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UNIVERSIDADE DOS AÇORES

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, FILOSOFIA E ARTES
CURSO DE HISTÓRIA
2022-2023 (S2)

DISCIPLINA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO

PATRIMÓNIO DAS EX-COLÓNIAS:

UM OLHAR SOBRE O PASSADO

INÊS DE FREITAS MIRANDA

Nº 2021111508

PONTA DELGADA

20 DE MAIO DE 2023
Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Índice

Introdução ............................................................................................................................. 3

1. A Notícia ........................................................................................................................ 4

1.2. A opinião pública ................................................................................................... 5

2. Recessão Histórica ........................................................................................................ 7

2.1. Expansão Marítima Portuguesa ............................................................................... 9

2.1.1. Causas da Expansão Marítima ............................................................................ 12

3. As Relações de Portugal pelo Mundo ........................................................................ 14

3.1. Portugal e Brasil .................................................................................................. 15

Conclusão ............................................................................................................................ 18

Bibliografia ......................................................................................................................... 19

Anexos ................................................................................................................................. 22

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Título do artigo – Património das Ex-Colónias: Um Olhar Sobre o Passado

Palavras-chave – Património, Colónias, Portugal, Cultura

Resumo

O presente trabalho propõe-se investigar mais sobre o passado entre Portugal e as suas ex-
colónias, como por exemplo, o Brasil, partindo de uma notícia publicada na imprensa
periódica nacional, neste caso, o Diário de Notícias, com intuito de entender mais sobre a
História das Relações Internacionais entre esses países.

Também é aberto um debate acerca do conteúdo da própria notícia, nomeadamente se o


património que foi retirado durante o tempo da colonização deve ou não deve ser devolvido,
onde estão incluídos os comentários feitos, predominantemente negativos, em relação ao
relato. É feita uma recessão histórica, em que se retorna aos princípios da Expansão Marítima
portuguesa e é feita uma explicação das causas pelo quais essa se sucedeu.

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Introdução

O presente trabalho tem por base uma notícia publicada, no ano de 2022, no Diário de
Notícias, com o intuito de realizar uma interpretação histórica. Foi realizado no âmbito da
disciplina da História das Relações Internacionais, no ano letivo de 2022/2023, no segundo
semestre do 2º ano da licenciatura em História na Universidade dos Açores.

O principal objetivo é aprofundar o conhecimento sobre o motivo a que levou a Portugal sair
do seu território e de que forma estabeleceu relações com outros países, sendo o Brasil o país
escolhido para fazer uma análise mais profunda dessa mesma relação e com isso entender de
que forma a análise e da interpretação histórica são importantes para a compreensão de
grandes eventos.

O documento está organizado em três grandes capítulos, além da introdução do tema. O


primeiro diz respeito à notícia, quando foi publicada, quem foi o autor, no que ela foi baseada
e a forma como o público reagiu a essa. No segundo, será abordada a recessão histórica,
fazendo uma análise geral do estado em que a Europa se encontrava na altura em que
Portugal se preparava para tomar Ceuta, a nível político, também é referido o tópico da
globalização e o motivo pelo qual alguns dos historiadores defendem que os portugueses
tiveram um grande impacto nesse fenómeno. Por fim, temos o terceiro capítulo, onde será
feita uma análise dos períodos em que Brasil foi uma colónia, mencionando os tópicos da
escravatura e povoamento.

Por fim, após a conclusão e a bibliografia, estarão presentes nos anexos que melhor ilustram
o trabalho.

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

1. A Notícia

Publicada a 25 de novembro de 2022, a notícia escolhida tem como título “Governo


português vai fazer lista de património com origem nas ex-colónias”, sendo “O tema da
devolução das obras às ex-colónias ganhou visibilidade desde que, em 2018, o Presidente
francês, Emmanuel Macron, encomendou um relatório sobre a devolução de obras aos países
africanos”, o seu subtítulo.

Faz parte do Diário de Notícias, um jornal diário português, sediado em Lisboa, que já existe
desde 1864, ou seja, desde período da Regeneração, contando assim com 159 anos até à data.
Segundo a própria instituição, no seu Estatuto Editorial, “O DN é um jornal centenário, ao
serviço do País, que tem como principal objetivo assegurar ao leitor o direito a ser informado
com verdade, rigor e isenção.” e que “[…] verifica, escrupulosamente, as fontes noticiosas
utilizadas e procura identificá-las com precisão […]”1 A notícia propriamente dita,
encontrasse na categoria sociedade no site em que foi publicado e não tem o seu autor
indicado em nenhuma parte da notícia, sendo este, então, anónimo. A principal fonte do
relato foi a entrevista que foi publicada no jornal Expresso, cuja responsável por esta é
conhecida e tem como nome Christiana Martins, uma jornalista e escritora que publicou o
livro 30 anos de jornalismo económico em Portugal: (1974-2004), que já estagiou no Diário
de Notícias, teve a sua passagem no jornal “Público” e que até ao presente dia permanece ao
serviço do jornal Expresso.2

O relato conta a intenção do governo de devolver as obras de arte, bens culturais, objetos de
culto e até restos mortais, que foram retiradas das suas comunidades originais são alguns dos
objetos que devem constar nessa lista de devolução. Esta listagem será feita «[…] por
académicos e diretores de museus, num trabalho de "inventariação mais fina".»3

1
Estatuto Editorial, Diário de Notícias, Lisboa, Disponível em: <https://www.dn.pt/estatuto-editorial.html>.
Acesso em: 17 de maio de 2023.
2
Autores: Christiana Martins, Expresso, Lisboa, Disponível em: <https://expresso.pt/autores/2015-05-02-
Christiana-Martins-d914ab2d> Acesso em: 17 de maio de 2023
3
Governo português vai fazer lista de património com origem nas ex-colónias, Diário de Notícias, Lisboa,
Disponível em < https://www.dn.pt/sociedade/governo-portugues-vai-fazer-lista-de-patrimonio-com-origem-
nas-ex-colonias-15386522.html> Acesso em 17 de maio de 2023

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Não se trata de algo exclusivamente de Portugal, países como França, Alemanha, Bélgica,
Espanha, Inglaterra e Holanda, também já expressaram as suas intenções de devolver os
objetos que há muito foram retirados dos países que ocuparam. Nas palavras de Christiana
Martins, “Uma discussão que envolve antigas metrópoles e as suas ex-colónias, uma
discussão susceptível de abrir feridas com raízes históricas e causar desconforto.”

