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Gestante
& Lactante
Dra. Telma R.Mariotto Zakka
Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira
Profa. Dra. Lin Tchia Yeng
Tratamento da dor na gestante e lactante
Copyright © 2013 – Leitura Médica Ltda.
Bibliografia
ISBN 978.85.61125.xx.x
Impresso no Brasil
2013
Gestante
& Lactante
Dra. Telma R. Mariotto Zakka
CRM: 33.741
Médica Ginecologista responsável pelo Ambulatório de Dor
Abdominal, Pélvica e Perineal do Centro de Dor do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (HCFMUSP)
Introdução ...................................................................7
.......... 10
Absorção ...................................................................... 10
Distribuição ................................................................. 11
Metabolismo ............................................................... 11
Excreção....................................................................... 12
Placenta ..................................................................... 13
Feto ............................................................................ 15
Síndromes dolorosas durante a gestação .......... 17
Lombalgia .................................................................... 17
Síndrome do túnel do carpo ................................... 19
Tenossinovite de De Quervain................................ 20
Dor pélvica posterior ................................................ 21
Artrite reumatoide ..................................................... 21
Síndrome dolorosa miofascial ................................. 22
Dor abdominal ........................................................... 23
................................... 29
....................... 33
......... 33
Analgésicos .................................................................. 34
Analgésicos opioides.................................................. 34
Miorrelaxantes ........................................................... 36
.............................................................. 36
Antidepressivos ........................................................... 37
Anticonvulsivantes ...................................................... 39
............................................... 43
Referências ............................................................... 44
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
introdução
Durante o período gestacional, as mudanças ana-
tômicas e funcionais podem desencadear, agravar
ou modificar a expressão das afecções dolorosas, es-
pecialmente as musculoesqueléticas. Mulheres com
quadros dolorosos crônicos têm seus sintomas asso-
ciados ou não a desconfortos inerentes ao período.
A escolha das intervenções terapêuticas constitui
um dilema que exige um planejamento adequado
para oferecer analgesia com menor risco para a ges-
tante e o feto. Sempre que possível, deve-se priorizar
os métodos não farmacológicos e evitar ou adiar as
intervenções farmacológicas ou cirúrgicas.
Entre as causas de malformações congênitas,
aproximadamente 20% se devem a fatores genéti-
cos, 15%, a fatores cromossômicos, e 65%, a causas
multifatoriais. Entre os fatores ambientais determi-
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nantes de malformações, aproximadamente 10%
são por irradiação e infecções, 2% a 3%, por do-
ença materna, 1% a 2%, por fármacos, e 4% a 5%,
por outros agentes químicos.
Um agente teratogênico produz alterações na
morfologia e fisiologia embrionária e/ou fetal, de
modo que se considera teratogênese não só as de-
formidades anatômico-estruturais, mas as alterações
funcionais e comportamentais, o retardo de cresci-
mento e o atraso no desenvolvimento neuromotor.
A prevenção da teratogênese devido aos medica-
mentos depende do conhecimento dos mecanismos
farmacológicos e de seu uso terapêutico criterioso
na prática médica.
Os fármacos utilizados durante a gestação po-
dem estar presentes na circulação fetal no momento
do nascimento, alterar o fluxo sanguíneo placentá-
rio e causar danos fetais por diminuição do aporte
de oxigênio e nutrientes. Ao estabelecer o tratamen-
to farmacológico, é importante considerar a idade
gestacional do organismo materno, a placenta e o
feto, com suas características próprias.
Em relação à amamentação, muitos fármacos
são excretados no leite materno e consistem em
uma fonte potencial de toxicidade para o lacten-
te. A ligação dos fármacos às proteínas plasmáti-
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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Mudanças fisiológicas
durante a gestação
Absorção
Durante a gestação, as alterações na absorção
dos fármacos ocorrem por lentificação da motilida-
de gastrintestinal e aumento do fluxo sanguíneo,
de modo que a administração oral resulta em ab-
sorção mais lenta e eficaz, inclusive de substâncias
polares/hidrossolúveis. Entretanto, a êmese e o
refluxo esofágico frequentes no primeiro trimestre
podem diminuir a absorção dos fármacos adminis-
trados oralmente.
