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Material Específico – Arquitetura e Urbanismo – Tomo 15 – CQA/UNIP

ARQUITETURA E URBANISMO

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

Tomo 15

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Material Específico – Arquitetura e Urbanismo – Tomo 15 – CQA/UNIP

CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação da UNIP

ARQUITETURA

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

TOMO 15

Christiane Mazur Doi


Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Mestra em Ciências -
Tecnologia Nuclear, Especialista em Língua Portuguesa e Literatura,
Engenheira Química e Licenciada em Matemática, com Aperfeiçoamento em
Tópicos de Estatística. Professora titular da Universidade Paulista.

Mário Henrique de Castro Caldeira


Doutor em Arquitetura e Urbanismo, Mestre em Arquitetura e Urbanismo e
Graduado em Arquitetura e Urbanismo. Coordenador Auxiliar e Professor
Titular da Universidade Paulista.

Material instrucional específico, cujo conteúdo integral ou parcial não


pode ser reproduzido nem utilizado sem autorização expressa, por
escrito, da CQA/UNIP – Comissão de Qualificação e Avaliação da UNIP -
UNIVERSIDADE PAULISTA.

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Questão 1
Questão 1.1
Leia o texto a seguir.
O projeto de paisagismo deve fazer uso do jogo de dissimular e mostrar certos elementos, fazendo
com que os percursos sejam marcados por prazerosas descobertas. A modelagem espacial,
diversificada por meio dos volumes vegetais e construídos, é a base de um bom projeto paisagístico.
É por esse percurso que teremos sensações diferenciadas, incluindo a sensação de beleza.
ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo: SECA, 2006 (com adaptações).

Considerando o texto apresentado, avalie as afirmativas.


I. Assim como na arquitetura, elementos paisagísticos podem funcionar como tetos
(copas das árvores, caramanchões, pergolados), paredes (arbustos, taludes, rochas) e
piso (gramado, cascalho, areia, superfícies de água).
II. A integração visual do projeto paisagístico com o entorno pode se dar por meio da
ampliação dos limites físicos, independentemente de critérios de propriedade,
usufruindo do princípio psicológico da sensação dos espaços.
III. O uso de vegetação como recurso de correção das sensações provocadas por
adensamento construtivo nas cidades é uma estratégia para se trabalhar proporção e
escala no projeto paisagístico.
É correto o que se afirma em
A. I, apenas. B. III, apenas. C. I e II, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II e III.

1. Introdução teórica

Projetos paisagísticos

A questão aborda um dos métodos mais comuns no paisagismo: o uso de categorias


tipológicas baseadas em elementos naturais vivos para a criação de espaços. Assim como na
elaboração de projetos arquitetônicos ou urbanísticos, a criação de projetos paisagísticos exige
métodos específicos.
Esse método para a elaboração de projetos paisagísticos não atribui valor (cultural,
semântico ou outro qualquer) aos espaços, mas facilita muito a criação deles, pois se vale dos
mesmos elementos tipológicos usados na criação de espaços arquitetônicos e urbanos, com a
diferença de que, no projeto paisagístico, a proposta se materializa principalmente por meio
de seres vivos, como plantas, e elementos como água, solo, pergolados, areia, cascalho etc.

1Questão 19 – Enade 2019.

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O método funciona da seguinte maneira: os elementos tipológicos são definidos por


sua característica espacial correspondente a elementos vegetais e, depois, são organizados
para criar os espaços com a característica desejada. Assim, paredes transformam-se em
arbustos; colunas, em troncos de árvores e palmeiras; pisos, em forrações; e tetos, em copas
(figura 1). Dessa maneira, tratamos os elementos vegetais de um projeto paisagístico não
apenas como objetos a serem percebidos como plantas, ou pela sua importância ambiental,
mas também como elementos definidores do espaço.

Figura 1. Tipologias espaciais em paisagismo.

As relações espaciais são criadas usando esse método. Se, por exemplo, for necessário
criar um espaço com bastante fluidez para o pedestre, mas com caminhos cobertos e
delimitados em alguns trechos, basta utilizarmos elementos tipológicos que construam esse
ambiente.
Em seguida, esses elementos são substituídos por plantas que exercerão fisicamente
aquela finalidade espacial inicialmente definida: árvores cobrirão os caminhos, mas permitirão
a fluidez espacial desejada, enquanto arbustos poderão delimitar o espaço tal como pensado
no projeto inicialmente.
Uma das vantagens desse método é que a vegetação pode ser escolhida depois de o
projeto ter sido elaborado espacialmente, o que dá liberdade na etapa executiva do projeto
de paisagismo. Isso permite, por exemplo, que escolhamos as espécies mais adequadas ao
tipo de solo encontrado no local do projeto ou as espécies disponíveis na região.
O projeto paisagístico pode criar relações interessantes com o espaço urbano em que
ele está inserido, principalmente quando utiliza o método descrito.
Um projeto de uma praça, por exemplo, não precisa se limitar a um espaço de
observação e admiração de espécies vegetais, lagos e rochas. Ele pode ser criado de maneira

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a relacionar-se espacialmente com o entorno urbanizado, usando os elementos tipológicos


básicos citados anteriormente para, depois, convertê-los em vegetação.

2. Análise das afirmativas

I - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A afirmativa descreve, ainda que de maneira bastante resumida, um dos
principais métodos de projeto de paisagismo usado desde meados do século XX.

II - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Trata-se de uma solução projetual comum quando se pretende ampliar
sensações espaciais sem desrespeitar a propriedade dos imóveis. Um exemplo disso são as
superquadras no Plano Piloto de Brasília: a permeabilidade urbana e as sensações de
amplitude espacial são muito fortes, mas sem que a propriedade privada dos imóveis seja
desrespeitada.

III - Afirmativa correta.


JUSTIFICATIVA. Por correção das escalas e das proporções urbanas, entendemos a adequação
dos espaços da cidade às pessoas, tanto na sua dimensão quanto na sua percepção dos
espaços. Isso corresponde àquela sensação agradável que temos quando, ao andar em uma
cidade, entramos em um ambiente adequadamente arborizado, organizado pela vegetação.

Alternativa correta: E.

3. Indicações bibliográficas

● ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo:


SECA, 2006.
● FARAH, I., SCHLEE, M.B.; TARDIN, R. (org). Arquitetura paisagística contemporânea no
Brasil. São Paulo: Senac, 2010.
● SILVA, A. C. R. Desenho de vegetação em arquitetura e urbanismo. São Paulo: Edgard
Blucher, 2009.

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Questão 2
Questão 2.2
O relevo natural e suas características particulares são norteadores nos projetos de
arquitetura. O estudo topográfico é uma etapa fundamental à concepção das construções. É
importante respeitar o relevo natural do terreno e, quando necessárias alterações, deve-se
optar por soluções mais econômicas e sustentáveis.
A imagem a seguir apresenta um loteamento, com área total de cerca de 500.000m 2, que
possui 386 lotes com cerca de 1.600m2 cada.

Disponível em <http://www.ecoarq.com.br/>. Acesso em 24 jun. 2019 (com adaptações).

Em relação à implantação proposta, avalie as afirmativas.


I. Os maciços de vegetação foram posicionados nas áreas com maior declividade, menos
indicadas para ocupação de edificações.
II. As áreas onde há a presença de córregos foram preservadas e permanecem protegidas
pela vegetação.
III. As áreas institucionais estão localizadas nas áreas mais planas do terreno, o que facilita
o acesso a elas.
É correto o que se afirma em
A. I, apenas.
B. III, apenas.
C. I e II, apenas.
D. II e III, apenas.
E. I, II e III.

2Questão 20 – Enade 2019.

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1. Introdução teórica

Topografia

A questão aborda conceitos básicos de representação topográfica, com base no uso


das curvas de nível. A leitura dessas curvas e do relevo que elas representam, em conjunto
com os elementos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos posicionados no projeto, permite
que entendamos a proposta do loteamento e respondamos adequadamente à pergunta.
As curvas de nível são uma maneira de representarmos bidimensionalmente o relevo,
que é um elemento tridimensional. Até onde se sabe, esse conceito de representação foi usado
pela primeira vez pelo matemático inglês Charles Hutton no final do século XVIII. Elas são
necessárias porque seria muito difícil mostrar o relevo sempre com uma maquete física ou
virtual. No desenho bidimensional, o uso das curvas de nível torna muito mais fáceis a
representação e a compreensão de como é o relevo do local e a sua manipulação durante a
realização do projeto.
Na figura 1, vemos como as curvas de nível são posicionadas em relação ao relevo que
desejamos representar. Sem as curvas de nível, é difícil estabelecermos a compreensão das
alturas e das declividades do terreno, mas, com a sua aplicação, criamos parâmetros de
dimensão.