1.2. A opinião pública

As opiniões sobre o assunto estão divididas, mas quem mais expressa a sua opinião sobre o
assunto são as pessoas que são contra a devolução dos objetos e apesar de ser um assunto
importante que trata de coisas que até então faziam parte do nosso património, não é tão
debatido como seria de se esperar, após a publicação da notícia no ano passado, até então,
pouco ou nada foi dito sobre o assunto novamente. Um dos motivos pelo qual isso pode estar
a acontecer é a vontade de Pedro Adão e Silva, atual ministro da cultura, de querer que «[…]
este trabalho seja tratado "de forma discreta e longe da praça pública".»

O facto de que não é uma notícia muito falada é reconhecido pelo próprio diretor-adjunto e
jornalista do Expresso, Martim Silva, que num dos segmentos, Destaques da Expresso, que
passou, no dia 24 de novembro de 2022, no canal de televisão privada A Sociedade
Independente de Comunicação, conhecida como SIC, confrontado pelo seu colega de
trabalho e jornalista Rúben Tiago Pereira, afirma “[…] por cá a discussão tem ficado, se
quisermos, um pouquinho esquecida, ou não entrando propriamente na agenda pública.”4

Perante todos os comentários que foram feitos pelos leitores do Diário de Notícias, decidi
fazer a recolha de alguns deles para melhor ilustrar o que os portugueses acham sobre o
assunto:

• “E se algum partido se lembrar de querer "devolver" os descendentes destes países...


vai ser lindo.”;

• “Havia de ser bonito o museu nacional de etnologia, o Louvre em Paris e outros tantos
na Europa e nas Américas a devolverem aquilo que tanto trabalho lhes deu trabalho a
reunir. Ainda mais para ir parar à África negra onde não há um único país que mereça
alguma confiança.”;

4
Obras de arte devolvidas às ex-colónias, um ministro que se recusa a ir ao Catar e o caos de volta às urgências,
Expresso, Lisboa. Disponível em: <https://expresso.pt/multimedia/video/2022-11-24-Obras-de-arte-devolvidas-
as-ex-colonias-um-ministro-que-se-recusa-a-ir-ao-Catar-e-o-caos-de-volta-as-urgencias.-Ha-novo-Expresso-nas-
bancas-3caf083a> Acesso em: 18 de maio de 2023

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

• “Também há muito património português "esquecido" nas ex-colónias, onde ele está?
[…] por exemplo a estátua de Camões em bronze instalada em Goa, em 1960. Bem
como muitas outras esculturas, padrões, pelourinhos, etc... para não falar da arte sacra
e das Berliet Tramagal. Em 1500, não se "roubava terra", colonizava-se ... era o que
estava a dar!”
• “É incorreto falar em devolução. Deviam, sim, falar em trocas, porque nesses países
há muita coisa que nos pertence e que devia voltar para cá. Devia ser feito um
levantamento também nesses países, de maneira que pudéssemos reaver o que é
nosso, ao mesmo tempo que devolvemos o que diz respeito a outros povos e culturas.
Mas não é isso que o ministro da Cultura se prepara para fazer - é dar de mão beijada,
como que a pedir desculpa pela colonização, numa atitude complexada e pouco digna,
sem acautelar o interesse nacional.”

Também se iniciaram debates entre os próprios leitores, o qual destaco: “E os benefícios que
oferecemos às ex-colónias não contam?”, o qual outra pessoa respondeu com “Que
benefícios?! Se eu te roubar a casa, fizer de ti escravo e obrigar-te a renovar a casa de banho,
deves-me alguma coisa pelas renovações?!”

Assim, o debate que é feito parece estar numa linha ténue entre o questionamento genuíno
sobre o que acontecerá com as obras, o quão válido é a devolução destas e de puro racismo e
preconceito, por exemplo, não há necessidade nenhuma de acrescentar a palavra “negra” na
frente de África, sendo este adjetivo claramente utilizado unicamente como forma de
degradar um continente inteiro, como se a característica “negra” fosse algo negativo, quando
na verdade se deveria questionar quais as condições que têm para preservar as obras, que é o
que realmente importa nesta discussão, mais do que a cor de pele de uma população inteira.
Também não há qualquer tipo de fonte ou argumento utilizado pela pessoa que fez o
comentário para afirmar que os países do continente africano não são de confiança, assim a
única base de tal afirmação está somente no seu “achismo”, o que não é suficiente para
determinar se um país realmente deve receber, ou não, os objetos que estão na pose de
Portugal.

Perante a notícia, uma pergunta que também é válida de se fazer é “Será que as pessoas do
país que receberão os objetos se importam com isso ou só é algo debatido porque estamos
num mundo em que atualmente tudo é considerado problemático?” e para esta questão há
efetivamente uma resposta.

