Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Semana 3transferir S
Semana 3transferir S
13272014 1869
Abstract This is a theoretical reflection aim- Resumo Trata de uma reflexão teórica com obje-
ing to highlight the conceptual debate about the tivo de resgatar o debate conceitual sobre modelo
health care model and the challenges for primay assistencial em saúde e os desafios para a atenção
health care in Brazil. The study characterizes básica no Brasil. O estudo caracteriza diferentes
different concepts and terminologies relating to conceitos e terminologias relativas à expressão
the expression ‘care model’ and shows that the modelo assistencial e mostra que a saúde da famí-
Family Health Strategy has improved access to lia promoveu ampliação do acesso e incorporação
health care, and also including user reception and do acolhimento e humanização das práticas. No
humanization perspectives in health practices. entanto, verifica-se a persistência da centralida-
However, one still sees: a centralizing attitude in de do tratamento de patologias e dos cuidados ao
the treatment of pathologies, and care focused on corpo biológico, as dificuldades na implantação da
the biological body; difficulties in implementing integralidade e déficits na formação das equipes
comprehensive care; and deficits in training of e nas condições e relações de trabalho. Concluiu
teams, and in working conditions and relations. que o termo modelo assistencial é polissêmico e
The study concludes that the term ‘care model’ is que, embora existam propostas e políticas estru-
interpreted as polysemic and that, although there turantes de um modelo que avance em relação ao
are structuring proposals and policies for a model paradigma biomédico, as dificuldades para sua
that can make progress in relation to the biomed- implementação são significativas.
ical paradigm, the difficulties for its implementa- Palavras-chave Saúde da família, Políticas pú-
1
Departamento de tion are significant. blicas de saúde, Atenção Primária à Saúde, Siste-
Enfermagem, Centro
de Ciências da Saúde, Key words Family health, Public health policies, mas de saúde
Universidade Estadual de Primary healthcare, Health systems
Maringá. Jardim
Universitário. 87020-900
Maringá PR Brasil.
hpfertonani@uem.br
2
Departamento de
Enfermagem, Centro
de Ciências da Saúde,
Universidade Federal de
Santa Catarina.
3
Departamento de Saúde
Coletiva, Universidade de
Brasília.
1870
Fertonani HP et al.
Visões/valores
sobre direitos
humanos e de
Arcabouço Paradigma de
cidadania
legislativo ciência e influência
relativo ao papel na produção de
do Estado no conhecimentos e
setor saúde organização dos
serviços de saúde
Conhecimentos
MICRO CENÁRIO HISTÓRICO-SOCIAL
Figura 1. Elementos que interferem na constituição de um modelo assistencial, a partir das formulações de
Campos16,27, Paim30 e Pires35.
com ênfase na Vigilância em Saúde (VS) e na No processo de construção deste “novo” mo-
Promoção da Saúde (PS). delo assistencial na atenção básica, após 20 anos
O Quadro 1 apresenta as características do de implantação, verifica-se verifica-se que ainda
modelo biomédico e do prescrito na ESF e na persistem muitos desafios41. O primeiro, diz res-
Política Nacional da Atenção Básica, de 2012, peito ao trabalho em equipe considerado essen-
destacando os elementos que sinalizam para a cial42 para o alcance dos objetivos da ESF. No en-
construção de um novo paradigma para pensar tanto, o trabalho mantém-se em geral fragmen-
e produzir saúde, orientado pelos princípios do tado, com persistência de práticas hierarquizadas
SUS. e da desigualdade entre as diferentes categorias
Prioriza a assistência individual, com ênfase Propõe a atenção à saúde com foco na família, grupos
na especialização e no uso de tecnologias do e comunidades. O indivíduo é entendido com um ser
tipo material. Organiza a assistência a partir histórico e social, que faz parte de uma família e de
da demanda espontânea. determinada cultura. Considera os determinantes de
saúde – doença para o planejamento em saúde e propõe
promoção da autonomia e da qualidade de vida.
O planejamento em saúde é pouco utilizado Assume como um dos eixos centrais das práticas,
como ferramenta de gestão e temas como a construção de relações acolhedoras e de vínculo
vínculo e acolhimento não são priorizados. de compromisso e de corresponsabilidade, entre os
profissionais de saúde, gestores e população.
Colaboradores Agradecimentos
HP Fertonani e DEP Pires realizaram a concep- Este artigo contou com o apoio financeiro do
ção e o delineamento do artigo. HP Fertonani, Cnpq e da Capes.
DEP Pires, D Biff e MDA Scherer participaram
na redação e crítica do artigo e na aprovação da
versão final a ser publicada.
