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RICARDO CESAR COSTA BACHEGA 15804 RICARDO CESAR COSTA BACHEGA 15804 R

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Sumário

Introdução................................................................................................................. 3

1 O que é a salinidade do solo?................................................................................ 3

2 O que causa a salinização..................................................................................... 4

3 Quais características tornam um solo salino........................................................ 6

4 Quais os efeitos do excesso de sais nas plantas................................................... 8

5 Tolerância das culturas à salinidade................................................................... 10

6 Prevenção da salinização.................................................................................... 12

7 Recuperação de solos afetados por sais............................................................. 14

Literatura consultada.............................................................................................. 18
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Introdução
Abrigos bem manejados proporcionam algumas vantagens, dentre elas,
proteger os cultivos de chuvas e radiação excessivas, aumentar a produtividade,
estender o período de colheita para algumas espécies como, por exemplo, o tomate
e o pepino, proteção contra lixiviação excessiva dos nutrientes aplicados e melhores
condições de trabalho.
Há vários modelos de abrigos no mercado, desde os mais simples, de menor
investimento, até abrigos com controle total dos fatores de produção (climatizados
e automatizados). Porém, em todos eles, o produtor intensifica a produção visando
obter o melhor retorno do investimento feito, dificultando a rotação de área, pois
não é viável mudar o abrigo de lugar.
A intensificação do sistema de produção, bem como o manejo inadequado da
irrigação e o uso excessivo de fertilizantes, têm levado a um problema que vem se
tornando cada vez mais comum no cultivo protegido: a salinização do solo.
Mas o que é a salinização? E o que se pode fazer para prevenir esse problema?
E se aconteceu, tem solução? Essa cartilha fornecerá algumas informações para
auxiliar técnicos e produtores na compreensão desse problema, prevenção e na
busca das soluções.

1 O que é a salinidade do solo?


Salinidade é quando o solo apresenta excesso de sais na camada cultivável e
prejudica o desenvolvimento do cultivo (Figura 1). Quando esse excesso é formado
por vários tipos de sais, diz-se que o solo está salino. Mas quando nessa salinidade
predomina um elemento químico chamado sódio, então diz-se que o solo é sódico.

Figura 1. Afloramento de sais


na superfício do solo

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E quando ocorrem os dois excessos ao mesmo tempo, esse solo é chamado


de salino-sódico. Entender que há diferentes tipos de salinidade implica saber que
há diferentes práticas para cada uma delas. Isso por si só ajuda muito na resolução
do problema. Um solo sódico, no entanto, é uma condição grave, quase impossível
de recuperar. A boa notícia é que solos sódicos dificilmente ocorrem em cultivos
protegidos, ficando mais restritos a regiões muito áridas (muito secas).

2 O que causa a salinização


Os solos afetados por excesso de sais podem ter ocorrência natural, como
em alguns locais de regiões áridas. No Brasil, solos salinos de ocorrência natural
(salinidade primária) podem ser encontrados em algumas regiões do Nordeste,
por exemplo. Mas no contexto desta publicação vamos tratar da salinidade
causada pela interferência humana, especialmente dentro dos cultivos protegidos
(salinidade secundária), mas que também pode ocorrer em cultivos a céu aberto.
Nas duas condições (cultivo protegido e céu abeto), o uso inadequado e excessivo
de fertilizantes químicos e orgânicos, além do mau dimensionamento e manejo da
irrigação, estão diretamente relacionados com o problema da salinização.
Boa parte dos fertilizantes químicos utilizados no cultivo protegido são
bastante solúveis (apresentam o chamado índice salino elevado), ou seja, dissolvem-
se facilmente na água. Cuidado especial deve-se dar àqueles fertilizantes cujos
elementos acompanhantes podem provocar acúmulos, como é o caso do sódio e
do cloro, como, por exemplo, o cloreto de potássio.
Considerando que dentro dos abrigos não há chuva, o ambiente torna-se
bastante seco e elevam-se as chances de ocorrer problemas de salinização.
O uso de estercos animais é uma prática muito utilizada na agricultura que
pode trazer benefícios como fonte de matéria orgânica. No entanto, o sal branco
(cloreto de sódio) é utilizado, junto com outros elementos, na formulação do sal
mineral na dieta dos animais. Portanto, se usados em excesso, mesmo os estercos
de animais podem provocar salinização.
A qualidade da água usada para a irrigação é outro aspecto de fundamental
importância. Águas com altos teores de minerais, entre eles, cálcio e magnésio,
podem contribuir para o processo de salinização. A água de boa qualidade para a
irrigação deve ter baixa condutividade elétrica (CE). A maioria das plantas cultivadas
em abrigo desenvolve-se dentro da normalidade até os 2,0 dS/m, embora diferentes
respostas possam ser encontradas para espécies, cultivares e diferentes estágios do
desenvolvimento.
Outro aspecto relevante é a excessiva mecanização do solo que causa
desestruturação e formação de camadas adensadas e/ou compactadas. O cultivo

