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março de 2009 uma publicação da Livraria Cultura

edição 20

LITERATURA
E FOTOGRAFIA
Imagens registram o
universo de escritores

• Ana Maria Machado e sua múltipla arte • Como as escolas ensinam o prazer de ler
• Darwin aos 200 anos • Os cineclubes estão de volta• Festival de documentários na Cultura

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ARQUITETURA
coleção face norte
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inquietação aprendendo com nova york fundação iberê camargo álvaro siza – modern
teórica e las vegas delirante álvaro siza redux
estratégia Denise Scott Brown Rem Koolhaas Flávio Kiefer Alexandre Alves Costa
projetual na Robert Venturi Jorge Figueira Guilherme Wisnik
obra de oito
Steven Izenour José Luiz Canal Hans Ibelings
arquitetos
Kenneth Frampton Jorge Figueira
contemporâneos
Roberto Segre
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DESIGN

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antropologia o suplício do jogar, teatro


estrutural i papai noel representar pós-dramático
Claude Claude Jean-Pierre Hans-Thies
Lévi-Strauss Lévi-Strauss Ryngaert Lehmann

cosacnaify.com.br
entrevista 04 Caros leitores,
Os universos de Ana Maria Machado
Nesta edição da Revista da Cultura
ESPECIAL 10 publicamos uma reportagem
A pedagogia para a leitura nas escolas em que discutimos como as escolas
ajudam as crianças a descobrir
MINHA LISTA – cDS 14 o prazer de ler (pág. 10).
O podcast de Claudia Assef Além do importante papel da escola,
nunca podemos deixar de lembrar
PERFIL 16
do fundamental papel dos pais.
Darwin, a evolução e o criacionismo
Posso afirmar, depois de mais
de 60 anos trabalhando com livros,
REPORTAGEM 22
que pais leitores educam filhos leitores.
Fotógrafos na pegada das Letras
Meus próprios filhos liam antes de ser
GENTE QUE FAZ 28
alfabetizados! Eles imitavam meu gesto:
As boas compras em Campinas escolhiam qualquer livro na estante
e fingiam estar lendo (quase sempre
ENTRETENIMENTO 30 pegavam de cabeça para baixo).
A retomada dos cineclubes Como dizia Monteiro Lobato,
“um país se faz com homens e livros”.
MINHA LISTA – DVDS 34 Assim, pais, deem o exemplo.
Mundinho do cinema com Erika Palomino
Abraço,
ACONTECE 36
É tudo verdade, Dia da Mulher, agenda cultural Pedro Herz

expediente
Diretor-geral Pedro Herz Diretora de redação Thaís Arruda Editor-chefe Sérgio Miguez Editor Ruy Barata Neto
Assistente de redação Camila Azenha Estagiário Pedro dos Santos Projeto gráfico Eduardo Foresti
Diretora de arte Carol Grespan Revisoras Mirian Paglia Costa e Potira Cunha Colaboradores Denise Mirás, Gustavo Jönk,
João Correia Filho, Luciana Christante, Marcelo Moraes Caetano, Melissa Haidar e Orlando.
Agradecimentos A Recreativa, Antonio Carlos Athayde, Claudia Assef, Edu Simões, Erika Palomino,
Evandro Teixeira, Marione Tomazoni, Maureen Bisiliat, Nico Oved e Tiago Santana.
Produtora gráfica Elaine Beluco Pré-impressão First Press Impressão Pancrom Tiragem 25 mil exemplares
Publicidade Rafael Borges (jrafael@livrariacultura.com.br) Jornalista responsável Thaís Arruda (MTB 27.838)
Preços sujeitos a alteração sem prévio aviso.
Os preços promocionais para associados do + Cultura são válidos de 5/03 até 2/04
Revista da Cultura é uma publicação mensal da Livraria Cultura S.A. Todos os direitos reservados.
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Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores, não refletindo a opinião da Livraria Cultura. fotografia de Evandro Teixeira
4 ENTREVISTA

WILTON JUNIOR/AGÊNCIA ESTADO/AE

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5

Os múltiplos sentidos de
Ana Maria Machado
Carioca de Santa Teresa, Ana Maria Machado foi mágico de elfos, fadas, dragões, unicórnios, sereias,
militante estudantil contra a ditadura militar, presa, bois voadores... enfim, toda essa riqueza imaterial que
exilada política, repórter, redatora, radialista, pintora faz parte do inconsciente coletivo do brasileiro.
profissional, tradutora, professora doutora em Lin- Sua primeira publicação foi a tese de doutorado,
guística e Semiologia pela universidade francesa orientada pelo semiólogo francês Roland Barthes,
Sorbonne, empresária, esposa, mãe e, sempre, escri- Recado do nome (1976). Logo em seguida, publicou
tora. Vivendo parte de sua infância em Manguinhos, sua primeira obra infantil, Bento que bento é o frade
no litoral do Espírito Santo, aprendeu com os pes- (1977), ganhadora do título “Altamente recomendável”
cadores locais o sabor da oralidade e das tradições da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Já
populares. Por outro lado, tendo na família jornalistas seu primeiro romance para adultos, Alice e Ulisses,
e intelectuais fortemente engajados em movimentos veio alguns anos depois (1983).
políticos, pôde conhecer desde cedo o valor da ética e Ana Maria Machado foi eleita em 24 de abril de
o quanto se deve lutar por ela. Além de ter se iniciado, 2003 para ocupar a cadeira número 1 da Academia
na mais tenra infância, com a leitura dos grandes Brasileira de Letras. Além disso, é detentora de vá-
clássicos da literatura, como Dom Quixote, Ilíada, rios prêmios no Brasil e no exterior, incluindo muitos
Huckleberry Finn – experiência que registra em dos mais importantes que existem, como o Casa de
Como e por que ler os clássicos universais. las Américas (Cuba, 1980), o Hans Christian Ander-
Assim, Ana privilegiou a palavra (bem) trabalhada sen, pelo conjunto da obra infantil (2000), o Prêmio
como sua principal ferramenta de expressão, unindo Machado de Assis da ABL pelo conjunto da obra
desde sempre a delicadeza do universo infantil, a (2001), além do Jabuti, Prêmio da Bienal de São
erudição do ambiente acadêmico e a profundidade Paulo e APCA, entre outros, e prestigiosas menções
emocional do mundo adulto. Seus personagens como a da Apple (Associação pela Promoção do Li-
representam um pouco de tudo o que há no Brasil, real vro Infantil, Instituto Jean Piaget, Genebra), e a do
e folclórico: a mistura de etnias, os contos populares Americas Award (Estados Unidos). Nesta entre-
passados de boca em boca, as tradições que o povo leva vista, a autora fala de como consegue transitar entre
pelas gerações (como o carnaval), além de um mundo universos tão distantes e, para muitos, inconciliáveis.

Marcelo Morais Caetano


Recado do nome foi sua tese de douto- isso dá o maior samba! “Alice et Ulisse”, pensar que era um romance autobiográ-
rado, orientada por Roland Barthes, e é você tem aí um encontro que é capaz de fico, confessional. Todo esse preconceito. Já
sobre linguística e semiologia. A seu ver, detonar uma carga explosiva de muitos era uma história de amor... Então, resolvi
essa incursão no campo da semiótica megatons. E são dois arquétipos. “Feliz inverter, fazer com que fosse narrado pelo
influenciou, consciente ou inconsciente- aquele que como Ulisses quer voltar ao seu homem, e reduzi para 170 páginas. Depois,
mente, os títulos de suas obras, o nome reino, a Ítaca!” Aquele homem que leva achei que o melhor ia ser ficar na terceira
dos personagens e sua própria constru- 18 anos fora de casa, em todas as aventuras, pessoa e reduzi para 80.
ção frasal, estilisticamente tão rica de e sempre tentando voltar. E a Alice, entran-
significantes e jogos sonoros entre as pa- do de peito aberto no país das maravilhas, Sobre esse processo de reduzir o texto.
lavras? É claro que sim. Eu só não saberia topando qualquer coisa que venha. Ela está Como você faz isso? Tive muita prática
dizer exatamente o nível de consciência que sempre disponível: ela prova, ela come, ela como editora. Em rádio, por exemplo, você
tenho sobre essa criação. Mas comecei fa- bebe, ela conversa, ela faz qualquer coisa... tem às vezes dois minutos para dizer algo.
zendo uma pesquisa sobre o nome próprio Então, acho que esse encontro tinha um E não pode passar desse tempo. Então, a
no engendramento do texto literário. Então, valor simbólico, arquetípico tão forte, que gente precisa de uma imagem, que vale mil
é claro que tenho uma consciência do papel pedia um livro. Senti que eu tinha que fa- palavras... Creio que, entre os infinitos tipos
que ele desempenha, da importância dele. zer, senão outra pessoa ia acabar fazendo. de escritores, há dois que me vêm à mente:
Alice e Ulisses, especificamente, surgiu Foi um insight. Levei cinco anos fazendo. um escritor como Guimarães Rosa, que es-
num momento em que eu estava na França. Inicialmente, ele tinha 250 páginas e era tava sempre acrescentando coisas em seus
E, em francês, eles rimam ainda muito mais narrado em primeira pessoa, pela mulher. originais, a tal ponto que o seu editor uma
do que em português: é “Alice et Ulisse”. Aí, achei que, por ser o primeiro romance bela hora lhe dizia: “Chega!”; e há autores
Então, eu parei e pensei: meu Deus do céu, de uma escritora mulher, todo mundo ia como Graciliano Ramos que, diante de seus

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6 ENTREVISTA

“Aprendi que tem coisas que você


não precisa responder, não tem
que responder e, se não quiser, não
responde. Por exemplo, quanto você

ARQUIVO PESSOAL
ganha, com quem você dorme, qual é
a sua doença, onde operou...”
originais, a cada vez que se defrontava com to, contraste, harmonia e desarmonia. a aparência daquela história, e descobri que
eles, retirava alguma coisa. Então, acho que a Em Era uma vez um tirano, por exemplo, era um espaço de liberdade extraordinário,
minha maneira de escrever, não o meu estilo, chega a ser o tema central. Por que você e me permiti fazer uma experiência lin-
mas a minha forma de ir cortando, editando, o escreveu e como ele chegou ao Berliner guística que para mim foi um desafio, a
é do Graciliano. No momento em que estou Ensemble (o teatro de Bertolt Brecht), onde possibilidade de trabalhar com linguagem
escrevendo, não me preocupo com isso, não ocorreram leituras dramatizadas do texto? coloquial, oralizante, familiar, brasileira, de
me policio. Depois, corto. No caso de Alice e Este é um livro infantil e já estava traduzido criar uma obra cheia de sentidos, poética,
Ulisses, eu realmente queria muito chegar ao para o alemão. No ano em que houve es- humorística, ambígua, divertida, pluris-
sumo. É diferente de meu segundo romance, sas leituras dramáticas, o Brasil estava sendo sêmica. Esse desafio foi fascinante. Senti as-
por exemplo, Tropical sol da liberdade, em homenageado em Frankfurt. Eu quis fazer sim pegando o bastão do Manuel Bandeira,
que eu não tinha essa necessidade, porque num momento em que a Ruth Rocha, que é aquele negócio da língua errada do povo, a
tinha muitas ações paralelas, além de uma uma grande amiga, além de minha cunhada, língua certa do povo, a língua gostosa do
mistura de gêneros – tem uma parte que é havia escrito quatro obras chamadas A te- povo. Vamos fazer uma coisa gostosa com
carta, uma que é peça de teatro, outra que é tralogia dos reis [O reizinho mandão, O rei isso, com diálogos como as pessoas falam.
diário... Agora, Alice e Ulisses é linear, tinha que não sabia de nada, O amigo do rei, Sapo Então, a literatura infantil me deu essa pos-
que ser uma novela, então, tudo precisava vira rei, vira sapo (esgotado)]. Isso, durante a sibilidade com a linguagem.
convergir para isso. E ficava uma chatice se ditadura, questionando o autoritarismo; eu
deixasse com 250 páginas! Foi meu primeiro tinha escrito o Bento que bento é o frade, e Você acha equivocado que se trate gran-
romance, então, eu tinha muito medo. ela tinha feito o dos reis. E aí, de repente, já era de parte de sua obra infantil como livros
1980 ou 81, já havia acontecido anistia, e en- didáticos ou paradidáticos, como os que
O romance Uma vontade louca também tão pensei: vamos experimentar dar nome aos tratam do uso correto das letras, dos fo-
trata de um homem e uma mulher que bois... O AI-5 ainda estava em vigor. Resolvi nemas, dos encontros consonantais, dos
discordam diametralmente de pontos de experimentar o que acontecia se a gente, em dígrafos etc? Não são didáticos. Na verdade,
vista em relação à vida. É, mas, engraçado, vez de chamar de rei, chamasse de ditador, ti- para mim, eles não são uma porção de livros:
nesta obra, só por acaso, os personagens rano. Como ditador era sempre usado, tirano são um só publicado em fascículos. São um
são um homem e uma mulher. Podia ser dava o recado direitinho. Era uma questão de único projeto: a série Mico Maneco. Começou
qualquer pessoa. Na minha cabeça, o tema testar isso. Já havia sido suspensa a censura no exílio, quando vi meu filho aprendendo a
verdadeiro do romance é o contraste das prévia, mas ainda havia a censura ao rádio e ler em inglês sem ler em português. Aí, fiquei
visões de mundo: espírito científico e artís- à televisão. Então, era uma maneira de testar preocupada. Foi uma experiência terrível de
tico. Mas acho que ele nasce realmente de um limite. E ele foi muito calcado na situação desenraizamento. Ele falava português, mas
um caso pessoal. Fiz científico, pois me pre- do Chile, mais até que na do Brasil. O nível não sabia escrever. Tive que bolar um sistema
parava para cursar química ou arquitetura. de proibição no Chile era muito maior do que que ensinasse a ler, mas não sabia como. Não
Meu avô era físico e matemático, e sempre aqui. Era o Chile de Pinochet. estudei pedagogia, mas estava me douto-
tive um lado de economista muito marcante, rando em linguística, então, pude formular
sempre lidei muito bem com números, já Como e por que você começou a escrever uma hipótese científica de como poderia se
cheguei a exercer funções nas quais isso era livros infantis? Na verdade foi um convite dar isso. Imaginei que a ordem de aquisição
obrigatório. Então, sempre tive uma atração da revista Recreio. No começo, não entendi daqueles fonemas deveria se dar na mesma
pelas duas visões de mundo, a exata, numéri- muito bem o porquê, mas deu muito certo. ordem em que a gente aprende a falar, que
ca, matemática, e a artística. Uma vontade Quando a história que a Recreio publicava se dá exatamente nos músculos pelos quais
louca traduz bem isso. E a síntese dele, que é era minha ou da Ruth Rocha, a revista ven- aprendemos a mamar: “mã”, “pã”. Então, vie-
quando essas visões divergentes convergem dia 5 vezes mais nas bancas. Se antes ela ram as bilabiais, as explosivas. Fiz famílias de
no carnaval, é também uma experiência vendia 50 mil, quando uma de nós escrevia, sílabas com esses fonemas e criei um jogo. A
bem minha. Passei por anos e anos o car- ela vendia 250 mil. Os leitores nos quise- gente sentava no chão e pegava cartas com
naval em Manguinhos, no Espírito Santo, e ram, por isso, é claro, que o editor queria fonemas e inventava histórias. Eu tinha tra-
essa lembrança fica em mim de forma muito alternar uma história dela e com uma das balhado um pouco com método Paulo Freire
eloquente. É uma festa com uma tradição de minhas, foi nos encomendando e nós fo- e usei com eles as palavras geradoras. Ou seja,
60 anos. Havia muito tempo que eu queria mos fazendo. No começo, eu tinha muita eles trouxeram o universo deles. O que é que
contar essa experiência, essa lembrança. dificuldade, mas depois passou a vir com eles queriam? Cavalo, que é coisa de menino.
muita naturalidade. Então, fui para o exílio Fiquei com isso. E rapidamente vi que, desde
Uma grande preocupação que pode ser e comecei a escrever a história do papagaio a primeira sessão, dava para formar não só
observada em sua obra é a questão da longe de casa num lugar frio. Falava de mim, palavras, mas frases. Então, escrevi o que a
ética, ou das éticas em convívio, confli- falava dos meus filhos, da minha vida, sob gente tinha feito. Fizemos quatro histórias

