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Copyright © 2019/2020 Leandro Ávila

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Vale-se do “animus narrandi”, protegido pela lei e pela jurisprudência (conferir AI nº 505.595, STF).

Importante: O conteúdo deste livro é apenas educativo e informativo. Não se trata de recomendação, indicação ou aconselhamento de investimento. O
conteúdo pode conter erros, pode estar desatualizado ou não ser próprio para a sua realidade pessoal. Qualquer decisão tomada após a leitura deste livro
é de responsabilidade do leitor.

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A958l Ávila, Leandro


Como Investir na Bolsa: Análise Fundamentalista / Leandro Ávila. – Fortaleza, 2019.

Biblioteca Nacional - ISBN: 978-85-907241-2-4

1. Educação Financeira 2. Dinheiro 3. Finanças pessoais I. Título.

2
Aviso importante

Este livro tem como objetivo único fornecer informações educativas. Ele não constitui, nem deve ser
interpretado como recomendação de compra ou venda de ações ou de qualquer valor mobiliário.

O mercado de bolsa de valores é considerado de alto risco, em virtude as grandes variações de


rendimento a que está sujeito. Esse risco traduz-se principalmente, nos efeitos que alterações políticas
e econômicas, no Brasil e no exterior, ou alterações decorrentes da situação individual de cada
companhia têm na valorização ou desvalorização de suas ações.

Nenhuma informação contida nesse livro está considerando os seus objetivos pessoais de investimento,
a sua atual situação financeira ou suas necessidades específicas.

Rentabilidade passada não garante resultados futuros. Todos os números do mercado financeiro e das
empresas sofrem alterações diárias. Informações contidas nos exemplos deste livro podem se
desatualizar com o tempo, por isso, nunca use as informações contidas nele para tomar qualquer
decisão sem antes consultar outras fontes.

Sugestões

Fiz todos os esforços possíveis para minimizar a presença de erros no conteúdo deste livro. Caso
encontre algum erro ou queira sugerir alguma melhoria visite:

http://www.clubedospoupadores.com/sugestoes-livros

Agradecimento: agradeço a todos os leitores que enviaram sugestões e correções. As versões


melhoradas serão oferecidas para todos os demais leitores através do Hotmart.

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Sumário

Aviso importante ................................................................................................................................ 3


Sugestões ............................................................................................................................................ 3
As Ações ................................................................................................................................................ 9
Os Fundamentos .................................................................................................................................. 11
Quanto investir ..................................................................................................................................... 12
Custos para investir .............................................................................................................................. 14
Passos para comprar uma ação ............................................................................................................ 15
Conta bancária sem taxas .............................................................................................................. 16
Conta na corretora sem taxas ........................................................................................................ 16
Dinheiro na conta da corretora ...................................................................................................... 17
Código da ação que você pretende comprar ................................................................................. 17
Não siga recomendações ............................................................................................................... 18
Preencher e enviar a ordem de compra ......................................................................................... 20
Livro de ofertas ............................................................................................................................. 21
Liquidação .................................................................................................................................... 24
Os números das empresas .................................................................................................................... 26
Divulgação obrigatória de informações ........................................................................................... 29
Onde acessar os dados ...................................................................................................................... 30
Relações com Investidores (RI) .................................................................................................... 30
Conteúdo bruto na B3 ................................................................................................................... 32
Ferramenta gratuita ....................................................................................................................... 33
Ferramenta para smartphone ......................................................................................................... 37
Ferramenta Profissional ................................................................................................................ 39
Balanço Patrimonial ............................................................................................................................. 42
Ativos ............................................................................................................................................... 45
Ativos Circulantes......................................................................................................................... 45
Ativo Não Circulante .................................................................................................................... 46

4
Passivo .............................................................................................................................................. 47
Passivo Circulante......................................................................................................................... 48
Passivo Não Circulante ................................................................................................................. 48
Patrimônio Líquido ....................................................................................................................... 48
Não se assuste ............................................................................................................................... 49
Demonstração de Resultado de Exercício (DRE) ................................................................................ 49
Estrutura da DRE.............................................................................................................................. 53
(+) Receita Operacional Líquida................................................................................................... 53
(-) Custo dos Produtos Vendidos e Serviços Prestados ................................................................ 54
(=) Lucro Bruto ou Resultado Bruto ............................................................................................. 55
(-/+) Receitas (despesas) operacionais .......................................................................................... 55
(=) Lucro operacional antes do resultado financeiro .................................................................... 56
(+/-) Receitas (despesas) financeiras ............................................................................................ 56
(=) Lucro antes do imposto de renda e contribuição social .......................................................... 56
(-) Imposto de Renda e contribuições ........................................................................................... 56
(=) Lucro líquido ........................................................................................................................... 56
Estudo da Lucratividade ...................................................................................................................... 57
Receita Líquida................................................................................................................................. 58
Resultado Bruto ou Lucro Bruto ...................................................................................................... 62
Resultado bruto crescente ............................................................................................................. 62
Resultado bruto decrescente ......................................................................................................... 63
Resultado Operacional ..................................................................................................................... 64
Lucro Líquido ................................................................................................................................... 65
Caixa Líquido das Atividades Operacionais .................................................................................... 72
Patrimônio Líquido........................................................................................................................... 73
ROE .................................................................................................................................................. 75
ROE decrescente ........................................................................................................................... 78
ROE estável .................................................................................................................................. 78
ROE crescente............................................................................................................................... 79
Estudo da Qualidade ............................................................................................................................ 80
Margem Bruta................................................................................................................................... 80

5
Margem Operacional ........................................................................................................................ 83
Margem Líquida ............................................................................................................................... 84
Estudo do Endividamento .................................................................................................................... 87
Dívida Líquida.................................................................................................................................. 87
Dívida Líquida / Resultado Operacional .......................................................................................... 89
Dívida Bruta / Patrimônio Líquido................................................................................................... 90
Estudo do Retorno ao Acionista .......................................................................................................... 92
Dividendos Distribuídos ................................................................................................................... 92
Preço ................................................................................................................................................. 94
Lucro Líquido por Ação ............................................................................................................... 97
Preço vs Patrimônio Líquido por Ação ......................................................................................... 97
Estudo dos Indicadores de Mercado .................................................................................................... 99
(P/L) Preço / Lucro ........................................................................................................................... 99
(DY) Dividend Yield ...................................................................................................................... 102
Payout ............................................................................................................................................. 104
(P/VPA) Preço / Valor Patrimonial ................................................................................................ 106
(PSR) Price Sales Ratio .................................................................................................................. 109
Estudo Cego ....................................................................................................................................... 111
Estudo 1 - Lucratividade e geração de caixa .................................................................................. 112
Estudo 2 - Qualidade ...................................................................................................................... 118
Estudo 3 - Endividamento .............................................................................................................. 120
Estudo 4 – Retorno ao Acionista .................................................................................................... 122
Estudo com fonte gratuita de dados ............................................................................................... 125
Análise Automatizada ........................................................................................................................ 130
Critérios tradicionais .......................................................................................................................... 135
Critério: A empresa deve ter um tamanho adequado? ................................................................... 138
Critério: A empresa deve possuir algum nível de Governança Corporativa. ................................. 140
Nível 1......................................................................................................................................... 141
Nível 2......................................................................................................................................... 141
Novo Mercado ............................................................................................................................ 142
Índices de Governança Corporativa ............................................................................................ 142

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Consultar e comparar níveis de governança ............................................................................... 143
Critério: Liquidez corrente (ILC) ................................................................................................... 145
Critério: Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE ou RPL) ...................................................... 148
Critério: Relação Dívida Bruta e Patrimônio Líquido.................................................................... 152
Critério: Crescimento dos Lucros acima de 5% ao ano ................................................................. 154
Critério: A empresa distribui dividendos?...................................................................................... 155
Preço-Alvo ......................................................................................................................................... 156
Consenso de mercado ........................................................................................................................ 159
Recomendações das corretoras e bancos ........................................................................................... 160
Estratégia de dividendos .................................................................................................................... 161
Estratégia Comprar e Segurar ............................................................................................................ 165
Risco do IPO ...................................................................................................................................... 167
Small Caps ......................................................................................................................................... 169
Setores da economia .......................................................................................................................... 171
Todos os setores ............................................................................................................................. 172
Principais setores ............................................................................................................................ 175
Setor financeiro ........................................................................................................................... 175
Setor de Materiais básicos .......................................................................................................... 181
Outros setores ............................................................................................................................. 182
Análise Econômica ............................................................................................................................ 183
Atividade econômica .................................................................................................................. 183
Inflação ....................................................................................................................................... 185
Taxa de Juros .............................................................................................................................. 186
Finanças Públicas ........................................................................................................................ 186
Taxa de Câmbio .......................................................................................................................... 187
Montando sua carteira diversificada .................................................................................................. 189
Risco do Viés ..................................................................................................................................... 190
Viés da Ancoragem ........................................................................................................................ 191
Viés da Perda .................................................................................................................................. 194
Viés do Apostador .......................................................................................................................... 195
Viés da Confirmação ...................................................................................................................... 196

7
Viés de Empatia.............................................................................................................................. 196
Viés da Confiança .......................................................................................................................... 197
Viés do Enquadramento ................................................................................................................. 197
Imposto de Renda .............................................................................................................................. 198
Análise gráfica e fundamentalista ...................................................................................................... 201
Preços e Cotações .............................................................................................................................. 203
Dicas finais ........................................................................................................................................ 204

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As Ações

Grande parte dos investimentos disponíveis no mercado financeiro são títulos de dívida ou títulos
patrimoniais.

Se você já investe em renda fixa, provavelmente comprou títulos de dívida como os títulos públicos
do Tesouro Direto ou títulos privados emitidos por bancos como CDB, LCI e LCA. Empresas também
vendem títulos de dívida como as debêntures, CRI e CRA.

Quando você compra um título de dívida está emprestando o seu dinheiro para uma instituição. Em
troca, você recebe um “papel” comprovando que a instituição tem uma dívida com você e que ela será
paga, com os juros, até uma data de vencimento. Nos dias de hoje, esse “papel” é um “registro
eletrônico” nos computadores de uma instituição financeira.

A ação de uma empresa também é um título, mas, neste caso, é um título patrimonial. Esse título
comprova que você possui uma pequena parte de uma empresa.

A vantagem de ser dono(a) de uma pequena parte de uma boa empresa está na possibilidade de receber
parte dos lucros que ela distribui entre seus acionistas. Ações de boas empresas também tendem a se
valorizar no decorrer do tempo e isso beneficia todos que as possuem, pois elas podem ser vendidas
com a mesma facilidade com que foram compradas.

Vamos imaginar que você comprou 1000 ações de uma grande empresa brasileira. Como cada ação
custava R$ 10, você investiu R$ 10.000,00 (1000 x 10 = 10.000). A empresa obteve lucro durante o
ano e resolveu distribuir esse lucro entre todos os acionistas na proporção de R$ 1 de lucro por ação.

Como você tem 1000 ações, receberá R$ 1.000,00 de lucro através daquilo que chamamos de
dividendos (que vem do verbo dividir). Se você tivesse apenas uma ação receberia R$ 1. Se tivesse 1
milhão de ações receberia R$ 1 milhão de reais. Os direitos aos lucros são iguais não importando se
você tem 1, 100, 1000 ou 1 milhão de ações. Ações de empresas que geram bons lucros tendem a
valorizar e com o passar do tempo cada ação que valia R$ 10 poderá valer cada vez mais.

Todos os dias milhares de brasileiros compram e vendem ações através de uma espécie de “Feira
Virtual de Ações” que todos chamam de Bolsa de Valores. No Brasil, temos uma única bolsa operada
pela empresa B3 S.A. (Bolsa Balcão Brasil).

A B3 também opera o Tesouro Direto, que é o serviço onde os brasileiros podem comprar e vender
títulos públicos (veja aqui). Quando você compra títulos emitidos por bancos através de corretoras
como CDB, LCI, LCA, debêntures e produtos como COE, eles ficam registrados na B3 e muitas vezes
também ficam custodiados (guardados) nos computadores da B3 (veja aqui).

A Bolsa já foi muito parecida com uma feira livre (como você pode ver nessa reportagem), mas hoje
todas as negociações acontecem através da internet por meio das corretoras de valores. Para comprar
e vender ações você precisa ter uma conta aberta em uma corretora.

9
Os grandes bancos possuem suas corretoras. Caso você já tenha conta em um grande banco,
provavelmente já pode utilizar o site da corretora do seu banco para comprar e vender ações. Como
exemplo, veja o site das corretoras dos três maiores bancos privados do país:

• Corretora do Itaú (visite o site)


• Corretora do Bradesco (visite o site)
• Corretora do Santander (visite o site)

O grande problema em utilizar as corretoras dos grandes bancos está no elevado custo. Teremos um
capítulo neste livro onde vou ensinar como abrir conta em uma corretora que não cobra tarifas para
que você possa comprar e vender ações.

Neste livro você verá que comprar ou vender ações na bolsa é tão simples e fácil como comprar
qualquer coisa através da internet. As únicas coisas que você realmente precisa fazer no site da
corretora é informar o código da ação que você deseja comprar, quantas ações deseja comprar, digitar
sua senha e clicar em um botão para enviar a ordem de compra. Se você já tem o costume de usar
serviços bancários pela internet, não terá dificuldades.

A parte mais trabalhosa nesse processo acontece antes do ato de comprar a ação.

Assim como você gasta um bom tempo pesquisando antes de escolher o seu próximo carro ou sua
próxima casa, você também precisa dedicar um tempo pesquisando a empresa que vale a pena se tornar
sócio(a) para ganhar lucros e ter valorização das suas ações.

Nunca foi tão fácil e barato se tornar sócio de grandes empresas. Através da Bolsa, você pode se tornar
banqueiro, industrial, dono de supermercado, dono de rede de farmácia, postos de gasolina, refinarias,
mineradoras, siderúrgicas, fábricas de aviões, produtos de beleza, entre outros com apenas alguns reais
e alguns cliques. São mais de 300 empresas dos mais diversos segmentos.

Veja a lista das ações mais negociadas na Bolsa que pertencem as maiores empresas clicando aqui.
Conheça outra lista que mostra as ações mais negociadas entre empresas com menor valor de mercado
clicando aqui. Observe quais empresas você já conhece. Mesmo sabendo muito pouco sobre cada
empresa, anote o nome daquelas que você gostaria de ser sócio(a). No decorrer desse livro você
aprenderá a estudar os números das companhias como suas receitas, despesas, lucros, ativos, dívidas
e patrimônio. Os estudos dos fundamentos das empresas permitem escolher as melhores para investir
o seu dinheiro.

No final do livro, já com uma bagagem maior de conhecimentos, você definirá, por conta própria,
quais são as empresas em que você gostaria de investir, mas agora saberá fundamentar a sua decisão
através de números, gráficos e indicadores.

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Os Fundamentos

Imagine que você acabou de reencontrar um amigo e ficou sabendo que ele possui um restaurante e
está procurando um sócio que queira investir no negócio.

Ele precisa de recursos para abrir novas unidades do restaurante em outros bairros. Com isso, ele
acredita que poderá multiplicar o faturamento da empresa nos próximos anos.

Ele poderia pedir dinheiro emprestado para um banco, mas para isso seria obrigado a pagar juros muito
elevados e assumir o risco sozinho. Ele concluiu que seria mais barato e vantajoso buscar um sócio
disposto a investir na ampliação da empresa compartilhando os riscos. Em troca, esse novo sócio
passaria a ser dono de um percentual da empresa e receberia parte dos lucros.

Vamos imaginar que você gostou da ideia, principalmente pelo seu amigo necessitar de um sócio
investidor, ou seja, você investirá o seu dinheiro e não será obrigado a participar da administração do
restaurante. Você continuará na sua profissão e ainda receberá parte dos lucros do restaurante.

O problema é que você ainda não sabe nada sobre o restaurante. Será que suas receitas são crescentes?
Quais são seus custos e despesas? Qual a margem e o lucro líquido? Será que ele possui muitas dívidas?
Você provavelmente buscará todas essas e muitas outras informações sobre o restaurante antes de
investir o seu dinheiro.

Os questionamentos antes de investir em ações na Bolsa devem ser os mesmos. Você quer comprar
ações de empresas que lucram e distribuem esse lucro. Você quer comprar ações de empresas que se
tornam cada vez mais valiosas.

Neste livro, vamos aprender a estudar os números fornecidos pelas empresas para julgar se existe
algum fundamento que justifique a compra das ações e, principalmente, a manutenção do seu dinheiro
investido nessas ações no decorrer do tempo.

A grande vantagem de ser sócio de uma empresa listada na bolsa e não de uma empresa que pertence
a um amigo é a enorme facilidade que existe em entrar e deixar a sociedade.

Se em algum momento, você julgar que não faz mais sentido investir em uma determinada empresa,
com apenas alguns cliques e em poucos segundos será possível vender suas ações na bolsa de valores
pelo preço de mercado, sem qualquer burocracia. Dois dias depois, o dinheiro da venda estará
disponível na sua conta.

Você poderá utilizar o mesmo dinheiro para se tornar sócio de qualquer outra empresa que julgue ser
uma melhor opção para investir de agora em diante. Se preferir, você também pode transferir o dinheiro
da sua conta na corretora para a sua conta corrente no banco para utilizar a quantia da forma que quiser.

Outra grande facilidade oferecida aos investidores na Bolsa está na possibilidade de investir em
diversas empresas diferentes, em setores diferentes, de tal forma que um desempenho pior em uma

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determinada empresa ou setor possa ser compensado pelos investimentos que você fará nas ações de
outra empresa em outro setor. É isso que chamamos de diversificação.

Apesar dos resultados passados não oferecerem qualquer garantia sobre resultados futuros, eles nos
dão pistas sobre o caminho que a empresa está trilhando e eleva a probabilidade desse caminho
continuar sendo trilhado.

Isso significa que mesmo quando estamos considerando os fundamentos das empresas para investir,
estamos especulando sobre os resultados mais prováveis no futuro.

Aprender a estudar os fundamentos das empresas significa ter a liberdade de escolher as melhores
ações para você, sem depender das opiniões de outras pessoas.

Quanto investir

É muito importante que você comece investindo muito pouco enquanto estiver aprendendo a investir.
Quando digo muito pouco, é muito pouco mesmo. Precisa ser ridiculamente pouco.

Se você estivesse aprendendo a dirigir um carro, você teria que pagar uma boa quantia para fazer as
aulas práticas em uma autoescola. No final dessas aulas, você ficaria sem o dinheiro que pagou, mas
ganharia algo valioso, para sempre, que é a experiência prática.

Você deve fazer a mesma coisa enquanto aprende a investir na Bolsa. Destine uma quantidade de
dinheiro pequena para investir, como se estivesse pagando por aulas práticas. Se tudo der certo, no
final de alguns meses, você ganhará experiência e prática e ainda poderá ter o dinheiro que investiu,
alguns dividendos e ganho de capital. Já se alguma coisa der errado, você ainda terá como bagagem a
experiência conquistada com a prática.

A Bolsa é dividida em dois mercados, que são como se fossem duas “feiras livres virtuais” onde as
pessoas compram e vendem ações. Esses mercados se chamam “Mercado à Vista” e “Mercado
Fracionário”.

No Mercado à vista temos pessoas que querem comprar ou vender lotes de no mínimo 100 ações. Se
uma ação custa R$ 10,00 você poderá comprar lotes de 100 ações por R$ 1.000,00 (10 x 100 = 1000).
Você também poderia comprar mais 200, 300 ou 500 ações, sempre de 100 em 100. A maioria dos
investidores está comprando e vendendo ações no Mercado à Vista. Visitando aqui você pode consultar
qual é o lote-padrão da ação que você pretende comprar. Praticamente todas as empresas adotam 100
ações por lote como padrão.

Como você ainda está aprendendo, o ideal seria comprar ações de grandes empresas (que possuem
maior liquidez) no “Mercado Fracionário” onde é possível comprar ou vender qualquer quantidade de
ações entre 1 e 99 ações para cada operação de compra e venda.

12
O número de compradores e vendedores neste mercado é menor, ou seja, ao enviar uma ordem de
compra ou venda de ações ela pode demorar um pouco para encontrar um comprador ou vendedor. O
preço da ação também é ligeiramente diferente.

Vamos imaginar que você resolveu destinar R$ 500 para comprar as suas primeiras ações com objetivo
educativo. Seria como gastar esse dinheiro fazendo aulas práticas em uma autoescola, aulas práticas
em uma escola de música ou em aulas práticas do seu esporte preferido.

Imagine que você estabeleceu o objetivo de treinar com esses R$ 500 por no mínimo 6 meses. Se der
tudo certo, no final dos 6 meses você terá ações que valem mais de R$ 500 e ainda poderá receber
dividendos. Além disso, irá acumular o que existe de mais valioso que é a experiência através da
prática. Já se ocorrerem perdas no período, considere como um custo do aprendizado.

O valor de R$ 500 é apenas um exemplo para ilustrar essa ideia. Você deve escolher um valor que se
sinta confortável. Um valor confortável é aquele que você pode gastar durante o seu treino sem que
isso faça você perder noites de sono.

O travesseiro é uma ótima ferramenta para avaliar se você está ou não preparado(a) para investir a
quantia que investiu. Se existe desconforto, o valor investido na renda variável está maior do que
deveria.

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Custos para investir

Por incrível que possa parecer, é mais barato investir em ações do que investir em renda fixa como
títulos públicos, títulos de bancos como CDB e fundos de investimento. Para comprar ações existem
três custos, sendo que dois desses custos podem ser evitados. Esses custos são:

• Taxa de Corretagem: pagamento pelo serviço prestado pela corretora;


• Emolumentos: pagamento pelo serviço prestado pela Bolsa (B3);
• Impostos de Renda: imposto devido ao governo no momento da venda da ação, mas que é
possível evitar em alguns casos.

Taxa de corretagem

Temos um capítulo onde eu mostro como é possível abrir conta em uma corretora que não cobra taxa
de corretagem. Zerar o seu custo para a compra e venda de ações nessa fase de aprendizagem é muito
importante, pois você comprará um número pequeno de ações enquanto estuda. Essa taxa acaba
influenciando muito no rendimento do investimento.

As corretoras independentes e corretoras de bancos que cobram taxa de corretagem podem cobrar uma
taxa fixa, uma taxa baseada em um percentual do valor que você investiu na operação de compra ou
venda ou uma taxa híbrida que mistura taxa fixa e um percentual. Algumas corretoras também cobram
uma espécie de mensalidade para manter sua conta.

Se tudo isso pode ser evitado, devemos evitar, pois esses custos influenciam muito no resultado do seu
investimento no decorrer de vários anos.

Emolumento

A taxa cobrada pela Bolsa é bem pequena. Quando este livro foi revisto pela última vez ela era de
0,03148% como você pode ver na coluna “Total” na figura logo abaixo. Para consultar a tabela
atualizada visite aqui.

Vamos imaginar que você comprou um lote de 100 ações de uma empresa qualquer. O preço por ação
foi de R$ 10,00. O valor total da sua compra foi de R$ 1.000,00 já que 10 x 100 = 1.000. Agora
multiplique 1.000 x 0,031610% e o resultado será algo próximo de R$ 0,31.

Para comprar as 100 ações por R$ 10 cada o seu custo será R$ 0,31. Os R$ 1.000,00 + R$ 0,31 serão
os valores descontados da sua conta na corretora.

14
Imposto de renda

A cobrança do imposto de renda só corre se você vender suas ações obtendo lucro, que é chamado de
ganho de capital. O imposto de renda sobre ganho de capital é de 15%. Quem compra ações e as vende
no mesmo dia (o chamado daytrade) paga imposto de 20% sobre o ganho.

A Receita isenta os investidores pessoas físicas que obtém lucros por operações com compra e venda
em datas diferentes, se o valor total das vendas no mês for menor do que R$ 20 mil.

Se você nunca vender mais de R$ 20 mil em ações em um único mês, você nunca pagará Imposto de
Renda sobre o ganho de capital obtido na venda de ações com lucro. Se você nunca vender as suas
ações, você nunca pagará imposto sobre o ganho de capital.

Para evitar a sonegação, a Receita passou a cobrar uma pequena alíquota que funciona como um “dedo-
duro” que é equivalente a 0,005% sobre o valor total da ordem de venda das ações. Dessa forma,
mesmo que você venda R$ 10.000,00 em ações e fique isento, esses 0,005% sobre os R$ 10.000,00
(R$ 0,50) serão cobrados de você automaticamente. Esses R$ 0,50 poderão ser descontados quando
você tiver que pagar os 15% de imposto.

Nem mesmo os investimentos de renda fixa possuem condições tão favoráveis com relação aos
impostos e a cobrança de tarifas. No caso da renda fixa, você paga imposto sobre qualquer ganho e a
alíquota pode variar entre 22,5% e 15%. Você só consegue a alíquota de 15% se mantiver o dinheiro
investido na renda fixa por mais de 2 anos.

Teremos um capítulo apenas para falar sobre imposto de renda de forma detalhada e com alguns
exemplos.

Passos para comprar uma ação

Comprar ações é tão simples quanto fazer compras na internet. Vender ações segue o mesmo processo.

Para comprar ações você vai precisar de:

1. Uma conta em algum banco;


2. Uma conta em alguma corretora;
3. Algum dinheiro na conta da corretora para comprar as ações e pagar as taxas;
4. O código da ação que você pretende comprar;
5. Preencher e enviar a ordem de compra.

Você verá que tudo é mais simples do que parece. O grande desafio não é comprar as ações, mas
escolher ações de boas empresas para investir e depois monitorar se elas continuam sendo boas
empresas no decorrer do tempo.

15
Conta bancária sem taxas

Imagino que você já tenha uma conta corrente aberta em algum banco. Isso é necessário pois as
corretoras só irão aceitar o envio e o recebimento de dinheiro para contas vinculadas ao seu CPF.

Caso não tenha uma conta, pesquise na internet sobre “conta digital”. Existem vários bancos que
permitem abrir conta até por aplicativos de celular, ou seja, você não precisa ir em uma agência. Muitas
dessas contas digitais são isentas de taxas.

Para investir através de corretoras seria interessante ter conta em algum banco que ofereça taxa gratuita
de transferência (TED ou DOC). Muitas corretoras não cobram taxa para que você transfira dinheiro
da conta da corretora para a sua conta bancária e por isso seria interessante não ter essa taxa para
transferir dinheiro da sua conta corrente para sua conta na corretora.

Conta na corretora sem taxas

A forte concorrência entre as corretoras e bancos gerou uma grande redução de tarifas nos últimos
anos. Algumas corretoras simplesmente deixaram de cobrar determinadas tarifas. Um exemplo de
corretora que não cobra mais a taxa de corretagem e taxa de custódia é a corretora Clear. Veja a página
que mostra os custos em https://www.clear.com.br/site/custos.

A Clear faz parte de um grupo de corretoras chamado Grupo XP (fonte). Esse grupo é composto pela
corretora XP Investimentos, que é a maior corretora independente do país e a corretora Rico e Clear.
Em 2018 o Banco Central aprovou a aquisição de 49,9% da XP pela Itaúsa que é o grupo que controla
o Banco Itaú, maior banco privado do país (fonte).

Cada corretora do grupo possui serviços direcionados para um público diferente. A Clear é focada nos
investimentos em ações, tanto que é a única das três que oferece taxa de corretagem zero para compra
e venda de ações. Atualmente essa é uma das corretoras que utilizo. Nada impede que você tenha conta
em outras corretoras para aproveitar a especialidade de cada uma. Algumas corretoras são melhores
para investimentos em ações, outras são melhores para investimentos em fundos e outras tem maior
foco em investimentos de renda fixa.

O processo de abertura de uma conta em corretora seguem passos muito simples. Não existe qualquer
burocracia. Você só precisa preencher um formulário no site da corretora e aguardar. Se você digitar
todos os dados corretamente, o sistema da corretora será capaz de validar todos os seus dados sem a
necessidade de enviar cópia de documentos.

Uma nova conta costuma ser liberada em até 1 hora. Se você cometer algum erro de digitação é
provável que a corretora entre em contato com você por e-mail ou telefone antes de abrir a conta.

É importante destacar que não importa a localização física da corretora. Todas as grandes corretoras
do país ficam em São Paulo e no Rio de Janeiro, de onde atendem clientes de todo país e até do exterior.

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Você nunca precisará se deslocar fisicamente até uma corretora, pois tudo pode ser resolvido pela
internet ou telefone.

Embora você possa fazer seus investimentos através da corretora do seu banco, os custos serão
elevados. Para exemplificar, veja os custos da corretora do Itaú visitando aqui, na tabela “renda
variável”. Além de cobrar uma mensalidade fixa de custódia, eles ainda cobram uma taxa de
corretagem em toda compra ou venda de ações. Essa taxa de corretam é composta por um valor fixo
mais um percentual sobre o valor que você investiu.

Dinheiro na conta da corretora

Após abrir a sua conta na corretora você receberá as informações que precisa para transferir o dinheiro.
Você utilizará o TED ou DOC para enviar o dinheiro do banco para a corretora. Através do TED a
transferência ocorre em poucos minutos. Através do DOC a transferência ocorre no dia útil seguinte.

Caso nunca tenha transferido dinheiro para outra conta em seu nome em outra instituição financeira,
consulte o seu banco para aprender a fazer isso. Como cada banco tem seu próprio aplicativo e site,
cada um terá um processo diferente.

Código da ação que você pretende comprar

As ações são identificadas através de um código composto de letras e números. Vamos exemplificar
observando o código das ações dos quatro maiores bancos do país. O Itaú negocia as ações
identificadas pelos códigos ITUB3 e ITUB4. O Bradesco negocia ações com códigos BBDC3 e
BBDC4. O Banco do Brasil negocia as ações BBAS3 e BBAS11. O Santander negocia as ações
SANB11, SANB3 e SANB4.

Vamos entender o que significam as letras e os números.

Letras
As letras identificam a empresa. No nosso exemplo, ITUB representa as ações do Itaú, BBDC
representa as ações do Bradesco, BBAS representa Banco do Brasil e SANB representa o Santander.
Sempre que tiver dúvida e desejar consultar o nome e o código da ação através do site oficial da bolsa
visite esse endereço aqui e digite o nome da empresa. Para ver a lista de todas as empresas clique em
“Todas”.

Números
Os números indicam o tipo de ação, como ações ordinárias e preferenciais. Os números mais comuns
são 3, 4 e 11.

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O número 3 no final do código das ações como BBDC3, ITUB3, BBAS3 ou SANB3 nos informa que
essa ação é do tipo ordinária. As ações ordinárias, que também são representadas pela sigla ON, dão
aos donos da ação o direito de voto em assembleia e o de receber, de forma não preferencial, dividendos
da empresa.

O número 4 no final do código da ação representa uma ação preferencial. As ações preferenciais, que
também podem ser sinalizadas pela sigla PN, dão ao dono da ação o direito de receber dividendos da
empresa com prioridade. Isso significa que se você quer receber dividendos, que é a distribuição dos
lucros da empresa, você deve preferir comprar ações com final 4, quando elas existirem. Você também
poderá encontrar ações preferenciais com números 5, 6, 7 e 8. Muitas empresas não possuem mais essa
distinção e só oferecem um tipo de ação onde todos os sócios possuem os mesmos direitos aos
dividendos.

O número 11 no final do código, na maioria das vezes, identificam BDRs (Brazilian Deposit Receipts
– Certificados de depósitos de ações de companhias do exterior) ou Units, que são “pacotes de ações”
preferenciais e ordinárias negociadas em grupo. Exemplo: ao comprar SANB11 você está comprando
um “pacote” de ações que incluem uma ação ordinária e quatro ações preferenciais (que tem
preferência para receber dividendos). Veja quais são as ações do tipo “units” visitando aqui.

Letra “F” do Mercado Fracionário


Por padrão, as ações são negociadas na bolsa em blocos de 100 ações. Isso significa que se a ação de
uma empresa custa R$ 10,00 e o lote mínimo é de 100 ações, para negociar as ações dessa empresa
você deveria ter R$ 1.000,00 para investir.

Para comprar menos de 100 ações por negociação é necessário adquirir as ações no chamado mercado
fracionário. É como um mercado separado onde os investidores negociam entre 1 e 99 ações. O código
da ação fracionária recebe uma letra “F” no final.

Exemplo: a ação preferencial da Petrobras é PETR4 e através desse código é possível comprar lotes
de 100 ações. Se você desejar comprar somente 10 ações basta negociar utilizando o código PETR4F
(com a letra F no final). Você pode comprar essas frações e ao completar 100 ações PETR4F é possível
vender as 100 de uma só vez utilizando o código PETR4.

Comprar poucas ações no mercado fracionário pode ser uma ótima opção para os investidores que
ainda estão aprendendo por envolver quantias muito pequenas.

Não siga recomendações

Várias corretoras e os próprios bancos oferecem recomendações de investimentos. Algumas corretoras


fazem recomendações através de transmissões de vídeo ao vivo. Este é o caso da Clear. Como o nosso
foco é comprar ações pensando no longo prazo, não recomendo a participação nessas salas.

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Você já deve ter ouvido falar na frase “não existe almoço grátis”. Se corretoras como a Clear não
ganham dinheiro com corretagem e taxa de custódia, como ela ganha dinheiro? A Clear possui uma
página onde explica como ganha dinheiro mesmo não cobrando taxas.

O foco da Clear é o investidor que faz daytrade, ou seja, que compra e vende ações várias vezes durante
o dia, mas isso não impede o uso da Clear para comprar ações com foco no longo prazo. Para eles será
mais vantajoso motivar você a se tornar um daytrader, pois se você comprar e vender ações
freneticamente acabará tendo custos adicionais.

Exemplos: quem compra e vende ações diariamente precisa utilizar uma plataforma profissional para
análise de gráficos em tempo real. Essas plataformas são softwares que cobram mensalidades. O
investidor com foco no longo prazo não precisa desse tipo de ferramenta gráfica em tempo real. Quem
compra e vende ações todos os dias costuma deixar muito dinheiro parado na conta da corretora
esperando uma oportunidade de compra. Sobre esse valor parado na conta, a corretora recebe uma
remuneração denominada floating. Se o investidor comprar ações e esquecer de transferir dinheiro
para a corretora, existe a cobrança de uma multa.

Dessa forma, ao abrir conta em qualquer corretora você deve entender que faz parte do negócio deles
tentar motivar você a comprar e vender ações todos os dias. As corretoras contratam analistas gráficos
e youtuberes para realizarem esse trabalho de motivação. No caso da Clear, todos os dias existem salas
de vídeo onde analistas recomendam a compra e venda. Evite participar dessas salas, evite aceitar os
convites que você receberá por e-mail, caso o seu objetivo seja comprar ações com foco no longo
prazo.

Não confunda os seus objetivos financeiros com os objetivos financeiros da corretora. O que faz você
ganhar dinheiro na Bolsa não necessariamente é o mesmo que faz uma corretora ganhar dinheiro com
a Bolsa.

O seu objetivo é selecionar as melhores ações e só investir na ação que você considera correta com
base nos seus critérios, na proporção que você considera correta, no momento que você considera
correto. Já o objetivo da corretora é que você compre, venda, compre, venda, compre e venda.

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Preencher e enviar a ordem de compra

Aqui veremos que comprar uma ação é tão simples quanto comprar qualquer coisa na internet. Faremos
isso simulando o processo de compra. A corretora Clear possui um “Plataforma de Demonstração”
que funciona como uma simulação. Através dela você terá acesso ao ambiente simulado de compra e
venda de ações, antes de abrir conta na corretora.

O endereço da plataforma de demonstração é:


https://www.clear.com.br/pit/signin/Demo?controller=SignIn

Na figura abaixo temos uma foto do painel de controle de demonstração, que é idêntico ao ambiente
que você terá acesso quando a sua conta estiver aberta. No exemplo abaixo, você tem R$ 476.396,95
investidos na conta de demonstração da corretora. Tudo é fictício, mas muito semelhante com o real.

Observe que na primeira página é possível observar diversos quadros que representam as ações que
você possui. No exemplo que vi quando escrevi esse livro, apareciam ações da Ambev, BRF, Banco
do Brasil e Itaúsa. Para ver a imagem ampliada visite aqui. É claro que você não deve considerar o
nome dessas empresas como uma recomendação, pois apenas fazem parte da demonstração.

Gravei um vídeo mostrando todos os passos para a compra de um


lote de 100 ações e a compra de uma única ação. Assista ao vídeo
aqui.

O local do site onde você deve comprar as suas ações, com foco no
longo prazo se chama Swing Trade, como mostrei no vídeo acima.

É muito importante não confundir a opção Swing Trade e Day Trade. Ao comprar através do Swing
Trade você fará a compra hoje e poderá vender as suas ações em qualquer momento no futuro, não

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importando quando isso irá acontecer. Já na compra através da opção Day Trade será obrigatório
vender suas ações até o final do dia.

No vídeo, eu mostro todos os passos utilizando a conta de demonstração da corretora. Tenho conta em
outras corretoras e posso dizer que o processo é muito parecido. A diferença está na estrutura do site
de cada corretora, pois como são empresas diferentes, elas desenvolvem sites totalmente diferentes.

Por padrão, toda corretora tem algum tipo de “boleta de ordens” que é o formulário online onde você
preenche e envia a ordem de compra ou de venda das ações para a corretora. Elas também costumam
ter tutoriais, textos ou vídeos mostrando os passos.

Livro de ofertas

No vídeo eu também mostro o livro de ofertas. As ordens de todos os investidores, de todas as


corretoras do Brasil, aparecem nesse livro em tempo real. Esse ambiente funciona como uma espécie
de “feira livre” onde ocorrem leilões. Como já mostrei, a bolsa de valores no passado realmente parecia
uma feira onde os corretores, que representavam os compradores e vendedores das ações, gritavam o
preço que queriam pagar por ação ou o preço que queriam receber por ação.