Figura 1. Curvas de nível –parte 1.

No entanto, continuar trabalhando em 3D ainda não é o mais adequado e, por isso,


fazemos o que mostra a figura 2. Nela, vemos como as curvas de nível planificam o relevo.
Elas permitem que ele seja representado em dois planos apenas, tanto em uma vista lateral
quanto em uma vista superior.

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Figura 2. Curvas de nível - -parte 2.

Como afirmamos, as curvas de nível vão além da mera representação do relevo em


duas dimensões. Elas contribuem para:
 a elaboração de projetos urbanos e arquitetônicos;
 a definição de áreas de proteção ambiental;
 a identificação de locais inseguros e possivelmente sujeitos a deslizamentos de terra;
 a compreensão das bacias hidrográficas.
Vejamos como ler algumas das principais características de um relevo usando apenas
as curvas de nível. Quando as curvas estão muito próximas umas das outras, isso indica que
a declividade do terreno é mais elevada e significa que, naquela área, o terreno é mais
inclinado. Quando as curvas estão mais afastadas, isso significa que o terreno é mais plano
naquela região.
A declividade traz muitas consequências quando queremos entender o relevo e/ou
propor alguma intervenção nele, como a escolha de onde posicionar os lotes de uma gleba.
As curvas também ajudam a identificar os caminhos percorridos pelas águas. Elas ficam
próximas, como vemos na figura 3, com um desenho bem específico, indicando que ali passa
um rio ou um córrego. Esse desenho é mais facilmente perceptível quanto maior é a
declividade do terreno por onde passa o fio de água.

Figura 3. Curvas de nível – parte 3.

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2. Análise das afirmativas

I - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Em um loteamento, as áreas com maior declividade devem realmente ser
evitadas para construção civil, pois, em geral, tendem a tornar a obra mais cara, por causa
das fundações e do risco de deslizamentos de terra. No desenho do enunciado, essas áreas
podem ser identificadas como aquelas onde as curvas de nível estão bem próximas entre si.

II - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. No desenho do loteamento mostrado no enunciado, fica claro onde estão os
córregos, com sua topografia específica, e percebemos que estão circundados por vegetação,
como a legislação ambiental exige.

III - Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. Ao verificar onde estão as áreas institucionais no loteamento, percebemos
que elas não estão nas partes mais planas do terreno. Elas encontram-se onde as curvas de
nível estão muito próximas entre si, o que mostra um relevo bem inclinado. Há regiões bem
planas no loteamento, mas nelas não há áreas institucionais.

Alternativa correta: C.

3. Indicações bibliográficas

● ESPARTEL, L. Curso de Topografia. São Paulo: Globo, 1987.


● MASCARÓ, J. L. Loteamentos urbanos. Porto Alegre: Masquatro, 2005.

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Questão 3
Questão 3.3
Leia o texto a seguir.
Como a maioria dos vanguardistas, Herbert Bayer pratica fotografia, montagem e desenho, mas
também decoração e arquitetura. Seus projetos de estandes, quiosques e pavilhões representam a
materialização de uma lógica rigorosa, em que coloca as bases de uma signalética sóbria aliada a
códigos de cores.
WEILL, A. O design gráfico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010 (com adaptações).

No projeto de um quiosque para venda de jornais, apresentado a seguir, Bayer coloca em


prática a filosofia da Bauhaus, que consistia em criar a obra de arte total, concebida com as
mais modernas técnicas, unindo a arte ao projeto.

No que se refere às formas de representação trabalhadas na Bauhaus, o projeto apresentado


se destaca pelo uso de
A. cores complementares e elementos formais orgânicos, vinculados à arte gráfica industrial.
B. elementos geométricos em cores análogas e tipografia rebuscada, típica da época
industrial.
C. formas geométricas e cores primárias, que remetem à funcionalidade e à racionalidade da
era industrial.
D. formas orgânicas e figurativas construídas com alto grau de elaboração formal,
distribuídas aleatoriamente.
E. figuras que remetem às referências clássicas e historicistas, que empregam o ornamento
como base da composição.

3Questão 21 – Enade 2019.

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1. Introdução teórica

Escola de Bauhaus

A Bauhaus foi uma escola de ensino técnico, criada em Weimar, na Alemanha, e que
funcionou entre 1919 e 1933 (nesse período, ela mudou-se para a cidade de Dessau). Surgiu
no contexto de desenvolvimento industrial, perseguido pela Alemanha desde o século XIX.
Apesar de ela se assemelhar a outras escolas do gênero, que também tinham a
finalidade de criar mão de obra especializada na produção de objetos industriais, a Bauhaus
tinha uma perspectiva de ensino bastante diferente. Ela baseava-se em uma definição utópica,
definida pela frase “A construção do futuro”, e a sua pedagogia pretendia combinar todas as
artes em um ideal único.
Naquela época, havia ainda uma clara separação entre a atividade do artista, sem
caráter industrial ou comercial, e a do artesão, que era o oposto disso. Ainda não havia a
profissão do designer industrial, hoje já consolidada em todos os países que passaram por
algum processo de industrialização. A proposta do fundador da Bauhaus, o arquiteto Walter
Gropius, era unir o artista e o artesão, o que requeria uma pedagogia adequada.
Para atingir esse objetivo, foram desenvolvidos novos métodos de ensino. Gropius
acreditava que a base para qualquer arte estava no artesanato e propôs converter
gradualmente a escola em um grande workshop. Uma das consequências dessa pedagogia é
que tanto artistas quanto artesãos dirigiram aulas e atividades práticas na Bauhaus. Um dos
objetivos era remover qualquer separação entre as artes puras e as artes aplicadas. É
importante destacar que o significado de artesão usado na escola não é o mesmo que vemos
atualmente. Naquela época, o artesão era a pessoa capaz de produzir um tipo de bem de alta
qualidade, inicialmente à mão e em escala bem reduzida, e, depois, industrialmente, em
grandes escalas. O artesão citado na Bauhaus corresponderia aproximadamente a um técnico
muito habilidoso, com conhecimento suficiente para criar produtos que pudessem ser feitos
na indústria.
A composição do corpo pedagógico foi muito influenciada pelo fato de que os artistas
chamados para lecionar na escola eram todos de vanguarda. Isso gerou um conteúdo
pedagógico e uma linha de desenvolvimento conceitual vinculados a características
profundamente modernas.
O interesse na indústria e na tecnologia começa a ganhar espaço na Bauhaus em 1923.
A partir desse momento, o slogan da escola passa a ser “arte e tecnologia: uma nova unidade”.

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A consequência disso foi que os padrões de produção e de qualidade industriais passaram a


ser usados como referência para a criação de designs que iam de pequenos objetos
domésticos até projetos de habitações.
Apesar de a escola passar por diversas mudanças, podemos identificar algumas
características principais nos designs criados nos seus workshops e, posteriormente, por seus
alunos egressos:
 ausência de referências formais orgânicas ou figurativas baseadas na natureza;
 ausência de referências formais historicistas ou clássicas ligadas ao passado europeu ou
de qualquer outra civilização;
 busca constante do desenvolvimento de formas abstratas, influenciadas pelas vanguardas
artísticas europeias;
 uso de materiais e técnicas novas na época;
 aplicação de formas geométricas simples para a criação de produtos, de design gráfico e
de arquitetura;
 estudo das cores primárias como base para todo design.
Apesar de ter sido uma escola de curta existência, bastante polêmica em seus métodos
de ensino, e de não ser a única escola técnica desse tipo na época (é necessário citar a
contemporânea escola soviética Vkhutemas), a Bauhaus deixou uma marca que influencia até
hoje o design industrial e arquitetônico.

2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não há elementos formais orgânicos nessa proposta de quiosque.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A tipografia aplicada ao trabalho não é rebuscada: é baseada em formas
limpas, típicas da Bauhaus.

C – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. A alternativa representa um resumo de algumas das principais características
formais da Bauhaus, e que aparecem nessa proposta de quiosque.

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D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não há formas orgânicas nem figurativas nessa proposta de quiosque. A
única concessão feita no projeto, e necessária, é a inclusão de uma escala humana.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Não são usadas formas clássicas nem historicistas nesse projeto.

