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PRORN
PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM NEONATOLOGIA
Diretores acadêmicos
Renato S. Procianoy
Cléa R. Leone
Estimado leitor
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou
por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem
permissão expressa da Editora.
Quem não estiver inscrito no Programa de Atualização em Neonatologia (PRORN) não poderá
realizar as avaliações, obter certificação e créditos.
SEMCAD
CHOQUE NO PERÍODO
PRORN
NEONATAL
CLARICE B. GIACOMINI
ILSON ENK
Clarice B. Giacomini é professora assistente do Departamento de Pediatria da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Neonatologista do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Neonatologista e Intensivista Pediátrica do Instituto de
Cardiologia de Porto Alegre- RS. Mestre em Clínica Médica: ênfase em Pediatria pela
UFRGS.
Ilson Enk é neonatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Hospital Luterano, Porto
Alegre-RS. Mestre em Pediatria pela UFRGS. Professor do Curso de Medicina e preceptor
da Residência Médica em Pediatria da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas-
RS.
INTRODUÇÃO
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OBJETIVOS
Ao final da leitura deste capítulo, esperamos que você seja capaz de:
■ compreender o conceito de choque e suas manifestações clínicas;
■ compreender a fisiopatologia do choque e suas particularidades no recém-nascido (RN);
■ familiarizar-se com algumas patologias associadas ao choque em terapia intensiva neonatal;
■ desenvolver racionalidade na monitorização e manejo do paciente com choque.
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ESQUEMA CONCEITUAL
SEMCAD
Modificações no débito cardíaco Débito cardíaco
PRORN
Choque, lesão hipóxica e lesão Resistência vascular periférica
isquêmica
Pressão arterial e pressão
Diagnóstico arterial média (PAM) Fatores que
afetam a oferta
Choque e pressão arterial Oferta e consumo de oxigênio
e o consumo
sistêmica
de O2
Classificação do choque Choque hipovolêmico
Choque hemorrágico
Choque compensado,
descompensado e irreversível
Instabilidade circulatória do prematuro extremo
Choque Choque cardiogênico
no período
neonatal Cardiopatia congênita
Colapso circulatório por fechamento
do ductus
Choque distributivo
Choque séptico
Casos clínicos
Tratamento Via aérea pérvia
Respiração
Circulação
Fluidoterapia
Soluções expansoras
Tratamento farmacológico:
fármacos vasopressores
Dopamina
Dobutamina
Adrenalina e noradrenalina
Esteróides
Bicarbonato de sódio
Antibióticos
Outras medidas
Aquecimento
Homeostase
Situações especiais Choque e hipertensão pulmonar
Choque cardiogênico
Prostaglandina E1
Conclusão
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MODIFICAÇÕES NO DÉBITO CARDÍACO1
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
DÉBITO CARDÍACO
Débito cardíaco (Q) é o volume de sangue (em litros) que circula em um minuto por
toda a árvore circulatória. Ele é o produto da freqüência cardíaca pelo volume
sistólico.
Da mesma forma, no circuito venoso, os grandes vasos sofrem compressão extrínseca das
estruturas que os circundam.
Estes fatores, regulados pelo tônus simpático, atividade barorreceptora, eixo renina-angiotensina
aldosterona e associados à pressão oncótica dos tecidos e à viscosidade sangüínea, são os
determinantes da resistência vascular periférica (RVP) ou pós-carga.
A maior parte da resistência à circulação sistêmica é proporcionada pelas arteríolas, que são
chamadas vasos de resistência.
51
Em parâmetros hemodinâmicos, a RVP é calculada pelo índice de RVP (por superfície
SEMCAD
corporal):
PRORN
A pressão venosa central (PVC) representa a pressão no átrio direito ou no sistema venoso, de
baixa pressão (vasos de capacitância).
LEMBRAR
A PVC é um indicador do volume circulante ou pré-carga, desde que as funções
cardíacas e pulmonares se encontrem normais.
Como o coração é uma bomba pulsátil, o sangue entra nas artérias de forma inter
mitente, produzindo pulsos de pressão no sistema arterial, com um pico (pressão
sistólica) e seu ponto mais baixo (pressão diastólica).
Em função da pressão arterial média ser uma onda, sua equação mais simples é:
OFERTA E CONSUMO DE O2
cardíaco (IC):
Normalmente, o corpo inteiro consome entre 15 e 33% (FOE=0,15 e 0,33) do oxigênio transporta
do. Habitualmente, o consumo (VO2) se mantém constante e a queda na DO2 é seguida por
aumento na FOE até um ponto crítico, em que a queda na oferta não pode mais ser compensada
e há diminuição no VO2 dependente da DO2. Segue-se a produção de ácido lático pela glicólise
e risco de dano celular.2,3
LEMBRAR
As variáveis que regem o débito cardíaco e a perfusão podem ser aferidas por meio
da cateterização hemodinâmica ou pela interpretação de dados obtidos pelo
ecocardiograma.
Na Figura 1, são apresentadas as principais variáveis que regulam a oferta (DO2) e consumo de
oxigênio (VO2) e algumas particularidades do período neonatal:
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SEMCAD
Hemoglobina 4 Metabolismo basal
PRORN
Anemia Fatores hormonais
Oferta O² (DO²) Consumo O² (VO²) Ins adrenal transit
Hemorragia Hipotireoidismo transit
Policitemia
Fármacos
PAM
Saturação O² Termogênese
Figura 1 - Fatores que afetam a oferta e o consumo de O2. e algumas particularidades do período
neonatal.
Fonte: Adaptado de Tibby SM, Murdoch JA. Monitoring cardiac function in intensive care. Arch Dis Fetal
Neonatal, 2004; 89:F119-126.
Com relação aos fatores que afetam a oferta e consumo de O2, algumas considerações devem
ser feitas:
tônus vasomotor.
4. A hemoglobina fetal se fixa mais firmemente ao oxigênio (P50 mais baixa) e tem mais dificul
dade de liberá-lo aos tecidos (curva de dissociação para esquerda), especialmente na presen
ça de alcalose e hipotermia. Além disso, a hemácia do RN é maior e menos capaz de defor
mar-se para perfundir capilares com lúmenes diminuídos.
5. Prematuros podem dispender até 60% do seu gasto calórico apenas com o trabalho respira
tório.
6. De que forma podem ser aferidas as variáveis que regem o débito cardíaco e a
perfusão?
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7. Defina:
contratilidade –
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pré-carga –
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pós-carga –
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mecanismo de Frank-Starling –
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vasos de resistência –
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pressão venosa central –
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pressão de pulso –
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O RN gravemente doente está sob grande risco de sofrer lesão hipóxica (por déficit de
oxigênio) e lesão isquêmica (déficit de oxigênio e substrato energético como a glicose
por interrupção no fluxo sangüíneo).
O dano tecidual causado pela hipoxia e pela isquemia, embora semelhantes, não são idênticos.