Quando dois corretores gritavam o mesmo preço, ou seja, quando um aceitava vender ações por R$ 10
e outro queria comprar ações por R$ 10, o negócio era fechado. Hoje o mecanismo continua
acontecendo em um ambiente virtual que pode ser visto através do livro de ofertas ou book de ofertas.

Veja o exemplo da próxima figura:

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Na figura acima temos o livro de ofertas de uma ação no mercado fracionário. Veja que o código da
ação termina com a letra F e isso sinaliza que você pode negociar lotes de 1 ação ou de qualquer
quantidade até 99 ações.

No lado esquerdo temos todos os compradores. A coluna “COR.” Mostra o código da corretora que o
investidor está utilizando. No exemplo podemos ver várias ordens de compra de investidores da
corretora de número 308. Pesquisando nessa página aqui, você vai descobrir que se trata da corretora
Clear.

O fato da corretora Clear ser uma das corretoras com taxa de corretagem zero torna frequente a
participação de pequenos investidores comprando e vendendo poucas ações. No passado, quando as
corretoras cobravam taxas de R$ 10, R$ 20 ou até mais de R$ 30 por ordem, a compra e venda de
quantidades muito pequenas de ações se tornava financeiramente inviável.

A lista de compradores é ordenada a partir daqueles que aceitam pagar os maiores preços. Podemos
ver que temos dois compradores da Clear que aceitam pagar R$ 11,73. O primeiro da lista deseja
comprar 12 ações por R$ 11,73 cada. O segundo da lista quer comprar 5 ações pelo mesmo preço e
está em segundo lugar por ter enviado a ordem depois.

Se os compradores que estão abaixo do comprador no topo da lista quiserem ir para o topo, eles
precisam enviar uma ordem de R$ 11,74, ou seja, no mínimo R$ 0,01 maior que o primeiro da lista.

Se isso acontecer, uma venda será concretizada, pois como você pode ver na figura, existem dois
vendedores que aceitam receber R$ 11,74 por suas ações. O primeiro da lista de vendedores quer
vender 99 ações por R$ 11,74 cada. A lista de vendedores é organizada exibindo aqueles que ofertam

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ações pelo menor preço. Se os últimos da lista quiserem ir ao topo, basta enviar uma ordem com preço
de venda R$ 0,01 abaixo da ordem do vendedor que está no topo da lista.

Sempre que uma nova negociação é concluída com sucesso o seu preço aparece como sendo o último
preço da ação naquele momento. Assim que uma nova compra e venda ocorrerem, o preço será alterado
novamente. Agora ficou fácil entender qual o mecanismo que faz o preço das ações variarem tanto.

Quando existem muitas pessoas querendo comprar, elas tendem a enviar ordens por preços cada vez
maiores para que consigam ter suas ordens executadas. Quando existem muitas pessoas que querendo
vender, elas também querem que suas ordens sejam executadas e por isso oferece preços cada vez
menores.

Imagine que existem muitas pessoas querendo comprar essas ações e esses vendedores aceitam o preço
de R$ 11,74 e logo todos os vendedores compram todas as ações disponíveis por esse preço. Ficam
somente as ordens de vendedores dispostos a vender as ações por preços maiores. À medida em que
os compradores vão aceitando os preços maiores e comprando tudo que está disponível, o preço da
última negociação ficará cada vez mais alto.

Outros investidores que possuem essa ação percebem a alta do preço provocada pela disputa dos
compradores que aceitam pagar cada vez mais caro. Esses vendedores que não se interessavam pela
venda da ação por R$ 11,73, mas que gostam do preço de R$ 11,80 começam a enviar ordens de venda.
Se os compradores continuarem comprando tudo, logo o preço será empurrado para cima tornando a
venda ainda mais interessante.

Agora imagine que o preço da ação atingiu R$ 12,00. Imagine que grande parte compradores perderam
o interesse pela ação custando R$ 12,00, mas muitos que compraram por R$ 11,74 agora estão
enviando ordens de venda para obter lucro. Junto com muitos vendedores que estavam de fora e que
agora querem vender também, o número de interessados pela venda da ação por R$ 12,00 ficou bem
maior que o número de interessados pela compra da ação por esse preço.

Logo os vendedores começam a baixar o preço para R$ 11,99, R$ 11,98 ou R$ 11,97 para ficarem no
topo da lista dos vendedores e com isto terem a venda executada assim que surgir algum vendedor
aceitando pagar o que eles pedem. A disputa entre muitos vendedores por um comprador, entre os
poucos que estão dispostos a comprar, é que faz o preço da ação cair.

Aqui temos a mesma lei de oferta e demanda que interfere no preço dos produtos de uma feira livre.

Imagine uma feira. No começo da feira, temos mais compradores do que vendedores e os preços das
frutas podem ser negociados facilmente sem oferecer nenhum desconto.

No fim da feira, quando poucos compradores circulam entre as barracas, os vendedores estão em maior
número e começam a disputar a atenção de cada cliente que passa. Cada vendedor começa a gritar que
reduziu seu preço para atrair os poucos compradores interessados.

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Liquidação

Quando você envia a sua ordem de compra ou venda e ela é executada, começa um período chamado
de “Ciclo de liquidação” que demora 3 dias úteis. Se você comprou ações, no final desses três dias o
dinheiro sairá da sua conta e você receberá suas ações. Se você vendeu ações, o dinheiro estará
disponível na sua conta na corretora depois de 3 dias úteis.

Você pode acompanhar o extrato de suas ações através do site da sua corretora ou através do “Canal
Eletrônico do Investidor” que fica no endereço https://cei.b3.com.br/ da Bolsa de Valores. Neste site
é possível acessar informações sobre todos os investimentos que um dia você adquiriu através das
corretoras.

É importante destacar que as suas ações ficaram vinculadas ao seu nome e CPF na Bolsa de Valores.
As corretoras são apenas agentes ou intermediadoras entre você e a Bolsa. Dessa forma, se um dia
você quiser utilizar outra corretora para vender e gerenciar suas ações é possível fazer a migração
preenchendo e assinando um simples formulário.

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Quando você abre a sua conta na corretora e ela faz o seu registro na B3, você recebe por e-mail ou
pelos correios, a senha de acesso ao CEI. Caso tenha qualquer dúvida sobre o CEI visite aqui ou entre
em contato com a corretora.

Nesse capítulo você viu todos os passos para comprar ações. Como vimos, se tornar sócio das maiores
empresas do Brasil é fácil e rápido como comprar qualquer coisa na internet.

A parte mais trabalhosa acontece antes e depois da compra. Antes da compra você precisa escolher
quais ações pretende comprar e para isso é necessário conhecer a empresa que você deseja se tornar
sócio.

Depois da compra é importante acompanhar o desempenho da empresa. A cada três meses novos
números são disponibilizados pelas empresas. É nesse momento que você fará uma nova avaliação
para identificar se os fundamentos da empresa continuam positivos e se é vantajoso continuar sócio do
negócio.

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Os números das empresas

Você deve entender uma empresa como uma grande máquina de produzir riquezas. Essa máquina é
alimentada com matérias-primas vindas de inúmeros fornecedores, dinheiro e tecnologias de diversos
tipos. Com a ajuda de trabalhadores qualificados nas mais diversas áreas, esses recursos se
transformam em produtos e serviços valiosos para os consumidores.

Quando as vendas ocorrem, a empresa começa a repartir as receitas dessas vendas com os
fornecedores, trabalhadores (salários), financiadores (juros) e governo (impostos). Quanto todos os
envolvidos são pagos, sobra o lucro líquido. Os lucros que sobram são utilizados para reinvestir na
empresa, reduzir dívidas e remunerar os acionistas (todos que possuem ações da empresa).

Se uma empresa fosse uma máquina de fazer dinheiro, o seu combustível seria uma parte do dinheiro
que produz. Uma máquina que gasta dinheiro para produzir dinheiro só faz sentido se ela for capaz de
gastar menos dinheiro do que produz.

É com o dinheiro que a empresa pode construir fábricas, abrir novas lojas, contratar e treinar
trabalhadores, adquirir tecnologias, matéria-prima e pagar impostos. Empresas consomem dinheiro
para produzir dinheiro assim como máquinas consomem combustíveis e energia para produzir algo.

Empresas eficientes gastam pouco dinheiro para produzir muito valor e assim obter mais dinheiro do
que gastaram para produzir e vender seus produtos e serviços. Uma empresa que gasta mais dinheiro
do que ganha, não está funcionando corretamente. É como uma máquina de desperdício.

Essa diferença entre o que a empresa gasta para produzir e o que ela ganha vendendo o que produziu
é o lucro. Obter lucro é a razão existencial das empresas com fins lucrativos que são negociadas na
Bolsa de Valores.

Esse lucro é utilizado para remunerar as pessoas que investiram suas economias na empresa e para
fazer a mesma crescer com o objetivo de produzir mais produtos e serviços, aumentar suas receitas e
consequentemente elevar seus lucros.

Empresas não são máquinas simples. Algumas indústrias listadas na bolsa possuem mais de 60 mil
funcionários, como é o caso da Petrobras (fonte). Alguns varejistas como o grupo GPA, que controla
o supermercado Pão de Açúcar e outras marcas famosas, possui mais de 2000 lojas e 140 mil
funcionários.

Imagine o que significa administrar todos os recursos financeiros, materiais e humanos, todos os dias,
ano após ano para gerar e distribuir riquezas quando você controla uma máquina desse porte.

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A foto acima mostra a cabine de um ônibus espacial. Isso certamente é uma das máquinas mais
complexas e sofisticadas já desenvolvidas pela humanidade.

Para que o ônibus espacial possa realizar o seu trabalho, todos os seus sistemas precisam funcionar
corretamente. São milhares de botões, luzes, monitores, indicadores e números que confirmam se todos
os sistemas estão funcionando bem.

Uma empresa também é um enorme conjunto de sistemas que precisam funcionar bem. Também é
possível saber se as empresas onde você pretende investir estão funcionando como deveriam através
do monitoramento de números, indicadores e gráficos.

A figura logo abaixo é a foto de uma das planilhas que criei para estudar os números das empresas
para descobrir se elas estão funcionando bem. Esses números não são resultados de operações
matemáticas complexas. As únicas coisas que você precisa saber sobre matemática para entender o
que irei explicar nesse livro são as quatro operações: adição, subtração, multiplicação e divisão.

Você verá, no decorrer deste livro, que a única grande dificuldade que o pequeno investidor enfrenta
no Brasil é a forma como as informações são disponibilizadas para ele. A Bolsa e a própria CVM não
facilitam as coisas e o pequeno investidor precisa se virar como pode.

Felizmente, nesse livro, você vai aprender tudo começando do zero. Vamos começar pelo que existe
de mais básico.

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Volante de um carro que participou da primeira corrida de Fórmula 1 e
o volante usado nas corridas mais recentes. O básico é simples e
precisamos começar aprendendo por ele.

Para se investir em ações, além de conhecimento, você precisa de ferramentas capazes de processar os
dados fornecidos pelas empresas.

Todas as empresas com ações negociadas na bolsa são obrigadas a divulgar uma série de números que
permitem aos investidores acompanhar sua situação financeira e os seus resultados.

Esses números estão em relatórios que chamamos “Demonstrações Contábeis”. Existem três
demonstrações contábeis importantes que as empresas disponibilizam aos investidores a cada
trimestre:

1. Balanço Patrimonial – é um retrato da empresa. Ele mostra tudo que a empresa tem e tudo
que a empresa deve. Todas as empresas possuem dinheiro e coisas que valem dinheiro
como investimentos, matéria-prima, produtos em estoque, instalações, máquinas,
tecnologias, imóveis e até bens intangíveis como a sua marca. Empresas também possuem
passivos como dívidas com seus funcionários, fornecedores, bancos, governo etc. O
balanço é um retrato. Quando comparamos esse retrato com retratos anteriores podemos
ver se o patrimônio da empresa está crescendo e se as suas dívidas se encontram
equilibradas.
2. Demonstração de Resultado de Exercício (DRE) – mostra quais foram os resultados
financeiros que a empresa teve no último trimestre ou nos últimos 12 meses. Ele nos diz
quanto a empresa conseguiu gerar de receita, quanto pagou de custos e despesas e
finalmente quando sobrou de lucro para ser reinvestido ou distribuído entre os acionistas.

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3. Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) – mostra as entradas e saídas de dinheiro do
caixa de uma empresa e quais foram os resultados desse fluxo.

Esses relatórios são gerados e auditados por profissionais de contabilidade. A contabilidade é


considerada uma espécie de linguagem do mundo dos negócios. Aprender uma linguagem nova é
sempre uma iniciativa desconfortável no primeiro momento.

Assim como não é agradável se esforçar para entender um texto escrito em uma língua desconhecida,
não será agradável se deparar pela primeira vez com o balanço ou uma demonstração de resultado de
uma empresa, pois você estará diante de uma língua nova.

A grande quantidade de números desses demonstrativos contábeis também pode assustar aqueles que
possuem algum trauma com relação ao uso da matemática, mas aqui eu posso tranquilizar você.

Felizmente, como já falei, a matemática necessária para entender os números das empresas só envolve
as quatro operações. O meu trabalho aqui será apresentar o que é importante saber da forma mais
simples e didática possível para os iniciantes. Veremos que existem ferramentas que nos ajudam a
estudar os números. Algumas ferramentas são gratuitas e outras são pagas.

Divulgação obrigatória de informações

As empresas com ações negociadas na bolsa são chamadas de empresas de capital aberto. Todas elas
são obrigadas a divulgar seus números. Isso tem como base essa lei aqui, principalmente os artigos
175 até o artigo 188.

A CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Economia. Ela tem poderes para disciplinar,
normalizar e fiscalizar a atuação dos diversos integrantes do mercado financeiro. Seu poder de
normalizar abrange todos os assuntos referentes ao mercado de valores mobiliários. Fraudes contábeis
são severamente punidas, não só pela CVM, mas pelo Banco Central e a própria justiça.

A publicação dos números das empresas segue um padrão internacional conhecido como IFRS –
Internacional Financial Reporting Standards (Normas Internacionais de Relatórios Financeiros). Essas
normas são elaboradas pela IFRS Foundation.

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Onde acessar os dados

Agora vou mostrar como você poderá encontrar os números das empresas através dos balanços e
demonstrações que elas divulgam. Existem diversas formas de fazer isso.

Relações com Investidores (RI)

Todas as grandes empresas possuem sites na internet especialmente criados para fornecer informações
para os investidores. O problema é que existem centenas de empresas listadas na bolsa e cada uma tem
o seu próprio site para fornecer suas informações aos investidores. Cada site é totalmente diferente do
outro. Algumas empresas capricham no desenvolvimento desses sites e em seus relatórios e isso
sinaliza que ela se importam com os pequenos investidores. Outras não fazem o mesmo.

Uma forma de encontrar esses sites é fazendo uma busca no Google pela palavra “relações com
investidores” ou simplesmente “RI” junto com o nome da empresa.

Gravei um vídeo mostrando como localizar e baixar o balanço de qualquer empresa. Assista ao vídeo
clicando aqui (ele não possui som).

Pesquisei para você o endereço do site “Relações com Investidores” de 60 grandes empresas que, por
sua relevância, fazem parte do índice que mede o desempenho da bolsa brasileira (Índice Bovespa).

Lista de sites de Relações com Investidores


AMBEV S/A ABEV3 http://ri.ambev.com.br
B3 B3SA3 http://ri.bmfbovespa.com.br/
BANCO DO BRASIL BBAS3 https://ri.bb.com.br
BRADESCO BBDC3 https://www.bradescori.com.br/
BBSEGURIDADE BBSE3 http://www.bbseguridaderi.com.br/
BRADESPAR BRAP4 https://www.bradespar.com.br/SiteBradespar/
PETROBRAS BR BRDT3 http://www.investidorpetrobras.com.br/
BRF SA BRFS3 https://ri.brf-global.com/
BRASKEM BRKM5 http://www.braskem-ri.com.br/
BR MALLS PAR BRML3 http://ri.brmalls.com.br/
B2W DIGITAL BTOW3 https://ri.b2w.digital/
CCR SA CCRO3 http://ri.ccr.com.br/
CIELO CIEL3 https://ri.cielo.com.br/
CEMIG CMIG4 http://ri.cemig.com.br/
COSAN CSAN3 http://ri.cosan.com.br/
SID NACIONAL CSNA3 http://ri.csn.com.br/pt-br/
CVC BRASIL CVCB3 http://ri.cvc.com.br/
CYRELA REALT CYRE3 https://cyrela.globalri.com.br/
ECORODOVIAS ECOR3 http://ri.ecorodovias.com.br
ENGIE BRASIL EGIE3 https://www.engie.com.br/investidores/

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ELETROBRAS ELET3 https://eletrobras.com/pt/ri/Paginas/home.aspx
EMBRAER EMBR3 https://ri.embraer.com.br/
ENERGIAS BR ENBR3 http://enbr.infoinvest.com.br/
EQUATORIAL EQTL3 https://ri.equatorialenergia.com.br/
ESTACIO PART ESTC3 https://ri.estacio.br/
FLEURY FLRY3 http://ri.fleury.com.br/
GERDAU GGBR4 https://ri.gerdau.com/
GOL GOLL4 http://ri.voegol.com.br/
HYPERA HYPE3 https://hypera.riweb.com.br/
IGUATEMI IGTA3 http://ri.iguatemi.com.br/
ITAUSA ITSA4 http://www.itausa.com.br/
ITAUUNIBANCO ITUB4 https://www.itau.com.br/relacoes-com-investidores/Default.aspx
JBS JBSS3 https://jbss.infoinvest.com.br/
KLABIN S/A KLBN11 http://ri.klabin.com.br/
KROTON KROT3 http://ri.kroton.com.br/
LOJAS AMERICANAS LAME4 https://ri.lasa.com.br/
LOG COM PROP LOGG3 http://ri.logcp.com.br/
LOJAS RENNER LREN3 http://www.mzweb.com.br/renner/
MAGAZ LUIZA MGLU3 https://ri.magazineluiza.com.br/
MARFRIG MRFG3 http://ri.marfrig.com.br/
MRV MRVE3 https://ri.mrv.com.br/
MULTIPLAN MULT3 http://ri.multiplan.com.br/
NATURA NATU3 https://natu.infoinvest.com.br/
PÃO DE AÇÚCAR PCAR4 http://www.gpari.com.br
PETROBRAS PETR3 http://www.investidorpetrobras.com.br/
QUALICORP QUAL3 http://ri.qualicorp.com.br
RAIADROGASIL RADL3 https://www.rd.com.br/
RUMO S.A. RAIL3 http://ri.rumolog.com/
LOCALIZA RENT3 https://ri.localiza.com/
SANTANDER BR SANB11 https://www.ri.santander.com.br/
SABESP SBSP3 http://www.sabesp.com.br/investidores
SUZANO PAPEL SUZB3 http://ri.suzano.com.br/
TAESA TAEE11 http://ri.taesa.com.br
TIM TIMP3 http://ri.tim.com.br/
ULTRAPAR UGPA3 http://ri.ultra.com.br/
USIMINAS USIM5 http://ri.usiminas.com/
VALE VALE3 http://www.vale.com/investidores
TELEFONICA VIVT4 http://ri.telefonica.com.br/
VIAVAREJO VVAR3 http://ri.viavarejo.com.br/
WEG WEGE3 https://ri.weg.net/

Você deve concordar comigo que seria muito custoso visitar todos esses sites, encontrar e baixar todos
as demonstrações para poder estudar. Isso só faz algum sentido quando você já escolheu algumas
poucas empresas para investir. Nessa fase inicial, o ideal seria utilizar uma forma de obter as
informações em um único lugar e de forma padronizada.

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Conteúdo bruto na B3

Como você já sabe, a B3 (http://www.b3.com.br) é a empresa responsável pela bolsa. Acessar qualquer
informação no site da B3 é sempre uma experiência pouco intuitiva. Gravei um vídeo mostrando todos
os passos até encontrar os balanços e demonstrativos de qualquer empresa. Assista ao vídeo onde eu
mostrei o caminho. Veja um exemplo de como a B3 apresenta a Demonstração de Resultado:

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Imagine o transtorno que seria para o pequeno investidor estudar todos esses números apresentados
nesse formato bruto. Parece desanimador para a maioria das pessoas.

A B3 bem que poderia oferecer conteúdo de forma mais amigável para o pequeno investidor que
escolhe ações através da análise dos fundamentos da empresa.

Eles até já oferecem uma boa ferramenta para a análise gráfica dos preços das ações (veja aqui). No
meu livro sobre “Como Investir na Bolsa: Análise Técnica” eu ensino a utilizar essa ferramenta. Mas,
infelizmente, para o pequeno investidor que precisa utilizar a análise dos fundamentos, a Bolsa não
oferece qualquer ferramenta que facilite a vida do investidor.

As empresas, através dos seus relatórios e balanços, muitas vezes tentam enriquecer o conteúdo
apresentando gráficos, simulações e alguns indicadores que ajudam o pequeno investidor, mas nem
todas fazem isso. Muitas vezes as empresas se limitam a prover os dados crus, sem qualquer histórico
ou processamento. É comum as empresas só destacarem os dados que elas querem destacar ficando o
restante disponível nas tabelas com dados contábeis.

A CVM também possui uma página onde podemos baixar os balanços e demonstrações, mas esse site
consegue ser pior que o site da B3 (veja aqui). Você também pode baixar planilhas Excel com todos
os dados de todas as empresas através da CVM visitando aqui, mas o que temos são planilhas com
quase 20 mil linhas de números contábeis brutos, sem muita praticidade para o pequeno investidor.

Muitas vezes a Bolsa tentou popularizar o investimento em ações no Brasil, principalmente o


investimento de longo prazo, mas isso será difícil enquanto eles não desenvolverem ferramentas que
facilitem o acesso à informação para o pequeno investidor, já que os grandes investidores pagam por
serviços que fornecem dados processados e gráficos sobre todas as empresas.

Ferramenta gratuita

Existem alguns poucos sites gratuitos que tentam organizar os números de todas as empresas em um
só lugar. Por serem sites gratuitos, não podemos esperar muito deles, pois manter um site que processa
todos os dados financeiros de todas as empresas representam grandes custos de programação e
manutenção. Um dos sites gratuitos mais conhecidos se chama Fundamentus.

O recurso mais interessante do site Fundamentus (http://fundamentus.com.br/) é a possibilidade de


baixar os balanços patrimoniais e demonstrações de resultados em planilhas que podem ser abertas em
softwares como o Excel. Eles também oferecem algumas informações dos balanços e demonstrações
financeiras na forma de gráficos e veremos que isso facilita muito a vida do pequeno investidor.

O procedimento para baixar essas planilhas é bem simples. Primeiro faça a busca pela empresa que
você deseja consultar no campo de busca no topo do site. Depois clique em “Dados Históricos” no
menu horizontal, na parte superior direita da página. Em seguida clique em “Balanços em Excel”.
Digite o código de letras e números que aparece na figura e clique em baixar.

33
A planilha terá duas abas, como mostra a figura logo abaixo. A primeira aba mostrará o histórico de
balanços patrimoniais dos trimestres dos últimos 10 anos. Clicando na aba “Dem. Result.” é possível
ver o histórico de demonstrações de resultados.

Não se assuste com esse mar de números. Existe formas mais fáceis de analisar esses dados, mas você
precisa primeiro entender suas origens. O próprio site Fundamentus soma, diminui, multiplica e divide
esses números até encontrar indicadores como esses aqui:

34
Vamos conhecer muitos desses indicadores neste livro. Eles facilitam as coisas, pois são calculados
utilizando aquele mar de números que aparecem nos balanços e demonstrações. O único problema é
que esses indicadores que aparecem na figura acima mostram apenas a situação atual da empresa, ou
seja, o Fundamentus não mostra um histórico de todos os indicadores para que você possa avaliar se
eles estão melhorando ou piorando com o passar do tempo.

O estudo dos gráficos ajuda muito a identificar se a situação financeira da empresa está melhorando
com o passar do tempo ou se está se deteriorando. O Fundamentus exibe um número bem limitado de
gráficos com dados dos últimos 10 anos. Veja o exemplo logo abaixo. Você deve concordar que avaliar
os números através dos gráficos é bem mais fácil e rápido do que avaliar o mar de números das
planilhas.

35
Mais na frente vamos entender como ler esses gráficos, mas agora imagine o que seria baixar balanços
dos últimos 10 anos no site de cada empresa para depois montar esses gráficos manualmente no Excel

36
para conseguir enxergar a evolução dos números da empresa. Assista ao vídeo onde eu mostro os
passos para acessar esses gráficos acima.

Serviços como o Fundamentus ajudam muito o pequeno investidor, mas não podemos exigir muito do
serviço gratuito. Existem algumas limitações. Os indicadores fundamentalistas que o Fundamentus
exibe no site são arredondados. Esse arredondamento pode atrapalhar, pois a precisão da informação
fica comprometida. Os dados que eles exibem também podem demorar para serem atualizados.

Mesmo assim, por ser a ferramenta gratuita mais popular disponível, a utilizaremos como uma das
fontes gratuitas de informação durante o estudo que faremos sobre cada fundamento.

Durante os seus estudos, os dados arredondados do Fundamentus serão úteis. Já no momento de


investir de verdade, o ideal será buscar informações retiradas do site de “Relações com Investidores”
de cada empresa ou fazendo o que eu faço que é utilizar uma ferramenta profissional, por assinatura.

Ferramenta para smartphone

Existe uma ferramenta para smartphones chamada TradeMap que permite acessar gráficos gerados a
partir de balanços e demonstrações financeiras das empresas. Existe uma versão para Android e a
versão para Iphone, bastando procurar pelo nome TradeMap nas lojas de aplicativos do seu aparelho.
Após a instalação eles exigem que você faça um cadastro para poder acessar os dados gratuitamente.

Gravei um vídeo mostrando onde você deve clicar para acessar os gráficos baseados em dados
históricos de indicadores e balanços das empresas no TradeMap. Assista ao vídeo aqui.

Por serem gráficos feitos para a tela de um celular, muitas vezes eles aparecem distorcidos e isso pode
prejudicar a análise. Veja o exemplo do patrimônio líquido da Petrobras no site Fundamentus:

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Agora veja o mesmo gráfico no aplicativo TradeMap:

Observe que o gráfico do Fundamentus tem uma escala que vai de 0 até 360 bilhões enquanto o
TradeMap tem uma escola que começa em um pouco menos de 260 bilhões até 360 bilhões.

No site Fundamentos temos uma ideia mais realista do que representou a queda do patrimônio líquido
de 360 para 260 bilhões a partir de 2014 com relação ao que representa esses 100 bilhões em relação
ao todo.

Já no TradeMap, olhamos o gráfico como se ele estivesse com um “zoom” e temos a impressão de que
a queda no patrimônio foi muito maior por não ser possível ver uma escala completa que começa do
zero e vai até o máximo.

Na figura logo abaixo eu destaquei qual é a parte do gráfico no Fundamentus que você está vendo
através do TradeMap. Veja:

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Isso significa que ao observar o gráfico através do TradeMap você deve considerar que está olhando
um gráfico que pode distorcer o que representam os movimentos de alta e de baixa dos indicadores
por não ser possível ver a escala que vai do zero até o valor máximo. É como se você estivesse olhando
somente um pedaço do que deveria estar olhando.

Existem outros sites gratuitos que oferecem dados gratuitos, mas encontrei algum problema na maioria
deles como dados que demoram muito tempo para serem atualizados.

Ferramenta Profissional

Existem diversas empresas que capturam, organizam, analisam e entregam dados sobre os
fundamentos de todas as empresas listadas na bolsa. O grande problema é que, até pouco tempo, esses
serviços só eram viáveis para grandes investidores devido ao seu elevado custo mensal. Exemplos de
empresas que fornecem dados fundamentalistas para grandes investidores são: Economática,
Bloomberg, Reuters e outras.

A Economática, uma das mais baratas, cobra pelo menos R$ 2.500,00 por mês para fornecer gráficos,
buscas e filtros para que você estude e compare os números das empresas. Não faz sentido para um
pequeno investidor assumir um custo de R$ 30 mil por ano para ter informações de forma rápida e
fácil como os grandes investidores.

Com isso, nos restaria ficar com o mar de números fornecidos gratuitamente pela B3, Fundamentus e
sites de Relações com Investidores de cada empresa.

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Felizmente existe uma alternativa direcionada para o pequeno investidor e que custa alguns poucos
reais por mês. Essa alternativa se chama GuiaInvest PRO.

Conheça o serviço visitando aqui. Visite a página promocional de assinatura. Eles também possuem
uma versão gratuita, mas que possuem recursos limitados. Veja o formulário de inscrição na versão
gratuita.

Veja o exemplo de um dos diversos relatórios gerados pelo GuiaInvest PRO que utiliza praticamente
todos os números importantes dos balanços e demonstrativos de uma empresa nos últimos 10 anos. É
bem mais fácil, rápido e agradável estudar os números através dos gráficos.

Qualquer pessoa, através dos gráficos e dos conhecimentos desse livro, seria capaz de identificar se a
empresa está com receitas, custos, margens de lucro, dividendos e outros números em tendência de
alta ou de baixa.

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Exemplo de gráficos de mostra a situação financeira de uma única empresa através do GuiaInvest PRO. Fica mais fácil
visualizar a tendência de cada número da empresa através dos gráficos fundamentalistas.

Durante esse livro faremos nossos estudos utilizando os dados como os obtidos no Fundamentus,
TradeMap e na versão gratuita do GuiaInvest. Também vou mostrar exemplos de dados obtidos através
do GuiaInvest PRO (versão paga por assinatura).

Também utilizaremos dados brutos dos relatórios fornecidos pelas empresas e que você pode baixar
no site de Relações com Investidores de cada uma. Felizmente, algumas empresas também apresentam
seus resultados de forma gráfica e com históricos, mas nem todas fazem isso.

No mundo dos investimentos, a boa informação é a alma do negócio. Os bem informados ganham, os
que possuem informações ruins ou parciais acabam perdendo.

A informação de qualidade é a matéria-prima do investidor bem-sucedido. Busque sempre investir em


fontes de informação que tenha qualidade.

Você deve encarar sua atividade como investidor com o mesmo profissionalismo que você conduz sua
atividade profissional.

Tenho certeza que você sempre investe em conhecimentos e ferramentas de qualidade para realizar
um bom trabalho. Você deve fazer o mesmo no momento de investir os frutos do seu trabalho, ou seja,
quando realizar seus investimentos financeiros.

41
Balanço Patrimonial

O balanço patrimonial de uma empresa é um retrato ou uma radiografia que mostra sua situação
financeira em uma determinada data. Através dele é possível saber tudo que a empresa tem (ativos),
tudo que a empresa deve (passivos) e o que sobra quando descontamos tudo que a empresa deve de
tudo que ela tem (patrimônio líquido).

Normalmente as empresas divulgam balanços trimestralmente. O investidor terá a oportunidade de


analisar os novos números da empresa quatro vezes por ano, para identificar o seu crescimento,
estagnação ou sua degradação financeira. O resultado desse estudo que cada investidor faz será a
decisão de comprar, manter ou vender as ações que possui.

Quando os números do novo balanço estão melhores do que o esperado, muitos investidores decidem
pela compra. Quando os números estão piores do que o esperado, muitos decidem pela venda ou a
manutenção das ações para uma nova avaliação no próximo balanço.

A valorização das ações, baseada nos fundamentos da empresa, depende de uma sequência de
trimestres com balanços e resultados financeiros que superam positivamente as expectativas dos
investidores.

Já uma desvalorização das ações, baseada nos fundamentos, depende de uma sequência de balanços e
resultados trimestrais que decepcionam os investidores.

Para que você entenda o que é um balanço, observe a próxima figura. Ela representa o balanço
patrimonial da empresa Petrobras, que é uma empresa que certamente você já conhece.

Observe atentamente que o balanço da Petrobras está dividido em duas grandes tabelas chamadas de
Ativos e Passivos.

Leia cada item do balanço sem qualquer preocupação com o significado. Apenas leia para que
possamos continuar.

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Na parte do balanço onde encontramos os Ativos, temos uma lista de tudo que a empresa possui e na
parte dos Passivos temos uma lista de tudo que a empresa deve. Observe que no final do balanço existe
o Patrimônio Líquido que é tudo que sobra quando descontamos tudo que a empresa deve de tudo que
ela possui.

Vamos apresentar cada parte do balanço com mais detalhes, mas antes é importante que você entenda
bem o que significa um balanço.

Uma boa forma de entender como funciona o balanço patrimonial de uma empresa seria realizar o
exercício de construir o balanço patrimonial da sua vida financeira.

Vamos imaginar que todo dinheiro que você tem se resume a: R$ 500 no bolso e R$ 9500,00 investido
no banco. Além disso você tem dois bens: um carro que vale R$ 50 mil e uma casa que vale R$ 400
mil. Isso é tudo que você tem e isso é o que chamamos de ativos.

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Agora vamos imaginar tudo que você deve. Vamos imaginar que você deve (no curto prazo) R$ 200,00
no cartão de crédito e R$ 5.000,00 de um empréstimo. No longo prazo você deve R$ 70 mil de parcelas
do financiamento do seu carro e R$ 300 mil de parcelas do financiamento da sua casa. Isso é tudo que
você deve e que recebe o nome de passivo.

Vamos organizar tudo isso em duas tabelas para somar seus ativos e passivos. O que for dinheiro ou
puder se transformar em dinheiro imediatamente iremos chamar de Ativo Circulante. O que forem
bens que precisam ser vendidos, caso você precise de dinheiro, ficará no Ativo Não Circulante. Já o
que for dívida de curto prazo ficará no Passivo Circulante e o que for dívida de longo prazo ficará no
Passivo Não Circulante. Veja como ficam as tabelas com todos os seus ativos e passivos:

Neste exemplo acima temos o balanço patrimonial da vida financeira de uma pessoa. Ela tem R$ 460
mil de ativos e R$ 375.200,00 de passivos. Se essa pessoa resolvesse pegar tudo que tem para quitar
todas as suas dívidas, ela ficaria com R$ 84.800,00. Podemos dizer que esses R$ 84.800,00 é o
patrimônio líquido dessa pessoa. Fica bem claro que quanto mais patrimônio líquido, mais rica é a
pessoa.

Você emprestaria dinheiro para alguém que tem mais passivos (dívidas) do que ativos? Você gostaria
de se tornar sócio de uma empresa que tem mais passivos do que ativos ou que tem patrimônio líquido
baixo ou negativo? Nem eu!

Isso mostra a importância do balanço patrimonial como uma radiografia da situação financeira das
empresas, pois os investidores querem comprar empresas que possuem mais ativos e menos passivos.
Na prática, ao comprar ações você está comprando o patrimônio líquido da empresa. Empresas com
mais passivos do que ativos e, consequentemente, sem patrimônio líquido, não são vistas como bons
investimentos, principalmente se não conseguem gerar lucros e estão com dívidas crescentes.

Agora vamos conhecer cada parte do balanço patrimonial.

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Ativos

Nos ativos do balanço patrimonial de uma empresa, encontramos tudo que a empresa possui de valor.
Aqui encontraremos o dinheiro vivo que ela tem, saldo de contas bancárias, investimentos que ela pode
ter feito em algum banco, ações que ela possui de outras empresas, valor de produtos estocados,
terrenos, imóveis, máquinas, fábricas, veículos e até bens intangíveis como softwares, patentes, marcas
etc.

Se a empresa vendeu a prazo ou emprestou dinheiro e tem o direito a receber esses valores no futuro,
esses direitos também aparecem nos ativos. Tudo que representa um bem ou direito da empresa faz
parte dos seus ativos.

Observe no balanço que os ativos estão divididos em dois grupos chamados de Ativos Circulantes e
Ativos Não Circulantes. Veja:

Na figura acima podemos observar que em 2018 a Petrobras tinha R$ 143 bilhões em Ativos
Circulantes, R$ 716 bilhões em Ativos Não Circulantes. A soma dos dois ativos aparece no campo
“Total do Ativo” e representa 860 bilhões (143 + 716 = 860). Veja que podemos comparar a coluna
referente aos ativos de 2018 com os ativos do ano anterior. Isso já permite observar se ocorreu
aumento ou redução dos ativos da empresa de um ano para o outro.

Ativos Circulantes

No Ativo Circulante encontramos todo dinheiro que a empresa possui e tudo que possa ser
transformado em dinheiro no curto prazo, ou seja, em menos de 12 meses. Esses valores estão

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organizados em subgrupos. Existem muitos subgrupos, mas os mais comuns em todos os balanços são
esses:

• Caixa e equivalente de caixa – representa todo dinheiro vivo que a empresa possui ou dinheiro
depositado em suas contas correntes nos bancos. Esses são os recursos que a empresa pode
utilizar imediatamente. No exemplo do balanço acima podemos ver que a Petrobras tinha 53
bilhões em caixa.
• Títulos e valores mobiliários – são investimentos que a empresa pode ter feito como a compra
de títulos emitidos por bancos, títulos públicos ou títulos de diversos tipos que tenham
vencimento menor do que 1 ano. No exemplo temos mais de R$ 4.1 bilhões nesse subgrupo do
balanço.
• Contas a receber no curto prazo – nem sempre os clientes compram à vista e as empresas
acumulam valores a receber. Se o prazo de recebimento for inferior a 1 ano, esse valor ficará
representado nessa parte do balanço. No exemplo do balanço da Petrobras é possível observar
R$ 22 bilhões a receber.
• Estoque – empresas como indústrias e comércios possuem grandes estoques de produtos
acabados, matéria-prima e insumos. No exemplo da Petrobras ela tinha 34 bilhões nesse
subgrupo do balanço.

Existem diversas classificações ou nomes dados para os valores que aparecem nos balanços e isso
poderá mudar muito dependendo do tipo de empresa como indústria, comércio, serviços, bancos etc.

O que devemos entender é que o Ativo Circulante agrega tudo que a empresa possui de valores
disponíveis para uso imediato. Normalmente são recursos necessários para que a empresa funcione.