1877
1. Brasil. Lei no 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe 20. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Relatório Final da
sobre as condições para a promoção, proteção e recu- 12ª Conferência Nacional de Saúde: Conferência Sérgio
peração da saúde, a organização e o funcionamento Arouca. Conselho Nacional de Saúde. [página na in-
dos serviços correspondentes e dá outras providências. ternet] 2004. [acessado 2014 fev 10]. Disponível em:
Diário Oficial da União 1990; 20 set. http://sna.saude.gov.br/download/rel%20final%20
2. Brasil. Lei no 8142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe 12a%20CNS.pdf
sobre a participação da comunidade na gestão do Sis- 21. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Relatório Final da 13ª
tema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências Conferência Nacional de Saúde: Saúde e Qualidade de
intergovernamentais de recursos financeiros na área da vida: políticas de estado e desenvolvimento. Brasília: MS;
saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União [página na internet] 2008. [acessado 2014 fev 10]. Dis-
1990; 31 dez. ponível em: http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/
3. Flexner A. Medical Education in United Stated and Ca- Relatorios/13cns_M.pdf
nada: A report to the canergie foundation for the advan- 22. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Relatório final da 14ª
cement of teaching. 4ª ed. New York: CopyRight; 1972. Conferência Nacional de Saúde: todos usam o SUS: SUS
4. Pagliosa F, Luiz Da Ros MA. O Relatório Flexner: na seguridade social: Política pública, patrimônio do
Para o Bem e Para o Mal. Rev Bras de Educ Méd 2008, povo brasileiro. Brasília: MS; [página na internet] 2012.
32(4):492-499. [acessado 2014 fev 10]. Disponível em: http://conselho.
5. Teixeira CF, Paim JS, Vilasboas AL. SUS, Modelos Assis- saude.gov.br/14cns/docs/Relatorio_final.pdf
tenciais e Vigilância da Saúde. IESUS 1998; 7(2):7-28. 23. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Assis-
6. Capra F. O ponto de mutação. 30ª ed. São Paulo: Cortez; tência à Saúde. Coordenação de Saúde da Comunidade.
2012. Saúde da Família: uma estratégia para reorientação do
7. Silva Júnior AG, Alves CA. Modelos Assistenciais em modelo assistencial. Brasília: MS; [página na internet]
Saúde: desafios e perspectivas. In: Morosini MVGC, 1997. [acessado 2014 fev 10]. Disponível em: http://
Corbo ADA, organizadores. Modelos de atenção e a saú- bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd09_16.pdf
de da família. Rio de Janeiro: EPSJV, Fiocruz; 2007. p. 24. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Política Nacional de
27-41. Atenção Básica. Série E: Legislação em Saúde. Brasília:
8. Silva Júnior AG. Modelos tecnoassistenciais em saúde: o MS; [página na internet] 2012. [acessado 2014 fev 10].
debate do campo da saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publi-
1998. cacoes/geral/pnab.pdf
9. Helman CG. Cultura, saúde e doença. 5ª ed. Porto Ale- 25. Fertonani HP. Desafios de um modelo assistencial em
gre: Artes Médicas; 2009. defesa da vida, da saúde e da segurança: o que dizem os
10. Pires D. A enfermagem enquanto disciplina, profissão e usuários da atenção básica [tese]. Florianópolis: UFSC;
trabalho. Rev Bras Enferm 2009; 62(5):739-744. 2010.
11. Mendes EV. O Cuidado das Condições Crônicas na Aten- 26. Trindade LL, Pires DEP. Implicações dos Modelos As-
ção Primária à Saúde: O imperativo da consolidação da sistenciais da Atenção Básica nas Cargas de Trabalho
Estratégia da Saúde da Família. Brasília: OPAS; 2012. dos Profissionais de Saúde. Rev Texto Contexto 2013;
12. Paim JA. Modelos de atenção e vigilância da saúde. In: 22(1):36-42.
Rouquayrol MZ, Almeida FN, organizadores. Epide- 27. Campos GWS. Reforma da reforma: repensando a saú-
miol e Saúde. 6ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI; 2003. p. de. São Paulo: Hucitec; 1992.
567-586. 28. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Agência Nacional
13. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Relatório Final da 8ª de Saúde Suplementar. Duas Faces da Mesma Moeda:
Conferência Nacional de Saúde. [página na internet] Microrregulação e Modelos Assistenciais na Saúde Suple-
1986. [acessado 2009 mar 17]. Disponível em: http:// mentar. Rio de Janeiro: MS; 2005. (Normas e Manuais
www.datasus.gov.br/cns/cns.htm Técnicos, Regulação e Saúde 4)
14. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil 29. Morosini MVGC, Corbo ADA, organizadores. Modelos
de 1988. Diário Oficial da União 1988; 5 out. de atenção e a saúde da família. Rio de Janeiro: EPSJV,
15. Cecílio LCO. Modelos tecno-assistenciais em saúde: da Fiocruz; 2007.
pirâmide ao círculo, uma possibilidade a ser explorada. 30. Paim JS. Modelos de atenção à saúde no Brasil. In: Gio-
Cad Saude Publica 1997; 13(3):469-478. vanella L, Escorel S, Lobato LVC, Noronha JC, Carvalho
16. Campos GWS. Modelos Assistenciais e Unidades Bá- AI, organizadores. Políticas e sistema de saúde no Brasil.
sicas de Saúde: Elementos para Debate. In: Campos Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008. p. 547-573.