Maior fluxo sanguíneo pulmonar durante a
gestação aumenta a sensibilidade e a absorção das
substâncias inalantes e o incremento do fluxo san-
guíneo cutâneo determina maior absorção dos fár-
macos por essa via. Tais mudanças podem elevar ou
reduzir a disponibilidade dos fármacos e interferir
na prescrição quanto à dose, forma de administra-
ção e trimestre de gestação.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
Distribuição
A distribuição dos fármacos no compartimento
materno encontra-se alterada durante toda a gesta-
ção. Dessa maneira, o aumento do peso corpóreo
e da água corporal (± 8 litros) associa-se à hemo-
diluição e à menor concentração plasmática dos
fármacos e o incremento do depósito de gordura
(25%) determina maior armazenamento dos fár-
macos lipossolúveis (ex.: tetraciclina). Geralmente,
a concentração de fármacos lipofílicos no plasma
reduz-se devido ao aumento do volume plasmático
e da gordura corpórea. A diminuição da albumina
plasmática determina alteração na ligação dos fár-
macos às proteínas e pode aumentar a concentração
do percentual livre (não ligado), ocorrendo maior
disponibilidade para distribuir-se para os tecidos e
órgãos-alvos e atravessar a placenta.
No terceiro trimestre da gestação, ocorre aumen-
to do teor de albumina plasmática em 20%, da vo-
lemia em 50% e redução das proteínas plasmáticas
para 1 g/dl.
Metabolismo
As mudanças metabólicas gestacionais são pou-
co conhecidas. O metabolismo dos fármacos de-
pende do fluxo sanguíneo hepático e do sistema
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enzimático e sua via mais comum de oxidação é
por meio do sistema citocromo P450. Durante a
gestação, o sistema enzimático altera-se em decor-
rência do aumento da produção de estrogênios
e progesterona. Os estrogênios podem reduzir a
metabolização hepática e promover o acúmulo de
fármacos na corrente sanguínea e os níveis eleva-
dos de progesterona podem inibir algumas enzimas
do sistema P450, ativar outras enzimas (CYP 3A4,
CYP 2C9) e alterar o clearance de substâncias como
a cafeína.
Excreção
A função renal aumenta gradualmente durante
a gestação, determinando incremento da excreção
dos fármacos hidrossolúveis e dos metabólitos. O
fluxo sanguíneo renal pode elevar-se em até 80%
e a taxa de filtração glomerular, ao redor de 50%.
O clearance de creatinina eleva-se na 14a semana
e modifica a ação dos fármacos com eliminação
renal predominante.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
Placenta
A placenta constitui-se principalmente de li-
poproteína materna e possui função metabólica.
O transporte através dela ocorre em função da li-
possolubilidade, concentração e metabolismo dos
fármacos. Como a placenta é considerada lipopro-
teína, os fármacos com alta lipossolubilidade são
mais permeáveis que os polares, os ionizáveis e os
hidrossolúveis. Portanto, a passagem dos fármacos
condiciona-se ao baixo peso molecular, à não asso-
ciação com seroproteínas, à lipossolubilidade e ao
pH ligeiramente ácido.
O mecanismo de transferência materno-fetal dos
fármacos por difusão e sua quantidade no plasma fe-
tal limitam-se à transferência do plasma materno, pro-
cesso que ocorre até se estabelecer o equilíbrio. Por
sua rápida ligação à proteína fetal, os fármacos livres
têm sua ação retardada em razão do baixo gradiente
de concentração no sangue fetal, de modo que o me-
canismo de transferências continua até se estabelecer
a igualdade de concentração no feto à da mãe.