O nome circulante vem da ideia de que se trata de recursos que estão circulando pela empresa para
garantir o seu funcionamento diário. Voltando para o exemplo pessoal, seria o mesmo que o dinheiro
que você guarda na carteira para os gastos do dia e aquele dinheiro que fica no banco para pagar contas
que vencem durante o mês.

É do ativo circulante que a empresa costuma tirar os recursos que precisa para pagar dívidas de curto
prazo que estão listadas no Passivo Circulante, que veremos mais na frente, como: salários,
fornecedores, impostos, parcelas de empréstimos e financiamentos que serão pagos nos próximos 12
meses, pagamento de debêntures etc.

No balanço da Petrobras podemos observar um total de R$ 860 bilhões de ativos sendo R$ 143 bilhões
de Ativos Circulantes e R$ 761 bilhões de Ativos Não Circulantes. Agora vamos entender o que são
os ativos não circulantes.

Ativo Não Circulante

Aqui encontraremos todos os bens permanentes e/ou imobilizados da empresa como máquinas,
veículos, fábricas, lojas, prédios, terrenos, instalações etc. No caso da Petrobras temos até navios,
46
poços de petróleo e plataformas. No Ativo Não Circulante também encontramos bens intangíveis como
marcas, patentes, direitos de exploração e outros bens valiosos que não são físicos.

O dinheiro das vendas, que só serão recebidas em prazos acima de 1 ano, também está no Ativo Não
Circulante. De modo geral, podemos dizer que todos os bens e direitos da empresa que não possuem
liquidez fazem parte do Ativo Não Circulante.

Podemos observar no balanço do nosso exemplo que grande parte do Ativo Não Circulante da
Petrobras está concentrado em bens imobilizados que são as fábricas, máquinas, imóveis, plataformas,
terrenos etc. Isso é comum nos balanços das indústrias, empresas que exploram petróleo, minério etc.

Passivo

Nos passivos temos todos os valores que a empresa deve. As empresas sempre devem salários,
fornecedores, empréstimos, financiamentos, provisões, contingências e até devem aos clientes que
compram e ainda não receberam.

As dívidas de curto prazo ou que precisam ser pagas em menos de 1 ano são chamadas de Passivo
Circulante. As dívidas com vencimento acima de 1 ano estão no Passivo Não Circulante.

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Passivo Circulante

Aqui encontramos tudo que a empresa deve no curto prazo (menos de 1 ano). Os principais Passivos
Circulantes são fornecedores, impostos, parcelas de empréstimos, salários, obrigações trabalhistas e
sociais, pagamento de debêntures etc.

Normalmente as empresas utilizam os recursos que possuem no Ativo Circulante para pagar dívidas
que estão no Passivo Circulante. Dessa forma, é esperado que a empresa tenha mais Ativos Circulantes
que Passivos Circulantes. No balanço de exemplo podemos constatar que a empresa tem R$ 143
bilhões nos Ativos Circulantes e R$ 97 bilhões nos Passivos Circulante. Isso significa que a empresa
tem mais do que o suficiente para pagar o que deve no curto prazo.

Se não existissem recursos suficientes a empresa seria obrigada a buscar esses recursos de alguma
forma como: pedir empréstimos para bancos, pedir empréstimos para investidores através da venda de
debêntures, vender mais ações etc. Se o desequilíbrio continuasse a empresa poderia começar a vender
seus ativos não circulantes como imóveis, fábricas, lojas etc.

Passivo Não Circulante

Aqui temos as dívidas que vencem em prazos maiores que 1 ano. Também temos parcelas de
financiamentos, empréstimos, debêntures, pagamentos a fornecedores no longo prazo. O Passivo Não
Circulante também costuma ser chamado de Passivo Exigível de Longo Prazo (LP). No balanço que
utilizamos como exemplo grande parte do Passivo Não Circulante são representados por
financiamentos que a empresa fez.

Patrimônio Líquido

Quando deduzimos tudo que a empresa deve (passivos) de tudo que a empresa tem (ativos) temos
como resultado um valor que chamamos de Patrimônio Líquido. É o que de fato a empresa tem de
valor ou de riquezas quando tudo que deve for pago.

Quanto maior o Patrimônio Líquido, mais ativos a empresa tem e menos dívidas possui. Um
Patrimônio Líquido negativo representa uma empresa que deve mais do que tudo que ela tem de valor,
ou seja, mesmo se vendesse tudo que possui para pagar tudo que deve ela ainda ficaria devendo. Uma
empresa em uma situação como essa depende de recursos de terceiros para continuar funcionando, ou
seja, depende de mais empréstimos.

De forma simplificada, podemos dizer que todo investidor espera investir em uma empresa com
patrimônio líquido positivo e crescente. Uma empresa que tem boa gestão terá seu patrimônio
crescente, ou seja, a gestão irá construir valor ou riquezas. Já uma empresa com problemas na gestão
verá o seu patrimônio líquido em decadência, ou seja, a gestão destruirá as riquezas da empresa.

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Não se assuste

Não se assuste com o mar de números do Balanço Patrimonial. Em outros capítulos vou mostrar como
é possível estudar esses números através de gráficos, pois o estudo mais importante está na comparação
dos balanços atuais com os balanços anteriores. Imagine um único balanço como uma foto da empresa.
Uma sequência de balanços vista através de gráficos com dados de 10 anos se transforma em um filme.

Através dos gráficos podemos ver rapidamente se os ativos e passivos são crescentes, decrescentes ou
se estão estabilizados. Embora os números do passado não possam garantir nada com relação ao futuro,
é importante observar as tendências. Passivos que seguem uma tendência de alta com ativos e
patrimônio líquido em queda, sinalizam que, se nada for feito, a tendência é a de que os números
continuem piorando.

Obs: ter usado a Petrobras como exemplo para ilustrar esse capítulo sobre balanço, não significa que
recomendo ou não recomendo a aquisição de ações da empresa. Lembre-se, todos os exemplos citados
no livro são meramente ilustrativos e de uso didático.

Demonstração de Resultado de Exercício (DRE)

No Balanço Patrimonial vimos uma foto da empresa com todos os ativos e passivos que ela possui. É
através de tudo que a empresa tem e deve que ela irá produzir, vender e lucrar. Agora vamos estudar
o relatório que nos permite estudar receitas, custos/despesas e lucros.

Através da DRE ou “Demonstração de Resultados de Exercício” teremos acesso aos resultados que a
empresa conseguiu obter em um determinado período que pode ser um trimestre ou um ano inteiro.

Para evitar o efeito da sazonalidade, já que muitas empresas possuem resultados melhores ou piores
dependendo do trimestre, sempre é bom comparar o resultado do último trimestre com o do trimestre
do ano anterior (12 meses antes).

A DRE informa ao investidor quanta receita a empresa conseguiu gerar vendendo seus produtos e
serviços, quais e quantos foram os custos e despesas para atingir essa receita e finalmente, se após
deduzir todos os custos e despesas foi possível obter lucro ou prejuízo.

Todas as empresas listadas na bolsa existem para obter lucro vendendo algo de valor para a sociedade.
Quando as empresas não conseguem obter lucro recorrentemente, ou seja, geram prejuízos por vários
trimestres, elas se tornam insustentáveis com o passar do tempo. Aos olhos dos investidores, empresas
que não geram lucros possuem pouco valor. Prejuízos impactam negativamente no preço das ações.

Os investidores buscam meios para rentabilizar o dinheiro que possuem. Se a empresa não for capaz
de fazer isso, os investidores tendem a investir esse mesmo dinheiro em outras empresas. A Bolsa
permite esse movimento de valores dos investidores entre as empresas com uma facilidade incrível,
pois já vimos que o que separa uma venda de uma compra de ações são alguns cliques.

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Dessa forma, todos os investidores aguardam a divulgação dos resultados do último trimestre para que
possam julgar se devem comprar mais ações, se devem manter as ações que já possuem ou se devem
vender as ações para buscarem oportunidades em outras empresas ou em outros investimentos.

Assim como o Balanço Patrimonial, a DRE também segue um padrão na forma como apresenta as
informações. A estrutura é simples por se tratar de uma grande subtração. Como exemplo, veja a
demonstração de uma empresa brasileira chamada Hering. A Petrobras que utilizamos no exemplo
anterior é uma das empresas valor de mercado. Já a Hering, junto com o Banco do Brasil, é uma das
empresas mais antigas do país que está com ações disponíveis na Bolsa. O exemplo apenas ilustra o
capítulo e não deve ser visto como uma recomendação.

Leia cada linha da DRE sem qualquer preocupação com o entendimento do que significa cada item,
pois estudaremos isso logo depois.

50
Observe o exemplo acima. Veja que a DRE de uma empresa é uma grande conta de subtração. No topo
dessa subtração, logo na primeira linha temos a Receita Operacional Líquida. Isso é o que a empresa
ganhou em dinheiro depois que vendeu seus produtos durante todo ano. É receita líquida pelo fato de
os impostos sobre a receita bruta já terem sido descontados como o ICMS, ISS e IPI.

À medida que vamos descontando os custos, despesas, imposto de renda ou adicionando receitas como
os ganhos que as empresas conseguem através de investimentos financeiros, vamos descobrindo

51
diversos tipos de lucro como: lucro bruto, lucro operacional, lucro antes do imposto de renda e
contribuição social até que finalmente descobrimos o lucro líquido.

Note que alguns números na DRE aparecem entre parênteses. Esses números são negativos, ou seja,
representam uma despesa ou um custo que será subtraído da receita que está logo acima ou do último
tipo de lucro que foi calculado. Já os números sem parentes são positivos e serão somados.

Na figura abaixo você tem o destaque de todas as entradas de dinheiro ou receitas (cor verde) e todas
as saídas de dinheiro na forma de despesas e custos (cor vermelha).

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O principal objetivo da DRE é informar se a empresa teve lucro líquido, que é de onde ela retira os
recursos para pagar dividendos aos acionistas ou reinvestir na própria empresa para obter mais receitas
e lucros no futuro sem a necessidade de se endividar.

Não faz sentido para o investidor colocar o seu dinheiro em uma empresa que não consegue obter lucro
de forma consistente ou que não possui boas expectativas de obtenção de lucros crescentes nos
próximos anos.

Vender muito (ter uma receita grande) não significa lucros elevados, crescentes e constantes. Todos
os investidores ficam atentos ao dados fornecidos pela DRE, pois ela fornece uma série de informações
importantes que serão utilizadas para desenvolver gráficos e indicadores que estudaremos mais na
frente. Agora vamos detalhar cada parte da DRE.

Estrutura da DRE

Toda demonstração de resultado segue uma estrutura muito parecida com essa:
(+) Receita operacional líquida
(-) Custo dos produtos vendidos
(=) Lucro Bruto
(-/+) Receitas (despesas) operacionais
(=) Lucro Operacional (EBIT ou LAJIR)
(-/+) Receitas (despesas) financeiras
(=) Lucro antes do imposto de renda
(-) Imposto de renda e contribuição social
(=) Lucro líquido

Observe que a primeira linha representa a receita que a empresa teve ao vender seus produtos e serviços
e depois temos uma série de descontos representados por linhas vermelhas. Logo depois dessas
subtrações encontramos “tipos diferentes” de lucro (cor azul) que serão úteis mais na frente nos nossos
estudos.

Vamos entender o que significa cada linha da DRE da empresa que estamos utilizando como exemplo
que é a Hering. Use a mesma sequência para estudar a DRE de outras empresas.

(+) Receita Operacional Líquida

A DRE da Hering começa exibindo a Receita Operacional Líquida. Essa receita já está com custos
com descontos, devoluções e alguns impostos descontados sobre a receita como ICMS, IPI, ISS e
Confis. Algumas empresas começam a DRE exibindo a Receita Operacional Bruta, que ainda está sem
os descontos e impostos que acabo de citar.

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Na DRE do nosso exemplo, a empresa teve uma Receita Operacional Líquida de R$ 1.539.568 mil em
2018. Todos os números que aparece nessa DRE são em milhares, dessa forma esse valor deve ser lido
assim: um bilhão, quinhentos e trinta e nove milhões, quinhentos e sessenta e oito mil. Na coluna com
os resultados de 2017 a receita foi maior, ficando em R$ 1.562.321 mil. Observe na figura logo abaixo
que o Lucro Bruto é o resultado da Receita Operacional Líquida menos os Custos dos Produtos
Vendidos.

(-) Custo dos Produtos Vendidos e Serviços Prestados

Aqui temos a primeira dedução que precisamos fazer na receita para descobrir o primeiro tipo de lucro
que será o Lucro Bruto.

Essa dedução representa os custos de produção ou de aquisição dos produtos que a empresa vendeu.
No caso de uma indústria, esse custo será o custo de produção de tudo que ela produziu e vendeu. Se
for um comercio, teremos todos os custos que envolvem a aquisição dos produtos vendidos. Se for
uma empresa de serviços, esses custos serão todos os custos necessários para prestar o serviço vendido.

Exemplos desses custos: custos com a compra de matéria-prima ou do produto acabado que será
vendido, custo com a mão de obra envolvida na produção, custo com a energia gasta pelas máquinas
na linha de produção e depreciação de máquinas e instalações relacionadas com a produção. Os custos
descontados aqui normalmente são custos variáveis, ou seja, que aumentam ou diminuem dependendo
da quantidade de produtos produzidos e vendidos.

Na DRE que adotamos como exemplo é possível observar que o custo dos produtos vendidos foi de
R$ 883 milhões em 2018 e R$ 872 milhões em 2017.

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(=) Lucro Bruto ou Resultado Bruto

O lucro bruto é o que temos quando deduzimos os custos dos produtos da Receita Operacional Líquida.
Empresas que registram prejuízo bruto, ao invés de lucro bruto, dão um péssimo sinal para os
investidores, pois sinalizam que a receita não foi suficiente para cobrir nem mesmo o custo para
produzir ou adquirir o que foi vendido.

Já quando o lucro bruto é crescente, o investidor tem o sinal de que a empresa está vendendo mais,
está cobrando mais caro pelo que vende ou conseguiu reduzir os custos de produção, custos para a
aquisição de matéria-prima, custos com energia, mão de obra e outros custos variáveis relacionados
ao produto ou serviço vendido.

Uma empresa com Receita Operacional Líquida crescente e um Lucro Bruto em queda pode sinalizar
problemas gerados pelo aumento de custos com matéria-prima, energia, mão de obra etc.

No DRE do nosso exemplo, a Receita Operacional Líquida (R$ 1.539.568) menos o Custo dos
Produtos Vendidos (R$ 883.580) teve como resultado o Lucro Bruto de R$ 655.988 milhões. Veja a
fórmula:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑜 = 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 − 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑜𝑠

1.539.568 – 883.580 = 655.988

(-/+) Receitas (despesas) operacionais

Agora chegou o momento de subtrair do lucro bruto as despesas operacionais como as despesas com
vendas: salário e comissões para vendedores, despesas com publicidade, propaganda, transporte de
mercadorias, provisões para devedores duvidosos etc. Nessa etapa também teremos o desconto das
despesas administrativas como o salário dos profissionais que trabalham no setor financeiro e de
recursos humanos da empresa, salário dos executivos e diretores, aluguel de prédios e escritórios onde
os departamentos administrativos funcionam etc. Aqui também chegou o momento de descontar
despesas com pesquisas e desenvolvimento de novos produtos. Muitas despesas operacionais são
despesas fixas, ou seja, elas não diminuem proporcionalmente quando ocorre queda nas vendas.
Exemplo: a despesa com o aluguel de uma loja continua a mesma se as vendas caírem.

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(=) Lucro operacional antes do resultado financeiro

Após descontar todas as despesas operacionais do Lucro Bruto encontramos o Lucro Operacional.
Esse lucro é importante para o investidor por informar quanto a empresa conseguiu produzir de lucro
realizando a sua atividade principal, sem incluir possíveis lucros que ela terá caso faça investimentos
financeiros. Você provavelmente encontrará esse lucro operacional sendo chamado pela sigla EBIT
que significa Earnings Before Interest and Taxes que em português significa Lucro Antes dos Juros e
Impostos ou LAJIR.

(+/-) Receitas (despesas) financeiras

As empresas podem obter lucro fazendo investimentos financeiros onde recebem juros. Ao mesmo
tempo elas podem fazer dívidas e com isso precisam pagar juros e taxas periodicamente. Se a empresa
tiver mais receitas financeiras do que despesas financeiras esse item será positivo e por isso será
somado ao Lucro Operacional, já se a empresa tem mais despesas financeiras do que receitas o
resultado negativo será debitado do Lucro Operacional para que possamos encontrar o próximo tipo
de lucro descrito logo abaixo.

(=) Lucro antes do imposto de renda e contribuição social

Como o nome já diz, aqui temos o lucro da empresa antes de descontar o imposto de renda e a
contribuição social. Também pode ser chamado de EBITDA que significa Earnings Before Interest,
Tax, Depreciation and Amortization ou Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciações e
Amortizações.

(-) Imposto de Renda e contribuições

Aqui temos o desconto do imposto de renda da pessoa jurídica (IRPJ) e contribuições (CSLL) para
encontrar o Lucro Líquido.

(=) Lucro líquido

Finalmente, depois de descontar todos os custos e despesa da receita, conseguimos encontrar o lucro
líquido da empresa. Se o resultado for negativo isso significa que a empresa teve prejuízo, ou seja,
todos os custos e despesas foram maiores que a receita obtida com a venda dos produtos e serviços.

Quando as empresas são lucrativas elas possuem recursos para investir na ampliação ou em melhorias
para que a empresa possa vender mais e lucrar mais no futuro. Com lucros a empresa pode diminuir a

56
dívida que possui e evitar dívidas futuras. Também pode distribuir esses lucros na forma de dividendos
entre os acionistas.

Exercício para fixar:

Visite o site de “Relações com Investidores” de alguma empresa de sua preferência. Já mostrei como
fazer isso em capítulos anteriores. Pode ser alguma empresa que você conhece por ser cliente. Iniciar
o estudo dessa forma torna o processo mais interessante para o iniciante. Tente ler e entender cada
número importante do balanço patrimonial e demonstração de resultado do exercício (DRE) dessa
empresa escolhida por você.

Estudo da Lucratividade

A forma mais rápida e prática para estudar os números dos balanços e DRE das empresas é através de
gráficos que demonstram a ascensão ou a decadência dos valores com o passar do tempo.

Olhar para um balanço ou DRE de um único período é como olhar para uma única pegada na areia.
Uma única pegada diz pouco sobre o caminho que se está trilhando, mas se você olhar dezenas de
pegadas é possível saber a direção e se os passos são firmes ou cambaleantes.

Gráficos podem nos mostrar os caminhos dos números. Eles podem dizer se a receita da empresa está
caindo, se os lucros estão caindo, patrimônio líquido em queda constante, margens de lucro caindo,
dívidas subindo e distribuição de dividendos em queda ou inexistentes. Tudo isso junto representa uma
empresa com problemas ou que caminha cambaleando para futuros problemas. Com certeza essa
degradação nos resultados produzirá uma queda no preço das ações, ou seja, a empresa perderá valor.

Gráficos também podem nos mostram receitas crescentes, lucros consistentes, patrimônio líquido
crescente, margens de lucro estáveis ou crescentes, dívidas equilibradas ou decrescentes, distribuição
constante e crescente de dividendos e outros proventos. Tudo isso resultará em uma empresa cada vez
mais valiosa, com preços crescentes de suas ações na medida que os resultados positivos são
divulgados acima das expectativas dos investidores.

Neste capítulo “Estudo da Lucratividade” vamos estudar vários indicadores que nos permitem
conhecer a lucratividade das empresas. São eles: Receita Líquida, Resultado Bruto (lucro bruto),
Resultado Operacional, Lucro Líquido, Caixa das Atividades Operacionais, Patrimônio Líquido e
finalmente o ROE que é o Retorno sobre o Patrimônio Líquido.

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Receita Líquida

Através do gráfico da receita operacional líquida ou simplesmente, receita líquida, podemos observar
se a empresa registra receitas estáveis, crescentes ou decrescentes no decorrer do tempo.

Os investidores preferem investir em empresas com receitas líquidas anuais estáveis ou crescentes.
Quanto menor a receita líquida e maiores os custos e despesas, menores serão os lucros líquidos
registrados.

Já vimos que os lucros são fundamentais para que a empresa tenha recursos para investir e crescer sem
aumentar suas dívidas. A distribuição de dividendos aos acionistas também depende de lucros
constantes e crescentes.

No site gratuito Fundamentus é possível acessar o gráfico da Receita Líquida das empresas seguindo
a sequência:

• visite o site www.fundamentus.com.br;


• digite o código da ação no campo de busca que está no topo do site;
• clique em “Gráficos” e depois em “Demonstrativo dos Resultados”.

Este site possui um número bem limitado de gráficos, mas os poucos que possui são úteis para os
estudantes. Assista ao vídeo.

Caso você tenha a assinatura do GuiaInvest Pro (versão profissional, veja aqui) é possível acessar o
histórico da receita líquida e de todos os outros indicadores que iremos estudar nesse capítulo através
de um relatório do GuiaInvest chamado GI Way. Assista ao vídeo para ver como gerar esse relatório.

Neste capítulo vou começar a citar o maior número possível de empresas diferentes com objetivo
didático. A ideia é motivar você a olhar os números de empresas reais que fazem parte de setores
diferentes da economia enquanto estuda. Muitas dessas empresas você já conhece como consumidor.
Isso torna o estudo mais agradável.

Vale destacar aqui que praticamente todos os livros sobre análise fundamentalista que conheço nunca
revelam onde os autores conseguem os dados para seus estudos. Acredito que este seja o único livro
brasileiro que revela todas as ferramentas necessárias para o uso prático e imediato do conteúdo
teórico apresentado no livro.

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Receita líquida crescente
Aqui temos o exemplo da receita líquida crescente da empresa WEG S.A (WEGE3). A WEG é uma
empresa multinacional brasileira sendo uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do
mundo, atuando nas áreas de comando e proteção, variação de velocidade, automação de processos
industriais, geração e distribuição de energia e tintas e vernizes industriais, entre outros produtos.

O gráfico logo abaixo mostra a tendência de crescimento das receitas líquidas trimestrais (anualizada).
Observe que as receitas cresceram até o segundo trimestre de 2016 (cada ano possui quatro trimestres),
quando ocorreram quatro trimestres de queda até 2017. Logo depois podemos ver o reinício da
sequência de altas das receitas líquidas trimestrais crescentes.

Receitas crescentes é um sinal positivo para os investidores. Veja o gráfico gerado pelo relatório
chamado GI Way do GuiaInvest PRO:

Veja o gráfico da receita líquida gerado pelo site Fundamentus:

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Veja o gráfico da receita líquida que o aplicativo TradeMap chama de receita total assistindo ao vídeo
clicando aqui.

Volto aqui a alertar sobre o fato do gráfico do TradeMap não mostrar o valor zero como o valor
mínimo na escala do lado direito.

O menor valor no gráfico acima está abaixo de 6 bilhões, quando o ideal seria ser o número zero.
Com isso temos a impressão de que ocorreu uma variação muito grande na receita. A queda que
ocorreu no meio do gráfico se mostra mais acentuada do que deveria.

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Receita líquida decrescente
Aqui temos o exemplo das receitas líquidas decrescentes, desde o primeiro trimestre de 2014 até 2018,
da empresa TECNISA (TCSA3) que pertence ao setor de construção civil. Faz parte do índice
Imobiliário (IMOB) criado pela B3 para medir o desempenho dos preços das principais empresas
listadas na bolsa dentro do setor imobiliário (veja as empresas listadas aqui). No gráfico é possível
perceber que sua receita líquida foi decrescente desde o terceiro trimestre de 2014.

Receita líquida estável


O gráfico mostra a receita líquida da empresa Telefônica (VIVT3) que pertence ao setor de
telecomunicações. A Telefônica Brasil é a maior empresa de telecomunicações do país e atua na
prestação de serviços de telecomunicações fixos e móveis. O grupo, que é espanhol, também está
presente em mais de 20 países. Observe o gráfico abaixo. É possível perceber uma certa estabilidade
nas receitas dos últimos trimestres com leve tendência de alta. Empresas desse setor possuem receitas
relativamente estáveis.

É importante destacar que não se deve avaliar a Receita Líquida de uma empresa isoladamente, pois
pouco adianta vender cada vez mais sem obter lucro líquido crescente, ou seja, sem lucros depois de
pagar todos os custos e despesas operacionais e financeiras.

Existem casos de empresas que possuem receita crescente com lucro decrescente, casos de empresas
que possuem receita elevada e prejuízos por seguidos trimestres. Também podemos encontrar
empresas com receitas crescentes e lucros estáveis e empresas com receitas estáveis com lucro
crescente.

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Muitos investidores adquirem ações com base em projeções sobre o crescimento das receitas e lucros
da empresa no futuro. Quando a empresa divulga receitas e lucros menores, isso frustra as expectativas
dos investidores e muitas vezes o preço das ações caem para se adequarem a essa nova expectativa.

Os gráficos acima foram retirados do relatório “GI Way” do GuiaInvest PRO. Para aprender como
acessar gráficos com a Receita Líquida das empresas através do site gratuito Fundamentus, assista ao
vídeo.

Resultado Bruto ou Lucro Bruto

Já vimos no capítulo sobre Demonstração de Resultado (DRE) que o lucro bruto é obtido quando
deduzimos os custos de produção ou aquisição dos produtos vendidos pela empresa. Para o investidor
é importante que o lucro bruto se mantenha crescente ou estável.

Lucro bruto em queda pode ser visto como um sinal negativo pelo investidor, principalmente se a
receita líquida se mantiver estável ou em alta enquanto o lucro cai. Pode sinalizar aumento no custo
de produção, “briga” de preços com concorrentes, problemas de perda de eficiência produção etc.

Resultado bruto crescente

Veja o gráfico com o exemplo da empresa Lojas RENNER (LREN3) que possui um histórico longo
de lucro bruto trimestral crescente (entre 2009 e 2018). A Lojas Renner é uma das maiores varejistas
de moda do país. Observe nos gráficos abaixo a tendência de alta da receita líquida e do resultado bruto
nos últimos 10 anos. A receita líquida registrou crescimento médio de 10,2% ao ano nos últimos 5
anos enquanto o lucro bruto ou resultado bruto aumentou 10,6% em média, mostrando que receita e
lucro crescem de forma proporcional.

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Um cenário negativo seria o lucro bruto cair de forma recorrente enquanto a receita líquida se mantém
estável ou em alta. Os investidores esperam que o lucro bruto cresça junto com a receita líquida.

Sempre é bom lembrar que nunca devemos analisar somente um indicador para tomar a decisão sobre
investimento.

Resultado bruto decrescente

Empresas que apresentam lucro bruto decrescente de forma consistente no decorrer de vários trimestres
provocam grandes preocupações entre os investidores.

No gráfico abaixo temos o lucro bruto da empresa ETERNIT (ETER3). A Companhia Eternit produz
material para construção como caixas-d'água, painéis, placa cimentícia, perfis metálicos etc. É fácil
perceber a queda no resultado bruto entre o final de 2015 e 2018.

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Infelizmente o site Fundamentus não possui gráficos com o Lucro Bruto, mas é possível acessar um
gráfico com a margem bruta que nada mais é do que o lucro bruto dividido pela receita líquida
multiplicado por 100.

Veja o exemplo dos gráficos da Eternit no site Fundamentos. O primeiro gráfico da página representa
a Receita Líquida e o segundo gráfico mostra a Margem Bruta.

Logo abaixo temos um exemplo do gráfico no aplicativo TradeMap.

Resultado Operacional

O resultado operacional ou o lucro operacional é o que sobra quando descontamos todas as despesas
administrativas, operacionais e comerciais do lucro bruto. Nessas despesas temos custos com salários
de administradores e executivos da empresa. Normalmente essas despesas não são variáveis, ou seja,
não sofrem variações significativas quando a empresa vende mais ou menos. Os investidores também
chamam o lucro operacional de EBIT (lucro antes dos juros e impostos).

Nem sempre o lucro operacional cresce na mesma proporção do lucro bruto. O gráfico logo abaixo
mostra o Resultado Bruto e o Resultado Operacional da empresa B3 Brasil, Bolsa, Balcão (B3SA3)
que é responsável por oferecer o ambiente para negociação de ações, derivativos, renda fixa privada,
títulos públicos, moedas e commodities que chamamos de bolsa de valores.

No primeiro gráfico, logo abaixo, temos o Resultado Bruto que, como já falamos, é a receita líquida
que a empresa registrou menos os custos para produzir ou obter o produto vendido. O Resultado
Operacional é praticamente metade do Resultado Bruto, mostrando que as despesas operacionais
levam praticamente 50% do lucro bruto.

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No Fundamentus você encontra esses gráficos na opção “Gráficos”, “Demonstrativos de Resultados”
como mostra os passos desse vídeo aqui. O Fundamentus chama o gráfico de Resultado Bruto ou o
Lucro Bruto de “EBIT”.

Lucro Líquido

Boas empresas geram lucros crescentes. A forma mais fácil e rápida de verificar se a empresa vem
conseguindo gerar lucros que crescem de forma constante é através da observação de um gráfico com
o histórico de lucros líquidos dos últimos anos.

Empresas que não geram lucros, não conseguem recursos para reinvestir, crescer, vender mais e gerar
mais lucros no futuro. Elas não conseguem remunerar os acionistas através da distribuição de
dividendos e acabam dependendo de empréstimos e financiamentos. O acúmulo de dívidas pode
dificultar ainda mais a obtenção de lucros no futuro, pois nem sempre os gestores conseguem sucesso
nos projetos que motivaram o endividamento.

No site Fundamentus é possível acessar o gráfico com o histórico dos últimos 10 anos de lucro líquido
das empresas. Assista ao vídeo e veja como acessar esses gráficos que mostram o lucro líquido e alguns
outros indicadores baseados nas informações dos demonstrativos de resultados.

Veja um exemplo de gráfico onde fica evidente o crescimento do lucro líquido (barra azul) e, por
consequência, o crescimento dos proventos (dividendos e juros sobre o capital próprio) distribuídos
entre os acionistas. Cada barra representa os últimos 12 meses.

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Clicando na opção “Trimestres isolados” na barra inferior do gráfico no site Fundamentus, você verá
o lucro líquido de cada trimestre isoladamente, ou seja, que se refere ao resultado dos últimos 3 meses.
Veja o exemplo no próximo gráfico:

Observe que, nesse exemplo, não existe nenhum trimestre registrando prejuízo no gráfico. Podemos
constatar que o trimestre onde a empresa registra maior lucro líquido é o último trimestre do ano,
justamente onde muitas empresas que vendem roupas registram as maiores receitas.

Muitas empresas não possuem receita e lucros estáveis durante o ano por sofrerem com a sazonalidade.
Exemplo: varejistas costumam concentrar muito suas vendas nos meses onde o consumismo da
população é maior. Isso afeta o resultado trimestral dessas empresas e por isso que, muitas vezes, é
preferível observar o desempenho dos últimos 12 meses.

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Logo abaixo temos como exemplo o lucro líquido da empresa Sul América (SULA11).

No GuiaInvest PRO você encontrará o gráfico de lucro líquido e mais de 17 gráficos clicando na opção
“Mais” e depois em “GI Way”.

Além de permitir observar a evolução do lucro líquido de 40 trimestres durante 10 anos o sistema
também calcula o CAGR dos últimos 3, 5 e 10 anos, como você pode ver no gráfico anterior.

CAGR significa “Compound Annual Growth Rate” ou “Taxa de Crescimento Anual Composta” e nos
apresenta uma informação que facilita a nossa análise. O lucro líquido, assim como outros números

67
importantes das empresas, pode sofrer muitas variações durante um determinado período. O CAGR
fornece a variação anual como se o valor tivesse crescido em um ritmo constante e uniforme.

No de lucro líquido da Sul América podemos constatar que os lucros líquidos cresceram 12,5% nos
últimos 10 anos, 15,3% nos últimos 5 anos e 18,1% nos últimos 3 anos.

Agora veja um gráfico que mostra o lucro líquido da empresa Via Varejo (VVAR3) entre 2009 e o
terceiro trimestre de 2019. A Via Varejo é a empresa por trás das marcas Casas Bahia e Ponto Frio,
duas varejistas que atuam na venda de eletrônicos, eletrodomésticos e móveis. O gráfico mostra um
exemplo de lucro líquido instável com registro de prejuízos em alguns trimestres.

Logo abaixo temos o exemplo de lucro líquido com crescimento constante da empresa Magazine Luiza
(MGLU3) que também atua no segmento de eletrodomésticos. Podemos ver que também ocorreram
prejuízos em 2016, através do gráfico que sinaliza lucro líquido negativo. Entre 2017 e 2019 foi
possível constatar no gráfico uma sequência lucros líquidos crescentes.

Lucros crescentes, de forma consistente, frequentemente provocam impacto positivo no preço das
ações. Enquanto os balanços e demonstrações apresentam novos números que superam as expectativas
dos investidores, o interesse pela ação tende a aumentar e isso resulta em pressão de alta no preço. O
gráfico mensal logo abaixo mostra a evolução do preço da ação da loja Magazine Luiza entre o último
registro de lucro negativo em 2016 e 2019.

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O objetivo do nosso livro não é entrar nos detalhes da análise técnica dos gráficos de preço, pois para
isso existe um livro inteiro chamado: Como Investir em Ações: Análise Técnica, mas acredito que é
fundamental que você saiba pelo menos configurar um gráfico de preços.

Para isso gravei um vídeo mostrando os passos para acessar o gráfico de preços tendo como exemplo
a ação MGLU3 da Magazine Luiza. Visite o endereço de cotações da bolsa de valores. Depois siga os
passos desse vídeo aqui. Vou mostrar no vídeo como acessar o preços da MGLU3, como ajustar o
gráfico com dados semanais ou mensais e como visualizar na escala logarítmica.

Logo abaixo você verá um exemplo do histórico do lucro líquido da empresa Cielo (CIEL3) que era
crescente até 2017 e depois iniciou uma sequência de trimestres com queda nos lucros.

Observe no gráfico abaixo que o fim da tendência dos lucros crescentes acompanhou uma queda no
preço da ação da empresa.

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Veja na próxima imagem como é possível acessar o gráfico de preços de qualquer empresa através
do GuiaInvest, mesmo utilizando a versão gratuita.

Você pode acessar o gráfico de qualquer ação como mostra a figura:

No Fundamentus também é possível acessar um gráfico de preços seguindo os passos:

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É comum observar casos em que a empresa divulga lucro líquido trimestral bilionário e mesmo assim
ocorre a queda do preço de suas ações, enquanto outra empresa que registrou prejuízo no trimestre
consegue alta no preço das suas ações.

Esse fenômeno ocorre pelo fato de os investidores acompanharem a trajetória do lucro líquido e de
outros indicadores como o nível de endividamento da empresa, margens de lucro, concorrência no
setor etc. Quando os números da empresa são bons, mas exibem sinais de deterioração ou piora no
decorrer do trimestre, isso reduz o interesse dos investidores pela ação da empresa, pois eles passam a
fazer projeções pessimistas sobre os resultados futuros.

Já uma empresa que possui números ruins, ou até que registra prejuízos, pode iniciar uma tendência
de números trimestrais cada vez melhores, como prejuízos menores a cada trimestre, sinalizando ao
investidor que a empresa está conseguindo se recuperar. Isso atrai o interesse de muitos investidores
que analisam os fundamentos da empresa e a demanda pelas ações impulsiona a alta do preço que por
sua vez irá impulsionar o interesse de mais investidores.

A frustração de expectativa positivas nos resultados produz impactos negativos nos preços, assim
como surpresas positivas nos resultados divulgados produz impacto positivo nos preços das ações.

É muito importante compreender que o investidor sempre tenta antecipar e precificar as ações com
base em expectativas e muitas vezes essas expectativas são frustradas.

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Caixa Líquido das Atividades Operacionais

Esse indicador faz parte de uma demonstração contábil que as empresas divulgam junto com o balanço
que é chamada de DFC (Demonstração do Fluxo de Caixa). Seu objetivo é mostrar o quanto de
dinheiro entra e sai da empresa ao longo de um trimestre ou de um ano. Demonstra exatamente o
dinheiro que a empresa possui em caixa. A DFC mostra o caixa das Atividades Operacionais, dos
Financiamentos e Investimentos.

Logo abaixo temos um exemplo de gráfico com o histórico do caixa líquido das atividades operacionais
da empresa AMBEV (ABEV3). A AmBev (Companhia de Bebidas da América) é uma das maiores
empresas de bebidas do Brasil e do mundo. O gráfico mostra que nos últimos anos a empresa gerou
mais de R$ 15 bilhões de caixa através das suas atividades operacionais, sem nenhum resultado
negativo no período mostrado no gráfico.

No gráfico abaixo temos um histórico de caixa decrescente da empresa ELETROBRAS (ELET3). A


Centrais Elétricas Brasileiras é uma empresa de economia mista e capital aberto, ou seja, tem controle
do governo e ações negociadas na bolsa. Opera nas áreas de geração, transmissão e distribuição de
energia elétrica. A empresa já gerou mais de R$ 15 bilhões de caixa em 2013, mas vem registrando
resultados cada vez piores para esse indicador.

Os investidores entendem como um atributo positivo a existência de números crescentes ou pelo menos
estáveis neste indicador. Caixa decrescente são vistos como sinais negativos. Infelizmente o site
Fundamentus não possui gráfico para esse indicador.

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Patrimônio Líquido

Aqui temos um dos números mais importantes fornecidos pelo Balanço Patrimonial divulgado pelas
empresas a cada trimestre. O Patrimônio Líquido é tudo que sobra quando descontamos todos ao
Passivos (dívidas) de todos os Ativos de uma empresa. Na prática, isso é tudo de valor que a empresa
tem e que pertence a todos que possuem suas ações.

Muitos investidores enxergam o patrimônio líquido como um valor aproximado de quanto os


acionistas receberiam em dinheiro, hoje, caso a empresa deixasse de existir. Isso significa que os
investidores buscam ações de empresas com patrimônio líquido positivo e que demonstre crescimento
no decorrer do tempo.

