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Livro Se A Justiça Falasse Helder Fráguas
Livro Se A Justiça Falasse Helder Fráguas
SE A JUSTIÇA FALASSE...
© 2004 Booktree e Helder João Fráguas
Impresso em Portugal
por Impresse 4
PREFÁCIO
Artur Varatojo
CAPÍTULO I
O JUIZ
O tema das escutas telefónicas tem sido muito debatido. Não há quem
falte a defender que este tipo de vigilância deveria ser proibido pura e
simplesmente.
Curiosamente, no tempo da ditadura salazarista, as escutas telefónicas
eram vedadas por lei. Em tribunal nenhum, podia a polícia exibir bobines
de gravações de conversas.
Mas, obviamente, a lei era violada, sem que disso se desse
conhecimento aos juízes. A polícia política, a PIDE, dispunha, no quarto
andar do edifício-sede da Rua António Maria Cardoso, de equipamentos
sofisticados para a época, ligados à estação dos Telefones de Lisboa e
Porto da Trindade.
Os primeiros aparelhos foram oferecidos pelos serviços secretos
franceses e os mais recentes pela CIA, com a contrapartida de a PIDE
efectuar escutas aos telefones da Embaixada de Cuba.
Eram milhares as pessoas que tinham o telefone sob escuta e o facto
não era desconhecido daqueles que se opunham ao regime. Muitas vezes,
as conversas começavam com avisos mútuos entre os interlocutores de
que havia que ter cuidado com o que se dizia. Mas pouco depois, através
de subentendidos e meias palavras, acabavam por falar em assuntos
confidenciais.
Não eram só matérias políticas que ficavam sob a alçada da PIDE.
O Inspector-Adjunto Óscar Cardoso conta um episódio curioso, num
interessante livro que escreveu em parceria com o jornalista Nuno Vasco
(ele próprio preso por aquela força policial).
Um oficial do exército que, segundo as suas próprias palavras, se
encontrava “no Ultramar a lutar pela pátria” deixara a esposa na
metrópole. À falta de cinto de castidade, queria confirmar a sua
fidelidade conjugal. As escutas realizadas pela PIDE deram razão à
desconfiança do militar, que mais tarde veio a comandar a Guarda
Nacional Republicana.
Após o 25 de Abril, o mais natural é que se tenham continuado a
realizar escutas de forma mais ou menos desordenada. A Comissão de
Inquérito às Escutas Telefónicas, então criada, reuniu todos os arquivos
respectivos no Forte de Caxias e, em 1975, declarou que “não se
considera possível que se tenham voltado a fazer, depois do 25 de Abril
de 1974, escutas telefónicas sistemáticas e generalizadas”. Mas tal não
parece muito crível.
Em Portugal, os telemóveis foram introduzidos pela TMN, que
operava na rede analógica. As autoridades não dispunham de
equipamento para realizar as respectivas escutas.
Pouco depois, popularizaram-se os aparelhos GSM e passaram a
funcionar três operadores.
Naturalmente, foram apenas adquiridos dispositivos de escuta para a
rede GSM.
Um pequeno grupo de clientes mantinha-se fiel ao velho telemóvel
analógico, apesar de o tarifário ser muito mais dispendioso. Eram
sobretudo os contrabandistas de tabaco de Setúbal, que, assim, falavam à
vontade sem receio de que as suas comunicações fossem interceptadas.
Em 2000, foi extinta a rede analógica.
Actualmente, as escutas telefónicas obedecem a um rigoroso sistema.
Apenas se podem realizar depois de autorizadas por um juiz e somente
no que toca a alguns crimes. As gravações são geralmente feitas em CD,
que deve ser de imediato levado ao magistrado. Este ordena a transcrição
ou a destruição do disco, consoante tenha sido colhido algo de interesse
ou não. Em princípio, não é possível interceptar as conversas entre o
arguido e o advogado.
COMO DEVE UM JUIZ VESTIR-SE
Parece que a vida não está fácil para quem negoceia em imóveis.
Construtores civis, mediadores e simples particulares que pretendem
vender a sua casinha vêm-se aflitos para arranjar comprador a um preço
razoável.
Quando surge um potencial interessado, não se pode desperdiçar a
oportunidade.
Há quem tire partido desta ânsia de vender mais um andar, para dar
uma golpada.
Um grupo de pessoas do norte do país anda a percorrer o país,
exercendo uma actividade muito lucrativa. O patriarca controla tudo.
Chegam a uma localidade e fazem uma pesquisa em busca de prédios
novos, com andares à venda.
Quando encontram um edifício com um bom número de apartamentos
ainda por transaccionar, um dos elementos do grupo dirige-se ao
construtor. Mas, curiosamente, esse testa-de-ferro não é da família dos
restantes.
Pede para ver o imóvel e diz ter um primo distante, que é emigrante.