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Numa outra notícia do Expresso, também escrita pela Christiana Martins, em que o título não
nos deixa nenhuma questão: “Angola quer as suas bonecas de volta”, publicada a 8 de
dezembro de 2018. Apesar de ser anterior à principal notícia que é apresentada neste trabalho,
continua a ser válida neste argumento, pois expressa que antes mesmo do Ministro da Cultura
considerar a devolução publicamente, a vontade do povo angolano já tinha vontade de rever
as obras que uma vez já pertenceram ao seu país. A ministra da Cultura da Angola afirma
que: “É imperioso que a diplomacia angolana, em colaboração com o Ministério da Cultura
e outros departamentos ministeriais, possa dar início a consultas multilaterais com vista a
regularizar a questão da propriedade e da posse, por um lado, e, por outro lado, da
exploração dos bens culturais angolanos no estrangeiro” e também especifica quais os
objetos que constam na sua lista: “Existem peças nos museus de Etnografia e de Arqueologia
[de Portugal], numa variada e diversificada amostra da nossa riqueza cultural, como por
exemplo, os Mitadi, máscaras, cestarias, cerâmica, estatuetas da arte Mbali, machadinhas
polidas do Neolítico, arte tchokwe, bonecas, entre outras”

Deste modo, é possível afirmar que há sim vontade por parte países de reaverem os objetos
que em algum ponto da História estiveram na sua pose. O debate se é ou não justo que tal
aconteça é extenso e multifacetado, em que a tendência pela parte dos portugueses é
discordar da devolução. Todavia, não se pode resumir a opinião de uma população inteira em
alguns comentários feitos na internet, num lugar em que os comentários negativos costumam
ser mais do que os positivos, pela facilidade das pessoas se esconderem atrás de uma tela.

2. Recessão Histórica

Apesar de a notícia ser de 2022 e o começo do debate da devolução dos objetos por parte dos
países que eram os antigos colonos ter se iniciado em 2018, a verdade é que para entender por
completo a História de como o património de outros continentes veio parar nos outros países
é preciso recuar de forma atemos uma visão ampla dos acontecimentos.

No nosso país, terra do fado e do vinho do Porto, essa História começa com aquilo que
conhecemos como a “Expansão Marítima Portuguesa.”, que, de uma forma simplificada, é
quando os portugueses ultrapassam o limite do território português, tomando conhecimento
de novas terras, como a costa africana e as ilhas do oceano atlântico.

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

O historiador João Paulo Oliveira e Costa, da Universidade Nova de Lisboa, mediante à


transformação do imaginário europeu a partir do século XV e do início da expansão
portuguesa, afirma que “O mundo não voltaria a ser igual depois de as primeiras caravelas
sulcarem os mares do Atlântico e derrubarem mitos persistentes”5, no entanto, não são
somente os portugueses que têm essa precessão do acontecimento: Roger Crowley,
historiador e autor britânico, afirma que “A expansão marítima portuguesa foi um feito
monumental de coragem, habilidade e determinação. Seus navegadores fretaram mares
desconhecidos, superando imensos desafios e deixando um legado duradouro de exploração e
intercâmbio cultural.”6

Contudo, nem todos os pontos de vista são positivos sobre os ditos “descobrimentos”, afinal,
ambos estes autores, um português e um britânico, têm o ponto de vista de países que foram
grandes colonizadores. Numa entrevista com a Globo, uma empresa de média e comunicação
brasileira, o professor universitário brasileiro Paulo Chaves afirma que:

“Na realidade, Portugal não descobriu o Brasil, ele ocupou, invadiu,


submetendo dessa maneira diversas nações indígenas. Se o Brasil já possuía
uma população indígena, local, não se trata de uma descoberta, e sim de uma
conquista. As comunidades se dividiam entre diversas nações, dentre as quais
quatro grupos eram principais: os tupis, no litoral e parte do interior, os macro-
jês no norte da Bacia Amazônica; os aruaques, no Planalto Central; e os
cariris, também na região Amazônica.”7

Atualmente, há também um infinito debate sobre o termo “descobrimentos” e se esse é o


termo correto, sendo este substituído por “achamento” ou “redescoberta, por vezes.
Entrevistado pela revista Público, Francisco Contente Domingues, especialista em história
marítima, afirma que: “Absolutamente que sim, deve-se falar de Descobrimentos.” e nessa
mesma entrevista, diz que:

5
Descobrimentos e as marcas da globalização, National Geographic Portugal, 9 de Janeiro de 2017. Disponível
em: <https://nationalgeographic.pt/historia/grandes-reportagens/1094-descobrimentos-edespecial> Acesso em:
17 de maio de 2023
6
Traduzido a partir do livro Conquerors: How Portugal Forged the First Global Empire de Roger Crowley
7
Descobrimento foi, na verdade, uma invasão à terra dos índios, G1 Globo, 10 de outubro de 2013. Disponível
em: <https://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-educacao/noticia/2013/10/descobrimento-foi-na-verdade-
uma-invasao-terra-dos-indios.html> Acesso em: 17 de maio de 2023

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

“Use as ferramentas de partilha que encontra na página de artigo. palavra


‘Expansão’ também provoca esse mal-estar. Mas é perfeitamente evidente que
há pessoas que não gostam de ‘Descobrimentos’. Porque no fundo reportam-se
sempre à chegada ou ao contacto dos povos europeus com outros povos. No
caso da 'Expansão' é pior, porque suporta a ocupação efectiva dos espaços e o
controlo de territórios. Mas é uma descrição da realidade das coisas. mas
novamente, este é o ponto de vista de alguém que fez parte do país
colonizador.”8

No entanto, apesar de diferentes, os dois pontos de vista não se anulam. A expansão marítima
pode ser importante na desconstrução de mitos sobre o mundo, criadas pelos europeus, e uma
demonstração de coragem, sem necessariamente anular o facto que já existia toda uma
comunidade já presente e que, irrefutavelmente, sofreu com a exploração que foi feita.