Empresas com patrimônio líquido negativo costumam ser evitadas por muitos investidores, pois
possuem o chamado “passivo a descoberto”, ou seja, a empresa não tem ativos suficientes para cobrir
os passivos. Ao comprar ações de uma empresa nessa situação o investidor estaria adquirindo mais
passivos (dívidas) do que ativos (valor) e provavelmente estaria movido pela esperança de uma
recuperação futura, que nunca é garantida.

Patrimônio Líquido Negativo


Veja o exemplo de um gráfico da empresa GOL (GOLL4) que atua no segmento de transporte aéreo.
apresentando patrimônio líquido negativo entre 2015 e 2019.

Patrimônio Líquido Positivo


Agora veja o gráfico que mostra a evolução do patrimônio líquido de outra empresa do segmento de
transporte aéreo. A empresa AZUL (AZUL4) estreou na bolsa em 2016 e por isso possui poucos dados
históricos. Patrimônio líquido negativo costuma ser uma característica de empresas aéreas.

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Patrimônio Líquido Crescente
Observe no gráfico abaixo o exemplo de uma indústria do subsetor de máquinas e equipamentos
chamada WEG (WEGE3) que possui patrimônio líquido com crescimento constante. A WEG é uma
das maiores fabricantes de equipamentos industriais e motores elétricos do país e do mundo.

A empresa também possui gráficos com histórico de receitas e lucros crescentes. Logo abaixo temos
a valorização da ação da empresa no mesmo período.

É claro que nada pode garantir ou prever, com absoluta certeza, se uma empresa qualquer manterá a
sua trajetória de receitas, lucros e patrimônio líquido crescente. Quando você aprofundar os seus
estudos e observar os números de diversas empresas perceberá a forte relação que existe entre um
histórico de números positivos e crescentes com valorização crescente das ações.

Cabe ao investidor monitorar de perto os resultados das empresas onde investe para tomar decisões
sobre comprar mais ações, vender ações ou manter as ações por mais tempo para uma nova avaliação
no próximo trimestre.

74
ROE

Já vimos até aqui que o lucro líquido e o patrimônio líquido são dois números importantes para os
investidores. O patrimônio é tudo de valor que a empresa tem para gerar lucro. Quando dividimos esse
lucro líquido que a empresa gera pelo patrimônio líquido da empresa encontramos o (Retorno Sobre o
Patrimônio Líquido) conhecido como ROE (Return on Equity).

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑅𝑂𝐸 = ( ) × 100
𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜

Para que você entenda o que significa o ROE vamos adotar um exemplo. Imagine que você tem um
negócio baseado em um food truck, que são veículos que vendem comida na rua. Vamos supor que
todos os ativos do seu negócio, incluindo o próprio veículo e seus equipamentos, totalizem R$
120.000,00. Imagine que este é o Ativo do seu negócio. Agora vamos imaginar que você tenha um
passivo (dívida) de R$ 20.000,00 relacionado com o investimento feito para equipar o seu food truck.

Como o patrimônio líquido são seus ativos menos os seus passivos o seu negócio tem um patrimônio
líquido R$ 100.000,00 (120.000 – 20.000 = 100.000).

Todos os meses você consegue gerar R$ 5.000,00 de lucro líquido. Isso significa que no final do ano
o seu lucro líquido será de R$ 60.000,00.

Para descobrir o ROE do seu pequeno negócio basta dividir o lucro líquido anual pelo patrimônio
líquido, que no nosso exemplo será 60.000,00 dividido por 100.000,00. O resultado será 0,6. Como o
ROE é um percentual, você deve multiplicar 0,6 por 100 para encontrar o número 60%. Agora você
poderá dizer que o ROE do seu negócio é de 60%.

No nosso exemplo, o ROE de 60% significa que o retorno sobre o seu patrimônio líquido de R$
100.000,00 é de 60% ao ano. Podemos dizer que esse negócio que imaginamos é capaz de criar R$ 60
em dinheiro novo (riqueza), todos os anos, para cada R$ 100,00 investidos nele ou R$ 0,60 para cada
R$ 1 investido.

Você trocaria esse negócio por um que possui ROE de 10% ao ano? Você venderia o seu negócio e
investiria esses R$ 100 mil na poupança para ganhar menos de 6% ao ano?

Exercício: entre na sua conta gratuita no GuiaInvest para ver o ranking de ações listada pelas que são
mais negociadas (maior liquidez) e observa a coluna “RPL” que mostre o Retorno sobre o Patrimônio
Líquido dessas ações. Caso tenha a assinatura do GuiaInvest PRO poderá visitar aqui e ver o ranking
que lista as empresas por Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido.

Frequentemente os empresários e investidores fazem comparações sobre até que ponto vale a pena
manter seu dinheiro investido em um negócio próprio, nas ações de uma empresa negociada na bolsa,
em investimentos de baixo risco como títulos públicos, títulos privados como CDBs ou qualquer outra
possibilidade de investimento.

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Se o ROE de um negócio próprio ou investido em ações, de uma empresa é menor ou muito próximo
do retorno de um investimento de baixíssimo risco, talvez o investidor considere que o baixo ROE não
compense ou não remunere o risco que se corre.

O ROE também permita fazer comparações entre negócios do mesmo seguimento. Veja o retorno
sobre o patrimônio das Lojas Renner. Visite aqui, para ver você precisa ter entrado na sua conta gratuita
no GuiaInvest:

Agora veja o retorno sobre o patrimônio líquido da sua concorrente que é a Guararapes, empresa que
controla as lojas Riachuelo:

76
É importante investigar quando empresas do mesmo setor ou concorrentes possuem o ROE muito
diferente da média.

O ROE nos ajuda a entender por qual motivo o juro elevado desestimula os investimentos em empresas
ou em ações de empresas listadas na bolsa. Em países com taxa básica de juros muito baixa, grande
parte dos negócios consegue oferecer um retorno acima da renda fixa.

Também vale lembrar que não podemos considerar o ROE sem observar o endividamento da empresa.
A empresa pode manter o patrimônio líquido muito baixo caso tenha dívidas elevadas. Ao dividir esse
patrimônio líquido baixo por um lucro líquido elevado, teremos um ROE elevado. Mais na frente
iremos conhecer os indicadores que permitem avaliar as dívidas da empresa.

Agora vamos observar alguns exemplos de ROE decrescente, ROE estável e crescente.

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ROE decrescente

No gráfico temos o exemplo de números decrescentes no ROE da empresa CIELO (CIEL3) do


segmento de serviços financeiros. A forte concorrência pode forçar a redução do retorno sobre o
patrimônio.

ROE estável

Veja o gráfico que mostra o ROE da empresa Porto Seguro (PSSA3) que atua no segmento de seguros
e previdência. Ela também atua com gestão de frotas, na revenda de veículos usados e tem uma divisão
de franchising. O gráfico mostra um ROE que se manteve próximo de 20% ao ano nos últimos 10
anos.

Logo abaixo temos o ROE da Sul América (SULA11) que atua no mesmo segmento.

78
ROE crescente

O próximo gráfico mostra o crescimento do ROE da empresa SANEPAR (SAPR3) que é do setor de
utilidade pública, segmento de água e saneamento. A tabela na parte inferior do gráfico mostra que o
ROE médio dos últimos 10 anos era de 11,6%. Nos últimos 3 esse ROE atingiu 14,2%.

O site Fundamentus possui gráfico do ROE. Você pode acessar buscando a ação que deseja consultar
na busca. Depois clique em “Gráficos” e em seguida em “Indicadores Fundamentalistas”. O ROE
estará no gráfico “Retorno sobre o Patrimônio Líquido”.

Como exemplo, veja o gráfico do ROE da empresa SANEPAR. Você pode ver esse gráfico no site
visitando aqui.

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Aqui finalizamos os estudos dos indicadores que nos falam sobre a lucratividade das empresas. Agora
vamos estudar a qualidade dos lucros das empresas através do estudo das margens.

Estudo da Qualidade

Empresas bem administradas são aquelas que conseguem gerar cada vez mais riquezas consumindo
cada vez menos recursos. Podemos avaliar a administração de uma empresa quando constatamos que
ela consegue fazer um controle de custos gerando um aumento de margens de lucro.

Quando comparamos as margens de lucro de uma empresa devemos utilizar essa informação para
comparar empresas dos mesmos setores ou segmentos da economia.

Imagine a empresa A e a empresa B. As duas são concorrentes e produzem aço. As duas vendem uma
determinada quantidade de aço, com mesma qualidade, por R$ 1.000,00. Só que a empresa A gasta R$
200,00 para produzir esse aço e a empresa B gasta R$ 300,00 para fazer a mesma coisa. Podemos dizer
que empresa A consegue entregar o mesmo resultado com menor custo e consequentemente terá maior
lucro.

Neste capítulo vamos estudar três margens de lucro: margem bruta, margem operacional e margem
líquida. Todas as margens são o resultado de um cálculo onde dividimos um tipo de lucro pela receita
líquida e depois multiplicamos por 100 para encontrar uma porcentagem. Você verá que é muito
simples.

Margem Bruta

A Margem Bruta demonstra percentualmente quanto da Receita Líquida sobrou depois que a empresa
descontou os custos de produção e/ou aquisição dos produtos que foram vendidos.

Encontramos a Margem Bruta dividindo dois números achados na Demonstração de Resultados que
são o Resultado Bruto (Lucro Bruto), dividido pela Receita Líquida. Depois multiplicamos o resultado
por 100 para demonstrar isso percentualmente.
𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑜
𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 = ( ) × 100
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎

Vamos imaginar que uma empresa teve Receita Líquida de R$ 100 milhões. Depois de pagar R$ 60
milhões referentes aos custos de produção a empresa ficou com R$ 40 milhões de Resultado Bruto.
Dividindo esses 40 milhões de Resultado Bruto por 100 milhões de Receita Líquida temos o número

80
0,4 que multiplicado por 100 para encontrar 40%. Neste exemplo a Margem Bruta é de 40%. Isso
significa que para cada R$ 100 de Receita Líquida a empresa fica com R$ 40 disponível para pagar os
demais custos operacionais, imposto de renda etc. Também podemos dizer que para cada R$ 1 de
receita, R$ 0,40 é lucro bruto.

Muitos investidores utilizam as margens para comparar empresas do mesmo setor ou segmento. As
empresas USIMINAS (USIM3) e CSN (CSNA3) são siderurgias que se destacam pela produção do
aço plano, o mesmo que outras indústrias utilizam para fabricar eletrodomésticos, veículos, etc. Já a
GERDAU (GGBR4) também é do segmento de siderurgia com destaque para a produção de aço para
construção. Todas essas empresas utilizam aço como matéria-prima. A CSN se destaca por ser a
segunda maior mineradora, perdendo apenas para a Vale. Veremos que são empresas do mesmo
segmento, mas que possuem Margens Brutas bem diferentes.

Margem Bruta da USIMINAS:

Margem Bruta da CSN:

Margem Bruta da Gerdau

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Podemos observar que a USIMINAS chegou a registrar Margem Bruta negativa em alguns trimestres
de 2016. O gráfico da CSN tem a maior Margem Bruta. O gráfico da Gerdau mostra uma recuperação
da Margem Bruta nos últimos trimestres.

O site Fundamentus é possível acessar um gráfico que possui a margem bruta e margem operacional
(que eles chamam de margem EBIT). Logo abaixo temos um exemplo do gráfico de margens da
Gerdau.

Os passos para gerar o gráfico acima são bem simples, veja:

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Margem Operacional

O histórico da Margem Operacional nos diz sobre a eficiência da empresa com relação aos custos e
despesas operacionais que são aquelas que incluem as despesas administrativas, despesas com vendas
etc. Essa margem é encontrada dividindo o Resultado Operacional (lucro operacional) pela Receita
Líquida que são duas informações que constam na Demonstração de Resultado.

𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙
𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 = ( ) × 100
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎

No gráfico logo abaixo temos o histórico da Margem Operacional das Lojas RENNER (LREN3).
Podemos ver uma margem operacional estável e sempre muito próxima de 15%. Podemos dizer que
de cada R$ 100 de Receita Líquida a empresa consegue obter R$ 15 de Lucro Operacional. Você pode
comparar essa informação com as margens de empresas do mesmo setor como a Guararapes da
Riachuelo (GUAR3) e Lojas Marisa (AMAR3).

Boas empresas possuem margens estáveis ou crescentes. É importante dar atenção para o fato de que
a existência de despesas ou receitas não recorrentes podem fazer a margem subir ou cair. Empresas
que conseguem manter boas margens, mesmo quando o país enfrenta uma crise econômica, deixam
no seu histórico um bom sinal para os investidores.

83
Margem Líquida

A Margem Líquida demonstra percentualmente quanto da Receita Liquida sobrou depois que a
empresa descontou todos os custos, despesas e impostos.

Encontramos a Margem Líquida dividindo dois números que estão na Demonstração de Resultados
que são o Lucro Líquido dividido pela Receita Operacional Líquida. Depois multiplicamos o resultado
por 100 para demonstrar isso percentualmente.

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 = ( ) × 100
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎

Vamos imaginar que uma empresa teve Receita Líquida de R$ 100 milhões. Depois de pagar R$ 80
milhões referentes a todos tipos de custos, despesas e impostos, sobraram R$ 20 milhões de Lucro
Líquido.

Dividindo esses 20 milhões de Lucro Líquido por 100 milhões de Receita Líquida temos o número 0,2
que multiplicamos por 100 para encontrar 20%. Neste exemplo a Margem Líquida é de 20%. Isso
significa que para cada R$ 100 de Receita Líquida a empresa fica com R$ 20.

No próximo gráfico temos a Margem Líquida das LOJAS MARISA (AMAR3) que é uma empresa do
segmento Tecidos. Vestuário e Calçados. O exemplo mostra uma queda na margem líquida desde 2011
e uma Margem Líquida negativa entre 2015 e o terceiro trimestre de 2018 com uma pequena
recuperação em 2019.

Agora observe a Margem Bruta da Marisa:

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Existem muitos exemplos de empresas que vendem muito, que possuem margem bruta de lucro
elevada, mas que ao mesmo tempo possuem custos elevados, despesas operacionais, despesas com
financiamentos e empréstimos.

É possível encontrar casos de empresas com Receita Líquida em queda ou estável com Margem
Líquida em alta. Muitas vezes as empresas podem fecham lojas, fábricas ou deixam de vender
determinados produtos por serem menos lucrativos ou até por representarem prejuízos. Isso pode
reduzir as vendas e a Receita Líquida e ao mesmo tempo aumentar a Margem Líquida.

É justamente nos momentos de crise que as empresas tentam compensar a queda nas vendas com a
redução de custos, desperdícios e aumento da eficiência. Muitas vezes as empresas se desfazem das
áreas do negócio que são menos lucrativas.

A margem ideal depende de cada setor ou segmento. Faz mais sentido comparar a Margem Líquida de
empresas do mesmo setor. Veja o exemplo da Margem Líquida da empresa PORTO SEGURO
(PSSA3) que atua no setor Financeiro no segmento de Seguradoras. Veja que a margem é crescente e
está próxima de 8%.

No próximo gráfico temos a Margem Líquida da empresa SULAMERICA (SULA11) que também
atua no setor financeiro e no segmento de seguradoras. Apesar de serem empresas diferentes, elas
fazem parte do mesmo segmento. Sua margem está próxima de 4,5% no gráfico.

Agora observe a Margem de Líquida da empresa B3 S.A. (B3SA3) que é a Bolsa de valores brasileira,
que também faz parte do setor financeiro, mas o seu segmento é de Serviços Financeiros Diversos.
Sua Margem Líquida ultrapassa os 40%.

85
Empresas com suas margens elevadas possuem vantagens com relação a empresas com margens muito
pequenas. Elas conseguem enfrentar melhor os períodos de crise econômica, alta de preço de insumos,
aumento da concorrência e situações que possam reduzir as vendas ou elevar os custos por um tempo.

Os investidores não enxergam com bons olhos as empresas que possuem Receita Líquida estagnada
ou em queda ao mesmo tempo em que as suas margens estão em tendência de queda. Já uma Receita
Líquida em queda pode ser compensada com uma Margem Líquida em alta.

No caso de uma Receita Líquida em alta, provocada pelo crescimento das vendas e do negócio, pode
resultar em Margem Líquida menor e isso é entendido pelo investidor como normal já que uma coisa
pode compensar a outra.

Vamos imaginar um exemplo. Imagine alguém que vende R$ 100 e lucra R$ 50 e por isso a Margem
Líquida é de 50%. Agora imagine que as vendas dobraram e atingiram R$ 200, mas agora o lucro é de
R$ 80. Dividindo o lucro pela receita você verá que a Margem Líquida caiu para 40%, mas em
compensação a empresa tem R$ 80 de lucro e não R$ 50 para distribuir entre os sócios ou reinvestir.

A capacidade dos gestores da empresa de manterem as margens estáveis, mesmo em momentos difíceis
da economia ou durante o crescimento das vendas e da empresa, é algo valorizado pelos investidores.

Muitas vezes as empresas comprometem suas margens quando focam muito no crescimento, já que
não existe crescimento sem investimentos e aumento de despesas, principalmente quando esse
crescimento é financiado através de dívidas.

Existem muitos casos de empresas na Bolsa que possuem grande Receita Líquida, grande Margem
Bruta, mas que estão focando todos os seus esforços no crescimento e isso pode reduzir a Margem
Líquida e comprometer algo valorizado pelos investidores que é o pagamento de dividendos. O
investidor nunca sabe com absoluta certeza se os esforços do gestor ao perseguir o crescimento serão
atingidos. Abrir mão de receber dividendos hoje significa uma aposta de que a empresa terá
crescimento e lucros maiores no futuro se o dinheiro for reinvestido no negócio.

Setores com Margens elevadas podem atrair grande número de concorrentes e isso naturalmente
reduziria as margens diante de possíveis guerras de preço. Você verá um exemplo disso buscando no
Google por “Guerra das Maquininhas” e você encontrará o impacto disso os resultados da empresa
Cielo.

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Estudo do Endividamento

Aqui vamos aprender a estudar as informações que estão no Balanço Patrimonial da empresa onde
encontramos os Ativos, Passivos e o Patrimônio Líquido. Queremos saber se a empresa onde
pretendemos investir está endividada.

Nem toda dívida é ruim, pois existem dívidas que as empresas conseguem obter através de juros baixos
que podem resultar em investimentos que produzem crescimento nas vendas, aumento nas receitas,
redução de despesas e aumento de lucros. Isso significa um retorno sobre o dinheiro da dívida que foi
investido maior do que os custos para manter essa dívida.

Uma dívida ruim ou desequilibrada é aquela que está levando todos os lucros da empresa, degradando
o seu patrimônio e resultando em prejuízos para os acionistas. Dessa forma, dívidas não são
necessariamente ruins para uma empresa desde que exista o equilíbrio entre essa dívida e os
investimentos que foram feitos com esses recursos para proporcionar mais lucro e crescimento futuro.

Dívida Líquida

A dívida líquida é o que sobra quando utilizamos todo o dinheiro que a empresa tem disponível para
pagar a sua dívida bruta. A dívida bruta é a soma de dívidas onde a empresa paga juros como todos os
empréstimos, financiamentos e debêntures.

Encontramos esses valores no Passivo Circulante e no Passivo Não Circulante da empresa. A dívida
bruta não inclui valores a serem pagos como salário de funcionários, fornecedores, impostos e outras
dívidas relacionadas com as operações diárias da empresa.

𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 = 𝐸𝑚𝑝𝑟é𝑠𝑡𝑖𝑚𝑜𝑠 𝑒 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 + 𝐷𝑒𝑏ê𝑛𝑡𝑢𝑟𝑒𝑠

𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 = 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 − (𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑒 𝐸𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 + 𝐴𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çõ𝑒𝑠 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑎𝑠)

Através do estudo do gráfico com o histórico da Dívida Líquida da empresa é possível constatar
rapidamente se o endividamento da empresa é crescente, estável ou decrescente. Dívida Líquida que
segue uma tendência de alta pode ser um sinal negativo quando em conjunto com outros números
como Receita Líquida e Margem Líquida em queda. No longo prazo, uma empresa que vende e lucra
cada vez menos e se endivida cada vez mais terá problemas.

Quando o gráfico da Dívida Líquida apresenta números negativos isso significa que a empresa pode
quitar suas dívidas utilizando o dinheiro e investimentos líquidos que possui, sem a necessidade de
vender seus bens ou ativos não circulantes.

O endividamento saudável ocorre quando a empresa utiliza o dinheiro para realizar investimentos que
vão gerar mais receita, mais lucro e boas margens que compensem os juros e custos do endividamento.
Se isso não acontecer, os juros da dívida vão corroer os lucros e o patrimônio da empresa. Isso

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inevitavelmente tornará a empresa menos valiosa refletindo essa condição no preço de suas ações no
decorrer do tempo.

No gráfico logo abaixo temos o exemplo de Dívida Líquida da empresa BRF (BRFS3) do setor de
carnes e alimentos. Sua dívida mais que triplicou a partir de 2014.

No próximo gráfico temos o histórico da Dívida Líquida da empresa COGNA (COGN3), que se
chamava KROTON, está no segmento de Serviços Educacionais. Sua Dívida Líquida ficou negativa
entre 2016 e o segundo trimestre de 2018.

No final de 2018 a empresa emitiu debêntures onde captou mais e R$ 5 bilhões para realizar os seus
planos de expansão que envolveu a compra de outras empresas e abertura de novas unidades. Isso fez
a sua Dívida Líquida crescer, como você pode observar no gráfico.

88
Dívida Líquida / Resultado Operacional

Dividindo a Dívida Líquida pelo seu Resultado Operacional, que é o Lucro Operacional, podemos
descobrir em quantos anos a empresa conseguiria quitar toda a sua dívida atual com base no lucro
obtido com a sua atividade operacional.

Setores mais estáveis, com previsibilidade maior na geração de caixa podem aguentar um
endividamento maior. Os investidores costumam adotar como limite saudável o número 3, mas isso
depende muito do setor.

No gráfico abaixo temos o indicador Dívida Líquida / Resultado Operacional da empresa YDUQS
(YDUQ3), antiga Estácio de Sá, que atua no segmento de Serviços Educacionais. Podemos observar
que o indicador já foi negativo por um tempo, ou seja, o Resultado Operacional era mais do que
suficiente para quitar a dívida líquida. Em 2019 o indicador estava um pouco acima de 2.

Empresas que possuem resultados financeiros estáveis, como as empresas do setor elétrico,
frequentemente possuem esse indicador acima de 3 e isso não é visto como preocupante pelos
investidores.

Na gráfico abaixo temos a Dívida Líquida dividida pelo Resultado Operacional da empresa AES
TIETÊ (TIET4) que está no segmento de Energia Elétrica onde encontramos muitas empresas com
valores deste indicador próximos de 5.

Esse indicador em tendência de queda, a cada trimestre, é visto pelo investidor de forma positiva.

O site Fundamentus possui um gráfico que mostra Dívida Líquida e Dívida Bruta, mas não existe um
gráfico que divide a dívida líquida pelo resultado operacional.

89
Dívida Bruta / Patrimônio Líquido

Quanto menor a relação entre o que a empresa deve aos seus credores (empréstimos, financiamentos
e donos de debêntures) e o Patrimônio Líquido, melhor aos olhos dos investidores. Devemos lembrar
que o Patrimônio Líquido é o que sobra quando deduzimos todos os Passivos (dívidas) da empresa de
todos os Ativos que ela possui.

Para os investidores, quanto menor o resultado dessa divisão, melhor. Vamos imaginar que uma
empresa tem Patrimônio Líquido de R$ 100 milhões e Dívida Bruta de R$ 50 milhões. Fazendo a conta
de 50 dividido por 100 teremos 0,5. Multiplicando por 100 encontraremos o número 50%. Podemos
dizer que a Dívida Bruta dessa empresa representa 50% do Patrimônio Líquido.

Este indicador, assim como os outros indicadores que analisam dívidas, possuem maior utilidade nas
comparações com empresas do mesmo segmento ou setor.

Vamos ver gráficos de empresas do segmento de Aluguel de Carros. A empresa LOCALIZA (RENT3)
tinha uma Dívida Bruta equivalente acima 200% do Patrimônio Líquido até o final de 2018. Em 2019
a relação caiu para 150%. Veja no gráfico:

O gráfico abaixo é da empresa MOVIDA (MOVI3), também do segmento de Aluguel de Carros.


Podemos ver uma Dívida Bruta equivalente a menos de 150% do Patrimônio Líquido nos últimos
trimestres.

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Agora observe o gráfico abaixo da empresa EZTEC (EZTC3) do segmento de Incorporações que
possui uma Dívida Bruta em tendência de queda nos últimos trimestres registrando 5% do Patrimônio
Líquido.

No gráfico abaixo também temos uma empresa do segmento de Incorporações chamada GAFISA
(GFSA3) com alta desse indicador entre 2016 e 2018 para depois ocorrer um recuo nos primeiros três
trimestres de 2019.

O site Fundamentus não oferece o gráfico com o histórico de vários anos deste indicador, mas é
possível ver o último resultado na primeira página no campo “Div Br/ Patrim”.

91
Para quem tem a assinatura do GuiaInvest PRO eu recomendo o uso da ferramenta “Stock Guide”
onde é possível fazer buscas, estudos e filtragem de empresas através desses indicadores que citei até
aqui e muitos outros. Existe um artigo no site deles que mostra o funcionamento da ferramenta, leia
aqui.

No Fundamentos, também existe uma ferramenta de busca e filtro, mas que é bem limitada a um
número pequeno de indicadores, veja aqui. Infelizmente, no Fundamentus você não pode salvar os
seus estudos para serem revisitados depois. Isso economizaria muito tempo.

Estudo do Retorno ao Acionista

Os acionistas podem ter lucro investindo em ações através do recebimento de proventos (dividendos e
juros sobre capital próprio) e através do ganho de capital que se dá através da valorização das ações.

Os dividendos são lucros que as empresas distribuem por cada ação que você possui. Esse valor, em
dinheiro, cai na sua conta na corretora e está isento de imposto.

Os juros sobre capital próprio também representam uma quantia que as empresas distribuem por cada
ação que você possui, mas neste caso existe o reconhecimento de imposto de renda (15%).

O ganho de capital se dá pela valorização das ações que você possui. Quando as empresas apresentam
bons resultados e demonstram ser um bom investimento, naturalmente ocorre um aumento na demanda
por suas ações na bolsa. Com mais pessoas dispostas a comprar a ação e menos pessoas interessadas
em vender, o preço da ação tende a aumentar. Isso beneficia todos aqueles que possuem ações da
empresa.

Existem investidores que preferem investir em empresas que pagam bons dividendos de forma regular,
mesmo que isso signifique menos crescimento no valor da ação. Também existem investidores que
priorizam a valorização das ações. É possível adotar as duas estratégias, ou seja, ter ações que
priorizam dividendos e outras que priorizam a valorização da ação.

Dividendos Distribuídos

Os investidores que priorizam o recebimento de dividendos observam se a empresa paga dividendos


todos os anos e se os valores pagos seguem uma tendência de crescimento. O gráfico abaixo mostra o
histórico anual de pagamentos de dividendos por ação da empresa ITAÚSA (ITSA4) que atua no
segmento de Bancos.

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Os valores no gráfico são dividendos e juros sobre capital próprio somados que foram pagos por ação.
Exemplo: se o gráfico mostra que a empresa pagou R$ 0,50 por ação, uma pessoa que tem 1000 ações
dessa empresa receberia R$ 500,00 no decorrer do ano em diversos eventos de pagamento.

No plano gratuita do GuiaInvest é possível consultar todos os proventos (dividendos, juros sobre
capital próprio etc.). Assista ao vídeo para aprender onde acessar. Se você já tem a assinatura do
GuiaInvest PRO (versão profissional) é possível acessar os gráficos mais importantes sobre os
fundamentos da empresa que você está estudando através do relatório chamado GI Way. Assista ao
vídeo onde mostrei como acessar.

Além dos proventos em dinheiro, também é possível ver os proventos em ações. Muitas vezes as
empresas distribuem bonificações, ou seja, novas ações para quem já possui ações. Exemplo: a
empresa comunica aos acionistas que para cada 100 ações que eles possuem será dado 10 ações como
bonificação.

Quando uma empresa deseja aumentar seu capital, emite novas ações e, a partir disso, seus acionistas
ganham o direito de subscrição, dando a eles preferência na compra das novas ações. No vídeo (veja
aqui) você verá essa informação no campo “Capital Subscrito”.

No site Fundamentus é possível acessar uma lista que só mostra dividendos e juros sobre capital
próprio, ou seja, não mostra todos os tipos de proventos. Para acessar você deve primeiro buscar a
ação que deseja consultar no campo de busca na parte superior do site. Depois clique na opção do
menu chamada “Dados Históricos” e depois clique em “Proventos”. Veja como exemplo a página com
os proventos distribuídos pela empresa ITAÚSA visitando aqui.

Outra forma de obter essa lista de dividendos é através do site de “Relações com Investidores” onde
as empresas também costumam listar essas informações. Veja um exemplo na página da empresa
ITAÚSA clicando aqui. Nessa página existe a opção de baixar uma planilha com histórico de
dividendos desde 1978. Veja o exemplo de pagamentos feitos no exercício de 2018. O exemplo mostra
quanto alguém que tinha 1000 ações recebeu durante o período.

93
Na coluna “Ato Declaratório” temos a data em que a empresa reuniu o conselho de administração para
definir o pagamento do dividendo. A coluna “Posição Acionária” mostra a data em que seria verificado
quantas ações você possui, já que o pagamento de dividendos é feito por ação. A coluna “Data do
Pagamento” mostra a data em que o dinheiro caiu na conta dos acionistas. Depois temos o valor
nominal e o valor líquido de imposto de renda.

Um site muito antigo, mas ainda muito usado, que permite visualizar uma espécie de “agenda de
dividendos” com a data de pagamento de dividendos de diversas empresas é o http://dividendobr.com/

Preço

Os investidores sempre observam se o preço da ação segue uma tendência de alta ou de baixa no longo
prazo. Empresas com bons fundamentos tendem a ter uma valorização de suas ações com o passar do
tempo.

No gráfico logo abaixo, temos o preço da ação da empresa ROSSI (RSID3) do setor de Construção
Civil. O gráfico mostra quase uma década de quedas constantes no preço da ação.

94
O gráfico com o histórico de Lucro Líquido da empresa segue a mesma tendência. O preço máximo
da ação no gráfico acima ocorre no mesmo ponto em que a empresa registrou o seu trimestre com
maior lucro líquido. A deterioração do preço da ação acompanhou a deterioração dos resultados
apresentados pela empresa em suas demonstrações trimestrais.

Agora observe o gráfico abaixo que mostra o histórico de lucro líquido da empresa MAGAZINE
LUIZA (MGLU3).

E logo abaixo você terá o comportamento do preço da ação MGLU3:

Existem muitos sites onde você pode acessar o gráfico de preços de uma ação. No site Fundamentos
existe um gráfico básico que você pode gerar seguindo os dos passos abaixo:

95
No GuiaInvest gratuito ou PRO você pode gerar gráficos com alguns recursos adicionais seguindo os
três passos:

No meu livro sobre análise técnica de gráficos de preços eu ensino a utilizar uma das ferramentas mais
completas que existem. Para conhecer visite aqui.

96
Lucro Líquido por Ação

Observe no gráfico abaixo o comportamento do preço da ação da empresa MAGAZINE LUIZA


(MGLU3), na linha azul, e o indicador LPA que significa Lucro Líquido por Ação. É fácil identificar
visualmente a relação entre lucro da empresa e valorização da ação. No longo prazo os investidores
esperam que o preço das ações acompanhe o crescimento dos lucros.

Como nem sempre isso ocorre, muitos investidores aproveitam os momentos de queda generalizada
da Bolsa para comprar ações de boas empresas por preços promocionais. Quando o nervosismo do
mercado passa, as ações dessas boas empresas costumam ser as que recuperam seus preços mais
rapidamente.

Preço vs Patrimônio Líquido por Ação

O gráfico abaixo é da empresa MAGAZINE LUIZA (MGLU3). Nele podemos ver a relação entre o
preço da ação (linha azul) e o indicador VPA que é o Patrimônio Líquido da empresa dividido pelo
número de ações.

97
Sabemos que o Patrimônio Líquido da empresa é tudo que sobra para os acionistas depois que todas
as dívidas são pagas. Existe uma tendência de o preço da ação acompanhar o crescimento do
patrimônio líquido.

98
Estudo dos Indicadores de Mercado

Agora vamos estudar alguns indicadores importantes de mercado que também são conhecidos por
“múltiplos”. Eles recebem esse nome por serem calculados com base na relação que existe entre os
números que a empresa divulga nas demonstrações trimestrais e o preço atual da ação. O preço da ação
de uma empresa sofre mudanças constantes que dependem das forças compradoras e vendedoras do
mercado, ou seja, da oferta e demanda pelas ações a cada instante. Iremos estudar o P/L, DY, Payout,
P/VPA e PSR.

(P/L) Preço / Lucro

O indicador “P/L” ou “Preço por Lucro” mostra a relação que existe entre o preço da ação e o lucro
líquido divido pelo número de ações que a empresa possui.

Em sites como o Fundamentus e o GuiaInvest é possível acessar o P/L já calculado, mas acho
importante que você entenda como o indicador é encontrado. Veja:

𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜
𝑃/𝐿 =
𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜

Na figura abaixo eu destaquei as informações que vamos utilizar e que estão disponíveis gratuitamente
no site Fundamentus. Use o campo de busca do Fundamentos para pesquisar os dados fundamentalistas
de qualquer ação. Neste exemplo didático utilizamos VALE3.

99
O Lucro Líquido Por Ação, como você pode ver na figura acima, aparece no campo LPA. No
exemplo ele é 4,86. Para encontrar este número o site dividiu o Lucro Líquido dos últimos 12 meses
de 25.656.500.000 pelo Número de Ações que é de 5.284.470.000 ações.

Agora vamos dividir o preço da ação por esse lucro por ação para calcular o indicador P/L. Pegamos
o preço da ação que aparece no campo “Cotação”, como sinalizado na figura acima, e que é 51,98 e
dividimos pelo lucro líquido por ação que é de 4,86 (arredondado) e encontramos os mesmos 10,71
(arredondados).

Agora vamos interpretar esse número 10,71. Como esse lucro líquido se refere ao período de um ano
(últimos 12 meses), ao descobrir o lucro líquido por ação podemos identificar quantos anos teremos
que esperar para a empresa lucrar o equivalente ao que pagamos pela ação. Vamos voltar para o nosso
exemplo.

100
O preço da ação é R$ 51,98 e o lucro que essa ação gerou foi R$ 4,86. Se você comprasse essa ação e
a empresa continuasse gerando R$ 4,86 de lucro por ação, a empresa levaria 10,71 anos (quase 11
anos) para gerar lucro equivalentes ao preço da ação.

Agora imagine que ocorreu uma queda no preço da ação e agora ela vale R$ 25,00. Vamos imaginar
que o lucro por ação continuou o mesmo. Dividindo 25 pelo lucro por ação de R$ 4,86 teremos o P/L
de R$ 5,14. Agora seria necessário esperar 5,14 anos (pouco mais de 5 anos) para a empresa gerar de
lucro o equivalente ao preço da ação de R$ 25. Se o preço da ação fosse R$ 25 e o lucro por ação fosse
R$ 10, o P/L seria 25/10 = 2,5.

Muitos investidores entendem um P/L baixo como uma empresa barata, pois ela está gerando muito
lucro líquido por ação pelo preço que o mercado pede por cada ação. O preço das ações de empresas
que aumentas seus lucros a cada trimestre tende a subir.

Um P/L que se mantém baixo por muitos trimestres, mesmo com a empresa registrando bons lucros,
pode sinalizar que os investidores perderam o interesse pela empresa por existirem expectativas
negativas sobre os lucros e outros fundamentos que ela terá no futuro.

Já um P/L negativo sinaliza uma empresa com prejuízo ao invés de lucro, ou seja, a empresa está
distribuindo prejuízos por ação e não lucros por ação.

Pela conta gratuita do GuiaInvest você pode consultar o P/L dos últimos 4 trimestres através do
relatório Raio-X. Basta buscar pela ação desejada no campo de busca no topo do site e depois clicar
na opção “Raio-X” que aparecerá no menu logo abaixo do logo da empresa. Você encontrará o P/L no
campo “Preço/Lucro (x)” na caixa de Indicadores. Assista ao vídeo para aprender como acessar o
relatório Raio-X.

101
(DY) Dividend Yield

O indicador Dividend Yield (DY) mostra a relação entre o preço da ação e quando foi pago na forma
de dividendos e outros proventos nos últimos 12 meses. Exemplo: uma ação que custou R$ 10 e que
distribuiu R$ 1 de dividendos e juros sobre capital próprio no último ano, gerou um DY de 10% para
o investidor, pois R$ 1 equivale a 10% de R$ 10 (1/10 = 0,1 x 100 = 10%).

O DY depende do preço que você pagou pela ação. Se um outro investidor pagou R$ 8 por essa ação
no passado e a empresa distribuiu R$ 1 de dividendos o indicador DY, para esse investidor, será de
12,5%. Se outro investidor comprou essa mesma ação muitos anos atrás pagando somente R$ 4 pela
ação esse R$ 1 de dividendo representará para ele 25% já que 1 dividido por 4 é igual a 0,25 que
multiplicado por 100 equivale a 25%.

Você nunca deve esquecer que o indicador DY é calculado considerando o preço atual da ação e os
dividendos pagos no passado (nos últimos 12 meses). Também considere que não existem garantias
de que a empresa continuará distribuindo os mesmos lucros no futuro. Ela pode ter um DY elevado
atualmente por ter obtido receitas acima da média por um período curto (receitas não recorrentes).