Esse seu parente tem uns dinheiritos, pelo que estará interessado em
adquirir uma das fracções autónomas de imediato, oferecendo um bom
sinal de 50000 euros, ou sejam, dez mil contos. A condição é que a chave
seja imediatamente entregue, ainda antes da escritura, sendo certo que o
remanescente será pago a pronto no prazo de 180 dias.
É logo ali assinado o contrato-promessa. O interessado age como
procurador do seu familiar, entrega o sinal e recebe a chave.
No dia seguinte, o andar é invadido por uma família numerosa, de três
gerações. Dia e noite fazem uma barulheira infernal, gritando e ouvindo
música num volume altíssimo. As crianças são ensinadas a irem urinar à
varanda, em direcção à rua. Conspurcam os elevadores e espalham sacos
de lixo pelos patamares. A entrada do prédio fica num estado lastimável.
Mas quando se empenham mais é nos momentos em que o vendedor
vai mostrar os andares disponíveis a eventuais interessados. Dão ao
máximo nas vistas, fazem ruídos infernais e esforçam-se por demonstrar
que serão vizinhos complicadíssimos. Quem é que desejaria comprar um
andar naquele prédio, por mais baixo que fosse o preço?
O construtor, que anda a pagar juros ao banco e está absolutamente
necessitado de obter algum dinheiro, começa a aperceber-se que não vai
conseguir vender os seus andares.
A única solução é correr com aquela família dali.
Eles não se importam de sair, mas exigem o estrito cumprimento da
lei. Quem falha com o contrato-promessa, é obrigado a devolver o sinal
em dobro. O dono do prédio está disposto a tudo e entrega-lhes os vinte
mil contos.
Assim se embolsam dez mil contos. Resta partir para outra cidade,
onde o esquema ainda não seja conhecido e facturar mais algum.
Não é fácil deitar a mão a estes engenhosos artistas.
RIQUEZA SEM TRABALHO
Um juiz colega meu manifestou, certa vez, uma opinião sobre a qual
vale a pena reflectir.
Dizia ele:
- As garantias conferidas ao arguido são importantíssimas. Por vezes,
valem tanto ou mais do que as próprias leis que estabelecem as sanções a
aplicar nos diversos tipos de crimes. A nós choca-nos muito mais a
execução de um condenado na China, após um julgamento sumário, do
que a pena de morte nos Estados Unidos da América. Aí, o arguido tem
todas as hipóteses de se defender e interpor os mais diversos recursos.
Estava-se numa conferência pública.
Uma professora de Direito Criminal disse logo discordar. Afirmou que
a aplicação da pena de morte era tão chocante na China como na
América.
Eu tendo a concordar com esta segunda posição. Sou opositor e ponto
final.
Mas reconheço que pouco sei sobre o que se passa nestes dois países,
em matéria penal.
Já li algumas obras sobre Direito Penal Chinês. Uma delas foi redigida
pelo Procurador Júlio Pereira. É o maior especialista português na
matéria. Fala e escreve fluentemente chinês. Nesse livro, desmistifica
alguns temas. Segundo ele, é falso que a família do condenado à morte
seja obrigada a pagar a bala com que o mesmo é executado.
Conheço casos ocorridos recentemente, nos Estados Unidos, que
deixam muitas dúvidas, como por exemplo o de Tommy Zeigler. Um dia
falarei desse assunto.
Todavia, admito que, na América, muito se terá evoluído em matéria
de garantias processuais dos acusados.
Longe vão os tempos do juiz Roy Bean. Este famoso profissional
forense nasceu em 1827 e veio a falecer em 1903, quando ainda exercia a
magistratura.
Ele começou por ser contrabandista.
Mas, em 1882, descobriu um negócio melhor. Mudou-se para o Texas,
numa área ocupada por operários que construíam a linha férrea.
Montou uma casa de madeira e baptizou a povoação com o nome de
Langtry. É que ele tinha uma paixão pela cantora Lilly Langtry. O
sentimento não era correspondido.
Nas suas instalações, o homem abriu um saloon. A venda de cigarros e
bebidas alcoólicas era próspera.
Sucede que Roy Bean possuía um livro: “Os Estatutos Revistos do
Texas”. Era a compilação das leis ali vigentes. Portanto, proclamou-se
juiz da “Lei a Oeste de Pecos”, uma ribeira situada ali perto. A posse
formal chegou a realizar-se com a sua eleição como juiz de paz.
Num raio de mais de quatrocentos quilómetros, exercia a sua
jurisdição.
Condenou milhares de pessoas à forca, a maior parte das quais ladrões
de gado e de cavalos.
Os julgamentos realizavam-se no próprio saloon de Roy Bean.
Centenas de pessoas assistiam ao julgamento. Para estabelecer a ordem,
o magistrado não usava um martelo, mas sim o colt do seu revólver. A
sentença dependia, em grande medida, do consumo efectuado pelos
amigos do arguido.