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convencional de hortaliças, por exemplo, faz uso frequente de implementos como


a enxada rotativa, levando a uma pulverização das partículas (grãos) do solo que
acabam se acumulando, em partes na superfície e em partes na profundidade
alcançada pelo implemento, ou seja, a cerca de 15 a 30cm de profundidade. A
esse adensamento da camada mais profunda chamamos de “pé de arado”. É um
adensamento que impede que tanto a água profunda suba à superfície quanto a água
da superfície possa se infiltrar mais profundamente. As camadas de adensamento
e compactação do solo são muito prejudiciais à produção, pois dificultam o
movimento da água no solo e o crescimento das raízes em profundidade.
Uma das características mais marcantes de um solo salinizado é o acúmulo
de cristais de sais no perfil e na superfície do solo. Esses cristais acumulados têm
a aparência de um pó branco e são chamadas de eflorescências salinas (Figura 2).

Figura 2. Eflorescência salina entre


canteiros de cebolinha em cultivo
protegido

Mas atenção, o processo de salinização ocorre bem antes da formação


da eflorescência salina (Figura 3), ou seja, é fundamental que os produtores
monitorem suas áreas produtivas com métodos que lhes permitam acompanhar
os teores dos nutrientes no solo e prevenir que a salinidade chegue ao ponto de
formar eflorescência salina.

Figura 3. Formação de camadas


esverdeadas e eflorescência salina
sobre o solo indicando que o solo está
em processo de salinização

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A análise de solo é o método mais utilizado para fazer o monitoramento


dos níveis de nutrientes e detectar o início da salinização. Porém, por outro lado,
solos de abrigos que não estão sendo utilizados, ou que não estão recebendo mais
irrigação por longos períodos, podem apresentar essa eflorescência, sem que isso
comprove que estão salinizados. Quando o solo fica sem receber água de nenhuma
maneira, os sais do solo são arrastados para a superfície com a água que vai subindo
pelo perfil devido à evaporação (Figura 4).

Figura 4. Acúmulo de sais na superfície em solo sem irrigação por prolongado período de
tempo

3 Quais características tornam um solo salino


Para verificar se os solos estão sendo afetados por sais é preciso avaliar suas
características nos laboratórios de análise de solos, por meio de uma preparação
chamada de “pasta saturada”. Nesta pasta saturada são tiradas medidas de três
parâmetros:
a) condutividade elétrica (CEes);
b) porcentagem de sódio trocável (PST), presente na capacidade de troca de
cátions (CTC pH 7,0) e;
c) relação de adsorção de sódio (RAS).

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Para dizer que um solo está salino, salino-sódico ou sódico ele precisa
apresentar as características que constam na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1. Classificação de solos salinos


RAS
CEes PST
Classificação (mmolc pH Caracterização
(dS/m*) (%)
L-1)1/2
Quando o acúmulo de sais em
solução se eleva ao ponto de provocar
estresse osmótico para as plantas
Salino ≥4 < 15% < 13 < 8,5 (murcha). Podem apresentar, na época
seca, o solo coberto por uma camada
esbranquiçada formada pelo acúmulo
de sais (eflorescência salina).
Apresenta alto teor de sais e alto
teor de sódio trocável. Pode ocorrer
quando a água usada para irrigação
Salino/sódico ≥4 ≥ 15% >13 ≤ 8,5 apresenta níveis elevados de sódio,
tais como uso de água salobra, ou
lugares onde ocorra influência de
marés invadindo canais e/ou o solo.
Quando a relação de sódio trocável
é alta. Podem se formar a partir de
um solo salino-sódico, quando na
drenagem natural ou artificial ocorre
a lixiviação das bases (cátions),
restando apenas o sódio no complexo
de troca. Disso resulta um pH elevado
e dispersão de argilas e da matéria
> 8,5
Sódico <4 ≥ 15% > 15 orgânica. Em alguns casos, observa-
< 10
se uma coloração escura, chamada
álcali negro. Essa situação faz as
argilas migrarem e se aprofundarem
formando um horizonte compactado e
com alto teor de sódio, com condições
físicas altamente desfavoráveis
ao crescimento das raízes e
movimentação da água.
*: 4,00 dS m-1 = 4,00 mS cm-1 = 4000 uS cm-1.
Fonte: Adaptado a partir de Richards et al. (1954), Gheyi (2016) e Bernardo et al. (2019)

