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Fisiologia da reprodução

APRESENTAÇÃO

As múltiplas atividades celulares dos tecidos e órgãos do corpo humano são coordenadas pela
inter-relação de vários tipos de sistemas de comunicação, entre eles o sistema endócrino, em que
células especializadas, denominadas glândulas, liberam nos vasos sanguíneos hormônios que
influenciam as funções das células localizadas em outros locais do corpo.

A formação dos gametas masculinos e a regulação das funções reprodutoras estão associadas
aos efeitos dos hormônios sexuais masculinos sobre os órgãos sexuais, o metabolismo celular, o
crescimento, entre outras funções. Da mesma forma, as funções reprodutoras femininas, que
consistem na preparação do corpo para a gravidez e, em seguida a própria gravidez, estão
relacionadas à secreção de hormônios pela glândula hipófise anterior. Esses sistemas hormonais
controlam o crescimento de ovários nas mulheres e dos testículos nos homens, bem como as
suas atividades hormonais e reprodutoras.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará a fisiologia do sistema reprodutor masculino e


feminino, além de ver a relação do eixo hipotálamo-hipófise na puberdade e maturação sexual.
Por fim, também estudará os principais eventos do ciclo menstrual feminino.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Apontar os mecanismos fisiológicos dos sistemas reprodutores masculino e feminino.


• Reconhecer o papel do eixo hipotálamo-hipófise na puberdade e maturação sexual.
• Identificar os principais eventos do ciclo menstrual.

DESAFIO

A gonadotrofina coriônica humana é um hormônio de estrutura muito semelhante ao hormônio


luteinizante (LH) secretado pela hipófise. Sem dúvida, sua função mais importante é impedir a
involução do corpo lúteo no final do ciclo reprodutivo mensal. Como efeito, a gonadotrofina
coriônica humana faz com que o corpo lúteo secrete quantidades ainda maiores dos hormônios
sexuais, progesterona e estrogênios, durante alguns meses. Esses hormônios sexuais impedem a
menstruação e induzem o endométrio a continuar crescendo e a armazenar grandes quantidades
de nutrientes, em vez de ser eliminado na menstruação.

Levando-se em conta as funções desse hormônio, o seu efeito sobre a persistência do corpo
lúteo e a prevenção da menstruação, imagine a seguinte situação:

Considerando o caso exposto, responda:

a) Como você, como profissional da área de saúde, espera que estejam os níveis hormonais das
gonadotrofinas e dos hormônios ovarianos nesse período?

b) Qual é a relação entre os níveis hormonais e o período gestacional?

INFOGRÁFICO

Os anos reprodutivos da mulher se caracterizam por alterações rítmicas mensais da secreção de


hormônios femininos e por alterações físicas correspondentes nos ovários e em outros órgãos
sexuais. Esse padrão cíclico, denominado ciclo sexual feminino ou ciclo menstrual,
ocorre aproximadamente a cada 28 dias.
Nesse período, os hormônios gonadotrópicos da hipófise anterior determinam o crescimento de
cerca de 8 a 12 novos folículos nos ovários. Um desses folículos se torna maduro e ovula
aproximadamente na metade do ciclo, no 14º dia. Enquanto isso, o endométrio uterino é
preparado para a implantação do óvulo fertilizado, que ocorre no momento adequado do mês.
Os hormônios secretados em intensidades variáveis durante as diferentes etapas do ciclo são
responsáveis por essas alterações.

Confira, no Infográfico a seguir, as etapas do ciclo sexual mensal feminino, bem como as
interações hormonais e as alterações cíclicas nos ovários e no endométrio, dependentes dos
hormônios liberados pela hipófise anterior e pelos ovários durante esse período.
CONTEÚDO DO LIVRO

O termo reprodução humana remete à análise da fisiologia do sistema genital e endócrino


feminino e masculino. Apesar das diferenças, ambos utilizam sistemas de feedback ou
retroalimentação para controlar as funções endócrinas e reprodutivas.

