemente que, enquanto a forma l-inhol se aplica de
M = .52 P = .93 N = .07
modo preferencial a vocábulos paroxítonos, é quase categórica a adjunção de l-zi-
nho/ a palavras oxítonas. A influência do contexto fonológico se confirma, ~esde
SIGNIFICÂNCIA = .000
que, se a palavra termina em ditongo, a probabilidade de rece~er a ~a~Jante l-inhol
é quase nula. Por seu turno, o número de sílabas da base tambem distingue o.c~m-
portamento das variantes: é mais provável que, nos monossílabos e n~s polissíla-
bos a escolha recaia sobre l-zinhol do que sobre l-inhol. Infere-se, pois, que a va- ~. t O. A visão sistêmica
riável em foco sofre decisiva influência de fatores rítmico-prosódicos, sem dúvi- O programa VARBRUL constitui um poderoso instrumento de auxílio na
da no sentido de ajustar a forma fonológica dos diminutivos aos padrões melódi- rompreensão dos fenômenos lingüísticos. Se o pesquisador for feliz na formula-
cos da língua. Mas, além disso, a classe gramatical da base se revelou como U~ll ,'(\0 de sua hipótese, definir com precisão a variável dependente, inventariar bem
grupo de fatores altamente significativo, indicando por exemplo que a formação lias variantes e, sobretudo, intuir quais os grupos de fatores de ordem estrutural
de diminutivos em adjetivos ocorre quase sempre com l-inhol (p = .84). nu social capazes de influir na aplicação da regra variável, então não lhe será tão
Uma reflexão mais demorada sobre esses resultados nos leva a questionar pOI di ficil interpretar os resultados da análise processada. E, se sua interpretação for
que motivos a classe gramatical da base condicionaria a escolha de l-inhol ou / -zi ronsistente, já que a língua é um sistema cujas partes se solidarizam, dará margem
nho/. No caso dos demais grupos de fatores, parece-nos lógico que atuam em ra II reflexões sobre a própria configuração desse sistema.
zão da necessidade de harmonizar e acomodar as formações diminutivas aos pu Assim, ao estudarmos a variação entre I-inhot e l-zinhol, pudemos constatar
drões ou tendências rítmico-prosódicas da língua. A rejeição de l-inhot em bases que o fenômeno em questão é determinado estritamente por fatores de ordem c -
que terminam por ditongo se justifica pela tendência a evitar o hiato, que p~de 'I uutural e, portanto, não estamos diante de uma variável sociolingüística. Com-
facilmente observada em outras alterações morfofonêmicas. O mesmo se diga em provarnos que a escolha de l-zinho! se deve a condicionamentos de ordem fonoló-
relação às bases terminadas por vogal tônica. Ou seja, parece ~laver se~p~?, u~11n i 'a, os quai não atuam de forma categórica. A probabilidade de ocorrer uma das
motivação estrutural ditada pela própria configuração do sistema lingüi li 'o uriantc cresce na medida em que se conjugam vários fatores. Mas podemos ir
como um todo. uliunt c observar se a cpôntc: e d /z/ nã faz parte de uma estratégia mais ampla,
dentro do próprio sistema fonológico, para evitar as formações com hiato e man- Em vez de nos determos na análise de um fato isolado (por exemplo, a varia-
ter o padrão rítmico-silábico da língua. ção no emprego do pronome de primeira pessoa), preferimos tentar descrever as
Se pensarmos na formação dos diminutivos mediante o uso de outros sufixos, variações mais óbvias em todo o quadro dos pronomes pessoais, pois intuím s
é provável que o fenômeno se repita. Além das variantes diatópicas ou diastráti- que todas elas de algum modo se correlacionavam entre si e, sendo assim, pod _
cas do tipo l-iml e l-ziml, que se enquadram com certeza na mesma regra variável, I íamos ter uma visão mais abrangente e elucidativa do sistema como um todo. E,
temos outras possibilidades de realização, embora muito menos produtivas, entre com efeito, tais correlações nos sugeriram fortes indícios de que as variações
as quais citamos as alternâncias l-ito! ~ l-zitol tpequen-ito, cabr-ito, mas cào-zito existentes denunciam processos de mudança na organização do esquema dos pr _
etc.) e l-otel ~ l-zotei (baixote, caixote,jilhote, mas guri-zote). nomes pessoais, que nos parece estar buscando uma nova ordem ou configuraçã .
Se pensarmos na formação dos aumentativos, encontraremos uma alternância A título de ilustração, cremos ser útil transcrever algumas observações resu-
similar entre l-ãol e l-zãoi. Podemos ter adjetivos como bonitão e espertão, mas midas sobre a interpretação que realizamos.
sem dúvida diremos bonzão. De maneira análoga, os aumentativos de sapato e A pesquisa baseou-se no corpus compartilhado do Projeto NURC (Norma
urubu deverão ser respectivamente sapatão e urubuzão. Temos, porém, mulhe- Urbana Culta) e incluiu dados gravados em cinco capitais brasileiras. A amostra
rão (e não *mulherzão), o que confirma que se trata aqui também de ~ma regra loi distribuída de acordo com a localidade, o sexo, a faixa etária dos informantes c
variável. Será o caso, pois, de investigar se os condicionamentos previstos para o registro ou modalidade de elocução. Foram testadas hipóteses sobre o emprego
a escolha do sufixo diminutivo ocorrem em proporções idênticas na formação ou omissão dos pronomes em função de sujeito e em função de objeto, bem como
dos aumentativos. sobre a posição dos pronomes clíticos.
Além disso, há outros sufixos que talvez reproduzam essa regra variável, am- Em nossa conclusão, confirmamos a tendência a uma série de modificaçõ 'S
pliando-a de modo considerável e, portanto, proporcionando maior ~implic!~ade e que buscam dar uma nova ordem ao sistema pronominal, originariamente ba ca-
economia à descrição lingüística. Por exemplo, na formação de coletivos, utiliza-se da na noção de caso mas atualmente em franco processo de nivelamento aos pa-
extensivamente o morfe I-ali (banan-al, laranj-al, mangueir-al, jaqueir-al etc.) drões assumidos pelos nomes em geral.
que, em bases oxítonas, costuma ser substituído pelo alomorfe l-zall (açaizal, bam-
buzal, buritizal, capinzal, cafezal etc.). Comprova-se facilmente, porém, que não se É de se supor que as alterações sofridas sejam causa ou efeito da simplifi (l-
trata de regra categórica, porque há formações do tipo defeijoal, cipoal ou algodo- cão por que passa o esquema de conjugação verbal. Assim, a introdução das for-
al, em que as bases terminam por ditongo ou vogal tônica. Idêntico comportamento mas você, vocês e a gente, quando usadas em vez de tu, vós e nós, naturalment
deve ser o do sufixo l-eirio, a)/, que geralmente se usa em nomes não oxítonos ter- torna desnecessárias as desinências Is/, Idesl e Imo si, reduzindo-se as flexõe nú-
minados por vogal simples (mangu-eira, abacat-eiro, goiab-eira), ao lado de mero-pessoais a apenas duas ou três. Nesse processo de ajustamento a uma nova
I-zeir(o, a)/, cujo emprego se restringe a bases oxítonas (açai-zeiro, buriti-zeiro, ordem.já se pode considerar como extinto no português oral culto do Brasil o pr _
jua-zeiro, sapoti-zeiroi. Ora, não é dificillembrar exemplos como o de limoeiro, nome vós, que foi substituído por vocês, este porém nunca usado em referência ti
caju-eira ou cacau-eiro, que definem bem a variabilidade da regra. um só ouvinte, caso em que assume a forma do singular você. Quanto ao pron 111'
/lÓS, ainda é cedo para predizer-lhe um destino igual ao do vós. Mas a expres ã (J
Por outro lado, é oportuno perceber que os aparentes desvios não invalidam" gente não deixa de constituir uma ameaça, inserindo-se na tendência de elimina-
descrição lingüística. Muito pelo contrário, demonstram que a variação é inerent ção dos vestígios dos casos. Já em relação ao pronome tu, pode-se dizer que prat i-
ao sistema e a este se conforma em termos de tendências gerais. O fato de não se eu mente foi substituído por você em todas as capitais brasileiras estudada, m
conseguir predizer que forma deverá ocorrer em determinado contexto às vezes .xceçâo de Porto Alegre.
depende de não se ter percebido que fatores entram em jo~o na definiç~o des as
tendências. Por isso mesmo, a descrição de fenômenos isolados adquire outro Tais alterações n? quadro dos pronomes sujeitos provocam ajustes similar 'S
sentido, se se tentar a integração com a análise de fenômenos similares, obten lias demais funções. A extinção do vós correspondem a do oblíquo vos e a do pos-
do-se então uma visão sistêmica capaz de explicar o que muitas vezes é interpreta sessivo vosso: o objeto de segunda pessoa passa a ser representado por vo . í(.\'),
do como caótico ou contraditório. em alternância com lhe(s) e te, enquanto a relação de posse basicamente e tabcl '.
'c no caso a variação entre seu(s) e de vocês. De modo análogo, a cxprcssr () {/
Aprofundemos um pouco essas noções, tomando como ilustraç~o uma p 'S 'ente não fica restrita à posição de sujeito: criam-se também as e olha' cnír I/O,\'
quisa bem mais complexa que realizamos sobre os pronomes pe oau no p rtu •a gente, bem orno mtrc nosso e da gente.
guês do Brasil (Monteiro, 1994).
Aliás a indistinção morfológica nas funções exerci das por você(s) e a gente, ma pronominal (e verbal), sua interpretação será tanto mais consistente quanto
se se articula com a tendência para a anulação do esquema casual, já havia sido mais abrangente for a perspectiva de estudo. Assim, se o apagamento do bj '(ti
ensaiada para o pronome ele, com o qual se tentou eliminar o clítico acusativo e, representa uma tática evasiva, é possível que um intuito de evitar-se a ênclisc te
sendo preposicionado (dele), se pretendeu alijar da referência à terceira pessoa o nha agido nesse sentido. .
possessivo seu. Mas o uso de ele como objeto direto en~ontrou resistência ~a. nor-
ma culta, que adotou como estratégia principal para evitar o emprego do clitico o Descrevemos então o funcionamento da sínclise pronominal na fala culta l'
apagamento puro e simples. comprovamos que a probabilidade de ocorrer a ênclise é muito baixa. A tendên 'i!l
avassaladora para a próc!ise ajusta-se ao padrão rítmico-acentual caractcrlr ti 'U
Tal fato deve ter capital importância na configuração do português do Brasil do português do Brasil, desde que geralmente ela origina vocábulos fonológi 'os
como língua de objeto nulo. E, paralelamente, é de se presumir que a simplifica- paroxítonos. O interessante nesse aspecto é que, mesmo sendo reduzida a proba-
ção do paradigma tlexional do verbo implique um uso mais acentuado ~os prono- bilidade da ênclise, quando ela ocorre, em geral é favorecida pelo mesmo conjun
mes sujeitos. Daí a seguinte hipótese: enquanto na norm~ culta se malllfesta~u~a to de fatores sociais que privilegiam o clítico acusativo. Assim, quanto à variável
tendência para o emprego dos pronomes em função de sujeito, ocorre a tendência sexo, percebemos que os homens fazem uso da ênclise em proporção bem maior
contrária para o apagamento do objeto. do que as mulheres e são eles que mais empregam os pronomes objetos; por outro
De fato, a investigação que levamos a termo comprovou que o português fala- lado, se no registro formal é onde mais se usa o clítico acusativo, é também ond ' a
do no Brasil não se caracteriza como língua de sujeito opcional, uma vez que probabilidade da ênclise se torna mais elevada.
apresenta uma decisiva prefer.ência pelo e~l?reg? dos pro?;o~es, e~ ?ecorrência
Como se vê, os dados concretos de fala, aparentemente tão caóticos c c n I'lI
de uma série de fatores. Examinando a parucrpaçao de vanaveis SOCIaIS,pudemos
sos, podem permitir uma compreensão da língua em sua dinamicidade, em qu . os
constatar que essa tendência se diversifica de acordo com a região, o sexo, a faixa
fenômenos se associam entre si. Sistematizar as situações de heterogeneidadc ":t
etária e o tipo de registro.
tarefa que deve ser levada a termo para se descrever a Língua como um instrum 'li
Por outro lado, a pesquisa evidenciou de forma cabal que o português do Bra- to de comunicação. Daí, a questão enfática de Tarallo (1986:6):
sil constitui uma língua de objeto nulo, uma vez que, diante das possibilidades de
Se o caos aparente, se a heterogeneidade não pudessem s "
atualização do objeto direto anafórico, o apagamento é o recurso predomina~t~-
sistematizados, como então justificar que tal diversificação Iili
mente utilizado pelos falantes. Aqui, como na questão do uso dos pronomes SUjeI-
güística entre os membros de uma comunidade não os irnp de
tos , os fatores sociais analisados atuam como fonte de variação.
de se entenderem, de se comunicarem?