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4 Quais os efeitos do excesso de sais nas plantas


Os principais efeitos de um solo salinizado sobre o desenvolvimento das
plantas podem ser listados como:
a) Efeitos semelhantes à seca (chamado de efeito osmótico e déficit hídrico)
Quando o solo está salinizado a água fica retida mais fortemente em suas
partículas, reduzindo a capacidade das plantas de absorvê-la. Em situações mais
acentuadas, as plantas perdem água para o solo apresentando sintomas semelhantes
ao estresse causado por falta de água, ou seja, as plantas crescem menos, tornam-
se desidratadas e murcham mesmo quando exista suficiente umidade no solo.
b) Compactação
Além dos efeitos negativos causados pela mecanização excessiva, os efeitos
da salinização contribuem fortemente para compactação e adensamento do solo.
Isso ocorre principalmente em solos em processo de sodificação, ou seja, o sódio
passa a predominar na CTC, levando a um efeito dispersivo nas argilas. Nesses casos
de aumento muito grande dos teores de sódio no solo, esse adensamento pode
atingir níveis praticamente irreversíveis.
A severa compactação causa uma dificuldade da penetração de raízes, dificulta
o movimento da água e a oxigenação do solo. Nesta condição ocorre a redução e, até
mesmo, a paralisação da absorção e do transporte de água e nutrientes nas plantas.
O sintoma mais evidente, chamado de epinastia, é quando as plantas tombam
sem murchar. Mas também podem apresentar baixo crescimento e amarelamento
generalizado devido à falta de oxigênio no solo.
c) Problemas nutricionais
Podem ocorrer tanto deficiência quanto toxidez na absorção dos nutrientes
em solos afetados por sais.
Quando o pH do solo for superior a 7,0, deficiências de ferro, manganês e
zinco podem ocorrer. Por outro lado, alguns elementos químicos presentes em
excesso no solo salino, principalmente cloro, sódio e boro, causam “queimas”
principalmente nas bordas e na ponta das folhas mais velhas, porque nessas regiões
o acúmulo é maior.
O sódio, absorvido e acumulado em grandes quantidades, torna-se altamente
tóxico às plantas. Alguns desses danos incluem a deficiência de potássio e cálcio,
o surgimento de estresse hídrico e os danos celulares cujos sintomas aparecem
como queimaduras ao longo dos bordos, iniciando-se pelas folhas mais velhas e
progredindo para a parte entre as nervuras da folha. A tolerância ao sódio varia
para as diferentes espécies (Tabela 2).

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Tabela 2. Tolerância relativa das culturas* ao sódio trocável


Sensíveis Semi-tolerantes Tolerantes
(PST < 15%) (PST de 15 a 40%) (PST > 40%)
Feijão-caupi Trigo Capim-de-Rhodes
Grão de bico Tomate Capim-angola
Amendoim Espinafre Algodão
Lentilha Sorgo Capim-bermuda
Tangerina Centeio Beterraba
Pêssego Arroz Cevada
Laranja Rabanete Alfafa
Ervilha Cebola
Milho Aveia
Feijão Mostarda
Trevo
Cana-de-açúcar
Milheto
Alface
Festuca (capim)
Cenoura
* Listada em ordem crescente de tolerância.
Adaptado de Gheyi, 2016

As intoxicações nas plantas causadas pelo cloro estão frequentemente


associadas com elevados níveis de sódio. O principal problema relacionado ao
cloro é que ele é facilmente transportado pela água, sendo, portanto, facilmente
absorvido pelas raízes. O excesso de cloro interfere na absorção de nitrogênio e
na movimentação de algumas substâncias dentro e entre as células da planta e
que são importantes para o desenvolvimento. Os sintomas aparecem como queima
de folhas que inicia nas pontas e progride para as bordas. Também causam o
escurecimento, amarelecimento prematuro e queda das folhas.
O boro está entre os elementos essenciais para o desenvolvimento dos vegetais.
Tem papel relevante na formação das estruturas que formam e dão sustentação
para as plantas, conhecidas como parede celular e membrana plasmática. O boro
também tem importância no florescimento, pois atua na germinação do pólen e no