3. Indicações bibliográficas

● LUPTON, E.; MILLER, J. A. (orgs.). O ABC da Bauhaus: a Bauhaus e a teoria do design.


São Paulo: Cosac & Naify, 2019.
● WEILL, A. O design gráfico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

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Questão 4
Questão 4.4
Entre os prédios que formaram o Parque Olímpico para as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em
2016, constava a Arena do Futuro, com área construída de 24.214m². A Arena foi concebida
como uma arquitetura flexível que teve por princípio o reaproveitamento das suas estruturas
e demais componentes para a criação de quatro escolas públicas municipais.
Por meio de estudos preliminares, evidenciou-se a viabilidade de sua conversão, após o
evento, em um doador de materiais. Excluindo-se os elementos de fundação, pinturas e
acabamentos, e, ainda, considerando as diferenças evidentes entre a morfologia estrutural e
a geometria funcional de uma arena e das edificações de escolas, todo o projeto procurou
uma maior aderência entre elementos e componentes, de modo a atender melhor ambas as
funções e os usos.

Disponível em <https://au.pini.com.br/2016/02/arena-do-futuro-no-rio-de-janeiro-de-rioprojetos-2016>.
Acesso em 22 jun. 2019 (com adaptações).

A partir das informações apresentadas, avalie as afirmativas a seguir.


I. A Arena do Futuro é um exemplar da chamada arquitetura nômade por ter seus
elementos retirados e reutilizados, pois foi projetada para ser remontada em outro
local.
II. A modulação e o emprego de peças pré-moldadas são fundamentais para o
reaproveitamento do material.
III. O projeto utilizou conceitos de mutabilidade e de adaptabilidade, uma vez que o edifício
será transformado e suas peças adaptadas a um novo uso.
É correto o que se afirma em
A. I, apenas. B. II, apenas. C. I e III, apenas. D. II e III, apenas. E. I, II e III.

4Questão 22 – Enade 2019.

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1. Introdução teórica

Flexibilidade e modularidade dos espaços

A questão aborda dois temas arquitetônicos que são, ao mesmo tempo, muito atuais e
estão sendo desenvolvidos desde o século XIX: a flexibilidade e a modularidade dos espaços.
É necessário lembrar que esses conceitos contêm alguns interesses que se modificaram ao
longo do tempo e que aparecem no enunciado da questão.
Esses conceitos surgiram no século XIX, após a Revolução Industrial, inicialmente em
espaços industriais e posteriormente em construções muito específicas, destinadas às famosas
exposições universais, feiras onde vários países expunham seus melhores produtos.
Nas construções destinadas a abrigar a produção industrial, o conceito de flexibilidade
estava associado à necessidade de fazer constantes mudanças internas nos edifícios que os
fabricantes usavam, como inserção de maquinário novo, mudanças no sistema produtivo,
inserção de novas tecnologias etc. Já nas construções destinadas às exposições universais –
os pavilhões –, a regra era fazer projetos modulados, o mais fácil e rápido possível de serem
executados e desmontados (as feiras sempre eram temporárias) e com espaços abertos
capazes de receberem os mais variados produtos para exibição, com grande número de
visitantes. O primeiro desses pavilhões foi o Palácio de Cristal, construído para a Exposição
Universal de 1850, em Londres, Inglaterra. Em seguida à exposição, ele foi desmontado e
remontado em outro lugar. A famosa Torre Eiffel, em Paris, França, é um exemplo da aplicação
desses conceitos. Ela foi projetada para ser um objeto de exposição e deveria ter sido
desmontada ao fim da feira universal realizada em 1899. Mas, como se sabe, seu sucesso foi
tamanho que nunca foi desmontada. As outras construções gigantescas dessa exposição
foram rapidamente desmontadas.
A partir de meados do século XX, com o surgimento de preocupações mais sérias com
o meio ambiente nos Estados Unidos e na Europa, que se espalharam rapidamente para outros
países industrializados, os conceitos de flexibilidade e de modularidade agregam outros
interesses, somando-se aos que eles já carregavam.
Assim, se anteriormente esses conceitos estavam vinculados a uma noção de eficiência
e funcionalidade, agora eles estão aplicados com uma perspectiva ambientalista.
O conceito de flexibilidade que está associado à arquitetura não se restringe apenas às
possibilidades de mudanças de uso ou de organização espacial interna. Hoje, ele está

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associado à ideia de mutabilidade. Isso significa que agora é importante garantir a


possibilidade de evitar tanto a demolição de edificações quanto a realização de novas obras.
A construção de um edifício novo exige o uso intenso de materiais, processos,
transporte e energia. Uma obra assim emite direta e indiretamente muito carbono na
atmosfera, além de consumir bens naturais cada vez mais escassos e gerar quantidade
significativa de sobras.
Por isso, se uma construção é projetada para ser o mais flexível e mutável possível,
reduz-se consequentemente a necessidade de demoli-la, pois ela poderá adaptar-se a
mudanças futuras de funções, de sua organização espacial interna, e será capaz de absorver
novas tecnologias. É evidente que isso tem limites técnicos, mas a mera redução de algumas
demolições e de novas construções, mesmo que em pequena escala, já é uma contribuição
significativa para a preservação do meio ambiente.
A modularidade das construções é um conceito arquitetônico herdeiro das teorias que
alimentavam a indústria: eficiência, economia e racionalidade. Realizar uma construção
modular, com o uso de elementos pré-fabricados, faz com que esses conceitos possam ser
usados ao máximo. Temos aqui:
 eficiência na rapidez com que a obra é controlada, executada e terminada;
 economia de tempo, de materiais, de mão de obra etc.;
 racionalidade aplicada desde a realização do projeto arquitetônico;
 organização da execução, do canteiro de obras e do uso dos materiais.
Assim como a noção de flexibilidade, a ideia de modularidade é usada também como
um meio de tornar a arquitetura menos agressiva para o meio ambiente.
A ideia é que, se uma construção é modular, ela pode auxiliar em um aspecto muito
importante da arquitetura, que é a obsolescência. Quando a flexibilidade e a mutabilidade de
uma construção não são suficientes para que ela possa receber novos usos, novas tecnologias
ou novas organizações espaciais internas, ela geralmente é demolida no todo ou em parte.
Como dito anteriormente, isso gera muitos resíduos e desperdício de energia e materiais
construtivos.
No entanto, se o projeto do edifício for pensado para ser modular, com elementos pré-
fabricados e que possam ser desmontados, é possível que, quando a obsolescência acontecer,
em vez de demolir a construção, basta desmontá-la e refazê-la em outro local ou reutilizar os
seus materiais e elementos construtivos em outro projeto. Assim, uma construção como a
Arena, usada nas Olimpíadas realizadas no Brasil, não precisará ser eliminada. Ela pode ser
reconstruída em outro lugar e até mesmo manter o uso original, que é a prática de esportes,

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ou utilizar seus elementos construtivos para executar outros projetos. A maioria dos edifícios
não é pensada dessa maneira. Uma vez demolidos, o máximo que se pode fazer é reciclar
uma parte do entulho gerado.
O conceito de modularidade também tem limites, pois o uso de materiais pré-fabricados
e que podem ser desmontados não significa necessariamente que, assim que a edificação for
demolida, esses elementos construtivos poderão ser utilizados em outro projeto.
Com a aplicação desses conceitos atualizados, criam-se janelas de oportunidades que
fazem com que, assim que uma edificação se torne obsoleta ou que precise ser reformulada,
isso seja feito com o menor dano possível ao meio ambiente.

2. Análise das afirmativas

I - Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O enunciado afirma que a Arena foi projetada para que, quando fosse
desmontada, seus elementos construtivos fossem utilizados para construir escolas municipais.

II - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A aplicação desses conceitos é essencial para a desmontagem fácil e rápida
de uma obra. Elementos construtivos pré-fabricados são desenhados para serem montados.
A desmontagem é uma etapa a mais, que precisa ser planejada desde o início, mas, uma vez
incorporada ao projeto, torna tudo mais fácil.

III. Afirmativa correta.


JUSTIFICATIVA. Esse é um dos conceitos de adaptabilidade. Essa proposta pode ser aplicada
tanto dentro de um edifício quanto nos materiais de uma edificação, permitindo sua
reutilização em outra obra.

Alternativa correta: D.

3. Indicações bibliográficas

● HEYWOOD, H. 101 regras básicas para uma arquitetura de baixo consumo energético.
Barcelona: Gustavo Gili, 2015.
● McHARG, I. L. Design with nature. Nova York: Wiley, 1995.