2.1. Expansão Marítima Portuguesa

Nem tudo começa em 1415, com a conquista de Ceuta. Já desde o século XIV havia uma
estratégia para a exploração que contemplava a conquista de praças no Norte de África e a
ocupação de ilhas adjacentes ao reino, nesse caso, as Canárias.

Todavia, a conquista de Ceuta, uma cidade no continente africano, que atualmente pertence à
Espanha, é, de forma geral, considerada o início das navegações portuguesas pelo mundo. Os
motivos por de trás da necessidade dessa conquista são variados, desde a sociais, políticos e
até mesmo económicos, que serão explicados neste mesmo capítulo. Nas Crónica de D. João
I, cujo Fernão Lopes escreveu as duas primeiras partes, a terceira é justamente intitulada
como A Crónica da Tomada de Ceuta, escrita por Gomes Eanes de Zurara entre os anos 1449
e 1450.9 Nesse texto, já inicialmente nos informa sobre o desejo de D. João I de prosseguir
com a tomada de Ceuta, afirmando que esta seria um “serviço de Deus”, enviando assim os
seus filhos cavaleiros:

8
(Salema, 2016)
9
(Barreto, 1983)

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

“Sobre a qual dereitamente podemos fundar nosso preposito em aqueste meo crendo
que nenhum bem fazer nom comum aos homeẽs se nom por azo do Senhor Deos, em
cuja prouaçam diz o apostollo Santiago na sua primeira canoniqua. Que toda boõa
doaçam e todo liberal outorgamento de cima descende do padre dos lumes que sobre o
esparge os rrayos da sua bondade.”10

Nas palavras de Carmen Radulet, a crónica referida não dá ênfase à viagem que foi feita até
Ceuta, mas sim há problemática que se levantou no reino relativamente à realização de
empresas.11 Não obstante, o facto de existir documentos escritos que contenham algum tipo
de informação sobre e que até hoje estão disponíveis para leitura, não deixa de ser algo de
valor por si só.

Outra conquista dos portugueses que foi um grande marco na forma como vemos o mundo,
deu-se em 1434: A passagem do Cabo Bojado por Gil Eanes. É considerado um importante
marco, pois, na altura, ele era conhecido como o limite do mundo, acreditava-se que quem
fosse para além desta linha imaginária, iria cair, uma vez que na altura também se tinha a
ideia de que a terra era plana. Também, havia a crença que as águas em seu redor
fervilhavam. Após essa tão importante descoberta, os portugueses procuraram estabelecer
contactos com as populações nativas que até então não tinham qualquer conhecimento
sobre.12 Todavia, é importante notar que antes dos portugueses, houve outras pessoas que
tentaram atingir o mesmo fim: os irmãos Vivaldi. Partiram de Barcelona julga-se que no
1341, no entanto, nunca se soube o que aconteceu com a sua embarcação, pois não
retornaram.13

Tanto a tomada de Ceuta, como a famosa passagem do cabo Bojador, fizeram de Portugal o
pioneiro da Expansão europeia e, consequentemente, da Globalização, um movimento que se
tornou imparável e irreversível desde que Gil Eanes e os seus homens venceram o mito do
Mar Tenebroso. Isto se torna mais impressionante com o facto que Portugal era herdeiro da
sua tradicional “finis terra”, era o fim da Europa, sendo tradicional e uma terra carenciada.

10
(Zurara, ca 1410-1474?)
11
(Radulet, 1991)
12
(Dias, Ferreira, 2017)
13
(Souza, 2015)

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Sobre a questão da globalização, a opinião pública e os cientistas sociais, sejam eles


economistas, sociólogos ou políticos, geralmente, é de que esta foi um fenómeno do último
meio século, posterior à segunda guerra mundial, europeu, eventualmente ocidental,
rejeitando a ideia da existência de sistemas globais antes da hegemonia europeia.

Já os historiadores costumam considerar a globalização, pelo contrário, como um fenómeno


muito mais antigo, admitindo que pode ter surgido na Idade Moderna. Vitorino Magalhães
Godinho, na sua obra “Descobrimentos e a Economia Mundial” e Immanuel Wallerstein, que
na década de 70 publica o livro “O Sistema Mundial Moderno”, consideram a globalização
um fenómeno dos séculos XV e XVI, construído por portugueses e espanhóis, com centro na
europa e que tem periferias nos demais continentes. Segundo estes historiadores, os nódulos
dessa globalização são, na Europa, Lisboa, Sevilha, Amesterdão e Londres, enquanto no
além-mar os contactos destes nódulos europeus são Goa, Malaca, Manila, Havana, Baía e
Luanda. Enquanto os portugueses ligavam o Oriente a Lisboa, através da circunavegação de
África, os espanhóis ligaram o extremo oriente à América central, Manila até a Acapulco, no
México.

Nomeadamente, em relação de Portugal com a globalização, é possível afirmar desde a 1ª


metade do século XV-XVI, ou seja, mais de um século, a expansão portuguesa tocou em
todos os continentes à exceção da Austrália e da Antártida. Além disso, conheceram os
principais oceanos, estabeleceram contacto com regimes políticos e práticas comerciais
diversas, crenças religiosas diversas, sendo beneficiados com novas técnicas e estratégias de
outras civilizações europeias. É, por isso, erróneo dizer que “que os países da Europa eram
muito mais avançados”, isso, definitivamente, não é verdade. Desde o momento em que os
portugueses chegam à Índia, eles se depararam com civilizações tão evoluídas quanto a deles.