Confirmaram-se, pois, duas hipóteses preliminares: a) para a função de. sujei-
to, a presença do pronome é maior do que a ausên~ia e ~epende de det~rmmados
fatores de natureza social; b) para a função de objeto, mversarnente, e o apaga-
mento que constitui a tendência dominante, variando também de acordo com o.
mesmos fatores.
Um breve cotejo entre os resultados dos testes estatísticos aplicados nos fez
imaginar a existência de possíveis correlações entre as duas tendências. Quanto t\
dimensão diatópica, verificamos por exemplo que São Paulo e Salvador são a~ ca-
pitais onde mais se emprega o pronome sujeito e mais se omite o pronom~ objet .
Quanto à variável sexo, inferimos que as mulheres tendem a empregar mais o pro
nome sujeito e apagar mais o pronome objeto, enquanto o~ homens procede~ (\I.:
forma oposta. Todavia, cumpre ressaltar, estamos com lS~O,~penas sugerindo
mais uma hipótese, que precisa ser testada com bastante cnteno. Supomos qu .
haja alguma correlação entre as duas tendências, mas não .s~bemos .como tratar
isso adequadamente, porque inexiste simetria total entre sujeito e objeto.
De qualquer maneira, sejam ou não associados, tais fatos tipificarn b rn !')Ol
tuguês do Brasil face a de P rtugal, ,por env Ivcrem outr , aspectos do. istc
Exercício V e) Exige-se que o tamanho da amostra, para o caso da pesquisa sociolin-
güística, corresponda à metade da população a ser estudada.
c) Os meios empregados para a coleta de dados podem interferir nos pró- c) de insegurança lingüística;
prios dados. d) de correção escolar;
d) O critério básico para a escolha dos informantes em princípio deve ser o e) de extração familiar;
da amostragem aleatória.
f) de reação subjetiva.
e) A pesquisa empírica é condição necessária para a análise da variação
lingüística numa dada comunidade.
( ) aquele em que se pede ao informante que identifique sua origem, raça
2ª questão - Escreva V ou F dentro dos parênteses: ou classe social;
( ) O fato de que um grupo expresse hostilidade em relação a outro descar- ( ) aquele em que o entrevistado deve emitir juízos acerca das personali-
ta a possibilidade de influência lingüística. dades das pessoas cujas vozes ele acabou de ouvir;
( ) Os fenômenos de fala de caráter fugaz e anônimo podem ser utilizados ( ) aquele em que se pergunta ao informante qual a sua maneira própria
como base para estudo sistemático da linguagem. de falar entre várias formas que lhe são sugeridas;
( ) O variacionismo parte do pressuposto de que a heterogeneidade lingüís- ( ) aquele e~ que se propõe ao falante que corrija frases com o objetivo
tica manifestada na fala pode ser analisada de forma coerente. de se detectar o nível de consciência face às variantes estigmatizadas;
( ) O pesquisador deve confiar em sua intuição e basear-se em exemplos ( ) aquele em que se solicita ao sujeito que corrija formas de prestígio;
construídos por ele próprio. ( ) aquele em que se pede ao informante que escolha a forma correta en-
( ) Um traço adotado por um grupo social pode ser considerado um signo d > tre duas ou mais e, logo em seguida, se sugere que aponte qual a que real-
identidade como reação a pressões externas. mente ele usa.
3ª questão - Sobre a determinação da amosta, é válido afirmar: r;ª questão -Assinale das alternativas abaixo a que não se refere aos princípios
que Labov (1972) estabeleceu com respeito às atitudes dos falantes:
a) A amostra aleatória é definida como aquela em que cada sujeito na p
pulação total tem a mesma chance de ser escolhido. a) Os julgamentos sobre a linguagem em geral não são acessíveis à cons-
ciência.
b) A natureza lingüística da variável a ser estudada não deve interferir n.1
determinação do tamanho da amostra. b) As normas de conduta face ao uso da linguagem são adquiridas no co-
meço da adolescência.
c) As amostras aleatórias se revelam sempre adequadas para o estudo do-
dialetos sociais. c) As atitudes face ao uso da língua são extremamente uniformes dentro
cI uma mesma comunidade lingüística.
d) O sociolingüista, em vez de basear-se em amostras, deve analisar a f( 1.1
de toda a comunidade. d) Os f I nt qu mais empregam variantes estigmatizadas tendem a es-
ligm ti/ar O'i d(lll1di~P 'i u d ss s m smas formas.
e) A ocorrência de um determinado fato lingüístico se deve a condiciona-
mentos de ordem estrutural e/ou social.
I. ... W cun 1\:lIrtlllhlllllllH'IllC hanism ofpast sound changcs by studying changcs taking placc around us (Labov,
1994: 156)
por que ela se 0pe~a num .se~~~doe não em outro. Essa questão geralmente é for- Apresentemos então as hipóteses que tiveram uma certa repercussão, avalian-
mulada pela maioria d~~ lingüistas ,que discutem o assunto. Hjelmslev (1976), por do-as brevemente.
exemplo, se pergunta: Por que a hngua muda? E por que muda de determinadas
formas, de acordo com deter;ni.nadas linhas?,,2 Coseriu (1979), igualmente, inicia
6.2.1. A lei do menor esforço
~ seu estudo com a mesma duvld~, embora adiante advirta que o problema é ilegí-
tnno, se posto em termos causahstas, de necessidade exterior. O dinamarquês Jacob Hornemann Bredsdorff, de acordo com Hjelmslev
Na realidade, não é apenas essa a questão básica. São pelo menos cinco pro- (1976), foi quem pela primeira vez, em 1821, discutiu o problema da mudança
blemas, que Labov (1972) apresenta nos seguintes termos: lingüística. Ele chegou à conclusão de que a língua se modifica em função do
princípio da comodidade, princípio que posteriormente foi revitalizado pela cha-
a) Existe uma direção genérica na evolução de uma dada língua? mada lei do menor esforço, segundo a qual as mudanças ocorrem no sentido de
b) Quais são os determinantes universais da mudança lingüística? tornar a língua mais fácil.
c) Quais são as causas do surgimento contínuo de novas mudanças? Tal explicação ganhou bastante aceitação na época e foi depois defendida por
Jespersen, que adotou uma versão extremamente radical, insistindo em que todo e
d) Quais são os mecanismos dessas mudanças?
qualquer desenvolvimento da língua constitui um processo de simplificação. O
e) A evolução lingüística tem alguma função adaptativa? sistema lingüístico tenderia, pois, a simplificar-se.
Labov (1972), porém, numa atitude irônica face ao princípio do menor esfor-
Face a.um. tema tão complexo,.não estranha que hajam surgido diversas hipó- ço, chega a considerá-Io "o gênio maligno oculto por trás da destruição" e apre-
teses explicativas, _Vamos a seguir fazer referência a algumas, adiantando que senta exemplos de mudança fonética, como a descrita por Gauchat, em que houve
nem sempre elas sao mutuamente exclusivas. exatamente o contrário. Ou seja, um aumento do esforço na articulação de fone-
mas e não uma diminuição.
6.2. As teorias sobre a mudança
6.2.2. A influência do substrato
Das hipóteses f~rmuladas, umas são fantasiosas e outras bastante sedutoras.
~m geral, pod~-~e dizer que a falta de bases empíricas constitui um obstáculo sé- Defendida, entre outros, por Brõndal, essa hipótese afirma que, ao mudar de
no p~ra se aceitá-Ias. Algumas se voltam para o modo como acontecem, de que língua, um povo conservará os hábitos de pronúncia da antiga língua. Quem en-
m~nelra surgem e se propagam as inovações. Outras buscam identificar as possí- contra algum fundamento nessa teoria pode concluir por exemplo que a diferenci-
veis causas, os fatores que determmam a evolução dos fatos lingüísticos. ação da pronúncia do Brasil face à de Portugal se deve à influência das línguas in-
.., ~ssim, conforme observa Labov (1983), a tarefa de explicar a mudança lin- dígenas que aqui se falavam .
guística parece decompor-se em outras três: Embora não seja o momento de discutir esse caso específico, lembramos ape-
a) a ~ri~em ~a mudança (em que se considera uma das inúmeras variações nas que estudos como os de Révah (1958, 1959) levam à conclusão de que é abso-
pOSSlveIScUJOuso se circunscreve a um pequeno grupo de falantes); lutamente impossível ou inútil invocar a participação da língua tupi na explicação
de traços da pronúncia brasileira, registrando-se nesta fatos que existiam no por-
b) a propagação (em que um número mais amplo de falantes adota a vari- tuguês europeu dos séculos XVI e XVII e variações fonéticas que costumam ain-
ante, que aSSIm começa a consolidar-se em contraste com a antiga forma); da hoje ocorrer em toda a România. A influência do tupi e de outras línguas indí-
c).a re~lização c?:np.'eta (em que se estabelece a regularidade por meio da eli- genas pode ser comprovada, por exemplo, no léxico: muitos são os topônimos que
rmnaçao das vanaveis que estavam em competição com a forma vencedora). atestam este fato. Mas daí supor-se que essa influência se estendeu à própria pro-
núncia das palavras portuguesas já é algo que requer uma fundamentação maior.
o Pe. Rousselot foi quem primeiro manifestou a idéia de que o clima determi- As primeiras experiências lingüísticas da criança, na fase
dos dois a três anos de idade, se produzem principalmente pelo
naria de algum modo a mudança lingüística. O que surpreende é que, para Hjelmslev
exemplo dos pais. Mas, a partir dos quatro até os treze anos
(1976), a hipótese não deve ser considerada tão absurda quanto parece. Diz ele
aproximadamente, os padrões de fala passam a ser modelados
que as investigações levadas a efeito pelo etnólogo russo P.N. Savickij evidencia-
pelo grupo de seus colegas de brincadeiras. Tudo leva a crer
ram que existe uma certa dependência entre as condições da natureza em determi-
que neste período é quando se sedimentam as formas automáti-
nadas regiões da terra e as condições culturais que se desenvolvem nessas zonas.
cas de produção lingüística: como regra, quaisquer hábitos ad-
Desde que a língua se insere no quadro das condições culturais, fenômenos natu- quiridos depois desta fase são mantidos por controles auditivos
rais como o clima exerceriam então sobre ela alguma influência. Custa crer, po- e articulatórios'.
rém, que o frio ou o calor sejam causa de mudança. A ser assim, como se explica-
ria o fato de que uma mesma língua seja falada em regiões totalmente diferentes
6.2.7. A hipótese funcional
quanto a esse aspecto? Ou como seria possível que, numa região em que o frio e o
calor se alternam, a língua pudesse ser a mesma? Aplicando-se tanto à variação sincrônica quanto à mudança diacrônica, essa
\ hipótese parte do princípio de que toda alteração fonética é diretamente afetada
Todavia, por incrível ou anedótico que possa parecer, há argumentos como o
de Sweet (ap. Labov, 1972), que atribuem a passagem do /a/ para /0/ no indo-eu- pela necessidade de se preservar o significado das formas lingüísticas. A idéia não
ropeu ao fato de que os falantes em clima nórdico tentam não aspirar ar frio e úmi- deixa de ser sedutora, e Labov (1994) chama a atenção para o fato de que, recente-
do, abrindo pouco os lábios e as mandíbulas. mente, tem sido bastante revitalizada.
Seria o caso de lembrar que, entre nós, Florival Seraine interpretou a pronún-
6.2.8. A hipótese intralingüistica
cia cearense como cantada, lenta e arrastada, imaginando que tais características
sejam conseqüência natural do fenômeno das secas: É Hjelmslev (1976) quem se pergunta: "Não se pode pensar que o próprio sis-
As repetidas secas - fonte de vivos padecimentos - ocasio- tema lingüístico exerce um papel nas modificações que se experimentam e tenha
naram, sem dúvida, o tom plangente ouvido na fala de certas influência na direção que elas tomamr'" E adiante comenta:
pessoas, mormente do sertão (Seraine, 1942: 16). Segundo a suposição corrente, o sistema em si é estável e
conservador, e são as tendências que vêm de fora as que nele
6.2.5. Os condicionamentos culturais produzem deslocamentos e rompem seu equilíbrio. Todavia,
Meillet está entre os que entendem que as mudanças lingüísticas são determina-
das por fatores históricos e socioculturais. O grande problema é que, assim formu-
lada em termos tão amplos, essa parece uma hipótese muito vaga. Que fatores histó- J. The child's first experienee [...], at 2 to 3 years old, is usually dominated by lhe example ofhis parcnts. But from
ubout e 10 13 years old, his spccch paliem is dominated and rcgulatcd by that of lhe preadolesccnt group with which
ricos e culturais condicionam as mudanças é uma questão sobre a qual não pairam hc plays, [...) \l appcars that this preadolescenl period is lhe age when automatic pattcrns ofmotor production are set:
dúvidas. Mas quais são esses fatores? De que modo operam? Em que níveis do sis- ItS li rule, llny habits acquircd after this period are maintaincd by audio-monitoring in addition 10 rnotor-controllcd pat-
tcrns (Labov, 1972:138).
tema atuam? E, assim como essas, inúmeras questões específicas se apresentam.