11. Com o que são associadas a lesão hipóxica e a lesão isquêmica, respectivamente?
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14. Assinale V quando a afirmação estiver correta e F quando ela estiver incorreta,
fazendo as alterações necessárias:
DIAGNÓSTICO
Choque é uma síndrome clínica de perfusão tecidual alterada, na qual encontraremos,
no mínimo, os quatro seguintes sistemas ou órgãos comprometidos:
■ sistema cardiovascular: taquicardia, bradicardia, pulsos periféricos diminuídos, di
ferença entre pulsos centrais e periféricos;
■ perfusão periférica diminuída (indicando redistribuição de fluxo sangüíneo com
comprometimento de órgãos não vitais): palidez cutânea, pele manchada, mal
perfundida ou cianótica, extremidades frias, tempo de enchimento capilar > 3 segun
dos;
■ sistema nervoso central: irritabilidade, hipoatividade, letargia, coma;
■ sistema renal (que recebe 25% do débito cardíaco): diurese < 1mL/kg/h ou ausente.
58
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
LEMBRAR
Adicionalmente, o laboratório indica a presença de acidose metabólica e acidemia
lática persistente.
Caso clínico 1
Você é chamado ao alojamento conjunto pela equipe de enfermagem para avaliar um
RN com 48 horas de vida, com relato de apresentar PA = 45/27mmHg, média de
33mmHg ao ser testado um novo aparelho oscilométrico recém-adquirido. A aferição
foi feita no membro inferior D, durante o sono. Mãe 21 anos gesta II pré-natal com dez
consultas, sem anormalidades. RN de parto vaginal, sem intercorrências, idade
gestacional (IG) 38 semanas, Apgar 8-9, PN=3.000g. Peso atual = 2.960g.
Mãe e bebê vinham bem até o momento, este com boa aceitação do seio materno.
Evacuações duas vezes e diurese seis vezes nas últimas 12h.
SEMCAD
Choque representa uma falha na perfusão tecidual e é uma alteração primária do fluxo
PRORN
sangüíneo e não da pressão arterial.
Embora uma pressão arterial adequada seja vital para a perfusão de órgãos vitais
e para filtração glomerular, a ausência de hipotensão não exclui o choque, pois ela
pode ser mantida à custa de mecanismos compensatórios.
Existe uma relação básica entre pressão arterial, débito cardíaco e resistência vascular
periférica (RVP):
Logo, uma pressão arterial baixa pode ocorrer por baixo Q, baixa RVP ou ambos. Da mesma
forma, uma pressão normal pode ocorrer com Q baixo se a RVP for alta.
dro 1 a seguir:
Quadro 1
FATORES QUE INTERFEREM NA VERIFICAÇÃO
DA PRESSÃO ARTERIAL INDIRETA NO RN10,11,12,13
Peso nascimento Relação positiva
Idade gestacional Relação positiva
Idade pós-natal Aumenta nos primeiros 5 dias
Estado de consciência Média de 6mmHg mais alta acordado versus adormecido
Membro inferior versus Média de 1mmHg mais alta nos membros superiores do que inferi
superior ores (por vezes até 20mmHg)
Método de aferição Oscilométrico versus auscultatório; Doppler sem valor
Largura do manguito Relação largura/circunferência membro deve ficar entre 0,45-0,7.
A regra mneumônica para PAM (pressão arterial média) está sintetizada no Quadro 2 a seguir:5,8,9
Quadro 2
REGRA MNEMÔNICA PARA PAM
RN prematuros < 30 semanas RN > 30 semanas RN ≥ 37semanas
■ Primeiras 48 horas → idade gestacional ■ Idade gestacional ■ 45mmHg
■ Após 48 horas → 30mmHg
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19. Que fatores podem influenciar na variação da pressão arterial do RN?
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20. Por que a pressão sistêmica aferida através de métodos não-invasivos não é reco
mendada como método de screening pela AAP?
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21. Que problemas podem estar relacionados com a monitorização direta da pressão
arterial média através de cateter?
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CLASSIFICAÇÃO DO CHOQUE
Comumente, classificamos o choque de acordo com o componente da árvore circulatória que
causa a falha inicial do sistema – o que está sintetizado no Quadro 3:
Quadro 3
CLASSIFICAÇÃO DO CHOQUE NEONATAL10,16,18
CHOQUE HIPOVOLÊMICO
Hemorrágico Perda Perda água livre
plasmática
Placentária Cordão Fetal ■ Enterocolite ■ Vômitos /
■ Transfusão ■ Avulsão ■ Transfusão necrosante diarréia
feto-materna ■ Circular feto-fetal ■ Septicemia ■ Perdas
■ Placenta pré ■ Vasa prévia ■ Hemorragia evaporativas
via intraventricular (prematuridade
■ Abruptio aguda extrema)
placentae ■ Hemorragia ■ Más forma
(deslocamen intra-abdominal ções TGI
to prematuro (subcapsular (estenose
da placenta) hepática) hipertrófica
■ Placenta ante ■ Hemorragia piloro)
rior subgaleal ■ Uso excessivo
incisionada ■ Úlcera de de diuréticos
cesárea stress
Continua ➜
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CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
CHOQUE CARDIOGÊNICO
Cardiopatias congênitas
Cianóticas
Ductus-dependente Grande mistura (cianose + insuficiência cardíaca)
■ Atresia pulmonar ■ Drenagem venosa anômala infradiafragmática
■ Atresia tricúspide ■ Truncus arteriosus (tronco arterial)
■ Anomalia de Ebstein ■ Transposição grandes vasos com CIV
■ Transposição dos grandes vasos
Insuficiência cardíaca
Ductus-dependente Grandes shunts E-D
■ Coartação aorta grave ■ Comunicação interventricular
■ Estenose aórtica crítica ■ Defeito septal atrioventricular
■ Interrupção arco aórtico ■ Persistência do canal arterial
■ Síndrome do VE hipoplásico
Isquemia
Coronária e anômala
Miocardiopatias Arritmias Restrição cardíaca Outros
ou retorno venoso
comprometido
■ Erros inatos do ■ Taquicardia ■ Tamponamento ■ Miocardite
metabolismo supraventricular pericárdico ■ Má formação
■ Fibroelastose ■ Taquicardia/ ■ Hérnia arteriovenosa
endocárdica fibrilação diafragmática ■ Isquemia
■ Cardiomiopatia ventricular ■ Hipertensão miocárdica pós-
hipertrófica ■ Bloqueio AV pulmonar persis asfixia
congênito tente RN ■ Distúrbios meta
■ Síndrome QT ■ Pneumotórax bólicos
longo hipertensivo ■ Hipoglicemia,
■ Enfisema hipocalcemia
intersticial ■ Alt. metabolismo
tireóide
CHOQUE DISTRIBUTIVO
Septicemia Fármacos maternos Fármacos Choque refratário
prematuro
■ Sulfato de ■ Tolazolina
magnésio ■ Sulfato de
– –
magnésio
■ Vancomicina
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CHOQUE HIPOVOLÊMICO
SEMCAD
No choque hipovolêmico, o componente insuficiente é o volume intravascular, que pode ser de:
PRORN
■ sangue;
■ plasma;
■ hemácias;
■ água.
LEMBRAR
O débito cardíaco diminui por alteração no volume sistólico, dependente do retorno
venoso ou pré-carga. Os mecanismos compensatórios, como aumento da RVP,
são bastante eficientes, e a descompensação ocorrerá com perda significativa de
volume, como veremos adiante.
Na sala de parto, o choque hemorrágico é uma emergência real, pois com freqüência é
acompanhado de asfixia, e medidas de ressuscitação devem ser imediatamente insti
tuídas.