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Questão 5
Questão 5.5
A possibilidade de remoção ou relocação de elementos divisórios entre cômodos de uma
edificação é um dos fatores mais importantes de um projeto, no tocante à perspectiva de
flexibilidade espacial. Essas possibilidades de manipulação estão intimamente relacionadas
aos sistemas estrutural e construtivo da obra.
Considerando o contexto apresentado, avalie as afirmativas a seguir.
I. Em obras com estrutura independente, as divisórias em alvenaria de tijolos podem ser
removidas sem acarretar problemas estruturais.
II. As obras em alvenaria estrutural, ainda que possam ficar mais baratas do que aquelas
em alvenaria convencional, enrijecem o projeto na perspectiva da flexibilidade espacial
interna.
III. As divisórias em drywall podem ser removidas sem acarretar problemas estruturais,
mas sua remoção configura-se uma operação mais trabalhosa que a demolição de uma
alvenaria de tijolos.
IV. As obras em Light Steel Frame (LSF) caracterizam-se pela industrialização e por
utilizarem mão de obra mais especializada do que as obras em alvenaria convencional.
É correto apenas o que se afirma em
A. I e III.
B. II e III.
C. II e IV.
D. I, II e IV.
E. I, III e IV.

1. Introdução teórica

Sistemas construtivos

Para responder corretamente à questão, é necessário conhecer a lógica básica dos


sistemas estruturais e construtivos e associá-la adequadamente aos materiais e às técnicas
usadas atualmente na construção civil.

5Questão 23 – Enade 2019.

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Na tecnologia da construção, os sistemas estruturais e construtivos são os meios físicos


que tornam o projeto arquitetônico e urbano uma realidade concreta. Eles são compostos por
materiais de construção e de acabamento, executados com determinadas técnicas
construtivas. Tanto os sistemas estruturais quanto os construtivos nem sempre são exclusivos
nem fechados e mudam constantemente. Por isso, nem sempre é possível associar
linearmente um sistema estrutural a um material específico. Um mesmo sistema estrutural
pode ser materializado usando-se diversos materiais e técnicas construtivas.
Esses sistemas são controlados por normas, e sua escolha para a execução de um
projeto depende de inúmeros fatores, como pertinência à proposta arquitetônica, custos,
tempo de execução, disponibilidade de materiais e de equipamentos e existência de mão de
obra qualificada.
Assim, inicialmente, é necessário dividir os sistemas estruturais em dois tipos: a
estrutura independente e a estrutura autoportante.
A estrutura independente, como o próprio nome sugere, NÃO depende de outros
elementos construtivos para sua estabilidade física. Nesse conceito, as paredes e as demais
vedações verticais não são necessárias para que a estrutura permaneça de pé e segura (figura
1). Ela também é chamada de estrutura convencional. Na estrutura independente, ou
convencional, as vedações (fechamentos verticais internos ou externos) podem ser feitas com
diversos sistemas construtivos: alvenaria não estrutural (há inúmeros tipos de bloco para essa
finalidade), placas (gesso acartonado, também conhecido como drywall, madeira, MDF etc.)
apoiadas em perfis metálicos ou de madeira, vidro, placas metálicas etc. E sempre há novos
sistemas construtivos sendo lançados no mercado.

Figura 1. Construção feita com estrutura independente, em concreto armado. O fechamento dos espaços é feito
posteriormente.
Disponível em <https://pixabay.com/pt/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=
image&amp;utm_content=3231242>. Acesso em 19 jan. 2022.

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Esse sistema permite muita flexibilidade na organização dos espaços internos, mesmo
depois de a obra estar pronta.
A estrutura autoportante, também chamada de alvenaria autoportante ou alvenaria
estrutural, é aquela em que os elementos de vedação compõem a própria estrutura do projeto.
Portanto, não há separação entre os principais elementos construtivos do projeto
(principalmente as paredes) e a sua estrutura: eles são um só (figura 2). Portanto, é
obrigatório que o material usado seja estrutural. Por isso, há uma limitação do que pode ser
usado para fazer essas obras: alvenaria estrutural (o mais comum são os blocos de concreto,
mas há outras alvenarias estruturais), concreto armado, madeira estrutural (mais conhecida
como CLT ou Madeira Laminada Cruzada).

Figura 2. Construção com estrutura autoportante, neste caso alvenaria estrutural. As paredes externas e internas são a
estrutura principal do edifício.
Disponível em <https://axialengenharia.eng.br/wp-content/uploads/2017/05/Alvenaria-estrutural-fachada.jpg>. Acesso em
19 jan. 2022.

Nesse tipo de obra, é muito difícil, e na maioria das vezes impossível, fazer alterações
no projeto depois de executado, pois as paredes são a estrutura da construção.
Como dito anteriormente, esses conceitos não são exclusivos em um projeto, e é muito
comum que ambos sejam aplicados em uma mesma obra. Outro ponto importante é que os
dois sistemas podem ser materializados com materiais diferentes, como, por exemplo, a
estrutura autoportante. Apesar de também ser muito conhecida como alvenaria estrutural,
indicando que ela é feita com blocos, existe a estrutura autoportante feita em concreto armado
e até mesmo em madeira.
Há, ainda, um sistema citado no enunciado que fica no limite entre esses sistemas, o
Light Steel Frame (LSF), conhecido no Brasil como Steel Frame. É um sistema construtivo que
também pode ser usado estruturalmente para edificações com até dois pavimentos,

20
Material Específico – Arquitetura e Urbanismo – Tomo 15 – CQA/UNIP

dispensando outros elementos estruturais. Ele é formado por uma malha de perfis metálicos
(em geral, de aço galvanizado), que depois é fechada com placas, que podem ser de gesso
acartonado, derivados de madeira ou placas cimentícias. A parte estrutural é suportada pelos
perfis metálicos, e as placas são somente para vedação (ver figura 3). Ela não é chamada de
estrutura independente porque os perfis metálicos são muitos e também fazem parte da
vedação.

Figura 3. Construção em Light Steel Frame. Os perfis metálicos vistos na imagem são a estrutura da edificação, que
depois serão fechados com placas.
Disponível em <https://atosarquitetura.com.br/wp-content/uploads/2016/07/n12.jpg>. Acesso em 19 jan. 2022.

2. Análise das afirmativas

I - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. Quando a estrutura de uma edificação é independente, as divisórias não são
necessárias para a estabilidade da construção e, portanto, podem ser removidas sem
problemas.

II - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A alvenaria estrutural impede a flexibilidade das divisões internas do projeto,
pois essas mesmas divisões são necessárias para a estabilidade construtiva da obra.

III - Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. A remoção de divisórias feitas em drywall (placas de gesso acartonado) é
muito mais simples do que a demolição de alvenaria de tijolos, tanto pelo fato de as placas
de drywall serem mais leves quanto pela manipulação para o transporte.

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IV - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A construção em Light Steel Frame exige mão de obra treinada
especificamente para manipular esse sistema construtivo, pois há poucas pessoas no Brasil
que conhecem esse sistema. Já a construção com alvenaria convencional é muito mais
conhecida e utilizada no país, mas infelizmente praticada, muitas vezes, por construtores
pouco treinados.

Alternativa correta: D.

3. Indicação bibliográfica

● MOHAMAD, G. (ed.). Construções em alvenaria estrutural: materiais, projeto e


desempenho. São Paulo: Blucher, 2020.

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Questão 6
Questão 6.6
Considerando a relação entre os efeitos do clima e a morfologia urbana e sua implicação no
conforto ambiental, é correto afirmar que
A. a forma e a altura das edificações, ao projetarem sombra sobre os espaços urbanos,
acarretam a diminuição da umidade do ar.
B. o espaço construído contribui para a criação de microclimas diferenciados em relação ao
clima regional.
C. o aumento da ventilação natural decorre do aumento da rugosidade da superfície
terrestre.
D. a poluição atmosférica tende a aumentar a radiação solar direta e diminuir a difusa.
E. a verticalização é incompatível com a manutenção da ventilação em áreas urbanas.