Existem empresas de alguns setores que geram receitas e lucros regulares e por isso distribuem
dividendos com regularidade. Essas empresas possuem dividendos mais “previsíveis”. É o caso das
empresas do setor de energia elétrica e de setor de bancos que possuem um longo histórico de
dividendos pagos com regularidade.

Existem empresas que possuem receita e lucros instáveis. Por esse motivo, pagam dividendos
esporadicamente.

𝐷𝑖𝑣𝑖𝑑𝑒𝑛𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑎𝑔𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜


𝐷𝑌 = ( ) × 100
𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜

Muitos investidores que compram ações que pagam bons dividendos não possuem o objetivo de vender
essas ações enquanto existir a expectativa de que as empresas pagarão bons dividendos. Em momentos
de estresse no mercado, quando os preços das ações de todas as empresas caem, os investidores tendem
a aproveitar o momento para comprar mais ações de boas pagadoras de dividendos. Isso ajuda a reduzir
a volatilidade no preço dessas ações, pois mesmo com o mercado em queda existe demanda ações que
pagam dividendos.

Na sua conta gratuita no GuiaInvest é possível observar o “Dividendo Pago Ação $” e o “DY (cot fim)
%” que é o dividendo pago por ação dividido pelo preço da ação. Essa informação está no relatório
chamado Raio-X. Caso ainda não tenha assistido, assista ao vídeo para aprender como acessar o
relatório Raio-X.

No Fundamentus essa informação está no campo “Div. Yield” no quadro “Indicadores


Fundamentalistas” da ação pesquisada por você.

102
No Fundamentus você também pode listar ações de todas as empresas e ordenar essa lista através do
DY. Você verá que muitas empresas possuem DY igual a zero, ou seja, não distribuem dividendos e
muitas possuem DY elevados, ou seja, os dividendos pagos em relação ao preço da ação são muito
elevados. Normalmente um DY muito acima da média só ocorre esporadicamente, ou seja, o DY
elevado não se sustenta no decorrer do tempo. Assista ao vídeo para aprender a visualizar a lista e
ordenar pelo DY.

No GuiaInvest PRO já existem modelos prontos de relatórios que garimpam empresas que são boas
pagadoras de dividendos utilizando filtros com vários critérios avançados.

Caso você tenha a assinatura da conta PRO, basta visitar a opção “Modelos de Estratégias”. Você
encontrará os modelos: Ranking de Dividendos, Ranking de Dividendos Avançados, Seleção de
Dividendos Avançado e o modelo Viver de Dividendos.

103
Payout

Faz sentido para você uma empresa distribuir mais dividendos do que o lucro líquido que ela vem
registrando? Imagine então uma empresa que não tem lucro, mas, mesmo assim, está distribuindo
muitos lucros entre os acionistas. Parece estranho?

Através do indicador Payout podemos identificar quanto do Lucro Líquido por Ação (LPA) está sendo
distribuído aos acionistas na forma de dividendos. Normalmente as empresas distribuem no mínimo
25% dos seus lucros aos acionistas. Pode ser menos se o estatuto da empresa prever isso.

Imagine uma empresa que teve lucro líquido por ação de R$ 10,00 (LPA). Ela só pretende distribuir
R$ 2,5 desse lucro por ação para os acionistas. O restante, ela vai utilizar para reinvestir na empresa e
diminuir as dívidas que possui. Dividindo esses 2,5 por 10 encontraremos 0,25. Multiplicando por 100
teremos 25%. Podemos dizer que o Payout este exemplo é 25%, ou seja, a empresa distribui 25% do
lucro líquido entre os acionistas através dos dividendos.

𝐷𝑖𝑣𝑖𝑑𝑒𝑛𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑎𝑔𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜


𝑃𝑎𝑦𝑜𝑢𝑡 = ( )
𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝐴çã𝑜 (𝐿𝑃𝐴)

Payout estável ou crescente com Lucro por ação estável, sinaliza que a empresa mantém uma boa
política de pagamento de dividendos. Muitos investidores enxergam isso com bons olhos.

Uma redução no Payout pode não ser tão negativa e o lucro por ação aumentar, pois uma coisa vai
compensar a outra. Se o lucro por ação continuar estável ou cair e o Payout cair no decorrer do trimestre
isso será visto de forma negativa pelos investidores que priorizam o investimento em ações que pagam
bons dividendos.

Empresas que anunciam o início de grandes investimentos, que só irão gerar resultados no longo prazo,
tendem a reduzir o Payout, pois a empresa vai priorizar o reinvestimento dos lucros.

Payouts altos, geralmente, significam um alto dividendo ao acionista. Portanto, um percentual de


distribuição do lucro elevado é sempre bom, mas é importante ter cuidado com Payout acima de 100%
de forma recorrente.

Quando ocorre eventualmente, isso pode se explicar por algum resultado acima da média que não
ocorrerá todos os trimestres, mas taxas próximas ou acima de 100% recorrentemente pode significar
que a empresa está se endividando para realizar esta distribuição. Isso não será bem-visto pelos
investidores com foco no longo prazo.

Existem muitos casos de empresas que pagaram dividendos elevados mesmo sem registrar lucros,
enquanto acumulando dívidas elevadas.

No site Fundamentus, infelizmente, não existe o indicador Payout. No GuiaInvest, na versão gratuita,
é possível ver o Payout no relatório Raio-X.

104
No GuiaInvest PRO existem diversos “Modelos” prontos para gerar relatórios que filtram ações
considerando diversos indicadores como:

1. Se a empresa teve lucros constantes nos últimos 5 anos;


2. Se a empresa pagou dividendos constantemente nos últimos 5 anos;
3. Se a média do Payout nos últimos 3 anos foi menor que 90% do lucro;
4. E por fim, mostra qual foi o DY médio os últimos 3 anos.

O modelo que lista ações que atendem esses critérios se chama “Viver de Dividendos”. Eu mostrei
como gerar esse relatório nesse vídeo aqui. Também mostro como ordenar a lista por volume dos
últimos 21 dias e DY médio dos últimos 3 anos.

Após escolher ações de empresas que pagam bons dividendos é fundamental que o investidor
mantenha um monitoramento constante, no mínimo trimestral, sobre a situação financeira da empresa.
Isso se torna ainda mais necessário quando a empresa onde você investe possui Payout elevado.
Ferramentas, como os relatórios do GuiaInvest PRO, ajudam muito a economizar tempo nessa tarefa,
mas através de sites gratuitos como o Fundamentus é possível observar alguns dados que ajudam.

Veja o exemplo do gráfico abaixo. Ele foi gerado no site Fundamentus, clicando na opção Gráficos e
depois em Demonstrativos Financeiros.

A barra azul mostra que uma empresa começou a registrar lucro líquido decrescente a partir dos
trimestres de 2014. Mesmo assim o pagamento dos proventos continuou elevado (barra verde). Entre
o final de 2015 e em 2016 a empresa pagou proventos maiores que o lucro líquido, ou seja, o Payout
estava acima de 100% e isso costuma ser visto de forma negativa pelos investidores, especialmente
quando ocorre trimestre após trimestre.

105
Veja no gráfico acima, também gerado do Fundamentus na opção “Histórico de Cotações”. O preço
da ação dessa empresa começou a cair juntamente com a queda trimestral no lucro líquido da empresa.
Como os dividendos continuavam elevados, os indicadores mostravam que essa ação estava barata por
pagar dividendos elevados. Quando a empresa parou de pagar dividendos no final de 2016, o preço da
ação já tinha caído muito. A ação que um dia chegou a ser negociada por mais de R$ 20 e que pagava
bons dividendos, poucos anos depois estava sendo negociada por R$ 2, registrando prejuízos
trimestrais e sem qualquer pagamento de dividendos. No estudo completo dessa empresa é possível
identificar a degradação de diversos indicadores.

Por isso é fundamental que o investidor continue estudando todos os números das empresas
consideradas boas pagadoras de dividendos. O pagamento de bons dividendos hoje não garante bons
dividendos amanhã, principalmente se a empresa possui números que se deterioram como vendas em
queda, lucros em queda, despesas e dívidas em alta. Nunca compre ações de empresas observando
somente um indicador. É fundamental fazer o estudo completo de todos os indicadores importantes.

(P/VPA) Preço / Valor Patrimonial

O P/VPA mostra a relação que existe entre o preço da ação e o patrimônio líquido da empresa por
ação.

𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜
𝑃 / 𝑉𝑃𝐴 = ( )
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚𝑜𝑛𝑖𝑎𝑙 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜 (𝑉𝑃𝐴)

Vamos imaginar que dividimos o patrimônio líquido da empresa pelo número de ações que ela possui
e encontramos o valor patrimonial (VPA) por ação de R$ 20,00.

Agora imagine que o preço da ação (P) custa R$ 30,00. Dividindo P por VPA ou 30 por 20 encontramos
o P/VPA dessa ação que é 1,5. Esse número deve ser entendido da seguinte forma: a ação está sendo

106
vendida atualmente por um preço que é 1,5 vezes o seu patrimônio. Você pagará R$ 30 por uma ação
que representa um patrimônio de R$ 20.

Agora imagine que a ação dessa empresa passou a ser vendida por R$ 10,00. O patrimônio por ação
ainda está valendo R$ 20,00. Dividindo 10 por 20 teremos o P/VPA de 0,5. Significa dizer que a ação
está sendo vendida por 0,5 vezes o valor patrimonial, ou seja, ela é vendida por metade do valor
patrimonial ou é vendida com 50% de desconto. Teoricamente essa ação estaria mais barata
considerando somente esse indicador. É como comprar cada R$ 2 por apenas R$ 1.

Se o P/VPA for igual a 1 significa que a ação é negociada pelo seu valor do seu patrimônio. Se estiver
abaixo de 1 significa que está sendo negociada abaixo do valor do seu patrimônio. Se estiver acima de
1 significa que os investidores aceitam pagar mais do que o valor patrimonial e isso sinaliza que existe
uma expectativa de que essa empresa aumentará suas vendas, lucros e patrimônio no futuro. Boas
empresas, com bons números podem ter preços muitas vezes acima do valor patrimonial.

Empresas com P/VPA abaixo de 1 pode sinalizar que os investidores possuem uma expectativa
negativa sobre o seu futuro.

Na versão PRO do GuiaInvest é possível gerar um “Ranking por V/VPA” entrando na opção “Explore”
e depois em “Modelos de Estratégias”. Mostrei como fazer isso nesse vídeo aqui. O relatório vai gerar
uma lista do menor P/VPA para o maior. Uma dica é ordenar essa lista por empresas que possuem
maior volume negociado nos últimos 21 dias, como eu mostrei no vídeo. Também mostrei como ativar
um filtro que sinaliza as empresas com P/VPA abaixo de 2. Você pode configurar esse filtro para exibir
acima de 1 e abaixo de 2 ou qualquer outro critério que queira estudar.

Você também pode gerar uma lista de empresas e filtrar pelo V/VPA através do Fundamentus. Gravei
um vídeo mostrando como fazer.

Nos seus estudos você logo perceberá que existem segmentos onde é comum encontrar P/VPA muito
elevado como é o caso do segmento de seguradoras e outras prestadoras de serviço que não precisam
de patrimônio muito elevado para suas operações. Já os setores de siderurgia e metalurgia, veja aqui,
possuem P/VPA normalmente abaixo ou próximo de 1.

Sempre é importante analisar o gráfico histórico que mostra o comportamento do patrimônio líquido
da empresa no decorrer do tempo, juntamente com o comportamento dos lucros e dívida. Já mostramos
como fazer isso em capítulos anteriores.

Na figura logo abaixo você verá onde encontrar o indicador no Fundamentos. Eles não exibem um
histórico dos últimos trimestres.

107
Na versão gratuita do GuiaInvest é possível acessar o P/VPA dos últimos 4 trimestres através do
relatório Raio-X. Veja um exemplo da empresa ENERGISA visitando esse endereço aqui ou verifique
na figura logo abaixo:

108
(PSR) Price Sales Ratio

Esse indicador mostra a relação entre o preço da ação e a receita líquida anual da empresa. Permite
saber quanto os investidores estão pagando pela ação por cada R$ 1 de receita líquida registrada pela
empresa. A melhor forma de entender é através de um exemplo.

𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜
𝑃𝑆𝑅 = ( )
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜

Imagine uma empresa que tem uma receita líquida de R$ 200.000,00. Já vimos que a receita líquida é
o dinheiro que entra na empresa depois que as vendas são realizadas e o imposto sobre o preço de
venda é pago (exemplo: ICMS).

A empresa do nosso exemplo tem 10.000 ações e dividindo os 100.000 por 10.000 teremos R$ 10 de
receita líquida por ação. Vamos imaginar que o preço dessa ação é R$ 20,00. Dividindo o preço da
ação pela receita líquida por ação temos 20 / 10 = 2. Assim, o indicador PSR da ação dessa empresa é
2. Devemos ler esse número da seguinte forma: o preço da ação está sendo negociado por 2 vezes a
receita líquida que essa empresa registra por ano.

Muitos investidores consideram o PSR abaixo de 3 como a sinalização de uma ação atrativa para a
compra, caso todos os demais indicadores representem uma empresa boa para investir. Este é mais um
daqueles bons indicadores para comparar empresas concorrentes ou do mesmo setor.

É importante avaliar esse indicador junto com a margem líquida (lucro líquido). Uma situação
interessante seria encontrar empresas com margem líquida elevada, dívida equilibrada e PSR baixo.

Você também encontrará esse indicador no Fundamentus e no relatório Raio-X do GuiaInvest na sua
versão gratuita com o histórico dos últimos 4 meses.

Para listar todas as empresas ordenadas por esses e muitos outros indicadores, gratuitamente, você
pode usar a busca avançada do Fundamentus como é possível ver na próxima figura:

109
110
Estudo Cego

Nos capítulos anteriores estudamos os principais números e indicadores através de diversos estudos
como: lucratividade, qualidade, endividamento, retorno ao acionista e indicadores de mercado. Para
cada indicador estudado utilizamos exemplos isolados de empresas diferentes com dados entre 2009 e
2018.

O que faremos agora será o estudo completo de todos os principais indicadores de uma única empresa,
com dados históricos entre 2009 e 2018.

O nome da empresa e o código da ação não serão revelados, pois o nosso objetivo é fazer uma espécie
de “estudo cego”. Faremos como o especialista em vinhos que avalia as características da bebida sem
saber qual marca estão bebendo. A ideia é não permitir que o nome ou a marca produza alguma
influência no estudante ou no pesquisador.

O principal objetivo desse capítulo é mostrar, na prática, como fazer a leitura de todos os indicadores
importantes através de dados históricos apresentados em gráficos. Você pode obter esse relatório
através da opção “Mais” e depois em “GI Way” através da sua assinatura do GuiaInvest PRO. Depois
mostraremos a análise da mesma empresa utilizando os dados do Fundamentus, que são mais
limitados, mas que também podem nos ajudar.

A empresa escolhida para o estudo é uma indústria. Vamos observar os dados:

111
Estudo 1 - Lucratividade e geração de caixa

1º Passo: Receita Líquida

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 7,0% 11,9% 10,3%

No gráfico acima é possível observar que a Receita Líquida da empresa cresce desde 2017. Em 2016
foi possível observar uma queda na receita depois de um longo ciclo de alta entre 2010 e o primeiro
trimestre de 2016. Temos um crescimento consistente nas receitas que só foi interrompido pela crise
econômica que tivemos naquele período entre 2016 e 2017.

Aqui vale observar o impacto negativo das recessões nas receitas de grande parte das empresas
listadas na bolsa. Antes de iniciar qualquer estudo histórico é importante ter na sua mente o
comportamento do PIB da nossa economia no últimos anos. Teremos um capítulo sobre isso, mas
podemos adiantar que o PIB mede o crescimento da economia por somar o valor de tudo que foi
produzido no país. Praticamente todas as empresas são afetadas em momentos recessívos e em
momentos de crescimento da economia.

O site https://pt.tradingeconomics.com/brazil/gdp-growth-annual é a forma mais rápida e fácil de


obter um gráfico do PIB. Clique na opção 10Y na base do gráfico e selecione o tipo de gráfico
“Column” para obter uma figura que mostra a taxa de crescimento anual do PIB como essa:

112
Sinalizei o gráfico acima com duas setas para indicar o período de crise, onde tivemos uma das
recessões mais longas da história. Podemos supor que a queda na receita da empresa entre 2016 e
2017 foi uma consequência da crise econômica sinalizada pela queda no PIB.

O campo CAGR, na parte inferior do gráfico, nos mostra que a empresa registrou crescimento
composto de 10,3% ao ano nos últimos 10 anos, 11,9% nos últimos 5 anos e registrou uma queda
nessa taxa de crescimento, para 7% ao ano nos últimos 3 anos devido ao efeito da crise em 2016.

2º Passo: Resultado Bruto

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 7,8% 9,2% 8,3%

Agora podemos observar o gráfico que mostra a evolução do Resultado Bruto. Devemos lembrar
que o Resultado Bruto é o mesmo que o Lucro Bruto da empresa. Ele é calculado deduzindo os
custos de produção e aquisição dos produtos e serviços vendidos. Normalmente o Resultado Bruto

113
acompanha o mesmo movimento da Receita Líquida. Podemos observar que o Resultado Bruto
cresceu 7,8% ao ano nos últimos 3 anos enquando a Receita Líquida cresceu 7%. Isso significa que
a empresa conseguiu um crescimento maior do Lucro Bruto mesmo com crescimento menor da
Receita Líquida. Isso é um sinal positivo.

3º Passo: Resultado Operacional

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 3,8% 5,1% 6,8%

Agora podemos observar o Resultado Operacional que é encontrado descontando do Resultado


Bruto todos os custos operacionais como os custos e despesas administrativas, publicidade, vendas,
etc. Podemos ver Resultados Operacionais crescentes, mas que teve variação de 3,8% nos últimos 3
anos. Devemos lembrar que muitos desses custos e despesas são fixos, ou seja, a queda nas vendas
não faz o custo operacional cair proporcionalmente. Exemplo: se a empresa tinha custos com
aluguel, a queda na receita não faz o custo com o aluguel cair. Dessa forma, queda na Receita Líquida
não produz queda imediata nas despesas e custos operacionais e isso produzirá um crescimento
menor ou até uma queda maior no Resultado Operacional (lucro operacional).

114
4º Passo: Lucro Líquido

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 4,9% 9,7% 9,2%

Podemos observar que a empresa manteve uma média boa de crescimento de 9,2% ao ano nos
últimos 10 anos e crescimento de 4,9% ao ano nos últimos 3 anos, mesmo passando pela grave crise
da economia em 2016. A empresa não registrou prejuízos entre 2009 e 2018.

5º Passo: Caixa Líquido Atividades Operacionais

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 9,8% 4,8% -

Essa empresa registrou Caixa Líquido das suas Atividades Operacionais sempre positivo. Teve
crescimento de 9,8% nos últimos 3 anos e vem se mantendo estável nos últimos trimestres. Isso

115
reduz a necessidade de recursos de terceiros (empréstimos) e aumenta a probabilidade de
distribuição de dividendos. Esse indicador deve ser positivo, crescente e/ou estável.

6º Passo: Patrimônio Líquido

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 8,5% 11,1% 13,7%

Esse gráfico mostra padrões apreciados pelos investidores como o Patrimônio Líquido sempre
positivo e em tendência de alta. Registrou crescimento de 8,5% ao ano como mostra a tabela acima.

A crise de 2016 gerou impacto muito pequeno no patrimônio, registrando queda por somente 2
trimestres. Devemos lembrar que o Patrimônio Líquido é tudo que sobra depois que deduzimos tudo
que a empresa tem (ativos) de tudo que a empresa deve (passivos).

116
7º Passo: ROE

3 anos 5 anos 10 anos

Média 18,1% 18,3% 18,2%

Aqui temos o gráfico histórico do ROE. A empresa tem mantido o Retorno sobre o Patrimônio
sempre próximo de 18% que é um número positivo. Podemos observar no gráfico que existe uma
certa estabilidade no ROE. Muitos investidores preferem empresas com ROE acima da taxa Selic
com números crescentes ou estáveis.

No endereço https://pt.tradingeconomics.com/brazil/interest-rate você encontrará um gráfico com as


variações da taxa Selic, que é a taxa básica de juros da nossa economia. É a taxa que mais representa
o rendimento dos investimentos de renda fixa. Podemos ver que a empresa sempre manteve ROE
acima da taxa Selic.

117
Estudo 2 - Qualidade

8º Passo: Margem Bruta

3 anos 5 anos 10 anos

Média 28,6% 29,3% 30,4%

Agora vamos estudar a qualidade da administração da empresa através das margens de lucro.
Empresas eficientes conseguem fazer mais gastando menos. Isso resulta em margens maiores de
lucro.

Aqui temos uma margem bruta que sofreu uma queda muito pequena nos últimos 10 anos, mostrando
um sinal positivo que é uma certa estabilidade na margem. O ideal são margens estáveis ou
crescentes.

118
9º Passo: Margem Operacional

3 anos 5 anos 10 anos

Média 12,0% 12,5% 13,1%

Aqui também temos um gráfico que mostra uma pequena queda na margem operacional, mas que
também indica uma certa estabilidade na margem no longo prazo. Como esperado, no momento de
crise a margem operacional sofre por ser impactada por custos e despesas fixas.

10º Passo: Margem Líquida

3 anos 5 anos 10 anos

Média 11,9% 12,0% 11,9%

119
Aqui vemos a margem líquida estável de 11,9% ao ano nos últimos 3 anos e 10 anos. Margens
estáveis ou crescentes são bons sinais para os investidores.

Estudo 3 - Endividamento

11º Passo: Dívida Líquida

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR -5,8% - 17,5%

A Dívida Líquida representa a dívida que sobra depois que utilizamos todo o dinheiro disponível na
empresa para pagar as dívidas que geram custo com juros (empréstimos, financiamentos e
debêntures). Quando é negativa, significa que a empresa tem mais dinheiro em caixa do que dívida.
Boas empresas possuem dívidas estáveis ou decrescentes. Na média dos últimos três anos a empresa
teve queda de -5,8% na sua dívida líquida.

12º Passo: Dívida Líquida / Resultado operacional

120
3 anos 5 anos 10 anos

Média 1,11 1,04 0,79

Esse indicador mostra se o endividamento da empresa segue padrões saudáveis. Ele mostra em
quantos anos a empresa conseguiria quitar toda sua dívida atual com base apenas no resultado
operacional. Costuma se usar um limite saudável valores iguais ou menores que 3. Alguns setores
possuem empresas com valores maiores para esse índice, como o setor elétrico. Números maiores
podem ser compensados com receitas estáveis e crescentes. No exemplo a empresa tem média de
1,11, ou seja, com apenas o resultado operacional de pouco mais de 1 ano seria possível quitar a
dívida da empresa.

13º Passo: Dívida Bruta / Patrimônio Líquido

3 anos 5 anos 10 anos

Média 65,3% 71,5% 72,9%

Esse indicador mostra o quanto a dívida bruta representa do patrimônio líquido da empresa. No
exemplo acima, na média dos últimos 3 anos a dívida bruta dessa empresa foi equivalente a 65,3%
do patrimônio. Esse índice é positivo quando decrescente ou pelo menos estável. É preocupante
quando mantém uma trajetória duradoura de crescimento. Valor ideal depende de cada empresa, e
principalmente, de cada setor. Existem empresas que possuem patrimônio líquido muito pequeno
como é o exemplo de lojas de varejo que alugam todos os imóveis que ocupam. Já uma empresa que

121
possui muitas fábricas próprias tende a ter um patrimônio líquido maior. Por isso, mais importante
que o número é observar a sua trajetória

Estudo 4 – Retorno ao Acionista

14º Passo: Dividendos Distribuídos

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 1,7% 9,2% 8,4%

* Considerando dividendos até 31/12/2018

No gráfico devemos considerar os resultados completos somente até 2018, pois quando esse gráfico
foi produzido o ano de 2019 ainda estava incompleto. Podemos ver a empresa pagou dividendos
initerruptamente em todos os anos desde 2009. Podemos ver que foram dividendos crescentes,
crescendo 1,7% nos últimos 3 anos e 9,2% nos últimos 5 anos. Dividendos constantes e crescentes
são dois atributos positivos para investidores que focam seus investimentos em empresas que pagam
dividendos.

122
15º Passo: Preço

3 anos 5 anos 10 anos

CAGR 21,7% 15,1% 21,1%

No gráfico de preços acima podemos constar que o preço da ação cresceu em média 21% ao ano nos
últimos 10 anos e 21,7% ao ano nos últimos 3 anos. Isso representou um ótimo ganho de capital para
os acionistas.

123
16º Passo: Preço vs LPA

O gráfico acima mostra o preço da ação (linha azul) e o lucro por ação (linha laranja). Fica bem
evidente que existe uma relação entre o crescimento do lucro líquido da empresa e a valorização das
suas ações. Os investidores que adquirem ações de boas empresas buscam aquelas que são capazes
de gerar bons lucros de forma consistente.

17º Passo: Preço vs VPA

124
Para finalizar o nosso estudo, o gráfico acima mostra o preço da ação (linha azul) e o patrimônio
líquido por ação. Também é fácil constatar que empresas com patrimônio líquido crescente se
tornam cada vez mais valiosas, já que ao comprar ações o investidor tem a percepção de estar
comprando o patrimônio da empresa.

Estudo com fonte gratuita de dados

Agora vamos fazer o estudo da mesma empresa utilizando dados gratuitos coletados no site
Fundamentus. Infelizmente o site oferece um número pequeno de indicadores com histórico
apresentado através dos gráficos. O Fundamentus também não calcula a taxa de crescimento composto
(CAGR) dos gráficos e nem o valor médio, como ocorre nos relatórios do GuiaInvest Pro.

Acessando a opção “Gráficos” e depois a opção “Balanço Patrimonial” encontramos os seguintes


gráficos:

O gráfico acima mostra que essa empresa apresenta um crescimento nos seus ativos no longo prazo.

125
O gráfico que apresenta os passivos da empresa nos mostra uma dívida bruta de curto prazo
decrescente (coluna verde) e dívida bruta de longo prazo decrescente (linha azul). Dívidas em queda
ou estáveis são sinais positivos.

O gráfico que mostra o Patrimônio Líquido crescente também é um sinal positivo.

Agora vamos acessar os gráficos da opção “Gráficos” e “Demonstrativos de Resultados”.

126
No primeiro gráfico acima temos uma indicação clara de Receita Líquida crescente com uma queda
em 2016 devido ao agravamento da crise econômica que afetou o país. No segundo gráfico temos a
margem bruta (linha azul) e a margem operacional que o Fundamentus chama de Margem EBIT. Os
números no gráfico não aparecem na forma de porcentagem. Considere que o número 0,26 representa
26%, 0,3 representa 30% e assim por diante. As margens tiveram uma pequena queda no longo prazo,
mas flutuam de forma lateral.

127
A margem operacional, que vimos no gráfico anterior, não considera os “Resultados Financeiros”. As
empresas podem ter despesas financeiras ou até mesmo receitas financeiras que se originam de algum
investimento que fizeram. No Fundamentus temos um gráfico separado para mostrar esse resultado
financeiro. Vamos imaginar o caso de uma empresa que diante de uma crise resolve fazer uma reserva
de emergência aplicando o dinheiro que possui em investimentos de renda fixa enquanto aguarda a
crise passar e aproveita para obter ganhos enquanto os investimentos oferecem juros elevados. Essa
empresa terá um resultado financeiro significativo, mas que não tem relação com a atividade principal
da empresa. No exemplo dessa empresa que estamos estudando é possível observar que durante algum
tempo ocorreram resultados financeiros relevantes e isso é positivo.

No segundo gráfico temos o comportamento do lucro líquido e dos proventos (dividendos e juros sobre
capital próprio) que a empresa distribuiu entre os acionistas. Temos um lucro líquido crescente, que é
128
positivo e distribuição de dividendos consistente (todos os trimestres) e crescente nos últimos
trimestres.

Por fim temos mais esses dois indicadores disponíveis no menu dentro opção “Gráficos” e
“Indicadores Fundamentalistas”.

O primeiro gráfico de Retorno sobre o Capital Investido também é conhecido como ROIC. Esse
indicador é calculado dividindo a Margem Operacional (EBIT) pelo patrimônio líquido + dívidas que
a empresa fez que pagam juros e taxas como empréstimos, financiamentos e debêntures. O objetivo é

129
descobrir não só a rentabilidade do patrimônio da empresa, mas também a rentabilidade do dinheiro
que a empresa pegou emprestado para investir, pois faz parte do capital investido. Podemos ver que o
retorno está estável.

No segundo gráfico temos somente o retorno sobre o patrimônio líquido através do indicador chamado
ROE onde temos o lucro líquido dividido pelo patrimônio líquido. Os números também são estáveis.
Retornos estáveis e crescentes são positivos aos olhos dos investidores.

Análise Automatizada

O estudo da situação financeira das empresas se tornou bem mais simples nos últimos anos com o
surgimento de sites e serviços online que oferecem gráficos históricos baseados nos balanços e
demonstrações dos últimos 10 anos.

Imagine o transtorno que era fazer esse estudo através do mar de números dos balanços trimestrais ou
o enorme trabalho que seria consolidar, calcular e estudar esses dados manualmente. O trabalho seria
tanto que restaria o investidor concentra seus investimentos em uma ou duas ações ou investir
indiretamente em ações através dos fundos.

As tecnologias estão se desenvolvendo e eu acredito que a análise das ações se tornará um processo
cada vez mais automatizado ou “robotizado”, pois estamos lidando com muitos números e as máquinas
conseguem lidar com uma tonelada deles de forma muito rápida e com grande precisão.

Recentemente o GuiaInvest PRO passou a analisar dezenas de fundamentos e indicadores de todas as


ações da Bolsa com o objetivo de atribuir a cada uma delas uma espécie de pontuação. Se trata de uma
análise automatizada dos fundamentos das empresas.

Funciona da seguinte forma: o sistema do GuiaInvest PRO analisa todos os números das empresas
listadas na Bolsa, realiza diversos cálculos, verifica se as empresas passam por diversos critérios e cria
uma pontuação para cada atributo positivo e negativo que consegue encontrar em cada empresa.

Atualmente o GuiaInvest possui quatro sistemas que analisam as ações e atribuem essas pontuações.
Os dois sistemas mais recentes se chamam “GI Score” e “GI Line”. Já os dois mais antigos se chamam
“Escore” que por sua vez gera uma espécie de pontuação na forma de 5 estrelas dadas para as boas
ações que seguem determinados critérios fundamentalistas.

Essa análise automatizada não serve como recomendação de investimento, mas ela economiza um
grande trabalho ao mostrar ações que você deveria estudar e analisar primeiro, ou seja, a pontuação
permite fazer uma pré-seleção do que merece mais atenção.

Como temos mais de 300 ações na bolsa, seria humanamente impossível para um pequeno investidor
analisar todos os indicadores de cada ação sem gastar uma enorme quantidade de tempo. Um sistema
130
como o GI Score faz esse trabalho automaticamente e apresenta a lista de ações com melhores
pontuações para que você comece seus estudos imediatamente.

No final, a decisão de investir ou não deve ser sua e nunca da máquina, pois você também deve
considerar os seus próprios critérios. O fato é que os sistemas automatizados podem ajudar você a não
perder tempo com ações de empresas que possuem números desequilibrados.

Aqui você encontra um vídeo do André Fogaça,


fundador do GuiaInvest, demonstrando o
funcionamento da ferramenta “Stock Guide” e o
uso dos novos indicadores GI Score e GI Line,
baseados na análise automatizada dos
fundamentos das empresas.

Veja na figura abaixo, um relatório do GI Score


que se refere a uma empresa listada na bolsa que já foi uma ótima pagadora de dividendos. Nos últimos
anos essa empresa vem apresentando números cada vez piores. Ela deixou de pagar dividendos e já
provocou grandes prejuízos para os investidores que não venderam suas ações quando tudo começou
a se deteriorar.

Observe que, através do relatório gerado automaticamente pelo GI Score, fica bem fácil e rápido
identificar que estamos diante de uma empresa com problemas. Com isso, podemos considerar que
não compensa perder nosso tempo precioso estudando dezenas de outros fundamentos, de forma
detalhada, como aprendemos nos capítulos anteriores.

Veja um exemplo do relatório GI Score:

131
Observe na figura acima que o GI Score atribui uma nota de 0 até 100 para essa empresa. O sistema
analisou diversos indicadores e fundamentos para realizar cálculos e atribuir uma nota 16 para a
empresa (nota muito baixa).

Sem perder muito tempo, você poderia excluir essa ação dos seus estudos por considerar que o sistema
já atribuiu uma nota muito negativa com base em análises que você teria feito gastando um bom tempo
e ainda correndo riscos de cometer algum erro de avaliação.

Observe que existe um quadro chamado “Sinais” na imagem acima. No campo “Desempenho” temos
um sinal negativo (destacado na cor vermelha) que diz: “Lucro líquido negativo (prejuízo)”. Isso
chamaria sua atenção para o gráfico que mostra o lucro líquido por ação que se encontra na parte

132
inferior do mesmo relatório. Veja o que poderia ser visto:

Se você utiliza como critério pessoal não investir em empresas que colecionam prejuízos trimestrais,
você poderia parar o seu estudo aqui e partir para outra empresa que apresente fundamentos melhores.

Veja o GI Score de outra empresa que é líder de um determinado setor:

133
Após a análise do sistema ela recebeu um GI Score de número 68, que ainda é considerado bom por
estar acima de 60. A barra verde sinaliza “GI Score” acima de 60.

O grande problema dessa empresa é que, nos últimos trimestres, apresentou uma deterioração dos seus
números. O sistema automatizado do GI Score deu alguns sinais sobre isso. Ele identificou queda nos
lucros e queda no ROE. Isso nos permite focar a nossa atenção no estudo desses dois indicadores. Veja
o gráfico do ROE logo abaixo. Fica bem evidente que temos uma tendência de queda desse indicador
desde 2014.

Agora vamos observar o GI Score de uma empresa que está entre as 10 melhores no ranking do sistema.

134
Veja na figura acima que somente o critério de “endividamento” está com nota abaixo de 60 e isso
chamará a sua atenção para um estudo mais detalhado dos indicadores relacionados a esse critério.

Os demais critérios são positivos. No exemplo acima, o sistema ainda exibe três sinais positivos
relacionados com o aumento dos lucros, do ROE e do DY nos últimos 5 anos.

Fica evidente a economia enorme de tempo e esforço que essas análises automatizadas podem gerar.
Conheça o serviço visitando aqui.

Eu acredito que teremos cada vez mais sistemas automatizados e de inteligência artificial estudando,
analisando e nos apresentando informações sobre as ações e empresas. Já faz muito tempo que esses
sistemas existem, mas até estão só estavam disponíveis para grandes investidores por custarem
pequenas fortunas mensais.

Agora temos sistemas de baixo custo, voltado para o pequeno investidor. Novos sistemas devem surgir
no futuro.

Critérios tradicionais

O investidor Benjamin Graham, considerado um dos pais da análise fundamentalista, adotava uma
série de critérios para selecionar boas empresas para investir. Ainda hoje existem muitos investidores,
inclusive investidores de grande porte, como fundos que administram bilhões, que adotam critérios
muito semelhantes aos dele. Um dos investidores mais ricos do mundo, Warren Buffett, foi um aluno
e amigo de Benjamin Graham e sempre atribuiu o seu sucesso aos ensinamentos e critérios ensinados
por Benjamin.

Dessa forma, conhecer e adotar esses critérios clássicos ou tradicionais é um ponto de partida para
investidores que estão estudando e iniciando agora. Como passar do tempo você vai começar a
estabelecer os seus próprios critérios.

Para assinantes do GuiaInvest PRO é possível analisar todos esses critérios de uma única vez através
dos relatórios que estão na opção “Mais” do menu principal. Você verá duas outras opções de
Checklist automático: Fundamentalista e Dividendos. A Fundamentalista verifica 11 critérios
clássicos para selecionar boas empresas para investir. Já o relatório “Dividendos” verifica 10 critérios
automaticamente para selecionar boas empresas para investir, que pagam bons dividendos.

Veja onde encontrar esses relatórios, caso você tenha a assinatura do GuiaInvest PRO.

135
Na próxima figura você tem o exemplo de um relatório de Checklist que analisou automaticamente 11
critérios comuns de empresas consideradas como boas pagadoras de dividendos.

O exemplo da próxima figura se refere a uma empresa do setor de energia elétrica que, por muito
tempo, foi uma boa empresa para investir com o objetivo de obter dividendos.

Com o passar do tempo, os números da empresa foram se degradando, especialmente depois da


interferência política no seu setor e na sua administração (por se tratar de uma empresa controlada pelo
Governo Federal).

O sistema do GuiaInvest sinaliza com um ícone verde quando a empresa possui fundamentos que
satisfazem determinados critérios e sinaliza com um ícone vermelho quando os critérios não são
atendidos.

Neste exemplo (na próxima figura) podemos ver rapidamente que a empresa não atende vários critérios
importantes.

É uma ferramenta que também poupa muito tempo por analisar mais de uma dezena de números com
apenas alguns cliques, seguindo os critérios tradicionais da análise fundamentalista. Veja o exemplo
na próxima página:

136
137
Através da ferramenta Stock Guide, é possível criar um “Modelo de Estratégia” chamado “Check List
Fundamentalista”. Esse estudo mostrará uma lista de todas as ações da bolsa e a informação se cada
critério foi ou não atendido. Veja um exemplo:

Considerando que você não tem a assinatura do GuiaInvest Pro, vamos aprender a analisar alguns
desses critérios tradicionais.

Critério: A empresa deve ter um tamanho adequado?

Você já deve ter observado que a economia brasileira passa por constantes ciclos de crescimento que
em algum momento são interrompidos por algum ciclo recessivo. O mesmo acontece em todas as
economias do mundo.

A única certeza que temos quando vivenciamos uma crise econômica é que em algum momento essa
crise acabará dando início a um ciclo de crescimento. Outra grande certeza é que o crescimento nunca
será eterno.