4. No pucdc p'IlIlIIlSC que cl propio sisrcmn jucgu un papel en Ias rnodificacioncs que se cxpcrimcntan y ticnc influ-
eu '111 cn ln dlr ',dó" ti' éSIIIN'/ (lIjl'lrnsl v, 1976:33), '
também se poderia imaginar que um dado sistem~ lingüístico, dança se espalharia do centro de influência para as áreas circunvizinhas, mais ou
com uma estrutura determinada, se encontra predisposto ~ cer- menos da mesma forma de uma onda produzida por uma pedra que se deixa cair
tas modificações. [...] É possível pensar que tanto as modifica- numa piscina.
ções como as direções da~ mesm~s s~ d~vem a um. esfor~o na Quando uma inovação lingüística ocorre em determinado local, ela pode es-
própria língua, a uma tensao do propno Sistema. Se ISt~ fOI cor-
palhar-se subseqüentemente para outras áreas, particularmente as mais próximas,
reto, a relação se inverteu: é o sistema o que se move; sao as ten-
desde que não intervenham obstáculos para sua propagação. Se, por exemplo, co-
dências que o freiam, e o fazem, naturalmente, co~ forças dseor-
meça no Rio de Janeiro, é de se esperar que ela passe a ser usada em São Paulo,
dem diversa, em distintos lugares e em tempos diferentes.
antes de ser encontrada no falar de Porto Alegre ou de Fortaleza.
Mas a propagação de traços lingüísticos de uma área para outra não depende
Essa opinião de que as causas das muda~lÇas ling~ísticas são i,n~ernas ao p~ó- só da proximidade. Pode ocorrer devido ao domínio cultural, demo gráfico e eco-
prio sistema, embora ardorosamente defendida por HJel~slev e vanos outro.s lin- nômico de uma cidade sobre outra e também devido à estrutura de sua rede de co-
güistas, ignora o fato de que a língua é expre.ssão .da .socle.dade ~ ~uas modifica- municação. Isto é, a distância é um fator de reconhecida importância na propaga-
ções constituem reflexo da evol~çã? s~~ia.l. F1C~difícil, pOIS, aceita-Ia, sobret~d~ ção de uma forma lingüística, mas, em certos casos, a distância social é tão impor-
depois que as investigações sociolingüisticas ~leram con~prova: qu~ detern;ma tante quanto a geográfica.
dos fatores externos ao sistema atuam no sentido de explicar, nao so os fenôme-
Acrescente-se, com Trudgill (1979), que em geral apenas os traços gramati-
nos de variação, mas também aspectos da mudança lingüística.
cais e fonológicos requerem proximidade geográfica, antes de se difundirem. O
Saber o que gera uma transformação na linguagem continua entã~ sendo mo; léxico, ao contrário, parece ser capaz de se propagar através de distâncias maio-
tivo de especulação. Por que a mudança se processa de um modo e nao de outro. res, pois as palavras podem ser emprestadas de uma língua para outra, a despeito
Por que algo que parece estável de repente perde o equilíbrio? Embora se costume de qualquer proximidade.
pensar que a mudança demanda tempo, há casos em que o fenômeno o,corre de
Por fim, é interessante anotar que a teoria das ondas recebeu uma interpreta-
\ forma abrupta configurando-se o que se denominou de mudança catastrófica, em
ção de natureza estritamente sociolingüística, sobretudo a partir do modelo pro-
que, segundo Romaine (1988), há um salto de um estágio para outro, como no
posto por Bailey, que foi qualificado ironicamente por Fernández (1988: 132)
processo de crioulização. como uma "alternativa ao labovianismo oficial". Partindo sempre da existência
Mas ainda resta o outro problema, não menos complexo, sobre .0 modo como da variação e de seu condicionamento social, Bailey (1973) idealiza uma grada-
se perfaz a mudança, como o process~ se inicia e se difunde. A seguir vamos resu- ção de contextos, segundo sejam mais ou menos favoráveis à aparição de fenôme-
midamente discutir algumas das teonas sobre esse assunto. nos lingüísticos inovadores. A mudança surgiria numa camada social e se expan-
diria em forma de onda, ocupando outros contextos até então desfavoráveis, para
conseguir assim a sua generalização.
6.2.9. A teoria das ondas
Johannes Schmidt parece ter sido quem primeiro chamou a atenção para o 6.2.10. A difusão lexical
fato de que as inovações de todos os tipos, e mais pa~ticu~arn:ente as mudança.
sonoras, podem se espalhar a partir de um centro de influência, co.mo. ondas em Wardhaugh (1993) sintetiza que, de acordo com essa teoria, uma mudança fo-
um lago, perdendo força à medida que atingem ~ont~s cada vez mais distantes do nética se propaga de forma gradual através das palavras em que pode ser aplicada.
centro (Lyons, 1982). Ou seja, conforme a explicação de Hudson (1984), a mu- Por exemplo, uma alteração na qualidade de uma vogal não é instantânea, afetan-
do em algum ponto específico do tempo, de uma vez só, todas as palavras em que
essa vogal ocorra. Em vez disso, somente algumas palavras que têm a vogal serão
afetadas num primeiro momento, depois outras, mais outras, e assim sucessiva-
5 Según Ia suposieión corricntc cI sistema en si es establc y conservador, y son Ias.tendencia.s que vienen de fuem.11!
uc roducen des lazamientos en cl sistema y rompeu su estabilidad. Pero también se podna pensar que l~nsistcm I mente, até que a mudança se complete.
~ ~. ti d do ~n sistema eon una estructura determinada está predispuesto a determinadas modificacioncs. I. 1
m~~~sl~~o b~en' ensarse ue tanto Ias rnodificacioncs como Ias direcciones de Ias mismas se deben a un es~uc: 10 "~I Chambers & Trudgill (1993) oferecem uma explicação análoga: toda mudança
~au ro ia I~n ua Pa una te:;sión dei propio sistema. Si esto fuese correeto Ia rclación se ha invertido: e.s el SISICIl1I1 d
st
qU~ muev~ s~n Ias tendencias Ias que frenan, y 10hacen, naturalmente, eon fucrzas diferentes en distintos IUl\ull' .y
~ nética e ini ia no m rfema. Ou seja, as inovações lingüísticas se espalham gra-
dualmcnt ntruv I·S do I'· i , de morfema a m rfema. P rtanto, a hipót di fusio-
en diferentes ticmpos (Hjelmslev, 1976:33-4).
nista sustenta que a mudança fonológica é lexicalmente gradual. Os autores citados produz porque certas precauções não foram tomadas. A única
distinguem três tipos de difusão: a difusão sociolinguistica (em que as mudanças verdadeira diferença é que a lei química se apresenta como
podem disseminar-se de um grupo social a outro), a difusão lexical (de uma palavra uma formulação universalmente válida, enquanto a lei fonética
para outras) e a difusão lingüística (de um ambiente lingüístico para outro). só se aplica a um determinado lugar e época'.
Para caracterizar melhor a hipótese difusionista, Laks (1992) aponta os se- E tais lingüistas admitem também que a unidade fundamental de mudança é o
guintes traços pertinentes: próprio fonema. Portanto, pelo menos aparentemente, a teoria da difusão lexical
a) As mudanças não são necessariamente regulares. se opõe à da regularidade da mudança. Enquanto os difusionistas defendem que a
unidade básica de mudança é a palavra, os seguidores dos neogramáticos dizem
b) Fatores lexicais e semânticos, eventualmente divergentes, podem inter-
que o fonema em si mesmo é que sofre a mudança.
ferir, acarretando evoluções diferentes para os lexemas de uma mesma
classe lexical. Para caracterizar melhor a hipótese da regularidade da mudança, Laks (1992)
aponta seis critérios:
c) Para um dado fonema, a passagem de um alvo fonético a um outro é dis-
creta. a) As mudanças são cegas e regulares, são mecânicas.
d) Uma vez que as palavras são afetadas de maneira individual, a difusão le- b) Elas não são condicionadas senão por fatores fonéticos.
xical passa a ser gradual.
c) Em particular, não apresentam qualquer condicionamento semântico ou
lexical.
Um ponto interessante é o de saber em que aspectos a teoria da difusão lexical
d) Propagam-se imediatamente por todo o léxico, sem induzir a reorganiza-
se correlaciona com a teoria das ondas. De acordo com esta última, as inovações
ção das classes das palavras afetadas.
se espalham gradualmente através da população, enquanto que, segundo a outra
hipótese, a mudança se propaga através do léxico. As duas teorias não são de e) São foneticamente graduais, marcadas pelo deslocamento contínuo do
\ modo algum mutuamente excludentes. Hudson (1980) explica: alvo dos fonemas afetados ao longo de pistas fonéticas precisas.
É lícito supor que as inovações se difundem cumulativa- f) São lexicalmente abruptas, de tal forma que todas as palavras que possuem
mente através do léxico ao mesmo tempo em que se espalham o fonema em questão são afetadas simultaneamente.
através da população, de tal forma que as palavras que são afe-
tadas em primeiro lugar serão também aquelas que inicialmen- A idéia dos neogramáticos, embora tenha sido amplamente aceita, foi contra-
te serão adotadas na nova pronúncia por outros falantes".
ditada pelos dados da geografia lingüística, que deram certa consistência ao prin-
cípio de que "cada palavra tem sua própria história". Mas, segundo Labov (1994),
6.2.11. A regularidade da mudança para ambas as hipóteses há boas provas e bons argumentos. Estamos, pois, diante
Inúmeros lingüistas, a partir dos neogramáticos, passaram a admitir a hipóte- de um paradoxo de princípios: a língua se comporta como se a unidade significan-
se da regularidade da mudança. Bloomfield se alinha entre os que a defendem, de- te afetada pela mudança fonética fosse o fonema e também como se a unidade de
clarando que qualquer flutuação observável constitui unicamente um caso de em- mudança fosse a palavra.
préstimo lexical. E Martinet (1993) chega a afirmar: Se a questão tivesse que ser decidida em número de casos, a hipótese da regu-
Se houver alguma exceção, uma observação atenta revela laridade da mudança seria a vencedora porque é muito mais substancialmente do-
algum condicionamento especial. Isto é inteiramente análogo cumentada do que a da difusão lexical. Mas existem fortes exemplos de fonemas
ao que se constata quando uma reação química esperada não se
7. Là oú I'on trouve eles cxccptions, une observation attentive fait Ia preuve d'un conditionnement particulier. Cela
6. A reasonablc hypothesis is that ehanges spread cumulativcly through lhe lcxicon at the samc time as th y sprcud CSItout t\ fait parullõlc à ce qu'on constate lorsqu'unc réaction chimique aucnduc ne se produit pas parce que certaines
through the population, so that the words whieh wcre affeeted first by lhe changc will be Ih firsl 10 b ndoptcd in 111(' p' cnutious o'uol pllSél p' iscs. 1.0scul vérltnblc différence eSIque ln loi chimiquc se presente cornmc une formula-
new pronunciation by othcr spcakcrs (//udson, /980: 169). rion univci ' -li '11' '01 vnlnhl ' 'lllll'llIloi phcnôtiqu ne vuut qu' n un ndroit ct t\ une époque (Mnrtincr, 19 3:245).
que mudaram numa palavra de cada vez, impedindo que se deixe de considerar o no qual a inovação atinge o apogeu na classe média e é bastante reduzida na duas
fato de que a difusão lexical está profundamente enraizada no processo de mudan- extremidades da escala social. A classe média é a inovadora, segundo a concep-
ça. Assim sendo, fica dificil concluir pela veracidade de uma das duas teorias e ção de Labov, porque tem uma motivação social positiva para inovar, que é a soli-
não se pode, por outro lado, simplesmente resolver o paradoxo, dizendo que am- dariedade do grupo ou o sentimento de identidade.
bas são corretas. Será oportuno então indicar as fases que, segundo Labov (1994), formam a
Se, porém, os estudos demonstram que a língua muda nas duas vertentes, o trajetória de uma mudança:
caminho para a solução do paradoxo parece ser o proposto por Labov (1994): os a) Uma mudança começa como um hábito local, característico de um deter-
dados devem conter alguma pista que nos diga quando a mudança se dá de uma minado grupo social, situado no interior da hierarquia social.
forma e quando ocorre de outra. Embora algumas palavras possam ter sua própria b) A mudança pode acelerar-se pelo seu uso como uma reivindicação sim-
história, nem toda palavrá tem sua própria história. E, quando os dados são exami- bólica de direitos e privilégios locais, defendendo o grupo original contra
nados por meio de testes estatísticos adequados, eles se tornam consistentes com a reivindicações de novos grupos que se inserem na comunidade.