Para crimes menos graves, o juiz aplicava multas. A maior parte da
quantia revertia para os seus próprios bolsos.
Há um conhecido episódio tragicómico. O desgraçado de um operário
morreu, ao cair de uma altura de noventa metros. Roy Bean foi investigar
o caso. Revistou a roupa do cadáver. Encontrou um revólver e quarenta
dólares. Decidiu então julgar o morto. Considerou-o culpado de trazer
uma arma dissimulada e condenou-o ao pagamento de uma multa de
quarenta dólares.
Este magistrado tornou-se numa figura lendária do Far West. Por três
vezes, foi levado ao cinema. No domínio da ficção, Lucky Luke, o
cowboy solitário da banda desenhada, encontrou-se com Roy Bean, na
história “Le Juge”.
OS FUTUROS JUÍZES
O ADVOGADO
OUTROS CASOS
“Torpíssimo Acusador
Nesta causa que renego,
De testemunha de vista
Até me trazes um cego!”
Já vai longa esta prosa... Por isso, só descrevo mais um caso, este
ocorrido no velho Tribunal de Sintra, mourisco e turístico. Antes do
julgamento que ali me levara, havia um outro em que o réu era acusado
de injúrias ao então Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar.
Acusação grave, na época. Segundo os autos, o réu entrara na sede da
Associação dos Ferroviários da Linha de Sintra, em Mem Martins, onde
a televisão emitia um dos raros discursos do Chefe do Governo. Da
acusação constava que ele teria então dito, em alta voz, “estás aí, meu
bandido”, ou coisa semelhante. Saíra e passado pouco tempo, regressaria
dizendo “ainda aí estás, meu bandido?”. Estas expressões tinham
impressionado o denunciante, evidentemente informador da PIDE, que se
apressou a participar tão nefanda actuação, que teria de ser apreciada em
juízo.
O Juiz Dr. Barros de Sequeira, com quem me dava muito bem e veio
depois a ser Chefe de Gabinete de meu Pai na sua efémera passagem pela
Presidência do 1º Governo Provisório, ao ver-me na sala disse que eu
seria o indicado para a defesa oficiosa do réu. E o julgamento não
poderia ter corrido melhor. Aconselhei-o a manter-se em silêncio e
interroguei o denunciante, que era a peça chave duma acusação que
incomodava toda a gente. Limitei-me a perguntar-lhe se havia muitos
espectadores na sala da televisão, ao que respondeu que sim. Depois, se o
réu tinha pessoalizado o destinatário das frases. Respondeu que dissera
apenas o que constava dos autos. Então, conclui, sofisticamente, que
quem injuriava o senhor Presidente do Conselho era ele próprio, uma vez
que entendia que uma expressão ofensiva não direccionada e proferida na
presença duma pluralidade de pessoas só podia ter em vista o Dr.
Oliveira Salazar.
O Ministério Público e o Juiz inseriram-se nesta argumentação, que
obtinha um manifesto apoio de todos os circunstantes e o Réu, algo
atónito, saiu gloriosamente absolvido, enquanto que o denunciante se
perguntaria, provavelmente, se o seu insucesso como “bufo” não viria a
ser-lhe penalizante.
Não hesito em afirmar que Luís Laureano Santos foi o meu primeiro
Mestre de Introdução ao Direito.
Eu tinha dezasseis anos de idade. Não era sequer aprendiz da matéria.
Considerava-me um curioso pelo mundo das leis, há muito determinado
em ingressar na Faculdade de Direito.
Os ensinamentos de Laureano Santos vinham através da televisão.
Ele era já um advogado de renome. Tornara-se conhecido não só pela
extrema habilidade na barra dos tribunais, em defesa dos seus clientes.
As suas frequentes aparições televisivas e o modo como se exprimia de
forma tão clara e didáctica tornaram-no extremamente popular.
Júlio Isidro convidou-o para organizar uma rubrica semanal,
integrada num programa de grande audiência: “Festa é Festa”.
Simulava-se um julgamento. Duas partes em litígio colocavam-se
perante um juiz. Cada um deles esgrimia os seus argumentos. No final,
era proferida a sentença, determinando quem tinha razão. Laureano
Santos explicava tudo de maneira acessível a qualquer leigo.
O formato era semelhante ao posteriormente adoptado pelo programa
“O Juiz Decide”, conduzido com grande êxito pelo Juiz Desembargador
Ricardo da Velha.
Luís Laureano Santos ocupou o cargo de Vice-Presidente da Ordem
dos Advogados.
É palestrante e conferencista de renome.
Conta-nos um episódio repleto de humor. No meio, surge uma
situação que não é assim tão rara nas audiências de julgamento.
Tal como sucede nas salas de cinema, há quem não resista aos
poderes de Morfeu em pleno tribunal.
Certa vez, eu tive de interromper uma audiência. De modo muito
educado e discreto, o procurador informou-me que necessitava de se
aliviar.