GWS. Planejamento sem normas. 2ª ed. São Paulo: Hu- 31. Rosa WAG, Labate RC. Programa Saúde da Família: a
citec; 1994. p. 53-60. construção de um novo modelo de assistência. Rev La-
17. Merhy EE. Saúde: cartografia do trabalho vivo. São Pau- tino-am Enfermagem 2005; 13(6):1027-1034.
lo: Hucitec; 2002. 32. Levcovitz E, Garrido NG. Saúde da Família: a procu-
18. Scherer MDA, Pires DEP, Jean R. A construção da in- ra de um modelo anunciado. Cad Saude Familia 1996;
terdisciplinaridade no trabalho da Equipe de Saúde da 1:3-8.
Família. Cien Saude Colet 2013; 18(11):3203-3212. 33. Lucena AF, Paskulin LMG, Souza MF, Gutierrez MGR.
19. Teixeira MGLC, Paim JS. Os Programas Especiais e o Construção do conhecimento e do fazer enfermagem
Novo Modelo Assistencial. Cad Saude Publica 1990; e os modelos assistenciais. Rev esc enf 2006; 40(2):292-
6(3):264-277. 298.
1878
Fertonani HP et al.
34. Mendes EV. Distrito Sanitário. O processo social de mu- 44. Oliveira HM, Moretti-Pires RO, Parente RCP. As rela-
dança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. ções de poder em equipe multiprofissional de Saúde da
São Paulo, Rio de Janeiro: Hucitec, Abrasco; 1995. Família segundo um modelo teórico arendtiano. Inter-
35. Pires D. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde. face (Botucatu) 2011; 15(37):539-550.
2ª ed. São Paulo: Annablume; 2008. 45. Scherer MDA, Pires D, Soratto J. O trabalho na Es-
36. Scherer MDA, Marino SRA, Ramos FRS. Rupturas e re- tratégia Saúde da Família. In: Sousa MF, Franco MS,
soluções no modelo de atenção à saúde: reflexões sobre Mendonça MVM, organizadores. Saúde da Família nos
a estratégia saúde da família com base nas categorias municípios brasileiros: os reflexos dos 20 anos no espelho
kuhnianas. Interface (Botucatu) 2005; 9(16):53-66. do futuro. Campinas: Editora Saberes; 2014. p. 521-571.
37. Teixeira CF, Solla JP. Modelo de Atenção à Saúde: Pro- 46. Fortuna CM, Matumoto S, Borges CC, Pereira MJB,
moção, Vigilância e Saúde da Família. Salvador: ED- Mishima SM, Kawata LS, Silveira F, Oliveira NF. Notas
FBA; 2006. cartográficas do trabalho na Estratégia Saúde da Famí-
38. Costa GD, Cotta RMM, Ferreira MLS, Reis JR, Fran- lia: relações entre trabalhadores e população. Rev Esc
ceschini SCC. Saúde da Família: desafios no processo Enferm 2012; 46(3):657-664.
de reorientação do modelo assistencial. Rev bras enferm 47. Brasil. Portaria no 4.279, de 30 de dezembro de 2010.
2009; 62(1):11-18. Estabelece diretrizes para a organização da Rede de
39. Paim JS, Almeida-Filho N. A Crise da Saúde Pública e a Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde
Utopia da Saúde Coletiva. Salvador: Casa da Qualidade; (SUS). Diário Oficial da União 2010; 31 dez.
2000. 48. Bonfada D, Cavalcante JRLP, Araújo DP, Guimaraes
40. Starfield B, organizadora. Atenção Primária: equilíbrio J. A integralidade da atenção à saúde como eixo da or-
entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasí- ganização tecnológica nos serviços. Cien Saude Colet
lia: Organização das Nações Unidas para a Educação, a 2012; 17(2):555-560.
Ciência e a Cultura; 2002. 49. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Aten-
41. Mendonça MHM. Martins MIC, Giovanella L, Escorel ção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de
S. Desafios para gestão do trabalho a partir de expe Humanização. HumanizaSUS: Documento base para
riências exitosas de expansão da Estratégia de Saúde da gestores e trabalhadores do SUS. 4ª ed. Brasília: Editora
Família. Cien Saude Colet 2010; 15(5):2355-2365. do Ministério da Saúde; 2010.
42. Santos AM, Santos AM, Giovanella L, Mendonça
MHM, Andrade CLT, Martins MIC, Cunha MS. Prá-
ticas assistenciais das Equipes de Saúde da Família
em quatro grandes centros urbanos. Cien Saude Colet
2012; 17(10):2687-2702.
43. Araújo MBS, Rocha PM. Saúde da família: mudando Artigo apresentado em 01/03/2014
práticas? Estudo de caso no município de Natal (RN). Aprovado em 03/10/2014
Cien Saude Colet 2009; 14(1):1439-1452. Versão final apresentada em 05/10/2014