Você está na página 1de 83

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/242488853

REDUÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS DO CANTEIRO DE OBRAS

Article · January 2004

CITATION READS
1 1,807

2 authors, including:

Francisco Ferreira Cardoso


University of São Paulo
62 PUBLICATIONS 103 CITATIONS

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Evaluating subcontractor´s competitiveness as visiting researcher at Universitat Politècnica de València (UPV) View project

Manufacturing systems in construction View project

All content following this page was uploaded by Francisco Ferreira Cardoso on 12 January 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


REDUÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS DO
CANTEIRO DE OBRAS
Francisco Ferreira Cardoso, Viviane Miranda Araujo

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04

1. Conceitos Fundamentais ................................................................................................ 2


1.1. Aspectos e Impactos ambientais dos canteiros de obras ........................................ 3
1.2. Aspectos e Impactos sociais e econômicos dos canteiros de obras ...................... 24
2. Instrumentos tecnológicos e gerenciais ..........................................................................25
2.1. Práticas recomendadas e recursos para mitigação de impactos ambientais
negativos ...................................................................................................................... 25
2.2. Plano de Redução dos Impactos Ambientais ........................................................ 25
3. Metodologias de avaliação............................................................................................30
3.1.Método de Pesquisa ............................................................................................... 30
3.2.Análise dos resultados ........................................................................................... 30
4. Inovações Tecnológicas................................................................................................33
4.1. Infra-estrutura do canteiro de obras ...................................................................... 33
4.2. Recursos................................................................................................................ 43
4.3. Resíduos................................................................................................................ 45
4.4. Incômodos e poluições ......................................................................................... 54
4.5. Demandas das metodologias de avaliação estrangeiras........................................ 70
5. Políticas Públicas .........................................................................................................74
5.1 Resíduos................................................................................................................. 75
5.2 Ambiente de trabalho............................................................................................. 77
5.3 Ruído...................................................................................................................... 77
5.4 Qualidade do ar ...................................................................................................... 78
5.5 Outras legislações e normas referentes ao meio-ambiente .................................... 79
6. Referências bibliográficas.............................................................................................79

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 1


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

1. Conceitos Fundamentais
A etapa de construção, no ciclo de vida de um edifício, responde por uma parcela significativa dos
impactos causados pela construção civil no ambiente, principalmente os conseqüentes às perdas de
materiais e à geração de resíduos e os referentes às interferências na vizinhança da obra e nos meios
físico, biótico e antrópico do local onde a construção é edificada.

As perdas de materiais, quer incorporadas ao edifício, quer pela formação de entulho ou por roubo,
embora aqui citadas, são cobertas no capítulo “Consumo de materiais”.

É bastante grande a importância dos resíduos gerados nos canteiros de obra, tanto pela quantidade
que representam - da ordem de 50% da massa total dos resíduos sólidos produzidos nas áreas
urbanas - como pelos impactos que causam, principalmente ao serem levados para locais
inadequados. Por isso, são tratados por uma resolução federal, a de nº 307/2002 do CONAMA -
Conselho Nacional do Meio Ambiente (2002), que dispõe sobre o seu gerenciamento. Como
conseqüência, o tema vem sendo estudado e soluções desenvolvidas cobrindo pontos como a
redução da produção de resíduos em obras (perdas por entulho), o gerenciamento dos resíduos
inevitavelmente produzidos e a sua reciclagem e reuso. Destes, apenas o segundo ponto é aqui
tratado, o do gerenciamento dos resíduos gerados, sendo o primeiro coberto no capítulo “Consumo
de materiais” e os dois últimos no capítulo “Seleção de materiais”.

Já as interferências causadas pelos canteiros de obras não têm merecido a devida atenção das
empresas e dos profissionais e acadêmicos, embora também causem impactos significativos, como
incômodos à vizinhança (sonoros, visuais, etc.) e poluições (ao solo, à água e ao ar), impactos ao
local da obra (aos ecossistemas, erosões, assoreamentos, trânsito, etc.) e consumo de recursos
(principalmente água e energia). Essas interferências têm assim escala local – trabalhadores,
vizinhança e ecossistemas do terreno – e global (sociedade), principalmente as poluições. Neste
caso, deve-se atender aos grandes desafios globais da redução do efeito estufa (relacionado à
emissão de CO2 ) e de se evitar a diminuição da camada de ozônio e as chuvas ácidas (relacionadas,
por exemplo, ao uso de solventes à base de acetona). Todas as interferências apontadas são
cobertas neste trabalho.

Embora a dimensão ambiental do conceito de sustentabilidade seja fundamental quando se trata de


canteiros de obras, ela não é a única a ser considerada. Do ponto de vista social e econômico, há
diversos pontos a serem levados em conta. O primeiro relaciona-se à saúde e à segurança dos
trabalhadores e da vizinhança. Não cabe um trabalho sobre sustentabilidade tratar de tudo que diz
respeito ao tema, que é motivo de legislação específica e para o qual existem disponíveis trabalhos
acadêmicos, manuais práticos, tecnologias específicas como equipamentos de proteção, etc. O tema
é aqui tratado essencialmente quando os riscos à saúde e à segurança decorrem de aspectos de
natureza ambiental. Além desse, há outros aspectos de natureza social e econômica que são aqui
apontados, como: geração de emprego e renda, interferências na economia local, modificação na
estrutura imobiliária local, alterações no setor comércio e serviços, alteração no cotidiano da
comunidade e importação de doenças.

A seguir, são tratados os aspectos e impactos ambientais dos canteiros, seguidos dos
socioeconômicos.

2 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

1.1. Aspectos e Impactos ambientais dos canteiros de obras

1.1.1. Identificação
É importante a redução dos impactos ou modificações adversas do ambiente causados pela etapa de
construção. Tais impactos resultam das atividades desenvolvidas durante a execução do diferentes
serviços presentes numa obra. As atividades trazem como conseqüência elementos que podem
interagir com o ambiente, sobre os quais a equipe de obra pode agir e ter controle, os chamados
“aspectos ambientais”.

Por exemplo, a atividade “Fundações”, presente na execução da infra-estrutura de um edifício, tem


como um dos aspectos ambientais a “emissão de vibração”, que pode causar como impacto
ambiental “incômodo para a comunidade”. Para se limitar tal incômodo, deve-se procurar reduzir
ou mesmo eliminar a emissão de vibração, por exemplo, mudando-se o tipo de fundação (de uma
estaca cravada para uma escavada) ou a sua tecnologia de execução (pelo uso de bate-estacas
vibratório em vez de por gravidade), ou ainda agir sobre a percepção do incômodo causado,
fazendo-se as cravações em horários cujas conseqüentes vibrações incomodem o mínimo possível
às pessoas.

Assim, embora os impactos sejam os problemas, deve-se conhecer suas causas – os aspectos
ambientais – e em quais atividades estes ocorrem e com que intensidade, para neles atuar,
minimizando suas conseqüências.

Por que então é importante se conhecer os impactos ambientais? Essencialmente para se escolher
onde agir em primeiro lugar e para o quê dar prioridade, já que não se pode atuar sobre tudo, pois,
normalmente, os recursos disponíveis são limitados. Assim, deve se conhecer as intensidades dos
impactos e suas conseqüências para os meios físico, biótico e antrópico, para então priorizá-los. E
mais, deve-se ainda saber em que medida todos aqueles que sofrem impactos, as chamadas “partes
interessadas”, consideram-se prejudicados, como o pessoal que trabalha na obra, os fornecedores, o
empreendedor, os projetistas, a vizinhança e, mesmo, a sociedade como um todo. A priorização
deve ainda considerar o contexto específico do canteiro: reduzir um impacto ao ecossistema local é
fundamental em uma obra numa região de mangue, e perde importância numa obra em terreno
confinado no centro de São Paulo, conseguido após a demolição de imóveis previamente existentes
e remembramento dos lotes. Finalmente, a legislação aplicável tem obrigatoriamente que ser
respeitada.

Priorizados os impactos que precisam ser reduzidos ou eliminados, pode-se definir as tecnologias e
as ações de natureza gerencial necessárias para tanto, estabelecendo os recursos que precisam ser
implementados – equipamentos a serem comprados, profissionais a serem treinados ou contratados,
ferramentas gerenciais a serem implementadas, etc. – e os prazos e custo envolvidos. São estas as
principais informações que interessam aos profissionais de obra preocupados com a questão da
sustentabilidade.

No caso de grandes canteiros, necessários em empreendimentos considerados passíveis de


causarem grandes impactos, a legislação - Resolução nº 001/1986 do CONAMA - obriga que seja
feita uma avaliação mais completa dos mesmos, o Estudo de Impactos Ambientais (EIA) e o seu
relatório-resumo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Este é o caso de estradas, portos,
aeroportos, obras hidráulicas, dentre outros empreendimentos, e, no caso de projetos urbanísticos,
também daqueles com área acima de 100 ha ou implantados em locais considerados de relevante
interesse ambiental. Os EIA/RIMA envolvem estudos cobrindo todo o ciclo de vida do

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 3


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

empreendimento, e não apenas a etapa de construção (BRAGA, 2002).

Este manual, para a etapa de construção, não pretende cumprir o papel de um EIA/RIMA, até
porque é genérico, e não aplicado a uma obra de um empreendimento específico. No entanto,
alinha-se à parte das diretrizes gerais de um EIA/RIMA, na medida em que aponta os impactos
ambientais e socioeconômicos relevantes possíveis de serem gerados na etapa de construção, os
analisa de forma genérica, ao trazer previsões de magnitudes e de importâncias (permanência,
reversibilidade, cumulatividade, sinergismo, etc.) e, sobretudo, nos casos de impactos
desfavoráveis, sugere medidas mitigadoras para os mesmos.

As informações estão primeiramente organizadas considerando-se a dimensão ambiental e,


posteriormente, a social e a econômica. Como se trata de um manual, o seu conteúdo volta-se aos
profissionais que atuam nos canteiros de obras. Assim, as informações relacionadas à dimensão
ambiental encontram-se estruturadas segundo quatro grandes temas, cada qual agrupando aspectos
ambientais correlacionados às atividades desenvolvidas nos canteiros de obras: infra-estrutura do
canteiro de obras; recursos; resíduos; e incômodos e poluições.

Os três primeiros temas são tratados de modo geral, sendo válidos para toda a duração da obra.
Assim, a Infra-estrutura do canteiro de obras trata, dentre outros pontos, de como proceder para que
as construções provisórias do canteiro (áreas de produção, de apoio, de vivência, equipamentos,
proteções coletivas, etc.) sejam implementadas e funcionem de modo a minimizarem os impactos
ambientais decorrentes e para que atividades desenvolvidas para ou durante a construção e o uso
dessas instalações causem os menores impactos – remoção de edificações, supressão da vegetação,
armazenagem de produtos, ocupação da via pública, circulação de veículos, etc. Já o tema Recursos
trata, dentro dos limites de decisão que a equipe de obra pode ter, do consumo de recursos naturais
e manufaturados (compras e contratações que considerem aspectos ambientais e socioeconômicos
como critério de decisão) e do consumo e desperdício de água, energia elétrica e gás natural no
canteiro. Por sua vez, o tema Resíduos trata do atendimento às exigências da Resolução
nº 307/2002 do CONAMA (2002), ou seja, do manejo e da destinação dos resíduos, incluindo dos
perigosos; como já dito, ele não cobre as perdas por entulho, tratadas no capítulo “Consumo de
materiais”. Finalmente, os Incômodos e Poluições referem-se às atividades de transformação da
produção, as quais são tratadas nas diferentes fases de realização da obra, incluindo-se a execução
de serviços em áreas comuns dos conjuntos habitacionais: serviços preliminares; infra-estrutura;
estrutura; vedações verticais; cobertura e proteção; revestimentos verticais; pintura; pisos; sistemas
prediais; e redes e vias.

Para cada um dos quatro temas, são inicialmente identificados os aspectos ambientais pertinentes:

a) Infra-estrutura do canteiro de obras:

− remoção de edificações;
− supressão da vegetação;
− risco de desmoronamentos;
− existência de ligações provisórias (exceto águas servidas);
− esgotamento de águas servidas;
− risco de perfuração de redes;
− geração de energia no canteiro;
− existência de construções provisórias;

4 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

− impermeabilização de superfícies;
− ocupação da via pública;
− armazenamento de materiais;
− circulação de materiais, equipamentos, máquinas e veículos;
− manutenção e limpeza de ferramentas, equipamentos, máquinas e veículos.

b) Recursos:

− consumo de recursos naturais e manufaturados (inclui perda incorporada e


embalagens);
− consumo e desperdício de água;
− consumo e desperdício de energia elétrica;
− consumo e desperdício de gás.

c) Resíduos:

− manejo de resíduos;
− destinação de resíduos (inclui descarte de recursos renováveis);
− manejo e destinação de resíduos perigosos;
− queima de resíduos no canteiro.

d) Incômodos e poluições:

− geração de resíduos perigosos;


− geração de resíduos sólidos;
− emissão de vibração;
− emissão de ruídos;
− lançamento de fragmentos;
− emissão de material particulado;
− risco de geração faíscas onde há gases dispersos;
− desprendimento de gases, fibras e outros;
− renovação do ar;
− manejo de materiais perigosos.

Identificados os aspectos, o passo seguinte foi o da identificação dos impactos ambientais


correspondentes causados aos meios físico, biótico e antrópico, neste último considerando os
trabalhadores do canteiro, a vizinhança e a sociedade como um todo. Os impactos são:

a) Meio físico – solo:

− alteração das propriedades físicas;


− contaminação química;
− indução de processos erosivos;
− esgotamento de reservas minerais.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 5


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

b) Meio físico – ar:

− deterioração da qualidade do ar;


− poluição sonora.

c) Meio físico – água:

− alteração da qualidade águas superficiais;


− aumento da quantidade de sólidos;
− alteração da qualidade das águas subterrâneas;
− alteração dos regimes de escoamento;
− escassez de água.

d) Meio biótico:

− interferências na fauna local;


− interferências na flora local;
− alteração da dinâmica dos ecossistemas locais;
− alteração da dinâmica do ecossistema global.

e) Meio antrópico – trabalhadores:

− alteração nas condições de saúde;


− alteração nas condições de segurança.

f) Meio antrópico – vizinhança:

− alteração da qualidade paisagística;


− alteração nas condições de saúde;
− incômodo para a comunidade;
− alteração no tráfego de vias locais;
− pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem);
− alteração nas condições de segurança;
− danos a bens edificados;
− interferência na drenagem urbana.

g) Meio antrópico – sociedade:

− escassez de energia elétrica;


− pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem);
− aumento do volume aterros de resíduos;
− interferência na drenagem urbana.

6 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Foram assim constituídas matrizes Aspectos & Impactos ambientais para as atividades de produção
dos canteiros de obras do subsetor edificações. A primeira delas, que consta da Tabela 11 , cobre os
três primeiros temas. Considerando-se que se trata de canteiros de obras habitacionais, e levando-se
em conta as magnitudes e importâncias (permanência, reversibilidade, cumulatividade, sinergismo,
etc.) dos impactos negativos e as exigências legais, os mais significativos foram selecionados.

Tabela 1. Matriz Aspectos & Impactos ambientais para as atividades de produção dos canteiros de
obras – subsetor edificações. (DEGANI ,2003; ENVIRONMENT AGENCY, 2005; PULASKI, 2004;
CASTEGNARO, 2003; ENTERPRISE, 2002)
IMPAC TOS AMBIENTAIS

Meio
Meio físico Meio antrópico
biótico

Traba-
Solo Ar Água lhador Vizinhança Sociedade

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Alteração da qualidade das águas subterrâneas

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Alteração da dinâmica do ecossistema global
Alteração da qualidade águas superficiais

Aumento do volume aterros de resíduos


Alteração nas condições de segurança

Alteração nas condições de segurança


Alteração dos regimes de escoamento

Alteração da qualidade paisagística


Aumento da quantidade de sólidos

Alteração no tráfego de vias locais


Alteração das propriedades físicas

Esgotamento de reservas minerais

Interferência na drenagem urbana

Interferência na drenagem urbana


Alteração nas condições de saúde

Alteração nas condições de saúde


Deterioração da qualidade do ar
Indução de processos erosivos

Incômodo para a comunidade


Interferências na fauna local
Interferências na flora local

Escassez de energia elétrica


Danos a bens edificados
Contaminação química

Escassez de água
Poluição sonora
TEMAS

ASPECTOS AMBIENTAIS

Remoção de edificações X ⊗ X X X ⊗ X X ⊗ X ⊗
Supressão da vegetação X ⊗ X X X ⊗ ⊗ ⊗ X X X
Risco de desmoronamentos X X X X X ⊗ X X ⊗ ⊗
Infra-estrutura do canteiro de obras

Existência de ligações provisórias


X X ⊗ ⊗ X X X X X
(exceto águas servidas)
Esgotamento de águas servidas X X ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ X X
Risco de perfuração de redes ⊗ X ⊗ X ⊗ ⊗ X X X ⊗ X X X X X
Geração de energia no canteiro X X ⊗ X ⊗
Existência de construções provisórias X X ⊗ ⊗ ⊗ X X
Impermeabilização de superfícies X X ⊗ X ⊗ X
Ocupação da via pública X X ⊗ ⊗ ⊗
Armazenamento de materiais ⊗ X ⊗ ⊗⊗ ⊗ X X ⊗ X X X X X
Circulação de materiais, equipamentos,
X X X ⊗ ⊗ X X ⊗ X X X X ⊗ ⊗ ⊗ ⊗
máquinas e veículos

1
A doutoranda Clarice Menezes Degani e as mestrandas Fábia Cristina Segatto Marcondes e Priscila de
França Pinheiro, do PCC.USP, participaram da elaboração das tabelas 1 e 2.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 7


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

IMPAC TOS AMBIENTAIS

Meio
Meio físico Meio antrópico
biótico

Traba-
Solo Ar Água lhador Vizinhança Sociedade

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Alteração da qualidade das águas subterrâneas

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Alteração da dinâmica do ecossistema global
Alteração da qualidade águas superficiais

Aumento do volume aterros de resíduos


Alteração nas condições de segurança

Alteração nas condições de segurança


Alteração dos regimes de escoamento

Alteração da qualidade paisagística


Aumento da quantidade de sólidos

Alteração no tráfego de vias locais


Alteração das propriedades físicas

Esgotamento de reservas minerais

Interferência na drenagem urbana

Interferência na drenagem urbana


Alteração nas condições de saúde

Alteração nas condições de saúde


Deterioração da qualidade do ar
Indução de processos erosivos

Incômodo para a comunidade


Interferências na fauna local
Interferências na flora local

Escassez de energia elétrica


Danos a bens edificados
Contaminação química

Escassez de água
Poluição sonora
TEMAS

ASPECTOS AMBIENTAIS

Manutenção e limpeza de ferramentas,


⊗ X ⊗ ⊗ ⊗⊗ ⊗ X ⊗ X X ⊗ X ⊗ ⊗ ⊗
equipamentos, máquinas e veículos
Consumo de recursos naturais e
manufaturados (inclui perda X X ⊗ ⊗ X
incorporada e embalagens)
Recursos

Consumo e desperdício de água ⊗ X


Consumo e desperdício de energia

elétrica
Consumo e desperdício de gás X ⊗ ⊗ ⊗ X
Perda de materiais por entulho2
Manejo de resíduos ⊗ X ⊗⊗ X X X ⊗ X X ⊗ X X ⊗
Resíduos

Destinação de resíduos (inclui descarte


X ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ ⊗⊗ ⊗ ⊗ X ⊗⊗ ⊗⊗ ⊗ X X ⊗ ⊗ ⊗
de recursos renováveis)
Manejo e destinação de resíduos
perigosos ⊗ X ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ X ⊗ ⊗
Queima de resíduos no canteiro ⊗ X ⊗ ⊗ ⊗
⊗ - Impactos normalmente mais relevantes.

Cabem duas observações. A primeira é a de que as relações cruzadas entre aspectos e seus
impactos não aparecerem de forma explícita na tabela. Por exemplo, a “supressão da vegetação”
aumenta o risco de se “induzir processos erosivos”; em havendo estes, deve ocorrer “aumento
quantidade de sólidos” nas águas, assim como “alteração da qualidade das águas superficiais” e dos
“regimes de escoamento”.

A segunda observação é a de que são apenas apontados os impactos causados por atividades de
plena responsabilidade da empresa construtora; por exemplo, não é ela quem especifica o tipo de
madeira usada num revestimento de piso, não sendo, portanto, responsável pelas eventuais

2
Aspecto ambiental tratado no capítulo “Consumo de materiais”.

8 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

alterações causadas ao ecossistema global, caso seja uma madeira rara, por exemplo. No entanto, é
ela quem seleciona o fornecedor da madeira e, na compra, deve dar preferência àqueles que
comprovem a sua origem. A única exceção fica por conta de impactos que ocorrem durante a
duração do canteiro, que não necessariamente sejam de plena responsabilidade da empresa
construtora; por exemplo, não é ela quem define a implantação do edifício a ser construído por
sobre determinada vegetação, mas é ela quem promove o corte necessário das árvores.

A Tabela 2 volta-se aos aspectos ambientais relacionados a incômodos e poluições, trazendo os


mais relevantes em função da fase da obra e das atividades nelas desenvolvidas, e mais uma vez
indicando os impactos negativos mais significativos.

Tabela 2. Aspectos ambientais relacionados a incômodos e poluições em função das diferentes


fases de uma obra e de suas principais atividades – subsetor edificações.

INCÔMODOS E POLUIÇÕES
ASPECTOS AMBIENTAIS

Risco de geração faíscas onde há gases dispersos

Desprendimento de gases, fibras e outros


Emissão de material particulado

Manejo de materiais perigosos


Geração de resíduos perigosos

Geração de resíduos sólidos

Lançamento de fragmentos
Emissão de vibração

Emissão de ruídos

Renovação do ar
FASE DA OBRA ATIVIDADES

Demolição ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ X ♦ X ♦
Serviços Preliminares Limpeza superficial do
terreno
♦ ♦ X ♦
Fundações ♦ ♦ ♦ ♦ ♦
Infra-estrutura Rebaixamento do lençol ♦ X X X X
Escavações e contenções ♦ ♦ ♦ ♦
Estrutura Estrutura ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ X

Alvenarias ♦ X ♦ X

Vedações Verticais Divisórias ♦ X X X ♦


Esquadrias X X ♦
Telhado ♦ X X ♦
Cobertura e proteção
Impermeabilização ♦ X X ♦ X ♦
Revestimentos verticais Revestimento vertical ♦ X ♦ ♦ ♦
Pintura Pintura ♦ ♦ ♦ ♦ ♦
Pisos Piso ♦ ♦ X X ♦ ♦ ♦ ♦

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 9


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Sistemas Prediais Sistemas Prediais ♦ X X X X X ♦


Redes enterradas e aéreas X ♦ ♦ ♦ X ♦ ♦ X
Terraplenagem ♦ ♦ ♦ ♦ X ♦ X X
Redes e vias
Pavimentação ♦ ♦ ♦ ♦ X ♦ ♦ ♦
Drenagem superficial ♦ X ♦ X X

♦ - Aspectos ambientais normalmente mais relevantes.

Ainda considerando os incômodos e poluições, a Tabela 3 apresenta os impactos ambientais


causados aos meios físico, biótico e antrópico correspondentes a cada aspecto ambiental,
organizados pela atividade envolvida em cada fase da obra. Aqui também os impactos negativos
mais significativos foram indicados.

A partir dos impactos mais relevantes indicados nas Tabelas 1 e 3, serão identificadas as práticas
recomendadas (tecnologias ou ações de natureza gerencial), que constarão do item Instrumentos
tecnológicos e gerenciais.

As três tabelas são indicativas e devem ser empregadas de modo cuidadoso. Por serem genéricas,
as particularidades de cada empreendimento específico têm que ser consideradas. Por esta razão,
trazem também as relações aspectos x impactos (Tabelas 1 e 3) e atividades x impactos (Tabela 2)
que não foram consideradas mais significativas, chamando assim a atenção para elas. Apresentam
como vantagem a rapidez na manipulação e na identificação dos impactos mais prováveis.

Finalmente, deve-se observar que, embora na identificação dos aspectos o foco tenha sido as
questões ambientais, preocupações de natureza social, muitas relacionadas à saúde e à segurança,
acabam se fazendo presentes. Esse é o caso, por exemplo, do aspecto “ocupação da via pública”,
cujas implicações e razões para preocupação não têm relação com desafios como a redução de
poluições ou do consumo de recursos, ou ainda de impactos como “alteração nas condições de
saúde dos trabalhadores” e “alteração nas condições de segurança da vizinhança”.