Noutra ocasião, tinha à minha frente seis arguidos, todos da mesma
família. O julgamento foi, naturalmente, longo. A dada altura,
inesperadamente, um deles, já de idade, decidiu levantar-se. Dirigia-se à
porta de saída. Perguntei-lhe onde ia. A resposta veio da esposa,
sentada no banco dos réus:
- Tem de ir ao urinol. É que senão ele faz mesmo aqui.
Na assistência, a contenção dos risos foi difícil.
O caso de Laureano Santos ocorreu no tribunal militar, em ambiente
austero.
O estalo
Corriam, já adiantados, os tempos do PREC (os do Processo
Revolucionário Em Curso). Tão adiantados que, depois de um período
em que valeu quase tudo, já era então possível instruir e levar a
julgamento processos de natureza criminal contra alguns protagonistas
do mesmo PREC, em razão de excessos no exercício de funções.
Um desses excessos traduziu-se em busca e apreensão manifestamente
ilegais, com danificação e destruição de património num hotel de Lisboa,
tendo ficado lesado um cidadão estrangeiro.
Talvez por isso, por ser estrangeiro, o cidadão achou por bem ter a
ousadia de se queixar, o que não era fácil nesses tempos. E fez bem,
porque o processo chegou a julgamento. Em tribunal militar, pois claro,
porque a queixa fora apresentada contra dois oficiais, um muito
conhecido como comandante do PREC e que ordenara a operação (ou
talvez não, o julgamento logo diria) e outro, por sinal de patente superior
ao primeiro - a hierarquia, durante o PREC, ganhou lógica própria -, que
comandara, por ordem do primeiro (ou talvez não) a respectiva execução.
O tribunal militar, ou melhor, aquele tribunal militar, não estava
instalado em Santa Clara. Funcionava num segundo andar de um edifício
um pouco mais abaixo, para os lados do Tejo. Sala comprida mas
apertada, com acusação e defesa separadas por escassos dois ou três
metros, frente a frente. O banco dos réus (então os arguidos eram réus)
era ao fundo, logo a seguir às bancadas de acusação e defesa, estando os
lugares reservados aos membros do tribunal no lado oposto, a nível
ligeiramente superior.
O anúncio do julgamento dera algum brado na comunicação social.
Quando se iniciou audiência, sala cheia e muitos jornalistas, assumiu-se
um ambiente de evidente tensão e circunstância.
Como advogado do Assistente, ao lado do Promotor (não a par: um
estrado, também ali, separava ambos por alguns centímetros de altura)
estava o autor destas linhas, representando o cidadão estrangeiro
pretensamente lesado. Na defesa, dois ilustres advogados, um deles
particularmente conhecido, com histórico de grandes e reconhecidamente
meritórias intervenções cívicas.
Cabe aqui dizer que este último Colega, Dr. X..., era (era, porque a lei
da vida já o levou) uma pessoa encantadora e profundamente solidária.
Com um senão: facilmente irascível, quando se irritava tendia a querer
levar tudo à sua frente e a tudo querer esmagar com o que lhe parecia ser
a força da sua razão. À irascibilidade somava uma voz grave, possante,
daquelas que, baixinho, mesmo tão só a esboçar um segredo, se ouvem
ao fundo das salas. Até sem querer. E tinha uma outra característica: era
frequente, sem alheamento, adormecer tranquilo em qualquer lado,
mesmo em circunstâncias menos informais.
A sessão iniciou-se com os rituais do processo. Passando por libelo e
contestações, ouviram-se os réus e passou-se à inquirição das
testemunhas. Pelo meio algumas picardias leves entre acusação e defesa,
ou melhor, entre o advogado do Assistente e o seu colega Dr. X..., da voz
possante.
A certo passo, o advogado do Assistente entendeu ser altura de
formular um requerimento. Concedida a palavra, ditou para a acta. E foi
manifesto o incómodo que o que estava a ser dito causava à defesa.
O advogado Dr. X..., num sussurro irritado e incontido, segredou,
baixinho, baixinho, para o Colega que estava a seu lado: “ainda dou dois
pares de estalos a este tipo”.
O vozeirão, baixinho, baixinho, ouviu-se praticamente em toda a sala.
Ouviu o advogado que estava a ditar... ouviu o Promotor... ouviram os
membros do tribunal... e ouviu, aí talvez menos bem, uma parte da
assistência. O Advogado no uso da palavra parou. Fez pausa e fixou o
Colega à sua frente. Criou expectativa, respirou fundo e interpelou o
Secretário do tribunal: “quer fazer o favor de me ler o último
parágrafo?”. O secretário leu. O advogado do Assistente continuou:
“exactamente a seguir à última palavra que escreveu ponha um traço.
Sim, um traço. E a seguir ao traço escreva: e embora correndo o risco
de levar dois pares de estalos, já anunciados, do Colega Dr. X... que
representa o Réu F...., novo traço, requer o que antes tinha em mente
requerer e que era....”.