O fluxo sanguíneo placentário veicula o trans-
porte de fármacos e, dessa forma, a redução do
fluxo sanguíneo diminui a passagem dos fármacos
lipossolúveis. O metabolismo placentário também
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altera a transferência dos fármacos. A placenta con-
tém enzimas como o citocromo P 450 e a N-ace-
tiltransferase, que podem modificar a atividade do
fármaco e sua transferência para o feto. Alterações
placentárias como diminuição de sua espessura po-
dem elevar a difusão placentária e ocasionar maior
exposição medicamentosa fetal.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
feto
A ação dos fármacos durante as fases do desen-
volvimento fetal precisa de mais estudos, pois medi-
camentos de ação teratogênica no início da gestação
podem ter efeito irrisório no seu final. O fígado fetal
a partir da 4a a 6a semana realiza a síntese proteica,
entre 11 e 18 semanas exerce atividade metabólica de
oxidação, redução e hidrolização e após a 20a semana,
conjugação. Portanto, durante o primeiro trimestre,
o feto não metaboliza as enzimas do citocromo P-450.
Com a maturidade renal e o aporte sanguíneo, ini-
ciam-se a filtração fetal dos fármacos e a eliminação
para o liquido amniótico, uma parte retornando para
a mãe e a outra, para o espaço interviloso placentário.
A exposição aos fármacos antes da quarta se-
mana de gestação tem efeito do tudo ou nada, ou
seja, podem causar a perda do concepto, por lesão
do blastócito, ou não determinar anormalidades,
devido à totipotencialidade das células embrioná-
rias. O período da organogênese entre o 18o e o 55o
dia após a concepção é o período mais crítico para
a exposição a fármacos que podem causar malfor-
mações irreparáveis e, tardiamente, influenciar o
crescimento ou a função fisiológica fetal. Portanto,
os fármacos podem determinar malformações con-
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gênitas, síndromes perinatais ou alterações neuro-
comportamentais de surgimento tardio.
A maioria dos órgãos fetais, assim como os
membros, forma-se no primeiro trimestre, de modo
que os fármacos administrados nesse período po-
dem alterar o sistema musculoesquelético, os olhos,
as orelhas e o coração, e, posteriormente, ocasionar
malformações nos órgãos genitais, nos dentes e sis-
tema nervoso central. Após esse período, não cau-
sam grandes deformidades.
Ao escolher o fármaco, é importante conhecer
seu perfil de segurança nas diversas fases da gestação
e amamentação, o grau de ligação proteica, a solubi-
lidade lipídica, o peso molecular e as características
metabólicas maternas que influenciam a transferên-
cia materno-fetal dos medicamentos. Com exceção
das moléculas polares grandes, a maioria dos fárma-
cos atravessa a placenta e alcança o feto.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
sÍndroMes dolorosas
durante a gestação
Lombalgia
Quadro álgico muito frequente durante a gesta-
ção. Manifesta-se em aproximadamente 80% das ges-
tantes, sendo mais incidente em mulheres com ante-
cedente prévio de lombalgia, multíparas e gestantes
idosas. Apesar de sua alta prevalência e incidência,
há controvérsias quanto a sua etiologia, patogenia,
fatores de risco e tratamento. Na gestação, a lom-
balgia geralmente é um sintoma e não uma afecção
da coluna de etiologia multifatorial. Entre os fatores
predisponentes, destacam-se as alterações posturais
determinadas pelo útero gravídico, o relaxamento
ligamentar nas articulações pélvicas, o aumento do
peso corpóreo e o deslocamento anterior do centro
de gravidade que gera sobrecarga na região lombar
de magnitude suficiente para causar dor.
No início da gestação, o relaxamento pélvico
pode determinar dor espontânea e/ou compres-
são das articulações sacroilíacas e, durante o pe-
ríodo gestacional, a dor lombar pode determinar
dor irradiada para coxas e/ou para a região distal
do abdome.
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A redução da força da cápsula articular e dos li-
gamentos das articulações sacroilíacas pode causar
importante deslizamento ou instabilidade articular
e a distensão da pelve pode aumentar a mobilida-
de das articulações sacroilíacas. Acreditava-se que a
gestação predisporia à herniação discal, entretanto
um estudo com ressonância nuclear magnética de-
monstrou que a prevalência de anormalidade discal
lombossacral em mulheres em idade fértil não dife-
re na gestação.