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7

ARQUIVO PESSOAL

FOLHA PRESS
Ana Maria e seus filhos, no exílio; ao lado da grande amiga e cunhada, a escritora Ruth Rocha; em Paris, com Zuenir Ventura e Fernando Gabeira

diferentes com a mesma sílaba. Depois, parti na favela, chorei ontem com um olhar de capricórnio? É, me disseram que Saturno
para outras, como Uma gota de mágica. No um menino na TV... tinha a ver com capricórnio. Eu comprei
fim, vi que podia escrever livros com essas um kit de fazer mapa astral e nesse livro
histórias. Não acho que devam ser chamados O que a faz rir? Muita coisa também. Devo cada personagem tem o seu próprio mapa
só de didáticos, porque têm toda uma ex- ser muito rica, porque rio à toa. Tenho um natal. Isso não é mostrado na obra, mas sei
ploração como "a lua na taba alumia tudo", ótimo humor. Eu acordo feliz. Agora, quer me que cada um deles tem o seu.
tem preocupação com certos arcaísmos, com ver de péssimo humor, me põe para fazer pa-
ritmos, "Caiu um toco no pé do tatu", é uma lestra às nove da noite. Sinto sono cedo. Não Como você acha que as crianças e os jo-
proposta poética. consigo responder minimamente à plateia. vens estão hoje se relacionando com a lite-
ratura? Bom, você olha na lista dos mais ven-
Você disse que Tropical sol da liberda- Do que você tem medo? De perder a inde- didos e verá sempre Harry Potter, O senhor
de, Um avião e uma viola e O mar nun- pendência. De não ser autônoma, de ter que dos anéis etc. Então, dizer que as crianças e os
ca transborda foram bastante difíceis depender dos outros. Isso seguramente é uma jovens não estão lendo me parece errado...
para escrever. Por quê? O Tropical sol foi das coisas. E tenho medo de abandono na ve-
mexendo com elementos biográficos e de lhice. Acho que as duas coisas até têm a ver. Diga uma frase, um pensamento, uma
pesquisa histórica. Tive que ir para a Bi- reflexão. Bom, vou dizer duas, uma do
blioteca Nacional, ver microfilme, coisas da Que pergunta para você não tem res- Drummond e outra do Galbraith. Este diz
imprensa da época. E não sou historiadora. posta? Olha, aprendi na minha pré-ado- que gostaria de, com o trabalho dele, levar
Um avião e uma viola, levei muitos anos lescência, com a minha família, que tem um pouco de conforto para os aflitos e um
escrevendo, porque é uma brincadeira com coisas que você não precisa responder, não pouco de aflição para os confortados. E o
palavras, ou um poema que não rima no fi- tem que responder e, se não quiser, não res- Drummond diz que este é o segredo e a arte
nal, mas tem uma rima interna no início do ponde. Por exemplo, quanto você ganha, do bem viver: uma fuga relativa, uma não
sintagma. Então, você diz "um avião, uma com quem você dorme, qual é a sua doença, muito estouvada confraternização.
viola", "uma labareda, um malabarista", onde operou... Hoje em dia, se perguntam
“uma lambisgóia, um alambique", "um ma- isso, eu sei que não preciso responder. Uma definição para o conceito de cultu-
fuá, uma fuinha". Deu trabalho para encon- ra? Tem uma observação de que gosto muito;
trar um nível de nonsense, de absurdo, em O que traz alegria para você?Acho que originalmente nem é minha, parte de uma
torno de palavras muito concretas, capaz de a principal coisa é gente que eu gosto, ami- análise etimológica que o Alfredo Bosi faz.
comunicar para uma criança, pois eu não gos, família... Ele lembra que toda ocupação de um espaço
podia usar palavras abstratas. O mar nunca para o plantio, enfim para a "agricultura", é
transborda foi bastante trabalhoso, porque Um elogio inesquecível? Uma vez, uma uma aposta no futuro. Esse "ura" era o par-
teve também uma experiência de pesquisa, repórter mexicana me entrevistou na Colôm- ticípio futuro do latim: "nascituro", aquele que
são cinco séculos de História do Brasil e, em bia e me pediu que autografasse dois livros vai nascer. Então "cultura" é aquilo que vai ser
cada um, uso o sotaque da época. Quando para um escritor, porque eram os melhores colhido. Cultura é aquilo que, plantado, num
saiu, foi realmente um epígono, destoava de que os netos dele liam. Perguntei: quem é o determinado momento, vai construir o fu-
todos os meus demais, mas em seguida es- escritor? Ela disse: Gabriel García Márquez. turo. A cultura tem um olho no futuro. ©
crevi dois outros em que uma parte se passa
no século 19, que foram A audácia dessa O que não tem perdão? Traição, gente que WWW.BLOGDACULTURA.COM.BR
mulher e Palavra de honra. não merece a confiança depositada por nós.
ASSISTA AO VÍDEO, GRAVADO NA ABL,
Qual a palavra mais bonita da língua por- Há alguma coisa que a faça perder a COM TRECHOS EXTRAS DESTA ENTREVISTA
tuguesa para você? Alarido. Não pelo sig- calma, a elegância? Com frequência.
nificado, eu detesto barulho, mas pelo som. Odeio me sentir acuada, não ter para onde
ir, viro bicho e voo no pescoço. DIA 8 DE MARÇO, ANA MARIA MACHADO ESTARÁ
Qual a palavra mais feia? Ignóbil. NA LIVRARIA CULTURA BOURBON POMPÉIA
PARA CONVERSAR COM CRIANÇAS E ADULTOS:
Você é mística, tem religião? Não, mas
O que a faz chorar? Muita coisa, sou uma não desprezo a transcendência. • 15 horas contação de história infantil;
manteiga derretida. Eu choro com jornal, • 16 horas bate-papo em homenagem
ao Dia Internacional da Mulher.
com noticiário na televisão, choro com a E Canteiros de Saturno, esse título não
enchente em Santa Catarina, com tiroteio tem algo a ver com o fato de você ser Mais informações: www.livrariacultura.com.br

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Uma paixão pode envolver um grande segredo
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deu origem O livro alemão mais aclamado desde O Perfume. Michael tem somente 15
anos quando conhece Hanna, uma mulher 21 anos mais velha. É o início de
ao filme uma delicada relação amorosa, marcada por pequenos gestos e rituais ao
longo de meses, subitamente interrompidos pelo desaparecimento de Hanna.
Sete anos depois, Michael, estudante de direito, é convidado a tomar parte em
um julgamento contra criminosos do regime nazista. Ele descobre que uma
das acusadas é sua antiga amante, o que o lança a um vórtice de culpa e
piedade.

A cicatriz de David
Um ato de liberdade
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Durante a Segunda Guerra, um pequeno
questão da Palestina e suas
grupo de judeus estabeleceu uma
conseqüências para dois meninos
comunidade de resistência na Bielo-
separados pela guerra.
Rússia, oferecendo proteção a todos os
fugitivos judeus que conseguissem chegar
lá. O líder dessa comunidade, Tuvia
Bielski, contou sua história a Nechama
Tec duas semanas antes de morrer.

O instinto matemático
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Em sua autobiografia, a autora alterna populizadores da disciplina, nos
lembranças de sua infância pobre com os mostra como podemos aprimorar
primeiros anos de sua vida adulta, nosso conhecimento matemático
quando arranja um emprego e se inato, através de maneiras e
apaixona por um rico judeu de Barcelona. estratégias que podem ser
Os dois se casam, mas o conto de fadas empregadas por pessoas comuns.
não dura para sempre. Uma lição de vida
construída com sofrimento e esperança.

Meu destino é ser onça


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O premiado autor apresenta mais um
R$ 65,00 R$ 52,00 magnífico livro, que reconstitui o que
teria sido o texto original de uma
Sete professores universitários se grande narrativa mitológica da tribo
uniram a sete oficiais da Marinha para tamoio (os tupinambá do Rio de
produzir um relato empolgante das Janeiro).
principais batalhas e campanhas navais
que ajudaram a moldar o mundo.

Leia trechos dos nossos lançamentos em www.primeirocapitulorecord.com.br


10 ESPECIAL

Para gostar de ler... na escola


Encontrar o prazer na leitura depende de estímulos certos na idade certa.
Entenda melhor como funciona a escolha dos títulos indicados para
as crianças e as estratégias de educadores para estimular esse hábito
Denise Mirás
Em tempos como estes, em que a criança é cercada de informações aluno à leitura, se dá o contrário. Dependendo do professor, a criança
e apelos dos mais diversos meios de comunicação, a formação do sai de lá odiando isso.” Silvia observa que, na infância, normalmente
hábito de ler exige cada vez mais dos professores a aplicação de a criança gosta muito de ir a livrarias e feiras, atraída pelos livros com
estratégias que despertem o gosto pelos livros, de forma que ele se muitas imagens, coloridos. Mas, com o tempo, pode deixar de gostar.
mantenha por toda a vida – na verdade, pelo estímulo da imagi- Como driblar essa situação? “É preciso criar estratégias diferentes em
nação, driblando argumento dos adolescentes de que é “chato”. E, vez de impor. Por que todos têm de ler determinada obra? Podemos
se a família tem papel fundamental nesta tarefa, a batalha dos res- selecionar dez, de estilos diferentes, e dar chance ao aluno de escolher
ponsáveis pelo ensino de literatura nas escolas é diária – e é dura. um. Depois, cada um pode ‘apresentar’ o que leu de forma criativa,
Ainda mais no caso do trato com jovens que se agitam em grupos, seja por slides, imagens, dramatização, trocando experiências e se mo-
conectados à internet, que se preparam para o vestibular recla- tivando por outros estilos.” Para Silvia, há ferramentas mais recentes a
mando dos clássicos, da linguagem “difícil” e dos longos trechos serem utilizadas. “A internet motiva a ler mais sobre todos os assuntos
descritivos que escapam à sua realidade. em diferentes formatos. Podemos pensar em um mix: as crianças leem
Mas, se essa luta exige um arsenal de táticas pedagógicas, que inclui e depois criam blogs para discutir aspectos das obras.”
discussão de obras em blogs, por exemplo, existem soluções criativas e Não existe imposição de livros pelo Ministério da Educação, ou por
baratas que também estão ajudando a formar e manter leitores, daque- uma Secretaria Estadual como a de São Paulo. Existem, sim, os PCNs
les que carregam os livros para cima e para baixo e não largam as “via- (Parâmetros Curriculares Nacionais), com orientações à formação do
gens da imaginação” nem em viagens reais, durante as férias. leitor, do ensino fundamental ao médio, “menos sistemática e mais
Silvia Fichmann, pedagoga com especialização em tecnologias da co- como ajuda do ponto de vista das escolhas”, “privilegiando a base da
ORLANDO

municação aplicadas à educação, trabalha na Escola do Futuro, da USP, literatura brasileira – não só de tradição literária, mas também as con-
e vai direto ao ponto: “Muitas vezes, em vez de a escola estimular o temporâneas significativas” e mesmo de outras nacionalidades.