10 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Geração de resíduos sólidos
Ge ração de resíduos perigosos
ASPECTOS AMBIENTAIS

Piso
Pintura
Estrutura
Divisórias

Fundações
Demolição
Demolição

Pavimentação
Terraplenagem
Impermeabilização

Rebaixamento do lençol
ATIVIDADES

Limpeza superficial do terreno


X
Alteração das propriedades físicas
Contaminação química

X
X



Solo

Indução de processos erosivos

Esgotamento de reservas minerais

X
Deterioração da qualidade do ar

X
X
X


Ar

Poluição sonora
Meio físico

Alteração da qualidade águas superficiais

X
X

Aumento da quantidade de sólidos


⊗ Alteração da qualidade das águas subterrâneas
X
X



Água

Alteração dos regimes de escoamento


Escassez de água

Interferências na fauna local

PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04


Interferências na flora local

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Meio biótico

Alteração da dinâmica do ecossistema global


Alteração nas condições de saúde





Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


Traba-
lhador

Alteração nas condições de segurança


IMPACTOS AMBIENTAIS

Alteração da qualidade paisagística

Alteração nas condições de saúde


X

Incômodo para a comunidade


X


Alteração no tráfego de vias locais

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


X
Vizinhança

Alteração nas condições de segurança


(DEGANI, 2003; ENVIRONMENT AGENCY, 2005; PULASKI, 2004; CASTEGNARO, 2003; ENTERPRISE..., 2002)

Meio antrópico

Danos a bens edificados


Interferência na drenagem urbana

Escassez de energia elétrica

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


X

Aumento do volume aterros de resíduos






Sociedade

Interferência na drenagem urbana


Tabela 3. Matriz Aspectos & Impactos ambientais para as atividades de produção dos canteiros de obras – subsetor edificações. Tema: Incômodos e Poluições –
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

11
12
Emissão de vibração
ASPECTOS AMBIENTAIS

Piso
Telhado
Estrutura

Fundações
Alvenarias

Demolição
Pavimentação
Terraplenagem
Sistemas Prediais

Drenagem superficial
Revestimento vertical

Escavações e contenções
Escavações e contenções

Redes aéreas e enterradas


Redes aéreas e enterradas
ATIVIDADES

X
Alteração das propriedades físicas
Contaminação química
Solo

Indução de processos erosivos

X
Esgotamento de reservas minerais

Deterioração da qualidade do ar
Ar

Poluição sonora
Meio físico

Alteração da qualidade águas superficiais

Aumento da quantidade de sólidos


Alteração da qualidade das águas subterrâneas


Água

Alteração dos regimes de escoamento


Escassez de água

Interferências na fauna local


X

PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04


Interferências na flora local

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Meio biótico

Alteração da dinâmica do ecossistema global


Alteração nas condições de saúde

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


Traba-
lhador

Alteração nas condições de segurança


X
IMPACTOS AMBIENTAIS

Alteração da qualidade paisagística

Alteração nas condições de saúde


X

Incômodo para a comunidade


X
X








Alteração no tráfego de vias locais

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Vizinhança

Alteração nas condições de segurança


X
Meio antrópico

Danos a bens edificados






Interferência na drenagem urbana

Escassez de energia elétrica

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Aumento do volume aterros de resíduos













Sociedade

Interferência na drenagem urbana


Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo
Emissão de ruídos

Lançamento de fragmentos
ASPECTOS AMBIENTAIS

Estrutura
Estrutura
Fundações

Demolição
Demolição

Pavim entação
Pavimentação

Terraplenagem
Terraplenagem

Drenagem superficial
Revestimento vertical
Escavações e contenções

Redes aéreas e enterradas


ATIVIDADES

Limpeza superficial do terreno


Alteração das propriedades físicas
Contaminação química
Solo

Indução de processos erosivos

Esgotamento de reservas minerais

Deterioração da qualidade do ar
Ar

Poluição sonora

X







Meio físico

Alteração da qualidade águas superficiais

Aumento da quantidade de sólidos

Alteração da qualidade das águas subterrâneas


Água

Alteração dos regimes de escoamento


Escassez de água

Interferências na fauna local


X

PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04


Interferências na flora local

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Meio biótico

Alteração da dinâmica do ecossistema global


Alteração nas condições de saúde
X
X





Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


Traba-
lhador

Alteração nas condições de segurança





IMPACTOS AMBIENTAIS

Alteração da qualidade paisagística

Alteração nas condições de saúde


X
X

Incômodo para a comunidade














Alteração no tráfego de vias locais

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Vizinhança

Alteração nas condições de segurança





Meio antrópico

Danos a bens edificados






Interferência na drenagem urbana

Escassez de energia elétrica

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Aumento do volume aterros de resíduos


Sociedade

Interferência na drenagem urbana


Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

13
14
ASPECTOS AMBIENTAIS

Emissão de material particulado

Piso
Pintura
Estrutura
Fundações
Alvenarias

Demolição

Pavimentação
Terraplenagem

Risco de geração faíscas onde há gases dispersos


Revestimento vertical
Revestimento vertical

Escavações e contenções

Redes aéreas e enterradas


Redes aéreas e enterradas
ATIVIDADES

Limpeza superficial do terreno


Alteração das propriedades físicas
Contaminação química
Solo

Indução de processos erosivos

Esgotamento de reservas minerais

Deterioração da qualidade do ar








Ar

Poluição sonora
Meio físico

Alteração da qualidade águas superficiais

Aumento da quantidade de sólidos

Alteração da qualidade das águas subterrâneas


Água

Alteração dos regimes de escoamento


Escassez de água

Interferências na fauna local


X

PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04


Interferências na flora local

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Meio biótico

Alteração da dinâmica do ecossistema global


Alteração nas condições de saúde











Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


Traba-
lhador

Alteração nas condições de segurança






IMPACTOS AMBIENTAIS

Alteração da qualidade paisagística

Alteração nas condições de saúde






Incômodo para a comunidade



⊗ ⊗
⊗ ⊗




Alteração no tráfego de vias locais

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Vizinhança

Alteração nas condições de segurança






Meio antrópico

Danos a bens edificados



Interferência na drenagem urbana

Escassez de energia elétrica

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Aumento do volume aterros de resíduos


Sociedade

Interferência na drenagem urbana


Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo
Renovação do ar

Manejo de materiais perigosos


ASPECTOS AMBIENTAIS

Piso
Piso

Pintura
Pintura
Desprendimento de gases, fibras e outros

Telhado
Divisórias

Fundações
Esquadrias
Demolição

Demolição
Pavimentação
Sistemas prediais
Impermeabilização
ATIVIDADES

Alteração das propriedades físicas


Contaminação química
Solo

Indução de processos erosivos

Esgotamento de reservas minerais

Deterioração da qualidade do ar

X


Ar

Poluição sonora
Meio físico

Alteração da qualidade águas superficiais

X
Aumento da quantidade de sólidos

Alteração da qualidade das águas subterrâneas

X
Água

Alteração dos regimes de escoamento


Escassez de água

Interferências na fauna local

PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04


Interferências na flora local

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Meio biótico

Alteração da dinâmica do ecossistema global


Alteração nas condições de saúde












Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


Traba-
lhador

Alteração nas condições de segurança


X
IMPACTOS AMBIENTAIS

Alteração da qualidade paisagística

Alteração nas condições de saúde


X

Incômodo para a comunidade

Alteração no tráfego de vias locais

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Vizinhança

Alteração nas condições de segurança


Meio antrópico

Danos a bens edificados


Interferência na drenagem urbana

Escassez de energia elétrica

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Aumento do volume aterros de resíduos


Sociedade

Interferência na drenagem urbana


Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

15
16
ASPECTOS AMBIENTAIS

Piso
Pintura

Pavimentação
Impermeabilização

⊗ - Impactos normalmente mais relevantes.


ATIVIDADES

Alteração das propriedades físicas


Contaminação química
Solo

Indução de processos erosivos

Esgotamento de reservas minerais

Deterioração da qualidade do ar
Ar

Poluição sonora
Meio físico

Alteração da qualidade águas superficiais

Aumento da quantidade de sólidos

Alteração da qualidade das águas subterrâneas


Água

Alteração dos regimes de escoamento


Escassez de água

Interferências na fauna local

PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04


Interferências na flora local

Alteração da dinâmica dos ecossistemas locais


Meio biótico

Alteração da dinâmica do ecossistema global


Alteração nas condições de saúde



Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


Traba-
lhador

Alteração nas condições de segurança


IMPACTOS AMBIENTAIS

Alteração da qualidade paisagística

Alteração nas condições de saúde


Incômodo para a comunidade

Alteração no tráfego de vias locais

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)


Vizinhança

Alteração nas condições de segurança


Meio antrópico

Danos a bens edificados


Interferência na drenagem urbana

Escassez de energia elétrica

Pressão sobre serviços urbanos (exceto drenagem)

Aumento do volume aterros de resíduos


Sociedade

Interferência na drenagem urbana


Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

1.1.2. Razões se preocupar com os aspectos ambientais apontados


Conhecidos os aspectos ambientais e seus conseqüentes impactos ambientais negativos, o passo
seguinte é o da definição das práticas recomendadas - tecnologias ou ações de natureza gerencial –
para mitigá-los ou ao menos reduzi-los. No entanto, antes de pensar-se nelas é importante bem
entender o que está implicado em cada aspecto, quais os desafios associados e as razões do seu
destaque. Por exemplo, por que é relevante o aspecto “Existência de ligações provisórias”? Ora, tal
existência tem várias implicações como, por exemplo, há o risco delas serem mal feitas e acabarem
gerando vazamentos, que vão contaminar o solo ou levar ao desperdício de água. Ou ainda, pode
ter sido feita uma ligação incorreta de uma saída de águas servidas a uma rede de águas pluviais.
Identificar essas questões permite entender os impactos e, o mais importante, vislumbrar as
soluções para intervir nas atividades relacionadas e eliminar ou diminuir as conseqüências dos
impactos.

Neste item são percorridos os diferentes aspectos ambientais, para levantar suas implicações e as
razões para se preocupar com cada um.

Tema: Infra-estrutura do canteiro de obras

• Aspecto ambiental: Remoção de edificações

No Brasil, onde praticamente todas as construções são em estrutura de concreto armado e vedação
em componentes revestidos de argamassa, a remoção de edificações gera um grande volume de
resíduos, o que implica em aumento do volume de aterros e utilização de muitos caminhões para a
realização do transporte, dificultando o tráfego da vizinhança. Outra dificuldade são os
equipamentos utilizados que, por acidente, podem provocar danos a bens edificados vizinhos. Uma
gestão inadequada do processo de remoção pode levar ao carreamento de material por chuva, por
exemplo, aumentando a quantidade de sólidos nas águas superficiais.

• Aspecto ambiental: Supressão da vegetação

Além da alteração da qualidade paisagística, a supressão da vegetação gera um processo dinâmico


de alteração do ecossistema local, trazendo riscos à fauna e à flora. É importante ressaltar que é
comum, nos canteiros, que parte da vegetação seja preservada e, neste caso, devem ser tomadas
precauções para que não haja danos.

Outra conseqüência da supressão da vegetação é a retirada da camada superficial de solo do terreno


e exposição de camadas inferiores que, em geral, são mais suscetíveis à erosão. O processo erosivo,
em pequena escala, pode sujar as ruas vizinhas com solo, porém, em maior escala, pode causar
desmoronamentos, acidentes, etc.

• Aspecto ambiental: Risco de desmoronamentos

Os desmoronamentos podem ter variadas dimensões e impactos. Além do risco de acidentes para
os trabalhadores (por exemplo, soterramentos), há o risco às construções vizinhas, que podem ter
como conseqüências um recalque diferencial, danos às fundações, etc., com implicações materiais,
como também diminuindo o nível de segurança da vizinhança.

• Aspecto ambiental: Existência de ligações provisórias (exceto águas servidas)

As ligações provisórias mal executadas de energia elétrica podem causar acidentes, trazendo riscos
à segurança do trabalhador. Já, as ligações provisórias de água podem causar escassez do recurso

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 17


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

na vizinhança ao demandar o recurso em excesso. Há também o incômodo causado por


interrupções nos fornecimentos quando das ligações pelas concessionárias.

• Aspecto ambiental: Esgotamento de águas servidas

O esgotamento de águas servidas do canteiro pela rede pública, quando mal feito, pode apresentar
vazamento e, conseqüentemente, percolação do esgoto através do solo, contaminando não somente
águas superficiais como subterrâneas.

Quando o esgotamento é feito por ligação errada à rede de drenagem, pode haver riscos à saúde do
trabalhador e da vizinhança, por causa do contato com o esgoto; incômodo para a comunidade, pelo
o odor e proliferação de vetores; e poluição de águas superficiais. A falta de manutenção, no caso
do uso de fossas sépticas, causa incômodos semelhantes.

• Aspecto ambiental: Risco de perfuração de redes

A perfuração de redes causa incômodos à comunidade pela interrupção do fornecimento de água ou


gás, interdição de ruas e outras áreas e piora do tráfego, quando da execução dos consertos.

No caso das redes de esgoto, a perfuração e conseqüente percolação de esgoto pelo solo podem
levar à contaminação de águas subterrâneas. Já, a perfuração de redes de água pode alterar as
propriedades físicas do solo e indução de processos erosivos e, conseqüentemente, provocar
recalques diferenciais, desmoronamentos, etc., além de contribuir para a escassez de água.

• Aspecto ambiental: Geração de energia no canteiro

A geração de energia no canteiro pelo emprego de geradores de combustão pode causar poluição
sonora, causando incomodo para a vizinhança.

• Aspecto ambiental: Existência de construções provisórias

Além do impacto paisagístico causado à comunidade, as construções provisórias mal construídas


podem trazer riscos à saúde, pelas condições precárias de higiene, e à segurança do trabalhador, por
causa de possíveis acidentes.

• Aspecto ambiental: Impermeabilização de superfícies

A impermeabilização de superfícies causa alteração dos regimes de escoamento por causa da


diminuição da infiltração de água pelo solo. Com o aumento do escoamento superficial, entre
outras conseqüências, há o aumento da solicitação da rede de drenagem local.

• Aspecto ambiental: Ocupação da via pública

A ocupação da via pública, seja por caçambas colocadas junto ao meio fio ou avanço das
instalações do canteiro sobre a calçada, gera incômodos para a comunidade e pode causar
acidentes, principalmente pela alteração do tráfego nas vias locais, que obriga os veículos a
desviarem das caçambas, além de diminuir os locais para estacionamento na rua.

• Aspecto ambiental: Armazenamento de materiais

O armazenamento incorreto de materiais, pr incipalmente os perigosos, pode causar contaminação


química do solo, no caso de vazamentos; deterioração da qualidade do ar pela emissão de, por
exemplo, compostos orgânicos voláteis; poluição de águas subterrâneas, no caso de percolação de

18 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

substâncias no solo; alteração da qualidade das águas superficiais, pelo carreamento de substancias
perigosas pela água; e alterações nas condições de saúde dos trabalhadores. O escoamento
superficial também pode carrear materiais incorretamente estocados, como agregados, podendo
causar aumento da quantidade de sólidos presentes nos corpos d’água.

• Aspecto ambiental: Circulação de materiais, equipamentos, máquinas e veículos

A circulação de materiais, equipamentos, máquinas e veículos pode causar diversos impactos, entre
eles estão: a deterioração da qualidade do ar pela emissão de gases ou materiais particulados;
poluição sonora, por causa da magnitude dos ruídos gerados; interferências na fauna local,
principalmente no caso de áreas rurais, em que o ruído emitido interfere no ecossistema; incômodo
para a comunidade, tanto pelo ruído como excesso de veículos circulando pelas ruas, etc; e
alteração nas condições de segurança da vizinhança, ou mesmo danos a bens edificados, causados,
por exemplo, pelo movimento errado de um guindaste que alcance edificação vizinha.

• Aspecto ambiental: Manutenção e limpeza de ferramentas, equipamentos, máquinas e veículos

A manutenção e limpeza de ferramentas, equipamentos, máquinas e veículos, se feita sobre solo


permeável, pode gerar contaminação química do solo e alteração da qualidade de águas
subterrâneas, por exemplo, pelo derramamento de óleo ou produtos de limpeza. Estes produtos
também podem causar alteração da qualidade de águas superficiais pelo escoamento superficial.

A falta de manutenção, por outro lado, pode causar deterioração da qualidade do ar, pela excessiva
emissão de poluentes; poluição sonora, que também pode afetar a fauna local; vazamentos de
combustível ou óleo; incômodos para a comunidade (pelo ruído, veículos quebrados, etc.);
alteração das condições de segurança do trabalhador e da comunidade (por causa de acidentes) e
danos a bens edificados, por exemplo, um imóvel vizinho atingido por um guindaste defeituoso.

Tema: Recursos

• Aspecto ambiental: Consumo de recursos natu rais e manufaturados (inclui perda incorporada
e embalagens)

O consumo de recursos naturais, principalmente em excesso (caso das perdas incorporadas), ou


“inutilmente” (como as embalagens que possam ser diminuídas ou reaproveitadas) implica na
aceleração do esgotamento de jazidas minerais ou de recursos naturais. Especificamente, o uso de
árvores de áreas não manejadas gera uma cadeia de impactos ambientais, que altera a fauna, a flora,
o ar, etc.

• Aspecto ambiental: Consumo e desperdício de água

O consumo desnecessário de água colabora para a escassez desse recurso cada vez mais raro.

• Aspecto ambiental: Consumo e desperdício de energia elétrica

O consumo desnecessário de energia elétrica é particularmente penoso nos horários de pico de


demanda, ao final do dia.

• Aspecto ambiental: Consumo e desperdício de gás

O gás é um recurso não renovável, e todo consumo desnecessário deve ser evitado. O desperdício
por vazamento põe em risco o trabalhador da obra e a vizinhança e leva à deterioração da qualidade

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 19


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

do ar.

Tema: Resíduos

• Aspecto ambiental: Perda de materiais por entulho

Os resíduos de construção civil representam um significativo percentual dos resíduos sólidos


produzidos em áreas urbanas. As perdas por entulho, além de representar um alto custo ao
construtor, impactam duplamente o meio ambiente: ao levar ao aumento do consumo dos produtos
e ao aumentar os volumes enviados às áreas de destinação, como aterros e, no caso de descargas
ilegais, às áreas não adequadas, como terrenos baldios, córregos, encostas, etc.

• Aspecto ambiental: Manejo de resíduos

O manejo de resíduos inclui as atividades de caracterização, triagem, acondicionamento e


transporte. Sabe-se que estas atividades são fundamentais no gerenciamento de resíduos,
possibilitando a valorização dos mesmos pelo reuso e reciclagem.

O manejo inadequado, portanto, gera diversos impactos, por exemplo: esgotamento de jazidas e
aumento do volume de aterros, pois, por causa da triagem incorreta, materiais que poderiam ser
reutilizados ou reciclados não o serão; alteração da qualidade das águas superficiais e aumento da
quantidade de sólidos nos corpos d’água, por causa do carreamento de sólidos colocados em
dispositivos inadequadamente protegidos pela água de chuva; alteração das condições de saúde do
trabalhador, por exemplo, pelo acondicionamento inadequado, expondo-o à poeira; e incômodo
para a comunidade, no caso da queda de resíduos no momento do transporte, por exemplo.

• Aspecto ambiental: Destinação de resíduos (inclui descarte de recursos renováveis)

A disposição de resíduos em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade


ambiental, impactando significativa e negativamente o meio físico, biótico e antrópico, não
somente dos locais de destinação como de áreas mais extensas. Os resíduos devem ser classificados
conforme determina a resolução CONAMA nº 307/2002 em A, B, C ou D e destinados ao local
correto. Não é permitida a disposição em aterros de resíduos domiciliares, áreas de “bota fora”,
encostas, corpos d’água, lotes vagos e áreas protegidas por lei.

• Aspecto ambiental: Manejo e destinação de resíduos perigosos

O manejo e a destinação inadequados de resíduos perigosos pode trazer graves conseqüências à


saúde do trabalhador e da vizinhança, pelo contato com substancias tóxicas. Deve-se, também,
tomar precauções para que não haja contato de tais resíduos com a flora e fauna local, por exemplo,
numa área rural, por causa do derramamento de resíduos perigosos ou seu carreamento pelas águas.
Da mesma forma, o resíduo pode causar impactos no meio fís ico ao entrar em contato com o solo,
águas subterrâneas ou águas superficiais. A destinação incorreta traz também conseqüências
extremamente danosas para comunidades mais distantes.

• Aspecto ambiental: Queima de resíduos no canteiro

A queima de resíduos nos canteiros, além de proibida, provoca deterioração da qualidade do ar,
além da possibilidade de geração sub-produtos perigosos, como a queima do PVC e do chumbo.
Esses fatores prejudicam a saúde dos trabalhadores e da vizinhança, além de causarem incômodos
significativos para a comunidade.

20 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Tema: Incômodos e Poluições

• Aspecto ambiental: Geração de resíduos perigosos

Os resíduos perigosos podem impactar o meio ambiente de diversas maneiras. Avaliaram-se como
pontos críticos: contaminação química do solo, por exemplo, com a penetração de substancias
tóxicas nos vazios do solo devido ao vazamento de tintas e solventes estocados no canteiro;
deterioração da qualidade do ar, por exemplo, pelo desprendimento de gases tóxicos, como
compostos orgânicos voláteis; poluição de águas subterrâneas, pela percolação de resíduos
perigosos pelo solo atingindo o lençol freático; e alteração das condições de saúde do trabalhador,
por exemplo, pela inalação ou manejo inadequado de substancias nocivas à saúde presentes em
adesivos.

A geração de resíduos perigosos na construção civil, hoje, não pode ser totalmente evitada, porém,
pode ser minimizada ou controlada.

“O controle efetivo da geração, do armazenamento, do tratamento, da reciclagem e reutilização, do


transporte, da recuperação e do depósito dos resíduos perigosos é de extrema importância para a
saúde do homem, a proteção do meio ambiente, o manejo dos recursos naturais e o
desenvolvimento sustentável.”

• Aspecto ambiental: Geração de resíduos sólidos

A geração de resíduos num canteiro de obras é inevitável, no entanto, segundo a Resolução


CONAMA nº 307/2002, a prioridade deve ser a não geração de resíduos e, secundariamente, a
redução, reutilização, reciclagem e destinação final.

Certamente, um dos impactos mais relevantes é o aumento do volume de aterros. Atualmente, em


cidades como São Paulo, a disposição final do resíduo já representa um problema, pois os locais
disponíveis estão acabando. E necessária a conscientização de todos os trabalhadores da obra para
que a geração seja minimizada. Vale lembrar a geração de resíduos gera incômodos à vizinhança,
pela circulação de caminhões, caçambas, ou disposição em lotes vazios nos arredores. Um outro
ponto crítico é o do aumento da quantidade de sólidos nas águas, devido a possível carreamento
causado por uma gestão incorreta dos resíduos.

• Aspecto ambiental: Emissão de vibração

A vibração dos equipamentos e máquinas utilizados pelos trabalhadores, principalmente se aliada a


ruído, pode causar diversos problemas à saúde, como a diminuição da audição. Já, no caso da
vizinhança, as vibrações podem causar estresse psicológico e problemas à saúde.

Nas edificações, as patologias verificadas são decorrentes de danos estruturais ou não. Danos
estruturais são aqueles que afetam a capacidade resistente da estrutura (como trincas em lajes, vigas
ou pilares e alteração das condições das fundações), enquanto danos não estruturais podem
acontecer por conseqüência de danos estruturais (como reflexão de trincas) ou em decorrência do
efeito da vibração nas camadas de revestimento e vedação (como trincas em forros de gesso e
pisos).

• Aspecto ambiental: Emissão de ruídos

Como no caso das vibrações, a poluição sonora é a alteração do meio ambiente causada por ruídos.
Sua ação pode prejudicar a saúde e o bem estar dos trabalhadores e da comunidade vizinha ao

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 21


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

canteiro, podendo provocar estresse, dificuldades mentais e emocionais ou até surdez imediata ou
progressiva. Desse modo, faz-se necessária a manutenção do ruído em valores aceitáveis,
minimizando os impactos comentados.

• Aspecto ambiental: Lançamento de fragmentos

Não é difícil de imaginar que o lançamento de fragmentos, como blocos, lascas de concreto, placas
cerâmicas, madeira, etc., cause riscos aos trabalhadores e à vizinhança. Deve-se ficar bastante
atento e utilizar os equipamentos de proteção individuais e coletivos corretos, de modo a minimizar
o risco de acidentes. Fragmentos de maior porte podem também causar danos a bens edificados.

• Aspecto ambiental: Emissão de material particulado

Os materiais particulados são formados por partículas sólidas cujo diâmetro pode variar de 0,01
micrometros a 100 micrometros. As partículas entre 0,1 micrometro e 3 micrometro causam
diversos problemas respiratórios aos seres vivos. Além de problemas de saúde, o material
particulado é inconveniente e causa perturbações na atmosfera (diminuição de visibilidade). No
caso dos canteiros de obras, o material particulado pode ser constituído por pó de cimento, gesso,
cal, argamassa industrializada, poeira devido às escavações ou circulação de veículos ou vento,
amianto e outras fontes. A vizinhança sofre grande incômodo por este aspecto.