Um grande instrumento na questão da globalização de que Portugal fez muito uso, tem por
nome Companhia de Jesus, uma instituição de caráter internacional, que desenvolve o ensino,
cultivo do saber, até ao século XVII. Foram construídos 30 colégios, durante os duzentos e
quinze anos da sua existência. Foi no século XVIII, que esta foi extinta, após a lei publicada a
3 de setembro de 1759 que ordenava expulsão dos Jesuítas de todos os territórios
portugueses, totalizando então um número de 1480 padres, irmãos coadjutores e
escolásticos.14

14
(Manso, 2020)

11
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2.1.1. Causas da Expansão Marítima


Como referido anteriormente, existem inúmeras causas a que levaram que fosse necessário
Portugal sair do seu território. A verdade, é mesmo que a conquista de Ceuta ser o marco do
início da expansão, isso não significa que esta tenha sido feita com esse intuito: então o que
levou os portugueses a irem para a praça marroquina?

Para começar, Florentino Péres-Embid, historiador e escritor publica o livro Los


Descobrimentos e rivalidades em el atlântico, em 1948, em que afirma que ano a orla
costeira compreendida entre Cádis e Lisboa era uma excelente e que estava em boa condição,
talvez até melhor do que qualquer outra, para empreender a expansão marítima.

Mas, obviamente, não foi somente a orla costeira: a expansão quatrocentista decorre de
razões de diversas naturezas: políticas, económicas, sociais, mentais e técnicas.

POLÍTICAS:

Na altura, Portugal se encontrava num período politicamente estável, onde havia uma maior
centralização do poder na coroa e também já tinha uma estabilidade fronteiriça, sendo um do
país com as fronteiras mais antigas. Estas são reconhecidas pelo Tratado de Alcanises: o rei
de Castela reconhece a Portugal o direito à posse inviolável das suas fronteiras. Ou seja, 4
anos antes da partida dos portugueses para o norte de África, Portugal não ficou só com a sua
independência confirmada ficou também com maiores possibilidades de desenvolver uma
posição militar externa além do mar.

Além disso, em 1411, Portugal e Castela tinha assinado um tratado de paz, na sequência dos
confrontos do século XIV. Segundo José Matoso, uma das razões para esta conquista seria a
oportunidade para os infantes – D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique serem armados cavaleiros.
Isto deve-se ao facto de que se um filho do rei fosse bastardo, era possível legitimar-se
através de repercussão interna e externa. 1516

Os portugueses pensaram em intervir em Granada, não o fizeram, pois, isso resultaria num
conflito com Castela, os castelhanos sempre acharam que Granada era terra deles, como foi a
partir de 1492.17 Nisso, a tomada de Ceuta também foi uma estratégia militar, caso a terra
ficasse nas mãos do reino vizinho, Portugal ficaria totalmente cercado.

15
(Matoso, 1997)
16
(Serrão, 1995)
17
(Michelan, 2012)

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Desta forma, “a ameaça castelhana constante sobre o território português teria feito com que
os portugueses se antecipassem a Castela na expansão no norte da África, para assim ter uma
alternativa territorial numa possível guerra entre ambos.”18

Em relação ao restante da Europa, até 1492, Espanha não está de mãos livres, porque tem de
combater os muçulmanos de Granada, a Itália e Alemanha que estavam divididas em
inúmeros estados e repúblicas, sem capacidade de afirmação e após a guerra dos 100 anos,
Inglaterra encontrava-se num clima de profunda agitação social. Assim, do ponto de vista
político, Portugal era uma relativa exceção na europa.

ECONÓMICAS:

Para Orlando Ribeiro, Portugal era um país pobre, com solos de má qualidade, clima
irregular, regime pluviométrico aleatório, um terreno acidentado, daí a necessidade de lançar
à expansão como uma fuga à pobreza.

Já António Sérgio, explica que a conquista ocorreu por conta da fome do trigo. Esta tese
ganhou popularidade durante o Estado Novo, porque, oficialmente, o Estado Novo criticava
uma outra tese: tese de omissão de motivações comerciais no âmbito da expansão. Mas a
verdade é que após a conquista de Ceuta, o trigo desaparece. Efetivamente, havia cereais em
Ceuta, no entanto, estes eram originários de Marrocos do Sul, quando Portugal conquistou o
território, houve uma interrupção do comércio. Por isso, no final das contas, quem acabou por
importar o trigo, foi Portugal a Ceuta. O mesmo ocorreu com o ouro que também lá existia.19

Mas se Portugal acabou por ter de entregar algo que era deficitário, porque se mantiveram o
território? Apesar dos pesares, Ceuta tinha as suas vantagens. Há uma maior segurança na
navegação do estreito de Gibraltar, porque Ceuta domina o estreito, o que significava também
uma menor presença muçulmana, e também uma maior segurança na navegação da Costa
algarvia, ficando assim menos sujeita a assaltos e razias, logo mais segura.

SOCIAIS:

A nova nobreza encontrava-se descontente com o tratado de paz assinado com Castela, pois
isso significava que não poderiam expandir os seus domínios e obter riquezas, já que a luta
era o seu principal ofício.

18
(Michelan, 2012)
19
(Braga, 2015)

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Assim, em 1415, a conquista de Ceuta correspondeu à expectativa dos nobres, propiciando os


saques, razias das povoações marroquinas limítrofes que contribuíam para suprimir as
dificuldades económicas dos nobres.

Já a burguesia pretendia conquistas novos mercados e encontrar com os mercados do


Atlântico. António Sérgio, fundador da Revista “Pela Grei”, coloca a burguesia como
responsável pelos descobrimentos diz que esta é a “mentora exclusiva de Ceuta”. Esta tese
veio a ser acarinhada pelos marxistas e serviu de combate às ideologias do Estado Novo.
Independentemente de tudo, os mercadores tiveram mais peso na expansão quatrocentista na
costa de África do que no Norte de África. Também, é necessário citar que a expansão
quatrocentista provocou um esbatimento entre a nobreza e mercadores. Muitos deles não
perdem oportunidade de ganhar dinheiro, relevo social, ganhando reconhecimento e
ascendendo a classe nobre ressaltando a figura híbrida a que Magalhães Godinho chamou de
cavaleiro-mercador.20

No começo, não há uma declarada oposição à expedição pela parte do povo, mas depois
surge uma certa hostilidade perante a exploração portuguesa, já que está foi resultado dos
sacrifícios das gentes humildes, como já seria de se esperar. não tinham lucros porque os
saques e razias beneficiavam os nobres e mercadores portuguese.