1. Introdução teórica

Conforto ambiental

Já sabemos, há algum tempo, que alterações na paisagem causadas pela urbanização


tornam diferente o clima na cidade em comparação ao seu entorno natural, dando origem ao
microclima urbano, tema de estudo da climatologia urbana. Esse é o assunto geral de que
trata a questão. Para respondê-la, é suficiente ter algumas noções básicas desse tema, que
já está bastante difundido e aparece com alguma frequência na mídia em geral. Por ser um
assunto que extrapolou há muito tempo o ambiente acadêmico e que envolve questões
ambientais e de saúde pública, ele já é debatido em diversas instâncias na sociedade.
O primeiro passo para compreendermos os efeitos causados pelos microclimas urbanos
é entendermos que as cidades interferem no clima local (e, quanto maiores elas são, maior é
essa interferência) e que isso ocorre não apenas pelos fatores de poluição que encontramos
em nossa sociedade industrializada. Os espaços construídos, as mudanças no relevo, a relação
com os cursos de água, a presença de vegetação, a forma e a dimensão das edificações, tudo
isso é parte da cidade e gera o microclima, ou os microclimas urbanos.
Vejamos alguns dos principais aspectos urbanos que interferem diretamente no clima
da cidade.

6Questão 24 – Enade 2019.

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 Construções. Os edifícios, por menores que sejam, em conjunto criam um ambiente bem
diferente daquele encontrado na natureza. Construções criam sombras sólidas, bastante
distintas daquelas criadas por copas de árvores. Esse tipo de sombra interfere diretamente
na temperatura diurna da superfície urbana. Edifícios também interferem na ventilação.
Quanto mais altos, maior o desvio da circulação de ventos, com a possibilidade de mudança
de direção e de aumento da velocidade com que o ar circula na superfície urbana. Quanto
maior a densidade de construções, maior o obstáculo para a ventilação natural. Um
exemplo desse efeito são os paredões de prédios construídos na orla de cidades litorâneas,
que impedem que os ventos penetrem no interior da cidade. A consequência é o aumento
das temperaturas diurna e noturna nesses espaços urbanos.
 Pavimentação. A substituição do solo com vegetação por pisos construídos (ruas,
calçadas, prédios, pontes, viadutos etc.) cria um ambiente que acumula muita energia
gerada pela radiação solar. Durante o dia, esses elementos construídos pelo homem
acumulam energia térmica, que é emitida para o ambiente à noite, aumentando a
temperatura da cidade.
A partir dessas alterações microclimáticas geradas pela urbanização, ocorre a formação
do fenômeno denominado de “ilhas de calor urbanas”. Elas surgem porque, como explicado
anteriormente, os espaços urbanos têm uma dinâmica climática muito diferente daquela
encontrada no ambiente rural e no ambiente natural. A diferença principal está no
resfriamento, dificultado pela maneira como as estruturas urbanas se comportam em relação
à temperatura.
É importante entendermos que a aplicação dos conhecimentos de climatologia urbana
no planejamento do espaço urbano é relevante para tentarmos reduzir os efeitos negativos
decorrentes dessas alterações microclimáticas. Morar nas cidades, apesar das enormes
facilidades, tem consequências no ambiente que afetam diretamente nossa qualidade de vida.
A energia acumulada pelas estruturas urbanas durante o dia é dissipada principalmente à
noite, favorecendo o aquecimento noturno da atmosfera próxima à superfície. Esse tipo de
ambiente, aliado às poluições atmosférica, sonora e visual e ao estresse cotidiano causado
por questões individuais (trabalho, transporte, problemas pessoais etc.), pode estar
contribuindo para reduzir a expectativa de vida na cidade.

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2. Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A alternativa é incorreta porque, quando há sombra, a umidade é preservada,
ao contrário de locais onde o sol incide diretamente.

B – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Essa é uma definição muito importante e já amplamente comprovada:
quando um agrupamento humano constrói seus espaços e suas edificações, criam-se
diferenças em relação ao clima regional. E essas diferenças acentuam-se à medida que esses
agrupamentos aumentam em tamanho e em densidade construtiva.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Quanto maior for a rugosidade da superfície terrestre, menor será a
ventilação natural, pois ela encontrará mais resistência para fluir.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Poluição atmosférica maior significa que há maior quantidade de partículas
sólidas e de gases no ar que cobre as cidades e, portanto, os raios solares terão maior
dificuldade em atravessar essa massa densa. Nessa situação, prevalece a iluminação solar
difusa, pois os raios solares incidem nas partículas que compõem a poluição e mudam sua
direção.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Apesar de edifícios mais altos interferirem na ventilação nas cidades,
principalmente em áreas urbanas mais densas, não é verdade que a verticalização seja
incompatível com a manutenção da ventilação em áreas urbanas. É possível manter a
ventilação urbana mesmo quando são construídos edifícios altos e, em alguns casos, é até
possível estimular o aumento de ventilação usando o corpo desses edifícios como direcionador
dos ventos.

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3. Indicações bibliográficas

● GRIGOLETTI, G. de C.; LAZAROTTO, G.; WOLLMANN, C. A. Microclima urbano de áreas


residenciais no período noturno: Estudo em Santa Maria, RS. Sociedade & Natureza v.
30, n. 2, 2018. Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Geografia. Disponível em
<https://www.redalyc.org/jatsRepo/3213/321364350007/html/index.html>. Acesso em
19 jan. 2023.
● LOMBARDO, M. A. Ilha de calor nas metrópoles: o exemplo de São Paulo. São Paulo:
Editora Hucitec, 1985.
● ROMERO, M. A. B. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. Brasília: UnB, 2013.

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Questão 7
Questão 7.7
Leia o texto e as figuras a seguir.
Em 2006, um arquiteto britânico venceu um concurso de projetos que previa a construção de um hotel
no local que havia abrigado uma pedreira, então abandonada, em Xangai, na China. Inaugurado em
2018, o Shimao Wonderland Intercontinental Hotel foi construído com a proposta de alterar o mínimo
possível a paisagem local, no sentido de que não poderia ser muito alto, para que não bloqueasse a
visão dos parques da região. A solução do arquiteto foi inverter o sentido do prédio, propondo um
arranha-céu de cabeça para baixo.
A estrutura de 62000 m2 de área interior é constituída por 16 pisos localizados abaixo do nível do solo,
dois pisos acima do solo e dois pisos subaquáticos. Uma cascata de vidro escorre pela fachada,
dividindo o prédio ao meio.
Disponível em <https://hoteliernews.com.br/noticias/inovador-intercontinental-shanghai-wonderland-abre-no- final-do-ano-
80789>. Acesso em 14 jun. 2019 (com adaptações).

Disponível em <https://www.atkinsglobal.com/en-gb/projects/songjiang-intercontinental-hotel>. Acesso em 14 jun. 2019


(com adaptações).

Em relação ao projeto apresentado, avalie as afirmativas.


I. A utilização da área da pedreira para outra finalidade, distinta da original, caracteriza o
projeto como uma reconversão urbana.
II. A cascata de vidro é uma solução projetual que otimiza a iluminação na região central
do edifício.
III. O partido de implantação adotado otimiza as condicionantes de ventilação natural no
interior da edificação.
É correto o que se afirma em
A. I, apenas.
B. III, apenas.
C. I e II, apenas.
D. II e III, apenas.
E. I, II e III.

7Questão 25 – Enade 2019.

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1. Introdução teórica

Projeto arquitetônico

É importante conhecermos o projeto para compará-lo com as afirmativas e


respondermos corretamente à pergunta. A arquitetura do hotel é inusitada, recebeu alguns
prêmios e resume o slogan do escritório que o realizou: “Respeitando a natureza com um
design sensível”. O texto apresenta de maneira concisa o projeto, situado na China, mas isso
ainda é insuficiente para garantir uma resposta correta.
O conceito arquitetônico foi idealizado por Martin Jochman, enquanto trabalhava na
ATKINS, uma empresa de engenharia, design e manutenção. Posteriormente, ao sair dessa
firma, ele criou sua própria empresa no Reino Unido, a JADE+QA, que continuou o
desenvolvimento do projeto, em parceria com a empresa local ECADI (East China Architectural
Design & Research Institute Co., Ltd.).

Figura 1. Vista da pedreira desativada onde foi inserido o projeto do hotel. Em destaque a área em que o prédio foi
localizado.
Disponível em <http://cdn.luxuo.com/2012/04/Construction-Intercontinental-Shimao-Shanghai- Wonderland-.jpg>. Acesso em 05 fev.
2023.

A ideia de “encaixar” um edifício em uma pedreira tem uma série de atrativos, como:
 a reconversão de um ambiente inóspito e que está em desuso (figura 1);
 a ideia de construir um edifício alto, mas que não interfere na paisagem pré-existente;
 o conceito de um edifício que depois de pronto passa a ter sua própria paisagem (formada
pelas paredes da pedreira).
Temos como resultado uma arquitetura inusitada, ainda que já conhecida. O Estádio
Municipal de Braga, projetado por Eduardo Souto de Moura, é um exemplo de projeto com
implantação semelhante.