No capítulo Fisiologia da reprodução, da obra Embriologia clínica, você vai estudar a


fisiologia do sistema reprodutor masculino e feminino, assim como conhecer as funções e
variações hormonais durante a puberdade e maturação sexual, bem como as fases do ciclo
menstrual.

Boa leitura.
EMBIOLOGIA
CLÍNICA

Lisiane Cervieri Mezzomo


Fisiologia da reprodução
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Apontar os mecanismos fisiológicos dos sistemas reprodutores mas-


culino e feminino.
„„ Reconhecer o papel do eixo hipotálamo-hipófise na puberdade e na
maturação sexual.
„„ Identificar os principais eventos do ciclo menstrual.

Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer os mecanismos fisiológicos dos sistemas
reprodutores masculino e feminino. Além disso, também irá estudar o eixo
hipotálamo-hipófise nos períodos da puberdade, do ciclo menstrual, do
climatério e da menopausa, bem como algumas mudanças fisiológicas
que ocorrem durante a gestação. Ainda neste capítulo serão abordados
os fatores fisiológicos e patológicos da puberdade precoce e tardia e as
suas implicações na fertilidade.

Sistemas reprodutores masculino e feminino


Os sistemas reprodutores masculino e feminino são compostos por três con-
juntos de estruturas: gônadas, genitália interna e genitália externa. Gônadas
(testículos nos homens e ovários nas mulheres) são os órgãos que produzem
os gametas (espermatozoides e ovócitos). Esse processo tem início a partir de
células indiferenciadas, chamadas de células germinativas, que se destinam
à produção de ovócitos e espermatozoides. A genitália interna é constituída
pelas glândulas acessórias e pelos ductos que conectam as gônadas ao meio
externo, ao passo que a genitália externa inclui todas as estruturas reprodutivas
externas (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017; RAFF; LEVITZKY,
2012; SILVERTHORN, 2017).
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Sistema reprodutor masculino


As funções do sistema reprodutor masculino incluem a espermatogênese
(produção de espermatozoides) e a regulação das funções reprodutoras pelos
hormônios. Associados a essas funções reprodutoras estão os efeitos dos hor-
mônios sexuais masculinos sobre os órgãos sexuais acessórios, o metabolismo
celular, o crescimento e outras funções do corpo. Os testículos são os órgãos
sexuais masculinos responsáveis pela produção dos espermatozoides e pela
síntese da testosterona, um dos principais hormônios masculinos. Esses pro-
cessos garantem a fertilidade e as características sexuais masculinas (Figura 1)
(HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Figura 1. Sistema reprodutor masculino. Os órgãos reprodutores masculinos incluem os


testículos (principais órgãos sexuais masculinos), um sistema de ductos (epidídimo, ductos
deferentes e ductos ejaculatórios), o pênis e as glândulas acessórias, as quais incluem a
próstata e as glândulas bulbouretrais. O testículo é composto por até 900 túbulos seminíferos
enovelados, no interior dos quais são formados os espermatozoides.
Fonte: Adaptada de Raff (2012).
Fisiologia da reprodução 3