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processo de fecundação do óvulo nas flores. Os problemas de intoxicação por boro


são mais ocasionados pela água de irrigação do que pela água do solo. Os sintomas
de toxidez surgem principalmente em folhas mais velhas, como amarelamento,
manchas cloróticas (amareladas) ou secamento das pontas e bordas nas folhas,
avançando para o espaço entre as nervuras.

5 Tolerância das culturas à salinidade


A sensibilidade e a tolerância à salinidade são diferentes para plantas dentro
das diferentes espécies e até entre cultivares de uma mesma espécie. Também
depende das condições climáticas de cada região, das características de solo, do
sistema de irrigação, das fases de desenvolvimento da cultura etc. Cada espécie
apresenta um limite de tolerância, chamada salinidade limiar (SL) na qual não há
prejuízo à produtividade. Algumas plantas são mais sensíveis à salinidade do solo e
outras são mais tolerantes (Tabela 3).

Tabela 3. Tolerância das culturas herbáceas à salinidade1


SL Classe de
Cultura Nome científico 2 (% por dS m-1) b
(dS m-1) a tolerância c
Fibra, grão e culturas
especiais
Algodão Gossypium hirsutum 7,7 5,2 T
Amendoim Arachis hypogaca 3,2 29,0 MS
Arroz Oryza sativa 3,0 3 12,0 S
Cana-de-açúcar Saccharum officinarum 1,7 5,9 MS
Feijão-caupi Vigna unguiculata 4,9 12,0 MT
Cevada Hordeum vulgare 8,0 5,0 T
Fava Vicia faba 1,6 9,6 MS
Feijão Phaseolus vulgaris 1,0 19,0 S
Gergelim Sesamun indicum S
Girassol Helianthus annuus MS *
Milho Zea mays 1,7 12,0 MS
Soja Glycine max 5,0 20,0 MT
Sorgo Sorghun bicolor 6,8 16,0 MT
Trigo Triticum aestivum 6,0 7,1 MT
Continua...

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...continuação
SL Classe de
Cultura Nome científico 2 (% por dS m-1) b
(dS m-1) a tolerância c
Forrageiras
Alfafa Medica sativa 2,0 7,3 MS
Aveia Avena sativa MS *
Capim-bermuda Cynodon 6,9 6,4 T
Milho-forrageiro Zea mays 1,8 7,4 MS
Trigo-forrageiro Triticum aestivum 4,5 2,6 MT
Hortaliças e fruteiras
Aspargo Asparagus officinalis 4,1 2,0 T
Feijão Phaseolus vulgaris 1,0 19,0 S
Beterraba vermelha Beta vulgaris 4,0 9,0 MT
Repolho Brassica oleracea capitata 1,8 14,0 MS
Cenoura Daucus carota 1,0 S
Pepino Cucumis sativus 2,5 6,9 MS
Solanum melongena
1,1 MS
Berinjela esculentum
Alface Lactuca sativa 1,3 12,0 MS
Melão Cucumis melo 2,2 7,5 MS
Cebola Allium cepa 1,2 S
Pimentão Capsicum annuum 1,5 12,0 MS
Batata Solanum tuberosum 1,7 MS
Espinafre Spinacia olaracea 2,0 16,0 MS
Abobrinha, zucchini C. pepo melopepo 4,7 33,0 MT
Morango Fragaria sp. 1,0 11,0 S
Batata-doce Ipomoea batatas 1,5 9,9 MS
Tomate L. esculentum 2,5 9,0 MS
1
Esses dados são apenas um indicativo da tolerância relativa entre culturas. Tolerância absoluta depende do
clima, das condições do solo e práticas culturais.
2
Os nomes botânicos são conforme a convenção de “Hortus Third”, quando possível.
3
Como o arroz é cultivado sob condições de inundação, os valores se referem às condutividades
elétrica da água do solo, enquanto plantas estão inundadas. Menos tolerantes durante fase de plântula
a
SL - Salinidade limiar é aquela tolerada pela cultura em que não há prejuízo à produtividade.
b
% de perda de rendimento para cada dS m-1 a mais na salinidade limiar (Adaptado de Gheyi, 2016).
c
T = Tolerante, MT = Moderadamente Tolerante, MS = Moderadamente Sensível e S = Sensível. Classes com *
são estimativas.
Adaptado de Maas,1986

