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SEMINARIO TEOLÓGICO BATISTA MAGEENSE

Carlos Henrique Marques dos Santos


Ednei Alves José Maria
Hermes da Silva Cardoso Alves
Luiz Carlos Medeiros de Carvalho

O Movimento Pré-Reforma
Um Período de Transição e Críticas à Igreja Católica

Trabalho de pesquisa apresentado ao Seminário Teológico Batista


Mageense para obtenção de nota na matéria: História do cristianismo e
da Igreja. Professor André Daniel da Costa Loureiro

Magé
2024
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O Movimento Pré-Reforma

Nos séculos XIV e XV surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra


certos ensinos e práticas da igreja medieval. Foram apontados por teólogos e pessoas piedosas
alguns ensinamentos errados seguidos pelo Catolicismo Romano que discordaram das
heresias e dos erros dos líderes da igreja. No início do século XVI, muitos já diziam que a
Igreja Católica precisava mudar profundamente, pois estava perdendo prestígio. Esse período,
chamado de 'Igreja Deformada', foi vivido pelos pré-reformadores. Durante esse tempo,
homens como Pedro Valdo, John Wycliffe, John Huss, Erasmus de Roterdam e Jerônimo
Savonarola tiveram grande influência sobre os reformadores."

Contexto Histórico

O contexto histórico do século XIV e XV foi marcado por diversos fatores que
influenciaram o surgimento do Movimento Pré-Reforma. A crise do Papado, o nacionalismo
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em ascensão, o crescimento da riqueza e o descontentamento com a Igreja Católica criaram


um ambiente propício para o questionamento da autoridade papal e das práticas da instituição.
A religiosidade era meritória, com missas pelos mortos, crença no purgatório e
invocação dos santos e Maria. Ao mesmo tempo, havia grande ressentimento contra a igreja
por causa dos abusos praticados e do desvio de propósitos. Isso é ilustrado pela situação do
papado no final do século XV e início do século XVI. Os chamados papas do Renascimento
foram mais estadistas e patronos das artes e da cultura do que pastores do seu rebanho. A
instituição papal continuou em declínio, com muitas lutas políticas, simonia, nepotismo, falta
de liderança espiritual, aumento de gastos e novos impostos eclesiásticos. Como papa
Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja foi um generoso promotor das artes e
da carreira dos seus filhos César e Lucrécia; Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro,
comandando pessoalmente o seu exército; Leão X (1513-1521), o papa contemporâneo de
Lutero, teria dito ao ser eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”.

Pontos de destaque

 Crise do Papado: Cisma do Ocidente (1378-1417) e Concílio de Constança (1414-


1418) fragilizaram a autoridade papal.
 Nacionalismo em ascensão: Reinos europeus buscavam maior autonomia, desafiando a
centralização do poder na Igreja.
 Crescimento da Riqueza: Burguesia e classes médias ascendiam, buscando maior
participação na sociedade.
 Descontentamento com a Igreja: Venda de indulgências, nepotismo e simonia geravam
críticas à instituição.

Principais Críticas à Igreja


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As críticas à Igreja Católica se concentravam em diversas práticas consideradas


abusivas e imorais como:
Venda de indulgências, certificados que prometiam a remissão de pecados gerou
grande controvérsia.
O nepotismo, nomeação de familiares para cargos importantes na Igreja era vista como
corrupção.
A simonia que era a compra e venda de cargos eclesiásticos, era considerada um
pecado grave.
O distanciamento da doutrina original, eram feitas críticas à opulência e ao
afastamento dos ensinamentos de Jesus.
A Falta de acesso à Bíblia, sua tradução para línguas vernáculas era proibida,
limitando o acesso dos fiéis às escrituras alimentava o descontentamento com a instituição.

Os principais personagens desse período e como suas ideias


influenciaram a Reforma Protestante.