Assim, é possível afirmar que não há uma concordância e empenhos sociais total, há pelo
menos um sentimento de predisposição do povo no seu início.

RELIGIOSAS

Expandir a fé cristã era a principal causa apontada na altura em que se deu a conquista de
Ceuta. A expansão portuguesa era vista como uma espécie de reconquista cristã, uma vez que
tinham que estavam a expulsar os mouros e a expandir território cristão. Esta razão é
defendida por Joaquim Bensaúde e João Marinho dos Santos.

3. As Relações de Portugal pelo Mundo

Agora que já há um entendimento prévio de como tudo foi ocorreu e dos pontos mais
importantes, outra parte fundamental é entender o relacionamento entre Portugal e as suas ex-
colónias: quando é que os portugueses chegaram às suas terras, que relacionamento

20
(Magalhães, 1998)

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mantinham e qual de facto foi o impacto que a colonização portuguesa teve. Como exemplo,
escolhi aprofundar a relação entre Portugal e Brasil, mas houve muitas outras colónias.

Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Angola e Moçambique são
algumas dessas colónias. Nas palavras de Isabel Castro Henriques, “A colónia é ainda
considerada, sobretudo nos países dos antigos colonizadores, como um terreno minado, pois
não permite a cicatrização das feridas deixadas pelo colonialismo, não ajuda a silenciar um
passado incómodo, dificultando a reconciliação entre os povos.”21, isso significa que apesar
de muitas vezes ser tratado como algo que merece ser glorificado e motivo de orgulho por
parte dos países colonizadores, a verdade é que teve marcas profundas negativas nos países
colonizados, que é possível ver até hoje, afinal, muito deles ainda são considerados países
subdesenvolvidos.

O fim do colonialismo português deu-se, definitivamente, no ano de 1975, ou seja,


praticamente um ano depois do 25 de abril: o fim da ditadura em Portugal. O que não quer
dizer que todas as colónias deixaram de o ser exatamente no mesmo ano, por exemplo, o
Brasil deixou-o de ser ainda em 1815 e Guiné-Bissau deixou de ser colónia no mesmo ano
em que se deu a Revolução dos Cravos.

3.1. Portugal e Brasil

Brasil é o nome que vem a ser dado à principal colónia portuguesa no ultramar. Uma colónia
que, primeiramente, assumiu a designação de Terra de Vera Cruz, mas que depressa adotou a
denominação de um pau corante, o pau-brasil, o primeiro produto a ser explorado pelos
portugueses nas costas sul-americanas. O descobrimento do Brasil acontece no decurso da
segunda viagem realizada pelos portugueses à Índia e comandada por Pedro Álvares Cabral.

Nuno Valério, professor e historiador, na sua obra A Expansão Portuguesa: Uma História
Económica separa o período colonial do Brasil em quatro:

I — Primeiro momento

Corresponde ao período que é caracterizado pelo estabelecimento dos primeiros contactos


com os indígenas, dos primeiros pontos de apoio na costa, sobretudo a norte, e pelo esboço de
uma primeira administração sensível a partir de 1516, muito mais sensível a partir de 1534

21
(Henriques, 2015)

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com a adoção no Brasil dos regimes senhoriais das capitanias – transportado das ilhas
atlânticas;

São “homens pardos todos nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir
nem mostrar suas vergonhas”; “mulheres muito gentis, com cabelos muito pretos, compridos,
pelas espáduas e suas vergonhas tão altas e tão cerradas e tão limpas das cabeleiras que de as
nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha”, estes excertos são que fazem
parte de uma carta que foi escrita por Pero Vaz de Carminha direcionada ao venturoso D.
Manuel, descrevendo o povo nativo no primeiro momento em que os encontraram.22

II — Segundo momento

Sensivelmente, embarca desde os meados de séc. XVI até ao princípio do séc. XVIII e é
período mais longo dentre os quatro nesta época o Brasil vai se tornando na principal colónia,
ganhando importância económica. Neste longo tempo, Portugal extraia essencialmente o
açúcar, tabaco e algodão. Durante o período colonial, o açúcar foi o bem de maior
rentabilidade, por ter persistido por mais tempo — início de séc. XVI e estende-se até ao séc.
XVIII); o famoso ouro e os diamantes declinam perto de 1760-1770;

III — Terceiro momento

Segundo Nuno Valério, o período entre o século XVIII, ao princípio do século XIX é a
época de apogeu do Brasil colonial, devido à exploração do ouro e dos diamantes e à
progressão territorial da colónia para sul e para o interior;

IV — Quarto momento

O primeiro quartel do século XIX, é o caminho da independência e, obviamente com este, o


fim do período colonial. O que conduz diretamente à independência do Brasil é,
efetivamente, a fuga da corte para o Brasil e a constituição do reino unido de Portugal, Brasil
e Algarves.

Relativamente ao povoamento, este é considerado lento e tardio. Isto deve-se ao facto que na
altura a prioridade dos portugueses era o tráfico de especiarias do oriente, isto após a chegada
de Gama à Índia, dois anos antes do achamento do Brasil. Também é apontado o
subdesenvolvimento das sociedades indígenas, que não permitiu o estabelecimento de

22
(Bernnassar, 2000)

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comércio lucrativo. Por estas razões, o povoamento foi feito por náufragos, lançados, que
devagarinho foram se tornando intermediários entre nativos e brancos. Um dos primeiros
povoadores do Brasil foi um judeu, Cosme Fernandes, curiosamente, um desterrado em São
Tomé e que transitou para o Brasil.