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11

Para Silvia, que coordena o Linca (Laboratório de Investigação de Quem conta é Stael Martinez de Camargo, modista que, aos 75
Novos Cenários de Aprendizagem), na Escola do Futuro, é pos- anos, segue firme nas leituras desde que aprendeu a ler na cartilha,
sível motivar a leitura trabalhando com criatividade. Os gêneros aos 6 anos de idade, em um grupo escolar no bairro paulistano do
contam, sim, para a criança ou o adolescente ser motivado. Conta Ipiranga, nos anos 1940, nos passos da mãe, Cândida Árias Marti-
também a adequação à idade e à personalidade da criança. “O se- nez. O pai, Ángel Martinez Marques, tinha um bar e, para sorte da
gredo é o equilíbrio”, diz Silvia. filha Stael, deixava o Chico Jornaleiro guardar ali seus jornais, revis-
tas e gibis. Em troca, tinha permissão para ler tudo: revistas, gibis,
CLÁSSICOS: A FUVEST MANDA Capitão América, Mandrake, almanaques de fim de ano.... “Não
Assim, as decisões cabem a cada escola – e, em última instância, a havia banca. O jornaleiro vendia na rua, no máximo em cima de
cada professor. Seguindo o interesse da maioria (escola, pais e alu- caixote. Subia nos estribos dos bondes abertos e ali, pendurado, ia
nos), no entanto, muito da literatura que se estuda, especialmente vendendo. Às vezes, minha mãe cismava que gibi ‘dava mau exem-
no último ano do ensino médio, visa à aprovação no vestibular. As- plo’, mas eu lia. Atrás da porta da cozinha, escondido.” Ao lado do
sim, na prática, a escolha de obras passa, quase obrigatoriamente, bar, a madrinha Giacomina tinha um bazar, onde vendia de xícaras
pela lista da Fuvest/Unicamp. a livros. “Eu pedia de joelhos para ler as revistas de romance água
Fábio Zapata Moreno, professor de português e literatura do Colé- com açúcar. Para mim, ler as aventuras era como estar vivendo
gio Santa Maria, em São Paulo, é sincero: “Não dá para fugir da uma vida diferente da minha.”
Fuvest porque há cobrança nesse sentido – dos pais, da escola e Stael foi estudar Educação Doméstica e continuou atrás de livros
dos próprios alunos. Os livros são intercalados com outros, mas na biblioteca do colégio – leu a vida de todos os santos, um por
são títulos que merecem ser lidos. Clássicos que carregam o ima- um. E o proibidíssimo Gina. Por conta de algumas obras, até le-
ginário de toda uma cultura, que dão respaldo para a vida”. vou surra... Na escola das 8h às 17h30, estudava todas as matérias,
A cada aula, Fábio procura mostrar o que há de interessante no além de polidez, costura, bordado, cozinha. Na aula de bordado, as
que está sendo lido pela classe, de forma que o aluno fique curioso, meninas se revezavam a cada dia para ler capítulos em voz alta, en-
que fale de surpresas e dúvidas. “Digo que também achava ‘chato’, quanto as outras trabalhavam. Jamais títulos de Monteiro Lobato,
quando era adolescente... Para eles, ler O ateneu, de Raul Pompeia, “comunista”... Em História do mundo para crianças (esgotado), o
é ‘um absurdo’. Querem ‘morrer’ quando se fala de A cidade e as autor explicava a origem da Terra, da vida, dos dinossauros. Nada
serras, de Eça de Queirós... Mas não tem negociação.” de Adão e Eva no Paraíso. “Não se podia nem falar dos livros dele,
Em 2008, seu segundo ano do ensino médio leu Budapeste, de Chico todos proibidos, sob pena de ir para o castigo.” Stael leu todos!
Buarque; Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco; Iracema, de
José de Alencar; Memórias de um sargento de milícias, de Manuel NOS PASSOS DA MÃE
Antônio de Almeida; Dom Casmurro, de Machado de Assis; O cor- Décadas depois, outra garota, Ingrid Biesemeyer-Bellinghausen,
tiço, de Aluísio Azevedo; e Niketche – Uma história de poligamia, vivia querendo ir até a única livraria do centro de São Bernardo
da moçambicana Paulina Chiziane. Agora, em 2009, os alunos do do Campo (SP). Como a pequena Stael, também acompanhava o
terceiro ano vão ler Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago; O úl- gosto da mãe. “O objeto ‘livro’ me atraía. Eu ficava pensando: que
timo vôo do flamingo, do moçambicano Mia Couto; Vidas secas, de será que tem lá dentro?” Ingrid lia um atrás do outro. Também
Graciliano Ramos; Capitães de areia, de Jorge Amado; Nova antolo- desenhava e se formou em artes plásticas. Quando ficou grávida de
gia poética, de Vinicius de Moraes; e Sagarana, de Guimarães Rosa. Michelle, passou a desenhar pensando em um mundo melhor para
A lista da Fuvest 2009 traz: Memórias de um sargento de milícias, criar os filhos... Por insistência de amigos, levou colagens e uma
Iracema, Vidas secas, Sagarana, Dom Casmurro e ainda Auto da
barca do inferno, de Gil Vicente, A cidade e as serras, A rosa do
povo, de Carlos Drummond de Andrade e Poemas completos, de
Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa).
Como o professor Fábio, José Ruy Lozano, professor de literatura e
redação do Colégio Santo Américo, em São Paulo, critica os resu-
mos mastigados de cursinhos, por conta da “indústria do vestibu-
lar”, também espalhados pela internet. O professor procura mes-
clar autores de língua portuguesa com obras de escritores como
o alemão Goethe, por exemplo (adota O sofrimento do jovem
Werther, marco do início do Romantismo, para ser lido antes de
Iracema). “O colégio procura variar, para criar o gosto pela leitura.
Adotamos clássicos luso-brasileiros e de outras culturas. Mas tam-
bém é preciso mediação, ler com o aluno – e não ‘para’ ele” – na
sala de aula, para que sejam identificados pensamentos subenten-
didos, a riqueza do texto, para que o livro passe de ‘chato’ a ‘interes-
sante’. Tratamos também de temas mais atuais – como Crônica de
uma morte anunciada, de Gabriel García Márquez, que discorre
sobre violência e mandonismo político”, diz Lozano.

QUANDO GINA ERA UM ESCÂNDALO


Maria José Dupré, ou Sra. Leandro Dupré como assinava seus livros, di-
vidiu a vida de Gina (esgotado) em três fases no livro homônimo. Com
fama de “devassa”, a personagem era proibida para moças “de família”,
mas nada segurava garotas apaixonadas por literatura... e curiosas.

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12 ESPECIAL

historinha para a editora DCL em 1998. Foi com O mundinho que poderá “pular”, como sequências descritivas de As aventuras de
iniciou sua carreira de autora de obras infantis – escritora e ilustra- Tom Sawyer, de Mark Twain, ou partes muito filosóficas do Fran-
dora com mais de 30 títulos publicados, entre eles Um mundinho kenstein, de Mary Shelley, sempre explicando os porquês.”
para todos (esgotado), com caracteres também em braile. É preciso criar situações em torno da obra, fazê-la significativa para
“É um conjunto de coisas que envolve a criança que irá despertar os alunos, e não apenas algo que “vai cair na prova”. “Certamente é
os pequeninhos que começam a ser alfabetizados. Nesta idade, é trabalhoso para o professor procurar diferentes versões e linguagens...
muito importante imagens convidativas – e as histórias precisam Exige tempo, repertório, infraestrutura na escola.” E que o professor
encantar. O Nicholas (seu segundo filho, que está com 4 anos), esteja motivado e informado. Se não existe mais sentido em proibir li-
quando vai dormir, quer que eu leia para ele. E não pode ser ‘só’ vros por serem “mais picantes”, como se dizia, por exemplo, de A carne,
um capítulo; ele já quer ler tudo. A Michelle, com 10 anos, parece de Júlio Ribeiro, Lena lembra da reação negativa recente a O estranho
que já pegou gosto. Anda lendo livros mais grossos, até juvenis.” caso do cachorro morto, de Mark Haddon, por causa de “palavrões”,
com pais fazendo queixa formal contra a professora, e a direção da es-
MUITO ALÉM DO “CAIR NA PROVA” cola e alguns professores considerando a obra inadequada, sem que
Maria Helena Costa, professora de língua portuguesa do ensino ninguém argumentasse quanto a qualidade literária.
fundamental na Escola Nossa Senhora das Graças (o “Gracinha”),
em São Paulo, trabalha com formação de professores e também CRIATIVIDADE E MOTIVAÇÃO
fala do ambiente familiar como fundamental na formação do leitor. Um exemplo de trabalho bem simples e criativo, que está levando
“Muitos alunos leem apenas porque a escola exige. Há concorrên- crianças pequenas à leitura, é citado por Maria Aparecida Cheruti
cia com computador, internet, jogos eletrônicos e até celular. Mas, Frare, que, em Catanduva (SP), dirige uma das Regionais de Ensino
para a formação do leitor, é fundamental ter livros e leitores em da Secretaria Estadual de Educação. Começou na Escola Antônio
casa, que possibilitem à criança criar uma cultura de leitura.” Maximiano Rodrigues, em que cada aluno recebia uma cartolina,
Lena Costa, autora de obras didáticas de língua portuguesa (com com seu nome e a carinha de uma centopéia. A cada livrinho lido
Ana Paula Torres, orientadora pedagógica no Gracinha, recebeu o e fichado, a criança ganhava uma parte do corpo da centopéia para
Prêmio Jabuti em 1998 pela coleção “Tantas palavras”), explica que colar na cartolina. A história se espalhou por 15 municípios.
parte da estratégia para tornar os livros mais “palatáveis” para de- “Inicialmente, se pensou que cada aluno leria 10, 15 livros, mas
terminadas idades passa pelas diversas edições de uma obra: texto teve criança que leu mais de 200. Elas foram para as bibliotecas
integral, adaptado, edição renovada, obra original. e, lá, colocamos cartazes sugerindo mais títulos, descrevendo seus
Para Lena, é importante que a criança já entre em contato com obras temas. À medida que lê e gosta, vai entrando em vários mundos
clássicas, em textos adaptados, como As aventuras de Pinóquio (es- e tem prazer, a criança quer mais”, diz a dirigente. “A ideia é que
gotado), de Carlo Collodi, com tradução de Marina Colasanti, que se mostre o ideal, mas que eles mesmos também selecionem suas
costuma colocar na lista de férias do sétimo ano. “É o texto inte- leituras, de forma a não abandonar os livros.”
gral, sim, mas adaptado.” E por que, então, não dar apenas títulos O ensino público ainda está engatinhando com relação a for-
que já são escritos originalmente para tal idade? “Além desses, ao mas de motivação, mas há algum andamento. A Escola Estadual
trabalharmos com clássicos, por exemplo, com linguagem adapta- Fernão Dias Paes, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, dis-
da, temos um ganho pedagógico. É enriquecedor para a criança ter tribuirá para cada aluno, por iniciativa da Secretaria de Educação,
contato com as mais variadas versões, mesmo com um original em kits contendo três clássicos, “que alguns alunos gostam e outros
dois volumes com 500 páginas cada um! O professor pode mostrar detestam”, como observa Maria Regina Cortez, coordenadora do
para a criança, para ela pegar, ver. E ela pode comparar com o que colégio. Se não existe obrigatoriedade de os professores adotarem
está lendo, ver o filme, se for o caso, ser levada a comparar as duas estas obras, existe o costume, pela lista do vestibular. De qualquer
linguagens. Isso é muito positivo. Quando se tornar adulta, não maneira, o professor trabalhará de forma a desenvolver o inte-
terá problemas para ler aquela obra, por exemplo, no original. Pelo resse dos alunos, “o que não significa que todos irão adorar”,
contrário: vai querer fazer isso.” como diz Regina. “Mas explicamos que para não gostar é pre-
Das estratégias, Lena também cita a leitura compartilhada na sala ciso, antes, conhecer... O adolescente pode até ‘escapar’, por um
ORLANDO

de aula, de forma que o aluno saiba a quê dar mais atenção, o que período, da leitura, mas, se tiver sido levado a gostar de ler desde
anotar. Assim, é possível, também, assinalar trechos que a criança pequeno, certamente voltará para os livros.” ©

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13

Depoimentos

Dois estudantes do 7º ano contam as sensações que têm com a experiência da leitura
dentro e fora da escola. Um deles adora, o outro, mais ou menos. Acompanhe.

Ler é bom Livros para aprender


“Eu gosto de ler porque é bom. Deixa eu pensar um pouco... “Não gosto nem desgosto de ler. Se eu entender o livro, aí
Quando começo, entro em uma história; começo a imaginar e gosto. Os últimos que a escola pediu para ler foram Ilíada e
viver nela. É como um filme, só que usando o livro e a imaginação. A odisséia. Achei os dois meio chatos, com muitas palavras
Gosto mais de aventura e terror, obras que têm ação. Minha difíceis. Se a história for legal e tiver palavra difícil, tudo bem, é
série preferida é a de terror Goosebumps. São crianças de 12, até bom para aprender novas palavras. Mas, se a história não
13, 14 anos, que têm uma vida normal, mas aí viajam e vivem for muito legal e tiver palavra difícil, você se desprende dela,
experiências inesperadas, encontram coisas bem diferentes, perde o interesse. Tenho muitos amigos que pegaram birra de
monstros... Já li vários, que foram comprados ou que pedi leitura. Não peguei porque, quando era menor, me divertia com
emprestados. Também gosto muito do Harry Potter. Não vai títulos cheios de desenhos. Pode ser legal se for o livro certo. O
ter mais, mas tem outro personagem (Os contos de Beedle, professor de português é que manda ler para a gente aprender
o bardo), e eu ainda tenho dois para ler. Acabei o número 5. mais sobre o assunto que está estudando. A escola não dá
Também gosto do Tintin. O último livro que lemos na escola no obra legal, dá livro para a gente aprender. O mais legal que já
ano passado foi A invenção de Hugo Cabret. Começa com um li foi O guia do mochileiro das galáxias. Meu irmão tinha lido
menino pobre que tem um pai que é bom de consertar coisas. e resolvi ler. Adorei, a história era muito maluca, do jeito que eu
Tinha uma máquina, que projetava imagens, só que o menino gosto. O mais chato foi O menino do dedo verde. Entre A Ilíada
não sabia. E o pai morre antes de ele saber, no meio da história. e A Odisséia, preferi a Ilíada, pois falava de guerra. Mas eu sei
Mas ele descobre que é uma máquina de projetar filmes. Foi um que estes livros são importantes para aprender. Se pensar no
dos que mais gostei. Na escola, depois que a gente lê, a gente que aprendo com a literatura que a escola recomenda e no que
conversa, faz comentários sobre o que mais gostou. Depois, tem aprendo com os que pego, como O guia e Harry Potter, os da
meio que uma prova, oral ou por escrito.” escola dão de um milhão a zero.”

Éric Yves Wuilleumier, 12 anos, 7º ano do ensino fundamental Lourenço Costa Biselli, 11 anos, 7º ano do ensino fundamental

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14 MINHA LISTA – CDS

Suave, mas potente

NICO OVED/WWW.NICOOVED.COM
O caso de amor entre Claudia Assef e o som das pistas de
dança nasceu na época da disco music. Rendendo-se aos
beats da música eletrônica, apaixonou-se logo de cara pela
acid house. Quando deu por si, já estava entregue ao ofício
de DJ de corpo e alma – é residente do Vegas Club, em São
Paulo, onde toca um sábado por mês. Como jornalista,
trabalhou na extinta Showbizz, na Bravo, no Correio
Braziliense e na Beatz, além dos cinco anos dedicados ao
jornal Folha de S. Paulo – também como correspondente
em Paris. Atualmente, é editora executiva do site Virgula.
Seu livro Todo DJ já sambou, homônimo do blog que
alimenta semanalmente, foi relançado em 2008 com
novas fotos e atualizações sobre a história da profissão, a
cultura clubber, a cena eletrônica e o consumo de música,
que mudou muito nos últimos cinco anos. Claudia, que
atualmente colabora com diversos veículos e manda ver
em house e disco music nas pick-ups, apresenta a evolução
da cena eletrônica no mundo CD a CD.