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Material Específico – Arquitetura e Urbanismo – Tomo 15 – CQA/UNIP

Mas há alguns problemas, como a limpeza e a manutenção da água que forma o lago
artificial no fundo da pedreira, as dificuldades técnicas, o custo de construção (o edifício
demorou muitos anos para ficar pronto) e o fato de que quase metade da fachada do hotel
está voltada para uma parede de pedra, o que limita a ventilação e a iluminação naturais. Na
figura 2, podemos visualizar esse problema: a face do hotel voltada para o lago é onde fica a
maioria dos quartos, sabiamente posicionados aí pelo autor do projeto, ao passo que as
demais instalações e os demais ambientes ficam voltados para a parte interna do edifício.

Figura 2. Vista geral da implantação do hotel na pedreira.


Disponível em <https://www.jade-studio.uk/wp-content/uploads/2018/06/shimao-wonderland-intercontinental- hotel-complete5.jpg>.
Acesso em 02 fev. 2023.

Esse problema é consequência da implantação escolhida para o projeto. A solução para


minimizar a restrição da ventilação e da iluminação naturais na parte interna e na parte
posterior do hotel foi construir o edifício com uma pequena distância da parede da pedreira,
como vemos na figura 3.
Além disso, acrescentou-se um átrio no centro da edificação, fechado com uma parede
de vidro, ampliando a iluminação natural interna. Nessa parede de vidro, introduziu-se uma
cachoeira artificial, mas ela é apenas um complemento na solução arquitetônica principal.

Figura 3. Observe o afastamento do hotel em construção em relação à parede da pedreira desativada.


Disponível em <https://i.dailymail.co.uk/i/pix/2016/08/19/16/3766EB2F00000578-0-image-a-37_1471621607633.jpg>. Acesso em 05 fev.
2023.

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A limpeza e a manutenção do lago artificial só podem ser resolvidas com soluções


mecânicas e químicas. Cuidar desse lago não é fácil, pois, como na maioria das pedreiras
desativadas, esse acúmulo de água é insalubre e não se renova naturalmente, visto que não
é parte integrante da bacia hidrográfica da região. Mas os problemas de insolação e ventilação
foram bem resolvidos.

2. Análise das afirmativas

I - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. O texto da alternativa esclarece por que ela está correta, pois mudar o uso
de um espaço, sem que ele seja destruído, é considerado uma reconversão. O espaço da
pedreira não foi substituído por outro, apenas seu uso foi modificado.

II - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. O posicionamento de fachadas de vidro invariavelmente amplia e otimiza a
iluminação interna de um projeto, que é o que acontece na proposta arquitetônica do hotel.

III - Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. A solução escolhida para a implantação do projeto dificulta a ventilação
natural dos espaços internos, pois o edifício está inserido dentro do relevo criado pela pedreira.
Isso faz com que aproximadamente metade da fachada esteja faceando uma parede de pedra.

Alternativa correta: C.

3. Indicação bibliográfica

● KOWALTOWSKI, D. C. C. K. et al. (ed.). O processo de projeto em Arquitetura: da teoria


à tecnologia. São Paulo: FAPESP, 2011.

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Questão 8
Questão 8.8
A cobertura da quadra de tênis do Clube Pinheiros, em São Paulo, inaugurada em 2014, foi a
primeira obra de pequeno porte a usar a membrana de Politetrafluoretileno (PTFE) no Brasil.
A membrana foi utilizada como fechamento na nova edificação, que abriga duas quadras, o
que lhe conferiu maior luminosidade e leveza, além de integrá-la ao conjunto arquitetônico.
Para sustentá-la, foram utilizadas 6 peças de uma estrutura metálica, de 40 metros de
extensão, espaçadas entre si a cada 7,5 metros, que se apoiam sobre os pilares do subsolo.
O sistema adotado é recomendável para estruturas que precisam vencer grandes vãos, mas,
também, precisam solicitar o mínimo de esforço das fundações.

Disponível em <http://arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/tecnologia-membrana-cobertura-quadra-tenis>. Acesso em 08 jun. 2019 (com


adaptações).

O sistema estrutural utilizado na obra representada na imagem é conhecido como


A. pórtico transversal treliçado biarticulado.
B. pórtico transversal treliçado triarticulado.
C. pórtico transversal de alma cheia.
D. treliça espacial engastada.
E. arco treliçado engastado.

8Questão 26 – Enade 2019.

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1. Introdução teórica

Sistemas estruturais

Para realizar a cobertura de quadras de tênis no Clube Pinheiros, em São Paulo, foi
projetada e executada uma estrutura metálica com tubos de aço, formada por seis pórticos
espaciais treliçados e transversais de 40 metros de vão livre (figura 1).

Figura 1. Imagem da estrutura, ainda sem a cobertura em PTFE, das quadras de tênis, com os pórticos treliçados
paralelos já instalados.
Disponível em <http://2.bp.blogspot.com/-VMa8irIqhSE/UywdWYFPibI/ AAAAAAAAEjg/SfE0GLXsa-8/s1600/Marco14.jpg>. Acesso em 01
fev. 2023.

O problema apresentado no enunciado envolve diversos tipos de conhecimento sobre


estruturas porticadas, e as imagens facilitam muito o entendimento da questão e a busca da
resposta. Apresentaremos aqui os conceitos básicos necessários para respondê-la.

1.1. Pórticos

Os pórticos são um tipo de estrutura que permite vencer grandes vãos e cobrir extensas
áreas com sistemas construtivos leves. Em geral, eles são posicionados transversalmente em
relação à maior extensão do ambiente que se pretende cobrir (figura 2). Os pórticos também
são posicionados longitudinalmente, mas somente em casos muito específicos, como alguns
hangares para abrigar aeronaves. Posicionar os pórticos transversalmente tem a grande
vantagem de usar o vão menor para cobrir a mesma área.

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Figura 2. Inserção dos pórticos.

Os pórticos podem ter até três articulações ao longo de sua forma (figura 3). Assim
temos os tipos listados abaixo.
 Pórticos biengastados: não têm nenhuma articulação.
 Pórticos biarticulados: têm apoios articulados, ou seja, flexíveis ou rotulados.
 Pórticos triarticulados: têm articulações nos seus apoios e no meio de suas seções.

Figura 3. Tipos de pórticos.

Há estruturas utilizadas com a mesma finalidade dos pórticos, mas que têm
comportamento estrutural e geometria bem diferentes: são os arcos. Para diferenciá-las, basta
observarmos que o arco, como o próprio nome diz, tem um desenho específico, retirado de
um trecho de um círculo ou de uma elipse (ver comparação na figura 4).

Figura 4. Pórticos e arcos.

Os pórticos e os arcos podem ser construídos com diversos sistemas e materiais


construtivos. Os materiais podem ser metais (aço ou alumínio), concreto armado e madeira.
No caso dos arcos, era muito comum serem usados blocos ou tijolos, mas essa prática é cada
vez mais rara. Entre os sistemas construtivos mais comuns, temos as treliças (metal e/ou
madeira) e os perfis maciços (concreto ou aço). Os perfis maciços também são chamados de
alma cheia. Veja a diferença nas figuras 5 e 6.

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Figura 5. Pórtico metálico de alma cheia.


Disponível em <https://construacopb.com.br/media/obras/galeria/2017/06/18/granfuji100_0748.jpg. 1600x1600_q85_upscale.jpg>.
Acesso em 04 fev. 2021.

Figura 6. Pórtico metálico treliçado.


Disponível em <https://www.agron.com.br/imagens/publicacoes/2016/03/25/topico_47920_www-agron-com-br _1140_armazem-e-
pavilhoes-metalicos.jpg>. Acesso em 04 fev. 2021.

1.2. Apoios e articulações

O apoio é o ponto em que a estrutura entra em contato com as suas fundações ou com
o local onde ela se apoia (há estruturas que se apoiam em outras estruturas, como os
balanços). Ele pode ser flexível ou engastado.
No apoio flexível, também chamado de rotulado, a estrutura pode movimentar-se
(geralmente é uma rotação) sobre ele. A vantagem desse tipo de apoio é que a maioria das
deformações que a estrutura possa vir a sofrer não transmitirá esforços para o elemento que
recebe todo o peso dela.
O apoio engastado, ao contrário, não tem movimento, e a estrutura fica rigidamente
conectada ao seu suporte. Esse tipo de apoio permite a transmissão de momento da estrutura

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para a sua fundação ou para a outra estrutura que a suporta. No entanto, ela tem as vantagens
de ser bem mais barata, fácil de executar e adequada à maioria das construções, em
comparação ao apoio flexível.
A articulação é o ponto de contato entre as seções que compõem uma estrutura. Um
pórtico, por exemplo, pode ser composto por duas ou mais seções estruturais, como citado
anteriormente, e o contato entre elas pode ser feito com articulações (em um pórtico, o apoio
flexível é considerado uma articulação). A vantagem do uso de articulações em pórticos é que
isso permite certa movimentação da estrutura sem que ela entre em colapso.