Pedro Valdo (1140 - 1205)

Em 1170, um comerciante chamado Valdo, de Lyon, teve uma experiência espiritual


que o levou a buscar a salvação de sua alma. Ele começou a ler a Bíblia e, ao se deparar com
as palavras de Jesus sobre vender tudo e seguir a Ele, Valdo decidiu doar suas posses aos
pobres e viver em total dependência de Deus. Ele começou a pregar nas ruas de Lyon,
atraindo seguidores que ficaram conhecidos como "Os Pobres de Lyon" e depois como
"valdenses". Valdo e seus seguidores criticaram a Igreja Católica por suas práticas e
doutrinas, o que resultou em oposição e excomunhão. O movimento valdense continuou a
crescer, influenciando a Reforma Protestante no século XVI. Valdo foi um precursor do
protestantismo, vivendo uma vida fundamentada na palavra de Deus.
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John Wycliffe (1328-1384)

Foi um dos principais precursores da Reforma Protestante. Foi teólogo e professor da


Universidade de Oxford, na Inglaterra. Wyclif atacou as irregularidades do clero, as chamadas
superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a transubstanciação,
o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e as pretensões papais. Suas críticas incluíam
a venda de indulgências e à riqueza da Igreja, defendia a tradução da Bíblia para o inglês e a
fundação do movimento Lollard, que adotava a simplicidade apostólica e a autoridade da
Bíblia. Essas análises influenciaram profundamente o pensamento religioso da época.
Wyclif traduziu o Novo Testamento para o inglês em 1380 e com a ajuda de amigos
completou a tradução do Antigo Testamento em 1384. No dia 28 de dezembro de 1384, foi
acometido por um AVC, falecendo 3 dias depois.
Apesar de ter sido condenado por heresia, suas ideias continuaram a circular e inspirar
novos questionamentos à autoridade da Igreja Católica.

Jan Hus (1372-1415),

Sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Boêmia, foi influenciado pelos


escritos de Wyclif. Ele definiu a igreja por uma vida semelhante à de Cristo, e não pelos
sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da igreja e que o seu cabeça é Cristo,
não o papa. Insistiu na autoridade suprema das Escrituras. Apesar de ser portador de um
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salvo-conduto imperial, Hus foi julgado e condenado à fogueira pelo Concílio de Constança.
Seus seguidores ficaram conhecidos como Irmãos Boêmios (1457) e foram muito
perseguidos. Foram os precursores dos Irmãos Morávios, outro grupo protestante cujas raízes
são anteriores à Reforma do século 16.

Jerônimo de Savonarola (1452-1498)

Considerado um monge carismático, nascido em Ferrara, Itália, em 1452, Savonarola


ingressou na ordem dos dominicanos em Florença. Sua eloquência e fervor religioso o
tornaram um pregador extremamente popular. A catedral de Florença ficava lotada para ouvir
seus sermões inflamados, que condenavam a corrupção e clamavam por uma reforma na
Igreja.
Em 1494, Savonarola ascendeu ao cargo de prior* do Mosteiro de San Marco em
Florença. Utilizando sua influência, ele implementou reformas na cidade, combatendo a
imoralidade e promovendo a austeridade. Sua liderança carismática o levou a se tornar o
governante de facto de Florença, estabelecendo uma república teocrática.
As críticas de Savonarola à opulência e às práticas da Igreja Católica o colocaram em
rota de colisão com o Papa Alexandre VI.
Excomungado em 1497, ele se recusou a se submeter à autoridade papal e continuou a
pregar contra a corrupção.
Preso e condenado por heresia, Savonarola foi enforcado e seu corpo queimado na Praça
da Signoria em Florença em 1498. Apesar de sua morte trágica, Savonarola se tornou um
símbolo da resistência à tirania e da busca por uma sociedade mais justa.
As ideias de Savonarola sobre a reforma da Igreja e a justiça social influenciaram
diversos pensadores e movimentos reformistas.
Sua morte como mártir serviu como inspiração para muitos protestantes, incluindo
Martinho Lutero, que iniciou a Reforma Protestante apenas 19 anos depois.
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* O prior é responsável pela liderança espiritual e administrativa da comunidade


religiosa.