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6 Prevenção da salinização
Prevenir é sempre mais fácil que remediar. Evitar que o solo dentro ou fora de
um abrigo chegue ao ponto da salinização deve ser um cuidado diário. Em cultivo
protegido o risco de salinização é maior do que a céu aberto, pois sob cobertura
plástica e irrigação localizada não há contribuição das chuvas para lavar os sais
acumulados.
A prevenção da salinidade se baseia na adoção de boas práticas agronômicas
que envolvem diversas ações. Tudo se inicia pela análise de solo e o monitoramento
da fertilidade mediante uma regularidade de análises de acordo com o tipo de
cultivo. Além disso, entre as práticas para uma produção sustentável e de baixo
risco de salinização, destacam-se: o preparo adequado do solo, a irrigação e a
drenagem bem dimensionadas e manejadas; a realização da rotação de culturas,
o uso de adubos verdes, a cobertura do solo com palhas; os cultivos em consórcio,
adubações equilibradas com base em análises de solo, incluindo fontes orgânicas
equilibradas e minerais com menor índice salino (Figuras 5, 6).

Figura 5. Cultivo de crotalária


como adubação verde na
entressafra em cultivo
protegido com o objetivo
de reciclar nutrientes e
incorporar matéria orgânica
no solo

Figura 6. Adubação superficial com


composto orgânico em cultivo de
tomate dentro de abrigos de cultivo em
sistema de plantio direto

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Bem antes de iniciar o plantio, o produtor deve responder a algumas


perguntas: A análise de solo foi feita? A adubação segue recomendação baseada na
análise? Quanta água é utilizada por turno de rega? Se a resposta for não, ou não
sabe, para essas três perguntas, então esse abrigo estará mais sujeito à salinização.
Por isso, antes de iniciar o cultivo, deve-se buscar uma recomendação de
adubação que esteja baseada em análise de solo, bem como instalar um sistema de
irrigação que tenha sido dimensionado por um profissional habilitado. A drenagem
é um fator essencial a ser contemplado no projeto de irrigação.
O monitoramento do sistema de produção com análises de solo é de
fundamental importância. Para o cultivo de hortaliças, por exemplo, o ideal é
manter uma rotina de análises básicas semestrais ou, pelo menos, uma vez por ano,
é recomendável que seja realizada análise de solo completa, com micronutrientes,
teor de sódio e condutividade elétrica da pasta saturada (que deve permanecer
abaixo de 4 dS/m, acima desse valor é considerado que o solo está salino).
O uso de extratores de solução é uma ferramenta que pode auxiliar o
monitoramento da condutividade elétrica em cultivo protegido com razoável
precisão. Se a leitura realizada na água colhida a partir do extrator apresentar
condutividade acima de 2 dS/m, é recomendável que seja colhida amostra de solo
para envio ao laboratório para realização da análise básica, da condutividade elétrica
e do sódio. Embora CE de 2 dS/m não indique que o solo é salino, de acordo com
a tabela 1, sugere-se que algumas medidas preventivas já sejam iniciadas. Avaliar
quanta água está sendo utilizada na irrigação nas diversas fases de desenvolvimento
da cultura, se a adubação está balanceada e se o solo está adensado e/ou com
camada compactada são medidas imprescindíveis. Um dos efeitos do solo adensado/
compactado é a falta de oxigenação que prejudica o crescimento das raízes. Além
disso, a camada compactada impede que a água infiltre em profundidade.
As práticas que proporcionam a elevação dos teores de matéria orgânica,
especialmente aquela originada da massa de raízes, são importantes para prevenir
a salinização do solo. Embora seja uma técnica difícil de realizar, pois o produtor
precisa utilizar a estrutura do abrigo ao máximo, o uso de adubações verdes e
coberturas de palhas proporciona melhoras significativas na estrutura e fertilidade
do solo que se refletem no desenvolvimento das plantas.
A fertilização dos cultivos utilizando matéria orgânica de boas fontes reduz
muito o risco de salinização. A matéria orgânica possui importantes funções
físicas, químicas e biológicas, tanto no solo quanto no desenvolvimento das
plantas. Experimentos conduzidos na Estação da Epagri de Itajaí por mais de 10
anos demonstram que é possível atender as necessidades de nutrientes de várias
plantas cultivadas em abrigos, como por exemplo o tomate, por meio do uso de
compostos equilibrados. Outras fontes como estercos sólidos e líquidos, cama de
aves e biofertilizantes também podem ser utilizados. No entanto, não é pelo fato

