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ANATOMIA

Kamile Pavani
Sistema genital feminino
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a anatomia macroscópica das estruturas que compõem o


sistema genital feminino;
„„ Explicar as funções da vulva e dos órgãos e as estruturas intrapélvicas
do sistema genital feminino;
„„ Relacionar a anatomia topográfica do sistema genital feminino com
a gravidez ectópica.

Introdução
Nesta unidade, você vai aprender sobre a anatomia e as funções do
sistema genital feminino que, além de sua função reprodutora, também
é importante na produção de hormônios e no desenvolvimento fetal.
Você também vai aprender sobre algumas patologias que podem envolver
o sistema e seus respectivos tratamentos.

Estruturas que compõem o sistema


genital feminino
O sistema genital feminino pode ser dividido em estruturas externas e internas.
O órgão genital externo é denominado vulva ou pudendo e inclui o monte do
púbis, os lábios maiores e menores, o clitóris, os bulbos do vestíbulo e as glân-
dulas vestibulares maiores e menores. Os órgãos internos são constituídos pela
vagina, pelo útero, pelas tubas uterinas ou trompas e pelos ovários (Figura 1).
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Figura 1. Estruturas reprodutoras femininas (corte sagital).


Fonte: Vanputte et al. (2016, p. 1035).

O monte do púbis é a porção adiposa anterior à sínfise púbica. Os lábios


maiores são pregas cutâneas preenchidas por panículo adiposo que contém
músculo liso e extremidades do ligamento redondo do útero. Os lábios menores
são pregas arredondadas de pele sem pelos e gordura, cujas lâminas mediais
formam o frênulo do clitóris e as lâminas laterais, o prepúcio do clitóris. O
clitóris é um órgão erétil localizado anteriormente no ponto de encontro dos
lábios menores.
O vestíbulo é o espaço circundado pelos lábios menores, onde se encontram
os óstios da uretra e da vagina e os ductos das glândulas vestibulares maiores
e menores. O óstio da uretra está localizado anteriormente ao da vagina.
O hímen é uma prega fina de mucosa que circunda a luz dentro do óstio da
vagina, os bulbos vestibulares são massas de tecido erétil, alongados e pares,
situados ao longo das laterais do óstio da vagina.
As glândulas vestibulares maiores estão situadas na porção superficial
do períneo, e as vestibulares menores, entre os óstios da uretra e da vagina.
Os órgãos internos do sistema genital feminino atuam na produção de
gametas funcionais, proteção e sustentação do embrião em desenvolvimento,
além de propiciar a amamentação ao recém-nascido.
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A vagina é um tubo músculo membranáceo que se estende do colo do


útero até a fenda entre os lábios menores, é posterior à uretra e anterior
ao reto. A Figura 2 a seguir apresenta a vista posterior do útero e suas
estruturas e a vista de uma secção no ovário para observação de sua
composição interior.

Figura 2. Anatomia externa do útero em vista posterior.


Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p.729).

O útero é um órgão muscular oco de paredes espessas e piriformes, pode


ser dividido em corpo do útero (dois terços superiores do órgão), que inclui
o fundo do útero, parte arredondada acima dos óstios uterinos das tubas, e
o colo do útero. O corpo é separado do colo pelo istmo do útero. O colo do
útero é o terço inferior cilíndrico e estreito do útero. A quantidade de tecido
muscular no colo é bem menor do que no corpo do útero, sendo constituído
principalmente por tecido fibroso e colágeno.
A parede do corpo do útero é formada por três lâminas: perimétrio (serosa),
miométrio (músculo liso) e endométrio (mucosa interna).
As tubas uterinas se estendem lateralmente a partir dos cornos uterinos e
se abrem para a cavidade peritoneal próximo aos ovários. Os ovários são as
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gônadas femininas com formato e tamanho semelhantes a uma amêndoa, estão


suspensos pelas duas pregas peritoneais e fixados ao útero pelos ligamentos
útero-ováricos.

Endometriose é o crescimento de tecido endometrial fora do útero. Essa formação de


tecido ectópico geralmente ocorre na região pélvica, externo ao útero, nos ovários,
no intestino, no reto, na bexiga e na delicada membrana que reveste a pélvis. Porém,
esses crescimentos também podem ocorrer em outras partes do corpo. A endome-
triose é um problema comum, que pode transcorrer em gerações seguintes de uma
mesma família. Geralmente, o diagnóstico acontece entre 25 e 35 anos, mas a doença
provavelmente inicia após a menstruação regular. A endometriose é uma causa comum
de infertilidade feminina, com prevalência em torno de 10%.
As causas da endometriose ainda não são um consenso, porém algumas já foram
identificadas:
„„ menstruação retrógrada;
„„ crescimento de células embrionárias;
„„ sistema imunológico deficiente;
„„ outras causas como histerectomia prévia e o transporte de células pelo sistema
linfático.