História clínica e exame físico são fundamentais
para o diagnóstico, devendo-se evitar exames radio-
gráficos principalmente durante o primeiro trimes-
tre da gestação e realizá-los, quando necessário, para
auxiliar o diagnóstico e o tratamento. A exposição
à radiação durante a gestação pode elevar o risco
de anormalidades congênitas. Não há relatos do
aumento da frequência de anormalidades mentais
ou do crescimento em fetos expostos à dose de ir-
radiação de até 10 rads. O exame da ressonância
magnética parece ser seguro durante a gestação, mas
não há estudos de seu efeito em longo prazo.
A maioria das lombalgias que ocorrem durante
o período gestacional apresenta alívio com medidas
físicas e comportamentais. A adequação das ativi-
dades físicas domiciliar e profissional, a aplicação
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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o parto, embora habitualmente os sintomas se pro-
longuem durante a lactação.
O tratamento conservador consiste em orienta-
ções gerais para evitar situações que deflagrem a dor,
uso de órteses para imobilizar o punho, analgésicos,
meios físicos e acupuntura para analgesia. Quando
os sintomas são intensos e refratários, pode-se infil-
trar o túnel do carpo com corticosteroides. Anal-
gésicos e diuréticos como hidroclorotiazida podem
ser úteis em doentes com sintomas da síndrome do
túnel do carpo e edema importante das mãos. Rara-
mente a intervenção cirúrgica é necessária.
Tenossinovite de De Quervain
Caracteriza-se por dor e edema sobre o proces-
so estiloide radial, dor no punho e na face radial
da mão em razão de traumatismos repetitivos,
compressão e irritação das bainhas tendíneas dos
tendões abdutores do polegar na proximidade do
processo estiloide do rádio. O teste de Finkelstein
realizado com o polegar dentro da mão fechada e o
examinador desviando a mão e o punho na direção
ulnar para estirar os tendões do primeiro compar-
timento extensor pode facilitar o diagnóstico. Ins-
tala-se durante a gestação ou lactação, os sintomas
são discretos durante o final da gestação, mas acen-
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
Artrite reumatoide
Durante a gestação, aproximadamente dois ter-
ços das mulheres com artrite reumatoide apresen-
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tam melhora do quadro doloroso e do edema ar-
ticular. Os sintomas persistem menos intensos até
a sexta semana pós-parto, quando habitualmente
ocorre exacerbação da doença.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
Dor abdominal
A dor abdominal pode ter origem somática, neu-
ropática ou visceral. A dor visceral geralmente é mal
localizada, difusa, na linha média e referida em áre-
as comuns a outros órgãos, como dor de colecistite
e a de origem obstétrica referidas no ombro ou na
região lombar.
Muitas alterações fisiológicas da gravidez po-
dem mascarar ou dificultar o diagnóstico etiológi-
co da dor. Durante a gestação normal, geralmen-
te, ocorrem náuseas, vômitos, saciedade precoce,
eructação, pirose retroesternal, anemia fisiológica,
leucocitose, aumento de fosfatase alcalina, hipoal-
buminemia dilucional, incremento da velocidade
de hemossedimentação e hiponatremia. O estróge-
no eleva a produção de fatores de coagulação e o
útero aumentado pode favorecer a estase sanguínea
e a trombose venosa devido à compressão extrínse-
ca dos vasos abdominais.
O descolamento prematuro da placenta, a pre-
nhez ectópica, o trabalho de parto prematuro e o
abortamento estão entre as causas obstétricas de
dor abdominal.
Torção e/ou ruptura de cisto de ovário são causas
de dor abrupta unilateral no flanco, com duração de
horas a dias, associada a náuseas e vômitos, massa
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anexial palpável e leucocitose. Excepcionalmente,
na gestação pode ocorrer ruptura de cistos endome-
trióticos e a ultrassonografia auxilia o diagnóstico.