visão de que a mudança afeta as classes de palavras, bem como os fonemas. La-
c) Desde que a mudança se generaliza através do grupo, torna-se associada
bov (1994) defende, por conseguinte, que tanto a mudança fonética regular quan-
a outros, sendo os valores sociais atribuídos ao primeiro grupo.
to a difusão lexical são processos ativos e produtivos. O que parece importante é
predizer quando ocorre um ou o outro tipo de transição. d) A mudança então gradualmente se espalha para as populações vizinhas,
que tomam o grupo original como o de referência para os valores sociais
Labov (1994) estabelece, então, as distinções abaixo: atribuídos, sendo com freqüência reinterpretada e posteriormente acelerada
a) A mudançafonética regular resulta de uma transformação gradual de um pelos primeiros grupos que ingressam na estrutura social.
simples traço fonético de um fonema num contínuo espaço fonético. É carac- e) Se a oposição das variantes lingüísticas em competição continua, isto
terística dos estágios iniciais de uma mudança que se desenvolve dentro de pode simbolizar uma reação ostensiva aos valores sociais. Tal associação
um sistema lingüístico, sem condicionamento de ordem lexical ou gramatical entre valores lingüísticos e sociais pode elevar o nível de consciência social
ou qualquer grau de consciência social (mudança vinda de baixo). e resultar num estereótipo, sujeito à coerção social, ou pode manter baixo
b) A difusão lexical é o resultado de uma súbita substituição de um fonema este nível e resultar num marcado r inconsciente.
por outro em palavras que contêm esse fonema. A forma mais velha e a f) Finalmente, uma das formas variantes vence. Segue-se um longo período
mais nova da palavra usualmente se distinguirão por alguns traços fonéti- em que a forma que foi preterida é sentida como arcaica, símbolo de prestígio
cos. Este processo é mais característico dos últimos estágios de uma mu- inútil ou estigma, e é usada humoristicamente até se extinguir inteiramente.
dança interna que ocorreu mediante condicionamentos lexicais e gramati-
cais, havendo um elevado grau de consciência social, ou mediante emprés- g) Depois que a mudança se completa, a antiga pronúncia pode ser preser-
timos de outros sistemas (mudança vinda de cima). vada em nomes de lugares ou formas fixas, sendo percebida como uma irre-
gularidade inexpressiva.
Mas, além dessas hipóteses apresentadas, que buscam esclarecer por que ou
como se opera um fenômeno de mudança, há outras que incidem sobre a trajetória
6.2.13. A resistência à mudança
das alterações lingüísticas ou tentam elucidar o complexo problema das relaçõe
entre a língua e a sociedade. Devemos, portanto, continuar com essas reflexões. Esta teoria foi desenvolvida por Anthony Kroch (ap. Baylon, 1991). Enquan-
to Labov se pergunta por que certas pessoas são motivadas para inovar, Kroch
6.2.12. A teoria da inovação ativa tenta explicar por que outras resistem à inovação. Ele afirma que a mudança é a
condição natural da língua, mas alguns grupos sociais, a despeito disso, evitam ou
Um conjunto de idéias nesse sentido foi desenvolvido por Labov, a partir ela tentam suprimir a inovação. A motivação do conservadorismo lingüístico 6 a
observação de doze mudanças fonéticas. Para ele, a mudança se origina frcqücn- mesma que a do conservadorismo político: uma posição favorável à manutenção
temente num setor da comunidade lingüística numa época em que e enfraque c o do status quo xistcntc,
sentimento de identidade do grupo. stc tipo de mudança 6 niod tlo curvillueo,
Em outras palavras, a mudança lingüística está diretamente ligada à posição 6.3.2. O princípio da compensação estrutural
na hierarquia de classe: ela começa na base da escala e só muito tarde ou nunca é
adotada pela camada mais elevada. É lógico que os grupos que formam as cama-
Co.nfo.mle= princípio, à proporção que cresce o grau de apagamento de um
traço significativo da língua, eleva-se também a freqüência de traços que redun-
das mais elevadas da sociedade, pretendendo defender sua posição social, resis- dantemente mantêm este significado.
tem evidentemente a essas inovações e as estigmatizam. A evolução subseqüente
de toda mudança, sua adoção ou sua rejeição, depende do peso relativo das forças 6.3.3. O princípio da mecanicidade
sociais em atuação.
I?e. acordo com este princípio, o relativo progresso da mudança fonética é
Essas idéias podem ser interpretadas em termos marxistas. O conservadoris-
C?n~IClOnado somente por fatores fonéticos, sem observância à preservação do
mo dos grupos dominantes deriva de uma necessidade de defender sua posição
sl~m,ficado. I?escobriu-se que a escolha de uma ou outra das variantes lingüísticas
privilegiada contra as exigências democráticas. Na medida em que as normas n~o e determm~da pela necessidade de se preservar a informação, mas é influen-
conservadoras no uso da língua são aceitas publicamente, o seu status social e o Ctad~C tendência a manter um paralelo de estrutura e de articulação.
seu poder serão reforçados, valorizados pela posse desse capital social. A mudan-
ça lingüística, segundo Kroch, segue pois um modelo linear, com o apogeu no
~O princípio da mudança categoria I
emprego das formas novas na base da escala social.
Por esse princípio, as mudanças que afetam simultaneamente vários traços de
6.3. Os princípios reguladores da mudança um fonema ocorrem alterando a categoria de palavras isoladas.
como resposta a motivações sociais relativamente obscuras aparecem inicialmente na fala cuidada, refletindo um dialeto superposto adquiri-
que alcançaram um grande sentido para a evolução geral da do depois da aquisição do vernáculo.
língua. As demais, que são as pressões superiores, representam Labov (1972) indica como um dos melhores exemplos desse tipo de mudan-
um processo ostensivo de correção social aplicado às formas ça a questão do (r) em Nova Iorque, que, ainda durante o século XVIII, era pro-
lingüísticas individuais". nunciado. A mudança deve ter obedecido à influência de Londres e se originou
no grupo social mais elevado, impregnando pouco a pouco a fala de toda a co-
6.4.1. Mudanças vindas de baixo munidade. A primeira prova documental da ausência de pronunciação do (r) em
Nova Iorque data de 1856, quando o poeta Frederick Cozzens rimou shore (ore-
Seguindo a explicação de Labov, diremos que são mudanças sistemáticas que
lha) compsahw (exclamação).
aparecem primeiro no vernáculo e representam a operação de fatores lingüísticos
internos. No início, e até o fim de seu completo desenvolvimento, estão inteira- No Brasil, um exemplo similar é o que já apresentamos no item 4.5. Trata-se
mente abaixo do nível de consciência social. Ninguém as observa ou fala sobre do /s/ implosivo da pronúncia carioca, cujo aparecimento pode ser datado a partir
elas, e mesmo observadores foneticamente treinados podem não percebê-Ias du- de 1808, quando a corte portuguesa se transferiu para o Rio de Janeiro. Os cario-
rante muitos anos. É somente quando estão próximas da fase de realização total cas passaram a imitar o /s/ dos nobres que aqui chegaram e logo o som chiante se
que os membros da comunidade se tomam conscientes delas. E elas podem ser in- difundiu na cidade como um índice de prestígio. Hoje, porém, tudo indica que
troduzidas por qualquer classe social, embora não se tenha até o momento regis- essa conotação de prestígio se reverteu, desde que o/s/ implosivo parece mais fre-
trado nenhum caso em que o grupo social mais elevado seja o inovador. qüente nos bairros em que a classe média alta não é predominante.
Assim sendo, de acordo com Labov, as mudanças vindas de baixo começam a
ocorrer com a generalização de uma determinada forma lingüística num grupo so- 6.5. Os fatores condicionantes
cial. A variável, nesse estágio, não apresenta qualquer variação estilística na fala
De acordo com Labôv (1994), para se compreender as causas de uma mudan-
dos que a utilizam e constitui apenas um indicador do grupo a que pertence. Con-
ça, é necessário saber em que camada da estrutura social ela se originou, de que
\ tudo, à proporção que a mudança e os valores por ela carreados atingem os limites
forma se difundiu para outros grupos sociais e quais os grupos que se mostraram
de sua expansão, a variável lingüística se converte numa das normas que definem
resistentes a ela. E, desde que faz parte de uma estrutura mais ampla, inevitavel-
a comunidade de fala, passando todos os membros desta a r~agir de maneira uni-
mente decorre de múltiplos fatores, que só podem ser identificados por meio da
forme a seu uso, embora possam não estar conscientes dele.!E então que a variável
aplicação de testes de análise multivariada. Devem então ser considerados tanto
deixa de ser um simples indicador e passa a ser um marcador, iniciando-se o pro-
os fatores de ordem estrutural como os de natureza social ou externos. Mas é im-
cesso de variação estilística Um exemplo de mudança vinda de baixo ocorrida
portante observar que os primeiros normalmente são independentes uns dos ou-
aqui no Brasil se relaciona, segundo Callou et al. (1998), ao apagamento do R fi-
tros, ao passo que os externos são fortemente interativos.
nal que, já tendo atingido seu limite, constitui hoje uma variação estável.
Cremos não ser supérfluo insistir, com Labov (1972), que é impossível com-
preender o desenvolvimento da mudança lingüística fora da vida social da comu-
6.4.2. Mudanças vindas de cima
nidade em que ocorre. Ou seja, as pressões sociais estão operando continuamente
São introduzidas pela classe social dominante, em geral com nível pleno de sobre a língua, não de um ponto remoto do passado mas sim como uma força so-
consciência. Constituem empréstimos de outras comunidades de fala que são do- cial imanente que atua no presente vivido. E Labov se posiciona fortemente con-
tados de elevado prestígio na perspectiva da classe dominante. Tais empréstimo tra a hipótese intralingüística, defendida por Hjelmslev:
não afetam imediatamente o padrão vernacular dessa classe nem de outras, porém Para interpretar uma mudança lingüística, será necessário
buscar suas causas num domínio fora da lingüística: na fisiolo-
gia, na fonética acústica, nas relações sociais e nas capacidades
cognitiva e perceptiva'".
9. Social forces cxertcd upon linguistic fonns are oftwo distinct typcs, which we may call prcssurcs frorn abovc, und
prcssures frorn bclow. By below is meant "below the levei of conscious awarcncss". Prcssurcs frorn bclow opcnue
upon cntirc linguistic systems, in rcsponse to social motivations which are rclativcly obscurc and yct huvc lhe grcut 'NI
significance for lhe general cvolution of languagc, In this prcscntation, wc will be conccrncd primnrily with socrut
prcssures frorn abovc, which rcprcscnt thc overt proccss of social corrccrion applicd 10 iudividunl liu uistic f()11l1 10. To cxpl(lill /I ""111"1 nbout lin uistic changc will mcan 10 find its causes in a domain ouisidc of linguistics: in
physiolol y, 11('1111I1 ,,1111111'111 , ucinl rclatlons, pcrccptual or cognitivc capacitics (Labov, 1994:5),
(Labov, 1972:123).
6.5.1. Mudança e classe social Conforme vimos, Labov (1994) esclarece que assim é porque, quando duas for-
mas entram em competição, logo se associam aos valores sociais característicos dos
Uma questão polêmica é a de saber em que classe social costumam operar-se
falantes que as empregam. No primeiro estágio de mudança, pode-se observar a
as mudanças. A esse respeito, Labov destaca freqüentemente o papel desempe-
ocorrência de numerosos efeitos marginais esporádicos dos processos articulató-
nhado pela classe média baixa. Mas é importante ter em mente, conforme j á disse-
rios sem significação lingüística. Esses efeitos não têm qualquer relevância so-
mos, que o conceito e a divisão das classes sociais num país como os Estados Uni-
cialmente determinada, nem quanto à diferenciação dos morfemas, nem quanto à
dos não se aplica igual por igual a outros países, como o Brasil, em que os padrões
sua função expressiva. Somente quando tais variações recebem um significado
socioeconômicos são diferentes.
social é que começam a ser imitadas e a desempenhar um papel na linguagem.
Por outro lado, Labov admite que a mudança pode também originar-se nos es- O progresso da mudança é então relacionado com a adoção dos valores de
tratos sociais mais elevados. Nesse sentido, explicita: um grupo pelos membros do outro. Numa fase inicial, os usuários da forma mais
Se a mudança se origina no grupo de maior status socioeco- antiga raramente são expostos à mais recente, de tal modo que apenas uma pe-
nômico, converte-se em modelo de prestígio para todos os mem- quena alteração pode ocorrer. Mas o ritmo da mudança crescerá quando o conta-
bros da comunidade. Outros grupos, na medida em que mantêm to entre os falantes se tomar maior. E assim a nova forma tenderá a ser aceita por
contatos com os usuários desse modelo de prestígio, passam en- todos os usuários.
tão a adotar a forma modificada nas modalidades de discurso
mais cuidadas e, em menor escala, no discurso casual I I . 6.5.2. Indivíduo e mudança
Parece, contudo, que as inovações surgi das a partir dos grupos de maior pres- Sustenta-se freqüentemente que qualquer modificação lingüística tem sua ori-
tígio ocorrem com menos freqüência. Ou seja, é comum que uma inovação se ini- gem no indivíduo e que, por conseguinte, é a partir de um uso individual que uma mu-
cie num grupo e se estenda a outros, mas não é necessário nem mesmo muito fre- dança se produz e se difunde. Para Malmberg (1979), entretanto, isto só é verdadeiro
qüente que tenha sua origem na camada de maior status. em parte, desde que um traço puramente individual não é lingüístico, somente se ca-
racterizando como tal quando outros membros do grupo o imitam e o generalizam.