A diminuição do débito cardíaco estimula respostas reflexas. No choque hemorrágico, por exem
plo, a perda inicial de volume leva à redução do retorno venoso e, conseqüentemente, à
diminuição do volume sangüíneo presente no ventrículo esquerdo ao final da diástole (pré
carga), diminuindo o volume sistólico e o débito cardíaco que:
■ estimula os barorreceptores no arco aórtico e seios carotídeos que atuam reduzindo a
descarga parassimpática e aumentando a atividade simpática, com aumento da freqüência
cardíaca, aumento da contratilidade miocárdica, vasoconstrição arteriolar e aumento do tônus
venomotor com mobilização do sangue da pele, sistema gastrintestinal, fígado e baço prefe
rencialmente para coração, cérebro e rim que são protegidos pelos seus próprios mecanismos
auto-regulatórios;
■ reduz o fluxo sangüíneo renal ativando o sistema renina-angiotensina levando à produção
de angiotensina II – um potente vasoconstritor, estimulando a atividade simpática e a libera
ção de aldosterona pela adrenal que facilita a absorção de água pelo rim;
■ leva a alterações na microvasculatura com constrição arteriolar e redirecionamento dos lí
quidos do espaço extravascular para o intravascular em um processo denominado “auto-trans
fusão”.18
LEMBRAR
O RN tem volume extracelular proporcionalmente maior do que o adulto e parece ser
menos capaz de redirecionar líquidos do espaço intersticial frente à presença de
hipovolemia.6
LEMBRAR
SEMCAD
A seguir, serão comentadas as causas desse rápido desenvolvimento do choque
neonatal em função da prematuridade extrema:
PRORN
■ o comprometimento cardiovascular pode resultar de problemas adaptativos à
circulação extra-uterina como alta resistência vascular sistêmica, shunts intra e
extracardíacos e miocárdio imaturo;27
■ um dos mecanismos envolvidos no desencadeamento do trabalho de parto pre
maturo é a infecção. A invasão de bactérias ou endotoxinas nas membranas
amnióticas libera citocinas e ativa a cascata inflamatória, resultando em
extravasamento de líquido e lesão tecidual;27
■ asfixia pode complicar o trabalho de parto prematuro, com acidose metabólica,
fadiga miocárdica, vasodilatação e dano à microcirculação;
■ o fluxo alterado em sistemas auto-regulatórios não-desenvolvidos está as
sociado a danos regionais subseqüentes, como hemorragia peri/intraventricular,
enterocolite necrosante e comprometimento renal.27
Entretanto, não está definido se alterações isoladas de pressão arterial em pacientes sem
outro comprometimento cardiovascular têm correlação com alteração de fluxo sangüíneo ou volu
me circulante em prematuros. Osborn não conseguiu demonstrar correlação entre diminuição de
pressão arterial média invasiva < 30mmHg nas primeiras 24h e diminuição de fluxo na veia cava
superior, achado de alta correlação com hemorragia periintraventricular. 15
Como medida clínica de hipovolemia, a hipotensão no prematuro parece ter pouca correlação
com o volume circulante.35
LEMBRAR
No prematuro extremo, o achado isolado de hipotensão (<30mmHg) deve ser
correlacionado com evolução e sinais clínicos. Deve-se determinar a causa (hemor
ragia, pneumotórax, septicemia, ductus patente) antes do tratamento ser instituído.31
24. Por que razões a prematuridade extrema pode provocar o choque neonatal?
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25. Que relação pode ser estabelecida entre infecção, extravasamento de líquido e
lesão tecidual?
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26. Que eventos clínicos podem decorrer da asfixia no caso de parto prematuro?
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CHOQUE CARDIOGÊNICO
SEMCAD
os não são eficientes e podem contribuir para deterioração clínica. Geralmente, há au
mento compensatório da RVP, especialmente nas cardiopatias ductus-dependentes,
sem que isso, necessariamente, represente excesso de volume circulante.16
PRORN
A expansão de volume é a primeira linha razoável de tratamento de emergência no
choque cardiogênico, especialmente em cardiopatias congênitas ductus-dependentes,
a não ser que a pré-carga esteja sabidamente adequada.16
Cardiopatia congênita
Colapso circulatório por fechamento do ductus: o calcanhar de aquiles do manejo do choque neonatal
Embora o choque cardiogênico possa ocorrer por várias razões no período neonatal,
ele é relativamente incomum.
LEMBRAR
Se o fluxo é mantido por um ductus arteriosus em fechamento, a alta resistência
periférica tenta redirecionar o débito para órgãos vitais, ao mesmo tempo em que se
evidenciam sinais de isquemia aos órgãos não-perfundidos pela aorta descendente
(acidose metabólica e insuficiência renal).25
RN que se apresentam em choque nas primeiras três semanas de vida têm fluxo sistêmico
canal-dependente até prova em contrário e devem receber manejo voltado para a aber
tura do ductus (expansão volumétrica e prostaglandina E1) até elucidação diagnóstica.21
Nas lesões em que a circulação pulmonar se dá através do ductus pela obstrução ao fluxo do
ventrículo direito (D) – atresia pulmonar com septo íntegro, por exemplo – ou quando o ductus
mantém as circulações sistêmica e pulmonar independentes (transposição de grandes vasos com
septo íntegro), a manifestação predominante é a cianose, com hipoxemia grave e acidose
metabólica progressiva.
68
Bebês cardiopatas geralmente são identificados por:
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
■ presença de sopro;
■ cardiomegalia;
■ hipofluxo pulmonar;
■ sinais de insuficiência cardíaca;
■ cianose antes do colapso circulatório.
Pacientes com síndrome do VE hipoplásico podem ter sinais sutis e ser liberados do berçário
como bebês normais.
RN com choque, hepatomegalia, cianose que não reverte, sopro cardíaco ou diferença
de pressão ou pulsos nos membros inferiores ou superiores deve ser considerado
cardiopata ductus-dependente e tratado como tal antes mesmo do diagnóstico
anatômico.21
O maior motivo para falha na identificação de choque cardiogênico com anomalia estru
tural é não aventar o diagnóstico.
29. Por que é difícil realizar a avaliação de pacientes com interrupção do fluxo sistêmico?
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30. Que orientações devem ser consideradas quanto ao manejo de RN que se apresen
tam em choque nas primeiras três semanas de vida?