Os testículos são os principais órgãos sexuais masculinos. Trata-se de


numerosos lóbulos formados por túbulos seminíferos que são circundados
por tecido conectivo frouxo. É no interior dos testículos que são produzidos
os espermatozoides. Depois de serem formados nos testículos, os esperma-
tozoides são lançados no epidídimo, um tubo enovelado com cerca de 6 m
de comprimento. Em seguida, eles entram no ducto deferente (que se alarga
para formar a ampola do ducto deferente imediatamente antes de sua entrada
no corpo da próstata) e então no ducto ejaculatório, um canal que passa pela
próstata em direção à uretra.
Duas vesículas seminais, cada uma localizada de um lado da próstata,
liberam seus conteúdos no ducto ejaculatório, que movimenta o sêmen para
o interior da uretra, sendo esta a última conexão entre o testículo e o exterior.
Os ductos prostáticos também desembocam no ducto ejaculador. A uretra é
suprida por muco proveniente das glândulas uretrais e das glândulas bulboure-
trais, também chamadas de glândulas de Cowper. Essas glândulas são bilaterais
e estão localizadas próximas à origem da uretra. O pênis é composto por dois
compartimentos funcionais, a maior parte é constituída por corpos cavernosos,
que são aglomerados de fibras musculares e uma matriz extracelular de colá-
geno, e corpos esponjosos. A vasodilatação mediada pelos nervos autônomos
leva à ereção do pênis, estimula as secreções prostáticas e controla a contra-
ção dos ductos deferentes durante a ejaculação (HALL, 2017; TORTORA;
DERRICKSON, 2017; RAFF; LEVITZKY, 2012; SILVERTHORN, 2017).

O sêmen é composto pelos espermatozoides (10% do volume do ejaculado) e por


líquidos dos epidídimos e dos testículos, além de produtos secretórios das glândulas
acessórias masculinas. A maior parte (em torno de 60%) do volume ejaculado é pro-
duzida pelas vesículas seminais, enquanto o restante é constituído por líquidos do
canal deferente (10% do total), líquido proveniente da próstata (30%) e uma pequena
quantidade produzida pelas glândulas mucosas, especialmente as glândulas bulbou-
retrais (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017).
4 Fisiologia da reprodução

Sistema reprodutor feminino


As principais funções do sistema reprodutor feminino são produzir ovócitos
para a fertilização e proporcionar as condições adequadas para a implanta-
ção do embrião, o desenvolvimento e o crescimento fetais e o nascimento.
Ovários são as gônadas femininas. Eles são responsáveis pela produção dos
ovócitos e dos hormônios estrógeno e progesterona. Os ovários constituem
uma camada cortical externa que contém folículos de diferentes tamanhos e
seus remanescentes, que permanecem sofrendo apoptose, envolvidos em tecido
conectivo. As tubas uterinas se estendem de ambos os ângulos superiores do
útero, sendo subdivididas em um istmo, uma ampola e um infundíbulo, o qual
se abre na cavidade abdominal e é circundado pelas fimbrias, que se ligam ao
ovário. Os cílios do revestimento epitelial das tubas uterinas contribuem para a
orientação da movimentação dos espermatozoides, auxiliando na fertilização e
facilitando o movimento do zigoto (óvulo fertilizado) em direção à implantação
para que ocorra o desenvolvimento fetal (Figura 2) (HALL, 2017; TORTORA;
DERRICKSON, 2017; RAFF; LEVITZKY, 2012; SILVERTHORN, 2017).

Útero

Ovário

Ligamento ovariano

Ovulação

Figura 2. Órgãos reprodutores femininos: principais órgãos do sistema


reprodutor feminino, o qual é composto por dois ovários, duas tubas
uterinas, um útero e uma vagina.
Fonte: Adaptada de Marochkina Anastasiia/Shutterstock.com.
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Eixo hipotálamo-hipófise na puberdade e


maturação sexual
O sistema hormonal feminino é constituído por três hierarquias de hormônios:

1. um hormônio de liberação hipotalâmico, chamado de hormônio libe-


rador de gonadotropina (GnRH).
2. hormônios sexuais produzidos pela hipófise anterior — o hormônio
folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH) —, ambos
secretados em resposta ao GnRH do hipotálamo.
3. hormônios ovarianos, estrógeno e progesterona, que são secretados pelos
ovários em resposta aos dois hormônios da hipófise anterior (LH e FSH).

Já o sistema hormonal masculino é composto da seguinte forma:

1. um hormônio de liberação hipotalâmico, chamado de GnRH.