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de ser matéria orgânica, que podemos utilizá-la sem critério. A recomendação


de adubação precisa estar baseada na análise de solo, nas demandas da cultura,
na composição, equilíbrio e aproveitamento de nutrientes das fontes de matéria
orgânica.
Mas e se o solo já estiver salinizado, o que fazer?

7 Recuperação de solos afetados por sais


A recuperação de solos afetados por sais pode ser dividida em:

Técnicas fundamentais: são consideradas técnicas fundamentais a lavagem


de sais para solos salinos e a aplicação de melhoradores químicos para solos salino-
sódicos e sódicos, tais como gesso, cloreto de cálcio, enxofre, calcário dolomítico e
ácido sulfúrico. Os melhoradores químicos são empregados apenas nos casos em
que o sódio ocupa mais de 15% da capacidade de troca de cátions (CTC). O tipo de
melhorador a ser empregado leva em consideração, além do predomínio do sódio
na CTC, também o pH, a presença ou ausência de carbonatos alcalinos terrosos
(como por exemplo a calcita e/ou dolomita) e o custo do produto.
As técnicas fundamentais são as de utilização mais comum e são obrigatórias
na obtenção da redução da salinidade e/ou sodicidade. Sem elas, dificilmente
alguma melhoria ocorre em solos que estejam afetados por sais.

Técnicas auxiliares: dentre elas estão as técnicas mecânicas e biológicas, que


proporcionam significativa contribuição na solução do problema e complementam
as técnicas fundamentais. Dentre elas estão: a aração profunda e/ou superficial,
a subsolagem, a sistematização e o nivelamento, a mistura com areia, a inversão
de perfis, a aplicação de resíduos orgânicos, a fitorremediação, a biodrenagem,
entre outros. Retirar o filme plástico do abrigo e deixá-lo sujeito às chuvas por
alguns meses é um meio bastante simples de recuperá-lo quando houver essa
possibilidade, ainda mais se estiver associado com adubos verdes (Figura 7).

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Figura 7. Abrigo de cultivo sem filme plástico sujeito às chuvas e com adubo verde (feijão
de porco)

Nessa cartilha abordaremos apenas a recuperação de solos salinos, mais


comumente encontrados nos cultivos protegidos.
Uma possibilidade é deixar o solo do abrigo sujeito às chuvas nos períodos de
troca de plástico. Porém, da mesma forma, é necessário monitorar a condutividade
elétrica da solução do solo para verificar se a salinidade foi reduzida a um patamar
que não mais prejudique o desenvolvimento dos próximos cultivos.

Lavagem intermitente para correção de solos salinos:


A lavagem é a técnica que proporciona os melhores resultados em solos
salinizados. Por meio da lavagem, faz-se passar pelo solo um volume de água
previamente determinado e que carrega os sais para além do alcance das raízes,
permitindo que fique em níveis toleráveis pelas culturas (lavagem de recuperação)
ou prevenindo a salinização em solos irrigados que ainda não estão afetados por
excesso de sais (lavagem de manutenção).
A lavagem intermitente é o tipo de lavagem mais utilizada. Ela consiste em
aplicações alternadas de volumes de água em intervalos de aplicação que podem
ser semanais, quinzenais ou mensais. Deve-se observar que esse intervalo não
deve ser tão grande a ponto propiciar que o solo resseque, trazendo os sais da
profundidade novamente para a superfície. Sempre que possível é recomendável a
realização da lavagem nos períodos de baixa taxa de evaporação como no inverno.