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CHOQUE DISTRIBUTIVO
No Quadro 4 encontramos algumas causas relevantes de choque neonatal de acordo com a idade
de apresentação:
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Quadro 4
SEMCAD
ALGUMAS CONDIÇÕES QUE CAUSAM CHOQUE
DE ACORDO COM A IDADE DE APRESENTAÇÃO
PRORN
Idade de Causas Observações clínicas/
apresentação laboratorais
Primeiros minutos Perda fetal aguda Atuação imediata
Diagnóstico difícil, padrão
Hemorragia feto-materna sinusoidal cardiotocografia teste
Betke-Kleihauer
Sangramento intrabdominal Diagnóstico difícil, parto traumático
Placenta prévia
Descolamento placenta Geralmente evidentes
Lesão traumática de cordão
Transfusão feto-fetal Placenta monocoriônica
Placenta anterior incisionada em
Lesão traumática de placenta
cesariana
Circular de cordão apertado Placenta pletórica
Proceder à reanimação
Asfixia
cardiorrespiratória
Primeiras horas Distúrbio metabólico Glicose/ cálcio/ magnésio
ECG/Ecodoppler/ enzimas/ raio X
Asfixia
de tórax
Septicemia –
Anomalias cardíacas: obstrução
–
fluxo pulmonar
ECG/Ecodoppler/ enzimas/ raio X
Cardiomiopatias
de tórax
Arritmias cardíacas: bloqueio AV
congênito/ taquiarritmias ECG
Sangramento maciço fígado Parto traumático/ECO abdominal
Primeiros dias Hemorragia intraventricular
Ecografia cerebral
maciça
Anomalias cardíacas: obstrução
ao fluxo sistêmico canal-
dependente: Síndrome do VE
hipoplásico; Ecodoppler/ ECG/ raio X de tórax
Drenagem anômala vasos
pulmonares
Fístulas arteriovenosas –
Culturais/neutropenia/
Septicemia
trombocitopenia
Primeiras semanas Raio X abdômen/ sangue oculto
Enterocolite necrosante
fezes/ av cirúrgica
Culturais/neutropenia/
Septicemia
trombocitopenia
Anomalias cardíacas: grandes Teste de hiperoxia/ Ecodoppler/
shunts E-D ECG/ raio X de tórax
Fonte: Modificado de Perlman M, Kirpalani H. Manual do residente em Neonatologia HSC. Revinter;
2002. P. 157
70
Choque séptico
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
Como destacam Meadow e Rudinsky, “A septicemia neonatal não é uma pequena septicemia do
adulto”.
Em nosso meio, o choque séptico representa a forma mais comum de colapso circu
latório.
Pela suscetibilidade que envolve o RN, no qual os sinais e sintomas são sempre sutis
e facilmente confundidos com mecanismos transitórios de adaptação ao meio externo,
a septicemia de início precoce não raro tem no choque a sua manifestação inicial,
embora a organização de protocolos buscando fatores de risco e diagnóstico precoce
bem como medidas preventivas (antibioticoprofilaxia materna em situações de alto ris
co para infecção por Streptococcus grupo B) estejam alterando favoravelmente este
panorama.19
Por outro lado, a melhora das técnicas intensivas no tratamento de patologias respiratórias, as
técnicas cirúrgicas em más formações congênitas e, principalmente, os grandes avanços no ma
nejo do prematuro extremo têm aumentado a prevalência de septicemia tardia. Septicemia
grave acaba sendo o evento final de pacientes com doenças crônicas em unidades neonatais.20
31. Explique por que motivos a septicemia de início tardio comumente tem no choque a
sua manifestação clínica:
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32. Considerando cada tipo de choque, marque o que os caracteriza:
SEMCAD
Características Choque Choque Choque
hipovolêmico cardiogênico distributivo
PRORN
Débito cardíaco diminui por altera
ção no volume sistólico.
Os mecanismos compensatórios não
são eficientes.
Em caso de choque séptico, predo
mina a lesão à microvasculatura e
alteração inflamatória.
A descompensação ocorrerá com
perda significativa de volume.
Em geral, ocorre aumento compen
satório da RVP.
O componente insuficiente é o volu
me intravascular.
Pode ocorrer hipovolemia relativa, e
fatores inibidores da função
miocárdica podem atuar
concomitantemente.
Os mecanismos compensatórios são
muito eficientes.
CASOS CLÍNICOS
Caso clínico 2
Uma mãe de 33 anos, primigesta, 39 semanas, tipagem O+ foi levada à cesariana de
urgência por apresentar diminuição dos movimentos fetais e cardiotocografia com pa
drão sinusoidal, com pouca variabilidade e desacelerações tardias. Ecografia sem par
ticularidades no fluxo dos vasos do cordão e líquido amniótico.
A mãe havia feito um pré-natal com sete consultas sem intercorrências. Uma avaliação
prévia por diminuição dos movimentos fetais que havia sido feita duas semanas antes
do parto era normal. Não havia história de:
■ trauma;
■ sangramento vaginal;
■ diabete;
■ infecção urinária.
Caso clínico 3
Um grande desastre de trânsito ocorreu envolvendo uma carreta, um ônibus e um
carro, e, entre as vítimas, foi trazido um bebê RN, masculino, em torno de duas sema
nas de vida, único sobrevivente do carro. Foi levado imediatamente ao berçário, pois
foi considerado estável e as equipes da emergência ainda trabalham incessantemente.
O bebê é despido e sinais vitais verificados:
■ Peso = 3.850g
■ t.ax. 35,8oC
■ FC = 158 bpm
■ FR = 65cpm
■ PA = 68/40mmHg
■ Sat 100%
■ Glicemia capilar = 80mg/dL.
O bebê está alerta, tem escoriações no rosto e grande hematoma de couro cabeludo
junto à região parietotemporal. Está hipotérmico, ausculta pulmonar normal, abdômen
globoso, parece ter dor à palpação; extremidades pálidas e mal perfundidas, pulsos
periféricos presentes, pupilas fotorreagentes e simétricas, chora ao manuseio do ante
braço D e pé E, que apresentam edema e crepitação.
73
O bebê é colocado em um berço aquecido, tem acesso sistêmico assegurado. É reali
SEMCAD
zada coleta laboratorial, raio X de tórax e membro superior D e pé E e avaliação neuro
lógica. É programada tomografia cerebral/abdominal.
PRORN
36. Cite três fatores de confusão que estão presentes e podem interferir na avalia
ção inicial.
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■ taquicardia intensa;
■ oligo-anúria;
■ palidez intensa;
■ extremidades frias ou cianóticas;
■ taquipnéia intensa;
■ importante retardo no enchimento capilar;
■ pulsos diminuídos ou ausentes;
■ acidose metabólica e acidemia lática.
LEMBRAR
RN podem responder com bradicardia à falha dos mecanismos compensatórios do
choque, possivelmente por exaustão ou imaturidade autonômica.
Caso clínico 4
Um RN com duas horas de vida, de 2.900g, masculino, 37 semanas, nascido de parto
vaginal espontâneo de uma mãe de 25 anos gesta II, PO, AI, seis consultas de pré
natal, exames de sorologia negativos. Bolsa rota há dezoito horas, líquido amniótico
claro. Mãe sem febre, foi medicada com opióide, sendo a última dose administrada uma
hora antes do parto. Apgar 8 e 9. Iniciou com taquipnéia logo após o nascimento, havia
um relato de crise de cianose.
Sinais vitais:
■ FC = 145
■ Temp = 37oC
■ TA = 47/39
■ FR 54
■ Sat 98-100% em ar ambiente, mas cai até 92% ao manuseio.
■ O bebê está pálido nas extremidades, mas rosado e aquecido no tronco, e as mucosas
estão bem coradas.
■ Está taquipnéico e produz gemido expiratório.
■ Reage pouco ao manuseio e o choro não é forte.
■ Fontanela depressível.
■ Ausculta cardíaca normal.
■ Pulmões com boa aeração, murmúrio vesicular rude.
■ Abdômen depressível, sem megalias.
■ Pulsos presentes simétricos 1+ e enchimento capilar 4 seg.
■ Glicemia capilar = 52.
75
SEMCAD
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PRORN
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Veja a resposta para a questão 38 ao final do capítulo.
LEMBRAR
Em recém-nascidos com choque, a função ventricular esquerda correlaciona-se com
a intensidade do comprometimento respiratório associado.24
76
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
39. Quais são as características da septicemia neonatal?
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41. Com que outros sintomas pode ser associada a lesão do parênquima pulmonar?