Doenças inflamatórias pélvicas agudas, leiomio-
ma uterino e endometriose, apesar de pouco frequen-
tes durante a gravidez, podem causar dor abdominal.
O diagnóstico no quadro abdominal agudo é
mais difícil durante a gestação em razão das modifi-
cações anatômicas e topográficas determinadas pelo
aumento uterino que mascaram os sinais e sinto-
mas abdominais clássicos. A palpação do abdome
é dificultada pelo volume uterino e pelos músculos
da parede abdominal que respondem de modo dife-
rente aos reflexos peritoneais. Além disso, durante
a gestação, podem ocorrer doenças que simulam
quadro de abdome agudo, como descolamento pre-
maturo da placenta e infecções do trato urinário.
Os métodos diagnósticos devem ser selecionados
com cautela, pois as condutas de investigação ou de
assistência podem causar lesão no feto, constituin-
do obstáculo quanto a métodos diagnósticos e pro-
cedimentos terapêuticos usuais. Deve-se priorizar
ultrassonografia e ressonância nuclear magnética
por não utilizarem radiação ionizante. A radiação
pode causar retardo mental e alterações cromos-
sômicas que favorecem o surgimento de leucemia.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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seja necessário antibioticoterapia, deve-se optar pre-
ferencialmente por penicilina ou cefalosporina.
O refluxo gastroesofagíco pode ser amenizado
com orientações posturais e dietéticas, como não se
reclinar imediatamente após as refeições, manter o
decúbito elevado ao se deitar, evitar cafeína, chocola-
te, frituras e tabaco. Quando essas medidas não con-
trolam os sintomas, deve-se prescrever antiácidos,
evitando-se, próximo ao termo, os com magnésio,
pois podem inibir o trabalho de parto. Bloqueado-
res do receptor tipo 2 de histamina, como ranitidina
e famotidina, bem como bloqueadores da bomba
de prótons, como omeprazol e lansoprazol, devem
ser reservados a casos mais graves. Metoclopramida
possivelmente não é teratogênica, mas pode causar
efeitos colaterais na mãe. A erradicação de Helicobac-
ter pylori deve ser postergada até o final da gestação,
uma vez que a claritromicina e o metronidazol não
devem ser utilizados durante esse período.
Obstrução intestinal é a segunda principal causa de
emergência cirúrgica não obstétrica. Sua frequência é
maior durante o terceiro trimestre em razão do aumen-
to do volume uterino. Aderências secundárias às cirur-
gias ginecológicas, apendicectomias, processo inflama-
tório pélvico e tumores intestinais são responsáveis por
até 70% dos casos de suboclusão do intestino delgado.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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dominal difusa, anormalidades psiquiátricas, vô-
mitos, obstipação, hipertensão arterial e alterações
neurovegetativas como taquicardia. O diagnóstico
baseia-se na presença de porfobilinogênio e ácido
delta-aminolevulínico urinários. A prevenção inclui
evitar jejum, uso de fármacos precipitantes e admi-
nistração de glicose por via parenteral.
A gestação predispõe a hifronefrose e hidrou-
reter em até 70% das mulheres, tanto pela ação
miorrelaxante da progesterona como pela com-
pressão uterina. A compressão dos ureteres pelo
útero associada à estase urinária causada pelo rela-
xamento da musculatura urinária favorece a ocor-
rência de pielonefrite e calculose renal. A pielo-
nefrite manifesta-se semelhantemente aos casos de
não gestantes. Seus fatores de risco incluem ane-
mia falciforme, diabetes melito, anormalidades do
trato urinário e nefrolitíase.
A nefrolitíase apresenta-se de modo similar aos
casos de não gestantes, com cólicas fortes na região
lombar e irradiação característica. Os sintomas po-
dem ocorrer em qualquer fase da gestação. Deve-se
iniciar a investigação com o exame ultrassonográfi-
co. A conduta clínica é semelhante aos casos de não
grávidas e a utilização de litotripsia extracorpórea
tem contraindicação relativa.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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Quadro 1. Classificação do risco dos fármacos
na gestação
A Estudos controlados não mostram risco 0,7%
X Contraindicados 7%
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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mano ou dano irreversível. Esses fármacos podem
causar, ainda, efeitos adversos.