O ambiente desconcertou-se, entre sorrisos de conveniência. O do
Colega Dr. X..., porventura a dar para o amarelo esbatido, mas ainda
assim um sorriso.
Continuou o julgamento.
Com o correr do tempo pela tarde fora, testemunha atrás de
testemunha, aconteceu o inevitável: o Dr. X...., em plena audiência de
julgamento... adormeceu. Mão a apoiar o queixo, cotovelo assente na
bancada, cara voltada para os réus (e, assim em disfarce, para o lado
oposto ao da bancada dos Juízes), nada o atraiçoaria se não fosse...
também ressonar.
Todos fizeram de conta não dar importância de maior ao embaraço.
Estatuto é estatuto e o Dr. X... merecia, justamente, consideração e
estima de toda a gente.
O advogado do Assistente interrogava uma testemunha. O depoimento
decorria pacificamente.
Com naturalidade o advogado levantou-se para exibir um documento
do processo e parou encostado à bancada de defesa, atrás da qual o Dr.
X... passava pelas brasas.
De súbito, sem mais aquelas, de mão aberta – PAM! -, deu uma
tremenda palmada na bancada da defesa e, virado para a testemunha (de
costas para o Dr. X ...) elevou a voz e disse, com quase gritada
indignação: “isso não é verdade!”
A testemunha apanhou um susto, por nada ter dito que pudesse ter
provocado tamanha reacção. Mas o Dr. X...., despertado pela sonora
palmada na bancada e pela agitação do braço que nesta se apoiava, deu
um salto – mas que salto! - e despertou, olhos abertos, balbuciando
qualquer coisa que nem ele percebeu o que era.
“Meu colega” – disse o advogado do Assistente, afastando-se da
bancada – “desculpe ter perturbado o que sonha de sua justiça....”.
Os sorrisos desdobraram-se e o tribunal achou por bem fazer um
intervalo na audiência. Que todos aproveitaram para, em conjunto,
tomarem o café que era praxe estar disponível nos tribunais militares.
Pelo caminho alguém disse: “...tenha paciência, mas não pode
provocar-me desta maneira!”. E em resposta, uma voz tranquila: “...
provocar, eu!? Vamos mas é ao cafezinho, p’ra tirar o sono...”.
LUÍSA NOVO VAZ
Graciana e o desgosto
Ouviu o seu nome gritado no átrio entre um rumor de vozes.
Respondeu “presente”, levantando timidamente a mão. Como se ainda
andasse na escola e não tivessem passado trinta anos sobre a sua vida.
A funcionária continuou a chamada. O átrio foi-se esvaziando de gente
e de vozes e Graciana, ali, pregada à parede como um retrato. A preto e
branco.
A funcionária perguntou:
- A senhora é testemunha?
- Sou a viúva.
- Não lhe perguntei o estado civil.
Graciana respondeu que estava ali por causa da audiência da morte do
marido, que não vira o acidente, que...
Levou-a para uma sala e disse-lhe:
- Sente-se aí – apontou-lhe um banco corrido - e levante-se quando
entrar o juiz.
Graciana nunca tinha visto um juiz ao vivo e decidiu, à cautela, ficar
de pé. Olhou para a advogada que lhe sorriu, não percebendo que os
olhos dela gritavam por socorro. Falavam entre si, os advogados.
Era cedo ainda, não lembra a hora, mas lembra-se de ter lavado um
tanque de roupa, de ter feito o almoço para o marido levar para a fábrica,
de ter dado de comer às galinhas e ao cão, de ter feito as camas. As
miúdas estavam na cozinha a tomar o pequeno almoço feito de pão e de
uma água de cevada. Só.
Foi o patrão que lhe trouxe a notícia.
- Houve um acidente. O Honório pegou na carrinha e caiu pela
ribanceira abaixo. Não lhe pude valer. Uma desgraça.
Graciana olhou para o cão, deitado ao seu lado, com o focinho entre as
patas.
- Aquela mania de querer ser motorista - desculpava-se o patrão -
matou-o.
A voz parecia-lhe longe. Mania, essa e muitas outras. Ali, na sua
frente, a notícia de Honório. Um torpor a subir-lhe o corpo e um silêncio
a tomar conta da casa. Graciana poucos filmes tinha visto na sua vida.
Sem saber explicar, via-se numa cena de filme, cuja fita, de repente,
encravara.
- Levantem-se!
Todos se levantaram. O filme recomeçar, agora com outro registo. Era
alto, o juiz - pensou Graciana. Podem sentar-se. E todos se sentaram.
Vieram as testemunhas, uma a uma. O Ribeiro, colega de Honório,
disse que o falecido pegou na carrinha com ordem do patrão. O Mendes
não viu nada, o Guerreiro, polícia reformado, viu o veículo estatelar-se
contra o penedo no fundo da ravina, a Fernanda sabia da paixão do
Honório por automóveis. Joaquim garantiu ao tribunal que Honório tinha
prática na condução, que os travões da carrinha é que eram fracos. E
disse da sua razão de ciência: era o mecânico da empresa.