2. hormônios sexuais produzidos pela hipófise anterior (FSH e LH), ambos
secretados em resposta ao GnRH do hipotálamo.
3. hormônio testosterona secretado pelos testículos em resposta aos dois
hormônios da hipófise anterior — LH e FSH.

A testosterona atua no modo de retroalimentação negativa para suprimir


a secreção de LH pela hipófise anterior e para suprimir a secreção de GnRH
pelas células neurossecretoras hipotalâmicas. O FSH e a testosterona atuam
em conjunto para estimular a espermatogênese. Uma vez que o grau de es-
permatogênese requerido para as funções reprodutivas masculinas tenha sido
alcançado, as células de Sertoli, localizadas nos testículos, liberam o hormônio
inibina, que inibe a secreção de FSH e, por conseguinte, a espermatogênese
(HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017; RAFF; LEVITZKY, 2012;
SILVERTHORN, 2017).

Puberdade
A puberdade é o início da vida sexual adulta. Esse período é determinado por
um aumento gradual da secreção de hormônios gonadotróficos pela hipófise e se
inicia aproximadamente no oitavo ano de vida. Durante a infância, o hipotálamo
não secreta quantidades significativas do GnRH. Uma das razões é que, nesse
período, a menor secreção dos hormônios esteroides atua produzindo um forte
efeito inibitório sobre a secreção hipotalâmica de GnRH. Acredita-se que o
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início da puberdade seja desencadeado por algum processo de maturação que


ocorre, possivelmente, no sistema límbico, com isto, a secreção hipotalâmica
de GnRH rompe a inibição da secreção dos hormônios esteroides, dando
início à vida sexual adulta.
Nos homens, após a puberdade, os hormônios gonadotrópicos são produ-
zidos pela hipófise ao longo de toda a vida, sendo que pelo menos alguma
espermatogênese continua até a morte. Por volta dos 40 ou dos 50 anos de
idade, a maioria dos homens começa a exibir um declínio lento das funções
sexuais em virtude da diminuição da secreção de testosterona. Na mulher,
o aumento gradual da secreção de hormônios gonadotrópicos (FSH e LH) pela
hipófise começa em torno dos oito anos de vida, culminando, habitualmente,
no início dos ciclos sexuais mensais normais. Esse período de modificações
(a puberdade) ocorre por volta dos 13 anos nas meninas. Ele se refere, por-
tanto, ao início da vida sexual adulta e envolve o crescimento ovariano e
folicular. A menarca corresponde ao primeiro ciclo menstrual e ao início da
vida reprodutiva da mulher (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017;
RAFF; LEVITZKY, 2012; SILVERTHORN, 2017).
Durante cada mês do ciclo sexual feminino, tanto o FSH quanto o LH exi-
bem aumento e diminuição cíclicos. Esses hormônios estimulam as células-alvo
ovarianas ao se ligarem a receptores específicos. Tais variações produzem
alterações ovarianas cíclicas. Os dois tipos de hormônios sexuais ovarianos
são o estrogênio e a progestina — hormônios esteroides secretados principal-
mente a partir do colesterol. O hormônio estradiol é o mais importante dos
estrogênios, sendo ele secretado em quantidades significativas pelos ovários e
em pequena quantidade pelo córtex adrenal. Durante a gravidez, porém, esse
hormônio é secretado em grande quantidade pela placenta.
Outros dois tipos de estrogênios, a estrona e o estriol, também são en-
contrados em quantidades significativas no plasma das mulheres. A secreção
de estrogênio apresenta níveis crescentes na puberdade e variações cíclicas
durante os ciclos sexuais mensais, com aumento adicional da secreção durante
os primeiros anos da vida reprodutiva e, ao final desta, uma diminuição pro-
gressiva, culminando, juntamente com a progesterona, em níveis quase inde-
tectáveis após a menopausa. A progesterona é a progestina mais importante,
entretanto, uma pequena quantidade da 17-α-hidroxiprogesterona também é
secretada, tendo essencialmente os mesmos efeitos. Na mulher não grávida,
a progesterona é secretada em quantidades significativas na segunda metade
do ciclo menstrual (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017; RAFF;
LEVITZKY, 2012; SILVERTHORN, 2017).
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Puberdade precoce e tardia


Puberdade precoce é o início da maturação sexual antes dos oito anos de idade
nas meninas ou nove anos nos meninos. Ela pode ser classificada em dois tipos:

„„ dependente do GnRH (puberdade precoce central);


„„ independente do GnRH (efeitos periféricos do hormônio sexual).