• Aspecto ambiental: Risco de geração faíscas onde há gases dispersos

Em decorrência das atividades realizadas nos canteiros de obras, podem ocorrer vazamentos
inesperados de gases, com origem em tubulações perfuradas durante demolição e escavações, ou
até mesmo desprendimento de gases do subsolo, como na escavação de tubulões. Por outro lado, é
comum entre atividades de canteiro que haja geração de faíscas por algum equipamento ou
máquina. Portanto, para evitar acidentes, deve-se manter equipamentos elétricos que possam gerar
faíscas, como motores, em bom estado, e devem-se tomar precauções contra desprendimentos de
gases inflamáveis e, se ocorrer, deve haver um procedimento pré-estabelecido de conduta
divulgado aos trabalhadores.

• Aspecto ambiental: Desprendimento de gases, fibras e outros

Nas atividades realizadas nos canteiros de obras é comum o desprendimento de gases, fibras,
materia l particulado (conforme já exposto), entre outros. O gás carbônico e os compostos orgânicos
voláteis são exemplos de gases que podem ser prejudiciais à saúde do trabalhador, causando
irritações nos olhos e pele, doenças ou morte. Já as fibras, como amianto, sílica, asbestos, isolantes
e lãs minerais são responsáveis por diversos males, entre eles a silicose e pneumoconiose. É
recomendável que não haja exposição do trabalhador a esses elementos; no entanto, se isso for
inevitável, devem ser utilizados equipamentos de proteção. Embora mais distantes das fontes, a
vizinhança pode também sofrer impactos prejudiciais à saúde.

• Aspecto ambiental: Renovação do ar

O ar no interior das edificações em construção não deve apresentar riscos à saúde dos ocupantes
nem desconforto. A falta de renovação do ar impacta diretamente a saúde do trabalhador que atua
no interior da edificação, causando desconforto, danos à saúde, sonolência, perda da capacidade de
reação, asfixia, ou até morte.

Os riscos têm origem externa ou interna à edificação, através do desprendimento de gases


(compostos orgânicos voláteis, CO2 de motores, até fumaça de cigarro, etc.), fibras, materiais

22 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

particulados (asbestos, sílica, etc.). A umidade excessiva nos ambientes internos também é bastante
prejudic ial, principalmente quando são considerados os refeitórios e as áreas de vivência que,
muitas vezes, estão localizados em subsolos e estão suscetíveis ao calor e à umidade, podendo
causar doenças respiratórias e outros problemas à saúde devidos, por exemplo, ao desenvolvimento
de fungos.

Para preservar a boa qualidade do ar interno é necessário preocupar-se com dois fatores: a
limitação da emissão de poluição na sua origem e a boa ventilação.

• Aspecto ambiental: Manejo de materiais perigosos

Algumas doenças geradas pelo contato com materiais perigosos são: pneumoconiose, silicose,
irritações, alergias, queimaduras, etc. No manejo destes materiais é preciso tomar as precauções
necessárias e utilizar equipamentos de proteção de modo a evitar riscos à saúde.

1.1.3. Priorização
Uma vez entendidas as implicações e razões para se preocupar com cada aspecto ambiental, deve-
se adequar as relações e os graus de importância indicados nas Tebelas 1 e 3 às condições da cada
canteiro de obras. Sugere-se para tanto que a aplicação das tabelas seja acompanhada da criação de
um grupo ad hoc pela empresa construtora, que discuta seus conteúdos, os valide e os
complemente, considerando-se as especificidades da obra em questão – legislação específica,
exigência do empreendedor e demais partes interessadas, características do local, características do
empreendimento, etc. Do grupo de discussão ad hoc devem fazer parte representantes da
construtora e dos principais subcontratados, do empreendedor, dos principais projetistas, de
empresa gerenciadora, etc.; técnicos com formação acadêmica ou experiência profissional sobre
temas específicos podem ser envolvidos, conforme o caso, de modo a subsidiar as decisões.

Tal grupo deve analisar os diferentes aspectos e avaliar as implicações e razões para que
representem preocupações. Não obstante, como podem ser muitos os impactos negativos a serem
enfrentados, e escassos os recursos para mitigá-los, uma técnica possível, após a identificação dos
mesmos, é a da sua ponderação relativa. Para se ponderar, é necessário antes se estabelecer
prioridades – que meios privilegiar, físico, biótico ou antrópico? Que preocupações são mais
significativas, emissão de CO2 , poluições à água, preservação do ecossistema, economia de
recursos não renováveis, valorização da reciclagem, diminuição de áreas de aterros, etc.?

Essa mesma técnica pode ser usada na escolha de alternativas para a minimização dos impactos
causados. Voltando-se ao exemplo da atividade “Fundações” e do aspecto ambiental “emissão de
vibração”, causando o impacto ambiental “incômodo para a comunidade”, a opção sobre a melhor
maneira de reduzir ou eliminar tal vibração, envolvendo a mudança do tipo de fundação (de uma
estaca cravada para uma escavada), de sua tecnologia de execução (pelo uso de bate-estacas
vibratório) ou agindo sobre a percepção do incômodo causado (cravações em horários que
incomodem o mínimo possível às pessoas), pode se dar segundo critérios e prioridades pré-
estabelecidas – custos, redução dos impactos negativos ou potencialização dos impactos positivos.
Embora possua limitações, esta postura permite uma ordenação rápida das alternativas, supondo-se
que seja possível associar-se uma escala de ponderação representativa dos interesses priorizados
envolvidos.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 23


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

1.2. Aspectos e Impactos sociais e econômicos dos canteiros de obras

1.2.1. Identificação
A etapa de construção não causa apenas impactos ambientais, mas também outros de natureza
social e econômica. Parte dos de natureza social já estão incluídos nas tabelas anteriores, sendo
complementados pelos da Tabela 4, que traz a Matriz Aspectos & Impactos sociais e econômicos
decorrente das atividades de produção dos canteiros de obras, para o subsetor edificações.

Tabela 4. Matriz Aspectos & Impactos sociais e econômicos decorrente das atividades de
produção dos canteiros de obras – subsetor edificações (DEGANI, 2003; COMPAHIA DE
TRANSPORTE DE SALVADOR, 2004; NIGERIA LIQUEFIED NATURAL GAS LIMITED)

Impactos sociais e econômicos

Alteração nos setores de comércio e serviços


Modificação na estrutura imobiliária local

Alteração no cotidiano da comunidade

Despesas do município e de empresas


Choque cultural com a comunidade
Interferência na economia local
Geração de emprego e renda

Importação de doenças
Acidente de tráfego
locais
ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS

Contratação de trabalhadores locais X X X


Contratação de serviços locais X X X
Deslocamento de pessoas de outras regiões para
X X X X X X X X
o local
Alteração na circulação de veículos e pessoas X X X
Incentivo ao mercado local de reciclagem X X X
Formação de mercado local de reuso X

Essa tabela não considera um impacto muito significativo, por não ser conseqüência de uma obra
em si, mas de uma prática sistemática do setor, que tem como resultado o fato de os canteiros de
obras serem uma das manifestações mais marcantes das desigualdades existentes no país, já que os
operários que neles trabalham possuem dentre os mais baixos índices de desenvolvimento humano
considerando-se os assalariados brasileiros, sem contar a elevada parcela de trabalho informal neles
observada.

1.2.2. Razões se preocupar com os aspectos sociais e econômicos apontados

Como no caso dos aspectos ambientais, também aqui é importante bem entender o que está
implicado em cada aspecto social e econômico, quais os desafios associados e as razões do seu
destaque. Embora se conhecer tais aspectos e os respectivos impactos seja importante, este

24 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

trabalho não vai tratá-los com mais detalhes, focando-se, a partir daqui, apenas nos impactos de
natureza ambiental, para apresentar os instrumentos tecnológicos e gerenciais comumente
empregado para mitigá-los.

2. Instrumentos tecnológicos e gerenciais


Conhecidos os impactos ambientais negativos normalmente mais relevantes relacionados à etapa de
construção, do ciclo de vida de um empreendimento, o passo seguinte é o da definição das práticas
recomendadas – emprego de tecnologias ou ações de natureza gerencial – para mitigá-los ou ao
menos reduzi-los. Algumas dessas práticas serão aqui apresentadas, devendo este item ser ainda
aprimorado no próximo relatório do projeto.

No entanto, são desde já apresentados alguns elementos de um instrumento gerencial muito útil
para empresas construtoras ou subcontratadas que atuam na obra, o Plano de Redução dos Impactos
causados pelo canteiro.

2.1. Práticas recomendadas e recursos para mitigação de impactos ambientais


negativos
Neste item serão abordadas as práticas recomendadas para a etapa de construção. Tais práticas
serão expostas em função dos aspe ctos ambientais envolvidos, que, novamente, estão divididos nos
quatro temas: infra-estrutura do canteiro de obras, recursos, resíduos e incômodos e poluições. No
quarto tema, as práticas serão tratadas, também, de acordo com as atividades da obra: demoliç ão,
limpeza superficial do terreno, fundações, rebaixamento do lençol, escavações e contenções,
estruturas, alvenarias, divisórias, esquadrias, telhado, impermeabilização, revestimento vertical,
pintura, piso, sistemas prediais, redes enterradas e aéreas, terraplenagem, pavimentação e drenagem
superficial.

2.2. Plano de Redução dos Impactos Ambientais


A empresa construtora é responsável pela proteção do ambiente, o controle dos impactos causados
por suas atividades, a prevenção de acidentes e a promoção de uma construção mais sustentável, e,
para tanto, deve disponibilizar os recursos financeiros, os equipamentos e a estrutura
organizacional e implantar práticas gerenciais necessários em seus canteiros de obras.

Uma das maneiras adequadas para planejar e direcionar todos esses esforços é pelo uso de um
instrumento gerencial, o Sistema de Redução dos Impactos Ambientais. São aqui apresentados
alguns elementos deste Sistema. Os mesmos podem também ser usados por empreendedores para o
estabelecimento de um caderno de encargos “ambiental” ou “de sustentabilidade”, ou “cartilha
verde”, tratando do tema, usado para orientar a contratação e a atuação da empresa construtora.

Implementar um Sistema de Redução dos Impactos Ambientais causados pelo canteiro de obras
significa pensar a longo prazo, o que é muito importante quando se trata da sustentabilidade. Tal
Sistema deve assim estar alinhando com o sistema de gestão da empresa (NBR ISO 9001,
NBR ISO 14001, etc.). A direção da empresa deve se envolver, de modo a sensibilizar e obter o
comprometimento de funcionários e fornecedores no sentido de tornar o Sistema efetivo nas
diferentes obras da empresa.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 25


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

O Sistema deve cobrir três partes. A primeira objetiva “conhecer e saber controlar os impactos”,
permitindo à empresa saber de que modo e com que intensidade suas atividades nos canteiros de
obras causam impactos ao ambiente e à saúde e conhecer a legislação aplicável, práticas que ainda
não são muito disseminadas no setor; a segunda parte visa a “reduzir os impactos ao ambiente e à
saúde”, voltando-se para a minimização efetiva dos mesmos, graças ao conhecimento das
tecnologias e dos instrumentos gerenciais disponíveis e ao papel ativo da empresa na busca de
soluções efetivas e inovadoras. Já a terceira, voltada aos “aspe ctos e impactos sociais e
econômicos”, procura valorizar os impactos de natureza sócio-econômica positivos e minimizar os
negativos.

O Sistema deve ter seus desdobramentos em cada obra em que a construtora atue. Assim, a
empresa construtora deve elaborar e documentar o Plano de Redução dos Impactos Ambientais de
uma obra específica, consistente com o seu Sistema de Redução dos Impactos Ambientais. Para
tanto, a empresa deve inicialmente definir os seguintes elementos:

a) objetivos de sustentabilidade específic os;

b) responsáveis pelas ações ambientais da empresa e dos subcontratados;

c) preocupações ambientais relevantes para a obra, expressas pela suas matrizes de aspectos e
impactos ambientais para as atividades de produção dos canteiros de obras (a partir das
Tabelas 1 e 3);

d) especificidades da obra quanto à infra-estrutura do canteiro de obras e das respectivas


soluções adotadas, estabelecidas a partir das práticas recomendadas e recursos para
mitigação de impactos ambientais negativos apresentadas no item anterior, consolidadas no
projeto do canteiro;

e) especificidades da obra quanto aos recursos consumidos e as respectivas soluções adotadas,


estabelecidas a partir das práticas recomendadas e recursos para mitigação de impactos
ambientais negativos apresentadas no item anterior;

f) especificidades da obra quanto aos resíduos gerados e das respectivas soluções adotadas,
estabelecidas a partir das práticas recomendadas e recursos para mitigação de impactos
ambientais negativos apresentadas no item anterior, consolidadas no Plano de
Gerenciamento de Resíduos da obra;

g) especificidades da obra quanto aos incômodos e poluições causados e das respectivas


soluções adotadas, estabelecidas a partir das práticas recomendadas e recursos para
mitigação de impactos ambientais negativos apresentadas no item anterior;

h) pontos de risco críticos da obra, para cada atividade identificada como problemática,
considerando os aspectos ambientais, mas também de saúde e segurança das pessoas direta
e indiretamente envolvidas, e de suas formas de prevenção e reação em caso de acidentes,
incluindo de reparação de danos;

i) preocupações sociais e econômicas relevantes para a obra, expressas pela suas matrizes de
aspectos e impactos sociais e econômicos para as atividades de produção dos canteiros de
obras (a partir da Tabela 4).

Notar que a proposta acima inclui a valorização de medidas que preocupações sociais e econômicas

26 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

relevantes para a obra.

Cumprir tal tarefa não é simples, já que um dos desafios para a empresa construtora que inicia uma
obra é obter as informações para que possa implementar um Plano adequado, principalmente
quando não é sócia do empreendimento, por exemplo, sendo seu incorporador. Ela deve assim
partir das informações contidas nos documentos do contratante, que podem conter exigência s
ambientais. Tem que considerar o seu próprio Sistema de Redução dos Impactos Ambientais, assim
como levantar toda a legislação local pertinente. Finalmente, tem que conhecer perfeitamente o
local da obra, incluindo:

j) condições do terreno, como natureza do solo e do sub-solo e sua permeabilidade;


declividades; presença de cursos d’água no terreno ou nas suas divisas; nível do lençol
freático, principalmente se este for próximo da superfície;

k) informações precisas sobre as vegetações existentes, principalmente as de porte, e os


ecossistemas a proteger; estas informações devem se mais precisas no caso de obras em
regiões com ecossistemas complexos (próximas a mangues, cursos d’água, áreas de
preservação ambiental, etc.);

l) condições da vizinhança da obra (níveis de ruídos, circulação de veículos, dificuldades de


estacionamento, presença de edifícios de uso especial como escolas e hospitais, etc.) e
hábitos dos vizinhos;

m) presença de fontes externas de riscos, como linhas elétricas ou de alta tensão no terreno ou
na vizinhança;

n) informações sobre ventos dominantes (freqüências, velocidades e direções e sentidos


dominantes), condições do relevo e construções vizinhas que influenciem os ventos;

o) nível de poluição do sub-solo, devendo a empresa, se constatado um nível ele vado,


comunicar imediatamente o fato ao empreendedor da obra;

p) riscos naturais a que está sujeito o terreno, como desmoronamentos e inundações;

q) possíveis fornecedores locais de materiais e serviços;

r) expectativas das demais partes interessadas, como trabalhadores da obra, subcontratados,


fornecedores de materiais, empreendedor, projetistas, vizinhos, etc.;

s) áreas para disposição dos resíduos e as possíveis formas de reaproveitamento dos mesmos.

Esse levantamento permite que a empresa elabore um Plano e um projeto de canteiro coerentes,
incorporando as medidas adequadas de minimização de impactos, antecipando-se a possíveis
situações futuras ao longo da obra, evitando surpresas, que possam ter como conseqüências
impactos negativos significativos, reclamações e pedidos da vizinhança, problemas de saúde e
segurança com funcionários, multas, embargos por causas ambientais, custos de despoluição, etc.

É também com base no Plano, e de sua experiência registrada em obras anteriores, sobre os custos
do tratamento das diferentes classes de resíduos, considerando a seleção, o transporte e a
destinação, incluindo o reaproveitamento, que ela será capaz de estimar o custo da implementação
das medidas mitigadoras, podendo incluir em seu orçamento ou corrigir um pré-orçamento baseado
em índices médios anteriores. Dele resultará o Plano de Gerenciamento de Resíduos da obra.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 27


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Para poder elaborar Planos de qualidade, o Sistema da empresa deve implementar mecanismo de
atualização de informações sobre produtos, processos, legislações, normas, novas tecnologias e
equipamentos, etc., de forma que ela seja sempre capaz dispor das soluções mais respeitosas para o
ambiente. Essa busca deve considerar as diferentes etapas do ciclo de vida, como fabricação,
aplicação, funcionamento, perdas, disposição de resíduos, etc.

A todo início de obra, a construtora deve implantar um programa de sensibilização e formação de


trabalhadores e subempreiteiros, comprometendo-os quanto: aos materiais perigosos e poluentes,
ensinando-lhes formas de minimizar os impactos sobre a saúde e o ambiente; à correta
identificação dos materiais, seleção dos resíduos gerados e destinação aos recipientes; ao interesse
econômico do gerenciamento de resíduos; à importância em se manter o canteiro e suas instalações
limpos; às práticas para redução dos consumos de água, energia e combustíveis e gases; às
características da vizinhança e à importância em respeitá-la; às maneiras para se reduzir os ruídos e
emissões, como poeiras e fragmentos; à importância do uso de equipamentos de proteção (poeira,
gases, ruídos, etc.).

Neste momento, um documento de sensibilização e de boas práticas deve ser entregue para cada
novo trabalhador, próprio ou de terceiros subcontratados, contendo elementos como: apresentação
do canteiro e de suas instalações; acessos à obra e meios de transporte público; locais de entrega e
seus acessos; objetivos ambientais (e de qualidade) da obra; princípios de prevenção, segurança e
saúde; gerenciamento dos resíduos da obra; etc.

No caso de subempreiteiros, é fundamental a participação e o comprometimento do dono da


empresa, além de seu mestre-de-obras ou encarregado.

É importante se conseguir o comprometimento efetivo dos fornecedores de materiais com a


destinação dos resíduos gerados por seus produtos (logística reversa) e com o desenvolvimento de
embalagens reaproveitáveis.

A participação na busca de soluções para a melhoria ambiental deve ser aberta a todos os
fornecedores de materiais e serviços e funcionários da empresa, e incentivada, com base em
dinâmicas adequadas.

Para a compra de materiais ou a contratação de serviços de execução, a construtora deve


estabelecer uma política de suprimentos adequada. Quanto aos produtos, existem no mercado
poucas informações disponíveis fornecendo resultados de análises de ciclo de vida, que permitam
apoiar o processo de compras. Aqui, se assegurar da procedência do produto e se ter o maior
número de informações que garantam sua qualidade são informações importantes na decisão pela
preferência de um produto ou fornecedor em relação a outro, assim como a construtora deve optar
por produtos e fornecedores locais, quando comparáveis a produtos e serviços de regiões mais
distantes, e renováveis ou recicláveis. Atenção deve ser dada para a escolha da madeira empregada,
sobre a qual já há no mercado selos que permitem assegurar sua origem e o fato de serem
provenientes de áreas sujeitas a técnicas de manejo adequadas; atentar também para o fornecimento
de areias e britas, que podem ser provenientes de jazidas ilegais. A política de suprimentos deve
ainda valorizar fornecedores que: não pratiquem concorrência desleal (participar do respectivo
Programa Setorial da Qualidade é um excelente indicador); sigam a legislação e as normas
técnicas; tenham um comportamento ético quanto à contratação de sua mão-de-obra. Tal política
deve ainda incentivar o mercado local de reciclagem e de reuso.

Deve ser estabelecido um modo eficiente de comunicação na empresa para manter e melhorar o

28 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

nível de conhecimento de todos sobre as questões ambientais e relacionadas à saúde e à segurança.

Atenção deve ser dada à comunicação com terceiros, como fornecedores, que deve ser baseada na
credibilidade, na sinceridade e no longo prazo. Para que um fornecedor possa de fato se engajar no
processo de redução dos impactos ambientais é necessário prever antecipadamente as suas
necessidades, para então ser capaz de lhe fornecer as informações sobre os produtos que emprega,
os resíduos que gera, os custos associados aos resíduos, as novas tecnologias disponíveis, etc.
Deve-se também apoiá -lo na busca de informações faltantes e na viabilização dos recursos para que
consiga implementar as medidas mitigadoras necessárias. Finalmente, não se pode esquecer que
todo fornecedor ou subcontratado é um parceiro do entendimento e busca de soluções para os
problemas ambienteis, tais como as perturbações que a obra pode causar na rotina da vizinhança,
incluindo ruídos e poluições e suas conseqüências, riscos potenciais para a saúde e segurança dos
trabalhadores e de vizinhos, definição de itinerários de caminhões, etc.

As experiências bem sucedidas de cada canteiro devem ser registradas, assim como os problemas
que precisaram ser solucionados, para que possa usar tais registros em obras futuras. Indicadores
básicos a serem sempre levantados são os custos dos resíduos, consumos de recursos e diferenças
com o programado, eventuais custos de despoluições e benefícios ou perdas de imagem da marca
da empresa.

A construtora deve se preocupar em transmitir àquele que a contrata, assim como aos futuros
usuários da obra que constrói ou aos que serão responsáveis pela sua operação e manutenção, todas
as informações obtidas durante a construção que concorram para a sua durabilidade e seu bom
funcionamento, incluindo instruções sobre equipamentos e instalações como aquecedores, sistemas
de abastecimento de água, áreas para armazenamento de resíduos devidos ao uso, freqüências de
manutenção, etc., e que facilitem operações futuras de manutenção, reabilitação e demolição. Ela
deve ser proativa no sentido de sensibilizar os usuários quanto à importância dos aspectos
ambientais relacionados ao edifício que vão ocupar (obedecer às instruções de uso, zelar pela
economia no uso dos recursos, assegurar as corretas manutenções, preservar a limpeza dos locais,
etc.). Deve haver perfeita coerência entre as informações fornecidas e os materiais, componentes e
sistemas efetivamente empregados (projeto as built).

As redes dos diferentes sistemas prediais devem ser corretamente identificadas, tanto nos projetos
quanto nas próprias instalações. Cálculos sobre desempenho e consumos de equipamentos e
sistemas devem ser fornecidos, assim como toda informação necessária ao correto funcionamento e
manutenção.

A construtora pode também avançar na implementação de um sistema de gestão ambiental, que


pode se basear nos requisitos da NBR ISO 14001 e mesmo ser certificado.

O canteiro deve ser dotado dos equipamentos necessários para se agir caso alguma poluição
acidental venha a ocorrer e de plano de emergência (inclui fácil obtenção de telefone do corpo de
bombeiros, por exemplo).

Finalmente, um dos grandes desafios do Plano é conseguir tratar os vários impactos a serem
reduzidos ou eliminados, considerando-se as diferentes partes interessadas (trabalhadores, vizinhos,
ecossistema local, etc.). O ótimo local quase nunca é o ideal, devendo-se sempre adotar uma
abordagem global e sistêmica, e a melhor solução surge de um compromisso.

Uma vez implementado o Plano, deve haver um controle permanente durante toda a obra da
aplicação das medidas estabelecidas. Para tanto, deve-se integrar nas reuniões de obra, de

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 29


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

preferência semanalmente, ações de acompanhamento e controle das medidas implementadas, com


a participação de fornecedores.

Devem ser feitas avaliações quanto a aspectos como eventuais incidentes ambientais ocorridos,
pedidos e reclamações de vizinhos, correto gerenciamento dos resíduos, consumos de água, energia
e gás, etc. Deve -se programar novos treinamentos, se necessário.

No final da obra, deve-se fazer uma reunião de avaliação global quanto aos aspectos de
sustentabilidade, com registro formal das conclusões, por uma ata, por exemplo.

3. Metodologias de avaliação

Esse capítulo tem como objetivo apresentar um levantamento do estado da arte do tema impactos
ambientais nos canteiros de obras tais como são considerados em algumas das metodologias de
avaliação da sustentabilidade de edifícios mais correntemente em uso no mundo: BREEAM - BRE's
Environmental Assessment Method (Reino Unido); CASBEE - Comprehensive Assessment System
for Building Environmental Efficiency (Japão); Certification Bâtiments Tertiaires – Démarche
HQE® Bureau et Enseignement (França); Certification Habitat et Environnement (França);
EcoHomes – The Environmental Rating for Homes (Reino Unido); Green Building GBToll
(Consórcio internacional); Green Star TM (Austrália); LEED-NC – Green Building Rating System
For New Construction & Major Renovations; LEED® for Homes Program. Rating System for Pilot
Demonstration of LEED® for Homes Program (EUA).

Outros já compararam metodologias quanto a aspectos diversos (TODD, 2001; FOLIENTE et al.,
2004; LARSSON, 2004), sobretudo os relacionados aos princípios e às características das mesmas,
mas não quanto a preocupações específicas, e menos ainda quanto ao tema canteiro de obras.