Categoria X: fármacos com alto risco de causar
dano permanente ao feto. Não devem ser usados
no período de gravidez ou quando houver suspei-
ta dela.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
trataMento farMacológico
da dor
Os cuidados destinados a gestantes e lactantes
com dor devem contemplar o tratamento etioló-
gico, a identificação e a modificação dos fatores
concorrentes para sua expressão, incluindo funções
psíquicas e operacionais dos diferentes sistemas e
aparelhos que contribuem para o sofrimento. A
adequação de esquemas analgésicos, as orientações
sobre os mecanismos da dor e as razões e riscos dos
procedimentos propostos para seu controle dimi-
nuem a subutilização dos fármacos e o subtratamen-
to dos sintomas e melhoram a adesão e o resultado
final do tratamento.
(AINEs)
Deve-se evitar esses fármacos a partir do terceiro
trimestre, pois inibem a síntese de prostaglandinas,
prolongando a gestação, e podem causar o fecha-
mento precoce do ducto arterioso, hipertensão
pulmonar neonatal, oligúria fetal, oligoâmnio, di-
morfoses faciais, distúrbios da homeostase fetal e
contratura muscular.
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É fundamental avaliar seu risco/benefício.
Risco B/D: diclofenaco sódico, ácido mefenâ-
mico, ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, meloxi-
cam, piroxicam e nimesulida.
Risco C/D: tenoxicam, celecoxibe e cetorolaco
de trometamina.
Na amamentação, ácido mefenâmico, cetoprofe-
no, diclofenaco, ibuprofeno e meloxicam são com-
patíveis nas doses habituais.
Analgésicos
Entre os analgésicos não opioides utilizados du-
rante a gestação e a amamentação, estão o acetami-
nofeno e a dipirona. Em doses habituais, o risco é
B/D para o primeiro e B para o segundo. O aceta-
minofeno em doses superiores a 3 g/dia por tempo
prolongado pode determinar lesões hepáticas e re-
nais nos organismos materno e fetal.
A associação de analgésicos opioides com aceta-
minofeno (risco C/D) promove efeitos sinérgicos
no controle da dor.
Analgésicos opioides
Os analgésicos opioides fracos (tramadol e codeí-
na) e os fortes (metadona, morfina, oxicodona e fen-
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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lho de parto, pode promover depressão respiratória
em RNs e síndrome de privação.
Oxicodona: risco B/D – deve-se evitá-la próximo
ao termo e durante a amamentação.
Fentanil: risco B/D – na gestação, é considera-
do compatível com a amamentação pela Associação
Americana de Pediatria (AAP).
Miorrelaxantes
Cafeína: risco B - doses diárias superiores a 300
mg podem causar baixo peso fetal.
Ciclobenzaprina: risco B – compatível na gesta-
ção, não havendo dados disponíveis sobre seu uso
na amamentação.
Carisoprodol: risco C/D – não há estudos con-
trolados na gestação. Na amamentação, a AAP reco-
menda o uso de baclofeno.
Baclofeno: risco C na gestação. Uso compatível
na amamentação.
Orfenadrina: risco C na gestação. A segurança
durante a amamentação não está estabelecida.
Neurolépticos
Clorpromazina: risco C/D – recomenda-se evi-
tar próximo ao termo por determinar hipotensão,
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
Antidepressivos
Os antidepressivos utilizados em muitas con-
dições dolorosas crônicas parecem ser seguros du-
rante a gestação, visto que supostas associações
teratogênicas em RNs expostos a vários antidepres-
sivos tricíclicos e a fluoxetina não são convincentes
(McGrath et al., 1990; Wisner et al., 1999). Muitos
antidepressivos são secretados no leite materno em
quantidades variadas e sua segurança para os lacten-
tes não está estabelecida.