Funções da vulva e dos órgãos e estruturas


intrapélvicas do sistema genital feminino
A vulva tem como função evitar a entrada de material exógeno no trato uro-
genital, orientar o jato de micção e funcionar como tecido sensitivo e erétil
para relação e excitação sexual (Figura 3). Os lábios maiores e os menores têm
como função proteger as demais estruturas da vulva. O clitóris é uma estrutura
para excitação sexual. As glândulas vestibulares têm função secretora para
lubrificação do vestíbulo e da vagina durante a relação sexual.
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Figura 3. Vulva.
Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 738).

A vagina serve como canal para o líquido menstrual e como canal de parto,
além de, na relação sexual, receber o pênis e o ejaculado.
O útero tem como função abrigar o embrião durante todo o seu desenvolvi-
mento. As tubas uterinas servem como conduto e local de fertilização para os
ovócitos liberados durante o ciclo menstrual. O infundíbulo é a porção distal
afunilada da tuba uterina. A abertura do infundíbulo é o óstio, que é rodeado
por fímbrias que se abrem na porção média do ovário. O infundíbulo se liga
à ampola, que se estreita para se tornar o istmo, que é a parte da tuba uterina
mais próxima do útero.
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Os ovários têm como função a produção de hormônios reprodutivos e de


células germinativas. O peritônio (epitélio do ovário) cobre a superfície dos
ovários, que possuem uma cápsula externa denominada de túnica albugínea,
dividida internamente em um córtex contendo folículos e uma medula, que
recebe vasos sanguíneos e linfáticos e nervos.

Síndrome do ovário policístico: é o distúrbio hormonal mais comum entre mulheres


em idade fértil, afetando de 6 a 7% delas. A síndrome é caracterizada pela cessação
permanente da ovulação e pela elevada produção de andrógenos. As mulheres
afetadas podem apresentar alterações como menstruações irregulares, infertilidade,
acne e perda de cabelos. Além disso, nas últimas décadas, várias complicações têm
sido associadas à síndrome devido ao desequilíbrio metabólico e a inflamações, como
diabetes melito tipo 2.

No miométrio, estão localizados os principais ramos dos vasos sanguíneos


e nervos do útero; durante o parto, a contração do miométrio dilata o óstio do
colo e expele o feto e a placenta.
O endométrio está em constante modificação durante o ciclo menstrual; se
há concepção, o blastocisto se implanta nessa camada; se não houver concepção,
a camada mais superficial é eliminada na menstruação.
O sangramento menstrual é sempre proporcional ao crescimento do endo-
métrio uterino; este processo é fisiológico e quando esse sangramento excede a
normalidade existe alguma alteração na mulher. Os distúrbios do útero podem
incluir uma disfunção hormonal, miomas (fibroides, tumores benignos do
miométrio subjacente) e o câncer de endométrio, sendo que todos apresentam
um sangramento vaginal anormal.
As infecções pélvicas acabam produzindo aderências e cicatrizes do
endométrio ou das tubas uterinas, podendo resultar em infertilidade. Os sinto-
mas iniciais podem ser dor abdominal e pélvica (cervical e dos anexos) e febre,
os leucóticos aparecem elevados e a cultura endocervical é positiva. Dentre os
agentes infecciosos comuns estão a gonorreia, as bactérias anaeróbias e a clamídia.
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Sabemos que uma das principais funções do sistema genital feminino é


a fecundação, porém, existem problemas que podem impedir que a mulher
fecunde ou que consiga manter uma gestação. Dentre as possíveis causas da
infertilidade feminina estão: disfunção ovulatória (diminuição da reserva
ovariana, oligo-ovulação ou amenorreia, síndrome dos ovários policísticos,
amenorreia hipotalâmica); patologia tubária ou pélvica (endometriose; cica-
trizes e aderências que podem ser causadas por doença inflamatória pélvica,
infecção crônica, cirurgia tubária, gravidez ectópica ou ruptura de apêndice);
doença da tireoide; doença da hipófise (hiperprolactinemia).

A histerectomia é a excisão do útero por abordagem abdominal ou vaginal. Pode ser


indicada para o tratamento de:
„„ miomas;
„„ endometriose;
„„ doença inflamatória pélvica;
„„ cistos de ovário recorrentes;
„„ sangramento uterino excessivo;
„„ câncer do colo do útero, do corpo do útero ou dos ovários, de acordo com o seu
estadiamento.
A histerectomia pode ser:
„„ parcial: remoção do corpo do útero, mantendo-se o colo do útero.
„„ total: ocorre a retirada do corpo e do colo do útero.