2. Análise das alternativas

A – Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. As imagens no enunciado mostram uma sequência de pórticos transversais,
feitos em treliça. O desenho em elevação do pórtico revela que há somente duas articulações,
situadas nos pontos de apoio.

B – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Apesar de todas as outras informações estarem corretas, no desenho em
elevação do pórtico não aparecem três articulações, apenas duas.

C – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O sistema construtivo do pórtico não é de alma cheia, é de treliça, como
vemos nas imagens no enunciado.

D – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Podemos ver claramente que a treliça utilizada na cobertura é plana, ou seja,
não se desenvolve em várias direções. Portanto, não é espacial nem muito menos engastada.
Veja, na figura 7, um exemplo de cobertura com treliça espacial.

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Figura 7. Cobertura com treliça espacial metálica.


Disponível em <https://www.aecweb.com.br/prod/cls/anuncios/pes_21963/estruturas-espaciais-3-gran.jpg>. Acesso 04 fev. 2023.

E – Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Apesar de o pórtico usado na cobertura das quadras ter desenho arredondado
nos cantos, isso não o configura como arco. Veja a explicação na introdução teórica da
questão.

3. Indicação bibliográfica

● REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2003.

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Questão 9
Questão 9.9
Leia o texto e as figuras a seguir.
Nas Termas de Vals, projeto de Peter Zumthor, atingem-se efeitos máximos de percepção do espaço
interior, definido pelas várias texturas de pedra, pelos efeitos de luz natural e artificial e pelas vistas
para uma paisagem singular. Isso acontece quando se entra em um edifício que, inicialmente, parece
fundir-se com o solo, escavado na matéria, revelando-se um volume independente e aberto para o
contexto, em ressonância com o entorno. Os volumes expressam uma modulação neoplasticista,
seguindo uma linha de arquitetura abstrata da região do Ticino, e nos interiores experimenta-se uma
atmosfera especial feita de luz, água, vapor, além da experimentação das texturas, dos sons, das
temperaturas e dos odores.
Montaner, J. M. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São Paulo: Gustavo Gili, 2017 (com
adaptações).

Disponível em <http://www.archdaily.com.br/br/798132/>. Acesso em 15 jun. 2017 (com adaptações).

A respeito das Termas de Vals, de Peter Zumthor, avalie as afirmativas.


I. A obra revela a crescente importância outorgada aos sentidos, à percepção e à
experiência humana na arquitetura contemporânea.
II. A escolha dos materiais vincula o contexto em que a obra se insere a uma técnica
construtiva precisa.
III. Na experiência sensorial e perceptual da obra, a percepção visual se sobrepõe à tátil.
IV. A obra coloca o corpo humano e sua relação com o espaço como fenômeno essencial
da arquitetura.

9Questão 27 – Enade 2019.

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É correto apenas o que se afirma em


A. I e II.
B. II e III.
C. III e IV.
D. I, II e IV.
E. I, III e IV.

1. Introdução teórica

Percepção do usuário e projeto arquitetônico

Conhecer o projeto apresentado no enunciado contribui para encontrarmos a resposta,


mas não é essencial, pois a questão aborda assuntos gerais sobre arquitetura contemporânea
e o relacionamento das pessoas com um espaço e seu conteúdo.
Na arquitetura contemporânea, e isso se manifesta em diversos países e diferentes
usos, há preocupação constante com a percepção e as sensações causadas pelo espaço em
suas diversas manifestações. Mas nem sempre foi assim.
Na arquitetura moderna – tal como ela se manifesta até os anos 1960 –, a preocupação
maior era que o edifício fosse projetado de acordo com determinada estética, para atender
adequadamente às funções que lhe eram destinadas. Naquele momento, havia interesse na
percepção do espaço arquitetônico, mas, diferentemente do que ocorre hoje, o foco era nas
qualidades estéticas apreensíveis pelos usuários. Na arquitetura pós-moderna, a noção de
percepção na arquitetura começa a mudar.
A partir dos anos 1960 e 1970, na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, a arquitetura
pós-moderna passa a valorizar a cultura local de quem usa os edifícios e a cidade. Surge um
senso de necessidade de humanização da arquitetura, não no sentido universal como
propunha o modernismo, mas de preocupação com o usuário final. Esse fenômeno amplia-se
para outros países, e há valorização maior do contato entre as pessoas e as construções,
surgindo vertentes que analisam essa relação a partir da psicologia, da cultura local, de
problemas urbanos específicos e até mesmo das emoções e das questões afetivas.
Esse interesse aparece com frequência quando, em artigos ou projetos publicados na
mídia em geral, surgem descrições do que o autor do projeto espera que os usuários do seu
projeto “sintam”. Há inúmeros recursos que podem ser utilizados pelos arquitetos na criação
de um espaço para atingir esses objetivos.

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Um dos melhores exemplos dessa mudança de perspectiva em face da percepção do


espaço são os hospitais. Até a segunda metade do século XX e, em muitos casos, até o início
do XXI, o ambiente hospitalar era projetado para atender estritamente às suas necessidades
funcionais: especificação de materiais e cores para manter a salubridade, fluxos de circulação
controlados e separados, flexibilidade para atender a novas tecnologias, iluminação de acordo
com normas de visibilidade etc. Era comum entrarmos nesses ambientes e encontrarmos um
cheiro forte típico, semelhante a éter, por causa da limpeza dos espaços.
No entanto, percebeu-se que entrar em um hospital – com a saúde fragilizada por
qualquer motivo – e deparar com um ambiente como esse, frio, com um odor forte e
desconhecido, nada acolhedor, pouco ou nada ajudava no processo de recuperação do
usuário. Médicos, psicólogos e arquitetos observaram esse problema e começaram a propor
mudanças no espaço, mas sem deixar de atender àquelas necessidades funcionais citadas
anteriormente. O que mudou foi a maneira como o espaço, os materiais, a luz, os odores, as
cores e a escala passaram a ser projetados, pois, a partir de então, o ponto de vista do usuário
foi levado em conta. A ergonomia é uma exceção, pois esse assunto já aparecia no projeto
dos hospitais modernos.
Hoje, ao entrar em qualquer hospital novo, ou que tenha sido objeto de reforma,
percebemos nitidamente a diferença em relação aos hospitais mais velhos ou àqueles em que
não há interesse ou condição de atualização. Os estabelecimentos de saúde são projetados
como um ponto fundamental no acolhimento e no processo de recuperação do paciente, tanto
nos ambientes que tratam de crianças quanto nos que cuidam de adultos. É comum
encontrarmos bons hospitais, que se assemelham a um hotel de 4 ou 5 estrelas, ou que
apresentam um ambiente residencial. Maternidades, ambulatórios, enfermarias, salas com
equipamentos para realizar exames, todos foram objetos de reformulação para garantir uma
percepção específica por parte do usuário.
Podemos estender essa mudança em relação a diversos outros ambientes, como
escolas, lojas de vestuário, supermercados, residências, sedes de empresas, faculdades,
hotéis etc. A finalidade com que se trabalha a percepção do usuário e os meios aplicados para
tratar desse assunto mudaram. A questão estética não deixou de ser pensada nessa proposta,
mas agora ela é parte integrante do interesse na sensação dos espaços. De fato, a estética é
um dos meios pelos quais as pessoas podem perceber o espaço.
O texto, no enunciado que descreve o projeto de Peter Zumthor, revela que o projeto
das Termas de Vals está inserido no contexto contemporâneo de preocupação com a
percepção sensorial por parte do usuário.

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2. Análise das afirmativas

I - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. A afirmativa resume o que diz o texto no enunciado, que é a preocupação do
autor do projeto com a percepção do espaço, dos materiais, da luz etc.

II - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. É necessário lermos com cuidado a afirmativa, pois, apesar de correta, ela
subentende que o leitor compreende que uma técnica construtiva só pode existir a partir da
escolha de materiais construtivos. E, nesse caso, a técnica construtiva aplica os materiais
escolhidos para gerar uma obra claramente inserida em um contexto específico, definido pelo
relevo e pelas tradições arquitetônicas da região.