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Determinar matematicamente a quantidade de água para a lavagem dá


apenas um indicativo de quanta água utilizar. Porém, a precisão não é total porque
há influência de vários fatores que ocorrem simultaneamente no solo (características
físicas, químicas e biológicas).
Em solos com pouca estrutura, muito frouxos, parte da lâmina aplicada
poderá passar diretamente e de forma rápida, o que impede que a água “lave” os
sais. Portanto, nem sempre, toda a água que será aplicada na lavagem contribuirá
para a redução do excesso dos sais. Para uma boa dessalinização a velocidade de
movimentação da água pelo solo deve permitir que a água de lavagem se misture
com a água presente no solo e leve os excessos para longe do alcance das raízes. É
recomendável subsolar, arar e gradear e, se possível, nivelar a área antes de iniciar a
lavagem, bem como avaliar em campo se a água aplicada terá drenagem adequada.
Outro aspecto importante é não utilizar para a lavagem do solo uma água
que tenha condutividade elétrica elevada (CEai - condutividade elétrica da água de
irrigação). De modo geral, pode-se dizer que águas que se encontram na faixa de 0
a 0,75 dSm-1 apresentam baixo risco de salinização (Tabela 4). No entanto, quanto
menor for a condutividade elétrica da água de irrigação utilizada para recuperação
de solos afetados por sais, melhor. Não se devem utilizar águas que tenham
influência das marés, pois elas terão maior teor de sódio, o que pode sodificar o
solo.

Tabela 4. Classificação da água para irrigação quanto ao risco de salinidade


Richards
UCCC 1 Ayers & Westcot (1991)
Classe de (1954) Risco de
salinidade salinidade Faixa de Cea Problema de
Faixas de Cea (dSm-1)
(dS m-1) salinidade
Classe 1 <0,25 <0,75 Baixo < 0,7 Nenhum
Classe 2 0,25 - 0,75 0,75 - 1,50 Médio 0,7 - 3,0 Moderado
Classe 3 0,75 - 2,25 1,5 - 3,00 Alto > 3,0 Severo
Classe 4 > 2,25 > 3,00 Muito alto - -
1
UCC - University of California Commitee of Consultants (Fonte: Frenkel, 1984; Pizarro, 1985). Adaptado de
Gheyi, 2016

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No método de lavagem intermitente há uma relação entre a quantidade


de água a ser aplicada e a profundidade de solo a ser lavado. Espera-se que a
quantidade de sais carreados varie entre 70 e 80% do encontrado inicialmente
quando se aplica um volume de água correspondente à profundidade que se
pretende “lavar”. Isso significa que, se a profundidade de solo que se quer “lavar”
é de 300mm, espera-se reduzir de 70 a 80% de sais com a aplicação de uma lâmina
de 300mm de água, o que equivale a 300Lm-² (1mm de lâmina de água de irrigação
corresponde a 1 litro de água por metro quadrado de solo). Esse volume deve ser
aplicado fracionadamente, de modo que possa “penetrar” no solo e “lavar” os sais
para a parte mais profunda, fora do alcance das raízes das plantas. Mas a eficiência
dessa lavagem vai depender da textura do solo e da capacidade de drenagem.
Aplicar matéria orgânica de fontes equilibradas e compostadas após aplicar
a lavagem intermitente pode favorecer o processo de correção. A matéria orgânica
promove melhoria das características químicas, físicas e biológicas do solo. É fonte
de nutrientes e micronutrientes e é uma grande fonte de cargas negativas, o que
aumenta a capacidade que o solo tem de adsorver cargas positivas, retirando-as da
solução do solo e reduzindo portanto a condutividade elétrica da solução do solo.
Entre as vantagens da lavagem intermitente, destacam-se: a maior eficiência
porque necessita de menor quantidade de água, não exige construção de diques ou
nivelamento e a recuperação é mais rápida em menores profundidades. No entanto,
essa técnica não lava excessos com profundidades maiores de 1,0 metro. Também
não pode ser utilizada se o lençol freático tiver água salina e estiver próximo à
superfície. Além disso, exige um sistema de irrigação (aspersão ou microaspersão)
para aplicar lâminas de água uniformemente.
As boas práticas agronômicas são a melhor forma de prevenir a salinização
em abrigos e céu aberto. Sistemas de irrigação, drenagem e fertilização bem
dimensionados e manejados, água de qualidade, monitoramento com análise de
solo e vegetal, rotação de culturas, fontes orgânicas e equilibrada de fertilizantes
(compostos), fontes minerais menos salinas, adoção de biofertilizantes, utilização
de adubos verdes, cobertura do solo com palhadas, entre outras técnicas, previnem
a salinização do solo e tornam o cultivo sustentável, gerando renda ao longo dos
anos e tolerando períodos climáticos desfavoráveis.

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