Labov (1972), para mostrar que a mudança pode surgir a partir de um grupo
social mais baixo, cita um estudo de Wyld sobre a altemância de -er e -ar em Labov (1972) critica ainda mais fortemente a idéia de que a origem da mudan-
Londres. O processo passou por três fases: a) a transformação de um dialeto re- ça reside no ato de alguma pessoa que usa um determinado desvio. Pressupõe ele
gional num dialeto de classe baixa urbana; b) a difusão ascendente de um traço que os hábitos idiossincrásicos não fazem parte da língua enquanto instrumento
lingüístico de uma classe inferior a uma superior; c) o recurso de um grupo em de comunicação e, por conseguinte, só se pode afirmar que há mudança quando
processo de mobilidade ascendente à pronúncia ortográfica. um grupo de falantes utiliza um padrão diferente. Ou seja, embora uma inovação
lingüística possa ser introduzida realmente por um indivíduo, somente é incluída
Convém insistir um pouco mais sobre o papel que exerce a classe social na
na língua quando outros a aceitam, isto é, quando ocorre a propagação. A origem
realização de um processo de mudança. Baylon (1991) comenta que as inovações
da mudança, grifa Labov (1972), é precisamente a sua propagação ou aceitação
não são adotadas de modo uniforme e simultâneo por toda a sociedade: alguns
por outros membros.
grupos são inovadores, enquanto outros adotam imediata e sistematicamente tudo
o que é novo. Isto significa que a mudança lingüística implica a variação social: Tal posição é reforçada numa citação semelhante:
num certo estágio do processo, alguns membros da comunidade utilizam as nova Um indivíduo pode usar um desvio e fazê-Io por várias vezes,
formas, e outros, as formas antigas. sem exercer com isso qualquer influência na língua. O início da
mudança lingüística só acontece quando outros falantes adotam o
novo traço e o empregam convencionalmente para transmitir for-
mas e significados. Embora a inovação possa começar em virtude
da influência de uma pessoa importante, não é o ato de inovar que
t t. Ifthc change originated in the highest-status group ofthe community, it beeame a prestige model for all mcmb 'I
ofthe speech community. The changed form was then adopted in more carcful forms ofspccch by 1\11 othcr roups 111
proportion to theircontact with users ofthc prcstigc modcl, and to u lcsscr cxtcnt, in 01\8uIIIsn ·h (1,lIbov, 1972: I 110)
muda a língua, mas o de influir. Por conseguinte, a mudança e sua dos pela mídia não teriam desaparecido tão de repente como surgiram. Pare-
primeira difusão ocorrem ao mesmo tempo 12. ce-nos, pois, que somente têm êxito as inovações que vão ao encontro das neces-
sidades de expressão da sociedade num dado momento histórico.
De todo modo, ninguém duvida de que a mudança lingüística pode partir de
um uso individual que se difunde e termina por ser adotado pela maioria dos
6.5.3. Sexo e mudança
membros de uma comunidade. O pensamento de Coseriu (1987) vai no sentido de
que a originalidade expressiva do indivíduo, que não conhece ou transgride a norma, O papel das mulheres no processo de mudança lingüística já foi demonstrado
pode ser tomada como modelo por outro indivíduo, pode ser imitada e tomar-se, por em diversas investigações empíricas. Labov (1972) menciona, entre outras, a cé-
conseguinte, norma. O indivíduo, pois, altera a norma, ficando dentro dos limites lebre descoberta de Gauchat, segundo a qual o emprego de formas inovadoras
permitidos pelo sistema; mas a norma reflete o equilíbrio do sistema num deter- aparece com muito maior freqüência entre as mulheres do que entre os homens.
minado momento e, por conseguinte, alterando-se a norma, altera-se esse equilí- Refere-se também às pesquisas que ele próprio realizou, em geral evidenciando
brio, até pender totalmente para um lado ou para o outro. Dessa forma, o falante que a variável sexo não pode ser deixada de lado na análise da mudança.
aparece como ponto de partida também da modificação no sistema.
Esta é uma questão bem interessante que o próprio Labov (1992) se coloca. Por
Seja como for, o papel exercido pelo indivíduo parece especialmente mani- que as mulheres estariam na vanguarda dos processos de mudança lingüística? Se-
festo nos neologismos lexicais. Baylon (1991) lembra a propósito que o Nouveau gundo ele, não é mais possível hoje atribuir esse fato às diferenças biológicas relacio-
Dictionnaire Étymologique et Historique, de Dauzat-Dubois-Mitterand (1964), nadas ao sexo, entre as quais, por exemplo, o tamanho do trato vocal. Por outro
além da contribuição de outros autores, registrou 534 palavras criadas por Fran- lado, a sensibilidade feminina para as formas de prestígio não deve também ser a
çois Rabelais. Baylon enumera ainda uma série de neologismos devidos ao gene- única explicação para sua pronta participação no processo de mudança lingüística.
ral De Gaulle, plenamente ativos no francês atual. É que, conforme assinala La-
bov (1972), os indivíduos mais expostos à interação pública são os que influem Diante disso, Labov (1992) sugere a hipótese de que a participação decisiva
mais diretamente na mudança lingüística. No português do Brasil não é difícil dar das mulheres nos fenômenos de mudança se vincula à assimetria na relação com
ulm testemunho análogo. Basta citar o imexível, criação de Rogério Magri, na épo- os filhos. Sem nenhuma exceção, as mulheres constituem a primeira fonte de
ca em que foi Ministro do Trabalho. aquisição da língua nos dois primeiros anos de vida de uma criança, em qualquer
parte do mundo. Qualquer alteração lingüística induzida por elas será pois acele-
Convém pois observar que, de certa forma, a aceitação de um uso individual rada, uma vez que seus filhos recolherão delas formas relativamente avançadas.
depende do grau de influência que a pessoa exerce na sociedade. Mas no caso de De modo oposto, alguma inovação induzida pelos homens será retardada, pois os
imexivel não foi bem assim, desde que houve até uma fase de censura e zombaria, filhos receberão as construções em atraso já no seio da comunidade lingüística.
como se a palavra fosse mal formada ou impossível. Na realidade, o que houve no
início foi uma rejeição, por ela ter sido criada por alguém que, pela sua origem, A hipótese parece bem plausível. Com efeito, se a linguagem dos pais influi
era discriminado pela elite. na aquisição da linguagem das crianças, é a mãe quem costuma falar mais com
elas e, portanto, pode influenciá-Ias mais diretamente durante o período em que
As interferências individuais no desenvolvimento da língua dependem, por estão formando as regras de sua gramática.
conseguinte, de fatores que necessitam ser bem elucidados. Se não fosse assim, os
neologismos propostos por Castro Lopes para expurgar os galicismos e anglicis- Todavia, adverte Labov (1972), seria um grave equívoco elaborar um princí-
mos não teriam sido relegados ao esquecimento':'. Ou muitos modismos inventa- pio geral de acordo com o qual são as mulheres que sempre encabeçam a mudança
lingüística. A pesquisa sobre a centralização dos ditongos /ay/ e /aw/ na ilha de
Martha's Vineyard forneceu indícios de que o contrário pode ocorrer. De um con-
junto amplo de investigações recentemente realizadas, Labov (1992) assinala que
12. An individual may utter a deviant expression, and do it many times, withoul intluencing the language. The chan em 20% os homens é que se encontram à frente nos processos de mudança.
ge in lhe language comes about when other speakers adopt this new feature, and use it conventionally to communicare
particular fonns and meanings. Although innovation may start with the intluenee ofa prominenl individual, it is not A esse propósito, Trudgill (1979) assinala que os homens tendem a ser inovado-
the act ofinnovation that changes the language, but the act ofintluenee. Thus the change and the first diffusion of'the
change occur at lhe same time (Labov, 1994:310-1 I).
res quando a mudança acontece no sentido oposto ao da norma padrão, caso em que
as mulheres tendem a estar na vanguarda. Mas ressalva que isto presumivelmente não
13. Um dos poucos que sobreviveram foi a palavra cardápio, que continua sendo empregada ao lado de 11/(.'/111. Mu
inúmeros outros (ludopédio em vez dejittebo/, cinesíforo para chofer, lucivelo ou lucivéu para abajur, ('QI'iil('/lIolll
é inevitável. Numa sociedade em que se espera dos homens um comportamento
gar de carnet, ludâmbulo em vez de turista, runimol para avalanche ctc.) hoje são ridicularizados. mais" rr t "do que o das mulheres, a situação lingüística se reverterá.
Se se quiser, portanto, estabelecer um princípio geral, este não será o de que por tanto tempo entre os americanos, que chegou a afetar as pesquisas sobre o in-
as mulheres se encontram na vanguarda dos processos de mudança. Será, sim, o glês negro. Muitos estudos neste campo tiveram que se posicionar contra este fun-
de que a diferença sexual na fala desempenha um papel primordial no mecanismo do histórico e o assunto como um todo ficou de certa forma carregado de implica-
de evolução lingüística. E, em qualquer caso, é importante insistir ainda com La- ções sociais e políticas (Trudgill, 1979).
bov (1972), a diferenciação dos falantes em função do sexo não é um mero produ-
Em suma, qualquer hipótese que admita a influência de fatores étnicos sobre a
to dos fatores fisicos, senão que decorre de aspectos de ordem social aplicados
mudança lingüística constitui uma defesa das teorias racistas que pregam a exis-
preferencialmente a um sexo ou a outro.
tência de raças inferiores. Os antropólogos e etnólogos já demonstraram que essas
Há ainda um ângulo da questão que merece ser mencionado. Trata-se de in- teorias são falsas e nada há que possa fundamentá-Ias.
vestigar se é o homem ou a mulher quem aceita mais rapidamente uma mudança.
Aqui também talvez não se possa formular um princípio rígido, de acordo com o 6.5.5. Isolamento e mudança
qual o homem seria mais (ou menos) refratário ao processo. De qualquer forma,
algumas pesquisas apontam para o fato de que o sexo feminino adota atitudes me- O isolamento geográfico inevitavelmente gera diferenciações lingüísticas. Se
nos conservadoras do que o masculino. Labov, por exemplo, constatou que, em viaj~rm?s pelo interior do Brasil e conseguirmos chegar a vilarejos longínquos e
muitas das mudanças vocálicas que investigou, as mulheres são consideravel- de diflcil acesso, com certeza lá encontraremos traços dialetais que nos causarão
mente mais avançadas do que os homens". até surpresa. Em geral, o que se observa nesses lugares isolados é uma tendência
ao conservadorismo lingüístico. Daí, parece óbvia a hipótese de que quanto mais
contato externo a comunidade de fala mantiver, maiores serão as possibilidades
6.5.4. Raça e mudança
de mudança e diversificação.