3.1.Método de Pesquisa

Trata-se de um estudo exploratório, baseado em referenciais normativos estrangeiros já existentes,


tendo como estratégia de pesquisa o levantamento de dados e como questão de pesquisa como as
atividades desenvolvidas nos canteiros de obras e os impactos ambientais delas decorrentes são
considerados nas diferentes metodologias de avaliação da sustentabilidade de edifícios estudadas.
As fontes de obtenção dos documentos foram os sítios da internet dos organismos responsáveis
pelas metodologias, conforme relacionado nas referências bibliográficas.

3.2.Análise dos resultados


Como se vê pela Tabela 5, a heterogeneidade no tratamento dado aos impactos causados pelo
canteiro de obras pelas diferentes metodologias analisadas é flagrante. As duas metodologias de
avaliação francesas HQE® e H&E preocupam-se bastante com os mesmos, e podem ser usadas
como benchmarking para o tema; BREEAM, GBTool e LEED® for Homes lhes conferem uma
certa importância, o que não é o caso de CASBEE, Eco-Homes e LEED-NC; uma das
metodologias identificadas nem trata do tema e não consta da tabela (Green StarTM).

A dimensão do conceito de sustentabilidade que merece a atenção das metodologias é quase que
apenas a ambiental. As dimensões econômica e social são explicitamente evocadas em apenas duas
delas, uma em cada caso.

30 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Tabela 5 – Síntese das medidas a serem implementadas para mitigar os impactos ambientais
causados por atividades desenvolvidas nos canteiros de obras, segundo as diferentes metodologias
de avaliação da sustentabilidade de edifícios.
Metodologia: LEED®
Eco- LEED Refe-
Medidas que devem ser BREEAM CASBEE HQE® H&E GBToll for
Homes -NC rências
implementadas: Homes

Reduzir a produção de resíduos X X 2


Quantificar os resíduos por classes X X X X 4
Avaliar o custo das destinações finais
X 1
dos resíduos por classe
Organizar triagem e coleta (“plano de X X
X X X 5
gerenciamento”) (Plano) (Plano)
Assegurar a qualidade da triagem X 1
Assegurar a rastreabilidade dos
X 1
resíduos transportados
Limitar a deposição em aterros, X X
X X 4
privilegiando a reciclagem (reuso) (reuso)
Limitar os incômodos sonoros X X 2
Limitar os incômodos visuais X 1
Limitar os incômodos de veículos X X 2
Limitar os incômodos diversos X X 2
Limitar a poluição do solo X X X 3
Limitar a poluição da água X X X 3
Limitar a poluição do ar X X X X 4
Assegurar a proteção do ecossistema
X X X 3
local
Limitar as erosões X X X 3
Limitar o consumo de água X 1
Limitar o consumo de energia X 1
Usar recursos locais X 1
Usar madeira de plantação manejada,
X X X 3
de reuso ou reciclada
Implementar um Sistema de Gestão
X 1
do Empreendimento
Criar mecanismo de comunic. com
X 1
vizinhança e tratamento queixas
Contratação levando em conta
X X 2
aspectos ambientais
Preparação do canteiro, levando em
X 1
conta aspectos ambientais
Realizar o balanço ambiental do
X 1
canteiro ao final da obra
Implementação de medidas para o
X X X 3
controle da qualidade da construção
Minimizar acidentes de trabalho que
X 1
causem ferimentos ou mortes
Age de modo pró-ativo ? Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim -
Prevê a certificação do edifício Sim Não Sim Sim Sim Não Sim Sim -
TOTAL de referências 8 2 15 14 1 7 4 6 57

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 31


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Quanto ao conteúdo, é possível se estabelecer alguns conjuntos de preocupações, que aparecem de


forma mais ou menos explícitas nas oito metodologias que tratam dos canteiros de obras:

1. redução da produção de resíduos – exigida apenas por duas delas, embora seja fundamental;
2. gerenciamento dos resíduos do canteiro – presente em seis das sete metodologias, que
explicitam ou não aspectos com quantificação dos resíduos (4 delas), avaliação dos custos de
destinação (1), definição de plano de gerenciamento dos resíduos ou a organização da triagem e
da coleta (5), qualidade da triagem (1), rastreabilidade dos resíduos transportados (1);
3. valorização da reciclagem e do reuso (4), sendo que três se preocupam explicitamente com a
origem da madeira usada nas construções temporárias (3);
4. limitação dos incômodos causados pelo canteiro (sonoros, visuais, etc.) (3);
5. limitação das poluições causadas pelo canteiro (solo, água, ar, etc.), incluindo exigências para a
proteção do ecossistema local da obra e para se evitar erosões e assoreamentos (6);
6. limitação dos consumos de recursos demandados pelo canteiro (água e energia) (1);
7. criação de instrumentos gerenciais que minimizem os impactos – idéias complementares
aparecem em quatro das metodologias: implementação de um Sistema de Gestão do
Empreendimento (2); criação de um conjunto de procedimentos (mecanismo de comunicação
com a vizinhança e de tratamento de queixas; contratação das construtoras levando em conta os
aspectos ambientais; realização da etapa de preparação do canteiro e realização de balanço
ambiental do canteiro ao final da obra) (1); implementação de medidas de controle da
qualidade da construção (2);
8. minimização de acidentes de trabalho que causem ferimentos ou mortes (1).

Finalmente, seis das oito metodologias, quatro das quais levam à certificação do edifício, agem de
modo pró-ativo, explicando o contexto do problema, trazendo orientações tecnológicas ou
gerenciais, fazendo sugestões de soluções, fornecendo bibliografias de referência, etc. Não se
obteve informação quanto a este aspecto sobre uma das metodologias, que também leva à
certificação.

O estudo exploratório permitiu se chegar a conclusões úteis para serem aplicadas a uma futura
metodologia brasileira de avaliação da sustentabilidade de empreendimentos; as duas metodologias
francesas mostraram-se as mais completas quanto ao tema canteiro de obras, pois se voltam ao
empreendimento como um todo, podendo servir de benchmarking.

Assim, tendo em vista o baixo nível de organização dos canteiros de obras brasileiros, os cuidados
limitados voltados aos trabalhadores das obras (segurança, higiene, conforto, etc.), a pouca
experiência acumulada sobre a legislação ambiental aplicável (a Resolução CONAMA nº 307/2002
começa agora a ser atendida), a escassez de legislações sobre incômodos e poluições outros que os
causados pelos resíduos de construção e demolição e o volume de obras a ser empreendido para se
atender às necessidades em habitação e infra-estrutura, recomenda-se que uma futura metodologia
de avaliação brasileira implemente exigências abrangentes quanto aos canteiros de obras, incluindo
os seguintes itens: incorpore todos os seis conjuntos de preocupações de natureza ambiental acima
listados (1 a 6); exija do empreendedor a criação de instrumentos gerenciais que minimizem os
impactos (7); avance na definição de exigências que cubram de modo mais completo a dimensão
social do conceito de sustentabilidade; haja de modo pró-ativo, trazendo informações que auxiliem
os agentes da cadeia produtiva a atenderem às exigências da metodologia.

32 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Notar que tais proposições alinham-se com o que foi apresentado nos itens anteriores, e não estão
acabadas. A evolução da pesquisa que deu origem a este documento permitirá concluí-los para o
próximo relatório do projeto.

4. Inovações Tecnológicas
Para a identificação das necessidades de desenvolvimento de tecnologias inovadoras visando
reduzir os impactos ambientais do canteiro de obras, percorrem-se os quatro grandes temas do
relatório anterior: infra-estrutura do canteiro de obras; recursos; resíduos; e incômodos e poluições.
São apontadas as tecnologias necessárias no sentido lato, como também as de natureza gerencial,
que devem ser empregadas e são destacadas aquelas que necessitam de um desenvolvimento.

As principais fontes empregadas para a produção deste texto, além das diretamente referenciadas
no texto, são: Castegnaro (2003); Entreprise (2002); FFB (1999); Fundación (2005); ICADE
CAPRI (s.dt); Resitech (2000). Também foram consultadas as referências: ADEME (2004);
ADEME (s.dt.); Alameda County (2003); Federal Office (2001); Foliente et al. (s.dt); Qualité
Construction (2005).

4.1. Infra-estrutura do canteiro de obras

4.1.1. Remoção de edificações


O sistema construtivo tradicionalmente usado no país baseia -se no uso de estruturas reticuladas de
concreto armado, com lajes eventualmente em componentes cerâmicos, e vedações verticais em
componentes cerâmicos revestidos de argamassa; construções baixas podem dispensar o uso de
estruturas independentes e também tem aumentado o uso de alvenarias portantes, mesmo em
edifícios altos. A remoção de todas essas edificações implica, sistematicamente, no uso de
processos de demolição, já que não são desmontáveis, e gera um grande volume de resíduos
inertes, impondo condições intensas de transporte, gerando problemas de tráfego.

Por razões econômicas muito ma is do que ambientais, em muitas demolições no Brasil já ocorre
um processo parcial de seleção, principalmente quando há possibilidade de reuso de componentes,
como no caso de portas, janelas, cerâmicas de revestimentos, telhas, etc. Isso, no entanto, apenas
ocorre no caso da demolição de casas de melhor padrão, onde há a possibilidade de se revender os
componentes.

Um aspecto importante a se considerar é o dos cuidados com os equipamentos utilizados que, por
acidente ou falta de manutenção, podem provocar danos a bens edificados vizinhos. Atenção
também deve ser dada ao material removido, antes de sua destinação final, para que não ocorra seu
carreamento por chuva ou vento, por exemplo (cobertura com lonas, criação de baias de estocagem,
etc.).

Várias são as recomendações relacionadas à segurança, como se evitar o acúmulo de entulho em


quantidade tal que provoque sobrecarga excessiva sobre os pisos ou pressão lateral sobre as
paredes.

A boa técnica de demolição recomenda proceder-se de forma inversa à da construção, percorrendo-


se as fases: retirada de elementos de decoração não fixos, aparelhos e instalações, forros falsos,
revestimentos reutilizáveis, elementos de cobertura, vedações verticais e estrutura. Os serviços de

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 33


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

demolição deverão ser iniciados pela s partes superiores da edificação.

Com relação aos resíduos, as preocupações são a da sua reutilização (em primeiro lugar) e da
segregação para posterior reciclagem (para os produtos não reutilizáveis).

A NBR 5682 - Contratação, Execução e Supervisão de Demolições – Procedimento, de 1977, fixa


condições exigíveis para contratação e licenciamento de trabalhos de demolição; providências e
precauções a serem tomadas antes, durante e após os trabalhos; métodos de execução. Embora
exista tal norma, de um modo geral, as técnicas empregadas de demolição não se encontram
sistematizadas e disseminadas. Há, portanto, necessidade se não de se desenvolver, ao menos de se
registrar tais técnicas e, sobretudo, de difundi-las, de tal forma que possam ser exigidas por
contratantes públicos e privados.

Além da demolição total, a remoção de edificações envolve serviços de demolição parcial, em


obras de recuperação e reabilitação. Os empreendimentos em questão têm crescido em número,
principalmente graças a programas de moradia s, normalmente de interesse social, em áreas centrais
de cidades de maior porte, num processo fundamental para a renovação da dinâmica econômica,
social e cultural das mesmas.

Os serviços de remoção envolvidos nessas obras nunca foram estudados no país. Não foi
desenvolvida tecnologia gerencial e equipamentos apropriados para tanto; normalmente, são feitas
adaptações das maneiras de demolir e de construir que se usam em canteiros de obras novas. Há,
portanto, que se inovar nesta área.

Também os equipamentos e ferramentas disponíveis no mercado para uso em serviços de remoção


são os tradicionais, havendo espaço para inovações. A figura 1 ilustra equipamento inovador, de
origem sueca: robô para demolição a motor elétrico, acionado a distância, evitando produção de
ruídos e fumaças.

4.1.2. Supressão da vegetação


Há princípio, não há necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias, uma vez que já
existem; a questão central é a de como fazer para que práticas existentes sejam incorporadas pelo
pessoal de obra. As principais recomendações neste caso são:

• Ocupar o mínimo de espaço possível do terreno natural para o canteiro de obras (praça de
trabalho), procurando assim preservar ao máximo as áreas verdes existentes.

• Obter orientação de profissional capacitado para definir soluções de preservação, conservação,


transplante, etc.

• Prever soluções para proteção de árvores remanescentes, incluindo de suas raízes, de


preferência por barreira física; proteger, igualmente, árvores em terrenos vizinhos e na calçada,
que possam ser afetadas pela obra; evitar a abertura de valas e a execução de compactações em
zonas contíguas a árvores preservadas; nunca usar o troco ou galhos de árvores preservadas
para fixar objetos, mesmo que provisoriamente; não estocar produto de qualquer natureza nas
proximidades de árvores preservadas; controlar o comportamento da equipe de produção
quanto ao respeito às proteções e mantê-las em bom estado.

• Alternativamente, preservar a vegetação relevante durante a obra transplantando os exemplares


mais notáveis, de preferência para lugares próximos aos de origem; seguir estritamente as

34 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

recomendações técnicas de profissional capacitado.

Figura 1. Robô para demolição a motor elétrico, acionado a distância (fonte:


http://www.brokk.com/).

• Assegurar a correta molhagem das árvores e vegetações preservadas durante a obra; no caso da
necessidade de podas, empregar as boas práticas.

• No caso da remoção de cobertura vegetal, prever área adequada para sua estocagem e
assegurar-se de que ela não sofra deterioração; evitar a mistura de resíduos da vegetação não
aproveitável com a terra fértil, de modo a facilitar o uso futuro desta.

• Atentar para os problemas de erosão, no caso da retirada da camada superficial de solo do


terreno e exposição de camadas inferiores, evitando-se declividades acentuadas e protegendo-
se a superfície com lonas, por exemplo.

4.1.3. Risco de desmoronamento


Desmoronamentos podem ocorrer tanto de solos, no caso de taludes de escavações de valas ou
fundações ou em platôs, quanto de partes de edifícios em execução, já acabados ou em demolição.

Como preconiza a Norma Regulamentadora NR-18 - Condições e Meio ambiente do Trabalho na


indústria da Construção (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 1996), os taludes instáveis das
escavações com profundidade superior a 1,25 m devem ter sua estabilidade garantida por meio de

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 35


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

estruturas dimensionadas para este fim. Fundações com riscos de desmoronamentos, como
tubulões, podem também exigir escoramento adequado. A NR-18 traz também recomendações
explicitas nestes dois casos: inspecionar diariamente os escoramentos; levar em consideração
cargas e sobrecargas ocasionais, bem como possíveis vibrações, para determinar a inclinação das
paredes do talude, a construção do escoramento e o cálculo dos elementos necessários; desviar o
tráfego próximo às escavações e, na sua impossibilidade, reduzir a velocidade dos veículos.

Além do serviço de execução de fundações, no caso de obras em execução, é também crítico o de


estruturas de concreto armado, já que as operações de concretagem e de desfôrma podem levar ao
desmoronamento das fôrmas. O projeto adequado desta, incluindo de seus cimbramentos, assim
como a implementação de processo de desfôrma adequado são, portanto, fundamentais, havendo no
mercado profissionais capacitados para tanto. Além disso, como preconiza a NR-18, durante os
trabalhos de lançamento e vibração de concreto, o escoramento e a resistência das fôrmas devem
ser inspecionados por profissionais qualificados; além disso, durante a desfôrma devem ser
viabilizados me ios que impeçam a queda livre de seções de fôrmas e escoramentos, sendo
obrigatórios a amarração das peças e o isolamento e sinalização ao nível do terreno.

Assim, há princípio, não há necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias que evitem o


desmoronamento, mas sim a disseminação e a cobrança das existentes, não somente pelos agentes
encarregados pela gestão dos canteiros, como os pela fiscalização das questões de segurança (DRT
- Delegacia Regional do Trabalho).

4.1.4. Existência de ligações provisórias


Os desafios são evitar as improvisações, e conseqüentes vazamentos ou curtos-circuitos, e
interromper o mínimo possível os fornecimentos quando das ligações pelas concessionárias. Aqui
também não há necessidade de desenvolvimento de inovações, bastando o uso de bom-senso.
Assim, deve-se:

• Aplicar as normas técnicas pertinentes, inclusive as estabelecidas pelas concessionárias locais,


para todas as ligações (água, energia, gás, esgoto), assim como as boas práticas construtivas.

• Planejar os serviços para executar as ligações de forma a interromper o mínimo possível o


fornecimento, de modo a limitar a perturbação causada à vizinhança; informar com a
antecedência adequada a vizinhança sobre os cortes de fornecimento devidos às ligações às
redes.

• Monitorar sistematicamente as ligações provisórias, nem que por simples inspeção visual, para
detectar vazamentos, por exemplo.

• Reparar imediatamente danos causados ao bem comum para a execução das ligações, como
calçadas e vias de circulação de veículos.

Uma boa prática construtiva, no caso das ligações elétricas, é a de bem isolá -las e, quando forem
enterradas, corrê-las dentro tubos ou manilhas de proteção. Para as tubulações de diferentes
naturezas (água, drenagem, esgotos, etc.) e materiais (plásticos, metais, etc.), atentar para aspectos
como execução de embasamento adequado, de cobertura mínima de solo e de envolvimento de
camada de proteção (contra oxidação, por exemplo).

36 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

4.1.5. Esgotamento de águas servidas


Mais uma vez, aplicar ao canteiro as soluções técnicas existentes para o esgotamento de águas
servidas no caso de construções permanentes, de adequado desempenho técnico e econômico, é
suficiente. Assim, deve-se:

• Prever um correto sistema para esgotamento de águas servidas da obra, por rede pública ou por
instalações provisórias, como fossas sépticas e caixas de gordura.

• Prever área de decantação de águas com material particulado (argamassas, gesso, etc.), para
recolher as águas de lavagem de equipamentos, rodas de veículos, etc., antes de esgotá-las.

• Adotar medidas para prevenir que eventuais produtos tóxicos existentes no canteiro sejam
carreados pelas chuvas e adentrem as redes públicas.

• Assegurar a manutenção periódica das instalações, verificando a existência de vazamentos e a


limpeza periódica de tanques sépticos e caixas de gordura.

4.1.6. Risco de perfuração de redes


O grande desafio para se evitar a perfuração de redes enterradas, quando da execução dos serviços
preliminares de uma obra ou os de escavações e de fundações, é se conhecer o seu posicionamento.
Isso é particularmente crítico nos casos de obras situadas em lotes remembrados envolvendo
demolições de construções existentes, pela inexistência de cadastro.

Em algumas situações, principalmente no que se refere às redes públicas, estão acontecendo


movimentos de prefeituras e concessionárias públicas no sentido de cadastrar as redes existentes e
de repertoriar em bases eletrônicas as novas redes. Por exemplo, em casos como redes de gás,
existem iniciativas como a da Comgás - Companhia de Gás de São Paulo, que implementou o
Sistema de Gerenciamento da Rede, que possibilita visualizar em detalhes bairros, ruas e regiões
inteiras para diversas áreas da Grande São Paulo e de modo mais ou menos simplificado de cidades
do Interior do estado e do Vale do Paraíba.

Inovar ampliando estes cadastros vai, no entanto, além da capacidade de ação da empresa
construtora. O que esta pode por em prática é fazer uso de técnicas de identificação de redes
enterradas, não destrutivas, por exemplo, pelo uso de aparelhos de emissão contínua de ondas
eletromagnéticas no solo que, ao serem refletidas nas estruturas ou objetos em profundidade, a uma
antena disposta no aparelho, fornecendo a localização de tubulações e cabos enterrados (GPR -
Ground Penetrating Radar).

4.1.7. Geração de energia no canteiro


A questão é reduzis-se os incômodos sonoros em situações que exijam a presença de grupo
gerador, pela inexistência ou inadequação de energia por rede de concessionária. Assim, a boa
prática recomenda o uso de grupo gerador cujo fabricante informe o nível de ruído produzido,
escolhendo o a ser utilizado dentre aqueles que produzam níveis menos elevados. Além disso,
deve-se observar as recomendações dos itens 1.4.3. Emissão de vibrações e 1.4.4. Emissão de
ruídos deste documento.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 37


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

4.1.8. Existência de construções provisórias


As construções provisórias incluem não somente as edificações, como as que delimitam o canteiro,
normalmente constituídas por tapumes. A Norma Regulamentadora NR-18 traz um capítulo
específico sobre as áreas de vivência, assim como outro sobre tapumes e galerias, cobrindo
adequadamente as questões de higiene e segurança no trabalho.

Do ponto de vista ambiental, a maior necessidade de desenvolvimento de tecnologias específicas


diz respeito a produtos modulares para abrigar as construções provisórias, que possam ser
reaproveitados em diferentes obras. Soluções como esta já são oferecidas pelo mercado, oferecendo
condições de desempenho apenas suficientes; em outros países, o mercado dispõe de sistemas mais
sofisticados e duráveis, como ilustra a figura 2.

Figura 2. Construções provisórias modulares (fonte: http://www.algeco.fr).

Outras recomendações devem ser praticadas, dentre elas:

• Manter limpas e em bom estado de conservação as construções provisórias e os fechamentos.

• Adotar soluções para os tapumes que causem o menor impacto visual e que evitem o grafitismo
e a colocação de cartazes por terceiros.

• Prever aberturas translúcidas nos tapumes de modo que se possa acompanhar a evolução dos
serviços pelo exterior, informando e tranqüilizando a vizinhança.

• Dar atenção ao(s) portão(ões) de acesso à obra (posição, tamanho, acesso, etc.), sobretudo por
questão de segurança.

• Cuidar para que as placas de informações técnicas e propaganda fixadas nos limites da obra
causem o menor impacto visual à vizinhança.

Embora não sejam propriamente construções provisórias ligadas às atividades de produção, os


stands de vendas atualmente construídos nos empreendimentos habitacionais promovem uma

38 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

agressão ao ambiente injustificável, sobretudo pelos “apartamentos modelos” de que dispõem. Há


um desperdício de recursos que não pode ser justificado pelo valor agregado que os modelos
trazem aos compradores dos imóveis. Essa prática precisa ser repensada pelas construtoras e
incorporadoras.

4.1.9. Impermeabilização da superfície


Não há tecnologia específica a ser desenvolvida, mas apenas seguir uma recomendação: evitar ao
máximo impermeabilizar superfícies sobre o terreno natural remanescentes, para não causar
diminuição da capacidade de infiltração de água pelo solo.

4.1.10. Ocupação da via pública


O esforço maior deve ser no sentido de se implantar um canteiro de obras que não necessite fazer
uso do espaço público, como calçadas, espaço junto ao meio fio ou mesmo vias de circulação de
veículos. Mais uma vez, as tecnologias para tanto estão disponíveis e delas tem que se fazer uso.
Assim, deve-se:

• Evitar ao máximo as perturbações causadas às vias públicas de circulação de pedestres


(calçadas) e veículos, incluindo meio fios, como estrangulamentos, bloqueios e desvios para
pedestres, colocação de caçambas de coleta, construções provisórias sobre o passeio público ou
praças, etc.

• Realizar estudo dos acessos e condições de circulação de pedestres, assegurando a correta


sinalização de desvios de fluxos, áreas de circulação proibida, acessos para pedestres, etc.

• Nunca impedir o acesso de vizinhos à sua propriedade; informar os vizinhos de toda restrição
de circulação, apresentando a solução provisória adotada.

• Prever área de estacionamento para funcionários e visitantes, de modo a não sobrecarregar as


vias públicas; dar atenção à circulação e acessos de veículos e ao estacionamento.

• Estimular o transporte solidário e o uso de transporte coletivo entre os funcionários da obra de


todos os níveis.

• Estabelecer sistemática de limpeza de calçadas e áreas públicas, sobretudo durante a obra bruta.

4.1.11. Armazenamento de materiais

O primeiro desafio aqui é evitar as perdas dos produtos armazenados, por deterioração ou furto,
sendo as principais recomendações:

• Proteger adequadamente os produtos armazenados de agentes agressivos como umidade (pela


chuva e pelo solo), raios solares, animais, etc.

• Programar o uso de produtos armazenados de modo a não gerar resíduos por vencimento do
prazo de validade.

• Realizar inspeção visual nos produtos e suas embalagens antes do recebimento para garantir
que estejam nas condições corretas; dispensar cuidados à manipulação dos produtos entregues,

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 39


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

para não danificá-los, principalmente de produtos entregues acabados (esquadrias, painéis,


elevadores, etc.).

• Prover a necessária segurança das áreas de armazenamento, para evitar furtos.

No caso do armazenamento de produtos tóxicos e perigosos, deve ainda:

• Prever áreas de estocagem impermeáveis para produtos tóxicos e perigosos, corretamente


dimensionadas e capazes de reter eventuais vazamentos (combustíveis, aditivos, tintas,
solventes, etc.).

• Armazenar todo material potencialmente poluidor à distância de eventuais cursos d’água


existentes no terreno ou fronteiriços.