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TRATAMENTO
42. Que procedimentos costumam ser adotados no tratamento do choque neonatal?
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O tratamento do choque no paciente pediátrico e neonatal segue sendo um desafio a ser vencido
pelos intensivistas.
PRORN
SEMCAD
78
A monitorização contínua do paciente é vital na abordagem terapêutica do choque.
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
LEMBRAR
A manutenção de valores de PVC entre 5 e 8mmHg associa-se a um melhor débito
cardíaco. Valores maiores sinalizam que a oferta adicional de líquidos poderá não
beneficiar o RN.9
A monitorização da PAM pode ser obtida por meio de cateterização de artéria umbi
lical ou periférica, evitando-se a artéria pediosa. A PAM na artéria braquial ou radial
tende a ser até 10mmHg mais elevada do que o equivalente central.
Sondagem vesical de demora com controle do débito urinário é essencial para determinar a
eficácia das medidas de reversão do choque e para definir a taxa de líquidos e a adequação da
perfusão tecidual após a primeira hora, sempre lembrando que o prematuro pode não apresentar
diurese maior do que 1mL/kg/h nas primeiras 12-24h de vida.26
A saturação de O2 obtida de uma amostra da veia cava superior – saturação venosa mista – é
uma forma de calcular a extração de O2 em pacientes críticos, pois o baixo débito cardíaco ou o
aumento do consumo pode ser parcialmente compensado por um aumento na FOE.
Valores abaixo de 70% estão associados com mortalidade aumentada no choque sép
tico.2,21
79
Outro recurso diagnóstico útil é a dosagem de lactato, (normal ≤ 2mg/dL) que sinaliza o metabo
SEMCAD
lismo anaeróbio resultante da hipoxia.
PRORN
valores crescentes.2
A estes três itens, vitais no manejo do choque, agregamos outras medidas de importân
cia peculiar no RN:
■ aquecimento;
■ homeostase de pH, metabólica e hormonal;
■ identificação e tratamento de hipertensão pulmonar.
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dosagem de lactato –
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RESPIRAÇÃO
As trocas gasosas devem estar asseguradas, evitando acidose e também alcalose exagerada.
Gasometrias seriadas devem orientar o sistema de ventilação instituído ao RN em choque.
CIRCULAÇÃO
A partir do exposto na fisiopatologia do choque, fica evidente que assegurar a perfusão tecidual,
especialmente ao cérebro, coração e rins, constitui o objetivo maior do tratamento.
Assim, o status hemodinâmico competente, assegurado por uma circulação efetiva, é a meta
maior no manejo do choque neonatal.
Uma boa circulação depende de acessos vasculares tanto para a infusão de líquidos, expansores
e fármacos, como para monitorizações de pressão arterial invasiva e pressão venosa central.
Pelo menos dois acessos devem estar disponíveis, sendo um central, constituindo os
vasos umbilicais excelentes alternativas.
FLUIDOTERAPIA
A fluidoterapia criteriosa acompanha o tratamento do choque neonatal, seja qual for a sua cau
sa.
SEMCAD
lização da perfusão e da pressão arterial de RN a termo, com volumes por peso corpo
ral menores em prematuros.
PRORN
Não se conhece com exatidão a resposta hemodinâmica de prematuros extremos de muito baixo
peso (<32 semanas, <1.000g) em choque, que podem apresentar insuficiência ventricular direita
e esquerda. Presume-se que estes RN respondam à fluidoterapia e a agentes inotrópicos, com:
■ melhora de volemia;
■ melhora da contratilidade miocárdica;
■ melhora da pressão sangüínea.21
LEMBRAR
Administrações rápidas de 10-20 mL/kg de soro fisiológico podem ser terapêuticas
se houver hipovolemia, mesmo quando não houver certeza absoluta da causa do
choque.9
Esta faixa de prematuros também pode apresentar shunt esquerda-direita via ductus arteriosus, e
conseqüente insuficiência cardíaca. À complicação pode suceder rápida administração de fluidos.
Por outro lado, também deve ser levado em conta que havendo hipovolemia,
diagnosticada ou presumida, deve-se primeiro repor volume, depois administrar o
simpaticomimético.
A administração destes minibolus pode constituir a conduta inicial aceitável para tratamento do
choque, mesmo na ausência de evidências de perdas volêmicas absolutas.
Importante contribuição para o manejo de crianças em choque séptico, incluindo RN, foi publicada
pela força-tarefa composta por mais de trinta autores do American College of Critical Care Medicine
(ACCCM)21 em 2002, a partir de exaustiva revisão de literatura e experiência acumulada desses
especialistas. Muitas das recomendações encontram-se incluídas neste capítulo.
82
46. Preencha o quadro com as indicações associadas aos procedimentos referidos a
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
seguir:
Indicações
Intubação
Oxigenação
Monitorização clínica
Monitorização da saturação de O2
Fluidoterapia
48. Qual a maior meta no manejo do choque neonatal? O que pode assegurá-la? De
que fatores isso depende?
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Caso clínico 5
Atendendo um prematuro de 1.000g em suposto choque séptico, no segundo dia de
vida, sem perdas volêmicas identificadas, um médico precreve 80mL de soro fisiológi
co, em sucessivos minibolus, antes de completar a primeira hora de tratamento. A partir
daí, indica infusão de dopamina.
83
SEMCAD
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PRORN
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Soluções expansoras
A antiga polêmica ainda não foi bem resolvida: qual a solução expansora mais indicada inicial
mente no choque quando não há perdas volêmicas identificadas?
Estudos recentes documentam que soluções isotônicas, como cloreto de sódio 0,9%
(soro fisiológico), são tão eficazes quanto as colóides tipo albumina 5% para elevar a
pressão arterial.38
O plasma fresco congelado pode ser utilizado para corrigir o tempo de protrombina e o KTTP
(tempo parcial de tromboplastina). O plasma repõe fatores dependentes de vitamina K: II, VII, IX,
X, proteína C e proteína S, mas não deve ser indicado como expansor de volume.
A albumina prejudica as trocas gasosas pulmonares e não deve ser usada no choque
do paciente neonatal.
Quando as perdas de volumes são identificadas, como em presença de alguma hemorragia (cho
que hemorrágico), prioriza-se a reposição do líquido espoliado.
Pode-se fazer minibolus inicial de 10mL/kg de soro fisiológico, em 5-10 minutos, segui
do de tantas transfusões de concentrados de hemácias quantas forem necessárias.
84
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
O soro fisiológico, ou solução salina isotônica, é a alternativa de primeira escolha, por
sua eficácia e disponibilidade, na fluidoterapia do choque.
O melhor expansor de volume é o sangue total, que repõe volume e melhora o transporte de
oxigênio. O problema maior de seu uso decorre da falta de disponibilidade. A hemoglobina deve
ser mantida em valor mínimo de 10g/dL.
Logo após a expansão volumétrica inicial, deve-se realizar novo exame físico, detalha
do, voltado para a exclusão de cardiopatia congênita.
53. Sempre que possível, indique as vantagens e desvantagens associadas ao uso das
seguintes soluções:
Vantagens Desvantagens
Soro fisiológico
Albumina
Hemoglobina
56. Como classificar o uso atual de plasma fresco e albumina para o tratamento do
choque neonatal?
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Veja a respostas das questões 55 e 56 ao final do capítulo.