É falso pensar que as pessoas falam como falam em virtude de serem brancas Todavia, sem que se anule de todo essa inferência, os estudos de mudança em
ou pretas, descendentes de japoneses, de árabes ou de qualquer outro povo. Na curso mostram que a separação geográfica nem sempre é uma condição necessá-
~ealidade, os traços lingüísticos que alguém possa apresentar são adquiridos pelo ria para a di.versificação lingüística. Conforme raciocina Labov (1994), as pes-
convívio com os pais, parentes e amigos. Ou seja, nada pode comprovar a existên- soas que residem nas mesmas cidades, freqüentando as mesmas escolas e expos-
cia de bases raciais ou fisiológicas de nenhum gênero para diferenças lingüísticas tas aos mesmos meios de comunicação de massa podem ser desigualmente afeta-
entre os membros de uma sociedade. das pela mudança lingüística, de tal modo que, com o passar do tempo, a lingua-
Contudo, essa hipótese da influência racial sobre o modo de falar das pessoas gem que usam se toma cada vez mais diferenciada.
já foi adotada, por exemplo, pelos nazistas, que consideravam o povo alemão
mais inteligente que os outros, devendo por isso estar livre de qualquer contami- 6.5.6. Mídia e mudança
nação. Defendeu-se, então, a falsa idéia de se preservar o sistema lingüístico con-
tra impurezas ou ameaças surgidas a partir de empréstimos de palavras pertencen- r L.abov (1994) afirma q~e os resultados de suas pesquisas evidenciam que, no
tes a outras línguas. estágio atual de desenvolvimento, os meios de comunicação de massa não exer-
cem nenhum efeito sobre a mudança fonética em curso. Todavia, ao estudar o fe-
Também se defendeu a mesma hipótese da influência racial para o caso do in- n?m~no da hipercorreção na classe média baixa, quando analisa a questão da pro-
glês falado mundialmente, em que se percebem diferenças lingüísticas entre gru- nuncia do (r) em Nova lorque, Labov (1972) sugere que não se pode descartar a
pos étnicos, sobretudo no que se refere à linguagem de brancos e negros. Já na influência do rádio e da televisão. Seja como for, admite a hipótese de que as no-
época da colonização americana se reconheceu que brancos e negros falavam de vas tecnolo~ias nesse sentido podem de algum modo afetar a mudança lingüísti-
modo diverso, o que foi interpretado como o resultado de diferenças fisicas e ca. Com efeito, segundo ele, há algumas conseqüências no que se refere à mais rá-
mentais inerentes a cada grupo. O falar truncado dos negros foi, então, classifica- pida difusão das formas de falar politicamente dominantes.
do como inferior. Isto é, eles não podiam falar adequadamente o inglês, porque
simplesmente não eram capazes disso. Tal argumento permaneceu impregnado 6.5.7. Política e mudança
15. Pour un individu donné, le changement linguistique reste pratiqucmcnt impcrccpriblc, Si les locurcurs 11111
I'illusion que leur langue est imrnuablc, ccst que Ic changcmcnt u'cst pus imposé de l'cxréricur: ils se SOl1tClIX 111 16. Toda vlllllll'ión Sill\"óni 11 implica un cambio lingüístico en progrcso que, a dcspccho dc 10 postulado por Ia lin-
mes les agcnts inconscicnts (Baylon, 1991: 101), glllsli 11 dlll\"Ú'IIrIl, 1111111\' V\'IN' Y cxarninarsc de cerca (Mondes, 1993:242).
lizar uma nova pesquisa. Este tipo de estudo é geralmente denominado de mudan- Além disso, é importante insistir na advertência de Labov (1994), segundo a
ça em tempo real, que discutiremos um pouco mais adiante. qual as distribuições em termos de faixa etária podem não representar uma mu-
Como alternativa, um método mais imediato é, em vez disso, investigar a mu- dança na comunidade como um todo, mas apenas ser um padrão característico de
dança em tempo aparente. Significa simplesmente que, ao escolhermos para estu- determinada idade que se repete em cada geração. Foi o que constatou, por exem-
do uma determinada comunidade, comparamos a fala das pessoas mais idosas plo, a investigação de Callou et a!. (1998) sobre o apagamento do R final no diale-
com a das pessoas mais jovens e admitimos que as diferenças entre elas são o re- to carioca. Pode-se estabelecer a seguinte regra:
sultado de uma mudança lingüística. O tempo aparente refere-se, pois, ao padrão Se os indivíduos modificam seus hábitos lingüísticos atra-
de distribuição do comportamento lingüístico através de vários grupos etários vés de suas vidas, mas a comunidade como um todo não muda,
num determinado momento do tempo. Ou seja, se o uso da variante inovadora for caracteriza-se então um padrão próprio de uma faixa etária".
mais freqüente entre os jovens, decrescendo em relação à idade dos grupos mais
idosos, tudo indica que se trata de uma situação de mudança em progresso. Resta ainda observar que a mudança em tempo aparente é normalmente asso-
Dessa forma, o estudo das variações ligadas à variável faixa etária costuma de- ciada com a posição avançada de um grupo social localizado no interior da hierar-
nunciar a idade dos fenômenos lingüísticos. Em termos gerais, segundo se supõe, quia social. Labov (1994) observou que tal grupo necessariamente nem é o mais
cada geração exibe a norma adquirida durante sua adolescência (Morales, 1993). elevado ou classe dominante, nem o mais baixo ou classe desprotegida. É, ao con-
trário, o segundo mais alto grupo em status, ou seja, a classe média (comerciantes,
O processo básico é o seguinte: numa comunidade, determinados indivíduos padres, professores, políticos locais), bem como trabalhadores especializados (ar-
apresentam uma freqüência característica em relação a urna dada variável, man- tesãos, mecânicos e outros). No Brasil, fica difieil aceitar-se uma generalização
tendo-a durante sua vida. Com a evolução normal dos valores adotados pelos in- dessa ordem, em virtude do modelo de estratificação social vigente, com uma ab-
divíduos, pode ocorrer um fenômeno de alteração lingüística. A adoção do novo surda distribuição de renda, sendo o ápice da pirâmide ocupado por um grupo
padrão constitui uma mudança comunitária (communal change), quando todos os bem reduzido e o resto da população se distribuindo de forma ainda meio confusa.
membros da comunidade alteram juntos suas freqüências ou adquirem as novas
formas simultaneamente. 6.6.2. Mudança em tempo real
Mas a faixa etária do falante deve ser examinada com muito critério, antes de
se concluir por uma mudança lingüística devida a esse fator. Labov (1994) mostra O tempo real refere-se a desenvolvimentos na evolução lingüística num pe-
que pode haver variáveis intervenientes, desde que, com a mudança de idade, frc ríodo arbitrário de tempo. Relaciona-se, pois, ao aspecto diacrônico da língua.
qüentemente há mobilidade social. Ele observou, por exemplo, que em média os Há dois métodos básicos de se investigar um fenômeno de mudança em tem-
falantes mais idosos podem ter um nível educacional e profissional mais baixo do po real. O mais simples e mais eficiente é procurar textos que no passado regis-
que os mais jovens. E isto causa um viés: se um grupo de jovens tem hábitos lin trem as variantes em estudo e compará-Ias com os registros mais recentes. Em ge-
güísticos diferentes de outro constituído de pessoas idosas, pode acontecer que (I ral, pode ser utilizado qualquer texto escrito que reflita a língua falada de um certo
fato seja muito menos um reflexo da diferença etária do que da diversidade dl' período de tempo. São, nesse sentido, da maior importância, as cartas íntimas, os
classe, profissão ou nível de escolaridade. diários, as peças teatrais, as gramáticas do passado etc. O outro método é extrema-
Guardemos a advertência de Labov (1994): mente dificultoso: consiste, corno dissemos, no retomo do pesquisador à comuni-
dade, depois de uns vinte anos, para repetir os mesmos estudos, realizando novas
Em geral, nenhuma amostra pode representar em pr rHII gravações. Mas nem sempre se pode garantir que a volta do pesquisador à comu-
ções iguais todos os fatores que influenciam a variável dcpcu nidade tenha êxito: como encontrar os mesmos informantes, se muitos podem ter
dente. Como resultado, uma distribuição particular em tcmp« morrido ou viajado?
aparente pode de fato refletir a distribuição de outras variávct
- 17 .
na popu Iaçao Urna vez que os dados em tempo aparente tenham sido correlacionados com
os dados em tempo real, é então possível reconstruir uma cronologia dos vários
17. In general, no sample can represenl in equal proportions ali lhe factors that influcn c lhe dcpcnd 'nl vllllllillr 1\
rcsult, a particular distribution in apparcnt lime mny nctuully rcflcct thc distribution nf oth 'r Vllllllhlcs 111 th '1101111111111111 IH, I findivitluuls chulIL c rhcir lin uistic bchaviour throughout thcir lifctirncs, but thc community as a whole does nol
(Labov, 1994:56). 11111111 c, the plllt '111\'1111Iw "'111111 'I 'I is ti IIS 0110 of IIJW-f.(m(/iIlR (Lnbov, 1994:84).
estágios e associá-Ia com as características sociolingüísticas, bem como com o ní- Exercício VI
vel de consciência social, de cada um deles.
Para concluir, é válido rclembrar a distinção proposta por Labov: algumas va- 1ª questão -Indique o que está em desacordo com o pensamento de Labov:
riáveis se revelarão como estereótipos, constituindo tópicos de comentário social;
a) Não se pode compreender o desenvolvimento de uma mudança lin-
outras não terão o mesmo alto nível de consciência social, mas revelarão uma
güística fora da vida social da comunidade na qual ela ocorre.
consistente valoração social e estilística, categorizando-se como marcadores; ou- I
tras , finalmente , não são comentadas nem mesmo reconhecidas pelos falantes na- b) Quase todas as variações lingüísticas ocorrem somente uma vez e desa-
tivos, definindo-se como meros indicadores. parecem de forma repentina.
c) A mudança fonética não pode ser diretamente observada.
d) As variações só começam a ser imitadas quando passam a ter um signifi-
cado social.
e) O isolamento conduz à diversidade lingüística.
a) ao mudar de língua, um povo conserva os hábitos de pronúncia da anti- a) As distribuições em termos de faixa etária podem não representar uma
mudança, mas apenas ser um padrão característico de determinada idade.
ga língua;
b) as alterações fonéticas são determinadas pela necessidade de se preser- b) A maior parte das mudanças em curso apresenta distribuições sociais
var o significado das formas lingüísticas; significativas antes mesmo de registrar variações estilísticas.
c) as gerações posteriores tendem a falar de acordo com os hábitos de pro- c) Não é necessário nem mesmo muito freqüente que uma inovação te-
núncia de seus predecessores; nha sua origem na camada de maior status.
d) as inovações lingüísticas se espalham gradualmente através do léxico, d) As mudanças podem ocorrer a partir de qualquer classe social.
de morfema a morfema; e) Em princípio, são as mulheres que sempre encabeçam a mudança lin-
e) a escolha de uma variante lingüística é influenciada pela tendência a güística.
manter um paralelo estrutural.
9ª questão - Conforme a teoria das ondas, pode-se dizer que as mudanças lin-
6ª questão - A hipótese difusionista defende que: güísticas:
a) a mudança fonética se propaga de forma gradual através das palavras a) não são condicionadas senão por fatores fonéticos;
em que pode ser aplicada; b) ocorrem abruptamente, de tal forma que todas as palavras são afetadas
b) a unidade fundamental de mudança é o próprio fonema; de uma vez só;
c) a mudança começa na classe baixa e se difunde pelas demais camadas c) se difundem a partir de um centro de influência, perdendo força à me-
dida que atingem pontos cada vez mais distantes do centro;
sociais;
d) as mudanças que afetam simultaneamente vários traços de um fonerna d) começam na base da escala social e gradualmente vão sendo adotadas
ocorrem alterando a categoria de palavras isoladas; pelas camadas mais elevadas;
e) as inovações são introduzidas pela classe social dominante e depois imi e) são aleatórias ou se devem a fatores de ordem puramente geográfica.
tadas pelas classes inferiores.
1Oª - Pelo princípio da mecanicidade sustenta-se que:
a) a escolha de uma ou outra da.svariantE:?lingüísticas não é determinada
pela necessidade de se preservar a mformação: _
b) as forças que atuam no processo de uma mudança lingüística atual nao
diferem das que atuaram no passado;
7
c) as mudanças que afetam vários traços de um fonema alteram a catego-
ria de palavras isoladas; . As DIFERENÇAS DIALETAIS E O ENSINO
d) o grau de apagamento de um traço significativo da. \ín~~a determina o
aumento de traços que redundantemente mantêm este signIficado; o mito da privação verbal é extremamente perigoso, porque
desvia a atenção das verdadeiras falhas de nosso sistema
e) a mudança se origina num setor da.com~nidade lingüística numa época educacional para defeitos que não existem na criança
em que se enfraquece o sentimento de Identidade do grupo. (Labov, 1984)'. .
I, ..•thc myíh 01 VI .11111d '1" I VII 1101\ IS P uicularly dangcrous, bccausc ir divcrts nucniion from real dcfc IS orour (\u
1'lIl!OIlUI Ny H'III 10111111 111111Y d\ 11\ I oflh chltd ( ubov, 1984:202).