• Solicitar aos fornecedores as fichas técnicas de produtos considerados perigosos e estabelecer


condições específicas de armazenamento; estocar os materiais de forma que as etiquetas fiquem
visíveis, tomando especial cuidado com os produtos perigosos.

O item 1.3.3. Manejo e destinação de resíduos perigosos traz informações pertinentes ao


armazenamento de produtos perigosos. Essa parece ser a questão mais difícil de ser incorporada às
práticas dos canteiros de obras e para a qual haveria necessidade do desenvolvimento de
ferramentas gerenciais adequadas.

Outra questão importante é se evitar que vazamentos e carreamentos de materiais por intempéries
(água, vento, etc.) ou pela ação da gravidade atinjam o ambiente. As principais recomendações,
para as quais são disponíveis soluções tecnológicas, são:

• Evitar armazenamento em superfícies inclinadas ou próximas a desníveis.

• Materiais finos, pulverulentos, devem ser estocados ao abrigo dos ventos; devem, igualmente,
ser cobertos; no caso da produção de concreto em obra e da presença de esteiras rolantes para
conduzir aglomerados à betoneira, as mesmas devem ser cobertas.

• Dedicar atenção especial aos produtos inflamáveis que sejam estocados na obra; a localização
de seu armazenamento, assim como de outras fontes de poluição, deve ser definida
considerando-se os ventos dominantes e os riscos à vizinhança (proximidade entre edifícios); a
presença de extintores de incêndio adequados e com cargas no prazo de validade (contrato de
manutenção) é fundamental.

No caso da necessidade de armazenamento de terras férteis de escavações para posterior


reutilização, deve-se separar o solo retirado de acordo com suas possíveis aplicações,
armazenando-o em superfícies horizontais, em montes de, no máximo, dois metros de altura.
Proteger a superfície para evitar erosão e ação da chuva. Não compactar o depósito e evitar o
trânsito de máquinas, equipamento e veículos sobre os mesmo.

Deve-se ainda:

• Realizar projeto do canteiro; reduzir ao mínimo a ocupação do terreno destinada ao


armazenamento de materiais; evitar a ocupação de áreas ambientalmente valiosas.

• Fornecer o adequado treinamentos aos operários com relação aos produtos perigosos.

40 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

A Norma Regulamentadora NR-18 traz um capítulo específico sobre a armazenagem e estocagem


de materiais, cobrindo inclusive questões de natureza ambiental.

4.1.12. Circulação de materiais, equipamentos, máquinas e veículos


Trata-se de um dos aspectos críticos em termos de impactos, pois se relaciona com temas como
emissão de CO2 (efeito estufa), consumo de recursos não renováveis (combustíveis) e incômodos
como ruídos, emissões e riscos de segurança para trabalhadores e a vizinhança ou danos a bens. A
questão central é se diminuir a circulação.

Para as circulações que forem inevitáveis, do ponto de vista das demandas por inovações, a mais
marcante é a falta de opções no mercado por máquinas, veículos e equipamentos adequados aos
diferentes serviços de alto desempenho, ou seja, com baixos níveis de consumo de combustível,
emissão de ruídos e gases e silencia dores instalados.

No mais, aqui, também, já são conhecidas muitas das soluções técnicas e gerenciais para se
diminuir a circulação e se reduzir os impactos delas decorrentes:

• Minimizar a circulação de veículos, equipamentos e máquinas, tanto no interior do canteiro


quanto no seu entorno, de modo a reduzir as poluições sonora e atmosférica e a economizar
combustível.

• Realizar estudo de acessos e condições de circulação das vias de acesso ao canteiro, incluindo
delimitações de horários de acesso ou de tonelagens de veículos; definir trajetos por vias que
permitam um deslocamento seguro e que perturbe o menos possível a circulação e as zonas
contíguas; estudar soluções alternativas de circulação, conjuntamente com técnicos do serviço
técnico municipal responsável pelo assunto.

• Realizar estudo da logística de entregas e retiradas de material prevendo: datas, horários e


condições de entrega (embalagens, volumes, pesos, equipamentos de transporte, proteções
contra intempéries, etc.); procurar fazer com que as entregas sejam realizadas nos horários mais
adequados para a vizinhança; evitar entregas em horários de pico de trânsito; assegurar-se de
que as empresas transportadoras tenham as informações completas sobre o local da obra (mapa
de acesso, principais vias, sentido de vias, restrições de circulação, etc.).

• Otimizar o número de deslocamentos, ajustando a carga a ser transportada à capacidade do


veículo.

• Fixar corretamente e proteger a carga transportada, com lonas, por exemplo.

• Prever acessos e vias adequadas no interior do canteiro, impedindo que rodas de veículos se
sujem de barro, vindo a sujar vias externas; delimitar os locais onde possa haver circulação no
interior do canteiro, principalmente quando sobre solo destinado à área verde, evitando sua
compactação.

• Preparar corretamente as circulações entre a área do armazenamento a o local onde está o


equipamento de transporte vertical (grua, elevador, guincho, etc.).

• Instalar sinalização adequada (locais de entregas, acessos de veículos e pedestres, caçambas de


coleta, etc.); caso necessário, o local da obra deverá ser sinalizado em vias públicas, em comum
acordo com os órgãos responsáveis.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 41


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• No caso de retiradas da obra, principalmente nas etapas de demolição e escavação, deve ser
estabelecido plano de chegada de caminhões, evitando que fiquem estacionados nas
vizinhanças da obra.

• Prever áreas de estacionamento de veículos que impeçam o contato de óleos que vazem de
motores com o solo.

• Evitar que equipamentos de transporte vertical (guinchos, gruas, etc.) possam transportar
cargas por sobre a vizinhança; definir o volume limite de circulação de cargas aéreas.

• Identificar a presença de linhas elétricas ou de alta tensão no terreno ou vizinhança e levar em


conta a sua presença na escolha dos equipamentos de transporte vertical (guinchos, gruas, etc.)
e na definição do volume limite de circulação de cargas aéreas.

Os maiores desafios para se implementar essas soluções são:

• aumentar o intercâmbio entre empresas construtoras e os serviços técnicos municipais


responsáveis pelo trânsito;

• desenvolver estudos sobre logística de suprimentos, por dificuldades relacionadas à cadeia de


suprimentos da maioria das empresas (relacionamentos inconstantes com fornecedores, compra
por preço, falta de comunicação, falta de preparo dos fornecedores, etc.);

• deficiências no planejamento das obras, o que dificulta a programação das entregas e retiradas.

A Norma Regulamentadora NR-18 traz um capítulo específico sobre o transporte de trabalhadores


em veículos automotores com recomendações que têm que ser observadas.

4.1.13. Manutenção e limpeza de ferramentas, equipamentos, máquinas e


veículos

As soluções técnicas e gerenciais para se reduzir os impactos são conhecidas, necessitando


fundamentalmente do desenvolvimento de rotinas contendo boas práticas e sua implementação nos
canteiros de obras, o que implica na capacitação da mão-de-obra:

• Assegura-se que máquinas, veículos e equipamentos são submetidos a manutenções regulares e


de que estão em dia quanto ao pagamento de impostos (IPVA, por exemplo) e multas.

• Manter limpos ferramentas, equipamentos, máquinas e veículos; limpá-los imediatamente após


o uso; dar preferência ao uso de sistemas de limpeza que utilizem água sob pressão ou outros
sistemas que evitem a necessidade de utilizar produtos perigosos (solventes, por exemplo).

• Prever área de lavagem de rodas de caminhões e de outros veículos, com dispositivo para
recuperação das águas; essas devem ser tratadas em área específica prevista no canteiro
(decantação).

• Prever área para decantação de águas de lavagem de equipamentos como betoneira,


argamassadeira, etc.; trocar a água toda manhã, antes do início dos serviços, e retirar o material
recolhido destinando-o à caçamba de coleta ou baia de resíduos inertes (Classe A).

• Responsabilizar os trabalhadores da obra pelo bom funcionamento, manutenção e limpeza de

42 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

equipamentos, ferramentas, máquinas e veículos.

• Realizar sistematicamente medições de emissões de CO2 e ruídos em máquinas, veículos e


equipamentos; observar sistematicamente se não ocorrem vazamentos.

• Garantir que quem utiliza ou opera os equipamentos, ferramentas, maquinas ou veículos tem
pleno conhecimento do seu funcionamento.

• Não realizar troca de óleo de veículos no canteiro de obras; no caso da necessidade de


abastecimento de veículos no canteiro, prever área específica com piso adequado.

A Norma Regulamentadora NR-18 traz um capítulo específico sobre ordem e limpeza, com
recomendações adicionais que têm que ser observadas.

4.2. Recursos

4.2.1. Consumo de recursos naturais e manufaturados (inclui perda


incorporada e embalagens)

As recomendações aqui pertinentes dizem respeito aos produtos utilizados e aos seus fornecedores,
procurando se incorporar critérios de sustentabilidade na aquisição de bens e na contratação de
serviços, perpassando outros aspectos relacionados à gestão do canteiro. Por suas conseqüências
nos ecossistemas e em questões mais amplas, como a do aquecimento global pelo efeito estufa, a
escolha da madeira e de seu fornecedor adquire grande importância. As principais recomendações
são:

• Implementar medidas que levem à minimização das perdas incorporadas, envolvendo projeto,
planejamento, oferta de produtos adequados (normalização técnica, conformidade,
desempenho, coordenação modular, etc.), gestão da produção, equipamentos adequados,
capacitação da mão-de-obra em todos os níveis, etc.

• Priorizar produtos reciclados ou que permitam posterior reaproveitamento.

• Preferir o uso de produtos disponíveis localmente.

• Considerar, ao definir o tipo de madeira a ser utilizada, as características das peças a serem
detalhadas para adequar o projeto às medidas das peças disponíveis no mercado com o objetivo
de evitar perdas por cortes e emendas desnecessárias.

• Comprar madeiras somente de empresas que possam comprovar a sua origem, seja por meio de
certificação legal (FSC, SOF, Cerflor etc) ou de um plano de manejo aprovado pelo Ibama,
com a apresentação de nota fiscal e documento de transporte.

• Utilizar espécies de madeiras alternativas às tradicionais que se encontram sob pressão de


exploração.

• Substituir madeiras conservadas com venenos à base de cromo e arsênico.

• Realizar um projeto de fôrmas adequado e assegurar-se de sua boa fabricação e uso (montagem
e desmontagem), permitindo que as mesmas sejam reutilizadas um grande número de vezes.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 43


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• Dar preferência à contratação ou à compra de fornecedores que sejam socialmente


responsáveis: que não trabalhem com mão-de-obra informal; que estejam em dia com suas
obrigações tributárias e fiscais; que participem de seus programas setoriais da qualidade, não
praticando concorrência desleal e seguindo a normalização técnica e a legislação; que
pratiquem uma política de remuneração, benefícios e carreira justa com seus funcionários e
seus próprios fornecedores; que valorizem o trinômio ‘saúde, segurança e condições de
trabalho’; que respeitem o ambiente.

• Dar preferência à contratação de fornecedores que sejam capazes de demonstrar sua


capacitação tecnológica para realizar o serviço especializado de execução para o qual estão
sendo contratados.

• Preferir produtos acondicionados em grandes volumes; exigir que os fornecedores utilizem


palettes retornáveis e recolham as embalagens já utilizadas; preferir fornecedores que
proponham embalagens reduzidas ou que sejam flexíveis e possam ser compactadas, e que,
sobretudo, possam ser reaproveitadas; planejar as entregas de modo a minimizar o consumo de
embalagens.

• Dispensar cuidados especiais à proteção dos serviços acabados, evitando danos por ação
mecânica (choques, quedas de objeto, etc.) ou deterioração (intempéries, ação do sol, calor,
manchas, etc.).

Algumas dificuldades existem para a implementação dessas medidas, que precisam ser superadas
pelo maior desenvolvimento tecnológico, relacionadas:

• à implementação de medidas que levem à minimização das perdas incorporadas;

• ao baixo número de produtos reciclados disponíveis no mercado;

• à pequena participação no mercado de empresas que possam comprovar a origem de sua


madeira e ao preço ainda elevado das madeiras de origem certificada;

• à ausência de mecanismos para caracterizar fornecedores que sejam socialmente responsáveis;

• à ausência de mecanismos para caracterizar fornecedores capazes de demonstrar sua


capacitação tecnológica;

• a problemas na cadeia de suprimentos (falta de cultura no uso de palettes; baixo emprego de


equipamentos de transporte; ausência de planejamento de entregas; etc.).

4.2.2. Consumo e desperdício de água


As soluções preconizadas já dispõem de tecnologia adequada e são semelhantes às empregadas em
edifícios em uso:

• Instalar medidores de água e luz nas áreas de produção (incluindo nas frentes de trabalho) e de
vivência, de modo a conhecer os consumo e combater os desperdícios.

• Instalar, nas áreas de vivência, sistemas que permitam o uso eficiente de água e energia,
responsabilizando os operários pela boa utilização dos mesmos.

44 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• Promover campanha de conscientização e estabelecer política de inspeção, para evitar todo


desperdício de água (identificação de vazamentos, torneiras deixadas abertas, reservatórios com
bóias desreguladas, etc.).

4.2.3. Consumo e desperdício de energia elétrica


Mais uma vez, as soluções preconizadas dispõem de tecnologia adequada:

• Optar por máquinas, equipamentos e ferramentas economizadores de energia.

• Instalar, nas áreas de produção e vivência, sistemas que permitam o uso eficiente da energia,
responsabilizando os operários pela boa utilização dos mesmos.

• Zelar para que não haja consumo desnecessário de eletricidade (luzes mantidas acessas em
áreas administrativas e de vivência, banhos longos em chuveiros elétricos, aparelhos de ar
condicionado funcionando ininterruptamente, etc.).

• Utilizar lâmpadas compactas fluorescentes.

• Promover campanha de conscientização para evitar todo desperdício de energia elétrica.

Deve ser desenvolvida tecnologia para etiquetagem de máquinas, equipamentos e ferramentas


usadas na produção quanto ao consumo de energia elétrica (eficiência energética; selo Procel) e o
mercado deve responder a ela.

4.2.4. Consumo e desperdício de gás


Embora o gás não seja fonte energética de uso intenso na maioria dos canteiros de obras, deve-se
procurar implementar medidas para a sua conservação, e a principal solução a ser aplicada é
conhecida :

• Promover campanha de conscientização e estabelecer política de inspeção, para evitar todo


desperdício de gás (sobretudo pela identificação de vazamentos, que trazem enormes riscos
para a saúde e a segurança).

4.3. Resíduos

4.3.1. Perda de materiais por entulho


Esse tema é essencial, e foi tratado separadamente no capítulo 8.

4.3.2. Manejo de resíduos


Embora o manejo de resíduos do canteiro seja um aspecto ambiental de forte impacto para a
ambiente, os resíduos sempre foram tratados sem muitos cuidados. Assim, os mesmos
tradicionalmente são coletados misturados, sem caracterização e segregação ou triagem em função
do tipo de produto, com acondicionamento improvisado, e assim destinados a aterros e outros fins,
usualmente clandestinos e a céu aberto (“bota-foras” em terrenos baldios, encostas, várzeas,
calçadas de ruas de menor movimento, etc.). Isso causa impactos ambientais evidentes nas áreas de

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 45


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

destinação e impede o reaproveitamento dos resíduos, como a sua reciclagem, embora cada vez
mais venham sendo desenvolvidas tecnologias para tanto.

No entanto, desde 2002 há um novo marco na legislação relacionado ao assunto, com a Resolução
nº 307/2002 do CONAMA, que define “diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos
resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a minimizar os impactos
ambientais”. Para tanto, a Resolução estabelece como instrumento o Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, que incorpora dois outros instrumentos:

• Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, elaborado,


implementado e coordenado pelos municípios e pelo Distrito Federal, que estabelece diretrizes
técnicas e procedimentos para o exercício das responsabilidades dos pequenos geradores, em
conformidade com os critérios técnicos do sistema de limpeza urbana local;

• Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, elaborados e implementados


pelos geradores não enquadrados no caso anterior, fundamentalmente as empresas construtoras,
e que têm como objetivo estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e destinação
ambientalmente adequados dos resíduos gerados nos canteiros de obras; a Resolução define
assim a construtora como responsável pelos resíduos até a sua destinação final.

Tanto os aspectos gerais do Plano Integrado como as suas especificidades em relação aos Projetos
de Gerenciamento de Resíduos interessam a este trabalho.

No caso do Plano Integrado, ele estabelece que os municípios devem assegurar: “... III - o
estabelecimento de processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento e de disposição
final de resíduos; ... V - o incentivo à rein serção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo
produtivo; VI - a definição de critérios para o cadastramento de transportadores; ...”. Essas
exigências dizem respeito à questão da destinação dos resíduos, e são tratadas no item 4.3.2. É,
portanto, a necessidade de se elaborar o Projeto de Gerenciamento de cada canteiro de obras que
traz impacto imediato para o manejo dos resíduos, sendo tratado a seguir.

Outro aspecto importante é o da Resolução também estabelecer a forma de classificação dos


resíduos da construção civil e as suas destinações possíveis, como ilustra a Tabela 6.

O Projeto de Gerenciamento de Resíduos visa reduzir a produção dos mesmos e criar as condições
que permitam a sua reutilização ou sua reciclagem (reaproveitamento). A redução da produção de
resíduos já foi discutida no capítulo anterior. Já para a reutilização ou reciclagem, dois pontos são
fundamentais: evitar a mistura de resíduos de classes diferentes, e mesmo de produtos diferentes de
uma mesma classe, e assegurar que haja coerência entre a separação e a capacidade de reinserção
dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo produtivo nas proximidades da obra.

Para se evitar a mistura e corretamente classificá-los, deve-se segregar os resíduos desde a sua
produção, ou seja, no próprio local de uso do produto. A partir daí, deve-se estabelecer uma
seqüência de fluxos e um sistema de coleta dotado de recipientes de coleta e acondicionamento
específicos intermediários, como bombonas e bags, e finais, como caçambas de coleta e baias, e
respectivos acessórios. Há, portanto, necessidade de espaços no canteiro de obras para posicionar
tais dispositivos e de pessoas responsáveis por assegurar o funcionamento do conjunto. Resíduos
que venham a se misturar, de quebras ou varrições, precisam ser selecionados, o que pode se dar no
próprio canteiro ou em área externa de transbordo e triagem (ATT).

46 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Tabela 6. Classificação e destinações possíveis dos resíduos da construção civil (fontes:


Resoluções CONAMA nº 307/2002 e nº 348/2004).

Classe Caracterização Destinação


Reutilizados ou reciclados na forma de
Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como
agregados, ou encaminhados a áreas de
agregados, oriundos de obras de infra-estrutura,
Classe A aterro de resíduos da construção civil,
inclusive solos, de obras de edificações, de
sendo dispostos de modo a permitir a
peças pré-moldadas em concreto, etc.
sua utilização ou reciclagem futura.
Reutilizados, reciclados ou
Resíduos recicláveis para outras destinações, encaminhados a áreas de
Classe B tais como: plásticos, papel/papelão, metais, armazenamento temporário, sendo
vidros, madeiras e outros. dispostos de modo a permitir a sua
utilização ou reciclagem futura.
Resíduos para os quais não foram
desenvolvidas tecnologias ou aplicações Armazenados, transportados e
Classe C economicamente viáveis que permitam a sua destinados em conformidade com as
reciclagem/recuperação, tais como os produtos normas técnicas especificas.
oriundos do gesso.
Resíduos perigosos oriundos do processo de
construção, tais como tintas, solventes, óleos e
outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais Armazenados, transportados,
à saúde oriundos de demolições, reformas e reutilizados e destinados em
Classe D
reparos de clínicas radiológicas, instalações conformidade com as normas técnicas
industriais e outros, bem como telhas e demais especificas.
objetos e materiais que contenham amianto ou
outros produtos nocivos à saúde3

A gestão dessa seqüência de atividades durante a obra deve ser cuidadosa e requer níveis distintos
de atenção. Quando da execução da estrutura, por exemplo, a triagem dos resíduos é mais simples,
já que são compostos essencialmente de resíduos de Classe A inertes reutilizáveis ou recicláveis
como agregados (uso em concretos) e de Classe B, nesse caso recicláveis como madeira ou aço. Já
a partir dos demais serviços, embora se mantenha os resíduos de Classe A (alvenarias, argamassas,
cerâmicas, etc.) e B (embalagens de plásticos e papel/papelão, metais, vidros, madeiras, etc.),
começam a existir resíduos de Classe C (gesso) e, mais complexos, os perigosos de Classe D
(tintas, solventes, lâmpadas fluorescentes, etc.), que de modo algum podem se misturar aos outros.

A classificação dos resíduos em obra para sua triagem deve levar em conta processos de
transformação que os produtos tenham sofrido no canteiro, pela combinação de produtos, por
exemplo, que possam fazer com que mudem de classe.

Quanto à coerência entre a segregação e a capacidade de re-inserção dos resíduos, por exemplo, o
grau de segregação dos resíduos de Classe B depende das possibilidades de reaproveitamento que
existam nas proximidades da obra. Os resíduos dessa classe podem também ser misturados na obra
e depois separados numa ATT; a decisão pelo nível de segregação na obra depende de aspectos

3
Nova redação dada pela Resolução CONAMA nº 348, de 16 de agosto de 2004.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 47


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

como a área disponível e os volumes produzidos, por exemplo, que sejam suficientes para justificar
a ida à obra de um reciclador para retirá-los.

Desse modo, o projeto do manejo dos resíduos deve identificar e quantificar os resíduos de
diferentes classes e prever áreas de coleta e acondicionamento no canteiro com dispositivos
adequados, em função da classe do resíduo.

Pode-se citar algumas recomendações gerais quanto ao manejo dos resíduos no canteiro:

• Estabelecer mecanismo de acondicionamento inicial, junto ao local de geração, em função do


tipo de resíduo (resíduos inertes em pilhas; madeiras em bombonas; plásticos em bombonas;
metais em bombonas; serragem em sacos de ráfia; placas, chapas e artefatos de gesso em
pilhas; etc.); usar recipientes intermediários de coleta de resíduos de pequeno volume (bags,
bombonas revestidas ou não se sacos de ráfia, etc.), para facilitar o transporte posterior dos
resíduos para as caçambas ou baias; disponibilizar a quantidade necessária de dispositivos, de
capacidade suficiente.

• Estabelecer mecanismo de acondicionamento final, junto ao local de triagem ou da saída do


canteiro, em função do tipo de resíduo e das possibilidades de recuperação e dos requisitos do
sistema de gestão criado (caçambas ou baias); disponibilizar a quantidade necessária de
dispositivos, de capacidade suficiente.

• Especificar, de preferência, dispositivos impermeáveis e colocá-los em locais com nível


adequado de iluminação e, de preferência, cobertos (obrigatório para papeis e derivados).

• Dispor de equipamento adequado para o transporte interno do resíduo no canteiro, em função


de seu tipo (giricas, condutor de entulho, elevador de carga, guincho, grua, pá-carregadeira,
etc.).

• Localizar os dispositivos de forma tal que se minimize os trajetos para a deposição dos
resíduos, de modo a facilitar a adesão dos trabalhadores à idéia da segregação.

• Atribuir responsabilidades, aos trabalhadores, pelo gerenciamento dos resíduos e mantê-los


informados em relação às diretrizes a seguir.

• Sinalizar adequadamente os recipientes de acondicionamento, os fluxos de resíduos, etc.

• Controlar permanentemente o processo de triagem in loco, assim como o correto


preenchimento das caçambas e baias.

• Assegurar-se que somente caçambas completamente preenchidas sejam transportadas da obra.

• Dar atenção especial às embalagens, para que possam ter sua quantidade diminuída e serem
reaproveitadas ao máximo, sendo preferencialmente coletadas pelos próprios fabricantes dos
produtos previamente embalados.

• Coletar resíduos de embalagens não diretamente recolhidos pelos fabricantes em caçamba ou


baia específica (principalmente embalagens em papel e seus derivados).

• Minimizar os ruídos provenientes das atividades de gerenciamento de resíduos (quedas em


calhas ou condutores plásticos, movimentações das caçambas, etc.) atendendo aos níveis de
ruído permitidos e aos horários de emissão estabelecidos.

48 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• Prever sistema para o gerenciamento dos resíduos gerados no canteiro em decorrência das
atividades de apoio à produção (resíduos de escritório, vestiário, banheiros, refeitório, etc.),
incluindo sua coleta e destinação; cuidados especiais devem ser dedicados aos resíduos de
ambulatórios, caso existentes; para sua destinação, empregar os mecanismos estabelecidos de
coleta pública.

Os manuais desenvolvidos com o apoio do SindusCon-SP (PINTO et al., 2005) e do SindusCon-


MG e do Senai-MG (JÚNIOR, 2005) são excelentes referências para boas práticas sobre o tema
gerenciamento de resíduos de construção civil e sinalizam outros pontos importantes a se observar:

• Realizar reunião inaugural, antes da implementação do Plano de Gerenciamento de Resíduos


na obra, com o objetivo de sensibilizar, informar, esclarecer e comprometer a equipe de obra
quanto ao seu papel e funcionamento.