WWW.LIVRARIACULTURA.COM.BR

ASSISTA AO VÍDEO DE CLAUDIA ASSEF COMENTANDO SOBRE


SEU TRABALHO NA PÁGINA DO LIVRO TODO DJ JÁ SAMBOU

AMPLIFIED HEART SPEAK & SPELL


(esgotado), Everything But The Girl (esgotado), Depeche Mode
“A voz aveludada de Tracey Thorn e “Este foi o primeiro álbum deste grupo
as batidas certeiras de Ben Watt aju- inglês que se tornou sinônimo de música
daram a formar a harmonia perfeita do eletrônica pop. Logo de cara, tem 'I Just
grupo. Neste disco, apesar de momen- Can't Get Enough', que atravessa décadas
tos tristonhos, há a perfeita 'Missing', faixa cheia de frescor e modernidade.”
que ensina que os tristes também dançam.”
THE BEST OF GIORGIO
DIG YOUR OWN HOLE, (esgotado), Giorgio Moroder
(esgotado), The Chemical Brothers “Se a música eletrônica de pista tem um pai,
“Segundo disco desta dupla inglesa que ba- ele é bigodudo e atende pelo nome de Gior-
gunçou o coreto da cena eletrônica, mistu- gio Moroder. Produtor musical que tem uma
rando referências orientais e rock, criando vasta lista de sucessos no currículo, Moroder
um novo gênero, o big beat, na década de foi o cara que levou timbres eletrônicos às
1990. Estão aqui faixas clássicas como 'Set- paradas de sucesso. Essencial. Básico. Precisa ter!”
ting Sun' e 'Block Rocking Beats'. Porém, Dig Your Own Hole vale
uma investigação completa, bem além dos hits.” COMPUTER WORLD,
Kraftwerk
INTO THE DRAGON “Sensacional, não dá para entender de ele-
(esgotado), Bomb The Bass trônico sem ter ouvido. Ouvi pela primeira
“Tim Simenon é o nome à frente deste pro- vez em 1986. Nessa época, o álbum tinha sido
jeto que levou a acid house ao mundo todo. lançado havia já uns cinco anos. Para mim, foi
DIVULGAÇÃO

Dançante, inteligente, com grooves emo- como se um ET descesse à Terra e tocasse suas
cionantes, este CD traz 'Beat Dis', um dos músicas favoritas. Básico para entrar neste mundo é ter, no mínimo,
maiores clássicos até hoje.” um dos discos deste grupo alemão.” ©

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16 PERFIL

TIME & LIFE PICTURES/GETTY IMAGES

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Deus e Darwin
no debate da origem
“Não me parece haver qualquer incompatibilidade entre a aceitação
da teoria evolucionista e a crença em Deus”, declarou o autor de
A origem das espécies, lançado há 150 anos. Em pleno século 21,
porém, o embate entre ciência e religião parece longe do fim
Luciana Christante
2009 é um ano de festa para o mundo da biolo- livro Charles Darwin - Em um futuro não OBSCURANTISMO X IMORALIDADE
gia e o mote da celebração é duplo: os 150 anos tão distante, lançado em fevereiro em meio Se para os evolucionistas a doutrina da cria-
da publicação de A origem das espécies e o bi- às comemorações brasileiras. ção divina é fruto da ignorância e ameaça
centenário do nascimento de seu autor, o natu- Um século e meio depois, as ciências da vida o mundo com uma sombra de obscuran-
ralista inglês Charles Darwin. Não é preciso são uma área do conhecimento tão vasta tismo e intolerância, para os criacionistas,
ter lido o livro (de fato, poucos o fizeram) para quanto exuberante e poderosa. Da ecologia o darwinismo se associa ao materialismo e
saber do que e de quem estamos falando. Dar- à genética, da paleontologia à medicina, da está levando a sociedade ao colapso moral.
win é um daqueles ícones da história da ciên- célula ao comportamento, a teoria evolucio- Em artigo publicado na revista americana
cia, como Galileu e Einstein, cujo legado per- nista é o paradigma comum que lubrifica as Forbes (5/02/2009), Ken Ham, fundador do
meia a cultura universal. A teoria da evolução engrenagens da razão científica. Ao mesmo Museu da Criação em Petersburg, no estado
foi um ponto de inflexão do pensamento oci- tempo, o pensamento criacionista continua do Kentucky (E.U.A.), cita em sua defesa
dental, para além de suas fronteiras científicas bem vivo. E mais: recrudescido e reivindi- um vídeo deixado na internet pelo atirador
ou filosóficas. Ao questionar a origem da vida cando maior espaço na sociedade. Eviden- de 18 anos que matou oito estudantes numa
e a supremacia humana, a revolução darwinia- temente, seus representantes se recusam a escola da Finlândia, em 2007: “Eu, como um
na foi também subjetiva e abriu feridas que participar da festa darwiniana e protestam selecionador natural, vou eliminar todos os
ainda hoje custam a cicatrizar. do lado de fora. Motivados pela fé religiosa, que eu vir despreparados, desgraças da raça
“É como confessar um assassinato”, escreveu eles rejeitam vigorosamente a ideia de que humana e erros da seleção natural. Sou ape-
o naturalista a um colega, 15 anos antes da a origem e a evolução da vida são alheias a nas um animal, um humano, um indivíduo,
publicação de A origem, sobre sua convicção uma intenção divina. A tensão cresce quando um dissidente. É hora de colocar a seleção
de que os seres vivos não eram imutáveis, de o criacionismo se projeta para os domínios natural e a sobrevivência do mais apto de
que eles haviam evoluído gradualmente a da educação básica. No ano passado, a in- volta nos trilhos”. Ham afirma que “o aluno
partir de um mesmo ancestral, pressionados trodução do tema nas aulas de ciências em estava apenas pondo em prática o que lhe
por forças naturais – e não sobrenaturais. duas escolas privadas confessionais de São fora ensinado na escola sobre suas origens e
“Ele estava ciente de que suas ideias afronta- Paulo ganhou as páginas de jornais e revis- a falta de propósito e sentido da vida”.
vam a noção criacionista, em que o homem tas. Mas o assunto vem incomodando cien- Segundo o sociólogo e filósofo Maurício
era um ser diferenciado, criado à imagem tistas e educadores brasileiros desde 2004, Vieira Martins, do Departamento de Ciên-
e semelhança de Deus. Mesmo no meio quando a ex-governadora do Rio, Rosinha cias Sociais da Universidade Federal Flu-
científico da época, a adesão não foi unâ- Garotinho, francamente evangélica e cria- minense (UFF), a escalada criacionista ob-
REPRODUÇÃO

nime”, diz Maria Isabel Landim, bióloga do cionista, implementou, sem muito sucesso, servada nos últimos 20 anos tem relações
Museu de Zoologia da Universidade de São o ensino religioso confessional obrigatório com transformações econômicas e sociais
Paulo (USP) e uma das organizadoras do nas escolas públicas do estado. próprias da globalização, que trouxeram

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18 PERFIL

ta. O próprio Darwin, que estudou para ser


pastor anglicano, afirmou numa nota auto-
biográfica: “Quanto aos meus sentimentos
religiosos (...) considero-os um assunto que
a ninguém possa interessar senão a mim
mesmo. Posso adiantar, porém, que não me
parece haver qualquer incompatibilidade
entre a aceitação da teoria evolucionis-
ta e a crença em Deus”. Hoje é possível en-
contrar entre os cientistas não apenas ateus
convictos, mas também religiosos prati-
cantes, afirma Vieira Martins. “Um exemplo
foi o biólogo Theodosius Dobzhansky, pos-
sivelmente um dos evolucionistas mais im-
portantes do século 20, que todas as noites
se ajoelhava e rezava antes de dormir.”
HULTON ARCHIVE/GETTY IMAGES

TIRO NO PÉ
Esta associação equivocada entre darwinis-
mo e ateísmo, que tanto alimenta a in-
dignação dos criacionistas, tem sido um
desserviço prestado por muitos cientistas à
causa da evolução. Enquanto aqueles que,
de alguma forma, compatibilizam suas
crenças com as premissas darwinianas se
calam publicamente – talvez por entende-
rem que essa é uma questão de foro íntimo,
outros, como o britânico Richard Dawkins,
autor de O gene egoísta e Deus - Um delírio,
defendem energicamente o ateísmo por
meio das ideias de Darwin, fazendo parecer
que esta é uma posição unânime no meio
acadêmico. “Não é sua intenção, mas ao
fazer campanha pró-evolução, Dawkins tem
O HOMEM NÃO PASSA DE UM VERME: charge da revista Punch publicado em 1882 estimulado a ascensão do criacionismo (...)
Sua mensagem, repetida de modo simplório
instabilidade, incerteza e desamparo para jas dos Estados Unidos foram as únicas em igrejas, mesquitas e sinagogas, é a de que
uma grande parte da população mundial. instituições que floresceram, não será um ‘a evolução significa ateísmo’, ao que os fiéis
“Por um mecanismo de deslocamento, espanto se os criacionistas elevarem ainda são levados a responder: Bem, não aceita-
fenômenos já existentes, como o individua- mais o tom de voz agora que uma crise do mos o ateísmo, então também não apoia-
lismo, a competição exacerbada e mudan- sistema financeiro mundial se apresenta tão mos a evolução’’’, disse à Folha de S. Paulo
ças drásticas nas regras de convívio moral ou mais grave. A própria ciência observa (08/02/2009) o britânico Denis Alexander,
passam a ser atribuídos à difusão do evolu- que o cérebro humano parece ter inclina- diretor do Instituto Faraday para Ciência e
cionismo, como se a teoria de Darwin fosse ção para a crença no sobrenatural – par- Religião, de Cambridge, que acaba de divul-
em algum nível responsável pelas con- ticularmente em tempos difíceis –, ainda gar resultados de uma pesquisa mostrando
tradições da sociedade atual”, diz. Também que o assunto, por muito tempo conside- que os criacionistas têm levado a melhor
na visão do psicanalista Jorge Forbes, a so- rado tabu nos meios acadêmicos, só tenha junto à opinião pública. 32% dos britâni-
ciedade globalizada é um fator importante começado a ser pesquisado recentemente. cos defendem ou simpatizam com a ideia
para explicar a ascensão desse movimento: Atualmente, uma forte corrente da psicolo- do criacionismo da Terra Jovem, segundo a
“Houve uma pulverização das relações hu- gia evolucionista vê a crença religiosa como qual o mundo foi criado em uma semana há
manas, em que a antiga estrutura vertical um fenômeno adaptativo que, ao favorecer menos de 10 mil anos, numa interpretação
baseada no tripé pai-patrão-pátria dá lu- a coesão do grupo, aumentou as chances de literal do livro de Gênesis. Para 51%, vale
gar a relações horizontais em que o risco sobrevivência de nossos ancestrais, tendo o design inteligente, versão mais sofisticada
é muito maior, uma vez que não existem sido selecionada positivamente no proces- com roupagem pseudocientífica, em que a
mais padrões universais de comportamen- so evolutivo. vida na Terra vem evoluindo ao longo de
to.” Neste mundo plano e incerto, o cria- É claro que religião não é sinônimo de cria- milhões de anos, mas Deus arquitetou e exe-
cionismo oferece um refúgio na culpa, no cionismo – este aparece fortemente asso- cutou todo o processo. Estes números não
conforto do narcisismo, enquanto o evolu- ciado às igrejas pentecostais, que ganharam diferem muito dos observados nos Estados
cionista tem de assumir a responsabilidade força e representatividade nos últimos anos. Unidos e também no Brasil, segundo pes-
frente ao risco, explica. Tampouco o evolucionismo é sinônimo de quisa realizada em 2004 pelo Ibope a pe-
Se na Grande Depressão de 1929 as igre- ateísmo, como faz crer o discurso criacionis- dido da revista Época.

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19

Enquanto o movimento arrebata um viés que, segundo Fischmann, acaba por descrenças não coincidem necessariamente
número cada vez maior de corações e sonegar às crianças e aos adolescentes "o com as que venham a ser ministradas em
mentes, aplacando a angústia que brota da direito aos meios de acesso à ciência", algo escolas públicas, explica. Ainda mais num
ferida narcísica aberta pelo darwinismo na que fere tanto a Constituição como a De- país como o Brasil, que abriga uma grande
psiquê humana, os evolucionistas, por sua claração dos Direitos Humanos. "A escola diversidade religiosa. Ameaçar o caráter
vez, usam as armas que lhe são próprias: privada não pode fazer o que bem enten- laico do ensino de ciências, tanto na escola
a informação, o ensino da ciência e, so- der, ela deve satisfações ao Estado", diz. pública como na particular, não prejudica
bretudo, a divulgação científica – por meio Já na escola pública, a Constituição é clara: apenas a divulgação do progresso científi-
de exposições, debates públicos, livros e de o ensino religioso não pode ser obrigatório co, que é destinado a todos, também sabo-
uma maior penetração nos meios de comu- para os alunos, apenas facultativo – ainda ta a liberdade de cada um de decidir no
nicação, o que, de fato, tem ocorrido cada assim, porém, há riscos. "É muito fácil ha- que crer ou não, bem como a capacidade
vez mais nos últimos anos. Resta saber ver manipulação por pessoas que, embora de tolerar visões diferentes. “Não é possível
quão eficazes podem ser essas ferramentas, bem intencionadas, não percebem o que imaginar que o Estado brasileiro se omita
considerando que a conjuntura econômica estão fazendo e, assim, vão moldando cons- em questões de tamanha importância”,
e social não caminha a seu favor. ciências no sentido oposto às exigências de conclui Fischmann. ©
“O ensino e a divulgação da ciência são autonomia moral, disseminando precon-
aliados preciosos, mas não impedem a ceitos e discriminação", afirma a educa-
proliferação de tendências obscurantistas dora da USP. Preservar o ensino público lai- WWW.LIVRARIACULTURA.COM.BR
quando certas contradições de fundo não co não impede que os alunos tenham uma VEJA NA PÁGINA DO LIVRO
são atacadas, como a desigualdade, a falta vida religiosa, mas protege as escolhas das EM UM FUTURO NÃO TÃO DISTANTE
de perspectivas, o individualismo exacer- famílias e das comunidades, cujas crenças e OS AUTORES FALANDO SOBRE DARWIN
bado”, explica Vieira Martins. Segundo o
sociólogo da UFF, na luta contra a mentali-
dade criacionista, é preciso que os cientis- Vestígios de Darwin nas humanidades
tas, além da atividade de pesquisa e divul-
gação, atuem em favor de transformações Em meados do século 19, o meio literário europeu passava por uma transformação radical.
mais profundas da sociedade. Para Forbes, A visão de mundo centrada no indivíduo, nos amores trágicos e nos ideais utópicos do romantismo
há uma evidente debilidade na argumen- dá lugar à observação objetiva da realidade, principalmente de suas mazelas. Sob a influência do
tação dos evolucionistas. “Eles esquecem positivismo e do progresso técnico e científico, não se podia mais negar a face perversa da Revolução
que a importância da ciência não é apenas Industrial, a impotência do ser humano diante dos poderosos, a falsidade, o egoísmo,
científica”, diz. “Ela tem também uma di- o amor adúltero. Madame Bovary, de Gustave Flaubert, de 1857, é considerada a primeira obra
mensão ética.” Na opinião do psicanalista, da literatura realista, e levou seu autor aos tribunais, acusado de ofensa à moral e à religião.
a falta de uma visão mais ampla do papel A origem das espécies, de Darwin, apareceu dois anos depois, contribuindo para uma
da ciência tem a ver com a pouca fami- radicalização do realismo, a ponto de dar origem a uma nova escola literária: o naturalismo.
liaridade dos pesquisadores das ciências Sob o olhar dos escritores naturalistas, a realidade é aguda e latejante. A situação em que se
empíricas com as ciências humanas. “Seu
encontram os indivíduos é produto da hereditariedade e das condições do meio em que vivem,
discurso reproduz, em espelho, a lógica
sob clara influência da perspectiva darwinista. Vêm à tona temas como a homossexualidade,
dos sistemas de exclusão e os torna, para-
o incesto, a loucura, por meio de personagens atormentados por instintos e desejos que revelam
doxalmente, cúmplices dos criacionistas.”
os traços da natureza animal do homem. O maior expoente do naturalismo europeu, considerado
seu fundador, foi o francês Émile Zola e o Romance experimental, de 1880, tido como o manifesto
QUESTÕES DE ESTADO
literário do movimento. Para escrever sua obra-prima, Germinal, de 1885, o autor passou dois
Com tantas contradições a serem enfren-
meses trabalhando em minas de carvão, sentindo na própria carne as condições desumanas
tadas, o embate promete se prolongar por
de trabalho e moradia. Na literatura brasileira, o marco inicial do naturalismo é O mulato,
muito tempo. A questão do ensino do cria-
de Aluísio Azevedo, de 1881, que denuncia o preconceito racial e a corrupção do clero na
cionismo nas escolas, no entanto, deman-
sociedade maranhense (a rejeição ao livro o levou a mudar-se para o Rio de Janeiro).
da abordagem de curto prazo, sob o risco
Além do darwinismo, o pensamento marxista está muito presente nos romances naturalistas.
de as coisas se complicarem ainda mais
no futuro. Segundo a educadora Roseli Mas também o próprio Karl Marx foi tocado pela teoria evolucionista. Em carta a Engels,
Fischmann, da Faculdade de Educação da o pensador alemão escreveu que A origem das espécies "contém na história natural
USP, é preciso estabelecer um limite claro a base para nossas opiniões sobre a história humana". Acredita-se que Marx quis dedicar
entre ciência e religião dentro da escola. o primeiro volume de O capital a Darwin, homenagem que o naturalista teria recusado.
Ela vê o ensino do criacionismo nas aulas Mas há controvérsias, e alguns historiadores afirmam que o convite nunca foi feito.
de ciências como um equívoco pedagógico Outro que viu na obra do naturalista uma luz para o desenvolvimento de seu trabalho foi Sigmund
muito grave. "A lógica científica é humana Freud. O pai da psicanálise também compreendeu como o evolucionismo, ao equiparar o homem
e falível; a lógica religiosa é a da salvação e aos animais, feriu gravemente a psiquê humana, o que ele chamou de “a segunda ferida narcísica” –
é própria de aulas de religião. O aluno tem e que não seria a última. A terceira foi aberta por ele mesmo no início do século 20, ao trazer
de ser formado para saber distinguir uma a má notícia de que não somos sequer senhores de nós mesmos, pois a consciência é pequena
coisa da outra." As escolas confessionais e frágil quando comparada ao inconsciente. Já a primeira ferida foi obra da teoria heliocêntrica
se defendem, dizendo que é preciso con- de Copérnico, no século 16, que tirou a Terra do centro do Universo. Não é por acaso que as ideias
trastar as duas versões, mas na prática a de todos eles foram tão mal recebidas e ainda são motivo de acalorados debates – com exceção
posição da instituição tende a gerar um de Copérnico, que até pelo tempo transcorrido, é o único que já pode descansar em paz. (L.C)

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“As mães têm mais a ver com as guerras do que
imaginam. É o contrário do que todo mundo pensa.
Não pode haver guerra sem mães.”