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Amitriptilina: risco D – durante a gestação,
podem ocorrer anomalias cardiovasculares. Na
amamentação, o uso deve ser criterioso em doses
habituais e o lactente, monitorado. Anomalias de
redução nos membros têm sido relatadas em mu-
lheres que usam amitriptilina no primeiro trimestre
de gravidez. No entanto, em mais da metade de um
milhão de gravidezes em que a amitriptilina foi utili-
zada, no segundo e no terceiro trimestre, não houve
relatos de anomalias fetais.
Nortriptilina: risco D – determinante poten-
cial de malformações congênitas. É excretada no
leite e não há dados disponíveis sobre seu uso na
amamentação.
Maprotilina: risco B – seu uso é compatível na
gestação e na lactação.
Imipramina: risco D – pode determinar síndro-
me de privação no RN e, durante a amamentação,
deve-se monitorar o lactente.
Clomipramina: risco C – não há estudos contro-
lados, mas a exposição prolongada pode causar sín-
drome de privação em RNs. Seu uso é compatível
na amamentação.
Fluoxetina: risco C – não há estudos controla-
dos na gestação, sendo contraindicada durante a
amamentação.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
Anticonvulsivantes
Os anticonvulsivantes como a carbamazepina,
a fenitoína e o ácido valproico podem duplicar
o risco de malformações durante a gestação. Ca-
racterizam-se por defeitos do tubo neural e al-
terações cardíacas. Quando possível, devem ser
descontinuados, especialmente no primeiro tri-
mestre. Quando não for possível, aconselham-se
suplementação com ácido fólico e dosagem de
alfafetoproteína, para detectar malformações no
tubo neural.
Carbamazepina: risco D – pode causar espinha
bífida como conjunto de malformações menores:
craniofaciais, microcefalia, septo nasal alargado,
fenda palatina e/ou lábio leporino, pescoço cur-
to, implantação baixa da orelha, hipertelorismo
ocular, pregas do epicanto, ptose palpebral e em
membros, hipoplasia digital, ausência de unhas,
alteração das linhas palmares, crescimento uterino
retardado, desenvolvimento mental retardado e
doença hemorrágica de RNs. Seu uso é compatível
na amamentação.
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Gabapentina: risco C – não há estudos contro-
lados na gestação. Estudos em animais demonstra-
ram efeitos teratogênicos. Não há dados disponíveis
na amamentação.
Lamotrigina: risco C – não há estudos controla-
dos na gestação e seu uso deve ser criterioso duran-
te a amamentação.
Topiramato: risco C – não há estudos controla-
dos durante a gestação, mas há associação com hi-
pospadia. O lactente deve ser monitorado em razão
de possíveis efeitos colaterais.
Meios físicos e acupuntura: complementam o
tratamento medicamentoso e muitas vezes são a
primeira escolha para aliviar e controlar as dores
de origem musculoesquelética. Por praticamente
serem destituídos de efeitos colaterais, são inócuos
ao feto.
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Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
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Classificação Definição Exemplos
da FDA
Categoria X Estudos em animais
ou humanos
demonstraram
anormalidade ou
existem evidências
positiva de risco fetal
baseadas em relatos
de eventos adversos.
Os riscos de uso em
gestante claramente
superam os
benefícios.
42
Tr atamento d a d o r n a g e s t a n t e e l a c t a n t e
considerações finais
Aproximadamente 80% das mulheres utilizam
quatro ou mais fármacos, incluindo analgésicos,
durante a gestação. Ao se prescrever um fármaco
durante a gestação ou lactação, deve-se considerar
o binômio mãe-filho e analisar crítica e individual-
mente as escolhas e decisões. Tratar as dores agudas
e crônicas durante a gestação e lactação constitui
um desafio para o médico e uma grande preocupa-
ção para a mulher que, muitas vezes, determina o
subtratamento e a subutilização dos medicamentos,
causando sofrimento desnecessário e uma evolução
clínica muitas vezes desfavorável.
43
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