85
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: FÁRMACOS VASOPRESSORES
SEMCAD
PRORN
Dopamina
Função cardiovascular
LEMBRAR
Destacam-se os benefícios sobre a contratilidade miocárdica e o aumento da
resistência vascular periférica (pós-carga), ambos os efeitos resultando em ele
vação da pressão arterial.
Cerca de 50% dos efeitos inotrópicos da dopamina resultam da liberação, mediada pelo fármaco,
de noradrenalina depositada.
Função renal
O fluxo mesentérico não é influenciado pela dopamina, devido à provável inexistência de recepto
res dopaminérgicos nesta vasculatura.
Circulação pulmonar
Não está claro se ocorre efeito direto da dopamina na circulação pulmonar. Não há evidências,
por outro lado, de que o uso de dopamina favoreça o shunt extrapulmonar D → E, e conseqüente
hipoxemia, por aumento de pressão arterial sistêmica.
Alguma vasoconstrição pulmonar, possivelmente induzida por dopamina, tem limitada repercus
são clínica em RN.37
Mediante os efeitos epiteliais nos túbulos renais, a dopamina aumenta a excreção de água, sódio
e fósforo. Favoreceria igualmente as perdas de bicarbonato. Entre suas ações endócrinas, reduz
a prolactina sérica e tireotropina, efeitos de limitada importância.37
57. Quais são os dois principais efeitos cardiovasculares da dopamina, que a tornam
tão útil no tratamento do choque?
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Veja a resposta da questão 57 ao final do capítulo.
87
Posologia
SEMCAD
Os efeitos cardiovasculares dose-dependentes da dopamina variam de paciente para paciente.
PRORN
Doses consideradas baixas, entre 2 e 10mcg/kg/min, podem ser eficazes quando usa
das precocemente no RN hipotenso, por haver melhor resposta dos receptores α
adrenérgicos no início do insulto cardiovascular.
A maior parte dos neonatologistas não prescreve doses maiores do que 20mcg/kg/min, porém
não há evidências de que doses ainda maiores não possam ser prescritas em RN em choque,
visando vasoconstrição que eleve a pressão arterial.
A dopamina tem sido usada em altas doses (>25mcg/kg/min) para normalizar a pressão arterial
em prematuros, sem efeitos vasoconstritores importantes, provavelmente por redução da sensibi
lidade cardiovascular aos agentes simpaticomiméticos observada nesta faixa de pacientes.9
Tabela 1
EFEITOS DOSE-DEPENDENTES DA DOPAMINA
Dose (mcg/kg/min) Efeito
0,5 – 5 (dose baixa) ↑ fluxo sangüíneo renal, ↑ débito urinário.
6 – 10 (dose intermediária) ↑ fluxo sangüíneo renal, ↑ FC, ↑ contratilidade cardíaca,
↑ débito cardíaco, ↑ pressão arterial.
> 10 (dose alta) efeitos α-proeminentes: ↑ pressão arterial,
↑ vasoconstrição (↑ RVP), ↑ retorno venoso.
Podem ocorrer:
■ necrose tecidual local, por extravasamento da solução - tratável com fentolamina;
■ taquicardia;
■ arritmias;
■ hipertensão arterial;
■ distúrbios cardíacos de condução;
■ alargamento do complexo QRS;
■ hiponatremia.
88
Pode haver dano hepático por administração de dopamina via cateter de veia umbilical
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
Dobutamina
Este efeito é importante, por exemplo, em casos de RN asfixiados graves, com fun
ção miocárdica comprometida, que necessitam redução de resistência vascular perifé
rica.
89
Publicações recentes sugerem que somente doses de dobutamina maiores do que 20mcg/kg/min
SEMCAD
são suficientes para aumentar o débito cardíaco.41
PRORN
adrenérgicos locais, sendo benéfica quando insuficiência cardíaca está presente.37,42
A maioria dos RN prematuros em hipotensão apresenta pós-carga reduzida, com ou sem disfunção
miocárdica. Isto explica o uso de dopamina como vasopressor de primeira escolha, e não
dobutamina.37A dopamina é mais efetiva do que a dobutamina no tratamento imediato da hipotensão
sistêmica dos prematuros.37
A adição de dobutamina ao tratamento com dopamina visa aumentar o débito cardíaco diante
de disfunção miocárdica associada, confirmada ou não.43 A dopamina permanece em uso, quando
indicada a dobutamina, para prevenir hipotensão arterial resultante da redução da pós-carga pro
duzida pela dobutamina.
Adrenalina e noradrenalina
LEMBRAR
A adrenalina é mais comumente usada em crianças do que em adultos em choque
séptico.21
No prematuro, a refratariedade aos fármacos inotrópicos de primeira linha pode estar associada
à vasodilatação periférica. Por isso, quando se inicia adrenalina em prematuro que recebe dopamina
e dobutamina, pode haver necessidade de interromper a dobutamina.44
Além disso, a soma de fármacos que atuam sobre o cronotropismo pode levar a
taquiarritmias e está descrita hipercontratilidade com a associação.44
Noradrenalina pode substituir adrenalina na ausência de resposta, em doses que variam de 0,2 a
1mcg/kg/min.31,44
Em altas doses, a adrenalina produz diferentes efeitos nas circulações sistêmica e pulmonar,
elevando a pressão arterial sistêmica em níveis maiores do que o aumento observado na circula
ção pulmonar.27
SEMCAD
■ hipertensão arterial;
■ taquicardia;
menor liberação de oxigênio ao miocárdio;
PRORN
■
■ necrose de tecido por extravasamento da solução.
LEMBRAR
Os corticóides favorecem a atividade dos receptores adrenérgicos cardiovasculares,
elevando a pressão arterial e reduzindo a necessidade de fármacos vasopressores.
Além disso, inibem o metabolismo das catecolaminas e a liberação de fatores
vasoativos.
Choque séptico não constitui contra-indicação para o uso de esteróide. Os estudos publicados
não referem efeitos adversos dos esteróides em cursos de até três dias no prematuro hipotenso.
66. Mencione três razões que podem explicar a indicação de esteróides no tratamento
SEMCAD
do choque neonatal.
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PRORN
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Veja a resposta da questão 66 ao final do capítulo.
Bicarbonato de sódio
Quando o componente metabólico for importante - situação altamente prevalente, estará justifica
do o uso criterioso de bicarbonato de sódio por via intravenosa.
Antibióticos
SEMCAD
PRORN
Aquecimento
Homeostase
É importante buscar pH acima de 7,25, seja por infusão de álcali, por reposição de
volemia ou alterando a ventilação, de acordo com o momento do paciente e exames
laboratoriais.
A administração de hormônio da tireóide pode ser decisiva nos casos de choque refratário a
catecolaminas, conforme o American College of Critical Care Medicine.
Hormônio da tireóide
Bicarbonato de sódio
96
69. Diferencie a hipoglicemia da hipocalcemia no que se refere à conduta indicada e
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
Danos relacionados
SITUAÇÕES ESPECIAIS
Como vimos, o choque séptico neonatal pode ser agravado pela presença de hipertensão
pulmonar em graus variados, pois o RN é especialmente suscetível à reatividade endotelial da
vasculatura pulmonar, e não é incomum o comprometimento sistêmico na presença de hiperten
são pulmonar persistente do RN.
SEMCAD
5 min Manter via aérea e estabelecer acesso de acordo com as diretrizes do PRN.
