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Milena Fontoura dos Santos

Paulo Sydney Dalla Corte

Direito Processual Penal II

06 de abril de 2023.

Atividade Semipresencial: Realize um resumo do livro- As misérias do processo penal.

Contextualize com o atual cenário do processo penal constitucional

O processo penal é a pedra de toque da civilidade não apenas porque o delito, de diferentes

maneiras e em diferentes intensidades, é o drama da inimizade e da discórdia, mas porque ele

representa a relação que se desenvolve entre quem o comete, ou se supõe que o comete, e

aqueles que assistem à sua perpetração. No entanto, é o que ocorre, nove a cada dez vezes, no

processo penal.

Na melhor das hipóteses, os acusados, encerrados em jaulas como os animais no jardim

zoológico, assemelham-se a seres humanos fictícios, não verdadeiros.

A toga, assim como o traje militar, desune e une, ela separa os magistrados e advogados dos

leigos para uni-los entre si. O juiz, como se sabe, não é sempre um homem só. No entanto,

dizemos “juiz” também quando os juízes são mais de um, precisamente, porque se unem uns aos

outros, assim como as notas emitidas por um instrumento musical se fundem nos acordes.

Dir-se-ia que, se toda é um símbolo de autoridade, eles não deveriam usá-la.

No processo, é necessário fazer a guerra para garantir a paz.

Aparentemente, eles estão divididos, mas na realidade estão unidos, no esforço que cada um

realiza para alcançar a justiça.


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São cada vez mais raros os juízes que usam da severidade necessária para reprimir tal desordem.

Para mim, o mais pobre de todos os pobres é o preso, ou encarcerado.

Quidquid latet apparebit, repete ele: tudo o que está oculto será revelado.

Basta tratar o delinquente como um ser humano, e não como besta, para se descobrir nele a

chama incerta do pavio fumegante que a pena, em vez de extinguir, deve reavivar.

Cada um de nós é prisioneiro, na medida em que está encerrado em si mesmo, na solidão do seu

eu e no amor próprio.

O delito não é senão uma explosão do egoísmo. O outro não conta; o que conta é apenas o eu.

Somente quando se abre para os outros, o homem sai da prisão.

As pessoas não sabem, nem o sabem os juristas, que o que se pede ao advogado é a esmola da

amizade, mais do que qualquer outra coisa.

A inimizade ocasiona um sofrimento ou, pelo menos, um dano comparável ao de certos males

que, quando não revelados pela dor, minam o organismo.

Algumas vezes, nas causas mais graves, parece que o mundo inteiro está contra ele.

É necessário se colocar no lugar dos acusados, para compreender a sua espantosa solidão e a sua

consequente necessidade de companhia.

Em conclusão, é necessário submeter o juízo próprio ao alheio, ainda quando tudo faz crer que

não há razão para se atribuir a outro uma maior capacidade de julgar.

A poesia é algo que um advogado sente em dois momentos de sua carreira: quando veste pela

primeira vez a toga e quando, se ainda não se aposentou, está para aposentá-la – na alvorada e no

crepúsculo.
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Aqueles que estão diante do juiz para serem julgados são partes, quer dizer que o juiz não é

parte.

Os juristas dizem que o juiz está super partes.

E se é homem, também ele é uma parte.

Ser e não ser, simultaneamente, parte: esta é a contradição em que se debate o juiz.

Nenhum ser humano, se pensasse no que é necessário julgar outro ser humano, aceitaria ser juiz.

Somente a consciência da sua indignidade pode ajudar o juiz a ser menos indigno.

O princípio do colegiado é um remédio contra a insuficiência do juiz, no sentido de que, se não a

elimina pelo menos a reduz.

O juiz, para ser juiz, é preciso crer que não se põe a alma humana sobre a mesa de Anatomia,

como se põe o corpo.

O que cada um de nós crê ser a verdade não é mais do que um aspecto da verdade – algo como

uma minúscula faceta de um diamante.

As razões são “aquela fração” de verdade que cada um de nós julga haver alcançado.

O seu ofício é argumentar, mas argumentar de um modo peculiar, para atingir uma conclusão

preconcebida.

O defensor e o acusador devem buscar as premissas para chegar a uma conclusão preconcebida.

Se o advogado fosse um argumentador imparcial, não apenas trairia o seu próprio dever, como se

colocaria em contradição com a sua razão de ser no processo, de maneira que este ficaria

desequilibrado.

Essa degeneração do processo penal é um dos sintomas mais graves da civilização. Todos sabem

que a prova testemunhal é a mais falaciosa de todas.


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Quando, num processo de homicídio, se estabelece a certeza de que o acusado matou um homem

com um tiro de pistola. Ainda não se conhece todo o necessário para se proferir a condenação. É

certo que não se pode julgar a intenção a não ser pela ação. É preciso, porém, que consideremos

toda a ação, não apenas uma parte dela.

A ação humana não é um ato singular, mas todos os atos, em seu conjunto.

Isso significa que, depois de haver construído um fato, o juiz percorreu apenas a primeira etapa

do caminho.

Para além dessa etapa, o caminho prossegue, porque a vida inteira do acusado ainda está por ser

explorada.

O ofício de historiador, que a lei atribui ao juiz, torna-se tão mais impossível quanto mais se

reconhece que, para obter a história do acusado, ele precisa superar a desconfiança, que impede o

relato sincero.

A desconfiança não é vencida senão com a amizade, porém a amizade entre o juiz e o acusado

não passa de um sonho.

O processo penal é uma pobre coisa à qual foi confiada uma missão pode demais elevada para

poder ser cumprida.