• Levantar informações e tomar decisões específicas sobre o canteiro de obras: quantidade de


funcionários e equipes, área em construção, arranjo físico, resíduos predominantes, atribuição
de responsabilidades, coletores qualificados, locais de destinação dos resíduos e cadastramento
dos destinatários, rotina para o registro da destinação dos resíduos; verificação das
possibilidades de reciclagem e aproveitamento dos resíduos; prévia caracterização dos
resíduos, providência para reduzir ao máximo o volume de resíduos (caso das embalagens), etc.

• Oferecer treinamento a todos os operários no canteiro, com ênfase na instrução para o


adequado manejo dos resíduos, visando, principalmente, sua completa triagem.

• Implantar controles administrativos, principalmente da documentação relativa ao registro da


destinação dos resíduos.

• Avaliar o desempenho da obra, por meio de check -lists e relatórios periódicos, em relação à
limpeza, triagem e destinação dos resíduos, aplicando o conceito de melhoria contínua ao
Projeto de Gerenciamento.

• Qualificar e avaliar permanentemente os agentes envolvidos (fornecedores de dispositivos e


acessórios, transportadores, destinatários).

• Fazer um estudo inicial dos fluxos dos resíduos, otimizando-o.

O manejo de resíduos no canteiro torna-se mais complexo em obras de reforma e em demolições.

4.3.3. Destinação de resíduos (inclui descarte de recursos renováveis)


Como já está previsto na Resolução nº 307/2002, o problema do gerenciamento não se encerra na
porta do canteiro, com a separação e o acondicionamento adequados, já que é fundamental se
assegurar a correta destinação dos resíduos, pela re-inserção dos mesmos no ciclo produtivo –
reúso, reciclagem, ATT, produção de energia - ou por sua destinação a áreas de aterro de resíduos
de construção licenciadas.

Via de regra, a melhorar opção é se incorporar, sempre que possível, os resíduos, reutilizando-os na
própria obra; senão, gerenciá -los de forma a garantir que sejam reaproveitados.

Podem ser reciclados ou usados novamente, em obras ou outras finalidades:

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 49


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• solos diversos;

• materia is inertes, de origem mineral, como o concreto armado e protendido e o concreto massa,
produtos cerâmicos, pedra natural, agregados, areias e vidros;

• materiais metálicos, como aço, chumbo, cobre, ferro, zinco, alumínio, etc.;

• plásticos, incluindo EPS (poliestireno expandido);

• asfaltos, betumes, neoprenes e borrachas;

• madeiras e serragens;

• papelão de embalagens e papéis de escritório;

• resíduos similares aos urbanos.

São assim potencialmente reutilizáveis:

• componentes estruturais: vigas, pilares e elementos pré-fabricados de concreto; fôrmas de


madeira e elementos em EPS;

• componentes de vedações verticais: portas, janelas, ferragens, revestimentos cerâmicos e


pétreos, divisórias internas e painéis leves e seus componentes, elementos de vedação pré-
fabricados de concreto, etc.;

• componentes de cobertura: telhas, estruturas de sustentação metálicos ou em madeira,


iluminações zenitais, sistemas de águas pluviais;

• revestimentos internos: forros, pisos elevados, revestimentos verticais, elementos de decoração,


etc.;

• instalações: tubulações, louças, metais, equipamentos de climatização, mobiliário fixo de


cozinha, mobiliário fixo de banheiro, elevadores, etc.

Observar as seguintes regras gerais quanto à destinação de resíduos:

• Privilegiar toda forma de reaproveitamento dos resíduos.

• Levantar a localização de áreas de destinação de resíduos na proximidade da obra, sejam elas


para novo beneficiamento ou disposição final.

• Incluir a minimização da distância de transporte como critério para definir o local de


destinação.

• Assegurar-se que os veículos que transportam solos e resíduos têm as condições adequadas
para que não haja queda acidental do material transportado, adotando as precauções necessárias
para que não sujem as vias públicas; realizar sistematicamente medições de emissões de CO2 .

• Negociar o retorno ao fabricante dos resíduos de classe C (para os quais não foram
desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua
reciclagem/recuperação) e classe D (perigosos) com os próprios fornecedores dos produtos de
origem (logística reversa).

50 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• Manter adequadamente os registros de destinação e aceitação dos resíduos.

A questão da destinação final é crítica e está prevista na Resolução nº 307/2002. Ela estabelece no
Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos, entre outras coisas, que os municípios devem
assegurar o estabelecimento de processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento e de
disposição final de resíduos e a definição de critérios para o cadastramento de transportadores.

No caso dos resíduos oriundos de pequenos geradores, a Resolução atribui ainda aos municípios a
responsabilidade pelo "cadastramento de áreas, públicas ou privadas, aptas para recebimento,
triagem e armazenamento temporário de pequenos volumes, em conformidade com o porte da área
urbana municipal, possibilitando a destinação posterior dos resíduos oriundos de pequenos
geradores às áreas de beneficiamento .” Assim, no caso de obras de pequeno porte, uma alternativa
de destinação existente são os pontos de entrega mantidos pelo poder público, ditos “ecopontos”,
como os da Tabela 7.

Tabela 7. Localização dos Ecopontos na cidade de São Paulo (fonte:


http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/servicoseobras/limpurb/. Acesso em 29/5/2006).

Ecoponto Endereço

Bresser Pça Giuseppe Cesari nº 54 (baixos do Vd. Bresser) - Fone: 6693.0191

Baixos da Ponte Eng. Ary Torres e Vd. República da Armênia - Fone


Pinheiros
público 3045.1049
Av. Vicente Rao sentido Diadema (Baixos do Vd. Ver. José Diniz) - Fone
Santo Amaro
público: 5537.0014
Tatuapé Av. Salim Farah Maluf, 179 (Central de Triagem)

Imperador Av. Ribeirão Jacu, 201 (trecho Av. Imperador) - Fone: 6152.9679

Pe. Nogueira
Rua Cônego José Salomom, 861 - Vila Bonilha - Fone: 3992.6475
Lopes

No caso de resíduos líquidos, a principal recomendação é a de não derramar substancias nas redes
de esgoto, drenagem, ou em canais, córregos ou rios sem os devidos cuidados. Observar, ainda, as
seguintes diretrizes:

• solicitar, ao órgão responsável pela rede pública de saneamento, permissão para utilização das
mesmas nas situações nas quais os resíduos não causem efeitos prejudiciais aos coletores e
estações de tratamento, não ofereçam riscos aos trabalhadores que realizam a manutenção da
rede e não alterem os processos de depuração das estações de tratamento; é proibido o despejo
de resíduos nas redes publicas se estes impedirem o correto funcionamento e manutenção dos
coletores, sejam eles resíduos sólidos, líquidos, gases combustíveis, inflamáveis ou explosivos,
irritantes, corrosivos ou tóxicos.

• Verificar se não há necessidade de autorização especial para deposição de resíduos líquidos em

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 51


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

bacias hidrográficas ou outras áreas.

• No caso em que os níveis de contaminação observados nos resíduos ultrapassam os limites


estabelecidos de contaminantes ou outros agentes agressivos, deve-se efetuar, no canteiro, o
pré-tratamento, para que não altere as condições da rede.

• Devem-se instalar dispositivos e estabelecer procedimentos para coletar amostras e analisar a


qualidade do resíduo líquido.

• Reduzir os resíduos em volume, evitando destinar imediatamente águas residuais, com cimento
ou outros produtos provenientes da limpeza de ferramentas, equipamentos, máquinas e
veículos, reutilizando esses líquidos e realizando a sua evacuação de maneira controla da.

• Reduzir a periculosidade do acondicionamento dos resíduos líquidos, utilizando recipientes de


coleta de materiais que evitem derrames de combustível, óleos e outros líquidos.

• Assegurar que a remoção dos recipientes de estocagem de resíduos líquidos seja feita por
empresa especializada.

Finalmente, cabe lembrar que a questão do gerenciamento dos resíduos tem relação direta com a da
limpeza da obra. Assim, não só as áreas coletivas e de apoio à produção do canteiro e as calçadas
circunvizinhas devem ser varridas regularmente e mantidas limpas como, uma vez o serviço
concluído, de preferência diariamente, também o local de produção deve ser varrido e os resíduos
encaminhados para o local de coleta intermediária (bags) ou final (caçamba ou baia).

Do ponto de vista das necessidades de desenvolvimento tecnológico, muitas são elas. As primeiras
são de natureza mercadológica: faltam estudos de logística reversa que definam o modus faciendis
e demonstrem a sustentabilidade técnica, econômica e ambiental do reaproveitamento dos resíduos
de construção. Tem relação direta com isso um dos objetivos da Resolução CONAMA
nº 307/2002, de “incentivo à reinserção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo produtivo”,
o que está longe de vir sendo feito pelos municípios.

Ainda em relação à Resolução, faltam ainda na maioria dos centros urbanos áreas já cadastradas
aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporário de pequenos volumes, assim como
áreas de beneficiamento e de disposição final de resíduos licenciadas.

Os fabricantes, de um modo geral, não estão sensíveis à sua responsabilidade no processo, e


desconhecem conceitos como o de logística reversa ou mesmo de retorno dos resíduos à produção.

Do ponto de vista gerencial, empresas construtoras com sistemas de gestão da qualidade


implantados não têm dificuldades para gerenciar os registros de destinação e aceitação dos
resíduos, o que pode não ser o caso de outras empresas.

Há também necessidade de se desenvolver aspectos técnicos relacionados à reciclagem dos


produtos, embora avanços venham ocorrendo nesta área.

No caso de pedidos e informações junto aos órgãos responsáveis pelas redes públicas de
saneamento sobre a possibilidade de deposição de resíduos líquidos, já há tradição prévia de troca
de informações entre as equipes de obras, nos casos das ligações provisórias e definitivas, o que
pode facilitar as coisas.

Não há tecnologia para o pré-tratamento no canteiro de obras de resíduos líquidos cujos níveis de

52 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

contaminação ultrapassam os limites estabelecidos de contaminantes e nem dispositivos e


procedimentos para coleta de amostras e análise da qualidade do resíduo líquido.

Precisam ser definidos recipientes para o acondicionamento correto dos resíduos líquidos; o
número de empresas especializadas capazes de removê-los é limitado.

4.3.4. Manejo e destinação de resíduos perigosos

Trata-se aqui de um caso particular dos discutidos nos dois itens anteriores, onde as mesmas
recomendações se aplicam, só que com mais rigor, e outras vêem se somar. Resíduo perigoso é
aquele que, por causa de suas propriedades perigosas podem causar danos à saúde e meio ambiente
ou que tragam riscos para a segurança (incêndio, explosão, etc.).

Considerar como resíduos perigosos os definidos para a Classe D pelas Resoluções do CONAMA
nº 307/2002 e nº 348/2004 (amianto). São assim resíduos perigosos, entre outros: produtos de
soldagem; materiais usados em impermeabilizações a base de asfalto ou amianto; produtos de
preservação de madeiras como creosotos, germicidas, antioxidantes; tintas e vernizes; outros
resíduos químicos (anticorrosivos, secantes, fungicidas, inseticidas, solventes, diluentes, ácidos,
abrasivos, detergentes, etc.); equipamentos elétricos que contenham componentes perigosos, como
tubos de raios catódicos e lâmpadas fluorescentes; instrumentos de aplicação de tintas e vernizes
como broxas, pincéis e trinchas; outros materiais auxiliares na aplicação de produtos perigosos,
como panos, trapos, estopas, etc. Materiais, instrumentos e embalagens contaminados por resíduos
perigosos também passam a ser considerados como tal.

Tanto os resíduos perigosos, como as embalagens e os materiais contaminados por esses produtos,
devem ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas
técnicas especificas. Deve-se assim prever triagem e acondicionamento específicos para os
mesmos.

Cuidados especiais devem ser consagrados à destinação dos resíduos perigosos, uma vez que a
destinação incorreta trará conseqüências extremamente danosas para comunidades mais distantes.
Isso implica numa tarefa adicional para as construtoras, embora se superpondo a um papel dos
órgãos ambientais, o da correta qualificação e avaliação dos destinatários, que obrigatoriamente
devem ser licenciados.

Como recomendações gerais, tem-se ainda para o manejo e destinação resíduos perigosos:

• Preparar uma lista dos resíduos perigosos existentes na obra e realizar a triagem correta dos
mesmos, seguindo com mais rigor as recomendações válidas para os resíduos não perigosos.

• Armazenar os resíduos perigosos em recipientes adequados, cujo material não seja afetado pelo
resíduo e seja resistente ao manejo; no caso de resíduos líquidos, posicionar os recipientes
sobre áreas impermeáveis.

• Identificar os recipientes de armazenamento dos resíduos perigosos antes de serem enviados às


áreas de destinação; identificá-los com uma etiqueta que, pela Resolução do CONAMA
nº 006/1988, de 15 de julho de 1988, deve apresentar: identificação do gerador de resíduos;
caracterização dos resíduos; dados sobre o transporte dos resíduos; dados sobre
estocagem/tratamento/destino dos resíduos (data de destinação do resíduo e data de inicio e fim
do armazenamento, por exemplo); responsável pelo preenchimento; convém adotar o símbolo /
rótulo pictórico correspondente (produto nocivo, tóxico, inflamável, etc.), segundo a NBR

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 53


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

7500 - Identificação para o transporte terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de


produtos, e transportar o resíduo acompanhado da respectiva Ficha de Emergência (NBR 7503
- Ficha de emergência e envelope para o transporte terrestre de produtos perigosos).

• Proteger ou mesmo fechar ou lacrar o recipiente quando estiver completamente cheio de


resíduos perigosos.

• Posicionar os recipientes de resíduos perigosos em locais ventilados e protegidos das


intempéries, de forma que as conseqüências de um possível acidente sejam mínimas; distanciá -
los de focos de calor ou chamas e cuidar para que elementos que estejam armazenados à
proximidade não reajam entre si.

• Tomar as devidas precauções quando do manejo de resíduos perigosos para proteger as


condições de saúde do trabalhador, por exemplo, pela inalação ou manejo inadequado (contato
com a pele, olhos, etc.).

4.3.5. Queima de resíduos


A queima de resíduos a céu aberto é uma forma de destinação de resíd uos sólidos proibida pelo
artigo 130 do Decreto-Lei 78/2004, de 3 de abril de 2004, que estabelece o regime da prevenção e
controlo das emissões de poluentes para a atmosfera. Também a Norma Regulamentadora NR-18
proíbe a queima de lixo ou qualquer outro material no interior dos canteiros de obras.

4.4. Incômodos e poluições

O quarto e último grande tema diz respeito aos incômodos e poluições causados pelos canteiros de
obras, que se relaciona com os seguintes aspectos ambientais:

− geração de resíduos perigosos;


− geração de resíduos sólidos;
− emissão de vibração;
− emissão de ruídos;
− lançamento de fragmentos;
− emissão de material particulado;
− risco de geração faíscas onde há gases dispersos;
− desprendimento de gases, fibras e outros;
− renovação do ar;
− manejo de materiais perigosos.

A discussão das necessidades de desenvolvimento de tecnologias para superar os impactos


decorrentes desses aspectos é feita em função das atividades desenvolvidas nas diferentes fases de
uma obra:

− demolição;
− limpeza superficial do terreno;
− fundações;

54 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

− rebaixamento do lençol;
− escavações e contenções;
− estrutura;
− alvenarias;
− divisórias;
− esquadrias;
− telhado;
− impermeabilização;
− revestimento vertical;
− pintura;
− piso;
− sistemas prediais;
− redes enterradas e aéreas;
− terraplenagem;
− pavimentação;
− drenagem superficial.

4.4.1. Geração de resíduos perigosos

A geração de resíduos perigosos pode ocorrer em diferentes atividades desenvolvidas num canteiro
de obras, e as tecnologias para minimizar seus impactos e o seu grau de desenvolvimento variam
em cada caso. Seguem recomendações específicas, que visam minimizar o uso de determinados
produtos e, indiretamente, dos resíduos perigosos por eles gerados.

Atividade: Demolição

Resíduos de antigas tubulações em chumbo devem ser segregados e considerados


perigos os; pinturas em imóveis antigos podem ter sido executadas com tintas à base de
chumbo. No caso das pinturas, a principal ação preventiva é evitar se respirar a poeira
oriunda das pinturas, que tenham sido removidas por lixamento, apicotamento, etc.

Resíduos provenientes de edificações onde a possibilidade de exposição dos produtos a


radiações ou a produtos químicos, como clínicas radiológicas e instalações industriais (ver
Resolução CONAMA nº 307/2002) devem ser considerados perigosos.

Atividade: Estrutura

A nata de cimento que escapa da concretagem de elementos estruturais pode ser


considerada um resíduo perigoso.

Evitar produtos hidrossolúveis tóxicos de preservação contra insetos e fungos em madeiras


estruturais (sais, CCA a base Cobre – Cromo – Arsênio e CCB base de Cobre – Cromo –
Boro), incluído em madeiras para coberturas. Sempre se deve definir a quantidade do
produto de preservação em função das condições de exposição do componente estrutural.
Para classe de riscos de produtos de preservação da madeira, ver site do IBAMA:
http://www.ibama.gov.br/qualidadeambiental/madeira/produtos_reg_ibama.xls.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 55


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Atividade: Divisórias

Os resíduos contendo gesso não são considerados inertes, pois, embora de baixa
solubilidade, são solúveis em água, podendo atingir lençóis aqüíferos.

Evitar derramamentos de colas usadas na execução de divisórias.

Atividade: Impermeabilização

Evitar derramamentos de emulsões, solventes, etc.

Atividade: Pintura

Para diminuir os riscos de produção de resíduos perigosos, preferir o uso de tintas e


vernizes sem formaldeídos ou formóis e que não emitam compostos orgânicos voláteis
(COV) ou de baixa emissão, que normalmente não possuem mercúrio e seus derivados em
sua composição, e também pigmentos de chumbo, cádmio, cromo ou seus óxidos. COV
reagem com outros agentes poluentes presentes nos meios urbanos, produzindo ozônio, que
afetam a saúde.

Evitar assim o uso de:

• solventes à base de derivados de petróleo (tolueno, xileno, white spirit, etc.), clorados
(tricloroetileno, diclorometano, etc.), oxigenados (acetonas, álcoois, ésteres, éteres,
etc.);

• vernizes sintéticos, à base de poliuretano;

• tintas e vernizes a óleo (glicerofitálicos);

• tintas e vernizes à base de água.

Mesmo tintas acrílicas podem apresentar riscos ambientais, devidos a resinas, pigmentos e
aditivos.

Evitar derramamentos de tintas e vernizes, sobretudo sobre o terreno natural.

Nunca permitir que os resíduos da limpeza de pincéis e outras instrumentos e ferramentas


de pintura adentre a rede de esgoto ou atinja o terreno natural.

Atividade: Piso

Preferir vernizes com solventes à base de água; evitar emprego de vernizes tipo “Sinteko”
ou poliuretânicos.

Evitar derramamentos de colas.

Atividade: Sistemas prediais

Evitar o emprego de produtos antiferrugem contendo chumbo, cromo ou cádmio.

Atividade: Terraplenagem

Sem recomendações específicas.

56 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

4.4.2. Geração de resíduos sólidos


A redução da geração de resíduos sólidos já foi discutida no capítulo anterior.

Incentivar o aproveitamento máximo dos materiais e produtos, empregando técnicas e peças que
reduzam a necessidade de cortes, que esvaziem por completo a embalagem e realizando medidas
com exatidão.

Atividade: Demolição

A demolição é atividade que gera grandes quantidades de resíduos, de composição


variável.

Deve-se realizar a demolição seletiva, empregando técnicas que tenham como resultado um
maior cuidado ambiental e aumentem a possibilidade de reutilizar materiais, elementos e
instalações.

O processo deve ser organizado de forma inversa ao da construção, segundo as seguintes


fases: retirada de elementos de decoração removíveis, desmonte ordenado de móveis,
aparelhos sanitários e instalações de ar condicionado, tubulações, instalações elétricas,
forros falsos, revestimentos reaproveitáveis, telhados, coberturas e divisórias, demolição
controlada da estrutura.

Atividade: Limpeza superficial do terreno

Sem recomendações específicas.

Atividade: Fundações

Evitar que caminhões betoneiras sujem vias e calçadas; caso isso ocorra, assegurar limpeza.

Atividade: Escavações e contenções

Sem recomendações específicas.

Atividade: Estrutura

Evitar que caminhões betoneiras sujem vias e calçadas; caso isso ocorra, assegurar limpeza.

Um projeto de formas adequado e sua boa fabricação e uso (montagem e desmontagem)


permitem que as mesmas sejam usadas um grande número de vezes, evitando a produção
de resíduos extras de madeira.

Atividade: Alvenarias

Sem recomendações específicas.

Atividade: Telhado

Sem recomendações específicas.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 57


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Atividade: Revestimento vertical

Sem recomendações específicas.

Atividade: Piso

Sem recomendações específicas.

Atividade: Sistemas prediais

Sem recomendações específicas.

Atividade: Redes aéreas e enterradas

Sem recomendações específicas.

Atividade: Terraplenagem

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

Atividade: Drenagem superficial

Sem recomendações específicas.

4.4.3. Emissão de vibração


As vibrações são fontes de danos à saúde do trabalhador, incômodos à vizinhança e patologias em
edificações vizinhas ao canteiro. “O grau de vibração está associado à intensidade, à duração, à
freqüência e ao número de ocorrência” das ações que a causam. Vale lembrar que, também como
resultados das vibrações, há “o aumento da propagação do ruído pelo transporte do som através do
solo e das estruturas, sendo mais perceptível durante a noite, devido ao baixo nível de ruído de
fundo” (ANDRADE, 2004).

Se a emissão de vibração for inevitável, é recomendável que a faça em períodos que causem
menores incômodos à vizinhança e que, no caso de construções vizinhas com risco de apresentarem
patologias, que se tomem todas as precauções necessárias.

Este aspecto é particularmente importante quando, próximo ao canteiro, há hospitais, escolas,


hotéis, sítios históricos, edificações antigas ou tombadas pelo patrimônio histórico, etc.

Atividade: Demolição

Sem recomendações específicas.

Atividade: Fundações

Sem recomendações específicas.

Atividade: Escavações e contenções

58 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Sem recomendações específicas.

Atividade: Rede s aéreas e enterradas

Sem recomendações específicas.

Atividade: Terraplenagem

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

4.4.4. Emissão de ruídos


A emissão de ruído e um dos aspectos ambientais que mais causam incômodos, podendo prejudicar
a saúde e o bem estar dos trabalhadores e da comunidade vizinha à obra. Dependendo da
vizinhança da obra, os cuidados com a emissão de ruídos precisam ser redobrados, como quando da
existência de hospital, creche ou zona estritamente residencial calma.

Segundo Andrade (2004), “O ruído da obra pode ser avaliado em termos de nível sonoro
equivalente contínuo e/ou em termos de nível máximo. O nível de som na vizinhança que provém
do local da obra dependerá de vários fatores, que são: (a) a potência sonora do processo e da
máquina; (b) o período de processo da operação e da máquina; (c) a distância da fonte para o
receptor; (d) a presença de enclausuramento; (e) a reflexão do som. Outros fatores como
condições meteorológicas (particularmente velocidade do vento e a sua direção), absorção do solo
e absorção atmosférica, também podem influenciar no nível de ruído recebido...”.

Assim, escreve a autora: “Quando se descreve o ruído de eventos isolados, que não aparente ser
por um período muito longo de Leq, pode ser utilizado um período curto (por exemplo 5 min) de
Leq (valor médio quadrático sonoro). Qualquer medida usada para descrever o ruído do local da
obra deve especificar o período do dia que o valor medido se aplica.”

Antes, ela afirmara que: “De acordo com U.S. Department of Transportation Federal Railroad
Administration (1998), o Leq é apropriado por descrever os ruídos por operações separadas e
pela combinação das mesmas, para cada equipamento, para cada fase da construção e para todas
as fases conjuntas em períodos definidos. Se considerarmos o ruído da construção civil, que é
variável durante um período de tempo T, o Leq representa o nível de ruído constante com a mesma
energia que o ruído realmente percebido durante o período considerado. O Leq corresponde ao
valor médio quadrático da pressão sonora referente a todo intervalo de medição, sendo que,
devido ao conteúdo tonal existente, deve haver uma correção para corresponder ao incômodo real
(I) ou deve ser utilizada a medição do nível sonoro máximo ponderado (LAmáx).”

A NBR 10.151 - Avaliação de ruídos em áreas habitadas visando o conforto da comunidade 4 traz a
fórmula para o cálculo do Leq.