As empresas menores são as que enfrentam os maiores desafios diante das inúmeras adversidades que
podem atingir os negócios. Crises econômicas, instabilidade política, fortes variações no câmbio, taxas
de juros, inflação e a concorrência podem produzir dificuldades sérias para as menores empresas.

138
Já as empresas de maior porte podem apresentar maior capacidade de superação e de recuperação
diante das inevitáveis adversidades.

O tamanho da empresa é um importante critério. Você poderia adotar como critério, focar os seus
estudos em empresas que tenham valor de mercado acima de R$ 500 milhões. Para margens ainda
maiores de segurança, você poderia adotar critérios ainda maiores como dedicar seus estudos iniciais
em empresas que valem 1, 10 ou até mais de R$ 50 bilhões.

O valor de mercado é calculado multiplicando o número de ações emitidas por uma empresa pelo preço
de cada ação. Exemplo: vamos imaginar uma empresa que possui 1 bilhão de ações e cada ação é
vendida por R$ 10,00. O valor de mercado dessa empresa será de R$ 10 bilhões. Quando o preço da
ação aumenta, o valor de mercado da empresa também aumenta.

Se você restringir seus estudos nas ações de empresas com valor de mercado acima de R$ 50 bilhões,
você teria pouco menos de 15 empresas diferentes para estudar. Se restringir seus estudos entre as
empresas com ações que possuem valor de mercado acima de 10 bilhões você terá algo próximo de 60
empresas com quase 100 ações diferentes para estudar.

Através da ferramenta “Pesquisa de Ações” do GuiaInvest (versão gratuita) você pode filtrar as ações
por valor de mercado. Veja a lista aqui. Não é possível listar empresas pelo valor de mercado no
Fundamentus.

139
Você também poderia limitar seus estudos concentrando sua atenção nas empresas que a B3 utiliza
para a formação do índice Bovespa. Elas são as ações mais negociadas na bolsa e pertencem a empresas
que estão entre as maiores do mercado. Veja a lista de empresas que compõem o índice Bovespa. O
campo Part. (%) mostra a participação da empresa no índice. Quanto maior esse número mais
importante é a empresa para o índice. Você pode iniciar seus estudos pelas empresas com Part. (%)
maior.

Observe na página da B3 que clicando na opção “Consultar por” você pode selecionar “Setor de
atuação”. Você verá a lista das empresas mais negociadas de cada setor. Seus estudos poderiam
começar por essas empresas.

Se depois você quisesse estudar empresas menores, mas que são frequentemente negociadas na bolsa,
ou seja, possuem boa liquidez, existe uma outra lista de ações da B3 que é a carteira de empresas que
fazem parte do índice Small Cap. Veja a lista de empresas menores aqui.

Somando a lista de empresas que fazem parte do índice Bovespa e Small Cap você teria pouco mais
de 140 ações. Isso significa tirar do seu radar quase metade da Bolsa que é composta de empresas com
valor de mercado muito baixo e principalmente baixo volume de negociações diárias.

Agora vamos passar para o próximo critério.

Critério: A empresa deve possuir algum nível de Governança Corporativa.

A B3 possui uma classificação para as empresas que se tornou uma forma simples de mostrar aos
investidores quais empresas praticam a chamada “governança corporativa”.

Recentemente, no final século XX o mercado financeiro mundial foi abalado por escândalos
financeiras como os casos da Enron e da Worldcom, ocorridos nos Estados Unidos.

Isso chamou a atenção de todas as bolsas do mundo para a veracidade das informações contábeis
divulgadas pelas empresas, pois é através dessas informações, que aparecem nos balanços trimestrais
e demonstrativos, que os investidores tomam suas decisões. No Brasil também tivemos escândalos
envolvendo empresas listadas na bolsa como os casos do Banco Santos, Boi Gordo e Daslu (Laep).

Toda empresa lista na bolsa é obrigada a seguir diversas leis e cumprir várias obrigações como as
apresentadas na Lei das Sociedades por Ações (Lei n.º 6.404/1976). De forma voluntária, algumas
empresas costumam adotar práticas adicionais que ampliam a transparência e direitos para seus
investidores.

A B3 resolveu criar uma espécie de “lista especial” de empresas que adotam essas práticas adicionais
que podem ser adotadas voluntariamente pelas empresas. Isso permite ao investidor identificar
rapidamente quais empresas estão adotando políticas e transparência muito acima do exigido pela lei
para beneficiar o negócio, seus clientes e os próprios acionistas que adquirem suas ações.

140
Você, como investidor iniciante, poderia focar seus estudos iniciais em empresas que possuem algum
nível de governança. Os segmentos especiais criados pela B3 que são importantes nos nossos estudos
são: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado, sendo esse último o nível mais elevado entre os três. Existe um
resumo das principais características visitando essa página aqui.

Nível 1

Esse nível é o que possui menos exigências entre os três. Seria o primeiro passo
para a empresa atingir o nível máximo de governança que é chamado de “Novo
Mercado”. Para que as empresas possam fazer parte da lista ou do segmento Nível
1 é necessário que exista um comprometimento maior com a melhoria na prestação de informações
aos investidores. Devemos lembrar que é através das informações fornecidas pelas empresas que os
investidores podem avaliar o seu desempenho e tomar ou não a decisão de investir. As empresas do
Nível 1 precisam manter uma parcela mínima de ações em circulação que represente pelo menos 25%
do seu capital, ou seja, o indicador free float deve ser de no mínimo 25%. Uma prática obrigatória para
empresa que desejar ser listada no Nível 1 é a divulgação de informações sobre contratos, a divulgação
de acordos de acionistas, anúncio de um calendário anual de eventos corporativos etc. Tudo isso torna
a empresa mais transparente para os investidores.

Nível 2

Para ser classificada como empresa com governança Nível 2, além de adotar
todas as exigências do Nível 1 a empresa precisa adotar ainda mais práticas de
governança e de direitos adicionais para os acionistas minoritários.

O Nível 2 é parecido com o nível máximo que é o Novo Mercado, tendo como principal diferença a
de que a empresa pode ofertar ações preferenciais (PN), porém que tenham poder de voto em situações
críticas como fusões e aquisições. Empresas no Nível 2 frequentemente estão evoluindo com o objetivo
de um dia atingirem o segmento Novo Mercado. Alguns critérios para fazer parte do Nível 2 inclui a
disponibilização de balanço anual seguindo as normas de contabilidade internacional (US GAAP ou
do IASB). Também apresenta política de maior equilíbrio de direitos entre acionistas minoritários e
controladores da empresa. Existe a obrigatoriedade de a empresa realizar oferta de compra das ações
(de quem as possui) no caso de fechamento do capital (saída da empresa da Bolsa). No Nível 2 a
empresa é obrigada a aderir à Câmara de Arbitragem para resolução de conflitos societários.

141
Novo Mercado

O Novo Mercado é um segmento com maiores exigências para destacar as


empresas que se comprometem com a adoção de práticas acima do que são
exigidas pela legislação. Isso impacta a percepção de risco dos investidores,
gerando maior credibilidade aos investimentos realizados através da Bolsa.

Para fazer parte do Novo Mercado, além de seguir as exigências do Nível 1 e 2 a empresa precisa
adotar outras políticas como a emissão exclusiva de ações ordinárias (ON); a adoção de um Conselho
de Administração com mínimo de cinco membros e mandato unificado de um ano (sendo 20% dos
conselheiros independentes à empresa). A divulgação de relatórios financeiros exige dados mais
completos, incluindo a negociação de ações da companhia feitas pelos diretores, executivos e
controladores. Se um dia ocorrer a venda do controle da empresa, todos os acionistas minoritários terão
o direito de vender suas ações pelo preço ofertado (é o chamado tag along de 100%). Se a empresa
resolver fechar o capital, ou seja, sair da bolsa de valores, ela deverá recomprar todas as ações por um
valor no mínimo igual ao de mercado.

Índices de Governança Corporativa

A B3 criou 4 índices diferentes (veja aqui) que medem o desempenho das ações que possuem algum
nível de governança. É uma forma rápida que temos de consultar a lista de empresas.

IGCX - Índice de Ações com Governança Corporativa


Mede o desempenho das empresas que apresentam bons níveis de governança corporativa. As
empresas que fazem parte desse índice devem ser negociadas no Novo Mercado ou estar classificadas
nos Níveis 1 ou 2.

• Lista de Empresas
• Histórico
• Gráfico
• Mais informações

IGCT - Índice de Governança Corporativa Trade


É composto pelas mesmas ações de empresas integrantes do IGCX, mas que tenham alta liquidez.

• Lista de Empresas
• Histórico
• Gráfico
• Mais informações

142
IGNM - Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado
Nesse índice encontramos apenas as empresas com nível de governança do Novo Mercado.

• Lista de Empresas
• Histórico
• Gráfico
• Mais informações

ITAG - Índice de Ações com Tag Along Diferenciado


Busca medir o desempenho das ações de empresas que ofereçam melhores condições aos acionistas
minoritários, no caso de venda do controle. Considera todas as ações em que a empresa oferece tag
along superior a 80% em relação ao preço obtido pelo controlador, no caso de alienação de controle.

• Lista de Empresas
• Histórico
• Gráfico
• Mais informações

Existem empresas de grande porte e líderes de determinados setores que não aderiram voluntariamente
aos segmentos de governança da Bolsa. Isso não significa necessariamente que a empresa não adote
boas práticas de governança.

Consultar e comparar níveis de governança

Visite a página com a lista de empresas listadas na bolsa e depois clique em “Todos” como mostra a
figura logo abaixo.

143
Você verá uma lista como a da figura logo abaixo com o nome e o segmento de governança de todas
as empresas listadas. O grande problema dessa lista oferecida pela B3 é a impossibilidade de filtrar
apenas as empresas do nível Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2. Ela também não permite filtrar
somente as empresas de maior valor de mercado e maior volume negociado.

Na opção “Explorar” e “Modelos de Estratégias” no GuiaInvest PRO, é possível criar uma lista de
ações adicionando o indicador “Nível de Governança” como mostra a figura logo abaixo. Infelizmente,
no Fundamentos não é possível acessar o nível de cada empresa.

144
Critério: Liquidez corrente (ILC)

O índice de liquidez corrente (ILC) é um indicador que sinaliza a capacidade da empresa de pagar suas
dívidas de curto prazo e a de ter o dinheiro necessários para fazer a empresa funcionar no seu dia a dia.

A liquidez corrente é o resultado da divisão do ativo circulante pelo passivo circulante, ou seja, todo
dinheiro que a empresa tem disponível ou que será recebido no curto prazo (12 meses) dividido por
todo dinheiro que a empresa deve no curto prazo (contas a pagar de fornecedores, prestações de
empréstimos, impostos devidos, salários, etc.).

Exemplo: vamos imaginar você tem R$ 1000 e deve R$ 500. Seu índice de liquidez corrente será 1000
dividido por 500 e o resultado será 2. Nesse exemplo didático podemos dizer que para cada R$ 1 de
dívida, você tem R$ 2 disponíveis. Também podemos dizer que você tem o dobro do dinheiro
necessário para pagar suas dívidas.

Podemos dizer que o indicador de liquidez corrente superior a 1 sinaliza que a empresa é capaz de
honrar suas despesas e um indicador superior a 2 indica grande solidez. Quanto maior a liquidez
corrente, mais alta se apresenta a capacidade da empresa em financiar o seu próprio funcionamento.

De modo geral, você poderia adotar como critério focar os seus estudos em empresas com liquidez
corrente acima de 1 ou mesmo acima de 1,5 ou 2.

Mesmo assim é importante considerar a empresa que estamos analisando, pois nem sempre uma
liquidez corrente muito acima de 2 é bom e nem sempre uma liquidez muito próxima de 1 é ruim.

Devemos considerar que empresas que prestam serviços, normalmente precisam de liquidez corrente
menor que empresas de varejo como lojas e comércio. Indústrias normalmente precisam de liquidez
corrente maior que a de empresas de varejo e de serviços. Isso ocorre porque as lojas e as indústrias
precisam manter estoques maiores e nem sempre empresas que prestam serviços possuem estoques.
As lojas de varejo e a indústria também podem demorar mais tempo para receber o dinheiro de suas
vendas.

Um índice de liquidez corrente muito elevado também poderia ser considerado um sinal de ineficiência
da empresa, ou seja, pode existir muito dinheiro parado na forma de estoques, contas a receber etc.
Um exemplo seria uma empresa que costuma manter um grande estoque que demora muito para ser
vendido. Isso é dinheiro parado por falta de uma boa gestão do estoque. Se o estoque for de produtos
perecíveis ou que podem ficar obsoletos, ainda existem riscos de prejuízos.

Um comércio que sofre os efeitos de sazonalidade (vende muito em meses específicos do ano e pouco
nos demais) deveria manter a liquidez corrente menor que comércios sem sazonalidade. Uma indústria
capaz de produzir a sua própria matéria-prima, também poderia ter uma liquidez corrente menor.
Empresas de grande porte podem ter liquidez corrente menor.

145
Dessa forma, seria interessante o investidor comparar a liquidez corrente de empresas que concorrem
no mesmo setor, pois cada setor exige liquidez diferente. Não faz sentido comparar a liquidez de uma
mineradora com a liquidez de uma empresa aérea.

Também seria útil verificar se a liquidez corrente da empresa que estamos estudando é crescente ou
decrescente através de gráficos com dados históricos.

Exemplos:

Liquidez corrente de uma grande empresa do setor de comércio

Liquidez de uma grande empresa aérea

Os gráficos acima foram gerados através do relatório “GI Score” do GuiaInvest PRO. A B3 não oferece
gráficos com históricos de índices como esses.

O site gratuito Fundamentus não oferece gráfico ou o histórico de liquidez corrente, mas é possível
ver a liquidez corrente de cada empresa separadamente. Basta buscar a ação desejada no campo de
busca no topo do site e observar o resultado. Exemplo:

146
Eles também permitem listar todas as empresas de um determinado setor e ordenar o resultado pela
liquidez corrente. Veja:

147
Critério: Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE ou RPL)

Você encontrará o Retorno sobre o Patrimônio Líquido identificado pela sigla RPL em português ou
ROE (return on equity) em inglês. Muitos também chamam esse indicador de Rentabilidade do
Patrimônio Líquido. Ele é apresentado na forma de uma porcentagem. Exemplo: 5%, 10%, 20%, etc.

Você pode concentrar seus estudos em empresas que possuem RPL acima de 15% ou 20%. Análise
com muito cuidado as empresas que possuem RPL abaixo do rendimento da renda fixa ou até mesmo
empresas que não possuem retorno sobre o patrimônio por estarem registrando prejuízo.

Diante de um RPL muito elevado é importante observar se o patrimônio líquido da empresa está muito
baixo devido a um grande endividamento.

O site do GuiaInvest é possível utilizar a ferramenta “Pesquisa de Ações” (conta gratuita) que fica na
opção “Explore” no menu horizontal superior do site. Para listar as ações ordenando pelo Retorno
sobre o Patrimônio Líquido basta clicar no topo da coluna RPL. Veja a figura:

A possibilidade de filtrar os resultados listando somente as empresas com RPL acima de 5%, 10% ou
20% é possível através do GuaInvest PRO.

Também é possível consultar o ROE individualmente, ação por ação. Utilize o campo de “Pesquisa”
no menu superior da página do GuiaInvest para localizar a ação que você deseja consultar. Depois
clique na opção “Raio-X” e outros relatórios da Análise.

148
Após clicar em “Raio-X” você deve descer até localizar a tabela com os principais indicadores. Você
encontrará o RPL dos últimos trimestres no campo “Rent Patr Líq (ROE) %”.

Clicando na opção “GI Score” você encontrará o gráfico do ROE (RPL) dos últimos 5 anos. Veja um
exemplo:

149
O exemplo acima mostra o ROE trimestral de uma empresa nos últimos 5 anos onde podemos observar
que ela registrou ROE negativo por diversos trimestres e uma recuperação no último ano. É fácil
identificar uma instabilidade nos resultados. Nos dois gráficos abaixo temos o ROE de dois grandes
bancos.

Podemos observar que os dois grandes bancos sofreram queda no retorno sobre o patrimônio líquido
depois de 2015. Na tabela logo abaixo de cada gráfico podemos observar a taxa de crescimento do
ROE nos últimos 5, 3 ou 1 ano. No primeiro gráfico tivemos uma taxa de crescimento de -2,8% nos
últimos 5 anos e no segundo tivemos uma taxa de -5%. O banco representado pelo primeiro gráfico
sempre manteve um ROE maior que o segundo banco e isto é um sinal de eficiência, ou seja, os
gestores do primeiro banco são mais eficientes em gerar lucro a partir do patrimônio que constitui o
banco.

O ROE é um instrumento importante para realizar esse tipo de comparação entre empresas do mesmo
segmento. Também podemos comparar o ROE de um banco específico com o ROE médio de todos os
bancos listados na bolsa.

Clicando em “Explore” no menu superior do GuiaInvest, depois em “Indicadores Setoriais, depois em


“Segmentos” e depois procure a opção “Bancos”. Você verá a coluna R/PL que é Retorno sobre o
Patrimônio Líquido.

150
Clicando em “Bancos” você verá uma lista com todos os bancos que possuem ações ofertadas na bolsa.
Ordene a lista por Valor de Mercado clicando em “Vl Merc” ou Volume Negociado clicando em “Vol
21d” para colocar os bancos muito pequenos no final da lista e destacar as instituições maiores. Você
verá que alguns bancos estão acima e outros abaixo da média do segmento. Aproveite para observar a
enorme diferença de retorno entre os diversos segmentos e setores.

Nos gráficos acima temos o retorno de duas grandes varejistas. A empresa representada pelo primeiro
gráfico teve uma queda do seu retorno entre 2015 e 2016 e logo se recuperou. A empresa representada
pelo segundo gráfico também teve uma queda acentuada no retorno em 2015, mas sem recuperação
até os níveis antes do declínio.

151
Você perceberá que empresas prestadoras de serviços tendem a ter um ROE elevado quando
comparamos com comércios e indústrias. Enquanto uma indústria possui um grande patrimônio
imobilizado na forma de grandes fábricas, depósitos, máquinas, caminhões e outros, uma empresa que
presta serviços, como uma seguradora, pode ter um único prédio com escritórios onde as pessoas só
precisam de computadores para trabalhar.

No site Fundamentus, através da busca avançada, é possível buscar e ordenar através do ROE.

Critério: Relação Dívida Bruta e Patrimônio Líquido

Podemos encontrar esse indicador dividindo a dívida bruta da empresa que estamos estudando pelo
seu patrimônio líquido. A dívida bruta é composta de dívidas onerosa, ou seja, dívidas que envolvem
o pagamento de juros como as debêntures, empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo. A
dívida bruta não inclui dívidas não-onerosas, como dívida com fornecedores, impostos, salários e
outros pagamentos devidos que normalmente estão relacionados com o funcionamento da empresa.

Quanto menor for essa relação entre dívida bruta e patrimônio líquido, menor o risco de investir na
empresa. Para o início dos seus estudos você poderia adotar como critério focar sua atenção em
empresas com a relação de dívida bruta pelo patrimônio abaixo de 50%.

Mesmo assim você deve considerar que esse indicador não é utilizado em várias empresas do setor
financeiro, como os bancos, pois o negócio dos bancos possui características diferentes com relação a
maneira como eles lidam com as dívidas.

Você pode listar as empresas com dívida bruta equivalente a 50% do patrimônio líquido no site
Fundamentus da seguinte forma: clique na opção “Busca avançada por empresa” e preencha 0.50 no
campo “max” que significa o valor máximo na opção “Dív. Bruta sobre o Patrimônio Líquido”.
Observe que não funcionará se você digitar 50%. Também não funcionará se você utilizar vírgula no
lugar de ponto, ou seja, se utilizar 0,50 não funcionará.

Assista ao vídeo onde mostro como gerar a lista.

Mais importante do que conhecer a dívida bruta da empresa é observar se ela é crescente ou
decrescente. Uma empresa cada vez mais endividada pode ser negativo, dependendo do motivo que
está levando a empresa a permitir esse aumento do endividamento. Já uma empresa com
endividamento decrescente pode sinalizar um ponto positivo.

Assista ao vídeo e aprenda como consultar o gráfico que mostra a evolução da dívida bruta em relação
ao patrimônio líquido utilizando o GuiaInvest PRO.

Veja alguns exemplos:

152
No gráfico acima temos o exemplo de uma empresa do setor elétrico com ciclos de alta e de baixa da
dívida bruta em relação ao patrimônio líquido.

No gráfico acima temos o exemplo de uma empresa do setor de produção de peças para veículos que
vem reduzindo a dívida bruta / patrimônio líquido.

No gráfico acima temos o exemplo de uma empresa do setor de telefonia que mantinha uma taxa
crescente até atingir uma dívida bruta 600% acima do patrimônio líquido (6x). Essa empresa entrou
em recuperação judicial. O preço de sua ação caiu de R$ 92 para R$ 0,60 enquanto a dívida disparava.

153
Critério: Crescimento dos Lucros acima de 5% ao ano

É importante que a empresa mantenha um crescimento anual dos seus lucros. Você pode iniciar seus
estudos adotando como critério focar sua atenção em empresas que apresentam crescimento dos lucros
acima de 5% ao ano nos últimos 5 anos.

Podemos avaliar esse desempenho através do chamado “Lucro Líquido” que nada mais é do que as
receitas da empresa menos suas despesas e depois menos imposto de renda e contribuição social sobre
o Lucro. É também chamada de última linha, e é o item mais importante da Demonstração de
Resultados da empresa.

É fundamental que você só invista o seu dinheiro em empresas que apresentam lucros e de preferência
que esses lucros sejam crescentes nos últimos anos. Empresas com lucro estagnando, lucros
decrescentes ou prejuízos elevam o risco do investimento.

Assista ao vídeo e aprenda como consultar o gráfico histórico que mostra o lucro líquido das empresas
pelo site Fundamentus.

Assista ao vídeo e aprenda, através do GuiaInvest PRO, como é possível ativar um indicador que
sinaliza se a empresa teve taxa de crescimento de 5% ao ano do seu lucro nos últimos 5 anos. Outro
indicador sinaliza se a empresa teve lucros constantes nos últimos 5 anos, ou seja, sem registro de
prejuízos.

Esse indicador que sinaliza se os lucros foram constantes é importante. Veja os dois exemplos.

No gráfico acima temos o lucro líquido trimestral de uma indústria que produz componentes para a
indústria de automóveis. A empresa teve crescimento dos lucros acima de 5% nos últimos 5 anos, mas
nesse período ela registrou alguns trimestres de prejuízo, durante o agravamento da crise econômica
que atingiu o país.

154
No gráfico acima temos o lucro líquido trimestral de uma exploração de rodovias, ou seja, é uma dessas
empresas que exploram a cobrança de pedágio nas estradas. Ela não registrou nenhum prejuízo em
nenhum trimestre nos últimos 10 anos, mas nos últimos 5 anos não conseguiu manter um crescimento
acima de 5% dos lucros.

No vídeo que já indiquei eu mostro como ativar esses dois indicadores no GuiaInvest PRO.

Critério: A empresa distribui dividendos?

Existe uma grande demanda dos investidores por empresas que pagam dividendos regularmente e de
forma ininterrupta.

Algumas empresas preferem reinvestir os lucros no lugar de pagar dividendos. Teoricamente isso
tornaria as empresas maiores, mais lucrativas e mais valiosas no futuro, beneficiando todos os
acionistas com a valorização das ações. Também existem empresas que preferem destinar boa parte
dos lucros aos acionistas e fazem isso pagando dividendos.

Como já falei anteriormente, no GuiaInvest PRO já existem diversos modelos prontos para “garimpar”
empresas que pagam dividendos. Você encontrará esses modelos clicando em “Explore” e depois em
“Modelos de Estratégias”.

Ranking de dividendos – mostra a lista de empresas que pagam os maiores dividendos. A lista exibe
as empresas em ordem decrescente de dividendos, ou seja, os maiores aparecem no topo da lista. A
coluna “Vol (21 d)”, que mostra o volume negociado nos últimos 21 dias, está com um filtro ativado
para exibir somente as empresas com volume negociado maior que 1 milhão. Você pode editar esse
filtro.

Seleção de dividendos simples – mostra uma lista de empresas com filtros que só exibem aquelas
com lucro constante nos últimos 5 anos, com crescimento de lucros acima de 5% nos últimos 5 anos e
payout menor que 70%. A coluna Vol (21 d) possui um filtro que só exibe ações que tiveram volume
médio negociado acima de 200 mil nos últimos 21 dias. A lista mostra o resultado decrescente por
dividendo (coluna DY). Caso queira, você pode editar esses filtros. Uma sugestão seria focar nas
empresas que negociam volumes maiores como R$ 1 milhão.

155
Viver de dividendos – mostra de empresas que também possuem lucro constante nos últimos 5 anos,
com crescimento de lucros acima de 5% nos últimos 5 anos. O payout médio das empresas listadas
nos últimos 3 anos é menor que 90%. A coluna “DY Méd 3a” mostra o dividendo médio dos últimos
3 anos.

Preço-Alvo

O preço futuro de uma ação depende dos resultados financeiros que a empresa terá no futuro. Uma
enorme quantidade de variáveis pode impactar esses resultados de forma positiva ou negativa. As
instituições financeiras e grandes investidores possuem equipes de profissionais que passam o dia
inteiro calculando o impacto dos acontecimentos no resultado futuro das empresas para buscar um
preço-alvo para as ações.

O problema é que existe uma enorme quantidade de variáveis que impactam os resultados das empresas
e, consequentemente, o preço das suas ações.

Muitas dessas variáveis também precisam ser estimadas como: juros futuros, câmbio, inflação, PIB,
preço de matérias primas, commodities, variações nos custos e despesas da empresa, impacto da
concorrência, impactos positivos e negativos de decisões políticas, tributárias e econômicas no setor
em que a empresa atua.

Não é necessário dizer que é impossível ter absoluta certeza sobre o futuro de todas essas variáveis,
pois cada uma depende de uma série de outras variáveis.

Mesmo assim, através de técnicas como a de fluxo de caixa descontado (free cash flow), os analistas
tentam “adivinhar” quais serão os resultados financeiros da empresa no futuro para definir qual preço
justo os investidores devem pagar pela ação hoje. Assim eles definem um preço-alvo das ações.

Muitas vezes você encontrará esses analistas na imprensa falando coisas do tipo: “a ação da empresa
AAA S.A. está sendo negociada pelo preço de R$ 20,00 e através das nossas projeções essa ação está
barata. Muitas vezes os analistas dizem qual o preço-alvo para a ação.

O problema é que se as projeções para o futuro de alguma variável utilizada no cálculo sofrer alterações
nas próximas horas ou dias, o preço-alvo definido pelo analista não fará mais sentido. Dessa forma, o
preço-alvo não é estático, pois se todas as expectativas sobre o futuro mudam a cada segundo, o preço-
alvo também mudaria a cada segundo.

Quanto mais distante é o alvo da projeção para o preço da ação, maiores as incertezas sobre as variáveis
que teremos no futuro e maior a probabilidade de o profissional errar a sua projeção para mais ou para
menos.

Mesmo assim, muitos bancos e corretoras divulgam as previsões de preço-alvo dos seus analistas para
os seus clientes. Várias empresas com ações listadas na bolsa divulgam essas projeções publicamente.

156
Para exemplificar, veja os relatórios com preço-alvo que foram calculados por analistas de diversas
instituições e que estão divulgados nas páginas de “Relações com Investidores” de empresas dos mais
diversos setores: BB Seguros, Cielo, Localiza, Telefonica. Você verá que diversas empresas listadas
na bolsa criam páginas para divulgar essas previsões.

Como você pode verificar, existem casos onde ocorre uma grande diferença entre os preços-alvo
previstos pelos analistas. Isso ocorre devido ao uso dos mais diversos tipos de cálculo que consideram
variáveis diferentes e previsões diferentes para cada variável.

Se existissem formas realmente eficientes de prever o futuro, todas as instituições utilizariam essas
formas e todos os analistas apresentariam resultados muito próximos. Não é o que acontece.

Prever o preço-alvo de uma ação só tem utilidade se você acreditar que essas previsões podem
influenciar o preço das ações no curto prazo.

Frequentemente influenciam e por isso que diante de notícias positivas ou negativas que alterem
expectativas sobre o crescimento da economia, juros, inflação, câmbio e outras variáveis, o preço das
ações sofre grandes variações. Já no longo prazo, só os fatos futuros terão o poder de definir os
resultados das empresas no futuro e, consequentemente, o preço de suas ações no futuro.

Pessoalmente eu não considero útil gastar tempo fazendo cálculos complexos para projetar o preço
futuro das ações, mas você pode considerar que empresas que apresentam bons resultados motivam as
expectativas positivas dos analistas sobre o preço futuro das ações. Esse otimismo dos analistas e de
todos que acompanham esses analistas refletem os resultados positivos das empresas e criam um ciclo
virtuoso.

No GuiaInvest existe uma ferramenta que tem a finalidade de projetar um preço alvo para as ações
considerando a taxa de crescimento dos lucros nos últimos anos, a projeção de lucros futuros e
dividendos. Essa ferramenta se chama “GI Line” e só está disponível para assinantes.

Veja o relatório que está na próxima página. As linhas laranjas mostram a taxa de crescimento dos
lucros de uma empresa do segmento de Tecidos. Vestuário e Calçados. A coluna azul do primeiro
gráfico é uma projeção, ou seja, uma simulação onde a empresa continuará tendo uma taxa de
crescimento de 16,7%. O sistema também considera todos os proventos e dividendos que foram pagos
no passado para fazer projeções futuras.

Observe o quadro “Avaliação do Risco”. Ele mostra uma linha de preços. A seta indica o atual preço
da ação. Se o atual preço estiver na faixa verde, que neste exemplo específico vai de R$ 33,59 e R$
48,14 isso significa que a empresa está “barata” seguindo os cálculos baseados na taxa de crescimento
dos lucros passados, projeção de qual será essa taxa no futuro e os proventos.

Se o preço atual da ação estiver na faixa vermelha, sinaliza que a ação está cara considerando a taxa
de crescimento dos lucros passados, projeções para o futuro e proventos. Existe um campo onde é
possível alterar a projeção futura. Ao fazer isso todo o cálculo é refeito. Sendo mais pessimista,

157
reduzindo a taxa de crescimento dos lucros de 16,7% para 3,7% veremos que a ação não estaria tão
barata como parece.

Quanto mais pessimista você for com relação ao futuro das empresas e da economia, mais conservador
e cuidadoso você será na busca de boas oportunidades.

158
Consenso de mercado

Algumas plataformas que vendem informações e notícias aos investidores divulgam um relatório
chamado “Consenso de Mercado”. Esse relatório reúne as opiniões de analistas de dezenas de bancos
e corretoras sobre as ações que recomendam comprar ou não comprar.

Grande parte das instituições mantém uma “carteira” recomendada de ações que nada mais é do que
uma lista de ações que os analistas da instituição recomendam.

Alguns bancos oferecem esse relatório de “Consenso de Mercado” gratuitamente para os clientes de
suas corretoras. Um exemplo é a corretora do Banco Itaú (imagem acima), através do site da corretora
do Itaú. Após fazer o login na sua conta, na opção do menu chamada “Assessoria” você terá a abertura
de um segundo menu com a opção “Consenso de Mercado”. Ao clicar nessa opção você verá um
relatório produzido pela agência “Thomson Reuters”.

Existe um campo de busca, como você pode ver na imagem acima, onde é possível pesquisar o
consenso de qualquer ação. As ações que possuem maior número de recomendações são as que mais
fazem parte de “carteiras recomendas” das instituições.

Quando o resultado da busca apresenta poucas recomendações nas colunas comprar, manter e vender
isso significa que essa ação está presente em poucas carteiras recomendas pelas instituições. No
exemplo acima a ação pesquisada tinha 7 recomendações de compra, 4 recomendações para manter e
uma recomendação e venda.

A recomendação de “manter” significa que as corretoras não recomendam mais a compra e isso pode
ser visto como algo que enfraquece o consenso de compra.

Não considero uma boa ideia seguir recomendações de bancos e corretoras, mas devemos considerar
que essas instituições montam suas carteiras de ações com o objetivo de obter bom desempenho para
manter seus clientes satisfeitos e ainda poderem utilizar esse desempenho como propaganda do serviço
que oferecem.

Dessa forma, uma ação que está em grande parte das carteiras de recomendações das instituições
financeiras, certamente pertence a uma empresa que apresenta resultados financeiros positivos, pois
os analistas precisam justificar ou fundamentar suas opiniões através dos números da empresa. Esses

159
fundamentos positivos é que geram o consenso. Isso sinaliza que você poderá fazer seus próprios
estudos com base nesse consenso para verificar se os números da empresa atendem os seus próprios
critérios.

Recomendações das corretoras e bancos

O grande problema de seguir as recomendações de uma única corretora, seja ela independente ou a
corretora do banco onde você tem conta, está na frequência com que essas instituições retiram e
colocam ações em suas carteiras recomendadas.

Você nunca deve esquecer que as corretoras lucram quando você compra ou vende ações. Motivar
você a comprar e vender com frequência torna o negócio delas mais rentável. Ao observar a carteira
recomendada de muitas instituições ou através de uma lista de Consenso de Mercado, você terá uma
melhor visão sobre quais ações são mantidas no maior número de carteiras e as constantes mudanças
que cada instituição fará terá menor relevância.

O jornal Valor Econômico publica uma carteira de ações que é chamada de “Carteira Valor”. Ela é
formada pelas 10 ações mais recomendadas por diversas corretoras, selecionadas a partir da indicação
mensal de cinco papéis por instituição. Visite: https://www.valor.com.br/carteira-valor

Essa lista pode ser um bom ponto de partida para seus estudos, ou seja, não encare como uma
recomendação de investimento, mas como uma lista de empresas que você poderia estudar e verificar
se seus fundamentos são bons e atendem seus critérios, pois são elas que vários analistas estão
estudando nesse momento.

Dependendo do cenário econômico, os analistas das corretoras dão preferência para o investimento em
determinadas empresas. Existem muitos eventos econômicos que motivam essas constantes mudanças.

Imagine que a economia começa a dar sinais de recessão econômica. Automaticamente os analistas
começam a trocar suas projeções sobre o futuro e isso acaba afetando suas recomendações,
principalmente com relação a empresas de setores específicos que sofrem mais com as recessões.

Podemos destacar como exemplo as varejistas que dependem de crescimento econômico, mais
emprego e renda para expandir suas vendas nos anos que estão por vir. Logo, muitas instituições
deixam de recomendar a compra das varejistas e passam para a recomendação de manter ou vender.

Outro exemplo comum depende do dólar. Na ocorrência de alta no dólar, as empresas exportadoras
entram no radar dos analistas, pois se beneficiam com a alta do câmbio e com isso lucrando mais.
Assim, empresas exportadoras começam a ser recomendadas, antes mesmo de apresentarem resultados
que demonstrem alta nos lucros.

Dessa forma, você sempre deve considerar a sua própria avaliação sobre as recomendações de
analistas.

160
Estratégia de dividendos

Já vimos que o lucro que as empresas distribuem entre os seus acionistas é chamado de provento.
Existem vários tipos de proventos como: dividendos, juros sobre capital próprio, bonificação e direitos
de subscrição.

Uma das estratégias mais utilizadas pelos investidores é priorizar a compra de ações de empresas que
pagam, de forma regular, uma boa quantidade de proventos aos acionistas.

Os dividendos e os juros sobre o capital próprio são os dois tipos de provento que são pagos em
dinheiro, ou seja, a empresa depositará dinheiro na sua conta na corretora. O valor pago é proporcional
ao número de ações.

Vamos imaginar que você tem 10.000 ações de uma empresa. Ela obteve lucro no trimestre e durante
a reunião do conselho de administração ficou decidido a distribuição de parte desse lucro entre os
acionistas. Ficou estabelecido o pagamento de um dividendo de R$ 0,10 por ação. Como você tem
10.000 ações, você receberá o valor em dinheiro de R$ 1.000,00 (10.000 x 0,10 = 1.000).

Muitos investidores utilizam esse dinheiro para comprar mais ações. No exemplo, se você tivesse
recebido R$ 1.000,00 de dividendos e o preço da ação fosse R$ 10,00, poderia adquirir um lote de 100
novas ações para a sua carteira. Se no próximo trimestre fosse distribuído R$ 0,10 por ação, você teria
mais ações do que antes e consequentemente receberia mais dividendos. No longo prazo isso
produziria um efeito “bola de neve” como o que temos nos juros compostos.

Essa é a estratégia adotada por muitos investidores: investir em empresas que pagam bons dividendos,
reinvestindo o dinheiro recebido na aquisição de mais ações para que no futuro se possa receber ainda
mais dividendos. Com o passar do tempo o investidor não precisa mais usar o próprio dinheiro para
comprar mais ações, pois os valores recebidos na forma de dividendos e juros de capital próprio podem
ser usados para essa finalidade.

Quando ocorre algum evento político ou econômico que faz o preço de todas as ações da bolsa caírem,
o preço das ações que pagam bons dividendos costuma cair menos que o preço de outras ações. Isso
ocorre porque quem investe em ações considerando o dividendo como principal critério e por isso não
tem planos de vender suas ações.

Quando os preços caem de forma generalizada, esses investidores aproveitam a queda para comprar
ainda mais ações que pagam bons dividendos, pois nem sempre o que fez as ações caírem afetará a
distribuição de lucros da empresa aos seus acionistas no futuro.

Exemplos de segmentos da economia com empresas listadas na bolsa que distribuem dividendos de
forma consistente são os segmentos de energia elétrica seguidos de segmentos do setor financeiro
como os bancos e seguradoras.

161
A melhor forma de verificar se a empresa paga bons dividendos é consultando o histórico de
pagamentos passados, embora isso não garanta que a empresa manterá esse padrão de pagamentos no
futuro.

Datas de pagamento
Existem três datas importantes para o investidor que tem foco nos dividendos.