Em geral, a puberdade precoce dependente de GnRH é mais comum e


mais frequente em meninas. Nessa patologia, o eixo hipotálamo-hipofisário
é ativado, resultando em aumento da maturação das gônadas, desenvolvi-
mento das características sexuais secundárias e espermatogênese ou oogênese.
Na puberdade precoce independente de GnRH, as características secundárias
resultam de níveis circulantes elevados de andrógenos ou estrógenos, sem a
ativação do eixo hipotalámo-hipófise (HALL, 2017; TORTORA; DERRI-
CKSON, 2017).
Por outro lado, a puberdade tardia é definida como a ausência do início da
maturação sexual na época esperada. Nos meninos, a puberdade tardia é mais
comum e definida como a ausência do aumento dos testículos até os 14 anos
de idade, ao passo que, nas meninas, deve-se à ausência do desenvolvimento
das mamas até os 13 anos e à ausência de menstruação (amenorreia) até os
16 anos. Além desses fatores, cita-se, para ambos os sexos, um período de tempo
superior a cinco anos entre o início e o fim do crescimento dos órgãos genitais.
Há vários distúrbios que estão relacionados à puberdade tardia, entre eles,
doenças autoimunes, tumores que possam interferir no eixo hipotálamo-
-hipófise e reduzir ou interromper a secreção de gonadotrofinas, distúrbios
testiculares e anomalias cromossômicas, como a Síndrome de Turner em
meninas e Síndrome de Klinefelter em meninos (HALL, 2017; TORTORA;
DERRICKSON, 2017).
8 Fisiologia da reprodução

Para saber mais sobre o assunto abordado, acesse os links a seguir para ler, respecti-
vamente, os artigos Puberdade precoce: dilemas no diagnóstico e tratamento, Puberdade
tardia: amenorreia primária e Atraso puberal.

https://qrgo.page.link/HkwLh

https://qrgo.page.link/mEBSW

https://qrgo.page.link/YQEWj

Climatério e menopausa
A diminuição da função sexual masculina é chamada de climatério mascu-
lino. A maioria dos homens começa a exibir declínio lento das suas funções
sexuais entre 40 ou 50 anos de idade. O climatério masculino está relacionado
à diminuição da secreção de testosterona. Por vezes, esse processo ocasiona
sintomas de fogachos, sufocação e distúrbios psíquicos, os quais se semelham
aos sintomas da menopausa na mulher. Tais sintomas podem ser melhorados
com a administração de testosterona, androgênios sintéticos e até mesmo
estrogênios (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Também entre os 40 e 50 anos de idade, os ciclos sexuais da mulher come-
çam a ficar habitualmente irregulares, ou seja, a sua ovulação deixa de ocorrer
durante muitos desses ciclos, período que é chamado de perimenopausal, o
qual se inicia quando os primeiros sintomas da menopausa iminente começam
a aparecer. Depois de alguns meses ou anos, os ciclos cessam por completo.
Esse período em que os ciclos cessam e os hormônios sexuais femininos
diminuem até quase zero é denominado menopausa. O termo significa, por-
tanto, a cessação permanente da menstruação, resultante da perda da função
ovariana. A causa da menopausa é a extinção dos ovários. Durante toda a
vida reprodutiva da mulher, cerca de 400 dos folículos primordiais crescem,
transformam-se em folículos maduros e ovulam, enquanto centenas de milhares
degeneram. Em torno dos 45 anos de idade, restam apenas alguns folículos
primordiais para serem estimulados por LH e FSH, além disso, a produção
de estrogênios diminui à medida que o número de folículos primordiais se
aproxima do zero. Quando a produção de estrógenos cai abaixo de um valor
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crítico, esses hormônios não conseguem mais inibir a produção de LH e FSH,