4
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151: Avaliação de ruídos em
áreas habitadas visando o conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2000.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 59


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

As recomendações gerais feitas no caso das vibrações, de escolha dos períodos de emissão e da
gravidade do incômodo em certos locais também aqui são válidas Outras recomendações básicas
para minimizar tais impactos confrontam as condições de exposição com as de aceitação dos
ruídos. Com base na norma inglesa BS 5228 (Part 1): Noise Control on Construction and Open
Sites (1984) 5 , Andrade (2004) propôs muitas delas, que são em parte aqui retomadas e
complementadas:

• Adotar como critérios para se fixar o objeto de controle de ruído, uma vez que é “é provável
que vários fatores afetem as considerações da aceitabilidade do ruído (de uma obra) e o grau
de controle necessário”: localização da obra, nível de ruído ambiental existente na vizinhança
(ruído de fundo), duração das operações ruidosas, horas de trabalho, percepção pelo receptor da
atitude do produtor do ruído e características do ruído.

• Identificar os limites de produção de ruídos impostos pela legislação e outros impostos pelas
condições locais.

• Procurar estabelecer limites mais rigorosos de emissão para a obra do que os da legislação; por
exemplo, 80 dB(A) parece ser um valor máximo de nível sonoro adequado nas divisas do
terreno da obra e o de 85 dB(A) o limite adequado para um local a 10 metros da fonte
emissora.

• Identificar e relacionar ferramentas, equipamentos, máquinas e veículos que produzam ruído ou


vibração, caracterizar em que fases da obra são utilizados e estimar os valores das emissões
sonoras causadas (dar preferência de uso para aqueles cujos fabricantes forneçam tais
informações); comparar os níveis sonoros que serão atingidos com os limites; analisar a
possibilidade de emprego de ferramentas, equipamentos, máquinas e veículos menos ruidosas;
planejar a realização de atividades ruidosas; considerar a possibilidade de se dobrar o número
de equipamentos que produzam ruídos, de tal forma que trabalhem em paralelo, diminuindo o
tempo de exposição; respeitar estritamente os horários de trabalho.

• Informar a vizinhança, ao longo do desenrolar da obra, quanto às fases de elevada produção de


ruídos assegurando um bom relacionamento com a comunidade.

• Dar preferência a ferramentas, equipamentos, veículos e máquinas elétricos, e não pneumáticos


ou a explosão; evitar geração de ruídos e vibrações por golpes (estaqueamento, martelamentos,
posicionamento e esvaziamento bruscos de caçambas de concreto, etc.); o uso da solução
elétrica, embora mais caros, pode ainda dispensar a necessidade de um compressor.
independentemente da fonte de movimentação, exigir a insonorização das principais fontes de
ruídos, principalmente dos internos (compressores, geradores, betoneiras, caminhões,
guindastes, tratores, escavadeiras, etc.); dar preferência para bens novos, que produzem menos
ruídos; zelar pelo estado de manutenção dos mesmos; mantê-los desligados quando não em
uso.
Para se ter uma idéia dos impactos sonoros, as tabelas 8 a 10 trazem valores de Nível de
Potência Sonora Equivalente (LeqNWS) e Nível de Pressão Sonora Equivalente (LeqNPS) dos
principais equipamentos usados nos canteiros.

5
BRITISH STANDARD. BS 5228 (Part 1): Noise Control on Construction and Open Sites. [S. l.], 1984
apud Andrade (2004).

60 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Tabela 8. Níveis de Potência Sonora Equivalentes de equipamentos usados nos canteiros


(fonte: Noise Levels of Equipment Used Outdoors, 2001 apud Andrade (2004)).

Equipamento LeqNWS (dB(A))


Bombas 111
Caminhões 105
Compressor 102
Gerador 102
Guindaste 115
Grua 115
Pá Carregadeira 108
Perfuratriz –Rompedor 121
Serra Manual Madeira/Mármore 125

Tabela 9. Níveis de Pressão Sonora para 15 metros de equipamentos usados nos canteiros
(fonte: Congresso Internacional de Acústica, 1985 – Mackenzie L. Davis e David A. Cornwell,
“Introduction to Environmental Engineering” apud Andrade (2004)).

Equipamento LeqNPS (dB(A))


Compactadores 82 - 85
movimento de terra
Equipamentos para

Caminhão basculante 79 - 94
Equipamentos de combustão interna

Retroescavadeira 79 - 102
Tratores 85 - 106
Raspadeira niveladora 90 - 104
Caminhão betoneira 92 - 97
Caminhões 92 - 106
Betoneira com carregador 84 - 96
Equip. uso
manual

Bomba para concreto 92 - 94


Guindaste de braço horizontal – grua 96 - 98
Bombas 75 - 83
estacio
Equip.

nários

Geradores 83 - 94
Compressores 83 - 98
Equip. de
impacto

Perfuratriz manual e furador – rompedor 92 - 108


Bate estaca de impacto 104 - 118
Mangote de imersão e vibrador 80 - 93
Outros

Conjunto serra circular – bancada

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 61


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Tabela 10. Níveis de Potência Sonora Equivalentes e de Pressão Sonora de equipamentos


usados nos canteiros (fonte: Andrade (2004)).

Equipamento LeqNWS (dB(A)) LeqNPS (dB(A))


Caminhão Tanque 93 96 (?)
Régua Vibratória 94 -
Bate-estacas - 110 (15 m)
Elevador de carga - 64 (1,5 m)
Pistola finca – pinos 120 (1,5 m)
Rolo pé de carneiro, 111 -
Distribuidora de agregados 108 -
Rolo compactador 121 -
Máquina soldadora - 73 (15 m)

Com base nesses valores, Andrade (2004) calcula os valores de Potência Sonora LeqNWS dos
diferentes equipamentos, conforme tabela 11. Tais valores permitem identificar claramente
quais os equipamentos que mais chances têm de causar impactos, embora não sejam suficiente
para o cálculo do impacto no caso funcionamento simultâneo de vários deles, pois o resultado
da ação conjunta depende de vários aspectos, incluindo do próprio ambiente da obra, e não da
simples adição.

Tabela 11. Níveis de Potência Sonora de equipamentos usados nos canteiros (fonte:
Andrade (2004)).

Equipamento LeqNWS (dB(A))


Bate-Estaca 140
Betoneira c/ Carregador 119
Bombas 111
Bomba para Concreto 117
Caminhões 105
Caminhão Basculante 119
Caminhão Betoneira 123
Caminhão Tanque 96
Compactador 110
Compressor 102
Distribuidora de Agregados 108
Elevador de Carga 64
Elevador de Plataforma 64
Gerador 102
Grua 115
Guindaste 115
Mangote-Vibrador 117
Máquina Soldadora 72
Pá Carregadeira 108
Perfuratriz –Rompedor 121

62 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Pistola finca – pinos 120


Raspadeira, Niveladora 127
Régua Vibratória 94
Retro-Escavadeira 127
Rolo Pé de Carneiro 111
Serra Circular-Bancada 117
Serra Manual Madeira/Mármore 125
Trator 130
Rolo Compactador 121

• Reduzir as emissões empregando máquinas, equipamento e veículos menos ruidosos,


implantando silenciadores em escapamentos e mantendo-os desligados quando não estiverem
sendo utilizados.

• Localizar as áreas de produção de ruídos e vibrações (compressores, betoneiras, vibradores,


bombas, etc.) de tal forma a minimizarem os impactos na vizinhança, trabalhadores e fauna
local; essa minimização muitas vezes se dá localizando as áreas próximas aos locais mais
ruidosos já existentes na vizinhança; o aumento da distância entre emissor e receptor é uma
solução minimizadora eficiente, e deve ser empregada quando possível.

• Zelar pelo uso (fechamento) e bom estado das proteções acústicas existentes nas ferramentas,
equipamentos, máquinas e veículos; prever a implementação de proteções acústicas
complementares para aqueles que produzam ruídos excessivos, cujos custos podem ser
amortizados em mais de uma obra; prever a construção de barreiras físicas ou utilizar barreiras
existentes entre as fontes emissoras e receptoras.

• Prever o uso de walkie-talkie para comunicação entre pessoal da obra.

• Organizar a circulação de veículo de modo a que evitem zonas sensíveis a ruídos; prever áreas
de manobras de veículos, para evitar que dêem marcha-à-ré e acionem o aviso sonoro; exigir
que motores sejam desligados quando o veículo não estiver em movimento ou o equipamento
em uso.

• Sensibilizar funcionários próprios e de terceiros atuando no canteiro quanto aos problemas de


ruído, informá-los quanto às sua origens e riscos de exposição e capacitá-los quanto às formas
de minimizá-los.

De um modo geral, e não obstante a tese de doutoramento de Andrade (2004), ainda se conhece
pouco sobre as fontes de ruídos em obra e as soluções de projeto e de gestão para minimizá-las. Do
ponto de vista tecnológico, deve-se investir mais na fabricação local de ferramentas, equipamentos,
máquinas e veículos que produzam menos ruídos, ou daqueles dotados de tecnologias alternativas,
já normalmente menos ruidosas.

Atividade: Demolição

Dar preferência ao uso de rompedores elétricos, e não pneumáticos.

Atividade: Limpeza superficial do terreno

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 63


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Sem recomendações específicas.

Atividade: Fundações

Sem recomendações específicas.

Atividade: Escavações e contenções

Sem recomendações específicas.

Atividade: Estrutura

Atentar para as evoluções tecnológicas dos vibradores elétricos (isolamento em dias de


chuva) e sua disponibilização no mercado; preferir o uso de vibradores de agulha mais
silenciosos.

Privilegiar o uso de concretos auto-adensáveis.

Evitar perfuração de lajes ou estruturas em geral para realizar aberturas de passagens.

Preferir o emprego de componentes produzidos fora do canteiro (armadura pronta, fôrmas


racionalizadas, estruturas pré-moldadas, estruturas metálicas, etc.).

Atividade: Revestimento vertical

Sem recomendações específicas.

Atividade: Redes aéreas e enterradas

Sem recomendações específicas.

Atividade: Terraplenagem

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

Atividade: Drenagem superficial

Sem recomendações específicas.

4.4.5. Lançamento de fragmentos


A Norma Regulamentadora NR-18, em seu capítulo sobre máquinas, equipamentos e ferramentas
diversas, falando de um modo genérico sobre a questão da segurança e saúde, estabelece que
máquinas e equipamentos que ofereçam risco de ruptura de suas partes móveis, projeção de peças
ou de partículas de materiais devem ser providos de proteção adequada.

Atividade: Demolição

A principal recomendação específica aplica-se aos casos de uso de explosivos, onde


deverão ser aplicadas as técnicas previstas, bem como se fazer uso de profissionais e

64 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

empresas qualificados.

Atividade: Estrutura

Sem recomendações específicas.

Atividade: Alvenarias

Sem recomendações específicas.

Atividade: Revestimento vertical

Sem recomendações específicas.

4.4.6. Emissão de material particulado


Trata-se de um dos aspectos que causam incômodos dos mais perceptíveis, para os operários e para
a vizinhança. Portanto, deve-se dedicar especial atenção a ele.

No caso das poluições do ar, dentre elas as causadas pelos materiais particulados, há de se atentar
às condições meteorológicas (ventos, chuvas). Assim como no caso do desprendimento de gases, as
soluções para os problemas relacionados à emissão de material particulado dependem das
condições locais de vento. Assim, é preciso que a empresa levante informações sobre os ventos
dominantes (freqüências, com velocidades e sentido) e as condições do relevo e das construções
vizinhas que possam influenciá -los.

No mais, as principais recomendações são:

• Prever a molhagem moderada e periódica de vias e áreas sujeitas a ventos que possam gerar
poeiras, principalmente em períodos de estiagem; manter as vias internas do canteiro de obra
em condições adequadas.

• Cobrir ou molhar os materiais armazenados que emitem partículas.

• Exigir que motores diesel sejam desligados quando o veículo não estiver em movimento ou o
equipamento em uso.

• Zelar pelo estado de manutenção de equipamentos, máquinas e veículos que possam emitir
material particulado.

Do ponto de vista de tecnologias pouco usuais no país, tem-se o uso de aspiradores, em atividades
com demolição, pintura (durante a preparação da base) e revestimentos à base de resinas sintéticas
(durante a preparação da base).

Atividade: Demolição

A demolição gera grandes quantidades de poeira.

Prever a molhagem moderada e periódica dos resíduos que possam gerar poeiras.

Veículos transportando resíduos que possam desprender material particulado devem ser
adequadamente cobertos.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 65


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Atividade: Limpeza superficial do terreno

Veículos transportando material que possa desaprender partículas devem ser


adequadamente cobertos.

Atividade: Fundações

Sem recomendações específicas.

Atividade: Escavações e contenções

Veículos transportando material que possa desaprender partículas devem ser


adequadamente cobertos.

Atividade: Estrutura

Materiais finos, pulverulentos, como areia usada em concretos, devem ser estocados ao
abrigo dos ventos; devem igualmente ser cobertos, principa lmente em períodos de
estiagem.

No caso da produção de concreto em obra e da presença de esteiras rolantes para conduzir


aglomerados à betoneira, estas devem ser cobertas.

Atividade: Revestimento vertical

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pintura

Sem recomendações específicas.

Atividade: Piso

Cuidados devem ser dispensados à poeira gerada na raspagem de pisos de madeira.

Atividade: Redes aéreas e enterradas

Sem recomendações específicas.

Atividade: Terraplenagem

Prever a molhagem moderada e periódic a de vias e áreas sujeitas a ventos que possam gerar
poeiras, principalmente em períodos de estiagem.

Veículos transportando material que possa desaprender partículas devem ser


adequadamente cobertos.

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

Quanto às tecnologias, quase nada se sabe sobre as medidas de emissões em canteiros de obras,
embora se conheça sobre emissões em situações com certa semelhança, como o caso de minas e
jazidas. Por outro lado, pesquisa com instrumentação e método similares aos que são usados em
investigações sobre a qualidade do ar interno de edificações poderiam ser realizadas para cobrir

66 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

esta lacuna, combinando métodos empregados em setores como os apontados.

4.4.7. Risco de geração de faíscas onde há gases dispersos

Atividade: Redes aéreas e enterradas

Sem recomendações específicas.

4.4.8. Desprendimento de gases, fibras e outros elementos

Uma das formas de penetração de produtos perigosos nos seres vivos é pela inalação de gases. Esse
é o caso, por exemplo, de certas resinas sintéticas, presentes em tintas e vernizes e revestimentos, à
base de epóxi, poliuretano, poliéster, etc. No caso dos operários, os momentos mais críticos de
exposição são os de preparação do produto a ser aplicado (mistura, diluição, etc.) e de sua
aplicação, manual ou mecânica; o momento da limpeza dos equipamentos e instrumentos também
pode ser crítica.

De uma forma geral, as soluções para se minimizar os efeitos nocivos dos desprendimentos,
principalmente de gases, dependem das condições locais de vento. Assim, é preciso que a empresa
levante informações sobre os ventos dominantes (freqüências, com velocidades e sentido) e as
condições do relevo e das construções vizinhas que possam influenciá -los.

Cuidados especiais devem ser dispensados aos produtos inflamáveis que sejam estocados na obra.
A presença de extintores adequados e com cargas no prazo de validade (contrato de manutenção) é
fundamental.

Reduzir a emissão de CO2 , NOx e SOx mantendo os equipamento, veículos e maquinas com
motores a gasolina desligados.

Evitar a emissão de clorofluorcarbonos hidrogenados (HCFC), evitando o uso de aerossóis, e


provendo manutenção adequada aos equipamentos que possuam sistemas de refrigeração.

Feitos esses comentários gerais, pode-se entrar nas especificidades das emissões que ocorrem
durante as diferentes atividades de uma obra.

Atividade: Demolição

Atenção ao risco de perfuração de tubulações de equipamentos contendo líquidos


refrigerantes, que ao vazarem geram gases prejudiciais à camada de ozônio e que causam
efeito estufa. O mesmo cuidado deve ser dispensado quando da demolição de câmaras
frigoríficas, por exemplo.

Atividade: Divisórias

O desprendimento de fibras pode ocorrer quando do uso de isolantes a base de fibras, tanto
na sua colocação (operações de corte, por exemplo) quanto após, caso sejam deixados
expostos. As lãs de rocha são mais biopersistentes do que as de vidro, sendo, portanto, mais
nocivas para a saúde.

Empregar painéis com baixo teor formaldeídos ou formóis (por exemplo, divisórias de
madeira compensada levam cola na junção das lâminas); evitar colas à base de formol para

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 67


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

a colagem de placas de revestimento, que desprendem formaldeídos ou formóis (COV).

As colas com solventes trazem riscos de explosão, incêndio, intoxicação grave, agressão à
pele e mucosas nasais quando de sua utilização e emitem gases após sua aplicação, quando
de seu endurecimento.

Gessos obtidos a partir de fósfogessos podem emitir radônio.

Atividade: Esquadrias

O uso de solventes à base de acetona deve ser evitado em limpezas de vidros, pois causam
problemas de saúde aos trabalhadores, causam chuvas ácidas e aumentam o efeito estufa.

Toda queima de produto à base de policloreto de vinila (PVC) deve ser evitada, pela
legislação e por causar chuva ácida.

Atividade: Telhado

Sem recomendações específicas.

Atividade: Impermeabilização

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pintura

Preferir o uso de tintas e vernizes sem formaldeídos ou formóis e que não emitam
compostos orgânicos voláteis (COV) ou de baixa emissão, pois estes reagem com outros
agentes poluentes presentes nos meios urbanos, produzindo ozônio, que afetam a saúde.

Solventes à base de derivados de petróleo (tolueno, xileno, white spirit, etc.), clorados
(tricloroetileno, diclorometano, etc.), oxigenados (acetonas, álcoois, ésteres, éteres, etc.)
desprendem gases que podem ter conseqüências neurológicas.

Vernizes sintéticos, à base de poliuretano, que desprendem compostos orgânicos voláteis


(COV) devem ser evitados; podem causar explosões.

Tintas e vernizes a óleo, por desprendem grandes quantidades de compostos orgânicos


voláteis (COV), devem ser evitados; podem causar explosões.

Tintas e vernizes à base de água desprendem vapores de álcoois ou de éteres de glicol


(sobretudo etilglicol e derivados), que são irritantes e tóxicos.

Quando as condições de exposições da madeira permitirem, dar preferência a tintas e


vernizes naturais como resinas balsâmicas, óleos de linhaça, ceras de abelha, terebentinas
naturais, etc.

Usar fundos de proteção à base de fosfato de zinco.

Em situações de uso obrigatório de resinas sintéticas que emitam gases, deve-se preferir,
pela ordem, o uso de produtos considerados irritantes e depois os nocivos, evitando-se o
uso dos considerados tóxicos.

Do ponto de vista da aplicação, algumas inovações quanto aos equipamentos são

68 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

disponíveis em outros países, mas pouco usados no Brasil: misturadores móveis, que fazem
a mistura de componentes em local confinado; bombas de projeção com fluxo duplo, que
eliminam a mistura e facilitam as operações de limpeza; rolos de aplicação de pintura com
alimentação automática da tinta, que evitam a imersão do mesmo na tinta e conseqüente
gotejamento.

Atividade: Pisos

Pisos de madeira compensada levam cola na junção das lâminas que podem emitir
formaldeídos ou formóis (COV) nas primeiras idades.

Há desprendimento de gases quando do assentamento de revestimentos de pisos com o uso


de colas; preferir colas brancas, à base de água.

Evitar o emprego de vernizes tipo “Sinteko” ou poliuretânicos; preferir vernizes com


solventes à base de água.

As colas com solventes trazem riscos de explosão, incêndio, intoxicação grave, agressão à
pele e mucosas nasais quando de sua utilização e emitem gases após sua aplicação, quando
de seu endurecimento.

Atividade: Sistemas prediais

Toda queima de produto à base de policloreto de vinila (PVC) deve ser evitada, pela
legislação e por causar chuva ácida.

Atenção ao risco de perfuração de tubulações de equipamentos contendo líquidos


refrigerantes, que ao vazarem geram gases prejudiciais à camada de ozônio e que causam
efeito estufa.

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

Concluindo, do ponto de vista das tecnologias, conhecesse bem os tipos de emissões, suas origens e
conseqüências, mas pouco sobre as intensidades com que ocorrem nos canteiros; estudos
específicos precisam então ser feitos.

4.4.9. Renovação do ar
A Norma Regulamentadora NR-18 traz um capítulo específico sobre locais confinados, cobrindo
essencialmente questões gerais de higiene e segurança.

Do ponto de vista de tecnologias pouco usuais no país, tem-se o uso de ventiladores, em atividades
com pintura (durante a preparação da base) e revestimentos de pisos.

Atividade: Fundações

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pintura

Sem recomendações específicas.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 69


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

Atividade: Piso

Problemas de renovação podem ser causados em ambientes confinados, quando do


assentamento de revestimentos de pisos com o uso de colas ou o emprego de vernizes tipo
“Sinteko” ou poliuretânicos. Preferir vernizes com solventes à base de água.

4.4.10. Manejo de materiais perigosos

O tema é de grande importância e foi abordado com relação aos resíduos. Grande parte dos
comentários e recomendações valem aqui também. Além disso, deve-se:

• Elaborar um protocolo de ação no caso de derramamento de substancias perigosas.

• Conhecer o significado dos símbolos e pictogramas de risco impressos nas etiquetas, e atender
todas as recomendações de uso dadas pelos fabricantes.

Não deixar de considerar como perigosos resíduos dos produtos: solda; materiais usados em
impermeabilizações a base de asfalto ou amianto; produtos de preservação como creosotos,
germicidas, antioxidantes; tintas e vernizes; outros produtos químicos (anticorrosivos, secantes,
fungicidas, inseticidas, solventes, diluentes, ácidos, abrasivos, detergentes, etc.).

Atividade: Demolição

Sem recomendações específicas.

Atividade: Impermeabilização

Sem recomendações específicas.

Atividade: Pintura

Sem recomendações específicas.

Atividade: Piso

Evitar o emprego de vernizes tipo “Sinteko” ou poliuretânicos; preferir vernizes com


solventes à base de água.

Atividade: Pavimentação

Sem recomendações específicas.

4.5. Demandas das metodologias de avaliação estrangeiras

Esse item tem como objetivo avaliar em que medida as tecnologias existentes e disponíveis no
mercado brasileiro e já praticadas em canteiros de obras atendem às exigências das metodologias
de avaliação da sustentabilidade de edifícios mais correntemente em uso no mundo, selecionadas e
analisadas no relatório anterior.

4.5.1. Reduzir a produção de resíduos


Trata-se aqui de um dos maiores desafios a serem enfrentados pelo setor, não somente no segmento

70 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

da HIS, como nos demais.

A redução da produção passa pela implementação de medidas que vão muito além dos limites do
canteiro de obras, envolvendo projeto, planejamento, oferta de produtos adequados (normalização
técnica, conformidade, desempenho, coordenação modular, etc.), gestão da produção,
equipamentos adequados, capacitação da mão-de-obra em todos os níveis, etc.

Do ponto de vista dos produtos e do suporte tecnológico básico (normas, laboratórios, etc.), já
aconteceram avanços significativos, mas muito resta a ser feito.

Por outro lado, pode-se dizer que o ferramental metodológico básico para a redução da produção de
resíduos existe e é praticado por num número bastante restrito de empreendimentos e empresas, de
diferentes agentes.

São grandes as necessidades de investimento em pesquisa aplicada, no desenvolvimento de


empresas e na capacitação de pessoas.

4.5.2. Quantificar os resíduos por classes


Aspecto crítico, e aparentemente simples de ser atendido.

No entanto, são ainda muitos os desafios para se conseguir incutir a filosofia da triagem nos
canteiros e de fato conseguir que seja praticada. A motivação pela sua prática, principalmente por
parte dos operários, surge como conseqüência de um contexto mais amplo de organização e
funcionamento dos canteiros, que passa pela questão da valorização dos trabalhadores, inclusive
em termos de inclusão social e salarial.

Quase nunca o exemplo dado pelos responsáveis pela condução do canteiro é adequado para que os
operários nele se espelhem.

Mudar essa postura na gestão dos canteiros e então informar e instruir os operários são os desafios.
Metodologias adequadas para tanto precisam ser desenvolvidas, num nível de comunicação
apropriado.

4.5.3. Avaliar o custo das destinações finais dos resíduos por classe

Os estudos econômicos são incipientes, por exemplo, envolvendo os setores industriais de produtos
da construção e o conceito de logística reversa. A ser mais bem desenvolvido.

4.5.4. Organizar triagem e coleta


Tal exigência deve atender não somente à Resolução nº 307/2002 do CONAMA, como ser coerente
com a capacidade local de assegurar a re-inserção dos resíduos triados no ciclo produtivo, pelo
reúso, reciclagem, ATT, produção de energia, etc.

O problema da capacitação e sensibilização da mão-de-obra também é crítico, não somente da que


atua nos canteiros de obras, mas incluindo de transportadores e funcionários de ATT.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 71


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

4.5.5. Assegurar a qualidade da triagem


Depende, mais uma vez, da mão-de-obra e empresas envolvidas.

4.5.6. Assegurar a rastreabilidade dos resíduos transportados


Trata-se, sobretudo, de uma questão de seriedade no preenchimento dos borderôs que acompanham
as cargas de resíduos, para que não ocorram fraudes.