Erasmus de Roterdam (1466-1536)

Foi um dos principais pensadores do Renascimento e um crítico ferrenho dos abusos da


Igreja Católica. Sua defesa da educação, da tolerância religiosa e do diálogo entre diferentes
correntes do cristianismo influenciou profundamente o pensamento de Martinho Lutero e
outros reformadores. Sua obra mais famosa, "Elogio à Loucura", é uma sátira mordaz aos
vícios e hipocrisias da Igreja da época.
Erasmo tinha uma visão complicada sobre a Reforma luterana. Ele achava que a igreja
precisava mudar, mas não concordava com Lutero e outros que enfatizavam muito a ideia de
que os humanos têm liberdade para escolher, mas a vontade de Deus é suprema.
Erasmo escreveu um livro chamado "Do Livre Arbítrio" em 1524, onde discutia essas
ideias. Lutero não gostou do livro e respondeu de forma agressiva, o que acabou causando um
rompimento entre os dois.

Conclusão
Ao lançarmos um olhar sobre a Idade Média, corremos o risco de enxergá-la como um
período pouco inspirador para os herdeiros da Reforma. Uma época marcada por doutrinas e
práticas que se distanciavam das Escrituras, excesso de apego a tradições, e uma relação
viciada com o poder estatal. Uma visão superficial, porém, pode nos levar a uma conclusão
precipitada: a de que a Igreja medieval não tem relevância para os cristãos de hoje.
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Negar a importância desse período seria como cortar um elo crucial da nossa história.
Admitir que, por cerca de um milênio, não existiu um "corpo de Cristo na terra" seria um
grande erro.
Da mesma forma é crucial olharmos hoje para além da instituição eclesiástica e de
suas estruturas nem sempre saudáveis. Assim encontraremos, então, manifestações vibrantes
de um cristianismo autêntico, homens e mulheres dedicados à leitura e à meditação da Bíblia,
buscando viver de acordo com seus ensinamentos, uma fé profunda e fervorosa, expressa em
atos de devoção e entrega a Deus, cristãos dedicados ao próximo, servindo com compaixão e
generosidade.
A história da Igreja, em sua totalidade, é uma fonte inesgotável de ensinamentos e
advertências para os cristãos. Nela, encontramos exemplos de fé inabalável, mas também de
quedas e fraquezas. É ao analisarmos esse passado complexo que podemos aprender com os
erros e celebrar os triunfos, construindo um futuro mais sólido para a nossa fé.
A Idade Média não foi um período homogêneo. Ao invés de julgá-la como um todo,
devemos explorá-la com nuance, reconhecendo as falhas e celebrando as vitórias da fé
naquele período. É nesse olhar crítico e equilibrado que reside a verdadeira riqueza da história
da Igreja.

Referências bibliográficas

Cairns, Earle Edwin, O Cristianismo Através dos Séculos – Uma história da Igreja Cristã, Ed.
Vida Nova, SP, 3ª edição, 2008;
Gonzáles, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo (coleção – vol. 01 a 10), Ed.
Vida Nova, SP, 9a edição, 2002;
LOUREIRO, André Daniel da Costa. Apostila: História do Cristianismo e da Igreja.
Seminário Teológico Batista Mageense 2024.
https://www.britannica.com/biography/John-Wycliffe
https://vividmaps.com/europe-14th-century/
https://www.ipbhistoriaeidentidade.com.br/materiais/panorama-da-historia-da-igreja-a-igreja-
na-idade-media-posterior-1073-1517/
https://www.ebiografia.com/erasmo_de_roterda/#:~:text=Erasmo%20de%20Roterd%C3%A3
%20(1466%2D1536,aclamado%20%22Pr%C3%ADncipe%20do%20Humanismo%22.
https://projetocasteloforte.com.br/personagens-da-reforma-dia-2-pedro-valdo-o-primeiro-
terremoto/

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