que passam a ser produzidos em quantidades grandes e contínuas. Conforme
os folículos primordiais remanescentes ficam atrésicos, a produção de estro-
gênio pelos ovários cai praticamente para zero (HALL, 2017; TORTORA;
DERRICKSON, 2017).

As consequências da perda da função ovariana na menopausa provocam um ajuste na


vida da mulher. Os sintomas incluem calorões (fogachos), suor noturno, ressecamento
vaginal e dispareunia (coito dolorido), perda da libido, irritabilidade, fadiga, perda da
massa óssea e consequente osteoporose, além de anormalidade cardiovascular com
risco de doença isquêmica cardíaca. Esses fatores decorrem das ações do estrogênio na
função vascular, no metabolismo de lipídios e carboidratos, na mineralização óssea e
no fechamento epifisário. A administração de estrogênio pode reverter esses sintomas.

O ciclo menstrual
Os anos reprodutivos da mulher incluem alterações rítmicas mensais da se-
creção dos hormônios e alterações físicas correspondentes nos ovários, bem
como em outros órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é chamado de ciclo
mensal feminino, ou ciclo menstrual. O ciclo tem, em média, duração de
28 dias, mas pode ser curto (apenas 20 dias) ou longo (até 45 dias), sendo divi-
dido em fase folicular e lútea (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017).
O primeiro dia da menstruação corresponde ao primeiro dia do ciclo,
quando inicia a fase folicular, com o crescimento e o desenvolvimento de um
folículo dominante nos ovários. Na metade de cada ciclo sexual mensal, um
só óvulo é expelido, a partir do folículo ovariano, para o interior da cavidade
abdominal, próximo às extremidades fimbriadas abertas das tubas uterinas.
Assim, no ciclo menstrual, há, em geral, apenas um único óvulo que é liberado
pelos ovários em cada mês, de modo que apenas um feto possa se desenvolver
após a fecundação. Após a ovulação, o óvulo liberado segue seu trajeto ao
longo das tubas uterinas em direção ao útero. Caso seja fertilizado por um
espermatozoide, ele irá se implantar na cavidade do endométrio, que já foi
preparado durante a fase secretora, no qual ocorrerá o desenvolvimento de
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um embrião (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017). Se o óvulo


