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Há séculos atrás, quando a Terra era jovem e as estrelas dançavam

no firmamento, o deus Tupã reinava sobre todos os elementos da


natureza com majestade e poder incomparáveis. Conhecido como
o deus do trovão, ele era temido e reverenciado por todos os seres
vivos que habitavam a floresta exuberante e os rios sinuosos de
sua terra natal, a vastidão da Amazônia. Seus relâmpagos
cortavam os céus, sua voz ecoava como trovões a anunciar sua
chegada, e os ventos sopravam em obediência à sua vontade
divina. No entanto, por trás da imponente fachada de um deus
todo-poderoso, Tupã guardava um segredo solitário e melancólico
em seu coração divino. Apesar de sua grandiosidade e sua imensa
força, Tupã se sentia cada vez mais só no vasto mundo que ele
próprio criou. Os animais da floresta, as árvores imponentes, os
rios calmos, todos o reverenciavam e temiam, mas não podiam
oferecer a ele o que ele mais ansiava: companhia verdadeira e
genuína.
E em uma certa noite, o deus Tupã tomou uma decisão audaciosa
que mudaria o curso de sua vida solitária. Com um raio de
inspiração divina, ele moldou com cuidado e ternura o espírito da
Lua, concedendo-lhe a capacidade de brilhar com a mesma luz
radiante que iluminava o céu noturno e o batizou de “Lua”, meigo
e sereno, surgiu diante de Tupã com um brilho suave e
reconfortante, emanando uma aura de paz e tranquilidade que
envolveu o deus do trovão em um abraço caloroso. Com olhos
cintilantes de sabedoria ancestral, o espírito da Lua sorriu para
Tupã, revelando um entendimento profundo e uma aceitação
incondicional que acalmaram a tormenta interior do deus solitário.
Assim, nas noites em que a Lua brilhava em todo o seu esplendor
no firmamento, Tupã encontrou companhia e consolo na presença
suave e acolhedora do espírito lunar. Juntos, eles caminhavam
pela floresta espiritual em silêncio, compartilhando momentos de
contemplação e serenidade sob o brilho prateado da Lua que
agora iluminava não apenas o céu, mas também o sorriso do deus
do trovão.
Após exatamente mil anos de cumplicidade e amizade, o
inesperado aconteceu: a lua, envolta em sua aura de mistério e
serenidade, encontrou-se perdidamente apaixonada pelo Deus
Tupã. No entanto, para Tupã, a lua era como uma filha querida,
um espírito que ele acolhera e protegera com todo o seu coração
divino. Confrontado com a dor do impossível, o deus do trovão
lamentou em silêncio a impossibilidade de corresponder aos
sentimentos da lua, ciente de que sua conexão ultrapassava os
limites da possível união. Profundamente tocado pela pureza e
força do amor da lua, Tupã decidiu agir em prol da felicidade de
seu querido espírito lunar. Assim, em um gesto de generosidade e
amor sem igual, ele moldou com puro amor e criatividade um
companheiro para a lua, um ser que pudesse iluminar seu coração
da mesma forma que ela iluminou o dele. Inspirado pela chama
ardente do amor que unia a lua e a si mesmo, Tupã criou um
espírito radiante e caloroso que emitiu um brilho tão intenso que
logo foi batizado como Sol. O Sol, com sua luz dourada e calor
reconfortante, surgiu diante da lua como um presente divino, um
ser destinado a complementar sua radiância prateada com uma
intensidade luminosa e apaixonada. À medida que o Sol e a Lua
se encontraram pela primeira vez, seus olhares se cruzaram em
uma linda noite estrelada, assim, profetizou-se o relacionamento
sagrado entre o Sol e a Lua, uma união cósmica e eterna que
iluminaria o céu e a terra com seu brilho único e sua química
celestial.
Após a bela e grandiosa cerimônia em que o Sol e a Lua se
tornaram marido e mulher, uma sombra sinistra se ergueu sobre o
horizonte celestial. O Deus da escuridão, Ybyrá, movido por uma
inveja profunda e um desejo insaciável de espalhar a discórdia,
tramou um plano ardiloso para perturbar a paz e a harmonia do
universo. Sob a cobertura densa da noite, Ybyrá surgiu
sorrateiramente e sequestrou o Sol, levando-o para um local
distante e sombrio, longe do brilho reconfortante da Lua e da
proteção amorosa de Tupã.