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22 REPORTAGEM

Entre letra e luz


Os fotógrafos Maureen Bisilliat, Edu Simões, Evandro Teixeira e Tiago Santana mostram
como a união entre duas linguagens, literatura e fotografia, pode ser complementar.
Eles percorreram os caminhos descritos por alguns dos maiores mestres
das letras não só para ilustrar suas obras, mas para tentar encontrar as equivalências
entre os dois universos, se aproximar do autor e captar suas inspirações
João Correia Filho

A inglesa Maureen Bisilliat adentrou o Brasil por meio de Grande morte – infelizmente é difícil encontrar um exemplar deste título
sertão: veredas. Apaixonada pelo que lera, resolveu captar com mesmo em sebos e bibliotecas. Este foi o primeiro de uma série que
suas lentes o sertão real descrito por João Guimarães Rosa. Isso Maureen fez unindo as duas linguagens, fotografia e literatura, suas
foi no início dos anos 1960, no período em que o escritor era chefe grandes paixões. Em pouco mais de 70 páginas, brotam imagens
do Serviço de Demarcação de Fronteiras do Itamaraty, no Rio de cheias de contrastes, que revelam vaqueiros, boiadas e sertanejos
Janeiro. Sem grandes burocracias, ele recebeu a jovem fotógrafa em meio ao universo mítico e épico descrito pelo autor. Além de
em seu gabinete e a ajudou a traçar o roteiro das primeiras viagens. centenas de anônimos, a fotógrafa registrou também pessoas que
“Eu posso lhe dar o tronco da árvore e depois você viaja e vai pelos viraram personagens das obras de Rosa, como o vaqueiro Manuel
galhos”, teria dito o escritor. O tronco era um roteiro livre, que ela Nardy, que inspirou o escritor a criar o personagem Manuelzão,
foi demarcando com algumas cidades do norte de Minas Gerais. da novela “Uma estória de amor”, da obra Manuelzão e Miguilim.
“Comecei em Cordisburgo, terra natal dele, depois Curvelo, Corin- Guia de uma viagem feita por Rosa pelo sertão mineiro, em 1952,
to, subindo até Januária”, conta Maureen, hoje aos 78 anos. justamente para recolher elementos para suas obras, o vaqueiro
Mais tarde, voltaria ao escritório de Rosa para mostrar-lhe o resul- aparece ainda sem barba, traço que mais tarde seria sua marca regis-
tado de suas andanças. “Cheguei com algumas fotos em tamanho trada. Maureen também apontou suas lentes para João Henrique
de cartão postal, imagens que tinha feito nas primeiras viagens. Ele Ribeiro, o Seu Zito, outro vaqueiro dessa mesma viagem, que foi
pegou as fotos, não falou nada, não disse que estava lindo, nada. O descrito por Rosa em Tutaméia e aparece em A João Guimarães
que fez foi perguntar tudo, nos detalhes: onde havia feito tal foto, Rosa conduzindo gado, aboiando. “Naquela época, nós estávamos
que família era aquela retratada, quem eram aquelas pessoas, como ainda na era das grandes boiadas, portanto, havia os boiadeiros, o
era o lugar, o que estavam fazendo... E foi anotando tudo atrás de universo de Rosa vivia em carne e osso”, diz a fotógrafa, hoje cura-
cada imagem. No final, ficou com as fotos pra ele. Durante nossa dora do Memorial da América Latina.
conversa, ele disse várias vezes que estava com muita saudade de Apaixonada pelo sertão e pela cultura brasileira, registrou mais
sua terra natal, das Gerais. Naquele momento, acredito que ele fez tarde o universo de Euclides da Cunha, lançando, em 1983, Sertão
uma grande viagem pictórica ao sertão”, conta. luz e trevas (esgotado). Em 1984, foi a vez de O cão sem plumas,
O trabalho apreciado pelo escritor deu origem ao livro A João num ensaio inspirado no poema de mesmo título de João Cabral
Guimarães Rosa (esgotado), lançado em 1966, um ano antes de sua de Melo Neto. Mais tarde, em 1996, foi a vez de homenagear Jorge

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23

GRANDE SERTÃO, VEREDAS:


Nesta página, retrato de Manuelzão,
feito por Maureen Bisilliat e publicado no ensaio
A João Guimarães Rosa. Ao lado, foto de Edu Simões
para a coleção Cadernos de Literatura Brasileira

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24 REPORTAGEM

AMADO JORGE:
Nesta foto e à direita,
a Bahia do autor de Gabriela,
pelas lentes de Maureen Bisilliat

Amado, com Bahia amada Amado (esgotado). Ainda visitou fo- de uma vez que perguntaram para o fotógrafo Cristiano Mascaro o
tograficamente o poeta Carlos Drummond de Andrade, a escritora que se devia fazer para ser um grande profissional de sua área e ele
Adélia Prado e o modernista Mario de Andrade, a quem homena- respondeu: ‘vai ler Machado de Assis’ ”.
geou, em 1985, durante a 18ª Bienal Internacional de São Paulo,
com um ensaio fotográfico inspirado em O turista aprendiz. GRACILIANO AO QUADRADO
Hoje, 42 anos depois de seu primeiro lançamento, é tida como O fotojornalista Evandro Teixeira também estabeleceu relação íntima
sinônimo de brasilidade e desta forte relação entre as letras e a com o sertão brasileiro e com as letras. Mas foi bem longe daqui que
prata, referência primordial para qualquer pessoa que se aventure uniu, pela primeira vez, fotografia e literatura em seu trabalho de uma
pela literatura, pelos grotões brasileiros ou pela fotografia. maneira que, embora fuja do tema desta reportagem, merece ser con-
É o caso do paulista Edu Simões, admirador confesso da obra de tada: Evandro foi o único fotógrafo presente no velório do poeta Pablo
Maureen e que, aos 52 anos, possui um dos maiores e mais diver- Neruda. Em 1973, ele trabalhava como fotojornalista em Santiago do
sificados acervos unindo fotos e literatura. Há 12 anos ele é o res- Chile, cobrindo o golpe militar de Augusto Pinochet, quando soube
ponsável pelas imagens que compõem os Cadernos de literatura que Neruda, que estava muito doente, seria transferido sob custó-
brasileira, publicados pelo Instituto Moreira Salles, nos quais re- dia dos militares para a capital do país. Como era amigo de Matilde
trata o universo de cada escritor em dezenas de páginas que levam Urrutia, esposa do escritor, foi uma das primeiras pessoas a saber de sua
o título de “Geografia pessoal”. Entre eles, para não citar todos, morte e uma das primeiras a dirigir-se a Chascona, a casa de Neruda
estão João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Clarice Lispec- na capital chilena, onde o escritor foi velado. Registrou tudo em meio à
tor, João Guimarães Rosa, Millôr Fernandes, Hilda Hilst, Ferreira destruição provocada pelos militares, que tinham invadido a residên-
Gullar e Lygia Fagundes Telles. cia do poeta horas antes. “Eles tinham quebrado tudo. Ficamos lá a
Em seu mais recente trabalho, que retrata a obra de Machado de noite toda, com bastante medo de uma nova invasão, em meio a um
Assis, o que se vê é o Rio de Janeiro de hoje, mas que resgata toda duro golpe militar. Chorei muito nessa ocasião, foi tudo muito emocio-
a atmosfera da época em que viveu o escritor, em imagens repletas nante”, conta Evandro, hoje com 64 anos e quase 50 de carreira.
de referências temporais, sociais, literárias, nítida e incrivelmente Na época, tais imagens rodaram o mundo, mas somente em 2005
machadianas. Locais como o Morro da Conceição, onde nasceu o fotojornalista publicaria a obra Vou viver: tributo a Pablo Neruda
Machado, o Gabinete Português de Leitura e a Ilha Fiscal são parte (esgotado), um relato fotográfico e textual dos últimos dias do poe-
do cenário retratado por Edu e nos trazem o universo irônico e ta, que morreu ao ver a queda do presidente Salvador Allende.
atemporal de um dos maiores nomes da literatura brasileira. Mais tarde, em 1997, inspirado pela leitura de Os sertões, de Eu-
Para a jornalista e crítica Simonetta Persichetti, este casamento clides da Cunha, Evandro volta-se para o interior de seu país e
perfeito não é mera coincidência. “A linguagem fotográfica sem- parte em busca da história oculta de Canudos. “Minha avó era
pre esteve muito próxima da literatura, por sua força narrativa e dessa região e sempre contava histórias relacionadas ao grande
até mesmo por questões históricas. Basta lembrar que quem or- conflito. Eu cresci ouvindo relatos sobre Canudos. Tempos depois,
ganizou a primeira expedição fotográfica da história foi o escritor li Os sertões e algo muito forte ficou marcado em minha memória”,
Gustave Flaubert, no ano de 1851. Ele queria narrar pela fotografia diz o fotógrafo, que nasceu na cidade de Santa Inês, na Bahia.
o que havia escrito em seus textos sobre o Oriente”, explica. A jor- Depois de quatro anos visitando o sertão euclidiano, lança o livro
nalista ainda faz questão de ressaltar a importância da literatura Canudos – 100 anos (não comercializado), que ganhou vários prê-
como forma de aumentar o poder de abstração, algo de grande mios, entre eles o Casa de las Américas, oferecido por esta impor-
importância para um profissional da imagem. “Sempre me lembro tante entidade com sede em Havana, Cuba.

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25

VIDAS SECAS:
Evandro Teixeira
retrata a cadela
Baleia e as mãos
de Sinhá Vitória;
ao centro, Tiago
Santana encontra
Fabiano, personagem
central da trama
de Graciliano Ramos

Em 2008, é convidado pela editora Record a participar de uma


reedição especial em homenagem a Graciliano Ramos. Evandro
retoma sua estratégia de “imersão no mundo das pessoas”, como
ele mesmo gosta de dizer, e parte em busca de sobreviventes das
mazelas descritas pelo escritor alagoano. Um deles foi o vaqueiro
Manuel Rocco, de 102 anos, que trabalhava numa fazenda próxima
a Buíque, onde Graciliano morou durante alguns anos. “Embora
não seja citado em Vidas secas, ele faz parte desse universo repre-
sentado por Fabiano, pela Sinhá Vitória e pela cadela Baleia, um
universo muito rico e, ao mesmo tempo, belo e triste”, completa.
A obra do autor também foi mote para outro fotógrafo, Tiago San-
tana, de uma geração mais nova, mas que também se embrenhou pelo
mundo da literatura e lançou, em 2006, O chão de Graciliano.
Aos 42 anos, Tiago conta que sua relação com a literatura começou
com um convite do jornalista Audálio Dantas (que também assina
os textos do livro) para participar de um projeto do SESC Pompéia,
em São Paulo, em 2003, uma grande exposição sobre o escritor, com
instalações em várias mídias, obras raras, objetos e móveis de época.
“Este ensaio fotográfico, fiz, inicialmente, apenas para compor essa
exposição, que era bem maior, mas acabou tornando-se o início de
um grande mergulho pessoal.”, conta Tiago. A partir daí, dedicou mais
três anos de idas e vindas a várias regiões de Pernambuco e Alagoas, o
que resultou no trabalho que recebeu um dos maiores prêmios da fo-
tografia brasileira, o Conrad Wessel, na categoria Ensaio Fotográfico.

LÍNGUA E LINGUAGEM
Mas afinal, como cada fotógrafo persegue seu universo literário?
Como eles fazem essa ponte entre literatura e fotografia?
A pioneira Maureen Bisilliat diz que seu primeiro passo foi desco-
brir até que ponto João Guimarães Rosa inspirava-se diretamente
nas Gerais, no sertão mineiro, no real. “Nunca tive a intenção de
ilustrar a obra, mas sim de captá-la. Essa relação meramente ilus-
trativa certamente empobreceria o trabalho”, diz a fotógrafa. Ela
explica que, enquanto clicava, praticamente esquecia o livro para
penetrar diretamente no mundo dos sertanejos, traçando o que
chamou de equivalências, “um conceito criado pelo norte-ameri-
cano Alfred Stieglitz, que fala em equivalências entre universos.