liberado não for fecundado, a menstruação, ou a descamação do endométrio,
ocorre cerca de 14 dias após a ovulação, quando a maior parte do endométrio
do útero se destaca da parede uterina, sendo então eliminada. Esse processo
resulta da proteólise e isquemia (vasoconstrição endometrial com ruptura de
capilares) da camada superficial. O aumento das contrações do miométrio
auxilia a expulsão do endométrio degenerado (HALL, 2017; TORTORA;
DERRICKSON, 2017).
Todas essas alterações ovarianas que ocorrem durante o ciclo sexual de-
pendem totalmente dos hormônios gonadotrópicos FSH e LH secretados pela
hipófise anterior. Na ausência destes, os ovários permanecem inativos. O LH
é necessário para o crescimento folicular final e para a ovulação. Cerca de
dois dias antes da ovulação, a secreção de LH pela hipófise anterior aumenta
acentuadamente, atingindo seu pico 16 h antes da ovulação. O FSH também
aumenta de duas a três vezes nesse período, e os dois hormônios atuam de
modo sinérgico para causar o elevado aumento do folículo durante os últimos
dias antes da ovulação. Sem esse surto pré-ovulatório de LH, a ovulação não
acontece. O aumento na secreção de LH leva à reorganização do folículo e à
formação do corpo lúteo, uma glândula endócrina temporária que continua a
produzir e a secretar autonomamente progesterona e estrógeno. O hormônio
exerce um importante papel na regulação da duração do ciclo ovariano, na
manutenção inicial da gestação e na suspensão da liberação de FSH e LH
por meio da inibição de GnRH (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON,
2017). A secreção de estrogênio começa a reduzir um dia antes da ovulação,
enquanto começam a ser secretadas grandes quantidades de progesterona.
Em caso de fertilização, o corpo lúteo continua a crescer e permanece
funcional durante os primeiros dois a três meses da gestação. Em seguida,
ele regride gradativamente à medida que a placenta assume o papel de síntese
hormonal para a manutenção da gestação. A secreção do hormônio progesterona
continua elevada até o final da gestação. O processo de lise, ou regressão do
corpo lúteo, marca o final do ciclo reprodutivo feminino, com declínio inicial
da produção de progesterona. Corpo albicans é o nome da cicatriz formada
no ovário após a involução do corpo lúteo. Esse período é chamado de fase
lútea (HALL, 2017; TORTORA; DERRICKSON, 2017).
Fisiologia da reprodução 11

Supressão anormal da fertilidade: pílula anticoncepcional


A administração em quantidades apropriadas de estrogênio e progesterona durante
a primeira metade do ciclo feminino pode inibir a ovulação. Isso ocorre em virtude
de a administração desses hormônios impedir o surto pré-ovulatório de secreção
de LH pela hipófise. A depressão hormonal do estrogênio pelos folículos ovarianos
que ocorre imediatamente antes da ovulação constitui o sinal iniciador de ovulação.

HALL, J. E. Guyton & Hall: tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
RAFF, H.; LEVITZKY, M.G. Fisiologia médica: uma abordagem integrada. Porto Alegre:
AMGH, 2012. (Lange).
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

Leitura recomendada
BARRETT, K. E. et al. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
DICA DO PROFESSOR

Durante a gravidez, a placenta forma quantidades particularmente grandes de gonadotrofina


coriônica humana (hCG), estrógenos e progesterona, sendo os hormônios essenciais para a
gravidez normal. A secreção de gonadotrofina coriônica humana, pelos tecidos embrionários em
desenvolvimento, impede a menstruação e faz com que o corpo lúteo secrete quantidades
maiores de hormônios sexuais, estrogênios e progesterona durante alguns meses.

Nesta Dica do Professor, você vai ver os princípios do teste de detecção de gonadotrofina
coriônica humana, bem como as variações de seus níveis durante a gestação.

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EXERCÍCIOS

1) Hormônios são produtos químicos liberados por uma célula em quantidades muito
pequenas e que exercem ação biológica sobre uma célula-alvo. A hipófise é uma
glândula endócrina responsável pela secreção de hormônios que realizam
importantes funções na regulação.

Considerando esses conceitos, qual(is) hormônio(s) é (são) secretado(s) pela glândula


hipófise? Marque a alternativa correta.

A) LH e FSH.

B) Estrógeno e progesterona.

C) Hormônio liberador de Gonadotrofinas (GnRH).

D) Estrógeno e testosterona.
E) Gonadotrofinas e GnRH.

2) Com o aumento da expectativa de vida da mulher, cerca de um terço de sua vida


transcorrerá sem a função ovariana. Com referência às alterações endócrinas após a
menopausa, marque a opção correta:

A) Os níveis de estrógenos continuam elevados.

B) Os níveis de estrógeno e progesterona mantêm-se cíclicos.

C) O LH e o FSH ficam inibidos.

D) A progesterona continua a ser secretada pelos folículos remanescentes no ovário.

E) O GnRH é inibido, inibindo também toda a cascata hormonal, incluindo as gonadotrofinas.