Graciana olhava a pintura que estava por detrás do juiz: Moisés, o seu
povo e as doze tábuas da lei. Lembrou-se do livro da doutrina que tinha
uma imagem parecida.
A advogada alegava no processo que Graciana e Honório se davam
bem, eram felizes um com o outro. Que era imenso o desgosto de
Graciana com a morte do marido e incerto agora o futuro económico da
família.
Passou-se à fase da inquirição das vizinhas que vinham depor a essa
matéria, de prova fácil, claro.
- Davam-se bem a Graciana e o Honório? Era amigo dela
e das filhas?- perguntou a advogada.
- A senhora doutora acha que aquilo era dar-se bem? Uma mulher
apanhar desde que se levanta até que se deita? Com o que ele tivesse à
mão? Acha?
- Lá teriam os seus desentendimentos... como é natural...
- Olhe, senhora doutora, chame-lhe o que quiser. Pois o que tenho a
dizer - a testemunha virou -se para o juiz - é que , no dia da morte, o
desgraçado atirou-a contra a parede, chamou-lhe nomes que eu não digo
diante de V. Exª e que se não fosse o meu homem ir lá acudir quem
estava agora no cemitério era ela. Aquilo foi sempre uma pouca
vergonha.
- Mudemos de assunto. Apesar de tudo, ele era o sustento da família,
não era?
A testemunha deu uma gargalhada A oficial de justiça fez-lhe sinal. O
juiz, lá no alto, ouvia.
- Gastava tudo em vinho. A coitada da mulher ainda tinha que lhe dar
do pouco que ganhava "ao jornal" para o tabaco.
A advogada deu por findo o interrogatório. Entrou outra testemunha.
- Parece que eles não se dariam lá muito bem, que teriam os seus
desentendimentos... apesar de tudo isso, Graciana sofreu desgosto com a
morte do marido, não sofreu?
- Isso de sentimentos cada um sabe de si, mas que agora ela está num
céu isso está. Olhe, senhora doutora, ela está agora muito melhor, ela e as
filhinhas. O Honório não lhes fez falta nenhuma.
Foi então que o juiz olhou para Graciana: serena, longe dali.
AGUIAR PEREIRA
Negócios na cadeia
Na zona da floresta central e albufeiras, onde, apesar dos incêndios,
sempre existiu uma das mais extensas manchas florestais de pinheiro da
Europa, florescem também, como é normal, os negócios relacionados
com as transacções de madeira.
Nem sempre claros.
Fernando, madeireiro, de profissão e de sobrenome dela derivado,
homem corpulento e figura típica na região e na profissão, acabara, por
causa de negócios mal conduzidos ou demasiado ambiciosos, por ir parar
à prisão.
Mário, sem profissão conhecida – para além de “empresário” de vários
ramos – era homem de muitos e variados expedientes que singrara na
vida à custa de um bom casamento e de alguns negócios bem sucedidos.
Perante a proximidade da adesão do país à União Europeia e com o
auxílio de um gerente bancário amigo, Mário decidiu fazer um
investimento vultuoso na construção de uma fábrica de transformação de
cobre.
Mundos e fundos são fáceis de remover para quem se apresenta como
pessoa séria e sabe aproveitar os entusiasmos alheios. Os fundos
necessários à construção da fábrica chegaram.
Mas como a situação financeira de Mário era já então muito precária,
da fábrica só o projecto se viu.
Os fundos não chegaram para pagar os muitos e avultados cheques
devolvidos pelos bancos e cujos portadores batiam já à sua porta.
De tal sorte – ou falta dela – que Mário acabou por ir parar à mesma
prisão em que estava o Fernando, madeireiro da região do pinhal.
Antes de ser preso Fernando orientara pessoalmente o corte e
preparação para queima de madeira de oliveira e sobreiro que tinha
adquirido.
À falta de melhor local, a madeira ficou depositada numa sua
propriedade, ao ar livre, à beira de um caminho, por sinal próximo do
local para onde estava projectada a construção da fábrica de
transformação do cobre.
Na cadeia, Mário foi ganhando a confiança dos restantes reclusos, a
que não era certamente estranho o estatuto social de que gozava
anteriormente à sua prisão. Gradualmente foi também ganhando a
confiança dos guardas prisionais e do Director da prisão.
Com boas maneiras, afável e parecendo permanentemente disposto a
ajudar a resolver qualquer problema, cedo se tornou uma espécie de
consultor comunitário daquele pequeno estabelecimento prisional.
Estávamos à beira do Inverno.
O Estabelecimento Prisional dispunha de uma caldeira para
aquecimento alimentada a gasóleo mas as habituais dificuldades
orçamentais impediam o funcionamento desse equipamento.