Data de anúncio: é a data em que a empresa anuncia que pagará dividendos e determina a data ex-
dividendos. Também é chamado de “ato declaratório” ou data da “Reunião do Conselho de
Administração”.

Data ex-dividendos: a partir dessa data as ações que forem compradas por você não terão direito a
receber os dividendos que foram anunciados, mas, em compensação, quem adquire ações nessa data
poderá adquirir as ações com algum desconto referente ao dividendo.

O dia anterior é conhecido como data da posição acionária. Vamos imaginar que a empresa tinha ações
negociadas por R$ 10 e ficou estabelecido o pagamento de R$ 0,10 por ação para quem possuir ações
até o dia 01 do mês (posição acionária). Dessa forma, o dia 02 será a data ex-dividendos, ou seja, quem
adquirir ações a partir dessa data não receberá esses R$ 0,10 por ação. Logo na abertura da bolsa no
dia 02, existirá uma tendência de os investidores enviarem suas ordens de compra de ações pelo preço
de R$ 9,90 e isso acaba fazendo o preço da ação cair. Para entender melhor isso vamos para uma
comparação.

Imagine que você é um empreendedor rural e pretende comprar a vaca que o seu vizinho está vendendo.
Essa vaca está grávida e custa R$ 5.500,00. No dia que você marcou para pagar e levar a vaca, fica
sabendo que o bezerro nasceu. Você aceitaria pagar os mesmos R$ 5.500,00 pela vaca sem o bezerro
no útero? Sabendo que um bezerro vale R$ 500,00, você provavelmente só aceitaria pagar R$ 5.000,00
pela vaca sem o bezerro.

Na Bolsa esse fenômeno também acontece. Quando o mercado sabe que a ação já carrega o direito de
receber dividendos, ele precifica a ação com esses dividendos. Na data em que a ação não carrega mais
o direito de receber dividendos do último trimestre, os próprios investidores passam a negociar suas
ações com um pequeno desconto.

No nosso exemplo, como o dividendo era de R$ 0,10 e a ação com dividendos estava sendo negociada
por R$ 10,00 é natural esperar uma queda no preço da ação fazendo com que ela seja negociada por
algum valor próximo de R$ 9,90 ou até abaixo disso. Embora não seja garantido, frequentemente o
preço da ação retorna ao valor anterior dentro de poucas semanas, mas pode ocorrer em dias ou em
meses.

Data de pagamento: nem sempre a data de pagamento do dividendo é divulgada junto com a data ex-
dividendo, mas essa será a data em que efetivamente o dinheiro do dividendo ou do juro sobre capital
próprio será depositado na sua conta na corretora.

162
O exemplo acima foi retirado da página da Itaúsa, que é a controladora do Banco Itaú (veja aqui).
Temos todos os dividendos pagos nos quatro trimestres, dividendos adicionais e juros sobre capital
próprio (JCP).

A leitura dessa tabela deve ser feita da seguinte forma: na primeira linha temos o JCP anunciado na
reunião do conselho administrativo no dia 18/02/2019. Ficou estabelecido o pagamento de R$ 0,3111
por cada ação que o acionista tivesse até o dia 21/02/2019 (posição acionária). Se a sua posição
acionaria no nesse dia 21/02/2019 fosse de 1.000 ações você receberia R$ 311,10 (1000 x 0,3111) no
dia 07/03/2019. Com o desconto de 15% de imposto de renda você receberia R$ 264,44 pelas 1.000
ações.

Como o pagamento seria feito com base na posição acionaria de cada investidor no dia 21/02/2019 a
data ex-dividendos seria um dia depois, ou seja, dia 22/02/2019. Nessa data a ação passou a ser
negociada com desconto do JCP.

Reinvestimento
Algumas empresas mostram nos seus relatórios, nas páginas de “Relações com Investidores”, algumas
simulações relacionadas ao reinvestimento dos dividendos e JCP´s na compra de mais ações, para que
no próximo pagamento de dividendos você possa receber ainda mais por ter mais ações.

163
No site da Itaúsa existem relatórios mensais em PDF (fonte) que mostram essa simulação:

O gráfico mostra que se o investidor tivesse adquirido R$ 100,00 em ações da Itaúsa em março de
2009, teria R$ 305 em ações em março de 2019. Se esse investidor tivesse utilizado os dividendos e
os juros sobre o capital próprio para comprar mais ações durante esses 10 anos, ele teria R$ 514 em
ações. A simulação também compara quanto o investidor teria se tivesse investido os mesmos R$ 100
no dólar, investimentos que rendem o equivalente a 100% do CDI e investimentos que replicam o
índice Bovespa.

164
Estratégia Comprar e Segurar

Muitos começam a estudar os fundamentos das empresas para adotar uma estratégia chamada “Buy
and Hold” que significa “Comprar e Segurar”, mas vejo que uma parte desses investidores iniciantes
acaba adotando perigosa estratégia do “Buy and Forget” que significa “Comprar e Esquecer”.

O investimento com foco no longo prazo não deve ser uma desculpa para comprar e esquecer. Esquecer
o seu dinheiro nunca é uma boa opção. Devemos aceitar a ideia de que é necessário dedicar algum
tempo, pelo menos uma vez por trimestre, para avaliar os números das empresas onde investimos.

Muitos propagam a estratégia de Buy and Hold utilizando como base os livros e estudos de caso
importados dos EUA. Você deve concordar comigo que existem muitas diferenças entre a economia e
o ambiente onde as empresas brasileiras e americanas tentam sobreviver.

A estratégia de comprar e segurar é muito popular nos EUA e em países desenvolvidos que possuem
um bom histórico de estabilidade política e econômica. Normalmente são países que oferecem um
ambiente favorável para a criação e o crescimento dos negócios.

Todos os anos a Forbes divulga uma lista dos melhores países do mundo para se investir abrindo um
negócio (veja a lista aqui). Eles analisam 15 fatores fundamentais para que as empresas possam
prosperar que são: direitos de propriedade, inovação, impostos, tecnologia, nível de corrupção,
liberdade (pessoal, comercial e monetária), burocracia, proteção ao investidor, força de trabalho,
infraestrutura, tamanho do mercado, qualidade de vida e risco. No último ranking, o Brasil ficou em
73º lugar e isso não é muito bom.

Comprar ações de boas empresas e depois esquecer pode funcionar muito bem em países onde o
ambiente é favorável para o crescimento e a consolidação de boas empresas. Nos EUA e em países
europeus, de onde surgem exemplos de grandes investidores que adotam estratégias de longíssimo
prazo, existem empresas centenárias que de geração em geração continuam inovando, crescendo e
dominando o mercado onde atuam.

No país onde vivemos, são raras as empresas que sobrevivem de uma geração para a outra, pois o
ambiente não é favorável.

Observe a questão da estabilidade política que temos no Brasil. Desde a redemocratização, tivemos
sete presidentes da república. Entre os que estão vivos, somente um não sofreu impeachment ou ainda
não foi preso. Fernando Collor e Dilma sofreram impeachment, Lula e Temer chegaram a ser presos,
Itamar Franco faleceu em 2011. Fernando Henrique é o único vivo que não sofreu impeachment e
ainda não foi preso (fonte). Para completar a tragédia da política brasileira, o atual presidente, Jair
Bolsonaro, quase foi assassinado em praça pública durante as eleições. O que ainda teremos nos
próximos anos? Provavelmente não será nada parecido com um mar de rosas.

Fica bem claro que não existe estabilidade política no país e por consequência isso inviabiliza uma
estabilidade econômica. Presidentes podem mudar a cada quatro anos e as equipes econômicas desses
165
governos podem mudar a qualquer momento. Diversas crises foram desencadeadas nos últimos anos
por influência de instabilidades políticas que ajudaram a propagar a instabilidade econômica.

Mesmo as empresas que conseguem se desenvolver nesse ambiente desfavorável sofrem sérios
problemas durante os ciclos de recessão que se formam no ambiente externo.

Dessa forma, não podemos comprar e esquecer. Não podemos segurar as ações que compramos para
sempre sem uma avaliação constante.

O nosso mercado não oferece as mesmas condições dos mercados onde estão os autores estrangeiros
que defendem os investimentos de longo prazo.

Os estudos de caso de investidores de longo prazo que tiveram sucesso no exterior, onde as condições
são totalmente diferentes, não se aplicam ao que temos hoje no Brasil.

Certamente existem alguns exemplos de investidores brasileiros que prosperaram por adotarem a
estratégia de longo prazo, mas nenhum comprou e esqueceu, nenhum comprou sem olhar preço,
nenhum comprou e foi se divertir na praia.

Um dos mais conhecidos investidores brasileiros que defendem o investimento de longo prazo é
formado em contabilidade e economia, passou a vida inteira olhando para os seus investimentos,
trabalhou e ainda trabalha dentro de corretoras. Ele vive o mercado intensamente por ter uma fortuna
para gerir (fonte).

Você deve manter as ações que você comprou somente enquanto isso fizer sentido. Se a cada trimestre
a empresa continua mantendo números positivos que resultem em lucros, crescimento de patrimônio
e valor de mercado, o seu dinheiro merece ficar investido nessa empresa.

Já se os fundamentos começarem a se deteriorar, você não deve pensar duas vezes para vender suas
ações e abandonar o negócio. O seu dinheiro não merece ficar investido em empresas que entregam
resultados cada vez piores: receitas e lucros decrescentes, despesas e dívidas crescentes, patrimônio e
valor de mercado decrescentes.

Assim como você deve saber o momento de se tornar sócio de uma empresa, você deve saber o
momento de abandonar o barco antes que ele afunde.

O investidor sempre corre o risco de criar vínculo emocional com a empresa onde investe quando
dedica tempo estudando seus fundamentos. Evite ao máximo essa relação emocional. Você não é o
fundador da empresa e não deve ter vínculos emocionais com ela.

Você não é aquele comandante do navio que deve ser o último a sair quando ele está naufragando.
Como investidor minoritário, você não está no navio para impedir o seu naufrágio. Você está no navio
para defender a rentabilidade do seu dinheiro.

Compre ações de boas empresas e as mantenha com você somente enquanto isso for economicamente
benéfico para a sua vida financeira, pois na prática, você está investindo com foco nos seus resultados

166
pessoais. No final das contas, quem precisa ter resultados positivos no longo prazo é a sua vida
financeira. É isso que você precisa defender.

Somente você pode lutar pelos os seus próprios resultados financeiros e os investimentos em ações são
apenas um meio para atingir esse objetivo.

Tenha o cuidado de não confundir o seu objetivo com os objetivos dos fundadores ou dos grandes
acionistas da empresa onde você investe. A sua perspectiva de pequeno investidor é totalmente
diferente.

Risco do IPO

Quando as empresas entram na bolsa elas realizam um IPO, Initial Public Offering que é o dia em que
ela oferece suas ações pela primeira vez aos investidores.

É nessa emissão primária de ações que a empresa recebe o dinheiro dos investidores. Ela normalmente
utiliza esse dinheiro para investir no crescimento da empresa ou adquirir outras empresas. Depois dessa
emissão primária as pessoas e as instituições é que começam a negociar as ações entre elas através da
bolsa.

Vender ações na bolsa é uma forma barata de conseguir dinheiro para investir no crescimento da
empresa. Os donos da empresa acreditam que é melhor ter um percentual menor de uma empresa que
cresce do que ser dono de 100% das ações de uma empresa que não consegue crescer por falta de
recursos.

Geralmente as empresas listadas na Bolsa possuem melhor reputação entre investidores, fornecedores
e bancos, que podem oferecer recursos com juros mais atrativos.

O principal ponto negativo, que faz o Brasil ter poucas ações listadas na Bolsa, quando comparamos
com outros países, é o custo. Lançar e manter uma empresa na Bolsa custa muito caro.

O grande risco de o investidor adquirir ações durante o seu lançamento está na inexistência de dados
históricos. Não temos informações suficientes para analisar. A empresa que vai lançar suas ações na
bolsa costuma divulgar relatórios e estudos destacando somente os pontos positivos, assim como
alguém que faz a propaganda de um produto para atrair compradores.

Muitas vezes o preço das ações recém lançadas atinge valores superestimados. Esses preços elevados
só podem se sustentar no decorrer dos trimestres quando a empresa apresenta bons resultados e isso
nem sempre ocorre.

Um dos períodos com maior número de lançamento na bolsa ocorreu entre 2006 e 2007. Das 76 ofertas
realizadas, mais de 20 já deixaram a bolsa, a maioria foi adquirida ou incorporada por outras empresas.
Muitas dessas empresas não conseguiram superar a rentabilidade da renda fixa ou do índice Bovespa.
(fonte).

167
Esse baixo desempenho não acontece somente no Brasil. O gráfico logo abaixo mostra a porcentagem
de IPOs com resultados negativos a cada ano desde 1980 nos EUA. Somente em 2017, 83% dos IPOs
de empresas de tecnologia e nada menos que 97% dos IPOs de empresas biotecnologias tiveram
variações negativas no preço das ações (fonte).

Muitas evidencias mostram que o investimento através desses lançamentos iniciais de ações representa
um maior risco, principalmente para o pequeno investidor que inicia seus estudos agora.

O gráfico abaixo mostra as marcas brasileiras que fizeram IPO recente, entre 2014 e 2018. As
sinalizadas com o número 2 só fizeram IPO em bolsas americanas e a sinalizada com número 1 fez
IPO no Brasil e no exterior. As demais estão na bolsa brasileira.

168
Small Caps

A maior parte das ações listadas na Bolsa são de empresas classificadas como Small Caps.
Normalmente são empresas que possuem patrimônio pequeno e volume negociado pequeno quando
comparamos as grandes empresas, que são chamadas de Blue Chips.

O interesse de muitos investidores iniciantes por Small Caps pode ser entendido observando o gráfico
abaixo. Cada coluna representa um ano. Cada caixa colorida representa um tipo de ativo. No topo
temos os ativos que tiveram maior alta no ano. No fundo de cada coluna temos o pior desempenho.

Os números dentro de cada caixa são percentuais. Observe quantas vezes a Small Cap aparece no topo
dos anos entre 2000 e 2018. Foram 8 vezes. Contando o primeiro, segundo e terceiro lugar as Small
Caps apareceram 10 vezes. O problema é que elas também aprecem muito entre os três piores
investimentos dos anos. As ações da Bolsa Brasileira também aparecem 8 vezes entre os 3 melhores
investimentos e 7 vezes entre os piores.

As Small Caps representam o índice Small Cap que mostra o resultado de uma carteira teórica de ações
de empresas menores que estão listadas na bolsa brasileira (composição da carteira). A caixa “Bolsa
Brasil” representa o índice Bovespa que mostra o resultado de uma carteira teórica de ações de grandes
empresas listadas na bolsa brasileira (composição da carteira).

Embora muitas fortunas já tenham se formado investindo em Small, muitos investidores também já
quebraram ou perderam boa parte do patrimônio investido através das Small Caps.

Por serem empresas com menor liquidez, ou seja, com menos investidores comprando e vendendo
ações diariamente, em momentos de estresse ou pânico na Bolsa, os investidores encontram
dificuldade para vender suas ações. Se torna necessário reduzir muito o preço para que apareça algum
investidor interessado. Nos momentos críticos da Bolsa, as quedas são menos intensas em ações de

169
grandes empresas, empresas que pagam bons dividendos e as que possuem grande liquidez. Existem
ações negociadas na bolsa que frequentemente não são negociadas nenhuma vez durante o dia.

Através do gráfico acima, criado com base em dados fornecidos pela B3 neste endereço aqui, podemos
observar os investidores estrangeiros respondem por quase metade do volume negociado na bolsa por
mês. Em segundo lugar temos os institucionais ou instituições financeiras brasileiras.

Esses dois grupos representam grandes fundos de investimentos estrangeiros e nacionais. São
instituições que precisam comprar e vender centenas de bilhões de reais por mês. Para isso elas focam
seus investimentos em ações de empresas de possuem grande liquidez.

Quando grandes fundos resolvem adquirir ações de Small Caps, frequentemente isso resulta em
aumento no preço das ações. Isso beneficia o pequeno investidor no primeiro momento. Quando esses
fundos, por algum motivo, resolvem vender as ações, se a venda não ocorrer lentamente, existe o risco
de os preços caírem fortemente pelo aumento da oferta que não necessariamente vai encontrar uma
demanda.

170
Setores da economia

Todas as empresas possuem seus resultados financeiros afetados por variáveis que fogem do controle
delas como: câmbio, juros, inflação, variações nos preços das matérias primas, políticas econômicas,
regulações, mudanças nas leis, crescimento ou retração econômica etc.

Podemos dividir essas empresas por setores, sendo que cada setor sofre impacto diferente dependendo
mudanças das variáveis que citei. Existe momentos da nossa economia que tornam o crescimento de
determinados setores mais provável que o de outros.

Dessa forma, além de observar os fundamentos de cada empresa é necessário compreender o ambiente
onde ela está inserida e quais variáveis podem interferir no desempenho das empresas de cada setor.

A B3 classifica as empresas listadas na bolsa através de setores, subsetores e segmentos como uma
espécie de árvore. Visite aqui e depois clique na opção “Setor de atuação”, no local que destaquei na
figura abaixo:

171
Todos os setores
Comércio Material de Transporte

Construção Pesada

Engenharia Consultiva
Construção e Engenharia
Produtos para Construção

Serviços Diversos

Armas e Munições

Máq. e Equip. Construção e Agrícolas


Máquinas e Equipamentos
Máq. e Equip. Industriais

Motores. Compressores e Outros


Bens Industriais
Material Aeronáutico e de Defesa
Material de Transporte
Material Rodoviário

Serviços Serviços Diversos

Exploração de Rodovias

Serviços de Apoio e Armazenagem

Transporte Aéreo
Transporte
Transporte Ferroviário

Transporte Hidroviário

Transporte Rodoviário

Construção Civil
Construção e Engenharia
Construção e Transporte Materiais de Construção

Transporte Exploração de Rodovias

Automóveis e Motocicletas Automóveis e Motocicletas

Eletrodomésticos

Comércio Produtos Diversos

Tecidos. Vestuário e Calçados

Construção Civil Incorporações

Consumo Cíclico Aluguel de carros

Diversos Programas de Fidelização

Serviços Educacionais

Hotelaria
Hotéis e Restaurantes
Restaurante e Similares

Mídia Produção e Difusão de Filmes e Programas

172
Acessórios

Calçados
Tecidos. Vestuário e Calçados
Fios e Tecidos

Vestuário

Eletrodomésticos

Utilidades Domésticas Móveis

Utensílios Domésticos

Atividades Esportivas

Bicicletas

Viagens e Lazer Brinquedos e Jogos

Produção de Eventos e Shows

Viagens e Turismo

Agropecuária Agricultura

Açúcar e Álcool

Alimentos Processados Alimentos Diversos

Carnes e Derivados
Consumo não Cíclico
Bebidas Cervejas e Refrigerantes

Comércio e Distribuição Alimentos

Produtos de Limpeza
Produtos Uso Pessoal / Limpeza
Produtos de Uso Pessoal

Exploração de Imóveis
Exploração de Imóveis
Intermediação Imobiliária

Holdings Diversificadas Holdings Diversificadas

Bancos

Intermediários Financeiros Soc. Arrendamento Mercantil

Financeiro Soc. Crédito e Financiamento

Corretoras de Seguros
Previdência e Seguros
Seguradoras

Securitizadoras de Recebíveis Securitizadoras de Recebíveis

Gestão de Recursos e Investimentos


Serviços Financeiros Diversos
Serviços Financeiros Diversos

Embalagens Embalagens

Materiais Básicos Madeira


Madeira e Papel
Papel e Celulose

173
Materiais Diversos Materiais Diversos

Mineração Minerais Metálicos

Fertilizantes e Defensivos

Químicos Petroquímicos

Químicos Diversos

Artefatos de Cobre

Siderurgia e Metalurgia Artefatos de Ferro e Aço

Siderurgia

Outros Outros Outros

Equipamentos e Serviços

Petróleo. Gás e Biocombustíveis Petróleo. Gás e Biocombustíveis Exploração e/ou Refino

Exploração. Refino e Distribuição

Comércio e Distribuição Medicamentos e Outros Produtos

Equipamentos Equipamentos
Saúde
Medicamentos e Outros Medicamentos e Outros Produtos

Serv.Méd.Hospit.Análises, etc. Serv.Méd.Hospit..Análises e Diagnósticos

Computadores e Equipamentos Computadores e Equipamentos


Tecnologia da Informação
Programas e Serviços Programas e Serviços

Telecomunicações Telecomunicações
Telecomunicações
Telefonia Fixa Telefonia Fixa

Água e Saneamento Água e Saneamento

Utilidade Pública Energia Elétrica Energia Elétrica

Gás Gás

Você pode observar que existem diversos setores que se dividem em dezenas de subsetores e seus
segmentos. Muitas vezes, ter investimentos diversificados por setor reduz o seu risco.

Exemplo: uma onda de valorização do dólar pode prejudicar o desempenho de empresas de setores
que possuem custos atrelados ao dólar (importadoras) e pode beneficiar empresas que lucram mais
quando o dólar vale mais (exportadoras). Teoricamente, as perdas provocadas pela desvalorização das
ações de um determinado setor poderiam ser compensadas de forma parcial ou total com a valorização
das ações de empresas de outro setor.

174
Principais setores

Visitando a ferramenta de indicadores setoriais podemos constatar que dos 12 setores existem 5 que
são os mais importantes pelo seu valor de mercado (soma do preço de todas as ações). Esses setores
são:

1. financeiro,
2. materiais básicos
3. petróleo e combustíveis
4. consumo não cíclico
5. utilidade pública

Esses cinco setores também estão entre os que possuem maior movimentação mensal, ou seja, os que
movimentam maior quantidade de dinheiro nas operações de compra e venda de ações. Para você que
está iniciando, sua atenção inicial poderia se voltar para esses setores por serem os mais importantes.

Também podemos considerar como setores importantes aqueles que a própria B3 utilizou para criar
índices de segmentos e setores, veja aqui. Os principais índices relacionados com setores são:

1. IFNC – Índice Financeiro (lista de empresas).


2. IMAT - Índice de Materiais Básicos (lista de empresas).
3. ICON – Índice de Consumo (lista de empresas).
4. IEE – Índice de Energia Elétrica (lista de empresas).
5. UTIL - Índice Utilidade Pública (lista de empresas).
6. IMAT - Índice do Setor Industrial (lista de empresas).
7. IMOB – Índice Imobiliário (lista de empresas).

Setor financeiro

As empresas do setor financeiro, principalmente os grandes bancos, conseguem manter seus lucros
elevados mesmo durante as crises econômicas. O avanço da tecnologia torna a atividade cada vez mais
lucrativa. Milhões de brasileiros estão deixando de realizar suas transações nas agências para realizar
as mesmas operações utilizando computadores pessoais e celulares.

Todos os anos o Banco Central publica um relatório, referente ao ano anterior, chamado “Relatório de
Economia Bancária” que mostra detalhes sobre o setor bancário brasileiro. Você pode acessar aqui.

175
O gráfico acima (fonte) mostra a mais longa crise econômica vivida por nossa economia nas últimas
décadas. Foram oito trimestres seguidos de PIB negativo em 2015 e 2016 e mesmo assim os bancos
registraram lucros bilionários.

O gráfico acima, retirado do “Relatório de Economia Bancária”, mostra que o lucro líquido e ROE
(Retorno sobre o Patrimônio Líquido) se manteve elevado mesmo no decorrer da grave crise
econômica vivida pelo país.

176
Os maiores custos dos bancos são com pessoal e serviços de terceiros. O gráfico acima mostra que
desde 2014 os bancos estão reduzindo o número de funcionários e agências enquanto aumentam o
atendimento através da internet. As tecnologias estão cada vez mais baratas e eficientes.

O gráfico acima mostra que os bancos brasileiros estão entre os mais lucrativos do mundo, tendo como
principal fonte de receita a cobrança de tarifas dos clientes pessoa física e jurídica. Os cinco maiores
bancos do país concentram mais de 80% de todos os recursos do mercado. Nos EUA, os cinco maiores
bancos concentram pouco mais de 43% de todo os recursos depositados. Essa falta de concorrência
contribui para os elevados lucros das instituições brasileiras.

177
O crescimento da economia beneficia os bancos já que as empresas e as pessoas demandam mais
empréstimos e financiamentos enquanto as taxas de inadimplência tendem a cair. Nos períodos de
crescimento os bancos emprestam mais, com menor risco e consequentemente isso resulta em
valorização das ações e mais lucros a serem distribuídos entre os acionistas através dos dividendos e
outros proventos. Durante as crises econômicas que fazem os juros subirem, os bancos lucram
emprestando dinheiro para o Governo Federal através dos investimentos que fazem em títulos
públicos.

A falta de educação financeira das famílias é aproveitada pelas instituições financeiras como
oportunidade para a oferta de investimentos que rendem muito pouco ou quase nada como títulos de
capitalização, poupança e fundos de renda fixa com taxas administrativas muito elevadas. Para os
clientes sem educação financeira e sem dinheiro, as instituições financeiras oferecem empréstimos
com as maiores taxas de juros praticadas no mundo, como as que temos no cheque especial e rotativo
do cartão de crédito. Veja as instituições que cobram os maiores juros em cada modalidade de crédito
visitando aqui.

As instituições financeiras que fazem parte do Índice Financeiro (IFNC) listadas aqui, são as mais
negociadas da bolsa e são bons pontos de partida para sua pesquisa sobre empresas para investir no
setor. Você pode acompanhar um gráfico que demostra o comportamento do índice Financeiro.

No gráfico logo abaixo, que você pode acessar aqui, podemos ver a comparação do índice Financeiro
que representa as ações das principais empresas do setor financeiro em comparação com o índice
Bovespa que nos mostra o desempenho das principais ações negociadas na bolsa.

Para fazer comparações como essa basta clicar na opção que está no menu superior do gráfico e
depois selecionar “Bovespa Index”. Depois basta clicar em 5y no menu inferior do gráfico para
observar o resultado nos últimos 5 anos.

178
Você também pode listar as principais empresas do setor financeiro visitando aqui. As principais ações
do setor pelo seu volume negociado e valor de mercado são:

• BBAS3 – Banco do Brasil (dados): É um banco estatal, controlado pelo Governo Federal que
por ser constituído como sociedade de economia mista possui sócios particulares através das
ações negociadas na bolsa e que podem ser adquiridas por qualquer pessoa. O Banco do Brasil
é o maior banco da América Latina em termo de ativos.
• ITUB4 – Itaú Unibanco (dados): É o maior banco privado do país, segundo maior banco em
quantidade de ativos. Também é possível comprar ações do Itaú de forma indireta adquirindo
ações empresa Itaúsa (ITSA4) (dados) que é a holding brasileira que controla o Itaú Unibanco
e outras empresas como Duratex e Alpargatas.
• BBDC4 – Bradesco (dados): É o segundo maior banco privado do país e o que possui maior
número de agências entre os bancos privados.
• SANB11 – Santander (dados): É o terceiro maior banco privado no Brasil. Ele pertence a um
grupo espanhol de atuação global sendo o maior banco da zona do euro.

Outras instituições financeiras que não são bancos, mas que você deveria estudar por serem empresas
importantes na bolsa de valores são: B3SA3 – B3 que é a bolsa de valores brasileira, BBSE3 - BB
Seguridade que é a empresa de seguros brasileira pertencente ao Banco do Brasil (dados), BPAC11 –
BTG Pactual (dados) que é um dos maiores bancos de investimentos e de gestão de ativos do país e as
seguradoras: IRBR3 – Instituto de Resseguros do Brasil (dados), PSSA3 – Porto Seguro Seguros
(dados) e SULA11 – Grupo SulAmérica (dados).

O Banco Central possui um serviço de pesquisa de instituições financeiras chamado IF.data no


endereço https://www3.bcb.gov.br/ifdata/ onde é possível pesquisar informações sobre todas as
instituições financeiras através de uma única tabela. Selecione a data mais recente no campo “Data-
base”, selecione “Conglomerado Prudenciais e Instituições Financeiras” no campo “Tipo de
instituição” e selecione “Resumo” no campo “Relatório”.

Existem duas informações importantes nesse relatório sobre a saúde financeira banco onde você
pretende investir que são o Índice Basileia e o Índice de Imobilização.

O Índice de Basileia mostra a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros
(dinheiro capitado dos clientes) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito (dinheiro que
será emprestado para os clientes). Um banco com Índice de Basileia de 15%, indica que, para cada R$
100,00 emprestados, o banco tem patrimônio de R$ 15. O índice mínimo exigido pelo Banco Central
do Brasil é 11%.

Já o Índice de Imobilização sinaliza uma maior agilidade do banco para usar seu patrimônio a fim de
honrar seus compromissos. Vamos imaginar que um banco possui Índice de Imobilização de 20%,
significa que, a cada R$ 100,00 em seu patrimônio, R$ 20,00 estarão investidos em bens que não
possuem uma liquidez imediata, ou seja, são bens imobilizados como imóveis. O índice máximo
tolerado pelo Banco Central do Brasil é 50%.

179
Outro site onde é possível acessar todos os dados importantes dos bancos brasileiros é o BancoData
no endereço https://bancodata.com.br/. Basta preencher o nome do banco que você deseja pesquisar
utilizando o campo de busca na primeira página do site.

180
Setor de Materiais básicos

Os produtos que o nossos país mais exporta para o mundo são produzidos por empresas que fazem
parte do “setor de materiais básicos”. Esses produtos costumam ser matéria-prima para outras
indústrias como minério de ferro, aço, produtos químicos, petroquímicos, madeira, papel, celulose etc.
Embora a B3 tenha um setor específico para empresas de petróleo. gás e biocombustíveis, elas também
produzem materiais básicos.

Existe um site chamado Observatory of Economic Complexity com uma apresentação visual dos
produtos que o Brasil mais exporta, veja aqui. Várias empresas responsáveis por essas exportações
possuem ações à venda na bolsa de valores.

As exportações de minério de ferro e de petróleo estão entre as maiores do nosso país, junto com
materiais básicos de origem vegetal como soja, milho, café, celulose, papel etc. Os principais
compradores dos nossos produtos são China e Estados Unidos.

Veja uma lista das principais empresas que produzem e vendem materiais básicos com ações
negociadas na bolsa. Elas estão ordenadas pelo valor de mercado, com empresas mais valiosas no topo
da lista e com filtro para exibir as que valem mais de 1 bilhão e negociam volume acima de 1 milhão.

Você pode acessar o gráfico que mostra o desempenho do setor através do índice IMAT. Veja aqui. O
gráfico abaixo mostra que o índice que representa o setor superou o índice Bovespa no período.

181
Outros setores

Algumas instituições publicam estudos periódicos gratuitos sobre os principais setores. Um exemplo
ocorre no site “Economia em dia” mantido pelo banco Bradesco. Nele você encontrará uma
compilação dos principais setores da economia, com detalhes estruturais de cada segmento, como
sazonalidade, regionalização, cadeia de suprimentos, relação do mercado demandante e fatores de
risco.

Nos relatórios em PDF eles também mostram a evolução dos indicadores conjunturais e as tendências
para o setor analisado. Os setores e segmentos cobertos são: Agricultura, Bens de Capital, Automotivo,
Educação, Energia elétrica, Imobiliário, Mineração e Siderurgia, Papel e Celulose, Pecuária, Petróleo,
derivados e combustíveis, Sistema de Saúde Privado e Varejo. Visite aqui para acessar.

182
Análise Econômica

Nenhuma empresa está livre das consequências positivas e negativas geradas por alterações nos
principais indicadores da economia. Crises econômicas geram o chamado “risco sistemático” que afeta
praticamente todas as empresas.

Saber observar os principais números da economia permitirá que você adote uma postura mais
conservadora, se expondo menos ao risco durante as crises. Já no período de recuperação da economia
você poderá aproveitar o ambiente favorável para investir mais em renda variável.

O site que eu utilizo para fazer esse acompanhamento, através de gráficos, se chama Trading
Economics.

A sua versão em português fica no endereço: https://pt.tradingeconomics.com/brazil/indicators

Você também pode acessar projeções sobre o futuro de diversos indicadores. O Banco Central realiza
uma pesquisa semanal entre mais de 100 instituições financeiras onde pergunta quais são as projeções
que essas instituições estão considerando para inflação (IPCA), juros (taxa Selic), PIB e câmbio para
este ano e os próximos 3 anos.

O resultado é divulgado toda semana no endereço: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus onde


basta clicar no botão “Download” para baixar o relatório. Eu também recebo esses dados resumidos
por e-mail, toda semana. Caso queira receber basta cadastrar aqui.

Vários bancos também fazem suas projeções, para isso contam com equipes de economistas e outros
profissionais que monitoram o mercado. O Itaú oferece essas projeções gratuitamente aqui. O
Bradesco divulga suas projeções nesse endereço aqui.

Atividade econômica

Taxa de crescimento anual do PIB (visite o gráfico aqui). O Produto Interno Bruto é a soma de tudo
o que é produzido pela economia de um país. O PIB em trajetória de crescimento significa mais
investimentos, mais dinheiro circulando na economia, crescimento das empresas, mais empregos, mais
renda, mais consumo etc. Por isso, o PIB é um termômetro que mede se a economia está aquecendo
ou esfriando, se acelera, entra em estagnação ou recessão.

Através de um gráfico criado com a ajuda do Trading Economics, destaquei o comportamento do PIB
diante de diversas crises econômicas e políticas que afetaram o crescimento do país nas últimas
décadas. Veja que a única certeza que temos é que as crises sempre acontecem e logo depois terminam
dando início a um ciclo de crescimento.

183
Observe no site que existe uma opção no gráfico que permite comparar o PIB com qualquer outro
indicador. A opção está no ícone:

No gráfico abaixo eu adicionei o índice Bovespa (Stock Market) e destaquei a relação que existe entre
o índice Bovespa, que mede o desempenho das principais ações da Bolsa e o PIB que mede o
desempenho da nossa economia.

Confiança do consumidor (visite o gráfico aqui). O nível de confiança do consumidor é o resultado


de uma pesquisa realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) que gera o Índice Nacional
de Expectativa do Consumidor (INEC). Você pode acessar os detalhes da pesquisa aqui. Consumidores

184
confiantes compram mais e isso resulta em aumento nas receitas de empresas de diversos setores como
as empresas de varejo, comércio, setor imobiliário etc.

Confiança do empresário industrial (visite o gráfico aqui). A pesquisa produzida pela CNI resulta
no Índice de Confiança do Empresário Industrial. Veja os detalhes aqui. O empresário confiante resulta
em mais investimentos que aumentam as receitas de empresas que dependem do crescimento das
indústrias.

Inflação

Taxa de inflação (visite o gráfico aqui). O principal instrumento utilizado pelo Banco Central para
manter a inflação dentro da meta é a taxa básica de juros (taxa Selic). O crescimento do PIB, que indica
maior atividade econômica, tende a resultar em aumento da inflação. Para estimular ou desestimular a
atividade econômica, com o objetivo de evitar a alta dos preços, o Banco Central tende a interferir na
taxa Selic. Já vimos que a queda na atividade econômica prejudica o resultado das empresas. Juros
mais altos também resultam em menos interesse dos investidores pelas ações na bolsa e isso produz
queda no preço das ações. O gráfico abaixo mostra que a inflação é seguida de perto pela taxa de juros.

O Banco Central oferece uma página com uma série de gráficos com indicadores que ele monitora de
perto para determinar se os juros irão aumentar ou diminuir para manter o controle da inflação. Veja
os gráficos aqui. O gráfico abaixo, que se encontra no site do Banco Central é muito importante.

185
Veja que o gráfico mostra o limite máximo e mínimo da meta da inflação estabelecida pelo Banco
Central. A linha preta indica o centro da meta. Sempre que o Banco Central identifique uma trajetória
da inflação que se afasta do centro, com risco de romper o teto máximo, ele inicia um ciclo de alta nos
juros. Juro em alta prejudica o desempenho de diversas empresas listadas na bolsa. Trimestralmente o
Banco Central também divulga o Relatório de Inflação.

Taxa de Juros

Taxa básica de juros (veja o gráfico aqui) A cada 45 dias o Banco Central realiza a reunião do
COPOM onde determina a taxa Selic. Essa taxa influencia os juros de todos os investimentos de renda
fixa e dos empréstimos e financiamentos. Juros mais elevados desaceleram o crescimento da economia
e juros baixos aceleram esse crescimento. Você também pode acessar o histórico com o resultado das
reuniões aqui.

Finanças Públicas

Dívida pública - % do PIB (veja o gráfico aqui). A trajetória crescente da dívida pública brasileira
em relação ao PIB é um dos fatores que mais preocupam os empresários e investidores. Isso motivou
todas as discussões envolvendo reforma da previdência e reforma fiscal. Com o país cada vez mais
endividado, fica difícil imaginar um futuro com juros baixos, inflação controlada e Bolsa apresentando
bom desempenho. No site do Banco Central também é possível observar a trajetória da Dívida Bruta

186
(DBGG) que é o total da dívida, interna e externa, do setor público. Dívida Líquida (DLSP) é total das
dívidas de todo o setor público menos os diversos créditos do governo, como as reservas internacionais.

Você pode ver esse gráfico aqui. O gráfico mostra a forte trajetória de crescimento da dívida desde
2015. No site do Tesouro Nacional é possível acompanhar a situação da dívida com mais detalhes.

Taxa de Câmbio

Preço do dólar em reais (veja o gráfico aqui). O preço do dólar produz grande impacto na cotação
das ações negociadas na bolsa.

Algumas empresas se beneficiam quando o dólar está em alta, como as exportadoras e isso valoriza
suas ações, mas existem empresas que são prejudicadas por terem dívidas em dólar e por utilizarem
matéria-prima cotada em dólar ou importada.

No gráfico abaixo eu mostro os passos para você criar essa comparação entre o dólar e o índice
Bovespa.

187
Perceba que existe uma relação inversa entre dólar e Bolsa. Quando o dólar está em alta (linha azul) a
Bolsa está em queda (linha pontilhada). Quando o dólar cai, a Bolsa sobe. O dólar também produz
efeitos negativos na inflação, já que aumenta o preço de muitos insumos e produtos cotados
internacionalmente.