. der o beneficio da educação escolar às camadas
qualificada e fOI forçad~ a esten d I se encheram e dizem que a qualidade
mais baixas da populaçao. As sal as e au a De acordo com a explicação mais radical que decorre dessa idéia, defendida
do ensino caiu. entre outros por Bereiter (ap. Labov,.! 984), não se pode dizer que tais crianças a
rigor tenham uma linguagem. Elas não conseguem construir frases completas,
desconhecem os nomes dos objetos mais comuns, são absolutamente incapazes
7.2. O fracasso escolar de formar conceitos ou estmturar pensamentos lógicos.
I . as das classes desfavorecidas não as- Os defensores dessa idéia partiram do pressuposto de que há uma estreita vin-
Logo se constatou que em gera nitido.E conseqüência como ainda aconte-
.. b lhes era transnuti o. m , d culação entre linguagem e pensamento e, portanto, o déficit lingüístico é a um só
sll11l1~vam em O~ue. ência e evasão se tomaram alarmantes. Os e u-
cc hoje em dia, os índices de re~ete . se nulo e tentaram indicar as causas tempo causa e efeito de carências cognitivas. E, para dar sustentação à hipótese,
cadores perceberam que o rendimento era qua valeram-se de algumas pesquisas feitas sobre a fala de crianças, sobretudo as que
desse fracasso. .. d tomaram por base os estudos de Bernstein. Mas Labov contestou a própria forma
. ) aprendizagem constitui um om como tais investigações foram levadas a terrno, demonstrando que, havendo o
Inúmeras explicações foram .proposta~ a a ão portadoras de uma certa defi-
controle das variáveis intervenientes, é viável concluir que a maior parte da litera-
que não é dado a todos; b) as cr~a~ças ~o res ;lação não há estímulos culturais; tura sobre a privação verbal nada diz a respeito da capacidade das crianças pobres.
ciência mental;. c) n.a.scamadas Ial~a:ul: ~~~adequada; e) a má alimentação e a Labov sugeriu, em contrapartida, que, para se aferir essa capacidade, é imprescin-
d) a metodologia utilizada em sa a e a ão E assim por diante. Mas, com o dível estudar as crianças dentro do contexto cultural em que elas se desenvolve-
fome impedem.qu.alq~~r.esforço de ~onc~n:rfo~a~ canalizadas para a hipótese de ram. E concluiu taxativamente: "o conceito de privação verbal não tem qualquer
advento da sociolingüistica, as exph~ai.oe m Ou seja o que parece óbvio, as fundamento na realidade social" (Labov, 1984f
que a raiz de tudo deve estar na ~rdopr~a mguage a' escola ~orque não entendem a
crianças das classes desfavoreci as racass~m n d ? Na verdade, Bernstein por si mesmo não defendeu a hipótese de que o fra-
linguagem de seus professores. E por que nao enten em. _ casso escolar seria conseqüência de uma incapacidade ou déficit lingüístico.
Vejamos quais têm sido as respostas mais freqüentes a esta questao. Contudo, algumas de suas propostas foram interpretadas nessa direção. Assim,
por exemplo, ele distinguiu para o uso do inglês duas espécies de código: o códi-
go elaborado (elaborated code) e o restrito (restricted codey', Este último seria
7.2.1. O déficit cognitivo
empregado por qualquer pessoa, mas as crianças da classe média ou alta tarn-
, . - tência desmoralizou o trabalho dos agen- . bém adquiririam o 'código elaborado que, segundo Bernstein, é essencial para o
Se o elevado índice de evasao ~ere~e I rocuraram inocentar-se, divulgan- sucesso na escola.
tes educacionais, de ~orma bem c~mo a e e~p aprender parque tinham deficiên-
do a tese de que as cnanç~s era~ incapazes e O emprego do código elaborado se traduz em enunciados sempre novos, o
cias em sua própria capacidade intelectual, . que explica as constantes pausas que nele se observam; o código restrito, ao con-
. dé da de 1960 os esforços para exphcar o fra- trário, se caracteriza pela linguagem repetitiva, com poucas pausas.
Labov (1995) assinala que, na .ec,~ de ue 'tais deficiências derivavam na-
casso escolar se concentrar~m n~ h~~of~~: de !otivação nas famílias das crianças Quanto ao nível das significações, num texto em que se utiliza o código restri-
turalmente da pobreza ambIenta e I o de que tais crianças entravam na to, domina o implícito. Somente são capazes de captar inteiramente o significado
carentes. Mas adverte. que o quadro ~era er: de de aprender e um forte intercs e aquelas pessoas que participam da mesma experiência do falante. As relações se-
escola cheias de entusla~mo, com muita vo~ a asso possa ter sido condicionado mânticas são, portanto, descontínuas, condensadas, raramente explicitadas e qua-
de seus familiares. Por ISSO,mes~o que. o diretamente de fatos e interações qu • se sempre dependentes do contexto. De modo oposto, o código elaborado permite
por alguma carência, resultou muito mais I uma maior distância entre os participantes na comunicação, tendo pois explícitos
ocorreram durante os anos escolares. seus princípios e operações.
I
I
7.2.2. O déficit lingidstico .
e ue as deficiências cognitivas derlva.da,
Ligada a hipótese antenor, adrmtl~ s q d terminavam um déficit lingülstico,
, • r • • • - 2. flC coneept ofvcrbal cleprivation has no basis in social reality (Labov, 1984:201).
principalmente da falta de estímlll~~~~~r~~ ~ urna sintaxe bastant • reduzida, J. Fasold (1990) hOI11I1[1ntcução para o fato de haver um estreito paralclo entre alguns aspcetos dos códigos elabora-
rcspon ávcl pela p brcza d v do e restrito e()1l111 vlltlt'(llId,' 0110c baixa do fenômeno da diglossia. É de notar ainda que o termo clÍdlJ:1I prl'c\'e 111111
mprc ·udn jlo. Ik ••'~II'III, '1'11 "'1/11 ido.lIl1.s feliz S tivesse opindo por 1I11'{'/ ou "('1: '\""(1.
1
Um exemplo fornecido pelo próprio Bernstein documenta os dois tipos de có-
Bernstein (ap. Marcuschi, 1975:34-5) apontou, entre as características do có- digo. Apresentou-se a crianças de classes sociais diferentes uma série de quatro
digo elaborado, as seguintes: figuras, para que fosse contada uma história.
a) vocabulário mais amplo; Nas figuras que serviram de base para o teste podia-se perceber o seguinte:
b) associações paradigmáticas; a) na primeira, três meninos jogavam bola em frente a uma janela;
c) maiores e mais pausas ao falar; b) na segunda, a bola salta para a j anela da casa;
d) maior seleção nas palavras a utilizar; c) na terceira, ajanela está com a vidraça quebrada e um homem enfurecido
e) maior riqueza na construção sintática; briga com as crianças que fogem;
f) maior diversidade e troca no emprego de palavras na construção frasal; d) na última, os três meninos estão fugindo e uma mulher carrancuda obser-
va tudo por trás de outra janela.
g) pequeno uso das conjunções então, assim, e e porque;
h) emprego mais freqüente de todas as outras conjunções; o resultado foi, como se pode ver abaixo, que os textos produzidos pelas cri-
i) maior utilização da voz passiva; anças filhas de operários apresentaram características formais bem distintas dos
que foram redigidos pelas crianças de classe social mais elevada.
j) menos pronomes pessoais (tu, vocês, eles);
Vejamos:
1) maior emprego de índices de indeterminação do sujeito;
a) em código restrito - Eles jogam futebol e ele chuta e aquilo entra e parte
m) mais pronomes indefinidos; um vidro e eles olham então ele sai e ralha porque eles partiram, e então
n) maior emprego do pronome eu; eles fogem.
o) mais preposições que apresentam relações lógicas; b) em código elaborado - Três rapazes jogam futebol e um chuta a bola e
ela entra pela janela, e a bola parte o vidro, e os rapazes olham, um homem
p) seqüências menos sociocêntricas;
sai e ralha eom eles porque eles partiram o vidro, e então fogem e a mulher
q) mais frases relativas; fica olhando pela janela,
r) mais períodos subordinados e coordenados;
s) emprego raro de ordens curtas ou perguntas breves; É fácil observar que só se pode compreender bem o significado da primeira
descrição, se se tiver a figura diante dos olhos. A segunda pode, porém, ser com-
t) maior grau de simbolismo. preendida por uma simples leitura, já que a estrutura da linguagem verbal empre-
gada fornece os elementos contextuais necessários. Ou seja: o conteúdo do pri-
Analisando-se tais características, parecem bem pertinentes as seguintes ques- meiro texto é implícito, enquanto o do segundo é explícito.
tões propostas por Labov (1984): Parecia que, com tais descobertas, estava explicado suficientemente o pro-
O código elaborado de Bernstein será realm~n~e tão "flex..í- blema das dificuldades de aprendizagem dos alunos pobres: eles fracassavam
vel, detalhado e sutil", como crêem algu~s pSIcolog~s~ Nao porque tinham lacunas que afetavam os seus esquemas de linguagem. O próprio
será também pomposo, redundan~e, bom~ast1co e vaz~o. A~- Bernstein chegou a dizer explicitamente que, se uma criança quiser ter êxito na
nal de contas em vez de um CÓdIgOou SIstema supenor, nao escola, é absolutamente necessário que domine o código elaborado ou pelo menos
, , d ?4 '
será simplesmente um estilo elabora o. esteja para ele orientada. Diante disso, a solução apontada, embora não tenha sido
defendida por Bernstein, não seria outra senão a de se oferecer uma educação
compensatória que pudesse, por meio de estímulos culturais, reparar gradualmen-
te essas carências.
t ' li so "flexible dctailcd anel subtlc" as some psychologists b licvc (c, "
~~n~~~h~9~;~~~;;~dl~~'~~to:l!e:~g~;~ ;~~u~danl, bomba~lic, anel cmpty? Is it not simply (ln clnhoruted ~tyl " rnth"
than 8 superior code or systcm? (Labov, 1984:21 ).
Todavia, essa pretensa educação compens~tória .~~ãoapresentou resultados
animadores'. E, conforme já enfatizamos, os socIOlmgUlsta~ qu~ t~ab~.1~1a:amcom que a língua é um dos mais importantes fatores mediante os
amostras de fala de pessoas supostamente portadoras de déficit ImgUlStICOcom- quais a desigualdade se perpetua de geração a geração",
provaram que a hipótese é inteiramente falsa. Labov (l98~) demonstrou que, sen-
do entrevistadas por investigadores estranhos ao seu meio, elas ~cam mseg~ras 7.3. As propostas de solução
quanto aos propósitos das questões e, conseqüentemente, numa ~tltude defensiva,
oferecem respostas evasivas, breves e truncadas. ~as, quando rnteragem ~on: os Diante da convicção de que o fracasso escolar era devido em grande parte
membros de sua própria comunidade, elas usam a língua com bastante fluência e à diversidade lingüística, várias propostas de solução foram e continuam a ser
discutidas.
expressividade. Daí o argumento de Labov (1984):
A falácia essencial da hipótese da privação verbal consiste
7. 3.1. A erradicação dos dialetos populares
em atrib'uir o fracasso escolar da criança a suas pr?prias defi-
ciências. Afirma-se que tais deficiências são determmada~ pelo
Uma medida drástica seria a de, por todos os meios, impor a norma culta, ten-
ambiente familiar e que, por conseguinte, o fracasso denv~ da
tando erradicar tudo o que se considera como "mau uso da língua". Essa atitude,
falta de adaptação da criança à escola. Mas quando ele a.tmge
por incrível que pareça, ainda seduz a mentalidade de muitas pessoas e, em países
proporções generalizantes? parec~-nos que devemo~ verificar
os obstáculos socioculturais que dificultam a aprendizagem e a como a França, provocou uma série de tentativas contra a proliferação dialetal.
incapacidade da escola para resolvê-tos". A escola sempre tem sido um dos principais agentes nesse sentido, desde que
só aceita a língua-padrão e estigmatiza a fala das crianças das classes desfavoreci-
7.2.3. A diferença de linguagem das. A prática constante dos professores é a de corrigir qualquer forma, escrita ou
falada, que não seja prevista nas gramáticas. E não é apenas corrigir: é corrigir e
Passou-se então a admitir que as crianças dos estratos sociais mais baixos não
zombar. Isto ainda acontece hoje, apesar de que, conforme assinala Labov (1984),
~e saíam bem porque usavam um dialeto diferente da nor~~ culta',Como toda a
"todos os lingüistas compartilham a opinião de que os dialetos distintos da lín-
educação formal é transmitida na língua-padrão, elas sentinam, alem d~ trauma
gua-padrão são sistemas muito bem cstruturados'".
de perceber que seu modo de falar era considerado errado, u~a enorme ~Ificulda-
de de processar o que lhes era transmitido. Tal não acon~ecla com. a.s cr~~n7as da Aliás, não é de agora que a escola age dessa maneira. Mas uma simples refle-
classe média ou alta, simplesmente porque, desde o ambiente familiar, ja tmham xão sobre as raízes dos preconceitos nos leva a concluir, com Trudgill (1979), que
sido expostas ao dialeto culto. essa não deve ser uma boa solução. Em primeiro lugar, é extremamente danosa
Essa hipótese parecia ter alguns funda~entos. E se correlacionava com a em termos psicológicos. A linguagem não é simplesmente um meio de transmitir
idéia que Hudson (1984) sintetizou nos seguintes termos: informações, mas é sobretudo um símbolo de identificação do indivíduo com um
determinado grupo social. Sugerir à criança que sua linguagem é inferior é de al-
A desigualdade lingüística pode ser vista não apenas como
uma causa (naturalmente, ao lado de muitos outro~. !ato.res) da guma maneira dizer-lhe que ela e todas as pessoas de seu meio são também inferi-
desigualdade social, mas também como uma consequencta, por- ores. Em segundo lugar, é uma proposta errada em termos sociológicos, porque
parece implicar que certos grupos sociais têm menos valor que outros. E, final-
mente, é errada em termos práticos porque não leva a nada. Nunca se conseguirá,
a menos que a sociedade fosse homogênea, eliminar as diversidades dialetais.