A alternativa, logo sugerida pelo recluso Mário ao chefe dos guardas,
era a de comprar lenha, mais barata e fácil de encontrar na região na
quantidade suficiente para aquecer as salas de convívio.
Aliás, ele próprio tinha lenha de oliveira e sobreiro, seca e pronta a
utilizar, que se dispunha a vender, a preço amigo, ao Estabelecimento
Prisional.
O Director do Estabelecimento Prisional concordou, agradecendo tão
providencial colaboração.
Depois de terem sido tomadas as necessárias medidas de segurança, o
próprio Mário se dirigiu, acompanhado pelo Director e por cinco guardas
prisionais, ao exacto local onde se encontrava a lenha por ele vendida ao
Estabelecimento Prisional.
A lenha foi carregada pelos guardas prisionais e transportada até à
cadeia.
Até aqui a mais perfeita normalidade.
Na cadeia foi pedida a colaboração de vários reclusos para descarregar
e guardar a lenha.
Fernando, madeireiro, saudoso do cheiro e do toque da madeira
dispôs-se a ajudar.
Porém, ao avistar a lenha susteve o gesto e disse, sinceramente
surpreendido: “Mas... mas esta lenha é minha!!!!”
Mário viria a ser julgado, além do mais, pelo crime de furto da lenha
que vendeu ao Director da Prisão em que aguardava julgamento.
JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA
Os azares de Custódio
Os azares que vou contar, à parte o nome da personagem que não é
verdadeira, como é de norma, tudo o resto, para se descobrir a verdade,
deve ser multiplicado por dez. Também é das normas que o nome
utilizado seja o mais vulgar, Zé ou da Silva. Dado que Zé é um nome
nacional, preferi utilizar outro menos conhecido, no caso Custódio. Fica-
se a saber, portanto, que o nome Custódio não corresponde à verdade,
sendo-o todo o resto da história, melhor a verdadeira história está nove
décimos além do que fica escrito. Isto para que a aritmética fique certa.
A escolha do nome também não foi inocente. Trata-se de uma
homenagem a um Colega de trabalho, quando fui manga-de-alpaca
contrafeito e que quando chegou da guerra do Ultramar, porque
entretanto tinham chegado outros, antes do 25 de Abril, foi despedido
porque não havia lugar para ele. Isto embora a lei da altura dissesse que
os mancebos que fossem defender a pátria em terras que não eram deles
tinham que ser reintegrados nos seus postos de trabalho. A solução, na
altura, era fácil. O mancebo era admitido no seu posto de trabalho por
uma ou duas semanas e depois era despedido. Sem processo disciplinar.
A história dos processos disciplinares é uma moda que vem mais tarde.
Contemos a história do Custódio que o não é. Custódio, na sua
juventude, era conhecido como “pacífico”. Incapaz de participar numa
disputa, ainda que fosse para defender os seus interesses. Em situação de
conflito preferia sempre dar o que era dele do que discutir com alguém.
Uma boa alma, como se costuma dizer. Quase ingénuo, trabalhador,
amigo da família. Natural do Norte. Franzino, mas rijo. Experimentou
quase todas as profissões. Até fotógrafo para o que possui um jeito muito
especial. Está relacionado com a sua sensibilidade.
Um dia, depois de ter feito a tropa, estava num café e alguns
desconhecidos envolveram-se numa acalorada discussão que acabou com
uns copos e umas cadeiras partidas. Custódio, o pacífico, amigo de toda a
gente, resolve intervir. Desaparta-os. A custo consegue acabar com a
contenda. Como é óbvio o dono do estabelecimento não gostou dos
estragos e chamou a autoridade. Quando os beligerantes pressentem a
chegada da autoridade dão às de vila Diogo, fogem. O dono do
estabelecimento relaciona o bom do Custódio com os maus que lhe
causaram estragos e aquele é indiciado como co-autor do crime de dano.
O auto é levantado e o processo corre o seu curso.
Custódio, o bom, mais tarde, porque as coisas não estavam bem por cá,
como agora, resolve emigrar para a Suiça. Parte sem problemas.
Esquece-se do processo, quem não deve não t(r)eme. Na Suiça, a mãe
um dia escreve-lhe e diz-lhe que há um problema qualquer com o
Tribunal. Tem de pagar uma indemnização, embora lhe tenham dito, à
mãe, que não era nada de importância. O Custódio pacífico diz à mãe
que não tem nada a ver com o Tribunal. Pergunta-lhe quanto é que “eles”
querem. A mãe informa-o. O Custódio faz contas. Não deve nada a
ninguém, primeiro. Porém, há o custo das passagens e a possibilidade de
perder o emprego quando regressar da viagem a Portugal. A
“indemnização” é menor do que o preço das passagens. Pondera. É uma
injustiça. Estão a aproveitar-se dele. Tem de decidir. Decide. Resolve,
contrafeito, pagar a quantia que sente que lhe é extorquida. Acontece
que o Custódio, sem saber, é julgado à revelia, ou seja pensou que
pagando a “indemnização” tudo seria arquivado. Não foi, quer dizer, o
Custódio, o pacífico deixou de o ser, quer dizer passou a ter cadastro, à
revelia, é verdade. Uma pequena coisa, que se transformaria numa
desgraça. Anos depois, essa “pequena coisa” haveria de ajudá-lo a levá-
lo à cadeia. Como? Um azar nunca vem só.