4.5.7. Limitar a deposição em aterros, privilegiando a reciclagem


Trata-se, essencialmente, de uma questão de desenvolvimento da cadeia produtiva, como
comentado acima; é um dos objetivos perseguidos pela Resolução nº 307/2002.

4.5.8. Limitar os incômodos sonoros, visuais, de veículos e diversos


Os principais desafios foram apontados nos itens anteriores que discutiram os aspectos ambientais
relacionados a esses incômodos.

4.5.9. Limitar a poluição do solo, da água e do ar


Os principais desafios foram apontados nos itens anteriores que discutiram os aspectos ambientais
relacionados a essas poluições.

4.5.10. Assegurar a proteção do ecossistema local


Os principais desafios relacionados à proteção do ecossistema local foram apontados quando da
análise dos aspectos ambientais supressão da vegetação e destinação de resíduos. No que se refere
especificamente à fauna local, considerar também dificuldades apontadas nos aspectos circulação e
manutenção e limpeza de materiais, equipamentos, máquinas e veículos e manejo e destinação de
resíduos perigosos; no caso da flora local, os aspectos supressão da vegetação e manejo e
destinação de resíduos perigosos.

4.5.11. Limitar as erosões


Os principais desafios relacionados à limitação das erosões foram apontados quando da análise dos
aspectos ambientais supressão da vegetação, risco de perfuração de redes e destinação de resíduos.
Como menos relevância, devem também ser considerados os pontos discutidos nos aspectos
ambientais remoção de edificações, risco de desmoronamentos, existência de ligações provisórias,
armazenamento de materiais e consumo de recursos naturais e manufaturados.

4.5.12. Limitar o consumo de água e de energia


Os principais desafios foram apontados nos itens anteriores que discutiram os aspectos ambientais
relacionados a essas necessidades de economia de recursos.

72 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

4.5.13. Usar madeira de plantação manejada, de reuso ou reciclada


Os principais desafios quanto à madeira foram apontados quando da discussão do aspecto
ambiental consumo de recursos naturais e manufaturados.

4.5.14. Implementar um Sistema de Gestão do Empreendimento

Diversos agentes atuantes na cadeia produtiva diretamente na produção têm implementado sistemas
de gestão próprios, sobretudo os baseados na NBR ISO 9001 e sistemas evolutivos nela inspirados
(SiAC do PBQP-H, principalmente); esse é o caso de construtoras, e em menor monta de
gerenciadoras e empresas de projeto; assim, não haverá problema para estas incorporarem um
sistema de gestão com exigências mínimas voltadas ao empreendimento. No entanto, isso pode ser
mais difícil no caso dos empreendedores, justamente os que têm que liderar o processo. Há
pesquisa acadêmica sobre o assunto, embora esta não incorpore a questão da sustentabilidade, e
experiência internacional (França) específica sobre a questão.

4.5.15. Criar mecanismo de comunicação com vizinhança e tratamento queixas

Trata-se de exigência que já é atendida por algumas empresas construtoras líderes na incorporação
de práticas ambientais; não há dificuldade maior para tanto.

Assim, antes de iniciar a obra, o canteiro deve implementar um mecanismo permanente de


comunicação com vizinhos e organizações da proximidade (de bairros, ONG com interfaces, etc.),
com os objetivos de ouvir suas necessidades, comunicar-lhes informações (evolução da obra, dos
próximos incômodos e poluições, etc.) e receber pedidos ou reclamações.

Deve haver facilidade para pedidos e reclamações, com disponibilização de número de telefone ou
de caixa de correspondência. Deve ser incentivado papel pró-ativo da vizinhança no sentido de
propor sugestões de melhorias. Podem ser previstos dias específicos de visitação à obra para a
vizinhança. O primeiro contato deve ser estabelecido antes do início das obras e deve ser definido
um interlocutor fixo.

Antes do canteiro se iniciar, deverão ser divulgadas informações de interesse para a vizinhança:
tipo de obra, duração, horários de trabalho, incômodos e poluições prováveis, etc. Deve ser
assumido o compromisso explícito com a vizinhança com relação a aspectos como: insegurança
pessoal e patrimonial gerada pela obra, acidentes como quedas de objetos, aumento do tráfego de
veículos, limpeza das vias públicas, perturbações do sinal de televisão pela presença de grau,
ruídos, impactos visuais, etc.

Muitos dos impactos e incômodos causados pelos canteiros na vizinhança dependem das
características do local e dos hábitos dessas pessoas. Portanto, deverão ser levantadas informações
sobre a vizinhança tais como:

• atividades e serviços existentes nas imediações, sensibilidade desses aos


incômodos e horários de funcionamento;

• incômodos já existentes (ruído de circulação de veículos, poeiras, movimentação de pessoas,


sensação de insegurança, etc.);

• mecanismos associativos e comunitários existentes e dinâmica de funcionamento;

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 73


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

• identificação das angústias e expectativas geradas pela obra;

• pontos críticos dos edifícios vizinhos: estado de conservação, importância histórica, falhas de
desempenho (acústico, por exemplo).

4.5.16. Contratação levando em conta aspectos ambientais


Os principais desafios quanto à contratação de fornecedores levando em conta aspectos ambientais
e mesmo de sustentabilidade já foram apontados quando da discussão do aspecto ambiental
consumo de recursos naturais e manufaturados.

4.5.17. Preparação do canteiro, levando em conta aspectos ambientais


Incorporar o princípio do estudo do canteiro de obras antes de sua execução e do início dos
serviços é algo natural quando se pensa na questão ambiental, uma vez que a prevenção é um dos
seus elementos básicos. No entanto, as mesmas dificuldades que existem para convencer as
empresas a serem ambientalmente corretas haverá para incorporarem a idéia de que é importante se
planejar a obra em todos os seus detalhes antes de inic iá-la.

4.5.18. Realizar o balanço ambiental do canteiro ao final da obra

Não haverá dificuldade em se realizar tal balanço aceita a idéia de que os agentes envolvidos, e a
construtora em especial, por exigência do empreendedor, terá implementado um Sistema de Gestão
do Empreendimento.

4.5.19. Implementação de medidas para o controle da qualidade da construção


Valem os comentários feitos no item Implementar um Sistema de Gestão do Empreendimento.

4.5.20. Minimizar acidentes de trabalho que causem ferimentos ou mortes


Trata-se aqui de um objetivo bastante amplo, que vai além do alcance de práticas de
sustentabilidade em canteiros. A legislação brasileira é completa e atual sobre o assunto,
principalmente no que se refere a acidentes causem ferimentos ou mortes. Os impactos à saúde de
trabalhadores e, sobretudo, da vizinhança causados por aspectos ambientais do canteiro, conforme
visto, não são, no entanto, tão conhecidos assim e mereceriam mais atenção dos órgãos
responsáveis e das instituições de pesquisa.

5. Políticas Públicas

As políticas públicas e outras intervenções governamentais têm papel importante no incentivo,


regulamentação e difusão de práticas sustentáveis na construção civil. Para a etapa de construção
de um edifício, em geral, as ações governamentais se dão pela implementação de leis, resoluções,
normalizações, entre outros.

Grande parte das legislações é referente aos resíduos e ao ambiente de trabalho, assim como os
programas setoriais. A resolução CONAMA 001/1986, que regulamenta o EIA/RIMA, é a mais
abrangente legislação envolvendo os impactos ambientais gerados por um empreendimento. No
entanto é aplicada somente às obras de grande porte, envolvendo, inclusive, a fase de operação

74 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

do empreendimento. Encaixam-se, neste caso: ferrovias, estradas, oleodutos, hidrelétricas, aterros


sanitários, etc.

Ao longo do texto a abordagem será feita por temas, envolvendo os “resíduos”, o “ambiente de
trabalho”, os “ruídos”, as “emissões veiculares”, e por fim, outras legislações pertinentes ao estudo.

Ao longo da pesquisa ficou evidente a falta de incentivos governamentais aos praticantes da


“construção sustentável”, seja para a aquisição de equipamentos que produzam menos impactos ao
meio ambiente ou para compra de materiais.

5.1 Resíduos

É grande a preocupação em relação aos resíduos, seja pela contaminação que podem causar ao
meio ambiente, pelos custos que representam às construtoras, pela escassez de locais para
destinação, entre outros. Além das ações governamentais serão abordadas, neste item, ações
setoriais, dada a importância e influencia destas.

5.1.1 Legislações
As legislações federais referentes aos resíduos provenientes da construção civil são:

− Resolução CONAMA n° 09/1993 – Recolhimento e destinação de óleo lubrificante


usado ou contaminado
− Resolução CONAMA n° 257/1999 – Tratamento de pilhas e baterias usadas
− Resolução CONAMA n° 275/2001 – Código de cores para resíduos sólidos na coleta
seletiva
− Resolução CONAMA n° 307/2002 – Gestão dos resíduos da construção civil

Há também diversas leis e decretos, estaduais e municipais, regulamentando a questão dos


resíduos. Abaixo são listadas, apenas como exemplo, as referentes ao estado de São Paulo e sua
capital.

− Lei Estadual 997/1976 – Critérios de emissão de resíduos


− Lei Estadual 12.300/2006 – Política estadual de resíduos sólidos
− Lei Municipal 13.298/2002 – Responsabilidades e condições de remoção de entulho,
terra e materiais de construção
− Lei Municipal 10.315/1987 – Limpeza pública
− Decreto Municipal 35.657/1995 – Regulamenta a disposição final de resíduos
sólidos
− Decreto Municipal 37.952/1999 – Regulamenta a atividade de remoção de entulho
− Decreto Municipal 42.217/2002 – Regulamenta as áreas de transbordo e triagem

5.1.2 Programas Nacionais

O PBPQ-H – Programa Brasileiro da Produtividade e Qualidade do Habitat – exige no SiAC


(Sistema de avaliação da conformidade de empresas de serviços e obras da construção civil), para
os níveis A e B da certificação, que seja realizada a “definição dos destinos adequados dados aos

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 75


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

resíduos sólidos e líquidos produzidos pela obra (entulhos, esgotos, águas servidas), que
respeitem o meio ambiente”.

5.1.3 Normas Técnicas


As normas técnicas referentes ao gerenciamento de resíduos no canteiro são

− NBR 10004:2004 – Resíduos sólidos – classificação


− NBR 15112:2004 – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de
transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação
− NBR 15114:2004 – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem –
Diretrizes para projeto, implantação e operação

5.1.4 Ações Setoriais

Os SindusCon de diversos estados apresentam ações envolvendo o gerenciamento de resíduos. Pela


organização de manuais, seminários, convênios, entre outros, o SindusCon é responsável pela
crescente conscientização do setor em relação à questão dos resíduos. Alguns programas estão
listados abaixo.

SindusCon–SP
− Gestão de resíduos na construção civil: a experiência do SindusCon–SP.
− Seminário: A gestão de resíduos da construção – a legislação da cidade de São Paulo
− Programa de educação ambiental nos canteiros de obras – parceria com o Senai
− Coordenação de grupos de trabalho para desenvolvimento de soluções para a
destinação dos resíduos: GT Gesso, GT impermeabilização, GT tintas.
− Divulgação da relação das empresas transportadoras cadastradas na Limpurb, das
áreas de transbordo e triagem e aterros licenciados
− Treinamento de gestão de resíduos em canteiro de obras (curso de 8h, 4 turmas, 72
empresas participantes.)
− Programa de gestão ambiental de resíduos de construção em canteiros de obras – 11
empresas participantes
SindusCon–MG
− Cartilha de gerenciamento de resíduos sólidos para a construção civil
SindusCon–SE
− Projeto Entulho Bom – Reciclagem de entulho para produção de materiais de
construção
− Gestão de resíduos na construção civil – manual realizado em parceria com Senai,
Sebrae, Competir e GTZ
− Seminário: Reciclagem como oportunidade de negócio
− A problemática dos resíduos da construção civil em Aracaju: diagnóstico – pesquisa
SindusCon-DF
− Projeto de gerenciamento de resíduos sólidos em canteiros de obras

76 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

5.2 Ambiente de trabalho


Além das legislações, as ações governamentais relacionadas ao ambiente de trabalho se dão através
de pesquisas e publicações realizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, através da
Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho), como
descrito no presente item.

5.2.1 Norma

− NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

5.2.2 Pesquisas e publicações da Fundacentro

A Fundacentro apresenta um extenso trabalho sobre o assunto, com um grande número de


publicações. Dessa forma, optou-se por abordar algumas publicações e pesquisas representativas.

Evento
− Semana da pesquisa: Estudos e pesquisas em parceria na área de segurança e saúde
do trabalhador
Segurança no ambiente de trabalho
− Recomendações técnicas de procedimentos
− Manuais e recomendações sobre engenharia de segurança do trabalho na indústria da
construção civil
− Manuais de segurança e saúde no trabalho: condições de trabalho na indústria da
construção e prevenção de acidentes fatais na indústria da construção civil
Saúde no ambiente de trabalho
− Pesquisa e publicações envolvendo o uso de materiais prejudiciais à saúde, como
amianto, sílica, etc., e as doenças por eles causadas (asbestose, silicose, etc.)

5.2.3 Normas

− NBR ISO – 18001 - Saúde e segurança no trabalho


− OHSAS – 18001 – Gestão de segurança e saúde ocupacional

5.2.4 Ações Setoriais


Os SindusCon dos estados também apresentam publicações ou programas envolvendo o ambiente
de trabalho. Adotou-se como exemplo o SindusCon de São Paulo.

− Programa SindusCon-SP de segurança

5.3 Ruído

As legislações relacionadas a ruídos são, principalmente, resoluções CONAMA, as quais não são
específicas para canteiros de obras. Abaixo estão as legislações relacionadas aos ruídos de maneira
genérica.

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 77


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

5.3.1 Legislações

− Portaria Minter n° 92 19 de junho de 1980 – padrões, critérios e diretrizes relativos à


emissão de sons e ruídos
− Resolução CONAMA n° 001/1990 - Critérios e padrões de emissão de ruídos, das
atividades industriais
− Resolução CONAMA n° 002/1990 – Programa Nacional de Educação e Controle da
Poluição Sonora – SILÊNCIO
− Resolução CONAMA n° 252/1999 - Estabelece limites máximos de ruído nas
proximidades do escapamento, para fins de inspeção obrigatória e fiscalização de
veículos em uso

5.3.2 Normas técnicas

− NBR 10.151 – Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas


− NBR 10.152 – Níveis de ruído para conforto acústico

5.4 Qualidade do ar
A qualidade do ar é abordada de duas maneiras pelas legislações: controle da poluição e emissões
veiculares. Dessa forma os dois temas serão tratados em diferentes itens.

5.4.1 Legislações referentes ao controle da poluição do ar

− Resolução CONAMA n° 005/1989 - Programa Nacional de Controle da Poluição do


Ar - PRONAR
− Resolução CONAMA n° 003/1990 - Padrões de qualidade do ar, previstos no
PRONAR
− Resolução CONAMA n° 008/1990 - Padrões de qualidade do ar, previstos no
PRONAR

5.4.2 Legislações referentes às emissões veiculares

− Resolução CONAMA n° 018/1986 - criação do Programa de Controle de Poluição


do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE
− Resolução CONAMA n° 007/1993 - diretrizes básicas e padrões de emissão para o
estabelecimento de Programas de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso - I/M
− Resolução CONAMA n° 227/1997 - do Programa de Inspeção e Manutenção de
Veículos em Uso I/M
− Resolução CONAMA n° 251/1999 - critérios, procedimentos e limites máximos de
opacidade da emissão de escapamento para avaliação do estado de manutenção dos
veículos automotores do ciclo Diesel
− Resolução CONAMA n° 256/1999 - e mecanismos para inspeção de veículos quanto
às emissões de poluentes e ruídos, regulamentando o Art. 104 do Código Nacional
de Trânsito

78 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

5.5 Outras legislações e normas referentes ao meio-ambiente


As legislações e normas abordadas neste item referem-se a outros aspectos presentes no canteiro de
obras não mencionados anteriormente. É importante ressaltar que não são abordadas legislações
que englobem o empreendimento, mas não o canteiro, por exemplo: leis que proíbam a localização
do empreendimento em áreas de preservação ambiental.

5.5.1 Legislações

− Lei Federal nº 9605/1998 – Crimes Ambientais


− Lei Federal n° 6.938/1981 – Política Nacional do Meio Ambiente
− Resolução CONAMA n° 001-A/1986 - transporte de produtos perigosos em
território nacional
− Resolução CONAMA n° 020/1986 - classificação das águas doces, salobras e salinas
do Território Nacional
− Resolução CONAMA n° 007/1987 - regulamentação do uso do Amianto/Asbestos
no Brasil
− Resolução CONAMA n° 019/1996 - critérios de impressão de legenda em peças que
contém amianto (asbestos)
− Resolução CONAMA n° 023/1996 - importação e uso de resíduos perigosos
− Resolução CONAMA n° 267/2000 - Proibição de substâncias que destroem a
camada de ozônio
− Resolução CONAMA n° 357/2005 - classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões
de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
− Resolução CONAMA n° 369/2006 - casos excepcionais, de utilidade pública,
interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou
supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente - APP

5.5.2 Normas

− NBR ISO – 14001 – Gestão ambiental

6. Referências bibliográficas

ADEME. Qualité Environnementale des Bâtiments. Manuel à l’usage de la maîtrise


d’ouvrage et des acteurs du Bâtiment. France, ADEME Editions, 2002. 294p.

________. Demarche HQE. Livret de bord d’opération. France, ADEME, s.dt. 165p.

ALAMEDA COUNTY... New Home Construction. Green Building Guidelines. Australia:


Alameda County Waste Management Authority & Source Reduction and Recycling Board, June
2003, 52 p. Disponível em: http://www.stopwaste.org/home/index.asp?page=7. Acesso em
31/3/2006.

ANDRADE, Stella Maris Melazzi. Metodologia para avaliação de impacto ambiental sonoro

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 79


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

da construção civil no meio urbano. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado),
2004, 198 pp. mais anexos.

BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

BREEAM Office BRE. Design & Procurement. Assessment prediction checklist 2005. Watford,
UK, 16 Feb. 2005. 17 p. Disponível em:http://www.breeam.org/offices.html.

______. ECOHOMES: The Environmental rating for Homes: Worksheets. Watford, UK, Mar.
2005. 116 p. Disponível em: http://www.breeam.org/pdf/EcoHomes2005Guidance_v1_1.pdf.

CASTEGNARO, Gérard. Incidences du Développement Durable sur un chantier T.C.E.


France: Eiffage Construction, 3 fév. 2003. 8p.

CENTRE SCIENTIFIQUE ET TECHNIQUE DU BÂTIMENT (CSTB). Référentiel Technique


de Certification Bâtiments Tertiaires: Démarche HQE® Bureau et Enseignement. Paris, 2004.
Disponível em: http://www.cstb.fr/frame.asp?URL=/hqe/.

CERTIFICATION QUALITÉ LONGEMENT (CERQUAL). HABITAT & ENVIRONNEMENT.


Référentiel Millésime 2005. Paris, 2005. 307 p. Disponível em:
http://www.cerqual.fr/pro/habitat_environnement/referentiel.html.

COMPANHIA DE TRANSPORTE DE SALVADOR. Metrô de Salvador: Avaliação de impactos


ambientais para a construção do metrô de Salvador. Salvador, 2004. Disponível em:
http://www.metro.salvador.ba.gov.br/. Acesso: fev. 2005.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). São Paulo. Resolução n.º 307.
2002. Brasília, 05 jul 2002. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html. Acesso em: 20 maio 2004.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). São Paulo. Resolução n.º 001.
1986. Brasília, 23 jan 1986. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 20 maio 2004.

DEGANI, C.M. Sistemas de gestão ambiental em empresas construtoras de edifícios. 2003.


Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2003.

ENTREPRISE... Aspects environnementaux dans le BTP. Impacts en phase chantier. France:


Entreprise Générales de France B.T.P. Groupe Qualité. Jan. 2002. 5p.

ENVIRONMENT AGENCY UK. NetRegs : building small businesses through environmental


regularions. Bristol, 2005. Disponível em:
http://www.netregs.gov.uk/netregs/sectors/364906/364963/?version=1&sectorid=364906. Acesso:
13 out. 2005.

FEDERAL OFFICE... Guideline for Sustainable Building. Germany, Federal Office for Building
and Regional Planning, January 2001. At.:
http://greenbuilding.ca/iisbe/gbpn/documents/policies/guidelines/Germany_guideline_SB.pdf

FFB. Pour une meilleure prise en compte de l'environnement dans la construction. Manuel

80 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

d'application des réalisateurs. Paris: FÉDÉRATION FRANÇAISE DU BATIMENT, 1999. 31p.

FOLIENTE, Greg; SEO, Seongwon; TUCKER, Selwyn. Guide to Environmental Design and
Assessment Tools. CSIRO Manufacturing & Infrastructure Technology, Australia. Disponível em
<http://www.auspebbu.org/page.cfm?cid=32>; acesso em 10/3/2006.

FUNDACIÓN ... Guia de buenas prácticas ambientales: construcción de edifícios . Navarra:


Fundación Centro de recursos ambientales de navarra, 2005. 20.

GREEN BUILDING COUNCIL OF AUSTRALIA. Green Star: Office Design. Rating Tool v.2.
Disponível em: www.gbcaus.org.

ICADE CAPRI. Charte “Chantier à Faibles Nuisances”. S/l, s/dt. 17p.

INSTITUTE FOR BUILDING ENVIRONMENT AND ENERGY CONSERVATION (IBEC);


COMPREHENSIVE ASSESSMENT SYSTEM FOR BUILDING ENVIRONMENTAL
EFFICIENCY (CASBEE). CASBEE-NC (for New Construction): Assessment Software v.1.
2004. Disponível em: http://www.ibec.or.jp/CASBEE/english/index.htm.

INTERNATIONAL INITIATIVE FOR A SUSTAINABLE BUILT ENVIRONMENT (IISBE).


GB TOOL: Green Building Tool: GB Tool User Manual. Ottawa, Feb. 2002. 70 p.

______. GB TOOL: Green Building Tool: GBT05 Demo. Ottawa, 18 Aug. 2005. Disponível em:
http://www.iisbe.org/down/gbc2005/GBtool_2k5_Demo_unlocked/.

JÚNIOR, Nelson B. Cunha (Coord.). Cartilha de gerenciamento de resíduos sólidos para a


construção civil. 2. Belo Horizonte: SINDUSCON-MG, 2005. 37p.

LARSSON, N. An Overview of Green Building Rating and Labelling Systems . International


Initiative for a Sustainable Built Environment (iiSBE). Revised draft version. March 25, 2004.

MINISTÉRIO DO TRABALHO. Condições e Meio ambiente do Trabalho na indústria da


Construção. NR-18. São Paulo, 1996.

NIGERIA LIQUEFIED NATURAL GAS LIMITED (NLNG). Environmental. Homepage


Institucional. Apresenta informações sobre o trabalho realizado para a instalação de fases da obra.
Acesso: Fevereiro de 2006. Disponível em:
http://www.nlng.com/NLNGnew/environment/EIA+For+NLNGPlus/default.htm.

PULASKI, M.H. (Ed.). Field Guide For Sustainable Construction. Washington: Pentagon
Renovation and Construction Program Office, June 2004. 312 p.

PINTO, T. de P. (Coord.), Gestão ambiental de resíduos da construção civil: a experiência do


SINDUSCON-SP. São Paulo: Obra Limpa: I&T: Sinduscon-SP, 2005. 48p.

QUALITÉ CONSTRUCTION. La gestion des déchets de chantier. Paris: Agence Qualité


Construction, Numéro Spécial Batimat 2005. pp.38-40.

RESITECH. Environmental Management Plan Checklist. Australia: Residential Technologies


Australia and NSW Department of Housing, 8 March 2000. Disponível em:

Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável 81


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04
Redução de impactos ambientais do canteiro de obras - F. Cardoso & V. Araujo

http://www.construction.nsw.gov.au/docs/environment/resitech.pdf. Acesso em 5/4/2006.

SINDUSCON-MG; SENAI-MG. Gerenciamento de Resíduos Sólidos da Construção Civil. 2.


Ed. Rev. e Aum. Belo Horizonte: SINDUSCON-MG, 2005. 68p.

US GREEN BUILDING CONCIL. LEED-NC. Green Building Rating System For New
Construction & Major Renovations (LEED-NC), Version 2.1. Washington, Nov. 2002, 67 p.
Disponível em: https://www.usgbc.org/Docs/LEEDdocs/LEED_RS_v2-1.pdf.

US GREEN BUILDING CONCIL. LEED ® for Homes. Rating System for Pilot Demonstration of
LEED® for Homes Program, Version 1.72. Washington, Sept. 2005, 138 p. Disponível em:
https://www.usgbc.org/ShowFile.aspx?DocumentID=855.

82 Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável


PCC.USP - FINEP Habitare no. 2386/04

View publication stats

Você também pode gostar