Os investidores estrangeiros representam grande parte do volume negociado na Bolsa. Dólar barato
significa ações de empresas brasileiras baratas para o estrangeiro. É possível ver a participação dos
estrangeiros aqui. A tabela abaixo mostra 47,66% de participação em um único mês de 2019.

188
Montando sua carteira diversificada

O conjunto de ações que você tem é o que chamamos de carteira ou carteira de ações. Você deve
montar a sua carteira de ações com paciência, principalmente se o seu objetivo é manter uma parte do
seu patrimônio investido em ações para sempre.

Eu espero que você tenha chegado nesta parte do livro compreendendo que boas empresas para investir
precisam ser empresas lucrativas, com longo histórico de lucros consistentes. O preço da ação de uma
empresa segue o lucro.

Caso você se considere um investidor conservador, não invista mais do que 5% do seu patrimônio
líquido em ações. Exemplo: se todo dinheiro que você tem em aplicações financeiras for R$ 100 mil,
só invista no máximo R$ 5 mil em ações enquanto você estuda, aprende e ganha experiência.

Os 95% do seu patrimônio investido em renda fixa, garantem a tranquilidade para que você faça seus
investimentos em renda variável nessa fase inicial. Somente quando você acumular experiência e se
sentir realmente seguro é que deve ampliar seus investimentos em renda variável de forma gradativa,
sempre respeitando o seu perfil.

Uma boa forma de diluir os riscos dos seus investimentos em ações é diluir os recursos em ações de
empresas diferentes, de preferência que atuem em setores ou segmentos diferentes.

Vamos imaginar que você resolveu montar a sua carteira com 7 ações de empresas diferentes. Para
isso você resolveu escolher a melhor empresa de cada um dos 7 setores que fazem parte dos índices
setoriais da B3. Veja aqui:

1. IFNC – Índice Financeiro (lista de empresas).


2. IMAT - Índice de Materiais Básicos (lista de empresas).
3. ICON – Índice de Consumo (lista de empresas).
4. IEE – Índice de Energia Elétrica (lista de empresas).
5. UTIL - Índice Utilidade Pública (lista de empresas).
6. IMAT - Índice do Setor Industrial (lista de empresas).
7. IMOB – Índice Imobiliário (lista de empresas).

O seu trabalho será estudar cada uma dessas listas e identificar quais são as melhores empresas para
investir em cada setor. Isso vai levar algum tempo.

Se um fato econômico ou político afetar um desses setores, somente uma pequena parte do seu
investimento será afetada caso os resultados financeiros da empresa escolhida por você sejam
atingidos.

Você também pode optar por não participar de determinados setores em determinados momentos dos
ciclos da economia. Um exemplo clássico é o setor imobiliário. Esse setor depende muito do
crescimento da economia, taxa de desemprego baixa e grande oferta de crédito.

189
O setor de consumo também sofre durante as crises. Já o setor financeiro consegue ganhar dinheiro
em qualquer ciclo econômico e mesmo nas crises eles registram lucros elevados. Empresas do setor
elétrico, saneamento e outros serviços públicos possuem receitas mais estáveis, mesmo durante as
crises.

Veja um exemplo simplificado de alguém que resolveu montar uma pequena carteira inicial com
apenas R$ 5.000,00. Veja um exemplo de diversificação por setor:

• 40% Financeiro (R$ 2.000,00)


• 20% Materiais Básicos e Indústria. (R$ 1.000,00)
• 20% Consumo (R$ 1.000,00)
• 20% Energia Elétrica e Utilidade Pública (R$ 1.000,00)

Agora imagine que essa pessoa conseguiu juntar mais dinheiro durante o ano e 5% do patrimônio dela
é representado por R$ 6.000,00. Então ela resolve investir mais R$ 1.000,00 nas ações de tal forma
que possa manter o equilíbrio de 40% para o setor financeiro e 20% para os outros setores.

Vamos imaginar que as ações naquele ano tiveram grande valorização e com isso este investidor agora
tem R$ 8.000,00 e isso passou a representar 8% do seu patrimônio. Se quisesse manter a proporção de
somente investir 5% do patrimônio em ações, ele deveria vender ações até retornar para os 5%. O
dinheiro da venda poderia ser usado para investir em renda fixa. Outra opção seria o investidor assumir
que agora manterá 8% do seu patrimônio em ações.

Risco do Viés

Além do risco sistêmico (eventos econômicos, políticos e até naturais que afetam os resultados de
todas as empresas), risco setorial (que afeta empresas de um mesmo setor ou segmento), risco
específico de cada empresa, ainda temos que nos preparar para enfrentar um risco que está na nossa
mente.

Nosso cérebro está programado para tomar decisões rápidas utilizando uma série de atalhos mentais.
Esses atalhos foram muito úteis quando a humanidade corria pelas savanas buscando alimento ou
fugindo de algum animal para não ser o alimento.

Construímos um mundo bem diferente das savanas e hoje precisamos tomar decisões financeiras que
dependem do uso da nossa racionalidade. O problema é que o nosso cérebro continua muito parecido
com aquele que equipou nossos antepassados mais antigos e isso acaba nos levando a cometer erros
em determinadas circunstâncias. Vamos chamar esses erros de vieses.

Antes de investir é importante que você conheça esses vieses, pois não adianta estar diante de números,
indicadores, gráficos e se deixar influenciar por vieses que não foram feitos para lidar com questões
financeiras.

190
Acredito que são as questões emocionais que mais conduzem os investidores iniciantes ao erro.

Viés da Ancoragem

A ancoragem é muito utilizada pelo comércio e pode ser um perigo para quem investe em ações. Você
já deve ter observado que temos uma tendência de buscar promoções e descontos. Veja os dois
anúncios:

No primeiro anúncio não temos nenhuma referência sobre o preço anterior do sapato. Não sabemos se
R$ 150 é um preço barato ou caro. No segundo anúncio, o comerciante informa que o preço anterior
era R$ 500 e agora ele oferece o mesmo sapato com desconto de quase 60%. Agora o consumidor tem
o preço de R$ 500 como um ponto de referência (ancoragem) e acaba comprando o desconto e não o
sapato.

Os investidores podem sofrer o mesmo problema. Imagine que você teve acesso ao preço de uma ação
que custava R$ 50. Depois de alguns meses você percebeu que aquela ação que um dia custou R$ 50
agora custa somente R$ 25.

O viés fará você acreditar que está diante de uma oportunidade. Se você não tomar o cuidado de
analisar os fundamentos da empresa para verificar se a queda se justifica, você corre o risco de comprar
a ação cara, mesmo custando metade do que já custou no passado.

191
No gráfico acima temos o preço da ação de uma empresa de telefonia que já foi negociada por quase
R$ 60,00 e hoje é vendida por menos R$ 1,50. Essa empresa se encontra em recuperação judicial. A
recuperação judicial é uma medida jurídica legal utilizada para tentar evitar a falência de uma empresa.

Dessa forma, R$ 60 foi o preço da ação de uma empresa que tinha uma situação financeira positiva e
expectativas de crescimento e lucros crescentes no passado. O preço abaixo de R$ 1,50 representa a
ação de uma empresa que tenta se recuperar de sérios problemas financeiros.

Os investidores precificam as ações das empresas analisando os números que ela oferece e criando
expectativas sobre o futuro. O preço passado está relacionado com a situação financeira da empresa
no passado.

Quando as expectativas são positivas os investidores aceitam pagar valores maiores (por acreditarem
que o preço atual está barato) e quando são negativas eles só aceitam comprar por preços cada vez
menores (por acreditarem que o preço atual ainda está muito caro).

Dessa forma, a avaliação se R$ 1,50 por ação é caro ou barato depende de uma análise dos fundamentos
da empresa e não de uma simples comparação entre preços praticados no passado e preços praticados
no presente.

Outra forma de ancoragem perigosa ocorre quando comparamos o preço das ações de empresas do
mesmo setor sem observar qual empresa possui bons fundamentos e quais enfrentam problemas
financeiros.

Veja o quadro abaixo:

192
São três ações de empresas de telefonia que são vendidas por preços diferentes em algum momento do
passado. Qual ação está barata e qual ação está cara? Se todas as três empresas fossem exatamente
iguais, seria possível responder com facilidade. Como são empresas diferentes, com situação
financeira diferente, é impossível responder essa pergunta olhando somente o preço da ação, pois o
viés de ancoragem levaria você a cometer um erro.

Qualquer uma dessas ações pode ser a mais cara e qualquer uma pode ser a mais barata. Para descobrir
precisamos avaliar o que as empresas possuem de valor como geração de lucro líquido, retorno sobre
o patrimônio líquido, distribuição de dividendos, boa margem de lucro, dívida equilibrada ou
decrescente e outros fundamentos que já estudamos nesse livro.

O acompanhamento de opiniões de pessoas que você encontra na internet, que citam ações utilizando
palavras como: barata, promoção, pechincha, oportunidade, etc, fará você acreditar que o preço da
ação está atrativo.

Existe o risco de você comprar a ação sem fazer a análise dos seus fundamentos. Já se alguém aparece
citando uma ação com palavras do tipo: caro, puxado, sobrevalorizado e similares, você tenderá a
acreditar que a ação está cara independente do preço.

A internet está repleta de pessoas que emitem opiniões sobre ações por estarem influenciadas por
vieses como o viés da ancoragem e outros que iremos mostrar aqui. Também existem pessoas que
tentam motivar outras a comprarem ações onde elas investem.

Notícias negativas sobre determinados setores ou mesmo sobre a economia e o governo podem fazer
você rever os preços das ações onde você investe. Isso pode ser uma prática danosa, pois o otimismo
ou o pessimismo dos jornalistas ou das pessoas que emitem opiniões pode não ter qualquer relação
com os resultados da empresa onde você investe. As decisões de compra ou venda das ações devem
seguir fundamentos baseados em números e gráficos.

193
Jornais, revistas e emissoras de TV vivem de audiência e a forma mais fácil de conseguir audiência é
propagar uma visão negativa ou pessimista do mundo. As pessoas só param o que estão fazendo para
prestar atenção em notícias quando existe alguma coisa negativa acontecendo. O problema é que nem
sempre o que ocorre é realmente negativo para a empresa e o setor onde você está investindo.

Outro problema grave de ancoragem ocorre quando você compra a ação de uma empresa por um
determinado preço, ela cai com base em fundamentos como a queda das vendas ou queda do lucro
líquido e você continua com a ação acreditando que um dia o preço retornará para o “valor justo” que
você pagou quando os números da empresa eram positivos. A ideia de valor justo com base no passado
é perigosa, pois talvez a empresa não seja a mesma empresa do passado. Embora exista a possibilidade
da empresa se recuperar, também existe a possibilidade da empresa não se recuperar.

Avalie seus investimentos a cada trimestre ou semestre. Cada novo balanço pode revelar uma nova
empresa. Lembre-se que a empresa é como um organismo vivo que muda a cada dia. A economia
também sofre mudanças diárias e o cenário favorável do passado pode não ser o mesmo cenário do
presente. A empresa que antes tinha um determinado valor, hoje pode valer menos ou mais e nem
sempre o preço da ação retrata essa mudança de valor. Cada trimestre você terá novos números para
analisar como se estivesse diante de uma nova empresa.

Verifique se os principais números da empresa estão se deteriorando ou melhorando a cada trimestre.

Evite tomar decisões baseadas em notícias, principalmente aquelas que não possuem qualquer relação
com os resultados das empresas onde você investe. Evite tomar decisões por impulso e sem
informações suficientes, uma vez que, na falta de base racional, sua mente tomará decisões baseadas
em emoções como o medo e a ganância.

Viés da Perda

A dor da perda costuma ser mais desagradável do que o prazer que temos quando ganhamos dinheiro
em um investimento. Esse viés nos investidores pode potencializar suas perdas. Imagine que você
comprou ações de uma empresa que apresentava bons números. Novos dados foram divulgados e a
empresa apresentou uma piora nos seus fundamentos. O preço da ação caiu, mas com medo de perder
dinheiro você continua investindo na empresa. Novas quedas ocorrem, os números continuam se
deteriorando e você fica paralisado, se recusando a realizar o seu prejuízo.

O mesmo problema pode ocorrer pelo medo de perder uma oportunidade. Imagine que você tem ações
de uma boa empresa, mas fica sabendo do bom desempenho de uma empresa que enfrentava sérios
problemas financeiros e que agora deu sinais de recuperação. É um investimento muito arriscado, mas
se a empresa realmente se recuperar o preço da sua ação pode disparar nos próximos anos e você não
quer perder a oportunidade. Esse viés acabará fazendo você correr mais risco do que gostaria e a
probabilidade de perda real fica maior.

194
Outra situação onde esse viés entra em ação ocorre quando você tem ações de uma boa empresa e ela
começa a se valorizar muito. Com medo de ocorrer uma queda, fazendo você perder tudo que ganhou
até aqui, você resolve vender suas ações precipitadamente. Com isso você perderá a grande alta que
ainda estava por vir, já que os fundamentos da empresa continuaram positivos a cada trimestre.

Antes de qualquer decisão de compra ou venda de ações, avalie se você tem números concretos que
possam justificar a sua decisão. Reflita se você não estaria tomando a decisão por medo.

Imagine que você foi obrigado a vender todas as suas ações nesse momento para logo depois reinvestir
novamente em ações. Você recompraria as mesmas ações que tinha antes? Se a resposta for negativa,
talvez você esteja mantendo investimentos que não deveria manter, mas que estava sendo mantido
pelo medo da perda. Muitas vezes o dinheiro que você tem investido hoje nas ações de uma empresa
com fundamentos ruins é o mesmo dinheiro que você precisa para investir em ações de boas empresas
que estão em condições favoráveis para crescer.

Olhe para os seus investimentos com uma frequência menor. Se você olha todos os dias, tente olhar
apenas nos finais de semana. Se você olha todas as semanas, experimente olhar apenas uma vez por
mês ou até uma vez por trimestre. Isso vai reduzir a sua ansiedade e todas as decisões equivocadas
movidas pelo viés da perda.

Viés do Apostador

Se você jogar uma moeda para o alto e em todas as vezes o resultado for a coroa, você terá uma
tendência de acreditar que da próxima vez o resultado será a cara. Estatisticamente, o fato de ter
ocorrido uma sequência de coroas não significa que existe uma maior probabilidade do resultado ser
cara na próxima jogada. A probabilidade continua sendo de 50% de ser cara e 50% de ser coroa.

Muitas vezes o investidor fica muito ansioso quando observa o preço de uma ação subindo sem parar
por muito tempo. Ele tem a impressão de que muitas altas seguidas necessariamente resultarão em uma
queda. O pior é que isso realmente ocorre, pois muitos investidores sofrem desse viés, mas se nada
ocorreu nos fundamentos da empresa e na economia que justifique o início de uma tendência de
desvalorização da ação, essa queda momentânea logo se reverterá em uma alta e o preço continuará
sua trajetória baseado na melhora dos fundamentos da empresa.

O mesmo fenômeno ocorre quando as ações estão em queda. O investidor pode considerar que as ações
já caíram muito e que já chegou o momento de os preços subirem. Ele não se preocupa em verificar se
existem fundamentos para a queda no preço da ação. Se o preço está caindo devido a resultados cada
vez mais negativos, é muito provável que o preço se mantenha em queda enquanto os resultados da
empresa estiverem se deteriorando. Talvez o preço da ação nunca mais retorne para os patamares
iniciais, a não ser que ocorra uma recuperação nos resultados financeiros da empresa.

195
Para evitar esse viés, sempre considere que ganhos ou perdas passadas não garantem ganhos ou perdas
futuras. Sempre é necessário considerar qual é a situação atual da empresa e buscar os motivos que
justifiquem os movimentos de alta ou queda do preço da ação.

Viés da Confirmação

Nossa mente sofre da tendência de ignorar informações que vão contra o que acreditamos. Se você
acredita muito no investimento que realizou, tende a rejeitar qualquer informação nova contrária ao
que você pensa sobre a empresa ou a ação. Isso é muito frequente quando você gosta de uma empresa
e tem ações dela.

Vamos imaginar que você adora um determinado banco e odeia outro, adora uma empresa de telefonia
de celular e odeia outra ou adora uma loja de eletrodoméstico e odeia a outra. Você tenderá a investir
nas marcas que gosta. Dados negativos sobre as empresas que você gosta farão pouco efeito na sua
decisão. Dados positivos sobre as empresas que você não gosta dificilmente fará você investir nessa
empresa.

Esse viés fará você procurar informações positivas que confirmem a sua escolha e ao mesmo tempo
você dará menos valor para as informações negativas.

Esse viés só pode ser evitado se você conseguir observar sua tendência de sempre defender seus
investimentos, como se existisse uma relação emocional entre você e o investimento. O investidor
nunca deve se apegar emocionalmente ao seu investimento ao ponto de gastar tempo e energia
defendendo esse investimento. Informações negativas e positivas devem ser consideradas friamente.

Viés de Empatia

Dificilmente consideramos que o nosso estado emocional pode influenciar nas decisões. Uma vez vi o
relato de uma pessoa que tomava um medicamento controlado prescrito por um psiquiatra. Ela relatava
o incrível poder do medicamento. Minutos antes de tomar o minúsculo comprimido ela enxergava a
vida como um verdadeiro inferno. Minutos depois do comprimido, sua vida era boa e tudo estava bem.
Ela ficava se questionando qual era a vida real. Será que a vida real era aquela antes ou depois do
comprimido?

Evite tomar decisões de investimentos quando você está muito triste ou muito alegre, muito pessimista
ou muito otimista. Se durante a semana de trabalho você sofre de mudanças bruscas no seu humor,
prefira olhar seus investimentos somente no sábado e no domingo e tome a decisão de cabeça fria.

Aceite que as suas emoções interferem muito nas suas decisões e que por esse motivo é importante
estabelecer critérios para entrar ou sair dos investimentos.

196
Viés da Confiança

As pessoas tendem a manter níveis de autoconfiança elevada com o passar do tempo, principalmente
quando a sua trajetória nos investimentos registra ganhos sucessivos. A autoconfiança elevada faz a
pessoa acreditar que pode se expor ainda mais aos riscos.

Passamos a ter a falsa impressão de que temos todas as informações e que os outros participantes do
mercado não conseguem ver oportunidades que somente nós estamos vendo.

Existe uma impressão falsa de superioridade. Frequentemente essas pessoas podem ser vistas nas redes
sociais divulgando resultados acima da média.

Pense sempre na possibilidade de estar errado(a). Avalie o que acontecerá se você estiver errado(a) e
considere a moderação diante de uma maior exposição ao risco movida por autoconfiança exagerada.

Viés do Enquadramento

Você está dentro de uma loja onde pretende fazer algumas compras. Essa loja está distribuindo cupons
gratuitos que valem R$ 10 em compras. Você só pode usar esses cupons uma única vez. Eu tenho um
cupom que vale R$ 20 e quero vender esse cupom para você por R$ 5. Você prefere receber o cupom
gratuito de R$ 10,00 ou prefere pagar R$ 5 pelo meu cupom que vale R$ 20.

Entre receber o cupom gratuito de R$ 10 e pagar R$ 5 por um cupom de R$ 20 a maioria das pessoas
prefere receber o cupom de R$ 10 mesmo sendo economicamente mais vantajoso comprar o cupom
de R$ 20 pagando R$ 5.

Observe que são dois enquadramentos diferentes. Um não envolve perda e gera um ganho de R$ 10.
O outro envolve perda de R$ 5 para um ganho de R$ 15. Neste exemplo, perder R$ 5 é mais vantajoso.

Veja o exemplo do investimento na poupança que é isenta de imposto de renda, mas rende muito
pouco. Existem outros investimentos de renda fixa que rendem mais do que a poupança, mesmo com
a cobrança de imposto de renda sobre os rendimentos.

O mesmo problema pode ocorrer quando estamos investindo em ações. É comum o comportamento
do iniciante de buscar ações que custam menos de R$ 1, mesmo quando essas ações são de empresas
com sérios problemas financeiros e que dificilmente terão alguma recuperação no futuro.

197
Imposto de Renda

Quando você faz investimentos em títulos públicos, CDB, debêntures, fundos de investimento, entre
outros, a corretora ou o banco onde você realizou o investimento fica responsável pelo recolhimento
do imposto de renda sobre os seus ganhos. O dinheiro que você recebe sempre é líquido de impostos.

Isso não acontece quando vendemos ações, ETF e fundos imobiliários. Neste caso, você é o
responsável por calcular e pagar o imposto sobre o ganho de capital que você teve na venda.

Esse pagamento é feito preenchendo um DARF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais)


que é uma espécie de “boleto” emitido pelo Ministério da Fazenda e pela Secretaria da Receita Federal
para a cobrança de impostos. O DARF possui um campo onde precisamos digitar um código e cada
tipo de imposto tem um código diferente para que seja possível identificar o que o você está pagando.

Todas as corretoras emitem um documento chamado “notas de corretagem”. Ele registra os detalhes
das compras e vendas de suas ações e fica disponíveis na área onde você acessa a sua conta na
corretora.

Quando você compra e vende ações no mesmo dia (day trade) a alíquota do imposto de renda é de
20% sobre os ganhos. Quando a compra e a venda foram realizadas em dias diferentes, você realizou
uma compra normal ou o que muitas corretoras chamam de swing trade. Neste caso, a sua alíquota
será de 15% sobre os ganhos.

Some tudo que você recebeu ao vender suas ações durante o mês. Se o total de ficou abaixo de R$ 20
mil, você está dentro da faixa de isenção do Imposto de Renda e não precisa pagar DARF.

Calcule o lucro que você teve com a venda. O lucro é a diferença entre o custo que você teve para
comprar as ações e o valor recebido por elas na venda com custo de venda descontado.

Além do que você pagou pela ação, também faz parte do seu custo de compra as taxas de corretagem,
custódia (caso a sua corretora cobre isso) e os emolumentos cobrados pela bolsa.

Exemplo:

Se você comprou 1000 ações por R$ 20 reais o seu custo de aquisição dessas ações foi de R$ 20.000,00.
Se todas as taxas somarem R$ 10,00 o seu custo foi de R$ 20.010,00 e cada ação custou R$ 20,01 para
serem suas. Dessa forma, o valor de compra da ação sempre será o preço pago pelas ações + as taxas
da corretora e da bolsa.

Agora vamos imaginar que você vendeu suas ações por R$ 25.000,00 e teve um custo com taxas de
R$ 10,00. Você deve considerar que a sua venda resultou em 25.000 – 10 = R$ 24.990,00

Se você gastou R$ 20.010,00 para comprar as ações e recebeu R$ 24.990,00 por elas, o seu lucro foi
de R$ 4.980,00 já que 24.499 – 20.010 = 4.980.

198
Devemos pagar imposto sobre esses R$ 4.980,00, pois é o que ultrapassa os R$ 20.000,00 isentos. Para
isso basta multiplicar 4980 x 15% ou 4980 x 0,15 = R$ 747,00.

Agora vamos imaginar que você comprou ações com preços diferentes durante o mês. Vamos supor a
situação:

Imagine que você comprou ações em 3 momentos diferentes em quantidades diferentes, preços
diferentes e com uma taxa de R$ 10,00 para cada compra. Vamos ver o total que você gastou em cada
momento de compra.

• 200 ações por 15,00 = 3.00,00 + 10,00 = 3.010,00


• 400 ações por 18,00 = 7.200,00 + 10,00 = 7.210,00
• 500 ações por 20,00 = 10.000,00 + 10,00 = 10.010,00
Somando 3.010 + 7210 + 10.010 descobrimos que gastamos R$ 20.230,00 para comprar 1.100 ações.
O preço médio por ação foi de R$ 18,39.

Vamos imaginar que você vendeu cada ação por R$ 25,00 e isso totalizou R$ 27.500,00 (1100 x 25 =
27.500). Supondo o custo das taxas e corretagens de R$ 10,00 você recebeu R$ 27.490,00.

Se você gastou R$ 20.230,00 para comprar 1100 ações e ganhou R$ 27.490,00 ao vender, seu lucro
foi de R$ 7.260,00. A alíquota de 15% sobre esse valor representa um imposto de R$ 1.089,00 (7260
x 15% = 1089).

Se durante o mês você negociou 3 ações diferentes, deve fazer esses cálculos para as três e somar o
imposto das três para o pagamento em um único DARF. O pagamento deve ser feito no final do mês
seguinte à realização da venda. Isso significa que se você vendeu suas ações em janeiro o pagamento
do imposto será no final do mês de fevereiro.

Visite o site da Receita Federal nesse endereço aqui.

Clique em “Pagamentos” e depois informe o seu estado e cidade. O código da receita é 6015. Esse
código representa “Ganhos Líquidos em Operações em Bolsa”.

199
O campo que solicita o “Período de Apuração” deve ser preenchido com o mês e o ano em que ocorreu
a venda das ações. O campo “Número de referência” não deve ser preenchido. Informe o seu CPF
corretamente quando for solicitado.

Na figura acima temos um exemplo de DARF. Ele acompanha um código de barras e um número que
você poderá utilizar para pagar em qualquer banco, da mesma forma que realiza o pagamento de
qualquer boleto bancário.

Quando você estiver na página do seu banco online, verifique se eles oferecem a opção de preencher
DARF manualmente. Neste caso você não vai precisar gerar o DARF no site da Receita. Essa página
da Receita terá maior utilidade se você atrasar o pagamento do DARF e precisar de uma via com a
multa por atraso calculada.

A Receita também oferece um software que pode ser instalado no seu computador para geração de
DARF. Visite aqui. Ele também serve para gerar o DARF com multa por atraso.

Lembre-se, se você nunca vender mais do que R$ 20.000,00 em ações por mês, você nunca precisará
pagar esse imposto. Compre sempre as ações de boas empresas e dificilmente você terá motivos para
vender as suas ações.

É muito importante que você mantenha anotações sobre todas as compras e vendas realizadas por
você. No CEI (https://cei.b3.com.br) é possível gerar um relatório. Veja onde localizar esse relatório
através da figura:

200
Análise gráfica e fundamentalista

Você já deve saber que existem dois tipos de estudos que podemos realizar para tomar decisões sobre
quais ações comprar para obter ganho de capital (valorização da ação) e dividendos. Temos o estudo
dos gráficos de preço das ações e o estudo dos fundamentos da empresa que emitiu as ações.

Eu acredito que é importante investir utilizando as duas escolas ao mesmo tempo, a escola grafista e
fundamentalista.

Através do estudo dos resultados financeiros da empresa (fundamentos) você poderá separar o joio do
trigo e com isso poderá ignorar empresas com resultados ruins e medianos e focar a sua atenção nas
ações de empresas que apresentam bons resultados financeiros.

Quando escolhemos boas empresas para investir como as que possuem boa taxa de crescimento de
lucros e de patrimônio e que pagam bons dividendos, reduzimos o nosso risco. Mesmo em situações
de crise ou eventos inesperados que fazem a bolsa cair, o preço das ações das melhores empresas tende
a se recuperar rapidamente.

Já a análise gráfica dos preços das ações, também conhecida como análise técnica, nos ajuda a estudar
o comportamento dos preços das ações das melhores empresas que selecionamos pela análise
fundamentalista.

Nada melhor do que investir mais quando observamos que o valor do que iremos receber ao investir é
maior do que o preço que está sendo pedido por esse valor. A análise gráfica estuda preço no tempo,
a análise fundamentalista estuda o valor do que compramos no tempo. Preço é o que pagamos e valor
é o que recebemos.

201
Como os principais dados utilizados pela análise fundamentalista são divulgados a cada três meses,
durante o ano você só precisará olhar para os fundamentos da empresa quatro vezes. Vimos nesse livro
que já existem ferramentas que ajudam nessa tarefa.

O investidor que adota a análise fundamentalista acredita que os resultados apresentados pela empresa
hoje, e sua tendência histórica, vão definir o preço das ações no futuro. Por esse motivo, a análise dos
fundamentos é de grande importância para aquele que investe com foco no longo prazo. Já a análise
gráfica é mais eficiente para observar o comportamento do preço das ações em prazos menores como
o de horas, dias, semanas meses ou de alguns poucos anos.

O fato é que dificilmente uma empresa que apresente resultados financeiros ruins, de forma
consistente, consegue manter a alta do preço de suas ações por muito tempo. Já uma empresa que
apresenta bons resultados financeiros, dificilmente terá o preço de suas ações em queda por muito
tempo.

Como a análise fundamentalista também engloba a análise da economia e do setor, também teremos a
capacidade de projetar o impacto da economia no resultado futuro da empresa. Todas as empresas de
todos os setores sofrem impactos diante de mudanças nas taxas de juros, inflação, câmbio, emprego,
crescimento da economia, preço de commodities, concorrência, legislação etc. As vezes o impacto é
positivo e em outras é negativo. Empresas diferentes e de setores diferentes podem ser impactadas de
forma diferente e até inversa.

Embora os números estudados pela análise fundamentalista estejam em balanços trimestrais (ITR) e
demonstrativos de resultados por exercícios anuais (DRE) a divulgação de informações sobre a
economia que impactam os resultados das empresas são divulgados mensalmente ou até em tempo real
como a taxa de câmbio, juros futuros, preço de commodities etc.

Já tivemos muitos exemplos onde o simples pronunciamento de um presidente ou de um ministro da


economia foram suficientes para destruir o desempenho positivo de setores inteiros, prejudicando os
resultados de diversas empresas de um mesmo setor por muitos anos.

Já tivemos exemplos de empresas com ótimos fundamentos e que se envolveram em escândalos,


acidentes e problemas que prejudicaram os resultados por muitos anos.

Dessa forma, tão importante quanto fazer as análises para tomar a decisão sobre o que comprar e
quando comprar, devemos continuar analisando para saber até quando compensa manter o
investimento, ou seja, quando é mais vantajoso vender o que compramos.

Tenho certeza que o seu dinheiro não foi feito para comprar ações. A compra de ações é um meio que
permite fazer o seu dinheiro render através da valorização do que você comprou (ganhos de capital) e
o recebimento de dividendos para que um dia você possa realizar algum objetivo com esse dinheiro.
Mesmo quando o nosso foco é viver da renda dos nossos investimentos, o investimento só fará sentido
enquanto cumprir o seu objetivo. Dessa forma, a análise dos nossos investimentos é um processo que
tem início, mas que não terá fim.

202
Preços e Cotações

Empresas lucrativas, que apresentam longo histórico de bons resultados financeiros, refletem esses
resultados na longa tendência de alta do preço de suas ações. O site que eu utilizo para estudar o gráfico
de preços das ações se chama Trading View, visite aqui. Eles possuem um plano gratuito chamado
Basic. Você pode criar a conta gratuita aqui.

A B3 também oferece uma área para estudo das cotações e gráficos através de uma parceria que eles
possuem com o Trading View, veja aqui. A vantagem de acessar pelo Trading View e não pela B3,
está na possibilidade de você montar a sua própria lista de ações. No Trading View o espaço ocupado
pelo gráfico na tela do seu computador é maior, facilitando os estudos e os recursos e indicadores são
bem maiores e completos.

Mesmo assim, vou mostrar para você como utilizar o Trading View oferecido pela B3, pois você pode
acessar imediatamente, veja aqui.

O objetivo este livro não é a análise técnica ou gráfica dos preços, mas considerei importante gravar
um vídeo rápido mostrando algumas ferramentas básicas que permitem estudar o comportamento do
preço da ação de qualquer empresa listada na B3. Assista ao vídeo aqui.

Caso queira aprofundar seus estudos sobre a análise gráfica através dessa ferramenta eu recomendo o
meu livro sobre análise técnica, visite aqui.

203
Dicas finais

Para concluir este livro eu reuni algumas dicas que valem ouro. Muitas você só será capaz de
compreender no futuro, quando adquirir mais bagagem.

1. Não perca seu tempo nos fóruns, grupos e comunidades online sobre investimentos. Grandes
investidores, pessoas experientes e de grande conhecimento não perdem tempo nas discussões
online, não ficam fazendo recomendações, contando vantagens e tentando provar que são
inteligentes para pessoas que eles não conhecem. O próprio GuiaInvest, que é uma das
ferramentas que eu utilizo, possui uma espécie de fórum ou rede social de usuários. Não perca
seu tempo nesse tipo de fórum.
2. Se sentir a necessidade de ter contato com ideias de outros investidores, visite o site de uma
livraria. Existem grandes investidores que já escreveram livros compartilhando o que sabem.
3. Não compre ações por ter visto um desconhecido recomendando sua compra em algum lugar
da internet.
4. Não compre ações por centavos ou alguns poucos reais, de empresas que apresentam péssimos
resultados financeiros. O mercado não é bobo. Se a ação não vale quase nada isso
provavelmente significa que a empresa não vale quase nada. Você compraria frutas podres na
feira livre se elas estivessem custando centavos? Nem eu...
5. Grandes empresas também quebram, mas as menores quebram com mais facilidade. Não
concentre todos os seus investimentos na bolsa em uma única empresa.
6. Empresas não quebram na calada da noite. Elas emitem muitos sinais negativos antes da queda
e grande parte desses sinais estão nos seus números divulgados trimestralmente.
7. Não se mantenha sócio de empresas que divulgam quedas recorrentes nas receitas, margens de
lucro cada vez menores, retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) em queda e divulgação
frequente de prejuízos. Esse mesmo dinheiro poderia ser investido em empresas com boa saúde
financeira e que estão crescendo receitas e lucros recorrentemente.
8. Quem investe em empresas em recuperação judicial ou sérios problemas financeiros, na
esperança de que podem se recuperar no futuro, são investidores de operam de forma
especulativa e aceitam correr o sério risco de perder tudo que investiram. Normalmente são
profissionais experientes, que sabem o risco que estão correndo ou amadores e iniciantes que
não conhecem os perigos envolvidos. Fique longe disso se o seu foco for o investimento de
longo prazo ou aquele que prioriza o recebimento de dividendos recorrentes.
9. Não invista em empresas envolvidas em escândalos políticos, crimes ou qualquer evento que
destrua a credibilidade da empresa. Todo bom negócio é baseado em credibilidade e confiança
e por isso você só deveria investir em empresas confiáveis, que cuidam de suas marcas como
algo de muito valor.
10. Muitas crises mundiais já aconteceram e a única certeza que existe é que muitas ainda vão
acontecer. Nessas crises de grande porte todas as empresas do planeta são atingidas de forma
direta ou indireta.

204
O gráfico acima mostra todas as grandes crises globais do último século. Você verá um ótimo
infográfico visitando aqui sobre todas as crises brasileiras dos últimos 40 anos.
11. Quem investe com foco no longo prazo aproveita as crises para comprar ações de boas
empresas, pois todas, até as boas sofrem queda nos seus preços durante os momentos de pânico
na bolsa.
12. No curto prazo é natural que os preços das ações se movimentam em ziguezague e você precisa
se acostumar com isso. Vai demorar, mas você precisa se acostumar. No longo prazo, no caso
de boas empresas, é possível ver que esse movimento de sobe e desce segue uma tendência de
alta, com preços máximos e mínimos cada vez maiores. Veja o gráfico:

O primeiro gráfico mostra as variações de preço da ação da Empresa A. É uma empresa que
possui resultados financeiros cada vez piores e isso acaba se refletindo no preço da ação. No

205
segundo gráfico temos as variações de preço da ação da Empresa B. Essa empresa apresenta
resultados trimestrais cada vez melhores. Observe que os preços das ações das duas empresas
se movimentam em ziguezague, mas um ziguezague se move em tendência de baixa e outro
em tendência de alta. Acostume-se com o sobe e desce do preço das ações de boas empresas,
pois no longo prazo esse movimento será ascendente e as quedas podem ser oportunidades para
boas compras.
13. Prepare-se psicologicamente para ver a Bolsa caindo entre 10% e 12% em ciclos de 180 dias,
como mostra esse estudo que fiz para o meu livro sobre análise técnica. Veja que a tendência
de longo prazo é de alta, mas no curto prazo o ziguezague é interminável.

14. Muitos dos movimentos de baixa que você viu no gráfico anterior foram gerados por eventos
e notícias que produziram pessimismo entre os investidores com relação ao futuro. Você já
sabe que jornais, revistas e sites de notícia vivem de audiência e notícias ruins geram mais
audiência do que notícias boas. Quando os resultados das empresas não são efetivamente
afetados pelo evento noticiado, os fatos se impõem e os preços voltam a subir até a nova onda
de pessimismo infundamentada.
15. Tenha cuidado ao comprar ou vender ações baseadas em notícias. Prefira comprar e vender
ações tendo como base os fatos que estão documentados nos números que as empresas
divulgam a cada trimestre.
16. Você não precisa comprar ações todos os meses. Guarde o dinheiro na renda fixa e compre
uma vez a cada 180 dias, principalmente nos tradicionais momentos de pessimismo
generalizado, quando os preços de muitas ações de boas empresas estão em “promoção”.
17. Reinvista o dinheiro que você receberá na forma de dividendos. É isso que todos os investidores
que se tornaram grandes fizeram no decorrer de várias décadas. Em um determinado momento
no futuro, você não vai precisar investir muito dinheiro do seu bolso (renda do seu trabalho),
pois os dividendos serão suficientes para continuar investindo.

206
18. Anote em alguma planilha todas as suas operações de compra e venda. Se não costuma usar
planilhas, crie o costume. Planilhas são fundamentais na vida de qualquer investidor.
19. Não fique contando para as pessoas que você está investindo na Bolsa. Confie no que vou falar,
você não ganhará nada com isso. Nos primeiros resultados positivos você vai sentir um enorme
desejo de se exibir entre amigos e parentes contando vantagens sobre seus feitos. Não faça isso.
20. Invista muito pouco nos primeiros seis meses e invista pouco nos primeiros 12 meses. Observe
com atenção os investimentos que você fez para continuar aprendendo no processo. Considere
esse primeiro ano como um período de estudo, treino e experiência.

207
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