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26 REPORTAGEM

Você poderia chamar de interpretações, mas não gosto dessa pala- Para Simonetta Persichetti a opção pelo preto e branco também tem
vra, porque acho que ela se encaixa mais na música e tem um tom suas razões históricas. “O filme em cor surge em 1935 e, antes disso,
de dupla autoria”, completa. você tem quase 100 anos de fotografia em preto e branco”, resume.
Assim como Maureen, os outros três fotógrafos também falam “Tem que saber o que você quer contar. Nesse meu trabalho do Gra-
de um roteiro imaginário, baseado na própria geografia do autor. ciliano, a cor não agregaria muita coisa, não contribuiria para dar a
“Deixo que o escritor me leve aos locais que lembram a atmos- força que eu queria dar. Com o preto e branco, você se liga mais nas
fera de suas obras. Traço um roteiro e saio andando, fotografando, formas, na dramaticidade, na dureza, no mistério, concentra a aten-
num estado de concentração total, de forma que minha fotografia ção nas formas, nas figuras humanas”, completa Tiago Santana.
venha à tona. Se fotografo Machado de Assis, não fico procurando O fotógrafo cearense também afirma ter aprendido muito a partir
a Capitu, o Bentinho, ou fazendo relações muito diretas. Se aqui da literatura de Graciliano. “Aprendi a ser mais sucinto, aprendi
é o Morro da Conceição, onde ele nasceu, então parto para regis- muito com a forma como ele escreve – precisa, sintética, cirúrgica.
trar esse ambiente por meio de minhas imagens”, diz Edu. Ao O que ele podia contar com dez laudas, contava com uma e deixava
contrário de Maureen, ele acredita numa co-autoria. “Quero me espaço para o leitor viajar. Na verdade, a literatura reforçou esse
aproximar do autor, quero ser tão autor quanto ele. Pode parecer caminho, que já vinha perseguindo, de uma fotografia que não
pretensioso, mas é isso que busco, e não ser somente um mostra- diz tudo, que deixa espaço para que você complete a história, que
dor de cenário. Quero que vejam inclusive minha própria história deixe espaço para quem quiser interpretá-la. Afinal, quando lemos
nessas imagens”, diz. algo, o que fazemos? Imaginamos.” ©
Para traçar seus itinerários, durante a realização das fotos para os
Cadernos de literatura brasileira, Edu também contou algumas
vezes com a ajuda dos próprios escritores. “O Carlos Heitor Cony
chegou ao requinte de fazer um roteiro pessoal, dizendo as ruas
que imaginou para seus personagens, os locais”, conta.
Evandro Teixeira e Tiago Santana também seguem a mesma linha.
Tiago, por exemplo, diz que foi direcionado por Infância, de Gra-
ciliano Ramos. “Foi o que mais me guiou, por ter passado meus
tempos de criança no sertão cearense, onde nasci. Muitas pessoas
que encontrava me remetiam aos personagens desse livro e à minha
própria infância”, diz o fotógrafo, que é natural de Crato, no Ceará.
Além da predileção pela literatura e pelo Brasil, Maureen, Edu
Simões, Evandro Teixeira e Tiago Santana também tangenciam a
opção pelas fotografias em preto e branco em detrimento das colo-
ridas, que costumam fazer para outros trabalhos, no jornalismo ou
mesmo na publicidade.
“No caso dos Cadernos de literatura, a opção pelo preto e bran-
co partiu dos próprios editores do Instituto Moreira Salles, o que
acatei imediatamente, pois acho que é uma viagem mais rápida
e direta ao subjetivo. Claro que a foto colorida é tão importante
quanto, mas, para usá-la, a cor precisa ser a grande referência para
o trabalho, o que não era o caso”, explica Evandro.
O fotógrafo afirma que, desde o início, percebeu que também não
caberia fazer o sertão colorido. “Era uma escolha puramente de
linguagem, pois as imagens tinham que ser dramáticas, como é
o próprio lugar”. Uma prova dessa consciência é sua obra sobre o
poeta Pablo Neruda, que traz fotos em preto e branco para retratar MACHADO DE ASSIS:
O Rio de Janeiro
o golpe militar chileno e sua morte, mas na terceira parte do livro,
do escritor, pelo olhar
que traz o Chile atual, as imagens foram feitas em cor – “justa- de Edu Simões
mente para dar esse diferencial temporal”, explica Evandro.

INFÂNCIA:O sertão de Graciliano


inspirou o trabalho de Tiago Santana

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que inclui MÁRCIO GARCIA, GLÓRIA PIRES, HERSON CAPRI,
JOSÉ DE ABREU, CLÁUDIO MAMBERTI, entre outros.
28 LER PARA SER

GENTE QUE FAZ A CULTURA


EM CAMPINAS

Nomes: Antonio Carlos Gomes da Silva e o filho Lucas


Profissões: Empresário e estudante
O que compraram? Revista de vídeo game
Xbox 360°. “Divertimento para todas as horas.”
Cultura é... “Os costumes que as pessoas têm,
o que elas gostam de fazer no seu dia-a-dia.”

MELISSA HAIDAR
Nomes: Fernando e Neuza Rezende
Profissões: Empresário e corretora de seguros
O que compraram? Atração implacável, de
Linda Howard, Calafrios, de Lisa Jackson, e The
Reader, de Bernhard Schlink. “Para nossa leitura.”
Cultura é... “Viver. Tudo que está em torno de nós.
Conhecer sobre outros lugares, as diferenças
entre os povos nos interessa muito.”
Nome: Sheila Zimerman Kibrit
Profissão: Médica
O que comprou? A era das revoluções,
de Eric Hobsbawm. “Vou dar para minha filha,
que gosta muito de História.”
Cultura é... “Para deixar a vida mais fácil.”

Nomes: Adriano Lopes e o filho Lucca


Profissões: Psicólogo e estudante
O que compraram? O vendedor de sonhos,
de Augusto Cury. “É um tema interessante
que tem a ver com meu trabalho.”
Cultura é... “Alimento para a alma.”

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30 CINEMA

O resgate do cineclubismo
Estabelecidos há mais de 80 anos, os conhecidos cineclubes voltam
a fazer parte da realidade cinematográfica do Brasil e reassumem
seu papel principal: formar público para o cinema nacional
Gustavo Jönck
Um espaço para ver filmes raros, saber das periferia para promover oficinas de audio- tre elas a exibição de filmes. O Cesisp tam-
novidades, trocar idéias e fazer amigos. É mais visual e exibição de obras para discussão. bém organiza o Cineclube Baixa Augusta, na
ou menos assim que se caracteriza um cine- A primeira delas foi no bairro do Grajaú, região central de São Paulo. Toda segunda-
clube, conceitualmente definido como uma em parceria com a Secretaria Municipal de feira, exibe produções cinematográficas e
organização de pessoas com o objetivo co- Cultura. “O projeto se propõe a criar salas nas quartas acontece o Chá com Cinema, es-
mum de assistir e discutir obras cinematográ- populares na periferia das grandes cidades pecial para senhoras, retomado neste mês.
ficas. A prática, que existe no Brasil há 80 e no interior, visando a criação de novas Em parceria com o Cesisp, Jonilson Mon-
anos, comemorados em 2008, teve um papel plateias”, explica Diogo Gomes, presidente talvão é outro exemplo dessa retomada. Ele
muito importante na formação dos grandes do Cesisp. Além disso, a entidade realizou, organiza com seus amigos o Cineclube Lu-
cineastas e estudiosos do assunto. Depois de em novembro do ano passado, o 10º Fórum netim Mágico (www.lunetim.blogspot.com),
um período em esquecimento, que durou cer- de Cineclubismo e Audiovisual Comuni- que acontece nesse mesmo espaço. São
ca de 15 anos – desde o fechamento, em 1989, tário, que teve o tema “Democratização jovens que se reúnem todo último sábado
do Conselho Nacional de Cinema (CNC) até dos meios de comunicação: cinema a um do mês para assistir e discutir pelícu-
a sua reabertura em 2004 –, os cineclubes real”, na cidade de Mococa, interior de São las com os diretores. Em algumas oca-
voltaram a florescer nos últimos anos e nova- Paulo. E, dentro deste fórum, ocorreu tam- siões, são os próprios frequentadores que
mente começam a cumprir seu papel de for- bém o Prêmio Luiz Orlando para o melhor exibem suas produções.
mar público de cinema em um país em que curta-metragem. O ganhador foi O fim da
grande parte da população sequer tem a ex- arrogância (esgotado), produção que tam- ITINERANTE
periência de ver películas em salas escuras. bém ganhou o IV Prêmio Cine Favela, or- Há também iniciativas de cinema itinerante
Uma importante iniciativa de inclusão é o ganizado pela entidade do mesmo nome que se aproximam da proposta cineclubis-
Circuito Popular de Cinema, implementado (www.cinefavela.org.br) na Cidade Nova ta. O principal exemplo é o Cine Tela Brasil,
pelo Centro Cineclubista de São Paulo (Ce- Heliópolis, que realiza diversas atividades realizado pela Buriti Filmes, que começou
sisp). O objetivo é criar salas de projeção na culturais para a comunidade do bairro, en- em 1996, com o nome de Cine Mambembe.

Moradores da Vila Brasilândia chegam para exibição


do filme Antônia, em sessão do projeto de cinema
itinerante Cine Tela Brasil, em São Paulo, SP
FERNANDO DONASCI/FOLHA IMAGEM

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31

Para se ter uma


ideia da força

CINEMATECA BRASILEIRA
desta prática, basta
saber que o Festival
de Cinema de
Gramado nasceu
de um cineclube:
o Clube de Cinema
Leopoldo Nunes na inauguração
de Porto Alegre,
do Progradora Brasil, na Cinemateca fundado por Paulo
Brasileira, em 5 de fevereiro de 2007
Fontoura Gastal
A diretora Laís Bodanzky e o roteirista Luiz FORMAÇÃO DE CINEASTAS em 2002, foi essencial para a rearticulação do
Bolognesi, produtores da Buriti, com uma O resgate da prática cineclubística é impor- movimento. “Foi uma das primeiras ações
Saveiro e um gerador elétrico, percorreram 15 tante pelo que ela já fez pelo Brasil. Para se postas em prática pela Secretaria do Audio-
mil quilômetros levando produções brasilei- ter uma ideia da força desta prática, basta visual (SAV) e foi decidida logo depois que
ras a populações que nunca foram ao cinema. saber que o Festival de Cinema de Gramado assumi a Secretaria e Gilberto Gil assumiu o
A aventura deu origem ao documentário Cine nasceu de um cineclube: o Clube de Cinema Ministério da Cultura. O início e o deslanche
Mambembe – O cinema descobre o Brasil, pre- de Porto Alegre, fundado por Paulo Fon- dessa ação foram operados diretamente por
miado pela TV Cultura com o prêmio de Me- toura Gastal. Trata-se do único cineclube Leopoldo Nunes (na época chefe de gabinete
lhor Documentário no Festival Internacional brasileiro ininterruptamente em funcio- da Secretaria do Audiovisual e atual membro
de Documentários de São Paulo. Em 2004, com namento. Além disso, uma boa parcela de do colegiado da Agência Nacional de Cine-
patrocínio, o projeto deixa de ser mambem- estudiosos, cineastas e autoridades do setor ma). Não foram necessárias muitas pesquisas
be e torna-se o Cine Tela Brasil. Hoje, são foram ao cinema pela primeira vez por meio e reuniões, porque o ministro, eu, o Leopoldo
duas salas itinerantes com projetor de 35mm de um cineclube na década de 1960 – o de e toda minha equipe éramos cineclubistas e
e 225 lugares, transportadas em caminhão, Porto Alegre, por exemplo, foi fundamental sabíamos da importância disso para a cultura
oferecendo conforto que supera algumas sa- para a construção do Cinema Novo. “An- audiovisual”, testemunha Senna. Desde en-
las comerciais. A cada semana estão em uma tes, como não existiam escolas de cinema, tão, a SAV e o CNC vêm dialogando para o
cidade diferente, onde ficam estacionados por os cineastas, críticos e teóricos começavam, estímulo ao cineclubismo, o que resultou em
três dias, realizando o total de 12 exibições. invariavelmente, pelos cineclubes. Esta re- dois importantes projetos, o Circuito Brasil e
Em algumas sessões, são oferecidas as Ofici- presentação social foi a base para quem pre- a Programadora Brasil (ver box).
nas Vídeo TelaBrasil, nas quais são ministra- tendia seguir carreira profissional na área”,
das aulas sobre cinema com personalidades diz Diogo Gomes, que foi presidente do UM POUCO DE HISTÓRIA
como o cineasta Cao Hamburger. Já alcança- Conselho Nacional de Cineclubes (CNC) O marco histórico do início desse movimen-
ram um público de mais de 460 mil espec- entre 1984 e 1986. to é o Chaplin Club, no Rio de Janeiro, em
tadores em mais de 200 cidades. O progra- Orlando Senna, cineasta, diretor de uma das 1928. Antes disso, em 1917, também no Rio
ma das sessões pode ser consultado no site grandes produções cinematográficas brasi- de Janeiro, um grupo formado por Adhemar
www.cinetelabrasil.com.br. leiras Iracema - Uma transa amazônica, e Gonzaga, Pedro Lima e Paulo Vanderley, en-
A Livraria Cultura de Recife também or- ex-secretário do Audiovisual do Ministério tre outros, realizava sessões. Porém, segundo
ganiza o seu cineclube. São exibições da Cultura (MinC), também coloca o cine- a pesquisadora e organizadora do Cachaça
temáticas de obras nacionais e estrangei- clubismo como fator decisivo em sua for- Cinema Clube, Débora Butruce, em seu ar-
ras, em que frequentemente são chamados mação profissional. Depois de frequentar tigo “Cineclubismo no Brasil”, publicado na
profissionais da área para um debate com o Cine Rex, no interior da Bahia, e o Cine revista Acervo, é com a fundação do Chaplin
o público sobre a exibição. Um exemplo é Fórum do Colégio Marista, em Salvador, ele Club que se inicia um movimento sistemático
a professora Ana Catarina Galvão, que deu também chegou a participar intensamente de exibição e discussão de filmes. Seus funda-
bastante apoio ao projeto. As sessões, que do Clube de Cinema da Bahia, liderado por dores são Plínio Sussekind Rocha, Otávio de
ocorrem no auditório da loja, têm média Walter da Silveira. “Foi quando decidi que o Faria, Almir Castro e Cláudio Mello, pessoas
de público de 50 pessoas. O interessante é cinema seria a ocupação central de minha de prestígio do meio cultural carioca que le-
que a atividade foi uma iniciativa dos fun- vida. Foi lá que o deslumbramento pelo varam o cineclube tivesse forte repercussão.
cionários. Quem começou foi o colaborador tema se transformou em profissão, e isso dá O Fan, revista oficial publicada durante dois
Luiz Felipe Uchoa, e hoje conta com a orga- uma medida da influência do cineclubismo anos, com nove edições, é estudada até hoje
nização de Carlos Antonio Lima. O sucesso em minha história pessoal”. por pesquisadores. Mas uma grande con-
da atividade vai ser repetido na unidade Este envolvimento do cineclube na vida tribuição foi Limite (não comercializado), de
de Porto Alegre, onde será implantada em das autoridades que compunham o MinC, Mário Peixoto, um dos filmes mais impor-
breve, porém ainda sem data definida. a partir da gestão do ministro Gilberto Gil, tantes da história do nosso cinema.