Quando a notícia do desaparecimento do Sol alcançou os ouvidos


da Lua e de Tupã, um raio de determinação atravessou o coração
de ambos, impelindo-os a agir rapidamente para resgatar seu
amado filho e esposo. Com um ímpeto poderoso e uma
determinação inabalável, a Lua e Tupã lançaram-se aos céus,
cortando o firmamento com sua presença majestosa e decidida,
em busca do único ser capaz de cometer tamanha audácia: Ybyrá,
o Deus da escuridão.
Em uma corrida desenfreada contra o tempo e as trevas que
ameaçavam engolir o Sol, a Lua e Tupã voaram com velocidade
em direção ao reino sombrio de Ybyrá, onde as sombras
dançavam ao redor de uma noite sem fim que anunciava a
chegada do mal. Determinados a enfrentar o Deus da escuridão e
resgatar o Sol de seu cativeiro, a Lua e Tupã uniram suas forças
divinas em um vínculo sagrado de amor e coragem, prometendo
restaurar a luz e a harmonia perdidas.
Um sombrio silêncio pairava sobre o reino de Ybyrá, enquanto as
nuvens se aglomeravam no céu sombrio, anunciando a iminente
batalha que se aproximava. Os ventos sussurravam presságios
sombrios, ecoando o tumulto que se desenrolaria em breve.
No auge da confrontação, Ybyrá, o traiçoeiro deus da escuridão,
lançou seu golpe fatal, pegando a lua desprevenida e atingindo
seu peito mortalmente. Um grito ecoou pelo campo de batalha,
misturando-se ao rugido do trovão e ao lamento do vento. Tupã, o
deus do trovão, e o sol testemunharam a queda da lua,
mergulhando em desespero diante da perda inesperada. A fúria e a
determinação se misturaram nos olhos de Tupã e do sol, ao
espíritos poderosos unindo suas forças para aniquilar Ybyrá e
virar o jogo contra sua existência malévola. Uma energia
selvagem se acumulou ao redor deles, pronta para desencadear
uma tempestade de justiça sobre o deus das trevas. Com um
estrondo ensurdecedor, uma grande explosão irrompeu, varrendo
o campo de batalha e pondo fim à vida de Ybyrá. Mas, apesar da
derrota do deus da escuridão, a tristeza permeava o ar, pois a lua
não mais brilharia sobre Ybyrá. O sol, incapaz de conter a dor,
caiu de joelhos e abraçou o corpo sem vida da lua, lágrimas de
fogo escorrendo por seu rosto em chamas, suplicando para que ela
não os deixasse. Desesperado, o sol implorou a Tupã que
ressuscitasse a lua, mas a cruel realidade da existência espiritual
da lua impediria que ela fosse mais a mesma caso retornasse à
vida. Em um ato de puro amor e sacrifício, o sol decidiu se
oferecer para manter a essência da lua viva, beijando-a pela
última vez antes de desencadear uma explosão que obscureceu
seu brilho, fez as estrelas piscarem incontrolavelmente e a terra
estremecer sob seus pés. Enquanto Tupã enxugava suas lágrimas e
abria os olhos para testemunhar a calamidade, um fio de
esperança surgiu no ar carregando uma linda e única aura à sua
frente. Diante de seus olhos, os espíritos do sol e da lua se
fundiram em um ser extraordinário, apresentando-se como
Eclipse, a encarnação do amor transcendente entre os dois astros.
Em um momento de pura emoção, Tupã correu para abraçar
Eclipse, sentindo a paz e a harmonia se restabelecerem no reino
conturbado. Juntos, eles retornaram para casa, envoltos em
serenidade e sorrisos, enquanto as estrelas brilhavam com uma
nova intensidade no céu, celebrando a união divina que havia
surgido da escuridão e da tristeza e se transformou nessa linda
história de amor.

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