Sobre o povo que já lá se encontrava, é importante mencionar que sofreram de uma epidemia
de varíola, em 1560, resultou na morte de 300 mil índios, por não serem possuidores de
anticorpos para resistirem às doenças da europa. Em comparação a outros países que também
sofreram com epidemias por conta da colonização, no Brasil estas não foram muito fortes,
porque era um território vasto e a penetração portuguesa lenta, eles foram, portanto,
ganhando alguns anticorpos com o tempo.

Também é impossível falar sobre toda a questão da colonização sem mencionar o tópico da
escravatura. No livro de Bennessar, os senhores de escravos são descritos como rudes e cruéis
que faziam de tudo para a obtenção da máxima produtividade no mais rápido tempo possível.
A vida dos escravos era curta, tendo cerca de 5-8 anos em média, o que obrigava a uma
importação continua de escravos, dada a insuficiência da reprodução dos próprios escravos.
Como tinham uma vida curta e não havia equilíbrio entre os sexos: eram muito mais os
homens do que as mulheres, sendo que, por vezes, as escravas eram desviadas pelos senhores.
Tudo dificultava o estabelecimento de relações estáveis entre escravos, quer fossem, ou não
seladas pelo casamento.

A imagem dos portugueses no Brasil “é o produto da combinação entre a presença histórica


dos colonizadores (“reinóis”) e a influência social dos contingentes de imigrantes que lhes
sucederam nos séculos XIX e XX […]”23 Os filhos dos colonizadores, eventualmente
regressavam para Portugal, com o intuito de voltar ao Brasil, uma vez que concluíssem os
seus estudos, para que desta forma reforçassem o seu estatuto social. Desta forma, acabou por
se implementar uma sociedade europeia, inspirada nos valores portugueses da época.
Obviamente, não por inteiro, afinal, a atmosfera tropical tinha um impacto nos costumes.

Eventualmente, esses costumes e características próprias fizeram levantar, em um


determinado tempo da história, um sentido de nacionalidade própria, levando à tão conhecida
Independência.

23
(MENEZES, 1997)

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Conclusão

Durante a realização deste trabalho, tive a oportunidade de aprofundar o meu conhecimento


sobre a expansão portuguesa, que apesar de não ser um tema que é particularmente do meu
interesse pessoal, me fez ter novas perspetivas sobre o tema e de todas as vertentes que estão
nela incluídas.

Também tive oportunidade de colocar os meus conhecimentos de Paleografia, adquiridos na


cadeira de igual nome, na Universidade dos Açores, em prática graças às Crónicas da
Tomada de Ceuta, apesar de ser um documento extenso e não poder dispensar tanto tempo na
sua análise, o sentimento de orgulho acabou por tornar o trabalho algo que fiz com todo o
gosto.

De uma forma geral, este trabalho ajudou-me a ter um maior contacto com opiniões
diferentes referentes a um tópico, compreendendo temas como a globalização, o retorno do
património e a colonização. Ficou claro que o ponto de vista acerca de determinados temas
muda consoante o país e a história deste, muito possivelmente porque as consequências de
certas relações também foram naturalmente diferentes.

Como me referi na minha apresentação, era para estar presente as relações que Portugal tem
com outras ex-colónias, todavia, optei por não as incluir, tanto por conta da dimensão do
trabalho, como também não ficaria satisfeita com o meu trabalho se não pudesse pesquisar e
me aprofundar como fiz com a relação entre Portugal e Brasil, afinal, elas merecem tanta
atenção e pesquisa como este último teve neste trabalho, pelo que deixo em aberto a
possibilidade de num futuro trabalho abordar o tópico.

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

Bibliografia
FONTES PRIMÁRIAS:

ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica da Tomada de Ceuta, ca 1410-1474?

FONTES SECUNDÁRIAS:

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ed. de M. Lopes de Almeida; índice de Maria teresa Pinto Mendes., Coimbra,
Universidade de Coimbra, 1964;
• BARRETO, Luis Filipe. Descobrimentos e Renascimento: Formas de ser e pensar
nos séculos XV e XVI. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983;
• BENNASSAR, Bartolomeu, História do Brasil: 1500-2000, Lisboa, Editoral
Teorema, 2000
• BRAGA, Paulo Drummond, Uma Lança em África: História da conquista de Ceuta,
Lisboa, A Esfera dos Livros, 2015
• CASTELO, Cláudia, O modo português de estar no mundo: o luso-tropicalismo e a
ideologia colonial portuguesa (1933-1961), Porto, Edições Afrontamento, 1999;
• COUTINHO, José Joaquim da Cunha de Azeredo, Ensaio económico sobre o
comércio de Portugal e suas colónias: 1794, introd. e dir. de ed. Jorge Miguel
Pedreira, Lisboa, Banco de Portugal, 1992;
• CROWLEY, Roger, Conquerors: How Portugal Forged the First Global Empire,
Random House, 2015;
• DIAS, Paulo, FERREIRA, Diogo, A Vida e os Feitos dos Navegadores e
Descobridores ao serviço de Portugal (1419-1502), 1ª edição, Lisboa, Verso de Kapa,
2017
• FREYRE, Gilberto, O mundo que o português criou: aspectos das relações sociais e
de cultura do Brasil com Portugal e as colónias portuguesa, Rio de Janeiro, Livraria
José Olympio Editora, 1940;
• GODINHO, Vitorino Magalhães, Os descobrimentos e a economia mundial, Volume
I, Lisboa Editorial Presença, 1991
• GOUVEIA, Maria Margarida Maia, Sobre as relações culturais entre Portugal e o
Brasil nos fins do século XIX : uma carta de Fran Paxeco e Teófilo Braga, Ponta
Delgada, Universidade dos Açores, 1983. - p. 257-271