5 Apesar dessa conclusào Labov (1995) informa que o Programa Bridge, aplicado para o processo de esCol?~iZllIÇ~I:
de crianças que falam o inglês negro, foi avaliado em cinco áreas dos Estados Unidos e demonstrou uma sigm ICI!1 I
influência na reduçào do fracasso escolar.
e e sential fallac ofthe verbal deprivation theory lies in tracing the educational.failure ofth~ ehild.t? his p 'I~"
6. I~h fi s . At pr~sent these deficieneies are said to be caused by his home cnvrronmcnt, II 1.5tra(~ltlol1ull() , 7.... linguistic inequality can bc scen as a cause (along with many other factors, of course) of social inequality, but
n~ainea~I~~~~~e~~ilurein sehool by his inadequaey. But when failure re~che~ such massivc proport~ons, II S:C.I1l~ 11111 nlso as a COIISl'I{//l'lIce of it, because language is one ofthe most important faetors by which social inequality is pcrpc-
ncccssary to look at the social and cultural obstacles to lcarning and lhe inubility ofthe school to ndJlI.ll(llhc so 11111 tuatcd from gcncrnuon IOlIclI rntíon (Hudson, 1984: 193).
tuation (Labov, 1984:232).
diulc rs urc highly structurc SYSICI1lS
11. AIlIIlIh'11I I 111"1'1'Ih,1I11I1I1111111""11 (Labov, 19R4:237).
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7.3.2. A avaliação das diferenças dialetais exercer suas atividades, sem optar pela língua considerada de maior prestígio. A
esse respeito há uma recomendação da UNESCO de que o ensino escolar seja fei-
Alguns sociolingüistas sustentam que a escola deve partir para uma avaliação to na língua materna da criança. Eis a justificativa dessa recomendação:
das diferenças dialetais (appreciation of dialect difJerences). Esta opinião pressu-
,É consenso que a língua materna é o melhor meio para se
põe que, se a criança sofre por causa de seu modo de falar, isto é conseqüência das
ensinar uma criança. Psicologicamente, é o sistema de signos
atitudes sociais como um todo e, em particular, do preconceito que os professores
que opera em sua mente de forma automática, para a expres-
manifestam com relação à linguagem dela. Trudgill sentencia:
-> são e compreensão. Sociologicamente, é o meio de identifica-
Se este é o caso, então as atitudes é que devem ser muda- / ção entre os membros da comunidade a que ela pertence.
das, não a linguagem. Em outras palavras, o problema não é de Educacionalmente, ela aprende de maneira mais rápida, se
forma alguma lingüístico". usar a sua própria língua em vez de outra que não lhe seja fami-
liar (UNESCO, 1953: lI)".
A questão que fica no ar é a de saber se, com a simples mudança das atitudes -:
dos professores, as crianças deixariam de fracassar na escola. Ou seja, será que Fasold (1984) pergunta então se é possível oferecer a educação escolar na lín-
isso não seria apenas uma forma de ocultar as verdadeiras causas do fracasso? gua materna de cada criança. E responde categoricamente que não. Argumenta
Pode a escola ter a função de libertadora com a simples mudança de comporta- que algumas regiões são tão diversas lingüisticamente que inviabilizam a reco-
mento dos professores? Se a situação socioeconômica continuar a mesma, sem mendação da UNESCO. Como produzir materiais didáticos e treinar professores
que se mude por exemplo a distribuição de rendas, pode-se esperar algum resulta- ~m centenas de línguas diferentes? Só na Tanzânia há cento e trinta e cinco e na
Aveitoso para o processo de aprendizagem? lndia há cerca de duzentas! '
9. lfthis is the case, then it is the altitudes that should be changed, and not thc language. In othcr words, lhe 1'101111'111
11. I~is ~xio!nalic lha.t lhe bcst medium for leaching a child is his mother tonguc, Psychologically, it is lhe system of
is not really a linguistic onc at all (Trudgill, 1979:20).
me.nl1\11~f.uls~ ns lho I \111115mind works autornatically for exprcssion and undcrstanding. Sociological1y, il is a rncans
of idcutificntinn 11111011" lhe mcmbcrs of'thc community 10 which he bclongs, Educational1y, he lcarns morc quiekly
10. There is no reason to believe that any nonstandard vemacular is in ilsclf an obsta I to ICUll1111(I \hll',
rhrou ih 1Ithun tluun 111111 unfnrnilinr lin uisiic mcdium (ap. Fasolct, 1984:293).
1984:239),
Nas palavras de Lemle (1978:62): obstáculo à comunicação. E, com isso, intuímos que os fatores de ordem s cioe-
Saber mudar de um dialeto para o outro segundo a ocasião conômica ou os preconceitos em geral são bem mais responsáveis pelo fracasso
o exija, essa é a meta do educando. O papel do professor é o de escolar. Nesse sentido, Fasold (1990) esclarece:
tomar consciência das regras tácitas do jogo, e transmiti-Ias ao No momento, parece que as diferenças de linguagem não
educando. são o maior problema na aprendizagem da leitura'".
Quem defende essa hipótese afirma que o ensino da língua materna pouparia E Labov (1984) chegou a essa mesma conclusão, quando estudou a questão
ao aprendiz vários traumas, entre os quais, o de ter rebaixada a sua auto-estima e o do inglês dos negros americanos, afirmando que a causa primária do fracasso edu-
de submeter-se a uma radical metamorfose lingüística, que o separaria de sua fa- cacional não são as diferenças lingüísticas, mas o racismo institucional.
mília e de seu meio social.
Não pensamos assim. Entendemos que nessa proposta há um intuito de mas- 7.3.6. A escola transformadora
carar os preconceitos, e as repercussões subjetivas que ela acarreta podem ser
muito violentas. Ao se transmitir a idéia de que a aprendizagem do dialeto culto é A raiz do problema está, pois, na estrutura da sociedade. E a solução logica-
para que ele seja usado só em certas circunstâncias e ao se especificar quais se- mente só ocorrerá com a mudança das relações de dominação econômica e social.
riam essas circunstâncias, logo a criança perceberá o forte estigma social de que A escola já se tomou consciente de que não dispõe de meios, de que não pode ser
está sendo vítima. É como se lhe afirmassem: "Olha, o teu modo de falar não é er- uma escola redentora, mas deve agora perceber que sempre foi o maior agente
rado, é apenas diferente. Mas tu só deves usá-lo no teu meio, porque não fica bem disseminador dos preconceitos lingüísticos e que, por conseguinte, sempre aju-
falares desse jeito diante de pessoas de uma classe mais elevada que a tua". O que dou na manutenção da estrutura de poder da classe dominante. Agora, o que se
deve ser interpretado pela criança mais ou menos da seguinte forma: "A tia acha quer é uma escola comprometida com a luta pela mudança social.
que eu falo errado porque sou pobre e gente pobre não pode falar desse jeito dian- Queremos finalizar com as seguintes palavras de Magda Soares (1989:73):
te dos ricos".
Uma escola transformadora é, pois, uma escola consciente
de seu papel político na luta contra as desigualdades sociais e
7.3.5. Variações do bidialetalismo econômicas, e que, por isso, assume a função de proporcionar às
camadas populares, através de um ensino eficiente, os instru-
Talvez para minimizar esses efeitos, alguns sociolingüistas têm sugerido mu-
mentos que lhes permitem conquistar mais amplas condições de
danças na proposta do bidialetalismo. Em Fasold (1990), por exemplo, aparecem
participação cultural e política e de reivindicação social.
as seguintes sugestões:
a) as crianças receberiam, numa primeira fase, uma instrução escolar em Entre esses instrumentos, diz ainda Magda Soares, avulta como fundamental
seu próprio dialeto e só depois, gradualmente, passariam a ter contato com o domínio do dialeto de prestígio, cuja aquisição, pelas camadas populares, é o meio
leituras de textos na norma culta; de retirar do controle exclusivo das classes dominantes um de seus principais
b) somente as estruturas que são comuns tanto à língua-padrão como ao dia- instrumentos de dominação e de discriminação.
leto da criança ocorreriam nos primeiros textos de leitura.
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reconstituer le systéme phonétique des parlers portugais des xvr -xvlr siê- COUPLAND, Nikolas & JAWORSKI, Adam (eds.). Sociolinguistics; a rca-
eles. Separata das Actas do Ill Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasi- der. New York: St. Martin's Press, p. 443-63.
leiros. Lisboa, 1:273-91. WOLFRAM, Walt & FASOLD, Ralph W. (1997). Field Methods in the Study of
ROMAINE, Suzanne (1988). Pidgin and Creole Language. New York: Longman. Social Dialects. In: COUPLAND, Nikolas & JAWORSKI, Adam (eds.). Socio-
linguistics; a reader. New York: St. Martin's Press, p. 88-115.
- (1994). Language in Society - An Introduction to Socio-linguistics. Oxford:
Oxford University Press, 1994. 235 p.
SAUSSURE, Ferdinand de (1916). Curso de lingüística geral. São Paulo: Cul-
trix/EDUSP, 1969.
SCHERRE, M. Marta P. (1993). Introdução ao Pacote VARBRUL para mi ro-
computadores. Brasília: UNB. 55 p.
CHAVE DOS EXERCÍCIOS
Exercício I
1a questão - d; 2 questão - (F); (V); (V); (F); (F); 3a questão - d; 4a questão-
3
3
e; 53 questão - c; 6a questão - c; T' questão - b; 8a questão - (3); (4); (5); (1); (2); 9
questão - d; 10 questão - William Bright; competência comunicativa; língua; di-
3
versidade lingüística.
Exercício II
13 questão - (e); (c); (b); (a); (t); (d); 23 questão - a; 33 questão - d; 4a questão
- e; 53 questão - c; 6a questão - sociolingüística; variedades; comunidade; sociais;
linguagem; / macro-sociolingüística; minoritárias; diglossia; pluridialetalismo; /
micro-sociolingüística; lingüísticas; variação; regra
Exercício III
a
13questão - a; 2a questão - b; 3a questão - e; 4a questão - e; 53 questão - b; 6
questão - a; r questão - b; 8a questão - c; 9a questão - b; 10a questão - b
Exercício IV
1a questão - a; 2a questão - b; 3 questão - c; 4a questão - d; 53 questão - c; 6
3 3
Exercício V
1a questão - b; 2a questão - (F); (V); (V); (F); (V); 3a questão - a; 4a questão-
(e); (t); (a); (d); (b); (c); 5a questão - e; 6a questão - e
Exercício VI
1"questão - c; 2 questão - a; 3 questão - d; 4 questão - c; sa questão - b; 6a
3 3 3
Exercício VII
OUTROS LIVROS DO AUTOR
1a questão - e; 2 questão - a; 3a questão - e; 4" questão - d; S" questão - d
3
Teste Cloze
Pronomes pessoais; subsídios para uma gramática do português do Brasil. F r-
taleza: Edições UFC, 1994. 278 p .
... nos ... da ... isolada ... ao processo ... rápido ... do ... unidades ... afeta ...
do ... palavras ... podem ... gama e ... de ... mais que ... desenvolvimento pa- A estillstica. São Paulo: Ática, 1991. 188 p. (Série Fundamentos).
rece ... não ... no porém '" um do .../. .. que possibilidade ... fonética que Morfologia portuguesa. Fortaleza: Edições UFC-PROED, 1986. 220 p. / 3a cd .
... dos da '" Os deveriam ... no '" regular importante ... função ... especula- São Paulo: Pontes, 1991. 220 p.
tivos de que que ... pode ... mediante seja ... a ... nível ... ação ... uma ...
como de toda O silêncio dos sinos (romance). Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto do
Ceará, 1986. 10S p. (Prêmio Governo do Estado do Ceará).
A serra do arco-íris (romance). Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desport d
Ceará, 1982.
Guia de redação. 3a ed. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1982. 120 p. (em
parceria). .
O compromisso literário de Eduardo Campos. Fortaleza: Secretaria de Cultura'
Desporto do Ceará. 1981. 127 p. (Prêmio Governo do Estado do Ceará).
O discurso literário de Moreira Campos. Fortaleza: Edições UFC, 1980. 128 p.
A valsa de Hiroxima (romance). Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desp rt do
Ceará, 1980. 10S p., 2a ed. Imprensa Oficial do Ceará, 1981. 113 p.
O universo mí(s)tico de José Alcides Pinto. Fortaleza: Imprensa Univcrsitáriu,
1979. 127 p.
Etimologias fantasiosas. Fortaleza: Ed. Henriqueta Galeno, 1979.79 p.
Análise e interpretação do texto literário. Fortaleza: Multigráfica Univcrsitáriu.
1974. 143 p.