III - Afirmativa incorreta.


JUSTIFICATIVA. O texto da questão descreve claramente os materiais e os efeitos na
arquitetura (veja especificamente a última frase do enunciado) que são percebidos por outros
sentidos humanos, e não apenas pela visão.

IV - Afirmativa correta.
JUSTIFICATIVA. De acordo com o texto do enunciado, esse é o interesse central do projeto.

Alternativa correta: D.

3. Indicação bibliográfica

● MONTANER, J. M. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São


Paulo: Gustavo Gili, 2017.

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Questão 10
Questão 10.10
Leia o texto a seguir.
A proposta dos projetistas previa a construção de um estádio bastante convencional, com as típicas
arquibancadas situadas atrás das traves e aberto à paisagem do entorno. “No princípio, pensei em
situar o estádio onde estava previsto, mas depois comecei a inspecionar o lugar e dei-me conta de que
era muito mais interessante transladar o estádio para a parte alta da montanha, aproximando-o de
uma pedreira abandonada. Na realidade, os cortes da pedra da pedreira sugeriram-me conferir uma
continuidade entre a pedra e o concreto. Era como pensar em tirar a pedra e colocá-la sob uma nova
forma. Era necessário entender onde começava o artefato e onde acabava a natureza. Durante um
ano trabalhamos exclusivamente na escavação da pedra. Ao projetar o estádio, trabalhava em negativo
e, ao mesmo tempo, calculava e preparava os pormenores necessários para o corte correto da pedra.
Queria criar um efeito de continuidade entre a pedreira e as tribunas e, por isso, pensei em construir
as arquibancadas com pedra, mas rapidamente tive que renunciar à ideia. Então, afastei o estádio da
pedreira e situei os restaurantes e as salas da imprensa, para os 2.000 jornalistas, entre uma das
tribunas e a parede de pedra. Em princípio, uma cobertura única deveria cobrir todo o estádio, mas,
durante o projeto, optei por uma cobertura autônoma para cada uma das tribunas”.
Moura, E. S. Conversas com estudantes. Barcelona: GG, 2008 (com adaptações).

Disponível em <https://i.pinimg.com/originals/>. Acesso em 20 jun. 2019 (com adaptações).

Disponível em <https://www.archdaily.com/143195/braga-municipal-stadium-eduardo-souto-de-moura/5>. Acesso em 20 jun. 2019 (com


adaptações).

10Questão 28 – Enade 2019.

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Considerando as informações apresentadas, avalie as asserções e a relação proposta entre


elas.
I. O projeto do estádio está relacionado aos ideais da Escola do Porto, caracterizados pela
forma de inserção da edificação na paisagem, a sutil manipulação da luz natural, as
escalas discretas e volumes articulados, a mistura de materiais antigos com técnicas
contemporâneas.
PORQUE
II. A relação da arquitetura com a paisagem fundamenta as ideias do projeto de Eduardo
Souto de Moura, em que os materiais se integram e formam o próprio lugar mental.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não justifica a I.
C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E. As asserções I e II são proposições falsas.

1. Introdução teórica

Escola do Porto

A Escola do Porto é o nome dado a um extenso movimento de renovação da arquitetura


portuguesa, que se originou na cidade do Porto na década de 1950, e se tornou conhecido na
Europa e depois em outros países. Ele foi iniciado na Escola Superior de Belas Artes do Porto
(ESBAP) e, posteriormente, consolidado na construção da Faculdade de Arquitetura da
Universidade do Porto (FAUP).
Conhecer um pouco do movimento é importante para entendermos o texto do arquiteto
português Eduardo Souto de Moura, contido no enunciado da questão, em que são descritos
os critérios usados para definir o projeto do Estádio Municipal de Braga (construído, entre
2001 e 2003, para a Copa da UEFA Euro 2004).
A renovação que ocorreu na arquitetura praticada em Portugal tem início com a
importante atuação de Carlos João Chambers Ramos na ESBAP, que convidou os arquitetos
Fernando Távora, Álvaro Vieira Siza e Mário Bonito para lecionarem naquela universidade.
Távora foi uma espécie de aglutinador e iniciador desse processo de renovação, ao qual se
juntaram outros arquitetos portugueses. Mas é importante destacar que esse começo foi

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baseado na introdução dos conceitos da arquitetura moderna, difundidos ao longo dos anos
1920 e 1930 na Europa e no Brasil.
Esses conceitos modernos são bem diferentes daqueles descritos no texto de Souto de
Moura e nas proposições do enunciado. Para explicar essa discrepância, é necessário
entendermos que a Escola do Porto nunca foi um movimento conceitualmente estático. Ao
mesmo tempo em que a arquitetura em Portugal era renovada entre as décadas de 1950 e
1960, com a realização de projetos de caráter modernista e com muita influência da
arquitetura moderna feita no Brasil, começa uma mudança de rumo na Escola do Porto. Em
pouco tempo, principalmente pelas mãos de jovens arquitetos nos anos 1960 e 1970, como
Álvaro Vieira Siza, Eduardo Souto de Moura e outros, a Escola modifica-se e caminha em outra
direção. Ela torna-se contemporânea, distanciando-se de várias das premissas modernistas.
Alguns autores procuram classificar a Escola do Porto como pós-moderna ou como parte do
regionalismo crítico, mas o que importa é que os arquitetos desse movimento se distanciaram
das principais características da arquitetura moderna.
Podemos resumir os conceitos que caracterizaram essa mudança de base teórica, e
que ainda estão presentes na arquitetura portuguesa praticada atualmente, nos projetos feitos
pelos arquitetos que se formaram na linha da Escola do Porto, da seguinte maneira (sem
ordem de preferência):
● profunda preocupação com uma interpretação das características construtivas e culturais
locais;
● utilização, sempre que possível e adequada, de técnicas e/ou materiais construtivos locais;
● preocupação em adequar o projeto às condições topográficas do local, evitando grandes
interferências no relevo;
● uso de formas, cores, texturas e elementos plásticos extraídos da cultura construtiva local;
● aplicação de formas e espaços mais livres, evitando usar geometrias rígidas, repetidas ou
muito duras;
● definição do projeto baseada em escalas menores, com volumes separados, mas
articulados entre si, evitando gerar volumes grandes que se destaquem do entorno;
● capacidade de fazer projetos em locais com construções antigas, mantendo um diálogo
com o passado, sem necessariamente copiá-las;
● uso de novas tecnologias construtivas, buscando equilibrar sua presença no projeto com
os outros elementos citados anteriormente.
Um exemplo prático da aplicação dessas premissas é a Casa de Chá Boa Nova (1958-
1963), situada em Matosinhos, Portugal (figura 1).

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Figura 1. Casa de Chá Boa Nova (1958-1963), Matosinhos, Portugal. O projeto feito por Álvaro Siza foi pensado como
parte da paisagem.
Disponível em <https://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/06/60/77/42/boa-nova-tea-house-casa.jpg>. Acesso em 12 mai. 2023.

A implantação desse projeto chega a ser semelhante ao estádio de Braga, apesar da


distância temporal e da enorme diferença de usos entre ambos. Observe que o projeto de
Souto de Moura tem algumas das características citadas anteriormente e que ainda o colocam
na linha da Escola do Porto.

2. Análise das asserções

A primeira asserção está correta porque descreve as principais características dos conceitos
usados na Escola do Porto. A segunda asserção descreve resumidamente a aplicação desses
conceitos no projeto do estádio feito por Souto de Moura. Dessa maneira, a primeira asserção
é justificada pela segunda.

Alternativa correta: A.

3. Indicações bibliográficas

● FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
● MOURA, E. S. Conversas com estudantes. Barcelona: Gustavo Gili, 2008.

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ÍNDICE REMISSIVO

Questão 1 Paisagismo. Projetos paisagísticos.

Questão 2 Topografia.

Questão 3 História da Arquitetura. Escola de Bauhaus.

Questão 4 Arquitetura sustentável. Flexibilidade e modularidade dos espaços.

Questão 5 Sistemas construtivos. Alvenaria estrutural. Construção seca.

Questão 6 Conforto ambiental.

Questão 7 Projeto arquitetônico.

Questão 8 Sistemas estruturais.

Questão 9 Projeto arquitetônico. Percepção do usuário.

Questão 10 História da Arquitetura. Escola do Porto.

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