Custódio, o pacífico, que sem saber já não o era, regressou a Portugal.
Jovem, com iniciativa, facilmente consegue encontrar emprego. Deita a
mão a qualquer coisa. Continua para seu bem e mal a ser o ingénuo,
desfasado do mundo cão. Custódio além de ser pacífico por natureza é
extremamente religioso. Aberto, é verdade, mas um verdadeiro crente em
Deus. É católico dos que vão à missa e não se esquecem dos sermões e
da prática entre segunda-feira e sábado. Pratica efectivamente.
Possuidor de todas as qualidades que vão rareando nos mortais, o
Custódio foi convidado por um senhor dizendo-se industrial de carnes
para seu empregado. Custódio pacífico aceita. O patrão, pessoa
“honesta”, convence o Custódio a abrirem uma conta em conjunto
porque em caso de necessidade também poderia assinar cheques.
Custódio não vê nada de mal no assunto, antes pelo contrário, era uma
prova de confiança do patrão.
A conta é aberta. “Por acaso” o Custódio nunca chega a ter em seu
poder nenhum cheque. O patrão, um belo dia, desaparece da circulação.
O Custódio que confia em todos é forçado a mudar de ares. Parte para o
Sul, do outro lado do rio Tejo. Facilmente encontra outro emprego. É
dinâmico, tem iniciativa. Começam os azares de Custódio.
Tem um irmão e uma irmã que adora. Adora os sobrinhos, adora a
mulher. Todos gostam do Custódio. Fatidicamente o irmão do Custódio
sofre um acidente de trabalho e falece em circunstâncias trágicas. Deixa
mulher e dois filhos menores adoráveis. O Custódio não suporta a morte
do irmão e entra em profundo estado depressivo. Perde a combatividade,
a alegria, a força de vencer. Começa a ficar afectado psicologicamente.
Além dos dois sobrinhos, filhos do irmão tragicamente falecido, tem
outro sobrinho filho da irmã por quem tem uma predilecção muito
especial. Custódio não tem filhos, de modo que os filhos dos seus irmãos
são os seus filhos. Ainda o cadáver do irmão estava quente, recebe outra
notícia não menos trágica. O filho da irmã teve um acidente de
motorizada e ficou em estado de coma. Espera-se o pior. Custódio, esse
coração bom, não aguenta mais esta tragédia, com uma agravante. Fora
ele, Custódio que oferecera a motorizada ao sobrinho em estado de coma
em consequência do acidente. Moralmente sente-se culpado do
acontecido. Se o sobrinho viesse a falecer ou ficasse inválido teria sido
ele o responsável.
Custódio vive dias de angústia e de sofrimento moral. É neste quadro
que um dia é notificado por outro Tribunal com a acusação de ter
passado cheques sem cobertura de elevado montante. A pena, em
abstracto, antes da condenação seria elevada e como tal promovia-se a
sua prisão. Os cheques tinham sido passados pelo seu “amigo” patrão
industrial de carnes, o qual, para o efeito, falsificara a assinatura do
Custódio. A tragédia não iria ficar por aqui. A sua depressão psicológica
aumenta.
O bom do Custódio, sem culpa, é agrilhoado na cadeia de Setúbal
durante alguns meses. Atormentado decide separar-se da vida. Um dia o
seu amigo Luís, amigo do seu amigo, entretanto falecido, pede a um
advogado para tomar conta do caso. Este aceita. O julgamento dos
cheques falsificados e sem provisão é feito na linda terra de Ovar. A
assistência é muita. Custódio, humilde e digno, revela em público toda a
sua destroçada vida. A emoção percorre a sala do Tribunal. O queixoso,
como é óbvio, não reconhece o arguido Custódio. O povo percebe que há
um inocente sentado no banco dos réus. Soluços incontidos perturbam o
ambiente tenso. Uma onda de solidariedade espalha-se em redor do
Custódio. As alegações do advogado acolhem o sentimento colectivo. O
Tribunal reage e interrompe a audiência, retirando-se para conferenciar.
Dez minutos depois o Colectivo profere o veredicto, o Custódio pode ir
em paz como um homem livre, devolvendo-lhe a vida que fora
injustamente aprisionada.
MIGUEL REIS
Prefácio .............................................................................................................. 3
CAPÍTULO I – O JUIZ
Prólogo ............................................................................................................... 4
CAPÍTULO II – O ADVOGADO
Prólogo ........................................................................................................... 106