3) O sistema hormonal feminino, à semelhança do masculino, é constituído por diversos


hormônios. Estes não são secretados em quantidades constantes durante todo o ciclo sexual
mensal feminino, mas em intensidades bem diferentes durante as diferentes etapas do ciclo.
Observe a figura a seguir sobre a variação dos hormônios no ciclo feminino e, em seguida,
marque a afirmativa correta:
A) De maneira geral, esse período de tempo entre o pico de LH e a menstruação é de 14 dias.

B) Considera-se período fértil todo o período do ciclo sexual, excluindo-se o período da


menstruação.

C) Normalmente, para fins de cálculos, considera-se o dia fértil (dia exato da ovulação) como
sendo o primeiro dia do ciclo.

D) O corpo lúteo, secretor de progesterona, não tem participação na função ovariana até a
menopausa, momento em que os folículos se tornam atrésicos.

E) Não há como prever o dia da ovulação.

4) O ciclo menstrual consiste em um processo cíclico decorrente da secreção alternada


de quatro principais hormônios. Os hormônios gonadotrópicos, secretados na
hipófise, agem naturalmente sobre diferentes órgãos. Os hormônios sexuais,
secretados pelas glândulas sexuais, também são produzidos quando estimulados pelos
hormônios gonadotrópicos.

A respeito da fisiologia do ciclo menstrual, julgue os itens a seguir e marque a


afirmativa correta:

A) O crescimento folicular inicial não é dependente das gonadotrofinas.

B) O FSH estimula os folículos primários a produzirem estrógeno e progesterona,


principalmente.

C) O pico de LH coincide com o momento exato da expulsão do oócito.

D) Os níveis de estrógeno e progesterona permanecem elevados durante todo o ciclo


menstrual.

E) O término do ciclo menstrual e a menstruação ocorrem em virtude da diminuição da


secreção dos hormônios hipofisários.

5) A espermatogênese ocorre durante a vida sexual ativa em consequência da


estimulação dos hormônios gonadotróficos e da hipófise anterior. A emissão da
ejaculação começa com contrações iniciais, que culminam com a expulsão do
espermatozoide.

Marque a resposta que descreve corretamente o caminho que os espermatozoides


percorrem desde a sua produção até a sua saída:

A) Próstata, vesícula seminal, ducto deferente e uretra.

B) Túbulos seminíferos, epidídimo, canal deferente e uretra.

C) Túbulos seminíferos, próstata e vesículas seminais.


D) Canal deferente, túbulos seminíferos, próstata e uretra.

E) Canal deferente, túbulos seminíferos e uretra.

NA PRÁTICA

A menopausa é uma fase natural da vida da mulher em que ela para de menstruar. Com isso,
surgem mudanças físicas e psicológicas. Um dos tratamentos para amenizar os sintomas da
menopausa é a terapia de reposição hormonal (TRH), que consiste na reposição dos mesmos
hormônios que a mulher tinha antes da menopausa e que foi perdendo ao longo da vida.

Veja, Na Prática, alguns sintomas comuns da menopausa que podem ser amenizados com o uso
de TRH.
SAIBA +

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Corpo humano – fundamentos de anatomia e fisiologia

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a fisiologia do corpo humano, não deixe de ler o
livro a seguir, que também aborda a anatomia.

Anticoncepcionais, nódulos e trombose

No vídeo a seguir, o médico Drauzio Varella fala sobre algumas dúvidas sobre pílulas
anticoncepcionais e os seus efeitos colaterais. Não deixe de conferir.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Saúde reprodutiva do casal e da gestação

Neste vídeo, o assunto abordado é sobre métodos para engravidar e dicas para quem não deseja
engravidar.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Curiosidades sobre o sêmen

Você sabia que a roupa íntima afeta a qualidade do sêmen? Essa e outras curiosidades sobre esse
líquido fundamental para a reprodução podem ser descobertas lendo o conteúdo a seguir.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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