Isso não quer dizer que se possa prescindir do processo penal, ma, se temos de reconhecer a sua

necessidade, também devemos reconhecer a sua insuficiência.

Essa é uma condição para a civilização, que exige que se trate com respeito não apenas o juiz,

mas também o réu e até o condenado.

O homem não dispõe de outro meio para resolver o problema do futuro a não ser olhar para o

passado.
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Se há um passado que se reconstrói para dele fazer-se a base do futuro, no processo penal, esse

passado é o do preso.

Não existe razão para se estabelecer a certeza de que o delito ocorreu, a não ser para se aplicar a

pena.

Não basta reprimir os delitos; é necessário preveni-los.

Também é preciso algo que assuste os homens, para salvá-los da tentação.

Há casos em que fica claro que o processo, ou melhor, aquela parte voltada para a reconstrução

da história, como todos os seus sofrimentos, com todas as suas angústias, com todas as suas

vergonhas, basta para assegurar o porvir do acusado, no sentido de que ele compreendeu o seu

erro, e não só o compreendeu como ainda o expiou com aquele peso de sofrimento, de angústia,

de vergonha.

Mas não se pode ocultar que direito e processo são uma pobre coisa e que é da consciência dessa

limitação que precisamos para que a civilização avance.

Uma vez reconstruída a história e aplicada a lei, o juiz absolve ou condena.

Não que o acusado seja culpado ou inocente.

Quando ele é inocente, o juiz declara que o acusado não cometeu o ato, ou que o ato não

constitui delito.

Porém, nos casos de insuficiência de provas, o juiz declara que nada pode declarar.

O processo se encerra com uma inconclusão acerca da matéria de fato.

Porém, é esta irresponsabilidade que assinala um outro aspecto em demérito do processo penal.

Esse terrível mecanismo, imperfeito e imperfectível, expõe um pobre homem à humilhação de

ser levado perante o juiz, investigado, não raro arrancado de sua família e dos seus negócios,
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prejudicado, para não dizer arruinado, perante a opinião pública, para depois nem sequer ouvir as

desculpas de quem, embora sem dolo, perturbou e algumas vezes despedaçou a sua vida.

Com a absolvição, o processo termina, por certo.

Em caso de condenação, porém, o processo absolutamente não termina.

Absolvido, ainda que surjam novas provas contra ele, o acusado permanece seguro.

Observando-se bem, a sentença condenatória não é mais do que um diagnóstico.

É costumeiro dizer-se que a pena não tem somente a função de redimir o culpado, mas também a

de admoestar as demais pessoas, que poderiam ser tentadas a delinquir e que precisam ser

ajustadas, a fim de que não o façam.

É necessário ser pequenino para compreender que o delito se deve à falta de amor.

Os sábios procuram a origem do delito no cérebro, os pequeninos não se esquecem de que, como

Cristo disse, os homicídios, os roubos, os atos de violência, as falsificações vêm do coração.

E não há outra via para se chegar a ele, senão a do amor.

Não obstante, a pena deve ser um castigo.

O castigo não é incompatível com o amor.

O processo termina com a saída da prisão, mas a pena não.

Ao sair da prisão, o ex-condenado crê não ser mais um preso, mas as outras pessoas não o veem

assim.

Para as pessoas, ele é sempre um preso, um encarcerado.

Crueldade por se pensar que alguém deve continuar a ser para sempre o que foi.

As pessoas creem que o processo penal termina com a condenação, o que não é verdade.

As pessoas pensam que a pena termina com a saída do cárcere, o que tampouco é verdade.
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As pessoas pensam que a prisão perpétua é a única pena que se estende por toda a vida: eis uma

outra ilusão.

Senão sempre, pelo menos nove a cada dez vezes, a pena jamais termina.

Civilização, humanidade, unidade são uma única coisa: a possibilidade alcançada pelos homens

de viver em paz.

À medida que tem acesso a uma experiência processual penal mais profunda e refinada, o jurista

começa a apreciar as linhas da verdade no esplendor alucinante da admoestação divina.

As misérias do processo penal são um aspecto da miséria fundamental do direito.

Não se trata de desvalorizar o direito, mas de evitar que ele seja valorizado em excesso

Tudo o que se poderia obter, se o direito fosse construído e manejado da melhor maneira

possível, seria o respeito de um ser humano pelo outro.

Os homens não podem ser divididos em bons e maus, mas que eles tampouco podem ser

divididos em livres e presos, pois fora do cárcere há presos mais presos do que os que estão

dentro dele, assim como dentro do cárcere há pessoas mais livres do que as que estão fora dele.

Para sermos libertos, talvez não possamos contar com maior ajuda do que a que nos oferecem os

pobres fisicamente encerrados numa penitenciária.

Carnelutti defende que o processo penal deve ser mais humanizado e menos burocrático, pois

atualmente ele é ineficaz e injusto.

O livro apresenta diversos exemplos de casos em que o sistema penal falhou, bem como

propostas para melhorar o funcionamento do mesmo.

Este conteúdo será útil para aqueles que desejam um resumo dos capítulos do livro e, assim,

entender as principais críticas ao sistema penal.


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O que se pretende com este livro, segundo o próprio autor, é fazer do processo penal um motivo

de introspecção, e não de diversão.

Para Carnelutti, o próprio ato de julgar com base em normas jurídicas já é artificial.

Para julgar um processo penal, seria preciso ver o todo, seria preciso conhecer a vida inteira do

acusado.

Como o ser humano não pode antever o futuro, e o passado se apresenta inapreensível, devido ao

volume e complexidade das tramas que o compõem, todo julgamento está fadado ao insucesso.

O direito é necessário, mas não é suficiente.

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