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32 CINEMA

CINEMATECA BRASILEIRA
Mostra de cinema italiano organizada pela Cinemateca Brasileira,
no final da década de 1950, em São Paulo

Amigo de Plínio Sussekind, Paulo Emílo articulada proposta para a atividade cine- gou a superlotar 158 sessões em um único
Salles Gomes foi um importante nome na clubística, publicando livros, apostilas, pro- mês. Sucesso que motivou o nascimento de
história do cineclubismo. Ele, junto com Décio movendo cursos e formando equipes para outros, como o Elétrico e o Estação Botafogo.
de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado difundir seu modo de organização”. O movimento teve como marco de seu de-
e Antonio Cândido de Mello e Sousa, todos Em 1956, foi criado o Centro dos Cineclubes clínio o fechamento do CNC, em 1989.
alunos do curso de Filosofia da USP, fundou de São Paulo, na sede da Cinemateca, onde Vários fatores colaboraram para a decadên-
o Clube de Cinema de São Paulo em 1940. trabalharia na distribuição de filmes, orga- cia do cineclubismo: o enfraquecimento de
Fechado pelo DIP – Departamento de Infor- nizando mostras e promovendo cursos. movimentos sociais e a perda de referências
mação e Propaganda, órgão criado durante Depois disso, as criações da Federação de políticas decorrentes do fim da ditadura e
a ditadura de Getúlio Vargas –, o cineclube Cineclubes do Rio de Janeiro em 1958, da da queda do muro de Berlim, além da con-
reabre em 1946, após o fim do Estado Novo, Federação de Minas em 1960, e de outras solidação do videocassete. Mais importante,
junto com outros em todo o país. Em 1949, agremiações, possibilitaram maior organiza- contudo, foi o desmantelamento do cinema
une-se ao Museu de Arte Moderna, transfor- ção do movimento, resultando na criação do nacional durante o governo Fernando Collor
mando-se na filmoteca do MAM. Em 1956, Conselho Nacional de Cineclubes, em 1962. de Mello (1990-1992), que teve como mar-
o acervo deixa o museu para formar a Cine- co principal o fechamento da Embrafilme.
mateca Brasileira, talvez o mais importante JORNADA A rearticulação do movimento se dá em
arquivo do cinema nacional. Em 1984, ela se Outro acontecimento para o desenvolvi- 2003, por iniciativa da SAV, com a realiza-
torna órgão do governo federal. mento da prática foi a 8ª Jornada Nacional ção da Jornada de Rearticulação do Movi-
Dentro da história cineclubística, pode-se ci- de Cineclubismo, realizada em 1974, no mento Cineclubista, durante o Festival de
tar a Igreja como um importante agente de Paraná, quando os participantes redigem Brasília. Esta comissão fez um mapeamento
ampliação do movimento. Em 1936, criado a “Carta de Curitiba”, na qual se compro- da atividade no país e organizou a 24ª Jor-
pela Ação Católica Brasileira, teve início o metem com a defesa do cinema brasileiro. nada Nacional de Cineclubes, realizada em
Serviço de Informações Cinematográficas, O documento também previa a criação de novembro de 2004, na qual foi criado um
no qual eram divulgados boletins com as uma distribuidora alternativa de películas novo Conselho Nacional de Cineclubes,
“cotações morais” dos filmes exibidos no para os cineclubes. A partir disso, foi en- mas que teve que trocar de nome, em 2006,
Brasil. Foi tal o exercício da Igreja no meio tão criada a Dinafilme, em 1976, pelo CNC. para Conselho Nacional de Cineclubes
cineclubístico que ela se tornou a maior Uma distribuidora que teve seu funciona- Brasileiros, apesar de continuar utilizando
tendência no movimento no início dos mento prejudicado pelas invasões e apreen- a mesma sigla CNC. Mudança causada por
anos 1960. Foram quase 100 cineclubes sob sões feitas pela ditadura militar. um desentendimento de suas lideranças so-
sua administração. Em 1982, foi fundado o Cineclube Bixiga, bre se o órgão seria ou não uma continui-
Segundo a pesquisadora Débora Butruce, a com Diogo Gomes entre seus criadores. Com dade da organização encerrada em 1989.
Igreja “pode ser considerada uma das úni- muito charme, conquistou grande sucesso Hoje, o CNC tem como presidente Antonio
cas vertentes de perfil claramente ideológi- de público em São Paulo. Com projeção de Claudino de Jesus e a expectativa é que este
co que conseguiu pôr em prática uma 35mm (tecnologia de ponta na época), che- retorno das entidades seja definitivo. ©

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33

Monte um cineclube!
Para quem se animou a montar e organizar seu próprio cineclube em sua sessão, entre outros componentes de administração; além do manuseio dos
comunidade, é possível contar com o apoio de dois projetos do Ministério equipamentos cedidos. Para ser contemplado, o cineclube deve estar localizado
da Cultura: a Programadora Brasil e o Cine+Cultura. A Programadora Brasil em zonas rurais ou na periferia dos grandes centros urbanos, pois são lugares
tem o objetivo de oferecer conteúdo com baixo custo para os cineclubes. que têm menos acesso a exibições audiovisuais. A seleção de contemplados
Ela oferece filmes clássicos e atuais do cinema nacional, além de muitos é feita por meio de editais. O novo edital de seleção foi lançado no dia
documentários, na forma de programas em DVD. Para participar, basta 11 de fevereiro e está disponível no site www.cinemaiscultura.org.br.
se associar pelo site www.programadorabrasil.org.br. Para cada DVD, São várias as entidades que já se beneficiam desses projetos.
é cobrada taxa R$4,00, destinados ao projeto, mais R$6,00 para Na Programadora Brasil, elas vão além dos cineclubes e englobam
os direitos autorais, além do custo de envio do material. Para a exibição universidades, escolas, centros culturais e de apoio à cultura. Já foram
dos programas, é necessário que sejam feitas sessões gratuitas, o que não distribuídos 330 filmes em 130 programas desde fevereiro de 2007.
impede a cobrança de uma taxa de manutenção. A licença para a utilização Até o final de dezembro, eram 672 pontos de exibição audiovisual
dos DVDs dura dois anos. Depois desse período, não é preciso devolver de circuitos não-comerciais associados ao projeto, sendo que 90 deles
o material, mas, para nova exibição pública, é preciso renovar a licença, se denominavam cineclubes. Do total desses associados, metade já havia
efetuando o pagamento mais uma vez. No site, é possível ver também adquirido DVDs. Os locais de projeção estão espalhados por mais
os programas disponíveis para exibição. Complementando o trabalho de 350 municípios nos 27 estados brasileiros, uma conquista interessante
da Programadora Brasil, o Cine+Cultura veio suprir outros dois aspectos: se comparada com as salas de cinema comerciais, presentes em
a parte técnica de equipamento e a capacitação de quem o administra. 450 municípios. Uma crítica que pode ser feita ao projeto é o fato
Cada contemplado do programa recebe um projetor digital, um sistema com de a Programadora disponibilizar seu acervo por meio de programas
4 caixas e uma mesa de som, 2 microfones sem fio, um telão de 3x4 metros, pré-moldados, o que tira a liberdade dos cineclubes de fazer sua própria
1 DVD player e uma câmera digital. O Cine+Cultura também se compromete programação, como explica Diogo Gomes: “Para eles, programar é uma
ainda a enviar 12 programas da Programadora Brasil a cada trimestre, questão de autonomia”. O Cine+Cultura foi uma iniciativa constituída a
e o cineclube se compromete a encaminhar, no final desse período, partir do resgate do projeto Pontos de Difusão pelo programa Mais Cultura
um relatório sobre as sessões durante dois anos. Para a capacitação, são Audiovisual, do MinC. Por sua recente criação, ainda atinge um número de
organizadas oficinas de treinamento dadas pelo CNC. São aulas práticas projetos menor. O próximo edital do Circuito Brasil visa atender 100 futuros
e teóricas constituídas por um pouco de história do cineclubismo e do cineclubes. Segundo Frederico Cardoso, coordenador do Cine+Cultura,
cinema, principalmente nacional; técnicas de como organizar e divulgar uma “pretendemos que sejam pelo menos mais 2000 até o final de 2010”. (GJ)
CINEMATECA BRASILEIRA

Foto de 1942 com personalidades importantes da história do cineclubismo: Antonio Branco Lefrèvre, Alfredo Mesquita,
Décio de Almeida Prado, Antônio Cândido de Mello e Souza, Paulo Emílio Salles Gomes, Lourival Gomes Machado e Roberto Pinto de Souza

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34 MINHA LISTA – DVDS

A DONA DA HOUSE
Durante 17 anos, o jornal Folha de S. Paulo, onde assinava
a coluna “Noite ilustrada”, foi a morada de Erika Palomino.
Criadora do projeto Atitude, do caderno “Moda” e da revista
de mesmo nome, a jornalista hoje atua como consultora de
tendências e tornou-se um dos grandes ícones do circuito
fashion do país. Autora dos livros Babado forte (esgotado) e
A moda, que virou obra de referência entre os universitários
do ramo, inaugurou em 2001 o site Erika Palomino, que,
além de se destacar como um dos veículos mais completos a
falar de moda e comportamento jovem na internet, oferece
uma análise minuciosa das principais semanas fashion
no Brasil e no mundo. Em 2006, o conglomerado House
of Palomino, uma descolada galeria em São Paulo onde
acontecem eventos e exposições, passou a hospedar também
a redação da revista Key. Erika pode ser vista semanalmente
no canal Sony como uma das juradas da versão brasileira do
America’s next top model ou ainda ser ouvida em boletins
diários sobre seu métier na rádio Alpha FM. Ninguém
DIVULGAÇÃO

melhor, portanto, do que ela para listar quais foram os


filmes que fizeram história ou indicaram tendências pelos
figurinos usados por seus astros e estrelas.

CABARET, Bob Fosse NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO,


“O filme da minha vida, com a diva Liza Richard Eyre
Minnelli. Meu look favorito dela é o peignoir “Filme com Cate Blanchett e Judi Dench.
e as unhas verdes.” Excepcional e discreto trabalho de figuri-
no e penteado. Apaixonei-me por Cate ali,
O SHOW DEVE CONTINUAR – para sempre!”
ALL THAT JAZZ, Bob Fosse
“Já deu para perceber que amo Bob Fosse, né? CASA DE AREIA, Andrucha Waddington
As roupas de vasos sanguíneos são históricas.” “O filme foi meio malcompreendido, mas
eu adoro cada fotograma. Produção da
BONEQUINHA DE LUXO, Blake Edwards Conspiração Filmes, figurino da minha
“Não poderia faltar, né? Givenchy na veia e amiga Claudia Kopke, fotografia de um de
Audrey Hepburn, a mulher mais linda do meus ídolos, Della Rosa, e linda direção de
cinema de todos os tempos.” ALTA SOCIEDADE arte de Tulé Peake.”
(esgotado), Charles Walters
“Glamour, glamour, glamour. Dá vontade
DOLLS, Takeshi Kitano de ter nascido Grace Kelly e estar naquele O QUINTO ELEMENTO, Luc Besson
“O filme é meio mala, mas é quase clichê vestido azul que ela usa quando está na “Com Milla Jovovich em momentos his-
mencionar, quando o tópico é figurino, este beira da piscina.” tóricos de Jean Paul Gaultier. A começar
assinado pelo mestre japonês Yohji Yamamo- pelo macacão laranja da heroína e com o
to. Sensacional o trabalho de desconstrução delicioso cabelo da mesma cor!” ©
dos looks, bem ao estilo dele, mas extrema- PROCURA-SE SUSAN DESESPERADAMENTE
mente bem amarrado no contexto.” (esgotado), Susan Seidelman
“Eu megacopiava os looks de Madonna
para ir à escola na época. E acho divertidís-
sima a hora em que Rosanna Arquette co-
pia também no filme.”

PARIS, TEXAS, Wim Wenders


DIVULGAÇÃO

“Nastassja Kinski no vestido vermelho que


é um dos momentos mais icônicos do cine-
ma. Marcou toda uma geração.”

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36 ACONTECE ESPECIAL

ACOMPANHE A PROGRAMAÇÃO PREPARADA PELA CULTURA


EM HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Nascida para brilhar


Ícone da moda e do cinema, por suas roupas impecáveis e sua beleza delicada, a atriz Audrey Hepburn (foto) será tema
da Mostra Elegância. Na palestra Alucinações da moda no cinema – Diálogos sobre estética, a designer Dhora Costa e o
crítico Juan Guillermo Droguett debatem o protagonismo da atriz, após a exibição do filme Quando Paris alucina, história
da uma bela secretária que provoca, graças a seu charme, a transformação de um grande produtor de Hollywood: Wil-
liam Holden se rende aos seus encantos na fascinante Cidade Luz.

Livraria Cultura Market Place – São Paulo. Dia e hora: 7 de março, às 18 horas

Elas por ela Voz às mulheres


A cantora Luciane Desiato empresta sua voz às mais famosas Para o recital Donas do dom, os músicos Eva Gomyde e Carlos
canções da nossa época, interpretadas por grandes damas da Roberto de Oliveira, além de convidarem a percussionista Ro-
música popular brasileira. Com o acompanhamento do músico berta Valente, selecionaram um repertório com composições
Nelson Braga Jr., serão lembradas personalidades marcantes de mulheres, desde Chiquinha Gonzaga às atuais. Com licença
como Maysa, Maria Bethânia, Celly Campello, Rita Lee, Elis Re- para um tema do Chico Buarque e outro de Milton Nascimento,
gina, Marisa Monte e Cássia Eller. que falam sobre o sexo feminino, a dupla comenta entre uma
canção e outra as características de algumas compositoras e
Livraria Cultura Iguatemi – Campinas as marcas que elas deixaram na música brasileira.
Dia e hora: 8 de março, às 18 horas
Livraria Cultura Villa-Lobos – São Paulo
Dia e hora: 8 de março, às 16 horas
Diva da literatura
Relançando oito romances e sete livros de ensaio, a escritora Alto astral
Ana Maria Machado comemora seus 40 anos de carreira
PARAMOUNT PICTURES/COURTESY OF GETTY IMAGES

em um bate-papo entre amigos na palestra Encontro com os A vida e a obra de três grandes mulheres da história serão
leitores. Uma das três mulheres a fazer parte da Academia discutidas na palestra Mulheres na espiritualidade, que reúne
Brasileira de Letras, a ficcionista e ensaísta recebeu o prêmio o filósofo Ricardo Lindemann, a botânica Cilulia Maury e o as-
Machado de Assis em 2001 pelo conjunto de sua obra, além trólogo Oscar Quiroga. Os ensinamentos espirituais deixados
de três Jabutis e um Casa das Letras. O sucesso entre os críti- por Helena Petrovna Blavatsky, Helena Roerich e Alice Bailey,
cos se estende para o público leitor, confirmado pelos mais que fundamentam o novo milênio, serão comentados pelos
de 18,5 mi-lhões de exemplares vendidos. palestrantes com base no livro Duas Helenas e uma Alice.