PRORN
Infusões rápidas de 10mL/kg em bolus de cristalóide até 60 mL/kg.
Corrigir hipoglicemia e hipocalcemia. Iniciar dopamina 7,5 mcg/ kg/ min.
Indicar prostaglandina na suspeita de cardiopatia dependente do canal.
Iniciar adrenalina 0,1 mcg/ kg/ min (aumentar até 0,5 mcg/ kg/
Observar na UTIN min, se necessário). Cogitar interrupção de dobutamina.
Indicar bicarbonato de sódio 2 mEq/ kg no choque ainda
refratário, se houver acidose metabólica e/ ou HPPRN.
Choque refratário
ECMO
CHOQUE CARDIOGÊNICO
O tratamento do choque cardiogênico deve ser iniciado com as mesmas medidas bási
cas (ABC). A intubação e ventilação mecânica devem ser logo instituídas para redu
zir o trabalho respiratório e garantir oxigenação incluindo:
■ sedação;
■ alívio da dor;
■ bloqueio neuromuscular se for necessário.
Estes pacientes devem ser mantidos com saturação de até 80-85% (FiO2=0,21, prefe
rencialmente) ou até mais baixas se não houver acidose metabólica ou lactato elevado.
Da mesma forma, devem-se evitar pH elevados por hiperventilação. A ventilação deve
ser justa, com pCO2 no limite superior da normalidade.
A expansão do volume vascular é a primeira linha no tratamento, com bolus de 20mL/kg de soro
fisiológico, repetidos até três vezes. Reposições posteriores devem ser guiadas idealmente pela
aferição da PVC.15
72. Imagine a seguinte situação: RN do sexo masculino, 17 dias de vida, 3.800 g, colap
so circulatório provocado pelo fechamento do ductus arteriosus, diminuição do volume
sistólico, sinais de insuficiência cardíaca. Organize, através de um fluxograma, o es
quema de decisões relacionado ao manejo desse RN.
99
PROSTAGLANDINA E1
SEMCAD
Em pacientes com cardiopatia congênita ductus-dependente, a reversão do choque
PRORN
cardiogênico não obterá qualquer êxito se o ductus arteriosus não se mantiver aberto.
Efeitos adversos:
■ apnéia (10-12%);
■ febre (14%);
■ convulsões (4%);
■ bradicardia (7%).
Tabela 2
SUGESTÃO DE PREPARAÇÕES PARA PROSTAGLANDINA E
Acrescentar uma Concentração (mcg/mL) mL/hora x peso RN (kg)
ampola de 500 mcg a (para infundir 0,1mcg/min)
200 mL 2,5 2,4
100 mL 5 1,2
50 mL 10 0,6
Fonte: Taketomo CK, Hodding JH, Kraus DM. Pediatric dosage handbook. 6th Ed, 2000-2001:46.
Quadro 5
MANEJO DO RN COM CARDIOPATIA CONGÊNITA DUCTUS-DEPENDENTE
Fluxo pulmonar Fluxo sistêmico
ductus-dependente ductus-dependente
PGE1 Sim. Controlar pO2 Sim. Controlar lactato/acidose metab.
Intubação Se necessário e para transporte Sim
PEEP Não (normal, mínimo) Sim (5-8cm H2O)
Oxigênio Suficiente para sat=80-85% Não
Diuréticos Não Sim, na ausência de choque
Agentes inotrópicos Se necessário Se necessário
Hematócrito (logo Ht > 45% Ht > 40
após nascimento)
Modificado de Victorica, Benjamin E . Newborns With Low Systemic Output. In: Gessner IH & Victoricca
BE. Pediatric Cardiology 1993, Philadelphia Saunders: p115.
100
Os fármacos utilizados no choque cardiogênico visam melhorar a contratilidade (catecolaminas)
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
O importante é que cada Serviço de Neonatologia elabore o seu protocolo assistencial ou adote
algum consenso para abordagem do choque.
Quadro 6
PROTOCOLO DO SERVIÇO DE NEONATOLOGIA DO HOSPITAL
DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE (PARA CHOQUE SÉPTICO)
1. Diagnóstico: dificuldade respiratória, má perfusão periférica, tempo de enchimento capilar
>3 segundos, pulsos periféricos débeis, oligúria (diurese < 1mL/kg/h), taquicardia e pressão
arterial média < 30mmHg.
A descartar: choque hipovolêmico - por desidratação ou sangramento, ou cardiogênico.
2. Tratamento:
DAR VOLUME: administrações de 10mL/kg de soro fisiológico em 10 minutos, até seis vezes
em 1 hora se RN a termo, ou três vezes em prematuros, se PAM < 30mmHg
FÁRMACOS INOTRÓPICOS:
■ Dopamina: iniciar com 7,5mcg/kg/min, EV, aumentar se necessário, simultaneamente com
fluidoterapia.
■ Dobutamina: iniciar com 10mcg/kg/ min, EV, se a fluidoterapia e dopamina não reverteram a
hipotensão. Aumentar de 5 em 5mcg/kg/min se necessário, até 20mcg/kg/min.
■ Adrenalina: iniciar com 0,1mcg/kg/ min, EV, após 30 minutos de dobutamina 20mcg/kg/min
e PAM ainda < 30mmHg. Aumentar para 0,2 mcg/kg/min se PAM < 30mmHg após 30 minu
tos de infusão a 0,1mcg/kg/min.
BICARBONATO DE SÓDIO: infundir 2mEq/kg em 60 minutos se acidose metabólica compro
vada (déficit de base > -10) ou hipotensão sustentada após 1 hora de tratamento com expan
são líquida e dopamina.
HIDROCORTISONA: 1mg/kg/ dose, EV, 12/12 h na falta de resposta às medidas acima cita
das. Iniciar 30 minutos após adrenalina 0,2mcg/kg/min e PAM < 30mmHg.
Caso clínico 6
RN de 34 semanas de idade gestacional, mãe com infecção urinária tratada há menos
de 24 horas, ainda com febre. RN com peso de nascimento 2.400g, Apgar 4 e 7 (1’ e 5’),
apresentou dificuldade respiratória precoce e progressiva, necessitou ventilação mecâ
nica nos primeiros minutos de vida. RN com enchimento capilar > 3 segundos, extremi
dades mal perfundidas. Em O2 100%, pressões 24/4 e freqüência 48 no ventilador. Sa
turação 88-90%, PAM 25mmHg. Raio X de tórax urgente com infiltrado grosseiro.
101
73. Mencione três diagnósticos presumíveis neste paciente a partir dos dados forne
SEMCAD
cidos e uma hipótese não-infecciosa a descartar.
.......................................................................................................................................................
PRORN
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........................................................................................................................................................
........................................................................................................................................................
CONCLUSÃO
O choque no RN, a exemplo do encontrado em qualquer faixa etária, identifica uma emergência
médica que exige rápidas e adequadas medidas de reversão de hipoxia e hipoperfusão tecidual.
As maiores dificuldades do neonatologista residem nas falhas dos marcadores de:
■ função cardíaca;
■ volemia;
■ perfusão.
Questão 15.