Gravidez ectópica
Cerca de 15% de todas as gestações acabam em aborto espontâneo; dentre
as possíveis causas estão as genéticas ou ambientais, anterior ao período em
que é possível ocorrer vida extrauterina (cerca de 24 semanas de gestação
e 750 g de peso corporal). O aborto, quando inevitável, é manifestado com
sangramento maciço, dor e dilatação do óstio interno. O aborto pode ser uma
ameaça quando ocorre sangramento uterino indolor, com o colo do útero
fechado e não apagado.
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Gravidez ectópica é a nomenclatura utilizada para qualquer gravidez que


ocorra fora do útero. A gravidez tubária é o tipo mais comum de gestação
ectópica. Quando ocorre uma oclusão parcial da tuba, como nos casos de
piossalpinge (coleção de pus na tuba uterina) ou aderências, o blastocisto pode
não fazer o trajeto da tuba até o útero, podendo implantar-se na mucosa da
tuba uterina. O local mais comum é na ampola.
Algumas das possíveis causas da gravidez ectópica incluem: uso de DIU,
doença inflamatória pélvica, salpingite (inflamação ou deformação das trom-
pas de falópio), complicações de infecção por clamídia e fertilização in vitro,
entre outras.
O diagnóstico se dá pela ausência de elevação apropriada do nível sérico
de β-hCG nas primeiras semanas de gravidez e também por ultrassonografia,
quando não se localiza uma gravidez intrauterina.
Nos casos de gravidez ectópica tubária, ocorre apenas a formação de âmnio
e cório, não se encontrando uma verdadeira decídua. Geralmente, a gestação
termina com a expulsão do embrião para a cavidade abdominal. Se não for
realizado o diagnóstico precoce, existe o risco de ruptura da tuba uterina e
hemorragia grave durante as oito primeiras semanas da gestação, constituindo
uma ameaça à vida materna e levando à morte do embrião. Quando ocorre na
tuba direita, pode ser frequentemente confundida com um quadro de apendicite,
com irritação do peritônio parietal e dor referida em fossa ilíaca direita. A
implantação, em casos raros, também pode ocorrer no mesentério da cavidade
abdominal. Embora o desenvolvimento do feto possa ocorrer normalmente,
é considerada uma gravidez de altíssimo risco devido à grave ameaça à vida
da mãe e do feto. As opções de tratamento incluem: utilização de metotrexato
(age inibindo o metabolismo do ácido fólico) e cirurgia.
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Existem vários artigos publicados sobre endometriose em bases de dados científicas,


faça uma busca no link a seguir e conheça alguns deles:
https://goo.gl/Y2QzC
Saiba como a endometriose pode afetar a qualidade de vida de mulheres neste artigo:
https://goo.gl/n5m7kQ
Assista ao vídeo a seguir para entender melhor o que é a endometriose:
https://goo.gl/St8HHP

A ida periódica ao ginecologista é importante para o cuidado da mulher com o seu


corpo. Em geral, realiza-se uma consulta anual para a coleta do exame de Papanicolau
e a verificação de alterações patológicas e morfológicas do colo do útero. Nessa
consulta, também é realizado o exame das mamas. A consulta ginecológica é um
momento propício para a mulher tirar dúvidas sobre possíveis alterações hormonais
e menstruais, em um contexto de atenção integral à sua saúde. O Ministério da Saúde
vem abordando, nos últimos anos, a importância da atenção primária à saúde da
mulher como um forte indicador de prevenção de cânceres como o de ovário, o de
mama e o de colo do útero. Não raras vezes, as mulheres acabam por acostumar-se
com dores ou desconfortos na região pélvica, imaginando que podem passar ou que
se tratam de sintomas normais do sistema genital feminino. Postergar a investigação
nesses casos é um risco para saúde, de modo que a ida ao consultório do ginecologista
ou ao posto de saúde é um importante meio para a investigação e para o tratamento
desses tipos de problemas.
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MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
VANPUTTE, C. L. et al. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
VARELLA, D. Endometriose: Drauzio Comenta #38. YouTube, 2017. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=P5G-ouo8T6o>. Acesso em: 19 out. 2017.

Leituras recomendadas
GOSS, C. M. Gray anatomia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.
HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina
clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
HANKIN, M. H.; MORSE, D. E.; BENNETT-CLARKE, C. A. Anatomia clínica: uma abordagem
por estudos de casos. Porto Alegre: AMGH, 2015. 432 p.
MOORE, K. L; DALLEY, A.F. Anatomia orientada para clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koogan, 2007.
PUTZ, R.; PABST, R. Atlas de anatomia SOBOTTA. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
SOCIEDADE BRASILEIRA PARA ESTUDO DA DOR. Endometriose. São Paulo: SBED, 2017.
Disponível em: <http://www.sbed.org.br/lermais_materias.php?cd_materias=491>.
Acesso em: 19 out. 2017.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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