Livraria Cultura Bourbon Pompéia – São Paulo Livraria Cultura CasaPark – Brasília
Dia e hora: 8 de março, às 16 horas Dia e hora: 7 de março, às 17 horas

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37

St. Patrick´s day

DIVULGAÇÃO
A cultura irlandesa invadirá o Teatro Eva Herz em março com
a realização do Festival Cara Irlanda – em gaélico, idioma ofi-
cial do país, “cara” significa “amigo”. Palestras e workshops
sobre diversos assuntos, como cerveja, cafés e tradições
celtas, serão realizados ao longo do mês (confira a progra- (Re)Estreias no Teatro Eva Herz
mação completa no site www.livrariacultura.com.br). A aber-
tura do festival, 17 de março, data em que se comemora o Volta em março o espetáculo A alma imoral, protagonizado
dia do santo patrono da Irlanda, St. Patrick, será feita pelo pela atriz Clarice Niskier, que traz à cena adaptações feitas por
embaixador Michael Hoey. ela de pensamentos publicados no livro homônimo do rabino
Nilton Bonder. Em março, também entra em cartaz no Teatro
Livraria Cultura Conjunto Nacional – São Paulo Eva Herz a peça O homem da tarja preta, que marca a es-
Dia: de 17 a 21 de março treia do psicanalista Contardo Calligaris como autor teatral e
foi escrita especialmente para ser encenada pelo ator Ricardo
Bittencourt. Com direção de Bete Coelho.
Chefiar nunca, liderar sempre
Livraria Cultura Conjunto Nacional – São Paulo
Seja na construção teórica, ou na prática aplicada à gestão de Mais informações: www.teatroevaherz.com.br
negócios, o recente conceito de governança corporativa é o tema
da palestra que será ministrada pelo diplomata Flávio Campestrin
Bettarello. O autor de Governança corporativa – Fundamentos
jurídicos e regulação falará sobre os agentes envolvidos nesta Suave batucada
dinâmica e seu papel indispensável para promover a ética em-
presarial e assegurar a confiança do mercado e dos investidores. Os músicos Monica Tomasi e Nelson Coelho de Castro, con-
ceituados no Sul do Brasil por suas carreiras dedicadas à
Livraria Cultura CasaPark – Brasília música regional, estarão juntos no palco da Livraria Cultura
Dia e hora: 16 de março, às 19h30 para apresentar sambas de raiz no show Pérola no veludo.

Livraria Cultura Bourbon – Porto Alegre


Cena a cena Dia e hora: 13 de março, às 19h30

A dupla de roteiristas formada pelo diretor de cinema Luiz


Montes e pelo jornalista André Rodrigues transforma-se em duo Felizes para sempre
de professores para desconstruir as obras cinematográficas
O silêncio dos inocentes, Procurando Nemo, Abril despedaça- Em uma conversa descontraída, o psicoterapeuta Flávio Giko-
do, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Fale com vate apresentará uma síntese das reflexões que traz em obras
ela e Tropa de elite a fim de explicar os recursos usados em como Uma nova visão do amor, Ensaios sobre o amor e a so-
cada sequência e seu efeito no resultado final. Destinado aos lidão e Uma história do amor... com final feliz. Passeando pe-
amantes da sétima arte, roteiristas iniciados ou não, o curso los aspectos positivos e negativos desse sentimento, o autor in-
Construindo o filme é aberto para os interessados em com- dicará o rumo que devem seguir as pessoas que buscam uma
preender a arquitetura de um roteiro de longa-metragem. relação estável, um elo emocional duradouro e enriquecedor.

Livraria Cultura Villa-Lobos – São Paulo Livraria Cultura Bourbon Pompéia – São Paulo
Dia e hora: de 14 de março a 16 de abril, Dia e hora: 11 de março, às 19 horas
das 10h30 às 13h30, sempre aos sábados
Valor: R$ 350,00 à vista ou em 2 parcelas
Inscrições: (11) 7379-7269 Bichos e bexigas
ou pelo e-mail: construindocurso@gmail.com
A arte de representar animais em pequenas réplicas feitas com
balões ou em pinturas faciais será desvendada pelo Grupo de
Dose dupla Teatro Mundo Produções em um curso destinado ao público em
geral. As inscrições serão feitas no dia, por ordem de chegada.
O jornalista Valdir Oliveira autografa seu novo livro de con-
tos e versões para a linguagem cinematográfica, Depois do Livraria Cultura Iguatemi – Campinas
desejo. No evento, será exibido também o curta-metragem Dia e hora: 14 de março, às 14 horas
Por uma tecla, filmado em HD e premiado pelo Sistema de
Incentivo à Cultura do Recife, cujo roteiro sobre paixões e
ciúme é assinado por Valdir, que também escreveu Na toca
PROGRAMAÇÃO SUJEITA A ALTERAÇÃO.
do sapo, A lagartinha sapeca e Notícia no ar.
PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE EVENTOS, ACESSE:
Livraria Cultura Paço Alfândega – Recife WWW.LIVRARIACULTURA.COM.BR
Dia e hora: 14 de março, às 17 horas

PAG 37 Acontece V1.indd Sec2:37 2/20/09 7:10:34 PM


38 ACONTECE ESPECIAL

PHILIPPE BELLAICHE
cena do filme Z32, do israelense Avi Mograbi

É TUDO VERDADE NA CULTURA


Livraria abrirá espaço para a 14ª edição do festival de documentários que acontece a partir de março

A 14ª edição do É Tudo Verdade terá um pé na Livraria Cultura. O ela própria, antes de virar filme, já transcende o fato e a ficção”,
conhecido Festival Internacional de Documentários terá parte de diz Nader sobre a questão.
suas atividades realizada na loja de artes do Conjunto Nacional, Labaki conta que o documentário está na linha de frente da
na capital paulista. O local será usado para o credenciamento de produção estética contemporânea, não apenas no campo cine-
participantes e para realização de bate-papos entre documenta- matográfico, mas também nas artes visuais, na literatura, no tea-
ristas convidados e o público. Em São Paulo, o evento acontece a tro e na música. “O cinema documentário é hoje uma zona franca
partir do dia 25 de março e, no Rio de Janeiro, a partir do dia 26, para a experimentação, para muito além do modelo didático
seguindo, em ambas as capitais, até o dia 5 de abril*. griersoniano, que, por meio século, foi hegemônico”, afirma em
Segundo o documentarista Carlos Nader, há uma ligação natural referência a John Grierson, diretor de Granton Trawler (1934), que
entre o Festival e a Livraria, que remonta às próprias origens da primava por um discurso narrativo em terceira pessoa com preo-
linguagem documental. “O bom documentário é filho da literatura, cupação ferrenha em ver o documentário como não-ficção. Labaki
de um jornalismo literário de guerra”, afirma. “Quando você pega explica que o diálogo com o cinema ficcional é particularmente
um filme do João [Moreira Salles], do [Eduardo] Coutinho, percebe forte na última década, mas sempre existiu, como se vê na obra
que são filmes escritos, filhos de uma tradição literária; já a novela, do pioneiro Robert Flaherty, diretor de Nanook, o esquimó. “É inte-
por exemplo, é da tradição do rádio”, completa. ressante perceber como o mito da neutralidade do discurso docu-
Tanto Nader como Salles são habitués do Festival. Os dois privilegia- mental foi salutarmente erodido nas últimas décadas”.
ram a mostra para lançar seus filmes mais recentes, respectivamente:
Pancinema permanente, sobre o poeta e compositor Waly Salomão MOGRABI
(apresentado também na primeira edição do Vira Cultura no ano Além de ser um centro que demonstra as tendências do filme docu-
passado), e Santiago, sobre a infância de Salles e as memórias de mental no mundo, a importância da mostra está refletida no nível
família, da qual o personagem principal, Santiago Merlo, fez parte. dos convidados estrangeiros que a prestigiam. Se no ano passado
Segundo o fundador e diretor da mostra, Amir Labaki, o É Tudo recebeu o dinamarquês Jorgen Leth, um dos principais documen-
Verdade se consolidou como principal vitrine e fórum de dis- taristas do mundo, este ano traz o israelense Avi Mograbi. Diretor
cussão do documentário no país. “O Festival me parece estar de uma obra marcadamente autobiográfica e crítica ao militarismo,
cumprindo um papel essencial na reformulação da imagem do Mograbi apresentará seu mais recente filme, Z32, lançado em pro-
documentário no Brasil, seja para realizadores, seja para o pú- jeção especial apenas no Festival de Veneza do ano passado.
blico, para a indústria audiovisual e para a universidade”. Nascido em Israel em 1956, o documentarista virá ao Brasil pela pri-
meira vez a convite do É Tudo Verdade e da Hebraica, participando
DOCUMENTÁRIO X FICÇÃO de debates e palestras em São Paulo e no Rio de Janeiro. O diretor de
E essa discussão sobre documentário tem rendido muito pano Agosto – Um momento antes da explosão, vencedor da mostra com-
pra manga. O próprio filme de João Moreira Salles gerou uma petitiva do É Tudo verdade em 2002, também discutirá sua trajetória
série de debates em torno de sua linguagem. Muitos o critica- na mesa de encerramento da 9ª Conferência Internacional do Docu-
ram por colocar o personagem-título do filme em segundo plano mentário, a ser realizada entre 1 e 3 de abril, dentro do festival em
para dar ênfase ao narrador e às histórias da própria vida, de São Paulo, em parceria com o SESC-SP e o CINUSP – que apresentará
sua infância. Ainda por cima, Salles não narra o filme, mas simultaneamente uma mostra com destaque para sua filmografia.
se expressa por meio da voz de seu irmão, Fernando Moreira Z32 procura captar as impressões de um soldado israelense
Salles. O cineasta justificou suas escolhas como um passo a depois de matar policiais palestinos. Para preservar-lhe a pri-
mais para discutir a desconstrução das fronteiras entre ficção e vacidade, Mograbi protege suas feições por meio de uma más-
realidade na produção documental. “Waly Salomão gostava de cara digital. Mais um exemplo de que nem tudo é verdade no
repetir que a memória é uma ilha de edição, no sentido de que documentário contemporâneo.

* CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO EVENTO, QUE NÃO ESTAVA CONCLUÍDA


ATÉ O FECHAMENTO DESTA EDIÇÃO, NO WWW.BLOGDACULTURA.COM.BR

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39
AGENDA
SÃO PAULO

BOURBON POMPÉIA CONJUNTO NACIONAL MARKET PLACE VILLA-LOBOS

Palestra + Lançamento Autógrafo Show Curso


Terça-feira, Quinta-feira, Sábado, Quarta-feira,
17 de março às 19h30 12 de março às 19 horas 28 de março às 18 horas 18 de março às 15 horas
Tema: O empreendedor Livro: Marketing de luxo Músico: Saranya Tema: Organização:
Palestrante: Ronald Autora: Suzane Strehlau chega de bagunça! –
Jean Degen Cineclube Cultura Arrumação de closet
Autógrafo Sexta, Palestrantes: Cristina Fonseca
Palestra Terça-feira, 27 de março às 18 horas e Maria Bernadete Mininel
Sábado, 24 de março às 19 horas Tema: Donas do dom
4 de abril às 17 horas Livro: Uma história Exibição do filme Show
Tema: 2º Ciclo de debates da TV Cultura Piaf – Um hino de amor Sábado,
de literatura fantástica – Autor: Jorge da Cunha Lima 28 de março às 18 horas
Ficção científica Tema: Mágico e místico
Palestrantes: Fábio Fernandes, Músico: Marcus Santurys
Octávio Aragão, Cristina Lasaitis,
Clinton Davisson e Gerson Ribeiro

BRASÍLIA CAMPINAS RECIFE PORTO ALEGRE

CASAPARK IGUATEMI PAÇO ALFÂNDEGA BOURBON SHOPPING

Palestra Palestra Show Palestra + Lançamento


Terça-feira, Quinta-feira, Domingo, Segunda-feira,
17 de março às 19h30 12 de março às 19h30 15 de março às 17 horas 16 de março às 19h30
Tema: Perigos da internet Tema: Pathwork – O caminho Músicos: A irmandade Tema: Geração digital
para crianças, adolescentes... da autotransformação O ingresso para o show é 1 kg Palestrantes: Susana
e até adultos Palestrante: Lurdes Gaspar de alimento não perecível Graciela Bruno Estefenon
Palestrante: Danilo Berardo e Evelyn Eisenstein
de Souza Teatro Palestra
Quarta-feira, Quinta-feira, Show
Palestrinha 11 de março às 19 horas 19 de março às 19 horas Sexta-feira,
Sábado, Espetáculo: A lição, Tema: Papas, trajetórias 20 de março às 19h30
4 de abril às 16 horas de Ionesco e testemunhos Músico: Oly Jr.
Tema: Perigos da internet Palestrante: Maria do Carmo
para a turminha! Exposição Tavares de Miranda Show
Palestrante: Danilo B. de Souza De 9 a 30 de abril, Sábado,
de segunda a sábado Palestra + Lançamento 21 de março às 19h30
Exposição das 10h às 22h Sexta-feira, Músicos: Ônibus Azul
De 1 a 30 de abril, segunda e domingo das 13h às 21h 27 de março às 19 horas
a sábado das 10h às 22h Tema: Desenha-me Tema: Salvos por
e domingo das 14h às 20h um carneiro um mergulho
Tema: Cotidiano de Brasília Artistas: Caio Souza, Palestrantes: Karina
Artista: Beto Rocha Lili Detoni e Flávia Tonelli e Isac Dubeux

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MUSEU A LITERATURA EM PERIGO 1421 – O ANO EM QUE A CHINA
Véronique Roy Tzvetan Todorov DESCOBRIU O MUNDO
Gavin Menzies
Ciência, filosofia, religião. O tripé que rege uma Em ensaio autobiográfico com nuances de linguís-
série de questões e dúvidas da Humanidade tica e história cultural, o escritor búlgaro Tzvetan Reconstituição das impressionantes viagens da
ganhou vida na literatura cinematográfica da Todorov reflete, ancorado no pensamento literário esquadra chinesa. Uma narrativa irresistível que
roteirista e arquivista francesa Véronique Roy. e em grandes obras universais, sobre o impacto das reúne mapas antigos, conhecimentos específicos
Polêmico, o livro narra os conflitos entre a ciência e palavras e o valor da literatura. de navegação, astronomia e relatos oriundos de
a religião num cenário único – o Museu de História A literatura em perigo exala o prazer das letras, a exploradores chineses e dos navegadores europeus
Natural de Paris – e é conduzido por uma mistura fertilidade e o sentido à existência que os livros são posteriores. O livro também revela as pedras grava-
TODO AR QUE RESPIRAS de intriga policial e conhecimento científico. capazes de imprimir. Um livro com opinião. das e os artefatos deixados para trás pela esquadra
Judith McNaught Um thriller de arrepiar que trata de um dos do imperador, as evidências dos juncos submersos
maiores dilemas do ser humano: seria o homem o ao longo de sua rota, entre outras informações.
produto acidental da evolução ou o fruto de um A História sob uma nova perspectiva, que nos
Numa história que dosa mistério, paixão, assassinato e psi- obriga a rever tudo o que aprendemos sobre a
“desígnio superior”, isto é, a criação de Deus?
cologia em tom dinâmico e arrebatador, esta mestre do exploração do mundo.
romance instiga leitores do mundo inteiro a conhecer o des-
fecho da eletrizante relação de Kate e Mitchell e das
inúmeras intrigas em que se envolvem.
O mais esperado romance de Judith McNaught de todos os
tempos.

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Seu filho vai viajar pelos cinco continentes


através das histórias e de belíssimas
ilustrações desta obra repleta de informação
e poesia. Ele vai conhecer o mundo na
companhia da vaquinha da Índia, do galo de
Portugal, do cavalo árabe, do urso da Rússia,
da coruja do Brasil e de muitos outros.

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42 PASSATEMPO

DIVULGAÇÃO
Cena de O ano em que
meus pais saíram de férias,
de Cao Hamburguer

PALAVRAS CRUZADAS E PASSATEMPOS INTELIGENTES

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