19
Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

• HENRQUES, Isabel Castro, Colónias e História, Centro de Estudos sobre África,


Ásia e América Latina, WP 132, 2015
• MAGALHÃES, Joaquim Romero, Algumas Notas sobre o Poder Municipal
Português durante o século XVI, Revista Crítica de Ciências Sociais, n.º 25,
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, dezembro de 1998
• MANSO, Maria de Deus Beites, A Companhia de Jesus em Portugal. Identidade e
Historiografia, Temas Americanistas, Universidade de Évora, Número 44, junho
2020, pp. 264-292
• MATOSO, José, História de Portugal. A Monarquia Feudal. Lisboa, Estampa, 1997.
• MICHELAN, Kátia Brasilino, Olhares historiográficos acerca da Tomada de Ceuta
(1415), Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas,
setembro, 2012
• MENEZES, Pedro Ribeiro de, As Relações entre Portugal e Brasil, Via Atlântica, n.º
1 março de 1997
• NEWITT, Malyn D., Portugal na história da Europa e do mundo, trad. Maria João
Goucha, 4ª ed., Lisboa, Texto Editores, 2013;
• RADULET, Carmen M., Os descobrimentos portugueses e a Itália. 1ª edição, Lisboa,
Veja, 1991.
• REIS, Carlos, Brasil e Portugal, Porto Alegre, Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, Centro de Estudos da Língua Portuguesa, 2012
• SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Lusitanidade e Hispanidade: Realidades pioneiras na
formação do Estado Moderno, Mare Liberum, nº 10, Lisboa,1995.
• SOUZA, Thomaz Oscar Marcondes de, A circunavegação da África na Idade Média,
Revista de História, Universidade de Sao Paulo, Agencia USP de Gestao da
Informacao Academica (AGUIA), 2015
• VALÉRIO, Nuno, A Expansão Portuguesa: Uma História Económica, Cascais,
Princípia Editora, 2021
• WALLERSTEIN, Immanuel, O Sistema Mundial Moderno - Vol. I: A Agricultura
Capitalista e as Origens da Economia-Mundo Europeia no Século XVI, Livro 3,
Edições Afrontamento, 1990

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Inês Miranda | Universidade dos Açores | Licenciatura em História

WEBGRAFIA

Notícia do Trabalho: Governo português vai fazer lista de património com origem nas ex-
colónias, Diário de Notícias, Lisboa, Disponível em <https://www.dn.pt/sociedade/governo-
portugues-vai-fazer-lista-de-patrimonio-com-origem-nas-ex-colonias-15386522.html>
Acesso em 17 de maio de 2023

Sites On-line consultados:

• Autores: Christiana Martins, Expresso, Lisboa, Disponível em:


<https://expresso.pt/autores/2015-05-02-Christiana-Martins-d914ab2d> Acesso em:
17 de maio de 2023
• Descobrimentos e as marcas da globalização, National Geographic Portugal, 9 de
Janeiro de 2017. Disponível em: <https://nationalgeographic.pt/historia/grandes-
reportagens/1094-descobrimentos-edespecial> Acesso em: 17 de maio de 2023
• Descobrimento foi, na verdade, uma invasão à terra dos índios, G1 Globo, 10 de
outubro de 2013. Disponível em: <https://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-
educacao/noticia/2013/10/descobrimento-foi-na-verdade-uma-invasao-terra-dos-
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• Estatuto Editorial, Diário de Notícias, Lisboa, Disponível em:
<https://www.dn.pt/estatuto-editorial.html>. Acesso em: 17 de maio de 2023.
• Obras de arte devolvidas às ex-colónias, um ministro que se recusa a ir ao Catar e o
caos de volta às urgências, Expresso, Lisboa. Disponível em:
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colonias-um-ministro-que-se-recusa-a-ir-ao-Catar-e-o-caos-de-volta-as-urgencias.-
Ha-novo-Expresso-nas-bancas-3caf083a> Acesso em: 18 de maio de 2023
• SALEMA, Isabel, Ainda é correcto falar de Descobrimentos?, Público, 17 de janeiro
de 2016 Disponível em:
<https://www.publico.pt/2016/01/17/culturaipsilon/noticia/ainda-e-correcto-falar-de-
descobrimentos-1720297> Acesso em: 17 de maio de 2023

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Anexos

Fig. 1 — Mapa com os Locais Descobertos pelos Navegadores aos Serviço de Portugal.
Retirado de: DIAS, Paulo, FERREIRA, Diogo, A Vida e os Feitos dos Navegadores e
Descobridores ao serviço de Portugal (1419-1502), 1ª edição, Lisboa, Verso de Kapa, 2017

Fig. 2 — Legenda do Mapa com os Locais Descobertos pelos Navegadores ao Serviço de Portugal.
Retirado de: DIAS, Paulo, FERREIRA, Diogo, A Vida e os Feitos dos Navegadores e Descobridores ao
serviço de Portugal (1419-1502), 1ª edição, Lisboa, Verso de Kapa, 2017
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Fig. 3 — Tabela sobre os escravos embarcados na costa occidental de África, 1700-1809


(medias anuais). Retirado: Causas do colonialismo português em África, 1822-1975 por
Pedro Lains, Análise Social, vol.XXXIII, 2.º-3.º, 1998, pág. 463-495

Fig. 4 — Bonecas angolanas do Museu de Etnologia, em Lisboa, integram as peças que a


ministra de Angola vê como tendo valor identitário (Fonte: foto tirada por Nuno Fox,
fotojornalista da Expresso)

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