Resposta e comentário: Tranqüilizaria pais e equipe assistencial. O bebê tem todos os indicativos
de normalidade, sem fatores de risco para colapso cardiovascular agudo. A equipe está testando
um método ou aparelho novo e ainda não está bem familiarizada com o mesmo. Há diferença de
pressão conforme estado de vigília (PAM 6mmHg mais elevada acordado) e recomenda-se reali
zar a aferição durante o sono. Em bebês normais está descrito diferenças de até 4mmHg entre
membros inferiores e superiores ou maiores, dependente da idade pós-natal.
Questão 16.
Resposta e comentário: na coartação da aorta, geralmente há impulsão precordial acentuada e
um murmúrio de ejeção sistólico na região subescapular E. Os pulsos femurais estão diminuídos
e há diferença na pressão sistólica entre os membros superiores e inferiores, com hipertensão
nos membros superiores, especialmente no membro superior direito. Em três situações pode não
ocorrer diferença de pulso:
■ quando ventrículo D estiver perfundindo a porção inferior do corpo através de grande ductus
arteriosus;
■ quando houver disfunção grave do VE e as pressões em todo corpo estiverem baixas a ponto
de não se perceber gradiente (choque);
■ na presença de artéria subclávia direita aberrante que surge abaixo da coartação.
Recomenda-se aventar a presença de coartação da aorta sempre que houver diferença entre a
pressão sistólica dos membros acima de um desvio padrão (6-9mmHg) mantida após três
mensurações adequadas.
Questão 33.
Resposta e comentário: choque hipovolêmico por hemorragia feto-materna aguda; o mecanismo
do choque é diminuição de volume circulante, com diminuição da pré-carga, volume sistólico e
débito cardíaco. O diagnóstico é dado pelo teste de Betke-Kleihauer.
Questão 34.
Resposta e comentário: transfusão feto-materna (TFM) é definida como a passagem de >30mL
de sangue fetal junto à circulação materna. A incidência de TFM severa (>80mL) é estimada em
1:1.000 nascimentos. Com TFM > 150mL (50% volemia) há grande morbidade para o feto e >250mL
pode ocorrer morte fetal. TFM está associada:
103
■ à trauma durante a gravidez;
SEMCAD
■ a alterações placentárias como placenta prévia e trombos nos vilos placentários.
Em até 80% dos casos de TFM não há fatores de risco identificados e por isso o diagnóstico é
PRORN
muito difícil. O padrão sinusoidal da freqüência cardíaca fetal é característico do quadro e o Doppler
umbilical pode não estar alterado.
Questão 35.
Resposta e comentário: o diagnóstico é feito pelo teste de Betke-Kleihauer, que identifica hemácias
fetais no sangue materno, podendo inclusive estimar a perda sangüínea. (Conta-se o número de
células por 50lpf (5 células fetais/50lpf=0,5mL).
Questão 36.
Resposta e comentário: este recém-nascido está com quadro de choque hemorrágico em anda
mento. A presença de hipotermia, a dor pela fratura e o trauma cranioencefálico concomitante
podem mascarar o diagnóstico inicial.
Questão 37.
Resposta e comentário: a perda de volume está sendo compensada pela taquicardia, pela
redistribuição do fluxo da circulação cutânea através de vasoconstrição (mal perfundida, pálida e
fria) e do mecanismo de autotransfusão em nível de microcirculação. O elevado nível de
catecolaminas circulantes pela dor e estresse podem ajudar a manter a PAM. Há indicativos de
grande risco para o paciente:
■ a história de morte de outros ocupantes do carro;
■ seu pequeno tamanho;
■ presença de, no mínimo, dois sítios de fratura.
Trauma abdominal contuso com lesão de víscera maciça (baço ou fígado) e hematoma subgaleal
podem ser os prováveis locais de sangramento. Altamente suscetível ao trauma crânioencefálico,
pode ter lesões (hematoma subdural) intracranianas em expansão, mesmo sem a presença de
alteração no sensório, pois as fontanelas amplas e suturas não consolidadas aliviam a hiperten
são intracraniana e atrasam a presença de sinais focais.
Questão 38.
Resposta e comentário: as alterações respiratórias são provavelmente por vasoconstrição pulmo
nar secundária à septicemia, embora não se possam descartar comprometimento (pneumonia)
de parênquima pulmonar. Acidose metabólica também está contribuindo para a taquipnéia.
Questão 51.
Resposta: dois possíveis erros nesta abordagem:
■ volume exagerado, sem critério;
■ uso tardio de dopamina.
104
Questão 52.
CHOQUE NO PERÍODO NEONATAL
Questão 55.
Resposta: dois expansores de comprovada eficácia na reversão do choque neonatal:
■ soro fisiológico (NaCl 0,9%);
■ sangue total.
Questão 56. Resposta: classifica-se o uso atual de plasma fresco e albumina para o tratamento
do choque neonatal como indevidos, sem indicação com esta finalidade.
Questão 57. Resposta: os dois principais efeitos cardiovasculares da dopamina, que a tornam tão
útil no tratamento do choque são:
■ aumento da contratilidade cardíaca (efeito inotrópico);
■ aumento de RVP, efeito indutor de aumento de PAM.
Questão 62. Resposta: adrenalina é indicada no choque neonatal: choque com hipotensão refra
tária à fluidoterapia e doses altas, como 20 mcg/ kg/ min, de dopamina, especialmente quando se
necessita reduzir a vasodilatação periférica.
Questão 66. Resposta: três razões que podem explicar a indicação de esteróides no tratamento
do choque neonatal:
■ favorecer a resposta pressora dos receptores dopaminérgicos;
■ inibição do metabolismo de catecolaminas;
■ restabelecimento dos níveis séricos depletados de cortisol.
Questão 73. Resposta: três diagnósticos presumíveis neste paciente a partir dos dados forneci
dos e uma hipótese não-infecciosa a descartar são:
■ septicemia precoce;
■ pneumonia congênita;
■ choque séptico;
■ cardiopatia congênita (a descartar).
105
Questão 74. Resposta: a prioridade de tratamento a partir do momento em que o RN já está
SEMCAD
aquecido, monitorizado e sob ventilação mecânica é importante buscar equilíbrio hemodinâmico,
através de fluidoterapia e drogas vasoativas.
PRORN
Questão 75. Resposta: de imediato para este paciente é necessário:
■ expansão inicial com 10 mL/ kg de soro fisiológico, repetida várias vezes, até, se necessário,
uma dose total de 60 mL/ kg ao final da primeira hora;
■ dopamina 7,5 mcg/ kg min, iniciada simultaneamente com fluidoterapia. elevar gradualmente
até 20 mcg/ kg/ min, em busca de PAM mínima de 30 mm Hg.
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Reservados todos os direitos de publicação à
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Diretores Acadêmicos:
Renato S. Procianoy
Professor titular de Pediatria da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital
de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Diretor de Publicações Científicas da
Sociedade Brasileira de Pediatria.
Editor-chefe do Jornal de Pediatria
Cléa R. Leone
Professora associada do Departamento de Pediatria
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Médica-chefe do Berçário Anexo à Maternidade/Serviço
de Pediatria Clínica Intensiva e Neonatal/Instituto
da Criança Fundação Médica Universidade de São Paulo.
Presidente do Departamento de Neonatologia
da Sociedade Brasileira de Pediatria
CDU 612.648:37.018.43
Diretoria 2004/2006
Presidente: Coordenação de Grupos de Trabalho Coordenação Adjunta de Graduação:
Dioclécio Campos Júnior Álvaro Machado Neto Sílvia Wanick Sarinho